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Raízes do Café no Brasil

Antes de entrar na nossa história cafeeira, vamos a um breve resumo de onde surgiu a
cafeicultura.
O início de tudo nos leva a atual Etiópia, onde era usado como estimulante para rebanhos
de cabras realizarem longa viagens. Embora nativa da África, foi no Iêmen que se tornou
um produto rentável. Ninguém sabe se a lenda é verdadeira, ou qual a real história da
origem, mas o que se sabe é que o café começou a ser cultivado em monastérios islâmicos
onde monges bebiam a infusão do fruto.
O ocidente sempre se interessou pela excentricidade e apelos exóticos dos produtos do
oriente, e quando o café chegou a Constantinopla, levado pelo Império Otomano,
conheceram o que chamavam de “Vinho da Árabia”.
Até o século XVIII os Árabes eram os únicos que dominavam o cultivo da planta, a
produção da bebida e a venda do grão, que era comercializado já torrado para não
germinarem e manter o monopólio nas mãos do oriente.
Por volta de 1700 a Holanda presenteou o rei Luiz IV da França com uma muda de café
que foi plantada nos jardins de Versalhes. Mais tarde um ambicioso soldado francês
enxergou o potencial econômico e levou mudas para as colônias francesas na América.
O café chegou ao norte do Brasil, mais precisamente em Belém, em 1727, trazido da
Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido
do governador do Maranhão e Grão Pará, que o enviara às Guianas com essa missão. Já
naquela época o café possuía grande valor comercial.
Palheta aproximou-se da esposa do governador de Caiena, capital da Guiana Francesa,
conseguindo conquistar sua confiança. Assim, uma pequena muda de café Arábica foi
oferecida clandestinamente e trazida escondida na bagagem desse brasileiro.
As primeiras mudas da planta foram cultivadas pela primeira vez, que se tem notícia, por
Francisco de Melo Palheta, em 1727, no Pará. A partir daí, o café foi difundido no litoral
brasileiro, rumo ao sul, até chegar à região do Rio de Janeiro, por volta de 1760.
Devido às nossas condições climáticas, o cultivo de café se espalhou rapidamente, com
produção voltada para o mercado doméstico. Em sua trajetória pelo Brasil o café passou
pelo Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Num espaço de
tempo relativamente curto, o café passou de uma posição relativamente secundária para
a de produto-base da economia brasileira. Desenvolveu-se com total independência, ou
seja, apenas com recursos nacionais, sendo, afinal, a primeira realização exclusivamente
brasileira que visou a produção de riquezas.
Entretanto, sua produção em escala comercial para exportação ganhou força apenas no
início do século XIX. Tal dimensão de produção cafeeira só foi possível com o aumento
da procura do produto pelos mercados consumidores da Europa e dos EUA.
O consumo de café no continente europeu e no norte da América ocorreu após a planta
percorrer, desde a Antiguidade, um trajeto que a levou das planícies etíopes africanas até
as mesas e xícaras dos países industrializados do século XIX. Mas para isso foi necessária
uma expansão de seu consumo pelo Império Árabe e pelo mundo islâmico, sendo
posteriormente apresentada aos europeus, que tornaram seu consumo mais expressivo por
volta do século XVII.
A produção do café no Brasil expandiu-se a partir da Baixada Fluminense e do vale do
rio Paraíba, que atravessava as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. A cafeicultura
no Brasil beneficiou-se da estrutura escravista do país, sendo incorporada ao sistema
plantation, caracterizado basicamente pela monocultura voltada para a exportação, a mão
de obra escrava e o cultivo em grandes latifúndios.
Nessa região do Brasil, a produção cafeeira beneficiou-se do clima e do solo propícios ao
seu desenvolvimento. O fato de ser rota de transporte de mercadorias entre o Rio de
Janeiro e as zonas de mineração contribuiu também para a adoção da lavoura cafeeira, já
que parte das terras estava desmatada, facilitando inicialmente a introdução das roças de
café e beneficiando o escoamento da produção através das estradas existentes.
Os capitais iniciais para a produção do café vieram dos próprios fazendeiros e
comerciantes, principalmente os que conseguiram acumular capital com o impulso
econômico verificado após a vinda da Família Real ao Brasil, a partir de 1808.
As técnicas de produção de café eram simples. Inicialmente se desmatavam terras onde
era necessário expandir as áreas agricultáveis para a colocação das mudas da planta. Estas
demoravam cerca de cinco anos para começar a produzir. Nesse tempo, outras culturas
eram plantadas em torno dos cafezais, principalmente gêneros alimentícios. Para a
conservação das plantas, eram necessárias apenas enxadas e foices. A colheita era feita
manualmente pelos escravos, que, após essa tarefa, colocavam os grãos do café para secar
em terreiros. Uma vez seco, o café era beneficiado, retirando-se os materiais que
revestiam o grão através de monjolos, máquinas primitivas de madeira formadas por
pilões socadores movidos a força d’água.
Após esse processo, o café era transportado nos lombos das mulas para o porto do Rio de
Janeiro, de onde era exportado. Mas o aumento da produção cafeeira e os lucros
decorrentes dela levaram ao início do processo de modernização da economia e da
sociedade brasileira.
Por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela
economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do Brasil e o inseriram nas relações
internacionais de comércio. A cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitando
o surgimento de cidades e dinamização de importantes centros urbanos por todo o interior
do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná.
Ferrovias foram construídas para permitir o escoamento da produção, substituindo o
transporte animal e impulsionando o comércio inter-regional de outras importantes
mercadorias. O café trouxe grandes contingentes de imigrantes, consolidou a expansão
da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos
culturais. A partir de então o café e o povo brasileiro passam a ser indissociáveis.
Em 1836 e 1837, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o
principal produto de exportação do Império. Os grandes latifundiários produtores de café,
os chamados “Barões do café”, enriqueceram-se e garantiram o aumento da arrecadação
por parte do Estado imperial.
Surgiram ainda os chamados comissários do café, homens que exerciam a função de
intermediários entre os latifundiários e os exportadores. Além de controlarem a venda do
produto, garantiam aos latifundiários acesso a créditos para a expansão da produção e
também viabilizavam a compra de produtos importados.
O Brasil iniciou realmente sua projeção como grande produtor e exportador de café após
a independência e já em 1845 colhia 45% da produção mundial, sendo a partir dessa data
o maior produtor de café do mundo.
A riqueza fluía pelos cafezais, evidenciada nas elegantes mansões dos fazendeiros, que
traziam a cultura européia aos teatros erguidos nas novas cidades do interior paulista.
Durante dez décadas o Brasil cresceu, movido pelo hábito do cafezinho, servido nas
refeições de meio mundo, interiorizando nossa cultura, construindo fábricas, promovendo
a miscigenação racial, dominando partidos políticos, derrubando a monarquia e abolindo
a escravidão.
Além de ter sido fonte de muitas das nossas riquezas, o café permitiu alguns feitos
extraordinários. Durante muito tempo, o café brasileiro mais conhecido em todo o mundo
era o tipo Santos. A qualidade do café santista e o fato de ser um dos principais portos
exportadores do produto, determinou a criação do Café Tipo Santos.
Implantado com o mínimo de conhecimento da cultura, em regiões que mais tarde se
tornaram inadequadas para seu cultivo, a cafeicultura no centro-sul do Brasil começou a
ter problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista
provocando prejuízos incalculáveis.
O café foi, dessa forma, um dos principais esteios da sociedade brasileira do século XIX
e início do XX. Garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades
do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, além de prover
inicialmente os capitais necessários ao processo de industrialização do país e criar as
condições para o desenvolvimento do sistema bancário."
A cafeicultura desde o início esteve intimamente vinculada aos principais acontecimentos
políticos (como a política do café com leite) e econômicos do país.
A crise de 1929, ocasionada pela destruição dos países europeus e consequente redução
da importação dos produtos norte americanos por estes países, afetou também o Brasil.
Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro. Com a crise, a importação
deste produto diminuiu muito e os preços do café brasileiro caíram. Para que não houvesse
uma desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de
café. Desta forma, diminuiu a oferta, conseguindo manter o preço do principal produto
brasileiro da época. Por outro lado, este fato trouxe algo positivo para a economia
brasileira. Com a crise do café, muitos cafeicultores começaram a investir no setor
industrial, alavancando a indústria brasileira.
Depois de uma longa crise, a cafeicultura nacional se reorganizou e os produtores,
industriais e exportadores voltaram a alimentar esperanças de um futuro melhor. A busca
pela região ideal para a cultura do café se estendeu por todo o país, se firmando hoje em
regiões do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia.
O café continua hoje, a ser um dos produtos mais importantes para o Brasil e é, sem
dúvida, o mais brasileiro de todos. Hoje o país é o primeiro produtor e o segundo
consumidor mundial do produto.
O café foi para o Brasil e ainda é para várias de suas regiões produtoras a força propulsora
do desenvolvimento sócio-econômico, produzindo e distribuindo riquezas, além de ter
uma grande capacidade geradora de empregos e de ser importante fator de fixação de
mão-de-obra na zona rural. No Brasil, para cada hectare de café plantado, são gerados
aproximadamente 2,3 empregos diretos e pelo menos 4 indiretos.
Atualmente, o café é relevante fonte de receita para centenas de município, assim como,
grande gerador de empregos no Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), a cadeia produtiva de café é responsável pela geração
de mais de 8 milhões de empregos no País, proporcionado assim renda, acesso a saúde e
à educação para os trabalhadores e suas famílias.

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