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“Nesta vida meditativa da alma, os elementos que a filosofia pode distinguir pela
análise estão inseparavelmente ligados um ao outro: O conjunto alma-ideia é um dado
primordial que não pode ser nem deduzido de outra coisa nem conduzido a outra
coisa” (p.23)
“Alma e ideia: tal é o tema central do mito filosófico e, pode dizer-se do mito do homem
em geral. Ser homem é ter a nostalgia da ideia, é tomar consciência de si ao filosofar,
é descobrir em si o filósofo, o filósofo em geral, e não está ou aquela filosofia.” (p.27)
“Nós não filosofamos porque acreditamos no mito, pelo contrário, o mito não é mais
que uma interpretação do pensamento filosófico, uma expressão cósmica da
experiência filosófica.” (p.28-29)
“Se bem que existia entre a alma e o corpo uma diferença fundamental do ponto de
vista do valor, isso não impede que um e outro sejam igualmente tratados como dados.
O corpo segue leis que lhe são próprias e que eu não conheço imediatamente;” (p.33)
“O homem, visto através de semelhante conjunto de temas, não é o homem tal qual
se sente a si próprio, quando, movido pela nostalgia e preocupado com a alma,
procura o seu caminho; também não é o homem para quem a alma é um fim último.”
(p.36)
“As concepções antropológicas de Platão são, antes de tudo, determinadas por
atitudes que, de certa maneira ultrapassam o homem. Neste sentido, o homem não é
de modo algum, por ele entendido como um simples dado. O problema humano não
se lhe coloca a partir do homem como tal, mas, por um lado, a partir da alma, da
experiência que o homem tem da sua alma ao filosofar, e, por outro, do Estado, dos
fins que o legislador tem em vista.” (p.38)
LIMA VAZ, Henrique C. de. Antropologia Filosófica. 7. ed. Vol. I São Paulo: Loyola,
1991.
“Na ordem das ideias, a civilização da Renascença veio a ser conhecida como idade
do humanismo. Indica ao mesmo tempo uma nova sensibilidade em fase do homem
e a redescoberta e exaltação da literatura clássica.”(p.80).
“A sociedade política, que garante o bem de todos, aparece como um liame gravoso
para cada um, em contraste com a socialidade espontânea do “estado de natureza”.
Assim, não restará ao indivíduo outro caminho para reencontrar sua autonomia senão
recolher-se ao isolamento de sua vida privada. O Estado é o poder supremo.” (p.95)
“A obra de Rousseau, sem dúvida uma das mais importantes do século XVIII, pode
ser considerada uma das fontes principais da ideia filosófica do homem que
prevalecerá nos séculos XIX e XX.” (p.116)
“A antropologia de Rousseau está intimamente ligada á sua experiência humana e é,
nesse sentido, eminentemente existencial. Porém, se por um lado Rousseau coloca o
sentimento, cuja sede é o coração ou a consciência moral, no centro de sua visão do
homem, por outro como genuíno herdeiro da tradição racionalista, dá a seu
pensamento uma rigorosa estrutura racional e, ao mesmo tempo axiomático-
dedutiva.” (p.115)
“As correntes filosóficas que, na primeira metade do século XIX refletiram de modo
mais direto o aparecimento e desenvolvimento das ciências humanas foram, na
França, os chamados ideólogos e, posteriormente, o positivismo, seja na forma
ortodoxa que lhe deu seu fundador, Auguste Conte (1798-1857) [...]” (p.141)
“As três atividades e suas respectivas condições têm íntima relação com as condições
mais gerais da existência humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a
mortalidade. O labor assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida
da espécie.”(p.16)
“A condição humana compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi
dada ao homem. Os homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles
entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência.”(p.17)
“Imortalidade significa continuidade no tempo, vida sem morte nesta terra e neste
mundo, tal como foi dada, segundo o consenso grego, à natureza e seus deuses do
Olimpo. Contra este pano de fundo – a vida perpétua da natureza e a vida divina,
isenta de morte e de velhice – encontravam-se os homens mortais, os únicos mortais
num universo imortal mas não eterno, em cotejo com as vidas imortais dos seus
deuses mas não sob o domínio de um Deus eterno.”(p.26-27)
“Os homens são os mortais, as únicas coisas mortais que existem porque, ao contrário
dos animais, não existem apenas como membros de uma espécie cuja vida imortal é
garantida pela procriação. A mortalidade dos homens reside no fato de que a vida
individual, com uma história vital identificável desde o nascimento até a morte, advém
da vida biológica.”(p.27)
“Uma coisa é certa: é somente em Platão que a preocupação com o eterno e a vida
do filósofo são vistos como inerentemente contraditórios e em conflito com a luta pela
imortalidade, que é o modo de vida do cidadão, o bios politikos. Talvez a descoberta
do eterno, feita pelos filósofos, tenha sido favorecida pelo fato de que eles, muito
justificadamente, duvidaram das possibilidades da polis no tocante à imortalidade ou
até mesmo à permanência;”(p.29)
“A palavra labor, como substantivo jamais designa o produto final, o resultado da ação
de laborar; permanece como substantivo verbal, uma espécie de gerúndio. Por outro
lado, é a palavra correspondente a trabalho que deriva o nome do próprio produto,
mesmo nos casos em que o uso corrente seguiu tão de perto a evolução moderna que
a forma verbal da palavra trabalho, se tornou praticamente obsoleta.”(p.91)
“O próprio motivo da promoção do labor como trabalho na era moderna foi a sua
produtividade; e a noção aparentemente blasfema de Marx de que o trabalho ( e não
Deus) criou o homem ou de que o trabalho( e não a razão) distingue o homem dos
outros animais, era apenas a formulação mais radical e coerente de algo com que
toda a era moderna concordava.”(p.96-97)
“Uma vez que nem Locke nem Smith estava interessado no labor como tal, ambos
podiam dar-se ao luxo de admitir certas distinções que na verdade equivaleriam a
distinguir em princípio entre labor e trabalho, não fosse o seu modo de ver como
simplesmente irrelevantes as características genuínas do labor.” (p.115)
“O motivo pelo qual o trabalho escravo desempenha papel tão importante nas
sociedades antigas, e o seu desperdício e improdutividade passaram despercebidos,
é que a antiga cidade-estado era basicamente um “centro de consumo”, ao contrário
das cidades medievais, que eram principalmente centros de produção.” (p.131-132)
“A divisão do labor é, realmente, resultado direto do processo de labor, e não deve ser
confundida com o princípio, aparentemente semelhante, da especialização que
prevalece nos processos de trabalho e com o qual não deve ser equacionada.” (p.135)
“A revolução industrial substituiu todo artesanato pelo labor; resultado foi que as
coisas do mundo moderno se tornaram produtos do labor, cujo destino natural é serem
consumidos, ao invés de produtos do trabalho que se destinam a ser usados.” (p.137)
“Com efeito, o problema da diversidade não se coloca apenas a propósito das culturas
estudadas em suas relações recíprocas; existe também no seio de cada sociedade,
todos os grupos que a constituem: castas, classes, meios profissionais ou
confessionais etc.” (p.235)
“Sabe-se, com efeito, que a noção de humanidade, a englobar, sem distinção de raça
ou de civilização, todas as formas da espécie humana, apareceu muito tardiamente e
teve expansão limitada.” (p.237)
“As grandes declarações dos direitos do homem também têm essa força e essa
fraqueza de enunciar um ideal muito frequentemente esquecido do fato de que o
homem não realiza sua natureza numa humanidade abstrata, mas em culturas
tradicionais onde as mudanças mais revolucionárias deixam subsistir lances inteiros,
e se explicam em função de uma situação estritamente definida no tempo e no espaço”
(p.238)
“Sugerimos que cada sociedade pode, por seu próprio ponto de vista, dividir as
culturas em três categorias: as que são contemporâneas, mas se acham situadas em
outro lugar do globo; as que se manifestam aproximadamente no mesmo espaço, mas
a precederam no tempo; finalmente as que existiram simultaneamente num tempo
anterior ao seu e num espaço diferente daquele em que ela se coloca.” (p.240)
“É possível, dirá, no plano de uma lógica abstrata, que cada cultura seja incapaz de
fazer um julgamento verdadeiro de outra, visto que uma cultura não pode evadir-se
de si mesma e sua apreciação tornar-se, por conseguinte, prisioneira de um
relativismo sem apelação.” (p.252)
“Em todos os demais governos, quando se trata de assegurar o maior bem do Estado,
todas as coisas se limitam sempre a projetos de ideias ou, pelo menos, a simples
possibilidades; em vosso caso, vossa felicidade é completa – somente usufruir dela –
e, para vos tonardes bastante felizes, basta somente contentar-vos com sê-lo. “(p.221)
“De que se trata, pois, precisamente neste Discurso? De assinalar, no processo das
coisas, o momento em que sucedendo o direito à violência, submeteu-se a natureza
à lei; de explicar por que encadeamento de prodígios o forte pôde resolver-se a servir
ao fraco a comprar uma tranquilidade imaginária pelo preço de uma felicidade real.”
(p.235)
“Os selvagens de acordo com Rousseau, só com grande inexatidão representam o
estado de natureza. Um método falso fez com que os filósofos se enganassem quando
às tendências primitivas do homem e lhe atribuíssem, por exemplo, uma crueldade
inata” (p.236)
“Hobbes pretende que o homem é naturalmente intrépido e não procura senão atacar
e combater. Um filósofo ilustre pensa o contrário, e Cumberland e Pufendor
asseguram também que nenhum ser é tímido quanto o homem em estado de
natureza, e que ele está sempre tremendo e pronto a fugir ao menor ruído que o
alcance, ao menor movimento que perceba” (p.239)
“Evitemos, pois, confundir o homem selvagem com os homens que temos diante dos
olhos. A natureza trata todos os animais abandonados a seus cuidados com uma
predileção com que parece querer mostrar quanto é coisa desse direito. Tornando-se
sociável e escravo, torna-se fraco, medroso e subserviente, e sua maneira de viver,
frouxa e afeminada, acaba por debilitar ao mesmo tempo sua força e sua coragem.”
(p.241)
“Mas, ainda que se pudesse alienar sua liberdade como a seus bens, a diferença seria
muito grande para os filhos que só gozam dos bens do pai pela transmissão de seu
direito, enquanto, sendo a liberdade um dom que lhes advém da natureza pela
qualidade de homem, seus pais não tem qualquer direito de despojá-los dele“ (p.275)