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22/03/2021 UNINTER - DESIGN CULTURA E SOCIEDADE

DESIGN, CULTURA E SOCIEDADE


AULA 1

Profª Cristiana Miranda

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22/03/2021 UNINTER - DESIGN CULTURA E SOCIEDADE

CONVERSA INICIAL

Seja bem-vindo a nossa aula! Nossa proposta para esta disciplina é possibilitar que você desenvolva
uma visão sistêmica, crítica e reflexiva sobre as relações entre o design e os meios culturais, sociais e
ambientais, para a criação de projetos de design humanísticos, inclusivos e de transformação
sociocultural.

Esta aula tem como objetivo desenvolver capacidades acerca do conceito de sociedade, visando à
compreensão do mundo social e dos fundamentos da ação humana. Para isso, os temas abordados
serão:

O que é sociedade?
Elementos constitutivos de uma sociedade;
Evolução histórica da sociedade ocidental – partes 1 e 2;
Migração humana.

CONTEXTUALIZANDO

Você já pensou no porquê de falar português, tirar carteira de motorista somente após completar 18
anos, eleger o presidente da república a cada quatro anos, usar verde e amarelo em dias de Copa do
Mundo de Futebol? Já se perguntou por que corta o cabelo da maneira como está agora? Por que usa
tênis de uma determinada marca ou segue nas redes sociais aquele influencer? Por que você prefere um
gênero musical e não outro?

Cada indivíduo tem particularidades que o diferencia dos demais. No entanto, uma análise mais
detalhada revelará que muito daquilo que é aparentemente único e pessoal, na realidade, é a conjunção
de vários elementos do meio social que influencia o indivíduo.

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Com efeito, a coletividade impõe aos seus sujeitos rotinas e padrões pré-estabelecidos, por meio
dos quais os indivíduos são preparados para participar de sistemas e grupos sociais. Esse processo é
chamado de socialização e apresenta um sistema complexo de relações entre indivíduos.

TEMA 1 – O QUE É SOCIEDADE?

A palavra sociedade deriva do latim societate, cujo significado pode ser compreendido pelo
agrupamento de seres que vivem sob normas comuns. Vale mencionar que para esse conceito
dispensa-se quantidade mínima ou máxima de indivíduos em comunidade. O ponto-chave é que todos
(conceito relativo) adotam as mesmas regras. A palavra sociedade pode ser utilizada para representar a
população de um país, estado ou cidade, no presente ou no passado, uma associação profissional ou
acadêmica, uma empresa, um grupo de pessoas que tem objetivos comuns a cumprir.

Sendo objeto de estudo de todos os campos das ciências sociais, o conceito de sociedade tem
concepções um pouco diferentes conforme cada área específica, como em antropologia, sociologia e
ciência política.

O foco da antropologia reside na posição do indivíduo frente às demais estruturas sociais[1]. Assim,

a antropologia social destina-se ao estudo da inserção do ser humano na estrutura da sociedade,


englobando as diferentes instituições sociais[2] e relações sociais[3]. Para a sociologia, a sociedade é

composta de grupos sociais[4] que compartilham interesses e preocupações em comum. O elemento

principal é a identidade da comunidade[5]. Pelo campo da ciência política, a sociedade é compreendida

pela reunião de pessoas sob determinadas condições em busca de uma mesma finalidade, ou seja, o
núcleo social reside no desenvolvimento do poder político-social para condicionar as ações humanas a
fim de cumprir com o propósito coletivo.

Nesta disciplina, vamos entender sociedade com base na sociologia, como “um grupo autônomo de

pessoas que ocupam um território comum, têm uma cultura comum e possuem uma sensação de
identidade compartilhada” (Dias, 2004, p. 118). A organização de indivíduos em grupos sociais

organizados não é característica privilegiada da raça humana (veja como abelhas, formigas, elefantes

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vivem em sociedade), mas é uma das principais razões que torna o ser humano espécie dominante no
planeta.

Viver em sociedade permite que o ser humano adquira conhecimentos e desenvolva habilidades
[7]
devido às interações sociais[6] e aos meios de comunicação (linguagem oral, escrita, pictórica ). Quando

pessoas convivem em um mesmo local elas se relacionam, se influenciam mutuamente (interações

sociais) e determinam, preferencialmente de comum acordo, normas de comportamento (individual e


coletivo), para facilitar a convivência.

Citando alguns exemplos, temos: padrão de linguagem (se um diz não, o outro obedece), tipo de

alimentação (comer minhocas é saudável), comportamentos aceitáveis (tomar banho a cada dois dias),
distribuição de atividades (você caça e eu planto milho) e o uso de determinadas tecnologias (vamos

usar machados bem afiados para cortar lenha).

Os diversos temas de interações sociais, quando agrupados, formam as relações sociais. Por

exemplo, relações sociais familiares ou religiosas ou culturais ou políticas. Quando as relações sociais
entre os indivíduos e os grupos de uma comunidade se organizam, têm estabilidade (aprovação da

maioria das pessoas) e perduram por um tempo relativamente longo, dizemos então que a comunidade

tem uma estrutura social.

Toda sociedade tem uma estrutura social organizada em quatro elementos básicos: os status, os

papéis sociais, os grupos sociais e as instituições sociais. Em sociologia, status é a posição social do
indivíduo na sociedade; papel social é o agrupamento de direitos, deveres e expectativas definidas de

um determinado status; grupo social é o conjunto de indivíduos que seguem determinadas normas e
valores, formando uma unidade; e instituição social é um sistema de relações sociais organizado e

adotado por todos os membros, como família, educação, política, economia e religião (Dias, 2004).

Por exemplo, na instituição família brasileira, há o grupo social família Silva, de Curitiba, em que
Pedro é o filho mais velho (status) de João e Maria. Como filho mais velho, os pais esperam que (papel

social) Pedro, depois de terminar o segundo grau, faça faculdade de direito e também trabalhe para
ajudar nas despesas da casa, bem como aos irmãos mais novos (expectativa dos pais, dos irmãos, dos

familiares etc.).

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Com efeito, a sociedade impõe aos seus indivíduos rotinas e padrões comportamentais pré-
estabelecidos, pelos quais as pessoas são preparadas para participar das estruturas sociais. Esse processo

é chamado de socialização e apresenta um sistema complexo de relações entre indivíduos. Diante do


mesmo cenário de deveres e obrigações, as pessoas que vivem em uma determinada sociedade

adquirem uma identidade coletiva comum e, como consequência, compartilham um estilo de vida
comum.

Destaca-se que um indivíduo pode fazer parte de vários grupos sociais simultaneamente, como

núcleos familiares, acadêmicos ou profissionais em que estamos habituados. E todos esses núcleos o
influenciam em diferentes formas, mas sempre dentro de padrões que se relacionam em função da

sociedade mais abrangente.

Nem sempre os traços de cada grupo podem ser nitidamente observados dentro de cada indivíduo.

É mais fácil visualizar cada indivíduo por suas particularidades. No entanto, se observarmos as inter-
relações daquele sujeito, percebe-se a existência de um domínio social sobre atos e decisões realizados

pelo indivíduo.

TEMA 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UMA SOCIEDADE

É comum que um grupo de pessoas se reúna em determinado lugar em função de algum objetivo
comum. Tal reunião, mesmo que seja realizada por um grande número de indivíduos e/ou motivada por

um interesse social relevante, não pode ser considerada como uma sociedade (Dallari, 2011). Para que
ocorra a efetiva caracterização de sociedade, o agrupamento humano deve apresentar os seguintes

elementos: finalidade social, manifestações de conjunto ordenadas e poder social.

2.1 FINALIDADE SOCIAL

Quando se vive em uma sociedade humana, pergunta-se se pode existir uma finalidade e qual seria
se existisse. Diante de tal indagação, tem-se duas vertentes doutrinárias: de um lado há aqueles que

negam a possibilidade de uma escolha – deterministas. De outro lado, estão aqueles que sustentam ser
possível a fixação de uma finalidade social por meio de um ato de vontade – finalistas.

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Para os deterministas, o indivíduo está submetido, irrevogavelmente, a uma série de leis naturais,

sujeitas ao princípio da causalidade. Dessa forma, as teorias deterministas negam a possibilidade de

escolha de finalidades de um grupo social. Opondo-se a essa visão, os finalistas sustentam que a
finalidade social é uma livre escolha do sujeito inserido e atuante na sociedade. O homem, portanto, tem

conhecimento de que se deve viver de maneira associativa e busca fixar, como objetivo da vida social,
uma finalidade condizente com suas necessidades fundamentais diante daquilo que lhe parece ser mais

valioso.

A finalidade almejada, portanto, deverá ser algo (bem material ou conhecimento imaterial) que

todos considerem como tendo valor. Assim, a finalidade social é o bem comum e deve indicar valor
reconhecível por todos os integrantes da sociedade, sejam quais forem as propensões individuais.

Quando uma sociedade está ordenada para que só se promova o bem de uma parte de seus integrantes,
é sinal de que ela está mal organizada e afastada dos objetivos que justificam sua existência.

2.2 MANIFESTAÇÕES DE CONJUNTO ORDENADAS

Agrupar-se em pessoas com um objetivo comum a ser atingido – finalidade social – não é suficiente

para garantir a concretização desse objetivo planejado. É indispensável que os componentes da

sociedade passem a se manifestar em conjunto de forma ordenada, preservando a liberdade de todos,


sempre visando àquele objetivo em comum.

As manifestações de conjunto ordenadas devem atender a três requisitos – reiteração, ordem e

adequação – a fim de garantir que a finalidade social seja atingida.

2.2.1 REITERAÇÃO

É fundamental para a coletividade ter noção que sua finalidade (bem comum) é um objeto
permanente, uma vez que em cada momento surgem novos fatores, influenciando a própria noção de

bem comum. Diante disso, é fundamental que o grupo social se manifeste em conjunto, pois somente
por meio da ação conjunta continuamente reiterada é que o todo social terá condições para a
consecução de sua finalidade.

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Assim, é necessário que a coletividade realize constantemente exteriorizações conjuntas, e os atos


praticados isoladamente devem ser integrados em um todo harmônico, surgindo assim a exigência de

ordem.

2.2.2 Ordem

É complicado coordenar ações humanas para um fim comum existindo uma vasta diversidade de
preferências, aptidões e possibilidades entre os indivíduos do grupo social. A fim de que os constantes
movimentos da sociedade se mantenham em harmonia, a coordenação em tais movimentos deve ser

realizada em conformidade com determinadas leis.

A ordem é composta de leis e normas que existem para possibilitar que a sociedade atue em função
do bem comum. Todavia, essa ordem não exclui a vontade e a liberdade individuais, uma vez que todos

os membros de uma sociedade participam da escolha das normas de comportamento social, restando
ainda a possibilidade de optar entre o cumprimento de uma norma ou o recebimento da punição que
for prevista para a desobediência.

2.2.3 Adequação

O terceiro e último requisito das manifestações de conjunto é a adequação. Os membros da

sociedade devem sempre considerar exigências e possibilidades da realidade social, a fim de que as
ações não se desenvolvam em sentido diferente daquele que conduz efetivamente ao bem comum
(Dallari, 2011).

Para que seja assegurada a permanente adequação é indispensável que não se impeça a livre

manifestação e a expansão das tendências e aspirações dos membros da sociedade. Logo, os próprios
componentes da sociedade é que devem orientar suas ações no sentido do que consideram seu bem
comum.

2.3 PODER SOCIAL

Vamos pontuar algumas características gerais do poder. A primeira consiste em que o poder é um
fenômeno social, jamais podendo ser explicado em face de fatores individuais. A segunda característica é

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a bilateralidade, isto é, existirá poder sempre que existir correlação de duas ou mais vontades, havendo
predominância de uma sobre a outra.

Portanto, o poder social legítimo deve ser aquele que é consentido por todo o grupo social. Assim,
o governo que utiliza a força a serviço do poder sem o consentimento social torna-se totalitário,

substituindo a vontade dos governados pela dos próprios governantes.

A terceira característica do poder social é a objetivação: o governante dá precedência à vontade


objetiva dos governados ou da lei, desaparecendo a característica de poder pessoal, sendo um poder

totalmente despersonalizado a fim de buscar o bem comum.

TEMA 3 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE OCIDENTAL – PARTE


1

A história de uma sociedade é analisada e entendida por toda a produção material e cultural do seu
povo, compreendendo o contexto social, a tecnologia e os recursos disponíveis. Por questões didáticas,
vamos analisar brevemente a evolução das sociedades ocidentais por critérios socioeconômicos.

Os primeiros hominídeos surgiram há mais ou menos 2,5 milhões de anos. Há 150-180 mil anos, as
comunidades de humanos modernos[8] já estavam bem organizadas. A autoridade era natural, ou seja, o

indivíduo mais forte ou a mulher com maior prole comandava o grupo social. Havia propriedade coletiva
dos meios de produção, divisão natural do trabalho; não havia especialização e a população era nômade.

Houve grande avanço nessas sociedades a partir do controle do fogo e do desenvolvimento de

instrumentos de pedra, madeira, ossos, peles e de peças de cerâmica fria e queimada. Durante todo esse
período (de 2,5 milhões a 20 mil anos atrás), dizemos que a sociedade era de coletores-caçadores ou
de subsistência, pois sobrevivia de caça, pesca, coleta de frutas e raízes comestíveis.

A agricultura e domesticação de animais surgiram há 15-20 mil anos, construindo uma sociedade
de horticultura e pastoreio, com possibilidades de troca (escambo) de alguns poucos itens ou
quantidades. Naturalmente, as atividades de caça e coleta continuaram, mas não eram mais a fonte
principal de alimentos. Os métodos agricultura eram primitivos, como falta de rodízios de culturas

plantadas, o que enfraquecia a terra; de sistemas de irrigação para atenuar períodos de seca e de
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técnicas de drenagem para as temporadas de chuvas. Por isso, as pessoas eram obrigadas a constantes
movimentações, com ocupação territorial temporária.

A autoridade natural foi substituída para uma autoridade de base religiosa ou militar, e a divisão
natural do trabalho evoluiu para a especialização: caçadores, coletores, pastores e agricultores, com o
artesanato sendo uma segunda ocupação comum. Foi nessa época que apareceram os conceitos de
propriedade privada (rebanhos e produção agrícola) e escravidão.

Devido ao crescimento e à melhoria das técnicas de agricultura e pecuária, a sociedade agrária teve
início no Oriente Médio, em 8000 a.C. Gradativamente, houve a sedentarização das tribos, formando
cidades muito povoadas, com estruturas religiosas, políticas e militares cada vez mais complexas. A

constituição do direito paterno sobre propriedades e família desenvolveu novas práticas sociais, como a
poliginia[9]. Instituiu-se a monarquia despótica de direito divino e a religião politeísta.

Os grandes avanços tecnológicos dessa época foram possíveis devido à criação e popularização da
escrita e ao desenvolvimento de sistemas de troca (sal, peças de ouro, prata, moedas); a contagem e as
medidas favoreceram o comércio. A divisão da sociedade em classes sociais se ampliou: rei, nobre,

sacerdote, militar, dono de terras, comerciante, artesão, serviçal, escravo.

A partir de 3000 a.C., surgiram as grandes civilizações precursoras da sociedade ocidental: fenícios,
mesopotâmios, hititas, hebreus, egípcios, macedônicos, gregos, romanos, entre outros. A produção

agrária poderia ser economicamente majoritária, mas também havia grande produção de bens duráveis
(móveis, joias, cerâmicas, grandes construções, tecidos, equipamentos de guerra) por imensas oficinas de
artesãos e serviços diversos que também geravam riqueza.

Até o século V (da era cristã), houve avanços significativos em artes (literatura, arquitetura,
escultura), filosofia, organização jurídica e política, mas estruturas sociais e critérios econômicos e
produtivos eram praticamente os mesmos. Isso se modificou com as invasões dos povos bárbaros a
cidades romanas na Europa e com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476. As pessoas

fugiram das cidades romanas e passaram a viver em pequenos vilarejos, sítios e fazendas isolados e o
comércio desapareceu. Por quase 600 anos a Europa Ocidental era formada por sociedades de
horticultura e pastoreio.

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[10]
A partir do século X, grande parte da população já vivia em feudos . Com as Cruzadas, os saques

às cidades prósperas do Império Bizantino e Oriente Médio encheram os cofres dos senhores feudais e
também facilitaram o comércio entre regiões mais distantes, ressurgindo o comércio em larga escala e o
retorno das sociedades agrárias.

Os próximos séculos foram de crescente desenvolvimento técnico-científico, com aumento


considerável da população europeia e descoberta das Américas. Em torno de 1760, a Revolução Industrial
[11]
começou na Inglaterra, depois migrando para outros países da Europa e América do Norte. É

importante destacar a relação entre o Iluminismo[12], a Revolução Industrial e o combate à escravidão

pela Inglaterra, a partir de 1807[13]. Resumidamente, a Inglaterra tinha tecnologia para alta produção (no

contexto da época) e visava aos escravos como futuros consumidores dos seus produtos
industrializados.

Independente de questões éticas, a produção seriada e com equipamentos mecanizados (força de

máquinas a vapor) permitia usar novos materiais, alta produtividade, mão de obra não especializada e
barateamento no custo dos produtos. Era o início da sociedade industrial.

As mudanças sociais que ocorreram entre 1760 e 1860, foram muito negativas para as classes sociais

europeias mais baixas (aqueles que trabalhavam no chão da fábrica). O êxodo rural (migração das
pessoas do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida) piorou a situação das
cidades, já populosas e sem saneamento básico, escolas e hospitais para a população. As péssimas
condições de trabalho e remuneração, o emprego de crianças pequenas e a falta de segurança na

execução da tarefa causavam miséria e grande mortalidade. No entanto, o mesmo não acontecia com
classes sociais ligadas ao comércio dos produtos industrializados, profissionais qualificados (engenheiros,
administradores, contadores, advogados) e donos das fábricas que tiveram crescimento socioeconômico
elevado.

Depois de várias décadas, pressões sociais, como greves e manifestações agressivas, promoveram a
criação de leis específicas para regulamentar atividades de trabalho, melhorando a situação dos
trabalhadores em geral. Com a regulamentação do trabalho e do crescimento da indústria bélica e

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complementares (vestiário, alimentação enlatada, aviação, motores etc.) entre as décadas de 1920 e
1950, a sociedade industrial consolidou-se.

Todavia, é importante destacar que os países subdesenvolvidos entraram tardiamente na Era

Industrial. Como exemplo, as primeiras estruturas políticas e econômicas para incentivo à construção de
parques industriais no Brasil surgiram de após de 1950.

TEMA 4 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE OCIDENTAL – PARTE


2

Podemos citar duas grandes transformações sociais que surgiram após o fim da Segunda Guerra
Mundial: a luta pelos direitos humanos para promoção da melhoria social e combate à discriminação, e o

início da globalização, principalmente baseada nos novos meios de comunicação e de informação e na


disseminação dos princípios da economia industrial.

A discussão sobre os direitos humanos começou com a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) em outubro de 1945, que entre outras ações proclamou a Declaração Universal dos Direitos

Humanos em 10 de dezembro de 1948. Entre 1948 a 1980, os avanços da ONU e suas organizações e
programas[14] para erradicar a extrema pobreza, promover maior equidade social e eliminar a

discriminação (racial, de gênero, de idade etc.) foram lentos e com geraram poucas transformações
concretas na sociedade mundial.

Por exemplo, na década de 1960 era notável nos países com parque industrial bem desenvolvido o
aumento de especialização acadêmica, técnica e profissional, de diversidade cultural, de fonte de renda e
padrão social, de expectativa de vida e de participação política. Em contrapartida, alguns grupos sociais
específicos ainda sofriam com elevada desigualdade social e preconceito, como negros e índios nativos

americanos nos Estados Unidos.

Os avanços tecnológicos e da produção industrial proporcionaram aumento do poder de consumo


em diversos setores da sociedade, bem como geraram pensamentos e comportamentos uniformizados

em diversos países. No entanto, a ausência de políticas adequadas para melhor aproveitamento dos
recursos naturais e resíduos do consumo acarretou impactos ambientais negativos à vida no planeta.

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Dessa forma, o final do século XX trouxe uma nova filosofia que visava ao desenvolvimento
econômico e social à proteção ambiental. O conceito de sustentabilidade, inicialmente restrito ao tema

sobre meio ambiente, reorganizou-se sobre um tripé: base econômica, base social e base ambiental. A
partir de 1985, surgiram as primeiras discussões sobre um paradigma social emergente[15] que se

fortaleceu depois de 1995 com a revolução da internet[16] e a Web 2.0 (com melhor conexão,

interatividade e velocidade): a sociedade pós-industrial.

Como estamos vivenciando esse momento, ainda não sabemos como a sociedade pós-industrial
realmente é. No entanto, várias características já podem ser identificadas: grandes avanços na
distribuição e agilidade do conhecimento e da informação, predominância do setor de serviços,

descentralização urbana, valorização da diversidade, da ética e da responsabilidade econômica, social e


ambiental das organizações.

O que se identifica nos países economicamente desenvolvidos e em menor grau nos emergentes, é
o processo de transformação social com abordagens solidárias, inclusivas, éticas e, sob vários aspectos,
individualizadas. Isso somente é possível devido à quantidade, qualidade[17] e velocidade na

transmissão de informação que temos hoje, assim como o poder que grupos sociais anônimos exercem
sobre governos e empresas a partir de manifestações públicas e/ou campanhas de não consumo e
desvalorização de marcas.

Nas sociedades em transformação social, os indivíduos desejam os benefícios da produção industrial


(produtos com preços compatíveis ao poder de compra, manutenção dos padrões de qualidade

esperados, inovação tecnológica), aliados à melhoria de vida de toda a população (não apenas alguns
grupos sociais) e a não exploração dos recursos ambientais.

Essas pessoas também esperam que produtos e serviços possam ser personalizados às suas
necessidades físicas e emocionais, que a vida seja constituída por momentos de trabalho (com
renumeração financeira), lazer e, principalmente, com significado (porque eu sou importante). Esse
comportamento diferenciado nas sociedades em transformação social é causado pela geração Y [18] ou

millennials (nascidos no final da década de 1970 a 1990) que agora são grande parte da população
economicamente ativa. Entre outras características, os millennials são mais flexíveis com mudanças,
preocupam-se com a sustentabilidade ambiental e participam mais em causas sociais.

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Naturalmente, nos dias atuais ainda encontramos comunidades que se caracterizam como
sociedade de coletores-caçadores (algumas tribos indígenas na Amazônia), de horticultura e pastoreio

ou agrárias. Existem regiões que ainda vivenciam, majoritariamente, os princípios da sociedade industrial,
inclusive no plantio de alimentos e na criação de animais. No entanto, mudanças sociais estão em
contínuo processo evolutivo e nós fazemos parte disso.

TEMA 5 – MIGRAÇÃO HUMANA

Para melhor compreensão, é necessário diferenciarmos os termos migração, imigração e emigração.

Migração:movimento que uma pessoa, grupo ou animal realiza de determinado local para outro.
Imigração:entrada de uma pessoa em um país estrangeiro para estabelecer nova residência. O

indivíduo que imigra é chamado imigrante.


Emigração:saída da pessoa de seu país de origem para viver em outro. O indivíduo que emigra é
chamado emigrante.

A migração humana é um movimento que existe desde as sociedades mais primitivas. Assim,
mesmo na pré-história, o sujeito já se deslocava de um local para outro, seja por melhores condições de
produção agrícola, pecuária, hídrica, climática, entre outras, que impactavam diretamente a vida
daqueles indivíduos. Existem vários tipos de migrações humanas:

Sazonal: quando o deslocamento de uma região para outra está relacionado ao clima ou aos
períodos específicos, com vantagens para caça, pesca, plantio etc.

Pendular: quando o indivíduo se desloca regularmente entre duas regiões, geralmente por
questões de trabalho. Por exemplo, a pessoa mora em uma cidade-dormitório e trabalha em outra.

Forçada: quando o deslocamento é feito sem o consentimento ou vontade do migrante. É o caso


de pessoas escravizadas ou expulsas da região onde moram por questões de domínio político,
religioso ou étnico.

Voluntária: quando o indivíduo vai para outra região para atingir determinados objetivos
pessoais/familiares.

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Podemos identificar várias migrações humanas que impactaram na evolução das sociedades:
humanos modernos da África migrando para a Eurásia, onde encontraram os neandertais e promoveram
troca de conhecimento e material genético; quando o Império Romano invadia uma região com milhares
de soldados e funcionários de governo, divulgava também a cultura greco-romana; imigrantes alemães,

italianos, portugueses, espanhóis e tantos outros que vieram ao Brasil a partir de1850 e moldaram a
identidade do povo brasileiro.

Analisando as migrações humanas entre países, no século XX, Martine (2005) faz uma lista de
vantagens e desvantagens da migração internacional. São vantagens:

Para o local de origem, a migração promove melhoria na economia, devido às remessas que o
migrante faz à família; alivia tensões sociais onde a economia está estagnada e a população é de
maioria jovem; agiliza a modernização, pois quando o migrante volta ao local de origem, as ideias

e valores aprendidos no exterior são compartilhados localmente.


Para o migrante, a migração propicia novos conhecimentos e experiências; permite mobilidade
[19]
social que o local de origem não oferece; em certas situações, ajuda na emancipação da mulher.

Para o local de destino, a migração revitaliza sociedades com população envelhecida; preenche

cargos e funções de trabalho que a comunidade do destino não deseja realizar; aumenta a base de
consumidores da região de destino.

Quanto às desvantagens:

Para o local de origem, a migração de pessoas com qualificação específica gera a “fuga de
cérebros” e há perda de pessoas criativas e empreendedoras.
Para o migrante, a migração é um fator de risco, especialmente para mulheres e crianças; pode

haver dificuldade com comunicação e adaptação a outra cultura; pode ocasionar discriminação
social e racial.
Para o local de destino, a migração causa conflitos sociais entre migrantes e pessoas do local por
questões discriminatórias ou diminuição na oferta de empregos; aumenta a pressão nos serviços
sociais, educacionais e de saúde, bem como nos relacionados à segurança nacional.

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TROCANDO IDEIAS

Sugerimos que você entre no fórum e conte para seus colegas como é a estrutura social da sua
família, os status e papéis sociais de cada indivíduo do grupo familiar. E, o mais importante: como você
foi influenciado por eles.

NA PRÁTICA

Para aprender mais sobre as gerações, leia o texto Dossiê das Gerações, de Camila Casarotto,
disponível no link: https://rockcontent.com/blog/dossie-das-geracoes/. Aprofunde seu conhecimento
lendo outros conteúdos semelhantes que estão na internet, e então faça um texto com 500 palavras
respondendo: você tem características correspondentes à geração em que nasceu? Por quê?

FINALIZANDO

Nesta aula, entendemos que toda sociedade tem uma estrutura organizada e os indivíduos
pertencentes a ela influenciam e são influenciados pelo todo. Vimos que, para um agrupamento humano
se constituir como sociedade, deve apresentar finalidade social, manifestações de conjunto ordenadas e

poder social.

Estudamos brevemente a evolução da sociedade ocidental em aspectos socioeconômicos e


percebemos que hoje a sociedade pós-moderna é formada por grandes avanços na tecnologia da
informação e na responsabilidade econômica, social e ambiental das organizações. Terminamos a aula
comentando sobre vantagens e desvantagens da migração humana.

REFERÊNCIAS

AQUINO, R. S. L. de et al. História das sociedades: das comunidades primitivas às sociedades


medievais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

AQUINO, R. S. L. de et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.
Rio de Janeiro: Record, 2001.

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BATISTA, S.; FREIRE, E. Sociedade e tecnologia na era digital. São Paulo: Érica, 2014.

CASAROTTO, C. Dossiê das Gerações: o que são as gerações Millennials, GenZ, Alpha e como sua
marca pode alcançá-las. Rockcontent.com, 2020. Disponível em: https://rockcontent.com/blog/dossie-
das-geracoes/. Acesso em: 06 ago. 2020.

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DALLARI, D. Elementos de teoria geral do estado. 30. ed. Saraiva. 2011.

DIAS, R. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson, 2004.

GARDIEN, P. et al. Changing your Hammer: The implications of Paradigmatic Innovation for Design
Pratice. Internacional Journal of Design. v. 8, n. 2, 2014.
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JOHNSON, G. A. Dicionário de sociologia, guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 1997.

LACERDA, G. B. de. Introdução à sociologia política. Curitiba: InterSaberes 2016.

MARTINE, G. A Globalização Inacabada: migrações internacionais e pobreza no século 21. São Paulo
em Perspectiva, v. 19, n. 3, p. 3-22. jul./set. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/spp/v19n3/v19n3a01.pdf. Acesso em: 06 ago. 2020.

PLÜMER, E. et. al. Sociedade e contemporaneidade. Curitiba: InterSaberes. 2018.

SCOTT, J. Sociologia: conceitos-chave. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.

[1]Estruturas sociais: “padrões relativamente estáveis e duradores em que estão organizadas as

relações sociais” (Dias, 2004, p. 118).

[2]Instituição social: “é um sistema complexo e organizado de relações sociais relativamente

permanentes, que incorpora valores e procedimentos comuns e atende a certas necessidades básicas da
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sociedade” (Dias,2004, p. 201).

[3]Relação social: conjunto de interações sociais entre os indivíduos, sob um mesmo tema.

[4]Grupo social: “conjunto de pessoas que partilham algumas características semelhantes (normas,

valores, expectativas) que regular e conscientemente interagem e apresentam algum sentimento de

unidade” (Dias, 2004, p. 132).

[5]Identidade da comunidade: conjunto de características que distinguem uma comunidade de

outra, possibilitando a individualização do grupo social.

[6]Interações sociais: processo no qual as pessoas se relacionam umas com as outras.

[7]Linguagem pictórica: comunicação por meio de imagens.

[8]Humanos modernos: o que somos hoje, Homo sapiens sapiens.

[9]Poliginia: o homem tem direito a mais de uma esposa, enquanto as mulheres só podem se

relacionar com o homem em questão.

[10]Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/feudalismo/481274>. Acesso em: 17 ago.

2020.

[11]Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Revolu%C3%A7%C3%A3o-

Industrial/481567>. Acesso em: 17 ago. 2020.

[12]Iluminismo. Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Iluminismo/481232>. Acesso

em: 17 ago. 2020.

[13]Veja mais em: <https://reporterbrasil.org.br/2008/09/museu-mostra-como-europeus-se-aproveit

aram-da-escravidao/>. Acesso em: 17 ago. 2020.

[14] ONU. Veja mais em: <https://nacoesunidas.org/>. Acesso em: 17 ago. 2020.

[15]Paradigma emergente: Padrão ou modelo em desenvolvimento e ainda não aceito pela maioria.

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[16]Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/internet/481573 />.

[17] Qualidade na informação também é combater as fake news.

[18]Veja mais em: <https://rockcontent.com/blog/dossie-das-geracoes/>.

[19]Mobilidade social: movimento de indivíduos ou grupos por meio das classes sociais.

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