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O QUADRILÁTERO FUNCIONAL NAS FAZENDAS CAFEEIRAS DO

SUL DO ESPÍRITO SANTO: ARQUITETURA DISCIPLINAR INCIDINDO


SOBRE A PAISAGEM

HAUTEQUEST FILHO, GENILDO COELHO. (1); BERNARDO, LUCIANO CORREIA.


(2) MARGON, BIANCA DE ALMEIDA. (3)

1. Faculdade Brasileira – Multivix Vitória. Departamento de Arquitetura e Urbanismo


Rua José Alves, 301, Goiabeiras, Vitória-ES. CEP: 29.075-080
E-mail: genildocoelho@yahoo.com.br

2. Faculdade Brasileira – Multivix Vitória. Departamento de Arquitetura e Urbanismo


Rua José Alves, 301, Goiabeiras, Vitória-ES. CEP: 29.075-080
E-mail: lc_bernardo@hotmail.com

3. Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Departamento de Arquitetura


Av. Fernando Ferrari, Goiabeiras, Vitória-ES. CEP: 29.075-210
E-mail: bianca.margon@hotmail.com

RESUMO
Mais importante e duradouro ciclo econômico brasileiro, o ciclo do café deixou significativas marcas na
paisagem rural do país, em especial nos estados do Sudeste. O espaço laboral da fazenda é
constituído em volta de um grande terreiro de secagem de café, delimitado pela casa grande –
construção de maior destaque no conjunto –, engenhos para o beneficiamento de café, tulhas, senzalas
e demais edificações. Este quadrilátero não era somente funcional, se levarmos em consideração os
edifícios que o constituem, ele estabelece principalmente a função hierárquica disciplinar de cada
indivíduo na sociedade agrária brasileira do século XIX. O quadrilátero era a representação espacial do
sistema social, cultural, econômico e político da época. A paisagem dessas fazendas é fortemente
marcada por todos os elementos de poder e controle oitocentista. Mesmo em regiões distantes do
centro econômico brasileiro da época, o vale do rio Paraíba, este sistema arquitetônico disciplinar
também pode ser observado, como nas fazendas escravocratas de café da região sul do Espírito
Santo, objeto deste estudo. Mas não foi a partir das fazendas oitocentistas que o quadrilátero funcional
se consolidou no Brasil, pois ele pode ser observado desde os primórdios de nossa ocupação territorial
nos aldeamentos jesuíticos, nas praças das primeiras cidades e nos engenhos de açúcar nordestinos.
Em todos esses períodos, ele é marcado pelos ícones do poder e controle local: a igreja matriz, a casa
de câmara e cadeia, o pelourinho ou a casa grande da fazenda, edificações que se destacam na
paisagem local. A partir de levantamentos realizados pelo INEPAC no vale do Paraíba Carioca, pelo
IEPHA, em Minas Gerais e pelo IPHAN no Espírito Santo, tendo como recorte 20 fazendas, sendo dez
no vale do Paraíba e dez no sul do Espírito Santo, o trabalho discute a constituição do espaço social,
laboral e de controle das fazendas cafeeiras escravocratas dessa região, em especial as fazendas
capixabas. Além dos autores consagrados da arquitetura como Carlos Augusto Silva Telles, Carlos
Lemos, Luís Saia, Nestor Goulart Reis Filho e Paulo Santos, o trabalho busca dialogar com o conceito
Foucautiano do poder soberano e disciplinar em que o barão ou o coronel, como no caso capixaba,
dono da fazenda, delibera sobre a vida e a morte de todos que estão no seu domínio territorial. O
exercício da violência, em especial sobre os negros cativos, se dá pela lógica do tronco e do martírio
que é a máxima expressão do poder soberano. Para tanto, o senhor exerce o controle de seus corpos
com o objetivo de “domesticá-los”, mas, para domesticar o corpo, primeiro é necessário domesticar a
alma, e nesse aspecto, edifica-se um conjunto arquitetônico, a sede da fazenda, contendo todos os
ícones disciplinares. Trata-se de uma arquitetura disciplinar, conceito que será discutido no presente
artigo.

Palavras-chave: arquitetura rural; Espírito Santo; ciclo do café.

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INTRODUÇÃO
O cafeeiro, planta de origem africana, tornou-se conhecido e difundido, com cultivo em grande
escala, principalmente pelas propriedades estimulantes da bebida produzida com seus frutos.
Espalhou-se pela Europa, vindo também para a América, trazido pelos holandeses para o
Suriname; pelos franceses, para a Guiana Francesa; chegando, finalmente ao Brasil.

Atribui-se ao Tenente Francisco de Mello Palheta a importação das primeiras mudas e


sementes de café para o Brasil, vindas da Guiana, no ano de 1727. As sementes de café
foram distribuídas às lideranças políticas na cidade de Belém, no Pará. Embora não existam
registros significativos da produção cafeeira no Norte do Brasil, sabe-se que desta região
saíram as sementes que permitiram a implantação da produção cafeeira no o Rio de Janeiro.
Segundo Bicca (1967), a consolidação da cultura cafeeira no sudeste brasileiro foi
impulsionada pelos estrangeiros residentes na região.

A produção comercial do café no território brasileiro iniciou no período de declínio da extração


do ouro, e afetou diretamente o modelo econômico até então existente. A ocupação do solo
Brasileiro com o plantio do café cresceu, tornando-se o principal produto agrícola nacional, o
“ouro verde” da terra, e transformando o país em um dos maiores produtores mundiais. Neste
cenário, ergueram-se imponentes fazendas, altamente produtivas, baseadas nas relações
entre barões e trabalhadores negros escravizados.

Enormes extensões de mata foram derrubadas, permitindo a ocupação de novas terras onde
o café passou a ser plantado. A região do vale do Paraíba, bacia hidrográfica com 57.000 km²
de extensão, divididos entre os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, possuía
solo e clima propícios para o plantio, por isso a região se consolidou como o principal centro
cafeeiro do país.

Embora o Vale do Paraíba já estivesse ocupado, no início do século XIX duas correntes
migratórias foram responsáveis pela aceleração de seu crescimento: mineiros provenientes
das Minas Gerais em função da exaustão das minas de ouro; e portugueses, comerciantes da
corte, aristocratas e burocratas, estimulados pelo governo que forneceu sementes e terras
visando a ampliação da cultura que era altamente lucrativa para a coroa.

A partir de meados do século XIX, as terras do Vale do Paraíba já demonstravam sinais de


exaustão na produção cafeeira, por esse motivo, produtores fluminenses e mineiros migraram
para a província do Espírito Santo, instalando-se nos vales dos rios Itabapoana e Itapemirim.
A partir deste processo, surgiram pequenas vilas, que evoluíram para cidades dentre elas

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Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Muqui, Limeira, São Pedro de Alcântara do
Itabapoana e Veado, atual Guaçuí (HAUTEQUESTT FILHO, 2011).

Ainda que pequena, se comparada às principais regiões cafeeiras do Brasil, a produção


espírito-santense perdurou para além do século XIX, sendo ainda hoje o principal produto
agrícola do estado. O progresso gerado pelo café dotou a província, em especial a região sul,
de uma rede de infraestruturas composta por hidrovias, ferrovias e estradas carroçáveis que
interligavam as principais zonas produtoras da região.

A FAZENDA CAFEEIRA E O QUADRILÁTERO FUNCIONAL

O planejamento da implantação das fazendas cafeeiras, a escolha do local para


assentamento do sítio e de cada edificação eram definidos a partir do processo laboral que
viria a ser adotado no funcionamento da fazenda (VALVERDE, 1967). Um dos fatores a serem
considerados para a implantação das edificações era a topografia do local – dava-se
preferência a terrenos regulares em áreas menos declivosas e próximas aos leitos de rios,
porém fora do alcance de enchentes. A proximidade de corpos d’agua se mostrava um fator
determinante na escolha do sítio a ser implantado a fazenda.

Principiareis a vossa fazenda edificando primeiro uma casa ordinária para


vossa moradia temporária e tantas quantas forem precisas para acomodar os
escravos e camaradas; mas tudo isto deve ser feito de forma que não estorve
o risco da fazenda. Findo este primeiro trabalho, tirareis o rego que deve
trazer a água para tocar as fábricas e que tereis todo o cuidado que seja
tirada bem nivelada para não estragar o rego. A primeira obra que se deve
fazer é o engenho de serrar, que fará com que a vossa fazenda vos custe
metade do que custaria se não o tivésseis. Logo deveis fazer o moinho, o
engenho de mandioca, e, depois, o de pilões, ou de açúcar, se esse for o
vosso estabelecimento, seguindo-se as senzalas dos pretos, que devem ser
voltadas para o nascente ou poente e em uma só linha [...] as senzalas
devem ser feitas em lugar mais sadio e enxuto da fazenda: é da conservação
da escravatura que depende a prosperidade do fazendeiro (WERNECK,
1978, p. 32).

A fazenda cafeeira no Brasil tem seu modelo referencial no Vale do Paraíba, região mais
abastada economicamente durante o ciclo cafeeiro. De forma geral, apresentam sua
implantação formada por um quadrilátero funcional e diversas edificações pertencentes ao
conjunto da fazenda em torno dele, casa grande, senzala, engenho de beneficiamento, tulhas,
enfermarias, casa do capataz e paióis são as principais edificações que formam este modelo
de implantação adotado majoritariamente pelas fazendas cafeeiras da região. Outras
disposições de implantação eram adotadas quando a topografia era desnivelada, ou quando
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existiam mais de um terreiro. Rocha (2006) compreende a expressão “quadrilátero” como
qualquer forma de quatro lados, incluindo nesta classificação os quadrados, retângulos e
paralelogramos regulares ou irregulares.

O quadrilátero funcional se estabelecia em torno do principal espaço social e de trabalho da


fazenda cafeeira escravocrata, o terreiro de café. Este espaço mostrava-se de extrema
importância para o bom resultado do beneficiamento do produto, era nele que se colocavam
os frutos para secagem após a colheita. Transcendendo sua função laboral, o terreiro de café
possuía importância fundamental na convivência humana das fazendas, sendo “uma
transmutação da praça urbana, acumulando, como aquela, funções diferenciadas: lazer,
trabalho, punições, oração, vigília” (BITTAR, MENDES, e VERÍSSIMO, 2007, p.126).

O princípio básico na adoção do quadrilátero funcional como modelo de implantação não tem
sua origem nas fazendas de café. No Brasil uma das referências primitivas desse modelo,
ainda sem qualquer influência europeia, pode ser observado nas aldeias indígenas.

[…] as aldeias tupis do litoral compunham-se de quatro a sete malocas ou


habitações coletivas, dispostas de modo a deixar uma área central
quadrangular livre bastante ampla para a realização de cerimônias religiosas,
para a reunião do conselho de chefes, ou para cerimoniais de iniciação
(TELLES, 1984, p. 62).

Os primeiros modelos de quadrilátero adotados pelos portugueses no Brasil podem ser


observados nos aldeamentos jesuíticos. O conjunto, que era formado pela igreja e pelo
colégio se estabeleceu como o epicentro da região, tornando-se um elemento de
concentração dos habitantes, ocupando lugar de destaque na implantação (SAIA, 1937).

Em síntese, os elementos principais do núcleo central de qualquer


aldeamento foram os seguintes: no centro da praça quadrada ou retangular,
verdadeiro terreiro abrigando um cruzeiro e o tronco. Numa das faces da
praça, geralmente ocupando um dos cantos, a igreja dominava o conjunto [...]
(PETRONE, 1964, p. 169).

A implantação das casas de câmara e cadeia presentes nas primeiras cidades brasileiras da
segunda metade do século XVI até o final século XIX, seguindo o modelo português, possui
uma localização central nos núcleos urbanos, geralmente em frente à principal praça da vila
onde também eram erguidos outros ícones do poder como o pelourinho e a igreja. Tal modelo
também pode ser compreendido como o quadrilátero do poder local.

Os modelos de implantação adotados nos complexos agroindustriais brasileiros foram


registrados por viajantes estrangeiros, dentre eles o francês Saint Hilaire (1778 – 1853) que

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descreve as características das implantações nos núcleos rurais que visitou. O autor, em sua
primeira viagem no ano de 1819, ao passar pela fazenda de Itajurú, no norte de Minas Gerais,
destaca a existência de um espaço denominado terreiro, que possui edificações dispostas em
torno deste.

As casas estão dispostas à volta de um grande terreiro que tem a forma de


um quadrilátero alongado. Um dos lados é formado pelas senzalas, em
seguida às quais vem um engenho de açúcar [...]. Do lado oposto é o
alojamento do senhor, que só tem um andar [...]. Em seguida a esse edifício
há um muro que separa o terreiro do jardim. Celeiros e armazéns formam um
dos lados do terreiro, e, em frente, está uma parede contra a qual se apoia, do
lado de fora, um alpendre em que se fazem os queijos (SAINT HILAIRE,
1938, p. 190).

Em 1822 durante sua segunda viagem aos núcleos rurais brasileiros, Hilaire observa na
região de Rio das Mortes, hoje Tiradentes, a existência de um sistema comum de
implantação.

As benfeitorias desta fazenda obedecem ao mesmo sistema de todas as


outras desta comarca. Um muro de pedra seca, mais ou menos da altura de
um homem, rodeia em parte um pátio muito vasto, no fundo do qual ficam
enfileiradas, umas ao lado das outras, as casas dos negros, as pequenas
construções que servem de depósitos e locais de beneficiamento dos
produtos agrícolas e a casa do dono. [...] Não devo também esquecer de
dizer que se entra no pátio por uma das portas a que se chama porteira,
também empregada para fechamento dos pastos (SAINT HILAIRE, 1932, p.
54).

A partir da análise dos escritos de Saint Hilaire e também de Rugendas (1802-1858), de Jean
Baptiste Debret (1768-1848) e Charles Ribeyrolles (1812-1860) que circularam por diversas
regiões do Brasil, conclui-se que a existência do modelo de implantação denominado
“quadrilátero” também foi adotado em fazendas anteriores ao ciclo cafeeiro. Em seu estudo
sobre as fazendas de café do Médio Vale do Paraíba Fluminense, Rocha (2006) conclui que a
existência do quadrilátero funcional é comum às diversas unidades agrárias, e podem ser
classificados quanto à existência de edificações em suas faces, quanto à sua forma e quanto
ao seu formato.

Em relação à classificação do quadrilátero funcional, quanto à existência de edificações em


suas faces temos: o quadrilátero fechado, que possui os quatro lados cercados por
edificações, independentemente do número de acessos; e o quadrilátero aberto, que possui
os quatro lados estabelecidos em forma de quadrilátero, entretanto não possui edificações em
um de seus lados. Se levarmos em consideração sua forma eles podem ser regulares, quando
possuem as quatro faces retilíneas, podendo variar em abertas ou fechadas; e irregular

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quando possui um dos lados não retilíneos, com ângulos agudos, na forma de um pentágono,
possuindo ou não edificações em um dos lados. Se considerarmos seu formato, o quadrilátero
pode ser retangular, que são os tipos mais comuns, onde as edificações em torno do terreiro
formam um retângulo com ângulos aproximados a 90º; ou formar um paralelogramo, que são
os tipos mais raros.

Os levantamentos do INEPAC no Vale do Paraíba, IEPHA, em Minas Gerais e do IPHAN no


Espírito Santo permitem discutir a existência de um modelo de implantação específico comum
às fazendas cafeeiras no território Brasileiro. A amostra trabalhada consiste no número de
vinte fazendas, estando na região do Vale do Paraíba as fazendas Cachoeira Grande,
Florença, Mulungu Vermelho, Paraizo, Santa Cecília, Santa Clara, Santa Eufrásia, Santo
Antônio do Paiol, Santo Inácio, São Luís da Boa Sorte. No sul do Espírito Santo, situam-se as
fazendas Harmonia, Independência, Maravilha, Recreio, Santa Rita, Santa Rosa, São Gabriel,
Serra, Taquaral e Verdade.

A partir da análise dos levantamentos estudados, percebe-se que a adoção deste modelo de
implantação pré-estabelecido denominado “quadrilátero funcional” é comum às fazendas
cafeeiras escravocratas na região do Vale do Paraíba, desta amostra. A Fazenda do Paraizo
(figura 1) é um dos exemplos mais claros da adoção deste. Localizada no município de Rio
das Flores (RJ), tem seu registro de fundação datado em 1853. Sua constituição arquitetônica
se dá pela divisão do espaço frontal da sede em duas partes. À esquerda, o antigo terreiro de
café em terra batida, hoje transformado em pomar. Na extremidade superior, ao lado da casa
sede, situa-se o bloco da antiga enfermaria e do hospital e a cozinha dos escravos. À
esquerda deste espaço, junto com a enfermaria, havia uma construção em formato de “O” que
era destinada à senzala dos escravos de eito, ainda que arruinada atualmente, é possível
compreender pela obra de Nicolau Facchinetti (figura 2) a forma deste espaço e seu principal
acesso.

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Figura 1: Casa sede da Fazenda Paraizo

Fonte: Acervo Genildo Coelho H. Filho

Do lado direito da casa sede ainda podem ser observados vestígios de dois terreiros e uma
canaleta central de captação hídrica. Um dos terreiros, com piso original em macadâmia, está
hoje coberto por grama, o outro, ainda hoje, conserva seu calçamento original. Neste mesmo
espaço encontram-se as edificações destinadas ao beneficiamento e armazenamento do café,
denominadas respectivamente por engenho de beneficiamento e tulhas, estes, configuram
um partido em “L”, fechando as extremidades deste espaço. A Fazenda Paraizo possui ainda
outras edificações laborais remanescentes do ciclo cafeeiro, entretanto sua localização não
se estabelece no quadrilátero funcional.

Figura 2: Fazenda Flores do Paraizo, detalhe do óleo sobre tela de Nicolau Facchinetti

Fonte: Acervo Fazenda Paraizo


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A análise da Fazenda do Paraizo (Figura 3) permite observar que a implantação das
edificações pertencentes ao “quadrilátero funcional” e a forma como ele se estabelece
configuram, de acordo com a classificação de Rocha (2006), um “quadrilátero aberto regular
retangular”.

Figura 3: Esquema de implantação da Fazenda Paraizo

Fonte: Próprio autor baseado nos levantamentos do INEPAC

A partir dos levantamentos do IPHAN na região sul do Espírito Santo é possível perceber que
a existência do quadrilátero funcional, nas fazendas cafeeiras escravocratas da região, não se
estabeleceu de forma tão clara como no vale do Paraíba. O sul do Espírito Santo possui

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características topográficas que diferem daquela região, isto se dá pela existência de vales e
montanhas que quase sempre impossibilitam a implantação do “quadrilátero funcional” de
forma clara. Outro fator a ser considerado é que poucas fazendas da região possuíram um
quantitativo considerável de escravos o que demonstra um quadro econômico diferente do
estabelecido na região do Rio de Janeiro.

Um dos exemplos das particularidades da implantação das fazendas cafeeiras escravocratas


no Espírito Santo é a Fazenda Santa Rita (figura 4), localizada no município de Muqui. Por
volta de 1850, Francisco Inácio de Almeida criou a Fazenda Aparecida, que posteriormente,
em 1860, foi adquirida por Gabriel Ferreira que alterou o nome da propriedade para Santa Rita,
sendo o responsável pela construção da atual casa sede que teve início no mesmo ano de
aquisição.

Figura 4: Casa sede da Fazenda Paraizo

Fonte: Acervo Genildo Coelho H. Filho

A fazenda ainda preserva edificações contemporâneas ao auge da produção cafeeira na


propriedade (figura 5), como o curral, que atualmente foi adaptado para utilização como
restaurante. O sistema de aquedutos, que originalmente foi projetado para utilização no
moinho, na serraria e para auxilio nos processos de beneficiamento da produção cafeeira.

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Figura 5: Esquema de implantação da Fazenda Santa Rita

Fonte: Próprio autor

A Fazenda Santa Rita, utilizou-se da topografia acidentada na implantação dos terreiros de


café, no modelo conhecido como tabuleiro. Os três terreiros existentes se distribuem em
níveis sucessivos acompanhando a estrada de acesso à casa sede. Em função das
dificuldades da topografia e da disponibilidade dos recursos hídricos, a fazenda não possui
características claras de um quadrilátero funcional, embora todas as edificações necessárias
à produção estivessem implantadas no conjunto.

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A análise da topografia do terreno permite compreender que o conjunto foi implantado em
região de suave aclive e que suas edificações estão situadas na faixa de menor altitude do
terreno, ainda assim, a região não possui uma extensa área plana, impossibilitando a
implantação dos terreiros em um mesmo nível, desta forma, não há configuração do chamado
“quadrilátero funcional”.

Outro importante exemplar do Espírito Santo é a Fazenda Independência (figura 6), localizada
no município de Mimoso do Sul. Em 1872, o Capitão Leopoldino Gonçalves Castanheira,
vice-presidente da província do Espírito Santo, tomou posse da área em que foi implantada a
fazenda. As obras de construção da casa sede duraram de 1876 a 1881.

Figura 6: Fazenda Independência

Fonte: Acervo Genilco Coelho H. Filho

Na implantação da fazenda é possível perceber a existência de uma delimitação que se


estende do terreiro de café até a lateral da casa sede, hoje gramada, não sendo possível
identificar a existência de pavimentação em pedra, tal qual o terreiro ainda utilizado
atualmente. A existência desta extensão do terreiro permite concluir que, diferente da maioria
das fazendas estudadas no Espírito Santo, a implantação da Fazenda Independência possui
referências à existência de um quadrilátero funcional aberto, entretanto, considerando a
localização das outras edificações do quadrilátero, em sua maioria, hoje demolidas, não é
possível fazer esta afirmação com toda a segurança (figura 7).

A estrada de acesso ao conjunto, que se estende até a parte posterior do terreiro, possui
pavimentação em pedra e assentamento do tipo “pé-de-moleque”, onde possivelmente
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situavam-se outros espaços laborais da fazenda, como podemos perceber pela existência de
baldrames de pedra. O sistema de captação e escoamento hídrico da fazenda também
mantém elementos que possibilitam sua identificação. Acima do terreiro pavimentado e
abaixo do espaço livre ao lado da casa sede é possível identificar os dutos de transporte
hídrico para a lavagem do café. Abaixo do terreiro em cimento, nota-se a existência de dutos
de escoamento que transportam o fluxo de água até o nível inferior abaixo da estrada de
acesso, onde existem mais três dutos deslocados ao lado direito deste espaço. No entorno
das edificações descritas como tulha e curral desativado é possível identificar estruturas de
fundação em pedra, possivelmente utilizadas como base de um conjunto de edificações
laborais ou como delimitação de um outro terreiro de café.

Figura 7: Esquema de implantação da Fazenda Independência

Fonte: Próprio autor

A implantação da fazenda cafeeira no Espírito Santo era determinada, sobretudo, pela


adaptação topográfica necessária na aplicação do modelo deste complexo agroindustrial
importado do Vale do Paraíba. Era no terreiro, normalmente localizado no centro deste
complexo, que se estabeleciam as principais relações sociais travadas na fazenda.

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OS SUPLÍCIOS DISCIPLINADORES

O processo laboral das fazendas cafeeiras no período imperial era, em todo o tempo,
dependente da mão de obra escrava. O tráfico negreiro obteve crescimento extraordinário na
primeira metade do século XIX para atender a mão de obra necessária a essas fazendas. O
sujeito escravizado era um bem de consumo durável, visto que o serviço prestado ao longo de
sua vida compensava o custo inicial de sua aquisição.

Esse extraordinário progresso econômico, o maior que nossa história


registrou até então, só foi possível graças ao trabalho escravo. “O Brasil é o
café; o café é o negro”, sintetizara de maneira magistral Silveira Martins no
parlamento brasileiro por volta de 1880 (VALVERDE, 1967, p. 49).

Na ausência do negro escravizado, a residência do século XIX apresentaria total falta de


recursos para o desenvolvimento das mais simples atividades cotidianas. Tendo o sujeito
escravizado sob seu domínio para as mais banais necessidades diárias, não havia
necessidade de avançar no programa arquitetônico, tampouco de criar artifícios que
desenvolvessem melhores condições sanitárias, por exemplo. O negro escravizado contribuiu
na residência brasileira, rural ou urbana, com a responsabilidade total pelo seu funcionamento,
na cozinha, no esgoto, no conforto ambiental, e no cuidado com os filhos, e o fez aprisionado
e sendo propriedade do homem branco.

A fazenda cafeeira escravocrata se constituía como um complexo agroindustrial independente


de outros núcleos rurais ou urbanos para o seu funcionamento, e assim como outras
organizações hierárquicas, nota-se a existência de um personagem centralizador de todo
poder que busca estabelecer um panorama de vigilância e domínio: o “Barão do café”, que
personifica a ideia de poder limitado na figura do soberano.

O local destinado ao negro escravizado nas fazendas cafeeiras era a senzala, a edificação
mais rústica do conjunto que, embora muitas das vezes fosse caiada externamente, tinha seu
espaço interior extremamente precário, dado o nível de insalubridade dessas edificações.
Pouco se sabe a respeito das edificações destinadas aos negros escravizados nas fazendas
cafeeiras, visto que os exemplares remanescentes se encontram arruinados ou modificados
pela ação do homem e da natureza. Sendo o espaço de frágil arquitetura, compreende-se
então que outros modos de controle, que não o confinamento, se faziam necessários para a
domesticação destes corpos.

A constante vigilância por parte dos feitores e administradores da fazenda era fundamental
para a condução do escravo ao trabalho e para a manutenção da ordem, entretanto, a não
aplicação de castigos seria prejudicial ao funcionamento do cafeeiro (TAUNAY, 2001).
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Varas e chibatas, as correntes e algemas. Há mesmo uma tecnologia da dor
para submeter o sujeito à escravidão. Ao longo da história disciplinar do país,
uma infinidade de instrumentos serviu para capturar, conter, suplicar e aviltar
o homem posto sob o domínio senhorial. Correntes de ferro, gargalheiras que
se prendiam ao pescoço, algemas para pés e mãos, máscara de folha de
flandres para impedir a alimentação, o suicídio ou o furto, anéis de ferro para
comprimir os dedos, a palmatória, os ferros quentes com iniciais, os
libambos, o tronco (LARA, 1988, apud IVIANO, acesso em 24 ago 2016).

Suplício era o destino predeterminado ao sujeito escravizado que, de alguma forma,


representasse risco à soberania do barão. O exercício da tortura nas fazendas cafeeiras
brasileiras estava diretamente ligado à prática de doutrinação do corpo e da alma. Para
Foucault (1996) a punição cultural estabelece-se como o principal meio de repressão e
controle. Sua atuação ocorre através do medo e da memória física do suplício executado,
sempre exemplar.

Na lógica do suplício, os castigos deveriam ser aplicados com moderação, razão e em


proporção ao delito infringido pelo sujeito escravizado e o corpo era sempre a medida. Até
onde aguenta. Deveriam ainda ser executados à vista de toda a escravatura para que assim
servisse de exemplo e intimidação para os demais. Entretanto, a execução dos castigos
físicos aos sujeitos escravizados, não deveria impossibilitar o seu corpo de retornar ao
desenvolvimento de suas funções. Os suplícios desenvolviam acima de tudo, o papel
disciplinante na hierarquia cafeeira. O castigo disciplinador do barão aos seus negros
escravizados não visava à destruição de seus corpos, mas à diminuição da força política do
sujeito escravizado, para que ele apenas se limitasse ao desenvolvimento de suas funções
laborais, otimizando, desta forma, a movimentação econômica da fazenda. A violência
demasiada, quando exercida, destinava-se aos escravos mais velhos ou impossibilitados do
desenvolvimento de suas funções, para que desta forma o exemplo fosse dado sem que
houvesse danos ao processo laboral da fazenda.

O castigo “justo” e “medido” assegurava a dominação sobre o escravo tanto


quanto a distribuição de prêmios e o tratamento amoroso e paternalista.
Tentava-se criar um sentimento de amor e respeito que fosse aceito
positivamente pelos escravos, pois o poder apoia-se justamente no alcance
que consegue ter. Admiração (ou mesmo “desejo”) do escravo pelo senhor
são formas desse poder alcançar (atuar sobre) o cativo (COSTA, 2004).

Os suplícios nas fazendas cafeeiras possuíam como principal característica, o “espetáculo”,


no qual, os sujeitos escravizados exerciam o papel de espectadores do ato que poderia ser a
sua própria sorte, no caso de infrações. O executor objetivava recuperar a soberania do
senhor através da violência, na tentativa de demonstrar a inferioridade do sujeito escravizado.
O castigo, ainda que executado por um funcionário do barão, deveria, na maioria das vezes,

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ser exercido na presença do mesmo, para que a exemplificação do poder estivesse presente
visualmente e não fosse esquecida (COSTA, 2004).

A existência de um feitor ou carrasco, demonstrava a transferência do ódio que a princípio se


destinaria ao senhor, para o executor (FOUCAULT, 1987), estreitando uma relação de
inimizade e reforçando o paternalismo do barão. A visão poética de Bernardo Guimarães no
romance “A Escrava Isaura” ilustra a relação do negro escravizado com o executor de seus
castigos.

– Um raio que te parta, maldito! – Má lepra te consuma, coisa ruim! – Uma


cascavel que te morda a língua, cão danado! – Estas e outras pragas
vomitavam as escravas resmungando entre si contra o feitor, apenas este
voltou-lhes as costas. O feitor é o ente mais detestado entre os escravos; um
carrasco não carrega com tantos ódios. Abominado mais do que o senhor
cruel, que o muniu do azorrague desapiedado para açoitá-los e
acabrunhá-los de trabalhos. É assim que o paciente se esquece do juiz, que
lavrou a sentença para revoltar-se contra o algoz, que a executa
(GUIMARÃES, 1973, p. 78).

A análise do sistema de punição aplicado aos negros por seus senhores durante o período
escravocrata no Brasil caracteriza a prática de indução de suplícios como estratégia do poder,
sobretudo, para manter a ordem na fazenda; a reconstituição da soberania do senhor e a
dominação dos sujeitos escravizados visando otimização produtiva e econômica. A
funcionalidade das práticas de punição senhorial sobre o negro escravizado não eram tidas
apenas como atos de violência e repressão, representaram o anseio de perpetuidade dos
interesses senhoriais.

CONCLUSÃO

A distribuição das principais edificações das fazendas de café em torno de um quadrilátero


funcional, além de ser uma estratégia de otimização do espaço produtivo da propriedade, é
também uma estratégia para manutenção do poder do soberano, em vias disciplinares – algo
desejável no processo de urbanização que cada vez mais se fará presente nos espaços
rurais.

No quadrilátero, cada edifício possui características próprias que não só estão vinculadas a
sua função, mas, principalmente, a seu significado hierárquico. A arquitetura não é feita
apenas “para ser vista [...], ou para vigiar o espaço exterior [...], mas para permitir um controle

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interior, articulado e detalhado – para tornar visíveis os que nela se encontram” (FOUCAULT,
1987, p. 144). Nesse contexto, a casa grande é o principal ícone do poder soberano do barão.

O terreiro de secagem do café, centro do quadrilátero funcional, é o local por excelência, de


todo esse controle. Para ele a produção diária era trazida para ser beneficiada e armazenada;
o terreiro também tinha a função de uma “praça pública” onde aconteciam festas, ofícios
religiosos e também os castigos. O tronco, onde os negros eram amarrados para serem
castigados exemplarmente, torna-se, junto com a casa grande, ícone da soberania do barão.

Estando os principais espaços de abrigo, fé, vivência e de poder congregados em torno do


terreiro, é possível melhor exercer a vigilância. “A vigilância torna-se um operador econômico
decisivo, na medida em que é ao mesmo tempo uma peça interna no aparelho de produção e
uma engrenagem específica do poder disciplinar” (FOUCAULT, 1987, p. 147).

O castigo é utilizado para a domesticação dos corpos, mas ele não deve inviabilizar as
condições de trabalho do negro. Ele deve ferir mais a alma do que o corpo, servindo de
exemplo para os demais. “O corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo
e corpo submisso” (FOUCAULT, 1987, p. 26).

Levando-se em conta a amostra estudada, composta de vinte fazendas escravocratas, sendo


dez no Vale do Paraíba e dez no sul do Espírito Santo, podemos observar que esse sistema
arquitetônico-disciplinar claramente utilizado no Vale do Paraíba, também foi implementado
no Espírito Santo. Aí, no entanto, o quadrilátero funcional ganhou características próprias,
principalmente em função das limitações impostas pela topografia, que raramente permitiu
que o conjunto da sede da fazenda fosse implantado em um local plano. Essa dificuldade com
a topografia fez com que a maioria dos terreiros de café fossem implantados em tabuleiros
dispostos em níveis diferentes. Até mesmo na Fazenda Independência em Mimoso do Sul,
maior fazenda de café ainda remanescente da região, o terreiro de café fica no nível da casa e
as demais edificações do quadrilátero localizam-se em planos inferiores, que começam em
cinquenta centímetros e terminam com mais de dois metros abaixo do terreiro.

Outras fazendas como, por exemplo, a Santa Rita em Muqui, apresentaram uma disposição
diferente de organização do conjunto que não configuram um quadrilátero. Mesmo assim,
todas as edificações necessárias ao funcionamento da fazenda se fazem presentes.

Outro aspecto muito relevante, que influenciou na configuração espacial das fazendas
capixabas, foi a área cultivada das propriedades e a disponibilidade de recursos gerados pela
a produção, muito menor do que no Vale do Paraíba. No caso do Espírito Santo, poucas foram
as fazendas que tiveram um número significativo de negros escravizados, por exemplo.

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Embora tais fatores tenham influenciado na organização do espaço funcional das
propriedades capixabas, as práticas de controle, aqui exercidas pelos coronéis, foram as
mesmas utilizadas no restante do país. A casa grande, maior ícone desse sistema de controle,
está sempre implantada à meia encosta, e dela é possível observar todo o processo de
produção, inclusive de boa parte das lavouras, que são plantadas de forma que o feitor e/ou o
coronel possam observar o trabalho do escravo.

Embora tendo seus corpos domesticados pelo medo, os escravos ainda assim apresentaram
resistência ao sistema. Entretanto, ele se manteve até 1888, quando foi assinada a Lei Áurea,
que “libertou” os corpos, mas que preservou outras formas de controle sobre o povo negro.
Como pudemos aqui atestar, a estrutura arquitetônica das antigas fazendas de café ainda nos
conta sua história, sua organização, e sua riqueza – conquistada a partir do sofrimento
daqueles que foram escravizados, e do poder dos seus barões. Estudar Arquitetura é ler
nossas construções, para além de escolas e critérios de beleza ou funcionalidade –
aprendendo a enxergar o cotidiano do ser humano e suas transformações.

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