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§ 1. Intróito
* Em direito, a sucessão dá-se: (i) por ato inter vivos, ou seja, em decorrência da vontade de
dois ou mais sujeitos [é o que ocorre numa cessão contratual, numa sucessão trabalhista,
ou mesmo em uma sucessão empresarial]; ou (ii) causa mortis, hipótese que independe da
vontade dos sujeitos, por decorrer do fato jurídico morte.
* “[...] em sentido objetivo, é o conjunto das normas reguladoras da transmissão dos bens e
obrigações de um indivíduo em consequência de sua morte. No sentido subjetivo, mais
propriamente se diria direito de suceder, isto é, de receber o acervo hereditário de um
defunto”. (CARLOS MAXIMILIANO).
* “Direito das Sucessões é a parte especial do Direito Civil que regula a destinação do
patrimônio de uma pessoa depois de sua morte. [...] Disciplina, concisamente falando, os
efeitos da morte de uma pessoa natural, na área do Direito Privado”. (ORLANDO GOMES).
* “A sucessão mortis causa encontra sua justificação, conforme acentua Degni, nos mesmos
princípios que explicam e justificam o direito de propriedade individual, do qual é a
expressão mais enérgica e a extrema, direta e lógica consequência. Esse, o seu fundamento
racional”. (ORLANDO GOMES).
* Para FRANCISCO CAHALI, não há como se negar a relevante função social desempenhada
pela possibilidade de transmissão causa mortis, pois valoriza a propriedade e o interesse
individual na formação e avanço patrimonial, estimulando a poupança e o desempenho
pessoal no progresso econômico, fatos que, direta ou indiretamente, propulsionam o
desenvolvimento da própria sociedade.
§ 4. Oposição ideológica
* Para MONTESQUIEU e AUGUSTO COMTE o direito hereditário não teria fundamento ou seria
imoral, pois os filhos não deveriam esperar dos pais quaisquer bens além do necessário para
dar início à sua carreira profissional.
* A sucessão causa mortis pode ocorrer: (i) a título universal; e (ii) a título singular.
* Diferentemente da sucessão causa mortis, a sucessão por ato inter vivos [que se dá em
decorrência da vontade de dois ou mais sujeitos e não é objeto de estudo do Direito das
Sucessões], necessariamente, dá-se a título singular.
* Logo, temos que: “Em nosso Direito, a sucessão a título universal somente se admite mortis
causa”. (ORLANDO GOMES).
- Dá-se sempre que o sucessor “recolhe a totalidade dos bens da herança ou uma
fração aritmética da universalidade”. (ORLANDO GOMES).
(ii) A título singular: “Quando o sucessor recebe bens determinados, certa generalidade de
coisas, ou uma quota concreta de bens. [...] deriva unicamente de testamento,
limitando-se a objeto determinado que pode compreender um conjunto de bens,
§ Nota. Afirmou-se que a sucessão a título singular ocorre tão somente na sucessão
testamentária. Contudo, a sucessão testamentária admite, igualmente, a
sucessão a título universal. Seria o caso de o testador atribuir uma fração ideal de
sua herança a determinada pessoa, instituindo-a, assim, como sua herdeira
testamentária, conforme será explicado oportunamente.
* A sucessão causa mortis é deferida por lei ou testamento. Nesse sentido, art. 1.786 do CCB:
“A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”.
* É nulo, portanto, o ato bilateral pelo qual dispõe alguém de sua própria sucessão, ou dos
direitos que lhe possam vir a caber em sucessão ainda não aberta. A proibição é absoluta,
apanhando todo e qualquer negócio bilateral, inclusive os pactos antenupciais. A razão
principal da proibição reside no interesse de evitar que a pessoa se prive do direito de
regular livremente a própria sucessão, ainda autolimitando a vontade, porque deve esta
estar livre até o momento da morte. (ORLANDO GOMES).
* Portanto: “Nosso Direito não admite outros títulos de vocação sucessória. São proibidos os
pactos sucessórios. Nulo de pleno direito é o contrato sobre herança de pessoa viva[1].
Permitida não é, entre nós, a renúncia à sucessão que ainda não se abriu. Nem qualquer ato
de disposição de herança esperada. Em suma, ilícita a sucessão contratual. Na proibição, a
disposição, em contrato social, para que a sociedade continue com determinado filho do
sócio”. (ORLANDO GOMES).
1 CCB 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
- “Dá-se quando seu autor não haja disposto validamente, no todo ou em parte, de
seus bens, por testamento”. (ORLANDO GOMES).
- “Verifica-se necessariamente, em parte, quando há herdeiros aos quais destine a lei
determinada porção da herança”. (ORLANDO GOMES). Refere-se, aqui, aos
denominados herdeiros necessários.
- Dá-se, ainda, quando o testamento caducar, ou for julgado nulo, nas hipóteses de
nulidade absoluta, nos termos do art. 1.788 do CCB, verbis:
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado
nulo.[2]
2 Nesse ponto, deve-se registrar que a doutrina faz uma crítica a esse dispositivo, pelo fato de não prever a
subsistência da sucessão legítima, na hipótese de anulação do testamento em virtude do reconhecimento de
nulidades relativas. Faço, contudo, uma poderação.
(ii) Divisão necessária: “O espólio partilha-se entre todos os filhos do autor da herança, ou
entre os parentes mais próximos. Havendo descendentes, parte dos bens destina-se a
eles obrigatoriamente, no pressuposto de que lhes pertencem de pleno direito. Não
havendo, ainda assim se divide a herança entre os herdeiros sucessíveis, se não tiver a
partilha de obedecer a outro critério estabelecido em testamento. [...] jamais
compreende todo o patrimônio. Aplica-se apenas a uma parte, geralmente a metade”.
(ORLANDO GOMES). É o modelo adotado no Brasil.
(iii) Liberdade testamentária: “Não há herdeiros necessários entre os quais deva ser
partilhada a herança, de sorte que seu autor pode decidir livremente o destino dos
bens”. (ORLANDO GOMES).
(i) Herdeiro legítimo: É sucessor a título universal instituído por lei. Destaque-se que
a classe dos herdeiros legítimos é gênero da qual são espécies os herdeiros
necessários ou reservatários – aos quais a lei reserva metade dos bens da herança,
assim compreendida a legítima – e os herdeiros facultativos (conforme definidos
no CCB). No caso de herdeiros necessários, fala-se em sucessão legitimária. Já no
caso dos demais herdeiros, fala-se em sucessão legítima facultativa ou simplesmente
sucessão legítima.
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA
Nota: Assim “[...] havendo prelegado, isto é, legado deferido a um herdeiro, este
pode aceitá-lo e recusar a herança, ou aceitar esta e repudiar o legado, já que não
se confundem os dois títulos sucessórios [...]”. (LUIZ PAULO VIEIRA DE
CARVALHO).
* No Brasil, dá-se com a verificação da morte do sujeito. A morte da pessoa natural é o marco
final de sua existência é, também, o marco inicial do direito das sucessões.
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado
nulo.
* Droit de saisine: Instituído em França por volta do século XIII [Idade Média, portanto], no
intuito de proteger os herdeiros de servos, de quem os senhores exigiam o pagamento de
uma quantia para que pudessem ser imitidos na posse dos bens deixados pelo falecido.
* Essa expressão deriva do brocardo francês: Le serf mort saisit le vif, son hoir de plus proche
– o vivo herda do morto – e do alemão: Die Tochter beerbt ihre Eltern - a filha herda dos
seus pais.
* Em Brasil, a ideia foi admitida por meio do Alvará de 9 de novembro de 1754. Até então
vigorava a tradição romana, que distinguia o modo e o momento da aquisição da herança
pelos herdeiros necessários [que se dava com a morte e no mesmo instante,
independentemente de ato seu] dos demais herdeiros [que deviam aceitar expressamente
a herança, somente após o que esta deixava o estado de jacência].
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos
e testamentários.
* Interessante a síntese de Nelso Nery Jr e Rosa Maraia de Andrade Nery em nota ao artigo
em comento, sob a rubrica “Consequências da saisine”. Vejamos:
“Os herdeiros são investidos na posse e adquirem a propriedade pelo simples fato da morte
do autor da herança. Adquirem os direitos e obrigações do morto com todas as suas
qualidades e vícios (CC 1203 e 1206). A posse é por eles adquirida sem que haja necessidade
* Ainda com base no CCB 1.784, identificam-se os sujeitos passivos da sucessão, no caso, os
herdeiros legítimos e testamentários sobrevivos, é dizer, aqueles que estejam vivos no
momento da morte do de cujus. Vale destacar o seguinte:
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos
e testamentários.
3 Ninguém pode falecer em parte testando (com testamento) e, em parte, sem testar (sem testamento).
* O art. 10, §1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB prevê
expressamente a aplicação da lei do país em que domiciliado o falecido como sendo a
regente da sucessão aberta:
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado
o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ Nota: Assim, regra geral, caso um estrangeiro faleça no Brasil, deixando bens em
território brasileiro, quanto a estes [já que não compete à Jurisdição brasileira dizer
sobre a partilha de bens situados fora do Brasil], a sucessão será submetida às
normas do país onde aquele era domiciliado. “Por isso, em inventários abertos no
Brasil, o juiz eventualmente terá que aplicar a lei sucessória estrangeira”. (CAIO
MÁRIO DA SILVA PEREIRA).
§ Conforme ensina MARIA HELENA DINIZ (2018, p. 62), a explicação impõe a distinção
entre dois institutos, conforme ensinado pelos alemães. Veja. A capacidade para ter direito
à sucessão (Erbfähigkeit) está sujeita à lei do domicílio do auctor successionis; já a
capacidade de agir relativamente aos direitos sucessórios, ou seja, a aptidão para suceder
ou para aceitar – ou exercer direitos do sucessor (Erbrechtliche Handlungsfähigkeit), está
subordina à lei pessoal do herdeiro ou sucessível (LICC, art. 10, § 2º).
JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA
* A sucessão é regida pela lei vigente à época de sua abertura, nos termos do art. 1.787 do
CCB. Veja:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da
abertura daquela.
* Uma ressalva: “Há certos direitos que se não transmitem aos herdeiros. Alguns, por sua
natureza personalíssima, se extinguem com a morte, como sejam os direitos de família
puros, os direitos políticos e, em regra, os direitos da personalidade, ressalvada, quanto a
estes, alguma exceção prevista em lei (Código Civil de 2002, art. 11): de lege lata, é o caso
de certos direitos morais do autor, os quais, embora passíveis de inserção naquela categoria
doutrinária, são, todavia, transmissíveis causa mortis (Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998, art. 24, § 1º). Outros, não obstante a sua patrimonialidade, não sobrevivem nos
herdeiros, dada a sua inerência à pessoa do de cuius, como o uso, o usufruto, o direito de
preferência concedido ao vendedor (Código Civil de 2002, art. 520)”. (CAIO MÁRIO DA SILVA
PEREIRA).
* Há de se observar, ainda, que a lei mesma exclui certos bens da herança em situações
específicas. Senão vejamos:
Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se
sobreviver ao donatário.
Nota: Esse dispositivo trata da denominada cláusula de reversão, que pode ser
estipulada no contrato de doação. Assim, nessa situação, caso o donatário faleça
antes do doador, o bem doado não passará à titularidade dos herdeiros do
donatário.
Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa
entende-se distribuída entre elas por igual.
Nota: Aqui a observação recai sobre a doação conjuntiva feita a marido e mulher
[cônjuges]. De acordo com a regra explicitada no parágrafo único, sendo os
cônjuges donatários conjuntivos, em caso de falecimento de um deles, a quota-
parte devida ao morto não integra o seu acervo hereditário, antes, integraliza-se
ao patrimônio do cônjuge sobrevivo.
Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital
estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos
os efeitos de direito.
* Entretanto, são em regra excluídas da herança: (i) as relações jurídicas não patrimoniais; e
(ii) as personalíssimas, mesmo com conteúdo econômico, tituladas pelo falecido, como, por
exemplo, o poder familiar, a tutela ou a curatela eventualmente exercidos pelo de cujus, o
usufruto, o uso, o direito real de habitação, as rendas vitalícias, a pensão previdenciária, o
contrato de trabalho, porque o sucessor não é a continuação da pessoa do de cujus. (CAHALI
e HIRONAKA).
* No mesmo sentido: “Há certos direitos que se não transmitem aos herdeiros. Alguns, por
sua natureza personalíssima, se extinguem com a morte, como sejam os direitos de família
puros, os direitos políticos e, em regra, os direitos da personalidade, ressalvada, quanto a
estes, alguma exceção prevista em lei (Código Civil de 2002, art. 11): de lege lata, é o caso
de certos direitos morais do autor, os quais, embora passíveis de inserção naquela categoria
doutrinária, são, todavia, transmissíveis causa mortis (Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998, art. 24, § 1º). Outros, não obstante a sua patrimonialidade, não sobrevivem nos
herdeiros, dada a sua inerência à pessoa do de cuius, como o uso, o usufruto, o direito de
preferência concedido ao vendedor (Código Civil de 2002, art. 520)”. (CAIO MÁRIO DA SILVA
PEREIRA). Já o patrimônio a ser objeto de sucessão, ressalvadas as exceções acima, tem sua
abrangência estendida à integralidade não só dos bens, como dos direitos e obrigações
pertencentes à pessoa no momento de seu falecimento, acrescido, em situações especiais,
aos doados a herdeiros como adiantamento de legítima. (CAHALI e HIRONAKA)
* Integram o acervo hereditário não só bens imóveis, como móveis (carros, joias etc) e
qualquer outra relação jurídica de direitos e obrigações, como dinheiro, linhas telefônicas,
aplicações financeiras, ações ou quotas sociais, direitos possessórios (cf. art. 1.206, CC) (já
em curso ou não eventuais processos, inclusive de usucapião), créditos perante terceiros
(v.g., restituição de imposto de renda) e o direito de propor (ou seguir se já propostas) as
respectivas ações (buscando crédito judicial em ação de cobrança, indenizatória ou de
repetição de indébito) etc. (CAHALI e HIRONAKA).
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aplicou esse entendimento para
determinar que um homem restituísse ao espólio do irmão 50% do saldo existente na
conta que mantinham juntos.
O recurso teve origem em ação de sonegados ajuizada pelo espólio, na qual pleiteou a
restituição e colação de 50% do saldo bancário existente na conta conjunta, sob o
argumento de que o irmão sobrevivente teria dolosamente ocultado o valor após a morte.
Na ação, o espólio pedia ainda que o cotitular perdesse o direito à partilha desse valor.
A ação foi parcialmente procedente em primeiro grau, mas o Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul entendeu que os irmãos assinaram termo de solidariedade, estabelecendo
que a conta poderia ser movimentada e encerrada isoladamente por qualquer um deles.
Concluiu que o todo passou a pertencer a qualquer um deles, razão pela qual o valor
poderia ser levantado apenas por um sem a necessidade de posterior inclusão na partilha
de bens decorrente do falecimento.
Conta solidária
A relatora do recurso no STJ, ministra Nancy Andrighi, explicou que existem duas espécies
de conta-corrente bancária: a individual (ou unipessoal), em que há um único titular que
a movimenta por si ou por meio de procurador; e a coletiva (ou conjunta), cuja
titularidade é de mais de uma pessoa.
Segundo ela, esta última pode ser fracionária, sendo movimentada apenas por todos os
titulares; ou solidária, em que qualquer um dos titulares pode movimentar a integralidade
dos fundos disponíveis, em decorrência da solidariedade dos correntistas
especificamente em relação à instituição financeira mantenedora da conta, mas não em
relação a terceiros, “sobretudo porque a solidariedade, na forma do artigo 265 do Código
Civil, somente decorre da lei ou do contrato, e não se presume”.
Direitos sucessórios
Quanto à aplicação da pena de sonegados, Nancy Andrighi lembrou que o STJ já decidiu
que a aplicação dessa penalidade exige prova de má-fé ou dolo na ocultação de bens que
deveriam ser trazidos à colação. Na hipótese dos autos, a relatora afastou a incidência da
pena, uma vez que não havia prova segura da autoria e da propriedade dos depósitos
realizados na conta conjunta, razão pela qual não seria razoável atribuir ao cotitular a
prática de ato doloso, fraudulento ou de má-fé.
* Sendo casada a pessoa falecida, a sua meação decorrente do regime de bens adotado no
matrimônio igualmente integra a herança, ainda que algumas coisas estejam tituladas em
nome do outro cônjuge. Por exemplo, o veículo, quotas sociais, aplicações financeiras e
quaisquer outros bens e direitos em nome apenas da viúva, mas pertencentes ao casal,
fazem parte do monte partilhável no limite da meação do falecido. (CAHALI e HIRONAKA).
* Por outro lado, também as dívidas de qualquer natureza e obrigações do falecido, não sendo
personalíssimas, integram o monte (v.g., financiamentos, cheques e títulos emitidos e ainda
não saldados, responsabilidade civil por atos praticados etc.). Os encargos deixados pelo
falecido, entretanto, não se transmitem aos herdeiros, se superiores às forças da herança
(CC, art. 1.792). (CAHALI e HIRONAKA).
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demostrando o valor dos bens herdados.
Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a
partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança
lhe coube.
Regras revogadas
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.
Notícia correlata
quinta-feira, 28 de junho de 2018
Requisitos
A relatora do recurso especial da herdeira, ministra Nancy Andrighi, destacou que, com o
falecimento, ocorre a transmissão do imóvel aos seus herdeiros, conforme regra do artigo
1.784 do Código Civil de 2002. “A partir dessa transmissão, cria-se um condomínio pro
* Desde a abertura da sucessão [nunca antes, por força do art. 426, CCB, segundo o qual: “Não
pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”] o herdeiro pode promover a
transferência de seus direitos a terceiros, através de cessão de direitos hereditários. É o que
estabelece o CCB:
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
* Outra consequência lógica é que a cessão de direito hereditário somente pode ser feita
antes da partilha.
* A falta da escritura pública é repelida pela lei como nulidade do negócio jurídico. Faltando-
lhe esse requisito essencial, a sanção imposta pela lei é de nulidade. O negócio jurídico é
nulo, quando ofende preceitos de ordem pública, e a obrigação da escritura pública é,
repetindo, essencial para a validade do ato ou negócio jurídico. (CATEB). De fato, basta que
se recorde o disposto no art. 104, III do CCB.
* Cessão da herança não importa na transmissão da qualidade de herdeiro, pois essa não se
transfere. (VENOSA, Código Interpretado).
* Obviamente, a extensão da cessão não abrange outros bens que, após a sua realização,
venham a ser incluídos no monte, seja em razão de substituições4 ou de direito de acrescer5.
Isso porque: a cessão interpreta-se restritivamente (VENOSA, Código Interpretado). É o que
estabelece o § 1º do mesmo artigo. Vejamos:
4 Na sucessão legítima a substituição é sempre automática e ocorre na falta de um herdeiro preferencial, hipótese
em que são chamados a suceder os demais da mesma classe, se houver, ou de classe subsequente. Na sucessão
testamentária a matéria é tratada nos arts. 1.947 e seguintes e será abordada oportunamente.
5 Observe-se que:
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo
ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.
* Ademais, vale observar que, como a herança é considerada uma universalidade, o herdeiro
somente pode cedê-la integralmente ou uma fração ideal dela, mas nunca poderá realizar a
cessão de bens isolados, já que, até a partilha, é coproprietário de todos os bens que
integram o monte, não titularizando bens específicos. Nesse sentido:
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à
sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.
Nota: Sendo assim, se o herdeiro “A” alienar sua quota hereditária a pessoa alheia ao
condomínio hereditário, sem o consentimento dos demais herdeiros “B” e “C”, estes
poderão, observado o prazo de até 180 dias a contar da cessão, reclamar para si o
quinhão irregularmente cedido. Nesse caso, a quota reclamada não será dividida
necessariamente em partes iguais, mas proporcionalmente à participação de cada
herdeiro reclamante.
CCB
Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á
inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da sucessão,
para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança.
CPC
Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois)
meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses
subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de
parte.
(i) 10% (dez por cento) do seu valor, caso o atraso no requerimento do inventário ou
arrolamento não ultrapasse 180 (cento e oitenta) dias, contados a partir do falecimento
do autor da herança ou legado; ou
(ii) 20% (vinte por cento) do valor do imposto devido, caso o atraso no requerimento do
inventário ou arrolamento ultrapasse 180 (cento e oitenta) dias, contados a partir do
falecimento do autor da herança ou legado.
* Segundo Orlando Gomes: São incapazes de suceder os indivíduos que, ao tempo da abertura
da sucessão, não estão ainda concebidos, ou premorreram ao autor da herança, a quem
sucederiam.
* Questão que suscita debate envolve a fecundação artificial, seja ela homóloga [aquela que
se dá quando o óvulo e o sêmen pertencerem ao casal, pais da criança] ou heteróloga
[aquela na qual o material fertilizante é de terceiro], com prévia autorização do de cujus.
* A respeito da questão, o enunciado n. 267 do CJF: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve
ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida,
abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos
patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança. Se se fala em
embrião, pressupõe-se, portanto, a concepção, não havendo que se falar em direito
sucessório em relação a óvulos ou sêmen congelados. Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves].
Nota: Sério problema ocorrerá com a possibilidade de inseminação post mortem dos
embriões excedentários. Em vida do autor da herança, o embrião só poderá ser
inseminado com autorização do próprio. Porém, após seu óbito, a autorização dada em
vida perderá seu valor. Essa autorização só poderá se efetivar através de testamento, o
ato válido para disposições post mortem, quer se trate de patrimoniais ou não. A
possibilidade de se atribuir parte da herança ao embrião inseminado após a morte do de
cujus dependerá de lei complementar que a regulamente. [Mário Roberto Carvalho de
Faria – Atualizador da obra de Orlando Gomes].
* Registre-se, no entanto, que vem sendo desenvolvida tese que defende a capacidade
sucessória plena do nascituro, de modo que, o só fato deste estar concebido ao tempo da
morte do autor da herança é suficiente para deferir-lhe participação sucessória, de sorte
que, não vindo a nascer vivo (natimorto), sua quota hereditária haveria de ser transmitida
aos seus herdeiros, no caso seus pais, ou outro ascendente, conforme o caso.
* Em verdade o tema passa pela análise das teorias que discutem o início da personalidade
civil, a saber: (i) Teoria Natalista; (ii) Teoria da Personalidade Condicional; e (iii) Teoria
Concepcionista. Recorde:
* Por isso, são irrelevantes as modificações que se verificarem na legitimação dos sucessores
após a abertura da sucessão;
* Ademais, anote-se que animais estão naturalmente excluídos, assim da sucessão legítima
como testamentária, sendo válido observar, contudo, que, através de testamento é possível
designar alguém para receber bens e utilizá-los a manutenção e cuidado de animais. [Nelson
Rosenvald e Cristiano Chaves].
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação.
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão confiados,
após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.
§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos
e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas
a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
* No entanto, por força do princípio da não discriminação inserto no art. 227, §6º, CRFB, o
CCB não poderia deixar de reconhecer, mesmo de modo redundante, que:
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.
* “A previsão legal da aceitação aparenta colidir com o princípio da saisine plena, que importa
transmissão imediata dos bens deixados pelo de cujus desde sua morte. Todavia, a aceitação
conforma-se ao princípio constitucional da liberdade ou de autodeterminação, pois
ninguém pode ser obrigado a receber herança, se não a deseja. Assim, a autodeterminação
do herdeiro ou do legatário tanto pode ser no sentido de confirmar quanto no de rejeitar a
herança”. (PAULO LOBO).
* Renúncia é o negócio jurídico unilateral pelo qual o herdeiro declara não aceitar a herança.
(ORLANDO GOMES).
Nota: Admite mandato, desde que por instrumento público e com poderes especiais.
* “Não fixa a lei prazo específico para tal declaração. O direito de deliberar extingue-se,
consequentemente, no prazo da prescrição comum, tratando-se embora de caducidade. O
pronunciamento do herdeiro pode ser, entretanto, provocado por interessado”. (ORLANDO
GOMES). Vejamos:
* Nesse caso: “O prazo judicial somente pode começar do momento em que o herdeiro tem
conhecimento exato da notificação para manifestar-se”. (PAULO LOBO).
* Sendo assim: “[...] quando requerido por qualquer herdeiro, o sucessível poderá renunciar
à herança; não mais, depois dele”.
* Vale observar, aqui, que na hipótese de o herdeiro ser absolutamente incapaz, notificação
deverá ser dirigida ao se representante legal. Caso se trate de relativamente incapaz,
notificados deverão ser o herdeiro e seu assistente legal. Na falta de
representante/assistente, por óbvio, o prazo não se inicia. Em relação ao nascituro, o prazo
somente se inicia se ocorrer o nascimento com vida. Nesse sentido PAULO LOBO.
* “Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita, ou não, a herança, o direito de deliberar
transmite-se a seus sucessores”. (ORLANDO GOMES). É o que está previsto no CCB 1.809:
Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar
passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição
suspensiva, ainda não verificada.
* “A aceitação apenas pode ser considerada se feita após a morte do autor da herança. A
aceitação prévia é tida como juridicamente inexistente e não apenas como inválida ou
ineficaz. A inexistência da aceitação prévia decorre do princípio do direito brasileiro de
vedação total de qualquer ato que tenha por objeto herança de pessoa viva, denominado
de pacto sucessório”. (PAULO LOBO).
* De acordo com o CCB a deliberação (aceitação ou renúncia) não pode ser parcial, condicional
ou a termo.
Nota: Assim “[...] havendo prelegado, isto é, legado deferido a um herdeiro, este
pode aceitá-lo e recusar a herança, ou aceitar esta e repudiar o legado, já que não
se confundem os dois títulos sucessórios [...]”. (LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
* Vale observar, aqui, o seguinte: “Não se entenda que a transmissão da herança por força de
lei é provisória, que apenas se convolaria em definitiva com a aceitação do herdeiro. A
transmissão não é provisória, pendente ou suspensa. A transmissão já existiu plenamente
desde a abertura da sucessão, e o herdeiro apenas confirma essa situação jurídica”. (PAULO
LOBO).
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão.
* Caso renunciada a herança, por óbvio, considera-se que a herança não se transmitiu ao
herdeiro.
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros
da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.
Nota: Sendo assim, se o JOÃO – irmão de JOSÉ e MARIA, todos filhos de PEDRO –
renunciar a herança deixada pelo pai, sua quota será devolvida ao monte,
beneficiando seus irmãos. Acaso todos os filhos (herdeiros de primeiro grau na
classe dos descendente) renunciem a herança, devem ser chamados os netos
(herdeiros de segundo grau na classe dos descentedente) e assim sucessivamente.
Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele
for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a
herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.
Nota: “[...] os herdeiros do renunciante jamais dele poderão herdar por direito de
representação, uma vez que ele é considerado, por força da eficácia retroativa de
seu repúdio, como aquele que nunca foi sucessor do falecido, não sendo, pois, nem
pré-morto, nem a este equiparado”. (LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
Nota: Aqui uma consequência lógica do artigo anterior. Veja. Foi dito que se JOÃO
– irmão de JOSÉ e MARIA, todos filhos de PEDRO – renunciar a herança deixada
pelo pai, sua quota será devolvida ao monte, beneficiando seus irmãos (herdeiros
de primeiro grau na classe dos descendentes). No entanto, caso JOÃO fosse filho
único, seus filhos poderiam participar da sucessão do avô PEDRO. Caso JOÃO, JOSÉ
e MARIA, tendo filhos, renunciassem a herança, seus filhos (netos de PEDRO)
seriam os chamados a suceder, não representando seus pais, mas por direito
* Por fim, a irrevogabilidade da deliberação pode ser indicada como um de seus efeitos, nos
termos do artigo seguinte do CCB:
A) Forma da aceitação:
* A aceitação pode ser: (i) expressa, que se faz deliberada e objetivamente por declaração
escrita; ou (ii) tácita ou presumida, isto é, que, para se configurar, requer “a prática de
um fato concludente, incompatível com a vontade de renunciar, com existência objetiva,
isto é, independentemente de averiguação do ânimo de aceitar”. (ORLANDO GOMES). Nesse
sentido temos:
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita;
quando tácita, há de resultar tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1º. Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os
meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.
§ 2º. Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança,
aos demais co-herdeiros.
B) Forma da renúncia:
§ 1º. A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento
do fato.
Nota: A presente regra somente faz sentido se o herdeiro for devedor insolvente,
isso porque, se possui bens suficientes para saldar suas dívidas, a renúncia à
herança não colocará em risco o adimplemento de suas obrigações.
* Segundo Clóvis Beviláqua, herança jacente é aquela cujos herdeiros ainda não se
conhecem, quae heredem nondum habetm, sed habere sperat, diferindo da herança vaga,
em que sequer há herdeiro, razão pela qual é devolvida ao Estado: vacans vero quae nec
habet nec habere esperat.
* Saliente-se que há, ainda, quem afirme sobre a ocorrência de herança jacente em hipóteses
não afetadas à sucessão legal a favor do Poder Público, a saber: (i) na hipótese do filho já
concebido, mas ainda não nascido; (ii) enquanto se aguarda a constituição de pessoa
jurídica; (iii) à espera do nascimento de filho ainda não concebido, nos termos do art. 1.799,
inciso I, do Código Civil (sucessão testamentária).
Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a
guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.
CPC
Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz em cuja comarca
tiver domicílio o falecido procederá imediatamente à arrecadação dos respectivos bens.
Art. 741. Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, que será publicado na
rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na
* Após a fase de arrecadação e já havendo sido indicado curador para administrar a herança
jacente, inicia-se a fase de publicidade, em que serão convocados eventuais interessados.
Vejamos:
CCB
CPC.
Art. 743. Passado 1 (um) ano da primeira publicação do edital e não havendo herdeiro
habilitado nem habilitação pendente, será a herança declarada vacante.
§ 1º Pendendo habilitação, a vacância será declarada pela mesma sentença que a julgar
improcedente, aguardando-se, no caso de serem diversas as habilitações, o julgamento
da última.
* Assim temos que: [...] decretada a vacância da herança antes de cinco anos da morte do
hereditando, a propriedade dos bens que compõem o monte hereditário é ainda resolúvel
para o Poder Público, pois, enquanto não alcançado o termo final de tal prazo, pode surgir
alguém, pretendendo – porém agora somente por ação própria, quais sejam, a ação de
petição de herança cumulada ou não com a investigatória de paternidade, a ação de petição
de legado, ou, então, a ação de cobrança – o reconhecimento de sua condição de sucessor
legal, de sucessor testamentário, de legatário ou de credor. No entanto, alcançado o prazo
em questão, ou seja, cinco anos, contados a partir da morte do hereditando, já tendo sido
proferida anteriormente a sentença de vacância sem que tenham sido propostas as
demandas próprias, ou, então, havendo tal propositura dentro de tal prazo, tendo sido,
contudo, os pedidos definitivamente rejeitados, aí sim o poder público torna-se proprietário
pleno e irrestrito do monte hereditário líquido, nos termos do já mencionado art. 1.822 do
Código Civil. [LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO].
* De acordo com [LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO], a redação do parágrafo único do art.
1.822 foi na contramão do que estabelecia o CPC/73, que não criava distinções entre
herdeiros colaterais e os ascendentes e descendentes e, por isso, foi bastante criticado.
Atualmente, Código de Processo Civil de 2015, art. 743, § 2º, dispõe que: “Transitada em
julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os
credores só poderão reclamar o seu direito por ação direta”. Assim, temos que a atual
redação do parágrafo único do art. 1.822 do Código Civil de 2002, não mais subsiste em
nosso ordenamento, incompatível com o novo diploma processual civil.
CCB
Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites das forças da herança.
Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde
logo declarada vacante.
STF
Ementa: Direito constitucional e civil. Recurso extraordinário. Repercussão geral.
Aplicação do artigo 1.790 do Código Civil à sucessão em união estável homoafetiva.
Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônjuges e
companheiros. 1. A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as famílias formadas
mediante união estável, hetero ou homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência
de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição
de um novo e autonomizado núcleo doméstico”, aplicando-se a união estável entre
pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesas consequências da união estável
heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011) 2. Não é
legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a
família formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal hierarquização
entre entidades familiares é incompatível com a Constituição de 1988. Assim sendo, o
art. 1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e
discriminar a companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios bem
inferiores aos conferidos à esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios
da igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à proteção
deficiente e da vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a segurança
jurídica, o entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em
que não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas
extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública. 4. Provimento do recurso
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos
onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um
daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
Disponível em:
http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCL
A%2E+E+646721%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+646721%2EAC
MS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mzepo8h
Disponível em:
http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2ESCL
A%2E+E+878694%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+878694%2EAC
MS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mkd8twz
Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201201396745.REG.
* Interpretando o artigo 1.829, I do CCB, temos que haverá concorrência dos descendentes
com o cônjuge, salvo se este for casado com o falecido:
****
* NOTA: A maior parte da doutrina e mesmo o STJ entendem que a regra acima somente é
aplicável na hipótese de o cônjuge sobrevivente concorrer EXCLUSIVAMENTE com
descendentes comuns, de tal modo que se concorrerem à herança descendentes apenas do
falecido, a divisão da herança deverá ser feita de modo simples, ou seja, em quinhões de
igual proporção. Veja:
PROCESSO: REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 11/06/2019, DJe 01/07/2019
A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica
à hipótese de concorrência sucessória híbrida.
* Observação:
Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação.
* Isso significa que, em primeiro lugar, são convocados os filhos (1º grau); na falta de filhos,
os netos (2º grau); na falta destes, os bisnetos (3º grau); na falta de bisnetos, em raríssima
hipótese, os trinetos (4º grau); e assim sucessivamente ao infinito (ad infinitum), salvo na
hipótese da ocorrência do direito de representação (art. 1.851 e ss do CCB).
* Caso herde por representação, aos descendentes são garantidos os mesmos direitos à
sucessão de seus ascendentes:
Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus
ascendentes.
Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
David, filho de Antonino. Este, filho de Cid. Nessa situação, caso Antonino faleça antes
de Cid e David renuncie à herança decorrente da morte do pai, isso não impedirá David
de representar Antonino na sucessão de Cid.
§ 1º. Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção
de linhas.
Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro
ao cônjuge sobrevivente.
Ocorrendo a morte de um dos cônjuges após dois anos da separação de fato do casal, é
legalmente relevante, para fins sucessórios, a discussão da culpa do cônjuge sobrevivente
pela ruptura da vida em comum, cabendo a ele o ônus de comprovar que a convivência
do casal se tornara impossível sem a sua culpa. A despeito das críticas doutrinárias a
respeito do art. 1.830 do CC/2002, no que se refere principalmente à possibilidade de
discussão de culpa como requisito para se determinar a exclusão ou não do cônjuge
sobrevivente da ordem de vocação hereditária, cumpre definir o sentido e o alcance do
texto expresso da lei. Posto isso, observa-se que as regras trazidas pelo CC/2002, na linha
de evolução do direito brasileiro, visam elevar a proteção conferida ao cônjuge
sobrevivente. Registre-se, desse modo, que o tratamento conferido ao cônjuge pelo
CC/1916 considerava a circunstância de que a maioria dos matrimônios seguia o regime
legal da comunhão universal. Assim, em caso de falecimento de um dos cônjuges, o outro
não ficava desamparado, já que a metade dos bens lhe pertencia, porque lhe era conferida
a meação sobre a totalidade do patrimônio do casal. A partir de 1977, com a edição da Lei
6.515 (Lei do Divórcio), o regime legal passou a ser o da comunhão parcial de bens, de
modo que o cônjuge supérstite não necessariamente ficaria amparado, em caso de morte
de seu consorte, já que a meação incidia apenas sobre os bens adquiridos onerosamente
na constância do casamento. Neste contexto, a doutrina esclarece que a exclusão do
direito sucessório do cônjuge sobrevivente com a simples separação de fato,
independente de lapso temporal ou arguição de culpa, não exprime "o valor da justiça nos
casos de abandono de lar por um dos cônjuges, ou de decretação de separação de fato
pelo Poder Judiciário dos consortes em virtude de tentativa de morte ou injúria grave, de
casais unidos, por exemplo, há mais de vinte anos, e que estão separados de fato há mais
de dois anos". Nesse sentido, a doutrina continua: "seria absurdo defender que uma
mulher que conviveu por anos com seu esposo e contribuiu para a dilatação do patrimônio
do casal, em sendo abandonada por seu marido não tivesse direito à herança do falecido,
por ser legalmente apartada da sucessão". Portanto, não há se falar em ilegalidade ou
impertinência da discussão da culpa no vigente direito sucessório. Por fim, cabe ao
cônjuge sobrevivente o ônus de comprovar que a convivência do casal se tornara
impossível sem a sua culpa, a fim de lhe reconhecer o direito sucessório na sucessão de
seu consorte. Isso porque, conforme se verifica da ordem de vocação hereditária prevista
no art. 1.829 do CC/2002, o cônjuge separado de fato é exceção à ordem de vocação.
Ademais, ao alçar o cônjuge sobrevivente à condição de herdeiro necessário, a intenção
REsp 1.513.252-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 3/11/2015, DJe
12/11/2015. QUARTA TURMA.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será
assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.
Exigência controvertida
Vínculo afetivo
****
Direito real de habitação na união estável não admite aluguel ou empréstimo do imóvel
Assim como no casamento, não é permitido ao companheiro sobrevivente de união
estável, titular do direito real de habitação, celebrar contrato de comodato ou locação do
imóvel com terceiro. Com esse entendimento, a Terceira Turma negou provimento ao
recurso de uma pessoa que, alegando não dispor de meios para manter um imóvel de luxo
localizado em área nobre, havia celebrado contrato de comodato com terceiro após o
Dificuldades financeiras
No recurso, a recorrente alegou ter sido vítima de esbulho possessório praticado pela filha
do seu falecido companheiro – e reconhecido em sentença transitada em julgado. Disse
que, ao retomar a posse do imóvel, encontrou-o danificado, e não tinha condições
financeiras para os reparos necessários, nem para a manutenção de rotina. Por isso, optou
por assinar contrato de comodato com uma pessoa que teria se comprometido a reformar
e conservar o imóvel. A ministra explicou que o esbulho não justifica a flexibilização da
regra legal que veda o comodato do imóvel sobre o qual recai o direito real de habitação.
Segundo ela, não há nexo de causalidade entre o esbulho possessório e a posterior
celebração do contrato de comodato. Nancy Andrighi lembrou que a recorrente poderia
ter adotado outras condutas na tentativa de superar as dificuldades que encontrou para
conservar o imóvel após o esbulho, inclusive pleitear indenização para recompor a
situação anterior.
Disponível em:
http://ckonder.blogspot.com/search/label/Sucess%C3%B5es
Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art.
1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o
direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
Nota: Vale observar que esse dispositivo está em consonância com o já mencionado
art. 1.853 do CCB.
§ Concorrência entre irmãos bilaterais (filhos dos mesmos genitores do de cujus) e unilaterais
(filhos apenas do de cujus)
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais,
cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os
unilaterais.
Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.
* É ação de natureza real – porque o direito à sucessão aberta é considero coisa imóvel, nos
termos do já estudado art. 80 do CCB – assemelhando-se à ação de reivindicação, conforme
ensinamento de ITABAIANA DE OLIVEIRA. No entanto, desta se distingue por versar sobre
uma universalidade de bens e não sobre bens determinados.
* É ação própria do herdeiro [legítimo ou testamentário] preterido por outros, que postularam
o inventário sem sua presença, podendo cumulá-la com ação de investigação de
paternidade, visando ao reconhecimento de seu título e sua participação na partilha dos
bens inventariados. [CATEB].
* A ação é movida contra quem quer que detenha a herança com a preterição do autor da
ação. É o que se depreende do trecho abaixo destacado:
§ NOTA:
¨ Se a ação é proposta antes da partilha, o STJ admite o seja em face do espólio que,
no caso, será representado pelo inventariante.
* Ratificando essa ideia, o legislador previu no art. 1.827, que o herdeiro pode demandar os
bens da herança, ainda que em poder de terceiros, ficando o possuidor originário,
responsável pelo valor dos bens que alienou, caso não seja possível deferi-los ao autor da
ação de petição de herança por uma questão jurídica ou em caso de seu perecimento ou
sua depreciação. Vejamos:
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparente a terceiro de boa-fé.
* A respeito das regras acima referidas, vale destacar a lição de LUIZ PAULO VIEIRA DE
CARVALHO:
“O art. 1.827, caput, do Código Civil permite ao herdeiro ajuizar a ação de petição de
herança na busca de bens componentes do monte hereditário que estejam nas mãos de
terceiros adquirentes, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo
valor dos bens alienados, em caso de seu perecimento ou sua depreciação.
O parágrafo único da norma acima referida dispõe, entretanto, que, se a alienação tiver
sido feita pelo herdeiro aparente (aquele que se encontra de modo ostensivo com os
bens hereditários como se fosse legítimo sucessor do hereditando), a título oneroso, a
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo,
fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado o disposto nos arts.
1.214 a 1.222.
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está obrigado
a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de proceder
contra quem o recebeu.
* Nessa hipótese, explica LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO, que o verdadeiro herdeiro
poderá reclamar a restituição ao monte apenas em face do legatário que teria se
locupletado indevidamente, isto se o legado for declarado insubsistente, e não em face do
suposto herdeiro, tudo dentro do primado do respeito à boa-fé e da segurança das relações
jurídicas acobertadas pelo manto da propriedade aparente, antes citado.
* O autor da ação pode pretender sejam-lhe entregues os bens da herança que lhe cabem,
com os seus acessórios e rendimentos, desde a morte do de cujus.
Art. 1.825. A ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos herdeiros,
poderá compreender todos os bens hereditários.
* A doutrina majoritária entende que, por força do art. 205 do vigente Código Civil, a petição
de herança prescreve em 10 anos.
* Vale registrar a opinião minoritária, bem representada por LUIZ PAULO VIEIRA DE
CARVALHO, para quem:
* Natureza jurídica: Ambas constituem pena, sanção civil, imposta ao herdeiro ou legatário,
conforme o caso.
§ Efeitos da sentença
* Assim o indigno e como o deserdado perdem o direito hereditário que recebeu ou receberia
por ocasião da abertura da sucessão, com efeitos ex tunc (retroativos), passando a ser
considerado premorto na sucessão em questão. Nesse sentido:
“[...] será o deserdado excluído da quota legitimária como se nunca tivesse sido herdeiro,
por força dos efeitos retroativos de tal sentença (ex tunc), como se fora premorto, à
semelhança do indigno. (LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé,
e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de
exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe
perdas e danos.
[...] se, eventualmente, aliená-los, a título oneroso e a terceiro de boa-fé, tal alienação
será considerada válida, aplicando-se, do mesmo modo, por analogia, a regra
concernente à indignidade prevista no art. 1.817 do Código Civil em vigor.
§ Nota: Pelo princípio da independência das instâncias (art. 935, CCB) é dispensável
a prévia condenação do excluído na instância criminal, bastando a prova cabal das
práticas descritas nos incisos acima destacados.
§ Portanto, somente se restar decidido perante o juízo criminal não ter existido o fato
apontado como delituoso ou não ter sido o considerado como indigno o seu autor,
é que tais questões farão coisa julgada no juízo cível (art. 91, inciso I, do CP; art. 63
do CPP; art. 515, VI, do CPC – antes 475-N, inciso II, do CPC/73) e, aí sim, a decisão
impedirá o prosseguimento da ação. (LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
* Em síntese: [...] são legitimados para a propositura da ação de indignidade todos aqueles
que irão se aproveitar economicamente da exclusão do indigno [...]. (LUIZ PAULO VIEIRA
DE CARVALHO).
* Superando antiga controvérsia doutrinária e jurisprudencial, o CCB foi alterado para prever
que o Ministério Público tem legitimidade para ingressar com ação civil de indignidade,
conforme se depreende do art. 1815, §2º.
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em
outro ato autêntico.
Nota: Ato autêntico é sempre lavrado por oficial público, observadas as formalidades
legais. Portanto, não são admitidos escritos particulares. Nesse sentido, Carlos
Maximiliano citado por LUIS PAULO VIEIRA DE CARVALHO (2019, p. 291)
* Presume-se a reabilitação do indigno, se, mesmo tendo ciência da ofensa que lhe foi
cometida, o ofendido beneficia aquele em testamento.
* Em tal caso, nos moldes do desenho legal acima reproduzido, pensamos estar limitada sua
participação à disposição testamentária correspondente, isto é, restrita à herança
testamentária ou ao legado a que foi indicado, a não ser, como é óbvio, que a ação de
deserdação não seja promovida em tempo hábil, caso em que ele manterá a sua quota
legítima. (LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
* Legitimidade ativa
* Deserdação é ato privativo do autor da herança, por declaração expressa de vontade, por
meio de testamento, que exclui da sua sucessão um herdeiro necessário, por conta da
prática de ato previsto em lei.
* Com base no caput do art. 1.965, temos que qualquer sucessor que in concreto, vá se
beneficiar da exclusão do herdeiro necessário.
Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em
todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão.
* Hipóteses
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser
ordenada em testamento.
* Admite parte da doutrina, com nosso apoio, que a deserdação possa ser parcial, o que não
é vedado pelo nosso legislador, a ocorrer quando o testador limita o quinhão do herdeiro
necessário por meio de cláusula deserdatória, pretendendo deferir-lhe apenas uma fração
da legítima ou lhe deixando legado(s), hipótese última em que não recolhe a herança, tão
só bem ou bens singularizados.111 Não custa lembrar que, em ambos os casos, a referida
disposição, para ser eficaz, terá de ser confirmada em juízo mediante ação própria.
(LUIZ PAULO VIEIRA DE CARVALHO).
* Deserdação e Erepção
* Não se pode confundir, também, deserdação com erepção. A erepção implica, na verdade,
a possibilidade de o herdeiro facultativo ser excluído totalmente da sucessão, por
testamento válido, feito pelo autor da herança, bastando que o mesmo disponha de todo o
seu patrimônio sem o contemplar, consoante o art. 1.850 do Código Civil atual.
Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha
de seu patrimônio sem os contemplar.
* Testamento é negócio jurídico unilateral não receptício, isto é, ato jurídico que se aperfeiçoa
com a manifestação de vontade de um sujeito, no caso, o testador.
* Mais ainda, é revogável [total ou parcialmente] a qualquer tempo, nos termos seguintes:
Art. 1.969. O testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma como pode
ser feito.
Art. 1.971. A revogação produzirá seus efeitos, ainda quando o testamento, que a
encerra, vier a caducar por exclusão, incapacidade ou renúncia do herdeiro nele
nomeado; não valerá, se o testamento revogatório for anulado por omissão ou
infração de solenidades essenciais ou por vícios intrínsecos.
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sexta-feira, 27 de abril de 2018
Cláusula expressa
Para os ministros da Terceira Turma, no entanto, a revogação parcial não pode ser
presumida, uma vez que depende, obrigatoriamente, de declaração no sentido de
que o testamento posterior é apenas parcial ou, ainda, da inexistência de cláusula
revogatória expressa. A relatora, ministra Nancy Andrighi, destacou que, no caso
julgado, houve cláusula expressa de revogação do testamento anterior. Ela
também considerou o longo intervalo existente entre os dois testamentos. “É
absolutamente impossível realizar qualquer dedução ou ilação sobre o que
efetivamente ocorreu na relação existente entre a testadora e os recorrentes neste
longo período – pode ter ocorrido tudo ou pode não ter acontecido nada”, afirmou
a ministra. Desse modo, segundo Nancy Andrighi, só haverá segurança e certeza
quanto ao cumprimento da última vontade da testadora se apenas o saldo em
conta e as aplicações financeiras forem destinadas a quem ela indicou no segundo
testamento, “submetendo-se todos os demais bens e direitos de sua propriedade
à partilha na forma da lei”.
Processo: REsp 1694394
* Como consequência dessas características, o CCB veda quaisquer das formas de testamento
conjuntivo [conjunto ou de mão comum]. Vejamos:
Nota: É compreendido como testamento conjuntivo aquele feito por duas ou mais
pessoas, por intermédio do mesmo documento, em proveito recíproco ou de
terceiro [NERY JR]. Tal proibição resulta do fato de o ato de testar ser
personalíssimo e revogável. Do contrário, segundo a doutrina que justifica tal
proibição, a presença de mais de um testador, celebrando o mesmo ato, revestiria
o negócio com o caráter da irrevogabilidade. [NERY JR]. Nesse sentido, já decidiu o
STF. Vejamos:
Nota: Admite-se, até, que faça o testamento com o propósito de retribuir favores
recebidos. O que a legislação não consente é que a causa da retribuição seja o
testamento de quem os fez. [ORLANDO GOMES]
* É negócio jurídico gratuito ou benéfico, vez que se trata de uma liberalidade do testador,
não se estabelecendo contraprestação decorrente. Por essa razão, incide o disposto no
seguinte dispositivo do CCB:
* De rigor, toda pessoa com capacidade de exercício, por óbvio, pode testar.
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus
bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
a) Especificamente em relação a esse tipo de negócio, admite o CCB seja realizado por
sujeito maior de dezesseis anos que, como sabido, não detém tal capacidade;
b) A capacidade jurídica, por si só, não é bastante para a validade do testamento, que exige,
ainda, o pleno discernimento do ato praticado. Assim, é possível que a pessoa tenha
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não
tiverem pleno discernimento.
A ação foi ajuizada pelo sobrinho do idoso, que o excluiu do rol de beneficiários de seu
testamento.
O autor ajuizou ação na qual narrou que em testamento lavrado em 2008, seu tio o
contemplou como beneficiário de 30% de seu patrimônio. Todavia, após conviver com nova
companheira, alega que o tio foi influenciado a excluí-lo, razão pela qual novo testamento foi
lavrado no ano de 2014. Segundo o autor, na data do segundo testamento, seu parente já
não dispunha de discernimento, fato que seria comprovado por pedido de interdição feito
pela companheira, 4 meses antes do segundo testamento.
Ao proferir a sentença, a magistrada esclareceu que apesar das limitações de fala e audição,
decorrentes da idade, não restou comprovado nenhum prejuízo ao discernimento do tio, que
o tornasse incapaz de testar. Pelo contrario, restou atestado pelo tabelião, que antes de
lavrar o novo testamento, o testador confirmou, novamente, que aquela era sua vontade.
Por unanimidade, a Terceira Turma confirmou acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
(TJMG) que declarou a nulidade de quatro testamentos firmados por idosa que, de acordo
com os autos, apresentava quadro de debilidade mental à época da confecção dos
documentos públicos. Para o colegiado, o tribunal mineiro aplicou corretamente as
disposições do artigo 1.627 do Código Civil de 1916, que estabelece as hipóteses de
incapacidade para testar. Por meio de ação de nulidade de testamento, as netas afirmaram
que a avó fez seis testamentos públicos – dois quando seu marido ainda estava vivo e mais
quatro após a sua morte. Segundo as autoras, os quatro últimos documentos seriam nulos,
já que a avó sofria de demência à época desses testamentos. Elas também alegaram que um
dos herdeiros teria se aproveitado da debilidade mental da avó para assumir os negócios e
bens da família. De acordo com os autos, o último testamento determinava que metade do
patrimônio disponível seria destinado à Santa Casa de Misericórdia, e outra metade ficaria
com o herdeiro contestado pelas netas.
Dificuldades
O pedido de anulação foi julgado procedente em primeira instância, com sentença mantida
pelo TJMG, que entendeu que a testadora tinha perdido a capacidade mental para praticar
atos da vida civil, inclusive a produção de testamentos. A relatora do recurso especial da
Santa Casa de Misericórdia, ministra Nancy Andrighi, lembrou que a importância da
preservação da última vontade do testador foi objeto de normatização pelo Conselho
Nacional de Justiça, por meio do Provimento 56/16. O documento impõe a obrigatoriedade
de consulta ao Registro Central de Testamentos On-line para o processamento de inventários
e partilhas. “É inegável a relevância que o ordenamento jurídico pátrio emprega em favor de
se preservar a vontade de disposição patrimonial dos sujeitos que assim desejarem fazer. Por
outro lado, questão de alta indagação na doutrina e na jurisprudência se coloca acerca da
demonstração inequívoca de que o testador, ao testar, se encontrava ou não em perfeito
juízo, isto é, se tinha pleno discernimento da formalidade que o testamento encerra”,
apontou a ministra ao lembrar que as dificuldades são ainda maiores quando o testador é
falecido ou não é possível realizar provas técnicas.
Relatos médicos
No caso analisado, a ministra apontou que o TJMG, ao confirmar a sentença, concluiu que a
testadora, após a morte do marido, não reconhecia os próprios membros da família. Além
§ 1º. A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens
da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-se-
á esta dividindo-o proporcionalmente.
Situação 1
Situação 2
* A contrario sensu, caso o testador não possua herdeiros necessários, nenhuma limitação se
verifica em relação à sua liberdade de testar, de sorte que poderá dispor de todo o seu
patrimônio para depois de sua morte.
* Caso não disponha da totalidade da quota hereditária disponível, prevê o CCB o seguinte:
7 No mesmo sentido podem ser indicados os artigos 504; 1.322; 1.724, todos do CCB.
* Segundo GISELDA HIRONAKA: O assunto em pauta versa, como se vê, exatamente sobre o
conteúdo dos testamentos, quer dizer, sobre a abrangência e o claro teor daquilo que
informou a vontade do testador, ao tempo da facção do instrumento testamental.
* A regra é a seguinte:
* Segundo NERY JR, a nomeação de herdeiro a termo é irregularidade que implica na ineficácia
legal da disposição. A esta regra fazem exceções as disposições fideicomissárias, podendo o
testador determinar quando se iniciará o direito do fideicomissário, assim como por termo
a ele.
* A vontade do testador, declarada por meio de formas solenes impostas pela lei, deve ser
respeitada. Para tanto, prevalece sempre o “fator subjetivo, cogitando-se antes do mais da
vontade, expressa ou presumida, do estipulante”.
NOTÍCIA CORRELATA
I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha,
também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a
terceiro;
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;
V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802.
I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou
mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um
corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado;
II - em remuneração de serviços prestados ao testador, por ocasião da moléstia de que
faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou de outrem determinar o valor do
legado.
Art. 1.902. A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares de
caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á relativa aos pobres do lugar do domicílio
do testador ao tempo de sua morte, ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo se manifestamente
constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, as instituições particulares preferirão sempre às
públicas.
Art. 1.903. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada anula
a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros documentos, ou por fatos
inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria referir-se.
§ Seria o caso de o testador designar pessoa como seu filho e lhe faltar essa
qualidade. Nesse caso, a declaração errada do testador, quando se refere a pessoa ou
qualidade do herdeiro, ou legatário, não vicia disposição, se das demais expressões
contidas no testamento se pode auferir a intenção do testador
Art. 1.904. Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros, sem discriminar a parte de cada
um, partilhar-se-á por igual, entre todos, a porção disponível do testador.
§ Assim, se a deixa for em favor dos sujeitos “A”, “B” e das duas filhas de “C”, a herança
deverá ser dividida em três quotas.
Art. 1.906. Se forem determinadas as quotas de cada herdeiro, e não absorverem toda a
herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem da vocação
hereditária.
Art. 1.907. Se forem determinados os quinhões de uns e não os de outros herdeiros, distribuir-
se-á por igual a estes últimos o que restar, depois de completas as porções hereditárias dos
primeiros.
Art. 1.908. Dispondo o testador que não caiba ao herdeiro instituído certo e determinado
objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros legítimos.
Art. 1.909. São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação.
Art. 1.910. A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela,
não teriam sido determinadas pelo testador.
Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica
impenhorabilidade e incomunicabilidade.
DESTAQUE
A melhor interpretação do caput do art. 1.911 do Código Civil de 2002 é aquela que
conduz ao entendimento de que: a) há possibilidade de imposição autônoma das
cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, a critério
do doador/instituidor; b) uma vez aposto o gravame da inalienabilidade,
pressupõe-se, ex vi lege, automaticamente, a impenhorabilidade e a
incomunicabilidade; c) a inserção exclusiva da proibição de não penhorar e/ou não
comunicar não gera a presunção da inalienabilidade; d) a instituição autônoma da
impenhorabilidade não pressupõe a incomunicabilidade e vice-versa.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os
bens da legítima.
O CCB/1916 não previa essa obrigação, de modo que o testador podia clausular bens
da legítima sem estar obrigado a justificar.
Ocorre que o CCB/2002 estabeleceu – em relação aos testamento feitos sob a égide
do CCB/1916 – que se, no prazo de um ano a contar de sua vigência, o testador não
aditasse o testamento para declarar a justa causa de cláusula aposta à legítima, essa
cláusula perderia sua eficácia. Vejamos:
Art. 2.042. Aplica-se o disposto no caput do art. 1.848, quando aberta a sucessão no
prazo de um ano após a entrada em vigor deste Código, ainda que o testamento tenha
sido feito na vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916; se, no prazo,
o testador não aditar o testamento para declarar a justa causa de cláusula aposta à
legítima, não subsistirá a restrição.
Imóvel doado aos filhos. Cláusula de inalienabilidade. Morte dos doadores. Ausência de justa
causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade. Cancelamento da cláusula.
Possibilidade. REsp 1.631.278-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade,
julgado em 19/03/2019, DJe 29/03/2019
§ 2º. Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens
gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos
primeiros.
Jurisprudência correlata
§ 69. Hipóteses
Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem
conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer deles não
puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos co-herdeiros, salvo o direito do
substituto.
Nas hipóteses de testamento que fixa cotas determinadas para divisão da herança, e em caso
de um dos herdeiros testamentários morrer antes da abertura da sucessão (a chamada “pré-
morte”), o valor da cota-parte remanescente deverá ser redistribuído entre todos os
herdeiros legítimos, conforme a ordem legal de preferência estabelecida no Código Civil, não
havendo impedimento legal para que herdeiros testamentários participem também como
herdeiros legítimos na mesma sucessão hereditária.
Com esse entendimento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou
provimento ao recurso do irmão da testadora, que tentava excluir seus sobrinhos da partilha
da cota remanescente alegando que, por serem herdeiros testamentários, não poderiam
figurar novamente na sucessão na condição de herdeiros legítimos.
Segundo o ministro Villas Bôas Cueva, relator, a testadora afastou da sucessão o herdeiro
colateral, seu irmão, recorrente no STJ. A questão a ser analisada é o que ocorre com a
quantia destinada a um dos sobrinhos que faleceu antes da morte da testadora.
Cota remanescente
As instâncias ordinárias entenderam que a partilha da cota remanescente dos bens testados
deveria ser feita de forma igualitária entre todos os herdeiros, incluindo novamente os
sobrinhos filhos dos irmãos falecidos, que, além de serem herdeiros testamentários,
ingressam na sucessão na condição de herdeiros legítimos.
É inviável, de acordo com o relator, acolher a tese do recorrente de que ele seria o único
herdeiro legítimo na linha colateral, tendo direito ao montante integral deixado pelo
herdeiro testamentário falecido.
Entendimento correto
Segundo Villas Bôas Cueva, foi correta a conclusão do tribunal de origem no sentido de que
o recorrente e os demais representantes dos irmãos da testadora, por serem os herdeiros
legítimos na linha colateral, fazem jus a um décimo dos bens, em decorrência de não se
realizar o direito de acrescer.
“O direito de acrescer previsto no artigo 1.941 do Código Civil de 2002 representa uma forma
de vocação sucessória indireta e pressupõe (i) a nomeação dos herdeiros na mesma cláusula
testamentária; (ii) que o patrimônio compreenda os mesmos bens ou a mesma porção de
bens e (iii) a inexistência de cotas hereditárias predeterminadas”, explicou.
Parágrafo único. Os co-herdeiros ou co-legatários, aos quais acresceu o quinhão daquele que
não quis ou não pôde suceder, ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.
Nota: Usando do mesmo exemplo apresentado por Flávio Tartuce, temos que se o autor
da herança deixar um imóvel para dois legatários, falecendo um deles, a metade do
imóvel do legatário morto será transmitida ao colegatário. Nessa hipótese os coerdeiros
ou colegatários, aos quais se acresceu a parte daquele que não quis ou pôde suceder,
ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam, como ocorre em relação aos
impostos e obrigações de condomínio relativos ao imóvel legado.
Art. 1.944. Quando não se efetua o direito de acrescer, transmite-se aos herdeiros legítimos a
quota vaga do nomeado.
Parágrafo único. Não existindo o direito de acrescer entre os co-legatários, a quota do que
faltar acresce ao herdeiro ou ao legatário incumbido de satisfazer esse legado, ou a todos os
herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu da herança.
Nota: em síntese: caso não haja sujeitos para exercer o direito de acrescer, a quota vaga
ou o bem legado passa a compor a sucessão legítima
Art. 1.946. Legado um só usufruto conjuntamente a duas ou mais pessoas, a parte da que faltar
acresce aos co-legatários.
Nota: Para ilustrar, o autor da herança lega um usufruto para B, C e D, sem qualquer outra
estipulação de montante, fração ou percentual. Em regra, se D falece antes do testador,
a sua parte do usufruto é transmitida para B e C. (FLÁVIO TARTUCE).
Parágrafo único. Se não houver conjunção entre os co-legatários, ou se, apesar de conjuntos,
só lhes foi legada certa parte do usufruto, consolidar-se-ão na propriedade as quotas dos que
faltarem, à medida que eles forem faltando.
* É disposição testamentária em que o disponente chama uma pessoa para receber, no todo
ou em parte, a herança ou o legado, na falta ou após o herdeiro ou legatário nomeado em
primeiro lugar, ou seja, quando a vocação deste ou daquele cessar por qualquer causa.
(DINIZ). É, por isso, instituição que se subordina a outra e, por isso, subsidiária e condicional,
pois fica na dependência de evento futuro e incerto. (DINIZ).
Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado,
para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado,
presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o
testador só a uma se refira.
Art. 1.948. Também é lícito ao testador substituir muitas pessoas por uma só, ou vice-
versa, e ainda substituir com reciprocidade ou sem ela.
A substituição vulgar apresenta-se de três modos, nos termos do art. 1948 do Código Civil:
(i) simples (art. 1.948, 1ª parte, do CC), quando há um só substituto para um ou muitos
herdeiros ou legatários instituídos, como ocorre, por exemplo, quando o testador estipula
a seguinte disposição testamentária: “Nomeio, como meus herdeiros, João e José; pela
falta de qualquer deles, herdará Maria”;
(ii) coletiva (art. 1.948, 2ª parte, do CC), quando existe mais de um substituto para um ou
uma pluralidade de substituídos, como ocorre, exemplificando, quando o testador estipula
a seguinte deixa testamentária: “Nomeio, como meus legatários, João e José; por morte
de qualquer um deles, recebem Pedro e Antônio”; e
(iii) recíproca (art. 1.948, 3ª parte, do CC), quando são designados dois ou mais herdeiros
ou legatários em nomeação não conjunta, estipulando o disponente que se substituam
reciprocamente, na parte do nomeado faltante, como, por exemplo, nomeio Pedro, Paulo
e José, como meus herdeiros, na proporção de 1/3 para cada um; se qualquer deles faltar,
o outro o substituirá.
Art. 1.950. Se, entre muitos co-herdeiros ou legatários de partes desiguais, for
estabelecida substituição recíproca, a proporção dos quinhões fixada na primeira
disposição entender-se-á mantida na segunda; se, com as outras anteriormente
nomeadas, for incluída mais alguma pessoa na substituição, o quinhão vago pertencerá
em partes iguais aos substitutos.
Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por
ocasião de sua morte, a herança ou o legado se transmita ao fiduciário, resolvendo-se o
direito deste, por sua morte, a certo tempo ou sob certa condição, em favor de outrem,
que se qualifica de fideicomissário.
Nota: Portanto, somente em favor de prole eventual pode ser instituído o presente
instituto. Inclusive, a doutrina majoritária entende aplicável ao caso presente o
disposto no art. 1.800, § 4º do CCB:
Art. 1.800, § 4º. Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido
o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador,
caberão aos herdeiros legítimos.
Art. 1.953. O fiduciário tem a propriedade da herança ou legado, mas restrita e resolúvel.
Nota: A presente regra decorre daquilo que estabelece o art. 1.951 do CCB, vez que
o fiduciário sempre recebe os bens testados a título precário e transitório, já que
tais bens passarão necessariamente à titularidade do herdeiro fideicomissário, de
acordo com a disposição testamentária, que pode considerar a morte do fiduciário,
a superveniência de termo ou de condição resolutiva.
Art. 1.956. Se o fideicomissário aceitar a herança ou o legado, terá direito à parte que, ao
fiduciário, em qualquer tempo acrescer.
Caio Mário da Silva Pereira já explicava em termos exatos: “Não é lícita a instituição
além do segundo grau. Nada obsta, todavia, a nomeação plúrima de
fideicomissários conjuntos, caso em que vigora entre eles o direito de acrescer. O
que se não tolera é a nomeação de substituto para o fideicomissário (...) A
contagem dos graus para o efeito desta limitação leva em conta o fato da
designação ou instituição: o fiduciário é o instituído em primeiro grau e o
fideicomissário em segundo. E aí termina a substituição fideicomissária”.
Art. 1.960. A nulidade da substituição ilegal não prejudica a instituição, que valerá sem o
encargo resolutório.
A) Definição
B) Requisitos de validade
I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de
acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas
ou apontamentos;
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas
testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e
do oficial;
D) Testador surdo
* A fim de conferir maior segurança ao ato, determina o CCB que, sendo o indivíduo
inteiramente surdo, este deverá ler o seu testamento e, se não o souber, deverá
indicar uma pessoa de sua confiança para que o faça na presença de testemunhas
Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e,
se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.
E) Testador cego
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz
alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma
das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada
menção no testamento.
A) Formalização:
* É feito por instrumento particular, adquirindo e validade jurídica tão somente pelo
instrumento de aprovação, a cargo do notário.
Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e
por aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal,
observadas as seguintes formalidades:
* Sua vantagem é ser secreto, levando em consideração que suas disposições somente
serão conhecidas após a morte do testador. Vejamos:
Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá
e o fará registrar, ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que o torne
eivado de nulidade ou suspeito de falsidade.
* Consiste em que assistam à entrega do escrito sigiloso ao oficial público, que o aprova
sem o conhecimento de seu conteúdo, e mediante declaração do testador de que
aquele é o seu testamento e que o tem por bom, firme e valioso. (NERY JR).
Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente depois da última
palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser
aprovado na presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento
aprovado.
Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do testamento, para início da
aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a circunstância no
auto.
Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não
obstante, aprová-lo.
Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio
testador, ou por outrem, a seu rogo.
G) Impossibilidade de o testamento cerrado ser realizado por quem não saiba ler ou não o
possa.
Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou não
possa ler.
Art. 1.972. O testamento cerrado que o testador abrir ou dilacerar, ou for aberto ou
dilacerado com seu consentimento, haver-se-á como revogado.
A) Definição
Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante
processo mecânico.
Notícia Correlata
Por unanimidade de votos, a Terceira Turma manteve decisão que não reconheceu a
validade de um testamento escrito de próprio punho. Apesar da falta de assinatura de
testemunhas que deveriam ter presenciado a lavratura do documento, a parte alegava
que o requisito seria formalidade superável tendo em vista a inexistência de interesse
de incapazes ou de herdeiros necessários. De acordo com o processo, a testadora,
Pedido rejeitado
Súmula 7
No STJ, o relator, ministro Villas Bôas Cueva, entendeu a decisão acertada. Ele
reconheceu a possibilidade de, em circunstâncias específicas, o juiz dispensar a
presença de testemunhas no ato de testar. No entanto, observou, as instâncias de
origem consignaram que o documento elaborado de próprio punho não seria válido e
que a alegação unilateral das testemunhas de que presenciaram o ato não seria
suficiente para tal comprovação. O relator salientou ainda que a ausência de
assinaturas não foi o único vício a ensejar a invalidade do testamento, pois não houve
a leitura e a assinatura do documento pelo testador na presença das testemunhas e
nem mesmo se observou a vontade expressa da testadora de que fosse realizado o
registro do ato em cartório. “Não pode ser confirmado o testamento particular
formalizado sem todos os requisitos exigidos pela legislação de regência, pois rever
todas essas conclusões demandaria o reexame de matéria fático-probatória, o que é
Flexibilização
A controvérsia analisada pela Segunda Seção teve origem em ação para confirmar um
testamento particular lavrado em 2013 por uma mulher em favor de uma de suas
herdeiras.
Vício formal
"A fundamentação adotada pelo acórdão recorrido para não confirmar o testamento,
a propósito, está assentada exclusivamente no referido vício formal. Não
controvertem as partes, ademais, quanto ao fato de que a testadora, ao tempo da
lavratura do testamento, que se deu dez meses antes de seu falecimento, possuía
esclerose múltipla geradora de limitações físicas, sem prejuízo da sua capacidade
cognitiva e de sua lucidez", observou.
Nesse novo cenário, em que a identificação pessoal tem sido realizada por tokens,
logins, senhas e certificações digitais, além de sistemas de reconhecimento facial e
ocular, e no qual se admite até a celebração de negócios complexos e vultosos por
meios virtuais, a relatora enfatizou que "o papel e a caneta esferográfica perdem
diariamente o seu valor", devendo a real manifestação de vontade ser examinada em
conjunto com os elementos disponíveis.
§ 1º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e
assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o
devem subscrever.
Notícia correlata:
Ausência de dúvidas
Segundo a ministra, no caso analisado, o vício alegado foi apenas a ausência de uma
testemunha no momento da leitura. “O vício que impediu a confirmação do
testamento consiste apenas no fato de que a declaração de vontade da testadora
não foi realizada na presença de três, mas, sim, de somente duas testemunhas,
Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o testamento, com citação dos
herdeiros legítimos.
Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos,
sobre a sua leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como
a do testador, o testamento será confirmado.
Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma
delas o reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver
prova suficiente de sua veracidade.
Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que
as testemunhas a compreendam.
A) Definição
* Codicilo é negócio jurídico unilateral mortis causa, escrito, pelo qual o autor da
herança dispõe de bens de pouca monta ou de singular valor sentimental, de forma
menos solene e mais singela que o testamento, podendo com este conviver (NERY JR).
Em termos legais, os codicilos estão previstos nos arts. 1.881 a 1.885 do CCB. Vejamos.
Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado
e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca
monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo
lugar, assim como legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.
Art. 1.882. Os atos a que se refere o artigo antecedente, salvo direito de terceiro, valerão
como codicilos, deixe ou não testamento o autor.
Art. 1.883. Pelo modo estabelecido no art. 1.881, poder-se-ão nomear ou substituir
testamenteiros.
Nota: Recorde-se que testamenteiro é o sujeito indicado pelo de cujus para dar
cumprimento às suas disposições de última vontade [CCB, art. 1.976].
Art. 1.885. Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento
cerrado.
Art. 1.887. Não se admitem outros testamentos especiais além dos contemplados neste
Código.
■ Previsão legal
Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante,
pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que
corresponda ao testamento público ou ao cerrado.
■ Requisito fatual
Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma
viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse
desembarcar e testar na forma ordinária.
Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode
testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo
antecedente.
A) Requisitos
Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas
em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja
de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto
legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar,
caso em que assinará por ele uma delas.
B) Autoridades competentes para escrever o testamento, caso o testador não saiba ou esteja
impossibilitado de fazê-lo.
§ 3º Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que
o substituir.
Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu punho,
contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença
de duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste
mister.
Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o testador esteja,
noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse
testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do artigo
antecedente.
Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não morrer na guerra ou
convalescer do ferimento.
* Numa palavra, tudo que tenha valor patrimonial pode ser objeto de legado que, assim, deve
ser material e juridicamente possível. Em se tratando de coisas, a impossibilidade jurídica
resulta de estarem fora do comércio. (ORLANDO GOMES).
* O legado adquire-se ipso jure, por efeito da abertura da sucessão, ainda que o legatário não
tenha conhecimento da aquisição. Quem adquire de logo o domínio da coisa legada está
fora de toda dúvida, porquanto pode reivindicá-la antes de investido na sua posse, e
somente pode reivindicar quem dono é. O ônus de pedi-la ao herdeiro instituído é apenas
condição para a execução do direito, nunca para a sua aquisição. (ORLANDO GOMES). No
entanto: a aquisição da posse depende de sua efetiva entrega, que incumbe ao herdeiro.
(ORLANDO GOMES).
Art. 1.923. Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente
no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva.
§ 1º. Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por
autoridade própria.
* Há situações em que o legado tem sua exigibilidade suspensa. São elas: (i) validade
questionada judicialmente; (ii) legados condicionais; (iii) legados a termo. Vejamos:
Art. 1.924. O direito de pedir o legado não se exercerá, enquanto se litigue sobre a
validade do testamento, e, nos legados condicionais, ou a prazo, enquanto esteja
pendente a condição ou o prazo não se vença.
* Renúncia: A renúncia não se pode dar antes da abertura da sucessão, nem se justifica, no
legado condicional, antes de realizada a condição, eis que se renuncia a simples expectativa
de direito. Uma vez feita, torna-se irrevogável. (ORLANDO GOMES).
Art. 1.934. No silêncio do testamento, o cumprimento dos legados incumbe aos herdeiros e,
não os havendo, aos legatários, na proporção do que herdaram.
Parágrafo único. O encargo estabelecido neste artigo, não havendo disposição testamentária
em contrário, caberá ao herdeiro ou legatário incumbido pelo testador da execução do legado;
quando indicados mais de um, os onerados dividirão entre si o ônus, na proporção do que
recebam da herança.
Art. 1.935. Se algum legado consistir em coisa pertencente a herdeiro ou legatário (art. 1.913),
só a ele incumbirá cumpri-lo, com regresso contra os co-herdeiros, pela quota de cada um,
salvo se o contrário expressamente dispôs o testador.
Nota: O presente artigo se refere ao herdeiro ou legatário a quem o testador ordena que
entregue bem seu a outra pessoa instituída. Com toda a evidência, o herdeiro ou legatário
obrigado, para efetuar a entrega de um bem seu a outra pessoa, também deverá ser
beneficiado pelo testamento. (ARNALDO RIZZARDO).
Art. 1.936. As despesas e os riscos da entrega do legado correm à conta do legatário, se não
dispuser diversamente o testador.
§ 91. Legado com encargos e a aplicação das regras referentes à doação modal
Art. 1.938. Nos legados com encargo, aplica-se ao legatário o disposto neste Código quanto às
doações de igual natureza.
* Pressupõe, assim, a lei que as coisas legadas sejam presentes, mas nada impe de que sejam,
também, legadas coisas futuras. (CATEB).
* A coisa legada, não pertencendo ao testador ao testar, pode, no decorrer do tempo, até a
data de sua morte, pois o testamento só produz efeitos após a morte, vir a ser adquirida por
ele, e não será mais alheia. (CATEB).
* Segundo o CCB:
Art. 1.912. É ineficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento
da abertura da sucessão.
Art. 1.913. Se o testador ordenar que o herdeiro ou legatário entregue coisa de sua
propriedade a outrem, não o cumprindo ele, entender-se-á que renunciou à herança ou
ao legado.
Nota: O herdeiro, ou o legatário, deve entregar coisa sua para ter direito ao legado
deixado pelo testador; se preferir ficar com o que é seu, implica renúncia da
liberalidade. Note-se que, nessa hipótese, o encargo, ou condição, não pode ser
imposto ao herdeiro necessário, porque o testador não tem ação limitadora sobre
a legítima, salvo as exceções previstas em lei. (CATEB).
Art. 1.914. Se tão-somente em parte a coisa legada pertencer ao testador, ou, no caso do
artigo antecedente, ao herdeiro ou ao legatário, só quanto a essa parte valerá o legado.
* Segundo o CCB:
Art. 1.915. Se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo
cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.
* A respeito da escolha da coisa legada definida pelo gênero, temos que esta pode ser
conferida ao herdeiro incumbido de dar cumprimento ao legado; a terceiro indicado pelo
testador; ao Juízo competente; ou mesmo ao próprio legatário, devendo prevalecer o que
for determinado no testamento. Senão vejamos:
Art. 1.931. Se a opção foi deixada ao legatário, este poderá escolher, do gênero
determinado, a melhor coisa que houver na herança; e, se nesta não existir coisa
de tal gênero, dar-lhe-á de outra congênere o herdeiro, observada a disposição na
última parte do art. 1.929.
* Segundo o CCB:
Art. 1.916. Se o testador legar coisa sua, singularizando-a, só terá eficácia o legado se, ao
tempo do seu falecimento, ela se achava entre os bens da herança; se a coisa legada
existir entre os bens do testador, mas em quantidade inferior à do legado, este será eficaz
apenas quanto à existente.
Nota: Esse dispositivo legal guarda relação com o disposto no art. 1.939, II do CCB,
segundo o qual:
Art. 1.917. O legado de coisa que deva encontrar-se em determinado lugar só terá
eficácia se nele for achada, salvo se removida a título transitório.
Nota: O legado constitui-se da quantidade que for encontrada, mesmo que tiver
sido reduzida ou alienada pelo testador; prevalece aqui o que foi encontrado na
data do óbito. (CATEB).
* Segundo o CCB:
Art. 1.918. O legado de crédito, ou de quitação de dívida, terá eficácia somente até a
importância desta, ou daquele, ao tempo da morte do testador.
Nota: Portanto, vale observar, conforme lição de Orlando Gomes, que o legado
considera a obrigações existentes quando da elaboração do testamento, não
assegurando o pagamento do crédito. Dito de outro modo, “o testador não
assegura o mau ou o bom adimplemento a obrigação” (VENOSA. Código Civil
Interpretado). Trata-se, pois de negócio jurídico essencialmente aleatório.
Nota: Envolve, pois, dívidas do legatário que o testador, seu credor, quer beneficiar.
(CATEB).
Nota: Pode ocorrer, também, de o legatário ter uma dívida para com terceiros e o
testador queira beneficiá-los; nessa hipótese, o herdeiro onerado ficará
Nota: Ora, se a dívida do testador for posterior à facção do testamento, não resta
dúvida de que a compensação está fora de dúvidas, e é despicienda a discussão,
porque o testador não poderia mencionar uma dívida até então inexistente.
(CATEB).
* Segundo o CCB:
Nota: Pela sua própria natureza e pelo fim a que se destina, o legado de alimentos,
ou pensão alimentícia, é inalienável e, como tal, impenhorável. (CATEB).
* Segundo o CCB:
Nesse caso, o testador lega [em favor de pessoa natural ou jurídica] o direito
de usufruto, deixando a nua-propriedade para herdeiro ou outrem. Se não se
define a quem cabe essa nua-propriedade, entende-se que esta caberá os
herdeiros. Ademais, usufrutuários podem ser vários concomitantemente. Se
não foi estipulado prazo e o legado foi instituído em favor de pessoa natural,
entende-se que se extingue com a morte do usufrutuário; se instituído sem
prazo em favor de pessoa jurídica, usufruto se encerrará no prazo fixado no
art. 1.410 do CCB, ou seja, 30 anos. Nesse sentido, VENOSA (in. Código Civil
Interpretado).
* Segundo o CCB:
Art. 1.922. Se aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois novas aquisições, estas,
ainda que contíguas, não se compreendem no legado, salvo expressa declaração em
contrário do testador.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto neste artigo às benfeitorias necessárias, úteis
ou voluptuárias feitas no prédio legado.
Nota: Isso porque tais benfeitorias são acessórios, e integram a propriedade legada,
formando, dessa forma, um só todo. (CATEB).
Art. 1.925. O legado em dinheiro só vence juros desde o dia em que se constituir em mora
a pessoa obrigada a prestá-lo.
Art. 1.926. Se o legado consistir em renda vitalícia ou pensão periódica, esta ou aquela
correrá da morte do testador.
Art. 1.933. Se o herdeiro ou legatário a quem couber a opção falecer antes de exercê-la,
passará este poder aos seus herdeiros.
* As causas gerais de extinção dos negócios jurídicos aplicam-se aqui, tais como: a prescrição,
a decadência, a frustração da condição e a incapacidade do legatário, a invalidade do
testamento ou da própria disposição testamentária concernente ao legado. (ORLANDO
GOMES).
I - se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter
a forma nem lhe caber a denominação que possuía;
Nota: Segundo Orlando Gomes, seria um caso de adenção, isto é, por tornar o
legado ineficaz.
Nota: Segundo Orlando Gomes, seria um caso de adenção, isto é, por tornar o
legado ineficaz.
III - se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador, sem culpa do herdeiro ou
legatário incumbido do seu cumprimento;
Nota: Ainda segundo VENOSA: [...] no tocante à evicção, caduca o legado porque o
testador não tinha direito à coisa legada. O herdeiro também pode ser
responsabilizado por perdas e danos, no caso de evicção, se não defendeu
devidamente os direitos do testador (no caso, o espólio, cabendo também a defesa
ao inventariante e ao testamenteiro) sobre a coisa na ação movida por terceiro, ou
não tomou medida legal alguma na apreensão administrativa. Sua culpa será
apurada no caso concreto.
Art. 1.940. Se o legado for de duas ou mais coisas alternativamente, e algumas delas
perecerem, subsistirá quanto às restantes; perecendo parte de uma, valerá, quanto ao
seu remanescente, o legado.
Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem
conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer deles
Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado,
para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado,
presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o
testador só a uma se refira.