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A partir de 1530, quando decidiu iniciar a colonização do Brasil, D. João III teve de resolver
três sérios problemas:
O produto escolhido para dar inicio a exploração permanente das terras brasileiras foi o
açúcar da cana.
Primeiramente, porque naquela época o açúcar era muito procurado nos mercados europeus,
e pela sua raridade, era também muito caro. Isso dava aos portugueses a possibilidade de ter
grandes lucros com a sua produção em terras brasileiras.
Outro motivo que contribuiu para essa escolha foi o fato de existirem no Brasil condições
favoráveis ao cultivo da cana: o solo de massapé, o clima quente e úmido, e o regime de chuvas do
litoral nordestino.
Além desses motivos, deve-se também levar em consideração o fato de Portugal já ter
experimentado com sucesso a produção de açúcar nas ilhas da Madeira, Cabo Verde e Açores.
Estava decidido: o Brasil iria produzir açúcar. Mas derrubar a mata, plantar a cana e fabricar o
açúcar exigia muito dinheiro
Dinheiro para conseguir trabalhadores, para comprar ferramentas, caldeira, tachos, cabeças
de gado e construir moendas necessárias para um engenho produtor de açúcar.
Entretanto, em 1530, quando resolveu iniciar a colonização do Brasil, Portugal não tinha
dinheiro para montar a empresa açucareira no território brasileiro. Por isso pediu empréstimos aos
banqueiros holandeses.
Com o inicio da colonização, os donos dos primeiros engenhos produtores de açúcar tentaram
resolver o problema da mão-de-obra prendendo, escravizando e forçando os índios a trabalharem
para eles.
Os povos indígenas, que sempre que podiam, atacavam os engenhos para libertar sua
gente;
Os jesuítas, que não aceitavam a escravização do índio e conseguiram até mesmo que
essa atividade fosse proibida por lei;
Os comerciantes e o rei de Portugal, que preferiam a escravização do africano,
porque era um negócio mais lucrativo, tanto para quem comercializava os escravos, quanto
para o governo de Português, que cobrava imposto sobre esse comércio.
A empresa açucareira começou a ser montada no Brasil quando Martin Afonso de Sousa
mandou construir, em São Vicente, o primeiro engenho produtor de açúcar.
Em pouco tempo, porem, assistiu-se ao declínio da lavoura canavieira em São Vicente a ao seu
rápido progresso no Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Bahia.
Como se pode ver na tabela abaixo, em 1585 o Brasil possuía 122 engenhos, dos quais 101
estavam distribuídos entre Pernambuco e Bahia
CAPITANIAS ENGENHOS
Itamaracá 1
Pernambuco 66
Bahia 58
Ilhéus 6
Porto Seguro 1
Espírito Santo 6
Rio de Janeiro 3
São Vicente 4
TOTAL 122
Pernambuco e Bahia progrediram mais que São Vicente porque, além das condições naturais
(clima e solo) favoráveis, ficavam mais próximos da África, local de onde vinham os escravos, e da
Europa, de onde vinha os comerciantes de açúcar.
A Plantation
Para dar lucro, um engenho deveria produzir grandes quantidades de açúcar, o que só seria
possível se sua área de plantação fosse muito extensa.
Por isso, desde o inicio da colonização, a cultura da cana-de-açúcar foi realizada em grandes
propriedades (latifúndios), com numerosos escravos que produziam açúcar para ser vendido aos
mercados consumidores europeus por preços que interessassem a metrópole. No Brasil, a grande
propriedade cultivada por escravos ficou conhecida como plantation por comparação às antigas
fazendas do sul dos Estados Unidos.
Pode-se dizer, então, que a empresa açucareira montada no Brasil para atender
principalmente os interesses dos portugueses e holandeses apoiou-se em três elementos básicos:
escravidão, grandes propriedades e monocultura, que é o cultivo básico de um único produto.
O engenho colonial
Na moenda, composta de três cilindros de madeira encapados com chapas de ferro batido, a
cana era moída. O caldo extraído escorria por meio de calhas até um grande recipiente onde era
retirado em vasilhas e levado até a casa das caldeiras.
Na casa das caldeiras, o caldo era colocado em grandes tachos de cobre para ser cozido. Aí os
escravos iam mexendo o caldo e retirando a espuma que se formava na sua superfície. O melado
grosso e pastoso que se obtinha era colocado em formas de barro e transportado para casa de
purgar.
Na casa de purgar, o melado permanecia por três ou quatro dias até virar açúcar. O líquido
restante do melado que escorria por um furo existente no fundo da fôrma. Essa era a técnica usada
para purgar (purificar) o açúcar, que ao sair das fôrmas tinha o aspecto de um bloco duro: o pão de
açúcar. Daí, ia para os galpões.
Nos galpões, os pães eram quebrados e reduzidos a pó e postos pra secar ao sol, em grandes
caixas. Uma vez terminado o processo, os ombros dos escravos ou os carros de boi transportavam
as caixas até as praias, onde seguiam para a Europa.
Engenho, um pequeno mundo
Com o decorrer dos anos, a palavra engenho ganhou o significado de grande fazenda
produtora de açúcar. Engenho então transformou-se num pequeno mundo, que continha as
instalações utilizadas para fabricar o açúcar, as matas, o canavial, a roça de subsistência (plantação
dos alimentos consumidos no dia-a-dia), a casa-grande, a senzala e a capela
A senzala era a moradia dos negros escravos. Uma construção muito pobre, feita de galhos
trançados e cobertos com barro, que não possuíam divisões internas. Todos os escravos de um
mesmo engenho viviam misturados.
A capela era o local onde se realizavam as missas, batizados, casamentos e funerais católicos.
HOLANDESES NO BRASIL
Essa historia tem sua origem em 1578. Nesse ano, o rei de Portugal, D. Sebastião, morreu sem
deixar herdeiro quando combatia os árabes no norte da África. Com isso, o trono português passou
as mãos do seu tio, o velho cardeal D. Henrique, que viveu apenas até 1580 e também não deixou
herdeiro.
Foi quando Felipe II, rei da Espanha, aproveitando-se do fato de ser um dos parentes do rei
morto, invadiu o território português e se fez coroar rei de Portugal, dando início a chamada União
Ibérica.
Com União Ibérica, que durou de 1580 a 1640, a Espanha teve o domínio de Portugal e de
todas as suas colônias, inclusive o Brasil.
A linha de Tordesilhas deixou de ter validade, pois toda a América do Sul passou ao
domínio espanhol.
A Holanda após se libertar da Espanha, invadiu e conquistou a porção mais rica do
Brasil naquela época: o Nordeste açucareiro.
Conhecendo um pouco da história da Holanda ficamos sabendo por que os holandeses
tiveram força para permanecer no nordeste brasileiro por 25 anos.
A região onde hoje é a Holanda tinha grande poder financeiro quando, no final do século XV,
por razões de sucessão dinástica, passou a pertencer à Espanha. Aproveitando-se dessa situação, a
Espanha cobrava impostos altíssimos dos holandeses, que, por isso, decidiram lutar pela sua
independência.
Depois de muita luta, os holandeses, que em sua maioria eram protestantes, se libertaram da
Espanha católica, e formaram um pais chamado República das Províncias Unidas (Holanda), com
capital em Amsterdã.
O rei espanhol, Filipe II, porem, não aceitou perder a Holanda e, para prejudicá-la, proibiu a
entrada de navios holandeses em todos os portos de seu domínio.
O Brasil que, nessa época, estava sob o domínio espanhol, ficava, portanto, proibido de
receber navios holandeses em seus portos.
O Brasil holandês
Como você deve se lembrar, desde o inicio da colonização os holandeses refinavam e vendiam
o açúcar brasileiro na Europa e, com isso, obtinham lucros fabulosos. Por essa razão, ao serem
impedidos pelo rei espanhol Felipe II de participar do negocio do açúcar, os holandeses decidiram
usar a força das armas para conquistar os engenhos da região que mais produzia açúcar no mundo:
o Nordeste brasileiro.
Para reunir os capitais necessários a essa conquista, os holandeses fundaram, em 1621, uma
companhia de comercio chamada Companhia das Índias Ocidentais.
Os navios dessa poderosa companhia foram autorizados pelo governo da Holanda a usar a
violência (saque, pirataria) para obter riquezas na África e América.
Interessada no açúcar produzido pelo Nordeste brasileiro, a Companhia das Índias Ocidentais
preparou-se para invadir a Bahia, organizando uma esquadra com 26 navios, 3.300 homens e 450
canhões.
A resistência aos holandeses foi organizada pelo bispo da cidade, D. Marcos Teixeira. Divididos
em pequenos grupos, os habitantes de Salvador saiam das matas onde estavam escondidos e, de
surpresa, atacavam os holandeses. Era a chamada guerra de emboscadas. Graças a essa tática, os
holandeses foram impedidos de conquistar o interior da Bahia.
Para auxiliar a população local na luta contra os invasores, o governo espanhol enviou ao
Brasil uma poderosa esquadra composta de 52 navios e mais de 12 mil homens.
Atacados pelo interior e pelo litoral, os holandeses forma obrigados a render-se, deixando
Salvador em 1º de maio de 1625.
A população dessas duas vilas retirou-se para as matas e engenhos do interior. Então, o
governador Matias de Albuquerque reuniu os homens e as armas que pôde e fundou o Arraial do
Bom Jesus, uma construção fortificada de onde deveriam partir os ataques aos invasores.
Como na primeira invasão, a tática utilizada contra os holandeses foi a guerra de emboscadas,
que não deixavam os holandeses penetrarem na região dos engenhos.
Matias de Albuquerque retirou-se para Alagoas. Mas, antes disso, mandou incendiar os
canaviais pernambucanos, afim de não deixar riquezas para o seu inimigo. Em Alagoas, numa
batalha contra os holandeses, Matias de Albuquerque prendeu Calabar e, em seguida mandou
enforcá-lo.
Entretanto, nessa altura dos acontecimentos, a resistência interna já tinha sido vencida e os
holandeses eram os donos de boa parte dos Nordeste Brasileiro.
Nessas capitanias, era comum ver plantações queimadas, gado morto e engenhos
abandonados.
Diante de todos esses problemas, os holandeses concluíram que para voltar a ter lucro com o
açúcar brasileiro era necessário construir e desenvolver o Brasil holandês. E para conseguir isso, o
primeiro passo era escolher alguém capaz de governá-lo.
O homem escolhido pelos donos da Companhia das Índias Ocidentais foi o jovem e instruído
conde Mauricio de Nassau.
Nassau chegou a Recife em 1637 e, desde o começo do seu governo, procurou desenvolver e
ampliar os domínios holandeses no Nordeste.
Concedeu empréstimo aos senhores de engenho, que, com isso, puderam recuperar as
lavouras, aparelhar os engenhos e comprar muitos escravos;
Deu liberdade religiosa aos católicos, evitando assim possíveis confrontos entre os
senhores de engenhos (católicos) e os holandeses (protestante);
Fez muitos melhoramentos em Recife: calçamento de ruas, abertura de canais,
construção de pontes, jardins, hospitais, e da cidade de Maurícia, que atualmente é
um dos bairros da capital pernambucana.
Além disso, Nassau trouxe muitos cientista e artistas europeus para trabalharem em Recife.
Entre os cientistas, merecem destaque: o médico Wilhem Piso, que estudou o aproveitamento das
ervas medicinais e a cura das doenças da região nordestina, e o pesquisador Jorge Marcgrave, que
realizou o primeiro estudo científico da flora e da fauna brasileira.
Entre os artistas destacam-se os pintores Franz Post e Albert Eckhout. Ambos retrataram com
sensibilidade pessoas e paisagens brasileiras.
Embora tivesse voltado a ser um reino independente, Portugal estava enfraquecido e sem
condições de lutar para ter de volta o domínio de suas colônias. Por isso, o novo governo português
firmou com a Holanda um acordo de paz por dez anos.
Mas, no mesmo ano em que essa paz foi assinada, os holandeses começaram a ter sérios
problemas no Nordeste brasileiro. Os donos da Companhia das Índias Ocidentais estavam cada vez
mais descontentes com o governo de Maurício de Nassau. Queriam que Nassau cobrasse
imediatamente a divida dos empréstimos feitos aos senhores de engenho durante seu governo. E
exigiam também que ele mandasse confiscar as propriedades daqueles que não pudessem pagar
sua dividas no prazo fixado.
Como Nassau não concordava com essas exigências, deixou o cargo de governador e saiu do
Brasil em 1644.
Com a saída de Nassau, a companhia começou a confiscar as terras, os escravos e o gado dos
proprietários que não conseguiram saldar os seus débitos. E, alem disso, suspendeu a liberdade
religiosa, proibindo a livre pratica do catolicismo no Brasil holandês.
Principalmente por essas duas razões, em 1645 começou a luta para expulsar novamente os
holandeses do Brasil.
Essa luta, que ficou conhecida como Insurreição Pernambucana, foi liderada e financiada
pelos senhores de engenho do Nordeste.
A primeira batalha importante vencida pelos brasileiros foi a do Monte das Tabocas, que se
desenrolou no interior de Pernambuco em 1645.
Entusiasmado com as vitórias brasileiras, o rei de Portugal enviou a Recife uma frota de guerra
trazendo armas, munições e dinheiro fornecidos pela Inglaterra, que na época disputava com a
Holanda o domínio dos mares.
Poucos anos depois, esse açúcar produzido pelos holandeses na Antilhas entrou em
concorrência com o açúcar fabricado no Brasil. E como os holandeses tinham uma grande frota
naval e enorme experiência na distribuição de açúcar pela Europa, em pouco tempo o açúcar
antilhano ocupou o mercado internacional.
Para aparelhar seus engenhos e continuar comprando escravos, por exemplo, os senhores de
Olinda foram obrigados a pedir empréstimos aos comerciantes portugueses do Recife
Na capitania de Pernambuco, só a vila de Olinda possuía Câmara Municipal própria, e ela era
controlada pelos senhores de engenho, os “homens bons” da colônia.
E isso contrariava os interesses dos comerciantes, que, embora estivessem ficando cada vez
mais ricos, não podiam ser vereadores na única câmara existente em Pernambuco. Ou seja, tinha
dinheiro, mas faltava-lhes o poder político. Por isso pediram ao rei de Portugal para que ele
elevasse Recife à categoria de vila independente de Olinda.
O rei atendeu ao pedido dos “mascates” (apelido dado aos comerciantes portugueses). Estes,
por sua vez, apressaram-se em erguer um pelourinho no centro de Recife. Isso significava que a
partir de então Recife podia ter sua própria Câmara Municipal.
Os recifenses reagiram e a guerra entre essas duas localidades (conhecida como Guerra dos
Mascates) se prolongou por quase um ano.
Os mascaste, portanto, saíram dessa guerra vitoriosos. Era a primeira vez que Portugal
contrariava os interesses dos poderosos senhores de engenho do Brasil.