Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
3323
1. Noção de projecto educativo
3324
2. Políticas de descentralização
1
No sistema educativo Português, dois normativos são fundamentais para analisar este processo: o
Decreto-Lei 43/89 de 3 de Fevereiro e o Decreto-Lei nº115 A/98.
3325
Por mais regulação formal que exista, o projecto educativo dependerá de redes informais
de decisão que existem em função das dinâmicas das escolas e de estratégias de negociação dos
actores educativos. Daí que ao nível da sua construção, a abordagem política decide-se e aplica-
se numa perspectiva interpretativa e menos determinista (Richard e Sykes, 1992) ou num
espaço de reconstrução de valores, experiências e interesses.
3326
o documento fundamental de organização e canalização da corrente de esforços e intenções da
comunidade educativa de modo a contextualizar e optimizar o processo de
ensino/aprendizagem.
Para Halpin (2003, citado por Barroso, 2004, p.68) “a “autonomia das escolas” pode ter
um sentido menos ficcional e mais utópico. Referimo-nos aqui ao conceito de utopias reais -
isto é, imagens criativas e complexas do futuro, construídas para resolver problemas do
presente, e cuja concretização depende de uma visão optimista da sociedade e da sua capacidade
de mudança”. Por conseguinte, Barroso (2004) refere que uma visão utópica da autonomia
escolar transcende a mera alteração administrativa e normativa das competências e dos modos
de gestão das escolas, ideia esta que se encontrava nos sete princípios programáticos relativos
ao modelo de “autonomia construída”que estariam na base do modelo de gestão das escolas
discutido em Portugal, nos finais da década de 90. Destes princípios, retiramos a ideia de que o
reforço da autonomia das escolas não deve ser definido de modo isolado, exigindo sempre que
seja preservado e aumentado o papel regulador do Estado e da sua administração. Este reforço
deve ainda traduzir-se, por um lado, na criação de um conjunto de competências e meios que os
órgãos próprios de gestão devem possuir para decidirem sobre matérias relevantes e, por outro,
na criação de condições para que a autonomia seja “construída”. O reforço da autonomia não
deverá constituir um fim em si mesmo, nem surgir às escolas como uma imposição, devendo ser
as próprias escolas a exprimir a sua vontade em aceder a um estatuto mais elevado de
autonomia. Nestes princípios encontram-se ainda duas ideias fundamentais, a primeira é a de
que a autonomia é um investimento, pois tem custos e consome recursos que se deverão traduzir
em benefícios para todos; a segunda é a de que a autonomia também se aprende, sendo então
necessário incentivar e desenvolver uma pedagogia da autonomia, que comece na
Administração central e acabe nas próprias escolas.
Carvalho e Diogo (2001) argumentam que o projecto educativo poderá vir a cumprir para
com a comunidade educativa várias funções, na medida em que permite a passagem do ideal à
acção, assumindo-se como organizador de diversidade e construtor de espaços de autonomia;
apresenta-se como um gerador de descentralização; favorece uma atitude democrática e
comunicativa; exige competências próprias, assim como também tem a função de propiciar o
trabalho em equipa.
Sentir a necessidade de um projecto, iniciar um processo que conduzirá à sua elaboração,
conseguir o envolvimento dos elementos da organização, torná-lo exequível operacionalizando-
o, avaliar a sua implementação e reformulá-lo, adequando-o à escola como comunidade
dinâmica, não são mais do que diferentes fases de um processo com o propósito de assumir na
plenitude o espaço de autonomia que o actual quadro normativo confere às escolas.
3327
Este é também o momento para recolher contributos sobre o que deve ser,
conceptualmente a educação e o projecto educativo: a que valores deve fazer referência? Qual o
âmbito das suas finalidades? Que estratégias deve utilizar? Relativamente a este aspecto, não
existem receitas definitivas, o espaço de actuação é amplo e cada escola deve utilizá-lo de
acordo com as condições humanas, sociais, culturais ou mesmo económicas de que dispõe.
Um aspecto a ter em conta é se o projecto educativo se elabora apenas por ser uma
imposição resultante de um processo de implementação do regime de autonomia e gestão das
escolas, ou se resulta da vontade de se delinear o seu espaço social, de se pensar como serviço
público de educação e de se organizar para melhor servir a comunidade em que a escola se
integra (Formosinho e Machado, 2000). Factores como a negociação, a tomada de decisão e a
participação deverão ser tidos como elementos fundamentais que contribuem, simultaneamente,
para a qualidade do projecto e para assegurar a sua realização. Ainda a propósito deste factor
convém referir que em Portugal, desde 1975, com as estruturas dos órgãos de gestão das escolas
e o desenvolvimento da denominada “gestão democrática” reuniram-se condições favoráveis à
participação dos diferentes elementos que constituem a escola. No entanto, a realidade com que
nos deparamos na maior parte dos casos, remete-nos para um projecto educativo de escola
elaborado por um restrito grupo de pessoas que sem alargar o debate à restante escola, o
apresenta à aprovação do Conselho Pedagógico. De modo geral, todo este curto processo vê-se
irremediavelmente limitado e terminado com a sua afixação na sala de professores (Silva,
1994).
Parece ainda importante salientar e apoiar a afirmação de que pior do que não ter um
projecto educativo é ter um mau projecto educativo. Entenda-se aqui por mau projecto
educativo aquele que é esquecido na gaveta da escola, ou aquele que é elaborado sem o
contributo da comunidade escolar, muitas das vezes copiado ou então adaptado sem
corresponder minimamente a uma profunda reflexão acerca da escola e da sua especificidade.
Estas atitudes conduzirão a um vazio de conteúdo e traduzirão uma clara ausência de cultura
colectiva no que respeita à questão da organização, substituída por uma “cultura do
individualismo” ou corporativista de professores, funcionários, coordenadores, etc. (Sarmento,
1993, p.29).
Ainda segundo Sarmento (Idem, Ibidem, p. 29) “a má utilização do projecto educativo
enquanto instrumento de melhoria do estabelecimento de ensino radica na indefinição de
princípios, orientações e valores da escola o que virá, mais cedo ou mais tarde, a condenar o
próprio projecto a um acumular de actividades sem estratégia. Corre-se assim o risco de se
chegar à situação em que o projecto educativo se reduz a um mero plano de actividades”.
3328
Existe ainda um outro aspecto fundamental que se não for convenientemente definido
conduzirá a uma realidade errada. Para a construção do projecto educativo de escola é
necessário partir para o diagnóstico da situação escolar de modo a que se possa equacionar a
área problemática adequada. A identificação do(s) problema(s) levar-nos-á à inventariação de
um conjunto de soluções possíveis, soluções essas que resultarão de critérios que terão em conta
o conceito de educação defendido pela comunidade educativa. Quanto mais aproximado for o
diagnóstico da real situação da comunidade educativa, maiores serão as probabilidades de êxito
do projecto educativo (Carvalho e Diogo, 2001).
Este trabalho de diagnóstico, relacionado também com o trabalho de avaliação, é
fundamental e incontornável, apesar de normalmente as escolas denotarem grandes dificuldades
em fazê-lo, já que implica uma grande abertura, um elevado espírito crítico ou melhor, uma
grande capacidade de auto-crítica.
Um aspecto essencial que se deve ter em consideração na sua elaboração é o de que o
projecto educativo representa uma oportunidade para aproximar a escola da comunidade
envolvente.
O projecto educativo, para Madeira (1995, p.172), pode ser “encarado como um
instrumento orientador da acção educativa no âmbito de um determinado contexto social, que
articula a concepção e operacionalização da estratégia de desenvolvimento de um determinado
estabelecimento de ensino, com a participação da comunidade educativa na função educação”.
O projecto educativo é então uma peça vital na construção da autonomia da escola e a sua
construção participativa remete para um conceito de escola aberta à comunidade que, perante
um ideal de democracia pluralista e através de estratégias diversificadas, procura promover o
sucesso educativo de todos os alunos, originando o que se denomina por “escola comunidade
educativa”. Estamos, assim, perante uma escola de interesse público que tem como função
participar no alargamento e aprofundamento da educação e que não esquece a sua relação com a
comunidade envolvente, que, por sua vez, assume também o seu papel de agente educativo
(Carvalho e Diogo, 2001).
O projecto educativo depois de elaborado e aprovado por toda a comunidade educativa
passa então para as fases da implementação e avaliação.
Convém ainda referir a existência de documentos de planificação operatória que
funcionam como instrumentos fundamentais para a concretização do projecto educativo, como é
o caso do projecto curricular de escola, onde encontramos planificadas todas as actividades
lectivas e não-lectivas a desenvolver ao longo do ano lectivo. Um outro instrumento a ter em
conta é o Regulamento Interno que deve servir de guia para as relações quer entre indivíduos,
quer entre grupos, devendo conter os direitos e deveres dos actores, normas de funcionamento
3329
dos serviços e regras de convivência (Rocha, 1996). Referencia também para o projecto
curricular de turma, onde o professor planifica e programa a sua prática, tomando deste modo
decisões que afectam o conteúdo da educação dos seus alunos (Carvalho e Diogo, 2001;
Carlinda, et all , 2001).
Depois de referidos alguns aspectos relacionados com a construção do projecto educativo,
parece-nos ser de extrema importância evidenciar alguns dos obstáculos que podem surgir na
sua elaboração. A construção do projecto educativo, e consequentemente a concretização da
autonomia, estruturar-se-á com o carácter generalista dos normativos, já que estes não respeitam
a identidade de cada escola, assim como as suas características geográficas, económicas, sociais
e culturais. Um outro obstáculo de grande importância será a grande mobilidade dos docentes
que compõem o corpo docente da escola, pois torna-se difícil incentivar os professores para a
concretização de um projecto que não foi por eles idealizado e com o qual podem até ter
algumas discordâncias e do qual não se apropriaram afectivamente.
Existe a falta de incentivos para os docentes conduzirem o seu trabalho para lá da sala de
aula. Os docentes que se mostram motivados profissionalmente vêem-se muitas vezes
confrontados com atitudes passivas e descrentes de outros docentes, na base daquilo que Lima
(2003) chama a cultura do individualismo.
Deve-se ainda referir a escassez de recursos materiais, embora seja bom ter a consciência
de que os recursos serão sempre escassos para as necessidades.
Podemos então concluir que o projecto educativo será sempre uma manifestação de
vontade, uma conceptualização da realidade da comunidade educativa, no seu sentido mais
amplo, que se deparará com inúmeros obstáculos. Um projecto educativo, para ultrapassar o
mero plano das intenções, precisa de saber com que meios poderá contar para avaliar a sua
capacidade e para atingir os seus objectivos.
4. Questões de metodologia
3330
que as respostas sejam submetidas a procedimentos estatísticos e à análise de conteúdo. A
análise de conteúdo foi utilizada para os projectos educativos das escolas a que pertencem os
professores.
Além disso, depois de recolher e analisar os dados quantitativos procedeu-se a uma
análise de conteúdo das questões abertas do inquérito por questionário, com o propósito de criar
um sistema emergente de categorias.
A partir destes dados, obtidos pela análise documental dos projectos educativos e pelo
inquérito por questionário sobre as representações dos professores do 1º ciclo, procurou-se
relacionar os resultados obtidos de forma a compreender a problemática da valorização do
projecto educativo, perspectivado como um documento participativo e/ou instrumento de
planificação pedagógica.
3331
Relativamente ao item “o projecto educativo do seu agrupamento apresenta medidas que
concretizem a relação escola-meio”, a grande maioria dos professores respondeu sim (96,1%).
À questão do projecto educativo ser um instrumento importante para a operacionalização
da autonomia nas escolas, a maioria dos professores assinalou sim (57,2%), sendo significativa
a percentagem daqueles que não têm opinião (26,9%), respondendo ainda não (15,9%).
No que se refere à questão da contribuição do projecto educativo para um aumento
significativo da participação dos pais, encarregados de educação e representantes da
comunidade local no processo educativo, os professores responderam sim (63,4%), não (13,8%)
e sem opinião (22,8%).
3332
Embora na primeira parte deste texto se faça referência à relação de imprescindibilidade
existente entre o projecto educativo e a autonomia, com a observação dos resultados obtidos,
registamos que, mesmo não sendo a maioria, existe uma elevada percentagem de professores
que não concorda, ou que não possui qualquer opinião, relativamente à questão do projecto
educativo ser um instrumento importante para a operacionalização da autonomia das escolas. Os
resultados definitivos deste estudo permitir-nos-ão sustentar toda esta argumentação.
Referências bibliográficas
3333
3334