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Capa

Turismo de Voluntariado
contradições e dilemas

Andrea Rabinovici
Flávia Silveira Lenci
Autoras: Andrea Rabinovici e Flávia Silveira Lenci

Apoio institucional: S3 Science e Instituto Physis – Cultura &


Ambiente.

© COPYRIGHT DIREITOS RESERVADOS. As autoras, Andrea Rabinovici e


Flávia Silveira Lenci detêm os direitos autorais e de publicação do texto na
íntegra deste livro “Turismo de Voluntariado: contradições e dilemas”, em
formato físico ou e-book. Na primeira edição nas versões em português e
inglês, compartilham esses direitos com V&V Editora da obra que está
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permitindo seu compartilhamento integral ou em partes, sem alterações
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edições e edições em outras línguas são exclusivos das autoras.

Impresso no Brasil.
Printed in Brazil.
Turismo de Voluntariado
contradições e dilemas

Andrea Rabinovici
Flávia Silveira Lenci

V&V Editora
Diadema - SP
2022
Conselho Editorial
Profa. Dra. Marilena Rosalen Prof. Dr. Ivan Fortunato
Profa. Dra. Angela Martins Baeder Prof. Dr. José Guilherme Franchi
Profa. Dra. Eunice Nunes Prof. Dr. Luiz Afonso V. Figueiredo
Profa. Dra. Luciana A. Farias Prof. Dr. Flávio José M. Gonçalves
Profa. Dra. Maria Célia S. Gonçalves Prof. Dr. Giovano Candiani
Profa. Dra. Rita C. Borges M. Amaral Prof. Me. Arnaldo Silva Junior
Profa. Dra. Silvana Pasetto Prof. Me. Pedro L. Castrillo Yagüe
Profa. Ma. Beatriz Milz Prof. Me. Everton Viesba-Garcia
Profa. Ma. Marta Angela Marcondes Profa. Ma. Letícia Moreira Viesba
Profa. Ma. Erika Brunelli Profa. Ma. Sarah Arruda
Expediente
Coordenação Editorial: Everton Viesba-Garcia
Autoria
Autoras: Andrea Rabinovici e Flávia Silveira Lenci
Parecer e revisão por pares
Os textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação da
Coordenação e/ou Conselho Editorial da V&V Editora, sendo aprovados na
revisão por pares para publicação. A responsabilidade pelo conteúdo na
íntegra é de competência das respectivas autoras, não representando,
necessariamente, a opinião da editora. Apesar dos melhores esforços de toda
a equipe editorial e autoras é inevitável que surjam erros no texto. Deste
modo, as comunicações dos leitores sobre correções são bem-vindas, assim
como sugestões referentes que auxiliem edições futuras.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Rabinovici, Andrea.
R116t Turismo de Voluntariado: contradições e dilemas, 1 ed.
Português / Andrea Rabinovici e Flávia Silveira Lenci
Diadema: V&V Editora, 2022. 166 p. : 14 x 21 cm
Inclui bibliografia
Revisão Juliana Maria de Barros Freire
ISBN 978-65-88471-68-5
DOI 10.47247/AR/88471.68.5
1. Trabalho voluntário. 2. Volunturismo. 3. Amazônia
Brasileira. I. Rabinovici, Andrea. II. Lenci, Flávia Silveira.

CDD 338.47
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

V&V Editora
Diadema, São Paulo – Brasil
Tel./Whatsapp: (11) 94019-0635 E-mail: contato@vveditora.com
vveditora.com
Sumário

Apresentação .......................................................................... 7
PREÂMBULO
De onde partimos para pesquisarmos o tema turismo de
voluntariado na Amazônia? ..................................................... 12
CAPÍTULO 1
O que é voluntariado e quais são suas particularidades quando
relacionado ao turismo? ......................................................... 20
Contextualizando o trabalho voluntário .................................... 21
Histórico do voluntariado no Brasil ......................................... 25
Voluntariado e ações solidárias: como impactam as
comunidades? ........................................................................ 29
CAPÍTULO 2
O turismo como fenômeno social ............................................. 43
Turismo entre a perspectiva econômica e social .................... 44
O turismo no contexto dos territórios: Amazônia Brasileira .... 49
Organização comunitária e a atuação de empresas turísticas na
Amazônia Brasileira ................................................................ 54
CAPÍTULO 3
Conexões, dilemas e desafios do turismo de voluntariado .......... 62
Conceitos e objetivos ............................................................. 63
Diferenças entre turismo de voluntariado e voluntariado ........ 66
Potencialidades e desafios ..................................................... 70
CAPÍTULO 4
Turismo de voluntariado na Amazônia Brasileira: panorama de
práticas e atuações das organizações ...................................... 79
Mapeamento das práticas de turismo de voluntariado na
Amazônia Brasileira ................................................................. 81
Organizações de turismo de voluntariado com atuação na
Amazônia Brasileira ................................................................ 85
Vivalá...................................................................................... 85
Amazone-se ........................................................................... 88
Raízes Desenvolvimento Sustentável ..................................... 90
Braziliando .............................................................................. 91
Exchange do Bem ................................................................... 93
Iris Social................................................................................ 95
Collab Tour ............................................................................. 96
Panorama de atuação das organizações ................................. 97
Motivação das organizações atuantes com turismo de
voluntariado na Amazônia Brasileira ....................................... 98
O turismo de voluntariado segundo as organizações .............. 99
Desafios das organizações no contexto do turismo de
voluntariado na Amazônia Brasileira ...................................... 101
Planejamento e execução das ações e a relação
empresas/comunidades locais .............................................. 103
CAPÍTULO 5
Perspectiva do turismo de voluntariado a partir de expedições ao
Lago do Acajatuba - AM ........................................................ 106
O turismo de voluntariado no Lago do Acajatuba.................... 107
Sobre o Lago do Acajatuba .................................................... 107
Principais aspectos observados a partir de uma experiência real
de atividade de turismo de voluntariado ................................ 114
Mentoria .................................................................................117
Pós-mentoria ........................................................................ 122
Voluntariado e empreendedorismo: ensinar o capitalismo para
as comunidades como forma de geração de renda e de inserção
delas no mercado .................................................................. 126
Potencialidades, desafios e contradições nas atividades de
turismo de voluntariado ......................................................... 130
Planejamento das ações ........................................................ 130
Potencialidade do turismo de voluntariado no Lago do
Acajatuba .............................................................................. 132
Desafios do turismo de voluntariado no Lago do Acajatuba ... 135
CAPÍTULO 6
Compartilhando reflexões e aprendizados .............................. 139
Referências ......................................................................... 148
Agradecimentos .................................................................. 161
Sobre as autoras .................................................................. 163
Índice remissivo................................................................... 164
Ficha técnica ....................................................................... 165
Apresentação
Este livro tem como origem algumas reflexões e
questionamentos das autoras, os quais puderam ser destrinchados
em uma dissertação de mestrado defendida por Flávia Silveira Lenci,
apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Análise Ambiental Integrada (PPGAAI) da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp)1. A dissertação foi orientada por Andrea Rabinovici,
docente e pesquisadora envolvida com temáticas que relacionam
turismo, meio ambiente e comunidades locais, tendo publicado
textos sobre Turismo de Base Comunitária (TBC)2 e afins. No diálogo
entre as duas e, com base em suas respectivas experiências, este
livro foi escrito. Flávia trouxe sua bagagem pessoal anterior ao
mestrado de atuação por dois anos seguidos (2016 e 2017) em
atividades de cunho voluntário propostas pelo Núcleo de Apoio às
Populações Ribeirinhas da Amazônia (NAPRA)3, uma Organização Não
Governamental (ONG) atuante com as temáticas de saúde, educação
e geração de renda. Andrea e Flávia se propuseram a pesquisar o tema
de turismo de voluntariado trazendo dados e novos olhares e
questões para embasar a escrita da dissertação.
As atividades de voluntariado da pesquisadora Flávia foram
realizadas dentro da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em
Rondônia, em trabalho junto às comunidades ribeirinhas locais, e a
partir desse processo de estreitamento de relações, conversas e
observações das ações realizadas pelos(as) voluntários(as), foram
geradas hipóteses e reflexões que posteriormente culminaram no
tema desta pesquisa.
Dentre os dilemas e indagações que embasaram os estudos
e a redação da dissertação e deste livro, após os períodos em que

1
LENCI. S. F. Contradições e dilemas do turismo de voluntariado: o caso no Lago do
Acajatuba, na Amazônia Brasileira. 2020. 163f. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal de São Paulo, Diadema, SP, Brasil, 2020. Repositório Unifesp. Disponível em:
https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/62101
2
Ver definição adiante, no capítulo 2.
3
https://napra.org.br/ Acesso em maio/2020

7
foram realizadas as atividades voluntárias, estão os aspectos dos
desafios e potencialidades das propostas de voluntariado quando
realizadas em conjunto com as comunidades locais e os impactos
socioambientais, negativos e/ou positivos, das atividades. Assim, o
que se coloca em questão não é a prática do voluntariado, mas a do
turismo de voluntariado ou volunturismo com suas especificidades.
Da dissertação trouxemos as principais ideias e conclusões
sobre o tema que tem sido tratado em alguns fóruns de pesquisa,
como por exemplo o Volunteer Tourism Conversation Series4, da
School of Events, Tourism and Hospitality Management na Leeds
Beckett University e a Association for Tourism and Leisure Education
and Research (ATLAS), por alguns(mas) pesquisadores(as) e pela
mídia, bem como pelos(as) próprios(as) envolvidos(as) no processo:
empresas, ONGs e turistas/voluntários(as).
Partimos do fato de que o turismo em comunidades locais,
com a lógica da sustentabilidade e responsabilidade nas suas
diversas modalidades, tem como motor o contato entre pessoas com
experiências distintas, troca de saberes e transformações pessoais e
comunitárias.
As modalidades da atividade, que mercadologicamente
assumem a lógica de novos segmentos turísticos, têm incluído
experiências denominadas de turismo de voluntariado ou
volunturismo. Estas surgem com a perspectiva de apoio e geração de
riquezas, redução da pobreza para comunidades locais a partir da
perspectiva voluntária, altruísta e embasada nas possibilidades
mútuas de aprendizado e troca de saberes com a experiência, aliadas
a benefícios diversos prometidos à comunidade visitada.
Existem diferentes definições e formas de fazer o
volunturismo, bem como existem desafios no setor turístico em se
conseguir compreender quais são os objetivos das ações praticadas
nesse tipo de atividade, o papel da(s) organização(ões) envolvida(s) e
do(a) turista voluntário(a) e quais os possíveis impactos gerados pelas
ações realizadas.

4
http://www.atlas-euro.org/Default.aspx?TabID=420 Acesso em outubro/2021

8
No Brasil as experiências com turismo de voluntariado são
recentes, porém já se pode observar dilemas e dúvidas sobre elas.
Neste livro apresentamos práticas, propósitos e os agentes
que realizam o turismo de voluntariado nos Estados da Amazônia
Brasileira verificando seu potencial, contradições e
dilemas/desafios.
A partir da visita ao Lago do Acajatuba - AM durante uma
expedição de volunturismo realizada por uma empresa do setor de
turismo5, diversas questões foram observadas, considerando os
olhares diversos presentes, tanto das pesquisadoras, como dos/as
volunturistas e de pessoas da comunidade local. Estes foram
contrapostos às fontes bibliográficas pesquisadas, bem como a
outras experiências e, também, algumas entrevistas com membros
de organizações que atuam com turismo e voluntariado.
Nesta obra buscamos apresentar o que conseguimos captar
de mais significativo, das percepções dos proponentes e dos(as)
participantes das atividades de turismo de voluntariado. Na
dissertação da Flávia Lenci (2021 op. Cit.) poderão ser encontrados os
detalhes sobre a metodologia utilizada, os sujeitos da pesquisa com
as informações que foram obtidas por meio de entrevistas e
questionários. Neste livro encontram-se, portanto, as principais
informações e reflexões extraídas da dissertação, além de algumas
outras reflexões inseridas posteriormente à defesa do trabalho
acadêmico.
Realçamos a complexidade desse fazer que é relativamente
recente, seu modus operandi e contradições. É possível observar que
as diversas instituições que promovem o volunturismo na Amazônia
Brasileira estão aprendendo a atuar no setor, em suas diversas
facetas.

5
Observamos que, por razões de condutas éticas previstas para pesquisas acadêmicas,
diferentemente do que consta na dissertação de mestrado que dá origem a este livro,
o nome da empresa pesquisada não será identificado, sem prejuízo das ideias aqui
apresentadas.

9
Como equilibrar ações puramente turísticas com atividades
pontuais de voluntariado? Será que as comunidades locais percebem
melhorias na sua realidade, em seus empreendimentos e na geração
de renda, provenientes destas atividades? Qual será o alcance e as
possíveis contradições deste fazer? São algumas das perguntas que
tentamos refletir sobre diante de uma miríade de novas experiências
que vão construindo caminhos possíveis.
Considerando o fato de serem experiências recentes no
Brasil e na Amazônia Brasileira, sem dúvida, há a necessidade de se
investigar mais as atividades realizadas, repensar os caminhos das
empresas e comunidades que estão envolvidas com o turismo de
voluntariado, de forma a propor possibilidades diversas para o
incremento da atividade e melhor alcance de seus resultados para
todos(as) envolvidos(as), além da própria coerência com o fazer
turístico desta modalidade, a sustentabilidade financeira possível e
os retornos à comunidade e às experiências de voluntários(as).
Para organizar melhor o percurso do(a) leitor(a) por esta
publicação, ela foi estruturada da seguinte forma: apresentação e
referenciais teóricos temáticos são apresentados nos capítulos 1, 2 e
3. O local da pesquisa – Lago de Acajatuba, sua comunidade, seus
atores sociais e o trabalho de empresas de turismo de voluntariado
são apresentados no capítulo 4. No capítulo 5 buscamos relacionar
reflexões e questionamentos com dados da pesquisa do mestrado
que dá origem a este livro, seguido pelo capítulo 6, que compartilha as
principais conclusões deste trabalho.
O primeiro capítulo traz uma contextualização do que é o
trabalho voluntário e como as ações e suas motivações foram se
modificando ao longo do tempo, com uma reflexão das perspectivas
e fundamentos do voluntariado nos diferentes contextos existentes
em contradição com o que se conhece por voluntariado solidário.
Posteriormente, no capítulo 2, o foco é o turismo com uma
reflexão das diferentes perspectivas sobre o tema, buscando
compreender como as práticas do setor se relacionam com os
territórios, desde os diferentes segmentos, os possíveis impactos, e

10
os atores sociais, no caso, as organizações atuantes com turismo na
Amazônia Brasileira.
Na busca de se criar um panorama, o capítulo 3 traz a
perspectiva do turismo de voluntariado ou volunturismo, a partir da
conceituação do termo até as observações, dilemas e
potencialidades do segmento.
Os tópicos do capítulo 4 apresentam a expedição
acompanhada por esta pesquisa, sua comunidade e o local
pesquisado, bem como o trabalho realizado por uma das empresas
atuantes com turismo de voluntariado para trazer elementos
concretos às discussões em tela.
Criado um panorama sobre o tema, a partir dos resultados
obtidos, dialogamos e refletimos sobre os dilemas e desafios do
turismo de voluntariado tendo como base a experiência da visita in
loco, e da pesquisa bibliográfica e documental, buscando conhecer os
diferentes atores sociais e suas percepções sobre este fazer. Desta
forma, no capítulo 5 são tratados alguns dos resultados e discussões
da pesquisa.
Ao final, no capítulo 6, são compartilhadas as principais
reflexões oriundas deste estudo.
Ao longo do texto, buscamos trazer explicações para alguns
termos específicos, que são passíveis de interpretações diversas por
meio de boxes, de modo a facilitar a leitura e a compreensão do texto.
Por fim, esclarecemos que devido à utilização de diferentes
termos por diversos(as) autores(as), decidiu-se utilizar ao longo deste
texto o termo “turismo de voluntariado”6.

6
Nesta pesquisa compreendemos os termos “turismo de voluntariado” e “volunturismo”
como sinônimos. Para um padrão de uso, utilizaremos, a partir daqui e ao longo do
texto, o termo “turismo de voluntariado".

11
PREÂMBULO

De onde partimos para pesquisarmos o


tema turismo de voluntariado na
Amazônia?

12
Para iniciarmos nossas reflexões, sem pretensão de esgotar
o assunto, lembramos que diferentes visões acerca das relações ser
humano-natureza ao longo da história, retratadas como
antropocentrismo e ecocentrismo, enquanto correntes de
pensamento, influenciam as diferentes perspectivas e percepções
em temas como o desta pesquisa - o turismo de voluntariado.
Alguns autores(as) se debruçaram sobre a questão do
distanciamento entre ser humano e natureza e como este se relaciona
com olhar mercadológico sobre os territórios e o meio ambiente em
geral, tratados como “recursos”. Diegues (2008), Mariano e
colaboradoras (2011), e Abreu e Bussinguer (2013), retrataram este
histórico e exemplificam, na visão antropocêntrica, o distanciamento
humano/natureza que resulta na exploração dos recursos naturais,
estes vistos como recursos e bens a serviço da humanidade. A
natureza é percebida como bem de consumo, externo ao ser humano
para satisfazer suas necessidades.
Mariano e colaboradoras(es) (2011) citam o sistema capitalista
e seus impactos a partir do aspecto entre relações de trabalho e
geração de renda e a exploração desenfreada dos chamados
“recursos naturais”, desencadeando a necessidade da busca por
alternativas e soluções que visem um desenvolvimento com menor
impacto ambiental e social. Os impactos ambientais gerados por essa
perspectiva antropocêntrica sinalizam a necessidade de se estudar e
refletir acerca dos paradigmas atuais em diversos campos de
atuação, e nos setores do turismo e do voluntariado não seria
diferente.
No setor turístico, Fazito (2015) reflete sobre como a
atividade se incorpora nas localidades transformando-as em destinos
de interesse do mercado. Sendo lugares “não modernizados”, alguns
locais escolhidos por sua vocação turística, precisam ser
transformados em destinos/produtos a serem explorados e
consumidos. Modificados por conta desta lógica mercantil, os
“destinos” sofrem impactos, geralmente negativos sobre a
biodiversidade e algumas características culturais locais. Impactos
positivos também ocorrem e, ambos, impactos positivos e negativos,

13
se somam aos demais contextos e conjunturas que transformam as
localidades, sendo a interpretação sobre benefícios e malefícios,
dependente do olhar.
Nesta mesma lógica, Santos e Ferreira (2016) evidenciam os
processos de impactos negativos gerados a partir da comercialização
da paisagem natural para o turismo, a transformação dos territórios e
consumo do espaço. Em relação aos aspectos humano-natureza,
Valença (2015) ressalta que a natureza e a paisagem se tornam um
valor ao mercado a partir de seu viés turístico, do espaço e do desejo
de consumo destes.
O turismo se torna um símbolo de desejo e significado para a
sociedade de consumo, visto que a partir da mercantilização da
paisagem e da natureza, elas se estabelecem como produto (CÂMARA,
2017).
Assim, a utilização do critério de avanço econômico oriundo
do turismo em uma determinada região é tido, muitas vezes, como um
fator positivo, com a promessa de geração de renda para a
comunidade local, porém o que se observa é que os benefícios estão
mais focados nos atores externos do que nos(as) moradores(as)
locais, os(as) quais, muitas vezes, recebem poucos recursos, ou
mesmo não são incluídos(as) no planejamento das atividades e nem
nas decisões, o que demonstra a necessidade de um planejamento
local com a participação de todos os atores sociais (PELICIONI;
TOLEDO, 2010).
No setor do voluntariado observa-se também um viés de um
olhar mais focado nas instituições proponentes da ação do que no
território. Holmes (2021) cita que a maioria das pesquisas mapeadas
sobre o tema de voluntariado objetiva compreender as motivações
dos(as) voluntários(as) para realizar ações.

14
O que é voluntariado?
Para as Nações Unidas, "voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a
seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu
tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades,
organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos..."
As pessoas que atuam como voluntárias trabalham sem remuneração
em benefício de outros. Doam seu tempo, seus conhecimentos e, por
vezes, seu dinheiro, para ajudar pessoas, comunidades e alguma(s)
causa(s).
As atividades voluntárias podem variar quanto ao seu grau de
comprometimento, podendo ser mais permanentes e estruturantes,
buscando mudanças de longo prazo, dentro da lógica do “ensinar a
pescar” visando o ganho de autonomia necessário para solução do
problema existente, ou pontuais e esporádicas que visam prover
necessidades momentâneas, sem criar vínculos e continuidade do
trabalho solidário. Cada uma das atividades dependerá da demanda, do
envolvimento e do perfil de quem atua (pessoas com ou sem
especialização profissional para lidar com determinadas e distintas
demandas).
A motivação para trabalhar voluntariamente varia, podendo esta ser de
cunho pessoal (satisfação pessoal, inquietação, ideais, crenças,
sistema de valores culturais, morais, políticos e religiosos) e social
(consciência de problemas sociais reais que demandam apoio,
comprometimento e engajamento).
São atividades solidárias que, teoricamente, buscam transformar e
resolver determinados problemas, porém, conforme se verá neste livro,
por vezes passam a ser atividades permanentes para a manutenção da
própria estrutura de funcionamento da ação voluntária e da demanda
existente pelo próprio fazer.
As atividades de voluntariado possuem potencial transformador não só
para o público-alvo das ações, mas também para as pessoas que atuam
voluntariamente. Para as últimas, são descritas vantagens de cunho
emocional, de vivências importantes individualmente, que satisfazem
aqueles que se dedicam do ponto de vista individual e social, sob
aspectos íntimos/psicológicos e ligados ao ego, como também
profissional, à medida que tais trabalhos são valorizados pelo
aprendizado gerado e que será aproveitado na composição de
currículos, especialmente de jovens em busca de experiências.
Como se verá neste livro, pela classificação de Macedo (2011) há três
tipos de solidariedade: como espetáculo, como campanha e como
cooperação. As principais características destes tipos estão no Quadro
1, (veja p. 35).

15
Pesquisas surgem na
intenção de compreender as Voluntariado no Brasil
relações entre turismo e causa Importante dizer que, desde
social a partir do voluntariado, o 1998 há no Brasil a Lei do
Voluntariado (Lei nº 9.608/98,
aspecto da mercantilização das complementada pela Lei
paisagens, como também a 13.297/2016) que definiu
comercialização da ação serviço voluntário como
"atividade não remunerada
solidária por meio do turismo.
prestada por pessoa física a
Na tentativa de entidade pública de qualquer
natureza ou a instituição
minimizar os impactos privada de fins não lucrativos
negativos do setor turístico, que tenha objetivos cívicos,
diversas formas alternativas de culturais, educacionais, cien-
realizá-lo são propostas e tíficos, recreativos ou de
assistência à pessoa”. Com a
implementadas para obter a legislação buscou-se garantir
chancela da sustentabilidade a formalização de tal trabalho,
socioambiental via melhores já que inexiste, neste caso, a
necessidade de cumprimento
práticas. É nesta lógica que são
da legislação trabalhista e
anunciados novos segmentos e previdenciária.
modalidades de turismo, entre
eles o de voluntariado.
Segundo Nascimento (2012), o turismo de voluntariado surge
como uma alternativa de unir ao setor do turismo as ações sociais,
gerar um impacto positivo enquanto é realizada uma viagem para
conhecer uma localidade.
Ao mesmo tempo em que são implementadas, estas
propostas merecem um olhar reflexivo e crítico, visto que muitas
dicotomias, contradições e dilemas podem ser encontrados neste
fazer, a depender do ponto de vista e da forma como são realizados.
Abreu e Bussinguer (2013) afirmam que as visões de preservação
ambiental na perspectiva antropocêntrica, apesar da preocupação
com os impactos, estão atreladas aos interesses econômicos dos
seres humanos.
No setor do voluntariado, apesar de se ter uma perspectiva
de ações sociais, deve-se atentar para os fundamentos que estão por
trás das práticas, observar como esse trabalho voluntário irá se

16
expressar nos projetos, pois dependendo do viés, os impactos
gerados podem ser diferentes e não significar efetivamente uma ação
com participação comunitária (MACEDO, 2011).
Quando abordado o tema turismo e voluntariado esta questão
é particularmente importante porque, como mostram Tomazos e
Butler (2009), deve-se analisar as motivações das empresas e
organizações para que não se tornem apenas um novo segmento de
mercado, vendendo a imagem de um voluntariado solidário e altruísta,
mas que segue a mesma lógica do turismo de massa, com o foco no
lucro.
Quando se observa
Turismo de massa os(as) turistas voluntários(as) e
Por turismo de massa suas motivações, deve-se
entendemos aquele que passa questionar quais são os
a ser desenvolvido, especial-
conhecimentos que essas
mente a partir do final da 2ª
guerra mundial, com a pessoas têm sobre o tema,
consolidação do capitalismo e quais informações estão sendo
de uma classe média com mobilizadas e compartilhadas,
tempo livre e férias
remuneradas. O turismo
e qual o real poder de
populariza-se entre essas transformação desses projetos
pessoas e seus novos hábitos para as comunidades alvo das
enquanto consumidores(as) e ações (MENDES; SONAGLIO,
viajantes e que passam a
dedicar períodos de descanso 2013).
para viajar. Funciona como um
Por esses questiona-
grande negócio, organizado
por empresas que oferecem mentos e outros, organizações
os chamados “pacotes de fora do Brasil criaram guias e
turísticos” para determinados manuais de boas práticas no
“destinos” popularizando-os.
Locais com muita demanda setor, com a ideia de se
por visitação, tornam-se repensar as ações e seus reais
destinos de massa. Este impactos. Como exemplo
turismo depende sempre da
pode-se citar o “The
conjuntura econômica para
ocorrer. International Voluntourism

17
Guidelines for Commercial Tour Operators”7 (2012).
Porém, apesar desses crescentes movimentos, as pesquisas
sobre o tema precisam continuar em busca de mais informações,
como Wearing e McGehee (2013) sugerem, com investigações mais
aprofundadas acerca das ações que são realizadas e merecem
atenção e apoio no turismo de voluntariado. Para uma melhor
compreensão no tema, há a necessidade de se reavaliar o que é
considerado como turismo de voluntariado e buscar pesquisas que
analisem os diferentes nichos do setor (STAINTON, 2016).
Kirsten Holmes (2021), pesquisadora australiana que vem
dando contribuições relevantes na área do turismo ligado ao
voluntariado, também menciona que, ainda existe uma lacuna de
pesquisa e necessidades do setor em estudar o turismo de
voluntariado em outros contextos e em outras localidades, já que as
estatísticas sobre esse tipo de turismo em diferentes realidades são
desiguais.
Desta forma, e pelo fato de já existirem atividades de turismo
e voluntariado no Brasil e no mundo, entendeu-se a necessidade de se
pesquisar e aprofundar reflexões sobre este fazer, este segmento, o
turismo de voluntariado e, em especial aquele realizado nos Estados
da Amazônia Brasileira, visto que o número de pesquisas específicas
nessa região é reduzido (MARQUES, 2017). Além deste motivo, não
foram localizados artigos ao se utilizar os descritores específicos
“amazon voluntourism” e “volunturismo amazônia" na base da CAPES e
Scielo.

7
https://issuu.com/ecotravel/docs/voluntourism-guidelines/5 Acesso em maio/2020

18
Amazônia Brasileira
A região da bacia amazônica compreendida pela grande bacia do rio
Amazonas é a maior bacia hidrográfica do planeta. São 25 mil
quilômetros de rios navegáveis. A Região possui aproximadamente
5,5 milhões de km². 60% da floresta está no Brasil e os demais 40%
estão em outros países: Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Guiana
Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
No Brasil, o conceito de Amazônia Legal foi criado em 1966 para fins
políticos e de planejamento da região, abrangendo a floresta
Amazônica Brasileira e incluindo os estados do Amazonas, Acre, Pará,
Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Goiás e
Tocantins.
A Amazônia Legal tem 5 milhões de quilômetros quadrados e ocupa
cerca de 59% do nosso território, sendo o maior bioma terrestre do
país. Um terço das árvores do mundo estão na região, além de 20%
das águas doces.

Partindo do contexto do trabalho voluntário conectado ao


aspecto territorial, no caso aqui retratado - a Amazônia Brasileira -,
algumas perguntas geradoras foram formuladas e trazidas para
reflexões: Quem são os atores sociais envolvidos nas atividades
turísticas de cunho voluntário na Amazônia Brasileira? Como as
atividades de voluntariado e turismo podem impactar a região e as
comunidades que ali vivem? Quais as perspectivas existentes para
este fazer?

19
CAPÍTULO 1

O que é voluntariado e quais são suas


particularidades quando relacionado ao
turismo?

20
Contextualizando o trabalho voluntário

Segundo Makanse e Almeida (2014) o trabalho voluntário é


composto por atividades que têm por objetivo o benefício a terceiros,
com ações voluntárias sem remuneração financeira, podendo ser
realizadas em diversas organizações, religiosas ou não, e com vários
perfis de público-alvo.
Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNAD), realizada em 2019, pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil foram realizadas
atividades voluntárias por 6,9 milhões de brasileiros(as) no ano de
referência. Essas atividades são regulamentadas pela Lei Federal nº
9608, de 1998, que define o trabalho voluntário como: “atividade não
remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer
natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha
objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou
de assistência à pessoa”.
É importante distinguir as variações de voluntariado
existentes. Segundo o estudo de Amato (1990), as ações de ajuda ao
próximo podem ser divididas em três tipos: ajuda formal, informal e
espontânea, sendo que a ação de ajuda ao próximo de forma
espontânea ocorre sem planejamento prévio.
Parboteeah, Cullenb e Lim (2004), utilizando como base as
pesquisas de Amato (1990) e as teorias de Wilson e Musick (1997),
distinguiram as atividades voluntárias em informais e formais.
Segundo os autores, o voluntariado informal está relacionado a
comportamentos tais como ajudar vizinhos(as) ou idosos(as),
incluindo-se aí tanto as ações planejadas, quanto as espontâneas. No
voluntariado formal, essas ações podem estar incluídas, de forma
institucionalizada, no rol de ações no âmbito de uma organização.
Tratando-se da modalidade de voluntariado formal, Ferrarino
(2003) observa este tipo de voluntariado sendo realizado por diversos
setores: no setor corporativo; dentro das organizações do terceiro
setor e nas organizações voluntárias.

21
Porém, apesar de continuar com as mesmas finalidades que
se tinha antes, com o foco nas relações humanitárias, crescimento do
indivíduo e relação de valores éticos no trabalho, também se observa,
como mostram Ferrarino (2003) e Nascimento (2012), uma lógica de
gestão, uma profissionalização, com priorização do estudo dos
impactos e resultados, que, se usados de forma positiva, tendem a
agregar valor às atividades e impactar no engajamento social,
construindo a sustentabilidade que auxiliará nas ações voluntárias.
Em contraponto, observa-se que os estudos acerca dos
benefícios do trabalho voluntário voltam-se muito em favor do(a)
voluntariado(a) e menos no questionamento e reflexão de como essas
ações afetam as comunidades locais, aqueles que recebem as ações,
e como as organizações podem agir em favor das necessidades
locais.
Este é um aspecto observado na pesquisa de Selli e
colaboradores(as) (2008), no qual para os(as) entrevistados(as) da
pesquisa, os(as) voluntários(as) são os(as) maiores beneficiados(as) à
frente das questões sociais locais.

Comunidades ou populações tradicionais


Segundo Diegues (2000) são povos que vivem em áreas geográficas
particulares que demonstram, em vários graus, as seguintes
características: a) ligação intensa com territórios ancestrais; b)
autoidentificação e identificação pelos outros como grupos culturais
distintos; c) linguagem própria, muitas vezes não a nacional; d)
presença de instituições sociais e políticas próprias e tradicionais; e)
sistemas de produção principalmente voltados à subsistência e f)
aquelas que aceitam as implicações da definição legal que exige o "uso
sustentável de recursos naturais" - seja conforme práticas
transmitidas pela tradição, seja por meio de novas práticas.
É uma categoria reconhecida legalmente, desde a Constituição
Federal de 1988 quando se passa a ter no Brasil, o reconhecimento do
caráter multicultural do país que servirá como base para a consagração
de direitos socioambientais. Somente em 2007, por meio do Decreto
6.040/2007 é instituída a Política Nacional para o Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), na qual
os Povos e Comunidades Tradicionais foram definidos como “grupos
culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
22
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela
tradição”. Em 2016, por meio do Decreto 8.750/2016, que instituiu o
Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, foram
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela
tradição”. Em 2016, por meio do Decreto 8.750/2016, que instituiu o
Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, foram
definidos os 29 povos considerados tradicionais no Brasil, enquanto
algumas comunidades ficaram sem respaldo.
Tais povos foram, por muito tempo, inviabilizados e seguem suas lutas
por direitos básicos de cidadania, pela manutenção de suas
identidades e reconhecimento de seus saberes, de suas terras e
territórios.
Com a legislação que reconheceu os povos tradicionais, direitos e
deveres foram criados, e, entre os deveres, está a necessidade de seu
comprometimento com a conservação ambiental, pautada nas
evidências de que populações indígenas e tradicionais têm um papel
relevante global na conservação e uso sustentável da biodiversidade e
que contribuem para o manejo e a conservação de áreas importantes
da superfície terrestre.
DIEGUES, A. C. (Org.). Os saberes tradicionais e a biodiversidade no
Brasil. São Paulo: MMA/COBIO/NUPAUB/USP, 2000. 211 p.

Mais do que uma gestão eficiente, o trabalho voluntário deve


visar um impacto social e promover um comprometimento solidário e
ação participativa de todos(as) os(as) envolvidos(as) (SELLI;
GARRAFA, 2006) para que, dessa forma, a partir da construção
coletiva das atividades somadas às experiências nos espaços de
realização e reflexão, as transformações socioambientais ocorram
(DIAS, 2014).
Em relação ao ator social da ação, de acordo com a resolução
da International Labour Organization (ILO)8 de 2013, o(a) voluntário(a)
pode ser definido(a) como: “todos(as) aqueles(as) em idade produtiva
que durante uma breve referência de tempo, realizam qualquer

8
O International Labor Organization (ILO) é uma organização internacional com
importância na cooperação entre governos e organizações de empregadores(as) e
trabalhadores(as) na promoção do progresso social e econômico. Disponível em:
https://www.ilo.org/global/about-the-ilo/how-the-ilo-works/lang--en/index.htm
Acesso em maio/2020

23
atividade não remunerada e não obrigatória na produção de bens ou
fornecimento de serviço para outros”.
Mundialmente, os números das ações de voluntariado são
altos, segundo as estimativas do estudo de Salamon, Sokolowski e
Haddock (2011). Cerca de 971 milhões de pessoas realizam ações
voluntárias ao ano no mundo, sendo 36% delas por meio de
organizações e 64% por conta própria, apoiando pessoas
desconhecidas.
Diversos autores(as) citam o trabalho voluntário como
gerador de benefícios e, por isso, esta atividade vem ganhando
espaço. Aurelio (2015) define alguns efeitos benéficos para o(a)
voluntário(a) relacionados à melhoria na autoestima após a ação, bem
como aponta as atividades de voluntariado como oportunidade de
aquisição de habilidades de trabalho em equipe, além da apreensão
de novos saberes.
Para os(as) viajantes, uma série de aprendizados estão
previstos nos roteiros, para além da viagem em si e da atuação
voluntária, sempre atrelados ao discurso de contribuição para a
sustentabilidade local, como se observa nesta reportagem:
Além de manter a população no lugar de origem devido à
renda gerada pela visitação, o turismo contribui para
a sustentabilidade por preservar paisagens e culturas do
Brasil. “Os viajantes fazem oficinas sobre conhecimentos
ancestrais. Aprendem sobre uso de ervas medicinais em
chás, processamento de açaí na Amazônia, a pescar e
limpar peixe com caiçaras9, a dançar carimbó10, a fazer
farinha”, exemplifica Cabrera. “As nossas viagens são
100% de base comunitária, contribuindo
financeiramente para a população. Desde 2017, a gente já
conseguiu injetar R$512 mil nas comunidades. Temos
mais de 200 famílias como fornecedores de
hospedagem, alimentação, guiamento e oficinas. A ideia

9
Caiçaras é como são chamados os(as) habitantes tradicionais do litoral das regiões
Sudeste e Sul do Brasil. São formados a partir da miscigenação entre indígenas,
colonizadores(as) portugueses e, também dos(as) escravizados(as) africanos(as). Sua
cultura é baseada na pesca artesanal, na agricultura, na caça, no extrativismo vegetal e
no artesanato.
10
Carimbó é uma manifestação cultural brasileira de origem afro-indígena, que inclui
ritmo musical e dança de roda. É comum no estado do Pará, Brasil.

24
é que isso vire uma profissão para eles.11”

Na pesquisa de Thoits e Hewitt (2001), a promoção do bem-


estar, após as ações voluntárias, é citada como um aspecto positivo
observado pelos(as) voluntários(as), mas o estudo também aponta
para outros desafios que devem ser verificados como, por exemplo, a
seleção dos(as) voluntários(as) que irão realizar as ações. Isto pois
muitas vezes, não são promovidas etapas para a escolha do(a)
voluntário(a) e, dependendo da ação a ser realizada, uma escolha
equivocada pode gerar conflitos durante o percurso das atividades.

Histórico do voluntariado no Brasil

O trabalho voluntário surgiu com caráter assistencialista e


viés de caridade, tendo uma conotação de dependência entre
aqueles(as) que exerciam a atividade e os(as) que a recebiam. Com o
passar dos anos a sociedade foi se modificando e o papel do mercado,
dos governos, e as prioridades do voluntariado também sofreram
mudanças. O trabalho voluntário, antes realizado em sua maioria por
entidades religiosas, passa a ganhar força em outras instituições
(NASCIMENTO, 2012).
O processo do voluntariado relacionado à solidariedade
social teve como objetivo o enfrentamento das desigualdades sociais
ao longo do tempo, sendo sua principal ação a caridade, como já
mencionado. Entre as diversas instituições que atuam com iniciativas
solidárias, encontram-se as organizações religiosas, entre elas a
igreja católica, que, durante muito tempo, se preocupou com a justiça
social e com as populações à margem do modelo de desenvolvimento,
atuando na busca por reparação das injustiças sociais (ARAUJO,
2008).
Araujo (2008) cita a atuação do Padre Antônio Vieira no Brasil,
século XVII, que, dentre outros religiosos ao longo dos séculos, lutava
pelos direitos de indígenas, negros(as) e judeus/judias, por meio da
assistência exercida pela igreja católica. Porém, somente nos anos de

11
https://viagem.estadao.com.br/blogs/viagem/viagens-de-natureza-apoiam-comuni
dades-em-areas-de-preservacao/ Acesso em junho/2022

25
1930, o país começou a ter um olhar mais efetivo para as questões
sociais, não somente sob o aspecto religioso, mas também como uma
preocupação política voltada para a assistência social,
principalmente pelo cenário econômico no qual se encontrava
historicamente o país, com aumento populacional e a baixa renda.
É neste contexto que surgem as atividades de cunho
voluntário, numa perspectiva de disponibilização do tempo livre para
atuar em prol das populações menos favorecidas. No Brasil, esses
programas se iniciaram prioritariamente por meio de iniciativas do
Estado, diferentemente do que vemos hoje em dia, onde muitos
desses programas são realizados, sobretudo, por organizações
privadas e do terceiro setor (CAVALCANTE et al, 2015).
Uma das primeiras instituições fundadas pelo Estado foi a
Legião Brasileira de Assistência (LBA), instituída por Decreto-Lei, em
1942 (BRASIL, 1942) para prestar assistência social a partir do trabalho
voluntário no cuidado e amparo dos soldados brasileiros e seus
familiares, no contexto da segunda guerra mundial (OLIVEIRA; ALVES,
2020).
A partir da inauguração da LBA, originou-se uma cultura de
voluntariado no país, criando, em 1979, o Programa Nacional do
Voluntariado (PRONAV), o qual foi extinto no início da década de 1990.
Isto levou à origem de uma nova ação voluntária, iniciativas de outras
frentes, não mais do Estado, mas agora do setor privado e do terceiro
setor (CAVALCANTE et al, 2015; ARAUJO, 2008).

26
De acordo com Pelliano (2010) os anos de 1990 no Brasil foram
de mudanças em diversos processos no que se refere ao
comportamento empresarial, focando em programas sociais e
divulgando ao público essas ações que visavam o fortalecimento da
sociedade civil nesse processo e o maior envolvimento de
Organizações Não Governamentais (ONGs). O assistencialismo e a
caridade passam a ser questionados e conceitos como solidariedade
ganham espaço e novos(as) protagonistas.

Organizações Não Governamentais (ONGs)


As ONGs são organizações formais, privadas com fins públicos, sem
fins lucrativos, autogovernadas e com participação de parte ou de
todos(as) os(as) seus(suas) membros como voluntários(as). Realizam
ações de caráter educacional, político, assessoria técnica, prestação
de serviços, fiscalização, apoio material e logístico para populações-
alvo específicas ou para segmentos da sociedade civil, visando
expandir o protagonismo, a participação e empoderamento das
pessoas para que possam encabeçar transformações sociais em seu
benefício (SCHERER-WARREN, 1995).
As ONGs atuam com temas diversos e, a cada assunto trabalhado,
possuem determinadas características e modos de atuação. Todas
elas, no entanto, trabalham criando e gerenciando projetos, iniciativas
em prol de suas causas, e, para isso, mobilizam recursos
(orçamentários e humanos). Costumam atuar na esfera pública, com
função política e social, em áreas que o Estado não consegue realizar
plenamente suas funções.
Há leis específicas para regulamentar a atuação das ONGs e estas
precisam formalizar sua estrutura e seu fazer, definindo em seus
estatutos os seus objetivos e modos de atuação.
As ONGs têm buscado atuar como representantes de interesses
coletivos, sejam eles locais ou transnacionais e tornaram-se
importantes atores políticos e sociais nas relações internacionais,
razão de algumas teorias conspiratórias existentes que se ocupam
com preocupações transfronteiriças, especialmente as relativas à
soberania da Amazônia Brasileira.

27
Em outros países, a
Há, desde a década de
problematização sobre o tema
1980, a formação de
coalizões nacionais e voluntariado não foi muito diferente
internacionais que do que ocorreu no Brasil. Por muito
reúnem ONGs em torno tempo, a atividade voluntária foi
de algumas bandeiras,
especialmente a da considerada questão de baixa
proteção do meio prioridade e um fator isolado do
ambiente, o que gera contexto social. Por tais motivos,
uma mobilização
esta atividade e suas potenciais
internacional em torno
de determinadas ques- contribuições obtiveram pouca
tões e que pode atenção (ANHEIER; SALAMON,
direcionar a atenção de 1999).
ativismos, de ações
voluntárias e solidárias, Desta forma, organizações
como é o caso do tema de diversas localidades começaram
tratado neste livro, sobre
turismo de voluntariado a se unir para criar metodologias,
na Amazônia Brasileira. ferramentas e formas de se
SCHERER-WARREN, I. estabelecer um voluntariado ao
ONGs na América Latina: redor do mundo de forma justa, de
trajetória e perfil. In:
modo que os esforços atingissem,
VIOLA, E.;. LEIS, H.;
VIEIRA, P. F. (Orgs.) Meio de fato, as principais questões e
ambiente, problemas existentes. Em 1970 é
desenvolvimento e fundada a International Association
cidadania: desafios para
as ciências sociais. São for Volunteer Effort12 (IAVE), uma
Paulo: Cortez; organização internacional que
Florianópolis; reúne líderes do voluntariado, com o
Universidade Federal de
objetivo de apoiar, desenvolver e
Santa Catarina, 1995, pp.
134 - 160. valorizar esta prática em todo o
mundo.
Em 1990, líderes de países foram convocados pela IAVE para
a aprovação da “Declaração Universal do Voluntariado”13, revisada
posteriormente em 2001, que é um documento que define critérios,
objetivos e responsabilidades dos atores envolvidos no trabalho

12
https://www.iave.org/about-iave/ Acesso em outubro/2020
13
https://www.iave.org/advocacy/the-universal-declaration-on-volunteering/ Acesso
em outubro/2020

28
voluntário, funcionando também como um convite a discussões sobre
o tema.
No Brasil, existem plataformas que objetivam unir o(a)
voluntário(a) às ações de diversas organizações14, mobilizando e
facilitando projetos existentes. Como exemplo pode-se citar a
Plataforma Atados15, que visa mobilizar pessoas para causas sociais a
fim de gerar transformações positivas na sociedade por meio das
frentes de voluntariado em projetos sociais autorais, em projetos
feitos com empresas e por meio de fortalecimento de rede. Além dela,
existe a Plataforma Pátria Voluntária16, que gerencia o Programa
Nacional de Incentivo ao Voluntariado instituído pelo governo federal
por meio do Decreto n° 9.906/2019 (BRASIL, 2019), e cujos objetivos
são:
[..] a promoção do voluntariado, de forma articulada
entre o governo, as organizações da sociedade civil e o
setor privado, e o incentivo do engajamento social e da
participação cidadã em ações transformadoras,
constituindo uma rede de voluntariado para unir quem
quer colaborar a quem precisa de ajuda.

Voluntariado e ações solidárias: como impactam as


comunidades?

Os avanços e as mudanças no padrão de voluntariado estão


relacionados a um novo estímulo organizacional, participativo, que
objetiva a promoção da cidadania (CORULLÓN, 2002).
Parte da contribuição para esse movimento, como também o
seu maior reconhecimento político em muitos países, foi a
mobilização social, criando um movimento internacional. Apesar dos
avanços, observa-se uma modificação nos significados e sentidos do
trabalho voluntário em relação àqueles que o realizam, com uma
menor conexão e motivação do(a) voluntário(a) em agir em prol de

14
A plataforma Aliá-r, do Instituto Physis, apesar de ainda incipiente, nasceu com essa
mesma intenção, incluindo a Amazônia (https://physis.org.br/aliar/) Acesso em
maio/2022
15
https://www.atados.com.br/sobre Acesso em outubro/2020
16
https://patriavoluntaria.org/pt-BR Acesso em outubro/2020

29
objetivos de sua nação/país, e mais interligado às ações a partir das
necessidades e interesses individuais (ANHEIER; SALAMON, 1999).
O trabalho voluntário surge em oposição e resposta aos
resultados que o sistema capitalista gerou nas sociedades e no meio
ambiente, emergindo de uma necessidade de se combater os
desafios e agir em prol das questões sociais, tornando-se um
precursor de ações (MACEDO, 2011).
Apesar das transformações e ampliações de atuação, ainda
se observa no Brasil uma lacuna nas formas de se realizar o
voluntariado nas organizações, como também do significado do que é
o trabalho voluntário. Segundo Ramos e Domingues (2016), há a
necessidade de se estudar mais sobre o tema pelo fato de existir um
campo amplo de discussão, de pesquisa e de atuação, aprimorando a
gestão de voluntariado nos diversos setores.
Dentro do setor corporativo, o trabalho voluntário ganhou
força com as áreas de responsabilidade social nas organizações,
onde os(as) próprios(as) trabalhadores(as) têm a oportunidade de se
engajar em causas sociais e projetos filantrópicos durante o seu
horário de trabalho. Uma questão comumente tratada diz respeito ao
questionamento do entendimento sobre se as empresas, de fato,
estão engajadas nas ações, adotando um novo modelo de cultura
organizacional, ou se utilizam das ações como mero discurso de
mercado, em ações de marketing institucional, com vantagens de
diversos tipos, inclusive financeiras - para além de sua imagem (REIS,
2007).

O que é Responsabilidade Social?


Conceito associado a empresas, a Responsabilidade Social se dá pela
adoção de posturas, comportamentos e ações que promovem o bem-
estar do seu público interno e externo. Não sendo obrigatória,
configura-se como uma prática voluntária realizada por muitas
empresas buscando a meta da qualidade de vida e o bem-estar das
pessoas, a minimização de impactos negativos de suas atividades na
comunidade e meio ambiente, podendo ser (também) uma busca pela
melhoria de sua imagem, como uma ação de marketing.

30
Comumente o compromisso com a Responsabilidade Social é
acompanhado pela adoção de mudanças de valores, comportamentos
e de gestão, resultando em maior transparência, ética e valores em
suas atividades.
A Responsabilidade Social deve ser um processo contínuo e de
melhoria da atuação da empresa tanto junto aos(às) seus(suas)
funcionários(as), quanto junto ao seu público-alvo e parceiros. Neste
sentido não pode ser confundida com ações filantrópicas e
assistencialistas.
Deste conceito derivam outros complementares, distintos ou
redundantes como Responsabilidade Social Corporativa (RSC),
Responsabilidade Social Empresarial (RSE), Responsabilidade Social
Ambiental (RSA) e, mais recentemente, a governança ambiental, social
e corporativa, do inglês Environmental, Social, and Corporate
Governance (ESG). Todos eles são abordagens para qualificar e
quantificar o trabalho das corporações em prol de objetivos sociais e
ambientais, os quais nem sempre estão entre as metas e missões
destas organizações e que não necessariamente incorrem em
aumentar lucros e metas institucionais.

É nessa perspectiva que Caldana e Figueiredo (2008) relatam


a contradição existente ao se observar o voluntariado empresarial,
visto que suas ações focam mais em resolver problemas gerados pelo
sistema no qual a empresa está instaurada e menos em questionar os
processos que geraram tais problemáticas.
Macedo (2011), na busca por compreender os aspectos por
trás do voluntariado, reflete sobre os fundamentos da solidariedade,
exemplificando suas formas de expressão no trabalho voluntário, com
destaque à solidariedade que é vivenciada atualmente, ou seja,
focada no imediatismo, na lógica do consumo e na perspectiva do
individualismo, não significando, efetivamente, a ação de ser
solidário(a) na perspectiva de uma participação social e política.
Este dado também é observado por Caldana e Figueiredo
(2008) em sua pesquisa com funcionários(as) de empresas que
realizaram o voluntariado corporativo. Considerando a lógica de
sustentação das atividades voluntárias a partir dos eixos de
identificação com elas, verificou-se que algumas das motivações
31
citadas pelos(as) respondentes foram necessidade de
“reconhecimento” e de “estima”.
Já quando se trata das ações que são realizadas pelos três
grandes setores da sociedade civil (Governos, Empresas Privadas e
Terceiro Setor), é necessário observar como a solidariedade e os
objetivos do trabalho voluntário vêm se instaurando. Segundo
Holanda (2003), no terceiro setor as atividades voluntárias são a base
de suas ações, visto que a principal característica dessas
organizações é contar com recursos escassos, tanto financeiros,
como de mão de obra. Assim, para que os projetos se realizem, o
trabalho voluntário se torna parte fundamental.
E para se ter um real impacto das ações, com a lógica
solidária, deve-se atentar às suas formas de mediação e de
compromisso baseadas na participação organizada e coletiva para
além das definições e motivações do voluntariado (MACEDO, 2011).
As organizações que se propõem a atuar com o trabalho
voluntário precisam estar preparadas pois, muitas vezes, pode existir
uma resistência na utilização dos modelos participativos, podendo
esta reatividade ocorrer, tanto por desconhecimento da realidade
local, como também pelo conservadorismo institucional, conforme
exemplo dado por Macedo (2011) em organizações do terceiro setor.
Sin (2009), em estudo sobre o que levou turistas de
voluntariado a visitar a África do Sul, observou que entre as
motivações “contribuir” e “viajar”, o aspecto “viajar” era comumente
encontrado entre os(as) voluntários(as), como o fator principal para a
realização das ações de turismo dessa natureza, quando este ocorre
em comunidades locais, pois o voluntariado acaba se tornando um
meio de viajar e conhecer culturas diferentes.
Na análise da pesquisadora, quando os(as) turistas
voluntários(as) têm como foco o objetivo individual, do “eu”, o turismo
de voluntariado pode se afastar de sua intenção principal, que é a
perspectiva altruísta, o pensamento coletivo crítico voltado para a
mudança social, e, em contrapartida, se aproximar das ações de
turismo convencionais.

32
Na pesquisa que forneceu a base para este livro - que será,
daqui em diante, designada como Lenci (2021) -, os(as) voluntários(as)
entrevistados(as) relataram suas expectativas em relação à ação de
voluntariado, e, como uma das ideias/categorias centrais
encontradas em suas narrativas, tem-se a “expectativa em contribuir
com conhecimento”, identificadas por meio do uso das expressões:
“ajudar a comunidade”; “mudar profissionalmente a comunidade”;
“realmente deixar um legado tangível”. Demonstram, assim, terem
como motivação a ação individual e algum imediatismo, considerando
que o trabalho voluntário, durante a expedição realizada ocorre por
algumas horas de um dia somente, como se verá no capítulo 5 adiante.
Estes aspectos relatados corroboram a perspectiva encontrada por
Sin (2009).
Macedo (2011) cita diferentes movimentos e modelos de
solidariedade que refletem a cultura pós-moderna que caracteriza a
sociedade atual e que surgem da busca individual por promover um
movimento social e de cidadania para mudanças a longo prazo, sendo
um compromisso de colaboração comunitária, que se contrapõe à
lógica do olhar individual. As ações solidárias não são somente o fim,
mas, sim, parte do processo, a reflexão e ação, em que todos
aqueles(as) presentes são protagonistas no compromisso social a
favor da transformação da realidade injusta. Segundo a autora, há três
tipos de solidariedade: como espetáculo, como campanha e como
cooperação. Na tabela a seguir elencamos as principais
características de cada um dos tipos (Quadro 1).

33
Quadro 1 - Modelos de solidariedade
Trata- se de realizar a solidariedade de forma espetacularizada,
Solidariedade como como artigo de consumo e que transforma em moda a
solidariedade. Produz uma reação emocional e que, ao se
transformar em ação qualquer, provoca sensação de utilidade
espetáculo

imediata. É baseada em apelos emocionais sem reflexões sobre


as questões em tela. É o exercício de um altruísmo simples de
ser realizado, sem custos, sem esforços, sem continuidade nem
obrigações. É uma solidariedade que dá prazer e sensação de
dever cumprido.
Como exemplos se tem festivais musicais e espetáculos em
torno de algumas bandeiras, como o combate à fome.
Forma de exercer a solidariedade por meio de ações de ajuda
humanitária em momentos críticos e que necessitam de
respostas imediatas, como situações de catástrofe.
Solidariedade como

Costuma ser realizada à distância, com recolhimento de


doações que costumam ser rápidas e eficazes. São atividades
campanha

pontuais, limitadas no tempo e nos efeitos que poderá gerar a


médio e longo prazo. As ações dispensam reflexões e análise
daqueles(as) que estão ajudando. As pessoas têm a ação como
referência ética, buscando satisfazer seus sentimentos
pessoais como generosidade e de expiação de culpa individual e
coletiva.
Muitas vezes é mediática.
Envolve projetos de desenvolvimento realizados por atores
sociais e políticos externos à realidade a ser apoiada. As ações
Solidariedade como cooperação

solidárias podem ter a intenção de promoção política ou


económica exterior, para além das demandas dos(as)
destinatários(as) que não são consultados(as) e nem participam
do desenvolvimento da atividade. São ações de “cima para
baixo” e que seguem uma lógica pré-determinada e que por isso
podem ser consideradas invasivas e desrespeitosas com as
pessoas atingidas já que não consideram as formas e conteúdos
locais. Neste sentido, por vezes impedem que seus efeitos
tenham longo prazo, por não conseguirem adesão local, a
depender do modelo adotado para agir e de sua desvinculação
com o contexto local. As ações não levam ao desenvolvimento
local e a soluções permanentes.
Fonte: Adaptado de Macedo (2011)

Afirma, ainda que, para que se consiga impactar


positivamente todos os atores envolvidos nas comunidades locais é
necessário conhecer a realidade e repensar a atuação nos territórios,
pautados na ação coletiva.

34
Neste sentido, dentro da perspectiva do voluntariado como
ação solidária em territórios, na área do turismo podem ser
encontradas algumas iniciativas, tais como a abordagem Pro-Poor
Tourism, que tem como principal característica colocar as pessoas
“pobres” no centro das ações de turismo (ASHLEY; ROE; GOODWIN,
2001).
Segundo Ashley e colaboradores(as) (2001) o objetivo dos
projetos do Pro-Poor Tourism é o apoio às comunidades locais ao
mesmo tempo em que proporciona um maior contato dos(as)
voluntários(as) com a realidade dos(as) comunitários(as), com
potencial de gerar mecanismos para abertura de oportunidades de
renda junto às comunidades.
O exemplo citado busca a lógica da solidariedade em suas
ações quando afirma ter como objetivo o apoio às comunidades
menos favorecidas socioeconomicamente por meio do voluntariado,
como também gerar esforços para atuar em diversas escalas e com
diferentes atores sociais.
No entanto, seguindo o contexto de solidariedade em relação
à ação voluntária trazido por Macedo (2011), deve-se buscar entender
qual o tipo de solidariedade e atuação está sendo realizada: é
imediatista? Prevê resultados a curto prazo sem investigação das
causas e impactos? Segue a lógica da ação solidária de participação
social e comunitária?
Neste mesmo sentido de questionamento de fazeres e de
posturas derivados da lógica do voluntariado e do que pode significar
o conceito de solidariedade nas ações dessa natureza, surgem
também os conceitos de empreendedorismo social e de economia
solidária, a seguir debatidos, para compreendermos algumas das
práticas existentes no turismo de voluntariado em geral, e,
especificamente, em algumas empresas que em suas ações,
promovem o estímulo ao empreendedorismo nas comunidades
visitadas, como forma de geração de renda.

35
Tanto o turismo de voluntariado quanto o Turismo de Base
Comunitária (TBC) deveriam ter como princípio o protagonismo
comunitário nas decisões, na gestão do patrimônio local e na
repartição da renda e demais benefícios gerados pela atividade. Para
que isso aconteça, há que se fortalecer práticas colaborativas e de
cooperação entre comunitários(as) sendo necessário apostar no
aprendizado, na geração de conhecimentos e na cooperação entre
todos(as). Práticas competitivas, de exploração de mão de obra e
outras vinculadas à lógica capitalista que, muitas vezes, estão
contidas no modus operandi do empreendedorismo deveriam ser
evitadas. Essas práticas, no entanto, por vezes aparecem nas
atitudes adotadas por aqueles que querem ajudar, à sua maneira.

O que é Turismo de Base Comunitária (TBC)?


O Turismo de Base Comunitária (TBC) é aquele no qual as comunidades
locais possuem o controle efetivo sobre o desenvolvimento e a gestão
do turismo. Está baseado na gestão comunitária ou familiar das
infraestruturas e serviços turísticos, no respeito ao meio ambiente, na
valorização da cultura local e na economia solidária.
No TBC o produto turístico ou atração turística é o modo de vida da
comunidade, um instrumento para o fortalecimento comunitário e
associativo; a comunidade é proprietária, gestora, empreendedora
dos serviços e da infraestrutura turísticos, sendo uma atividade
complementar às outras atividades econômicas já praticadas e onde
ocorre distribuição justa do dinheiro com a transparência no uso dos
recursos.
Entre os princípios das atividades estão a autogestão, o
associativismo e cooperativismo, a democratização de oportunidades
e benefícios, a centralidade da colaboração, parceria e participação, a
valorização da cultura local e, principalmente, o protagonismo das
comunidades locais na gestão da atividade e/ou na oferta de bens e
serviços turísticos, visando à apropriação por parte destas dos
benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística.
Está previsto como decorrência da atividade, a valorização cultural e
afirmação das identidades étnicas; uma relação de parceria e troca
entre turistas e a comunidade; o auxílio na luta pela posse da terra; a
conservação e a sustentabilidade ambiental, além do estabelecimento
de arranjos produtivos sustentáveis para as comunidades.

36
O TBC pode: gerar renda e a inclusão social, evitar a saída dos(as)
comunitários(as) dos territórios, ser estratégico para sua inserção na
ordem global, econômica e cultural, visando a alcançar um modelo de
desenvolvimento vinculado aos aspectos ambientais, sociais,
culturais e econômicos das comunidades.
A atividade pode garantir a manutenção do diferencial étnico e a
pluralidade do conhecimento de suas comunidades e das pessoas
visitantes com a viabilização da sociodiversidade e a ampliação dos
saberes contemporâneos.
É uma modalidade dentro do escopo de turismo responsável e
sustentável, compreendida como um fazer com dimensão concreta e
utópica, cujas práticas deveriam ser incorporadas aos segmentos de
turismo já existentes e influenciar o mercado em sua totalidade, a fim
de torná-lo mais sustentável sem se caracterizar como um novo
segmento mercadológico.

O importante a verificar é o quanto as estratégias que


envolvem o turismo de voluntariado e têm como base o ensino de
empreendedorismo clássico aos(às) comunitários(as) consideram as
diferenças, as contradições e riscos que podem gerar em sua
realização. Entre eles, está o risco de desarticular a cooperação e a
união nas comunidades, em uma evidente contramão ao que alguns
projetos de ONGs têm buscado, quando apostam na promoção de
capacitações envolvendo empoderamento comunitário,
protagonismo, geração de renda e busca de alternativas diversas que
não só garantam a sobrevivência da comunidade, mas também de seu
entorno, com base na sustentabilidade socioambiental, em todas as
suas nuances.
As alternativas para geração de renda existem e, dependendo
da forma como forem concebidas e trabalhadas, podem modificar
completamente as relações que definem a forma de ser e de estar no
mundo dos(as) comunitários(as), assim como transformar os arranjos
produtivos existentes na localidade. Tais formas de se relacionar e de
trabalhar, ao invés de serem modificadas, poderiam, por vezes, servir
de exemplo para outras comunidades, incluindo visitantes e turistas,

37
que, corriqueiramente entendem que têm mais a ensinar do que a
aprender.
Ao ter como proposta de ação voluntária ensinar
empreendedorismo aos(às) comunitários(as), o que exatamente se
pode esperar? Quais novos conflitos e consequências podem ser
previstos? Realizar atividades de turismo, em si, já não costuma ser
algo consensual entre pessoas de comunidades tradicionais, as quais
participam de modos distintos deste fazer. Promover atividades cuja
engrenagem funcione de maneira diferente da lógica comunitária,
pode induzir à competição, ao lucro diferenciado, à meritocracia, a
geração de novas necessidades de consumo e que conduzem a novos
comportamentos e a novas desigualdades sociais, podendo resultar
no fim do que há de característico nas comunidades. Neste sentido,
alguns conceitos oriundos da economia cooperativa e solidária
precisam ser conhecidos, tanto por aqueles que se propõem a ensinar
a comunidade, por meio das atividades solidárias, como pela própria
comunidade, para que não caia em armadilhas e possa ponderar e
fazer suas escolhas de forma consciente e esclarecida.
O conceito de empreendedorismo, precisa carregar consigo
a dimensão social, buscando solucionar, com criatividade e com
inovação social, questões estruturantes não resolvidas por meio de
políticas públicas. Neste livro compreendemos o conceito amplo de
sustentabilidade, sendo aquele que engloba a geração de empregos e
de renda, a promoção de aprendizado, inclusão e justiça social,
participação democrática com a emancipação e o protagonismo das
pessoas visando a redução das desigualdades. Nestes conceitos
estão também incluídas as dimensões culturais e éticas.
A economia, igualmente, precisa estar em consonância com
a premissa da solidariedade, qual seja, a chamada economia solidária,
que nada mais é do que uma:
Alternativa de organizar as relações sociais segundo
princípios que valorizam o ser humano, o trabalho, a
justiça, a solidariedade e a sustentabilidade do planeta.
Propõe o desenvolvimento econômico socialmente justo
e voltado à satisfação racional das necessidades de cada
um e de todos/as os/as cidadãos/ãs, seguindo um

38
caminho intergeracional de desenvolvimento
sustentável e de qualidade de vida”. (...) “Nessa
alternativa, todos produzem e todos têm acesso aos
benefícios produzidos. Ela busca outra qualidade de vida
e de consumo, o que requer a solidariedade entre os/as
cidadãos/ãs do centro e da periferia do
planeta. Representa poderoso instrumento de combate à
exclusão social, pois apresenta alternativas para geração
de trabalho e renda e para satisfação das necessidades
de todos/as17.

Propostas de turismo dentro da vertente alternativa,


responsável, sustentável e solidária junto com alguns segmentos
como o TBC e o turismo de voluntariado, possuem um potencial de
transformação social muito expressivo. Desta forma, a atuação
colaborativa, cooperativa e solidária precisa estar na base destes
encontros. É necessária a coerência entre princípios e práticas que
promovam a inclusão social, construindo alternativas coletivas que
gerem aprendizado social e empoderamento das comunidades onde
atuam.
Dito isso, algumas práticas podem estar caminhando na
contramão do que vem sendo construído por iniciativas de turismo de
voluntariado, as quais, ao visitarem estas comunidades, ao invés de
aprenderem outras lógicas e formas de organização coletiva,
diferentes das suas e, quem sabe, questionar suas realidades e até
transformá-las, estimulam a implementação de seu modo de vida
urbano, capitalista e competitivo. Quando uma empresa se propõe a
“ensinar empreendedorismo” dentro de uma lógica tradicional, está,
muitas vezes, incentivando uma mudança predatória, que, ao invés de
trazer impactos positivos, poderá ocasionar diversos problemas e
conflitos antes inexistentes no tecido social comunitário.
As viagens às localidades cujas comunidades aderiram
parcialmente, ou não aderiram, ao modelo capitalista, podem servir
como contraponto à realidade de uma maioria de viajantes,
comumente adaptados a este sistema. São esses(as) turistas que
costumam circular pelo mundo e que estão acostumados(as) a

17
https://www.cenpec.org.br/oficinas/economia-solidaria-o-que-e Acesso em
junho/2022

39
conviver em grandes centros urbanos onde ocorre uma contínua
precarização do trabalho. Este modelo tem sido, cada vez mais,
estruturado sob a forma de superexploração e subjugação de
trabalhadores(as) a exemplo do que tem sido denominado como o
fenômeno da “uberização do trabalho”.

Uberização do trabalho
O conceito de “uberização” do trabalho tem sido comumente utilizado
para se referir à adoção de alternativas de trabalho informal,
geralmente mediadas por aplicativos e plataformas digitais e que, a
depender do ponto de vista, são consideradas parte da solução ou do
problema para o crescente desemprego no mundo. Trata-se de um
novo modelo de trabalho autônomo, onde o(a) profissional presta
serviços sob demanda, sem, contudo, ter qualquer vínculo
empregatício e nem tampouco direitos trabalhistas e previdenciários
historicamente conquistados com muita luta pela classe trabalhadora.
Apesar de ser enaltecido por alguns(mas) como sendo a modernização
do trabalho, essa forma de prestação de serviço se assemelha, em
algumas de suas características, à escravização contemporânea
dos(as) trabalhadores(as), dada a sua precarização.
Os que a defendem consideram-na uma forma mais eficiente de
atuação, livre e autônoma, na qual o(a) profissional define suas rotinas
e a quem prestará serviços, sendo seus(suas) profissionais
considerados(as) empreendendores(as) de si mesmos(as). Aqueles(as)
que criticam esse formato de trabalho, argumentam que a “uberização”
obriga as pessoas a adquirirem os meios necessários para sua
atuação, conforme normas e exigências das empresas, muitas vezes
por meio de contratação de dívidas que, para serem pagas, exigem
jornadas exaustivas de trabalho. Apesar de serem considerados(as)
profissionais livres, autônomos e empreendedores(as) de si
mesmos(as), geralmente trabalham a serviço de grandes corporações,
muitas delas transnacionais, tais como a Uber e outras que atuam
desta mesma forma.

O que se coloca é que, estas comunidades e as propostas de


turismo citadas, estão inseridas no contexto solidário e suas
atividades precisam ser coerentes com os princípios e fundamentos
que as caracterizam. Para tanto, o protagonismo, o empoderamento
comunitário, a busca de soluções de curto, médio e longo prazo aos
problemas do território e dos membros das comunidades são o que há
de mais importante. O que se observa é que, medidas estruturantes,

40
muitas vezes são incompatíveis com determinadas ações pontuais
realizadas por turistas em um curto espaço de tempo.
Há vários exemplos quanto aos efeitos indesejados causados
por propostas de voluntariado dentro de comunidades, que
demonstram como algumas dessas organizações sociais acabam
optando por se estruturar para receber turistas voluntários(as) ao
invés de resolver seus problemas de fundo, de forma permanente.
Mostafanezhad (2016) discute algumas destas contradições
de visões de mundo ao reportar que, no Havaí, há em funcionamento
um grande projeto, o World-Wide Opportunities on Organic Farms ou
a Rede Mundial de Oportunidades em Fazendas Orgânicas (WWOOF)18
que atua por meio de uma plataforma para cadastro de pessoas que
desejem trabalhar temporariamente em pequenas propriedades
rurais exercendo atividades de agricultura orgânica juntamente com
os(as) anfitriões(ãs) para aprender sua cultura e modos alimentares
sustentáveis.
O WWOOF é uma plataforma de economia social e solidária
que promove o encontro de pessoas que vivem em uma permanente
crise social de um lado, e, do outro, com algumas pessoas com
vontade e possibilidade para colaborar, geralmente jovens de países
ricos. O WWOOF segue a lógica de um intercâmbio, porém é diferente.
A plataforma agencia essa união pautada na reciprocidade entre
pessoas provenientes de realidades completamente diversas.
Comunitários(as) e voluntários(as) precisam uns dos outros(as), e, por
este motivo, o trabalho solidário existente, dificilmente deixará de ser
necessário. Essa relação, sendo permanente, pode resultar na não
resolução dos problemas que motivam as ações de voluntariado. No
caso tratado, o problema da pobreza é contínuo, enquanto o turismo
é uma atividade sazonal trazendo soluções de curto prazo que,
mesmo que frequentes, são pontuais e insuficientes em se tratando
de atividades agrícolas, que exigem demandas diversas ao longo de
todo o ano.

18
https://wwoof.net/ Acesso em junho/2022

41
A rede em questão, tem números de atendimentos muito
expressivos e atua intensamente no Havaí e em outros lugares do
mundo, inclusive no Brasil, na região da Amazônia. No entanto,
Mostafanezhad (2016) afirma que todo o trabalho realizado e a
logística envolvida, não resolvem questões cruciais como a segurança
alimentar, a aposentadoria digna e a saúde da comunidade de
trabalhadores(as) rurais que recebem os(as) turistas. Considerando o
Havaí como um local onde o turismo de massas e a produção orgânica
industrial são atividades consolidadas, com recursos suficientes para
promoção de mudanças, o mais indicado, se houvesse interesse de
solucionar os problemas existentes, seria o investimento na
promoção de políticas públicas que garantissem subsídios,
apoiassem as produções e os empreendimentos comunitários
levando-se em conta e valorizando suas culturas e saberes.
O exemplo do WWOOF no Havaí, como um turismo que se
identifica como voluntário e que tem como intenção o desejo de
apoiar comunidades menos favorecidas socioeconomicamente,
mostra que, se, por um lado essa iniciativa estimula os(as)
pequenos(as) produtores(as) a seguir fora do cenário capitalista do
país, ao mesmo tempo, deixa sem solução definitiva outros aspectos
que poderiam melhorar a vida destes(as) produtores(as) de forma
mais permanente.
Para que se consiga entender esses aspectos e seus
desdobramentos torna-se necessário refletir sobre como o turismo
vem sendo realizado e visto a partir da perspectiva de diferentes
autores(as), em relação ao seu impacto e sua relação com os
territórios e com os diferentes sujeitos sociais. Esse tema será
explorado no capítulo seguinte.

42
CAPÍTULO 2

O turismo como fenômeno social

43
Turismo entre a perspectiva econômica e social

Ao longo da história, a partir do seu viés mercadológico, o


turismo é considerado um dos setores que vem gerando renda e
potencial econômico aos países, além da contribuição de outros
benefícios, como os ambientais e sociais (IRVING et al, 2005;
MAKANSE; ALMEIDA, 2014).
O turismo não tem uma definição única. Depende da
perspectiva de cada autor(a); localidade; território; atores sociais
envolvidos, porém o que as definições tradicionais citam em comum
é a movimentação das pessoas, usualmente chamados(as) de
viajantes, para fora do seu local de residência (OMT, 2010).
O que se observa nas diferentes tentativas de conceituar a
atividade turística é o distanciamento para com as questões dos
territórios e os possíveis impactos ambientais. Como cita Sampaio
(2007), ao mostrar que as definições focam somente nas motivações
de quem se desloca, não dando a devida importância às comunidades
anfitriãs e aos recursos naturais existentes nos locais visitados,
quando do planejamento da viagem. É como se os(as) moradores(as)
dos locais de destino e a natureza daqueles territórios tivessem que
estar à disposição dos(as) turistas, sem considerar as
externalidades19 que a atividade provoca.
Como exemplo, podemos observar os dados produzidos pela
Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur,
2020), que revelam que o número de chegadas de turistas ao Brasil em
2019 foi de 6.353.141 de visitantes e que, segundo a Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)20, esse
número fez movimentar financeiramente, em 2019, um total de 238,6
bilhões de reais. Não são citados na pesquisa os dados de impactos

19
Externalidade é um conceito oriundo da economia, que trata dos efeitos indiretos
causados por decisões tomadas por algumas pessoas sobre o destino de outras
pessoas que não participaram das decisões, mas que vivenciarão as consequências
destas decisões. Externalidade é justamente a consequência e pode ser positiva ou
negativa, a depender dos ganhos ou perdas aos(às) afetados(as).
20
http://cnc.org.br/editorias/turismo/noticias/turismo-no-brasil-aumenta-fatura
mento-em-22-em-2019 Acesso em maio/2020

44
socioambientais da atividade do turismo nos locais visitados. O foco
é, sobretudo, na economia.
Este dado justifica o que Magalhães (2008) enfatiza em sua
pesquisa de que o turismo é pensado e estudado, na maior parte das
vezes, sob o viés econômico, como um produto a ser comercializado,
esquecendo-se do olhar para a atividade em sua perspectiva social,
pelo viés da ciência histórica e seus impactos sociais.
Essa ótica também pode ser observada ao se apresentar as
definições e dados encontrados sobre o turismo, na Lei brasileira nº
11.771 de 2008, a qual dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, que
conceitua o termo como: “atividades realizadas por pessoas físicas
durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno
habitual, por um período inferior a 1 (um) ano, com finalidade de lazer,
negócios ou outras”. Trata-se da mesma definição criada e indicada
pela OMT para fins estatísticos.
Os autores Lage e Milone (2009), também, conceituam o
turismo sob o ponto de vista econômico, visto que para eles, qualquer
motivação de viagem, seja por finalidade de férias, eventos, lazer ou
mesmo trabalho, é considerada como uma ação turística.
Em seu livro, Cooper e colaboradores (2008) abordam esse
mesmo viés, evidenciando o fato de muitos(as) pesquisadores(as)
definirem o turismo somente como atividades de deslocamento para
lazer e de férias. Para os autores, entretanto, qualquer finalidade de
visita, desde negócios a eventos científicos, refere-se a turismo.
As definições e observações pautadas na lógica econômica
do turismo de Cooper e colaboradores (2008) e Lage e Milone (2009)
podem estar relacionadas com a perspectiva histórica capitalista em
que o turismo se instaurou, coincidindo com a reflexão trazida por
Magalhães (2008) ao citar que, nas pesquisas sobre turismo, a ênfase
é dada sob o olhar comercial em detrimento do viés social.
Na relação turismo/trabalho, historicamente, se observa que
a comercialização do turismo se pauta no tempo livre disponível
dos(as) trabalhadores(as). E, considerando as mudanças que vêm
ocorrendo na distinção de tempo de ócio e de trabalho no mundo

45
contemporâneo, novos segmentos de mercado surgem como forma
de ampliar a comercialização no setor, como o turismo de negócios e
de eventos (MAGALHÃES, 2008).
Desta forma e ainda com foco no viés econômico, o mercado
se segmenta em novos tipos atividades turísticas, em função da
demanda ou da oferta e às necessidades do marketing com o fim de
atingir o(a) consumidor(a), para oferecer-lhe experiências
aparentemente diferenciadas de turismo (BARRETO; REJOWSKI,
2009).
A partir dessa perspectiva, deixa-se de lado o olhar para as
interações sociais, as possíveis interferências e impactos às
populações anfitriãs, visto que em qualquer atividade e segmento de
turismo, sempre haverá um processo de interferência nos lugares,
tanto em questões culturais/sociais quanto ambientais, podendo
ocasionar impactos negativos dependendo da forma com que são
realizadas as ações (IRVING, 2009).
O tipo de impacto que será gerado no local, positivo ou
negativo, dependerá do planejamento e da gestão dessas atividades
pelos(as) envolvidos(as), podendo ocasionar e intensificar os
impactos negativos, nos âmbitos mencionados, quando o foco está
no potencial econômico do setor como ponto principal de sucesso,
como se observa no turismo de massa (RAMALHO; SILVA;
RABINOVICI, 2010). Segundo as autoras, os principais impactos do
turismo de massa nos territórios são: desgaste dos recursos naturais;
especulação imobiliária e consequentemente a elevação de preços na
região; segmentação territorial; desrespeito ao território e cultural
local.
Em contraponto, existem outras formas de se realizar o
turismo. Formas essas que têm como característica um turismo local,
com participação comunitária no planejamento e gestão, a
maximização dos impactos positivos, olhar mais atento aos possíveis
impactos negativos (sociais e ambientais) e distribuição de renda por
meio do turismo de uma forma justa e transparente (RAMALHO;
SILVA; RABINOVICI, 2010).

46
Dessa perspectiva, assim como a divisão que é realizada por
muitos(as) autores(as) entre turismo de massa e o alternativo, como
dois grandes agrupamentos (COOPER et al, 2008; BARRETO;
REJOWSKI, 2009; IGNARRA, 2017), o denominado turismo sustentável
comumente agrupa diversos segmentos ou tem sido tratado como
sinônimo de várias denominações de turismo (CANDIOTTO, 2009).
Dentre as principais segmentações encontradas, discutidas
pelos(as) autores(as) citados(as) a seguir, estão: o turismo
responsável (BURSZTYN, 2014); o ecoturismo (MEIRELLES FILHO,
2005; NEIMAN; RABINOVICI, 2010); o de base local (BURSZTYN;
BARTHOLO; DELAMARO, 2009); o de base comunitária (VITÓRIO;
VIANNA, 2016); o social, de voluntariado ou volunturismo
(CAMPANIÇO, 2010; WEARING; MCGEHEE, 2013), entre outros.
Para Meirelles Filho (2005), Faco e Neiman (2010) e Santos e
colaboradores(as) (2012) o objetivo principal do turismo sustentável é
fortalecer as diversas formas de economia das regiões promovendo a
conservação dos recursos naturais e dos modos de vida locais.
No entanto, independente do nome dado, para Candiotto
(2009) deve-se evitar usar o termo turismo unido ao sustentável, pelo
fato das atividades turísticas atualmente ainda estarem pautadas na
exploração social e ambiental, em uma lógica do consumo de
paisagens, de uma visão mercadológica e que pouco se preocupa com
a localidade, se tornando apenas uma ampliação para o mercado de
atuação.
Deve-se, portanto, compreender as questões que envolvem
o fazer turístico e seus impactos, numa perspectiva de busca de
melhores práticas, mitigação de impactos ambientais considerados
negativos e a geração de renda às comunidades (CANDIOTTO, 2009;
MERTENS; BURGOS, 2015).
A contestação do turismo em sua faceta contra-hegemônica
e anticapitalista se traduz em importantes discussões, restritas a
poucos tipos de turismo, entre eles o de base comunitária ou
comunitário e o solidário, quando não tratados como mais um

47
segmento turístico e, de fato trazem a discussão mencionada e se
propõem a atuar de forma diversa.
O Turismo de Base Comunitária (TBC) é uma forma de se
pensar e fazer turismo, em que os aspectos do território, participação
e envolvimento comunitário estão no centro da atuação, a favor dos
laços coletivos e sociais (IRVING, 2009).
Segundo Marques (2009), o turismo solidário, termo utilizado
pela autora como comparável ao conceito de turismo de voluntariado,
tem em seu centro o envolvimento e a iniciativa das comunidades
locais pautadas na solidariedade entre moradores(as) e visitantes. Se
caracteriza por ser um turismo de pequena escala, com menor
impacto na estrutura da sociedade local, valorização dos recursos
locais, com atuação coletiva na lógica de rede, sendo que o que move
as ações é a solidariedade, se tornando um projeto de
desenvolvimento por todos(as) que ali estão.
Dessa forma, deve-se entender que, para cada território, os
impactos vão se manifestar de maneiras diferentes. Dependendo do
tipo de comunidade e de seu tamanho, maiores serão os impactos
sociais, como é mostrado na pesquisa de Marulo e colaboradoras
(2016) onde há exemplos de construções e empreendimentos mal
planejados, ou mesmo sem planejamento e como estes modificam os
territórios e impactam as comunidades locais, ressaltando a
importância do planejamento com a participação destas
comunidades durante todo o processo.
Mais do que os significados, definições e estatísticas, outros
aspectos devem ser considerados, pois a importância do estudo do
turismo está na capacidade e sua relação com os territórios, nas
diferentes formas de reordenamento desses para sua realização e
consequentemente, nas políticas existentes (CRUZ, 1999).

48
O turismo no contexto dos territórios: Amazônia
Brasileira

Segundo Coriolano (2006), os territórios são resultados


históricos da interação sociedade/espaço, a partir das lutas, das
modificações que ocorreram ao longo dos tempos e que vêm se
modificando até os dias atuais. Para que se compreenda os territórios
é necessário observar as histórias e os diferentes atores sociais que
ali atuam.
Quando se trata do turismo e dos territórios deve-se
entender que sua manifestação ocorre em diferentes formas e
escalas, considerado como um fenômeno complexo, com diferentes
atores sociais (FRATUCCI, 2000). Para Coriolano (2006), a atuação nos
territórios deve ser o ponto principal de discussão. A autora afirma
isso, exemplificando com base nas mudanças e lutas ocorridas nas
regiões litorâneas do Brasil com a chegada do turismo de massa ao
longo da história do território nacional.
Observa-se, ainda, que as políticas do turismo e discussões
colocam os temas da preservação e conservação ambiental como
pontos importantes no planejamento a ser realizado, porém entre as
principais preocupações por trás dessas ações está a importância
econômica e ambiental para a continuidade do turismo nos
territórios, com a comercialização da paisagem ou mesmo como
recurso necessário para o turismo ocorrer (SANSOLO, 2009).
Neste aspecto, a Amazônia Brasileira, como território de
relevância internacional e de importância global, principalmente
pelas suas características ambientais e sociais, atrai diversas
organizações do Brasil e de outros países para ali atuarem (HIGUCHI;
HIGUCHI, 2012; PEREIRA; MYKLETUN, 2012).
O enorme potencial natural, ecológico e econômico da
Amazônia carrega um histórico de conflitos por terras,
desmatamento desordenado, práticas de uso do solo inadequadas,
desequilibrando o ecossistema ambiental, gerando, como
consequência, problemas sociais e ambientais (LOUREIRO, 2002;
HIGUCHI; AZEVEDO; FORSBERG, 2012; SOUZA; SILVA; GOMES, 2020).

49
Existem diferentes percepções e referências dos aspectos
geográficos, ecológicos e sociais em relação a definição do termo
Amazônia (GOMES JUNIOR, 2018). No caso aqui retratado, a Amazônia
Brasileira como locus de estudo, evidencia as diversas ideias e
definições do que é a Amazônia, seu imaginário, as diferentes
percepções que cada pessoa pode ter sobre ela, como também as
construções teóricas e conceituais.
Como forma de gerenciamento das áreas pelo Estado, o
território da Amazônia Brasileira inicialmente foi delimitado pela Lei
n°1.806 de 1953, lei esta que foi revogada e posteriormente alterada,
sendo reconhecida a partir da Constituição de 1988 como Amazônia
Legal.
O território que define a área da Amazônia Legal presente no
dispositivo da Lei Complementar nº 124 de 2007, engloba 772
municípios e é composto pelos Estados de Rondônia, Acre,
Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão,
totalizando uma área de 5.015.067,749 km², segundo dados do IBGE21,
sendo que, destes, 4.196.943 km² representam o Bioma Amazônico,
considerado patrimônio nacional.
Apesar das diferentes denominações, dados e números
encontrados, quando se fala em Amazônia traz-se a reboque um
padrão idealizado por meio das imagens e ideias que surgem na mente
das pessoas a respeito deste território. A forma como a região é vista
está relacionada à construção histórica desse imaginário, das
narrativas contadas e que estão presentes nos livros escolares, meios
de comunicação de massa, filmes, tornando o que é conhecido como
Amazônia um conceito, uma construção social (COELHO, 2012).
Segundo Mendes (2016), a floresta amazônica sempre esteve
presente no imaginário das pessoas, com todas as representações
designadas em relação a um termo que está no inconsciente de uma
sociedade. Assim, as experiências e associações pessoais geram

21
https://www.ibge.gov.br/geociencias/cartas-e-mapas/mapas-regionais/15819-
amazonia-legal.html?=&t=o-que-e Acesso em setembro/2021

50
significados que, ao se materializarem em palavras, imagens ou
signos criam uma Amazônia que será diferente para cada pessoa por
conta das perspectivas e vivências (COELHO, 2012).
Segundo Sa (2000), algumas palavras são encontradas neste
imaginário sobre a Amazônia, a partir dessas narrativas contadas ao
longo da história, tais como: paraíso perdido, inferno verde, pulmão
do mundo.
Esses termos são encontrados em diversas pesquisas que
buscam compreender como esse território imaginado foi construído
até os dias atuais. Bueno (2002) traça uma linha cronológica para
explicar como esses fatos podem, até hoje, influenciar nossa visão
sobre a Amazônia. Para a pesquisadora o principal fator é que a
história vem sendo contada e narrada a partir da visão exógena, ou
seja, daqueles que não vivem na região, com um olhar de fora para
dentro.
Essa concepção se iniciou antes mesmo da chegada dos
europeus na América, pois esses já traziam em seu imaginário,
histórias e mitos do que idealizavam encontrar, uma invenção que
posteriormente passou para relatos, imagens estereotipadas,
estigmatizadas e que influenciaram aqueles(as) que não conheciam a
região, passando-se a criar o imaginário existente (BUENO, 2002;
LOUREIRO, 2002; COELHO, 2012; MENDES, 2016; MANFREDO, 2017).
Atualmente, observa-se que esta concepção fantasiosa
ainda é influenciada por fatos ocorridos no século XVI, porém com os
meios de comunicação, mídia e acontecimentos políticos do século
XX mudanças de visão ocorreram, como também reforçam
estereótipos, de uma região frágil, que precisa ser preservada e salva
pela sociedade e onde a natureza se torna o foco (BUENO, 2002).
O imaginário que envolve a Amazônia deve ser entendido
como uma construção social feita por um olhar de fora, onde a mídia
trouxe a natureza como o foco principal e deixou de lado as questões
sociais, o olhar das populações que ali residem (BUENO, 2002),
colocando à margem discussões importantes a respeito da
complexidade do território, sendo considerada nos planos

51
governamentais no viés de um espaço homogêneo em seus quase
cinco milhões de km², como exemplificado por Loureiro (2002).
Este fato pode ser observado na pesquisa de Gomes Junior
(2018) em que as organizações internacionais estudadas tendem a
utilizar um discurso acerca da Amazônia resumindo-a a um santuário
verde, ignorando as populações tradicionais que ali residem, como
também as relações socioculturais, reforçando estereótipos.
Outro aspecto a ser considerado, discutido na pesquisa de
Coelho (2012) e constatado na pesquisa de Gomes Junior (2018), se
refere ao imaginário em relação aos povos que habitam a floresta.
Estes, a partir da construção social - também imaginária - dos povos
indígenas, são colocados como a imagem de representação da região,
o que igualmente reverbera na projeção de que apenas os povos
indígenas vivem naqueles estados, implicando numa concepção
equivocada que exclui inúmeros outros diferentes grupos de
habitantes que compõem hoje a população lá residente.
Como é relatado no estudo realizado pela Consultoria de
Pesquisa Alternativas Socioambientais (ALSO) (2020) os grupos
residentes da Amazônia Brasileira são caracterizados por diferentes
povos, como: indígenas, quilombolas, povos e comunidades
tradicionais, urbanos, entre outros.
Estes aspectos e visões se relacionam com o turismo,
influenciando tanto na forma como é vendida a imagem da região,
como no imaginário do(a) turista (COELHO, 2012). Bueno (2002) afirma
que expressões utilizadas no século XVI para designar o Novo Mundo
como “paraíso” e a vinculação da região aos povos indígenas que a
habitam, são usadas na venda de pacotes turísticos.
Este dado é encontrado na pesquisa de Pereira e
colaboradores(as) (2012), que indica que as imagens que vêm à mente
dos(as) futuros(as) turistas são relacionadas a um território natural,
rústico, ocupado por populações indígenas e caboclas.
O turismo é um setor que vem crescendo na região da
Amazônia Brasileira, com estimativas do Ministério do Turismo

52
Brasileiro (MTur) que apontam para o número de 14 milhões de
visitantes no ano de 2019.
Os números demonstram uma alta procura turística pela
região, sendo que uma das principais motivações pode estar
relacionada à imagem da Amazônia, como um lugar exótico e
paradisíaco, um espaço de fuga das cidades, no qual o(a) turista se
apropria, a partir de um viés capitalista, das tradições locais e
históricas por meio da comercialização de pacotes turísticos
(COELHO, 2012).
Esta informação trazida por Coelho (2012) pode estar
relacionada com o que foi observado por Lenci (2021), visto que as
motivações e expectativas para com a viagem de turismo de
voluntariado estavam relacionadas - para alguns(mas) turistas
voluntários(as) - a este possível imaginário sobre a Amazônia. No
entanto, é necessário investigar os discursos para, de fato, poder
afirmar que existe esta relação entre motivação e imaginário.
Entre os termos encontrados por Lenci (2021) nos discursos
dos(as) turistas voluntários(as), estão: “exploração do lugar”;
“proposta de interagir com uma comunidade”; “conhecer as pessoas
locais”; “entender o modo de vida da comunidade”; “conhecer essa
região do país em sua real maneira”; “ficar encantado(a) com a
natureza”; “estar próximo(a) da vida local”; “conhecer a vida das
pessoas da região amazônica”; “região Inexplorada”; “locais e nativos”.
Em razão do patrimônio sociocultural da Amazônia e de toda
a sociobiodiversidade, diversidade ecossistêmica e cultural da
região, emergem potências para a geração de renda, sendo
necessário repensar como estas vêm sendo realizadas, se a partir de
um viés exploratório, ou com formulação de políticas públicas que
tenham como foco os impactos positivos à realidade local (LOUREIRO,
2002).
O turismo é uma alternativa comumente trabalhada
considerando-se esse potencial da região e, com isso, diversos
projetos de ONGs propõem atividades de turismo, especialmente o de
Base Comunitária como possibilidade importante para geração de

53
renda, considerando questões culturais e ambientais como base das
alternativas para a sustentabilidade das comunidades.
Diversas Organizações da Sociedade Civil, como o Instituto
Socioambiental (ISA); Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ);
Instituto Mamirauá; Conservação Internacional (CI); World Wide Fund
for Nature (WWF); Instituto Peabiru; Instituto de Pesquisa e Formação
Indígena (Iepé); Associação de Silves pela Preservação Ambiental e
Cultural (ASPAC); Projeto Bagagem; Projeto Saúde e Alegria entre
outras, todas com parcerias diversas com comunidades,
universidades e outros projetos, coletivos e organizações locais,
espalhados pelos diversos estados amazônicos brasileiros,
propuseram modelos distintos de atuação, integrando inclusão
social, parcerias, protagonismo comunitário e inovação.
Estas experiências são emblemáticas e serviram como base
ao trabalho de empresas de turismo, assim como as experiências
pioneiras com os “hotéis de selva”22, que são conhecidos
internacionalmente e constam do imaginário das pessoas que viajam,
no caso da Amazônia Brasileira, especialmente por turistas
estrangeiros(as), com recursos financeiros necessários, já que as
visitas possuem alto custo (RABINOVICI, 2009, 2010 e 2011, SANSOLO,
2003, PERALTA, et al, 2016, PORTO, 2014).

Organização comunitária e a atuação de empresas


turísticas na Amazônia Brasileira

O imaginário amazônico, como dito por Coelho (2012), pode


ser provocado por meio da venda dos pacotes turísticos, a partir da
demonstração de uma Amazônia alinhada a um território
"paradisíaco", com a presença da tradicionalidade nas comunidades e
cultura local, o que motiva e gera uma procura por visitação.
Para Manfredo (2017), a entrada das empresas e agências
turísticas nas comunidades surge em decorrência da curiosidade de

22
O termo hotel de selva foi criado pela EMBRATUR em 1987 e, apesar de revogado, o
termo continua a ser utilizado para designar empreendimentos com classificação de
hospedagem ambiental e ecológica (TEIXEIRA, 2006).

54
turistas e viajantes em vivenciar este imaginário onde as demandas
se transformam em pacotes e destinos turísticos que atraem cada vez
mais turistas, em especial os de alto poder financeiro, que possuem
recursos para custear os altos valores envolvidos nessas viagens
muito por conta da complexa logística requerida.
A relação entre consumo e territórios aliadas a uma visão
exógena, evidenciam, para Manfredo (2017), como as próprias
agências corroboram para o reforço da construção imagética do
território amazônico por meio das vendas dos pacotes, e, além disso,
como também os próprios atores locais recriam esse imaginário
durante as vivências, a partir da adaptação do território aos desejos e
expectativas dos(as) turistas.
Na busca por outra forma de se fazer turismo, a partir da
demanda local, com ações e participações das populações buscando
resultados positivos e uma maior proximidade com as realidades
locais, se encontra o TBC, não como mais um segmento turístico, mas
como um modo de fazer turismo.
O turismo de voluntariado também busca, em suas ações,
gerar novas formas de atuação e reflexão para os(as) viajantes, a
partir do trabalho voluntário. Porém, ainda não existem pesquisas
específicas sobre as práticas de turismo de voluntariado na Amazônia
Brasileira. Desta forma, levando-se em conta a importância do
turismo comunitário no contexto dos territórios e comunidades
evidenciou-se resultados e experiências do TBC como forma de
ampliar o tema e servir como inspiração para as práticas de turismo
de voluntariado na região.
No Brasil as iniciativas de TBC vêm se destacando pela
valorização dos elementos culturais locais, preservando suas
características tradicionais e condições sociais, como também a
proteção dos recursos naturais dos ecossistemas, possibilitando o
mínimo de impacto na região e beneficiando os(as) envolvidos(as)
(IRVING, 2009; MENDONÇA; MORAES, 2012).
Tendo como ponto de partida a demanda direta da
comunidade para uma proposta de desenvolvimento local, o TBC

55
propõe a participação da população em todo o processo, desde o
planejamento, implementação e avaliação, para que se propicie um
sentido coletivo de valorização da cultura local pelo(as) próprios(as)
moradores(as) (IRVING, 2009; BARTHOLO et al, 2016; SILVA; MATTA;
SÁ, 2016).
Mesmo considerando que o TBC tem como principal base a
demanda endógena, com a comunidade participando dos diferentes
processos, como afirma Irving (2009), é necessário compreender que
cada localidade terá uma dinâmica diferente a depender da sua
realidade, por muitas vezes sendo necessária a parceria com
organizações, podendo elas serem públicas, privadas, ou do terceiro
setor, de acordo com a especificidade de cada território e de seu
propósito:
É também fundamental que se compreenda que os
processos participativos são lentos, envolvem custos
adicionais nem sempre considerados nos orçamentos
em planejamento turístico, e exigem um elevado
investimento em formação de recursos humanos e
construção de arcabouços metodológicos capazes de
lidar com as especificidades locais e gerar respostas.
Sendo assim, não se pode imaginar iniciativas de curto
prazo com o objetivo de mobilização dos atores locais
para o turismo de base comunitária, principalmente
pelas questões culturais envolvidas, tanto no plano
institucional da gestão pública quanto sob a ótica da
dinâmica social do lugar turístico (IRVING, 2009, p. 114).

Para que se alcance a participação e o envolvimento


comunitário é necessário amplo planejamento e dedicação da
comunidade local, pois trata-se de um projeto de longo prazo que
necessita de organização comunitária e governança interna, isto é,
regras próprias de gestão e monitoramento que auxiliarão nas
tomadas de decisão, visando uma geração de renda que seja
sustentável para todos(as) os(as) envolvidos(as).
Assim, segundo Fabrino e colaboradores(as) (2016), as
propostas de TBC tendem a surgir em comunidades que já estão, de
alguma maneira, inseridas em contextos de mobilizações
comunitárias e territoriais como, por exemplo, mobilizações para

56
conservação dos recursos naturais locais e de luta pela terra. É
necessário, assim, atentar às formas como são planejadas e
construídas as parcerias e como estas se relacionam com as
organizações comunitárias já existentes nos territórios e suas
demandas locais.
Na pesquisa de Barreto e Tavares (2016), a comunidade de
Anã em Santarém - PA, iniciou suas ações de TBC na busca de uma
maior organização local do turismo em razão do alto impacto negativo
do turismo exógeno na região. O que os(as) autores(as) constataram
foi que o TBC naquele território, de fato partia de uma necessidade
endógena, mas a organização, discussões e planejamento das ações
estavam sendo coordenados, em maior parte, pela ONG escolhida
como parceira, a qual aportava uma visão “de fora” e que, por este
motivo, seria questionável ser considerada uma iniciativa de TBC.
A questão em tela é importante e precisa ser discutida.
Experiências diversas de TBC espalhadas pelo Brasil mostram
inúmeras possibilidades de organização, considerando o contexto
histórico local, o momento e as diferentes interações possíveis,
indicando que, nem sempre, é possível categorizar o TBC segundo
uma definição pura e totalmente em consonância com as premissas
existentes, principalmente trazidas pela academia. Há comunidades
empoderadas e organizadas que, no entanto, preferem deixar a cargo
de terceiros (ONGs, universidades e agências entre outros)
determinadas atividades, sendo fundamental que as decisões sobre o
que fazer sejam debatidas e decididas pelos(as) comunitários(as).
Barros-Freire e colaboradores(as) (2019) e Peralta e
colaboradores(as) (2016) evidenciam a necessidade de se
compreender, inicialmente, as condições e os contextos sociais dos
territórios para que, posteriormente, se consiga realizar uma análise
do processo participativo da comunidade no desenvolvimento das
atividades turísticas, e com isso compreender as principais
dificuldades e necessidades dos atores sociais envolvidos. Barros-
Freire, Rabinovici e Neiman (2019, p. 14), destacam que é necessário
um cuidado para que os “processos decisórios não sejam impositivos
no tocante às formas e lógicas distintas da racionalidade local” e que

57
“se realize uma construção crítica juntamente com as comunidades
locais, de novas metodologias para utilizar as ferramentas gerenciais
e estratégicas” adequadas para a implantação do turismo.
Desta maneira, deve-se ter em mente que os atores externos,
também podem atuar como mediadores, como parte do processo, e
as comunidades não devem ficar dependentes deles, considerando
que processos de rede locais e coletivas podem se tornar uma
alternativa ao TBC, como afirmam Moraes e colaboradoras (2018) no
estudo sobre redes na América Latina. Segundo resultados
encontrados, as redes podem ter diferentes objetivos, desde o
compartilhamento de informações e práticas, como também a
mobilização e articulação social, sendo que seu modo de organização
irá depender dos interesses dos grupos de TBC e dos atores sociais
envolvidos.

Mediadores
Consideramos aqui mediadores(as) os atores sociais externos às
comunidades locais, podendo ser organizações ou instituições, tais
como agências e operadoras de turismo, ONGs, Universidades e
Instituições de Pesquisa, que atuam para introduzir ou desenvolver
determinadas atividades, intermediando o contato entre as
comunidades locais e os(as) possíveis interessados(as), no caso,
turistas voluntários(as).
É diferente do conceito do profissional mediador(a) de conflitos, o qual
realiza a mediação entre partes distintas a fim de facilitar a
compreensão mútua, o entendimento para que seja possível chegar a
acordo ou conciliação. Em ambos os casos, no entanto, consideram-
se desejáveis a imparcialidade e o profissionalismo por parte dos(as)
membros destas organizações. Esta neutralidade é sempre passível de
questionamentos em se tratando de instituições com ou sem fins
lucrativos, as quais possuem suas próprias agendas, missões e
interesses que podem, ou não, convergir com o das comunidades
quanto às finalidades, métodos de atuação e prioridades. Para que
sejam processos convergentes ou que possam ser ajustados para
convergirem, há que se atuar com processos dialógicos e
participativos, o que nem sempre ocorre de maneira satisfatória.

58
Outro aspecto acerca das Redes de TBC é que, como Urano e
colaboradores (2016) mostram, a população local fica à frente das
decisões, definindo as ações para o desenvolvimento das atividades,
enquanto as organizações externas, empresas, agências, poder
público e turistas são parte do apoio e parceria.
Dentre os exemplos existentes de TBC na Amazônia, a partir
de projetos em redes, Peralta (2012) cita o ecoturismo de base
comunitária na Pousada Aldeia dos Lagos - AM, que, na época do
projeto, gerou resultados positivos na conservação dos recursos
naturais, pois além da renda para as comunidades locais, parte do
faturamento teve como destino custear a proteção dos lagos da
região, local de subsistência para os(as) comunitários(as) e de
importância ambiental para os ecossistemas.
Importante salientar que algumas agências e operadoras de
turismo, também, atuam como parceiras dos projetos de ONGs na
localidade que, embora não sejam caracterizados como turismo de
voluntariado, possuem missões parecidas, com foco na geração de
renda local, no fortalecimento da autonomia e governança
comunitária e valorização cultural. Além disso é reconhecido o fato de
que a presença de turistas pode inibir violência e atividades
depredadoras do ambiente local, tais como garimpo e desmatamento,
na medida em que a circulação de pessoas de diversas origens nos
territórios gera ocupação dos espaços, movimenta, divulga e
publiciza os locais.
Nesse aspecto, ao se buscar organizações atuantes a partir
das premissas de um turismo comunitário na Amazônia Brasileira,
como também instituições, ONGs e empresas que estejam, de alguma
forma, conectadas a projetos ligados a esta temática, é possível
encontrar diversas que já incidem no território. Entre organizações da
sociedade civil, ONGs, Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIPs), fundações e institutos podemos mencionar aqui
algumas delas, reconhecendo que existem outras não apontadas: o
Projeto Bagagem23, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS)24; a

23
https://projetobagagem.org/site/pt/sobre/ Acesso em outubro/2020
24
https://fas-amazonia.org/sobre/ Acesso em outubro/2020

59
Garupa25 e o Instituto Mamirauá26 cada qual com um formato
diferente, às vezes unidas em parcerias e alianças.
Entre as agências e operadoras que atuam na Amazônia
Brasileira e podem ser mencionadas estão: Estação Gabiraba27,
Katerre28, Untamed Amazon29, Terra Nativa30, Roraima Adventures31
entre outras.
Como exemplos de projetos em rede pode-se citar o Serras
Guerreiras de Tapuruquara32, O Roteiro de Turismo Comunitário no
Baixo Rio Negro (TUCORIN)33 e o Projeto Yaripo34, que são iniciativas
de turismo comunitário realizadas em território indígena e de
comunidades ribeirinhas, desenvolvidas por organizações da
sociedade civil em conjunto com as comunidades locais e que têm
como parceiras agências de turismo que comercializam a expedição,
ajudando a divulgar o projeto.
Porém, mais do que quantificar, é necessário buscar
entender as motivações por trás das organizações, para que não
ocorra, como colocado por Rabinovici (2010) no exemplo das atuações
de ONGs em comunidades, uma relação de dependência da
comunidade em relação às ONGs parceiras e nem a dependência da
sobrevivência por meio do turismo, ambas causadas, sobretudo, por
planejamento não participativo, pautados em demandas externas e
formas de fazer que não se sustentam no tempo e no espaço.
Na busca de se conhecer as organizações e empresas
atuantes com turismo de voluntariado na Amazônia, como também
compreender suas práticas, indicadores e impactos, notou-se uma

25
http://garupa.org.br/ Acesso em outubro/2020
26
https://www.mamiraua.org.br/ Acesso em outubro/2020
27
https://estacaogabiraba.com.br/ Acesso em outubro/2020
28
http://www.katerre.com/portal/index.php Acesso em outubro/2020
29
https://u-amazon.com/index-pt.html Acesso em outubro/2020
30
https://www.terranativa.com.br/ Acesso em outubro/2020
31
https://roraimaadventures.com.br/ Acesso em outubro/2020
32
https://www.serrasdetapuruquara.org/ Acesso em outubro/2020
33
https://www.facebook.com/tucorin/ Acesso em outubro/2020
34
https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/anfitrioes-yanomami-
comecam-receber-turistas-no-yaripo-o-pico-da-neblina Acesso em maio/2022

60
dificuldade em encontrar discussões sobre o tema a partir da
realidade dos territórios da Amazônia Brasileira.
Dessa forma, foi necessário definir o que se entende por
turismo de voluntariado, seus desafios e contradições para,
posteriormente, realizar um mapeamento das organizações atuantes
com turismo de voluntariado na região, conforme detalhado nos
próximos capítulos.

61
CAPÍTULO 3

Conexões, dilemas e desafios do turismo


de voluntariado

62
Conceitos e objetivos

Da união do voluntariado e do turismo surge o turismo de


voluntariado, também denominado de “volunturismo”, tendo como
definição a relação de viagem com motivação turística, porém focada
em causas sociais e em um novo tipo de experiência (NASCIMENTO,
2012; MAKANSE; ALMEIDA, 2014).
Em alguns países já se fala em indústria do turismo
voluntário, relacionando-a com ideais neoliberais capitalistas, que se
baseiam na crescente mobilidade de pessoas entre os países na
contemporaneidade, na globalização, na valorização de políticas de
responsabilidade social nas empresas, incluindo habilidades e
experiências vivenciais como vantagens na contratação de
profissionais (WEARING, 2001, MÜLLER; SCHEFFER, 2019). Desta
forma o(a) turista voluntário(a) tanto pode ser alguém motivado(a) a
satisfazer suas próprias demandas profissionais e de capacitação,
possuir desejos de colaboração, de se sentir útil e de buscar sentidos
em sua vida, afastando-se temporariamente do seu cotidiano, além
de poder se exibir como pessoa identificada com bons valores para
diversas finalidades como, por exemplo, gerar imagens publicizadas
nas redes sociais. Afora essas motivações, há os(as) que buscam
colaborar, de fato, com comunidades, localidades e o meio ambiente,
buscando atenuar sensações de culpa e retribuindo com o que
possuem em termos de conhecimento ou de habilidades, a favor de
outrem, dentro da lógica da ética e da responsabilidade social.
Para Benali (2017), o turismo de voluntariado representa o
capitalismo com uma face humana, um mercado oriundo de uma
necessidade e de uma pressão para que as pessoas se mostrem
excepcionais e superiores em uma lógica individualista dentro do
referido sistema. Volunturistas são transformados(as) em heróis nas
suas jornadas de férias, empoderados por uma lógica colonialista que
estimula o apoio humanitário a países em desenvolvimento em cujos
territórios habitam pessoas em situação de pobreza a serem
ajudadas, animais a serem salvos ou o meio ambiente a ser
preservado. A ajuda, muitas vezes é proveniente de pessoas jovens,
nem sempre qualificadas para tanto, que, ao se proporem a passar
63
algumas horas ou semanas de seu descanso, diante deste mercado de
turismo de voluntariado, passam a se apresentar e a serem
consideradas como heróis/heroínas.
O turismo de voluntariado traz diversos benefícios, segundo
alguns(mas) autores(as), tanto para quem está realizando a ação,
como também para as comunidades locais que recebem as
contribuições dos(as) visitantes e para o ecossistema e meio
envolvidos (COGHLAN, 2005; BRIGHTSMITHA, STRONZAB; HOLLEC,
2008; CAMPANIÇO, 2010; BENSON; HENDERSON, 2011; LUPOLI, 2013;
MAKANSE; ALMEIDA, 2014).
Em relação ao turismo de voluntariado e as comunidades
locais esses ganhos podem ser considerados como: a) benefícios
econômicos, consistentes em novas alternativas de renda, de
trabalho, de distribuição da renda e de abertura, caso desejável, para
novos mercados; b) benefícios relacionados à capacitação e
desenvolvimento da comunidade, melhoria da qualidade e dos
processos de participação social e de decisão e organização coletiva
interna da comunidade para fazer frente às parcerias com agentes
externos; c) possibilidades de aprendizado para a mitigação de
impactos ambientais e culturais considerados negativos e d)
aprendizados ou técnicas de planejamento e relacionamento com
agentes externos do mercado para construção de parcerias futuras
(COGHLAN, 2005; BRIGHTSMITHA, STRONZAB; HOLLEC, 2008;
BENSON; HENDERSON, 2011; LUPOLI, 2013).
Em relação aos(as) turistas voluntários(as) os benefícios são
relacionados às relações interculturais (respeito pelas diferentes
culturas, laços de amizade e reflexões), ao crescimento pessoal e
profissional e, momentos de autoconhecimento e de transformação
(CAMPANIÇO, 2010; LUPOLI, 2013).
Segundo Müller e Scheffer (2019) o voluntariado está
relacionado diretamente ao trabalho. Assim, mesmo sendo a ação
voluntária exercida no tempo de férias, esse trabalho pode ser
utilizado para o seu crescimento profissional, agregando valor por
meio das experiências à pessoa do voluntário(a), incluindo-se aí a
prática de outros idiomas e a aquisição de novas habilidades.

64
Segundo as autoras, nas entrevistas que realizaram com turistas, o
verbo “agregar” apareceu nas falas como motivação para a escolha da
viagem, como parte de exigências do mundo do trabalho, estando aí
contida a
Ideia do sujeito empreendedor de si, preocupado em
traçar estratégias que o tornem valoroso ao mercado. O
turismo voluntário é visto, portanto, como uma
oportunidade de construção de empregabilidade e
adentra aspectos identitários dos indivíduos, os quais
buscam experiências de vida significativas de forma a
“agregar”, também, profissionalmente (MÜLLER;
SCHEFFER, 2019, p. 15).

Lupoli (2013) mostra que o turismo de voluntariado, apesar de


gerar benefícios, não pode ser considerado como única solução para
os problemas locais. Essa dicotomia entre benefícios e malefícios é
sempre questionável. O autor afirma, ainda, que as vantagens vão
depender de cada abordagem, caso a caso.
Nascimento (2012) ressalta em seu estudo que, apesar do
potencial positivo do turismo de voluntariado, existem práticas que
geram efeito contrário ao proposto, por uma falta de foco na gestão
ou por má conduta, mormente quando são priorizados somente os(as)
turistas e deixados de lado os interesses das comunidades locais.
Existem poucos dados e estudos realizados no Brasil, como
confirmado por Makanse e Almeida (2014), que explicitam a
necessidade de um maior aprofundamento na realidade brasileira.
Como mostra o International Labour Organization (ILO) (2019), apesar
das contribuições positivas às questões sociais e ambientais, há
pouco esforço e estudos sobre o turismo de voluntariado na
mensuração desses dados.
A afirmação de que não existem artigos sobre o assunto nas
revistas científicas brasileiras pesquisadas é confirmada por
Nascimento (2012), o que fez buscar mais sobre o tema nos periódicos
científicos internacionais.
A questão sobre os impactos produzidos pela atividade do
turismo de voluntariado, com base em indicadores, é sempre

65
delicada. Ela deve ser pensada levando-se em conta o quanto há de
subjetivo, cultural e o que pode ser relativizado, a depender das
perspectivas, para se considerar impactos e transformações como
benéficos, ou não, e sob o ponto de vista de quem. Afinal, o mesmo
impacto, o mesmo indicador, a depender de quem analisa, e até do
momento em que se analisa, pode ser considerado bom ou ruim. Por
isso a lógica dual não é a que melhor se aplica para se medir como o
turismo de voluntariado afeta as comunidades, mas a avaliação
constante e o monitoramento são fundamentais e, vale dizer, muito
pouco utilizados por empresas e ONGs que atuam com turismo
(RABINOVICI, 2009).
Estudos sobre impactos do turismo são sempre necessários,
pois, conforme pesquisa de Lenci (2021), dentre as cinco
organizações atuantes com turismo de voluntariado identificadas na
Amazônia Brasileira pesquisadas, apenas uma mostrou ter um
processo ordenado para a análise do impacto de suas ações. Todas,
porém, demonstraram saber da importância de se monitorar e
analisar os impactos, principalmente no aspecto dos efeitos
negativos.

Diferenças entre turismo de voluntariado e voluntariado

O turismo de voluntariado ou volunturismo, pode ser


confundido com as ações de voluntariado, podendo causar incertezas
por parte dos que procuram alguma dessas atividades, sendo este um
desafio para as organizações ao comunicarem o que realmente
fazem.
Segundo pesquisa realizada por Mendes e Sonaglio (2013),
existem diferenças importantes que devem ser consideradas entre as
duas atividades. As diferenças se dão nos aspectos de motivação,
localização, temporalidade e fator financeiro. A primeira questão a se
entender, colocada pelas autoras, é que o turismo de voluntariado é
um nicho de mercado do turismo que une o voluntariado a viagens.
Não se pode confundi-los, entretanto, posto que meras ações de
voluntariado e volunturismo, cada qual, possuem suas
especificidades.

66
Em relação ao aspecto motivacional, tanto o voluntariado
como o turismo de voluntariado têm no desenvolvimento pessoal sua
motivação, mas as ações voluntárias estão mais relacionadas à ética
da solidariedade e as de turismo, em motivações altruístas. Já no
aspecto de localização e temporalidade, o turismo de voluntariado
ocorre em uma comunidade externa sendo realizado principalmente
durante viagens de férias, enquanto o voluntariado pode ocorrer a
qualquer momento e local, não sendo necessário viajar para praticá-
lo (MENDES; SONAGLIO, 2013).
Com relação à terminologia, vale destacar que são utilizados
os termos “voluntourism” e “volunteer tourism”, os quais são
encontrados na maioria das pesquisas como sinônimos, mudando
basicamente a forma de escrita ou fala, tendo, no entanto, a mesma
definição, porém, segundo Marques (2017), há diferença entre os
termos.
Em sua pesquisa, Marques (2017) encontrou a definição de
“volunteer tourism” (tradução livre “turismo voluntário”), como um
nicho amplo e diverso de atividades de turismo e voluntariado,
enquanto que “voluntourism” (tradução livre “volunturismo”), seria
uma das variações desse nicho, tida como a atividade oferecida por
agências de viagens turísticas, apresentando diferença quanto ao
aspecto motivacional quando comparado aos outros por ter uma
parcela menor de tempo dedicada ao voluntariado.
Wearing (2001) é um dos autores mais citados em artigos
sobre o tema, e utiliza o termo “volunteer tourism” em suas pesquisas.
No seu livro “Volunteer tourism: Experiences that make a difference”
(tradução livre: Turismo voluntário: Experiências que fazem a
diferença”), ele define a atividade como aquela em que os(as) turistas,
por motivos diversos, se voluntariam de forma organizada para
realizar férias com o objetivo de ajudar ou aliviar a pobreza material de
alguns grupos sociais, fazer restauração de certos ambientes, ou
atuar para fins de pesquisa nas áreas de sociedade ou meio ambiente,
definição muito parecida com a de voluntariado.
Wearing e McGehee (2013) utilizam como sinônimos os
termos “volunteer tourism” e “voluntourism” para o levantamento de

67
dados, afirmando que atualmente já se expandiu a conceituação, e
citam a definição para volunturismo encontrada no site
“Voluntourism.org”: “combinação integrada do voluntariado e viagem
para um destino por meio do turismo contribuindo financeiramente
para o local”.
Dantas e Bárcia (2017) trazem um olhar diferenciado sobre o
tema. Para esses autores o turismo voluntário, ou volunturismo, é
como uma ramificação do turismo de intercâmbio, especificando em
seu trabalho de análise sobre a situação das agências de intercâmbio
do Brasil que, das 418 agências encontradas, 357 delas oferecem
como produto programas de turismo voluntário.
Outra definição é a encontrada no guia do(a) viajante da
Lonely Planet35, intitulado “Volunteer: a Traveller’s Guide to Making a
Difference Around the World” (2010). Nela o turismo de
voluntariado/volunturismo se encaixa no grupo Programas de
Voluntariado Organizado no tipo “Férias Voluntárias” em que
organizações que trabalham com a temática ficam responsáveis por
planejar todo o roteiro e os custos das expedições, diferentemente do
que é observado em outras atividades. Segundo o Guia, outra
característica deste tipo de atividade é que as ações são realizadas
em um tempo mais curto, o que pode gerar um comprometimento
menor por parte dos(as) voluntários(as) quando comparado com
outros programas de voluntariado internacional reconhecidos por sua
qualidade e compromisso.
Dentro desse aspecto, diversos(as) autores(as) e projetos
encontrados nomeiam cada qual de uma maneira. Como exemplo, a
pesquisadora Kate Simpson criou o “The ethical volunteering guide” o
qual, posteriormente, se desdobrou em um site36 que traz explicações
e informações sobre como realizar um voluntariado internacional de
forma mais ética, tanto para anfitriões como para viajantes.
No guia criado por Kate Simpson, utiliza-se muito o termo
“volunteering”, referenciando-se às atividades de voluntariado mas,

35
A Lonely Planet é uma editora de guia de viagens. Disponível em:
https://www.lonelyplanet.com/ Acesso em outubro/2020
36
http://www.ethicalvolunteering.org/about.html Acesso em outubro/2020

68
ao mesmo tempo, são citados aspectos de viagem e objetivos muito
parecidos ao turismo de voluntariado, a exemplo do trecho: “O
voluntariado internacional pode ser uma maneira maravilhosa de
explorar outro país, conhecer novas pessoas, aprender coisas novas
e ter novas aventuras” (ETHICAL VOLUNTEERING, p.1).
Entre as empresas, a terminologia também varia, como
exemplo na empresa social People and Places37, organização inglesa
que atua na área de recrutamento de voluntários(as) para projetos de
localidades diferentes no mundo. Suas ações são definidas como
“responsible volunteering”, visto que são baseadas em melhores
práticas e buscando uma forma mais ética de voluntariado. Destaca-
se que, em nenhum momento, no site, o termo turismo de
voluntariado/volunturismo é mencionado, apesar de também
realizarem ações muito parecidas com as encontradas nas definições
desta natureza.
O que se observa no site da People and Places é que no campo
de “feedbacks”, diversos comentários de voluntários(as)38 utilizam o
termo “voluntourism” descrevendo as atividades realizadas, como
também foi encontrado o termo em um comentário39 utilizado por um
anfitrião.
Tomazos e Butler (2009), diagnosticaram o número de
projetos de “volunteer tourism” comparando com dados de pesquisas
anteriores. Para o Brasil, os números demonstraram que, em 2007,
foram encontrados 96 projetos, comparado com 15 projetos em 2003,
demonstrando aumento expressivo das atividades no período.
A pesquisa de Tomazos e Butler (2009) traz dados
importantes sobre o aumento das ações e principalmente sobre quais
países vêm recebendo maior número de programas e projetos de
voluntariado de pessoas que provêm de outros países. Dessa forma, é

37
https://travel-peopleandplaces.co.uk/about/how-we-started Acesso em
outubro/2020
38
https://travel-peopleandplaces.co.uk/FeedbackView.aspx?id=144 Acesso em
outubro/2020
39
https://travel-peopleandplaces.co.uk/FeedbackView.aspx?id=105 Acesso em
outubro/2020

69
necessário distinguir o que é considerado volunturismo/turismo de
voluntariado quanto ao aspecto das organizações que atuam no setor
pois, como os próprios autores citam, muitas das organizações não
têm informações claras, o que pode confundir quem pretende realizar
a atividade.
É um desafio definir o que é considerada uma organização
que atua com turismo de voluntariado, ou não, sendo esse aspecto
mais bem discutido ao final deste livro.

Potencialidades e desafios

O turismo de voluntariado pode ser realizado em diversos


campos de atuação, como mostram Makanse e Almeida (2014),
abrangendo desde atividades de conservação da fauna e flora,
projetos de vivência cultural e social com atendimento a demandas de
diversos grupos etários, dentre outros. Todos, porém com o objetivo
de integrar a prática humanitária por meio de vivências em uma nova
região e interagindo com culturas distintas.
O que se observa é que o turismo de voluntariado vem
ocorrendo há muito tempo, mas começou a ser evidenciado após
algumas notícias de jornais, como em 2018, em reportagem do jornal
inglês The Guardian intitulada “The business of voluntourism: do
western do-gooders actually do harm?”40 (em tradução livre: “O
negócio do turismo voluntário: os benfeitores ocidentais realmente
fazem mal?”) na qual eram discutidos casos de projetos de turismo de
voluntariado em vários países, com exemplos de ações, que, apesar
de se pautarem em práticas humanitárias sobretudo relacionadas a
crianças órfãs e abandonadas, movimentam um mercado de caridade
perverso voltado para países em desenvolvimento.
Naquele mesmo ano, o jornal El País publica o artigo
“Volunturismo: o risco do turismo de voluntariado que movimenta

40
ROSENBERG, T. The business of voluntourism: do western do-gooders actually do
harm? The Guardian, 13 de set. 2018. Disponível em <https://
www.theguardian.com/news/2018/sep/13/the-business-of-voluntourism-do-
western-do-gooders-actually-do-harm> Acesso em março/2021.

70
milhões”41 onde, de forma bastante crítica, abordava o tema do
turismo de voluntariado como mais uma falácia. Na sequência, o
artigo publicado em 2019, na BBC Brasil, intitulado “O que é turismo de
orfanato e porque a autora de Harry Potter pede seu fim”42, tem como
base uma discussão sobre a opinião e visão da autora de livros J. K.
Rowling a respeito dos impactos negativos do turismo de voluntariado
em países do continente africano citando exemplos de organizações
que estão na busca de acabar com o “turismo de orfanatos”43.
Estas reportagens trazem um olhar crítico para o tema de
turismo de voluntariado em orfanatos ao questionar as ações, visto
que, como coloca a autora do texto do The Guardian, as intenções por
trás das ações dos(as) voluntários(as) podem ser nobres, porém as
atividades estão pautadas em um sistema econômico que privilegia
financeiramente as empresas e, apesar de trazer recompensas
emocionais e vivências potencialmente transformadoras para os(as)
turistas voluntários(as), muito pouco resultado geram para as
comunidades locais.
Tomazos e Murdy (2020) publicam um artigo no portal
acadêmico The Conversation com o texto intitulado “Covid-19's effect
on volunteer tourism business: what can be done”44, (em tradução
livre: O efeito da Covid-19 no negócio de turismo voluntário: eis o que
precisa ser feito”) no qual fazem uma pesquisa e reflexão sobre como
a pandemia do Covid-19 impactou o setor de turismo de voluntariado.

41
CAPARRÓS, M. Volunturismo: o risco do turismo de voluntariado que movimenta
milhões. El País, Brasil, 20 de dez. 2018. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/11/eps/1544541087_701313.html> Acesso em
março/2021
42
COUGHLAN, S. O que é turismo de orfanato e porque a autora de Harry Potter pede
seu fim. BBC news, 28 de outubro de 2019. Disponível em
<https://www.uol.com.br/nossa/viagem/noticias/bbc/2019/10/28/o-que-e-o-
turismo-de-orfanato-e-porque-a-autora-de-harry-potter-pede-seu-fim.htm> Acesso
outubro/2021.
43
O termo turismo de orfanato é utilizado na notícia do jornal BBC Brasil se referindo às
ações do turismo de voluntariado em orfanatos.
44
TOMAZOS, K.; MURDY, S. COVID-19's effect on volunteer tourism business: what can
be done. The Conversation, 6 de ago. 2020. Disponível em
<https://theconversation.com/covid-19-has-devastated-the-popular-but-flawed-
volunteer-tourism-business-heres-what-needs-to-be-done-141912> Acesso em
outubro/2020.

71
Segundo os(as) autores(as), a procura dos(as) voluntários(as) diminuiu
em cerca de 78% por conta da pandemia e com isso impactou muitos
dos projetos sociais, porém, a crise também mostrou a necessidade
de a indústria do turismo voluntário repensar os antigos modelos,
com projetos mais sérios e significativos, voluntários(as) melhor
capacitados(as) para gerar uma mudança real no setor e nos
benefícios aos(às) que dependem do trabalho dos(as) que querem
ajudar.
Não somente notícias de jornais vêm sinalizando estes
possíveis olhares controversos sobre a natureza da atividade do
turismo de voluntariado. Pesquisadores, como exemplo, Wearing e
McGehee (2013) realizaram estudo que reúne os principais tópicos que
estão em discussão na temática do volunteer tourism. No quesito
“turismo de voluntariado e comunidade anfitriã”, os pesquisadores
levantaram alguns impactos negativos para as comunidades que
recebem auxílio dos(as) voluntários(as) como, por exemplo:
comunitários(as) se tornarem dependentes das organizações; atritos
entre pessoas da localidade e turistas voluntários(as); a lógica do
turismo de voluntariado mercantilizado podendo gerar uma
perspectiva de “poder” dos(as) visitantes sobre os(as) visitados(as).
Ainda sob esse prisma, se as organizações que atuam com o
turismo de voluntariado tiverem práticas baseadas em modelos
tradicionais de turismo, com foco no lucro e na mercantilização, os
resultados observados darão ênfase cada vez menor às comunidades,
e provocarão uma maximização dos impactos negativos locais
(WEARING; MCGEHEE, 2013).
Freidus (2016), ao realizar um estudo com turistas
voluntários(as) a partir das experiências em orfanatos no Malawi, país
do continente africano, observou a falta de preparo destes(as) para
lidar com as ações, como também apontou para os olhares
equivocados sobre a realidade local, observações estas que se
alinham com a lógica dos impactos negativos que podem ser gerados
quando o foco não está voltado para a comunidade, mas sim, apenas
para a experiência dos(as) turistas voluntários(as).

72
Apesar destes artigos e notícias trazerem mormente
exemplos do turismo de voluntariado em âmbito internacional e,
dirigidos a ações em orfanatos, essas críticas são importantes para
gerar reflexões sobre outras ações, em outros locais e temas
diferentes, para se repensar e buscar possíveis alternativas a um
modelo mais efetivo e ético dessa modalidade de turismo.
O tema ainda requer muito debate e estudo e já se
apresentaram várias discussões sobre o assunto. A pesquisa de
Wearing e McGehee (2013) levanta pontos de desafios para o setor
como, por exemplo, os fundamentos teóricos das atividades; as
motivações de turistas voluntários(as); discussões sobre o papel das
organizações e suas reais intenções. Além disso, aponta para
discussões sobre as possíveis potencialidades, como o de se ter a
comunidade no centro das atividades e sobre o papel que o(a) turista
voluntário(a) deve exercer.
Na pesquisa realizada pela The International Ecotourism
Society (TIES)45 (2011) e que culminou com a publicação do relatório
denominado “Voluntourism Guidelines Survey Summary Report”, foi
constatado que o turismo de voluntariado se apresenta como uma
tendência, trazendo consigo desafios, em complemento aos já
mencionados pelos(as) autores(as) acima, que são: preocupações
com o desenvolvimento dos projetos; impactos nas comunidades
anfitriãs; habilidades e experiências dos(as) viajantes.
A referida pesquisa foi feita aplicando-se um questionário
que foi respondido por diversos atores que possuem atuação no setor
do turismo de voluntariado, divididos em categorias que podem ser
especificadas como acadêmicos; operadoras de turismo; ONGs ou
projetos locais; ONGs internacionais; praticantes de negócios locais;
praticantes de negócios internacionais; provedores de turismo de
voluntariado (com base no país de saída de turistas); organizações
parceiras de turismo de voluntariado local (com base no país de
destino de turistas voluntários(as).

45
Organização sem fins lucrativos dedicada à promoção do ecoturismo, por meio de
serviços de afiliação, extensão da indústria e programas educacionais, disponível em:
https://ecotourism.org/ties-overview/ Acesso em outubro/2020

73
O que se percebe é que nesse levantamento inicial da TIES
(2011) com pessoas que trabalham em organizações do setor de
turismo de voluntariado46, a atuação está mais concentrada em
negócios locais (373 pessoas) e operadores turísticos (300 pessoas).
Apesar disso, o estudo mostra que existe uma diversidade grande de
tipos de organizações no setor, o que pode ser uma potencialidade.
Esse fator pode vir a ser um desafio do turismo de
voluntariado, pois ainda existem muitas discussões acerca das
definições e objetivos do setor. Ou seja, quanto maior o número de
organizações atuantes, maiores são as dificuldades de
sistematização de dados e de pesquisa sobre o tema como, por
exemplo: identificar o papel da organização; as ações que serão
realizadas; o papel do(a) turista voluntário(a) e os impactos do setor,
pois como vimos, em Irving (2009), qualquer ação turística gera uma
interferência no lugar visitado, que deve ser analisada no
planejamento das ações.
Para Estima e colaboradoras (2013), cada qual tem suas
responsabilidades no âmbito da sustentabilidade nas ações
turísticas. Segundo as autoras, os(as) turistas têm que realizar uma
autorreflexão sobre seu papel no local visitado, desde o momento de
interação com as comunidades anfitriãs como, também, em relação à
interações com o meio ambiente para a minimização dos impactos
que possam vir a ocorrer.
Há, ainda, os outros atores sociais participantes - as
comunidades locais, que têm um papel primordial nos momentos de
tomada de decisões sobre como as ações serão realizadas, bem como
na análise dos impactos a serem gerados, e com relação às mudanças
envolvidas nesse processo (ESTIMA et al, 2013).
Sansolo (2003) afirma que para que ocorram ações
sustentáveis no turismo é necessário que os atores sociais
envolvidos saibam quais são os seus objetivos para com o tema e, a
partir disso, criem conexões e parcerias. Assim, a sustentabilidade

46
Pela dificuldade de respondentes a pesquisa não teve dados da amostra total, apenas
de 7% (76 respondentes). Disponível em: https://issuu.com/ecotravel/docs/
voluntourism_guidelines_survey_summary_report/23 Acesso em outubro/2020

74
nas ações é de responsabilidade de todos(as), cada qual com sua
parcela de contribuição, para que os(as) turistas possam se beneficiar
da experiência da viagem, ao mesmo tempo em que os benefícios
ambientais e sociais nas comunidades, tenham a mesma importância
e revertam em benefício de todos(as).
É necessário que as organizações e empresas de turismo
tenham essa preocupação e, portanto, realizem práticas de
monitoramento e de avaliação das atividades visando a minimização
dos impactos considerados negativos e potencializando os aspectos
positivos (IRVING et al, 2005; ESTIMA et al, 2013).
Em relação ao(à) turista, Irving (2005) complementa
afirmando que quando o turismo se utiliza da valorização da
participação social e política, passa-se a ter um(a) turista que
seleciona o local pelas características do potencial impacto positivo
às comunidades, tornando-se parte da transformação, e não somente
um(a) consumidor(a) do produto. Dessa maneira, cria-se um perfil de
turismo que se baseia na responsabilidade ambiental e social, com o
qual as organizações vão lidar com a competitividade, porém, ao
mesmo tempo, precisarão focar na qualidade ambiental e social dos
territórios, das comunidades e das experiências.
Lupoli (2013) contribui com a discussão, ao explicitar sobre
outro importante fator a ser analisado, relacionado ao foco dos
benefícios. Trata-se de perceber, em cada ação, suas prioridades
para que a experiência do turismo de voluntariado possa atingir seu
potencial total:
Por exemplo, quando os viajantes voluntários obtêm
benefícios pessoais, mas os vínculos não são formados
com os locais de destino e os benefícios locais são
mínimos, os voluntários podem ver a pobreza de maneira
superficial, não entender suas raízes e se perceberem
como salvadores em uma posição colonialista. Por outro
lado, quando a ênfase excessiva é colocada na geração
de benefícios locais mensuráveis, o poder transformador
da experiência intercultural pode ser negligenciado e a
experiência pode não promover uma maior compreensão
das questões globais para os participantes. (LUPOLI,
2013, p. 190. Traduzido por Flávia Silveira Lenci).

75
Uma das mais relevantes linhas de pesquisa em turismo de
voluntariado relacionada com os diferentes impactos das ações, é a
de estudos sobre as motivações dos(as) turistas voluntários(as).
Callanan e Thomas (2005) criaram um conceito de classificação
dos(as) turistas voluntários(as), com base em seis critérios: o foco da
experiência; a importância do destino; a duração do projeto; a
qualificação que oferece a ação; a participação ativa ou passiva; e o
nível de contribuição para a comunidade local.
Wearing e McGehee (2013) observam a necessidade do
entendimento, pelas empresas e organizações, a respeito da
motivação dos(as) turistas voluntários(as) para que ocorra um
planejamento, com foco e compreensão das necessidades de cada
ação, como também atentando-se para o perfil das pessoas que farão
parte do projeto ou expedição.
Os autores afirmam também que, para que o turismo de
voluntariado tenha um caráter mais solidário e de sucesso, as práticas
necessitam ser sustentáveis, porém precisam estar pautadas no
aspecto social e no ambiental, para que, ao final, não se tornem
práticas meramente comerciais e lucrativas.
Entendendo esses desafios e como forma de minimizar os
impactos negativos e maximizar os positivos, a publicação já
mencionada anteriormente realizada pela TIES com apoio da
Planeterra Foundation47. O “International Voluntourism Guidelines for
Commercial Tour Operators” (2011) traz na forma de um guia,
apontamentos importantes, com o objetivo trazer ferramentas e
metodologias para um planejamento e desenvolvimento de um
turismo de voluntariado mais responsável e sustentável, tendo como
público-alvo os(as) operadores(as) e organizações que atuam com o
tema.
No guia, há diretrizes sobre determinados assuntos para as
organizações refletirem sobre suas práticas. Entre os tópicos listados
estão as práticas de gestão das organizações que devem incidir,

47
Organização de turismo comunitário que trabalha para reduzir a pobreza em todo o
mundo. Disponível em: https://planeterra.org/about-us/ Acesso em outubro/2020

76
desde a atuação com as comunidades, passando pela análise do perfil
dos(as) voluntários(as), até a melhor forma de comunicarem suas
ações. A avaliação dos impactos e a transparência das ações são
destacadas como pontos importantes trazidos pelos(as)
respondentes da pesquisa como uma das necessidades do setor.
Dentre as reflexões importantes em relação às organizações
que promovem atividades de turismo de voluntariado no que tange à
interação com as comunidades anfitriãs estão: a organização deve
entender se a venda de pacotes de turismo de voluntariado se encaixa
na sua missão; a missão da empresa deve estar alinhada às
necessidades daqueles que recebem as ações e não somente
direcionadas às necessidades de viajantes e da empresa; os
programas devem ser desenvolvidos com base em benefícios de
longo prazo; é fundamental entender se o turismo de voluntariado é a
melhor opção de apoio à localidade, visto que podem existir outras
formas de se atingir o objetivo (TIES, 2011).
Dessa maneira, com pesquisas sendo realizadas e
discussões sobre os principais desafios, organizações vêm se
mobilizando para criar ferramentas de melhores práticas para o setor,
como por exemplo a ferramenta criada pela Pepy Tours48 para ajudar
operadores turísticos, empresas e turistas voluntários(as) a fim de
aprimorarem as práticas no turismo de voluntariado.
No Brasil, não foram encontrados guias ou discussões mais
aprofundadas sobre o tema na perspectiva dos ecossistemas e
comunidades brasileiras. O que se localizou foram informações em
sites populares, como o texto publicado no portal IG em 2019
intitulado: “Fazer trabalho voluntário durante a viagem é tendência:
conheça o volunturismo49”, no qual há uma descrição do que é o

48
PEPY TOURS. Voluntourism: operator self check guide. Disponível em
<https://lessonsilearned.org/wp-content/uploads/2009/09/Self-
CheckToolVoluntourism101.pdf> Acesso em agosto/2020.
49
AMORIM, W. Fazer trabalho voluntário durante a viagem é tendência: conheça o
volunturismo, 10 de fev. 2019. Disponível em <https://turismo.ig.com.br/manual-do-
viajante/2019-02-10/o-que-e-volunturismo.html> Acesso em novembro/2020.

77
turismo de voluntariado de forma breve, sem se trazer uma discussão
mais densa sobre o tema.
Apesar dos desafios encontrados, esse aumento da procura
por ações relacionadas ao volunturismo pode mostrar uma tendência
das pessoas em quererem contribuir de forma mais atuante com os
lugares visitados, minimizando os impactos do turismo de massa. O
que se deve atentar é que toda ação turística gera impactos, e levar
esse olhar para os atores envolvidos é crucial, de fundamental
importância.

78
CAPÍTULO 4

Turismo de voluntariado na Amazônia


Brasileira: panorama de práticas e
atuações das organizações

79
As organizações de diversos setores vêm se apropriando das
práticas de voluntariado como modelo de negócio ou mesmo como
parte de suas ações (FERRARINO, 2003), não sendo diferente com o
setor do turismo que vem fortalecendo ações na área do turismo de
voluntariado ou o volunturismo.
O mapeamento das organizações a serem pesquisadas se
torna um fator chave, devido ao fato de que ocorrem atividades nos
diversos setores e dentro do mesmo campo do turismo de
voluntariado. Conforme Stainton (2016) este é um dos desafios dos
estudos nesta área, pelas diferentes abordagens conceituais
existentes, o que dificulta um olhar mais específico sobre o que está
a ser estudado.
Lenci (2021), a partir das entrevistas com membros de
instituições mapeadas como atuantes com turismo de voluntariado e
informações coletadas em bases públicas, descreveu um panorama
das organizações e suas práticas como também das potencialidades,
dilemas e desafios dessas atuações no contexto da realidade da
Amazônia Brasileira.
Partindo dos resultados trazidos pela pesquisadora
mencionada, o subcapítulo a seguir apresenta o panorama do
levantamento preliminar realizado na pesquisa, evidenciando as
contradições que podem existir na delimitação do termo na prática.
Nos subcapítulos seguintes são tratados os tópicos atinentes
ao perfil das organizações, o tipo de turismo de voluntariado realizado
por cada uma destas como, também, um olhar sobre a perspectiva do
tema pelos(as) turistas voluntários(as) seguido das discussões acerca
do planejamento das ações a partir de um olhar do território e
comunidades locais e como estes se relacionam com a literatura
encontrada sobre o tema.

80
Mapeamento das práticas de turismo de voluntariado na
Amazônia Brasileira

Como forma de compreender o número de iniciativas e


empresas que realizam turismo de voluntariado, especificamente
com interesse naquelas que atuam ou que já atuaram na Amazônia
Brasileira, foi realizado por Lenci (2021) levantamento preliminar a
partir de bases públicas em pesquisa pelos sites das organizações,
como forma de caracterizá-las e entender previamente quais delas se
enquadram no perfil do estudo.
Foi necessário compreender a definição das ações efetuadas
pelas organizações, pois algumas se autointitulam como realizadoras
de projetos de turismo de voluntariado ao passo que outras não
utilizam esse termo na divulgação.
Ao procurar definições de organizações e projetos de turismo
de voluntariado, foram encontradas misturas de terminologia, dando
a entender que na literatura ainda não existe um consenso, ou mesmo
uma regra exata sobre as características das ações de turismo de
voluntariado, ficando a cargo das organizações conceituarem o que
entendem sobre o assunto e a forma de realizá-lo.
Como exemplo citado por Lenci (2021) tem-se a Universidade
do Amor50, uma organização social sem fins lucrativos que realiza
expedições solidárias para comunidades do Estado do Amazonas. As
atividades são pagas pelos(as) voluntários(as) e unem ações de
voluntariado com visitas e vivências locais. No entanto, esta
organização não define suas ações como de turismo de voluntariado
mas sim, como voluntariado solidário, similar à definição de
Nascimento (2012) e Makanse e Almeida (2014).
Mendes e Sonaglio (2013) ressaltam que uma das diferenças
entre turismo de voluntariado e voluntariado está na questão
financeira, visto que organizações que atuam com turismo de
voluntariado cobram pela atividade para cobrir os custos de agências
mediadoras e que oferecem serviços. O voluntariado, por sua vez,

50
https://universidadedoamor.org.br/ Acesso em outubro/2020

81
constitui-se de ações gratuitas, gerenciadas, na maioria das vezes,
pela própria organização podendo, ou não, fornecer uma ajuda de
custo para o(a) voluntário(a).
Delimitar o que aqui se considera como organização de
turismo de voluntariado é importante, visto que muitas organizações
atuam com projetos onde o(s) a(s) voluntários(as) paga(m) para
participar das ações. Algumas delas não se reconhecem como
promotoras do turismo de voluntariado, e sim como promotoras de
ações de voluntariado; serviço ao próximo unido a missões religiosas
e expedições solidárias.
Dessa forma, a partir do diagnóstico realizado nas bases
públicas (sites das organizações; sites de empresas parceiras com
informações sobre os projetos; materiais oficiais das organizações),
foram mapeadas sete organizações que se apresentam como tendo
algum tipo de projeto e ações de turismo de voluntariado na Amazônia
Brasileira, ou mesmo já tendo realizado atividades, em algum
momento, como consta do Quadro 2, a seguir:

Quadro 2 - Organizações que atuam com turismo de voluntariado.


Local de Atuação
Nome da Tipo de
do Turismo de Missão
organização negócio
voluntariado
“Somos um negócio social
que tem a missão de
Sociedade ressignificar as relações
Empresarial das pessoas com o
Manaus - AM;
Vivalá51 Limitada - turismo no Brasil,
Santarém - PA
Fundada em empoderando
2017 comunidades e
transformando
percepções”
“Difundir um conceito de
turismo mais responsável
socialmente, que tenha
Empresário
como objetivo, não
Individual -
Iris Social 52
Santarém - PA apenas a experiência do
Fundada em
viajante, mas o impacto
2017
social positivo para a
comunidade e
organizações anfitriãs”

51
https://vivala.com.br/ Acesso em maio/2021
52
https://www.iris.social/ Acesso em agosto/2020

82
“Promover possibilidades
Sociedade
de transformações
Empresarial
positivas através de
Braziliando53 Limitada - Manaus - AM
experiências de viagem
Fundada em
autênticas e
2018
responsáveis”
Sociedade
“Fomentar o voluntariado,
Empresarial
Exchange do conectando voluntários
Limitada - Manaus - AM
bem54 com diversos projetos ao
Fundada em
redor do mundo”
2016
“Promover viagens e
intercâmbio de trabalho e
Empresário
impacto social
individual - Rondônia; Belém-
Collab tour55 fomentando ações de
Fundada em PA
voluntariado, turismo
2019
sustentável e de base
comunitária”

Sociedade “Cocriamos soluções para


Raízes Ilha de Marajó -
Empresarial problemas diversos
Desenvolvim PA; Barcarena -
Limitada - usando a
ento PA; Abaetetuba -
Fundada em sustentabilidade como
Sustentável56 PA; Cametá - PA
2006 premissa”
“Propósito de escutar e
Um projeto
apoiar a longo prazo os
dentro de uma
povos da Amazônia, além
Amazone- Associação Região do Rio
de conhecer sua
se57 Privada - Arapiuns - PA
biodiversidade e a
Fundada em
importância de preservá-
2019
la”
Fonte: Lenci (2021)

A maior parte das atuações com volunturismo na Amazônia


Brasileira é realizada por empresas privadas, tais como: agências de
turismo e viagem (Iris Social e Braziliando); empresa social/ negócio
social (Exchange do Bem; Raízes Desenvolvimento Sustentável;
Vivalá) e negócio de impacto (Collab Tour). Entre estas organizações,
somente uma se enquadra como um projeto social, que é a Amazone-

53
https://braziliando.com/pt/ Acesso em agosto/2020
54
https://exchangedobem.com/ Acesso em agosto/2020
55
https://collabtour.com/ Acesso em agosto/2020
56
https://raizesds.com.br/pt/ Acesso em agosto/2020
57
https://www.basecolaborativa.org/amazone-se Acesso em agosto/2020

83
se, sendo esta constituída como uma associação privada sem fins
lucrativos.
O levantamento do tipo de negócio se fez necessário visto
que, pelo caráter solidário e potencial de ação social do voluntariado
(MACEDO, 2011) e pelo motivo de algumas organizações do terceiro
setor terem uma cultura de voluntariado como forma de potencializar
suas ações sociais (HOLANDA, 2003), pareceu que seriam
encontradas mais organizações atuantes com o turismo de
voluntariado.
Como citado, organizações do terceiro setor têm uma
atuação ampla na região dos Estados da Amazônia Brasileira, entre
estas pode-se citar o NAPRA, cuja missão é realizar projetos em
conjunto com comunidades ribeirinhas da Amazônia com apoio de
voluntários(as) em todas as suas ações, porém ele não nomeia as
ações como turismo de voluntariado.
O levantamento realizado por Lenci (2021) demonstra a
atuação de agências de turismo e negócios sociais com o turismo de
voluntariado, corroborando com a pesquisa da TIES (2011) citada
anteriormente e evidenciando a necessidade em se compreender as
motivações por trás das organizações para que o turismo de
voluntariado não acabe se constituindo apenas como um novo
segmento de mercado que vende a imagem de ação social, mas que,
ao final, tem no lucro seu foco prioritário (TOMAZOS; BUTLER, 2009).
Dentre as sete organizações destacadas, as que, até o início
da pandemia de Covid-19 (março de 2020), estavam atuando com
turismo de voluntariado na Amazônia como parte principal de suas
ações eram: Vivalá; Iris Social; Collab Tour; Exchange do Bem e
Amazone-se. A Raízes Desenvolvimento Sustentável atua com
turismo de voluntariado em um projeto social pontual e a Braziliando
está em processo de estruturação de suas ações com turismo de
voluntariado.

84
Organizações de turismo de voluntariado com atuação
na Amazônia Brasileira

Vivalá

A Vivalá é uma empresa brasileira, com sede em São Paulo -


SP, do tipo negócio social, fundada em 2017 com a missão de
“ressignificar as relações das pessoas com o turismo no Brasil,
empoderando comunidades e transformando percepções58”.
Sua atuação está pautada nas expedições de turismo de
voluntariado e viagens com significado em duas regiões da Amazônia
Brasileira, sendo uma delas em uma comunidade do município de
Iranduba-AM e outra em Santarém-PA, com atividades turísticas
diferenciadas a cada região e que unificam mentoria de negócios
sociais com foco de voluntariado.

Mentoria
A mentoria, quando voltada aos empreendimentos e negócios, é uma
atividade de capacitação que visa o crescimento profissional,
aprimoramento dos saberes e fazeres necessários para atingir
determinado objetivo o qual geralmente consiste na melhoria dos
empreendimentos. A mentoria pode ter um ou mais encontros a
depender do assunto e da demanda. Costuma ser uma atividade
personalizada ou customizada para determinadas pessoas, porém, no
caso deste livro, as mentorias têm sido realizações coletivas a fim de
ensinar determinados conceitos para a comunidade local do Lago de
Acajatuba – AM. No caso em tela, uma das empresas que atua com
turismo de voluntariado no local, tem como estratégia de ação, a
realização de mentorias temáticas, por meio das quais são ensinados
aspectos do empreendedorismo para comunitários(as) poderem
aprimorar seus próprios negócios.

58
http://experiencias.vivala.com.br/rio-negro-janeiro-2020. Acesso em março/2022

85
A equipe é composta
A empresa tem uma
por pessoas contratadas e
metodologia de trabalho por
meio da qual os(as) turistas pelos(as) articuladores(as)
voluntários(as) são os(as) locais, que são comunitários(as)
responsáveis por conduzir as da região visitada responsáveis
atividades de mentoria,
independentemente de serem
por organizar a viagem, levantar
ou não qualificados(as) para tal demandas da comunidade local,
finalidade, ou especialistas além de atuarem como os(as)
nos temas tratados. Neste guias das expedições.
sentido, há uma contradição
entre o trabalho realizado e o A empresa organiza as
conceito de mentoria, já que
viagens junto com os(as)
este preconiza que, para ser
mentor(a), pressupõe-se ter articuladores(as) locais a partir
mais experiência profissional das demandas das
do que o(a) mentorado(a) no comunidades, vendendo
assunto tratado. Isso é
importante para que seja pacotes de turismo para grupos
possível o compartilhamento fechados com programação pré-
de experiências e de sugestões estabelecida, com duração de
com o intuito de agregar valor
aproximadamente quatro dias.
ao(à) mentorado(a).
Também, criam projetos
específicos para empresas e
organizações (colégios,
universidades etc.) que queiram vivenciar o turismo de voluntariado.
Em relação à escolha de atuação com o tema de turismo de
voluntariado, a ideia inicial era ser uma ponte entre voluntários(as) e
organizações. Após uma das viagens de uma das integrantes para o
Rio Negro - AM, houve conversas com um dos comunitários, onde se
teve a inspiração para a criação de um modelo de negócio que surgiu,
então, a partir de 2017. Este modelo é o trabalho com
empreendedorismo e negócios, por meio da capacitação de
microempreendedores(as) da comunidade feita pelos(as)
voluntários(as) em atividades de mentorias durante as expedições
turísticas.
Em 2019 eram realizadas, em média, dez expedições por ano,
variando entre quinze e vinte e cinco turistas voluntários(as) por
expedição.

86
A Vivalá não busca um perfil pré-definido de voluntário(a).
Não é necessário ter conhecimento específico nos temas a serem
trabalhados nas mentorias, pois a ideia é trilhar um processo de
aprendizado conjunto que cria uma experiência e tira os(as)
voluntários(as) da “zona de conforto”.
Antes da expedição, os(as) turistas recebem informações
sobre o roteiro de viagem e dos comportamentos esperados.
Segundo informações encontradas no site da Vivalá59 (2020),
“as Expedições da Vivalá são oportunidades de empoderar
comunidades e ressignificar a relação que você tem com o Brasil
enquanto viaja para um local incrível”.
Entre os pacotes de turismo de voluntariado que são
comercializados para os Estados da Amazônia Brasileira estão:
Floresta Nacional dos Tapajós - PA (Expedição Rio Tapajós) e Manaus
- AM (Expedição Rio Negro), cada qual com roteiro de atividades
turísticas específico para cada região. Todas as expedições têm em
comum atividades de voluntariado junto às comunidades.
As atividades de voluntariado propostas são chamadas
“mentorias de negócios” ou capacitação profissional para negócios
locais, que segundo a Vivalá “tem como objetivo aprimorar a atividade
profissional dos(as) ribeirinhos(as) e evoluir sua qualidade de vida”60.
No acesso ao site da Vivalá61 em busca por mais informações
acerca das expedições oferecidas, foi encontrado um roteiro
resumido citando as atividades de mentoria, mas sem explicações
detalhadas sobre os projetos, sua continuidade, as principais
características do negócio, ou mesmo esclarecendo o que seria o
turismo de voluntariado segundo a empresa.

59
http://experiencias.vivala.com.br/rio-negro-janeiro-2020 Acesso em março/2020
60
Informações extraídas do material de apoio enviado aos(às) turistas voluntários(as)
antes da viagem de turismo de voluntariado em fevereiro/2020
61
Na data desta pesquisa, junho/2021, o site da Vivalá passou por uma reformulação,
onde constavam informações sobre a visão da Vivalá sobre o tema de turismo de
voluntariado, informação esta que não estava disponível antes da visita in loco. Acesso
em janeiro/2020

87
O(A) turista voluntário(a), ao comprar o pacote recebe, antes
da viagem, o roteiro da expedição e materiais de apresentação da
metodologia contendo explicação de como funcionará a atividade de
mentoria. Juntamente com esses materiais, são enviados vídeos
explicativos sobre todos os processos, o tema da mentoria e a
apostila que será utilizada para apoiar as ações.
Segundo o site o(a) turista voluntário(a) atuará ajudando a
empoderar negócios familiares locais: “Acompanhamos quase 200
empreendimentos, entre pequenas pousadas, restaurantes,
canoeiros, artesãos, guias, confeiteiros, dançarinos, entre tantos
outros, que buscam solidificar cada vez mais suas iniciativas”62.
A metodologia é chamada de “Universidade Vivalá de
Negócios”63, na qual a cada atividade realizada o(a) empreendedor(a)
local recebe uma apostila de apoio da temática específica do módulo
que auxiliará na construção do plano de ação.
Ao final, ao participar de todos os módulos, o(a)
empreendedor(a) está preparado(a) para dar continuidade aos
negócios, mas ainda com o apoio da Vivalá em acompanhamentos
periódicos quando necessário.

Amazone-se

O Amazone-se é um projeto social brasileiro, com um time


formado por voluntários(as). Fundado em 2019 como uma organização
sem fins lucrativos com sede em São Paulo - SP, tem, na Base
Colaborativa64, o objetivo de potencializar pessoas e ideias que
querem “melhorar o mundo”.
Seu site tem poucas informações e não adota o termo
volunturismo ou turismo de voluntariado. Sua atuação propicia uma
vivência por meio de uma expedição solidária.

62
https://vivala.com.br/como-funciona/ Acesso em junho/2021
63
Em fevereiro/2020 a informação não estava disponível nas redes e mídias da
empresa. No acesso em junho/2021 esta informação já está descrita no site da
instituição
64
https://www.basecolaborativa.org/quem-somos Acesso em junho/2021

88
A missão do Amazone-se é escutar e apoiar, a longo prazo,
comunidades ribeirinhas com base no que estas precisam. Sua
atuação teve início como apoio para captação de voluntários(as) para
a ação de uma ONG que trabalhava com expedições de voluntariado
em saúde na Amazônia Brasileira.
A atuação com turismo de voluntariado veio da necessidade
externa da ONG e, assim, perceberam que poderia ser utilizada em
outros locais, de outras formas. No ano de 2019, foram realizadas sete
expedições para comunidades do Rio Negro - AM em parceria com a
ONG, com uma média de doze turistas voluntários(as), número que
variava dependendo da demanda local e capacidade de recepção.
Com base no novo modelo de atuação, haviam realizado
apenas um diagnóstico presencial junto à comunidade localizada no
Rio Arapiuns - PA, e a intenção era também apoiar as comunidades à
distância, pelo contexto da pandemia de Covid-19. No entanto, neste
momento ainda estão estruturando como serão as próximas
expedições planejando levar experiências não somente para a
comunidade, mas também para o(a) voluntário(a) com a introdução de
meditação e de outras dinâmicas.
A iniciativa não dá preferência para um perfil específico de
voluntário(a), as vagas ficam em aberto para todos(as), no entanto,
caso em alguma viagem haja necessidade de um(a) profissional mais
especializado, a Amazone-se realiza uma divulgação em busca desse
perfil, com a possibilidade de a pessoa participar de forma gratuita.
Há um processo de encontro presencial antes das viagens.
Nele, é explicado o funcionamento da atividade. Após a viagem,
novamente se reúnem para o compartilhamento das experiências e
para que as pessoas que queiram ir possam conhecer mais sobre as
ações.

89
Raízes Desenvolvimento Sustentável

A Raízes Desenvolvimento Sustentável65 é uma empresa


brasileira, com sede em São Paulo - SP e em Belo Horizonte - MG, do
tipo negócio social, fundada em 2006. Trabalha com projetos sociais
principalmente voltados para a geração de renda de mulheres e
empoderamento feminino. Fazem isso através do turismo e a
produção a ele associada (agroecologia, cultura, artesanato,
gastronomia).
Diferentemente das outras organizações aqui citadas, que
possuem como ação principal o turismo de voluntariado, a Raízes tem
como escopo de trabalho a elaboração e o monitoramento de projetos
para com comunidades e negócios locais. O turismo de voluntariado,
especificamente, não faz parte de seus negócios, mas apareceu
como parte de um projeto social, intitulado “Dona do meu Fluxo”.
Esse projeto social é uma parceria da Raízes com uma
empresa de coletores menstruais que tem o objetivo de levar os
coletores para mulheres das comunidades, como também incentivar
conversas sobre temáticas de empoderamento feminino, sexualidade
e autoconhecimento.
A primeira versão do projeto de volunturismo teve início em
2017, no norte de Minas Gerais e no Vale do Jequitinhonha onde
desenvolveu-se um roteiro de Turismo de Base Comunitária, foi
construída uma biblioteca e pintados os muros. Posteriormente, em
2018, o projeto foi realizado em comunidades de municípios do Pará,
e foi a partir destas experiências que, em 2019, uniram-se ao projeto
as ações de turismo de voluntariado em comunidades do Pará.
A organização já tinha contato com o tema de turismo de
voluntariado, mas viu como uma possibilidade de atuação dentro do
projeto “Dona do meu fluxo” após ouvir relatos de pessoas que se
interessavam em poder participar. Perceberam que era uma ação
com ganhos para muita gente, desde que tomados os devidos
cuidados de selecionar as pessoas com perfil interessante para

65
Entrevista realizada em 07 de dez. 2020

90
ajudar no trabalho e dentro desta proposta de volunturismo conhecer
a região, viajar, o que ajudaria a arcar com os custos das atividades.
Outro fator que difere a Raízes das outras organizações é que
a empresa e a equipe atuam, desde sua criação, com tema e projetos
em turismo, e entendem o potencial transformador da atividade,
desde que utilizada de forma positiva, pois é inegável que o turismo é
uma ferramenta que pode ser usada de forma negativa gerando
impactos indesejáveis dependendo de como e onde é praticado. A
organização já possuía conhecimentos sobre a temática do turismo
de voluntariado antes mesmo de iniciarem as ações.
A Raízes já havia definido um perfil pré-determinado para as
voluntárias que quisessem participar do projeto “Dona do Meu Fluxo”.
Desta forma, criaram um edital delimitando as características
necessárias das interessadas, as experiências prévias
recomendáveis e já explicando como seria o projeto e as atividades
previstas nas expedições. As vagas estavam abertas para mulheres
que tivessem conhecimento sobre o tema do projeto, ou que já
tivessem atuado em ações sociais em comunidades.
Após as entrevistas e escolha das voluntárias é realizado
encontro virtual para a passagem do material a ser apresentado nas
comunidades, por meio do qual as voluntárias possam dar suas
sugestões e, ao término da viagem, coletam as impressões.

Braziliando

A Braziliando é uma empresa privada brasileira com base no


Rio de Janeiro - RJ, fundada em 2018, do tipo agência de turismo e
viagem. Tem como missão a geração de transformações positivas
através de experiências que sejam autênticas e responsáveis.
A empresa já atuava com turismo de voluntariado na
Amazônia, inicialmente como parceira de uma ONG e,
posteriormente, com o projeto criado entre a comunidade e a própria
Braziliando. A escolha por trabalhar com o tema se deu a partir de uma
vivência entre participantes de um turismo de cruzeiro em um hotel
de selva na Amazônia que promoveu aproximação entre turistas e

91
comunidades ribeirinhas e a percepção do possível impacto positivo
daquela ação, bem como de diversas formas de apoio que poderiam
surgir com a iniciativa.
Em 2017, foram realizadas duas expedições para a região de
Manaus, com roteiro de quatro noites com um grupo que variou de
oito a onze pessoas. Os roteiros misturavam atividades de
voluntariado com outras para que os(as) turistas pudessem conhecer
as peculiaridades da região. Após firmarem um termo de
compromisso com a Proteção Animal Mundial, deixaram de oferecer
qualquer tipo de atividade que implicasse na interação com animais e
por isso desistiram de atuar com algumas atividades antes
praticadas.
Após a segunda expedição de turismo de voluntariado,
surgiram questionamentos acerca do real impacto destas ações. E,
diante das dúvidas, fez-se uma reflexão sobre se valeria a pena
seguir, ou não, com o voluntariado ou, somente com as ações de
Turismo de Base Comunitária que, pressupõem vivências,
aprendizados culturais, trocas, e não a lógica de ajudar
necessitados(as). Com base nos valores que sempre apoiaram as
ações da Braziliando, a empresa optou por passar a comercializar a
experiência de volunturismo de outra organização denominada Iris
Social66, que se tornou parceira.
Na Braziliando não existe um público pré-definido de
voluntários(as). O que acontece é que pelo preço das expedições, o
perfil dos(as) interessados(as) é mais focado em pessoas que estejam
no mercado de trabalho, sendo que 70% dos(as) clientes são
mulheres. Antes da viagem, há reunião para compartilhar com os(as)
voluntários(as) as ações, ouvem-se sugestões e apresentam-se as
demandas da comunidade a ser visitada buscando relacioná-las às
habilidades e áreas de atuação de cada um(a). Havendo demandas
específicas, buscam profissionais adequados(as) para atuar.
Após este processo de questionamentos e de reflexões, a
Braziliando não realizou mais ações de turismo de voluntariado apesar

66
https://www.iris.social/ Acesso em agosto/2020

92
de que, em seu site ainda se pode encontrar as expedições de TBC e
as de turismo de voluntariado, todas com foco em comunidades na
Amazônia67.

Exchange do Bem

A Exchange do Bem é uma empresa social brasileira do tipo


negócio social com sede em São Paulo - SP, fundada em 2016. Sua
missão é conectar voluntários(as) com diversos projetos ao redor do
mundo.
A atuação da empresa se dá a partir do chamado “intercâmbio
voluntário” através da imersão do(a) voluntário(a) na cultura de
diversas localidades, atualmente presente em quinze países. Os
projetos ocorrem em parceria com ONGs e instituições de outros
países como, também, dentro do Brasil, podendo o(a) turista
voluntário(a) criar a sua própria programação, de forma similar às
ações da Collab Tour. A diferença é que o site da Exchange do Bem
traz todas as informações detalhadas de atividades, pré-requisitos,
tipos de acomodação e preços.
Em 2019 não estavam atuando mais com turismo de
voluntariado na Amazônia, nem enviando voluntários(as) para lá
diretamente, porém a previsão era começar a encaminhar
alguns(mas) voluntários(as) para a Vivalá, para que fossem, por meio
dela, realizar trabalho nas comunidades ribeirinhas e em outras
regiões do Brasil.
Em pesquisa ao site, em 2021, a Exchange do Bem
apresentava opção de uma expedição com duração de treze dias68 em
conjunto com a ONG Doutores das Águas69, para Manaus - AM, com
uma programação de atividades voluntárias focadas em realizar
orientação para as comunidades locais sobre diversos assuntos
como: saúde, horta e meio ambiente.

67
https://braziliando.com/pt/experiencias/ Acesso em julho/2022
68
https://exchangedobem.com/doutores-das-aguas-voluntario-amazonia/ Acesso
em novembro/2020
69
https://www.doutoresdasaguas.org.br/ Acesso em novembro/2020

93
A empresa funciona como uma intermediária na maior parte
das vagas, auxiliando na busca por atividades de turismo voluntário e
conectando pessoas interessadas em se voluntariar, com ONGs e
empresas de outros países e do Brasil que precisam de apoio
desses(as) voluntários(as). Eles não utilizam o termo expedições, mas
sim, vagas, onde cada qual pode ir sozinho(a) ou em grupo, a depender
da localidade e atividade que vai realizar.
A criação da empresa foi um desejo dos sócios que cursaram
faculdade de administração e que visualizaram no mercado uma
lacuna de negócios que tivesse um maior impacto social para as
comunidades aliado a um maior propósito de trabalho. Após terem
participado de intercâmbios e programas de voluntariado tiveram a
ideia de criar a Exchange do Bem.
A empresa não tem uma preferência de perfil para as vagas
abertas de voluntariado, já para as viagens em grupos existe um perfil
preferencial, a depender da ação proposta. A percepção e o
aprendizado sobre questões relacionadas ao perfil dos(as)
voluntários(as) veio com o tempo. Por serem trabalhos de curta
duração não podem depender de agentes externos e por isso é
necessário estruturar as ações para funcionarem sem o trabalho de
voluntários(as). A presença de voluntários(as) que pagam para viajar
aos locais onde ocorrem projetos de turismo de voluntariado, passou
a ser uma estratégia de arrecadar fundos para as atividades. Já para
as viagens em grupo se faz proveitoso levar pessoas qualificadas para
tentar atender a demandas específicas, ao invés de atividades
genéricas do dia a dia.
Uma das preocupações da Exchange do Bem está
relacionada às expectativas dos(as) voluntários(as). Desta forma, a
empresa realiza uma conversa inicial para observar e alinhar essas
expectativas, de modo a sugerir os destinos mais adequados para
cada perfil. Vale dizer que a empresa está em processo de
estruturação de cursos de capacitação em temas sociais para
aqueles(as) que querem se voluntariar.
No site da Exchange do Bem, é possível encontrar diversos
textos sobre temáticas de turismo de voluntariado, mensuração de

94
impacto70 e outros assuntos que podem auxiliar as pessoas que
procuram por este tipo de atividade.

Iris Social

A Iris Social é uma empresa brasileira com sede em Brasília -


DF, do tipo agência de turismo e viagem, fundada em 2017 com a
missão, segundo o que constava em 2021 em seu site de “difundir um
conceito de turismo mais responsável socialmente, que tenha como
objetivo, não apenas a experiência do viajante, mas o impacto social
positivo para a comunidade e organizações anfitriãs71”.
De acordo com as informações ali encontradas, o foco das
ações de turismo de voluntariado são os projetos que unem o TBC
com atividades de voluntariado em parceria com uma ONG local
chamada Saúde e Alegria.
O local de atuação das expedições na Amazônia Brasileira é a
região de Santarém-PA72 onde fica a sede da ONG Saúde e Alegria73,
porém não existem informações mais detalhadas sobre as ações de
turismo ligadas ao voluntariado que foram realizadas ao longo dos
anos. O que foi possível encontrar são páginas da internet das
vendas74 e na rede social Facebook com a apresentação do seu
conceito de turismo de voluntariado e explicações para as expedições
passadas, relatando as atividades voluntárias como:
Acreditamos que o turismo é uma poderosa ferramenta
de mudança social. (...) A Iris Social está vindo para
expandir sua forma de viajar! Acreditamos no turismo
como uma poderosa ferramenta de mudança social, e por
isso criamos viagens que buscam o desenvolvimento de

70
https://exchangedobem.com/impacto_social_intercambio_voluntario/ Acesso em
novembro/2020
71
https://www.iris.social (site inativo em julho de 2022, informações podem ser obtidas
somente por meio da página da organização no Facebook:
https://www.facebook.com/social.iris)
72
https://www.iris.social/expedicao-amazonia-1. Acesso em maio/2021
73
https://www.iris.social/expedicao-amazonia-iii Acesso em maio/2021
74
https://www.iris.social/cexpedicao-amazonia-2edicao. Acesso em maio/2021

95
comunidades e organizações sociais por meio da
atuação do viajante. Para atingir esse objetivo usamos
duas ferramentas principais: voluntariado e o turismo de
base comunitária.

O turismo de voluntariado te leva a colocar a mão na


massa para ajudar uma organização social a cumprir sua
missão ao mesmo tempo que te introduz a uma nova
realidade. Vamos trabalhar com a expansão nacional do
conceito de turismo social, focado nas necessidades de
ONGs parceiras e com uma metodologia simples que
proporciona reflexão e engajamento.

Já o turismo de base comunitária é aquele protagonizado


pela comunidade local, que se apropria culturalmente e
economicamente da riqueza natural e da herança nativa
de sua terra, mostrando ao visitante a realidade local da
maneira mais autêntica possível. Um turismo para quem
realmente deseja conhecer cada destino!75

As atividades de voluntariado giram em torno da


produção de mudas nativas a serem utilizadas
posteriormente pelos comunitários da reserva em seus
plantios etc. Além disso, vamos trabalhar na revitalização
da horta da escola da comunidade do Carão,
proporcionando mais variedade nutricional na merenda
(Relato encontrado no site da Iris Social, acesso
maio/2021).

Tanto as atividades de voluntariado como os resultados das


ações não ficam evidenciadas. O que se sabe é que a duração da
expedição é entre sete e nove dias.

Collab Tour

A Collab Tour é uma empresa brasileira sediada em Mogi das


Cruzes - SP, do tipo negócio de impacto, fundada em 2019 com a
missão, segundo consta em seu site na internet de “promover viagens
e intercâmbio de trabalho e impacto social fomentando ações de
voluntariado, turismo sustentável e de base comunitária76”.

75
https://www.facebook.com/social.iris Acesso em julho/2022.
76
https://collabtour.com Acesso em novembro/2020

96
A empresa promove intercâmbios de turismo de voluntariado
em parceria com ONGs de vários países. Nestes intercâmbios, a Collab
Tour oferece diversos tipos de vagas e os(as) turistas voluntários(as)
escolhem o destino, setor de atuação e ONG de seu interesse.
A empresa também é especialista em intercâmbio de
trabalho voluntário77 para diversas localidades, tanto no Brasil, como
em outros países. O local de atuação na Amazônia Brasileira é
Rondônia com atividades em permacultura e atividades de
recuperação de áreas degradadas, e para a Ilha de Mosqueiro - PA, nas
temáticas de reforço escolar, orientação profissional, nutricional e
atividades diversas com crianças e adolescentes.
No site, não existem muitos esclarecimentos sobre os
projetos específicos, apenas informações básicas disponíveis a quem
não é cadastrado(a).
A partir das informações divulgadas pela empresa na internet
pôde-se perceber que o tipo de negócio da Collab Tour se diferencia
das outras organizações aqui relatadas, visto que os pacotes têm uma
flexibilidade de atuação e datas, não necessitando o(a) interessado(a)
aderir a uma expedição em grupo, podendo optar por uma experiência
individual. Ou seja, existe a possibilidade de customizar seu próprio
roteiro de atividades turísticas a serem realizadas ao longo do período
do voluntariado. A Collab Tour utiliza como sinônimos os termos
volunturismo e Intercâmbio de Trabalho.

Panorama de atuação das organizações

A partir do mapeamento realizado, buscamos organizar aqui


as principais questões apreendidas.

77
https://collabtour.com/destinos. Acesso em maio/2021

97
Motivação das organizações atuantes com turismo de
voluntariado na Amazônia Brasileira

Compreender as motivações das organizações na escolha de


atuação em territórios da Amazônia Brasileira se faz necessário para
entendimento do olhar sobre como as ações de turismo de
voluntariado são planejadas e como se relacionam com os possíveis
impactos dessa atividade, além de suas potencialidades e desafios,
pois como cita o documento da TIES (2011), as ações de turismo de
voluntariado devem estar alinhadas às necessidades locais e a um
projeto de longo prazo, e não somente como um pacote a ser
comercializado.
A partir da relação, entre território e organizações, foi
possível observar que a escolha da Amazônia como lugar de atuação
das organizações que trabalham com turismo de voluntariado se deu,
principalmente, por conta da experiência pessoal e profissional
dos(as) proponentes e do conhecimento prévio da região com base
em ações já realizadas junto às comunidades. Sendo tão limitado o
número de organizações inseridas neste contexto, é possível
imaginar as demandas existentes e o potencial de realizações de
novas ações.
Para algumas empresas, a escolha dos projetos se baseia nas
demandas locais, no conhecimento da região e por terem contato
com lideranças comunitárias, o que facilita o planejamento.
Para outras, a escolha para a comercialização dos projetos
aos(às) voluntários(as) se dá por conta da indicação de parceiros
locais, como ONGs e empresas, que apresentam os projetos, sejam
sociais, ambientais e/ou culturais e estes são analisados a partir de
alguns critérios como, por exemplo, potencial de impacto social e
segurança, podendo, assim, ser selecionados para serem ofertados
aos(às) seus(suas) clientes.
Também há aquelas organizações que atuam de forma
contínua nas comunidades anfitriãs e vislumbram as ações de turismo

98
considerando demandas locais versus possibilidades de
colaborações existentes.
Nota-se que nenhuma das organizações menciona como
motivação de suas ações as demandas externas às comunidades,
mas sim um olhar sobre as demandas locais e potencialidades
socioambientais passíveis de serem melhoradas pela ajuda dos(as)
voluntários(as).
As demandas externas, aqui citadas, referem-se ao mercado
consumidor(a) potencial, denominado no turismo de voluntariado
como sendo o(a) turista voluntário(a), aquele que exercerá as
atividades voluntárias no período em que está conhecendo uma nova
região por meio dos pacotes e serviços oferecidos por estas
organizações. Observa-se, aqui, uma contradição e um dilema quando
as organizações relatam ter o foco nas comunidades locais e no
impacto positivo que a atividade turística deve gerar, mas, ao mesmo
tempo, utilizam-se do turismo de voluntariado como um produto, um
negócio a ser comercializado.
Como colocado por Smith e Font (2014) é necessário
investigar as maneiras pelas quais as organizações e empresas de
turismo de voluntariado se posicionam perante os potenciais clientes
e analisar se os resultados e impactos positivos relatados por estas
estão centrados nas comunidades locais e, de fato, ocorrendo e, não
como encontrado em algumas pesquisas, nas quais as organizações
tinham uma mensagem focada mais para a venda do serviço, faltando
informações e dados concretos de como estão contribuindo com as
comunidades anfitriãs.

O turismo de voluntariado segundo as organizações

Uma das premissas importantes para um planejamento


adequado e boas práticas de atuação, segundo a literatura no tema, é
que a organização proponente, bem como os atores sociais
envolvidos, não só tenham um bom conhecimento e entendimento do
que é o turismo de voluntariado, como também analisem a real
necessidade deste tipo de atividade no local ou território.

99
É possível identificar que as empresas conhecem a definição
de turismo de voluntariado comumente encontrada nos sites e artigos
sobre o assunto, referenciada aqui nesta pesquisa a partir dos(as)
autores(as) Nascimento (2012) e Makense e Almeida (2014).
Mais do que definições gerais, o turismo de voluntariado tem
suas especificidades a partir da atuação de cada organização e,
segundo Tomazos e Butler (2009), faz-se necessário que estas
organizações conheçam sobre o tema e como o segmento se
relaciona com suas ações visto que, um dos desafios do setor,
segundo Wearing e McGehee (2013), são as delimitações dessas ações
alinhadas às reais intenções e os impactos aos territórios.
Algumas empresas têm se preocupado em conseguir alinhar
o turismo de voluntariado com as práticas de TBC, como forma de
potencializar os impactos positivos em prol da comunidade. Porém,
essa preocupação não foi algo que tenha surgido desde o início, pois
são poucos os estudos realizados previamente às expedições. Na
realidade, os aprendizados importantes para esta junção entre as
duas modalidades de turismo têm partido, principalmente, das
vivências e estudos sobre o TBC, posto que, ao contrário do turismo
de voluntariado, são facilmente encontradas informações sobre esta
modalidade de turismo.
A falta de conhecimento do contexto prático do turismo de
voluntariado antes das ações foi sendo resolvida e aprimorada a partir
das experiências e conversas com as comunidades anfitriãs, e
mesmo com outras empresas, e têm resultado em constantes
aprendizados e, como consequência, adaptação de suas práticas.
Algumas poucas empresas partiram da ampliação de projetos sociais
já realizados e da premissa de que seriam potencializados e até
viabilizados financeiramente sob o formato de turismo de
voluntariado.
É inegável a complexidade envolvida na atuação de qualquer
organização em um território como o da Amazônia Brasileira. Os
desafios existem e devem ser mapeados antes das atuações,
afirmando a necessidade dessas organizações estarem preparadas
para lidar com os paradoxos do turismo de voluntariado junto a

100
comunidades locais, em especial no que tange ao papel dos(as)
voluntários(as), que representam tanto turistas com potencial ação
transformadora no território, como “clientes”, o que pode vir a
dispersar do real objetivo. Nota-se insegurança quanto essa
dualidade, uma vez que quando há alguém pagando pelo serviço,
preocupa-se em ter sua experiência amplificada, ou seja, como
turista e como voluntário(a) ao mesmo tempo, e, paralelamente, há o
compromisso com a comunidade e o sucesso e os impactos das
ações.

Desafios das organizações no contexto do turismo de


voluntariado na Amazônia Brasileira

Ao questionarmos quais são os desafios das organizações


quando se trata do turismo de voluntariado no contexto da Amazônia
Brasileira, diversas respostas são possíveis. Para algumas
organizações, os principais desafios estão ligados ao alcance dos
projetos, às reais necessidades locais e ao sucesso relacionado às
expectativas de todos(as). Estes fatores precisam ser trabalhados
como prioridade, ao levar aos(às) voluntários(as) um olhar de não
criarem expectativas, como também de que o apoio às comunidades
locais deve ser considerado no longo prazo.
Outro desafio se relaciona ao número maior de
comunitários(as) querendo participar das atividades como mentorias
quando comparado ao número de voluntários(as) que vão para as
expedições. O interesse pode aumentar conforme os resultados de
cada ação, tanto aqueles relacionados às trocas e aprendizados,
como aqueles que decorrem diretamente da venda de serviços e
produtos da comunidade aos(às) turistas.
Outro desafio é a preocupação em não criar uma relação de
dependência da comunidade com a empresa, saber o momento de ir
embora e como fazê-lo. Esse desafio é bem conhecido em
experiências de TBC (RABINOVICI, 2009, BARROS-FREIRE;
RABINOVICI; NEIMAN., 2019).

101
Um desafio conceitual e paradigmático está relacionado à
lógica de como planejar ações que não sejam assistencialistas, mas
que sejam duradouras. Como acompanhar e como garantir a
continuidade desse trabalho?
Neste aspecto, a ideia do desafio em conseguir realizar
expedições com voluntários(as) conscientes e preparados(as), sem
um olhar de superioridade para com as comunidades locais, leva a
repensar modelos de atuação e ao estudo mais aprofundado e
permanente sobre a questão, além do aprimoramento a partir das
experiências existentes.
Os desafios estão nesta lacuna entre não haver um
acompanhamento suficientemente próximo das ações que estão
sendo oferecidas aos(às) turistas voluntários(as), dificultando a
continuidade dos projetos e a mensuração do real impacto local. Este
passa a ser um desafio em oferecer, no futuro, ações em que eles(as)
possam criar o projeto direto com as comunidades, e não mais como
intermediadores.
É possível notar que o planejamento das ações de turismo de
voluntariado é desafio comum entre as organizações, que pode ter
como causa o distanciamento geográfico entre as comunidades
locais na Amazônia e as empresas. Esta é uma informação que não é
citada diretamente pelas organizações, porém pode acarretar uma
dificuldade no processo de levantamento de demandas,
acompanhamento e cocriação dos projetos. Estas etapas são
fundamentais para uma boa prática do turismo de voluntariado como
citado no guia de boas práticas produzido pela TIES (2012) e por
Wearing e McGehee (2013).
Outra questão fundamental entre os desafios inerentes ao
setor de turismo de voluntariado, está relacionada ao uso da atividade
como oportunidade de negócio e a ideia de oferecer ações que não
condizem com as necessidades reais das comunidades.
Desencontros podem ocorrer com base no oportunismo o
qual, por sua vez, pode incorrer na deturpação de objetivos e
estratégias, deixando de trazer benefícios às comunidades e, até para

102
os(as) turistas e, beneficiando somente as empresas de turismo e, em
alguns casos, as instituições de caridade e/ou religiosas que buscam
manter seus serviços e justificar sua existência. Os impactos
esperados para as comunidades podem não existir e até causar
inúmeros prejuízos.
Apesar deste aspecto não estar relacionado diretamente ao
turismo de voluntariado específico na região da Amazônia Brasileira,
é um desafio do setor que afeta a imagem e a percepção dos(as)
turistas voluntários(as) em relação às atuações que acontecem nas
comunidades locais. Então, se torna necessário averiguar como estas
organizações vêm planejando e analisando os impactos a partir de
suas atividades.

Planejamento e execução das ações e a relação


empresas/comunidades locais

O turismo de voluntariado tem como objetivo realizar ações


com impacto socioambiental nos locais onde atua e, conforme já
mencionado anteriormente, é fundamental planejar as ações
previamente e em conjunto com as comunidades de forma a garantir
que as atividades tenham como ponto de partida demandas locais e
não aquelas oriundas de mediadores(as) e agentes externos à
comunidade, com suas perspectivas e agendas.
Identificamos que as empresas nem sempre realizam um
contato direto com as comunidades locais, pois o papel de algumas
delas é de somente intermediar o processo de vendas. Todas as
metodologias utilizadas para entrar em contato e construir os
projetos e atividades ficam sob a responsabilidade de parceiros
locais, muitas vezes ONGs que enviam as demandas para conectar
voluntários(as) aos projetos.
Algumas organizações constroem os projetos a partir de um
contato com as comunidades locais, para o levantamento das
demandas. Às vezes, durante contatos, são apresentadas
necessidades identificadas por comunitários(as) e, a partir destas
conversas, ocorre a validação do que fará mais sentido na visão da

103
comunidade, sendo o resultado destas conversas a base para a
criação da vivência das empresas.
Algumas empresas atuam com estratégias de planejamento
das ações com a comunidade local, assim podem, além de ouvir as
demandas, construir em conjunto.
Outra estratégia utilizada é ter em cada comunidade onde
atuam, um(a) articulador(a) local responsável por fazer o intermédio
das ações, as conversas das demandas, como também comunicar
quando irão ocorrer as expedições e a data das mentorias. Esta
pessoa fica responsável por diagnosticar expectativas e
necessidades da comunidade e repassar as informações às empresas
interessadas.
Uma preocupação é que o planejamento das expedições
tenha um maior número de comunitários(as) locais como
fornecedores(as), desde a hospedagem, alimentação até as
atividades da programação turística, como guias e outros, tudo para
que o dinheiro seja distribuído, da melhor maneira, na comunidade.
Algumas poucas empresas atuam com um processo longo de
conversas e de mobilização com lideranças locais, não somente para
levantamento de demandas como também para a construção dos
projetos a partir do diagnóstico para as expedições, na compreensão
da estrutura do lugar e logística para a chegada de turistas
voluntários(as). Uma construção de dentro para fora, que, junto com
as comunidades, mapeia o interesse delas em participar e busca
entender, também, como aquele projeto poderá ser adequado a cada
realidade, não impondo, mas sim construindo junto.
Nesta perspectiva de construção e planejamento existe
outro fator importante que é o monitoramento e a avaliação das
atividades, os quais, conforme Estima e colaboradoras (2013), são um
fator importante para a minimização dos impactos negativos que
estas ações podem ocasionar nas comunidades locais, bem como a
possibilidade de analisar as potencialidades das ações.
Em relação à realização de ações de avaliação dos impactos
observa-se que as empresas atuam pouco com a avaliação e a análise

104
dos resultados para planejar as atividades; algumas delas coletam
depoimentos de comunitários(as), planilham suas observações que
servirão como base para o monitoramento. Outras aplicam pesquisas
de satisfação aos(às) viajantes e dialogam com o ponto
focal/mediador na comunidade. Alguns também intencionam aplicar
pesquisas a comunitários(as), mas ainda não o fizeram. As
organizações que não realizam avaliação dos impactos das ações de
turismo de voluntariado estão em processo de aprender e entender
mais sobre isso, e consideram a tarefa um desafio. Algumas
mensuram os resultados com base na aferição do faturamento da
comunidade nos dias de viagem, com a prestação de serviços e venda
de produtos diversos, sendo este o indicador principal de sucesso.
Uma dificuldade é a distância entre as comunidades e as empresas.
Com estas informações, nota-se a necessidade das
organizações de ampliar o entendimento sobre como suas ações
podem impactar a região, como também compreender as formas de
análise e mitigação dos impactos negativos, pois uma parte, após a
análise das ações, é a realização das devolutivas paras as
comunidades como também uma transparência para os diferentes
atores sociais. Para isso acontecer, faz toda a diferença a escolha de
indicadores que façam sentido. Às vezes alguns impactos culturais,
ou relacionados à aprendizagem coletiva, são mais importantes do
que a renda. Já houve situações em que o incremento da renda trouxe
resultados negativos: conflitos gerados a partir de novas
desigualdades produzidas são conhecidos e foram descritos por
Rabinovici (2009).
A devolutiva sobre as atividades para as comunidades é
realizada somente por algumas das empresas.

105
CAPÍTULO 5

Perspectiva do turismo de voluntariado a


partir de expedições ao Lago do
Acajatuba - AM

106
Em sua pesquisa, Lenci (2021) acompanhou uma expedição
de turismo de voluntariado com o objetivo de refletir sobre o tema a
partir de uma experiência real. A expedição escolhida foi para o Rio
Negro, no Amazonas, mais especificamente para o Lago do
Acajatuba, em um roteiro de quatro dias e três noites. Deste estudo
traz-se aqui alguns dados que ajudam a visualizar uma prática de
turismo de voluntariado.
A expedição acompanhada contou com 47 turistas
voluntários(as) de diferentes localidades do Brasil, sendo quase 80%
deles de São Paulo (78,72%). O segundo maior grupo (11%) era de
pessoas do Rio de Janeiro e, na sequência, oriundos de Santa
Catarina, Recife e Roraima. A maioria eram mulheres (78,72%), e
21,28% eram homens.
Quanto ao critério de escolha de empresa para realizar a
viagem foi possível dividir as respostas dos(as) turistas em sete ideias
centrais. As alternativas com o maior número de apontamentos
foram, respectivamente: pela proposta de projeto de turismo de
voluntariado (27,27%); pela recomendação ou comentários (21,21%) e
pelo destino que a empresa oferta (21,21%). Esses dois critérios, como
se vê, apareceram de forma bastante isonômica. A quarta opção com
15,15%, se deu pelo preço do pacote da expedição. Já as menos
citadas foram: conteúdo do pacote/roteiro e datas (7,58%);
profissionalismo da empresa (6,06%) e selo de
confiança/sustentabilidade (1,52%).
Conhecendo estes dados, a seguir relatamos como é
realizado o trabalho e como é o local e sua comunidade.

O turismo de voluntariado no Lago do Acajatuba

Sobre o Lago do Acajatuba

O Lago do Acajatuba, localizado no município de Iranduba -


AM, a 80 km de Manaus, está situado na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável (RDS) do Rio Negro78 (RDS Rio Negro), uma Unidade de

78
https://uc.socioambiental.org/arp/5036 Acesso em agosto/2020

107
Conservação (UC) que abrange 19 comunidades ribeirinhas, incidindo
nos Municípios de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, com área total
de 1030,86 km².
A localidade é parte da Região Metropolitana de Manaus
(RMM), com estimativa de 50 mil habitantes e uma área aproximada de
2.217 km², segundo dados do IBGE de 2019, estando na margem direita
do Rio Negro (Figura 1).

Figura 1 - Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e do Lago do


Acajatuba, Iranduba – AM

Fonte. SILVA; TELLO; PEREIRA; PEREIRA, 2020

As áreas no entorno de abrangência do Rio Negro, por sua


proximidade com Manaus, são procuradas por suas belezas naturais,
e para o Lago do Acajatuba não é diferente, sendo uma das regiões
que recebe demanda turística (BORGES; PINHEIRO, 2001).
Para se chegar até o Lago do Acajatuba e nas comunidades
de seu entorno, é necessário, a partir de Manaus, fazer a travessia da
Ponte Phelippe Daou sobre o Rio Negro de carro e depois navegar em
barcos. Todo o trajeto tem aproximadamente 80 km e duração de 2
horas.

108
A Ponte Rio Negro foi inaugurada em 2011 com o intuito de
melhorar a logística regional e gerar um incremento na economia local
visto que, antes de sua construção, o acesso ao município de Iranduba
era realizado por uma balsa, em um trajeto com duração de 30
minutos, ou por meio de canoas/barcos. Porém o que se observa é
que após sua construção, houve também ampliação nos conflitos por
terras, especulação imobiliária, impactos ambientais e aumento da
visita de turistas às regiões do entorno, que acabaram gerando
impactos negativos uma vez que o projeto não contou com um bom
planejamento (VIEIRA; MONTEIRO; CAMPOS, 2019).
Segundo Simonetti (2015), Iranduba possui 42 comunidades,
com população estimada de 49.718 (IBGE, 2021)79. No entorno do Lago
do Acajatuba residem outras comunidades que contam com,
aproximadamente, três mil moradores(as)80. Destas, 85 famílias
(aproximadamente 220 pessoas) moram na Comunidade Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, também chamada de Vila de Acajatuba,
local de hospedagem de turistas voluntários(as) e onde são realizadas
a maior parte das atividades de turismo de voluntariado.
A Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi
fundada oficialmente em 1976, mas somente em 2007 passou a contar
com fornecimento de luz elétrica. Possui em sua infraestrutura, uma
Unidade Básica de Saúde (UBS); uma escola municipal; um centro
comunitário; um campo de futebol; quatro igrejas; poço artesiano e
também já é assistida por rede de internet (SIMONETTI;
NASCIMENTO; CHAVES, 2016). A ocupação figurada da comunidade é
mostrada na fotografia a seguir (Figura 2).

79
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/am/iranduba.html Acesso em
setembro/2021
80
Embora um comunitário tenha relatado o número aproximado de moradores da
região do Lago do Acajatuba, apuramos as comunidades do entorno e segundo dados
do PGRDS (2016), o número de residências em cada comunidade é: Nossa Senhora da
Fátima - 67 residências; Nossa Senhora da Conceição - 66 residências; São Francisco
do Bujarú - 66 residências; Santo Antônio do Acajatuba - 38 residências; São Tomé - 48
residências; entre outras.

109
Figura 2 - Pintura em quadro da representação da Comunidade Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci (2020) do quadro que representa a


comunidade.

Segundo dados do Plano de Gestão da Reserva de


Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (PGRDS) de 2016, dentre
as comunidades da RDS Rio Negro, a Comunidade Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro conta com assistência de ensino completo que
engloba ensino infantil, fundamental, médio e de jovens e adultos. E,
dentre as comunidades do entorno, é a única que possui uma Unidade
Básica de Saúde (UBS). Já um fator em comum com as outras
comunidades é a presença de organização coletiva na forma de
associação de moradores que, no caso, é denominada Associação dos
Moradores do Perpétuo Socorro.
Os(As) primeiros(as) moradores(as) da comunidade tinham
como principal meio de vida a extração de madeira e a produção de
carvão e, com o passar dos anos, a agricultura também se tornou uma
das principais fontes de renda, inicialmente como forma de
subsistência, e depois ocupando também importância na atividade
econômica da região, junto com a exploração de madeira (MOTA;
COSTAS; CAMPOS, 1998, SIMONETTI, 2015).

110
Segundo moradores(as) locais, o turismo também era uma
fonte de renda na região com maior expansão nos anos de 1990, a
partir do surgimento de hotéis que recebiam um público numeroso de
fora do Brasil, e que incluíam visitas às comunidades em seus roteiros
turísticos. Segundo Mouco (2010), foi nesse período que a produção
do artesanato local se fortaleceu, unindo os grupos de artesãs, que
hoje ainda se mantêm com o grupo Japiim.
Um dos destaques da localidade era o hotel Ariaú Amazon
Towers que foi responsável pela geração de renda para muitos(as)
moradores(as).
No período dos anos 2000 a situação se modificou com a
diminuição do público estrangeiro e, como consequência, os hotéis
começaram a fechar, e passou a haver conflitos entre moradores(as)
e donos(as) de hotéis, o que pode ter gerado o afastamento dos(as)
visitantes da região (SIMONETTI,2015).
Segundo os(as) moradores(as) locais, o tipo de turismo já não
era mais o mesmo após esse período. A região passou a receber um
turismo considerado por eles(as) como não sustentável, com
desrespeito às comunidades e ao território, motivo pelo qual foram
em busca de alternativas por meio de novos parceiros e do governo.
Outro fator comumente citado por comunitários(as) é a
passagem da novela “Força do Querer” (2017), da emissora Globo,
gravada no local, como sendo um motivo que impulsionou mudanças
por causa da visibilidade alcançada e pela procura da região,
principalmente por turistas brasileiros(as).
No relatório PGRDS (2016) é citado que a área que abrange a
RDS Rio Negro possui potencial turístico por conta de sua
biodiversidade, das trilhas nas florestas, dos passeios de canoas, das
praias naturais, como também pela infraestrutura da comunidade
para receber os(as) turistas.
Segundo a comunidade local, atualmente, o turismo vem
sendo realizado com o apoio do governo e de organizações do terceiro
setor, além de parcerias com o setor privado. A partir dessas

111
movimentações o turismo na região vem se modificando juntamente
com os empreendimentos locais.
Simonetti (2015) contextualiza que o turismo na Comunidade
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro era caracterizado pelo tipo
“lazer”, pela ausência de pousada e hotéis, sem a possibilidade de
pernoitar.
No entanto, o que se observa hoje é a ampliação do turismo
na região e, consequentemente, o aumento dos empreendimentos de
moradores(as) locais que estruturaram pequenos negócios como
restaurantes e pousadas.
Além disso, são oferecidas oficinas na Casa de Farinha
familiar com demonstração do processo do plantio da mandioca até o
preparo da farinha de tapioca, com momento de degustação (Figura
3).

Figura 3 - Comunitária preparando tapioca para degustação

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

112
Um dos empreendimentos incluído nos roteiros de turismo da
localidade é um flutuante81 no Rio Negro. Ali acontece o momento de
interação com os botos, espécie Inia geoffrensis, que ocorre em um
local no qual os(as) visitantes podem entrar no rio e ter uma
aproximação com os animais. Existem algumas regras estipuladas
para que esse passeio turístico seja possível de modo a preservar a
segurança, tanto dos(as) turistas, como dos animais.
A Casa Japiim é um local que comercializa o artesanato
produzido pelo grupo Japiim, que é composto por trinta e cinco
comunitários(as) de sete comunidades do entorno, entre
coletores(as) e produtores(as). Ali, também, ocorrem as oficinas de
artesanato local, com a explicação do processo de beneficiamento
das sementes e com a possibilidade dos(as) turistas produzirem seus
próprios artesanatos (Figura 4).

Figura 4 - Colares de sementes produzidos pelo Grupo Japiim

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

81
Flutuantes são comuns na Amazônia Brasileira e consistem em casas e
empreendimentos comerciais construídos em estruturas que flutuam (toras de
madeira, plásticos e outros materiais) e que tornam possível o cotidiano dos(as)
habitantes locais devido aos períodos de cheia dos rios. Na estrutura do turismo na
região, há algumas pousadas, restaurantes, locais para banho e interação com animais,
construídos desta forma.

113
Principais aspectos observados a partir de uma
experiência real de atividade de turismo de voluntariado

A empresa responsável pela expedição atua por meio de um


articulador local que, junto com a pessoa escalada por ela, são
responsáveis pelo andamento das atividades. Eles apresentam ao(à)
turista o projeto de forma mais detalhada, bem como o que será feito,
relatando o histórico de atuações e a missão da empresa.
O papel do turismo de voluntariado realizado pela empresa
objetiva causar um impacto no curto prazo, por meio da injeção de
capital diretamente aos(às) empreendedores(as) comunitários(as)
tais como canoeiros, donos de vans, oficineiros(as) e realizar ações de
impacto a médio e a longo prazo para empoderar as pessoas a partir
das trocas advindas entre comunitários(as) e turistas. Essa dinâmica,
a longo prazo, tem o potencial de fazer com que a comunidade adquira
autonomia ficando empoderada a ponto de dispensar o projeto.
A motivação em realizar uma viagem alinhada ao
voluntariado, é a proposta que o turismo de voluntariado pretende
atingir (NASCIMENTO; 2012; MAKANSE; ALMEIDA, 2014), como
também, essa informação se relaciona com a percepção que os(as)
turistas voluntários(as) tiveram da expedição. Turistas voluntários(as)
foram entrevistados por Lenci (2021) após as atividades e, pouco mais
da metade apontou como motivação para a viagem, a realização de
uma viagem/turismo para conhecer a região, alinhada ao
voluntariado.
Para eles(as) unir trabalho voluntário com viagem é algo
positivo, conhecer um novo destino, ajudar as pessoas, ter um
propósito e uma atividade relevante e que contribua com a região são
motivações expressas nas entrevistas realizadas por Lenci (2021).
Conhecer a Amazônia e sua cultura é outra motivação
encontrada em muitas das respostas e isso está relacionado com as
imagens que são passadas durante a venda das expedições, as quais
ressaltam as belezas naturais da região.

114
A apresentação para a venda da expedição realizada pela
empresa é bastante explícita no intuito de gerar no(a) cliente um
desejo de conhecer a Amazônia. O foco das apresentações das
viagens não são as ações de voluntariado, mas sim, o local onde
ocorrerá a expedição e a possibilidade de trocas e aprendizados com
comunitários(as). Esse é outro fator apresentado pela pesquisa.
O que aconteceria se os chamados fossem para locais sem
grande apelo em termos de paisagens e biodiversidade, por exemplo?
Algo como as periferias de grandes centros urbanos? É uma questão
interessante para reflexões e debates. Há diversas ações de
voluntariado em periferias, porém estas são menos turísticas e
vendáveis para determinados perfis de pessoas que buscam estas
atividades.
A ação de voluntariado não parece ser o que mais atrai os(as)
turistas voluntários(as) para a expedição, mas sim a possibilidade de
estar perto dos(as) comunitários(as), conhecer o local e poder
contribuir com o território, o que não deixa de ser importante e
significativo. É importante constatar isso, uma vez que as expedições
possuem esse apelo.
As atividades turísticas oferecidas são voltadas para
conhecimento da biodiversidade local tais como trilha na floresta,
passeio noturno de barco para observar as estrelas e interação com
botos. Todas as ações são mediadas por guias locais. Além delas há
atividades para conhecer a cultura local, com visita à casa da farinha
e a participação em oficinas de artesanato.
As atividades estão organizadas e interligadas com a
proposta de voluntariado, para vivenciar e conhecer os
empreendimentos dos(as) comunitários(as) locais. A ideia é distribuir
a renda de uma forma que não haja benefício para uma única família
ou pessoa apenas, como é comum na maioria dos locais onde se
pratica o Turismo de Base Comunitária.
No início das atividades de mentoria, na chamada “pré-
mentoria” (Figura 5) são explicados o funcionamento da mentoria, o
histórico de atuação da empresa e o contexto local. Trata-se de um

115
momento importante, pois poucas dessas informações foram
passadas antes aos(às) turistas voluntários(as).

Figura 5 - Pré-Mentoria com os(as) turistas voluntários(as)

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

Também é apresentado o processo de criação dos


temas/demandas logo após o final das expedições, quando ocorrem
reuniões e trocas entre articulador local e a comunidade com o
retorno sobre as atividades realizadas. Apesar de ocorrer
levantamento de demandas, as mentorias continuam a ser realizadas
com temas fixos.
Uma reflexão pertinente seria sobre se o processo de pré-
mentoria com voluntários(as) pudesse ocorrer antes da viagem, de
forma que este tempo investido fosse utilizado como um momento de
escuta, de repasse de informações e de compartilhamento de ideias.
Isto pois, quanto melhor preparados(as) estiverem os(as)
voluntários(as), maior o alcance de suas ações.

116
Mentoria

Observar o processo de mentoria foi importante para


compreender como as atividades ocorrem e, principalmente,
entender suas etapas que são: diagnóstico; passagem do material e
cocriação do plano de ação.
No dia da mentoria, os(as) voluntários(as) chegam para a
preparação do local e fazem o acolhimento com a comunidade (Figura
6).

Figura 6 - Turistas Voluntários(as) e empreendedores(as)

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

Reputa-se importante haver participação de


comunitários(as) no planejamento e condução deste primeiro
momento, inclusive para se pensar em como integrar outras pessoas
de comunidades do entorno juntando-se aqueles que estão
participando pela primeira vez com outros que já participaram.
Na mentoria, distribui-se aos(às) voluntários(as) uma ficha de
diagnóstico a ser preenchida junto com os(as) comunitários(as) -
agora chamados(as) de empreendedores(as) - e uma apostila. Após

117
finalizada a mentoria, esse material é entregue para que possam
revisar e compartilhar. Não é realizado diagnóstico prévio sobre
escolaridade e alfabetização da comunidade para poder preparar as
atividades.
O tema da mentoria foi “Mídias digitais” e este não surgiu
como uma demanda local. Segundo a empresa, o objetivo foi realizar
um levantamento sobre quais plataformas digitais e redes sociais
eles(as) teriam conhecimento e já utilizavam e fazer com que o(a)
empreendedor(a) entendesse seu público-alvo de modo a auxiliar na
elaboração de um plano de ação para divulgar seus produtos nas
redes. Como a internet não está acessível de forma ampla e constante
para toda a comunidade, tal questão foi problematizada durante a
oficina pelos(as) participantes, dificultando a criação das
plataformas, que seria um dos resultados esperados.
Duplas de turistas se uniram aos(às) empreendedores(as) e
começaram a conhecer melhor sobre o momento atual do
empreendimento, seu histórico e pensar sobre o tema de mídias
digitais, criando estratégias que coubessem na realidade de cada
morador(a) local (Figura 7).

Figura 7 - Momento da mentoria

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

A procura para participar das mentorias é grande, com


pessoas interessadas vindo de diversas localidades do entorno do
118
Lago do Acajatuba. Mesmo com a presença de muitos(as)
comunitários(as), vários(as) deles(as) não participam da conversa
inicial, bem como se pode verificar que há participantes que estão em
estágios de empreendimentos diferentes em comparação àqueles
que já participam desde o começo.
Entre as observações de Lenci (2021), com base em suas
entrevistas, constatou-se que existe certa desconfiança de pessoas
da comunidade em relação às atividades, porém, o fato de haver a
comercialização de artesanato após as mentorias, faz com que haja
uma maior participação, que se dá por representante do
empreendimento e não necessariamente pelos(as) comuntários(as)
em si. Alguns(mas) comunitários(as), vale dizer, não conseguem estar
presentes nessas ocasiões, pois estão trabalhando para receber as
expedições.
A desconfiança, comum nas comunidades alvo de projetos
deste tipo, muitas vezes ocorre por conta de promessas vazias ou não
cumpridas por parte de organizações ou instituições, que se propõem
a realizar atividades nos territórios gerando expectativas de
benefícios que, muitas vezes, não se concretizam ou que, por conta
de implicarem em resultados transformativos de médio ou longo
prazo, frustram as comunidades, em suas demandas pontuais e
urgentes.
Conflitos podem ocorrer relacionando expectativas e
realidade, tempo e espaço, diferenças culturais entre os atores
envolvidos e, alguns desses choques podem se dar pelo
desconhecimento prévio do tema e negligência na preparação de
voluntários(as) para a facilitação dos processos.
Há pouco tempo para realizar cada etapa da mentoria, e esse
tem que ser gasto, inclusive, com o preenchimento de apostilas e
ficha de diagnóstico. O período disponibilizado e as perguntas
presentes, tanto no diagnóstico como na apostila, fazem parecer que
o objetivo da ação não são as trocas entre as pessoas, mas sim o
preenchimento dos materiais. As trocas e interações, no entanto, são
o que há de fundamental para que todos(as) possam, de fato, entender
o trabalho conjunto.

119
Após a etapa do diagnóstico e passagem dos materiais,
ocorre a chamada "Feirinha dos Empreendedores”, em que os(as)
comunitários(as), no papel de empreendedores(as) podem expor seus
produtos para os(as) voluntários(as) (Figuras 8 e 9).

Figura 8 - Produtos de uma das empreendedoras locais

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

Figura 9 - Momento da “Feirinha dos empreendedores”

Fonte: Foto de autoria de um dos turistas voluntários, 2020

120
Neste momento os(as) voluntários(as) podem conhecer de
perto os produtos da comunidade, comprando direito do(a)
produtor(a) e contribuindo com a geração de renda de modo a
estimular a continuidade dos trabalhos e a divulgação dos produtos
da região. Os(as) voluntários(as) enxergam este momento como
positivo, já que é possível adquirir produtos direto das comunidades,
e dar continuidade à mentoria, com a possibilidade de oferecer dicas
para os(as) empreendedores(as) sobre seus itens comercializados e
sobre aspectos relacionados às vendas.
Após a “Feirinha dos empreendedores”, inicia-se um segundo
momento da mentoria, com duração de 4h, na qual as duplas criam o
plano de ação (Figura 10), a ser implementado na sequência.

Figura 10 – Construção coletiva do Plano de Ação dos empreendimentos

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

A finalização da mentoria ocorre com a entrega de


certificados da empresa aos(as) empreendedores(as) locais e
compartilhamento de percepções sobre o dia e agradecimentos.

121
Pós-mentoria

Alguns(mas) empreendedores(as) relatam mudanças


positivas em seus trabalhos obtidas em razão das mentorias e dos
resultados da expedição. Essas vantagens ficaram bem marcadas e
registradas no momento da entrega dos certificados.
O trabalho contínuo da empresa na região facilita a confiança
da comunidade e o potencial das ações. É importante que as
instituições que atuam com turismo de voluntariado desenvolvam
mecanismos para monitorar os impactos sociais, culturais e
ambientais para entender, de fato, como maximizar não só as ações
que vêm sendo feitas e que têm gerado resultados positivos, mas
principalmente aquelas que visem mitigar os impactos negativos. A
maioria das organizações sabe da importância em se analisar e
monitorar os impactos, porém ainda tem dificuldades na
concretização dessas etapas do processo.
Uma das formas de se mapear esses impactos é entender
como os(as) turistas voluntários(as) percebem as práticas realizadas
nas atividades, pois de acordo com Sin (2009) e Freidus (2016), o
processo de voluntariado deve estar alinhado às necessidades e
planejamento da comunidade, consistindo numa construção de
dentro para fora. Sem isso, pode-se gerar uma percepção
naqueles(as) que participam, de que somente os que vêm “de fora” são
os que detêm as informações, e estão ali para ensinar e para
promover algum “desenvolvimento” regional. É importante cuidar
para não tratar o processo com a abordagem
extensionista/assistencialista e colonizadora de se levar
conhecimento às comunidades, mas sim, de troca entre saberes
distintos.
Uma das propostas de quem promove o turismo de
voluntariado é que este seja uma forma de melhorar a condição de
vida da população local anfitriã e no caso em tela, esta melhoria se dá
pela proposta de desenvolvimento comunitário via mentorias com
suas informações e trocas, e pelo incentivo ao empreendedorismo e
ao crescimento dos negócios locais para geração de renda na

122
comunidade. É perceptível que, apesar das boas intenções, os(as)
turistas voluntários(as) ainda têm uma visão das comunidades
ribeirinhas como pessoas sem, ou com pouco conhecimento, o que
traz a discussão sobre o imaginário comum em relação a Amazônia e
sua gente (BUENO, 2002; COELHO, 2021; PEREIRA et al., 2012).
Empresas e agências precisam estar atentas a estes
aspectos para que possam aproveitar o trabalho para desmistificar e
ampliar essa visão que os(as) turistas, em geral, têm e com a qual as
próprias empresas de turismo podem estar corroborando para a
manutenção desta imagem e percepção sobre comunitários(as) como
relatado por Manfredo (2017).
Após o final da mentoria os(as) turistas voluntários(as)
voltaram para a pousada para um momento de feedbacks por meio do
qual foram levantados 18 pontos a melhorar e 8 aspectos
positivos/potencialidades. Entre estes últimos foram citados o
tempo da mentoria; a origem das demandas; relação tema e
conhecimento prévio, entre outros já citados.
Entre os pontos a melhorar mencionados pelos(as)
voluntários(as), foi dito que a falta de informações sobre a
comunidade dificultou a mentoria, para entenderem se eles(as) eram
ou não alfabetizados, quais as dificuldades individuais dos(as)
comunitários(as), como também citaram a falta de um histórico de
atuação das mentorias passadas e relataram que poderiam ter
contribuído mais se soubessem o que propor. Segundo o
representante da empresa, antes eles apresentavam essas
informações, porém os(as) voluntários(as) reclamavam que o material
ficava extenso.
Outro aspecto relatado pelos(as) voluntários(as) foi que, por
não terem relação com o tema e com as necessidades dos
empreendimentos, a contribuição não foi significativa. Segundo o
representante da empresa, a atividade é realizada dessa maneira para
que os(as) voluntários(as) possam sair de suas “zonas de conforto”.
A fase de feedbacks é importante, pois o representante da
empresa respondeu às perguntas e anotou as considerações, como

123
também conseguiu explicar o que é o voluntariado, algo que parecia
não estar suficientemente esclarecido.
Este foi, também, um momento de falar mais sobre as ações
e seu formato, porém alguns pontos, mesmo que explicados, se
tornam elementos de contradições e desafios, o que pode ser
indicativo de diferenças de entendimentos sobre o que é, ou o que
pode ser voluntariado, turismo de voluntariado, bem como os próprios
desafios, ainda a serem enfrentados, da atividade em suas
contradições e especificidades.
Estes aspectos se inter-relacionam com os diferentes
momentos da mentoria e com as ações de turismo de voluntariado.
Por isso, faz-se necessário discutir o planejamento das atividades e
como ele é percebido pelos diferentes atores sociais e como estes(as)
observam os impactos das ações.
Uma das partes essenciais das expedições de turismo de
voluntariado é a possibilidade do(a) voluntário(a) conhecer o local
onde realizará as ações de impacto social. O(A) voluntário(a) compra
um pacote no qual já estão estipuladas as atividades e locais da região
que irá conhecer.
No caso acompanhado, as atividades se dividem entre
conhecer a biodiversidade local e a cultura da região em um roteiro
que possibilita vivenciar estes dois aspectos, e o ponto principal para
atingir este objetivo é sempre ter à frente da proposta,
comunitários(as) locais.
No terceiro dia da expedição, após a mentoria, ocorre uma
saída de barco para ver o nascer do sol, retornar para o café da manhã
e ir para uma trilha na selva amazônica. Na sequência, há uma oficina
de artesanato e visita à casa da farinha. Estes são, momentos que
os(as) voluntários(as) costumam gostar muito, pois conseguem
acompanhar de perto como são produzidos alguns produtos nas
comunidades e passam a valorizá-los mais após compreenderem
todos os processos que existem por trás da sua produção, tal como a
farinha de tapioca (Figura 11), o açaí e os diversos artesanatos locais
(Figura 12).

124
Figura 11 - Turistas Voluntários(as) participando da oficina na casa da farinha

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

Figura 12 - Sementes utilizadas na oficina de artesanato

Fonte: Foto de autoria de Flávia Lenci, 2020

As atividades da expedição encerraram com um festejo


organizado pela empresa e comunitários(as). A celebração conta com
banda de música local, tem oficina de carimbó - dança típica do Pará,
e uma espécie de festa de carnaval com várias pessoas da
comunidade e do entorno participando. É um momento de
descontração e que possibilita maior interação entre a comunidade e
os(as) voluntários(as). Acredita-se que, se tivesse ocorrido antes da

125
mentoria, poderia ter aproximado e melhorado as trocas durante
aquele momento.

Voluntariado e empreendedorismo: ensinar o


capitalismo para as comunidades como forma de
geração de renda e de inserção delas no mercado

No primeiro capítulo tratamos do voluntariado e da


solidariedade, esta como sendo o elemento motriz do turismo de
voluntariado e base importante de funcionamento e organização de
comunidades locais. As contradições e riscos de uma abordagem que
desconsidere os laços de solidariedade característicos de
comunidades tradicionais (DIEGUES, 2008) pode acarretar
transformações culturais significativas.
A expedição acompanhada por Lenci (2021) trabalha com
mentorias de empreendedorismo convencional/clássico, por meio do
ensino de conteúdos relacionados à criação de negócios: definição,
fatores operacionais, organização do empreendimento
(Planejamento Financeiro, Comunicação e Marketing e Estratégias de
Vendas, Ferramentas Digitais, Relacionamento com Públicos de
Interesse, Gestão Sustentável do Negócio, Desenvolvimento Humano
e Planejamento de Longo Prazo), além do desenvolvimento pessoal e
profissional dos(as) participantes.
Tais conteúdos são trabalhados por meio da seleção de um
deles conforme a etapa em uma sequência previamente definida e
prevista em sua apostila. São sempre grupos diferentes de
voluntários(as) a cada visita implicando em lacunas. O que se pretende
é ter continuidade e acumulação dos conteúdos, porém devido a
variação das pessoas da comunidade e dos(as) turistas, nem sempre
isso é possível.
A mentoria pressupõe que alguém com mais experiência
(mentor/a) em qualquer área, possa transmitir seus saberes para
outros(as) com menos conhecimentos na área em questão. Podem
consistir em mentorias espirituais, por exemplo, mas o termo é
comumente utilizado na área de negócios e profissional.

126
O aprendizado se dá na passagem de conhecimento de um(a)
especialista em algum tema. O mentorado é aquele(a) que tem a
intenção de aprender para se qualificar profissionalmente ou
pessoalmente. A lógica é mais personalizada, sendo a mentoria
específica para algum propósito e tema.
Pressupõe-se um caminho de ensinar algo a alguém que
ainda não sabe sobre o assunto e que deseja saber. O(a) mentor(a)
deve ser um(a) expert ou ter vivência e prática suficiente para ser
repassada. No caso das atividades de voluntariado em uma visita
pontual, com turistas de todas as idades, origens, formações, a ideia
de que cada um(a) deles(as) conhece suficientemente sobre
empreendedorismo a ponto de poder ensinar à comunitários(as) é
questionável e incomoda os(as) voluntários(as).
Em uma reportagem sobre o trabalho da empresa Vivalá é
mencionado que:
“A proposta da Vivalá é proporcionar turismo de
experiência e impacto social, com viagens de
volunturismo em que – além da profunda imersão na
natureza e cultura local – os viajantes e voluntários
(chamados de “transformadores”) atuem como mentores
de educação empreendedora nas comunidades visitadas
para levar capacitação, conteúdo, conhecimento e
ferramentas de administração de negócios aos
microempreendedores de cada região82”.

Os temas a serem aprendidos estão dados de antemão,


porém não estão definidos e nem tampouco qualificados(as) os(as)
turistas voluntários(as). Ser de grandes centros urbanos, com renda
suficiente para poderem viajar e se dedicarem à solidariedade, não
necessariamente implica em conhecimentos prévios sobre negócios,
o que, automaticamente, desqualifica vários(as) participantes para a
realização da tarefa definida.
Ainda sobre a empresa Vivalá, na mesma reportagem
anteriormente citada, informa via seu diretor de volunturismo que:

82
https://www.promoview.com.br/categoria/turismo/vivala-abre-vagas-para-
expedicoes-de-volunturismo.html Acesso em junho/2022

127
Pedro Gayotto, diretor de Volunturismo e um dos
fundadores da Vivalá, destaca o fato de que o viajante
não precisa ter experiência prévia com mentoria de
negócios para participar de uma expedição de
volunturismo”. (...) “Nossa proposta é que apaixonados
por viagens vivenciem destinos paradisíacos do nosso
país, e, para enriquecer a experiência de intercâmbio
cultural, se engajem em um trabalho voluntário com os
microempreendedores daquela região. Desenvolvemos
um processo em que treinamos os nossos
transformadores para que consigam criar soluções reais
em conjunto com os moradores, e, com isso, melhorar a
sua qualidade de vida, comenta Pedro”83.

Considerando que algumas empresas focam no ensino do


empreendedorismo, devemos nos perguntar o porquê desta escolha
entre tantas outras? O que pode estar por trás disso?
Há diversas opções de ações voluntárias, que podem ser
realizadas por turistas, entre elas, podemos citar o trabalho na
lavoura, no cuidado de crianças saudáveis ou adoecidas por meio de
atividades educativas, do brincar, contar histórias, atividades com
trabalhos manuais diversos, tais como pintar e consertar edificações,
construir escolas, creches, casas, cuidar de animais entre outras,
sem falar em tantos outros trabalhos de profissionais diversos nas
mais variadas áreas.
No entanto, tais escolhas muitas vezes demandam maior
tempo de preparo, podem implicar em trabalhos que os(as) turistas
sejam igualmente incompetentes e possam realizar estragos (tais
como relatados de programas em que turistas constroem casas,
pintam paredes ou outros e que os resultados são insuficientes),
podem parecer trabalhos sem valor ou pequenos a depender da
qualificação do(a) turista, que discorde realizá-los.
Diferentemente de expedições especiais, quando
profissionais de determinadas áreas se juntam para atuar em prol de
populações e comunidades que necessitem de certos serviços, tais
como profissionais da saúde em atendimentos odontológicos,

83
https://www.promoview.com.br/categoria/turismo/vivala-abre-vagas-para-
expedicoes-de-volunturismo.html. Acesso em junho/2022

128
oftalmológicos entre outros, os(as) turistas constituem grupos muito
heterogêneos em idades e formações e a escolha por determinado
tipo de atuação, corre sempre o risco de excluir alguém ou vários
interessados por falta de qualificação. Assim, programar trabalhos
que a maioria possa realizar, pode ser estratégico para a viabilização
das atividades. É justamente onde o empreendedorismo parece se
situar quando se pensa em ações de voluntariado, apesar de não
haver garantias do interesse e do saber daqueles(as) que serão
mentores(as) e nem dos(as) mentorados(as).
Por parte das comunidades, se consultadas, possivelmente
dariam várias ideias diferentes. A depender da comunidade,
atividades que geram renda, podem ser as preferidas e, por isso,
seriam bem-vindas oficinas sobre o assunto. Há relatos de interesses
pelo incremento e agregação de valor aos produtos artesanais
fabricados; a novas experiências com culinária construídas a partir de
seus ingredientes e das trocas com outras pessoas que apreciam a
gastronomia; oficinas diversas para incremento dos serviços
existentes por meio de capacitações específicas e de outros olhares
e experiências, sem falar nos diálogos entre saberes diferentes,
especialmente aqueles que consideram os saberes ancestrais,
tradicionais e os técnicos/acadêmicos como complementares.
Algumas opções possíveis de interesse exigem tempo de
dedicação maior, como, por exemplo, o ensino de idiomas. Desta
forma é pouco provável que sejam viáveis em uma visita pontual, onde
a maior parte do tempo é utilizado para o turismo.
Muito já foi dito que, a depender da ação e de sua qualidade,
mais efetivo seria repassar os valores pagos pelos(as) turistas para
viajar, diretamente para que a comunidade os utilize em suas
demandas, inclusive contratando, com o dinheiro, pessoas da própria
comunidade, promovendo, assim, a circulação da renda
internamente.
O empreendedorismo tem a lógica de “ensinar a pescar”,
porém atrelada, geralmente, ao que pessoas de fora da comunidade
entendem como ideal. Projetos importantes neste sentido foram
realizados por muitas ONGs, conforme descrito por Rabinovici (2009)

129
e por Barros-Freire e colaboradores(as) (2019) que tiveram fim, sem
que isso fosse planejado, e que acabaram gerando dependência das
comunidades com relação às ações planejadas e desenvolvidas em
seus territórios com o fim de lhes trazer sustentabilidade de renda
porém que as comunidades, por diversos motivos, não conseguiram
prosseguir por si só com os projetos, inclusive, às vezes, por
discordarem do formato e da proposta.
Não se trata de uma questão fácil de resolver, nem tampouco,
irrelevante, dado que há escolhas, há opções, mas estas dependem
de um diálogo profundo entre os(as) envolvidos, diálogo este que
envolve encarar visões de mundo bastante diferentes. Para muitos,
está exatamente nesta conversa e construção, o valor e a beleza
destas parcerias, porém, exigem bastante tempo de planejamento, de
escutas e de aprendizado prévios para serem viabilizadas e, na
sequência, acompanhadas, avaliadas e aprimoradas. Será que
empresas de turismo de voluntariado têm este tempo? Têm abertura,
interesse e expertise para este diálogo? Será que os(as)
comunitários(as) teriam o mesmo?

Potencialidades, desafios e contradições nas atividades


de turismo de voluntariado

Considerando o acompanhamento da expedição realizada e


os resultados da pesquisa de Lenci (2021), alguns tópicos das ações
do turismo de voluntariado provocaram questionamentos e uma
necessidade de maior discussão. Alguns deles por evidenciarem as
potencialidades e outros pela existência de contradições observadas
a partir dos diferentes discursos e relatos dos atores sociais.

Planejamento das ações

Observando as atividades durante a expedição, pode-se


perceber que o roteiro propõe um rodízio para distribuir a renda a
diferentes atores sociais na comunidade, não centralizando as
refeições e demais atividades em uma única família ou pessoa.

130
Segundo Irving (2009) o TBC não tem só como característica
a distribuição de renda local, mas também a participação da
comunidade nas etapas de planejamento, implementação e avaliação
das atividades, sendo os atores externos apoiadores e parceiros do
processo. Como foi dito, o planejamento conjunto das atividades
poderia resolver grande parte das questões que aparecem como
fragilidades no processo.
Qual a visão da comunidade sobre o que é o turismo de
voluntariado, suas finalidades e os objetivos e interesses da
empresa? Muitas vezes as pessoas não sabem o que significa
mentoria e turismo e voluntariado. Estes questionamentos são
relevantes já que, segundo TIES (2011) que discutem os desafios e
contradições deste segmento do turismo, citam que existem projetos
que visam uma demanda externa à comunidade, como forma de venda
de pacotes onde as comunidades anfitriãs se tornam apenas parte de
um negócio.
Desta forma, como questionam Moraes e colaboradoras
(2018), as comunidades não devem ficar dependentes dos atores
externos, mas sim serem parte do planejamento das ações turísticas.
Já para a empresa, seus projetos devem ter um “início meio e
fim”, e a ideia é que, ao final dos módulos programados para a
mentoria, o(a) empreendedor(a) esteja apto(a) a gerenciar seu próprio
negócio.
O que se pôde observar é que as mentorias não trazem temas
oriundos de demandas da comunidade, mas sim temas já
estabelecidos, o que gera um questionamento de uma possível
contradição sobre se, de fato, ocorre um acompanhamento dos
empreendimentos para que eles atinjam esse estágio de finalização,
ou se o apoio da empresa está focado nos aspectos pontuais de um
empreendimento a partir dos temas das mentorias.
Na perspectiva dos(as) comunitários(as), a proposta tem um
papel fundamental para a continuidade das ações. Há relatos de
auxílio financeiro com as expedições nos meses em que existe uma
baixa da atividade turística e, sem ele, seria necessária uma maior

131
divulgação do turismo na região para que eles se sustentem
financeiramente. Ali o turismo vai além das atividades de voluntariado
e não depende exclusivamente delas, pois outras agências realizam
trabalhos no local. Mas ocorre o reconhecimento da importância
deste trabalho para a geração de renda local, com a venda de serviços
e dos produtos artesanais. Receber turistas continuamente tem sido
necessário para a obtenção de “independência” sob o ponto de vista
dos(as) comunitários(as).
Na perspectiva que todos(as) possam ser contemplados(as),
em uma visão de turismo de voluntariado, é necessário primeiro
investigar quais são as percepções da comunidade local sobre os
benefícios e desafios destas ações, e buscar compreender que o
turismo de voluntariado não deve ser pensado como única solução
das questões de uma localidade (LUPOLI, 2013). Além disso, outros
atores sociais podem ser envolvidos, como sugerido pela comunidade
em determinado momento, ao trazer uma demanda por determinado
profissional especialista.
A questão das parcerias entre atores sociais envolvidos,
sejam eles da comunidade, sejam mediadores(as) ou turistas,
também leva tempo para se consolidar, aprender e funcionar, o que
nem sempre é considerado ou possível de se esperar, investir ou
acreditar nos possíveis desdobramentos e aprendizados mútuos,
com os ajustes sendo realizados ao longo de todo o processo.

Potencialidade do turismo de voluntariado no Lago do


Acajatuba

A literatura encontrada sobre o turismo de voluntariado


aponta possíveis benefícios e potencialidades das atividades, a
depender do formato e do tipo de ação realizada. O guia produzido
pela TIES (2011) traz algumas diretrizes para avaliar os impactos e a
eficácia dos projetos e ações do turismo de voluntariado e, dentre os
principais pontos a serem avaliados, estão: sustentabilidade;
monitoramento da eficácia; transparência das atividades;
monitoramento dos impactos.

132
Os(as) comunitários de Acajatuba têm uma percepção de que
as experiências de turismo de voluntariado trouxeram melhora para a
comunidade por meio da renda gerada, do incremento nas vendas e
pelo estímulo à descoberta do talento das pessoas, ajudando a
concretizar alguns projetos e sonhos existentes.
Ocorre, a partir das expedições, maior movimentação de
turistas e abertura de novos empreendimentos antes incipientes e
pouco organizados. Aumenta, também, a divulgação da região, assim
como gera mais renda tendo como fator importante o rodízio entre as
pessoas e os empreendimentos para se trabalhar. É observado
impacto positivo na questão intrapessoal, com melhora na
autoestima dos(as) envolvidos(as), incentivo à concretização de
sonhos e mudanças de posturas individuais e coletivas. Além disso,
pode ser constatado o aprendizado decorrente das atividades
realizadas, a melhora na gestão dos empreendimentos, a valorização
da região pelos(as) moradores(as) e o incremento nas parcerias.
Dentre os benefícios apontados pelos(as) comunitários(as), o
ponto “geração de renda” foi mencionado. Brightsmitha e
colaboradores(as) (2008) e Benson e Henderson (2011), ao relatarem
que o turismo de voluntariado pode ser uma porta para novas
alternativas de renda dentro de uma comunidade, corroboram com
esta visão.
Benson e Henderson (2011) também citam, como um dos
ganhos do turismo de voluntariado, a capacitação e o
desenvolvimento da comunidade e, consequentemente, uma maior
participação social.
Na pesquisa de Novo (2011), entre os impactos positivos do
turismo percebidos pelas comunidades da Região Metropolitana de
Manaus, incluindo a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, estão
citados a divulgação da comunidade, o aumento de renda e a
necessidade de zelo pelo lugar, o que demonstra que estes não são
aspectos exclusivos das ações de turismo de voluntariado em si, mas
um potencial impacto positivo do setor do turismo em geral.

133
A constatação no sentido de que as ações de turismo de
voluntariado podem contribuir com a mitigação de impactos
ambientais e culturais considerados negativos, não aparece de forma
explícita na percepção de comunitários(as). Há relatos, sim, sobre a
valorização da região após as ações de volunturismo, observando-se
que já existe uma possível contribuição das expedições que geram
este benefício (COGHLAN, 2005; BRIGHTSMITHA, STRONZAB;
HOLLEC, 2008; BENSON; HENDERSON, 2011).
Segundo Peralta (2012), o turismo, quando realizado de forma
sustentável e com a participação da comunidade, pode gerar
benefícios tanto ambientais, quanto culturais, pela maior valorização
das regiões e, ao tratar dos modelos de solidariedade, o turismo
alinhado ao voluntariado pode levar a uma movimentação social em
busca de uma colaboração comunitária para mudanças a longo prazo
(MACEDO, 2011).
Cada ator social tem sua responsabilidade e precisa refletir
sobre seu papel ao visitar um local para que os impactos negativos
sejam minimizados e os positivos, maximizados (ESTIMA et al., 2013).
As empresas e organizações estão em processo de
aprimoramento em busca de minimizar os impactos negativos de sua
atuação. Para que essa reflexão provoque mudanças é necessário não
somente compreender os benefícios, mas também observar os
principais desafios que são percebidos pelos diferentes atores
sociais.
Há certa unanimidade quanto a ser importante ou muito
importante para a conservação da sociobiodiversidade, o turismo de
voluntariado, porém há diferenças nas justificativas para essa
constatação, já que, nem sempre, a conscientização gera
conservação de fato. É certo que, nem todas as visitas ressaltam as
iniciativas de conservação ambiental existentes e nem as abordam
nas atividades de volunturismo. Também não expõem o papel dos(as)
visitantes para a conservação do local e sua responsabilidade quanto
a isso.

134
Para os(as) turistas é possível que a expedição, sendo, ou não,
de voluntariado, de TBC ou de outra modalidade, gere potencial de
aprendizado e de mudanças de comportamentos e hábitos em prol da
conservação do meio ambiente. De fato, é amplamente conhecido e
comprovado que o contato com a natureza, é dos fatores que mais
influenciam comportamentos pró-ambiente. As atividades voltadas
para essa sensibilização, no entanto, dependem mais das estratégias
de Educação Ambiental previstas dentro da lógica de turismo
sustentável e responsável, do que da modalidade específica de
turismo de voluntariado, de TBC ou outros (NEIMAN, 2007).
Mesmo que os(as) voluntários(as) não participem
efetivamente a longo prazo dos projetos que são planejados e
executados nas comunidades e localidades anfitriãs, existe uma
potencialidade na atividade de volunturismo de desmistificar o que é
o voluntariado e de trazer uma visão dessas ações como precursoras
de transformações coletivas visando contribuir para uma sociedade
mais justa e colaborativa. Segundo Macedo (2011) a construção
conjunta sobre voluntariado solidário e entendimento das realidades
locais é que poderá provocar essas mudanças.

Desafios do turismo de voluntariado no Lago do


Acajatuba

Buscando aprimorar e qualificar as ações de turismo de


voluntariado que ocorrem na região do Lago do Acajatuba, constatou-
se que, entre os desafios mencionados por comunitários(as) está o
trabalho com temáticas diferentes nas mentorias propostas pelas
empresas e, em especial, com temas que os afetam diretamente,
como por exemplo, conflitos decorrentes de ações governamentais
que os afligem. Também ressaltam a importância de serem
costuradas novas parcerias entre todos os atores sociais e políticos
envolvidos com a região, bem como o estímulo a parcerias entre
comunitários(as) para evitar concorrência nos negócios entre
membros da comunidade. Sugerem, ainda, que pode ser aprimorada
a comunicação entre a comunidade e as empresas atuantes.

135
Ainda entre os desafios observados foi citada a entrada
constante de novas pessoas, sejam da comunidade, ou do entorno
nas mentorias. Isto é algo a ser repensado, posto que implica em um
constante recomeçar de processos, mesmo considerando a
importância de ampliação do número de pessoas atendidas.
Os(as) comunitários(as) relataram a necessidade de as
empresas comunicarem melhor os objetivos das mentorias e de
reforçarem a importância do respeito entre os(as) próprios
comunitários(as), com a prática de um comércio justo,
diferentemente do que muitos deles percebem que acontece. Foi
observado que está ocorrendo competição entre
empreendedores(as), por venderem ou oferecerem o mesmo
produto/serviço a preços diferentes aos(às) voluntários(as).
Outro ponto trazido por comunitários(as) é a necessidade de
apoio além da expedição, de forma permanente e em outros
contextos e reivindicações, visto que ao ampliar a demanda turística,
aumenta a necessidade de ofertarem serviços que esbarram em
práticas de conservação e proteção socioambiental.
Este caso traz à baila, a discussão sobre o papel das
empresas que se envolvem com as comunidades e sobre como elas
podem apoiar, não somente financeiramente por meio de projetos
que impliquem na geração de renda, mas auxiliar na criação de redes
para que se possa construir em conjunto este caminho sustentável no
turismo e em outras frentes.
Novo (2011) mostra que um dos impactos negativos
observados pelos(as) comunitários(as) da região do Lago do
Acajatuba é a falta de organização para o turismo. Este impacto pode
estar relacionado à não participação e tomada de decisão sobre o
formato das atividades turísticas por parte da comunidade. Irving
(2009) coloca, como premissa para um Turismo de Base Comunitária,
que o encontro é condição essencial, e não somente a ida e vinda de
turistas.
O último desafio diz respeito à relação entre turistas
voluntários(as) e a comunidade. No relato dos(as) voluntários(as),

136
observa-se que existe um bom relacionamento, porém ao mesmo
tempo que a empresa afirma ter continuidade das ações, os(as)
voluntários(as) que participam de cada mentoria são diferentes, o que
gera, na visão dos(as) comunitários(as), uma repetição de ideias e
dicas e acarreta desmotivação.
Se o preparo para a mentoria ocorresse com mais cuidado e
efetividade, poderia haver um aprimoramento da atuação dos atores
envolvidos trazendo melhores resultados para a experiência, mesmo
considerando que o fator surpresa também seja importante para o
crescimento profissional do(a) voluntário(a). Este, porém, não é o
objetivo principal das atividades.
O planejamento das ações, principalmente em locais em que
existe um difícil acesso e comunicação, deve ser pensado de forma a
se considerar tais desafios, para que os impactos sejam minimizados
e não se criem expectativas das ações que a empresa parceira
realizará.
As expectativas se tornam um ponto chave para os(as)
voluntários(as), que enxergam a necessidade de uma melhor
compreensão de suas ações e propósitos, como também
demonstram um desconhecimento do que, de fato, é o voluntariado
ou sobre como ele se dá nestas atividades.
É evidente a visão de voluntariado que eles(as) próprios(as)
possuem, a qual parte de uma perspectiva individual, prevê
resultados imediatos e implica na intenção de levar seu
conhecimento às(aos) comunitários(as) sem considerar a construção
conjunta que deve ser feita com as comunidades.
Outro desafio se dá em relação às expectativas dos(as)
voluntários(as) de que sua presença no local, as mentorias e outras
atividades possam transformar realidades dos(as) anfitriões(ãs) de
forma imediata. Assim como os(as) comunitários(as), gostariam de
poder enxergar benefícios palpáveis e têm dificuldade de entender
que algumas coisas demoram tempo para amadurecer. A brevidade
da expedição por si só já é indício de que os resultados serão limitados
e pontuais.

137
É importante que as equipes das empresas compreendam
efetivamente o que é o turismo de voluntariado, quais seus impactos
e como ali, dentro daquela ação, cada um(a) tem sua
responsabilidade; conheçam bem a realidade local, atentem para que
ocorram diálogos com uma comunicação de qualidade, considerando
a distância entre as realidades e contextos dos(as) envolvidos(as) e,
também, levem em conta questões relacionadas ao acesso à internet,
por exemplo, entre outros, para que os demais desafios possam ser
trabalhados.
É necessário, também, refletir sobre a compreensão que
todos têm sobre as premissas do turismo de voluntariado, e como
estas afetam os diferentes atores, para que questionem se o turismo
de voluntariado é uma opção. Não há dúvidas de que ter a comunidade
local atuando em conjunto é fundamental para que esses dilemas e
desafios sejam cada vez mais discutidos e solucionados e o potencial
das atividades seja plenamente exercido.

138
CAPÍTULO 6

Compartilhando reflexões e
aprendizados

139
O setor do turismo considerado historicamente como uma
“indústria” limpa, geradora de divisas, tendo o lucro como o principal
fator motivador, orientado a partir de um viés mercadológico com a
comercialização de paisagens naturais e de culturas, é também fonte
de inúmeros impactos sociais e ambientais.
A tendência do chamado turismo alternativo, em suas
vertentes social e responsável e com o viés da sustentabilidade, é a
de problematizar – na prática e na teoria – o fazer turístico. Por meio
dos diferentes contextos e perspectivas, ocorre a diversificação do
turismo em muitas novas modalidades, tendências e segmentações
em busca de identidades para o mercado.
Somente na vertente sustentável é possível mencionar o
ecoturismo, o Turismo de Base Comunitária, o turismo de base local,
cultural, pedagógico, étnico, ecológico entre outros. O nome que se
dá e a prática concreta dependem da forma e do funcionamento da
atividade e de como se adequam os princípios de cada uma das
tendências, à realidade. Sem purismos, as práticas previstas nas
diretrizes de cada modalidade, ocorrem da maneira possível e com
planejamento condizente com um conjunto de princípios que
permitem optar por uma ou outra denominação, em acordo com o que
é realizado ou com a imagem que se quer produzir.
O debate sobre o turismo dito sustentável tem algumas
premissas, entre elas, a de que deve haver a participação da
comunidade local no planejamento e à frente das ações. O
voluntariado também tem sido uma tendência concreta e, como não
poderia deixar de ser, passa a dialogar com o turismo, para além de
suas experiências já consolidadas. É uma atividade com enorme
potencial mercadológico e, também, capaz de promover
transformações diversas nas localidades e nas pessoas envolvidas.
Entre diversas tendências, segmentações mercadológicas e
experiências, o turismo de voluntariado traz a proposta de unir ações
de turismo com as de impacto socioambiental por meio das quais o(a)
viajante, ao visitar uma região, pode, ao mesmo tempo, realizar uma
ação social com objetivo de deixar um impacto positivo no local e/ou
nas pessoas das comunidades. Assim como não é simples analisar

140
impactos do turismo nas comunidades, em meio a tantas outras
influências e por meio de indicadores clássicos que costumam
centrar em questões quantitativas (por exemplo, taxas de ocupação
em hotéis, geração de resíduos entre outras), não foram identificados
indicadores, nem mesmo formas mais amadurecidas de avaliar os
impactos das ações de voluntariado mediadas pelo turismo (o
volunturismo).
Porém, ao mesmo tempo, ao buscar associar a lógica das
ações voluntárias ao setor do turismo com a venda de pacotes de
serviços, insere-se a perspectiva solidária no contexto da
mercantilização. Dessa forma é possível observar, nas diferentes
definições e organizações atuantes com o turismo de voluntariado,
que o aspecto da solidariedade se torna um atrativo a mais para quem
quer aliar viagem a uma ação solidária, com trabalho voluntário
mediado por organizações e agências de turismo.
De forma geral, a literatura revisada nos leva a pensar que o
turismo de voluntariado, realizado por algumas organizações em
diversas regiões do mundo, incorpora o ideário da sustentabilidade
socioambiental como forma de gerar um novo tipo de turismo que
atrai viajantes com a premissa da responsabilidade e da
sustentabilidade. No entanto, as práticas ainda pouco conduzem a
uma reflexão abrangente sobre as questões envolvidas e nem a
práticas condizentes. Ao contrário, observa-se um fazer que não
necessariamente visa a solidariedade coletiva, tendo um viés
individualista e de curto prazo, e é neste aspecto que surgem as
contradições e os desafios de compreender os objetivos e as ações
das organizações deste segmento.
A partir do levantamento de informações acerca da definição
de turismo de voluntariado, percebe-se que não existe um consenso
entre os(as) diferentes autores(as) e entre as organizações atuantes.
Evidencia-se a importância de aprofundamento sobre o tema, visto
que pouco ainda se conhece sobre o assunto e suas práticas no Brasil.
Há também o desafio devido ao fato de as organizações de turismo de
voluntariado utilizarem nomenclaturas e compartilharem visões
diferentes sobre o fazer o que, se por um lado é positivo para

141
ampliação das experiências e ideias, por outro dificulta
entendimentos.
Neste estudo sobre o turismo de voluntariado na região da
Amazônia Brasileira a partir da observação do trabalho realizado por
uma empresa de turismo no Lago do Acajatuba – AM, compartilhamos
olhares sobre os desafios e as contradições observados como forma
de ampliar o debate e contribuir com pesquisas futuras sobre o
turismo de voluntariado no Brasil.
Para alguns(mas) representantes das organizações, o
turismo de voluntariado se resume à forma de fazer turismo que une
a vontade de viajar com a de ser voluntário(a), ou seja, é uma maneira
organizada de realizar ações sociais enquanto se viaja. Para a
comunidade que recebe a expedição, a atividade tem o significado de
apoio comunitário - uma forma de gerar renda e aprendizado.
Para alguns(mas) turistas voluntários(as) esta experiência
significa uma oportunidade de conhecer novos locais e de contribuir
com eles, de estar à frente das mudanças e gerar impacto social nos
territórios visitados.
É possível observar que as empresas deste segmento vêm
buscando aprimoramento na relação com as comunidades locais,
porém ainda falta se estruturarem melhor para um planejamento mais
aprofundado de suas ações de forma alinhada com o objetivo por elas
proposto, pautados na sustentabilidade local como fator principal e
para que tenham maior atenção e consideração com a preparação das
atividades.
Observamos que as expedições possuem uma agenda mais
turística e com atividades pontuais de voluntariado e que os(as)
comunitários(as) valorizam a atividade reconhecendo aspectos
positivos. Há uma entrega daquilo que se propõe e que é divulgado, no
entanto, é possível questionar o quanto da satisfação mencionada
está, de fato, relacionada ao trabalho da mentoria ou se dá por causa
da venda de produtos e serviços, realizada a cada expedição,
considerando alternativas e as realidades econômicas locais. É
preciso repensar alguns modelos de atuação, programação, roteiro e

142
prioridades e até entender melhor esses impactos para serem
maximizados ou minimizados.
Entre os desafios, um deles é o de lidar com as expectativas
diante da atuação das empresas em relação às outras questões
presentes na realidade local, especialmente no tocante aos
necessários diálogos com esferas governamentais devido às
constantes medidas que interferem na realidade local. Uma
possibilidade de atender a esta demanda poderia ser a realização de
convite a especialistas nos assuntos destacados, como por exemplo,
advogados(as), contadores(as), assistentes sociais, profissionais da
saúde entre outros(as), a fim de apoiar e orientar a comunidade
considerando o impacto a longo prazo, diferente do que é realizado
atualmente quando se viaja com voluntários(as) de idades, profissões
e especialidades variados sem um chamamento específico para
determinadas expertises necessárias. Tal articulação é possível e
desejável e pode ser realizada mediante diálogos, convites, chamados
e editais, conforme o caso. Algumas empresas reconhecem essa
possibilidade e têm buscado atuar com atividades específicas,
especialmente na área de saúde.
Outros aspectos importantes são a gestão dos(as)
voluntários(as) e a forma de comunicar as ações que já foram
realizadas, sendo esses pontos fundamentais para caracterizar e
registrar os impactos positivos reais aos(às) comunitários(as) para
que não se percam.
Sendo uma atividade recente, ainda sem expressão social e
nem mercadológica, pouco se conhece sobre ela e os estudos
existentes ainda não dão conta de uma análise aprofundada, em
especial da realidade brasileira e da amazônica, em particular.
Diversas notícias na imprensa trazem um olhar crítico,
quando apresentam o turismo de voluntariado como atividade que
privilegia financeiramente as empresas e outras organizações,
incluindo filantrópicas, em detrimento das comunidades e, com
pouca ênfase às demandas das populações locais e preocupações
com sua sustentabilidade. São mencionados inclusive prejuízos que
podem decorrer das atividades.

143
Diversas evidências indicam que os benefícios do trabalho
voluntário, em geral, são mais voltados aos(às) voluntários(as) e
menos interessados em apoiar as comunidades locais, nos aspectos
sociais, culturais, políticos, econômicos e ambientais a longo prazo.
Desta forma é fundamental se pensar um turismo de
voluntariado pautado em práticas éticas em que a comunidade local
seja parte do planejamento e das ações, um novo modelo que tenha
como ponto central as questões ambientais e sociais, com
voluntários(as) capacitados(as) para atuarem de forma mais crítica e
em colaboração com os atores locais, e assim sejam gerados
benefícios diversos e a longo prazo. Além disso, é crucial se pensar na
perspectiva do diálogo entre saberes distintos, e, não na perspectiva
extensionista convencional, que busca trazer conhecimento à
comunidade, a partir de uma lógica externa e não dialógica.
Retratando a realidade do Lago Acajatuba - AM, com o
interesse de organizações atuantes com turismo de voluntariado em
Estados da Amazônia Brasileira, a compreensão do imaginário
existente sobre a região é muito importante, visto que as próprias
agências e organizações passam a corroborar e se apropriar de alguns
dos termos como forma de atrair turistas para a venda dos pacotes
turísticos. Não há dúvidas que a Amazônia pode vir a ser um grande
nicho desta modalidade de turismo, pois, além de sua paisagem de
beleza exuberante e importância enquanto bioma sendo uma região
detentora de uma imensa diversidade cultural, é local de visibilidade
mundial e de incontáveis projetos sociais, desenvolvidos por ONGs
diversas de todo o mundo.
As experiências de turismo de voluntariado mapeadas neste
livro a partir do estudo de Lenci (2021) são recentes no Brasil e, na
região, com influência na Amazônia Brasileira, e, a princípio, não
contam nem com cinco anos completos de atuação. Em sua maioria,
são atividades realizadas a partir de 2016, tendo sido interrompidas
em 2020 devido à pandemia de Covid-19. Foram mapeadas sete
organizações que informam atuar direta ou indiretamente com
turismo de voluntariado na Amazônia, o número de organizações

144
encontradas foi menor do que citado por outras pesquisas no tema de
“volunteer tourism”.
Em comparação com estudos que relatam as práticas de
turismo de voluntariado em outros países, as organizações brasileiras
realizam a venda de pacotes com um planejamento já estipulado,
expedições em grupos, muitas com um voluntariado focado em levar
conhecimento para uma região, com um tempo delimitado e curto,
constituindo somente uma pequena parte da expedição. A
programação turística tradicional ocupa a maior parte do tempo,
diferentemente do que se encontra no intitulado “volunteer tourism”,
que tem uma conotação muito mais parecida com as ações de
voluntariado, com intermédio das agências de turismo para as
vendas, mas com atividades focadas nas demandas da comunidade e
não na programação turística convencional.
Entre as contradições encontradas está a motivação das
organizações para atuarem no setor. Algumas empresas não citam
em sua comunicação o viés de mercado que a atividade possui, e é
importante que este dado seja mais discutido para que se possa
refletir sobre a prática e seus impactos, bem como compreender
quem está se beneficiando, de fato, com esta atividade.
Uma única organização indica realizar uma viagem com
planejamento e foco na ação do voluntariado. Na formatação das
atividades, a missão de apoiar a comunidade em suas demandas é a
que orienta a escolha de voluntários(as) e, até a prática é focada na
ação social a ser realizada, sendo que conhecer a região seria uma
consequência da proposta.
As organizações, em geral, não realizam estudos específicos
sobre o tema, informando que aprenderam com a prática, como
também não analisam e monitoram os impactos, o que pode
ocasionar resultados contrários aos pretendidos. Ao que tudo indica,
há pouco diálogo entre os responsáveis pelas experiências e, delas,
com outras de turismo na Amazônia, realizadas por Organizações Não
Governamentais, com resultados importantes que poderiam
influenciar as atividades com suas experiências, que, mesmo
recentes, têm muito a ensinar, por terem sido configuradas por

145
especialistas de diversas áreas e origens, em parcerias que incluem
acadêmicos, pessoas do trade turístico, das comunidades e das
diversas organizações com, ou sem, fins lucrativos.
As organizações reconhecem a importância de se realizar a
análise e o acompanhamento dos resultados das ações. Porém,
quando se observam as avaliações dos impactos, estas estão mais
focadas no(a) turista voluntário(a) do que no monitoramento das
mudanças locais. A preocupação com a geração e a distribuição de
renda nas comunidades é premissa do turismo responsável e
sustentável, e não é exclusividade do turismo de voluntariado, nem do
chamado Turismo de Base Comunitária, podendo ser realizado por
qualquer empresa responsável.
Esse aspecto se torna uma contradição a partir do que é
considerado o turismo de voluntariado nestas organizações, já que a
maioria relata que as atuações se pautam nas demandas locais com a
participação da comunidade na construção dos projetos. Ao mesmo
tempo, o maior desafio é compreender como atingir as necessidades
locais e analisar estes resultados, o que demonstra o quanto ainda há
a aprender.
Outros desafios são: complexidade de atuação na Amazônia
Brasileira; atuação com clientes ao mesmo tempo que se gera
impacto social; preparação dos(as) voluntários(as) para a realidade
local; a não criação de relação de dependência da comunidade com a
empresa e nem com o turismo em si; o planejamento de projetos de
longo prazo; a percepção do turismo de voluntariado pelos diferentes
atores sociais.
Estes desafios evidenciam a necessidade de serem
realizados mais estudos sobre o tema e pesquisas futuras para que se
possa compreender os impactos das organizações a longo prazo nas
comunidades, como também se torna uma oportunidade de reflexão
e discussão.
Ao se planejar atividades, há que se incorporar no produto e
objetivos, questões que possam, de fato, impactar a comunidade,
trazer respostas às demandas, dilemas e desafios apresentados. O

146
turismo na Amazônia, embora numericamente seja considerado de
pouca relevância (em termos econômicos como costuma ser medido),
ele tem se constituído em enorme potencial de conexão entre
diversos atores, permite a criação e a significação da Amazônia no
imaginário coletivo e pode vir a ser um novo conteúdo territorial,
conforme expressão utilizada por Sansolo (2001) quando afirma que a
Região Amazônica é “um território que já adquiriu vários conteúdos
em diversos momentos da história política e econômica Brasileira” (p.
40) sendo o turismo ali “um novo conteúdo de inserção do território
amazônico, ao cenário econômico nacional e internacional” (p. 42) e
que “revela as novas formas de organização e apropriação do
território amazônico” (p. 39). Para o autor, tais conteúdos são dados a
partir das lutas de resistências locais e das globais, conectando o
lugar e o mundo na luta pela “sobrevivência da humanidade e
valorização da natureza” (p.41).
. Quando bem realizado, o turismo na Amazônia pode
representar a sobrevivência de sua floresta e de sua gente,
considerando criação de oportunidades de trabalho, de proteção
contra desmatamento e outras violências que estão cada vez mais
presentes na região.

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160
Agradecimentos
Este livro é derivado da Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Análise Ambiental Integrada (PPGAAI) da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), pela mestra Flávia Silveira Lenci sob a orientação da
Profa. Dra. Andrea Rabinovici. Diversas contribuições ao texto da
dissertação vieram a partir dos membros da Banca aos quais
agradecemos o interesse, disponibilidade e pelas discussões e
reflexões que inspiraram a versão final do texto. São eles: Prof. Dr.
Davis Gruber Sansolo, Profa. Dra. Susy Rodrigues Simonetti e Profa.
Dra. Teresa Cristina de Miranda Mendonça.
Ao Prof. Dr. Zysman Neiman pela leitura cuidadosa e atenta
deste livro, propondo inúmeras alterações que tornaram o texto
melhor.
A Juliana Maria de Barros Freire pela revisão geral do texto
em tempo recorde e à Maria India Bonduki pela versão deste livro para
o inglês, com todos os desafios encontrados neste fazer. Às duas,
nossa gratidão por terem aceito e abraçado o desafio com bastante
competência, trazendo melhorias importantes para o texto final.
Para a realização da pesquisa in loco foram fundamentais o
apoio do Núcleo de Apoio às Populações Ribeirinhas da Amazônia
(NAPRA), organização em que a Flávia atuou como voluntária por três
anos, e a Associação sem fins lucrativos, a S3 Science84, sediada na
Alemanha, que por intermédio de Jana Mueller e Kerstin Jantke
apoiou financeiramente a viabilização da viagem à Amazônia, bem
como a publicação deste livro.
Ao Instituto Physis Cultura & Ambiente pelo apoio
institucional para a viabilização deste livro.
Às organizações, empresas entrevistadas e turistas
voluntários(as) que participaram ativamente desta pesquisa, no

84
S3 Science, site de referência: https://s3-science.org/

161
compartilhamento de suas reflexões, que apoiaram a discussão sobre
o tema e que são parte essencial da conclusão desta pesquisa.
À comunidade do Lago do Acajatuba, que acolheu a
pesquisadora mestranda durante os dias de pesquisa in loco, pela
disponibilidade e pela participação.
À CAPES. O presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
Brasil (CAPES).
Aos professores(as) e colegas mestrandos(as) do Programa
de Pós-Graduação Interunidades em Análise Ambiental Integrada
(PPGAAI) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pela parceria
e pela formação recebida.

162
Sobre as autoras

Andrea Rabinovici

Bacharel e licenciada em ciências sociais com ênfase em


antropologia (IFCH/Unicamp), Especialista em Turismo Ambiental
(CEATEL/SENAC), Mestra em Ciência Ambiental (PROCAM/USP) e
Doutora em Ambiente e Sociedade (NEPAM/Unicamp). Foi Pró-reitora
de assuntos estudantis, chefe de gabinete e vice-reitora da Unifesp.
Atualmente é docente do Departamento de Ciências Ambientais e do
Programa de Pós-graduação em Análise Ambiental Integrada do
Campus Diadema da Unifesp e Vice-coordenadora da Cátedra
Sustentabilidade da Unifesp. Atua na interface das áreas de ciências
sociais (antropologia), meio ambiente e turismo, com temas variados
tais como ambientalismo, Organizações Não Governamentais,
processos participativos, populações tradicionais, turismo de base
comunitária, áreas protegidas, inclusão social, ética, meio ambiente
e educação ambiental.

Flavia Silveira Lenci

Bacharel e licenciada em Ciências Biológicas, Especialista


em Gestão de Projetos (Esalq/USP) e Mestra em Análise Ambiental
Integrada (Universidade Federal de São Paulo) com tema de pesquisa
na área de turismo de voluntariado em territórios da Amazônia
Brasileira. Nos últimos 5 anos atuou como professora no setor público
e com projetos de voluntariado em Organizações Não
Governamentais. Atualmente trabalha na ONG Ensina Brasil onde é
coordenadora de projetos pedagógicos e territoriais na área de
educação, atuando em Goiás e Mato Grosso do Sul.

163
Índice remissivo

acajatuba, 7, 9, 10, 105, 106, projeto, 40, 47, 55, 58, 60, 75,
107, 108, 118, 131, 132, 134, 81, 82, 83, 87, 89, 90, 97, 101,
135, 141, 143, 152, 154, 157, 103, 106, 108, 113
161 redes, 165
amazônia brasileira, 7, 9, 10, sociedade, 14, 24, 26, 28, 31,
11, 18, 19, 47, 48, 49, 51, 53, 32, 47, 49, 50, 59, 66, 134
54, 59, 60, 65, 78, 79, 80, 81, solidariedade, 25, 27, 30, 31,
82, 83, 84, 86, 88, 94, 96, 97, 32, 33, 34, 37, 47, 66, 125,
99, 100, 102, 112, 141, 143, 126, 133, 140
145, 152 sustentabilidade, 8, 10, 16, 22,
consumo, 13, 14, 30, 33, 37, 38, 24, 36, 37, 52, 73, 82, 106,
46, 54, 157 129, 132, 139, 140, 141, 142,
desenvolvimento, 82, 83, 88, 152, 154, 155, 156, 157
89, 106, 109, 125, 148, 153, trabalho voluntário, 10, 16, 19,
154, 156, 158 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29, 30,
economia, 34, 37, 38, 40, 43, 31, 32, 54, 76, 96, 113, 127,
44, 46, 108, 151, 154 140, 143, 157
mapeamento, 79 vivências, 49, 54, 69, 70, 80,
organização, 8, 21, 23, 27, 38, 91, 99
55, 56, 57, 63, 68, 69, 73, 76, volunturismo, 8, 9, 11, 18, 46,
80, 81, 87, 89, 90, 91, 94, 95, 62, 65, 66, 67, 68, 69, 76, 77,
98, 99, 109, 125, 135, 144, 79, 82, 87, 89, 91, 96, 126,
146, 160 127, 133, 134, 140, 153
Ficha técnica

Título Turismo de Voluntariado

Subtítulo contradições e dilemas

Autoras Andrea Rabinovici e Flávia Silveira Lenci

Coleção -

Páginas 166

Edição 1 - Português

Volume 1

Ano 2022

Cidade Diadema

Editora V&V Editora

ISBN 978-65-88471-68-5

DOI 10.47247/AR/88471.68.5

REFERÊNCIA

RABINOVICI, A. LENCI, F. S. Turismo de Voluntariado: contradições e


dilemas. Diadema: V&V Editora, 2022.
Cara leitora e caro leitor,

Agradecemos por ter comprado a versão impressa desse livro e/ou


por ter feito o download do e-book. Decerto que despertar seu
interesse pela obra, para nós, é uma alegria imensa.

Por isso, agradecemos.

Caso tenha alguma dúvida ou sugestão,


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