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Para entender este livro, é preciso antes ler Linhas do Destino, o primeiro livro de Angélica & Lorenzo,
disponível na Amazon - Kindle Unlimited: https://amzn.to/2MhO2zB
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Copyright © 2016 Lettie S.J.


2ª Edição — Fevereiro, 2020.

Todos os direitos reservados.

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios — tangível ou intangível —,


sem a prévia autorização por escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
pela Lei 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos reais é mera coincidência.

Capa: Lubero Design

Edição Digital — Brasil


________________________________________
Índice

Sinopse
Nota da Autora
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
EPÍLOGO
Outras Obras da Autora
Biografia e Redes Sociais
Sinopse

Angélica Sant’ana é o “anjo” de Lorenzo Costi, com quem inicia um


namoro predestinado e cercado de ameaças por todos os lados. Uma
brasileira morando em Portugal e que se torna a obsessão de Emanuel, filho
de um renomado político da cidade, nas mãos de quem sofre uma perseguição
traumática. Com o amor de Lorenzo, Angélica amadurece. Parece frágil, mas
é a única que consegue controlar a força avassaladora e obscura de Loki.
Conseguirá ela evitar este confronto entre seu perseguidor e seu salvador?
Romance New Adult premiado com o Wattys 2016 do Wattpad.
Nota da Autora

O Anjo de Loki é o segundo livro da Trilogia de Angélica &


Lorenzo e deve ser lido depois do primeiro livro, Linhas do Destino, que está
disponível na Amazon — Kindle Unlimited.
Conheça a Série Linhas do Destino:
Livro 1 — Linhas do Destino: https://amzn.to/2MhO2zB
Livro 2 — O Anjo de Loki
Livro 3 — Dominado Por Um Anjo
Se você está lendo este livro em outro lugar que não seja a Amazon
— Kindle Unlimited, onde ele foi originalmente publicado, saiba que está
colaborando indiretamente com a distribuição ilegal da obra e deixando de
ajudar a autora. Conheça o Kindle Unlimited da Amazon, um sistema de
leitura online onde terá acesso a milhares de livros por um preço acessível.
PRÓLOGO

Lorenzo
DESCI AS ESCADAS correndo, preocupado com aquela súbita
aparição da polícia em minha casa. Definitivamente, aquilo não era mais um
acaso. Todas as evidências dos últimos dias apontavam claramente que
alguém estava tentando me prejudicar.
Na Itália, eu já tinha passado por várias tentativas de ser incriminado
injustamente por coisas que não fiz, sendo obrigado a encarar a lei de frente.
Agora, isso estava acontecendo novamente e, se eu não tivesse cuidado,
Angélica poderia sofrer no processo.
Quando cheguei ao hall de entrada, Pedro estava ao lado dos dois
policiais. Logo que os vi, percebi que não eram os mesmos da abordagem
policial na praia. Estes, eram jovens, altos e fortes, com uma expressão dura
no rosto e os olhos atentos a tudo. Algo me dizia que, daquela vez, as coisas
não seriam facilmente resolvidas com um telefonema para Amanda.
Respirei fundo, procurando clarear a mente e me focar unicamente
neles dois, esquecendo que há poucos minutos atrás estava prestes a amar
Angélica.
Caminhei na direção deles, recebendo em cheio o olhar pesado de
ambos.
— Boa noite! Sou o dono da casa — apresentei-me, estendendo a
mão e ignorando a expressão nada amistosa com que devolveram o
cumprimento. — Lorenzo Costi.
— Boa noite. Recebemos a informação de que há uma festa na casa
e precisamos fazer algumas averiguações com relação a consumo de drogas.
Drogas de novo? Mas que merda é essa?
Pedro aproximou-se mais de mim quando ouviu aquilo, tão surpreso
quanto eu.
— Drogas na minha casa? — repeti, esperando que deixassem bem
claro do que se tratava. — A que tipo de drogas se referem?
Ele olhou muito sério para mim, dando a entender que achava que eu
estava tentando ganhar tempo.
— Estupefacientes, mais especificamente cocaína. — Ele foi direto
ao assunto, parecendo determinado a resolver a situação sem muita perda de
tempo.
Cocaína?! Puta que pariu!
— Mas é lógico que não tem isso na minha casa! — Tentei não
deixar transparecer na voz a raiva que eu estava sentindo com aquela
informação absurda, porque sabia que perder a calma agora era o pior que
podia fazer. — Não estamos consumindo nenhum tipo de droga na festa,
apenas bebidas alcoólicas normais.
— Tem certeza disso?
— Sim, tenho! — Desta vez não deu para ser nada menos do que
taxativo.
— Conhece todos os participantes e confia que nenhum deles é
usuário?
Vacilei apenas um segundo, ao me lembrar de que só conhecia meus
colegas de equipe e suas namoradas. Não sabia nada das duas garotas que nos
acompanharam, exceto que eram conhecidas do Tiago. O problema é que eu
não sabia nada dos amigos do hip-hop de Angélica.
Merda! Será que algum dos amigos dela consome drogas?
— Conheço parte das pessoas que estão aqui. Os outros são amigos
de amigos, mas mesmo assim não sei da vida particular de nenhum deles e se
são usuários ou não. A minha festa é limpa e aqui dentro ninguém está
consumindo drogas! — Olhei para o Pedro, esperando uma confirmação dele,
já que eu estive no quarto com Angélica e não acompanhei tudo que rolou
aqui em baixo.
Pedro fez um sinal positivo de que as coisas estiveram sob controle.
— Já que tem certeza disso, poderá nos autorizar a entrar na casa e
verificar tudo sem problemas. Leve-nos ao local da festa. — Olhou para além
do hall, parecendo a ponto de invadir minha casa.
A vontade que eu tive foi de dizer que não, e exigir a merda de um
mandado de busca qualquer para eles poderem entrar. Contudo, não quis
forçar a situação, criando uma resistência que só poderia deixá-los mais
desconfiados de mim.
Como não fiz nenhum gesto para os deixar ultrapassarem o hall, ele
me olhou duramente. O colega se aproximou, ficando ambos de frente para
mim e para o Pedro.
— Qual é a sua idade? — perguntou, avaliando-me como um
possível agressor a ser dominado.
— Dezenove anos.
— Tem alguém maior de vinte e um anos na casa?
Minha dúvida voltou a recair sobre os amigos de Angélica, que eu
não conhecia.
— Acredito que não.
— E algum menor de idade?
Foda-se!
Ia ser a mesma merda da outra vez se eu dissesse que minha
namorada era menor de idade e estava no quarto me esperando.
— Acredito que não.
Ele apenas balançou a cabeça, continuando a me encarar.
— Como já disse, precisamos verificar que não há drogas na casa e
que a festa não tem menores de idade consumindo nada dessa natureza.
Todas as denúncias que recebemos devem ser averiguadas.
Outra merda de denúncia para eu ter de lidar, só que agora era
para me foder de vez!
CAPÍTULO 1

Angélica
— FILHA, PORQUE NUNCA me contou nada? — A voz da
minha mãe era triste, mas fiquei aliviada ao perceber que ela não estava tão
chateada quanto eu pensava que ficaria quando soubesse que escondi as
barbaridades que Emanuel fez comigo. — Quase não acredito que passou por
tudo isso e não me disse nada!
Cruzei os braços sobre os joelhos e encostei meu queixo neles,
olhando-a com receio.
— Já disse que tinha medo de você ir adiante com um processo
contra Emanuel. Meu pai ia saber e exigiria que eu voltasse para o Brasil. Eu
não aguentaria ficar longe de você! — expliquei novamente, com as lágrimas
escorrendo pelo rosto.
Sentada à minha frente, ela me envolveu com os braços e trouxe-me
para o seu colo, onde me deitei sem vacilar, ansiosa pelo seu carinho.
— Mãe, eu te amo tanto! — choraminguei.
— Também te amo, pequenina — ela sussurrou. — Agora acalme-
se, que está tudo bem.
A sua voz suave aliviou o peso que eu sentia no peito. Naquele dia,
estive em uma verdadeira montanha-russa emocional, passando do pavor de
um assédio de Emanuel para a segurança dos braços de Lorenzo. Agora,
começava a sentir os efeitos daquilo tudo e o meu corpo estava apresentando
os primeiros sinais de esgotamento.
— Vamos resolver tudo isso da melhor forma possível, você vai ver!
— ela garantiu, acariciando meu cabelo e dando aquele amor de mãe que era
insubstituível. — Não quero que você se desgaste com mais nada do que
aconteceu no passado ou do que vai acontecer no futuro. Já aguentou muita
coisa sozinha e agora vai deixar que eu cuide de tudo daqui por diante.
— Mas, e o pai, como vai ficar?
— Do seu pai cuido eu, Angélica! — Seu tom era decidido e,
quando ela falava assim, eu sabia que era melhor não a contrariar. — Chega
de se preocupar com ele, comigo e com os outros! Comece a pensar mais em
si mesma e procure ser feliz. Eu sei exatamente o que vou fazer e será hoje
mesmo!
Apertou-me nos braços, deitando na cama e me arrastando junto
com ela, de forma que ficamos bem agarradinhas.
— Graças a Deus que Lorenzo apareceu para compensar você por
tudo o que passou e trazer esta felicidade para o seu rosto! — Escutei seu
suspiro aliviado e fiquei surpresa que ela achasse isso. — Se não fosse por
ele, talvez você nunca se abrisse comigo para contar a verdade. Ele surgiu na
hora certa, porque não sei se deixaria que continuasse neste colégio com
Emanuel caso Lorenzo também não estivesse lá para cuidar de você.
Eu não tinha pensado nisso, mas ela tinha razão.
— Qual foi a reação dele quando soube de tudo?
A pior possível!
— Prometeu que ia fazer Emanuel pagar por tudo que fez comigo —
contei, preocupada com a raiva com que ele fez aquela promessa.
— Não o condeno, porque pretendo fazer a mesma coisa, ainda que
use métodos diferentes dos dele. — Senti a raiva na sua voz quando falou
aquilo. — Mas, nessas horas, gostaria de ser homem para dar uma boa surra
em Emanuel e castigá-lo exemplarmente.
Eu tinha certeza de que seria uma surra exemplar mesmo, porque
minha mãe sabia ser linha dura quando queria.
— Tenho medo de Lorenzo se prejudicar no colégio por minha
causa. Não quero que isso aconteça! — Enxuguei as lágrimas e olhei para ela.
— Ele parecia realmente irado com Emanuel e tenho certeza de que vai
procurá-lo para um acerto de contas.
Ela ficou pensativa por uns segundos, até parecer satisfeita com a
solução que encontrou.
— Ele deu certeza de vir jantar aqui amanhã?
— Sim. Disse que só não vinha hoje porque tinha jogo, mas que
podíamos marcar para amanhã.
— Então, pode deixar que falarei com ele sobre isso. Você vai se
preocupar apenas em superar tudo e ser uma adolescente normal de dezessete
anos, curtindo seu namorado e sendo feliz.
Aquilo era tudo o que eu queria, tudo com o que sonhava há anos.
Mal acreditava que, enfim, poderia realizar uma coisa tão simples como ter
uma adolescência normal.
Fechei os olhos e relaxei nos braços dela, apenas sentindo seu
carinho, até que peguei no sono.
***
Acordei com o som de uma mensagem entrando no celular.
Olhei para o relógio. Sete horas da noite.
Sentei-me de imediato e fui pegá-lo, sabendo que só podia ser
Lorenzo.
“Oi, meu anjo, já falou com Amanda? Correu tudo bem?”
Sorri ao ler o termo carinhoso que ele estava usando comigo.
“Falei e está tudo bem. Já começou seu jogo? Posso ligar?”
Em vez de uma resposta escrita, meu celular começou a tocar com a
música do Aerosmith que ele dedicou para mim no carro.
— Oi — atendi com a respiração suspensa, ansiosa para falar com
ele de novo.
— Oi, meu anjo. Você está bem?
Céus! Ouvi-lo me chamar de “meu anjo” era mil vezes melhor do
que ler.
— Sim, estou bem. E você?
— Só não estou melhor por estar longe de você.
Oh, ele sabia usar as palavras!
— Mesmo? — provoquei.
— Sim, mesmo!
Sua firmeza não deixava dúvidas quanto àquilo.
— Já começou o jogo?
Ouvi seu suspiro impaciente.
— Ainda não, só às oito. Daqui a pouco vamos nos reunir com o
treinador para revermos as táticas e iniciarmos o aquecimento. Então, já não
poderei mais falar. — Baixou o tom de voz. — Mas queria meu beijo de boa
sorte antes do jogo.
Comecei a rir.
— Ora, você nunca precisou do meu beijo antes dos seus jogos.
Porque precisa agora?
— Porque agora que possuo você de verdade quero tudo o que tenho
direito. — Sua voz chegou profunda pelo aparelho e percebi que falava sério.
Resolvi entrar no jogo e ir fundo dentro dele.
— E o beijo vai para Lorenzo ou para Loki? Qual dos dois vai jogar
hoje?
Ele riu do outro lado, deliciando-se com a minha ousadia.
— Quem joga é sempre Loki!
Então, quero ver!
— E posso assistir a um jogo seu?
Houve uma pausa que me deixou mais curiosa ainda.
— Quando formos jogar contra uma equipe pequena, eu aviso e
você vem.
Que lixo!
— Por que não posso ir nos jogos grandes? Acho que são mais
emocionantes. Não se esqueça de que já joguei vôlei e sei como é.
— Jogos de vôlei não são iguais aos de basquete, Angélica —
explicou com paciência. — Agora quero o meu beijo, porque tenho de ir.
Tudo bem! Mas não vou esquecer do assunto assim tão facilmente!
— Um beijo em Loki e espero que vocês ganhem! — sussurrei para
ele.
— Repete! — Sua voz era exigente.
— Um beijo e espero que ganhem.
— Não assim! Fala o meu nome. — Estava rouco e parecia
emocionado.
— Um beijo, Loki!
— Assim você acaba comigo! — Limpou a garganta antes de dizer.
— Posso ligar quando o jogo terminar pelas dez ou onze horas? Você ainda
vai estar acordada?
— Vou sim! — Queria voltar a falar com ele mais tarde. — Pode
ligar, eu espero.
— Ótimo, ligarei. Beijo, meu anjo.
***
“Ainda está acordada? Atrasou tudo depois do jogo!”
Era quase meia-noite e eu já achava que ele tinha esquecido de mim.
“Sim, estou.”
Ele voltou a ligar, mas havia um barulho enorme ao fundo e quase
não consegui escutar sua voz em meio ao forte ruído.
— Oi.
— Angélica?
— Oi — falei mais alto, já que ele não havia escutado da primeira
vez.
— Desculpa não ter ligado antes, mas não tive condições.
— Vocês ganharam? — Estava ansiosa para saber.
— Sim, ganhamos! — Parecia verdadeiramente satisfeito com o
resultado. — Foi um jogo duro, mas ganhamos.
— Oh, que bom! — exultei com a vitória deles. — Fico feliz
demais.
Então, ouvi o som de vozes masculinas gritando, além de música e
alguns gritinhos femininos.
Ei, o que é isso?
— Onde você está, Lorenzo?
— Chegando em uma discoteca na baixa do Porto. Daqui a pouco
vou entrar e já não conseguirei escutar mais nada, mas quis falar com você
antes que fosse dormir.
Oh, mas que merda é essa?
— Em uma discoteca? — Queria confirmar se não tinha ouvido
errado. — Está em uma discoteca depois de um jogo? Você não me falou
nada disso antes.
Tentei manter a calma e não dar uma de namorada controladora e
ciumenta.
Só que eu me sinto controladora e ciumenta, merda!
— Parte da equipe quis comemorar a vitória e, como sou o capitão,
meu treinador pediu que estivesse presente para impedir que exagerem muito
na bebida. Vamos ter outro jogo grande esta semana e ele quer seus jogadores
inteiros.
Sobreveio dentro de mim uma raiva desconhecida, porque, apesar de
nunca ter entrado em uma discoteca por ser menor de idade, sabia muito bem
o que rolava lá dentro. Bebidas, diversão, garotas, garotas e mais garotas.
Bufei, irritada, e não consegui falar nada.
— Angélica?
— Oi.
— Não fique chateada com isso! Eu também não pensava em vir. Se
não fosse o pedido do meu treinador, eu não viria, fosse capitão ou não da
equipe.
Grande consolo saber disso!
Não ajudou nada ouvir a voz do Tiago ao fundo apressando Lorenzo
para entrarem. O paquerador e Don Juan nato, chamando meu namorado para
uma noitada!
— Tiago! — Escutei Lorenzo chamar alto. — Podem ir entrando
que vou daqui a pouco!
Ele parecia irritado com o amigo, antes de falar novamente comigo.
— Angélica? Está me ouvindo?
— Sim, estou.
— Fica tranquila, não vai acontecer nada!
Mas eu não conseguia deixar de ouvir as vozes das garotas ao fundo.
— Como posso ficar tranquila sabendo que vocês estão
acompanhados de garotas? — explodi de vez, porque não era tão ingênua
assim.
— Eu não estou acompanhado por ninguém. Já tenho a minha
garota. — Seu tom era sério. — Se eu quisesse esconder alguma coisa, não
teria ligado daqui nem dito nada a você.
— Sei disso, mas não consigo me sentir melhor só porque você me
contou. — Não estava gostando daquela sensação no meu peito. — Lorenzo,
você não poderia simplesmente ter negado?
Ouvi seu suspiro de resignação.
— Sim, poderia ter negado, mas achei melhor não o fazer por vários
motivos. — Sua voz era paciente e persuasiva. — Além de ter sido nosso
primeiro jogo do campeonato, conseguimos uma vitória importante contra
um adversário forte e abrimos uma boa vantagem com isso. Também sou o
capitão da equipe, o que traz algumas responsabilidades, principalmente se
meu treinador me pede um favor em particular. Não me custava nada vir,
Angélica.
Oh, merda! O que posso dizer contra tudo isso?
— Você entendeu? Vai ficar bem? — ele insistiu.
Será que eu era tão imatura assim por não conseguir estar bem com
aquilo? Será que as outras mulheres achariam normal que seus namorados
fossem sozinhos com os amigos para uma discoteca, com garotas ao lado?
Faltava-me experiência nesse campo e optei por ser eu mesma, fosse imatura
ou não.
— Eu entendi, mas não fico bem com isso. Desculpa, mas não
consigo, juro! — desabafei de vez, antes que mudasse de ideia.
Já estava cansada de esconder o que sentia só para agradar os outros.
— Caralho, Angélica! — ele explodiu, frustrado. — Se você não
consegue estar bem, eu jogo tudo isso aqui à merda e vou agora para sua casa
ficar com você!
Sério?
— Você fala sério, Lorenzo?
— Claro que sim! — foi taxativo e parecia até chateado que eu
duvidasse da sua palavra. — Você é mais importante para mim do que ter
uma faixa de capitão no braço. E se meu treinador não gostar, eu devolvo a
faixa!
Eu não esperava por essa e nem queria que ele se prejudicasse de
forma alguma por minha causa.
— Você não seria prejudicado por isso?
Ele riu e parecia divertido com minha pergunta.
— Minha obrigação é jogar bem e não ser babá dos outros jogadores
fora da quadra. Só estou aqui por consideração ao meu treinador. Mas, se isso
afetar meu namoro com você, sei quem vou escolher.
Aquelas palavras me deram mais segurança, ainda que continuasse
incomodada com aquela situação toda.
— Tudo bem, não precisa fazer nada disso. Vou confiar em você.
Ouvi seu suspiro de alívio do outro lado da linha.
— Obrigado, meu anjo. Pode confiar em mim!
— Você jura que não vai ficar com ninguém?
— Sim, eu juro!
— Nem se uma garota qualquer cair em cima de você? — insisti, já
visualizando a cena, porque não conseguia imaginar uma mulher que não
caísse diante do magnetismo de Lorenzo.
Ele voltou a rir com o que eu disse.
— Nem se ela cair em cima de mim. Juro! — Baixou a voz e seu
tom ficou mais íntimo. — Já disse que te amo!
Oh, minha Nossa Senhora das Namoradas Apaixonadas! Eu também
o amo muito!
— Eu também te amo, Loki!
Ouvi seu gemido através do celular.
— Toda vez que você me chama assim fico duro, sabia? —
confessou com a voz enrouquecida. — É como se você me aceitasse por
inteiro, tanto o meu lado bom quanto o mau.
— E qual deles me ama? — perguntei, curiosa, porque me sentia
tremendamente atraída também pelo seu lado Loki.
— Os dois. — Sua resposta foi simples, mas carregava um grau de
profundidade enorme.
Tinha outra coisa que eu precisava saber urgentemente, apesar de já
desconfiar de qual seria a sua resposta. Aproveitei o momento e arrisquei
perguntar, antes que a minha insegurança me fizesse desistir e calar.
— Quem esteve comigo hoje na cama? — sussurrei, com medo de
falar alto e minha mãe escutar.
Ele não vacilou em responder de imediato.
— Lorenzo.
Era o que eu achava!
— E quando vou conhecer Loki? — perguntei, cheia de ansiedade e
expectativa, porque algo me dizia que neste dia realmente conheceria
Lorenzo por inteiro.
— No dia em que fizer amor comigo até o fim.
Oh, meu Deus! Que os meus dezoito anos chegue rápido!
— Este dia não está longe — lembrei-lhe.
— É só por isso que ainda consigo me controlar, em vez de fazer
uma loucura com você — pigarreou para limpar a garganta e mudou de
assunto. — Você tem algo programado para fazer no sábado à tarde? Queria
pegá-la e dar um passeio.
Se tivesse, desmarcaria tudo agora mesmo!
— Não! Estou livre!
— Então, aguarda que envio mensagem marcando a hora. Mantenha
o celular carregado! — advertiu. — Agora preciso ir. Beijo.
— Beijo.
CAPÍTULO 2

Angélica
MAL SAÍ PELA portaria do prédio, vi o SUV preto parado em
frente à entrada e exultei de felicidade. Durante o tempo que ficamos
separados, senti uma falta terrível de ver Lorenzo me esperando ali fora.
Ele estava em pé, encostado no lado da minha porta e com os braços
cruzados no peito amplo. Eu o devorei com os olhos, achando-o tão lindo que
me perguntei pela milésima vez desde ontem à noite se havia agido certo em
deixá-lo ir à discoteca.
Quando cheguei perto, ele abriu os braços. Não hesitei em correr
para dentro deles e receber aquele beijo molhado pelo qual ansiava
desesperadamente.
Quanta saudade em tão pouco tempo!
Passei minhas mãos pelos ombros largos e envolvi meus dedos em
seu cabelo, puxando-o levemente, só para ter o prazer de ouvi-lo gemer em
minha boca.
— Ah, minha Angel! — grunhiu entre meus lábios, apertando-me
mais junto ao peito e levantando-me do chão para ficar ao nível do seu rosto.
— Não faça isso comigo aqui na rua! Não quero dar show em frente à sua
porta.
Não pude deixar de rir, lembrando-me da nossa vizinha da frente,
uma senhora idosa bisbilhoteira, que deveria estar atrás da cortina da sala nos
olhando naquele exato momento.
— Então, é melhor me soltar. Quando você me suspende assim, fico
com vontade de envolvê-lo com as pernas e não vou poder fazer isso agora.
Ele me apertou ainda mais.
— Você não tem mesmo pena de mim dizendo isto.
Desta vez, dei uma risada de pura felicidade e fiquei surpreendida
como o riso vinha fácil quando estava com ele.
— Foi você quem me ensinou a gostar de ficar assim! — provoquei,
mas fazendo cara de inocente. — Não tenho culpa se aprendi direitinho.
Ele me olhou entre surpreendido com a minha ousadia e encantado
com a minha sinceridade.
— Vou ensinar outras coisas. Só quero ver se também vai aprender
direitinho!
Oh-oh! Essa foi forte, coração! Aguenta firme, porque tenho de ser
uma boa aluna!
Senti meu rosto arder na mesma hora, mas não desviei o olhar.
Sustentei-o firmemente, enquanto via ali a sua fome por mim. Com aquele
olhar, Lorenzo me fazia sentir mulher. Uma mulher amada e desejada!
— Entra no carro e vamos sair daqui!
— Para onde vamos? — fiquei observando ele se sentar e ligar o
carro.
— Para um lugar onde você terá sua primeira aula — falou muito
sério, mas os olhos brilhavam com divertimento quando me fitaram.
Fiquei curiosa, mas me deixei levar, olhando distraída para as ruas
por onde passávamos e tentando descobrir para onde íamos. Inicialmente,
pensei que Lorenzo me levaria para a casa dele, mas depois eliminei esta
possibilidade porque o caminho era diferente.
Com o passar do tempo comecei a achar que Lorenzo estava
perdido, porque passou duas vezes pela mesma rua em vez de seguir em
frente.
— Tem certeza de que sabe para onde estamos indo? — perguntei,
olhando-o com curiosidade.
Ele estava concentrado na direção, com a expressão pensativa e uma
ruga de preocupação no meio da testa. Os olhos estavam presos no espelho
retrovisor.
— Sim, eu sei — falou distraidamente, estendendo a mão para mim.
— Fica quietinha só por um minuto, por favor.
Estranhei aquele pedido, mas seu tom de voz era idêntico ao que
usou comigo ontem em sua casa, quando me pediu para esperar no corredor e
não avançar até a cozinha. Ele estava naquele mesmo estado de alerta, por
isso calei na hora. Uma experiência desagradável com Vittorio foi o
suficiente para me fazer atender aos pedidos de Lorenzo.
Ele diminuiu a velocidade do carro até encostar o SUV no canto da
calçada. Deixou o motor ligado, olhando pelo espelho retrovisor.
Fui olhar para trás a fim de ver o que era, mas ele me segurou
rapidamente pelo braço, fazendo-me permanecer de frente.
— Não olhe! — pediu com firmeza.
Prendi a respiração com aquele tom de voz e aguardei. A única coisa
que vi foi um Mercedes preto passar por nós e seguir em frente, dobrando a
esquina e desaparecendo de vista. Não deu para ver quem dirigia, pois os
vidros eram ligeiramente escuros, mas percebi que Lorenzo acompanhou o
carro com atenção.
Ele pegou o celular e digitou algo, depois colocou o carro em
movimento e saímos pela rua em baixa velocidade. Olhei para ele e vi que
ainda estava com a expressão pensativa.
— Está tudo bem? — já não conseguia ficar calada. — O que
aconteceu?
— Você estava sozinha em casa? — ele perguntou, ignorando o que
eu disse.
— Sim. Minha mãe trabalha hoje até às cinco da tarde.
Seu rosto ficou ainda mais sério e pensei o que é que havia
acontecido para seu humor mudar tanto assim.
— Lorenzo, você está bem? Aconteceu alguma coisa? — perdi a
paciência. — Responda desta vez, por favor!
Ele segurou minha mão e beijou a palma.
— Está tudo bem, fique tranquila. Apenas não gostei de saber que
estava sozinha.
— Não sei o motivo desta preocupação toda se já tenho quase
dezoito anos. Não sou mais uma criancinha e posso muito bem ficar sozinha
em casa. — Achei engraçado seu cuidado exagerado comigo. — Você está
ganhando da minha mãe em matéria de superproteção.
Ele apertou minha mão antes de soltá-la.
— Nós dois a amamos muito e quem ama, cuida.
Eu adorava quando ele falava de amor comigo e fiquei sem palavras
por um momento, fazendo-o olhar para mim com intensidade. Apenas nos
encaramos e unimos novamente nossas mãos, sem precisar dizer mais nada.
Quando dei por mim, estávamos na praia. Não naquele lugar onde
brigamos e a polícia nos abordou, mas em outro muito mais calmo e
tranquilo, que gostei de imediato.
— Não conhecia este lugar!
Ele olhou para o mar à nossa frente e sorriu.
— Eu o descobri por acaso e me habituei a vir aqui quando quero
estar sozinho. — Manobrou o carro para que ficasse de frente para o mar,
olhando novamente pelos espelhos antes de desligar o motor.
— É lindo! — Não conseguia desviar o olhar do mar revolto e das
gaivotas voando ao longe. — Gosto muito de praia. Sempre morei perto do
mar no Brasil.
— Então vamos descer — ele disse, surpreendendo-me.
— Sério? — Achei que fosse brincadeira, mas quando o olhei, vi
que era sério mesmo. — Oh, pensei que fôssemos ficar no carro!
Ele soltou uma risada divertida e encostou-se de lado na porta do
carro, olhando-me maliciosamente.
— Acho que estou acostumando mal você, meu anjo. Já namoramos
tanto no carro que agora não pensa em outra coisa.
Senti meu rosto corar com a provocação, mas quando percebi já
estava rindo também.
— Se foi você quem me acostumou mal, então a culpa é sua e não
minha — defendi-me docemente. — Sou inocente!
Ele continuou rindo e me olhando com aquela expressão devoradora,
até estender a mão para mim.
— Vem cá!
Fui puxada para o seu colo, passando por cima do painel e indo para
onde queria estar, que era nos braços de Lorenzo.
Deixamos as brincadeiras de lado assim que nossas bocas se uniram
com sofreguidão, a saudade nos fazendo ansiosos em tocar um ao outro.
Nosso beijo se intensificou de uma maneira assustadoramente rápida. Quando
dei por mim, já estava enfiando a mão por dentro do casaco dele e levantando
as camadas de roupa para poder tocá-lo.
Só quando alcancei a pele quente do abdômen definido e subi até o
peito musculoso, foi que satisfiz parte do meu desejo por ele. Apertei com
força sua carne rija e deslizei minhas unhas ao longo do peitoral até chegar na
altura do umbigo, seguindo a linha de pelos que tinha ali.
Lorenzo gemeu de prazer com meu toque e aprofundou o beijo,
segurando meu rosto com as duas mãos e chupando minha língua com uma
ânsia incontrolável.
— Angel, faz isso de novo! — rosnou dentro da minha boca.
Repeti uma, duas vezes, até que, na terceira, fui mais abaixo e enfiei
a mão o máximo que consegui por dentro da calça dele. Mesmo não tendo ido
muito longe por ainda estar fechada, pude sentir sua rigidez na ponta dos
dedos.
Que merda estarmos no carro e não na casa dele!
Lorenzo reagiu de imediato, mordendo meu lábio inferior e enfiando
a língua com impetuosidade dentro da minha boca, fazendo-me ficar
molhada. Desejei ardentemente estar livre de todas as regras e impedimentos
que existiam em torno de nós dois, para poder me entregar totalmente a ele.
Tentei abrir o cinto para soltar o botão da calça, mas sua mão desceu
rápido e segurou a minha.
— Não! — falou duramente, afastando-me dele. — Não aqui.
Respirou fundo, com os olhos ainda nublados de prazer.
— Não podemos ir para sua casa? — sugeri timidamente.
Ele pareceu ainda mais chateado.
— Podíamos, mas também não quero arriscar que a vejam entrar e
sair de lá sozinha, sendo ainda uma menor de idade — explicou com
paciência.
Oh, aquilo de novo! Nunca tive tanta raiva por não ter dezoito anos!
— Não entendo, Lorenzo. Quem é que tem tanto interesse na nossa
vida, a ponto de se importar com isso? Tantas meninas mais novas do que eu
já transaram e ninguém faz nada.
Ele ficou muito sério e desviou a vista para o mar, permanecendo
assim por alguns instantes antes de me olhar novamente. Vi determinação em
seus olhos quando falou.
— Existem algumas pessoas que, se soubessem, poderiam tentar me
prejudicar. Ainda não tenho total certeza disso, mas também não quero
arriscar. Tem acontecido algumas coisas ultimamente que me fizeram ficar
desconfiado e mais cauteloso. — Passou a mão no meu cabelo e o empurrou
para trás do rosto, mantendo-o preso entre os dedos. — Você poderá entrar na
minha casa se outras pessoas estiverem presentes, mas, sozinha, só depois
dos dezoito.
Fiquei confusa com tudo aquilo, mas depois me lembrei da reação
dele com Vittorio e da sensação ruim que tive quando aquele homem me
olhou.
— Tem a ver com o Vittorio? — perguntei e ele confirmou.
— Sim, tem a ver com ele e com o meu tio — suspirou, parecendo
realmente cansado.
Fiquei preocupada ao ver em seu rosto toda a carga que ele
carregava sobre os ombros com relação àquela falta de confiança no próprio
tio. Isso sem falar da tensão que nós dois passamos nos últimos dias e da
força que ele demonstrou durante todo o tempo, cuidando de mim e
protegendo sempre.
Abracei-o pelo pescoço, dando um suave beijo em seus lábios e
acariciando o cabelo escuro da maneira que ele tanto gostava.
— Tudo bem, vamos superar isso. Lá na frente estaremos livres para
ficarmos juntos da forma que quisermos.
Saí dando beijinhos rápidos em todo o seu rosto. Lorenzo fechou os
olhos e encostou a cabeça na janela do carro, aproveitando meu carinho.
Colei minha testa à dele e ficamos assim por um tempinho, até ele
mudar de posição no banco, abrir a porta e apontar para fora.
— Desce, porque agora vamos para sua aula.
— Aula? — fiquei confusa.
— Sim, aula. — Jogou-me um sorriso enigmático. — Achava que a
aula seria aqui dentro?
— Mas... mas acabamos de decidir que esperaríamos até... — Parei
de falar quando ele começou a gargalhar. — Oh, não ria de mim, seu
engraçadinho!
Belisquei sua cintura e ele riu ainda mais.
— Eu não disse que você estava mal acostumada? — provocou todo
convencido. — Agora desça para aproveitarmos o tempo bom. Não está
muito frio hoje e quero ensinar algumas coisas para você.
Desci e esperei. Ele pegou uma grande toalha de praia no banco de
trás, olhou em torno de onde estávamos, e só então fechou o carro. Segurou
minha mão e fomos até as escadas de pedra que desciam para a areia da praia.
— Aviso logo que vai se sujar um pouco. Tudo bem com isso?
Eu estava cada vez mais curiosa com aquela aula que ia me sujar de
areia. Era difícil não deixar a imaginação correr solta!
— Sim, tudo bem.
Ficamos na parte onde a areia estava seca, longe da faixa molhada
pelas ondas. Ele estendeu o toalhão na areia e sentou-se na ponta, batendo
com a mão ao seu lado para que eu me sentasse também.
— Fica descalça e dá um jeito de prender o cabelo — falou sem me
olhar um minuto, ocupado em tirar os sapatos e as meias.
Fiz uma trança lateral no meu cabelo. Quando terminei, ele estendeu
a mão para mim.
— Vem cá, Angel.
Segurei sua mão e me levantei. Lorenzo me colocou de frente para
ele e pousou as mãos nos meus braços, olhando-me seriamente.
— Quem está agora à sua frente não é o seu namorado, ok? Por isso,
não espere que seja compreensivo — advertiu, deixando-me surpresa com
aquelas palavras. — Vou ensinar algumas maneiras básicas de você se
defender de um ataque de Emanuel, caso eu não esteja ao seu lado.
Oh, meu Deus! Lá vem a merda do Emanuel de novo! Será que
nunca mais vou deixar de escutar esse nome todos os dias?
— Sério isso? — Olhei-o, completamente chocada, mas vi que
falava a sério, pela expressão fechada e severa no rosto dele.
— Nem vou responder, Angélica. — A troca do Angel por Angélica
já mostrou que ele não estava para brincadeiras, muito menos para aguentar
inseguranças da minha parte.
Respirei fundo e depois joguei o ar para fora com dificuldade,
segurando em seus braços para conseguir me sustentar.
— Eu detesto violência, não suporto nenhum tipo de agressão, e
você quer me ensinar a lutar?
Ele confirmou com a cabeça, uma expressão irritada no rosto forte.
— Sim! E não quero apenas ensinar você a lutar, quero,
principalmente, que aprenda a se defender de animais como Emanuel. E
existem muitos deles por aí! Quero que deixe de ser uma vítima indefesa e
passe a ser a defensora de si mesma. Saber neutralizar um atacante vai dar a
autoconfiança que lhe falta diante de uma agressão ou violência.
— Lorenzo, qual é a chance que vou ter diante de um cara maior do
que eu, mais forte do que eu, obcecado por mim e doente mental? — Tentei
fazê-lo perceber a inutilidade daquilo tudo.
Ele apenas me olhou em silêncio, a expressão endurecendo mais
ainda quando ouviu minhas palavras. Percebi o momento exato em que sua
decisão ficou mais forte, pela mudança na expressão e no olhar dele. Sua
sobrancelha ergueu-se de forma irônica e analisou-me friamente de cima a
baixo, fazendo-me sentir desconfortável. Comecei a desconfiar que estava
diante de Loki e não de Lorenzo.
— Então vai permitir que ele viole você sem resistir? Vai dar fácil o
que ele quer? É isso o que pensa fazer quando ele a estuprar? Vai transformar
um estupro em sexo consentido? — falou duramente, deixando-me indignada
e furiosa com aquele comentário injusto.
Empurrei-o e me libertei dos seus braços, puta da vida com sua
provocação ofensiva.
— Seu idiota machista e arrogante! — Apontei o dedo na cara dele.
— Acha que nunca tentei me defender, que não fiz de tudo para o impedir de
me machucar? Acha que gostei daquela merda toda?
Fiquei cega de raiva e só conseguia me lembrar dos advogados de
Emanuel tentando me transformar em culpada, quando eu era a vítima de
suas atrocidades.
— Sei que não, Angélica! Mas também sei que deixou crescer aí
dentro da sua cabeça um medo enorme dele. Um medo que a paralisa quando
ele investe contra você. — Sua voz permaneceu dura e seca, não deixando
dúvida quanto à certeza que tinha daquilo tudo que dizia. — Você precisa
superar esse medo e ganhar autoconfiança. Quando for atacada de novo, se
hesitar um segundo que seja antes de se defender, poderá estar dando a
vitória para ele.
— Droga! — blasfemei com raiva, porque ele tinha razão quanto ao
medo insano que eu sentia de Emanuel.
Não era só a presença dele que me paralisava de terror. A simples
menção do seu nome já me enchia de medo.
— Então? Vai querer aprender a se defender ou ser uma vítima
fácil? — provocou novamente.
Fitei-o e vi seu olhar firme sobre mim.
— Quero aprender — respondi com raiva.
CAPÍTULO 3

Angélica
OLHEI PARA LORENZO sem esconder que estava chateada com
sua postura inflexível. Seus olhos brilharam com aprovação diante da minha
resposta, mas ele não sorriu nem amoleceu a expressão dura do rosto.
— Certo. Então, presta atenção no que vou dizer agora — alertou,
fazendo-me olhá-lo fixamente. — O que vou ensinar é uma defesa pessoal
básica, porque já testei a força e o peso de Emanuel e sei que você não é
páreo para ele. Na verdade, esta é a primeira regra que deve lembrar. Analise
o adversário e tente identificar seu peso, altura e força, porque não conseguirá
derrubar aqueles que forem superiores demais a você, a menos que tenha
muita técnica em artes marciais.
Concordei com um meneio de cabeça, permanecendo calada.
— Como você apenas vai se defender, deverá usar golpes rápidos
que lhe permitam se afastar e fugir, procurando ajuda. Não permaneça perto
dele, pois poderá se recuperar e prender você novamente. Só que, desta vez,
ele estará com mais raiva e será mais violento. Aprender a lutar pode dar uma
falsa sensação de segurança, fazendo a pessoa ter atitudes ousadas demais
quando deveria simplesmente fugir. Entendeu isso?
Virgem Santíssima!
— Sim, entendi — respondi com a voz engasgada na garganta, já
nervosa só de pensar em provocar ainda mais a raiva de Emanuel.
Lorenzo me olhou com atenção.
— Não tenha medo que ele fique mais violento, pois a vantagem
estará do seu lado. Emanuel não espera que você reaja e será pego de
surpresa, facilitando que o neutralize e fuja.
Desviei os olhos dele e respirei fundo, encontrando coragem para
falar.
— Sei que você tem razão em tudo o que diz. — Minha voz estava
embargada e tentei limpar a garganta antes de falar novamente. — Também
sei que o meu maior inimigo é esse medo que me paralisa, mas é difícil não o
sentir depois que Emanuel o plantou dentro de mim. Tenho crises de pânico
só de imaginar ficar perto dele de novo.
Lorenzo se aproximou e me arrebatou nos braços, suspendendo-me
pela cintura, e tomou meus lábios em um beijo apaixonado. Envolvi seu
corpo com as pernas, sentindo-o apoiar as mãos em minha bunda para me
sustentar junto a ele.
Era o que eu precisava para me sentir segura. Mergulhei as mãos em
seu cabelo, enquanto me deixava ser beijada, saboreando o seu gosto e
deleitando-me com a sua força.
Ele se afastou, o olhar firme prendendo o meu.
— Já disse antes e volto a repetir, que vou cuidar de você e mantê-la
em segurança. Vou estar sempre ao seu lado, mas também ficarei mais
tranquilo sabendo que, a partir de hoje, poderá se defender contra qualquer
ataque, seja dele ou de outra pessoa.
Voltou a me beijar e, só então, colocou de volta na areia.
— Diga-me de que maneira ele a ataca. — Sua voz voltou a ficar
incisiva, deixando de ser o namorado carinhoso para se transformar no
instrutor impessoal. — Pelo cabelo?
— Sim — confirmei. — Mas é pior pela garganta. Sufoca-me até
conseguir o que quer.
Ele não disse nada por alguns segundos, a boca contraída em uma
linha dura.
— Certo. — Apontou para minhas pernas. — Se precisar enfrentá-
lo, nunca fique com as pernas juntas como está agora. Procure afastá-las para
equilibrar o corpo, criar resistência e desferir melhor os golpes que vou
ensinar. Me dê suas mãos.
Estendi as duas e ele segurou meus polegares.
— É a partir daqui que você pode se livrar de uma tentativa de
sufocamento na garganta. Vou fazer um movimento suave nos seus polegares
apenas para que sinta o desconforto que pode causar no agressor se souber a
técnica correta. Como sou mais alto do que você, vou me sentar e você fica
ajoelhada à minha frente.
Fomos até a toalha e ficamos na posição que ele queria.
— Agora, quero que tente me sufocar da mesma forma que Emanuel
faz com você — disse, olhando-me firmemente nos olhos.
Abri a mão direita e coloquei ao redor da garganta dele.
— Se perceber, tem os quatro dedos de um lado e o polegar sozinho
do outro. Vou neutralizar seu ataque de forma lenta para que aprenda a
técnica. Não crie resistência na mão para não se machucar — avisou
seriamente. — Preste atenção e prepare-se.
Levou a mão até o meu polegar, segurando-o com firmeza e
dobrando-o para trás. O desconforto me fez ofegar e imediatamente tirei a
mão da sua garganta.
— Calma, não vou machucar você — tranquilizou-me com
segurança. — Agora, é só dobrar a mão do atacante para trás e torcê-la para
baixo, continuando a segurar seu polegar na mesma posição. Com a força das
duas mãos, você torcerá o pulso dele e garanto que isso dói pra caralho. Se
fizer direito, poderá até derrubá-lo. Logo depois, fuja!
Ele foi falando e fazendo o movimento.
— Não vou mais além do que isso com você. — Virou minha mão
com cuidado para a posição normal e depois deu um beijo em meu pulso. —
Você está bem?
— Sim, estou.
— Ótimo! Agora faça a mesma coisa comigo. Precisa saber a força
que usará para o derrubar.
Arregalei os olhos.
— E não vou machucar você se for até o fim?
— Não se preocupe com isso. Sei cair sem me machucar. — Sorriu,
piscando um olho para mim. — Vamos fazer nesta posição e depois em pé.
Sou mais alto do que ele cerca de quinze centímetros, mas acho que dará
certo.
Estendeu a mão direita e parou na altura da minha garganta.
— Vou colocar a mão na sua garganta e você vai usar a mesma
técnica comigo.
Engoli em seco e mordi o lábio, nervosa.
Ele não é o Emanuel, não vai me sufocar!
— Posso? — pediu minha confirmação, a voz calma me passando
segurança.
— Sim, pode.
Senti a mão grande envolver minha garganta e procurei controlar o
pânico que me sobreveio. Passei quase dois anos sem usar nada no pescoço
por causa do trauma de me sentir sufocada.
Quando os dedos de Lorenzo se acomodaram na minha pele, fechei
os olhos e engoli em seco, lutando para afastar o pânico. Tentei respirar, mas
faltou oxigênio e, instintivamente, agarrei seu braço com força, afundando as
unhas em sua pele e tentando fazê-lo afastar a mão.
Preciso respirar!
— Tem calma, meu anjo. Relaxa e pensa no que acabei de ensinar.
— Sua voz invadiu meus sentidos e senti seus dedos suavizarem o toque. —
Assim como está fazendo não conseguirá se libertar. Só vai fazê-lo apertar
ainda mais até que fique sem ar e desmaie. Abre os olhos, Angel.
— Por favor, tira a mão! — implorei, sufocada, apertando mais seu
braço.
— Eu não sou o Emanuel e não vou lhe fazer mal — insistiu com
carinho. — Abre os olhos e me vê. Sou o Lorenzo e não ele.
Senti um beijo na testa, outro no nariz e, por fim, um último na boca.
— Sou o Lorenzo e te amo — sussurrou em meus lábios. — Abre os
olhos e me vê.
Abri e lá estava o seu rosto sério, com os olhos fixos em mim.
— Você precisa se libertar. Não deixe que o medo a paralise. Pensa
no que ensinei antes e tenta neutralizar meu ataque.
Respirei fundo e confirmei com a cabeça.
— Agora, solta meu braço e faz a coisa certa — orientou novamente.
— Fica olhando para mim e pensa qual é a primeira coisa que deve fazer.
Lembrei-me do polegar, porém, para chegar lá, eu tinha de soltar seu
braço antes. Forcei-me a fazê-lo e ouvi seu suspiro de alívio. Levei minha
mão esquerda até a dele e segurei seu polegar como o tinha visto fazer,
torcendo-o para trás.
— Isso mesmo! Agora, use a outra mão também — instruiu.
Fiz tudo o que ele havia feito e, quando consegui afastá-lo, respirei
de puro alívio. Então, soltei sua mão e o abracei pelo pescoço, afundando
meu rosto nele e caindo sentada em seu colo. Lorenzo me recebeu
prontamente, beijando meu rosto e acariciando minhas costas.
— Muito bem. Você conseguiu.
Não sei como, mas consegui!
— Desculpa por ter bloqueado — murmurei, envergonhada.
— Shh... não diga nada. Você foi muito bem e isso é o que importa.
Beijou-me novamente, deixando que ficasse ali mais alguns
segundos antes de se afastar e me olhar com seriedade.
— Precisamos continuar com o treino até que você domine pelo
menos esta técnica, pois ainda existem outras que quero ensinar. — Pegou
minha trança e acariciou toda sua extensão, para depois pousá-la sobre o meu
peito. — Teremos de vir aqui outros dias.
Concordei e beijei seu rosto. De todas as formas possíveis e
imagináveis, Lorenzo estava me ajudando a me libertar dos meus traumas do
passado.
— Tudo bem, quero aprender. — Afastei-me, decidida a continuar.
— Vamos repetir tudo, por favor!
Ele sorriu, satisfeito, e vi o orgulho brilhando em seus olhos. Aquilo
me fez querer superar todos os meus medos, para ser livre e feliz com ele.
Nas vezes seguintes, ainda bloqueei na técnica. Contudo, da quarta
vez em diante, já conseguia fazer melhor. Mesmo Lorenzo sendo mais alto e
pesado do que Emanuel, percebi que se fizesse tudo correto, com segurança e
rapidez, poderia neutralizá-lo momentaneamente e fugir.
— Você está indo muito bem. Quando adquirir mais confiança,
ensinarei como pode dar um golpe com o joelho na virilha ou no plexo solar.
— Apontou para um ponto abaixo do meu peito. — Encaixar um golpe aqui
interrompe a respiração do adversário e o deixa neutralizado.
Pegou minhas mãos e colocou-as ao redor do próprio pescoço.
— Tente me estrangular com ambas as mãos. Vou demonstrar como
deve aplicar estes golpes depois que se livrar de uma tentativa de
sufocamento.
Fiz o que mandou e fiquei impressionada com a eficácia dos
movimentos que ele fez. Um golpe seco com o joelho no meio das pernas e já
imaginei acertar Emanuel exatamente naquele lugar. Depois, outro golpe com
o joelho no plexo solar. A cada golpe que o via demonstrar, mas motivada
ficava para aprender.
— Pode também segurar a mão de ataque dele e o atingir com o
cotovelo no maxilar, girando o corpo rapidamente. Ou empurrar seu queixo
para trás, deixando a garganta desprotegida para um outro golpe aqui. —
Apontou para um ponto na própria garganta, na altura do pomo-de-adão.
Saber que podia fazer tudo aquilo com treino e prática me deixou
mais autoconfiante. Lorenzo tinha razão quando disse que aprender a me
defender faria com que me sentisse assim.
— Lorenzo, estou realmente conseguindo algo ou você está
facilitando demais para mim? — perguntei depois de algum tempo de treino.
— Você está indo tão bem que eu talvez precise de um beijo no
pulso. Só que ninguém me deu nenhum até agora. — Puxou-me para os
braços e plantou um beijo estalado na minha boca, fazendo-me rir. — Meu
treinador teria um ataque se soubesse o que estou fazendo agora. Corro o
risco de ficar fora do próximo jogo se deixar você me derrubar de verdade e
torcer meu pulso.
Paralisei na hora, totalmente esquecida de que ele precisava das
mãos para jogar.
— Por que você não me lembrou disso antes? Eu poderia tê-lo
machucado de verdade com a minha falta de jeito. — Dei um soquinho no
seu bíceps, como punição pela falta de cuidado consigo mesmo. — Seu
treinador ia querer me matar se soubesse, isso sim!
— Até parece que eu ia deixar! — disse, segurando minha trança e
desfazendo-a com cuidado. — Terminou o treino por hoje. Pode soltar o
cabelo para o meu deleite.
Passou os dedos entre os fios para que se soltassem. Aproveitei para
pegar sua mão direita e dar vários beijos no pulso.
— Pronto! Já está curado.
Ele segurou minha cintura e me suspendeu acima da cabeça, fazendo
com que meu cabelo caísse em volta de nós dois. Beijei-o na boca,
envolvendo-o com minhas pernas.
— É melhor segurar com força, porque agora vou jogá-la ao mar! —
preveniu em tom divertido, correndo pela areia da praia em direção à água.
— Oh, não, Lorenzo! — gritei, agarrando-o com força pelo pescoço.
— Ai, não faça isso! Não sei nadar e morrerei de frio nessa água gelada.
Tentei descer as pernas e me soltar, mas ele estava se divertindo
muito com o meu desespero e me prendeu firmemente pela bunda, ignorando
totalmente meus gritos e apelos.
— Vou matar você se me jogar ao mar! — ameacei, mas não pude
deixar de rir junto com ele e voltei a envolver fortemente sua cintura com
minhas pernas. — Não vou soltá-lo e vai cair comigo lá dentro! Por isso, é
melhor desistir!
Ele continuou correndo e a única resposta que ouvi foi uma
gargalhada ainda mais alta. Ouvi o som dos seus pés na água e a brisa mais
fria do mar me atingindo em cheio.
— Seu... seu grande bobo convencido! Vai pagar por isso! — Olhei
para trás e vi o mar bem pertinho. — Oh! Para, Lorenzo! Vou passar uma
semana inteira sem beijar você!
Ele parou bruscamente e o choque me fez agarrá-lo com mais força.
Juntei os pés em suas costas e fechei os olhos, esperando o momento em que
ele tentaria me jogar na água. Eu me senti como um polvo agarrado numa
rocha!
Senti sua respiração ofegante da corrida, porém, depois de alguns
segundos sem nada acontecer, Lorenzo começou a andar ao longo da praia,
os pés batendo na água.
Agarrada nele, arrisquei abrir os olhos. Apesar do vento jogar meu
cabelo sobre o rosto, vi as ondinhas suaves na areia. Fiquei observando os pés
de Lorenzo, as pernas, a bunda forte e os dorsais definidos, até que, enfim,
criei coragem para virar o rosto em seu ombro e olhar o rosto de traços fortes
perto do meu.
Estava relaxado, mas não ria, tendo os olhos fixos à frente.
— Mudou de ideia? Não vai me jogar na água feito uma rede de
pesca? — brinquei, vendo como apertou os lábios para não rir da minha
comparação.
— Não vou jogar. Quero primeiro negociar com você. — Olhou
para mim e o brilho deles fez um calor gostoso subir pelo meu corpo.
— Vai negociar ou chantagear? — provoquei, segurando o riso.
— Tudo vai depender da sua resposta.
— Oh, bem que eu desconfiava que não seria bonzinho comigo!
Cuidado que também posso ser muito má! — Dei uma mordida em seu
pescoço e ele falhou uma passada, antes de recomeçar a andar.
— Não provoque, Angel. Se fizer isso de novo, vou dobrar a
negociação — ameaçou.
Repeti o gesto e ainda aproveitei para dar uma lambida onde mordi.
Ele me soltou rápido e pegou de volta, fazendo-me dar um gritinho
de susto e agarrá-lo com força. Senti seu peito tremer com a risada que deu.
— Eu avisei!
— Então negocie logo, porque estamos nos afastando muito da
toalha. — Olhei para trás e vi o tecido azul ao longe. — Você vai cansar de
me carregar ao colo e vou ter que andar muito para voltarmos. Sou
preguiçosa!
Rimos em uma cumplicidade única.
— Já percebi que é muito preguiçosa! — Ele entrou na brincadeira.
— Além disso, é também muito gorda e pesada. Começo realmente a ficar
cansado.
Controlei a risada, aguardando sua negociação.
— Estou esperando — avisei.
Ele me lançou um olhar rápido.
— Não quero apenas uma semana inteira de beijos. Quero beijar
você todos os dias, vê-la todos os dias, amar todos os dias. É pegar ou largar!
Eu pego!
— Não tem um meio-termo? Tem de ser oito ou oitenta? — fingi
desinteresse. — É que não sei se estou muito interessada nessa proposta.
Ele mudou de posição e começou a andar para dentro do mar,
tirando as mãos da minha bunda e soltando minhas pernas da cintura.
— Oh, não! — exclamei quando meus pés tocaram a água gelada.
— Ai, Lorenzo, que frio!
Não soltei os braços do seu pescoço e tentei subir nele outra vez,
mas Lorenzo me impediu.
— Como é que você aguenta esse gelo? — choraminguei, colocando
meus pés em cima dos dele.
— Você escolheu — falou sério, mas me suspendeu de volta. —
Melhor assim?
— Hum-hum — respondi, vendo-o sair da água e caminhar para a
toalha.
Deitei a cabeça no seu ombro, olhando aquele perfil bastante
másculo para a idade que tinha, com o nariz aquilino, o maxilar forte, o
cabelo revolto pelo vento.
Como eu o amava!
— Lorenzo, eu te amo! — sussurrei baixinho, mas ele virou o rosto
para mim de imediato, prendendo meus olhos com os dele.
— Eu também te amo, Angel — respondeu simplesmente, pousando
um beijo leve em meus lábios e continuando a andar em silêncio.
Quando chegamos, colocou-me deitada sobre a toalha e deitou-se em
cima de mim, encaixando o quadril entre minhas pernas. Então, beijou-me
profundamente por um bom tempo. Exultei de felicidade ao sentir seu corpo
grande e forte sobre o meu na quietude da praia, ouvindo apenas o som das
ondas batendo na areia e o grito estridente de alguma gaivota ao longe.
A sensação era tão boa que, por mim, nunca mais acabaria. Percebi
que podia ficar assim com ele para sempre, de tão bem que me fazia. Ele me
completava, preenchendo cada canto, cada lugar vazio, cada pequeno espaço
dentro mim. Lorenzo enchia minha vida de luz com sua simples presença ao
meu lado.
Ele ergueu a cabeça e me prendeu com um olhar profundo, que
correspondi da mesma forma, as palavras sendo desnecessárias entre nós,
pois sabíamos o que o outro pensava e sentia.
Deitou-se ao meu lado e me puxou para o seu peito. Ficamos
quietinhos, apenas saboreando o fato de estarmos juntos e nos amarmos.
— Como aprendeu a lutar assim?
Sua mão envolveu meu cabelo e começou a acariciá-lo enquanto
olhava para o céu.
— Paolo me ensinou quando comecei a chegar do colégio com
alguns hematomas. Disse que se eu queria lutar, tinha de aprender a lutar. —
Um sorriso triste curvou sua boca. — Ele é especialista em artes marciais, um
dos melhores seguranças do meu pai, e me fez aprender algumas técnicas de
jiu-jítsu que me ajudaram muito.
Fiquei curiosa em saber mais, porque Lorenzo raramente falava da
família, do colégio ou da vida que teve na Itália. Quando contava algo, era
sempre pela metade, e eu sentia que havia muita coisa por trás do pouco que
dizia.
— Acha que Amanda já está em casa? Não quero deixar você lá
sozinha — desconversou, partindo para outro assunto.
Suspirei, conformada em deixá-lo com seus segredos.
Por enquanto!
— Pelo tempo que passamos aqui, acho que ela provavelmente já
chegou. — Aconcheguei-me melhor nele. — Eu avisei que estaríamos juntos,
mas ela vai se preocupar de qualquer maneira quando não me ver em casa.
Vai pensar que você me deixou na porta e fui sequestrada. — Comecei a rir
da situação improvável. — Ela já deve ter ligado inúmeras vezes para nós
dois.
Ele me apertou mais forte, depois se ergueu sobre mim. Olhou-me
com uma expressão tão séria que parei de rir e o encarei, curiosa.
— Ela tem razão. Amanda está totalmente certa em ficar preocupada
com você e cuidar da sua segurança.
— Sei disso e não acho mal, mas esta cidade é tão segura —
expliquei tranquilamente, porque não via motivo para tanto estresse com
aquilo. — Se estivéssemos no Brasil, eu ficava calada, mas aqui em Portugal
quase não há violência quanto mais sequestros.
Ele permaneceu sério, a mesma expressão carregada no rosto.
Oh, tinha me esquecido de que ele era igual à minha mãe, ou pior,
no quesito segurança!
— Ainda assim é preciso ter cuidado e concordo com tudo que ela
faz. — Passou a mão no meu rosto e me deu um beijo molhado na boca, mas
quando o puxei para beijá-lo melhor, afastou-se. — É melhor irmos. Ainda
vou para casa tomar banho e me arrumar para o jantar com vocês.
Suspirei, conformada com a situação. Pelo menos à noite ainda
estaríamos juntos em minha casa.
Quando chegamos ao carro e pegamos nossos celulares, lá estavam
as ligações da minha mãe para os dois. Fui retornar, mas ele impediu.
— Eu ligo.
Fez a ligação e tranquilizou minha mãe, enquanto manobrava o carro
para fora da praia.
— Qual a idade de Amanda?
— Minha mãe? — ri, divertida. — Quantos anos você acha que ela
tem?
Ele ficou pensativo por um momento, antes de decidir.
— Eu diria que tem por volta dos trinta, mas como você vai fazer
dezoito, não arrisco tanto. Vou ficar pelos trinta e cinco anos.
— Sabia que muita gente acha que ela é minha irmã mais velha? —
falei, muito orgulhosa da minha mãe. — Você acertou, porque ela vai fazer
trinta e cinco. Engravidou cedo, acho que tinha a minha idade.
— Sua idade?
Ele soltou um assobio de admiração.
— Isso mesmo — confirmei. — Ela é a mãe mais maravilhosa do
mundo!
— Não tenho dúvida alguma disso.
Seguimos em silêncio durante um tempo, até que me lembrei do
jantar em casa.
— Não vá se atrasar hoje! Ela não gosta — avisei, mas quando ele
não respondeu de imediato, olhei-o e vi que estava concentrado no trânsito.
— Ouviu o que eu disse, Lorenzo?
Ele desviou os olhos do espelho retrovisor e os fixou em mim.
— Ouvi. Diga apenas qual a hora que devo chegar para Amanda
ficar feliz.
— Se chegar às sete, você me deixa feliz. Se chegar às sete e meia,
você a deixará feliz — disse simplesmente, vendo-o rir com a minha
sugestão.
— Aguarde-me às sete.
***

Lorenzo
Olhei novamente para o espelho retrovisor no percurso de volta para
casa. Eu tinha certeza de que estava sendo seguido!
Passei alguns dias com aquela impressão e, depois de pensar muito,
percebi que começou durante esta semana. Antes, não havia este sentimento
tão forte dentro de mim de estar sendo observado. Contudo, hoje tive a
certeza disso!
Só não sabia ainda quem era, apesar de desconfiar de Vittorio, desde
que fiquei sabendo da sua presença em Portugal.
A minha maior preocupação era com Angélica, pois, fosse quem
fosse, já sabia de sua presença na minha vida. Se aquele Mercedes fosse
mesmo o carro que me seguia, eu o conduzi até a casa dela.
Caralho!
Agora, eu tinha plena consciência de que Angélica se transformava
no meu ponto fraco para qualquer pessoa que quisesse me atingir, e aquilo
era mesmo uma grande merda!!
CAPÍTULO 4

Lorenzo
TOQUEI A CAMPAINHA do apartamento e aguardei. Quem abriu
a porta foi Angélica, usando um vestidinho curto verde-escuro, de linhas retas
e corte clássico, sem nenhum tipo de adorno, mas que nela ganhava um
charme todo especial que roubou completamente o meu fôlego.
Por um momento, fiquei parado como um completo idiota, só
olhando para ela, totalmente seduzido pelas pernas longas cobertas por uma
meia fina e botins também pretos.
Puta que pariu! Minha garota é mesmo linda!
O rosto estava deslumbrante, com os belos olhos azuis se
sobressaindo em uma maquiagem leve, mas marcante. Lembrei-me das fotos
que vi no perfil dela, que pareciam ser de um book de agência para modelos.
Nunca mais me lembrei de perguntar sobre aquelas fotos!
Acorda, Lorenzo!!
— Oi — falei bobamente, ainda olhando-a, espantado — Porra!
Você está linda!
Angélica riu com prazer evidente.
— Isso é bom de ouvir. — Deu uma voltinha na minha frente, o
cabelo longo dançando à sua volta, até parar novamente de frente para mim.
— Nosso primeiro jantar juntos merece um look especial, ainda que
estejamos em casa com minha mãe.
Envolveu meu pescoço com os braços e colou o corpo em mim,
vindo direto para o meu beijo. Abracei-a e me perdi em sua boca, sentindo
quase que de imediato o aroma do perfume que eu amava invadindo meus
pulmões.
— Adoro esse perfume, meu anjo — grunhi em sua boca,
mergulhando a mão em seu cabelo para sentir a textura macia que tanto me
seduzia.
Saí cheirando-a, ouvindo seu suspiro de prazer e risinho feliz.
— É da Cacharel. Você gosta?
— Sim, muito. — Trouxe-a para mais perto e aspirei novamente,
sentindo-a se arrepiar toda. — É Anaïs Anaïs.
— Esse mesmo. — Olhou-me, curiosa. — Conhece?
— Quis presentear minha mãe no seu aniversário com o perfume
que mais gostava. Fui na loja comprar o dela, mas resolvi experimentar
outros e adorei este. Acabei por comprar os dois.
Desci a mão pelo seu quadril até chegar à barra do vestidinho
delicioso que ela usava, alisando a coxa coberta pela meia e subindo até
alcançar a bunda arredondada.
Caralho! Ela estava vestida para me matar de tesão!
— Você se preparou para arrasar meu coração hoje!
— E consegui? — sussurrou no meu ouvido.
— Completamente — suspendi-a ligeiramente e me encostei nela
para mostrar o quanto já estava ficando excitado. — Por isso, é melhor se
manter afastada antes que Amanda chegue por aqui e me veja assim.
À simples menção da mãe, ela se afastou com um gritinho de susto,
fazendo-me rir.
— Oh! É melhor irmos esperar por ela na sala! O jantar sairá
pontualmente às oito.
Só quando ela falou no jantar foi que lembrei do vinho que tinha
pousado na porta.
— Espera!
Abri a porta e peguei a caixa personalizada no chão, na qual estavam
os dois vinhos da vinícola da família que havia trazido para Amanda.
— Entregue à Amanda. Como não sabia o que ela preparou para o
jantar, trouxe um tinto e um branco.
Angélica olhou a caixa com interesse, um sorriso aprovador nos
lábios rosados.
— Ela vai adorar! — Piscou um olho maliciosamente. — Você
acaba de conquistá-la com isso!
Puxei-a pela cintura.
— E já conquistei você?
— Há muito tempo! — Ficou na pontinha dos pés e beijou meu
queixo, antes de se afastar. — Vem comigo.
Levou-me para a mesma sala onde conversei com Amanda dias
atrás, apontando para o sofá em frente à lareira.
— Aguarda só um pouquinho enquanto levo o vinho para a cozinha.
— Indicou meu casaco. — Pode tirar e pousar naquela poltrona perto da
lareira. Volto já.
Tirei o casaco, colocando-o no braço da poltrona, até que vi várias
fotos no console da lareira. Lá estavam todos os primos do Rio, o pai de
Angélica com ela nos braços ainda pequenina, Amanda com a filha em
alguma festinha da escola, além de fotos individuais das duas. Realmente,
nem pareciam mãe e filha, o que me fez lembrar de Angélica dizendo que a
mãe engravidou aos dezessete anos.
Tentei imaginar Angélica grávida com a idade que estava agora e,
apesar de saber que ainda era muito jovem para isso, a ideia me agradou mais
do que esperava.
Amanda provavelmente me mataria se soubesse disso e não
consegui deixar de rir com a cena.
— O que é tão engraçado aí?
A voz dela invadiu a sala e dei com Amanda se aproximando com
toda sua elegância e amabilidade.
— Boa noite, Lorenzo. Deixe-me agradecer pelos vinhos. — Sorriu,
visivelmente encantada com meu gesto.
— Boa noite. — Segurei o riso, retribuindo os dois beijos que deu
no meu rosto. — Foi um prazer trazê-los para você. Fazem parte dos vinhos
da família e quis que provassem. Não sei se peço desculpas por ter trazido um
vinho da Itália em vez de um do Porto.
Ela soltou uma risada divertida diante da minha provocação,
percebendo minha intenção de valorizar o que era da minha terra.
— Vou adorar prová-los. E fez muito bem em trazer os da sua terra.
— Olhou para as fotos no console da lareira. — Agora, diga-me o que viu de
tão engraçado aqui que estava rindo sozinho.
Apontei para a foto de Angélica quando criança.
— Nunca tinha visto Angélica quando menina e achei engraçada
esta foto na escola.
Jamais diria que imaginava Angélica grávida na mesma idade que
ela!
Amanda olhou a foto e pegou-a nas mãos.
— Ela tinha cinco ou seis anos aqui, já nem me lembro direito. —
Sua voz tinha um toque de nostalgia. — Angélica foi uma criança linda.
— Ela ainda é linda! — falei sem pensar, fazendo-a rir.
— Sim, ela tem um rosto lindo e já chegou a fotografar como
modelo algumas vezes, mas desistiu e não quis mais.
— Por quê? — fiquei curioso, porque sabia que esse era o sonho de
muitas meninas.
Amanda apenas sorriu de forma enigmática, devolvendo a foto para
o seu lugar.
— Pergunte a ela. Vou deixar que a própria Angélica responda isso.
Vou perguntar. Ah, se vou!
— Angélica também teve a quem puxar — disse naturalmente,
porque ela era realmente uma mulher muito bonita. — Olho para você e vejo
Angélica daqui a alguns bons anos.
Ela abriu um sorriso tranquilo e olhou para mim com verdadeiro
carinho.
— Você é um doce de rapaz e fico muito feliz que esteja namorando
com a minha filha. Ela não poderia ter escolhido melhor e tenho certeza de
que sua mãe tinha muito orgulho de você.
Porra! Aquilo foi forte!
— Obrigado, Amanda! — Limpei a garganta antes de continuar. —
Você tem razão, minha mãe tinha muito orgulho de mim. Ela era linda e uma
mulher tão forte quanto você.
Seus olhos brilharam, compreensivos.
— Acredito que era, para ter um filho tão educado e bom rapaz
como você. — Pegou novamente a mesma foto dela com Angélica. —
Engravidei muito novinha. O pai dela foi meu primeiro e único namorado
desde os quatorze anos, quando nos conhecemos no colégio. Fiquei grávida
assim que fiz dezessete anos e casei oficialmente aos dezoito.
Então, a idade que Angélica disse que a mãe engravidou estava
correta.
— Espero que o mesmo não aconteça com a minha filha — falou
sem olhar para mim, mas percebi a indireta muito direta dela.
Porra! Ela deve ter a capacidade de ler a mente dos outros!
Procurei ficar impassível e não demonstrar que havia pensado
exatamente naquilo.
— Estar grávida, terminar o colégio e fazer meu curso de Medicina
foi uma luta, por isso sei o que estou dizendo. — Ela continuou
tranquilamente. — Tive sorte, porque recebi muita ajuda dos meus pais e
irmãs. Angélica também foi uma bebê muito sociável e não estranhava
ninguém. Ficava feliz com qualquer um deles.
Colocou a foto no mesmo lugar e depois apontou para outra, onde
Angélica estava com o pai.
— O único problema era o trabalho de Ricardo, que já era oficial do
exército na época. Quando ele foi transferido para o Recife, desestruturou
tudo, pois ficamos sem o apoio da família por perto.
— Angélica se adaptou bem lá?
Ela riu de imediato, dando um tapinha no meu ombro.
— Com o tempo você vai ver que ela se adapta bem a qualquer
mudança. No início, ela sentiu muita falta da família, principalmente das
primas no Rio. Cass e Pan tinham a sua idade e a separação doeu, mas nossa
Angélica é mais forte do que pensamos.
Olhei para o console e vi uma foto com a família reunida, parecendo
todos verdadeiramente felizes uns com os outros. Nada de disputas, intrigas e
lutas de poder, como acontecia na minha família.
— Venha, Lorenzo! Vamos falar de coisas sérias, enquanto Angélica
dá os retoques finais na sobremesa que preparou para nós.
Nós nos sentamos nos mesmos lugares da nossa última conversa ali.
— Angélica me contou tudo o que passou nas mãos de Emanuel. —
Sua expressão ficou séria e o rosto bonito entristeceu ao tratar do assunto que
nos incomodava. — Gostaria de agradecer por você ter conseguido fazer com
que ela falasse sobre isso. Tentei durante anos, sem sucesso algum, e agora
sei o porquê de ela ter escondido tudo. Só que este medo que ela tinha de o
pai saber e a tirar de mim acabou fazendo-a sofrer muito. Não me conformo
com isso!
Seu desabafo me tocou profundamente, porque tive uma mãe que
lutou para me proteger do meu pai e eu sabia que Amanda era este mesmo
tipo de mãe. Aquela que faria tudo pela felicidade da filha.
— Não se culpe por nada do que aconteceu. A meu ver, o único
culpado de tudo é Emanuel. Vocês duas foram vítimas e cada uma tentou
proteger a outra o melhor que pôde.
Ela me olhou, surpreendida. Talvez não esperasse um comentário
desse vindo de mim ou nunca tivesse visto a situação como eu via.
— Você tem razão. Me sentir culpada não vai resolver a situação. —
Encarou-me diretamente. — Agora, antes que Angélica entre aqui, gostaria
que me dissesse sinceramente o que pensa fazer sobre isso!
Explicar aquilo sem parecer um vingador assassino ia ser muito
difícil.
— Pretendo fazer Emanuel parar antes que pense em machucar
Angélica novamente. Não tenho dúvida alguma de que ele vai atrás dela
assim que puder. Só peço que não me pergunte como farei isso!
Ela balançou a cabeça em negativa, discordando de mim.
— Mas é justamente como fará que me interessa saber. — Sua voz
estava decidida e vi ali uma mulher de pulso firme. — Ontem mesmo falei
com Eduardo, pai de Emanuel. Não foi uma conversa fácil, mas consegui
fazê-lo perceber que estarei entrando com um processo contra o filho dele.
Anos atrás, não houve testemunhas, mas agora temos Cassandra, que além do
mais também foi vítima. Eduardo se assustou seriamente com o processo
iminente, que vai atrapalhar sua campanha de reeleição na Câmara. Desta
vez, acredito que ele tomará providências para deter o filho.
Fiquei calado, absorvendo toda aquela informação. Se Amanda
realmente fizesse isso, Emanuel seria punido como merecia há muito tempo.
No entanto, minha grande dúvida era se isso seria suficiente para o manter
longe de Angélica e fazer com que desistisse de assediá-la, uma vez que a
veria com frequência no colégio.
O outro problema, é que um lado meu não aceitava de forma alguma
deixá-lo sem uma boa surra depois de ter prendido, amordaçado, filmado e
intimidado Angélica durante tanto tempo.
Aquele maldito beijo também não podia ficar sem resposta!
Não o punir como que eu queria ia me matar por dentro.
— Preciso saber o que pretende fazer, Lorenzo.
Encarei-a, deixando vir à tona a raiva que explodia dentro de mim
toda vez que me lembrava do que ele fez.
— Dá-lhe uma boa surra e fazê-lo sentir na pele toda a dor que
causou a ela!
Essa era minha resposta crua e direta, gostasse ela ou não.
— É o que eu imaginava! — Respirou fundo, olhando para as fotos
da família sobre a lareira. — Isso seria exatamente o que o pai dela faria se
soubesse de tudo, assim como os primos. Até eu mesma, se pudesse.
Deixou a informação fazer efeito e depois olhou para mim com um
olhar compreensivo, antes de continuar calmamente.
— Só que existem outras formas de resolver isso, sem que seja
apenas através da violência, porque agindo assim estaríamos nos igualando a
Emanuel em crueldade. Concordo em parte com seus métodos, mas temos de
pensar que talvez existam outras formas menos radicais para tratar do
assunto. Emanuel precisa de tratamento psiquiátrico há muito tempo e já
deveria estar sendo acompanhado por um especialista. Eu avisei ao Eduardo
sobre isso em 2012, mas, pelo visto, ele não fez nada ou preferiu ignorar o
fato.
Falar de tratamento psiquiátrico era me jogar de frente com minha
própria história de vida, e não gostei nada daquilo.
Aquele era um assunto comum demais para mim e me incomodava
ter de revivê-lo. Também não queria ver Emanuel sob esse prisma
psiquiátrico, porque, mesmo tendo passado por algo igual, eu não queria que
parte da minha raiva se desvanecesse por causa disso.
A percepção daquilo tudo me irritou e deixou frustrado.
— Não me peça para desistir, porque não vou!
Ela colocou as mãos espalmadas nas pernas e se inclinou na minha
direção, baixando a voz.
— Você tem noção de que pode se prejudicar seriamente no colégio,
caso faça algo lá dentro? Já pensou que corre o risco de ser expulso e perder
o ano letivo inteiro, atrasando mais ainda sua formação acadêmica? — Ela
tocou na ferida que eu tentava ignorar que existia.
Levantei-me do sofá e comecei a andar pela sala. Já não conseguia
permanecer parado no mesmo lugar, quando uma agitação incontrolável
começava a tomar conta do meu corpo.
Ela se ergueu também, olhando-me com compreensão e me fazendo
sentir como se estivesse conversando com a minha mãe.
— Você tem dezenove anos e vai terminar o secundário com vinte.
— Seu tom de voz era suave e baixo para que Angélica não ouvisse nada. —
Com esta idade, já deveria estar no ensino superior. Se perder mais um ano,
estará cada vez mais longe da universidade e perderá bastante a nível de
experiência profissional. Isso sem falar que, se sofrer algum processo por
agressão física, ficará com a “ficha suja” e terá dificuldades de ser contratado
por uma grande empresa.
Puta que pariu! Esta é a merda da minha vida!
Ela estava certa em tudo o que dizia, afinal, quase fodi minha vida
uma vez por conta de um processo de agressão física. Eu consegui escapar da
punição por um triz, mas sabia que poderia não ter a mesma sorte outra vez.
Era arriscar demais e meu pai não me daria uma segunda chance, muito
menos o conselho diretivo da Costi Corporation.
Lembrei-me da minha mãe dizendo que eu era capaz de assumir a
minha herança e provar a todos quem eu era. Quantas vezes ela me disse para
jamais desistir de lutar. E prometi a mim mesmo que não deixaria nada me
desviar do objetivo de entrar na universidade.
Contudo, também não podia deixar aquele canalha do Emanuel sem
punição, droga!
Mãe, vou ter cuidado! Juro que terei cuidado.
Olhei para o rosto preocupado de Amanda.
— Terei cuidado e agirei fora do colégio. Não vou me prejudicar.
Ela fez um gesto impaciente com as mãos, mostrando que não
acreditava que aquilo evitaria alguma coisa.
— Mesmo que seja fora do colégio, você ainda poderá sofrer um
processo e ficar marcado. A única coisa que conseguirá evitar é ser expulso
de lá, mas não escapará de ser acusado de agressão física, levando para sua
vida adulta um processo nas costas.
Merda! Não queria ter de escutar aquilo tudo e ser forçado a admitir
que ela tinha razão.
Voltei a me sentar, passando a mão pelo rosto para clarear a mente e
pensar. Ela se sentou ao lado meu lado, colocando a mão no meu ombro.
— Você nem imagina quantas vezes precisei convencer Roberto a
não fazer o mesmo que você quer fazer agora. Sei exatamente o que você está
sentindo. Já disse que até eu sinto vontade de bater em Emanuel, mas também
sei que este não é o caminho certo.
Respirei pesado para me controlar, porque aceitar que precisava
desistir estava me corroendo por dentro.
— Falando muito sinceramente, não acho justo que Emanuel escape
de levar uns bons murros na cara pelo que fez, ainda que a justiça e a lei
caiam sobre ele também. — Olhei-a com carinho, porque era uma mulher
excepcional. — Você tem razão em muita coisa, mas também acho que parte
da razão está comigo. Além disso, nada garante que este processo contra ele
vá dar certo, porque um bom advogado poderá livrá-lo da punição que
merece.
Ela balançou a cabeça, concordando. Acomodou-se melhor no sofá e
uniu as duas mãos no colo.
— Tudo bem, não vou tirar sua razão quanto a isso! Mas gostaria de
tentar trabalhar com a lei, antes de usar outros métodos. Se batermos nele
primeiro, acho que deixamos de ter a justiça do nosso lado. — Torceu a boca
com desgosto, olhando fixamente para a lareira em frente. — O único
problema é que não poderei entrar com nenhum processo agora. Vamos ter de
esperar.
O quê?!
Aquelas palavras causaram um choque tremendo em mim e olhei
para Amanda, totalmente surpreso e confuso.
— Não vai colocar o processo agora? — perguntei, contendo a
irritação. — Então, você me pede que desista de bater nele porque vai colocar
um processo, e depois vem me dizer que não vai colocar processo algum?
Pretende esperar que ele ataque Angélica novamente? Tem noção de que, em
apenas uma semana de aulas, Emanuel já a pegou duas vezes?
Amanda apertou os lábios com força e percebi que já havia pensado
naquilo tudo.
— Claro que sei! Mas sou obrigada a esperar, porque Angélica ainda
é menor de idade. Se eu abrir um processo desses agora, corro o risco do pai
dela saber do que aconteceu. Aí, então, tudo ia ficar pior! Ele seria capaz de
me impedir de chegar perto dela, alegando que eu sabia de tudo e não fiz
nada para evitar, que sou uma mãe negligente, irresponsável e tudo mais que
puder encontrar para me atingir. — Fez uma breve pausa, olhando seriamente
para mim. — Isso sem falar que Ricardo levaria Angélica embora e nenhum
de nós a veríamos tão cedo. Acredite, você não conhece o pai dela como eu
conheço.
Caralho!
Eu não ia permitir que ninguém a levasse para longe de mim, nem
que tivesse de fugir com ela até que completasse dezoito anos.
Porra! Minha vida agora parece girar em torno dos dezoito anos de
Angélica!
— Quase matei minha advogada quando ela me alertou sobre isso,
porque, por mim, já entrava com o processo na segunda-feira. Terei de
esperar que ela complete dezoito anos, mas Eduardo não precisa saber disso.
— Lançou-me um olhar esperançoso. — Daqui até lá, precisamos apenas
proteger Angélica dentro do colégio e para isso gostaria de contar com você!
A sua voz persuasiva afastou aquele momento de desespero que
senti ao imaginar Angélica sendo tirada de mim. Olhei para Amanda e
encarei-a seriamente, mas ela permaneceu impassível.
— Agora, se antes de colocar o processo, você for expulso do
colégio por agressão, Angélica ficará arrasada, sentindo-se culpada por tê-lo
prejudicado, com crises de pânico, deprimida, doente e, pior de tudo — fez
uma pausa significativa para dar impacto ao que ia dizer —, ficará
desprotegida e vulnerável para outros ataques de Emanuel, que, por sua vez,
estará com mais raiva ainda dela.
Levantei-me abruptamente, respirando fundo para me acalmar, a
tensão se acumulando dentro de mim. Sentia uma vontade louca de socar
Emanuel só em imaginá-lo chegando perto de Angélica de novo.
— Acalme-se, Lorenzo. Se trabalharmos juntos, nada acontecerá
com ela. Foi assim que fiz com Roberto e conseguimos protegê-la. Agora,
além dele, também tenho você, por isso acho que a probabilidade de algo se
repetir é mínima, desde que nos revezemos ao lado dela.
Voltei a respirar fundo, tentando relaxar.
— Não sei se conseguirei não fazer nada, Amanda — desabafei,
sendo muito sincero, porque realmente gostava dela e a via como uma grande
aliada.
— Eu sei que não será fácil, mas você é forte e determinado! Tenho
certeza de que vai conseguir, se pensar em tudo que falei agora. Temos mais
a perder do que a ganhar se partirmos para a violência.
Com aquele jeito suave, Amanda era mais firme do que uma rocha.
O tipo de mulher que conseguiria convencer qualquer pessoa a fazer o que ela
queria usando apenas as palavras certas.
— Você não precisa dar nenhuma resposta agora. Apenas pense com
calma e diga-me algo depois.
Eu já estava ficando cansado de fazer tantas promessas. Primeiro
Angélica, agora Amanda.
— Prometo que vou pensar.
Ela era uma mulher sensata e percebi que saberia esperar minha
resposta, mas a paciência não era o meu forte. Minha especialidade era agir
imediatamente. Eu não sabia esperar as coisas acontecerem por si próprias,
sem estar por trás controlando os fatos.
Aquele ia ser mais um grande teste para mim.
CAPÍTULO 5

Lorenzo
O JANTAR TRANSCORREU normalmente e o nome de Emanuel
não foi tocado na frente de Angélica, que conversava e sorria muito à vontade
comigo e com Amanda. Ela estava realmente linda e brilhava ainda mais a
cada risada que dava.
Olhei para Amanda e resolvi provocar Angélica.
— É melhor recolhermos o vinho, porque Angélica está alegre
demais depois de bebê-lo — falei muito sério.
Amanda piscou para mim e entrou na brincadeira, fingindo observar
a filha com atenção.
— Tem razão, Lorenzo. — Pegou a taça de vinho dela e afastou.
Angélica olhou surpresa de um para o outro, antes de pegar sua taça
de volta.
— Oh! Vocês são dois estraga-prazeres. — Deu uma pisada no meu
pé por debaixo da mesa. — E você, Sr. Lorenzo, é o pior dos dois! Estou
bebendo dentro de casa. Eu nem deveria dizer isso, porque você não merece,
mas o vinho que trouxe é muito bom.
Agradeci de forma teatral, colocando a mão sobre o peito e
inclinando a cabeça numa reverência.
— Meu pai agradece em nome das empresas da família, apesar de
ser meu tio quem cuida dos vinhedos.
Amanda olhou para mim, curiosa com minhas palavras.
— Então, seu tio é o responsável por esse vinho maravilhoso?
Eu odiava falar dele, mas confirmei.
— Meu tio Aldo é quem cuida desta parte dos negócios da família e
nosso vinho tem muita tradição na Itália.
Angélica abriu os olhos e vi que estava surpresa com o que eu disse.
Então, lembrei-me de que havia dito hoje que não confiava no meu tio.
— O nome do seu tio é Aldo? — ela perguntou num fio de voz,
pegando novamente a taça de vinho e dando mais um pequeno gole, porque,
apesar da minha brincadeira, ela estava bebendo na medida certa.
— Sim, Aldo Costi. É o único tio que tenho, irmão mais velho do
meu pai. — Não queria continuar falando dele para não estragar a noite. —
Mas digam, já conhecem a Itália?
Elas olharam uma para a outra, até Amanda sorrir para mim com
uma expressão enigmática.
— Não, nunca fomos. E você, já foi ao Brasil?
Olhei para Angélica, que agora parecia mais relaxada e esperava em
expectativa a minha resposta.
— Não, mas minha médica aqui em Portugal é brasileira e gosto
muito dela.
Amanda pareceu realmente surpresa e feliz.
— Olha, mas que coisa boa saber disso! — Recostou-se na cadeira
com sua taça na mão. — Eu nem a conheço, mas já digo logo que deve ser
muito boa. Nós, médicas brasileiras, somos demais!
Rimos da sua observação brincalhona, mas sabíamos que era uma
verdade, já que ela e a minha médica eram um pequeno exemplo daquilo.
Terminamos o jantar e fiz questão de ajudar a recolher os pratos da
mesa e levar tudo para a cozinha. Depois, Angélica me puxou pela mão em
direção à sala.
— Tem certeza de que não está bêbada? — brinquei, sentando-me
no sofá e trazendo-a para o meu colo, aproveitando que Amanda ainda estava
ocupada na cozinha.
— Estou completamente bêbada de amor por você. — Abraçou-me
pelo pescoço e mordeu minha orelha, provocando-me.
Diabinha! De anjo não tem nada!
— Você está me saindo uma grande devassa, isso sim!
Afastei Angélica antes que Amanda chegasse e eu estivesse
excitado. Ela apenas riu e se aconchegou melhor no meu colo, o vestidinho
subindo nas coxas e fazendo-me enlouquecer de desejo.
— Puta que pariu! Este vestido está me matando! — grunhi em seu
cabelo, o que foi pior, porque senti o cheiro do perfume dela me invadindo de
novo.
Eu estava cercado por todos os lados e não resisti à tentação de
colocar a mão em sua coxa e sentir a textura da meia sobre a pele macia.
— Vem cá! — Puxei-a para um beijo.
Angélica se abriu toda para mim e aquela entrega me colocava em
suas mãos, muito mais do que a colocava nas minhas. Era um poder que ela
não pretendia ter, mas tinha!
— Te amo! — sussurrou.
— Também te amo! — Devolvi para ela.
Ficamos abraçados por um tempo, mas depois a coloquei no sofá,
para evitar uma situação constrangedora quando Amanda chegasse.
Olhei para a lareira e me lembrei das fotos.
— Sua mãe disse que você tirou umas fotos de modelo, mas desistiu
de continuar. O que aconteceu?
Ela olhou as fotos sobre a lareira e sorriu tranquilamente, mostrando
que não tinha nenhum tipo de problema em falar do assunto. Percebi que era
algo bem resolvido dentro dela.
— Você pode até achar exagero o que vou dizer, mas não me adaptei
à vida de modelo. No começo, era o meu grande sonho de menina, mas
depois que comecei a entrar um pouquinho na realidade do que é aquilo,
desisti. — Olhou-me de soslaio e depois calou-se.
— E o que foi que não gostou? Não era glamour suficiente para
você? — provoquei, brincando com ela.
Angélica riu um pouco tímida e torceu o narizinho.
— Tinha glamour até demais. — O rosto ficou rosado de vergonha e
olhei para ela com curiosidade, esperando que continuasse. — Minha mãe
não contou nada?
— Não. Disse que perguntasse a você. — Encolhi os ombros
fazendo pouco caso do assunto, como se fosse um tema casual, apenas para
passar o tempo. Desconfiava de que, se ela soubesse da minha grande
necessidade em saber mais, talvez ficasse constrangida e não me contasse
nada.
— Oh, esta minha mãe! — ralhou com Amanda. — Eu desisti
porque, naquele meio, não somos donas do nosso corpo. No primeiro ensaio
de desfile em que participei, vi que teríamos de ficar praticamente nuas e
trocar de roupa constantemente na frente de um monte de gente, entre
estilistas, costureiras, maquiadores, fotógrafos, assistentes de palco, ajudantes
e sabe-se lá quem mais. Isso sem falar que metade deles colocam a mão em
você para ajeitar a roupa, puxar daqui, esticar dali. Então, abandonei o ensaio
no meio. — Voltou a me olhar meio de lado, antes de cair na risada. — O
estilista só faltou me matar por causa disso. Teve um verdadeiro ataque e
quase pensei que ele fosse destruir as próprias criações caríssimas de tanta
raiva. Uma verdadeira cena!
Naquele ponto da narrativa, ela já ria até encher os olhos d’água.
— Mas ele se vingou direitinho depois, arrasando comigo na agência
onde eu estava.
Caí para trás no encosto do sofá e só então voltei a respirar, depois
que ouvi tudo. Angélica ainda ria, mas eu só conseguia olhar para ela
totalmente paralisado, enquanto agradecia intimamente ao estilista por ter
acabado com sua carreira de modelo. Sabia que era egoísmo meu pensar
assim, mas me consolei com o fato de que, se ela ainda se divertia com a
situação que passou, era porque aquilo não tinha sido verdadeiramente
importante.
— Você nunca se arrependeu disso? — perguntei, apenas para
diminuir meu sentimento de culpa.
— De jeito nenhum! Aquilo não era vida para mim. Tenho uma
amiga da agência que também desistiu anos depois, porque vieram propor
que acompanhasse um executivo do Kwait que estava de passagem aqui por
Portugal. Disseram que seria só para acompanhar o homem num evento, mas
se esqueceram de dizer isso ao cara.
Se havia algum mínimo sentimento de culpa dentro de mim, ele foi à
merda quando ouvi aquilo.
Uma porra, se eu ia querer Angélica sendo acompanhante de luxo!
De repente, senti um tapa na minha mão que envolvia sua cintura.
— Ei, está apertando muito! — ela reclamou e só então percebi que
estava agarrando-a com demasiada força.
Soltei-a e respirei fundo.
— Desculpa, meu anjo. Foi sem querer.
Procurei relaxar, antes que ficasse muito óbvio meu descontrole. No
entanto, não consegui evitar de puxar Angélica para mim e beijar sua boca
com paixão, sentindo como amoleceu nos meus braços. Quando me afastei,
seus olhos estavam enevoados de prazer e fiquei rendido com sua beleza.
Fomos interrompidos por um celular tocando na sala e Angélica se
levantou para atender.
— É do hospital.
Levantei-me, enquanto ela atendia e levava o aparelho para a mãe na
cozinha. Durante o tempo em que fiquei sozinho na sala, fiquei olhando as
tais fotos da agência de modelos.
Angélica voltou depois de alguns minutos com o rosto preocupado.
— Minha mãe precisa ir ao hospital, porque um dos seus pacientes
piorou muito e provavelmente não passa de hoje à noite. Ela vai acompanhar
os procedimentos.
Olhei para o relógio e me surpreendi quando vi que já eram nove e
meia da noite. Nem havia sentido o tempo passar, de tão agradável que foi o
jantar com elas.
— Podemos levar Amanda ao hospital, se ela quiser — ofereci,
justamente no instante em que Amanda entrou na sala com a expressão
preocupada.
— Não precisa me levar, já estou acostumada com isso. Se puder,
prefiro que fique com Angélica. Se eu ver que vou demorar muito, ligarei
para avisar. Neste caso, gostaria que a deixasse na casa de Cassandra, para
que não fique aqui sozinha.
Angélica se irritou com aquilo.
— Mãe! Já sou grandinha o suficiente para ficar sozinha. Não
precisa de tudo isso.
Antes que eu pudesse dizer algo, Amanda agitou a mão com
impaciência, interrompendo a filha.
— Não tenho tempo para isso agora e acho que não preciso repetir
meus motivos. Vou indo e comportem-se na minha ausência.
Aquele último aviso era para mim, sem dúvida alguma!
Ela se arrumou e foi embora, deixando uma Angélica chateada na
minha frente.
— Ela tem razão.
— É que já não aguento mais isso, apesar de entender a preocupação
dela. — Abraçou-me pela cintura, encostando o rosto no meu peito. —
Podemos assistir a um filme para passar o tempo. O que acha?
Era o ideal para nos distrair um pouco e relaxar.
— Você tem algum especial?
— Não, mas podemos procurar.
Depois de alguns minutos de busca nos canais, encontramos uma
reprise do The Hunger Games e resolvemos assistir.
— Tira o sapato — ela falou, já tirando os botins e cruzando as
pernas sobre o sofá. — Agora deita aqui comigo.
Deitei-me no canto do sofá e puxei Angélica para a minha frente,
deixando-a com a cabeça apoiada no meu braço. Cerca de dez minutos
depois, olhei para ela e vi que estava dormindo. Beijei o alto da sua cabeça,
sentido seu cheiro e o calor do corpo junto ao meu. Senti-me em paz.
***
Não sei se foi o cansaço da noite anterior na discoteca depois de um
jogo pesado, junto com a tensão dos últimos dias e o vinho que bebi no
jantar, mas o sono bateu em mim e adormeci sem perceber. Acordei com uma
mão suave balançando meu ombro. Instintivamente, puxei Angélica para
mais perto de mim, já totalmente alerta, mas era Amanda agachada à nossa
frente.
— Peço desculpas, Amanda. Não tinha intenção de dormir aqui.
— Não tem problema algum — ela sussurrou para não acordar a
filha. — Talvez até eu também caísse no sono se tivesse ficado em casa
assistindo a um filme com vocês. Poderia me ajudar a levar Angélica ao
quarto? Queria ver se conseguíamos sem que ela acordasse.
— Sim, claro!
Levantei-me e peguei Angélica ao colo. Fui em direção ao quarto
dela, mas Amanda me chamou de volta.
— Não no dela. Aqui, por favor. — Abriu outra porta ao lado. —
Ela está dormindo comigo.
Ainda?!
Entrei em um quarto maior do que o de Angélica, com uma larga
cama de casal. Amanda puxou o edredom e os lençóis, abrindo espaço para a
filha. Deitei-a e dei um beijo em seu cabelo antes de me afastar sob o olhar
atento de Amanda.
— Aguarde-me na sala, por favor. Vou acomodá-la melhor.
Não precisei esperar muito tempo até Amanda voltar.
— Ela ainda está tendo pesadelos? — perguntei logo, sem lhe dar
chance de falar nada antes.
— Sim, ainda. Mas se nada acontecer nos próximos dias,
provavelmente eles vão parar.
— Estarei ao lado dela sempre que puder e você permitir. Pode ter
certeza disso! — Pensei bem e resolvi arriscar ir mais longe, mesmo sabendo
que estava entrando em um terreno perigoso ao tocar naquele assunto. — E
pode confiar em mim, porque vou ter cuidado e não engravidar Angélica logo
depois dos dezoito.
Ela arregalou os olhos, pega desprevenida com o tema delicado.
Sustentei seu olhar com tranquilidade, mas não recuei. Afinal, se ela me deu
uma indireta mais cedo era porque queria tratar do assunto. Eu estava apenas
respondendo de uma forma direta.
Amanda soltou o ar num assobio suave, pondo-se a rir logo depois.
— Esqueci que você é dolorosamente objetivo, Lorenzo. Por um
momento, deixei de respirar com o susto que levei.
Rimos e ela puxou o cabelo para trás, olhando-me pensativamente.
— Ainda estou um pouco desnorteada com este namoro de vocês,
por isso terá de me desculpar se, em algum momento, eu agir como uma mãe
retrógrada e nada moderna, mas não é fácil ver minha filha iniciar sua vida
sexual. Não sou boba e, pela forma como vejo vocês dois tão agarrados um
ao outro, sei que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
Agora ela é que estava sendo cruamente direta, uma vez que minha
vida sexual e da Angélica só dizia respeito a nós dois. Eu só admitia discutir
o assunto com Amanda por ser mãe dela, da mesma forma como só discutiria
com a minha própria mãe.
— Eu sei que você vai ter cuidado, porque já vejo como é atencioso
e preocupado com a minha filha. Só que, quando há vida sexual, tudo fica
diferente, pois é muito fácil perder o controle das coisas e esquecer os
cuidados necessários nos momentos de paixão. Se não fosse assim, não
existiriam as infecções sexualmente transmissíveis, a Aids e tantos abortos
por causa de uma gravidez indesejada.
Aborto? Nem pensar!
— Não se preocupe, porque usaremos proteção. Se Angélica
engravidar por um descuido nosso, não haverá aborto. Tenho certeza de que
ela concorda comigo nisso.
Amanda gemeu, ficando com uma expressão preocupada no rosto.
— Escutar isso é terrível para mim — riu, pedindo desculpas. —
Tenho dificuldades em ver Angélica com uma vida sexualmente ativa,
mesmo sendo médica e me considerando até avançada e moderna.
Segurei o riso, porque ela parecia realmente transtornada. Aquela era
realmente uma conversa estranha, mas isso não ia me impedir de dizer o que
pensava ou sentia.
— Mas você tinha noção de que este momento um dia chegaria. —
Lembrei-lhe calmamente. — Ela tem praticamente dezoito anos e muitas
garotas hoje em dia começam bem mais cedo do que isso.
— Eu sei e esta também foi uma opção da própria Angélica. Nunca a
forcei a nada e sempre incentivei que tivesse uma adolescência normal,
principalmente depois do que aconteceu com ela.
Amanda parou de falar, ficando pensativa por um momento, e
permaneci aguardando. Eu não duvidava de que algo sério viria depois
daquela reflexão.
— Gostaria de pedir algo — ela começou, confirmando minhas
suspeitas e me deixando com a sensação de que, talvez, não gostasse do que
ia ouvir. — Já tive a idade de vocês, apaixonei-me pelo pai dela e sei o que é
não aguentar esperar pelo momento de se entregar ao outro. Sei que está
perto de ela fazer dezoito anos, mas também sei que, para um casal de
adolescentes apaixonados, isso pode parecer muito tempo. Peço que aguarde
a maioridade dela chegar. Angélica tem um pai terrivelmente ciumento e que
controla à distância a única filha que tem. Eles se falam com frequência e
todas as vezes o pai faz a mesma pergunta: “Já está namorando?”. Até hoje a
resposta foi não, mas quando ela disser que sim, ele é capaz de vir aqui antes
mesmo que cheguemos lá para o Natal.
Puta que pariu, só aparecem desafios para mim! Quando é que a
vida vai ficar fácil?
Ei, mas espera aí. Ela disse Natal?
— Natal? — repeti. — Vocês vão para o Brasil no Natal?
Ela confirmou.
— Vamos. — Respirou fundo, demonstrando uma certa resistência
ao fato. — Por mim, eu não iria este ano, mas Ricardo não perdoaria, pois faz
parte do nosso acordo de divórcio e tenho de cumpri-lo. Ele exige ver a filha
nas datas pré-estabelecidas e o Natal é uma delas. Voltaremos à Portugal
quando terminarem as festas de fim de ano.
Caralho! Vou ficar esse tempo todo sem Angélica?
Desta vez tive mesmo que respirar fundo para me acalmar, porque
esta era uma data que acabava comigo devido à falta que sentia da minha
mãe. Pensar que também não teria Angélica, que se tornava cada dia mais
importante para mim, era difícil pra caralho!
— E se vocês não forem, o que acontece?
Ela me olhou fixamente, meio assustada com a minha pergunta,
porque entendeu perfeitamente o que eu queria dizer. E eu estava falando
sério!
— Nós não podemos deixar de ir ou ele pegará um avião e virá atrás
da filha!
— E daí que ele venha? Qual o problema, se Angélica já será maior
de idade? Além disso, eu estarei ao lado dela e ele terá de aceitar que as
coisas mudaram. Da mesma forma será quando você estiver com um
namorado.
Ela ficou calada, parecendo em estado de choque, provavelmente
por ainda não ter visto a situação sob aquele ângulo.
Talvez ela fique bloqueada quando o assunto é o ex-marido. Só pode
ser isso!
— De uma forma ou de outra, seu ex-marido terá que aceitar o fato
de que as duas já não estão mais sozinhas aqui em Portugal, seja através de
Angélica, de você, ou das duas. Era óbvio que isso um dia ia acontecer.
Acredite quando lhe digo que este é o maior medo dele, por isso controlava
tudo. Sou homem e entendo disso muito bem.
Ela riu nervosamente, enquanto olhava para mim daquele seu jeito
atento.
— Você tem hora que realmente me surpreende pela maturidade,
Lorenzo. Talvez seja o fato de também ser homem e isso ajude a ver a
situação de uma forma diferente da minha. Prometo que vou pensar em tudo
e daqui até lá tomarei uma decisão.
Respirei aliviado. Pelo menos havia uma chance de elas não
viajarem e eu ter Angélica comigo nas festas de fim de ano.
Amanda sorriu, mas parecia realmente cansada e me lembrei do
motivo que a fez sair de casa às pressas.
— E o seu paciente?
— Não resistiu e faleceu. Penso que já me acostumei com isso, mas
é sempre difícil perder mais uma vida.
Eu não disse nada, nem podia, porque falar de morte só me lembrava
da minha mãe.
— É melhor ir descansar, Amanda. E muito obrigado pelo jantar,
adorei estar aqui com vocês.
— Também gostei muito da sua companhia, Lorenzo. Quero que
venha outras vezes para nos conhecermos melhor. E sem interrupções,
espero!
CAPÍTULO 6

Angélica
— MÃE, É SÉRIO! Lorenzo disse que algumas pessoas poderiam
tentar prejudicá-lo e citou o tio, junto com o segurança dele, o tal do Vittorio,
de quem não gostei de jeito nenhum.
A minha mãe empurrou o carrinho de compras em direção à saída do
supermercado, ouvindo com atenção enquanto eu contava o que Lorenzo
tinha dito sobre o tio no dia anterior.
Acordei cedo naquele domingo e fiquei chateada ao perceber que
havia adormecido no sofá com Lorenzo e que nem me despedi dele. Mais
tarde, ia enviar uma mensagem, porque já não conseguia passar um dia
inteiro sem falar com ele.
— Filha, se Lorenzo não confia no tio, como é que foi ele quem
assinou aquele relatório que está no processo escolar?
— Não sei e estou confusa com tudo isso. Mas se há uma coisa que
tenho certeza é de que Lorenzo realmente não gosta do tio. A maneira como
falou dele e a expressão do seu rosto não deixavam dúvidas quanto a isso.
— Começo a desconfiar de que tem alguma coisa muito séria
acontecendo na vida desse rapaz. — Seu tom era sério e preocupado. —
Garanto que vou descobrir o que é, porque gosto muito dele.
Dei pulinhos de alegria quando ouvi aquilo.
— Ai, mãe! Fico tão feliz com isso! — Dei dois beijinhos no rosto
dela, abraçando-a pelo pescoço por cima do carrinho do supermercado.
— Ei, não vá derrubar nossas compras — brincou, beliscando minha
cintura. — Agora, ajude-me a guardar tudo e vamos para casa.
Ultrapassamos a porta de saída e fomos em direção ao carro. Mal
saímos, senti o vento frio do outono bater no rosto.
— Que frio! — gemi alto. — Devíamos ter usado o estacionamento
interno. Esse pode ser mais rápido para sair, mas com esse tempo é terrível,
mãe.
— Deixe de reclamar e vamos logo!
Andamos pelo estacionamento, que àquela hora de um domingo de
manhã tinha poucos carros. Quando terminamos de guardar tudo, fui
devolver o carrinho, enquanto ela tirava o carro da vaga.
Assim que me afastei alguns metros, um furgão branco passou ao
meu lado e estacionou mais à frente. O motorista desceu e deu a volta ao
carro, abrindo a porta de correr. Ficou um espaço muito pequeno para eu
passar com o carrinho sem que batesse na traseira dos outros carros
estacionados, então comecei a dar a volta em frente ao furgão para passar
pelo lado oposto.
De repente, alguém surgiu à minha frente e levei um susto.
Reconheci o homem que levou uma surra de Lorenzo no dia em que
namorávamos dentro do carro, no estacionamento da Biblioteca Municipal.
O mesmo cabelo ralo jogado de lado para esconder a calvície
pronunciada e o mesmo olhar, que me fez parar de imediato e vacilar.
Ele deu um sorrisinho malicioso, as mãos nos quadris.
— Lembra de mim, menina?
Respirei fundo e expeli o ar com força, engolindo em seco.
Eu não vou responder, porque não tenho de falar com este homem
nojento.
Recuei e olhei para trás, vendo o carro da minha mãe saindo da
vaga, a frente já apontando em minha direção. Andei para trás, deixando o
carrinho entre nós dois e fui recuando. Ele começou a andar para mim, o
rosto com uma expressão decidida, e vi imediatamente que estava em apuros.
“Analise seu adversário e tente identificar seu peso, altura e força,
porque não conseguirá derrubar aqueles que forem superiores demais a
você, a menos que tenha muita técnica em artes marciais.”
Aquele homem era pouco mais alto do que eu, mas era largo e tinha
braços fortes. Mesmo com aquela barriga, eu não conseguiria colocar em
prática nada do que aprendi ontem com Lorenzo.
Ai, Lorenzo! Ele é maior do que eu! Sozinha não consigo e preciso
de ajuda!
Eu nem imaginava qual era sua intenção, muito menos o que queria
comigo, mas não ia esperar para descobrir, pois o olhar do homem não era
nada amistoso.
Segurei o carrinho de compras e o empurrei com força em cima dele,
atropelando-o. Depois, virei-me e comecei a correr em direção ao carro da
minha mãe, que arregalou os olhos quando viu a cena que se descortinava à
sua frente. Tudo o que eu queria era que ela não desligasse o carro, para
poder entrar rápido nele e sairmos logo dali.
No entanto, antes que eu conseguisse chegar ao carro, senti um
braço forte envolver minha cintura e me levantar do chão com violência,
arrastando-me para o furgão.
— Mãe! — gritei alto, mas ela já estava descendo do carro e
correndo em nossa direção.
— Solte a minha filha! — gritou, agarrando o braço do homem para
que me soltasse.
Ele não me largou, apenas tentou se livrar dela empurrando-a para
longe. Minha mãe se desequilibrou e quase caiu ao chão, mas segurou no
braço livre dele e fez o que nunca pensei que faria. Ergueu o braço e deu uma
cotovelada no maxilar do homem, da mesma maneira que Lorenzo havia me
ensinado. Depois, pisou com força no seu pé, fazendo-o tropeçar e afrouxar a
mão ao redor da minha cintura.
Fiquei livre com um safanão e me virei imediatamente para ela,
puxando-a pelo braço. Só me lembrava de Lorenzo dizendo para fugir assim
que conseguisse estar livre.
— Vem, mãe! Vamos para o carro!
Era onde estava a segurança e eu só queria chegar lá.
Contudo, aquele homem horrível se recuperou rápido e a empurrou
com força, fazendo com que caísse em cima do carrinho de compras que
estava jogado ao chão. Ela bateu com a cabeça no ferro, depois na calçada e,
por fim, ficou imóvel.
— Mãe! — Corri para perto dela, vendo-a caída com os olhos
fechados e desacordada. — Mãe!
Senti as lágrimas escorrerem antes mesmo de colocar as mãos nela,
até que me senti sendo puxada de novo pela cintura e arrastada de volta para
o furgão.
— Não! Solte-me! — gritei alto, antes de ele tapar minha boca com
a mão.
Minha mãe! Meu Deus, salve minha mãe, por tudo que é mais
sagrado!
Ele tentou me fazer entrar no furgão, porém, quando chegamos perto
da porta, levantei a perna e a empurrei com força com o pé, fechando-a com
um estrondo. Por um segundo, senti sua indecisão sobre soltar minha boca ou
minha cintura para poder abrir a porta novamente. Preparei-me para qualquer
um dos dois, continuando a espernear para todos os lados, dificultando-lhe ao
máximo o trabalho imundo. Ele praguejou alto quando viu que teria de me
soltar de qualquer jeito.
Preciso ajudar minha mãe!
Quando ele optou por soltar minha boca para abrir a porta, gritei
com todas as minhas forças.
— Socorro! Ajudem-me!
Ele voltou a praguejar, abriu a porta e tapou novamente minha boca,
jogando-me lá dentro de qualquer jeito. Fui deitada no piso e imobilizada
com um joelho sobre o meu peito, a mão pesada mantendo minha boca
tapada. Fiquei sem ar com aquele peso todo em cima de mim, meu peito
doendo. Tive de me concentrar para não desmaiar. Ergui as mãos e tentei
empurrar seu joelho do meu peito, mas não consegui.
— Se gritar mais uma vez vai se arrepender, ouviu bem? —
ameaçou, furioso.
Pegou uma corda para me amarrar, mas como precisava estar com as
mãos livres para isso, soltou minha boca novamente.
Fiz ouvidos surdos à sua ameaça, porque preferia morrer ali do que
ser levada para um lugar qualquer e sofrer horrores nas mãos dele.
— Socorro!
Plaft!
Só senti minha cabeça ser jogada com força para o lado depois de
levar uma bofetada na cara. Por um momento, tudo escureceu à minha volta e
fiquei tonta com o impacto da mão pesada em meu rosto.
Não posso desmaiar, minha mãe precisa de mim!
Enchi o pulmão de ar e não pensei duas vezes em proteger meu rosto
com os braços, continuando a gritar a plenos pulmões.
— Socorro!
— Filha da puta, cale a boca! — ele rosnou com raiva, erguendo o
punho direito para me acertar novamente.
O murro pegou no meu braço, fazendo-me gemer de dor. Ele
segurou meus pulsos para os afastar do rosto e fechei os olhos, preparando-
me para levar um murro na cara, mas nada aconteceu. Senti seu peso sair de
cima de mim bruscamente, deixando-me surpresa. Por um segundo nem
reagi, mas foi só até a adrenalina me colocar em ação novamente. Eu só
pensava em ajudar minha mãe e abri os olhos, observando ao meu redor.
Um homem enorme estava dando golpes rápidos e violentos naquele
monstro que nos atacou. Mesmo me sentindo tonta e dolorida, sentei-me para
descer do carro e ir até minha mãe.
Tudo girou ao meu redor, mas me forcei a colocar as pernas para
fora do furgão e ficar de pé. Segurei-me na porta e olhei para o homem caído
ao chão e para o outro, que o observava com os punhos cerrados. Eu não
sabia quem ele era, mas chorei de alívio ao ver que tinha ouvido meus gritos
e vindo me ajudar.
Ele me encarou com um olhar preocupado.
— Você está bem? — aproximou-se, sustentando-me pelo braço.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto e segurei sua mão, puxando-o
para longe do furgão. Ele olhou para o homem estendido no chão e notei que
estava indeciso.
Agarrei-o com mais força, desesperada.
— Minha mãe! Ajude minha mãe, por favor! — Saí arrastando-o até
onde ela estava caída.
Ajoelhei-me ao lado dela e ele fez o mesmo, colocando a mão em
sua testa e o dedo no pescoço.
— Ela tem pulsação e ainda respira. Vou chamar uma ambulância.
Mexeu no bolso do casaco e tirou um celular, ligando para a
emergência.
— Está tão fria! — choraminguei, segurando as mãos dela.
— Deve ser porque ficou desmaiada aqui no vento frio. O que
aconteceu?
— Ela bateu com a cabeça no ferro do carrinho e depois no chão,
quando ele a empurrou.
O homem tirou o casaco e colocou sobre ela com cuidado.
— Não vou tirar sua mãe desta posição. Com a pancada na cabeça,
não sei se precisará ser imobilizada antes de ser removida.
Ouvi o motor de um carro e olhei para trás, vendo o furgão sair do
estacionamento a toda velocidade. O homem que estava comigo se levantou
bruscamente e percebi que tinha a intenção de o seguir, mas isso significaria
me deixar sozinha e sem ajuda.
— Por favor, não vá! — supliquei, desesperada. — Ajude-me até a
ambulância chegar!
Ele praguejou baixo e parou abruptamente, ainda olhando o carro ir
embora. Depois, virou-se para mim e voltou atrás, agachando-se ao meu lado
e observando meu rosto com atenção.
— E você? Como se sente?
Péssima! Mas a única coisa que me interessava naquele momento
era que a minha mãe estivesse bem.
— Eu só quero que ela fique bem, mais nada.
Desviei minha atenção para ela, ainda inconsciente, e me inclinei
para beijar seu rosto frio.
— Mãe, eu te amo! Fica bem, por favor! — sussurrei em seu ouvido.
Fiquei bem pertinho para aquecê-la, rezando fervorosamente para
que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo e acabasse logo.
— Aquele é o carro de vocês?
Olhei para onde ele apontava e vi nosso carro ainda ligado, com a
porta aberta.
— Sim, é.
— Vou estacioná-lo para você.
Levantou-se e foi cuidar do carro. Eu fiquei ali, tentando escutar o
som da ambulância chegar. Quanto, enfim, ouvi as sirenes, chorei de puro
alívio.
Depois, tudo aconteceu muito rápido. Eles imobilizaram minha mãe
na maca e colocaram na ambulância. Entrei junto com ela, ouvindo o homem
que estava comigo perguntar ao enfermeiro para qual hospital seríamos
levadas.
Ele me olhou com a mesma expressão séria.
— Encontrarei você lá.
— Obrigada por tudo!
Ele não respondeu. A porta da ambulância foi fechada e a próxima
coisa que me lembro foi de vê-la se abrir novamente na urgência do hospital
onde minha mãe trabalhava.
Reconheci de imediato o médico que estava de plantão, um dos
colegas de trabalho dela. Fiquei com uma enfermeira, que me garantiu que
em breve daria notícias.
— Está sozinha, querida? — ela perguntou com gentileza, levando-
me através da sala de triagem.
— Não, ela está comigo. — Uma voz forte falou atrás de nós duas e
vi o mesmo homem que me ajudou no estacionamento.
Ela o olhou e depois para mim, desconfiada.
— Ele está com você, Angélica? — perguntou com firmeza.
— Sim, Carla. Foi ele quem nos ajudou no acidente.
Ela sorriu para o homem.
— Então, só tenho a agradecer por socorrer a Dra. Amanda. Ela é
muito querida aqui na cidade e uma médica excepcional. — Fixou sua
atenção em mim, os olhos profissionais analisando meu rosto. — Agora
vamos cuidar de você, querida. Seu lábio já está inchando.
Levei minha mão à boca, porque nem senti nada de tão preocupada
que estava com a minha mãe. Só agora que ela estava sendo cuidada, é que
começava a sentir meu corpo dolorido e tremendo.
— Queria fazer uma ligação antes, mas deixei meu celular na bolsa
da minha mãe que ficou no carro.
Eu queria Lorenzo!
— Quer que ligue para sua tia? Tenho o número dela nos contatos da
doutora. Ela tem o hábito de anotar todos os telefones importantes na sua
agenda daqui.
— Quero sim, mas queria também ligar para o meu namorado. Não
sei o número dele decorado e só tenho no meu celular. Você podia ver se ela
o anotou também na agenda?
— Qual é o nome dele?
— Lorenzo.
— Sente-se e aguarde. Verei isso e digo algo daqui a pouco. —
Olhou para o homem ao meu lado. — O senhor pode ficar com ela enquanto
chamo outra enfermeira para a examinar?
— Pode ir, cuidarei dela. Mas peça que não demorem muito, porque
a menina precisa de cuidados.
— Farei o melhor pela filha da doutora.
Ficamos sozinhos e olhei para ele.
— Queria agradecer por tudo o que fez. Muito obrigada mesmo!
— Tive sorte de passar no estacionamento àquela hora e ouvir seu
grito. — Fez uma pausa e tirou o chaveiro do bolso do casaco. — Aqui estão
as chaves do carro.
Peguei e guardei no bolso.
— Obrigada. — Então lembrei que sequer sabia o nome dele. —
Desculpe, não perguntei o seu nome nem me apresentei. Eu sou Angélica e
minha mãe é Amanda Sant’ana.
Ele estendeu a mão para mim, que apertei com confiança, porque
tinha gostado dele e me sentia bem em sua companhia. Ele era quase tão
grande como Lorenzo, mas seu tamanho e aparência fechada não me
assustavam.
— Prazer em conhecê-la, Angélica. Meu nome é Paulo Silva e só
sinto nos conhecermos numa situação dessas.
Tentei controlar a emoção, o cansaço, o medo e os primeiros sinais
de choque que já começava a sentir.
— E sua mãe? — ele perguntou com verdadeiro interesse. —
Disseram algo sobre as condições dela?
— Ainda não, mas sinto-me confiante. Ela trabalha aqui e sei que
farão tudo para que fique bem.
— Então ela é médica. — não era uma pergunta, mas a constatação
de um fato.
— Sim, é médica e uma das melhores — completei, emocionada e
orgulhosa.
Ela tem de ficar boa, por favor, meu Deus! Não deixe que aconteça
nada de mal com a minha mãe!
Ficamos calados por uns minutos, até que observei seu rosto forte,
com a barba curta e o cabelo meio revolto.
— Paulo, se quiser pode ir embora. Já fez muito por nós duas e não
quero prendê-lo mais.
— Prefiro não deixar você sozinha até que chegue um adulto da
família ou o seu namorado.
Lorenzo é tudo o que eu mais preciso agora!
CAPÍTULO 7

Lorenzo
ENTREI APRESSADAMENTE NA urgência do hospital,
tentando me controlar o máximo que podia, porém, sentia minhas mãos
tremerem com a tensão e a ansiedade que me dominavam.
Àquela hora da manhã de um domingo frio e nublado, a sala da
urgência estava quase vazia, mas tinham duas pessoas à minha frente no
guichê de atendimento. Esperei impacientemente pela minha vez de falar com
a atendente.
Respirei fundo para clarear a mente. Quase não acreditava que
ontem à noite deixei Angélica e Amanda seguras dentro de casa e, agora,
recebia a notícia de que estavam no hospital, vítimas de um acidente no
estacionamento do supermercado.
A enfermeira que me ligou disse não saber com exatidão o que
aconteceu, mas que ambas tinham dado entrada na urgência e que Angélica
havia pedido para me chamar.
Tentei relaxar, mas conseguir aquilo era impossível no estado de
tensão em que eu estava. Ansiava ter logo Angélica nos braços e comprovar
que estava bem.
— Bom dia — a recepcionista falou com voz cansada e automática.
— Bom dia. Preciso falar com a enfermeira Carla. Ela ligou por
causa do acidente com a Dra. Amanda.
Seus olhos mostraram interesse assim que falei o nome de Amanda.
— Você é da família? Qual o seu nome, por favor? — perguntou, já
pegando o telefone.
— Lorenzo Costi. Sou o namorado de Angélica, a filha dela, e
preciso vê-la!
Tamborilei os dedos no balcão, acompanhando a conversa ao
telefone, até que desligou e sorriu para mim.
— Pode entrar por esta porta à esquerda e seguir em frente até a
próxima recepção. Angélica está sendo examinada agora, mas o
acompanhante dela está na sala de espera.
— Acompanhante? — Fiquei surpreso com aquela informação e
fiquei logo alerta.
— Sim. Tem um senhor com ela.
Avancei pela porta, chegando até a sala de espera onde algumas
pessoas aguardavam atendimento.
Angélica não estava lá e olhei à minha volta, tentando identificar
quem seria seu acompanhante. Até que vi um homem alto, com as costas
encurvadas concentrado no celular. Aproximei-me dele, meu instinto dizendo
que se tratava do homem que estava com ela. Quando cheguei ao seu lado,
ele ergueu o rosto e ficou de pé à minha frente.
Encaramo-nos e apertei os punhos com raiva.
Ele estava ligeiramente diferente desde que o vi pela última vez.
Agora, usava uma barba que antes não tinha, mas que lhe dava uma aparência
mais intimidante ainda.
— O que faz aqui, Paolo? Por que está em Portugal e perto da
Angélica?
Se ele a acompanhava naquele hospital, sabia quem ela era. O que
significava que meu pai certamente também sabia.
— Onde ela está? — estourei de vez, forçado ao máximo pela
ansiedade de vê-la.
— Calma, Lorenzo! Ela está bem e sendo examinada pela
enfermeira. Um médico vai atender Angélica depois e em breve será liberada.
A mãe é que sofreu uma pancada na cabeça e estava inconsciente quando
cheguei ao local.
Puta que pariu! Amanda!
Angélica devia estar desesperada e tudo que eu queria agora era
estar ao lado dela.
— Preciso vê-la!
Virei-me para ir atrás de informações, mas depois me lembrei dele e
voltei a olhá-lo, apontando-lhe o dedo.
— Não vá embora nem saia daqui, porque tem muito que me
explicar sobre sua presença na cidade!
Ele me olhou com seriedade, confirmando com a cabeça.
— Já esperava por isso quando fui obrigado a salvar sua garota e
ajudar a mãe dela.
Aquelas palavras me fizeram parar de súbito!
— Salvar?! Você foi obrigado a salvar Angélica do quê?
Ele baixou a vista para o celular que ainda tinha nas mãos e o
guardou no bolso, encarando-me depois.
— Desembucha logo, Paolo! Não fica escolhendo as palavras para
falar comigo!
— Um homem estava tentando levar Angélica dentro de um furgão.
A mãe provavelmente tentou impedir o sequestro e foi agredida, batendo com
a cabeça no chão.
Senti como se tivesse levado um golpe no peito ao ouvir aquilo,
incapaz de acreditar que alguém tentou pegar Angélica.
— Como é que é?! — rugi com raiva, apertando os punhos para me
controlar e sentindo uma onda de suor frio tomar conta do meu corpo. —
Você está me dizendo que tentaram sequestrar Angélica?
— Isso mesmo.
Fiquei momentaneamente paralisado, sentindo um medo insidioso se
alastrando pelo meu peito e atingindo em cheio o coração.
— Quem tentou levá-la? — Era a única coisa que eu queria saber.
Ele permaneceu calado e apenas aprumou o corpo à minha frente,
como se estivesse em posição de revista de tropa. Aquela atitude conhecida
só fez minha raiva crescer.
— Você o pegou?
Paolo apertou os lábios numa careta, mas não disse nada. Como eu o
conhecia bem, já obtive a resposta.
— Você o deixou escapar! — Joguei-lhe na cara. — Mas que merda,
Paolo! Como é que um homem tenta sequestrar minha namorada e você o
deixa escapar? Pegar sequestradores é a sua especialidade, caralho!
Ele pareceu verdadeiramente furioso, exalando o ar num duro
assobio de frustração.
— Eu já o tinha dominado, mas a menina me agarrou pelo braço,
desesperada para salvar a mãe, e me arrastou com ela. Quando vi a mulher
inconsciente no chão, só pensei em ajudá-la. — Passou a mão pela barba e
desviou a vista para o lado, ficando pensativo. — Confesso que perdi o foco
daquele filho da puta! De alguma forma, ele conseguiu se levantar, entrar no
carro e fugir. Eu ainda conseguiria pegá-lo se tivesse saído logo dali, mas
quando pensei em ir atrás dele, Angélica praticamente implorou para ficar
com ela. Era cuidar das duas ou persegui-lo. Fiz a minha escolha — assumiu
com coragem, sabendo que deixar escapar um sequestrador já dominado era
uma falha grave na sua profissão.
Só em ouvir falar no desespero de Angélica minha necessidade de
estar com ela foi maior do que qualquer sentimento de raiva que pudesse ter
naquele momento. Por outro lado, se ela estava naquele hospital ao meu
alcance, em vez de presa num lugar desconhecido qualquer, era por causa de
Paolo.
— Você a salvou e isto é o que me importa! — Abracei-o, batendo
em suas costas com verdadeira gratidão, porque Angélica era o meu mundo.
— Você fez a escolha certa em ficar ao seu lado e cuidar das duas para mim.
Ele me abraçou de volta.
— Obrigado, rapaz! Sempre me orgulhei muito de cuidar de você e
de dona Inês quando estiveram na Itália. — Afastou-se e fixou em mim um
olhar duro e implacável. — Vou pegá-lo e descobrir quem fez isso, garanto!
Confirmei com um meneio de cabeça e olhei ao redor, até localizar
uma enfermeira ao fundo.
— Preciso vê-la agora. Depois falamos.
— Lorenzo, espere! — Segurou o meu braço. — Deixe-me avisar
que ela está um pouco machucada no rosto. É melhor estar preparado para o
que vai encontrar.
Senti a raiva explodindo dentro de mim.
— Ele bateu nela? — rosnei, vendo o gesto de confirmação de
Paolo.
— Ela não comentou nada, mas minha experiência diz que sim.
Por um momento vi tudo preto à minha frente diante da vontade que
senti de estraçalhar com as mãos o homem que a machucou. Dei meia volta e
atravessei a sala a passos largos para abordar a enfermeira.
— Por favor, preciso encontrar Angélica Sant’ana, filha da Dra.
Amanda Sant’ana.
Não hesitei em falar o nome de Amanda, porque já tinha percebido
que esta era a chave para ser atendido rapidamente ali dentro.
Ela sorriu com amabilidade e, mesmo valorizando sua simpatia,
senti minha pouca paciência indo embora.
— Você deve ser o Lorenzo. Eu sou a enfermeira Carla.
— Sim, sou eu. Posso vê-la?
— Claro que sim. Angélica estava ansiosa para o ver.
Respirei, aliviado, quando ela me conduziu pelos corredores.
— Como ela está?
— Chegou aparentemente bem e negando sentir dores, mas algum
tempo depois começou a se queixar de dor de cabeça e no corpo. O que é
normal depois de sofrer pancadas em acidentes. Daqui a pouco o médico de
plantão irá vê-la e será medicada.
— E Amanda?
— Ainda está sendo avaliada e não tenho informações para passar à
família.
Já sentia meu coração bater mais forte à medida que andávamos pelo
hospital. Só em lembrar que quase a levaram, minha necessidade de tê-la ao
meu lado aumentava a um grau assustadoramente alto.
Impaciente, aguentei as passadas pequeninas e leves da enfermeira
que seguia à minha frente. Quando vi Angélica deitada de lado na maca,
soltei um suspiro de alívio. Ela tinha uma mecha do cabelo caindo sobre o
rosto e os olhos fechados.
— Angélica, olha só quem chegou.
Ela abriu os olhos, sentando-se de imediato assim que me viu.
— Lorenzo! — Sua voz estava trêmula e chorosa, causando-me uma
dor no peito ao vê-la tão fragilizada.
Fiquei de pé ao lado da maca e nos abraçamos, com ela me
envolvendo pela cintura.
Graças a Deus, agora eu a tenho em meus braços!
Dei-lhe um beijo no alto da cabeça e afastei seu cabelo do rosto.
— Meu anjo, deixe-me...
Parei o que estava dizendo quando vi o lábio inferior cortado,
levemente inchado, e a pele da bochecha avermelhada. Segurei-a suavemente
pelo queixo e virei seu rosto para o lado, observando tudo com atenção.
Paolo tinha razão. Ela foi agredida!
Mesmo já tendo sido avisado por ele, não foi fácil ver o rosto de
Angélica machucado. Dei um beijo muito leve no canto da sua boca, onde o
lábio estava cortado.
— Lorenzo, a minha mãe! — Ela voltou a falar com a voz
embargada.
Olhei para a enfermeira.
— Poderia tentar saber informações de Amanda?
— Verei isso agora.
Virou-se para sair, mas a chamei de volta.
— Espere, por favor! Quando é que o médico poderá ver Angélica?
— Ele está terminando de atender um paciente e depois será a vez
dela. Aguardem só mais alguns minutos.
Saiu e fechou a cortina para isolar o local.
Mal ela desapareceu, sentei-me ao lado de Angélica, colocando-a
com cuidado no meu colo.
— Puta que pariu, Angélica! Mas o que foi que aconteceu com
vocês duas? — perguntei baixo por causa dos outros pacientes. — Você está
bem?
— Lorenzo, aquele homem estava no supermercado! — sussurrou
no meu ouvido.
— Que homem?
— O que você agrediu no estacionamento da biblioteca. Ele tentou
me enfiar no carro dele à força e empurrou minha mãe ao chão.
A minha raiva voltou quando me lembrei do filho da puta que tinha
espiado dentro do meu carro quando estávamos namorando.
— Foi aquele cara?! — Surpreendi-me por um instante, porque me
lembrava muito bem da fisionomia dele e não havia gostado da forma como
olhou para Angélica. — E o que ele queria com você, porra? Vingar-se de
mim porque bati nele?
— Shh... fala baixo — alertou-me. — Eu não falei nada aqui no
hospital sobre o que realmente aconteceu. Disse que derrubei o carrinho de
compras sem querer em cima dela quando fui lhe dar um beijo. Não quis
dizer a verdade e admitir que o conhecia.
Fiquei sem palavras ao perceber que ela quis me proteger, porque a
verdade é que eu havia atacado aquele homem antes de ele atacar Angélica.
Era difícil suportar o fato de que foram minhas ações violentas que a
colocaram em risco, já que tudo indicava que ele a encontrou sozinha e quis
se vingar.
No entanto, ainda que eu tivesse agredido aquele covarde antes, ia
encontrá-lo novamente e lhe mostrar o que acontecia com homens que batiam
em mulheres.
— Eu ainda vou encontrar aquele filho da puta outra vez, Angélica!
— Oh, não, Lorenzo! Por favor, não! Estou cansada de tanta
violência. A minha vida parece que se resume a isso. Parece que vivo rodeada
de homens que querem resolver tudo na porrada! Eu só quero um pouco de
paz para ser feliz com você. Quero a minha mãe bem de novo e que tudo isso
acabe de vez.
Porra! Ela estava esgotada e eu não ia jogar mais estresse em cima
dela.
— Está tudo bem, meu anjo. — Passei a mão em seu cabelo e a
beijei na testa, deixando que se encostasse em mim para relaxar. — Não vou
fazer nada. Fica tranquila, por favor.
Ouvi uma movimentação do lado de fora e sentei Angélica de volta
na maca.
— Vou ver se já é o médico.
Abri a cortina e vi um homem grisalho se aproximar. Tinha o nome
Dr. Carvalho bordado no bolso da bata e sorriu para mim, estendendo a mão
em um cumprimento.
— Então você é o genro da Dra. Amanda! — Apertou minha mão
com simpatia e entrou, olhando para Angélica. — Olá, Angélica. Vamos ver
como você está?
Ela pareceu aliviada quando o viu, estendendo-lhe a mão, que ele
pegou prontamente.
— Mário, sabe notícias da minha mãe?
Ele deu um sorriso largo.
— Ela está bem. Já recobrou a consciência, mas terá de ficar aqui
em observação por causa da pancada na cabeça.
Fiquei aliviado ao ouvir aquilo, sentindo que parte da minha tensão
daquela manhã ia embora.
— Ai, graças a Deus! — Angélica exclamou, levantando-se e
abraçando o médico, emocionada.
Depois, largou-o e veio me abraçar.
— Ela está bem, Lorenzo!
— Quando Amanda poderá ir para casa, doutor?
— Ainda faremos alguns exames nela. Depois, ficará em observação
até amanhã, por uma questão de segurança. Se algum familiar puder ficar
com ela durante este tempo, seria o ideal.
— Posso ficar. — Angélica se ofereceu logo, deixando-me
preocupado com suas próprias condições físicas, que também exigiam
cuidados.
— Você não, mocinha! Precisa de repouso e ainda é menor de idade.
Grande Dr. Carvalho! Já tem minha admiração!
— Oh! Mas eu queria ficar com ela — Angélica insistiu.
Aquela era a hora de intervir.
— É melhor ir para casa comigo e descansar. Provavelmente, é isso
o que Amanda gostaria que você fizesse depois de tudo o que passou. Por
isso, pretendo levá-la.
— Tudo bem — ela disse, resignada, olhando para o médico. —
Minha tia Ângela deve ficar com ela, então.
O Dr. Carvalho olhou seu rosto e indicou a maca, ficando sério.
— Se está tudo resolvido quanto a isso, agora vamos cuidar de você.
Volte para a maca e me deixe examiná-la.
Olhou para mim e percebi que ia me pedir para sair. Quando eu já ia
dizer que ficaria com ela, Angélica se antecipou, virando-se para o médico.
— Ele pode ficar, Mário? Por favor!
O médico hesitou por um breve momento, antes de confirmar.
— Tudo bem. Agora, diga-me como se sente.
— Estou bem. Apenas dói minha a cabeça, o peito e o braço.
Procurei não demonstrar o que estava sentindo, porém, alguns
minutos depois, estava me controlando para não sair dali e ir pegar o
miserável que havia batido nela. Além do rosto machucado, Angélica tinha
um hematoma enorme se formando no braço esquerdo. Apesar de ela ter dito
ao médico que caiu por cima do carrinho junto com a mãe, vi claramente que
foi golpeada ali.
— Com exceção desta pancada no braço, não há nada que justifique
essa dor no peito. Tem certeza de que não torceu o braço quando caiu?
Ela respirou fundo e desviou o olhar para baixo.
— Acho que não, mas foi tudo tão rápido que não lembro.
— De qualquer maneira, vai tomar uma medicação agora para tirar
essa dor e deve continuar tomando em casa o que vou prescrever. Mas se
persistir, volte imediatamente aqui — disse isso olhando para mim.
— Eu a trarei, doutor, pode deixar — confirmei, olhando
desconfiado para Angélica.
Alguns minutos depois que ela já havia sido medicada, ele lhe deu
alta.
— Coloque esta mocinha para descansar o dia inteiro ou a mãe dela
me matará quando se levantar da cama. — Deu-lhe um beijo na testa. —
Daqui a pouco o remédio fará efeito, por isso, já para casa!
Quando ele se afastou e saiu, fui até a maca.
— Mas que merda, aquele cara bateu mais em você? E que dor no
peito é essa? — Procurei falar com a voz mais normal possível, mas sentia
minha garganta arder do esforço que fiz para não gritar de raiva.
— Lorenzo, você disse que não ia fazer nada, lembra?
Merda!
— Lembro, mas quero saber mesmo assim, por isso não me esconde
nada. — Fui firme, porque já sabia do péssimo hábito que ela tinha de
esconder as coisas para evitar confusão.
— Ele me imobilizou com o joelho e eu não quis dizer isso para o
Mário. — Mostrou a contusão no braço. — Aqui, foi porque protegi o rosto
com os braços. Graças a Deus um homem ouviu meus gritos e me ajudou.
Porra! Paolo chegou na hora certa!
Eu não conseguia entender como é que existiam homens tão
covardes assim! Se queriam bater, porque não procuravam alguém do mesmo
sexo e tamanho?
— Vem, Angélica. Deixe-me ajudar você para irmos logo para casa.
Quando ela estava vestindo o casaco, a cortina se abriu e uma
mulher de cabelo escuro entrou.
— Tia!
Ela abriu os braços para Angélica, que a abraçou de imediato.
— Lorenzo, esta é a minha tia Ângela, mãe de Cassandra e Roberto.
Ela olhou para mim com um sorriso amável e vi que tinha a mesma
gentileza característica de Amanda.
— Então, você é o tão falado Lorenzo! — Piscou o olhou para
Angélica, que pareceu envergonhada.
— Não sabia que era tão falado assim — disse-lhe depois dos
cumprimentos.
— Nem tanto! Estou provocando minha querida sobrinha. — Olhou
Angélica com atenção. — Você parece mal, Angel. É melhor ir para casa se
cuidar. Fique tranquila, pois qualquer coisa eu ligo para você.
— Eu queria ver minha mãe antes de sair. Será que posso?
— Infelizmente, não. Ela foi levada para o setor de radiologia para
fazer um exame, por isso acho melhor que vá para casa. Eu a colocarei para
falar com você assim que estivermos no quarto. — Olhou para mim,
organizando tudo como se fosse um general no quartel. — Você pode ficar
com ela?
Não esperou resposta, virando-se novamente para a sobrinha.
— Roberto e Cassandra foram ver o pai ontem em Lisboa e só
voltam à noite. Acho que Aurora e Pandora foram para aquele seminário de
astrologia no Porto — explicou, como se estivesse com uma agenda na mão
confirmando os compromissos de todo mundo.
— Posso ficar com Angélica e vou fazer isso agora mesmo —
interrompi, antes que ela se prolongasse muito naquilo. — Ficamos
esperando que nos diga algo sobre Amanda e, assim que possível, coloque as
duas para se falarem, por favor.
— Sim, claro! — Pareceu ligeiramente desnorteada quando assumi o
controle da conversa.
Passei o braço pela cintura de Angélica e nos despedimos dela,
saindo em direção à recepção, onde Paolo continuava aguardando. Assim que
Angélica o viu, apertou a minha mão, apontando para ele.
— Aquele foi o homem que me ajudou.
— Eu sei. — Já não havia espaço para segredos entre nós,
principalmente agora que ela precisaria do máximo de segurança possível
depois daquele ataque que eu mesmo causei. — Aquele é Paolo, o chefe dos
seguranças do meu pai.
Ela apertou minha mão e vacilou nos passos.
— É sério isso, Lorenzo? — Ergueu o rosto para mim, surpreendida
com minhas palavras. — Oh.. nem... nem sei o que dizer — gaguejou.
— Então não diga nada nem me pergunte nada, porque ainda não
tenho respostas para dar. Fui pego de surpresa igual a você.
Paolo se levantou e veio ao nosso encontro, observando Angélica
atentamente.
— Você parece precisar urgentemente de um descanso — falou para
ela, depois olhou para mim e fiz um movimento de cabeça confirmando que
já havia dito quem ele era. — Poderia me dar a chave do carro de volta? Vou
pegá-lo e levar para o seu apartamento. Acho que tem compras lá que
precisam ser guardadas.
Angélica hesitou por um momento, olhando-me.
— Dê-lhe.
Ela enfiou a mão no casaco e retirou o chaveiro, separando as chaves
da casa e passando o resto para o Paolo. Ele pegou-as e saiu sem comentar
nada.
— Oh, que coisa mais estranha! — ela murmurou, fazendo-me rir.
CAPÍTULO 8

Amanda
TIREI O CARRO da vaga e manobrei para que ficasse de frente
para a saída do estacionamento. Quando levantei a vista, só faltei morrer de
susto ao ver Angélica correndo na minha direção com o rosto apavorado,
fugindo de um homem que a perseguia.
— Mãe!
Acho que foram todos os anos de experiência nas urgências que me
fizeram agir racionalmente na hora, saindo o carro e correndo em sua direção.
Quando os alcancei, ele já tinha agarrado Angélica e a arrastava para um
furgão, que permanecia com a porta aberta a alguns metros de distância.
— Largue a minha filha! — Segurei-o com força pelo braço e ele
tentou me empurrar para longe.
Há coisas que a gente nunca esquece na vida, por mais que o tempo
passe. Surpreendentemente, o que veio à minha cabeça naquela hora foram os
golpes que Ricardo me ensinou quando ainda morávamos no Rio de Janeiro.
Nunca precisei usar nenhum deles quando morava no Brasil e estava
pasma que tivesse de usá-los justamente em Portugal, um país com
baixíssimo índice de violência urbana.
Não pensei em mais nada além de salvar a minha filha. Ergui o
cotovelo e dei um golpe no maxilar dele. Aproveitei que vacilou e pisei com
força no seu pé com o salto fino da bota. Angélica se livrou na hora e respirei
aliviada.
Ela me puxou pelo braço para fugirmos de volta ao carro.
— Vem, mãe! Vamos para o carro!
Preparei-me para correr, mas um empurrão brusco me jogou com
violência em direção ao chão. Como em câmera lenta, senti meu corpo cair
pesadamente sobre o carrinho de compras. Depois, tudo escureceu à minha
volta, assim que uma pancada seca atingiu a minha cabeça com uma força
terrível.
Que dor filha da mãe era aquela? E aquele frio?
Senti o vento soprando e enregelando o meu corpo todo, ao mesmo
tempo em que ele trazia o som distante da voz de Angélica.
— Socorro!
Meu Deus, preciso salvar minha filha! Aquele homem vai levá-la!
Tentei me levantar, mas o meu corpo pesava como chumbo e a
cabeça girava. Fiquei desesperada, com uma vontade louca de gritar de ódio
por não poder fazer nada mais além de ficar ali, inerte, no chão frio.
Acho que caí no limbo por algum tempo, onde não ouvia nem sentia
nada.
Será que isso é a morte, e eu já morri sem saber?
Até que retornei para aquela semiconsciência com o toque de uma
mão quente na minha testa. A sensação foi tão boa que senti um calor se
espalhar pelo meu corpo, dando-me um novo fôlego.
A mão desceu ao longo do meu rosto e foi pressionar o meu pescoço
em busca de algum sinal de vida. E eu me sentia muito viva naquele
momento!
— Ela tem pulsação e ainda respira — uma voz masculina disse
perto do meu rosto, o tom grave e forte entrando naquele mundo estranho
onde eu estava. — Vou chamar uma ambulância.
Continuei ouvindo enquanto ele falava com a emergência. A força
da sua voz me manteve ligada ao mundo que eu conhecia e que não queria
deixar para trás.
— Ela está tão fria!
Minha filha! Ela não foi levada!
Senti vontade de chorar quando as mãos dela seguraram as minhas.
— Deve ser porque ficou desmaiada aqui no vento frio. O que
aconteceu com ela?
Era ele! Ainda estava lá.
Algo grande, quente e macio foi colocado sobre o meu corpo,
aquecendo-me de imediato. Percebi que era um casaco, que ainda guardava o
calor dele e o seu cheiro masculino. Um cheiro forte de homem que há muito
tempo eu não sentia de forma tão intensa.
Só naquele momento insanamente surreal foi que percebi o quanto
estive lutando sozinha durante anos, sem o apoio verdadeiro de um homem
em minha vida. Mesmo quando eu estava casada com Ricardo, eu já me
sentia sozinha. Separei-me dele e continuei sozinha. Vim morar em Portugal
e permaneci sozinha.
Senti uma estranha vontade de chorar e me peguei pensando em
como as pessoas que me conheciam ficariam chocadas se vissem a controlada
Dra. Amanda Sant’ana entregue às lágrimas.
Nem chorar eu posso!
— Não vou tirar sua mãe desta posição. — Ele voltou a falar e
percebi que ainda não tinha ido embora.
Contudo, até quando ficaria? Até quando?
Voltei a cair num mundo escuro, porém quente, até sentir um beijo
no rosto.
— Mãe, eu te amo! Fica bem, por favor!
Angélica!
Ela se aconchegou junto ao meu corpo, alisando meu cabelo e me
aquecendo com o seu amor de filha.
— Aquele é o carro de vocês? — O tom de voz dele era seguro e
decidido, de quem estava acostumado a resolver tudo.
— Sim, é.
— Vou colocá-lo na vaga e fechá-lo para você.
Aquela foi a última vez que escutei a sua voz. Depois, já não ouvi
mais nada. Eu me senti flutuar de um lado para o outro, até voltar a abrir os
olhos e ver Mário e Henrique me observando com atenção.
Respirei, aliviada.
— Acho que não morri, já que vocês dois estão aqui me olhando
com esta cara de susto.
Eles começaram a rir e percebi que também estavam aliviados.
Ambos faziam plantão no hospital naquele domingo, portanto, eu tinha
certeza de que estava viva.
— Ainda não foi desta vez, Amanda — Henrique falou, empurrando
os óculos para a ponta do nariz. — Um grande susto, mas ainda não foi desta
vez.
— Minha filha. — Foi a minha primeira preocupação na hora.
— Angélica está bem, não se preocupe — Mário disse, piscando-me
um olho. — A enfermeira Carla avisou que ela está com um rapaz enorme na
sala de tratamento. Estou indo para lá agora e vou examiná-la.
Fechei os olhos, ficando tranquila depois do que ouvi.
— É o Lorenzo, namorado dela.
— Seu genro? Então, terei o maior prazer em conhecê-lo. — Virou-
se para sair.
— Mário? — chamei-o de volta.
Ele parou, retornando para perto da maca.
— Sabe dizer se tinha um homem com minha filha?
— O que ajudou vocês?
Então ele existe mesmo, não foi tudo minha imaginação.
— Sim, esse mesmo — confirmei.
Fiquei na expectativa da sua resposta.
— Acho que ele ainda está na recepção, aguardando.
Respirei fundo.
— Obrigada, Mário. Vá e diga à Angélica que estou bem.
***

Lorenzo
Abri a porta do apartamento e fiz com que Angélica entrasse,
fechando depois.
— É melhor que vá tomar um banho e se deitar. Vou esperar que o
Paolo chegue para o ajudar a subir com as compras.
Angélica praticamente dormiu no carro durante a volta para casa.
— Vou tomar um banho.
— Assim que terminar vá para a cama, que irei ficar com você
depois. E não tranque a porta do banheiro, só deixe encostada — pedi, antes
que saísse do quarto.
Ela passou por mim e deu um beijo rápido no meu queixo.
— Sim, senhor doutor! — provocou, entrando logo depois no
banheiro.
Comecei a rir, ouvindo o som do chuveiro. Fui puxar as cobertas e
preparar a cama para ela, afastando o ursinho Thor para o lado.
— Hora de abrir espaço aqui, amigão.
Olhei para o meu celular, que não tinha ligações ou mensagens.
Coloquei-o sobre a mesa de cabeceira, no momento exato em que a
campainha tocou. Fui atender o Paolo.
Abri a porta e lá estava ele com todas as sacolas de compras nas
mãos.
— Não precisou de ajuda? — perguntei, divertindo-me com aquela
cena. — Estou impressionado com sua eficiência doméstica.
Ele segurou o riso e foi entrando.
— Diga logo onde coloco isso ou vou deixar tudo aqui para você se
divertir ainda mais.
Acabamos rindo e fui levá-lo à cozinha. Tiramos as compras e
colocamos tudo sobre a mesa.
— Vamos guardar só o que precisa ser refrigerado. O resto verei
com ela depois.
Em poucos minutos tínhamos terminado nossa missão e fui levá-lo
até a porta.
— Qual é o número em que posso ligar para você mais tarde? Está
usando o italiano ou tem um número português?
— Estou com os dois. Vou dar um toque no seu celular e poderá me
ligar quando quiser. — Parou do lado de fora da porta e me olhou com
seriedade. — Você teve sorte. Além de muito bonita, Angélica é uma garota
encantadora.
Fiquei sério também, olhando-o fixamente, esperando para ver até
onde ele queria ir com aquela conversa.
— Mas ela também me pareceu inocente demais, totalmente
diferente das outras mulheres que você teve antes. Por isso, tenha cuidado
para não a machucar.
— Não pretendo. Ela é especial para mim — disse, simplesmente.
— Eu esperava que dissesse isso — falou, ainda muito sério. —
Outras pessoas também vão perceber que ela é especial para você, basta vê-
los juntos. O que significa que deve ter cuidado.
Fez um movimento em direção ao elevador, mas se voltou
novamente, olhando-me com curiosidade.
— Já ia me esquecendo. — Fez uma pausa proposital antes de
continuar. — Não vá engravidá-la!
Era só o que me faltava!
— Puta que pariu! Primeiro a Amanda e agora você? — rugi com
raiva.
— Ela teve coragem de lhe dizer isso? — Ele riu, mas seu olhar era
de admiração. — Já gosto dela!
Fui fechar a porta, mas ele me impediu ao colocar o pé no batente.
Olhei-o, esperando que falasse logo o que tinha para dizer e fosse embora.
— Se ela engravidar, vai causar um abalo na estrutura da família e
muita gente vai enlouquecer. Primeiro, o Sr. Vicenzo, que vai estufar o peito
de orgulho por ter um neto. Depois, tem os seus avós, que vão respirar
aliviados com mais uma linhagem de herdeiros e dar uma grande festa. —
Coçou a barba antes de continuar. — Mas ainda temos o seu primo Enzo, que
vai morrer de inveja por não ter pensado nisso antes. Já o Sr. Aldo, será capaz
de se envenenar no próprio ódio ao perceber que será o segundo mais uma
vez. — Estalou os dedos e apontou para si mesmo. — E por fim, eu, que terei
mais um herdeiro para proteger.
Virou-se calmamente e chamou o elevador.
— Da minha vida cuido eu! E podem ir todos à merda! — disse-lhe
tranquilamente.
— Esperava que dissesse exatamente isso — Paolo repetiu, entrando
no elevador.
Fechei a porta e fui para o quarto de Angélica, onde ela já estava
deitada na cama com o ursinho ao lado, adormecida.
Tirei a roupa, ficando só de cueca e blusa, e entrei debaixo dos
lençóis.
A cama era grande o suficiente para nós dois, mas ainda assim a
puxei para bem pertinho de mim. Encostei as nádegas macias e arredondadas
na minha virilha, deliciando-me com o calor do seu corpo me aquecendo. Ela
ainda estava com o cabelo úmido do banho, que cheirava divinamente.
Sim, Angélica era especial para mim e eu estava consciente da sorte
que tinha. Envolvi sua cintura e coloquei a mão sobre a barriga lisinha,
porque Paolo tinha razão. Um filho meu iria abalar a estrutura da família e
enlouquecer muita gente. Inclusive eu, de felicidade.
CAPÍTULO 9

Lorenzo
— ANGÉLICA?
Sentei-me na cama e olhei ao redor. Ela não estava ali nem me
respondeu. No entanto, eu tinha certeza de que escutei sua voz me chamando.
Levantei-me, vesti a calça e saí pelo corredor, a tensão começando a tomar
conta do meu corpo e já preparado para enfrentar o que fosse para a
encontrar.
— Angélica?
Cheguei até a sala, depois fui para a cozinha. Nada!
Voltei ao corredor, indo para o quarto de Amanda e abrindo a porta
sem vacilar, minimamente preocupado por se tratar do quarto da mãe dela.
Precisava achar Angélica, mas a única coisa que encontrei foi a cama
arrumada, mostrando bem a imagem cuidadosa de Amanda.
Não perdi mais tempo e olhei rápido em todos os cômodos da casa,
pois tinha urgência em saber se ela estava bem.
Depois de uma revista completa, constatei que o apartamento estava
vazio.
— Angélica! — gritei alto no meio da sala, confirmando que
realmente não havia ninguém ali.
Puta que pariu, Angélica, onde você está?
Saí correndo pela porta, ignorando o elevador e descendo pelas
escadas. Quando cheguei na portaria deserta, corri em direção à rua. Olhei
para os dois lados e não vi ninguém, muito menos ela.
— Angélica! — gritei novamente, o som reverberando ao meu redor.
— Lorenzo!
É ela!
Virei-me na direção da sua voz e a vi correndo pelo meio da rua, o
cabelo louro se agitando com violência em volta do seu rosto. Parecia
apavorada.
Com a adrenalina explodindo nas veias, desci a calçada correndo, no
mesmo momento em que um furgão branco surgiu em alta velocidade pela
rua, parando bem ao lado dela. Numa fração de segundos, soube o que ia
acontecer, mas, pela distância que nos separava, vi que não chegaria a tempo
para impedir que a levassem.
— Angélica, sai da rua e sobe a calçada! — Continuei correndo
enquanto gritava, esperando que ela conseguisse fazer o que eu pedia.
Aquela era a única forma de evitar que a pegassem antes de eu
chegar até ela.
A porta do furgão se abriu e um homem encapuzado desceu e a
agarrou pela cintura, erguendo-a do chão e tapando sua boca. Ela olhou para
mim com os olhos arregalados de pavor, o cabelo caindo pelo rosto com a
violência com que foi içada para dentro do carro. A porta foi fechada,
trancando-a lá dentro, e eles arrancaram velozmente, desaparecendo rua
abaixo. Atrás do furgão seguia um Mercedes preto, dando cobertura ao
sequestro de Angélica.
— Angélica! — gritei, dominado por um misto de raiva, medo e
frustração por não ter conseguido evitar que a levassem. — Angélica!
O desespero tomou conta de mim e perdi a capacidade de respirar
normalmente, faltando-me o ar e sendo dominado por uma sensação de
sufocamento. A dor no peito era imensa e só pensei que morreria sem ela, já
sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.
Ela era o meu mundo e perdê-la era perder tudo!
Angélica!
Uma mão macia apertou meu braço suavemente, enquanto eu sentia
o coração bater acelerado, a respiração ofegante e um suor frio cobrir meu
corpo.
— Lorenzo? — Consegui escutar a voz dela em meio à névoa que
encobria a minha mente com aquela dolorosa sensação de perda. — Lorenzo,
eu estou aqui.
Olhei na direção do som e vi Angélica deitada ao meu lado, o corpo
erguido sobre o meu, uma das mãos balançando meu braço para me acordar
daquele pesadelo terrível.
Gemi alto quando a olhei, com o cabelo louro desarrumado pelo
travesseiro, o rosto marcado pelo sono, o lábio ainda machucado pela
agressão que sofreu.
— Puta que pariu, Angélica!
Debrucei-me sobre ela como o desesperado que eu era, levando-a de
volta ao travesseiro e enterrando meu rosto em seu pescoço. As lágrimas de
desespero foram substituídas por lágrimas de alívio e limpei-as com a mão,
sentindo seus braços carinhosos me envolverem pela cintura.
— Você está bem? — ela perguntou, alisando minhas costas. —
Estava me chamando enquanto dormia.
Respirei fundo e exalei o ar com força, sentindo-me relaxar. Rolei
para ficar de costas e trouxe-a comigo, para não fazer peso em cima do seu
corpo dolorido. Coloquei-a em cima de mim com cuidado, levando seu
cabelo para trás quando caiu sobre nós.
— Estava procurando-a e não a encontrava. Fiquei desesperado,
porque preciso muito de você!
Ela olhou para mim com compreensão.
— Está tudo bem. Agora fica calmo, porque estou aqui ao seu lado.
— Passou a mão no meu cabelo. — Você teve um pesadelo, só isso!
Voltei a respirar fundo.
— Eu te amo muito, Angel. — Fechei os olhos e inalei o seu cheiro,
sentindo o corpo quente colado ao meu, as pernas nuas tocando as minhas por
baixo das cobertas. — Nunca me deixe, por favor!
Ela riu baixinho, o olhar carinhoso fixo em mim.
— Não pretendo deixar você por nada, porque também te amo
muito! — declarou com emoção, o seu sotaque acentuado abalando as
minhas estruturas emocionais.
— Deite-se aqui, amor. — Coloquei sua cabeça em meu braço e me
ergui sobre ela, dando-lhe um beijo muito leve nos lábios. — Dói se fizer
assim?
Ela negou com a cabeça.
— Não.
Beijei de novo, passando a língua levemente no lábio machucado.
— E assim?
— Também não.
Fui até seu rosto e beijei o lado que foi agredido, depois segui até
sua testa.
— Ainda sente dor aqui?
Ela suspirou de prazer quando sentiu meu carinho.
— Não, a dor de cabeça passou.
Afastei-me um pouco e beijei no meio dos seios dela, no local
provável onde foi imobilizada com o joelho do sequestrador.
— E aqui, ainda dói?
— Um pouco.
Olhei-a fundo nos olhos, tentando não demonstrar que aquela
resposta fazia renascer minha vontade de o encontrar e mostrar como doía
uma boa joelhada na virilha.
Enfiei a mão por dentro da blusinha que ela usava, vendo através do
tecido fino o contorno sensual dos seios sem o sutiã.
Fiquei ansioso por tocá-los e sentir na palma da mão aqueles seios
que tinham me enlouquecido tanto quando os senti pela primeira vez. Prendi
o seu olhar, que Angélica devolveu com confiança.
— Tira a blusa, amor! — pedi, mas já fui puxando o tecido,
ajudando-a a se livrar dela.
Angélica ergueu os braços com cuidado e arrastei a blusinha pelo
seu corpo, vendo como aos poucos a pele leitosa ia surgindo diante dos meus
olhos.
Cheguei até a achar que tinha me esquecido o quanto ela era linda,
porque me deslumbrei novamente com a sua beleza, à medida que ia ficando
nua na cama. Quando a blusinha saiu do seu corpo e foi jogada para o lado,
eu já tinha endurecido dentro da cueca só de a olhar.
Usando apenas uma calcinha preta que contrastava gritantemente
com a pele branca, enlouqueci de tesão diante da sensualidade inocente de
Angélica.
Ergui minha blusa, tirando-a e sentindo seus olhos presos no meu
peito. Quando terminei nos olhamos fixamente, antes que eu colasse o peito
em seus seios. Suspiramos de puro prazer com o impacto de pele contra pele,
e eu já estava enlouquecendo de vontade de prová-la por inteiro.
— Se doer qualquer coisa me diz. — Grunhi em sua boca, tendo o
maior cuidado com ela, mas também necessitando sentir o seu sabor em
minha língua.
Ela não disse nada, apenas se abriu para mim e me deixou tomar o
que eu queria. Não hesitei em saciar a fome que tinha dela, sentindo seus
dedos envolverem o meu cabelo e o puxar levemente. Aquilo acabava de vez
comigo!
Afastei-me de sua boca e, sem aviso algum, fui atrás dos seios,
abocanhando um mamilo rosado e sugando-o com uma ansiedade
incontrolável.
— Ai, Lorenzo! — ela gemeu de imediato, arqueando o corpo
delicado e pressionando minha cabeça contra os próprios seios. — Eu adoro
isso!
Fui ao outro mamilo, percebendo quando ela apertou uma coxa
contra a outra, tentando aliviar o desejo e se satisfazer. Levei a mão até a
calcinha e comecei a tirá-la. Angélica levantou o quadril para facilitar e
ergueu as pernas para que eu a deslizasse por elas. Apertei sua calcinha em
minha mão e a trouxe até meu rosto. Soltei o seio da boca e encostei a renda
preta no nariz para inalar o seu cheiro.
Puta que pariu, é delicioso!
Eu ia arder no inferno se não a provasse hoje! Já me sentia enrijecer
completamente só com aquele odor feminino tão próprio dela.
Angélica arregalou os olhos de surpresa ao ver o meu gesto, mas era
bom que se acostumasse logo com os meus desejos e fetiches, porque
pretendia realizá-los todos.
Joguei a calcinha para o lado, coloquei a mão entre suas pernas e as
separei, sentindo a umidade fazer o meu dedo deslizar até sua entrada. Ela
soltou um arquejo de prazer, fechando os olhos e arremetendo o quadril para
cima em busca de satisfação.
Eu me vi no limiar de perder totalmente o controle e quebrar todas
as regras, promessas e boas intenções que tinha, porque aquilo tudo era
tentação demais.
Movi o dedo em sua umidade e desci a boca para o mamilo que se
oferecia para mim, sentindo como ela separava mais as pernas à medida que
eu intensificava os movimentos, a respiração cada vez mais ofegante.
— Lorenzo! — gemeu.
Caralho! Ela já está pronta e eu estou desesperado para possuí-la!
Não poder fazer o que eu queria era uma tortura e me sentia doer de
vontade de penetrá-la. Aquilo era frustração demais, porra!
Sabia que Angélica estava perto de gozar, mas dessa vez ia ser
diferente! Se eu não podia possuí-la da forma que queria, pelo menos ia
satisfazer um dos meus desejos.
Desci a boca do seio macio e cheguei até a barriga lisinha, beijando
cada pedacinho de pele, sem deixar de mover o dedo entre as pernas dela,
preparando-a para o que vinha a seguir.
Cheguei ao quadril arredondado e fui descendo, já sentindo o cheiro
da sua excitação. Mordi levemente sua coxa, fazendo-a inspirar fundo quando
cheguei ao meu objetivo.
— Lorenzo? — ela exclamou, segurando meu cabelo com força e
puxando-me de volta, mas nada me faria parar agora.
— Confia em mim, amor.
Entrei no meio de suas pernas e coloquei as mãos por baixo da
bunda macia, erguendo-a ligeiramente para mim. Pela primeira vez tive a
visão completa do seu sexo e olhei, excitado, para tudo aquilo à minha frente.
Ela era realmente linda!
Respirei fundo e mergulhei a língua nela, ouvindo seu arquejo de
surpresa e, ao mesmo tempo, de prazer.
Puta que pariu, se ela não é a coisa mais doce que provei na minha
vida!
Suguei e saboreei tudo o que podia dela. Bebi e fartei-me do seu
cheiro e sabor. Dei-lhe tudo que sabia para vê-la satisfeita, estimulando-a
com o melhor de mim.
— Lorenzo, não para por favor. Continua!
Levei a mão até o mamilo rosado e o apertei suavemente,
aumentando a pressão aos poucos para intensificar o seu prazer. Em
segundos, ela arqueou o corpo, sincronizando o movimento como a minha
língua e senti que estava na iminência de gozar.
— Lorenzo, eu acho que... — ela falou, inspirando fortemente.
Senti sob a minha língua e lábios, o seu corpo todo vibrar com os
espasmos do orgasmo.
Porra! Sentir Angélica gozar assim era mais do que excitante.
Deixei-a aproveitar ao máximo o momento, prolongando o mais que
pude o seu prazer, até que ela pareceu desfalecer ao soltar meu cabelo. Olhei
seu sexo mais uma vez e dei um longo beijo molhado nele, antes de
abandonar suas pernas e subir por seu quadril redondo, barriga lisinha e seios
tentadores. Cheguei até sua boca e a beijei suavemente, seus olhos enevoados
presos aos meus.
Colei meu corpo inteiro ao dela e segurei seu cabelo com carinho,
fazendo com que me olhasse de frente.
— Você tem o meu cheiro e o meu gosto — ela falou simplesmente,
as pernas erguidas enlaçando-me pela cintura.
— Gostou, meu anjo?
Sorriu muito tímida, mas os olhos azuis brilhavam.
— Sim, muito! — A voz estava rouca e suave. — Foi maravilhoso.
Agora, era chegada a minha hora!
— Posso fazer com você uma coisa para o meu prazer e que quero
muito?
Ela me olhou com curiosidade, mas confirmou com a cabeça.
— Confia em mim? — Ter aquela confirmação era importante.
— Sim, confio.
Respirei fundo para controlar minha ansiedade, a tensão sexual
chegando a um nível alarmante dentro de mim.
— Então vira de costas — pedi com a voz enrouquecida de desejo.
Ela não se mexeu, apenas fixou mais ainda o olhar em mim, que
sustentei sem titubear. Não toquei nela para que se virasse nem falei mais
nada, deixando que tomasse sozinha a decisão de o fazer ou não.
Quando ela se virou, pousando o rosto de lado no travesseiro, soltei
a respiração que estava presa. Só então a segurei pela cintura, acomodando-a
perto de mim. Olhei seu corpo todo, das coxas esguias à tentadora bunda
arrebitada, subindo pelo declive da lombar que levava à cintura fina e às
costas delicadas.
Levei minha mão à curva da nádega e acariciei quase com devoção,
porque era simplesmente linda. Inclinei e a beijei.
Afastei-me para tirar a cueca, jogando-a para o lado e libertando
minha ereção. Suspendi o corpo sobre Angélica e a puxei para perto de mim,
porém, antes de continuar, quis tranquilizá-la.
— Se não gostar de algo, diz que eu paro.
Ela apenas confirmou com a cabeça.
Puxei seu cabelo louro das costas e os coloquei de lado sobre o
travesseiro. Separei suas coxas ligeiramente, abrindo espaço suficiente para
encaixar meu pau no meio delas. Mal entrei naquele espaço, ela inspirou
fundo e eu também, porque era a primeira vez que nossos sexos se tocavam, e
puta que pariu se aquilo não era delicioso.
— Lorenzo! — A exclamação de prazer de Angélica chegou aos
meus ouvidos e compreendi perfeitamente o que ela estava sentindo, porque
sentia o mesmo.
Levei a ponta do meu pau até a entrada macia e me esfreguei nela,
fechando os olhos e imaginando como seria quando finalmente pudesse
penetrá-la. Senti o meu corpo estremecer com um prazer intenso.
Angélica se mexeu de encontro a mim, parecendo verdadeiramente
encantada com a sensação.
— É tão quente e macio — sussurrou de olhos fechados.
Oh… que... caralho!
Eu não ia aguentar muito mais se ela continuasse falando daquele
jeito.
Beijei-a, cobrindo-lhe o corpo com o meu, tendo o cuidado de não
fazer peso e causar dor.
— Estou muito pesado assim?
— Não, não está — garantiu rápido, mexendo o corpo debaixo do
meu. — Eu gosto de sentir você assim.
Soprei o ar com força ao ouvir aquelas palavras.
— Posso continuar? — grunhi com o rosto afundado no seu cabelo.
— Sim, pode. — Fez uma pausa e virou o rosto para mim. — Se me
deu tanto prazer, quero dar o mesmo para você!
Apertei minha mão em torno da dela, segurando a excitação ao
máximo para não cair em cima de Angélica com tudo.
— O que vou fazer vai ser rápido e sem penetração, Angel —
expliquei, já a ponto de explodir. — Eu apenas não aguento mais me
masturbar sozinho. Preciso sentir o seu corpo tocando o meu de alguma
maneira.
Deslizei a mão até seu quadril e encostei Angélica totalmente em
mim, beijando seu ombro e gemendo de prazer com a sensação gostosa de tê-
la assim.
— Eu não tenho preservativo aqui, mas não se preocupa que estou
limpo. Faço exames todo início de temporada.
Ela não disse nada, apenas me olhou por cima do ombro. A resposta
veio através do movimento que fez com o quadril contra minha virilha,
fazendo-me tremer de ansiedade.
— Fecha bem as pernas e aperta as coxas, que eu faço o resto. Se for
muito brusco, avisa que eu paro.
Angélica ainda estava toda molhada e deslizei suavemente em sua
umidade. Montei-a ligeiramente, o suficiente para poder me mover da forma
como queria. Eu sabia que não ia demorar muito para gozar naquela posição
extremamente estimulante em que ela estava.
Segurei firme seu quadril para a primeira estocada entre as coxas
macias. Depois veio a segunda, a terceira, e fui em frente até que ouvi seus
gemidos de prazer a cada vez que roçava nela. Olhei para a imagem
provocante de Angélica naquela posição, nossos corpos juntos a colidirem
um contra o outro. Não havia penetração, mas também não faltava muito para
isso acontecer.
Grunhi de prazer ao ver o meu pau entrar e sair das coxas dela,
deixando pouco à minha imaginação.
— Lorenzo?
Respirei fundo para clarear a mente antes de responder, esperando
por tudo que ela não me pedisse para parar, porque, àquela altura, eu não
sabia se conseguiria atender ao seu pedido.
— Diz, Angel. — Foi mais um grunhido do que outra coisa, já que
me forcei a parar de qualquer jeito.
— Lorenzo, deixa que ele toque em mim. Eu gosto!
Merda! Eu aqui lutando para ficar longe da tentação e ela pedindo
para arriscar tudo.
— Não é seguro — disse com esforço, voltando a mergulhar entre
suas coxas.
— Só um pouquinho. Me deixa sentir você como fez antes.
— Vou enlouquecer com isso, porra!
Ergui meu corpo um pouco mais e passei a ponta do meu pau em
toda extensão do seu sexo molhado. Instintivamente, ela abriu mais as pernas
e ergueu a bunda para cima, enlouquecendo-me com aquela visão.
— Oh, é tão gostoso! — gemeu alto, deslumbrada com as sensações
novas que experimentava.
Não resisti e parei em sua entrada, forçando ligeiramente, apenas
para sentir sua reação. Eu sabia que era grande demais e Angélica precisaria
de muita preparação para conseguir receber-me dentro dela. Contudo, mesmo
sendo a primeira virgem da minha vida, eu ia tentar que sua primeira vez
fosse especial.
Angélica sugou o ar com força, mas não tentou evitar a pressão que
eu fazia. Apenas ficou parada, para depois se movimentar e me acomodar
melhor na entrada do seu sexo. Segurei-me o máximo que pude e desviei a
vista daquela cena provocante ou perderia totalmente o pouquíssimo controle
que ainda tinha. Ela se mexeu novamente buscando o prazer, mas na primeira
fisgada de dor, recuou.
Forcei-me a olhar nossos corpos e estimulei com o dedo o botão
intumescido. Imediatamente, ela suspirou de prazer e veio novamente de
encontro a mim. Angélica relaxou e se abriu mais, aproveitando a
estimulação. Em determinado momento, tive de segurar sua nádega para
controlar os movimentos dela, assim não corria o risco de tirar sua virgindade
com um impulso involuntário e também impedia que ela fizesse o mesmo.
— Ai, não para! — gemeu ainda mais, apertando os lençóis com as
mãos e descendo mais o corpo, estimulada pelos movimentos do meu dedo.
Por sua resposta, vi que não seria difícil penetrá-la pela primeira vez.
Aquilo me trouxe um certo alívio, mas também fez com que percebesse que,
se não parasse agora, a perda da virgindade aconteceria naquele momento.
Ela estava naquele ponto em que não pensava em outra coisa além de
satisfazer o desejo, e em breve eu também chegaria ao meu limite.
Afastei-me o suficiente para diminuir a pressão, mas ela veio junto e
tive de segurar sua nádega com força para mantê-la longe.
— Não sai, não para! — ela choramingou, ofegante.
— Não vou sair.
Aumentei a pressão e os movimentos do dedo, vendo sua resposta
imediata.
Ela ia gozar de novo!
— Ai, amor — gemeu alto, mexendo o quadril. — Não sai, Loki!
Puta que pariu, não me chame assim!
— Cala a boca, Angel! — rosnei baixinho ao ouvi-la me chamando
de Loki, porque, para me descontrolar, já bastava a visão dos nossos corpos
juntos. — Não fala mais nada, amor.
Ela me ignorou completamente, repetindo meu apelido e gemendo
alto, até seu gozo explodir nas minhas mãos.
Então, ceguei para tudo à minha volta, deixando o monstro do desejo
que eu segurava rugir e vir para fora. Esqueci de tudo e voltei à posição
anterior entre suas coxas, apertando-as em torno do meu pau e dando as
estocadas que eu precisava para aliviar toda a tensão sexual acumulada
durante aqueles minutos de tortura que Angélica me causou.
Inclinei-me sobre suas costas, passando um braço por debaixo dela
para erguer seus ombros e abocanhei aquela tatuagem de Loki que ela tinha,
fincando levemente os dentes na pele macia.
Perdi completamente o controle, a noção do tempo, a força que usei
ou quantas vezes mais precisei bater naquela bunda macia para gozar entre
suas coxas, rugindo de prazer dentro do quarto de Angélica, o silêncio do
apartamento sendo quebrado por nossos gemidos de satisfação e êxtase.
Sustentei-me nos braços, a respiração ofegante, o corpo suado e os
espasmos do orgasmo ainda me fazendo estremecer. Aliviei o peso sobre ela,
beijando sua tatuagem e passando a língua sobre ela, já preocupado que a
tivesse marcado com a minha falta de controle.
— Desculpe, meu anjo. Eu me excedi. — Massageei o local para
tentar aliviar qualquer dor que ela estivesse sentindo, blasfemando
mentalmente por ter me deixado levar pelos meus instintos. — Machuquei
você?
— Estou bem — ela sussurrou, segurando-me pelo braço. — E
gostei de tudo que fizemos.
O meu peito aqueceu quando a ouvi.
— Você me enlouquece totalmente. — Abracei-a com força,
procurando sair de cima dela.
— Não! — Apertou o meu braço. — Fica assim só mais um
pouquinho. Eu gosto!
Caí ao seu lado na cama, mas deixei parte do meu corpo sobre o
dela, trazendo-a para mais perto de mim.
— Marquei você — avisei, puxando seu cabelo para cima e vendo o
vermelhão ao redor da tatuagem. — Não deixa ninguém ver ou vou ficar puto
da vida. Fica muito na cara o que foi que causou isso.
— Hum-hum. — Ela parecia estar adormecendo novamente.
Deitei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos, aproveitando aquele
momento juntos, sem interrupções ou ameaças, apenas uma paz muito grande
em tê-la ao meu lado.
— Eu te amo, Angel!
— Eu também te amo, Loki!
CAPÍTULO 10

Angélica
— MÃE, ESTOU TÃO feliz por você estar em casa e por aquele
pesadelo horrível ter acabado. — Encostei-me bem de leve no seu ombro,
dividindo a cama com ela.
Ela me puxou para mais perto.
— Não sou feita de porcelana, pequenina! Pode me abraçar com
força — riu, fazendo-me cócegas na barriga.
Já que podia, atirei-me em seus braços e aproveitei o prazer de ter
minha mãe forte e saudável comigo.
— Que susto levei quando vi você caída no chão!
— Eu que tive um susto enorme quando vi aquele homem querendo
levar você. — Acariciou meu cabelo, soltando um suspiro de alívio. —
Graças a Deus apareceu o tal Paolo para nos ajudar. Tenho que agradecê-lo,
caso tenha a chance de o conhecer pessoalmente.
— Eu já agradeci por nós duas! — tranquilizei-a, porque sabia o
quanto era importante para ela agradecer pelos favores que recebia. —
Lorenzo também disse que ia conversar com ele sobre tudo que aconteceu, já
que Paolo é especialista em segurança privada.
Ela ficou pensativa durante um momento, uma expressão ausente
tomando conta do seu rosto, até olhar para mim com seriedade.
— Filha, temos duas coisas importantes para conversar.
Aquele tom sério fez-me ficar logo com um pé atrás, porque sabia
que vinha bronca por aí. Procurei aparentar tranquilidade, pois sentia-me
levemente culpada por ter namorado ontem com Lorenzo em minha cama na
ausência dela.
— O que é, mãe?
— Primeiro, não quero mais que falte ao colégio. Passou-se a
primeira semana de aulas e você não foi todos os dias. — Puxou-me a ponta
do nariz. — Sorte que nos primeiros dias os professores fazem apenas revisão
do ano anterior, mas ainda assim é melhor evitar isso. Hoje foi uma exceção
porque voltei para casa do hospital, mas a partir de amanhã é levar a coisa a
sério.
— Tudo bem. Lorenzo já combinou comigo que vem me pegar
todos os dias de manhã e vai trazer de volta também. Disse que só vai faltar
nos dias que precisar ir à médica, mas que pretende marcar as consultas
quando Roberto for ao colégio.
Ela balançou a cabeça em aprovação pela atitude dele e vi que estava
aliviada com o arranjo feito.
— Ele foi à aula hoje?
— Foi e mais tarde vai ligar para conversarmos um pouquinho.
Na verdade, eu já estava com saudades dele, porque desde ontem à
noite que só trocamos mensagens pelo celular.
Lorenzo ficou em casa comigo até o final da tarde, quando Roberto e
Cassandra chegaram de Lisboa e vieram me pegar para dormir na casa deles,
já que tia Ângela permanecia no hospital com minha mãe.
Roberto e Lorenzo se estranharam um pouco. Não houve apertos de
mão nem sorrisos quando se encararam. Eu procurei fingir que não vi nada
disso e Cassandra fez o mesmo. Falamos as duas sem parar para preencher o
silêncio deles dois.
Lorenzo foi embora a contragosto e eu também senti a separação,
principalmente depois de tudo o que fizemos em minha cama.
— Queria não precisar ir embora e deixar você — ele disse, quando
nos abraçamos na porta do elevador. — Isso é mesmo uma merda!
Apertei mais meus braços ao redor do seu pescoço, louca para que
me levantasse e pudesse envolver sua cintura com minhas pernas, mas ele
colocou a mão em minha coxa e impediu-me de fazê-lo.
— Melhor não! — sussurrou no meu ouvido.
Virou de costas para a porta aberta do meu apartamento, encobrindo-
me totalmente caso alguém aparecesse lá.
— Oh, mas eu quero! O que tem de mais? — disse, chateada.
— Não gosto de exposição íntima em público! Só isso! — roçou os
lábios no meu pescoço, inspirando fundo o meu cheiro. — O que fazemos
juntos só diz respeito a nós dois e não pretendo que Roberto veja nada. Você
não sabe como funciona a cabeça de um homem.
— Vocês são muito estranhos, isso sim! — falei rindo e deliciando-
me com os seus carinhos. — Vou sentir a sua falta. — não resisti em dizer.
— Eu também! — fitou-me com intensidade, segurando meu olhar.
— Já tenho vontade de te amar de novo!
Oh, meu coraçãozinho, como foi bom tudo aquilo! Por mim, não
saía mais dos braços dele!
Nem tive como responder, porque ele me beijou quase
imediatamente depois e só pude me entregar mais uma vez àquele sentimento
tão forte que nos unia.
O que fizemos, para mim, foi o amor mais lindo do mundo!
Senti um prazer tão intenso que fiquei sem forças e voltei a dormir.
Quando acordei no início da tarde, Lorenzo já tinha tomado banho e estava
conversando na sala com Paolo pelo celular. Aproveitei que ele estava
ocupado e fui tomar banho, tirando depois os lençóis sujos da minha cama e
colocando-os dentro da máquina de lavar.
A despedida ontem foi difícil e senti a resistência dele em ir embora
e deixar-me, mesmo sabendo que estaria segura com Roberto e Cassandra na
casa deles.
— Vou ligar sempre e enviar mensagens o tempo todo — ele disse,
abrindo a porta do elevador. — A partir de hoje você vai ter que aguentar
todas as minhas obsessões e paranoias com sua segurança.
Eu aguento tudo, se for para ter Lorenzo ao meu lado!
Agora estava pensando com meus botões se minha mãe tinha notado
na minha cara tudo o que fizemos ontem, além dos lençóis da minha cama
que foram trocados.
— O outro assunto é Lorenzo. — Fez uma pausa que só serviu para
deixar-me mais apreensiva ainda. — Ele é um rapaz de ouro e eu não poderia
estar mais feliz por ele ser seu namorado. O problema é que ele leva a sério
demais esse namoro e estou preocupada com isso.
Oops, não entendi nada!
— Mãe, como é que pode estar preocupada com um namorado que
me leva a sério? Não era para ser o contrário?
Ela bufou com irritação.
— Expressei-me mal, porque não quero dizer que não gosto disso.
Apenas me preocupa a maneira como Lorenzo... quer dizer… o jeito que ele
controla tudo que diga respeito a você. — Ela parecia estar escolhendo as
palavras certas. — E também o fato de tratá-la como se fosse mulher dele e
não namorada. Sei lá, às vezes até me assusto com a maturidade dele. Nem
parece um rapaz.
Começamos a rir juntas, porque era assim mesmo como eu o via.
— Sendo sincera, eu já me acostumei com este jeito dele de querer
saber tudo e controlar tudo. Acho que isso lhe dá segurança e tranquilidade
para manter o resto das coisas dele em equilíbrio. Já nem me importo mais
com isso, porque ele me dá tanto dele em troca. Estou tão feliz!
Ela virou de lado na cama, a cabeça apoiada no travesseiro e o olhar
muito sério fixo em mim.
— É difícil ter que admitir isso, mas vou ver um anticoncepcional
para você. Não vou vacilar e vê-la grávida.
Oh, Senhor! Nem pensei nisso!
— Grávida, mãe?
— Sim, Angélica! Grá-vi-da! — ela repetiu pausadamente cada
sílaba, frisando bem a palavra. — Acaso já não sabe o que é isso? A barriga
cresce e sai um bebê nove meses depois.
— Oh, mãe! Deixa de ser boba. — Tentei brincar com ela. — Eu sei
disso!
— Sabe? E por que esta cara de susto? — olhou-me, desconfiada. —
Não venha me dizer que já andaram transando!
— Não! Ainda não!
Olhei para ela e resolvi ser sincera, mesmo estando um pouco
constrangida com o assunto. Mas ela era minha mãe e tínhamos um
relacionamento ótimo.
— Eu gosto tanto de tudo que fazemos juntos que não consigo achar
isso errado! Gosto de tudo que ele faz comigo e Lorenzo está sempre
preocupado, perguntando se estou bem, dizendo que se não gostar é só dizer
que ele para na hora. Eu assumo que só não fizemos amor até agora porque
ele não quis. Se fosse por mim, já teríamos feito!
Ela arregalou os olhos e ficou muda por um longo tempo, só olhando
para mim sem dizer nada. Fiquei calada também, dando-lhe tempo para
assimilar bem o que eu disse.
Eu não ia mentir! Já estava mais do que ansiosa para fazer amor com
Lorenzo.
— Meu Deus, filha! Você é igual a mim quando tinha a sua idade —
sussurrou, chocada. — Completamente apaixonada pelo primeiro namorado,
descobrindo a sexualidade com ele e louca para se entregar.
Pela cara dela, aquilo parecia ser o fim do mundo!
— E isso é mau? — perguntei com cuidado, pois percebi que ela
estava vendo a si mesma em mim. — Ainda mais sabendo que Lorenzo está
tão envolvido quanto eu estou e que leva a sério nosso namoro?
Ela negou energicamente com a cabeça.
— Não, claro que isso é bom! — disse rápido. — O problema é que
ele é seu primeiro namorado! E se você fizer como eu fiz, de transar logo,
engravidar muito novinha e depois casar, não vai aproveitar a vida direito ou
conhecer outros rapazes.
Que estranho ela dizer aquilo.
— E é para eu conhecer outros rapazes além de Lorenzo? Mas se eu
estou super feliz com ele, para quê vou querer conhecer outros rapazes? —
Estava confusa e sem entender onde ela queria chegar. — Você quer que eu
experimente com outros caras o que faço com ele para ver como é? É isso?
Ela deu outro beliscão na ponta do meu nariz.
— Claro que não, D. Angélica! Onde já se viu distorcer minhas
palavras assim? — Olhou para mim com preocupação. — Sei que parece
estranho dizer isso, porque entendo que vocês dois gostam muito um do
outro, mas lá na frente você pode se arrepender de não ter aproveitado mais a
vida e namorado mais.
Eu conhecia minha mãe e vi que ela estava surtando por conta da
experiência que teve com meu pai. O casamento deles não esteve muito bom
nos últimos anos antes do divórcio e eu ficava triste em ver que ela tinha
saído traumatizada da experiência. Aquele era o único assunto que a deixava
cega e travada!
Abracei-a com carinho e dei-lhe um beijo no rosto.
— Vou namorar muito com Lorenzo e aproveitar o máximo que
puder cada momento junto com ele. Se lá na frente acontecer algo que nos
separe e eu voltar a ficar sozinha, posso então vir a pensar na possibilidade de
conhecer outro cara, sem problema algum. — Olhei-a fixamente. — Que é o
que você já devia ter feito há muito tempo!
Não disse mais nada para não forçá-la muito, porque se eu quase
afundei há dois anos atrás depois das agressões de Emanuel, minha mãe
afundou totalmente quando descobriu que meu pai estava tendo um caso com
uma funcionária administrativa do quartel. Naqueles anos todos que moramos
em Portugal, nunca vi minha mãe namorando, mesmo sabendo que não
faltavam pretendentes para ela.
Se brincar, o trauma com meu pai foi maior do que eu pensava.
Achava que enquanto foram só os negócios escusos dele e o seu jeito
controlador, minha mãe aguentou bem. Mas quando a traição veio junto, tudo
foi abaixo de vez e o inferno foi pouco para ela.
— Mãe, você é tão bonita e inteligente. — Fiz uma pausa, pensando
no que ia dizer. — Agora que estou namorando com Lorenzo e amando-o
tanto, é que vejo como isso é bom e faz a vida da gente melhor. Parece que
tudo tem mais brilho! Eu me acordo com vontade de viver, louca para vê-lo,
ansiosa para estar com ele e adoro tudo que fazemos quando estamos juntos.
A vida tem um outro significado com ele ao meu lado.
Ela estava com os olhos fechados, uma ruga no meio da testa
indicando que sua cabeça estava trabalhando a mil por hora. Eu só esperava
que não fossem lembranças ruins.
— Vai pensar nisso e dar-se uma outra chance para amar
novamente? — Gostei muito da ideia e quando vi já estava rindo, deliciada.
— Imagina nós duas namorando ao mesmo tempo e fazendo um programinha
de casais no cinema?
Fiquei aliviada quando ela riu também, relaxando nos meus braços.
— Ia ser ridículo na minha idade — falou com ironia.
— Que idade? Trinta e cinco anos? — Dei-lhe um beliscão na ponta
do nariz, como ela fez comigo. — Tenha vergonha, dona Amanda! Nesta
idade eu quero estar amando muito e divertindo-me como uma adolescente
com meu Lorenzo.
— Ei, Senhorita Sonhadora. E se não estiver mais com Lorenzo
daqui até lá? Vai pirar como eu? — provocou.
Parei para pensar por um momento, porque algo me dizia que isso
não ia acontecer e eu estaria com Lorenzo por muitos e muitos anos da minha
vida.
— Vou deixar para pensar nisso quando acontecer, porque agora a
única coisa que quero é este anticoncepcional que me prometeu —
provoquei-a de volta.
Rimos mais ainda e fiquei satisfeita em vê-la feliz.
Meu Deus, me segura, porque a partir de hoje vou fazer de tudo
para minha mãe voltar a namorar. Definitivamente isso é bom demais!
***
“Oi amor, tudo bem com vocês? Sinto saudades!”
“Estamos bem e também tenho saudades. Tudo bem na aula?”
“Sim, mas não é a mesma coisa sem você estar sentada à minha
frente. Não tenho seu cabelo para tocar, nem sua bunda linda para olhar :)”
“kkkk... ficou mal acostumado também? :) “
“Completamente e sem chance de voltar ao que era.”
“Alguma novidade na aula?”
“Não, tudo normal. Apenas uma menina chamada Sofia disse que
fui escolhido para ser o capitão da nossa equipe de vôlei. Como você não
veio hoje, ela ficou como nossa levantadora. A merda é que Francisco ficou
também.”
— Como é que é? O que aquela oportunista quer com Lorenzo? —
gritei irada, fazendo minha mãe me olhar com curiosidade.
— Ei, mocinha! Quem é que você quer matar aí?
Estávamos na cozinha preparando nosso almoço e de vez em quando
eu me debruçava sobre o celular para trocar mensagens com Lorenzo.
— A Sofia, mãe! Está aproveitando que não fui à aula e começou a
atacar Lorenzo.
Respirei fundo e enviei uma resposta.
“Oh, que bom que você será o nosso capitão. Então não fiz falta no
treino hoje.”
Ouvi a risadinha divertida da minha mãe, enquanto terminava uma
salada e colocava sobre a mesa da cozinha.
— Você achava que um rapaz bonito como Lorenzo não ia ter
ninguém dando em cima dele? Hora de acordar dos sonhos, Bela
Adormecida!
— Mãe, detesto que me chame de sonhadora. Sabe que não gosto
disso! — falei, chateada e sem paciência por causa de Sofia.
Ela riu ainda mais.
— É por isso mesmo que eu chamo.
Revirei os olhos pedindo a Nossa Senhora da Paciência que não me
fizesse gritar de raiva.
Entrou mais uma mensagem e corri para ler.
“Fez falta sim! Ninguém (me) levanta igual a você :)”
Oh, engraçadinho! Agora estava se divertindo em me provocar. Até
podia vê-lo rindo de mim ao enviar aquela resposta.
Mordi o lábio e olhei desconfiada para minha mãe, antes de digitar
uma resposta.
“Pode deixar que vou levantar do jeito que você gosta!”
“Vou cobrar… mas dizer isso quando estou na aula é covardia.”
“Sou um anjo :)”
“Meu anjo, que amo muito <3”
“Também te amo <3”
CAPÍTULO 11

Lorenzo
OLHEI IRRITADO PARA o Paolo sentado à minha frente.
Estávamos no apartamento que ele tinha alugado nas imediações da minha
casa.
— Quer dizer que ele não queria que eu soubesse que você estava
aqui? — soltei com raiva. — Para quê esta merda agora?
Paolo fez um gesto com a mão pedindo calma, mas eu estava sem
paciência alguma para tentar compreender como funcionava a cabeça do meu
pai.
— Ele tem seus motivos e não sou eu quem vai questioná-lo —
falava num tom de voz controlado, sem deixar-se abalar pela minha explosão
de raiva. — Mas agora que você já sabe que estou aqui, terei que avisar seu
pai sobre isso.
Levantei e comecei a andar pela sala pequena.
— Os motivos dele são sempre egoístas! Provavelmente, queria me
vigiar para ver se vou me meter em outra confusão e assim poder me deserdar
de vez!
Paolo balançou a cabeça e levantou-se também, olhando-me
diretamente nos olhos.
— Não cabe a mim dizer nada, nem questionar seu pai,
principalmente se ele não pedir minha opinião. Sou leal e ele é um grande
homem, um bom chefe e realmente preocupa-se com a família, que é tudo
para ele.
Família?! Só se fosse a parte italiana da família!
Apontei o dedo para o Paolo, furioso com o que disse.
— Uma merda que ele se preocupa com a família! — Virei o dedo
para mim mesmo e bati no meu peito. — Porque comigo ele nunca se
preocupou!
Rugi com raiva, uma raiva de anos guardada dentro de mim e que
raramente deixava vir à tona na frente dos outros. Contudo, sabia que com
Paolo podia ser eu mesmo.
— Ele tampouco se preocupava com a minha mãe ou não a teria
traído, porra! — explodi de vez, puto da vida com o que ele tinha feito. — E
não me arrependo nem um segundo da minha vida por ter metido a mão na
cara dele quando soube disso!
Paolo ficou parado por um momento, sem dizer nada, talvez
lembrando da briga feia que tive com meu pai no escritório dele na sede das
empresas. Não quis confrontá-lo em casa, onde minha mãe provavelmente
veria tudo e sofreria mais ainda ao ver aumentar o distanciamento entre nós
dois. Então, fui atrás dele no escritório e coloquei para fora toda a minha
raiva e revolta.
Se não fosse Paolo ter me segurado, acho que teria não só batido
mais nele, como quebrado tudo dentro do escritório, acabando de vez com
todas as minhas chances de herdar a merda dos negócios da família.
— Nunca falei nada sobre isto, porque, como já disse, é assunto de
vocês e não cabe a mim dar opinião, mas também não posso deixar que
continue condenando seu pai desta forma.
Eu já andava de um lado para o outro naquele cômodo pequeno,
tentando não pegar nada e jogar contra a parede, extravasando assim o
impulso que sentia de colocar para fora uma frustração guardada há anos.
Virei para ele, apontando-lhe o dedo outra vez.
— Não venha defendê-lo, Paolo! Minha mãe morreu foi de tristeza e
desgosto pelo que aconteceu! Aquele maldito câncer não foi a única coisa
que a matou! — estourei de vez e na falta do que quebrar, dei um golpe com
o punho cerrado em cima da mesa de jantar, fazendo estremecer o vaso com
um arranjo de flores sobre ela.
Ouvi seu suspiro resignado enquanto me observava com atenção.
Estava aparentemente calmo, mas eu conhecia aquele olhar e sabia que já
estava pronto para segurar-me caso eu me descontrolasse e começasse a
destruir alguma coisa ali dentro.
Aquilo só serviu para me fazer respirar fundo e tentar conter a raiva,
porque vi que estava a um triz de fazer exatamente aquilo.
Merda!
— Lorenzo, a única coisa que vou dizer é… pense! Pense, rapaz!
Analise tudo friamente — falou com calma, tentando me forçar a raciocinar.
— Se seu pai realmente traiu dona Inês com aquela ex-namorada que surgiu
do nada, dizendo que tinham um caso há anos, por que é que ele está sozinho
até hoje? Se ele fosse um traidor nato ou um homem dado a aventuras extra
conjugais, hoje estaria com ela ou com outra mulher qualquer. E garanto a
você que, durante estes anos de separação, não o vi assumir nenhum
relacionamento, principalmente depois da morte da sua mãe.
Falar da minha mãe e de todo o sofrimento que ela passou acabava
comigo. Trinquei os dentes com raiva, tentando controlar a emoção e tirar
aquele nó da garganta.
— Você já tinha tanta mágoa do seu pai naquela época que não viu
como aquela história tinha furos e podia ter sido uma armação para
desestabilizar o casamento já conturbado deles. — Aproximou-se, colocando
a mão no meu ombro e encarando-me com firmeza. — Duvide de tudo que
seja muito óbvio, Lorenzo! Use o seu instinto e veja o que está por trás de
tudo, em vez de ficar cego pela emoção. Seus pais se amavam muito e o Sr.
Vicenzo sempre fez tudo por dona Inês, mesmo com tantos
desentendimentos.
Inspirei com força para encher meus pulmões de ar e diminuir
aquela pressão no peito. Sabia que Paolo tinha razão, porque testemunhei
muitas vezes o amor dos meus pais. Mesmo o Sr. Vicenzo Costi sendo um
homem linha dura e excessivamente rigoroso, minha mãe sempre tinha a
palavra final. Ela era uma das poucas pessoas que eu via ter algum controle
sobre ele, junto com meus avós italianos.
— Entenda que ter a pressão de uma empresa daquele tamanho
sobre os ombros não é fácil, ainda mais com uma crise financeira levando
quase todos à falência. Seu pai conseguiu manter tudo estável até hoje e as
empresas estão lá, sólidas. Já a vida pessoal dele foi completamente abaixo. E
garanto-lhe que ele vive sozinho e sente-se sozinho, ainda que não admita
isso para ninguém. E pior ainda, vive cercado por familiares nada confiáveis,
como o Sr. Aldo e Enzo.
Apertei a boca com raiva ao ouvir o nome daqueles dois.
— E por falar neles, você sabia que Vittorio está aqui também?
Sua expressão se fechou, os olhos adquirindo um brilho perigoso.
— Fiquei sabendo quando o vi circulando pela casa de sua tia. Só
posso deduzir que esteja aqui para cumprir alguma missão do Sr. Aldo e que
não tem nada a ver com a sua prima Bianca.
Isso eu já suspeitava, porque nada do que vinha dele era bom para
mim.
— E como meu pai está se virando com eles?
Sua risada agora foi divertidamente irônica.
— Eles continuam achando que enganam o Sr. Vicenzo. — Ficou
sério antes de continuar. — Depois de tudo que aconteceu com D. Inês, seu
pai mudou muito com relação ao seu tio. Acho que os conselhos que ela dava
sobre o irmão enfim fizeram efeito e quebraram a lealdade familiar. Agora
ele consegue vê-los pelos olhos dela.
Bufei com irritação.
— Precisou minha mãe morrer para isso acontecer?
— Não, Lorenzo! Precisou que ela fosse embora e se divorciasse
dele para isso acontecer. A morte dela foi uma fatalidade que ninguém
esperava. Acredite quando digo que seu pai está completamente sozinho.
Eu não queria sentir pena do meu pai, porque sabia muito bem o que
era estar sozinho e não ter ninguém que fizesse seu mundo ser diferente.
Até encontrar Angélica.
Angélica! Puta que pariu! Minha Angel era tudo para mim!
Coloquei a mão em seu ombro também, agradecido por tudo que fez
por ela no dia anterior.
— Quero agradecer novamente por ter socorrido Angélica e
Amanda. Você não sabe o que ela significa para mim.
Ele deu um meio sorriso torcido, antes de bater com a palma aberta
no meu ombro.
— Eu já sei o que ela significa, acredite!
Relaxei e sorri junto com ele, aproveitando para lhe dar um abraço
de urso, que foi prontamente aceito.
— Não deixe de pensar no que falei sobre o seu pai — ele disse ao
afastar-se. — No dia que você assumir seu cargo de diretor das empresas
poderá, então, comprovar como a pressão é tão grande que muitas vezes
interfere na sua vida pessoal.
Não tirava sua razão e entendia perfeitamente isso, porque apesar de
nunca ter tido uma aproximação muito grande com meu pai, desde pequeno
ele já vinha me inteirando dos negócios da família. Eu sabia que não era fácil
levar tudo como ele fazia.
— Você já enviou para ele algum relatório falando sobre Angélica?
— Tinha certeza que sim, mas precisava confirmar.
Ele cruzou os braços e sustentou meu olhar.
— Tive que colocar tudo no relatório e ela não poderia deixar de
estar lá.
— Ele disse algo? — Não sabia o motivo que me fez perguntar
aquilo e procurei não pensar que pudesse estar esperando a aprovação do meu
pai com relação a ela.
— Mandou cuidar dela e só por isso ontem eu estava no lugar certo
e na hora certa. Portanto, o mérito de ter salvado Angélica é muito mais dele
do que meu.
Achei que tinha levado um golpe no peito quando escutei aquilo.
Meu pai pediu isso?
Puta que pariu!
— E ainda cheguei atrasado. Com aquele frio, achei que fossem
colocar o carro no estacionamento interno e estava esperando pelas duas na
saída errada. Só quando demoraram demais, foi que dei a volta completa em
torno do supermercado até chegar onde estavam.
Quase não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Saber que
meu pai se preocupou com Angélica era algo com o qual eu não contava.
— E por que ele fez isso? Eu só a conheço há poucos dias, poderia
ser apenas mais uma garota.
Desta vez sua risada foi natural e seu olhar condescendente.
— Depois do que eu vi em frente ao colégio? Você todo preocupado
em aquecer a garota dentro do casaco, olhando-a como se fosse o maior
tesouro do mundo e beijando-a daquele jeito? Para nós que conhecemos você
tão bem, aquilo foi o suficiente para ele me autorizar a cuidar dela,
principalmente depois que soube do bullying no colégio.
Afastou-se e foi pegar o celular sobre a mesa, procurando nos
ficheiros e mostrando um rápido vídeo com a cena em frente ao colégio.
— Preferi enviar o vídeo em vez de tirar fotos. Menos de trinta
minutos depois já recebi sua autorização. Provavelmente um de meus homens
virá da Itália substituir-me quando tiver que voltar. Assim ela ficará em
segurança durante o tempo que estiverem juntos e você também poderá
contar com ele se precisar.
Aquilo tudo era informação demais de uma só vez! Estava difícil
acreditar que meu pai fez tudo isso.
— Você só precisará se preocupar com ela dentro do colégio, onde
nós não podemos entrar. O resto fica por nossa conta.
Eu sabia como Paolo trabalhava e agora tinha certeza que Angélica
estaria segura. Fui até o sofá e sentei, passando as mãos no rosto para
eliminar o choque. Ele sentou-se ao meu lado, apoiando os braços nos
joelhos.
— Agora quero que você conte tudo sobre ela e esta tentativa de
sequestro de ontem. Seu pai preocupou-se com o que aconteceu e hoje já
pediu notícias sobre a mãe dela, para saber se estava bem. Não me espantaria
se ligasse para você por estes dias, portanto prepare-se para conversar com
ele. Quando isto acontecer, lembre-se de tudo que eu disse e não vá estourar
fazendo-lhe acusações.
— Tudo bem. Não farei isso.
Ao contrário, talvez ligasse antes para agradecer por ter se
preocupado em proteger minha garota.
CAPÍTULO 12

Quinze dias depois

Angélica
LEVANTEI A BOLA e Lorenzo saltou no ar, girou o braço e fez
um ataque perfeito, que foi cair no chão da quadra adversária. Mais um ponto
nosso e em breve estaríamos nas finais do torneio do colégio.
A única coisa ruim do jogo era ter Francisco na equipe, mas
milagrosamente ele estava na dele, sem nenhum tipo de provocação. Lorenzo
também era um capitão exigente e logo nos primeiros treinos deixou bem
claro que não admitiria menos do que o melhor de cada um de nós. Lógico
que aquilo era um aviso para que Francisco não tentasse boicotar nossa
equipe. E parece que surtiu o efeito desejado.
Mesmo detestando-o, eu tinha que reconhecer que ele era um bom
atacante e, ainda que a contragosto, fiz bem o meu trabalho de levantadora
para ele também. Ter Lorenzo sempre por perto dava-me a segurança que
precisava dentro de quadra para não surtar com a presença de Francisco,
porque mesmo assim eu permanecia desconfiada.
Outra grande surpresa foi Emanuel, que pareceu desaparecer
completamente do meu caminho. Fiquei pensando se foi a surra que levou de
Lorenzo na sala. No entanto, fosse isso ou não, meu alívio foi imenso ao não
ter de cruzar com ele pelo colégio. Não sabia se ele não estava indo às aulas
ou se evitava circular por onde eu andava. Lorenzo não comentou nada
comigo sobre isso e nem eu estava disposta a tocar no assunto, mas como
estávamos sempre juntos, não havia como Emanuel se aproximar novamente
de mim. Quando Lorenzo não estava comigo, tinha sempre o Tiago, o Pedro
ou o Roberto por perto.
O único evento desconfortável que houve foi ocasionado por
Cassandra, que ficou irada com Tiago quando soube que ele havia deixado a
gente sozinha para ficar com uma menina no corredor da morte.
E tudo aconteceu por minha culpa.
No primeiro dia de aula que fui após minha mãe sair do hospital,
ficamos as duas conversando na hora do intervalo, enquanto Lorenzo e Tiago
falavam na porta da sala com Pedro.
— Eu não conhecia este primo do Lorenzo até o dia em que ele veio
nos ajudar contra aqueles dois nojentos — ela comentou comigo. — Sabia
que até hoje parece que ainda sinto o gosto horrível da boca do Carlos na
minha?
Colocou o dedo na boca e fingiu vomitar, fazendo-me rir, apesar de
entender perfeitamente o que ela sentia.
Olhei para o Pedro com aquele cabelo louro e depois para Lorenzo
com seu cabelo escuro. Realmente não pareciam primos, mas eu e Cassandra
também não parecíamos nada uma com a outra, com o cabelo tão diferente.
— Ele se parece mais com Lorenzo na personalidade do que na
aparência — disse, observando a expressão séria no rosto dos três
conversando na porta.
Ela olhou também, antes de se virar para mim.
— Pela expressão deles devem estar falando como vão matar
Emanuel e a corja toda.
— Ai, que horror, Cass! — dei-lhe um empurrão no braço com a
mão. — Não diga isso nem brincando.
— Eles mereciam levar pelo menos uma boa surra, Angélica!
— Nisso eu concordo, desde que nenhum deles se prejudique com
isso.
— É ótimo que eles estejam do nosso lado agora, porque com
Roberto fora, ia ser difícil evitar aqueles três.
Olhei para Tiago.
— Ainda tenho minhas dúvidas quanto ao Tiago, depois que ele nos
deixou sozinhas para ir ter com uma menina no corredor da morte.
Ela ficou séria de repente e olhou fixamente para mim.
— O que foi que disse?
— Acho que não contei isso para você, mas o Emanuel naquele dia
jogou na minha cara que o Tiago não ia voltar porque estava ocupado
comendo uma menina — contei, sem perceber em momento algum como ela
ficou branca e baixou a vista para a caneta que segurava. — O próprio
Emanuel pediu para ela fazer este “favor” de atrair Tiago para fora da sala.
— Filho da puta! — Cass explodiu baixinho, mas depois não
comentou mais nada e ficou calada.
Mudamos de assunto, mas Cassandra permaneceu muito estranha o
restante da aula, até sairmos os quatro para o estacionamento onde estava o
carro de Lorenzo.
Quando ele abriu a porta para mim, ouvi Tiago abrindo a de trás para
Cassandra e parece que ela fez a mesma coisa e quando se tocaram, ela
explodiu.
— Não encoste a mão em mim, seu lixo!
Eu já estava com um pé dentro do carro, pronta para sentar, quando
ouvi aquilo e imediatamente voltei atrás.
— Ei, garota, calma aí! — Tiago reclamou, afastando a mão. — Que
foi que lhe deu agora?
— Deu-me nojo de você, se quer saber! — ela falou, afastando-se
dele.
Ficamos os três parados, olhando-a sem reação alguma.
Meu Deus, mas o que é isso?
Dei um passo na direção dela, mas Lorenzo colocou o braço no teto
do SUV e me impediu de passar.
— E quer saber mais? — Cassandra continuou, o rosto lindo cheio
de raiva. — Prefiro ir a pé do que me sentar no mesmo banco com um idiota
capaz de abandonar a gente para ir comer uma vadia qualquer naquele beco
nojento do colégio.
Dito isso, começou a se afastar do carro.
— Cass? — chamei-a, mas ela continuou andando firmemente, sem
olhar para trás. — Cassandra!
Passei por baixo do braço de Lorenzo e corri atrás dela.
— Angélica! — ele chamou-me de volta, caminhando na minha
direção.
Parei e olhei-o.
— Você vem comigo. Não vai voltar a pé com ela — ele disse,
lançando um olhar irritado para Tiago.
Virei-me e olhei para Cassandra, que já se afastava apressadamente.
Fiquei indecisa só por um minuto, olhando de um Lorenzo irritado,
para um Tiago pálido, e depois para uma Cassandra furiosa indo embora.
Sabia que Lorenzo ficaria chateado com o que eu ia fazer, mas eu
não abandonaria minha prima.
— Não posso deixar Cass ir sozinha! — falei com firmeza, correndo
na direção dela e ouvindo-o blasfemar alto um “Puta que pariu, Tiago, olha
o que você fez?”
Alcancei Cassandra e passei o braço pela cintura dela, que encostou
a cabeça no meu ombro, uma lágrima escorrendo pelo rosto.
Eu nunca pensei que ela fosse ter uma reação daquelas ou teria
ficado calada, sem dizer nada sobre o Tiago. Na verdade, eu nem sabia que
ela gostava dele, pois só podia ser esse o motivo daquela explosão. Resolvi
ficar calada e apenas confortá-la.
De repente, o SUV parou ao nosso lado, com Lorenzo sozinho
dentro do carro.
— Entrem, vou deixar vocês em casa. — Sua voz ainda tinha um
traço de irritação, mas percebi que era com o Tiago e não comigo, porque
seus olhos prenderam os meus com possessividade.
Entramos no banco de trás e, mal me sentei, trocamos um olhar pelo
retrovisor. Ele apenas fez um sinal de aceitação com a cabeça e arrancou
direto para casa.
Depois daquele episódio estranho, tudo correu bem e nossa rotina
era tranquila. Lorenzo pegava-me todos os dias de manhã para virmos juntos
à aula, mas agora já não tínhamos aquele tempo de namoro dentro do carro.
Ele dizia que desde aquela tentativa de sequestro que não confiava mais em
expor-se comigo daquela forma, o que deixou-nos com poucas opções para
namorarmos à vontade, já que eu também não podia entrar em sua casa antes
dos dezoito anos.
Aquilo era péssimo, porque eu já estava irritada por não poder
repetir o que fizemos em minha cama e a frustração era grande. Meu único
consolo era que ele parecia estar pior do que eu.
Não podíamos namorar no carro, não podíamos no colégio, nem
podíamos na minha casa quando minha mãe estava no hospital, porque agora
parecia que Cassandra estava sempre comigo e eu desconfiava que fosse por
sugestão da minha mãe. Às vezes que saíamos juntos sozinhos pela cidade
parecia haver sempre outras pessoas ao redor e mesmo isso acontecia poucas
vezes.
Eu não sabia como é que Lorenzo estava aguentando, porque a cada
dia que passava nossos beijos e abraços estavam mais desesperados, a tensão
sexual aumentando assustadoramente. Toda vez que eu perguntava porque
não podíamos mais namorar no carro, era sempre a mesma coisa da minha
segurança.
— Estive conversando com Paolo e estou seguindo as orientações
dele. Até conseguirmos alguma informação sobre aquele homem que tentou
levá-la e quais os motivos dele, não vamos nos expor sem necessidade.
Estávamos sentados no refeitório do colégio, fazendo um lanche no
intervalo das aulas. Ele me abraçou com mais força e deu-me um beijo rápido
mas duro nos lábios, olhando-me com desejo contido. Respirou fundo e
continuou falando, enquanto terminava de beber um suco de caixa.
— Eu já estou acostumado com esses esquemas de segurança, mas
entendo que para você seja algo novo. Sei que no começo não é fácil adaptar-
se às restrições, mas com o tempo acabamos nos acostumando com isso.
Segurou minha mão com força, roçando o polegar na minha palma e
fazendo-me arregalar os olhos ao lembrar a primeira vez que fez isso na sala
de aula. Foi no dia que me pediu em namoro.
Prendi a respiração e olhei-o, vendo como me devorava com um
simples olhar.
— Acordo e durmo pensando em ter você comigo livremente, sem
tantos impedimentos e restrições. Ninguém venha me pedir mais nada depois
que você completar dezoito anos, porque não vou fazer mais nenhuma
promessa.
Eu já contava nos dedos os dias que faltavam para o meu
aniversário, em que poderia enfim entrar livremente na casa dele. Graças a
Deus só faltavam cinco dias, mas ainda assim pareciam longe demais.
A única concessão que minha mãe fez foi me entregar o
anticoncepcional, mas cheia de recomendações.
— Procure tomar todos os dias no mesmo horário e até terminar a
primeira caixa inteira é importante usar sempre um preservativo junto. —
Pareceu pensar em algo antes de continuar. — Não, o preservativo tem que
usar sempre, mesmo tomando pílula, por causa das IST’s.
Respirei fundo quando ouvi aquilo.
— Mas mãe, Lorenzo disse que faz exames no início da temporada
de jogos e que está tudo bem com ele. Eu também não tenho nada, então não
podíamos ficar sem preservativo já que vou tomar a pílula?
Ela pareceu nervosa.
— É melhor não arriscar Angélica! Sexo seguro é sempre o melhor.
Olhei a expressão estranha no rosto dela e fiquei com um pé atrás.
— Você não está querendo dizer que Lorenzo poderá ficar com
outra garota e por isso é melhor eu me proteger, não é?
Só de pensar naquilo senti um aperto no coração, porque acho que
enlouqueceria se isso acontecesse.
Não! Ele jamais faria isso comigo, tenho certeza!
— Não estou querendo dizer nada, falo apenas o que sei ser o
melhor. Não é porque você é minha filha que vou esquecer as recomendações
médicas para uma vida sexualmente ativa ser saudável.
— Mas você deve ter muitas mulheres casadas ou comprometidas
que não usam preservativo com seus parceiros. Se não fosse assim ninguém
engravidaria.
Ela impacientou-se com o que eu disse.
— Não fale em gravidez ou vou surtar! — falou, exasperada. —
Será que não tem outro assunto quando converso com você ou Lorenzo?
Olhei-a muito calmamente.
— E você já conversou com Lorenzo sobre isso, mãe? Por acaso deu
um sermão nele sobre “não toque em minha filha até os dezoito”? — Pela
cara que ela fez tive a resposta antes mesmo que abrisse a boca. — Oh, você
falou sim!
Que vergonha! Merda!
— Mãe, não sou mais uma criancinha! Isso é o tipo de coisa que
coloca qualquer namorado para correr!
— Calma lá que Lorenzo não é de fugir e tocamos no assunto muito
rapidamente semanas atrás, mas nada de sermão, apenas uma conversa
tranquila — defendeu-se, dando-me um beijo na bochecha. — Não me
crucifique por me preocupar e querer o melhor para você. Tome a pílula
direitinho e use o preservativo também.
Para não prolongar muito a conversa e deixá-la mais preocupada
ainda com aquele assunto, concordei e comecei a tomar regularmente a
pílula.
Agora, vendo Lorenzo suado depois de fazer vários ataques na
quadra, meu coração palpitava de tanto amor, louca para termos mais
momentos sozinhos e eu poder satisfazer a ansiedade que me dominava.
Hoje era sexta-feira e eu estava na expectativa de ficarmos juntos, já
que no dia seguinte não teríamos aula e na próxima quarta-feira seria meu
aniversário. Eu estava com vontade de dar pulinhos de alegria com isso!
Ele segurou minha mão e deu-me um beijo suave no rosto.
— Céus, você está suada! — falou rindo e piscando o olho. — Fica
uma delícia assim.
Delícia era ele suado daquele jeito, isso sim!
— Pode aproveitar mais tarde — provoquei, esperando que ele
entrasse na brincadeira, mas sua expressão ficou séria.
— Não vamos ficar juntos hoje à noite porque tenho jogo — ele
lembrou, fazendo-me literalmente gelar.
Que merda! Nem lembrava mais disso.
— Mas amanhã vamos passar o dia inteiro juntos. Vamos comer
pizzas italianas e depois ver um filme. O que acha?
Colocou um braço suado sobre meus ombros enquanto saíamos do
ginásio e me enchi de resignação para aguentar com maturidade mais aquela
restrição, quando o que queria mesmo era bater o pé no chão de raiva, porque
sentia como se tivessem tirado um sorvete de chocolate da minha boca.
Naquele dia, quando Lorenzo me deixou em casa depois das aulas,
eu esforcei-me ao máximo para não demonstrar minha frustração,
consolando-me que pelo menos no dia seguinte estaríamos juntos.
***
No final da tarde, Cassandra e Pandora ligaram marcando a hora que
chegariam para ficarem comigo em casa, já que minha mãe ia fazer o plantão
da noite. Quando chegaram, estavam cheias de animação e trocando olhares
cúmplices entre si. Assim que minha mãe foi embora, elas fecharam a porta e
bateram palminhas de alegria, deixando-me rindo sozinha e curiosa com tudo
aquilo.
— Afinal, o que se passa com vocês duas?
Cassandra olhou para Pandora.
— Então, quem conta?
— Oh, tanto faz — Pandora respondeu toda risonha.
— Ei, podem dizer logo o que é tudo isso? Estou ficando ansiosa.
— Hoje você terá o seu primeiro presente de aniversário! — Cass
falou cheia de mistério e só de ouvir falar no meu aniversário já fiquei super
feliz. — Vamos fazer sua “despedida de menor de idade”! O que acha?
— “Despedida de menor de idade”? — Comecei a rir entre divertida
e confusa. — E isso existe?
— Nós criamos! — Pandora falou, toda orgulhosa. — E sabe o que
faremos?
— Tcham-tcham-tcham-tcham! — Cass falou, toda animada. —
Vamos levá-la a uma discoteca!
Fiquei só olhando para elas, completamente paralisada.
— Uma discoteca? Mas ainda sou menor de idade e não posso
entrar!
— Ha-ha, já resolvemos isso, querida! — Pandora falou. — Hoje
falamos com o Jorge. Ele está trabalhando como segurança numa discoteca
na baixa do Porto e vai conseguir que você entre no meio da gente. Vamos
com o pessoal da dança. Já combinamos com todos eles sem você saber.
— Aah, que coisa boa! — Abracei-as com força e ficamos as três
pulando no meio do meu quarto.
— Vamos começar nossa produção — Cassandra falou, pegando a
sacola com suas roupas de dormir.
Virou-a em cima da minha cama e em vez de um pijama, caiu de lá
um modelito super moderno para a noite. Depois fingiu que tinha um
microfone e começou a andar pelo quarto.
— Atenção senhoras e senhoras, porque a partir de hoje Angélica
Sant’ana deixa de ser uma extraterrestre que nunca foi a uma discoteca para
se transformar em uma garota normal.
Sim, eu enfim ia me transformar em uma garota normal, mas a
minha grande transformação se daria dali a cinco dias, nos braços de
Lorenzo.
CAPÍTULO 13

Angélica
OLHEI PARA O meu reflexo no espelho e fiquei chocada com a
transformação na minha aparência. A Angélica aguada tinha dado forma a
uma Angélica sensual e atraente, coisa que eu não conseguia ver em mim
antes daquela superprodução feita por minhas primas.
Minha Nossa Senhora das Pecadoras Assumidas, quem é esta?!
— Eu não acredito que esta sou eu!
Um vestido preto tão curtinho que eu passei a mão pela minha bunda
para ver se ela aparecia atrás. Suspirei aliviada quando vi que não, mas
mesmo assim me sentia nua usando ele.
— Estou me sentindo nua! — expressei meus pensamentos em voz
alta, dividida entre o entusiasmo e a insegurança em usar aquilo.
Cass soltou uma exclamação impaciente.
— Você está tão acostumada a andar de calça jeans que já nem sabe
o que é um vestido — disse, vindo para a minha frente e olhando com
atenção minha maquiagem. — Você está deslumbrante e parece bem mais
alta com estas pernas à mostra. Os sapatos também ficaram na medida.
Olhei para o sapato scarpin plataforma da minha mãe, altíssimo, que
realmente realçavam as minhas pernas. No entanto, aquele era o problema,
pois faziam com que me sentisse nua.
— Eu tenho vestidos, Cass!
— Que usa sempre dentro de casa ou em reuniões familiares —
balançou a cabeça em desaprovação, agitando os cachos que fez no cabelo
escuro. — A noite no Porto é diferente e você vai ver que muitas garotas vão
estar praticamente nuas lá. Você será a mais comportada de todas, acredite!
Pandora entrou no quarto vindo do banheiro e parou quando me viu.
— Uau! Nosso presente deu direitinho nela! — Entusiasmou-se ao
me olhar. — Está linda, Angel! Lorenzo ia ficar louco se visse você agora.
Mal ela disse aquilo, lembrei-me de que precisava avisá-lo que ia
sair, porque ele ficou de ligar quando terminasse o jogo.
— Acha que ele ia gostar? — perguntei para Pandora, olhando-me
no espelho.
— Ora se não! — Cassandra respondeu no lugar dela. — Ele ia
agarrar você e jogar em cima do ombro como um Neandertal e levá-la para a
caverna, de onde você nunca mais sairia.
Olhei para Pandora pelo espelho e começamos a rir juntas.
— Meu Deus, Cass! Como você está revoltada com os homens —
Pandora tentou levar tudo na esportiva, piscando um olho para mim. —
Lorenzo pode ser dominador, mas é apaixonado pela Angel e isso é o que
importa.
Cassandra apenas torceu a boca vermelha, sem dizer mais nada.
— Eu preciso avisá-lo que vou sair com vocês — falei indo pegar o
celular em cima da cama.
— Não! — as duas gritaram ao mesmo tempo, fazendo-me dar um
pulo de susto.
— Céus, vocês querem me matar do coração? — Coloquei a mão no
peito onde meu coração havia dado um salto com aquela gritaria. — Só vou
pegar meu celular e não uma bomba!
— Você não pode dizer para onde vamos ou ele não vai deixar você
ir — Cass falou com urgência.
— E porque não? — questionei, vendo-a trocar olhares com
Pandora. — Ele ficou de ligar quando terminasse o jogo para conversarmos.
Preciso dizer que não vou estar em casa.
Elas respiraram aliviadas.
— Tudo bem — Cass falou. — Pensávamos que você ia dizer que
vamos para uma discoteca.
— Mas eu ia dizer mesmo. — Não via nada de mal naquilo.
Ela suspirou, olhando-me como se fosse realmente uma
extraterrestre.
— Você não pode dizer isso, porque ainda não tem dezoito anos e
ele provavelmente não vai deixar.
Arregalei os olhos, surpresa com aquele comentário, e depois
comecei a rir.
— Ele não vai deixar? — Só de pensar em Lorenzo me proibindo de
sair de casa tive vontade de rir mais ainda. — Mas ele não tem que deixar ou
proibir nada. Eu vou e pronto!
Cass pareceu perder a paciência de vez.
— Angélica! Estamos fazendo algo errado ao enfiar você
clandestinamente dentro de uma discoteca! É lógico que se ele souber vai
criar confusão e você vai acabar por não ir.
Ela tinha razão, mas também não podia deixá-lo ligar quando eu não
pudesse ouvir nada por conta da música alta.
— Só quero avisá-lo porque ficou de ligar — esclareci com
paciência. — E também ele fez o mesmo comigo quando foi à discoteca com
os amigos.
As duas arregalaram os olhos, chocadas.
— Ele foi à discoteca sozinho com os amigos? — foi Pan quem
perguntou, porque Cass parecia estar com a língua travada.
Olhei para as duas, desconfiada, com a impressão de que se passava
alguma coisa ali que eu tinha perdido.
— Depois do primeiro jogo da temporada ele foi e ligou-me de lá
para avisar.
— E estava sozinho com os amigos? Não havia mais ninguém com
eles? — Pan insistiu no assunto, aproximando-se de mim e arrumando meu
cabelo para trás.
— Sim, estava. — Então me lembrei das garotas e mordi o lábio,
nervosa. — Bom, havia umas garotas com os outros caras da equipe dele.
Instintivamente, olhei para Cass, que torceu a boca com desgosto
mesmo sem eu ter citado o nome de Tiago.
— Sei — Cass disse com ceticismo. — Todos acompanhados por
garotas e apenas Lorenzo sozinho, chupando o dedo e sem ninguém ao lado!
— Cassandra! — Pan repreendeu com voz dura, virando para ela e
olhando-a fixamente.
Senti um peso no peito quando ouvi aquilo, porque no fundo era
algo que na ocasião me incomodou demais.
Puxei Pandora pelo braço para que olhasse para mim.
— Você acha que ele não ficou sozinho? — perguntei-lhe, porque
sabia que seria imparcial e sincera comigo.
Ela me olhou com carinho e compreensão, mas percebi uma
pontinha de pena lá no fundo.
— Em uma situação normal eu diria que não, porque nestes
ambientes só tem pegação, ainda mais que Lorenzo é um cara bonito. — Sua
sinceridade acabou comigo e me senti arrasada. — Mas como eu sei que ele é
obcecado por você, há uma chance que tenha ficado realmente sozinho, já
que só tem você na cabeça.
Oh, meu Deus! Será?
Eu sabia e sentia que ele não tinha interesse em mais ninguém além
de mim, mas isso seria suficiente para impedir Lorenzo de cair na tentação de
ficar uma noite com alguém?
Deu-me logo uma vontade imensa de chorar só de imaginar Lorenzo
beijando outra garota ou tocando-a intimamente como fazia comigo. Pela
primeira vez, entendi o que Cassandra sentiu quando soube o que Tiago fez.
Merda! Só que Lorenzo é o meu namorado e isso é muito pior!
— Eu não acredito que ele tenha tido coragem de fazer isso comigo!
— falei alto, mas para mim mesma do que para elas. — Ele me ama! Tenho
certeza disso!
— Sim, querida, ele a ama e não deve ter feito nada! — Pandora
falou, mas percebi que estava apenas tentando me acalmar e aquilo só fez
com que me sentisse péssima. — Ligue para ele, Angel! Assim se sentirá
melhor. Só não diga que vamos para uma discoteca. Faz de conta que vamos
apenas jantar fora com os amigos da dança.
Concordei com a cabeça, mas a vontade que eu tinha era de
conversar a sério com Lorenzo sobre aquele assunto. Precisava eliminar as
inseguranças e dúvidas que tinham ficado dentro do meu peito desde aquela
noite e que agora cresciam, devorando minha sanidade.
Peguei o celular e liguei-lhe. Eram quase onze horas e o jogo já
deveria ter acabado. Fiquei escutando com impaciência os toques chamarem
até cair na caixa postal. Tentei novamente, enquanto via Cass e Pan
terminarem de se vestir e pegar suas bolsinhas, dando retoques na
maquiagem.
Nada de Lorenzo atender!
Resolvi enviar uma mensagem.
“Estou saindo para jantar com Cass, Pan e a turma da dança.
Beijo.“
Quando ele visse minhas ligações ia entender.
Coloquei o celular na bolsa e olhei para elas, decidida a esquecer
minhas inseguranças e me divertir, aproveitando a prévia do meu aniversário.
— Você veio de carro ou Roberto precisou dele, Cass?
— Vim com o carro. Está estacionado em frente ao prédio, mas não
vamos nele.
Fiquei surpresa com sua resposta tranquila e encarei-a, vendo como
sorria cheia de mistério.
— Ora, e por que não?
— Para que os curiosos de plantão achem que estamos em casa,
dormindo como três princesas encantadas.
Comecei a rir com a imaginação solta dela.
— Meu Deus, quanta criatividade! Para quê todo este segredo?
Estou me sentindo uma prisioneira em fuga.
— Eu pensei em tudo! — ela falou, muito confiante na sua
capacidade de bolar planos. — Vamos supor que aquele sequestrador filho da
mãe esteja lá fora esperando você sair para pegar você. Ele vai se foder a
noite inteira no frio, porque estaremos no calor de uma discoteca a nos
divertir e teremos nossos colegas para nos proteger.
Só de ouvir falar naquele sequestrador me arrepiei toda.
— Ai, Cass, nem fala nisso ou até passo mal!
Pandora deu um beliscão na bunda de Cassandra, fazendo-a dar um
pulinho de susto.
— Cassandra! Cala sua boca grande e não assusta Angel! — Olhou
então para mim. — Não vai acontecer nada e já pensamos nisso antes de
planejarmos nossa saída. Estaremos com os rapazes da dança e ninguém se
atreverá a chegar perto de você.
Respirei mais aliviada com aquilo, porque só conseguia lembrar dos
cuidados todos que Lorenzo vinha tendo comigo desde aquele dia. Se ele
soubesse que saímos só nós três, sem ninguém para cuidar da nossa
segurança, eu estaria metida em confusão séria e ele teria todo o apoio da
minha mãe.
Ei, e minha mãe?
— Gente, vou avisar minha mãe que vamos jantar fora!
Elas concordaram e tirei o celular da bolsa, reencaminhando a
mesma mensagem de Lorenzo para ela.
— Agora vamos descer, porque o Rui já avisou que está chegando
com a Joana para nos pegar.
Mordi o lábio, ligeiramente apreensiva.
— Vamos com o Rui?
— Sim e nada de estresse com isso! — Cass pediu, levantando a
mão para impedir-me de reclamar. — Ele já desistiu de tentar alguma coisa
com você, portanto vamos pensar apenas em nos divertir. Traga o controle da
garagem para que o Rui entre com o carro, assim ninguém vai saber que
saímos dentro do carro dele.
Merda, tinha que ser logo com o Rui?
Ele tinha vinte e três anos e havia entrado no hip-hop no meio do
ano anterior, tornando-se um bom amigo. Era pouco mais alto do que eu,
tinha um corpo atlético e fazia umas acrobacias muito boas quando dançava,
o que o transformou em um ótimo participante do grupo. Contudo, em algum
momento, as coisas mudaram dentro dele, passando a se interessar por mim
de uma outra maneira. Passei uns bons meses tentando lhe mostrar que não
estava interessada nele e isso foi desgastante demais. O resultado é que deixei
de me sentir à vontade ao lado do Rui como acontecia antes.
Bom, Minha Nossa Senhora das Mulheres Perseguidas Por
Admiradores Indesejados, espero apenas conseguir me divertir hoje!!
***
Nunca pensei que fosse assim!!
Quanta loucura, meu Deus, mas era uma loucura deliciosa!
Eu estava entusiasmada com tantos brilhos, luzes e cores. Só a altura
da música que era um pouco alta demais para o meu gosto, mas eu tinha que
concordar que ajudava muito a quebrar as inibições, fazer todo mundo soltar
seus demônios e esquecer os problemas da vida. Na verdade, eu estava
divertindo-me o máximo que podia.
Mal entramos no ambiente efervescente da discoteca, vi uma grande
pista de dança lotada de corpos em constante movimento. Meu grupo tinha
dez pessoas e subimos uma escada lateral que levava ao mezanino superior.
Nossa mesa era no canto e já tinha sido reservada por um dos meus amigos.
Era uma área VIP para quem quisesse um pouquinho mais de
privacidade do que no grande salão lotado lá em baixo, onde todos pulavam
ao ritmo contagiante da música alta.
Observei que muitas garotas tinham roupas menores do que as que
eu usava, por isso não me senti tão mal assim quando tirei o casaco vermelho
e fiquei só com meu vestido preto.
Eu estava encantada com tudo e o bom de estar com meus amigos é
que a dança era algo que partilhávamos com naturalidade e logo começamos
a nos divertir lá em cima com alguns passinhos improvisados e outros
ensaiados.
Tive cuidado apenas com as bebidas, mas foi impossível não tomar
dois deliciosos coquetéis com álcool, sempre sob o olhar atento de Pandora,
porque Cassandra já tinha dado seu aval para eu fazer o que quisesse.
— Viva Angélica! — Cassandra gritou no meio do som estridente da
música, levantando seu copo de shot.
— Viva! — todos gritaram juntos, seguindo o exemplo e virando o
shot de uma só vez garganta abaixo.
Tomei um golinho do meu coquetel, acompanhando moderadamente
o brinde feito para mim. Eu não sabia como eles conseguiam beber tanto, se
com duas taças eu já me sentia mais leve do que uma borboleta e rir nunca foi
tão fácil.
— Pessoal, quem quer entrar na briga por um lugar lá em baixo e
dançar até cansar? — Cassandra lançou o desafio, voltando a liderar o grupo.
Eu me levantei logo, ansiosa para experimentar a adrenalina que
parecia rolar no piso inferior. Pandora se juntou a mim, junto com mais
algumas garotas e rapazes. Descemos num grupo de sete e os outros três
resolveram ficar para não deixar a mesa sozinha com nossas coisas.
Quase uma hora depois eu já estava suada, totalmente solta e
liberada. Se tinha algo que me fazia tremendamente bem era dançar e desde
criança aquela tinha sido a forma que encontrei de ser dona de mim mesma,
do meu corpo, mente e alma.
Estava junto de Pandora fazendo uma dancinha ensaiada quando
senti uma mão em minha cintura me dando um leve aperto por trás. Virei-me
e dei de cara com o Rui, sorrindo para mim com os olhos brilhando e um
copo alto na mão.
— Presente para a futura aniversariante — falou perto do meu
ouvido para se fazer ouvir acima da música alta, estendendo-me o copo.
Fiquei surpresa com aquele gesto, porque evitei falar muito com ele
a noite inteira.
— O que é? Só bebo o meu coquetel — perguntei, pegando o copo.
— É o mesmo!
— Obrigada.
Sorri educadamente e me afastei para tomar um gole. Contudo, antes
que eu conseguisse encostar a boca no copo, alguém bateu no meu braço e
virei a bebida, derramando tudo no chão.
Oh, que merda!
Olhei para o lado e vi Pan com uma expressão chateada no rosto, a
mão na boca.
— Oh, desculpa! — Ela gesticulou tentando se fazer entender no
barulho ao nosso redor.
Encolhi os ombros com indiferença.
— Tudo bem, não se preocupe com isso.
Rui pegou o copo da minha mão e saiu da pista, parecendo irritado
com o ocorrido. Olhei para Pandora e vi sua cara séria, o olhar seguindo Rui
se afastando da gente. Chegou perto de mim e falou alto no meu ouvido.
— Não beba nada que lhe oferecerem, apenas o que o garçom
trouxer à mesa ou nós mesmas pegarmos, ok?
Arregalei os olhos, totalmente espantada com o que ela disse, porque
sabia das histórias de drogas colocadas nas bebidas das garotas para facilitar
o assédio sexual sobre elas.
— Você acha que ele seria capaz? Rui faz parte do nosso grupo —
questionei, mas depois me lembrei das suas tentativas anteriores de chegar
perto de mim.
Pandora fez uma expressão estranha antes de responder.
— Não sei, mas achei melhor prevenir.
Respirei fundo e procurei controlar meu total desagrado com ele,
caso aquela suspeita tivesse o mínimo fundamento.
— É melhor subirmos para descansar — ela disse, indo atrás de
Cassandra e puxando-a pelo braço. — Vamos subir!
Saímos da pista e subimos para o mezanino. Quando fizemos uma
pequena curva para chegar à nossa mesa, com Cass e Pan penduradas em
cada um dos meus braços, vi um dos reservados com um grupo grande de
rapazes e garotas rindo alto e chamando a atenção dentro do ambiente.
Deviam ter chegado durante o tempo em que ficamos dançando na
pista, porque eu não me lembrava de tê-los visto antes. Pareciam estar se
divertindo muito, com uma das garotas rebolando no meio deles em uma
dança super sensual.
— Ei, meninas, olha só para aquilo ali! — Apontei, chocada. — Isso
é que é diversão!
Cassandra me deu uma leve cotovelada.
— Você ainda não viu nada. Prepare-se, porque quando a noite
esquentar mesmo até strip vai ter aqui!
Agora sim choquei geral.
— Sério?
Elas começaram a rir e, diante daquela reação, já tive a minha
resposta.
Continuamos andando, sem que eu conseguisse desviar os olhos da
dança sensual que a garota fazia ao ritmo das vozes masculinas incentivando-
a a rebolar ainda mais. Do jeito que as coisas iam, dava para perceber que em
breve ela poderia estar mesmo tirando a roupa.
Observei como todos os rapazes eram interessantes, formando um
grupo realmente chamativo. Contudo, no meio deles, identifiquei um sorriso
conhecido. Fiquei pasma, olhando para o rosto bonito que não escondia a
expressão de prazer e malícia ao acompanharem a garota dançando. Era o
Tiago.
Mas o que é que ele está fazendo aqui?
O meu coração começou a bater forte e senti um aperto no peito
quando a minha ficha caiu, à medida que fui olhando para os outros rapazes.
Pela aparência deles, só podiam ser jogadores de basquete e deviam estar em
uma comemoração pós-jogo.
De todas as discotecas do Porto, porque eles tinham de vir logo
naquela em que eu estava de forma clandestina?
Se o Tiago me visse, eu não tinha dúvida alguma de que iria
correndo contar para Lorenzo, fazendo questão de dizer para o amigo que me
viu em uma discoteca altas horas da noite, sendo ainda menor de idade. E,
logo depois, minha mãe ia saber também.
Merda, que azar! Nem para fazer uma coisinha errada uma vez na
vida eu tenho sorte!
Fiquei com a sensação de que não tinha mesmo nascido para agir
igual a uma adolescente normal, fazendo coisas comuns da minha idade.
Inconscientemente, diminuí os passos, com os olhos presos nele, o
que me deixou ligeiramente atrás de Cass e Pan. Eu não entendia como elas
até agora não tinham visto o Tiago. Ainda era hora para dar meia volta e
tentar me esconder, mas também percebi o ridículo daquela situação, porque
eu achava que tinha todo o direito de me divertir.
Eu estava pensando se conseguiríamos passar despercebidas pelo
reservado deles, quando os olhos de Tiago se fixaram em Cassandra. Seu
sorriso morreu na hora e foi substituído pela surpresa.
Acho que ela o viu também, porque seus passos vacilaram e, sem
querer, bati em suas costas, chamando atenção de Tiago para mim. Mal me
viu, aconteceu o mais estranho de tudo. Ele pousou o copo de bebida na
mesinha em frente e, numa fração de segundos, olhou para o lado, antes de
voltar a fixar sua atenção novamente em nós três.
Segui seu olhar e congelei completamente ao ver um rapaz alto de
pé, ligeiramente de costas para nós três, com o ombro apoiado na divisória de
madeira do reservado. Ele tinha a cabeça abaixada, concentrado no celular.
Lorenzo!
CAPÍTULO 14

Angélica
MESMO SEM VER seu rosto, soube logo que era ele, pois o meu
corpo o identificou facilmente.
Lorenzo não havia dito nada sobre ir mais uma vez à discoteca com
a equipe de basquete e fiquei chateada por ter escondido aquilo de mim, mas
depois me lembrei de que também tinha escondido dele que estaria ali. Em
seguida, percebi que o encontrar naquela discoteca não seria o maior dos
meus problemas. O receio que sentia de ele ficar sabendo onde eu estava foi
substituído pelo choque e pela raiva quando vi uma garota praticamente
pendurada em seu braço, o corpo se encostando no dele.
Desta vez, parei realmente de andar e fiquei grudada ao chão. Já não
conseguia mais ouvir a música, nem ver o Tiago estático olhando para nós
três, ou Cassandra soltando uma exclamação de ultraje, nem nada mais, além
daquela garota agarrada ao meu namorado e ele permitindo que ela o fizesse.
Oh, que idiota eu sou! Burra! Burra! Burra!
Cassandra tinha razão! Ele não ficava sozinho quando vinha à
discoteca com os amigos da equipe!
Eu não conseguia tirar os olhos da garota de cabelo castanho, pernas
longas e grossas, vestindo uma saia minúscula que realçava os quadris largos
e a bunda grande. A barriga estava totalmente exposta pelo top curtinho que
usava, e os saltos altos a deixavam batendo na altura dos ombros de Lorenzo.
Ela dançava no ritmo da música e, quando se virou de lado, vi os
seios grandes praticamente pulando para fora do top, que provavelmente ela
estava esfregando no braço dele a noite inteira. A garota era tudo o que eu
não era, o corpão de arrasar mal coberto por aquela roupa mínima.
Literalmente, eu me senti um lixo ao comparar minhas curvas suaves com
toda aquela abundância.
Agarrei-me ao braço de Cassandra, as mãos tremendo.
Ela se virou para mim com o olhar irado e, mesmo sem querer,
comecei a sentir as lágrimas subindo aos meus olhos.
— Quero sair daqui! — sussurrei.
Sabia que ela não tinha ouvido nada naquela barulheira toda, mas
compreendeu imediatamente o que eu disse.
— Não! Não vai, não — falou com voz firme. — É a sua primeira
noite em uma discoteca. Você vai se divertir e esquecer desses dois cabrões
que estão aqui dentro.
Pandora interveio rapidamente.
— Calma, Cassandra! Não vamos forçar Angel a presenciar uma
cena destas a noite inteira. Qual é a diversão que isso vai ter? Ela só vai
sofrer.
Olhei para Pandora, onde sabia que encontraria o apoio que eu
precisava para sair dali.
— Quero sair antes que ele me veja!
Olhei num flash para ele, vendo angustiada que Tiago tinha
amassado um guardanapo e estava jogando a bola de papel em Lorenzo, para
chamar sua atenção.
Eu precisava agir rápido!
Oh, não, Senhor, não deixe isso acontecer!
No entanto, as minhas preces não foram ouvidas, porque Lorenzo
observou a bolinha caindo em seu peito e fixou o olhar no amigo. Tiago
apontou discretamente para mim e Lorenzo virou a cabeça na minha direção.
Tudo o que se passou depois ficou marcado na minha mente como
um caleidoscópio de luzes, cores, vozes e emoções. Em questão de segundos,
a minha noite de diversão se transformou em um drama épico.
A expressão curiosa de Lorenzo ao se virar para ver o que Tiago
apontou se transformou em choque, passando depois para a preocupação e,
por fim, terminando em raiva, assim que seus olhos intensos se prenderam
em mim.
Ele guardou o celular no bolso e se desencostou da divisória num
rompante só, fazendo a morena ao seu lado vacilar em cima daqueles mega
saltos e se sustentar no peito dele. Para impedir que ela caísse, Lorenzo
segurou-a pela cintura, e ver aquela cena massacrou meu coração de vez.
Apertei os lábios com força diante da avalanche de emoções que eu
sentia pela primeira vez na minha vida. Dor, raiva, ciúmes e uma vontade
louca de bater neles dois, mas também de chorar.
Só quando Lorenzo viu aquilo tudo estampado no meu rosto foi que
a ficha dele caiu. Olhou para a garota agarrada em seu pescoço, olhou para
mim e se apercebeu, por fim, da situação difícil em que estava.
Soltou-a, falando-lhe rapidamente alguma coisa, e saiu andando
decidido para onde estávamos. Tinha uma ruga no meio da testa, o olhar
intenso sobre o meu e a boca apertada numa linha de tensão.
Cassandra e Pandora se fecharam à minha frente, impedindo-o de
chegar até onde eu estava.
Lorenzo parou em frente às duas, mas as ignorou, totalmente focado
em mim. Olhos escuros percorreram o meu rosto maquiado e depois
descerem para o vestido curto, as pernas à mostra e os saltos altos.
Seus lábios se apertaram mais ainda e o maxilar contraído mostrava
a tensão que o dominava.
— Puta que pariu! O que é que você está fazendo aqui, Angélica? —
A voz forte se sobressaiu na barulheira da discoteca.
Cassandra não se intimidou com a postura contrariada dele,
adiantando-se na resposta.
— Divertindo-se com as primas dela! — falou alto, numa resposta
imediata.
— Não falei com você, Cassandra! — ele devolveu com
impaciência, mas sem desviar os olhos dos meus. — E saiam da minha
frente!
As duas se fecharam ainda mais, a mão de Pandora segurando a
minha por trás.
— O que é que você faz aqui, quando deveria estar em segurança
dentro de casa? — Lorenzo voltou a me perguntar, porém, continuei sem
conseguir articular uma única palavra, completamente arrasada com a cena
que presenciei dele com aquela morena.
— Ela é quem deveria perguntar o que você faz aqui com uma vadia
qualquer pendurada no braço, enquanto a deixou “em segurança” dentro de
casa! — Cassandra voltou a falar com ironia, assumindo a liderança. — E
aquela outra ali quase tirando a roupa? É esse o tipo de diversão que vocês
procuram quando terminam os jogos?
O que ela disse era uma verdade incontestável e aquela realidade
crua estava me destruindo por dentro. Lorenzo prontamente respondeu, mas
foi para mim, ignorando que a pergunta veio da Cassandra.
— Ela pode ficar nua e não vai significar nada para mim, Angélica.
Mas também não posso impedir o divertimento dos outros rapazes só porque
não estou interessado. — Só então ele desviou os olhos de mim e os fixou
friamente em Cassandra, para quem falou com a voz dura. — Não se meta no
meu namoro! A única pessoa que admito falar alguma coisa é a Amanda e
mais ninguém.
Cassandra se empertigou, aceitando o desafio de enfrentar Lorenzo.
Ela já tinha bebido álcool suficiente para não ter medo de nada, ainda que se
metesse em confusão por causa disso.
— Pois fique sabendo que, na ausência da minha tia, quem fala por
Angélica sou eu, a mais velha das três. Sou a responsável por elas duas,
portanto, você não vai chegar perto dela se eu não quiser que chegue. E se
insistir, vou criar tanta confusão dentro desta discoteca que a polícia vai bater
aqui e prender todo mundo!
— Cassandra! — Pandora exclamou, tentando alertá-la da insensatez
daquela atitude.
Aquilo tudo já estava me deixando enjoada e eu não sabia se era pela
bebida que tinha tomado, pelo choque de ver Lorenzo com uma garota ou
pela tensão que estava sendo criada naquele momento.
Abri a boca para falar pela primeira vez, mas Lorenzo ficou furioso
quando ouviu as palavras de Cassandra e explodiu de vez.
— Sua garota idiota! Não venha falar de responsabilidade, quando
você traz Angélica para a discoteca sendo ela uma menor de idade, dá-lhe
bebida alcoólica, tira-a da segurança de casa depois de uma tentativa de
sequestro e ainda ameaça chamar a polícia, para que ela seja levada para a
delegacia por causa da idade que tem. Amanda vai proibir você de chegar
perto de Angélica quando souber de tudo isso!
Cassandra calou pela primeira vez, talvez percebendo que Lorenzo
estava com a razão.
— Quem é ela? — Consegui fazer minha voz sair, mas o tom foi tão
baixo diante da balbúrdia da discoteca que pensei que ele não fosse ouvir,
mas Lorenzo prontamente se virou para mim, fixando os olhos nos meus.
— Não sei! Juro que não sei! — falou firmemente, com um brilho
de preocupação nos olhos. — Não a conheço, nem nunca a vi em lugar
nenhum!
Cassandra bufou com desprezo, mas se manteve calada.
Olhei-o, sem acreditar no que tinha ouvido.
— Não sabe? Quer dizer que estava se esfregando com ela e nem
sabe quem é? — acusei, enojada com tudo aquilo.
— Eu não estava me esfregando nela, Angélica! — respondeu com
raiva. — Tenho certeza de que você não me viu agarrado com a garota para
dizer isso. Ela estava apenas ao meu lado. Não posso impedir que as pessoas
cheguem perto de mim num lugar desses.
— Então ela estava se esfregando em você sozinha? E deixou isso
acontecer, mesmo sem querer e sem saber quem é ela? — gritei, furiosa, para
que ele escutasse acima do volume alto da música.
Lorenzo estendeu a mão para mim, olhando-me com seriedade.
— Vamos conversar em particular! — Sua voz era dura e a
expressão grave estava ficando pior a cada momento que passava. — Não
vou discutir nosso namoro na frente de ninguém!
Só que, àquela altura, eu já estava descontrolada o suficiente para
dar pouca importância ao que ele queria ou deixava de querer.
— Qual o namoro? — perguntei calmamente, ainda que sentisse um
turbilhão de emoções dentro de mim.
Ele inspirou fundo e um brilho estranho surgiu em seus olhos.
— O nosso, Angélica! — falou firmemente. — O meu e o seu. O
nosso namoro.
— E estava namorando comigo mas ficando com outras garotas
também, é isso? Na outra vez em que saiu com eles também ficou com
alguém, não foi? — acusei, com a certeza daquilo que dizia.
— Não, porra! Não fiquei com ninguém além de você! — bradou
com raiva, dando mais um passo à frente. — E não fale “estava” namorando,
porque “estou” namorando com você. Agora sai daí de trás e vamos
conversar sozinhos. Não pensa merda, Angélica.
Virei-me para o grupo dele e vi a garota morena no observando, seu
olhar curioso em cima de mim. Tinha um sorrisinho malicioso no rosto e uma
sobrancelha erguida com cinismo, enquanto me avaliava de cima a baixo. Era
de uma beleza deslumbrante e o corpão no estilo Cassandra me fez inspirar
fundo, completamente devastada só de a imaginar na cama com Lorenzo.
Apertei mais a mão de Pandora, sem nem perceber que podia estar
magoando minha prima com o meu desespero. Mordi o canto da boca para
impedir que a humilhação me fizesse chorar, e busquei forças na raiva.
Lorenzo seguiu a direção do meu olhar e viu a garota. No mesmo
instante, a expressão dela mudou e se tornou inocente, sem um pingo da
malícia anterior.
Oh, que filha da mãe!
Lorenzo fechou a cara mesmo assim e me olhou de volta, dando um
passo ao lado para bloquear a visão dela. Encarei-o, calada e estática, incapaz
de dizer mais nada.
— Angélica, não sei quem é ela — repetiu com voz firme. — Eu
estava no celular e ela se encostou ao meu lado, mas não a conheço.
Continuei paralisada, o meu coração batendo no ritmo da música
agitada que tocava naquele momento.
— Ela deve ser amiga de um dos meus amigos ou daquelas outras
garotas — ele continuou explicando. — Mas não sou obrigado a conhecer
todo mundo que participa das comemorações da equipe, nem sei o nome de
nenhuma delas. Agora, sai daí e vem ficar comigo para conversarmos melhor.
Você avisou que estava indo jantar fora, mas não disse nada sobre estar vindo
para uma discoteca, um lugar onde ainda nem pode entrar.
— Você também não me disse nada sobre vir à discoteca outra vez
com seus amigos — devolvi na mesma moeda. — Talvez eu não tenha de lhe
dar satisfações para todo lugar onde vou, se for seguir o seu exemplo comigo.
Ele fechou os punhos com raiva, os ombros tensos, e pensei se ia
empurrar minhas primas para chegar até onde eu estava. Acho que elas
pensaram a mesma coisa, porque recuaram, chegando-se para mais perto de
mim.
— Estou perdendo a paciência com esta merda toda. Você ainda é
menor de idade e nem deveria estar aqui.
Ignorei o que ele disse, porque era dona de mim mesma e não ia
deixar que ele limitasse a minha vida. Eu já tinha vivido oprimida demais nos
últimos anos.
— Não é ambiente para mim, mas para você parece que é o
ambiente ideal! — joguei-lhe na cara. — E só serei menor de idade por mais
quatro dias, portanto, ninguém vai me dizer o que fazer, muito menos você.
Agora, saia do nosso caminho, porque quero continuar me divertindo. Pode
voltar para sua diversão também!
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, o Rui surgiu ao meu lado
vindo das escadas do andar inferior e juntou-se a nós três.
Merda! Será que isso podia ficar ainda pior?
Ele olhou para Lorenzo ao nos ver encurraladas no canto.
— Está acontecendo alguma coisa, Angélica?
Lorenzo desviou a atenção de mim e fixou o olhar tempestuoso em
Rui.
Sim, um terremoto vai destruir tudo daqui a pouco!
Cassandra e Pandora devem ter sentido o mesmo que eu, porque se
viraram para o Rui.
— Que nada! Está tudo bem! — Cassandra foi logo dizendo.
— Encontramos um grupo do colégio e estávamos conversando —
Pandora falou, largando minha mão e segurando Rui pelo braço.
Lorenzo apertou os olhos e inspirou fundo, atento àquela
movimentação toda. Só consegui pensar o quanto elas realmente não o
conheciam, se achavam que aquela encenação ia enganá-lo.
Os dois se encararam e senti que nenhum deles tinha acreditado no
teatro do “está tudo bem”. O clima pesou feio e percebi o corpo de Lorenzo
ficar ainda mais rígido e tenso, seus olhos soltando faíscas.
Não, aquele não era Lorenzo! Era o Loki!
Senhor, não permita que isso tudo fique pior, por favor!
— Quem é você? — Rui perguntou com agressividade.
Sim, aquilo ia ficar pior!
— Quem sou eu? — Lorenzo rugiu com o ódio transparecendo na
voz. — Eu que pergunto: quem é você, caralho?
Depois, tudo aconteceu tão rapidamente que nem pude respirar
direito e pensar no que fazer. Todas as minhas ações seguintes foram guiadas
por puro instinto.
Tudo começou quando o Rui, idiotamente, elegeu-se o meu
defensor, aproximando-se de mim e colocando a mão na minha cintura.
Instintivamente, recuei para o lado, incomodada com o gesto. Só depois
percebi que a minha reação precipitou os fatos e, sem querer, detonei uma
bomba chamada Loki. Percebi claramente que seu autocontrole chegou ao fim
e nada mais conseguiria detê-lo.
Olhei desesperada para o Tiago, na intenção de lhe pedir ajuda, mas
ele já estava vindo em nossa direção ao perceber o desastre iminente
acontecer.
Lorenzo segurou Pandora pela cintura e a ergueu para tirá-la do
caminho, ficando com o acesso livre para mim e, pior de tudo, para o Rui
também. O maxilar estava rigidamente contraído quando agarrou o pulso dele
e o torceu, afastando sua mão da minha cintura.
— Tire a mão de cima dela! — gritou, enraivecido, empurrando-o
para longe e colocando-se entre nós dois, para o impedir de me tocar de novo.
Olhei para aquela parede de quase dois metros à minha frente, que
me impedia de ver o que estava acontecendo. Ainda assim, percebi que
Lorenzo tinha agarrado o Rui pela gola da camisa e estava erguendo-o do
chão.
— Quer saber quem sou eu? — Lorenzo rosnou na cara dele,
agitando-o com violência. — Sou o namorado dela, entendeu?
NAMORADO, porra!
Quando o vi erguer o outro punho para dar um soco na cara do Rui,
fiz a única coisa que me veio à minha cabeça na hora. Agarrei o seu braço
com força, prendendo-o junto ao meu peito.
— Lorenzo, não! — gritei alto para que me ouvisse no meio da raiva
cega que eu sabia que o estava dominando. — Solta ele, por favor!
Rui olhou para mim, a surpresa estampada na cara por não saber que
eu estava namorando.
— Isso é verdade? Ele é seu namorado?
Será que ainda era? Oh, que merda de confusão!
Olhei para Lorenzo, ansiosa, porque ainda não tinha me esquecido
da morena gostosona.
— Sim, é!
Percebi que algumas pessoas das mesas vizinhas começavam a olhar
assustadas para aquela cena, e insisti com Lorenzo.
— Por favor! Já estão todos olhando.
Ele vacilou, respirando fundo e lutando para manter o controle. Por
sorte, Tiago chegou naquele exato momento e segurou o outro braço de
Lorenzo.
— Solta ele, cara! Se a polícia bater aqui podem levar Angélica. Isso
se os seguranças não a pegarem antes. Pensa, porra!
Lorenzo apertou a boca com raiva, mas continuou encarando o Rui.
Depois do que pareceu um logo tempo, forçou-se a soltá-lo, empurrando-o
com violência para longe.
Relaxei, encostando a cabeça no braço que eu continuava agarrando.
Estava aliviada porque não ia acontecer nenhuma briga séria dentro da
discoteca, nem ele ia bater no idiota do Rui, que já havia voltado para nossa
mesa, furioso.
Lorenzo virou-se para o Tiago.
— Volto já! — Apontou para Cassandra e Pandora. — Cuide dessas
duas irresponsáveis e olhe nosso grupo. Qualquer coisa passe uma
mensagem, não demoro. — Olhou depois para minhas primas. — Aconselho
que fiquem aqui em cima e não desçam até eu voltar com Angélica.
Comigo?
Ergui a cabeça e olhei a expressão dura e implacável que ele tinha
no rosto. Lorenzo deu as costas para todos e se virou para mim, prendendo
meus olhos com os dele. Durante um momento não falamos nada. Fiquei
observando-o descer o olhar do meu rosto para o corpo delineado pelo
vestido preto curtinho, as pernas à mostra e mal cobertas pelas meias pretas e
destacadas pelos saltos altos.
Tantos homens já tinham me olhado desde que entrei naquela
discoteca, mas só agora me senti nua com o olhar quente de Lorenzo sobre o
meu corpo.
— Vem comigo!
Segurou minha mão e levou-me para fora do mezanino, descendo as
escadas na minha frente. Ele passou pela pista de dança, abrindo caminho no
meio da multidão. Fomos para um longo corredor lateral que eu não sabia
para onde dava, mas percebi que a música ali era ligeiramente mais baixa.
Não falou nada, apenas parou, suspendeu-me nos braços para ficar à
sua altura e puxou as minhas pernas para envolverem sua cintura. Encostou-
me junto à parede e mergulhou a boca na minha com uma ferocidade que eu
nunca tinha sentido antes nele.
Sua língua invadiu a minha boca e, mesmo querendo resistir por
ainda estar chateada, correspondi com a mesma intensidade. Passei os braços
pelos ombros dele e enrosquei os dedos em seu cabelo, puxando-o com força
e também raiva, expressando assim tudo que eu sentia naquele momento.
Lorenzo sugou, mordeu e apossou-se completamente da minha boca.
A mão apalpou a minha coxa e depois subiu até chegar às nádegas.
— Você está nua, porra! — grunhiu entre meus lábios, constatando
com a mão como o vestidinho havia subido para os meus quadris naquela
posição.
Segurou a calcinha fio dental por baixo da meia preta, correndo os
dedos até o meio das minhas pernas, onde eu já me molhava de excitação.
— Ai, Lorenzo — gemi, ao sentir a carícia dos seus dedos.
Aquilo era tudo o que eu queria há dias, desde que ficamos juntos no
meu quarto, e que nunca mais tive.
— Caralho, Angel! — Ouvi seu rosnado de prazer entre um beijo e
outro. — Nunca mais saia vestida assim sozinha ou vou enlouquecer.
— Eu não estava sozinha. Minhas primas e amigos estavam comigo.
— Fiz a merda de dizer, até vê-lo dar duas pancadas na parede com o punho
cerrado.
— Sozinha sem que eu esteja ao lado para cuidar de você, porra! O
homem que vê-la vestida assim vai querer fazer exatamente o que estou
fazendo agora.
Lembrei-me do Rui me cercando a noite inteira e trazendo aquela
bebida.
Será?
Só de imaginar estar assim com ele, senti um arrepio de nojo
percorrer o meu corpo, e apertei-me mais junto a Lorenzo.
— Quem é aquele cara, Angélica? — Ele pareceu adivinhar meus
pensamentos e xinguei a mim mesma por esquecer como Lorenzo me sentia
em todos os níveis.
A voz dele ainda deixava transparecer a raiva que havia sentido no
mezanino.
— É apenas um amigo do hip-hop. — Procurei falar com
naturalidade.
— Não me engane. — Sua voz era tensa, olhando-me fixamente. —
Ele está interessado em você ou não teria me encarado lá em cima.
Não havia como negar aquilo e resolvi ficar calada, mas aproveitei
para tocar no assunto que causou toda aquela confusão.
— E a morena, quem é? Ela está interessada em você ou não teria
me encarado lá em cima — devolvi na mesma moeda.
— Merda! — ele xingou com raiva.
— E não venha me dizer que não é a mesma coisa, porque é! —
sustentei minha posição. — Quem é ela?
Ele me agarrou com mais força, uma tensão diferente dominando-o.
— Eu não sei, amor. Juro que não sei! — Parecia desesperado para
que eu acreditasse nele. — Acredita no que digo, por favor! Só existe você
para mim!
— Então, por que escondeu que vinha novamente para a discoteca
com seus amigos? Por que não me disse nada?
— Não escondi! Eu nem sabia que vinha. Fui pego de surpresa, já
que nunca mais havíamos saído depois dos jogos. Retornei sua ligação para
avisar, mas você não atendeu nenhuma delas — disse, irritado. — Pega a
merda do celular e vê quantas vezes liguei, quantas mensagens passei.
Pergunta ao Paolo tudo o que eu disse quando quis saber onde era o tal jantar
e ele me garantiu que você permanecia em casa com as primas. Forcei-o a
ligar para o segurança responsável pelo seu prédio e ele confirmou que você
estava em casa. Fiquei louco, sem saber se tinham desistido de sair, se
estavam dormindo ou se ele tinha perdido o seu rastro.
Oops, por essa eu não esperava!
— Eu não sabia disso — defendi-me. — Só nos preocupamos em
enganar o sequestrador e não um segurança.
Lorenzo enterrou o rosto no meu pescoço, respirando fundo para se
acalmar.
— Três irresponsáveis! — rosnou em tom baixo para si mesmo, mas
eu ouvi. — Nunca mais faça isso nem saia sem dizer para onde vai.
— Mas eu avisei! — insisti, irritada. — E não sou irresponsável!
Tentei baixar as pernas para sair dos seus braços, mas ele me
pressionou mais contra a parece, o quadril se encostando no meu. Ficamos
tão unidos que era impossível não sentir sua ereção me tocando.
Fixamos o olhar um no outro e a tensão sexual que ficou acumulada
durante tanto tempo explodiu com força total entre nós dois. Agarrei-o
novamente pelo cabelo e o vi fechar os olhos de prazer. Movimentei meu
quadril contra o dele, fazendo-o gemer.
— Lorenzo, queria fazer amor com você — sussurrei no ouvido
dele. — Já não aguento mais isso. Quero fazer, mesmo que não seja
completo.
Ele me pôs no chão e puxou meu vestido para baixo.
— Vamos para minha casa! — disse, decidido.
Abri a boca, espantada com aquela decisão súbita, quando antes
havia me proibido de pisar lá até fazer meus dezoito anos.
— Sério?
— Sim, mas vamos levar todo mundo e fazer a festa lá, assim você
poderá entrar sem problemas.
Quase não acreditei naquilo e fiquei momentaneamente sem
palavras. Tinha chegado o meu grande dia e, daquela vez, eu ia fazer de tudo
para que Lorenzo fizesse amor comigo até o fim!
CAPÍTULO 15

Angélica
ASSIM QUE SUBIMOS ao mezanino, Lorenzo me puxou para um
canto longe das mesas.
— Espera um pouco. — Tirou o celular do bolso e encostou-se à
parede, trazendo-me para junto dele. — Preciso enviar uma mensagem para o
Paolo e avisar que você está comigo, mas sem prejudicar muito o segurança
que está protegendo o seu apartamento vazio.
Mordi o lábio ao perceber os problemas que tínhamos criado para o
Paolo com a nossa saída daquela noite.
Esperei pacientemente que Lorenzo enviasse a mensagem.
— Vamos aguardar sua resposta aqui. — Baixou o celular e então
me olhou fixamente. — Você bebeu?
— Sim — confirmei, sentindo sua mão alisar meu cabelo. —
Apenas dois coquetéis com álcool.
Seus olhos percorreram o meu rosto com atenção, antes de me dar
um beijo molhado na boca, brincando com meus lábios de uma forma
carinhosa.
— E suas primas?
— Por que a pergunta? — questionei, curiosa em saber seus
motivos.
— Gosto de saber quem está alcoolizado dentro do meu carro.
— Mas nós três viemos com o Rui — falei automaticamente, antes
de me calar ao perceber a merda que disse.
Lorenzo fechou a cara e apertou a boca com raiva.
— Só que agora vão voltar comigo! — afirmou com voz dura e uma
expressão de desprezo no rosto. — Aquele cara não está em condições de
dirigir e, mesmo que estivesse, eu não deixaria suas primas irem com ele. Já
você, nunca mais entra no carro daquele Rui!
Fiquei estática com o que ele disse. Eu tinha visto o Rui beber, mas,
em momento algum, pensei no retorno para casa, quando ele dirigiria
alcoolizado.
— Como sabe que ele não está em condições de dirigir?
— Deu para ver pelos olhos dele quando o peguei. — Torceu
novamente a boca, apertando mais a mão que tinha na minha cintura. — E
aquilo não foi só bebida.
Prendi a respiração ao entender o que ele quis dizer e lembrei-me do
coquetel que o Rui tentou me fazer beber. Era melhor não comentar nada com
Lorenzo ou ainda haveria mais confusão.
— E você não bebeu? — perguntei para disfarçar meu nervosismo.
— Não bebo em noitadas quando vou dirigir e também não tenho o
hábito de fazer isso depois de jogar. E as suas primas? — insistiu em saber
sobre elas.
— Acho que Pandora bebeu o mesmo que eu. Já Cassandra, deve ter
bebido bem mais.
Ele não comentou nada sobre Cass, apenas fez um sinal de
concordância com a cabeça. A mão continuou acariciando distraidamente
meu cabelo, até que o celular acusou uma mensagem.
Ele leu e depois me puxou para as mesas, levando-me primeiro até o
seu grupo de amigos. Quando chegamos lá, apresentou-me a todos.
— Pessoal, esta é Angélica, a minha namorada! — anunciou,
envolvendo minha cintura com um braço e trazendo-me para a sua frente.
Todos os rapazes sorriram, acenando com simpatia, enquanto
Lorenzo ia citando seus nomes e a posição em que jogavam na equipe.
Estavam apenas sete jogadores, incluindo o Lorenzo e o Tiago. Olhando-os
de perto e vendo a expressão amistosa deles, a péssima impressão que tive
antes mudou para melhor.
Quando chegou a vez das garotas, Lorenzo apontou para o Tiago.
— Vou pedir desculpas por não saber o nome de todas, mas como
Tiago é o nosso organizador de eventos, ele vai apresentá-las.
Observei-as com discrição. Havia apenas cinco garotas, o que
significava que dois deles estavam sozinhos. Fiquei pensando se fui injusta
com Lorenzo ao acusá-lo de estar com alguém, porém, mesmo assim, resolvi
não pedir desculpas até ter certeza daquilo.
Três delas eram namoradas oficiais dos jogadores, apenas duas
pareciam ser amigas de ocasião. Uma era a que fez a dança sensual, chamada
Mariana. A outra, era a tal morena, Cláudia.
Um dos jogadores se aproximou com um sorriso no rosto e um copo
na mão. Lembrei-me que se chamava Manuel, o armador da equipe.
— É a namorada do capitão? — piscou um olho para mim com
cumplicidade e uma expressão divertida no rosto. — Provavelmente deve
saber como sofremos nas mãos dele.
Não pude deixar de rir, porque imaginava o que eles passavam com
Lorenzo.
— Bom, ele também é o meu capitão de vôlei no colégio, então
posso dizer que sei o quanto é um líder exigente — respondi, sorrindo.
— Bem-vinda à turma dos sofredores! — ele brincou, erguendo o
copo na minha direção.
— Cala a boca, Manuel! Não vá assustar minha garota e fazê-la
acreditar que sou um ditador! — Lorenzo falou, dando-lhe um murro leve no
braço, mas o tom de voz era leve e vi que tinha um bom relacionamento com
a equipe.
Virou-se depois para todo o grupo, fazendo o convite.
— Quem gostaria de esticar a noite na minha casa?
Uma série de assobios de aprovação foi a resposta de alguns deles.
— Mas sem excessos lá! — ele preveniu, olhando-os um a um, com
uma advertência clara na expressão.
Os jogadores conversaram entre si, decidindo quem iria. Observei
novamente o grupo e notei que o Tiago estava acompanhado pela Mariana.
Foi impossível não pensar o que é que Cassandra acharia daquilo.
Já a morena chamada Cláudia, estava sentada de cabeça baixa e sem
prestar atenção em nada, muito concentrada no celular. Eu ainda não tinha
certeza de quem era o par dela, até que um dos jogadores se sentou ao seu
lado e beijou-a na boca, afastando-lhe o celular para longe. Ela pareceu se
irritar e pegou-o de volta, reclamando com ele. Vendo aquela cena, os dois
até pareciam um casal normal, mas eu não conseguia me esquecer do olhar
malicioso que ela me lançou antes.
Enquanto os rapazes discutiam sobre a festa, as garotas se
acomodaram ao lado dos parceiros, aguardando que decidissem o que iam
fazer e fechassem a conta da mesa.
Lorenzo estava informando ao Manuel sobre como chegar à casa
dele, mantendo-me ainda encostada ao peito, um braço atravessando
possessivamente o meu corpo.
Olhei para o meu grupo, comprovando que todos estavam no
mezanino. Era o momento ideal para convidar todos eles para irem à casa de
Lorenzo.
Apertei o braço dele, chamando sua atenção.
— Vou falar com os meus amigos enquanto vocês resolvem tudo
aqui.
Ele olhou para o meu grupo, uma linha de tensão surgindo no
maxilar quando observou Rui em pé com um copo na mão e a atenção presa
em nós dois.
— Vou junto. — Virou-se para o Manuel. — Vão resolvendo tudo
aqui, enquanto falo com os amigos de Angélica para ver quem quer ir com a
gente.
Apesar do clima tenso entre ele e Rui, o restante dos meus amigos
cumprimentaram Lorenzo naturalmente quando o apresentei como meu
namorado. Alguns gostaram da ideia de ir para a casa dele e, no total, ficaram
vinte pessoas. Telefonaram para o Pedro, que foi organizar tudo e nos
esperar.
A única que parecia chateada era Cassandra, mas ela colou uma
expressão de indiferença no rosto e juntou-se ao grupo.
Estávamos saindo quando percebi que Cláudia também viria.
— Ela também vai? — perguntei a Lorenzo quando saíamos da
discoteca.
Ele parou e olhou o casal, antes de me encarar com seriedade.
— Eu já disse que não estava com ela — falou com firmeza, sem
parecer estar na defensiva. — Você pode comprovar isso agora, ao ver que
ela está com o Artur. Também não posso proibir meu amigo de levar a garota
com ele. No mínimo, ficaria muito estranho se eu fizesse isso.
Tentei ver tudo pelos olhos de Lorenzo, mas não conseguia me
esquecer do olhar provocador que ela me lançou antes. Havia algo nela que
eu não gostava nem um pouco.
Procurei esquecer aquilo e aproveitar o fato de que, em breve,
poderia estar novamente sozinha com ele e namorarmos livremente. Durante
todo o percurso que fizemos da discoteca até a casa de Lorenzo, ele segurou
minha mão, acariciando a palma com o polegar e criando uma tensão gostosa
dentro de mim.
Seguimos em cinco carros diferentes. Quando chegamos, todos se
acomodaram no terraço onde Lorenzo havia enfrentado Vittorio. A porta de
correr estava aberta e, apesar do vento frio que soprava no exterior da casa, o
interior estava aquecido.
Quando chegamos, Pedro já tinha preparado tudo. Havia uma
churrasqueira funcionando, além de música e muitas bebidas disponíveis. Um
ambiente alegre e festivo se espalhou rapidamente entre todos.
Assim que cheguei na sala, Thor correu para mim abanando o rabo e
agachei-me ao seu lado para o abraçar pelo pescoço.
— Que saudades, Thor! — falei-lhe, alisando seu pelo macio.
Lorenzo parou ao meu lado, as pernas separadas e as mãos nos
quadris, acompanhando com atenção nosso encontro. Thor levantou a cabeça
e olhou para o dono, latindo feliz, mas sem sair do meu abraço.
— Já sei, garoto! Ela voltou.
Comecei a rir, deliciada ao ver como ele era inteligente.
Ergui o olhar para Lorenzo.
— Faz tanto tempo que vim aqui, mas Thor me reconheceu
rapidinho. Pensei que não se lembraria de mim.
Lorenzo me lançou um olhar indecifrável.
— Ele não se esqueceria do seu cheiro. Sempre que ver você vai
saber quem é. — Estendeu a mão para mim. — Agora me dê o casaco e a
bolsa que vou guardar lá em cima.
Fiquei em pé e deixei que me ajudasse a tirá-lo. Ele pendurou-o no
braço e depois me puxou, colando nossos corpos. Deu-me um beijo duro nos
lábios, apertando minha cintura.
— Vamos ficar um pouco aqui em baixo e depois subimos para o
meu quarto — sussurrou no meu ouvido, fazendo-me suspirar de prazer com
suas palavras — Me espera que volto já.
— Não tem problema deixá-los aqui sozinhos na casa e subirmos?
— Apesar de saber que todos eram amigos dele, não podia me esquecer
daquela garota.
— Não se preocupe. Pedro está aqui e nada lhe escapa. Ele vai tomar
conta de tudo.
Lorenzo subiu as escadas e fiquei esperando com Thor aos meus
pés, o longo corredor que levava à cozinha bem à minha frente. Foi
impossível não me lembrar dos momentos de prazer que vivemos ali semanas
atrás.
Andei até a entrada da cozinha e observei o pessoal reunido no
grande terraço coberto. Pandora e Cassandra conversavam animadamente
com os amigos da dança e mais dois jogadores, todos rindo de alguma coisa.
Senti uma mão na minha cintura e já sabia que era Lorenzo quem me
abraçava por trás, puxando meu cabelo para o lado e dando um beijo
molhado na minha tatuagem.
— Louco para morder aqui de novo!
Aquelas palavras me lembraram de tudo o que fizemos da última
vez. Se eu já estava molhada, fiquei mais ainda com aquelas lembranças,
sentindo-o se encostar em mim.
— Estes saltos altos deixam você na altura ideal.
Dei-lhe um beliscão no braço.
— Se vamos ter de esperar um pouco para subir, é melhor parar
agora — provoquei-o, pressionando o meu corpo de encontro ao dele e já
sentindo-o endurecer. — É isso ou você vai ficar sem poder circular no meio
do pessoal.
— Ora, eu circulo assim mesmo!
Virei-me abruptamente para ele.
— Nem pensar! — Lembrei-me logo das garotas, principalmente a
tal Cláudia, que eu ainda não me conformava de ter trazido para dentro da
casa dele.
Lorenzo apenas riu, fazendo-me dar um soquinho em seu peito.
— Não seja convencido, seu exibicionista.
Ele segurou minha mão, levando-me em direção ao grupo.
— Vamos logo resolver isso, assim ficaremos livres mais cedo para
namorarmos sozinhos.
Segurei-o com força pela mão.
— Lorenzo, espera!
Ele parou e me olhou com um ar interrogativo. Respirei fundo e falei
de vez o que me incomodava.
— Sei que sou inexperiente e ingênua em muita coisa e que, por
causa disso, as pessoas acabam achando que podem me enganar facilmente.
— Fitei-o com seriedade, vendo os traços marcantes do seu rosto. — Eu não
consigo ficar tranquila com o que vi na discoteca. Foi difícil ver a Cláudia
esfregando aqueles seios enormes no seu braço e você não reagir, afastando-
se dela.
Lorenzo soltou a minha mão e, sem me tocar minimamente, postou-
se à minha frente.
— Vou responder dizendo apenas três coisas — falou com o seu
habitual tom firme. — Primeiro, eu estava tão concentrado no celular que
nem notei aquela garota chegando ao meu lado. Estava preocupado com você
e quando ler as minhas mensagens no seu celular vai entender. Segundo, se
eu quisesse ficar com outra garota, tinha isso fácil a qualquer hora, mas é
você quem eu quero, quem eu amo. Foi você quem eu esperei a minha vida
inteira e não consigo sentir tesão por outra só porque ela tem mais corpo.
Entenda que não é só de um corpo que eu preciso.
Fez uma pausa e desviou a vista para o lado, respirando fundo.
Percebi que ia dizer algo importante e que o tocava fortemente, porque estava
emocionado.
— E, por último, minha mãe era o meu mundo e ela foi traída pelo
meu pai. Eu acompanhei todo o seu sofrimento e dor por causa do que
aconteceu, porque ela o amava muito, e prometi a mim mesmo que jamais
trairia a mulher com quem eu estivesse. Se um dia eu deixar de amar você e
quiser estar com outra, terminarei tudo antes de traí-la, e vou esperar o
mesmo de você.
Fiquei emocionada ao saber daqueles detalhes do drama familiar que
ele viveu. Já ia dizer que acreditava em tudo, quando fui abraçada com força.
Lorenzo enterrou o rosto no meu pescoço e ergueu-me ligeiramente do chão.
— Amo você, Angel — sussurrou com a voz rouca. — É com você
que eu quero fazer amor, porque preciso de amor e não de sexo!
Quase tive vontade de chorar quando o ouvi, sentindo seu carinho
naquele abraço apertado.
— Também amo você! — Beijei o maxilar contraído, acariciando o
cabelo escuro. — Amo muito!
Ele levantou a cabeça, olhando-me com aquela intensidade que
devassava minha alma. Sentia-me completamente dele e um alívio enorme
tomou conta de mim, deixando meu coração leve.
— Está tranquila agora, amor? Acredita em mim?
Meu sorriso veio fácil, porque realmente me sentia tranquila.
— Sim, acredito em você!
Ele deu-me um beijo quente, a língua invadindo minha boca e
tomando posse do que lhe pertencia. Quando interrompeu o beijo, manteve-
me ainda presa nos braços, a expressão muito séria.
— Também não gostei de ver aquele Rui tocando em você nem
cheio de direito ao perguntar quem eu era. — A entonação dura da sua voz
mostrava o quanto a raiva ainda o dominava quando se lembrava do que
aconteceu. — Mas confio totalmente em você e sei que não estimulou aquela
atitude, por isso vou pedir que se mantenha afastada dele. Sou homem e sei
reconhecer um tipo capaz de tudo para tirar vantagem sexual de uma mulher,
e aquele Rui é este tipo de homem. Sem falar que estava drogado!
Apenas concordei com um meneio de cabeça, sem dizer nada.
Ufa! Salvei-me mesmo por pouco!
— Agora vamos ficar com nossos amigos. — Passou o braço pela
minha cintura e me conduziu para o terraço, deixando-me sentada ao lado das
minhas primas e indo conversar com os outros rapazes.
Uns trinta minutos depois, eu já não aguentava mais de tanta
expectativa e acho que Lorenzo também não. Apesar de circular entre os
amigos, ele sempre voltava para a cadeira vazia ao meu lado e segurava
minha mão, o polegar roçando na palma.
Em determinado momento, ele virou-se e deu um beijo rápido no
meu pescoço.
— Vai ao banheiro e sobe ao meu quarto — sussurrou no meu
ouvido.
Respirei fundo, sentindo-me repentinamente nervosa.
Lorenzo levantou-se e saiu do meu lado, indo conversar com Tiago e
Pedro no outro canto da sala.
Esperei só um minuto depois e virei-me para Pandora.
— Vou ao banheiro — avisei.
Ela acenou distraidamente e voltou a conversar com os outros.
Saí da sala sem olhar para ninguém, sendo seguida pelo Thor, que
me fez rir quando passou à minha frente e subiu as escadas, como se soubesse
exatamente para onde eu ia.
Fui direto para o quarto de Lorenzo. Assim que entrei, vi minha
bolsa e o casaco sobre a poltrona. Peguei a bolsa em busca do meu celular,
ansiosa para ver as mensagens que ele disse que tinha me enviado. Assim que
toquei no visor, levei um susto enorme.
Oh, my God, mas o que é isso?
Havia nove ligações e várias mensagens de Lorenzo. Comecei a ler,
sentindo-me mal a cada uma que abria.
“Já liguei três vezes e você não me atende. Precisamos falar
urgente!”
A mensagem seguinte não me fez sentir melhor.
“Não tive tempo de avisar. Estou na mesma discoteca. Só fico mais
uma hora, porque não aguento mais esta merda!
Fiquei aliviada quando vi que ele não pensou em esconder que ia
para a discoteca. Fui ver as seguintes.
“Diz onde está que vou me encontrar com você!”
Em algum momento ele deve ter cansado de esperar pela minha
resposta, porque, na mensagem seguinte, já tinha procurado saber de mim.
“Não disse nada antes, mas tem um segurança no prédio. Ele
garantiu que continuam em casa, com o carro de Cassandra à porta.
Desistiram de sair? Estou preocupado, amor. Diz alguma coisa.”
À medida que eu ia lendo, percebi que ele tinha razão quando nos
chamou de irresponsáveis por não termos dito a verdade sobre aquela saída.
Agora, eu entendia porque Lorenzo estava debruçado no celular quando o vi
na discoteca.
Fui atrás das mensagens seguintes e, a cada uma delas que lia,
sentia-me pior.
“Que merda Angel, já liguei um monte de vezes! Dá notícias ou vou
enlouquecer de preocupação!”
“Paolo me garantiu que vocês estão em casa, mas não consigo ficar
bem até você falar comigo. Desculpa insistir tanto, mas te amo demais e
preciso ter certeza de que está bem. Está mesmo em casa? Desistiram de
sair?”
“Atende ou envia msg! Estou preocupado!”
Àquela altura, eu me sentia péssima ao ver a crescente ansiedade
dele.
“Se você não falar anda nos próximos minutos, vou autorizar que
batam aí!”
“Já liguei para Cassandra e ela também não atende! Quero
acreditar que estão dormindo, mas não consigo me acalmar com isso.
Quando ver minhas mensagens liga!”
“Paolo diz que sou louco e devo ser mesmo, porque algo me deixa
inquieto e não consigo relaxar. Tenho vontade de sair daqui agora e bater na
sua porta, mesmo com todas as evidências dizendo que está em casa
dormindo. Fico me perguntando o tempo todo porque não me avisou que
desistiu de sair. Acho que vou enlouquecer mesmo!”
Fui ler a última mensagem, mas foi quando meu celular deu um
alerta de bateria e tudo ficou escuro.
Toquei na tela e nada. Tentei de novo e nada.
Estava descarregado!
Merda, justo agora? Se Lorenzo souber que meu celular
descarregou novamente vai ficar puto da vida comigo!
Joguei o celular de volta na bolsa antes que ele subisse ao quarto.
Minha mãe havia dito que íamos comprar outro e eu insisti que este ainda
servia, mas, naquele momento, tomei a decisão de jogá-lo no lixo.
Caminhei até a varanda, que tinha as portas fechadas para evitar que
o frio invadisse o ambiente. Puxei as cortinas e olhei a noite lá fora, vendo
como o quarto de Lorenzo dava para o pátio em frente à casa. O SUV estava
lá, além dos outros carros do grupo.
Ouvi a porta se abrir e virei-me, ansiosa, vendo Lorenzo entrar e
fechá-la.
CAPÍTULO 16

Angélica
RESPIREI FUNDO, VENDO Lorenzo se aproximar com
determinação, o corpo alto e elegante me fazendo prender a respiração de
expectativa. Eu era mesmo completamente apaixonada por ele!
Me perdoa mãe, mas hoje vou tentar de tudo para fazer Lorenzo ir
até o fim comigo!
Eu estava decidida a isso e não ia esperar mais quatro dias para fazer
o que podia ser feito naquela noite.
Não esperei que ele chegasse até mim, indo também ao seu
encontro. Nos unimos a meio do caminho, bocas, mãos e corpos ansiosos
para se tocarem. Nunca foi tão bom voltar para os seus braços, porque
naquele momento eu sabia que faríamos algo que nos ligaria para sempre.
Lorenzo me apertou, beijando-me com um desespero nascido do
desejo contido e reprimido durante tantos dias. Eu não ficava atrás em
ansiedade e correspondi com o mesmo ímpeto dele.
Ouvia, encantada, os seus gemidos de prazer. Ele apertou-me em
seus braços, levantando o vestido curto e tocando meu corpo por cima da
meia.
— Porra! — falou alto quando me segurou com força pelas nádegas.
— Essa meia acaba comigo e esse fio dental me enlouquece, Angel.
Tirei sua camisa de dentro da calça e enfiei minhas mãos por baixo,
querendo sentir o calor da sua pele nos meus dedos. Lorenzo puxou tudo com
impaciência e arrancou pela cabeça, ficando com o peito nu à minha frente.
Olhei tudo aquilo só para mim e levei minha boca até seu peitoral,
lambendo os declives que os músculos desenvolvidos faziam no seu corpo.
Ele gemeu mais ainda, jogando a cabeça para trás e segurando meu rosto com
ambas as mãos, correndo depois os dedos pelo meu cabelo.
— Eu queria ir com calma, mas estou tão ansioso por você que acho
não vou aguentar ir devagar — ele disse, a voz rouca de prazer e a respiração
ofegante.
Graças a Deus, porque hoje eu não o queria controlando tudo com
mão de ferro a ponto de não irmos até o fim.
Puxei meu vestido para cima e tirei-o, jogando para o chão sob o
olhar febril de Lorenzo. Ele saiu devorando com os olhos os meus seios
contidos pelo soutien meia taça, e levou as mãos ao fecho para soltá-los de
vez.
Quando fiquei sem o soutien, respirou fundo e acariciou-os com
devoção, fazendo com que dessa vez fosse eu quem gemesse.
Ele desceu as mãos pelo meu corpo até tocar o início da meia,
começando a tirá-la ajoelhado no chão à minha frente. Cada pedaço de pele
que ia desnudando, Lorenzo beijava, lambia e sugava, fazendo-me ficar mais
excitada e molhada. Apoiei as mãos em seus ombros e ajudei-o a retirá-las
por minhas pernas, jogando os sapatos altos para o lado. Quando fiquei
apenas com a minúscula calcinha, ele levantou a vista para mim, os olhos
intensos refletindo uma emoção tão forte que estremeci nas bases, forçando-
me a firmar as mãos em seus braços.
— Angel — sussurrou, os olhos nos meus.
— Loki.
Ele fechou os olhos e encostou a testa em minha barriga, as mãos
grandes espalmadas em minha bunda. Depois levantou-se e pegou-me no
colo, indo para a cama e pousando-me suavemente sobre o edredom macio.
Ficou em pé à minha frente e levou a mão ao botão da calça,
descendo o zíper. Olhei hipnotizada para os seus movimentos, ansiando por
vê-lo totalmente nu.
Batidas fortes soaram na porta do quarto.
— Lorenzo! Precisa descer urgente!
Soltei um arquejo de susto e sentei-me imediatamente na cama.
Lorenzo puxou o edredom e me cobriu, praguejando um “puta que pariu”
alto quando ouviu a voz de Tiago do outro lado da porta.
— Não sai da cama — falou, fechando a calça com raiva.
Foi até a porta e abriu uma pequena fresta.
— Mas que merda é essa, Tiago?
— Desculpe, cara! Mas a polícia está lá em baixo e quer falar com o
dono da casa.
Meu coração falhou uma batida quando ouvi aquilo, lembrando-me
daquela abordagem policial na praia.
— Polícia? — Lorenzo repetiu, surpreso. — Mas o que eles querem
aqui?
— Não disseram. Querem falar com você e achei melhor vir rápido
chamá-lo! Pedro está com eles agora.
— Vá! Descerei logo.
Fechou a porta e voltou para dentro, uma ruga de preocupação no
meio da testa. Sentei-me na cama, vendo-o pegar a camisa e vestir com
pressa.
— O que eles querem aqui, Lorenzo? — perguntei num fio de voz.
Estava nervosa e insegura.
— Não sei, amor, vou ver agora. É melhor se vestir também, mas
não saia deste quarto por nada, ouviu?
Deu-me um rápido beijo na testa e saiu, sendo seguido por Thor. Ele
fechou a porta atrás de si e só então me levantei da cama.
Fui até a varanda e puxei só um pouquinho a cortina, o suficiente
para olhar lá em baixo. Realmente dava para ver um carro da polícia parado
do lado de fora da casa.
Voltei até a cama e peguei minhas roupas, sapato, bolsa e casaco,
indo para o closet. Não havia tempo para calçar as meias, então a larguei e
vesti logo o sutiã. Peguei o vestido e ia passá-lo pela cabeça quando ouvi a
porta do quarto se abrir.
Parei o movimento no meio e saí ligeiramente do closet, esperando
ver Lorenzo, mas levei um choque tremendo ao ver a tal Cláudia entrando no
quarto dele.
Mas o que essa garota quer aqui?
Não sei se foi minha intuição ou não, mas fiquei no mesmo lugar,
apenas observando, apesar da vontade que tinha de confrontá-la para saber o
que queria no quarto do meu namorado. Estranhamente, senti como se fosse a
expectadora de um filme, enquanto acompanhava a movimentação dela.
Meu coração apertou quando a vi entrar com muita confiança
naquele espaço que eu considerava só meu. Ela parou no centro do quarto e
ficou em silêncio, observando tudo ao redor. Percebi que tentava descobrir se
estava vazio ou se eu ainda estaria lá.
Recuei mais para dentro do closet, apertando-me junto à parede e
olhando-a pela fresta da porta.
Ela esperou uns segundos a mais, antes caminhar com confiança
para a mesa de cabeceira e abrir a gaveta, como se já soubesse onde ir.
Mexeu na própria bolsa e tirou de lá uns três saquinhos com um pó
branco e jogou na gaveta, fechando-a depois. Olhou ao redor novamente e
depois saiu com pressa, fechando a porta do quarto.
Com os batimentos cardíacos acelerados ao ver aquela cena, respirei
fundo e fechei os olhos para pensar.
O que ela queria ali? O que eram aqueles saquinhos? Porque parecia
conhecer o quarto dele?
Um calafrio percorreu meu corpo e não gostei da sensação de
sufocamento que senti. Tinha alguma coisa errada acontecendo ali. Primeiro,
a polícia, agora, aquela entrada de Cláudia no quarto de Lorenzo.
Eram perguntas demais na minha cabeça e não sei por que, comecei
a rezar.
Meu Deus, o que significa tudo isso? Ajude-me!
Saí do closet e fui direto para a gaveta, abrindo-a com mãos trêmulas
e vendo os três saquinhos, junto com um monte de caixas de remédios.
Meu coração disparou mais ainda quando vi tantos remédios. Olhei
para os nomes nas caixas e soube logo o que eram. Antidepressivos e
ansiolíticos. Eu os conhecia por conta do trabalho da minha mãe.
Oh, Lorenzo!
Senti um aperto no peito ao constatar aquilo que o relatório médico
dizia sobre seu tratamento psiquiátrico.
Peguei um dos saquinhos com a mão trêmula, olhando-o com
atenção. Mesmo nunca tendo visto um de perto, soube imediatamente que
eram drogas, provavelmente cocaína.
Comecei a tremer ainda mais quando me lembrei de que a polícia
estava lá em baixo. Em um flash intuitivo, soube o que tinha de fazer.
Corri até o closet e acendi a luz. Peguei meu vestido no chão e o
vesti rapidamente. Olhei para os sapatos altos e joguei-os num canto, junto
com meu casaco, que era muito pesado. Saí mexendo nervosamente nas
roupas de Lorenzo, abrindo e fechando gavetas até encontrar o que queria.
Calcei umas meias grossas, sabendo que me manteriam aquecida
mesmo sendo grandes para mim. O meu vestido era muito fino e curto, então
peguei um moletom dele e vesti por cima. Não adiantava tentar vestir alguma
calça ou sapatos dele porque não dariam em mim, então me conformei com o
que tinha, já que o moletom era grande e chegava até os joelhos. Não havia
tempo a perder.
Voltei para o quarto e peguei os três saquinhos de cocaína na gaveta,
enfiando-os na minha bolsa. Fui até a varanda e abri as portas, sentindo
imediatamente o frio da madrugada bater em mim.
Eu não podia ficar escondida ali em cima, se o que eu pensava ia
mesmo acontecer. Precisava sair da casa.
Cheguei no peitoril da varanda e olhei para baixo. Engoli em seco,
nervosa com a altura. Vi um cano grosso que descia até o solo,
provavelmente para escoar a água das chuvas. Tinha que ser por ali.
Respirei fundo, passei a correntinha da bolsa pelo pescoço e segurei
com força o cano, testando sua resistência.
Que Deus me ajudasse, porque eu não tinha ideia nenhuma se aquilo
aguentaria o meu peso ou se eu conseguiria realmente descer daquela altura
sem quebrar nenhuma parte do meu corpo.
Apoiei-me no peitoril e passei uma perna, depois a outra. Soltei uma
mão e segurei no cano, depois o agarrei com a outra e fui descendo,
aproveitando que, de metro em metro, havia um ferro que o segurava na
parede, onde podia colocar os pés. As meias me ajudaram a deslizar e
consegui chegar ao chão depois de alguns minutos.
A porta aberta da sala deixava escapar vozes do hall de entrada e
identifiquei imediatamente o tom de barítono de Lorenzo. As outras vozes
deviam ser dos dois policiais, já que andavam sempre em dupla.
— Necessitamos comprovar que não há consumo de drogas na casa
e a festa não tem menores de idade consumindo nada dessa natureza.
Precisamos verificar todas as denúncias que recebemos...
Não perdi mais tempo ouvindo nada, porque aquilo era o que eu já
imaginava. Outra denúncia anônima e tudo indicava que a Cláudia tinha algo
a ver com aquilo.
Andei pelos cantos, depois corri agachada para o meio dos carros,
escondendo-me de qualquer pessoa que pudesse estar olhando da casa.
Ultrapassei o longo caminho de pedras, sentindo o frio nas solas dos pés
através das meias de Lorenzo. Eu só precisava esconder-me até que a polícia
saísse de lá, depois voltaria para dentro.
Esperava apenas que não demorasse muito ou morreria de frio.
Saí pelo portão e vi o carro da polícia parado na porta. Parei e olhei
com cuidado para ver se não havia nenhum outro policial esperando lá
dentro. Comprovando que estava vazio, observei melhor ao redor para
encontrar um local seguro para me esconder.
Atravessei logo para o outro lado da rua, puxando o capuz do
moletom de Lorenzo sobre minha cabeça para esconder meu cabelo. Tinha
que sair o mais rápido possível do caminho da polícia, porque não me
esquecia que carregava drogas na bolsa.
Umas quatro casas à frente havia um terreno desocupado, cheio de
mato. Entrei nele pelo canto do muro, agachando-me na escuridão. Esperava
estar fazendo a coisa certa, porque tive muito pouco tempo para pensar se
aquela era a melhor solução. Sabia apenas que não podia deixar Lorenzo ser
acusado de nada.
Minha maior preocupação era saber que aquela garota ainda estava
lá dentro e poderia fazer qualquer outra coisa para o incriminar. Eu precisava
avisar Lorenzo sobre ela e pensei em enviar uma mensagem para ele ou para
minhas primas. Como uma tola, ainda abri a bolsa para pegar meu celular, até
que me lembrei de que estava descarregado.
Droga! Eu merecia mesmo tudo que estava passando agora para
aprender de vez a valorizar um celular decente.
Minha Nossa Senhora, eu juro que vou ser a melhor amiga do meu
celular se conseguir sair bem dessa situação horrível!
Pareceu se passar um tempo enorme enquanto eu tremia naquele
frio, até que ouvi o som de um carro se aproximar pela rua. Olhei e vi um
Mercedes preto encostando no meio fio, quase ao lado de onde eu estava.
Recuei mais ainda para a escuridão, com medo de ser vista. Fiquei esperando
que alguém saísse do carro, mas ele ficou parado sem movimento algum do
motorista. O vidro escuro impedia que eu visse quem estava lá dentro.
Perdi a noção do tempo, sentindo minhas pernas doerem da posição
agachada em que estava, do frio e do medo que me dominavam. Então ouvi
vozes e olhei cuidadosamente para a rua, procurando ver alguma coisa da
frente da casa de Lorenzo.
Lá estavam os dois policiais saindo. Vieram para o carro, onde um
deles entrou na direção e o outro desceu a calçada. Quando eu pensei que ele
ia entrar pela porta do passageiro, continuou andando em minha direção e
recuei para trás, pensando se de alguma forma sabia onde eu estava.
Quase congelei de vez quando a porta do Mercedes se abriu e um
homem de terno desceu de lá. A rua escura não deixava ver o seu rosto
envolto nas sombras, mas vi quando ele levantou as lapelas do sobretudo para
se proteger do frio.
Caminhou em direção ao policial e ambos conversaram em voz
baixa. Ouvi um xingamento e murmúrios entre eles, até que o homem do
Mercedes tirou um envelope do bolso e passou para o policial.
Separaram-se depois, cada um indo para o seu carro e prendi a
respiração vendo-o voltar. Tinha medo até de respirar e ele me ver ali
escondida, mas precisava tentar descobrir quem era, agora que vinha
caminhando de frente para mim.
Das duas uma, ou eu me escondia e não era vista, ou olhava-o e
arriscava que me visse também.
Olhei para trás, analisando o terreno vazio às minhas costas. Vi que
ia até o fim da casa ao lado e depois fazia uma curva à direita, provavelmente
dando para a rua seguinte. Era uma via de escape, caso eu precisasse correr e
fugir. O único problema era não ter sapatos que me impedissem de machucar
os pés naquela escuridão, mas eu tinha que tentar.
Puxei bem o capuz do moletom e cheguei mais perto do muro,
olhando o homem se aproximar.
Senti um baque no peito quando vi seu rosto duro e ameaçador.
Vittorio!
O susto que levei foi tão grande que recuei rapidamente, caindo
sentada na terra gelada.
Jesus, é aquele homem terrível que trabalha para o tio de Lorenzo!
Comecei a tremer mais ainda, um medo aterrador tomando conta do
meu corpo. Saí me arrastando devagarzinho dali, recuando cada vez mais
para longe, enquanto me sentia sufocar de angústia.
Eu precisava avisar Lorenzo!
Assim que Vittorio ultrapassou o muro da casa e ficou em frente ao
terreno vazio onde eu me escondia, fiquei imóvel e prendi a respiração para
não chamar sua atenção.
Ele andava devagar e pensativo, as mãos nos bolsos do sobretudo,
provavelmente tentando entender como foi que os policiais não me acharam
lá dentro, nem as drogas que Cláudia colocou no quarto de Lorenzo.
Ele era inteligente e rapidamente ia deduzir a verdade. Eu só
esperava que não percebesse que eu saí da casa e estava ali observando-o, ou
estaria literalmente fodida.
Vittorio chegou até a porta do carro e olhou com atenção para a casa
de Lorenzo. Virou-se para a direita e observou a rua, fazendo o mesmo
depois com o lado esquerdo.
Eu até sabia o que se passava por sua mente acostumada a planejar
ações desleais e rezei fervorosamente para que não chegasse à conclusão
óbvia de tudo aquilo.
Abruptamente, ele se virou de costas e olhou para o terreno
desocupado onde eu estava escondida e senti seu olhos varrerem o local com
um cuidado excessivo.
Rezei mentalmente por ter escolhido ao acaso um moletom preto e
assim ficar menos visível na escuridão da noite.
Vittorio passou tanto tempo olhando para lá que fui ficando cada vez
mais nervosa, controlando ao máximo minha respiração, porque tinha medo
que até isso ele conseguisse sentir de onde estava.
Depois do que me pareceram horas e não minutos, ele abriu a porta
do carro, entrou, ligou o motor e arrancou a toda velocidade pela rua,
fazendo-me então respirar aliviada.
Por segurança, ainda fiquei ali por uns minutos, alerta para tudo ao
meu redor, até que ouvi o som de outro carro se aproximando em alta
velocidade. Vi um carro vermelho passar rápido à minha frente e cantar
pneus quando freou no portão da casa de Lorenzo, entrando direto para o
pátio.
Não deu para ver quem era, mas aquilo fez-me aguardar mais um
pouco onde estava. Deixei passar apenas uns cinco minutos até levantar-me
devagar para voltar à casa. Minhas pernas estavam dormentes e eu sentia-me
enregelada. Procurei me movimentar para voltar ao normal e fui saindo do
meu esconderijo.
Ouvi um som muito leve atrás de mim e voltei-me, ficando
paralisada de horror quando vi uma figura alta às minhas costas.
Vittorio!
Apavorada, vi que de alguma forma ele tinha percebido que eu
estava ali e enquanto eu preocupava-me apenas com os sons da rua, ele tinha
se aproximado sorrateiramente por trás, seus passos abafados pela terra
úmida.
Eu sabia que suas intenções não eram boas e não pensei duas vezes
em chamar pela única pessoa que eu precisava naquele momento.
Enchi os pulmões de ar e gritei o mais alto que pude.
— Lorenzooo!
***

Aldo Costi
— É hoje — escutei Vittorio falar do outro lado da linha, fazendo-
me esmurrar a madeira maciça da minha mesa num gesto de vitória.
Eu precisava extravasar minha satisfação de alguma forma, já que
não podia gritar de alegria dentro do escritório envolto na escuridão da noite.
Era hoje! Enfim, eu ia conseguir o que queria, ainda que fossem nos
últimos dias antes da namoradinha de Lorenzo completar dezoito anos.
— A garota já colocou lá o que pedimos?
— Sim. Ela já confirmou comigo que o fez — Vittorio respondeu
com seu habitual tom inexpressivo. — Dei-lhe um mapa do quarto e orientei
que colocasse junto aos remédios que ele tem na mesa de cabeceira.
Perfeito!
— Tivemos muita sorte da Angélica aparecer repentinamente na
discoteca — Vittorio continuou com seu relatório. — Agora podemos usá-la
também e piorar tudo para ele. De início pensamos que tínhamos perdido
mais uma oportunidade. Cláudia conseguiu se aproximar dele e já ia colocar
tudo dentro do seu casaco quando a namorada apareceu e ele correu para
perto dela. Teríamos conseguido, porque ele estava concentrado no celular o
tempo todo e nem ia notar nada. Cláudia é uma especialista nisso!
No entanto, não foi especialista em conseguir seduzi-lo. Se ela
tivesse despertado o interesse de Lorenzo desde quando a contratamos, já
teria entrado em sua casa e conseguido incriminá-lo há mais tempo. Contudo,
aquela cria do inferno só tinha olhos para a namorada e destruiu meus planos.
E Vittorio ainda vinha me dizer que Cláudia era uma especialista!
— Não esperava que fosse de outra forma, Vittorio, porque bastou
para mim aquele outro incompetente que você contratou e não fez nada que
prestasse. Eu já tinha prevenido você que desta vez não ia admitir novos
erros.
Fez-se silêncio do outro lado da linha até eu ouvir sua voz
novamente. E desta vez não estava nada inexpressiva, mas com um tom de
raiva controlada.
Era assim mesmo que eu gostava de vê-lo! Completamente
dominado pela raiva e puto da vida, a ponto de ultrapassar qualquer limite.
— Eu garanti que não iria errar de novo e não vou, Sr. Aldo.
— Não perca seu tempo dando garantias de nada, Vittorio! Apenas
seja competente no seu trabalho e isso já basta! — disse-lhe duramente. —
Não tenho tempo para perder ouvindo desculpas, garantias ou seja o que for!
Quero resultados! E resultados positivos e não fracassos, ou vou começar a
achar que você é que não é especialista em mais nada!!
Meu tempo corria mais rápido do que tudo e qualquer falha poderia
significar um atraso extremamente arriscado para mim, por isso nem dei-lhe
tempo para reagir, fosse bem ou mal, com o que eu disse. Fui logo à carga
novamente.
— E a polícia?
— Estão lá e vão olhar cada pedacinho da casa. Daqui a pouco eu
chegarei para acompanhar tudo de longe.
Eu queria estar presente para ver Lorenzo sendo levado para a
delegacia, mas preferia mil vezes estar aqui em Roma para ver a cara de
Vicenzo quando soubesse que o seu herdeiro estava preso.
Desta vez não ia haver perdão para ele.
— Ligue-me quando tudo estiver terminado!
CAPÍTULO 17

Lorenzo
QUASE NÃO ACREDITEI no que estava ouvindo do policial.
— Como já disse, necessitamos comprovar que não há consumo de
drogas na casa e a festa não tem menores de idade consumindo nada dessa
natureza. Precisamos verificar todas as denúncias que recebemos.
Definitivamente, perdi a paciência de vez.
Olhei para o Pedro.
— Tem seu celular aí?
Não podia subir para pegar o meu que deixei no quarto com
Angélica e respirei aliviado quando ele enfiou a mão no bolso e estendeu-me
o celular.
— Pedro, acompanhe os policiais até o local da festa enquanto faço
uma ligação.
Fiquei olhando eles seguirem para dentro da casa e liguei para Paolo.
— Diz, Lorenzo! — ele atendeu de imediato.
— Preciso de você urgente aqui em casa!
— Espera! — pediu e segundos depois falou novamente. — O que
se passa?
Percebi que tinha colocado os fones de ouvido e estava
movimentando-se dentro do apartamento. Ouvi o som de uma gaveta sendo
aberta e fechada, sabendo que pegava sua arma.
— Tenho dois policiais aqui em casa com uma denúncia anônima de
uso de drogas. Cocaína.
Ele não disse nada, nem eu esperava que dissesse, porque o conhecia
bem o suficiente para saber que já estava pensando em como resolver a
situação.
— Vou demorar apenas alguns minutos para tirar o carro e chegar aí.
Como você disse que Angélica estava em segurança com você, guardei-o na
garagem.
— Eu jamais ia imaginar que teria policiais batendo à minha porta
com uma acusação dessas.
— Você tem certeza que ninguém aí é usuário e tem drogas? Porque
se tiver cocaína, a situação vai complicar-se e custará livrá-lo disso, rapaz!
Merda! Tudo que eu não quero é o meu pai me livrando da justiça
novamente.
— Pela minha experiência, tenho certeza que alguém aí está com
drogas ou esta acusação não teria sido feita — Paolo continuou. — Fique
atento e tenha cuidado! Não deixe os policiais sozinhos, pois eles mesmos
podem plantar isso na casa para acusar você depois. Tem alguém por trás
pagando toda esta encenação, sem dúvida alguma.
Caralho! Eu não tinha pensado nisso!
Paolo tinha total razão! Se a polícia estava ali com aquela nova
denúncia anônima nas mãos é porque as drogas seriam plantadas dentro da
minha casa.
— Onde está Angélica? — ele me perguntou e, pela sua respiração
pesada, percebi que descia pelas escadas do prédio e não pelo elevador.
Angélica!
— No meu quarto!
— Tire-a de lá imediatamente. Tente escondê-la ou, se não
conseguir fazer mais isso, pelo menos coloque-a em alguma outra parte da
casa que seja menos comprometedora. Eles provavelmente já sabem que ela
está no seu quarto e é menor de idade. Procure não perder a cabeça por nada.
Podem tentar provocar você de alguma forma para levá-lo preso com eles,
por desacato à autoridade. E controle-se! Chego já.
Merda! Merda! Merda!
Não esperei mais nada e saí rápido do hall, subindo direto para o
meu quarto, aproveitando que dava para ouvir a voz do policial no terraço
onde decorria a festa.
Subi os degraus de dois em dois e dobrei o corredor à direita,
sentindo a urgência transformar-se em adrenalina pura quando vi que a porta
do meu quarto estava aberta e de lá vinha o som de vozes.
Quem tinha entrado no meu quarto com Angélica lá dentro?
Corri pelo corredor e entrei de supetão, parando estupefato ao ver o
outro policial lá dentro com Tiago ao lado dele. Olhei ao redor em busca de
Angélica mas não a vi no meu quarto.
Observei o Tiago, que fez uma expressão de quem não tinha
conseguido evitar aquela invasão. No entanto, quando ele fez um discreto
meneio de cabeça, negando, entendi que Angélica não estava li quando eles
entraram.
Respirei fundo para acalmar o ritmo alucinado do meu coração,
ansioso para saber onde ela estava, pensando se teria ido esconder-se em
algum lugar quando percebeu que subiam ao quarto.
Olhei novamente o policial e foi difícil pra caralho controlar o
ímpeto que eu sentia de expulsá-lo dali, porque estava quase cego de raiva ao
ver o que considerava um abuso de poder dentro da minha casa.
— O que é que está fazendo aqui? — indaguei, vendo o policial
analisar atentamente o meu quarto. — Vocês não disseram que precisavam
revistar os quartos da família.
— Vamos fazer tudo o que acharmos necessário — ele disse,
continuando a observar tudo.
Tentei me lembrar das palavras de Paolo e não perder a cabeça com
aquela provocação, porém, mesmo tendo sido avisado, foi quase impossível
não estourar e dizer àquele policial exatamente o que eu achava que ele devia
fazer da vida dele.
Nunca pensei que sentiria falta do poder do dinheiro que o meu pai
tinha, um poder que desprezei completamente quando saí da Itália, odiando
tudo que estava associado a ele. Agora, eu queria aquele poder de volta, para
proteger Angélica de qualquer ameaça que aqueles policiais, e quem os
mandou, representava para ela.
Thor entrou correndo pela porta aberta e começou a rosnar assim
que viu o policial, latindo com raiva pela intrusão dentro do quarto que ele
sabia apenas eu e poucas pessoas entravam.
— Quieto, Thor! — ordenei a contragosto.
Procurei me manter calmo e deixei que o agente olhasse o que
quisesse, pois aquele poderia ser o tempo que Paolo precisava para chegar ali.
Eu sabia que o quarto estava limpo, por isso acompanhei com atenção todos
os movimentos dele, para impedir qualquer tentativa de me incriminar.
— Tem banheiro aqui? — ele perguntou.
— Sim.
Olhei para Tiago e fiz sinal para que acompanhasse o policial até lá,
aproveitando aquele rápido tempo sozinho para ir até meu celular e ver se
havia alguma mensagem de Angélica dizendo para onde foi. Notei que seu
casaco e a bolsa não estavam em cima da poltrona onde os deixei.
Não havia nenhuma mensagem ou ligação e desconhecer onde ela
estava começou a me deixar angustiado. Esforcei-me para não entrar em
pânico, apesar do aperto que sentia no peito. Depois de horas preocupado
com ela até batermos de frente na discoteca, aquele súbito desaparecimento
em minha casa só fazia voltar todo o desespero que senti por não saber onde
estava.
Quando voltou ao quarto, o agente veio direto em minha direção,
olhando para meu celular com uma curiosidade gritante. Baixei-o e coloquei
no meu bolso, encarando-o de forma interrogativa. Esperava que já estivesse
satisfeito e saísse logo dali.
— Posso ver as gavetas? — Apontou para a minha mesa de
cabeceira, fazendo-me respirar fundo para diminuir a pressão que eu sentia
crescer cada vez mais.
Se Paolo não chegasse rápido, talvez realmente eu me fodesse todo
naquela noite ao responder agressivamente àquele desgraçado.
Preferi não responder, apenas me afastei para o lado e deixei que
abrisse a gaveta e olhasse tudo lá dentro. Ele assobiou alto quando viu os
medicamentos.
— Isso tudo é seu?
— Sim.
— Você tem muitos hipnóticos e sedativos aqui. Tem receita para
eles?
Abri a gaveta de baixo e retirei as receitas da minha médica. Ele
conferiu e depois me devolveu. Remexeu dentro da gaveta em meio às
caixas, até parecer satisfeito e fechá-la.
— Bom, parece que está tudo limpo. — Olhou ao redor do quarto,
até se fixar na varanda.
Deu dois passos naquela direção, mas parou quando Thor ficou à
frente dele, começando a latir e impedindo-o de seguir adiante. Estranhei seu
comportamento e olhei para a varanda, notando que a pesada cortina não
estava totalmente esticada e a porta se encontrava aberta.
A ansiedade duplicou quando percebi que só poderia ter sido
Angélica e que, talvez, ela estivesse escondida na varanda, justificando a
guarda que Thor fazia do lugar.
Cruzei o olhar com Tiago, que pensava o mesmo.
— Chame o seu cão ou vou ser obrigado a feri-lo!
Fechei os punhos e respirei fundo, tentando me forçar a fazer aquilo,
mas não consegui. Sob hipótese alguma eu queria deixar que ele fosse à
varanda se era lá que Angélica estava. Contudo, sabia que era inevitável, por
isso fiz a única coisa que consegui naquele momento. Adiantei-me à sua
frente e caminhei com determinação até a varanda, sendo seguido pelo Thor.
Puxei a cortina e abri a porta de vez. Se alguém tinha de chegar até Angélica
primeiro, esse alguém seria eu.
Nem tive tempo para ficar feliz quando vi a varanda vazia, porque
isso significava apenas que, mais uma vez, eu não sabia onde ela estava.
O policial se aproximou também, constatando não haver ninguém
ali. A minha única satisfação foi ver a cara de frustração dele quando
percebeu que já não havia mais o que fazer no meu quarto.
Tive vontade de pedir ao Tiago que o acompanhasse até a porta,
porque queria ficar sozinho e procurar por Angélica, mas não quis arriscar
deixá-los muito tempo em minha casa sem que eu mesmo estivesse ao lado
para monitorar o que faziam.
Acompanhei-o rapidamente aos outros cômodos do andar superior e,
no fim de tudo, descemos os três. Thor ainda permaneceu no meu quarto e
aquilo me deixou com a esperança de que Angélica estivesse de alguma
forma escondida ali. Só esperava que ele não estivesse confuso por causa do
cheiro dela, que ainda devia impregnar o ambiente.
Quando chegamos em baixo, o outro policial já estava vindo pelo
corredor junto com Pedro e nos encontramos todos ao pé da escada.
Percebi a troca de olhares entre eles.
— Tudo limpo lá em cima.
— Na festa também — disse o outro, olhando para mim. — Tudo
indica que foi uma denúncia sem fundamento.
Trinquei os dentes para não lhe dar a resposta que merecia,
respirando aliviado quando os vi fora da minha casa.
Fechei a porta e virei-me para Pedro e Tiago.
— Ninguém a viu?
— Não! Depois que ela subiu com você, não a vimos mais — Pedro
falou, apontando depois para o terraço onde acontecia a festa. — Lá dentro
ninguém tocou no nome de Angélica, nem quando o policial perguntou se
estavam todos lá.
— Pedro, volte a ficar com eles e controle a situação. Eu e Tiago
vamos olhar o resto da casa. — Olhei para o meu amigo. — Vê aqui em
baixo e eu verei lá em cima. Daqui a pouco Paolo deve chegar.
Voltei para o meu quarto, onde Thor ainda permanecia próximo da
varanda.
— Angélica! — chamei alto, indo até o closet. — Amor, você está
aqui?
Nada além do silêncio.
Voltei para o quarto e olhei Thor parecendo guardar a varanda. Fui
até lá e abri as portas novamente, olhando os carros lá em baixo e tentando
imaginar onde ela estaria. Estava frio lá fora e minha preocupação só fazia
crescer.
Que merda Angélica! Onde você está?
— Thor, chega aqui!
Ele veio e ficou à minha frente, o rabo abanando.
Agachei-me à sua frente, encarando-o.
— Angélica, garoto! Onde ela está? — perguntei, vendo-o latir e sair
cheirando a varanda toda, até voltar para mim. — Vai procurá-la, Thor! Traz
Angélica para mim, vamos!
Ele correu para dentro do quarto e cheirou o edredom jogado sobre a
cama, depois correu e entrou no closet.
Levantei-me e fui atrás dele, mesmo sabendo que Angélica teria
saído quando a chamei, caso estivesse lá.
Assim que entrei, Thor latiu para mim do fundo do closet. Fui para o
seu lado e meu coração falhou uma batida quando vi o casaco vermelho de
Angélica jogado no canto. Peguei-o e tive a impressão de ainda sentir o seu
calor nele, o cheiro do perfume que eu adorava vindo direto às minhas
narinas. Inspirei-o com força, o amor que eu sentia só fazendo aumentar a
angústia por não saber onde ela estava.
Atrás do casaco, estavam o par do scapin preto que ela tinha usado,
junto com as meias finas. Isso significava que estava descalça e sem agasalho
nenhum.
Para onde ela tinha ido só com aquele minúsculo vestidinho preto?
Meu desespero alcançou o limite máximo e vi tudo preto diante de meus
olhos. Oscilei e estendi a mão à minha frente, apoiando-me na porta de um
dos armários.
Aquele maldito pesadelo que tive, vendo ela ser sequestrada diante
dos meus olhos, voltou com força total, deixando-me emocionalmente
quebrado por dentro.
— Angélica! — gritei dentro do closet, uma dor lancinante me
cortando como uma faca.
Eu não ia suportar se acontecesse algo de mal com ela, se fosse
machucada ou se sofresse qualquer tipo de agressão além das que já tinha
sofrido na vida.
— Lorenzo?
Era Paolo, entrando de rompante dentro do closet, seguido por
Tiago. O espaço ficou pequeno com nós três, mas a única coisa que eu queria
eram notícias de Angélica, por isso olhei direto para Tiago, esperando que me
dissesse algo. Sua expressão era de quem não havia achado nada e aquilo só
serviu para fazer-me mais desesperado ainda.
Dei um golpe com o punho fechado na porta do armário, e outro e
mais outro, até sentir-me sendo puxado para trás e preso no abraço de ferro
de Paolo.
— Calma rapaz! Vamos encontrá-la! Esfria a cabeça!
— EU A QUERO AQUI COMIGO! — gritei com raiva,
empurrando-o com força e libertando-me dele. — E vou matar quem encostar
a mão nela!
Saí de lá antes que sufocasse dentro daquele closet. Passei pelo
quarto e desci a escada como um raio, chegando ao térreo da casa. Fui até a
porta da frente e escancarei-a, saindo para o ar frio da noite, onde vi o BMW
de Paolo estacionado ao lado do meu SUV.
Olhei para o amplo pátio da casa, o caminho de pedras que levava
até o portão ainda aberto apesar de ser altas horas da madrugada.
— Thor! — gritei alto pela porta da rua, vendo-o sair correndo da
casa e chegar ao meu lado.
Agachei-me e segurei-o com força pela cabeça, fazendo-o se
concentrar no que eu ia dizer.
— Angélica, Thor! Onde ela está? Leve-me até Angélica, garoto!!
— Ela está com o celular, Lorenzo?
Eu não havia pensado nisso! Fiquei tão cego que nem pensei que
talvez com uma simples ligação resolvesse tudo.
— Não vi sua bolsa lá em cima, então deve estar com ela e o celular
também.
Levantei-me e peguei o celular, completando a ligação.
Caiu direto na caixa postal. Insisti mais duas vezes até perder a
paciência e jogar o aparelho para Paolo.
— Ela não atende e estou perdendo tempo aqui parado. — Voltei a
olhar para Thor, que agora estava cheirando o chão perto da parede onde
tinha o cano de escoamento da chuva. — Thor!
Ele latiu, chamando-me para perto. Fui lá e olhei o chão ao redor do
local, sem ver nenhuma evidência de que Angélica tivesse passado por ali.
Thor se ergueu nas patas traseiras e apoiou as dianteiras no cano,
olhando para cima e latindo. Segui seu olhar e vi minha varanda, o peitoril de
vidro fumê e a porta que esqueci aberta.
Gelei completamente quando observei o cano passando ao lado e
seguindo até o telhado da casa. Tentei imaginar a cena e vi que sim, era
possível. Ela estava descalça, sem o casaco pesado, era leve e esguia o
suficiente para ter feito aquilo, mesmo arriscando quebrar o pescoço.
Olhei para trás de mim e vi os carros estacionados no pátio de pedra.
Meu Deus! Ela não podia estar na rua com aquele vestidinho curto
e descalça, àquela hora da madrugada!
— Thor! — chamei, enquanto corria à toda velocidade para o
portão, ultrapassando-o e chegando à rua.
Parei em frente à casa e olhei para os dois lados, sem saber para qual
seguir. Thor também parou à minha frente, cheirando o chão. A madrugada
fria e úmida sempre trazia junto um denso nevoeiro e pouco se via ao longo
da minha rua.
Amor, onde você está?
Escutei Paolo juntando-se a mim. Olhei-o quando estendeu a mão
com meu celular.
— Ela não atende. Guarde porque podemos precisar falar. Mandei
Tiago acabar discretamente com a festa e mandar todos para casa, com
exceção das primas dela. — Ficou em silêncio, concentrando-se, e igual a
mim, olhou para os dois lados da rua. — O nevoeiro está aumentando e é
melhor sermos rápidos. Vamos cada um para um lado e qualquer coisa é só
ligar.
Não perdi tempo respondendo e continuei andando, lembrando de
ver Thor cheirando tudo à minha frente. Procurei por ele mas não o vi e
aquele nevoeiro não ajudava em nada a melhorar a visibilidade.
Minha rua era larga e as casas eram grandes demais, dando
privacidade a seus moradores, mas também distanciamento. Eu quase não via
ou falava com meus vizinhos.
Tentei ver a rua pelos olhos de Angélica e percebi que ela veria
poucos locais onde esconder-se, exceto se invadisse uma daquelas casas, mas
àquela hora todas estavam com seus portões fechados.
Anjo, para onde você foi?
CAPÍTULO 18

Lorenzo
MINHA TENSÃO JÁ tinha alcançado níveis alarmantes dentro de
mim e sentia-me a ponto de explodir. Estava ofegante e não conseguia deixar
de abrir e fechar os punhos, louco para bater em alguém.
Tanta coisa podia acontecer com uma garota andando sozinha de
madrugada, ainda mais com aquela ameaça de sequestro pairando sobre
Angélica. Minha mente não parava de enumerar todas as ameaças possíveis e
para cada uma delas eu queria matar alguém.
— Lorenzo!
Aquele grito angustiado veio como uma flecha e atingiu direto o
meu coração. Estava longe, mas deu para escutar como se ela estivesse ali ao
meu lado, tamanho foi o seu impacto sobre mim.
Era ela!
— Angélica? — gritei de volta, correndo em direção ao som.
Ouvi os latidos raivosos de Thor e atravessei rapidamente uma casa,
duas casas, três casas, até perceber exatamente onde ela esteve todo aquele
tempo. No único terreno desocupado depois da quarta casa além da minha.
Merda! Por que Angélica precisou ir tão longe assim? Por que não
ficou no quarto como eu pedi? Eu teria feito de tudo para impedi-los de
levarem-na, ou de fazerem qualquer coisa para machucá-la, nem que tivesse
que acordar meu pai na Itália.
— Angélica! — gritei novamente quando não ouvi nenhuma
resposta dela, apenas os latidos de Thor e passos correndo ao longe no lado
oposto da rua, provavelmente de Paolo ao ouvir nossos gritos.
Corri mais rápido ainda até ultrapassar a última casa e chegar ao
terreno. Estava tudo escuro lá dentro e o nevoeiro não ajudava em nada, mas
entrei sem pensar duas vezes.
Tive que diminuir a velocidade porque ali não havia a iluminação da
rua para ajudar e a escuridão era quase total. Quanto mais para o fundo, mais
o chão era irregular, com buracos, mato, pedras e lixo acumulado, que
dificultavam o acesso rápido.
Ultrapassei tudo que tinha à minha frente, vencendo a distância, até
ver ao fundo um homem alto arrastando Angélica. Ambos eram vultos que
confundiam-se nas brumas.
Pela posição que estavam, deduzi que ele tinha um braço
suspendendo-a pela cintura e o outro com a mão tapando sua boca. Só então
eu entendi porque ela não respondeu quando gritei, chamando-a.
— Filho da puta! — gritei com o ódio correndo solto em minhas
veias.
Eu ia matá-lo quando colocasse as mãos nele!
De vez em quando via uma relance das pernas brancas de Angélica
agitando-se no ar. Thor rosnava ao lado deles e deve ter consigo mordê-lo na
perna, fazendo-o soltar a mão da boca dela, porque ouvi um xingamento alto
e logo depois o grito de Angélica.
— Lorenzo! — Senti o alívio em sua voz junto com o medo que ela
estava sentindo.
Calculei a distância que ainda faltava para conseguir alcançá-los,
percebendo que já estavam quase chegando ao fim do terreno. Gelei
completamente quando vi ao longe um Mercedes preto estacionado, para
onde ele a arrastava apressadamente. Então tive a certeza que aquele era o
homem que me seguia, surgindo até nos meus pesadelos.
Vi o pelo claro de Thor em torno deles e sabia que tentaria atacá-lo
novamente. Mas eu não queria vê-lo machucado, porque ainda era muito
novo e não tinha muitas habilidades de ataque, apenas instinto.
Não sei como meu cachorro conseguiu fazer aquilo, mas o agarre do
homem sobre ela deve ter diminuído de alguma forma, porque Angélica
escorregou do seu braço e apoiou os pés no chão. Ela conseguiu se
desvencilhar dele com um safanão e virou-se, correndo com dificuldades em
meio ao mato.
Graças a Deus!
Contudo, meu alívio durou pouco, porque o homem foi rápido
também e correu atrás dela, agarrando-a de novo pela cintura e prendendo-a.
Só então eu o vi de frente e tive a impressão de conhecê-lo, mesmo com a
distância e a escuridão.
Aquela tentativa de fuga de Angélica me deu o tempo que precisava
para chegar perto deles e quando ela tinha acabado de ser erguida do chão
novamente, consegui enfim colocar minha mão direita na lapela do seu
casaco.
— Largue-a!
Segurei-o com firmeza para impedir que se afastasse de mim. Com o
punho esquerdo, esmurrei-o com todo o ódio que sentia naquele momento,
tendo o cuidado de não a atingir. Sustentei-o com a direita para que não
caísse e levasse Angélica na queda, mas assim que ele sentiu o impacto do
soco na cara, acabou por largá-la.
— Lorenzo! — ela arquejou, aliviada.
Angélica se agarrou ao meu casaco e depois me abraçou pela
cintura. Só então, eu o soltei, dando-lhe um violento empurrão para trás em
direção ao muro da casa.
Por apenas breves segundos desfrutei do prazer de ter Angélica
novamente nos meus braços, sentindo seu corpo se apertar junto ao meu.
Uma parte de mim amoleceu completamente com a força da emoção que
senti, mas o outro lado, aquele escuro e sombrio, não conseguia tirar os olhos
do homem agachado à minha frente, querendo destruí-lo.
Eu sabia que aquele ainda não era o momento de baixar a guarda,
por isso segurei ela com firmeza pelos braços.
— Para trás, Angélica! — disse-lhe, soltando suas mãos da minha
cintura e colocando seu corpo atrás do meu. — Afaste-se e leve Thor com
você!
— Lorenzo, é Vittorio!
Quando escutei aquilo, olhei com atenção o homem inclinado ao
chão na minha frente. A escuridão tinha ajudado a esconder sua identidade,
mas agora percebi que a sensação familiar que tive quando o vi não tinha sido
um engano da minha parte.
Vittorio, o capanga do meu tio!
Pela primeira vez depois de quase três anos de constante
autocontrole, deixei vir à tona aquele ódio que me cegava, permitindo que a
raiva que eu sentia explodisse dentro de mim como um vulcão e me
dominasse por inteiro. Não impus nenhum limite ou qualquer tipo de controle
ao meu impulso de destruir qualquer um que ameaçasse quem eu amava. Só
deixei a raiva vir, crescer e explodir.
Só em saber que poderia libertar tudo aquilo de dentro de mim
naquele momento, fui dominado por uma satisfação que há muito tempo não
sentia.
— Seu filho da puta desgraçado! Foi você este tempo todo armando
contra mim!
Ele ergueu-se à minha frente e, sem aviso, desferiu o primeiro golpe
em minha direção, que consegui bloquear e revidar, favorecendo-me da
minha altura e força superior à dele. Fui bombardeado com uma série de
golpes, que consegui bloquear, mas também não fui capaz de acertar nenhum,
porque ele sabia bloquear da mesma forma.
Se eu não conseguisse finalizar logo aquela luta, o vencedor seria
aquele que tivesse mais resistência física e, apesar de mais jovem, eu vinha
de uma dura partida de basquete onde joguei todos os quarenta minutos.
Restava saber o quanto pesaria em Vittorio a idade que tinha.
Ele ganhava na experiência que tinha nas artes marciais. Enquanto
lutássemos em pé, eu sabia que a vantagem poderia ser dele, pois iria usar as
várias técnicas que conhecia. Eu não duvidava de que ele já soubesse desse
fato também, por isso precisava derrubá-lo ao chão, porque minha
especialidade era o jiu-jítsu e lá eu dominaria ele.
Lutar na escuridão também não ajudava nada!
Ele deu mais um golpe visando atingir meu peito, que consegui
desviar a tempo, mas fui pego depois na altura do ombro esquerdo com um
chute perfeito que ele deu em seguida. Cambaleei para trás com a força do
golpe. Consegui me equilibrar, mas senti uma dor dilacerante.
Ouvi um gemido de angústia de Angélica e o latido raivoso de Thor,
porém, forcei-me a permanecer focado em Vittorio.
Ele sabia que eu era canhoto e estava tentando neutralizar meu lado
forte, mas eu não ia deixar que fosse muito mais longe do que aquilo.
Acertei-lhe uma cotovelada nas costelas, ouvindo-o arfar com o golpe.
— Lorenzo?
Era a voz forte de Paolo na frente do terreno. Não respondi nem
desviei minha atenção de Vittorio, sabendo que os sons da luta levariam ele
até lá.
— Paolo, aqui no fundo! — Angélica gritou. — Vem rápido, por
favor!
Minha oportunidade chegou quando consegui bloquear um outro
chute dele. Segurei-o pela perna e com um movimento rápido, joguei-o ao
chão e caí logo por cima, imobilizando-o rapidamente. Eu poderia
simplesmente terminar tudo ali, prendendo-o e entregando-o depois aos
cuidados de Paolo, mas eu ia arder no inferno se fizesse isso, porque minha
raiva e desejo de vingança pediam muito mais.
Virei-o de frente e não hesitei em lhe desferir um duro soco na cara,
sentindo um prazer enorme quando meu punho esquerdo se chocou contra os
ossos do seu maxilar.
— Isto é por ter encostado a mão nela! — rosnei, antes de desferir
outro soco potente nele. — E este, é por tentar sequestrá-la!
Ceguei completamente e fui dando uma sequência de socos seguidos
em sua cara. Para cada um deles, eu citava um motivo diferente e a lista
parecia não ter fim.
— Este aqui é pelos policiais na minha casa! Por trabalhar para o
cão do inferno do meu tio! Por ter ajudado a infernizar a vida da minha mãe!
Uma mão forte segurou o meu braço e tentou me empurrar para
longe dele.
— Chega Lorenzo! Não precisa matá-lo, rapaz! — Paolo falou ao
meu lado, apertando o meu braço. — Deixe que eu cuido de tudo agora. Vá
ficar com Angélica que ela precisa de você.
Angélica!
Afastei-me e respirei fundo.
— Isso mesmo, Angélica precisa de você! Mas não a deixe vê-lo
assim! — ele sussurrou ao meu lado. — Acalme-se e limpe as mãos antes.
Ela já deve estar mais do que assustada com tudo que aconteceu.
Limpei minhas mãos sujas de sangue na camisa de Vittorio. Ele não
se mexeu, parecendo estar inconsciente.
Levantei-me e virei para Angélica, vendo-a em pé um pouco mais
atrás, parecendo estar paralisada de medo e eu só esperava que não fosse de
mim. Dei dois passos em sua direção, pensando que, se eu precisasse matar
por ela, teria feito isso sem hesitar, porque ela era tudo para mim.
Foi a única coisa que pensei quando abri os braços e a vi correr em
minha direção. Recebi-a em cheio no meu peito, que se pendurou no meu
pescoço com desespero.
— Lorenzo! — gemeu, agarrando-se em mim.
Passei o braço em torno dela e a ergui, suas pernas me enlaçando
pela cintura como gostava de fazer. Nunca me senti tão aliviado na vida
quanto naquele momento.
— Angel!
Um amor profundo se alastrou pelo meu peito e apertei-a tão forte
que nem sei se a machuquei com o meu desespero.
Segurei-a pelo cabelo e ela já sabia exatamente o que eu queria,
porque uniu sua boca à minha e nos beijamos, desesperados. Nunca um beijo
foi tão desejado como aquele, porque era ali que eu encontrava minha força.
Eu nem queria pensar o que aconteceria comigo no dia em que alguém
realmente conseguisse tirá-la de mim.
Agora eu tinha urgência em sair logo daquele lugar infernal e levá-la
para o conforto e segurança da minha casa.
— Vamos sair daqui! — disse-lhe, começando a caminhar para fora
do terreno — Thor! Vamos garoto!
Ele saiu correndo à nossa frente e quando cheguei na calçada da rua,
mudei a posição de Angélica nos braços e peguei-a no colo.
— Desculpa por ter causado tudo isso quando fugi da casa. Fiquei
desesperada quando vi aquela droga no seu quarto e não raciocinei muito
bem na hora. Só pensei em tirar aquilo de lá antes que a polícia subisse.
Parei de súbito no meio da rua, olhando chocado para Angélica.
Drogas? Então havia mesmo drogas na minha casa?
— Que drogas, Angélica? Do que está falando? — Voltei a andar,
mas em ritmo lento, aguardando sua resposta.
Ela levantou a cabeça do meu ombro.
— Aquela garota, Lorenzo. A tal da Cláudia — sussurrou, olhando
ao longo da rua para a minha casa e depois para mim. — Ela entrou no quarto
assim que você saiu e colocou drogas na gaveta da cabeceira. Eu estava me
vestindo no closet quando a vi.
Puta que pariu! Aquela vadia que quase acabou com meu namoro
era a cúmplice de Vittorio dentro da minha casa?
— Senti que era algum plano para prejudicar você e resolvi fugir de
lá com as drogas.
Eu quase não acreditava no que estava escutando. Angélica havia
corrido aquele risco todo para me salvar!
— Onde elas estão?
— Na minha bolsa. — E olhou para baixo.
Vi a bolsinha preta com a corrente atravessada no seu peito e só
conseguia imaginar o que teria acontecido com ela caso fosse pega vagando
na rua com drogas na bolsa.
Eu devia ter batido mais em Vittorio, merda!
Acho que fechei a cara, porque ela mordeu o canto da boca.
— Desculpa, Lorenzo! Eu só quis ajudar.
— Shh... estou assim mas não é pelo que você fez, amor! É por ter
sido tão burro em não perceber nada! Mas vamos conversar melhor em casa
— tranquilizei-a, apertando-a mais nos braços com um sentimento de posse
terrível. — Só me importa agora que você voltou para mim.
Entramos pelos portões de casa e fiquei aliviado em ver que os
únicos carros que tinham ali eram o meu e o de Paolo.
Pedro e Tiago estavam do lado de fora, conversando ao lado dos
carros e pararam de falar assim que nos viram.
Pedro soltou um xingamento quando olhou o nosso estado, enquanto
Tiago ficou visivelmente aliviado com nossa chegada.
— Só estão as primas lá dentro — anunciou, seguindo à frente e
abrindo a porta da rua que estava encostada.
— Pedro, cuide de acomodar as duas em um dos quartos e o Tiago
também. — Entrei e fui logo para escada.
Angélica escondeu o rosto no meu pescoço enquanto eu subia os
degraus com Pedro e Tiago atrás de nós.
— Paolo deve aparecer depois. — Segui pelo corredor e cheguei à
porta do meu quarto, onde parei para olhar Pedro de frente. — Era Vittorio o
tempo todo, por isso é melhor manter o olho em Bianca, mas não falem nada
para ninguém até que conversemos com meu pai.
Pedro praguejou novamente, a expressão ficando pesada.
Virei-me para Tiago.
— A Cláudia era o contato deles o tempo todo. — Ele arregalou os
olhos, estupefato e pelo jeito emudecido. — Quero saber tudo sobre ela
quando conversarmos. Agora vou cuidar de Angélica e mais tarde eu desço.
Chamem-me se acontecer alguma coisa até lá.
Esperei apenas Thor entrar no quarto à nossa frente e fechei a porta
com o pé.
Fui para o banheiro com Angélica e pousei-a suavemente no chão.
Ela segurou-se nos meus braços para firmar as pernas e senti suas
mãos geladas. Observei-a melhor, vendo o rosto pálido fazendo sobressair a
maquiagem dos olhos azuis. Estava começando a tremer e liguei o chuveiro
no box.
— Vem amor, vamos tomar banho.
Estendi a mão para tirar sua roupa e só então percebi que ela vestia
um de meus moletons. Tirei a bolsa pelo seu pescoço e guardei-a na gaveta
do armário, depois retirei o moletom e joguei sobre a bancada de mármore,
seguido pelo vestido preto e o soutien. Quando fui puxar a calcinha, vi as
minhas meias que ela calçava e que estavam totalmente molhadas e sujas de
terra. Arranquei tudo e joguei para o lado.
— Entra no box e me espera. — Levei-a até lá e senti a temperatura
da água antes de soltá-la.
Tirei minhas roupas, esperando apenas que Angélica ficasse à
vontade com minha nudez também. Entrei no box, direcionando o fluxo da
água morna para ela. O calor ia ajudar a restabelecer a temperatura normal do
corpo e aliviar a tensão dos músculos.
Quando terminamos e estávamos limpos, abracei-a e deixei que a
água caísse sobre nós. Ficamos um tempo assim, relaxando abraçados.
— Isso é injusto. Você é mais alto e rouba toda a água para si.
Comecei a rir, porque ela tinha razão. Eu estava servindo de toldo
para ela.
— Pode se aproveitar de mim em dias de chuva — ofereci, alisando
suas costas e sentindo os seios macios pressionando meu peito.
Ela pisou nos meus pés para ficar mais alta, suspendendo-se e
encostando os lábios nos meus.
Eu não queria forçar nada, diante de tudo o que ela passou, por isso
deixei que tomasse a iniciativa, disposto a dar somente aquilo que pedisse.
Angélica me beijou com ardor e correspondi na mesma sintonia,
enfiando a língua e estremecendo de prazer antecipado quando entrei em sua
boca macia. Eu queria era beijá-la e sugá-la toda, mas me contentei em
fantasiar com sua boca.
Já me sentia endurecer ainda mais, já que durante todo o banho
estive em uma constante pré-ereção que agora se tornava total. Sabia que ela
também sentia, porque levou a mão até o meu pau, enlouquecendo-me de
vez.
Caí para trás de encontro à parede do box, fechando os olhos e
deixando-me seduzir por sua mão inexperiente, mas que tinha o poder de me
dobrar de prazer com um simples toque. Coloquei a mão por cima da dela e
mostrei-lhe como fazer, deslizando-a para cima e para baixo da forma como
eu gostava e precisava. Desliguei a água e enfiei minha outra mão em seu
cabelo, puxando-a pela nuca para perto de mim e devorando sua boca.
Apertei mais sua mão ao redor do meu pau e acelerei os
movimentos, o desejo tomando conta do meu corpo rapidamente,
esquentando minhas entranhas, aumentando os batimentos cardíacos do meu
coração. Um coração que ela tinha nas mãos.
— Desculpe, amor, mas estou precisando muito disso! — sussurrei
em seus lábios, aumentando a pressão e ensinando-a como fazer.
Em um dado momento, soltei minha mão e deixei que fizesse tudo
sozinha, esperando que não diminuísse a pressão ou eu surtaria de vez. No
entanto, Angélica manteve o mesmo ritmo e ainda desceu a outra mão,
acariciando-me. Inicialmente, foi com curiosidade e depois com ousadia
suficiente para me fazer ultrapassar aquele limite entre a razão e a insanidade.
— Porra, Angélica! — grunhi roucamente dentro do banheiro, um
longo gemido de prazer saindo da minha garganta quando cheguei perto do
gozo. — Aperta mais em cima, amor!
Ela levou a mão mais para a ponta do meu pau e intensificou os
movimentos.
— Assim? — perguntou com aquela voz sedosa e o sotaque sedutor.
— Sim, assim mesmo! — Meu coração parecia que ia saltar do
peito.
Apertei mais as mãos em seu cabelo e mergulhei a língua em sua
boca.
— Quer que vá mais rápido? — sussurrou e, sem esperar resposta,
acelerou um pouco mais, fazendo meu corpo estremecer de antecipação pelo
orgasmo muito próximo. — Você gosta assim?
Achei que ia gozar só de ouvi-la falar e me provocar daquele jeito.
— Sim, amor, gosto muito!
— Então, mostra para mim que gosta!
Ouvir aquilo foi a gota d’água e foda-se se eu não ia mostrar!
Senti meu corpo inteiro explodir em sua mão num gozo fodidamente
intenso, fazendo-me urrar de prazer dentro do box, amando-a loucamente
cada vez mais.
Angélica me manteve em suas mãos mesmo quando eu já tinha
colocado para fora cada gota de energia que ainda restava no meu corpo.
Deixei-me ficar em suas mãos por um tempo a mais, antes de ligar
novamente a água.
Ergui-a pela cintura até que ficasse à minha altura, entrando com ela
debaixo do jato.
— Assim não vai dizer que estou roubando a água toda para mim!
Ela riu baixinho e cruzou as pernas em minha cintura. Depois,
beijou-me daquela forma carinhosa que só ela tinha, as mãos penteando meu
cabelo para trás.
— Amo você, Loki.
Sim, ela me tinha totalmente nas mãos.
— Também amo você, Angel.
CAPÍTULO 19

Lorenzo
ANGÉLICA DEU UM beijo leve na minha boca, enquanto a água
escorria sobre nós dois.
— Está na hora de sairmos daqui.
Coloquei-a no chão e terminamos de nos lavar. Peguei as toalhas e
depois que nos secamos, dei-lhe um dos meus roupões para vestir.
Levei-a até a bancada de madeira da banheira e fiz com que
sentasse.
— Espera aqui dentro enquanto vou preparar o quarto. Deixei a
porta da varanda aberta e deve estar frio. — Dei o nó no meu roupão e
apontei uma série de cremes no armário do banheiro. — Ali tem de tudo um
pouco, portanto sirva-se do que precisar, mas previno que a maioria tem
cheiro cítrico.
— Tudo bem.
Fui ao quarto e através das portas da varanda vi que o portão da casa
ainda estava aberto, com o carro de Paolo ao lado do meu. Isso indicava que
as providências que ele tomaria com relação a Vittorio seriam feitas no
Mercedes preto ou então chamaria algum outro segurança para ajudá-lo.
Fechei as portas, corri as cortinas e desliguei as luzes do teto. Deixei
acesa apenas a luz indireta da cabeceira da cama e ajustei a temperatura do
quarto com o controle para esquentar rapidamente.
Troquei de roupa no closet, pegando uma tshirt e uma blusa quente
de inverno para Angélica, que lhe entreguei quando voltei ao banheiro.
Observei-a vestindo-se e aquela sensação doentia de posse tomou
conta de mim quando a vi usando minha roupa.
— Adorei o vestidinho preto, mas isso que está usando agora mexe
comigo de uma forma diferente.
Ela olhou para mim e depois para seu próprio corpo, vendo a blusa
larga na altura dos joelhos. Olhou novamente para mim e levantou uma
sobrancelha irônica.
— Ainda prefiro meu sensual vestido preto — sorriu com malícia.
— Mas não posso negar que também sinto-me poderosa usando as suas
roupas.
Olhei-a profundamente por alguns segundos, cada dia mais certo que
ela era uma diabinha em forma de anjo, porque sabia colocar-me de joelhos à
sua frente.
Segurei sua mão e levei-a até o closet.
— Quero que vista uma de minhas calças de treino porque
precisamos descer para conversarmos com os outros. — Revirei meus
armários, pegando uma preta com cordões na cintura que poderiam ser
ajustados ao seu corpo.
Ela vestiu e começou a rir quando percebeu o quanto era larga.
— Estou mesmo super sensual assim.
Tentei segurar o riso, mas não consegui, principalmente quando ela
desequilibrou-se com o tecido que sobrava nos pés. Agachei-me para dobrá-
los, deixando-os no tamanho exato.
— Fico pensando o que mais você vai achar nestes armários para
fazer-me parecer mais sensual ainda.
— Não me provoque porque a minha criatividade é grande!
— Já percebi isso.
Peguei um par de meias e passei-lhe.
— Vamos completar o seu look sensual com isso. Quero que esteja
bem aquecida.
Coloquei-a sentada na poltrona do closet e agachei-me ao seu lado
para calçar-lhe as meias, quando ouvimos vozes alteradas na escada.
Olhamos um para o outro ao reconhecermos a voz alterada de
Cassandra. Tudo indicava que estava brigando com Tiago.
Foi impossível não rir da situação, porque aqueles dois mais cedo ou
mais tarde iam explodir de alguma forma e parece que resolveram fazer isso
no pior dia possível.
— O que é que tem de errado com essa garota? — perguntei-lhe,
procurando ter cuidado de não ofender a prima dela, que na minha opinião
surtava de maneira estranha em alguns momentos. — Às vezes acho que ela
não é normal.
Angélica ficou calada por breves segundos.
— Cassandra e Roberto passaram por algumas situações
complicadas na infância. Ela é bem mais frágil do que deixa transparecer para
os outros, portanto vou pedir que tenha mais tolerância com suas explosões
de raiva. Sei que hoje Cass exagerou na discoteca, mas era só para me
proteger.
Desde que fosse para proteger Angélica, eu ficava calado, mas se
fosse para interferir no meu namoro, não haveria tolerância nenhuma da
minha parte.
Não respondi nada, apenas terminei de calçar suas meias enquanto
ainda ouvíamos a gritaria no pé da escada.
— Saia da minha frente! Vou subir esta escada agora e ver como
está minha prima! — Cassandra gritava, colérica, fazendo-me ter pena do
meu amigo por ter que aguentá-la. — No que é que vocês estão envolvidos
para a polícia bater aqui na casa de Lorenzo? Eu devia ter percebido que
vocês não são de confiança e que minha prima estaria correndo perigo ao
namorar com ele!
Ouvir aquilo irritou-me e respirei fundo para não descer rápido e
dar-lhe uma boa resposta. Acho que Angélica sentiu meu estado de espírito,
porque segurou minha mão com força, num pedido mudo de compreensão.
— Calma aí, garota! Não estamos envolvidos em nada errado e sua
prima está bem — Tiago falou e dava para perceber que igual a mim ele
estava tentando encontrar paciência para lidar com a explosão temperamental
de Cassandra.
— Então deixe-me passar ou vou armar um escândalo aqui e fazer a
polícia voltar. Sou responsável por Angélica e exijo vê-la imediatamente!
Levantei-me, trazendo-a comigo.
— É melhor descermos antes que aquela louca faça alguma besteira.
Peguei meu celular, segurei sua mão e desci na frente, deixando-a às
minhas costas. Quando alcançamos a curva da escada, já deu para ver Tiago e
Pedro barrando a passagem para o andar superior, com Cassandra e Pandora
em frente aos dois querendo subir.
— Algum problema? — perguntei de forma dura, fazendo-a dar um
pulinho de susto e me olhar com cautela.
Pareceu-me que sua valentia era só contra Tiago. Talvez no fundo
ela soubesse que ele não teria coragem de machucá-la de forma nenhuma.
Senti a mão de Angélica apertando novamente a minha.
— Oi, Cass — ela disse atrás de mim. — Eu estou bem.
A doida da Cassandra deu pulinhos de alegria, empurrando Tiago
para o lado e subindo correndo as escadas. Estendi o braço e segurei o
corrimão, forçando-a a parar abruptamente à minha frente.
Minha intenção era só lhe dar um recado, porque ela teria de passar
por mim para chegar à Angélica. Se não fosse porque eu me via obrigado a
atender ao pedido da minha garota, faria com Cassandra o mesmo que ela fez
comigo na discoteca. Impediria que chegasse perto de Angélica.
Criou-se um clima estranho nas escadas, que sustentei pelo tempo
necessário para que ela entendesse bem o meu recado.
— Lorenzo — Angélica sussurrou, colocando a mão no meu braço.
Só então eu tirei, não sem antes olhar firmemente para Cassandra
para ter certeza que ela entendeu bem.
Angélica passou por mim e as duas se abraçaram, descendo juntas as
escadas e reunindo-se com Pandora, que havia ficado tranquilamente no seu
canto em frente a Pedro.
Elas foram indo para o terraço onde houve a festa e terminei de
descer as escadas. Observei o sorriso divertido de Pedro ao observar as três se
afastarem.
— Meus Deus, como essa garota faz barulho por tudo e por nada! —
ele disse, referindo-se à Cassandra.
— Só mesmo Tiago para aguentar isso! — falei, olhando-o com
pena. — Você vai sofrer com essa aí!
Ele entrou na defensiva, fechando a cara.
— Não sei porque estão dizendo isso! Não quero nada com ela.
— Tudo bem, vamos fingir que acreditamos nisso. — Olhei para o
Pedro. — Alguma notícia de Paolo?
— Nada.
— Vou ligar para ele. — Fiz sinal para Tiago. — Já que você é o
único que aguenta Cassandra, vá ficar perto delas. Não as quero sozinha,
mesmo em casa. Acho que fiquei traumatizado e por hoje quero ter Angélica
vigiada.
Observei-o seguindo pelo corredor e olhei para Pedro.
— Feche a casa. Vi que o portão ainda está aberto. Quando Paolo
chegar abrimos para ele.
Peguei depois meu celular e fui até a sala de estar, ligando para
Paolo. Ele atendeu ao segundo toque.
— Correu tudo bem?
— Sim, tudo resolvido. Já estou chegando à porta da sua casa e
dentro de minutos conversamos.
Desliguei e fui até o hall, abrindo a porta e saindo para fora, onde
encontrei-me com Pedro.
— Não precisa fechar porque Paolo está chegando. Suba ao meu
quarto e pegue na gaveta do armário do banheiro a bolsa de Angélica, por
favor.
Fui até o BMW de Paolo, justo na hora em que os faróis de um carro
surgiam nos portões da casa, seguindo até parar ao meu lado.
Paolo desceu do banco do passageiro e vi que o motorista era o
segurança responsável pelo apartamento de Amanda.
— Você está bem, Lorenzo? — Seu olhar preocupado correu do meu
rosto ao corpo, procurando sinais de ferimentos.
— Estou bem. Dói apenas o ombro esquerdo. — Apertei com a mão
o local dolorido. — Levei um golpe feio aqui. Ele luta bem o muay thay.
— Que sorte então que você ainda está inteiro.
— Tive um bom professor de jiu-jítsu — brinquei com ele.
— Mas nada disso vai salvar minha pele se o Sr. Vicenzo souber que
você enfrentou Vittorio no meu lugar. — Ele estava irritado com aquilo e eu
compreendia seu sentido de dever. — Como está Angélica?
— Está bem, apesar de tudo que passou. — Apontei para o
segurança dentro do carro. — Mas não consigo esquecer que vocês dois me
garantiram que ela estava em casa e segura, quando, na verdade, encontrava-
se em uma discoteca sem proteção alguma.
Ele olhou para o carro onde o segurança permanecia aguardando
instruções.
— Já falei com ele sobre isso, mas é difícil proteger alguém que cria
um plano de fuga do seu próprio segurança. Sei que não foi a intenção das
garotas fazerem isso, mas ele não é totalmente culpado pelo que aconteceu.
Eu sabia que ele tinha razão, mas ainda assim era difícil aceitar uma
falha no esquema de segurança de Angélica.
— Então, ele tem que dar graças a Deus que tudo tenha acontecido
aqui em Portugal e comigo. Se fosse com meu pai e na Itália, estaria
sumariamente demitido — adverti duramente, sabendo como meu pai era
extremamente rigoroso naquele assunto. — Agora gostaria que fosse ao
hospital pegar Amanda. Vou ligar para ela e avisar que vai trazê-la para cá.
Preciso saber que Angélica está bem e só vou conseguir relaxar se ela estiver
debaixo do mesmo teto que eu. Deixe este segurança aqui na casa e vá até
ela. Mais tarde falarei com meu pai.
Pedro chegou com a bolsa de Angélica na mão.
— Também preciso que resolva isso.
Abri a bolsa e mostrei-lhe os sacos com as drogas. Ele fechou a cara
e Pedro soltou um assobio de admiração. Até eu mesmo me surpreendi com a
quantidade que resolverem usar para me incriminar.
— Não quis jogar fora, pois podem ter alguma digital que incrimine
a garota que os colocou no meu quarto a mando de Vittorio. Talvez fique
mais fácil formalizar uma acusação contra ele. Fora a Cláudia, acho que só
Angélica tocou neles.
Retirei com cuidado os documentos dela e o celular, entregando a
bolsa para Paolo.
— Deixe comigo. Dê-me pelo menos uns vinte minutos para
resolver isto, antes de ir pegar a mãe de Angélica no Hospital.
CAPÍTULO 20

Amanda
— ANGÉLICA ESTÁ BEM, Lorenzo?
Nem cumprimentei-o, porque uma ligação àquela hora da noite
vinda de Lorenzo não seria por outro motivo além de Angélica.
— Ela está bem, Amanda. — Ele também não perdeu tempo com
cumprimentos. — Mas por questões de segurança gostaria que as duas
ficassem em minha casa por uns dias. Estou ligando para avisar que Paolo já
deve estar chegando ao hospital para pegá-la e trazer para cá.
Paolo.
— Quando vocês chegarem conversaremos todos juntos — Lorenzo
continuou. — Algum problema com isso?
Problema? Sim, todos os problemas possíveis!
— Não. Por mim está tudo bem.
Nos despedimos e pousei o celular na mesa do consultório,
subitamente nervosa porque, enfim, conheceria Paolo, o homem que me
salvou no estacionamento, mas que também era o Chefe de Segurança da
família de Lorenzo.
Desde o dia em que soube por Angélica que os dois homens eram a
mesma pessoa, fiquei chateada comigo mesma por ter acreditado que ele
tinha ido ao hospital porque estava verdadeiramente preocupado e não por ser
uma obrigação profissional.
O fato de ter ajudado no estacionamento também não foi por um
romântico desígnio do destino, mas porque fazia parte de sua missão em
Portugal.
Resolvi jogar no lixo qualquer sentimento especial que cheguei a ter
com o seu toque, sua voz ou seus cuidados comigo e minha filha. Conformei-
me em fazer parte de uma missão, nada mais além disso.
Parece que não havia mesmo espaço em minha vida para sonhos
românticos!
Arrumei minhas coisas e me preparei psicologicamente para o
encontrar cara a cara, esperando pelo menos que fosse aquele tipo de homem
que tinha voz de príncipe mas aparência de sapo.
O meu celular voltou a tocar e prontamente atendi, mesmo sem
reconhecer o número.
— Dra. Amanda Sant’ana?
É ele!
Pensei que quinze dias fosse tempo suficiente para esquecer aquela
voz. Mas lá estava, o impacto era o mesmo!
— Sim. — Foi a única coisa que consegui responder.
— Sou Paolo Lavorini e vim pegá-la para levar à casa de Lorenzo.
— Claro. Já estou sabendo.
— Estou logo à porta do hospital em um carro vermelho. Aguardarei
o tempo que precisar.
— Não vou demorar. Sairei em alguns minutos. Obrigada.
Desliguei e fiquei olhando para o celular.
— Muito bem, Amanda. Hora de conhecer o sapo!
Peguei minha bolsa e me preparei para deixar o hospital, mais do
que decidida a agir normalmente. Quando saí no frio da noite, vi o BMW
parado logo à frente e fui resolutamente em sua direção.
A porta do motorista se abriu e um homem enorme saiu lá de dentro,
quase da altura de Lorenzo e com um corpo musculoso que o casaco de
inverno aberto não escondia. Tinha o cabelo preto, a barba curta e bem
tratada, um olhar de águia e uma postura para lá de imponente.
O típico italiano enigmático e perigoso.
Meu Deus, onde está o sapo?
Fiquei vendo aquele homem impressionante dar a volta no carro e
vir ao meu encontro, andando com autoconfiança e um charme
inegavelmente masculino. Cravou o olhar sério em mim, sem nenhum sorriso
ou gentileza na expressão. Tudo muito profissional.
Parou à minha frente e estendeu a mão.
— Muito prazer. Sou Paolo.
Respirei fundo e estendi a minha também, que foi prontamente
envolvida pela dele num aperto firme e seco. Uma mão grande, forte e
quente, como ele mesmo parecia ser.
— Prazer, sou Amanda Sant’ana.
Ele soltou rápido a minha mão e apontou para o carro às suas costas.
— Podemos ir?
— Sim, claro!
Sem dizer mais nada, ele pegou a mala médica que eu segurava,
chegando perto o suficiente para que eu sentisse o seu cheiro. Aquele mesmo
odor masculino que senti quando estava desacordada no chão do
estacionamento.
Contudo, o seu movimento tão próximo me deixou ver outra coisa
também, através do casaco aberto. O coldre axilar preso ao peito com a
pistola à mostra.
Naquele momento, tive certeza absoluta de ter tomado a decisão
certa ao me manter distante, porque a última coisa que queria era me envolver
novamente com um homem ligado ao crime, armas e perigo constante.
Fiquei vendo Paolo guardar a mala no banco de trás, depois abrir a
porta da frente e segurá-la para mim, esperando pacientemente que saísse do
meu estado de torpor e entrasse no carro.
Passei por ele e sentei-me, ouvindo a porta bater quando estava
colocando o cinto.
Em poucos minutos, estávamos nas ruas a caminho da casa de
Lorenzo. O silêncio tomou conta do interior do carro, já que ele dirigia calado
e concentrado.
— Queria agradecer por sua ajuda no estacionamento do
supermercado.
Dias atrás quis muito agradecê-lo e não pude, tendo sido Angélica
quem agradeceu por nós duas. Agora, não ia perder a oportunidade de fazer
aquilo. Tenha sido por obrigação ou não, Paolo nos salvou.
— Não precisa agradecer — ele disse em tom formal. — Ajudaria
qualquer pessoa que necessitasse e também estava fazendo o meu trabalho.
Oh, muito obrigada por dizer isso! Meu ajudou a ficar
definitivamente no meu canto.
***

Angélica
Estava sentada no grande sofá da sala, com Lorenzo de um lado e
minha mãe do outro. Todos os demais participantes daquela noite surreal
foram dormir. Cassandra e Pandora em um dos quartos, Tiago em outro,
Pedro em sua casa. Só Paolo é que permanecia lá fora conversando com o
segurança e pendurado no celular.
Já tínhamos feito uma reunião com todos juntos, quando contei os
detalhes de tudo que aconteceu. Eu e minhas primas recebemos da minha
mãe uma grande reprimenda por termos saído de casa sem dizer toda a
verdade, mas foi Cassandra quem mais sofreu por ser a mais velha de nós
três. Fiquei com pena dela, mas nada pude fazer para impedir aquilo.
Em vários momentos durante aquela reunião, percebi Lorenzo
mover o braço esquerdo como se estivesse incomodado com alguma coisa.
Eu nunca ia me esquecer de ver ele levando um potente chute de Vittorio no
ombro e cambaleando para trás com o impacto do golpe.
Na verdade, acho que dificilmente conseguiria tirar da minha mente
tudo o que aconteceu naquela noite, pois não tinha dúvida alguma de que foi
Loki quem enfrentou o Rui, assim como foi o mesmo Loki quem lutou contra
Vittorio e o venceu com uma habilidade que me deixou estarrecida.
Uma coisa era treinar e aprender defesa pessoal com Lorenzo, vendo
como dominava as técnicas de luta, mas outra totalmente diferente era vê-lo
em ação diante de um adversário tão bom quanto ele. Fiquei perplexa demais
com a rapidez com que os golpes se sucediam e cheguei a ter pena de
Emanuel caso realmente tivesse que enfrentar Lorenzo, ou Loki.
Agora que todos já foram dormir e eu estava sozinha com minha
mãe e Lorenzo, pensei que eles com certeza uniriam forças para me puxar as
orelhas por ter saído escondida para a discoteca com Cass e Pan.
Resolvi apelar antes que caíssem em cima de mim.
— Deixa eu dizer logo que estou cansada e dolorida, por isso
pensem nisso com muito carinho antes de arrancarem o meu couro.
Eles olharam um para o outro e caíram na risada, fazendo-me
relaxar.
— Não seja chantagista, pequenina! — minha mãe falou, abraçando-
me. — Vou deixar que descanse e só mais tarde arrancarei seu couro.
— Obrigada mãe! Meu couro agradece.
Lorenzo não fez comentário algum, apenas se levantou e foi até a
mesinha no centro da sala, pegando meus documentos e o celular.
Pronto, era só o que me faltava! A merda do celular descarregado!
Prendi a respiração, esperando que ele não tivesse percebido isso.
Ele se sentou ao meu lado, entregando-me tudo.
— Por que não me ligou avisando onde estava escondida?
Ele sabia!
Bem que eu podia ter um namorado mais burro! Talvez eu nem
achasse isso muito ruim, porque Lorenzo, definitivamente, não deixava
passar nada que dissesse respeito a mim, tanto no bom quanto no mau
sentido.
Ok, arranquem o meu couro!
— Por que meu celular descarregou — encarei-o firmemente, vendo
seus olhos brilharem diante do meu desafio.
Voltei-me para minha mãe, que apertava os lábios com irritação,
mas não deixei que dissesse nada, apenas olhei novamente para Lorenzo e me
adiantei numa explicação.
— Quando estava naquele terreno escuro e frio, desesperada para
avisar você sobre a Cláudia e morrendo de medo, fiz uma promessa a mim
mesma que nunca mais ia deixar isso acontecer. Vou ser a melhor amiga do
meu celular, juro! Agora podemos dormir?
— Podemos, mas teremos que resolver esse assunto do celular
depois — ele disse, segurando o riso e olhando depois para minha mãe. —
Peço desculpas por tê-la arrastado para cá e também que seja obrigada a
dormir em minha casa, mas aqui é mais seguro para vocês duas até que tudo
esteja esclarecido.
— Não se preocupe com isso, já estou acostumada com imprevistos
e urgências — ela disse, levantando-se. — Basta dizer onde vamos ficar e
está tudo bem.
Oops! Eu ainda não tinha pensado nisso, mas com minha mãe ali eu
não ia poder dormir com ele.
Olhei-o e encontrei seus olhos fixos em mim, antes que ele os
desviasse para minha mãe. Ele tinha pensado o mesmo que eu!
— Vocês vão dormir no quarto que era da minha mãe e que fica ao
lado do meu.
Ela pegou a bolsa para subir ao quarto, mas então me lembrei de
algo.
— Mãe, eu queria que antes de irmos dormir você desse uma olhada
em Lorenzo. — Vi a surpresa no rosto dele, mas não hesitei em continuar. —
Ele machucou o ombro esquerdo durante a luta.
Minha mãe lançou um olhar clínico sobre seu ombro esquerdo,
coberto pelo tecido grosso da camisa.
— Tire a camisa para que eu possa ver, Lorenzo — ela falou com
autoridade.
Ele pareceu se encher de paciência antes de fazer o que minha mãe
mandou. Deixou que ela apalpasse seu ombro, sem conseguir esconder uma
discreta careta de dor durante o exame.
— Dói aqui?
— Sim.
— Consegue mover o braço normalmente?
— Sim.
Resolvi intervir diante das respostas monossilábicas de Lorenzo.
— Ele levou um chute de Vittorio, mãe. E foi violento.
— Um golpe com o pé? — ela perguntou, analisando a área
avermelhada no ombro dele.
— Sim, e ele usava coturnos.
— É melhor parar, Angélica — Lorenzo me advertiu. — Daqui a
pouco Amanda vai me levar para a urgência.
— Se for preciso é o que farei mesmo — ela disse tranquilamente.
— Você está tomando algum remédio? Preciso saber, para que não interfira
com a medicação que vou passar.
Prendi a respiração esperando a resposta dele, lembrando a
quantidade de caixas de medicamentos que vi em sua cabeceira.
— Não — ele respondeu naturalmente, sem parecer estar
escondendo nada.
— Vou lhe dar algo para tirar a dor, mas quero voltar a ver isso
depois. Não deve levantar peso ou fazer esforço com este braço pelos
próximos dias, para que se recupere. Agora vá para a cama dormir e
descansar, porque sei que também jogou hoje. — Balançou a cabeça em um
gesto de reprovação. — Acho que um jogo e uma luta por noite é o bastante.
Ela foi pegar a medicação para ele na mala médica e aproveitei sua
ausência para lhe dar um beijo no rosto depois que vestiu a camisa.
— Não fique chateado comigo! Estou preocupada com você.
Ele não respondeu, apenas virou o rosto e beijou minha boca,
trazendo-me pela cintura para o seu colo.
— Só estou chateado porque não poderemos ficar juntos.
— Eu também. — Alisei seu cabelo, deixando-me abraçar e beijar
por ele. — Mas acho que deve fazer o que minha mãe disse e ir dormir. Você
deve estar cansado depois de tudo isso.
Acariciei-o, sentindo a barba crescendo e dando-lhe vários beijinhos.
— Eu te amo tanto! — sussurrei no seu ouvido, beijando depois o
seu ombro esquerdo que estava machucado. — Quero que esteja bem. Fiquei
angustiada quando o vi levar aquele golpe.
Ele me segurou pelo rosto com as duas mãos, prendendo meu olhar
com o dele.
— Já levei piores e sobrevivi! — disse com firmeza, os polegares
me alisando. — Confesso que estou cansado, mas não precisa ficar tão
preocupada assim.
— Mas fico. — Aproximei-me mais e beijei sua boca, procurando
não forçar muito o ombro dele, mas adorando sentir o corpo grande junto ao
meu. — Você nem deveria ter me segurado no colo lá em cima.
Ele se encostou no sofá e me levou junto.
— Nunca na vida que eu deixaria de fazer isso! — disse com a voz
enrouquecida, rosnando baixo no meu ouvido. — Adorei o que fez comigo
no banho.
Olhei-o com um sorriso de satisfação, lembrando o prazer que tive
em vê-lo gozar na minha mão.
— Também adorei!
CAPÍTULO 21

Angélica
— FILHA, DEPOIS DO que aconteceu hoje, agora temos certeza
absoluta de que aquele laudo médico foi forjado.
Meu coração doeu pela milésima vez ao perceber toda a maldade
que aquele tio não deve ter feito com o próprio sobrinho. Tive a impressão
que Lorenzo passou a vida toda lutando contra o mundo.
— Mãe, eu queria fazer um pedido — arrisquei falar o que me
consumia por dentro.
Ela virou-se para mim. Tínhamos acabado de deitar no quarto da
mãe de Lorenzo.
— Seu aniversário ainda não é hoje, mocinha! — brincou, beijando
meu rosto. — Mas vou deixar que peça o que quiser com antecedência.
Não pensei muito no assunto, simplesmente soltei logo o meu maior
desejo naquele momento.
— Deixa eu dormir com Lorenzo agora!
O silêncio caiu sobre o quarto, deixando-me ansiosa por ouvir
qualquer coisa, nem que fosse o choramingo irritante de um mosquito.
— Isso é golpe baixo! — Parecia relutante em atender meu pedido,
mas senti que também estava dividida entre deixar ou proibir.
— Mãe, ele lutou hoje por mim com um assassino profissional,
porque não tenho dúvida nenhuma de que Vittorio é exatamente isso. —
Tentei convencê-la mostrando a verdade do que tinha acontecido.
— Eu sei disso, filha. — Deu um suspiro de compreensão. — Pelo
que vi, aquele golpe poderia ter deslocado ou fraturado seu ombro. Dói na
hora, mas a tendência é doer muito mais quando o corpo esfria e a adrenalina
baixa, por isso dei uma dose forte de analgésico e anti-inflamatório para ele.
Só em ouvir aquilo já fiquei mais angustiada ainda para ficar ao lado
dele.
— Ele está machucado e sozinho naquele quarto. Eu deveria pelo
menos estar cuidando dele, como ele sempre cuidou de mim. A gente não vai
fazer nada de errado, por favor! Nós nos amamos.
Ela ficou calada por um longo tempo sem mandar-me parar de
insistir, o que deu-me coragem para continuar.
— Estou me sentindo esgotada depois de tudo que passei, mas não
consigo relaxar e dormir, porque só penso nele. Sei que está cansado,
machucado e sozinho. Deixa eu ir, por favor!
Ela virou-se, deitando de lado e me dando as costas.
— Faça de conta que estou dormindo e saia do quarto, Angélica.
Quase não acreditei no que ouvi. Ela ia deixar!
Agarrei-a por trás e dei-lhe um beijo estalado no cabelo.
— Obrigada, mãe! Eu te amo!
— Eu já estou dormindo e não ouvi nada, mas também te amo!
Levantei-me da cama e fui até a porta, abrindo-a com cuidado para
não fazer barulho na casa silenciosa. Fechei e caminhei até o quarto de
Lorenzo. Eu não ia bater na porta para não chamar atenção de ninguém e só
esperava que ele não me julgasse um invasor, partindo para me atacar.
Abri a porta e entrei, vendo o quarto com as luzes apagadas, apenas
uma iluminação suave vindo da cabeceira. Thor estava no seu canto só
observando minha entrada, identificando que não havia perigo para o dono.
Levantou as orelhas mas não saiu do lugar, provavelmente tão cansado
daquela noite quanto nós dois estávamos.
Olhei para a cama e estranhei que estivesse vazia. Observei o quarto
e não o vi, até que a porta do banheiro se abriu e ele saiu de lá segurando uma
bisnaga na mão. Usava uma calça de pijama e uma camisa leve sobre peito
amplo.
Parou, olhando-me com a surpresa estampada no rosto.
— O que está fazendo aqui, Angel? — Veio até onde eu estava, a
surpresa sendo substituída pela preocupação. — Aconteceu alguma coisa?
Está tudo bem com vocês duas?
Segurou meu braço com urgência.
— Não! Não se preocupe, está tudo bem! — tranquilizei-o, tentando
controlar a emoção de poder ficarmos juntos tendo a bênção da minha mãe
para isso. — Vim dormir com você!
Uma expressão de incredulidade tomou conta do seu rosto cansado.
— Saiu escondida enquanto Amanda dormia, é isso?
— Não. Ela me deixou ficar com você — falei simplesmente, um
sorriso aflorando de dentro de mim sem que eu conseguisse detê-lo.
Ele não falou nada, apenas me arrebatou nos braços com força,
enterrando a cabeça no meu cabelo. Abracei-o com todo meu amor, sentindo-
me feliz como nunca.
— Vou dar um beijo em Amanda por isso, porque hoje estou mesmo
desesperado para ter você ao meu lado.
Puxou-me com força, mas percebi que usava o braço direito para
isso.
Eu ia cuidar dele.
— Vem, vamos para a cama. — Peguei sua mãe e o puxei, fazendo
com que sentasse à minha frente.
Fiquei de pé e peguei a bisnaga que ele segurava. Era o que eu
pensava, um gel anti-inflamatório para contusões.
— Tira a camisa e deita. Deixa que eu passo.
Ele fez o que pedi e se deitou de costas na cama, fechando os olhos.
Espalhei o gel e fiz uma leve massagem, observando seu rosto para
ver se dava indicações de dor. Foi quando percebi o quanto estava cansado.
— Vira e deita de bruços.
Depois que terminei de espalhar o gel, aproveitei para descer as
mãos até sua lombar e comecei a fazer uma massagem relaxante ao longo de
suas costas. Lorenzo ia gemendo baixinho à medida que eu trabalhava os
músculos tensos. Não pude deixar de rir.
— Se continuar gemendo assim minha mãe vai pensar que estamos
fazendo amor.
Senti seu peito estremecer com o riso que deu.
— Ela deve saber que estou incapacitado para isso agora. Acho que
me deu remédio para me derrubar na cama por um dia inteiro. Sinto-me
acabado!
Inclinei-me e dei um beijo no rosto dele.
— Então relaxa, meu amor. Se quiser, pode dormir que depois deito
ao seu lado.
— Você também está cansada. — Bateu com a mão no colchão. —
Deita aqui comigo.
— Já vou.
Continuei a massagem e, alguns minutos, depois ouvi sua respiração
pesada. Apaguei a luz, deitei-me e puxei o edredom sobre nós dois,
abraçando-o pela cintura. Mal encostei a cabeça no travesseiro, senti o sono
chegar, mas não adormeci sem antes agradecer a Deus por estarmos
novamente juntos.
***
Acordei de repente e, pela penumbra do quarto, vi que ainda era
muito cedo, talvez não mais do que sete horas da manhã de um chuvoso dia
de outono. Tentei identificar o barulho que me despertou e vi que era Thor
querendo sair, mas tinha a porta fechada à sua frente.
Olhei para Lorenzo, que ainda dormia profundamente. Estávamos os
dois na mesma posição em que adormecemos, mostrando que o cansaço tinha
sido mesmo grande.
Afastei-me devagar para não o despertar e fui abrir a porta para
Thor, que desceu as escadas correndo. Olhei para o corredor, notando que
tudo estava silencioso. Provavelmente, todos ainda dormiam depois da noite
agitada que tivemos. Acabei por ir atrás de Thor, pensando se precisava abrir
alguma porta lá em baixo para ele fazer suas necessidades matinais.
Ele foi direto para o terraço e usou uma caixa de madeira com terra
que havia no canto, assim o deixei em paz. Quando voltei para subir as
escadas, ouvi a porta da frente abrir e uma suave voz feminina falar com o
segurança.
Era Bianca!
Ela passou por ele e veio direto para as escadas onde eu estava,
fazendo uma cara de surpresa quando me viu. Barrei seu caminho,
colocando-me à sua frente e impedindo-a de subir.
— Olá, bom dia — ela disse de forma enjoada, olhando-me com
atenção de cima a baixo e lembrei-me que ainda usava as roupas de Lorenzo.
— Sou a Bianca, prima de Lorenzo. Tudo bem?
Não, nada bem!
— Bom dia.
Não saí da sua frente, permanecendo no mesmo lugar, só encarando-
a.
— Vim ver o meu primo.
— Ele está dormindo.
— Não tem problema, já estou acostumada a acordá-lo nos fins-de-
semana depois dos jogos.
Ela tentou jogar seu veneno, mas ignorei.
— Ele está cansado e vai continuar dormindo — disse
simplesmente.
Bianca olhou para mim sem simpatia nenhuma no rosto bonito.
— Sou prima dele e sempre fiz isso a minha vida inteira — falou
com arrogância, olhando-me como se eu fosse apenas mais uma garota
eventual na vida dele, enquanto ela era a presença constante. — Soube do que
aconteceu ontem e quero saber como ele está. Não vai ser você quem vai me
impedir de entrar no quarto dele e Lorenzo ficará chateado quando souber
que não me deixou vê-lo.
Um belo discurso que colocaria para correr uma garota qualquer,
mas não uma namorada seguramente bem-amada como eu me sentia.
— Se ele ficar chateado, isso será um problema meu. Agora saia,
porque você não vai subir e acordá-lo.
Ela ficou vermelha de raiva, o olhar soltando farpas para mim.
— Quem você pensa que é para me mandar embora da casa do “meu
primo”?
Ela frisou o termo “meu” e não vacilei um minuto em lhe devolver
as farpas todas.
— Sou a namorada dele e, a partir de hoje, você não vai mais entrar
no quarto do “meu namorado”.
Bianca apertou os lábios com força, uma expressão irada fazendo
com que parecesse realmente a menina mimada e arrogante que era.
Ergueu a mão para tentar me empurrar para o lado e passar de
qualquer jeito, mas meu instinto foi buscar no fundo da mente as aulas de
defesa pessoal que tive com Lorenzo. Segurei sua mão e torci seu pulso,
fazendo Bianca se curvar e cair de joelhos no chão.
Soltei-a e recuei, continuando obstruindo a escada.
Ela arfou de dor e se levantou, olhando-me com a boca aberta e o
rosto chocado. Calmamente, ergui uma sobrancelha, questionando se ainda ia
tentar mais alguma coisa.
Ela não falou nada, dando meia volta e saindo da casa com a cabeça
erguida.
Soltei a respiração e pensei que a minha vida era mesmo cheia de
emoções. Se eu contasse para o mundo tudo o que já me aconteceu até hoje,
provavelmente diriam que eu gostava de viver perigosamente.
Ouvi passos leves e vi Thor me olhando compreensivamente no
corredor ao pé da escada.
— Vem cá, Thor!
Ele veio e se deixou abraçar por mim. Fiz um carinho em sua
cabeça, beijando sua testa macia.
— Ainda não agradeci por você me salvar ontem. Obrigado! Vou
falar com Lorenzo para lhe dar um osso bem grande para se divertir e vamos
passear bastante juntos. O que acha?
Quando ouviu o nome de Lorenzo, Thor abanou o rabo, fazendo-me
rir ao ver o amor que sentia pelo dono.
— Agora vamos subir e descansar ao lado dele. Lorenzo precisa
muito de nós dois.
Subimos as escadas juntos, mas parei em frente ao quarto da minha
mãe. Entrei sem fazer barulho e vi que ela ainda dormia tranquilamente. Fui
até a cabeceira e peguei meu celular que deixei carregando na noite passada.
Saí quietinha e entrei com Thor no quarto de Lorenzo. Ele foi para o
seu canto e voltou a se deitar, enquanto eu me sentei na pontinha da cama e
liguei meu celular.
Ele acusou logo as ligações não atendidas de Lorenzo durante o
período que fiquei escondida na rua e uma mensagem não lida. Era a última
que ele enviou quando ainda estava na discoteca e que não deu para ler
quando a bateria descarregou.
“Eu não aguento mais ficar aqui parado nesta merda sem notícias
suas. Nunca mais faça isso comigo, amor. Vou sair daqui agora e ir atrás de
você. Chego já em sua casa.”
Fechei os olhos e pensei em toda a angústia que mesmo, sem querer,
acabei por lhe causar na noite anterior.
Coloquei o celular na cabeceira e me deitei. Abracei Lorenzo,
sentindo o calor gostoso de sua pele, e fechei os olhos.
Ele tinha se transformado no meu mundo e, graças a Deus, meu
aniversário já seria na quarta-feira. Poderíamos então dividir nossos mundos
e transformá-los em um só.
CAPÍTULO 22

Angélica
ACORDEI SENTINDO ALGO pesado sobre minha cintura e
ainda tonta de sono. Movimentei o corpo para ver o que era e fui puxada para
trás, encostada num corpo grande e quente atrás de mim. Era Lorenzo!
Seu braço era o peso que senti. Abri os olhos, ainda sonolenta e vi
uma discreta claridade invadindo o quarto pela varanda, as cortinas fechadas
barrando a luz que vinha de fora.
Por um longo momento apenas curti ficar ali deitada em conchinha
com ele, aproveitando aquele raro instante de paz diante de todas as
confusões dos últimos dias.
Acariciei seu braço, sentindo os pelos macios na ponta dos dedos e
voltando a fechar os olhos.
— Bom dia, amor!
Ouvi sua voz rouca de sono no meu ouvido, um sorriso surgindo em
meus lábios ao ver que tinha acordado. Resolvi provocá-lo.
— Bom dia, Loki.
— Hummm — gemeu, apertando-me mais contra seu corpo. — Não
me provoque, garota! Ainda estou meio sonolento e não gosto de ser
acordado com provocações. Sou mal-humorado de manhã.
Soltei uma risadinha diante do seu aviso nada ameaçador.
— Estou morrendo de medo e por isso vou ficar quietinha. O que é
uma grande pena, porque eu pensava em fazer uma outra massagem no
ombro no seu ombro.
Senti uma mordida no pescoço, na altura da minha tatuagem.
— Ah, mas eu quero sim! — exigiu seus direitos. — Preciso de uma
enfermeira dedicada cuidando de mim. Estou mesmo muito mal.
Virou-me em seus braços, deixando-nos de frente um para outro.
De repente ficou muito sério, os olhos nada sonolentos varrendo
meu rosto com intensidade.
— É a primeira vez que acordo de manhã com você ao meu lado em
minha cama. — A voz grave e profundamente emocionada tocou bem dentro
do meu coração. — Quero que este seja o primeiro dia de todos os outros dias
da minha vida.
Perdi o fôlego quando ouvi aquilo, uma declaração intensa e
profunda, como intenso e profundo era Lorenzo.
Passei minhas mãos ao longo do seu peito nu, sentindo o declive dos
músculos até envolver meus braços ao redor do seu pescoço. Enfiei meus
dedos em seu cabelo e puxei-o levemente, vendo-o fechar os olhos e depois
abri-los novamente, cheios de desejo.
— E eu quero acordar todos os outros dias da minha vida ouvindo
você dizer: “Bom dia, amor!”.
Mordi-lhe o queixo, sentindo a barba me picando. Depois, beijei-o e
por fim suguei seu maxilar, até fazer uma curva repentina e caindo direto na
boca.
Lorenzo prontamente me deitou em baixo dele, suspendendo-se
sobre mim. Deliciei-me em apalpar seus bíceps enquanto nos beijávamos
apaixonadamente.
Ele se colocou inteiro por cima do meu corpo e não hesitei em
recebê-lo, abrindo as pernas para que se acomodasse entre elas.
O impacto da longa ereção me tocando tão intimamente fez com que
perdesse a noção da realidade. Parecia que a minha mente estava focada
apenas nas sensações que nasciam exatamente ali.
— Lorenzo — gemi, deslizando uma mão por suas costas até o
elástico do pijama e enfiando-a por dentro, apalpando a nádega dura com
ansiedade e pressionando-o para baixo, para mostrar o que eu queria.
— Amor, não inventa! — gemeu, sugando meu lábio inferior e
enfiando a língua dura em minha boca.
Mordi-o levemente, arqueando meu quadril para cima.
— Oh, por favor, Lorenzo! Queria sentir só um pouquinho como é
— falei carinhosamente, alisando-lhe os ombros. — Mostra-me! Se quiser,
não precisa entrar, apenas me deixe ver como será quando pudermos fazer
amor. Também, já está tão pertinho.
Estava ansiosa para convencê-lo, mas ele parecia irredutível quando
se afastou de mim.
— Não. A casa está cheia de gente e Amanda dorme no quarto ao
lado — negou firmemente. — Justamente por estar tão perto é que podemos
esperar. Não é assim que quero ter você pela primeira vez.
— Mas não precisa entrar! Só queria saber como seria.
Ele suspirou, enchendo-se de paciência.
— Isso não existe, Angélica. O risco de perder o controle e entrar é
grande. Não vou fazer isso agora.
Merda! Santíssima consciência indesejável de Lorenzo!
Tirei a mão de sua nádega e corri para baixo, entrando pela frente da
calça do pijama e alcançando sua ereção. Apertei-a como ele me ensinou na
noite anterior, já sentindo como ficou molhado na minha mão.
Ele sugou o ar com força, caindo a cabeça sobre meu ombro.
Acabou por erguer os quadris e afastá-los para o lado, dando-me mais espaço
para movimentar a mão sobre ele.
— Porra, Angel!
— Porra o quê? — provoquei-o, para que continuasse falando o que
sentia.
— Você sabe como calar minha boca.
— E acha que posso convencê-lo a mudar de ideia? — Movimentei
mais ainda a mão na sua ponta, acariciando-a do jeito que ele gostava, depois
sussurrei no seu ouvido. — Entra em mim, Loki!
— Oh, merda! — rosnou com raiva, segurando minha mão e
afastando-a de si.
Fui totalmente pega de surpresa com sua reação imediata e
intempestiva, olhando-o meio assustada quando puxou rapidamente sua calça
para baixo, arrancando-a pelas pernas e deixando a grande ereção totalmente
à mostra.
Depois, fez o mesmo com a calça que eu usava, jogando-a de
qualquer jeito ao lado da cama, mantendo uma expressão grave no rosto
Meu Deus, o que fiz de errado? Será que forcei Lorenzo além da
conta e libertei algo que não vou conseguir controlar?
Ele abriu minhas pernas e voltou para o meio delas, a ponta da
ereção batendo direto na minha entrada. Apesar de estarmos ambos molhados
de excitação e isso facilitar o deslizamento de nossos corpos, Lorenzo não
entrou em mim e rapidamente percebi o porquê, quando meu próprio corpo se
negou a recebê-lo.
Eu não sabia se era por ele ser grande demais ou por eu ser pequena,
mas tive a certeza de que ele não conseguiria entrar em mim sem que eu me
rasgasse toda, e aquilo me fez recuar para trás.
Na minha inocência, ou burrice, achei que seria tudo muito fácil. Na
verdade, tudo parecia fácil nas aulas de biologia, nos filmes e nos livros, mas
aquela realidade nua e crua me assustou, mesmo eu amando Lorenzo como
amava.
Talvez devesse ter estudado o assunto com mais interesse no
passado e visto como era possível acontecer quando os tamanhos eram tão
diferentes.
— Lorenzo? — Era um apelo.
— Era isso o que você queria? Sentir como seria?
Engoli em seco.
— Era.
— E ainda quer que eu entre apenas para ver como é que é?
— Não, mudei de opinião — disse logo, nervosa. — Isso não vai dar
certo entre nós.
Ele se afastou-se de cima de mim, deitando de lado e puxando-me
para seus braços. Respirei aliviada quando vi que sua expressão tinha voltado
ao que era, sem aquela dureza de antes.
Afastou meu cabelo para trás, os dedos mexendo nele como gostava
de fazer, parecendo sentir a textura dos fios.
— Vai dar certo sim. Sei como fazer dar certo, mas não pode ser de
qualquer jeito, amor. Tem de ter tempo.
Abracei-me a ele, em dúvida quanto àquilo.
— Tenho a impressão de que sou pequena demais.
Ele pensou por um momento, antes de falar, rindo.
— Tenho a impressão de que sou grande demais.
Fiquei olhando-o rir da situação.
— Oh, está rindo do quê, Lorenzo? — Dei-lhe um soquinho no
braço. — Você não vai gostar nada se eu desistir e não quiser mais descobrir
se dá certo ou não.
Ele ficou sério.
— Confia em mim, amor! Na hora vai dar tudo certo. — Deu-me um
beijo molhado na boca, a mão acariciando meu rosto. — Agora vamos nos
levantar e você vai atrás da sua mãe no quarto ao lado. Assim, ela continua
confiando em mim e vai deixar que durma comigo todos os dias até o seu
aniversário.
Lembrei-me da festa que queria fazer.
— Quero fazer uma festa para os meus amigos e pensei em irmos a
uma discoteca, o que acha?
Ele torceu a boca com desagrado.
— Não quer fazer aqui? A casa é grande e não precisamos dividir
espaço com gente estranha. Aproveitamos para juntar os meus amigos com os
seus, mas sem aquele Rui no meio.
Ia ser complicado convidar os amigos todos da dança e deixar só o
Rui de fora.
— Tudo bem. Gostei da ideia.
— Então, deixa comigo, vou providenciar tudo. Você terá seu
aniversário de dezoito anos e ele será especial. Tenho uma surpresa para
você! — disse com um sorriso misterioso no rosto.
Só faltei bater palminhas de alegria.
— Adoro surpresas. — Dei-lhe um beijo estalado nos lábios.
— Tenho certeza de que você vai adorar.
CAPÍTULO 23

Lorenzo
ESTAVA NA HORA de falar com o meu pai, mas agora que o
grande momento tinha chegado bateu-me uma insegurança estranha. Sentia-
me o mesmo menino de oito anos que vivia ansioso para conquistar a atenção
paterna e não conseguia.
Eu estava sozinho em casa. Angélica tinha acordado decidida a dar a
Thor um dia especial. Disse que ele merecia, depois de tudo que fez para
salvá-la. Concordei de imediato, porque nunca amei tanto o meu cão quanto
na noite anterior quando ajudou-me a encontrá-la.
Ela foi com as primas e Amanda. Foi difícil deixá-la sair sem que eu
estivesse ao seu lado, mas tinha consciência que aquele era o momento ideal
para falar com meu pai. Paolo ofereceu-se para levá-las, sabendo que eu
precisava estar concentrado para falar com o poderoso Sr. Vicenzo.
Senti as mãos suadas e limpei-as nas calças, pegando o celular e
revirando-o nas mãos de um lado para o outro. Depois de quase três anos eu
ia falar novamente com meu pai e aquele momento estava abalando-me mais
do que pensava.
Deitei a cabeça no encosto do sofá e olhei para o teto, observando o
lustre e contando mentalmente os pequenos cristais que tinha em uma de suas
pontas.
“Sempre que se sentir nervoso ou agitado, procure respirar fundo e
contar dez carrinhos entrando na garagem, cada um indo para o seu lugar
certinho. Lembra disso?”
Sim, mãe, eu lembro!
Como não lembrar de cada palavra que ela disse ao longo da minha
vida? Ela tinha sido um farol me guiando para terra firme em meio a todas as
tempestades emocionais que eu tive na minha infância e adolescência. Sem
ela, eu teria explodido de vez e, possivelmente, terio sido forçado a ir para
uma clínica fazer tratamento psiquiátrico.
Sua grande luta enquanto morávamos na Itália era que eu e meu pai
tivéssemos um bom relacionamento, convencê-lo de que eu era normal.
“Vamos fazer uma surpresa para ele daqui a seis meses, quando
você provar que não precisa tomar mais nenhum remédio.”
Eu consegui realmente ficar sem nenhuma daquelas merdas dentro
de mim e o meu maior estímulo naquela época foram as palavras dele.
“Amor demais enfraquece um homem, Inês! Não vou ter um filho
fraco nem burro ou que seja expulso do colégio!”
Teve horas que foi difícil para caralho, mas com a ajuda dela se
tornou possível. Seis meses depois, minha mãe conversou com ele para
mostrar que eu estava limpo de remédios e sem crises explosivas.
Aquilo mudou alguma coisa entre nós dois? Não.
Ele me deu mais carinho e atenção por causa daquilo? Também não.
O Sr. Vicenzo Costi só tinha tempo para o trabalho. A família ficava
sempre em segundo lugar.
Eu sabia que ele era louco pela minha mãe, porque cansei de ver os
dois aos beijos e abraços em qualquer lugar da casa, mas com relação a mim,
parecia que nunca sobrava tempo, paciência ou carinho. Aquela insegurança
pesou dentro do meu peito como um tijolo de concreto. Eu detestava saber
que ainda era o mesmo menino necessitado da atenção do pai ausente.
Fechei os olhos, respirei fundo e comecei a contar novamente os
cristais.
Um cristal, dois cristais, três cristais… dez cristais!
Peguei o celular fiz a ligação. Chamou, chamou e ninguém atendeu.
Tentei novamente e aguardei. Nada!
Respirei fundo e tentei de novo, desta vez as mãos tremendo.
Quando caiu na caixa postal, soltei um grito de raiva dentro sala, o
som espalhando-se pela casa silenciosa.
— Filho da puta!
Tive vontade de jogar o celular na parede com a força da raiva que
senti. Ele realmente nunca tinha tempo para mim, caralho!
Larguei o celular sobre o sofá antes que o destruísse de alguma
forma e depois não pudesse receber ligações de Angélica caso precisasse de
mim. Comecei a andar pelo meio da sala, passando as mãos no rosto várias
vezes para tentar acalmar-me, mas sem conseguir merda nenhuma.
— Desgraçado filho da puta! Egoísta do caralho!
Dei um murro na palma da mão direita com o punho fechado,
querendo socar a cara dele.
— Quem é que você está xingando tanto assim? Espero que não seja
eu.
Uma voz grave ressoou dentro da sala, fazendo-me virar de supetão
em sua direção, o coração disparado no peito.
Meu pai!
Fiquei parado olhando sua figura imponente e autoritária. O rosto
forte estava com a barba por fazer, parecendo ligeiramente cansado.
Três anos.
Três longos anos desde a última vez em que ficamos frente a frente,
quando nos enfrentamos em seu escritório depois que soube que traiu minha
mãe.
Três anos desde que meti-lhe um soco na cara pelo que fez com ela.
Três anos em que deixamos de ser pai e filho! Meu coração sendo
estraçalhado dentro do peito pela perda do homem que eu mais admirava e
queria aprovação.
Três anos.
Ficamos parados nos encarando. Eu no centro da sala, ele ainda na
porta usando um sobretudo cinza sobre os ombros largos, o impecável terno
preto por baixo. Devia ter vindo no jato da empresa, já que o voo de Roma ao
Porto durava menos de três horas.
Meu pai era um homem muito bonito, dono de um carisma pessoal
inigualável. Um chefe admirado por todos os funcionários, um excelente líder
a quem todos os executivos seguiam sem questionar, um empresário
excepcionalmente respeitado no mundo dos negócios, um filho exemplar e
muito amado, uma figura pública com imagem irrepreensível, um marido
apaixonado, mas que foi um pai ausente e, por vezes, detestável.
Baixei as mãos em punhos ao lado do corpo, forçando-me a relaxar e
soltar os dedos, porque não queria que ele me visse como o menino explosivo
de tempos atrás, que não tinha controle sobre a própria raiva. Já bastava que
tivesse chegado quando eu estava na iminência de quebrar algo dentro
daquela sala.
Contudo, nada ia me impedir de ser quem eu era e falar com a minha
frontalidade de sempre.
— É você, sim!
Ele fez um gesto afirmativo de cabeça, um meio sorriso experiente
nos lábios.
— Imaginei que fosse. — Fechou a porta da sala e caminhou até
onde eu estava, os olhos de águia me observando com atenção. — Você está
mudado!
Parecia surpreso com aquilo, como se esperasse me ver com a
mesma aparência que tinha aos dezesseis anos.
— Passaram-se três anos. Lógico que mudei.
Ficou bem à minha frente e pela primeira vez o olhei de cima, já que
naqueles anos cresci o suficiente para o ultrapassar em altura. Quando nos
vimos pela última vez, ainda nos olhávamos no mesmo nível.
Ele sorriu parecendo admirado, mas havia em seus olhos uma outra
emoção que fez-me recuar um passo para trás.
— Como você cresceu! — ele disse, aquela emoção brilhando mais
intensamente. — Ficou muito mais forte também.
Senti como se tivesse levado outro golpe no peito, muito mais
potente do que o chute de Vittorio que quase deslocou meu ombro.
Nos olhos do meu pai havia orgulho. Orgulho pelo filho que não via
há três anos!
Puta que pariu! Eu não vou chorar agora como um menino de oito
anos!
Apertei o maxilar com força, trincando os dentes, mas não pude
evitar de inspirar forte e engolir em seco para tentar tirar o nó que senti na
garganta.
— O tempo passa. — Forcei-me a falar simplesmente, sem deixar
transparecer a emoção que sentia.
Ele confirmou lentamente com a cabeça, ainda me observando, antes
de responder.
— Sim, o tempo passa rápido demais para algumas coisas e lento
demais para outras.
Minha mãe! Ele estava se referindo à minha mãe!
— O que veio fazer aqui? — perguntei abruptamente, porque não
queria falar dela ou correria o risco de realmente perder o controle. — Paolo
já ligou antes mesmo que eu pudesse falar com você?
Ele se afastou de mim, tirando o sobretudo e jogando-o sobre o
braço do sofá.
— Paolo não fez mais do que a sua obrigação comigo. É um
colaborador extremamente leal e você não deveria esperar que ele fosse
menos do que isso.
Nesse ponto eu tinha que concordar, ainda que tivesse esperado que
aguardasse minha ligação ao meu pai.
Agora entendia porque ele se ofereceu para acompanhar Angélica
em vez de mandar o outro segurança. Paolo sabia que meu pai estava para
chegar e quis garantir que eu estivesse sozinho em casa.
O poder do meu pai em controlar tudo era mesmo incrível. Esperava
apenas ver até onde ele conseguiria ter o mesmo controle sobre meu tio Aldo.
CAPÍTULO 24

Lorenzo
MEU PAI SE sentou no sofá, apoiando os antebraços nos joelhos e
olhando-me.
— Sente-se, filho. Vamos conversar.
Sentei-me e nos encaramos.
— Você está bem? Como está o seu ombro?
Tentei não mostrar minha irritação com o relatório de Paolo.
— Até isso o Paolo contou? — Não pude evitar de perguntar.
— Sim. Ele tem ordens para me contar tudo e não esperaria outra
coisa dele. É por isso que está como chefe dos meus seguranças.
Eu sabia da competência de Paolo, da mesma forma como sabia da
sua extrema lealdade ao meu pai.
— Estou bem.
— Já foi ao médico ver isso? Pode ter alguma fratura. Vittorio
sempre foi um bom lutador.
— Já fui visto por uma médica.
Não pretendia me estender naquele assunto, mas ele fez uma cara de
surpresa quando ouviu o que eu disse.
— Foi ao hospital? — Franziu a testa, uma carranca substituindo a
surpresa no rosto forte. — Paolo não me disse isso.
Sinal de que o Paolo não sabia de tudo, pensei em lhe dizer, mas
resolvi livrar o homem que eu via como um pai substituto da ira do meu
verdadeiro pai.
— Ele não sabe. A mãe de Angélica é médica e me examinou ontem
à noite.
Pareceu relaxar visivelmente, talvez não gostando muito da ideia de
ser obrigado a chamar atenção de Paolo.
— Ah, sim, esqueci disso. Mas gostaria que fosse visto por um
ortopedista especializado. Uma médica de urgência não é uma especialista.
— Ela é uma excelente profissional. Já estou medicado e me
sentindo muito melhor hoje. Confio na competência de Amanda.
Olhei-o com seriedade, porque o assunto principal daquele encontro
ainda não havia sido abordado.
— Quero saber é o que vai acontecer com Aldo Costi, porque o meu
ombro vai muito bem, obrigado!
Nunca mais eu chamaria aquele crápula de tio.
Meu pai fechou a cara, sua expressão ficando sombria.
— Ele ainda não sabe que eu sei de tudo, muito menos tem ideia de
que viajei para cá, por isso não ficarei em sua casa para que Bianca não me
veja aqui. — Levantou-se e começou a andar pelo tapete em frente ao sofá.
— Ele está sob vigilância desde ontem à noite. Celular grampeado, sistema
informático monitorado e os passos controlados pela minha equipe especial
de segurança, já orientados pelo Paolo. Cada respiração que ele dá é do meu
conhecimento.
— O que vai acontecer com ele? — exigi saber, a raiva começando a
ressurgir dentro de mim.
O meu pai veio até o sofá onde eu estava sentado e parou bem à
minha frente.
— Vai acertar as contas comigo assim que eu voltar, mas resolvi
falar com Vittorio antes de confrontá-lo. Eu até poderia aguardar que Paolo o
enviasse de volta para a Itália, mas quis vir pessoalmente, porque também
precisava conversar com você.
Levantei-me também quando ouvi aquilo, porque no fundo queria
providências imediatas com relação a ele. Por mim, Aldo Costi já estaria com
a cara quebrada igual a de Vittorio.
Ergui-me diante dele com toda minha raiva, vendo-o fazer um gesto
de calma com a mão.
— Não pense que estou sendo bonzinho com ele, porque não estou.
Sair da Itália agora me ajudou a não cometer nenhuma loucura e causar um
desgosto profundo em seus avós. Preciso estar de cabeça fria quando o
encontrar. Se o fizesse ontem, corria o sério risco de perder o controle e matá-
lo a sangue-frio. Você não é o único que tem instintos incontroláveis dentro
de si, filho. Somos muito mais parecidos do que pensa.
Ouvir aquilo me surpreendeu, porque sempre vi meu pai como um
homem muito controlado, envolvido apenas em negócios da empresa. Nunca
o imaginei perdendo o controle de nada, muito menos matando alguém. Mas
conseguia vê-lo aniquilando tranquilamente os negócios de um concorrente
sem peso algum na consciência.
Ele sorriu, a compreensão surgindo no rosto enquanto adivinhava o
que se passava na minha cabeça.
— Está chocado com isso, não é?
— Sim, claro que estou.
— Nem sempre os negócios da família foram limpos como são hoje.
Tempos atrás, na Itália, qualquer tipo de negócio tinha algum envolvimento
com a máfia e não éramos exceção. Eu era jovem, esquentado e dei muito
trabalho aos seus avós. Os tempos mudam, mas nem tanto. Se você tivesse
convivido mais tempo com eles e perguntado qualquer coisa sobre mim,
comprovaria isso.
Lembrando agora, eu tinha convivido muito pouco com meus avós e
mesmo naquela época jamais teria perguntado nada sobre meu pai.
— Eu nunca me iludi com relação ao seu tio. — Passou a mão no
cabelo escuro, onde alguns poucos fios grisalhos surgiam. — Sempre soube
que tinha um irmão invejoso, mas Aldo nunca fez nada sério quando éramos
jovens. Acho que piorou quando me casei com Inês, porque sua mãe não
gostava dele e insistia comigo para o afastar de vocês. De certa forma, foi ela
quem abriu os meus olhos para o quão perigoso ele estava se tornando,
mostrando-me aquilo que eu não queria enxergar nele há muito tempo.
Depois que você nasceu, Aldo ficou pior, talvez por achar que Enzo seria o
meu substituto. O nascimento de um filho meu acabou por jogar seus planos
abaixo.
— E porque não ouviu minha mãe enquanto era tempo, porra? Se
tivesse agido antes, muito teria sido evitado e ela também não teria sofrido
tanto — acusei, sem pensar minimamente se estava sendo demasiado duro
com ele.
Falar dela trazia de volta toda a minha raiva e mágoa. Afastei-me e
fui para o outro lado da sala, tentando conter a vontade súbita de explodir.
Meu pai olhou para o lado, como se fosse falar algo difícil para ele.
Quando encarou-me, os olhos parecendo atormentados.
— Este é um dos meus maiores arrependimentos e que pesa como
chumbo dentro de mim, porque minha consciência não me deixa em paz.
Talvez se eu tivesse ouvido Inês, teria evitado que ela me deixasse.
Apontei-lhe um dedo acusador, estourando de vez.
— Ela o deixou porque você a traiu! — gritei com ódio aquilo que
permanecia engasgado na minha garganta. — Você a destruiu quando se
deitou com aquela vadia.
Vi um músculo pulsar em sua mandíbula, uma expressão dura
tomando conta do seu rosto, mas eu pouco me importava com a sua raiva,
porque a minha também já estava no ponto máximo.
— Cale-se, Lorenzo! — gritou de volta. — Nunca traí sua mãe.
— Não venha tentar me convencer disso agora, depois que ela já
morreu, porra!
— Vou tentar sim, porque não quero mais este afastamento entre
nós, filho! O divórcio e depois a morte dela me fizeram ver o tempo que
perdi dedicado a coisas que no fundo não tinham tanto valor assim. Vocês
eram mais importantes para mim! E joguei tudo no lixo por causa das minhas
obrigações familiares.
Avancei para ele com violência, chegando a um palmo de distância
apenas, encarando-o com raiva.
— Você nunca me deu valor, porra! Sempre achou que eu fosse um
burro briguento e sem capacidade de assumir os negócios da família. Tentou
me empanturrar de remédios controlados com aquele maldito psiquiatra.
Ele não se deixou abalar com o meu avanço, permanecendo no
mesmo lugar e sustentando o meu olhar com firmeza.
— Não é bem assim, Lorenzo. Eu via em você o que eu mesmo fui
naquela idade, só que mil vezes pior. Você quebrava tudo dentro de casa
quando estava furioso, coisa que eu nunca fiz. Parecia ter uma raiva imensa
guardada dentro de si, vivia batendo nos colegas do colégio e só chegava aos
meus ouvidos brigas, lutas, agressões e violência. Você achou pouco e ainda
liderava uma gangue lá dentro, fazendo daquilo um campo de guerra. Fiquei
cansado de abafar as acusações contra você, comprando o silêncio dos outros.
Até que a merda toda estourou quando quase matou aquele rapaz no colégio e
sofreu o processo de bullying.
Ouvir tudo aquilo do meu passado foi como levar um balde de água
gelada na cabeça, porque era tudo o que eu queria esquecer que fiz. Tudo que
eu queria apagar da minha vida, principalmente agora que eu estava com
Angélica.
Ela era tudo para mim e só de imaginar que pudesse ter
conhecimento do que fiz, sentia-me tremer por dentro. Eu não podia perdê-la
de jeito nenhum!
— Reconheço que me deixei influenciar pelo Aldo, que sempre
comparava você a mim mesmo. Posso ter usado os métodos errados, filho,
mas só quis impedir que aquilo evoluísse para algo pior e um dia você
estivesse atrás das grades, onde o meu poder talvez não pudesse protegê-lo.
Fez uma pausa, limpando a garganta com um pigarro antes de
continuar, parecendo incomodado com o que ia dizer.
— Ontem, quando larguei tudo na Itália e vim para cá, não foi
apenas para não matar o Aldo com as minhas próprias mãos, mas porque eu
tinha urgência em ver pessoalmente como você estava depois da luta. Me
preocupei com você, porque sei que Vittorio é um excelente lutador, e quis
ver com meus próprios olhos que estava bem, mesmo Paolo me garantindo
isso. Amo você, filho! Sempre amei você e sua mãe. Sempre!
Merda!
Dei-lhe as costas e me afastei, porque não ia aguentar ouvir aquilo
sem quebrar. O amor dele era tudo o que eu sempre quis desde garoto.
— Sua mãe era tudo para mim. Apaixonei-me assim que a vi pela
primeira vez aqui no Algarve quando vim de férias. Enfrentei meus pais por
ela, porque eles queriam que eu casasse com uma herdeira italiana de família
tradicional e eu cheguei em casa apresentando uma portuguesa moderna e
cheia de personalidade. Faria tudo de novo por Inês! Portanto, não ache que
eu a traí, porque eu não a trairia nunca!
Veio para perto de mim, mas recuei para não fazer a besteira de
acreditar em tudo aquilo, quando tinha abraçado minha mãe em lágrimas
várias vezes após o divórcio.
Senti sua mão agarrando meu braço com força, fazendo-me parar.
Tentei puxar, mas ele me segurou com mais força ainda. Ficamos nos
encarando.
— Você ama esta garota?
— Não envolva Angélica nisso! — cuspi as palavras na sua cara.
Puxei o braço, mas ele me segurou com mais força.
— Ama ou não ama?
Sua outra mão me segurou também, prendendo-me de frente para
ele.
— Amo! — rosnei, olhando-o duramente.
— Trairia Angélica, arriscando perdê-la? Aguentaria ficar sem ela?
— Não!
Lembrei-me do desespero que senti quando Angélica me pediu
aquele tempo na briga ridícula que tivemos por conta do perfil dela, ou
quando questionou a continuidade do nosso namoro ontem à noite na
discoteca. Pensar em ficar sem ela tirava completamente o meu chão e me
colocava para baixo.
— Então, acredite quando digo que não traí sua mãe! — gritou com
raiva, parecendo soltar pela primeira vez em muitos anos uma série de
emoções que estavam represadas. — Acredite que morri um pouco a cada dia
quando ela me abandonou, viajou para cá com você e pediu o divórcio, sem
querer atender minhas ligações nem ouvir o que eu tinha a dizer. Acredite
quando digo que morri quando ela morreu também. — Balançou-me pelos
braços com força, a voz ficou rouca de emoção. — Filho, fiquei
completamente sozinho quando vocês partiram e continuo sozinho até hoje.
Gostaria de tê-lo de volta na minha vida.
Subitamente, puxou-me com força e me deu um abraço de urso,
apertando-me contra o peito. A emoção que senti foi tão intensa que precisei
respirar fundo várias vezes para aliviar a pressão no peito. Fechei os olhos,
sentindo-me com apenas oito anos de idade.
Passado um tempo, não resisti e o abracei de volta, a merda das
lágrimas escorrendo pelo meu rosto, porque, enfim, recebia o abraço dele que
sempre quis.
Sabia que se minha mãe estivesse ali naquele momento, estaria
muito feliz em nos ver juntos de novo, sem brigas ou conflitos. Foi por aquilo
que ela sempre lutou enquanto estávamos na Itália.
Eu nunca me senti tão menino e homem ao mesmo tempo, ao
perceber que meu pai também chorava abraçado a mim. Ficamos um tempo
assim, até que ele me deu duas batidas fortes no ombro esquerdo, fazendo-me
sentir de dor.
— É melhor não terminar o trabalho que Vittorio fez no meu ombro,
pai — adverti em tom brincalhão.
Ele se afastou no ato.
— Meu Deus, esqueci completamente! Desculpa, filho!
Passou a mão no rosto, limpando as lágrimas e foi direto ao móvel
onde estavam as bebidas, enchendo rapidamente duas taças com vinho do
Porto e me oferecendo uma.
Recompus-me da melhor forma possível e aceitei.
— Acho que uma bebida é bem vinda agora — falei, limpando a
garganta e sentindo aliviar a pressão no peito.
Estendeu sua taça em direção à minha e fizemos um brinde
silencioso. Nunca um vinho teve um sabor tão bom, sendo muito bem vindo
depois daquele momento emocionalmente desgastante.
— Estranhei que pegasse um vinho do Porto e não um dos nossos —
provoquei.
Ele riu com arrogância.
— Só peguei porque já estava aberto.
Pensei por um momento e toquei no assunto que queria falar com ele
há dias.
— Queria agradecer por ter autorizado Paolo a proteger Angélica.
Ele a salvou para mim e vocês dois têm a minha eterna gratidão por isso.
— Ela já é da família e faço tudo pela família, mesmo que morra
para isso.
Eu sabia. Agora eu sabia.
CAPÍTULO 25

Lorenzo
OUVI BARULHOS VINDOS do hall, vozes e um latido alegre.
Meu pai piscou um olho para mim, apontando para a porta.
— E por falar em Angélica, parece que todos chegaram.
Os latidos de Thor ficaram mais próximos. Antes que eu pudesse
abrir a porta, Angélica surgiu, o rosto corado do vento frio que soprava lá
fora e um sorriso nos lábios.
Thor correu para o meu lado, o rabo balançando freneticamente.
— Lorenzo, olha só como ele está lindo e… — viu meu pai e se
calou, parando no meio do caminho —, oh, desculpe, não sabia que estava
com visitas.
— Vem cá, Angélica — chamei-a, fazendo um carinho na cabeça de
Thor. — Ei, garoto, você ficou mais apresentável agora.
Ela veio para o meu lado sem hesitar, segurando minha mão
estendida. Entrelaçou os dedos com os meus, deixando-me puxá-la para os
braços. Automaticamente ergueu a cabeça para que pudesse beijá-la e senti
seus lábios frios da rua.
— Você está gelada! — sussurrei-lhe, vendo-a franzir o narizinho.
Ela apertou minha mão com força, alertando-me para a presença do
meu pai, ainda olhando desconfiada para ele.
Olhei-o e vi que nos observava, com Thor cheirando-lhe os sapatos.
— Angélica, este é o meu pai, Vicenzo Costi.
Ela arregalou os olhos de surpresa, um pequeno gritinho escapando
dos seus lábios.
— Oh, é mesmo? — Abriu um sorriso enorme e quando percebi, já
tinha soltado minha mão e corrido para ele, cumprimentando-o com um
abraço e dois beijinhos no rosto. — Ai, que prazer conhecê-lo.
Meu pai olhou para mim, entre espantado e encantado com sua
espontaneidade, um sorriso divertido desenhando-se no rosto.
— O prazer é meu, Angélica. — Olhou-a com atenção quando
afastou-se dele. — Você é bem mais bonita pessoalmente.
Ela ficou pensativa após suas palavras.
— Não vou perguntar nada, mas desconfio que andou recebendo
fotos minhas e que eu não estava muito bem nelas, já que diz que sou melhor
pessoalmente.
Ele riu ainda mais, parecendo cativado com seu jeito doce e natural.
Eu entendia muito bem o que era aquilo.
— Tem razão, mas posso dizer que apesar das fotos serem lindas,
você brilha muito mais de perto.
Ela virou-se para mim, corando mais ainda, só que de vergonha.
Olhou-o novamente.
— Nem sei o que dizer, por isso vou apenas agradecer.
Amanda entrou na sala, seguida por Paolo.
Igual a Angélica, ela parou quando viu meu pai, olhando-o com
cautela.
— Mãe, deixa eu apresentar o pai de Lorenzo. — Angélica se
adiantou, a mim, assumindo a posição de anfitriã sem nem perceber.
Cruzei os braços e acompanhei seu desempenho, vendo-a estender a
mão para Amanda, chamando-a para perto. Paolo fez o mesmo, cruzando os
braços e se encostando no batente da porta.
Amanda se aproximou da filha, a cautela dando lugar à curiosidade.
— Mãe, este é o Sr. Vicenzo Costi.
Ela estendeu a mão para ele, cumprimentando-o.
— Então é o pai de Lorenzo.
Ele apertou sua mão, o rosto sério.
— Então é a mãe de Angélica.
Ficaram um breve momento se olhando sem dizer nada e de repente
caíram na risada com a coincidência do que disseram. Angélica olhou para
mim e encolhi os ombros, dando a entender que não sabia onde estava a
graça.
— É um prazer conhecê-lo, Vicenzo. Queria mesmo falar com você!
O meu pai ergueu as sobrancelhas e olhou para mim, surpreso.
Repeti o mesmo gesto anterior que fiz para Angélica, porque continuava sem
entender nada.
— É mesmo? E o que gostaria de me dizer, Dra. Amanda?
— Se pudesse ser em particular, eu agradeceria. Não vou tomar
muito do seu tempo.
E olhou para mim, como se pedisse licença para isso. Fiquei curioso
sobre qual seria aquele assunto, mas confiava em Amanda e por isso não
hesitei em concordar.
— Claro, Amanda! — Olhei para o meu pai. — Tudo bem para
você?
Ele apenas confirmou com a cabeça.
— Vamos, Angélica.
***

Amanda
Então aquele era o poderoso Vicenzo Costi, pai de Lorenzo!
Um homem atraente, tinha que admitir. No entanto, não esperaria
outra coisa, considerando o próprio Lorenzo. Notava-se claramente que
ambos tinham a mesma compleição física e postura autoconfiante.
Se juntasse Paolo aos dois, poderia dizer que eu e minha filha
tínhamos nos envolvido com o crime organizado, já que eles pareciam saídos
do filme “O Poderoso Chefão”.
Como é que num dia estávamos as duas sozinhas e no outro já
tínhamos três homens irresistivelmente atraentes ao nosso redor, com cara de
chefes da máfia italiana?
E que homens!
Senti vontade de rir com o rumo perigoso que a minha mente
viajava, por isso me controlei, mantendo uma aparência séria e madura, como
era esperado da Dra. Amanda Sant’ana.
— Sente-se, Dra. Amanda. — Vicenzo indicou o sofá com a mão.
— Obrigada. — Acomodei-me, vendo-o fazer o mesmo ao meu
lado. — Mas pode me chamar de Amanda, deixando o “doutora” para quando
necessitar de atendimento médico no hospital.
Ele riu, divertindo-se com o meu comentário, mostrando com isso
que não era totalmente desprovido de bom humor, como parecia à primeira
vista.
— Tem razão e peço desculpas — concordou. — Se nossos filhos
estão namorando tão seriamente, não é necessário esta formalidade toda. Só
posso justificar dizendo que é o hábito de lidar com o mundo dos negócios.
— Desculpas aceitas, Vicenzo. — Olhei-o gravemente, disposta
agora a tratar do assunto que me interessava. — Bom, o que gostaria de falar
diz respeito a Lorenzo. E também vou pedir desculpas a você, caso ache que
estou sendo muito impertinente e me metendo em assuntos familiares. Mas, a
partir do momento em que ele se tornou o primeiro namorado da minha filha,
reservo-me o direito de saber mais sobre ele.
Vicenzo voltou a concordar, uma expressão compreensiva no rosto
forte.
— Entendo sua preocupação e não acho que seja impertinência da
sua parte. Eu faria o mesmo se tivesse uma filha namorando com um rapaz do
porte de Lorenzo.
— Fico feliz que ache isso, porque fui no colégio pedir informações
sobre ele. Por ser médica, tive acesso ao dossiê que veio da Itália e confesso
que fiquei preocupada com o que vi lá.
Joguei aquela bomba e esperei, para ver se ele comentaria alguma
coisa sobre o perfil agressivo do filho e seu tratamento psiquiátrico.
Vicenzo franziu o cenho, mas não disse nada, permanecendo
aparentemente impassível. Percebi que não ia ser fácil fazer com que se
abrisse comigo naquela primeira conversa.
Resolvi voltar à carga.
— Sendo pai de Lorenzo, acredito que você tenha conhecimento de
todas as recomendações que há naquele dossiê, como o fato de ele ser
agressivo e perigoso, podendo vir a necessitar de internamento psiquiátrico
caso seja acometido por surtos repetitivos de violência.
Senti na hora como seu corpo ficou tenso e os olhos ganharam um
brilho perigoso, que me fez lembrar na hora do próprio Lorenzo.
— Existe isso lá? — perguntou duramente.
— Sim, existe — confirmei. — Quando tive acesso ao relatório
fiquei revoltada, porque não concordo com nada daquilo. Como já disse, não
é minha intenção interferir nos assuntos familiares de vocês, mas acho que o
psiquiatra que fez o diagnóstico de Lorenzo se equivocou seriamente no
tratamento a que o submeteu. Isso sem falar que o seu próprio irmão está
assinando o relatório. E, por tudo o que aconteceu ontem, não o vejo como
uma pessoa confiável.
Mal terminei de falar, ele se ergueu lentamente, andando a passos
largos para o outro lado da sala.
— Aldo? — Vicenzo questionou, mantendo-se de costas para mim.
— Tem certeza de que a assinatura dele estava lá?
Levantei-me também, olhando-o com seriedade.
— Tenho! — reafirmei tranquilamente. — E ainda digo mais. Se
não quiser que seu filho seja prejudicado no colégio por causa daquele
relatório, aconselho que vá falar com o diretor e esclareça tudo, porque
Lorenzo não merece isso.
CAPÍTULO 26

Quatro dias depois — Festa de Aniversário

Angélica
OBSERVEI A CASA de Lorenzo cheia de convidados. Eu estava
simplesmente eufórica com o meu aniversário, porque aqueles dezoito anos
significavam para mim muito mais do que apenas alcançar a maioridade.
Seria a hora em que eu deixaria de ser uma menina amedrontada e insegura
para me transformar em mulher através do amor de Lorenzo.
Acho que dizer que eu estava eufórica era pouco, porque me sentia
nas nuvens. Não parava de dançar no grande terraço da casa de Lorenzo,
onde ele conseguiu montar uma mini discoteca para mim.
Não sei onde ele conseguiu tudo aquilo, mas haviam luzes piscando
e girando o tempo todo, um som maravilhosamente alto sem ser estridente,
um DJ animando a festa e bar super equipado com um barman especializado
em bebidas que faziam a alegria dos nossos amigos.
A única parte da casa que estava fechada para os convidados eram os
quartos no andar superior, com um segurança vestido à paisana fazendo
discretamente a guarda das escadas.
Apesar de tudo ter estado tranquilo nos últimos dias desde que o pai
de Lorenzo esteve em Portugal, o esquema de segurança não diminuiu por
conta disso. Acho até que aumentou, com Paolo trazendo da Itália mais um
homem de confiança para fazer a guarda da casa.
Vicenzo veio para o meu aniversário e agora conversava com todos
os familiares na grande sala de estar, que ficou restrita só para a família.
Conheci os pais de Pedro, mas infelizmente tive que aceitar também a
presença de Bianca na festa.
Eu e Lorenzo estávamos indo e vindo da sala de estar para o terraço,
cumprimentando nossos amigos que estavam espalhados pelo restante da
casa. Ora juntos, ora separados, mas quando nos encontrávamos pelo
caminho, ele sempre me abraçava, beijava e dizia que estava tão feliz como
se o aniversário fosse dele.
— Ei, não queira roubar o meu aniversário para você! — brinquei
com ele quando me disse isso, encostando-me num canto escuro do grande
terraço.
Ele me ergueu ligeiramente pela cintura com um braço, para me dar
um beijo apaixonado na boca, a outra mão segurando meu cabelo. O vestido
subiu, quase ultrapassando o nível de segurança dos quadris, mas, naquela
escuridão e com Lorenzo à minha frente, era quase impossível alguém ver
alguma coisa.
— Eu te amo! — disse no meu ouvido depois que me libertou
daquele beijo devorador, a mão se insinuando por baixo do vestido e
apalpando minha nádega.
— Também te amo!
— Não bebe muito — pediu, pressionando a virilha em mim.
— Olha quem fala! Já o vi entornar dois copos seguidos!
— Acho que aguento mais que você, por isso não exagere.
Fiquei calada para não criar confusão, mas aquele era o meu
aniversário, eu estava em casa com minha família, meu namorado grudado
em mim, apenas amigos ao meu redor e cercada de seguranças. Claro que eu
ia beber!
Separamo-nos, voltando a circular entre os convidados.
Vi Cassandra e Pandora no centro da pista de dança e fui para lá
dançar com elas. Logo depois Cassandra colocou um coquetel na minha mão
e deu outro à Pandora. Provei e praguejei alto, inspirando fundo. Era forte e
nada parecido com os que eu tomava.
Veio outra música e mais um coquetel idêntico chegou à minha mão.
Fazia tempo que eu não relaxava tanto, sentindo-me feliz além da conta.
Na terceira música, já com o terceiro coquetel na mão, vi Lorenzo
encostado no bar olhando fixamente para mim. Ao lado dele estavam os
inseparáveis Tiago e Pedro, os três bebendo e observando-nos dançar.
Oh-oh, vou fingir que não o vi, se a intenção dele for acabar com a
minha diversão!
Dei-lhe as costas e continuei a dançar, até que, na quarta música,
Cassandra voltou do bar com a cara amarrada e as mãos vazias.
Merda!
Aconteceu o que eu já suspeitava. Eles podem, mas nós não
podemos!
De repente, um braço masculino me envolveu pela cintura e minhas
costas bateram em um peito duro, nossos quadris se movendo ao ritmo da
música numa dança sensual. Com os saltos altos que eu usava, estava na
altura certa para ele, que segurava um copo de bebida na mão.
Sabia que era Lorenzo, porque o reconheci logo. Também sabia que
nenhum dos amigos dele teria coragem de me abraçar daquele jeito dentro da
sua casa. Ali, éramos todos amigos.
Estava surpresa apenas por Lorenzo estar dançando comigo, quando
havia dito que não dançava nada. Por um breve momento, fiquei meio sem
ação, mas depois me deixei levar por ele, aproveitando para o provocar ao
máximo, determinada a fazer com que pagasse por aquela mentira de que não
sabia dançar.
— Controle-se, diabinha!
Ignorei o que disse e continuei me aproveitando da situação, já
sentindo sua excitação me pressionar. Segurei o riso, divertindo-me além da
conta quando o senti me puxar para mais perto, a mão se espalmando na
minha barriga.
Ele me ofereceu o copo com um dos meus coquetéis. Peguei-o e
provei, adorando quando senti que tinha álcool na quantidade exata que eu
gostava, o sabor suave.
— Ei, afinal você dança! — disse, dando-lhe uma cotovelada no
abdômen.
— Claro que danço! — Ele riu, parecendo se divertir muito. —
Quem lhe disse que eu não dançava?
— Você! — Virei-me em seus braços, ficando de frente e dando-lhe
um empurrão no peito, que logicamente não o fez recuar um milímetro. —
Na sala de aula, disse que não dançava nada, muito menos ballet, lembra?
Ele se inclinou sobre mim e me deu uma mordida no pescoço,
aproveitando para falar no meu ouvido.
— Eu não danço, amor, apenas me esfrego ao ritmo da música!
Oh, aquilo é que era uma provocação para me fazer raiva. Eu nem
queria imaginar Lorenzo dançando assim com outra garota. Acho que matava
os dois!
— Não se atreva a dançar assim com outra garota!
— E você não se atreva a dançar assim com outro cara!
Deu-me um beijo fodástico no meio do salão, esmagando-me nos
braços e marcando seu território, porque todos os rapazes da festa soltaram
gritos de apoio na discoteca improvisada.
Lorenzo interrompeu o beijo e ergueu o braço esquerdo para cima
com o punho fechado, sendo imitado pelos colegas dele, no que parecia ser
uma comemoração de jogo.
Homens!
Ficamos lá por mais alguns minutos antes de ele pegar minha mão,
puxando-me para fora do salão. Quando chegamos no corredor que dava às
escadas que levavam aos quartos, rodeou minha cintura com o braço.
— Vem comigo! Quero mostrar a surpresa que tenho para você!
Fiquei ansiosa na hora, porque só podia ser o meu presente de
aniversário.
Chegamos até as escadas e subimos. Ele abriu a porta do quarto e me
levou para a frente da cama, onde havia duas caixas de presentes próximas
aos travesseiros.
Mal as vi, tirei os saltos altos e subi de gatinhas até chegar lá,
sentando-me sobre os joelhos e olhando para ele, que estava com os braços
cruzados no peito e um sorriso enorme no rosto ao ver minha reação ansiosa
diante dos presentes.
— Posso abrir qualquer um? São os dois para mim?
Eu sabia que estava parecendo uma criança e não uma garota que
tinha acabado de fazer dezoito, mas não pude evitar de ficar eufórica com os
presentes que vinham dele.
— Os dois são seus, claro! — Descruzou os braços, tirou também os
sapatos e veio se reunir comigo ao lado dos presentes.
Deitou de lado e apoiou a cabeça em uma das mãos, apontando para
um deles.
— Sugiro que abra primeiro este.
Peguei a caixa e destruí o papel de presente, abrindo-a e encontrando
um celular branco dentro de uma capinha rosa. Era mesmo a minha cara!
Olhei para Lorenzo e o vi rindo da minha cara de surpresa.
— Acaba por ser um presente para mim também, que não vou ter
que preocupar-me mais com aquele seu terrível celular — justificou.
Dei um gritinho de prazer e caí em cima dele, derrubando-o na cama
e dando-lhe um longo beijo na boca. Ele segurou meu cabelo e puxou-o para
o lado, as duas mãos prendendo o meu rosto.
— Ai, amor, obrigada! — sussurrei entre um beijo e outro. — Juro
que vou andar com ele carregado o tempo todo.
— Acho bom! — ameaçou de brincadeira, apontando depois para
outro presente. — Falta um.
Sentei-me ao lado dele, apoiando as costas em seu abdômen, e
peguei o outro. Desembrulhei o papel e vi que era uma caixa da joalheria
Pandora. Abri e encontrei dois braceletes lá dentro.
Prendi o fôlego quando os peguei. Um deles tinha vários charmes
pendurados e o outro apenas um coração.
— Oh, Lorenzo! Que lindos!
— Deixa eu colocar. — Pegou o primeiro bracelete e colocou no
meu pulso.
Estiquei o braço à minha frente e fiquei olhando sob vários ângulos,
admirando o resultado final.
— Agora me dá a perna esquerda — pediu, segurando a outra
pulseira com o coração.
— Perna esquerda?
Ele apenas riu, divertindo-se com minha cara de surpresa.
— Sim, esta vai ficar no tornozelo.
— Sério? — estranhei aquilo, mas fiz o que ele pediu, virando o
corpo para o seu lado e estendendo-lhe a perna.
Lorenzo sentou-se e segurou minhas duas pernas.
— Levanta o quadril que vou tirar as meias
Apoiei-me nos cotovelos e ergui o quadril, deixando-o subir meu
vestido e puxar a meia que eu usava, deslizando-a por minhas pernas e
jogando-a ao lado. Ele aproveitou para se inclinar e separar minhas pernas,
dando um beijo bem no meio delas sobre minha calcinha.
Deitei-me de vez na cama, abrindo mais as pernas e deixando-o
fazer o que quisesse comigo. Já me sentia mais leve do que uma pluma, tanto
de felicidade quanto pelas bebidas que havia tomado.
— Você já está molhada! — A voz grave e rouca penetrou naquela
névoa gostosa de prazer que eu sentia me dominar.
— Um rapaz me tirou para dançar lá em baixo e me deixou assim!
— Sorte sua que era eu, porque ninguém mais toca aqui! — Seu tom
não era nada brincalhão, levando o assunto a sério de uma hora para outra.
Estendi a perna e toquei sua virilha com meu pé, encostando-o bem
em cima da sua ereção.
— Sorte sua que era eu, porque ninguém mais toca aqui! — devolvi
na mesma moeda.
Só então ele riu, relaxando. Sentou-se novamente e segurou minha
perna esquerda, colocando lá a tornozeleira com o coração.
Ergui e perna e olhei, gostando muito do que vi.
Baixei-a depois, colocando as duas ao redor da cintura de Lorenzo.
Fiz pressão para que viesse até mim e ,quando se deitou por cima do meu
corpo, envolvi sua cintura.
Abracei-o pelo pescoço e beijei com todo o amor que eu tinha.
— Obrigada, amor! Você é a minha vida!
Ele se encaixou melhor e me devolveu o beijo com avidez, a língua
entrando e se enroscando com a minha, num ir e vir de paixão total. Passei
minhas mãos por suas costas, adorando sentir sua força sob meus dedos.
— Você também é a minha vida! — declarou ao sugar meus lábios
em pequenos beijos molhados.
Afastou-se, olhando-me com aquela profundidade que me
desarmava completamente. Ficamos só olhando um para outro, amando-nos
com os olhos.
Segundos depois, Lorenzo se afastou.
— Agora, chegou a vez da grande surpresa.
Abri a boca sem acreditar.
— Tem mais?
Um sorriso misterioso curvou seus lábios.
— Tem sim. Espera aqui.
Voltou poucos minutos depois com uma grande caixa de presente,
fechada com um enorme laço vermelho. Ele colocou-a sobre a cama e
esperou que eu caísse sobre ela como fiz com as outras.
Ao me ver parada, questionou logo.
— Então, não vai abrir? — Parecia preocupado e ansioso.
— Oh, vou sim! — confirmei, intrigada. — É que estou tentando
adivinhar o que é. Não me vem mais nada à cabeça.
— Não pensa! — disse urgentemente. — Apenas abre rápido.
Ajoelhei-me na cama e desfiz o laço, levantei a tampa da caixa e
olhei para dentro.
Na mesma hora, as lágrimas vieram aos meus olhos e comecei a
chorar com uma criancinha, as mãos tapando a boca.
OH — MEU — DEUS!
Era o meu sonho de menina sendo realizado aos dezoito anos!
Não consegui falar nada, apenas chorar e chorar, enquanto o
bichinho me olhava com os olhos mais doces do mundo, parecendo me pedir
um carinho.
— Ei, amor, não chora! — Lorenzo se preocupou, sentando-se ao
meu lado e me puxando para o seu colo. — Você gostou? É que se não
gostou, eu fico com ele para mim, porque não teria coragem de devolvê-lo. Já
me apeguei ao filhotinho.
— Não, não vai devolvê-lo! — gritei e literalmente caí sobre a caixa,
pegando-o pela primeira vez e já sentindo como se fosse meu desde que
nasceu. — É meu!
Senti Lorenzo respirar aliviado.
— Já estava achando que não tinha gostado — confessou, ajeitando-
me melhor no colo para poder acariciar a cabecinha dele. — Você demorou a
abrir a caixa e fiquei preocupado que sufocasse lá dentro ou ficasse com
medo, começando a chorar.
Segurei aquela bolinha preta e macia nas mãos, depois trouxe ele até
meu rosto, dando-lhe um beijinho suave na cabeça. Ele deu um latido fino e
comecei a rir.
— Ele é tão lindo! — Virei-me para Lorenzo e dei-lhe um beijo no
queixo, antes de voltar a me encostar no seu peito e olhar para o meu
cachorrinho, acariciando seu corpinho miúdo.
— Você precisa dar um nome para ele.
— Eu já sei qual é — eu disse tranquilamente.
— Já? Tão rápido assim? — Soltou uma risada e beijou o alto da
minha cabeça. — Há cinco minutos atrás nem fazia ideia que ele existia e já
tem um nome?
— Hum-hum. — Coloquei meu labrador bem em frente ao rosto e
batizei-o na hora. — Vai se chamar Loki.
Lorenzo parou de rir e levantou meu rosto pelo queixo, virando-me
para ele.
— É sério isso, Angel? Vai chamá-lo de Loki?
— Vou e será o irmão mais novo do Thor. Eu serei sua mamãe,
portanto, nada mais justo que ele herde o nome do pai.
Lorenzo me apertou com força entre os braços, os olhos me
devorando toda, o maxilar trincado deixando seu rosto mais duro. Sorri diante
daquilo que eu sabia ser emoção pura e pousei Loki filho no meu colo,
abraçando Loki pai.
— Obrigada novamente, amor! Para mim, este foi o presente mais
valioso que ganhei. Te amo mais ainda por isso.
***
Depois que colocamos Loki dentro da caixa aberta ao lado de Thor,
descemos para a festa que ainda rolava na casa. Por mim, eu já ficava no
quarto com os meus amores, mas Lorenzo me lembrou que não podia
abandonar uma festa em minha homenagem.
Aproveitei que estava mais do que feliz para dançar com Lorenzo de
novo, tomando mais alguns coquetéis que ele ofereceu-me e outros que
Cassandra conseguia quando o bar estava sem vigilância. Eu morria de rir
com Cassandra, vendo-a enganar os três para conseguir do barman saradão as
nossas bebidas.
Quando a festa já estava chegando ao fim, eu podia dizer que só o
meu corpo estava ali, porque a minha mente já tinha alcançado as nuvens há
muito tempo. Sabia que estava “alta”, para não dizer quase bêbada, mas
disfarcei o melhor que pude quando Lorenzo estava perto.
Ele me olhava sempre com atenção, mas eu sorria de volta e ficava
quietinha para que ele não visse o quanto a sala girava ao meu redor.
Se depois alguém me perguntasse que horas a festa acabou, eu não
saberia dizer. Da mesma forma como não sei como cheguei à cama, mas
imagino que tenha sido nos braços de Lorenzo, porque em algum momento
da madrugada acordei deitada em sua cama, tendo seu peito como travesseiro
e sentindo suas pernas nuas enroscadas nas minhas. A respiração pesada fazia
subir e descer o tórax em baixo de mim.
Virei-me de lado e ele veio junto, deitando em conchinha atrás de
mim. Fechei os olhos, voltando a dormir. Não sem antes sorrir ao lembrar
que de agora em diante eu era maior de idade e dona do meu destino. Meu
destino, que estava irremediavelmente ligado ao de Lorenzo.
CAPÍTULO 27

Lorenzo
OLHEI PARA OS corpos se movendo ao som da música, as luzes
piscando e as vozes alegres dos nossos amigos espalhados pelo grande
terraço que havia sido transformado em uma discoteca para a festa dos
dezoito anos de Angélica.
Dezoito anos!
Até que enfim aquele dia chegou, caralho!
Sofri como o diabo até este momento chegar, acordando todas as
manhãs e contando no calendário os dias que faltavam para os seus dezoito
anos, quanto faltava para ela ser definitivamente minha!
Andei até a pista de dança improvisada à procura dela, encontrando-
a dançando com um copo na mão.
Aquele era outro copo ou o mesmo copo? Meu instinto dizia que era
outro copo, provavelmente trazido por aquela desmiolada da Cassandra.
Respirei fundo e procurei ficar calmo, sem deixar transparecer o
meu desagrado com aquela garota, que achava que se divertir era sinônimo de
se embriagar. Se ela tinha os seus problemas e queria esquecê-los na bebida,
isso era assunto dela, mas eu não ia deixar que levasse Angélica junto
naquela loucura. Caso eu não interferisse logo, antes que a noite acabasse eu
teria uma namorada bêbada nos braços.
Fui até o DJ e fiz sinal para colocar a música que eu já havia
combinado quando o contratei para animar a festa. As luzes coloridas
pararam de piscar e apenas algumas em tons azuis permaneceram girando
suavemente no salão, dando um efeito de flocos de neve caindo. As demais
luzes foram apagadas, deixando o ambiente na semi escuridão.
Comecei a rir quando ouvi os gritinhos de surpresa delas. Meus
amigos estavam todos rindo comigo, porque eu já havia combinado com eles
para aproveitarem aquele momento com suas garotas.
Percebi o momento exato em que Angélica olhou para as luzes,
encantada com os floquinhos de neve caindo. Quando começou a soar os
acordes de I Don’t Wanna Miss a Thing do Aerosmith, ela abriu a boca de
surpresa e excitação, girando sobre si mesma e procurando-me pelo salão.
Quando me achou, ficou parada. Deu um sorriso deliciosamente
provocante e mordeu o canto da boca, esperando que chegasse até ela e a
tirasse para dançar.
Angélica veio para mim com uma ansiedade que se igualava à
minha, envolvendo-me pelo pescoço e abraçando-me com força. Tive o
cuidado de passar uma mão pelo vestidinho curto para ver se não tinha subido
muito e mostrava partes daquele corpo que era só meu.
Com aqueles saltos altos ela ficava na altura perfeita e aproveitei
para espalmar a mão na sua nádega e atraí-la para mais perto de mim,
pressionando seu quadril no meu.
— Você lembrou! — sussurrou no meu ouvido, deixando-me
conduzi-la ao ritmo da melodia. — É a nossa música!
Segurei-a pelo queixo e ergui seu rosto. Ela já sabia o que eu queria,
porque fechou os olhos e veio direto para minha boca, deixando-me entrar na
maciez e calor do seu interior.
Tudo em Angélica era feito na medida exata para mim. Eu não
mudaria nada em seu jeito de ser ou em seu corpo, porque era perfeita e há
muito tempo que eu já estava loucamente apaixonado por ela.
— Te amo! — gemi em sua boca, fartando-me do seu sabor.
— Também te amo!
Trouxe-a para mais perto, sentindo as curvas suaves e apertando
suas costas para que os seios macios pressionassem meu peito. Eu quase não
podia aguentar o tempo que ainda faltava para estar sozinho com ela. Depois
de tanta frustração sexual, sentia-me explodir com a necessidade de possuí-la
de vez. Saber que agora não havia nenhuma barreira que me impedisse de
fazê-la minha só aumentava aquela necessidade.
Continuamos dançando até a música acabar e vir outra, e mais outra.
Em um certo momento, a única coisa que eu queria era que a festa chegasse
ao fim, mesmo sabendo que era egoísmo meu desejar aquilo, porque
Angélica estava se divertindo muito.
Em um dado momento, quando apoiei meu queixo no alto da cabeça
dela, vi Tiago dançando com Cassandra no canto do salão. Eles estavam
envolvidos em uma conversa sussurrada e estranhei que o meu amigo
estivesse conseguindo mantê-la quieta, sem que explodisse em acusações por
todos os lados.
Procurei pelo Pedro e o vi dançando com Pandora, mas eles dois não
pareciam precisar de nenhum tipo de conversa, apenas dançavam
tranquilamente. Surpreendi-me ao ver Pedro interessado em Pandora, porque
ele nunca deixou transparecer que gostasse da garota.
Baixei a cabeça e falei no ouvido da Angélica.
— Suas primas estão atacando os meus amigos!
Ela se sobressaltou com o que eu disse e olhou rápido ao redor.
Fiquei só acompanhando sua reação, vendo como arregalou os olhos e fez um
“oh” quando viu Pandora nos braços de Pedro.
Olhou para mim e ergui os ombros, dando a entender que não sabia
de nada. Apontei com a cabeça para o canto do salão, fazendo-a ver Tiago e
Cassandra também agarrados, mas, naquele caso, parecia que ele tinha
perdido a paciência e estava beijando-a à força, provavelmente para fazer a
garota calar a boca.
Não pude mais conter o riso diante da cara de espanto da Angélica.
— Nem sei o que dizer — ela falou, confusa, olhando de volta para
mim.
— Muito menos eu. — Dei-lhe um suave beijo nos lábios. — Não
precisa se preocupar com elas. Pedro e Tiago não vão fazer nada de errado
com as duas.
Ela apertou os lábios, uma expressão decidida no rostinho de anjo.
— Espero que não, Lorenzo. Se eu as ver sofrendo por causa
daqueles dois, vou pessoalmente tirar satisfação com eles!
Nem pensar!
Apertei mais o braço em torno da sua cintura.
— Você não vai tirar satisfação com ninguém, ainda mais sozinha!
— adverti de imediato. — Fale comigo que eu trato do assunto com eles dois,
mas garanto que terão cuidado com suas primas.
— Não digo tanto pelo Pedro, mas principalmente por Tiago, que
vive atrás de tudo que use uma saia e rebole na frente dele. Se fizer Cassandra
sofrer, lógico que você vai ficar do lado dele. Homem sempre protege
homem!
Seus olhos brilhavam soltando faíscas e vi ali a garota leal que
defendia quem amava, sem medir o risco que corria com aquilo.
Segurei seu rosto com as duas mãos, para que fixasse bem os olhos
em mim.
— Vou ficar sempre do seu lado e protegendo você e suas primas,
não a eles dois, caso façam algo de errado com elas, ok? Nunca duvide disso!
Vi alívio no seu rosto.
— Jura?
Procurei não me chatear por ela duvidar de mim.
— Juro, amor! — beijei-a com força para selar a minha promessa.
— Eu juro!
Ela olhou novamente para Cassandra e Tiago.
— Ele parece estar forçando aquele beijo, Lorenzo!
— Cassandra é desbocada demais. Ele provavelmente está fazendo
isso porque é a única forma de calar a boca dela! Aquela garota não tem
limites com o que fala. Deve ter dito alguma merda para o Tiago.
— Cass está bêbada! – tentou justificar as atitudes da prima.
Ergui seu rosto pelo queixo, fazendo-a olhar para mim, e resolvi
testá-la.
— Você está bêbada?
Ela piscou algumas vezes antes de responder, mordendo o lábio.
— Não! Não estou.
— E porque está se segurando em mim com tanta força, como se
precisasse de um apoio?
Pareceu surpresa com minha pergunta.
— Oh! Estou fazendo isso?
Segurei o riso.
— Está.
— São os saltos altos. Eles cansam um pouco.
Trouxe-a para mais perto de mim.
— Então, pode segurar com força, não me importo de servir de
poste.
Escutei sua risada e senti as mãos macias se enroscarem no meu
cabelo, puxando-o levemente.
— Já estou segurando com força e acho que estou tão bêbada que
não vou mais conseguir largar.
— Já lhe disse que de anjo você não tem nada? — provoquei-a,
começando a ficar excitado com aquela brincadeira. — Ultimamente, tem-se
revelado uma diabinha!
Uma nova risadinha maliciosa se seguiu ao meu comentário.
— Algo me diz que esta diabinha tem conquistado um certo Sr.
Loki.
Desta vez fui eu quem ri com sua ousadia.
— Você está mesmo muito ousada! Tem certeza de que não está
bêbada?
Ela confirmou com a cabeça.
— Estou embriagada de amor por você!
Senti um aperto forte na virilha com aquelas palavras. Puxei-a com
força, beijando-a com aquela fome que parecia nunca acabar.
Definitivamente, o que estava na hora de acabar era aquela festa!!
CAPÍTULO 28

Cassandra
O MUNDO ERA mesmo muito injusto!
Porque é que eles tinham direito a tudo e nós a nada?
Olhei para o trio “parada dura” em frente ao bar, que continuava me
impedindo de pegar bebidas para nos divertirmos.
Ora, porra!!
Precisava de tudo aquilo? Estávamos dentro da casa do Men’s
Health, com nossa família espalhada por todo canto. Qual o perigo de beber
um pouco mais no aniversário de Angélica?
Lorenzo, então, era o pior de todos, por liderar aquela gangue de
garotos machistas e controladores!!
E o vadio do Tiago? Estava lá fazendo o quê? Quem ele achava que
estava controlando, aquele idiota?
Merda! Como detesto isso!!
Não sei como é que Angélica aguentava tanto controle em cima dela.
Minha prima era uma santa. Nunca tomou um porre na vida, nunca
virou a noite em festas e discotecas, nem paquerou ou namorou vários
garotos. A coitada nunca fez nada de errado até os dezoito anos e agora é que
não ia fazer mesmo, com aquele namorado possessivo controlando tudo.
Mas se dependesse de mim, Angélica ia se divertir sim!
Continuei dançando, só esperando que eles cansassem de ficar
parados em frente ao bar. Quando saíram, fui lá sorrateiramente.
— Ei, João! — disse alegremente para o barman. — Mais três
coquetéis, por favor! Ah, um deles tem que ser especial.
Ele já sabia que o “especial” era mais forte.
E este ia para Angélica!
Hoje ela vai se divertir ou não me chamo Cassandra!!
Assim que peguei as bebidas, saí rapidamente de lá, antes que Men’s
Health voltasse com a sua gangue.
Ver Lorenzo no salão significava ver Tiago também e eu queria
aquele idiota bem longe de mim!
Entreguei o copo para Angélica e fomos dançar.
Alguns minutos depois a música parou de repente.
— E aí amigos? Estão gostando da festa?
O DJ perguntou cheio de animação.
— Sim!
— É isso mesmo, pessoal! Mas agora vamos relaxar um pouco e
curtir um momento mais romântico, por isso peguem seus pares porque o
amor está no ar. É hora de “love, love and love”.
Love? Mas que merda é essa??
— Ôoo meu amigo, não faça isso não! — sussurrei baixinho, irada.
Quem queria love numa festa animada como aquela?
Mas parece que ninguém concordava comigo, porque vi os casais se
formando para dançar a música lenta e romântica que começou a tocar.
Angélica caiu deslumbrada nos braços de Lorenzo e bufei com raiva.
Foi ele! Ideia do italiano mafioso!
Estraga-prazeres!!
Dei meia-volta e bati de cara em um peito duro.
Ergui a vista e lá estava o idiota do Tiago!
— O que faz aí atrás de mim? Está me confundindo com uma de
suas vadias?
— Não tem como confundir você, Cassandra — falou com um
sorriso divertido. — Vim apenas tirar você para dançar.
Fiquei momentaneamente muda, até explodir de vez.
— Você não dança, garoto! Fode em pé com música!
Ele revirou os olhos, parecendo encher-se de paciência.
— Vou provar que não! Quer arriscar?
Colocou a mão em minha cintura e dei um pulo para trás, afastando-
me.
— Tira a mão ou leva uma joelhada no meio das pernas!
— Que exagero, Cassandra! Quem ouvir isso vai achar que estou
atacando você.
— Isso mesmo, sou exagerada! Agora vai procurar uma de suas
vadias para dançar!
Cansei daquilo e tentei passar por ele. Precisava de outra bebida,
isso sim!
Tiago barrou minha passagem.
— Não quero dançar com outra garota. Quero com você!
Eu não ia achar que aquilo era algo especial, porque não era!
Isso mesmo, Cassandra! Você não é ninguém especial para ele!
Mas foi impossível não ficar subitamente nervosa e confusa ao ouvir
suas palavras. Pela primeira vez naquela noite achei que tinha bebido demais,
porque fraquejei ligeiramente.
— Por que isso agora? O que quer comigo? Qual sua intenção? Está
pensando o quê ao fazer isso? Vamos, diga! Abra logo o jogo! Não acredito
em você!
Ele ergueu as mãos em sinal de rendição, quando por fim consegui
fechar a boca.
Que merda! Eu era uma falante compulsiva quando estava nervosa!
— Calma, garota! Não tenho intenção nenhuma, nem estou te
pedindo em casamento. Só chamei para dançar! — falou, irritado. — Qual é?
Está com medo de uma simples dança?
— Eu não tenho medo de nada, garoto!
— Então vamos dançar, porra! — ele explodiu de vez.
Colocou novamente a mão em minha cintura e dessa vez resolvi
deixar, vendo-o se aproximar de mim.
Nunca ficamos tão perto assim e prendi a respiração quando vi o
peito largo bater de frente com o meu rosto. Mesmo usando saltos altos,
Tiago ficava muito acima de mim em altura e quando ergui os olhos, dei com
o seu pescoço e maxilar.
Merda! Acho que errei em aceitar esta dança!
Começamos a nos mover no ritmo da música lenta e vi que ele
estava mantendo uma distância segura de mim.
— Viu? Não há nada demais na minha forma de dançar — ele disse
calmamente, como se estivesse lendo meus pensamentos.
— Só porque falei.
Senti que estava rindo de mim e levantei a cabeça para encará-lo.
— Está rindo do quê, seu idiota? De mim?
— Nunca de você — falou, baixando a cabeça e me olhando muito
sério. — Tem algo diferente em você.
Oh merda! Por que bebi tanto? Estou vendo e ouvindo coisas
demais.
— É com esse tipo de cantada barata que anda ganhando as vadias
todas do colégio? Pois fique sabendo que comigo isso não funciona. Pode
desistir!
Ele não disse nada, continuando a me olhar fixamente com uma
seriedade que não combinava com seu jeito normalmente despreocupado.
Comecei a ficar mais nervosa ainda.
— Não sei como essas garotas tolas acreditam em tanta mentira.
Admiro sua criatividade, que deve ser mesmo invejável, Tiago. Agora diga-
me, você repete as cantadas ou cria uma nova para cada garota? Ah, mas se
brincar com algumas nem precisa falar muito, né? Basta pegar, baixar as
calças e já disse tudo! — Só em imaginar a cena, já fui ficando puta da vida e
perdi totalmente a vontade de dançar. — E quer saber? Não quero mais
dançar! Cansei desta merda.
— Cala a boca, Cassandra!
Seu tom de voz duro me surpreendeu.
— Você me mandou calar a boca? — Olhei abismada para ele,
parando de dançar na hora. — Eu ouvi bem?
— Ouviu. — Suas mãos apertaram mais minha cintura. — Disse
para calar a boca!
Oh! Eu não acredito no que ouvi! Quem esse idiota pensa que é?
— Ora, seu lixo que não foi jogado na lixeira! — Controlei-me para
não enfiar a mão na sua cara de conquistador barato. — Vá mandar suas
putas calarem a boca, mas não eu! Ninguém me manda calar a boca e não vai
ser você que…
Um beijo duro caiu sobre minha boca, calando-me totalmente. Fui
puxada pelos braços fortes de Tiago e encostada em seu corpo, meus seios
sendo esmagados pelo peito largo.
Seu hálito tinha o sabor de álcool dos shots que havia bebido, junto
com um gosto todo especial que em deixou embriagada.
Ou aquele filho da mãe sabia beijar muito bem ou eu estava mesmo
seduzida por ele, porque tive a sensação de nunca ter sido beijada daquela
forma ou de um beijo ser tão bom.
O braço em minha cintura enlaçou-me com mais força,
suspendendo-me ligeiramente na ponta dos saltos altos e colando meu
estômago em sua virilha, onde senti uma ereção potencialmente grande e dura
pressionar-me de forma totalmente indecente e imoral.
Fiquei tão chocada com seu tamanho que gemi em sua boca,
fazendo-o apertar-me mais contra seu corpo excitado.
Meu Deus! Era por isso que ele fazia tanto sucesso com as garotas?
Perceber aquilo em vez de me seduzir ainda mais, deixou-me puta da
vida com ele. Por que tinha que ser tão perfeito? Agora é que eu estava
mesmo fodida!
Empurrei-o para trás com toda a força que tinha, pegando-o de
surpresa e afastando-o de mim.
— Nunca mais me beije, nem encoste sua mão suja em mim de
novo! — Passei a mão na boca, com nojo de mim mesma por ter gostado do
seu beijo. — Deve estar contaminado depois de tanta vadia que comeu!
Dei-lhe as costas e saí do salão, indo para a sala onde estava minha
mãe e Roberto.
Droga! Agora ia ser mais difícil ainda deixar de gostar dele!
CAPÍTULO 29

Lorenzo
QUANDO A FESTA finalmente terminou, fechamos a porta depois
que o último convidado saiu e fomos para a sala onde estava nossa família.
Puxei Angélica para um sofá de dois lugares em frente à lareira e de
costas para o resto da grande sala. Sentamos abraçados e escutei seu suspiro
de cansaço quando encostou-se no meu peito.
— Cansada?
— Não. Exausta é a palavra certa! — Apertou a mão que estava
sobre minha coxa. — Queria ir para a cama. Será que poderemos dormir
juntos hoje?
Apesar da bondade de Amanda ter permitido que Angélica dormisse
comigo naquela noite em que lutei contra Vittorio, não tivemos mais essa
sorte nas noites seguintes.
Minha casa também não era mais só minha, com a presença dos
seguranças extras, de Paolo e agora também do meu pai, pelo menos até que
ele viajasse a negócios no dia seguinte.
Depois de anos morando sozinho, eu estava desacostumado com
tanta gente ao meu redor e não tinha privacidade suficiente para ficar com
Angélica.
Apertei-a mais contra mim, pensando numa forma de conseguir
dormir com ela definitivamente.
— Falarei com Amanda quando chegar a hora. — Dei-lhe um beijo
na testa, sentindo o odor inebriante do seu perfume invadir meus pulmões. —
Encosta aqui e descansa.
Encarou-me com a esperança nos olhos.
— Posso tirar os sapatos?
Segurei o riso com aquele apelo desesperado.
— Na minha casa você pode tudo! — Apontei o braço do sofá. —
Deita com a cabeça ali e coloca seus pés no meu colo.
Peguei uma manta fina no encosto e coloquei sobre suas pernas, por
conta do vestidinho curto. Ela gemeu alto de satisfação quando massageei
seus pés doloridos, chamando atenção dentro da sala.
Puta que pariu, se eu queria alguém escutando os gemidos de
Angélica!
Ela percebeu a merda que fez quando o silêncio se instalou na sala.
Mesmo estando de costas, senti os olhares de todos dirigidos para o local
onde estávamos. Angélica tapou a boca com as mãos, arregalando os olhos.
— Desculpa! — sussurrou para mim, ficando rosada como um
camarão e encolhendo-se no sofá para esconder-se mais dos outros.
Resolvi que o melhor era fingir que não tinha ficado fodido com
aquilo.
— Esquece!
— Acho que estou é mesmo muito bêbada! — disse para si mesma,
até ver que falou outra merda e voltar a gemer alto de frustração.
Dessa vez fui eu quem tapei sua boca.
Ela agarrou-se ao meu braço, mais vermelha ainda.
— Oh, meu Deus, já não faço nem falo mais nada!
Inclinei-me e dei-lhe um beijo, substituindo minha mão pela boca
para a manter calada.
— Só vai gemer assim quando estivermos sozinhos — grunhi
baixinho no seu ouvido.
Ela apenas confirmou com a cabeça, segurando-me pelo cabelo e
fechando os olhos.
— Então me leva para a cama.
— Daqui a pouco — prometi, afastando-me antes que acabasse por
me deitar em cima dela. — Não podemos sair assim, com todos ainda aqui.
— Tudo bem — suspirou com resignação, acomodando-se melhor
no sofá. — Então faz minha massagem. Prometo que não vou gemer.
Voltei a massagear seu pé, mas em menos de dois minutos Angélica
já estava dormindo tranquilamente. Foi quando percebi que ela devia ter
bebido muito mais do que pensei.
Encostei a cabeça no sofá e fechei os olhos, tentando imaginar
quando é que eu poderia, enfim, ter Angélica só para mim sem ter que falar
com ninguém antes, sem precisar pedir autorização a quem quer que fosse.
Mesmo ela sendo agora maior de idade, eu ainda não podia simplesmente
tomá-la para mim, sem antes ter uma conversa franca com Amanda.
Algo me dizia que depois que fizesse amor com Angélica não
conseguiria mais ficar longe dela, querendo que viesse morar comigo de vez.
Ainda não sabia como ia resolver aquela situação, mas sem sombra de dúvida
que teria de lutar contra todos para conseguir concretizar isso.
Olhei-a adormecida e aquele sentimento de posse incontrolável
voltou a dominar-me, dando-me a certeza que lutaria contra o que fosse para
fazê-la definitivamente minha.
Fui falar com Amanda, interrompendo sua conversa com meu pai e
Paolo.
— Vou levar Angélica para cima. Ela adormeceu.
Ela olhou para o sofá onde estava a filha.
— Vou subir com você para ajudar.
Ótimo! Era mesmo a ocasião que eu precisava.
Peguei Angélica no colo, deixando a manta em torno dos seus
quadris e segui para fora da sala, com Amanda à minha frente para abrir as
portas. Quando chegamos no andar superior, ela foi direto para o quarto que
ocupava.
— Não, Amanda! O meu, por favor! — disse-lhe antes que abrisse a
porta. — Deixe que Angélica fique comigo a partir de hoje. Prometo que terei
o maior cuidado com ela.
Amanda deixou os ombros caírem, parecendo resignadamente
conformada.
— Por que é que eu já imaginava que isso ia acontecer?
Encarei-a com firmeza, disposto a fazer com que se lembrasse da
conversa que tivemos no apartamento dela.
— Talvez porque já soubesse que prometi aguardar até os dezoito
anos de Angélica e não mais que isso.
— Por que é que você tem que ser tão seguro assim, Lorenzo? Podia
ser um adolescente normal e morrer de medo da sogra.
Comecei a rir com o comentário dela.
— Sinto muito mas eu não tenho medo de você, Amanda!
— Fico pensando do que é que você tem medo.
Apertei mais Angélica nos braços.
— Atualmente, meu único medo é perder Angélica — falei muito
seriamente. — Por favor, poderia abrir a porta do meu quarto?
Ela fez o que pedi e abriu a porta, entrando à minha frente. Foi até a
cama e ajudou-me puxando os lençóis. Deitei Angélica e virei-me para ela.
— Pode deixar que faço o resto sozinho, Amanda.
Ela respirou fundo, olhou para a filha e depois para mim, a
expressão extremamente séria.
— Se um dia ela me procurar chorando por sua causa, porque você a
magoou ou a fez sofrer, nunca mais a terá de volta, entendeu?
Era justo.
— Entendi, mas isso não vai acontecer. Como eu disse antes, o
único medo que tenho é perder Angélica.
Ela apenas fez um sinal positivo com a cabeça, antes de dar meia
volta e sair do quarto, fechando a porta atrás de si e fazendo-me suspirar
aliviado por ter vencido mais uma batalha. Eu ficaria muito chateado se
tivesse que bater de frente com Amanda, uma mulher que havia conquistado
minha admiração.
Voltei-me para Angélica e meu peito se encheu de felicidade quando
a vi deitada em minha cama, o cabelo louro espalhado no travesseiro e o
corpo esguio ocupando o meu espaço. Era o meu sonho se transformando em
realidade.
Fui no closet pegar uma camisa de pijama para vestir nela. Virei-a
com cuidado e a despi, deixando-a só com a calcinha. Antes de colocar a
camisa, admirei a beleza da pele leitosa, as curvas suaves, os seios alvos com
mamilos rosados que povoavam minhas fantasias quando ela não estava ao
meu lado.
Beijei-os com carinho, chateado comigo mesmo por não ter estado
ao seu lado mais tempo e impedido que bebesse tanto.
Levantei-me e fui olhar Thor e Loki para ver se estavam bem.
Loki! Um sorriso involuntário curvou meus lábios ao lembrar do
nome que Angélica escolheu para batizar o filhotinho.
Emocionei-me com aquilo, porra!
Pensava agora o que mais ela faria para me colocar de joelhos à sua
frente, porque Angélica fazia isso sem nem perceber ou ter noção do poder
que tinha sobre mim.
Preparei-me para dormir e trouxe-a para o meu peito, gemendo de
prazer quando nossas pernas nuas se enroscaram debaixo dos lençóis. Dei-lhe
um beijo nos lábios e fechei os olhos.
— Eu consegui, mãe! Agora eu tenho meu anjo comigo!
CAPÍTULO 30

Lorenzo
UMA BATIDA NA porta me acordou. Abri os olhos e fitei o
relógio sobre a mesa de cabeceira. Sete horas da manhã de uma quinta-feira
de aulas.
Hoje, não teríamos condições de ir ao colégio. Com o aniversário de
Angélica bem no meio da semana, acho que todos que vieram à festa iriam
faltar as aulas naquele dia. Chegamos a pensar em fazer a comemoração no
sábado, mas meu pai não poderia estar presente e optamos mesmo pela
quarta.
— Filho? — Ouvi sua voz e uma nova batida na porta.
Olhei para Angélica, que ainda dormia pesadamente. Estava deitada
de lado à minha frente, a mão agarrada no meu braço em sua cintura.
Desvencilhei-me dela com cuidado para não a acordar e me levantei.
Vesti a calça do pijama e fui até a porta, abrindo-a e saindo para o corredor.
Ele estava de terno e com o sobretudo, já pronto para a viagem que
faria aos Estados Unidos, onde ficaria pelos próximos quinze dias.
Ele me dera garantias que o assunto com Aldo Costi tinha sido
resolvido no mesmo dia em que voltou à Itália, que eu não precisava
preocupar-me com mais nada porque ele e Paolo tinham tudo sob controle.
— Já vai? — perguntei, passando a mão no rosto para espantar o
sono.
— Vou, filho. Passarei este período lá, mas você poderá ligar-me
sempre que precisar. Deixarei Paolo com vocês aqui em Portugal e levarei
outros seguranças comigo.
Puxou-me para um abraço de despedida.
— Boa viagem, pai! E bons negócios também!
Ele riu quando afastou-se de mim.
— Prepare-se, porque em breve vou colocar você no meio do fogo
cruzado que é o mundo dos negócios. Aproveite esta vida mansa enquanto
pode — brincou comigo, batendo nas minhas costas com a palma da mão.
— Vou aproveitar, então!
Ele apontou para o quarto.
— Cuide bem da Angélica! Ela é um doce e merece ser bem tratada.
Revirei os olhos quando ouvi aquilo.
— Que comentário desnecessário. Nem precisa dizer-me isso.
Escutei-o rir mais ainda e depois apontou-me o dedo no peito.
— Gostei muito da minha nora, por isso o recado está dado!
Amanda também é uma mulher extraordinária e está preocupada com este
namoro recente de vocês. Assusta-a que tenha ficado tão sério em um período
de tempo tão curto, mas ela não conhece o meu filho como eu conheço, por
isso temos que compreender sua preocupação. Dei-lhe minha palavra que
você vai cuidar muito bem de sua filha, portanto honre a palavra do seu pai.
Agora preciso mesmo ir.
Respirei fundo para conseguir ter paciência com tanta gente
querendo meter-se no meu namoro. Era Amanda, Paolo, meu pai e até mesmo
o Roberto, porque ontem à noite vi a cara que ele fez quando saí da sala com
Angélica adormecida nos braços.
Estavam todos preocupados com ela e desconfiados de mim. Eu só
não ia gritar um grande “foda-se” para todos eles porque sabia que amavam e
preocupavam-se com ela.
Mas que fama merda era essa que eu tinha, se achavam que seria
capaz de magoar Angélica de alguma forma!
— Recado recebido, pai.
Sorte deles que eu estava tão feliz que nem importava-me com tudo
aquilo.
A porta do quarto ao lado abriu e uma Amanda pronta para trabalhar
surgiu no corredor.
— Ora, bom dia aos dois! — Sorriu para o meu pai, mas logo depois
olhou para mim, a ansiedade visível na expressão do rosto. — Angélica está
bem?
O que ela achava? Que eu tinha torturado Angélica a noite inteira
com algemas e chicotes?
— Está bem e ainda dormindo, Amanda. — Apontei a porta atrás de
mim. — Pode entrar e ver por si mesma.
Ela não esperou outro convite e prontamente abriu a porta, entrando
no meu quarto.
Suspirei pela décima vez desde que acordei, juntando toda minha
escassa paciência para não estourar.
— Calma, filho! — Meu pai sorriu com sabedoria. — Dê-lhe tempo
para acostumar-se com a ideia que a filha cresceu.
Fez uma pausa e ficou pensativo, olhando-me com atenção.
— Não vou meter-me em sua vida, porque sei que é dono do seu
destino há muito tempo, mas espero que tenha noção que se Angélica fosse
uma garota italiana de família tradicional você teria que casar-se com ela só
por terem dormido juntos uma noite. E preste atenção que falei “dormido”.
Devolvi seu olhar com seriedade.
— E quem lhe disse que não é exatamente isso que pretendo fazer?
— Exatamente isso o quê? Transar com ela ou casar-se com ela? —
ele forçou, mostrando mesmo que era o meu pai, já que eu era igualzinho a
ele na minha abordagem direta dos assuntos.
Apertei os punhos com força, tal a raiva que senti ao ouvir aquela
palavra relacionada com a garota que eu amava.
— Angélica é muito mais do que uma transa para mim e não uso
esses termos com ela. — Encarei-o duramente. — Pretendo me casar com
ela.
Um sorriso de aprovação curvou seus lábios.
— Ótimo! Era o que eu achava. — Ajeitou o sobretudo sobre os
ombros largos, parecendo despreocupado. — Pode relaxar, filho, não precisa
bater em mim por causa disso. Algo me diz que em breve poderei ser avô e
isso me agrada muito.
Olhei para a porta entreaberta do quarto, onde Amanda havia
passado.
— Não fale isso na frente da Amanda, pai! — alertei-o em tom
baixo, para que ela não ouvisse lá do quarto. — Ela teve Angélica com
menos de dezoito anos e só falta surtar quando falamos de gravidez.
Ele ficou pensativo e depois confirmou com a cabeça.
— Tudo bem! Manterei minha alegria só para mim.
Escutamos seus passos e calamos a tempo dela abrir a porta e nos
encontrar tranquilamente encostados à parede, apenas esperando-a sair.
Parecia constrangida quando olhou para mim. Limpou a garganta e
deu um sorriso meio amarelo.
— Bom, vou para meu turno no Hospital e volto só no final da tarde.
— Olhou o relógio no pulso. — Já estou atrasadíssima, mesmo tendo avisado
que hoje não chegaria cedo por conta da comemoração de Angélica.
Meu pai desencostou-se da parede e aprumou o corpo.
— Pode vir comigo, Amanda. Paolo vai me levar ao aeroporto e
podemos passar antes no hospital. Deixe seu carro aqui na casa que ele vai
pegar você mais tarde também.
— Vou aceitar. — Olhou para mim. — Eu não tive coragem de
acordá-la, parecia exausta da noite. Qualquer coisa ligue-me, Lorenzo.
— Sim, Amanda, ligarei.
Fiquei vendo-os sair pelo corredor e descer as escadas,
contabilizando mentalmente que agora devia estar sozinho em casa com
Angélica, se eu não contasse os dois seguranças que fariam a guarda do lado
de fora.
Respirei aliviado, porque já sentia falta de ter a casa só para mim.
Voltei ao quarto e peguei a caixa com Loki, fazendo Thor se
levantar e me acompanhar até o andar térreo. Pela limpeza da casa, minha tia
já deveria ter enviado sua empregada para organizar a bagunça da festa.
Alimentei os dois e deixei-os no lugar reservado a Thor.
Subi ao meu quarto e fechei a porta. Com as cortinas cerradas,
aquele ambiente ainda escuro e aquecido era tudo o que eu queria naquele
momento. Tirei a calça do pijama e voltei a deitar-me ao lado dela,
abraçando-a por trás. Senti o cheiro que vinha do seu cabelo, além do calor
do seu corpo junto ao meu. Aquilo era tudo o que eu precisava para embalar
o meu sono.
***
Estiquei a mão à procura do calor do corpo de Angélica e encontrei
apenas o espaço vazio ao meu lado. Abri os olhos imediatamente e vi que ela
não estava na cama. Olhei ao redor do quarto silencioso, sem nenhum
movimento.
— Angélica? — Ouvi minha própria voz rouca de sono ecoar, sem
obter nenhuma resposta.
Sentei-me e puxei as cobertas, procurando não entrar em pânico só
porque ela não estava na cama. Podia ter ido apenas ao banheiro. Levantei-
me e bati na porta.
— Angélica, você está aí?
Novamente o silêncio.
Foda-se a educação!
Abri a porta, já preparado para lhe pedir desculpas pela invasão, mas
o banheiro estava vazio.
Calma, Lorenzo! Não aconteceu nada com ela. Há seguranças de
guarda na casa.
Mandei a lógica à merda quando calcei apenas os chinelos e saí do
quarto do jeito que estava, usando apenas a camisa do pijama e a boxer.
Desci as escadas com o coração disparado no peito, chegando em
tempo recorde no térreo.
— Angélica?
— Estou aqui! — ela chamou do terraço, sua voz doce acalmando
meu coração.
Eu devia ter pensado em Loki! Ela provavelmente veio atrás do
filhotinho para ver como estava.
Inspirei o ar com força, podendo enfim soltar os punhos cerrados e
relaxar os músculos dos ombros. Caminhei pelo corredor, ultrapassei a
cozinha e saí no longo terraço, encontrando-a agachada ao lado de Thor,
acariciando-o na cabeça, com Loki nos braços. Os dois cães pareciam
deliciados com seus carinhos.
Angélica ainda tinha o cabelo louro emaranhado do travesseiro e
estava usando meu roupão por cima da camisa que eu vesti nela antes de
dormir.
Levantou-se e olhou para mim com um sorriso enorme no rosto.
— Oi, amor! Eu levantei para ir ao banheiro e como não o achei lá
em cima com Thor, deduzi que os dois estivessem aqui em baixo. Não
aguentei e vim atrás dele. — Chegou perto e ergueu a cabeça para um beijo,
que dei-lhe quase com desespero, puxando-a com cachorro e tudo para os
meus braços.
Só depois que havia saciado minha ansiedade foi que afastei-me e
fitei seus olhos azuis.
— Devia ter me acordado! Fiquei preocupado quando não a
encontrei ao meu lado.
Seu sorriso foi de compreensão, provavelmente por ter sentido meu
desespero no beijo que lhe dei.
— Desculpe. Eu não quis acordar você, mas prometo que na
próxima vez farei isso. — Ergueu-se na ponta dos pés e deu um beijo rápido
no meu queixo, olhando depois para Loki. — Ele já comeu?
— Dei-lhe de comer mais cedo.
Olhei o relógio na parede, vendo que ainda eram oito e meia da
manhã.
De repente, ela deu um pulinho de susto e afastou o filhotinho para
longe do corpo, não antes de ter sua roupa molhada pelo xixi dele.
— Ah, seu ingrato! Olhe o que fez comigo! — ralhou com ele.
Comecei a rir com a cena, o jatinho do xixi perdendo força à medida
que ele esvaziava a bexiga.
— Coloque-o no chão, Angélica! Ele é muito novinho e ainda
precisamos ensiná-lo a fazer no lugar certo.
Ela fez o que pedi, vendo-o correr para Thor e ir brincar com uma de
suas bolinhas.
— Vamos subir e deixá-los aqui sozinhos. Loki está seguro com
Thor.
Peguei-a no colo e comecei a ir para as escadas.
— Ei, eu estou suja de xixi! — lembrou-me, preocupada que sujasse
minha camisa.
— Vamos tomar um banho, juntos — avisei e ouvi sua risada
deliciada.
— Sério? Parece uma boa ideia. — Depois olhou ao redor da casa,
sussurrando. — Lorenzo, onde está todo mundo?
— Meu pai viajou para os Estados Unidos. Amanda foi para o
Hospital e Paolo foi levar os dois, devendo passar no apartamento de vocês
para ver se está tudo bem e depois seguindo para o que alugou, pois vai
entregar o imóvel e vir para cá ficar com a gente.
— Estamos sozinhos?
Apertei-a mais em meus braços, enquanto terminava de subir as
escadas.
— Sim, estamos sozinhos. — Entrei no quarto e bati a porta com o
pé, seguindo para o banheiro.
Coloquei-a no chão e liguei a ducha, deixando a água correr.
Ela desamarrou o roupão, tirou a camisa sobre a cabeça e surgiu
diante de mim só com a calcinha branca, o cabelo longo caindo sobre os seios
nus bem à minha frente.
Imediatamente, senti meu pau enrijecer com aquela visão tentadora
de Angélica seminua.
Ela me encarou e mordeu a pontinha do lábio esquerdo, os olhos
brilhando e a respiração entrecortada. Um misto de sensualidade e inocência
que fez minha virilha se contrair de excitação.
Passaram-se dias desde que a tive em minha cama pela última vez,
justo naquela manhã depois da luta contra Vittorio. De lá para cá, não
tivemos uma única oportunidade de namorar com privacidade suficiente para
darmos prazer um ao outro. Sempre tinha alguém por perto, sempre a casa
cheia, com Amanda cercando como uma leoa protegendo a cria.
Puxei minha camisa para cima, tirando-a e jogando ao chão. Fiquei
só com a boxer, mas já sentia meu pau duro querer sair para fora de tanta
excitação que sentia.
Percebi que aquela excitação era maior do que todas as outras que
senti até agora, porque desta vez eu sabia que poderia ir até o fim com
Angélica, ter tudo o que eu queria, possuí-la completamente, entrar nela e
satisfazer aquele desejo louco que me corroía por dentro desde que a vi pela
primeira vez em sala de aula.
Ela olhou meu corpo, passando pelo peito e descendo até parar na
minha virilha, aqueles dentes ainda massacrando o lábio, a língua rosada
acompanhando o movimento dos dentes. Inspirei fundo com a tensão sexual
que tomou conta do meu corpo e sem dúvida alguma que fiquei mais duro
ainda com aquele olhar dela.
Como se um ímã poderoso tivesse de repente entrado em ação,
fomos ao mesmo tempo um para os braços do outro, o impacto de pele contra
pele arrancando gemidos da minha garganta, ao mesmo tempo que também
ouvia os dela.
Os seios macios se chocaram contra o meu peito, os mamilos
rosados se esfregando em mim. Angélica envolveu meu pescoço com os
braços e prontamente a ergui do chão, trazendo-a para cima e deixando-a à
altura do meu rosto.
— Lorenzo! — ela gemeu alto em meu ouvido. — Estava com
saudades de ficar assim com você!
— Puta que pariu, amor! Nunca mais ninguém vai se meter no meu
caminho até você ou me dizer que não posso fazer amor com a minha
namorada! Nunca mais, caralho!
Apertei-a contra mim, nossas bocas se encontrando com desespero,
enquanto sentia seus dedos se enroscarem no meu cabelo, puxando-o com
força suficiente para fazer-me gemer de prazer em sua boca.
Passei as mãos por suas costas com uma ânsia incontrolável,
sentindo-a envolver minha cintura com as pernas.
— Amor, você me mata de desejo. — Segurei-a com força pelas
nádegas, sem conseguir refrear minha necessidade de posse e domínio sobre
ela. — Eu te amo tanto, porra! Tanto, que até dói!
— Ai, Lorenzo. Eu também te amo muito — ronronou nos meus
braços, esfregando-se em mim. — Nunca mais quero ficar longe de você.
Não deixa que nos mantenham longe um do outro!
— Nunca mais, amor! Nunca mais, eu juro! — prometi com raiva,
porque eu já tinha chegado ao meu limite máximo de ser um bom moço. —
Estou desesperado por você, caralho!
Angélica me segurou com mais força pelo cabelo e deu vários beijos
fortes na minha boca, mordendo, sugando e tentando-me até a loucura.
Eu precisava me derramar dentro dela e, sem pensar mais em nada
além da necessidade de fazermos amor, levei-a até o box, entrando com tudo
debaixo da água. Coloquei-a no chão e peguei logo o gel para a ensaboar.
Puxei sua calcinha pelas pernas e depois tirei minha boxer, ficando os dois
nus. Ela se agarrou em mim, esfregando o corpo macio no meu, e quase
explodi com a força do prazer que senti.
Puta que pariu, ela era minha garota e eu a amava de uma maneira
quase doentia!
Terminei nosso banho num piscar de olhos, pegando duas toalhas
para nos secarmos. Não demorei-me muito, ajudando Angélica para que
pudéssemos sair logo dali.
Antes que ela terminasse, peguei-a novamente no colo e fui para o
quarto, onde as cortinas fechadas não deixavam entrar a claridade da manhã.
E era lá onde eu ia realizar o grande sonho de fazê-la definitivamente minha.
CAPÍTULO 31

Lorenzo
COLOQUEI-A DEITADA NA cama e deixei o ambiente na
penumbra, acendendo apenas a luz indireta da cabeceira, de forma que
pudéssemos nos ver enquanto nos amávamos.
Deitei-me ao seu lado e trouxe-a para os meus braços, beijando-a
quando investiu direto na minha boca. Encostei seu corpo ao meu, a maciez
dela roçando a dureza da minha pele e só fazendo crescer a minha vontade de
me enterrar nela.
Eu tinha noção de que precisava me controlar, fazer tudo com calma
e dar-lhe tempo, mas, pela primeira vez, percebi que fazer o certo nunca foi
tão difícil para mim. Talvez esse descontrole se desse por ter plena
consciência de que agora poderia ir realmente até o fim, poderia possuí-la por
completo. Saber disso estava roubando a minha razão.
Nossos corpos unidos se encaixavam na perfeição, como se
tivéssemos sido desenhados na medida certa um do outro. Senti a mão macia
descer do meu braço para o peito e depois sair trilhando o caminho do meu
abdômen até a virilha. Inspirei fundo quando percebi sua intenção e, antes
que eu pudesse impedir, Angélica pegou na minha ereção, apertando-a com
carinho.
Que delícia é essa, porra!
Não consegui impedir que um gemido involuntário escapasse da
minha garganta. Só que eu sabia que Angélica ia estragar tudo se continuasse
mexendo comigo daquela forma.
Segurei sua mão e afastei-a.
— Agora não.
Olhou-me, confusa.
— Não posso?
— Ainda não. Se fizer isso agora, perco o controle. Depois eu deixo.
— Trouxe sua mão aos lábios e beijei a palma macia, partindo depois para
devorar sua boca.
Ela me deixou entrar com a língua em seu interior macio,
enroscando a dela com a minha e beijando-me com a mesma intensidade.
Abandonei seus lábios e desci até os seios, beijando e sugando um
mamilo. Passei a mão pelo outro, acariciando-o com os dedos, notando como
ela arqueou o corpo e soltou um forte gemido de prazer. Aquele gemido que
era só meu e que eu não queria que ninguém mais ouvisse.
— Oh, Lorenzo! — Suguei mais forte ainda, repetidas vezes, até
sentir seus dedos se enterrarem nas minhas costas, as unhas se afundando na
pele. — Adoro isso, amor! Não para, por favor.
Fui descendo pelo seu corpo, adorando-a com meus lábios à medida
que passava pela barriga macia e plana. Com as mãos, acompanhei a curva da
cintura fina até chegar na altura do quadril arredondado. Não precisei pedir
que abrisse as pernas para mim, porque Angélica prontamente as separou,
deixando-me entrar no meio delas, seu cheiro almiscarado batendo direto nas
minhas narinas e causando um abalo terrível nos meus sentidos.
Tenho de me controlar! Não posso perder o controle justo agora.
Coloquei as mãos em baixo de cada uma de suas nádegas e erguia-a,
trazendo para minha boca como se fosse um prato saboroso diante de um
homem esfomeado. E eu tinha fome de Angélica, porra, uma fome insaciável.
Quando tomei e suguei toda aquela umidade, senti uma dolorosa
contração de prazer no meu pau, que ansiava para provar aquilo que a minha
boca agora sorvia com paixão.
— Ah, Lorenzo! — ela gemeu alto, as mãos agarradas no meu
cabelo. — Estava com saudade disso!
Dei o que ela queria, aumentando sua excitação cada vez mais. Eu
sabia que ela precisaria estar muito excitada para que a dor de perder a
virgindade fosse a menor possível, por isso procurei não deixar que seu nível
de excitação baixasse.
Dei uma mordida suave na coxa branca, depois na outra, antes de
voltar a atacar suas dobras macias. Angélica ergueu os quadris e
movimentou-os em busca de mais prazer.
— Lorenzo, está tão bom. Quero mais. — Puxou-me pelo cabelo,
descendo as mãos por meus ombros e enfiando os dedos na minha carne dura.
Apertei suas nádegas e dei-lhe um último chupão antes de subir e
beijá-la na boca, pegando-a de surpresa.
— Oh! — Soltou um gritinho, antes que eu o abafasse com minha
língua e transformasse em mais um gemido de prazer quando encostei meu
pau em sua entrada molhada.
Ela ficou ofegante de antecipação e eu quase gritei de tesão
reprimido. Encaixei-me nela, mas senti que, mesmo molhada e excitada como
estava, ainda havia resistência demais para que pudesse entrar sem a
machucar.
Merda! Bem que eu podia ser menor, porra!
Afastei-me dela e deslizei a mão para baixo, passando novamente
pela barriga lisinha até chegar aos suaves pelos rentes e macios, entrando
depois no meio de suas pernas. Prendi um seio macio com a boca, sentindo-a
arquejar antes mesmo que meu dedo se insinuasse nela, já úmida de excitação
e dos meus beijos.
Movimentei o dedo, sentindo o botão logo em cima inchar mais, à
medida que aumentava seu grau de excitação. Continuei movendo-o para
cima e para baixo, antes de começar a descer mais até sua entrada, forçando o
dedo ligeiramente a cada investida que dava, começando a sentir a barreira
ceder aos poucos.
— Lorenzo, eu gosto disso!
Afastei a boca do mamilo e beijei-a, sugando-lhe os lábios. Depois,
mordi-lhe o lóbulo da orelha, ouvindo-a gemer novamente.
— Gosta do quê, amor? — perguntei com voz rouca, precisando
confirmar sua necessidade de ser penetrada. — Gosta que eu faça assim?
Tirei e voltei a introduzir o dedo, tendo o cuidado de sempre
estimular em cima e em baixo. Fiz mais pressão e ela arqueou o quadril para
cima, facilitando meu trabalho.
— Oh, sim! Gosto. — A voz estava entrecortada e a respiração
ofegante. — É tão bom!
— Eu sei, amor, eu sei — disse-lhe, sem parar de movimentar a
mão, escutando o som extremamente estimulante que o meu dedo fazia ao
deslizar em toda aquela umidade.
Caralho, como ela está molhada! Que merda de tortura sexual é
essa?
Eu só esperava conseguir me controlar, porque me sentia doer de
vontade de entrar nela e me satisfazer da forma mais dura possível, só de
ouvir aquele som.
Controle-se Lorenzo! Esqueça seu pau e pense nela!
— Lorenzo, vai mais rápido — ela pediu, agarrando-se em mim, as
mãos inquietas correndo das minhas costas para o cabelo, ora me arranhando
a pele, ora me puxando com força.
Voltou a gemer, completamente entregue ao prazer.
— Tem calma. Aproveita mais um pouco.
Apesar do que eu disse, sabia que ela estava pronta, totalmente
pronta para me receber dentro dela. Só faltava ver até que ponto eu
conseguiria ultrapassar a barreira da virgindade sem a machucar demais.
— Gosta assim? — Passei a fazer círculos em cima e depois voltar a
forçar sua entrada com cuidado. Aumentei a velocidade e, cada vez que
chegava lá, introduzia mais o dedo, dilatando a abertura.
— Sim, gosto muito. — Agarrou-se em mim com mais força. — Dói
lá dentro, Lorenzo.
— Estou machucando, amor? — perguntei logo, preocupado.
— Não! É uma dor gostosa, não sei explicar. É diferente de tudo o
que já senti antes. Só sei que quero você em mim.
Respirei aliviado ao ouvir aquilo.
— Abre mais as pernas! — pedi em seu ouvido.
Ela obedecer sem hesitar.
Voltei a abocanhar seu mamilo e sugá-lo com força, já sentindo sua
reação quando arquejou novamente. Continuei estimulando Angélica,
aumentando a velocidade até sua respiração se acelerar cada vez mais.
Tem de ser agora!
Introduzi o dedo em sua entrada, sentindo-a se abrir e ceder.
Puta que pariu! Cheguei a tremer quando senti a maciez do seu
interior, o canal apertado e molhado sob o meu toque. Quase gozei com a
sensação.
— Oh! — ela arquejou com força, apertando as mãos em meus
ombros.
— Tudo bem?
— Sim, estou — confirmou, movendo o quadril, a respiração
ofegante.
Saí e entrei de novo, continuando o movimento de forma a manter
Angélica excitada. Contudo, preocupei-me por ela ser tão apertada, já
sabendo de antemão que ia ser difícil possuí-la sem que doesse, por mais
cuidado que eu tivesse para não a machucar.
Só que agora já não havia como voltar atrás. Nem eu conseguiria,
mesmo que quisesse, pois Angélica estava quase gozando e eu queria me unir
a ela naquele gozo. Também não podíamos passar a vida inteira só nos
masturbando, quando sentíamos necessidade de muito mais.
Tirei a mão e empurrei suas coxas para que abrisse mais as pernas,
colocando-me no meio delas. Angélica deixou-se conduzir, fazendo o que eu
queria. Fiquei por cima e me posicionei, beijando seus lábios com carinho e
sentindo-a abraçar minha cintura com as pernas.
Eu já me sentia gozando só da expectativa de penetrá-la. Meu
coração batia tão forte no peito que parecia o tambor de um ritual pagão.
Deixei meu pau encostar nela e sentir sua umidade. Ele pareceu reconhecê-la,
porque doeu até as entranhas com a vontade imediata de entrar.
Caralho, que sensação foda é essa?
— Ai, Lorenzo, como é quente — ela sussurrou na minha boca,
movendo o quadril em direção ao meu pau, vindo para mim.
A minha ponta deslizou ao longo da extensão do seu sexo, como se
estivesse demarcando um território, e era assim mesmo que eu me sentia,
marcando Angélica como minha!
Repeti o movimento e, a cada vez que descia, forçava-a a se abrir
mais para mim.
Enfiei a língua na sua boca e Angélica sugou-a, prendendo-a lá
dentro. Ergueu o quadril, buscando maior contato com minha ereção e,
inconscientemente, dando-me o sinal que eu precisava para entrar nela.
Movimentei o quadril para baixo e forcei-me em sua abertura,
sentindo logo a resistência da virgindade. Era difícil para caralho pensar que
ia machucá-la, mas não tinha outro jeito, e segui em frente.
Angélica ficou tensa ao sentir a primeira fisgada de dor, afastando a
boca da minha.
— Lorenzo?
— Relaxa, amor! Não fica tensa — falei com carinho em seu
ouvido, quando eu mesmo me sentia tão tenso como uma mola esticada ao
limite e a ponto de arrebentar.
O meu corpo clamava por prazer e me controlar não estava sendo
fácil. Eu nunca tinha estado com uma virgem e refrear tanto o meu desejo era
algo que eu não estava acostumado a fazer antes de Angélica. Depois que a
conheci, parece que vivia segurando o meu desejo a rédeas curtas o tempo
inteiro.
Forcei mais e a senti tentando recuar desta vez. Desde que tomei
consciência de mim mesmo como homem, nunca desejei tanto ter um pau um
pouco menor do que o meu só para não a machucar. Sem sombra de dúvida,
Angélica era apertada demais para mim.
Merda!
— Lorenzo! — chamou-me ofegante, mas desta vez havia apreensão
em sua voz.
— Dói muito?
Ela negou com a cabeça.
— Agora, não! Estou apenas com medo, mas acho que é por ser a
primeira vez e nunca ter feito isso antes.
Porra, não a quero com medo!
— Quer que eu pare? Eu paro se você quiser.
Parar agora ia ser difícil para caralho, mas por ela eu faria aquilo.
— Não, eu quero continuar. — Olhou-me fundo nos olhos. — Quero
muito fazer amor com você.
Segurei seu rosto com carinho, beijando-a uma e outra vez, sentindo
seu gosto e sabor em minha boca.
— Fica calma, amor! Vou tentar não machucar você. Se doer muito,
é só falar e eu paro.
Coloquei a mão entre nós dois e estimulei-a novamente com o dedo,
enquanto deslizava meus lábios da boca até os seios macios, voltando a sugá-
los e estimulando novamente o prazer dela. Dei-lhe tempo para voltar a se
excitar e esquecer o desconforto, mesmo que eu estivesse aumentando o meu
próprio desconforto ao ter de me controlar tanto. Em pouco tempo ela estava
arremetendo o quadril para cima, apertando as pernas em volta da minha
cintura e puxando-me para baixo.
Só esperava que desse certo daquela vez, porque me sentia tremer
devido à força que estava fazendo para controlar o meu desejo. Aquela
umidade toda, o calor do sexo dela e a entrada apertada no meu pau estavam
me levando à loucura.
Minha boca buscou o outro mamilo, que mordi levemente, fazendo-a
gemer alto, meu dedo aumentando a pressão e o ritmo em seu clitóris.
— Ai, Lorenzo, está tão quente!
Ela movia o quadril cada vez mais, permitindo que a minha ereção
fosse se ajustando nela, mas aquilo era uma verdadeira tortura para mim e já
sentia o suor escorrendo pelo meu corpo.
Quando percebi que ela estava naquele limite do prazer que
conduzia diretamente ao orgasmo, entrei de vez, meu pau abrindo caminho
dentro do seu corpo e quebrando a barreira da virgindade.
Caralho! Mil vezes caralho se Angélica não é perfeita para mim!
— Oh! — ela arquejou em um fôlego só, enfiando as unhas nas
minhas costas.
Por um momento fiquei sem ação, apenas sentindo a deliciosa
sensação de estar dentro dela, com uma certeza estranha de que ela era minha
desde que nasci, que sempre foi minha mesmo antes disso, e que continuaria
sendo minha fosse presente, passado ou futuro.
Eu não ia perder tempo tentando descobrir que merda de certeza era
aquela. Soltei a boca do mamilo intumescido e encostei a testa em seus seios,
inspirando fundo para controlar aquela louca emoção.
— Angel! — Deixei seu nome rolar na minha boca com todo o amor
que eu sentia por ela. — Você está bem?
Levantei a cabeça e encarei-a, vendo seus olhos arregalados de
surpresa mergulharem nos meus. Aquele mar azul que eu sempre soube que
seria a minha perdição, onde eu mergulhava e afogava-me de prazer, e que
agora me encaravam, deliciosamente surpresos.
Ficamos nos olhando por longos segundos, nossas respirações
ofegantes se misturando uma com a outra, os corpos suados em perfeita
união.
— Sim — sussurrou, enlevada, mexendo a pélvis como se estivesse
curiosa em descobrir as novas sensações de me ter dentro dela. — É tão
estranho e, ao mesmo tempo, tão familiar ter você dentro de mim. Pode
parecer loucura, mas é como se já tivesse vivido esse momento antes.
Engoli em seco de emoção.
O inferno ia gelar e os polos arderem, antes que alguém me
impedisse de estar assim com Angélica o resto da minha vida!
Enfim, estamos unidos de corpo e alma, porra! Enfim, ela é minha!
Finalmente, estou possuindo Angélica como sempre sonhei desde que a vi
pela primeira vez, caralho!
— Puta que pariu, Angélica! Puta que pariu, você é minha! — rosnei
com a voz enrouquecida de emoção e por me sentir dominado pelo prazer
indescritível de estar dentro dela. — Minha, caralho!
Não consegui mais me controlar e soltei todos os meus demônios.
Enfiei a mão entre os fios do seu cabelo, prendendo-a pela nuca, e dei-lhe um
beijo duro, libertando totalmente aquela possessividade absurda que eu tinha
de Angélica.
Movimentei-me dentro dela pela primeira vez, o coração explodindo
de emoção. O desejo latente que eu sentia, começou a soltar o monstro do
prazer que mantive preso dentro de mim durante todo nosso namoro e
naquelas preliminares na cama. Não havia mais como segurar tudo aquilo!
Deixei o meu pau entrar e sair uma e outra vez, enlouquecendo de
tesão a cada ofego de prazer que ela dava em minha boca. Continuei a possuí-
la, entrando e saindo do seu canal apertado, sentindo a força poderosa do
orgasmo se construindo dentro de mim.
A cada estocada que eu dava, Angélica arquejava de prazer, seus
gemidos competindo com o som dos nossos corpos se chocando um contra o
outro, aquilo tudo mexendo comigo de uma maneira inesperadamente
profunda.
Ela movia os quadris junto comigo e logo estávamos no mesmo
ritmo, cada vez mais rápido, cada vez mais excitados, cada vez mais perto do
gozo.
— Lorenzo! — Era um pedido para que eu a fizesse gozar e só faltei
gritar de satisfação ao saber que poderia, enfim, liberar o meu desejo.
Segurei seu cabelo e encostei a testa na dela, continuando a possuí-
la.
— De quem você é? — perguntei-lhe duramente.
— Sua! — Não hesitou em dizer com a voz ofegante.
— Só minha? — insisti, aumentando o ritmo das estocadas dentro
dela.
— Só sua! — gemeu de prazer e continuou. — Só sua, Lorenzo.
O meu orgasmo estava chegando rápido e vinha destruindo todas as
barreiras dentro de mim, fazendo-me ajoelhar perante Angélica. Ela não
sabia, mas naquele momento estava definitivamente me dominando por
completo.
— Só minha para sempre? Para sempre, caralho?
Ela não respondeu, parecendo estar totalmente concentrada no
próprio gozo.
— Lorenzo, acho que vou gozar. Ai, mas que dor gostosa é essa?
— Responde o que eu perguntei, Angélica! — exigi, sentindo que
perdia totalmente o controle. — Só minha para sempre?
— Sim, só sua para sempre, Loki! — Ofegou com a boca encostada
na minha. — Meu Loki!
Senti o meu corpo estremecer quando a ouvi, porque ela percebeu
que aquela era uma necessidade dele!
— Foda-se Angel! Você vai me levar à loucura! — grunhi em êxtase
total. — Foda-se, caralho!
Ceguei de vez e deixei o prazer vir, soltando todos os meus
demônios que estiveram presos por tanto tempo. Ouvi o gemido de gozo dela,
sentindo o corpo estremecer de prazer debaixo do meu, os espasmos das suas
entranhas apertando o meu pau e fazendo-me alcançar o céu e o inferno ao
mesmo tempo. Não esperei mais nada e gozei também, derramando-me
dentro dela.
Fechei os olhos e soltei um grito rouco dentro do quarto, diante da
força do prazer que senti naquele momento, com a certeza de que aquela não
era a nossa primeira vez. Tive a forte sensação que eu já tinha amado
Angélica antes, porque o meu corpo reconhecia o dela como se fosse um
reencontro.
Caralho, mas o que é isso que estou sentindo agora?
Caí sobre ela, completamente sem forças, ainda sentindo os últimos
espasmos do orgasmo fazerem meu pau contrair dentro dela. O meu peito
parece a ponto de explodir com o ritmo frenético do coração, mas,
surpreendentemente, eu me sentia mais vivo do que nunca.
— Amo você, Angel! — Precisava extravasar aquela emoção ou ela
arrebentaria o meu peito.
— Também amo você, Loki. — sussurrou de volta, acariciando meu
cabelo e limpando o suor da minha testa com a mão macia. — Amo muito.
— Machuquei você? Descontrolei-me no final, amor. Desculpa! —
Beijei seus lábios, nossas respirações se misturando em uma só. — Entrei
forte demais em você?
— Não! — negou logo, um sorriso preguiçoso curvando sua boca.
— Por favor, não ache isso! Eu gostei de tudo.
Fez uma pausa e mordeu o cantinho da boca, deixando-me saber que
ia falar algo que a envergonhava.
— De certa forma, eu já esperava que fosse assim e que você se
descontrolaria um pouco, pois esta é a sua natureza. Ficaria chateada se
procurasse ser diferente do que é, controlando-se demais. Eu amo esse seu
jeito de ser, meio Lorenzo, meio Loki! Aceito-o por inteiro.
Puta que pariu, se ela não é mesmo perfeita para mim!
Tentei tirar o nó de emoção que tinha na garganta. Fiquei sem
palavras e por isso respondi da única maneira que podia, beijando-a como o
desesperado que eu era!
Afastei-me depois, deixando-nos ficar testa com testa.
— Amo você loucamente — repeti.
— Também — suspirou, fechando os olhos.
Então, lembrei que podia estar pesando muito sobre ela, mesmo
suportando grande parte do meu peso sozinho. Saí para fora do seu corpo e
vim para o lado, não sem antes ver que estava sujo de sangue.
Merda!
Eu sabia que aquilo ia acontecer, mas não pude evitar de me chamar
mentalmente de animal ao ver o sangue dela em mim. Ajoelhei-me na cama e
peguei Angélica ao colo com cuidado, ignorando seu gritinho de surpresa.
— Oh, o que foi? — Passou os braços pelo meu pescoço.
— Vamos tomar um banho.
— Outro? — Olhou-me com expressão confusa.
— Sim, outro.
— Mas estava tão bom na cama. Não tenho vontade nenhuma de
tomar outro banho, Lorenzo — resmungou, deitando a cabeça no meu ombro.
Levei-a para o banheiro, mas só quando a coloquei em pé sob a
ducha foi que Angélica olhou para baixo e viu a parte interna das coxas com
sangue. Desviou o olhar para minha virilha e ficou rosada de vergonha.
— Que burra! — murmurou para si mesma, pegando o gel e
lavando-se.
Segurei seu queixo e dei-lhe um suave beijo nos lábios.
— Desculpa por isso! Tem certeza de que não sente dor?
Ela fez um gesto negativo com a cabeça.
— Isso ia acontecer comigo algum dia. Estou apenas querendo
dormir mais um pouco — falou tranquilamente, depois mudou para um tom
de provocação, rindo com malícia. — Você roubou minhas energias todas!
— E você roubou as minhas, garota!
Abracei-a debaixo d’água, sustentando-a pela cintura enquanto
terminávamos o banho. Depois que nos secamos, enrolei-a na toalha e voltei
a pegá-la no colo para levar de volta à cama.
— Posso andar, Lorenzo! Não precisa me carregar o tempo todo. —
Fingiu ralhar comigo, mas encostou a cabeça no meu peito e fechou os olhos.
— É melhor aproveitar. Pode ficar muito gorda no futuro e já não
vou mais conseguir carregar você.
Escutei seu riso baixo.
— Vou aguardar ansiosa que este dia chegue. Vou engordar uns
cinco quilos e ficar estilo gostosona.
— Louco para ver esse dia chegar — brinquei com ela, chegando ao
seu lado da cama.
Quando fui pousá-la, via a mancha de sangue no lençol junto com
esperma.
Esperma! Puta que pariu!
Dei as costas à mancha e sentei-me na beira da cama com Angélica
no meu colo.
— Amor, você está tomando pílula?
Ela havia dito dias atrás que Amanda tinha receitado um
anticoncepcional. Só esperava que estivesse tomando da maneira correta ou
agora Amanda teria motivos reais para surtar.
Angélica pareceu estranhar minha pergunta.
— Estou. Por quê?
— Porque não usei preservativo.
— Oh! — Ficou quieta e pensativa, depois me olhou. — Também
não me lembrei disso. E agora?
— E agora que estou tranquilo quanto a isso. E você?
Esperei com alguma apreensão por sua resposta.
— Bom, não queria engravidar agora, mas se acontecer também fico
tranquila. — Respirou fundo e mordeu o lábio, deixando-me alerta com
relação ao que ia dizer. — Você fica comigo... quer dizer, do meu lado?
Ela duvidava disso?
— A minha vida inteira — respondi simplesmente, apertando-a mais
nos meus braços. — Sempre.
Angélica encostou a cabeça no meu peito, um sorriso suave no rosto.
— Então, agora me coloque na cama e deixe-me descansar um
pouco. Ainda estou de ressaca da festa.
— É preciso trocar os lençóis da cama.
Ela olhou por cima do meu ombro para a mancha no meio do lençol
e suspirou resignadamente.
— Então vai pegar os limpos que fazemos isso rápido.
Poucos minutos depois, Angélica encostou a cabeça no travesseiro
com um gemido de prazer.
— Ah, que delícia!
Já estava vestida com as roupas que peguei no quarto ao lado e
parecia disposta a dormir novamente.
Abracei-a por trás.
— Não tem fome?
— Não, só tenho sono.
— Se estiver grávida tem de comer — provoquei, ouvindo-a rir.
— Se estiver grávida tenho que dormir também.
— O bebê vai ter fome se não comer — insisti, beijando seu cabelo
e deslizando a mão pela sua barriga, imaginando como seria ver o nosso filho
crescendo nela no futuro.
— O bebê vai ter sono se eu não dormir, vai ficar irritado e dar chute
na minha barriga quando crescer. Se ele puxar ao pai, será muito forte, por
isso não o vou irritar. Só quero descansar um pouquinho, juro!
Deixei-a descansar, aproveitando o quarto escuro para relaxar ao seu
lado.
Naquele momento, percebi que nunca mais seria o mesmo. Tudo
havia mudado na minha vida, nada mais seria como antes depois que fizemos
amor. Angélica apossou-se de mim. Se eu já era viciado nela, agora estava
também totalmente dependente não só do seu amor, ou da sua alma, mas do
seu corpo também. Com aquele ato de amor que fizemos, tornei-me parte
dela e ela de mim. Já não havia mais como separar um do outro, já não tinha
mais como tirar ela de dentro de mim.
Agora, mais do que nunca, ela corria no meu sangue.
CAPÍTULO 32

Um dia antes da festa

Angélica
— MÃE, EU QUERIA fazer uma pergunta.
Ela estava sentada na cama, as costas apoiadas na cabeceira e o
tablet nas mãos, lendo um relatório médico de algum de seus pacientes.
Já íamos dormir e sentei-me ao seu lado, ansiosa para tratar de um
assunto delicado, mas que não podia mais evitar. Tentei encontrar as
respostas que precisava por conta própria, mas ainda fiquei com dúvidas que
só ela podia tirar.
O tablet foi colocado sobre a cama, seu olhar em mim.
— Pode perguntar, pequenina — fitou-me com atenção. — O que se
passa nesta cabecinha pensante?
— Jura que vai ouvir-me com a mente aberta de uma mulher
moderna do século XXI?
Ela abriu os olhos de surpresa quando terminei de falar.
— Só sou retrógrada e antiquada quando o assunto é sua vida sexual
com Lorenzo, portanto dê logo a facada, porque prefiro um golpe direto em
vez de pequenos cortes.
Comecei a rir com sua comparação.
— Céus, mãe! Essa foi forte!
— Tenho certeza que forte é o que vou escutar agora. — Cruzou as
mãos no colo e esperou. — Pode desembuchar, mocinha! Sou uma mulher
moderna e acho que vou sair-me bem nessa conversa de adolescentes.
Agora que chegou a hora, sentia-me nervosa e meio envergonhada.
Três, dois, um!
— Dói muito perder a virgindade?
Ela tapou o rosto com as mãos.
— Eu sabia! Sabia que seria esta pergunta. — Baixou as mãos para o
colo e respirou fundo. — Claro, amanhã é o seu aniversário e Lorenzo não
vai deixar passar nenhum dia a mais para apossar-se de você definitivamente.
Mas que droga! Este rapaz bem que podia ser um adolescente normal e ter
medo de mim ou do pai! Mas ele parece não ter medo de nada!
Esperei tranquilamente que ela descarregasse logo tudo de uma vez
para poder continuar. Eu já conhecia minha mãe o suficiente para saber que
depois do susto que levou ela voltaria a agir normalmente.
Quando a tempestade passou, ficamos as duas caladas por um tempo
até que ela olhou para mim.
— Tudo bem, vamos em frente. Primeiro de tudo, você está
tomando o anticoncepcional direito?
— Sim, mãe. Como um relógio.
Ela fez um gesto de aprovação com a cabeça.
— Certo! Outra providência é usar preservativo sempre!
Olhei minhas unhas antes de dizer algo.
— Mas mãe, se estamos os dois saudáveis e não vamos ficar com
mais ninguém, não poderíamos dispensar isso? Lorenzo não vai trair-me.
— Não estou dizendo que ele vai traí-la. — Fez um gesto impaciente
com as mãos. — É apenas mais seguro em tudo e sendo vocês dois saudáveis,
minha preocupação é com uma possível gravidez.
O grande trauma dela.
Dela, e não meu!
— Tudo bem, mãe, eu entendo bem essa parte. Mas com relação à
pergunta que fiz, dói muito? É que fiz uma pesquisa na internet e tem de tudo
lá. Uns dizem que dói e sangra, outros dizem que não dói nem há
sangramento. Depois, tem artigos dizendo que depende do parceiro ou de
você mesma estar relaxada e não ficar tensa, se vai ser no carro, na cama ou
no corredor do colégio. Encontrei quem dissesse que depende do local ser
romântico, do ambiente. Sei lá, foi tanta coisa que li que fiquei mais confusa
ainda.
Ela segurou minha mão, fazendo-me olhar seu rosto. Havia um
sorriso compreensivo e carinhoso lá.
— Filha, você tem os dois fatores mais importantes para uma
primeira vez ser perfeita. Amar muito o seu namorado e ser muito amada por
ele. Posso xingar e surtar com esse jeito mandão de Lorenzo, mas sei que a
ama e será extremamente cuidadoso com você. Até porque ele não é virgem
como você e deve saber o que fazer.
Senti o rosto corar quando lembrei das coisas maravilhosas que ele
já tinha feito comigo.
— Oh, meu Deus! Estou vendo pela sua cara que ele sabe muito
bem o que fazer e você gostou de tudo o que ele fez! Claro, você vive
repetindo que gosta de tudo que faz com ele!
Acho que fiquei mais corada ainda. Caí para trás no travesseiro e
escondi o rosto com as mãos.
— Ai mãe, tenha dó de mim! — Baixei as mãos um pouquinho só e
olhei-a por entre os dedos. — Mas ainda sou virgem e...
— E?
— E, que eu forcei Lorenzo no sábado de manhã a me mostrar como
seria nossa primeira vez.
Ela abriu a boca, depois fechou e por fim abriu de novo, mas
nenhuma palavra saiu de imediato. Limpou a garganta e tentou de novo.
— Você forçou Lorenzo?! — Parecia horrorizada com aquilo. — Eu
escutei bem isso, meu Deus? Minha filha forçou o namorado para que
transassem? Justamente o Lorenzo, que ninguém força a fazer nada que não
queira?
— Mãe, é melhor parar com isso porque eu não sou nenhuma
devassa — Tirei as mãos do rosto e olhei-a diretamente. — Estava apenas
curiosa.
— E matou sua curiosidade, mocinha? — Ficou muito séria de
repente e com a expressão pensativa. — Ei, espera aí. Você disse que ainda é
virgem! Então ele resistiu ao assédio da minha filha devassa?
— Mãe!
Ela apontou o dedo na minha cara.
— Foi você quem usou este termo, não eu! Agora diga-me. O que
deu errado?
— Na hora achei que não tinha como nos encaixarmos... quer dizer...
que ele não conseguiria entrar. — Respirei fundo. — Achei que teria de me
rasgar toda para Lorenzo caber em mim, é isso!
Sua gargalhada ecoou dentro do quarto, fazendo-me olhar para ela,
abismada.
— Mãe, qual é a graça nisso?
Ela ergueu a mão e fez sinal para que eu esperasse, continuando a rir
até encher os olhos d’água.
— Ei, dona Amanda, é melhor parar de rir de mim!
Seu acesso de riso parou depois de alguns minutos e passou a limpar
as lágrimas dos olhos.
— Certo, Srta. Angélica, juro que não vou tocar no ponto sobre o
tamanho de Lorenzo. — Tentou recompor-se antes de falar. — Vou apenas
fazer uma comparação simbólica. Se uma mulher grávida, por mais novinha,
magra ou pequena que seja, consegue passar um bebê do seu útero para o
canal vaginal e trazê-lo para a vida aqui fora, então um pênis, por maior que
seja, também vai conseguir entrar no canal vaginal sem problema algum,
mesmo se considerarmos que no parto temos dilatação, contrações, etc.
Correto?
Visto daquela forma parecia a coisa mais natural do mundo, mas não
foi aquela a impressão que tive na prática. Confirmei com a cabeça.
— A única barreira que pode existir é o hímen e existem vários tipos
deles, mas só em alguns casos muito especiais o seu rompimento pode ser
algo extremamente doloroso. No seu caso com Lorenzo, provavelmente tudo
correrá bem, já que você sente-se tão à vontade com ele a ponto de forçá-lo
com sua “curiosidade”.
Deitou-se de lado na cama, apoiando a cabeça no braço.
— Filha, não se preocupe com isso, porque mesmo que Lorenzo seja
muito bem dotado, vocês vão se encaixar perfeitamente bem. Se vai doer?
Talvez sinta um pouco de dor ou desconforto, mas nada que seja assustador.
Se vai sangrar? Provavelmente sim e acontece com mais frequência se o
parceiro tiver um pênis grande, se ele for muito inexperiente ou se, mesmo
sabendo o que fazer, não tiver cuidado. Bom, na verdade tudo isso é muito
relativo e varia de pessoa para pessoa, mas é importantíssimo sentir bastante
prazer com ele nas preliminares para facilitar a penetração depois. Vocês se
amam e tenho certeza que tudo vai dar certo.
— Acha mesmo, mãe?
— Acho, filha! Tenho certeza que só teve essa impressão no sábado
por conta do tamanho dele.
Pensei bem antes de responder, vendo que ela tinha razão.
— Achei que eu era pequena demais e não que ele fosse grande. Não
passei minha adolescência inteira vendo as partes íntimas de vários rapazes
para saber isso.
Ela deu-me um beijo na testa.
— Então acredite na sua mãe quando digo que você tem um corpo
normal como toda adolescente, sendo apenas um pouco magra. Agora
Lorenzo é um rapaz com altura muito superior à média, forte e robusto. Se
tem alguém diferente nesta história é ele e não você. Qualquer outra garota
virgem teria a mesma dificuldade com ele.
Torci o nariz com aquele último comentário, porque nem gostava de
imaginá-lo com outra garota.
— A grande dica é: procure relaxar e sentir só prazer, porque quanto
mais tensa ficar, mas vai contrair a entrada da vagina e dificultar a
penetração.
Bom, sentir prazer com Lorenzo era fácil demais! Acho que
tínhamos tudo para que esta primeira vez fosse como sempre sonhei.
— Então é verdade o que dizem que quanto maior, melhor?
Agora quem ficou surpreendentemente rosada foi ela, fazendo-me
olhá-la com mais atenção.
— Você agora me pegou! — Deu um sorriso meio constrangido. —
O único homem que tive foi seu pai, portanto não sou a experiência em
pessoa para dar-lhe uma resposta com conhecimento de causa. Também, pelo
que me lembro dele, não era nada fenomenal em tamanho. Apesar de ser um
homem alto e forte, seu pai era.. bom, como é que posso dizer isso... era um
pouco abaixo da média!
Ai, que merda! Acho que toquei mesmo em um assunto delicado!
Não quero saber o tamanho do meu pai!
— Mãe, deixa para lá! Não precisa responder isso. Esquece!
— Shhh. Deixa eu terminar, porque posso falar em termos médicos
— fez-me calar, decidida a responder minha pergunta. — Anatomicamente
falando, a grossura pode interferir no prazer, porque há mais sensibilidade
nos primeiros centímetros da vagina a partir da sua entrada e a fricção de um
pênis mais grosso aumenta esta sensibilidade. Já o tamanho pode estimular o
ponto G e assim trazer um orgasmo mais completo. — Olhou para mim com
seriedade. — Mas filha, o que realmente importa não é ser grande ou grosso,
mas que o seu parceiro saiba dar-lhe prazer de todas as formas, porque depois
de várias relações sexuais com a mesma pessoa, se não houver nada mais
além de penetração direta, não vai ser o tamanho do pênis que vai manter o
relacionamento.
Deu um beliscão no meu nariz, brincando comigo.
— E o amor é fundamental. Tem que haver sentimento no ato e isso
vocês dois têm demais! — Riu muito antes de dizer. — Acho que você é uma
sortuda, Angélica! Vai ter tamanho, largura e amor tudo junto! Segura esse
rapaz, filha!
O calor subiu ao meu rosto novamente, mas não pude deixar de rir
com ela, sentindo-me realmente uma grande sortuda na vida.
Eu vou segurar muito bem e apertar na medida exata, como ele me
ensinou!
Depois de tanto sofrimento, enfim havia chegado a minha vez de ser
feliz e eu não ia largar o meu namorado por nada nesse mundo!
— Esta conversa agora fez com que eu pensasse em outra coisa —
ela disse, deitando de costas e olhando para o teto, um sorriso malicioso nos
lábios.
— O quê, mãe? — Estava curiosa para saber o motivo daquele
sorriso.
Ela riu mais ainda.
— Dizem que filho de peixe, peixinho é. Será que o pai é igual ao
filho?
Abri a boca totalmente chocada com o que ela disse, mas foi
impossível não pensar no pai de Lorenzo nu à minha frente.
Oh!
— Mãeee! — exclamei, completamente horrorizada.
De repente, olhamos uma para a outra e caímos na gargalhada! E
nunca rimos tanto como naquele momento. Contudo, depois fiquei séria,
observando seu rosto feliz enquanto ria da brincadeira que fez.
— Mãe, isso quer dizer que gostou de Vicenzo?
Estava disposta a ver minha mãe voltando a amar alguém. E se ela
gostou do pai de Lorenzo, eu faria de tudo para que ficassem juntos.
Ela parou de rir quando ouviu minha pergunta, olhando desconfiada
para mim.
— Gostou em que sentido, dona Angélica? Não comece a fazer
filmes em sua cabecinha romântica.
— Ai, mãe! Queria tanto ver você namorando. É tão bom amar! —
falei com conhecimento de causa, porque minha vida com Lorenzo tinha hoje
um brilho que antes não existia. — E se fosse com Vicenzo estaríamos todos
em família. O que acha?
Ela riu com carinho para mim, alisando meu cabelo.
— Acho que você está certa quando diz que amar é muito bom —
reconheceu, uma expressão enigmática no rosto bonito. — E até concordo
que Vicenzo é um homem carismático e muito atraente. Mas você sabe que
isso não é tudo, Angélica. O homem tem que tocar nosso coração de uma
forma especial e às vezes este mesmo coração faz escolhas estranhas. Quando
ele resolve amar, simplesmente ama e pronto.
Os olhos dela tinham um brilho diferente ao falar tudo aquilo. Um
brilho que nunca tinha visto antes desde que cresci.
Encarei-a, curiosa com a sensação que tinha.
— Falando assim até parece que você já está apaixonada por
alguém!
Ela deu um beliscão na ponta do meu nariz.
— Não invente nada, mocinha! — riu novamente, deixando o brilho
estranho desaparecer dos olhos. — Estou muito bem sozinha. Quando me
apaixonar, direi a você.
Mordi o lábio, resolvendo calar, mas lembrando que minha intuição
nunca falhava.
CAPÍTULO 33

Manhã depois do aniversário

Angélica
ABRI OS OLHOS, tonta de sono, vendo que o quarto permanecia
escuro. Ainda estava cansada e sonolenta, mas sentia uma vontade enorme de
fazer xixi. Sabia que tinha de levantar, mas a preguiça me fez adiar mais um
pouco a ida ao banheiro, aproveitando o calor do corpo de Lorenzo atrás de
mim, seu braço pesado envolvendo minha cintura.
Quando resolvi me levantar, afastando-o, ele me puxou de volta,
resmungando algo ininteligível durante o sono. Aquilo só fez diminuir mais
ainda minha pouca coragem de sair daquele quentinho gostoso.
Acho que adormeci por mais alguns minutos, antes de acordar
novamente na iminência de urinar. Desta vez, realmente tive de me soltar do
agarre de Lorenzo.
Levantei-me e fui ao banheiro. Ao voltar para a cama, vi que a caixa
com meu filhotinho não estava no lugar onde deixamos na noite anterior, nem
Thor estava lá. Meu coração se apertou de preocupação em saber se estaria
bem.
Olhei para Lorenzo dormindo e deduzi que ele devia ter levado os
dois para baixo. Resolvi confirmar e só depois voltar a dormir. Vesti o roupão
dele e saí do quarto na pontinha dos pés, descendo a escada. Tudo já estava
arrumado, sem nenhum vestígio da minha festa.
Fui até o terraço e encontrei meus dois amores brincando com uma
bolinha. Ajoelhei e peguei Loki, acariciando seu corpinho miúdo. Puxei Thor
e dei-lhe um abraço.
— Você está cuidando bem do seu irmãozinho, não está? Lembre-se
de que ele é muito pequenino e não pode ficar sozinho. — Ele balançou a
cabeça e lambeu meu queixo, fazendo-me rir. — Mamãe está cansada e vai
voltar para a cama e dormir com o papai. Fiquem aqui bem comportados, que
mais tarde levo vocês para passear.
Thor saltitou alegremente, entendendo tudo o que eu falava com ele.
Era mesmo um amor e muito inteligente! Fiz-lhe um carinho na cabeça.
— Angélica!
Era Lorenzo e, pelo tom de voz urgente, percebi de imediato que
estava preocupado por não me encontrar no quarto.
— Estou aqui! — respondi logo para o tranquilizar.
Ele entrou com tudo no terraço, a postura tensa dos ombros
indicando que estava pronto para a ação, como se esperasse encontrar algum
inimigo oculto dentro de casa. Usava apenas a camisa do pijama e a cueca,
mostrando que havia saído do quarto às pressas.
Ele diminuiu a velocidade das passadas quando me viu agachada ao
lado dos cachorros, relaxando visivelmente à medida que se aproximava.
Meu Deus, como eu o amava!
Levantei-me e fui direto para ele, meu sorriso apenas um reflexo da
felicidade que sentia. A minha vida estava perfeita nos últimos dias e eu
agradecia a Deus constantemente por isso.
Sei que algumas pessoas até poderiam dizer que Lorenzo era
exagerado, mas o seu cuidado excessivo comigo não me sufocava de jeito
nenhum. Eu entendia que era parte da personalidade dele e o amava por
inteiro.
Não demorou muito para Lorenzo acabar com a festa de Thor e
Loki, levando-me de volta ao quarto. O meu coração batia acelerado só em
pensar que estávamos sozinhos na casa, que eu já tinha dezoito anos e que,
por fim, poderíamos ficar à vontade para nos amar. Agora que o momento
havia chegado, sentia um misto de emoções tomar conta de mim. Excitação,
ansiedade e uma pontinha de medo.
Contudo, a excitação era a mais forte de todas, pois passamos muito
tempo esperando por aquele momento, muito tempo sem podermos nos tocar
da forma como queríamos. Foi tempo demais controlando o desejo e a
vontade de fazer amor.
Eu já me sentia molhar entre as pernas de expectativa, olhando para
o corpo de Lorenzo à minha frente enquanto ele preparava a ducha para nós
dois. As pernas longas e fortes, a cueca mal conseguindo esconder a ereção
que já se avolumava debaixo do tecido branco e que pouco escondia dos
meus olhos ansiosos.
Oh, meu Deus, mãe! Agora eu entendo que ele é realmente grande!
Que burra que fui antes!
Eu estava decidida a conseguir receber Lorenzo dentro de mim e
confiava que ele saberia o que fazer para que não houvesse muita dor. Nem
hesitei em desamarrar o roupão, tirar a camisa e ficar só com a calcinha,
sentindo seus olhos devorando o meu corpo.
A força do seu olhar foi tão poderosa, a fome que vi lá era tão
avassaladora, que, por um momento, fiquei nervosa, pensando se conseguiria
controlar aquele lado Loki dele que eu ainda não conhecia na cama.
Encarei-o, mergulhando na intensidade do seu olhar. Lorenzo me
devassou por inteiro com aquela fome tão explícita. Uma contração deliciosa
me deixou mais molhada ainda, à medida que eu via sua ereção crescer à
minha frente. Passamos tantos dias frustrados com aquela espera, que, agora,
eu tinha receio de que ele perdesse o controle e esquecesse que era a minha
primeira vez.
Inspirei fundo quando Lorenzo tirou a camisa, os músculos
ondulando com o movimento e me deixando mole de prazer antecipado.
Olhei para a cueca justa, que há muito tempo havia perdido a batalha contra
sua ereção e fiquei seduzida pela beleza crua e masculina dele. Eu estava
louca para me atirar sobre tudo aquilo que era meu. Só meu.
Aquele momento chegou ao clímax máximo e nos atiramos nos
braços um do outro no instante seguinte. Gemi de prazer quando senti meus
seios se encostarem no peito amplo. Abracei-o pelo pescoço, sentindo meu
corpo deslizar pelo dele à medida que me puxava para cima, num roçar de
peles que me fez gemer ainda mais.
Ele me apertou nos braços com desespero, a respiração tão acelerada
quanto a minha. Beijamo-nos com desespero, Lorenzo me devorando e eu
adorando cada momento. Segurei-o pelo cabelo com força, ouvindo seu
gemido de prazer em minha boca.
Passei as pernas ao redor da cintura dele, roçando minhas partes
íntimas totalmente úmidas em seu abdômen. Suas mãos me seguraram pelas
nádegas com força, trazendo-me para mais perto.
A minha felicidade não tinha medida, porque ele era tudo para mim.
Lorenzo me trouxe uma nova vontade de viver e me abriu um horizonte
imenso de emoções. Já não conseguia imaginar minha vida sem ele.
A tensão sexual explodiu dentro do banheiro, nossa ansiedade de
entrega cada vez maior. Ele puxou minha calcinha pelas pernas e depois tirou
a cueca. Assim que o vi nu à minha frente, não tive pudor algum em me
esfregar nele, seduzida por aquelas sensações inebriantes.
Quando dei por mim, já estava deitada na cama com ele por cima e
aquilo era tudo o que eu queria e precisava. Sentir seu beijo quente e molhado
era estar na porta do paraíso. Ouvir sua respiração ofegante, os gemidos
roucos, os grunhidos de prazer que dava enquanto nossos corpos se
enroscavam por entre os lençóis, era de enlouquecer.
Só em saber que não haveria interrupções, que tínhamos total
privacidade dentro do quarto dele e que o tempo era nosso aliado para nos
amarmos no nosso ritmo, minha excitação crescia assustadoramente rápido.
Eu sentia o esforço que ele fazia para controlar a paixão. Seus
músculos estavam contraídos e, apesar de não parar de me beijar, ele
mantinha a ereção ao meu lado, sem se encaixar entre minhas pernas como
fizemos nas vezes anteriores. Eu adorava vê-lo se entregando, parecendo
vulnerável no seu desejo por mim, quando normalmente era tão seguro e
independente em quase tudo.
Saí deslizando a mão pelo seu braço, apertando os bíceps que tanto
me fascinavam por sua força e potência, descendo pelo peito amplo e o
abdômen plano. Alcancei sua virilha e fechei a mão na ereção, apertando-a
com carinho.
Lorenzo gemeu alto quando o acariciei, sentindo na palma da mão
sua dureza e rigidez. Mesmo afastando minha mão para não perder o
controle, ele parecia fora de controle. Beijou-me com tanta ansiedade que me
senti devorada. Aquela possessividade de Lorenzo ao me amar estava
começando a se tornar indispensável para mim. Era a característica mais
marcante dele comigo e ser alvo do seu desejo de posse era tê-lo por
completo nas mãos.
Ele apertou meu mamilo, fazendo aquela contração dentro de mim
aumentar de intensidade e me deixar mais molhada ainda. Lorenzo saiu
beijando meu corpo todo e fiquei em uma deliciosa expectativa quando
percebi para onde ele estava indo à medida que me beijava.
Virgem Santíssima, eu quero isso com todas as minhas forças! Que
ele não pare e vá para onde eu quero.
Automaticamente, abri as pernas e esperei ansiosamente pelo
primeiro toque de sua boca em mim. Ele me ergueu pelas nádegas e prendi a
respiração, até que veio o primeiro beijo, a primeira lambida, o primeiro
sugar.
O calor de sua língua era tudo o que eu mais queria e minha
excitação dobrou de intensidade, deixando-me muito próxima do prazer total.
Senti uma mordida em cada coxa e depois novo ataque. Aquela ânsia ia
aumentando e, quando percebi, já estava movendo os quadris, o que me
deixou chocada comigo mesma.
Contudo, não havia como sentir vergonha de nada! Nosso amor me
deixava segura demais para extravasar meus desejos da forma mais natural
possível. Vergonha era a última coisa que eu sentia. Ao contrário, tinha a
impressão de ter me transformado em uma completa devassa, totalmente
entregue ao prazer, sem pudor, sem limites. Confiava que ele saberia o que
fazer para tudo dar certo entre nós.
Lorenzo deu um apertão em minhas nádegas e, logo depois, senti um
forte chupão entre as pernas. Só consegui pensar que agora ele ia realmente
me fazer gozar, mas, de repente, subiu e me beijou, pegando-me
desprevenida.
Só que nada me preparou para a sensação de sentir sua rigidez
encostando no meu sexo. Naquele momento, fiquei dividida entre a excitação
e a apreensão de ser penetrada. Tinha chegado o grande momento da minha
vida e a expectativa era imensa.
Senti sua ereção quente despertando uma verdadeira avalanche de
sensações de prazer. Eu ofegava à medida que a pressão de Lorenzo em
minha entrada aumentava, porém, como da vez anterior, mesmo forçando ele
não ultrapassou a barreira da virgindade.
Iniciou-se então uma verdadeira tortura sensual. Quanto mais
Lorenzo me tocava, mais excitada eu ficava, mais satisfação buscava e mais a
minha expectativa aumentava. Comecei a arder de prazer, sentindo a
necessidade de me sentir preenchida. Parecia existir um grande vazio em mim
que só ele poderia ocupar. Quando o dedo de Lorenzo me penetrou, eu podia
jurar que sua mão tremeu dentro do meu corpo.
Ele separou mais minhas pernas, acomodando-se entre elas e meu
coração acelerou. Inspirei fundo ao ver os olhos intensos de Lorenzo
prendendo os meus com seriedade. Beijou-me e senti sua rigidez encostar em
mim.
Começou então um excitante ir e vir da sua ereção ao longo da
minha intimidade. Aquela lenta tortura foi aumentando de ritmo e o calor foi
crescendo, fazendo-me arquear o quadril, querendo desesperadamente senti-
lo me invadir por completo.
A cada movimento que eu fazia, Lorenzo entrava um pouco mais em
mim. O prazer era tanto, que a suposta dor até aumentava meu grau de
excitação. Nossos corpos já transpiravam, seu peito amassando meus seios,
seu beijo me devorando, a língua dura entrando na minha boca.
Lorenzo desceu o quadril e a fisgada de dor que senti me deixou
tensa, a apreensão voltando.
Ele é mesmo grande demais e não vou conseguir de novo!
Talvez aquele medo fosse apenas o tabu em torno da primeira vez
que estava vindo à tona.
— Quer que eu pare? — ele perguntou.
Não era isso o que eu queria! Ao contrário, tudo o que eu mais
queria nos últimos dias era fazer amor com Lorenzo e não ia voltar atrás
justamente agora quando estava tão bom.
Fechei os olhos e me concentrei só nele, no corpo grande e forte
colado ao meu, na respiração entrecortada de desejo reprimido, no calor da
ereção em minha entrada úmida, na pressão do seu dedo voltando a me
excitar como nunca.
Aquela necessidade de ser preenchida voltou com força total e, com
sua ereção me pressionando, ergui quadril, buscando-o.
Que sensação maravilhosa é essa?
Continuei movimentando o quadril várias vezes até arquejar,
surpresa, quando o pênis duro me penetrou, ultrapassando a barreira da
virgindade e se apossando do meu interior.
Céus, que sensação estranha!
Enfiei as unhas nas costas de Lorenzo, agarrando-o. Não por sentir
alguma dor, mas porque tive um flashback inexplicável de uma outra ocasião
em que já estive naquela mesma situação de estar fazendo amor com ele pela
primeira vez!
Minha Virgem Santíssima, o que é isso?!
Fiquei sem ação, apenas aproveitando aquele momento único na
minha vida, sabendo que eu e Lorenzo tínhamos muito mais um com o outro
do que imaginávamos a princípio. Senti as lágrimas vindo aos olhos com
aquela descoberta.
Olhamos um para o outro e me perdi dentro dele. Acho que se
passou uns bons segundos até termos condições de falar alguma coisa. Fiquei
apenas sentindo sua respiração se misturar com a minha, desfrutando da
sensação de estar completa.
Seus olhos brilharam selvagemente, fazendo-me ver um Lorenzo
diferente do que eu estava acostumada. Tive a nítida impressão de que, ao me
possuir, Lorenzo havia libertado o lado Loki que sempre disse que eu
conheceria quando fizéssemos amor.
Engoli em seco por estar diante dele pela primeira vez e não saber o
que esperar.
— Puta que pariu, Angélica! Puta que pariu, você é minha! Minha,
caralho!
Havia tanta selvageria na sua voz, tanta possessividade na expressão
dos olhos, tanta determinação no rosto tenso e duro, que uma estranha
emoção de prazer se espalhou em mim, indo direto para onde nossos corpos
estavam unidos, aumentando minha excitação.
Lorenzo me segurou pelo cabelo, dando um beijo duro na minha
boca e movendo-se pela primeira vez em meu interior. Se já tinha sido forte a
sensação de o sentir entrando pela primeira vez, aqueles movimentos de
posse seguintes se mostraram mais marcantes ainda, transportando-me para
um lugar só nosso, onde nada mais existia.
Não havia desconforto, não havia dor, não havia receios ou medos
de espécie alguma. Nada, absolutamente nada, que não fosse mergulhar de
cabeça no prazer que era fazermos amor pela primeira vez.
Senti que ele agora podia soltar todo o desejo que havia controlado
durante nosso namoro. O grande autocontrole que teve todas as vezes que
demos prazer um ao outro, enfim, foi abaixo. Agora, ele libertava o próprio
desejo sem restrições. Aquele cuidado nas preliminares também desapareceu,
surgindo em seu lugar uma urgência irrefreável de se satisfazer também, e
não apenas me dar prazer. Daquela vez, faríamos o percurso rumo ao
orgasmo juntos, e não separados como antes.
Cada vez que ele investia contra mim, eu ofegava de puro prazer,
porque nunca imaginei que fosse tão bom ser possuída com uma penetração
real e tão potente quanto a dele.
Se Lorenzo estava sendo duro demais comigo? Talvez sim, mas eu
estaria mentindo se dissesse que não estava gostando e sentindo um prazer
imenso com cada estocada firme, dura e desesperada que ele dava.
Tudo que eu sentia era simplesmente maravilhoso e me vi subjugada
por sua força e pelo prazer que estava me proporcionando. Eu, que achava ser
pequena demais para ele, estava impressionada e, ao mesmo tempo,
encantada por ter conseguido recebê-lo todo. A sensação de preenchimento
era inexplicável!
Os meus gemidos já estavam tão altos que eu só podia agradecer a
Deus por estarmos sozinhos na casa. Movi meu quadril em direção ao dele,
entrando no mesmo ritmo, a excitação crescendo tão rápido que percebi logo
que não demoraria muito para explodir de prazer.
Lorenzo encostou a testa na minha, a respiração quente soprando em
meu rosto, sua dureza continuando a investir firmemente em meu interior.
— De quem você é? — rosnou entredentes.
Sua voz estava irreconhecível. Grossa, dura, exigente, autoritária.
Não havia ali nenhum traço do Lorenzo carinhoso e gentil. Não era ele, mas
ainda assim entendi o que precisava dizer.
— Sua!
— Só minha? — Pressionou, batendo mais rápido dentro de mim e
me enlouquecendo ainda mais. — Só minha para sempre? Para sempre,
caralho?
Nem havia como negar, porque eu era toda ele.
Enterrei os dedos em suas costas, fincando as unhas na pele,
precisando me segurar nele para não me perder sozinha naquela espiral de
prazer que estava me levando rápido demais.
— Responde o que eu perguntei, Angélica! — Seu rosnado exigente
entrou no meio do meu prazer, o tom duro mostrando a força do desejo que
também o estava assolando impiedosamente. — Só minha para sempre?
Completamente!
Não consegui mais segurar o orgasmo e deixei-o vir, amando cada
vez mais Lorenzo e seus demônios todos. Seus demônios vindos de Loki.
— Sim, só sua para sempre, Loki. Meu Loki!
Nunca pensei que fosse possível, mas senti quando ele estremeceu
diante das minhas palavras, a mão grande indo até minha nádega e
segurando-me com força junto a ele para suas investidas finais rumo ao
próprio gozo.
— Porra, Angel!! Você vai me levar à loucura! — rosnou com
paixão, entrando forte em mim e aumentando meus espasmos de prazer.
Bateu mais rápido, aquela intensidade toda fazendo detonar dentro
de mim um gozo forte e poderoso. Deliciosas contrações se libertaram dentro
do meu corpo, explodindo ao longo de todo o meu canal e ajudando a trazer
Lorenzo comigo naquela viagem única.
Nunca pensei que o veria daquela forma, soltando um grito
enrouquecido de prazer dentro do quarto silencioso, seu corpo estremecendo
fortemente em cima do meu, parecendo tão poderoso e, ao mesmo tempo, tão
subjugado.
Aquele corpo enorme caiu sobre mim, parecendo exaurido de toda
sua força. Pude sentir os espasmos do prazer dele, o membro intumescido
pulsando e fazendo-me a garota mais feliz do mundo.
Eu confiava em Lorenzo e sabia que nunca usaria o que eu sentia por
ele para se aproveitar de mim, da mesma maneira como ele confessava o que
sentia por mim, confiando que eu não o manipularia com isso. Lorenzo tinha
consciência de que eu o amava e continuaria amando sempre, de qualquer
forma, inteiro ou em partes.
A sensação que eu tinha era de que o “para sempre” era pouco
tempo para nós dois.
CAPÍTULO 34

Angélica
— ESSA É A roupa?
Lorenzo apontou para o meu corpo, indicando o short e top curtos
que eu usava. Tinha a testa franzida, deixando transparecer o quanto estava
chateado.
— É — disse simplesmente.
Ele franziu ainda mais o cenho, ficando com a expressão carregada.
— Lá na foto não parecia uma roupa tão curta. Você está
praticamente nua, Angélica. Não vai dançar assim.
Olhei para baixo e não vi nudez alguma, mas resolvi que não ia
discutir com ele sobre a minha roupa.
— Realmente, não dançarei assim, pois a roupa ainda tem uma
camisa por cima que vai esconder muita coisa, mas que estará desabotoada.
— Peguei a camisa na bolsa e mostrei para ele.
Aquilo não pareceu melhorar em nada o humor dele.
— Veste, Angel. Quero ver como fica.— Foi a única coisa que
disse, ainda sentado na cama com o celular na mão.
Eu tinha acabado de sair do banheiro e íamos agora para minha aula
de dança. Nossa equipe de dança do colégio estava com um ensaio marcado
hoje e Lorenzo ia me levar.
Acordamos cheios de fome por volta do meio-dia, mas ainda
ficamos uns bons trinta minutos abraçados na cama, só curtindo o quentinho
do quarto. Até que minha barriga roncou, fazendo-o rir de mim.
— Parece que agora o bebê sentiu fome.
Dei-lhe uma cotovelada no abdômen, ouvindo-o rir ainda mais. Eu
estava deitada de bruços, com Lorenzo praticamente em cima de mim, o
braço atravessado na minha cintura e uma das pernas grandes pesando em
cima das minhas coxas. Ele tinha o rosto afundado no meu cabelo enquanto
me provocava, porém, de vez em quando, saía dando beijinhos em qualquer
parte do meu corpo que seus lábios alcançassem.
— Ainda está dolorida, amor? — perguntou no meu ouvido, ficando
repentinamente sério.
Mexi o corpo, tentando ver meu estado geral.
— Um pouco, mas me sinto bem melhor depois que dormi.
— Se não passar rápido, me avisa — pediu, puxando-me para mais
perto dele, se é que isso era possível, porque estávamos praticamente colados
um no outro.
— E o que é que vai fazer?
— Vou levar você à minha médica — respondeu-me como se fosse
muito óbvio.
Virei o rosto e olhei-o, chateada com o que ouvi.
— A minha mãe é médica, sabia?
Ele revirou os olhos com impaciência.
— E ela vai me matar se souber que a filha está toda dolorida depois
de ter perdido a virgindade comigo.
Ela não faria aquilo!
Ou faria?
Não, não faria! Afinal, tivemos uma conversa muito tranquila sobre
a minha primeira vez.
— Ela não faria isso, Lorenzo. Já conversamos sobre o assunto e ela
agiu naturalmente. — Aquilo não era cem por cento verdade, pois só no final
é que a conversa fluiu sem dramas.
Ele pareceu surpreso com aquilo, mas não fez comentários nem
pediu detalhes.
— Tudo bem. Trate do assunto com Amanda, mas não vou admitir
que ela venha puxar minhas orelhas como se eu fosse um menino
irresponsável. Sei exatamente tudo o que fiz. — Olhou para mim com
profundidade, antes de segurar meu cabelo e colar a boca na minha, em um
beijo rápido mas territorial. — Dei o meu melhor para você, amor!
Por alguns instantes apenas o olhei, ciente de que ele tinha sido um
namorado cuidadoso na minha primeira vez, mesmo tendo perdido o controle
no final. Contudo, ainda assim, para mim foi o momento mais inesquecível
da minha vida.
— Eu sei — sussurrei, abraçando-o com carinho e enroscando as
pernas no quadril dele, fazendo Lorenzo se acomodar entre elas. — Amei
cada segundo e quero repetir o que fizemos pelo resto da minha vida.
Ele gemeu alto, apossando-se da minha boca e pressionando a
virilha contra mim. Já estava enrijecendo e me senti molhar de excitação com
a sensação.
Nós nos abraçamos com mais ansiedade, o desejo crescendo.
Afastamos os lençóis para baixo, em busca de mais espaço para nossos
corpos se tocarem. Para o agradar, enterrei os dedos no cabelo escuro dele,
puxando-o como Lorenzo gostava. Ele gemeu ainda mais na minha boca, a
mão indo direto para o meu seio.
Estávamos tão envolvidos um com o outro, que fomos pegos
totalmente de surpresa quando a porta do quarto se abriu. Eu ainda demorei a
reagir, mas Lorenzo foi rápido. Puxou os lençóis para me cobrir e sentou-se à
minha frente, escondendo o meu corpo com o dele. Senti sua tensão quando
se virou para identificar quem invadia o quarto.
— Mas que merda é essa? — gritou, irado.
Sentei-me também, esticando o pescoço para ver quem era. Fiquei
completamente pasma ao ver a Bianca parada, com a mão ainda na maçaneta
da porta. Tinha os olhos arregalados quando viu a cena na cama do primo.
Instintivamente, passei o braço ao redor da cintura de Lorenzo à
minha frente, colando meu corpo em suas costas.
— Que faz aqui, Bianca? Não admito mais ninguém entrando no
meu quarto sem a minha autorização — rugiu ele, com agressividade na voz.
— Mas eu nunca precisei de autorização para entrar aqui — ela
respondeu com petulância, querendo me dar uma indireta sobre a intimidade
que tinha com o meu namorado e fazer-me pagar por tê-la expulsado da casa
no outro dia. — Sempre vim ao seu quarto para o acordar. Quantas vezes
você me pediu para o chamar de manhã?
Víbora!
Apertei as unhas no abdômen de Lorenzo, a raiva começando a
tomar conta de mim. Ele pôs a mão sobre a minha, apertando-a e tentando me
acalmar.
— Isso foi há muito tempo. E, mesmo assim, foi antes de você tentar
afastar Angélica de mim! — falou friamente, cada palavra sendo dita em um
tom duro e incisivo. — Depois daquilo, dê-se por satisfeita por “ainda” entrar
na minha casa. Está terminantemente proibida de chegar perto de Angélica ou
do meu quarto. Se até o meu próprio pai bate na porta e me chama do lado de
fora, não vai ser você nem ninguém que vai entrar aqui sem bater. Agora
saia!
Bianca ficou pálida, depois rubra de vergonha em ser humilhada na
minha frente, para só depois sair do quarto, fechando a porta com força.
Lorenzo virou-se para mim, a raiva ainda transparecendo na
expressão. Não me deixei impressionar com aquilo e fui atrás de satisfações.
— Então, é verdade! Ela vinha mesmo acordar você sempre que
queria, porque o priminho não conseguia acordar sozinho e precisava de
ajuda. — Dei-lhe um murro seco no ombro à minha frente.
— Ei, não vá ficar chateada com isso agora. — Tentou segurar
minha mão, mas a puxei com força, fazendo-o me olhar com preocupação. —
Ela não voltará a entrar aqui.
— Era o mínimo que você podia fazer! — disse-lhe, irritada. — E
ainda está fazendo isso tarde!
— Ah, não! Não vamos brigar por causa da Bianca! — Irritou-se
também, pegando-me pela cintura e trazendo para o seu colo. — Você está
fazendo tempestade em copo d’água.
Aquele último comentário foi o que bastou para me fazer passar da
irritação para a raiva.
Tempestade em copo d’água?
Quer dizer que a sonsa da prima apaixonada vinha acordar o meu
namorado na cama, jogando isso na minha cara, e era eu quem estava fazendo
tempestade em copo d’água?
Ele agora ia ouvir!
— Fico feliz que ache isso. Na verdade, fico muito aliviada que ache
natural um primo acordar o outro, porque o Roberto também me acordava na
cama quando eu não conseguia me levantar cedo para ir ao colégio.
Fez-se um silêncio sepulcral dentro do quarto, em que só se ouvia a
respiração ofegante de Lorenzo.
— Puta que pariu! O que foi que você disse?!
Em dois tempos eu estava deitada na cama com Lorenzo em cima de
mim, nossos olhos fixos um no outro. A expressão era de raiva e ele tinha os
lábios apertados, um músculo pulsando no maxilar contraído. Era uma visão
impressionante, que até assustaria os outros, mas eu sabia que não ia fazer
nada mais além de gritar e quebrar tudo, sem ousar me machucar de maneira
nenhuma.
Ainda assim, pensei se não estava cutucando um leão feroz com um
palito de dentes.
— Eu disse que o Roberto também entrava no meu quarto de manhã
para me acordar — repeti, esperando com isso não causar futuramente
nenhum problema para o meu primo.
— Com você só de camisola e sem sutiã?
Bom, eu não havia pensado nisso, mas agora também não dava para
voltar atrás. Resolvi jogar a bola para ele.
— E quando Bianca vinha aqui, quantas vezes viu você sem camisa
e só de cueca, como está agora comigo?
— É diferente! — grunhiu entre dentes.
Ele não negou!
Oh, que raiva!
— É a mesma coisa! — explodi, também com raiva.
— E se quando Roberto entrasse no seu quarto você estivesse nua,
porra?
Senhor, não me diga que a sonsa da Bianca já o viu nu dentro do
quarto ou realmente vou surtar de vez!
— Bianca alguma vez pegou você nu dentro do seu quarto?
— Nunca! — Não houve vacilo algum na sua resposta e encarei-o
seriamente, tentando ver se mentia.
Apesar da agressividade latente da sua expressão, Lorenzo me
encarava de frente, com aquele jeito direto e frontal de quem não media as
palavras na hora de falar a verdade. Suspirei de alívio.
— Então, o Roberto também nunca me pegou! — Até abrandei a
voz de tão satisfeita que fiquei.
— Não é a mesma coisa, caralho! — Ele não parecia minimamente
mais calmo. Ao contrário, a cada minuto ficava mais agitado.
— É a mesma coisa e agora é você que está fazendo tempestade em
copo d’água!
Repetir sua própria frase só o irritou ainda mais.
Lorenzo se afastou de mim e saiu rápido da cama, andando pelo
quarto só de cueca. Naquele momento, pareceu-me realmente um leão
raivoso dando voltas na jaula, disposto a matar quem chegasse perto.
— É melhor não brincar com fogo, Angélica! Aquele cara gosta de
você e, se entrou no seu quarto, não foi sem segundas intenções.
Roberto passou a ser “aquele cara”?
Sentei-me na cama, olhando seu corpo alto e forte circulando pelo
quarto, naquela boxer que não conseguia esconder nada dos meus olhos, e
fiquei imaginando a víbora da Bianca vendo-o do mesmo jeito.
Quem não se apaixonaria por um rapaz igual a ele?
Saber daquilo só azedou mais ainda a minha manhã desde que
Bianca, cheia de direitos, abriu a porta do quarto dele.
— “Aquela garota” também gosta de você e quando entrava aqui era
com segundas intenções!
— Caralho, Angélica! — ele gritou dentro do quarto. — Quer parar
de jogar para cima de mim a merda que fez?
— Mas que merda eu fiz? — gritei também.
— Deixou aquele cara entrar no seu quarto durante anos!
— Então, fiz a mesma merda que você. Estamos quites! E agora vou
sair deste santuário da Bianca, porque estou farta dessa conversa e não
acredito que estraguei o meu dia por causa dela!
Levantei-me da cama, mas não dei dois passos antes de ser pega no
colo e colocada lá de volta.
— Este quarto é seu, porra!
Voltamos a nos encarar em cima da cama, sem nenhum ceder ao
outro, até que tomamos consciência de nossos corpos intimamente unidos, as
respirações ofegantes se misturando.
De repente, toda a minha raiva e a dele explodiu em desejo. Sua
boca se apoderou dos meus lábios, a língua dura me invadindo com uma
urgente necessidade de posse.
Coloquei as mãos nos seus bíceps e acariciei os braços musculosos,
terminando por envolvê-lo pelo pescoço. Separei as pernas e Lorenzo
prontamente se encaixou entre elas, fazendo-me sentir a sua dura ereção
contra o meu corpo.
Beijamo-nos apaixonadamente, as mãos ansiosas acariciando um ao
outro com sofreguidão. Ele subiu minha camisa pelos ombros e acabamos por
tirá-la juntos, libertando meus seios para seus lábios e língua sugarem com
avidez.
Aquela contração deliciosa já me apertava e rapidamente a excitação
cresceu dentro de mim, deixando-me molhada e pronta para ele. Minha
calcinha e a cueca dele foram arrancadas de nossos corpos, que voltaram
rapidamente a se unir com desespero, o desejo cada vez mais forte.
— Acha que consegue fazer de novo? — ele grunhiu no meu
ouvido, a mão descendo até o meio das minhas pernas e tocando-me
intimamente. — Oh merda! Está tão molhada!
— Eu não sei — sussurrei de volta, insegura se voltaria a sentir dor,
mas insanamente desesperada por prazer.
Ainda me estimulando, ele voltou a me beijar com voracidade, mas
depois se afastou e substituiu a mão pela ereção, introduzindo-a com cuidado
em mim.
Não sei se foi a excitação ou não, mas senti apenas um leve
desconforto e, logo depois, um prazer imenso em tê-lo novamente dentro de
mim.
Lorenzo gemeu profundamente nos primeiros movimentos que fez,
descendo a boca para o meu seio e mordendo-o levemente. Vi estrelas de
prazer explodindo em minha cabeça, fazendo-me fechar os olhos e aproveitar
ao máximo aquela sensação.
— Lorenzo — ronronei em seus braços, apertando mais as pernas
em torno de sua cintura.
Ele beijou-me novamente e não demorou muito para que
entrássemos no nosso ritmo, o prazer se construindo rápido demais onde
nossos corpos se batiam com vigor redobrado.
Estávamos ofegantes e, a cada investida dele, aquela sensação
inebriante do orgasmo ia se formando dentro de mim.
— Toca em mim, Lorenzo! — gemi em seu ouvido, implorando pela
libertação que ele tão bem sabia me dar.
Sua mão desceu entre nossos corpos e foi me estimular, enquanto
entrava e saía de mim. Era o que eu precisava. Aquele simples toque detonou
de vez o meu prazer, fazendo-me explodir num gozo maravilhoso em seus
braços.
Não pude evitar de gemer alto dentro do quarto com a força do que
estava sentindo.
— Oh, não para, amor — pedi, sentindo as contrações ainda
devassarem o meu corpo.
Quando sentiu meu orgasmo, Lorenzo intensificou os movimentos e
liberou o próprio prazer, segurando com força uma de minhas coxas e
prendendo meu cabelo com a outra mão.
— Diz o que eu preciso ouvir! — exigiu, ofegante.
Eu sabia o que era.
— Eu sou sua. Toda sua, Loki!
Ele gemeu no meu ouvido, um rosnado poderoso que foi abafado
quando sua boca se fechou no meu ombro, sugando com força. O corpo
grande estremeceu em cima do meu e senti os espasmos do seu orgasmo
dentro de mim.
Ergui mais o quadril, buscando-o com força e trazendo-o junto
comigo.
— Caralho, Angel!
Senti que meu movimento intensificou seu prazer, deixando-o de
rastros.
— A quem você pertence? — perguntei-lhe com ousadia, sem
esquecer totalmente da briga que tivemos por causa da Biana.
— A você, porra! Sou todo seu, Angel!
Abraçou-me com força e ficamos largados sobre a cama, voltando
aos poucos daquela viagem alucinante que fizemos juntos.
Lorenzo saiu de cima de mim e veio para o lado, levando-me com
ele.
— Você está bem? — Puxou-me para cima do seu corpo, deixando
meu rosto no mesmo nível do dele.
— Sim, estou.
Enrolou meu cabelo ao redor de um dos pulsos e esfregou-o no
próprio rosto, fechando os olhos e aspirando o cheiro com força.
— Eles são a minha perdição! — confessou com voz rouca.
— Hum-hum — respondi com tom de riso. — Lembro-me de
alguém que ficava a aula inteira agarrado neles.
Ele riu junto comigo, entre divertido e envergonhado.
— E eu pensando inocentemente que estava sendo discreto. Muito
safadinha você, ao deixar um completo desconhecido quase gozar com seu
cabelo.
— Sou boazinha e quis lhe dar algum momento de felicidade.
Sua mão grande apertou com força uma de minhas nádegas.
— Ai! — brinquei com ele. — Não seja Neandertal, Lorenzo.
— Você desperta o meu lado primata, por isso é melhor não
provocar muito. — Alisou meu corpo com carinho. — Agora vamos
alimentar este segundo bebê que você tem dentro da barriga, porque já é a
segunda vez que fazemos amor sem preservativo. Amanda agora tem todos
os motivos para me matar!
Olhei com preguiça para o relógio em cima da cabeceira, suspirando
com resignação ao ver que tinha pouco tempo para a aula de dança.
— Hum, que pena! Já está tarde. — Afastei-me do peito amplo e
deitei ao seu lado. — Cassandra vai passar aqui em menos de duas horas para
irmos à dança.
Ele olhou-me com a expressão surpresa.
— Você tem dança hoje? Por que não me disse nada?
— Esqueci, com toda a excitação do meu aniversário. Vamos ensaiar
a coreografia para concorrer ao torneio do colégio. Já estamos com tudo
pronto. Música, roupa e os passos da dança. Nossa apresentação é amanhã e
hoje faremos só um ensaio geral.
Ele deitou-se de lado e apoiou a cabeça no braço, erguendo o peito
sobre mim. Parecia curioso e divertido.
— Sério que você vai dançar amanhã? Enfim, vou ter o grande
prazer de ver pela primeira vez a minha namorada dançando.
Achei seu comentário engraçado, porque pensei que Lorenzo não
tivesse interesse em me ver dançar. Virei-me de lado e fiquei de frente para
ele, sorrindo diante da sua expressão curiosa.
— Não pensei que quisesse assistir minha dança. Nunca me disse
nada.
Ele deu um beijinho rápido nos meus lábios, a mão acariciando
minha cintura.
— Lógico que tenho curiosidade em ver você dançar. Qual a música
que escolheram?
Mordi o lábio e segurei o riso, porque tinha certeza de que ele não ia
gostar.
— Escolhemos uma música do Justin Bieber. Aquela chamada
“Sorry”.
— Não acredito nisso! — O horror surgiu no seu rosto. — Justin
Bieber!
Não pude deixar de rir, deliciada com sua desaprovação. Resolvi
provocar mais um pouquinho.
— Você já assistiu ao vídeo da música? Vamos dançar igualzinho às
meninas que participam dele.
Lorenzo soltou uma risada de desprezo.
— Claro que não! Acha que tenho tempo a perder escutando música
de Justin Bieber?
— Não seja preconceituoso, Lorenzo. Justin Bieber é um... — Ia
dizer “gatinho”, mas resolvi mudar o termo de última hora —, um cantor que
tem músicas muito boas. Deixa eu mostrar o vídeo para você ver a dança.
Arrastei-me até a cabeceira para pegar meu celular e voltei a deitar
ao lado dele.
— Cada uma de nós vai vestir uma roupa igual a uma das meninas
do vídeo.
Procurei-o no Youtube e coloquei para ele ver, mas parei no primeiro
segundo para congelar a imagem das garotas.
— Eu serei essa aqui. — Apontei para a lourinha vestida de cinza
com os símbolos do yin-yang. — Cassandra será esta de blusa verde com os
dois rabos de cavalo.
Ele apenas assentiu em silêncio e coloquei o vídeo para correr.
Lorenzo assistiu os primeiros vinte segundos sem emitir opinião, até
ver o estilo de dança das meninas. Sempre que a lourinha aparecia, sua
expressão ficava mais séria.
— Você vai dançar assim, igualzinho a ela?
— Vou. — O meu entusiasmo inicial começou a se transformar em
cautela.
— Com esta roupa e naquele colégio cheio de rapazes?
— Exatamente. Afinal, estudo lá, não é?
Resolvi parar o vídeo, ao ver que foi uma péssima ideia mostrá-lo
para Lorenzo.
— Deixa correr — ele pediu com um tom de voz firme.
Como eu sabia que ele poderia ver no próprio celular ou em outro
lugar qualquer caso eu desligasse, deixei correr até o fim. Toda vez que a
lourinha surgia na tela, eu tinha vontade de mandar a garota se esconder antes
que mais uma briga estourasse no quarto.
— Cassandra não vai estar de short. Por que é que você tem de usar
um?
Onde é que ele foi buscar esse detalhe, meu Deus?
— Por que as duas únicas louras do vídeo estão de short e escolhi a
de cabelo solto.
Se ele estava assim agora, imagina a confusão que seria se soubesse
que eu ia liderar a dança o tempo todo. Era melhor deixar que visse na hora,
pelo menos me poupava de ouvir reclamações antes.
Surpreendentemente, Lorenzo não comentou mais nada. Quando o
vídeo acabou, apenas se levantou da cama e estendeu a mão para mim.
— Vamos tomar banho e almoçar. Depois, ligue para Cassandra e
diga que vou levar você para a dança. Ainda não quero que saia de casa
sozinha com elas, mesmo com Vittorio preso e Aldo sob a custódia do meu
pai. Vou junto.
Não sorria e parecia tenso, mas tentei aceitar a trégua nas discussões
e segurei sua mão, sendo levada para o banheiro.
Contudo, depois que saí do closet vestida com a roupa da dança,
uma nova tensão se instalou no quarto.
Vesti a blusa da dança, deixando-a aberta.
— A meu ver não mudou nada — Lorenzo resmungou com
desagrado, levantando-se abruptamente da cama com os lábios apertados
num gesto de contenção. — Vista algo por cima disso e vamos embora.
Revirei os olhos, pedindo ao Santo Padroeiro dos Namorados
Ciumentos que colocasse juízo na cabeça de Lorenzo.
Ele não falou mais no assunto o resto do dia nem quando jantamos
com minha mãe e Paolo.
À noite, quando fomos dormir, apagou as luzes do quarto e puxou-
me para o peito. Senti um beijo suave na testa enquanto nos aconchegávamos
no quentinho das cobertas.
— Amo você — sussurrou para mim.
— Também amo você.
CAPÍTULO 35

Lorenzo
O GINÁSIO ESTAVA cheio para a apresentação das danças do
torneio do colégio.
Eu estava puto da vida com aquela dança de Angélica, mas para não
deixá-la irritada comigo resolvi não criar mais confusão por causa daquilo,
ainda que a minha vontade fosse de agir mesmo com um Neandertal.
Se antes eu estava interessado em assistir sua apresentação, agora é
que não podia faltar mesmo, porque queria que todos os rapazes do colégio
soubessem que o namorado dela estava presente. Todos, mas principalmente
Emanuel.
— Já não aguento mais estar aqui dentro — Tiago falou pela décima
vez, irritando-me mais ainda.
— Vai passear, Tiago! Pelo menos poupa a gente de tanta
lamentação.
Pedro deu uma risadinha divertida, enquanto estávamos os três em
pé ao lado do palco onde assistíamos as apresentações.
— Com certeza ele vai mudar de opinião quando ver Cassandra
dançar — Pedro disse com ironia, fazendo Tiago olhá-lo com espanto.
— Ela vai dançar?
Quase tive vontade de rir da cara de idiota dele, mas depois fiquei na
minha, porque eu mesmo só soube dessa maldita dança no dia anterior.
— Vai sim — disse-lhe com irritação. — Usando dois rabos de
cavalo no cabelo e rebolando mais do que uma centrifugadora.
Pedro não aguentou e caiu na gargalhada, fazendo-me rir também
diante da cara séria que o Tiago fez. Pelo menos eu não seria o único
verdadeiramente puto da vida dentro daquele ginásio lotado.
A voz da professora fez-se ouvir no microfone, anunciando a
próxima turma a se apresentar.
— Agora vamos ver a apresentação das garotas do 12º M com a
música Sorry do Justin Bieber!
Gritos e assobios foram ouvidos no ginásio e percebi que a merda da
música era realmente popular no colégio.
Antes de desaparecer nos bastidores, Angélica tinha dito que em
nenhum momento ia olhar para mim enquanto dançava.
— Não quero desconcentrar-me, ainda mais se vê-lo de cara feia.
— Não vou estar de cara feia — menti para ela.
— Você já está de cara feia, Lorenzo — riu divertida com minha
tentativa de parecer que estava gostando daquilo tudo.
— Tudo bem, não precisa olhar para mim, mas vou estar aqui ao
lado do palco esperando você!
Ela pendurou-se no meu pescoço.
— Dá-me um beijinho de boa sorte!
Dei-lhe um beijão, virando de frente para a parede para ter um pouco
de privacidade.
— Boa sorte, amor! — falei no seu ouvido.
— Obrigada — sorriu deliciada, antes de correr para os bastidores.
Agora, vendo a nossa turma entrar, procurei Angélica, encontrando-
a com a infernal roupa que eu havia detestado, completamente à vontade em
cima do palco. Elas saudaram a plateia, soltando beijinhos e fazendo gestos
de incentivo com as mãos, animando o ginásio.
Para minha surpresa, quando os primeiros acordes na música
soaram, Angélica colocou-se à frente, com Cassandra de um lado e Sofia do
outro, iniciando a dança.
E puta que pariu se eu não fiquei completamente surpreendido com
Angélica dançando. Não conseguia tirar os olhos dela, naquela dança que era
ao mesmo tempo alegre e estranha, mas também apelativamente sensual.
Desencostei-me da parede e respirei fundo para controlar um misto
de admiração e raiva diante do que eu estava vendo. Não gostava de vê-la
com a barriga de fora, nem com as pernas nuas em cima de um palco, mas ela
tinha realmente talento para a dança e o fazia muito bem. Era naturalmente
sensual. Não havia um pingo de vulgaridade em Angélica, mesmo com tanto
rebolado e usando aquele infeliz shortinho com o top curto.
Só quando a dança terminou foi que consegui voltar a respirar e
relaxar os músculos tensos.
Puta que pariu! Outra dessa e vou surtar dentro desse ginásio!
A plateia explodiu em aplausos, que achei merecidos, mesmo a
contragosto.
— Se elas ganharem, vão ter que dançar de novo? — Tiago
perguntou.
— Não faço ideia, mas espero que não! — falei distraído, porque
estava varrendo a plateia com os olhos.
Estava estranhando não ter visto ainda Emanuel e seus amigos.
Minha maior preocupação desta dança de Angélica foi justamente aquele cara
assistir, mas não quis falar nada ontem para não tirar seu prazer evidente com
a apresentação.
— Vou dar uma volta por aí e venho já! — avisei aos dois, mas
olhei para Pedro. — Prestem atenção nos bastidores onde elas estão. Só tem
esta entrada aqui.
Andei entre os alunos e professores, cumprimentando alguns
conhecidos enquanto ia circulando por todo o ginásio. Depois de alguns
minutos sem ver nenhum sinal de Emanuel, voltei para junto de Pedro e
Tiago.
Esperamos impacientemente que o resultado saísse, até que a
professora falou ao microfone.
— Já temos as três finalistas e todas irão dançar novamente para que
vocês escolham quem ficará com o primeiro lugar. As finalistas são: 12º B, G
e M.
Caralho! Elas conseguiram ficar entre as três melhores!
Ouvi os gritinhos das garotas nos bastidores, provavelmente as
finalistas estavam dando pulinhos de alegria e comemorando a vitória. Não
pude deixar de ficar feliz por Angélica e até imaginava a felicidade dela.
Voltei a olhar ao redor à procura de Emanuel, até vê-lo exatamente à
minha frente, só que do outro lado do palco. Estava sozinho, braços cruzados
no peito e os olhos presos no palco onde as garotas da minha turma entravam
agora.
Senti a tensão tomar conta do meu corpo quando acompanhei como
os olhos dele seguiam Angélica. Se eu pudesse tirá-la do palco naquele
momento, era o que eu faria sem titubear. Só de imaginar seus olhos sobre o
corpo dela, tinha vontade de atravessar o ginásio e meter um soco na cara de
Emanuel, sem esperar ser atacado antes de o atacar.
Senti a mão de Pedro no meu ombro.
— Esquece, Lorenzo! Você ainda vai ter sua oportunidade com ele.
É difícil esquecer que este verme beijou minha namorada à força,
caralho!
Eu precisava falar com Paolo sobre aquilo, porque pretendia
encontrar uma forma de descobrir mais sobre a rotina de Emanuel e pegá-lo
fora do colégio.
A música começou a tocar e as garotas iniciaram a apresentação,
mas meus olhos não conseguiam estar só em Angélica, porque a cada
movimento que ela fazia, Emanuel seguia atentamente do outro lado.
Senti como se tivesse levado um golpe no peito quando olhei bem
seus olhos, seu rosto, a postura do corpo e percebi o que estava acontecendo!
Filho da puta!
— Não vou aguentar isso! — Dei um passo à frente, quando Pedro
surgiu diante de mim, a mão no meu peito.
Segurei seu pulso e empurrei para o lado, mas ele apossou-se do
meu braço e não soltou mais. Tiago surgiu também, postando-se rente a
Pedro.
— Calma, cara! Está cheio de gente aqui, com professores por todos
os lados.
Que fossem todos à merda!
— Ele a quer! — rosnei, com a raiva explodindo dentro de mim. —
Vocês não estão vendo isso? Não se trata de bullying, caralho! Ele a quer!
Aquilo que eu estava vendo à minha frente, bem na minha cara, era
desejo e não bullying. Ele a desejava!
Pedro e Tiago trocaram um olhar de preocupação.
— É melhor não olhar, cara! Assim você vai perder o controle —
Pedro insistiu, tentando ficar na minha frente. — Ela está em segurança e
nada vai acontecer. Ele não vai conseguir mais chegar perto de Angélica.
Olhei para o palco e vi Angélica sorridente, dançando
despreocupada, sem sequer imaginar o drama que se desenrolava aqui em
baixo.
Observei Emanuel novamente, inspirando fundo para tentar
encontrar um ponto qualquer de equilíbrio dentro de mim, mas não conseguia
de jeito nenhum.
A música terminou e os aplausos explodiram dentro do ginásio, com
gritos, assobios, palmas e cornetas, causando uma verdadeira balbúrdia ao
nosso redor. Pela euforia que a dança delas causou, já dava para perceber que
eram as preferidas e ganhariam o primeiro lugar.
Angélica e as meninas começaram a saltitar no centro do palco,
enquanto a professora chamava os outros dois grupos.
Continuei olhando Emanuel, vendo-o se desencostar da parede e
chegar mais à frente, atento ao palco. Até tremi da força que fiz para ficar
parado. Respirei fundo e virei de costas, contando rapidamente até dez,
pulando depois para vinte, até que pude olhar novamente para o palco.
— B, G ou M?
— M! M! M!
A cantilena se ergueu no ginásio e nossa turma ficou com o primeiro
lugar na merda daquele Torneio de dança.
As garotas começaram a gritar no palco, fazendo uma dancinha da
vitória. Algumas pularam para a plateia e Angélica correu para o meu lado,
um sorriso enorme no rosto.
Fui até ela, pegando-a pela cintura e retirando-a do palco. Seus
braços envolveram meu pescoço, o cabelo caindo para frente, seu riso de
felicidade chegando até meu ouvido, o corpo macio junto ao meu. Só naquele
momento tive paz suficiente dentro de mim para não avançar contra Emanuel.
Olhei para ele e lá estava observando Angélica nos meus braços.
Encarei-o duramente, seu olhar batendo no meu e desviando-se para longe.
Deu meia volta e saiu do ginásio.
Foda-se!
— Nós ganhamos! — Angélica exclamou alegremente em meus
braços.
Fui até o canto do palco e beijei sua boca, matando minha ansiedade
dela e acalmando meu coração.
— Você é minha, amor! — rugi em sua boca.
— Oh, Lorenzo, claro que sou! — Estava tão feliz que não percebeu
nada. — Gostou da dança?
— Sim, gostei muito. — Encostei a testa na dela. — Você dança
lindamente e me apaixonei novamente hoje.
Ela explodiu em uma risada e aquele som era tudo que eu precisava
naquele momento.
— Então, vou dançar para você todos os dias, para que esteja sempre
apaixonado por mim!
— Pode começar hoje à noite — provoquei.
— Hoje não vale. Já se apaixonou com Sorry e posso descansar.
Olhei ao redor, vendo que o ginásio já estava esvaziando. Pedro e
Tiago conversavam no canto.
— Vai pegar suas coisas. Quero levá-la para casa. — Dei-lhe uma
palmadinha carinhosa na bunda. — Vamos comemorar com um jantar
especial.
Minha conversa com Paolo sobre Emanuel não passaria daquela
noite, porque eu não ia permitir que ele chegasse novamente perto de
Angélica.
Porque agora, mais do que nunca, ela era minha!
CAPÍTULO 36

Lorenzo
— O QUE VOCÊ quer que eu descubra sobre Emanuel?
Escutei a pergunta de Paolo enquanto conversávamos sozinhos na
sala depois do jantar. Angélica e Amanda estavam juntas na cozinha
organizando tudo. Aquele era o momento ideal para falarmos sobre Emanuel.
— Espero que não esteja pensando em resolver isso sozinho. — Seu
comentário era desnecessário, porque ele sabia que eu queria resolver tudo do
meu jeito.
Ignorei o que ele disse e parti para o que me interessava.
— Quero saber cada passo dele fora do colégio para encontrar uma
oportunidade de pegá-lo, porque lá dentro não posso agir.
Paolo suspirou profundamente, passando a mão pelo cabelo com
expressão preocupada. Eu já previa aquela reação, por isso não me surpreendi
em nada com aquilo.
— Certo, quanto a isso tudo bem. Você o pega fora do colégio, e
então? Vão apenas conversar?
— Não me provoque! — adverti com irritação. — Sabe muito bem
que com tipos como ele não existe conversa possível.
— Concordo com isso, mas encher-lhe a cara de porrada também
pode não resolver nada. A vontade dele de querer ir atrás de Angélica talvez
permaneça a mesma ou fique ainda maior, principalmente se o problema
desse rapaz for psicológico. Você sabe como tudo isso funciona. E então, o
que mais vai fazer?
Só de imaginar Emanuel cada vez mais determinado em tê-la, fui
dominado por uma raiva cega. Não queria sequer que encostasse um dedo
nela, quanto mais tomá-la para si.
Respirei fundo para tirar aquela imagem da minha cabeça antes que
perdesse totalmente a razão.
— E o que faria no meu lugar? — resolvi golpeá-lo onde sabia que
ia doer bastante. — Se estivesse loucamente apaixonado por uma mulher hoje
e um cara doente como o Vittorio fizesse com ela o que Emanuel fez e ainda
quer fazer com Angélica, o que faria?
Ele levantou-se abruptamente e deu dois passos largos em direção à
lareira, os ombros ficando tensos. Permaneceu alguns minutos em pé olhando
para as chamas.
Ele e Vittorio tinham muito mais do que apenas uma rixa
profissional. Ambos se conheciam antes de trabalharem para minha família e
eu sabia que existia qualquer coisa ali que os faziam inimigos de longa data.
— Eu ia matá-lo — disse sombriamente.
Sua voz soou implacável e apesar de esperar uma resposta forte de
Paolo, me surpreendi com a intensidade de sua raiva quando falou. Olhei para
ele com curiosidade, pensando se alguma mulher tinha conseguido entrar no
coração duro dele, que justificasse aquela reação.
Não comentei nada sobre aquilo, mas o deixei assimilar bem a
situação e ver o meu lado de tudo. Fiquei apenas aguardando.
Uns bons minutos depois, ele voltou para o sofá, o rosto ainda tenso,
mas o corpo aparentemente descontraído.
— Mas há uma diferença muito grande entre os dois casos, Lorenzo
— falou assim que sentou-se ao meu lado. — Primeiro de tudo, sabemos que
por baixo daquela imagem de segurança privado, Vittorio no fundo é um
assassino profissional, frio e calculista. Já Emanuel é um rapaz da sua idade,
que mesmo estando psicologicamente perturbado, ainda pode ser tratado a
tempo de não tornar-se um estuprador ou criminoso. Você já viveu isso e
sabe como é fácil ultrapassar os limites quando se está sob muita pressão.
Não sabemos nada da vida do rapaz para tirar-lhe todas as esperanças de
melhorar.
— E o que pretende que eu faça, Paolo? — rosnei com raiva, quando
queria mesmo era gritar dentro da sala. — Quer que eu vá conversar com
Emanuel e diga-lhe para ir se tratar? Quer que eu esqueça que ele aterrorizou
minha namorada durante anos e ainda beijou-a à força semanas atrás? Um
caralho que vou ficar sem dar uma boa surra nele!
Levantei-me, vendo-o fazer o mesmo e ficar bem à minha frente.
— Aquele cara quer Angélica e não vou permitir que toque nela
novamente!
— Ele não terá como chegar até ela, Lorenzo! — falou com
determinação. — Você também não permitirá que isso aconteça, porque
estará sempre ao seu lado.
Apertei os punhos com força, lutando para controlar algo que eu
sentia ser incontrolável dentro de mim, que era a vontade de fazer Emanuel
pagar e sofrer na própria pele tudo que fez com ela.
— Não consigo me conformar que ele não seja punido! Não dá para
vê-lo tratando-se com remédios e conversas de psicólogo, sem também levar
uns bons murros na cara! — Explodi de vez, sem querer abrir mão do direito
de enfrentar Emanuel.
— E se você perder o controle na hora, o que vai fazer? — Encarou-
me firmemente. — Quando ver que um único soco não é suficiente para
acalmar sua raiva, nem dois ou dez socos diminuírem sua ânsia de vingança,
o que vai fazer? Matá-lo?
Aquela última palavra entrou na minha mente como uma flecha,
fazendo-me vacilar e recuar um passo. Fechei os olhos, um flash dos meus
tempos de colégio voltando a me assombrar, enquanto me via dando socos
seguidos em um dos líderes do grupo que aterrorizava todo mundo lá dentro.
Aquele cara em especial vivia me provocando para uma briga, até o dia em
que explodi e aceitei o desafio. Ainda me lembrava de que não parei de bater
até que meus amigos vieram nos separar. Fiquei cego, totalmente cego de
raiva.
Senti a mão de Paolo em meu ombro, apertando com força num
gesto de compreensão e fazendo-me voltar ao presente.
— Não estou dizendo que vá conversar com ele! Quero apenas que
perceba que se perder o controle em uma luta contra Emanuel, poderá
ultrapassar o limite e cometer uma loucura que acabará com a sua vida, filho!
Raramente me chamava de filho, exceto quando estava muito
emocionado. Ouvi-lo me tratando assim diminuiu a minha raiva, mesmo
sentindo-me a ponto de explodir de frustração.
— Quero apenas que pense um pouco mais sobre o assunto antes de
resolver tudo com os punhos! Se houver realmente um tratamento para o
rapaz que o faça esquecer Angélica, esse é o melhor caminho.
— Você agora falou igual a Amanda, porra! — desabafei.
Paolo apoiou os braços nos joelhos, parecendo pensativo com o meu
comentário sobre Amanda. Entrelaçou os dedos e ficou olhando o tapete por
algum tempo.
— Sinal de que Amanda é uma mulher sensata e inteligente —
pigarreou antes de continuar, voltando a e olhar. — Às vezes, usar a
inteligência em vez da força bruta pode ser a solução, apesar de concordar
que um bom soco na cara resolve muita coisa. Deixe-me falar com Amanda.
Ela conhece os pais do rapaz e podemos tentar um tratamento médico. Seu
pai pode ajudar também, sabe que tem muita influência.
— Não quero meu pai envolvido nisso.
Apesar de atualmente termos um bom relacionamento, ainda não
havia esquecido tudo o que escutei dele durante os processos legais que sofri
na Itália.
— Tudo bem! Não vamos falar nada agora. Mas você sabe que se
isso fugir do seu controle, o Sr. Vicenzo será o primeiro a saber.
Pensei bem por alguns minutos. Estava dividido entre resolver tudo
do meu jeito ou deixar que Paolo e Amanda tentassem ajudá-lo com o
tratamento. O que mais pesava na minha decisão de entregar tudo nas mãos
deles dois, era saber que corria o sério risco de perder o controle quando
enfrentasse Emanuel, acabando por matá-lo.
Sabia que Angélica jamais me perdoaria pela agressão e, acima de
tudo, o meu único medo era perdê-la. Assim, tomei minha decisão.
— Vou deixar que tentem resolver, mas se isso não der em nada,
farei do meu jeito. E se antes disso Emanuel tocar em Angélica por qualquer
motivo, vai foder-se comigo, porque nada vai me impedir de acabar com ele.
***
Empurrei o cabelo de Angélica para o lado, buscando o local onde
sabia que estava a tatuagem em suas costas. Encostei meus lábios em cima
dela e lambi a pele macia, ouvindo-a segurar um gemido, o corpo
contorcendo-se em baixo do meu e aumentando ainda mais minha excitação.
— Ah, Lorenzo. Não para, por favor! — sussurrou, ofegante.
Levei minha mão até sua coxa e separei as pernas dela, encaixando-
me no meio. Senti a bunda macia roçar o meu pau, deixando-me cada vez
mais louco, com uma vontade urgente de entrar nela e esquecer as
preliminares.
— Fica quietinha e não mexe essa bunda ou vou perder o controle.
— Não consigo ficar quieta! — reclamou, continuando a arquear-se
contra minha virilha.
Mordi seu ombro e ela gemeu alto de prazer, o som prolongando-se
pelo quarto.
Parei imediatamente.
— Não geme assim, porra! Amanda vai ouvir.
— Oh, mas que merda! — Agarrou-se nos lençóis. — Prometo que
fico calada, mas por favor continua o que estava fazendo!
Para me provocar, remexeu o quadril e não consegui esperar mais
para penetrá-la. Ajoelhei-me e segurei-a pelas coxas macias, puxando-a para
mim, ficando mais excitado ainda com a visão das nádegas brancas e as
dobras rosadas entre suas pernas. A entrada úmida já pronta para ser
possuída.
Caralho! Angélica era linda!
Fiquei mais duro só de vê-la.
Ergui seu quadril, fazendo-a ficar de quatro na cama. Posicionei-me
em sua entrada, enterrando-me nela com cuidado e ouvindo seu gemido de
prazer abafado.
— Ai, Lorenzo!
Desci as mãos por sua cintura, segurando-a com força e fechando os
olhos para aproveitar ao máximo aquele momento.
Olhei para Angélica e comecei a me mover suavemente a princípio,
para que se acostumasse com aquela nova posição, mas a cada estocada que
eu dava a excitação crescia tão rapidamente que em breve estávamos
ofegantes e num ritmo alucinante de prazer.
Era impossível não perder o controle vendo-a naquela posição
extremamente estimulante. O cabelo louro caído sobre o ombro balançava
com os seus movimentos para trás e para a frente. A cintura fina sobressaía a
curva mais ampla do quadril, que se chocava contra o meu pau.
Segurei um seio macio, sentindo-o encher minha mão enquanto o
estimulava.
— Lorenzo!
Já sabia o que ela queria e precisava. Inclinei-me o suficiente para
descer a outra mão por sua barriga e alcançá-la pela frente, estimulando-a
onde gostava.
— Oh, amor, como gosto disso! — ronronou baixinho, o som de sua
voz e a respiração ofegante deixando-me mais excitado ainda. — É delicioso!
Continuei estimulando-a, sentindo na ponta dos dedos o quanto
estava inchada e molhada.
— Vem mais, Lorenzo!
Fiz o que pediu e entrei mais forte, mas aquilo era mesmo para me
enlouquecer de vez.
— Vem, Lorenzo — ela insistia em dizer, tirando minha sanidade.
— Cala a boca, Angélica! — grunhi já no limite. — Não fala mais
nada, porra!
Pensei que ela fosse enfim ficar calada, mas segundos depois já
estava murmurando novamente, fazendo-me trincar os dentes do esforço que
fiz para não gozar.
— Oh, mas… é tão bom… — continuou murmurando, sem
conseguir se conter. — Eu já estou… quase... ai, Lorenzo, vou gozar!
Fechei os olhos, completamente rendido à espontaneidade dela na
cama, de rastros diante da forma intensa como fazia amor comigo e se
entregava ao desejo.
Deixei que gozasse o quanto quisesse e só então empurrei-a para o
colchão, deitando-me por cima de suas costas e indo direto com a boca em
sua tatuagem. Fechei os dentes em seu ombro e mordi levemente,
intensificando as estocadas dentro dela.
— Fala, Angélica! — exigi com autoridade, já sentindo os espasmos
do orgasmo chegando. — Fala agora, porra! Diz o que eu preciso ouvir!
— Sou sua! — gemeu aquelas duas palavras, entrelaçando os dedos
nos meus.
Bati forte dentro dela.
— Sou sua! — repetiu, sabendo exatamente o que eu precisava.
Bati de novo.
— Sua! — reafirmou.
A cada estocada que eu dava, ela repetia as mesmas palavras,
levando-me à loucura.
— Toda sua, Loki!
Apertei com força suas mãos, chupei com força o ombro macio e
deixei o orgasmo vir, puxando o ar com força para os pulmões.
— Você é minha, porra! Ninguém vai tirar você de mim! —
Abracei-a e afundei o rosto em seu cabelo, ainda sentindo os espasmos
fazerem meu corpo estremecer.
Ela beijou minha mão que estava perto do seu rosto e fui atrás dos
seus lábios, beijando-a desesperadamente.
Sim, ela era totalmente minha e eu não ia deixar nada nos separar.
— Lorenzo, quero uma casa só para nós dois, assim poderei gemer,
falar e gritar à vontade quando fizermos amor — resmungou quando liberei
sua boca, os olhos fechados, parecendo exausta de prazer.
Saí de dentro dela e deitei ao seu lado, trazendo-a para o meu peito.
Puxei as cobertas sobre nós dois e relaxei com Angélica em meus braços.
— Eu dou o que você quiser, amor! Tudo o que você quiser.
CAPÍTULO 37

No dia seguinte

Angélica
— FILHA, NÃO SE esqueça de falar com seu pai ou ele vai pegar
um avião e vir cá só para vê-la. E eu não quero vê-lo, por isso mantenha ele
lá no Brasil.
Suspirei, torcendo o nariz, chateada com aquilo.
— Ai, mãe! Ainda não disse nada para ele sobre Lorenzo.
Ela me olhou com reprovação e, ao mesmo tempo, compreensão.
— Mas terá de lhe contar ou só vai piorar tudo, caso seu pai venha a
descobrir sozinho.
— Ele não tem como descobrir. Não está aqui e lá no Brasil
ninguém sabe que estou namorando. Já pedi às primas para não dizerem
nada. Roberto também não vai falar, nem as tias.
Ela voltou a se concentrar em colocar os pratos dentro da máquina.
— Mesmo assim, conte-lhe! Não quero parecer aquele tipo de
mulher que desenvolve mania de perseguição do ex-marido, mas desconfio
sempre de que seu pai controla tudo que fazemos aqui.
Abri a boca de susto, porque, se isso fosse verdade, meu pai já
deveria saber de Lorenzo.
— Tem certeza?
— Não, apenas desconfio. Também não acho que seja sempre, só
quando sente necessidade. Sei lá, pode ser paranoia minha.
Aquele desabafo me deixou preocupada, porque minha mãe nunca
falou sobre aquela desconfiança.
— Por que nunca me disse nada?
— Porque você nunca namorou. — Senti que hesitava em continuar,
mas pareceu decidir contar tudo. — Eu também nunca namorei e, como não
havia homens ao nosso redor, ele se acomodou com o tempo. Talvez por isso
conseguimos manter o problema com Emanuel tão bem escondido. — Torci
novamente o nariz ao ouvir aquele nome. — Mas agora é diferente. Primeiro,
tem Lorenzo, que não sai do seu lado para nada. Nós duas deixamos nossa
casa e estamos praticamente morando na casa dele. Depois, tem o Paolo, que
também está morando aqui. Qualquer pessoa de fora que veja nós quatro
morando juntos, vai deduzir que formamos dois casais. Agora, imagine isso
na cabeça do seu pai, sem nenhuma de nós duas termos dito nada para ele.
Oh, ela tinha razão! O meu coração se apertou de angústia com o
drama que eu sentia se avizinhar da gente.
— Mãe, confesso que não tenho coragem de falar nada para o meu
pai, pelo menos não neste momento. Eu e Lorenzo estamos tão bem agora,
curtindo realmente nosso namoro. E se meu pai não gostar dele, como é que
vou ficar? Lorenzo não vai admitir que ninguém mais se meta na nossa vida.
Ela respirou fundo e fechou a máquina, colocando-a para funcionar.
— Sendo muito sincera, tenho certeza de que o seu pai não vai
gostar de Lorenzo, e que Lorenzo não vai gostar do seu pai. Os dois são
dominadores, agressivos e territoriais. E tudo vai piorar ainda mais quando
ele souber que, por trás de Lorenzo, ainda existem o Paolo e o Vicenzo, dois
homens também acostumados a controlar e defender tudo ao redor deles.
Acho que nos metemos numa grande confusão, isso sim.
— Será que não conseguíamos enganar o meu pai por mais algum
tempo? Pelo menos até viajarmos no Natal e eu falar pessoalmente com ele,
contando tudo.
Ela deu outro suspiro mais profundo ainda, mostrando que também
estava nervosa com aquela situação.
— Esse é outro problema. Conversei tempos atrás com Lorenzo
sobre essa viagem e ele só faltou surtar quando soube que passaria o Natal e o
Ano Novo longe de você.
Oh, eu também não havia pensado nisso! Indo para o Brasil, ficaria
longe dele por quase quinze dias.
Quinze dias sem nos vermos!
Ele ia realmente surtar e eu morreria de saudades.
Que merda isso agora!
— Ai, mãe, nem pensei nisso! Também não quero ficar longe dele
justamente nesta época, ainda mais por tanto tempo.
— Lorenzo disse que você já seria maior de idade no Natal e que
deveríamos desafiar o seu pai, ficando aqui.
Pensei naquela possibilidade.
— Podemos fazer isso? — perguntei, cheia de esperança.
— Se fizermos isso, teremos de nos preparar para enfrentar Ricardo
aqui em Portugal, porque ele vai pegar o primeiro voo que conseguir. —
Apontou o dedo no meu nariz, sorrindo e relaxando pela primeira vez desde
que iniciamos aquela conversa. — Ainda mais que a filhinha amada dele fez
dezoito anos e seu pai vai querer lhe dar um belo presente de aniversário.
Ainda tem isso!
A grande verdade é que eu sempre adorei aquelas viagens, porque
realmente amava o meu pai, porém, antes não havia Lorenzo.
Como explicar isso para ele?
— E tem mais. Quando seu pai chegar em Portugal, vai estar
magoado. Afinal, a filha o trocou por um namorado de três meses, que vê
todos os dias, enquanto ele está longe e só a pode ver no final do ano. Se você
tiver alguma esperança de fazer os dois gostarem um do outro, só isso já será
motivo para baterem de frente e se odiarem. — Segurou o meu queixo. — E
aí, dona Angélica, como vai lidar com esses dois homens, cada um puxando
você para um lado?
Mordi a boca, nervosa e chateada. Abracei-a com força.
— Não sei, mãe! Simplesmente, não sei.
— Nem eu, filha — sussurrou no meu ouvido. — Até decidirmos
algo, continue falando com seu pai para não o deixar desconfiado de nada.
— E quanto a Lorenzo? Como farei para que não me veja falando
com meu pai? Vai ficar irritado quando souber que estou escondendo nosso
namoro e com certeza vai se lembrar logo do Natal. — Só de imaginar a
cena, até fiquei desanimada. — Já estou vendo a confusão.
— Esse jeito do Lorenzo é bom e ruim ao mesmo tempo! —
desabafou, chateada, fazendo-me achar graça da sua contradição. — Morre
de amores por você, mas não tem medo de mim e tenho certeza de que
também não terá medo do seu pai.
Pensativamente, ela cruzou os braços no peito, encostando-se na
bancada.
— Na verdade, Lorenzo não tem medo nem do próprio pai ou do
Paolo. Se brincar, não tem medo de ninguém, o que por si só dá medo é na
gente. — Ficou pensativa e permaneci calada, esperando. — Vamos fazer
assim. Enquanto ainda estivermos morando aqui com ele, todos os domingos
você fala com seu pai no meu quarto, assim Lorenzo não vai saber de nada
nem vai invadir meu espaço atrás de você.
Olhei-a, sentindo-me triste com tudo aquilo.
— Às vezes, penso quando é que vou poder ser feliz do jeito que
quero, sem tanto peso em cima de mim. Sinto-me uma velha cheia de
responsabilidades com os outros e não uma adolescente despreocupada com a
vida. Só queria namorar em paz como toda gente faz no mundo.
— Tenha calma, mocinha. Você está entrando na vida adulta agora.
No fundo, está só estranhando as paranoias que todos os adultos acabam
tendo com o tempo. É melhor relaxar e ver tudo pelo lado positivo ou vai
ficar louca antes dos vinte.
Provavelmente!
Encostei-me ao seu lado na bancada, pensando como a minha vida
tinha mudando nas últimas semanas. Foram tantos eventos marcantes que
aconteceram desde que conheci Lorenzo, que a vida para mim já não era mais
a mesma, nem nunca voltaria a ser.
Então, lembrei-me do Saulo, que aguardava nossa ida no Natal para
vir morar com a gente aqui em Portugal. Seria mais um primo para Lorenzo
ter ciúme, como já tinha do Roberto. Só que, no caso do Saulo, ele teria
mesmo todos os motivos para ser ciumento.
“Branquinha, você é minha prima favorita e vamos namorar
quando fizer dezoito anos! Vou só me divertir daqui até lá, mas, depois,
minha namorada será você!”
Saulo era seis anos mais velho do que eu. Desde que fiz dez anos,
ele vivia repetindo a mesma coisa, sempre em tom de brincadeira. Nunca
achei que aquilo fosse sério, mas, agora, pensava se seria coincidência ou não
ele querer vir morar em Portugal justamente quando eu já estava com dezoito
anos.
— Mãe, e o Saulo? — Virei-me para ela. — Aquelas brincadeiras de
namorar comigo vão deixar Lorenzo possesso! Temos de falar com ele!
Ela arregalou os olhos, como se também só tivesse lembrado dele
agora.
— Jesus! Será que ainda tem mais confusão além dessa? — Ergueu
os olhos para o céu, depois me encarou. — Recuso-me a falar, ouvir ou
pensar no Saulo agora, ou quem vai surtar sou eu. Ando tão estressada com
tudo isso que preciso de doses homeopáticas destes assuntos, ou terei um
choque anafilático se tomar em uma dose única.
Eu também nem queria imaginar a reação de Lorenzo quando visse
Saulo me cercando a partir de janeiro, caso aquela história de namorada não
fosse apenas uma brincadeira entre primos. Para complicar ainda mais, Saulo
era ex-militar e, por isso, sempre esteve muito ligado ao meu pai. Eles se
davam muito bem e, sinceramente, eu não descartava a possibilidade de que
viesse a servir de informante para ele.
— Por que é que só tem homens obsessivos na minha vida? Às
vezes, acho que deve ter algo de errado em mim que atrai homens assim.
— Não sei, filha, mas vou lhe dar um conselho. —
Surpreendentemente, ela começou a rir. — É melhor não ter um filho homem
ou, provavelmente, ele será tão obsessivo com você quanto o pai ou o avô.
Pior ainda vai ser se o outro avô for igual, porque este menino vai chegar
com uma sobrecarga genética de homens obsessivos, dominadores e
ciumentos.
— Ai, mãe, assim você me assusta! — reclamei com ela, mas acabei
rindo também, ao imaginar uma cópia de Lorenzo correndo atrás de mim e
brigando com o pai para ter minha atenção. — Acho que neste dia vou
enlouquecer de vez!
— É melhor que fique assustada mesmo e evite engravidar cedo. Seu
pai não vai ficar nada feliz em ser um avô distante, porque adora crianças.
Pode ter sido um péssimo marido, mas sempre foi um excelente pai e você
sabe disso. Ele sempre quis mais filhos, mas eu os evitei arduamente. Depois
de ter sido mãe tão nova, só de pensar em outra gravidez eu tinha crises de
pânico.
Escutar aquilo foi a gota d’água para mim.
— Chega, cansei desse assunto! É coisa demais para minha cabeça.
Vou cuidar de ser feliz com Lorenzo e me preocupar com as coisas quando
elas acontecerem! Xô, problemas!!
***
Olhei para Lorenzo andando pelo quarto só de boxer e a camisa do
pijama. Ele parecia estar preocupado, o corpo tenso, apesar de tentar
disfarçar. Mas eu o conhecia tão bem, sentia-o tão profundamente, que era
impossível não perceber que algo estava errado.
Na verdade, Lorenzo estava assim desde que mostrei a coreografia
de “Sorry”. Eu pensei que ele fosse melhorar depois da dança, mas tinha a
sensação de que voltou do colégio mais chateado do que antes.
Eu estava sentada na cama olhando para ele e pensando que ficaria
mais preocupado ainda se soubesse da conversa que tive com minha mãe na
cozinha. Ontem, depois do jantar, ele se isolou com Paolo na sala de estar e,
quando saiu de lá, estava com esta mesma expressão fechada.
Eu tinha cerca de dois meses até o Natal para tentar convencer
Lorenzo de não surtar com a minha viagem ao Brasil. A outra opção era
enrolar meu pai até ter coragem de contar sobre meu namoro e dizer que não
ia viajar.
Tudo muito simples e básico de fazer, claro!
Lorenzo pegou o controle para apagar as luzes e ajustar a
temperatura do quarto. Depois, veio colocar o celular na cabeceira, ficando
bem pertinho de mim. Peguei-me olhando para suas pernas longas, a cueca
justa, o cabelo escuro caindo sobre a testa.
Como eu o amava!
Estiquei a mão e passei em sua coxa, sentindo os pelos e o calor da
sua pele. Ele olhou para mim assim que sentiu meu toque, mas não disse
nada. Continuou colocando o alarme para tocar mais tarde, já que amanhã era
domingo.
Subi a mão pela coxa dele e deslizei-a para dentro, alcançando sua
virilha e acariciando-o. Senti uma pequena contração no seu membro quando
o apertei, notando como começou a endurecer sob o meu toque.
Lorenzo não falou absolutamente nada, deixando-se tocar por mim.
Aproveitei que estava sentada, e ele em pé ao meu lado, para subir um
pouquinho a camisa e pousar um beijo molhado em sua cintura. Contudo, não
resisti e virei o rosto até alcançar o abdômen definido.
Fui dando beijos molhados, continuando a acariciar seu corpo.
Depois, substituí a mão pela boca e passei a beijar sua ereção por cima da
cueca. A mão dele segurou meu cabelo com firmeza, imobilizando minha
cabeça e afastando-me ligeiramente. Ergui os olhos e, apesar do quarto estar
escuro, iluminado apenas pela claridade indireta da luz de cabeceira, vi como
me fitava com intensidade.
— Não quer? — murmurei suavemente, acariciando o cós da cueca.
Para a ansiedade que eu sentia, achei que ele demorou muito para
responder, afinal, era a primeira vez que eu o beijava intimamente, quando
ele já tinha feito isso várias vezes comigo.
— Quero — respondeu com a voz rouca, a expressão tão séria que
me fez inspirar fundo. — Mas não sei se aguento muito tempo assim.
Mordi o lábio, subitamente nervosa, mas também excitada.
— Então, não aguente — disse-lhe com carinho. — Só me mostre
como fazer.
Ele não disse nada, apenas continuou com os olhos turbulentos
mergulhados nos meus.
Mesmo sem receber sua confirmação, tomei a iniciativa e enfiei os
dedos pelo cós da boxer e puxei-a para baixo, libertando sua ereção. Segurei-
a e me aproximei, dando um beijo molhado na ponta rosada e depois
introduzindo-a em minha boca.
Ele inspirou fundo, assobiando o ar pelos dentes, e apertou a mão
em torno do meu cabelo, como se, daquela vez, quisesse evitar que eu me
afastasse dele. De qualquer maneira, olhei-o, insegura se estava fazendo a
coisa certa, mas ele tinha os olhos fechados e uma expressão tão intensa de
prazer que ganhei confiança para continuar.
Movi a mão em sua extensão e passei a língua em torno dele,
beijando-o e sugando com cuidado. Era macio e quente, com um sabor
diferente de tudo o que eu imaginava.
Fiquei excitada, molhando-me toda com aquela experiência
extremamente íntima.
Ajoelhei-me sobre a cama para alcançar melhor todo seu
comprimento, escutando os grunhidos de prazer que ele fazia a cada vez que
o sugava.
Lorenzo acariciou meu rosto com as duas mãos, passando pela testa,
descendo para a nuca, até chegar ao meu cabelo, prendendo-me novamente.
Iniciou um suave movimento de ir e vir em minha boca, fazendo-me perceber
sua intenção.
— Aperta-me — grunhiu baixo, a voz enrouquecida.
Fiz o que pediu, aumentando a pressão, o ritmo e a profundidade
daquele toque tão íntimo nele. Não demorou para Lorenzo ofegar fortemente
à minha frente, uma das mãos deixando meu cabelo e segurando o espaldar
da cama.
— Caralho!
Continuei, até perceber que ele estava próximo de gozar. No entanto,
antes de acontecer, fui pega de surpresa quando ele soltou um rugido súbito
dentro do quarto, saiu da minha boca e me derrubou sobre a cama em um
movimento só.
Suas mãos foram puxar minha calcinha, mas a urgência dele era
tanta que não teve paciência e simplesmente rasgou a tira de um dos lados
com as duas mãos, soltando-a do meu corpo.
Quando dei por mim, já estava sendo penetrada e possuída com uma
intensidade surpreendente. Só tive tempo de dar um gemido antes de sua boca
devorar a minha e entrarmos rapidamente em nosso ritmo de prazer.
Quando senti que ambos estávamos perto de gozar, Lorenzo soltou a
mesma pergunta de sempre.
— Você é de quem?
— Sou sua!
— A quem você pertence, porra?
— Só a você, Loki!
Foi tudo tão rápido, frenético e intenso que acabamos por gozar
juntos, nossos corpos tão intimamente unidos que parecíamos um só.
MEU DEUS, MAS O QUE FOI ISSO?!
Aquela foi a única coisa que consegui pensar segundos depois, ainda
desfalecida de prazer nos braços dele.
— Amo você, Angel!
O meu coração se encheu de um amor profundo por ele, ao ouvir o
tom emocionado da sua voz.
— Também amo muito você! — Deixei que ele se acalmasse e a
respiração voltasse ao normal para então perguntar. — Amor, você não
gostou do que eu estava fazendo?
Ele me abraçou mais forte, envolvendo-me com seu corpo grande, o
rosto mergulhado no meu cabelo.
— Gostei muito, amor! Mas sou um doente obsessivo por você e
preciso te possuir ou não me satisfaço totalmente. — Parecia chateado
consigo mesmo por ser assim. — Preciso gozar dentro de você para sentir
que me pertence. Preciso ouvir você dizer que é minha enquanto a possuo.
Não sei explicar essa necessidade que me domina, mas sou assim.
Não precisava explicar mais nada. Eu entendia.
— Eu amo você assim como é, Lorenzo. Amo muito.
CAPÍTULO 38

Angélica
MEU DEUS, COMO eu estava nervosa!
Enxuguei disfarçadamente minhas mãos na calça legging de
ginástica, tentando secar o suor do nervosismo, tendo o cuidado de fazê-lo
quando Lorenzo não estava olhando para mim.
Ele estava com o semblante extremamente fechado, os lábios
comprimidos num gesto determinado e ao mesmo tempo irado, fazendo-me
perguntar a mim mesma durante quanto tempo ele conseguiria controlar-se
sem explodir.
Aquela mesma expressão fechada vinha acompanhando-o nos
últimos dias. Ele continuava o mesmo comigo, sempre carinhoso, cuidadoso
e extremamente apaixonado, fazendo amor daquela sua forma intensa e
possessiva que mostrava um desejo insaciável por mim. Mas eu sentia que
alguma coisa estava mudando dentro dele, deixando-o mais calado e
pensativo que o normal, como se estivesse preocupado com algum problema
que ainda não tinha conseguido resolver e aquilo o deixasse tenso como uma
corda a rebentar. E eu tinha certeza absoluta que aquela mudança tinha
acontecido no dia da minha dança, só que ainda não havia conseguido
descobrir o que era.
Não desgrudávamos um do outro para quase nada, com Lorenzo
sempre ao meu lado em todas as ocasiões. No colégio, então, só me deixava
sozinha quando ia ao banheiro feminino, mas ficava esperando em frente até
que eu saísse. Em casa, vivia reunindo-se com Paolo depois do jantar, que era
outro que ultimamente também vivia com uma expressão mais séria que o
normal.
Eu só esperava que Lorenzo fosse forte o suficiente para dominar
seus impulsos, porque, se perdesse o controle justamente hoje, poderia se
prejudicar seriamente no colégio. O ginásio estava lotado de alunos e ainda
tinham três professores de Educação Física presentes.
Aquele era o dia da final do torneio de voleibol e a nossa equipe do
12º M ia se defrontar com a equipe do 12º F.
Na última semana, cheguei a desejar que perdêssemos um dos jogos
que disputamos, só para não irmos para à final, porque eu sabia que a equipe
de Emanuel estaria lá esperando por nós.
Mas enquanto eu desejava perder para evitar o confronto, Lorenzo
parecia determinado a ganhar e eu sabia que era porque queria enfrentar
Emanuel cara a cara.
Para piorar a merda daquele confronto, Lorenzo era o nosso capitão
e Emanuel o capitão da outra turma. Ambos teriam que se colocar lado a lado
junto com o professor que apitaria o jogo, para receberem as orientações
quanto às regras da partida.
Uma partida em que eu seria obrigada a estar perto de Emanuel e só
de imaginar ter que encará-lo, já sentia aquela conhecida ânsia de vômito. Eu
sabia que ele não ia conseguir fazer nada de mal comigo, mas enviar esta
informação para o meu subconsciente traumatizado era difícil, porque vinha
sempre à minha mente a sensação do nojo que senti quando beijou-me à força
em sala de aula.
Eu dizia à mim mesma que estaríamos em quadras diferentes,
separados por uma rede de vôlei, cercados de muita gente e com Lorenzo
firmemente ao meu lado, mas volta e meia minha mente pregava peças em
mim, fazendo-me lembrar dos pulsos amarrados, a sensação de sufocamento
na garganta, o terror psicológico de ser forçada a falar coisas que não queria,
de ser filmada.
A minha ansiedade crescia de uma forma tão assustadora, à medida
que os dias passavam e a final do vôlei chegava, que na noite anterior havia
tido um pesadelo com Emanuel. Fazia tanto tempo que não acontecia,
principalmente depois que passei a dormir todas as noites nos braços de
Lorenzo, que tinha esquecido como a sensação era terrivelmente asfixiante.
Não, não era apenas asfixiante, mas também aterrorizante, porque o
pesadelo desta madrugada foi diferente de todos os outros que eu já tinha tido
com ele.
Aquela ânsia de vômito subiu de novo pela minha garganta quando
me lembrei de que, no sonho, seus olhos brilhavam com desejo evidente ao
me olharem. Ele me agarrava pelo cabelo e beijava minha boca, pressionando
o corpo no meu. Estávamos em uma cama dura e pequena de um quarto
pouco iluminado, com as paredes enegrecidas. O lugar tinha um aspecto
horrível e o cheiro era enjoativo.
Lembrei-me de tentar empurrá-lo e não conseguir que se afastasse de
mim. Quanto mais sentia seu peso, mais meu desespero crescia. Comecei a
sufocar, querendo gritar sem poder, porque sua boca prendia a minha naquele
beijo nauseante. Só conseguia pensar como é que eu tinha vindo parar
naquele quarto com Emanuel e onde estava Lorenzo para impedir aquilo que
eu sabia que ia acontecer.
“Eu quero você, Angélica! Vou mostrar-lhe que é possível sentir
prazer e dor”
Sentia a mão de Emanuel abrir minha calça e puxá-la para baixo,
conseguindo tirá-la não sei como. De repente eu estava nua, com ele em cima
de mim e começava a soluçar em sua boca, ciente que não teria mais como
escapar daquilo.
Empurrei, arranharei e bati nele, tentando soltar-me, um grito
desesperado querendo sair da minha garganta, já sentindo-o abrir minhas
pernas.
“Me solta, Emanuel! Me solta!”
Ele me ignorou totalmente, preso no próprio desejo. Naquele
momento, uma única coisa veio à minha cabeça: o nome de Lorenzo.
— Lorenzo!
— Eu estou aqui, amor! — Acordei com sua voz rouca falando
comigo. — Acorda, Angélica! Sou eu, Lorenzo!
Comecei a soluçar, aliviada porque foi só um sonho e desesperada
com a seriedade do que havia sonhado.
— Lorenzo? — O quarto estava totalmente escuro e ainda achava
que estava no quartinho imundo do sonho.
— Sim, amor, sou eu!
A luz de cabeceira acendeu-se de repente, iluminando fracamente o
quarto dele e fazendo-me chorar de alívio.
— Olha para mim e vê que sou eu — ele disse.
Pisquei duas vezes até que o vi sobre mim, o olhar intenso me
analisando e o rosto com uma expressão preocupada.
Soltei um soluço e abracei-o com força, enroscando minhas pernas
nas dele, querendo nunca mais sair dali.
— Calma, amor, já passou — sussurrou, aconchegando-me mais ao
peito. — Foi só um pesadelo. Fica calma que eu estou aqui.
Beijou-me o cabelo, mas ergui o rosto com desespero e colei meus
lábios nos dele, querendo tirar a sensação do beijo de Emanuel da minha boca
e substituí-la pelo sabor de Lorenzo.
Ele puxou meu cabelo para trás, segurando meu rosto com cuidado e
beijando-me de volta. Quando sentiu que estava mais calma, olhou-me com
atenção.
— Que pesadelo foi esse?
Neguei com a cabeça.
— Conte-me — insistiu.
Neguei de novo.
Abracei-o sem dizer nada e ficamos assim por alguns minutos, mas
as imagens do sonho voltavam para me assombrar. Até que quebrei o
silêncio.
— Faz amor comigo.
Senti seu peito se expandir quando inspirou fundo, a mão em minhas
costas me pressionando mais contra ele. De início, Lorenzo não disse nada,
até que me deitou gentilmente no colchão, ficando por cima de mim, os olhos
com aquele brilho intenso devassando minha alma. Olhou-me por um longo
tempo.
— Sempre.
Desceu a boca sobre a minha, dando-me um beijo profundo e cheio
de carinho, as mãos segurando-me junto a ele como se fosse a coisa mais
preciosa do mundo. Ele fez amor comigo de forma lenta e carinhosa,
beijando meu corpo inteiro como se o venerasse. A única coisa que consegui
fazer foi fechar os olhos e deixá-lo me amar, entregando-me totalmente em
seus braços.
Excitou-me até o limite, entrando no meu corpo lentamente,
fazendo-me senti-lo por inteiro enquanto movia-se dentro de mim. Só então
aumentou o ritmo, os lábios em meu ouvido deixando-me escutar seus
gemidos de prazer, que só aumentavam o meu próprio desejo. Eu gostava de
ver Lorenzo perder o controle quando fazíamos amor.
— Lorenzo, eu te amo!
Ouvi seu grunhido apaixonado, a respiração cada vez mais ofegante
indicando que o seu prazer crescia de forma rápida e intensa.
— Eu também te amo muito, meu anjo!
Apertei mais minhas coxas em seu quadril, arqueando-me contra ele,
deixando o prazer tomar conta de mim e explodir num gozo inebriante.
— Fala pra mim, amor! — pediu com voz enrouquecida.
— Eu sou tua — sussurrei em seu ouvido, sentindo-o estremecer
quando o orgasmo assolou o seu corpo.
Ele moveu-se mais umas duas vezes dentro de mim, até cair sobre o
meu corpo, ofegante. Ficamos abraçados quietinhos, até que comecei a sentir
o sono chegar, adormecendo de novo.
Quando acordamos hoje pela manhã para virmos ao colégio, tentei
não me lembrar daquele pesadelo para que Lorenzo não adivinhasse o que
aconteceu nele. Ter que esconder aquilo dele era outro motivo de estresse,
porque ele era muito ligado em mim e eu sabia que percebia tudo que me
perturbava.
Saber que ia jogar hoje contra Emanuel também não ajudava a
acalmar-me nem um pouco.
Nossa equipe estava aquecendo no fundo do ginásio e enquanto eu
treinava os levantamentos com Cass e Sofia, Lorenzo trocava passes com
Tiago e Francisco.
A grande surpresa dos últimos jogos tinha sido justamente
Francisco, que vinha esforçando-se verdadeiramente junto à nossa equipe
para sermos os finalistas. Ele seguia a liderança de Lorenzo sem questionar e
eu me perguntava se o problema dele tinha sido seguir o líder errado durante
todo aquele tempo.
— Cinco minutos para iniciar o jogo! — a professora Clara gritou
para as duas equipes.
Quando ouvi aquilo até errei o levantamento que ia fazer, deixando a
bola cair no chão. Ela escorregou por minha mão suada, fazendo-me
praguejar baixinho. Enxuguei as mãos na calça de novo e inclinei-me para
pegá-la no chão. Quando me ergui, lá estava Lorenzo olhando-me fixamente.
Ele jogou a bola que tinha na mão para Tiago e veio em minha
direção.
Oh merda! Duas vezes merda!
Engoli em seco e procurei aparentar tranquilidade, vendo-o
aproximar-se de mim. Quando chegou perto, a primeira coisa que fez foi
segurar minha mão direita e passar os dedos na palma suada.
Não disse nada, apenas puxou-me para dentro dos seus braços,
envolvendo meu corpo em um abraço protetor. Tive vontade de chorar
quando encostei o rosto no seu peito, mordendo o lábio com força para não
cair na tentação de pedir que saíssemos dali e fôssemos para a segurança de
casa.
Sabia que era uma atitude infantil e imatura, mas estava com medo
de Emanuel e estava com medo da reação de Lorenzo ao enfrentá-lo no jogo.
Senti seu queixo apoiar-se no alto da minha cabeça, uma das mãos
acariciando minha nuca por baixo do rabo-de-cavalo na altura da tatuagem.
— Lorenzo, promete que não vai fazer nada que possa prejudicar
você no colégio — sussurrei, apertando meus braços em sua cintura.
Eu ainda não tinha pedido aquilo para ele desde que ficou definido
que íamos para a final com o 12º F. Evitei ter que abordar o assunto delicado
que era Emanuel, mas agora já não dava mais para calar aquele medo que me
consumia.
— Não vou — ele garantiu de forma sucinta, mas aquelas duas
palavras me fizeram relaxar em seus braços, fazendo-o respirar fundo e me
sustentar quando caí contra ele.
Virou-se para a parede, levando-me junto. Deu as costas para o
ginásio, escondendo-me de todos e baixou a cabeça para beijar-me com
firmeza, seus lábios sugando os meus num misto de força e suavidade.
Não demorou-se muito no beijo, afastando-se depois, o olhar intenso
mergulhado em mim.
— Não precisa ficar nervosa com este jogo porque não vou fazer
nada mais além de jogar. — Passou a mão ao longo do meu rabo-de-cavalo,
fazendo-me sentir seus dedos acariciando os fios. — Também não quero que
sinta medo de ninguém aqui dentro. Lembre-se que está comigo, que eu estou
do seu lado.
Confirmei com a cabeça, preferindo não falar, porque não confiava
que pudesse passar-lhe alguma firmeza com a voz embargada na garganta.
— Decidi que vou trocar você de posição com Sofia, assim jogará
atrás, sem ficar tão perto da rede. Ela fica como nossa levantadora — falou
com firmeza.
Oh, mas que decisão merda era aquela?
— Não, Lorenzo! Eu vou ocupar a minha posição — retruquei,
afastando-me dele para poder encará-lo melhor. — Não há necessidade de
fazer isso, porque eu sei que posso jogar normalmente. Estou bem!
— Já venho pensando nisso há dias, Angélica! Não tem nada a ver
com o pesadelo que teve ontem à noite. É uma decisão que venho tomando
desde que ganhamos o direito de vir à final.
E eu só fiz piorar tudo com a merda daquele pesadelo!
Neguei com a cabeça, chateada que ele já estivesse decidindo algo
que me dizia respeito, sem falar comigo para decidirmos juntos.
— Decisões que digam respeito a mim... — Apontei para o meu
peito. — Converse comigo antes, porra!
Ele segurou meu rosto com as mãos, os olhos prendendo os meus.
— Desculpa por isso e concordo com você! Mas existe um único
assunto que diz respeito a você, mas que eu assumo para mim e decido no seu
lugar! — falou com voz dura, soltando com raiva as palavras seguintes. —
Este assunto chama-se Emanuel!
Aquela mesma expressão dos últimos dias estava lá e então percebi
qual era o motivo daquele comportamento estranho que tinha ultimamente.
Era Emanuel!
— Já decidi que você joga atrás e Sofia vem para a frente.
Fechei os olhos e respirei fundo para não ter um ataque de raiva.
— Ela já sabe disso?
— Sim! Conversei com ela no início da semana, para saber se
assumia bem a posição. — Fez uma pausa e olhou seriamente para mim. —
Mas só decidi fazer a mudança hoje.
Tudo por causa do maldito sonho!
Olhei para o lado, extremamente chateada e tentando controlar a
sensação de traição que sentia no peito.
Eu até entendia que o forte instinto protetor que Lorenzo tinha
comigo o fizesse tomar para si a ameaça que Emanuel era para mim,
colocando-me em uma posição onde estivesse mais protegida. Mas não
custava nada perguntar-me o que achava das decisões que estava tomando.
— Eu posso fazer isso, Lorenzo! — encarei-o de novo. — Sei que
posso.
Ele olhou-me com os lábios apertados e senti que estava com
dificuldades em aceitar o que eu dizia.
— Minha opinião não vale nada? Acha que é justo decidir por mim
sem nem conversarmos sobre o assunto e saber o que penso? — Sabia que
estava com a voz embargada de emoção, porque não podia negar que estava
magoada com sua atitude.
— Sua opinião vale muita coisa para mim, caralho! — ele explodiu,
segurando-me junto ao corpo dele com força e parecendo irado por duvidar
daquilo. — A sua é a única opinião que conta para mim acima de todas as
outras! Você é a única que pode fazer a minha própria opinião mudar e você
sabe disso, porra! Mas não consigo ser justo quando o assunto é aquele cara!
Não consigo pensar em mais nada além de mantê-la longe dele e nessas horas
não ouço ninguém além de mim mesmo! Procure entender isso também!
Ficamos nos olhando por alguns segundos, até que a emoção
explodiu forte e ambos fomos em busca da boca um do outro, beijando-nos
com sofreguidão. Foi outro beijo rápido e meio duro, porque ele continuava
não gostando de muita exposição íntima diante de estranhos. O suficiente
apenas para saciarmos aquela súbita vontade de nos beijarmos e tocarmos.
Quando se afastou, seus olhos estavam tempestuosos, mas vi uma
firme decisão neles.
— Você começa jogando atrás e se no decorrer do jogo achar que
preciso de você me passando as bolas, trago-a para a frente de novo! —
concedeu, deixando-me com a leve esperança de provar que conseguia
superar meu trauma de Emanuel, já que o teria a meu lado.
— Lorenzo, já vai começar! — Tiago chegou perto de onde
estávamos, avisando sobre o início do jogo.
— Estamos indo! — respondeu por sobre o ombro, ainda olhando
para mim e voltando a falar quando Tiago foi embora. — Vou repetir o
mesmo que disse no nosso primeiro dia de aula, quando entramos juntos pela
primeira vez em uma quadra de vôlei. Lembra que está comigo e se concentra
no nosso jogo. Eu lidarei com quem está do lado de lá.
— Certo! — confirmei.
Fomos todos em direção à quadra, mas eu sentia meu coração bater
no peito como um tambor e as mãos voltarem a transpirar. Respirei fundo
para controlar-me, tirando forças da presença de Lorenzo ao meu lado.
Olhei a quadra e vi do outro lado, bem à nossa frente, a equipe
adversária. Pandora e mais outras duas garotas estavam no fundo e os três
rapazes na frente. Emanuel, com uma postura desafiadora, encarava Lorenzo
enquanto nos aproximávamos. Soube logo que ele estava disposto a fazer
tudo para ganhar aquele confronto contra o cara que o havia surrado e
humilhado no dia que me atacou na sala de aula.
Fizemos a nossa formação em quadra e vi o olhar surpreso dele em
mim, ao perceber que não ficaria na frente como levantadora. Fiquei ao lado
de Tiago, que estava no centro, com Cassandra na outra ponta.
— Lorenzo e Emanuel! — a professora Clara chamou-os na ponta
da rede, onde aguardava ao lado do outro professor de Educação Física que
apitaria o jogo. — Venham aqui para revermos as regras!
Oh, meu Deus!
Que coisa difícil para mim foi ver os dois ficando lado a lado, cada
um na sua quadra, com apenas uma rede de vôlei separando-os, enquanto
ouviam calados os professores.
Lorenzo era mais alto e mais forte, mas Emanuel também era uma
presença marcante, com um corpo bem trabalhado que escondia muito de sua
força.
Observei Lorenzo parado com as pernas ligeiramente separadas e as
mãos nos quadris, a cabeça inclinada ouvindo atentamente os professores que
eram bem mais baixos que ele.
Olhei para Tiago ao meu lado, vendo que observava os dois com a
mesma atenção que eu.
— Não o deixe cometer nenhuma loucura hoje, por favor! — pedi
com o coração na mão.
Ele virou-se para mim, uma expressão tranquilizadora ao fitar-me.
— Não deixarei! — Fez um gesto de cabeça para a outra equipe. —
Pedro também.
Respirei aliviada, vendo a professora Lúcia jogar uma moeda ao ar e
pegá-la com a mão, para definir qual equipe faria o primeiro saque. A bola foi
para Emanuel, indicando que eles abririam o jogo.
Lorenzo voltou para nossa quadra e nos reuniu no centro.
— As regras são as mesmas. Serão três sets, mas quem ganhar os
dois primeiros acaba com o jogo. Só haverá o terceiro se houver empate, por
isso vamos tentar terminar isso rápido, garantindo este primeiro para nós.
Não vai haver vantagem de dois pontos para fechar o set. Quem fizer 25
primeiro, ganha. — Encarou Francisco e depois falou para todos nós. —
Emanuel colocou as três garotas atrás, provavelmente para inibir nosso
ataque sobre elas, enquanto tem um bom bloco na frente com Carlos e Pedro.
Vai ser difícil atacar sem atingir nenhuma das garotas, mas vamos tentar.
O recado era para Francisco, que ficaria no ataque com ele.
— Quem será que vai levantar para eles com Pandora atrás? —
Tiago perguntou a Lorenzo.
Surpreendentemente quem adiantou-se na resposta foi Francisco.
— Provavelmente será o Carlos. Ele também fica bem nessa posição
quando é preciso.
Lorenzo apenas olhou-o atentamente, antes de virar-se para todos
nós.
— Por enquanto vamos manter a nossa formação, até que eu veja
que precisamos mudar algo. — Olhou para cada um de nós. — Agora vamos
a isso, porque eu pretendo sair daqui hoje com a vitória! E vocês?
Lançou o desafio, esticando o braço para o centro do grupo. Todos
nós unimos nossas mãos sobre a dele e respondemos ao mesmo tempo.
— Nós também!
CAPÍTULO 39

Angélica
VOLTAMOS TODOS AOS nossos lugares dentro da quadra e me
posicionei para receber o saque adversário. Pandora foi a primeira a sacar,
com Tiago recepcionando do nosso lado e passando a bola para as mãos de
Sofia, que a levantou para Lorenzo na ponta. Vi Emanuel e Carlos se
deslocarem para o bloqueio, mas Lorenzo conseguiu estourar uma pancada
forte o suficiente para explorar bem o bloco, fazendo a bola bater no braço de
Emanuel e ir para fora.
Foi nosso primeiro ponto, fazendo nossa torcida no ginásio explodir
em gritos, assobios e aplausos.
Na jogada seguinte, o saque era meu e, antes de bater na bola, olhei
discretamente a formação adversária. Eu tinha um bom saque e sabia
exatamente o que fazer, mas estava com medo de desafiar quem eu mais
temia.
Respirei fundo e pensei que uma vantagem inicial de dois pontos nos
ajudaria muito. Bati a bola no chão algumas vezes e olhei fixamente para
Pandora no fundo da quadra. Só então dei um saque curto e bem colocado em
cima de Emanuel, um pouco mais na frente.
Como eu esperava, peguei-o de surpresa. Quando ele armou a
manchete para defender, foi com segundos de atraso, fazendo a bola bater em
seu braço e escorregar para o chão. Eu já tinha jogado anos atrás contra
Emanuel e sabia que era um excelente atacante e bloqueador, mas péssimo na
recepção. A menos que ele tivesse mudado naquele período fora do colégio,
ainda continuaria o mesmo. E lá estava, não havia mudado!
Fiz o nosso segundo ponto e ouvi a gritaria da torcida, tão forte que
acompanhava as batidas frenéticas do meu coração. Minha única covardia
veio depois que ganhei o ponto, porque me neguei a olhar para Emanuel e ver
a reação dele.
— Muito bem, Angélica! — Tiago veio me parabenizar juntamente
com Cassandra.
Ela tinha um sorriso enorme no rosto e piscou o olho me
encorajando.
— Gostaria de ver mais uns dez iguais, todos em cima dele.
Eu também, mas sabia que agora ia ser difícil conseguir, porque
Carlos provavelmente ia dar cobertura a ele, tanto é que o vi se aproximando
de Emanuel.
Procurei por Lorenzo com os olhos e o vi me olhando com uma
expressão indecifrável. Contudo, fez um aceno de aprovação com a cabeça,
mesmo com o semblante carregado.
Voltei para o saque e resolvi fazer outra jogada de risco, já que
Pedro estava na posição ideal para o bloqueio de Lorenzo.
Eu ia insistir no saque em cima de Emanuel, contando que Carlos
fosse receber para ele e tivesse como única opção levantar a bola para Pedro.
O resto ficava por conta de Lorenzo, e eu confiava que ele saberia o que fazer
quando percebesse a minha jogada.
Tentei não me deixar desconcentrar pelas vaias da torcida
adversária. Ergui a bola e lancei outro saque sobre Emanuel. Como num
filme, vi tudo que eu previa acontecer. Quando Pedro subiu para atacar,
Lorenzo fez o mesmo, aproveitando-se da sua altura superior para fazer um
bloqueio perfeito. Conquistamos uma vantagem de três pontos.
Até senti o olhar de raiva de Emanuel sobre mim, mas continuei sem
o encarar. Eu tinha certeza de que ele estava puto da vida comigo, já que eu
estava deixando todos verem um ponto fraco dele e isto era desmoralizante
para um cara tão arrogante.
Também evitei olhar para Lorenzo, pois sentia que não estava
gostando nada que eu estivesse provocando a ira de Emanuel.
Voltei ao saque, pensando se devia insistir na mesma jogada ou não.
Percebi Carlos se afastando do líder e vi que Emanuel o tinha dispensado de
lhe dar cobertura. Ele estava com raiva suficiente para aceitar o desafio de
receber sozinho a bola.
Senti o olhar pesado de Lorenzo em mim, mas continuei evitando
olhá-lo de volta. Levantei a bola e saquei novamente em Emanuel.
Ele recebeu mal, mas conseguiu não perder a bola. Carlos correu
para levantar, com Emanuel se preparando para atacar, tendo apenas
Francisco no bloco. Eu sabia que aquela bola ia passar, da mesma forma
como sabia que ele ia mirar exatamente em cima de mim, por isso me
preparei para defender.
Lorenzo percebeu a mesma coisa e se deslocou do meio da rede para
a ponta, subindo junto com Francisco para bloquear Emanuel, mas a bola
passou e veio estourar em cima de mim. Consegui defender, mas caí para o
lado com a força da batida. Levantei-me depois, vendo que Sofia tinha
conseguido passá-la para Lorenzo, que num golpe seco da mão fez um ataque
de meio de rede e enterrou-a na quadra adversária.
Mal fez o ponto, ele olhou para mim com preocupação. Fiz sinal de
que estava bem e voltei ao saque. Resolvi variar, colocando a bola na garota
que estava no fundo da quadra.
Todos esperavam que eu voltasse a sacar em Emanuel, assim ela
estava distraída e a bola foi mal recepcionada. Não dava para Carlos pegar e
foi Pedro quem a levantou de manchete para Emanuel. Preparei-me, porque
sabia que ele ia atacar novamente em cima de mim.
Quase podia ouvir o “filho da puta” mental de Lorenzo quando
correu pela rede para dar apoio ao bloco de Francisco. Novamente, a bola
passou por eles, mas antes foi amortecida pela mão esquerda de Lorenzo e,
quando chegou em mim, não estava tão potente assim. Tiago ainda tentou
chegar à minha frente, mas não deu tempo e tive que defender de qualquer
jeito. A bola estourou no meu braço e fez uma curva baixa em direção ao
chão. Só não foi ponto de Emanuel porque Tiago estava perto e mergulhou
para pegá-la, com Cassandra enviando-a de graça para a quadra adversária.
Carlos a recebeu e fez um levantamento perfeito, mas também fez a
merda de insistir em Emanuel, que tinha o bloqueio duplo em cima dele, em
vez de optar por Pedro, que estava livre na rede. Daquela vez, Lorenzo não
perdoou e subiu alto, interceptando a bola e jogando-a de volta na cara de
Emanuel.
Mais uma vez, Lorenzo se virou para mim, mas eu já tinha levantado
com a ajuda de Tiago e dei-lhe um leve sorriso para mostrar que estava bem.
Seus olhos tensos correram pelo meu corpo, como se quisesse confirmar se
era verdade.
O jogo continuou. Quando chegou a vez de Carlos ir para o saque,
respirei fundo, porque já sabia que a bola viria em cima de mim.
Tiago deu um passo para o meu lado.
— Deixa que eu pego!
Recuei quando a bola veio, abrindo espaço para Tiago receber.
Assim, o set continuou avançando lentamente, com pontos dos dois lados.
Tive de o aguentar com Emanuel e Carlos jogando a bola em cima de mim
sempre que podiam. Aquela vantagem que conseguimos no início nos
deixava sempre à frente deles cerca de dois a três pontos e finalmente
conseguimos ganhar.
Quando trocamos de quadra, eu estava exausta e a noite mal-
dormida começou a pesar. Lorenzo estava ao meu lado e segurou minha mão.
— Você está bem?
— Sim, estou. — Era mentira, mas ele não precisava saber, por isso
alisei sua mão com o polegar, dando-lhe um sorriso tranquilo. — E você?
— Estou com vontade de mandar todo mundo aqui ir se foder e levar
você para casa — desabafou, com a raiva transparecendo na voz. — Eles vão
continuar atacando em cima de você para me forçar a trazê-la para a frente,
mas não a quero perto daquele doente.
Respirei fundo, pois aquilo era algo que eu também havia percebido.
Àquela altura, já nem fazia mais questão de ir para a frente e assumir como
levantadora. Só agora percebia que Lorenzo tinha razão em me deixar atrás,
porque a expressão de surpresa de Emanuel quando me viu no fundo de
quadra me deu a certeza de que tinha planejado me atormentar de alguma
forma lá na frente. Aquilo, sem dúvida alguma, causaria uma reação
agressiva por parte de Lorenzo, e fodeu-se tudo.
Deixei que ele decidisse o que achasse melhor.
— Por favor, não faça nada além de jogar. Você prometeu, lembra?
Ele não respondeu, apenas me ofereceu uma garrafinha de água e
voltamos à quadra para o segundo set, que eu esperava fosse o último.
Senti o olhar de Emanuel quando ocupei minha posição novamente
no fundo da quadra. Até me arrepiei com a sensação estranha que tomou
conta de mim, as imagens do pesadelo voltando fortes em minha mente.
Procurei substituí-las, repetindo o mantra de que tínhamos de ganhar
para acabar logo com aquilo. Ele não saía da minha cabeça a cada ponto que
ganhávamos ou perdíamos.
Aguentei o quanto pude todos os ataques e saques de Emanuel e
Carlos em cima de mim, com Tiago me ajudando muitas vezes ao se
antecipar na recepção da bola ou na defesa de fundo de quadra.
Na metade do set, Emanuel foi para o saque e, logicamente, mirou
bem em cima de mim, colocando nele toda a força que podia. Sem bloqueio
para amortecer a velocidade e potência da bola, ela estourou na minha
manchete e voou em direção à torcida do lado oposto onde eu estava.
Cassandra correu e conseguiu salvá-la, com Tiago passando de graça para o
outro lado.
Eles armaram rapidamente o ataque e Emanuel veio de trás da linha
dos três metros, fazendo um ataque fulminante em cima de mim, tão rápido
que nosso bloco não pegou. Recebi a pancada em cheio no meio do peito,
caindo para trás, sem fôlego.
Por instantes fiquei sem respirar, até que, de repente, senti o ar voltar
a entrar nos pulmões. Foi questão de segundos, mas que parecerem longos
minutos.
Puta que pariu, que alívio!
— Angélica? — era a voz de Tiago.
A única coisa que eu queria era ficar ali deitada, mas então me
lembrei de Lorenzo. Se eu não me levantasse logo e mostrasse que estava
bem, ele seria capaz de matar Emanuel por causa daquilo.
Respirei fundo e me sentei, exatamente na hora que ele empurrava
Tiago para o lado e se agachava-se à minha frente, as duas mãos me
segurando pelos braços.
— Angélica? — A preocupação em sua voz não era nada se
comparada com a expressão desesperada que vi em seus olhos. — Você está
bem?
— Estou — falei, engasgada, ainda tentando recuperar o fôlego e me
forçando a levantar.
Ele me ajudou, segurando-me pela cintura quando fiquei em pé, a
respiração pesada no meu rosto. A torcida ficou em silêncio, todo mundo
parecendo esperar para ver se eu estava bem.
— Filho da puta! — ele xingou, fazendo um movimento em direção
à Emanuel.
Agarrei-o com força pela blusa, envolvendo depois sua cintura com
um braço.
— Lorenzo, por favor!
A professora Clara chegou por trás dele, o rosto preocupado.
— Angélica, você está bem?
— Estou — respondi.
— Não, não está! — Lorenzo soltou com raiva na voz. — É melhor
avisá-lo para ter cuidado ou avisarei eu!
Ela olhou para Lorenzo com seriedade, colocando as mãos nos
quadris na sua costumeira atitude militar.
— O que quer dizer com isso, Lorenzo? — questionou com
autoridade diante de sua afronta.
Lorenzo não se intimidou, olhando-a com a mesma seriedade.
— Quero dizer que eles podiam mirar a merda da bola em cima do
Tiago e não apenas em Angélica. Não é preciso massacrar uma garota em um
torneio escolar. É o que eu tenho feito desde que isso começou. Não vou
atacar dos três metros em cima de uma garota, como ele fez agora!
A professora ficou calada, apenas olhando para ele, com Lorenzo
sustentando seu olhar com a habitual segurança e determinação.
Por fim, ela olhou para Cassandra.
— Fique com sua prima! — Fitou Lorenzo e apontou para o
professor Gustavo, que estava apitando o jogo. — Você venha comigo!
Lorenzo me soltou e fez um gesto para Tiago ficar perto, seguindo a
professora.
— Emanuel! — ela chamou em voz alta.
Ele olhou para a professora com aquela expressão impassível que eu
não suportava nele, até virar o olhar para mim, encarando-me. E vi lá o que
eu não queria ver desde que cheguei ao colégio hoje. Aquele mesmo olhar do
meu sonho.
Oh, merda!
Que isso não signifique o que estou pensando, Senhor! Livrai-me
disto, por favor!
Tiago deu um passo à minha frente, bloqueando a visão de Emanuel
e fazendo-me respirar aliviada.
Os quatro se reuniram no meio da quadra para conversar.
— Tiago, será que não é melhor você ficar perto dele? — questionei,
com medo de que Lorenzo se irritasse com alguma coisa e perdesse o
controle de vez.
— Não é preciso. Ficarei aqui como ele pediu — respondeu
simplesmente. — Pedro está mais perto e ficará atento.
Observei os dois capitães junto com os professores. Não dava para
saber o que falavam, mas percebi a postura tensa de Lorenzo, com as duas
mãos no quadril e os ombros cada vez mais rígidos. Tive a sensação de que
ele não gostou de alguma coisa, porque logo depois escutei o timbre grave da
sua voz falando em tom firme com os professores, ignorando totalmente
Emanuel ao seu lado.
O burburinho de curiosidade das torcidas impedia que ouvíssemos o
que eles falavam, mas eu conhecia Lorenzo o suficiente para saber que estava
contestando algo que não concordava. Ninguém o forçava a fazer o que não
queria e a minha preocupação era que acabasse reagindo mal se o
pressionassem demais.
Quando Lorenzo terminou de falar, Emanuel ficou de frente para ele,
retrucando em tom irritado. De onde eu estava, até senti Lorenzo inspirar
fundo antes de se virar lentamente para Emanuel, encarando-o. Falou-lhe
algo, que provocou uma careta de raiva no rosto do oponente. Por sua vez,
Emanuel respondeu alguma coisa que fez Lorenzo dar um passo na direção a
ele.
— Lorenzo e Emanuel! — A professora Clara os repreendeu com
autoridade.
Dei dois passos em sua direção, mas Tiago me impediu, bloqueando
minha passagem.
— Não vá, Angélica! — disse tranquilamente. — Sei que quer
ajudá-lo, mas só vai piorar tudo. Ele não a quer perto de Emanuel!
Passaram-se mais uns dois minutos em que a professora falou com
ambos e depois foram liberados. Lorenzo voltou para a quadra, fazendo sinal
para que todos nos reuníssemos com ele no centro.
— Vamos terminar logo esta merda de jogo! Quero que se esforcem
o máximo possível para ganharmos este set. Ficaram proibidos os ataques da
linha de três metros.
Olhou-me profundamente e foi para sua posição na rede.
Ainda tínhamos a vantagem no placar e, todas as vezes que Emanuel
atacava, Lorenzo assumia a responsabilidade de o bloquear, diminuindo suas
chances de pontuar e nos ultrapassar nos pontos. Meia hora depois,
fechávamos a vitória.
Respirei tão aliviada quando aquele jogo terminou que nem tive
entusiasmo para comemorar. Lorenzo também não parecia disposto a isso,
vindo direto para mim depois de falar rapidamente com os professores.
— Vamos! — Segurou-me pela cintura, levando-me para fora do
ginásio. — Pegue suas coisas no cacifo. Vamos para casa!
Olhei surpresa para ele.
— Para casa? Ainda vou tomar banho!
— Vai tomar banho em casa comigo! Se eu ficar dentro do colégio
mais um minuto, vou enfiar um murro na cara de Emanuel. Portanto, é
melhor sairmos logo daqui!
Sangue de Jesus tenha poder!
Cinco minuto depois, estávamos dentro do Range. Encostei a cabeça
no banco e fechei os olhos.
— Cansada?
Suspirei, deixando-me embalar pelo movimento do carro.
— Muito — respondi, sentindo sua mão envolver a minha, que
estava no colo.
— Você não dormiu bem. Relaxa, amor. Vou cuidar de você quando
chegarmos em casa.
— Estou contando com isso — disse suavemente, ansiosa para
chegar.
Não demorou para aquilo acontecer. Cerca de vinte minutos depois,
estávamos os dois debaixo da ducha, nossas roupas do jogo espalhadas pelo
chão do banheiro. Abraçada a Lorenzo e com o rosto encostado em seu peito,
eu sentia a água morna escorrer pelo meu cabelo. Ele acariciava minhas
costas lentamente, o queixo encostado no alto da minha cabeça.
— Você está roubando a água novamente.
Ele afastou o corpo para trás, deixando a água bater em cheio sobre
minha cabeça.
— Ai, não! Volta! — Puxei-o para perto de novo, ouvindo-o rir de
mim. — Você fez de propósito!
— Você sempre reclama disso. Resolvi mostrar o favor que lhe faço,
para que veja como sou bonzinho.
Seu tom de riso me fez beliscar sua cintura.
— Então, se é assim tão bonzinho, coloque-me na cama! Sou
preguiçosa e quero descansar.
Lorenzo desligou a ducha e, minutos depois, já estava vestida e com
o cabelo seco, caindo na cama ao seu lado. Senti sua mão acariciar meus
seios por cima da blusa, afundando o rosto neles e dando beijinhos no meu
peito.
— Doeu muito?
Ele se referia à bolada que levei de Emanuel.
— Não foi tanto assim. Acho que foi mais o impacto que me deixou
sem fôlego. Mas passou rápido.
Lorenzo se deitou de costas e me puxou para o peito.
— Vem cá, amor! Relaxa e descansa. — Sua mão foi alisar meu
cabelo. — Daqui a pouco chamo você para almoçarmos.
— Queria comer pizza hoje.
— Amanda não vai gostar disso. — Havia riso em sua voz.
— Amanda não precisa saber — brinquei com ele. — Poderíamos
viver perigosamente e desafiá-la. O que acha?
— Acho que vou gostar muito. Minha especialidade é viver
perigosamente.
— Oh, que coincidência! A minha também. — Já sentia o sono
chegando. — Deve ser por isso que amo você!
Senti quando me apertou mais nos braços, beijando minha testa.
— Deve ser por isso que também amo você!
CAPÍTULO 40

Três dias depois

Lorenzo
ASSIM QUE O treino de basquete acabou, saí rápido da quadra,
ansioso para tomar um banho e me arrumar para pegar Angélica na dança.
— Lorenzo!
Era o Tiago me chamando e virei-me para trás, vendo-o correr em
minha direção.
— Ei, cara! Para onde vai com tanta pressa?
— Vou pegar Angélica na academia.
Ele juntou-se a mim e fomos andando juntos para o banheiro.
— Não vai para as máquinas hoje?
Sempre fazíamos uma hora de musculação antes ou depois dos
treinos.
— Hoje, não.
— Mas ainda é muito cedo! Você não costuma pegar Angélica nesse
horário.
Era verdade, porque meus treinos terminavam mais tarde, o que
coincidia mais ou menos com o horário em que ela saía da dança. Contudo,
naquele dia, nosso treinador nos liberou antes do previsto e, já que eu tinha
tempo de sobra, queria lhe fazer uma surpresa e chegar mais cedo.
Normalmente eu me atrasava e, apesar de ela não reclamar, tinha consciência
de que ficava sem ter o que fazer na academia até que eu chegasse.
Eu sabia que ela poderia voltar com uma das primas, com o Paolo
ou, até mesmo, com um dos seguranças. No entanto, depois que soube da
existência daquele Rui no hip-hop, eu fazia questão de pegar Angélica na
dança.
— Hoje quero compensar meu atrasos — disse simplesmente, sem
dar muitas explicações.
— Mas vai chegar quase uma hora antes! Que exagero, irmão!
— E você, para onde vai? — desconversei.
— Vou sair com os rapazes.
— Divirtam-se, então.
Ele soltou uma gargalhada, colocando um braço camarada nos meus
ombros.
— Você está levando uma vida de casado, meu amigo! — brincou
comigo em tom divertido. — Uma vida de marido dominado pela mulher.
Não pude deixar de rir também, sem me chatear com a sua ousadia,
mas nem por isso deixei de lhe dar um bom aviso.
— Só vou deixar que fale assim por ser meu amigo e irmão. Se fosse
outro a se meter na minha vida, ia se arrepender do que falou.
— Os outros têm juízo, eu não!
— Pelo menos você tem juízo em admitir que não tem juízo algum!
Acabamos rindo, enquanto entrávamos no banheiro.
***
Estacionei o Range Rover longe da entrada da academia, pois a rua
estava estranhamente lotada de carros. Olhei ao redor, franzindo o cenho e
tentando descobrir o motivo daquela movimentação. Acostumado a chegar
mais tarde e encontrar tudo vazio, olhei desconfiado para a fila de carros atrás
de mim.
Angélica não havia dito nada sobre algo diferente acontecendo
naquele dia, mas, ainda assim, peguei o celular para ver se tinha alguma
mensagem dela. Como não havia nada, fiquei mais aliviado e desci,
observando tudo com atenção.
À medida que me aproximava do prédio, comecei a escutar uma
música tocando mais alto do que o normal. A minha desconfiança aumentou
quando ouvi uma salva de palmas e assobios, como se estivesse acontecendo
alguma apresentação.
Uma sensação estranha foi tomando conta de mim e, mesmo contra
minha vontade, comecei a ficar tenso. Olhei para o relógio e vi que faltavam
pouco mais de trinta minutos para terminar a aula dela.
Entrei no prédio a passos largos. Quando cheguei na recepção, fui
recebido por uma sorridente Paula, a atendente da academia.
— Olá, Lorenzo! — cumprimentou-me com simpatia, estendendo-
me um panfleto. — Está um pouco atrasado, mas ainda dá tempo de ver
Angélica. Ela será a última a se apresentar.
Parei de imediato, surpreendido demais para fazer outra coisa que
não fosse olhar para ela e pegar o papel.
Apresentação?
Angélica vai se apresentar? Mas que merda é essa?
Ela não havia comentado nada, nem dado o menor indício de que
haveria uma apresentação naquele dia quando nos despedimos horas antes.
Olhei para o papel.
“Outono com Dança — Vamos Festejar o Equinócio”.
Virei-o e no verso tinha o cronograma do espetáculo, com o nome
dela na última linha.
Por que ela escondeu de mim que ia dançar? Se eu soubesse, tinha
me programado para chegar mais cedo e assistir.
Foi quando percebi que nem saberia daquela apresentação se tivesse
chegado no meu horário habitual. A consciência daquilo fez nascer dentro de
mim um sentimento traiçoeiro de estar sendo enganado, mesmo sabendo que
ela não faria isso comigo.
Com o coração bombeando adrenalina no meu sangue. — E mais do
que desconfiado. — Demorou alguns segundos até minha mente voltar a
funcionar normalmente.
— Onde é a apresentação? — perguntei no tom mais natural
possível, tentando não deixar transparecer a raiva súbita que explodiu no meu
peito.
— No salão do primeiro andar.
Agradeci automaticamente e segui em frente, amassando o
cronograma na mão. Subi a escada em tempo recorde, chegando ao primeiro
andar na hora exata em que começava a tocar uma nova música.
Quando entrei, vi dezenas de cadeiras colocadas ao redor do salão de
danças espaçoso, que parecia maior devido aos espelhos que cobriam
estrategicamente suas paredes.
Várias pessoas assistiam ao espetáculo sentadas, mas muitas
estavam de pé por falta de cadeiras vagas, o que justificava a rua lotada de
carros. Pelo que pude perceber no meio do meu total atordoamento, aquele
evento tinha sido planejado há tempos. Não era apenas um showzinho feito
de última hora.
Há quanto tempo ela sabia que ia dançar hoje e não me disse nada?
Eu estava me dirigindo lentamente para uma das laterais do salão
quando começou a apresentação de duas garotas dançando hip-hop. Misturei-
me com o público, parando ao fundo. Como era alto, via perfeitamente bem o
palco improvisado pela academia.
Olhei para as pessoas que assistiam e identifiquei Pandora sentada
mais à frente com duas colegas da minha turma do colégio. Alguns rapazes
que conheci na discoteca e que foram para o aniversário de Angélica, também
estavam presentes. No meio deles, vi o detestável Rui.
Resolvi recuar mais a fim de não ser identificado por ninguém. Não
pretendia que me vissem e avisassem Angélica. Para mim, estava óbvio que
havia algum motivo para ela não ter me contado que ia dançar, e eu queria
descobrir qual era.
Depois que a dança terminou, olhei para o panfleto amassado nas
mãos e conferi a próxima apresentação. Era ela!
A minha tensão voltou em carga total quando várias luzes do salão
se apagaram e um “oh” generalizado tomou conta do salão nos primeiros
acordes da música que ela ia dançar. Para minha total surpresa, era uma flauta
árabe com um homem falando em uma língua que só podia ser árabe
também. Tudo muito sensual no meio da escuridão.
Isso, até que ela surgiu sozinha, apenas um vulto pouco visível nas
sombras, movimentando os braços ao som insinuante da música, usando uma
roupa que parecia ter sido feita apenas de lenços brancos de cetim presos ao
quadril por uma cinta brilhante. Os seios estavam cobertos por uma espécie
de sutiã bordado e a barriga estava exposta, nua.
Inspirei fundo, só que depois não consegui liberar normalmente o ar
dos pulmões, soprando tudo de uma única vez, a ponto de engasgar.
Angélica saiu da parte de trás do palco escuro e veio para a frente,
onde, apesar das sombras, todos a viam perfeitamente. Foi quando o impacto
de tudo aquilo me deixou novamente sem ar, tanto pela sua beleza quanto
pelo fato de ver, enfim, que aquela era uma dança do ventre.
Com o longo cabelo louro totalmente solto em volta do rosto
angelical, ela era uma mistura de inocência e pecado. O corpo elegante e
esguio estava coberto por uma longa saia de lenços que ia até os pés, mas
que, nem por isso, a cobriam por completo, deixando as pernas livres para os
movimentos sensuais dos quadris.
O sutiã era, na verdade, um top curto bordado com pedrarias que
tilintavam, o som acompanhando os movimentos vigorosos, mas curtos, que
os seios faziam ao ritmo sedutor da música.
Fiquei paralisado. Estático. Perplexo!!!
Com os olhos presos em seu corpo, senti-me dominado por ela,
cativado pela perfeição da sua dança, seduzido pelos movimentos sensuais,
mas muito técnicos, que o corpo de linhas suaves fazia.
Pelo silêncio da plateia, deduzi que todos estavam tão encantados
quanto eu, até que a música ganhou mais rapidez e seus movimentos
aumentaram, ficando mais vigorosos. Algumas colegas da dança soltaram
gritos e assobios, acompanhando a batida da música com palmas.
Aquela tortura continuou, enquanto eu via, estarrecido, Angélica
dominar a plateia com a sua forma única de dançar. Foi quando percebi que a
dança do torneio do colégio não era nada se comparada com aquilo. Só
naquele momento foi que percebi todo o potencial artístico dela. Tudo muito
natural e encantador.
Angélica girou e suspendeu o cabelo com as mãos, segurando-o no
alto da cabeça. De costas para o público, remexeu sensualmente os quadris ao
som da música, a cintura fina se sobressaindo no corpo delgado. Num
rebolado lento, depois mais rápido e voltando a ficar lento, ela estava
causando um estrago no controle de qualquer homem ali dentro. Era um
requebrado de ancas e quadris que enlouqueceriam até a estátua do deus
Apolo no museu do Vaticano.
Abismado com aquilo tudo, observei como seu corpo se contorcia
lindamente, mostrando uma flexibilidade invejável e fazendo-me desejá-la
mais do que já desejava. Aquela conhecida contração de desejo desceu direto
para a minha virilha, mesmo contra minha vontade, endurecendo-me.
Excitado, era como se o meu pau a identificasse e reivindicasse como dele.
Só então acordei daquele transe erótico, porque ela era minha, porra!
Era minha e estava dançando sensualmente para um monte de homens
assistirem. Se eu estava excitado e desejando-a loucamente, todos eles
também estariam!
Mesmo sem querer, meu olhar caiu direto no Rui, vendo-o seguir
cada movimento de Angélica com uma expressão de desejo.
Caralho! Mil vezes ca-ra-lho!
Fechei as mãos em punhos ao lado do corpo e avancei pelo meio do
público, disposto a tirá-la do palco. Fodam-se todos se achassem que aquela
era uma atitude de homem das cavernas, mas era exatamente assim que eu me
sentia naquele momento: um selvagem enlouquecido de raiva com o que
estava vendo.
Agora eu entendia o porquê de ela ter me escondido a dança!
CAPÍTULO 41

Lorenzo
COMECEI A EMPURRAR as pessoas à minha frente, sem pedir
licença e me importar se estava sendo mal-educado. Sabia que eles achariam
coisas piores de mim quando a tirasse daquele lugar. Totalmente insano, eu
só conseguia pensar que nunca mais a deixaria dançar algo parecido de novo.
Com os olhos presos unicamente em Angélica, espantei-me quando
me choquei contra um corpo e ouvi um gritinho de protesto.
— Para, Lorenzo!
Uma mão suave segurou o meu braço com força e alguém se
colocou bem à minha frente. Num flash, vi que era Pandora, mas não parei
nem assim. Ninguém me faria parar naquele momento!
Ultrapassei-a e continuei andando resolutamente.
— Espera! — Ela voltou a se colocar no meu caminho, uma mão no
meu peito. — Não faça isso! Vai deixá-la triste, chateada e matá-la de
vergonha na frente de todos! E ainda vai ficar com raiva de você por fazer
isso com ela, acredite! Eu a conheço muito bem.
Talvez se fosse a desmiolada da Cassandra falando com seu tom
atrevido e arrogante, eu tivesse seguido em frente, mas aquela garota tinha
uma maturidade diferente, além de um dom especial de colocar juízo na
cabeça de qualquer pessoa. Vacilei com suas palavras e parei, mesmo me
sentindo a ponto de explodir.
— Ela mentiu para mim!
— Não mentiu, apenas omitiu um fato que causaria esta reação em
você. Angélica sabia que ficaria chateado por ser uma dança do ventre e
queria muito se apresentar. Ela não está fazendo nada de errado, Lorenzo!
Não está traindo você nem lhe enganando com ninguém. Só está dançando!
— Nua! Ela está nua e rebolando como uma serpente do inferno. Só
falta a maçã de Eva! Tenho certeza de que todos os homens aqui dentro estão
excitados!
Ela soltou um bufado de ultraje com os meus termos, mas não pedi
desculpas por aquilo.
De repente, o salão explodiu em aplausos e vi que a apresentação
tinha chegado ao fim. Angélica cumprimentava o público com um sorriso
discreto e logo depois saiu do palco, desaparecendo.
Todos começaram a bater palmas pedindo que voltasse e aquilo foi o
estopim da minha explosão.
— Vá, diga-lhe que estou aqui e que assisti a apresentação toda —
rugi, raciocinando que ela não voltaria ao palco se soubesse que eu estava ali.
— Tenha calma! — pediu com prudência, fazendo um gesto com a
mão. — Não saia daí que eu volto já!
E desapareceu na multidão.
Fiquei ali, tentando manter uma calma que já não tinha. Calma era
uma palavra que não fazia parte do meu vocabulário naquele momento e,
incapaz de permanecer parado, comecei a andar nervosamente de um lado
para o outro.
Cinco minutos. Dez minutos.
Quando já estava para invadir os bastidores atrás dela, Angélica
apareceu do outro lado do salão com Pandora ao lado. Seu olhar estava firme
e bateu direto no meu, mas percebi que mordia nervosamente a pontinha do
lábio.
Parei e esperei que atravessasse as cadeiras, até vê-la ser abordada
por um homem com uma garota ao lado. Fiquei logo alerta, mesmo ele
parecendo apenas um pai de família com a filha eufórica. A garota abraçou
Angélica e apontou para ele, como se os apresentasse.
Sem conseguir apenas olhar uma cena que estranhamente me
incomodava, comecei a andar para onde eles estavam, vendo Angélica
estender a mão para o cumprimentar.
Ele segurou a mão dela e se aproximou para lhe dar dois beijos no
rosto, enquanto a filha abraçava Pandora. De onde eu estava, vi quando ele
falou algo em seu ouvido, fazendo-a recuar e tentar puxar a mão, que ele
reteve por mais alguns segundos antes de soltar, mantendo um sorriso
malicioso no rosto.
Filho da puta!
Em mais cinco passadas cheguei ao lado dela e fiquei de frente para
ele.
— Muito prazer! Sou Lorenzo, o namorado de Angélica — disse-
lhe, estendendo a mão em um cumprimento.
Pego de surpresa, o homem ergueu os olhos para mim, a boca aberta
e sem ação. Depois, recuperou-se e apertou minha mão.
— Muito prazer. Sou Silvio, pai de…
Parou de falar e soltou um gemido de dor, porque esmaguei sua mão
até que se curvasse ligeiramente na minha direção. Se pudesse, estraçalhava
seus ossos todos, mas me contentei em torcer seu pulso com discrição,
encarando-o friamente.
— Lorenzo? — Angélica sussurrou num fio de voz.
Ignorei seu apelo e continuei apertando-o sem piedade. Depois, dei
um passo à frente, curvando-me sobre o tal Silvio, e ameacei para que só ele
ouvisse.
— Se falar mais alguma coisa para ela na sua maldita vida, corto-lhe
o pau fora e jogo aos cães.
Afastei-me e soltei sua mão.
Fiquei um passo à frente de Angélica e pus as mãos nos quadris,
enfrentando-o de peito aberto. O homem era um covarde, mas quem me dera
fosse corajoso o suficiente para me atacar, porque tudo o que eu desejava
naquele momento era quebrar a cara dele.
O homem desviou o olhar para a filha, segurando-a pelo braço com a
mão sã. A outra pendia ao lado do corpo.
— Vamos, filha! — e arrastou-a para longe.
Observei-o por mais alguns segundos antes de me virar lentamente
para Angélica. Ela sustentou o meu olhar, mas deu um suspiro de resignação.
Ficamos calados, porque as palavras eram desnecessárias. Ela sabia
o que eu sentia. Eu sabia o que ela estava sentindo. No entanto, apesar disso
tudo, nada era suficiente para acalmar a mágoa de saber que ela escondeu de
mim aquela maldita dança.
— Pandora, como vai voltar para casa? — perguntei-lhe, disposto a
levá-la se fosse preciso.
— Minha mãe vem me pegar.
— Tem certeza? Não quer que a leve?
— Não precisa, mas obrigada. Ela já está a caminho. — Olhou para
Angélica e depois para mim. — Procurem se acertar sem brigarem, por favor.
Os dois estão certos, mas os dois também estão errados, se me fiz entender
bem.
Não respondi, apenas deixei as duas se despedirem. Pandora foi
embora e só então Angélica voltou a me olhar, como se fosse falar algo.
— Aqui não. Falamos no carro — disse-lhe, segurando sua mão. —
Preciso sair daqui ou vou quebrar tudo o que aparecer no meu caminho.
Ela não comentou nada e acompanhou-me para fora do salão.
Quando chegamos no térreo e nos deparamos com as pessoas ainda saindo do
prédio, puxei-a pela cintura e mantive-a ao meu lado, desencorajando
qualquer um que pensasse vir falar com ela.
Saímos para a tarde fria e começamos a andar até o carro ainda em
silêncio. Só quando entramos no Range foi que ela falou.
— Desculpa, não pensei que tudo fosse terminar assim.
Não respondi, apenas liguei o carro e saí dali, vencendo rapidamente
os quilômetros até a minha casa. Quando parei em frente à porta, cantando
pneus nas pedras do pátio, vi o segurança que estava no portão entrar para ver
se estava tudo bem.
Ignorei-o totalmente e olhei para Angélica.
— Desce.
Seu olhar de surpresa bateu no meu, ao perceber que não desliguei o
carro.
— E você?
— Volto já.
Ela arquejou com expressão angustiada, mas não desviou os olhos,
enfrentando-me.
— Não, Lorenzo, não faz assim — pediu com carinho. — Vem
comigo e vamos conversar.
— É melhor descer — preveni, sabendo que estava no meu limite.
Eu não tinha como ficar em casa daquele jeito. Se eu me visse preso
entre quatro paredes com a raiva que sentia pelo que ela fez, teria uma crise
explosiva lá dentro.
Angélica não se mexeu, permanecendo quieta.
— Desce, Angélica — falei de forma brusca, apertando as mãos com
força no volante.
Mesmo com o meu tom grosseiro ela ficou parada, mantendo-se
firme.
— Vou ficar com você! Se me rejeitar de novo, mandando descer do
carro nesse tom de voz, saiba que vou interpretar que você não quer mais
namorar comigo. Irei embora de vez da sua casa e, quando você voltar, não
estarei mais aqui — disse simplesmente, apesar de soar magoada.
Merda!
Travei as portas de novo e arranquei com o carro para fora de casa,
levando-a comigo. Um caralho que ela ia me deixar!
Tomei o caminho da praia deserta, onde freei abruptamente. Desci
do carro e caminhei até a borda da calçada, olhando para o mar.
Estava enlouquecido de ciúme e sufocado pela raiva. Furioso por vê-
la dançar quase nua. Uma dança sensual feita para excitar um homem e fazê-
lo enlouquecer de desejo.
Estava com raiva de mim mesmo por ser assim!
Por ser um obsessivo compulsivo… por ela.
Por ser um doente… por ela.
Por amá-la daquela forma tão louca.
Tão louca como eu era louco… por ela.
Mas que merda, caralho!
— Lorenzo, não fica assim. — Ouvi sua voz suave atrás de mim. —
Eu não fiz nada de errado. Apenas dancei.
— Apenas dançou nua! — gritei com raiva, virando-me para ela e
explodindo de vez.
— Não grita! — ela pediu, chateada.
— Se não queria me ouvir gritar, tivesse ficado em casa me
esperando — desabafei, descontrolado. — Se eu não puder nem gritar com a
raiva que estou sentindo, vou enlouquecer de vez, porra!
Ela calou-se e apertou os lábios, conformada.
— Por que mentiu para mim? — perguntei de chofre, sem lhe dar
tempo de pensar na resposta.
— Não menti, Lorenzo. — Ela não vacilou em explicar. — Faço
aula de dança duas vezes na semana e hoje foi apenas mais um deles. O fato
de ter tido um espetáculo dentro da academia e eu não ter contado para você,
não faz disso uma mentira.
— Então, deixe-me mudar a pergunta. Por que não me contou que
tinha uma apresentação de dança do ventre hoje? Eu podia querer assistir e
prestigiar minha namorada.
Ela segurou o cabelo que voava com o vento e soltou um suspiro
nervoso, olhando pensativamente para o mar. Quando voltou a me olhar, foi
com expressão cautelosa.
— Não contei para evitar isso que está acontecendo agora. Você
ficar chateado com minha dança e brigarmos.
— Não estou chateado com a sua dança, porque gosto que dance e
sei que tem talento. Estou chateado com “aquela dança” que você dançou
nua, porra! Aqueles caras todos vendo minha garota rebolando e
contorcendo-se na frente deles, com apenas alguns véus cobrindo o corpo. —
Só de lembrar, fiquei puto da vida de novo. — Tenho certeza de que todos
estavam de pau duro ali dentro.
Ela tapou os ouvidos e fechou os olhos, parecendo enojada.
— Para, Lorenzo! — gritou com raiva, olhando-me depois. — Não
transforma uma coisa bonita em algo sujo e obsceno, por que não foi!
Segurei-a pela cintura e suspendi até que ficasse da minha altura.
— Obsceno foi o que aquele Silvio deve ter falado no seu ouvido,
tenho certeza disso! — rugi, possesso.
— Oh, cale-se! — exclamou, horrorizada, mas me abraçou pelo
pescoço e afundou o rosto nele, confirmando minhas suspeitas.
Até tremi de raiva com a sua reação, apertando-a junto ao corpo com
possessividade. Angélica envolveu minha cintura com as pernas e agarrou-se
em mim daquele jeito só dela.
— Você é minha! — fechei os olhos, apaixonado demais por ela. —
Minha!
— Sou sua — ela confirmou no meu ouvido com voz doce, fazendo-
me tremer por dentro.
— Repete — pedi.
— Sou sua, Loki!
Ficamos naquela posição por um bom tempo, inspirando fundo o
cheiro do mar que o vento trazia até me sentir mais calmo. Depois, segurei
seu cabelo e fiz uma suave pressão para que ela virasse o rosto.
Não precisei de mais nada para Angélica vir para mim, a boca macia
se entregando em um beijo apaixonado. Enfiei a língua e me perdi no seu
sabor, sentindo-a apertar as coxas ao meu redor.
Perdi a noção de tudo e o desejo explodiu com a mesma potência da
raiva que havia sentido antes. Fiquei ensandecido de paixão, mesmo ciente de
que estávamos em uma praia pública, apesar de deserta.
Segurei-a firmemente e andei até o carro, abrindo a porta de trás e
colocando-a deitada sobre o banco.
Angélica ficou me olhando enquanto eu desabotoava sua calça e
puxava-a pelas pernas esguias, levando a calcinha junto. Inclinei-me, abri
suas pernas e mergulhei a língua nela, sentindo seu cheiro me invadir e
aumentar meu desejo.
— Ah, Lorenzo — ela gemeu, abrindo-se mais para mim, as mãos
prendendo meu cabelo com força.
Com uma necessidade urgente de posse, afastei-me o suficiente para
abrir minha calça e puxar meu pau para fora. Coloquei-o em sua entrada e
penetrei-a de um golpe só, a umidade do sexo macio me envolvendo.
Estremeci com o prazer de possuí-la, ouvindo seus gemidos e
murmúrios enquanto me movimentava em seu interior.
— Levanta a blusa, amor — grunhi, excitado, observando-a erguer
sensualmente o tecido e mostrar para mim o soutien rendado que mal
escondia os mamilos.
— Assim? — provocou-me.
Agarrei-lhe a coxa com força, sentindo o gozo chegar em velocidade
alucinante.
— Quero vê-los — pedi, batendo firme dentro dela, enquanto a
estimulava com o dedo.
— Ah, Lorenzo! Isso, vem mais forte em mim — ela voltou a
gemer, entregue ao próprio prazer e aumentando o meu com aquelas palavras.
— Tira, porra! — exigi, descontrolado.
Acompanhei em uma excitação crescente sua mão puxar a renda do
sutiã para os lados e libertar os seios. Angélica aproveitou para se acariciar,
deixando-me louco com aquela cena.
Segurei um dos mamilos e apertei-o levemente, ajudando-a e louco
para prová-los, mas sabendo que não daria tempo, porque os segundos
passavam rápido e o desejo crescia mais rápido do que eles.
— Não consigo esperar mais — ela entregou-se, gozando.
Porra, nem eu!
— Fala! — rugi, entredentes, quando o orgasmo me fez explodir
dentro dela.
— Sou sua!
— De quem? — insisti.
— Sua. Amo você e sou unicamente sua, meu Loki!
Caralho!
Fechei os olhos e gozei tudo, a ponto de rosnar de prazer dentro do
carro, ouvindo-a repetir as palavras que me acalmavam todos os demônios
interiores, saciavam os meus desejos e satisfaziam as minhas obsessões.
— Também sou unicamente seu, Angel!
CAPÍTULO 42

Cinco dias depois

Angélica
— AMOR! PRECISO IR ao banheiro.
Lorenzo parou no corredor que levava à saída do colégio e deu meia
volta, o braço possessivamente em torno da minha cintura.
— Tudo bem, vamos voltar — falou, conformado, fazendo-me rir
com sua cara de resignação.
— Não precisa ir comigo! O banheiro do laboratório é aqui pertinho
e posso ir sozinha.
Falei aquilo só para provocá-lo, porque sabia que não me deixaria ir
sem ele. Nem eu tinha intenção que ficasse longe de mim.
Lorenzo simplesmente ignorou o que eu disse, seguindo comigo
pelos corredores vazios, agora que os alunos já tinham ido embora.
— Vou junto — respondeu simplesmente.
Ri mais ainda quando ouvi aquilo.
— Vai entrar comigo também? — brinquei com ele.
— Se for preciso pode ter certeza que entrarei.
Resolvi não provocar mais ou Lorenzo certamente acabaria por
invadir o banheiro feminino atrás de mim.
Fomos voltando pelo corredor e quando já estávamos perto, escutei
o som de uma chamada. Ele tirou o celular do bolso do casaco e sorriu
quando viu quem era.
— É meu pai. Deve ser para confirmar seu retorno da viagem.
Vicenzo estava para voltar dos Estados Unidos e já tinha avisado ao
filho que ligaria para dar notícias do seu regresso à Itália.
— Oi, pai! Ainda estou no colégio, mas saio daqui a pouco. Sim, ela
está comigo. — Olhou para mim, sorrindo. — Ele está mandando um beijo e
dizendo que vai trazer um presente de Nova York para você.
Bati palminhas de felicidade, depois agarrei-me nos ombros de
Lorenzo e falei perto do celular.
— Obrigada, Vicenzo! Vou adorar e um beijo para você também.
Ele riu, escutando o pai falar.
— Está dizendo que vai querer o beijo pessoalmente quando chegar
em Portugal.
— Darei com prazer, mas agora tenho mesmo que ir ao banheiro.
Posso?
— Pode, mas estou logo atrás e qualquer coisa me chame.
— Está certo! — Estendi-lhe minha mochila, que ele pegou e jogou
sobre o ombro junto com a dele.
Corri na frente, deixando-o vir atrás de mim. Precisava ir logo ou
acabaria fazendo xixi nas calças. Entrei pelo corredor do laboratório,
passando pelos cacifos e indo direto para o banheiro feminino.
Quando coloquei a mão na maçaneta, a porta não cedeu. Estava
fechada!
Que merda!
Tentei de novo e não abriu. E agora?
O outro banheiro ficava no corredor seguinte. Se eu fosse nele,
Lorenzo não saberia onde eu estava. Ultimamente, ele não saía do meu lado
para nada e eu também não estava disposta a arriscar, andando sozinha pelo
colégio.
Podia parecer uma coisa ridícula da minha parte, porém, depois
daquele pesadelo que tive com Emanuel, nunca mais quis circular sozinha
pelo colégio. Fosse paranoia ou não, só me sentia em segurança ao lado de
Lorenzo.
Lembrei-me do banheiro masculino um pouco mais à frente e não
hesitei em ir lá, rezando para que não estivesse fechado.
A porta se abriu de imediato, mas não entrei.
— Tem alguém aí? — Aguardei alguns segundos. Como não recebi
resposta alguma, dei uma batidinha na porta aberta. — Oi, tem alguém aí?
Nada.
Olhei para o laboratório e fui ver se tinha alguém lá, mas estava
vazio.
Sinto muito, mas vou usar o banheiro masculino!
Saí pelos cacifos e olhei para o longo corredor à procura de Lorenzo,
vendo-o ainda no celular com o pai. Estava com a testa franzida e a expressão
preocupada, mas olhou para mim assim que apareci no corredor.
Fiz um gesto indicando o banheiro e ele fez um sinal positivo com a
mão.
Respirei aliviada e fui para o masculino. Abri a porta ainda
desconfiada, dando mais uma batidinha nela.
— Tem alguém aí? — repeti só para confirmar.
Apenas o silêncio me respondeu, então joguei o receio para o alto e
entrei de vez. Por segurança fechei a porta à chave para que nenhum rapaz
entrasse enquanto eu usava o banheiro.
Como nunca tinha entrado lá, dei uma rápida vista pelo ambiente
antes de aventurar-me. Tinham quatro cubículos com vasos e fui logo para o
primeiro que estava aberto. Tive o cuidado de não sentar, porque minha mãe
já tinha prevenido sobre os perigos de usar um banheiro público. Relaxei e fiz
meu xixi em paz.
Que alívio, Senhor!
Quando fui lavar as mãos, olhei distraidamente pelo espelho,
observando com curiosidade o banheiro masculino. Não havia muita
diferença do nosso, exceto pelos urinóis presos à parede. Torci o nariz
quando os vi, pouco acostumada com eles.
Estava enxugando as mãos no papel quando ouvi um barulho.
Levantei imediatamente a vista para o espelho, onde via os quatro cubículos
às minhas costas. Dois estavam abertos e os outros dois tinham a porta
fechada.
Olhei instintivamente para o chão e vi sapatos no cubículo ao lado
do que eu tinha usado.
Senti um baque no coração, que logo depois começou a acelerar.
Meu Deus! Tinha um homem ali e fiz xixi ao lado dele!
Nem tive tempo de reagir até que o ferrolho estalou e a portinha
começou a abrir atrás de mim. À medida que ela ia abrindo, meus olhos
foram subindo dos sapatos para a calça jeans, o casaco de couro preto e antes
mesmo que chegasse ao rosto, minha intuição já sabia quem era.
Paralisei, horrorizada, sentindo aquele conhecido tremor de medo
correr pelo meu corpo, uma sensação de sufocamento fechando minha
garganta com o enjoo habitual que sempre me dominava quando estava
diante de Emanuel. Comecei a tremer ainda mais quando percebi que ele
ficou calado quando perguntei se havia alguém lá dentro!
Fiquei olhando-o pelo espelho em completo estado de choque, até
que virei-me de frente, porque sentia-me muito mais vulnerável sabendo-o às
minhas costas.
Seus olhos duros fixaram-se em mim, prendendo-me ao chão. Tentei
mover-me em direção à porta, mas senti minhas pernas pesadas. Só conseguia
lembrar daquela sensação aterrorizante que senti no último pesadelo que tive
com ele. Comecei a ficar em pânico ao vê-lo sair do cubículo, sentindo-me
mais uma vez como um rato indefeso diante de uma cascavel pronta para dar
o bote.
Lembrei das palavras de Lorenzo quando me ensinou defesa pessoal.
“Quando for atacada de novo, se hesitar um segundo que seja antes
de defender-se, poderá estar dando a vitória para ele”.
Ele tinha razão, mas como superar aquele medo paralisante?
Lorenzo! Ele estava à distância de um grito e aquilo acalmou-me,
dando-me coragem para reagir.
Eu não estou sozinha! Lorenzo está lá fora!
Eu sabia que ele enlouqueceria se soubesse que eu estava ali dentro
com Emanuel, mas naquele momento meu desespero era tanto que não
conseguia pensar em mais nada além de correr para a segurança dos braços
dele.
Emanuel olhou para mim com sua habitual expressão impassível,
postando-se bem à minha frente. Tive vontade de chorar quando percebi que
havia hesitado aqueles segundos preciosos que Lorenzo falou, porque já
deveria estar fora dali há muito tempo.
Só de pensar que havia fechado a porta à chave, tive vontade de
gemer alto diante da minha burrice.
Saia daqui, Angélica! Saia daqui e vá até Lorenzo!
Aquele mantra deu-me coragem para largar o papel no chão com
mãos trêmulas, desviar de Emanuel e ir imediatamente para a porta do
banheiro, sem nem olhar uma segunda vez para ele.
O percurso até a porta era curto, mas para mim pareceram
quilômetros, tal o pânico que sentia naquele momento, meus ouvidos
estourando com o som alto das batidas do meu coração. Quase suspirei de
alívio quando cheguei à porta sem ele impedir-me de forma nenhuma.
Quando toquei na chave, uma mão fechou-se em torno da minha
boca e um braço circulou minha cintura. Senti seu corpo grande atrás de mim,
pressionando-me contra ele e só conseguia lembrar do meu pesadelo. Minhas
pulsações aceleraram tanto que achei me fariam explodir de tensão ali dentro.
Tentei tirar sua mão da minha boca usando a técnica que Lorenzo
ensinou, mas com ele atrás de mim e não na frente fiquei sem uma boa
posição para derrubá-lo. A única coisa que consegui foi fazê-lo praguejar
com a dor e afrouxar o aperto, mas aquilo foi o suficiente para que eu
enchesse o pulmão de ar para gritar.
— Lo.... — Senti a mão de Emanuel tapar-me a boca novamente.
— Cale-se! — rosnou, apertando tanto a mão que ofeguei em busca
de ar.
Fui arrastada para longe da porta em direção ao fundo do banheiro,
onde havia um longo banco de madeira encostado à parede. Quando olhei
para o banco, meu desespero aumentou, fazendo-me gritar por Lorenzo
mesmo com a boca tapada. Ainda que só saíssem gemidos e sons sem
sentido, eu precisava chamá-lo.
Mesmo que ele estivesse falando com o pai em frente ao banheiro
feminino, em algum momento ia perceber que eu estava demorando muito
para um simples xixi e viria atrás de mim.
Eu tinha certeza absoluta disso. Só precisava esperar mais alguns
minutos, porque os dois banheiros não estavam tão longe assim um do outro.
Comecei a lutar contra Emanuel, tentando impedi-lo de levar-me ao
banco, até que ouvi o som da batida de um punho na porta do banheiro
feminino.
— Angélica?
Era Lorenzo.
Oh, meu Deus, ele vai me encontrar!
Emanuel parou de arrastar-me quando ouviu a voz dele, surpreso
que eu não estivesse sozinha. Mas hesitou por apenas alguns segundos antes
de continuar a me levar para o fundo do banheiro, o mais longe possível da
porta e onde seria mais difícil alguém ouvir-me.
Comecei a tentar gritar com mais força, fazendo-o apertar mais as
mãos que me seguravam.
— Fique quieta, porra! — rosnou em meu ouvido.
Balancei a cabeça negando, deixando bem claro que não ia parar em
momento algum de chamar por Lorenzo.
Tentei gritar mais alto ainda, mesmo sabendo que dificilmente ele
iria me escutar. Aquilo só fez Emanuel me jogar no maldito banco que eu
tentava evitar a todo custo.
Senti meu corpo bater com força na madeira e dei logo um jeito de
manter as pernas fechadas antes de Emanuel cair em cima de mim, prendendo
meus pulsos. Não pretendia facilitar nada.
Aproximou seu rosto do meu e sussurrou no meu ouvido.
— Calma! Eu não vou fazer nada que você não vá gostar. Nós dois
já nos entendemos no passado, vamos nos entender agora também —
inspirou fundo, parecendo cheirar meu cabelo. — Talvez até queira deixar
esse grandalhão e ficar comigo.
Neguei com a cabeça, porque não pretendia participar de nenhum
outro jogo doentio com ele, muito menos deixar Lorenzo.
Ouvi mais duas fortes batidas na porta do banheiro feminino.
— Angélica!
Desta vez a voz de Lorenzo estava mais alta e já alerta. Eu o
conhecia tão bem! Sabia que não ia esperar nem mais um minuto para entrar
lá dentro atrás de mim.
Emanuel levantou a cabeça e fitou-me com os olhos duros,
observando-me com atenção.
— Você não vai dizer para ele nada do que acontecer aqui, porque
sabe que ele vai me matar, não é? — Olhou-me profundamente, analisando
meu rosto. — Você é santa demais para querer este peso na sua consciência,
tenho certeza. Porque se eu morrer pelas mãos do seu namoradinho, digo-lhe
logo que você é a culpada!
Ouvi Lorenzo girar a maçaneta da porta para entrar no banheiro
feminino, percebendo que estava fechada. Ele girou outra vez e voltou a
bater.
— Angélica! Você está aí? — Seu tom mostrava preocupação, mas
também suspeita e aquele toque de raiva que prenunciava uma explosão
iminente.
Emanuel continuou olhando-me, um sorriso enigmático surgindo no
rosto.
— Se eu morrer pelas mãos dele, sua dívida comigo será eterna. —
Inclinou-se no meu ouvido. — Estaríamos ligados por toda a eternidade. Uma
dívida de outras vidas. O que acha disso, santa Angélica?
Arregalei os olhos, apavorada em ver como sua mente doentia
trabalhava bem, porque sem dúvida alguma eu me sentiria culpada se
Lorenzo o matasse.
No fundo seriam três vidas perdidas. Emanuel morreria, Lorenzo
seria condenado por sua morte e eu me sentiria culpada pela desgraça dos
dois.
Rezei desesperadamente, implorando para que não acontecesse ali
uma tragédia, enquanto ouvia Lorenzo me chamar.
— Angélica!
Senti as lágrimas subindo aos meus olhos só de ouvir sua voz e
sentir o que poderia acontecer em seguida.
Meu Deus, como eu amo Lorenzo! Não deixe que seja prejudicado
por mim, Senhor! Impeça que aconteça uma desgraça hoje!
Emanuel apertou os lábios com força, enquanto também ouvia a
movimentação de Lorenzo no corredor.
Fez-se alguns segundos de silêncio lá fora, até ouvirmos passos
vindo em direção ao banheiro masculino. Tentei me levantar do banco, mas
Emanuel largou seu peso todo em cima de mim e suas duas mãos apertaram
mais minha boca, uma delas sobre meu nariz. Cheguei a ver estrelas quando
minha visão escureceu com a falta de ar.
— Se não ficar quieta, deixo-a inconsciente! — ameaçou duramente.
— Não pretendo lutar contra seu namoradinho, porque não fui eu quem
montou este circo. Foi você quem entrou aqui e trancou a porta, portanto, a
escolha é sua!
Eu já me sentia quase desmaiando mesmo, mas ainda assim tentei
chamar Lorenzo ao ouvir a maçaneta da porta do banheiro masculino sendo
forçada duas vezes. Quando ele percebeu que também estava fechada,
desistiu e golpeou a porta com um murro.
— Puta que pariu, Angélica, para qual banheiro você foi? — gritou
irado, mostrando o tamanho da sua fúria.
Devia estar confuso com os dois banheiros fechados, achando que
fui para outro sem avisá-lo.
Passos rápidos soaram pelo piso e percebi que ele estava indo
embora. Senti Emanuel soltar um risinho satisfeito em cima de mim.
— Parece que seu namoradinho desistiu.
Oh, não, Lorenzo, não vai! Volta por favor!
Eu tinha certeza de que ele não ia desistir fácil de me encontrar.
Lorenzo sabia que eu tinha medo de andar sozinha pelo colégio e não largava
mais dele. Não podia deixar que ele fosse me procurar em outro lugar ou
estaria fodida.
Eu estou aqui! Por favor, não vai embora!
Novas batidas no banheiro feminino.
— Angélica, responde!
Depois veio o silêncio, até que ouvi o som do meu celular tocando
na mochila que deixei com ele.
— Porra! — Lorenzo voltou a xingar alto quando percebeu que eu
não havia trazido meu celular.
Escutei o som das nossas mochilas sendo jogadas ao chão e logo
depois o barulho forte de um corpo colidindo contra a porta do banheiro
feminino. Só faltei chorar de alívio, porque no fundo eu sabia que ele não
desistiria de mim por nada.
A porta parece que não cedeu na primeira tentativa, nem na segunda.
Ou ela era muito resistente ou Lorenzo tentava não fazer muito barulho
dentro do colégio.
— Merda! — ele explodiu com raiva.
Logo depois ecoou um forte estrondo no corredor, seguido do
estalido de madeira quebrada. Ele arrombou a porta para entrar banheiro
feminino. Sabia que não me encontrando lá, viria direto fazer o mesmo no
masculino.
Soltei um soluço de alívio.
— Foda-se! — Emanuel xingou, ao perceber a mesma coisa.
Puxou-me do banco, colocando-se de pé e trazendo meu corpo para
a frente do dele, enquanto ouvíamos o som de portas batendo no banheiro
feminino, com Lorenzo entrando nos cubículos à minha procura.
Fui arrastada do fundo para a parede lateral do banheiro, onde
Emanuel encostou-se comigo à sua frente.
Em questão de segundos, escutei passos correndo do banheiro
feminino para a nossa porta e logo depois o mesmo estrondo na fechadura,
com a madeira cedendo ao chute de Lorenzo.
Ele entrou no banheiro com o rosto refletindo tamanha agressividade
que até eu assustei-me na hora. Havia um brilho mortal nos seus olhos
quando olhou ao redor e viu-me presa a Emanuel.
— Filho da puta desgraçado! — rosnou como um demônio
enfurecido e investiu para cima de nós dois.
Emanuel apertou-me com mais força contra ele, disposto a não
soltar-me de jeito nenhum. Fiquei sem saber se queria apenas usar-me como
escudo para sair do banheiro em segurança ou se tinha enlouquecido de vez e
pretendia desafiá-lo.
— Afaste-se ou ela pode se machucar seriamente — ele falou para
Lorenzo.
Lorenzo não disse nada, apenas aproximou-se com a boca apertada
numa linha fina de tensão, levando a mão esquerda para a garganta dele e
segurando com a outra mão o seu braço que me envolvia.
Ele chegou tão perto que senti seu peito forte encostando-se em
mim. No instante em que me tocou, passei os braços ao redor de sua cintura.
— Lorenzo! — Agarrei-me nele, as lágrimas caindo pelo rosto.
Tentei me soltar, mas Emanuel continuava me mantendo entre os
dois.
— Largue-a! — Lorenzo ordenou com selvageria.
Àquela altura eu já não sabia se estava atrapalhando a luta ou
ajudando a que não se matassem.
— Não! — Emanuel respondeu com ousadia, apertando mais ainda
o braço em minha cintura, mas senti sua voz sufocada pelo aperto de
Lorenzo.
— Solte-a ou não pensarei duas vezes em estrangulá-lo até morrer!
— A voz de Lorenzo era tão calmamente letal que percebi que se fosse
preciso ele faria aquilo sem vacilar.
— Lorenzo, por favor, não faz isso! — implorei, horrorizada com
aquela possibilidade. — Apenas me tire daqui!
Ele não respondeu, sua atenção totalmente focada em Emanuel.
— Acha que tenho medo de morrer? — Emanuel disse com raiva. —
De perder esta merda de vida?
— Não me interessa se a sua vida é uma merda! Pode vivê-la no
lixo, se é o que quer! — Lorenzo cuspiu em sua cara, a voz transformada em
um rosnado enfurecido. — Só não chegue mais perto de Angélica, não pense
nela, muito menos toque nela. Nunca mais!
Deve ter apertado mais a mão na garganta dele, porque o senti
engasgar, tentando puxar o ar, ao mesmo tempo que seu braço afrouxava ao
redor da minha cintura.
— Sai daí, Angélica! — Lorenzo falou duramente.
Sustentei-me na cintura dele, tentando puxar meu corpo para fora,
mas tinha as pernas presas entre os dois e senti Emanuel apertar mais o braço
em torno de mim.
— Sai, Angélica!
— Não consigo!
Tentando se libertar da mão de Lorenzo em sua garganta, Emanuel
soltou um dos braços que me prendiam e desferiu um soco no maxilar dele,
passando bem perto do meu rosto. Lorenzo ficou furioso com aquilo e
levantei instintivamente as mãos para me proteger.
Meu coração doeu por ele, quando imaginei a força daquele golpe.
Um golpe que o fez perder o controle de vez e partir para um ataque direto
em cima de Emanuel.
— Filho da puta! — rosnou possesso. — Não a coloque em risco!
Nem a toque nunca mais!
Soltou-lhe a garganta e fechou o punho esquerdo, chocando-o em
seu rosto com um soco potente, que fez o corpo de Emanuel estremecer atrás
de mim.
A sensação era horrível e quando ele repetiu o gesto pela segunda
vez, em outro soco, senti o enjoo subir pela garganta diante do som da
pancada e do gemido de dor que ouvi. Eu realmente não havia sido talhada
para presenciar cenas de violência.
— Lorenzo, para com isso, por favor! — implorei, sufocada com a
náusea.
O braço de Emanuel ao meu redor afrouxou totalmente, libertando-
me. Lorenzo me enlaçou pela cintura, tirando-me do meio deles e me
colocando de lado.
— Sai do banheiro, Angélica!
Virou-se para Emanuel e desferiu mais um soco, desta vez em seu
estômago, fazendo-o se dobrar em dois. Tinha o semblante contorcido de
ódio, os olhos duros e uma expressão assustadoramente assassina no rosto.
Meu Deus, faça-o parar!
Mas eu sabia que do jeito que estava ele não pararia por conta
própria e apesar de Emanuel representar para mim apenas sofrimento e dor,
não queria presenciar aquela brutalidade.
— Lorenzo, por favor. Para com isso!
Ele pareceu não me ouvir, quando preparou o punho para novo
golpe. Não pensei duas vezes em me pendurar no seu braço, tentando segurá-
lo.
— Não! — gritei para que me ouvisse, as lágrimas escorrendo pelo
rosto. — Chega! Não bate mais, pelo amor de Deus, Lorenzo! Não aguento
mais ver isso.
Achei que não fosse me atender, mas, subitamente, seu braço rodeou
minha cintura, suspendendo-me e apertando meu corpo junto ao dele. Estava
ofegante pelo esforço da luta e pela raiva que o dominava.
Recuou três passos para atrás, mantendo-me longe de Emanuel.
— Nunca mais chegue perto dela de novo, caralho! — gritou para
ele com violência, apontando-lhe um braço com o punho cerrado, a voz rouca
ecoando poderosa dentro do banheiro. — Ou mato você!
Só de ouvir aquilo, estremeci em seus braços, fazendo-o me apertar
com mais força.
— Por favor, não diz isso! — pedi, soluçando de encontro ao seu
pescoço, sem conseguir controlar-me. — Não fala em matar ninguém,
Lorenzo!
Comecei a sentir a náusea crescer dentro de mim e já sabia que ia
vomitar. Olhei-o, colocando a mão na boca e forçando-o a me soltar. Tive a
sorte dele perceber rapidamente o que estava acontecendo e deixar-me correr
até a pia para vomitar, sustentando-me por trás enquanto eu esvaziava o
estômago.
Ele segurou meu cabelo, o corpo grande me amparando à medida
que os de espasmos diminuíam.
— Amor, fica calma! Não vou fazer mais nada! — garantiu, a
preocupação visível no tom voz.
Deixei-me cair na força do seu braço, abrindo a torneira para me
lavar, tentando tirar aquele gosto ruim da boca. Ele me ajudou o tempo todo,
os olhos intensos fixos em mim ao secar meu rosto. Quando terminou, beijou
minha testa, trazendo-me novamente para seus braços.
— Sente-se, melhor?
— Sim — confirmei, descansando a cabeça em seu peito.
— Então relaxa. Está tudo bem agora!
Mal disse aquelas palavras, ouvimos passos rápidos no corredor e
olhamos um para o outro, já sabendo das repercussões negativas que tudo
aquilo poderia trazer para nós dois, e, principalmente, para ele, que havia
depredado o colégio ao arrombar duas portas e agredido um outro aluno.
Um dos funcionários do colégio entrou correndo no banheiro,
parando de súbito quando nos viu abraçados. Olhou para o lado, onde
Emanuel ainda estava ajoelhado no chão, com a mão no lábio sangrando dos
murros que levou.
Lorenzo ficou tenso, trazendo-me para mais perto dele, ciente de que
tinha pela frente um grande problema para resolver.
Olhei para o funcionário e reconheci o Sr. Antônio, responsável pela
limpeza e manutenção dos corredores daquela área do colégio e com quem eu
tinha um excelente relacionamento desde que entrei lá.
Ele virou-se para mim e vi em seus olhos uma expressão de pena,
antes que dissesse.
— Sinto muito, mas os três terão que ir agora para a diretoria!
CAPÍTULO 43

Angélica
CERCA DE DEZ minutos depois, estávamos os dois na recepção
da diretoria, aguardando que o Sr. Pereira, diretor do colégio, nos recebesse.
Um pouco mais atrás, estava o Sr. Antônio, a única testemunha a entrar no
banheiro após a luta. Ao fundo, havia a mesa da secretária Mariana,
abarrotada de papéis e pastas.
Pela demora, eu tinha certeza que o diretor estava entrando em
contato com nossos pais e analisando o dossiê escolar de cada um, já que
Mariana tinha acabado de entrar na sala com algumas pastas na mão.
Na verdade, ele nem precisaria ler nada no meu dossiê e de Emanuel
para saber quem éramos ou inteirar-se do nosso histórico escolar, de tanto
que já estivemos ali. Mas com relação a Lorenzo, com certeza leria e só de
pensar naquilo, lembrei-me do laudo médico com todas aquelas informações
que só fariam prejudicá-lo mais ainda.
Completamente alheio ao que se desenrolava na sala da diretoria,
Lorenzo permanecia de pé ao meu lado, enquanto eu sentava em uma das
cadeiras da recepção. Emanuel tinha sido levado antes ao ambulatório do
colégio.
— Não quer sentar?
— Não conseguiria ficar sentado agora — disse simplesmente e
entendi que estava agitado demais para isso.
Segurei sua mão e beijei, sentindo como apertou-a com carinho,
alisando depois minha palma com o polegar.
— Você está bem? Ainda sente-se nauseada?
Havia preocupação em sua voz e resolvi tranquilizá-lo.
— Estou melhor agora — dei-lhe um leve sorriso para reforçar
minhas palavras.
Continuou a olhar-me com atenção e desconfiança.
— Não parece — disse por fim, não se deixando enganar pelo que
falei. — Você está pálida.
— Mas já estou melhorando, juro!
Ele não teve tempo de contestar, porque a porta da Diretoria abriu-
se, surgindo Mariana.
— Angélica — sorriu para mim. — Pode entrar.
Levantei-me, mas Lorenzo segurou-me pela cintura, impedindo-me
de seguir adiante.
— Sozinha? — questionou de imediato.
— Lorenzo. — Tentei alertá-lo quanto à imprudência de questionar
alguma coisa, considerando a situação delicada em que estávamos.
Ela olhou-o com paciência.
— O Sr. Pereira quer primeiro falar com Angélica.
Ele não gostou muito daquilo, mas concordou com um gesto de
cabeça, soltando-me.
— Ficarei bem. — Olhei-o com tranquilidade, dirigindo-me depois à
sala do Diretor.
O Sr. Pereira estava com a fisionomia fechada e muito séria, ainda
lendo os documentos espalhados à sua frente. Levantou a cabeça quando
entrei, suavizando a expressão quando olhou para mim, um sorriso
confortador no rosto magro.
— Olá, Angélica! — cumprimentou-me, indicando uma cadeira. —
Sente-se querida e vamos conversar um pouco.
Sentei-me e aguardei que começasse a falar.
— Apesar de você já ser maior de idade, liguei para a Dra. Amanda
a fim de avisá-la do ocorrido. — Voltou a ficar sério, quando olhou para as
pastas sobre a mesa. — Ela deve estar chegando a qualquer momento.
Fixou os olhos em mim, muito sério.
— Gostaria que me contasse o que aconteceu, antes que eu fale com
os dois rapazes. Não gostei de saber que o patrimônio do colégio foi
depredado com o arrombamento de duas portas, muito menos que houve
agressão física dentro das nossas instalações. São duas coisas gravíssimas e
antes de punir o responsável, quero ter pleno conhecimento do que houve.
Droga! Lorenzo ia ficar em maus lençóis e eu precisava ajudá-lo de
alguma maneira!
— A Dra. Amanda me informou que Lorenzo Costi é seu namorado
— ele continuou, olhando uma das pastas, que achei fosse a de Lorenzo. —
Só posso deduzir que esta briga foi por sua causa e não um desentendimento
normal entre dois rapazes no banheiro do colégio. — Voltou a me olhar com
curiosidade. — O que não consigo compreender é como você foi parar lá
dentro.
Chegou a minha vez de falar e engoli em seco antes de começar.
— Eu estava aflita para ir ao banheiro e como o feminino estava
com a porta trancada, resolvi ir ao masculino ali ao lado, já que as aulas
tinham terminado e o colégio estava vazio. Bati na porta e perguntei se havia
alguém lá dentro. Como não recebi resposta, entrei para usá-lo.
— E por que não foi ao outro banheiro feminino que tem no
corredor seguinte? Estava tão mal assim a ponto de se arriscar em um
banheiro masculino, onde qualquer rapaz poderia abordá-la?
Mordi o lábio com nervosismo, porque vendo daquela forma parecia
mesmo que procurei aquela situação. Do jeito que Emanuel era manipulador,
se brincar ainda conseguiria sair como vítima.
Resolvi ser sincera com ele.
— Eu não tenho mais andado sozinha pelo colégio, desde que
Emanuel voltou a me ameaçar no primeiro dia de aula. — Os olhos do diretor
se apertarem quando ouviu aquilo, parecendo aborrecido ao saber que o
colégio não era seguro. — Estou sempre com Lorenzo ao meu lado e se fosse
para o outro banheiro, ele não saberia onde estava, porque falava ao celular
com o pai.
Quando falei aquilo, pareceu verdadeiramente interessado.
— O Sr. Vicenzo Costi?
— Sim, ele mesmo.
Ela suspirou com resignação, uma expressão preocupada tomando
conta do seu rosto, que só me deixou mais apreensiva ainda.
— Tenho nas mãos uma situação delicada para resolver, Angélica.
Dois rapazes envolvidos em uma luta por sua causa, cujos pais são dois
homens poderosos. Terei que aplicar uma punição no responsável pelos
danos materiais e corporais. — Olhou para mim com seriedade. — E você
sabe que o responsável é Lorenzo.
Oh, meu Deus! Isso não!
— Ele só estava me defendendo de Emanuel, Sr. Pereira! — falei
rapidamente, o desespero na voz. — Lorenzo até hoje não fez nada contra ele,
mesmo quando soube tudo que aconteceu comigo no passado.
Aquilo não era totalmente verdade, mas eu jamais diria que Lorenzo
já tinha batido em Emanuel dentro da sala de aula. Resolvi falar o que
aconteceu no banheiro, mesmo sentindo vergonha de tocar no assunto.
— Ele só partiu para a agressão porque Emanuel agarrou-me lá
dentro e depois tentou forçar-me a.....tentou me fazer manter... oh, não sei
como dizer isso! — desabafei angustiada, sentindo-me constrangida por falar
aquilo com um homem.
Ele espalmou as mãos na mesa à sua frente.
— Está falando em tentativa de estupro, Angélica?
Até estremeci quando ouvi aquela palavra, voltando a sentir o
mesmo mal-estar de antes.
— Sim! — confirmei, a voz engasgada na garganta e as lágrimas
subindo aos olhos. — Se Lorenzo não tivesse arrombado a porta à minha
procura, era o que teria acontecido. Ele só agrediu Emanuel porque me
mantinha presa lá dentro.
Ouvimos o telefone tocar em sua mesa. Ele pediu licença e atendeu,
sua expressão ficando mais carregada ainda.
— Mande-os entrar — falou com autoridade, completando depois.
— Quando a Dra. Amanda chegar, pode trazê-la aqui também.
Não falou mais nada, apenas juntou as pastas e guardou-as em uma
gaveta, justo na hora que a porta abriu-se e a secretária fez entrar o Sr.
Eduardo com Emanuel ao lado.
Olhei ansiosa para a porta, procurando Lorenzo, preocupada se seria
obrigada a estar ali sozinha com três homens, falando de tentativa de estupro.
Queria Lorenzo ou a minha mãe do meu lado!
Vi o corpo alto dele surgir na porta, fazendo-me estremecer de
alívio.
Lorenzo parou ao meu lado, observando meu rosto com atenção.
Dei-lhe um leve sorriso, tentando mostrar que estava tranquila, mas procurei
sua mão com certo desespero e ele imediatamente franziu a testa sentiu-as
frias. Agora era tarde demais para disfarçar, por isso apenas deixei-o aquecê-
las com as suas.
Assim que entrou, o Sr. Eduardo partiu para o ataque, mal
cumprimentando o diretor.
— Pereira, mas que colégio é esse, onde o meu filho é agredido
desse jeito? — disse em tom indignado.
Falava com o diretor, mas olhava para Lorenzo, que não se
intimidou diante dele.
— Por que não pergunta ao seu filho o que ele fez para ser agredido?
— contra-atacou com a voz séria e controlada.
— Lorenzo, só fale quando for solicitado! — advertiu o diretor com
autoridade, deixando-me angustiada com o desenrolar da situação.
Emanuel permanecia impassível diante de tudo aquilo, como se
pouco se importasse com o que estava acontecendo.
O rosto do Sr. Eduardo ficou vermelho de raiva, parecendo que ia ter
uma síncope, como sempre acontecia quando sentia-se afrontado por alguém
e não podia revidar à altura. Era sempre assim que reagia diante da minha
mãe.
Fiquei preocupada que Lorenzo forçasse demais a situação e apertei
sua mão para fazê-lo controlar-se.
Meu gesto chamou a atenção do pai de Emanuel, que olhou para
mim como se me visse pela primeira vez na sala. Arregalou os olhos de
surpresa, fitando o filho e depois a mim.
— Mas, você de novo? — Pareceu cuspir as palavras com desprezo,
fazendo-me lembrar anos atrás quando seus advogados tentaram me acusar
de perseguir o filho dele, invertendo as posições de vítima e perseguidor.
Lorenzo deu um passo à frente, mas segurei-o com força pela mão,
fazendo-o parar. Mas não pude impedir que falasse o que queria, tomando
satisfações pelo que ouviu.
— De novo, o quê?! — desafiou-o, pouco se importando por estar
diante do pai de Emanuel e prestes a ser acusado de agressão física ao filho
dele.
— Senhores! Sabemos que esta é uma situação desagradável, mas
vamos tentar manter a cortesia dentro da minha direção — falou olhando para
o Sr. Eduardo, por conta do tom de desprezo dele ao falar comigo.
Senti Lorenzo cada vez mais tenso e resolvi me levantar, ficando ao
lado para segurar o braço dele com força. Ele me envolveu imediatamente
pela cintura.
— Lorenzo, por favor! — pedi em tom calmo, mas me sentindo
tensa por dentro.
Ele apenas confirmou com a cabeça, sem dizer uma palavra.
Soou uma batida na porta e logo depois a secretária deixava entrar
minha mãe, com Paolo às suas costas.
O alívio que senti foi tão grande que só queria correr para abraçá-la,
mas fiquei onde estava, aproveitando a força de Lorenzo para encostar-me
totalmente nele.
Senti o olhar de minha mãe em mim, querendo saber como estava.
Tinha o rosto bonito muito sério e parecia decidida a trucidar Emanuel com
as próprias mãos. Era mesmo a minha mãe!
Ela ignorou todo mundo dentro daquela sala, dirigindo-se primeiro
para mim.
— Você está bem, Angélica? — perguntou assim que se aproximou,
abraçando-me e beijando meu rosto.
— Estou, mãe! — Agora realmente estava, porque vê-la com Paolo
na diretoria, deu-me a certeza que Lorenzo teria quem o defendesse.
Ela afastou-se, olhando-me fundo nos olhos para confirmar o que eu
disse, ficando satisfeita com o que viu.
— Lorenzo — pôs a mão no braço dele, querendo saber o mesmo.
— Estou bem, Amanda.
Só então ela olhou para o diretor, estendendo a mão para
cumprimentá-lo.
— Pereira, não vou perguntar como você está, porque diante do que
aconteceu, só posso deduzir que não esteja nada bem.
Ele sorriu para ela, cumprimentando-a com verdadeira simpatia.
— Ainda assim posso dizer que estou bem, doutora.
Minha mãe de virou para o Sr. Eduardo, por fim, encarando-o de
frente.
— Eduardo — falou à guisa de cumprimento, sem estender-lhe a
mão.
— Dra. Amanda — ele respondeu, olhando significativamente para
Paolo às suas costas. — Está andando com segurança agora?
Antes que minha mãe respondesse, Paolo deu um passo à frente e
ficou ao lado dela.
— E se estiver? — desafiou em tom calmo mas cortante, fazendo-
me lembrar a atitude de Lorenzo minutos antes.
Oh, meu Deus, o que há de errado com os homens italianos?
— Senhores! Vamos acalmar os ânimos e conversar civilizadamente
— o Diretor interveio de novo, antes que o clima esquentasse.
Paolo ainda lançou um olhar demolidor para o pai de Emanuel, antes
de estender a mão para o Sr. Pereira, cumprimentando-o.
— Paolo Lavorini. Estou representando o Sr. Vicenzo Costi como
advogado do Lorenzo.
Advogado?
Minha mãe conseguiu disfarçar bem a surpresa diante do que ele
disse, mas eu não. Fiquei literalmente de boca aberta, observando os dois
homens se cumprimentarem bem à minha frente.
Olhei para Lorenzo e o vi muito calmo, como se já soubesse daquilo
e não estivesse surpreso por Paolo não ser apenas um chefe de segurança,
mas também advogado.
— Muito prazer, Dr. Paolo. O Sr. Vicenzo já me informou a seu
respeito.
Já? Ora, será que minha mãe sabia de alguma coisa e não me
contou nada? Nunca tivemos segredos uma com a outra!
Ela permanecia calada ao lado de Paolo, mas me procurou com o
olhar e entendi que depois conversaria comigo sobre aquilo.
O Sr. Eduardo virou-se para o diretor com o espanto no rosto.
— Não sabia que era preciso trazer advogado, Pereira! — Quis
deixar registrada sua indignação por não ter sido avisado que Lorenzo teria
um advogado presente.
Quem respondeu foi Paolo.
— E não era preciso. Só vou atuar como advogado se houver
necessidade, mas acredito que possamos resolver tudo de forma amigável —
advertiu tranquilamente, mas em tom firme. — Estou aqui porque o pai de
Lorenzo está ausente em uma viagem aos Estados Unidos e como seu
representante legal em Portugal, cuido dos interesses da família Costi e de
Lorenzo. — Virou-se para o Diretor. — Eu e a Dra. Amanda gostaríamos de
falar um minuto em particular com Angélica e Lorenzo.
— Claro que sim, mas depois vamos nos sentar todos e decidir como
resolveremos esta situação.
O Sr. Pereira apontou para uma mesa retangular no fundo da sala,
depois colocou uma mão no ombro do Sr. Eduardo e saiu conduzindo-o para
lá, sendo ambos seguidos por um Emanuel aparentemente aborrecido com
tudo aquilo.
Paolo colocou-se bem à frente de Lorenzo, a expressão muito séria.
— Você vai sentar-se ali e não falar nada, a menos que seja
questionado. Não conteste nada, nem se deixe provocar por Emanuel, ou não
conseguirei livrá-lo dessa situação. — Olhou rapidamente para mim, antes de
voltar a encarar Lorenzo, deixando-me com a sensação estranha que havia
algum segredo entre eles que eu não deveria saber. — Finja que está
novamente na Itália!
Aquele comentário me fez desconfiar de que ele se referia ao tal
assunto que Lorenzo não queria me contar com medo que o deixasse.
Eu e minha mãe trocamos olhares novamente, porque nossa lista de
assuntos para conversar parece que só aumentava.
Lorenzo apertou a boca com irritação, olhando duramente na direção
de Emanuel.
— Não posso fingir isso, porra! Lá não havia Angélica! — rosnou
com raiva, uma mão tensa me segurando pela cintura. — E que merda de
tratamento médico foi esse que me disseram que ele faria?
Minha mãe ergueu a mão, pedindo um tempo.
— Eu venho tentando falar com Eduardo há dias, mas ele se tem
negado a conversar comigo. Está sempre arranjando reuniões inadiáveis
como desculpas. Talvez hoje, com a gravidade do que se passou, ele resolva
me ouvir.
Saber aquilo não foi o suficiente para acalmar Lorenzo, que ficava a
cada minuto mais irritado.
— Ele agarrou Angélica no banheiro e se eu não tivesse arrombado
aquela maldita porta, sabemos muito bem o que teria feito com ela.
Estremeci e cheguei instintivamente mais perto dele. Mas nem
precisava fazer isso, porque Lorenzo colou minhas costas em seu peito,
abraçando-me por trás. Cruzou o braço pela minha frente, como se soubesse
o que eu sentia, sem nem precisarmos falar.
— Isso é verdade, Angélica? — minha mãe perguntou num misto de
choque e raiva, vendo a resposta na minha cara, sem que eu tivesse tido o
trabalho de dizer nada. — Oh, eu não acredito que ele chegou a esse ponto!
Esse rapaz está pior do que eu imaginava. A essas alturas já nem sei se quero
salvá-lo ou matá-lo!
Só em ouvir aquilo, senti-me mal de novo.
— Ai, gente! — reclamei com eles. — Mas será que tudo tem que
ser resolvido com morte? Eu quero estar em paz, mas não vou conseguir isso
com a morte de ninguém nas minhas costas.
Ela pareceu impaciente com o que eu disse.
— Oh, filha, você sabe que estou nervosa e preciso extravasar em
palavras! — Agitou as mãos para indicar que era algo passageiro. — Quero
matá-lo só hoje! Amanhã mudarei de ideia e tentarei salvá-lo. No dia que
você tiver um filho, vai saber como é fácil ter vontade de matar só para
defendê-lo.
Senti o braço de Lorenzo ficar mais tenso ao meu redor, sua mão
grande indo para minha barriga, como se quisesse proteger o filho que ainda
nem tinha sido concebido. Coloquei minha mão sobre a dele.
Sim, só de pensar em um filho meu correndo perigo, eu já entendia
minha mãe!
Paolo lançou um olhar tranquilizador para ela.
— Tenha calma, Amanda! Ainda vamos conseguir resolver esta
situação do nosso jeito, por isso vamos sentar ali e tentar uma solução
amigável.
Voltou a olhar para Lorenzo.
— Lembre que se você for expulso do colégio, Angélica ficará aqui
dentro sozinha, sem que possa protegê-la durante o resto do ano letivo.
Lorenzo inspirou profundamente, o peito amplo se expandindo atrás
de mim e o abraço ao meu redor ficando mais apertado. Naquele momento,
soube que ele faria de tudo para permanecer ao meu lado no colégio.
CAPÍTULO 44

Angélica
— VAMOS OUVIR O que vocês três têm para dizer sobre o
ocorrido — o Diretor falou assim que sentamos. — Depois vou pedir que
saiam da sala e aguardem lá fora, enquanto resolverei a situação com os seus
responsáveis. Como já são maiores de idade, poderiam participar e opinar,
mas diante da gravidade da situação e sendo um assunto recorrente, vou
preferir tratar com eles. Algum de vocês três opõe-se a isso?
— Da minha parte, não — falei, olhando depois para Lorenzo, a fim
de saber o que diria.
— Não — foi sua resposta segura, mostrando que confiava
plenamente em Paolo.
Emanuel prolongou seu silêncio por alguns segundos a mais do que
o normal, como se quisesse passar um recado ao próprio pai dizendo que não
confiava totalmente no que decidiria por ele.
Pensei se ele não fazia aquilo de propósito, para abalar a imagem de
político correto que o pai tinha.
— Tudo bem — foi sua resposta.
O Sr. Pereira não demonstrou nada em sua expressão, mas senti
como se tivesse respirado aliviado por ter conseguido pelo menos iniciar a
reunião sem nenhum outro contratempo.
— Já conversei com Angélica e soube que precisou usar o banheiro
masculino, porque o feminino estava com a porta fechada. Ele está em
manutenção e por segurança, resolvemos fechá-lo por dois dias. Neste caso, a
Direção pede desculpas aos alunos por não ter afixado um aviso na porta. —
o Sr. Pereira olhou para todos ao formalizar aquele pedido de desculpas. —
Angélica teve o cuidado de bater na porta e perguntar se havia alguém, para
só depois entrar e usá-lo.
Ele olhou para Emanuel.
— Gostaria de ouvir a sua versão da história. Se estava lá dentro,
porque não respondeu, para que Angélica soubesse que o banheiro estava
ocupado?
Evitei olhar para ele, mas sabia que sua expressão deveria estar
inalterada, permanecendo sempre a mesma, impassível e desinteressada.
— Não ouvi — foi sua resposta.
Lorenzo estava sentado ao meu lado e senti sua tensão evidente, pois
ele sabia tanto quanto eu que Emanuel ouviu e me deixou entrar lá de
propósito.
Estávamos com as mãos unidas por baixo da mesa, pousadas em sua
coxa, assim ficou fácil sentir seu corpo tencionar. Comecei a rezar para que
não estourasse em momento algum ou pioraria sua situação.
O diretor olhou para mim.
— Você bateu quantas vezes na porta? É que se foi apenas uma vez,
pode ter acontecido dele realmente não ter escutado — falou gentilmente.
Tinha certeza de que ele ouviu, reconheceu minha voz e esperou
pacientemente que eu caísse de bandeja nas mãos dele. Emanuel pode não ter
criado a situação e montado uma armadilha para me pegar, mas também não
evitou que acontecesse.
— Antes de entrar, perguntei três vezes se tinha alguém no banheiro
e bati na porta. Alto o suficiente para quem estivesse lá dentro escutar —
respondi com firmeza, porque não pretendia deixá-lo fazer-se de vítima.
Emanuel negou novamente com a cabeça.
— Repito que não ouvi nada. Penso agora se ela realmente bateu na
porta e perguntou algo — Emanuel completou, deixando-me horrorizada com
sua falta de escrúpulos em distorcer os fatos para virar o jogo a seu favor. —
Não cabe a mim dizer que a garota está mentindo, mas que motivos eu teria
para ficar calado? A única coisa que ouvi foi alguém entrar no cubículo ao
lado do meu e usar o banheiro. Poderia ser qualquer rapaz e isso pouco me
importava. Jamais passaria pela minha cabeça que fosse uma garota.
Lorenzo apertou minha mão, deixando-me perceber a raiva que
sentia. Acariciei-o com o dedo, tentando acalmá-lo.
Como minha mãe também estava sentada ao meu lado, coloquei
minha outra mão em sua perna, recebendo seu conforto quando me cobriu
com a dela. Já conhecíamos a forma de Emanuel agir, mas isso não nos
impedia de ficarmos chocadas com a inteligência da sua mente doentia.
Fez-se um silêncio terrível dentro da sala, até que o Diretor
pigarreou antes de continuar.
— E porque agarrou Angélica dentro do banheiro?
— Para me defender da agressão dele. — E apontou para Lorenzo.
— Achei que se ela estivesse à minha frente ele não me bateria. Nem tive
tempo de pensar direito antes que o banheiro fosse invadido. Agi
instintivamente. Não sei o que ela pensou fazer quando entrou em um
banheiro masculino, mas acabou me colocando em perigo, porque sabe que o
namorado é ciumento e bateria em qualquer rapaz que estivesse ali dentro
sozinho com ela. Fosse eu ou outro, o risco seria o mesmo.
— Então, não a forçou a nada?
Pela primeira vez olhei para ele, vendo como continuou com a
expressão irritantemente inalterável.
— Claro que não — falou de forma convincente, apontando para o
próprio rosto machucado. — Segurei Angélica à minha frente apenas para o
impedir de me bater mais ainda. Não preciso forçar garota nenhuma para
ficar comigo.
Virgem Santíssima!
Mais uma vez, Emanuel alterava os fatos para que ficasse a minha
palavra contra a dele. E mais uma vez, não havia uma testemunha do que
aconteceu, apenas nós dois.
— Se não pretendia forçá-la a nada, porque trancou a porta do
banheiro à chave, forçando-me a arrombá-la para tirar Angélica de lá? —
Lorenzo contestou imediatamente, deixando-me tremendamente mal com a
merda que fiz.
— Lorenzo. — Escutei a voz de Paolo em tom de advertência,
lembrando-o para permanecer calado.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, pela primeira vez Emanuel
colocou de lado sua eterna fisionomia inexpressiva para lançar um sorrisinho
debochado a Lorenzo.
— Eu não fechei a porta — falou devagar e com um prazer imenso
na voz. — Foi ela quem fechou! Não sei qual era a intenção dela, mas foi
Angélica quem trancou-se lá dentro comigo.
Soltou aquela bomba e encostou-se displicentemente na cadeira,
olhando-me com ironia, como quem diz “agora saia dessa”.
Todos olharam para mim, inclusive Lorenzo, que inspirou fundo
para conter uma reação explosiva diante daquela informação. Fitei seus olhos
turbulentos, percebendo que estava puto da vida comigo por ter fechado a
maldita porta, forçando-o a arrombá-la.
Minha mãe se remexeu na cadeira, chamando minha atenção. Paolo
se manteve inabalável. O diretor parecia em expectativa e o Sr. Eduardo
relaxou visivelmente ao perceber que o filho tinha tudo para se livrar da
acusação de tentativa de estupro.
— Filha, isso é verdade? — minha mãe perguntou.
— Sim, mãe. Fechei a porta à chave, com medo que algum rapaz
entrasse enquanto usava o banheiro. Lorenzo ainda estava longe, no início do
corredor, e mesmo sabendo que não ia demorar mais do que uns dois
minutinhos, não quis arriscar.
Minha mãe gemeu imperceptivelmente, virando-se para Paolo
sentado do seu outro lado. Eles trocaram olhares entre si, mas como ela ficou
de costas para mim, fiquei sem saber o que se passava.
Olhei para o Sr. Pereira, porque queria que ele entendesse bem meus
motivos.
— Se eu soubesse que tinha alguém lá dentro, esperando só eu entrar
para me atacar, jamais teria entrado naquele banheiro, muito menos fechado a
porta à chave. — Engoli em seco, tentando controlar a emoção quando
completei. — Ainda mais sabendo que era Emanuel.
Lorenzo soltou um “foda-se” entredentes, fazendo-me virar para ele
e vê-lo encarando Emanuel do outro lado da mesa. Apertei sua mão,
alertando-o para que não deixasse tão óbvia a sua vontade de bater nele
novamente.
— Estamos em um impasse. De um lado temos Emanuel afirmando
que não ouviu Angélica, não fechou a porta e só agarrou-a para defender-se
de Lorenzo. Do outro temos Angélica confirmando que perguntou se alguém
estava no banheiro, bateu na porta e fechou-a à chave, sendo depois forçada
por Emanuel a permanecer lá dentro.
Olhou para ele naquele momento.
— Espero que você tenha noção que estamos falando aqui de uma
tentativa de estupro.
O Sr. Eduardo remexeu-se inquieto na cadeira.
— Pereira, não vamos agora transformar um ato de legítima defesa
em uma agressão desse porte. Quem foi agredido aqui foi o meu filho!
O Diretor voltou sua atenção novamente para Emanuel.
— Gostaria que o seu filho dissesse algo.
— Não houve tentativa nenhuma de estupro — Emanuel garantiu
naquele seu tom monocórdico, sem emoção alguma. — O que houve lá
dentro foi uma tentativa de assassinato.
Ergueu os olhos para Lorenzo, ainda com o rosto impassível.
— Dele em mim! — afirmou friamente. — Quando parou de me
bater, ameaçou-me. Disse duas vezes que ia me matar.
Para piorar, aquilo era verdade!
Lorenzo não reagiu, apenas sustentou seu olhar.
— Se vou ser acusado de tentativa de estupro, ele tem que ser
acusado de tentativa de assassinato — Emanuel continuou, desta vez olhando
para o Diretor. — Se ele for inocentado por isso, eu tenho o mesmo direito de
ser inocentado pelo que Angélica está acusando-me. Direitos iguais.
Falando daquele jeito, Emanuel não precisaria de um advogado para
defendê-lo, porque sabia exatamente como manipular a lei para o seu lado.
O clima pesou dentro da sala depois das palavras dele. Ninguém
disse nada durante longos segundos, nem o próprio diretor, que agora tinha
nas mãos uma situação cada vez mais séria e delicada para resolver.
Subitamente uma suave batida na porta ecoou no ambiente,
parecendo dois fortes estrondos, diante do silêncio da sala. Até o Sr. Pereira
pulou no assento com a interrupção.
— Pode entrar!
A secretária Mariana colocou a cabeça pela porta.
— Peço desculpas por interromper, mas o Sr. António está em sua
hora de almoço e só gostaria de saber se ainda vai precisar falar com ele.
— Sim, sim! Mande-o vir logo.
Ele entrou e veio até a mesa onde estávamos, ficando próximo à
cadeira do diretor. Na minha opinião, era um dos melhores funcionários do
colégio. Sabia que quase nenhum dos alunos falava com ele, mas eu,
particularmente, gostava do homem gentil e simpático que ele era.
— Sr. Antônio, não vou tomar muito o seu tempo — o Sr. Pereira
foi falando — Quero apenas que conte o que presenciou nos banheiros
próximos ao laboratório.
Ele olhou seriamente para Lorenzo sentado ao meu lado, evitando
olhar para mim.
— Vi o rapaz Lorenzo batendo na porta do banheiro feminino e
tentando abri-la. Parecia estar chamando alguém e como sabia que estava
interditado, dei a volta e fui avisá-lo. Quando cheguei, ele estava voltando do
banheiro masculino e parecia muito preocupado. Veio se encontrar comigo
no meio do corredor, dizendo que tinha certeza absoluta que a namorada
estava lá dentro.
Fez uma pausa, dando sua atenção unicamente ao diretor.
— Sou eu quem cuido daquela ala do prédio, mas estou tirando as
férias do Jacinto e fui colocado em outro setor até ele voltar. Achei que o
colega que ficou responsável pela minha ala tivesse esquecido de fechar o
banheiro e a garota pudesse estar machucada lá dentro. Fui procurar a chave
na secretaria, mas orientei Lorenzo a arrombar a porta se eu demorasse, que
me responsabilizaria depois. Achei que o bem-estar da garota era mais
importante do que uma fechadura quebrada.
Só quando ele terminou de falar foi que eu soltei a respiração, sem
nem perceber que durante toda a sua narrativa estive apertando a mão de
Lorenzo com força, extremamente apreensiva com o que ele ia dizer.
Eu não sabia se aquilo era verdade ou não, porque só o próprio
Lorenzo poderia desmentir, mas, sem dúvida alguma, não recaía mais sobre
os ombros dele a acusação de depredar o patrimônio do colégio.
Até o Sr. Pereira parecia aliviado, provavelmente se vendo livre do
desconforto de enfrentar Vicenzo Costi e Paolo Lavorini, caso abrisse um
processo disciplinar contra Lorenzo.
— Fez muito bem em lhe dizer isso, Sr. Antônio, porque eu teria
feito a mesma coisa em seu lugar, para garantir a integridade física e o bem-
estar de qualquer aluno de nosso colégio — falou em tom solene, olhando
para ele. — Já sabemos que Angélica estava no banheiro masculino. O que
testemunhou quando entrou lá?
— A primeira coisa que vi foram eles dois abraçados. Angélica
estava muito pálida, parecendo apavorada e quase a ponto de desmaiar.
Pensei em trazê-la rápido para o nosso ambulatório, porque achei que estava
assustada por ter ficado presa de alguma forma dentro daquele banheiro. Até
que vi o outro rapaz ajoelhado no chão e com a boca sangrando. Então
entendi o que aconteceu e como a coisa era mais grave do que pensei a
princípio, trouxe-os para a Diretoria.
Olhei para Emanuel quando o Sr. Antônio terminou de falar. Ele
revirava calmamente um anel de prata que usava na mão direita. Não parecia
minimamente interessado no que estava sendo dito na sala.
— E o que entendeu tivesse acontecido lá dentro? — o Diretor
insistiu.
O Sr. Antônio ficou calado por um momento, pensativo, antes de
voltar a falar.
— Peço desculpas, Sr. Diretor, mas não cabe a mim dizer nada.
— Mas gostaria de saber o que achou sobre a cena que viu. Foi a
primeira pessoa a entrar no banheiro e a única a testemunhar parte do que
aconteceu. É por isso que está aqui, portanto diga-me suas impressões sobre o
ocorrido.
O pai de Emanuel parecia uma mola prestes a estourar de tão rígido
que estava, aguardando as palavras do Sr. Antônio.
Lorenzo mantinha a mão esquerda unida à minha, nossas pernas
encostando-se por baixo da mesa. Continuava com o rosto sério e fechado,
mas eu sentia uma infinidade de emoções fervendo dentro dele. Ele tinha
acumulado um nível de tensão muito grande enquanto procurava-me nos
banheiros, aquilo tudo estourando no arrombamento das portas e na agressão
a Emanuel. Minha única dúvida era se aquilo tudo tinha sido suficiente para
ele extravasar a tensão ou se ainda havia algo guardado lá dentro esperando
para estourar.
— Achei que a menina foi forçada a ficar calada, porque tinha
marcas vermelhas no rosto que eram visíveis mesmo estando pálida. Agora já
não se nota muito, mas na hora a palidez só as realçava. A impressão que tive
é que ele tapou sua boca para que não chamasse o namorado que estava lá
fora procurando-a.
— Claro que tapei sua boca — Emanuel disse, surpreendendo a
todos dentro da sala. — Queria evitar que o chamasse para não ser agredido
como fui. Quando ele saísse dali, ia libertá-la para que fosse atrás do
namorado e ficassem bem longe de mim.
O Sr. Pereira suspirou, olhando com apreço para o seu funcionário.
— Muito obrigado, Sr. António. Ajudou muito a esclarecer tudo.
Pode sair e ir para o seu descanso.
Ficamos sozinhos novamente, até que o Diretor olhou para Lorenzo.
— Sua vez de contar a sua versão. Diga-me porque agrediu
Emanuel.
Senti meu coração estremecer, apreensiva com o que Lorenzo ia
falar. Segurei sua mão com mais força, tentando fazê-lo manter a calma.
Ele olhou para Emanuel, antes de começar a falar, dirigindo-se ao
Diretor.
— Só bati nele porque estava prendendo Angélica dentro do
banheiro. Como ela não me respondeu quando a chamei, percebi que havia
algo errado. Sabia que estava em um dos banheiros, já que não teria ido em
outro sem avisar-me. Quando entrei no masculino, ele a mantinha presa junto
à parede e negou-se a soltá-la. Uma situação daquelas não tinha acordo
possível, além do que fiz.
— E não acha que ele fez tudo isso em legítima defesa, porque sabia
que você iria agredi-lo se o encontrasse no banheiro com sua namorada?
— Tenho certeza absoluta que não foi isso. O que aconteceu ali
dentro é algo que vai continuar acontecendo sempre, se ninguém fizer nada.
Como o próprio Diretor disse, este é um assunto recorrente. Emanuel insiste
em perseguir e assediar Angélica dentro deste colégio e não entendo como até
hoje não foi punido por isto.
— Nunca houve provas que confirmassem isso, Lorenzo — o diretor
respondeu, fazendo um sinal com a mão para o Sr. Eduardo, que já ia se
pronunciar à sua frente.
Lorenzo não se deixou convencer facilmente, vindo em minha
defesa.
— Acho que não é preciso ter muitas provas quando a própria vítima
pede ajuda porque está sofrendo bullying. E tenho certeza que Angélica já fez
isso tempos atrás.
— Lorenzo tem razão — Paolo falou pela primeira vez desde que
sentamos à mesa de reuniões. — Quando se tem uma prova cabal, é porque a
situação já é grave o suficiente para que a vítima tenha sofrido danos físicos,
psicológicos e morais às vezes irreversíveis. O nível de suicídio entre
crianças e adolescentes que sofrem bullying é assustador e os colégios
deveriam ser mais rigorosos, coibindo severamente qualquer indício neste
sentido.
O diretor concordou prontamente com Paolo.
— Nosso colégio é rigoroso com isso, tanto é que Emanuel sofreu
um processo disciplinar e logo depois saiu daqui.
— Mas voltou! — minha mãe se pronunciou, olhando diretamente
para o Sr. Eduardo, sentado todo empertigado ao lado do filho, cada vez mais
incomodado com o rumo da conversa. — Se eu soubesse disso antes, teria
tirado Angélica daqui e colocado em outro colégio.
Ah, isso não, mãe! Eu não teria conhecido Lorenzo se tivesse
mudado de colégio!
Apesar de tudo que sofri nas mãos de Emanuel desde o início das
aulas, ter conhecido Lorenzo mudou a minha vida completamente e eu não
conseguia sequer imaginar-me agora sem ele ao meu lado.
— Ainda não temos prova nenhuma de que meu filho praticou
bullying contra Angélica, nem no passado, nem atualmente — o Sr. Eduardo
disse logo, extremamente ofendido. — O assunto do bullying contra o Miguel
já foi resolvido e nunca mais Emanuel voltou a ter estas atitudes com os
colegas de colégio.
Lorenzo revidou de imediato.
— A meu ver, o assunto com Angélica deixou de ser bullying e
passou a ser assédio sexual desde que ele voltou a este colégio! E não
pretendo deixar que esse assédio se transforme em estupro, como quase
aconteceu hoje!
Sua voz era firme e segura, deixando bem claro aquilo que eu já
tinha notado quando sofri o primeiro ataque de Emanuel no início das aulas.
Que ele me via com outros olhos desde que voltou ao colégio. Apenas não
sabia que Lorenzo havia percebido o fato.
Prendi a respiração depois que suas palavras foram ditas dentro da
sala, deixando todos chocados com a forma direta como o assunto foi
colocado. Me senti constrangida com aquela situação e procurei
instintivamente refúgio nele e em minha mãe, apertando a mão de ambos com
força.
— Já disse que não aconteceu nenhuma tentativa de estupro. Não
tenho interesse na garota — Emanuel negou novamente.
Olhou para o pai, pela primeira vez parecendo impaciente para ir
embora.
— Resolva logo tudo isso, porque estou cansado de me repetir aqui
dentro.
Recebeu como resposta do pai apenas um olhar duro, ficando ambos
se encarando por alguns segundos até que o Sr. Eduardo olhou para o Diretor.
— Vamos decidir o que será feito desta situação.
O Sr. Pereira passou a mão no queixo, olhando para todos nós com o
rosto magro muito compenetrado.
— Vou ter de tomar uma medida séria neste caso. Nosso colégio é
um dos melhores do país e minha responsabilidade em manter isso é grande.
Não pretendo destruir todo esse trabalho com um escândalo de bullying,
assédio ou agressão física — falou em tom sério e com autoridade, deixando
bem claro quem mandava ali dentro. — Já temos câmeras de vigilância nas
áreas de convívio comum, onde a circulação de alunos é maior, mas pelo que
vejo seremos obrigados a aumentar os pontos de observação para locais
menos movimentados.
Olhou para nós três.
— Vou pedir agora que saiam, enquanto decidirei tudo com os
responsáveis.
Emanuel não esperou mais nada para levantar-se e sair da sala sem
falar com ninguém.
— Ainda vai precisar falar comigo ou Angélica? — Lorenzo
perguntou ao Diretor, ajudando-me a levantar. — É que gostaria de levá-la
para casa.
— Da minha parte não.
Paolo liberou-nos também.
— Podem ir. Daqui a pouco chegamos em casa e conversaremos
sobre o que ficar decidido aqui.
Lorenzo despediu-se do Diretor com um aperto de mãos e saímos da
sala. Mas assim que fechamos a porta, nos deparamos com Emanuel parado
do lado de fora.
CAPÍTULO 45

Angélica
SENTI O CORPO de Lorenzo ficar tenso assim que o viu,
puxando-me ligeiramente para trás.
Foi o meu instinto que me fez segurá-lo pelo braço quando Emanuel
se aproximou dele, chegando perto o suficiente para ficarem a menos de um
braço de distância. Provavelmente, Emanuel se sentia arrogantemente seguro
por estar na recepção da diretoria, enquanto o destino de Lorenzo estava
sendo selado lá dentro com uma acusação de agressão física. E agressão
física era o que ele queria que Lorenzo repetisse agora.
Ficaram frente a frente. Os inexpressivos olhos de Emanuel se
fixaram nos turbulentos olhos de Lorenzo, encarando-o abertamente.
— Eu não precisaria estuprar ninguém, porque Angélica ia gostar —
falou pausadamente, para que não houvesse dúvida quanto ao que dizia.
Oh, meu Deus! Ele vai jogar sujo!
Estremeci de nojo e apertei tanto o braço de Lorenzo que não
estranharia se depois descobrisse que o deixei marcado com minhas unhas.
Lorenzo respirou fundo, o peito forte parecendo mais amplo a cada
inspiração. Tentava se acalmar para não colocar tudo a perder justamente
agora, uma vez que, no canto da sala, Mariana trabalhava em sua mesa nos
observando discretamente.
— Talvez ela gostasse tanto, que o trocasse por mim — completou.
Emanuel está completamente louco!
Pela primeira vez, passou pela minha cabeça que ele só podia ser um
suicida, porque estava provocando o pior lado de Lorenzo e tinha plena
consciência disso.
Eu precisava tirar Lorenzo dali o mais rápido possível, porque
Emanuel estava disposto a ir até as últimas consequências para o fazer
explodir na porta da diretoria, com a secretária acompanhando tudo.
Saí de trás de Lorenzo e coloquei-me ao seu lado, segurando-lhe a
mão com força e encarando Emanuel, mesmo me sentindo tremer por dentro
quando o olhar dele se fixou em mim.
— Chega de falar merda, Emanuel! Cansei de ouvir tanta bobagem
junta.
Lorenzo me puxou para que ficasse longe dele.
— Angélica! — advertiu-me.
Olhei para ele.
— Não temos de ficar aqui ouvindo isso! Leve-me para casa agora,
por favor. Ele que fique falando sozinho.
Emanuel estalou a língua e balançou a cabeça em desaprovação.
— Você tem de educar melhor sua namorada. Talvez ela precise de
um pulso mais firme do que o seu.
Senti o corpo de Lorenzo enrijecer com a força da tensão que o
dominou.
Pronto, fodeu tudo agora!
— Lorenzo, ouça-me! — sussurrei, apertando seu braço. — Vamos
embora daqui agora!
Ele pareceu não me ouvir, visivelmente dividido entre jogar tudo à
merda e quebrar a cara de Emanuel, ou ignorar aquela provocação e ir
embora. Só que eu não estava disposta a arriscar que Lorenzo fodesse a vida
dele por causa daquele louco!
Coloquei-me bem ao seu lado.
— Ele está tentando provocar você para que se prejudique ainda
mais. Vamos embora, por favor! — falei, olhando depois para Emanuel.
Foi a pior merda que eu podia fazer, porque ele olhou para mim e,
pela primeira vez, deixou o desejo transparecer de forma crua. Seu olhar
desceu pelo meu corpo como se quisesse tirar a minha roupa. Tudo isso de
forma ostensiva, bem na frente de Lorenzo. Fez de propósito, deixando que
nós dois víssemos o desejo que sentia por mim, só para provocar uma reação
de Lorenzo.
Não consegui evitar de recuar, ao mesmo tempo que Lorenzo dava
um passo à frente.
— Filho da puta! — rosnou baixo em sua cara. — Ainda vamos nos
encontrar lá fora!
— E o que vai fazer? Me matar?
— Existem coisas piores do que a morte, acredite! — Lorenzo disse
de forma enigmática, fazendo-me fechar os olhos sem querer imaginar o que
seria.
Segurei o bolso traseiro da sua calça, puxando-o levemente para trás.
— Talvez Angélica faça valer a pena o risco.
Oh, Jesus!!
— Tanto vale o risco que não hesitaria em matar por ela — Lorenzo
rosnou em tom ameaçador. — Portanto, se tudo o que disse até agora foi só
para me provocar e não por ter coragem de verdade, você se fodeu
completamente, porque acaba de assinar sua sentença de morte caso cruze o
meu caminho fora deste colégio.
Lorenzo segurou a minha mão com força e me levou para fora da
sala. Respirei aliviada à medida que avançávamos pelos corredores.
Olhei para ele e o vi com a boca apertada e a mandíbula rigidamente
contraída. Eu até imaginava como devia estar fervendo de ódio por não poder
extravasar sua raiva com as provocações de Emanuel.
— Lorenzo — chamei suavemente.
— Agora não, Angélica. — Foi a única coisa que disse e seu tom era
incontestavelmente de quem estava no limite.
Resolvi ficar calada, acompanhando-o em silêncio para fora do
colégio.
Ele abriu a porta do carro para mim e depois jogou nossas mochilas
no banco de trás. Sentou-se na direção e saiu tão velozmente do
estacionamento que os pneus do SUV cantaram no asfalto. Era a primeira vez
que eu o via dirigir daquele jeito e percebi que estava muito mais do que puto
da vida.
O carro venceu rapidamente as ruas e chegamos em casa em tempo
recorde. Ele deu pouca atenção a Thor e Loki quando os dois vieram nos
receber na porta. Mordi o lábio quando vi o meu cachorrinho todo feliz com a
nossa chegada e nem pude ir brincar com ele.
— Para o terraço, Thor!! — Foi a ordem seca de Lorenzo para ele.
Olhei para Thor, prometendo com o olhar que voltaria mais tarde
para brincarmos juntos. Acho que ele me entendeu, porque empurrou Loki
para o terraço.
Lorenzo não largou a minha mão nem por um minuto, levando-me
pelas escadas até o nosso quarto. Bateu a porta com força e me levou para o
banheiro.
— Tira a roupa — rosnou com raiva.
Olhei para ele, sem entender nada.
— O quê?
— Eu-disse-para-tirar-esta-maldita-roupa!
Repetiu pausadamente, o timbre da voz enrouquecendo e num tom
um pouco mais alto do que o normal. Seu rosto contraído pela raiva e os
olhos tempestuosos davam-lhe uma aparência assustadoramente letal.
— Mas... é que não estou entendendo o porquê disso — disse,
confusa.
Ele segurou meu casaco e começou a tirá-lo do meu corpo, jogando
no chão.
— Não tem de entender, apenas tire a roupa. Não quero você usando
nada que aquele verme tenha tocado. Porra nenhuma, caralho! — Segurou
minha blusa pela gola e rasgou-a de alto a baixo, deixando-me
completamente sem ação.
Meu Deus, ele está mesmo puto da vida!
Lorenzo arrancou a blusa rasgada do meu corpo e partiu para tirar a
calça. Resolvi ajudá-lo, para que não rasgasse as outras peças, mas então
pensei que provavelmente ele não me deixaria usá-las novamente, portanto,
nem valia a pena tentar preservá-las.
Em pouco tempo, eu já estava nua à frente dele, vendo-o tirar as
próprias roupas e abrir a ducha. Suspendeu-me e o abracei pelo pescoço,
cruzando as pernas em sua cintura. Lorenzo entrou debaixo do jato d’água e
deixei-me molhar.
Segurou meu cabelo com a mão, o outro braço cingindo minha
cintura com firmeza e sustentando meu corpo. Acariciei seu cabelo, beijando-
lhe o ombro.
Lorenzo deslizou a boca sobre meu rosto, a língua me lambendo
com força, os dentes arranhando a pele do meu pescoço, até chegar ao lóbulo
da orelha, arrepiando-me toda.
— Nunca mais fale com aquele cara, porra! — surpreendi-me com
suas palavras, a voz rouca. — Nunca mais dirija uma palavra para aquele
filho da puta!
Ele ficou irado porque falei com Emanuel!
Confirmei com a cabeça, sem dizer nada. Ele me encostou na
parede, uma das mãos segurando meu queixo.
— Houve tempo para ele fazer alguma coisa com você? — Encarou-
me de frente, os olhos intensos penetrando nos meus em busca da verdade.
— Não! — neguei imediatamente. — Não houve tempo. Você
chegou logo.
Abraçou-me com mais força.
— Ele não tocou em você?
— Não, amor, não tocou.
— Jura? — insistiu, parecendo desesperado. — Jura, porra?
— Sim, eu juro! — reforcei o que já tinha dito. — Quando ele me
prendeu no banheiro, logo depois ouvimos você do lado de fora e então ele já
não fez mais nada. Foi tudo muito rápido!
— Nem um beijo?
Lembrei de Emanuel cheirando meu cabelo, deitando-se em cima de
mim, mas joguei a lembrança para um buraco negro dentro da minha mente,
focando-me unicamente em acalmar Lorenzo.
— Não.
— Não mente, Angélica!
Eu não queria falar mais nada, porque achava que saber daqueles
detalhes não iam fazer bem a Lorenzo.
— Não estou mentindo! — Estava ansiosa para que ele acreditasse
em mim, porque não houve beijo. — Juro! Ele não me beijou.
— Então aconteceu alguma outra coisa que não quer me contar.
Droga! Lorenzo e sua necessidade de controle, de querer saber de
tudo.
— Não podíamos esquecer de tudo isso e seguir em frente?
— Conta tudo, Angélica! — exigiu com impaciência, não parecendo
disposto a receber menos do que a verdade. — Diz o que ele fez, porra!
— Cheirou meu cabelo, só isso! Se pensou em fazer mais alguma
coisa não teve tempo, porque escutamos você voltar.
Assustei-me quando ele deitou a cabeça no meu ombro, ficando
quieto por alguns segundos, antes de começar a bater com o punho fechado
na parede.
O que faço agora?
— Porra! Porra! Porra! — gritou alto várias vezes, cada batida era
um xingamento raivoso que escapava da sua garganta.
Apertei-me mais ao redor do seu corpo, sentindo os músculos
ondularem com a força das pancadas na parede.
— Lorenzo, não fica assim — falei em tom suave para o acalmar. —
Não houve tempo para mais nada e agora estou tão bem nos seus braços. Só
me ama, por favor.
Lorenzo ainda permaneceu um tempo sem reagir às minhas palavras
e preferi aguardar até que ele tivesse extravasado toda a raiva incontrolável
que Emanuel criou lá dentro.
Aquela era a especialidade de Emanuel: plantar sentimentos
negativos dentro de quem ele queria atingir.
CAPÍTULO 46

Lorenzo
DIZER QUE EU estava puto da vida era pouco. Totalmente fodido
era outro termo leve demais para descrever o ódio mortal que sentia me
corroer por dentro desde que arrombei a porta do banheiro feminino e não
encontrei Angélica lá dentro.
Um instinto assassino terrível me dominou e eu sabia que seria
capaz de matar quem se interpusesse no meu caminho para a encontrar. E
aquele mesmo instinto só repetia o nome daquele canalha do Emanuel. Eu
sabia que era ele! Apenas ele vinha à minha mente, enquanto abria todas as
portinholas do banheiro feminino e não a achava lá dentro.
Quando percebi que Angélica não estava ali, a adrenalina estourou
mais ainda no meu sangue. Só havia um outro lugar onde ela poderia estar. O
banheiro masculino!
Desde o início, achei que foi Emanuel quem a tinha arrastado para
dentro do banheiro e trancado a porta à chave. Jamais pensei que ela tivesse
entrado sozinha e ainda fechado a porta. Puta que pariu, ela caiu de bandeja
nas mãos dele!
Deixei a raiva explodir dentro de mim e tomar conta do meu corpo.
Já não havia motivo para controlar porra nenhuma. Eu queria mesmo era que
saísse tudo para fora e assim pudesse destruir Emanuel de vez.
Não hesitei em dar um golpe seco com o pé na fechadura e estourar
a porta, entrando no maldito banheiro e vendo a cena mais fodida da minha
vida, que foi Angélica presa nos braços dele.
Aquela cena detonou de vez a avassaladora onda de violência que já
vinha se construindo dentro de mim. Ver Emanuel mantendo Angélica colada
à sua virilha, o corpo preso ao dele, cegou-me completamente.
Eu não estava minimamente preparado para ver outro homem tocar
Angélica daquela maneira! Puta que pariu, eu estava pronto para aquilo!
Minha mente, corpo e coração, minhas fodidas emoções, aquele
doentio instinto de posse que sentia por ela, tudo, absolutamente tudo em
mim, não conseguia aceitar que Emanuel a tocasse.
Naquele momento, tive a certeza de que poderia matá-lo de porrada
sem nenhum drama na consciência. E não teria misericórdia alguma caso
Emanuel tivesse forçado Angélica a manter qualquer tipo de contato sexual
com ele.
Investi contra ele como um demônio, porque era exatamente assim
que eu me sentia e queria ser. Um demônio cheio de ódio e sem piedade
alguma na hora de destruir e aniquilar um inimigo mortal.
— Afaste-se ou ela pode se machucar seriamente.
Ouvir aquilo só me fez avançar com mais rapidez ainda, porque
ninguém ia machucar Angélica na minha frente e não receber o que merecia.
Se ele achava que falando aquilo ia conseguir me manter longe, enganou-se
totalmente, porque me motivou duas vezes mais a vencer a distância que me
separava da garota que eu amava.
Como Emanuel não usava nenhuma arma, avancei para cima dele e
prendi-o da única forma que podia naquele momento, pela garganta. Um
pequeno golpe na traqueia poderia até matar, mas não era essa minha
intenção agora, porque não ia fazer aquilo na frente de Angélica. Ela jamais
me perdoaria.
Não foi fácil manter o foco na missão de libertá-la sem matar
Emanuel no processo. Controlar aquele desejo assassino que eu sentia era
mais difícil do que pensei. Sentia vontade de bater nele até que perdesse a
consciência, como fiz com Vittorio, mas nunca o faria com Angélica no
meio. Jamais poderia arriscar que ela saísse machucada.
— Acha que tenho medo de morrer, de perder esta merda de vida?
Encarei-o e vi o desafio com que me olhou de volta. Ele não estava
com medo. Não havia ali temor algum, receio ou apreensão por morrer.
Eu conhecia aquele sentimento. Sabia por experiência própria que a
ausência do medo podia fazer um homem se arriscar além da conta e
ultrapassar todos os limites. Aquilo podia ser bom ou mal, podia levar à
vitória certa ou a uma derrota rápida. Era o que valia o risco!
Eu sabia tudo aquilo porque também vivia no limite! Sempre à borda
do precipício, sempre preparado para arriscar tudo. Tanto podia cair e me
quebrar em mil pedaços, como voar alto e conquistar o que eu quisesse. E
aquilo que eu conquistasse, ninguém mais tirava de mim… e Angélica era
minha.
Estava na hora de Emanuel saber que ele não era o único a viver
daquela maneira.
Minha prioridade era tirar Angélica do meio da luta, mas ele
percebeu que, sem ela entre nós dois, perdia um grande trunfo. Quase que de
imediato, seu punho se chocou contra o meu maxilar. Aquilo fez minha razão
explodir com a mesma força do golpe e ser substituída pelo desejo de revidar
com muito mais força.
A minha maior raiva não foi pela dor que senti, porque estava
acostumado a receber golpes nas lutas que já travei na vida, mas porque
Angélica quase foi atingida pelo punho de Emanuel.
Ceguei completamente quando ela ergueu as mãos para proteger o
rosto. Angélica escondeu o rosto no meu peito e, mesmo sem saber, deu-me o
sinal verde para soltar o punho no rosto dele. Já no primeiro golpe, senti um
prazer imenso tomar conta de mim ao libertar parte dos meus demônios que
pediam vingança. Bati novamente, já sentindo o corpo dele perder as forças e
começar a escorregar pela parede.
Queria vê-lo no chão, agonizando e sofrendo.
Foram os gritos dela que me fizeram parar. Angélica quase entrou
novamente no meio da luta, e puta que pariu se eu queria vê-la outra vez
perto daquele miserável. Nunca mais queria que chegasse perto dele!
Apertei-a contra o peito, mas quando a olhei, só vi dor, desespero e
angústia.
Merda! Merda! Mil vezes merda!
Ela correu para a pia, vomitando tudo. A cada espasmo do corpo
delicado à minha frente, eu me sentia um monstro por tê-la forçado tanto
assim. Angélica tinha uma alma pura demais para presenciar aquela
selvageria toda. Era realmente um anjo e anjos de verdade não
compactuavam com violência e brutalidade.
Naquele momento, não me sentia merecedor dela. Era como se ela
fosse o céu, e eu, o inferno.
Amparei-a com carinho enquanto continuava a vomitar.
Contraditoriamente à minha natureza escura, comecei a rezar para que ela não
tivesse outras daquelas crises. Respirei aliviado quando aquilo não aconteceu.
Ouvimos passos no corredor e eu já sabia o que ia acontecer.
Preparei-me, porque, se não tivesse cuidado, daquela vez eu estaria realmente
ferrado. Justamente agora que eu tinha Angélica em minha vida, não ia deixar
que nada nos separasse!
***
Ir para a diretoria do colégio por estar envolvido com agressões não
era novidade nenhuma para mim, uma vez que já tinha vivido o mesmo na
Itália. Ter uma mulher no meio de tudo, também era algo conhecido. No
passado, foi por causa da minha mãe. Agora, era por Angélica. As duas
únicas mulheres que entraram no meu coração e que eu não admitia serem
atacadas de maneira nenhuma.
Tive de aguentar quase uma hora de reunião naquela diretoria, vendo
Emanuel do outro lado da mesa rebatendo todas as acusações contra ele e
fazendo com que a culpada de tudo fosse Angélica.
Contudo, a minha maior surpresa foi o depoimento do senhor
Antônio, porque em momento nenhum falei com ele ou recebi autorização
para arrombar aquelas portas. Eu precisava procurá-lo depois para agradecer
por tirar dos meus ombros a responsabilidade de ter depredado o colégio,
mesmo achando que ele fez aquilo por Angélica e não por mim. A maneira
como olhou para ela antes de sair me deu a certeza disso.
Quando saímos da sala, respirei aliviado. Enfim, poderia levar
Angélica para casa e tirá-la daquela situação fodida que era discutir uma
tentativa de estupro contra ela, quando o estuprador estava bem à nossa
frente. Saber que apenas um braço de distância me separava dele estava me
deixando a ponto de estourar.
Aquele filho da puta ainda ficou esperando que saíssemos da sala só
para tentar me fazer meter o punho em sua cara novamente e me foder de vez.
Mesmo tendo consciência das suas intenções, foi difícil pra caralho
resistir à tentação de jogar tudo para o alto e fazer o que tinha vontade.
“Eu não ia precisar estuprar ninguém, porque Angélica ia gostar.”
“Talvez ela gostasse tanto, que o trocasse por mim.”
“Talvez ela precise de um pulso mais firme do que o seu”
Aquilo tudo eram só palavras, e palavras como aquelas, ditas apenas
para provocar uma luta, eu já tinha ouvido demais na Itália. Até conseguia me
controlar razoavelmente, caso fosse só aquilo que tivesse de enfrentar para
não ser acusado de agressão física e ser expulso dali. Eu não podia ficar longe
dela, porque precisava estar no colégio para a proteger. No entanto, a merda
daquele olhar sujo que Emanuel lançou para Angélica, jogando na minha cara
o que faria com ela se pudesse e me deixando ver o quanto a desejava, me
cegou completamente.
Aquilo sim foi um golpe certeiro! Uma coisa era ver aquele olhar de
desejo à distância, como aconteceu no dia do torneio de dança, e outra
totalmente diferente era vê-lo bem à minha frente, ainda mais com Angélica
do meu lado!
Ele quis me afrontar, olhando daquela forma imunda e obscena para
a minha namorada!
Se Angélica não tivesse me segurado, talvez Emanuel terminasse o
dia rindo, vitorioso por ter conseguido me descartar do jogo, pois eu não
tinha dúvida alguma de que teria enfiado o punho na cara dele de novo.
Impossível não acumular dentro de mim aquele turbilhão de
violência, que só crescia a cada minuto que eu permanecia naquela diretoria.
Para piorar, tinha quase certeza de que ele ainda ia se livrar da acusação de
tentativa de estupro. Paolo possivelmente teria de negociar isso para que eu
também escapasse de ser acusado de agressão e mais um monte de merdas.
Eu realmente o teria matado, se Angélica não estivesse ali. Da
mesma mais, ele a teria estuprado se eu não estivesse ali.
Canalha! Chegaria a minha vez de pegá-lo fora do colégio e fazê-lo
conhecer quem era Lorenzo Costi!
CAPÍTULO 47

Lorenzo
SÓ SAÍMOS DO quarto porque ouvimos o carro de Paolo. Deixei
Angélica ainda deitada e fui puxar a cortina da varanda para ver a
movimentação no pátio. Vi Paolo em pé falando com o segurança e Amanda
caminhando para dentro de casa.
Virei-me para Angélica, vendo-a observar meu corpo com um olhar
apreciativo, os olhos brilhando e o lábio preso entre os dentes. Ela era mesmo
uma diabinha quando se tratava de elevar meu desejo a uma escala
estratosférica, com aqueles pequenos gestos que demonstravam claramente o
desejo que sentia por mim.
Só depois de nos amarmos de maneira tão intensa é que me sentia
mais calmo. Na verdade, dizer que estava mais calmo era uma mentira.
Poderia dizer que estava menos tenso, menos nervoso, com menos raiva do
que antes. Em outras palavras, um pouco mais controlado.
Deitei-me ao seu lado, já querendo puxar Angélica de volta para os
meus braços, mas nem precisei me esforçar para fazer isso, porque ela veio
para mim.
Senti os seios macios roçando o meu peito e as pernas esguias se
enroscando nas minhas. Passei a mão na lateral do seu corpo, seguindo a
linha da coxa, subindo pelo quadril, descendo pela cintura fina e chegando,
enfim, ao cabelo louro. Ela era o meu mundo!
— Humm, temos mesmo que descer? — resmungou na minha boca.
Dei-lhe uma palmada leve na nádega, antes de passar um braço sob
seus joelhos e pegá-la ao colo para fora da cama.
— Ai, Lorenzo! — deu um gritinho de susto.
— Sim, temos que descer ou sua mãe vai invadir nosso quarto para
falar da reunião. — Coloquei-a de pé sobre o tapete. — Vamos! Hora de
entrar no mundo real.
***
Sentamos todos na sala. Angélica ao meu lado e Amanda com Paolo
no sofá em frente.
— O que ficou decidido? — perguntei logo, apesar de já adivinhar o
que viria.
Foi Paolo quem adiantou-se na resposta.
— Não tivemos solução melhor do que fazer um acordo amigável
com o pai do Emanuel. Não haverá denúncia de nenhuma das partes. Ficamos
sem poder acusá-lo de nada, para que você também escapasse de ser acusado.
Respirei fundo, tentando controlar a raiva por aquele canalha ficar
mais uma vez impune das agressões contra Angélica. E tudo por minha
causa!
Merda!
— Com o depoimento do Sr. Antônio, você também deixa de ser
responsabilizado pelo arrombamento das portas e não sofrerá nenhuma
punição por isso.
— Ele mentiu — informei para eles, surpreendendo Angélica, que
olhou para mim de imediato.
— Eu estava em dúvida quanto a isso, mas confesso que fico feliz
que ele tenha ajudado você. — Olhou para Amanda. — Temos que agradecê-
lo depois, mãe.
Segurei sua mão com mais força, sabendo que aquela ajuda tinha
vindo por causa dela.
Paolo e Amanda trocaram um olhar e senti que ainda tinham coisas
para dizer. Ela fez um gesto de assentimento com a cabeça, dando-lhe
permissão para falar.
— Você e Emanuel não vão ficar sem punição, Lorenzo — ele
informou com a expressão muito séria. — Para ser justo com os dois lados, o
Sr. Pereira vai punir ambos igualmente. Vocês levaram uma suspensão de
cinco dias a partir de amanhã. Não podem colocar os pés dentro do colégio
durante este período. Se, ao retornarem, houver mais algum registro de
agressão de ambas as partes, serão sumariamente expulsos, sem direito a uma
segunda chance.
Apertei os lábios, sem gostar nada daquilo.
— Não posso deixar Angélica sozinha lá dentro, porra! — disse
logo, incapaz de pensar nela andando pelos corredores sem que eu estivesse
ao lado. — Não podemos esquecer que o Carlos ainda está lá e é uma sombra
do Emanuel!
Paolo concordou.
— Sabemos disso. — Olhou para Amanda. — Durante este período,
o Roberto vai para o colégio cuidar de Angélica, mesmo nos dias em que não
tem aula.
Mas que merda!
Senti Angélica apertar minha mão com mais força, pois sabia que eu
estava fodido com aquilo.
— Não precisa ficar preocupado com ela — Amanda completou,
olhando para a filha. — Roberto ficará na biblioteca estudando. Quando faltar
alguns minutos para os intervalos ou para o fim das aulas, vai pegá-la na
porta da sala.
— Além disso, ainda temos Pedro lá dentro e também o Tiago —
Paolo lembrou. — Tudo vai dar certo.
Podia ter o Papa lá dentro! Para mim, ainda assim não seria a mesma
coisa. Aqueles cinco dias seriam longos demais!
— Ai, gente! Pelo amor de Deus, eu vou ficar bem — Angélica
falou com confiança. — Do jeito que vocês falam, até parece que não posso
cuidar de mim mesma nem por um minuto! Não vou sair do lado da
Cassandra e tenho certeza de que estarei em segurança. Além do mais,
Emanuel nem estará lá.
Ouvir o nome dele em sua boca me fez um mal terrível, fazendo-me
perceber que não estava mais calmo porra nenhuma. Ainda sentia a raiva
borbulhando dentro de mim.
— Vou levar e trazer você do colégio todos os dias — disse-lhe,
olhando-a seriamente. — Mas se precisar de alguma coisa, ligue-me. Não
terei problema algum em invadir aquele colégio para tirar você de lá.
— Não vai acontecer nada, você vai ver! — Ela olhou para a mãe e
para o Paolo. — Foi só isso? Essa será a única punição?
— Sim, graças a Deus será a única — Amanda confirmou.
— Mas tem outra coisa positiva que aconteceu hoje — Paolo
continuou. — Conseguimos que o pai de Emanuel aceitasse fazer o
tratamento médico do filho. Mas isso só aconteceu porque o diretor do
colégio reforçou nossa sugestão, dizendo que, em casos como o de Emanuel,
o resultado era muito positivo. A esposa dele é psicóloga e lida com muitos
adolescentes problemáticos na instituição onde trabalha, por isso ele conhece
muitos casos de sucesso.
Ouvi, calado, sem emitir opinião. Mesmo sabendo que ele faria
tratamento, eu não deixaria de procurá-lo fora do colégio na primeira
oportunidade que tivesse. Hoje de manhã ficamos com um assunto pendente
para resolver.
Angélica se remexeu ao meu lado, inquieta.
— Mãe — parecia hesitante em continuar, como se soubesse que eu
não ia gostar —, acha que ele vai aceitar fazer o tratamento?
Fiquei tenso, porque não a queria falando dele.
— Não sei, filha — Amanda respondeu, sem nem perceber o que se
passava entre nós dois. — Eduardo deu a entender que já tentou convencer
Emanuel a se tratar, mas que ele nunca quis. Vai aproveitar a gravidade do
que aconteceu hoje para tentar mais uma vez. Vamos aguardar e torcer para
que agora dê tudo certo.
Senti o olhar de Paolo, provavelmente adivinhando o que se passava
comigo. Encarei-o com seriedade, porque não acreditava que Emanuel
aceitasse se tratar. Se isso por acaso acontecesse mesmo, tinha certeza de que
não teria resultado algum. Ele manipularia todo mundo, mas não desistiria de
Angélica.
Como é que eu sabia disso? Talvez por também ser um doente
obsessivo e reconhecer quando via um à minha frente. Da mesma forma
como eu jamais desistiria de Angélica por nada neste mundo, tinha certeza de
que ele também não o faria.
Os sentimentos que nos motivavam eram diferentes, mas o objetivo
final era o mesmo. Angélica!
Eu a amava e protegia a todo custo, enquanto ele sentia raiva e a
queria destruir.
CAPÍTULO 48

Emanuel
DEITADO NA CAMA, virei-me de lado, ficando de frente para a
parede. Peguei o celular e procurei meus arquivos. Antes de conseguir entrar
na pasta, uma chamada começou a tocar no aparelho, fazendo-me praguejar
com raiva.
— Esta merda de novo!
Desliguei a chamada e voltei a navegar outra vez nas minhas pastas,
procurando aquela que me interessava.
Como sempre acontecia, senti minha ansiedade crescer ao tocar na
tela para abrir os vídeos. Eu odiava aquela necessidade que tinha de assistir
repetidamente aquelas imagens, da mesma maneira como odiava quem estava
lá dentro, por me fazer necessitar disso.
Até agora, eu tinha sete vídeos naquela pasta. Alguns eram antigos,
outros mais recentes.
Para não assistir sempre os mesmos, eu havia criado um jogo em que
escolhia aleatoriamente um deles. Para isso, tinha o cuidado de não os
distinguir com nomes ou datas, apenas com números.
Eventualmente, eu trocava o número de todos eles, para que os
vídeos mudassem de posição dentro da pasta e, assim, tivesse a surpresa de
abrir um deles sem saber qual era. Aquele momento sempre me causava um
certo nervosismo e ansiedade. Não saber o que ia encontrar de certa forma me
excitava.
Fechei os olhos e passei o dedo ao longo do visor, até parar. Olhei o
número sorteado e o abri, meu coração já acelerando de prazer, minha mente
tentando imaginar qual seria. Três deles eram os meus preferidos e criei
aquele jogo justamente por teimar em assistir os mesmos vezes seguidas.
Abri e olhei o escolhido. Qual não foi a minha surpresa ao ver que
era um dos que eu mais gostava.
Puta que pariu, que grande sorte tive hoje!
Comecei a rir alto dentro do quarto, porque realmente hoje foi o meu
dia, porra!
O mais importante de tudo que aconteceu, foi Angélica ter caído de
bandeja no meu caminho. Jamais poderia imaginar que ela ia se afastar
daquele miserável do Lorenzo para entrar no banheiro masculino onde eu
estava.
Quase gozei com o medo que ela deixou transparecer quando me viu
pelo espelho. Que prazer imenso senti naquele momento. Sempre que ela me
via, se tremia toda, e aquilo me fazia um bem incrível.
Tive muito trabalho em “educar” Angélica para ficar do jeito que eu
queria. Assustada, medrosa e submissa. Saber que podia fazer tudo o que
quisesse com ela, sem que tivesse coragem para reagir, foi o que me fez
insistir nela. Dava-me um prazer imenso quebrá-la até que dissesse o que eu
queria ouvir.
Ela tinha chegado aos dezoito anos exatamente do jeito que eu
queria, mas aquele maldito do Lorenzo tinha que ter colocado o olho nela
logo no primeiro dia de aula e se apossado do que era meu.
Posso ter recebido uma boa saraivada de socos hoje, mas ter o corpo
trêmulo de Angélica debaixo do meu e sentir aquela bunda macia pressionada
no meu pau, fez valer a pena toda a dor que senti.
Quem diria que os anos iam mudá-la tanto assim! De magrela
desengonçada, ela havia se transformado numa garota muito atraente e cheia
de curvas.
O meu segundo maior prazer do dia foi provocar Lorenzo. Ele até
podia ser um bom lutador e assustar todo mundo com aquela aparência
agressiva, mas não poderia fazer nada contra mim na diretoria. E foi lá que
fiz questão de lhe mostrar que desejava foder a namoradinha dele. E ainda
conseguiria isso, porque não pretendia desistir de Angélica.
Abri o vídeo e lá estava ela. Os grandes olhos azuis cheios de medo,
as lágrimas rolando pelo rosto alvo, o cabelo louro preso no meu punho.
Puta merda! Como eu gostava do cabelo daquela garota! Já estava
ficando de pau duro só de olhar, lembrando do cheiro doce que senti hoje. E
pensar que quem estava fodendo com ela todos os dias era Lorenzo, e não eu.
Ela era minha! Eu a encontrei primeiro! Fui eu quem tive o trabalho
de educar Angélica com muita paciência para ficar do meu jeito!
Se não tivesse sido forçado a trocar de colégio, teria sido o primeiro
a foder com ela, porque eu tinha certeza de que ainda era virgem quando
voltei.
Olhei seu rosto assustado no vídeo.
“Está doendo, Angélica?”
“Para com isso, Emanuel! Me solta.”
“Essa não é a resposta certa!”
Ouvi seu arquejo de dor, o rosto contorcido de medo, a lágrima que
rolava por sua pele branca, enquanto eu apertava mais o cabelo no meu pulso.
“E agora, o que sente?”
Ela ainda demorou a responder, como se tentasse aguentar o
sofrimento, até desistir. Era aquela parte que eu mais gostava. Quando ela
desistia!
“Dor.”
Aquela resposta derrotada, submissa, era o que eu queria ouvir.
“Você gosta?”
Antes que ela respondesse, o vídeo foi interrompido por outra
chamada, deixando-me puto da vida.
Parecia ser a mesma de antes, que já vinha se repetindo com
frequência há dias, mas que eu vinha desligando sempre por ser de um
número desconhecido. Desliguei na cara da pessoa, provavelmente um
daqueles serviços de telemarketing da operadora para vender algum novo
produto.
Imediatamente, o vídeo de Angélica continuou, exatamente de onde
tinha parado. Vi as lágrimas aumentarem de intensidade, antes que ela
respondesse.
“Não.”
De repente, seu grito de dor ecoou pelo meu quarto, quando torci
mais seu cabelo.
“Você gosta?”
“Sim.”
“Ah, fala direito, Angélica! Coloca prazer nessas palavras ou não
vou acreditar em você.”
“Sim, gosto muito.”
A porta do meu quarto se abriu de repente, fazendo-me desligar o
vídeo. Sentei-me na cama, puxando a camisa para esconder minha ereção e
vendo o merda do meu pai à minha frente.
— O que quer aqui?
— Falar com você, claro!
— E não pode bater na porta? Nunca mais entre aqui sem bater.
Ele pensou em responder, mas segurou a língua na hora e engoliu o
que ia dizer.
Muito bem.
— Cheguei agora da reunião com o diretor. Você pegou cinco dias
de suspensão, período em que não pode pisar no colégio — falou com aquele
jeito de quem estava no palanque dizendo aos eleitores qual era o seu novo
programa de governo. — Mas escapou da acusação de tentativa de estupro.
Nada disso me interessava.
— E o grandalhão?
Ele me olhou, surpreso.
— O quê?!
Encarei-o fixamente.
— Lorenzo.
— Ah, sim! Ele pegou os mesmos cinco dias de suspensão.
O meu pai não olhou para mim quando respondeu.
— Mais nada? — Olhei-o com desprezo. — Pode sair.
Ele permaneceu parado no mesmo lugar.
— Emanuel, precisamos conversar sobre aquele tratamento mé...
— Saia — interrompi, voltando a me deitar e olhando para o celular,
ignorando-o totalmente.
— Aquele tratamento médico — ele completou. — Você precisa de
ajuda e..
— Quem vai precisar de ajuda é você, se não sair do meu quarto —
falei friamente, ainda olhando para a imagem congelada de Angélica no meu
celular. — Seus eleitores e a minha querida mãe não vão gostar de saber o
que eu sei sobre você, portanto, retire-se daqui.
Ele se virou para sair.
— E nunca mais volte a entrar no meu quarto.
Não o olhei nem um minuto sequer, mas percebi que hesitou antes
de segurar na maçaneta da porta e fechá-la devagar.
Muito bem.
Então, o Lorenzo não recebeu nada mais do que cinco dias de
suspensão. Contava que, de alguma forma, o diretor o acusasse de agressão
ou outra merda qualquer, expulsando-o do colégio.
Contudo, eu ia pensar naquilo depois, porque, por hora, queria ver
Angélica.
Coloquei o vídeo para rodar de novo.
“Muito bem. Agora completa e diz assim: Eu gosto quando sinto
dor.”
“Emanuel, para com isso, por favor!”
A gravação foi novamente interrompida pela mesma chamada
telefônica de antes.
— Caralhooo! — gritei, irado, pois cortaram justamente a melhor
parte de Angélica.
Pela primeira vez em dias de insistência, toquei no visor para atender
a ligação. Fosse quem fosse, agora ia ouvir!
— Puta que pariu, vá se foder e nunca mais ligue para mim, porra!
Se não estou atendendo é porque não tenho interesse em merda nenhuma.
— Nem em Angélica?
Parei no ato, a respiração presa.
Apenas três palavras, uma só pergunta e um único nome para me
fazer não desligar.
Sentei-me na cama.
— Quem fala?
— Por enquanto é melhor não saber.
— Não trato nada com quem não conheço, por isso é melhor dizer
quem é você!
Eu não conhecia aquela voz e a minha mente já trabalhava a mil por
hora para tentar descobrir quem poderia saber que eu tinha algum interesse
especial em Angélica.
O resultado foi apenas um. Ninguém!
— Vai ter de tratar comigo ou não terá a garota para você.
— E quem disse que conheço alguma Angélica ou que a quero para
mim?
Tentei desconversar.
— Eu digo.
— Então ficamos na mesma, porque continuo sem saber quem é
você.
Ouvi uma risadinha do outro lado da linha.
— Você é esperto e gosto disso. Acho que vamos nos dar muito bem
juntos.
— Não pretendo me dar bem com ninguém que não conheço. Sinto
muito, mas vou desligar.
— Você quer a Angélica. Eu quero o Lorenzo. Acho que temos tudo
para nos conhecermos melhor e, com o tempo, você saber quem sou.
Lorenzo. Aquele filho da puta do Lorenzo.
— Eu tenho uma proposta para lhe fazer. Basta ouvir e depois dizer
se aceita ou não. Você não tem nada a perder com isso, exceto alguns
minutos.
Pensei por um momento, porque a tentação era grande demais. Com
o tempo, poderia manipular a situação e descobrir tudo sobre quem era a
pessoa que tinha tanto interesse em Lorenzo.
— Pode falar.
Dez minutos depois, eu comprovava que aquele dia realmente tinha
sido de ouro para mim. Um dia de grande sorte.
— Agora, preciso que você confirme se aceita minha proposta ou
não.
Eu não tinha mais dúvida alguma da resposta que ia dar.
— Sim, eu aceito!
***
Alguns minutos depois, saí do meu quarto e desci as escadas, indo
direto para o escritório do meu pai no térreo.
Já ia girar a maçaneta da porta e entrar sem bater, quando me
lembrei de que agora precisaria agir de forma diferente. Era uma merda ter de
fazer aquilo, mas seria para um bem maior.
Resignei-me e bati na porta.
— Quem é? — Escutei sua voz do outro lado.
— Emanuel!
Silêncio.
Tive vontade de rir, porque ele devia estar paralisado com a
surpresa.
— Pode entrar.
Respirei fundo e alterei a expressão do meu rosto antes de entrar.
Ele estava sentado atrás da grande mesa de mogno, muito imponente
no seu mundo político.
— Queria falar com você sobre o tratamento médico.
Ele abriu ainda mais os olhos, completamente pasmo.
— Por quê? Por acaso está pensando em aceitar?
Um caralho que vou fazer esta merda de verdade!
— Sim, pai. Eu aceito!
EPÍLOGO

Cinco dias depois

Angélica
“JÁ ESTOU NA porta do colégio.”
Li a mensagem de Lorenzo, olhando discretamente para o meu
celular que estava escondido no meio do caderno para que o professor de
química não visse.
“O professor está esticando a aula hoje, mas acho que não demora
muito mais.”
Alguns segundos depois, entrou a resposta dele.
“Fico esperando. Tenho uma surpresa hoje.”
Já estava louca para ir embora. Olhei para Cass ao meu lado, vendo
sua cara de enfado.
— Nunca mais isso acaba? — perguntei.
— Ele hoje está inspirado — respondeu, olhando novamente para o
relógio. — Lorenzo já chegou?
— Sim, e disse que tem uma surpresa para mim. — Não consegui
esconder a alegria da minha voz.
— Humm. Então, já sei que não vou ter carona para voltar hoje.
— Você pode ir com o Tiago! — lembrei-me, querendo aproveitar a
oportunidade para fazer os dois ficarem juntos, porque sabia que se
gostavam. — Acho que ele veio de moto hoje.
Nem esperei que Cassandra dissesse algo. Virei-me logo para o
Tiago, sentado atrás dela.
— Ei, Tiago! — Ele parecia concentrado no caderno, mas olhou
para mim assim que o chamei. — Leva a Cass, hoje? É que vou passear com
Lorenzo.
Ele olhou para Cassandra, depois respondeu.
— Levo sem problema, caso ela não se importe de andar de moto.
— Ela adora moto! Não é, Cass?
Minha prima virou a cabeça para o olhar.
— Se tiver um capacete extra, eu vou.
Tiago confirmou.
— Por acaso, tenho um.
— Então, por acaso aceito ir com você.
Revirei os olhos com aquela conversa cheia de indiretas deles dois.
Alguns minutos depois a aula terminou e não esperei por ninguém
para sair rapidinho da sala. Quando cheguei perto do portão principal, vi logo
o SUV preto estacionado no mesmo lugar de sempre, com Lorenzo de pé do
lado de fora. Estava lindo, com os braços cruzados no peito, o cabelo
desarrumado pela força do vento outonal, a postura confiante que me seduzia
e encantava.
O meu coração batia acelerado, como acontecia todas as vezes que ia
me encontrar com ele. Nós nos acostumamos tanto a ficar juntos o tempo
todo, que aquelas horas em que não nos víamos tinham se transformado em
momentos de tortura, e a saudade era imensa. Não ter Lorenzo sentado atrás
de mim na sala de aula, nem sentir sua mão segurando a ponta do meu
cabelo, ou ficar sem ver suas longas pernas esticadas ao lado da minha
cadeira, só aumentavam a certeza que eu tinha de não poder mais viver sem
ele.
Ultrapassei o portão e já senti seus olhos intensos presos em mim. Se
eu pudesse, até corria direto para os braços dele, mas a frente do colégio
estava cheia de alunos, além de ter vários carros parados com os pais
esperando para levarem seus filhos para casa.
Acelerei meus passos, ao mesmo tempo que Lorenzo se afastava do
carro e vencia a distância que nos separava.
Ele baixou a cabeça e deu-me um beijo intenso, mas rápido. Eu sabia
que Lorenzo detestava intimidades em público, mas sempre me recebia da
mesma forma nos últimos dias. Graças a Deus, hoje terminava a suspensão
dele e amanhã já poderia estar comigo no colégio.
Procurei não pensar que o mesmo aconteceria com Emanuel, que
amanhã também retornaria às aulas.
Lorenzo afastou-se, olhando-me com seu jeito possessivo.
— Oi, amor! — disse-lhe, sorridente.
— Oi, meu anjo! Vamos logo, porque hoje temos algo importante
para fazer.
Era a tal surpresa!
Ele pegou a mochila das minhas mãos e me levou para o carro.
Antes que abrisse a porta para mim, vi um movimento no banco de trás.
Quando olhei pela janela, lá estavam o Thor e o Loki.
— Ah! Amores da mamãe! — Entrei logo no carro, ouvindo
Lorenzo rir ao colocar minha mochila.
Virei-me para trás, fazendo carinho neles dois.
— Ora, então hoje vieram me pegar no colégio!
Thor latiu de imediato, respondendo alegremente, seguido pelo
latido mais fino de Loki.
Lorenzo sentou-se na direção, olhando para os dois.
— Comportem-se ou não saem mais nesse carro para passear!
Surpreendentemente, ambos ficaram quietinhos, fazendo-me ver que
Lorenzo realmente tinha um jeito de manter todos sob controle, fosse gente
ou animal.
Já eu, só fazia estragar Thor e Loki com os meus carinhos, porque
nenhum deles me obedecia daquela forma.
Tudo bem, eu me conformo em ser assim!
— Coloca o cinto — ele pediu, já ligando o carro.
Sentei-me direito no banco e afivelei o cinto de segurança.
— Para onde vamos?
— É surpresa!
— Oh, tudo bem. Eu aguento a ansiedade de esperar.
Lorenzo apenas voltou a rir, colocando o carro em movimento e
fazendo-me acompanhar com curiosidade o trajeto, para tentar adivinhar onde
íamos.
— Tem fome? — perguntou-me, enquanto ultrapassava um carro à
nossa frente.
— Um pouco.
— Trouxe sanduíches para nós e biscoitos para as crianças.
Referia-se aos nossos cães, uma forma carinhosa que criei de chamá-
los.
— Ai, Lorenzo, quanto suspense! Podia me contar logo tudo!
— E estragar a surpresa? Nem pensar!
— Tudo bem, pode judiar de mim! Eu deixo.
Continuamos seguindo pelas ruas, até que comecei a desconfiar do
local. Era a praia onde costumávamos ir quando ele me dava aulas de defesa
pessoal.
— Quis aproveitar que hoje o sol está forte e não faz tanto frio —
disse-me quando viu a minha cara de surpresa. — Assim as crianças poderão
correr e brincar à vontade.
— Ah, amor, eles vão adorar! — Estava entusiasmada e louca para
brincar com eles.
Tirei o cinto e fui direto para os braços de Lorenzo, ultrapassando o
painel central.
— Ei, mulher, calma! — brincou comigo, pois ainda não tinha
desligado completamente o carro.
Dei-lhe um beijo molhado na boca. Ele me acomodou no colo e
aprofundou o contato dos nossos lábios.
Thor e Loki começaram a ficar impacientes e a choramigarem no
banco de trás, ansiosos para descerem agora que o carro tinha parado e a
praia estava bem à nossa frente.
— É melhor descermos ou eles vão nos enlouquecer aqui dentro —
ele disse, abrindo a porta e me colocando para fora do carro.
Cerca de uma hora depois, deitamos no toalhão que Lorenzo havia
trazido, cansados de brincar com Thor e Loki, que agora corriam soltos pela
praia.
— Vem cá! — Lorenzo me puxou para cima dele. — Falta agora a
segunda parte da surpresa.
Olhei para ele de olhos arregalados, suspendendo-me sobre seu
peito.
— Tem mais?
— Claro que sim! E esta é a melhor parte.
Ficou sério de repente, olhando-me daquele jeito intenso que só ele
tinha. Puxou meu cabelo para trás, deixando-o cair sobre nós apenas de um
lado.
— Você sabe que amo você, não é?
— Sei. E você também sabe que te amo — afirmei.
Ele continuou olhando firmemente para mim.
— E sabe que não vivo mais sem você?
— Espero que não viva mesmo, porque eu também não consigo
mais viver sem você.
Ficamos nos olhando por breves segundos, certos do que dizíamos e
ouvíamos um do outro.
— Mesmo que eu seja um doente obsessivo que morre de medo de
perder você?
— Mesmo assim. Afinal, sou uma garota insegura que encontra
forças em você.
Ele ficou calado, os olhos profundos devassando a minha alma,
apossando-se de mim.
— Acha que me aguentaria pelo resto da vida?
— Acho que não aguentaria viver sem você ao meu lado pelo resto
da minha vida.
Lorenzo me segurou pela nuca e baixou meu rosto para ele,
beijando-me com uma ânsia desesperadora. Nossos lábios se devoraram com
urgência e, ao mesmo tempo, lentidão, fazendo-nos sentir um ao outro por
completo.
Ele se afastou e novamente fixou os olhos nos meus.
— Abre as pernas, amor.
Fiz o que pediu sem hesitar. Ele me segurou pelas coxas e sentou-se
comigo ao colo, deixando-me com as pernas abertas de cada lado do seu
quadril. Ficamos sentados frente a frente.
Olhei-o em expectativa, que continuava com a expressão muito
séria. Senti que hesitou por um instante e aquilo me deixou mais curiosa
ainda, uma vez que não me lembrava de ver Lorenzo hesitando para nada.
Ele pegou o casaco que havia jogado sobre a toalha e abriu o zíper
do bolso interno, tirando de lá uma caixinha azul e estendendo para mim
sobre sua palma aberta.
Só em ver aquilo já comecei a querer chorar, com medo de deixar
minha imaginação pregar peças e acabar por não ver meu sonho sendo
concretizado.
— Abre.
Inspirei fundo e peguei a caixinha com a mão trêmula, tentando
disfarçar a emoção. Abri e lá dentro havia dois anéis prateados, um pequeno e
o outro bem maior.
— Pega e lê o que tem escrito neles.
Tirei o maior, olhando com cuidado a parte externa.
“Angel & Loki”
Oh, meu Deus!
Lorenzo pegou o outro anel, mostrando-me a mesma inscrição
gravada do lado de fora do aro.
— Angel, você aceita se casar comigo aqui e agora? — Lorenzo
perguntou com a voz rouca e profunda.
Eu não consegui segurar as lágrimas, no entanto, apesar da minha
garganta ter travado com a emoção que me dominou, respondi.
— Sim, eu aceito!
Ele virou a palma da mão para mim e pousei a minha esquerda sobre
a dele.
Lorenzo colocou o anel no meu dedo, fazendo-me sentir aquela
estranha sensação de “déjà-vu” que acontecia com frequência quando estava
com ele, como se já tivéssemos vivido aquilo antes.
Encarei-o com a surpresa nos olhos, vendo como correspondeu ao
meu olhar com a mesma emoção.
Segurei a mão esquerda dele, cruzando nossos dedos.
— Loki, você aceita se casar comigo aqui e agora? — perguntei,
olhando-o com todo o meu amor.
— Sim, eu aceito — respondeu com firmeza, aquele timbre decidido
e seguro de quem sabia exatamente o que queria para si mesmo.
Segurei seu dedo anelar e fui colocando o anel, vendo como
encaixou direitinho. Quando a argola alcançou o fim, era como se realmente
tivéssemos assumido um compromisso para toda a vida.
Lorenzo me segurou pela cintura, puxando-me para seus braços, a
boca descendo sobre a minha com profundidade, selando assim nosso
casamento na praia.
Acariciei seu cabelo, sentindo os fios entre meus dedos e apertando
minhas coxas em sua cintura.
— Ninguém precisa saber — ele grunhiu na minha boca.
— Só nós dois saberemos — confirmei, sugando seus lábios com os
meus, até que me lembrei de uma coisa. — Oh, mas temos duas testemunhas.
Ele começou a rir, fazendo o rosto sempre sério ganhar aquela
sensualidade que disparava o meu coração.
— Eu os trouxe de propósito, justamente para serem as testemunhas
que precisamos.
Olhou para a praia onde Thor e Loki corriam, felizes, e soltou um
assobio longo e agudo para chamá-los.
Thor ergueu logo a cabeça e veio correndo, fazendo o pequeno Loki
vir atrás.
Chegaram perto de nós dois cheios de areia por todos os lados.
— Calma lá, garoto! — Lorenzo foi dizendo, fazendo-o parar à
nossa frente abanando o rabo, e olhou para mim com um sorriso satisfeito no
rosto. — Thor e Loki, acabamos de nos casar. O que vocês acham disso?
Thor latiu de imediato, o rabo agitando-se freneticamente, parecendo
muito feliz ao nos ver agarrados na toalha. Lokinho imitou-o logo, todo
alvoroçado, fazendo-nos rir.
— Acho que eles concordaram — ele disse, dispensando-os depois.
— Muito bem. Agora podem voltar a brincar.
Quando eles correram pela praia, Lorenzo deitou-se na toalha,
levando-me com ele.
— Amo você, Angel!
— Amo você, Loki.
FIM DO LIVRO 2
Não perca o que está por vir desta história intensa e poderosa de
Angélica & Lorenzo, que continua conquistando corações em dois
continentes. Leia o Livro 3 — Dominado Por Um Anjo, que estará disponível
na Amazon — Kindle Unlimited no início de fevereiro/2020.
Outras Obras da Autora
Série Linhas do Destino — Livro 1
Linhas do Destino

Angélica é uma garota romântica e sensível que se prepara para


entrar no último ano do ensino médio. E será em sala de aula que vai
conhecer Lorenzo, um italiano com aparência de bad boy e personalidade
complexa que em nada se parecia com o rapaz dos seus sonhos românticos. O
que ela não contava, é que aquele rapaz aparentemente errado iria se
transformar no homem certo do seu destino. Romance premiado com o
Wattys 2016 do Wattpad.
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Entre o CEO e o Inferno

Kieran Stoneheart é exatamente o que o seu nome diz: um homem


com o coração de pedra. Mas este coração arde de amor por uma única
mulher, Leah, que o rejeitou no passado e que reaparece três anos depois,
envolvida nos perigos de uma dívida de pôquer do irmão viciado em jogos de
cassino. Uma mulher que vai ter que escolher “Entre o CEO e o Inferno”.
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Um Tempo Para Aceitar

Três anos de um relacionamento de cumplicidade, amor e muita


paixão com o enigmático Brandon, não prepararam Catriona para o choque
de vê-lo rejeitar sua gravidez. Após eventos dramáticos, ela descobre
segredos do passado de Brandon que podem destruir de vez a vida a dois que
planejaram. Quanto tempo uma pessoa precisa para aceitar algo que lhe causa
imensa dor?
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O Desaparecimento de Mary Anne

O Desaparecimento de Mary Anne: Uma bebê de seis meses


desaparece misteriosamente e o caso vai parar nas mãos de Douglas
Nogueira, um investigador da polícia que vive uma crise existencial depois
de ser abandonado pela namorada. À medida que a investigação avança,
Douglas se depara com uma série de revelações surpreendentes, não apenas
sobre o desaparecimento de Mary Anne, mas também sobre a mulher que
ainda ama.
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Biografia e Redes Sociais

Lettie S.J. é natural do Recife e reside em Portugal desde 2007.


Possui uma carreira conceituada entre as leitoras brasileiras e portuguesas nas
categorias de romance contemporâneo e histórico. Formada em Secretariado
Executivo pela UFPE, trabalhou durante 20 anos no Brasil como Secretária
de Diretoria e Superintendência, em empresas como Secretaria de
Planejamento do Estado de Pernambuco, Boehringer Ingelheim do Brasil,
SPP Nemo — atual SPP-KSR da Companhia Suzano de Papel e Celulose —
e Grupo Industrial João Santos — Cimento Nassau. Foi premiada com o
Wattys do Wattpad em 2016, atribuído ao romance new adult Linhas do
Destino. No ano seguinte, tornou-se Embaixadora do Wattpad. Atualmente,
tem vários e-books publicados na Amazon que a tornaram uma autora best-
seller no ranking dos mais vendidos, além de ter livros físicos publicados por
editoras no Brasil e em Portugal.
www.lettiesj.com
Instagram: @lettie.sj
Página Facebook: lettiesj
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Wattpad: @lettiesj
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