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Processo Penal - Volume 1 | 5ª ed.

SUMÁRIO
1. PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL 3

2. SUJEITOS PROCESSUAIS 8

3. JURISDIÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO 16

4. PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO 18


a) Recebimento Da Denúncia Ou Queixa 22
b) Citação 22
● Citação Real Ou Pessoal 22
● Citação Com Hora Certa 23
● Citação Por Edital 24
c) Aplicação Da Regra Do Art. 366 Do Cpp 25
d) Resposta Escrita 26
● Prazo Da Resposta 27
e) Possibilidade De Absolvição Sumária Do Acusado 27
f) Audiência De Instrução E Julgamento 28
g) Esquemas 29
5. PROVAS 30

6. SENTENÇA 43

7. REVELIA 46

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Processo Penal - Volume 1 | 5ª ed.

1. PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL


Princípio do Juízo Natural

Art. 5.º, LIII, da CF​: ​Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.

Juiz natural é aquele a quem a Constituição Federal confere competência para julgar
determinada infração penal. Portanto, caso haja mais de um juiz igualmente competente,
deve-se realizar a distribuição do feito, através de sorteio aleatório dos autos.

Segundo Reis e Gonçalves (Direito Processual Penal Esquematizado, 2014, p. 81), o Supremo
Tribunal Federal entende que “não fere o princípio do juiz natural o deslocamento de ação penal
já em andamento em razão da criação de vara especializada (que julgará todos os delitos de
determinada natureza, por exemplo) ou pela criação de nova Comarca”.

ATENÇÃO: o julgamento feito por juízo ABSOLUTAMENTE incompetente gera a


nulidade da ação (art. 564, I, do CPP).

Princípio do Devido Processo Legal

Art. 5.º, LIV, da CF​: ​Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal.

O devido processo legal significa respeitar o procedimento, ou seja, a sequência de atos que
podem ser praticados pelos sujeitos no processo. Este princípio determina que o
descumprimento das formalidades legais pode levar à nulidade do processo, dependendo do
vício (defeito) nos atos.

Cabe dizer que o “​Due process of Law​” (​ devido processo legal) busca assegurar um processo
penal efetivamente justo e equilibrado.

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Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa

Art. 5.º, LV, da CF​: ​Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.​

Esse princípio resguarda a observância da igualdade entre os conflitantes na lide, pois, confere
as mesmas oportunidades às partes quanto aos instrumentos processuais dos quais possam
utilizar para fazer valer seus direitos.

Contraditório: é o direito que o réu tem de se defender contra todas as acusações que lhe são
imputadas.
● Contraditório diferido (mediato): é aquele que ocorre posteriormente, como as provas
periciais. Ex: Laudo de constatação indireta de arrombamento, lesão corporal, etc. (a
prova é feita em um momento posterior).

● Contraditório real (imediato ou direto): é aquele exercido no momento da produção da


prova. Ex: Prova testemunhal em juízo.

Ampla Defesa: é exercer o contraditório usando todos os recursos lícitos disponíveis. Ex: A
acusação não pode ultrapassar o limite das provas.

Outros artigos no Código de Processo Penal também refletem a utilização do princípio do


contraditório e da ampla defesa, como o art. 155 (juiz não pode ser convencido somente com
base na prova colhida durante o inquérito), art. 459 (a parte não poderá ler documento ou exibir
objeto que não tenha sido juntado aos autos com antecedência mínima de 3 dias úteis), etc.

IMPORTANTE: ​não há contraditório na fase do INQUÉRITO POLICIAL, por isso que


ele é chamado de inquisitivo. O advogado pode acompanhar, mas não pode intervir
no inquérito, visto tratar-se de responsabilidade do delegado.

Princípio da Vedação da Prova Ilícita

Art. 5.º, LVI, da CF​: ​São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.

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Art. 157, ​caput,​ do CPP​: ​São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as
provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.

Não faria sentido algum, o Estado permitir a utilização de provas obtidas a partir da violação das
normas jurídicas que ele mesmo impõe. O princípio da vedação da prova ilícita deveria ser
considerado absoluto, se analisados apenas os dois dispositivos legais supramencionados, mas
a doutrina tem ​aceitado a utilização da prova ilícita no processo quando esta for a ÚNICA capaz
de propiciar a ​absolvição do réu​. O princípio constitucional da ampla defesa prevalece neste
caso.

Se o réu estiver de posse de uma prova ilícita que garanta sua liberdade, ele poderá
apresentá-la nos autos do processo. A prova é aceita para provar a inocência do réu.

Princípio da Presunção de Inocência

Art. 5.º, LVII, da CF​: ​Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória.

Apenas quando não couber mais recurso da sentença condenatória é que o réu será
considerado culpado, devendo ser tratado como inocente até o referido momento. Este princípio
não é absoluto, uma vez que a própria Constituição Federal admite a prisão provisória antes da
condenação nos casos do art. 5.º, LXI (flagrante delito, ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária e transgressão ou crime propriamente militar).

Princípio da Publicidade

Art. 5.º, LX, da CF​: ​A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem​.

A publicidade dos atos processuais é a regra. Apesar disto, a própria Constituição delimita sua
restrição quando mostrar-se necessária a preservação da intimidade ou interesse social.

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O §1º do art. 792 do CPP determina ainda que as audiências, sessões e os atos processuais
serão, em regra, públicos, mas, se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual,
puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o
tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte, ou do Ministério
Público, determinar que o ​ato seja realizado a portas fechadas​, limitando o número de pessoas
que possam estar presentes.

O art. 201, § 6.º, também do CPP, dispõe que o juiz tomará as providências necessárias à
preservação da intimidade do ofendido, podendo, inclusive, determinar o ​segredo de justiça​.

Princípio da Fundamentação das Decisões

​ ei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o


Art. 93 da CF: L
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

(…)

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões,​ sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

Toda decisão judicial deve ser fundamentada, exceto a decisão do TRIBUNAL DO JURI, em
virtude do sigilo nas votações.

Garantias do Júri
● Sigilo da votação.
● Soberania do Veredicto.
● Competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Princípio da Igualdade das Partes

Art. 5.º, ​caput​, da CF​: T


​ odos são i​ guais perante a lei​, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

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inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade (…).

Art. 263 do CPP​: ​Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o
seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo
defender-se, caso tenha habilitação.

As partes devem receber o mesmo tratamento do Poder Judiciário, portanto, o réu terá um
defensor constituído cujo nível de conhecimento técnico seja o mesmo daquele que dispõe a
outra parte, de modo a se estabelecer o equilíbrio processual.

ATENÇÃO: Igualdade não é sinônimo de igual tratamento. ​Devem-se tratar os


“Desiguais” de forma desigual e os “Iguais” de forma igual.

Princípio da Iniciativa das Partes

Art. 129, I, da CF​: ​Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei.

Não é o juiz quem dá início à ação penal, cabendo exclusivamente ao Ministério Público a
iniciativa da ação nos crimes de ação penal pública. No caso de ação penal privada, é o
ofendido quem deve iniciá-la.

Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

O juiz é um ser humano e, está sujeito a falhas. Diante da possibilidade de erro na sentença por
ele proferida, o princípio do duplo grau de jurisdição confere às partes o direito a uma nova
apreciação, total ou parcial, da causa, por órgão superior do Poder Judiciário.

Este princípio não está descrito de forma expressa na Constituição ou no Código de Processo
Penal, entretanto, sendo o Brasil signatário do ​Pacto de San José da Costa Rica​, e observadas
as competências recursais conferidas pela ​Constituição aos órgãos do Poder Judiciário nos
artigos 102, II e III; 105, II e III; 108, II, e 125, § 1.º, é possível perceber que esta garantia é
concedida à parte sucumbente (insatisfeita com a decisão).

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Princípio da Verdade Real

Art. 156 do CPP​: A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz
de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação
e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

​ captura poderá ser requisitada, à vista de mandado judicial, por qualquer


Art. 299 do CPP​: A
meio de comunicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer a requisição,
as precauções necessárias para averiguar a autenticidade desta.​

O juiz pode, de ofício, trazer para os autos do processo qualquer prova sem provocação das
partes. O juiz é livre para ouvir testemunhas e juntar provas que entenda serem necessárias.

2. SUJEITOS PROCESSUAIS

São chamadas de “sujeitos” no processo penal as pessoas que dele participam, de forma direta
ou indireta:

a) O Juiz;
b) O Ministério Público;
c) O Acusado;
d) Defensor do Acusado;
e) O Assistente;
f) Os Serventuários de Justiça.

Juiz

a)​ Os juízes no processo penal podem ser:

● Da Justiça Especial;

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○ Eleitoral: julga crimes eleitorais.
○ Militar
➢ Federal: julga militares das Forças Armadas (e civis);
➢ Estadual: julga policiais militares, Corpo de Bombeiros (não julga
civis).
● Da Justiça Comum.
○ Estadual: competência estadual (a delegacia de polícia investiga).
○ Federal: a CF determina a competência (arts. 108 e 109). Os crimes
que afetam a União são julgados na JF.

OBSERVAÇÃO​: Lembrar que a Justiça Federal se divide em 5 regiões. Santa


Catarina, por exemplo, pertence à 4.ª Região, com Paraná e Rio Grande do Sul.

b) Função Precípua do Magistrado - Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e


manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública
(Art. 251 do CPP). Nas palavras de Guilherme Nucci, para ser considerado sujeito processual há
de se preencher condições objetivas e subjetivas.
● Objetivamente - ele precisa estar investido do poder jurisdicional e ser competente para
resolver determinado caso.
● Subjetivamente - ele não pode ser suspeito nem deve estar impedido para atuar.
Faltando-se qualquer dessas condições, o magistrado torna-se sujeito processual incapaz
para determinado caso.

c)​ Causas de Impedimento ou Suspeição do Juiz


● Causas de Impedimento - Considera-se impedido de atuar o juiz que é parcial, ​situação
presumida pela lei,​ em casos específicos. Logo, as hipóteses previstas para impedimento
são de ​caráter objetivo, indicam a impossibilidade de exercício jurisdicional em
determinado processo. Guilherme de Souza Nucci entende que a prática de um ato
processual por um juiz impedido torna o ato jurídico (sentença, decisão, despacho)
inexistente.
➔ tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
➔ ele próprio (Juiz) houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;

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➔ tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de
direito, sobre a questão;
➔ ele próprio (Juiz) ou seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta,
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no
feito.
● Causas de Suspeição - As causas de suspeição constituem motivos de incapacidade
subjetiva do juiz, pois o vinculam a uma das partes, nesse caso, o juiz dar-se-á por
suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes (AVENA, 2019,
p. 111). São hipóteses de suspeição:
➔ se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
➔ se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo
por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
➔ se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado
por qualquer das partes;
➔ se tiver aconselhado qualquer das partes;
➔ se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
➔ se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

d) Cessação e manutenção do impedimento e da suspeição - ​O impedimento ou suspeição


decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa,
salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não
funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo
(Art. 255 do CPP).

Hipóteses Efeito

Havendo descendência permanecerão o impedimento e a suspeição​. Exemplo:


resultante do casamento contemple-se a hipótese em que o juiz tenha se divorciado
dissolvido da esposa com quem possuía filhos. Neste caso, não
poderá atuar no processo em que for parte, por exemplo, o
sobrinho de sua ex-cônjuge, pois subsiste o impedimento
inscrito no art. 252, IV, do CPP. Lembre-se que a condição
de sobrinho da ex-cônjuge importa em parentesco por
afinidade em 3.º grau (AVENA, 2019, p. 112).

Não havendo descendência não permanecerão o impedimento e a suspeição​, salvo


resultante do casamento quando ocorrente a situação mencionada no art. 255, in
dissolvido fine, ao dispor que: “ainda que dissolvido o casamento sem
descendentes, não funcionará como juiz de quem for parte

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no processo:”
● o sogro
● o padrasto
● o cunhado
● o genro
● enteado
Assim, no exemplo citado, não havendo descendência,
nada impedirá ao juiz divorciado de atuar no processo em
que for parte o sobrinho da ex-cônjuge, pois o divórcio fez
desaparecer o impedimento constante do art. 252, IV, do
CPP. Não poderá oficiar, contudo, no processo em que for
parte, por exemplo, seu cunhado, pois o impedimento daí
decorrente, por força do disposto no art. 255, in fine,
persiste mesmo sendo dissolvido o casamento sem
descendência (AVENA, 2019, p. 113).
Quadro esquematizado elaborado a partir das lições do professor Norberto Avena (Direito Processual Penal
Esquematizado)

Suspeição Causada pela Própria Parte - ​A suspeição não poderá ser declarada nem
reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la (Art. 255 do
CPP)

e) ​Consequências Jurídicas do Impedimento e da Suspeição


● Impedimento - Reputam-se ​inexistentes os atos praticados pelo juiz impedido, pois o
impedimento priva o magistrado de exercer sua jurisdição no processo em que ocorrer
(AVENA, 2019, p. 112).
● Suspeição - ​Já na hipótese de suspeição, os atos realizados, embora existentes, serão
absolutamente nulos (art. 564, I, do CPP), pois a suspeição não priva o juiz de sua
jurisdição (AVENA, 2019, p. 112).

Ministério Público (MP)

a) ​Considerações Gerais

O MP é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, não pertencendo ao


Poder Judiciário ou ao Poder Executivo (muito menos ao Legislativo). O art. 127 da CF/88 lhe
confere a missão de defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e
individuais indisponíveis.

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As diferentes carreiras do MP também apresentam cargos diferenciados, como o MP do


Trabalho (MPT), o MP Militar (MPM), o MP Federal (MPF) os MPs estaduais e do Distrito
Federal e Territórios (MPDFT) e ainda os Ministérios Públicos nos tribunais de contas (MPTC). O
MP Eleitoral (MPE) não possui estrutura própria, mas uma composição mista entre o MPF e MP
Estadual.

Cargos do Ministério Público


Ministério Público da União
MP MPD MPTC
MPM MPF MPT
FT
Procurador-Geral da República
Procurador- Procurador- Procurador-Ger
Procurador-Ger
Geral de Geral de al da Justiça
al do Trabalho
Justiça Justiça Militar
Subprocurador Subprocurado Subprocurador- Procurador-Ge
Procurador Procurador
da Justiça r-geral da geral do ral do MP de
de Justiça de Justiça
Militar República Trabalho contas
Procurador Procurador Subprocurador
Promotor de Promotor de Procurador da
Regional da Regional do -geral de
Justiça Justiça Justiça Militar
República Trabalho contas
Promotor de Promotor de
Promotor da Procurador da Procurador do Procurador de
Justiça Justiça
Justiça Militar República Trabalho contas
Substituto Adjunto

MPE: O Procurador-Geral da República exerce a função de Procurador-Geral Eleitoral perante o


Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e indica membros para também atuarem no TSE e nos
Tribunais Regionais Eleitorais (procuradores regionais eleitorais, que chefiam o Ministério
Público Eleitoral nos estados). Os promotores eleitorais são promotores de Justiça (Ministério
Público Estadual) que exercem as funções por delegação do MPF.

b) ​Causa de Impedimento ou Suspeição do MP - ​Os órgãos do Ministério Público não


funcionarão nos processos em que ​o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se
estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos
dos juízes.

c)​ Funções do MP no Processo Penal


● Promover, privativamente, a ação penal pública.
● Fiscalizar a execução da lei.

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Acusado

a) ​Considerações Gerais: Acusado (ou réu) é o sujeito passivo da relação processual penal,
podendo ser:
● Pessoa física maior de 18 anos;
● Pessoa jurídica, no caso dos crimes ambientais (art. 225, §3º, CF/88 e art. 3.º da Lei n.º
9.605/98).
b)​ Garantias Processuais
● Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor.
● A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida
através de manifestação fundamentada.
● Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito
de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha
habilitação.

Defensor do Acusado

a) Considerações Gerais - O defensor é aquele com qualificação técnico-jurídica (advogado


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil) para auxiliar o acusado a resistir ao exercício da
pretensão punitiva do Estado. Caso o acusado não tenha um defensor, será nulo o processo
(art. 564, III, “c”, CPP).

b)​ O defensor pode ser:


● Constituído ou Procurador:​ escolhido pelo acusado;
● Público:​ se o acusado comprovar insuficiência de recursos;
● Dativo:​ nomeado pelo juiz;
● Ad hoc (​ ou substituto): ​nomeado pelo juiz para atos processuais específicos.

c)​ Deveres do Defensor


● O exercício da advocacia constitui múnus público e função social, assim sendo, salvo
motivo relevante, os advogados serão obrigados a prestar seu patrocínio aos acusados,
quando nomeados pelo Juiz.
● O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado
previamente o juiz.

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● O defensor possui o dever de comparecer à audiência de instrução, por motivo justificado,
a audiência poderá ser adiada se o defensor não puder comparecer. Incumbe ao defensor
provar o impedimento até a abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará
o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que
provisoriamente ou só para o efeito do ato.

d) ​Constituição do Devedor - A constituição de defensor independerá de instrumento de


mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório.

Assistente

a) ​Considerações Gerais - O assistente é aquele que auxilia o membro do MP na acusação, por


isso é também conhecido como “assistente da acusação”. Podem ser assistentes (art. 268,
CPP):
● O ofendido;
● O representante legal do ofendido;
● Os sucessores do ofendido (cônjuge, ascendente, descendente ou irmão – art. 31, CPP).

ATENÇÃO: A atuação do assistente não é imprescindível à continuidade da AÇÃO


PENAL PÚBLICA, mas na ação privada, exclusiva ou subsidiária da pública, o
ofendido atuará na qualidade de querelante, ou seja, atuará como parte necessária
da relação processual.

b)​ São atribuições do assistente (art. 271, CPP):


● Propor meios de prova;
● Fazer perguntas às testemunhas;
● Participar do debate oral;
● Arrazoar os recursos interpostos pelo MP;
● Formular quesitos e indicar assistente técnico (art. 159, §3º, CPP);
● Requerer o desaforamento de julgamento afeto ao Tribunal do Júri (art. 427, CPP).

c) ​Ingresso do Assistente de Acusação - ​O assistente poderá ingressar no processo ​a partir do


recebimento da denúncia​. Por conseguinte, ​em todos os termos da ação pública (incabível na
fase de Inquérito Policial ou Execução Penal)​, poderá intervir, como assistente do Ministério
Público, o ofendido ou seu representante legal. E o limite está denido em Lei: ​enquanto não
passar em julgado a sentença​, com o que já se percebe a capacidade recursal do assistente e
se constata a impossibilidade de atuação dele na execução penal (FISHER e PACELLI, 2019, p.
613).

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d) ​Desídia do Assistente - O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do


assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do
julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

e) Inadmissibilidade do Assistente - Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá


recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão. Podendo, considerando
as peculiaridades do caso concreto, a impetração de Mandado de Segurança (Agravo
Regimental no RMS n. 44.402-MG, STJ, 5.ª Turma, unânime, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 7.8.2018).

f) ​Vedação para ser Assistente - O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como
assistente do Ministério Público (Art. 270 do CPP).

Serventuários de Justiça

Não participam da relação processual, mas auxiliam o juiz:

● O escrivão (chefe do cartório);


● Oficial de justiça (faz serviços externos, como intimações, citações, etc.);
● Perito (quando houver necessidade de conhecimento técnico, artístico ou científico
especializados);
➢ Oficial​;
➢ Nomeado​: escolhido pelo juiz - O perito nomeado pela autoridade será obrigado a
aceitar o encargo (art. 277 do CPP)
➢ Estarão impedidos de exercer a função de peritos aqueles que tiverem sido
condenados em ação penal, sendo-lhes impostas as restrições de direitos previstas
no atual art. 92 do Código Penal (Lei n.º 7.209/84) e os que tiverem participado,
como testemunha ou perito (ou intérprete e tradutor) do processo ou de fase
anterior, prestando depoimento ou se manifestando sobre o objeto da prova.
Também não serão peritos os analfabetos e os menores de 21 anos (FISHER e
PACELLI, 2019, p. 627).
● Intérpretes e tradutores (são peritos cuja tarefa é traduzir para a língua portuguesa os
documentos em outros idiomas);
● Conciliador (procura conduzir as partes a um acordo, nos termos do art. 60 da Lei
9.099/95).

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3. JURISDIÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO


Jurisdição

O Estado detém o poder de ditar as regras de convivência e também possui o direito de punir
aqueles que as desrespeitarem. A jurisdição, no que lhe concerne, é o Poder do Estado de atuar
na garantia de não se impor imediata e arbitrariamente uma pena ao acusado sem lhe
proporcionar oportunidades de defesa.

Quem exerce a jurisdição no Brasil é o Poder Judiciário, ou seja, todos os juízes brasileiros
podem julgar o caso concreto aplicando-lhes a lei abstrata para solucionar os conflitos de
interesse, disponibilizando, ao acusado, possibilidades de se defender.

Juris Dictio​ = dizer o direito.

Princípios que norteiam a Jurisdição

● Investidura: ​A jurisdição só pode ser exercida por magistrado, empossado no cargo de


juiz.
● Indelegabilidade: ​Não pode um órgão jurisdicional delegar sua função para outro, ainda
que este também seja um órgão jurisdicional.
Exceções​: carta rogatória e carta precatória.
● Juiz Natural: ​Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.
Investidura​: toda atividade da jurisdição deve ser realizada por alguém investido na função. Em
regra, mediante concurso público.

Processo

A jurisdição somente pode ser exercida através do processo. Processo é o instrumento da


jurisdição (direito formal). O Direito Processual Penal, então, seria o “conjunto de princípios e
normas que disciplinam a persecução penal para a solução das lides penais” (REIS e
GONÇALVES, 2014, p. 44). Lembrando que a lide penal ocorre quando a pessoa infratora
exerce seu direito de defesa de um lado, enquanto, do outro, o Estado pretende punir o agente
por sua conduta.

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Não existe processo que termine sem decisão de provimento jurisdicional. Há decisões judiciais
sem processo, mas não há processo sem decisão / sentença (provimento jurisdicional).

O sistema processual no Direito Penal Brasileiro é o sistema Acusatório.

Procedimentos

A sequência de atos processuais previstos em lei para a tramitação da ação penal é chamada
de ​procedimento​. Por se tratar de matéria de ordem pública, não podem as partes adotar
procedimento que acreditem ser mais eficiente que aqueles determinados pela norma, sob pena
de nulidade.

Os procedimentos, também chamados de “ritos”, são a matéria de Direito Processual Penal mais
recorrente no Exame de Ordem, uma vez que sua inobservância pode acarretar nulidade
absoluta no processo.

O ​artigo 394 do CPP​ informa que o procedimento será ​COMUM​ ou ​ESPECIAL​.

Os parágrafos do artigo 394 do CPP ainda determinam que o procedimento ​COMUM​ será:

● Ordinário: quando tiver por objeto crime cuja ​sanção máxima cominada for ​igual ou
superior a 4 anos​, desde que não exista procedimento especial (ex.: Júri, Lei de Drogas,
etc.);
● Sumário: quando tiver por objeto crime cuja ​sanção máxima cominada seja ​superior a 2
anos e​ ​inferior a 4 anos​;
● Sumaríssimo: para as infrações penais de ​menor potencial ofensivo que tramitam
perante os Juizados Especiais Criminais – JEC, disposto na Lei 9.099/95 (contravenções
penais e os crimes cuja pena máxima não exceda ​2 anos​).

O critério para definir o rito (ordinário, sumário ou sumaríssimo) dentro do procedimento comum
é a pena máxima de cada crime.

Lembrando que se aplicam subsidiariamente aos procedimentos especiais, sumário e


sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário (art. 394, § 5.º, do CPP).

Portanto, o esquema dos procedimentos será o seguinte:

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Ordinário​ → Pena máxima​ ​= ou ↑ 4 anos


Sumário​ → Pena máxima ​↑ 2 anos​ ​e ↓ 4 anos
Sumaríssimo​ → Pena máxima ​= ou ↓ 2 anos (JEC)
Especial ​= Demais procedimentos previstos no CPP e em leis extravagantes. Ex:
Procedimento do Júri.

ATENÇÃO​: ​Para definir o procedimento adequado para cada infração penal, é


preciso considerar as ​qualificadoras e as ​causas de aumento e de ​diminuição de
pena​, pois repercutirão na pena abstrata.

ATENÇÃO​: Havendo ​conexão ​entre infrações com procedimentos distintos​,


prevalecerá o procedimento do Tribunal do Júri (art. 78, CPP). Se houver conexão
entre dois delitos que, individualmente, adotariam o rito sumário, mas cuja soma das
penas excederia o limite de 4 anos, por não haver resposta precisa no texto legal,
recomenda-se a utilização do ​rito que possibilitar mais defesas​.

4. PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO


O procedimento comum ordinário, previsto nos artigos 395 a 405 do CPP, é adotado para os
crimes mais graves (basta observar as penas), oferecendo maiores hipóteses de defesa. Vale
ressaltar, aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as
disposições do procedimento ordinário.

1.º Passo - O membro do Ministério Público ao receber os autos do Inquérito Policial poderá
adotar 4 (quatro) medidas, são elas: ​(1) Declinar da Competência (Arquivamento Indireto)​; ​(2)
Promover o Arquivamento do Inquérito Policial (quando visualizar ausência de Justa Causa)​; ​(3)
Requerer novas diligência a autoridade policial​; ​(4) Oferecer Denúncia.

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O arquivamento do inquérito policial, com advento da Lei 13964/19 (pacote anticrime), é um


procedimento que deve ocorrer dentro do próprio Ministério Público, sem qualquer chancela do
Poder Judiciário.

Os professores Francisco Dirceu Barros e Vladimir Aras indicam que tal mudança privilegia o
princípio ou sistema acusatório, considerando que antes de deflagrada a ação penal, a inércia
do juiz em relação à persecução penal deve ser absoluta, não sendo possível a adoção de
medidas que promovam ou incentivem a decisão de acusar, sob pena de quebra do princípio da
imparcialidade objetiva.

Entretanto, ao determinar o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos


informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público deverá:

● Comunicar à vítima, ao investigado e à autoridade policial;


● Encaminhar os autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, na forma da lei.

Diante da decisão de arquivamento de inquérito policial, à vítima poderá, no prazo de 30 (trinta)


dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do
órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.

Obs.: Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União,


Estados e Municípios (Fazenda Pública), a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.

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ATENÇÃO​:
Súmula 524 do STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.

2º Passo​ - Acordo de não persecução penal

Requisitos:
● Não for o caso de arquivamento do inquérito policial;
● Confissão do Acusado;
● Prática de Infração Penal sem violência ou grave ameaça;
● Pena mínima da Infração Penal inferior a 4 (quatro) anos;
● Necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

ATENÇÃO​:
Para aferição da pena mínima cominada ao delito, serão consideradas as causas
de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto

Condições Obrigatórias
● reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
● renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
● prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena
mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo
juízo da execução, na forma da lei penal.
● pagar prestação pecuniária, na forma da lei penal, a entidade pública ou de interesse
social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
● cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

Não Cabimento do Acordo de não Persecução Penal

● No caso de ser cabível Transação Penal;

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● Se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações
penais pretéritas;
● Ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do
processo;
● Nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor

Processamento do Acordo de não Persecução Penal

● a) Formalidades - deve ser feito por escrito, com assinatura do Membro do MP,
investigado e seu defensor.
● b) Audiência - para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada
audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do
investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.
● c) Rejeição Judicial das Condições do Acordo - se o juiz considerar inadequadas,
insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal,
devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu defensor.
● d) Homologação do Acordo - homologado judicialmente o acordo de não persecução
penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução
perante o juízo de execução penal.

3.º Passo​ - Oferecida a Denúncia pelo Membro do MP o Juiz a receberá, salvo se:
a) A denúncia for manifestamente inepta
✓ Art. 41 do CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol
das testemunhas.
b) Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal
c) Faltar justa causa para o exercício da ação penal.

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RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU QUEIXA

O procedimento ordinário (e a ação penal) efetivamente começa com o recebimento da denúncia


ou da queixa-crime pelo juiz (art. 396, CPP). Ao receber a denúncia ou a queixa-crime, o
magistrado, devido ao princípio do impulso oficial, ordenará a ​citação do acusado para
apresentar resposta preliminar no prazo de 10 dias.

CITAÇÃO

O processo terá a sua formação completada quando for realizada a ​citação do acusado (art.
363, ​caput​, CPP). A falta de citação é causa de nulidade absoluta do processo (art. 564, III, “e”,
CPP), exceto se o acusado comparecer em juízo no prazo legal, apresentando resposta escrita.

A citação pode ser:


● Real;
● Com hora certa; ou
● Por edital.

CITAÇÃO REAL OU PESSOAL

A citação real ocorre pessoalmente pelo oficial de justiça, através de mandado, carta precatória,
carta de ordem ou carta rogatória.

Mandado (art. 351, CPP): quando o acusado (inclusive o réu preso) se encontrar no ​território da
jurisdição do juiz que ordenou a citação, esta será realizada pelo ​oficial de justiça com a
leitura do mandado, entrega da contrafé (com dia e hora da citação) e declaração do oficial de
entrega da contrafé (certidão) sob aceitação ou recusa do acusado.

Precatória ​(art. 353, CPP): o ​juízo deprecado (onde está o citando), ao receber a carta
precatória do ​juízo deprecante (onde corre o processo), determina a citação do acusado, que
será cumprida pelo oficial.
● Caráter itinerante: se o acusado não estiver em sua comarca, encaminhará a precatória
àquela em que o citando estiver. Não devolve a carta ao juízo deprecante.

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Carta de Ordem ​(art. 236, §2ª do CPC/15): quando o acusado ​gozar de foro por prerrogativa
de função​, o tribunal poderá expedir carta para juízo a ele vinculado, se o ato houver de se
realizar fora dos limites territoriais do local de sua sede. A Carta de Ordem serve para citar,
intimar, cumprir ato instrutório, etc.

Carta Rogatória (art. 368, CPP): estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado
mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu
cumprimento.

IMPORTANTE: A citação pode ser feita em ​qualquer dia​, inclusive fins de semana e
feriados, e a qualquer hora, do dia ou da noite.

Efeitos no Efeitos no
Processo Civil Processo Penal
Não interrompe a
Citação Interrompe a prescrição.
prescrição.
Citação válida induz Não precisa de citação
Litispendência
litispendência. para configurar.
Citação válida torna Juiz que praticar 1.º ato
Prevenção juiz
prevento o juízo. processual.

CITAÇÃO COM HORA CERTA

A citação com hora certa (art. 362, CPP) é utilizada quando o réu tenta se ocultar do oficial de
justiça para não ser citado. Trata-se de uma modalidade de citação ficta.

O processo penal observará o mesmo procedimento do juízo cível: se, por duas vezes​, o oficial
tiver procurado o acusado em sua residência/domicílio, sem encontrá-lo, e suspeitar que está se
escondendo, intimará qualquer pessoa da família ou vizinho do acusado, de que voltará, ​no dia
seguinte​, de modo a efetuar a citação, ​na hora que designar​ (art. 252 do CPC/15).

No ​dia e hora designados​, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho,


comparecerá ao domicílio ou residência do citando, de modo a realizar a diligência. Se o
acusado não estiver presente, o ​oficial dará por feita a citação​, deixando ​contrafé da certidão da

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ocorrência com ​pessoa da família ou com ​qualquer vizinho​, conforme o caso, declarando-lhe o
nome.

Lembrando que, completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á
nomeado ​defensor dativo (art. 362, parágrafo único, do CPP), portanto, ​não será suspensa a
ação penal​.

CITAÇÃO POR EDITAL

A citação será feita por meio de edital quando ​não for possível citar o réu pessoalmente​, por isso
é considerada ficta (também chamada de “presumida”).

As seguintes situações ensejam a citação por edital:


a) Quando o citando ​não for encontrado​ (edital com o prazo de 15 dias – art. 363, § 1.º);
b) Quando o citando se encontrar em ​local inacessível, incerto ou ignorado (art. 256, II, do
CPC/15);
c) Quando ​não for conhecido o acusado​ (art. 365, II, CPP);
d) Quando o acusado encontrar-se ​no estrangeiro em lugar não sabido​, pouco importando a
natureza da infração penal (se o lugar for conhecido, deverá ser citado através de carta
rogatória).

ATENÇÃO: “É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da


federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.”​ ​(​Súmula 351 do STF​)

Os ​elementos​ que devem constar no edital estão previstos no art. 365 do CPP:

I. o nome do juiz que determinar a citação;


II. o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como
sua residência e profissão, se constarem do processo;
III. o fim para que é feita a citação;
IV. o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;
V. o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou
da sua afixação.

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ATENÇÃO: ​“Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se
baseia.” (​Súmula 366 do STF​)

O edital será publicado no jornal local e fixado no fórum, devendo a afixação ser certificada pelo
oficial que a tiver feito, durante o prazo de ​15 dias​. Após esse prazo, o acusado deve apresentar
a resposta contra a acusação.

Se o acusado, citado por edital, segundo o art. 366 do CPP, não comparecer, nem constituir
advogado, ​suspendem​-se o ​processo e a ​prescrição​, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do art. 312 do CPP.

ATENÇÃO: ​A ​Súmula 455 do STJ diz que o decurso do tempo não é requisito
suficiente (idôneo) para que seja determinada a produção antecipada de provas,
devendo ser concretamente fundamentada a decisão.

Lembrete​: As causas de suspensão e interrupção da prescrição no processo penal estão


dispostas nos artigos 116 e 117 do Código Penal.
Art. 116, CP​: Causas de suspensão (continua a contagem);
Art. 117, CP​: Causas de interrupção (interrompe a contagem);

ATENÇÃO: ​A Súmula 415 do STJ determina que o período de suspensão do prazo


prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada, sendo que tal
regulamentação pode ser encontrada no art. 109 do Código Penal.

APLICAÇÃO DA REGRA DO ART. 366 DO CPP

Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos:
➔ o processo
➔ curso do prazo prescricional

O juiz ainda poderá determinar:


➔ a produção antecipada das provas consideradas urgentes.
➔ a prisão preventiva, se for o caso.

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ATENÇÃO: ​A produção antecipada de prova testemunhal é medida excepcional,


somente sendo possível nos seguintes casos:
a) Testemunha Enferma
b) Testemunha Idosa
c) Policial Militar (STJ, RMS 52.147, set./17)

ATENÇÃO: ​Súmula 455 do STJ​: ​“A decisão que determina a produção antecipada
de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada,
não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”

Cálculo do Prazo de Suspensão - A suspensão do processo não pode ser eterna, portanto, deve
se utilizar como parâmetro o prazo prescricional relativo ao crime em análise.
Ex.: José foi denunciado pela prática de crime de furto simples. Recebida a Denúncia, o Juiz
mandou citar José pessoalmente. Os autos voltaram conclusos ao magistrado informando que
José não foi encontrado para efeito de citação pessoal, ouvido o Membro MP, que opinou pela
citação por Edital, o juiz determinou que José fosse citado por Edital, assinalando prazo 15
(quinze) dias para que o mesmo comparecesse ao processo ou constituísse advogado.
Decorrido o aludido prazo, sem o comparecimento de José, o MP solicitou a aplicação da regra
do art. 366 do CPP. A ​data da decisão de suspensão foi 10/10/2016​, assim sendo, ​o decurso do
prazo de suspensão será em 09/10/2022 (considerando que o crime de furto simples prescreve
em oito anos).

RESPOSTA ESCRITA

O réu tem o prazo de ​10 dias para apresentar resposta escrita (arts. 396 e 396-A do CPP) à
acusação feita na denúncia/queixa. Esta peça técnica (exige um advogado ou defensor) é
obrigatória​ para que o processo tenha continuidade.

Assim, compete à defesa, na resposta escrita:


a) arguir preliminares: matérias processuais, como a incompetência do juízo, suspeição
do juiz, litispendência, etc. Opondo-se alguma exceção, esta deverá ser processada
em apartado;

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b) expor todos os argumentos que interessem à defesa do réu: ​prescrição do delito, fato
narrado não constitui crime, etc.;
c) apresentar documentos que auxiliem o acusado: em qualquer fase do processo as
partes poderão apresentar documentos, salvo casos expressos (art. 231, CPP);
d) expor justificações: causas excludentes de ilicitude (legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito);
e) indicar as provas que pretende produzir:​ perícia, por exemplo;
f) arrolar testemunhas: até o máximo de ​8 testemunhas​, devidamente qualificadas,
requerendo sua intimação, sob pena de preclusão.

PRAZO DA RESPOSTA

O prazo de 10 dias para apresentação da resposta inicia-se a partir da ​data da citação (Súmula
710 do STF), sendo contado de forma processual, portanto, observando o disposto no art. 798,
§1º, CPP: ​excetua-se o dia do começo e se inclui o do final​.

A falta de apresentação da resposta no processo penal constitui nulidade absoluta por violar os
princípios do contraditório e da ampla defesa (presunção de prejuízo - art. 563, CPP).

ATENÇÃO: O ​artigo 10 do CP​, conta o dia do início de ​cumprimento de penas e,


neste caso, o inclui-se o dia do início.

POSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DO ACUSADO

O juiz poderá absolver sumariamente o réu quando (art. 397, CPP):

● Houver existência ​manifesta de ​causa excludente da ilicitude do fato​, conforme


previsão do art. 23, do CP;
● Houver existência ​manifesta de ​causa excludente da culpabilidade do agente (salvo
inimputabilidade): coação moral irresistível, etc.;
○ No caso de doente mental ou pessoa com desenvolvimento mental incompleto
(​agente inimputável​), mesmo que não condenado, receberá medida de
segurança, ​não sendo possível absolvê-lo sumariamente​.
● O fato narrado evidentemente ​não constituir crime​ (fato atípico);
● Estiver ​extinta a punibilidade do agente: art. 107 do CP e art. 60 do CPP (iniciativa
privada – causa extintiva de punibilidade).

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IMPORTANTE: A decisão de absolver sumariamente o acusado deve ser
indubitável quanto às hipóteses anteriormente apresentadas. Caso contrário,
deve-se fazer prosseguir o feito para um melhor aprofundamento das provas.

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Finda a etapa de possibilidade de absolvição sumária, o juiz designará uma ​audiência de


instrução e julgamento (que é una), na qual será produzida a prova e julgado o fato, para data
não superior a 60 dias (art. 400, CPP) e ordenará a intimação do Ministério Público, do acusado,
de seu defensor e, se for o caso, do querelante e do assistente de acusação (art. 399, CPP).

A ordem na audiência de instrução e julgamento, prevista no ​art. 400 do CPP deve ser
respeitada, pois sua inobservância PODERÁ gerar nulidade.

Art. 400, ​caput​, CPP​: ​Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo
de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido,
à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta
ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de
pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

Produzidas as ​provas​, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a


seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou
fatos apurados na instrução.

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ESQUEMAS

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5. PROVAS
Conceito, objeto e objetivo da Prova

a) ​Conceito de Prova - Nas palavras de Eugênio Pacelli, a prova judiciária tem um objetivo
claramente definido: a reconstrução dos fatos investigados no processo, buscando a maior
coincidência possível com a realidade histórica, isto é, com a verdade dos fatos, tal como
efetivamente ocorridos no espaço e no tempo.

b) ​Objetivo da Prova - a produção da prova objetiva auxiliar na formação do convencimento do


juiz quanto à veracidade das afirmações das partes em juízo. Não se destina, portanto, às partes
que a produzem ou requerem, mas ao magistrado, possibilitando, destarte, o julgamento de
procedência ou improcedência da ação penal (AVENA, 2019, p. 512).

c) ​Objeto da Prova - compreendem-se os fatos que, influindo na apuração da existência ou


inexistência de responsabilidade penal, são capazes de gerar dúvida no magistrado, exigindo,
por isso mesmo, a devida comprovação (AVENA, 2019, p. 512).

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Fatos que não precisam ser provados

O professor Norberto Avena fornece alguns exemplos, são eles:


● Exemplo de fatos axiomáticos​: a prova da putrefação do cadáver dispensa a prova da
morte, pois a primeira circunstância (putrefação) decorre da segunda (a morte).
● Exemplo de fatos notórios​: moeda nacional, condição de Presidente da República, um
feriado nacional, etc.
● Exemplo de Presunção Legal: a condição de inimputável do indivíduo menor de dezoito
anos.
● Exemplo de Fatos Inúteis​: as preferências sexuais de indivíduo acusado de crime de furto.

Ônus da prova

Art. 156, CPP​. A ​prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício:
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida;
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

O ​ônus da prova no processo penal cabe a quem faz a alegação, mas, pelo princípio da
liberdade em produzir provas, permite-se utilizar todos os meios lícitos para se produzi-la.

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Pelo princípio da lealdade das partes, ao Ministério Público incube o ônus do fato constitutivo,
enquanto à defesa compete provar o contrário, então:

● Acusação: deve provar os fatos constitutivos (​autoria e ​materialidade​) e os elementos


subjetivos do crime (​dolo​ e ​culpa​).
● Defesa: deve provar os fatos modificativos, impeditivos do crime (negativa da
materialidade e da autoria, excludente de crime, extinção da punibilidade,
inimputabilidade).

A prova é utilizada como elemento de argumentação para determinar a existência ou não de um


fato e sua veracidade. É a demonstração do que de fato aconteceu, por meio da verdade real ou
substancial/processual.

Meios de prova

Respeitadas as limitações legais, qualquer meio de prova lícita (testemunhal, documental e


material) é aceito no processo penal, ou seja, tudo que possa demonstrar a verdade que se
busca no processo.

Exemplos: exame de corpo de delito, perícias em geral, documentos, etc.

Provas ilícitas e ilegítimas

● Provas ilícitas: as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais de direito


material como, por exemplo, as provas fornecidas mediante tortura, a interceptação
telefônica ilegal (fora das hipóteses da Lei 9.296/1996).
● Provas ilegítimas:​ são as obtidas mediante violação de regras processuais.

Provas ilícitas por derivação


Conceito ​- são aquelas que, embora lícitas na própria essência, decorrem exclusivamente de
outra prova, considerada ilícita, ou de uma situação de ilegalidade, restando, portanto,
contaminadas (AVENA, 2019, p. 542).

Consequência Jurídica - é inutilização da prova, considerando que são também inadmissíveis as


provas derivadas das ilícitas no processo penal.

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Teoria da Fonte Independente - Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo
os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.

✓ Exemplo - Considere-se que a testemunha “João”, ouvida na fase do inquérito e arrolada


pelo Ministério Público na denúncia, seja impugnada pela defesa sob o fundamento de
que foi descoberta no curso do inquérito em razão de uma interceptação telefônica
desautorizada. Aceita a impugnação pelo Juiz, dita testemunha vem a ser excluída.
Considere-se, porém, que, durante a instrução processual, o nome de João venha a ser
referido por outra testemunha, esta licitamente arrolada. Nada impede, neste caso, que o
juiz proceda à oitiva de João, cujo nome, agora, surgiu de uma fonte completamente
independente, sem nenhuma relação de causa e efeito com a interceptação telefônica
clandestina antes realizada (AVENA, 2019, p. 542).

Teoria da Descoberta Inevitável ​- N


​ as palavras de Norberto Avena, é a hipótese na qual a prova
será considerada admissível se evidenciado que ela seria, inevitavelmente, descoberta por
meios legais.

✓ Exemplo - ​Considere a existência de uma busca ilegal realizada pela autoridade policial
na residência do suspeito, resultando da diligência a apreensão de documentos que o
incriminam. Ora, tais documentos, na medida em que surgiram a partir de uma
ilegalidade, constituem prova ilícita por derivação. Considere-se, porém, que se venha a
constatar que já existia mandado de busca para o local, mandado este que se encontrava
em poder de outro delegado de polícia, o qual, no momento da diligência ilegal, estava se
deslocando para a casa do investigado. Neste caso, considerando a evidência de que os
mesmos documentos obtidos ilegalmente seriam inevitavelmente descobertos e
apreendidos por meios legais, afasta-se a ilicitude derivada, podendo ser aproveitada a
prova resultante daquela primeira apreensão ​(AVENA, 2019, p. 544)​.

Teoria da Limitação da Contaminação Expurgada - Trata-se da hipótese em que, apesar de já


estar contaminado um determinado meio de prova em face da ilicitude da prova ou da
ilegalidade da situação que o gerou, um acontecimento posterior expurga (afasta, elide) esta
contaminação, permitindo-se o aproveitamento da prova ​(AVENA, 2019, p. 544)​.

✓ Exemplo - ​A autoridade policial prende Pedro de forma ilegal, vale dizer, sem que esteja
ele em situação de flagrância e sem que haja ordem escrita da autoridade judiciária
competente. No curso dessa prisão ilegal, sentindo-se coagido, Pedro vem a confessar o
crime de que está sendo investigado. Ora, esta confissão é uma prova ilícita por

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derivação, pois obtida durante o período em que se encontrava Pedro ilegalmente preso.
Considere-se, porém, que, mais tarde, ouvido em juízo, na presença de seu advogado e
livre de qualquer coação, Pedro venha a confessar ao magistrado seu envolvimento,
confirmando tudo o que referiu na fase policial. Essa nova confissão é válida, pois
expurga a contaminação determinada pela confissão anteriormente operada no âmbito da
delegacia de polícia.

ATENÇÃO: Com base na Teoria dos “Frutos da Árvore Envenenada”​, acolhida


pela doutrina e pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as provas ilícitas
por derivação não são admitidas no processo. Entretanto, levando-se em conta o
princípio da proporcionalidade​, o magistrado poderá, no caso concreto, fazer uso
da mencionada prova se esta for a única capaz de inocentar o réu.

Procedimento probatório

Para se exibir uma prova no processo penal é necessário observar a seguinte sequência de
atos:

I. Proposição ou requerimento (art. 396-A, CPP): a prova, em regra, deve ser requerida
com as peças processuais da acusação e da defesa.

● Incidente de insanidade mental (arts. 149 a 154 do CPP): pode ser requerido em
qualquer fase do processo.
● Documentos (art. 231, CPP): em regra, os documentos podem ser apresentados
em qualquer fase do processo.

II. Admissão​: o juiz deve deferir (aceitar) a produção da prova requerida pelas partes.

● Tribunal do Júri​: para serem admitidas provas no Tribunal do Júri, é preciso que
tenham sido juntadas aos autos com, no mínimo, ​3 dias úteis de antecedência,
dando-se ciência à outra parte​ (art. 479, CPP).

III. Instrução ou produção​: atos que trazem a juízo os elementos de convicção oferecidos
pelas partes.

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IV. Apreciação ou valoração​: momento em que a prova está pronta para ser analisada pelo
magistrado.

Perícias

Conceito de Perícia - A prova pericial ou a prova técnica, mediante análise especializada do


meio de prova, seja quanto ao fato em si (morte, lesão corporal, etc.), surge como uma exigência
garantista para um mais adequado conhecimento judicial da matéria a ser julgada, diante da
necessidade da comprovação específica de determinados fatos (FISHER e PACELLI, 2019, p.
423)

Hipóteses de Prova Pericial ​- pode exigir a prova pericial quando:


● a infração deixar vestígios
➔ O que são vestígios? - Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente,
constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal (Art. 158-A, § 3, do
CPP).
● demandar conhecimentos técnicos específicos e especiais.

Exame de Corpo de Delito ​- O corpo de delito é, em regra, o objeto material do crime, ou seja, o
objeto sobre o qual recaiu uma ou alguma das ações delituosas (FISHER e PACELLI, 2019, p.
425). Pode também ser conceituado, nas lições de Norberto Avena, como a perícia destinada à
comprovação da materialidade das infrações que deixam vestígios (​v.g.,​ homicídio, lesões
corporais, furto qualificado pelo arrombamento, dano, etc.).

Exame Direto X Indireto


● Fala-se em exame direto quando a prova técnica é produzida a partir do exame feito no
próprio objeto periciado. Assim, por exemplo, com o exame cadavérico, com o exame
datiloscópico no documento, com o exame de potencialidade ou de correspondência da
arma alegadamente utilizada no crime e, enm, com quaisquer exames que se realizem
diretamente sobre o objeto da prova (FISHER e PACELLI, 2019, p. 425).
● O exame indireto é aquele realizado com base em informações verossímeis fornecidas
aos peritos quando não dispuserem estes do vestígio deixado pelo delito. Imagine-se um
delito de estupro, sendo submetida a vítima à perícia de conjunção carnal ocorrida um
mês antes. Não mais sendo constatado o vestígio em face do tempo decorrido, poderão
os especialistas elaborar laudo indireto, a partir, por exemplo, de atestado do médico

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particular da vítima que a tenha examinado logo após a ocorrência (AVENA, 2019, p.
596).

Prioridade na realização do Exame de Corpo de Delito - Dar-se-á prioridade à realização do


exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:
● violência doméstica e familiar contra mulher.
● violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Prova pericial e habilitação técnica ​- O exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.

Ausência de Perito Oficial Habilitado - Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

Obs.: Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar


o encargo.

Formulação de Perguntas e Quesitos - Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de


acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de
assistente técnico.

Atuação do Assistente Técnico ​- O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e
após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes
intimadas desta decisão.

ATENÇÃO: Segundo a Súmula 361 do STF, no processo penal, é nulo o exame


realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado,
anteriormente, na diligência de apreensão.

Faculdade das Partes na Prova Pericial - Durante o curso do processo judicial, é permitido às
partes, quanto à perícia:
● requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas
sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as
respostas em laudo complementar.

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● indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo
juiz ou ser inquiridos em audiência.

Perícia Complexa - é aquela que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, por
conseguinte, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais
de um assistente técnico.

Laudo Pericial ​- O laudo pericial é um dever do perito, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulado.

● Prazo - O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo
ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

Tempo do Exame de Corpo de Delito - O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer
dia e a qualquer hora.

● Autópsia - A autópsia será feita pelo menos ​seis horas depois do óbito,​ salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele
prazo, o que declararão no auto.
● Morte Violenta - Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do
cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a
verificação de alguma circunstância relevante.

Perícias nos crimes de Lesão Corporal - Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido
ou do acusado, ou de seu defensor. A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
prova testemunhal.

Perícias crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo - os peritos, além de


descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época
presumem ter sido o fato praticado.

ATENÇÃO:
Caso os vestígios tenham desaparecido, impedindo a realização do exame de
corpo de delito, a utilização da prova testemunhal suprirá tal falta (art. 167 do CPP).

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Cadeia de Custódia

● a) Conceito - Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais
ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.
● b) Início da Cadeia de Custódia - O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação
do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a
existência de vestígio.
● c) Quem deve fazer a coleta dos vestígios? - A coleta dos vestígios deverá ser realizada
preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a
central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames
complementares.
● d) Liberação do Vestígio sem autorização do Perito - Nesse caso haverá o crime de
fraude processual.
● e) Forma de Armazenamento dos Vestígios ​- Os vestígio deverão ser armazenado em
recipiente lacrado, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e
a idoneidade do vestígio durante o transporte.
● f) Local de Armazenamento dos Vestígios ​- Os vestígios, antes e depois da perícia,
deverão ser armazenados na Central de Custódia.

Confissão

Consiste na admissão voluntária, pelo acusado, dos fatos que lhe são imputados, oralmente
(durante o interrogatório) ou por termo (quando feita fora do interrogatório).

Características da confissão:
● Valor relativo:​ deve ser analisada em conjunto com outras provas (art. 197, CPP);
● Divisível:​ é possível aceitar apenas parte da confissão;
● Retratável:​ acusado pode negar a confissão feita anteriormente.

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ATENÇÃO: ​O silêncio do acusado não implica em confissão (art. 198 do CPP), pois não é
obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Oitiva do ofendido
Conceito - Ofendido é a vítima, sujeito passivo da infração e titular do interesse jurídico lesado
pela conduta criminosa.

Perguntas formuladas ao ofendido ​- o ofendido será qualificado e perguntado sobre:


● as circunstâncias da infração
● quem seja ou presuma ser o seu autor
● as provas que possa indicar

Deveres do Ofendido ​- a condição de ofendido não o exime de comportar-se conforme o direito


durante a persecução penal. Não tem ele, por exemplo, direito ao silêncio; ao contrário, tem o
dever de depor, enquanto e nas situações em que tenha partido dele a identificação do acusado
(FISHER e PACELLI, 2019, p. 484). Ademais, o ofendido poderá ser conduzido coercitivamente
à presença da autoridade.

Direitos do Ofendido ​-
● O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada,
honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em
relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu
respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
● S​e juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento
multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde,
a expensas do ofensor ou do Estado.
● Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado
para o ofendido.

Comunicação de Atos Processuais: O ofendido será comunicado dos seguintes atos


processuais:
● ingresso e à saída do acusado da prisão

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● designação de data para audiência
● sentença e respectivos acórdãos
Obs.: As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado,
admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.

Características da oitiva do ofendido:


● Determinada de ofício pelo juiz;
● Diferente de uma testemunha: o ofendido não deve ser confundido com testemunha;
● Não presta compromisso: não tem compromisso de dizer a verdade como as testemunhas
(art. 203, CPP);
● Espaço reservado no fórum e sala de audiências.

Prova testemunhal

A testemunha é a pessoa desinteressada que depõe no processo acerca daquilo que sabe sobre
o fato. O depoimento de uma testemunha deve ser:
Oral, objetivo, individual, incomunicável, mediante prestação de compromisso, e obrigatório
(exceções artigos, 206 e 207, CPP).

Qualquer pessoa pode e tem o dever de ser testemunha. Trata-se de colaborador/auxiliar da


Justiça que traz informações ao processo para criar uma visão do acontecido, informar o que
ouviu e presenciou.

Poderão, entretanto, ​recusar-se a depor como testemunha​, salvo quando não for possível, por
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP):
● O ​ascendente​;
● O ​descendente​;
● O ​afim em linha reta​;
● O ​cônjuge​ ou ​companheiro​;
● Os ​irmãos​ do acusado.

A prova testemunhal é colhida, em regra, no decorrer do processo, mas pode ser colhida na fase
de inquérito. No inquérito, a autoridade policial é quem ouve as testemunhas, no processo são
arroladas na denúncia e na defesa.

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A quantidade de testemunhas dependerá do tipo de procedimento adotado.

Procedimento Comum Ordinário:


Sumário​: 5 testemunhas (Lei de Drogas: 5 testemunhas)
Sumaríssimo​: 3 testemunhas (Lei 9.099/95)

Procedimento do Tribunal do Júri:


1.ª fase​: 8 testemunhas;
2.ª fase​: 5 testemunhas.

A testemunha que não presta compromisso é chamada de ​informante​ (art. 208, CPP).

Reconhecimento de pessoas e coisas

O reconhecimento de pessoa trata-se de meio de prova no qual o ofendido ou a testemunha


afirma diante do juiz que reconhece a pessoa que praticou o delito.

O ​procedimento​ é descrito no art. 226 do CPP:

I) Pessoa que realizará o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa a ser


reconhecida;
II) A pessoa a ser reconhecida será colocada ao lado de outras semelhantes;
III) O reconhecedor, isolado visualmente, será convidado a apontar a pessoa que se
quer reconhecer;
IV) Será lavrado auto pormenorizado.

O ​reconhecimento de coisas segue a mesma dinâmica do reconhecimento de pessoas,


observando-se as cautelas necessárias.

ATENÇÃO: O ​reconhecimento fotográfico é admitido como p


​ rova inominada no
processo penal, mas deve ser adotado apenas quando não for possível o
reconhecimento pessoal e direto.

Acareações

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Conceito - Acareação é o procedimento que consiste em colocar frente a frente pessoas que já
prestaram depoimentos em momento anterior, para que esclareçam, mediante confirmação ou
retratação, aspectos que se evidenciaram contraditórios.

Sujeitos da Acareação​ - A acareação será admitida:


● entre acusados
● entre acusado e testemunha
● entre testemunhas
● entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida
● entre as pessoas ofendidas

Pressupostos da acareação:
● Prévia oitiva​ das pessoas que serão acareadas;
● Existência de ​ponto divergente entre as declarações acerca de questão importante para o
deslinde da causa.

A acareação pode ser excepcionalmente procedida mediante ​carta precatória​ (art. 230, CPP).

Documentos

Conceito de Documento - Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou


papéis, públicos ou particulares (Art. 232 do CPP).
✓ Obs.: À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do
original.

Momento da Juntada dos Documentos​ -


● Regra​ - as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo..
● Exceção - No tribunal do júri, durante o julgamento, não será permitida a leitura de
documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a
antecedência mínima de 3 (três) dias úteis​, dando-se ciência à outra parte.

Comunicação Particular (Cartas, e-mail, whatsapp, etc) - ​A lógica é que se for interceptada ou
obtida por meios criminosos, não será admitida em juízo. Contudo, poderá ser exibida em juízo
pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do
signatário.

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Poderes do Juiz ​- Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da
acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das
partes, para sua juntada aos autos, se possível.

Interrogatório

Trata-se do momento em que ​o réu é ouvido pelo juiz​, na presença de seu defensor (constituído
ou nomeado – art. 185, ​caput,​ CPP), podendo apresentar sua visão da infração que lhe é
imputada.

São características do interrogatório:


● Ato personalíssimo:​ somente o réu pode ser interrogado;
● Ato oral: em regra, mas no caso de acusado que fale outro idioma ou se for surdo-mudo e
analfabeto será nomeado um intérprete;
● Ato não preclusivo: devido à sua natureza de meio de defesa, pode ser realizado a
qualquer momento;
● Ato público: ​qualquer pessoa pode presenciar;
● Ato bifásico:​ uma fase de qualificação e outra sobre os fatos imputados (art. 187, CPP).

Em situações excepcionais e devidamente fundamentadas, de ofício ou a requerimento das


partes, é possível realizar o interrogatório do réu por meio de ​videoconferência (art. 185, § 2º,
CPP).

O interrogatório é o último ato conduzido pelo juiz antes da sentença.

6. SENTENÇA

A sentença ​criminal (arts. 381 a 392 do CPP) é uma ​decisão definitiva​, pois soluciona o mérito
da pretensão, pondo fim ao processo e julgando:
a) A procedência da acusação (​sentença condenatória​);
b) A improcedência da acusação (​sentença absolutória própria​); ou
c) A imposição de medida de segurança ao réu (​sentença absolutória imprópria​).

Para ser válida, a sentença deve conter os seguintes​ ​requisitos:

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● RELATÓRIO → ​inclui nomes das partes ou, quando não for possível, as indicações
necessárias para identificá-las, um resumo dos principais atos praticados no processo (se
foi decreta prisão preventiva, por exemplo) e exposição sucinta da acusação e da defesa;
● MOTIVAÇÃO ​→ ​expõe os motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão, bem
como o enfrentamento das teses da defesa e da acusação;
● CONCLUSÃO → ​indicará os artigos de lei aplicados para fundamentar a decisão; o
dispositivo (se condena ou absolve o réu, se julga procedente ou improcedente a
acusação); a data e a assinatura do juiz.

ATENÇÃO: O ​relatório da sentença é dispensado no Juizado Especial Criminal (art.


81, § 3º, da Lei 9.099/95).

IMPORTANTE: Chama-se “​sentença suicida​” aquela cujo dispositivo (que informa


se há condenação ou absolvição) contraria as razões invocadas na fundamentação.

Conforme o ​princípio da correlação (congruência ou adstrição), a sentença tem que ser


prolatada com base na acusação. Ela não pode estar fora da acusação, não pode estar além da
acusação, nem aquém da acusação. É para evitar as sentenças ​citra​, ​extra e ​ultra ​petita​, as
quais incorrem em nulidade.

Este princípio remete a dois institutos: “​Emendatio Libelli​” (art. 383, CPP) e “​Mutatio Libelli”​
(384, CPP).

● A ​emendatio libelli consiste na possibilidade de o juiz ​corrigir a classificação jurídica


apresentada na denúncia ou na queixa em relação aos fatos narrados. Pode ser que a
peça acusatória descreva um determinado fato criminoso, mas se equivoque quanto à
sua tipificação.

● A ​mutatio libelli ocorre quando o juiz entende cabível ​nova definição jurídica do fato
descrito na inicial em consequência de prova constante dos autos referente a ​elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação ​(uma causa de aumento de
pena ou uma qualificadora que altere o crime narrado). Neste caso, deverá o MP aditar a
denúncia (no prazo de 5 dias) para que o acusado tenha a oportunidade de se defender
da nova imputação.

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Caso o ​MP não adite a denúncia​, mesmo o juiz entendendo haver classificação diversa do
delito, aplica-se o disposto no art. 28 do CPP (art. 384, § 1.º, do CPP). Portanto, deverá o
magistrado remeter os autos ou peças de informação ao procurador-geral, e este aditará a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para aditá-la, ou insistirá na classificação
apresentada inicialmente, a qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Vale ressaltar, ainda que, por força do disposto no artigo 10 do CPC/15, o ​emendatio libeli não
poderá ser invocado sem que antes sejam previamente ouvidas acusação e, principalmente, a
defesa. Do mesmo modo, não será mais possível ao juiz a absolvição do réu, sem prévia oitiva
da acusação, com base em tese de defesa não pronunciada na defesa preliminar (art. 396-A do
CPP), mas apenas apresentada nas alegações finais da defesa.

ATENÇÃO: A Súmula 453 do STF impede a aplicação da ​mutatio libelli no segundo


grau para evitar a supressão de instância.

ATENÇÃO: Verificando-se que o autor praticou ​outro(s) delito(s) além daquele(s)


narrado(s) na denúncia ou queixa, não será aplicada a ​mutatio libelli​, sendo necessária ​nova
acusação​, portanto, uma nova ação penal. A ​mutatio libelli será utilizada apenas quando houver
alteração do fato narrado na exordial.

Classificação das Sentenças

● Sentença Absolutória Própria ​(art. 386, CPP): quando não acolhe a pretensão
punitiva, não impondo sanção ao acusado.

○ Sentença absolutória por ​falta de provas dá ensejo à ação de reparação de


danos no juízo cível, bem como a absolvição pelo fato não ser considerado
infração penal;

○ Sentença absolutória por ​inexistência do fato ou se provado que o réu não


concorreu para a infração impossibilita a ação civil ​ex delicto para reparação
de dano (art. 66, CPP);

● Sentença Absolutória Imprópria ​(art. 386, parágrafo único, III, CPP): quando não
acolhe a pretensão punitiva, mas reconhece a prática da infração penal e impõe ao réu
uma medida de segurança.

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● Sentença Condenatória (art. 387, CPP): quando julga procedente, total ou
parcialmente, a tese acusatória.

Efeitos da sentença condenatória

Após a publicação da sentença condenatória (art. 389, CPP), esta produzirá os seguintes efeitos
(art. 91, CP):

● Certeza da obrigação de ​indenizar o dano resultante da infração (sentença


declaratória);
● Perda de instrumentos ou do produto do crime​;
● Outros efeitos previstos no art. 92 do CP (perda do cargo, função ou mandado
eletivo, perda do pátrio poder em alguns delitos, inabilitação para dirigir veículo);
● Prisão do réu​.
A prisão do réu será decretada se:
○ A decisão tiver transitado em julgado e a pena fixada for privativa de
liberdade ​OU
○ Estiverem presentes os requisitos da ​prisão preventiva ​em sentença
recorrível (art. 387, § 1.º, CPP);
➢ Lembrando que o tempo de prisão provisória, de prisão administrativa
ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para
fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade
(art. 387, § 2.º, CPP).
Intimação da sentença ​(art. 392, CPP):
● Pessoalmente (réu) → se o réu estiver ​preso​ ou ​solto​;
● Ao ​defensor constituído​ → se o réu não puder ser encontrado;
● Edital​ → se não forem encontrados (réu e/ou seu procurador).

7. REVELIA

Conceito
A revelia pressupõe a citação do réu para responder à acusação, assim sendo, o réu ainda não
citado não pode ser considerado revel. Nesse caso:

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➢ Réu citado por edital que não comparece nem constitui advogado para sua defesa -
aplica-se a regra do art. 366 do CPP + decretação da revelia.
➢ Réu citado pessoalmente que​:
✓ deixa de comparecer a algum ato do processo sem motivo justificado
✓ muda de residência e não comunicar o novo endereço ao juízo.

● Consequência ​- O processo seguirá sem a presença do acusado.

x Revelia no Processo Civil Revelia no Processo Penal

Hipóteses Se o réu não contestar a ação Se o réu:


✓ For citado por Edital +
aplicação do art. 366 do
CPP
✓ deixar de comparecer a
algum ato do processo sem
motivo justificado.
✓ mudar de residência e não
comunicar o novo endereço
ao juízo.

Efeitos ● presumir-se-ão verdadeiras ● O processo seguirá sem a


as alegações de fato presença do acusado.
formuladas pelo autor
■ Exceções​:
a) havendo
pluralidade de
réus, algum
deles contestar
a ação.
b) o litígio versar
sobre direitos
indisponíveis.
c) a petição inicial
não estiver
acompanhada
de instrumento
que a lei
considere

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indispensável à
prova do ato
d) as alegações
de fato
formuladas pelo
autor forem
inverossímeis
ou estiverem
em contradição
com prova
constante dos
autos.

Dispositivos Art. 344 e ss. do CPC Art. 367 do CPP


Legais

Referências

AVENA, Norberto. Processo penal. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018.
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. São Paulo: Atlas, 2018.

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