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1 Introdução

O professor de História é, antes Em um movimento que integra o


de tudo, um pesquisador! É no exercicio ensino a pesquisa e a extensção, tripé ,
da investigação empirica, no sob o qual se assenta a filosofia dos
compromisso com a verdade, e na ética modelos das universidades brasileiras.
ao lidar com as fontes historiográficas,
que é adiquirida a maturidade intelectual
necessária para formar um perfil mental “desse modo, ensinar termina por ser uma

problematizante, capaz de através do atividade que, ao mediar a pesquisa e a

exercicio de ensino-aprendizagem da extensão, enrique-se e amadurece nesse


processo: o professor universitário, ao
ciência História, conduzir os alunos para
integrar seu ensino à pesquisa e à extensão,
que desenvolvam os meios necessários
mantém-se atualizado e conectado com as
para questionar sua realidade presente,
transformações mais recentes que o
dada como “natural”, percebendo nos conhecimento científico provoca ou mesmo
elementos que o cercam, a historicidade sofre na sua relação com a sociedade, além
das coisas. de formar novos pesquisadores críticos e
Dito isto, esse trabalho se estende comprometidos com a intervenção social.
ao professor de História como uma MOITA; ANDRADE, 2009, p. 272).”
ferramenta didática que propõe
aproximar o aluno da prática
investigativa empirica que configura a Nesse sentido, o estágio
caracteristica fundamental da nossa possibilita concretizar essa interação
ciência, visando despertar o interesse entre as atividades acadêmicas. Portanto,
para essa ciência, porém, mais por meio desse trabalho que tem como
importante, fazer um trabalho de objetivo principal levar à sociedade o
extensão, da universidade com a escola. resultado de uma investigação que faz
Por ultimo, este material parte de uma pesquisa acadêmica
compreende um esforço para que, a intitulada As Faces do diabo: do discurso
produção cientifica acadêmica ultrapasse teológico medieval, ao imaginário
os muros do campus e alcancem o ensino religioso em São João do Jaguaribe
básico, onde a formção dos jovens de (2023). Desenvolvida no curso de
fato acontece. licenciatura plena em História pela
Universidade Estadual do Ceará
UECEFAFIDAM, pretende-se ampliar o
conhecimento acadêmico para além da
universidade, chegando aos espaços de
ensino de uma forma didática.
Considerando o tema como
sensível, pois confronta diretamente as
crenças religiosas cristãs normalmente Assim o objetivo é fazer com que
tidas como verdades “inquestionáveis”, o conhecimento histórico seja
ao colocar sob investigação os papéis ensinado de tal forma que dê ao
culturalmente propostos pelas aluno condições de participar do
representações de Deus e principalmente processo do fazer, do construir a
do diabo, os podendo fazer perceber duas
história.” (SCHMIDT, 1996, p. 120) .
coisas, 1) perceber que suas crenças,
imaginários e mentalidade, são
historicamente construído, ao perceber
que, todas as representações imagéticas
ou discursiva do diabo presentes em seus
imaginários, não é se não, resultado de
uma construção histórica, de uma
narrativa religiosa que usa a imagem do
diabo e dos castigos eternos com o fim
de controlar os sujeito através da
imposição do medo; e 2) se perceber
enquanto sujeito histórico, resultado de
processos históricos e culturais,
entendendo que assim como o diabo é
uma construção histórica, todas as coisas “Mil” nomes do diabo
que existem, hoje tiveram seu processo
de construção histórica. -anticristo; -Asmodeu; -Belfelgor;

Sendo assim, esse trabalho se -Demônio; -lúcifer; - o maligno;

mostra relevante não só para os alunos, -Mefistófeles;


como também para os professores, visto
que pode ser usado como um -pã; -pazuzu; -satã; -tentador;

instrumento para atrair atenção dos -acusador; -rpíncipe das trevas;


discentes para a História,
proporcionando a interação entre -Baal; -belzebu;
pesquisa, ensino e extensão, fazendo um
-anjo caído; -beemot; -leviatã...
processo de desconstrução de seus
imaginários sobre o diabo, os levando a
afiar seu senso crítico e suas capacidades
para criticar o que está posto pela
sociedade.
2 Do discurso ao No processo de desenvolvimento da
pesquisa oral, através da realização de
imaginário. entrevistas, estivemos sempre atentos
aos aspectos técnicos metodológicos na
produção do documento oral, tendo por
É fato que o diabo, Base o respeito e o diálogo com cada
paradoxalmente, representa uma das uma das pessoas entrevistadas,
principais personagens das religiões evangélicas, católicas e espíritas da
ditas cristãs. A Igreja Católica medieval, cidade de São João do Jaguaribe. Foi
por exemplo, representou e disseminou, com esse cuidado que realizamos
no imaginário cristãos, a figura do diabo entrevistas com 06 (seis) pessoas: 02
como uma entidade poderosa que habita (duas) evangélicas, 02 (duas) católicas, e
as trevas e se manifesta na vida dos 02 (duas) espíritas. As entrevistas
homens/mulheres através do pecado. propuseram aos entrevistados refletirem
Partimos da ideia de que o diabo, sobre suas crenças acerca da relação
na nossa contemporaneidade, ainda é um entre o plano físico e o plano
personagem presente nas relações “sobrenatural.”
sociais cotidianas, seja através de um Do ponto de vista metodológico,
simples e jocoso ditado popular, seja fazemos um cruzamento das narrativas
através de uma relação de poder através orais com os discursos e imagens
do mistério e do medo. Apesar de toda a produzidas a partir da Idade Média,
historicidade das representações do principalmente pela Igreja Católica com
diabo, sobretudo na sociedade ocidental, o objetivo de disseminar, em suas
especialmente no imaginário popular, práticas, a pedagogia do medo. Tal
nossa intenção é de pensá-lo no campo cruzamento nos permitiu perceber as
historiográfico, analisando como, na congruências e as mudanças dessas
sociedade contemporânea, podemos formas de pensar e se relacionar com o
perceber a figura do diabo a partir das diabo no mundo contemporâneo.
permanências e rupturas em relação às Nossa pergunta de partida teve
imagens dele construídas no período base na seguinte problemática: como as
medieval. dualidades “Deus e diabo” e “céu e
Para isto, buscamos investigar, inferno” permeiam, hoje, as percepções
através da metodologia da história oral, de evangélicos, católicos e espíritas de
como evangélicos, católicos e espíritas, São João do Jaguaribe, uma cidade
através de suas percepções, revelam marcada pela presença religiosa,
formas de pensar e de se comportar que especialmente católica e protestante. A
nos dão indícios das permanências e partir dos discursos orais colhidos na
rupturas tendo por base o período pesquisa através da metodologia da
medieval. história oral, buscamos entender como o
imaginário religioso das pessoas por nós
entrevistas é herdeiro de valores e
3 dimensões das
imagens oriundas do período medieval
ou que dele se aparta. Para isso,

fontes
recorrendo as bulas papais, as pinturas,
aos sermões escritos por bispos, as
resoluções dos concílios, documentos
jurídicos e publicações do período
medieval, como o Malleus Malleficarum Dimensão material
(2020). Escrito originalmente em 1487.
Para a produção dessa cartilha,
me utilizarei mesmas fontes utilizadas
para a produção da monografia, as
entrevistas realizadas com religiosos da
cidade de São João do Jaguaribe, onde
busco adentrar o imaginário do sujeito,
capturando suas crenças, medos a
respeito da relação entre o mundo
material e o sobrenatural, entre o seu
espaço no conflito dualístico entre Deus
e o diabo.
As entrevistas foram realizadas
entre março e julho de 2023, com seis
indivíduos religiosos da cidade, dois
pastores de Igrejas evangélicas, dois
católicos, uma fiel que serve a Igreja
desde criança e o padre da paróquia da
cidade, os últimos dois, foram duas
espiritas que atuam no único templo
Buscamos, minimamente, historiar os espirita funcional da cidade. Esses
percursos de construção das imagens e sujeitos foram escolhidos pela sua
discursos através dos quais a Igreja proximidade com a doutrina da religião a
Católica medieval representou e que seguem, sendo conhecedores dos
disseminou no imaginário dos cristãos a seus respectivos campos.
figura do diabo como uma entidade
poderosa, que habita as trevas, e Dimensão Descritiva
manifesta seu poder no cotidiano dos
homens/mulheres que passam a A entrevista realizada com os
vivenciar, no pensamento e práticas religiosos, teve um caráter extremamente
socioculturais, o conflito entre o bem e o reflexivo, as perguntas induzem ao
mal. entrevistado ao pensar e refletir sobre
suas crenças, sob a forma que se enxerga
dentro de uma relação com o
sobrenatural, refletir sobre o que
considera verdade ou não, refletir sobre
o que pensa ser real e o que não.
Buscamos adentrar o imaginário Ao procurarmos analisar as
do sujeito e capturar algumas impressões percepções que evangélicos, católicos e
desses sujeitos entrevistados, que nos espíritas têm do diabo, nos foi possível,
possibilite levar a uma análise histórica, ao longo da pesquisa, identificar as
as percepções que nossos entrevistados continuidades da ideia/imagem do diabo
católicos, evangélicos e espíritas têm do que remontam ao período medieval,
diabo. Refletir sobre a maneira como presentes na visão que evangélicos e
eles, percebem a “ação do diabo” no seu católicos preservam; assim como
cotidiano, e como delimitam estratégias percepções que sinalizam para uma
para se proteger destas ações diabólicas. descontinuidade em relação ao medievo,
Bem como, apresentar experiências que as quais pudemos identificar nas
os entrevistados disseram ter visto o apreciações feitas pelas duas
diabo, acordado, ou em sonho entrevistadas espíritas, as quais tiveram
As entrevistas transformadas em por base os estudos e pesquisas
narrativas, trazem diversos pontos que se desenvolvidas por Allan Kardec no
entrelaçam nas falas dos entrevistados, decorrer da segunda metade do século
visto que de modos diferentes, os três XIX. O fato é que parece existir um
pensamentos religiosos herdam em elemento comum entre todos os nossos
algum nível traços de uma mentalidade entrevistados – a relação entre os planos
medieval, embora adquira diversos visível (físico) e o invisível (espiritual),
significados a depender da experiência a qual é compreendida a partir de
de cada indivíduo. conteúdos místicos (evangélicos e
O uso da História Oral está sendo católicos) e de conteúdos mais racionais
cada vez mais utilizado na produção de (espíritas).
trabalhos acadêmicos e a escolha por Contudo, para adentrarmos os
esse método se deu pelo propósito de discursos dos entrevistados, no momento
acessar o mais próximo possível da em que nos narra de suas experiências de
realidade dos indivíduos a fim de já ter visto o diabo, é necessário um
esclarecer suas trajetórias individuais, aporte metodológico, de Bethoven
tendo em vista que a História Oral Soares (2002), o autor afirma que, uma
“permite o registro de testemunhos e o memória, ao ser armazenada, é
acesso a "histórias dentro da história" e , armazenada ao passo que é significada
dessa forma, amplia as possibilidades de pelo imaginário e interpretada pela sua
interpretação do passado”(ALBERTI, cosmovisão.
VERENA). Portanto, a memória não recorda
somente o fato ocorrido, mas também
Dimensão explicativa evoca as suas leituras e impressões sobre
Podemos interpretar que as faces o lembrado. Em toda memória
do diabo, historicamente construídas, representada, encontradas em discursos,
ainda compõem as percepções religiosas, textos e imagens – perpassam
embora seja possível enxergarmos idéias/ideais ligadas, por um lado, pela
elementos de rupturas, continuidades e subjetividade de quem a articulou e, por
transformações outro, dos grupos aos quais, quem a
realizou, mantém contato. Nas miríades
das concepções de determinada onde o diabo aparece ao lado de Jesus,
sociedade é onde se articulam as servindo ao propósito divino, no papel de
memórias, pois essas, sejam acerca de acusador, nele, o diabo é um promotor,
uma pessoa ou de um acontecimento, são uma peça completamente necessária para
concatenadas com outros fatos a lógica do julgamento divino, ou seja,
ocorridos, visando dar uma coerência a nela, o diabo é peça chave para o
ela e à sua expressividade, assim como funcionamento do céu., o segundo filme
legitimar/justificar visões com as quais é “A lenda” (1985) Nesse segundo filme,
se identifica. o diabo aparece da maneira como é mais
A partir disso, buscamos lançar recorrentemente pensado no ocidente,
um olhar que atravesse esses relatos, e como o rei supremo das hordas infernais
encontre os ângulos do imaginário pelo de demônios e espíritos, nela, o diabo
qual o relato de memória perpassa, ao assume o arquétipo do antagonista, o
relembrar e verbalizar, no caso da nossa inimigo primordial de Deus e da
pesquisa, algum encontro com o diabo. humanidade. O terceiro, é um trecho da
série “Lúcifer” (2016), nessa série, é
desconstruída a imagem do diabo
enquanto antagonista, o coloca na
verdade em um lugar mais complexo, no
papel de representar a possibilidade de
4 Sequências de rebeldia contra o ethos dominante, nela,
Lúcifer se apresenta no arquétipo do
ensino: descrição rebelde, de quebrar as regras, de pensar
diferente da norma comum, ele questiona
das atividades. a fé em Deus, e a moral dos religiosos e
da sociedade em geral com uma pitada
grande de sarcasmo, embora nisso tudo
trabalhe por um objetivo nobre, pois é
Atividade 1; o diabo no cinema. Um detetive de polícia, e é implacável
A partir da exibição do trecho de em suas buscas, a série é feita com o
três filmes diferentes, em que intuito do espectador se afeiçoar ao
representam o diabo de três maneiras Lúcifer
diferentes, sendo os filmes: O auto da
compadecida (2002) o trecho do
julgamento das almas,

.
Nesse sentido, temos três uma personalidade representada por
representações diferentes do diabo, e Goethe.
esse será o ponto de partida para pensar Dessa forma, os alunos serão
o porquê existem essas diferenças de convidados a repensar suas crenças, a
representações. Ao indagar a eles se eles pensar como essas crenças se formaram
acreditam no diabo e qual daqueles em sua mente, e a perceberem como
diabos eles acreditam, eles redigirão um aquilo que elas julgavam ser verdade, é
pequeno texto respondendo essas apenas uma construção histórica e
perguntas, esse exercício reflexivo é cultural.
semelhante ao que foi proposto aos
entrevistados na pesquisa, e é
fundamental pra eles adentrarem na
temática, colocando sob suspeita suas
próprias crenças sobre a realidade. Atividade 2 escavando retratos

A partir da leitura pelo professor Os alunos serão apresentado a


(de forma anônima) das respostas dos
uma série de quadros da idade média que
representam o diabo e o inferno.
alunos, traçar uma reflexão sobre a
construção histórica de cada uma dessas Será indagado se eles já haviam
faces do diabo exibida nos trechos dos visto alguma daquelas imagens, o que
filmes, cada uma fruto do seu contexto eles veem em primeiro momento quando
histórico de criação, o diabo do “auto da as olham e que sentimentos despertam ao
compadecida” é o mesmo diabo descrito olharem pra ela.
no livro de Jó na bíblia, e representa
como o diabo era pensado em grande na
era cristã, antes da idade média, um
tentador, ou um acusador, mas que não
se apresentava como um inimigo
declarado de Deus e seu povo. O diabo
de “A lenda” representa a imagem
construída pela igreja católica do diabo
durante a idade média, como o grande rei
do inferno, a criatura que deveria ser
temida acima de tudo, e que só Deus
poderia dele os salvar. Em contrapartida,
o diabo da série “Lúcifer” traz a
representação do diabo desenvolvida
pelos romancistas que viveram o fim do
renascimento e o início da era moderna,
uma personalidade de rebeldia, que
reconhece uma série de hipocrisias na
forma como a moral da sociedade se
forma, e sobre a forma como a fé, a
religião e principalmente a Igreja age,
Em seguida, os alunos serão Dessa forma, fazendo uma análise das
divididos em grupos, cada grupo ficará respostas dos alunos, historicizar os
com uma das imagens e farão uma elementos que aparecem nas imagens e a
análise a nível iconográfico e forma que aparecem, o, o intuito é de
iconológico. fazer o caminho inverso desses pintores,
ou seja, se os pintores, conscientes ou
não, partiram de seus imaginários
“Esses dois termos ganham espaço na culturais para construírem uma
Escola de Warburg, nos anos que representação visual do diabo, nós
antecedem a ascensão de Hitler, com partiremos das representações visuais, as
teóricos como Aby Warburg (1866 – pinturas, e as usaremos como portais
1929) e Erwin Panofsky (1892 - 1968). para acessarmos o imaginário daqueles
Panofsky emigrou para os Estados sujeitos sobre o diabo. A fim de analisar
Unidos em 1933, e seis anos depois, em como e porque o diabo, o príncipe deste
1939, publica um ensaio onde apresenta mundo, ganha suas faces mais pavorosas
os três níveis de interpretação que e hediondas no imaginário cristão.
devem ser aplicados a uma imagem com Dessa forma poderemos perceber
a intenção de lê-la. O primeiro nível uma intencionalidade de produção dos
é a descrição préiconográfica, onde se quadros do diabo, da maneira que foi, e
devem identificar os objetos e que através da desconstrução desse quadro
tipo de evento é representado, como, possibilitar a construção do
por exemplo, uma batalha, uma festa, conhecimento histórico, ao entender as
um julgamento, entre outros. O produções culturais como não neutras,
segundo nível da análise iconográfica mas sempre como parte da
corresponde ao significado relativo, intencionalidade de quem cria.
no caso dessa pesquisa, um evento
bíblico que ainda não aconteceu, a
vinda de Jesus e o Julgamento das almas.
O terceiro e principal nível é a
análise iconológica da imagem
analisada, o momento em que se buscam
na cena os significados intrínsecos.
Assim, uma abordagem iconográfica e
iconológica das fontes é importante
para o historiador entender o
comportamento, as práticas e as
representações de um determinado
grupo social em um determinado
recorte temporal (ECCEL, 2018, p. 3).”
Atividade 3: desmontando o
guiava seus processos de cristianização,
diabo
que não conseguindo apagar a cultura
Será apresentado aos alunos pagã, a Igreja a modifica, e os deuses
várias representações imagéticas do celtas, gregos, fenícios e incas de
diabo, como Baphomet, Hades, naturezas diferentes, tornam-se
Demônio, Anticristo, anjos caídos... e demônios e diabos com um só propósito,
será pedido aos alunos que identifiquem levar almas ao inferno.
nas imagens, as características chave que
Essa apropriação por parte do
remetem ao diabo, eles terão de dizer
cristianismo de ideias [sic] e cerimônias
quais traços daquelas representações,
emprestadas às religiões politeístas tem a
fazem eles identificar aquele
sua contrapartida no delineamento mais
personagem como o diabo.
límpido de sua teoria demonológica.
Características essas que serão, Tudo o que ele repeliu energicamente
chifres em sua cabeça, pele vermelha ou como demasiadamente pagão, como
escura, escamosa ou com pelos, uma contrário a seus dogmas, como impuro e
rabo as vezes pontiagudo, pés de cascos ímpio, refugiou-se no reino do Mal. Aos
fendidos, garras como de um dragão ou demônios foram emprestadas as imagens
outra fera, ou ainda dedos humanoides que os antigos atribuíam às suas
mas esqueléticos, uma boca cheia de divindades infernais (Nogueira, 2000, p.
dentes avantajados e olhos vazios ou 36).
intimidadores, o uso de tridentes, uma
Dessa forma, os alunos serão
relação de proximidade com o fogo, e
convidados a repensar as suas
geralmente uma segunda face em suas
representações mentais sobre o diabo,
nadegas ou em sua barriga, geralmente
reconhecendo agora as representações
ele se encontra ocupado punindo as
desse personagem como uma
almas no inferno das mais diversas
metamorfose nascida de um violento e
formas.
sincrético processo de cristianização.
A partir das respostas deles, será
feito um inventário de características
uma exposição sobre a historicidade de
cada uma dessas características,
evidenciando como cada uma dessas
características “diabólicas”, eram
características de seres ditos pagãos pela
Igreja na idade média, e então explicar
esse processo de fusão e demonização
das deidades pagãs pela Igreja católica
num processo de violência religiosa que
Atividade 4: O Horror ossos se desconjuntaram ao pensar nesse
horrendo lugar! Como caístes do Céu,
diabolicus. Lúcifer, filho da aurora? Estavas revestido
Os alunos serão convidados a de pedras preciosas, e agora, debaixo de teu
leito e em teu leito, vermes. Oh, Senhor,
lerem dois trechos de textos que foram
quanta distância entre um manto de pedras
escritos na idade média durante o
preciosas e outro de vermes, entre as delícias
período de Horror diabolicus, período de do Paraíso e as trevas infernais! Bem sei que
grande histeria em que o diabo se fazia esse fogo está reservado ao diabo, a seus
onipresente nos discursos da Igreja anjos e a homens como eles! Aquilo é como
Católica, delineando um imaginário que consumir-se eternamente, morte
tinha o diabo como uma figura muito interminável, tormento infindável! Desce
presente, uma figura que impunha medo agora, portanto, em vida, ao Inferno,
e que através desse medo, arregimentava percorre com os olhos do espírito essas
as pessoas de volta a Igreja, muitas das oficinas de tormento e foge do crime e do
pessoas iam a Igreja não por amor a Deus vício que causaram a morte aos malvados e
pecadores! Odeia a iniquidade e ama a Lei
algum, mas por medo de cair nos
do Senhor, e nesses formidáveis mercados
horrores do inferno que era declarados
compra o ódio do pecado
pelas autoridades eclesiásticas.
Explicaremos a origem dos dois
documentos e buscaremos perceber TEXTO 2: e não só calamidades,
dessa forma, analisando os textos tormentos e doenças, mas também ruídos
medievais, como a Igreja utilizou do inesperados, como o farfalhar de folhas, o
diabo enquanto uma ferramenta de gemido do vento, devem ser atribuídos ao
controle que operava através do medo, artifício diabólico. Para Cesariuss o diabo
abrindo espaço para debater sobre as pode aparecer sob várias formas, um urso,
um cavalo, um gato, um macaco, um sapo,
conjunturas políticas e religiosas da
um corvo, um abutre, um cavalheiro, um
época e/ou o poder das narrativas para a
soldado, um caçador, um dragão e um negro.
manutenção da ordem social.
não era raro disfarçar-se de mouro. Seu
número era infinito, pois nada menos que um
número superior à décima parte das falanges
TEXTO 1 : Os que estão no Inferno não celestiais havia sido precipitado do céu junto
podem mais serem redimidos, porque no com satã. e por essa razão um ser humano
Inferno não há redenção (...) Trata-se de uma pode ser importunado por mais de um
região dura e pesada, região terrível, região demônio ao mesmo tempo.
repelente! Terra do esquecimento 44, terra
da aflição, terra miserável, terra tenebrosa, Dessa forma, será possível fazer
onde não há ordem, somente o eterno horror
a análise do imaginário dos sujeitos
inabitável 45! Lugar da morte, do fogo
através da investigação do escrito,
ardente, do frio rigoroso, dos vermes
imortais 46, do fedor intolerável, dos
levando os alunos a empreenderem uma
martelos percucientes 47, das trevas atividade puramente historiográfica de
palpáveis 48, da confusão dos pecados, do análise de fontes primárias, os fazendo
barulho das cadeias, das horríveis faces dos compreender principalmente o discurso
demônios! Tremo dos pés à cabeça e meus enquanto uma ferramenta de poder.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

- KRAMER E SPRENGER. O martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro,


Best Bolso 5°edição, 2020.

- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista


/ recebidos e coordenados por Allan Kardec; [tradução de guillon
Ribeiro]. – 93. ed. 1. imp. (Edição histórica) – Brasília: fEb, 2013.

- VISSIÉRI, Laurent. Personagem em metamorfose. História VIVA:


sob a sombra do diabo. p.8-9. 2008.

- GOMES, Rafael dos Santos. Qual a face do mal? As concepções


sobre o diabo na historiografia contemporânea. Orientador:
Prof. DR. Bruno Gonçalves Alvaro. 2018. 68 f. TCC (Graduação) -
Licenciatura em História. Departamento de História da
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2018.

- ECCEL, Jordana Schio. A iconologia do opositor: o diabo nas


pinturas do último julgamento. UFMS. 2017.

- NOGUEIRA, Carlos Roberto Ferreira. O diabo no imaginário


cristão. 2° edição. Bauru, São Paulo. EDUSC, 2002.

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