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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 2ª TURMA CRIMINAL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20160110420499APR
(0010159-74.2016.8.07.0000)
Apelante(s) : STEPHANE MUNIZ DE SOUSA
Apelado(s) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
Relator : Desembargador SILVANIO BARBOSA DOS
SANTOS
Revisor : Desembargador JOÃO TIMÓTEO DE
OLIVEIRA
Acórdão N. : 1081625

EMENTA

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. INTERIOR


DE PRESÍDIO. ABSOLVIÇÃO. crime impossível.
INVIABILIDADE. entorpecente em cavidade corporal. meio
idôneo. crime consumado. TRÁFICO DE DROGAS. CRIME DE
NATUREZA MÚLTIPLA. TRAZER CONSIGO. PROVAS
ROBUSTAS. DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS. FORÇA
PROBATÓRIA. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS.
1. A conduta da ré de ingressar em estabelecimento prisional
com substância entorpecente (maconha) na cavidade vaginal,
visando entregar a droga para marido detento, constitui meio
idôneo à consumação do tráfico de drogas, na modalidade
"trazer consigo", mesmo antevendo que ela seria ou não
submetida a eventual revista no presídio, inaplicável a tese de
crime impossível prevista no artigo 17 do Código Penal.
2. O "caput" do artigo 33 da Lei 11.343/2006 aponta crime de
natureza múltipla (multinuclear), de sorte que a prática de
quaisquer das condutas nele constantes, caracteriza o tráfico
de drogas, fazendo incidir as penas de seu preceito secundário.
3. Os depoimentos de policiais, no desempenho da função
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pública, são dotados de relevante eficácia probatória, idôneos a


embasar uma sentença condenatória, principalmente quando
corroborados em juízo e em plena consonância com as demais
provas existentes nos autos.
4. Recurso desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª TURMA CRIMINAL


do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, SILVANIO BARBOSA DOS
SANTOS - Relator, JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA - Revisor, JAIR SOARES - 1º
Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador JAIR SOARES, em proferir a
seguinte decisão: NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 8 de Março de 2018.

Documento Assinado Eletronicamente


SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS
Relator

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RELATÓRIO

Pela respeitável sentença de fls. 120-128, cujo relatório se adota


como complemento, proferida pela ilustre autoridade judiciária da 3ª Vara de
Entorpecentes do Distrito Federal, STEPHANE MUNIZ DE SOUSA foi condenada
como incursa no artigo 33, “caput”, c/c artigo 40, inciso III, ambos da Lei nº
11.343/2006, à pena de 1 (um) ano, 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de reclusão,
em regime inicial aberto, substituída a pena privativa de liberdade por duas
restritivas de direitos, e ao pagamento de 193 (cento e noventa e três) dias-multa,
no padrão unitário mínimo legal.
A denúncia narrou os fatos da forma como segue (fls. 2-2A):

No dia 13 de abril de 2016, por volta das 12h30min, no PDF


II, Complexo Penitenciário, São Sebastião/DF, a
denunciada, de forma livre, voluntária e consciente, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, trazia consigo, para fins de difusão ilícita em
estabelecimento prisional, uma porção de maconha,
envolta por segmento de plástico, perfazendo a massa
bruta de 65,69g (sessenta e cinco gramas e sessenta e
nove centigramas), conforme o Auto de Apresentação e
Apreensão e Laudo de Exame Preliminar em Substância.
A denunciada compareceu na Penitenciária para realizar
visita a interno, e, ao passar pelo scanner corporal, foi
detectada a presença de um objeto em sua cavidade
vaginal.
A denunciada foi levada ao Núcleo de Inteligência, tendo
confirmado que estava transportando drogas. Foi, então,
levada ao IML, onde retirou uma porção de maconha de
sua cavidade vaginal.

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O réu apelou (fl. 151) e a Defesa Técnica, em suas razões (fls. 155-
158), requereu, em suma:
a)a absolvição, por não constituir o fato infração penal, nos termos
do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, requerendo o reconhecimento
do instituto do crime impossível, uma vez que a apelante ao tentar adentrar ao
presídio com substância entorpecente em sua cavidade corporal, teria utilizado meio
absolutamente ineficaz para a consumação do delito porque seria submetida à
revista pessoal.
Em contrarrazões, o representante do Ministério Público se
manifestou pelo conhecimento e desprovimento do apelo (fls. 160-161).
Nesta instância, a douta Procuradoria de Justiça oficiou também
pelo conhecimento e desprovimento do recurso (fls. 165-168).
É o relatório do necessário.

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VOTOS

O Senhor Desembargador SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS - Relator


Conheço do recurso.
ABSOLVIÇÃO-ATIPICIDADE (CRIME IMPOSSÍVEL)
A Defesa Técnica da ré STEPHANE MUNIZ DE SOUSA pleiteou a
absolvição do delito previsto no artigo 33, "caput", c/c artigo 40, inciso III, ambos
da Lei nº 11.343/2006, com fulcro no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo
Penal.
Para tanto, sustentou que o fato descrito na denúncia não constitui
infração penal, tendo em vista que a acusada, ao tentar entrar no estabelecimento
penal com a substância entorpecente em suas partes íntimas, teria utilizado meio
absolutamente ineficaz para a consumação do delito porque seria submetida à
revista pessoal no interior do presídio.
Assim, alegou que, antevendo desde o início que poderia passar
pelo procedimento de inspeção da penitenciária, não haveria qualquer possibilidade
de consumação do delito.
Respeitados os argumentos da Defesa Técnica, razão não lhe
assiste.
Inicialmente, é de se registrar que a autoria e a materialidade do
crime em análise ficaram devidamente comprovadas nos autos, especialmente pelos
seguintes elementos: Auto de Prisão em Flagrante nº323/2016 -27ªDP (fls. 29-31),
Laudo de Exame de Corpo de Delito (toxicológico) (fl. 42); Laudo de Exame de
Corpo de Delito (verificação de presença de entorpecente em cavidade natural do
corpo) (fl. 43); Laudo de Exame de Corpo de Delito (lesões corporais) (fl. 44); Auto
de Apresentação e Apreensão (fl. 45); Laudo de Exame Preliminar em Material (fl.
47); Ocorrência Policial nº 4.374/2016 - 06ªDP (fls. 48/50); Relatório Policial
Circunstanciado (fls. 52/53) e demais provas orais produzidas.
Na fase investigativa, a agente de atividades penitenciárias
ROSÂNGELA PEREIRA DOS SANTOS relatou que foi verificado que a ré
transportava substâncias entorpecentes quando passou pelo "scanner" do complexo
penitenciário, tendo ela confessado que transportava a substância maconha em
suas partes íntimas e que posteriormente foi conduzida ao IML, confiram-se os seus
relatos (fl.3):

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Disse que a suspeita STEPHANE, ao passar pelo scanner


do complexo penitenciário, foi verificado no aparelho que
ela transportava substâncias aparentemente entorpecentes
; que levaram STEPHANE para o Núcleo de Inteligência,
onde ela confessou que transportava maconha em suas
partes íntimas; que STEPHANE não disse para quem
estava levando a droga; que diante da situação,
conduziram-na para o IML, onde foi examinada e a droga
encaminhada ao IC para os exames de praxe; que após a
elaboração de laudo preliminar foi dada voz de prisão a
STEPHANE MUNIZ DE SOUSA e providenciada sua
condução a esta Delegacia de Polícia. (Grifos nossos).

O agente de atividades penitenciárias EMANUEL LUIZ BEZERRA


DA COSTA, perante a autoridade policial, ratificou a versão da policial Rosângela
porquanto integrou a mesma equipe da abordagem, presenciando os fatos
exatamente como narrados pela agente.
Ainda no âmbito da Delegacia de Polícia, STEPHANE MUNIZ DE
SOUSA fez o uso de seu direito constitucional de permanecer em silêncio.
Iniciada a fase judicial, a condutora do flagrante ROSÂNGELA
PEREIRA DOS SANTOS confirmou seu termo de depoimento (fls. 90/91) prestado
na fase inquisitiva. Afirmou que a ré disse que realmente estava portando substância
entorpecente em sua cavidade vaginal. Disse que ela foi conduzida para o hospital,
sendo retirada a substância entorpecente do interior da vagina dela, tratando-se de
maconha, com quantidade aproximada de 60 gramas.
Ainda em Juízo, corroborando a versão da agente Rosangela, o
agente de atividades penitenciárias EMANUEL LUIZ BEZERRA DA COSTA (fls.
90/91) informou que participou de parte da abordagem da acusada. Relatou que,
quando foi acionado, a ré já tinha confessado trazia consigo a substância
entorpecente em sua cavidade vaginal, e que acredita que foi retirado cerca de 55
gramas de maconha. Disse que se recorda que a acusada iria visitar um parente
próximo no estabelecimento penal e que, pelo que se lembra, seria o marido ou
irmão dela. Por fim, não sabe se o parente estava envolvido no caso.

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A acusada Stephane Muniz de Sousa, conquanto tenha sido


devidamente notificada do processo, não foi localizada e não compareceu na
audiência de instrução e julgamento para seu interrogatório, tendo o Magistrado "a
quo", acertadamente, prosseguido o feito nos termos do artigo 367 do Código de
Processo Penal.
Destaque-se que o Auto de Apresentação e Apreensão nº 465/2016
- 01ª DP (fl. 45), o Laudo de Exame Preliminar de Material (fl. 47), assim como o
Laudo de Exame Químico (fls. 81/83), atestaram a apreensão de 01 (uma) porção
com massa líquida de 53,04g (cinqüenta e três gramas e quatro centigramas), de
substância vegetal de tonalidade pardo-esverdeada contendo em sua composição
tetrahidrocannabinol - THC - principal componente da droga conhecida como
maconha.
Pois bem.
Delineadas as provas que compõe o acervo dos autos, nota-se ser
incontroverso que a acusada foi flagrada, pelos agentes de atividades penitenciárias,
trazendo consigo a substância entorpecente vulgarmente conhecida com maconha e
que foi presa em flagrante nas dependências do estabelecimento prisional.
Os depoimentos dos agentes penitenciários na fase investigativa e
na audiência de instrução e julgamento perante a autoridade judiciária são
uníssonos e coerentes em todos os detalhes, não havendo contradição notável que
inviabilize ou retire a credibilidade das provas ou que negue a autoria da ré, pelo
contrário, a evidencia.
Nesse sentido, destaque-se que os depoimentos de policiais, no
desempenho da função pública, são dotados de credibilidade e de confiabilidade,
que somente podem ser derrogados diante de evidências em sentido contrário.
Possibilitam, inclusive, serem considerados como suficientes a formar o
convencimento do Julgador. Eis precedentes deste Tribunal:

2. Osdepoimentos de policiais merecem credibilidade e


podem servir como elemento de convicção, especialmente
quando estão em consonância com os demais elementos
de prova e não há qualquer razão para se duvidar de sua
veracidade. (...). (Acórdão n.858051, 20140110836539APR,
Relator: JESUINO RISSATO, Revisor: JOSÉ GUILHERME, 3ª
Turma Criminal, Data de Julgamento: 26/03/2015, Publicado no

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DJE: 30/03/2015. Pág.: 131).

3. Os depoimentos prestados por policiais constituem


meio de prova idôneo a embasar o decreto condenatório,
especialmente quando corroborado em Juízo, no âmbito
do devido processo legal, porquanto gozam de fé pública.
(...).(Acórdão n.858012, 20140410076483APR, Relator:
HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, Revisor: NILSONI DE
FREITAS, 3ª Turma Criminal, Data de Julgamento: 26/03/2015,
Publicado no DJE: 30/03/2015. Pág.: 125).

Incumbe destacar que o delito de tráfico de drogas se trata de tipo


penal de natureza múltipla (multinuclear) e que não exige dolo específico, ou seja, a
prática de quaisquer das várias condutas descritas no "caput", do artigo 33, da Lei nº
11.343/06 já caracteriza o crime. Confira-se o teor do tipo penal:

Art. 33 - Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,


fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos)
dias-multa. (Grifos nossos).

Esse entendimento é pacificamente perfilhado pela jurisprudência,


consoante se verifica dos precedentes judiciais desta egrégia Corte e do colendo
Superior Tribunal de Justiça, "verbis":

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O tipo descrito no art. 33 da Lei Anti-Drogas é misto


alternativo, de natureza multinuclear, ou seja, a prática de
quaisquer das condutas ali descritas, isolada ou
simultaneamente, configura o crime de tráfico de drogas.
(...) (Acórdão n.719394, 20120110449258APR, Relator:
SOUZA E AVILA, Revisor: CESAR LABOISSIERE LOYOLA,
2ª Turma Criminal, Data de Julgamento: 03/10/2013,
Publicado no DJE: 08/10/2013. Pág.: 246)

1. O delito de tráfico ilícito de drogas é tipo misto


alternativo, de ação múltipla, que possui como núcleos
verbais as seguintes condutas: "importar", "exportar",
"adquirir", "guardar", dentre outras. E, no caso, os
Pacientes foram condenados também por "adquirir" e
"guardar" drogas, o que afasta a alegação de bis in idem
na aplicação da pena. (...) (HC 199.121/RS, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/08/2013,
DJe 04/09/2013)

.
Nesta senda, é certo que o tipo previsto no artigo 33, "caput", da Lei
nº 11.343/2006 não exige dolo específico, ou seja, não é preciso que o sujeito seja
flagrado, por exemplo, comprando, vendendo ou oferecendo drogas. Ao contrário, o
tipo demanda apenas o dolo de realizar qualquer núcleo do tipo.
Nesse sentido, são as lições do jurista e doutrinador Guilherme de
Souza Nucci, ao tecer comentário ao artigo 33, "caput", da Lei nº 11.343/2006:
"Elemento subjetivo: é o dolo. Não há elemento subjetivo específico do tipo, nem se
pune a forma culposa" (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais
Penais Comentadas. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 358).
Assim, embora tenha ocorrido a tentativa no núcleo "entregar a

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consumo ou fornecer drogas", a apelante, com sua conduta, realizou, ao menos, o


verbo "trazer consigo", previsto no referido dispositivo. Além de ter incorrido no artigo
40, inciso III, da mesma Lei nº 11.343/2006, porque cometido nas dependências ou
imediações de estabelecimento prisional.
Em suas razões recursais, a Defesa Técnica sustentou que a
conduta da denunciada de tentar entrar no estabelecimento penal com a substância
entorpecente em sua cavidade vaginal não constitui infração penal, uma vez que, ao
agir assim, teria utilizado meio absolutamente ineficaz para consumar o delito,
ventilando a hipótese de crime impossível. Alegou que antevendo desde o início que
poderia ser realizado a revista nela, não haveria qualquer possibilidade de
consumação do delito.
O artigo 17 do Código Penal, que dispõe sobre o instituto do crime
impossível, preconiza o seguinte:

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia


absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime.

Depreende-se do dispositivo legal supracitado, que a tentativa não


será punida quando for impossível a prática do crime, quer por ineficácia absoluta do
meio, quer por absoluta impropriedade do objeto.
No caso em apreço, não se verifica qualquer das hipóteses acima,
uma vez que a conduta da denunciada em trazer consigo substância entorpecente
em sua cavidade vaginal, visando adentrar em estabelecimento prisional e difundi-la,
não constitui meio inidôneo à consumação do crime de tráfico de drogas.
É cediço que os estabelecimentos prisionais carecem de estrutura,
inclusive quanto à fiscalização das revistas aos visitantes. Conquanto em alguns
presídios haja um rígido procedimento de inspeção no momento da revista, não
conseguem impedir de forma absoluta a entrada de substâncias entorpecentes.
Corroborando com esse cenário, verifica-se, no depoimento
prestado pelo agente de atividades penitenciárias Emanuel, que o estabelecimento
penal onde ocorreram os fatos possui dois métodos no que tange a revista dos
visitantes. O primeiro método seria pela coleta de informações do Núcleo de
Informações do presídio, por sua vez, o segundo por meio do aparelho "body

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scanner" operado pelos agentes. Observa-se que ambos os procedimentos


empregados pela penitenciária dependem de uma ação humana, a qual pode
incorrer em erro, podendo inclusive ser ludibriado pelo agente infrator que tenta
ingressar no estabelecimento com entorpecentes ou outros objetos proibidos.
Neste contexto, visitantes ou até mesmo detentos logram êxito de
ingressar nos presídios com tais substâncias proibidas, sendo distribuídas e
consumidas por outros detentos, caracterizando a difusão ilícita.
Ademais, o simples fato de a acusada antever a situação de que
seria submetida à revista íntima no complexo penitenciário quando visitasse interno,
no caso o seu marido, não é capaz de impedir, de forma absoluta, toda e qualquer
tentativa de ingresso da substância entorpecente no presídio, não tornando o crime
impossível.
Impende salientar que a conduta da ré ao "trazer consigo" a porção
de maconha, em sua cavidade corporal, voltada à difusão ilícita, já configura o crime
de tráfico de drogas, mesmo que a acusada não fosse flagrada em eventual revista
no estabelecimento penal, uma vez que a conduta se amolda ao núcleo do tipo
penal ("trazer consigo") prevista no artigo 33, "caput", da Lei 11.343/06, consumando
assim o delito e, por consequência, afasta a tese de crime impossível, porquanto o
meio e o objeto eram totalmente adequados à concretização do crime.
Nesse sentido o colendo Superior Tribunal de Justiça já se
manifestou da seguinte maneira:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. ENTRADA EM
ESTABELECIMENTO PRISIONAL PORTANDO DROGAS.
CRIME IMPOSSÍVEL. INOCORRÊNCIA. DELITO DE
TRÁFICO DE ENTORPECENTES. CRIME DE AÇÃO
MÚLTIPLA. CONSUMAÇÃO COM A PRÁTICA DE UM DOS
NÚCLEOS DO ART.33 DA LEI N. 11.343/2006.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. WRIT
NÃO CONHECIDO.
1. Por se tratar de habeas corpus substitutivo de recurso
próprio, a impetração não deve ser conhecida segundo a
atual orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal
Federal e do próprio Superior Tribunal de Justiça.

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Contudo, considerando as alegações expostas na inicial,


razoável a análise do feito para verificar a existência de
eventual constrangimento ilegal.
2. "A mera existência de rigorosa revista na entrada dos
visitantes ao presídio não é capaz de afastar, por completo,
a possibilidade da prática do tráfico de drogas, uma vez
que se trata de atividade humana falível, sendo viável que
o agente ludibrie a segurança e alcance o seu intento de
ingressar no estabelecimento com as drogas", não
havendo que se falar, portanto, em crime impossível por
ineficácia absoluta do meio (HC 298.618/SP, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 4/11/15).
3. O crime de tráfico de drogas é crime de ação múltipla,
que se consuma pela prática de qualquer um dos núcleos
previstos no art. 33 da Lei n. 11.343/06. Assim sendo, no
caso em apreço, o delito se consumou com a mera
conduta do paciente de trazer a droga consigo, sendo
prescindível a entrega do entorpecente ao terceiro.
Habeas corpus não conhecido.
(HC 316.729/RS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 05/05/2016, DJe 16/05/2016).
(Grifos nossos).

Por sua vez, esta Corte de Justiça, em várias oportunidades, já


decidiu seguindo a mesma linha de entendimento do colendo STJ, senão vejamos:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES


EM PRESÍDIO. ABSOLVIÇÃO. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO
APLICADO. TRÁFICO PRIVILEGIADO. INEXISTENTE.
RETIFICAÇÃO DA DOSIMETRIA. VEDAÇÃO DA
REFORMATIO IN PEJUS. REGIME PRISIONAL E
SUBSTITUIÇÃO DE PENA. PREJUDICADOS.
A pratica de difusão de drogas ilícitas em presídios tem se
tornado corriqueira. O impedimento da entrada da ré no

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estabelecimento com as substancias não torna o crime


impossível.
O tipo previsto do artigo 33 da Lei 11.343/06 é multinuclear,
prevendo diversas condutas, o que a doutrina destaca
como tipo misto alternativo. Ainda que tenha havido a
tentativa no núcleo "entregar a consumo ou fornecer
drogas", ocorreu a consumação no núcleo "trazer
consigo".
Os indícios de que a recorrente se dedique a atividade
criminosa impede a aplicação da causa de diminuição
prevista no artigo 33, §4º da LAD, tráfico privilegiado.
A prática do crime nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais é causa especial de aumento
de pena prevista no inciso III, do artigo 40, da LAD. Assim,
a despeito do seu reconhecimento, em observância ao
sistema escalonado trifásico previsto no artigo 68 do CP,
sua valoração somente deve ser feita na terceira fase, ou
pena intermediária.
Em virtude do disposto no artigo 617 do Código de
Processo Penal, a pena não pode ser aumentada em
recuso exclusivo da defesa.
Recurso conhecido e parcialmente provido.
(Acórdão n.1000119, 20150111246573APR, Relator: ANA
MARIA AMARANTE, Revisor: CARLOS PIRES SOARES
NETO, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento:
02/03/2017, Publicado no DJE: 10/03/2017. Pág.: 68/82).
(Grifos nossos).

PENAL - ART. 33, CAPUT, E ART. 40, INCISO III, AMBOS DA


LEI 11.343/2006 - PRELIMINAR - ILEGALIDADE NA PRISÃO
EM FLAGRANTE - AFASTADA. ABSOLVIÇÃO - CRIME
IMPOSSÍVEL - INVIABILIDADE. DESISTÊNCIA
VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO POSTERIOR - CRIME
CONSUMADO - IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA DA PENA
- ATENUANTE - CONFISSÃO ESPONTÂNEA - APLICAÇÃO

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DA SÚMULA 231 DO STJ. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO


- ART. 40, INCISO III, DO CP - SENTENÇA EXTRA PETITA -
INOCORRÊNCIA - RADEQUAÇÃO DA FRAÇÃO.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS - INSUFICIENTE PARA A
R E P R ESSÃO DO DELITO. PRISÃO DOMICILIA R -
INVIABILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Não há qualquer ilegalidade na prisão em flagrante de
acusada que, na tentativa de adentrar em estabelecimento
prisional e ao ser indagada pelas autoridades, confessa a
posse de drogas.
Inviável a alegação de atipicidade da conduta por se tratar
de crime impossível, pois a materialidade e autoria
restaram demonstradas e a acusada praticou o núcleo do
tipo, consumando o crime ao trazer consigo a substância
entorpecente.
Ante a consumação do delito, não há que se falar em
desistência voluntária ou arrependimento eficaz.
Em atendimento ao enunciado da Súmula nº 231 do STJ,
inviável a redução da pena-base pela atenuante da
confissão espontânea quando já fixada no mínimo legal.
O reconhecimento da causa especial de aumento prevista
no artigo 40, inciso III, da LAD, pode ser realizada pelo juiz
no momento da prolação da sentença, desde que a
denúncia narre que a acusada trazia consigo drogas ao
adentrar em estabelecimento prisional, o que restou
cabalmente comprovado na instrução criminal.
Considerando a quantidade e natureza da droga
apreendida, deve ser reduzida em seu grau mínimo a
fração de aumento decorrente do artigo 40, inciso III, da
LAD, redimensionando-se a pena aplicada.
Não deve ser concedida a substituição de pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos quando não
recomendável para a efetiva repreensão do delito, em se
tratando de difusão de substância entorpecente no interior
de estabelecimento prisional.
Por não restar comprovado que a presença da acusada é

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imprescindível para o cuidado de seus filhos, não merece


prosperar o pedido de prisão domiciliar.
(Acórdão n.567249, 20110111179470APR, Relator: ROMÃO C.
OLIVEIRA, Revisor: MARIO MACHADO, 1ª Turma Criminal,
Data de Julgamento: 09/02/2012, Publicado no DJE:
29/02/2012. Pág.: 187). (Grifos nossos).

APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS NO


INTERIOR DE PRESÍDIO - ABSOLVIÇÃO - CRIME
IMPOSSÍVEL - AFASTAMENTO.
I. O ingresso em estabelecimento prisional com substância
entorpecente na cavidade íntima não constitui meio
inidôneo à consumação do tráfico. Inaplicável a norma do
artigo 17 do CP.
II. Respeitada a discricionariedade do Juiz, as penas
excessivas ou sem fundamentação idônea devem ser
reduzidas.
III. Parcial provimento para diminuir a pena pecuniária.
(Acórdão n.995591, 20160110314348APR, Relator: SANDRA
DE SANTIS, Revisor: ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª TURMA
CRIMINAL, Data de Julgamento: 16/02/2017, Publicado no
DJE: 22/02/2017. Pág.: 759/785). (Grifos nossos).

Ante o exposto, verifica-se que os elementos de prova trazidos aos


autos apontam a conduta da ré para a prática do tráfico de drogas, na modalidade
"trazer consigo", pois já tinha consumado o crime antes de ser submetida à revista
pessoal no presídio.
Ademais, é de se registrar que o ingresso da ré em penitenciária
com substância entorpecente (maconha) na cavidade vaginal não constitui meio
inidôneo para a consumação do tráfico, sendo afastada a alegação de crime
impossível. Assim, mantenho a condenação da apelante como incursa no artigo 33,
"caput", c/c artigo 40, inciso III, ambos da Lei nº 11.343/2006.

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DOSIMETRIA
A Defesa não se insurgiu contra a dosimetria da pena, todavia, em
razão do efeito devolutivo intrínseco ao recurso, passa-se a analisá-la.
Na primeira fase, a autoridade sentenciante julgou favoráveis todas
as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal. No que tange à qualidade e
à quantidade da droga apreendida (53,04g de maconha) nos termos do artigo 42 da
Lei nº 11.343/2006, não houve qualquer elevação da reprimenda. Assim,
acertadamente, fixou a pena-base em 5 (cinco) anos de reclusão, e pagamento de
500 (quinhentos) dias-multa. Sem reparos.
Na segunda fase, o Sentenciante certificou a ausência de
atenuantes e de agravantes, mantendo a reprimenda intermediária no patamar
mínimo legal em 5 (cinco) anos e pagamento de 500 (quinhentos) dias-multa. Não
há o que reparar.
Na terceira fase, o Magistrado "a quo" reconheceu a causa de
diminuição de pena prevista no artigo 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, ante
ausência de prova de que a ré integre organização criminosa ou que se dedique
habitualmente a atividades criminosas. Ademais, de forma correta, considerou a ré
primária, motivo pelo qual reduziu a pena no seu patamar máximo de 2/3 (dois
terços), fixando-a em 01 (um) ano e 08 (oito) meses de reclusão e pagamento de
166 (cento e sessenta e seis) dias-multa.
Em seguida, como presente a causa de aumento de pena do artigo
40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, porque o crime de tráfico foi cometido no
interior de estabelecimento prisional, o Magistrado aumentou a pena anterior em 1/6
(um sexto), fração legal mínima, estabelecendo a pena definitiva em 01 (um) ano,
11 (onze) meses e 10 (dez) dias de reclusão, e pagamento de 193 (cento e
noventa e três) dias-multa, no padrão unitário mínimo legal. Irreparável a
sentença.
Regime, detração, substituição e suspensão
A autoridade sentenciante atendendo o que dispõe os artigos 33, §1,
"c", §2º, "c", §3º, 59, todos do Código Penal, e afastando a possibilidade de fixação
do regime inicial fechado "ope legis", fixou o regime aberto para o início de
cumprimento da pena. Mantenho a sentença neste ponto, ante a proporcionalidade
com a pena privativa de liberdade aplicada ao caso.
Em seguida, o Magistrado "a quo", de forma correta, atendendo os
requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal e alinhado a jurisprudência firmada
pelo Supremo Tribunal Federal e do E. TJDFT, bem como por força da Resolução nº
5 do Senado Federal, a qual suspendeu a vedação contida no art. 33, §4º, da Lei nº

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11.343/06 autorizando a aplicação do art. 44 do Código Penal aos crimes de tráfico


de drogas, substituiu a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, a
serem disciplinadas pelo Juízo da VEPEMA. Mantenho o referido entendimento do
Juiz sentenciante, vez que a ré faz jus ao benefício penal.
Verifica-se que o Magistrado "a quo" impôs a manutenção da
liberdade da condenada, considerando a quantidade de pena fixada, o regime de
cumprimento de pena mais brando e a autorização para substituição da pena
privativa de liberdade por duas restritivas de direitos.
Ademais, o Juiz sentenciante entendeu inaplicável o cálculo da
detração disposto no artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, tendo em vista
que o regime inicial de cumprimento de pena foi fixado no grau mais brando, aliado
ao fato de que não será modificado, mesmo considerando o período de prisão
preventiva da condenada. Irreparável a sentença neste ponto.
ISTO POSTO, nego provimento ao recurso.
É o voto.
Em razão de a condenação gerar inelegibilidade, inclua-se os
dados do réu no Cadastro Nacional de Condenados por Ato de Improbidade
Administrativa e por Ato que implique Inelegibilidade - CNCIAI do Conselho Nacional
de Justiça - CNJ, nos termos do Provimento n.º 29 - CNJ e da Lei Complementar n.º
64/1990.

O Senhor Desembargador JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA - Revisor


A presente apelação é tempestiva e adequada à espécie, razão
pela qual dela conheço.
A Defesa requer a absolvição, nos termos do artigo 386, inciso III, do
Código de Processo Penal, ao argumento não haveria qualquer possibilidade de
consumação do delito, uma vez que a acusada tinha conhecimento de que passaria
por procedimento de inspeção para adentrar no presídio.
Sem razão.
Autoria e materialidade foram devidamente comprovadas nos autos,
em especial, pelos documentos que seguem: Auto de Prisão em Flagrante (fls. 29-
31), Laudo de Exame de Corpo de Delito - toxicológico (fl. 42); Laudo de Exame de
Corpo de Delito - verificação de presença de entorpecente em cavidade natural do
corpo (fl. 43); Laudo de Exame de Corpo de Delito - lesões corporais (fl. 44); Auto de
Apresentação e Apreensão (fl. 45); Laudo de Exame Preliminar em Material (fl. 47);

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Ocorrência Policial (fls. 48/50); e demais provas orais produzidas ao longo da


instrução processual.
A apelante exerceu direito constitucional ao silêncio perante a
Autoridade Policial (fl. 5), e em juízo, embora devidamente notificada do processo,
não foi localizada e deixou de comparecer à audiência, prosseguindo-se o feito, nos
termos do artigo 367, do Código de Processo Penal.
A agente de atividades penitenciárias, Rosângela Pereira dos
Santos, em depoimento judicial (fls. 90/91) ratificou suas declarações policiais e
afirmou que a ré confirmou estar portando substância entorpecente em sua cavidade
vaginal, momento em que foi conduzida para o hospital, sendo retirada a substância
entorpecente do interior da vagina dela, tratando-se de aproximadamente 60
(sessenta) gramas maconha.
No mesmo sentido foi o depoimento judicial do agente de atividades
penitenciárias Emanuel Luiz Bezerra da Costa (fls. 90/91), o qual narrou que
participou de parte da abordagem da acusada e que quando foi acionado, a apelante
já tinha confessado que trazia consigo a substância entorpecente em sua cavidade
vaginal. Relatou se recordar que a acusada iria visitar um parente próximo no
estabelecimento penal.
A Defesa Técnica, em suas razões recursais, sustentou a hipótese
de crime impossível, argumentando que a ré, antevendo desde o início que poderia
ser realizado a revista, não haveria qualquer possibilidade de consumação do delito.
Todavia, no caso, a conduta da denunciada de trazer consigo substância
entorpecente em sua cavidade vaginal, visando adentrar em estabelecimento
prisional e difundi-la, já configura o crime de tráfico de drogas, mesmo que não fosse
flagrada em eventual revista no estabelecimento penal, uma vez que a conduta se
amolda ao núcleo do tipo penal ("trazer consigo") prevista no artigo 33, caput, da Lei
nº 11.343/06, consumando assim o delito e, por consequência, afasta a tese de
crime impossível, porquanto o meio e o objeto eram totalmente adequados à
concretização do crime.
Assim, mantenho a condenação da ré Stephane Muniz de Sousa
pela prática do crime previsto no artigo 33, da Lei nº 11.343/2006.
Passo à análise da pena aplicada.
O juiz sentenciante fixou a pena a teor dos seguintes fundamentos
(fls. 126/128):

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(...) Na primeira fase, no exame da culpabilidade, nada há que se valorar


que extrapole o já contido no tipo penal.
Nos termos do art. 42 da LAT, a quantidade e a natureza da droga
apreendida não merece ser valorada negativamente.
É primária.
Pelo que foi apurado, sua conduta social não foi devidamente investigada.
Quanto à personalidade, aos motivos, às circunstâncias e as conseqüências
nada há nos autos que autorize valoração negativa.
Por tudo isso, fixo-lhe a pena base no mínimo legal em 05 (cinco) anos de
reclusão e 500 dias-multa.
Na segunda fase de aplicação da pena, Não há agravantes nem atenuantes
a considerar. Dessa forma, mantenho a pena, em 05 (cinco) anos de
reclusão e 500 dias-multa.
Na terceira fase de aplicação da pena, observo a existência da causa
especial de diminuição prevista no parágrafo 4º, do art. 33, da Lei nº
11.343/2006, posto que não há prova nos autos de que a Acusada integre
organização criminosa ou que se dedique habitualmente a atividades
criminosas. Com efeito, a Ré é primária, não ostentando sentença penal
condenatória nem antecedentes criminais, motivo pelo qual reduzo a sua
pena em 2/3 (dois terços), fixando-a em 01 (um) ano e 08 (oito) meses de
reclusão e 166 dias-multa.
De outro lado, presente a causa especial de aumento prevista no inciso III,
do art. 40, da Lei nº 11.343/2006, porquanto a Ré tentou introduzir a droga
no interior de unidade prisional de segurança máxima, razão pela qual, não
havendo outros elementos aptos a viabilizar modulação da causa de
aumento e sendo a primeira vez que se tem notícia de tal conduta
perpetrada pela Ré, majoro a reprimenda em sua fração mínima de 1/6 (um
sexto), razão pela qual estabilizo a reprimenda e TORNO A PENA
DEFINITIVA em 01 (um) ano, 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de reclusão e
193 (cento e noventa e três) dias-multa.
A pena de multa, dadas as condições da Acusada deverá ser calculada à
razão de 1/30 do salário mínimo vigente à época do fato, devidamente
corrigido, na forma do art. 49, § 1º do Código Penal.
Atendendo ao que dispõe os arts. 33, § 1º, "c", § 2º, "c", § 3º, 59, todos do

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Código Penal, e afastada a possibilidade de fixação do regime inicial


fechado ope legis, fixo que a pena privativa de liberdade imposta à Ré seja
cumprida inicialmente a partir do REGIME ABERTO. (...).

Quanto à reprimenda aplicada, nenhum reparo a ser feito, pois o


Juiz sentenciante bem dosou a pena, fixando-a adequadamente e
fundamentadamente, e seguindo o critério trifásico da dosimetria penal, razão pela
qual mantenho a condenação em 1 (um) ano, 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de
reclusão, no regime inicial aberto, mais 193 (cento e noventa e três) dias-multa, à
razão mínima legal.
Mantidos todos os termos da sentença.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso da ré Stephane Muniz
de Sousa.
É como voto.

O Senhor Desembargador JAIR SOARES - Vogal


Com o relator

DECISÃO

NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME

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