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CURRÍCULO E SOCIEDADE

AULA 5

Prof.ª Dinamara Pereira Machado


Prof.ª Kátia Regina Dambiski Soares
CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos visitar conceitos que nos remetem a questões de


organização do trabalho na escola com base no currículo. Vamos relembrar
que o planejamento é uma atividade que exige reflexão e posteriormente ação
sobre uma determinada realidade, tendo como norte a intenção clara de
transformá-la com objetivos a serem alcançados a curto, médio e longo prazo.
Planejar é ter um plano que irá intervir na realidade por meio de decisões e
intenções.
Vamos estudar um pouco sobre a elaboração do currículo escolar e
como se dá esse processo, analisando o aspecto estrutural, o aspecto
funcional, a dimensão curricular e o campo curricular.

TEMA 1 – A ELABORAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR

Um currículo, para sua elaboração, necessita de documentos orientados,


o que chamamos de currículo prescrito; além disso, precisa também das
orientações curriculares, ou seja, o currículo planejado; com base nesses
documentos surge o projeto político pedagógico (PPP), que é o próprio
currículo escolar organizado, efetivado por meio do currículo em ação, ou plano
de Trabalho Docente, e da prática em sala de aula. Por fim, este currículo é
avaliado interna e externamente.
O currículo expressa acima de tudo a autonomia pedagógica da escola.
Na elaboração do currículo escolar, leva-se em conta um antigo
questionamento: Qual é a escola que queremos? Qual é o papel do ensino
básico nesse projeto de sociedade que queremos?
Automaticamente, pensa-se que o conteúdo deve perpassar o currículo
para formar o aluno que queremos e para que tenhamos a sociedade ideal. É
preciso pensar na formação do currículo quem são os sujeitos da escola e
principalmente da escola pública, de onde vêm e quais as referências sociais e
culturais que vão adentrar a escola.
O aluno é fruto do seu tempo histórico, das relações sociais em que está
envolvido, mas é também sujeito individual que compõe o mundo da maneira
como ele o entende e como acredita que deve participar.
Na organização e elaboração curricular, é preciso estabelecer objetivos,
além da concepção de homem e da concepção de mundo, que estarão

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presentes no PPP, pois a escola é lugar de socializar o conhecimento; logo, os
sujeitos da educação devem ter acesso ao conhecimento que é produzido pela
sociedade, e que na escola perpassa diretamente pelos conteúdos das
disciplinas, organizadas seriadamente.
Imprescindível nesta organização compreender os conteúdos de forma a
relacioná-los interdisciplinarmente, contextualizados com a realidade em que
os sujeitos vivem.
O currículo é uma construção coletiva de conteúdos universais que
promovem a qualidade da aprendizagem de todos os indivíduos, e para isso se
faz necessário garantir igualdade no atendimento dos alunos, mesmo que por
diversos caminhos, resultando num espaço educativo que gera conhecimento e
cultura.
Devemos pensar que em tempos de gestão democrática o currículo é
um documento que expressa acima de tudo um projeto social com os reflexos
culturais de um povo. Nesse sentido, a escola atua como uma fonte de
mediação entre o conhecimento e a sociedade, sendo o professor responsável
por fazer a ponte entre o conhecimento e o aluno, e o conhecimento por si só
torna-se uma via de promoção e humanização do indivíduo para a
transformação social.
Como já apontamos, currículo pressupõe planejamento, e por meio da
gestão democrática alcança seu auge com todos participando em torno da sua
produção.
O processo de gestão democrática da escola pública implica práticas de
gestão com novos significados. O ordenamento jurídico é a lei de Diretrizes e
Bases da educação nacional (Lei n. 9.394/96 – LDBEN), que está em
conformidade com o que propõe a Constituição Federal de 1988, e reforçado
nos planos nacionais de educação.
Essas legislações apontam para a educação e o seu planejamento com
envolvimento da escola para a promoção da autonomia da escola e a união da
comunidade do entorno para participação e decisões coletivas.

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Figura 1 – Trabalho pedagógico

ELEMENTOS DA
ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO PEDAGÓGICO

GESTÃO CURRÍCULO PLANEJAMENTO


E AVALIAÇÃO

Um dos princípios básicos no pensamento da elaboração do currículo


escolar é a gestão democrática na busca pela autonomia da escola, utilizando-
se de instrumentos para sua realização. Podemos listar os mais importantes
como a escolha dos gestores pela comunidade, a criação dos órgãos
colegiados, a construção contínua e a análise do PPP com a participação da
comunidade, respeitando os espaços escolares.
O MEC prevê para a escola níveis de autonomia setoriais com
interligação entre si, relativizados à função social representada na escola, além
de seguir as legislações pertinentes a todas as normas padronizadas na
Constituição; por isso, claramente evidencia-se que a autonomia é relativa, pois
está ligada ao sistema escolar.
Quando se trata de autonomia administrativa, é sobre poder gerenciar e
criar todos os planos, projetos e programas dentro do ambiente escolar. Da
autonomia jurídica, fica claro que está submetida a seguir normas e legislações
nacionais, para criar as suas próprias na escola, como por exemplo matrículas
de alunos ou admissão de professores. Para que haja autonomia financeira, é
preciso gerir os recursos financeiros disponíveis.
Por fim, a maior autonomia que os espaços escolares têm é a autonomia
pedagógica, pois é possível trabalhar com as mais diversas metodologias na
elaboração das propostas curriculares de ensino, com papel preponderante na
elaboração de projetos de atendimento à comunidade, para crescimento do
processo de ensino aprendizagem. Nesse segmento, encontra-se a função
social da escola e toda a elaboração e reorganização curricular.

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O currículo, portanto, é um instrumento de elevado poder na preparação
do indivíduo para a intelectualidade, a pluralidade, a cultura, a política e a
profissão; eis a função social da escola e a sua importância na transformação
da sociedade.

TEMA 2 – ASPECTO ESTRUTURAL

Quais são os elementos estruturais implicados na organização


curricular? Essa questão está diretamente ligada à forma como a escola está
organizada, ou seja, é uma dimensão que aponta para a ordem pela qual o
currículo está estabelecido naquele lócus.
Um dos elementos é o tempo e a forma como ele está definido dentro do
espaço, como por exemplo os anos do curso que o aluno frequenta, a
sequência de escolaridade, o horário estabelecido de forma semanal,
repetidamente, o horário diário, também repetido de forma cíclica. É uma
concepção de tempo que permeia o currículo a ser estabelecido naquele lócus.
Além do tempo, outro fator estrutural importante é a delimitação e
organização dos conteúdos curriculares. Compreender, dentro dessa
delimitação, as fontes onde a informação poderá ser obtida, entendendo o que
podemos e devemos aprender, é uma tarefa que demanda concentração e
estudos, para se obter sucesso no processo de ensino aprendizagem.
Sacristán (2013, p. 21) aponta, entre os elementos estruturantes:

Organização em disciplinas e outras formas de classificação de


conteúdos. A ordem da sequência dos conteúdos. Permeabilidade
das fronteiras entre os territórios demarcados. Itinerários de
progressão nos conteúdos e no tempo. Opções epistêmicas sobre o
conhecimento. Sistemas e mecanismos de avaliação das
aprendizagens.

Cada tempo utilizado dentro da dimensão estrutural curricular, por sua


vez, atinge outros elementos que estão entrelaçados ao espaço escolar.
Quando se define o tempo de aprender automaticamente, entende-se que se
reflete no tempo livre. Se temos o tempo de aprender, seu correlato, tempo de
ensinar, está automaticamente implicado. Ainda para Sacristán (2013, p. 21):

Os elementos e aspectos estruturados afetados podem ser


conhecimentos e saberes valorizados. Atividades possíveis de
ensinar ou transmissoras em geral. Atividades possíveis e prováveis
de aprendizagem e seus resultados. Comportamentos tolerados e
estimulados. Linha e ritmo de progresso. Identidade e especialização
dos professores. Orientação do desenvolvimento das pessoas.

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É importante perceber que os elementos que estruturam o currículo vão
muito além do simples movimento de conteúdos. Aqui apontamos dois como
fundamentais, tempo e conteúdo, mas ainda vamos pensar nas questões do
espaço físico escolar onde o conteúdo acontece, nas classificações dos alunos,
nas regras de comportamento e nas relações pessoais estabelecidas entre
alunos e professores, entre professores e equipe diretora, entre funcionários e
professores e alunos, e entre cada segmento que compõe a escola. E por fim,
dentro do processo de ensinar, vamos tratar das ideologias e filosofias que
permeiam esse currículo e dos sistemas de avaliação.
A complexidade da estrutura curricular é extremamente importante de
ser analisada, compreendida, digerida, refutada ou substituída, quando
necessário. Um planejamento profícuo de toda essa orientação que permeia o
espaço escola, e que está dentro das questões curriculares, é fundamental,
pois sabemos que não é a mesma coisa aprender sobre determinado conteúdo
dentro ou fora da escola. O currículo é isso: é um projeto de conhecimento e
cultura que se pretende oferecer a uma população.

Portanto quando se faz a crítica da cultura escolar, é preciso que ela


se dirija as formas escolares do conhecimento; e, quando se propõe
um projeto de cultura para a escolaridade, deveremos avaliá-lo em
função do que ele pode chegar a se transformar uma vez traduzido
em conhecimento escolar (Sacristán, 2013, p.21)

Uma mudança significativa de conhecimento que se transforma em


cultura só é possível com base em uma intermediação curricular adequada e
intencional. Esse é o papel do material didático que está nutrindo o currículo
específico.

TEMA 3 – DIMENSÃO FUNCIONAL

O currículo é uma construção de possíveis respostas das possibilidades


de currículo real, ou seja, é uma alternativa entre tantas outras possibilidades,
não sendo neutro.

A importância fundamental do currículo para a escolaridade reside no


fato de que ele é a expressão do projeto cultural e educacional que as
instituições de educação dizem que irão desenvolver com os alunos
(e para eles) aquilo que considera adequado. Por meio desse projeto
institucional são expressadas forças, interesses ou valores e
preferências da sociedade de determinados setores sociais, das
famílias, dos grupos políticos, etc. (Sacristán, 2013, p. 23 e 24)

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Identificar a dimensão funcional da escola e sua determinação no campo
curricular é extrapolar o conceito de currículo para além do que ocupa o tempo
escolar; é algo muito maior do que conteúdo ou área que serão ensinadas. Se
apenas se contivesse dentro desse fractal, não poderia relacionar nada como
educação para a cidadania ou direitos humanos, e menos ainda educar para a
sensibilidade perante o mundo que vive e o preparar-se para ele.
A educação serve para desenvolver o ser humano em todas as suas
capacidades como indivíduo e como membro da sociedade, sua mente, corpo
e espírito; “portanto, as funções da educação escolarizada, são mais amplos do
que aquilo que normalmente se reconhece como os conteúdos do currículo.
Essa observação serve para não perder de vista aspectos essenciais pelos
quais devemos velar nas escolas e nas aulas”. (Sacristán, 2013, p. 24)
Os currículos são complexos, variando de países no momento de sua
elaboração, sendo distintos de acordo com as especificidades que existem
dentro do sistema educacional. A dimensão funcional da escola é caracterizada
pela forma de utilização dos seus espaços, e emerge como um lócus
fundamental para a construção do indivíduo e para ele próprio, ao mesmo
tempo que emerge para a evolução da humanidade. A escola em si é uma
instituição social permeada por objetivos e metas, empregando e reelaborando
todo o conhecimento que é socialmente produzido.

o termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais


destinados para a atividade, caracterizados pelos objetos, pelos
materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração. O termo
ambiente refere-se ao conjunto do espaço físico e as relações que se
estabelecem no mesmo (os afetos, as relações interpessoais entre as
crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu conjunto)
(Forneiro, 1998, p. 232).

Portanto, a dimensão funcional acaba caracterizando os espaços e suas


utilizações, sendo o ambiente de sala de aula muito mais do que um simples
lugar onde encontramos materiais didáticos, pois o ambiente acrescenta
significados para a experiência educativa do estudante, atraindo o seu
interesse para as atividades de aprendizagem. Necessariamente, o espaço
contribui de maneira positiva ou negativa para a interação e aprendizagem
escolar. O ambiente por si vincula a educação escolar e como ela ocorre no
seu espaço; a educação é vista como um ato social de mudanças e avanços.
A função social da escola é complexa; consequentemente, para que sua
função se cumpra, algumas questões emergem no cotidiano, como por

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exemplo a dedicação dos profissionais da educação de estar sempre
capacitados, acompanhando as mudanças que coadunam com o campo do
trabalho. A ordem maior é poder criar um vínculo entre o que a escola ensina e
aquilo que o aluno vive fora dela.
O campo curricular colabora para a dimensão funcional da escola
quando consegue unir esse conhecimento que a escola produz e o que o aluno
já conhece. Os conteúdos curriculares, nesse sentido, estabelecem uma
relação entre teoria e prática, ou seja, a escola contextualiza o currículo dando
sentido à vida para além dos escolares. O professor, nesse sentido,
desenvolve competências que ajudam a conduzir o aluno a interagir com seu
meio.
Não obstante essas questões de interação curricular, não se pode
esquecer que as questões escolares estão estritamente ligadas à qualidade na
escolaridade, ou seja, a escola necessita ser um local que transmite conteúdo
sem engessar e reproduzir, pois deve auxiliar na percepção das concepções de
mundo para a construção da cidadania e responsabilização pela composição
da sociedade.
Formar o aluno para a sociedade atual é a função social da escola, que
deve permear todo o processo de ensino aprendizagem e estar contido no
currículo individualizado de cada escola.

TEMA 4 – DIMENSÃO ORGANIZACIONAL

Compreender a dimensão organizacional da escola no que se refere ao


currículo insta compreender a estrutura pedagógica e administrativa, além da
função da escola e da atuação da equipe pedagógica. A cultura, que é tudo
que o homem produz, traz em si a construção histórica para a formação do
homem, e assim a educação medeia a formação integral do homem. É pela
educação, então, que nos apropriamos da cultura, para, com base nela,
desfrutarmos da história; por isso, educar é algo que transcende o indivíduo,
pois ao adquirir cultura, ele produz a história e contribui para o bem coletivo.

A educação como mediação para formação do homem histórico,


envolve necessariamente relações humanas entre seres cuja
condição de sujeito precisa ser permanentemente afirmada, posto
que é tal condição que os caracteriza como seres históricos. Neste
sentido a relação pedagógica supõe a postura ética dos sujeitos nela
envolvidos: tanto quem educa quanto quem é educado precisa querer
fazê-lo para que a relação se efetive como genuinamente

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pedagógica. Por isso a estrutura da escola deve assumir uma forma
democrática que favoreça a vontade dos sujeitos envolvidos no
processo pedagógico. (Paro, 2008, p. 130)

A organização curricular centrada no coletivo, para a motivação da


construção de alunos autônomos e libertos, necessita também libertar a escola
de uma visão de conteúdos que vão sendo depositados nos alunos, pois estes
não são largos barracões de depósito e sim seres humanos abertos ao
aprendizado, ao conhecimento e ao saber.
A organização curricular precisa pensar a cultura, a mente, a política, a
história, a saúde, a economia, entre outros temas centrais na construção do
indivíduo, e não com objetivo perpendicular ou transversal; precisa pensar o
ideal de um cidadão pleno, participante, humanizado, como se fosse o próprio
currículo vivo.
Então, novamente a questão: Que escola queremos? Que ser humano
estamos formando? Qual qualificação curricular é necessária para um cidadão
humanizado? A escola, naturalmente, sem fazer esforço, ensina conteúdos
formais, além de competências e habilidades para a participação do indivíduo
como cidadão completo, usufruindo de seus direitos e deveres. A contribuição
da escola para a formação cidadã é fundamental, e por isso a escola é para
todos, e ninguém pode ou deve ficar fora dela; sendo assim, preserva o
indivíduo para a transformação em aprendizagem coletiva.
A escola é imprescindível para a transformação social. Uma educação
de qualidade é o que pode gerar uma sociedade mais justa e igualitária, e com
certeza os profissionais da educação se encontram aí, neste local, como
grandes responsáveis por esta qualidade.

Na atual conjuntura social, a sociedade exige uma demanda muito


forte de profissionais capacitados que atuem em diversos espaços
que envolvem práticas educativas e socioculturais. Essa
responsabilidade social é tida como um desafio na atuação do
pedagogo, porque durante a formação percebemos que se deixa uma
lacuna que necessita de conceitos e conteúdos mais consistentes e
aprofundados para uma atuação reflexiva que contribua
significativamente com a situação imposta a esse profissional.
(Gomes, 2015)

Não somente ao pedagogo, mas a todos os profissionais da área


educacional, é mister qualificar-se continuamente, para assegurar um ensino
de qualidade e uma formação humana cidadã.
O currículo é a base da organização escolar; todas as atividades
escolares estão previstas no currículo para o desenvolvimento do processo de
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ensino aprendizagem do aluno. A sistematização dos saberes que estão no
currículo escolar é a sistematização da própria humanidade.
Lembremos novamente que o currículo não é neutro, pois ele está
sempre imbuído de aspectos políticos, culturais, econômicos, sociais e
humanos. Os conhecimentos formais e informais no contexto escolar integram
as produções históricas do homem. O currículo define como, para que, e quais
são os conteúdos que serão trabalhados nos mais variados níveis, etapas e
modalidades de ensino.
A organização curricular se faz por meio dos conhecimentos que foram
produzidos pelo homem de maneira formal e informal. Os conhecimentos são
os conteúdos propriamente ditos, organizados no contexto escolar por meio do
currículo.

TEMA 5 – CAMPO CURRICULAR

A escolha dos conteúdos do campo curricular está ligada diretamente às


teorias e concepções que permeiam o campo educacional, pois o currículo traz
em si questões econômicas, políticas, sociais, culturais e históricas, e por isso
mesmo exige discussão ampla entre educadores, escola e comunidade.

Fazendo uma analogia podemos comparar currículo como um


caminho a ser feito por barcos em um rio. Passando por curvas,
corredeiras, troncos, cada barco vai fazendo seu percurso conforme
as condições dos envolvidos, sendo essas condições físicas,
emocionais, cognitivas ou outros. Alguns barcos podem percorrer o
caminho sem dificuldades, porem outros podem considerá-lo de difícil
acesso, impossível (Lima; Zanlorenzi; Pinheiro, 2012, p. 24)

Comparando o currículo com um caminho a ser percorrido,


imediatamente identificamos uma trajetória que é aos poucos construída por
quem avança no caminho, que podemos denominar de práxis. Currículo é
transformação, pois por meio dele mudam-se caminhos, propõem-se rotas,
atravessam-se barreiras, adquirindo conhecimento e estabelecendo um fazer
pedagógico diário. O PPP de cada escola concretiza o currículo em seu lócus
próprio com o auxílio de toda a comunidade escolar.
O currículo vai muito além do conteúdo, propondo a reconstrução social,
de modo que haja uma programação inerente capaz de proporcionar
mudanças. A escola não é o único lugar onde deve ocorrer a mudança, mas é
por meio dela que tudo pode acontecer. Obviamente que a pergunta – que ser

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humano queremos formar? – envolve a intenção política de currículo para a
formação humana.

Assim, o currículo deve ultrapassar o caráter impositivo, verticalizado,


centralizado e pensado nos gabinetes, que fica a margem dos
debates que envolvem professores, alunos e comunidade,
resumindo-se a um simples documento vindo a se unir aos demais
documentos que integram as gavetas das escolas. (Lima; Zanlorenzi;
Pinheiro, 2012, p. 32)

Nesse sentido, ao falarmos de currículo, é inevitável pensar a escola e


consequentemente como os conteúdos formais e informais se formam dento
das disciplinas. Há que se ter cuidado ao elaborar o currículo escolar, para não
absorver tanto os fatores externos em detrimento dos internos, mesmo levando
em consideração que cada uma tem sua realidade distinta.
Se pensarmos o currículo como cultura, destacamos questões referentes
ao mundo do trabalho, ao desenvolvimento tecnológico, a atividades
desportivas, produção artística, saúde, manifestações sociais e exercício da
cidadania, que formam o homem dentro de uma escola que minimamente
chamamos de plural, e isso nos leva a compreender o currículo como um
conjunto de determinações pedagógicas que se desenvolvem com base em
uma intenção educativa; consequentemente, cada escola, na construção do
seu currículo, estabelece uma cultura.
Para pensar em currículo significativo para uma boa escola, é preciso
pensar sobre a diversidade cultural e o pluralismo de ideias, entendendo a
cultura escolar como uma soma de conteúdos para a elaboração do currículo
escolar.

Se entendermos o currículo como um conjunto de práticas que


produzem significados, ele pode ser concebido pelas escolhas entre
possibilidades existentes dentro da cultura local. O currículo pode ser
o espaço em que se concentram e se desdobram as lutas em torno
dos diferentes significados sobre o social e sobre o político. É por
meio do currículo que certos grupos sociais especialmente os
dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua
“verdade”. O currículo representa assim, um conjunto de práticas que
propiciam a produção, a circulação e o consumo de significados no
espaço social e que contribuem, imensamente, para a construção de
identidades sociais e culturais. O currículo é, por consequência, um
dispositivo de grande efeito no processo de construção da identidade
do estudante. (Bernstein, 2016).

Quando uma política é criada ou reformulada, ela traz em si impactos


sobre o seu espaço de atuação, sobre as pessoas alcança. Pensemos o
currículo nessa exata medida, como uma política desenvolvida para adquirir

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conhecimento, um documento que regula e normatiza aquele lócus de trabalho.

NA PRÁTICA

Sugerimos que você, estudante, faça uma pesquisa sobre o currículo de


uma escola a sua escolha, e verifique se nele aparecem as concepções de
homem e de mundo que se quer formar naquele lócus de conhecimento.
Também, se for possível, busque entender se dentro do currículo
proposto por esta escola existe algum privilégio de conteúdo em detrimento de
outro. Por fim, com base no conteúdo estudado, tente traçar uma linha mestra
desse currículo. Não esqueça que o PPP da escola é um excelente documento
de pesquisa.

FINALIZANDO

Um currículo não surge no vazio, mas sim de uma necessidade daquela


comunidade onde a escola está inserida, considerando todas as questões
sociais, econômicas e culturais, considerando também que o currículo é algo
que determina inúmeras questões, não se resumindo a algo único, como a
palavra sugere.
Nesta aula, visitamos conceitos que nos remeteram a questões de como
organizar o trabalho na escola tomando como base o currículo. Relembramos
também que o planejamento é uma atividade que exige reflexão e
posteriormente ação sobre uma determinada realidade, tendo como norte a
intenção clara de transformá-la com objetivos a serem alcançados a curto,
médio e longo prazo. Planejar é ter um plano que irá intervir na realidade por
meio de decisões e intenções.
Estudamos sobre a elaboração do currículo escolar e como se dá o seu
processo, o aspecto estrutural, o aspecto funcional, a dimensão curricular e o
campo curricular.

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REFERÊNCIAS

BERNSTEIN, A. A relação intima entre currículo e cultura. Educação Pública,


13 set. 2016. Disponível em:
<https://educacaopublica.cederj.edu.br/artigos/16/19/a-relao-ntima-entre-
currculo-e-cultura>. Acesso em: 23 jul. 2019.

FORNEIRO, L. I. A Organização dos espaços na educação Infantil. In:


ZABALZA, M. A. Qualidade em Educação infantil. Porto Alegre: Artmed,
1998.

GOMES, J. Projeto Integrador. JessPedagogia, 2015. Disponível em:


<http://jesspedagogia.blogspot.com.br/2015/09/perspectivas-do-pedagogo-e-
dapedagogia. html>. Acesso em: 23 jul. 2019.

LIMA, M. F.; ZANLORENZI, C. M. P.; PINHEIRO, L. R. A função do currículo


no contexto escolar. Curitiba: InterSaberes, 2012.

PARO, V. H. A estrutura didática e administrativa da escola e a qualidade do


ensino fundamental. Revista Brasileira de Política e Administração da
Educação, v. 24, n. 1, 2008.

SACRISTÁN, J. G. Saberes e incertezas sobre o currículo. São Paulo:


Penso, 2013.

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