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REFLEXÃO METODOLÓGICA
APLICADA AO ENSINO
SUMÁRIO
Apresentação 4
Autor 5
UNIDADE 1
A crítica histórica
UNIDADE 2
Fontes audiovisuais
SUMÁRIO
UNIDADE 3
Micro-História
História Oral
UNIDADE 4
Por meio dos conteúdos abordados, é possível que você compreenda todo o processo
de construção da História como ciência, reconhecendo e operacionalizando suas
distintas fontes e métodos. Você entrará em contato com as diversas características
e particularidades da formatação do saber histórico. Crítica histórica, fontes escritas
e materiais orais e audiovisuais são alguns exemplos de distintas possibilidades de
formatação e de olhares sobre o passado. Da mesma forma, a História Comparada, a
História Oral e a Micro-história são métodos historiográficos que contribuirão com suas
especialidades. Com efeito, associamos as especificidades da História à prática docente,
ou seja, a compreensão das fontes e dos métodos de construção da História poderá ser
utilizada por você como uma ferramenta de ensino, ponto que dá funcionalidade a todo
o conhecimento trabalhado nesta disciplina.
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AUTOR
5
UNIDADE 1
OBJETIVO
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A comprovação: História como ciência
Foi somente no século XIX, embalada pela onda cientificista e racional do período, que a
História conquistou o status de ciência e buscou ser a retratação “verídica” do passado,
embasada em fontes e métodos. A História era a comprovação, a verdade, a prova
irrefutável do que aconteceu em tempos pretéritos, legitimada a partir de provas. Essa
questão é bem retratada por Marczal, que aponta:
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verdadeiro e, com isso, elaborar uma narração fidedigna dos
fatos. Tudo isso com base nos vestígios autênticos do passado,
os quais comprovariam os eventos narrados pelos pesquisadores.
(2016, p. 32)
Nesse contexto, assumir o status de ciência era essencial para garantir a credibilidade
no mundo acadêmico e social. Esse novo paradigma se desenvolveu na França e,
especialmente, na Alemanha do século XIX com Leopold von Ranke. Esse é um dos
momentos essenciais do olhar sobre o passado em uma perspectiva científica:
Contribui com essa discussão Estevão Martins (2010), que destaca que uma série de
correntes de pensamentos historiográficos foram desenvolvidos a partir do período
oitocentista. Todavia, todas elas possuem, pelo menos, um ponto de convergência
basilar: “Deixam de considerar a história como uma crônica baseada nos testemunhos
legados pelas gerações anteriores e entendem-na como uma investigação, pelo que o
termo ‘história’ recupera seu sentido originário em grego” (MARTINS, 2010, p. 11).
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Importante
Com efeitos, não basta interpretar fontes para se fazer História. Para a História atual,
científica, a análise do passado exige método. Cada metodologia é essencial e está
intimamente ligada a um tipo de fonte, a um modo de operacionalizar as marcas do
passado, ou seja, a matéria-prima da História, como destaca Barros:
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Já a metodologia remete a uma determinada maneira de trabalhar
algo, de eleger ou constituir materiais, de extrair algo destes
materiais, de se movimentar sistematicamente em torno do tema
definido pelo pesquisador. A metodologia vincula-se a ações
concretas, dirigidas à resolução de um problema; mais do que ao
pensamento, remete-se à ação. Assim, enquanto a “teoria” refere-
se a um “modo de pensar” (ou de ver), a metodologia refere-se a
um modo de fazer, ou ao campo de atividades humanas que a
filosofia denomina praxis. (2015, p. 80)
Dessa forma, os métodos podem variar de acordo com as fontes e com os objetivos
do pesquisador, passando por História Comparada, Micro-história e História Oral, cada
qual atendendo a distintas demandas. Todos os detalhes acerca das características, das
possibilidades e dos limites das fontes, e das metodologias da História, assim como as
possibilidades de sua aplicação no ensino, serão trabalhados no decorrer desta disciplina.
MIDIATECA
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A crítica histórica
Essa premissa está consolidada e legitimada no universo acadêmico, mesmo que, por
inúmeras vezes, ainda receba ataques daqueles que não percebem uma exatidão nas
afirmações quando o objeto de investigação é o passado em todas as suas variáveis.
Essa questão, no entanto, é amplamente aceita quando percebemos que as próprias
conclusões advindas das mais diversas áreas da ciência têm limite e, de certa forma, em
um amplo contexto, “validade”.
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Quem escreveu/
produziu/pintou/falou?
O que estava
Qual a intenção? acontecendo naquele
Qual o contexto? local e no mundo
naquele momento?
Esses são apenas alguns exemplos de perguntas que devem ser feitas às fontes para
que, a partir do conjunto de informações, a História possa ser compreendida, “montada”,
decifrada. É nesse trabalho que se constitui a crítica histórica, em que o historiador,
utilizando o próprio conhecimento histórico, direciona-o no desenvolvimento de mais
considerações sobre o passado. Nesse contexto, o profissional da História faz uma
crítica externa aos documentos, como bem aponta Antoine Prost:
Com efeito, a crítica externa, ou seja, o olhar de fora da fonte sobre ela tem, também, em
um emaranhado muito amplo de atribuições a função de comprovar a veracidade de sua
origem. Tudo o que já você estudou aqui de nada serviria se a origem das informações
não fosse confiável. Nesse caso, todo o processo de produção do saber histórico estaria
comprometido. Essa é mais uma função característica da elaboração da história, da
crítica, de suma importância, apontada por Prost:
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[...] A crítica externa pode discernir os documentos provavelmente
autênticos em relação aos falsos ou àqueles que sofreram
modificações (crítica de proveniência); por exemplo, não há dúvida
sobre a falsidade de um documento, pretensamente do século
XII, se estiver escrito sobre um papel, e não um pergaminho.
Eventualmente, a crítica restabelece o documento original depois
de retirar-lhe os aditamentos ou ter restituído as partes faltantes,
à semelhança do que ocorre, frequentemente, com as inscrições
lapidares romanas ou gregas (crítica de restituição). (2012, p. 57)
É interessante perceber que esse olhar apurado, refinado, com critério feito sobre
os documentos e a produção historiográfica deve, ao mesmo tempo, recair sobre o
historiador, ou seja, sobre nós mesmos. Afinal, também somos o resultado de um
contexto histórico, de regionalidades, de individualidades. Temos nossos gostos, nossas
preferências e devemos estar atentos para que essas questões, que são naturais a
todos, não influenciem (ou, pelo menos, o mínimo possível) na interpretação de outras
questões envolvidas no trabalho do historiador. A crítica deve ser tanto à “história” como
ao historiador, que deve se despir de conceitos apriorísticos e perceber a pluralidade de
seu objeto de análise e se aproximar ao máximo da “realidade”, mesmo sabendo que esta
é inatingível em sua plenitude. A realidade/verdade é, também, uma construção individual
que tem distintas interpretações, nas quais, mais uma vez, o protagonismo se dá pelo
olhar do historiador:
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De fato, a produção do conhecimento histórico não pode abrir mão de uma série de
variáveis. Para que a História tenha credibilidade, é importante que o cuidado do produtor
desse conhecimento e suas fontes, com sua atenta leitura e crítica própria, sejam
basilares. Contudo, como aponta Jorge Grespan:
O processo de construção da História exige uma série de requisitos que a fazem receber
o rótulo de ciência. Nesse conjunto, uma variável se destaca como fundamental: a crítica
histórica. Se as demais ciências possuem, igualmente, métodos, comprovação e teorias,
a História, por ter como matéria-prima as fontes que são, na maioria das vezes, produtos
das próprias relações sociais dos seres humanos, valoriza ainda mais essa característica.
É por essa questão que a crítica às fontes, à escrita e ao próprio historiador são deveras
importantes nessa produção. A sensibilidade do olhar crítico do historiador não pode
sobrepor a marca e a comprovação do passado que é a fonte, assim como esse pedaço
do que já aconteceu também não fala por si só, necessitando do historiador para sua
interpretação.
MIDIATECA
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A relação entre fonte e método
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Todavia, cada uma dessas marcas do passado tem suas
particularidades, foram produzidas em determinado
contexto, em épocas diversas, e nos contam aspectos
diferentes do tempo ido: a literatura, mesmo que ficcional,
está carregada de sensibilidades, sentimentos; os jornais
carregam os interesses de seus leitores, direção e equipe
editorial; já os relatórios ministeriais do Brasil Império
mostram características de um tempo visto pelo Estado;
e a própria Carta de Caminha, considerada a certidão
de nascimento do Brasil, não é um documento histórico
ingênuo, mas sim um importante relato que, ao mesmo
Uma das páginas da Carta de
tempo em que era informativo, também demostrava os Caminha.
interesses da Coroa Portuguesa e da Igreja Católica. Fonte:
https://digitarq.arquivos.pt/
viewer?id=4185836.
Importante
Enfim, os documentos são diversos, cheios de informações, mas não podem ser
encarados como iguais e uniformes. Cada um carrega consigo marcas, que têm no
historiador o profissional responsável por decifrá-las — marcas muitas vezes não
visíveis.
É preciso, portanto, estar atento à relação entre a fonte e o método quando propomos
uma análise/pesquisa histórica. A metodologia, tão importante para a pesquisa histórica,
é, ao mesmo tempo, diferente desta, porém complementar e necessária, e deve estar
associada à possibilidade de investigação histórica, como aponta Cervo:
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Em seu sentido mais geral, o método é a ordem que se deve
impor aos diferentes processos necessários para atingir um
certo fim ou um resultado desejado. Nas ciências, entende-se por
método o conjunto de processos empregados na investigação e
na demonstração da verdade.
Desse modo, existe a necessidade de uma coerência entre a fonte e seu respectivo
método. É preciso que a documentação, com suas características peculiares, propicie
ou mesmo seja a melhor opção para a utilização do método, que cabe ao historiador, de
acordo com suas sensibilidade e percepção, decidir. São decisões metodológicas que
implicam o rumo que a pesquisa seguirá, como bem aponta Barros:
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Pesquisa histórica “científica”
Para refletir
Afinal, arquivos de internet, fotos digitais, blogs e sites diversos são fontes históricas?
E, se são, como utilizá-las com critério e seriedade para que o conhecimento
produzido seja sólido e confiável? Como dar conta da imensidão de material
produzido atualmente? Como lidar com as novas tecnologias? Que metodologia
usar?
MIDIATECA
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NA PRÁTICA
20
Resumo da Unidade 1
Nesta unidade A História como ciência: a importância das fontes e dos métodos, você
estudou as características que envolvem a construção da História enquanto ciência a
partir do século XIX, especialmente no que se refere à sua relação com as fontes e os
métodos historiográficos. Nesse sentido, no primeiro conteúdo, você pôde compreen-
der a disciplina histórica no contexto científico, sua consolidação, suas especificidades
e seus limites. Complementando, no segundo ponto desta unidade, você conheceu a
relevância da crítica histórica para sua constituição, ou seja, de que maneira o historiador
utiliza seus pensamentos e conhecimentos críticos para, por meio de resquícios muitas
vezes incompletos do passado, remontar cenários, fatos e contextos que já não existem
mais. Por fim, no último conteúdo desta unidade, você entendeu a relevância da relação
entre a fonte e o método, e também aprendeu as distintas possibilidades e a necessidade
de o profissional da História ser coerente na adoção de suas fontes e metodologias, que
devem ser compatíveis e tratar de objetos tão diversos quanto a própria História.
CONCEITO
A História enquanto ciência e disciplina independente teve origem no século XIX, jus-
tamente fruto do contexto de valorização da comprovação científica e da busca pela
“verdade”. Nesse período, aponta Silva (2010) no Dicionário de conceitos históricos
(p. 58), surgiu o cientificismo como forma de saber superior, criado pelo positivismo
no século XIX. Em linhas gerais, ele pensava a ciência como a busca da verdade a
partir da rigorosa observação empírica, sem o uso da imaginação ou das emoções.
Hoje, essa ideologia do progresso ainda existe, mas cada vez mais os pensadores
começam a perceber que a racionalização e o cientificismo não libertam o homem.
No século XX, particularmente a partir de seu final, assim como no século XXI, muito
se tem questionado a visão positivista da ciência. A ideia atual é a de que a ciência é
uma atividade que tem muito de criação e imaginação.
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Referências
CERVO, A. L. et. al. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
PEREZ, D. G. et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciênc. educ.
Bauru, v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
t=sci_arttext&pid=S1516-73132001000200001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 dez.
2018.
PROST, A. Doze lições sobre a história. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São Paulo: Contexto,
2010.
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UNIDADE 2
OBJETIVO
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Fontes Materiais
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é amplo e inclui edifícios, vasos, esculturas e até mesmo ruas e restos de alimentação. A
cidade de Pompéia, na Itália, devastada pelas lavas do vulcão Vesúvio, também pode ser
considerada um exemplo de fonte histórica material.
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Importante
Toda fonte, assim como o olhar do historiador, é única e pode se moldar de acordo
com as necessidades e particularidades do objeto de estudo.
Com efeito, existem alguns procedimentos que inexoravelmente devem ser executados.
É necessário que as características específicas do tipo de fonte sejam percebidas em
relação ao contexto em que foram produzidas. Ou seja, devemos “interrogar” as fontes
para que possamos recolher o maior número possível de informações sobre o que
estamos pesquisando: Quem fez? Como? Porque? Em que contexto? Qual foi a finalidade?
27
MIDIATECA
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Fontes escritas e orais
Quando tratamos de fontes escritas e orais estamos nos referindo a questões que,
aparentemente, podem parecer divergentes. No entanto, esses dois tipos de registros do
passado contêm características que os aproximam, embora existam peculiaridades que
precisam ser percebidas. Dessa forma, vamos estudar separadamente as fontes escritas
e orais para que possamos atentar aos detalhes de cada uma.
Fontes escritas
Quando tratamos de “fontes escritas” estamos nos referindo a todo tipo de relato/registro/
documento que pode ser fonte de informação para o historiador ou professor e, ainda, pode
servir como material didático sob orientação do especialista. Fontes históricas escritas
contemplam um enorme leque de opções, que vão desde documentos do Estado, como
relatórios de presidentes de província, discursos parlamentares, relatórios ministeriais e
periódicos (jornais, revistas), até a literatura (romances, poemas etc.). Esses são apenas
alguns exemplos de fontes escritas utilizadas por profissionais da História.
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Qualquer registro escrito pode servir como fornecedor de informação sobre o passado,
basta que conheçamos as características de cada fonte. Portanto, é imprescindível fazer
uma análise crítica da fonte, ou seja, perguntar, por exemplo: Quem escreveu? Onde
escreveu? Quando escreveu? Porque escreveu? Quais eram seus os interesses? Quem
leu?
Uma das fontes escritas que tem ganhado cada vez mais espaço na produção
historiográfica são os jornais, haja vista que eles contêm uma série de características
de seu tempo e tratam de temas variados. Ainda, carregam a linguagem do cotidiano e
os interesses do público leitor. Dessa forma, servem aos estudiosos do passado como
valiosa fonte de informação, como destaca Karls:
Independentemente de a fonte escrita ter caráter oficial ou ficcional, ela não tem condições
de dar conta da totalidade de uma época ou de um fato. As fontes são, devido a suas
características, portadoras de especificidades. Nesse sentido, um tipo de fonte que tem
conquistado muito espaço na historiografia, justamente por carregar consigo uma série
de sensibilidades que outros registros do passado não têm, é a literatura. Ou seja, mesmo
que a ficção não seja um relato “real” do passado, ela contém traços de uma época.
A partir de romances, poemas, contos etc., é possível reconhecer aspectos que outras
fontes são incapazes de fornecer. A literatura pode nos proporcionar, por meio de suas
metáforas ficcionais e representativas, a possibilidade de uma visão sensível do passado,
como destaca a historiadora Sandra Pesavento:
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Este mundo de detalhes do cotidiano, este espectro de caracteres e
procederes, revelam-se a nós de maneira cifrada, como máscaras
do social, através da narrativa da ficção. Por meio daquele enredo
imaginário, representação fictícia de um outro tempo, somos
capazes de chegar mais perto do passado, fazendo-o falar sobre
outro ângulo. Apesar da linguagem metafórica, os sinais adquirem
significado quando cruzados com outros dados da passeidade,
que formam o conteúdo de informação que o historiador possui.
(1996, p. 117)
Fontes Orais
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A utilização de fontes orais necessita uma série de cuidados e um minucioso método de
produção da pesquisa. Por outro lado, é uma riquíssima possibilidade para se reconhecer
experiências, sensibilidades, impressões de personagens históricos etc., a partir de suas
memórias. Nesse sentido, cada pessoa entrevistada também está inserida em um
contexto e, por vezes, o próprio silêncio em relação a determinado tema é uma resposta
ao historiador. Verena Alberti faz uma interessante análise dessas características:
32
MIDIATECA
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Fontes audiovisuais
Podemos englobar nesse grupo das fontes audiovisuais uma série de recursos ligados,
na maioria das vezes, ao desenvolvimento tecnológico que possibilitou novos registros,
de diferentes perfis. Filmes e acervos de televisão e música, por exemplo, são fontes
capazes de fornecer riquíssimas informações ao pesquisador ou de servir como material
didático em sala de aula. Estas, no entanto, apesar de sua riqueza, merecem atenção,
como aponta Napolitano:
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Curiosidade
Fonte: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Tempos_Modernos
Existem algumas características dos documentos audiovisuais que devem ser levadas
em consideração. Novamente, cada documento deve ser visto a partir das suas
particularidades. Grifar esse aspecto é necessário, por ser ele essencial à análise. Uma
das mais difundidas fontes históricas audiovisuais é o cinema. Se por um lado ele conta
com acervo relativamente bem cuidado — ainda mais com a popularização da internet,
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a análise fílmica merece cuidados específicos, já que existem variáveis imensas nas
produções do século XX e nas que vemos se estender até os dias atuais. Por isso, o olhar
do historiador deve ser amplo:
Curiosidade
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Enfim, o trabalho do historiador está se tornando cada vez mais complexo, mas, ao
mesmo tempo, cada vez mais valioso e necessário. Se uma quantidade cada vez maior
de registros é utilizada como matéria prima para a História, cabe ao historiador refinar
progressivamente seu olhar sobre o passado e sobre suas fontes.
MIDIATECA
NA PRÁTICA
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Resumo da Unidade 2
CONCEITO
38
Referências
ALBERTI, V. Fontes orais: histórias dentro da história. In: PINSKY, C. B. (Org.). Fontes his-
tóricas. São Paulo: Contexto, 2011.
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UNIDADE 3
• História Comparada.
• Micro-História.
• História Oral.
OBJETIVO
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História Comparada
42
Mas qual o diferencial da História Comparada?
Segundo o historiador Cleber Eduardo Karls (2017), embora a comparação seja uma
prática comum e importante na historiografia, ela se diferencia e se coloca como uma
modalidade historiográfica fortemente marcada pela complexidade, assim como uma
forma específica de propor e pensar questões em situações diferenciadas. Neste mesmo
ensejo, Barros (2007, p. 5) destaca que “A comparação neste momento — diante de um
desafio ou da necessidade — impõe-se como método. Trata-se de iluminar um objeto ou
situação a partir do outro, mais conhecido, de modo que o espírito que aprofunda esta
prática comparativa dispõe-se a fazer analogias, a identificar semelhanças e diferenças
entre duas realidades, a perceber variações de um mesmo modelo”.
A história comparada permite que aproximações sejam feitas entre regiões que
pareciam isoladas, uma esperança de comunicação entre as várias histórias nacionais
que aparentavam ser soltas e desconectas. A comparação permite, portanto, que o
historiador esteja apto a identificar semelhanças, bem como diferenças, no seu objeto de
análise, partindo de múltiplos campos de observação (BARROS, 2007). Como também
“é o método de pesquisa que convida a uma mudança de atitude no modo de fazer
história; é uma nova perspectiva dos pesquisadores como sujeitos em relação ao objeto
de pesquisa” (BUSTAMENTE; THEML, 2007, p. 16). Desta forma, o método comparativo “é
justamente o que permite estabelecer o estranhamento, a diversificação, a pluralização e
a singularidade daquilo que parecia empiricamente diferente ou semelhante, posto pelo
habitus e reproduzido pelo senso comum” (BUSTAMENTE; THEML, 2007, p. 15).
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Quais os cuidados necessários em uma pesquisa que utiliza a História
Comparada como método?
Karls (2017), em sua tese de doutorado que utilizou a comparação como método, frisa
que uma série de cuidados são necessários, (pré)conceitos devem ser excluídos e a
adoção de uma nova postura é fundamental. Além disso, deve existir uma coerência
entre o que será comparado.
Para Lima e Rust (2008), “um exame epistemológico mais cauteloso dos fundamentos
da História Comparada revela a impossibilidade de ‘comparar o incomparável’: sempre
se compara o humanamente comparável”. Cuidados devem ser tomados, visto a
singularidade da comparação histórica, como destacam Bustamante e Theml:
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historiador que utiliza as abordagens da História Comparada
deve fazer também suas escolhas relativas a certas perspectivas
que já se referem às dimensões da sociedade que são trazidas a
primeiro plano pela análise historiográfica — a História Cultural,
a História Política, a História Econômica, a História Demográfica,
as mentalidades — e a certos campos do interesse que já são da
ordem dos domínios temáticos (BARROS, 2007, p. 17).
MIDIATECA
45
Micro-História
O historiador José D’Assunção Barros destaca muito bem a relação do nome “Micro-
História” com as características e a abrangência das suas análises:
46
examinar. Se ele elabora a biografia ou a “história de vida” de um
indivíduo (e frequentemente escolherá um indivíduo anônimo)
o que o estará interessando não é propriamente biografar este
indivíduo, mas sim os aspectos que poderá perceber através do
exame micro-localizado desta vida. (2007b, p. 169)
Para além dessas questões, de uma forma muito simples e metafórica, “a Micro-História
propõe a utilização do microscópio ao invés do telescópio. Não se trata, neste caso, de
depreciar o segundo em relação ao primeiro. O que importa é ter consciência de que cada
um destes instrumentos pode se mostrar mais apropriado para conduzir à percepção
de certos aspectos do universo” (BARROS, 2007b, p. 170). A Micro-História busca,
portanto, analisar em uma perspectiva de menor escala aspectos da macro-história. Ou
seja, a partir do que poderíamos chamar de “amostragem”, a Micro-História analisa um
contexto maior, verificando aspectos que dificilmente poderiam ser investigados numa
investigação macro.
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”Matéria”, “natureza”, “unidade”, “elementos”, substância; a origem
do mal; a influência dos astros; a relação entre criador e criatura.
Exemplos como esses poderiam ser facilmente encontrados.
Alguns conceitos cruciais e alguns dos temas mais discutidos
na tradição cultural da Antiguidade e da Idade Média chegaram
até Menocchio através de um pobre e desordenado compendio,
o Fioretto della Bibbia. É difícil supervalorizar sua importância.
Antes de mais nada, deu a Menocchio instrumentos linguísticos
e conceituais para que ele elaborasse e exprimisse sua visão de
mundo. Além disso, com um método expositivo a maneira dos
escolásticos — enunciação e subsequente refutação de opiniões
errôneas —, contribuiu certamente para desencadear sua voraz
curiosidade intelectual. O patrimônio doutrinal que o pároco de
Montereale apresentava como um edifício compacto e inatacável
revelava-se sujeito as interpretações mais contrastantes no
Fioretto (GINZBURG, 2006, p. 106).
48
Assim, a Micro-História é uma forma de abordagem historiográfica, ou mesmo uma
metodologia de análise histórica interessante frente às possibilidades de análise do
passado. Por meio de aspectos particulares, fontes que registram “pedaços” de relações
pessoais ou mesmo muito específicas ou individuais, uma complexidade de relações
se abre aos olhos do historiador que é o responsável por desbravar e interpretar esse
emaranhado de aspectos e variáveis que é o passado.
MIDIATECA
49
História Oral
50
elaboradas nas análises do passado. Grupos diferenciados, assim como olhares sobre
assuntos inéditos foram seu diferencial. Nesse sentido, a oralidade é carregada de
memórias, outra questão de complexa análise para o historiador:
Com efeito, ao mesmo tempo que a História Oral é fascinante é, também, uma área
muito delicada, que exige uma série de cuidados por parte do historiador, visto as
inúmeras variáveis e peculiaridades inerentes a ela.
As fontes orais são muito diferentes entre si. Não há uma normatização das respostas
aos questionamentos, mesmo que estes sejam elaborados cuidadosamente. São
aspectos, peculiaridades da oralidade, como destaca Alberti:
51
Essa quantidade de aspectos sensíveis da oralidade se dá, pois, a relação entre
o entrevistador e entrevistado é uma relação humana, cheia de sentimentos e
desconfianças. Por isso, o historiador deve ter todo o cuidado com a interpretação
desses documentos, que podem ser percebidos enquanto “monumentos”, ou seja,
obras elaboradas com objetivos, intencionalidade. Essas especificidades devem ser
analisadas cuidadosamente pelos especialistas, como destaca o francês Jacques Le
Goff quando trata dessas relações (in)conscientes contidas nos documentos:
Aí está a riqueza da história oral. Ao mesmo tempo em que abre oportunidades de análise
até então inatingíveis para o historiador, impõe cuidados extras no tratamento do seu
documento/monumento. Cabe ao profissional de história cada vez mais complexificar
o seu pensamento e sua análise sobre a sua matéria-prima, as fontes. A oralidade
é uma riquíssima nascente de informações, ao mesmo tempo que é extremamente
complexa e necessita de um olhar apurado daqueles que a interpretam.
52
MIDIATECA
NA PRÁTICA
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Resumo da Unidade 3
CONCEITO
54
Referências
ALBERTI, V. Fontes orais: Histórias dentro da História. In. PINSKY, C. B. (Org.). Fontes
Históricas. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
BLOCH, M. Comparaison. In: Reveu de Synthèse Historique. LXIX, 1930, boletim anexo,
p. 31-39.
LIMA, M. P.; RUST, L. D. Ares pós-modernos, pulmões iluministas: para uma epistemologia
de história comparada. Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1,
junho/2008.
55
REVEL, J. Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar
em um mundo globalizado. Revista Brasileira de Educação, v. 15, n. 45, set./dez. 2010.
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UNIDADE 4
OBJETIVO
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O uso e a relevância das fontes históricas
em sala de aula
Não há dúvidas de que as fontes históricas são essenciais para a produção do conhecimento
histórico. São relatos, pedaços, “cacos” do passado que, sob a análise especializada dos
historiadores, são investigados, criticados, interpretados, contextualizados e se tornam a
base para a produção da própria história.
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Além dessa relevante argumentação, o documento histórico utilizado na formação
básica tem, também, a função de auxiliar na compreensão da própria construção da
história. Além disso, ao utilizarmos fontes históricas, estamos dando significado a um
passado que, por diversas vezes, pode ser visto como distante e sem destaque na vida
dos estudantes. Com isso, a história ganha vida, sentimento, sentido. Por meio dos
documentos, uma variedade enorme de leituras do passado é possível. Assim, eles
constituem um instrumento de enriquecimento da própria disciplina.
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Com a percepção dos limites e, ao mesmo tempo, da riqueza e das possibilidades
analíticas das diversas fontes históricas, as possibilidades de uso no ensino se ampliaram.
Torna-se, portanto, praticamente unânime entre historiadores e professores de História
a importância da utilização de fontes como materiais de ensino. Sua vasta possibilidade
interpretativa, suas ricas informações acerca do passado, estão entre os principais
preceitos que fazem desses documentos ferramentas que se tornaram tendências
contemporâneas de ensino de História, como aponta Nicolazzi Júnior (2018, p. 31-32):
61
MIDIATECA
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Pesquisa e compreensão histórica em sala
de aula
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daqueles que atuam nas escolas públicas brasileiras. Acabam
avaliando pela estética, pelo tamanho do trabalho, pela
participação dos alunos nas aulas ou pelas simpatias pessoais.
As notas atribuídas, em geral, são muito boas, altas, muitas vezes,
notas integrais, o que agrada aos alunos, especialmente aqueles
menos produtivos.
Para que a pesquisa surta os efeitos desejados nos alunos, ou seja, o desenvolvimento
da criticidade, o empenho, o debate e, especialmente, a produção do conhecimento
histórico, uma série de cuidados deve ser tomada. Especialmente, o ensino de História
requer o olhar atento do professor, que tem a função de orientar a correta busca por
materiais, fontes e produções e ressaltar as especificidades de cada uma das peças
desse “jogo” de reconstrução do passado histórico.
Importante
64
O objetivo, nesses casos, é aguçar a curiosidade e estabelecer fazer relações com
aspectos contextuais pretéritos da própria História ou mesmo transdisciplinares que
se relacionam com a questão pesquisada. Ou seja, para que o aluno perceba toda a
complexidade do saber histórico, é preciso problematizar, e não facilitar, como apontam
Pereira e Seffner (2008, p. 126):
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A pesquisa histórica, a análise de fontes, sua crítica, sua interpretação e sua
contextualização são a base para o conhecimento histórico. Todavia, essa metodologia
pode servir, também, como ferramenta preciosíssima para o ensino de História. Quando
o aluno da educação básica percorre os caminhos da investigação histórica, busca suas
fontes, as seleciona e interpreta, ele também entra em contato com a própria essência da
História, que é a complexa função de montar um diverso quebra-cabeça do passado (sem
ter todas as peças à disposição). Com isso, o estudante passa a ser ator na produção do
conhecimento. De simples receptor, ele se torna produtor do conhecimento, atuando de
diversas formas e com diferentes ferramentas (fontes históricas) para a construção do
conhecimento.
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A pesquisa histórica como ferramenta
interdisciplinar
Exemplo
Fonte: loc.gov
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Mas o que é a interdisciplinaridade?
Esses são apenas alguns exemplos das várias possibilidades que um trabalho
interdisciplinar que envolva a História permite.
Nesse sentido, essa concepção ampliada do saber, que admite e valoriza o contato e a
colaboração entre as diversas áreas, só foi possível com uma nova percepção acerca do
papel social da escola. Um novo olhar sobre a instituição e sobre a educação permitiu
novas interações pedagógicas, como aponta Guimarães (2015, p. 164):
Para que essa real integração ocorra, existe a necessidade de pensarmos novos modelos
nos quais a separação pedagógica e didática, mas artificial, entre as áreas do saber se
dilua cada vez mais. Ou seja, para que o saber seja pensado como um grande conjunto
de complexas engrenagens que atuam concomitantemente na obscura sociedade
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contemporânea (ou mesmo em qualquer outro período histórico), é necessário um
esforço entre os educadores. Evidentemente, essa análise ampliada e mais complexa
exige especialização e conhecimento por parte do professor, todavia, torna o saber
histórico o fator de ligação entre os processos e fatos históricos. Para que isso ocorra, a
interdisciplinaridade é relevante:
Na conjuntura atual, a interdisciplinaridade não pode mais ser renegada. Ao contrário, deve
ser valorizada como aspecto fundamental a uma nova escola, que deseja se reinventar e
dar contar de todo um complexo conjunto de relações sociais (e, nesse caso, históricas).
Essa é a proposta de Fazenda (2016), que destaca a “nova” relação contemporânea da
escola com os conteúdos e a educação, que já não admite mais a “aplicação” de saberes
isolados. Para a pesquisadora, “interdisciplinaridade” é a palavra de ordem na educação:
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a possibilidade dela, porém, conservam na sua forma própria de
ser educador, de ser pesquisador, de dar aulas um patriarcado que
enquadra, que rotula, que modula, que cerceia, que limita. Poucos
são os que se aventuram a viver alteridade, por que é caro o preço
que se paga pela mudança de ciclo. É preciso ser nisso um pouco
de Fênix, morrer para renascer das cinzas; e morrer é assumir a
consciência da ruptura, e a ideia da morte traz em si mesma uma
ideia de finitude. (FAZENDA, 2016, p. 42-43).
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NA PRÁTICA
O professor de História tem o mundo ao seu dispor! Em sala de aula, uma atividade
bem planejada pode envolver a realização de pesquisa histórica, análise de fontes
históricas e, ainda, considerações interdisciplinares. Converse com seus colegas
professores de diversas áreas e reconheça uma matéria que possa ser abordada
por duas ou mais disciplinas. Oriente uma pesquisa histórica, apontando métodos,
recorte temporal, recorte espacial, enfim, critérios. Em conjunto com as outras
disciplinas envolvidas, realize trabalhos, apresentações, seminários, produzindo
conhecimento por meio de uma perspectiva interdisciplinar. Trabalhe a alteridade e
a relação da História com as outras áreas do saber.
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Resumo da Unidade 4
Na unidade Pesquisa histórica aplicada ao ensino, você pôde verificar que as fontes
históricas, “pedaços” do passado dos mais diversos padrões, são possibilidades
riquíssimas quando utilizadas com critério como ferramentas de ensino, complementares
ao material didático. Todavia, associada a essa questão, a pesquisa histórica orientada
de forma competente também pode auxiliar na compreensão, por parte do aluno, de
toda a complexidade que envolve o passado e, por consequência, a formação do saber
histórico. A História, deve ser vista, também, como uma possibilidade interdisciplinar por
excelência, pois é o resultado das relações sociais em um amplo contexto. Dessa forma,
uma educação que contemple várias áreas do conhecimento e, por consequência, os
processos históricos, tem a capacidade de reconhecer e analisar toda a complexidade
que a acompanha.
CONCEITO
Um conceito caro à História, tanto para seu estudo como para sua pesquisa, é o
conceito de “alteridade”. De acordo com o Dicionário Priberam, “alteridade” significa
“qualidade do que é outro ou do que é diferente”. Ou seja, para que se pesquise,
se compreenda e se entenda o objeto de estudo dentro de um complexo contexto
histórico, é necessário que tenhamos certo distanciamento, ao mesmo tempo em
que devemos tentar reconhecer as especificidades do que está sendo estudado e
sua função social como produto de uma conjuntura social e produtor de novos fatos.
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Referências
PEREIRA, N. M.; SEFFNER, F. O que pode o ensino de História? Sobre o uso de fontes na
sala de aula. Anos 90: revista do Programa de Pós-Graduação em História. Porto Alegre,
v. 15, n. 28, p. 113-118, dez. 2008.
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