Você está na página 1de 6

SEGUNDO REINADO NO IMPÉRIO BRASILEIRO

A ECONOMIA CAFEEIRA: SEU IMPACTO NO MEIO AMBIENTE E NA URBANIZAÇÃO

Prezados,
Percebemos que qualquer atividade que o homem exerça no meio ambiente
provoca um impacto ambiental. Esse impacto, no entanto, pode ser positivo ou não.
Infelizmente, na grande maioria das vezes, os impactos são negativos, acarretando
degradação e poluição do ambiente.
Os impactos negativos no meio ambiente estão diretamente relacionados
com o aumento crescente das áreas urbanas, o aumento de veículos automotivos, o
uso irresponsável dos recursos, o consumo exagerado de bens materiais e a
produção constante de lixo. Dentre os principais impactos ambientais negativos
causados pelo homem, podemos citar a diminuição dos mananciais, extinção de
espécies, inundações, erosões, poluição, mudanças climáticas, destruição da
camada de ozônio, chuva ácida, agravamento do efeito estufa e destruição de
habitats. Isso acarreta, consequentemente, o aumento do número de doenças na
população e em outros seres vivos e afeta a qualidade de vida.
Vale destacar que os impactos ambientais positivos também acontecem. Ao
construirmos uma área de proteção ambiental, recuperarmos áreas degradadas,
limparmos lagos e promovermos campanhas de plantio de mudas, estamos também
causando impacto no meio ambiente. Essas medidas, no entanto, provocam
modificações e alteram a qualidade de vida dos humanos e de outros seres de uma
maneira positiva.
Hoje vamos observar como a expansão da economia cafeeira e a urbanização
da província de São Paulo, principalmente na segunda metade do século XIX,
acarretaram problemas sociais e ambientais que afetaram o Brasil por muitas
décadas e ainda, em certa medida, continuam a demandar a atenção da sociedade
brasileira nos dias atuais.
Jorge Alfredo Leite Gonçalves
Professor de História – 2º ano do EM – 2020
"(...) o impacto ambiental é definido como qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas;
a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a
qualidade dos recursos ambientais".
(Resolução Conama Nº001 de janeiro de 1986)
A tradição nos diz que a introdução do café no Brasil deve-se a Francisco de
Melo Palheta que trouxe as primeiras sementes para o país em 1727. Tais sementes
foram plantadas em Belém do Pará, mas a produção declinou de tal modo que em
1870 já estava extinta. No ano seguinte as sementes foram introduzidas no
Maranhão e, em 1760, no Rio de Janeiro. Nesse período preliminar, o cultivo do
café, cujo valor comercial era baixo, estava restrito aos quintais e sítios, sobretudo
para consumo doméstico. Depois, a planta do café se espalhou pela Tijuca e pelo
Corcovado, sendo, portanto, o Rio de Janeiro o centro a partir do qual a economia
cafeeira se expandiu e prosseguiu em duas direções: a Baixada Fluminense,
chegando até Campos, e o norte, até Resende. Esse seria o eixo das grandes culturas
do Vale do Paraíba, passando à mata mineira e norte de São Paulo.
Em 1830, a cultura do café era a principal atividade do Vale do Paraíba. A
região, anteriormente coberta por extensas e intricadas matas, teve sua paisagem
transformada por tantos cafezais. A exploração cafeeira continuou o mesmo modelo
da açucareira: significativas derrubadas das matas e posterior queima da madeira,
grande propriedade, monocultora e trabalho escravo. A derrubada das matas
começava na madrugada e os escravos reunidos davam início ao trabalho da
destruição. A submata e os cipós retrançados eram cortados com foices para abrir
caminho aos machadeiros que vinham atrás. Depois de limpo o chão, em volta de
uma árvore, o machadeiro começava a cortar a altura da cinta, ou às vezes em cima
de uma plataforma.
Um vigia avisava-o quando devia afastar-se de uma árvore já parcialmente
cortada, para recomeçar o trabalho em outra situada pouco mais acima, na encosta.
Quando a árvore estremecia, ele se afastava, e quando todas as árvores da lombada
se achavam enfraquecidas, o mais experimentado machadeiro escolhia aquela que,
na sua queda, arrastaria as outras situadas em plano inferior, entrelaçadas todas
pelos cipós. Em seguida escolhiam as madeiras necessárias para a fazenda e o
restante era queimado.
As queimadas, feitas de forma descuidada, espalhavam-se pelas fazendas
vizinhas. O agrônomo francês M. R. Lesé, testemunha do final do século XIX,
observou situações em que, para cada hectare que se pretendia abrir para a lavoura,
de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. E, de acordo com o
vassourense Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, barão de Pati, em seu livro
“Memória”, muitos fazendeiros mandavam colocar fogo nas derrubadas “de sangue-
frio, como se estivessem praticando um ato heróico”.
Assim, a floresta da Tijuca, por exemplo, foi sendo substituída pelos extensos
plantios de café, o que gerou um colapso no sistema de abastecimento de água
potável, pois os rios que abasteciam a cidade do Rio de Janeiro, especialmente o
Carioca e o Paineiras, perderam a cobertura vegetal que protegia suas nascentes.
Desse modo, por orientação do Ministério da Agricultura, em 1856, alguns terrenos
localizados ao redor das nascentes começaram a ser desapropriados para que
fossem reflorestados. Em 11 de dezembro de 1861, dom Pedro II aprovou o
documento “Instruções Provisórias”, pelo qual mandava efetuar o plantio e a
conservação das florestas da Tijuca e das Paineiras.
A partir das duas últimas décadas do Império, a produção da região do Vale
do Paraíba começou a declinar, como consequência do esgotamento dos solos, das
terras cansadas atingidas pela erosão, dos desequilíbrios climáticos, da extinção das
florestas primárias e da ineficiência dos métodos agrícolas tradicionais. Além disso,
os produtores da região não conseguiram encontrar solução para superar o
problema da mão-de-obra que deveria substituir o trabalho escravo, onde a
chegada de novos escravos foi prejudicada com a extinção do Tráfico Negreiro
através da edição da Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Assim, enquanto a produção
no Vale do Paraíba declinava; a região do Oeste Paulista seguia em franca expansão,
transformando-se no principal centro produtor e exportador do Brasil. Muito
embora o café fosse plantado nessa região com o mesmo descuido que havia sido
no Vale, os cafezais sofreram menos a ação dos agentes naturais, pois nesse local se
reuniam condições mais favoráveis de solo e de clima para a sua lavoura. Foram
introduzidas as técnicas do arado e do despolpador, o qual significou verdadeira
revolução na técnica de descascamento de grãos. Acrescente-se também a
introdução da mão-de-obra assalariada do imigrante europeu, que foi responsável
pela modernização das relações de produção no campo e a dinamização da
economia cafeicultora, resultando um processo acelerado de urbanização no
interior paulista.
A produção do café, entretanto, cresceu demasiadamente e sucederam-se as
primeiras crises. As altas cotações internacionais do café fizeram que os 141 milhões
de cafeeiros de São Paulo, em 1886, em uma década chegassem a 386 milhões.
Surgiu o desequilíbrio e a superprodução provocou a baixa dos preços, ocorrendo
em 1896 a primeira grande crise. Para reduzir a oferta e melhorar os preços, a
República Velha realizou uma política de valorização artificial do café, com a
assinatura pelos estados produtores do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, em
1906, do chamado Convênio de Taubaté. Após a Revolução de 1930, o presidente
Getúlio Vargas ordenou a queima de grande parte do seu estoque e erradicou
cafezais como forma de atenuar a contínua queda em seus preços.
Com o tempo, a produção e a exportação do café estabilizaram-se e a partir
de 1952 passaram a ter supervisão do Instituto Brasileiro do Café (IBC), extinto em
1990. Foi, então, criado dentro do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) o Procafé (Programa Integrado de Apoio à Tecnologia
Cafeeira), por meio de convênio firmado entre o Mapa e a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e o Conselho Nacional do Café – CNC, através
do qual os técnicos eram alocados nas cooperativas e associações de cafeicultores.
Esse convênio vigorou por dez anos até que o Ministério transformou seus
engenheiros agrônomos em fiscais federais agropecuários. Com o esvaziamento do
corpo técnico, criou-se em 2001 a Fundação Procafé voltada à pesquisa e difusão de
tecnologia, a qual sucedeu o Procafé (Programa Integrado de Apoio à Tecnologia
Cafeeira).
Atualmente, o Brasil manteve a sua posição de maior produtor e exportador
mundial de café e de segundo maior consumidor do produto. Em 2014, a safra
alcançou 445,34 milhões de sacas de 60 kg de café beneficiado, em 15 Estados, com
destaque para Minas Gerais, que respondeu por 49,93% da produção nacional,
seguido do Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia e Paraná. O parque cafeeiro
brasileiro era então estimado em 2,256 milhões de hectares com aproximados 287
mil produtores em cerca de 1.900 municípios distribuídos pelos seguintes Estados:
Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia e São
Paulo. E hoje, também, de acordo com o Ministério da Agricultura, a cafeicultura
brasileira é uma das mais exigentes do mundo em relação a questões sociais e
ambientais com a preocupação de garantir a produção de um café sustentável.

"Principal responsável pelas transformações econômicas,


sociais e políticas ocorridas no Brasil na segunda metade do século XIX, o
café reintegrou a economia brasileira nos mercados internacionais,
contribuiu decisivamente para o incremento das relações assalariadas de
produção e possibilitou a acumulação de capital que, disponível, foi
aplicado em sua própria expansão e em alguns setores urbanos como a
indústria, por exemplo. Foi ainda responsável pela inversão na balança
comercial brasileira que, depois de uma história de constantes déficits,
passou a superavitária entre os anos de 1861 a 1885".

Seguem dois links para quem quiser e se interessar em aprofundar a questão:

1) https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/economia-
cafeeira.htm

2) https://www.abic.com.br/o-cafe/historia/a-expansao-do-cafe-
no-brasil/

E agora, o que fazer...


A) A implantação do café no Brasil provocaria diversas transformações
socioeconômicas, entre as quais a estabilização financeira, a implantação de um
mercado interno e a formação de uma nova aristocracia. Em 1850, o Brasil passaria
por um surto industrial. Na política interna, a característica principal seria a
conciliação partidária.

INDIQUE e explique ao menos duas diferenças entre a cafeicultura no Vale do


Paraíba e a cafeicultura no Oeste Paulista.

B) “Os turistas que atualmente atravessam as matas da Tijuca para nadar


nas águas da Barra ignoram que ali, nas montanhas que rodeiam o Rio de Janeiro,
houve grandes cafezais há mais de um século, pelos flancos da serra, as plantações
continuaram, rumo ao Estado de São Paulo".

De acordo com a citação, descreva o que levou à saída dos cafezais daquelas
regiões e quais os impactos ambientais que se procurava solucionar.

C) 1 - Leia o texto para responder à questão.

“A expansão cafeeira em direção ao Oeste de São Paulo, inaugurada


justamente na fase de abolição do tráfico atlântico, além de estimular os debates
e políticas imigrantistas, ativou outras formas de tráfico de escravos, dessa vez
entre regiões do Brasil.[...] Essa nova modalidade de tráfico negociou basicamente
crioulos e, como no tráfico atlântico, nela predominaram homens adultos, sendo
poucas as mulheres e menos ainda as crianças e velhos”.
(VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio
de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 237-239.)

Pesquise o porquê do desenraizamento do escravo crioulo provocado pelo


tráfico interno teve peso considerável para o fim da escravidão:

2 - Leia o texto para responder à questão.

“A abolição do tráfico africano pode ser considerada um dos principais


fatores explicativos do definhamento progressivo do escravismo no Brasil. Privada
da fonte atlântica de abastecimento de cativos, a classe senhorial do Império teve
que apelar para o tráfico interno entre as províncias. Deste se beneficiou o
sudeste, região que concentrava 87% da população cativa do país entre 1870 e
1880. No ano de 1887, às vésperas da Abolição, 15% da população cativa estava
na província de São Paulo.”

Caracterize a dinâmica da economia cafeeira no século XIX em função do


problema da mão-de-obra.

D) Leia os versos seguintes.

"Itália bela, mostre-se gentil e os filhos não a abandonarão: senão vamos todos
para o Brasil, e não se lembrarão de retornar. Aqui mesmo ter-se-ia no que
trabalhar. Sem ser preciso para a América emigrar. O século presente já nos deixa. O
mil e novecentos se aproxima. A fome está estampada em nossa cara e para curá-la
remédio não há. A todo momento se ouve dizer: eu vou lá, onde existe a colheita do
café."

(Canção "Italia bella, mostrati gentile". Apud Zuleika M. F. Alvim. Brava gente!)

Qual o contexto que nos permitem entender os versos acima?

E) “O transporte ferroviário no Brasil, da segunda metade do Século XIX ao


início do Século XX, mereceu prioritariamente o interesse estatal e particular.”

Quais as condições históricas relacionadas com a ampliação da rede ferroviária


em ritmo crescente?

F) “O crescimento da produção cafeeira alterou a sociedade brasileira do


século XIX, sem modificar a estrutura econômica herdada do período colonial.”

Justifique essa afirmativa, ressaltando as alterações ocorridas e os elementos


estruturais que permaneceram.

Mãos a obra!

Você também pode gostar