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Economia

açucareira no
Brasil Colônia
De sabor adocicado, ele encanta
e conquista quase todos. Pode
ser encontrado em cubos, em
pó, na forma de cristais ou até
líquida. Existe também nas mais
variadas cores, que vão do
marrom até o branco, passando
por diferentes tonalidades.
A popularização do açúcar no mundo
ocidental se deu por volta do século XVI. O
cultivo da cana, a produção do açúcar e a
comercialização do produto influenciaram
as colonizações na América, a escravidão
na África e contribuíram, inclusive, para a
deflagração de guerras. Neste capítulo,
será abordado um pouco mais o processo
de disseminação do açúcar pelo mundo e,
especialmente, sua história no Brasil.
A colonização do Brasil
teve início em 1532, com o
desembarque do fidalgo
português Martim
Afonso de Sousa. Com
ele, vieram cerca de 400
portugueses, que seriam
os primeiros colonos do
Brasil.
Martim Afonso de Sousa
distribuiu terras (que na
verdade pertenciam aos
indígenas) aos portugueses
que vieram com ele e fundou
o povoado de São Vicente – o
primeiro do Brasil. Nessa
viagem, o fidalgo também
trouxe consigo mudas de
uma planta que não existia
nas terras brasileiras: a cana-
de-açúcar.
Seu objetivo era iniciar o
cultivo da cana, planta
utilizada para a produção do
açúcar. Mas havia a
necessidade de se construir
engenhos, ou seja, locais
onde a cana, depois de
colhida, era processada e
transformada em açúcar. O
engenho de São Vicente foi o
primeiro do Brasil.
O processo de colonização
das capitanias não aconteceu
de forma simultânea.
Algumas delas, como as
localizadas no sul do
território, só começaram a
ser efetivamente colonizadas
a partir do século XVII. Em
outras capitanias, como as de
Pernambuco, Bahia e Ilhéus,
esse processo iniciou-se
ainda na primeira metade do
século XVI.
No início da Idade
Moderna, que se estendeu
de 1453 a 1789, o açúcar era
produzido em pequena
escala, sendo considerado
uma especiaria de luxo na
Europa. Para se ter uma
ideia, as pessoas indicavam
em testamentos quem
herdaria o açúcar que lhe
pertencia.
A cana foi plantada nas proximidades
do litoral, primeiro em São Vicente e
depois na chamada Zona da Mata, na
atual Região Nordeste, onde
encontraram solo adequado para o
seu plantio, o que a tornou a principal
área produtora. Ao longo dos séculos
seguintes, a produção de açúcar no
Brasil se concentrou em grandes
fazendas monocultoras, que tinham
como mão de obra principal o
trabalho escravo.
O Brasil era o maior produtor
mundial até a segunda metade
do século XVII. Até o final do
século XVI, era comum o
financiamento da atividade por
comerciantes e banqueiros
neerlandeses, pois o maior
mercado consumidor do açúcar
brasileiro nessa época eram os
Países Baixos (Holanda).
Em decorrência do sucesso
da economia açucareira,
uma das principais formas
de organização econômica
do Período Colonial
brasileiro foi o sistema de
plantation (“plantação”, em
inglês).
• latifúndio ‒ grandes propriedades rurais nas mãos de
poucos indivíduos;
• monocultura ‒ uso da terra para cultivo de um único
produto, como a cana-de-açúcar;
• mão de obra escrava ‒ o trabalho dos escravizados (primeiro
indígenas, depois africanos e seus descendentes) era uma
das bases da economia;
• foco no mercado externo ‒ a produção era voltada para
exportação, e não para venda interna.
É importante ressaltar que esse não
era o único modelo econômico
presente na colônia, pois diversas
outras atividades se desenvolveram
no território, como a extração de
drogas do sertão, a agricultura em
pequenas propriedades familiares,
a criação de gado, a extração de
metais preciosos, os serviços nos
centros urbanos etc
Os portugueses chamavam de
engenho apenas o local onde o
açúcar era fabricado. Nele, a cana
era moída para se obter um caldo, e
esse caldo era fervido e clarificado
até ficar limpo o suficiente para se
produzir o açúcar. Mais tarde, o
lugar onde se moía a cana ficou
conhecido simplesmente como
moenda .
O termo engenho passou a
designar toda a fazenda
onde o açúcar era fabricado
[...] tornaram-se também
parte do engenho: a
moradia de seu proprietário
e de sua família, chamada de
casa-grande; as senzalas; a
moenda; a plantação de
cana; o pomar;
O dono da propriedade era conhecido
como senhor de engenho . Ele desfrutava
de um status semelhante ao da nobreza
em Portugal. Seu poder era grande:
controlava a política local, indicando
parentes e amigos para os principais
cargos públicos [...] A mulher do senhor
de engenho, em geral, deveria obedecer
às ordens de seu marido e era
responsável pela educação dos filhos e
pela coordenação do trabalho dos
escravizados domésticos.
Um dos símbolos do
poder do senhor de
engenho era a casa-
grande, quase sempre
instalada em um local
mais elevado, de onde
era possível ter a
visão de toda a
propriedade.
SENZALA

CASA-GRANDE
MOENDA

CAPELA Nas proximidades da casa-grande, encontrava-se a casa da


moenda, onde o caldo da cana era transformado em açúcar.
Os engenhos movimentavam
a vida econômica de toda a
comunidade em seu entorno,
pois exigiam o trabalho de
um grande número de
pessoas especializadas, como
ferreiros, carpinteiros,
tanoeiros e pedreiros, além
de profissionais que
conhecessem técnicas de
cultivo de cana e de produção
de açúcar.
Apesar de haver
trabalhadores remunerados,
a maior parte da mão de obra
de um engenho era de
pessoas escravizadas. Essas
pessoas viviam sob um
regime desumano, com
regras rígidas, trabalho
pesado, má alimentação e
vestimentas precárias.
As pessoas
escravizadas
trabalhavam sob a
vigilância de um feitor,
e, caso alguma delas
fizesse algo fora do
estabelecido, poderia
ser severamente punida
com castigos físicos.
Além dessa massa
de trabalhadores
no engenho, era
necessária força
de trabalho
animal, como a de
bovinos.
Esses animais eram usados
para mover as moendas, para
arar a terra e para conduzir
os carros que transportavam
as mercadorias. Além disso,
serviam como fonte de
alimento, forneciam o sebo
utilizado na produção de
velas e o couro cru – matéria-
prima para a confecção de
grande variedade de objetos
Esses animais eram usados
para mover as moendas, para
arar a terra e para conduzir
os carros que transportavam
as mercadorias. Além disso,
serviam como fonte de
alimento, forneciam o sebo
utilizado na produção de
velas e o couro cru – matéria-
prima para a confecção de
grande variedade de objetos
O gado crescia solto nas regiões
próximas ao litoral nordestino.
Com frequência, bois e vacas
destruíam plantações,
derrubavam cercas e invadiam
propriedades. No começo do
século XVIII, Portugal proibiu a
criação de gado na região
costeira, e os animais foram
levados para terras mais
interioranas do continente. Isso
deu origem à formação de
muitos currais no interior da
colônia.
Os donos do engenho
deixavam os animais sob a
supervisão de um vaqueiro,
responsável pelo
funcionamento de toda a
fazenda de gado. [...] Os
vaqueiros contavam com um
número relativamente
pequeno de ajudantes: alguns
eram trabalhadores livres –
conhecidos como fábricas –,
mas havia também
escravizados africanos e
indígenas.
No final do século
XVII, por exemplo,
senhores de engenho
que viviam no Estado
do Maranhão e Grão-
Pará, na parte norte da
colônia, organizaram
um levante devido a
conflitos sobre o
fornecimento de
cativos.
O problema começou
porque os senhores de
engenho da região vinham
escravizando indígenas e
obrigando-os a trabalhar na
produção de açúcar. No
entanto, os missionários
jesuítas condenavam essa
prática, o que causava
constantes impasses entre
os fazendeiros e os
religiosos.
O governo português decidiu
estimular a substituição dos
escravizados indígenas por
africanos, visando fortalecer
os lucros e incentivar o tráfico
negreiro, atividade econômica
importante para os
portugueses. Para isso,
determinou a criação da
Companhia de Comércio do
Estado do Maranhão e Grão-
Pará
O trabalho da Companhia
começou a ser duramente
questionado. O que mais
revoltou os senhores de
engenho foi o fato de que a
Companhia estava fornecendo
um número de escravizados
abaixo do prometido. Outra
reclamação é que escravizados
e mercadorias eram
comercializados acima dos
preços de mercado.
Os senhores de engenho
se revoltaram em 1684,
sob a liderança de Manuel
Beckman e de Jorge
Sampaio. Os insurgentes
depuseram o governador
da capitania, assumiram o
poder local, extinguiram a
Companhia de Comércio e
aprisionaram 27 jesuítas,
expulsando-os da colônia.
A Coroa, contudo, não
demonstrou disposição para o
diálogo e agiu com rigor. Mandou
prender Thomas Beckman e o
embarcou de volta para o Brasil
junto a um novo governador. [...]
Manuel Beckman e Jorge Sampaio
foram condenados à morte e
acabaram enforcados e
decapitados em 1685. Thomas
Beckman teve melhor sorte:
deportado para a capitania de
Pernambuco.

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