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Outubro de 2015 – Niterói - RJ

Freguesia de Gouveia - Século XIX

 Introdução

“A política é uma importante atividade nas sociedades humanas. Ela não apenas viabiliza a convivência social,
reduzindo as disputas violentas, mas ajuda a expandir valores da civilização, porque o homem continua o mesmo
sujeito violento desde os primórdios da civilização: faz a guerra, tortura, escraviza, fere, intimida e tiraniza.”
(Prof. José Maurício de Carvalho – Curso de Introdução à Filosofia Brasileira).

O estudo das concepções políticas é fundamental para se entender a vida de um povo e as suas consequências no
cotidiano. A riqueza ou pobreza das pessoas, a sua dignidade de ser humano, estão ligadas, diretamente, à forma
de se fazer política. A política está inserida nas relações morais e éticas dos indivíduos, rege e organiza a
sociedade, e estimula a razão. Entender que todos aqueles homens do século XIX, longe das capitais, viviam em
isolamento às realidades fora dos limites da sua aldeia, é uma incorreção.

Apresentamos neste trabalho alguns mapas do rico Distrito Diamantino que fomos encontrando no espaço de
tempo pesquisado. O objetivo de dispô-los aqui é buscar o conhecimento histórico de uma região muitissimamente
cobiçada por aventureiros em busca de riqueza.

No período colonial, o Distrito Diamantino foi a região das mais vigiadas da Capitania de Minas Gerais e atingia
uma vasta área. A fiscalização era exercida com rigor através de vários quartéis de guarda que não permitiam
entradas ou saídas de pessoas que não fossem previamente autorizadas.

Em 1701, a Coroa já havia mandado adotar a medida de exigir que não se consentisse, a quem quer fosse, a ida
para as Minas sem passaporte chancelado pelo Governador-Geral da Bahia, ou então pelos Governadores do Rio
de Janeiro e de Pernambuco. Os passaportes teriam de ser concedidos às pessoas idôneas e de posses. Verificou-
se, contudo, que essa medida foi inútil.

"A circunstância do descobrimento das minas, sobretudo das minas de diamantes foi, pois, o que determinou
finalmente Portugal a pôr um pouco mais de ordem em sua Colônia, ordem mantida com artifício pela tirania dos
que se interessavam em ter mobilizadas todas as forças econômicas do país para lhe desfrutarem, sem maior
trabalho, os benefícios." (Sérgio Buarque de Holanda).
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 A criação da Capitania de Minas, de uma Intendência, e do Distrito Diamantino, à Real Extração.

A Ordem régia de 30 de outubro de 1736 determinou a criação de uma Intendência na povoação, e a necessidade
de licença escrita para entrar no seu termo; e o estabelecimento de postos de vigilância nas passagens dos rios e
gargantas das serras, que deram origem aos Arraiais da Chapada, Milho Verde, Indaial, Contagem, Paraúna,
Galheira, Gouveia, Picada, Inhaí, Três Barras, Inhanzica e Rio Manso. (Arquivo Público de Minas).

A demarcação Diamantina era guarnecida por soldados estacionados nos seguintes pontos:
Quartel do Serro;
Quartel no Arraial do Tijuco;
Destacamento do Milho Verde;
Destacamento de Paraúna;
Guarda de Gouveia;
Guarda da Picada;
Guarda de Três Barras;
Guarda do Galheiro;
Destacamento do Rio Pardo;
Destacamento da Contagem;
Guarda de Caetemirim;
Destacamento da Chapada;
Destacamento de Indaial;
Destacamento de Inhaí;
Destacamento da Inhacica;
Registro do Pé do Morro;
Guarda do Rio Manso;
Guarda de São Gonçalo.

A Demarcação contava com elevado número de militares, considerados necessários para se manter o controle
sobre a população e impedir o contrabando. Gouveia, que era um pequeno arraial tinha em 1751 "sessenta
soldados com seus oficiais". (Julita Scaraso - Lisboa, AHU, MG, caixa 37, 1751, MS.).

Arquivo Público Mineiro - 1889


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Além desses, um batalhão militar de soldados volantes chamada Companhia de Pedestre, com duas esquadras,
que percorriam rios, serras e encostas. As esquadras, como é de praxe, eram comandadas por um cabo e tinham
o roteiro determinado. Todos os postos eram revisados mensalmente por oficial da Guarda Real. As guarnições
volantes se recolhiam, uma vez por mês, ao Quartel do Tijuco, e eram substituídas para manter o mesmo giro.
(Fonte: Publicações do Arquivo Mineiro – 1909).

Em 1734, os primeiros diamantes oficialmente encontrados em Gouveia definiu o bando que o 1º Livro, da 1ª
Intendência, utilizou para estabelecer os marcos que incluía parte do Arraial de Gouveia nos Terrenos do Distrito
Diamantino.

Um pouco mais adiante, 1737, foi declarada outra descoberta de diamantes, e o 1º Livro da Intendência fez o
registro e decretou o Edital:

(...) “que por ter informação que no Córrego da Gouvea, que fica fora da demarcação deste distrito aparece alguns
diamantes, e porque é conveniente ao serviço de Sua Majestade na forma das suas Reais ordens se pratique nele
a mesma proibição que há em todo o distrito, e se observe todos os Editais, e Bandos estabelecidos a cerca dos
diamantes, o hei incluído no distrito demandado com as mesmas penas nos ditos Editais e Bandos nos quais
incorrerá qualquer Escravo, ou pessoa livre que nele for achado minerando para poder fazer da cachoeira
chamada a dos Batieiros até a ponte, e para que venha notícia de todos, não possam alegar ignorância, mandei
passar o presente, que será publicado, e afixado nos lugares públicos e costumeiros, e Registrado nesta
Intendência.

Dado neste Arraial do Tejuco a dez de mil setecentos e trinta e sete, e Eu Belchior Izidoro Barreto o escrevi //
Rafael Pires Pardinho.
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A Real Extração foi implantada no Distrito Diamantino com o monopólio real dos diamantes, decretado pela Coroa
a partir de 1771.

O Distrito Diamantino tinha o seu próprio intendente, uma espécie de governador, com poderes ilimitados para
reprimir, prender, mesmo sem julgamento, além de castigar por açoites em lugar público, e degredar os infratores
e contrabandistas. Bastava uma denúncia verbal, sem necessidade de comprovação, às vezes, por pura vingança
ou inveja, e o denunciado era recolhido e levado à cadeia. Portanto, o Distrito Diamantino era uma semelhante a
uma sub capitania dentro da Capitania de Minas Gerais.

Joaquim Felício dos Santos descreve no seu livro O Distrito Diamantino o desempenho autoritário, despótico dos
intendentes e as lamúrias da população que reclamava do cerceamento de liberdade para trabalhar e buscar o
sustento de sua família. Não é sem razão que movimentos sediciosos que ocorreram em Minas Gerais tenham
contado com a participação dos tijucanos, e o principal deles foi José da Silva e Oliveira Rolim, Padre Rolim, o
herói do Serro, como o chamou Tiradentes. Padre Rolim foi preso e degredado durante a Devassa da Inconfidência
Mineira.

A região tinha seu próprio código civil, muito rígido, o Livro da Capa Verde, que o intendente usava como livro de
mesa, e o interpretava com rigor e inflexibilidade.

Em 1720, a administração particular da riqueza de Minas Gerais a torna Capitania se desgarrando de São Paulo.
Sua Majestade convocou o Capitão General D. Lourenço de Almeida como o 1º Governador da Capitania das
“Minas Gerais dos Cataguás”, tendo Vila Rica como Capital. O brilhante mineral é a esperança de Portugal se fazer.
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Dom Lourenço de Almeida, 1º Capitão General – 28/08/1720 – 1º Governador da Capitania de Minas.


“Logo que a Corte Portuguesa teve notícias do aparecimento dos diamantes neste distrito, foi D.
Lourenço investido de poderes amplos e ilimitados para regular e providenciar este novo rendimento que
em breve ia enriquecer o Erário Régio.” – (Jornal O Jequitinhonha de 1861)

Os primeiros levantamentos de prisões e ordens de expulsão mostram o perfil das pessoas perseguidas
pela administração. Visava-se sobretudo, apesar da historiografia afirmar o contrário, os suspeitos de
extravios, garimpeiros, faiscadores e vadios. Nas prisões realizadas na Comarca entre dezembro de 1771
e 1779, levantadas até agora nos códices da Seção Colonial do Arquivo Público Mineiro, encontrou-se os
seguintes resultados:

Nº de Prisões 113 100%

Garimpeiros extraviadores 30 26%

Contrabandistas 06 5,3%

Problemas com Autoridades 13 11,5%

Outros Crimes 26 23%

Não encontrei Acusação 38 33,6%

Suspeitos de Contrabando 05
presos em outras Comarcas

(Pesquisa Júnia Ferreira Furtado – Arquivo Público Mineiro).


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Reprodução do Mapa da Rota do “visitante” John Mawe do Rio de Janeiro (...) ao Tijuco do Serro Frio – 1812.
Este mapa ajudou a definir a Estrada Real.

GOUVEIA
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Jornal Estrela Polar – 09/06/1945 - Diamantina

Para consolidar a ocupação do território mineiro criam-se os arraiais, capelas curadas, freguesias e comarcas com
o poder gestor do governo real, isto é, o poder de legislar e tributar, fiscalizar e regulamentar, estabelecer a
justiça, manter o culto religioso e promover o direcionamento das atividades laborais e empreendedoras. Permitir
e fazer vista grossa à entrada e comercialização do trabalho servil.

“(...) Qualquer tosco cruzeiro, uma rude capelinha, uma pequena venda e meia dúzia de casinhas de
taipa e sapê, eram suficientes para ser considerado um Arraial, e não menos que depressa, transformar
em centro cívico, religioso, social e econômico da Capitania.” (Prof. Antônio Gaio Sobrinho)

Gouveia é uma porção desse universo diamantino, é uma parte do todo, mas tem sua própria identidade.
Devemos olhá-la sem ufanismo ou depreciação. Eu sou o que os outros pensam que eu sou. Gouveia é o
que eu penso que ela é. “Somos, em diversos graus, materiais históricos inconscientes”, somos sínteses
desses materiais.

Há hoje, mais do que nunca, uma forte corrente de pensamento “pam”, somos todos, somos tudo, o que
eu faço repercute no Universo. Somos partículas indestrutíveis do Universo. E tudo é uma sucessão,
como se fossem as ondas de um objeto caído no centro de um gigante lago, tanto maior e mais forte é
este objeto, maiores e mais fortes serão as sucessivas ondas que irão se propagar.
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Conhecer o passado deve ultrapassar a simples curiosidade, implica conhecer a si próprio. A história nos fornece
exemplos que devem ser seguidos e exemplos que não devem ser seguidos, que podem nos aproximar das
virtudes e/ou nos juntar aos vícios humanos.

“A história pode nos dar clareza da verdade, do amor, da honestidade, da justiça, da segurança, das relações
pessoais, na possibilidade de dignidade humana. Podem assim, nos fazer ver as injustiças, a opressão e a
falsidade nas relações humanas.” (Isaiah Berlin)

O Professor Clovis Barros Filho (USP) nos convida, em uma de suas aulas, a refletir: qual é a vida que vale a pena
ser vivida? Ele passa por alguns pensadores e termina dizendo que a melhor vida que pode ser vivida é aquela em
que o indivíduo percebe que a sua felicidade reside na felicidade do outro, ou dos outros. E a felicidade do outro
está no amor que eu tenho por esse outro. E quem melhor disse isso, foi Jesus de Nazaré, “amar o outro como a ti
mesmo”.

A Gouveia do século XIX tinha uma bela palavra como inspiração e ações dos homens: Confiança. A confiança dos
homens uns nos outros para formar Unidade. Mas os homens se apartam e formam grupos pelo egoísmo ou por
convicções morais e éticas.

Inspirado em propósitos humanistas instalou-se em Datas, no dia 02/06/1872 a Sociedade Amor ao Progresso.
Como o próprio anúncio que fez o jornal O Jequitinhonha o objetivo era instruir os jovens e direcioná-los às
obras da Matriz.

Em Gouveia havia no mesmo período a Sociedade dos Edificadores cujos objetivos eram planejar o progresso do
Distrito.

O Ferro é duro em Diamantina. Sob esse epíteto de ferro é duro, eram os conservadores conhecidos. Uma
expressão inclinada a depreciar moralmente àqueles que professavam as ideias conservadoras.
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Jornal O Jequitinhonha – 22/06/1868


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Jornal O Jequitinhonha – 22/06/1868

 Gouveia e Datas

Os liberais, em maioria, eram os francos vencedores das disputas eleitorais no município de Diamantina: na sede,
além dos distritos Rio Preto, Datas e parte de Curimataí. Mas não tinham a mesma hegemonia em outros distritos
e arraiais, entre eles estavam Rio Manso, Penha, São João da Chapada e, principalmente, Gouveia, onde os
políticos eram ferrenhamente conservadores. Portanto, Datas e Gouveia estavam em lados opostos no que
concerne a posição e ideias políticas.

No início, as diferenças entre Gouveia e Datas eram, talvez, a ideia de se sobreporem em méritos ou qualidades, e
por isso, envolvia, em princípio, aspectos menores, quase um bairrismo, como afirma o Prof. José Moreira de
Souza, para se tornar em uma oposição contendora no campo da política. Por isso, os períodos de eleições se
tornavam o ponto alto de confrontos entre os liberais e conservadores dos dois distritos.

A rivalidade entre as duas localidades tratou de levar à disputa de secessão. Datas era Arraial do Distrito de
Gouveia, e lutava para se separar politicamente para adquirir autonomia, e por sua vez, Gouveia resistia a fim de
manter o número maior de eleitores.

E essa disputa vai se acirrar e adquirir outros contornos que levaram décadas até que a Câmara Provincial, em
Ouro Preto, de maioria liberal, em 1866, decidiu institucionalmente estabelecer a emancipação, criando a Paróquia
e Freguesia de Datas.

Resolvida a questão, os ânimos foram se aliviando, até que em 1873, diante do decreto que criou o Município de
Gouveia, e fez Datas retornar à condição de distrito de Gouveia, as coisas voltam a esquentar.
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Como a instalação do município de Gouveia acabou não se consolidando por problemas entre as lideranças
gouveana, como veremos mais a frente, foi mantida a condição de dois distritos independentes, e o passar do
tempo se encarregou de fazer as disputas perderem substância.

Essa competição política entre os dois lugares durante muito tempo contaminava as populações locais que se
hostilizavam com apelidos depreciativos. Os nascidos em Gouveia eram chamados de Cobu, prenda culinária com
base de fubá assado sobre folhas de bananeira de origem africana, e os de Datas eram chamados de Broa,
referente a um certo tipo de pão de milho.

Nos dias atuais esses apelidos se transformaram; a sociedade de Gouveia adotou para si o nome Cobu, e se
esforça para ter reconhecido a prenda como iguaria típica para incorporá-la ao folclore culinário do Estado. O
nome Cobu é adotado por lojas comerciais, restaurantes e até clube. O de Datas, poucas pessoas ainda se
lembram que existiu.

 Gouveia Conservadora

A família Alves Ferreira toma para si o protagonismo político e a liderança dos conservadores em Gouveia, e junto,
se coloca nos principais cargos do partido e na comunidade. Os nomes de seus membros, portanto, aparecem na
direção do partido, nos cargos públicos do local, nas forças de segurança e na guarda nacional. (Juiz de Paz,
Subdelegado, Tenente coronel, Major etc.)
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Jornal Diário de Minas – 1873 - Lei 1999 de 14/11/1873

Gouveia era conservadora, sim, mas não significava que os liberais ali presentes não fossem atuantes. Isso
poderemos conhecer através das disputas acirradas que ocorriam nos períodos eleitorais. Os conservadores, no
domínio dos capitais em empreendimentos comerciais e industriais, utilizavam desse poder para subjugar seus
adversários, sobretudo, utilizando-se da força ou, como os liberais os acusavam, através do cacete.

1870
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1873
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Administração de Gouveia no ano de 1874

 Eleições

No século XIX, como confirma o historiador Jorge Caldeira, o Brasil já havia estabelecido a tradição de eleições
regulares para determinar a administração pública, e os primeiros passos foram iniciados no início do século XVIII.

Através de eleições foram sendo consolidadas a presença de Câmaras Municipais e do próprio Parlamento,
firmando assim, o costume permanente de legislar conforme a opinião pública. É importante destacar que
somente a Inglaterra e os Estados Unidos, antes do Brasil, contavam com esse costume. (Jorge Caldeira - História
da Riqueza no Brasil – Cinco Séculos de Pessoas, Costumes e Governos)

Entretanto, isso não significava estender, por aqui, o caráter livre e democrático para todas as eleições realizadas.
As acusações de utilização da força como efeito de intimidação e persuasão, e a forma de escolher os cidadãos
qualificados a votar, e até mesmo o cacete, eram maneiras de restringir e inibir o exercício livre do voto e, em
alguns casos, era motivo de anulação de pleitos.

Os homens precisavam de virtudes e recursos para serem qualificados, e eram os chamados homens bons.

Havia os Conselhos de Qualificação, e eram responsáveis pela seleção dos eleitores e a lisura dos procedimentos
adotados era sempre questionada.

Os juízes de paz das vilas e os membros das Câmaras deveriam revisar os rendimentos apresentados, condição
indispensável, para se obter o título de eleitor. Como essas autoridades dependiam de votos para se eleger, eles
eram acusados de fazer vistas grossas em alguns casos.

Em 1881, o decreto 3.029, trouxe um pouco de segurança ao processo de qualificação. Este decreto determinava:
“os juízes municipais enviarão aos juízes de direito das comarcas todos os requerimentos recebidos de eleitores e
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respectivos documentos”, e “os juízes de direito da comarca julgarão provado ou não o direito de cada cidadão de
ser reconhecido como eleitor”.

Nesse aspecto, os conservadores e os poucos liberais de Gouveia participaram de instantes de constrangimentos e


verdadeiras batalhas que estão registrados nas páginas da história da região e repercutidas em diversos jornais.

Esses eventos alimentaram muitos debates nos jornais, na Câmara Provincial, e na Câmara de Deputados, na
Corte. Os liberais protestavam pela forma que as eleições ocorriam e pelo modo truculento dos conservadores
elegerem seus candidatos e, de igual modo, nas condições contrárias, reclamavam os conservadores.

 Eleições em Gouveia

É importante colocar que no século XIX, havia na sociedade gouveana as mesmas virtudes e vícios que existiam
em todos os lugares do país, e como Aristóteles disse: “o fogo arde tanto aqui quanto na Pérsia, mas o que se
pensa varia diante de nossos próprios olhos.”

Portanto, nada ali era excepcional. Quem haveria de estar certo naquela Gouveia da época? Conservadores ou
liberais? Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não salvo a mim” (Ortega y Gasset).

Gouveia começa a se construir: de povoado passa a arraial, capela curada, depois ainda, distrito/freguesia, vai
evoluindo:

Revista do Arquivo Público Mineiro – 1889 – 304 Fogos (Casas) – Mariana 12/11/1831 -

A Igreja de Santo Antonio de Gouveia

O Capitão Vicente Ferreira da Cruz é eleito Juiz de Paz – 13/06/1828.


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‘ Censo de 1833 – Arquivo Público Mineiro

1838
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Mapa da Capitania de Minas Gerais – 1777 – Mandado fazer por Antônio Noronha Governador Capitão.

O impulso próprio de Gouveia se iniciou a partir da década de 1840. As notícias do Arraial, sua ascensão a Distrito
e logo depois Freguesia, iam consolidando a sua presença política e seus cidadãos iniciaram trajetórias marcantes
na História do Norte de Minas do século XIX.

Gouveia apresentava um crescimento econômico diversificado, e o intercâmbio comercial com a Corte ajudava
consolidar. No início, para negociar seus diamantes lapidados em casa. Depois, o comércio de secos e molhados
com produtos importados, que chegavam trazidos do Rio de Janeiro, um longo percurso, estes foram os elementos
que lhes deram os primeiros impulsos. As visitas de seus principais cidadãos à Capital do Império eram notícias de
importantes jornais.

Em seguida, se iniciou o processo de industrialização da Freguesia que já poderia ter-se tornado cidade na
primeira metade da década 1870. Tudo foi contribuindo para o crescimento da importância e a representação que
fizeram com que o que acontecia em Gouveia encontrasse eco na Comarca e Província.

A independência em relação à Diamantina, “a rebeldia” de seus indivíduos, buscando os seus ideais, mas também,
porque representavam os valores próprios e de seu grupo.

As eleições era o momento das diferenças se pronunciarem, e as formas e modelos empregados remetiam a
comportamentos, muitas vezes, condenáveis de ambos os lados. É duro ver o povo sem vontade, é difícil vê-lo
sem coragem, é triste ter de se calar diante dos homens maus.

1840 - Dois dias antes da realização do pleito eleitoral de 1 de novembro de 1840, o tenente coronel Luiz José de
Almeida, a frente de um numeroso grupo, se dirigiu à Diamantina com o propósito de apoiar os eleitores
conservadores que se diziam pressionados pelo autoritarismo dos adversários liberais locais.

O jornal O Universal – Ouro Preto (30/12/1840) publicou um artigo do Sr. Souza Raposa, em que ele narrou os
acontecimentos sob o ponto de vista dos liberais, acusando Luiz José de Almeida que, depois de haver sido
demitido do cargo de tenente coronel, fora à Diamantina com o desejo de querer infundir o terror valendo-se de
cerca de 80 homens que o acompanharam desde Gouveia e Datas. O objetivo era pear os chimangos
diamantinenses.

O grupo de Gouveia havia se aquartelado na chácara do Sr. João Batista de Mello Brandão, influente membro do
partido conservador de Diamantina, e utilizaram as casas próximas e até a igreja para esconder os armamentos e
munições, aguardando o dia da eleição, acusou o artigo do Sr. Raposa.

No dia 01/12, Luiz José de Almeida com os 80 homens, e contando com reforço de outros 30 homens chefiados
por João Batista, invadiram o espaço da Matriz, local da votação, conforme o costume, intimidando os presentes e
como quem desejasse menear o cacete e vencer (a eleição) a cacete e punhal, continuou Raposa.
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Grande algazarra se instalou dentro da igreja, punhais, cacetes e pistolas de liberais e conservadores se
levantaram, e por pouco, o sangue, em abundância, não foi derramado. Entre acusações de manobras dos dois
lados, a votação teve de ser suspensa e transferida para o dia seguinte, isto é, 2/12/1840.

O conflito não cessou ali, se espalhou pela cidade com enfrentamento dos correligionários dos dois partidos
ocorrendo agressões, deixando alguns feridos.

Mapa entre 1700 e 1799


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Acusado de ter sido o mentor e ter liderado os incidentes, no dia 12/01/1841, o tenente coronel fez publicar nas
páginas do jornal O Brasil – Ouro Preto, uma carta contanto sua versão dos fatos colocada nos seguintes termos:
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Relação de eleitores qualificados eleitos em 1849 – jornal O Brasil – RJ

Conselho de Qualificação Eleitores – Gouveia - 11/02/1851 – Jornal O Conciliador –

Presidente: Ten. Coronel Serafim José Moura


Membros: Major: Roberto Alves Ferreira Tayoba
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Capitão: Joaquim Pinto de Oliveira


Tenente: Cassiano José Raymundo
Alferes: Modesto Pinto Coelho

Jornal Bom Senso - Quadro de Eleitores – 1856 – Gouveia, incluindo os votos existente de Datas, contava 14 eleitores.

1855 - Gouveia deixou de fazer a eleição de juiz de paz e vereadores, repetindo os nomes dos eleitos na eleição
anterior. A Câmara Provincial recomendou que convocasse novo pleito e que a eleição ocorresse com intervalo de
30 dias entre a convocação e a eleição, garantindo evitar que os votantes tivessem garantido o direito pleno do
exercício do voto. (Jornal Bom Senso – 22/12/1856)

Jornal Correio Oficial de Minas – 19/03/1857

1861 - O emprego da força e procedimentos escusos em eleições não era um evento isolado ou circunstancial na
Freguesia de Gouveia. Em 1861, os escrutinadores acusaram o presidente da mesa de os ter ameaçados para que
assinassem a ata adulterada da eleição sem restrições. Caso não a assinassem, eles teriam de abandonar o posto
sem receberem o pagamento pelo serviço que haviam prestado.

1862 –
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Em 1862 Gouveia e Datas contavam com uma população de 7.875 pessoas e 875 eleitores qualificados, isto é,
11% de “homens bons”.

1863 - Nas eleições de 1863 ocorreu o roubo da urna e novo pleito teve de se realizar, diante de outras mais
acusações de compressões e ameaças, e todos os meios combatidos com o proceder dos dominadores, ou antes
destruidores do voto livre, foram empregados, registrava o jornal liberal Universal de Ouro Preto.

Jornal Constitucional afirmando que a violência havia sido por ação dos liberais .

O que não obteve a baioneta da polícia, os Nemesios e Cardinos¹, eliminações na Freguesia de Gouveia, em 1863,
alcançou a supressão desta, e retalhamento d’aquela. Tudo sancionado pelo Governador da Província, Sr.
Saldanha. Em Datas, nenhum conservador animou-se a votar”. (O Conservador – Ouro Preto – 13/04/1867).

1 – O autor do artigo se referiu, certamente, sobre aqueles que fazem ‘jogos públicos (Nemeu) de modo sujo
(Cardina).

1864 – No dia 24 de agosto de 1864, atendendo a uma petição de próprio punho do cidadão João José Machado,
que a apresentou à Junta de Reclamação solicitando a exclusão de 320 eleitores qualificados votantes
conservadores da Freguesia de Gouveia. Essa reclamação foi ancorada pela Junta de Reclamação.

Este ato confirmado pela Junta suscitou indignação, e o cidadão José Correa da Silva, de Gouveia, que o fez dirigir
à S. M. Imperador uma representação contra o juiz municipal, bacharel Bernardino José Pereira Queiroga
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O jornal O Constitucional publicou a representação:


Neste caso, a acusação pairava sobre o juiz municipal, sobrinho do juiz de direito Bernardino José Queiroga,
conhecido líder do partido liberal do Serro e Diamantina. Os 320 cidadãos gouveanos do partido conservador já
exerciam há 5 anos o direito ao voto. “O pau que dá em Chico dá em Francisco”.

Eleitores Votantes (Gerais) Eleitores Especiais.


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Almanak Administrativo, Civil Industrial – RJ - 1864

1868 - Mais uma vez, foram registrados outros escusos acontecimentos. Nesta eleição, a fraude eleitoral
representada por Manuel Cyriaco de Abreu, liberal diamantinense, e confirmada pela Junta de Reclamação, e
homologada pela Câmara Municipal, provocou a nulidade do pleito e foi necessária uma nova votação. O motivo foi
o aumento de 100 cédulas em relação ao número de eleitores que compareceram. Para 397 eleitores votantes
presentes, 497 votos foram contados. (Noticiador de Minas – 15/12/1868 e O Jequitinhonha – 31/12/1868)

O jornal O Jequitinhonha de 11/02/1869, de Josephino Vieira Machado, comentou: “Gouveia: 12 eleitores


conservadores e 12 suplentes também conservadores. Nesta Freguesia não se aceitam votos de liberais e nem ao
menos os qualificam, quando é certo existirem na Paróquia grande número de cidadãos que professam as ideias
liberais.”

Uma singela homenagem a Josephino Vieira Machado, que dirimida informações contrárias, era gouveano.

Josephino Vieira Machado

Embarcação Saldanha Marinho


O Barco a Vapor Saldanha Marinho – pertencente ao Barão de Guaicuí e um sócio, foi cuidando dele que o Barão
adquiriu a febre que lhe causou a morte.
O livro O Caminho dos Currais do Rio das Velhas, de Eugênio Marcos Goulart descreve o Saldanha Marinho como o
1º barco a vapor a sulcar o rio das Velhas, em 1871. Foi construído pelo engenheiro Henrique Dumont, pai do
aviador Santos Dumont. As dimensões de aproximadamente 28 m (8,5 pés), e sua velocidade rio abaixo era de 23
km/h, e rio acima de 14. Comportava 50 toneladas de carga e dezenas de pessoas. Naufragou em 1943, próximo
a Juazeiro na Bahia. Foi recuperado, e se encontra hoje estacionado na cidade de Juazeiro, onde foi construído em
sua homenagem um memorial.
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O vigário de Gouveia foi acusado de tramar contra os liberais da paróquia organizando uma “sociedade venatória”,
isto é, grupo de pessoas à caça de seus adversários, agindo conforme regulamentos instituídos. Uma espécie de
macarthismo americano do século XX.

O jornal chama o vigário de Bossuet (Jacques), que foi bispo e teólogo francês, teórico do absolutismo, pregava o
poder absoluto monárquico. Bossuet foi o mais influente em assuntos religiosos da França na segunda metade do
século XVII. (O Jequitinhonha – 31/01/1869)

 Quadro de Eleitores do Município de Diamantina

Abaixo o quadro numérico de Eleitores e Eleitores Votantes na Comarca de Diamantina em 1869. A modalidade de
eleição era o voto distrital puro, as províncias eram divididas em áreas distritais.

Os eleitores votantes eram qualificados conforme as regras estabelecidas, e elegiam os chamados eleitores
especiais, aqueles que finalmente determinavam, por voto, os que iriam exercer os cargos públicos. O número
final de eleitores era determinado por um coeficiente obtido através do número de habitantes de cada freguesia ou
paróquia.

A população da comarca era de 20.572 habitantes, considerando o número de 5.100 eleitores votantes, apenas ¼
da população dispunha do direito ao voto. Em função do “coeficiente eleitoral”, a Comarca teve apenas 110
eleitores especiais, isto é, aqueles que na realidade dispunham da faculdade do voto final para quem quer que
fossem, esse número representou 0,53% da população da comarca.

Quadro de Eleitores da Comarca de Diamantina - 1870

1869 – Anuladas as eleições de 1869


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Constradt é uma possível referência a ilha do Caribe, próximo à Venezuela. Portanto, Gouveia seria uma
ilha dos Conservadores, segundo o jornal. Saquaremas é o epíteto dado aos membros do Partido
Conservador. A maioria dos políticos conservadores do Rio de Janeiro morava na cidade de Saquarema e lá
se reuniam, razão do epíteto.
Em 1870, a Freguesia de Gouveia contava com os seguintes eleitores qualificados
28

Eleitores qualificados em 1874

Corpo Eleitoral de Gouveia – 1873 - 1874

1878 - Os trabalhos da junta paroquial de Gouveia, em 1878, foram anulados pela Junta Municipal, decisão que
foi confirmada pela Câmara Provincial.
29

O Constitucional – 13/07/1878

1882 - Outras duas eleições, em Gouveia, aparecem nas folhas de jornal com críticas levadas à Câmara
Provincial. A primeira em 25/09 e a seguinte de 03/11. A denúncia foi de que a ata não espelhou os
acontecimentos e a lista de presença fora distorcida apontando ausências que não se efetivaram.

Nas discussões apareceram o envolvimento de tradicionais conservadores gouveanos: Leonel Alves Ferreira,
Carlos José Ribas, Professor Dionísio Gomes Pereira, Eduardo Pinto da Paixão e, principalmente Ladislao
Benevenuto Ribas.

Censo de 1884

 Movimento Sedicioso de Santa Luzia 1842

A Guarda Nacional estacionada em Gouveia tem participação ativa no movimento liberal sedicioso ocorrido em
1842, em Santa Luzia. O Batalhão foi destacado para ir ter com as forças imperiais, a fim de debelar o
movimento.

Aparece outra vez o nome do tenente-coronel Luiz José de Almeida, no comando do batalhão. O movimento que
se iniciara em Barbacena, se propagou pelo território de Minas Gerais.
30

A queda do Gabinete Liberal do Império foi o motivo das ações. Luiz Alves de Lima e Silva, então barão de Caxias
foi o comandante geral militar, ele percorreu pessoalmente grande área do território mineiro sufocando o
movimento. Inclusive recebeu o título de “O Pacificador, em virtude dos resultados que conseguiu com suas ações.

Sob as ordens do barão de Caxias, o tenente-coronel Luiz José de Almeida, agiu com rigor e contundência, sendo
alvo de críticas dos adversários liberais.

Ao fim das operações, tendo sido derrotado o movimento rebelde, o barão de Caxias determinou, através de
ordem do dia, que o batalhão de Gouveia, cujo comandante militar foi confiado ao tenente coronel Luiz José de
Almeida, permanecesse em Santa Luzia, enquanto outros batalhões de cidades maiores eram deslocados para
outras cercanias (jornal O Brasil – Ordem do dia de 03/07/1842).

O jornal liberal de Ouro Preto, “O Universal”, de 30 de novembro de 1842, publicou que o tenente-coronel havia
chegado à Santa Luzia “a testa de um numeroso grupo que trouxe daquele arraial (Gouveia) e o que queria era
impor terror”.

O jornal proclama que soldados da guarda nacional estacionados em Gouveia e que foram deslocados para o
confronto, na intenção de liquidar os adversários deram o grito: “morram os chimangos”.

Eram considerados “chimangos” (ave rapina do sul do país) aqueles indivíduos membros do partido liberal, mas
afinados com o poder moderador monárquico, e residentes no Rio Grande do Sul. Por isso, o jornal os classificou
de “os liberais, os amigos do trono do Sr. D. Pedro II...”.

Não se pode deixar de registrar que da cidade de Curvelo, sob o comando do Coronel Luiz Euzébio de Azevedo,
marchou em direção à Santa Luzia um batalhão de rebeldes que iriam reforçar as fileiras antigovernistas em
operação naquela cidade e outras vizinhas. Chegaram os curvelanos até Lagoa Santa, onde foram abatidos por
tropas legalistas. (jornal a Província de Minas – Município de Curvelo - Memórias Histórica e Topográfica –
25/08/1882).

A sedição dos mineiros, especialmente, de Santa Luzia, arregimentou dezenas de milhares de soldados, e muitos
ficaram feridos ou morreram. O livro A História da Revolução de Minas Gerais – 1842, que foi editado pelo
Exército, em 1843, reuniu peças oficiais de todo tipo de comunicação escrita onde estabeleceu a cronologia dos
acontecimentos dos fatos, o nome das pessoas que participaram e acrescenta, ainda, artigos de jornais tanto do
lado oficial, como dos sediciosos.

Na relação dos oficiais comandantes, estão os nomes daqueles que morreram ou ficaram feridos, assim como o
número de soldados que tiveram a mesma sorte. É uma boa fonte de pesquisa para tomar conhecimento se algum
dos gouveanos sofreram algum fim doloroso.

Outra referência para esse período é o livro “História do Movimento Político que no Ano de 1842 Teve Lugar
na Província de Minas Gerais”, do Cônego José Antônio Marinho, onde ele afirma:

“O ano de 1842, formará uma das épocas notáveis do Brasil; e os acontecimentos, que nele tiveram
lugar, fornecerão matéria para um dos mais interessantes Episódios da história do País. Levá-los ao
conhecimento da posteridade, esses acontecimentos, consigná-los com verdade, narrá-los com
escrupulosa exatidão, é fazer um verdadeiro serviço ao País.”

O Cônego José Antônio Marinho relaciona os nomes dos diamantinenses que tiveram participação no movimento e
ressalta as prisões decorrentes.
Outro jornal, “O Brasil: Vestra res agitur”, RJ, de 22 de setembro de 1842, do mesmo modo, informou a
participação do tenente Luiz José de Almeida.
31

 Gouveia e Paraúna

Em 9 de outubro de 1848, o deputado Joaquim Marianno dos Santos, do partido liberal pelo 6º distrito eleitoral
(Diamantina), consegue ferir o coração do Partido Conservador de Gouveia fazendo aprovar a lei que transferiu,
ainda que por pouco tempo, a sede da Freguesia para a Capela Curada de Paraúna, anexando não somente o
Distrito de Gouveia, mas também, o de Datas e Andrequicé.

Joaquim Marianno dos Santos foi vereador em Diamantina ao lado de Josephino Vieira Machado, Pedro de
Alcântara Machado, e outros, na legislatura de 1850.

As alegações apresentadas para mudança tratavam também de querer depreciar o Distrito de Gouveia, referindo-
se às condições de tamanho da sua igreja, e o número de eleitores votantes capacitados, e suas condições sociais.

Porém, o objetivo da medida estava claro: diminuir a força dos conservadores gouveanos. Trazendo-lhes
dificuldades de mobilidade, os eleitores votantes conservadores de Gouveia teriam de se deslocar, no dia da
eleição para a distante Paraúna, e por isso, poderiam deixar de comparecer à votação, enfraquecendo o partido e
sua representatividade.

Além disso, alguns ofícios católicos teriam de ser celebrados na paróquia de Paraúna, casamentos e batizados, por
exemplo, o que foi reclamado como um cerceamento das práticas religiosas.

Este projeto que acabou sendo confirmado em decreto, e por seu enorme equívoco, foi parar em discussão na
Câmara dos Deputados. Gouveia era sabidamente maior do que o Distrito de Paraúna. Na Corte, o decreto sofreu
severas críticas do deputado conservador Antônio Gabriel de Paula Fonseca, médico, que chegou a exercer o cargo
de delegado de polícia em Diamantina, eleito pelo 7º Distrito, pelo Serro Frio.

Indignado, o deputado Paula Fonseca, em discurso, declarou que:

“o Arraial de Gouveia, antiquíssimo, que conta cento e tantos anos, e que com outro arraial (o do Espírito Santo
das Datas) tem em população de muito mais de 4.000 almas, pagou a sua constância em sustentar os princípios
constitucionais e monárquicos com a pena de ver-se privado de um dote de que há tantos anos gozava: por uma
simples resolução se ordenou que a matriz passasse de Gouveia para Paraúna, cuja igreja é habitada por pássaros
noturnos, e indigna de habitação da Sagrada Hóstia...

Assim uma povoação que conta mais de 4.000 pessoas, que tem dois templos de magnífica arquitetura, cujos
habitantes têm uma subsistência constante e fácil, e que conservam ilesa a antiga religiosidade da metrópole, é
castigada mudando a sua matriz, fazendo-se com que um pobre pai que quer batizar seu filho vá dali a quatro
léguas, só porque não professa os princípios do liberalismo. (Annaes do Parlamento Brasileiro – 1850).

Gouveia retornaria a ser sede da Freguesia, dois anos depois, através da Lei 507, de 4 de julho de 1850.
32

Jornal Itamontano – 29/11/1848

A partir de 1860 o Governo estabelece por Lei que seriam concedidas loterias apenas aquelas em favor de
Estabelecimentos de reconhecida utilidade pública, como para construção e reparos de igrejas Matrizes.

Loteria para reforma da igreja de Gouveia – 1860 - Anais do Parlamento Brasileiro


33

Mapa com destaque do “Arraial do Gouvea e


Quartel dos Soldados do Rio de Janeiro” – 1730 – Bandos do Governador D. Lourenço de Almeida. Curioso a
menção “soldados do Rio de Janeiro”

 A Paróquia de Gouveia

Como capela assistida já existia antes de 1748 porque aí celebrava o Padre Antônio Ribeiro da Costa
(capelão). Fonte: Jornal A Estrela Polar – Diamantina – 26/11/1950.

Anais do Parlamento Brasileiro - 1860

Revista do Arquivo Público Mineiro -

Do livro Instituição de Igrejas do Bispado de Mariana, pelo sr. Cônego Raimundo Otávio Trindade – Jornal Estrela Polar.

 Igreja do Rosário de Gouveia


34

O Rei não se limitava, porém, a intervir nos Compromissos, questão vital por constituir a própria Lei que regia as
irmandades. Até os mínimos pontos eram controlados sem excluir sequer as anuidades cobradas. Não podiam
estas ser aumentadas ou diminuídas (caso mais comum depois da decadência da região), sem prévia aprovação
de Lisboa.
Também, quando os homens pretos da Irmandade do Rosário do Arraial de Gouveia, no Distrito Diamantino,
tiveram meios de construir sua capela, recorreram ao Provedor das Capelas Resíduos daquele Distrito. Concedeu-
lhes este apenas uma licença de dois meses e os fez prometer que pediriam provisão à sua Majestade, pois de
outro modo a licença seria retirada. A advertência foi tão séria que os pretos do arraial não deixaram de cumprir o
prometido. (41) Lisboa, ANIT, Comuns de D. Maria I, Chanc. R, L. 81, p. 65, 24 de janeiro de 1787, MS.
 A Paróquia de Datas

Era desejo dos liberais de Datas transformar o seu distrito em paróquia e desatar o nó político e administrativo
que a unia à Gouveia. Para isso, já havia algum tempo dirigia ao bispado o pedido para transformá-la em
Paróquia. O bispo D. João Antônio dos Santos não concordava e resistia, mas se mantinha em silêncio. Como ele
não justificava o porquê, era acusado de estar comprometido com os interesses dos conservadores gouveanos.

O bispo D. João Antônio dos Santos não era inimigo dos homens de Gouveia, mas também, não se assentava à
mesa dos conservadores. Os habitantes de Datas recorreram algumas vezes à Câmara Provincial para pleitear o
status de Freguesia. Em 1866, o partido liberal, e que tinha ampla maioria na Câmara Provincial, estava disposto a
votar favoravelmente ao projeto.

Jornal “O Universal – Ouro Preto – 13/10/1838

O autor do projeto de criação da Paróquia de Datas foi do controvertido deputado Padre Agostinho Francisco
Paraíso, do partido liberal, eleito pelo 17º Distrito da Comarca de Diamantina entre 1866 e 1868, que fora pároco
da Freguesia do Rio do Peixe. Era conhecido adversário do partido conservador, sobretudo, o de Gouveia. Tornou-
se, depois, grande proprietário de terras em Araçuaí e Calda.

É da lavra do mesmo deputado, o projeto de mudança da capital de Ouro Preto para a Barra do Jequitaí. O projeto
chegou a ser aprovado na Câmara, recebeu a sanção do Governador da Província que, depois, resolveu retorná-lo
à Câmara. que em função do tempo passado, e que na nova configuração política partidária resolveu arquivar o
projeto.

Na discussão plenária, do outro lado estava o advogado Dr. Bernardino da Cunha Ferreira, diamantinense,
deputado provincial, aguerrido conservador e aliado ao partido conservador de Gouveia, foi o que mais se o pôs ao
projeto para criação da Paróquia de Datas, e usou a tribuna para apresentar seus argumentos.

Outros deputados liberais apoiaram o projeto e estiveram presentes durante a discussão: Antônio Nunes Galvão,
Washington Rodrigues Pereira, Olímpio Marcelino da Silva foram os que mais se manifestaram. Outros, ainda, se
sucederam em pequenos apartes ao dr. Bernardino Cunha Ferreira.
35

O calor da discussão aconteceu desse modo, como registrou o Diário de Minas de 16/10/1866, Nº 101,
propriedade de J. F. de Paulo Castro:

O Sr. (Bernardino) Cunha Ferreira observa que não é a primeira vez se que se propõe – elevação do
distrito de Datas à freguesia, sendo por esse fim desmembrada da paróquia da Gouvêa, município de
Diamantina; o que a assembleia não tem admitido, ou adotado, por não militar razão alguma de
utilidade em favor de semelhante medida: Está convencido que se for, como deve ser, ouvido o
respectivo diocesano (D. João Antônio), este com justiça há de confirmar o que ele orador acaba de
dizer... (não aprovação do projeto).

O Sr. Cunha Ferreira (continuando) diz que pode uma pessoa ter partido político, e que isso não exclui a
moderação, e nem disse o contrário de S. Exc.ª Revma. (D. João Antônio dos Santos) sabe que ele
pertence ao partido liberal, vota com ele, e até votou na saturnal de 9/08/1863, que passou com o nome
de eleição livre, e é por isso mesmo, e porque ele orador confessa e proclama as virtudes, saber e ânimo
justiceiro de S. Exc.ª Revma. Que o que mesmo há de, com imparcialidade e verdade que presidem a
todos os seus atos, informar se convém, se há utilidade para serviço religiosos, que se eleve à paróquia
o referido distrito.

Quando ele orador, sustenta que projeto em discussão, arma política, que tende a enfraquecer a
paróquia da Gouvêa, onde o partido dominante nunca pode vencer, nem mesmo com força armada e
policial, como aconteceu na última eleição de eleitores.

Prosseguindo mostra o orador que o projeto é meramente um jogo para as eleições futuras, cifra-se na
operação seguinte: diminuir o número de eleitores de uma freguesia conservadora, e nada mais;
acrescenta que é luxo ou vaidade do partido liberal, porque ele para vencer no 6º Distrito não precisa
nem criar de novas freguesias, e nem de suprimir, como atualmente – e que é sempre governo que faz,
como bem quer, as eleições no país. Sobre a distância entre o Arraial de Datas e a sede da freguesia,
que é o Arraial da Gouvêa, é ela de légua pequena, e nesta parte ele orador não pode ser contestado
pelo autor do projeto.

O Deputado Bernardino Cunha Ferreira prosseguiu invocando a atenção da Assembleia que a criação da Freguesia
do Rio Manso em cidade, e parte do seu território para o Rio Preto, ocorreu sem reclamos da população e nem
mesmo audiência prévia do bispo diocesano. Mencionou que se Gouveia pertencesse ao partido liberal não se
discutiria pelo 6º Distrito e por seu representante, se parte da população que não excedia de 6.000 almas seria
retalhada.

E a discussão se alongou e os dois lados se fizeram presentes. Questionando a ilegalidade, o deputado Cunha
Ferreira, acusou a falta de apensos ao projeto da representação dos habitantes e a aprovação do prelado.

Sr. Galvão (interpela o Sr. Cunha Ferreira): - O nobre deputado parece que não quer a freguesia de Datas, porque
a da Gouvêa fica pequena.
Sr. Cunha Ferreira: - não é por isso, é porque é um mal que...
Sr. Washington (interrompeu): - Mal político?
Sr. Cunha Ferreira: - a maioria já se pronunciou, bem que poucas palavras, e por apartes. Sei, diz o orador, que
advogo uma causa...
Sr. Washington (outra vez interrompeu): - Perdida.
Sr. Cunha Ferreira: - que tem que passar, como tem passado outras, que...
Sr. Olímpio (interrompeu): - temos recriminações.
Sr. Cunha Ferreira: - São verdades. Sabe, pois o orador que já perdendo o seu tempo, mas não se importará com
isso, porque menos para constar, ficará consignado nos anais da presente seção...
Sr. Washington (interrompeu): - um protesto.

A discussão seguiu adiante, com o deputado Cunha Ferreira reforçando:

Que em Datas possui apenas uma igreja, a do Espírito Santo e que a Nossa Senhora do Rosário estava
por ser finalizar há 8 anos; que a sua população que outrora florescente, hoje estava em crescente
decadência; que em tempos passados não se encontrava ali uma única casa fechada; que tinha comércio
e no presente se dá o inverso e que as casas estão em ruínas, existem muitas fechadas.

A população tem-se transferido para o município de Conceição, às margens do rio Cipó, e outras
localidades diamantinas, em busca de serviços.
36

O deputado Galvão afirmou que existiam em Datas 24 eleitores, e que isso correspondia a 12.000 almas. Mas, o
deputado Cunha Ferreira ironizou, refutando, que isso é o inverso, Gouveia é que tinha 21 eleitores e não 24, e
que além disso possuía lavoura, criação de gado, com aumento natural, o que não acontecia com Datas que se
ocupava exclusivamente da mineração.

E que Gouveia e Diamantina se assemelhavam, têm características parecidas em termos de mineração, agricultura
e criadores; a população era estável. O deputado Cunha Ferreira recebeu o apoio do colega José Cesário de Faria
Alvim, a quem agradeceu, e finalizou, conclamando a minoria a votar contra o projeto que elevava Datas à
paróquia.

Foi apresentado o projeto para criação da Paróquia de Datas no dia 1º de outubro de 1866. Um mês depois, sob a
lei nº 1357, em 6 de novembro de 1866, o Presidente da Província, Sr. Joaquim Saldanha Marinho (um liberal),
decretou a elevação à categoria de Paróquia o Distrito de Datas, ficando compreendido o Distrito de Pouso Alto,
todos pertencente ao município de Diamantina, com todos os direitos e deveres relativos.

Com a alteração, Gouveia passaria a dar 12 eleitores e Datas 9 eleitores.

Até 1867, o projeto de elevação de Datas à categoria de Paróquia ainda não havia sido sancionado, embora
houvesse sido designado o padre Manoel Lourenço como pároco. O padre de Gouveia ameaçou abandonar a
paróquia de Gouveia alegando perda de receita com o desmembramento e os proventos que lhes eram destinados
não seriam necessários para sua subsistência.

Provavelmente, essa seria mais uma manobra política de modo a forçar ao bispado resistir a nomeação de um
vigário para a nova paróquia, tendo em vista, ser o pároco de Gouveia decididamente pendente para o lado
conservador.

Jornal Diário de Notícias

 Críticas Liberais
37

Em 16/02/1867, o jornal Constitucional – Ouro Preto registrou o artigo chegado de Diamantina informando que
ainda não havia sido sancionado o projeto que elevou Datas à Freguesia, disse o artigo que por influência dos
conservadores gouveanos e diamantinenses.

Jornal - O Liberal – Ouro Preto


38

O Partido Liberal de Datas se aproxima de Joaquim Felício dos Santos.

Jornal O Apóstolo – RJ – 22/05/1878 – Missa celebrada com intenção a Pio IX

Junta de Votação – 1898


39

 Escravos em Gouveia

As principais fontes de pesquisas que fundamentaram esse trabalho foram os jornais, portanto, o objetivo é trazer
uma leitura sobre fatos ocorridos narrados pelos jornais, não há pretensão estabelecer análises acadêmica, e
penetrar no assunto do escravagismo em Gouveia.

Mas, também, não se pode ignorar o fato de que essa abominável doença esteve ali presente, causou dores,
separações, sofrimentos. Venderam-se pessoas, carne humana, foi um atentado a qualquer princípio moral, ético
e espiritual, uma nódoa na sociedade brasileira que durante tantos anos a sustentou.

A escravidão no Brasil foi como que o pecado original, no primeiro momento tentando fazer dos habitantes nativos
seus servos e escravos, depois, os comprando da África. É um mal entranhado nos interstícios dos espíritos, e até
hoje aparece em discriminação e, agora, finalmente, com tipificação criminal.

Naquele tempo, as próprias leis a estabelecia, mas tarde, com pusilanimidade, a tolerava. Nos dias atuais, é um
fogo de húmus que arde às escondidas, surdinando sentimentos e atitudes, sob uma relva aparentemente viçosa.

Observa-se ainda nos dias de hoje, em alguns “lares”, nos quais seus exultantes patriarcas ao se referirem àquela
pessoa que durante dezenas de anos, sem hora para começar e terminar suas tarefas, serve-lhes à sua casa
ouvindo: “ela já faz parte da família, criou os nossos filhos, agora nossos netos.” O quarto de empregada em uma
casa é uma afronta a cidadania.

Felizmente, clamores eram ouvidos na região:

“A ESCRAVIDÃO – esta aberração da humanidade, esta transgressão da lei divina e natural, este cancro arrojado
na sociedade, existe ainda nesta parte do globo que se diz livre e só nesta parte... ser ela um verdadeiro abuso,
um erro absurdo, uma crueldade horripilante, e indignados corações patrióticos dos brasileiros que tanto honram a
Pátria” (jornal A Mocidade – Diamantina – 1878)

E segue relacionando as ‘consequências terríveis’ que a escravidão provocava: Suicídios, mortes, castigos
bárbaros, enfim tudo de havido, fazendo-se ainda mais da negociação da carne humana, uma especulação
lucrativa, dando-lhe troco de ouro... É horroroso, é terrível! Costume bárbaro! É tempo de acabar não pelas
galhas, mas pelos troncos, essa barbaridade que não deve existir no século que se diz das luzes...

E cobra dos deputados eleitos no último pleito, 1878, a tomarem a decisão de trabalharem para abolição.
Urgentemente! E termina o editorial conclamando ‘os brasileiros e a mocidade’ para se manifestarem:
40

Bradem como vos cumpre... Por um Brasil brilhante, suntuoso, tendo nele se feito desaparecer a
escravidão, embora fique a Pátria a vergonha de sustentá-la por tantos anos.

Liberdade todos querem, todos entendem que ela seja necessária, todos a defendem. A questão é que cada um
possui a sua ideia de liberdade, quase se poderia dizer, cada um idealiza a sua e deseja vê-la florescer. Contudo,
de uma mesma árvore, apenas uma flor há de florejar.

A voz do Bispo D. João Antônio dos Santos, foi o que mais incisivamente bradava contra a escravidão, ecoa no O
Cathólico – 1878.

D. João Antônio dos Santos


O absolutismo existente, o Rei não se limitava, porém, a intervir nos Compromissos, questão vital por constituir a
própria Lei que regia as irmandades. Até os mínimos pontos eram controlados sem excluir sequer as anuidades
cobradas. Não podiam estas ser aumentadas ou diminuídas (caso mais comum depois da decadência da região),
sem prévia aprovação de Lisboa.
Também, quando os homens pretos da Irmandade do Rosário do Arraial de Gouveia, no Distrito Diamantino,
tiveram meios de construir sua capela, recorreram ao Provedor das Capelas Resíduos daquele Distrito. Concedeu-
lhes este apenas uma licença de dois meses e os fez prometer que pediriam provisão à sua Majestade, pois de
outro modo a licença seria retirada. A advertência foi tão séria que os pretos do arraial não deixaram de cumprir o
prometido. (41) Lisboa, ANIT, Comuns de D. Maria I, Chanc. R, L. 81, p. 65, 24 de janeiro de 1787, MS.

Pelos anos de 1750 a 1760 há mais batizados do escravo adulto e tem-se a impressão de que diminuem eles à
medida que avança o tempo. Na Capela de Santo Antônio da Gouveia (34) quanto mais próxima a última década
do século XVIII menos adultos cativos receberam esse sacramento. Tudo isso significa uma diminuição de
escravos para o local ou o fato dos que atingiram o Distrito já se acharem batizados. Por outro lado, sendo maior
o número de crioulos, estes recebiam geralmente o sacramento na infância.

As crianças escravas constam dos registros de batizados. Propiciar esse sacramento, indispensável para se
pertencer à comunhão dos fiéis, era um dever social e religioso dos senhores. A pressão se exercia sempre no
sentido de ser ele facilitado e a insistência quanto à obrigatoriedade recai também sobre os escravos filiados à
irmandade... Pelo grande número de " expostos" batizados, vemos que mesmo os filhos de pais desconhecidos
eram levados ao seio da Igreja.

Não existem Livros de Batizados em bom estado de conservação no Arquivo da Arquidiocese de Diamantina, pois,
só encontramos folhas soltas, algumas principalmente ilegíveis. Pertencem à Matriz de S. Antônio do Tejuco,
Capela da Conceição do Rio Manso e Capela de S. Antônio de Gouveia, este em melhor estado, o que nos permitiu
consultar cerca de 800 certidões de batismo lançadas entre 1776 e 1792.

A dureza no castigo indica severidade ao menos de intenção. Não deve ter sido mantida, se levarmos em conta a
soltura dos costumes reinante em toda a região e o número elevadíssimo de filhos ilegítimos, principalmente entre
escravos. Encontramos em Santo Antônio da Gouveia (37) num período que vai de 1776 a 1792, 208 filhos
naturais. Quanto aos forros, a porcentagem é de 71 legítimos para 75 ilegítimos. Não cremos que em outras
Capelas a porcentagem fosse essencialmente diferente, e isso leva a supor que dificilmente as irmandades
poderiam prosperar se mantivessem à risca os seus preceitos. (37) DIAM, AAD, Livro de Batizados da Capela de
Santo Antônio da Gouveia, MS. (Devoção e Escravo – Julita Scarano – Brasiliana – Vol. 357)
41

Alvará de 2 de agosto de 1771 – Determinando punições para ilegalidades

Sobre mineração de diamantes. Punições aos escravos

Livro – Literatura e Sciencias – Travels in the Interior of Brasil, &c


por John Mawe - Braziliense – 1812 - Portugal
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Um tordo (tipo de ave) preso em uma gaiola/ Enfurece todo o Céu (William Blake – poeta inglês).

Viagem ao Serro Frio – John Mawe – 1812 – Homens escravos trabalhando na ‘“apuração do diamante” vigiados
por outros homens armados. “Nos contratos diamantíferos, o escravo que achar um diamante de certo tamanho
obtém a liberdade."

 Escravos Fugidos
"Mas os escravos fogem muito. Os que logram escapar acham fácil subsistência minerando, num córrego
escondido, um ouro (um diamante) que não lhes é difícil negociar ...”
43

Jornal O Pharol –setembro de 1885 – Juiz de Fora


 Alforrias

As atenções da Coroa em relação à Colônia (Brasil) no século XVIII estiveram a maior parte do tempo voltadas
para as minas, para as riquezas minerais que lhe servissem aos seus interesses de enriquecimento da oligarquia e
da corte portuguesa e prover o Erário Régio. Por isso, incentivava a busca pelas minas, a começar pela Bahia e
São Paulo, ainda que insucessos pudessem redundar em frustrações momentâneas.

Em 1785, o Alvará (A Viradeira) da Rainha Maria I proibia a instalação e funcionamento das indústrias no Brasil.
Segundo Teixeira de Mello, essa medida tinha como objetivo claro impedir que na Capitania de Minas Gerais as
atenções se desviassem da mineração, isto é, que a mão de obra a ser utilizada na indústria se deslocasse da
mineração. Havia em Minas uma florescente indústria têxtil, que um minucioso censo apontou para 1.500 teares
instalados. Essa indústria foi aniquilada levando quase 100 anos para voltarem a surgir.

Em Minas, até a indústria de aguardente foi-lhe proibida, porque a Coroa entendia que “os prejuízos destas
Fábricas são evidentes, porque os Negros embebedam-se, e fazem mil distúrbios, e os escravos, que trabalham
nelas, podiam empregar-se na extração do Ouro. Na Capitania de Minas somente se deve trabalhar nas lavras, e
nas culturas das terras, que produzem os gêneros necessários para o sustento dos Povos; e as águas Ardentes de
Cana devem ir pra Minas, (através) das Capitanias de São Paulo, e do Rio de Janeiro, onde não há ouro: é certo
que deste modo hão de ser mais caras, mas assim mesmo é conveniente para que os negros não possam beber
tanto, e para que não sejam tantos bêbados. (José Teixeira Coelho).

O número de alforrias crescentes preocupava a Coroa, e para impedir o esvaziamento dessa mão de obra, os
escravos, o rei decretou “a ordem desconsoladora e terrível, que não se alforriassem negros na Minas sem
44

justificação dos motivos em juízo, não somente por dinheiro”. (Diogo de L. A. P. Vasconcelos – História Antiga das
Minas Gerais (1703/1720) INL, RJ).

Jornal 17º Distrito publicou os nomes dos escravos a quem fora restituída a liberdade, conforme o costume de
homenagear a memória do falecido. Nesse caso, foi o falecimento do Major Roberto Alves Ferreira Tayoba,
ocorrido em 1885.
45

Pagamento de imposto em oitavos de ouro – Magdalena, crioula, (forra); Antônio R..., mulato, (forro); Ignácio
Pires, pardo (forro); Quitéria Curana (forra); Pedro da Silva (morador) e José de Souza da Mota (morador), todos
de Gouveia.

 Família Alves Ferreira

Na Gouveia oitocentista, outra vez, o partido conservador era dirigido pela família Alves Ferreira, cujo chefe mais
importante foi o major Roberto Alves Ferreira Tayoba, substituído depois, por seu filho com o mesmo nome.
46

O major Roberto Alves foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Diamantina, exerceu o importante cargo
de substituto do administrador dos Terrenos Diamantinos, era industrial, delegado de polícia, dono de lavras de
ouro e diamantes, possuía e negociava a compra, venda e aluguel de escravos.

Foi membro e presidente do Conselho de Qualificação de Eleitores da Freguesia de Gouveia.

Como já dissemos, eram considerados eleitores os chamados homens bons, expressão discriminatória, que
objetivava conceder esse direito apenas às pessoas qualificadas pela linhagem familiar, pela renda anual e
propriedade, bem como, pela participação na burocracia civil e militar. A lisura desse processo e a atuação dos
Conselhos eram sempre questionadas.

Em Diamantina, O Jequitinhonha, 1868, edição nº 49, o redator discutiu a necessidade de modernizar o


Estado, se referindo a reforma eleitoral daquele ano.

Com efeito, Sr. Redator o que significa uma reforma eleitoral em tais condições? É de censo que nós
precisamos? É de maior penalidade que nós carecemos para reformar os abusos eleitorais e extinguir
essa relaxação política, que de fato tem acabado com o sistema representativo entre nós?...

Quem desconhecerá que as degenerações do sistema eleitoral entre nós são fruto da imoralidade do
governo, de seus agentes, e da falta de garantias para a magistratura? De que servem as penalidades,
se não há quem as façam efetivas?  De que servem as garantias contra a prepotência do governo e da
polícia?

De nada, e os fatos acodem de tropel, a história contemporânea aí está para nos convencer e é por aí
que me convenço de que devemos começar a reforma pelas leis opressoras e tirânicas, com as quais é
incompatível a regularidade do sistema representativo...

Os juízes das vilas e os membros das Câmaras deveriam revisar os rendimentos apresentados, condição
indispensável, para se obter o título de eleitor. Como essas autoridades dependiam de votos para se eleger, eles
eram acusados de fazer vistas grossas em alguns casos.

Em 1881, o decreto 3.029, trouxe um pouco de segurança ao processo de qualificação, este decreto determinava
que “os juízes municipais enviarão aos juízes de direito das comarcas todos os requerimentos recebidos de
eleitores e respectivos documentos”, (...) e “os juízes de direito da comarca julgarão provado ou não o direito de
cada cidadão de ser reconhecido como eleitor”.

No que tange ao sistema eleitoral o país caminhava, porém, o mesmo não acontecia em relação à justiça. Por isso,
resolver as questões eleitorais locais esbarrava em muitas dificuldades.
47

Logo de início, a questão envolvia a falta de cidadãos habilitados, tanto na função de juiz, como na de promotor
público. Além disso, as dificuldades eram acrescidas pelos arranjos que ocorriam na sociedade, por meio dos
avanços dos aventureiros em busca das ambicionadas riquezas, em função da precária formação educacional e,
ainda, pelas enormes distâncias entre as comunidades; tudo isso dificultava o exercício da justiça.

A indicação dos magistrados, exceto o juiz de direito ou juiz de fora, era incumbência da Câmara Municipal que
utilizava uma eleição própria para alcançar uma lista tríplice que seria apresentada ao governo provincial, que ao
fim os nomeava.

A escusa do exercício da função de Juiz Municipal era frequente com alegações diversas, mas que na realidade
expunha o constrangimento social e político para desempenhar as atribuições de modo imparcial, como exigia a
função.

De muito tempo luta a Câmara Municipal da cidade Diamantina com repetidas nomeações de Juiz
Municipal, e com tanta infelicidade que jamais obteve a existência de um proprietário, pois que todos se
escusam; e apenas um ou outro cidadão aceita este cargo interinamente. Agora, porém ausentando-se
Luís Agostinho Gonçalves Seixas, que exercia interinamente, e achando-se fora do país José Joaquim
Neto escolhido por V.Exa., passou esta Câmara a nomear alguns cidadãos, que se achavam nas
circunstâncias da Lei, e todos se escusaram pretextando uma moléstia, outros ignorância de práticas
judiciais, e desta sorte inexiste no Termo um de Juiz Municipal.

A Câmara reclama a V.Exa. providências a respeito, podendo certificar desde já a V.Exa., que tem
esgotado todos os meios ao seu alcance, até mesmo os persuasórios. A Câmara certa em que o defeito é
da Legislação, foi ver ao mesmo tempo a V.Exa., que não tem empregado meios de coação por não
encontrá-los autorizados por lei, além de que entende que qualquer nomeado têm fáceis maneiras de se
subtrair ao exercício deste cargo, ainda quando constrangido a aceitar, pois nada é mais fácil do que
lançar-se de suspeito em todas as causa, dar parte de doente e por essas razões a Câmara espera que
V.Exa. a instrua sobre o que deve fazer em tão crítica posição a fim de que não padeça a administração
da justiça.”  (APM, PP 1/33 Cx. 74, 20/6/1838).

Os que, por fim, aceitavam a nomeação se caracterizavam por lhes faltar a importante imparcialidade e
assumiam, às vezes, com claros compromissos políticos e partidários. Os jornais da época registravam fatos
importantes em que tanto a atuação do juiz como do promotor de justiça era questionada. A perseguição política
não era incomum.

Com isso, a justiça comum perdia eficácia, o que falar, então, sobre a justiça eleitoral que é movida de paixão
pelo poder, pela prevalência

 Proprietários (Intendência) x Garimpeiros

“Não se confunda o garimpeiro com o bandido. Foragido, perseguido, sempre em lutas com a sociedade, o
garimpeiro só vivia do trabalho do garimpo, trabalho na verdade proibido por lei – e era o seu único crime mas
respeitava a vida, os direitos, a propriedade de seus concidadãos”. (Joaquim Felício dos Santos – Memórias do
Distrito Diamantino).

No tempo da Real Extração dava-se o nome de garimpeiro ou faíscadores àqueles que mineravam
clandestinamente na área circunscrita denominada Distrito Diamantino. E, portanto, eram tachados de criminosos
e perseguidos pela força policial e guarda nacional.

Criminalizava-se o trabalho deles, colocava-os na cadea, eram açoitados, e em sangrentos encontros, não raro,
eram mortos e feridos. Os relatos registrados em 1781 é exemplo disso. Ainda que fossem em número bem
superior, os garimpeiros quase sempre levavam desvantagem por não possuirem armas e orgnização tática que a
tropa de soldado dispunha.

Em 1781, além de soldados, outras pessoas foram contratadas para atacarem os garimpeiros e o resultado foi:
“mataram um, prenderam três e chumbaram vários”, registrou o tenente em seu relatório. (Paulo Krüger Correa
Mourão – Jornal “A Estrela Polar” – 1949).
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Roberto Alves Ferreira Tayoba – Inspetor-geral Terrenos Diamantinos

Quando o major Roberto Tayoba, em 1863, esteve exercendo interinamente o cargo de administrador dos
Terrenos Diamantinos, foi um momento de grande turbulência, e ele acabou se envolvendo em polêmica que
repercutiu através de discussão na Câmara Provincial.

Foi acusado de ter compactuado com faiscadores e promovendo a invasão da lavra da Lagoa Seca, localizada à
margem do rio Jequitinhonha. A lavra pertencia ao liberal João Ferreira de Aguiar, motivo que, na visão dos
deputados do partido liberal, norteou o evento.

O major alegou, depois, sucessivas vezes, que agiu ao fim procurando evitar o mal maior, o derramamento de
sangue, e em nome da compaixão e solidariedade aos garimpeiros invasores, que se achavam em condição de
desarrimo, e que estes se ocuparam de pequenos trechos de exploração já esgotada pelo Sr. João Ferreira Aguiar.

Na mesma época, o major Roberto Tayoba promoveu a cassação de direito de lavra de alguns proprietários no
garimpo do Barro Duro, repartindo os terrenos entre outros faiscadores.

No meado do século XIX achar depósitos superficiais de diamantes já era quase impossível, e a cada rumor de
sucesso em novos Descobertos de faisqueiras provocava correria e rápidas expedições organizadas, ou não, que
disparavam rumo aos locais anunciados, todos em busca de garantir direito às glebas de terra para exploração.

As invasões de áreas arrendadas começaram a acontecer, gerando conflitos entre proprietários que, apoiando-se
em seus agregados, agiam contra numerosos invasores que buscavam, essencialmente, não mais riqueza, mas a
própria sobrevivência.

O que vemos? Nossas povoações antes pacíficas agitaram-se imediatamente. Na Gouveia, Datas, S. João,
Chapada, Curralinho, Bom-Sucesso, Diamantina, Mendanha, Inhaí, Indaiá, Rio Manso, Itaipaba, Penha, Arassuaí,
Rio Preto, e fora do Município, no Milho Verde, São Gonçalo, Serro, e em outras povoações agitam-se os
habitantes. Grande número de negociantes, de lavradores, de proprietários, de artífices, de todas as classes lá
serem pressurosos ao “descoberto”. Uns preparam-se, outros partem, outros animam e excitam os retardados e
duvidosos. É uma romaria, uma cruzada industrial. (Joaquim Felício dos Santos – O Jequitinhonha – 04/04/1863
– sobre a lavra da Lagoa Seca).

Essa narrativa de Joaquim Felício é o anúncio ou previsão do que viria acontecer, em razão do Descoberto da lavra
da Lagoa Seca. Mas, essa corrida e os problemas ocorridos acabaram reverberando, em seguida, no confronto na
lavra do Barro Duro.

Poucos dias antes, 01/04/1863, o major Roberto Alves Ferreira Tayoba, no exercício do cargo de Inspetor Geral
dos Terrenos Diamantinos, em visita a lavra da Lagoa Seca, já fazia o alerta, através de ofício, ao Inspetor da
Tesouraria da Fazenda de Minas, para importância de se deter o movimento de invasão da lavra.

(...) A exposição que acabo de fazer a V.S.ª mostra a toda evidência a deplorável situação em que achamos, e
reclamamos as mais sérias providências (...) a fim de que quanto antes se ponha à disposição desta administração
uma força suficiente para que possam ser mantidos os direitos dos arrendatários e terrenos diamantinos tão
gravemente ameaçados com este deplorável procedimento: por isso que este passo que acham em andamento em
diversos pontos deste Município e tantos que se propalam boatos neste sentido, e nada menos há de esperar-se,
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sendo uma grande parte de tais invasores composta de facinorosos, e desordeiros, vindos de outros municípios,
cuja presença é sempre fatal em qualquer ponto onde eles se acham. (Major Roberto Alves Ferreira Tayoba –
ofício – 01/04/1863).

A fim de evitar o enfretamento e que sangue fosse derramado que poderia levar a morte de muitos, o major
Roberto Tayoba conseguiu estabelecer que parte da área da lavra da Lagoa Seca fosse destinada, exclusivamente,
aos faiscadores. Alguns arrendatários abdicaram de modo espontâneo à medida de transferência da posse,
enquanto, outros elevaram o tom de protesto.

O jornal O Jequitinhonha fez nessa ocasião severas críticas a postura do major Roberto Alves Ferreira Tayoba. O
movimento da Lagoa Seca abriu um precedente que deixou apavorados os arrendatários e antecedeu ao mais
sério confronto visto em invasões de arrendamentos dos terrenos diamantinos: A Lavra do Duro.

A lavra do Duro, ou Barro Duro, foi demarcada em 1853, no Descoberto, no distrito de São João da Chapada,
recebeu esse nome em função da característica do solo de fundo de rio e a dificuldade para ser explorado. Essa
lavra pertencia a Felizberto Ferreira Brant e começou a ter sucesso na exploração a partir da década seguinte.

No início do mês de maio de 1863, começaram a circular rumores da invasão.

O Jequitinhonha – 05/09/1863

Jornal Diário do Rio de Janeiro – 27/06/1863


Na medida em que esses rumores foram crescendo e adquirindo consistência, os arrendatários preocupados pela
insuficiência do aparato policial, começaram a se prevenir. E para tanto, principiaram a distribuir armas aos seus
empregados, e a alguns escravos, colocando-os nos limites das propriedades.

Apesar de um número significativamente menor, mas bem mais armados, os proprietários conseguiram evitar a
invasão, deixando mortos 6 invasores e muitos feridos, 12 pessoas foram presas e pagaram duras penas.

O forte e crescente conflito de interesses, de um lado os proprietários querendo preservar seus direitos para
cumprir seus contratos firmados com a Administração dos Terrenos Diamantinos, isto é, a exploração do diamante
e os ganhos correspondentes, do outro, os garimpeiros movidos pelo mesmo interesse de fortuna, mas com
objetivo primeiro: a sua sobrevivência e de suas famílias.
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Jornal Diário do Rio de Janeiro – 27/06/1863 – o jornal faz insinuações de que os invasores estariam sendo
manipulados por adversários conservadores. A família Ferreira Brant carregou sobre si o preconceito de que teria
mudado de partido, passando a professar ideias liberais, mas nunca se desligara integralmente: “uma vez
conservador, sempre conservador”.

O assunto foi levado ao conhecimento das autoridades da Capital da Província e tomou conta de outros jornais. A
questão penetrou no campo da política. Como os proprietários primavam pelo pensamento liberal,
responsabilizaram os conservadores pelos ocorridos, dizendo que estes incentivaram as invasões. O nome de
Roberto Alves Ferreira Tayoba foi o mais mencionado.

Em junho de 1868, Luiz Augusto, Duque de Saxe, genro de D. Pedro II, e o príncipe Luiz Felipe estiveram em
Diamantina e se hospedaram na casa do major José Ferreira Brant que os levou a lavra do Barro Duro, informou o
jornal O Constitucional. - Foto da casa do major José Ferreira Brant com a presença de pessoas à porta. Foto da
visita do Duque de Saxe à lavra do Barro
51
52

Na discussão, o deputado Bernardino Cunha Ferreira, do partido conservador, disse que o partido liberal teria
pactuado com os invasores da lavra do Barro, o deputado José Joaquim Fernandes Torres Junior refutou,
apontando o major Roberto Alves Ferreira Tayoba foi quem havia pactuado com os faiscadores da Lagoa Seca e
que aquele movimento teria incentivado a invasão da lavra do Barro Duro.

O major Roberto Alves Ferreira Tayoba morreu em julho de 1885, com idade avançada, aos 73 anos, vítima de
uma pneumonia.

 Deputado Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior

Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior, assume o protagonismo político de Gouveia como herdeiro político de seu
pai e liderando a família Alves Ferreira. Foi eleito deputado Provincial na 21ª Legislatura, 1876 – 1878 e só não
fora reeleito para a legislatura seguinte em razão de manobras políticas dos liberais serranos (Serro). Ainda na
eleição 1875, Roberto Tayoba Junior só pode tomar posse depois de mover apelação à Câmara Provincial, pois os
liberais serranos lhe impugnaram 12 votos.
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Mapa - 1822
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Monitor do Norte – 1876

Jornal “O Constitucional” – 1878


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- Jornal - O Constitucional - Fevereiro de 1878


Água de Lethe, o rio do esquecimento de cujas águas as sombras, ou seja, os espíritos mortos deveriam beber
antes de reencarnar. Penas e castigos no Averno (o lago dos Mistérios), geografia e imaginário infernal. (Virgílio,
Eneida – Canto VI)
A alegação utilizada foi de que alguns votos consignados em nome de Roberto Tayoba Junior foram computados
erradamente, na realidade “não foram legitimamente” consignados por não apresentarem o nome completo do
candidato, fator que determinava a anulação do voto. O deputado Roberto Tayoba Junior chegou a ter o diploma
de deputado concedido, mas em seguida, lhe foi cassado, pela própria Câmara Provincial.

Frequentou, posteriormente, algumas listas de candidatos a deputado Provincial e à Câmara Senatorial, mas não
obteve mais êxito.

Roberto Tayoba Junior manteve os negócios da família, negociava escravos, possuía autorização legal para
explorar jazidas de ouro e diamantes, outorgadas pelo poder público imperial.

Era um homem preparado, de inteligência esclarecida, já em tempo da República, 1890, na edição 23, de 12/02, o
jornal ouro-pretano ‘A Ordem’, tece elogios a sua capacidade intelectual, publicando a seguinte notícia:

Há mais de um ano, portanto desde muito tempo antes da revolução de 15 de novembro, o nosso
distinto amigo, Sr. Roberto Alves Tayoba Júnior, residente na Gouvêa (Diamantina), trabalha
acuradamente n’um projeto de Constituição para Minas Gerais, tendo em vista o princípio federativo e a
autonomia dos municípios.

Aguardamos com interesse a publicação do trabalho deste nosso inteligente amigo, cujos sentimentos
patrióticos e elevado caráter há muito apreciamos devidamente. Realizada essa publicação, daremos do
projeto do digno mineiro, Sr. Roberto Tayoba, notícia desenvolvida, como requer o assunto de tal
magnitude e oportunidade.
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Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior morreu assassinado no dia 01/06/1890. As razões para o ocorrido
permanecem veladas nas entranhas e susceptibilidades da sociedade gouveana. O certo é que o jornal O Pharol,
de Juiz de Fora 24/11/1903, informou:

“O delegado de polícia, acompanhado de 26 praças, deu, no dia 4 do corrente, cerco em uma casa no
Beco do Mota, onde se achavam homiziados José Pinto de Souza e seu irmão Agenor Gregório de
Almeida, indiciados autores do crime de morte cometido na pessoa de Roberto Tayoba, no vizinho Arraial
de Gouveia. Às 6:00 horas da manhã, o sr. Delegado prendeu-os e os fez recolher à cadeia pública.”

Jornal O Paíz – RJ – 22/11/1886 – O importante membro da Família Alves Ferreira teve morte trágica
Os últimos anos da década de 1880 foram de grandes perdas para a família Alves Ferreira:

 1885: morre o major Roberto Tayoba, jornal 17º Distrito;


 1886: morre Francisco Alves Ferreira de modo trágico, jornal O Paíz;
 1888: morre a Sra. Luiza Carolina Alves de S. Miguel, esposa do major Roberto
Tayoba, jornal O Paíz;
 1889: morre, em tenra idade, o filho do deputado Roberto Tayoba Junior, de nome
Carlos. (jornal A Província de Minas, de 27/07/1889);
 1890: morre o deputado Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior (jornal A Ordem,
de 06/06/1890).

 Industrialização de Gouveia
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe” – Provérbio português –
A partir de 1820, praticamente 100 anos após a descoberta, começou a se registrar baixas consideráveis nos
volumes de quilates de diamantes extraídos no Distrito Diamantino. Com isso, o governo da Coroa começou a
gastar mais para manter o aparato administrativo do Distrito Diamantino, e as despesas não estavam sendo
cobertas pelas receitas, e o déficit crescia ano a ano.
Avançou o tempo e as seguidas perdas fizeram suscitar discussões no Parlamento Brasileiro. E a necessidade de
extinção da Real Extração, começou a tomar vulto, de modo que, em setembro de 1845, ele foi definitivamente
extinto.
Contudo, já havia por ali um significativo volume de capital acumulado e ocioso, à espera de alguma boa
oportunidade de aplicação. Estava na hora dos homens de Gouveia se apresentarem.
E Gouveia opta por traçar o seu próprio caminho, independente de capital estranho ou do governo. Atividades
sistemáticas e organizadas em Gouveia, fora do garimpo, surgem na segunda metade do século XIX; todas elas
operando em sistema de sociedades. Não era o fim do período de exploração mineral, mas a mentalidade
desenvolvimentista se instalara.
Era preciso olhar a Gouveia expandida, não mais se limitar a ver a hora no relógio da igreja e ir tentar a sorte no
garimpo. Aparece, assim, o desenvolvimento emergindo em uma região amaldiçoada pela fome e por endemias e
confrontos historicamente sangrentos desde a colonização como os ocorridos com os índios Puris, retratados no
romance indigenista de Joaquim Felício dos Santos.
Enquanto a maioria dos outros distritos se arrastava, quando não retrocedia, Gouveia se descolava e decolava,
para se tornar o mais promissor distrito do já passado Distrito Diamantino. O ciclo industrial se iniciou, com
sociedades comanditas, isto é, onde os sócios confiantes em seus pares, se juntam e não se preocupam em
participar na gestão dos negócios.
Gouveia se insere no tempo moderno, aparece o desenvolvimento, se instala a sociedade de confiança.
 A Sociedade dos Edificadores
Os gouveanos fundaram a Sociedade dos Edificadores, a data de sua fundação não é precisa, sabemos que em
junho de 1885 ela já funcionava. A Sociedade pensava o desenvolvimento, os sócios reuniam o capital em ações e
instalavam os empreendimentos. O jornal 17º Distrito, em julho de 1885, assim a descreveu:
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A Sociedade dos Edificadores é o espírito e o coração de Gouveia, os seus intuitos, os seus fins, tão cabalmente
cumpridos – a cultura e o desenvolvimento em seus associados e no povo de todas as virtudes públicas e
privadas, do amor ao trabalho, do patriotismo, da sobriedade, da economia, da ordem, da paz doméstica e pública
ao mesmo tempo, e desenvolvimento da indústria local, do comércio, da lavoura, da prosperidade, enfim, daquele
torrão verdadeiramente feliz.

Por ocasião da data do 7º dia de falecimento do major Roberto Alves Ferreira Tayoba, o Conselheiro Mata
Machado, presente em Gouveia, recebeu o título de sócio da Sociedade dos Edificadores, recebendo um respeitoso
e elogiado discurso de Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior e o cumprimento de vários cidadãos gouveanos: João
Alves Ferreira Pequi, Antônio Alves Ferreira Dornas, e outros.

Gouveia participou nas fazendas da Companhia Norte de Minas dirigida por Pedro da Mata Machado, irmão do
Conselheiro Mata Machado. Alguns empreendimentos instalados. Fazendas da Companhia Norte de Minas, Fábrica
de Lapidações, Fábrica de Curtume, Fábrica de Chapéus, Vinhedos e a Indústria do Vinho.
 O Barão de São Roberto

Quintiliano Alves Ferreira foi um respeitável cidadão, preocupado com as questões sociais e com interesse na
causa pública, havia firmeza e sinceridade em suas crenças e convicções. Foi influente membro do Partido
Conservador de Gouveia, embora, não tenha ocupado nenhum cargo dentro do partido ou na administração
pública.

Sua atenção se voltava principalmente na gestão e direção de seus negócios, constituídos em forma de
Sociedades que conferiam ao Distrito de Gouveia o estado de prosperidade.

Barão de São Roberto

Anais do Império

Foi honrado com o título de Barão de São Roberto. Para sua lapidação de diamantes com muitas rodas, foi-lhe
concedido o título de - Imperial - e pode desse modo, incluir a palavra Imperial, ficando assim denominada a
razão de Lapidação Imperial Vitória Augusta. Notícia retirada do Diário Oficial pelo jornal Diário de Notícias
(RJ) – 1880 aponta, no item 10, que Quintiliano Alves Ferreira foi honrado com o título de Barão de São Roberto
58

Jornal O Monitor do Norte – 13/06/1875

Jornal Comércio de São Paulo informa o falecimento do Barão de São Roberto 09/07/1895

Antônio Alves Ferreira. Dornas


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Fábrica de Chapéus em Gouveia/ Vinho

Capitão Ragozino Alves Ferreira

A Fábrica de São Roberto surgiu em meio a um já crescente números de fábricas organizadas se instalando em
Minas Gerais. A Fábrica do Cedro, 1868, é que mais destaque se pode dar, pois continua operando até os dias de
hoje, como a própria Fábrica de São Roberto, a lhe fazer par.

Em 1874, a Fábrica do Biribiri, fundada pelos Felício dos Santos e sócios.

Verdade é que já antes, 1846, a Cana do Reino, em Conceição do Serro, acionada, de início, por um inglês, e
instalada com máquinas importadas da Europa (Stanley J. Stein), e um pouco antes ainda, outra houvera tentado
no termo de Sabará (1838).

Contemporâneas da Fábrica de São Roberto, há registros de outras, entre elas: a do Rio Manso, a de São Gonçalo
do Rio Preto, a de Inhaí, a Perpétua, às margens do Ribeirão do Guinda, em Diamantina, e a Santa Bárbara, dos
Mata Machado, que opera ainda hoje de modo bem reduzido, distante na modernização da Fábrica do Cedro e da
Fábrica de São Roberto.
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Fábrica de Fiação e Tecidos – Família Alves Ferreira - Jornal Liberal do Norte – 8/12/1887
Presidente da Sociedade: Quintiliano Alves Ferreira

Outro pioneiro da indústria têxtil, da chapelaria a vapor e da indústria da lapidação de diamantes foi o Barão de
São Roberto, Quintiliano Alves Ferreira. Entre os anos de 1887, quando empregou quinze contos de réis na criação
da fábrica de fiação e tecidos no Arraial de Gouveia, e o ano de 1895, data de seu falecimento, o Barão de São
Roberto dedicou-se à administração desta fábrica e da Lapidação Imperial Vitória Augusta. No total de sua fortuna
- avaliada em 85:405$000 ou 8.592 libras esterlinas -, as apólices da dívida pública representavam 20:000$000
(23,4% do total) e a letra de câmbio firmada com a Fábrica de Tecidos São Roberto alcançava o valor de
27:000$000 (31,6%). Quintiliano Alves Ferreira vivia, às vésperas de seu falecimento, dos rendimentos auferidos
como diretor de fábrica e dos juros e dividendos decorrentes de seus investimentos nas empresas que ajudara a
criar (Inventário de Quintiliano Alves Ferreira, 1895, Cartório do 2º Ofício, maço 101. BAT).

Foi contratado para projetar, adquirir o maquinário o mecânico industrial prático Francisco C. da Silva Guimarães.
61

Jornais do Arquivo Público Mineiro

Jornal “Propaganda” – Diamantina – 17/07/1888


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Contrato da Sociedade Mercantil Alves, Ribas, Ribeiro e Comp. 22/11/1887 – Jornal Liberal do Norte – Diamantina

A Fábrica São Roberto, ainda que pudesse contar com sócios diversos, não perdeu o caráter de empresa familiar.
Não é à toa que a primeira diretoria foi assim formada: Presidente: Quintiliano Alves Ferreira - Diretor: Ragozino
Alves Ferreira – Tesoureiro: João Alves Ferreira Pequi.

Os sócios fundadores:
1 - Quintiliano Alves Ferreira
2 - Rogério José da Rocha
3 - Elias Gomes Ribeiro
4 - Antônio José Ribas
5 - Ragozino Alves Ferreira
6 - Antônio Alves Ferreira
7 - Leonel Alves Ferreira -
8 - Antônio Francisco Pinto Mundéo
9 - João Alves Ferreira Pequi
10 - Pacífico Alves Ferreira
11 - Antônio Alves Ferreira Dornas
12 - José Bonifácio Ribas
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13 - Carlos José Ribas


14 - Felisbino Ferreira de Amorim
15 - José Alexandre de Souza
16 - Manoel Francisco de Campos

 Acionistas da Fábrica São Roberto – 1894/1910 - - Livro de Atas da Fábrica São Roberto

1 Álvaro Alves de São Bruno – seminarista, em 1895;


2 Anna Silveira de Jesus
3 Antônio Alves Ferreira Dornas: sócio fundador, capitalista e empresário
4 Antônio Alves Ferreira Dumbá: do Gloria; jurado; major;
5 Antônio Alves Ribeiro: do Córrego: eleitor; candidato a juiz de paz;
6 Antônio Augusto de Abreu
7 Antônio Francisco Pinto Junior: acompanhava o pai na política, na fazenda do Tigre;
8 Antônio Francisco Pinto Mundéo: sócio fundador, tenente quartel-mestre;
9 Antônio José Ribas: sócio fundador
10 Antônio José Ribas Junior
11 Antônio José Rodrigues
12 Antônio Monteiro da Fonseca: inspetor escolar;
13 Antônio Pereira de Almeida: subdelegado em Gouveia (1897);
14 Antônio Pinto da Paixão Junior: eleitor de Gouveia (1874) e jurado (1896);
15 Antônio Ribas de Aguiar
16 Aprigyo de Souza Lima
17 Augusto Elias Kubitscheck e Irmão
18 Augusto Pinto de Oliveira: membro do partido conservador de Gouveia (nímio), funcionário dos Correios;
19 Barão de São Roberto, Quintiliano Alves Ferreira: sócio fundador e presidente, capitalista e empresário.
20 Barão do Paraúna (capitão Antônio Moreira da Costa): capitalista, criador do hospital N. S. da Saúde,
presidente da Cia Popular Diamantinense cujo fim era prover recursos para suprir necessidades médicas e
farmácia, grande benfeitor. Presidente da Fábrica da Conceição (Rio Manso), negociante de diamante;
21 Baronesa de São Roberto
22 Carlos José Ribas: capitão da guarda nacional, nímio membro do partido conservador, fazendeiro, criador
de gado, dono de lapidação, tio do Major Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior, foi recenseador em 1890 ao
lado de João Alves Ferreira Pequi e do Barão de São Roberto. Recebeu medalha de ouro na Exposição
Universal de Paris (1889) na categoria industrial, foi chefe de polícia, presidente do partido republicano de
Gouveia, agente executivo e conselheiro distrital;
23 Carlos José Ribas Sobrinho
24 D. Bernardina Alves Conceição
25 D. Bernardina Claudina d’Amorim
26 D. Carmelita Honorina Ribeiro
27 D. Etelvina Alves da Conceição
28 D. Etelvina Luiza Alves: esposa de Leonel Alves Ferreira, São Sebastião do Tigre;
29 D. Laudelina Dornas
30 D. Maria Amélia Alves
31 D. Maria Laudelina de Oliveira
32 D. Maria Leopoldina Alves
33 D. Maria Luiza Alves da Conceição: professora de São Sebastião do Tigre;
34 D. Policena Cândida de Miranda
35 Dr. José Raymundo Telles de Menezes: médico, nasceu na Bahia, mudou para Minas Gerais residiu em
Diamantina onde fez a carreira e político , deputado provincial, 9º Distrito, junto com Dr. João da Matta
Machado e Teotônio Magalhães, foi deputado federal, apresentava-se como republicano histórico, delegado
de higiene de Araçuaí, casado com a Sra. Anna Telles, capitão cirurgião-mor da Brigada Policial, foi diretor
da fábrica de fiação e tecidos de Inhay, escrevia no jornal O Tambor junto com Francisco Corrêa Rabello e
João Nepomuceno Kubitschek;
36 Dr. Pedro da Matta Machado: advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, professor de
português, jornalista, professor da Faculdade de Direito de Belo Horizonte, Presidente do Conselho de
Intendência Municipal de Diamantina, promotor de justiça da Comarca de Diamantina, senador de Minas
Gerais, Deputado Federal, colega de Juscelino Kubitschek. Fez seus primeiros estudos no Ginásio da cidade
sendo aprovado com distinção ou plenamente;
64

37 Elias da Silva Barreto: subdelegado do distrito de Congonhas, município de Conceição do Serro, cidadão
respeitável compôs comissões de benfeitoria para melhoramento do distrito de Congonha, agente dos
Correios local;
38 Elias Gomes Ribeiro: major da guarda Nacional, chefe do partido liberal ao lado de Álvaro da Matta
Machado e outros, foi membro do corpo de eleitores de Diamantina, capitalista e comerciante de loja de
fazendas, atuante cidadão em Diamantina, pertenceu ao quadro administrativo da Santa Casa e ordens
religiosas. Casado com a Sra. Josefina Adelaide Gomes Ribeiro;
39 Eunápio Alves Doclé
40 Felisbino Ferreira de Amorim: sócio fundador, negociante de fazendas secas;
41 Francisco Firmino de Abreu Junior: fez parte do corpo de eleitores especiais de Gouveia;
42 Francisco Joaquim Dornas
43 Francisco Soares Ferreira da Silva
44 Heitor Plácido Fernandes: foi administrador do distrito de Gouveia junto com Carlos José Ribas, e Licínio de
Oliveira Balsamão. Foi suplente de delegado (julho de 1897);
45 João Alves Ferreira
46 João Alves Ferreira Pequi: sócio fundador, inspetor escolar, fazendeiro e dono de escravo, foi diretor da
Fábrica;
47 João Augusto da Cruz: recenseador em Paraúna;
48 João Augusto de Andrade: fazendeiro na região de Jequitaí, distrito de Bocaiúva;
49 João Nepomuceno Gomes Pereira
50 João Queiroga Lima: fazendeiro em Jequitaí, distrito de Bocaiúva, subdelegado;
51 João Roberto da Rocha: casado com Maria Nazareth da Rocha, capitão cirurgião da guarda nacional,
farmacêutico;
52 Joaquim Alves da Silveira: membro do corpo de jurados, juiz de Paz;
53 Joaquim Alves Tayoba: farmacêutico, mesário de eleições, foi quem instalou a primeira farmácia em
Gouveia em 1888, era sobrinho de Carlos José Ribas, desenvolvia fármacos de ruibarbo;
54 Joaquim Augusto de Oliveira Pinto: cidadão de Gouveia;
55 Joaquim dos Reis Maria
56 Joaquim Pereira de Almeida
57 Joaquim Vieira Horta: casado com Maria Augusta Silveira Horta, foi vereador na cidade do Serro e major da
guarda nacional, suplente de subdelegado, comerciante de fazendas no Rio do Peixe;
58 José Ribas
59 José Alexandre de Souza: sócio fundador, major-fiscal do 98º Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional
em Datas, presidente e agente executivo, conselheiro em Datas;
60 José Bento Cândido de Oliveira: professor de instrução primária do 2º grau, em Conceição do Serro,
pertencia ao quadro do partido conservador;
61 José de Campos Lima: fazendeiro – Itamarandiba
62 José Martiniano Saraiva
63 José Natalício da Silva: foi prefeito da cidade de Conceição;
64 José Pedro de Miranda
65 José Pinto de Amorim
66 Ladislau Benevenuto Ribas
67 Leonel Alves Ferreira: sócio fundador, ten. coronel da guarda nacional no Tigre, delegado literário do Tigre;
68 Leonel Alves Ferreira Junior
69 Leonel Francisco Dornas
70 Licínio de Oliveira Balsamão
71 Luiza Alves Conceição Ribas
72 Manoel Alves Ferreira Tayoba
73 Manoel da Costa Penna
74 Manoel Ernesto de Miranda: eleitor da 9ª seção do Tigre;
75 Manoel Estevão da Paixão
76 Maria Vitalina Alves Pequi
77 Pe. Francisco Xavier d’Almeida Rolim: agente executivo municipal de Curvelo;
78 Pe. José Alves Ferreira
79 Pedro Alves Ferreira: eleitor pela 8ª seção, distrito de Gouveia (1896), fazendeiro, plantava vinha;
80 Pedro Antônio da Silveira: capitão-ajudante do 33º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, eleitor da 8ª
seção eleitoral de Gouveia (1898), jurado na comarca de Diamantina, juiz de paz eleito, conselheiro do
distrito de Gouveia;
81 Pedro Pinto de Almeida
65

82 Quintiliano de Miranda
83 Ragozino Alves Ferreira: sócio fundador, empresário gouveano, inspetor geral dos Terrenos Diamantinos –
03/1886 – Jornal A Província de Minas. Esteve à frente da Chapelaria e da fabricação de Vinhos;
84 Ricardo Pussini Leite
85 Rogério José da Rocha: sócio fundador, fazendeiro e empresário construtor de obras públicas na Freguesia
de Traíras (Curvelo), proprietário de barca para travessia do rio Paraúna, foi subdelegado no Distrito da
Ponte de Paraúna;
86 Rômulo Evaristo dos Santos: Juiz de paz na Freguesia de Datas;
87 Serafim Libano Horta: casado com D. Augusta Etelvina Horta; negociante na corte; sócio da casa Carvalho
Libano e Comp.; do partido liberal, amigo da família Matta Machado; adversário político do partido
conservador de Gouveia; no início da República se alia a estes e compõe o partido republicano de Gouveia;
ten. Coronel da guarda nacional; foi vereador;
88 Valeriano Gomes Timotheu
89 Victória Ernestina Alves
90 Virgínio dos Santos Rodrigues: foi eleitor do 2º Colégio Eleitoral na Freguesia de Datas, candidato
conselheiro, capitão-ajudante, membro do partido liberal.

Jornal “O Município” - Diamantina

A lisura de conduta do barão de São Roberto juntamente com João Alves Ferreira Junior na liquidação de negócios
da firma João Alves Ferreira Junior & Comp. Dirigiram comunicado, publicado em jornal da Corte, aos possíveis
credores remanescentes na praça do Rio de Janeiro, solicitando que estes se apresentassem caso tenham ficado
sem pagamento ou qualquer direito a ser satisfeito.
66

Ficou concedido a Manoel Batista dos Santos a instalação de uma botica de produtos farmaceuticos manipulados,
por isso a necessidade da aprovação da Junta Central de Higiene Pública. Jornal Diário de Minas – Ouro Preto -
1864

Inspetoria Geral de Higiene - Farmácia de Joaquim Alves Ferreira Tayoba - 1886


Jornal Liberal do Norte – Diamantina - MG

 1873 – Município de Gouveia

Em 1873, o desenvolvimento de Gouveia na Comarca de Diamantina era expressivo o que lhe possibilitou a
oportunidade de ser elevada de Arraial à Vila (outubro) e logo em seguida à categoria de Município.

Nesta condição, Datas retornava a ser de distrito de Gouveia, e como aponta o Prof. José Moreira de Souza, a
rivalidade chega ao ponto máximo (Gouveia e seus Mitos – 2003)
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A vida que podia ter sido


E que não foi,
O que custou a arranjar.
A ventania varreu as folhas
E a emancipação.

A história da emancipação de Gouveia, aquela que não aconteceu, tem a seguinte explicação dada pelo Prof. José
Moreira de Souza:

Parece que a não instalação do município em 1873, nem nos anos seguintes, até cair no olvido, foi uma
deliberação dolorosa. Um dos resultados visíveis é que nem Gouveia nem Diamantina participaram do Primeiro
Censo Geral do Império. Ao passo que São João da Chapada, por exemplo, que é ainda um distrito do município
de Diamantina o fez.
68

A elite de Gouveia se dividiu trazendo dissabores entre as famílias dominantes, mas aprendendo uma lição
importantíssima para a política civilizada que poucas partes do Brasil ainda não alcançaram: “deliberar”. Decisões
não podem ser tomadas sem deliberação, sem consulta, sem reuniões, sem ouvir e dizer. (...)
Baixada a lei que elevava a Gouveia à categoria de Vila, viajou para cá o nosso representante junto à Câmara
Provincial de Ouro Preto, o deputado Roberto Alves Taioba, trazendo a alvissareira notícia, havendo, na ocasião de
sua chegada, encontros e festas para receber o parlamentar portador da novidade.
Após estas solenidades foi promovida uma reunião na residência do chefe político local sr. Quintiliano Alves
Ferreira (Barão de São Roberto) para tratar das providências que se faziam necessárias à instalação do município.
No decorrer dos debates acalorados, o chefe ouviu tranquilo os argumentos expostos. No final da referida reunião,
disse o Barão São Roberto que estava plenamente de acordo com as providências tomadas, que de sua parte
oferecia sua residência para a instalação da Câmara com as respectivas mobílias e deixaria o arraial com destino a
outra localidade com sua família.
Ante esta irreparável atitude todos se sentiram desapontados e, sendo pessoa
muito querida da comunidade gouveana, resolveram abandonar a ideia que
deu origem à referida reunião e ficar do lado da pessoa amiga e querida que era o sr. Quintiliano Alves Ferreira.
(Manuscritos p. 1 a 3) – (Prof. José Moreira de Souza – Gouveia e seus Mitos – 2003).
No final do século XIX, conservadores e liberais se deslocando para o Partido Republicano Mineiro.
 Gouveia Republicana
No Distrito da Gouvêa, os políticos conservadores mudaram de convicção, e passa a predominar o pensamento
republicano, o Partido Republicano Mineiro (PRM). A direção do partido estava entregue às figuras de destaque,
isto é, industriais, comerciantes e proprietários de terra e garimpo, os mesmos de outrora.
Estava assim constituída a diretoria do Partido Republicano:

Presidente: Carlos José Ribas – sócio da Fábrica de Tecidos


Secretário: Major Leonel Alves Ferreira – sócio da Fábrica de Tecidos
Tesoureiro: Heitor Plácido Fernandes – sócio da Fábrica de Tecidos
Membros: Ivo Martins da Silva; Delegado
Ten. Coronel Serafim Líbano Horta; - sócio da Fábrica de Tecidos
Antônio Pereira de Almeida, subdelegado – sócio da Fábrica de Tecidos

Pode-se observar que adversários políticos de antes se encontraram. Os negócios unem o que a política manteve
separada por longo tempo.

Por ocasião da crise política instaurada em 1891, a consequente renúncia do presidente da República Marechal
Deodoro da Fonseca e a dissolução do Congresso, os movimentos contrários se organizam para resistir, sobretudo,
o do Estado do Rio Grande do Sul. O partido republicano de Gouveia fez publicar no jornal O Estado de Minas –
Ouro Preto – 31/12/1891 - seu protesto se mostrando a favor do governo deposto.

Jornal O Paíz – RJ - 24/11/1891- O Estado de Minas – Ouro Preto – 31/12/1891 – deposição


de Deodoro da Fonseca da presidência
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 Maçonaria em Gouveia
Havia um grupo de cidadãos de Gouveia que pertencia à maçonaria, como afirmou o Padre Agostinho Francisco
Paraíso, quando fez visita pastoral diocesana em nome do bispo D. João Antônio dos Santos

Ele disse ter ido à Gouveia para advertir alguns cidadãos e fora “incumbido de transmitir tais notícias e por isso
dava de começo a essa honrosa tarefa.

Portanto, estava ali enviado D. João Antônio dos Santos com autoridade de assim se pronunciar. Na pregação,
inclinou-se a afirmar que havia em Gouveia cidadãos que “apesar de maçons, são honestos e prestantes, digo
apesar de maçons, porque adeptos da seita, em força de seus princípios só devem ser em crença ateus, e em
moral pior que o irracional.”

Jornal O Monitor do Norte – 27/07/1875 – Diamantina – publica com repulsa a fala do Pe. Paraíso.

A guisa de informação: o padre Paraíso foi o autor do projeto, em 1867, aprovado pela Câmara Provincial que
transferiu a capital da Província de Ouro Preto para Jequitibá, às margens do rio das Velhas. O projeto arrancou a
ira de muitos, e acabou sendo depois vetado pelo presidente da Província e confirmado o veto pela Câmara.
Deputado pelo partido liberal

Padre Antônio Agostinho Paraíso

O sermão não soou bem aos ouvidos da assembleia, mas não teve repercussão maior, afinal, discutir com a Igreja
costumava não ter um bom fim.
Os indícios da afinação dos cidadãos gouveanos com a maçonaria diamantinense é sentida através das sempre
simpáticas referências feitas pelo O Monitor do Norte, jornal da Loja Maçônica Atalaia do Norte, a quem o Padre
Paraíso havia se referiu no sermão, pejorativamente, como Alacraia do Norte. (Jornal Monitor do Norte –
Diamantina - 27/06/1875).

Depois que todos foram

Depois que todos foram


E foi também o dia
Ficaram entre as sombras
Das áleas do ermo parque
Eu e a minha agonia.
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(...)
Talvez que no parque antigo
A festa volte a ser,
Ficaram entre as sombras
Das áleas apertadas
Eu e quem sei não ser.
(Fernando Pessoa)
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Mapa – 1719
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Mapa 1780
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