Você está na página 1de 1514

Organizadores:

Ana Paula Freitas Guljor


João Mendes de Lima Júnior
Leonardo Penafiel Pinho
Ana Maria Fernandes Pitta
Sônia Barros
Paulo Amarante
Rafael Wolski de Oliveira
Rossana Carla Rameh de Albuquerque

Anais do 7º Congresso da ABRASME

1ª edição

Santo André-SP
Dezembro de 2020
Ficha técnica

Arte Final: Leonardo J. D. Campos


Produção editorial:
COOPACESSO
Cooperativa de Trabalho Acesso Cultural Educacional Sustentável Solidária
Avenida Queirós Filho, 2.690 - Sala 1 - Vila Guaraciaba,
Santo André-SP / 09121-587
(11) 9.9732-4278
www.coopacesso.org // coopacesso@coopacesso.org

A responsabilidade da COOPACESSO se restringe à edição e publicação desta obra. Os conteúdos da


mesma são de responsabilidade exclusiva dos organizadores. Todos os direitos reservados. A
reprodução não autorizada desta publicação, seja no todo ou em parte, constitui violação de direitos
autorais (lei 9.610/98).
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Sumário

Resumo ......................................................................................................... 7
Apresentação ................................................................................................ 9
Atividades Pré-Congresso ............................................................................ 18
Ilê Ará - Saúde Mental e religiões afro-brasileiras .................................... 24
Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes: um outro modo de tecer
cuidado em saúde mental ...................................................................... 26
Mulheres e Drogas: Reflexões para o cuidado feminino em CAPS AD ........ 28
Quando o trabalho adoece: conceitos, vivências e estratégias de
enfrentamento ao sofrimento mental no trabalho ................................... 30
Terapia Comunitária Integrativa - Espaço de escuta, palavra e vínculo ...... 32
Cooperativismo Social, Saúde Mental e Economia Solidária...................... 34
Reforma Psiquiátrica no Brasil: história e desafios contemporâneos ......... 35
Garantias de direitos e saúde mental: as práticas dos CAPS ...................... 37
Saúde Mental da pessoa idosa no isolamento social da Pandemia... ....... 38
A Luta Antimanicomial é também uma Luta Antirracista .......................... 40
A construção psicológica sob perspectiva sócio-histórica e a
interseccionalidade como estratégia para promoção de saúde mental ..... 42
A Redução de Danos (RD) como proposta para o cuidado de usuários de
droga: reflexões sobre inclusão social ..................................................... 44
Cuidados multidisciplinares e Saúde Mental do Trabalhador .................... 46
Expressão, corpo e debate - desafios da práxis a partir do teatro do
oprimido ............................................................................................... 48
Oficina de Articulação do Observatório Internacional de Práticas de Gestão
Autônoma da Medicação ....................................................................... 50

4
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

População em situação de rua: a invisibilidade como forma de negligência e


desrespeito aos direitos humanos e a dignidade como pacto civilizatório . 52
Práticas integrativas e complementares, expressões artísticas e
espiritualidade no mental”. Uma vivência pedagógica em torno do
conteúdo “lutas”, com ênfase na modalidade do judô ............................. 54
Processo criativo no período da pandemia: como transformar nosso tempo
ocioso em arte para poder preservar nossa saúde mental? ...................... 56
Protagonismo de usuários e familiares no campo da saúde mental e luta
antimanicomial...................................................................................... 58
Corpo Negro nos espaços: um direito corrompido? ................................. 59
Entre Telas e Aflições: a experiência das pessoas com a pandemia da
COVID-19 .............................................................................................. 61
Mesas Redondas ......................................................................................... 63
TÍTULO: Direito e advocacia em defesa dos vulneráveis ........................... 63
TÍTULO: A Política de Saúde Mental de Norte a Sul .................................. 68
TÍTULO: Cuidado a pessoas que usam drogas: conceitos e práticas ........... 75
TÍTULO: Práticas Emancipatórias: Economia Solidária .............................. 79
TÍTULO: Perspectivas do cuidado: a cannabis medicinal em foco .............. 84
TÍTULO: A Maternidade como questão .................................................... 90
TÍTULO: A Casa e a Rua: perspectivas no cuidado às pessoas ... ................ 95
TÍTULO: Uso de drogas e rupturas de paradigmas na democracia ............. 99
TÍTULO: Patologização da infância e da adolescência ............................. 105
TÍTULO: O Conselho Federal de Psicologia na pandemia de Covid-19:
atuação em rede e junto à categoria na atenção à saúde mental ............ 109
TÍTULO: Intersexualidade e população LGBTQI+..................................... 110
TÍTULO: Loucura em conflito com a lei: desafios para a Reforma... ......... 116
TÍTULO: Políticas antirracistas e resistência antimanicomial ................... 121
TÍTULO: Práticas Emancipatórias: Arte-cultura ....................................... 129
TÍTULO: Cuidado em Saúde Mental da criança e do adolescente ............ 134
Roda de Conversa – Relato de Experiência ............................................... 138
Eixo Temático 02. Entrelaçamento da clínica, da gestão, da formação e da
política na organização do cuidado psicossocial. .................................... 138

5
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Eixo Temático 07. Práticas integrativas e complementares, expressões


artísticas e espiritualidade no cuidado em saúde mental. ....................... 140
Projeto Eu Sou: raça, gênero, identidade e pertencimento. Relato de
experiência de M.J.F. no CAPS Casa dos Artistas – Ouro Preto, MG. ........ 141
03. Resistências antimanicomiais e antiproibicionistas... ...................... 1288
04. Saúde Mental e interseccionalidade: classe, gênero, raça e etnia .... 1354
05. Expressões do sofrimento humano na atual realidade sócio-política
brasileira.................................................................................................. 1474

6
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Resumo
O 7° Congresso Brasileiro de Saúde Mental realizou seu Pré-Congresso
no dia 08 de dezembro de 2021 no formato on-line e com transmissão
pública. Neste reuniu de 09 as 12h o Encontro Nacional de
Acompanhamento Terapêutico e de 14h as 18h o encontro de Redes e
Movimentos da América Latina e do Caribe. De 10h as 12h aconteceu o
lançamento da Campanha Nacional de Direitos Humanos do Sistema
Conselhos de Psicologia: “Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?”.
Durante a manhã do dia 09 de dezembro, ainda como atividade de Pré-
Congresso, entre 09 e 12h aconteceram as 09 oficinas e 10 minicursos. O
início do Congresso com a mesa de abertura ocorreu no dia 09 de
dezembro as 16h. Durantes os três dias de Congresso aconteceram 4
sessões de rodas de conversas divididas em 82 rodas com 12
apresentações por sessão; 3 sessões de mesas redondas sendo em cada
uma das sessões 05 mesas com média de 4 expositores (as) e 02h de
duração. Os grandes debates ocorreram nos dias 09 de dezembro de 17
as 19h e nos dias 10 e 11 de dezembro no horário de 16:10 às 18:10.
Estiveram presentes mais de 3.200 congressistas de 27 estados do país e
37 do exterior. Foram aprovados 923 trabalhos dos 1.065 submetidos.
Na modalidade rodas de conversa 486 eram relatos de experiências e
391 relatos de pesquisa. Foram 31 submissões aprovadas para mesas
redondas, 08 para oficinas e 10 para minicursos. Na composição das
inscrições, segmentando por sexo, 79% se declararam do sexo feminino.
As inscrições ainda contemplaram uma diversidade de perfis composta
por estudantes, profissionais, usuários/familiares. Além da repercussão
em âmbito nacional, o evento mobilizou protagonistas das políticas de
saúde mental de vários países latino-americanos e caribenhos que

7
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

estiveram presentes no ‘Encontro das Redes e Movimentos Sociais em


Saúde Mental da América Latina e Caribe’, fortalecendo a
internacionalização das agendas comuns do campo da saúde mental.

8
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Apresentação
A Associação Brasileira de Saúde Mental – ABRASME - realizou
nos dias 09, 10 e 11 de dezembro de 2020 o 7º Congresso Brasileiro de
Saúde Mental com o tema “Desorganizando posso me organizar:
Afetos, lutas e resistências antimanicomiais”. A ABRASME, entidade
pautada pela Reforma Psiquiátrica, foi fundada em 2008 tendo como
eixos norteadores a defesa dos Direitos Humanos e a Justiça Social,
pressupostos inalienáveis ao cuidado em saúde mental. Neste sentido,
para além de uma reorganização de serviços, a Reforma Psiquiátrica
brasileira se insere no marco de um processo civilizatório. Sendo assim,
se configura como parte de um processo permanente de mobilização e
participação social, com protagonismo de seus usuários, familiares e
trabalhadores.
A inclusão social, o enfrentamento aos racismos e a homofobia,
as questões de gênero, a patologização da vida cotidiana, redução de
danos e políticas sobre drogas, a economia solidária, a defesa das pautas
das populações mais vulnerabilizadas e o cuidado em liberdade
compõem uma ampla temática de debates os quais a ABRASME, ao
longo dos anos, tem se proposto a realizar em seus encontros.
O atual 7º Congresso foi organizado, de forma distinta de anos
anteriores. A condição da pandemia de COVID-19 e a quarentena com o
distanciamento social, impôs o cancelamento de um congresso que seria
em Recife - PE, na forma presencial. Reafirmando a bandeira de
resistência manteve-se a concepção inicial, pautada na força do
movimento Manguebeat. Já no primeiro momento quando se preparava
um Congresso para Julho de 2020, buscava-se através deste movimento-
experiência cultural traduzir a beleza, a alegria e a criatividade também

9
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

encontradas nos movimentos antimanicomiais, antiproibicionistas e na


luta pela democracia. Caranguejos (Rodas de Conversas), Raízes
(Oficinas e minicursos), Guaiamuns (Mesas Redondas) são os nomes das
atividades que também resgataram a proposta original de valorização da
terra nordestina onde este se daria. Viva Recife, Viva o Nordeste!
Diante do exposto, o 7º Congresso Brasileiro de Saúde Mental
foi organizado com o espírito de luta de sua comissão organizadora e
das redes compostas por movimentos, entidades, usuários, familiares,
trabalhadores, estudantes que estiveram presentes através da
participação durante o evento e/ou da organização de sua estrutura.
Neste Congresso a tradicional figura de ‘presidência do congresso’ se
apresentou através de seu coletivo de diretores (as) e parceiros (as) da
ABRASME demonstrando, com o exercício da construção coletiva, a
importância da luta antimanicomial, principalmente porque foi possível
retratar em cada uma de suas atividades que nestas últimas quatro
décadas de Reforma Psiquiátrica: avançamos, capilarizamos a lógica do
cuidado em liberdade de norte a sul do país e nos multiplicamos.
Foram mais de três mil participantes inscritos e um número
superior a 1.000 trabalhos submetidos para rodas de conversas,
minicursos, oficinas e mesas redondas. A partir da amplitude de seus
eixos o 7º Congresso apresentou a diversidade do campo da saúde
mental. Os eixos centrais que balizaram as rodas de conversas, a saber:
1. Direitos humanos e dignidade humana como pacto civilizatório: povos
em encarceramento, povos tradicionais, população em situação de rua,
imigrantes e refugiados; 2. Entrelaçamento da clínica, da gestão, da
formação e da política na organização do cuidado psicossocial; 3.
Resistências antimanicomiais e antiproibicionistas tecendo o cuidado; 4.
Saúde Mental e interseccionalidade: classe, gênero, raça e etnia; 5.
Expressões do sofrimento humano na atual realidade sócio-política
brasileira; 6. Alternativas diagnósticas e terapêuticas à patologização e
medicalização da vida; 7. Práticas integrativas e complementares,
expressões artísticas e espiritualidade no cuidado em saúde mental; 8.
Laços familiares e comunitários no cuidado em saúde mental; 9.

10
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Protagonismo, organização política e geração de renda de usuários/as e


familiares no cuidado; 10. Processos de trabalho e práticas de cuidado
em saúde mental trouxeram luz as dimensões envolvidas neste processo
e foram impulsionadores das trocas dialógicas entre os muitos atores de
todas as regiões do país, com suas conquistas e suas batalhas. Através
dos relatos de pesquisa, relatos de experiências e grandes debates
agregaram-se pesquisadores, profissionais de saúde, gestores públicos,
estudantes, parlamentares, ativistas dos direitos humanos, militantes da
redução de danos, movimentos sociais entre outros que constroem no
cotidiano esta caminhada pela transformação da sociedade.
O 7º Congresso Brasileiro de Saúde Mental foi permeado por
atividades diversificadas de participação social em tempos de
organização virtual. No Pré-Congresso ocorreu o lançamento da
Campanha Nacional de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de
Psicologia: “Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?”, a Passeata
Virtual e o Ato em Defesa da Democracia e do Cuidado em Liberdade.
Foram momentos importantes de manifestação coletiva de protestos e
denúncias de violações de direitos vivenciados cotidianamente na
realidade do Brasil de hoje. Como compromisso de continuidade foi
lançado o site do 5º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental, evento
bianual da ABRASME, que será realizado em setembro de 2021 em Ouro
Preto-MG, com abertura de suas inscrições. O Pré-Congresso,
transmitido em modo aberto pelas redes sociais, aconteceu no dia 08 de
dezembro com o Encontro Nacional de Acompanhantes Terapêuticos e
o Encontro de Redes e Movimentos em Saúde Mental da América Latina
e do Caribe.
Para além de uma política pública, o 7º Congresso Brasileiro de
Saúde Mental da ABRASME debateu uma lógica, um modo de andar a
vida. E assim, empunhamos nossas bandeiras, nos reinventamos na
forma on line, para garantir a propagação das diretrizes da Reforma
Psiquiátrica, imagens-objetivo, traduzidas nas milhares de práticas e
experiências retratadas nestes anais. Assim, resistiremos e faremos
desta sociedade um lugar onde a solidariedade, a justiça social garanta o

11
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

direito de uma existência digna e cidadã à todas as raças, etnias, credos,


gêneros e classes.

Leonardo Penafiel Pinho


Presidente da ABRASME

Ana Paula Guljor


Vice presidente da ABRASME
Coordenadora da Comissão Científica do 7° Congresso Brasileiro de
Saúde Mental

12
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Diretorias da ABRASME
Gestão 2018 – 2020

Diretoria Coordenações Regionais

Ana Maria Fernandes Pitta Norte:


Presidente - Marilda Couto (PA)
- Gibson dos Santos (AM)
Leonardo Penafiel Pinho
Vice-Presidente Nordeste:
- Mônica de O. Nunes de Torrenté (BA)
Ana Paula Freitas Guljor
- Melissa Leite Azevedo (PE)
1ª Secretária
Centro-oeste:
Marcelo Kimati
- Ana Lúcia Rodrigues [Nena] (BSB)
2º Secretário
- Vanessa Camargo (MT)
João Mendes de Lima Júnior
Sudeste:
1º Tesoureiro
- Claudia Penido (MG)
José Setemberg - Luciana Surjus (SP)
2º Tesoureiro
Sul:
- Tânia Grigolo (SC)
- Dipaula Minotto da Silva (SC)
- Simone Paulon (RS)
- Rafael Wolski de Oliveira (RS)

Paulo Amarante
Presidente de Honra

CONSELHO FISCAL
Fabrício Menegon - SC
Sônia Barros - BA
Anna Luiza Castro Gomes – PB

13
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Gestão 2020 – 2022


Diretoria Diretorias Regionais
Leonardo Penafiel Pinho Norte:
Presidente - Marilda Couto (PA)
- Gibson dos Santos (AM)
Ana Paula Freitas Guljor
Vice-Presidente Nordeste:
- Janete Valois Ferreira Serra (MA)
Rogério Giannini
- Rossana Carla Rameh de
1ª Secretária
Albuquerque (PE)
Daniel Oliveira de Souza
Centro-oeste:
2º Secretário
- Francisco Cordeiro (BSB)
João Mendes de Lima Júnior - Ana Lourdes de Castro Schiavinato
1º Tesoureiro (GO)
Rosângela Maria Soares dos Sudeste:
Santos - Aisllan Assis (MG)
2º Tesoureiro - Nicéia Maria Malheiros Castelo
Branco (ES)
Sul:
- Dipaula Minotto da Silva (SC)
- Rafael Wolski de Oliveira (RS)

Paulo Amarante
Presidente de Honra
Ana Maria Fernandes Pitta
Diretora Emérita
CONSELHO FISCAL
Ricardo de Albuquerque Lins - BSB
Sônia Barros - BA
Marcelo Antônio Parintins Masô Lopes – RJ

14
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Comissão Organizadora do 7º CBSM


1ª Fase

Comissão Organizadora Geral


Alda Roberta
Andrea Graupen
Carla Pinheiro Maciel
Carlos Romário Bezerra de França Santos
Carlos Silvan
Chaiane dos Santos
Elaine Camêlo Carneiro
Ingrid Farias
Itamar Lages
Jailson José dos Santos
João Mendes de Lima Júnior
Jorge Luiz Silva
José Nilton Monteiro da Silva Júnior
Márcio Muniz Carvalho de Andrade
Márcio Soares
Maria Jucineide Lopes Borges
Maria Bernadete de Cerqueira Antunes
Melissa Azevedo
Mirian Senghi Soares
Naíde Teodósio Valois Santos
Paco Sobral
Priscila Gadelha Moreira
Rafael Silva West
Ricardo Albuquerque Lins
Riva Karla Vieira da Silva
Sérgio de Souza Cruz
Suely Emília de Barros Santos
Telma Melo

15
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Thays Maria do Nascimento


Wedna Cristina Marinho Galindo
Veruska Tavares Moreira

Comissão Científica
Ana Maria Fernandes Pitta
Carla Pinheiro Maciel
Marcela Adriana da Silva Lucena
Maria Bernadete de Cerqueira Antunes
Neide Teodósio
Paulo Amarante
Rossana Carla Rameh de Albuquerque
Wedna Cristina Marinho Galindo
Sônia Barros

16
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

2ª Fase

Comissão Organizadora Geral


Aisllan Assis
Ana Paula Freitas Guljor
Ana Lourdes de Castro Schiavinato
Daniel Oliveira de Souza
Dipaula Minotto da Silva
Chaiane dos Santos
Janete Valois Ferreira Serra
João Mendes de Lima Júnior
Francisco Cordeiro
Gibson Alves dos Santos
Leonardo Penafiel Pinho
Letícia Paladino Resende
Marilda Nazaré Nascimento Barbedo Couto
Mirian Senghi Soares
Nicéia Maria Malheiros Castelo Branco
Rogério Giannini
Rosangela Maria Soares dos Santos
Rossana Carla Rameh de Albuquerque
Rafael Wolski de Oliveira

Comissão Científica
Ana Maria Fernandes Pitta
Ana Paula Freitas Guljor
João Mendes de Lima Júnior
Paulo Amarante
Rafael Wolski de Oliveira
Rossana Carla Rameh de Albuquerque
Sônia Barros

17
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Atividades Pré-Congresso
08 de dezembro de 2020

Atividade
Encontro Nacional de Acompanhamento Terapêutico

Objetivo da atividade
O Acompanhamento Terapêutico (AT) tem se configurado como
prática/ferramenta clínica no campo da saúde mental coletiva e
instrumento fundamental em processos de desinstitucionalização dos
hospitais psiquiátricos e das práticas manicomiais na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS). A proposta deste encontro durante o Pré-congresso
Brasileiro de Saúde Mental tem a finalidade de proporcionar um espaço
de trocas e debates sobre esta prática no Brasil a partir de grupos e
entidades que promovem espaços de experiências e produção de
conhecimento sobre o AT em diferentes regiões do país, tendo como
balizador da discussão a questão do racismo estrutural na sociedade
brasileira e suas implicações no ato de acompanhar.

Instituições participantes/responsáveis:
ATNARDE/UFRGS
AT: clínica e criação na cidade/UFSC, Giramundo/PUCSP
AT na UISM/HCUFU (Unidade de Internação de Saúde Mental do
Hospital de Clínicas da UFU)
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – UNISINOS,
AT URI Santiago - Programa de acompanhamento terapêutico na rede
comunitária de Santiago – RS

18
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Acompanhamento Terapêutico em um CAPS-ad (Fortaleza CE)


Itinerâncias da Clínica Psicossocial - Rede de ats - FISMA (Santa Maria –
RS)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
FACOS

______________________________
Atividade
Lançamento da Campanha Nacional de Direitos Humanos do Sistema
Conselhos de Psicologia: "Racismo é coisa da minha cabeça ou da
sua?"

Objetivo da Atividade
Apresentou os marcos conceituais que fundamentam a Campanha
Nacional de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia
(2020-2022), situando a Psicologia Brasileira em prol de um projeto de
sociedade antirracista e, somente assim, verdadeiramente democrática.
Com o slogan “Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?”, esperava-
se que psicólogas(os), estudantes de Psicologia e demais profissionais e
pesquisadoras(es) da saúde mental, bem como a sociedade em geral,
fossem envolvidos pela campanha e que colaborem com o
delineamento de uma Psicologia Antirracista e Decolonial. As lutas
antimanicomial e antirracista são convergentes, pois voltam-se para a
defesa da vida, saúde, justiça e liberdade. Apresentou-se, de forma
panorâmica, as atividades previstas para os dois anos de duração da
campanha e que serão realizadas por todo o país, numa parceria entre
as Comissões de Direitos Humanos do Conselho Federal e dos 24
Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs). Destaque-se que a campanha
trará à baila o racismo contra a população negra tanto quanto dará
ênfase ao racismo contra os povos indígenas, produzindo ações
discursivas e práticas que colaborem com processos formativos e
informativos sobre racismo, branquitude e práticas antirracistas,

19
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

considerados como temas interdependentes. A atual Campanha


promoverá ainda o resgate e o mapeamento do histórico dos debates
sobre o racismo no âmbito do Sistema Conselhos, celebrando os 20 anos
da Resolução CFP Nº 18/2002, que “Estabelece normas de atuação para
os psicólogos em relação a preconceito e discriminação racial”. Tal
resolução foi publicada após a realização da Campanha Nacional de
Direitos Humanos de 2002, que trouxe como tema “O preconceito racial
humilha e a humilhação social faz sofrer”, sendo também fruto das
reflexões promovidas em seu âmbito.

Instituições participantes/responsáveis
Comissões de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia

__________________________________
Atividade
Lançamento da Comunidade de Práticas em Saúde Mental e Atenção
Psicossocial IdeiaSUS/FIOCRUZ da curadoria de saúde mental do
IdeiaSUS.

Curador: Paulo Amarante

Objetivo da atividade
O objetivo do lançamento da Comunidade de Práticas em Saúde
Mental e Atenção Psicossocial do IdeiaSUS, plataforma virtual da
FIOCRUZ (http://www.ideiasus.fiocruz.br/portal/), foi inaugurar a
curadoria em saúde mental deste dispositivo que reúne diversos campos
da saúde coletiva através do registro de mais de 2000 práticas em
saúde. A ideia de criar essa comunidade é a de dar organicidade, um
espaço de interlocução, compartilhamento, conhecimento e
reconhecimento das experiências e multiplicação dessas práticas com
um recorte das experiências em saúde mental. A Comunidade é acima
de tudo uma estratégia permanente de trocas, de reflexão, cooperação

20
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e retroalimentação. A comunidade de práticas em saúde mental e


atenção psicossocial caracteriza-se por se constituir através da adesão
de experiências que se auto identifiquem com os princípios da Reforma
Psiquiátrica. O evento foi um convite a todas estas experiências
iniciarem com a curadoria de saúde mental um movimento de
colaboração e participação, que é mais que a soma de iniciativas
isoladas. Ao considerar que o fundamental de uma Comunidade de
Práticas é o espírito coletivo este evento inaugurou um processo de
articulação centrípeta. Buscou informar as formas de adesão a este
movimento de retroalimentação e publicizar este espaço de interação.

Instituições participantes/responsáveis
IdeiaSUS/FIOCRUZ/Presidência
LAPS ENSP/FIOCRUZ
ABRASME.

21
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Minicursos

Grupo Temático de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes da


Abrasme

Luciana Togni de Lima e Silva Surjus


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Maria Aparecida Affonso Moysés


Cecília Azevedo Lima Collares
Maria de Lurdes Zanolli
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Maria Cristina Ventura Couto


Bárbara Costa Andrada
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Ilana Katz
Carla Biancha Angelucci
Universidade de São Paulo – USP

Ricardo Arantes Lugon


Universidade Feevale

Claudia Mascarenhas
Instituto Viva Infância

Contextualização: A preocupação com a saúde mental de crianças e


adolescentes tem sido postergada no âmbito das políticas públicas,
compondo um cenário de imenso distanciamento do que foi proposto
enquanto prioridade nas agendas de um Estado Democrático de Direito.
Malgrado esforços expressos em articulações locais e pouquíssimos
documentos governamentais, parece paradoxalmente emergir nas

22
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

aspirações de controle autoritário da liberdade, evidentes nos processos


de medicalização, criminalização e privação de liberdade.
No 4º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, ocorrido
no período de 20 a 22 de junho de 2019 na cidade de Salvador, a
Abrasme efetivou o lançamento do Grupo Temático de Saúde Mental de
Crianças e Adolescentes que pretende articular atores protagonistas no
campo da saúde mental infantojuvenil, para organizar as lutas que
perpassam para a sustentação teórico-prática e clínico-política de uma
atenção psicossocial engajada com a necessária crítica e promotora de
agenciamentos capazes de produzir novos possíveis e novas
subjetividades.
Justificativa: No ano em que comemoramos os 30 anos da Convenção
dos Direitos das Crianças, do qual o Brasil é signatário, recebemos em
nossas casas, pela grande mídia, e em nossos serviços, em famílias
desesperadas, as histórias e corpos sobreviventes, enquanto executivo e
legislativo avançam com o projeto de desmantelo das políticas públicas
por meio de legislações e normativas que restringem os direitos à saúde,
educação, assistência e asfixiam possibilidades de controle social, no
caso da infância, atingindo diretamente o Conselho Nacional dos
Direitos das Crianças e Adolescentes (Conanda). Atônitos, nos
desmobilizamos. Mas também ressignificamos e reorganizamos nossos
esforços e juntamos nossas lutas.
Este minicurso pretende promover encontro presencial do GT para
avaliar avanços e desafios frente ao planejamento realizado em janeiro
de 2020, bem como propiciar trocas entre profissionais, pesquisadores,
usuários e familiares, além de estruturar a agenda de ações e produções
para o próximo semestre.
Metodologia: roda de apresentação das ações do GT, compartilhamento
de experiências e articulação de agenda das ações.

23
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Ilê Ará - Saúde Mental e religiões afro-brasileiras

Elisabete Vieira
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Contextualização: O Candomblé se apresenta como uma manifestação


religiosa proveniente das múltiplas etnias africanas que, a partir do
século XVI, foram trazidas para o Brasil, no contexto da escravidão. E,
somente, no século XVIII que esta designação foi institucionalizada e
espacialmente localizados, com o surgimento dos primeir os terreiros
de Candomblé em Salvador, na Bahia (Carneiro, 1977).
Mas, é no processo de redemocratização do país que a religião ganhou
visibilidade, através de maior conhecimento por parte da população do
Brasil dessa religiosidade, aumentando o número de adeptos, bem
como, os indivíduos que até então vivenciavam esta religiosidade
assumissem estes espaços publicamente, como é caso de várias figuras
públicas do cenário nacional como artistas, esportistas e políticos
(Prandi, 2004).
Os terreiros de Candomblé puderam mostrar que são locais de
resistência e manutenção da identidade negra, através das rezas,
cantigas, culinária e ritualística. É nesse contexto que os adeptos passam
entender que o corpo físico é instrumento para materialização do
sagrado.
Justificativa: O tema da saúde perpassa o cotidiano dos terreiros de
Candomblé e de seus adeptos. Isso porque, historicamente, os terreiros
de Candomblé se revelam como espaços de acolhimento, apoio e
conforto nos momentos em que os sujeitos se encontram enfermos.
Mandarino (2012) afirma que os terreiros desenvolvem diversas
atividades voltadas para a atenção à saúde, mesmo existindo uma gama
de problemas físicos e mentais, os adeptos recorrem a esses espaços em
momentos distintos do trato das doenças.
A saúde dentro do espaço do terreiro aparece em todos os rituais
desenvolvidos e determinados pelo Axé. Na cosmovisão africana, o Axé

24
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

é o que preconiza e move todas as atividades desenvolvidas dentro do


terreiro de Candomblé, desse modo ter saúde física e mental é ter Axé.
Para Santos (2008, p. 39), o Axé “é a força que assegura a existência
dinâmica, que permite o acontecer e o devir.” Assim, os terreiros de
Candomblé e seus adeptos são portadores desse princípio dinâmico,
Axé, entendendo-se que na sociedade de santo e a ausência desse
princípio é o causador dos males físicos, mentais e espirituais que
acometem os seres humanos.
Objetivos: Conhecer o processo de cuidado em saúde em saúde mental,
apreendendo o trajeto realizado na busca pelo cuidado em saúde nos
terreiros.
Compreender que a experiência histórica de adeptos das religiões afro-
brasileiras no Brasil é também a experiência de inúmeros traumas.
Trabalhar com uma concepção de saúde que é pensada e produzida na
relação entre o simbólico e o concreto.

25
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes: um outro


modo de tecer cuidado em saúde mental

Roberta Antunes Machado


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
IFRS

Luciane Prado Kantorski


Liamara Denise Ubessi
Ivon Fernandes Lopes
Isadora Oliveira Neutzling
Universidade Federal de Pelotas – UFPel

Contextualização: O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes


(MIOV) nasce na Holanda no final da década de 1980. Defende que ouvir
vozes que outras pessoas não ouvem não é um problema, mas sim como
cada pessoa lida com essa experiência. Desenvolve em diversos países
do mundo o trabalho com grupos de ouvidores de vozes, com a
finalidade de oferecer as pessoas que passam por essa experiência uma
oportunidade de compartilhá-las de modo a construir estratégias de
enfrentamento para lidar com esse evento. As experiências
compartilhadas produzem uma forma de cuidado e de saber alternativo
ao psiquiátrico acerca desse fenômeno. Objetivo: Discutir a experiência
da audição de vozes a partir do trabalho desenvolvido pela Coletiva de
Mulheres que Ouvem Vozes (CMOV), Associação de Usuários dos
Serviços de Saúde Mental de Pelotas (AUSSMPE) e do Grupo de Pesquisa
em Enfermagem em Saúde Mental e Coletiva(UFPel) na cidade de
Pelotas e região Sul como forma de cuidado e de resistência
antimanicomial em saúde mental. Metodologia: O minicurso começará
com uma rodada de apresentação dos participantes. Em seguida,
abriremos o diálogo para uma roda de conversa sobre o que os/as
participantes conhecem sobre o MIOV, após apresentaremos o MIOV
por meio de artigos publicados pelo do Grupo de Pesquisa em

26
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Enfermagem em Saúde Mental(UFPel) e dos trabalhos desenvolvidos


pela CMOV e AUSSMPE na comunidade e em alguns serviços de saúde
mental na cidade de Pelotas e região, recorrendo a exposição de fotos e
vídeos, com exposição em Power Point, em seguida iremos trabalhar
com narrativas de pessoas ouvidora de vozes, publicadas em um
periódico científico organizado pelo grupo de pesquisa com participação
da CMOV, AUSSMPE, pesquisadoras e pesquisadores de outras
instituições de ensino nacional e internacional. Após, abriremos outra
roda de conversa para debater sobre o modelo de cuidado em saúde
mental na perspectiva do MIOV e da psiquiatria tradicional. Para realizar
este minicurso necessitaremos de Power Point e computador com
acesso à internet. A avaliação será mediante a expressão escrita, verbal
ou artística de cada participante sobre a experiência da audição de
vozes como forma de cuidado e de resistência ao modelo hegemônico
em saúde mental.

27
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Mulheres e Drogas: Reflexões para o cuidado feminino em


CAPS AD

Catharina Cavalcanti de Melo


Evelly Nathália Lira de Araújo
Universidade de Pernambuco - UPE

Luciana Ferreira Gomes Espíndola


CAPS AD CPTRA e Hospital das Clínicas

Wanessa da Silva Pontes


CAPS AD Prof.º José Lucena
A defesa da luta antimanicomial requer mediações acerca das
diversas estruturas de opressões que moldam o sistema patriarcal-
capitalista-racista e mobilizam aspectos objetivos e subjetivos do
sofrimento mental. Isto posto, é primordial pensar a questão de gênero
e os estigmas que circundam o uso abusivo de álcool e outras drogas por
mulheres, para compreender seus desdobramentos no processo de
cuidado em saúde mental, interno e externo aos serviços substitutivos.
Desde já, algumas problemáticas são manifestadas no próprio cotidiano
desses serviços. Um levantamento institucional organizado no CAPS AD
Prof.º José Lucena, na cidade do Recife, elucidou que menos de ¼ dos/as
usuários/as do serviço eram do sexo feminino, um dado expressivo e
comparável a outros serviços, que pode ser mensurado também pela
recorrente não adesão ou abandono do acompanhamento. Segundo
Pinheiro et al. (2002) as mulheres, em comparação aos homens,
apresentam uma maior predisposição na procura e acesso aos serviços
de saúde no geral, contudo, quando se trata da busca por dispositivos
de atenção à saúde no tratamento de uso/abuso de álcool e outras
drogas, a situação se inverte. Essa realidade pode ser compreendida se
considerarmos que essas mulheres são duplamente estigmatizadas, por
não cumprirem os papéis sociais femininos, e por fazerem o uso da
droga. Elas são expostas a inúmeras formas de adoecimento, sem os

28
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

cuidados e assistência necessária, e possuem uma tendência a


continuarem anônimas, adiando a procura pelo tratamento ou
abandonando-o muito cedo (PINHEIRO et al. 2002). Isso quando
possibilitado o acesso. Diante disso, é possível constatar que há a
necessidade de aperfeiçoar ofertas de cuidado, tendo em vista a
ampliação de recursos que dialoguem e contemplem as especificidades
fisiológicas, psicológicas e sociais dessas mulheres, baseadas em
proposições e estratégias de Redução de Danos. É importante elucidar
ainda, as diferenças nos papéis de gênero entre os diferentes setores
sociais brasileiros, como urbano/rural, burguesia/classe trabalhadora, e
também a questão étnico-racial, visto que existem divergências
historicamente marcantes nos espaços socialmente ocupados pelas
mulheres. O objetivo deste minicurso é fortalecer o debate sobre as
questões de gênero que perpassam a oferta de cuidado e adesão de
mulheres em uso abusivo de álcool e outras drogas, nos Centros de
Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPS AD). Para isso,
serão utilizadas metodologias participativas, priorizando o
conhecimento prévio dos/as inscritos/as, a fim de ilustrar inquietações e
iniciar o debate. O espaço contará com três momentos, que se inicia
com a sensibilização a respeito das categorias centrais – mulheres,
drogas e Clínica Ampliada – utilizando recursos audiovisuais e
compartilhando experiências, vivências e percepções sobre o tema.
Posteriormente será facilitado o debate teórico, com apresentação de
dados epidemiológicos e sociodemográficos coletados em CAPS AD da
cidade do Recife, assim como o aprofundamento das problemáticas e
possibilidades no contexto de cuidado nesses serviços, a partir de eixos
estratégicos como, PTS, território e família, apoio matricial, RD e
controle social. Por fim, será construído coletivamente um mapa
conceitual que propunha estratégias de atravessamento da clínica
ampliada na questão de gênero, considerando o fluxo operacional dos
serviços.

29
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Quando o trabalho adoece: conceitos, vivências e estratégias


de enfrentamento ao sofrimento mental no trabalho

Tatiana dos Anjos Magalhães


Universidade Federal Fluminense - UFF

Sônia Regina da Cunha Barreto Gertner


Lucia Rotenberg
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

No contexto atual de contrarreforma da saúde no Brasil e de desmonte


da rede de atenção psicossocial, é de suma importância discutir o tema
da saúde mental e trabalho. Os profissionais que atuam na área são
afetados diretamente por essas medidas, que fragilizam ainda mais a
sua saúde mental. Camargo (2014) estima que os transtornos mentais
relacionados ao trabalho são os principais causadores de incapacidades,
sendo identificados como importantes problemas de saúde pública.
Entre os servidores públicos, os transtornos mentais configuram entre
as principais causas de afastamento no trabalho (SCHLINDWEIN;
MORAES, 2018). Algumas correntes teóricas discorrem sobre o tema da
saúde mental e trabalho, dentre elas, o Desgaste Mental trazida por
Seligmann- Silva (2004; 2011), que entende o desgaste mental como a
perda da capacidade laborativa durante o processo de trabalho. Nesta
teoria o processo de trabalho é visto como determinante principal da
relação entre saúde-doença das coletividades (LAURELL, 1993). Outra
corrente teórica é a Psicodinâmica do Trabalho, do médico psicanalista
Christophe Dejours, que analisa a saúde mental e trabalho a partir da
dinâmica entre o prazer e o sofrimento no trabalho. Objetivo: (1)
apresentar os conceitos da teoria do desgaste mental e da
psicodinâmica do trabalho, (2) discutir alguns textos que tratam da
saúde mental dos trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial, (3)
partilhar as vivências relacionadas à saúde mental e trabalho dos
participantes do minicurso, (4) identificar possíveis estratégias de

30
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

enfrentamento do sofrimento no trabalho. Metodologia: o encontro


consistirá numa apresentação dialogada dos principais conceitos das
duas correntes teóricas propostas, discussão sobre textos que analisam
especificamente a saúde mental dos trabalhadores da RAPS e uma parte
final de partilha de vivências e identificação de estratégias de
enfrentamento do sofrimento no trabalho. Materiais necessários: uma
sala ampla que comporte 30 pessoas, data show para apresentação e
microfone. Avaliação: conforme formulário de inscrição.

31
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Terapia Comunitária Integrativa - Espaço de escuta, palavra e


vínculo

Anamélia Lins e Silva Franco


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Josefa Emília Ruiz


Universidade Estadual Paulista - UNESP

Maria Lúcia de Andrade Reis


Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa – ABRATECOM

O presente minicurso consiste em uma breve apresentação dos


pressupostos teórico-metodológicos da Terapia Comunitária Integrativa
(TCI), uma das 29 PICS dentro da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde. A TCI é uma PIC originária do
Ceará (Brasil) numa experiência de extensão universitária na qual o
desafio do combate a medicalização possibilitou as bases desta prática.
Os fundamentos teórico-conceituais da TCI são: Teoria de Paulo Freire, a
Antropologia Cultural, a Psicologia Sistêmica, a Teoria da Pragmática da
Comunicação e o conceito de resiliência com o propósito de formação
de redes sociais. Essas bases possibilitam a vivência de uma prática
social/terapêutica que preserva o direito de os participantes serem
escutados, falarem em primeira pessoa, partilharem experiências,
articulem o saber popular das músicas, dos ditados, dos provérbios e das
piadas com a experiência explicitada na roda. A TCI é ofertada como
uma estratégia de promoção da saúde mental na atenção primária em
todo o Brasil, na América Latina e países da Europa e da África. A
formação em Terapia Comunitária possibilita que pessoas das
comunidades, agentes comunitários de saúde e profissionais em geral. A
versatilidade dessa prática e a sua origem brasileira são motivos para
ampliar cada vez mais sua oferta. Nessa oportunidade pretende-se
fortalecer os vínculos da TCI com profissionais da área de saúde mental.

32
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Objetivos: apresentar o cenário atual desta prática, a produção científica


na área, bem como o impacto junto à saúde comunitária. Metodologia:
a metodologia proposta para esta atividade prevê uma exposição
dialogada, apresentando seus alicerces teóricos, as aprendizagens e
desafios que esta prática genuinamente nacional tem construído ao
longo de mais de três décadas, desde a sua criação no final dos anos 80
no nordeste do Brasil. Após a apresentação, vivenciaremos na prática
uma roda de TCI conduzida pelas autoras da proposta e ao final será
aberto um espaço para uma conversa apreciativa da atividade.

33
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cooperativismo Social, Saúde Mental e Economia Solidária

Ana Luisa Aranha


Pedro Montaldi Gava
Felipe Teixeira Genta Maragni
Caroline Ballan
Íris Smaniotto Roschel Rotger
Anna Luiza Monteiro de Barros

Este Curso concebe cada participante como sujeito do processo


multiplicador de saberes e rejeita identificá-lo como mero receptor de
um modelo pronto, assim, constituir-se-á como: o encontro grupal, um
espaço vivo de debates, para pensar e repensar a prática; um ambiente
para criar e recriar conhecimentos, ver e rever pressupostos; uma
experiência para descobrir e socializar desafios e perspectivas do
trabalho voltado para visão integradora do ser humano como ser social.
Como todo processo de formação é resultado de condições históricas e
depende de um longo processo de reflexão sobre a própria prática, o
coletivo de construção do conhecimento implica em discussão, troca de
experiências e estudo teórico, com clareza e explicitação da
fundamentação teórica, que servirá de guia para a ação educativa.

34
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reforma Psiquiátrica no Brasil: história e desafios


contemporâneos

Paulo Amarante
Ana Paula Guljor
Eduardo Torre
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção
psicossocial - FIOCRUZ

O processo de Reforma Psiquiátrica brasileiro inicia-se em fins da


década de 70 e durante as últimas quatro décadas se constituiu como
uma das transformações do modelo de cuidado em saúde mental mais
exitosas do mundo, além de um amplo processo de mudanças de
relações sociais para com a loucura e o sofrimento mental. O diferencial
do processo brasileiro caracterizou-se pelo protagonismo de usuários e
familiares e uma construção coletiva de políticas públicas através de 4
conferências nacionais de saúde mental. O marco legal de garantia de
direitos das pessoas em sofrimento psíquico foi promulgado em 2001,
sendo uma das legislações pioneiras na América Latina. Apesar de seu
reconhecimento como política de Estado e grandes avanços no que se
refere as práticas de cuidado em liberdade ainda se depara com grandes
desafios. Para além da necessidade de ampliação dos dispositivos
territoriais e fechamento dos hospitais psiquiátricos, a
desinstitucionalização, conceito orientador do modelo de atenção
psicossocial, pressupõe a desconstrução de estigmas e uma
transformação do lugar social da loucura. No Brasil de hoje, atravessado
por questões estruturais como o racismo e a violência, e pelo
acirramento dos princípios neoliberais na economia, o debate impõe
uma agenda ampla que exige a análise da conjuntura política nacional
onde o projeto de nação universalista e equânime está em disputa com
um campo conservador orientado por um estado mínimo e em uma
lógica privatista mercantil. Este minicurso propõe um resgate histórico

35
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

deste processo de RP dialogando com os desafios atuais em um


contexto clínico, político e cultural.

36
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Garantias de direitos e saúde mental: as práticas dos CAPS

Fernanda Nicácio
Marcia Aparecida Ferreira de Oliveira
Claudia Braga
Universidade de São Paulo - USP

A complexidade de concretização da garantia de direitos das pessoas


que vivem experiências de sofrimento psíquico - uma das diretrizes
fundamentais da reforma psiquiátrica - no cotidiano das redes
territoriais de atenção psicossocial do SUS e intersetoriais requer a
análise e o debate coletivo, em particular no atual contexto social e
político. Objetivos: (i) possibilitar o conhecimento inicial sobre:
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o
QualityRights tool kit - tradução oficial para o português "Direito é
Qualidade"; (ii) propiciar a reflexão sobre os desafios das práticas
desenvolvidas nos centros de atenção psicossocial - CAPS, CAPSad e
CAPSij- tendo como referência essas proposições, a Lei 10216, e em
diálogo com algumas das contribuições dos principais autores da
perspectiva ética-teórica-técnica da desinstitucionalização e da
reabilitação como cidadania.

37
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental da pessoa idosa no isolamento social da


Pandemia Covid-19

Ana Pitta
Ana Brandino
Universidade Católica de Salvador - UCSAL

Joana América Oliveira


Médica Geriatra

Palavras-Chave: Saúde Mental, Envelhecimento, Isolamento social,


Intergeracionalidade, COVID-19.
Em resposta à pandemia da COVID-19, foram instituídas pela OMS
medidas de distanciamento social, isolamento social e quarentena.
Dentre os grupos mais vulneráveis à COVID-19, encontram-se os idosos,
que além do estigma de pertencerem a um grupo de risco, podem, ao
serem submetidos ao isolamento social, com alterações na dinâmica
familiar, nas relações intergeracionais e interpessoais, desencadear
sentimentos diversos, de solidão, sofrimento emocional, medo e
angústia que aumentam o impacto do isolamento na saúde mental, o
que justifica a busca de conhecimento e pesquisas sobre este tema. Este
minicurso contará com a presença de três professoras doutoras do
NUPE-UCSAL, que desenvolvem juntas estudos e pesquisas no campo da
Velhice, Gerontologia e Saúde Mental: Ana Pitta: Saúde Mental no
envelhecimento; Joana América Oliveira: Epidemiologia, velhice e
desenho de investigação; Ana Brandino, Resultados e conhecimentos
preliminares. Trata-se de estudo com abordagem quantitativa e
qualitativa, que tem por objetivo analisar o impacto do isolamento
social nas relações intergeracionais entre idosos brasileiros e
portugueses, com foco nos determinantes biopsicossociais e os
diferentes contextos socioambientais em que vivem. Foram investigados
indivíduos a partir de 60 anos de idade, em uma amostra por
conveniência. A coleta de dados foi realizada através de questionário

38
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

digital, com quatro grupos de questões: socioeconômicas e


demográficas; ambiente familiar e relações intergeracionais, indicadores
de saúde e saúde mental. A equipe de pesquisa presente estará
disponibilizando suas experiências e a discussão com os (as)
participantes deverá possibilitar reflexões e observações sobre as
relações, dinâmicas e reflexos que envolvem o isolamento social,
aprofundando a compreensão sobre este grupo de indivíduos, de modo
a propor ações interventivas, com respostas às necessidades desta
população e de suas famílias, que promovam a saúde mental e o bem-
estar em tempos de pandemia.

39
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Luta Antimanicomial é também uma Luta Antirracista

Eliane Silvia Costa


Jeane Saskya Campos Tavares
Emiliano Camargo David
Conselho Federal de Psicologia – CFP

INTRODUÇÃO: A terrível história de escravização de negros, indígenas e


o racismo científico que embasou a posterior política de
embranquecimento da população brasileira se relacionam diretamente
com a constituição do campo da saúde mental no início do século XX.
Longe de se constituírem como formas de cuidar, as intervenções
psiquiátricas, os manicômios e as prisões foram uma atualização dos
métodos de tortura colonial sustentados teoricamente pelo higienismo
e Darwinismo social. Apesar de séculos de luta do povo negro, nos anos
1970-80, tanto o Movimento da Reforma Sanitária (MRS), voltado para
reestruturar as políticas de saúde de modo geral, quanto no Movimento
da Reforma Psiquiátrica Brasileira (MRP), destinado mais
especificamente ao campo da saúde mental, convergiram na defesa dos
direitos humanos, mas prescindiram da discussão da desigualdade racial
e priorizaram a luta de classes. Na mesma época, o Movimento Negro
Unificado (MNU) defendia a democracia, a reformulação das políticas
trabalhistas, educacionais, de segurança pública (contra a violência
policial), dentre outros, entendendo a indissociabilidade entre estas
questões e o racismo.
OBJETIVO: para ampliar e atualizar esta discussão, neste minicurso
discutimos que a defesa de uma sociedade sem manicômios passa pela
compreensão interseccional de que nos estruturamos como sociedade a
partir do racismo, do classismo (desigualdade de classe social) e o
sexismo (desigualdade de sexo, gênero e orientação sexual) e do
capacitismo.
METODOLOGIA: nessa direção, apresentaremos escritos
contemporâneos e ações recentes realizadas pelo Conselho Federal de

40
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Psicologia lastreadas por esse olhar interseccionado e antimanicomial,


portanto, contra qualquer modalidade de dominação, é o caso do
Boletim da Comissão de Direitos Humanos, uma publicação bimensal do
CFP.
RESULTADOS: esperamos que se evidencie que as lutas antimanicomial
e antirracista não são campos distintos de militância, são movimentos
em defesa da vida, saúde, justiça e liberdade que se entrelaçam
historicamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: num momento histórico em que assistimos ao
retorno da defesa pública da tortura e do uso político de discursos de
ódio, da disseminação de informações falsas e do racismo como
justificativa aceitável para intensificação do genocídio da população
indígena e negra consideramos ser urgente este debate.

41
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Oficinas

A construção psicológica sob perspectiva sócio-histórica e a


interseccionalidade como estratégia para promoção de saúde
mental

Esther Rocha da Silva Correia


Melissa Gava Payer
Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO

O presente trabalho nasceu a partir da necessidade de discutir e pensar


interseccionalidade, sobretudo em uma sociedade que foi construída
através do genocídio e marcada pela escravidão, pelo sexismo e pela
desigualdade social. Essa palavra – interseccionalidade – para alguns
banalizada e para outros desconhecida, se torna cada vez mais
indispensável para a promoção de saúde mental. Proferida pela primeira
vez pela jurista afro-americana Kimberlé Crenshaw (1989) e como Silma
Birge (2009) define muito bem, a interseccionalidade é uma teoria e um
recurso metodológico que visa compreender a complexidade das
identidades e desigualdades sociais de maneira integrada e não parcial.
Desde o período colonial, quando a Psicologia se tratava do desejo de
compreender o ser humano e catequizá-lo, os interesses atendidos são
os das elites e dos mais privilegiados. Contudo, diante da pluralidade de
existências, é urgente considerar múltiplos recortes e se comprometer
com os que, frente à normatividade, sempre foram vistos como “o
outro”. Após compreender isso, o objetivo aqui inserido é de despertar
debates acerca do ser humano dentro de uma sociedade. Conforme Ana
Bock (2008) aponta, é preciso que os sujeitos sejam pensados por uma
perspectiva que tenha a historicidade como uma de suas características
principais. Portanto, este trabalho tem como intuito estimular a
perspectiva sócio-histórica e desenvolver, de forma interativa e
embasada, o olhar contextualizado e inclusivo para a multiplicidade de

42
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

culturas e vivências de uma sociedade desigual, machista, racializada e


ferida pelo apagamento e massacre de determinadas etnias. Na
metodologia deste trabalho, além das pesquisas bibliográficas, reunimos
relatos enviados por voluntários que compartilharam suas histórias e
vivências dentro de cada recorte possível da interseccionalidade.
Durante a oficina, inicialmente será realizada com os participantes a
Caminhada dos Privilégios – adaptada pelas autoras. Em seguida, serão
sorteadas e lidas pelos participantes da oficina as histórias recebidas,
para encorajar a reflexão e a troca de experiências acadêmicas e
pessoais. Em conseguinte, dialogaremos juntos sobre a construção de
um coletivo para acolhimento, conversas e eventos que abracem e
lidem com as diversidades, com o objetivo de promover saúde mental
por uma perspectiva interseccional. Os membros da oficina poderão
escolher se desejarem participar desse coletivo, que realizará reuniões
virtuais e possíveis reuniões presenciais com coordenadores de vários
lugares do país. Os recursos são adaptáveis e o espaço será utilizado da
melhor maneira possível. Para a Caminhada, a sala é o suficiente. A caixa
com os relatos será preparada pelas próprias autoras e os debates
surgirão espontaneamente. Com o embasamento acadêmico levado por
nós e a troca de conhecimento e bagagem pessoal durante a oficina,
levaremos nossas histórias – e de tantos outros – para a Psicologia,
contribuindo para o enriquecimento dela e priorizando a promoção de
saúde mental e prevenção do adoecimento, respeitando a diversidade
de saberes e vivências – reconhecendo os grupos que, depois de tanto
descaso histórico, precisam especialmente do nosso olhar.

43
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Redução de Danos (RD) como proposta para o cuidado de


usuários de droga: reflexões sobre inclusão social

Tassiana Gonçalves Constantino dos Santos


Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Laís Ramos Sanches


Centro Universitário Unifaminas

Contextualização: A Reforma Psiquiátrica é construída e reconstruída ao


longo dos anos, dia após dia, reunindo dispositivos importantes como a
redução de danos (RD). A RD constitui-se em uma forma de cuidado
para usuários de álcool e outras drogas priorizando a autonomia,
cuidado em liberdade e tecnologias leves (escuta, acolhimento e
vínculo) e tendo como foco a garantia dos direitos da população usuária
e a inclusão destes nos espaços sociais. No entanto, os pressupostos
desta prática têm se tornado alvo de propostas conservadoras e
fundamentalistas que impactam na sua execução, que podem reforçar
os processos de exclusão, segregação e marginalização social, uma vez
que intensificam os estigmas associados aos usuários. Portanto, pensar
a RD enquanto proposta de inclusão social é essencial para a efetivação
das políticas públicas nos dispositivos da rede de atenção psicossocial. O
desafio dessa efetivação da inclusão está na construção histórica de
uma sociedade que tem incluído de forma indigna e perversa,
determinados grupos sociais, como os usuários de drogas. Essa falácia
da inclusão se pauta na exclusão histórica, que foi reforçada pelos
processos históricos de opressão, marginalização, estigmas e
reprodução de uma ordem social vigente. Assim, a RD assume um
importante espaço de luta em prol da inclusão efetiva, que se constrói
na medida em que se reflete sobre tal dialética. Justificativa: A RD se
pauta em práticas de inclusão social, no entanto, torna-se necessário a
reflexão sobre essa relação, de modo que a RD, por meio da liberdade,
autonomia e informação, proporcione ao usuário um cuidado tendo em

44
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vista a promoção da participação dos sujeitos nos âmbitos sociais,


familiares, comunitários, políticos e trabalhistas. No entanto, a
efetivação da inclusão social, conforme prevista em lei, tornou-se um
impasse diante dos históricos processos de exclusão e segregação.
Torna-se necessário, então, intensificar o debate e reflexão crítica, tanto
no âmbito acadêmico quanto junto aos profissionais da saúde e saúde
mental, de modo a tecer críticas quanto às práticas que reforçam este
processo de exclusão. Objetivos: Proporcionar reflexão crítica acerca da
Redução de Danos e das concepções acerca da inclusão social nas
políticas de drogas, perpassando temas transversais como minorias,
estigmas e exclusão social, fundamentais para a proposta da RD.
Metodologia: Serão utilizados recursos interativos como construção de
painéis de concepções, com foco da discussão sobre a RD enquanto
política pública que resiste em tempos de retrocessos. Logo em seguida,
será realizada uma exposição teórica sobre a RD e sobre os desafios da
inclusão social, pautada em autores e autoras que fazem uma reflexão
crítica acerca da realidade social. Por fim, uma vivência e reflexão sobre
estereótipos e estigmas encerrará a oficina. Recursos materiais: Será
necessário uma sala com cadeiras que possam ser realocadas, papel
pardo, pincéis, canetinhas, lápis de cor e data show. Avaliação: espera-
se que por meio da oficina, seja possível instigar uma reflexão sobre as
práticas de cuidado que os profissionais disponibilizam aos usuários,
buscando o questionamento: a redução de danos tem promovido a
inclusão ou tem reforçado a exclusão social?

45
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidados multidisciplinares e Saúde Mental do Trabalhador

Simone Deodato Lima


Clarice da Paz Bezerra
Joice Silva de Almeida Sousa
Antônia Maria de Sousa Paz Lima
Prefeitura Municipal de Icapuí

Beatriz Alcântara Damasceno


Escola de Saúde Pública do Ceará

Contextualização: A implementação de cuidados em saúde mental para


quem cuida, nos faz aceder uma ação transformadora nos nossos
processos de trabalho. Para assumir o cuidado, é preciso encontrar
respostas satisfatórias construídas no coletivo. Cuidador é aquele que
cuida de alguém. Quem se cuida, pode cuidar melhor do outro. Nesse
sentido, a partir de vivências terapêuticas, a oficina proporcionará ações
de cuidado priorizando reflexões para promoção da saúde e prevenção
do adoecimento de profissionais de saúde. Justificativa: A necessidade
de nos sentirmos cuidadas para podermos cuidar do outro, viabilizou a
construção de novas formas de trabalho. A oficina aqui tratada surge
como primeira atividade de cuidado em nosso município (ICAPUÍ-CE), a
tratar do tema “cuidando do cuidador”. Trata-se de um projeto
desenvolvido pelos profissionais do Centro de Atenção Psicossocial,
realizado no ano de 2019 voltado para profissionais das oito (8)
Unidades de Atenção Primária do referido município, onde os mesmos
tiveram a oportunidade de se reunir para cuidar-se, olhar para si, refletir
sobre seus sentimentos e atitudes no ambiente de trabalho e na vida
pessoal. A partir dos momentos de cuidados propostos, puderam pensar
de que forma eles estavam se preparando para acolher o outro.
Acreditamos que o pioneirismo possa incentivar futuros profissionais a
terem esse olhar dinâmico da nossa prática e para reflexos pessoais que
possam incidir na nossa vida profissional. A principal motivação para

46
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

apresentarmos a oficina ao congresso, reside na importância que o tema


possui para os trabalhadores da saúde mental. Podemos afirmar que
estudar a influência mútua entre os profissionais e os usuários,
aprofundam a compreensão de novas estruturas sociais e de saúde. Em
tempos turbulentos em termos políticos e econômicos como os atuais,
inserir o cuidado da nossa prática, funciona como um catalisador para
mudanças nos processos de trabalho. Objetivos: Propor vivências e
intervenções terapêuticas propiciando aos trabalhadores de saúde
mental momentos presenciais de cuidado, autoconhecimento; voltados
para os aspectos emocionais, psicológicos e relacionais; construir no
coletivo, propostas de cuidado, para que os profissionais possam atuar
como sujeitos críticos e reflexivos em relação ao próprio processo de
trabalho. Metodologia: A oficina será realizada na modalidade
presencial, a partir de exposição dialógica, utilizando-se de discussões e
debates que trazem para o campo importantes contribuições. A oficina
ainda oferecerá um espaço mais dinâmico de trocas de experiências, a
partir de atividades práticas vivenciais voltadas para a temática que
favoreçam e estimulem um pensar crítico no âmbito da saúde pública e,
sobretudo da saúde mental. Serão ofertados momentos de cuidado dos
quais destacamos: Roda da Vida, dança circular, círculo do cuidado,
biodança, mural dos sentimentos, dentre outras.
Recursos materiais: mini projetor - data show.

47
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Expressão, corpo e debate - desafios da práxis a partir do


teatro do oprimido

Fabricio Gobetti Leonardi


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Apresentação justificativa e metodologia: O Teatro do Oprimido é um


método estético que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais que
objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes e a
democratização do teatro, estabelecendo condições práticas para que o
oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e amplie suas
possibilidades de expressão, estabelecendo uma comunicação direta,
ativa e propositiva entre espectadores e atores. Tem como seu
idealizador o teatrólogo brasileiro Augusto Boal.
Entre as técnicas do Teatro do Oprimido, a mais praticada em todo o
mundo é o Teatro-Fórum, um espetáculo baseado em fatos reais, no
qual personagens oprimidos e opressores entram em conflito de forma
clara e objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. Neste
confronto, o oprimido fracassa e o público é convidado pelo curinga (o
facilitador do Teatro do Oprimido), a entrar em cena, substituir o
protagonista (oprimido) e buscar alternativas para o problema
encenado.
O Teatro do Oprimido é uma metodologia criada para ser apropriada
por qualquer pessoa, já que se baseia no princípio que todo ser humano
é teatro e por isso é capaz de fazer teatro. Por isso, os candidatos para o
programa de capacitação não precisam ter nenhuma experiência teatral
e/ou formação específica.
Esta proposta aposta no Teatro do Oprimido como de vivência da práxis,
em que trabalhadores, usuários, familiares e gestores da saúde mental
da rede atenção psicossocial possam vivenciar espaços de trocas e ações
concretas.
A metodologia do Teatro do Oprimido a partir da experiência de vida
das pessoas é uma alternativa lúdica, dinâmica e eficaz para o

48
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estabelecimento de um ambiente propício para a discussão de temas


como: integração do usuário na comunidade, sua inserção familiar e
social, preconceito no mercado de trabalho, sexualidade, entre outros,
os quais dificilmente são verbalizados, mas são reveladas através do
teatro.
Além da identificação e compreensão de problemas, o Teatro do
Oprimido estimula a busca de alternativas concretas para a resolução
dos mesmos, incentivando a construção coletiva de soluções diversas,
democráticas e criativas. Essa metodologia foi utilizada como oficina
naquela que pode ser considerado a primeira ideia de CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial) no mundo: a Casa das Palmeiras (Dra. Nise da
Silveira) e fortalecia o vínculo de tratamento e o afeto entre
funcionários, usuários e familiares.
Objetivos: Realizar uma formação introdutória sobre teatro do oprimido
e linguagem corporal com vistas à democratização dos meios de
produção cultural e cênica.
Difusão do Teatro do Oprimido, ativação e fortalecimento da cidadania,
através da implementação de ações socioculturais que estimulem a
participação protagônica das camadas menos privilegiadas da
sociedade, e visem à transformação da realidade através da abertura de
espaços de diálogos.
Recursos: O único recurso que precisamos é um espaço adequado (sem
cadeiras fixas, por exemplo). Pode ser utilizado um espaço aberto, um
palco, uma sala de aula.

49
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Oficina de Articulação do Observatório Internacional de


Práticas de Gestão Autônoma da Medicação

Marilia Silveira
Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Luciana Togni de Lima e Silva Surjus


Beatriz Cesar Lauria
Erika Marinheiro Pereira
Douglas Martins Nunes
Angelo Galdino da Silva
Otaviano Lopes dos Santos
Helena Aparecida Ferreira
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Contextualização: A Gestão Autônoma da Medicação é uma proposta


desenvolvida no Quebec – Canadá, na década de 1990. Surgiu da
problematização realizada pelos movimentos sociais sobre o uso de
medicamentos psicotrópicos, sendo uma estratégia de mudança nas
relações de poder para garantir aos usuários uma participação efetiva
nas decisões sobre seu tratamento e pressupõe como fundamental o
diálogo e o intercâmbio entre os atores envolvidos nos tratamentos em
saúde mental.
A GAM tem sido utilizada em diferentes experiências no Brasil, tomada
como um dispositivo de co-gestão em uma tentativa de superar o
binarismo de autogestão / heterogestão. Os grupos GAM
desenvolveram-se a partir de dispositivos heterogêneos em diferentes
serviços, compostos por trabalhadores, familiares e usuários de
diferentes idades e com diferentes diagnósticos, para que as diferenças
possam lado a lado, enfatizar a importância do diálogo.
Da experiência, que atualmente completa de 10 anos, da utilização da
estratégia GAM no Brasil, surgiu a proposta da estruturação do
Observatório Internacional de Práticas GAM, cujos objetivos são:

50
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sistematizar, acompanhar e dar visibilidade às experiências que vêm


sendo produzidas no Brasil, Espanha e Canadá, com vistas a produzir
subsídios para sustentação e expansão de tecnologias de cuidado que
promovam autonomia junto a usuários, famílias e profissionais em
relação ao tratamento farmacológico amplo e acrítico em saúde mental,
em especial frente ao cenário de retrocessos na política nacional de
saúde mental.
Justificativa: O Observatório vem sendo gestado há dois anos, e em
setembro de 2019 teve o Acordo Internacional de Cooperação
Multilateral publicado no Diário Oficial da União, sendo lançado
oficialmente no último dia 30/10/2019, em evento acadêmico realizado
na PUC São Paulo, com representantes do Brasil e Espanha. O
Observatório conta com um sítio eletrônico (observatoriogam.org) a
partir do qual podem ser acessadas as principais produções científicas e
notícias da mobilização das práticas no Brasil.
Objetivos: Promover o encontro entre as diferentes experiências em
curso, fomentar trocas e sistematização dos resultados de modo a
produzir subsídios para a sustentação científica das práticas
emancipatórias em saúde mental.
Metodologia: Oficina de compartilhamento de experiências e
elaboração de agenda de ações e produções técnico-científicas.
Recursos materiais: Necessários dispositivos de audiovisual.

51
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

População em situação de rua: a invisibilidade como forma de


negligência e desrespeito aos direitos humanos e a dignidade
como pacto civilizatório

Melissa Gava Payer


Esther Rocha da Silva Correia
Universidade do Grande Rio - UNIGRAMRIO

Este trabalho surgiu a partir do desejo de compreender um pouco sobre


a população em situação de rua para além de todos os seus rótulos e
invisibilidades sociais, pois trata-se de um assunto fundamental na
atualidade. Entendendo que é preciso desenvolver trabalhos com essa
população, que necessita de ações sérias, embasadas e políticas, é que
este projeto busca desenvolver contribuições a esse respeito. Nesse
sentido, é válido citar que de acordo com Rosa, Cavicchioli e Brêtas
(2005), “as políticas públicas voltadas a essa população são basicamente
compensatórias, assistencialistas, raras vezes visam um projeto de
inclusão social.” Existem muitos estereótipos sobre a população em
situação de rua, assim como diversas intervenções falhas para com ela,
além da baixa quantidade de dados estatísticos a esse respeito no Brasil
– não sendo inclusive realizadas pesquisas nem mesmo pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). E ao mesmo tempo que
ela é apagada estatisticamente, é observada de forma pejorativa nas
ruas. Sobre isso Rosa, Cavicchioli e Brêtas (2005), resumem que “Se, por
um lado, são tidos como incômodos ocupantes das vias públicas, por
outro, sentem-se incomodados pelos olhares que lhes são
direcionados." Diante disso, por entender que o povo de rua é potente,
e tem direito a ações que atendam suas particularidades e verdadeira
inclusão social, este projeto considera importante e coerente a
realização da proposta aqui apresentada. Por metodologia foram
realizadas pesquisas bibliográficas para elaboração embasada de uma
oficina interativa geradora de reflexões e provocações para maior
visibilidade da população em situação de rua. Propõe-se, inicialmente, a
52
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

apresentação dos resultados de um formulário de pesquisa


disponibilizado online para pessoas das cidades de Duque de Caxias,
Magé e Rio de Janeiro, todas do estado do Rio, que buscava coletar
opiniões sobre como essas pessoas veem e se relacionam com a
população de rua, para gerar discussões críticas acerca dessa realidade
em uma roda de conversa. Em seguida, acontecerá a realização de
leituras de relatos verídicos e fictícios sobre algumas das vivências dessa
população, que serão sorteados pelos participantes, a partir de uma
caixa preparada pelas próprias autoras previamente, para criar um
ambiente favorável a sensibilização e problematização sobre os
desrespeitos aos direitos humanos que essas pessoas enfrentam,
gerando estímulo para continuidade do debate. Por possuir caráter
interativo, os recursos materiais necessários são poucos, visto que uma
sala com cadeiras disponíveis para acomodação de um determinado
grupo em roda e com um projetor para explanar os resultados do
formulário, mostra-se suficiente. Sendo assim, a proposta apresentada
compreende essa realidade e faz-se necessária como espaço de
importantes discussões na área, assim como busca apresentar que a
população em situação de rua é formada por indivíduos potentes, que
não precisam pura e simplesmente de boas almas, mas sim de
oportunidades equânimes e de ações governamentais urgentes.

53
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas integrativas e complementares, expressões artísticas


e espiritualidade no mental”. Uma vivência pedagógica em
torno do conteúdo “lutas”, com ênfase na modalidade do judô

Clara Borges Leal


Federação Baiana de Judô - FEBAJU

Cláudia Miranda
Universidade Federal da Bahia – UFBA

A proposta de oficina se vincula ao eixo “Práticas integrativas e


complementares, expressões artísticas e espiritualidade no cuidado em
saúde mental”. Seu intuito é possibilitar uma vivência pedagógica em
torno do conteúdo “lutas”, com ênfase na modalidade do judô,
buscando refletir e compreender como essas práticas corporais
milenares, artístico-culturais e esportivas, podem colaborar no processo
de inclusão, democratização, sociabilidade e cuidado em saúde mental
na infância e adolescência. Embora as práticas corporais de movimento
e jogos recreativos estejam sendo ofertados pelas equipes de saúde
mental, nem sempre essas práticas incluem conteúdos das lutas e
algumas vezes as intervenções não se articulam às diretrizes de uma
clínica mais ampliada e integrada. A metodologia proposta se baseia
numa perspectiva pedagógica sociointeracionista vygostckyniana e
numa percepção de saúde com foco na vulnerabilidade social. A partir
dessas bases teórico-conceituais e metodológicas, buscaremos refletir
de que modo as lutas, carregadas de sentidos culturais, têm e podem se
constituir em ferramentas e estratégias de cuidado em saúde mental,
tendo como interseccionalidade as expressões de violência e exclusão
social que predominam no mundo em que esses sujeitos, crianças e
adolescentes, estão imergidos na atualidade. A aproximação com essa
prática corporal na oficina se dará a partir dos seguintes passos: 1)
aproximação geral e troca de experiências e de percepções acerca dos

54
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sentidos das “lutas” diante dos atuais desafios sociopolíticos e de


cuidado em saúde na infância e adolescência; 2) experimentos lúdicos
em torno de alguns procedimentos técnicos do judô, com ênfase na
ideia de que a luta só acontece por trocas e interações entre os
diferentes sujeitos envolvidos; 3) reflexões acerca das possibilidades e
limites das práticas corporais, a partir do conteúdo lutas, dentro do
contexto do cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes, em
diferentes espaços sociais, como na rede de atenção psicossocial e
escolas. Precisamos de placas de EVA (tatames que podem ser
substituídos por colchonetes ou tapetes) como recursos físicos e
materiais para desenvolver a oficina.

55
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Processo criativo no período da pandemia: como transformar


nosso tempo ocioso em arte para poder preservar nossa saúde
mental?

Edenice Santos da Silva


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Em meio ao cenário de pandemia em que estamos vivendo e, diante da


necessidade de respeitarmos o isolamento social observa-se um
emaranhado de pessoas sofrendo de transtornos mentais e,
consequentemente, experienciando variações de humor, estágios
depressivos, consequências físicas e interpessoais, enfim, situações
psicossomáticas. Diante do exposto, observa-se a relevância social da
oficina de processos criativos para transformação do tempo ocioso em
arte, preservando, assim, a saúde mental dos participantes. Uma vez
que a arte tem a capacidade de transformar o indivíduo,
proporcionando-lhe a libertação interior e o alívio da mente. O objetivo
desta oficina é estimular a criatividade do indivíduo a partir da
construção coletiva, para que ao final da atividade os participantes
possam apresentar suas angústias poeticamente, ou seja, expressar-se
através da arte. Metodologicamente esta atividade será desenvolvida
através de grupos e subgrupos, conforme a preferência da turma e, ao
término, haverá uma apresentação final de todos os resultados obtidos,
ou seja, de todos os trabalhos gerados em conjunto. Para que haja
melhor fluidez, estima-se um número máximo de participantes, 40
pessoas. Para esta oficina será necessário, apenas, canetas e papéis para
o processo prático e equipamentos de projeção (notebook, projetor e
caixa de som) para que possam acompanhar algumas das minhas
criações. É interessante que a atividade seja desenvolvida em um espaço
amplo e com boa iluminação para que não haja desconforto, visto que
os participantes desenvolverão a escrita criativa. Para este processo
tudo será válido, ou seja, aqueles que desejarem transformar seus
poemas em canções, poderão desenvolver seus batuques. Portanto, é
56
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

aconselhável que o espaço esteja em um ponto estratégico, para que


não interfira nas demais atividades do Congresso. Ao final da atividade,
espera-se que todos os participantes se sintam relaxados e aptos a
prosseguirem com suas produções individuais ou coletivas, servindo de
multiplicadores, incentivadores ou, simplesmente, escritores, poetas,
compositores, enfim, o que desejarem ser. Mesmo que alguns não
desejem prosseguir, esta oficina, ainda assim, proporcionará bons
fluidos, pois a escrita poética surge de dentro para fora e, uma vez
externalizadas as problemáticas internas tendem a passar por
processos, principalmente quando compartilhadas em equipe.

57
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Protagonismo de usuários e familiares no campo da saúde


mental e luta antimanicomial

Eduardo Mourão Vasconcelos


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Visão panorâmica das diferentes experiências de participação,


empoderamento e protagonismo dos usuários e familiares nos serviços,
na rede e na política de saúde mental e seus principais conceitos chaves,
na experiência internacional e particularmente brasileira mais recente, e
seus inúmeros desafios, incluindo depoimentos de lideranças de
diferentes estados do país e debate entre todos participantes da oficina.

58
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Corpo Negro nos espaços: um direito corrompido?

Cinthia Cristina da Rosa Vilas Boas


Célia Zenaide da Silva
Conselho Federal de Psicologia – CFP

Contextualização: A subjetividade representa um amplo conceito


orientando à compreensão da psique como processo e organização de
estratégia, que necessita de escuta, processo criativo e olhar para as
questões sociais. Este amplo conceito representa realidades que
aparecem de múltiplas formas e em num nível histórico-cultural, no qual
as funções psíquicas são entendidas como processos permanentes de
significação e sentidos, por tanto de vivências diferentes. A valorização
dessas vivências, nos leva a pensar a educação social, de forma mais
empática, como linha de estratégia e possível ferramenta para a
psicologia. Explicar, explorar o mundo em que se vive, é falar de
histórias vividas, vista e contada. Essa maneira de entender o mundo é
considerada um jeito de se colocar no mundo e obter sentidos e
sentimentos. Contar ou ouvir essas histórias é fazer ciência e produzir
saúde mental.
Justificativa: As dimensões sociais estão diretamente ligadas aos
registros simbólicos nas formas em que as pessoas estão e se
relacionam com o mundo. Com isso temos os sentidos e os significados
a serem vividos individualmente e coletivamente, padronizados ou não
esses sentidos nos levam a viver a vida muitas vezes de uma forma
violenta. Estar de frente com questões de violência pode ser pensar em
relações de gênero, preconceito, relações raciais, negritude,
branquitude, direitos humanos é no mínimo enfrentar algumas questões
que podem te colocar a margem do que é chamado de normal, e
corromper os direitos humanos de ir, vir, ser ou estar. Na atual
conjuntura política de interrupções de direito, esse sentido a
possibilidade de expressões, de falas e sentimentos, favorece para que o

59
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

corpo não adoeça e quando a psicologia acolhe os afetos e as produções


de subjetividade, frente ao sofrimento, produz saúde mental.
Objetivos
Vivenciar formas de colaboração para a reorganização dos afetos, da
luta cotidiana e da resistência movimentada no corpo.
Recursos Materiais: Uma Sala Virtual.
Metodologia: Será utilizada a metodologia de participação dentro da
educação social. A produção do saber científico não provoca a verdade
sobre as coisas, pois está sempre em progresso, e sempre é construída
com atribuições de sentido. Valorizar a troca de experiências e pensar
estratégias, que podemos chamar de sobrevivência, é valorizar a
educação social. A oficina conta com interações de poesias, seguimos
para os desenhos e diálogos, depois as canções e movimentações
corporais, finalizamos com uma vivência, colocando assim cada pessoa
participante frente as situações diversas, ampliando o repertório
subjetivo com as questões cotidianas, desorganizando as normas
padronizadas de ser, viver ou existir.
Avaliação: Analisar cenários onde cada situação acontece e estar atentas
a cada intervenção possível, e pensar estratégias de enfrentamento,
também faz parte da oficina e favorece a troca de experiências. A oficina
inteira é pensada para os olhares sobre os comportamentos do corpo
nos espaços por onde percorremos na sociedade. No período final da
oficina haverá um tempo reservado para pensar o processo avaliativo e
dialogar sobre as percepções corporais no período de desenvolvimento
da oficina especificamente.

60
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Entre Telas e Aflições: a experiência das pessoas com a


pandemia da COVID-19

Tahiná Khan Lima Vianey


Jade de Castro Azevedo
Isabella Guimarães Freitas
Natália Mendes dos Santos
Saulo Wilson de Sá Roriz
Conselho Federal de Psicologia - CFP

Contextualização: A pandemia do novo Coronavírus desencadeou a


necessidade do distanciamento físico/isolamento social. Esta nova
conjuntura afeta a saúde mental das pessoas em geral, mas em especial
das populações mais vulneráveis e também dos profissionais da saúde.
Para que este impacto não fique invisibilizado e para que este momento
histórico possa ficar registrado, está sendo produzido um documentário
interativo, no qual diversas pessoas tiveram e estão tendo espaço para
contar as suas experiências psicológicas e sociais com a Covid-19. Este
projeto está sendo desenvolvido com estagiárias e demais estudantes
da área da Saúde do curso de Psicologia da PUC-Goiás. Os estudantes
das disciplinas estão realizando e gravando entrevistas com pessoas de
diferentes perfis (gênero, escolaridade, idade, raça, profissão) focando
em suas vivências de distanciamento físico da Covid-19. O objetivo é
roteirizar as entrevistas para contar suas histórias a partir de uma
perspectiva audiovisual.
Justificativa: Os impactos da pandemia na saúde mental de profissionais
da saúde e de populações mais vulnerabilizadas precisam ser
visibilizados, acolhidos e analisados. Além disso, precisa-se desenvolver
ações que tenham incidência na formação e na atuação de profissionais
da psicologia.
Objetivos: Tanto a realização desta oficina quanto a produção do
documentário interativo em questão buscam propiciar às pessoas a
possibilidade de entrar em contato com outras subjetividades, com

61
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

experiências diversas na pandemia da Covid-19, bem como aprender


sobre a importância do cuidado em saúde mental. Buscamos também
partilhar aspectos dessa experiência adotada na formação de
estudantes de graduação em psicologia.
Metodologia: As e os participantes da oficina serão apresentadas a
trechos breves das entrevistas que expressam como as pessoas
entrevistadas pelo projeto vivenciam o isolamento social no momento
de pandemia, além de trechos que expressem como profissionais da
área da saúde têm atuado e se sentido diante da atual realidade. Nos
aproximaremos das experiências dos seguintes sujeitos: uma enfermeira
da família, uma médica da família (ambas atuando no serviço público),
psicóloga de um hospital de campanha, uma mulher que recebeu
diagnóstico da Covid-19, uma psicóloga pós-doutora em saúde e um
usuário de um CAPS do município de Goiânia. Além dessas, chamaremos
a atenção para outras experiências que precisam ser compreendidas e
que também serão incorporadas ao documentário em breve: uma
pessoa que tenha atuado na periferia no momento da pandemia, bem
como pessoas que tragam aspectos interseccionais de classe, raça,
gênero e orientação sexual. A dinâmica de trabalho será dialogal e
aberta à escuta das sensações, inquietações e perspectivas de todas e
todos os participantes.
Recursos Materiais: A atividade será totalmente on-line com a utilização
de projeção de tela. Recomenda-se que as e os participantes utilizem
fone de ouvido com microfone e tenham à mão material para que
possam anotar suas impressões ao longo da atividade.
Avaliação: O processo será finalizado com uma autoavaliação, por meio
da qual almejamos apreender se nos aproximamos do objetivo de
sensibilizar as pessoas para a importância da promoção da saúde mental
e prevenção de adoecimentos, em especial de populações
vulnerabilizadas e de profissionais da saúde.

62
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Mesas Redondas

TÍTULO: Direito e advocacia em defesa dos vulneráveis

Coordenação: Sônia Barros


Universidade de São Paulo - USP; ABRASME

Convidada: Itana Santos Araújo Viana


Ordem dos Advogados do Brasil - Bahia

Ministério Público e a Educação Popular em Saúde Mental

Carlos Rubens de Freitas Oliveira Filho


Ministério Público

Este trabalho une dois projetos realizados no âmbito do Ministério


Público do Estado do Mato Grosso, na comarca de Ribeirão Cascalheira,
localizada há 880km de Cuiabá, no Vale do Araguaia. O primeiro projeto
foi chamado de Educação Popular em Saúde Mental e o segundo
Direitos Humanos em Debate. Apesar de aprioristicamente separados,
nota-se que o segundo é uma parte necessária para a consecução do
primeiro. Em um período de retrocessos nas políticas de saúde pública
no Brasil, onde defender a democracia se tornou pauta estranha ao
Governo Federal, nota-se a necessidade de criar espaços de resistência e
debate na sociedade. Resistências Antimanicomiais! Trabalhar com a
marginalidade, com as pessoas em situação de rua e em sofrimento
psíquico, ajuda a compreender o país em que vivemos.
Respeitar as escolhas pessoais, necessidades íntimas, contextos
geográficos, territórios e realidades, buscando proteger suas histórias,

63
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

buscando significantes, talvez seja a única forma de as normas de


Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.
Buscou-se descobrir como a sociedade vem se organizado e lidando com
problemas decorrentes do uso ou abuso de álcool e drogas em uma
cidade de pequeno porte no Estado do Mato Grosso, em uma região
sem a presença de Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), sem
Ambulatórios de Saúde Mental, com uma fortíssima presença do
contexto neopentecostal, com elementos proibicionistas, machistas e
reacionários. Para isso, realizou-se inúmeras rodas de conversa, debates
abertos ao público, cine-debates, programas de rádio, reuniões e
“escutas na praça”, para entender o que vem ocorrendo na cidade que
faz com que a população em situação de rua cresça exponencialmente.
Dentre as metodologias utilizadas, preconizou-se a utilização de técnicas
de Redução de Danos como política pública, bem como Educação
Popular, como um processo coletivo e planejado, partindo da realidade
local e de situações concretas de opressão, trazendo a visão de mundo
dos educandos como ponto de partida para articular e unir o saber
popular e o científico.
Entendeu-se a educação popular como uma alternativa solidária para
integrar pessoas com lutas mais amplas, com espaços de formação,
gerando práticas inovadoras e emancipatórias, reconhecendo saberes
comunitários gerando autonomia coletiva, articulando, formando e
organizando a sociedade.
Com o auxílio de profissionais, promoveu-se capacitações que
auxiliaram e incentivaram as discussões entre os pares.
Entre os resultados, houve uma efetiva melhora do serviço prestado
pela rede de saúde e assistência, com o engajamento do empresariado
local e a entrada em cena de um novo ator do terceiro setor, tendo o
Ministério Público como protagonista de tais ações, sem a necessidade
de provocar o Poder Judiciário.
Nos tempos mais sombrios, os abraços mais apertados! Em tempos de
discursos de ódio sendo relativizados, nada mais insurgente que
promover afeto e atenção. Assim, a escuta da população é realmente

64
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

algo importante, no intuito de auxiliar na formatação do conhecimento


que já existe na sociedade. Ademais, criar espaços de diálogos e debates
faz com que o conhecimento seja construído e repassado, gerando
autonomia às pessoas. “A Liberdade é terapêutica”!

65
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental e povos vulneráveis pelo olhar da advocacia mineira

Luciana Chamone Garcia


Ordem dos Advogados do Brasil - OAB/MG

Segundo a Constituição Federal, o advogado é indispensável à


administração da justiça, e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil possui um papel importante perante os poderes Legislativo e
Judiciário. A OAB e suas seccionais mantém-se como instituição atuante
na defesa da Constituição, da ordem jurídica e dos direitos humanos,
pugnando sempre pela justiça social, eficaz aplicação das leis e rápida
administração da Justiça.
A Seccional de Minas Gerais foi pioneira, e no ano de 2019 criou a
primeira Comissão de Direito à Saúde Mental do Brasil, que tem como
um de seus objetivos o diálogo com profissionais da área da saúde para
a interlocução de saberes, reconhecendo que os problemas relacionados
à saúde mental no Brasil carecem de um olhar multi e intersetorial.
Uma abordagem sobre o tema “Direitos humanos e dignidade humana
como pacto civilizatório: povos em encarceramento, povos tradicionais,
população em situação de rua, imigrantes e refugiados” pelo olhar da
advocacia tem como objetivo a apresentação de vieses jurídicos
necessários para a compreensão de casos concretos.
Para tanto, a proposta deste trabalho é a demonstração sintética do
cenário da saúde mental em cada um desses grupos e a explicação de
conceitos jurídicos fundamentais para elucidação de cada problema, tais
como o princípio da ressocialização do apenado; o relativismo cultural
no contexto dos direitos humanos; o direito à moradia e o direito à
liberdade e o problema das políticas públicas; a diferença jurídica entre
imigrante e refugiado e seus reflexos no Direito Internacional, Civil e do
Trabalho, dentre outros.
É importante ressaltar que um olhar jurídico para cada um desses povos
poderia ser objeto individual deste trabalho e analisado de forma mais
aprofundada, mas a opção de uma abordagem geral se deu pela

66
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

igualdade de importância de cada grupo, e pela necessidade de abertura


de um debate com os profissionais da área de saúde, ainda que inicial,
neste tão valoroso evento.
Estes povos já apresentam grande sofrimento pelos estigmas,
dificuldades de diagnóstico e principalmente pela sua invisibilidade, e
acabam se aprisionando em celas sociais de desrespeito e falta de
solidariedade.
Ciente do seu papel na construção de uma sociedade mais justa, a
Comissão de Direito à Saúde Mental da OAB de Minas Gerais apresenta
a presente proposta como uma provocação de mudanças institucionais
e sociais, atuando para proteger, acolher e anular as diferenças entre os
sujeitos.

67
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: A Política de Saúde Mental de Norte a Sul

Coordenação: Rafael Wolski


Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS; ABRASME

Convidado: Sandra Fagundes


Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Fórum Gaúcho de
Saúde Mental

Desinstitucionalização sob ataques: uma análise acerca da Política


Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes da Política Nacional sobre
Drogas

Maycon Leandro da Conceição


Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR

Apresentação: Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) no Brasil são


considerados fundamentais no processo de desinstitucionalização de
usuários egressos de internações psiquiátricas. No entanto, muitos são
os desafios que este serviço evidencia no contexto atual do campo da
saúde mental brasileira e no processo de ressocialização. Objetivo:
adaptar um olhar crítico para os direitos em saúde mental e cidadania
sob a perspectiva da realidade dos atores sociais que são afetados
diretamente pelos desdobramentos da Política Nacional de Saúde
Mental (PNSM). A Reforma Psiquiátrica que vem ocorrendo no Brasil
desde a Lei n °10.216 de 2001, marca a transformação da assistência
psiquiátrica, propondo que o atendimento seja feito em serviços
substitutivos ao invés do modelo asilar. A atual PNSM é resultado da
atuação de diversos atores sociais, como usuários, trabalhadores de
saúde e familiares, especialmente do Movimento Social da Luta
Antimanicomial, mas tais conquistas dos movimentos sociais se veem
ameaçadas no atual cenário político brasileiro, a partir da Nota Técnica

68
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

nº 11/2019 do Ministério da Saúde e aprovação da Lei nº 13.840 de


2019 que aborda o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.
Metodologia: A partir da abordagem qualitativa e descritiva realizada na
unidade do (SRT) sob a responsabilidade do Serviço de Saúde Dr.
Cândido Ferreira, em Campinas-SP. Para realização da coleta de dados
foram utilizadas as técnicas de entrevistas semiestruturadas com os
funcionários e observação participante de caráter etnográfico com os
usuários do (SRT). A análise dos dados foi baseada na técnica de análise
de conteúdo e buscamos a partir de uma análise regional, possibilidades
de reflexões sobre as transformações da Reforma Psiquiátrica em
âmbito nacional. Resultados: Os dados através das narrativas dos
funcionários e observação participante com os usuários indicam três
categorias de análise: 1. Percepção do cuidado e desinstitucionalização
no SRT na perspectiva dos funcionários, que revelou uma alta
conscientização de conhecimento acerca das lutas antimanicomiais; 2.
Impasses por parte dos usuários na reinserção social, nessa categoria
mostrou as dificuldades na integração e expansão da sociabilidade,
educação, impasses no usufruto dos serviços da Rede de Atenção
Psicossocial, estigmatização para o acesso ao mercado de trabalho,
justiça social e, de um modo geral, consciência e garantia dos direitos de
cidadania; 3. Preocupações com as diretrizes atuais da Reforma
Psiquiátrica, especial da facilitação da indústria privada de leitos de
internação, internação involuntária, aumento do financiamento e
flexibilização das Comunidades Terapêuticas. Conclusões: Através dos
processos de desinstitucionalização, foco central da reforma
psiquiátrica, foi possível perceber tanto os diferentes sentidos dados a
ela quanto aos múltiplos planos que afeta o (SRT). A pesquisa mostrou o
processo de desinstitucionalização e cidadania como um exercício
diário, atrelados as resistências antimanicomiais, ou seja, os caminhos
para formação do campo da saúde mental são distintos, nem sempre
seguindo uma sequência linear, uniforme, comportando nesses trajetos
inumeráveis desvios, retrocessos e distinções intrinsecamente
relacionados aos acontecimentos que moldam a história específica de

69
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cada país. Por fim, a pesquisa objetiva-se contribuir de alguma forma


para o debate acerca das políticas públicas de saúde mental brasileira.

70
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O neoliberalismo psicossocial: a experiência carioca

Alexander Garcia de Araujo Ramalho


Universidade Estácio de Sá; Instituto Municipal Juliano Moreira

Introdução: A Cidade do Rio de Janeiro foi um dos berços da discussão


teórica da Reforma Psiquiátrica Brasileira nas décadas de 70 e 80, e
impulsionou várias mudanças para a construção da política nacional que
resultou na Lei 10.216. Atualmente a Cidade com cerca de 6.700 mil
habitantes (IBGE), conta com 34 CAPS, 2 UAA, 3 Centros de Convivência,
ESF, ambulatórios, 8 Consultórios na Rua, 53 leitos de saúde mental em
Hospitais Gerais, 92 Residências Terapêuticas, 5 Hospitais Psiquiátricos
públicos.
O contexto político na Cidade durante as décadas de 90, 2000 e 2010,
não foram favoráveis para a implantação e manutenção de ações de
inclusão social e preocupadas com a vulnerabilidades da população,
assim como o fortalecimento do campo público. Prefeitos neoliberais
como César Maia, Luis Paulo Conde, Eduardo Paes e Marcelo Crivella,
implementaram seguidamente políticas de fortalecimento da lógica
privada, com alterações nas relações de trabalho através da inclusão de
cooperativas, ONGs e OSs, além de protocolos e metas burocratizantes.
No campo da saúde mental, 1995 marca o início de uma mudança de
paradigma na assistência com o primeiro censo dos hospitais e a
proposta clara de mudança na rede, 1996 é inaugurado o CAPS Rubens
Correa, primeiro serviço de atenção psicossocial carioca. A rede do Rio
de Janeiro nasce, em uma política neoliberal de resultados e otimização
de recursos públicos.
Objetivo: apresentar discussão sobre a influência das políticas
neoliberais na construção da Rede Municipal de Atenção Psicossocial do
Rio de Janeiro em 25 anos.
metodologia: levantamento bibliográfico sobre as políticas públicas e de
saúde mental na cidade do Rio de Janeiro.
Relato de experiência na gestão municipal.

71
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Discussão: A RAPS Carioca resiste, contudo pontos precisam ser


apresentados, pois o fato da cidade possuir nas políticas de gestão dos
governos pouca ou nenhuma ação de suporte as políticas de saúde
mental, fizeram com que as coordenações tivessem que conviver em um
meio inóspito para a realização de ações públicas de atenção
psicossocial.
A resistência ao modelo neoliberal ocorreu, como nos fóruns regionais
de saúde mental, com discussões políticas e clínicas nos anos 2000.
Porém acabaram sendo esvaziados por discussões sobre metas,
organização de trabalho e burocracias institucionais.
O trabalho nas RTs se burocratizou, assim como nos CAPS, e as
discussões coletivas foram perdendo sua potência fazendo com que o
trabalho de atenção psicossocial fosse reduzido por vezes a indicadores.
Considerações Finais: O que quero propor aqui não é uma relativização
da situação, mas sim apontar que devido as várias concessões realizadas
ao longo desses 25 anos, necessárias ou não, a saúde mental do Rio
passou a ter em seus diversos serviços práticas e ações neoliberais em
nome de uma política de atenção psicossocial, este efeito vou nominar
de "neoliberalismo psicossocial". A entrada de OSs e vínculos
empregatícios frágeis fizeram com que muitas práticas se perdessem em
nome de efetividade de gestão e resultados.

72
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reflexões sobre as alterações da política de saúde mental no Brasil de


norte a sul

Rafael Wolski de Oliveira


Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

Marilda Nazaré Nascimento Barbedo Couto


ABRASME

Karol Veiga Kabral


Márcio Mariath Belloc
Universidade Federal do Pará – UFPA

Sandra Maria Sales Fagundes


Fórum Gaúcho de Saúde Mental

O campo da política de saúde mental em nosso país percorreu o


caminho seguido pela maioria dos países e utilizou durante um longo
período o modelo manicomial, centrado na clínica médica psiquiátrica,
apostando na segregação das pessoas acometidas por ditos transtornos
mentais como forma de tratamento. A disciplina, o reconhecimento do
adoecimento, a posição de paciente e a separação do entorno social
seguiram sendo a premissa deste modelo de tratamento. O sujeito em
sofrimento mental era alguém que precisava ser tutelado. Sua palavra
era invalidada, assim como seus direitos sociais. Uma vez egresso da
internação jamais deixa de ser paciente psiquiátrico. Estigma e
preconceito marcam corpos acometidos pela pior das pestes: a loucura.
Em um dado momento histórico, trabalhadores, familiares e usuários
denunciam os horrores vividos diariamente pelas pessoas internadas
nessas instituições totais e as violações de direitos humanos cometidas
nestes espaços longe do olhar social e a eficácia do tratamento. Surge
nos 80 no Brasil, na esteira do processo de abertura política e da
reforma sanitária um movimento de contestação deste modelo

73
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

chamado reforma psiquiátrica. Desde então, sempre esteve em disputa


em nosso país um modelo de tratamento defendido pela corrente da
luta antimanicomial e um grupo que apostando na manutenção de um
modelo hospitalocêntrico.
Durante os últimos 30 anos vimos a implementação gradual do SUS no
Brasil, promulgada na constituição de 1988, a formação de grupos do
movimento social de luta antimanicomial, fortalecimento da pauta da
saúde mental nas instâncias de controle social, a aprovação da lei da
reforma psiquiátrica a nível nacional em 2001, a constituição de uma
rede de serviços substitutivos, a incorporação da redução de danos
como diretriz ética de cuidado, a implantação da Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) em 2011, entre outros avanços. Entretanto,
simultaneamente a toda expansão e vitórias vimos crescer outras
formas de segregação e isolamento como a implantação de
comunidades terapêuticas financiadas com dinheiro público em todo o
território nacional. Mas os movimentos de disputa ainda tendiam para a
implantação da reforma, uma vez que respirávamos ares democráticos.
No ano de 2016, com o golpe político, econômico, midiático e jurídico
vimos nossa democracia ruir como castelo de cartas e o estado de
direito colocado em suspensão. Na saúde mental as mudanças iniciaram
ainda em 2017. A substituição de portarias que alteram o modelo de
cuidado retomando o modelo manicomial asilar, como a revogação da
Portaria nº 3.088/11, a retirada da redução de danos da política de
drogas, a internação involuntária e a abstinência sendo preconizadas, o
aumento de investimentos e parcerias com as comunidades
terapêuticas.
Nos interessa debater o cenário que se apresenta e as formas de resistir
ao desmonte imposto pela atual conjuntura de forças em nosso país.
Qual sociedade queremos forjar? Que diretrizes permanecem em nossos
corpos cotidianos já subjetivados por uma lógica de abertura à vida, à
liberdade de escolhas, à construção de projetos terapêuticos que
comportam as redes vivas e a subjetividade das usuárias (os)?

74
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Cuidado a pessoas que usam drogas: conceitos e


práticas

Coordenação: Ana Pitta


Universidade Católica do Salvador - UCSAL; ABRASME

Convidado: Maristela Moraes


Universidade Federal de Campina Grande - UFCG

A Rede de Atenção Psicossocial no Centro Histórico, do município de


Salvador-Ba: um olhar sobre a Política de atenção aos usuários de álcool
e outras drogas

Flavia Suzanne Goiabeira Nery


Prefeitura

Ana Maria Fernandes Pitta


Universidade Católica do Salvador - UCSAL; ABRASME

Estuda-se a Política de Atenção aos usuários de álcool e outras drogas


na Rede de Atenção Psicossocial- RAPS, do Centro Histórico de Salvador
– BA, através do desenho de pesquisa etno-epidemiológico, com o olhar
para o processo e organização dos serviços, natureza do atendimento ao
usuário e articulações em rede, baseada na portaria da RAPS 3088 de
2011. O objetivo geral desta pesquisa é analisar a política do Ministério
da Saúde para a atenção aos usuários de álcool e outras drogas, por
meio da identificação de sua aplicabilidade na Rede de Atenção
Psicossocial disponível, sendo os objetivos específicos: 1. Descrever e
analisar as articulações na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
disponíveis na atenção aos usuários de álcool e outras drogas; 2.
Identificar as ações que a equipe técnica do Centro de Atenção
Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas - CAPS AD realiza

75
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

para a articulação em rede. O método quali-quantitativo utilizou


questionários estruturados, observações diretas e diário de campo. À
análise de conteúdo da pesquisa qualitativa utilizou-se Bardin (2011).
Como resultados destacam-se a alta percepção de problemas de álcool e
drogas pelos profissionais no território, o encaminhamento para serviço
especializado como o procedimento previsto para acompanhamento de
usuários de álcool e outras drogas e ausência de matriciamento na
maioria das unidades envolvidas. As principais considerações apontam
para a lógica do encaminhamento e da desresponsabilização, a divisão
por especialidades e serviços se apresentam estabelecida no dia a dia
das unidades, demonstrando uma fragilidade na tessitura desta rede
tornando a atenção fragmentada, frágil, pouco resolutiva para seus
usuários, para isto deverá existir uma reformulação na estrutura
organizacional e no processo de trabalho tradicional com a organização
de equipes assegurando retaguarda assistencial e suporte técnico
pedagógico especializado. Desta forma as equipes de saúde se
corresponsabilizam pelos casos e compartilham a elaboração e execução
dos projetos terapêuticos.

76
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Políticas públicas e práticas de cuidado dirigidas a pessoas que usam


drogas: uma análise desde a perspectiva da Interseccionalidade

Ana Lucia Marinho Marques


Universidade de São Paulo - USP

Objetivo: Refletir criticamente sobre o processo de formulação e gestão


de políticas públicas e proposição de práticas de cuidado dirigidas a
pessoas que usam drogas, desde a perspectiva teórico-metodológica da
Interseccionalidade. Discussão: Internacionalmente, tem-se
recomendado maior foco na saúde e nos direitos humanos de todos os
usuários de substâncias psicoativas, especialmente daqueles em
situações de vulnerabilidade. Essa ênfase é importante pois o viés
proibicionista e de guerra às drogas adotado pela Política de Drogas no
Brasil, operacionalizado por um sistema jurídico-criminal que se
caracteriza pela grande seletividade e aplicação desigual da lei, tem
provocado o encarceramento em massa e a criminalização de territórios
empobrecidos e contribuído para naturalizar um sistema de opressões
que produzirá cotidianamente marginalização e humilhação social de
grupos e categoriais sociais que já se encontram em situações de
desvantagem e vulnerabilidade. Objetivando conhecer quem seriam os
usuários de crack, foi realizada e divulgada pela Fiocruz uma grande
pesquisa nacional, em 2013, em cenas de uso dessa substância e, dentre
os marcadores aferidos, pode ser destacada a baixa escolaridade e
inserção precária no mundo do trabalho, bem como a cor da pele
autorreferida como parda ou negra, sendo observada uma
sobrerrepresentação de marcadores de diferença, desigualdade e
exclusão social, quando em comparação com os dados da população
brasileira geral. A discussão sobre esses resultados nos parece
fundamental e a reflexão crítica que pretendemos apresentar busca
analisar a formulação de políticas sobre drogas, com ênfase no campo
do Cuidado, desde a perspectiva da Interseccionalidade, buscando
compreender os resultados das interações, em termos de poder, entre

77
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

categorias e marcadores da diferença nas práticas sociais, identidades e


subjetividades, arranjos institucionais e ideologias culturais e, com isso,
contribuir com a discussão dos efeitos da (re)produção de desigualdades
e iniquidades sociais nesse campo, promovendo a reflexão sobre a
necessidade de complexificar discursos e produzir práticas mais
alinhadas com a compreensão de Saúde que não visa a cura, o
tratamento ou o controle de determinados grupos sociais, mas sim a
garantia dos Direitos Humanos e da Cidadania.

78
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Práticas Emancipatórias: Economia Solidária

Coordenação: DiPaula Minotto


Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC; ABRASME

Convidado: Ana Luisa Aranha e Silva


Universidade de São Paulo - USP; Associação Vida em Ação

Despatologização da vida: Emprego Apoiado

Nathasha Picanço Brito


Instituto Esperança de Ensino Superior - IESPES

Eloísa Amorim de Barros


Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA

O termo 'deficiência' possui várias classificações, independente do


ângulo científico que o analisa. Uma conotação em comum é a
insuficiência, seja de um órgão ou qualquer outro funcionamento
imerso no organismo. Assim, a sociedade enxerga as pessoas deficientes
como limitadas diante as demandas sociais, como, por exemplo, o
trabalho, acreditando que esses indivíduos se encontram
impossibilitados de atender as exigências do emprego formal. Esse fato
tem estimulado um olhar despatologizante por meio de um modelo
reabilitador social, o emprego apoiado. Desse modo, questiona-se: a
despatologização é um mecanismo efetivo ou utópico? O trabalho faz
parte da identidade do indivíduo e a deficiência não pode ser
considerada um bloqueio para a inserção neste meio. Assim, este
trabalho apresentou como objetivo compreender o caminho para a
despatologização por meio do emprego apoiado, reconhecendo sua
efetividade ou não. Utilizou-se como metodologia a pesquisa
bibliográfica apoiada em publicações encontradas na Revista Polis e
Psique, Conselho Regional de Psicologia SP. Em tempos remotos, a

79
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

deficiência era sinônimo de marginalização social, pois estava atrelada à


diferença como castigo, de acordo com as crenças da época,
consequentemente, as pessoas deficientes não mereciam viver qualquer
prestígio social. Alavanques contemporâneos não são suficientes para
extinguir esta ideologia do seio da sociedade atual. Por isso que hoje se
fala em inclusão, pois ainda há exclusão. Tal perspectiva é corroborada
quando pesquisas voltadas para o ângulo trabalhista esboçam um
número baixíssimo de pessoas com deficiência no quadro de
empregados, mesmo com a pressão da lei de cotas. Implicitamente,
observa-se que a legislação da inclusão, caracterizada pela lei de cotas,
acaba por obrigar as empresas a contratarem pessoas deficientes,
responsabilizando o indivíduo por sua adaptação ao cargo oferecido e o
culpabiliza, caso não tenha êxito nisso. O mecanismo de inclusão acaba,
na maioria dos casos, como um causador de frustrações. É diante desse
paradigma que surge o emprego apoiado, propondo o treinamento das
habilidades no próprio espaço de trabalho, dependente de quatro
práticas que caracterizam sua essência: descoberta do perfil do
indivíduo, reconhecendo seus planos de vida e habilidades; avaliação da
condição da pessoa e do que ela precisa; busca do emprego;
acompanhamento pós-colocação para ver se está sendo efetivo. Ou
seja, a inclusão no trabalho também é questão de adaptação do
ambiente. Ao invés das empresas buscarem a pessoa, a própria pessoa
vai em busca do emprego com a ajuda do consultor. A inclusão efetiva
visa a superação da diferença como marginalização e incapacidade
social, entendendo o processo como uma possibilidade de participação
no trabalho formal. Conclui-se que o emprego apoiado quebra a lógica
vigente na sociedade, pois aposta que todas as pessoas são aptas para
exercer uma função empregatícia, porém é preciso entender seus
interesses e habilidades para, em seguida, buscar o emprego que seja
compatível com as demandas pessoais e, em seguida, com as da
empresa. Corrobora-se que a despatologização pode ser efetiva, não
unicamente pelo trabalho, mas sim com seu atrelamento ao emprego
apoiado.

80
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Do Sonho à Ação, da Reabilitação à Autonomia Psicossocial: Uma


análise teórico-metodológica a luz de Paulo Freire

Shirley Alves dos Santos


Secretaria Estadual de Saúde

Juliana Figueiredo Sobel


Paulette Cavalcanti de Albuquerque
Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Márcio Muniz C. de Andrade


Jetro Leite Correia Júnior
Jailson José dos Santos
Núcleo da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades

Maria José da Silva


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

A reabilitação psicossocial se apresenta como referencial que vem


orientando as políticas e práticas no campo da saúde mental, a partir
das dimensões teóricas, práticas e éticas da desinstitucionalização e do
cuidado antimanicomial. A literatura brasileira encontra nos escritos de
Benedetto Saraceno, psiquiatra italiano, referência para compreensão
do campo da reabilitação psicossocial. Estudos desenvolvidos por
diversas autoras apontam a amplitude do campo de atuação e as
diversas instâncias nas quais a reabilitação psicossocial precisa intervir e
se consolidar. Também revelam que existem muitos conceitos em torno
da reabilitação psicossocial, inclusive pelo caráter polissêmico da palavra
reabilitação (HIRDES, KANTORSKI, 2004; BABINSK, HIRDES, 2004;
GUERRA, 2004; ANÁSTACIO, FURTADO, 2012; LUCENA, 2015; RIBEIRO,
BEZERRA, 2015; AMORIM, OTINI 2015; HIRDES, 2009; PINTO, FERREIRA,
2010). Diante disso, tivemos como objetivo compreender a reabilitação

81
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

psicossocial como um processo que precisa se pautar no investimento


de sujeitos coletivos e ativos que resistam aos processos de anulação de
suas identidades. Encontramos em Paulo Freire e em seu arcabouço
teórico e metodológico caminhos para o cuidado na saúde mental
(CARNEIRO, et al, 2010; GUIMARÃES, VERAS, CARLI, 2018; SOBEL, 2017;
VIANA, SOBEL, SANTOS, 2018). Partindo das reflexões levantadas acima
de pensar as aproximações, os distanciamentos e as contribuições de
Paulo Freire para os processos de reabilitação psicossocial, essa
pesquisa parte da formação de um grupo, que se autonomeou
"Sonhação", formado por usuárias/os e trabalhadoras da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) de Pernambuco, o qual se propôs a estudar
os processos de reabilitação psicossocial e a pedagogia Paulo Freire. A
partir de um processo de investigação temática proposto por Freire
(2005) e sistematizado por Pinto (2015). Encontramos que os princípios
da pedagogia Paulo Freire estão em congruência com os da reabilitação
psicossocial, no campo da reforma psiquiátrica antimanicomial, visto
que ambos: favorecem a produção de subjetividade, propiciam a
humanização, contribuem para o potencial criativo, acreditam na
interdisciplinaridade, aceitam os sujeitos com todas as suas pluralidades
e diferenças, afirmam valores como a cidadania, a solidariedade, o
respeito, a tolerância e a equidade, se pautam pelo diálogo horizontal e
na amorosidade para construção das relações baseadas no afeto. Além
de lutarem pela igualdade social, pela emancipação e protagonismo dos
sujeitos e pelo enfrentamento aos determinantes sociais da saúde.
Ambos acreditam em um projeto de sociedade democrático e popular. A
reabilitação psicossocial e a pedagogia de Paulo Freire pautam-se na
dimensão relacional, de que somos seres da relação uns com os outros e
com o mundo, com potencial de transformar a realidade, ambas tem
como horizonte a autonomia dos sujeitos em seus processos de vida,
libertados das opressões que vivenciam (SARACENO, 2001; FREIRE,
2005; 2019). O sonhação considerou os pressupostos levantados acima
quanto ao campo da reabilitação psicossocial, incluindo as críticas ao
nome Reabilitação, realizamos nossas análises em torno da reabilitação

82
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

psicossocial a partir do referencial da Pedagogia de Paulo Freire e


encontramos como sonho e ação: a construção da autonomia
psicossocial.

83
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: Perspectivas do cuidado: a cannabis medicinal em


foco

Coordenação: Aisllan Assis


Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP; ABRASME

Convidado: Luciane Raupp


Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas -
ABRAMD e Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

O uso medicinal da Cannabis e a luta antiproibicionista no cuidado aos


pacientes

Matheus Eduardo Bernardo


Instituto Federal Fluminense - IFF

Introdução: As raízes proibicionistas no Brasil tem estreita relação com o


pensamento da psiquiatria lombrosiana. O “fumo da Angola” foi
considerado pelo psiquiatra Rodrigues Dória como uma espécie de
vingança dos “selvagens” (negros) contra os “civilizados” (brancos).
Portanto, a criminalização do uso da erva sempre esteve conectada com
a criminalização do negro, sendo um discurso estimulado para servir
como uma forma de controle social.
Hoje, é possível entender que a luta antiproibicionista e a luta
antimanicomial tem uma óbvia conexão na luta antirracista dentro da
academia, nos becos e coletivos. Logo, a legalização da maconha deve
ser compreendida como uma forma de reparação histórica de todo o
mal que a proibição vem causando nas camadas de grande
vulnerabilidade social.
Não obstante, com o avanço na luta pelo uso terapêutico da maconha, o
maconheiro ganha a responsabilidade de orientar os pacientes no uso
da erva no tratamento e informar da importância de lutar pela
legalização da maconha pelos seus aspectos medicinais tanto quanto

84
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

pelos sociais, raciais e políticos. Neste trabalho, iremos explanar como o


coletivo de pacientes e ativistas Cabruncannabis tem trabalhado.
Metodologia: Nosso trabalho tem como objetivo apresentar a união
estabelecida entre ativistas, médico prescritor e pacientes
acompanhados de suas famílias. Ao passo em que essa união se
estabeleceu conseguimos criar uma equipe de atendimento que oferece
consultas médicas gratuitas, apoio jurídico e acompanhamento/auxílio
para o acesso legal e uso do óleo de cannabis.
Cada encontro proporciona uma imensidão de experiência para a equipe
organizativa que estabelece relação com os pacientes orientando-os e
fazendo escuta solidária de forma coletiva e/ou individual. Nosso grande
objetivo tem sido desmedicalizar junto ao uso do óleo de cannabis em
diversas patologias.
O conhecimento sobre as raízes históricas da proibição é de grande
surpresa para os pacientes que não conhecem. Sendo assim, o Coletivo
Cabruncannabis estabelece não apenas uma relação de tratamento com
os pacientes, também estabelece um importante canal de comunicação
para fortalecimento na luta antiproibicionista.
Resultados/discussões: Está sendo muito produtivo o diálogo produzido
a partir de nossos trabalhos. Conquistamos a presença no contexto
acadêmico dentro do IFF/Fluminense; UFF e UENF para compartilhar e
incentivar pesquisas sobre a cannabis.
A mídia impressa, online e rádio abriram as portas para a pauta. Sendo
assim, tivemos a oportunidade de destacar e registrar as atividades do
movimento antiproibicionista criando horizontes para debates
populares menos preconceituosos.
Estabelecemos articulação com instituições de saúde pública e
associações afins para contribuir com apoio a pessoas que estão se
beneficiando com o uso da planta para suas enfermidades.
Considerações finais: As experiências do Coletivo Cabruncannabis com a
luta antiproibicionista local têm demonstrado como a organização ao
entorno da mesma pauta pode gerar fortalecimento da luta pelo direito
a saúde/vida para todos.

85
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acreditamos que a luta antiproibicionista e o cuidado com os pacientes


demonstra o caráter cuidadoso do maconheiro que de antemão era
visto como um vagabundo.
Por fim, é importante destacar que os paradigmas devem ser superados
para que a legalização da maconha cumpra uma função reparatória
diante de tanta perseguição.

86
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidado, desmedicalização e cannabis no processo terapêutico em


saúde mental

Carolina de Cassia Ribeiro de Abreu


PMC

Tania Lucia Viana da Cruz Terra


Vania Maria Alves Pereira
Clarice Alves Pereira Rivera Viso
Danielle Henrique Correa
Scheila Chagas da Silva
Universidade Federal Fluminense - UFF

Ana Carolina da Silva Ramos Luiz Coutinho


Alice Mothe
Ellen Souza e Silva
Instituto Federal Fluminense - IFF

Fernanda Abreu Santana


Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF

Nathan Kamliot
Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Este trabalho tem por objetivo sistematizar as práticas complementares


dos “Cuidadores do Coletivo Cabruncannabis” tais como:
Cuidado/Acompanhamento/Encaminhamento dos usuários que estão
interessados e/ou fazendo uso da cannabis, no processo terapêutico em
saúde mental.
O coletivo utiliza a metodologia participativa junto com os usuários e
familiares através de Rodas de conversa, consultas médicas conviviais,
cine debate, orientação sobre o processo de desmedicalização e
estímulo de estratégias de qualidade de vida no processo terapêutico

87
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

com uso de cannabis, quando prescrito pelo médico e autorizado pela


ANVISA.
O Coletivo Cabruncannabis, formado por ativistas antiproibicionistas,
pacientes, familiares e profissionais de saúde nasceu em 2019, no
município de Campos dos Goytacazes/RJ. Dos 70 pacientes que
participaram das rodas de conversa e consulta convivial até 06/02/2020,
80% apresentam alguma queixa/diagnóstico permeado por problemas
de saúde mental. O Coletivo oferece gratuitamente consulta médica,
prescrição de cannabis para indicação de uso compassivo. Proporciona a
prática do cuidado e acompanhamento dos usuários que realizaram a
pré consulta estimulando hábitos de vida saudáveis, auto cuidado e o
desmame de psicotrópicos, além do acompanhamento jurídico que
possibilite garantia do tratamento pela política pública de saúde.
Esse processo - que ocorre durante as Rodas de Conversa através de
orientações, esclarecimentos e trocas, bem como utilização de
telefonemas e mensagens dos Cuidadores - tem como resultado,
evidenciado em depoimentos e consultas de revisão: o
autoconhecimento, a autonomia dos sujeitos e melhoria da saúde física
e mental.
Empiricamente observamos que, à medida que os pacientes e familiares
compreendem os efeitos dos psicotrópicos e observam como a ação da
maconha contribui na diminuição da ansiedade, insônia, medos,
agitações e até em situações de autoagressão e agressividade –
especialmente em casos de crianças e adolescentes com espectro
autista - cresce a autonomia no processo terapêutico (cada um encontra
sua dosagem), fomentando a construção de práticas alternativas e
complementares como: exercícios físicos, mudança na alimentação e
opção por novos hábitos de vida.
A política pública de saúde no Brasil tem sido sucateada através da
precariedade e falta dos serviços. O Cuidado que deveria ser uma regra
de estratégia tem se tornado cada vez mais raro e os pacientes
acompanhados se surpreendem e sentem-se agradecidos quando
recebem o retorno dos cuidadores no acompanhamento de seu

88
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

processo terapêutico. A empatia se apresenta e faz nascer outra


estratégia: pacientes cuidando de pacientes. Nas rodas de conversa tem
sido estimulado pelo Coletivo que pacientes que se sintam à vontade e
queiram trocar contatos entre si o façam, reconhecendo o Outro como
sujeito. Apesar do êxito da aproximação do Coletivo com o CAPS I ainda
estamos longe de que o SUS assuma esse tipo de trabalho e garanta o
processo terapêutico através da cannabis, já reconhecido e validado
cientificamente, como verificado em pesquisas como: RIBEIRO, Sidarta,
2007; MECHOULAM, Raphael, (1985); LUCAS, Philippe & WALSH, Zach
(2017). Nessa conjuntura o desafio é democratizar o acesso ao uso
terapêutico da cannabis no SUS, retomando o Cuidado como ação
fundamental para concretizar uma política pública de saúde universal,
integral e equânime.

89
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: A Maternidade como questão

Coordenação: Daniel de Souza Oliveira


Consultório na Rua; ABRASME

Convidada: Ludmila Cerqueira


Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Assistência as mulheres com transtornos mentais e usuárias de drogas


nas maternidades: caminhos para o cuidado psicossocial.

Cleide Maria Batista Rodrigues


CAPS AD CPTRA

Ana Wylma Pinto Saraiva


Benita Spinelli
Carla Vanusa Alves Maciel
Robson Kleber de Souza Matos
Vanessa Vieira França
Universidade de Pernambuco – UPE

Introdução: O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros,


conhecida como Maternidade da Encruzilhada integra a Universidade de
Pernambuco e compõe o sistema estadual de referência hospitalar à
gravidez de alto risco, presta assistência a mulheres advindas de outros
estados. É referência na assistência à mulher e adolescente em situação
de violência sexual e doméstica, incluindo o aborto legal. A Portaria n.º
3.088/2011 define as Redes de Atenção Psicossocial – RAPS- como redes
articuladas constituídas por pontos de atenção objetivando promover a
prevenção, o tratamento, a urgência, emergência e cuidado nos leitos
integrais. Nessa lógica e considerando a complexidade da assistência as
mulheres com transtornos mentais e usuárias de drogas nas
maternidades, antes, durante e pós parto é que precisamos ampliar o

90
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diálogo com gestores, profissionais e a Rede de Saúde e Assistência no


sentido de instituir um processo de cuidado livre de preconceitos com
um olhar integral, intersetorial e interdisciplinar. Objetivo: apresentar o
protocolo de atendimento as mulheres com transtornos mentais e
usuárias de drogas na maternidade do CISAM, na perspectiva de suscitar
a reflexão sobre a necessidade de discutir e consolidar políticas de
atenção a essas mulheres considerando não apenas as questões clínicas,
mas todo o universo psicossocial que envolve o cotidiano dessas
mulheres, muitas delas em situação de vulnerabilidade social e de rua.
Metodologia: envolve reuniões periódicas para construção do protocolo
interno referente a medicação, manejo do cuidado/assistência,
capacitação dos profissionais para atenção à crise na maternidade e
reunião com a Rede de Atenção Psicossocial do Recife: CAPS, referências
distritais e coordenação de saúde mental do Município e Estado,
pesquisa documental em prontuário para construção do perfil sócio
demográfico dessas mulheres. Resultado e discussão: as maternidades
não dispõem de protocolo medicamentoso para atenção a crise, falta
habilidade no acolhimento e por vezes o preconceito impossibilita uma
escuta qualificada da necessidade dessas mulheres. O profissional
generalista deve reconhecer as pessoas com transtornos mentais, como
as que apresentam problemas pelo uso abusivo de drogas, de forma a
acolher e promover o seu cuidado (OMS, 2001). HOLZTRATTNER;
WESSHEIMER, 2010; SOUZA, 2012 referem que “a internação do usuário
em um serviço de saúde é um momento importante para a formação do
vínculo de confiança e oferta de tratamento. A problemática aumenta
quando ocorre com mulheres parturientes. As usuárias nessas
condições, em grande parte, são moradoras de rua. Já adentram a
instituição em período expulsivo do trabalho de parto...” Essa realidade
é cotidiana nas maternidades somada ao preconceito, estigma, evasão
sem concluir o cuidado pós parto pela fissura do uso e abandono do
recém-nascido. Considerações finais: as maternidades públicas precisam
investir em ações que possibilitem um cuidado integral, que se articulem
de forma intersetorial com os serviços da rede de saúde e assistência

91
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

para potencializar estratégias de cuidado que atendam singularmente as


usuárias de transtorno e ou álcool e outras drogas. Essa discussão
precisa ser ampliada nos espaços de gestão da política pública para
melhorar a qualidade do atendimento a essa população nas
maternidades de modo geral.

92
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Direito à maternidade pra todas? Desafios na promoção do direito à


maternidade das mulheres em situação de rua: um relato de
experiências

Alessandra Coelho Cerqueira Correia


Cecília de Santana Mota
Programa Corra pro Abraço

Este resumo pretende anunciar os limites, possibilidades e


desafios do acompanhamento de mulheres em situação de rua e/ou em
extrema vulnerabilidade social e que, ao ficarem grávidas, lutam pelo
direito de exercer a maternidade. Neste sentido, pretende-se discutir na
mesa redonda reflexões, críticas e enlaçamentos teóricos advindos da
prática de uma educadora jurídica e de uma psicóloga no cuidado
ofertado às mulheres, mães e seus filhos assistidas pelo Programa Corra
pro Abraço. Este programa é uma iniciativa da Secretaria de Justiça,
Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) do Estado da
Bahia e busca promover cidadania, cuidado e garantia de direitos de
usuários de drogas em contextos de vulnerabilidade social. Durante a
atuação da equipe nos territórios do Centro Histórico de Salvador, foi
constatado um aumento considerável de mulheres em situação de rua,
gestantes e, com isso, a necessidade de um maior investimento no
cuidado voltado a estas, devido à maior vulnerabilidade. O
acompanhamento destas mulheres acontece nos campos em que a
equipe atua e segue durante o período gestacional, na articulação e
fortalecimento dos vínculos familiares e da rede materno-infantil. Além
disso, se amplia até as maternidades, no momento em que estas dão
luz, visando atuar como uma rede de suporte e referência, para que
estas mulheres consigam sair com suas crianças, caso desejem. Esta
prática de cuidado e promoção de direitos (voltados às mães e seus
filhos) surge a partir do momento em que inúmeros relatos de mulheres
em situação de rua destacam que os suas crianças foram retirados delas,
após o parto, quando o Conselho Tutelar e/ou a Vara de Infância foram

93
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

acionados pelas equipes das maternidades. Com isso, as técnicas


passaram a tomar ciência de diversos casos, muitos deles denunciados,
inclusive na Defensoria Pública. Tal situação, que envolve julgamentos
morais, direcionados ao uso de drogas e a situação de rua, faz com que a
rede de justiça a associe a situações de risco para as crianças e à
incapacidade destas mulheres de serem mães (desconsiderando que
este mesmo Estado deveria ser garantidor de direitos fundamentais e
humanos destas mulheres, e tem falhado). Por isso, e pensando no
cuidado, criou-se um Grupo de Trabalho pelas equipes de rua na cidade
de Salvador-Ba juntamente com os serviços da rede e as maternidades,
no sentido de discutir e adaptar o fluxo do acompanhamento,
encaminhamento e cuidados das mulheres e seus filhos, nos períodos de
gestação, parto e puerpério. Destarte, a criação deste grupo possibilitou
o fortalecimento da rede de assistência, saúde e justiça envolvidas neste
cuidado, bem como passou a garantir que mais mulheres em situação de
rua tivessem o direito de exercer a maternidade. Ainda assim, a violação
deste direito é bastante recorrente, o que tem impulsionado a equipe
do Corra a ressignificar, com elas, o sentido de maternar.

94
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: A Casa e a Rua: perspectivas no cuidado às pessoas


em situação de rua

Coordenação: Francisco Cordeiro


Conselho Regional de Psicologia; ABRASME; WAPR-BRASIL
Convidado: Genivaldo Francisco
Coordenador do Consultório de Rua; ONG Fábrica Fazendo Arte

Acompanhar, escutar, intensificar: Sobre reinvenções e apostas do


cuidado em saúde mental na rua

Paula Sousa Caldas


Cecília de Santana Mota
Iago Lôbo Siqueira Rodrigues
Programa Corra Pro Abraço

Este relato de experiência objetiva compartilhar, discutir e refletir sobre


a aposta do cuidado em saúde mental na rua realizado por psicólogas
(o) do Programa Corra pro Abraço. Este programa, que faz parte da
Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social
(SJDHDS), consiste em uma estratégia de atendimento às pessoas que
vivem em situação de rua e/ou que estão em situação de extrema
vulnerabilidade social e que fazem uso abusivo de substância psicoativa
na capital baiana. O programa com sede própria e núcleos com frentes
de trabalho diferentes fomenta e convoca o psicólogo a reinventar
constantemente o seu fazer em um diálogo constante com profissionais
de outros campos de saber e que gera, dentre outras questões,
condições de possibilidade para a seguinte pergunta: que prática é
possível que o psicólogo desenvolva neste programa no cuidado de
sujeitos em sofrimento psíquico e que estão em situação de rua?
Doravante, a intrigante tarefa de escutar a subjetividade humana em
meio a um contexto sobejamente vulnerável, de exclusão e marcado por
uma profunda desigualdade social impõe-se a difícil empreitada de

95
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

compreender como pensar a potência singular de cada sujeito em dar


um destino ao seu sofrimento em meio a tantas contingências que
incidem, principalmente, sobre a sobrevivência. Por conseguinte,
intenta-se promover um debate com base nas reflexões, críticas e
enlaçamentos teóricos oriundos da prática de psicólogos que apostam
que a loucura também pode habitar a rua, contudo, acredita-se, a partir
de uma conduta ética, política e clínica que os sujeitos que nesta
condição se encontram precisam ter garantido o cuidado na rede de
atenção psicossocial (BRASIL, 2008). Com efeito, o trabalho com estes
sujeitos pauta-se pela via do cuidado compartilhado com as equipes de
saúde, sejam do NASF, CAPS, USF, bem como com a articulação da rede
intersetorial, pautado nas estratégias de Redução de Danos (BRASIL,
2003) e sobretudo guiado pelos princípios da Reforma Psiquiátrica
brasileira, cuja Lei 10.2016 convoca, portanto, os trabalhadores da
saúde mental a pensar um novo modelo de atenção aos sujeitos que
vivenciam um intenso sofrimento psíquico. Desse modo, cabe ainda
salientar que, tal como afirma Foucault (2008), a loucura foi forjada
como um estado de desrazão através de saberes e discursos que
legitimam práticas e instituem relações de poder, relações que
multideterminam causas de exploração e exclusão. Contudo, é possível
afirmar que a aposta em intervenções cotidianas pautadas através da
perspectiva ética e política da Reforma Psiquiátrica, promovem não
apenas um rechaço contra esta forma de construção da loucura descrita
por Foucault, mas, sobretudo, a permanente luta, pela via do trabalho
tomado como prática de resistência a toda forma de exclusão, violência
e desigualdade que tão bem se coadunam com a perspectiva de uma
Sociedade sem Manicômios!

96
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

É possível implantar o modelo Housing First/Moradia Primeiro no


Brasil? Discutindo o aprendizado de experiências piloto de moradia
assistida para pessoas em situação de rua desenvolvidas no contexto
da política de drogas brasileira.

Adriana Pinheiro Carvalho


Juarez Furtado
Wagner Oda
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Nos últimos anos, iniciativas de moradia assistida para pessoas


em situação de rua vem sendo desenvolvidas no Brasil, no âmbito da
política de drogas brasileira, tendo como inspiração o Housing First/HF-
modelo de intervenção residencial, baseado nos princípios da
Reabilitação Psicossocial e da Redução de Danos, concebido no norte da
América para superar a situação de rua entre pessoas com problemas
decorrentes de transtorno mental e do uso de drogas. Nesse contexto, é
relevante compreender como características locais influenciam a
implantação dessa modalidade de intervenção no cenário nacional,
buscando contribuir para sua eventual expansão e produzir
conhecimentos acerca de um objeto ainda pouco estudado no Brasil.
Para tal, realizamos revisão da literatura nacional sobre a moradia
assistida para identificar o atual debate científico e político sobre o
tema. Para formular um entendimento sobre o HF, analisamos os
manuais e outros documentos técnicos que orientam a implantação da
intervenção no Canadá e Europa, bem como a escala desenvolvida por
seus formuladores para avaliar a fidelidade ao modelo em situações de
implantação em diferentes contextos. Posteriormente, conduzimos um
estudo de caso avaliativo para analisar a implantação de um projeto
piloto, desenvolvido em Brasília/DF (2017/208) e inspirado no HF, que
teve como objetivo a inserção social de usuários de crack e outras
drogas em situação de rua, por meio da oferta de ações articuladas de

97
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

moradia, saúde, assistência social e integração comunitária. Analisamos


a implantação da intervenção local em três etapas: modelização da
intervenção; mensuração do seu grau de implantação, com base nos
critérios do modelo inspirador HF; e análise dos componentes
estratégico, lógico e de implantação. A partir do material produzido na
revisão de literatura e no estudo empírico, em diálogo com a
experiência de acompanhar o desenvolvimento do tema HF no Brasil,
nos últimos anos, em eventos acadêmicos e políticos, propomos esta
mesa para debater os seguintes resultados e apontamentos. Resultados:
constamos que a discussão acadêmica sobre a moradia assistida no
Brasil está restrita aos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e a
egressos de hospitais psiquiátricos e que há uma estagnação no debate
sobre a ampliação desse tipo de serviço para outros públicos como
pessoas em situação de rua com transtorno mental. Na literatura
cinzenta, identifica-se o surgimento de duas experiências locais de
moradia assistida para população em situação de rua, que se adequam a
princípios do HF, a partir de 2011; a adoção do conceito Moradia
Primeiro como uma estratégia de redução dos danos sociais
relacionados ao uso de drogas, pelo Governo Federal, no período de
2014/2016, e a incorporação dessa agenda na atual gestão federal, em
contraste com as medidas adotadas pelo mesmo governo de retração de
ações de redução de danos. O estudo de caso identificou que a
intervenção estudada se adequou ao princípio fundamental de colocar a
moradia em primeiro lugar, utilizando para isso soluções e adaptações
locais, que demonstram a potencialidade de implantação do HF no
Brasil. Aspectos lógicos da intervenção necessitam ser aprimorados
frente a complexidade da transposição do componente de integração
comunitária e social que constituiu a proposta.

98
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Uso de drogas e rupturas de paradigmas na


democracia

Coordenação: Rossana Rameh


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia -IFPE; Faculdade
Pernambucana de Saúde - FPS; ABRASME

Convidado: Antônio Nery Filho


Universidade Federal da Bahia – UFBA

Atenção à saúde no território como prática democrática: ações em


cenas de uso de drogas como analisadores da democracia brasileira

Cristiane Moreira da Silva


Universidade Católica de Petrópolis
Rafael Coelho Rodrigues
Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB

Desde a luta pelas reformas sanitária e psiquiátrica, no bojo por uma


sociedade mais justa e democrática o país vem buscando consolidar um
modelo de saúde pública que produz um paradigma civilizatório possível
com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com a Constituição. Sendo assim,
a democracia brasileira nos últimos anos do século XX foi produzida
tendo o SUS e tudo que o envolvia como um de seus alicerces. A
transformação do modelo sanitário, de orientação hospitalocêntrica,
para a proposta de promoção de saúde a partir dos territórios de vida da
população, encarnou a capilarização vital desse outro paradigma
civilizatório. As práticas de cuidado, neste sentido, transformam-se,
assim como as práticas da gestão em saúde pública, a partir dos
territórios em que se alicerçam. Ao acessar as populações mais
vulneráveis e garantir a equidade e universalidade do serviço, o SUS
também percebe suas próprias vulnerabilidades e vai se construindo
num processo constante de criação de novos serviços com estratégias

99
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

inclusivas que fortaleçam e ampliem o processo democrático e a


consolidação da função social do Estado. Porém, tal processo está em
disputa constante e, em especial, neste momento enfrenta um período
de recrudescimento vertiginoso das referidas conquistas sociais. Nosso
objetivo, portanto, é sinalizar como o acolhimento, como uma das
diretrizes da HumanizaSUS, e a atenção as pessoas que fazem uso
prejudicial de substâncias psicoativas, especificamente, o crack, podem
fortalecer e ampliar o escopo democrático brasileiro. Temos
presenciado dois modos dispares de lidar com a problemática social que
envolve esta população. De um lado, programas de governo que
apontam para a efetivação do processo de ampliação do cuidado nos
territórios de vida, em consonância com a lei 10216/01 e com a luta do
movimento antimanicomial. De outro, projetos que pautam suas ações
na direção clínica da abstinência como único mote terapêutico e em
propostas de internação para esta população, inclusive com
possibilidades de internações involuntárias e compulsórias. Buscamos
apontar que políticas de governo que pautam suas ações pela
abstinência e internação dos usuários classificados como dependentes
químicos, estão numa linha de sinergia com o proibicionismo e com a
guerra às drogas. Neste sentido, entendemos que há uma linha
programática que vem no bojo das políticas neoliberais e sua forma de
realizar a gestão das cidades e das populações tornadas indesejadas.

100
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Desafios para superar o paradigma moral no processo de cuidado dos


CAPS AD

Leon de Souza Lobo Garcia


Centro de Atenção Psicossocial – CAPS

Esta mesa-redonda convida à reflexão sobre práticas do cuidado em


Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD). Esta
reflexão busca analisar momentos em que trabalhadores de CAPS AD
são chamados a decidir sobre o acesso de usuários a processos de
cuidado como o acolhimento integral nos CAPS e nas Unidades de
Acolhimento. Também serão relatados momentos de discussão sobre o
acesso de usuários a serviços cujo status terapêutico é questionado ou
parece ter valor relativo no funcionamento dos CAPS AD, como o acesso
a banho e alimentação. Combinando exemplos de situações do
cotidiano dos CAPS AD com a discussão sobre conceitos como redução
de danos, atenção psicossocial e proibicionismo, busca-se compreender
como os trabalhadores de CAPS vem construindo e justificando suas
práticas de cuidado. O que são consideradas práticas de cuidado em um
CAPS AD? Existem critérios para definir como diferentes usuários
acessam essas práticas de cuidado? Como se constrói a
discricionariedade dos trabalhadores de CAPS AD na regulação do
acesso aos serviços que esse oferece? A partir dessa análise das práticas,
investigaremos como as principais linhas aceitas como orientadoras do
cuidado nos CAPS AD, a redução de danos e atenção psicossocial,
dialogam com as questões que emergem da prática do cuidado. Elas são
suficientes para orientar o que é terapêutico em um CAPS AD? A partir
dos exemplos práticos trazidos, buscaremos também avaliar se o
paradigma moral sobre o uso de substâncias psicoativas tem influência
sobre as decisões relativas aos processos de cuidado em CAPS AD. As
hipóteses levantadas são que não existe clareza sobre critérios que
definem o acesso a recursos terapêuticos nos CAPS AD, nem mesmo
sobre quais são esses recursos. Há grande discricionariedade dos

101
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

trabalhadores na definição do acesso aos serviços dos CAPS AD, assim


como uma forte influência do paradigma moral sobre o uso de
substâncias psicoativas nas decisões sobre o acesso aos serviços dos
CAPS.

102
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Limites da Correria: Redução de danos para pessoas que usam


estimulantes (experiências de 07 países)

José Arturo Costa Escobar


Faculdade de Ciências Humanas ESUDA

Rafael West Silva


Ingrid Farias
Escola Livre de Redução de Danos

Introdução: Devido à sua natureza pouco conhecida, este estudo é


direcionado exclusivamente à redução de danos para aqueles que usam
drogas estimulantes ilícitas de forma não injetável. Isto inclui engolir,
cheirar, fumar e a administração retal (booty-bumping) de substâncias.
Quanto aos estimulantes, são considerados especificamente:
estimulantes do tipo anfetamina (ETA), cocaína e catinonas. As
intervenções que atendem aos danos associados com o uso de
estimulantes incluem as terapias de substituição; os serviços de kits de
testes de drogas; suporte psicossocial; distribuição de preservativos,
lubrificantes e instrumentos para o uso de drogas; serviços de
prevenção a infecções sexualmente transmissíveis; suporte para a
geração de renda e empregabilidade; habitação, bem como a ampliação
de serviços para pessoas que usam estimulantes injetáveis. Objetivo: O
presente estudo fornece uma revisão de literatura global das atividades
de redução de danos para as Pessoas Que Usam Estimulantes - PQUE;
Documenta, descreve e analisa sete exemplos de boas práticas de
redução de danos para as PQUE em diferentes regiões do mundo (Brasil,
Uruguai, Canadá, Espanha, Holanda, África do Sul e Indonésia).
Metodologia: Este estudo consiste em duas partes: uma revisão de
literatura sobre a evidência da eficácia das estratégias de RD para as
drogas estimulantes, e uma apresentação de sete exemplos de boas
práticas de programas de redução de danos para PQUE em diferentes
regiões do mundo. Compreendendo que as intervenções globais de

103
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

redução de danos são múltiplas, e que programas semelhantes são


executados em diferentes organizações ao redor do mundo, é que os
setes casos que descrevemos constituem-se de bons exemplos sobre
como colocar em prática intervenções sólidas de RD (para estimulantes).
O relatório apresenta a primeira visão geral abrangente e comparativa
de evidência e práticas sobre a redução de danos para pessoas que
usam estimulantes. Ele combina uma rigorosa revisão de literatura
sobre diferentes estimulantes e rotas de administração com a descrição
aprofundada de exemplos da vida real sobre boas práticas de redução
de danos para pessoas que usam estimulantes pelo mundo.
Resultados/discussões e considerações finais: Em grande medida, a
redução de danos aos estimulantes segue os mesmos princípios
fundamentais que a redução de danos para outras drogas. Os bons
serviços de redução de danos começam fornecendo serviços de baixa
exigência, atendendo as pessoas onde elas estão, fornecendo
informações e materiais com base nas necessidades das pessoas,
oferecendo serviços móveis e de proximidade àquelas que não querem
ou não podem visitar locais fixos, envolvendo pares como funcionários e
garantindo que as pessoas tenham acesso a outros serviços relevantes.

104
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Patologização da infância e da adolescência

Coordenação: Gibson Alves


Secretaria de Justiça E Direitos Humanos; ABRASME

Convidado: Maria Aparecida Moysés


Universidade Estadual de Campinas -UNICAMP

A escola disciplinadora e a produção diagnóstica de TOD

Mayara Pinheiro Mandarino


Psicóloga

Cristiane Moreira da Silva


Letícia Nascimento Mello
Universidade Católica de Petrópolis

O chamado Transtorno Desafiador Opositor (TOD), de acordo com a


Classificação Internacional de Doenças (CID-10), é um transtorno de
conduta, com comportamentos caracterizados por provocação,
desobediência ou perturbação. Segundo o Manual de Diagnóstico
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), trata-se de um padrão de
humor raivoso, com comportamento questionador/desafiante, ou ainda,
índole vingativa, que possui duração de ao menos 6 meses. Percebe-se,
portanto, que crianças com comportamentos que outrora eram
encarados como questões educacionais passam a ser tratadas como
portadoras de um transtorno mental. Professores são os principais
responsáveis por encaminhamentos para avaliação psicológica e,
frequentemente, já indicam um diagnóstico sendo os mais frequentes o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) seguido do
TOD (SILVA; MELLO e RODRIGUES, 2018). Desta forma, as diferenças e
comportamentos considerados desadaptados são enquadrados como
patologias. Diante de tal quadro, o objetivo da presente pesquisa é a

105
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

investigação acerca do papel das escolas, uma vez que estas possuem
grande peso no encaminhamento de crianças e adolescentes para
diagnósticos, reproduzindo uma lógica medicalizante e atribuindo
patologia à comportamentos cotidianos, negligenciando fatores
socioeconômicos, culturais e familiares, que interferem de forma
impactante no comportamento dos sujeitos. Há importantes referências
acerca da medicalização infantojuvenil, que defendem a ideia de que as
questões sociais e culturais são reduzidas à uma lógica médica,
rotulando assim, características consideradas inadequadas dentro das
normas sociais como patologia de cunho orgânico (FRIAS e COSTA,
2013). Alguns autores geram reflexões acerca da ideia de que crianças e
adolescentes estão mais suscetíveis à diagnósticos e medicalização pois
costumam ser mais questionadores e agitados, e que os estigmas acerca
dos transtornos seriam formas de exclusão e controle (FRIAS e COSTA,
2013). Portanto, o objetivo da presente pesquisa busca promover
reflexões acerca da possível banalização de diagnóstico e medicalização.
Afinal, se os sintomas característicos do TOD, são comumente
encontrados na sociedade, como sensação de raiva, desconforto e
resistência à frustração e ordens, não seria a sua transformação em
patologia uma forma de robotizar o crescimento dos sujeitos,
alcançando assim, maior controle sobre estes, e ainda o aumento de
lucro e parceria entre médicos e a indústria farmacêutica? Ainda, cabe
refletir sobre o peso do diagnóstico na retirada da responsabilidade da
instituição, do sistema educacional, do funcionamento da sociedade
contemporânea e questões familiares. Além disso, cabe ressaltar a
importância de se atribuir à escola, enquanto instituição educacional, o
papel de desenvolver e produzir pensamento crítico com intuito de
estimular sujeitos autônomos. No entanto, ao invés disso, tem-se
percebido a educação em um lugar de repressão e controle dos sujeitos
para adaptação.

106
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A medicalização da queixa escolar e o uso de psicotrópicos na infância

Letícia Nascimento Mello


Cristiane Moreira da Silva
Universidade Católica de Petrópolis - UCP

Rafael Coelho Rodrigues


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

Este resumo apresenta os resultados de uma pesquisa


documental realizada nos arquivos da Assessoria de Psicologia Escolar
da Secretaria de Educação do Município de Petrópolis, cujo principal
objetivo foi analisar se as instituições escolares vêm se apropriando de
discursos e práticas medicalizantes a fim de justificar dificuldades de
aprendizagem e comportamentos classificados como inadequados
durante o processo de escolarização. A partir da análise dos
encaminhamentos das escolas municipais no período entre 2013 a 2015,
contemplando do 1° ao 3° ano do Ensino Fundamental. Dentre os
encaminhamentos foram analisados os que mencionam sintomas e
diagnósticos ou solicitam avaliação médica e psicológica. Levando em
conta a descrição dos dados, conforme foram registrados. Foi possível
verificar, que a medicalização se faz presente no dia a dia das crianças,
como também a queixa escolar é desenhada por meio de questões
atreladas ao mau comportamento ou agressividade sendo tratadas
como transtornos e patologias. Além disso, do total de crianças
atendidas, um percentual elevado fazia uso de psicofármacos como
resposta aos comportamentos considerados problemáticos pelas
escolas. Ao total 254 crianças foram encaminhadas a Assessoria, destas
180 direcionadas para avaliação psicológica, tendo identificado 237
queixas referentes a questões comportamentais. No que diz respeito ao
uso de medicamentos, 64 faziam uso de algum tipo de medicação e 180
crianças foram encaminhadas para tal finalidade. Por fim, o principal
desafio na realização desta pesquisa vem da complexidade e amplitude

107
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

do tema discutido. Por meio dos dados obtidos nos encaminhamentos


de queixa escolar, é possível perceber o aumento do processo de
medicalização da educação. O controle social é gerido a partir daqueles
que ocupam lugares onde é possível inferir sobre sujeitos e analisá-los. A
escola tem buscado romper as correntes que a prendem em um passado
normatizador, a legislação cumpre seu papel ao provocar discussões
sobre educar para diversidade, inclusão e acessibilidade no contexto
escolar. No entanto, caminha-se a passos curtos e com isso o discurso
que rotula, segrega e estigmatiza continua a transitar por corredores e
salas de aula do nosso país.

108
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: O Conselho Federal de Psicologia na pandemia de


Covid-19: atuação em rede e junto à categoria na atenção à
saúde mental

Coordenação: Fernando Zasso Pigatto (Presidente do CNS)

Ana Sandra Fernandes


Marisa Helena Alves
Tahiná Khan Lima Vianey
Conselho Federal de Psicologia - CFP

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), autarquia federal com as


atribuições de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de
Psicólogo, além de servir de órgão consultivo em matéria de Psicologia,
apresenta as ações desenvolvidas, em rede com os Conselhos Regionais
de Psicologia (CRPs) e em articulação com outras entidades, para
promover o cuidado à saúde mental da população brasileira no contexto
de enfrentamento à pandemia de Covid-19.

109
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: Intersexualidade e população LGBTQI+

Coordenação: Nicéia Malheiros


ABRASME

Convidado: Marco Duarte


Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Intersexualidade, Reposição Hormonal Masculina e Transtornos Mentais


Comuns: um diálogo sobre a construção de categorias diagnósticas e o
processo de patologização da vida em três cenários de pesquisa

Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Anacely Guimarães Costa


Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF

Cristiane da Costa Thiago


Universidade do Estado de Rio de Janeiro - UERJ

Apresentamos três cenários de pesquisa diferentes que apontam o risco


do discurso biomédico na produção de patologização da vida, com o
objetivo de refletir sobre alternativas diagnósticas e terapêuticas nestes
contextos. O primeiro trabalho discorre sobre como boa parte dos
tratamentos médicos, impostos à intersexualidade, podem acarretar em
problemas relacionados à saúde mental das pessoas intersexo. Ao não
cumprirem seus propósitos de ajustar as corporalidades intersexo às
normas binárias, as intervenções médicas produzem sofrimentos
diversos, angústias e anseios nestas pessoas. No segundo cenário, é
analisado o processo de promoção, divulgação de medicamentos e
categorias diagnósticas pela indústria farmacêutica e a classe médica,
sendo utilizado como estudo de caso a terapia de reposição hormonal

110
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

masculina, tomada como instrumento para combate ao


envelhecimento. A terceira pesquisa debruçou-se sobre os Transtornos
Mentais Comuns, um conjunto amorfo de sintomas não-psicóticos,
observado na atenção primária, que não era categorizado como doença,
portanto ausente da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID) e do Manual de Diagnóstico e
Estatística de Transtornos Mentais (DSM). Contudo, desde o final do
século passado, esses casos denominados “subclínicos” passaram a ser
visibilizados pela literatura médico-científica, sendo desenvolvidos
estudos a nível mundial, financiados pela Organização Mundial de Saúde
e pelo Banco Mundial, para constituição de categorias diagnósticas que
serão inseridas na versão para atenção primária da CID-11. Esses três
estudos analisam personagens diferentes que são afetados por
enunciados e práticas biomédicas, as quais, comumente, patologizam
seus corpos, suas formas de portar-se, constituem suas vidas e seus
modos de lidar com elas. A partir dessas análises, são realizados
questionamentos e reflexões sobre o processo de medicalização da
sociedade, sendo indispensável pensar formas de resistência a esse
processo e a construção de terapêuticas que acolham o sofrimento dos
sujeitos em questão, respeitando-os em seus modos de ser no mundo.

111
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental da população LGBTQI+ da CasAmor de Aracaju/SE

Matheus Andrade de Moraes


Vânia Carvalho Santos
Silmere Alves Santos
Universidade Federal de Sergipe - UFS

No cenário da formação sócio-histórica do Brasil, o preconceito e as


violências praticados contra as pessoas que saem dos padrões de gênero
e sexualidade, são gatilhos para afetar a saúde mental através de crises
de ansiedade, de pânico, depressão, entre outros. O interesse pelo tema
ocorreu a partir das observações do pesquisador que atuou como
voluntário da CasAmor LGBTQI+, Organização não-governamental
(ONG), que presta serviços de acolhimento e encaminhamentos diversos
a essa população. O objetivo precípuo da pesquisa foi analisar as
relações entre os preconceitos LGBTQIfóbicos e a saúde mental dos
usuários da referida instituição, com vistas a identificar as demandas
apresentadas e as influências da heterocisnormatividade no seu
cotidiano. A pesquisa foi descritiva composta por revisão bibliográfica,
documental e análise de 20 fichas cadastrais dos/das/des usuário/as/es
as quais foram liberadas pela ONG para consulta desde que fossem
resguardadas a identificações destes usuários. A análise dos dados foi
qualitativa e baseada no materialismo histórico-dialético. Os resultados
da pesquisa constaram que 75% das pessoas atendidas são mulheres
(sejam cis, trans ou travestis), 55% consideram-se heterossexuais,
desmistificando que os gêneros não estão atrelados as orientações
sexuais. Quanto ao fator racial constatou-se a presença de pardos (45%)
e negras (35%). Com relação a escolaridade: concluíram o ensino médio
(45%), esses dados reafirmam que fatores de classe social, gênero,
sexualidade e raça, contribuem para a exclusão social dessa população.
As violências mais expressivas foram: psicológica, verbal e patrimonial,
bem como preconceito familiar e dificuldades nos relacionamentos
conjugais e familiares. Os sintomas mencionados foram: tristeza

112
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profunda (28%), ideação suicida (18%), depressão (17%), automutilação


(15%), tentativas de suicídio (11%) e isolamento social (11%).
Evidenciam-se as correlações entre preconceitos e o sofrimento
psíquico, bem como a relação entre a população e as suas vivências.
Além desses dados, outros apontamentos foram destacados, são eles:
escassez de empregabilidade, necessidades básicas de moradia e
alimentação, e a utilização da arte enquanto resistência. Desse modo, a
adoção de políticas públicas com vistas a inserção dessa população na
área de educação, emprego e renda e saúde coletiva proporcionarão
uma melhor qualidade de vida, sobretudo em relação ao sofrimento
psíquico.

113
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Sexualidades, Drogas e Religião: práticas atualizadas da “Cura Gay” no


Brasil

Isabela Saraiva de Queiroz


Universidade Federal de São João Del Rei

Marco Aurélio Máximo Prado


Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Introdução: As estratégias biomédicas (psiquiátricas e psicológicas) da


“cura gay” têm sido largamente utilizadas no Brasil desde o início do
século XX, com registros de seu desenvolvimento em terapias de
conversão/reversão das homossexualidades que se caracterizavam
como práticas de tortura em diferentes hospitais psiquiátricos da época.
Essas práticas ditas terapêuticas ganharam terreno ao se desenvolverem
sempre aliadas a elementos e contextos religiosos e instituições de
saúde mental. Embora durante o século XX muito se tenha avançado
com a reforma psiquiátrica, a desclassificação psicopatológica das
homossexualidades e a proibição de práticas profissionais de
conversão/reversão por parte das autarquias profissionais, novos
contextos têm recriado formas de “terapias” conhecidas como “cura
gay”, especialmente em ambientes religiosos. Um dispositivo em
especial, as comunidades terapêuticas voltadas para o “tratamento da
drogadição”, marca essa recriação no contemporâneo. Encapsuladas
pelo manto secreto de comunidades religiosas, as práticas de terapias
de conversão/reversão das homossexualidades seguem sendo um nó
fundamental para compreender o campo dos direitos humanos de
minorias no Brasil e as articulações entre sexualidades, política de
drogas e religião. Em nome de uma “heterossexualidade terapêutica”, as
práticas de “cura gay” se disseminam, multiplicam, atualizam e se
associam a várias intervenções e contextos.
Objetivo e Metodologia: Neste ensaio teórico-bibliográfico objetivamos
abordar em uma perspectiva histórica essas práticas de

114
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

conversão/reversão e sua afirmação e sobrevivência em forma de


políticas públicas, como representado pelas comunidades terapêuticas,
explicitando suas ações biomédicas de tortura e produção de sofrimento
de minorias sexuais, sob a justificativa de uma forma de cuidado à saúde
e bem-estar físico e mental.
Resultados/Discussões: Para muitas dessas instituições, tanto desejos
homoeróticos quanto o “vício” em drogas são percebidos como
manifestação de possessão demoníaca. Sendo assim, tanto a abstinência
de drogas quanto a “conversão sexual” de pessoas LGBTQI+ tornam-se
meta a ser alcançada por grupos religiosos que atribuem a si mesmos a
missão de livrar a vida secular de influências malignas. Esta lógica pode
explicar – ainda que não justifique, nem autorize – o propósito de
algumas comunidades terapêuticas, vinculadas a certos grupos
religiosos, de buscar, num mesmo empreendimento, “curar” pessoas do
vício em drogas e da homossexualidade. A noção de salvação se
apresenta como uma forma de cuidado à saúde e bem-estar, tal como
indicou Foucault quando evidenciou a reatualização do poder pastoral
no Estado moderno.
Considerações finais: Muitas práticas ditas de “acolhimento” para gays e
lésbicas nas igrejas evangélicas se constituem, portanto, como
estratégias de conversão das sexualidades, por meio de iniciativas nas
quais é consenso a percepção dos perigos encarnados na ‘ameaça
homossexual’, sendo utilizadas formas mais ou menos explícitas de
repúdio à homossexualidade. Reconhece-se, assim, uma tensão com o
cenário cultural contemporâneo, em que os direitos sexuais vêm sendo
progressivamente reconhecidos como direitos humanos.
Palavras-chave: Comunidades terapêuticas, Cura gay, Uso de drogas.

115
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: Loucura em conflito com a lei: desafios para a


Reforma Psiquiátrica

Coordenação: Janete Valois


Coordenação de Saúde Mental do Estado Maranhão; ABRASME

Convidado: Patricia Magno


Defensoria Pública RJ

A atuação da equipe psicossocial na Audiência de Custódia do Espírito


Santo perante as pessoas com transtorno mental autuadas em flagrante
delito: construindo caminhos antimanicomiais

Bruno da Silva Campos


Faculdade Pitágoras de Guarapari

Kallen Dettmann Wandekoken


Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

A mesa proposta é parte de uma pesquisa de doutorado em


andamento, no programa de pós graduação em Saúde Coletiva - PPGSC,
da Universidade Federal do Espírito Santo, cuja investigação perpassa
por temas como saúde mental, justiça criminal e avaliação psicossocial
de pessoas em sofrimento psíquico que foram presas. Nesse sentido,
temos o objetivo de apresentar e discutir sobre um instrumento
(cartilha) desenvolvido neste trabalho, bem como promover o debate
acerca da atuação do sistema de justiça criminal frente as pessoas em
sofrimento psíquico. O direcionamento metodológico deste projeto tem
por base a pesquisa qualitativa e para sua elaboração seguimos as
seguintes etapas: Análise documental, observação participante e após a
elaboração do material, fizemos uma consulta e revisão por pares. Como
resultado foi elaborado uma cartilha de diretrizes e procedimentos para

116
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

a atuação da equipe psicossocial, psicólogos e assistentes sociais, no


encontro com as pessoas em sofrimento psíquico que são atendidas ao
ingressar no sistema de justiça criminal, através da Audiência de
Custódia. Essas audiências consistem na condição de que toda pessoa
que é presa em flagrante tem o direito de ser apresentada a uma
autoridade judicial em um prazo de pelo menos 24 horas do ato
ocorrido. A equipe psicossocial, dentro da mesma, auxilia na
identificação de pessoas com indícios de transtornos psíquicos, onde é
realizada tentativa de contato telefônico com os familiares e, em caso
negativo, é possível acionar a rede de atendimento em saúde mental
para verificar se existem mais dados sobre o autuado, seus familiares e
seu histórico no tratamento mental, para que estas informações sejam
levadas ao conhecimento do juiz antes da realização da audiência
através de um relatório. Em nossa prática nesse campo, percebemos
que a falta de maiores informações ou a falta de apontamento ou
desconhecimento da possibilidade de encaminhamentos para a Rede,
pode fazer com que o magistrado acabe optando pelo encarceramento
dessas pessoas, simplesmente pelo fato desses autuados estarem
desorientados ou incapacitados naquele momento de responder a
quesitos simples sobre sua vida, habitação ou motivo da prisão.
Atualmente as Audiências de Custódia ocorrem em todos os estados do
país, mas ainda as equipes não possuem uma diretriz de trabalho que
auxilie em encaminhamentos à serviços básicos de saúde, educação e
assistência social, enfatizando que essa equipe deve estar atenta e
atuante na luta antimanicomial e na prevenção da tortura e no
tratamento desumano e degradante. O ES é pioneiro por ter uma equipe
psicossocial no mesmo prédio onde ocorrem as audiências e realizando
atendimento antes das mesmas, nos outros estados esses profissionais
são acionados somente em ocasiões eventuais, caso o juiz perceba a
necessidade de encaminhamento após a realização da audiência.
Esperamos que este material sirva como um respaldo ao trabalho desses
profissionais neste local específico no atendimento as pessoas em
sofrimento psíquico que se encontram ainda mais vulneráveis mediante

117
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

à justiça criminal. A cartilha também tem o intuito de proporcionar


maior autonomia aos profissionais na hora de dialogar com os
magistrados e propor caminhos antimanicomiais.

118
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Um relato de experiência sobre o cuidado de sujeitos em situação de


encarceramento: Possibilidades, Limites e Desafios.

Cecília de Santana Mota


Alessandra Coelho Cerqueira
Programa Corra pro Abraço

O objetivo deste resumo se destina a relatar a experiência do


acompanhamento de sujeitos encarcerados em unidades prisionais de
Salvador. Estas pessoas viviam em situação de rua e, quando presas,
continuam sendo acompanhadas pela equipe do Programa Corra pro
Abraço. Este programa é uma iniciativa da Secretaria de Justiça, Direitos
Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) do Estado da Bahia e
busca promover cidadania, cuidado e garantia de direitos de usuários de
drogas em contextos de vulnerabilidade social. O acompanhamento é
realizado, quinzenalmente, no Conjunto Penal Feminino (às segundas-
feiras) e nas unidades masculinas (sextas-feiras). Nestes encontros, uma
Educadora Jurídica (Advogada) e uma Psicóloga do Programa se dirigem
até o Complexo Penitenciário a fim de conversarem com estas pessoas
presas (principalmente as mulheres), com as quais já se tinha um vínculo
na rua. Ao longo do acompanhamento, estas profissionais, ambas
técnicas de referência, trazem informações sobre o processo, sobre
agendamento com os defensores públicos das mesmas tentam garantir,
via relatórios psicossociais, a confirmação do acompanhamento
realizado pelo Programa. Neste contexto, através da realização das
escutas, é possível também estabelecer um espaço no qual mulheres e
homens presos falam sobre a experiência de estarem encarcerados,
suas questões familiares, falam ainda sobre si e sobre possibilidades de
reinvenção da própria vida. Ao longo do tempo, percebemos a
importância de manter estas visitas (que se configuram como uma
estratégia de redução de danos) e o lugar também terapêutico que este
espaço se caracteriza. Doravante, a equipe do Programa Corra Pro

119
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Abraço, pautada em uma prática política, ética e, sobretudo, de


resistência compreende que as formas de punição no Brasil encontram
no encarceramento uma solução importante para a exclusão de sujeitos
“indesejados”, com perfis forjados no campo social através da insígnia
da periculosidade e irrecuperabilidade (ROSA, 2010). Doravante, é
preciso pontuar que as prisões, tal como pensada por Foucault (2009), é
o ponto de ancoragem onde o poder disciplinar mais nitidamente se faz
perceber nas práticas carcerárias que incidem sobre os corpos.
Entrementes, a prisão, no trabalho empreendido no âmbito do
Programa Corra pro Abraço, se configura como uma extensão da prática,
cujo acompanhamento se faz imperativo, pois se destina a, de dentro do
cárcere, tentar promover e garantir direitos constantemente violados,
onde vidas de sujeitos estão quase nuas e em um estado de quase
exceção (AGAMBEN, 2002/2004).

120
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Políticas antirracistas e resistência antimanicomial

Coordenação: Rosângela Santos


ABRASME

Convidado: Emiliano Camargo David


Instituto AMMA Psique e Negritude; Instituto SEDES Sapientiae

Clínica Psicológica Antirracista: uma nova episteme para uma psicologia


brasileira decolonial nascida da fala das mulheres negras

Maria Conceição Costa


Articulação Nacional de Psicólogas/os Negras/os e Pesquisadoras/es -
Anpsinep

Maria Conceição Costa


Ana Lucia Francisco
Universidade Católica De Pernambuco - Unicap

O trabalho, ora apresentado, é o resultado da proposta do


Projeto de Tese desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Clínica - Doutorado, da Universidade Católica de Pernambuco.
A reflexão aqui levantada nos leva a pensar que, sendo um trabalho em
construção, significa um projeto não acabado, mas tão somente uma
Projeto caminhante, precisando passar pela análise crítica de pesquisa.
A pesquisa qualitativa, aqui sugerida, mostra-se portanto, rica em
possibilidades do cuidado com a apuração dos fatos e que o desenvolver
das ideias requerem mais cuidados e compromissos éticos com caminho
“cientifico” por nós adotado.
A partir dessa perspectiva, pensamos na possibilidade de rever a postura
da atuação da psicologia podendo construir uma clínica pensada como
aquela que se voltará às questões sociais, reponde num espaço de

121
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

atuação para além do setting da relação individuo-individuo, queixa


intra psíquica ou questões emocionais surgidas do sujeito na condição
de ser. Doravante pensamos e passamos a nominá-la de uma outra
clínica, mais do cuidado, psicológica antirracista, nos molde psicossocial,
vertente da clínica ampliada, da clínica de rua, do plantão psicológico
etc., que promova o compreensão do enfrentamento às questões raciais
entendendo-as como questões sociais, constituídas e construídas
também relações sociais e, sobretudo, por elas definidas. Assim,
escolhemos aqui pensar uma clínica no problema da pesquisa em
questão como aquela que problematizará o racismo incidindo na
desconstrução de uma subjetividade racista, classista e patriarcal,
passando a ser a busca de entender, para desconstruir o racismo
estrutural brasileiro. Sugere-se então, uma compreensão interseccional,
dado que este racismo aparece como uma vertente de discriminação
que causa a apartação da sociedade brasileira colocando as pessoas
negras na condição de subalternas e pessoas brancas na condição de
privilegiadas. Isso estimula uma construção da subjetividade racializada
da população negra e racista da população branca, o que define o lugar
e o não lugar dos sujeitos. O racismo atravessa, portanto, todas as
instituições brasileiras nas lógicas reais e simbólicas, naturalizando,
desse modo, relações profundamente desiguais instituídas como
racismo institucional. Considerando, obviamente, nesse sentido, que
para a pessoa negra o não lugar significará sempre ocupar os piores
lugares sociais no Brasil, com rebatimento na sua subjetividade e no seu
psiquismo.

122
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Luta antimanicomial e lógica decolonial:


encruzilhadas de saberes e práticas

Rafael Casali Ribeiro


Universidade de São Paulo – USP

INTRODUÇÃO, OBJETIVO E METODOLOGIA: Procuramos traçar


algumas reflexões sobre cuidado em saúde desde uma perspectiva
decolonial, partindo dos princípios que regem a luta antimanicomial
brasileira, passando pelas Práticas Integrativas e Complementares em
Saúde (PICS) em diálogo com a Educação Popular em Saúde (EPS).
Apontamos possíveis exemplos de como o diálogo com saberes e
práticas populares, ancorados em cosmovisões distintas do saber
biomédico hegemônico, enseja potências emancipadoras e que podem
contribuir com a concretização dos princípios da luta antimanicomial. A
metodologia utilizada foi de ensaio reflexivo.
DISCUSSÕES: Discutimos como a prática radical dos princípios da luta
antimanicomial e da reforma psiquiátrica nos exige a produção de
subjetividades livres da lógica colonial, e para isso não basta adotar
referenciais teóricos mais “humanizados” e “emancipadores” se presos
a modos de sentir-pensar-agir etnocêntricos. É importante reconhecer e
incorporar saberes e práticas presentes na cultura popular cujas base
são extraocidentais, ou seja, adotar uma tarefa de desconstrução da
matriz colonial. Apontamos o não reconhecimento das medicinas
tradicionais indígenas e as medicinas de origem afro-brasileira nas e
pelas políticas públicas voltadas às PICS, marginalizando assim modos de
socialização e cuidado que operam mais radicalmente fora da lógica da
dominação colonial, mercantil e objetificadora e que têm grande força
de produção de subjetividade coletiva.
Apontamos a Educação Popular em Saúde (EPS), cujos compromissos
emancipadores convergem com a luta antimanicomial, como campo de
maior abertura à outras epistemologias, cosmovisões e práticas
presentes nas classes populares. A valorização da diversidade de saberes

123
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

que norteia a EPS faz com que se acolha as PICS em seu campo de
diálogo. O destaque à ancestralidade na Política Nacional de Educação
Popular e Saúde no SUS (PNEP-SUS) denota a importância de uma noção
fundamental para cosmovisões de grande parte das populações de
origem negro-africanas e ameríndia. Das sabedorias assentes nestas
cosmovisões populares, reconhecemos a especial potência num de seus
elementos mais estigmatizados: o signo Exu. Associado pelo branco ao
diabo, Exu é orixá que versa sobre a potência, a imprevisibilidade, o ato
criativo, a fecundidade, as trocas, a mobilidade e a transformação. É
poder que organiza o caos, o dínamo do universo e princípio de
inacabamento. Mensageiro entre mundos, senhor dos caminhos e das
encruzilhadas, lugar da incerteza e da alteridade. Diante do ímpeto
colonial, logocêntrico e epistemicida, Exu joga com o erro, desestabiliza
modos de ser e abre possibilidades de reinvenção. Em meio a uma
polifonia dialógica de saberes que visa produção individual e coletiva de
conhecimento e saúde, o saber advindo de Exu é uma dentre as várias
potências de emancipação a operar a desconstrução da matriz colonial
e, junto com ela, a lógica manicomial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Buscamos aqui explorar articulações potentes
entre o que move a luta antimanicomial e saberes e práticas
extraocidentais, não em busca de resposta, mas sim na intenção de
sustentar uma abertura à não-repetição de pensares, sentires, e agires
aprisionados, na aposta de que a invenção de uma sociedade sem
manicômios passe pelo encontro plural e dialógico com sociedades que
nunca deles lançaram mão.

124
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Resistência antimanicomial: Protagonismo e formação política

Marcella Matos Souza de Jesus


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Natália Vasconcelos de Freitas


Universidade de Pernambuco - UPE

José Nilton Monteiro da Silva Junior


Jailson José dos Santos

Nivaldo VasconcelosJetro Leite Correia Junior


Márcio Muniz C. de Andrade

A radical transformação da relação entre sociedade e loucura e a


efetivação de uma nova rede de cuidados exigem sujeitos organizados
politicamente para participação ativa, protagonizando mudanças
históricas e estruturais, dessa maneira, compreendemos como
necessidade impulsionar a organização e o protagonismo dos usuários
nas lutas travadas por direitos. O Núcleo Estadual da Luta
Antimanicomial de Pernambuco Libertando Subjetividades, a partir de
continuidades e rupturas de resistências antimanicomiais, organiza-se
em torno de atividades que propõem a construção coletiva de projetos
que, ao ultrapassar o espaço institucional, estimulam construções de
afetos e organização política entre usuários(as) da RAPS. Nesse sentido,
o objetivo deste projeto é apresentar a experiência da Escola de
Formação Antimanicomial para usuários e familiares como estímulo a
iniciativas de promoção da autonomia das(os) envolvidas(os) na atenção
à Saúde, como fundamental para a construção de um modelo de
cuidado em Saúde Mental genuinamente antimanicomial. A partir de
provocações despertadas na IV Semana da Luta Antimanicomial em
maio de 2016, e das assembleias de usuários realizadas posteriormente
nos CAPS, que a I Escola de Formação de Usuários- RMR é realizada em

125
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

2017, e seus frutos abriram portas para mais duas edições do projeto,
nos anos de 2018 e 2019. As atividades aconteceram em encontros
quinzenais para facilitar a articulação com redes de serviços e parceiros
políticos. Os encontros foram realizados em espaços de organizações
parceiras, como sindicatos, Armazém do Campo (MST) e Museu da
Abolição do Estado. Corroborando com o princípio da autonomia, o
projeto da III Escola foi pensado com base na pedagogia Freireana, e das
noções de saberes enquanto dispositivos políticos e ferramentas de
emancipação política. É a partir do fundamento da dialogicidade como
essencial a participação genuína em espaços de aprendizado, que a III
Escola se organiza em torno do universo temático dos participantes, os
chamados temas geradores. O primeiro encontro consistiu na
explanação da metodologia e investigação conjunta desse universo por
parte dos grupos de participantes, resultando em uma organização
programática para os demais encontros, com a nomeação de
facilitadores e responsáveis pela discussão a partir da proximidade com
o tema ou interesse em desenvolvê-lo. Na avaliação do processo como
estimulador da participação social e reconhecedor de direitos, foram
encaminhados indicativos para fortalecimento da Associação de
Usuários e realização de futuros encontros. Tais elementos deixam claro
a importância e o desafio da continuação desse processo formativo. Por
fim, consideramos que todo movimento político deve exigir um
processo formativo, para que a realidade e a história sejam seriamente
consideradas, construindo estratégias que sejam pensadas de forma
coletiva e organizada, em prol de transformações societárias radicais.
Assim, entendemos a importância de compartilhar a experiência desse
projeto e suas possibilidades de (re)pensar formas de enfrentamento ao
sucateamento da Política de Saúde Mental, rumo à construção de uma
sociedade sem nenhuma forma de manicômios.
Palavras-Chave: Saúde Mental, Participação Popular, Formação
Antimanicomial.

126
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?

Maria de Jesus Moura


Eliane Silvia Costa
Thaynara Sousa Silva
Conselho Federal de Psicologia - CFP

INTRODUÇÃO: Em 2002, por meio da campanha “O preconceito racial


humilha e a humilhação social faz sofrer”, o Conselho Federal de
Psicologia propôs pela primeira vez um debate nacional sobre o racismo
no âmbito do Sistema Conselhos. Como resultado dessa reflexão, o CFP
publicou a Resolução nº18/2002, que estabelece normas de atuação
para as(os) psicólogas(os) em relação ao preconceito e à discriminação
racial e destaca que as(os) profissionais de Psicologia não podem
exercer qualquer ação que favoreça a discriminação ou o preconceito
étnico-racial, o que também significa dizer que não poderão ser
omissas(os) em relação ao racismo, nem mesmo utilizar técnicas ou
instrumentos que criam ou reforçam a discriminação racial. Nesses 18
anos, o debate sobre dominação e relações étnico-raciais ampliou do
ponto de vista teórico-técnico e político. O CFP tem sido um dos atores
nesse processo de criar condições para que a Psicologia, como ciência e
profissão, decifre e enfrente essa modalidade de dominação. Inclusive,
como não há racismo estrutural, institucional ou relacional sem sujeitos,
esse tema é crucial para a Psicologia em suas diferentes áreas de
atuação e linhas teóricas. É por essa razão que, mais uma vez, o CFP
criará espaços de reflexão sobre o racismo, sendo que, no dia 20 de
novembro de 2020, lançará sua segunda campanha contra o racismo.
OBJETIVO: esta mesa tem como objetivo apresentar a referida
campanha. MÉTODO: Detalhes da campanha serão apresentados, tais
como o fato de que ocorrerá ao longo do triênio de 2020 a 2022 e que
envolverá todo o Sistema Conselhos de Psicologia. Além disso, será
destacado o fato de que a campanha trará à baila o racismo contra a
população negra tanto quanto dará ênfase ao racismo contra os povos

127
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

indígenas. Ela terá como centralidade produzir ações discursivas e


práticas que colaborem com processos formativos e informativos sobre
racismo, branquitude e práticas antirracistas, pois, para o CFP, esses são
temas interdependentes. Em outras palavras, branquitude é racismo e
desmantelá-la requer a criação cotidiana de atos concretos contra o
privilégio branco e a favor da equidade racial. Ao longo da campanha, o
CFP contribuirá com a promoção do letramento sobre práticas
psicológicas não racistas e com o compartilhar de ferramentas teóricas e
metodológicas que possibilitem que psicólogas(os) façam uma leitura
crítica do racismo no Brasil. RESULTADOS: O slogan da campanha é:
“Racismo é coisa da minha cabeça ou da sua?”, espera-se que, com este
chamamento, psicólogas(os), estudantes de Psicologia e demais
profissionais e pesquisadoras(es) da saúde mental participem desta
mesa e da campanha e que colaborem com o delineamento de uma
Psicologia Antirracista e Decolonial. Esperamos também que se
evidencie que as lutas antimanicomial e antirracista são convergentes,
pois voltam-se para a defesa da vida, saúde, justiça e liberdade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Vale lembrar que o que está em questão é o
posicionamento ético-político da(o) profissional de Psicologia e das
demais áreas do campo da saúde mental.

128
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TÍTULO: Práticas Emancipatórias: Arte-cultura

Coordenação: Marilda Couto


Escola Superior da Amazônia - ESAMAZ; ABRASME

Convidado: Eduardo Torre


CAPS Espaço Aberto ao Tempo; Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Saúde Mental e Atenção Psicossocial - ENSP/FIOCRUZ

O Centro de Convivência e Cultura como experiência antimanicomial de


cuidado em saúde mental em uma cidade da Amazônia

Amanda Schoenmaker
Sandra Ortiz Rodrigues
Fabiano Guimarães de Carvalho
Centro de Convivência e Cultura/Sec. Est. de Saúde do Acre

Diana Rodrigues Goulart


Secretaria de Estado de Educação do Acre

O presente trabalho tem por objetivo abordar a trajetória de


cuidado em saúde mental do CECO Arte de Ser, em Rio Branco/Acre. O
Arte de Ser surgiu como oficina de expressão livre artística, por iniciativa
de Fabiano Carvalho, então psicólogo do Hospital de Saúde Mental do
Acre. Inspirado em Nise da Silveira, realizava oficinas em espaços
próximos ao hospital, possibilitando a saída do isolamento de pacientes
e residentes. Com o envolvimento de outros profissionais, apoio da
Divisão de Saúde Mental do Estado e realização, em 2008, do I
Seminário de Saúde Mental do Acre, articulado pela Associação de
Pacientes e Amigos da Saúde Mental, surge a proposta de criar o Centro
de Convivência e Cultura. Alguns anos depois, o CECO passou a
funcionar no único seringal urbano do mundo, o Parque Capitão Ciríaco,

129
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

graças à parceria com a Fundação Municipal de Cultura. Em 2018, foi


formalizado como Centro de Convivência e Cultura, serviço que tem,
entre suas diretrizes nacionais, a de oferecer às pessoas com
transtornos mentais espaços de sociabilidade, produção e intervenção
na cidade (Portaria 396/2005/SAS). Um dos elementos essenciais de sua
metodologia é o fato de suas oficinas e eventos culturais (shows,
exposições, etc.) serem abertos, propondo a convivência entre as
diferenças: pessoas com e sem transtorno mental ou sofrimento
psíquico intenso, diferentes idades, gêneros, níveis socioeconômicos,
etnias, etc., tendo a arte como mediadora deste processo de contato
consigo e com o outro. Recentemente, iniciou-se a realização de
assembleias, projeto de economia solidária e oficinas voltadas
exclusivamente para mulheres e homens, para reflexão sobre o impacto
do patriarcado na saúde mental. Observa-se que a participação no Arte
de Ser tem contribuído para a redução das internações e do uso de
medicação; aumento da autonomia dos sujeitos, sempre estimulados a
fazer o que desejam; criação de laços afetivos entre os participantes,
que transbordam o tempo/espaço do serviço; e desconstrução dos
estigmas associados à loucura, provocando uma reflexão sobre estas
questões no contexto amazônico, inclusive na equipe, pois nos
compreendemos participantes deste processo de descolonização de
nossas expressões, afetos e pensamentos sobre nós e o outro. Por sua
atuação, o Arte de Ser foi premiado pelo Ministério Público do Acre no
Prêmio MP Atitude, na categoria Inovação. Nossa Rede de Atenção
Psicossocial é incipiente e conta ainda com um hospital psiquiátrico.
Assim, dentre nossos maiores desafios está a superação do modelo
hospitalocêntrico e excludente, referência no cuidado em saúde mental
para grande parte da população e da gestão pública. O Arte de Ser, em
conjunto com os demais serviços da RAPS, apresenta outra possibilidade
de cuidado: no lugar do isolamento, o convívio entre as pessoas na sua
diversidade, exercício ainda mais fundamental no contexto sociopolítico
que atravessamos. Ao invés de grades, janelas e portas abertas em um
parque público repleto de seringueiras, que convidam à memória e

130
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

valorização dos saberes deste lugar da Amazônia e não ao seu


esquecimento. Ao invés da medicação, a arte. Se ainda não pudemos
fechar o manicômio, vamos esvaziá-lo através de outras redes de afeto.

131
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O Protagonismo da Ciranda

Gleni Bardales Ribeiro


CRC

Yara Bardales Mesquita


Andre Luiz de Almeida Rocha
Adelaide de Lima Neri
Vaz da Silva Junior
Francisco Lisboa da Silva
Nilzete Alves Moura
Cooperativa Ciranda Samauma

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a


Cooperativa Social de Saúde Mental Ciranda Samaúma, como
experiência de protagonismo, organização política e geração de renda
de usuários e familiares no cuidado em saúde mental. A Cooperativa
surgiu dentro do CAPS Samaúma, serviço da RAPS de Rio Branco/Acre,
por iniciativa dos próprios usuários e familiares. Este nosso coletivo,
formado por adolescentes, adultos e idosos, é protagonista desse
empreendimento, bem como deste texto. Trabalhando juntos,
construímos uma identidade individual e coletiva, buscamos um bem
comum, satisfazemos desejos pessoais, elevamos nossa autoestima,
potencializamos e expomos de maneira livre nossa expressão artística,
contando nossas histórias de vida. Desde o início, associamos a
organização da Cooperativa à Luta Antimanicomial, pois acreditamos
que ela é um caminho de fortalecimento de nossa autonomia e
integração social, reduzindo a necessidade de internação e uso de
medicamentos. Contando também com o apoio das equipes do CAPS
Samaúma, do Centro de Convivência e Cultura Arte de Ser (este através
de projeto com a UNISOL Brasil), Ministério Público do Acre e outros
parceiros, há menos de um ano estamos descobrindo os desafios de
sermos um grupo formado por pessoas muito diferentes entre si,

132
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

buscando caminhos para produzir produtos vendáveis, mas que sejam


fruto de um trabalho terapêutico e criativo, que leve em conta nossas
especificidades e potências. Acreditamos que isto seria o ideal para todo
ser humano, para que o trabalho não seja fonte de adoecimento mental.
Somos pessoas que, sozinhas, muitas vezes não conseguíamos enxergar
uma chama acesa em nossas vidas ou o nosso lugar na sociedade, mas,
trabalhando em grupo, desenvolvemos nossos talentos, criatividade,
bem-estar, o respeito ao tempo de cada um, vivenciando um convívio
social saudável. Assim, as oficinas de produção, onde são fabricados
produtos artesanais manuais, tem como finalidade gerar trabalho e
renda já que, em nossa maioria, não temos condições de desenvolver
uma atividade laboral remunerada, devido aos quadros clínicos e a
discriminação sofrida. O intuito é o de custear o transporte para a ida
aos tratamentos, gerar renda para si e para a família num espaço de
acolhimento onde temos voz e lugar, onde aprendemos a dialogar e
decidir conjuntamente. A experiência da venda dos produtos, até o
momento em feiras e eventos culturais, também tem sido fonte de
aprendizados. Percebemos o quanto contribui para a construção de uma
imagem positiva sobre nós, tanto por nós mesmos quanto pelas outras
pessoas. Essa experiência de coletivo acaba por refletir, também, em
nossa organização política. Sentimos a necessidade de construir
condições para que esta e outras experiências se consolidem, para que
possam atender com mais efetividade as necessidades de nós usuários,
por meio de políticas públicas eficazes, quando somos ouvidos e
participamos ativamente do processo de construção das políticas
sociais, pois não há dialogo sem escuta, percebemos a necessidade de
nos inserir no mercado de trabalho de forma democrática, nos tornando
capazes de tomar nossas próprias decisões, levamos essa experiência
para nosso cotidiano, criamos nosso lugar na sociedade e o direito a
uma vida digna.

133
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

TÍTULO: Cuidado em Saúde Mental da criança e do adolescente

Coordenação: Ana Schiavinato


Conselho Regional de Psicologia- CRP 09; ABRASME

Convidado: Biancha Angelucci


Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

A Escola como Espaço de Cuidado em Saúde Mental para Adolescentes:


a experiência do "Sobre Nós"

Vladia Jamile dos Santos Juca


Universidade Federal do Ceará - UFC

Os profissionais de educação lidam em seu cotidiano com o


sofrimento psíquico de adolescentes, manifestado através dos quadros
identificados com depressão, ansiedade, pânico, tentativas de suicídio,
abuso de substâncias psicoativas e práticas de automutilação. O contato
com o mal-estar dos adolescentes têm forte impacto nos profissionais
de educação que respondem diante de tais situações com o
encaminhamento para os equipamentos de saúde. No entanto, diante
das especificidades dos CAPSi, da quase ausência de ações na atenção
básica voltadas para esses adolescentes, além da falta de vagas nos
ambulatórios e distância geográfica dos mesmos, poucos conseguem
atendimento e, dentre os que conseguem, muitos entram no circuito da
medicalização. Desse modo, entendemos ser urgente investirmos em
dispositivos comunitários através dos quais o sofrimento desses jovens
possa ser acolhido. Visamos, no presente trabalho, apresentar uma
experiência em curso em Fortaleza-CE, na qual estamos realizando
grupos de conversação no contexto escolar sobre saúde mental com
adolescentes que tenham interesse em participar. Os objetivos do
projeto em questão são: criar um espaço de escuta e de acolhimento
para as questões concernentes ao sofrimento psíquico das adolescentes

134
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

na escola; refletir acerca dos elementos presentes na produção do


sofrimento e nas estratégias utilizadas para contorna-lo; promover uma
discussão sobre o lugar da escola como produtora ou agudizadora do
sofrimento, mas também como espaço de cuidado; fomentar redes de
solidariedade entre as adolescentes. A metodologia utilizada é das
conversações, perspectiva de base psicanalítica e utilizada em contexto
escolar para grupos com jovens. A adesão é voluntária e os encontros
semanais. Além dos grupos com adolescentes, outras ações pontuais a
pedido dos jovens ou da própria escola estão sendo realizadas. O espaço
no qual é possível expressar o mal-estar, associar os elementos que
confluem para sua produção, pensar coletivamente em estratégias de
cuidado tem se mostrado de grande potência, com destaque para as
relações de solidariedade produzidas entre os jovens. No final do grupo,
caso haja necessidade de algum encaminhamento, realizamos, mas a
própria realização do mesmo provoca a diluição de demandas de
tratamento especializado. A experiência na escola tem gerado outras
demandas como a realização de grupos com os professores e a
implementação de um espaço de escuta qualificada em um Centro
Cultural do bairro.

135
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Internações de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento


para pessoas com deficiência

Flávia Blikstein
Alberto Olavo Advincula Reis
Universidade de São Paulo – USP

Patricia Santos de Souza Delfini


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Introdução: No contexto brasileiro, a atenção em saúde mental


para crianças e adolescentes foi, durante décadas, exercida pelo campo
da filantropia em instituições asilares especializadas. A Política Nacional
de Saúde Mental, entretanto, redireciona as diretrizes de assistência e
preconiza a substituição do modelo asilar pelo modelo psicossocial de
atenção. Diante disso, o estudo investiga as práticas de cuidado que
operam, na atualidade, no campo da saúde mental infantojuvenil.
Especificamente, a pesquisa examina a internação de longa
permanência de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento
para pessoas com deficiência, a fim de avaliar a situação presente e
subsidiar ações de desinstitucionalização e inclusão social. Objetivo:
Identificar e descrever o perfil das instituições que prestam atendimento
em regime de acolhimento institucional a pessoas com deficiência no
Estado de São Paulo e aquilatar a amplitude e a importância atuais
dessas entidades no campo da saúde mental infantojuvenil.
Metodologia: O estudo - de abordagem qualitativa, caráter descritivo e
corte transversal - foi executado em três etapas distintas.
Primeiramente, realizamos um mapeamento e caracterização das
instituições de acolhimento para pessoas com deficiência no Estado de
São Paulo. A segunda etapa constituiu-se de um levantamento de perfil
de usuários em uma instituição específica. Na última etapa, os dados
foram categorizados e analisados, a fim de dimensionar as internações

136
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de crianças e adolescentes e avaliar o papel exercidos pelas instituições


de acolhimento para pessoas com deficiência no campo da saúde
mental. Resultados e Discussão: A partir da realização da pesquisa, foi
possível constatar que a internação de longa permanência de crianças e
adolescentes é uma prática recorrente nestas instituições. Além disso, o
estudo revela a ausência de tipificação e regulamentação específica
destes serviços que atuam desarticuladamente com a rede intersetorial
e territorial e não promovem práticas de desinstitucionalização. Assim,
as instituições e o Estado, numa relação de distanciamento e, ao mesmo
tempo, complementariedade, promovem continuamente
institucionalização de crianças e adolescentes. Considerações finais: O
estudo conclui ser urgente e fundamental que a internação em
instituições de acolhimento para pessoas com deficiência seja foco de
novos estudos e ações em saúde pública. O levantamento de
informações que possibilitem reconhecer demandas específicas é
fundamental para garantir a efetividade e consolidação da Rede de
Atenção Psicossocial, bem como para assegurar, para este grupo
populacional, os direitos determinados pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente.

137
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Roda de Conversa – Relato de


Experiência

Eixo Temático 02. Entrelaçamento da clínica, da gestão, da


formação e da política na organização do cuidado psicossocial.

Visita a um Centro de Atenção Psicossocial: relato de experiência.

Paula Renata da Cunha


Dulcian Medeiros de Azevedo
Alexsandra Meira de AraújoAna Beatriz Silva dos Santos
Danielly Kaliana Andrade dos Santos
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

INTRODUÇÃO: A reforma psiquiátrica representa um marco para a


assistência psiquiátrica mundial, sendo vivenciada no Brasil a partir do
fim da década de 1970, tirando-se a centralidade da doença, passando-
se a enxergar um sujeito (“louco”) com direitos e cidadania. Junto aos
ideais da reforma, surge o modelo psicossocial, visando um cuidado
humanizado. Com a reorganização dos serviços de saúde mental, surge
o Centro de Atenção Psicossocial como dispositivo especializado de
assistência territorial, e entre suas modalidades (porte populacional e
clientela assistida), destaca-se o CAPS III único com atendimento 24
horas e leito para internamento à crise. Objetivou-se descrever um
relato de experiência de uma visita de acadêmicos de enfermagem a um
CAPS III. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Vivência de discentes do Curso de

138
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Graduação em Enfermagem, Campus Caicó, Universidade Estadual do


Rio Grande do Norte (UERN), como atividade da disciplina “Políticas
Públicas de Saúde Mental”, semestre letivo de 2018.2, na cidade de
Caicó/RN, a partir de uma captação da realidade. O serviço desenvolve
assistência 24 horas, com presença média de 15 usuários dia, tendo 10
leitos de internamento. Possui cerca 45 trabalhadores atuantes, entre
médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes
sociais, psicólogos, técnicos de enfermagem, vigilantes, cozinheiros,
oficineiros, entre outros. Foram visitadas a sala de atendimento
psiquiátrico, quatro enfermarias, sala de atendimento psicológico, sala
de terapia coletiva, refeitório e sala de atividades terapêuticas
individuais (manuais, teatro, música, teatro e cultura). Apesar disso,
diante da abrangência do serviço e sua importância para a região de
saúde que deve cobrir (290 mil habitantes), percebeu-se dificuldades
relacionadas à oferta regular e variada de atividades terapêuticas, além
da ausência de participação familiar no tratamento. Também foi
percebido pelos acadêmicos de enfermagem traços do modelo
manicomial, seja através da infraestrutura insuficiente e circulação dos
usuários por todos os espaços, usuários “ociosos” sem um plano
terapêutico definido e profissionais organizados em silos, onde cada
realiza sua “tarefa”. REPERCUSSÕES: Notaram-se dificuldades para o
serviço consolidar a sua proposta psicossocial, não somente intramuros,
mas também um trabalho comunitário com os usuários, para que o
CAPS e a residência não se tornem os únicos espaços de (re)socialização.
Importante destacar as limitações no tocante à articulação ensino
serviço neste cenário, onde a contribuição dos centros de formação e
sociedade civil devidamente representadas se torna indispensável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A visita teve um impacto muito positivo para
os estudantes, possibilitando o confronto entre teoria e prática,
facilitando o processo ensino aprendizagem a partir do confronto com a
realidade (prática) e o ensinado (teoria). Por outro lado, entende-se que
somente uma visita é insuficiente para perceber todo dinamismo do

139
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

serviço, suas fragilidades/potencialidades e possibilidades de auxílio por


entes externos.

Eixo Temático 07. Práticas integrativas e complementares,


expressões artísticas e espiritualidade no cuidado em saúde
mental.

VIVARTE: A arte enquanto promoção do bem-estar psicossocial

Ádna Caroline dos Santos Almeida

O projeto de extensão Vivarte, promovido pelo CCS (Centro de


Ciências da Saúde) da UFRB, consiste na realização de oficinas de arte
como ferramenta terapêutica e psicoeducativa para crianças de 6 a 13
anos participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI). O PETI além de atuar no combate do trabalho infantil, garante
uma quantidade de renda para a família da criança. Realizado em Santo
Antônio de Jesus – BA, no período de 30 de abril a 01 de setembro de
2018, o trabalho foi desenvolvido em seis bairros, territórios em
situação de vulnerabilidade social, violências e de maioria negra. Foram
realizados 10 encontros, quinzenais, com duração de 4 horas. Em cada
encontro, as atividades artísticas eram associadas à discussão de um
tema de relevância e significado no cotidiano, escolhido pelo grupo.
Temáticas como criatividade, união, empatia e racismo foram
abordadas. Supervisões periódicas foram feitas para o planejamento e
acompanhamento das atividades e a avaliação de cada encontro foi feita
pela equipe e pelos participantes, assim como, a revisão bibliográfica,
que em sua maioria foi direcionada aos estudos do psicólogo Lev
Vygotsky. Os resultados se apresentaram de modo processual,
considerando o intervalo de tempo entre os encontros e o fato do
vínculo se dar por meio de uma contínua construção. As crianças
abraçaram as experiências, com intensa troca e afeto. As atividades
geraram um espaço para a revisão de situações vividas, o fortalecimento
140
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

coletivo, a discussão de problemas comuns enfrentados no cotidiano, a


expressão da criatividade, da espontaneidade e de emoções, permitindo
o suporte emocional e social. O projeto fortaleceu o vínculo da
universidade com a comunidade, oferecendo atividades artísticas que
possibilitassem a ressignificação e a partilha de ideias, comprometidas
com a realidade social. A extensão se mostrou como uma grande
oportunidade de ampliar os horizontes acadêmicos articulando teoria e
prática.

Projeto Eu Sou: raça, gênero, identidade e pertencimento.


Relato de experiência de M.J.F. no CAPS Casa dos Artistas –
Ouro Preto, MG.

Suzana de Almeida Gontijo

O CAPS “Casa dos Artistas”, situa-se em Ouro Preto, Minas Gerais,


segunda cidade brasileira cuja população mais se autodenomina negra e
parda. A experiência relatada refere-se ao Projeto “Eu Sou”, inspirado
por uma usuária do serviço. Mulher negra, mãe, doméstica, responsável
pelo sustento da casa, M.J.F. em seu sofrimento psíquico, experimenta
momentos em que se coloca para equipe de maneira muito hostil e
imperativa, se dizendo proprietária do serviço e repetindo “eu mando
aqui”, “sou branca, tenho olho azul”. Assim como outras usuárias,
frequentemente externa seu descontentamento para com seu corpo. O
racismo, relação de poder estruturante das relações sociais brasileiras,
atravessa a vida do sujeito negro, que sabendo reconhecê-lo ou não, lida
diariamente com os efeitos de viver em uma sociedade racista.
Indicadores sociais demonstram o quanto o racismo é responsável por
diferentes formas de desvantagens. Violência, exclusão, humilhações,
exposição contínua a situações de perigo, falta de referências
identitárias, construção de uma autoimagem negativa, evidenciam seu
caráter de produção de subjetividade e o consequente potencial de
produção de sofrimento psíquico. Apesar disso, observa-se que a
141
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

maioria dos serviços de saúde não só ignoram tais questões como


também são produtores de racismo. E é a partir daí que cresce uma
inquietação: “como eu olho para a dimensão racial? Como eu as integro
no cotidiano, nos projetos terapêuticos singulares?” Nasce o “Projeto Eu
Sou”! Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma
identidade racial positiva, através da fotografia, bordado e colagem. Ao
receber o convite para o projeto, MJF relatou situações em que sofreu
racismo e seus descontentamentos em relação ao corpo “me acho feia,
meu cabelo é muito duro, meus dentes estão estragados, nem gosto de
sorrir”, “ as pessoas me olham estranho”, “as vezes gosto da minha cor,
as vezes não”. Apesar de repetir “ensaio? eu? Sou bonita não”, aceitou o
convite. O ensaio fotográfico teve como tema elementos da cultura
negra. Ao final, ao olhar as lentes da fotógrafa, sorria sem
constrangimento e repetia “essa não sou eu não... não é possível,
pareço rainha”. As fotos foram reveladas em tamanho 30x40cm,
30x45cm, 15x25cm, e as intervenções tiveram como inspiração a
cultura, ancestralidade e identidade negra. O bordado veio como
representação do fio da vida, suas possibilidades de reparação e
remendo de feridas. Já a colagem veio como representação da
coletividade, de um corpo negro que se faz em relação com seu povo.
Como conclusão do projeto foi realizada exposição no CAPS. Os
resultados foram diversos e amplos. Observa-se que a equipe
demonstra mais atenção as questões étnicos-raciais (reuniões e
discussões clínicas), além de demandar continuidade do projeto. A
exposição será realizada em outros espaços. Sobre os impactos em MJF,
cito um momento de crise em que ao andar errante pelas ruas de Ouro
Preto, a usuária afirmou carregar em sua bolsa “só as coisas
importantes”.

142
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(Des)Construindo um fazer em Saúde Mental: relato de experiência de


um grupo na Atenção Primaria.

Camila Ayub Teixeira


Vitor Costa Ramos
Guilherme Correa Barbosa
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP

O grupo terapêutico “Oficina do Fazer”, realizado no Centro de


Saúde-Escola - Unidade Auxiliar da Faculdade de Medicina de Botucatu
(FMB), possui aproximadamente 13 anos de existência, com início após
a entrada de psicólogos na unidade e sua atuação específica no âmbito
da Saúde Mental. Originalmente, o grupo teve outras denominações e,
durante todo o seu período de existência, houve remodelações e novas
propostas de dinâmica do grupo, assim como a alteração dos
participantes e suas demandas. Alguns usuários migraram para outros
tipos de intervenções, outros receberam alta dos cuidados e os demais
continuam frequentando o grupo. O público-alvo da intervenção são
usuários de longa data no serviço, os quais possuem histórico de
adoecimento psíquico grave, com funcionamento de nível psicótico,
histórico de perdas e institucionalização em hospital psiquiátrico,
apresentando dependência parcial nas atividades instrumentais da vida
diária. Em geral, fazem uso de psicotrópicos combinados e possuem
doenças crônicas, sendo a diabetes e a hipertensão as mais frequentes,
seguida de perda auditiva e problemas gastrointestinais. A experiência
de intervenção ocorreu em uma unidade de referência da atenção
primária, durante o segundo semestre de 2019, com encontros grupais
semanais e acolhimentos interprofissionais individuais, quando se
entendia a necessidade. A coordenação do grupo era composta por
diferentes núcleos profissionais (enfermagem, serviço social, terapia
ocupacional e psicologia), que buscavam realizar intervenções pautadas
na interdisciplinaridade. Para tanto, reuniões frequentes aconteciam
com todos os coordenadores a fim de discutir os casos e pensar nos

143
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

caminhos terapêuticos que seriam seguidos. O grupo tinha como


objetivo principal instigar os usuários na produção de autonomia
individual e coletiva e auxiliá-los a manter um cotidiano significativo e
autônomo, construindo juntos estratégias para tal. Cada encontro era
construído visando identificação e momentos de troca entre os usuários,
favorecendo um espaço para trazerem seus aprendizados e dificuldades.
Algumas temáticas foram recorrentes no grupo, como a organização
para o uso correto de medicação, participação de eventos que não
pertenciam a rotina, organização com as consultas regulares, exames,
pagamentos de contas, dentre outras demandas frequentes. Percebeu-
se, com a experiencia de grupo, momentos de maior integração entre os
participantes, os quais puderam trocar estratégias de enfrentamento e
se identificar com a vivência do outro, percebendo que suas questões
podem ser comuns a outras pessoas. Além disso, também houve
desafios e dificuldades relacionadas ao manejo do grupo, tendo em vista
situações de desorganização psíquica dos usuários e necessidade de
uma postura mais diretiva e concreta dos coordenadores. Percebemos
dificuldades de planejamento do grupo em alguns momentos, com
diversos fatores relacionados, como por exemplo, expectativas
institucionais em relação ao grupo, questionamentos acerca da
modalidade e intervenções realizadas e, também, situações em que o
conteúdo psíquico desorganizado dos usuários despertava nos
profissionais funcionamento desorganizado e fragmentado. O grupo
“Oficina do Fazer” tem um direcionamento pautado na perspectiva da
reabilitação psicossocial, estimulando um fazer que amplie
possibilidades e nos aproxima, enquanto profissional de saúde, do
cotidiano desses usuários em sofrimento, compreendendo seus limites e
potencialidades.

144
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(Re)Configurando o Plantão psicológico no Serviço de Psicologia


Aplicada da UFPE: acolhimento e compromisso institucional às
urgências subjetivas

Edelvio Leonardo Leandro


Dayse Carla Rodrigues de Macedo Mattos
Kédma Midiam Silvestre de Lima Silva
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

O plantão psicológico no Serviço de Psicologia Aplicada da


Universidade Federal de Pernambuco vem sendo ofertado
ininterruptamente desde o início de 2018; voltado ao público intra e
extra acadêmico, sem recorte socioeconômico, de gênero ou faixa
etária, encaminhado da rede pública de saúde ou de livre demanda. Essa
prática em saúde mental surgiu da necessidade de lidar de forma
alternativa ao modelo de psicoterapia individual, já ofertado no serviço,
ante à crescente demanda de pessoas que o procuravam com intenso
sofrimento psíquico. Nesse dispositivo, eram atuantes três correntes
teórico-clínicas presentes na instituição, a saber, Abordagem Centrada
na Pessoa, Clínica Psicossocial e Psicanálise. Sob a ótica desta última, na
prática, o plantão psicológico caracterizou-se como acolhimento ao
sujeito, em até três encontros, a fim de atender sua urgência subjetiva
explicitada na configuração de uma crise. Esta é tomada como a vivência
por alguém de uma ruptura temporal – um antes e depois – e uma
irrupção de algo nomeado como traumático, o que dificulta a
manutenção das defesas pessoais para lidar com o novo. Assim,
elencou-se enquanto proposta de trabalho não a resolução de
problemáticas pelo sujeito, mas a possibilidade de o outro ter um
espaço de escuta do seu sofrimento, considerando-o a partir de sua
singularidade e de sua realidade social e histórica. Tal (re)configuração
ao plantão tem demonstrado que, já no primeiro encontro, à angústia
gerada pela vivência subjetiva de descontinuidade pode ser dado algum
tipo de contorno a ponto de haver deslizamento criativo pelo sujeito

145
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

para encaminhar suas demandas para além da estagnação provocada


pela crise. Na medida em que a demanda endereçada ao terapeuta
retorna ao sujeito demandante, é possível neste uma tomada de
consciência mais ampla de si e de seu contexto e uma mudança de
posição subjetiva. Assim, é possível obter, nesse formato de
intervenção, tanto efeitos terapêuticos rápidos, quanto vazão às
demandas afluentes à instituição nomeadas pelo significante urgência.

146
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A arte como diferencial do cuidado em um CAPS

Adriana Jales Lacerda Feitosa


Magda Ferreira Mendes
CAPS Geral CORES IV

Sarah Rabelo Cavalcante


Raimundo Cirilo de Sousa Neto
Caio Lucas do Carmo Prado
Mariana Tavares Cavalcanti Liberato
Universidade Federal do Ceará – UFC

O Programa de Extensão PASÁRGADA: Promoção de Arte, Saúde e


Garantia de Direitos, e o Programa de Educação Tutorial (PET)
Psicologia, ambos vinculados ao Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), campus Fortaleza, em parceria
com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral gerido pela
Coordenadoria Regional de Saúde IV (CORES IV) de Fortaleza,
começaram a realizar, em 2019, atividades de extensão destinadas a
construir intervenções e reflexões que ampliem as possibilidades de
cuidado do serviço, tendo a arte com dispositivo principal. As estratégias
desenvolvidas em conjunto com o equipamento buscam fortalecer os
princípios da reforma psiquiátrica brasileira, visto que se fundamenta no
caráter substitutivo de atenção especializada no atendimento às
pessoas com sofrimento psíquico ou transtornos mentais graves e
persistentes. Ou seja, busca fugir da lógica manicomial que por muitos
anos operou de forma hegemônica no tratamento da saúde mental.
Orientando-se por isso, as atuações do projeto são voltadas para os
usuários, familiares e comunidade que frequentam o equipamento e se
operacionalizam a partir das ações descritas a seguir, algumas semanais
e outras mensais. A inserção nesse campo começa com o Grupo de Arte
e Terapia, cujo foco é produzir cuidado através da experimentação da
arte em suas mais diversas linguagens. A ação Palco Aberto, consiste na

147
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

criação de um espaço no pátio do CAPS para expressão livre,


possibilitando, dentre outras coisas, a produção de um ambiente
propício a trocas afetivas. O Acolhimento com Arte, em consonância
com a Política de Humanização, é um resgate renovado de uma ação
realizada em todos os CAPS da cidade no período de 2006 a 2012, que
objetiva o acolhimento humanizado dos usuários do serviço e seus
familiares que estiverem à espera de seus atendimentos, utilizando a
arte como forma de aproximação e criação de vínculos. As intervenções
acontecem em três eixos, a saber: mostras artísticas de usuários e
convidados; oficinas das mais diversas expressões artísticas com
destaque à experiência de criação e recriação de obras, métodos e dos
próprios participantes e intervenções no ambiente da sala de espera do
serviço. Enquanto o Cine CAPS/família objetiva criar um espaço de lazer
e diálogo a partir da exibição de filmes, o Grupo de Estudos Saúde
Mental em Ação (GESMA) busca proporcionar um espaço de trocas de
conhecimento e experiência sobre o cuidado em saúde mental,
direcionando as discussões a partir da importância da luta
antimanicomial e da reforma psiquiátrica, através de rodas de conversa
e, também, de exibição de filmes e documentários que tratem sobre a
temática. Cada uma das ações é composta por até dois estudantes
extensionistas com supervisão acadêmica e no território. Entende-se a
arte, não como instrumento terapêutico apenas, mas também como
capaz de mobilizar afetos e sensações em direção a novas formas de
subjetivar-se e socializar a partir de agenciamentos outros. Desta forma,
as atividades têm a intenção de constituir espaços de livre expressão e
vivência da arte, num convite insistente à experimentação de novas
modalidades e significações para obras, movimentos, espaços e
experiências.

148
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A arte como um caminho para ampliar o debate sobre a Saúde Mental


com a população

Jéssica Pereira Manelli


Projeto Sambavida

Larissa Beatriz dos Santos Soares


Universidade Estadual Paulista - UNESP

INTRODUÇÃO: O Sambavida trata-se de um projeto sociocultural


localizado em bairro periférico de um município do interior do Estado de
São Paulo. Tem como objetivo a democratização do acesso as
manifestações artísticas e culturais, atendendo crianças e adolescentes
na oferta de oficinas como: música, canto, teatro, dança e capoeira, com
ênfase na formação artística. Conta com atividades que buscam a
formação cidadã, assim, possibilitando o debate sobre temas cotidianos
com a finalidade de favorecer um espaço de acolhimento, escuta
qualificada e construção de um posicionamento crítico sobre questões
que atravessam a vida desses sujeitos sociais. Dentre essas atividades,
encontra-se o “grupo de convivência” que é realizado com crianças e
com adolescentes. Assim posto, esse trabalho visa expor a experiência
vivenciada e construída no grupo de convivência com adolescentes
mulheres(confirmar). A EXPERIÊNCIA: A ideia de falar sobre saúde
mental neste grupo, surge a partir de demandas apresentadas pelas
próprias integrantes, que traziam situações vinculadas ao sofrimento
psíquico, além de críticas a respeito de como o assunto era pouco
dialogado, carregado de estereótipos e preconceitos. A partir disso,
foram organizados encontros que possibilitaram a expressão de
sentimentos/emoções individuais, despertando no grupo sentimentos
que se enquadram no contexto social de quando se fala sobre saúde
mental, problematizando a importância do falar e de cuidar desta,
compreendendo os recursos existentes, serviços de apoio e entendendo
a rede de atenção psicossocial do município. As intervenções executadas

149
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pelo grupo enfocaram três eixos: a expressão de sentimentos; o diálogo


sobre cuidados em saúde mental e a divulgação de serviços de saúde.
REPERCUSSÕES: Visando ampliar o conhecimento e o acesso da
população sobre o tema e serviços, as adolescentes compartilharam a
experiência, disseminando informações sobre saúde mental em uma
Mostra Cultural realizada pela instituição. O grupo construiu ações
educativas envolvendo linguagens artísticas como teatro, poesia,
contação de história e dinâmicas grupais, deixando o conteúdo acessível
a todas as faixas etárias, visto que a população da mostra cultural era de
escolas de ensino fundamental I e II, Médio e adultos. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: Considera-se a arte como importante mecanismo para
ampliação do conhecimento sobre saúde mental, ressignificando
estigmas e preconceitos.

150
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A arte e cultura como promoção de cuidado para a vivência LGBTQIA+


em tempos de distanciamento social.

Ana Luisa de Moraes Sombini


Bruno Rodrigues Gonsales
Bruna Gonçalves da Silva
Carla Cristina Pianca
Cecília Peixoto Gomes Pedroza
Maria Fernanda Souza Lôbo
Maia Caos
Sabrina Helena Ferigato
Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

Este projeto foi viabilizado através do Programa Institucional de


Acolhimento e Incentivo à Permanência Estudantil (PIAPE), e objetiva a
promoção de saúde mental a partir dos recortes de dissidência em
sexualidade e gênero na comunidade acadêmica da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Tal população sobrevive,
historicamente, a processos de exclusão e marginalização que refletem
na qualidade de seu projeto de vida e, consequentemente, na sua
presença nos espaços formais de educação e formação acadêmica.
Grupos em vulnerabilidade formam redes para promover o
autocuidado, compartilhar experiências e construir outras possibilidades
de vida. Inseridos no contexto de pandemia, essas redes se tornam cada
vez mais rarefeitas e distantes, criando uma demanda maior de espaços
de acolhimento, que agora assumem novos modelos e configurações,
encontrando na internet uma nova possibilidade de conexão.
A equipe de trabalho (estudantes da universidade e artistas locais)
implicaram-se no processo de cuidado, estando dentro do recorte
populacional proposto, ao compartilhar experiências e realizar as
produções artísticas junto dos participantes, estabelecendo uma relação
horizontal nas ações de acolhimento. O projeto foi dividido em três
eixos temáticos (Retomada, Ancestralidade e Cotidiano), nos quais

151
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

foram utilizados disparadores audiovisuais que de alguma forma se


relacionavam com o recorte populacional, suscitando debates, trocas de
experiências e de relatos pessoais entre os participantes. Em cada um
dos eixos, foi proposta uma atividade como ideia central (Autorretrato,
Mapa Corporal e Documentação), que poderia ser realizada de forma
ampla, permitindo que os participantes tivessem acesso e possibilidade
de produção em diversas situações em que se encontrassem,
considerando o distanciamento social e a possível impossibilidade de
acesso a outros tipos de materiais. Foram apresentadas obras nos mais
diversos formatos, entre vídeos, desenhos, pinturas, colagens, artes
digitais e bordado. Para além das produções e conteúdos audiovisuais,
os encontros tiveram o objetivo de oferecer um espaço de acolhimento
e escuta, onde as angústias e receios podiam ser compartilhados de
forma aberta e segura. As discussões realizadas em grupo e as
produções oriundas destas apontaram para perda de espaço durante o
contexto pandêmico. Anteriormente, este espaço era comumente
caracterizado pelo período noturno, na rua e grupal, configurando-se
como lugar de lazer, expressividade e afetividade. Ainda sobre o espaço,
a universidade aparece, em certa medida, como proporcionadora destes
lugares, ao realizar agendas culturais em parceria com discentes, ainda
assim, o ambiente acadêmico é colocado como promotor de sofrimento
e exclusão.
A pluralidade de corpos e vivências e o estar em grupo possibilita
contato com outras realidades pertencentes à comunidade, podendo
gerar novas formas interseccionais de compreender a si mesmo, para
além da heterocisnorma, reverberando na subjetividade, no corpo, no
fazer humano e no cotidiano. A arte revelou-se como ponto de encontro
e dispositivo para produção criativa e de cuidado. Em alguns casos foi
possível identificar uma linha estética de expressão pessoal, uma
espécie de fortalecimento da singularidade do indivíduo através da
realização e compartilhamento em grupo.

152
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A Assistência de Enfermagem em um Serviço Residencial Terapêutico a


luz da Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau

Patricia Rodrigues Braz


Patricia Rodrigues Braz
Marcelo da Silva Alves
Tatiane Ribeiro da Silva
Fábio da Costa Carbogim
Geovana Brandão Santana Almeida
Christina Otaviano Pinto Larivoir
Ricardo Bezerra Cavalcante
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Os Serviços Residenciais Terapêuticos, regulamentados pela


portaria nº 106/2000, consistem em moradias localizadas no espaço
urbano e têm como função atender às necessidades de habitação de
pessoas portadoras de sofrimento mental. Estes serviços estão em
contínuo processo de estruturação e avaliação para implementação de
futuras melhorias, assim, persistem alguns desafios a serem alcançados,
a fim de se evitar a cronificação dos moradores nesses aparatos e a
institucionalização destes espaços. O trabalho teve como objetivo
enunciar a experiência acerca das intervenções implementadas por
acadêmicos da disciplina “Enfermagem em Saúde Mental”, ministrada
no sétimo período do curso de graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Juiz de Fora, em um Serviço Residencial
Terapêutico masculino do tipo II, de um Município da Zona da Mata
Mineira. A disciplina objetivava primordialmente a promoção de ações
de saúde e reabilitação psicossocial no cotidiano dos moradores e o
ensino e aprendizagem do cuidado no acompanhamento dos diversos
quadros clínicos associados ao sofrimento mental por um viés
humanizado e compreensível. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo
relato de experiência. Realizou-se a observação participante
assistemática durante as aulas práticas da disciplina, que ocorreram

153
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

uma vez por semana, durante dois semestres, totalizando oito meses. A
Sistematização da Assistência de Enfermagem no campo teve como base
os pressupostos da “Teoria das Relações Interpessoais” de Hildegard
Peplau, que preceitua a Enfermagem como um processo interpessoal,
terapêutico, significativo e educativo, capaz de ajudar na promoção do
desenvolvimento da personalidade, rumo a uma vida criativa,
construtiva, produtiva, pessoal e comunitária, cabendo ao enfermeiro
evoluir junto ao seu cliente. Nesta perspectiva, um importante
instrumento utilizado no cuidado em enfermagem em saúde mental é o
relacionamento interpessoal, uma vez que está presente em todas as
ações realizadas com o cliente, seja para orientar, informar, apoiar,
confortar ou atender suas necessidades básicas. No primeiro momento
os discentes conheceram o ambiente residencial, os moradores e suas
rotinas, a fim de criar vínculo de confiança para que os moradores se
sentissem à vontade com a presença deles e pudessem expressar sobre
seus sentimentos e necessidades. Como estratégias de cuidado foram
planejadas intervenções contemplando ações cotidianas e
implementadas através de passeios culturais, atividades visando
aproximação dos moradores com a comunidade, incentivo ao
autocuidado e cuidado do ambiente, rodas de conversa com foco na
educação em saúde, objetivando a promoção a saúde, prevenção de
agravos e o resgate da qualidade de vida e bem-estar. Essas
implementações esquadrinharam o processo de cuidar, sob um novo
olhar acerca da assistência psicossocial, buscando resgatar a noção do
cotidiano e incentivar o processo de reabilitação psicossocial frente às
fragilidades desveladas pela cronificação do portador de sofrimento
mental. O uso da Teoria de Enfermagem no processo de ensino,
aprendizagem e cuidado na disciplina, permitiu a aproximação dos
discentes com o cenário e com os residentes, confluiu para criação do
vínculo terapêutico empático e conduziu as ações de enfermagem para
a descentralização e relativização do modelo biomédico, fator
conflitante e desafiante na atuação e prática em saúde mental.

154
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A atuação Psicossocial no acolhimento a demandas de Saúde Mental


em Urgência e Emergência

Julianna Sampaio de Araújo


Secretaria de Saúde do Estado do Piau

Adriana Lima Barros


Dhonatan Machado Mota
Maria das Graças Aguiar de Albuquerque
Sabrina Kely Magalhães de Araújo
Maria Gercina da Silva Filha
Luna de Sousa Araujo
Hospital Estadual Dirceu Arcoverde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a partir de 2020 os


transtornos mentais serão a segunda maior causa de adoecimento.
Assim, é importante que os serviços que prestam assistência à saúde
estejam preparados para o acolhimento de demandas de Saúde Mental
de forma a garantir um atendimento integral, humanizado,
multidisciplinar e em rede. Esta proposta de trabalho tem como objetivo
sinalizar como a Psicologia e o Serviço Social de um hospital geral da
planície litorânea do Piauí tem se organizado para prestar assistência à
Saúde Mental orientando e estabelecendo protocolos de acolhimento e
encaminhamento para as demandas recebidas. Trata-se de um estudo
qualitativo cuja estratégia metodológica consiste na pesquisa do tipo
descritiva por relato de experiência. Utilizou-se como recursos: 1) O
Cadastro de Atendimento Psicossocial (CADASP) instrumental criado
pelo Serviço Social do hospital para mapear casos de saúde mental que
dão entrada na unidade; 2) as Fichas do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação, preenchidas no hospital nos casos atendidos por
Violência Autoprovocada e Intoxicação Exógena; 3) o Fluxograma de
atendimento para os casos de Saúde Mental criado para orientar o
cuidado com o paciente dentro do hospital; 4) a Articulação com os

155
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Serviços de Psicologia disponíveis no município. No período de 2017 a


2019 foram mapeadas 258 pessoas no Cadastro de Atendimento
Psicossocial do hospital, sendo a tentativa de suicídio a maior causa que
demandou atendimento de Saúde Mental. Quanto às fichas de
notificação preenchidas no hospital por Violência Autoprovocada e
Intoxicação Exógena, no período do estudo, foram identificados 591
casos de Tentativa de Suicídio sendo: 122 em 2017, 270 em 2018 e 199
em 2019. O comportamento suicida se revelou uma importante questão
de Saúde Pública no município o que orientou os profissionais
psicossociais dessa unidade de saúde a criar um protocolo e um
fluxograma de atendimento à essa demanda. O protocolo consiste em
garantir à pessoa que tentou suicídio e a seus familiares não só o
atendimento e estabilização de saúde física como também acolhimento,
orientação e encaminhamento psicossocial no sentido de promover a
integralidade e a continuidade do cuidado. Ao dar entrada no hospital,
os serviços de Psicologia e Serviço social são acionados para que após a
estabilização, o fluxo dos casos de Saúde Mental, em especial os de
comportamento suicida, seja o atendimento psicossocial. Os desafios
perpassam a lógica rígida do hospital e das equipes de saúde, que
muitas vezes não compreende esse lugar como um local de cuidado em
saúde Mental, a dificuldade articulação com o Centro de Atenção
Psicossocial e a Estratégia de Saúde da Família do município e a escassez
de serviços de Psicologia que atendam ambulatorialmente e de forma
gratuita. Os resultados sinalizam que cuidado com as demandas de
saúde mental no município ainda é processo em construção. O hospital
tem se organizado para acolher e orientar as demandas que chegam,
mas ainda é processo em construção a articulação com a rede de
serviços que possam garantir o cuidado integral.

156
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A caminhada terapêutica como estratégia de cuidado em Saúde


Mental

Constantino Duarte Passos Neto


Escola de Saúde Pública do Ceará - ESP/CE

Luísa Marianna Vieira da Cruz


Autarquia Educacional de Serra Talhada – AESET

Jamille Kassia da Silva Cardoso


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

José Victor Lima Braga


Faculdade São Francisco da Paraíba – FASP

Victor Hugo Ribeiro de Sousa


Escola de Saúde Pública Visconde de Sabóia – ESPVS

Daiana da Silva Carvalho


Daniele Veloso De Menezes
Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Jessica Lima de Oliveira


Antonio Germane Alves Pinto
Álissan Karine Lima Martins
Universidade Regional do Cariri – URCA

INTRODUÇÃO: O movimento da Reforma Psiquiátrica trouxe ao Brasil


novas perspectivas de cuidado na Atenção Psicossocial. Apesar dos
avanços obtidos ao longo dos anos, o campo da Saúde Mental ainda
sofre com diversos problemas, como o subfinanciamento de ações,
resistência de profissionais, estigma social, etc. A Rede de Atenção
Psicossocial é composta por diversos pontos de atenção, dentre eles a

157
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Atenção Básica e os Centros de Atenção Psicossocial que devem


permanecer em constante comunicação para garantir um cuidado
integral à população. Uma das estratégias desenvolvidas por estes
serviços é o Matriciamento em Saúde Mental, em que as equipes
compartilham as ações de maneira colaborativa através da interação
dialógica culminando na produção de cuidado. No Matriciamento são
realizados Estudos de casos, Projetos Terapêuticos Singulares (PTS),
visitas domiciliares conjuntas, interconsultas, teleatendimento, dentre
outros. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do uso da
caminhada terapêutica como forma de cuidado em Saúde Mental.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: As atividades foram realizadas por
profissionais residentes em Saúde Mental em um Município cearense
durante a realização do Matriciamento em Saúde Mental. Em contato
com a equipe da Atenção Básica os residentes tiveram conhecimento do
caso de uma usuária diagnosticada com esquizofrenia que permanecia
há anos em isolamento, também deficiente visual. Após visita domiciliar
conjunta foi realizado estudo de caso e elaborado o PTS envolvendo a
equipe de Saúde da Família, família e usuária. A caminhada terapêutica
foi uma das atividades elencadas como essenciais para o cuidado, tendo
em vista o isolamento e a dificuldade de locomoção por conta da
cegueira. A atividade foi realizada por um período de seis meses.
REPERCUSSÕES: nos primeiros dias de atividades a usuária mostrava-se
introspectiva, com algumas oscilações de humor que iam do depressivo
ao maníaco, sendo necessária uma maior vigilância, isso pode ser
justificado pelo fato de que a usuária passara muito tempo em
isolamento e atividades como estas eram estranhas a sua realidade. O
vínculo com os residentes não estava, inicialmente, totalmente posto,
com o passar do tempo a relação de confiança se estabeleceu e estas
situações foram superadas. No decorrer das caminhadas eram
realizados alongamentos, atividades físicas leves, de acordo com seu
condicionamento. Foram desenvolvidas atividades lúdicas pela usuária
com auxílio dos profissionais como a criação de desenhos utilizando
papel e lápis, após a mesma relatar ser uma memória de sua infância

158
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

muito presente. Durante o processo eram realizadas conversas para


instigar a memória e a fala, tendo em vista que também apresentava
dificuldades em se comunicar. Todas as ações foram realizadas em praça
pública CONSIDERAÇÕES FINAIS: a estratégia foi de grande importância
para o tratamento da usuária, tendo em vista a evolução do quadro de
saúde, sobretudo, sua reinserção social. Ao passar do tempo percebeu-
se que o estado mental sofreu melhora significante, com importante
diminuição da instabilidade do humor e estabilidade das crises
psicóticas. A usuária voltou as suas atividades motoras, sem necessitar
de suporte para caminhar, com exceção em ambientes com obstáculos
como degraus e rampas, bem como melhora nas habilidades da fala.

159
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A compreensão da dependência química na formação dos estudantes


do curso de medicina: um relato de experiência

Vivianne Ferreira Bezerra


Matias Carvalho Aguiar Melo
Lourrany Borges Costa
Amanda Santiago Nogueira
Letícia Maria Mota Braga Cavalcante
Ana Beatriz de Sousa Lima
Joyce Teixeira Noronha Martins Cavalcante
Hinara Siebra Cavalcante
Universidade de Fortaleza – UNIFOR

Introdução: O consumo de substâncias psicoativas é atualmente um


grave problema de saúde pública. Dessa forma, a dependência química
deve ser entendida como uma doença biopsicossocial, não se
restringindo apenas à relação entre o indivíduo e o uso de substâncias
psicoativas, mas devendo ser compreendida numa perspectiva
interdisciplinar, considerando elementos biológicos, psicológicos e
sociais. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a importância
da avaliação de pacientes com transtorno por uso de substâncias
psicoativas na formação acadêmica do estudante de medicina. Descrição
da Experiência: Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de
experiência, elaborado no contexto da disciplina Ações Integradas de
Saúde VII ministrada no sétimo semestre do curso de Graduação em
Medicina da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Três discentes,
durante o estágio no Centro de Atenção Psicossocial: Álcool e Drogas
(CAPS AD) da Regional VI em Fortaleza - CE em setembro de 2019,
realizaram o acompanhamento de um paciente por meio de uma
consulta formal com revisão de prontuário, buscando compreender sua
história de vida e o papel dos profissionais de saúde na sua recuperação.
Repercussões: No papel de estudantes de medicina, percebemos a
importância de práticas e atitudes para o desenvolvimento dos eixos

160
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

humanístico profissional e comunitário-assistencial presentes em nossa


base curricular, a fim de compreender a ideia de que o paciente, muito
além das técnicas e tecnologias médicas, necessita de um acolhimento
baseado na relação de confiança médico-paciente. É perceptível a
transformação que esta experiência trouxe para nossa vida acadêmica e
pessoal, pois nos permitiu olhar para um sujeito dotado de
potencialidades, além da sua dependência química. Poder acompanhá-
lo, conhecendo sua história, nos ressaltou a necessidade da contínua
ampliação das práticas voltadas para o cuidado da pessoa e não só para
a doença, propiciando a reflexão sobre a constante busca da efetivação
do novo modelo de assistência, o qual é voltado para a saúde e a
reabilitação psicossocial, além de ter contribuído no rompimento dos
nossos estigmas em relação ao paciente com dependência química.
Portanto, os serviços de atenção à saúde mental são espaços de
reconstrução da cidadania, devolvendo a vida a tantas pessoas que se
encontravam esquecidas não só pelos familiares e pela sociedade, mas
de si mesmas. Considerações finais: Por fim, foi reconhecido que as
famílias e a sociedade ainda estão pouco preparadas para acolher o
dependente químico, persistindo uma lacuna entre o cuidado que se
tem e o cuidado que se almeja. Desse modo, existe a necessidade da
ampliação de discussões sobre as repercussões na vida do dependente
químico e a importância da rede de apoio como uma das principais
ferramentas no acompanhamento desses pacientes.

161
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A construção de um Projeto Terapêutico Singular


em um Centro de Atenção Psicossocial:
um relato de experiência de residentes em saúde mental

Marcos André dos Santos


(Ministério da Saúde - Universidade de Pernambuco)

Debora Victor Aragão Alves


(Universidade de Pernambuco - UPE)

Diana Lúcia de Paiva Oliveira


(Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho e FAFIRE)

Maria Jucineide Lopes Borges


(Universidade de Pernambuco - UPE)

Introdução: Um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de


saúde mental aberto e comunitário, pertencente Sistema Único de
Saúde (SUS). Lugar de referência para tratamento de pessoas que
sofrem com transtornos mentais graves e persistentes, o objetivo do
CAPS é oferecer cuidado à saúde de forma integral, realizando o
acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários (BRASIL,
2013). O acompanhamento no CAPS é atravessado pela construção do
Projeto Terapêutico Singular (PTS) junto ao usuário e seus familiares. A
construção de um PTS resolutivo requer um olhar ampliado,
interdisciplinar e comprometido (NASCIMENTO, 2015). O PTS subdivide-
se em quatro momentos: (1) diagnóstico: que deverá conter uma
avaliação orgânica, psicológica e social, que possibilite respeito dos
riscos e da vulnerabilidade do usuário; (2) definição de metas: propostas
de curto, médio e longo prazo, que serão negociadas com o usuário pelo
membro da equipe que tiver um melhor vínculo; (3) divisão de
responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um com
clareza; (4) reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e se

162
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

farão as correções de rumo (BRASIL, 2007). Descrição da experiência: O


trabalho tem como finalidade relatar a experiência da construção de um
PTS para um usuário com história de recusa ao tratamento e sua família,
acompanhados por um CAPS da Região Metropolitana do Recife – PE,
residindo em uma área geograficamente de difícil acesso. A construção
do PTS se deu a partir de visitas domiciliares ao usuário em crise, pela
equipe de um CAPS II em que dois residentes em Saúde Mental estavam
inseridos. Na ocasião, o usuário aceitou acompanhar a equipe até o
serviço, passando por uma avaliação psiquiátrica, iniciando-se a
administração da medicação prescrita. Paralelamente, vindo a ser
acompanhado através de visitas domiciliares, no intuito de estimular o
processo de vinculação. Repercussões: Percebeu-se a superação da
situação de crise, melhora na autonomia, realização das atividades da
vida diária, prejudicadas pelo quadro. Nas idas ao CAPS, a equipe
investiu no vínculo com o usuário e seu acolhimento humanizado no
serviço. O usuário passou a demonstrar interesse em se relacionar
chegando a expressar potencialidades como desejo de voltar a estudar.
A melhoria da autoestima e da qualidade de vida do usuário se deu a
partir do resgate da sua cidadania. Considerações finais: A abordagem
desenvolvida evidenciou a importância do PTS e do cuidado de base
comunitária e territorial, bem como revelou o lugar do CAPS como
importante dispositivo da Rede de Atenção Psicossocial no que tange à
atenção a situações de crise. A equipe do CAPS sentiu-se implicada no
desenvolvimento dos meios necessários para a reinvenção e a conquista
da cidadania no campo da saúde mental.

163
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A contribuição da Contação de Histórias num Hospital do Recife:


Relato de experiência

Bianca Dantas dos Santos Ramos


Alayde Parisina Dutra Cabral de Carvalho
Maria Cecília Barbosa de Oliveira
Mônica de Oliveira Osório
Eliane Nóbrega Albuquerque
Renata Teti Tibúrcio Maia
Cybelle Cavalcanti Accioly
Faculdade Pernambucana de Saúde

Introdução: Quando uma pessoa adoece, várias alterações acontecem


em sua rotina, independentemente de sua vontade. Acontecem idas e
vindas ao hospital, e até internamento, que podem gerar ansiedade e
medo intensos. Ações que visem amenizar o impacto das hospitalizações
podem ser de grande valia. A contação de histórias, por exemplo, pode
favorecer o bem estar físico e mental, estimular a imaginação e permitir
reflexões sobre experiências vivenciadas pelos pacientes. Sendo assim,
este trabalho objetiva apresentar a experiência do Projeto de Extensão
“Contação de Histórias: o lúdico no Contexto Hospitalar”, enfocando na
sua contribuição para os pacientes no ambiente hospitalar. Descrição da
experiência: Este projeto acontece em um hospital de referência do
Recife. Ele propõe a contação de histórias para pacientes do SUS,
visando amenizar as repercussões da hospitalização e levar uma
atividade de lazer e cultura para pessoas impedidas de usufruí-las.
Estudantes dos cursos de medicina, psicologia, farmácia, fisioterapia
participam como contadores de histórias. Estes acadêmicos são
capacitados a partir de atividades teóricas e vivenciais. Durante a
contação de histórias, as pessoas são transportadas para um contexto
da fantasia, o que pode minimizar a dor e o sofrimento
momentaneamente. Surgem muitos sorrisos nas enfermarias e nas salas
de espera de ambulatórios. Repercussões: Não há contraindicação, nem

164
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

efeitos colaterais na contação de histórias. Mas, para isso, tem-se o


cuidado na seleção de histórias, acolhimento, empatia, respeito e ética
na abordagem ao paciente. O contar histórias permite troca de
experiências, catarse, envolve todas as idades, tornando mais
humanizado o contexto hospitalar. Considerações finais: Este projeto de
extensão possibilitou as acadêmicas perceberem a riqueza do trabalho
de contar histórias e sua importância para desenvolver competência
empática, sendo um recurso simples, de baixo custo e fácil acesso, capaz
de promover a saúde mental ao paciente e humanizar o ambiente
hospitalar, bem como, o acesso à cultura através das histórias contadas.

165
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo nadando contra a maré:


desafios na garantia da efetivação das leis 10216/01 e 13840/19 no
estado de São Paulo

Daniela Barbom Sorpilli


Bruna Paschoalini
Defensoria Pública

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo - DPESP é uma instituição


permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, prevista desde a
Constituição Federal de 1988 que se dedica a prestar assistência jurídica
integral e gratuita, individual e coletiva, judicial e extrajudicial, à
população comprovadamente hipossuficiente nos termos da Lei
988/2006. Os pedidos de internações, para tratamento de pessoas em
sofrimento mental e/ou com necessidades decorrentes do uso de álcool
e outras drogas, é uma das maiores demandas da DPESP. Essa procura
por judicialização dessa problemática reflete a insuficiência das redes de
atenção psicossocial no estado, a despeito das normativas existentes
para a organização e implementação da RAPS – Rede de Atenção
Psicossocial. A DPESP trabalha no sentido de evitar que internações
aconteçam sem a devida indicação de excepcionalidade no tratamento
e, que seja garantido, conforme a lei 10.216/2001e a recente lei
13.840/2019, que as pessoas tenham o atendimento extra-hospitalar
necessário para que se esgotem todas as possibilidades de tratamento
antes da indicação de internação. Em municípios onde não há unidade
própria da DPESP, o atendimento é realizado por meio de convênios
com instituições diversas, sendo o da Ordem dos Advogados do Brasil –
OAB o maior deles. Nas subseções da OAB espalhadas pelo estado,
familiares, via de regra, procuram o benefício da justiça gratuita para
ingressarem com ações de internação involuntária e compulsória, o que
muitas vezes não significa que as alternativas extra-hospitalares tenham
sido esgotadas. Notamos que as subseções da OAB e mesmo os serviços

166
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de saúde muitas vezes ainda atuam na lógica manicomial, propondo


reiteradas ações judiciais de internação sem o esgotamento das
possibilidades de cuidado possíveis. A Assessoria de Convênios – AC, em
conjunto com o Grupo de Apoio Interdisciplinar – GAI, passou a analisar
tais pedidos de internação, promovendo a discussão dos casos com os
serviços dos municípios e propondo novas formas de atendimento,
replicando assim o entendimento da DPESP acerca da não judicialização
de pedidos de internação compulsória e fortalecimento da RAPS nos
municípios do estado de São Paulo. Alcançamos, entre julho de 2018 e
dezembro de 2019, 123 pacientes e seus familiares. É possível beneficiar
municípios inteiros a partir da reorganização dos serviços da rede e da
reformulação de práticas de cuidado em saúde. Além disso, essa prática
tem possibilitado a realização de mapeamento das peculiaridades e
desafios no funcionamento das redes de saúde e assistência de cada
município; em alguns municípios, as subseções da OAB passaram a se
articular com as redes locais para afinar fluxos de atendimento, evitando
o encarceramento de pessoas com necessidades advindas de
transtornos mentais ou uso de substâncias psicoativas. Atuação inédita
na instituição, proporciona o aumento da capilaridade da atuação da
Defensoria; possibilita que as redes locais se articulem para trabalhar de
forma mais alinhada às diretrizes da luta antimanicomial e das
normativas atuais sobre o tratamento de pessoas com transtornos
mentais e/ou que fazem uso de substâncias psicoativas. Ainda, permite
mapear locais onde ocorram violações de direitos dessa população,
direcionando-os aos Núcleos Especializados da DPESP.

167
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A dependência química e novos modelos de tratamento:


recomeço e evolução

João Henrique Medeiros Priston


Secretaria de Saúde de Abreu e Lima
Fabricio Alessandro Selbmann
Nayara Nagly Sales do Nascimento
Grupo Recanto

Introdução: O Grupo Recanto nasceu em 2008 em Pernambuco para


atender a uma lacuna existente na região, a busca crescente no
tratamento de dependência química. No ano de 2007 em um curso na
Fundação Getúlio Vargas, constatou que a região nordeste poderia
comportar uma clínica de tratamento de dependentes químicos, através
de estudo e pesquisas, com estrutura diferenciada das demais instaladas
na região. Em 2013 o Grupo Recanto inaugurou a Unidade Hospitalar de
Desintoxicação e Crise, um setor de importância vital no tratamento,
com estrutura adaptada e assistência médica 24h. Em 2018 incorporou
um novo modelo de tratamento usado com eficácia nas clínicas de
recuperação dos EUA, Modelo Minnesota, considerado por especialistas
como uma abordagem interdisciplinar no tratamento da adicção. Esse
modelo foi adaptado ao tratamento já existente na clínica e reforça o
aspecto biopsicossocial de cada paciente, ou seja, suas características
biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais. Dessa forma o
paciente é tratado com respeito nas suas individualidades e
subjetividades. Descrição da experiência: O Grupo Recanto oferece um
tratamento moderno, humanizado e especializado, resgatando a
singularidade do paciente através de sua reabilitação, a fim de
proporcionar o bem-estar e qualidade de vida, respeitando suas
limitações. Com uma estrutura completa, equipe interdisciplinar e um
tratamento integrado o Grupo Recanto tem como objetivo: Promover
um ambiente de bem-estar; Prestar assistência médica e terapêutica de
forma integral; Estabelecer uma abordagem interdisciplinar através de

168
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

um plano terapêutico individual; Ampliar o tratamento para além da


remissão dos sintomas manifestos; Conscientizar o paciente a
desenvolver a capacidade crítica de seu diagnóstico e a importância do
tratamento; Garantir o cumprimento do tempo necessário para o
tratamento, através do diagnóstico e conduta estabelecidos no projeto
terapêutico individual do paciente.
Repercussões: A maior missão do Grupo Recanto é oferecer aos
pacientes e as suas famílias, a segurança de um tratamento
personalizado, que vai permitir avanços significativos na sua
recuperação e na qualidade de vida. Foram realizadas 3 pesquisas com
mais de 500 pessoas tratadas no Grupo recanto, onde pode contar que:
50% permaneceram abstêmios do SPA, 15% recaídos em uso de SPA,
15% reinternados em instituições, 10% ou desenvolveram algum
transtorno mental, ou presos, ou mortos.
Considerações finais: A pesquisa evidencia a eficácia do programa
terapêutico, considerando que o tratamento para dependência química
necessita não apenas do empenho e conhecimento científico da equipe
interdisciplinar, mas também da colaboração do empírico, através de
outro adicto em recuperação, além do envolvimento da família neste
processo, onde uma rede de apoio é estabelecida para funcionar em
benefício da recuperação do sujeito, de forma que este possa
ressignificar os valores de sua existência e resgatar ou reconstruir a sua
saúde mental, biológica e social.

169
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A depressão através da educação popular em saúde à luz de Paulo


Freire: Roda de Conversa.

Kelly Cristina do Nascimento


UNIMED

Jose Manoel Angelo


Centro Universitário Maurício de Nassau – Uninassau

Maria Socorro Alécio Barbosa


Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Eliane Maria Ribeiro de Vasconcelos


Wallacy Araujo
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Introdução: Foi no seio das organizações populares, que a Educação


Popular nasceu, fora da escola, mas seus princípios e sua metodologia,
com bases emancipatórias, tiveram uma repercussão tão grande na
sociedade que acabaram cruzando fronteiras e os muros das escolas,
(PEREIRA, 2010). A Educação Popular em Saúde se constitui como um
movimento libertário, trazendo uma perspectiva teórico-prática
ancorada em princípios éticos potencializadores das relações humanas
forjadas no ato de educar, mediadas pela solidariedade e pelo
comprometimento com as classes populares (BRASIL, 2012). Falar em
roda de conversa é lembrar do círculo, automaticamente pensamos em
mandalas. Ceccim e Ferla (2009) corroboraram ao considerar que em
uma mandala há rede, fluxo, desenho, dobra e movimento, de maneira
a não existir a necessidade de formas duras, fixas, verticalizadas e
pesadas. Com isso, infere-se a relevância da dialogicidade no cotidiano
do projeto VER-SUS. Descrição da Experiência: Roda de conversa
realizada com 25 pessoas “vivendo”, sobre depressão na Ong Conviver
HIV AIDS, em Maceió. Foi utilizado como recurso metodológico a

170
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Mandala dos Saberes da Educação Popular em Saúde. Assim, a mandala


de saberes possibilita o encontro entre o ancestral, o presente, o
intuitivo, o espiritual, o cultural, o histórico, o humano e o popular
(PERTUSSATTI, 2012). Repercussões: Ao ser aplicado os 8 elementos, o
ancestral, o presente, o intuitivo, o espiritual, o cultural, o histórico, o
humano e o popular, foi observado o empoderamento e a força na fala
de cada vivendo, desvestindo no grupo a necessidade de expor seus
sentimentos, abrir suas feridas relacionadas a depressão, quantos
tiveram, como se curaram, quantos estão e como estão levando a vida
com ela. Considerações Finais: Conclui-se que a mandala dos saberes
por ser uma ferramenta metodológica de ensino prática, acessível de
fácil entendimento, se tornou um instrumento viável para a abordagem
proposta. Após o fechamento da roda foi observado que alguns se
sentiram aliviados, outros relataram estarem mais esclarecidos e
tranquilos por saber que a depressão é comum, muita gente tem
independente de ser “vivendo” ou não. E que há tratamento.

171
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A escuta de familiares de pessoas presas no estado de São Paulo


iniciada com a pandemia da COVID-19

Heloisa de Souza Dantas


pSI

Heloisa de Souza Dantas


Depto. Saúde Coletiva – FCMSCSP

Marcella M. de Souza e Silva


Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP

Sílvia Lopes de Menezes


Instituto Sedes Sapientiae

Isabel Cristina Lopes


Marisa Feffermann
Instituto de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde

Introdução: O Brasil conta hoje com 726.712 pessoas presas


(BRASIL, 2017), possuindo a terceira maior população carcerária do
mundo em números absolutos (INSTITUTE FOR CRIMINAL POLICY
RESEARCH, 2018). O estado de São Paulo por sua vez contabiliza cerca
de 30% de toda população prisional do país, totalizando
aproximadamente 230.000 presos (BRASIL, 2017). Pesquisas de caráter
qualitativo têm demonstrado o impacto do encarceramento sobre a
dinâmica da vida familiar nos bairros populares do Estado (SINHORETTO,
SILVESTRE & LINS DE MELO, 2013). A prisão gera profundo sofrimento
mental aos familiares, sendo o direito à visita, realizada
predominantemente pelas mães e esposas, uma das formas de atenuar
tal condição (MENDONÇA SILVA & BARSAGLINI, 2020). Após a pandemia
da COVID 19, foi proibido o encontro presencial nos presídios do Estado,
agudizando ainda mais a situação de desamparo das famílias. Descrição

172
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

da experiência: A partir de uma iniciativa da Associação de Amigos e


Familiares de Presos/as (AMPARAR), em abril de 2020 criamos uma rede
de atendimento psicológico, ao lado do apoio jurídico e de assistência
social aos familiares dos presos e presas, o Coletivo Escuta Liberta. O
projeto, composto por 45 psicólogos, psicanalistas e psiquiatras já
atendeu, desde abril, mais de 80 pessoas. Nosso objetivo é o de
legitimar e fortalecer as famílias para o enfrentamento do sofrimento
decorrente da situação de isolamento provocada pela pandemia, como
também pelas marcas produzidas pelo cárcere. Os interessados são
encaminhados pela AMPARAR e os atendimentos acontecem
semanalmente por chamada de WhatsApp ou vídeo, sendo registrados
posteriormente em um documento disponível a todos os terapeutas
envolvidos na iniciativa. A supervisão coletiva ocorre semanalmente e
reuniões de formação com diferentes acadêmicos e especialistas
acontecem bimestralmente. Recebemos no decorrer desses meses,
Miriam Debieux, Lia Pitliuk (psicologia social e psicanálise clínica) e Vera
Batista Malaguti (cientista social especialista em criminologia crítica).
Repercussões e considerações finais: A partir da experiência clínica e da
supervisão, evidenciou-se a necessidade de refletirmos sobre as
especificidades deste acompanhamento psicológico, tendo como fio
condutor a reflexão sobre a particularidade de uma clínica voltada para
mulheres, familiares de presos e presas, empobrecidas por uma
sociedade desigual, moradoras de território vulnerabilizados e na sua
maioria negra. Questões relativas à vergonha, desamparo, estigma,
violência, racismo, aprisionamento das famílias devido à condição do
familiar preso e, sobretudo, potência para resistir, têm surgido como
aspectos importantes desta escuta. É importante ressaltar que este é
um trabalho interdisciplinar, inserido em uma rede de cuidados, que
pensa a saúde mental no paradigma da possibilidade de uma vida digna,
incluindo, portanto, os aspectos sociais, econômicos e políticos.

173
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A escuta sensível realizada por meio da arte em tempos de pandemia


da COVID-19: cuidado transpessoal na enfermagem psiquiátrica por
meio de oficinas em projeto voluntário

Paula Isabella Marujo Nunes da Fonseca


Virgínia Faria Damásio Dutra
Luciana Silvério Alleluia Higino da Silva
Leiliana Maria Rodrigues dos Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

A pandemia da COVID-19 no Brasil trouxe desafios nos diversos


campos, sobretudo nas dimensões do cuidado em saúde mental. Dessa
forma, houve a necessidade de se repensar e construir novos caminhos
para o cuidado biopsicossocial, dada a falta de referências clínicas no
contexto da atual pandemia. Dentre as consequências deste cenário,
está a redução do número de profissionais de saúde, seja pelo
adoecimento ou por serem grupo de risco, acarretando importante
redução, principalmente nas equipes de Enfermagem. A partir deste
aspecto, somado a fatores como o cessar de visitas a pessoas
internadas, por questões de biossegurança e redução de equipe
multiprofissional, num hospital psiquiátrico, foram realizados alguns
questionamentos a saber: Como garantir a continuidade do cuidado que
passe pela escuta sensível e coletiva das pessoas internadas? Como
garantir um cuidado singular, ampliado e ético? Que práxis a
Enfermagem psiquiátrica pode adotar para o enfrentamento da
pandemia que vai além das intervenções da clínica biomédica? Frente a
estas perguntas, iniciou-se atividade de voluntariado por docente da
área de Enfermagem Saúde Mental, estudante da graduação de
Enfermagem, ambas da Universidade ao qual pertence o hospital, que
contou com o apoio da Chefia de Enfermagem da instituição e
participação de duas enfermeiras psiquiátricas locais. Objetivo: Relatar
experiência vivenciada no voluntariado pela Enfermagem e usuários de
um hospital psiquiátrico em oficinas de acolhimento e escuta sensível

174
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

realizadas por meio da arte durante a pandemia da COVID-19. Descrição


da experiência: Abordagem qualitativa de natureza descritiva de oficinas
realizadas por meio de ação de voluntariado em um hospital psiquiátrico
universitário localizado no Rio de Janeiro/Brasil, durante os meses de
abril a julho de 2020. Neste período foram realizadas seis oficinas que
contaram com a participação média de 15 pessoas internadas por
oficina e com duração de duas horas cada encontro. A atividade em sua
totalidade encontrou na Teoria do Cuidado Transpessoal, proposta por
Jean Watson, profunda afinidade ao identificar a troca intensa de
energias entre clientela e a enfermeiras. Repercussões: As oficinas, para
além da educação em saúde, buscaram essencialmente representar
meio pelo qual as pessoas internadas pudessem falar de suas dúvidas e
ideias, ansiedade e angústias relacionadas às mudanças acontecidas na
instituição e fora dela, principalmente por conta das ações de
biossegurança relacionadas à COVID-19. Portanto, a partir do desejo dos
participantes foram abordados assuntos como: lavagem das mãos, uso
da máscara facial, festa junina, criação e natureza, a arte que mora em
cada um, autocuidado e beleza. A vivência nas oficinas possibilitou aos
participantes e facilitadores o estabelecimento de “relacionamento
intersubjetivo ser-humano-para-ser-humano, no qual a enfermeira afeta
e é afetado pelo outro”, como diz Watson (2009) no conceito de cuidado
transpessoal, o que possibilitou a emersão libertária de desejos e
produção de uma clínica mais sensível que inclui outras narrativas e que
não podem ser silenciados por medicações, ou relegados a espaços
fechados. Considerações finais: O cuidado transpessoal que passa pela
escuta sensível, priorizada na ação do voluntariado, renova as investidas
na condução do trabalho em enfermagem psiquiátrica a partir das
demandas dos usuários.

175
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Estratégia do Atendimento Virtual Utilizada com Crianças com TEA-


Transtorno do Espectro Autista Acompanhadas por um CAPSiA de
Salvador- BA Um Relato de Experiência

Fabíola Mendes de Andrade


Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP

Gabriela Barreto Santana


Fabíola Mendes de Andrade
CAPSiA Liberdade

É bonito imaginar que presença não é sobre corpos. A gente


descobre que o virtual é uma potência latente, quando usado com
cautela, a dose certinha para caber nesse buraco que o abraço deixou. É
bonito imaginar que vai passar, mas até lá, como SUStentar? Como
resistir na oferta de assistência? Como zelar pelos vínculos e afetos, essa
força motriz da saúde? A aventura do cuidado longínquo, de nome
remoto, remonta os padrões, provoca os caminhos. E, às vezes, é
preciso afastar para a amplitude do que se pode ver. O trabalho em um
CAPSia e a experiência com os atendimentos virtuais tem sido
admirável. Inicialmente, houve a projeção de um pacote de limitações
invisíveis e, no desenrolar, se foi percebendo que poderia ser muito
mais rico do que foi idealizado. Aliás, isso de idealizar, às vezes, bloqueia
no pedacinho mais especial da percepção. Aquele que é preciso
desnudar os olhos para enxergar. E assim foi acontecendo, a câmara
ligava, os olhares se encontravam e a primeira expressão era o sorriso.
Eles falavam da saudade, da carência e do alívio por estarem saudáveis.
De repente, nas horas da manhã, ali na tela, atentas e presentes, TO e
Oficineira com as mães e suas crianças com TEA de 6 a 9 anos de idade.
As mães falavam sobre reinvento e mostravam como resistiram a
suspensão das terapias presenciais e como se tornaram protagonistas
das intervenções terapêuticas de seus filhos com TEA e se descobriram
excelentes coterapeutas. Elas ofertam os estímulos necessários para o

176
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desenvolvimento motor, cognitivo e social dos seus filhos. Os pequenos


reconheciam as “tias do CAPS”, se reconheciam, sorriam e pulavam de
um lado para o outro. Expressavam a energia contida e a derramavam
como chuva repentina de pingos fortes. Um deles, certo dia de
atendimento, segurava um papel escrito “saudade amigos”. Assim fluía
os encontros virtuais, dentro e fora dos lares, às vezes barulho, às vezes
silêncio aglutinado pelo querer. Porque presença é intenção. Nessa linda
aventura, houve, a mudança de uma das mães que conseguiu sair de um
relacionamento abusivo e, no encontro marcado, ela apareceu como um
sol radiante do outro lado da tela. Seu olhar transbordava liberdade. As
mães se reinventaram como mulheres e como cuidadoras e as crianças
continuaram crescendo, brincando e se desenvolvendo juntos, só que
de dentro das suas casas. Fazendo brinquedos com sucatas, cabanas,
cama de gato com cadeiras, bolos, cookies, mosaico... reunindo mães,
pais, irmãos, avós primos e terapeutas dentro da tela do atendimento
virtual.

177
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A ética e a técnica do Acompanhamento Terapêutico como


orientadoras das práticas na Atenção Psicossocial

Tahamy Louise Duarte Pereira


Amanda Giron Galindo
Caroline Teixeira Zanchi
Equipe Trajetos

Nas andanças pelos CAPS onde já trabalhamos, e também nas


muitas conversas e trocas com colegas trabalhadores da atenção
psicossocial de distintos lugares pelo Brasil, algo chama atenção: dentro
das multiplicidades e singularidades dessas instituições, cada um
existindo a seu modo dentro do território que ocupa e com suas
composições de equipes possíveis, parece haver algo que volta e meia
se repete, de novo e de novo nas vivências e histórias ouvidas: algo da
ordem de uma constante tensão (maior ou menor a cada momento e
local) entre as lógicas de cuidado e algumas disputas sobre como operá-
las. Colocadas nas palavras do dia-a-dia, vão aparecendo afirmações e
perguntas: “no CAPS todo mundo faz tudo”, “eu não me sinto apta a
fazer essa avaliação/atendimento”, “do que é que a gente trata/cuida,
mesmo?”, “vamos atender juntas?”, “eu só posso atuar dentro da minha
área profissional”, “não dá pra todo mundo fazer tudo, existem
diferenças nas formações, isso é bom, podemos nos complementar”,
“qual resultado esperamos obter quando propomos esta atividade?”,
“meu papel é bem específico, não posso fazer outra coisa”, “vamos
aproximar e ver como as coisas caminham”. Essas diferentes
perspectivas de onde partimos para operar o trabalho na atenção
psicossocial costumam trazer conflitos para o cotidiano dos serviços.
Parece haver nestas tensões perguntas sobre a ética e a técnica da
atenção psicossocial: Do que é mesmo que nos ocupamos no CAPS? E
como vamos fazer isso acontecer? Para buscar responder a essas
perguntas, consideramos que: o CAPS não se ocupa da doença mental,

178
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mas sim de projetos de vida. A atenção psicossocial pode, portanto,


incluir em suas práticas tudo que tenha a ver com a vida, a construção
de projetos, o apoio de sua execução. Para esta tarefa complexa,
nenhum saber profissional é suficiente, já que se trata de acompanhar
um processo aberto e sem ponto de chegada prévio, porque se constrói,
destrói e reconstrói ao longo do percurso. Entendemos que esse fazer
comum pode ser exercitado pelo trabalho do Acompanhamento
Terapêutico e que ele já se dá quando profissionais de formações
diversas se colocam em movimento junto aos usuários e familiares para:
ir a uma loja negociar uma dívida; limpar ou organizar a casa juntos;
estudar; estar ao lado em uma consulta médica; ir ao fórum conversar
com o juiz quando um usuário foi preso; acompanhar uma internação
após um infarto; procurar emprego; participar de visitas a um filho
abrigado; buscar juntos uma doação de casaco quando fazia frio;
conhecer a Gibiteca da cidade com uma adolescente que ama mangás.
As possibilidades são múltiplas, como é a vida. Apostamos que relatar
experiências de Acompanhamento Terapêutico no campo da saúde
mental pode propiciar um debate sobre a ética e técnica que
possibilitem um fazer comum na atenção psicossocial.

179
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência da Comissão de Moradia no CAPS AD II


Ermelino Matarazzo

Amanda de Souza Nunes


CAPS AD

Marcelo dos Santos de Jesus


Serviço Residencial Terapêutico II

INTRODUÇÃO: Dentre os usuários que são assistidos pelo Centro


de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas II Ermelino Matarazzo
encontram-se aqueles que vivenciam diferentes vulnerabilidades sociais,
dentre as quais está há ausência de moradia. Atualmente o serviço
oferece cuidados em saúde mental para pessoas com necessidades
decorrentes do consumo de substâncias psicoativas que permanecem
acolhidas nos Centros Acolhimento (CA) e na Unidade de Acolhimento
Adulto (UAA), em ambos os equipamentos a questão do habitar é
considerada como eixo de reflexão e intervenção dos profissionais. Em
consonância, no cotidiano de trabalho do CAPS, a equipe tem
compreendido que a experiência de sofrimento psíquico pode vir a ser
intensificada pelas condições materiais de vida, entre elas a falta e/ou
negação do direito social de moradia digna. A partir dessa conjuntura, os
profissionais identificaram a necessidade de trabalhar questões relativas
aos determinantes sociais em saúde nos processos de reabilitação
psicossocial, especialmente no cenário de vida que envolve o habitar e
as trocas sociais. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: No espaço de supervisão
institucional os profissionais mapearam as possibilidades existentes para
viabilizar o acesso ao direito de habitar/morar. A partir deste
disparador, os usuários foram convidados no decorrer das assembleias
semanais para a construção de uma proposta institucional que
englobasse as demandas e necessidades referentes à moradia no
território, bem como o levantamento de sugestões com o intuito de

180
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

instaurar um espaço para o compartilhamento de experiências acerca


dessa temática, possuindo como objetivo principal o fomento do
protagonismo dos usuários. A partir de então, instituiu-se a comissão de
moradia, atividade semanal que conta com a participação de diferentes
atores (profissionais, usuários, equipamentos do território e
movimentos sociais). Atualmente a comissão de moradia adota dois
eixos principais para as discussões e reflexões, os quais correspondem à
articulação política acerca do direito à moradia digna e a aproximação
com movimentos sociais que trabalham com essa temática.
REPERCUSSÕES: A comissão de moradia foi uma iniciativa que passou a
compor as atividades do serviço, sendo adotada como recurso para a
viabilização de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS). A partir dessa
experiência é possível afirmar que a equipe vem realizando uma
discussão mais qualificada sobre as necessidades relativas ao habitar
nos processos de reabilitação psicossocial, além de estimular a
apropriação simbólica e material dos espaços habitados pelos usuários.
Ademais, destaca-se o fomento ao protagonismo dos sujeitos que
apresentam nesse espaço as suas vivências na luta pela moradia em
ocupações, movimentos sociais e acesso a direitos. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: A experiência descrita parte do imperativo ético de propor o
cuidado em saúde mental condizente com as necessidades dos usuários,
entretanto encontra-se em estágio inicial fato que demanda
investimentos constantes, sendo imprescindível a reavaliação da
proposta junto aos atores envolvidos. Ademais, espera-se que essa
iniciativa seja disparadora de novas intervenções direcionadas a
construção de cidadania.

181
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência da transdisciplinaridade através das práticas integrativas


complementares: um relato da construção de saber na universidade

Mayara Aguiar Silva


Prefeitura M. de Espera Feliz-MG

Introdução: Para além da relação objetal com o mundo nossa existência


precisa “ser com o mundo” (Merleau-Ponty, 1999) se quisermos, como
poderia nos fazer supor Rogers (1974), tornar-nos pessoa! O que se
pode dizer que estes autores trazem em comum e que aqui torna-se
elemento de nosso interesse, é a sua visão da existência criativa e do
potencial da experiência humana, sobretudo na relação consigo mesmo
e com o mundo. Olhar que muito se aproxima do que é a essência das
próprias práticas integrativas: a potencialidade que homem e universo
trazem em si naturalmente: o corpo que vibra, a mente que cria, a
natureza que cura e que, podem e devem conversar entre si para
facilitar e proporcionar uma compreensão da vida que ultrapasse a mera
soma de saberes para alcançar uma troca efetiva entre eles e, a partir
disso, uma nova construção; uma transdisciplinaridade, uma holística,
enfim. Descrição da Experiência: A experiência aqui relatada foi a
vivência de uma disciplina ofertada pelo mestrado acadêmico do
Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal
do Espírito Santo entre 18 e 30 do mês de agosto do ano de 2019. Trata-
se da disciplina “Tópicos Especiais em Planejamento e Gestão em Saúde
I e II – Transdisciplinaridade: Um Encontro de Ideias e Sentidos”, que
rompeu os muros rígidos da relação ensino-aprendizagem e tornou
corpóreo um saber que se construiu na relação vivencial da proposta
teórica. Ministrado por um professor titular e docentes convidados, e
com uma turma restrita a 10 participantes, as aulas se dividiram em dois
blocos. No primeiro deles coube a introdução teórica e conceitual que
sustentou as discussões seguintes. No segundo, numa estrutura lógica
de exposições orais, debate e vivências dirigidas por facilitadores

182
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

capacitados, foram apresentadas práticas como a de Biodanza,


Arteterapia, Musicoterapia, Lian Gong, Homeopatia, Meditação e Reiki,
algumas delas oferecidas fora dos muros da Universidade.
Repercussões: Trazer as PICS para além da teoria proporcionou não
apenas um conhecimento metodológico sobre elas, mas uma percepção
de que toda projeção que fazemos, toda construção objetal são
movidas, como diz Merleau-Ponty (1999), pelo nosso próprio corpo
mediado pela intencionalidade presente neste movimento, o que em si
presentifica a síntese de corpo e alma: antes que o fazer seja um fato
objetivo é uma possibilidade da própria consciência, e portanto, do
psiquismo. Experienciar as técnicas apresentadas provou e fez-se provar
o que a teoria afirma a respeito de seus efeitos terapêuticos: o sabor da
potência que trazemos em nós mesmos e no universo com o qual somos
um todo maior.
Considerações Finais: Em outras palavras, o que esta sequência ofertada
pela disciplina permitiu foi o questionamento das estruturas formais de
educação e saúde tal como se apresentam na sociedade ocidental e a
falta do reconhecimento holístico necessário à compreensão do homem
como indivíduo não divisível em partes a serem tratadas, compreensão
essa corroborada pela definição de saúde que a própria ciência hoje
assume, mas que, em tese, parece negar: a compreensão biopsicossocial
e, espiritual do sujeito.

183
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência de discutir abertamente sobre a prevenção e posvenção


do suicídio na comunidade

Camille Francine Modena


Alice Milani Nespollo
Evelyn Kelly das Neves Abreu
Fernanda Freire Mendonça
Frantielen Castor dos Santos Nascimento
Hugo Gedeon Barros dos Santos
Jesiele Spindler Faria
Moisés Kogien
Vanessa Ferraz Leite
Samira Reschetti Marcon
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

INTRODUÇÃO: O suicídio constitui um grave problema social e de


saúde pública, de caráter complexo e universal com significativos
impactos para a sociedade em geral. No estado do Mato Grosso, a taxa
de mortalidade por suicídio é de 6,8 mortes por 100.000 habitantes,
valor superior à taxa média nacional. Considerado um fenômeno
evitável, órgãos mundiais têm se esforçado para sensibilizar gestores,
profissionais e a população quanto ao reconhecimento da relevância e
efetividade das ações de prevenção do suicídio. Outra preocupação tem
sido a posvenção, ou seja, desenvolvimento de ações de suporte
adequado para amenizar os danos aos sobreviventes, reconhecendo que
a angústia daqueles que convivem com essa lembrança deve ser vista
com atenção por representar um significante fator de risco para o
suicídio. Falar abertamente, fomentar a discussão, a reflexão e o debate
são estratégias necessárias para trazer a visibilidade ao problema. Este
trabalho tem como objetivo relatar a experiência de membros de um
grupo de pesquisa na construção de um evento, no formato de
seminário, voltado para a discussão sobre prevenção e posvenção do
suicídio. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O Seminário foi realizado dia 17

184
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de setembro de 2019, nos períodos vespertino e noturno, no Teatro


Zulmira Canavarros em Cuiabá, organizado pelos membros do Núcleo de
Estudos em Saúde Mental – NESM, como uma das atividades alusivas à
campanha nacional Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do
suicídio. Contou com a presença de 297 participantes, público composto
por estudantes, profissionais, trabalhadores, gestores e comunidade em
geral provindos de vários municípios do estado. Em relação à
programação, o evento foi dividido em quatro momentos: palestra
introdutória sobre suicídio, ressaltando aspectos da prevenção e
posvenção; apresentação de resultados de estudos científicos
produzidos sobre a temática em distintas populações; capacitação em
prevenção e posvenção do suicídio baseada no programa APOIAR e roda
de conversa multidisciplinar, tipo talk show, com profissionais atuantes
na área de Saúde Mental. REPERCUSSÕES: O evento proporcionou
visibilidade às produções científicas, bem como a sua importância na
medida em que foram apresentados estudos realizados por discentes da
graduação e pós-graduação; promoveu a integração entre os diferentes
membros da Universidade e também com profissionais externos;
efetivou o papel social do grupo de pesquisa à partir de ações com a
comunidade externa; contou com a participação dos diferentes setores
(educação, saúde, segurança pública, entre outros) na discussão aberta
sobre uma temática tão presente na sociedade. É reconhecido que este
evento foi positivo para os membros organizadores e também para os
participantes, haja vista que na avaliação pós-evento os mesmos
avaliaram o seminário e os temas abordados positivamente
(respectivamente 97,3% e 97,6% como excelente ou bom), bem como
sugeriram a necessidade de maior carga horária para o evento, por se
tratar de assunto complexo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência foi
produtiva visto que o suicídio é um tema rodeado por tabus e estigmas,
desta forma entende-se que discutir abertamente o tema e
proporcionar que a pessoas conheçam os sinais deste agravo contribui
para a ampliação das redes de atenção, meios de prevenção e
posvenção.

185
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Eu - Ansiedade e Depressão: Medicalização

Stephane Ramos Araújo

2019 foi o pior ano da minha vida, não entendia a tristeza profunda que
sentia, a falta de vontade de fazer coisas simples como por exemplo:
escovar os dentes e tomar banho, eu precisava de ajuda e sabia disso,
tentei ficar apenas na psicoterapia, mas eu sabia que necessitava de
mais assistência. Em agosto de 2019 fui diagnosticada com ansiedade e
depressão, gastos com consultas medicas, terapia e remédios eram
constantes, gastava em torno de 700 reais mensalmente, é custoso
cuidar da saúde mental no Brasil e nem todos têm esse acesso, em meio
a esse processo, reconheço o meu privilegio. Em relação aos remédios,
comecei tomando o rivotril de 0,5mg no período da noite por causa da
insônia, o sublingual de 0,25mg para as minhas crises de pânico e o
maxapran toda manhã, porém o vazio, as crises, insônia, o sentimento
constante de culpa e incapacidade não passavam e a quantidade de
remédios só aumentavam, o rivotril passou a ser de 2mg. Devido a
minha forte crise de pânico, a minha psiquiatra passou um afastamento
de 40 dias da universidade, tive que passar por todo esse processo
durante o meu primeiro ano de mestrado. Precisei mudar de psiquiatra,
ela foi morar no interior de Pernambuco e o meu psiquiatra atual
concordou com o laudo médico da minha antiga psiquiatra, contudo
retirou o maxapran e acrescentou o zodel de 50mg e insit de 50mg,
como tive muitos efeitos colaterais, o zodel saiu da minha lista de
medicamentos e passei a tomar o lamitor de 50mg, mesmo tomando
tanto remédio ainda sentia o vazio constante, a inquietude, a tristeza
profunda e o que aconteceu? Mais remédios, o insit passou a ser de
75mg e tive mais um remédio na lista o tolrest de 50mg. Me sinto
dopada de remédios que não fazem efeitos no meu corpo e toda
consulta que vou sinto medo, pois eu sei que vai aumentar a dosagem
ou acrescentar algum remédio, dito e feito, na minha última consulta, o

186
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

meu psiquiatra acrescentou o menelat de 30 mg. Tenho apenas 22 anos


e atualmente tomo o tolrest de manhã; lamitor a tarde; rivotril, insit,
menelat pela parte da noite e o rivotril de 0,25mg quando tenho crises
de pânico. Como não consigo ser feliz? Como não consigo me sentir
bem? Como ainda sinto crises? A dor que eu sinto é tão devastadora
que já tentei suicídio duas vezes, me sinto cansada disso tudo. Sou
antropóloga e aqui utilizo o método autoetnografico das minhas
experiências com a depressão e ansiedade a partir da minha busca por
uma possível cura dessas patologias. Meus “amigos” não aguentaram
lidar comigo e a bagagem de instabilidade emocional que carrego, tive
que aprender a ser sozinha. Me sinto em Admirável Mundo Novo (2015)
a diferença é que a minha soma (droga utilizada pelos personagens para
que eles sintam bem-estar) não está funcionando comigo. Do que
adianta fazer terapia, academia, acupuntura e tomar todos os remédios
se o vazio que eu sinto ainda continua?

187
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência de estudantes na construção de um protocolo de Hatha


Yoga: promoção em saúde à comunidade

Vanessa Ferraz Leite


Samira Reschetti Marcon
Larissa de Almeira Rezio
Camille Francine Modena
Moisés Kogien
Kleici Kleslly Brito de Oliveira
Reinaldo Gaspar da Mota
Jhon Helbert Soterio Pires
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

INTRODUÇÃO: O Hatha Yoga é um caminho sistemático


historicamente desenvolvido para fins não médicos, composto por
técnicas psicofísicas baseadas na integração do corpo, mente e espírito,
com intuito de cessação das inquietações da mente e
autotransformação. Atualmente, os estudos científicos concentram-se
principalmente em investigar os seus potenciais benefícios terapêuticos
para a saúde física e mental em diferentes grupos e ambientes. Nesse
sentido, especificamente em pesquisas de delineamento experimental,
há o desafio da construção cuidadosa de protocolos, haja vista que esses
contribuem para a organização, mensuração e testagem dos efeitos
provenientes das práticas permitindo sua replicação. Objetivo: Relatar a
experiência de graduandos e pós-graduandos na construção de um
protocolo de Hatha Yoga desenvolvido com a comunidade interna e
externa em uma universidade pública. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: o
protocolo construído é uma ferramenta sistematizada, que integra
teoria e prática e compõe a metodologia do estudo de doutoramento de
uma instrutora de Hatha Yoga. Sua formulação foi planejada de maneira
progressiva e simultânea às leituras nacionais e internacionais,
empíricas e científicas de Yoga, além da consulta junto a

188
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profissionais/professores da área. Foi aplicado no campus da


universidade, no período de julho a dezembro de 2019, com encontros
semanais de 80 minutos cada. O protocolo foi continuamente avaliado
após cada aula aplicada. A estrutura das práticas foi construída nas
seguintes etapas: momento de acolhimento, por meio de um mantra;
relaxamento; alongamento e aquecimento; posturas corporais; técnicas
de respiração; técnicas meditativas; relaxamento final e o encerramento
com um mantra. Os praticantes foram estudantes, professores (ativos e
aposentados) e comunidade externa, em sua maioria mulheres, idades
entre 20 e 64 anos, com pouca ou nenhuma experiência em Yoga.
REPERCUSSÕES: Conforme observado pela instrutora e verbalizações
dos praticantes, quatro categorias foram avaliadas e remetem à
positividade da aplicação do protocolo: a) aspectos físicos: sensação de
bem-estar físico, consciência corporal, aumento da flexibilidade
muscular e relaxamento de tensões; b) aspectos mentais: melhora do
bem estar mental, elevação da autoestima, auto amor, aumento da
resiliência e sensação de paz interior; c) aspectos educacionais:
aprendizado de técnicas simples para redução da ansiedade, do estresse
físico e emocional; d) aspectos sociais: acolhimento e sentimento de
pertencimento ao grupo. A construção do protocolo e a sua aplicação
nas aulas proporcionou a visibilidade das Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS); contribuíram para ampliação de
produções científicas sobre a Yoga na promoção da saúde mental e
física; viabilizou a realização de um teste piloto originando o protocolo
final da tese e efetivou o papel social do grupo de pesquisa na medida
em que possibilitou integrar a pesquisa científica com atividade
extensionista. CONSIDERAÇÕES FINAIS: o protocolo foi construído
seguindo um diálogo entre conhecimento empírico e científico sobre
Hatha Yoga vinculado à saúde mental e com as PICS, possibilitando o
fortalecimento da articulação entre pesquisa, ensino e extensão dentro
da universidade, além de ser uma maneira de envolver múltiplos atores
de diversas áreas de conhecimento.

189
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Experiência do Palhaço Cuidador como Agente de Subversão Do


Manicômio

Iago Freitas Dantas de Sousa


Prefeitura Municipal de Mossoró

Aldenildo Araújo de Moraes Fernandes Costeira


Janine Azevedo do Nascimento
Universidade Federal da Paraíba

Desde 2010, existe na Universidade Federal da Paraíba o projeto


de extensão “PalhaSUS”, que objetiva promover cuidado em espaços de
saúde através da educação popular e da palhaçaria. Os extensionistas do
projeto passam por um processo formativo até desenvolver o papel de
“Palhaço Cuidador”, a fim de utilizar a ludicidade e o humor como
instrumento de humanização e empoderamento dos usuários e
profissionais dos espaços em que atuam. O trabalho de palhaços em
instituições de atenção à saúde vem crescendo no Brasil, mas não são
muitas as experiências de palhaços em ambientes ligados à saúde
mental, ao compararmos, por exemplo, com os grupos de palhaços que
atuam em hospitais gerais. O autor deste trabalho atuou semanalmente
como Palhaço Cuidador no Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, da
cidade de João Pessoa durante o ano de 2017. Este Complexo consiste
em um antigo manicômio em processo de reformulação de sua
estrutura; entretanto, como é recorrente em outros contextos similares,
as práticas e a lógica manicomial permanecem fortes, evidenciando-se
nas pequenas violências do cotidiano e nas práticas institucionais. As
visitas dos Palhaços Cuidadores tinham duração de aproximadamente
cinco horas, e circulava-se por todas as alas da instituição, incluindo, por
vezes, recepção e setor administrativo, a palhaçaria era exercida junto a
todos que compunham aquele espaço, utilizando instrumentos como a
música e o teatro popular. Neste cenário, o Palhaço Cuidador surge

190
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

como um agente subversivo, por não se enquadrar na lógica tecnicista


que impõe uma barreira intransponível entre profissionais e usuários do
serviço. Conforme o vivido e observado pelos próprios extensionistas,
afirmamos que o palhaço, por não ser especialista em nada, permite-se
brincar com as representações sociais da loucura, fazendo do próprio
corpo um instrumento de questionamento do que seria ou não
“normal”. Através do afeto e do riso, é possível inclusive questionar
injustiças e provocar reflexão sobre as opressões a que os sujeitos estão
submetidos, num papel análogo à figura arquetípica do “bobo da corte”.
Ressaltamos, contudo, que em uma instituição de caráter manicomial,
há limites intransponíveis, e mesmo estratégias de subversão tendem a
ser incorporadas à instituição em seu caráter totalizante; tais limites
foram decisivos para a decisão coletiva dos extensionistas de deixar
aquele cenário de atuação. Diante das ameaças recentes cada vez
maiores à reforma psiquiátrica e à Rede de Atenção Psicossocial,
acreditamos que palhaçaria e afeto podem ser instrumentos potentes
de resistência, denúncia e fortalecimento dos serviços substitutivos em
saúde mental.

191
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência do projeto “eu quero entrar na rede”: reflexões sobre


cidadania

Bruna Vanessa Dantas Ribeiro


André de Faria Pereira Neto
Ana Paula Freitas Guljor
Paulo Duarte de Carvalho Amarante
Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

INTRODUÇÃO: Este trabalho é um relato de experiência sobre


projeto “Eu quero entrar na rede: um blogue sobre saúde mental
construído por pessoas em sofrimento psíquico” que foi aprovado no
Edital para Projetos de Divulgação Científica da Vice-presidência de
Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz
(VPEIC/FIOCRUZ). Realizado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o
projeto é fruto da parceria entre o Laboratório Internet, Saúde e
Sociedade (Laiss), o Centro de Atenção Psicossocial II Carlos Augusto da
Silva Magal (CAPS-Magal) e o Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS) e teve a coordenação do
professor Paulo Amarante. O projeto teve como objetivo a
desconstrução de estigmas e a inclusão digital/social de usuários do
Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto da Silva Magal (CAPS-
Magal), localizado no bairro de Manguinhos, na cidade do Rio de
Janeiro, e utilizou as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs), especificamente o Blogue, como ferramenta digital de articulação
e espaço de fala para pessoas em sofrimento mental. Temos como
objetivo refletir sobre a experiência do projeto, tendo como foco as
experiências diretamente relacionadas com a cidadania dos
participantes do projeto.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A atividade de inclusão digital contou com
a participação de 10 usuários do CAPS Magal e teve a duração de 12
meses, de outubro de 2018 e setembro de 2019. Foram realizados 40

192
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

encontros semanais no LaISS com a mediação de uma profissional do


laboratório e o acompanhamento de um profissional do CAPS. Cada
encontro teve a duração de 2 horas. Os participantes formam
selecionados pela equipe do CAPS Magal e receberam uma bolsa auxílio
mensal de 100 reais. O trabalho foi desenvolvido a partir da abordagem
teóricas da translação do conhecimento. A realização desta experiência
seguiu os parâmetros da metodologia qualitativa da translação do
conhecimento.
REPERCUSSÕES: Durante as atividades os participantes foram
incentivados a trabalharem e a circularem de forma autônoma e
acompanhados dos colegas. Para além da comunicação isso trouxe para
o projeto outras questões: 1) Portar de documentos – eles mostraram
dificuldades em portar documentos de identificação. Crachás
permitiram a circulação deles no espaço da Fiocruz. A autorização para
circular e a mobilidade proporcionadas pelo crachá foram cruciais para a
promoção da autonomia dos usuários. 2) Produção de Laços – o trânsito
pelo território e o trabalho colaborativo se mostrou produtivo para
gerar laços entre os participantes fora do espaço do CAPS e do LaISS. 3)
Violência - constante na região, a temática foi inserida nas
problemáticas dos encontros gerando reflexões dos participantes sobre
o tema, inclusive questões que eram normalizadas por eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os pontos analisados mostram diferentes
facetas de como a temática da saúde mental é perpassada pela
cidadania. Para os três casos as TICS se mostraram como alternativas
para a inclusão social, não só facilitando o acesso à informação e
construindo novos espaços de fala como gerando possibilidades de
criação de laços, lançando novo olhar sobre temas importantes para os
usuários e incentivando a autonomia.

193
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência em rodas de conversa online sobre saúde e sexualidade:


a perspectiva do gênero na clínica ampliada

Pedro Nunes de Araujo Liesegang


Caroline Luiza Coelho
Giulia Cândido Bruno
Edna Severino Peters Kahhale
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC

O projeto do Camisa no Diminutivo surgiu de um conjunto de


iniciações científicas, com apoio da FAPESP, de graduandos de psicologia
da PUC-SP (Caroline Coelho, Giulia Bruno e Pedro Liesegang) e
integrantes do Lessex (Laboratório de Estudos da Sexualidade), sob
orientação da Profa. Dra. Edna Kahhale. Inicialmente seriam realizadas
rodas de conversa em ambulatórios voltados para o tratamento de
infecções sexualmente transmissíveis, com o objetivo de promover a
reflexão e a troca de experiências a partir da perspectiva da clínica
ampliada. No entanto, o projeto precisou ser alterado para atender às
demandas da pandemia de Covid-19. Assim foram estabelecidas rodas
de conversa online semanais sobre saúde e sexualidade, que seriam
divulgadas por meio da página do Instagram "Camisa no Diminutivo".
As rodas são abertas e gratuitas para qualquer pessoa maior de 18 anos,
desde que inscrita previamente. Contam sempre com três a quatro
coordenadores, uma estagiária e um número variado de participantes,
com o teto máximo de 25 pessoas. Os principais norteadores do
trabalho são a psicologia sócio-histórica e a compreensão da
sexualidade enquanto processo simbólico e histórico, que envolve, para
além do ato sexual genital, desejos, identidades, saúde e expressão. A
noção de saúde também não se limita à ausência de doença, sendo
entendida como processo que envolve tanto fatores biológicos, quanto
comportamentais e configurações sociais. Sendo assim, se procura
construir um espaço para trocas horizontais, que não tem formato de

194
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

aula, mas sim de conversa, em que grande parte dos conteúdos parte
dos participantes, após estabelecido um tema central. Alguns dos temas
já abordados foram pornografia, educação sexual, hipersexualização de
pessoas negras, o estigma relacionado a infecções sexualmente
transmissíveis e masturbação, entre outros. Dentro do escopo dessas
rodas, este subprojeto tem como foco explorar como as relações de
gênero aparecem nas discussões, tanto no texto das falas quanto nas
dinâmicas concretas. Foi constatado que a discussão do gênero está
inexoravelmente ligada à da sexualidade e que uma não pode ser
explorada de forma compreensiva sem ser abordada a outra. Nas falas,
o gênero aparece como instrumento importante de construção e
regulação do comportamento e da sexualidade, sendo um determinante
fundamental na forma em que se aprende a viver sexualmente, a
desejar e a lidar com parceiros. Isso teve configurações próprias em
cada uma das discussões, mas alguns pontos que se colocaram como
"refrões" foram: o incentivo à passividade para mulheres e à
assertividade para homens, as diferenças entre as posições sujeito-
objeto que são entendidas como socialmente incentivadas e aquelas
que são vistas como promotoras de saúde e as amarras que a
heteronormatividade coloca tanto em pessoas LGBT quanto cisgênero e
heterossexuais. Também foi possível observar diferenças significativas
nas posições ocupadas por homens e mulheres dentro das próprias
conversas. Apesar de uma quantidade maior de participantes mulheres,
o número de falas de homens variou entre igual às de mulheres e maior,
além de ser muito mais frequente o formato de colocação assertiva, em
contraposição a indagações e questionamentos por parte de mulheres.

195
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experiência em um serviço de plantão psicológico na pandemia do


COVID-19: contribuições para a formação e atuação de residentes
multiprofissionais em saúde mental.

Rosana dos Santos Silva


Universidade Federal da Bahia – UFBA

Tainara Ferreira Inocencio


Patricia Mascarenhas Passos
Walter Lisboa Oliveira
Universidade Federal de Sergipe – UFS

A pandemia do Covid-19 exigiu que os serviços de saúde


reorganizassem seus modelos de atuação, de forma a prestar assistência
com segurança para usuários e trabalhadores. Os métodos mais efetivos
para prevenir a proliferação do vírus, o isolamento e o distanciamento
social, são medidas que impõem novos modos de relacionamento e
provocam repercussões psíquicas que necessitam ser amparadas. Nesse
contexto, a Prefeitura Municipal de Aracaju elaborou um programa de
apoio psicológico remoto para atender as demandas de saúde mental da
população disparadas ou intensificadas no contexto pandêmico.
Funcionando em formato de plantão psicológico, as psicólogas que
compõem o programa de residência em saúde mental da Universidade
Federal de Sergipe foram convidadas a atuar no serviço. Os
atendimentos são realizados pelo telefone, onde as profissionais se
disponibilizam nos horários previamente pactuados para atender as
demandas espontâneas da população que acessa o programa através de
ligação. O início de tal experiência se apresentou como um desafio para
as psicólogas residentes, visto que se tratava de atendimentos na
modalidade remota, uma vivência inédita para as profissionais. Durante
a escuta nos plantões, foi possível observar que o público que acessava

196
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

o serviço era predominantemente feminino e que se identificavam


enquanto portadoras de algum diagnóstico de transtorno mental, com
acompanhamentos psicológico e/ou psiquiátrico prévios. Os sujeitos
acolhidos se encontravam em estado de intensa angústia, apresentando
discursos de sintomas que atravessavam o corpo e que revelavam a
urgência de respostas que o real da pandemia exigia. A experiência de
escuta em um serviço de plantão psicológico desvelou o sujeito em suas
urgências subjetivas, onde este teve que lidar com a ausência de
recursos discursivos que pudessem dar sustentação para sua existência.
A oferta de um espaço de acolhimento e escuta proporcionou para essas
pessoas a revelação de questões que estavam encobertas e a escansão
do tempo para a construção de outras narrativas e saídas diante do que
estava sendo imposto. O trabalho em rede apresentou-se de
fundamental importância, sendo necessário o constante diálogo com a
gestão do programa para articular encaminhamentos e a continuidade
do cuidado nos casos que apresentavam maiores riscos. No
entrelaçamento da clínica com a formação em saúde mental, as
residentes se organizaram para discutir casos periodicamente, bem
como utilizar o espaço da tutoria de núcleo para consolidação de
embasamento teórico para a prática clínica. A supervisão clínica
também foi um dos recursos utilizados pelas profissionais. Diante do
relato apresentado, é possível considerar que o dispositivo do plantão
psicológico se mostrou enquanto potente programa na organização do
cuidado em saúde mental na pandemia, fortalecendo o que é apontado
como tripé do SUS: o direito que todo cidadão tenha acesso aos serviços
de saúde; a garantia de ações e serviços em todos os níveis de
complexidade e a integralidade do cuidado. Para além disso, a
experiência contribuiu para a formação das residentes, sendo possível
discutir os atravessamentos desse acontecimento nas subjetividades e
pensar a complexidade do cuidado, a articulação com a gestão e a
ampliação da clínica através da inclusão dos dispositivos da rede.

197
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Extensão Universitária como Complemento da Formação em Saúde


Mental, sob a Perspectiva do Cuidado em Liberdade

Larissa Moreira Santos


Teresa Cristina da Silva Kurimoto
Emiliane Pereira de Souza
Alice Moreira Pauferro
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Um dos grandes desafios no campo saúde mental é a formação de


profissionais comprometidos com a mudança e consolidação do modelo
biopsicossocial. A extensão universitária configura-se como espaço de
aprendizado contínuo, em que as estudantes assumem protagonismo no
processo de ensino em um contexto de articulação entre universidade e
sociedade, por meio de um processo interdisciplinar, educativo, cultural,
científico e político. Assim, a partir de uma experiência de extensão
universitária, propomos refletir sobre a formação em saúde mental.
O projeto Oficina de Cuidados, da Universidade Federal de Minas Gerais,
tem como base o modo psicossocial. Este preza pela
desinstitucionalização e pela lógica do cuidado em liberdade e
territorializado. Tal princípio é praticado por meio de oficinas
terapêuticas, com temas centrados no cuidado de si, considerando
protagonismo e subjetividade do participante como norteadores. Os
integrantes são usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, em Belo
Horizonte, alunas de diferentes cursos da saúde e coordenadora do
projeto de extensão. Esse relato de experiência foi realizado via diálogo
virtual entre as alunas e a coordenadora, ressaltando benefícios,
desafios e possíveis avanços, num contexto de mudança na atuação
devido à pandemia.
A experiência de participação no Oficina de Cuidados proporcionou
reflexões: 1. A formação de graduação e a perspectiva do cuidado em
liberdade. As estudantes da equipe, graduandas de Enfermagem,
Medicina, Psicologia, identificaram a importância de conhecer e

198
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

construir concepções em torno da lógica antimanicomial. As práticas e


saberes requeridos para uma atenção psicossocial nem sempre são
abordados, enfatizados ou valorizados. O contato com profissionais de
serviços da Rede de Atenção Psicossocial torna-se oportunidade
fundamental para essa construção de saberes, em uma perspectiva
dialógica, interdisciplinar e intersetorial. 2. Extensão universitária:
indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão. Apesar de os cursos da
área da saúde terem parte importante de seu ensino realizado em
cenários de prática, as estudantes puderam perceber, em sua
experiência, a potência de uma práxis de um conhecimento acadêmico
que se desenvolve mutuamente: o diálogo com a sociedade e com os
usuários e profissionais do serviço, contribui para o encontro com
diferentes saberes e propicia uma formação mais comprometida com os
dilemas, problemas e questões do cotidiano da sociedade. No campo da
saúde mental, essa indissociabilidade possibilita a compreensão desse
cuidado cuja tecnologia exigida é essencialmente humana. Com os
desafios impostos pela pandemia, foi preciso buscar no diálogo com o
serviço de saúde mental formas não presenciais de continuidade do
projeto. No atual contexto, em que o distanciamento se faz exigência,
estamos ensaiando formas de falar sobre o cuidado de si a partir de
Foucault - materiais informativos, diálogos com a equipe, reflexões
teóricas, por exemplo.
Por fim, a extensão universitária, no campo de saúde mental, propicia
diálogos que vão além das grades curriculares, expondo a realidade que
permeia o cotidiano da sociedade. Ademais, o projeto tem se
desenvolvido na construção de cuidados na pandemia e via contatos
virtuais entre os integrantes, de áreas distintas da saúde, que fomentam
criatividade e novas perspectivas sobre a teoria dos respectivos cursos.

199
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Face Oculta da Dependência Química: Relato de Caso

Luis Eduardo Sousa Costa


Celeste Rayane Rodrigues Silveira
Luis Eduardo Sousa CostaHelena Pereira de Sousa
Rafaela Cristina Amorin Lima
Centro Universitário Estácio

Introdução: A dependência química inicia-se quando o organismo faz a


utilização constante e desmedida de substâncias psicoativas acionando
o sistema recompensa, tornando-se cada vez mais interessado pela
sensação de prazer, mantendo o indivíduo dependente. Segundo o IBGE,
238.1 mil jovens já tiveram contato com drogas e 600 mil brasileiros são
usuários de cocaína, crack e heroína. A dependência química trata-se de
uma doença primária, porém pode ter seu ponto de ignição ligado a
outras causas, como menciona Boruchovitch (2000), segundo ela há
uma inter-relação entre os problemas psicopatológicos e o uso de
drogas. Objetivos: Relatar experiência de acadêmicos de Enfermagem
durante anamnese com usuário do CAPSAD. Metodologia: Trata-se de
um estudo de caso, que ocorreu nas práticas da disciplina de Ensino
Clínico em Saúde Mental, no mês de abril de 2019, no Centro de
Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas. Resultados: R.A.J.C, 28
anos, possui ensino superior e é paciente do CAPS AD há mais ou menos
2 meses. Durante a anamnese apresentou-se eutímico, vigio, receptivo,
sem alterações comportamentais e psicopatológicas. Atualmente o seu
tratamento é baseado em psicofármacos (ansiolítico, anticonvulsivante,
antidepressivo e antipsicótico) e atividades terapêuticas. Relatou que
aos 12 anos entrou em contato com substâncias psicoativas(cocaína),
devido ao trauma de infância descoberto durante uma terapia de
regressão, "hipnose". Aos 25 anos teve overdose que desencadeou um
aneurisma e entrou em coma por 8 meses. Atualmente o seu
tratamento é baseado em psicofármacos (ansiolítico, anticonvulsivante,

200
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

antidepressivo e antipsicótico) e atividades terapêuticas como a roda de


conversa. Conclusão: Portanto, diante do relato do paciente, podemos
observar que o trauma sofrido na infância favoreceu inconscientemente
seu ingresso no mundo das drogas e sua permanência durante anos.
Sendo assim, comprova-se que traumas de infância têm relações
estreitas com sequelas emocionais na faze adulta, que se manifesta de
várias formas, como por exemplo, a dependência química.

201
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A fala da maturidade: roda de conversa com idosos universitários,


relato de experiência

Pedro Henrique Reis Divino


Universidade Federal de Sergipe – UFS

O Brasil passa nos últimos tempos por um processo de transição


demográfica em que se observa um baixo nível de fecundidade e de
mortalidade, na medida em que se expressa um aumento significativo
do número de pessoas com mais de sessenta anos de idade. Diante
desta realidade, novos desafios são postos para a sociedade, que deve
garantir não apenas um prolongamento da vida, mas também a
elaboração de dispositivos que promovam ações relacionadas a saúde
física, mental e social da população idosa do país. Tendo em vista este
compromisso social, surgem então, ainda nas décadas passadas, os
programas de educação permanente voltados para os idosos em
instituições de ensino superior (IES), que buscam proporcionar espaços
educacionais para idosos geralmente por meio de programas e projetos
de extensão. Diante disso, esse relato de experiência é fruto da vivência
como estagiário extracurricular de Psicologia no Núcleo de Pesquisas e
Ações da Terceira Idade (NUPATI), vinculado ao Departamento de
Serviço Social (DSS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em que se
conduziu durante um semestre letivo rodas de conversa de cuidados
com a saúde mental com alunos da terceira idade vinculados a este
núcleo. Este material tem como objetivo relatar e refletir sobre as
vivências observadas no grupo e do impacto da atividade no processo de
aprendizagem do estagiário. O referido grupo composto por dez idosos
e idosas, na faixa etária de 62 a 73 anos, majoritariamente do sexo
feminino, se reunia uma vez por semana, durante três horas, nas
dependências da universidade. A proposta foi proporcionar um espaço
aberto ao diálogo, onde os participantes pudessem discutir acerca de

202
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

temas de interesse coletivo. Buscou-se assegurar que os integrantes


participassem de todo o processo, na escolha do tema, exposição,
discussão e reflexão, procurando garantir que os membros fossem os
principais protagonistas. Foi observado que, na medida em que as
temáticas eram discutidas faziam emergir relatos de vivências dos
participantes que se sentiam em alguma medida atravessados pelas
questões postas. Portanto, para além de um lugar em que os
participantes possuíam voz e autonomia, também se observou a
constituição de um espaço de escuta, contribuindo para a promoção de
saúde mental dos sujeitos. Ademais, a experiência como mediador desta
atividade, dentre outras contribuições, gerou uma reflexão acerca dos
espaços físicos e sociais que este grupo ocupa hoje na nossa sociedade,
sendo frequentemente, observado estes sendo colocados à margem da
sociedade por serem considerados improdutivos, fato repetidamente
sinalizado nas discussões do grupo. Além disso, o grupo provocou no
estagiário uma ampliação das suas perspectivas acadêmicas, o
incentivando a pesquisar e apostar em ações voltadas para este campo.

203
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A formação em saúde mental e a interseccionalidade:


relato de experiência sobre o aprendizado do cuidado democrático
em um serviço de referência estadual de atenção à população LGBT+

Rosana dos Santos Silva


Universidade Federal da Bahia – UBFA

Leonardo Ribeiro da Cruz de Oliveira


Portal D&T

Gabriel Leal Ribeiro


Sarah Almeida da Silva
Pedro Rafael Santos Costa
Carla Danielle Viana de Souza
Laíse Helena Teixeira de Jesus
Emily Oliveira da Silva
Déborah de Jesus
Faculdade Ruy Barbosa

A formação em saúde mental alinhada a discussão sobre


interseccionalidade, em tempos de desmontes das políticas públicas e
do avanço da necropolítica, apresenta-se como um dos desafios postos
à educação de profissionais deste campo no Brasil. O objetivo geral
deste trabalho é discutir a formação em saúde mental a partir da
experiência dos extensionistas do Núcleo de Estudos e Formação em
Saúde (NEFES) em um serviço de referência estadual de atenção à
população LGBT+, que tem como eixos fundamentais de atuação a
promoção da saúde e a garantia dos direitos sociais. A articulação entre
o NEFES e o serviço supracitado se deu a partir de uma colaboração
técnico-pedagógica, visando ampliar o efeito das ações desenvolvidas
neste serviço: assistência psicológica, social e jurídica aos usuários;

204
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

articulação às redes socioassistenciais; fomento das políticas LGBTs e


monitoramento de denúncias de lgbtfobia. Desta parceria foi
estruturado um plano de intervenção que incluiu: 1- observação
participante; 2- diagnóstico situacional; 3-práticas de cuidado em saúde
mental a partir do acolhimento dos trabalhadores; 4-mapeamento da
rede de saúde e assistencial social; e 5- reuniões para construção do
Projeto Terapêutico Singular. No período de 1 ano, entre janeiro de
2019 até janeiro de 2020, foram realizadas as 3 primeiras etapas do
plano de intervenção. A imersão dos extensionistas no serviço
possibilitou a compreensão dos determinantes sociais que influenciam
diretamente a saúde da população LGBT+; a identificação das
iniquidades e a repercussões deste cenário de desigualdades na saúde
mental dos trabalhadores; os desafios para tornar a política integral de
atenção a população LGBT+ uma prática viva e contra-hegemônica; a
importância de incluir o debate sobre interseccionalidade no processo
de trabalho; e o aprendizado de novas formas de luta que conjugam
existir e resistir, uma vez que a afirmação da vida de pessoas LGBT+ é
uma frente de resistência em um estado (Bahia) com o mais alto índice
de homicídio desta população. A experiência de formação a partir das
práticas neste serviço fez ganhar corpo um projeto pedagógico de
formação em saúde mental que extrapola a educação para o domínio
técnico-científico, colocando também em análise o ordenamento da
realidade. Este arranjo ampliou a capacidade dos extensionistas de
pensarem o contexto social e construírem alternativas. Uma convocação
pedagógica para desenhar um cuidado democrático que não se constrói
sem luta social, sem manter viva a aposta na construção de outro
projeto de sociedade.

205
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A formação marcada pela loucura: uma experiência de estágio

Luana Carvalho Trindade


Rafael Leite Mendonça
Mércia Moreira de Oliveira
Jorge Luís Gonçalves dos Santos
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Este trabalho provém de uma experiência de estágio realizada


no curso de psicologia da UFES em um CAPS II da região metropolitana
da Grande Vitória/ES e visa analisar as implicações das práticas
construídas pelos usuários e profissionais, a partir da política nacional de
saúde mental, para a formação do estudante de psicologia. Trata-se de
testemunhar a relação que há entre a subversão do modelo psiquiátrico
tradicional e a valorização da singularidade, demonstrando como
sujeitos que foram historicamente enclausurados podem ser inseridos
em seu território.
Através da experiência desse estágio, notou-se a importância da equipe
multiprofissional para a construção de espaços, vínculos e atividades
que incluam o usuário nas relações sociais. Partilhar a rotina de
funcionamento do serviço através de oficinas de música, bingos,
aniversários, hortas e visitas domiciliares permitiram pôr em questão a
composição das histórias de vida dos usuários e a atuação das
instituições nas construções subjetivas.
Em que pese a possibilidade de socialização desses sujeitos, o serviço
também se fez palco de momentos de crise. Em um dos dias, por
exemplo, desencadeou-se uma agressão física por ofensas raciais: um
usuário negro foi chamado de “macaco” e partiu para agressão física, o
que resultou em uma desorganização do CAPS. Em meio ao caos, a
equipe se reuniu para traçar estratégias e reestruturar o ambiente.
Dentre elas, o usuário negro foi retirado do espaço e o usuário branco
foi mantido dentro do serviço. Por mais que isso possa ter organizado a

206
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

situação, não podemos deixar de demarcar a estrutura do racismo na


instituição.
Para além disso, ainda como medida de “reorganização”, foi feita uma
roda de conversa onde todos os usuários puderam se expressar e
colocar suas experiências e seu modo particular de entender o episódio.
Com efeito, os usuários se organizaram e, ao mesmo tempo, se
mostraram indignados com a presença da polícia militar e a violência
racial ocorrida.
Portanto, enquanto estagiários de psicologia, tratar desse tema nos
conduz a analisar os processos direcionados pela equipe multidisciplinar
aos usuários do CAPS. Acompanhar essa atitude indica a dimensão da
palavra como disparadora da desordem e ferramenta da reorganização,
além de escancarar toda a incerteza presente no dia a dia desse serviço.
A experiência em estágio no CAPS foi fundamental para compreender e
priorizar a perspectiva multiprofissional. Nessa direção, faz-se
fundamental tanto para aqueles que estão em tratamento, quanto para
os profissionais, a busca por fortalecer as relações sociais, o testemunho
das histórias de vida e, sobretudo, as questões endereçadas por cada
sujeito.
O encontro com a loucura durante o curso de graduação não só
transformou nossas visões de mundo, como evidenciou a singularidade
do sujeito mediante às complexidades das relações sociais,
possibilitando repensar os estigmas surgidos no contexto da loucura e a
produção de novas apostas. Por fim, conclui-se que o estágio produziu
em nós uma outra forma de lidar com a loucura: ao invés de tomá-la
como obstáculo à construção de processos subjetivos, a maneira
singular de um sujeito se constituir na palavra.

207
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A formação política dxs psicologxs e os impactos na atuação de base


antimanicomial

Giulia Natália Santos Mendonça


UNB - Universidade de Brasília

Vivianni de Matos Gama


Movimento Pró-Saúde Mental DF

Introdução: Trata-se de um relato de experiência que se


consolida a partir da reflexão e implicação de duas psicólogas clínicas,
que se formaram em instituições privadas no Distrito Federal e
militantes de um Movimento Social de Saúde Mental que se pretende
antimanicomial. A experiência se dá a partir de um espaço de discussão
e formação construído neste coletivo. A constituição deste para ambas
se inicia a partir do questionamento do próprio lugar de saber e de
como esse se dá, ainda na formação acadêmica. Descrição da
experiência: Discute-se as bases políticas do curso de psicologia e/ou a
ausência delas, bem como as contradições existentes na concepção de
saúde mental, que se torna em alguns vieses uma técnica de controle de
transtornos mentais ou comportamentos ditos “desviantes”, uma
psicologia que tropeça ao entender a saúde mental concebida
interdisciplinarmente, e pela fragilidade de contextualização, por vezes
usa a técnica para atuar em função da doença, no controle de corpos e
subjetividades, perspectiva que não corrobora com a promoção de
saúde, circunscritas neste campo de atuação. O processo de
desinstitucionalização perpassa também pela ideia de repensar os
saberes “psi”. A atuação antimanicomial não se trata portanto, de uma
prática clínica ou uma intervenção, mas de um projeto de sociedade
comprometido politicamente, com a liberdade de existências, a garantia
dos direitos humanos e o diálogo com o corpo social. Entendendo que
garantia de direitos humanos e expressão de subjetividade implicam em

208
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

discutir modelos de sociedade e também dialogar sobre pautas que se


configuram como discriminatórias, tais como racismo, feminismo,
homofobia, entre outras transversais. Repercussões: Tal espaço de
significação coletiva, composto por outros membros do mesmo
movimento social vem permitindo dimensionar a importância de
espaços de formação que se consolidam para além dos muros da
universidade, que estão nos movimentos sociais, nas trocas com os
territórios, com a historicidade, com as políticas públicas, com a
seguridade social, com os atravessamentos políticos (neste caso,
também os partidários), às dimensões da vida e do viver. Considerações
finais: Desta forma, ao compartilhar tais percursos, busca-se ampliar o
paradigma da psicologia enquanto - ciência que responde sobre a
mente-, e ainda, refletir sobre a dicotomia corpo-mente-social, partindo
de um entendimento biopsicossocial, para também pensar os impactos
desta cisão nas produções teóricas e práticas da atuação da psicologia,
enquanto instrumento de produção de saúde. Além de ampliar o debate
para o conceito de que práticas antimanicomiais não são somente as
realizadas dentro de ambientes de desinstitucionalização, mas algo que
vai além e implica na atuação profissional.

209
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A função do Grupo de Referências na clínica em Álcool e Drogas:


considerações iniciais da experiência de Niterói/RJ

Maycon Rodrigo da Silveira Torres


Hospital Psiquiátrico de Jurujuba

Introdução: A inclusão da atenção aos usuários de álcool e


outras drogas nas políticas públicas em Saúde Mental e a estruturação
da Política de Redução de Danos efetuou mudança de paradigma na
compreensão do sofrimento psíquico associado ao uso de substâncias
psicoativas. A implementação dos Centros de Atenção Psicossocial para
usuários de Álcool e Drogas (CAPSad) e a formalização da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) com a inclusão de estratégias de cuidado a
esta população priorizou Atenção Básica e ações no território. Ainda
permanece dificuldade das equipe e serviços em produzir cuidado para
as pessoas com sofrimento associado ao uso abusivo de drogas, com
redução de acessibilidade e aumento de encaminhamentos de baixa
resolutividade.
Objetivo: Visa-se fazer considerações iniciais de um relato de
experiência do município de Niterói/RJ com o “Grupo de Referências
AD”, com destaque para os analisadores de sua criação e sua função de
construção da rede.
Descrição: O Grupo foi criado pelo CAPSad como forma de exercer seu
mandato clínico-político institucional e trabalhar a organização da RAPS
junto dos demais dispositivos. As figuras dos profissionais “Referência
AD” são psicólogos dos CAPS, ambulatórios de saúde mental e da
enfermaria de internação psiquiátrica atuam como catalisadores das
demandas de cada serviço e a construção da rede a partir da discussão
das situações clínicas. Os encontros são mensais e incluem pautas pré-
agendadas, situações emergenciais e informes.
Repercussões: Destaca-se período em que os CAPS II do município
iniciaram movimento de encaminhamento para CAPSad de grande

210
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

número de casos de usuários com outros transtornos mentais sob a


justifica de haver a necessidade de tratamento específico para o uso de
drogas independente de outros diagnósticos. Este fato serviu como
analisador para discutir a permanência da lógica diagnóstica psiquiátrica
em detrimento à atenção psicossocial, que propõe cuidado integral
centrado na singularidade. O grupo se articula como espaço de manejo
da suposição de saber especializado ao construir coletivamente
propostas de ações para os projetos terapêuticos singulares. A lógica de
matriciamento, inicialmente associado à atenção básica, mostra-se
eficaz juntos aos próprios dispositivos de saúde mental. Nota-se
dificuldade das equipes de todos os dispositivos em manejar situações
associadas ao uso de drogas, seja por compreensão de que o uso de
drogas influencia nos transtornos mentais, seja pela crescente violência
social. Isto produz sobrecarga nos profissionais que ocupam o lugar de
referência.
Considerações finais: A compreensão do uso de drogas como um
transtorno mental autônomo se mantém operante na prática cotidiana
em saúde mental e a criação da categoria de especialistas tende a
reforçar a lógica de tratamento a partir de diagnósticos e não da
subjetividade. O compartilhamento de responsabilidade entre as
Referências AD auxilia o trabalho intra e inter equipes. Levantam-se
hipóteses para maiores reflexões da formação dos profissionais atuantes
na RAPS.

211
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A importância da escuta e do acolhimento para qualidade de vida de


estudantes universitários: relato de experiência de um grupo de
extensão de graduandos de psicologia

Kátia Cordeiro Antas


UNIVASF - Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco

Silvana Carneiro Maciel


Matheus Henrique Cardoso da Silva
Kátia Cordeiro Antas
Universidade Federal da Paraíba

A partir das mudanças naturais do processo de desenvolvimento,


seguida da inserção nos mais variados contextos que fazem parte do
cotidiano, a exemplo do contexto acadêmico, é possível observar que as
dificuldades enfrentadas pelo estudante podem afetar sua qualidade de
vida e, consequentemente, sua saúde mental. Diante disso, o projeto de
extensão do qual trata este relato de experiência, teve como objetivo
oferecer serviços que promovessem apoio aos estudantes, além de
debates referentes à Saúde Mental dos seus discentes. Assim, surgiu o
plantão de acolhimento, um tipo de intervenção psicológica, executado
pelo o Grupo de acolhimento Psicológico ao Estudante (GRAPE) que
oferecia acolhimento aos estudantes universitários do campus I da UFPB
que se encontravam em sofrimento psíquico e buscavam este serviço.
Teve duração de abril a dezembro do ano de 2019. Além dessas
atividades, o GRAPE desenvolveu três Fóruns de Discussão sobre Saúde
Mental Estudantil, realizou um mapeamento da rede de serviços à saúde
mental em João Pessoa, participou, a convite, de eventos realizados por
outros campus da UFPB, bem como outros da mesma natureza. E ainda
desenvolveu uma conta no Instagram como forma de registrar e divulgar
as atividades desenvolvidas no e pelo projeto, além de promover
reflexões no que se refere à Saúde Mental no contexto universitário. O
presente projeto obteve resultados satisfatórios ao propor diversas

212
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

atividades referentes à prevenção e promoção da saúde, suscitando


debates e rodas de conversas acerca de temas comuns à comunidade
acadêmica como forma de contribuir para a rede de assistência à saúde
estudantil no âmbito da UFPB. Importante destacar também a
contribuição deste projeto no processo de formação dos discentes
colaboradores através de atividades específicas voltadas para os
mesmos, a exemplo do role play e da tenda do conto. Essas atividades
foram voltadas ao seu refletir como profissional de psicologia em
formação, e suscitaram em testemunhos dos ganhos obtidos durante
esta vivência.

213
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A importância de dispositivos complementares para familiares de


dependentes como rede de apoio no co-gerenciamento e no auto-
fortalecimento de suas vivências: um relato de experiência no CADEQ
em Vitória, ES.

Nicole Costa Lopes


Silvany Barbosa Agostinho Rodrigues
Nielson Ernobis Vicentini

Como realidade crescente e acentuado consumo e recaída do


dependente químico devido o atual cenário do COVID-19, desperta-se,
consequentemente, a necessidade de reflexões sobre a implicação ao
familiar afetivamente envolvido. Uma vez que dentro do contexto
político-social brasileiro, em específico, o capixaba, onde consta-se
apenas com a ESF (Estratégia de Saúde a Família) e com os CAPS’s
(Centros de Atenção Psicossocial) como promoção do cuidado a saúde
mental também do familiar de dependentes, evidencia-se a emergência
de estratégias complementares no que tange a saúde pública. Dada a
lacuna na disponibilidade de dispositivos político-sociais, outras
instituições – como as religiosas, as ONG’s e os AA’s – por consequência,
surgem como portas de acesso ao cuidado em saúde mental de
familiares dos dependentes supracitados. De forma efetiva e
significativa, alguns destes dispositivos alcançam estas famílias – e
permitem a interação entre estas – com práticas integrativas e
complementares, utilizando a arte como recurso de expressão, bem-
estar e espiritualidade, bem como com a participação voluntária
multiprofissional. Dentre os dispositivos supracitados, na cidade de
Vitória, no Espírito Santo, conta-se, em parceria com a Primeira Igreja
Batista de Jardim Camburi, com o projeto CADEQ (Centro de Apoio a
Dependentes Químicos). Existente desde 2001, o projeto CADEQ possui
uma equipe com enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas
e conselheiros espirituais, contando, também com acadêmicos
estagiários das áreas acima citadas – sinalizando, aqui, o início da nossa

214
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

experiência com o campo. O projeto dispõe, dentre outras, de


atividades em grupo e/ou individual aos dependentes químicos, bem
como dispõe de atividades voltadas ao apoio e orientação aos familiares
envolvidos. Como programa de estágio, participamos de um projeto
nomeado “As Poderosas”, antes realizado presencialmente e sendo
atualmente por meio do aplicativo WhatsApp (dada a necessidade de
reorganização devido ao atual contexto do COVID-19), todas as terças-
feiras, às 15h. Nesse encontro, mães e demais familiares (em suma,
mulheres) que vivenciam a experiência da dependência (ainda que
indiretamente afetadas) se reúnem, sob mediação do profissional
assistente social e demais estagiários, a fim de compartilharem suas
experiências e discutirem a respeito de temas levantados acerca do
lugar do codependente. Através da coparticipação e cooperação, as
atividades são organizadas objetivando psicoeducação, diálogo e escuta
terapêutica, uma vez que o acolhimento mútuo se configura, dentro da
ciência psicológica, como técnica suprema. Em participação a este
grupo, foi possível identificar relatos de aprendizado, bem-estar e
autoconhecimento, como: “não dá pra lidar com esta doença
isoladamente”; “realmente é gratificante beber dessa fonte”; “essa
troca de experiências e conhecimento, é simplesmente fantástica!”;
“saímos para enfrentar as nossas batalhas com mais serenidade”, etc.
Em nossa percepção, os impactos positivos do grupo terapêutico são
promovidos por sua funcionalidade nas trocas de estratégias de
enfrentamentos, principalmente, por meio do compartilhamento de
informações entre os familiares, os quais possuem experiências de
vivências semelhantes. Concluímos assim, nosso relato de experiência,
denotando a importância desses dispositivos como rede de apoio no co-
gerenciamento (onde cada um dos participantes desenvolve-se como
gestores de suas próprias vivências) e no auto fortalecimento de tais
familiares.

215
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Importância Do Coletivo Abrasme No Maranhão Em Tempos de


Resistência

Luara Christina Silva Matos


Talita Raquel Rodrigues Ataíde

INTRODUÇÃO: Historicamente, o Maranhão viveu durante anos refém


de governos oligárquicos, o que contribuiu para um grande atraso
político, econômico e social no estado. Assim, diversos setores de
atenção em saúde mental se constituíram de forma fragilizada, o que
implica na necessidade de iniciativas que busquem promover discussões
e intervenções acerca destes setores, visando a constituição de um
cuidado humanizado, antimanicomial e promotor de dignidade humana.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Em agosto do ano de 2019, foi oficializado
o coletivo maranhense da ABRASME, que promoveu no estado a
realização do primeiro seminário internacional de saúde mental e
direitos humanos, assim, como outros eventos e participações em
campanhas e iniciativas de outras instituições, coma finalidade de
promover debates e intervenções voltadas para a preservação dos
direitos humanos, das políticas públicas e da luta antimanicomial. O
movimento de resistência antimanicomial promovido pelo coletivo
consiste em promover diálogos de conscientização com as instituições
legais e com os cidadãos, através da elaboração do discurso de que os
portadores de transtornos mentais não representam ameaça ou risco ao
convívio social. Ao contrário disso, o meio social seria um grande
componente para sua recuperação. Dessa forma, se faz necessária,
também, a promoção de uma reeducação no modo de compreender os
transtornos mentais, vendo-os não como um estigma, mas como um
modo alternativo de ver, estar e vivenciar o mundo. REPERCUSSÕES: São
diversos os impactos e, resultados, promovidos pelas iniciativas do
coletivo na busca pela promoção de saúde mental. Dentre estes, a
abertura de espaços para reacender discussões e resistências
antimanicomiais, acerca de temáticas pouco abordadas e preteridas no

216
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estado, mas que são de suma importância para a formação e atuação


dos profissionais da saúde mental, dos usuários dos serviços e dos
cidadãos de um modo geral. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tendo em vista
estes aspectos e a atual situação sócio política brasileira, observa-se que
a experiência das atividades promovidas pelo coletivo Abrasme têm sido
de grande importância para a busca da garantia de direitos, da
promoção de cidadania e de resistência antimanicomial. E, também,
para a frequência de abordagem das temáticas propostas pelo coletivo.

217
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A importância do empoderamento dos usuários do CAPS ad do


município de Abreu e Lima

Eroneide Maria de Moraes


Elma de Carvalho Malta Diniz
João Henrique Medeiros Priston
Ariana Elite dos Santos
Secretaria Municipal de Saúde de Abreu e Lima - PE

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial para álcool e outras


drogas (CAPS ad) atende indivíduos com transtornos mentais
relacionados ao uso abusivo de álcool e outras drogas através da
articulação entre o cuidado clínico com os programas de reabilitação
psicossocial, e como serviço de reintegração social que planeja metas é
um caminho importante para este processo grupos que estimulem a
autonomia. Neste serviço são oferecidas várias atividades/grupos
terapêuticos, um deles é o Grupo Projeto de Vida.
Descrição da experiência: Este relato de experiência foi desenvolvido
observando e analisando as atividades realizadas no grupo Projeto de
Vida. Este grupo tem como objetivo estimular, fortalecer e compreender
a importância de sua própria identidade envolvendo uma escuta
qualificada que mostra a transformação do usuário a partir da
construção de uma concepção compartilhada da história de cada
usuário. No grupo os relatos dos usuários são compartilhados e vão
além de um projeto, mostrando um novo sentido de viver. O CAPS ad
atende a população acima de 14 anos de ambos os sexos que fazem uso
abusivo de álcool e outras drogas, funciona de segunda a sexta das 8h às
17h e atende por demanda espontânea ou encaminhada de outros
serviços. O Grupo é realizado semanalmente no CAPS ad do município
de Abreu e Lima – PE, no turno da manhã e no turno da tarde, com
duração de 50 min., por psicólogos, assistentes sociais ou enfermeiros,
onde os usuários participam e planejam seu projeto de vida, praticando
as atividades abordadas durante o grupo fora do espaço CAPS

218
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

contribuindo assim para mudança de estilo de vida e reinserção social. O


objetivo deste relato é analisar a influência do grupo Projeto de Vida nos
usuários do CAPS ad na reinserção social e observar a reformulação de
valores e hábitos contribuindo para mudanças no estilo de vida.
Repercussão: Percebemos que antes do grupo os usuários
demonstravam-se desmotivados, sem perspectiva de vida, sem hábitos
saudáveis, e que durante a participação no Grupo Projeto de Vida foi
observado que os usuários passaram a planejar, organizar, praticar
novos hábitos e reforçar os laços afetivos com seus familiares. Foram
identificados vários pontos positivos como adesão ao tratamento no
CAPS, autoestima, fortalecimento dos vínculos familiares, inclusão
social, mudança do estilo de vida, onde a maioria atingiu os objetivos
propostos e demostraram o interesse em retornar as atividades
colaborativas.
Consideração finais: Observou-se que o Grupo Projeto de Vida colabora
para a mudança de hábito e estilo de vida, estimulando o usuário a criar
novos hábitos saudáveis, novos vínculos e metas, longe do uso de ad
reinserindo o indivíduo na sociedade e no seio familiar.

219
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A importância do vínculo no combate e na prevenção do suicídio


em duas escolas estaduais de Fortaleza:
um relato de experiência de campo

Iana Maria Alves Abreu, Iana Maria Alves Abreu


Sabrina Jéssyca da Mata Uchôa
Universidade Estadual do Ceará

O Núcleo Interdisciplinar de Intervenções e Pesquisa Sobre a Saúde da


Criança e do Adolescente (NUSCA) do Curso de Psicologia da
Universidade Estadual do Ceará, iniciou no final do ano de 2018
intervenções cujo o foco foi o combate e a prevenção do suicídio em 15
escolas estaduais no município de Fortaleza, com duração de seis meses.
Essa intervenção aconteceu pela parceria com a Secretaria de Educação
do Estado do Ceará (SEDUC) devido o número crescente de casos entre
os adolescentes. As demandas eram diversas, logo, antes da realização
da intervenção foi realizado uma reunião com os gestores das 15
escolas, passando assim, ater conhecimento breve da realidade que
esses passam. Vale salientar que o público atendido e as escolas onde
esses estudam são localizadas em bairros periféricos, logo os
adolescentes enfrentam as questões de vulnerabilidade social, sendo
essa uma das demandas apontadas pelos gestores da escola. Além disso,
foi apontado a automutilação, uso de álcool e outras drogas, falta de
esperança, o forte sentimento de solidão, baixa autoestima, ansiedade,
depressão e outros. Os encontros eram semanais, e se faziam presente
como mediadores três alunos de diferentes semestres. Foi ao longo dos
encontros que podemos perceber a importância da construção de
vínculos para a manutenção e permanência do grupo terapêutico. Vale
ressaltar que os encontros eram trabalhados temas relacionados a
demanda apresentadas como citado acima, na forma de dinâmica e logo
após uma roda de conversa, onde eram livres. Os adolescentes ali
presentes eram de diferentes idades e serie, logo, os dois grupos eram
bem misto. Tendo em vista a diversidade dos grupos foi necessário

220
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

reforçar o respeito, já que muitos ali já tiveram ou teve alguma


divergência. O vínculo se tornou importante em diversos aspectos nos
grupos, e foi construído através de um novo olhar daqueles
adolescentes ao acolher a dor do outro, ter empatia pelo o sofrimento
do colega, o forte sentimento de tentar ajudar, de poder amenizar o
sofrimento do outro. Ao longo dos encontros o grupo se abria mais, pois
se sentiam confiança, e assim o vínculo foi se construindo e eles
começaram a se ajudar. Todo esse vínculo foi importante para que o
grupo terapêutico se torna cada vez mais uma potência, foi detectado
novas demandas. Existiam jovens no grupo que não tinham nem um
amigo na escola, nem mesmo fora do ambiente escolar, e ao longo dos
encontros foi se identificando com os presentes e formando novos
laços, os mesmos relatam que a falta de um ombro amigo para
conversar os levavam a tomar outras medidas para amenizar o
sofrimento, como, o uso de álcool e a automutilação. Assim, o vínculo se
tornou uma das maiores potências nos grupos para a prevenção do
suicídio, ter amigos que te escutam, que vão te escutar, poder ajudar a
enfrentar os problemas que os afligem. E o mais importante saber que
eles não estavam sozinhos, que existe um outro capaz de entender o
que estava passando, e está ali com eles confortando.

221
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A influência do Grupo Família na adesão ao tratamento no CAPS ad no


município de Abreu e Lima

Elma de Carvalho Malta Diniz


Eroneide Maria de Moraes
Ariana Elite dos Santos
João Henrique Medeiros Priston
Secretaria de Saúde do Município de Abreu e Lima

Introdução: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) fazem parte da


Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e são constituídos por equipe
multidisciplinar que prestam serviços de saúde de caráter aberto e
comunitário às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo
aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas,
seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial.
A família é a base de formação para qualquer indivíduo, é a primeira
sociedade que convivemos, sendo fundamental no tratamento de
dependência química.
Descrição da experiência: Este relato de experiência foi desenvolvido
através de observação e análise das atividades realizadas no Grupo
Família e das evoluções em Livro de Registro num período de 01 ano
(2019), com o objetivo de analisar a influência do Grupo Família na
adesão dos usuários do tratamento. Foi realizado no CAPS ad do
município de Abreu e Lima - PE, onde atende um público específico de
usuários de ambos os sexos, a partir dos 14 anos, que fazem uso abusivo
de álcool e outras drogas. O serviço funciona de segunda à sexta-feira
das 8h às 17h na modalidade dia e atende por demanda espontânea ou
encaminhada de outros serviços. No CAPS ad são oferecidas atividades
individuais e grupos terapêuticos, um destes é o Grupo Família. A
proposta do Grupo Família é acolher o familiar e suas demandas com a
finalidade de reduzir as angústias decorrentes da dependência química
no ambiente doméstico. Os principais objetivos são estimular o vínculo e
o afeto entre os membros da família e o usuário, orientar quanto às

222
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

características da dependência química, conhecer a percepção do


familiar em relação ao usuário, aumentar a adesão e atender demandas
gerais e dúvidas que possam contribuir para o tratamento no serviço e
aumentar a adesão ao tratamento. Este grupo é realizado
semanalmente, com duração de 60 minutos, por 1 psicólogo ou 1
enfermeiro, tendo como público os familiares dos usuários do serviço.
São realizadas estratégias de escuta de demandas espontâneas e
atividades direcionadas.
Repercussões: Observou-se que nos primeiros encontros, os familiares
não tinham conhecimento prévio dos transtornos causados pela
dependência química e expressavam sentimentos de vergonha, culpa e
baixa autoestima. Com o espaço de acolhimento, os participantes
demonstraram mudanças consideráveis, expressando esperança e
fortalecimento dos vínculos familiares, o que colaborou efetivamente
para a adesão ao tratamento.
Considerações finais: A família exerce um papel importante no
tratamento do dependente químico, sendo apoio e sustentação. A
participação da família no grupo Família é fundamental para a
efetivação do tratamento, sendo importante estratégia de cuidado aos
familiares de dependentes químicos, apresentando-se como ferramenta
a ser utilizada na promoção do cuidado prestado, na prevenção,
promoção e recuperação da saúde de indivíduos e grupos sociais. É uma
ferramenta de atenção em saúde colaborando para a assistência
acolhedora e humanizada.

223
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A inseparável relação entre cuidado psicossocial e cidadania: relato de


um encontro necessário

Marcelo Souza Oliveira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão
Pernambucano - IF Sertão

Irlis de Sá Teles
Prefeitura Municipal de Itaberaba

Os dispositivos que fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),


enquanto serviços substitutivos, e inseridos no Sistema Único de Saúde,
devem ser resolutivos e possibilitar um cuidado integral e qualificado.
Nessa perspectiva, os ambulatórios de saúde mental precisam se
adequar às demandas da população atendida, possibilitando a
efetivação de ações coletivas, que favoreça o desenvolvimento da
cidadania, buscando a autonomia do usuário enquanto protagonista do
seu processo de cuidado. O presente trabalho refere-se a um relato de
experiência, abordamos a implantação de um processo terapêutico
grupal, que teve como objetivo maior a criação de um espaço com foco
no desenvolvimento da cidadania e do cuidado psicossocial, tendo como
alvo pessoas em situação de vulnerabilidade social. Essa experiência
ocorreu em município do interior do Estado da Bahia, em um
ambulatório psicossocial. Como princípio metodológico para o
planejamento e desenvolvimento dos grupos utilizou-se a Educação
Popular em Saúde. O público-alvo do grupo foram homens adultos, em
situação de vulnerabilidade social, desemprego, e sofrimento psíquico.
O referido público foi escolhido após a observação da equipe técnica do
serviço da existência de perfis identitários nos atendimentos individuais,
sendo este um dos destaques. Entre as repercussões observadas, cabe
citar: (i) o desenvolvimento de estratégias de cuidado e autocuidado; (ii)
a ressignificação de experiências traumáticas e elaboração de
estratégicas de enfrentamento; (iii) a reflexão e materialização de

224
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

conceitos relacionados às dimensões de cidadania, identidade, raça e


classe social; (iv) melhoria em diferentes aspectos no processo saúde-
doença dos participantes do grupo. Considera-se então que as práticas
de cuidado em saúde mental precisam estar amparadas na
compreensão da cidadania e do acesso a direitos básicos como
condicionantes essenciais do processo de saúde da população atendida.
Espera-se em breve ampliar a ação grupal aqui relatada, com a
participação de outros atores da rede de atenção psicossocial, bem
como a multiplicação de atividades em outros espaços, com atenção
especial aos diferentes territórios do município e suas especificidades.

225
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A inserção do pedagogo na saúde mental: educação terapêutica

Maria de Nazare Pereira Alves

As práticas educativas, junto a clientela em sofrimento psíquico trouxe


inúmeros resultados positivos como: alta melhorada, aprovação em
vestibular e concurso público dos usuários que foi comprovado
cientificamente no desenvolvimento de um trabalho de pesquisa
dissertativa de mestrado com o tema: "A inserção do pedagogo na
saúde, a partir da educação terapêutica lúdica, método pedagógica com
a pedagogia do projeto pautada na interdisciplinaridade, a partir de
referenciais teóricos: freiriano, vygostiano e foucaultiano. Objetivando
resgatar ao autoestima, os laços familiares e a inserção social da pessoa
em sofrimento psíquico, a partir de práticas pedagógicas, terapêuticas,
envolvendo temas centrais como: autoestima, autocuidado, cidadania,
ética, amor, respeito, equilíbrio, enfim, inúmeras questões cruciais a
convivência social consciente de seus direitos e deveres de cidadania. A
educação faz partir do desenvolvimento humano e os instrumentos
terapêuticos como metodologias educativas. A dissertação cujo tema a
inserção do pedagogo e das práticas interdisciplinares no tratamento de
pessoas em sofrimento psíquico: estudo de caso no Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) II CREMAÇAO / III GRÃO - PARÁ, a partir da inclusão
do pedagogo na equipe de multiprofissionais. Sabe-se que o profissional
da educação até pouco tempo só atuava no contexto escolar ou em
instituições de Secretarias de Educação, o organizações filantrópicas de
caráter sociais ou educativos, nunca no âmbito da saúde, menos ainda
na saúde mental, que só a partir de implementação de políticas públicas
em consonância com a Constituição Federal (CF) de 1988, Leis e
Decretos que regem tanto a educação como a saúde, mas
especificamente a saúde mental democratizam novas práticas de educar
e cuidar trabalhando o sujeito como um todo institucionaliza práticas de
várias saberes e conhecimentos possibilitando práticas interdisciplinares
e novas experiências, é que este profissional pode compõe esta equipe

226
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de multiprofissionais. A educação é um processo de construção humana


e formação de sujeitos está imbricada na produção de conhecimentos
científicos, tecnológicos, sociais e culturais, ou seja, a educação imbrica
na saúde e na saúde mental e em todas as esferas que envolve a
complexidade humana. Socializar no relato de experiência para outros
profissionais da mesma área, ou de outras áreas afins, contribuindo com
a troca de experiência na área da saúde mental.

227
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A interface entre a Síndrome de Ulisses e a perturbação de


ajustamento com reação depressiva em imigrantes brasileiros na
Flórida, EUA.

Samara Almeida de Freitas


Universidade de Taubaté - UNITAU

O objetivo do trabalho foi verificar por meio de instrumento de


avaliação de qualidade de vida proposto pela Organização Mundial da
Saúde a ocorrência da Síndrome de Ulisses ou Síndrome do Imigrante
com Estresse Crônico e Múltiplo em imigrantes brasileiros residentes na
Flórida, EUA.
A metodologia seguiu o esquema de entrevista pessoal a 20 imigrantes
brasileiros residentes no estado da Flórida, Estados Unidos, que
responderam as 26 questões que constam no instrumento de avaliação
de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100).
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). As respostas das 26 questões foram tabuladas e para
cada uma foram obtidas as seguintes medidas de posição: média
aritmética, moda e mediana.
A maioria das respostas em todas as 26 questões demonstram que os
entrevistados estão satisfeitos com a saúde, com o atendimento na área
da saúde e com o seu desempenho no trabalho. No entanto, 60%
afirmam que possuem sensações negativas advindas do processo de
migração. Com relação à sua qualidade de vida, 85% responderam que é
considerada boa. Os resultados demonstram que os imigrantes
entrevistados não apresentam estresse emocional relacionado às
dificuldades advindas do processo de adaptação ao novo, mas é
importante destacar que a Síndrome de Ulisses apresenta estado
depressivo leve e transitório com duração que não excede a 1 mês
decorrentes do período de adaptação a uma mudança existencial
importante e varia de acordo com a capacidade adaptativa. Quanto mais
adaptado a pessoa torna-se as mudanças, melhor sua qualidade de vida

228
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e há uma melhora significativa do seu humor. Vale salientar também a


importância da resiliência desses imigrantes advinda também da rede de
apoio que eles encontraram na comunidade brasileira no exterior, e não
o apoio por profissionais de saúde mental brasileiros.
A atenção ao imigrante brasileiro por parte do seu país de origem é de
fundamental importância, uma vez que esse imigrante é exposto a um
grande impacto cultural, linguístico e econômico. Esses impactos podem
desencadear abalos emocionais muito grandes que, se não tratados e
abordados por profissionais que deem suporte, amparo e acolhimento
pode trazer abalos na saúde mental do imigrante brasileiro. Por fim,
conclui-se que muitos imigrantes são resilientes aos impactos advindos
da migração, mas há uma necessidade muito grande de profissionais de
saúde mental preparados para dar suporte a esses cidadãos que
padecem por descaso e abandono em outro país.

229
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A intersetorialidade entre o Centro de Atenção Psicossocial Jorge Luis


Camargo – CAPS I e a secretaria de esportes

Maria José da Silva


Vanicléia do Carmo
Maria José da Silva
Centro de Atenção Psicossocial Jorge Luis Camargo - CAPS I

Os Centros de Atenção Psicossocial - CAPS constituem os principais


pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS e são uma
estratégia da reforma psiquiátrica brasileira, iniciada na segunda metade
da década de 70, que propõe a substituição do cuidado
hospitalocêntrico para o tratamento em liberdade. Neste sentido, a
reabilitação psicossocial tem seu setting na comunidade e no meio
familiar. A experiência a ser relatada é composta pelo “Grupo de
Caminhada Terapêutica” e “Grupo de Futebol” que ocorreram entre
2015 e meados de 2019 no CAPS Mairiporã em intersetorialidade com a
Secretaria Municipal de Saúde e a Secretaria Municipal de Esportes,
Cultura e Lazer. A faixa etária dos participantes era de 18 a 60 anos de
idade, com diagnósticos distintos. A terapeuta ocupacional
acompanhava o “Grupo de Futebol” e a psicóloga o “Grupo de
Caminhada”, em conjunto com um outro técnico ou estagiário e um
educador físico, este responsável pelo alongamento e treino de futebol.
A frequência das atividades era semanal, com duração de duas horas e
participavam de 10 a 15 usuários. Atualmente os profissionais de
enfermagem assumiram os dois grupos. No “Grupo de Futebol”
destacaram-se o protagonismo dos participantes, mudança de lugar de
pessoa com sofrimento psíquico para lugar de jogador, habilidade em
lidar com conflitos e frustrações, melhora das funções cognitivas,
compreensão de regras, influência positiva na autoestima, envolvimento
na organização dos torneios de futebol, e em banco reserva, incentivo a
acompanhar o jogo visando aprendizagem e treino. O “Grupo de
Caminhada” era uma atividade aberta à comunidade e contava com a

230
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

participação de familiares. A caminhada é uma modalidade de atividade


física com poucas restrições, aumenta a disposição e a sensação de bem
estar percebido no retorno ao serviço, propiciando a interação verbal
entre usuário e profissional durante o percurso facilitando a expressão
de conteúdo que talvez não seria exposto em outro tipo de
atendimento. Ambas as atividades, por serem realizadas no território
favoreceram a apropriação do espaço, maior interação interpessoal,
adesão ao tratamento e comprometimento, sentimentos de
“pertinência” e “pertencência”, organização da rotina e de atividades de
vida diária, redução de danos voltada ao tabaco, autonomia e
independência, prática corporal, envolvimento da família
(principalmente nos torneios), promoção de saúde, diminuição do
estigma, fortalecimento do protagonismo e a prática da micropolítica
nas ações de cuidado no território. Estas atividades físicas foram
positivas tanto nos aspectos supracitados quanto em relação a
intersetorialidade com a Secretaria de Esportes. Tendo em vista que a
saúde mental deve ser construída a partir do território e com a
participação de outros agentes que oportunizem este cuidado, a
aproximação dos profissionais das duas secretarias foi positiva e pôde
trazer inserção dos usuários em outros espaços comunitários. Os
torneios de futebol externos promoviam a representatividade do
município pelos usuários. Existem poucos relatos na literatura de
experiências relacionados ao tema da intersetorialidade entre saúde
mental e o esporte, porém sendo a prática de atividade física uma
importante ferramenta de cuidado em saúde, esta não pode estar
ausente nas atividades de reabilitação psicossocial.

231
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A ludicidade como estratégia de saúde mental de professores e alunos

Kelly Lene Lopes Calderaro Euclides


Prefeitura

Francilene Sodré da Silva


SEMED BENEVIDES PA

Naiza Nayla Bandeira De Sá


Universidade Federal do Pará

Introdução: A ludicidade é elemento fundante na constituição do Eu, e a


experimentação lúdica, quando direciona a determinados objetivos, e se
constitui em um dos aspectos mais importantes, não só no
desenvolvimento da criança como também no progresso da ciência. O
objetivo foi proporcionar uma vivência lúdica aos professores e alunos
da Educação Infantil da Rede Municipal de Educação de Benevides, Pará,
Brasil com apreciação de espetáculo circense foi a proposta da
Secretaria de Educação de Benevides. Descrição da experiência: A
atividade foi realizada em dezembro de 2019, na cidade de Benevides,
Pará, especificamente, com professores e alunos da Educação Infantil.
Professores, professoras, alunas e alunos foram ao espetáculo de circo,
para desenvolver de forma lúdica o processo de aprendizagem, assim
como, cuidar de forma salutar da saúde mental de ambos os participes
desse processo. O projeto foi voltado para favorecer o enfoque que o
trabalho, em educação, não seja só uma prática técnica, com
conhecimentos estruturados, mas como prática de relações, um
trabalho que vai se construindo num processo dinâmico, de interação
entre pessoas e as condições do meio em que se inserem, configurando
uma realidade cheia de dores e sofrimentos, alegrias, sonhos e desejos,
encontros e desencontros, instituições, tecnologias, saberes e crenças.
Resultados: Foi um momento que ficou eternizado para professoras,
professores, alunos e alunas. Renovou o caminhar do processo

232
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

educativo da Rede, assim como trouxe depoimento de professores que


relataram ser fundamental a ludicidade na vida da escola, do docente e
discentes. Trata-se de tornar salutar a saúde mental deste público.
Considerações finais: Atualmente, 95% dos professores possuem
distúrbios neurológicos, alterações de saúde física e mental. Acredita-se
que a promoção da saúde do professor necessita acontecer na própria
escola, entre seus pares, e passa necessariamente por novos modelos de
organização, sendo uma estratégia coletiva de cuidado em saúde
mental. É uma questão que não pode ser analisada apenas no nível da
individualidade a qual, não exime a responsabilidade das políticas
públicas em viabilizar tal atividade.

233
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A mandala de saberes e a sexualidade da mulher idosa

Jose Manoel Angelo


Centro de Atenção Psicossocial AD

Maria Socorro Alécio Barbosa


Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Kelly Cristina do Nascimento


Wallacy Araújo
Eliane Maria Ribeiro de Vasconcelos
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Introdução: O envelhecimento populacional é um fenômeno observado


mundialmente, refletindo em alguns indicadores de saúde como o da
fecundidade e da mortalidade.
Descrição de experiência: Trata-se de um relato de experiência em
forma de roda de conversa, com 24 mulheres idosas, entre 60 a 80 anos,
de uma associação de melhor idade em Maceió. A Mandala dos Saberes
trabalha os oito pilares: ancestral, presente, intuitivo, espiritual, cultural,
histórico, humano e popular.
Repercussão: Os ligantes da liga acadêmica de saúde da mulher e de
gerontologia da UNINASSAU, após apresentação ao grupo das idosas,
organizaram o ambiente em forma de círculo, colocando a mandala dos
saberes (tecido) no chão, ao centro da roda usando os 8 pilares:
ancestral, presente, intuitivo, espiritual, cultural, histórico, humano e
popular. No meio da mandala foram dispostos objetos e imagens
retiradas da internet sobre sexualidade: idosos abraçados, caminhando
juntos, beijando na boca, de roupa íntima, dançando, dançando sozinha,
passando hidratante na perna, com a família, rezando e estudando.
Depois de explicado ao grupo a funcionalidade, cada mulher poderia ir
levantando a mão e falar sobre cada pilar discutido por vez. Cada mulher
expôs suas dificuldades, alegrias, em momentos onde algumas

234
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

demonstraram suas emoções com diversos sinais significativos e


expressivos próprios de um ser humano que ama, que chora, que sofre a
procura de ser feliz, desde risadas, gargalhadas, outras um pouco
tristonhas e saudosas pela perda de seus companheiros como óbito,
divórcios. Como o grupo nunca havia trabalhado por meio de mandala
de saberes, relataram sentirem-se livres e com voz para expressarem
sua sexualidade por meio desta ferramenta educativa.
Considerações Finais: A Mandala dos Saberes no grupo, dar vez e voz as
idosas sobre a sexualidade, considerando seus princípios voltados a
Educação Popular em Saúde. Relataram seus medos, tabus, crenças e
cultura. O tabu da sexualidade parece descender de raízes mais
profundas como as crenças e os mitos, que exerceram significativa
influência em suas práticas sexuais, vivendo uma sexualidade baseada
em convicções errôneas, ideias falsas, prevalecendo o machismo dos
companheiros desencadeando consequências irreversíveis, como a
gravidez precoce favorecendo o risco para contrair DST.

235
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Ocupação "IBGE"/Mangueira e os desafios do cuidado territorial em


Saúde Mental

Brenda Sabaine Rodrigues


CAPS UERJ

Durante mais de dez anos, um prédio desativado do IBGE, no bairro da


Mangueira - RJ, foi ocupado espontaneamente por centenas de famílias
em condições de vulnerabilidade social e econômica que buscavam
moradia. Convivendo com toda a complexidade apresentada pelos
problemas estruturais apresentados pelo prédio, ao longo deste período
desenvolveram-se sistemas coletivos de funcionamento e importantes
laços entre as pessoas que ali conviviam. Em 2018, dando certa
continuidade às políticas massivas de desocupação efetuadas pelo ex-
prefeito Eduardo Paes na época dos grandes eventos esportivos, o
prefeito Marcelo Crivella visitou o prédio e anunciou a reintegração de
posse a ser efetuada pela Prefeitura, com posterior construção de um
conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida no mesmo local, onde as
famílias seriam reassentadas após 1 ano, recebendo aluguel social
durante este período. A construção foi implodida em Maio do mesmo
ano e as famílias retiradas do local através de ação policial, porém até
hoje ainda não há nem mesmo previsão para o início das obras do
conjunto habitacional. Os serviços de saúde do território avaliam grande
impacto subjetivo provocado pelo processo de desterritorialização em
curso. A partir de minha inserção no CAPS UERJ enquanto residente em
Saúde Mental deparo-me com o caso de um jovem que vive seus efeitos
e busca a reconstrução de sua própria história.
A experiência da (des)ocupação da Mangueira aponta para a
imprescindibilidade de um planejamento do cuidado em Saúde Mental
que abarque as singularidades do território onde será implementada; a
necessária transversalidade entre atuação em serviços de saúde mental
e luta pela garantia de direitos humanos fundamentais, como políticas
de habitação democráticas e não higienizantes; além da importância de

236
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estratégias de promoção de Saúde que visem a afirmação de territórios


subjetivos que sofrem constantes tentativas de apagamento (neste
caso, inclusive a partir de uma demolição concreta) pelas políticas de
Estado.

237
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Pós-Graduação e os impactos à saúde mental em tempos de


pandemia: um relato de experiência

Luã Lincoln Menezes de Figueiredo


Rachel Coelho Ripardo Teixeira
Universidade Federal do Pará - UFPA

O adoecimento emocional ao longo da Pós-Graduação tem sido uma


realidade em diversos contextos e instituições. Fatores como
competitividade, excesso de exigências pessoais e/ ou do orientador,
dificuldade no manejo de tempo e tarefas e, ainda, ausência de cuidado
da saúde emocional, podem contribuir para que ocorram prejuízos à
saúde. O presente relato de experiência constrói-se com base na
atenção à saúde emocional dos acadêmicos da Pós-Graduação da
Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto de extensão intitulado
“Pós-Graduação: um ambiente saudável possível?”, conhecido como
Projeto Acolher, está em ação há dois anos e é vinculado ao Núcleo de
Teoria e Pesquisa do Comportamento (NTPC), localizado na UFPA. As
atividades do projeto consistem a) na realização Rodas de Conversa para
Pós-Graduandos; b) na participação em mesas redondas e demais
espaços; c) na organização de eventos e oficinas; d) na escuta clínica
individualizada quando solicitada; e e) na produção de conteúdo para
redes sociais, que abordam questões referentes à Saúde Emocional e
temáticas transversais à vivência acadêmica. O objetivo do projeto é a
criação de espaços seguros de escuta e acolhimento, compartilhamento
de vivências entre pares, e empoderamento de seus participantes,
assegurando sigilo e estando disponível para as demandas que surgem.
Aliado a isso, o projeto propõe-se a contribuir com o desenvolvimento
de habilidades necessárias para a solução de conflitos e melhor
aproveitamento do ambiente da Pós-Graduação. Ressalta-se que, em
função do cenário de pandemia da Covid-19, vivenciado no ano vigente,
foi preciso suspender as atividades presenciais enquanto durarem as
restrições sanitárias e recomendações dos órgãos de saúde a fim de não

238
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

promover risco à integridade das pessoas. Com o intuito de dar


continuidade às ações, o projeto tem desenvolvido atividades que sejam
viáveis a serem realizadas em meios virtuais. Desse modo, a exemplo, as
Rodas de Conversa passaram a ocorrer virtualmente e, destaca-se,
ainda, a notória receptividade das ações por meio das interações nos
perfis e feedback positivo dos participantes dos encontros. Por fim, com
o caminho trilhado até o presente momento e a validação pelo público-
alvo alcançado, o projeto defende a criação e manutenção de espaços
de acolhimento e socialização entre pares voltados à Pós-Graduação.

239
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A prática da palhaçoterapia como ferramenta no processo de


humanização profissional: um relato de experiência sobre o impacto
do Projeto Riso na formação em cursos da área da saúde

Rebeca Paiva Bezerra


Universidade Federal do Ceará - UFC

A prática da palhaçoterapia consiste numa intervenção artística em


meio hospitalar que assume como principal objetivo amenizar os
impactos causados pelo processo do tratamento das enfermidades,
além de firmar a proposta de uma atuação que funcione como um meio
auxiliar nos cuidados com o paciente em estado de hospitalização. É
através desta perspectiva que o Projeto Riso, atividade de extensão
vinculada aos cursos de Medicina, Odontologia e Psicologia da
Universidade Federal do Ceará, campus Sobral, se compromete na
execução de um trabalho voltado para a atenuação dos efeitos da
internação médica. O projeto atualmente efetiva suas ações nos
principais hospitais da cidade de Sobral, promovendo uma série de
atividades lúdicas que facilitam uma relação entre o enfermo e o doutor
palhaço, permitindo, dessa maneira, a experiência de um vínculo único
com o paciente. O Projeto Riso atualmente conta com a participação
ativa de 22 membros que baseiam seus futuros profissionais no
processo de humanização que a extensão proporciona através da arte,
onde estes passam por uma série de treinamentos antes de atuarem
diretamente nas instituições hospitalares, simplificando, desse modo, a
vinculação de trocas de afeto e preparando os estudantes para lidarem
com situações difíceis que possam surgir no ambiente hospitalar. Tendo
isto como base, é viável compreender que o processo de humanização
profissional pode ser percebido como um aspecto que se consolida de
modo mais eficaz quando trabalhado desde o período da graduação, e é
neste ponto que o projeto investe nas práticas e vivências humanizadas
aos estudantes, permitindo tanto o contato interprofissional dos cursos
da área da saúde da instituição, como trabalhando na promoção de um

240
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vínculo precoce entre o futuro profissional e o paciente de um modo


alternativo, onde o doutor palhaço consolida uma ligação com a pessoa
enferma valorizando sua autonomia, com foco no humano que ela
representa e não na enfermidade que a acomete.

241
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Resignificação do ser e do fazer do Enfermeiro como gestor do


cuidado: Rede de Atenção Psicossocial

Graziela Rosa Da Silva


Magali Eliane Basseti do Amaral

Introdução: As políticas de saúde mental direcionam para um novo


modelo de assistência com o portador de doença mental e com o
transtorno mental. Surgem os novos dispositivos de atenção em saúde
mental, formação de redes de serviços territorializadas e redes de apoio,
tendo como ponto central os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Para a enfermagem, esse cenário se torna mais abrangente e
diferenciado do modelo asilar, assistencial, visto que no CAPS o
enfermeiro obrigatoriamente deve compor a equipe mínima e precisa
pensar a prevenção como medidas de cuidados. Nesse novo panorama,
entra em cena o modo de atenção psicossocial, que defende ações
teórico-práticas, político-ideológicas e éticas que orientam a
substituição do modelo asilar e do paradigma psiquiátrico. No modelo
de atenção psicossocial a enfermagem trabalha em equipe
multiprofissional, onde o indivíduo é visto como uma pessoa em
sofrimento psíquico, e que precisa ter um tratamento que vise a
participação social. Ou seja, atualmente o enfoque não está centrado na
doença, mas no sofrimento da pessoa e na convivência com o social.
Tais mudanças no cuidado em saúde mental pressupõe que o trabalho
da enfermagem carece considerar a conjuntura social do sujeito, com
vistas à reinserção social. (CAMATTA; SCHNEIDER, 2009).
Objetivo: Ressignificar o ser e o fazer do enfermeiro na saúde mental e
proporcionar a
reflexão da gestão do cuidado no cotidiano do profissional de
enfermagem.
Método: A partir de relatos das experiências de duas enfermeiras
vinculadas a um programa de residência multiprofissional em Saúde
Mental. Inseridas no cenário da gestão do cuidado em saúde mental, a

242
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rede de Atenção Psicossocial, (RAPS). Versando assim, sobre o papel


que o enfermeiro desempenha na assistência e no cuidado direto para
com os sujeitos que possuem transtornos psiquiátricos (psicoses e
neuroses) e/ou dependentes químicos. Relacionando a enfermagem e o
perfil profissional da gestão do cuidado constituído pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCNs), as competências, as habilidades e os
conhecimentos para atuar no SUS.
Conclusão: Conclui-se que ao correlacionar o vivenciado nos campos
pelas residentes, em suas ações de gestão do cuidado, as competências
gerenciais da enfermagem (atenção à saúde, tomada de decisão,
liderança, educação permanente, comunicação, administração e
gerenciamento) observou-se que são parcialmente aplicadas no ser e no
fazer diário. E é importante que o enfermeiro usufrua das suas
competências e seja conhecedor das políticas públicas, para que tenha
consciência e trabalhe em equipe, de maneira a fomentar e assegurar
uma gestão humanizada do cuidado e integral do usuário. Por fim, é
importante ressaltar que essa atitude seja revista e aplicada em todas as
RAPS, potencializando e aprimorando assim o modo de cuidar em saúde
mental e enfermagem. Que seja realizado mais estudos a respeito do ser
e do fazer da enfermagem na gestão do cuidado.
Palavras-Chave: Saúde, Gestão, Enfermagem, Cuidado.

243
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Sala de Espera como ferramenta de Educação em Saúde no Centro


de Atenção Psicossocial Infantil

Luzianne Feijó Alexandre Paiva Guimarães


Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – Ceará

Antonia Kaliny Oliveira de Araújo


Ana Paula Brandão Souto
Centro de Atenção Psicossocial Infantil Maria Ileuda Verçosa

INTRODUÇÃO: O presente Relato de Experiência traz a utilização da sala


de espera como uma das possibilidades de tornar acessível às
informações necessárias ao desenvolvimento da corresponsabilidade no
cuidado à saúde dentre outras funções observadas ao longo da
execução da proposta. Necessidade esta surgida diante da grande
demanda a ser atendida por nosso serviço e da infindável lista de espera
somada a infraestrutura que apesar de adequada, arejada possui limite
físico de salas para atendimentos individuais e grupais; e na busca de
potencializar nossa assistência na otimização e qualificação do tempo de
espera da clientela e seus familiares. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A
utilização da sala de espera tem se dado cotidianamente de forma a
abranger nosso público-alvo, crianças e adolescentes de 4 a 17 anos
bem como, atenção aos familiares, cuidadores e responsáveis pelos
mesmos. Tendo como objetivos a serem alcançados, próprios a cada
grupo: Familiares e Cuidadores – por meio da disseminação de
informações e treinamento de habilidades necessárias ao progresso das
condutas terapêuticas de forma acessível, lúdica e envolvente. Crianças -
com intuito de propiciar um momento de estímulo ao adequado
desenvolvimento neuropsicomotor. Utilizando-se de atividades lúdicas,
expressivas, artísticas e culturais; circuitos psicomotores, brincadeiras
estruturadas, contação de histórias, entre outras. Pré-adolescentes e
Adolescentes - com objetivo de proporcionar um espaço para a
expressão dos sentimentos, retiradas de dúvidas, que promova a

244
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

interação com ouros adolescentes que perpassam por problemas


semelhantes realizadas por meio de atividades lúdicas, expressivas,
artísticas e culturais de forma a disseminar informações necessárias ao
progresso das condutas terapêuticas de forma acessível, lúdica e
envolvente. REPERCUSSÕES: A utilização da sala de espera vem
proporcionando além do desenvolvimento da corresponsabilidade no
cuidado à saúde, identifica-se uma versatilidade de objetivos dessa
ferramenta, como: busca ativa, suporte ao tratamento e atenção
disponibilizados no serviço, bem como, é perceptível também que em
serviços que a ofertam provoca nos usuários/pacientes um ambiente
humanizado, harmônico e mais produtivo, evitando possíveis conflitos,
reivindicações em proporções desmedidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A
educação em saúde realizada na sala de espera do Centro de Atenção
Psicossocial Infantil Maria Ileuda Verçosa, tem sido muito produtiva,
pois desenvolve ações planejadas e estruturadas de forma a subsidiar
informações necessárias aos cuidados em saúde e educação, para pais e
familiares, proporcionando espaços saudáveis para a expressão dos
sentimentos e estímulos adequados ao desenvolvimento
neuropsicomotor, emocional e relacional das crianças e adolescentes. A
apropriação da ferramenta pelos profissionais torna possível a
concretização da educação em saúde além dos demais fins identificados
a partir da incorporação como prática cotidiana tomando como base as
metodologias ativas, sedimentando os princípios do Sistema Único de
Saúde.
PALAVRAS - CHAVE: Saúde Mental, Educação em saúde, Práticas
Interdisciplinares.

245
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Universidade como resistência antimanicomial: a experiência do


PET-Saúde interprofissionalidade no campo da saúde mental

Willian Tito Maia Santos


Helena Cortez
Karoline Oliveira Souza
Luana Maria Gabriel Barreto
Aline Santos Carqueija
Phaloma Rodrigues Araújo
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

Introdução: A universidade é uma instituição potencializadora de


propostas emancipadoras que tem como papel formar discentes críticos
e empoderados. Assim, com seu arsenal metodológico diferenciado
(conhecimento-emancipação) torna-se via de diálogo com a
comunidade, permitindo troca de saberes que refletem sobre as práticas
e suas experiências. O Programa de Educação pelo Trabalho para a
Saúde (PET-Saúde)/Interprofissionalidade, um dos programas da
universidade, desencadeia a inserção de discentes nos serviços do
Sistema Único de Saúde, tendo o Grupo de Aprendizagem Tutorial (GAT)
em saúde mental a iniciação deles nos serviços psicossociais
contribuindo com a luta e resistência antimanicomial. Descrição da
experiência: As vivências ocorrem desde 2019 no Centro de Atenção
Psicossocial II (CAPS II), no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e
Drogas (CAPS-ad) e em uma Unidade de Saúde da Família (USF) em um
município do Recôncavo da Bahia, onde os discentes acompanham a
dinâmica do serviço com a supervisão de um profissional do serviço
(preceptor), tornando-se protagonista de uma nova forma de cuidado
em saúde mental juntamente com os usuários, familiares e
trabalhadores, além de causar questionamentos da realidade social e
também tensionando mobilizações. Repercussões: Por estarem
inseridos nos serviços de saúde mental, os discentes trocam
conhecimentos com os profissionais de saúde, (re)descobrindo juntos a

246
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

história do movimento da luta antimanicomial, conhecendo os atores e


protagonistas deste processo em curso, desencadeando um
empoderamento sobre a luta. Além disso, permite a formação de
profissionais em saúde comprometidos com a antimanicomialidade,
mesmo não tendo passado pelo processo histórico de luta política e
ideológica envolvida no movimento. Considerações finais: A experiência
relatada constitui-se como um espaço de integração entre estudantes,
tutores e profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para
pensar estratégias no que tange ao fortalecimento da luta
antimanicomial, o que evidencia o papel social atribuído à Universidade.
Ademais, tensiona nos estudantes um foco na perspectiva da promoção
do cuidado integral aos usuários, principalmente com o viés da
Interprofissionalidade, uma vez que esta é o objetivo principal desta
edição do PET-Saúde. Logo, esta experiência tem proporcionado
mobilizações, tanto no processo formativo de futuros profissionais da
RAPS, quanto da Rede Municipal, para o enfrentamento de práticas
manicomiais e para a busca de estabelecer cuidados pautados na
Interprofissionalidade.

247
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A urgência subjetiva da mulher na pandemia e o plantão psicológico


como dispositivo de acolhimento: um relato de experiência.

Patricia Mascarenhas Passos


Tainara Ferreira Inocêncio
Walter Lisboa Oliveira
Universidade Federal de Sergipe - UFS

Rosana dos Santos Silva


Rafael Sousa de Brito
Universidade Federal da Bahia - UFBA

A pandemia da COVID-19 provocou repercussões sanitárias,


socioeconômicas e na saúde mental da população. A necessidade aguda
de reorganização social, decorrente da adoção do distanciamento social
como medida mais efetiva de contenção do vírus, impôs novos modos
de vida, de relacionamento e de trabalho. Apesar da possibilidade de
infecção pelo vírus não ser delimitada por critérios de raça, gênero ou
classe social, essas variáveis não deixaram de estar presentes no modo
como a pandemia afetou os mais vulneráveis. As mulheres, diante de
seus diversos papéis sociais, precisaram retornar ao lar, adaptar-se ao
trabalho remoto e voltar-se mais intensamente aos cuidados dos filhos,
sem o suporte fundamental de escolas e creches. Nas classes de maior
vulnerabilidade socioeconômica, o público feminino, que em sua
maioria exerce o trabalho informal, teve que lidar com a ausência de
recursos econômicos e a dificuldade de executar as medidas preventivas
diante das condições precárias de moradia, sanitárias e de alimentação.
Diante disso, este relato utilizou-se do recorte de gênero para desvelar
as repercussões psíquicas do contexto pandêmico na vida de mulheres a
partir do atendimento em um serviço público de plantão psicológico em
uma capital nordestina. O plantão psicológico surgiu enquanto um
dispositivo temporário de acolhimento às demandas de saúde mental
provenientes da pandemia ou intensificadas por esse contexto.

248
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Funcionando na modalidade remota, o serviço tem como objetivo


atender o sujeito no momento mais próximo de sua urgência subjetiva,
ofertando os encaminhamentos necessários a partir da demanda
apresentada. Durante a experiência, foi possível observar que o serviço
foi acessado predominantemente por mulheres, na faixa etária de 18 a
65 anos, que buscaram acolhimento diante de suas demandas de
sofrimento psíquico. O real da pandemia destituiu esses sujeitos de
lugares que antes os constituíam e os recursos discursivos se
desestabilizaram. Essas mulheres se apresentavam imersas em angústia,
endereçando à psicóloga do plantão aquilo que era da ordem do
insuportável, em uma temporalidade que demandava pressa em
encontrar respostas. A escuta ofertada proporcionou a escansão desse
tempo, com questionamentos que buscaram favorecer a localização da
questão que promoveu as rupturas de discurso para o sujeito. Foram
convidadas a falar sobre seus sintomas, a localização temporal de seu
aparecimento e o que estes poderiam comunicar. A escuta evidenciou
que para essas mulheres suas questões se circunscreviam em sua
relação com o Outro, descortinada pelo contexto da pandemia. Vieram à
tona incertezas e o desamparo no que tange ao seu lugar no desejo do
outro, bem como as diversas violências que atravessavam, produzindo
uma posição de assujeitamento e de fragilização do autocuidado. Algo
que apareceu com frequência nas narrativas destas mulheres foi o
rompimento de alguns laços sociais que as sustentavam na direção dos
seus desejos e da construção da autonomia: a universidade, o ambiente
de trabalho fora do lar e suas produções laborais. O plantão apresentou-
se enquanto um recurso importante para o cuidado em saúde mental de
mulheres, através da construção de novos discursos e busca de saídas
para o ser mulher contemporâneo em uma pandemia.

249
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A utilização terapêutica da música como ferramenta em processos


cognitivos e estímulo de memórias socioafetivas: Relato de experiência

Rayssa da Silva Sousa


Universidade do Estado do Pará - UEPA

Matheus Ribeiro de Medeiros


Lucas Carrera Ramos
Camile Carvalho de Castro
Universidade da Amazonia – UNAMA

A utilização terapêutica da música exerce significativa influência sobre o


indivíduo, de maneira ampla e diversificada. No desenvolvimento
humano, a música é parte intrínseca da constituição, estimulando o
afeto, a socialização e o movimento corporal como expressões de
processos saudáveis de vida. Favorece o desenvolvimento criativo,
emocional e afetivo e, fisicamente, ativa sentidos e processos
fisiológicos como o tato e a audição, a respiração, a circulação e os
reflexos. Também colabora na ampliação do conhecimento e
abordagens interdisciplinares, propiciando relaxamento, prazer no
convívio social e o diálogo entre os indivíduos (BRASIL, 2017)
Perceber a música é um complexo processo cognitivo, que envolve
vários estímulos neuronais. As funções da linguagem e da música são
controladas por distintas regiões cerebrais, caracterizando o estímulo
musical como um caminho alternativo para os indivíduos que possuem
um défice nos canais normais de comunicação. Ao intervir na memória,
a música desempenha um importante papel terapêutico, auxiliando
também nas ligações familiares e círculos de amizade (FIGUEIREDO,
2019).
Sabe-se que a música pode estimular diferentes fatores cognitivos
afetados por transtornos psiquiátricos e demências, especialmente a
memória, além de minimizar os danos e a progressão dos quadros.
Sendo a música uma expressão artística, cultural e social, além de

250
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estimular determinadas áreas do cérebro como emoção, linguagem,


movimento e memória referindo-se a este estímulo como o principal
método de prevenção do desenvolvimento da doença (Rosa et al.,
2019).
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A abordagem foi realizada por acadêmicos
e residentes de terapia ocupacional e enfermagem, em um hospital
geral na clínica psiquiátrica/Belém-PA no período de julho a setembro,
às sextas-feiras, turno vespertino, com pacientes conscientes e
orientados autopsiquicamente e alopsiquicamente, entre 20 a 60 anos.
Utilizando o violão, no ambiente externo. Teve como objetivo propiciar
relaxamento e integração do conteúdo lúdico ao raciocínio lógico
vivenciado na trajetória de vida. Formava-se um grupo com os
pacientes, que tiravam palavras da “caixa misteriosa” (amor, paz,
felicidade, etc.), incentivando-os a lembrar de uma música que
remetesse a esta palavra.
REPERCUSSÕES: Durante o desenvolvimento da atividade, foi observado
que pacientes com curso do pensamento desorganizado e função
psíquica memória afetados, passavam a apresentar uma linha de
raciocínio mais estável, com organização do pensamento através do
estímulo da memória para recorda a letra e a melodia das canções.
Também foi possível identificar a sensibilidade dos pacientes que,
através da percepção da música puderam trazer à tona memórias
socioafetivas de experiências marcantes em suas vidas, além de
expressivas e positivas modificações nas expressões verbais e não
verbais e interação com o meio e demais integrantes do grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Consideramos que a utilização terapêutica da
música proporcionou respostas expressivas nas funções cognitivas e no
estímulo da memória de pacientes que apresentavam alterações
psíquicas ou dificuldades advindas do processo de adoecimento metal.
Além de benefícios nas relações interpessoais propiciadas pela
descontração da atividade musical e interatividade do grupo.

251
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Abolicionismo penal e reforma psiquiátrica: olhares e desafios a partir


da masmorra do século XXI

Maynar Patricia Vorga Leite


Secretaria da Administração Penitenciária

Uma ala de internação psiquiátrica cercada, com o piso abaixo do nível


do solo, janelas pequenas, gradeadas, muito acima da altura da cabeça,
sem vidros; celas com portas de metal, fechadas com cadeado; portas
com visor gradeado, também fechado com cadeado; algemas para ir até
a sala de atendimento; camas de concreto, colchão sem lençol. Essa é
uma unidade num HCTP destinada a receber pessoas em crise
psiquiátrica ou em perícia para verificação de responsabilidade penal.
Quais seriam papéis/lugares possíveis para uma psicologia
antimanicomial e abolicionista nesse lugar? Entre 2013 e 2015 realizei
um levantamento/intervenção para identificar estabelecimentos que
mais encaminhavam pessoas a esse lugar, relações e dificuldades de
cada estabelecimento prisional e de cada região com o SUS, diferentes
compreensões sobre saúde mental e sobre aprisionamento. As
intervenções visaram propiciar condições de fluxo para atendimento e
oportunidades de matriciamento pela RAPS local para os profissionais
de saúde nos estabelecimentos prisionais, inclusão desses profissionais
nos cursos ofertados pelo SUS, e visibilização das estratégias locais de
redução de danos e de atendimento libertário. Também organizei um
protocolo de (não) encaminhamento contendo perguntas sobre
tentativas de atendimento local, o qual acabou subsidiando uma
interdição parcial dessa ala por parte da VEPMA. Atualmente realizo
atendimento psicológico emergencial às pessoas em crise que, após
todas essas intervenções, ainda são encaminhadas a essa ala, incluindo
busca ativa e acolhimento aos familiares e discussão de caso com outros
profissionais (incluindo agentes penitenciários). Às pessoas
encaminhadas para perícia ofereço atendimento pontual de acordo com
as suas necessidades do momento. A existência aparentemente

252
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

anacrônica dessa masmorra no século XXI pode ser explicada a partir


das lógicas manicomiais e punitivistas, servindo como analisador das
relações entre o abolicionismo penal e a reforma psiquiátrica. Com
frequência percebe-se que militantes antimanicomiais preservam
perspectivas punitivistas em relação a pessoas acusadas por delitos,
independentemente da condição de atendimento em saúde mental pela
RAPS que elas tenham ou não recebido. Igualmente, abolicionistas
penais nem sempre compreendem o cuidado em liberdade para pessoas
diagnosticadas com transtornos mentais. O sistema punitivo seleciona
preferentemente homens negros, pobres, com baixa escolaridade,
usuários de álcool e outras drogas e em sofrimento psíquico. O
aprisionamento é agravante para este sofrimento, assim como o para o
uso de drogas, e também dificulta o atendimento pela RAPS. Quando,
por precariedades da RAPS e dificuldades do usuário ele não consegue
aderir ao atendimento, um dos destinos prováveis é que a outra política
pública a o alcançar seja a polícia, para prendê-lo. E alguns juízes
determinam que a pessoa seja aprisionada para que receba tratamento.
Pouquíssimos estabelecimentos têm Equipes de Atenção Básica Prisional
com componentes de saúde mental, e o Ministério da Saúde pretende
acabar com as poucas que existem. Enquanto não for efetivamente
garantido o atendimento em saúde mental a todas as pessoas que
necessitam dele, estejam ou não em liberdade, essa masmorra
continuará existindo. Igualmente, enquanto o sistema punitivo
continuar capturando pessoas com necessidade de atendimento em
saúde mental, e inclusive compreendendo o aprisionamento como
alguma forma de tratamento, essa masmorra persistirá.

253
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Abordagem noturna à população de rua de Resende: processos e


práticas de cuidado de atenção psicossocial

Lílian Magalhães Costa Lima


CAPS Nossa Casa Barra do Piraí-RJ

Viviane Ferreira de Souza


Katielly Melo da Silva
Glaucia Helena de Paula Santiago
CAPS AD Resende

O CAPS AD Resende tem realizado ações in loco de modo a oferecer a


atenção psicossocial estratégica no território para a população em
situação de rua, com foco nas questões relacionadas ao uso de álcool e
outras drogas.
A experiência descrita aqui vem ocorrendo desde abril de 2018, duas
vezes por semana, em locais de permanência da população em situação
de rua para atendimento psicossocial e da oferta de atividades lúdicas
ou oficinas como estratégia para construção de vínculo e captação das
demandas psicossociais. O objetivo deste trabalho é oferecer
atendimento psicossocial à população de rua do município e viabilizar o
acesso ao CAPS Ad, sempre que houver demanda e interesse por parte
do usuário. Através deste trabalho o CAPS Ad Resende vem oferecendo
atendimento psicossocial à população de rua do município de Resende,
construindo vínculo com os usuários e ofertando saúde com foco nas
questões psicossociais. Deste modo, alguns usuários procuram o CAPS
Ad para atendimento e outros optam por serem acompanhados pela
equipe através da abordagem noturna.
As abordagens têm ocorrido, principalmente, nos seguintes territórios
de Resende: Rampa (Centro), rodoviária, Casarão (Surubi), Coreto
(Lavapés), Alegria Velha, Liberdade, Paraíso. A partir da abordagem,
alguns usuários passaram a freqüentar o CAPS Ad, passaram pelo leito
de saúde mental e por outros serviços da RAPS e rede socioassistencial.

254
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Também se iniciou a experiência de café na praça no território do


Paraíso, onde a os profissionais da rede ofereciam um momento lúdico e
de café da tarde com os usuários para falar sobre possíveis intervenções
com eles.
Entende-se que a abordagem noturna tem sido uma ferramenta
importante do trabalho do CAPS Ad em que a população de rua é
atendida independente de procurar o serviço, de modo que a equipe
oferece orientações, escuta em locais específicos do território onde há
população em situação de rua. Dessa maneira, o CAPS Ad cria vínculo
com o território e promove o acesso dessa população ao serviço. Em
alguns momentos foi ofertado lanche/marmitex durante a abordagem,
como ferramenta de redução de danos, visto que por esta população
estar em uso de álcool e drogas, a rotina com a alimentação costuma
estar precária.
Além disso, o CAPS Ad consegue ocupar o território da cidade,
realizando ações extramuros e promovendo atenção psicossocial a
população, através de um cuidado integral em saúde que só é possível
indo até o usuário, em seu espaço comunitário. É uma maneira possível
do CAPS Ad ocupar a cidade, se fazendo presente à população em
situação de rua.

255
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Abraçando o Autismo: relato de experiência de atividades remotas no


período de pandemia.

Mateus Ribeiro de Moraes


Estefânea Élida da Silva Gusmão
Felipe José Lima Paiva
Mattheus Alves Ramos Souza da Silva
Yolanda Moura Vital
Juliana Nóbrega Ribeiro
Vitória do Carmo de Sousa
Universidade Federal do Ceará - UFC

O ano de 2020 trouxe diversos desafios oriundos da pandemia de


COVID-19, fato que alterou de modo abrupto os mais variados espaços
em que havia interação física entre sujeitos. As necessárias medidas
sanitárias de distanciamento social impossibilitaram aglomerações e, em
vista disso, as atividades que envolviam presença física tiveram de ser
sanadas ou repensadas para um modo responsável de atuação. Nesse
contexto, as atividades da extensão Abraçando o Autismo (UFC), do
Núcleo de Avaliação Psicológica em Saúde (NAPSIS), que outrora eram
feitas em instituições que trabalhavam com a temática do autismo,
tiveram que ser modificadas para o contexto virtual. Nas atividades
presenciais aconteciam momentos semanais em que havia
psicoeducação sobre as temáticas relacionadas ao espectro, bem como
a formação de redes de contato para a ampliação das atividades da
extensão. No entanto, no decorrer do ano, as atividades passaram a ser
feitas na rede social Instagram (@abracandooautismo) em que,
semanalmente, eram produzidos materiais informativos sobre o
espectro autista. As publicações nesse espaço abarcaram temas
relativos ao TEA (transtorno do espectro autista), recomendações para
apoiar o bem-estar emocional das crianças autistas durante a pandemia,
estratégias para melhorar o sono das crianças com TEA,
neurodiversidade, inclusão no mundo do trabalho, espaço escolar e

256
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

contexto universitário, bullying e autismo, competência social e a


importância da relação entre pares, mitos e verdades disseminadas no
cotidiano sobre o autismo, divulgação de filmes que suscitavam
discussões sobre a temática e também foi realizada uma live para tratar
sobre a temática da nova política nacional de inclusão escolar e seus
impactos na vida das pessoas com deficiência. As publicações foram
feitas de forma conjunta entre os membros e com base na literatura
científica. Notou-se que as temáticas tratadas tiveram uma boa
repercussão no que se refere à reflexão sobre temáticas que não são
tratadas cotidianamente a respeito do autismo. O retorno por parte das
pessoas que acompanhavam as publicações também se mostrou
positivo, assim como foi gratificante para os membros articularem essas
informações para divulgação. De modo geral, embora o acesso às
informações fosse feito em um espaço virtual em que não há um
número grande de seguidores, é possível notar que houve o intuito de
fornecer informações qualificadas, críticas e adequadas ao contexto em
que estamos, englobando tanto aspectos teóricos sobre o autismo,
como também possibilitando reflexões que influenciam na prática
psicológica.

257
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ABRACE Em Casa: Grupo de Acolhimento Virtual da UFOP

Érika Danielle Pereira dos Santos


Luana Coutinho Dias de Oliveira
Mylla Vaz
Nayara Christini Alselmo
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

O Programa de Incentivo à Diversidade e Convivência (PIDIC) constitui-


se como parte da Política de Assistência Estudantil da Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP). Integrado a este programa, em 2019,
criou-se o ABRACE, grupo de cuidado e acolhimento aos estudantes da
UFOP. Ao final deste mesmo ano, houve a extensão do projeto para o
Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas (ICEA), Campus João Monlevade.
Diante do contexto atual da pandemia da COVID-19 e o consequente
isolamento social, foi necessária a reconstrução do projeto para o
formato virtual. Criou-se, assim, o “ABRACE em casa”, grupo de
acolhimento virtual da UFOP, cujo objetivo é promover um espaço
virtual de acolhimento e cuidado aos estudantes e comunidade
universitária. As sessões são semanais, às Segundas- Feiras, exceto em
feriados, no horário das 15h, com até 12 participantes, por de aplicativo
disponibilizado pela Universidade. O link fixo é divulgado pela equipe
ABRACE, assim como na agenda de atividades do site da Universidade. O
grupo é articulado por meio de técnicas grupais voltadas para a escuta e
a fala humanizadas. Durante as sessões, os participantes são
estimulados a desenvolver vínculos ao compartilhar sentimentos e
experiências. Assim, quando problemas são levantados, as soluções
emergem do coletivo, proporcionando o alívio do sofrimento psíquico.
Em casos complexos, realiza-se o contato individual através de ligação
telefônica feita por membros da equipe ABRACE, previamente
instruídos, que incentivam o apoio de pessoas das redes comunitárias
pessoais (familiares, amigos próximos, companheiros de
repúblicas/moradia estudantil) e a possibilidade de mobilizar, o Serviço

258
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), em emergências.


Consolidando desta forma um amparo, mesmo que de forma remota.
Entre Junho a Setembro de 2020, foram realizadas dezessete sessões,
com a participação média de aproximadamente 10 pessoas por sessão.
Abrangeram-se treze cursos de graduação, dois programas de pós-
graduação, técnicos e docentes de onze departamentos, além de
trabalhadores da Pró-Reitoria de graduação. Os temas com maior
recorrência foram ansiedade; solidão; sentimento de improdutividade;
incertezas e medo em relação ao futuro; autoconhecimento e
desavenças familiares. A partir dos retornos positivos feitos pelos
participantes do grupo, considera-se que o ABRACE em casa, se
consolida como um espaço terapêutico virtual de referência para a
comunidade universitária. Além de ser uma ferramenta primordial para
o enfrentamento da pandemia, utilizando de meios tecnológicos para
redução do sofrimento psíquico. Assim, houve a criação de vínculos, a
elaboração de sugestões e aconselhamentos, baseados em experiências
anteriores. Tais práticas validam o cuidado e acolhimento como
ferramentas primordiais para a promoção da saúde mental.

259
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ACALENTO: grupo de acolhimento virtual dos profissionais de saúde de


Ouro Preto, Minas Gerais.

Débora Lourdes Martins Vaz


Aisllan Diego de Assis
Tamires Assunção Fernandes
Izabella Helena Domingos Torres
Matheus dos Anjos Evangelista
Lucas de Lazaré Rodrigues
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

Christine Algarves Viana


Paula de Oliveira Alves de Brito
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial - Ouro Preto

O objetivo deste depoimento é narrar a construção do ACALENTO,


projeto integrante do programa de extensão “A grande roda da saúde
coletiva: cuidado, acolhimento e saúde mental” da Escola de Medicina
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em parceria com a Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS) do município de Ouro Preto- MG. O
grupo de acolhimento do CAPS II Casa dos artistas de Ouro Preto
realizou em 2019 atendimento presencial à população ouro-pretana
durante oito meses. Contudo, com a deflagração da quarentena, devido
a pandemia da COVID-19, houve uma reformulação do grupo para que
fosse reconstruído em formato virtual, devido as medidas adotadas para
proteção e prevenção da COVID. Os projetos, outrora pensados para se
concretizar de forma presencial, passaram a ser reelaborados na
tentativa de concretizá-los à distância ou por meio de recursos
tecnológicos de comunicação, porém grandes barreiras foram
percebidas neste processo, como precariedade de recursos de
telecomunicações das pessoas e equipes nos distritos. Foi então nesse
momento tão delicado que ampliou-se o pensamento do coletivo. Neste

260
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

contexto, a rede de pessoas, práticas e instituições que se encontraram


em 2019 para construção do programa de extensão deu início a uma
nova ação como forma de apoiar aqueles que estão frente ao combate à
COVID-19, os profissionais de saúde. O ACALENTO é um local de espaço,
escuta e apoio psicossocial as pessoas que atuam no enfrentamento da
pandemia em especial no município de Ouro Preto. O grupo segue
princípios de humanização das práticas de saúde e do sistema único de
saúde (SUS). É coordenado por um professor da área de saúde mental e
coletiva da Escola de Medicina da UFOP, duas profissionais de saúde
mental coordenadoras da RAPS e CAPS da cidade e cinco estudantes de
graduação da Universidade, compondo a estrutura do grupo,
coordenando; relatando e apoiando. A sessão é iniciada com boas-
vindas, apresentação e informações referentes do grupo. Os
participantes são convidados a se apresentarem, expor suas emoções;
sentimentos e conhecimentos. Usa-se palavras coloquiais de
compreensão e cuidado. Evita-se termos que possam gerar qualquer
tipo de constrangimento; indicações de medicamentos ou qualquer
procedimento médico. Isso pode gerar a medicalização do grupo, sendo
prejudicial para a expressão dos participantes. Durante as reuniões
ocorre troca de experiência e falas circuladas. O encerramento se dá por
meio da técnica grupal capaz de motivá-los e sustentar vínculos “O
abraço virtual”, consiste num auto abraço, acompanhados de palavras
de acalento aos demais participantes. As sessões são quinzenais, nas
sextas-feiras às 19 horas, com duração máxima de até 2 horas. Iniciou-se
em junho, com precisão de ser realizado até dezembro, totalizando 14
sessões com até 15 participantes. Já foram realizadas 7 sessões. Os
relatos dos participantes remontam significativa melhora de
sentimentos, é notório no decorrer das sessões que são muitas as
conquistas, e a experiência é indescritível. O Acalento pode ser exemplo
para a criação de outros grupos de acolhimento virtual em outras
cidades, promovendo a saúde mental, o cuidado e o acolhimento dos
profissionais de saúde.

261
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Ação coletiva de atenção e cuidados a adolescentes em sofrimento


psíquico numa escola da rede pública de Natal/RN

Erick Matheus Sousa de Medeiros


Maurício Roberto Campelo de Macedo
Isa Maria Hetzel de Macedo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Introdução: O aumento da prevalência de crianças e adolescentes com


ideias suicidas, autoagressões e depressão infantil têm chamado a
atenção de familiares, professores e profissionais do campo da Saúde
Mental. Problemas sociais e familiares, bullying nas escolas (entre
outros casos de abuso), um contexto social de incertezas, mudanças
culturais rápidas, grandes desigualdades sociais e aumento expressivo
de violência urbana, sobretudo nos bairros periféricos, são apontados
como alguns dos seus determinantes. Desamparo, vazio existencial e
outras manifestações de intenso sofrimento psíquico também se
exprimem no corpo através dos cortes e lesões autoinflingidas. Diante
de relatos da coordenação de uma escola da rede pública municipal de
Natal-RN sobre a alta prevalência de adolescentes com sintomas
depressivos, que apresentavam comportamentos autolesivos, em alguns
casos com tentativas de suicídio dentro da escola, foi elaborado um
projeto de intervenção, que vamos apresentar como relato de
experiência. Este projeto tinha como objetivo prestar atenção e
cuidados a adolescentes de 10 a 16 anos com problemas de sofrimento
psíquico, que eram alunos do 6° ao 9° anos do ensino fundamental desta
escola. Esta se situava no território da USF de Panatis, um bairro
periférico da cidade de Natal-RN. Descrição da experiência: Em 2019,
foram realizadas duas intervenções. Inicialmente, a diretoria do colégio
selecionou turmas do 9° ano, com cerca de 60 alunos, que necessitavam
maior atenção. Em rodas de conversa eram apresentadas, em linguagem
adequada aos jovens, informações sobre sofrimento psíquico na
adolescência e estabeleceu-se um espaço de diálogo, expressão e apoio

262
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

conjunto. Os alunos responderam a questões sobre a temática do


projeto e participaram ativamente, dividindo seus sentimentos e
vivências reprimidas. A dinâmica final culminou num abraço coletivo dos
adolescentes que aconteceu de forma espontânea; eles partilharam
mensagens positivas, neste primeiro diálogo aberto na escola. O sucesso
da primeira intervenção resultou numa demanda da escola e dos
estudantes para o retorno dessas atividades. Então, foi desenvolvida
uma ação mais ampla, que mobilizou toda a instituição, impactando
mais de 300 alunos com atividades diversas que incluíam: discussões
sobre bullying e depressão na adolescência; PICS voltadas para a
expressão pela música; produção de uma “caixa de desabafos
anônimos” e “cartas apoiadoras”; reunião com os pais e profissionais;
rodas de conversa com as turmas (semelhantes à primeira intervenção).
Repercussões: Ficou evidente a maior aproximação dos alunos desta
escola com o nosso projeto, permitindo maior integração entre todos os
envolvidos. Relatos posteriores da escola mostram uma maior abertura
dos alunos e professores para tratar de temas que até então eram
tabus, um maior interesse dos alunos nas atividades estudantis e uma
melhor integração entre as turmas. O projeto também ganhou
visibilidade, sendo indicado como referência na cidade enquanto
intervenção sobre este problema, que contribuiu para a elaboração de
projetos mais amplos, coordenados pelo município. Considerações
finais: Com a deflagração da pandemia, a continuidade das atividades foi
cancelada em 2020. Entretanto, essa experiência serviu de base para a
elaboração de um projeto de pesquisa sobre este tema que será
desenvolvido pelo Observatório de Saúde Mental da UFRN.

263
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Ação extensionista sobre saúde mental infantil: relato de experiência

Isabela Souza Cruvinel Borges


Ádria Silva Guimarães
Andreia Sousa de Jesus
Luísa Pessoni de Carvalho Garcia
Maria Cecília Inácio
Milena Vieira Dias dos Santos
Natália Barreira Silva
Universidade Federal de Uberlândia

Introdução: Em meio a altas taxas de automutilação e autoextermínio


registradas entre adolescentes e adultos no mundo, notou-se, em uma
escola pública de Educação Básica em Uberlândia-MG, um desenho
inesperado: crianças de 8 a 11 anos apresentavam esse comportamento
autodestrutivo. Nesse viés, um grupo de estudantes de Medicina da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) decidiu investigar as causas
dessas atitudes, bem como buscar alternativas para promover a saúde
mental na infância. Descrição da Experiência: No segundo semestre de
2019, a 92° turma de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia
visitou escolas públicas com o objetivo de realizar vivências de práticas
de promoção de saúde, ação que faz parte da grade curricular do
terceiro período. Nesse sentido, surgiu o tema de bem-estar mental, na
Escola Estadual Professor Eurico Silva, onde ocorreu a ação de 12 alunos
do curso superior. Para sistematizar a ação extensionista, utilizou-se do
Arco de Maguerez, o qual possibilitou concluir que obstáculos
relacionados à escola, à família e à autoimagem fazem parte do
cotidiano das crianças da instituição. Essas adversidades trouxeram,
como consequência, diversos casos de automutilação, principalmente
entre os alunos de 4° e 5° anos. Diante da delicadeza e da complexidade
do assunto, os discentes da UFU, em parceria com a escola, planejaram
a ação focalizando instigar a autoestima, o autocuidado e a busca de
ajuda para resolução de dificuldades possivelmente enfrentadas. Foram

264
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

realizadas duas dinâmicas, estas baseadas nos conceitos de


“Apresentação à Mineira” e “Teatro do Oprimido”, do dramaturgo
contemporâneo Augusto Boal. A primeira tinha como objetivo não
somente criar um momento de acolhimento (ao exteriorizar
características positivas de cada um), mas também ajudar na criação de
vínculo entre as crianças e os acadêmicos. Em seguida, de acordo com a
demanda local, foram encenadas situações de problemáticas
enfrentadas na infância, as quais foram discutidas posteriormente em
uma roda de conversa. O objetivo foi extrair as percepções dos infantes
com relação aos paradigmas apresentados, bem como instigá-los a
pensar nas possíveis redes de apoio. REPERCUSSÕES: No início da
primeira dinâmica algumas crianças apresentaram timidez e resistência
em participar da atividade. A fim de incentivar a inserção de todos, os
outros alunos e os estudantes de Medicina davam sugestões de
adjetivos positivos, rompendo, assim, a dificuldade inicial de
estabelecimento de vínculo. Durante a execução do Teatro do Oprimido
e da Roda de Conversa, as crianças evidenciaram uma participação ativa.
Os alunos assistiram atentamente às cenas e, ao serem instigados com
perguntas sobre o tema, deram respostas que mostraram compreensão
de seus contextos sociais e reflexões sobre as dificuldades de lidar com
problemas psicológicos. Considerações Finais: Essa ação mostrou-se
extremamente relevante para a formação dos graduandos, que
perceberam a importância de uma abordagem adequada para infantes
na promoção de saúde dos mesmos. Vale ressaltar que o sentimento de
despreparo por parte dos estudantes de Medicina, diante da
complexidade desse assunto, evidencia a fragilidade dos currículos das
faculdades, uma vez que essa temática é pouco abordada durante toda
a graduação.

265
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acesso e promoção de uso racional de medicamentos aos por unidade


básica fluvial aos usuários de serviços de Saúde Mental em
comunidades ribeirinhas de Manaus, margem rio negro.

Leoncio Oliveira Torres


Semsa

Um importante desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS) é


promoção das ações de saúde ao alcance das populações mais
vulneráveis, dentre elas, as comunidades ribeirinhas, especialmente no
que concerne ao acesso à integralidade dos serviços em saúde mental.
Há aproximadamente 30 anos, o atendimento em saúde utilizado nas
comunidades ribeirinhas do município de Manaus, com acesso único por
vias fluviais, utilizava-se de modelo ambulatorial, sendo este
individualista, verticalizado, curativista e medicamentoso; Neste
contexto, unidade fluvial itinerante, com apenas elenco básico de
medicamentos, não havia disponibilidade psicotrópicos, onde os
usuários, com suas prescrições, teriam que se deslocar, através de
embarcações, arcando financeiramente a cidade de Manaus, para
aquisição dos medicamentos nas unidades de farmácia publicas ou
privadas, causando queixas e agravos aos usuários do transtorno mental
e psiquiátrico.
A partir de janeiro de 2015 com proposta baseada no conceito ampliado
de saúde com perspectiva da prevenção e diminuição dos agravos,
especialmente aos usuários de saúde mental, fora implantada nas
unidades básicas de saúde fluviais (UBSF), e a inserção dos seguintes
serviços farmacêuticos: Padronização de todos os psicofármacos
integrantes a relação municipal de medicamentos essenciais (REMUME),
promoção de atenção farmacêutica e acompanhamento
farmacoterapêutico aos usuários.
Em 11 meses, entre novembro 2018 a setembro 2019, a UBSF Ney
Lacerda, em seus 10 dias de atendimento mensal, com atuação em 13
comunidades ribeirinhas da margem do Rio Negro, e suas adjacências,

266
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

foram realizadas 479 dispensações de psicofármacos, sendo,


antidepressivos: 226 (47%), Anticonvulsivantes: 165 (34%), ansiolíticos:
54 (11%), antipsicóticos: 28 (6%) e transtorno humor bipolar: 6 (1%).
Com o advento de estratégias utilizadas, com a inserção dos serviços em
saúde mental nas comunidades ribeirinhas através das UBSF, e
especificamente com acesso integral dos medicamentos psicofármacos
padronizados na RENAME, e ainda com acompanhamento do uso
efetivo e racional destes, verificou-se a grande evolução no processo
saúde-doença.

267
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Ações de saúde mental voltadas aos moradores de rua em tempos de


pandemia por Covid-19: Um enfoque multiprofissional

Ana Thalita Felicio Ferreira da Silva


Sabrina Camila de Medeiros Dantas
Aline Andressa Coelho de Souto
Escola de Saúde Pública ESP-CE

A População em Situação de Rua se encontra historicamente como um


grupo às margens da sociedade, conhecidos pela vulnerabilidade e
heterogeneidade, estes tem recebido ultimamente mais visibilidade e
intervenções específicas, além de discussões em políticas públicas que
atendam às suas necessidades. A importância da priorização de ações
voltadas a esse grupo se dá pelas condições precárias de vida e saúde ao
qual são expostos que os tornam mais suscetíveis aos fatores de risco e
violências, a ausência de acesso a fontes de renda, direitos humanos e
sociais e uma constante discriminação em relação ao acesso aos serviços
de saúde. Com isso, essa população tende a apresentar uma saúde física
e mental mais vulnerável se comparada a população em geral (WIJK;
MÂNGIA, 2019). A partir do surgimento da Pandemia ocasionada pelo
novo Coronavírus (COVID-19), as necessidades de saúde dessa parcela
se tornaram mais exacerbadas e difíceis de gerenciar, uma vez que que
dentre as medidas de contenção estavam o isolamento social, uso de
máscaras e uso de álcool, e todas estas pareciam inviáveis a estes
sujeitos. No município de Aracati-CE, da união de forças dos
profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde da ESP-CE, junto
aos profissionais da saúde do município e voluntários buscou-se ofertar
suporte a essa parcela da população em situação de vulnerabilidade e
fragilidade dos vínculos familiares e sociais por meio de duas reuniões
semanais contando com profissionais de medicina, enfermagem,
psicologia, dentista, profissional de educação física, assistente social,
nutricionista, fisioterapeuta, além dos cozinheiros voluntários e
colaboradores de comunidades cristãs. Os encontros duravam em média

268
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

50 minutos, com escala de 6 profissionais por tarde, onde eram


desempenhadas ações de educação em saúde sobre a propagação da
doença, formas de prevenção, cuidados pessoais, orientações em
higiene bucal e atendimentos individuais de enfermagem. O grande
desafio se constituiu em abordar temas de prevenção em Saúde Mental
uma vez que foram percebidas a falta de oportunidades recebidas e
recursos mentais e pessoais destes no enfrentamento dos agravos
provocados pela pandemia em contraste com o manejo de nossa
própria saúde mental. As ações aplicadas visaram diminuir a intensidade
do impacto sentido: Aconselhamento psicológico com técnicas de
relaxamento e respiração, orientações em higiene do sono, exercícios
físicos, orientações gerais sobre prevenção de contágio pelo Covid-19,
orientações gerais sobre redução de danos e de promoção de saúde a
doenças relacionadas ao uso e compartilhamento de objetos para o
consumo de drogas. Ademais, rastreamento de casos suspeitos,
levantamento das maiores vulnerabilidades como sujeitos com
comorbidade, maiores de 60 anos, imunodeprimidos e gestantes, foram
feitas ações de encaminhamento a alguns serviços de caráter mais
específicos e emergenciais, além de esforços junto a gestão para
confecção de máscaras caseiras e doação de roupas foram medidas
tomadas que tiveram efeito sob a saúde geral dos sujeitos acolhidos
além de maior engajamento no autocuidado, visibilidade e
empoderamento dos envolvidos.

269
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acolhimento dos trabalhadores afastados do trabalho por


adoecimento mental

Roxane Pimenta Mourão


Cristiane de Toledo Braga Corradi
Vale

Introdução: As principais causas de afastamento dos empregados na


Vale Brasil seguem uma tendência nacional e global com forte influência
de transtornos mentais que correspondem aproximadamente 30% dos
afastamentos nos últimos 3 anos (2017-2019). Estes problemas de
saúde, muitas vezes, não estão diretamente relacionados ao trabalho,
mas geram afastamentos prolongados, com barreiras no retorno e na
permanência do trabalhador na vida produtiva.
Para a Vale, a vida em primeiro lugar e valorizar quem faz a nossa
empresa são os nossos principais valores, em quanto “cuidar das
pessoas” é um de nossos pilares estratégicos. Portanto, constantemente
prezamos ter empregados saudáveis desempenhando suas tarefas em
um ambiente de trabalho seguro e saudável.
As organizações são responsáveis por identificar a repetitividade de
tarefas, a desmotivação, as condições desfavoráveis de ambiente e de
trabalho, a integração entre empregados e a organização, dentre outros
aspectos, visando sempre uma política prevencionista e humanista.
Descrição da experiência: O absenteísmo possui impactos significativos.
Verificou-se que as nosologias psiquiátricas contribuem diretamente na
caracterização do evento e/ou doença ocupacional que geralmente é
um fenômeno reincidente.
Assim, o elevado índice de absenteísmo médico por adoecimento
mental foi o ponto de partida para composição de um Grupo Técnico
multidisciplinar, cujo objetivo é estudar as causas fundamentais do
absenteísmo e propor ações para a sua redução. A partir da observação

270
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do aumento constante deste absenteísmo, percebeu-se que para reduzi-


lo tornaria necessária a gestão pontual.
A abordagem multidisciplinar favorece o amplo entendimento dos
diversos determinantes da incapacidade para o trabalho. Dessa forma, o
foco do trabalho é prevenir o prolongamento prejudicial do afastamento
por adoecimento mental, favorecer o retorno do trabalhador ao
trabalho de acordo com suas capacidades, evitando perdas maiores.
Sob esse aspecto e devido à necessidade de aprimorar a gestão de
absenteísmo foram utilizadas as seguintes ferramentas: PowerBI - Dados
estatísticos referentes à saúde ocupacional na empresa. Checklist -
Identificação precoce do potencial de risco de adoecimento mental.
Avaliação Biopsicossocial – Avaliação multidisciplinar das possibilidades
físicas, fatores socioambientais, aspectos psicológicos e pessoais dos
trabalhadores. Comitês de Saúde - Equipe multidisciplinar que identifica
e prioriza soluções, propondo melhoria no ambiente e processo de
trabalho.
Repercussões e considerações finais: A experiência da implantação das
ações para gestão do absenteísmo por adoecimento mental trouxe
ganhos importantes na qualidade da assistência prestada ao
trabalhador. Além disso, permitiu maior conhecimento e gestão do
absenteísmo pela liderança e aproximação da equipe de saúde com as
áreas operacionais. As ações para gestão do absenteísmo tem sido uma
valiosa ferramenta de abordagem proativa, pois permite a adoção de
medidas preventivas colocadas em prática de forma ampla na
empresa,contribuindo para a saúde integral dos profissionais inseridos
neste contexto.

271
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acolhimento psicológico online: contribuições do NASF no


enfrentamento ao COVID-19

Kézia de Oliveira Nascimento Souza


Carolina de Souza
Marina Brito Lemos
Vitória Virginia Sousa dos Santos
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

O contexto pandêmico modificou o modo de vida habitual das


comunidades e também transformou o processo de produção do
cuidado em saúde. O panorama de isolamento social trouxe diversas
adversidades, como: dificuldades financeiras, a restrição do contato
físico, a sobrecarga com o trabalho remoto, o doméstico e com
familiares e crianças em casa (ou o tédio experimentado pelo tempo
ocioso), a ameaça do adoecimento ou morte como uma possibilidade
mais próxima, luto pela perda de entes queridos, além do aumento de
conflitos intrafamiliares e mesmo da violência doméstica. Estes fatores
além de possíveis geradores de sofrimento psíquico significativo,
também potencializaram e/ou agravaram os quadros preexistentes.
Tendo em vista este cenário, no qual inicialmente houve a
impossibilidade dos atendimentos presenciais e a necessidade de
adaptar a oferta do cuidado para as/os usuárias/os, nós, psicólogas
residentes em saúde da família pelo Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Família da FESF-SUS/Fiocruz, atuantes
nas três diferentes equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família
(NASF), no município de Camaçari - BA, disponibilizamos acolhimento
psicológico online, por meio de ligações e vídeo-chamadas. O público-
alvo foram as pessoas que apresentavam crise aguda de ansiedade,
quadro depressivo, ideação suicida e automutilação, bem como
realizamos o acompanhamento e monitoramento de usuários que já
haviam sido atendidos pelas equipes outrora, e que apresentaram

272
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

intensificação de sintomas no período inicial da pandemia. A ação teve


por finalidade garantir um momento de escuta e elaboração do
sofrimento.
A partir desta iniciativa foi possível realizar o acolhimento dos usuários
num momento em que outros pontos da rede no município, como os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e ambulatórios, estavam com
atendimentos restritos ou paralisados. Ainda, conseguimos articular e
compartilhar casos mais delicados com estes pontos da rede com o
intuito de estabelecer estratégias de cuidado mais efetivas durante o
período de isolamento. Nesta oferta de atendimento lidamos com
limitações, como: a falta de prontuário eletrônico para acessar o
histórico do usuário; crescente demanda de usuários que buscaram
atendimento nas USF em decorrência da interrupção dos serviços em
outros pontos da rede; limitações de acesso às tecnologias de
informação ou falta de espaço privado em muitas residências e
dificuldades de adesão ao modelo do teleatendimento. Apesar dos
entraves, reconhecemos a importância do aprimoramento do uso das
tecnologias da informação e comunicação na saúde pública como forma
de expansão das ferramentas possíveis de cuidado na clínica ampliada. A
oferta do acolhimento psicológico online não substitui os espaços de
produção de cuidado presenciais, porém contribui para a garantia do
acompanhamento integral e longitudinal a que a Atenção Primária à
Saúde se propõe, além de promover maior acesso à escuta qualificada.

273
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acompanhamento de Usuário no Território: Experiência do Trabalho


Intersetorial

Oziane Guimarães Braga


Francine Ramos de Oliveira Moura
Fundação Municipal de Saúde de Niterói - UFF

Introdução: Este trabalho tem por finalidade apresentar relato de


experiência do acompanhamento intersetorial e multiprofissional de um
usuário em situação de rua com sofrimento psíquico. Importante
salientar que o nome adotado é meramente fictício.
Descrição da Experiência: Uma moradora do território compareceu à
Unidade de Saúde da Família no município de Niterói-RJ solicitando
avaliação de um homem que estava “em surto” numa praça perto da
clínica, desde a noite anterior. Foram até o local uma enfermeira, uma
dentista, duas estagiárias de odontologia e uma de psicologia. Na praça,
avistamos um homem negro, segurando uma mochila e uma sacola.
Observamos em documentos e receitas que ele carregava que possuía
47 anos, era solteiro, morador de Jacarepaguá e relatou ter parado de
tomar seus remédios há pouco tempo. Em uma das receitas continha o
local que poderia ser a referência de José, tentamos contato sem êxito.
José repetia a frase: “vocês têm que me acolher”, pedia que lhe
arrumasse um lugar para dormir, já que ele “morava em Los Angeles”.
Com o propósito de ganhar a sua confiança e entender um pouco sua
estória doamos livros que havia na estante da biblioteca comunitária da
clínica, depois de comentar que queria “estudar para ser doutor”, e
“arrumar uma namorada” pois “sua família não ligava para ele”. A
moradora, que informou sobre José, contou que havia ligado para a
Guarda Civil do município. Nesse momento, José nos pediu que não o
deixássemos sozinho, dissemos que estaríamos com ele e o
acompanhamos até um Hospital Municipal, local em que a moradora
combinou de encontrar a Guarda. Contudo, chegando ao local, fomos
informadas que por ser o caso de uma pessoa “em surto” não poderia

274
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

ajudar. Então ligamos para a SAMU que, no município, faz o primeiro


atendimento e transporta o paciente ao Hospital Psiquiátrico, se
necessário. Enquanto aguardávamos, José pegou caderno e lápis e
começou a escrever o que possivelmente era sua estória de vida. Seu
personagem era homem e tinha irmãos que foram abandonados pelos
pais em “Los Angeles”, e desde então passou a frequentar hospitais
psiquiátricos. Por um momento José mostrou-se consciente, falou sobre
uma irmã que mora em Jacarepaguá, nos deu um número de telefone,
porém não conseguimos contato. Durante a espera o paciente
adormeceu. A ambulância da SAMU chegou e ao ouvir o barulho da
sirene, José, imediatamente, pulou do banco e começou a agradecer e
despedir-se de nós e foi ao encontro da enfermeira perguntando se
aquele era o “avião” que o levaria para “Los Angeles”, entrando
prontamente na ambulância.
Repercussões: Diante da situação, as profissionais e estagiárias
presentes compreenderam a situação, acolheram e acompanharam o
paciente, mas, inicialmente, encontraram dificuldade em detectar os
trâmites e fluxos para cuidado desse caso.
Considerações finais: A vivência proporcionou acolhimento ao paciente
por meio de uma rede intersetorial de apoio. No entanto, foram
identificadas barreiras como dificuldade em lidar com demandas de
Saúde Mental e de conhecimento de fluxos específicos para esses casos,
o que poderia comprometer a integralidade do cuidado ao usuário.

275
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acompanhamento em Saúde Mental a Adolescentes e Jovens Privados


de Liberdade a partir de Grupos Terapêuticos

Doralice Sisnande dos Santos


Eliana Silva
Ana Maria Caetano
Danyelly Kelly
Maria Lucia Freitas
Carlos Yuri
Kátia Soares Velloso
DEGASE

Este trabalho tem como objeto a experiência de acompanhamento pela


Saúde Mental do Centro de Atendimento Intensivo - CAI Belford Roxo,
Unidade do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE), no
Rio de Janeiro, a adolescentes e jovens do sexo masculino em
cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade a
partir da formação de grupos terapêuticos. A iniciativa realizada em
cenário socioeducativo composto por uma ocupação média da unidade
de 40 adolescentes sendo tais adolescentes oriundos de 22 municípios
diferentes e respondendo por atos infracionais análogos a assalto (42%),
tráfico de drogas (36%), estupro (12%) e homicídios (10%) entre outros,
atos estes praticados em larga escala em função da associação a facções
criminosas e suas ideologias, constituindo um ambiente de elevada
hostilidade e agressividade entre os grupos, devido à rivalidade
alimentada entre tais segmentos. Assistidos a partir da inserção em uma
rotina com horários rígidos para escolarização, participação em oficinas
e cursos capacitivos, além dos momentos previamente definidos para
alimentação e visitas de familiares, os adolescentes e jovens com maior
vinculação ao uso de substâncias psicoativas, pessoas em sofrimento
psíquico e/ou transtorno mental e envolvidos em atos infracionais mais
severos são, paralelamente a esta programação, atendidos pela Saúde
Mental da Unidade. Composto, por uma médica psiquiátrica, três

276
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

terapeutas ocupacionais, uma psicóloga e um agente socioeducativo,


elegeu como metodologia para tal acompanhamento, os atendimentos
em grupos de 3 a 10 participantes, organizados com base na
disponibilidade de seus horários e desconsiderando a vinculação à
facção criminosa. Realizada por meio de encontros semanais, com
duração média de uma hora, a proposta pautada na utilização de
técnicas de dinâmicas de grupo. Esta tem como intuito fornecer
informações sobre direitos humanos, sexualidade e doenças
sexualmente transmissíveis, efeitos das drogas sobre o organismo e, de
forma mais abrangente, visou promover reflexões acerca das
motivações para o uso de substâncias psicoativas, bem como sobre as
repercussões deste consumo sobre os vários âmbitos da vida pessoal, a
respeito do impacto sobre os relacionamentos afetivos e familiares, e,
ainda, facilitar o entendimento sobre a necessidade de avaliar as
consequências das ações praticadas e fomentar a construção de
projetos de vida. A despeito dos limites impostos ao trabalho, tais como
espaço adequado para a realização das atividades, a escassez de
recursos materiais disponíveis, insuficiência na assistência da rede
territorial, e a instabilidade do clima institucional gerada pela constante
contestação de regras pelos adolescentes. As intervenções com jovens
em idade entre 15 e 18 anos. Apresenta como resultados a melhoria da
capacidade reflexiva e diminuição dos comportamentos impulsivos e
violentos entre os envolvidos no acompanhamento em saúde mental,
no âmbito coletivo, pela possibilidade de estimular a convivência
respeitosa e pacífica entre membros de grupos tidos como rivais.

277
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Acompanhamento Multiprofissional Pós Alta de Um Paciente


Psiquiátrico: Um Relato de Experiência

Ana Claudia Pithan Faleiro


Evelym Cristina da Silva Coelho
Marcos Paulo Costa Lima
UEPA - Universidade do Estado do Pará

Lígia Gizely dos Santos Chaves Melo


Mário Antônio Moraes Vieira
Dalva Bastos e Silva Coutinho
Elizabeth das Dores Silva
João Bosco Monteiro
Selma Carvalho Frota Duarte
Marly Lobato Maciel
Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna

Introdução: A Alta Assistida e o Acompanhamento Terapêutico,


inserem-se na atenção à saúde mental em concordância com a proposta
da Reforma Psiquiátrica de promover a reinserção social do paciente
portador de transtorno mental. Na história da saúde mental, os sujeitos
têm sido marginalizados e excluídos do convívio na sociedade por
apresentarem um diferente modo de ser/estar no mundo. O trabalho
teve como objetivo acompanhar um paciente psiquiátrico em seu
processo de alta hospitalar na tentativa de assegurar a continuidade do
tratamento na RAPS e evitar a reinternação. Descrição da Experiência:
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, do tipo
relato de experiência, realizado por profissionais residentes enfermeiras,
psicólogas e educadores físicos, do Programa da Atenção à Saúde
Mental – FHCGV. Durante o período de práticas no setor de emergência
psiquiátrica, cuja paciente N. F. C., 55 anos de idade, foi admitida, em
primeira internação em 27/05/2019, com avaliação médica de recusa de
alimentação, insônia, mutismo, humor deprimido, comportamento

278
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

negativista, perda da funcionalidade motora e força manual, atenção e


orientação comprometidos, e hipótese diagnóstica de Transtorno
Afetivo Bipolar. Realizou-se o atendimento multiprofissional da paciente
durante seu período de internação. A mesma recebeu alta hospitalar no
dia 13/06/2019. Após sua saída, foi realizado contato telefônico para
agendar o primeiro atendimento, e elaborou-se junto a paciente um
cronograma de posteriores encontros multiprofissionais, onde tais
atendimentos ocorreram em consultórios disponibilizados no
ambulatório da instituição, além de visita domiciliar. Foram realizados 4
atendimentos após a alta da paciente, no primeiro contato foi realizado
o exame mental da mesma, averiguada alteração no seu
comportamento motor (tremores em MMSS e MMII), e demonstrou
eventos de amnesias parciais, com juízo crítico preservado. Quanto ao
autocuidado, sono e repouso estavam satisfatórios. Relatou fazer o uso
corretamente das medicações e motivação para continuidade do
tratamento. Foram identificados como principais diagnósticos de
Enfermagem: Estilo de vida sedentário; disposição para o controle da
saúde melhorado; mobilidade física prejudicada; memória prejudicada.
A fim de melhorar o quadro clínico da paciente, foram realizadas
algumas intervenções, tais como: orientação detalhada acerca de seu
tratamento, seu diagnóstico e sobre a ação dos fármacos em seu
organismo; ressaltou-se a importância das atividades físicas, além da
demonstração de quais exercícios a mesma deveria realizar diariamente
em sua residência; incentivou-se a manutenção de sua autoestima e
autocuidado; reforçou-se a significância da família no processo de
recuperação e a relevância de seu tratamento continuado na RAPS.
Repercussões: Após cada atendimento, foi identificada melhora
progressiva da paciente em relação à mobilidade física, memória,
disposição para realização de suas atividades diárias e atividades físicas
recomendadas, continuação do engajamento ao tratamento e
compreensão das situações que podem desencadear uma crise psicótica
e a provável reinternação. Considerações Finais: O acompanhamento
terapêutico pós alta da paciente é fundamental para os usuários de

279
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

modo geral, pois diminui as chances de uma reinternação, atua no


restabelecimento de ligações sociais, na manutenção do cotidiano dos
pacientes e proporciona o cenário ideal para a continuidade do
tratamento na rede de atenção psicossocial.

280
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Acompanhamento terapêutico:
uma clínica versátil e antimanicomial

Isabel Cristina Carniel


Universidade Paulista; FAPSI

Historicamente situado no contexto da Reforma Psiquiátrica e tendo sua


origem reportada à psicologia social argentina, a prática do
Acompanhamento Terapêutico pode ser realizada por diferentes
profissionais, com ou sem ter concluído alguma graduação universitária.
No entanto, a experiência relatada aqui, passa pelo campo da psicologia
e, mais especificamente, do olhar existencial-fenomenológico. Neste
sentido, orientado pelas posições iniciadas pela antipsiquiatria inglesa e
reforma psiquiátrica italiana. Também são retomados os primórdios do
Acompanhamento Terapêutico na América Latina e sua evolução para as
práticas atuais no Brasil. A experiência aqui descrita e analisada é fruto
de cerca de trinta anos de reflexão de uma prática antimanicomial,
acompanhando pacientes internos de extintos hospitais psiquiátricos,
bem como de egressos destas instituições. Inicialmente são descritas
experiências de AT realizados pela autora e, aos poucos, são inseridas
práticas realizadas por alunos de graduação e profissionais de psicologia
orientados pela autora. Compõem estas experiências, atendimentos
realizados em diferentes contextos, com as mais diversas demandas,
desde a preparação para a saída do hospital, passando pela iniciação em
experiências de cidadania e a mudança do status de interno/a para a
condição de morador/a, com suas peculiaridades. Ora acompanhados
individualmente, ora em grupos, muitos foram os beneficiados pela
prática do AT, pois, neste modo de fazer clínica psicológica, enquanto
cuidamos de atividades do cotidiano, podemos também realizar
intervenções importantes no sentido de favorecer ao acompanhado a
apropriação de sua existência de modo singular. Por se caracterizar pela
ampliação das possibilidades de intervenção clínicas, o
Acompanhamento Terapêutico pode ser descrito como uma prática

281
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

versátil, permitindo alcançar pessoas que nem sempre se beneficiam da


clínica psicológica tradicional ou que, além desta, precisa de um cuidado
que vai além do contexto do consultório psicológico. Neste sentido, o
Acompanhamento Terapêutico pode compor o trabalho em equipe
interdisciplinar e manter-se como um importante recurso
antimanicomial, promovendo a vivência de cidadania, por vezes
prejudicada pelos tratamentos institucionalizantes.

282
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Adoecer Psíquico e Vulnerabilidade Humana:


da síndrome do pânico à resiliência

Renata Oliveira da Silva Lima


Faculdade da Região Sisaleira - FARESI

Renata Oliveira da Silva Lima


Sinara de Lima Souza
Universidade Estadual de Feira de Santana

Introdução: a atividade laboral, pode provocar ou suscitar ‘’medos’’ que


interferem na psicodinâmica do trabalho e na vida fora do mesmo,
podendo desencadear um adoecimento psíquico. Descrição da
experiência: Desde a infância desenvolvi medo de pessoas rotuladas
como ‘’doidas’’ e, sofri ameaças por parte de adultos referente a
“chamar o doido’’, caso não me comportasse adequadamente. Na
formação profissional, fiz visita técnica e desenvolvi atividades práticas.
Durante esse período, me esforcei para esconder meus medos e tentei
fazer o melhor possível. Contudo, sofria calada. Por ter sido um período
curto, suportei. Porém, após dois anos que de formada, fui atuar como
enfermeira coordenadora de um CAPS. Assim que recebi a notícia, fiquei
preocupada, mas enxerguei aquela oportunidade como possibilidade de
superação. Contudo, após quatro meses de atuação entrei em um
processo de ‘’síndrome do pânico’ que representou um divisor de águas
na minha vida. Agora, estava do outro lado da situação: de cuidadora,
passei a ser usuária: me descobri vulnerável, passei a entender o peso
do estigma, percebi o porquê da dificuldade de adesão à terapêutica
medicamentosa e sofri preconceito por parte de colegas que não
compreendiam a minha necessidade de relocação para outro serviço.
Em doze meses de tratamento, recebi alta. Repercussões: a inserção no
mercado de trabalho pode proporcionar satisfação pessoal e
profissional; porém, também pode se tornar um agente desencadeador
de traumas e angústias, ao ponto de provocar sofrimento psíquico,

283
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

quando a atividade é realizada com sentimentos negativos ou ainda com


experiências anteriores pessoais. Conclusão: Fazendo um balanço das
perdas e ganhos oriundos dos acontecimentos, vejo que fisicamente tive
que lidar com dezesseis quilos acima do peso normal, potencialização
das enxaquecas decorrentes da medicação no início da terapêutica e um
pouco de lentidão. Contudo, hoje me sinto mais humana e mais sensível
à dor do outro. Ao invés do medo dos indivíduos em sofrimento
psíquico, desenvolvi compaixão e empatia. No campo profissional, onde
estiver atuando, desejo manter meu olhar sensível a dor dos usuários,
para além da dor física. Na condição de humana, me descobri tão
vulnerável quanto qualquer pessoa, e aprendi que cuidadores também
necessitam de cuidado. Pois, não há saúde sem saúde mental e eu só
posso, ‘’dar’’, aquilo que ‘’possuo”. E, principalmente, descobri que
precisamos desenvolver e promover resiliência.

284
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Adolescentes privadas de liberdade:


diálogo sobre saúde mental e gênero.

Sarah Valentina Cruz da Silva


Gisele de Oliveira Mourão Holanda
Hosana Lourenço da Silva
Sandra Lucia Arantes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Introdução: A partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente


em 1990, a vida dos adolescentes que cometem atos infracionais
mudou. Hoje ao cometer infrações graves eles são encaminhados para
as instituições socioeducativas onde recebem um atendimento voltado
ao desenvolvimento biopsicossocial. Descrição da Experiência: No Rio
Grande do Norte, existem oito CASE (Centros de Atendimento
Socioeducativo), este relato tem como objetivo relatar duas rodas de
conversas ocorridas no Centro de Atendimento Socioeducativo
Feminino Padre João Maria - CASEF, situado em Natal/RN, durante o
mês de Dezembro/2019. As rodas de conversa foram compostas por
estudantes de Enfermagem do 7° período e sua professora com seis
adolescentes em tratamento socioeducativo. As intervenções trataram
sobre o corpo feminino, a saúde sexual, os impactos que a privação de
liberdade tem nas suas autoestimas, no afastamento de
relacionamentos e família. Para isso, dinâmicas específicas foram
realizadas na formação do vínculo. No primeiro encontro, para trabalhar
a autoestima, utilizou-se uma dinâmica em que, numa caixa com um
espelho dentro, todos os membros pudessem observar o seu conteúdo.
Expressava o que via e sentia, um olhar para seu eu e quais expectativas
tinham com o futuro. Com essas reflexões, criou-se a árvore dos sonhos,
a partir da confecção de cartões pelas internas de planos para a vida
após a saída do CASEF. O encontro foi finalizado com mensagens de
apoio e motivação para enfrentar a fase vivida. No segundo, o corpo e a
saúde sexual e reprodutiva foram trabalhados através de envelopes com

285
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

imagens do corpo nos diferentes ciclos de vida, dos órgãos reprodutivos


e de métodos contraceptivos. Cada envelope aberto era debatido. No
final da reunião, conversamos sobre a solidão e o afastamento da
família no período das festividades do Natal, e para expressar melhor a
vivência delas, foram elaborados cartões de Natal para as famílias.
Repercussões: As ações realizadas focaram na temática da saúde mental
e física, com as dinâmicas criou-se um vínculo. A partir deste laço,
construiu-se um espaço terapêutico, onde ocorreu o desabafo sobre a
vivência delas e questões de saúde foram retiradas. Nas suas falas elas
expressaram sentimentos relacionados à privação de liberdade; impacto
na autoimagem, nos relacionamentos, sonhos, o desejo de melhorar e
retornar ao convívio social. Considerações Finais: A privação de
liberdade em adolescentes no tratamento socioeducativo causa
impactos na sua saúde mental, física e moral. Por isso, o atendimento
prestado a elas deve focar e agir nessas áreas, promovendo um cuidado
biopsicossocial e integral. Cabe aos profissionais de saúde prestar esses
cuidados de forma livre de julgamentos. Para estudantes de
Enfermagem, a oportunidade de vivenciar esse cuidado, ainda na
formação conscientiza o futuro profissional às demandas desta
população. Para além, acredita-se que a intervenção tenha alcançado
esses cuidados.

286
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Afeto nas Redes: Desenvolvimento de Produtos Audiovisuais para


Promoção de Saúde Mental de Idosos em Condições de Isolamento
Social na Pandemia por Covid-19

Gabriel Matias Queiroz


Everaldo Nascimento do Rosário Júnior
Vanessa Rastelli Cruz Silva
Rafaela Silva Oliveira
João Batista de Brito Braga Alves
Marcus Vinicius Borges Oliveira
Silvana Lima Guimarães França
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Introdução: Mediante o surgimento do primeiro caso de COVID-19 em


fevereiro de 2020, o Brasil se inseriu no rol de países afetados pela
pandemia, exigindo que uma série de medidas fossem adotadas pelos
estados e municípios de acordo com as recomendações da OMS.
Determinações, tais como a necessidade de isolamento social, alteraram
significativamente o modo de vida dos brasileiros, sobretudo dos idosos,
já que integram o grupo de risco dessa doença. Diante desse contexto e
da necessidade de reforçar o papel da universidade frente à
comunidade, a Universidade do Estado da Bahia criou o Projeto de
Extensão UNEB Contra o Coronavírus, dividido em cinco eixos, a fim de
se articular com duas USFs do Distrito Sanitário Cabula/Beirú, na cidade
de Salvador, e estabelecer mecanismos de promoção da saúde, focando
na população idosa em situação de vulnerabilidade social. O presente
relato objetiva descrever a experiência da frente “Afeto nas Redes”,
parte integrante do subeixo de Saúde Mental desse projeto e
responsável pelo desenvolvimento de produtos audiovisuais como
estratégia de reduzir os impactos psicológicos causados pelo cenário
atual nesse recorte populacional. Descrição da Experiência: A relação
estabelecida com os idosos se deu por intermédio de vídeos e podcasts
semanais, tendo como fundamento algumas demandas trazidas por

287
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

outra frente do projeto, as “Ligações Afetivas”. Utilizando-se de uma


linguagem acessível e afetuosa, em diálogos, e de recursos artísticos –
desenhos, música, cordel – foram trazidas sugestões de manejo das
emoções frente a situação atual, notícias positivas a fim de resgatar um
olhar mais otimista e propostas de práticas voltadas ao autocuidado,
além de temas como comensalidade e autoestima. Para a construção
desses conteúdos, vários instrumentos tecnológicos foram mobilizados,
a exemplo do WhatsApp, Instagram e editores de áudio e vídeo. As
etapas de criação compreendiam desde a definição conjunta dos temas
nas reuniões; redação dos roteiros, com base em materiais de referência
e sob a orientação dos professores; troca de informações; gravação de
voz, seguida posteriormente da montagem e da edição; até chegar nos
envios. O momento de compartilhamento servia de espaço para dialogar
com os idosos acompanhados e buscar suas impressões acerca dos
envios. Repercussões: Ao longo de oito semanas, foram confeccionados
cinco vídeos e três podcasts, possibilitando trocas com vinte e quatro
idosos por meio dos envios e das conversas subsequentes ao
compartilhamento. Esse vínculo permitiu aos idosos o acesso a
informações importantes sobre Saúde Mental, assim como colaborou
com o presente grupo na consolidação de uma visão integral acerca do
isolamento social e de seus desdobramentos psicossociais.
Considerações Finais: A pandemia nos obrigou a encontrar novas formas
de cuidado e a frente “Afeto nas Redes” assumiu seu papel na promoção
de saúde, colocando a arte, a ludicidade e as novas tecnologias como
potencializadoras desse processo. Ao mesmo tempo, notou-se como
dificuldades de acesso à internet e a dispositivos tecnológicos podem
ser obstáculos para educação em saúde dentro de tal contexto,
reforçando desigualdades sociais. Reconhecendo-se essas limitações,
faz-se necessário o uso da criatividade e o investimento concomitante
em outras formas de acolhimento.

288
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Agentes promotores da Saúde da População de Rua:


protagonismo para o cuidado

Iasmin Oliveira Carneiro


GHC

Maria Gabriela Curubeto Godoy


Roberto Henrique Amorim de Medeiros
Jesse Rodriguez Cardoso
Gabrielle de Souza Netto
Marina Dal Magro Medeiros
Théo Storchi da Rocha
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Anderson dos Santos


Paloma Cristina da Rosa
PSR

Esta experiência formou pessoas em situação de rua como Agentes


Promotores de Saúde da População em Situação de Rua (PSR), de
fevereiro a julho de 2019, em Porto Alegre/RS. O protagonismo da PSR
em processos educativos e de cuidado possibilitou a sua visibilização
pela potência, estabelecendo relações dialógicas mais simétricas e
reduzindo estigmas, possibilitando novas formas de sensibilização dos
trabalhadores de saúde para o cuidado de populações vulneráveis. A
formação dos agentes ocorreu em 10 encontros quinzenais alternados
com ações realizadas em diferentes territórios saídas por equipes mistas
compostas por 20 pessoas da PSR e por acadêmicos de graduação e pós-
graduação, todos colegas no curso de formação dos agentes. O processo
formativo inspirou-se nos círculos de cultura de Paulo Freire, na
Educação Popular em Saúde, na educação entre pares, e na ruaologia, o
saber que provém da experiência da PSR. O curso abordou diversas
temáticas, como: o cuidado de si e do outro, os serviços e direitos da

289
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

PSR, tuberculose, HIV/AIDS, uso de drogas e Redução de Danos, cuidado


da mulher e a gestante na rua, dentre outros. Após cada aula, composta
por círculo de exposição e conversa e atividade grupal da equipe,
ocorriam as ações no território, a partir de combinações realizadas com
os serviços de referência da saúde e assistência social que tinham
encaminhado candidatos a agentes. Ao longo dos meses as equipes
realizaram diversas ações, como: visitas e articulação com serviços de
saúde, assistência social e outros, bem como atividades de abordagem,
acompanhamento, encaminhamento e busca ativa da PSR com
tuberculose e outros agravos. Entre os desafios encontrados, destacam-
se os obstáculos burocráticos institucionais que atrasaram a inclusão
dos agentes da PSR como bolsistas, e a impossibilidade de continuidade
do projeto após seu término, o que denota as limitações de ações
transitórias com a PSR, cujas necessidades precisam ser atendidas por
políticas de maior duração e alcance. Por outro lado, a experiência de
articulação de diferentes atores - trabalhadores, PSR e acadêmicos,
possibilitou a experimentação de novos tipos de produção de cuidado e
sociabilidade; o fortalecimento do protagonismo de sujeitos e de
coletivos organizados com a visibilização da PSR pela sua potência; a
participação da população-alvo na elaboração e execução das ações com
a valorização dos saberes da rua (ruaologia); e a constituição de espaços
inter/transdisciplinares com orientação emancipatória e decolonização
epistêmica possibilitando novas formas de ocupação da universidade e
da cidade por segmentos historicamente excluídos, como a PSR.

290
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Algumas reflexões sobre a importância do serviço substitutivo diante


da subjetividade: um relato de experiência a partir de inserção no
CAPS

Bianca de Araújo Silva

Introdução: A reforma psiquiátrica no Brasil surge em prol de uma


mudança diante do contexto de atenção e gestão nas práticas de saúde,
visando a defesa da saúde coletiva, equidade na oferta de serviço,
protagonismo da equipe e das usuárias e usuários e diante de uma
tentativa de quebra do modelo asilar e hospitalocêntrico na assistência
às pessoas com transtornos mentais, compreendido como
desinstitucionalização. Para além da quebra de um modelo manicomial,
a desinstitucionalização visa a autonomia do sujeito diante de seus
processos e tratamento. Diante disso, a rede substitutiva de saúde
mental visa responder a complexidade do sujeito em sofrimento, sendo
o Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, um dos instrumentos dessa
rede. O CAPS surge como instrumento estratégico para a Reforma
Psiquiátrica Brasileira. É o surgimento destes serviços que passa a
demonstrar a possibilidade de organização de uma rede substitutiva ao
Hospital Psiquiátrico no país e tem como uma das funções promover a
inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações
intersetoriais, levando em consideração a subjetividade de cada sujeito.
Descrição da experiência: O presente relato busca apresentar
experiências vivenciadas a partir da atuação em CAPS tomando como
recorte a observação de relatórios produzidos por um Hospital
psiquiátrico. A partir disso, verificou-se uma série de problemáticas:
uma delas foi a existência de poucos dados sobre os/as usuários,
considerando que a construção documental dos prontuários possuem
vários vazios que, basicamente, restringiam-se aos medicamentos
utilizados. Repercussões: Houve o atravessamento de uma série de
questões, principalmente diante do pouco tempo de inserção efetiva no
serviço. Nesse sentido, foi possível deparar-se com a falta de

291
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

informações sobre os sujeitos e a forma como o relatório evidencia,


mais sobre a institucionalização do funcionamento do Hospital
Psiquiátrico, do que informações pertinentes as/os pacientes. Nesse
sentido, é importante reafirmar a urgência de compreender os serviços
substitutivos como fundamental enquanto instrumento que considera o
sujeito e o território e tal compreensão incide diretamente diante de
seu tratamento e nos processos de subjetivação. Considerações finais: A
reforma psiquiátrica no Brasil é fruto de um processo político e social
complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes
origens, e que incide em territórios diversos, nas universidades, no
mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas pessoas
com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e
nos territórios do imaginário social e da opinião pública. A problemática
apresentada sobre a construção de prontuários é também, uma forma
de construção de discursos e mecanismos de linguagem que
compactuam com uma lógica manicomial e estritamente biomédica, e
em muito distorcem o processo político de luta antimanicomial. Sendo
assim, articular o CAPS enquanto um dispositivo protagonista no
cuidado à saúde mental é, sobretudo, uma forma de alinhamento com a
compreensão de que cada sujeito possui sua subjetividade e que esta
incidirá diretamente diante de seu tratamento e nos processos de cada
um.

292
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Algumas reflexões sobre ato infracional e a institucionalização da


violência a partir da experiência de estágio com adolescentes em
conflito com a lei

Nathalia Bezerra de Siqueira


Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Introdução: O ato infracional personifica a irrupção de um


acontecimento que escapa à lei, por meio da operacionalização de um
estatuto jurídico específico que foge à tentativa de dar conta do que se
rompe no ato. Nesse contexto, a sistematização de um corpo
institucional, fragmentado e instrumentalizado por mecanismos de
poder evidencia a violência que extrapola os espaços, invade os
territórios, marca os corpos e demarca formas de existência. Diante do
contexto político brasileiro, a violência se entrelaça com modos de
funcionamento institucionais que recaem sobre o adolescente e o ato
infracional, principalmente diante dos diferentes operadores que
legitimam a violência como uma forma de fazer valer a lei e o
ordenamento jurídico. Descrição da experiência: A partir de
inquietações advindas das vivências de estágio com adolescentes em
conflito com a lei, bem como da aposta na psicanálise para pensar
questões políticas, culturais, sociais e institucionais, o presente relato
emerge como forma de elaborar algumas reflexões sobre ato infracional
e a institucionalização da violência, sem a intenção de esgotá-las ou
tampouco de tomá-las como definitivas, mas sobretudo como uma
forma de demarcar alguns pontos sobre as fraturas políticas
entrelaçadas nos territórios e nas instituições. Repercussões: As
narrativas que transpassam as vivências possuem, em si, uma dimensão
que escapa da possibilidade de previsão e que, exatamente por esse
motivo, nos coloca em uma posição de não somente dedicar-se ao ato
infracional enquanto ato, mas também enquanto a irrupção de algo que
existe mergulhado em contexto histórico, social, político, econômico e
racial. O âmbito de uma posição que convoca, sobretudo, para criar

293
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

passagens pelas quais a fala pode escorregar, deslizar: como pensar a


operacionalização desses dispositivos dentro das instituições? Para além
disso, a emergência da violência nos territórios, nos corpos e nas
instituições atravessam uma lógica cuja tentativa de capturar a
experiência do adolescente em conflito com a lei é, sobretudo, forjada
por discursos estigmatizantes. Assim, é importante demarcar que há
algo na aposta do tensionamento das relações, dos limites e, mais ainda:
uma aposta no indecifrável e no equívoco que vacila a linguagem e o
inconsciente que demarca uma fratura. Considerações finais: Não se
trata somente de questionar esses lugares de fala, de escuta e de
discursividade. São também lugares de linguagem e deslocamentos
possíveis nas relações com e entre os sujeitos. Tal proposta de
deslocamento passa também por um estranhamento: pois a
possibilidade de tensionar os espaços e a estrutura atravessa por
questionamentos e inquietações múltiplas, principalmente diante da
urgência em mobilizar algo que falha em tais relações institucionais,
sociais e políticas. Sendo assim, o processo de estar diante da vivência
em um campo de estágio cuja emergência de situações sociais críticas
demandam uma escuta atenta não somente ao sujeito, mas também
para as violências cotidianas, cujos mecanismos de institucionalização
marcam fraturas no corpo e no ato.

294
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Ampliação do olhar em saúde mental: por um cuidado ao cuidador

Geny Alexandre dos Santos


Faculdade Uninassau

Introdução: A construção desta intervenção nasce pela observação das


dificuldades que cuidadores de pessoas em condição de transtorno
mental grave enfrentam em lidar com este indivíduo após o diagnóstico.
Sem saber o que fazer, são pessoas que ficam à deriva em uma situação
inesperada do contexto familiar. A partir dessa realidade pensamos em
uma intervenção que pudesse atenuar as angústias sentidas por tantas
famílias no cuidado aos seus parentes. Desse modo, construiu-se a
proposta de oficinas terapêuticas cujo objetivo estava para além da
escuta, mas também, a promoção de um espaço de aprendizagem, um
ambiente para partilha de experiências, a fim de que os cuidadores
construíssem uma história em torno do seu sofrimento, e assim,
mobilizassem atitudes de ressignificação para um contexto
emocionalmente difícil. Estes cuidadores foram contatados a partir de
uma ficha ambulatorial na policlínica de uma cidade do interior de
Pernambuco, onde são atendidos seus parentes e consta o nome e o
endereço de quem levou o paciente para o atendimento, neste caso
mães, esposa e irmãos. Relato da experiência: As oficinas contaram com
a participação de 5 cuidadores, em 3 encontros, com duração de 1 hora
cada. Trataram respectivamente dos temas “o que é a esquizofrenia?”,
“Entre a crise e o diagnóstico”, “Tratamento e Autonomia”, cada um
destes temas partiram das noções que os cuidadores traziam e como
vivenciavam esta realidade de modo singular. Inicialmente ficou
marcadamente evidente a frustração pelo “não saber mais o que fazer”
e o desgaste emocional pelo enfrentamento de situações com forte
mobilidade de afetos, as filhas que ateavam fogo na casa, o irmão que
gritava toda a noite não deixando os vizinhos dormirem, o marido que
andava nu pela cidade. Observou-se nestas oficinas que os cuidadores
estavam envoltos em muitos estigmas e ainda veem a internação como

295
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

o único meio de contenção em crise dos seus familiares, o que ratifica a


necessidade de apoio para estes cuidadores, em diferentes aspectos.
Repercussões: a participação dos cuidadores foi significativa, a
expressão das angústias e a partilha das experiências foram feitas com
maior intimidade a cada encontro. A medida em que os afetos eram
expressos, mais ideias também se construíam sobre o que fazer frente
às dificuldades diárias, inclusive pensar corresponsabilidades no cuidar e
a construção da autonomia do sujeito em adoecimento, a fim de
minimizar a solicitude do cuidado integral por um terceiro. Assim,
percebeu-se um espaço em que os cuidadores teceram relações de
sentido entre o adoecimento e o sujeito adoecido, reduzindo as tensões
do cotidiano. Considerações: acredita-se que o ambiente do grupo
terapêutico para cuidadores de pessoas em adoecimento mental grave
pode ser um lugar de ressignificação de afetos, partilha de experiências
e tomada de novas posturas do cuidador, além de um espaço
fundamental para reconstrução de vínculos e sensação de amparo.
Desse modo, considera-se que os grupos terapêuticos em diferentes
modalidades são fundamentais à estabilidade afetivo-emocional do
cuidador e favorecimento de múltiplas aprendizagens.

296
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Análise Psicodinâmica do trabalho dos Auxiliares de Serviços Gerais


que atuam em uma Universidade Pública Federal

Wítano de Oliveira Santos


Katerine S. Soares de Sousa
Lazaro P. da Silva Junior
Mírian Carvalho Lopes
Raimara Pereira Lourenço Duarte
Eduardo Breno Nascimento Bezerra
Fundação Universidade Federal do Tocantins - UFT

Com o passar do tempo o trabalho passou a ser compreendido como


algo importante para o desenvolvimento da humanidade, o qual é
complexo e implica muitos fatores na vida do sujeito. O crescimento da
indústria e a evidência da divisão entre concepção e execução do
trabalho produziu muitos prejuízos à saúde dos trabalhadores por causa
das horas estendidas de jornadas de trabalho, aumento da intensidade
da produção etc. A partir daí houve espaço para trabalhos precarizados
e invisibilizados. Um destes é o trabalho com limpeza e diante disso se
criou a proposta de intervenção com trabalhadoras deste setor em uma
Universidade Pública no interior do estado do Tocantins como pré-
requisito de aprovação na disciplina de Estágio Básico em Gestão e
Trabalho, ofertada no oitavo semestre do curso de Psicologia da
Universidade Federal do Tocantins. As atividades interventivas foram
conduzidas a partir do que é proposto pela Psicodinâmica do Trabalho,
que considera a relação da tríade: sujeito, trabalho e o outro. Foram
realizados seis encontros grupais no Centro de Estudos e Práticas em
Psicologia- CEPSI da Universidade Federal do Tocantins e um
acompanhamento individual durante o turno de trabalho dos
participantes. Ao todo, participaram oito Auxiliares de Serviços Gerais -
ASG’s, tendo a participação de apenas um homem em um dos
encontros, todas as outras eram mulheres. Durante os encontros o

297
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

grupo de estagiários propôs algumas dinâmicas a fim de que os


participantes repensassem sobre alguns aspectos do trabalho como a
vivência de prazer e sofrimento, relação deste trabalho com a vida
pessoal entre outros. Além disso ocorreu a escuta clínica ao passo que
os estagiários assumiram uma postura continental, a fim de acolher
todas as angústias suscitadas em relação ao trabalho e com a intenção
de promover um desenvolvimento saudável para as participantes.
Entendeu-se que há por parte delas uma demanda de se sentirem em
casa, mesmo estando no trabalho, outro aspecto importante da vivência
está atrelado ao apoio das colegas de profissão que tem sido importante
para poder continuar trabalhando e se distraírem neste ambiente o que
se configura como prazer para elas. Além disso colocam o quão positivo
é a relação com a comunidade acadêmica, tanto de professores e
técnicos como também de alunos da universidade que diariamente as
cumprimentam e as motivam. Além disso percebeu-se que elas sentem
a necessidade de cumprir suas tarefas mesmo com dores ou quando
têm os movimentos corporais reduzidos causadas por lesões
decorrentes do próprio trabalho, e somente param as atividades quando
o acometimento tenha atingido uma gravidade tal que impeça a
continuidade seja da atividade laboral, buscando assim, algum tipo de
intervenção médica. Foi possível perceber que a para os profissionais foi
importante serem reconhecidas pelo corpo técnico administrativo da
instituição, pelos estudantes como também pela chefia. Ademais,
também houve o reconhecimento entre os pares, que possibilitou maior
ascensão ao senso de coletividade, conteúdo esse que apareceu em
todos os encontros e que é utilizado como principal estratégia de
defesa, considerada por eles um fator motivacional para permanecerem
no trabalho.

298
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Andarilhando e resistindo: o Acompanhamento Terapêutico como


dispositivo de fortalecimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira

Cristian Da Cruz Chiabotto


CAPS I Saber Viver

Igor Sastro Nunes


Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul

Durante o percurso da reforma psiquiátrica brasileira, foram se criando


uma diversidade de ferramentas e dispositivos que pudessem dar conta
de implementar modos de cuidar que abarcassem a complexidade do
fazer em saúde mental e das práticas de desinstitucionalização. Dentre
tais dispositivos, o acompanhamento terapêutico (A.T) insurge como
modo de cuidar e conceber uma outra clínica, apontada por Lancetti
(2016, p.19) como prática peripatética, que se faz caminhando,
inventando percursos pela cidade que sejam capazes de pôr em
evidência a loucura e todos os modos de subjetivação que a clínica
tradicional com seus dispositivos não dão conta. Durante os anos que se
sucederam na árduo trabalho ético-político de desconstrução dos
aparatos manicomiais, o principal desafio se tece no campo da cultura e
da quebra dos paradigmas hegemônicos de tratamento da loucura, a
concebendo como um processo histórico, social, econômico e que
atravessa diversos campos de saber-fazer. Nisto, o A.T surge mostrando
através de diversos lugares, campos, regiões e casos, a sua eficácia em
costurar os processos complexos do sofrimento psíquico e de todos os
seus determinantes sociais, levando o usuário à rua e colocando em
questão não só a quebra dos aparelhos ideológicos do manicômio, mas
também a alteridade de um outro que ocupa o espaço público na sua
diferença, no delírio, na alucinação e que faz da rua o setting onde o
inusitado se torna terapêutico. Diante então deste processo complexo
de trabalho em saúde mental, utilizando-se do A.T, a reforma
psiquiátrica brasileira conseguiu avançar no campo das lutas

299
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

micropolíticas – ali no dia a dia do fazer onde os manicômios mentais


ainda assombram as práticas e os modos de gerir e cuidar – se
constituindo como importante ferramenta de desinstitucionalização da
loucura e de proliferação de outros modos polifônicos de subjetivação,
no entrecruzamento entre a rua, o urbano, o tempo, o andarilhar e o
sofrimento psíquico, tecendo assim um novo sentido de composição da
vida na cidade e no laço social. É diante destes entrecruzamentos que o
dispositivo do A.T, se mostra como um modo de resistência face aos
retrocessos que ocorrem nas políticas de saúde mental no Brasil desde o
golpe da elite burguesa e neoliberal em 2016, compondo e colocando
em questão no ato que é possível ativar a criação de campos que se
oponham ao modelo médico-hegemônico do cuidado no sofrimento
psíquico que historicamente se mostra encarcerador e excludente. O
acompanhamento terapêutico neste sentido, é capaz de compor uma
prática ético-política para o fortalecimento da reforma psiquiátrica
brasileira, evidenciando que é preciso investir em práticas extra-muros e
afirmando que a liberdade sempre será nosso principal dispositivo
terapêutico diante das ofensivas manicomiais do sistema neoliberal
brasileiro que insiste em desmontar os avanços e conquistas da luta
Antimanicomial.

300
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Aplicação do “Jogo dos Estereótipos” em um processo seletivo para


ingresso no Grupo de Trabalho de Redução de Danos UNIFACS

Nágila Conceição Santos


Amanda dos Santos Lima
Diele Santos da Paixão
UNIFACS - Universidade Salvador)

Introdução: O “Jogo dos Estereótipos” é uma ferramenta de associação


sobre o uso e usuáries de substâncias psicoativas. Entende-se
estereótipos como ideias preconcebidas a respeito de algo ou alguém,
com viés preconceituoso derivado de padrão estabelecido pelo senso
comum. Deste modo, o jogo tem por objetivo provocar uma reflexão
crítica acerca dos estigmas e preconceitos que perpassam a sociedade
relacionados ao consumo e às/aos usuáries de substâncias psicoativas,
procurando correlacionar com a prática da redução de danos e
promover uma quebra de paradigmas, utilizando da ludicidade como
veículo para o debate de temas que ainda hoje são tabus em nossa
sociedade. A jogabilidade se dá com a distribuição de palavras que
caracterizam: vestimenta (bermuda, camisas e terno), comportamento
(agressividade, extroversão, inibição), aparência física (magre, gorde,
negre e não negre), na qual os participantes devem montar um perfil
das/dos usuáries de cada substâncias (maconha, álcool, crack, cafeína,
medicamentos). Descrição da experiência: O processo seletivo do grupo
acontece semestralmente e comumente é composto por três etapas que
são entrevistas, dinâmica e discussão de casos com temáticas sobre
atualidades. No processo de 2019.1 a dinâmica escolhida foi o “Jogo do
Estereótipos”. Tal ferramenta foi escolhida com intuito de realizar
mapeamento da produção de conhecimento, aprendizagem e reflexão
dos possíveis futuros integrantes e de como os conceitos estereotipados
preestabelecidos socialmente contribuem para a visão excludente
mesmo dentro da academia, direcionada para determinados grupos.

301
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Repercussão: Diante do processo foi expressado pelos participantes a


relevância e a contribuição da ferramenta para o seu desenvolvimento e
a construção de uma visão crítica e política respeito das temáticas que
são abordadas. Para além disto, fica evidenciado como este processo de
conhecimento, aprendizagem e reflexão, permite o entendimento de
que o uso de substâncias está inserido em diversos contextos da
sociedade e suas/seus usuáries não se resumem a grupos específicos.
Considerações Finais: A experiência afirma sua efetividade, uma vez que
o resultado da aplicação foi a construção coletiva de novos olhares e
fazeres desde a graduação no cuidado em saúde de usuáries de
substância. Possibilitando às/aos futures profissionais uma atuação
pautada no princípio da integralidade e no respeito, o qual tem como
prioridade a pessoa e não possíveis estereótipos sociais.

302
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Apoio matricial em prevenção do suicídio: coletivizando o cuidado em


saúde mental na Atenção Básica

Izabela Gomes Veiga de Sousa


Miriam Maróstica
Isabel Campos Mustafa Figueiredo
Marta Ferreira Menezes de Almeida
Fundação Estatal Saúde da Família-FIOCRUZ

Introdução: Compreendemos a Atenção Básica como um nível de


atenção estratégico para o cuidado em saúde mental, pautado nos
princípios da Reforma Psiquiátrica. A Estratégia Saúde da Família (ESF), a
partir de seus princípios, diretrizes e tecnologias possíveis, favorece a
orientação para este cuidado. No contexto nacional de enfraquecimento
da ESF, há um grande desafio para organizar e desenvolver processos de
trabalho que coletivizem a responsabilidade pela saúde mental na
Atenção Básica. Este trabalho visa a relatar a experiência de uma ação
desenvolvida para a superação deste desafio por residentes de
psicologia em primeiro período, do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Família, da Fundação Estatal Saúde da
Família (FESF-SUS) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Campo Salvador,
Bahia.
Ao iniciarmos a formação em serviço na Unidade de Saúde da Família,
chamou-nos à atenção, a alta frequência de solicitações pelos
profissionais das equipes mínimas para atender usuários em risco de
suicídio e as limitações das ações de manejo e prevenção, que
centravam-se em prescrição de psicotrópicos, intensificação de
consultas na unidade ou encaminhamento para o pronto-atendimento
psiquiátrico. De acordo com dados do SINAN, da série histórica 2010-
2020, o distrito sanitário do qual a USF faz parte está entre aqueles que
apresentaram maiores número e taxa de notificações por lesões
autoprovocadas por 10.000 habitantes, no município de Salvador.

303
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Descrição da experiência: Realizamos, assim, a sequência de três oficinas


pedagógicas, com o tema “Prevenção de Suicídio na Atenção Básica”,
abordando compreensões sobre o suicídio, o suicídio ao longo da
história e na saúde pública, classificação de risco, manejo e prevenção
por meio da ESF. A primeira delas, facilitada pelas residentes de
psicologia, objetivou prestar apoio matricial à equipe de residentes
multiprofissionais. As oficinas subsequentes foram facilitadas por todos
os residentes multiprofissionais, tendo como público os residentes da
Residência em Medicina de Família e Comunidade (FESF-SUS) que
realizam formação na USF e profissionais de vínculos diversos que
compõem o quadro da unidade.
Repercussões: Após a realização das três oficinas, recebemos o retorno
dos residentes multiprofissionais sobre estarem mais bem preparados
para acolher usuárias(os) em risco de suicídio, compreendendo o papel
da escuta e do vínculo neste trabalho. Nas oficinas que contaram com a
presença de profissionais das equipes mínimas da USF, os participantes,
reconhecendo a importância da educação permanente sobre o tema,
iniciaram o planejamento de ações como ciclos de formação, discussões
de casos analisadores e rodas de campo para capacitação sobre
notificação por lesões autoprovocadas.
Considerações Finais: Como consequência do diálogo com preceptora e
apoiadora de núcleo, baseando-nos em princípios e diretrizes do
Sistema Único de Saúde, apostamos em uma experiência de apoio
matricial, com o objetivo de fazer circular a discussão sobre a prevenção
do suicídio. Isto possibilitou que identificássemos, juntos às equipes,
quais sentidos atribuídos ao suicídio e sua prevenção orientavam suas
práticas até o momento. Assim, qualificamos o planejamento de
estratégias a fim de ampliar a clínica e as possibilidades de abordagem
pelas equipes, destacando as potencialidades e desafios da Estratégia
Saúde da Família para este trabalho.

304
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Apoio psicossocial online aos profissionais residentes como estratégia


de saúde mental em tempos de pandemia.

Camila da Soledade Urquiza Lins


Gyovanna Hyamonna Gomes de França
Sthefany Severo Souza
Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz

Introdução: Diante do cenário da pandemia do coronavírus, a


experiência da residência se dá de forma diferente ao que era esperado.
Sendo assim, o formato online se insere de forma bastante contundente
neste primeiro ano da residência. Também diante do contexto da
pandemia, se notou o aumento do adoecimento mental dos
profissionais de saúde. Portanto, uma das frentes propostas pela equipe
gestora da residência em saúde mental, álcool e outras drogas da
Fiocruz Brasília foi o atendimento de residentes de outros programas da
instituição, ofertando escuta e acolhimento de forma online.
Descrição da Experiência: 1º momento: adaptação de ambas as partes
(período para se adaptar com as novas ferramentas de
trabalho/atendimento). No primeiro momento, foi ofertado o
atendimento a residentes do estado da Bahia, que passaram por um
primeiro acolhimento com um membro da equipe docente do
programa. Os casos acolhidos então foram repassados às equipes
multiprofissionais de residentes que consistem em profissionais do
serviço social, da enfermagem e da psicologia. A equipe então fez
contato com os residentes através do aplicativo de mensagens
WhatsApp. Ofertou-se a possibilidade do acolhimento por meio de
mensagens, áudio ou chamada de vídeo, a ser escolhida pelo residente
usuário. Ambos os usuários atendidos optaram por chamada de vídeo
como meio de atendimento. As dificuldades neste processo estiveram
relacionadas aos horários para a realização dos encontros, uma vez que
a residência é um programa com carga horária de 60 horas semanais,
como também a adaptação à nova forma de atendimento não

305
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

presencial, o que exige diferentes estratégias para alcançar um


atendimento qualificado. 2º momento: escuta como processo de
acolhimento e transformação. Assim, se buscou ao longo do processo
oferecer um espaço de escuta para aqueles que solicitaram
atendimento. O fato de serem residentes atendendo às suas demandas,
facilitou o processo de acolhimento e identificação, pois determinadas
queixas tinham relação com as vivências comuns que ocorrem nos
programas de residência. Durante os atendimentos, a promoção do
espaço de escuta, trouxe para os residentes usuários reflexões sobre
como lidar com suas primeiras demandas e cuidar de si diante da
situação vivenciada. Ainda foi possível perceber novas demandas que
não aquelas levantadas no primeiro momento, as quais puderam
também ser expostas e trabalhadas. 3º momento: resultados/conclusão.
Como conseguimos perceber os resultados dos atendimentos? Os
usuários residentes explanaram que o espaço de escuta ofertado
durante o período de um mês e meio, significou momentos de
autocuidado, de poder olhar para as questões que estavam lhe afligindo
e ao fazê-lo elaborar para que as mudanças fossem colocadas em
prática. Estar trabalhando diretamente com processos associados a
pandemia, com uma extensa carga horária de trabalho, exige
minimamente que espaços de escuta como esse sejam mais
disseminados, visto que a forma como se organizam programas de
residência tendem a ser propulsor de adoecimento físico e mental, e
diante da atual conjuntura a situação se intensifica.

306
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Aprendizagem no Trabalho: a articulação do enfermeiro residente e


preceptor na saúde mental

Jaksiana Batista da Silva


Darla Tormen
Marcelo da Silva Alves
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

A residência multiprofissional em saúde é um modelo de ensino de


especialização lato sensu, voltada para a formação em serviço criada em
2005 pela lei 11.129 e segue os princípios e diretrizes do SUS. Trata-se
de uma formação caracterizada pelo trabalho multidisciplinar,
intersetorial, que possibilita ao profissional residente adquirir
qualificação através da articulação com o seu preceptor, profissional de
sua categoria, que atuante no cotidiano do serviço poderá partilhar
experiências e saberes. Dentro da experiência do cotidiano no CAPS, o
enfermeiro e o residente fazem o trabalho que interliga gestão,
assistência e educação, sendo condizentes com a resolução COFEN 599
de 2018, que traz as atribuições do enfermeiro na saúde mental.
Percebemos então, que ocorreu uma mudança no perfil do trabalho do
enfermeiro antes executado nos hospitais psiquiátricos e agora no novo
modelo de assistência pós-reforma psiquiátrica desempenhado nos
CAPS, em que o relacionamento terapêutico permite ações como escuta
qualificada e atendimentos individualizados mais resolutivos e
contribuidor da assistência interdisciplinar. Por demonstrar a
importância da articulação preceptoria e residente na formação
profissional e na assistência e fomentar novos olhares para a
enfermagem como agente terapêutico na saúde mental este relato de
experiência é relevante e objetiva descrever as possibilidades de
atividades de enfermagem enquanto em articulação preceptoria e
residente nos CAPS. Assim, entre as ações desempenhadas pelo
preceptor e o enfermeiro residente dentro de um CAPS, estão as
gerenciais, em que os mesmos tornam- se responsáveis pela elaboração

307
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de escalas e protocolos, articulam fluxos de atendimento com a equipe,


supervisionam e direcionam o serviço e os insumos necessários. Na
assistência, o preceptor e o residente de enfermagem, realizam ações
procedimentais que são específicas da profissão, mas há um olhar
especial sobre a construção do relacionamento terapêutico, em que
holisticamente há o acolhimento, a escuta, a formação de vínculos e
tornam-se referências técnicas dos usuários. Aqui se mostram hábeis
também nas conduções de grupos realizados como oficinas terapêuticas
e nos cuidados individualizados ora em visitas domiciliares, serviços
residências terapêuticos, ora em consultas de enfermagem em que
estabelecem direcionamentos para o tratamento e contribuem com a
equipe multiprofissional na construção de projetos terapêuticos
singulares. Articulado à atenção primária e ao cuidado territorial,
realizam o matriciamento que se expressa como uma atividade
assistencial e ao mesmo tempo educacional, intersetorial e
interdisciplinar, ampliando o aprendizado para o residente em contato
com seu preceptor. As ações educacionais não se desvinculam nem do
processo assistencial e nem do gerencial, pois estas atividades
contribuem para o cuidado institucional, individual, em grupo e na
relação preceptor e residente. Podemos dizer então que a articulação
preceptor e residente se constrói dentro de um processo educacional e
sendo atividades cotidianas do trabalho, se demonstram como
assistencial e gerencial para um cuidado integral na sustentação de uma
clínica ampliada. Conclui-se que o enfermeiro residente articulado ao
seu preceptor entrelaça a teoria com a prática cumprindo o papel da
enfermagem em toda sua complexidade e consolida a práxis deste
profissional na saúde mental e como agente terapeuta.
Descritores: Aprendizagem. Enfermagem. Saúde Mental. Trabalho.

308
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Aprisionamento de Si e Constituição Subjetiva do Carcereiro: um relato


de experiência sobre impactos do trabalho na saúde mental em
agentes penitenciários

Ariana de Oliveira

Jéssica Barbosa da Silva Laia


Centro Universitário Estácio de Santa Catarina

João Fillipe Horr


Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

O presente relato de experiência tem enfoque no processo de


acompanhamento das atividades de agentes penitenciários, durante
três semestres de estágio supervisionado em Psicologia, entre 2018 e
2019, em uma unidade de regime fechado e outra de semiaberto. Pode-
se pensar no agente penitenciário como um servidor que habita no
imaginário popular na dualidade do bem e do mal, da manutenção da
ordem e da punição.
No contexto prisional, é reconhecido o papel dos agentes penitenciários
em invalidar, questionar ou até mesmo impedir o acesso de sujeitos
privados de liberdade a atenção psicossocial preconizada pela Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade
no Sistema Prisional. Portanto, priorizou-se intervir junto aos agentes
penitenciários, por uma demanda de trabalho advinda do setor de
Psicologia e de Segurança do próprio contexto.
Descrição das experiências: Para a construção das intervenções, foram
realizadas observações participantes, entrevistas informais, utilização de
diário de campo e acompanhamento das rotinas de processo de
trabalho. A partir da construção do vínculo, foi possível realizar
acolhimentos e escuta qualificada de acordo com as demandas dos
agentes. A entrada no campo, foi permeada pelo preconceito a respeito
da psicologia. Os agentes, colocados diante de um serviço que antes era

309
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

inexistente, sentiram certa desconfiança. Esse sentimento veio à tona


nas discussões iniciais, onde os APs traziam no discurso o receio de
contar sobre as vivências ou sobre a vida pessoal. Apesar disso, o vínculo
foi estabelecido, possibilitando o desenvolvimento de diversos debates,
e encaminhamento para a rede de apoio e para a Clínica Escola.
A presença ativa junto as rotinas vivenciadas por eles foram de extrema
importância, a compreensão da subjetividade, da identidade
profissional, dos fatores que atravessam a rotina de trabalho, foram
norteadoras para a compreensão dos processos de sofrimento ou
adoecimento psicossocial. A masculinidade foi muitas vezes claramente
defendida e reafirmada pelos agentes prisionais, ao longo do tempo de
estágio. O campo em si é predominantemente masculino, e os APs
encontravam diversas formas de se relacionar que mostrassem o lugar
de força e virilidade que é esperado da categoria. Dentre as demandas
acolhidas pela escuta qualificada, foram percebidos o abuso de
substâncias psicoativas, a agressividade no contexto familiar, o estado
de hiper vigilância dentro e fora do contexto prisional e as dificuldades
de busca de legitimação desses processos de sofrimento por parte dos
APs. No terceiro e último semestre, os atendimentos na clínica- escola
continuaram, e foi iniciado o processo de uma pesquisa a fim de
compreender os riscos psicossociais e estratégias de enfrentamento da
categoria profissional. Após o levantamento, os dados serão cruzados e
comparados nas duas unidades onde os estágios foram realizados.
Considerações Finais: Levantar e compreender os principais indicadores
de sofrimento decorrentes da prisionização, bem como conhecer os
principais procedimentos que desencadeiam estes sentimentos e
pensamentos, poderiam funcionar como potencial conteúdo, com a
finalidade de fazer emergir procedimentos que respaldem não somente
a integridade física, mas também a integridade de saúde mental do
agente penitenciário, refletindo diretamente nas melhorias para a
população carcerária.

310
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Arte e cultura como estratégias de cuidado e expressão


comunicacional no contexto da pandemia:
a experiência do Festival CultivAR-TE

Alice Fernandes de Andrade


Helena Zoneti Rodrigues
Raquel Martins Loureiro
Leticia Gomes Fonseca
Larissa Campagna Martini
Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

Fernanda de Cássia Ribeiro


Universidade de Araraquara - UNIARA

Introdução: A pandemia do novo coronavírus trouxe diversos desafios,


desde a necessidade enfrentamento para minimizar a contaminação em
massa e os prejuízos em saúde, os efeitos e usos políticos e econômicos
implicados, além da evidente necessidade de cuidado em saúde mental.
Sob essas demandas, a comunicação se tornou elemento chave, diante
da demanda de difusão intensa de informações científicas a respeito de
orientações de novas condutas e modos de vida que precisaram ser
adotados. Considerando, ainda, a disputa de sentidos sobre a
comunicação, a infodemia, as informações falsas e manipuladas,
somadas a velocidade de difusão e novas práticas remotas que ditaram
os cotidianos da sociedade. Descrição da Experiência: Um grupo de
docentes, técnicos, estudantes e outros parceiros de uma universidade
pública do interior paulista constituiu uma plataforma de informações,
voltada para profissionais, público em geral e grupos específicos - o
InformaSUS. Neste contexto, uma série de ações foram desenvolvidas.
Assim, apresentamos a experiência do Festival Cultural “CultivAR-TE”,
um projeto de extensão que pautou-se na premissa da comunicação
como espaço para produção de subjetividade, diálogo e entendimento
mútuo. Relatamos como as artes e a cultura na interface com a saúde

311
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mental foi gestada como forma de cuidado e expressão comunicacional.


Trata-se de uma galeria virtual de obras produzidas em oito diferentes
expressões artísticas, em quatros formatos distintos (vídeo, imagem,
texto e GIF), sobre o contexto pandêmico. Neste processo, promovemos
a expressão de pessoas e grupos, usualmente receptoras de informação,
como agentes dessa produção. As equipes de organização, curadoria e
coordenação que compuseram o projeto, foram compostas por 35
contribuidores, entre eles: estudantes de terapia ocupacional, docentes,
profissionais, artistas independentes, entre outros. As obras foram
inscritas via formulário eletrônico e passaram pelo processo de
curadoria para serem postadas na galeria virtual
(https://www.informasus.ufscar.br/festival-cultura-cultivar-te/galeria-
virtual/) e divulgadas em redes sociais dos projetos. A equipe do portal
realizou a revisão linguística e design. Repercussões: Foram inscritas 293
obras nos eixos previstos pelo edital: Retratos do isolamento social;
Resiliência em tempos de pandemia; O cuidado de si e do outro e
Permanências e transformações da cultura. A página do festival e suas
obras foram acessadas 9.107 vezes e visualizadas por 6.389 pessoas,
atingindo diversos estados do país e fora dele. A comunicação entre
equipe e participantes pautou-se na solidariedade e na compreensão do
momento partilhado, considerando as perdas e lutos, transformações e
outros sentimentos vivenciados neste processo. Considerações finais: As
obras permearam as relações concretas inscritas nos cotidianos, que
expressadas artisticamente exploraram diferentes desafios impostos
pela pandemia. Deste modo, ao estabelecer práticas de comunicação
afetiva, solidária e empática embasadas no cuidado, inclusão e
acolhimento entre todos os envolvidos no processo, viabilizou um
espaço virtual de resistência frente às problemáticas informacionais, sob
a transparência e respeito, que fomentou processos de cuidado,
também em saúde mental, diversidade cultural, processos muito
especiais para o período.

312
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Arte e Saúde Mental: (novas) tecnologias.

Jeferson Diogo de Oliveira Santos


Prefeitura Municipal de Rio Pardo

A arte acompanha o desenvolvimento do ser humano, desde os


primórdios de nossa existência até os dias atuais. O fazer expressivo e
artístico é inerente em cada ser, como um fazer de muitos caminhos e
possibilidades. A arte como instrumento do psicólogo no campo da
saúde mental é necessária nestes tempos de (des)sensibilização das
subjetividades. Quebrando a preconcepção de arte como ferramenta
diagnóstica, a chamada arteterapia possibilita que os sujeitos deem
forma aos seus conteúdos inconscientes, ressignificando sua forma de
ser e estar no mundo. A partir de grupos terapêuticos, utilizando-se da
arteterapia como práxis de trabalho, foi desenvolvido entre junho de
2019 a janeiro de 2020, o projeto Arteterapia e Saúde Mental. Com a
proposta de oportunizar espaços de expressão e vivências, o projeto
atendeu cinquenta e quatro profissionais da saúde (agentes
comunitárias de saúde), muitas em processo de adoecimento mental e
fazendo uso de medicação antidepressiva. Durante os encontros
quinzenais, diversas temáticas foram sendo desenhadas e emolduradas
na vida de cada participante, que descobriram o mais precioso remédio
para a saúde mental: a arte e o contato com si mesmo. Da estranheza de
utilizar materiais artísticos do primeiro encontro até a mostra realizada
com imagens produzidas pelas participantes, se construiu um caminho
de prevenção, promoção e – arrisco afirmar – intervenção em saúde
mental. Assim como Nise da Silveira, importante figura no cenário da
psiquiatria e psicologia, derrubou muros e ergueu pontes com arte, a
presente experiência (re)afirmou a importância de novas tecnologias no
fazer em saúde mental. Como repercussão e resultados, foi significativa
a melhora apresentada no bem estar das participantes, inclusive na
diminuição do uso de ansiolíticos e antidepressivos, além de uma maior
capacidade de expressar e atribuir significado às suas emoções. Além

313
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

disso, uma importante porta foi aberta no pequeno município de Rio


Pardo, no Rio Grande do Sul, para se pensar saúde mental para além de
internações psiquiátricas e tratamentos farmacológicos. Afinal, como
nos coloca Shaun Mcniff: “A arte é capaz de curar as feridas pessoais, da
sociedade e da alma”.

314
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Arte no Caos: expressividade e promoção da saúde mental em tempos


de pandemia de COVID-19

Esther D' Almeida Brito, Beatriz Prado Pereira


Rafaela Porcari Molena Acuio
Beatriz Rocha Monteiro
Carla Aparecida Alves da Silva
Rafael Pereira de Araújo
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Tendo em vista o cenário de distanciamento social e pandemia de


COVID-19, a extensão universitária precisou adaptar e reinventar suas
abordagens e articulações, a fim de dar continuidade à difusão e
democratização do conhecimento e contribuir com a sociedade neste
momento de instabilidade sócio-político-sanitária. Este trabalho tem
como objetivo apresentar e discutir as ações de extensão realizadas pelo
projeto “CircuiTO Arte no Caos”, desenvolvido por nove extensionistas,
entre docentes e discentes do curso de Terapia Ocupacional da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no período de 8 de junho a 14
de agosto de 2020. Foram desenvolvidas dez atividades expressivas
online síncronas e assíncronas, por meio de plataformas como
Instagram, Whatsapp e Google Meet, em que diferentes expressividades
plásticas, lúdicas e imagéticas foram utilizadas como forma de refletir e
ressignificar a vivência da pandemia e do distanciamento social e
contribuir para a saúde mental de seus participantes. As propostas
foram dedicadas ao coletivo universitário da UFPB, profissionais e
público em geral, e contou com a participação de cerca de cem pessoas
de diversos estados brasileiros. Foram realizadas dez ações, dessas,
cinco foram concretizadas de forma assíncrona, sendo elas: duas
exposições fotográficas sobre a vivência de estar e perceber-se durante
o distanciamento; exposição literária sobre relacionar-se durante a
pandemia; mostra de expressão musical, representando a vivência de
isolamento; e exposição de artes visuais a partir de poesia disparadora.

315
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As outras cinco atividades se deram de forma síncrona, sendo elas:


debate acerca do filme “Que horas ela volta?”, oficinas de autorretrato e
de mandalas; roda de conversa sobre atividades significativas e
motivação durante a pandemia e a realização de um sarau para
celebração das atividades, reencontro dos participantes e finalização do
projeto. No Instagram, administrado pela equipe executora, foram
realizadas publicações sobre as ações, bem como inúmeras interações
por meio de stories, comentários e mensagens. Após dois meses de
projeto, o Instagram contou com 641 seguidores e 93 publicações. Pelo
ambiente virtual, os participantes puderam trocar experiências,
ressignificar atividades do cotidiano, e sentiram liberdade para falar
sobre sentimentos, dilemas e o que lhes era significativo neste
momento de pandemia. O direct do Instagram era o principal meio de
comunicação, que alcançou proporções não esperadas, com relação à
expressão dos participantes, que buscaram apoio, motivação e
compreensão através do projeto. Sendo assim, o distanciamento social,
saturado pelo estresse, ansiedade e angústia, foi ocupado pelas ações e
movimentações artísticas, e através da arte foi possível sentir,
experimentar e expressar sentimentos e emoções. A criação e expressão
artística foi um mecanismo para se lidar com a realidade, por vezes
severa, e enxergar beleza no caos. A arte tornou-se um instrumento
potente para atenuar os impactos e ressignificar o isolamento social,
uma vez que, a singularidade e a subjetividade dos processos artísticos
promoveram novas produções, diferentes possibilidades de vivenciar a
quarentena e produzir múltiplos sentidos para as artes. Assim, esses
recursos permitiram, a partir do ambiente virtual, a criação de vínculos,
o contato entre pessoas de diversas localidades do país e o
compartilhamento de emoções e afeto.

316
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Articulação em rede e corresponsabilização do caso: população em


situação de rua e Saúde Mental na Defensoria Pública do Estado de
São Paulo

Isabella Castello Berchielli Nunes


PUC - SP

Trata-se de um caso de um usuário atendido durante a experiência de


estágio em Psicologia, desenvolvida no Centro de Atendimento
Multidisciplinar (CAM) da Divisão de Atendimento Inicial Especializado
ao Público da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE) no
atendimento para população em situação de rua. Claudio (nome fictício)
chega à DPE afirmando estar em situação de rua na cidade de São Paulo,
com pernoites em Centro de Acolhimento na região norte de cidade.
Apresenta a queixa de que há lentes computadorizadas em seus olhos,
onde tem instalado um chip, através do qual é monitorado por pessoas
que o perseguem e o ameaçam. Seu pedido endereçado à instituição
jurídica é para que seja realizada uma liminar para a realização de
cirurgia emergencial em seus olhos. No atendimento jurídico, foram
esclarecidas as possibilidades e impossibilidade de encaminhamentos.
No atendimento do CAM, a escuta se ampliou para além das
impossibilidades de judicialização. Claudio retorna outras vezes à DPE,
solicitando atendimento com a mesma estagiária da Psicologia. Com
efeito, passa a trazer fragmentos de sua história: sua origem é de uma
favela de Niterói, Rio de Janeiro, onde mora sua família; se afasta dela
após situação em que descobre que sua mãe e sua filha mais nova
haviam morrido; afirma que as lentes em seus olhos foram colocadas
por pessoas perigosas do tráfico de drogas do território, e vem para São
Paulo com objetivo de proteger sua família das perseguições que
acredita sofrer. Durante os atendimentos, Claudio fala mais de uma vez
sobre a vontade de rever sua família, mas vacila, preocupado com a
segurança dela. Realizamos a articulação com a rede de serviços por
meio de contatos telefônicos; suporte para pleiteio de vaga fixa em

317
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

centro de colhimento; reunião de rede com UBS, Centro de Acolhimento


e CAPS do território para discussão do caso. Claudio passa a se
aproximar dos cuidados de saúde da UBS, do CAPS e se reorganiza em
relação ao seu autocuidado. Após meses de atendimento, retorna pela
última vez, procura pela estagiária e conta que pretende voltar para sua
família. Diante do sujeito em sofrimento psíquico, a escuta oferecida se
ampliou para além do pedido jurídico, a fim de identificar as demandas
passíveis de serem cuidadas dentro da articulação dos serviços da rede.
Os retornos de Claudio à Defensoria procurando a mesma estagiária
evidenciou algo da inscrição de um vínculo transferencial, este que
permitiu a sustentação da escuta do relato delirante, sem equivocá-lo e
sem ignorá-lo, a fim de dar espaço para que o sujeito construísse outras
formas de narrativas de si. A articulação com a rede ampliada permitiu a
construção do caso a partir da singularidade do sujeito, que deu notícias
dos caminhos de cuidado a serem traçados junto com ele. O cuidado em
rede contribuiu para que Claudio se comprometesse com seu desejo de
retornar à família.

318
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

As Implicações Profissionais para Atuação na Política de Saúde Mental:


potencialidades e dificuldades persistentes na atenção à saúde no
município de Natal/RN

Maria Márcia de Oliveira Freire


João de Deus de Araújo Filho
Maria Clara Guimarães de Azevedo
Emilly Bezerra Fernandes do Nascimento
Maria Yohana Matias Silveira
Beatriz Holanda Macena
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

O trabalho que segue tem por escopo apresentar as potencialidades e as


dificuldades enfrentadas por profissionais de saúde na Política de Saúde
Mental. Têm como lócus de estudo os estabelecimentos de saúde no
município de Natal/RN. É fruto da experiência acadêmica-profissional
vivenciada por residentes do Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário Onofre Lopes, na
área de concentração em Atenção Psicossocial. O estudo tem como
recorte temporal, o período de março de 2019 a março de 2020, período
que corresponde a inserção desses/as profissionais nas instituições
prestadoras dos serviços de saúde mental. Ao final desse estudo,
pretende-se apontar as dificuldades enfrentadas, bem como apresentar
as ações potencializadoras, que mesmo diante das limitações, têm sido
desenvolvidas. Nessa perspectiva, tem-se que a partir da vivência nos
estabelecimentos de saúde do município de Natal/RN, a saber: Hospital
Geral (Ambulatório Multiprofissional e Enfermaria), Unidade Básicas de
Saúde – Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica e Centro
de Atenção Psicossocial foi possível perceber que as maiores
dificuldades tratam-se de aspectos relacionados ao déficit de
profissionais, dificuldade no abastecimento de recursos materiais
(insumos, equipamentos, limpeza, etc.), alimentação (usuários/as e
equipe técnica), vazios assistenciais e/ou fragilidades nos demais pontos

319
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

da rede de serviços, ausência de qualificação profissional, entre outras


coisas que diminui o potencial resolutivo dos serviços anteriormente
descritos. Todavia, apesar das limitações apresentadas, percebe-se que
tais serviços têm desempenhado um papel primordial na efetivação da
Política de Saúde Mental nesse município, desenvolvendo ações e
serviços em consonância com a Luta Antimanicomial, por meio da
realização de Grupos de Psicoeducação, Operativos e Terapêuticos,
Ações Socioeducativas, espaços para o desenvolvimento do potencial
artístico por meio da música, leitura, pintura, confecção de objetos com
materiais recicláveis, etc. Com o desenvolvimento dessas ações, as
equipes objetivam fazer com que o/a usuário/a adquira autonomia para
o desenvolvimento das atividades diárias e, posteriormente possam usar
suas habilidades para a realização de ações geradoras de renda. Diante
do exposto, compreende-se que as potencialidades presentes nos
serviços se configuram como elementos que necessitam de incentivo,
disponibilização de recursos para sua realização, pois muitas vezes os
materiais são custeados pelos/as profissionais que facilitam a atividade.
Outro fator importante refere-se a necessidade de convocação de
profissionais para evitar a sobrecarga de trabalho e também, nesse
processo, é fundamental o incentivo para os profissionais participarem
de capacitações com temáticas relacionadas ao trabalho na Saúde
Mental, sobre a Política Nacional de Promoção da Saúde, Vigilância em
Saúde, Processos de Trabalho na Saúde, entre outros temas e,
sobretudo, maior empenho da gestão municipal no intuito de promover
condições adequadas para a execução das ações e serviços de saúde.
Nesse sentido, evidencia-se que os serviços de saúde disponíveis no
município de Natal/RN apresentam algumas fragilidades que dificultam
a operacionalização da Política de Saúde Mental. No entanto, mesmo
diante das limitações, ações em consonância com a Luta Antimanicomial
têm sido realizadas e, tem auxiliado de forma sistemática a população
em processo de adoecimento mental e viabilizado uma atenção à saúde
na perspectiva da integralidade.

320
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

As Marias e Helenas: relato de uma extensionista sobre mulheres do


Povoado Carrilho, Itabaiana/SE.

Paula Helen Santiago Soares


Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP

O presente trabalho foi formado a partir de um relato de experiência de


uma extensionista que realizou durante nove meses um projeto de
extensão em localidade chamada Povoado Carrilho, localizado na cidade
de Itabaiana, Sergipe. O beneficiamento da castanha de caju é a
principal fonte de renda. No decorrer da extensão foi realizado um
levantamento bibliográfico sobre a vida das mulheres ao longo do
contexto histórico, mostrando também as vivências das mulheres rurais.
Percebendo-se que contextos evidenciados principalmente das
mulheres rurais, também são os vivenciados pelas mulheres do Carrilho.
A experiência da extensão, com o contato com a comunidade através de
visitas ao território, sessões de cinema na associação de moradores com
a exibição de filmes temáticos, leituras sobre o assunto, além de uma
pesquisa previa, possibilitou ter um contato maior com a realização de
um encontro, onde foi conversado sobre as vidas delas. O encontro foi
estruturado da seguinte forma: no primeiro momento ouviu-se das
mulheres quais eram os desafios que elas tinham relacionados a
interação, seja com família, com vizinhos, com a comunidade e outras
pessoas. Elas disseram seus principais desafios em seguida, foram
apresentados os conceitos de habilidades sociais, os termos
assertividade, agressividade e passividade. Para compreenderem melhor
os conceitos foram realizados duas apresentações “teatrais” trazendo os
contextos relatados por elas ao longo da trajetória do trabalho na
comunidade. Depois das “dramatizações” as cenas foram refeitas pelas
presentes de forma que enfatizassem os conceitos apresentados
anteriormente e discutindo sobre as cenas e a realidade vivida no
povoado. Percebeu-se a passividade nas mulheres, afeta
consideravelmente. suas relações: consigo e com os outros,

321
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

reverberando na saúde mental. Assim, ao decorrer da extensão, foram


feitos diários de campo, que a partir deles e de trabalhos que traziam
relatos das mulheres, contribuíram para organizar relatos em três
categorias: lazer, trabalho e família. Temáticas que pontuam algumas
dificuldades vividas pelas mulheres, que em contextos assertivos
gerariam novas possibilidades. Conclui-se que os relatos contribuíram
para apresentar um pouco das vivências das moradoras do Povoado
Carrilho, Itabaiana, Sergipe, como também o trabalho feito em toda
comunidade e principalmente com elas. Mostrando que ao longo da
história não há muitas diferenças entre o que as mulheres de
antigamente viviam, percebendo que ideias são enraizadas até os dias
de hoje, mas mostrar que são pessoas de direito e que pode exigi-los,
além de aprender muito mais sobre si e, segura disso, mostrar quem
são.

322
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Assistência de Enfermagem no Atendimento ao Paciente com Risco de


suicídio:Relato de Experiência

Cristiane Rocca Pozzebon


Aline Maria de Mello
Maria Junges
Marli Scwambach de Vega
Marli Elisabete Machado
Hospital de Clínicas de Porto Alegre - HCPA

Introdução: O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo e


está entre as três principais causas de morte de pessoas com faixa etária
entre 15 e 44 anos, com tendência de crescimento nas próximas
décadas, tornando-se um importante problema de Saúde Pública.
Segundo registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é
responsável anualmente por um milhão de óbitos (o que corresponde a
1,4% do total de mortes). O comportamento suicida varia desde o
pensar em se matar até a elaboração de um plano e a obtenção dos
meios para a consumação do ato. Do ponto de vista econômico, a
realização do ato em si e suas tentativas representam enorme custo
para a sociedade, em virtude dos investimentos necessários para a
formação do indivíduo, dos anos potenciais de vida perdidos devido à
morte precoce, e dos custos com atendimentos hospitalares. OBJETIVO:
Este trabalho visa relatar a importância da assistência de enfermagem
no atendimento ao paciente com risco de suicídio. MÉTODO: Trata-se de
um relato de experiência, através de vivências e práticas com pacientes
psiquiátricos em uma unidade de internação adulta de um hospital
universitário no sul do Brasil. RESULTADO: A equipe de Enfermagem,
preparada para atender esses pacientes e suas famílias através de uma
abordagem de escuta ativa e do desenvolvimento de anamnese e exame
físico, priorizou o acolhimento do binômio paciente-família, realizando
escuta terapêutica de qualidade, proporcionando um ambiente calmo,
seguro e confortável, extraindo informações sobre sua história, ideias,

323
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pensamentos relacionados ao suicídio e outros problemas de saúde,


sem invadir ou ultrapassar a abertura concedida pelo paciente.
Adicionalmente, como método educacional em saúde, o enfermeiro
orienta paciente e familiar sobre a necessidade do seguimento das
rotinas da unidade de internação para a organização do núcleo de
cuidado e ressalta a importância do protagonismo de ambos no
tratamento, assumindo um comportamento ativo e de auto
responsabilidade. Nessa perspectiva, é possível trabalhar as emoções
que afligem esse paciente e desenvolver um relacionamento de
confiança mútua. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por ser um tema complexo e
que acarreta uma série de consequências críticas não só para aqueles
que vivenciam de perto, mas também a nível sócio econômico, o suicídio
precisa ser olhado de forma cuidadosa e sensível. Assim, a equipe de
Enfermagem, com sua assistência mais próxima do paciente e cuidado
acolhedor possui as ferramentas para escutar e dar voz ao sentimento
do paciente, possibilitando intervenções de enfermagem fundamentais
nesse processo, produzindo conhecimentos e criando novas
possibilidades de cuidado. É papel dos profissionais da saúde a
identificação precoce de sinais de risco de suicídio, o encaminhamento e
intervenção terapêutica nos contextos comunitários e hospitalares. O
atendimento prestado aos indivíduos que tentam suicídio demanda uma
equipe ética e preparada, pois é um momento de grande conturbação
tanto para o acidentado quanto para sua família. É necessário que haja
um entendimento maior deste fenômeno por parte dos profissionais de
saúde, para que assim haja maior comprometimento com a saúde
mental.

324
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Assistência e saúde mental para pais de crianças diagnosticadas com


transtorno espectro autista.

Loraine Maria da Rocha Cavalcante


Ana Iêdon
Dafne Lages
Universidade Federal do Piauí, UFPI

Introdução: O presente resumo aborda um relato de pesquisa acerca da


questão do amparo aos pais de pessoas diagnosticadas com TEA
(Transtorno do Espectro Autista), onde nota-se a necessidade do
indagação acerca desta temática, seja interno ou externo ao grupo em
questão, uma vez que é um assunto ainda pouco evidenciado na
sociedade.
Utilizando como objeto de estudo os pais inscritos na Associação dos
Amigos Autistas do Piauí (AMA) e em todas as situações envolventes dos
pais na sociedade piauiense, busca-se como fim último a melhora da
condição de vida de todos os envolvidos. Será apresentado neste
resumo como anda a saúde mental dos pais envolvidos e como foi
realizada parte da pesquisa, olhando até mesmo os funcionários; tratar-
se-á de expor também os dados das pesquisas, sempre levando o sigilo
do termo de consentimento dos entrevistados, trazendo os relatos de
ações vivenciadas pelos mesmos. Foi exteriorizado aqui sobre os mitos e
realidades experienciadas no cotidiano dos pais de crianças autistas,
além de quais políticas assistenciais existem e são necessárias para
fortalecer a luta de integração dos familiares e das crianças para com a
sociedade.
Descrição da Experiência: Tangeu-se um estudo exploratório, por
permitir a observação dos fatos em ocorrência espontânea e, assim, a
familiarizar-se com um assunto ainda pouco sondado. Através de uma
fonte de pesquisa primária, foi utilizado como instrumento de coleta de
dados um questionário apresentando dezoito questões, aplicado na

325
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

entrevista com 30 pais -ou responsáveis- dos indivíduos usuários da


AMA-Teresina com TEA. Na elaboração das perguntas, procuramos
investigar como essas pessoas levavam a vida diariamente e como os
responsáveis se sentiam frente à sociedade e no seu círculo familiar;
como separavam seu tempo com cuidados pessoais, nas tarefas diárias e
sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia; como se sentiam em
diversas circunstâncias; sua visão de futuro e como o indivíduo se sentia
como parte da instituição (AMA), o significado da mesma na sua vida e
sobre o que ela propiciava à eles.
Repercussões e Considerações Finais: Em relatos feitos durante as
entrevistas, muitos responsáveis afirmaram gostar da AMA por terem
um momento de interação social, tanto eles como as crianças, pois além
de compartilharem da mesma realidade, é um local no qual possui
caráter de livre preconceito porque todos estão passando pela mesma
situação. Foi notado como o tratamento dos autistas e de seus
responsáveis é imprescindível para uma convivência harmônica na
família e locais públicos. Porém, implica-se um estudo que contribua
para as peculiaridades do transtorno do autismo e o seu reflexo no seio
familiar, proporcionando uma reflexão nas formas de enfrentamento
das principais dificuldades vividas no cotidiano dessas famílias,
aperfeiçoando intervenções frente às demandas dos familiares, pois
ainda não existe políticas Estamentais que viabilizem a interação dos
pais com o resto da sociedade, que no final das contas são também
afetados mentalmente.

326
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Assistência psicossocial ao público infanto-juvenil em contexto de


drogadição: um relato de experiência

Angélica Vanessa de Andrade Araújo Lira


Nilza Alessandra Cardoso Pereira
Universidade Estadual da Paraíba - UEPA

Introdução: O uso abusivo de substâncias psicoativas entre crianças e


adolescentes tem se mostrado como um dos maiores desafios de saúde
pública do século XXI. Uma das alternativas viáveis para o tratamento da
dependência química nesse público são os Centros de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD). Trata-se de serviços assistenciais
fundamentados na reabilitação psicossocial, cuja prática clínica alberga
um conjunto de elementos de natureza biológica, psicológica e social,
com o intuito de promover assistência integral e adequada à população.
Na prática interventiva, utiliza-se, principalmente, de ferramentas
psicoterápicas baseadas em oficinas terapêuticas, capazes de criar um
espaço fecundo para expressão da subjetividade, contribuindo para o
protagonismo do sujeito, fortalecimento do relacionamento
interpessoal e promoção de bem-estar e qualidade de vida. Descrição da
experiência: Trata-se de um relato de experiência de intervenções
terapêuticas desenvolvidas no CAPS AD voltadas ao atendimento
especializado para crianças e adolescentes em contexto de drogadição,
na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba. As intervenções foram
realizadas duas vezes na semana, no período de agosto de 2019 a março
de 2020, mediante oficinas terapêuticas no formato de dinâmica grupal,
com total de 30 assistidos. Utilizou-se de metodologia ativa do tipo
problematização, pautada no arco de Charles Maguerez, com o intuito
de construir estratégias capazes de proporcionar o protagonismo do
sujeito no processo terapêutico e promover saúde mental. Nesse
sentido, as intervenções se pautaram no acolhimento às demandas
humanas, delineamento de espaço amplo para a expressão da
subjetividade por meio de uma escuta empática e atenciosa, assistência

327
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

psicossocial e instrumentalização do sujeito para enfrentamento das


dificuldades presentes durante o processo de tratamento. Os temas de
cada oficina foram escolhidos com base nas demandas específicas dos
assistidos. Repercussões: As oficinas terapêuticas tornaram-se uma
fonte valiosa para a expressão da singularidade humana e
ressignificação subjetiva das experiências existenciais. Alicerçado por
uma escuta atenciosa e empática, a prática terapêutica em grupo
contribuiu para o rastreamento das demandas e a possibilidade de
construir um plano terapêutico singular, baseado no desenvolvimento
estratégico que vai além da condição psicopatológica, atravessando a
existência humana em sua integralidade. Embasadas numa escuta
coletiva, as intervenções em grupo criaram um espaço favorável para a
socialização das experiências existenciais e a identificação do lugar
simbólico que as substâncias psicoativas ocuparam na vida dos usuários.
Esse cenário favoreceu o fortalecimento da rede de apoio psicossocial
entre os participantes, fundamentado pelo amparo intersubjetivo e o
reconhecimento de que não estão sozinhos no processo de reabilitação
psicossocial. Considerações Finais: As oficinas terapêuticas contribuíram
na promoção de saúde por via do estímulo à subjetividade e promoção
do autoconhecimento entre os usuários. Essas intervenções permitiram
a construção de espaço amplo de expressão da singularidade,
socialização, interação, (re)abilitação, (re)construção e (re)inserção
social. Foram detectadas questões que nos mostram a importância da
família como suporte psicossocial. Percebeu-se que os problemas
enfrentados pelos usuários vão além da dimensão puramente biológica,
compreendendo-se que o meio externo (relações familiares, ciclos de
amizade, condições socioeconômicas, entre outros.) influência direta ou
indiretamente no processo de adoecimento, tratamento e reinserção
social.

328
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atenção às pessoas em situação de rua com sofrimento mental


durante a pandemia de COVID-19: articulando a rede

Marjory Ellen Lima Costa


Fernanda de Jesus Almeida
Jeferson Pereira da Silva
Magno Conceição das Mercês
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Juliana Passos de Oliveira Vieira


Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

INTRODUÇÃO: A população em situação de rua (PSR) é dotada de


especificidades que a configuram como um desafio para as equipes dos
serviços de saúde e assistência social, considerando que a presença de
um transtorno mental grave (TMG) nesses indivíduos os tornam
duplamente invisibilizados. A pandemia de COVID-19 acentuou diversas
vulnerabilidades, e a exposição dessa população tornou-se
extremamente preocupante para o contexto comunitário –
evidenciando a necessidade de ações efetivas a serem realizadas.
Portanto, este relato apresenta a atuação dos residentes do Núcleo de
Saúde Mental do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da
UNEB, no acompanhamento de casos de PSR com TMG no cenário
pandêmico do novo Coronavírus. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Durante
a atuação em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II do município
de Salvador, os residentes levaram para a equipe do serviço a
necessidade de oferta de suporte às PSR com TMG, e a partir disto,
selecionou-se três casos (A, B e C) sob cobertura da unidade. Foram
direcionados um caso por dupla de residentes, tendo o suporte de dois
técnicos de referência do CAPS para acompanhamento e
encaminhamentos possíveis dentro do contexto vivenciado. A atividade
ocorreu no período de abril a setembro de 2020, e a aproximação com
os usuários se deu através de visitas aos locais ocupados e

329
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

teleatendimento aos seus familiares. REPERCUSSÕES: A experiência foi


permeada por tensionamentos, medo e incertezas associados à
pandemia, com dificuldades em encaminhamentos ocasionados pela
reorganização dos pontos da rede em decorrência das medidas
sanitárias vigentes. No entanto, questionamentos acerca da importância
da integralidade se tornaram propulsores para os desdobramentos,
possibilitando a articulação com outros serviços e se configurando com
um espaço de potência para discussões e assistência direta a esses
usuários que precisam do amparo da Rede de Atenção Psicossocial. No
caso A, os residentes acionaram o Serviço de Abordagem Social (SEAS),
para, em uma estratégia conjunta, conhecer a realidade do sujeito e
elaborar um plano de cuidados. No segundo caso (B), foi realizada uma
articulação com o Consultório na Rua e o SEAS, com posterior
construção de um plano de ação abrangendo visitas e avaliações
biopsicossociais periódicas – devido ao estado crítico do usuário. Com o
caso C, foi mantido um contato próximo à família do indivíduo, e
atendendo as demandas específicas houve articulação com a Secretaria
de Justiça, Unidade de Saúde da Família e a equipe de Saúde da Família
do distrito. Os manejos foram realizados contemplando o prazo de
permanência dos residentes no campo, e com frequentes discussões nas
reuniões técnicas – pensando na continuidade da oferta de cuidado a
esses usuários. CONSIDERAÇÕES FINAIS: É imprescindível que os
serviços de saúde estejam atentos as PSR e tendo em vista a demanda
psicossocial que é intrínseca a muitos desses usuários, faz-se necessário
a sensibilização e capacitação das equipes profissionais e dos serviços
em relação a esta população, de modo que seja possível redescobrir o
fazer saúde para estes sujeitos com TMG, valorizando seus discursos e a
individualidade, enfrentando a lacuna da desassistência e evitando as
práticas institucionalizantes dos serviços.

330
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atenção Básica também é lugar de Saúde Mental: Grupo de Escuta


Terapêutica em uma Unidade de Saúde da Família (USF)

Maísa Estevam Vasconcelos Feitoza


Dhiego Henrique Bezerra de Miranda
Secretaria Municipal de Saúde de Jaboatão dos Guararapes/PE

Introdução: Atenção Básica (AB), que é a ordenadora da Rede de


Atenção à Saúde (RAS) e coordenadora do cuidado, juntamente com a
Atenção Especializada em Saúde Mental são consideradas portas
abertas aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e devem realizar
o Acolhimento a todo e qualquer usuário que necessite dos dispositivos
da RAS. Sendo assim, a AB, dentre suas características, também tem por
competência ofertar a linha de cuidado em saúde mental visto que o
sujeito encontra em seu Território as instituições da AB que devem estar
atentas às demandas específicas de cada comunitário. Descrição da
Experiência: O grupo de Escuta Terapêutica é realizado pelos
profissionais: Profissional de Educação Física (PEF) e Terapeuta
Ocupacional (TO). O Programa de Residência Multiprofissional em
Atenção Básica e Saúde da Família (PRMABSF) do Município de Jaboatão
dos Guararapes possibilitou a Territorialização e identificação desta
demanda em uma das USF que a equipe NASF-AB (Núcleo Ampliado de
Saúde da Família – Atenção Básica) deste Programa de Residência atua.
Os encontros são semanais desde junho de 2019, realizados todas as
quartas-feiras à tarde presencialmente, com temáticas e dinâmicas
grupais variadas em consenso com o público-alvo contando com a
participação de pelo menos uma ACS (Agente Comunitária de Saúde) da
Equipe de Atenção Básica (EAB). Diante da Pandemia COVID-19, houve
pausa na sua realização e desde junho de 2020 está ocorrendo através
do grupo de aplicativo de comunicação virtual WhatsApp, pois outros
aplicativos de chamada de vídeo não foram adaptáveis às necessidades
dos usuários deste grupo. E, o Acolhimento em Saúde Mental são
realizados aos usuários deste grupo por atendimentos individuais

331
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

presenciais na USF. Repercussões: Os usuários ao longo do tempo,


especialmente as mulheres de meia-idade, mostraram-se com
consciência cidadã, coletiva, refletida e autonomia com melhor
elaboração psíquica favorecendo o insight e participação ativamente
neste grupo. Percebe-se que ainda há preconceito em relação ao público
com sofrimento psíquico, assim, faz-se necessário o Matriciamento em
Saúde Mental constantemente na AB. Considera-se também que a EAB é
sobrecarregada com as funções na USF implicando no déficit de
participação da mesma no grupo para acompanhamento mais integral
aos/dos seus usuários. E que a organização e execução deste grupo são
aprimoradas junto a atuação do NASF-AB ou do PRMABSF.
Considerações Finais: A atuação em Saúde Mental no contexto da Saúde
da Família ocasiona novos paradigmas em relação ao contexto
sociopolítico atual e consequentemente estimula à prática
antimanicomial na postura, no falar, no atendimento e no Acolhimento
dos profissionais que não lidam frequentemente, em específico, com
usuários em crise psíquica visto que a identificação dos mesmos, sejam
crianças, adolescentes, usuários de álcool e outras drogas e com
transtornos mentais e/ou sofrimento psíquico. A Educação Física e a
Terapia Ocupacional são profissões que têm muitos objetivos em
comum diante do estímulo à melhoria da qualidade de vida do sujeito
visto que a Saúde Mental perpassa por todas as outras áreas, assim, é
necessário que o indivíduo seja acolhido de modo holístico e tenha suas
demandas contempladas e seu desempenho ocupacional seja
satisfatório.

332
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atenção em saúde mental através da escuta terapêutica

Vanda Silva de Araújo


Amanda Luíza de Oliveira Silva
Kyra Kadma Silva Fernandes de Medeiros
Mariana Souza Batista
Carlos Eduardo Fabricio Teonácio Bezerra
Lara Bernardino da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Introdução: A atenção primária tem como foco a promoção de saúde


através de uma perspectiva complexa, na qual são desenvolvidas
estratégias que possibilitem, além da prevenção e tratamento de
doenças, o desenvolvimento de ações sociais para a comunidade. Neste
sentido, conhecer quem são os usuários de saúde, o contexto em que
eles vivem e as problemáticas sociais que perpassam a existência destes,
é imprescindível para um melhor atendimento à população. Nessa visão
holística do ser humano, é importante também valorizarmos os aspectos
referentes à saúde mental dos usuários, tendo em vista que estes são
imprescindíveis para o desenvolvimento do bem-estar como um todo.
Descrição da experiência: Desse modo, com o objetivo de instigar o
cuidado em saúde mental e norteados pela metodologia da construção
de um usuário-guia, através da disciplina: “fundamentos da psicologia
da saúde em diversos contextos”, realizamos quatro visitas domiciliares
no período de um mês a uma usuária da unidade básica de saúde em
um município no interior do Rio Grande do Norte. Essas visitas tiveram o
propósito de conhecer a história de vida dessa pessoa, e não de sua
doença, a partir do que fosse apresentado. Com isso, dona Maria (nome
fictício), é uma senhora de 72 anos, diagnosticada com diabetes há dez
anos. Desde a primeira visita, proporcionamos um espaço para ouvi-la,
possibilitando que dona Maria sentisse confiança em expor suas
dificuldades perante a diabetes, como a amputação de seu pé e as
consequências acarretadas em virtude desse acontecimento. No

333
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

entanto, a partir da segunda visita, já havia sido criado um forte vínculo


terapêutico, permitindo que a usuária compartilhasse histórias, as quais
ela admitiu nunca ter confidenciado para ninguém, como as agressões
físicas, psicológicas e ameaças de morte oriundas do seu ex-marido.
Além disso, também foram relatados episódios de depressão,
ansiedade, insônia e forte dependência de ansiolíticos. Através das
visitas pudemos perceber também que há uma certa negligência dos
serviços de saúde em relação à saúde mental, uma vez que a usuária
afirma nunca ter tido acompanhamento psicológico e continua
utilizando psicotrópicos mediante uma simples renovação de receita
médica. Ademais, ao final das visitas, dona Maria demonstrou o quão
importante foi ser ouvida, mencionando a falta que sente de conversar
rotineiramente e expressando sua satisfação em ter sua história de vida
valorizada e compreendida.
Repercussões e considerações finais: A partir dessa experiência
constatamos a importância e o efeito terapêutico da escuta empática
como meio de compreensão do sofrimento psíquico dos sujeitos e o
poder da ressignificação das dores, permitindo que a pessoa se expresse
na totalidade do seu ser. Não obstante, as visitas também possibilitaram
a compreensão do funcionamento da rede de atenção primária em
saúde do munícipio, apontando as desarticulações dos serviços de saúde
mental com a UBS. Nesse sentido, é importante citarmos a necessidade
de melhorias na comunicação profissional, a fim de que seja oferecido,
de fato, uma atenção ampla em saúde a partir dos aspectos
biopsicossociais.

334
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atendimento Psicológico à População LGBTI+: uma experiência em um


serviço-escola

Flávio Alves da Silva


Giovanni Galati Ruggeri
Universidade de Mogi das Cruzes - UMC

O preconceito e as discriminações contra a população LGBT+, em suas


diversas manifestações e formas, produz um conjunto de iniquidades
em saúde que impedem que pessoas desta população, em especial o
segmento transgênero, tenham amplo acesso a serviços de saúde, na
medida em que têm suas demandas ignoradas e suas identidades
invisibilizadas ou questionadas. Este trabalho é um relato de experiência
de um programa de atendimento psicológico voltado para a população
LGBTI+, como prioridade para as pessoas trans, realizado no Serviço-
Escola de uma universidade da Grande São Paulo, por estudantes do
décimo semestre. Por se tratar de uma iniciativa piloto, os atendimentos
se desenharam a partir de gestões junto aos movimentos sociais, onde
foram identificadas as principais dificuldades de acesso, levantadas as
demandas em relação aos serviços ofertados. Neste período, na
instituição, realizamos discussões técnicas sobre a emissão de
documentos, nos apropriamos das orientações do sistema de conselhos,
que apontavam para a despatologização das identidades trans e das
orientações sexuais. Além disso, nos preparamos para o
estabelecimento de um bom rapport, fortalecimento do vínculo entre o
profissional e o atendido, assim como colocamos a escuta qualificada
como elemento central do trabalho a ser desenvolvido. As vagas foram
ofertadas 15 vagas dirigidas à população LGBTI+, com prioridade o
segmento T. Todas as vagas foram preenchidas, e, mesmo no contexto
da pandemia, os usuários mantiveram o contato com o Serviço. A
população atendida é composta por homens trans (9), mulheres trans
(3) gays (2) e lésbicas (1). A demanda por laudos que indicassem o
processo transexualizador como tratamento surgiu no início dos

335
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

atendimentos como principal objetivo dos usuários, porém, na medida


em que os atendimentos avançavam, abriu-se espaço para que a
trajetória de vida dos usuários pudesse ser ouvida e se tornassem o
centro do trabalho, assim, temas como discriminações e preconceitos,
rupturas e fragilidades dos laços familiares, solidão, desejos, sonhos,
metas de vida entre outras temáticas pudessem ser trabalhadas e
ressignificadas. No trabalho com os usuários foi necessário orientar
sobre cuidados básicos com a saúde, na medida em que alguns dos
usuários hormonizavam sem acompanhamento médico, além do que,
muitos não faziam, ou nunca haviam feito consultas e exames tidos
como de rotina para a população cis, como acompanhamento
ginecológico, por exemplo. Orientou-se também quanto às legislações
que protegem a população LGBTI+ de situações de discriminações e
quais os caminhos para busca de amparo legal em situações de
violência. Na supervisão, o trabalho com os estudantes era no sentido
de sanar dúvidas quanto à abordagem das identidades de gênero e
orientações sexuais no trabalho do psicólogo, além de dar suporte,
orientar, acolher e dar continência para possíveis anseios, angústias,
fantasias, identificações, frustrações. A abertura de uma porta exclusiva
para LGBTI+ permitiu que as pessoas acessassem ao serviço e, na
medida em que se percebiam acolhidas e respeitadas no espaço,
aderissem aos atendimento, pois percebiam que suas demandas, no que
fosse possível, seriam atendida ou, ao mínimo, ouvidas. Neste sentido,
hoje, já se planeja a ampliação das vagas e dos serviços ofertados.

336
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atendimentos no CRAS: expressões do sofrimento psíquico na


pandemia de Covid-19

Daniele Ferreira Silva


Centro de Referência de Assistência Social

O Brasil, assim como vários outros países do mundo, está vivenciando a


pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-
Cov-2) que possui alto índice de letalidade e contágio. Essa pandemia
tem provocado impactos nas mais diversas esferas sociais, afetando a
saúde mental dos sujeitos. Nesse contexto, o presente relato de
experiência possui como objetivo discorrer e refletir acerca da
experiência como psicóloga atuando no Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) no interior da Bahia, no período de abril a
outubro de 2020, considerando as demandas psicológicas advindas com
a pandemia de Covid-19. O recorte feito refere-se à experiência de
acolher, realizar ações particulares e visitas domiciliares a usuários, que
relataram algum sofrimento psíquico atrelado a situação atual de
pandemia. Tomou-se como base os discursos trazidos pelos usuários do
CRAS atendidos pela psicóloga, e que relacionavam seu sofrimento
psíquico tendo início ou intensificação com a pandemia. As principais
queixas trazidas foram referentes a conflitos familiares; medo da morte
e de contrair a doença; solidão, depressão, ansiedade, insônia e
estresse. Além disso, na fala dos usuários, os sofrimentos expressos
estavam ligados a questões como desemprego, isolamento social, entre
outros. Foi observado durante os atendimentos, que pessoas que já
tinham algum diagnóstico de transtorno mental, tiveram intensificação
do seu quadro. Durante atendimentos a pessoas que foram curados da
Covid-19, foi expresso o quão traumático a situação vivida foi. Percebeu-
se que a demanda para psicólogo aumentou significativamente nos
meses de setembro e outubro na instituição. Cabe destacar, que o
psicólogo no CRAS não realiza psicoterapia, e o atendimento deve ser
psicossocial, trabalhando sobretudo, com famílias, e ações grupais. No

337
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

entanto, nesse período as ações grupais do Programa de Atenção


Integral à Família (PAIF) foram suspensas. Dito isso, nos atendimentos
realizados, a psicóloga estabeleceu vínculo com o usuário ou família
atendida, para a partir disso implicá-los em seu processo de mudança.
Foi oferecida escuta qualificada, sendo construídas estratégias visando o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, bem como o
despertar de sujeitos autônomos, considerando os objetivos do PAIF. Os
usuários também foram orientados acerca de práticas que podem
contribuir para lidar melhor com a pandemia. Ao final das intervenções
os usuários em sua maioria relatavam sentir-se aliviados e empoderados
a engajar-se em processos de mudança. Deste modo, percebe-se a
importância e a efetividade dos atendimentos realizados no CRAS,
visando prevenir agravos e violações de direitos, e que funcionam como
um fator de proteção à saúde mental, pois, compreende-se que
fortalecer vínculos familiares e assegurar os mínimos sociais básicos é
também uma das formas de potencializar a saúde mental. Assim, cabe
destacar que discutir saúde mental é também, falar de estratégias que
assegurem direitos para o exercício da cidadania, sendo necessário um
trabalho intersetorial. Diante do exposto, aponta-se a importância de
mais estudos sobre o impacto psicológico do Covid-19, uma vez que o
número de pessoas com a saúde mental afetada pela pandemia, tende a
ser maior do que a quantidade de pessoas que tiveram a Covid-19.

338
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atuação da Rede de Atenção Psicossocial na cidade de Itaúba-MT,


construção e consolidação de uma saúde mental democrática.

Henrique de Oliveira
Secretaria Municipal de Saúde - Itaúba-MT

Seguindo movimento democrático que consolidou o Sistema Único de


Saúde (SUS), a lei nº 10.2016/01, conhecida como a lei da reforma
psiquiátrica, redireciona o modelo assistencial em saúde mental,
privilegiando tratamentos de base comunitário e territorial. Com a
portaria 3088/2011, é instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
que amplia e articula a atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou
transtorno mental. A RAPS constitui um serviço de base municipal e
territorial, oferecendo cuidado integral e assistência multiprofissional,
sob a lógica interdisciplinar, tornando-se um serviço substitutivo ao
hospital psiquiátrico. Assim como a maioria dos Municípios do Estado de
Mato Grosso, Itaúba não possui suporte populacional para receber um
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o fluxo de demanda em saúde
mental é atendido nas unidades de saúde e assistência social do
município. A rede de atenção psicossocial é composta por, Estratégia
Saúde da Família (Atenção Básica), Centro de Reabilitação (Atenção
Especializada) e Fundação Hospitalar Municipal (Urgência e
Emergência), na Assistência Social há o Centro de Referência em
Assistência Social (CRAS), que, mesmo não sendo da Secretaria de
Saúde, exerce um papel importante na rede. A porta de entrada do
usuário que necessita de atenção em saúde mental ocorre por diversos
dispositivos, sendo os principais: qualquer um dos componentes da
Rede de Atenção Psicossocial, Escolas Municipais ou Estaduais de
Ensino, Conselho Tutelar, Ministério Público e demanda espontânea,
com isso, a pessoa é encaminhada para passar pelo psicólogo da
Secretaria Municipal de Saúde. As demandas se apresentam das formas
mais variadas possíveis, necessitando um entendimento da
problemática de uma forma ampla, compreendendo a saúde mental

339
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

como um fenômeno biopsicossocial, é necessário articular uma atuação


que seja interdisciplinar, multiprofissional e intersetorial, para buscar
intervir nas situações da maneira mais abrangente possível. Dessa
forma, os usuários são acolhidos na rede e são acompanhados,
juntamente com as famílias, pela equipe de saúde e, quando necessário,
encaminhados para a assistência social do município. Cada caso é
estudado e trabalhado conforme suas singularidades e necessidades,
por isso, deve-se traçar um planejamento de tratamento que envolva as
diversas áreas e setores para tentar intervir da maneira mais completa
possível para cada situação. Os principais desafios apresentados na
atuação dizem respeito, principalmente, a concepções de saúde mental
pautadas no modelo de assistência hospitalocêntrica, baseada no
isolamento, segregação e confinamento; falta de compreensão da
atuação do psicólogo e uma definição de saúde mental compreendida
de forma restringida, acreditando que o bem estar psicológico não está
relacionado com as condições de vida, de uma maneira geral. Apesar
dos desafios, muitas coisas estão mudando para a construção e
consolidação de uma saúde mental democrática, os principais pontos
dizem respeito ao estreitamento das relações profissionais que ocorrem
principalmente nas discussões, estudos e planejamento dos casos, na
construção de uma compreensão de saúde mental no modelo
biopsicossocial e na participação do usuário, sendo protagonista em seu
próprio tratamento.

340
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Atuação do Psicólogo no Centro de Atenção Psicossocial I frente a


casos de Suicídio

Daniele Veloso de Menezes


Renata Guaraná de Sousa Lorena
Daiana da Silva Carvalho
Chiara Mayara da Cruz Figueiredo Melo
Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Constantino Duarte Passos Neto


Escola de Saúde Pública do Ceará – ESP/CE

Luciana de Matos Andrade


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

Alessandro Teixeira Rezende


Universidade Federal da Paraíba – UFPB

Luísa Marianna Vieira da Cruz


Autarquia Educacional de Serra Talhada – AESET

Victor Hugo Ribeiro de Sousa


Escola de Saúde Pública Visconde de Sabóia – ESPVS

José Victor Lima Braga


Faculdade São Francisco da Paraíba – FASP

INTRODUÇÃO: O suicídio é considerado um complexo fenômeno


multifacetado, que abrange questões de níveis socioculturais, históricas,
psicossociais, como também ambientais, considerado um problema de
saúde pública mundial, que pode ser prevenido. Se apresenta como uma
demanda frequente nas instituições de saúde mental, sendo perceptível
a complexidade que envolve esse fazer saúde das equipes dos Centros

341
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de Atenção Psicossociais (CAPS), bem como os desafios que enfrentam


enquanto profissionais da Saúde Mental. O presente trabalho busca
relatar sobre a atuação do Psicólogo residente em um CAPS I, frente aos
casos de pessoas com histórico de ideações e/ou tentativas de suicídio.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência cuja
metodologia foi a sistematização de experiências proposta por Holliday,
organizada com apresentação dos aspectos iniciais referentes à
trajetória que culminou na execução das atividades no CAPS I enquanto
cenário de prática; considerações acerca do suicídio enquanto problema
de Saúde pública. Por seguinte, é dada ênfase nas possibilidades de
ações para além da prevenção ao comportamento suicida, ressaltando a
importância do suporte psicológico como terapêutica de cuidado, e por
fim, os desafios encontrados para a efetivação dessas práticas.
REPERCUSSÕES: Foi possível perceber a potencialidade do
acompanhamento psicológico frente a comportamentos suicidas, visto
que oferece um espaço de fala e de acolhimento para a ressignificação
dos sentimentos que podem contribuir para o fenômeno. O fazer
profissional dos psicólogos referente à prevenção ao suicídio deve estar
pautado para além das atividades individuais. Percebeu-se o quanto tal
premissa ainda é um desafio, uma vez que a maioria das ações destes
profissionais frente ao suicídio fica restrita ao atendimento individual,
pouco contextualizada com as condições de vida além dos consultórios.
Nos atendimentos, pôde-se observar que os discursos dos jovens com
histórico de ideações e/ou tentativas de suicídio estavam fortemente
carregados de sentimentos de frustação, de não aceitação do fracasso e
da negação de seus anseios. Alguns obstáculos foram encontrados
desde os primeiros contatos, pois, a clínica do suicídio traz algumas
especificidades próprias. Um desses desafios é a busca pelo
acompanhamento, que na maioria das vezes não é uma busca pessoal,
mas sim, o usuário é conduzido por outrem, numa situação terapêutica
às avessas, que pede manejo maior ainda com a situação. A sociedade
falha no sentido de acolher, e muitas vezes seus discursos infundados só
potencializa as vulnerabilidades já existentes frente à tantos fatores de

342
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

risco aos quais os sujeitos já estão expostos. A maioria das pessoas eram
sujeitos que destoavam daquilo que era imposto pelas condições de vida
que estavam inseridos, e que diante de um suposto fracasso social se
veem em situação de adoecimento profundo e de desesperança frente
as situações adversas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Infere-se que são
inúmeros desafios presentes na clínica psicológica com essa demanda,
uma vez que traz especificidades inerentes que provocam um processo
de reavaliação por parte dos profissionais de suas bases teóricas e
práticas, sendo necessário a busca por qualificação para abordagens de
forma contextualizada e ampliada.

343
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Atuação dos residentes em saúde mental no contexto de pandemia da


Covid-19 em um Centro de Atenção Psicossocial II na cidade de
Salvador: relato de experiência

Daiana Ferreira Menezes


Carla Maria Rodrigues Alves
Jeferson Pereira da Silva
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Magno Conceição das Mercês


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Introdução: A Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) é


reconhecida como uma estratégia eficiente e eficaz de aperfeiçoamento
de profissionais com base nos princípios e diretrizes de integralidade do
Sistema Único de Saúde (SUS). O presente relato traz a experiência da
atuação dos profissionais residentes do Programa de RMS da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em um Centro de Atenção
Psicossocial II (CAPS II) em Salvador, Bahia, no contexto de pandemia do
novo coronavírus (SARS-CoV-2). Após instruções e determinações das
autoridades sanitárias nacional e local, quanto às medidas profiláticas e
de distanciamento social para não-propagação do vírus, a atuação do
CAPS II restringiu-se a consultas, acolhimentos a novos usuários,
atenção à crise, dispensação de medicamentos, reuniões técnicas e
monitoria dos usuários por teleatendimento. Descrição da experiência:
A experiência ocorreu um CAPS II, entre março e agosto de 2020. A
conjuntura pandêmica convocou os residentes a adaptarem suas
ações/projetos à prevenção e enfrentamento da Covid-19, com foco na
assistência à saúde mental dos trabalhadores do CAPS, uma vez que,
notadamente, esta também foi uma categoria altamente afetada pelo
novo contexto, tanto pelo risco de contaminação quanto pelo esforço
em adaptar o fluxo de trabalho às mudanças. As ações planejadas
seguiram dois eixos: (1) prevenção e orientação sobre a COVID-19 aos

344
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

usuários e funcionários (elaboração de folder informativo sobre a


COVID-19; educação em saúde aos profissionais e usuários do Serviço
Residencial Terapêutico vinculado ao CAPS; e elaboração de guia de
triagem dos sintomas da COVID-19) e (2) suporte à saúde mental dos
trabalhadores (programa de meditação e automassagem; rodas de
conversas sobre Práticas Integrativas Complementares e sobre temas
concernentes à pandemia). Foram acompanhados, ainda, alguns casos
de usuários em situação de rua que demandavam intensificação de
cuidado, além de orientações pontuais a usuários que visitavam o
serviço. Repercussões: As intervenções contribuíram com a qualidade de
vida e saúde mental principalmente dos profissionais nesse momento
crítico, além de facilitar trocas de experiências, escuta ativa,
ressignificação de pensamentos e atitudes, tanto no contexto
psicossocial quanto nos atendimentos do serviço. Os residentes
puderam explorar novas temáticas e formas de trabalho, diferentes das
experimentadas e planejadas no início da residência. Considerações
finais: Por conta da pandemia, os residentes não puderam acompanhar
de forma efetiva as atividades e oficinas ofertadas pelo CAPS em outros
momentos, além de encontrarem dificuldades com a articulação e
acesso a serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no
acompanhamento de casos. Em relação aos usuários e familiares, devido
às restrições do serviço e ao isolamento social, percebeu-se um
aumento da ansiedade e situações de crise, uma vez que o serviço era
um suporte de atenção e apoio ao enfrentamento de suas dificuldades.
Nesse sentido, as ações projetadas especificamente para esse contexto
beneficiaram tanto os profissionais, quanto usuários e residentes.

345
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Audiências de Custódia: (Des)estruturas e torturas institucionais.

Ana Cristina Nascimento Freire


Tribunal de Justiça de Pernambuco

O projeto de audiências de custódia teve seus regramentos instituídos


pela Resolução nº213/2015, do Conselho Nacional de Justiça-CNJ, e visa
a proteção de direitos humanos, através do cumprimento de preceitos
normativos nacionais e internacionais, dentre eles, cuidados relativos à
saúde mental de pessoas presas em flagrante. Possuindo dentre as
principais inovações, a previsão de absenteísmo dos/das magistrados/as
de formularem perguntas com finalidade de produzir prova para a
investigação ou ação penal, essas audiências, dentre outras tutelas,
teoricamente objetivam a identificação de irregularidades durante a
efetivação das prisões, como tortura e maus tratos. Porém, nos moldes
em que seguem (des)estruturadas, em vez de garantias de direitos, tem-
se violações praticamente institucionalizadas, como precária estrutura
física das sedes, longos períodos se, fornecimento de água e
alimentação e assistência médica inexistente ou precária. Assim, através
da análise de dados de audiências de custódia, pretende-se demonstrar
que dentre as consequências da “guerra às drogas” está o alto índice de
encarceramento, que comina em um sistema prisional considerado um
dos mais violentos do mundo e que não tem como prioridade aspectos
relacionados a saúde mental, ou seja variáveis que resultam em
ineficácia dos fundamentos formais de existência do juízo garantista. A
proposta do artigo é verter reflexões acerca das relações entre
neoliberalismo, cárcere, seletividade penal e criminalização da pobreza,
identificando nos dados das audiências de custódia, as conexões entre
crime, meio social e métodos de punição, com fulcro em Zaffaroni,
LoicWacquant, Di Giorgi, Rusche e Kirchheimer. Observando-se, no que
tange ao conceito de “guerra as drogas”, as teorizações de Rosa Del
Olmo, que ao historicizar a criminologia na América Latina, considerou
as influências acadêmicas e políticas das nações colonizadoras.

346
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Subsidiam os aspectos metodológicos da proposta, a análise de dados


estatísticos publicizados pelo CNJ, bem como dados de audiências
realizadas na abrangência das cidades de Jaboatão dos Guararapes,
Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, Moreno, Camaragibe e São Lourenço
da Mata, entre agosto de 2016 e maio de 2017, restringindo-se aos
decorrentes de prisões em flagrante cujas tipificações possuíram a
incidência da Lei nº 11.343/2006.

347
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Aula de inglês para trabalhadores da economia solidária e saúde


mental: ferramentas de autonomia e cidadania

Laís dos Santos, Laís dos Santos


Luciane Régio Martins
Julia Ataide
Victória Olenk Parra Silva
FCMSCSP

Introdução: Em 2011, com a Portaria nº 3.088, instituiu-se a Rede de


Atenção Psicossocial (RAPS), com sete eixos, sendo o sétimo, sobre
Reabilitação Psicossocial, assim descrito: “O componente Reabilitação
Psicossocial da Rede de Atenção Psicossocial é composto por iniciativas
de geração de trabalho e renda/empreendimentos
solidários/cooperativas sociais”. Em 2018, durante uma visita da Liga de
Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica da FCMSCSP, um dos
trabalhadores do Ponto Benedito Calixto expressou a vontade de
aprender inglês para atender os estrangeiros que visitam a loja aos
sábados. Objetivo: Ensinar língua inglesa aos trabalhadores do Ponto
Benedito Calixto como modo de emancipação, autonomia e cidadania
de direitos. Método: Aulas ministradas em português e inglês, por
acadêmicas de Enfermagem. Cenário - Ponto Benedito Calixto de
Economia Solidária localizado em São Paulo. Após a aprovação dos
trabalhadores na Assembleia local, foram estabelecidas aulas
quinzenais, ministradas por acadêmicas de Enfermagem. A metodologia
aplicada foi roda de conversa, por ser afetivo-lúdica, utilizando como
dispositivo de conversa “realias”, ou seja, os produtos a serem vendidos.
Esses produtos faziam parte do “pano de fundo” das conversações, que
possibilitavam desde explicar que lugar é o Ponto Benedito Calixto, bem
como conversar em inglês. Resultados/Discussão: Os trabalhadores
trouxeram expectativas em relação às aulas, partindo do desejo e
necessidade dos mesmos. Duas trabalhadoras tinham conhecimento
prévio, e desejavam expandir o vocabulário, diferente dos demais, que

348
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

não “falavam em inglês” e que inicialmente, pareciam tímidos. Nas aulas


subsequentes, os diálogos voltavam-se para estruturas de frases,
numerais para falar preços, e interações afetivo-políticas como
ferramentas de cidadania. Como as aulas expositivas não eram
eficientes, elaborou-se jogos de memória com vocabulários com os itens
vendidos na loja em inglês. Foram feitos também cards com vocabulário
do jogo de memória para induzir um jogo de associações, sendo
solicitado aos trabalhadores que distribuíssem os cartões sobre os itens
correspondentes da loja. Essa técnica ajudou a memorização e o
aprender-lúdico. Na avaliação final ao longo de dois semestres, os
trabalhadores relataram que as aulas com jogos foram as mais
divertidas e favoráveis para o aprendizado e que esse momento servia
para a interação desses trabalhadores. Considerações finais: As aulas de
inglês fortaleceram laços de afeto entre os trabalhadores e as
acadêmicas de Enfermagem, favorecendo a troca de modos de vida,
fomentando autonomia, além de oportunizar um olhar singular das
acadêmicas de enfermagem sobre o fenômeno da loucura e sua
reprodução social pela sociedade. Esses momentos além do vínculo de
confiança, cria possibilidades de reescrever histórias de vida/projetos de
vida, contribuindo para o aumento do poder contratual dos
trabalhadores junto aos clientes estrangeiros. Sem dúvida, ampliou-se o
escopo reflexivo, teórico-prático das alunas, bem como deflagra-se um
ganho imaterial por meio desse trabalho, o qual produz formação
voltada para uma Enfermagem Antimanicomial.

349
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Aurículoterapia: um cuidado não medicamentoso em saúde mental na


Atenção Primária à Saúde

Larissa de Almeida Rezio


Margani Cadore Weis Maia
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

Linikhennia Silveira de Araújo Blank


Secretaria Municipal de Saúde

Introdução: A Auriculoterapia é um tratamento vinculado a Medicina


Tradicional Chinesa (MTC), também denominada de auriculoacupuntura
ou acupuntura auricular, por ter seus fundamentos na acupuntura,
considerando os microssistemas e a acupressão. Para a MTC, distúrbios
em órgãos, sistemas, ou em aspectos emocionais são manifestados no
pavilhão auricular, por meio de sensibilidade ou descoloração, por
exemplo. Assim, patologias, dores, ou sofrimentos podem ser
amenizados ou curados pela estimulação da orelha, em pontos
condutores ou reflexos, com benefícios analgésico, estimulante ou
relaxante, sem a necessidade de prescrição medicamentosa. Dentre as
indicações de auriculoterapia, a redução de sintomas depressivos e de
ansiedade é uma delas, e tem sido muito eficiente em tratamento no
contexto da Atenção Primária à Saúde. Descrição da experiência: Este
trabalho tem como objetivo relatar as repercussões positivas na vida de
usuários acompanhados por meio de auriculoterapia na APS. O
atendimento de com a auriculoterapia foi implantado em junho de 2019
em uma Unidade de Saúde da Família (USF) do município de Cuiabá,
Mato Grosso, após a realização da formação da enfermeira da unidade.
Inicialmente, a enfermeira da unidade iniciou o atendimento com os
profissionais do serviço e, a partir de outubro de 2019, para todos os
moradores da área de abrangência da unidade interessados nesse
cuidado não medicamentoso. Atualmente, por meio de parceria entre a
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso e a

350
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

USF, via Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET- Saúde)
Interprofissionalidade e saúde mental, atendemos 20 pacientes em que
a maioria está entre a quarta e última sessão. Repercussões: Os
primeiros agendamentos foram referentes à lombalgia, ansiedade,
distúrbios do sono e enxaqueca. A partir da primeira sessão, os próprios
usuários verbalizaram melhora significativa no quadro de sintomas
apresentados, sendo necessário ampliar o atendimento para dois
períodos por semana, pela procura da comunidade, ampliando
atendimento para sinusite, sintomas depressivos e sintomas de
abstinência ou uso de substâncias psicoativas, principalmente álcool e
tabaco. As principais repercussões foram referentes aos quadros de
ansiedade, distúrbios do sono e sintomas depressivos, em que os
pacientes referiram melhora logo na primeira sessão/ atendimento.
Considerações finais: A auriculoterapia pode ser um importante
tratamento adjuvante para os quadros apresentados, por ser segura, e
ter como efeito adverso, apenas possibilidade de mínima irritação no
local estimulado. Além disso, dos 20 casos acompanhados atualmente,
apenas dois estão em uso de medicamento, o que demonstra a eficácia
da auriculoterapia como cuidado não medicamentoso. Dessa forma,
considerando o risco de efeitos como tolerância e dependência,
causados por ansiolíticos, assim como, outros efeitos prejudiciais da
maioria dos fármacos, entendemos que a MTC e, neste estudo
especificamente, a auriculoterapia, pode propiciar tratamento de
inúmeras demandas, físicas ou psicoemocionais, com baixo custo e sem
uso substâncias química (como princípio ativo do medicamento), mesmo
que esta tenha efeito terapêutico.

351
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Avaliação com acolhimento: início de uma reabilitação

Sâmea Franceschini

Pensar a Avaliação Neuropsicológica apenas como um meio para uma


futura reabilitação pode reduzi-la a um simples instrumento, sem
considerar a sua importância já como processo de intervenção. A
experiência na Clínica remete ao efeito restaurador da Avaliação
Neuropsicológica que, através de seus métodos de investigação das
funções cognitivas e do comportamento e suas relações com o sistema
nervoso central, já produz mudanças no paciente que, ávido por
respostas, estabelece uma relação transferencial com o seu avaliador.
Destaca-se, ainda, o momento da entrevista devolutiva como uma
importante sessão de reabilitação, com efeitos que podem contribuir
para o sucesso de futuras intervenções e mudanças comportamentais
do paciente. Relato da minha experiência como estagiária no Curso de
Neuropsicologia da Faculdade Esuda, em Recife, ao atender um paciente
de 41 anos que veio com o diagnóstico de esquizofrenia e realizou uma
avaliação neuropsicológica. Assim como na teoria psicanalítica de Freud,
pensa-se que a relação transferencial fica estabelecida entre o avaliando
e o seu avaliador, no processo da Avaliação Neuropsicológica, e isso fica
muito marcante nas orientações dadas pelo avaliador para a realização
das atividades neuropsicológicas e o desejo de acertar do avaliando.
Muitas vezes, esse desejo tem o caráter de agradar e não decepcionar o
avaliador. Outro momento em que esse registro fica muito marcante é o
momento da entrevista devolutiva. Viu-se, anteriormente, que em uma
das partes do laudo neuropsicológico há as orientações e
recomendações. Ao finalizar o processo avaliativo, o neuropsicólogo
realiza a entrevista devolutiva, quando apresenta, além dos resultados
observados, orientações e recomendações que deverão ser seguidas
pelo avaliando. Nesse momento, a relação transferencial fica evidente e
é de grande importância para que a fase seguinte, a da reabilitação,
aconteça da melhor forma. Mais do que um documento formal,

352
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

elaborado a partir de teorias, de testes padronizados e não


padronizados, da observação clínica, de atividades neuropsicológicas, a
Avaliação Neuropsicológica pode ser considerada como o verdadeiro e
principal início da reabilitação neuropsicológica e de motivação à
mudança necessária e possível por parte do paciente. Assim, ressalta-se
a importância da relação transferencial entre o paciente e o
neuropsicólogo avaliador. Relação que irá proporcionar o desejo e a
confiança no trabalho de reabilitação que seguirá, se necessário. Para
isso, o neuropsicólogo necessita apresentar uma conduta de
acolhimento, de segurança e de sensibilidade frente às necessidades do
paciente, expressas durante as sessões de avaliação. Conclui-se este
trabalho com as palavras do paciente de 42 anos que, ao receber o
Laudo Neuropsicológico, olhou para a sua mãe e, chorando, disse: “Eu
não disse, mãe, que você ainda teria muito orgulho de mim?”. Sim, por
mais dificuldades que ele venha a enfrentar no processo de reabilitação
em busca de uma melhor qualidade de vida, naquele momento, ele
ouviu o seu avaliador dizer que acreditava nele e ele também acreditou.

353
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Baile de Gentileza - Na música é que a gente se encontra

Thiago Ferreira Sobral


CAPS Profeta Gentileza

Luisa Motta Corrêa


Instituto de Medicina Social da UERJ

Introdução: O presente trabalho é resultado da experiência profissional


de um assistente social e uma psicóloga como facilitadores da oficina de
música do CAPS II Profeta Gentileza na zona oeste da cidade do Rio de
Janeiro/RJ. Partimos do entendimento de que os Centros de Atenção
Psicossocial são dispositivos que oferecem cuidado a pessoas com
sofrimento mental grave e persistente buscando estimular a construção
de enlaces sociais, tão fragilizados nestes casos. Se o objetivo da
reforma psiquiátrica é a “reprodução social das pessoas” (ROTELLI, 2001,
p. 91) e não mais a cura, a ação terapêutica deve ter como foco a
relação e não o indivíduo isoladamente. É no encontro com o outro e
nas expressões singulares produzidas por esta troca que se torna
possível “colocar a doença entre parênteses” (Ibidem) e dar voz às
emoções e desejos do sujeito concreto na relação com a sociedade. A
seguir, veremos como a música é um importante vetor neste processo.
Descrição da experiência: A oficina de música é antiga no CAPS,
passando por várias reconfigurações. Há aproximadamente dois anos
encontramos uma forma de fazer que tem sido agregadora e potente. A
proposta surgiu de unir a oficina de dança realizada pelo assistente
social com a oficina de música realizada pela psicóloga. Assim, às sextas-
feiras, pela manhã, nos reunimos na varanda do CAPS, que funciona em
uma casa no estilo colonial em um sítio na área periférica da cidade.
Como acontecia anteriormente, colocamos os instrumentos e microfone
disponíveis para aqueles que desejam tocar e acrescentamos o recurso
do smartphone conectado ao Youtube ligado a uma caixa de som. Esse
recurso permitiu a ampliação do repertório musical da oficina e facilitou

354
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

o convite à dança, possibilitando inserir músicas com batidas eletrônicas


como Funk e Hip Hop. Disponibilizamos o microfone aberto, que
funciona como uma espécie de karaokê, com acompanhamento da
música de fundo do smartphone ou com suporte de um violeiro local
que participa voluntariamente nas oficinas.
Repercussões e considerações finais: Em nossa experiência no espaço da
oficina, as letras das músicas funcionam como disparadoras de
memórias afetivas que auxiliam os sujeitos a narrarem e
compartilharem a sua própria história. Pelo microfone, usuários que
pouco se manifestavam verbalmente, colocam emoções e experiências
em palavras através das canções que escolhem. Além disso, a dança em
conjunto permite um espaço de expressão e trocas por meio do corpo,
capaz de unir pacientes que não interagiam de outras formas. Em alguns
momentos, passos e coreografias se constroem em grupo. Como
exemplo, podemos citar uma usuária que era extremamente sensível ao
contato corporal e passou a dançar junto na oficina, com passos
ensaiados, ao som da canção “Spring Love”, deflagradora de memórias
sobre os tempos em que frequentava bailes, antes do primeiro surto.
Assim, a música mostra-se como forma privilegiada de propiciar
encontros, condição primeira para a formação de laços sociais. Tanto
através do que as letras despertam, quanto do movimento corporal que
os sons evocam, esta oficina revela-se um espaço pulsante de interação
entre os usuários.

355
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

BAZAR: atividade laborativa como produção de autonomia

Êlizandra Regina dos Santos Gomes


Breno Lincoln Pereira de Souza Diniz
Lilian Gabriela Barreto Cordeiro
Universidade de Pernambuco – UPE

Maria José da Silva


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Luanna Maria Ferreira da Cruz


Hospital Ulysses Pernambucano

Os profissionais integrantes dos programas de residência


multiprofissional em saúde mental da Universidade de Pernambuco em
conjunto com a residência uniprofissional em psicologia do Hospital
Ulysses Pernambucano, construíram com os usuários do Centro de
Atenção Psicossocial III Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) do município
de Recife, PE, a proposta de montagem de um bazar, inicialmente com o
objetivo de arrecadar fundos para realização de passeios
terapêuticos/culturais pela cidade. O período de realização se deu de
outubro a dezembro de 2019, mas, com anseios que mesmo após a
saída da residência, esse trabalho continuasse a ser desenvolvido se
assim fosse o desejo dos usuários e dos profissionais do serviço. Tendo
como espaço para realização dessa atividade as dependências externas
do CAPS AD. As peças utilizadas foram roupas, acessórios e calçados
vindos de doações externas, tanto por profissionais do serviço como de
ONGs, bem como materiais confeccionados pelos próprios usuários. Foi
percebido que essa ocupação despertava o interesse nos usuários de
manter o bazar de forma sistemática e como atividade integrante do
serviço, uma vez que contribuía para a produção de autonomia, assim
como iniciativa para independência laboral dos mesmos. Por muitas
vezes relatada pelos usuários como uma atividade com ganhos bastante

356
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

positivos, pois, era uma forma de aproximação dos mesmos com a


comunidade, quebrando um pouco das barreiras de segregação,
impostas pelo estigma sofrido pelos indivíduos em acompanhamento
terapêutico em decorrência de vícios. Esse processo transcendeu o
objetivo inicial e perpassou pelo processo de desinstitucionalização e
autossuficiência dos usuários proposta pela reforma psiquiátrica.
Despertando nos mesmos o senso de corresponsabilização pelo seu
cuidado e novas possibilidades de recursos terapêuticos, sendo o
trabalho uma delas. Mobilizando-os a se reconhecer enquanto
protagonistas de seu tratamento, fortalecendo seu Projeto Terapêutico
Singular, e para além disso, como protagonistas de suas vidas.
Palavras-chave: Autonomia; Protagonismo; Reabilitação psicossocial

357
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Bicho do Mato: natureza como promoção à saúde mental

Zaqueu Rodrigues Gonçalves


Carla Cristina Godinho
Glauco André dos Santos
Nayara Fantinatti Medina
CAPS AD III PENHA

Introdução: O projeto Bicho do Mato foi idealizado a partir de um desejo


antigo de alguns usuários e trabalhadores do CAPS AD (Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) III Penha e da experiência de maio
de 2019, onde foi realizada, com um grupo da instituição, a trilha do Pai
Zé e do Mirante do Pico do Jaraguá localizado em São Paulo/SP.
Descrição da experiência: Caracterizado como um grupo semiaberto,
com atividades internas e externas, executado e coordenado por equipe
multiprofissional, tem como público alvo usuários que não participam
de outras atividades e/ou casos graves que não se reconhecem nos
grupos verbais. Para um serviço de saúde como o CAPS, de caráter
aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional que
realiza atendimento às pessoas com sofrimento mental e/ou uso
prejudicial de álcool e outras drogas, em situação de crise ou no
processo de reabilitação psicossocial, torna-se de suma relevância um
projeto que a partir de uma ótica interdisciplinar proporciona aos seus
participantes a remissão de sintomas, viabilizando a prática de trilhas
como promoção de bem-estar coletivo (social), físico e mental, na qual o
sujeito sai do setting tradicional de cuidado e de uma posição passiva,
valendo-se da junção entre lazer, atividade física, conhecimento,
responsabilização e meio ambiente, afetando diretamente o sujeito no
seu funcionamento biopsicossocial.
Repercussões: Temos observado que a atividade tem contribuído para
redução de danos: responsabilização do cuidado, vínculo com a atenção
básica, busca por melhor condicionamento físico, cuidado com outro,
coletivo e com meio ambiente, construção de uma consciência crítica e

358
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do que são cuidados em saúde, que estes não se restringem apenas a


medicação, humanização do cuidado.
Considerações finais: Entendendo os grandes centros urbanos como
fonte de adoecimento, o Bicho do Mato assim como outros grupos, visa
problematizar a relação que as pessoas estabelecem com a cidade,
reconhecendo que esta também dispõe de recursos que contribuem
para promoção de saúde, além das práticas tradicionais de cuidado, não
se limitando a medicação, a um espaço físico e promovendo o
protagonismo do usuário.

359
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Caminhos Possíveis do Cuidado em um CAPS Infanto-Juvenil em


Tempos de Pandemia

Vitor Hugo Gil Santana


Rosana Teresa Onocko-Campos
Bruno Ferrari Emerich
Giovana Pellatti D. Lopes
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Marcos Vinicius Lourenço Nunes


Prefeitura Municipal de Campinas

A pandemia decorrente do surgimento do novo coronavírus tem


ocasionado mudanças de hábitos de vida e impactos importantes na
saúde mental de grande parte da população. Na perspectiva da infância
e adolescência, embora todas estas mudanças e impactos pareçam
pequenos em um primeiro olhar (ao se considerar a taxa de mortalidade
por COVID-19 nesta faixa etária em comparação às outras), muitos
sentimentos diferentes (como os de perda e luto) e transformações
significativas (como o distanciamento de amigos, parentes e a perda da
rotina da escola e de outras atividades) vêm sendo experimentadas por
crianças e adolescentes em seus cotidianos de vida e desenvolvimento,
já tão marcados por transformações durante estas fases. Dentre as
reações emocionais e comportamentais mais comuns vivenciadas por
elas, se destacam queixas de dificuldades de concentração,
irritabilidade, inquietação, agitação, sensações de medo, tristeza,
solidão e alterações no padrão de sono e alimentação (FIOCRUZ, 2020).
Em se tratando mais especificamente de crianças e adolescentes com
transtornos mentais ou algum tipo de sofrimento psíquico, que
usualmente já lidam com algumas dessas questões, a situação de
sofrimento pode ser intensificada e agravada, passando de reações
esperadas a ocasiões de crise. Neste sentido, o presente trabalho,
realizado em um CAPS infantojuvenil tipo II de uma grande cidade do

360
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

interior do estado de São Paulo, busca evidenciar, através de um relato


de experiência, as estratégias adotadas pela equipe do referido serviço
de saúde mental com o objetivo de promover a atenção e o cuidado à
saúde de crianças, adolescentes e seus familiares já inseridos no CAPS
ou que chegaram até ele na atual conjuntura pandêmica. Para isso,
recursos e ferramentas considerados importantes como acolhimentos,
monitoramentos telefônicos, atendimentos online individuais e em
grupo, visitas domiciliares, reuniões de matriciamento e reuniões intra e
intersetoriais (para discussão dos casos em redes) foram pensados
visando fomentar a ampliação das práticas de cuidado, ao mesmo
tempo em que processos de trabalho e fluxos de atendimentos foram
revistos e reorganizados. Apesar de ainda não haver resultados
sistematizados dos efeitos de cada uma destas intervenções (tendo em
vista o desenrolar dos fatos e das atividades no momento), pode-se
considerar que tais estratégias implementadas têm repercutido de
forma positiva por parte de muitos usuários e familiares, apontando
para novos e possíveis caminhos do cuidado em um CAPS infantojuvenil
não só em tempos de pandemia, mas também em tempos futuros.

361
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Canal de Escuta Terapêutica Online

Luiza Hences dos Santos


Ariane da Cruz Guedes
Luciane Prado Kantorski
Universidade Federal de Pelotas

Introdução: A rápida disseminação de infecções causadas pelo novo


coronavírus, fez com que a Organização Mundial da Saúde declarasse,
em março de 2020, a pandemia de COVID-19. Mediante restrições,
distanciamento social e demais ações, foram feitas propostas para
mitigar ou prevenir as possíveis consequências da pandemia à saúde da
população mundial, inclusive à saúde mental.
Durante a pandemia, o medo de adoecer e morrer, o estresse, a
ansiedade mediante as incertezas do futuro, os sintomas decorrentes do
isolamento social, da perda de emprego, entre outras situações, afetam
pessoas saudáveis e podem potencializar os sintomas daquelas com
transtornos mentais pré-existentes.
O crescente número de pessoas que necessitam de atendimento em
saúde mental, em caráter transitório ou regular, requer uma
readaptação das práticas de saúde mental no contexto pandêmico.
Portanto, o presente relato objetiva apresentar a experiência de escuta
terapêutica online desenvolvida por um grupo de profissionais da
atenção psicossocial.
Descrição da experiência: Em abril de 2020, o Grupo de Pesquisa em
enfermagem, saúde mental e saúde coletiva, lotado na Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), iniciou uma
proposta de cuidado em saúde mental adaptada ao contexto da
pandemia de COVID-19, viabilizada através de um projeto de extensão.
Primeiramente, criou-se o website do grupo
(www.gruposaudemental.com/chat), no qual encontram-se informações
sobre saúde mental, COVID-19, oferta de práticas de cuidado em saúde
mental a distância e um chat de escuta terapêutica, no qual 23

362
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profissionais de saúde, entre eles professores universitários, pós-


graduandos e trabalhadores da rede de atenção psicossocial, realizam
atendimento de escuta terapêutica, de segunda à sexta-feira, das 13 às
21 horas. O chat é aberto para o público geral e para acessá-lo o usuário
precisa aceitar o Termo de consentimento de consulta do paciente,
previsto na Resolução COFEN n° 0634/2020, confirmando ter mais que
18 anos e aceitando o registro da consulta em prontuário eletrônico,
cujo acesso é restrito aos operadores do chat. Além disso, são
respeitados os preceitos éticos, através do cumprimento das resoluções
dos respectivos órgãos profissionais referentes a autorização de
teleconsulta. Nos três primeiros o Chat já registrava 258 acessos e 159
atendimentos.
Repercussões: O atendimento de escuta terapêutica obteve repercussão
local e nacional, foi divulgado à comunidade acadêmica através de e-
mail institucional da UFPel, nas mídias sociais, rádio comunitária e numa
matéria para um telejornal do estado do Rio Grande do Sul. Ademais, foi
realizada uma parceria do Grupo de Pesquisa com a Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, com a oferta de rodas de terapia
comunitária e atendimentos individuais a população em geral.
Considerações finais: Por fim, entendemos que o estado de emergência
humanitária, instalado pela pandemia da COVID-19, traz sérias
consequências a saúde mental da população mundial, portanto,
iniciativas como a desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa, são
fundamentais para atender as demandas de saúde dos indivíduos com
sofrimento mental agravado ou iniciado pelo longo período de
isolamento social.

363
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

CAPS IJ Híbrido – Transformações e possibilidades a partir da


experiência de cuidado 24 horas

Alexandre Moreno Sandri


Janaína Carvalho Sant’anna Ermani
Prefeitura Municipal de Jundiaí

Introdução: Por que, em pleno século 21, ainda se internam crianças e


adolescentes em hospitais psiquiátricos e outros dispositivos de caráter
asilar? O Relatório de Inspeção Nacional de Hospitais Psiquiátricos
(2018) aponta que, dos 40 hospitais psiquiátricos inspecionados, 16
afirmam receber crianças e adolescentes em contexto de internação. À
época da inspeção, havia, pelo menos, 104 crianças e adolescentes
internados país afora. O documento revela, ainda, uma série de
violações de direitos neste contexto, tais como: afastamento das
atividades escolares, internações prolongadas, ausência de ala específica
e proibição de contato com familiares. Em Jundiaí, até o ano de 2015,
muitas das situações de crise psíquica de maior gravidade, no campo da
infância e juventude, acabavam sendo direcionadas para internações
psiquiátricas, ou em comunidades terapêuticas da região. Entre 2010 e
2015, houve uma média de 10 internações desta natureza por ano,
resultando na ruptura dos vínculos familiares e violações de direitos
diversas. No segundo semestre de 2015, inicia-se o processo de
implementação e reorganização das práticas de cuidado em saúde
mental, seguindo, de forma radical, o suposto de que o cuidado às
pessoas em intenso sofrimento psíquico deve se dar, prioritariamente,
nos equipamentos comunitários. Neste contexto, os CAPS do município
passam a operar com “portas abertas”, garantindo o acolhimento às
situações de crise nestes pontos de atenção.
Descrição da experiência: Em 2016, a equipe do CAPS IJ se propôs a
acolher em hospitalidade integral, um adolescente de 17 anos. Ao invés
de encaminhá-lo para a solidão do manicômio, optou-se por cuidar de
Henrique num local conhecido, por uma equipe com quem já tinha

364
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vínculos estabelecidos, próximo à sua casa e sua família. Ele apresentava


queixa de agressividade, irritação, embotamento afetivo e
persecutoriedade, e permanecia trancado dentro de sua casa, há mais
de uma semana. Para garantir a oferta de cuidado 24h, a equipe do
serviço organizou-se em escala de trabalho, contando com
trabalhadores do próprio serviço e de outras unidades da rede de saúde.
Algumas adequações na organização do processo de trabalho foram
necessárias, tais como a sistematização da rotina de trabalho, a
ampliação do diálogo com a rede intersetorial, além de adequação na
estrutura física. Após esta experiência fundante, sempre que
identificada a necessidade de intensificação de cuidados, o CAPS IJ se
organiza para o cuidado diuturno, caracterizando o que poderíamos
denominar um serviço híbrido, uma vez que não se trata de um CAPS IJ
III.
Repercussões: Desde o início desta experiência, já foram realizadas 36
ações de hospitalidade integral, totalizando 311 dias de sustentação e
cuidado às situações de crise no CAPS IJ. Nas ações de hospitalidade
realizadas, a média de permanência foi de 11 dias. A partir da
implantação deste dispositivo, o número de internações de crianças e
adolescentes em hospitais psiquiátricos e/ou comunidades terapêuticas
foi reduzido a zero.
Considerações Finais: Os resultados evidenciam a potência do modelo
de atenção psicossocial como substitutivo ao modelo hospitalocêntrico,
resultando em impacto evidente à vida das crianças e adolescentes
acompanhados, evitando internações em instituições de caráter.

365
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Capsi, Segurança Pública e Juventude Preta e Periférica: Recortes e


Reflexões Sobre a Atenção Psicossocial a partir da Narrativa
Socioeducativa

Tainara Cardoso Nascimento


CAPSi Alcântara

Este trabalho tem por objetivo descrever ações realizadas por


profissionais da Rede de Saúde Mental do município de São Gonçalo,
região metropolitana do Estado do Rio durante o ano de 2019, sendo
especificamente os dispositivos denominados como CAPS AD III – Dr.
Daniel Gomes da Silva (CAPS AD III Alcântara) e CAPSi Dr. Joaquim dos
Reis Pereira (CAPSi Alcântara) os condutores e principais responsáveis
pelo trabalho lido como pioneiro no território.
Os CAPS supracitados foram convocados a dar seguimento a um
trabalho que fora anteriormente realizado tentativas por outros CAPS,
porém, por alguns motivos pontuais, como grande rotatividade de
funcionários e significativos desmontes e desinvestimentos relacionados
ao trabalho, por exemplo, não foi possível a continuidade do mesmo,
que se configurava de outros modos e sob outras perspectivas.
O trabalho hoje consiste, primordialmente, em reconhecer a escuta
como principal e mais avançada ferramenta para exercer o cuidado,
compreendendo que a mesma é uma produção e, portanto, caracteriza-
se como um exercício, uma prática contínua. Todas as ações são
realizadas dentro do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao
Adolescente (CRIAAD) do município, onde jovens com perfis
historicamente moldados em gênero, raça, sexualidade e territórios
específicos habitam o espaço, a fim de cumprir as medidas
socioeducativas a partir da lógica de semiliberdade.
As intervenções têm como principal proposta trabalhar o protagonismo
desses meninos, quase que em sua totalidade, pretos, pobres e com
grandes reproduções históricas de violência, carregando em seus corpos
as destituições de direito e de humanidade secularmente negadas aos

366
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mesmos e aos seus semelhantes e familiares. Outro ponto muito


importante é proporcionar uma condução de cuidado, que os faz refletir
sobre as necessidades e urgências em si de praticarem os próprios
cuidados, possibilitando aos mesmos compreenderem-se como sujeitos
e peças ativas de suas próprias histórias, que são passíveis também de
receberam atenção e cuidado.
No grupo “Sem neurose”, denominado pelos adolescentes, são tecidas
rodas de conversa quinzenalmente e em turno matutino com temas e
dinâmicas variadas, que vão desde à redução de danos a ouvir as
histórias e memórias de suas famílias, por exemplo. O trabalho,
inicialmente, tinha como pretensão acolher, após diálogos com
responsáveis do CRIAAD, em média, dez adolescentes por encontro. No
entanto, a partir dos pedidos dos próprios adolescentes, o número
precisou ser ampliado, a fim de poder receber essas demandas e
dissipar o trabalho entre eles, que em dado momento precisou acirrar
uma disputa de ocupação de território com propostas determinadas por
uma igreja neopentecostal, que realiza o trabalho assiduamente no
dispositivo, disparando em nós inúmeras interrogações sobre as
possíveis lacunas e demais dificuldades em nossa atuação que se
apresenta como resistência em meio aos inúmeros desmontes,
destituição de Garantias de Direitos e desinvestimentos relacionados,
sobretudo a esses meninos, que são as principais vítimas de violências
letais do Estado.

367
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Caracterização Sociodemográfica e Tendência Temporal das Tentativas


de Suicídio e Suicídio no Município de Olinda, Pernambuco, entre 2009
a 2018

Yasmim Talita de Moraes Ramos


Louisiana Regadas de Macedo Quinino
Larissa Cavalcanti do Amaral Almeida
Julio Cesar Pereira da Silva Junior
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Flavia Helena Manhães Vasconcelos


Amanda Priscila de Santana Cabral Silva
UFPE

Introdução: O Brasil é o 8º país com maior número de suicídios no


mundo, registrando em 2012 quase doze mil óbitos. Apesar dos
números alarmantes, os estudos que abordam essa temática no país
ainda são escassos. Objetivo: Traçar o perfil Sociodemográfico das
tentativas de suicídio em Olinda, bem como analisar a tendência dos
coeficientes de incidência, mortalidade e letalidade desses eventos
entre 2009 a 2018. Metodologia: Estudo ecológico e descritivo.
Incluíram-se no estudo as tentativas de suicídio contidas no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação, cuja entrada se deu através das
fichas de notificação de violência interpessoal e autoprovocada e de
investigação de intoxicação exógena. Os óbitos foram coletados no
Sistema de Informação sobre Mortalidade, tendo como causa básica os
códigos X60 a X84 e Y87 do capítulo XX da Classificação Estatística
Internacional de Doenças- CID 10, que correspondem às mortes
decorrentes de suicídio. Considerou-se apenas os casos e óbitos de
residentes de Olinda ocorridos entre janeiro de 2009 a dezembro de
2018. Os bancos de dados foram extraídos de base DBF e exportados
para o programa Microsoft Excel versão 2018, onde se procedeu o
cálculo das frequências relativas das variáveis do perfil

368
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sociodemográfico e a confecção dos gráficos de tendências dos


coeficientes propostos. Realizou-se a qualificação dos bancos a fim de
excluir duplos registros e obter o quantitativo exato de casos de
tentativas e óbitos por suicídio. Após isso, encontrou-se 1290 tentativas
e 112 suicídios no período de estudo. Resultados: A taxas de variação de
2009 a 2018 mostrou aumento das notificações de tentativas de
suicídio, 136%. As mulheres tentaram mais suicídio que os homens
(n=909; 70,4%), contudo, eles foram maioria no desfecho do óbito
(n=80; 71,4%). Houve predominância dos indivíduos na faixa etária de
20 a 39 anos (n= 627; 48,6%) e pardos (n=848; 65,7%) tanto nas
tentativas quanto nos óbitos por suicídio (n=49; 43,7%; n= 74; 66%,
respectivamente). A análise de tendência indicou crescimento das taxas
de incidência (R2 0,7657), enquanto a mortalidade tendeu ao
estacionamento (R2 0,0032) e a letalidade caiu (R2 0,5491) durante o
período de estudo. Discussão: A feminização apontada nesse estudo é
concernente com os dados dos últimos boletins epidemiológicos do
Ministério da Saúde. Apesar das tentativas de suicídio serem mais
incidentes em mulheres, os homens representaram maior parcela nos
óbitos por suicídio. Essa dicotomia é refletida no fato das mulheres
terem maior chance de ideação suicida, porém tenderem a utilizar
métodos menos efetivos de findar a própria vida, enquanto os homens
utilizam armas e instrumentos mais letais para seu intento. Apesar da
taxa letalidade ter apresentado queda e a de mortalidade ter se
apresentado estacionária, em Olinda, o mesmo não foi percebido na
região nordestina. No período de 2000 a 2012, as taxas de mortalidade
por suicídio aumentaram 72,4% no Nordeste, passando de 3,0 em 2000
para 5,2 por 100 mil habitantes, em 2012. Conclusão: Este estudo
fornece informações importantes para o planejamento local, pois com o
desenho do perfil epidemiológico fornecemos ferramentas de
diagnósticos situacionais de saúde.

369
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Centro de convivência: Existindo na Resistência

Janaina Barros Fernandes


Prefeitura do Rio de Janeiro

Introdução: Sabemos que a reforma da assistência psiquiátrica avança à


medida que se entranha no tecido social e nos diversos dispositivos que
compõe esse tecido, criando modos de se relacionar com a loucura,
desmistificando o que se estabeleceu no imaginário social durante anos.
Os Centros de Convivência, esse dispositivo híbrido que atua pela saúde
mental, mas também se articula de forma intersetorial fora do espaço
estritamente de saúde, são fundamentais para a construção do debate
para desmistificação da questão da loucura, contribuindo, assim, para o
avanço da Reforma psiquiátrica.
Descrição da experiência: há 6 anos trabalhando na construção de um
centro de convivência na zona oeste do município do RJ pretendo
descrever essa experiência de trabalho.
Amarante (2007) afirma que uma dimensão estratégica para o avanço
da Reforma psiquiátrica é a chamada dimensão sociocultural. Para o
autor essa dimensão seria a mais
criativa para o envolvimento da sociedade na questão da loucura.
Segundo ele toda as transformações e construções anteriores, ou seja, a
desinstitucionalização, a retirada do sujeito do manicômio, a inserção na
comunidade através dos serviços substitutivos e os serviços de moradia
sejam eles assistidos ou não, passam a contribuir para uma nova forma
de construção do imaginário social em torno da loucura. E segundo
Amarante a dimensão que faz esse sujeito aparecer de forma mais
criativa é a dimensão sociocultural. Tomando como base essa discussão,
podemos pensar quanta potencialidade está contida em um serviço que
se propõe intersetorial.
Entendendo que os Centro de convivência são dispositivos de arranjos
muito singulares e diversos onde a intersetorialidade predomina, e não
existindo uma lei nacional que o defina, para afirmar sua existência é

370
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

preciso tomar como base a legislação, afinal a todo o instante esse


serviço é ameaçado por um fantasma da “não existência”, não existe
institucionalmente, quer seja no organograma dos órgãos gestores de
saúde e não existem enquanto estabelecimento, quer seja
conceitualmente enquanto prática definida por profissionais de saúde.
Então nos resta afirmá-lo nas brechas da Lei, nos conceitos de promoção
de saúde e nos autores que afirmam a potência da convivência. abrindo-
se assim um leque para pensar saúde não apenas como ausência de
doença, mas como noção de saúde ligando à vida de uma forma em
geral. Saúde é tudo aquilo que está para além do bem estar físico ou
mental, a saúde é também um bem estar social. Nesse sentido,
podemos afirmar que promover a convivência, garantir a ocupação de
espaços coletivos de cultura, de lazer na cidade é também promover
saúde.
E é sobre essa existência que se afirma na resistência que gostaria de
relatar pois não é simples afirmar um serviço somente pelas brechas da
lei, esse serviço precisa de parâmetros, precisa de documentos
norteadores, precisa de indicadores, precisa de recursos; financeiros,
materiais e humanos, precisa de um mandato que garanta sua existência
enquanto dispositivo de promoção à saúde. Ganhando assim, formato,
corpo que o defina enquanto serviço de atenção psicossocial.

371
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

CineCAPS Diversidade: cinema, afetos e saberes

Claudia Regina de Carvalho Sousa


Aline Almeida da Silva
Rafaela Valenza Diniz Moreira
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal

Lolla Arcan Soulsa


Lucas Santhyago Brandão Dias
Victor Rafael Herzog Pinto Neves
CAPS II - Taguatinga/DF

O CineCAPS Diversidade é fruto da inquietação de usuáries no que tange


à identidade e orientação de gênero, ao racismo, ao preconceito e à
estigmatização de diversos indivíduos que não se encaixam em padrões
socialmente dominantes. É realizado no Centro de Atenção Psicossocial
II de Taguatinga-DF cuja área de abrangência engloba Águas Claras,
Ceilândia, Vicente Pires e Taguatinga e tem como objetivo criar um
espaço de exibição de filmes como promoção de cidadania e de
acolhimento das situações advindas da diversidade humana, buscando
aprofundar e ampliar visões sobre funcionamento e estruturas sociais e
impactar na atualização das ações de convívio e respeito em sociedade.
A organização e execução do projeto é autogestiva com a contribuição
de usuáries, da equipe técnica da instituição e de residentes do
Programa de Residência Multiprofissional de Saúde Mental do Adulto da
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) vinculada
à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. A logística de
funcionamento da atividade ocorreu através de reuniões periódicas para
a curadoria dos filmes a partir da sugestão do coletivo de usuáries e
avaliações de cada encontro realizado, visando a melhoria da execução
do projeto. Foram exibidos 6 filmes de julho a dezembro de 2019, com
lanches durante a exibição e rodas de conversa após cada filme. Os
filmes exibidos foram: “Heleno”, “Histórias Cruzadas”, “Duelo de Titãs”,

372
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

“De Gravata e Unha Vermelha”, “Colegas” e “A Forma da Água”. Cada


encontro teve a participação de cerca de 30 pessoas com perfis
etnográficos diversos. As rodas de conversa contaram com participação
de usuáries, técnicos e convidados. Uma breve análise do discurso indica
como palavras/conceitos apresentados nas rodas de conversa:
heteronormatividade, identidade e orientação afetivo-sexual, igualdade
e equidade; violência de gênero; violência étnico-racial; preconceito e
estigmas de etnia/raça, gênero e classe; feminismo; desigualdade social;
deficiência e acessibilidade; direitos humanos; direitos civis; saúde e
doença mental; luta antimanicomial. Este projeto articula-se junto ao
Sistema Único de Saúde e ao Movimento de Reforma Psiquiátrica
Brasileira, que apresentam princípios que: rompem com a patologização
e investem na diversidade; articula-se às políticas públicas culturais
brasileiras; trabalha para (re)inserir pessoas no contexto social por meio
da arte, cultura e protagonismo social. O projeto está em andamento,
sendo possível observá-lo como espaço de acolhimento, construção
coletiva e de discussões potencializadoras. A médio e longo prazo,
pretende-se: promover a colaboração entre agentes públicos e privados
para o desenvolvimento da economia da cultura possibilitando o acesso
a atividades culturais; impactar na promoção de saúde na esfera social
da definição de saúde, influenciando a atual realidade na qual uma
parcela considerável da população não tem acesso a Arte em geral.

373
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cinelibras como prática terapêutica para pessoas surdas em Santo


Antônio de Jesus, BA.

Ana Karolline Oliveira Caldas


Larissa Nascimento Pinto
Anderson Rafael
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Durante séculos, os conceitos de normalidade e anormalidade foram


estabelecidos como marcadores pelo modelo clínico e biomédico, no
qual aqueles compreendidos como anormais sofreram diversas
violências dentro da sociedade. Nesse contexto, a visão clínica sobre a
surdez induz a sociedade a marcá-los pela deficiência, pela falta, sendo
vistos somente como seres patológicos. Em contraposição à essa
perspectiva, surge a visão socioantropológica sobre o sujeito Surdo, que
enxerga o mesmo como pertencente de uma minoria linguística e
cultural, o qual, concomitantemente tem uma historicidade
compartilhada com outros Surdos. Diante disso, o Farol, Grupo de
Estudos e Pesquisa sobre Surdos da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia (UFRB), em conjunto com a Federação Internacional de
Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA), promoveu um
encontro, denominado CineLibras, com as pessoas surdas na cidade
baiana de Santo Antônio de Jesus, no Centro de Ciências da Saúde, onde
foi exibido o filme “A hora da estrela” interpretado em Libras e, em
seguida, foi reservado um momento para o debate sobre a obra. A
atividade se revelou de extrema importância visto que, além de
proporcionar aos Surdos o contato acessível com atividades culturais,
também permitiu-lhes estar em lugares de destaque, tendo em vista
que ela foi pensada e executada com a finalidade de oferecer esse
protagonismo. Para além disso, o CineLibras adquiriu um caráter
terapêutico por ter sido entendido pelos Surdos como um ambiente
seguro para compartilhar alguns processos de adoecimento psicológico,
somado ao fato de que são poucos os espaços que os oferecem uma

374
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

escuta atenciosa e com acessibilidade garantida. Ademais, o ambiente


da Universidade foi escolhido por oferecer a oportunidade dos Surdos
estarem dentro do espaço acadêmico, podendo vislumbrar este como
um local possível e próximo das suas realidades, diferente do que
muitos são levados a crer. Dessa forma, o CineLibras foi um momento de
fundamental importância para troca de afetividades e para o estímulo
de vínculos entre os Surdos e acadêmicos, proporcionando também a
atenção e sensibilidade. Concluímos que é essencial destacar esse
espaço como um potencializador de interações sociais para que, se
desejarem, ampliem seu círculo social para com pessoas que estão
interessadas em conhecer suas demandas, proporcionando uma escuta
sensível, que gera laços de confiança entre ambos, sendo necessária a
mudança do olhar sobre o sujeito Surdo, compreendendo-o como um
indivíduo para além da Surdez, contribuindo para sua
representatividade social e permitindo que estes desenvolvam a
autonomia e ocupem os espaços que desejarem na sociedade.

375
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Clínica comunitaria: El problema de la medicalización de las infancias


en la Escuela Primaria de Uruguay

Andrés Pablo Techera Núñez


Debora Gribov
Universidad de la República

El siguiente resumen da cuenta de una experiencia de docencia


universitaria, realizada en un Programa de Extensión Universitaria de
Uruguay (Apex-UdelaR). Dentro de sus objetivos, se destaca la
formación de estudiantes de grado de diversas disciplinas (psicología,
trabajo social, psicomotricidad, etc.) en el campo de la salud
comunitaria y el desarrollo de estrategias clínicas interdisciplinarias. Los
problemas priorizados por el equipo docente y los estudiantes se
construyen y negocian en conjunto con los actores no universitarios con
los que trabajamos. La formación incluye espacios de discusión teóricos
con énfasis en el estudio de autores latinoamericanos como es el caso
de: Paulo Amarante, María Aparecida Moyses, Paulo Freire, Alejandra
Barcala, Gisela Untoiglich, José Luis Rebellato, Joaquín Rodríguez Nebot,
entre otros y espacios de prácticas pre-profesionales que se desarrollan
en instituciones y organizaciones de la zona de influencia del Programa
APEX. En estos espacios los estudiantes ensayan diversas estrategias de
abordaje (singulares y originales) para los problemas que enfrentan las
infancias, incluyendo estrategias de trabajo, institucional, grupal,
familiar y/o individual. Una de las líneas priorizadas, se vincula a dar
respuesta a los problemas de aprendizaje y/o conducta que presentan
un alto porcentaje de niñas/os en edad escolar. Cifra que aumenta
significativamente en los barrios con mayores índices de pobreza y
marginalidad. Es el caso del territorio donde desarrollamos nuestra
actividad docente (Municipio A de Montevideo). Las problemáticas de
aprendizaje en las infancias, responden a una diversidad de causas y
realidades que limitan las posibilidades de las niñas/os para desarrollar
su potencial. Frecuentemente el sistema educativo y de salud enfrentan

376
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estas problemáticas, depositando en los niños/as o sus familiares las


causas del no aprendizaje y/o de las conductas desajustadas. Las
respuestas del sistema, ante las situaciones más complejas, en donde los
niños/as no logran adaptarse a las exigencias escolares;
mayoritariamente se basan en medidas disciplinarias o sancionatorias.
Cuando estas estrategias no logran revertir la situación, se recurre a las
consultas externas, principalmente al sistema de salud que aborda la
realidad de los niños/as, diagnosticando y medicando los síntomas como
única fórmula “terapéutica”. El número de niñas/os diagnosticados con
problemas de aprendizaje y/o conductuales alarma a la sociedad en su
conjunto y a la sociedad académica en particular. El porcentaje de
niñas/os que no aprueban los primeros años de enseñanza llega a 4 de
cada 10. Unos de los temas más graves se vincula con la alta tasa de
niñas/os medicados con fármacos psiquiátricos para el abordaje de las
dificultades escolares. El problema de las infancias en las escuelas es un
importante analizador que revela una trama compleja, donde se
evidencian los cambios en nuestras sociedades, los efectos de las
desigualdades sociales y la inequidad, el avance de la medicalización de
la sociedad, la inoperancia de las instituciones educativas para dar
respuesta a las nuevas subjetividades, los problemas en la formación de
recursos humanos y la elitización de la educación.

377
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Clínica do inconsciente e devir-negro no mundo

Mario Santos Morel

O relato a ser exposto na roda de conversa trata-se do cruzamento entre


experiências clínicas no período da pandemia do Novo Coronavírus,
atendendo a população de Niterói pelo Serviço de Psicologia Aplicada da
UFF e as recentes pesquisas empreendidas sobre modos de combate a
colonização; no cruzamento entre a clínica do inconsciente e a
necropolítica (Mbembe, 2018) como modo de governo. A tese de Achille
Mbembe (2018) de que o biopoder (Foucault, 1976) – atual modelo
estatal de gestão da vida e dos fluxos – nasce nas colônias de plantation
do século XV, nos ajuda a pensar os vetores de subjetivação coloniais
presentes ainda hoje nesse território existencial em comum que
chamamos Brasil. Sob essa leitura, a violência contemporânea não se
apresenta como resultado de uma falta ou de uma estrutura
insuficiente, mas é por si mesma estruturante, ou seja, faz parte da
matriz de nossa organização social. O que implica em dizer também, que
a violência não é fruto de uma recente ascensão da direita, mas que ela
é um vetor de subjetivação do Brasil desde sua fundação. Mbembe
(2018) descreve nosso tempo pela quase inexistência dos trabalhadores
propriamente ditos e pela proliferação dos nômades do trabalho. O
capital financeiro chegou num momento no qual a mão de obra se torna
cada vez mais descartável. As relações de trabalho já não são mais
mediadas pela fábrica, ou mesmo pelo capataz do senhor de engenho,
mas pelo celular. Uma demanda de produção infinita disfarçada de
liberdade individual. Em nosso tempo, no qual se opera a transformação
dos seres humanos em coisas animadas, dados numéricos e códigos, o
taylorismo subjetivo é a única garantia do pão e da sobrevivência. A essa
generalização da condição de colonizado, o professor chama devir-negro
do mundo. Os relatos pretendem contribuir para uma cartografia do
presente, a partir do princípio da indissociabilidade entre clínica e
política, que torna indispensável ao exercício clínico uma investigação

378
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

das relações de poder de nosso tempo. O político e o clínico têm em


comum serem ambos lugares psíquicos por excelência. Subjetividade e
política, mexer no arranjo de um é mexer no arranjo doutro,
necessariamente.

379
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Clínica social segundo a perspectiva da Psicologia Feminista


Construcionista Social: um relato de experiência profissional

Natanna Késsia Nunes Gomes


Universidade Anhembi Morumbi - UAM

A Psicologia Feminista é um projeto de igualdade, atento as


diversidades, as diferentes possibilidades, se identificando com o
feminismo, com as mudanças sociais e a interseccionalidade. Por
interseccionalidade dentro da escuta clínica em psicologia, compreende-
se as considerações dos imbricamentos das opressões no
atravessamento da saúde mental do sujeito. Assim, resgatar a
metodologia feminista na atuação psicológica é adotar uma escuta
crítica, que objetiva a mudança social, o resgate da experiência
feminina, o uso de linguagens não sexistas, e o empoderamento das
mulheres. As epistemologias feministas entendem o conhecimento
como sendo situado, criticando a neutralidade e objetividade do
positivismo. Em consonância, o Construcionismo Social, entende o
conhecimento como algo adquirido em conjunto, fruto de construções
históricas, focando nas interações sociais e nas práticas daí resultantes.
Quando aliamos a atuação da Psicologia Clínica, um serviço muitas vezes
autônomo, mas regulamentado por um fazer político, a uma atuação
feminista construcionista social, é impossível que esse fazer não tome
uma dimensão social. Assim, o presente relato parte dessa dimensão. Os
atendimentos são realizados no espaço da Clínica Saúde e Movimento,
em São João Del Rei - MG, na modalidade de psicoterapia individual. O
processo psicoterapêutico é voltado, especialmente, a universitários (as)
de baixa renda e mulheres em contexto de opressão, numa intersecção
entre gênero, raça e classe. As intervenções terapêuticas possuem como
fundamentação teórica a proposta da Psicologia Feminista, como uma
atuação política e parcial – a favor das mulheres- e no Construcionismo
Social, como metodologia de resgate do saber de si, entendendo-o
como localizado na experiência do indivíduo. Dentro dessa atuação,

380
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

pôde ser sentido a necessidade da construção de uma clínica em


psicologia que se torne potência para a libertação das opressões de
gênero, raça e classe, que atravessam e afetam a saúde mental,
fazendo-se necessário não apenas o critério monetário como definidor
de atendimento social, mas um recorte interseccional dentro da saúde
mental. Portanto, é na escuta interseccional que reside a possibilidade
da construção de uma clínica social dentro do contexto da psicoterapia.
Somente através dessa “clínica do resistir” é que surge a potência
criadora para novos espaços, buscando-se, entre outras coisas, a defesa
de que a psicologia é para todEs.

381
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Coleta de Dados em uma Unidade de Atenção Psicossocial: Relato de


Experiência Acadêmica

Alexandra do Nascimento Damasio Flores


Daiana Foggiato de Siqueira
Universidade Federal de Santa Maria

Sidney da Silva Marques


Hospital Universitário de Santa Maria

Introdução: os profissionais de enfermagem, na saúde mental,


trabalham diariamente com pacientes em sofrimento psíquico,
prestando uma assistência baseada em aspectos não somente
cognitivos, mas também processos que beiram a subjetividade do ser
humano (KANTORSKI et al., 2005). Neste cenário, faz-se importante o
desenvolvimento de pesquisas científicas que possibilitem novas
descobertas para auxiliar as práticas profissionais e o cuidado em saúde
mental. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é relatar a
experiência acadêmica no processo de coleta de dados de uma pesquisa
realizada com profissionais de uma Unidade de Atenção Psicossocial.
Descrição da experiência: trata-se de um relato de experiência
vivenciado pela acadêmica de enfermagem, integrante do “Grupo de
Pesquisa Cuidado em Saúde Mental e Formação em Saúde” da
Universidade Federal de Santa Maria. A coleta de dados baseou-se na
aplicação de um questionário com profissionais da enfermagem,
auxiliares, técnicos e enfermeiros, totalizando 33 profissionais, de três
turnos, que trabalham em uma Unidade de Atenção Psicossocial de um
Hospital Universitário no Estado do Rio Grande do Sul. As coletas que
constam neste relato compreendem o período entre o mês de janeiro
de 2020 a fevereiro de 2020. Repercussões: para a coleta de dados ter
êxito foi necessário desenvolver a abordagem inicial de diálogo e
empatia, mantendo contato diário com os profissionais da unidade. A
inserção na área da saúde mental, por meio da coleta de dados,

382
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

proporciona ao acadêmico de enfermagem, transformar seu


conhecimento teórico e postura profissional, por meio de uma imersão
no contexto em investigação (CHAER; DINIZ; RIBEIRO, 2012). Notou- se
que profissionais com maior tempo de atuação profissional,
apresentavam maior resistência à aceitação de participar da pesquisa.
Muitos profissionais de enfermagem relataram a falta do retorno das
pesquisas realizadas na unidade, não tendo conhecimento do resultado
do qual participaram. Vale destacar que o retorno dos resultados da
pesquisa a instituição e/ou pessoas participantes é um aspecto ético que
os pesquisadores devem assumir ao realizar pesquisas. Considerações
Finais: a coleta de dados é fundamental para o crescimento profissional
do acadêmico, sendo de alta relevância a imersão na unidade de
atenção psicossocial. Desde o início, favorece ao acadêmico estimular as
relações humanas e métodos de criar novas abordagens em relação aos
profissionais da saúde para ter êxito no âmbito da pesquisa e
profissional. Além disso, a pesquisa na área da saúde mental vem a
contribuir com a divulgação do conhecimento atualizado por meio da
produção científica de qualidade.

383
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Como podemos fechar as lacunas existentes


no tratamento em Rede?

Fernanda de Carvalho Gava


Prefeitura Municipal de Rio Bananal

Trabalho com psicose desde a graduação e minha formação sempre foi


voltada ao social. Durante quase toda a minha faculdade, realizei meus
estágios no Hospital Adauto Botelho, conhecido hoje, ainda, como um
manicômio velho, de equipe insuficiente e métodos de “tratamento”
longe dos ideais. Ter estado dentro desse manicômio por quase três
anos mudou definitivamente minha forma de ver esses locais: para mim,
não seria mais possível aceitar minimamente qualquer justificativa de
ter que colocar um indivíduo em lugares como aquele. Felizmente a
Reforma Psiquiatria foi se consolidando em nosso país é com ela
avanços importantes foram sendo conquistados. O tratamento em
liberdade foi se expandindo e leitos psiquiátricos foram fechados.
Porém, com a crise político-ideológica que assola nosso país, os
investimentos e olhares começaram a se desviar da Rede e se voltaram
ao antigo modelo. Começaram então, os reinvestimentos nos hospitais e
o Modelo Misto onde o manicômio passa a integrar a Rede foi aceito. É
preocupante termos os hospitais dentro da Rede pois, esses lugares não
são para cuidar, mas sim, isolar e tirar dos olhos da sociedade aqueles
que não são produtivos e desejáveis. Diante dessa nova fase, precisamos
enfrentar e resistir, e a única maneira é demonstrado que a Rede e os
CAPS são instrumentos plenamente completos e capazes de suprir todas
as demandas, inclusive as demandas de crises. A maior justifique para
que os manicômios entrem na Rede é a de que existe uma lacuna que
não vem sendo preenchida pelos CAPS que é a do paciente em crise.
Essa lacuna realmente existe e precisa ser preenchida pela Rede, pelo
reinvestimento nela, pela ampliação e criação de novos dispositivos. Se
a Rede volta a crescer, teremos CAPS dia, infantojuvenil, 24 horas, álcool

384
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e drogas e assim, conseguiremos abraçar a todos os sujeitos que


demandam apoio, tratamento acolhimento, de forma humana, digna e
principalmente, sem ferir os direitos humanos daqueles que sofrem.

385
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Como trabalha um psicanalista diante da terminalidade? reflexões


sobre cuidados paliativos e psicanálise

Helena Cristina de Mesquita Tavares


Secretaria de Saúde

Inaugurada no final do século XX por Sigmund Freud, a psicanálise é uma


teoria que se mantém relevante na atualidade pois não se limita aos
fenômenos clínicos restritos ao consultório, ela vai além. Neste trabalho,
nos propomos retratar o desafio posto ao psicanalista que atua com
cuidados paliativos no ambiente domiciliar, especificadamente
compondo uma equipe multidisciplinar em um serviço de atenção
domiciliar no Sistema Único de Saúde. Através da experiência
profissional, busca-se refletir a partir das lentes da Psicanálise, de Freud
à Lacan, dentro outros psicanalistas contemporâneos, nas
particularidades da clínica psicanalítica diante da terminalidade. O
objetivo do trabalho é refletir sobre a escuta da psicanálise com
pacientes moribundos e tecer coordenadas e estratégias que situem e
orientem essa clínica. Conclui-se que a clínica psicanalítica diante da
terminalidade se mostra desafiadora. Compreendeu-se que os principais
desafios presentes no trabalho do psicanalista diante da terminalidade
do sujeito dizem respeito ao silenciamento inicial do paciente, os
momentos de angústia, urgência subjetiva (finitude/ tempo) e o manejo
transferencial coerente com estas dinâmicas. Percebemos neste
trabalho que a atuação do psicólogo na área do Cuidado Paliativo é uma
abordagem recente e que carece de investigação sobretudo pensada
por uma perspectiva teórica. As estratégias verificadas nesta clínica se
relacionam com os desafios e podem ser identificadas como
acolhimento à angústia e ao silenciamento, investimento na fala do
sujeito, compreendendo com a confrontação com a finitude emergirá
significantes de sua história de vida que precisam ser ouvidos e
validados. Destaca-se também a questão do manejo do tempo, uma vez
que o encurtamento do tempo é uma variável que afeta a subjetividade

386
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do sujeito e a própria dinâmica da análise. Por fim, as reflexões sobre


terminalidade e psicanálise nos coloca de frente da dimensão da
problemática da contra-transferência e a dimensão ética da psicanálise,
que não se trata de questões morais de nossos tempos, mas a dimensão
ética do desejo e por isso está ao lado do analisando (Kehl, 1996). Em
qualquer contexto de atuação, o compromisso ético do psicanalista está
em se manter na posição de analisando (de fato ou em potencial), visto
que, é na posição de analisando que as manifestações do inconsciente
podem transitar e serem significadas, podendo construir sua narrativa
singular (Kehl, 1996).

387
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Compartilhando Saberes no Controle Social da Saúde Mental: relato de


experiência de uma formação para conselheiros locais de saúde

Antonia Eline
Juscélia Márcia Ferreira Brandão
Escola de Saúde Pública do Ceará - ESP/CE

Introdução: O modelo manicomial produziu a exclusão da “loucura” da


vida social, com a perda do direito à cidade, participação social e o não
reconhecimento da condição de cidadania do “louco” (AMARANTE &
TORRE, 2018). Os autores destacam ainda que as instituições de
tratamento e serviços de saúde, não são mais lugar de “cura” e de
“reabilitação”, pontuam que o espaço para a emancipação e a
autonomia “[...] é a cidade, as relações sociais possíveis no espaço da
cidade, nos espaços de convivência coletiva, nos espaços de participação
social, nos grupos sociais diversos e na busca de cuidado integral e
acesso a políticas públicas” (AMARANTE & TORRE, 2018, 1095). Assim,
essa experiência teve como objetivo: possibilitar a troca de saberes
sobre controle social no Sistema Único de Saúde-SUS e despertar a
importância da atuação do conselheiro local de saúde. Descrição da
Experiência: A proposta surgiu a partir da observação das profissionais-
residentes nas reuniões do conselho local de saúde realizadas no
Centros de Atenção Psicossocial - CAPS geral. O público-alvo da
atividade foram: conselheiros, usuários e familiares de um CAPS geral e
CAPS álcool e outros drogas do município de Fortaleza/Ceará. Os
encontros tiveram por base: a Lei 8.142/90 e a publicação: “Capacitação
dos Conselheiros de Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora,
Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde/Programa de
Capacitação de Gestores da Macrorregião Sudeste de Minas Gerais”
(NATES, 2020). As atividades visavam o protagonismo, o despertar e o
compreender da importância da atribuição do conselheiro local de
saúde. Realizou-se nos dias 17, 19, 20 e 21 de fevereiro de 2020. Os
locais foram uma parte no CAPS geral e no departamento de

388
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Ocorreram quatro


encontros com os temas: Histórico da política de saúde; Direito
universal à saúde; Participação popular; e o Regimento interno do
Conselho Regional de Saúde de uma das secretarias regionais de
Fortaleza. Durante a realização dos encontros observou-se um certo
desconhecimento dos participantes sobre a política de saúde e suas
legislações o que fragiliza as lutas e conquistas para a saúde mental.
Repercussões: Conforme afirma Guimarães et. al (2010, p. 2114) a
participação social tem se mostrado como espaço onde: “evidenciam-se
conflitos e tensões, ainda que se busquem negociações em defesa de
interesses individuais e/ou coletivos”. Essa realidade não se difere
dentro da Política de Saúde Mental. Apesar dos desafios que
participação social hoje enfrenta, faz-se necessário instigar o
fortalecimento dos conselhos de saúde numa perspectiva de construir
um Sistema Único de Saúde (SUS) de qualidade. Considerações Finais: A
experiência da facilitação de uma formação para conselheiros é um ato
de estímulo para a luta por um SUS cada vez melhor e também uma
atividade importante para reflexão da importância da educação
continuada. Fortalecer o controle social é garantir uma participação
consciente e atuante.

389
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Comunicação Não Violenta e Saúde Mental: uma abordagem possível e


potente na produção do cuidado.

Ana Lúcia da Silva Lira


Millena Raianny Xavier da Silva

Este resumo objetiva descrever uma intervenção realizada por


residentes da RAPS no contexto de atuação de um CAPS AD na cidade do
Recife. Especificamente, este CAPS atende uma numerosa população de
pessoas em situação de rua, sendo referência de cuidado e interlocução
com demais serviços da rede para os usuários que o acessam. No
cenário de prática chamou-nos atenção a forma como os (as) usuários
(as) lidavam com os conflitos na convivência diária e o modo com o qual
se reportavam um ao outro (a), quase sempre gerando ruídos de
comunicação. A partir desse dado de realidade começamos a pensar em
alguma forma de contribuir para uma comunicação mais assertiva, que
gerasse resultados práticos tanto no cotidiano do serviço, quanto em
suas vidas.
Nesse sentido, elaboramos uma Oficina de Comunicação Não Violenta,
cuja proposta foi incluir a discussão sobre as formas de comunicação,
possibilitando um espaço onde estes sujeitos pudessem refletir sobre a
importância do diálogo alicerçado numa comunicação mais eficaz,
transparente e respeitosa. Pensamos a Metodologia fincada numa
abordagem dinâmica, dividida em dois encontros. No primeiro encontro,
a temática permeou o sentido do “Ouvir o Outro”. Assim, pedimos que
os (as) usuários (as) se dividissem em duplas, a fim de que
compartilhassem experiências e curiosidades sobre si. Cada qual teria
momento para falar e ouvir. Para facilitar o processo sugerimos alguns
temas como: brincadeiras de infância, medos, sonhos, alegrias, etc. No
momento seguinte, aqueles que se sentiram à vontade compartilharam
com o grupo o produto do diálogo. Suscitamos que refletissem se havia
sido mais fácil falar ou ouvir. Posteriormente, para introduzirmos o
conceito de comunicação não violenta, solicitamos que cada um fizesse

390
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

um esforço para lembrar-se de frases agressivas direcionadas a eles (as)


durante algum momento de suas vidas e o impacto disso em si. Grande
parte dos usuários trouxeram exemplos, os quais foram acolhidos,
escritos num quadro e o exercício foi o de transformar aquela frase, de
modo que transmitisse de uma forma mais assertiva a mensagem não
causando danos ao interlocutor.
No segundo encontro, nos propusemos a trabalhar a linguagem não
verbal como forma de demonstrar outras formas de comunicação, no
intuito de atentarmos às necessidades e códigos de mensagens que
muitas vezes não são acessados por todos. Nesse sentido, foi realizada
dinâmica de mímica sobre coisas do cotidiano. Este momento mais
interativo funcionou como um reforço para a conscientização do papel
do emissor e do receptor da mensagem no diálogo, aproximando-os.
Avaliamos pelo feedback dos usuários que a experiência de aplicação
desta metodologia aliada ao conceito de Comunicação Não Violenta de
Marshall Rosemberg, baseada na habilidade de falar e ouvir, de
despertar a conexão consigo e com os outros, do respeito, atenção e
empatia foram em parte apreendidos pelos sujeitos que participaram da
oficina e teve repercussões tanto no nível do reconhecimento da
importância deste trabalho pelos usuários, quanto pela sensibilização
dos profissionais de que este tipo de intervenção necessita ser acessada
também pela equipe para implicação no processo de trabalho e em suas
relações interpessoais.

391
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Comunidade de Fala (CDF) Ouro Preto - CDF Ouro Preto

Karine Marlleny Neves Corrêa


Paula Brumana Corrêa
César Henrique Pereira
Aisllan Diego de Assis
(UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto)

Lilian Regina Campos


Suzana de Almeida Gontijo
Marcela Ferreira Ramos

A comunidade de fala é um projeto anti-estigma criado pelo jornalista


Richard Weingarten que visa o empoderamento dos portadores de
transtorno mental e combate ao estigma ligado à loucura e saúde
mental. Este projeto de extensão objetiva a construção e sustentação da
Comunidade de Fala (CDF) de Ouro Preto em parceria com a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) de Ouro Preto, Richard Weingarten e Caio
Manço, representante da CDF São Paulo. A construção da CDF Ouro
Preto iniciou com a seleção de estudantes bolsista e voluntários da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Em março de 2020, as
atividades presenciais na Universidade foram suspensas devido as
medidas preventivas e protetivas frente a pandemia da COVID-19. Nos
meses de abril e maio, em reuniões por videoconferência, a equipe do
projeto organizou a sustentação das atividades da CDF Ouro Preto, por
meio da reformulação das atividades do projeto na modalidade remota.
Nesse período, foram enviadas cartas convites aos usuários dos serviços
de saúde mental para participação no projeto. Em junho, ocorreu o
processo seletivo dos usuários em duas rodas de conversa e entrevista
com aplicações de questionário. Participaram 6 usuários, 4 estudantes, 4
profissionais, e outros 3 coordenadores. Em julho, iniciou a formação da
CDF com o curso e metodologia: apresentações públicas, 6 vagões do
trem (narrativas). Ocorreram dificuldades devido a conexão da rede,

392
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

equipamentos e comunicação, e as atividades precisaram ser mais uma


vez reformuladas. A continuidade da CDF Ouro Preto se dá então, desde
agosto, por meio de apresentações públicas das CDF de outras cidades
do Brasil, por meio de aplicativo de videoconferência, fortalecendo os
vínculos da comunidade recém construída na cidade. Já ocorreram duas
apresentações com 40 participantes, entre profissionais e usuários de 2
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Ouro Preto. Construiu-se
material gráfico impresso (Zine da CDF Ouro Preto) para a divulgação e
convite dos usuários e usuárias para apresentações, além da criação das
redes sociais do grupo na internet. A CDF Ouro Preto segue em
construção como espaço de fala, escuta, protagonismo e
empoderamento de seus componentes. Por meio dela tem vencido o
silenciamento e estigma, ligados à loucura e ao transtorno mental. Nas
apresentações da CDF Ouro Preto as pessoas podem se orgulhar de suas
histórias de superação e convivência, podendo expressar de forma
poderosa suas emoções. A CDF Ouro Preto segue se construindo como
espaço de empoderamento, autonomia e construção das histórias das
pessoas em suas próprias vozes.
Palavras – chave: Saúde Mental, Saúde Coletiva, Empoderamento, Anti-
estigma, Grupo, Ouro Preto.

393
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Concepções sobre o adoecimento de pacientes em um grupo


terapêutico no hospital dia de saúde mental: relato de experiência

Márcio Santana da Silva


Andressa Lima de Lucena
Faculdade Nobre de Feira de Santana - FAN

Introdução: A história da Reforma Psiquiátrica Brasileira teve início no


final da década de 70, tanto em função da crítica ao modelo asilar de
saúde mental, como também pela a escassez de tratamento efetivo e
benéfico aos sujeitos com transtornos mentais. Nesse sentido, foram
cruciais os esforços do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
(MTSM) em reivindicar os direitos dos pacientes institucionalizados,
sendo tal movimento inspirado no modelo italiano de
desinstitucionalização, o qual propunha uma mudança radical nos
paradigmas dos cuidados em saúde mental da época. Os hospitais-dia
em saúde mental são serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos,
avaliados como uma estratégia potente para tratamento em reabilitação
psicossocial e dependência química, tendo como principais atividades os
grupos terapêuticos. Assim, este estudo tem como objetivo
compreender as concepções de adoecimento psíquico dos pacientes em
atividades nos grupos terapêuticos em um hospital-dia cidade de Feira
de Santana, Bahia. Descrição da experiência: Utilizou-se como método a
observação exploratória da realidade de pacientes através da vivência
de um estágio extracurricular em um Hospital Dia da cidade de Feira de
Santana – BA, no grupo terapêutico específico intitulado “Cultivando o
Enfrentamento”. As reuniões ocorriam semanalmente no período
matutino com duração de duas horas no período de dois meses, o grupo
contou com oito integrantes, com faixa etária entre 22-41 anos, sendo
cinco do sexo feminino e três do sexo masculino e todos possuíam mais
de três meses de tratamento na unidade. As atividades desenvolvidas
consistiram nas apresentações pessoais dos participantes desde a sua
trajetória até o momento atual, a atividades vivenciais com expressões

394
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

artísticas, promovendo-se reflexões sobre cada diagnóstico e práticas de


valorização da vida. Repercussões: diante da observação como
facilitadora da oficina, foi verificada uma vivência de incômodo de cada
integrante ao relatar estigmas sofridos socialmente e as suas
compreensões sobre o diagnóstico, principalmente, sobre o processo de
não aceitá-lo por um longo período e por esse motivo ter retardado o
início do tratamento adequado; além disso, o movimento de contar a
própria história contribuiu para o paciente avaliar a sua própria
evolução, pois esse processo fez o usuário realizar uma retrospectiva e
relembrar as mudanças de como ele era antes e como ele se percebe
melhor dentro do processo terapêutico. As atividades com a arte, por
sua vez, contribuíram significativamente como formas de expressões
não verbais e permitiram o a expressão de conteúdos que os usuários
não conseguiam expressar verbalmente. Considerações finais: Em
virtude dos fatos mencionados, os grupos terapêuticos promoveram um
espaço de ajuda mútua entre os integrantes, sendo que as atividades
desenvolvidas em grupo favoreceram a reabilitação psicossocial e
permitiram um lugar de fala e empoderamento do sujeito. Percebeu-se
que o movimento de narrar a própria história e entender o processo de
adoecimento auxiliou os sujeitos em seus processos de evolução, por lhe
dar subsídios e permitir uma nova forma de enxergar o dito
adoecimento, o qual passou a ser considerado mais uma etapa de suas
vidas. Além disso, o processo aqui relatado também contribuiu para
ressignificações da identidade do sujeito.

395
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Confecção de turbantes, ancestralidade negra e estética feminina: um


relato de experiência no programa Atitude/PE

Bárbara de Oliveira Galvão


Patrícia Allgayer Ferreira
Anís de Souza Morais
Élida Barros da Cost
Maria Cecília Fagundes de Melo
Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE

Marilyn Dione de Sena Leal


Universidade de Pernambuco - UPE

Aline Neiva Ribeiro


Instituto Aggeu Magalhães - FIOCRUZ

O presente relato de experiência trata sobre uma oficina facilitada a


partir do Projeto de Reintegração Social para Usuárias de Drogas do
Programa ATITUDE, em Novembro de 2019, por graduandas de
Psicologia e Saúde Coletiva da Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE) e
Universidade de Pernambuco (UPE), respectivamente. As atividades
aconteceram de acordo com a aprovação do Edital Programa de
Fortalecimento Acadêmico (PFA) Extensão - 01/2019 da Universidade de
Pernambuco (UPE). O Programa de Atenção Integral aos Usuários de
Drogas - ATITUDE, pautado na Política de Redução de Danos, acolhe
pessoas em situação de vulnerabilidade e uso abusivo de drogas. A
atividade em questão teve como objetivo principal compartilhar com os
presentes as diferentes amarrações de turbantes, promovendo, assim,
aumento da autoestima e estímulo ao empoderamento enquanto
pessoas negras (in)conscientes de suas histórias e resgate de suas raízes.
Foi possível, com isso, dialogar sobre a compreensão e os sentidos
produzidos e ressignificados para elas e por elas como consequência do
uso dos turbantes, sendo esse processo importante para a construção e

396
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

reconstrução de suas singularidades a partir de uma nova perspectiva.


Enquanto estudantes, pudemos perceber, durante a oficina, a
importância dos cabelos na construção de uma imagem corporal. Desde
o início da atividade, o ambiente foi tomado por uma atmosfera
contagiante à medida que as usuárias interagiam entre si fazendo
turbantes umas nas outras, em nós, facilitadoras, e nas profissionais da
casa, estabelecendo e fortalecendo vínculos com base no cuidado
consigo e com o outro através do afeto do toque, do cuidado e
interações de forma horizontal e de troca de elogios, além de ter sido
um momento de dividir experiências pessoais entre todas presentes. A
oficina ocorreu de modo que o individual se multiplicava para o coletivo,
ganhando força à medida que os entrelaçados entre os panos coloridos,
os cabelos afro descendentes e o fio da subjetividade de cada uma
possibilitou um novo olhar para a simbologia da confecção de turbantes
para além daquele momento. O encontro inspirou a reflexão sobre o
quanto puderam sentir-se ainda mais vívidas, fortes e poderosas a partir
do enaltecimento de sua estética ancestral. Pudemos perceber,
também, o resgate da autonomia e da autoestima do ser humano, num
movimento de reconhecimento, apropriação e valorização de suas
próprias histórias. No contexto do cotidiano do serviço, o resultado foi
muito positivo e a repercussão foi percebida em encontros posteriores,
onde os comentários acerca da atividade ainda ecoavam pela casa com
a mesma carga afetiva.

397
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Construção coletiva de conhecimentos sobre as forças-valores que


operam no cotidiano das práticas em saúde na rede básica

Ana Alice de Queiroz Ribeiro Barbosa


Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE

Nemório Rodrigues Alves


UNCISAL

Introdução: A escrita deste relato de experiência surgiu a partir das


afetações geradas após a realização de oficinas de discussões baseadas
em um artigo intitulado “Rede básica, campo de forças e micropolítica:
implicações para a gestão e cuidado em saúde”. Neste ensaio, Merhy
discute sobre as cinco forças-valores que estão sempre em tensão no dia
a dia das práticas de cuidado em saúde. Assim, a ideia foi repensar e
redesenhar o processo de trabalho baseado no aprimoramento da
tecnologia leve no cotidiano do fazer profissional, na equipe do
Consultório na Rua Recife. Descrição da Experiência: Foram realizados
quatro encontros no formato de oficina. Em cada uma delas foi pedido
aos participantes que sintetizassem a leitura através da criação coletiva
de cartazes, fanzines, desenhos e pinturas, seguido de apresentação da
produção e debate relacionando teoria e prática. Na oficina 1
introduzimos a temática e construímos coletivamente como seriam os
próximos encontros; nas demais oficinas trabalhamos as forças-valores
“trabalho”, “território”, “governo de si e do outro”, “clínica-cuidado” e
“trabalho em equipe”. Repercussões: Numa construção coletiva,
apreendeu-se sobre cuidar de todos por igual, baseado no princípio de
equidade do SUS. Cada caso depende de articulação da rede, construção
do projeto terapêutico, das demandas apresentadas e os
desdobramentos que são realizados, acompanhamento, na perspectiva
de integralidade do cuidado. O trabalho que é desenvolvido junto com a
equipe, em articulação na rede, que afeta o outro a partir do
acolhimento, da construção de vínculo, da empatia de se colocar no

398
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

lugar do outro, entender e compreender toda complexidade das


vivências num todo. Aproximar da realidade do outro, compartilhando
do caminhar neste processo do cuidado em saúde e como o trabalho
desenvolvido de corresponsabilização que protagoniza e autonomiza o
sujeito no território. Um olhar mais específico para determinada
situação que esteja vivendo naquele momento, assim afetação sobre o
outro a partir do momento em que se constrói junto as possibilidades de
decisões e mudanças, que a própria pessoa vislumbra como uma saída
e/ou alternativa no seu projeto de vida. Alinhar o olhar e realizando
ajustes a partir do favorecimento da escuta com rodas de diálogos nos
momentos de encontro da equipe como forma de investimento na
gestão do cuidado e mudanças significativas no processo de trabalho,
em que há afeto mútuo, onde trabalhadores afetam e são afetado no
cotidiano do fazer profissional do trabalho no âmbito da equipe.
Considerações finais: O aprendizado coletivo gerou bons frutos sobre o
entendimento de correlações de forças existentes no âmbito do
trabalho, em que não precisam ser anuladas e sim compreendidas e
dialogadas de forma aberta, com compartilhamento e
corresponsabilidade do cuidado, valorização da escuta também entre
pares, a importância do encontro. Que neste haja, respeito e troca de
saberes, sem sobreposições profissional e decisões mais coletivizadas,
em que sejam levadas em consideração as forças-valores que permeiam
a relação.

399
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Construindo estratégias de cuidado em saúde mental na creche: Relato


de experiência de ação extensionista

Lívia Botelho Félix


Jeane Trindade de Brito
Mayra Ribeiro
Universidade Federal da Bahia

Este relato apresenta experiências associadas a um projeto de extensão


que objetiva desenvolver estratégias de cuidado em saúde mental no
âmbito da educação infantil. Através de ações integradas diversas
propostas numa creche localizada no sudoeste baiano, busca-se
construir instrumentais teórico-técnicos que subsidiem intervenções
precoces orientadas por um olhar biopsicossocial sobre o processo
saúde-doença-cuidado, deslocando-se de perspectivas individualizantes
e medicalizantes, ainda predominantes no contexto educacional. Nos
últimos dois anos têm sido propostas intervenções individuais e grupais
dirigidas aos distintos atores-chave que compõem a instituição
(crianças, professores e funcionários e familiares) a exemplo de:
acolhimentos, acompanhamentos, encaminhamentos e articulações em
rede, encontros formativos e oficinas de promoção de saúde mental.
Considerando o impacto significativo da pandemia de COVID-19 sobre as
condições sanitárias, relações socioeconômicas e as dinâmicas
familiares, sobretudo daquelas compostas por crianças pequenas, criou-
se uma modalidade interventiva no intuito de ofertar rede de suporte,
manter e fortalecer os vínculos construídos até então entre a
universidade e a creche. Assim, desenvolveu-se um programa virtual de
acolhimento e partilha de material socioeducativo, por intermédio do
aplicativo WhatsApp, a fim de favorecer o processo de conscientização
dos cuidadores das crianças acerca de temas pertinentes ao período de
pandemia. O conteúdo, veiculado semanalmente em formato
audiovisual, foi produzido com base na literatura científica e fontes
sanitárias oficiais, caracterizando-se pelo compromisso com uma

400
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

postura ética, dialógica e adequada linguisticamente no sentido


sociocultural. Após dois meses, realizou-se uma avaliação parcial junto
aos pais/responsáveis e funcionários da creche, visando à reflexão sobre
os impactos da ação. De modo geral, os participantes a avaliaram
positivamente, indicando anseio por sua continuidade, e se
posicionaram quanto à relevância dos conteúdos abordados e
metodologia proposta. Ainda que de forma modesta, experienciamos a
potência das redes sociais no período da pandemia na oferta de suporte
psicossocial. Assim, este relato visa fornecer evidências que permitem
reconhecer a importância da universidade atravessar seus muros físicos
e simbólicos e se colocar à serviço da sociedade, assim como da
Psicologia, em seus princípios ético-políticos, mediar esse acesso
alicerçada no tripé ensino-pesquisa-extensão. Finalmente, considera-se
que a creche, enquanto contexto de desenvolvimento, pode ocupar um
lócus privilegiado no bojo da atenção psicossocial, haja vista seu
potencial em oportunizar o encontro com a alteridade e produzir saúde
mental, no âmbito da prevenção, promoção e reabilitação, desde a
primeira infância.

401
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Contribuições da Psicologia: A compreensão dos Direitos Humanos no


âmbito do acolhimento institucional

Sarah Stéfani Santos Souza


Luanna Mayara dos Santos Ferreira
Centro Universitário Una

O Estágio Básico de Psicologia e Direitos Humanos teve como o


propósito identificar e reconhecer os diversos campos de atuação da
Psicologia como ciência e profissão nas múltiplas ações de Direitos
Humanos, assim como também um trabalho multi e interdisciplinar de
conhecimentos e intervenção. Evidencia que a atuação do (a)
profissional de psicologia em acolhimentos institucionais de crianças e
adolescentes que se encontra em situação de vulnerabilidade social, e
em situação de risco pessoal e/ou social é de extrema significância, em
conjunto com as equipes multidisciplinares para promover acolhimento
saudável, emancipação de indivíduos frente à violação de direitos e
desenvolvimento sócio afetivo. As atividades analisadas no Estágio de
Psicologia e Direitos Humanos englobaram as áreas de atuação em
Acolhimentos Institucionais, Semiliberdade e Direitos Humanos. Dessa
forma, o objetivo desta pesquisa é a) identificar as possibilidades de
atuação da Psicologia no campo dos Direitos Humanos; b) planejar e
realizar entrevistas com profissionais atuantes em diferentes instituições
promotoras dos Direitos Humanos e c) compreender as relações da
Psicologia com outras áreas de conhecimento. Portanto, o trabalho foi
desenvolvido a partir da realização de visitas técnicas a Instituição Casa
Esperança na cidade de Belo Horizonte com entrevistas
semiestruturadas realizadas com a assistente social, assim como
observação das condições estruturais e realização de intervenções por
meio da metodologia de rodas de conversa, com o intuito identificar
possíveis demandas em relação aos direitos humanos, e identificar as
limitações e potencialidades da instituição. A partir das atividades
desenvolvidas, em ênfase a roda de conversa, foi possível perceber a

402
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

necessidade de trabalhar com as crianças institucionalizadas a temática


de inclusão social por meio de representações lúdicas, exibição de
vídeos e discussões sobre o tema como forma de intervenção com o
intuito de sensibilização, conscientização, diminuição das desigualdades,
exclusões sociais e à violação de direitos básicos previsto na
Constituição Federal Brasileira de 1988. Dessa forma é importante
mencionar a relevância dos Direitos Humanos nessa temática como
fundamentos de proteção de vida e como um elemento essencial para
manter existência de princípios primordiais à dignidade humana, um
caminho da integralidade do cuidado, promoção da cidadania e da
liberdade. Além disso, a necessidade da construção de políticas públicas
que garantam o direito à convivência familiar e comunitária.
Palavras-chave: Direitos Humanos; Inclusão Social; Psicologia.

403
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Corpo e Afeto: um relato de experiência no trabalho em oficinas de


sensibilização corporal com crianças e adolescentes no espectro autista

Letícia Gois Beghini


Ana Claudia Lima Monteiro
Luana Rodrigues Valente
Ágata Zimbrão de Freitas
Gabriely Kruger Dutra
Mariana Bandeira Goulart
Aline Queiroz Rondon
Universidade Federal Fluminense

O presente trabalho visa relatar as primeiras experiências de alunas de


graduação em Psicologia, orientadas pela professora Ana Claudia
Monteiro, no projeto de extensão "Autismos e Autonomia", realizado
em parceria com o Serviço de Psicologia Aplicada na Universidade
Federal Fluminense. O projeto busca construir um campo sensível e
afetivo para grupos de crianças e adolescentes autistas, focando nas
trocas produzidas, entre os jovens neuroatípicos e as alunas envolvidas,
através de oficinas de sensibilização corporal. Desta forma, criamos um
corpo acessível à interação com estas crianças e adolescentes de
maneira a produzir vínculos afetivos que não passem somente pela
linguagem falada ou códigos predeterminados, mas também pelas
relações produzidas entre os atores presentes. Tendo como ponto de
apoio a ideia da diversidade neuronal, levamos em consideração as
diferenças, as potências e as especificidades dos sujeitos envolvidos em
nosso trabalho. Compreendemos a palavra “interesse” por sua origem
etimológica: inter-esse (entre os seres), ou seja, apostamos na criação
desse espaço de relação com as crianças e adolescentes autistas. Esse
espaço leva em conta a produção de um vínculo afetivo no qual
construímos um mundo comum, em que é possível a inserção destes
corpos diversos. Buscamos ainda fazer com que os jovens sintam- se
num espaço de cuidado em que as diferentes formas de estar no mundo

404
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

possam ser acolhidas e respeitadas coletivamente. Durante as oficinas,


as alunas se relacionam com as crianças e adolescentes em uma
perspectiva de interdependência e autonomia, fazendo com que haja a
potencialização de seus afetos para que uma intimidade acessibilizadora
possa ser criada. O encontro com esses sujeitos possibilita também que
haja uma quebra de estereótipos quanto ao autismo, pois o que foi
experienciado entre as alunas e os jovens vão, muitas vezes, no sentido
inverso do que é dito socialmente sobre esta condição neuroatípica.
Concomitante ao trabalho com as crianças e adolescentes, temos
também uma proposta de acolhimento àquelas que as levam para as
oficinas. Em nossa experiência, percebemos que quem se
responsabilizava por esses jovens neuroatípicos eram as mulheres,
sendo as mães ou as avós. Entendemos que isso se deve ao fato de que
o cuidado não é socialmente compartilhado, ou seja, as mulheres são,
em sua maioria, colocadas neste lugar de cuidadoras, quase que
exclusivamente responsáveis por suprir as dificuldades relacionadas ao
cotidiano em uma sociedade estruturalmente capacitista e machista.
Neste espaço também é possível a construção de trocas de experiências,
partilha de angústias, além de ser também um lugar que nos ajuda a
compreender a dinâmica de vida daquelas e daqueles que participam
das oficinas. Além disso, durante os encontros, ao conversar com as
cuidadoras, fica perceptível como cada uma tem os seus limites pessoais
e estruturais. É evidente como as questões de raça, classe e gênero
atravessam essas vivências, interseccionando-se. Dessa forma, com a
prática dos encontros, foi possível criar um corpo sensível em relação à
construção de um espaço de interdependência a partir das trocas com
quem vivencia esse lugar.

405
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Corpos em Movimento: O que meu corpo me diz

Lílian Queiroz Cunha


Marilyn Dione Sena Leal
Universidade de Pernambuco

Aline Neiva Ribeiro Instituto


Aggeu Magalhães - FIOCRUZ

Victor Nazareno Bezerra Fonte


Anis de Souza Morais
Rayssa Aguiar Silvestre França
Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE

Este trabalho consiste no relato da oficina intitulada “Corpos em


Movimento: O que meu corpo me diz?” realizado no Programa ATITUDE
- Programa de Atenção Integral aos Usuários de Drogas e seus
Familiares, em novembro de 2019. Tem como fonte de informação os
Diários de campo dos estudantes, vinculados à Faculdade Frassinetti do
Recife (FAFIRE) e à Universidade de Pernambuco (UPE), envolvidos no
“Projeto de Reintegração Social para Usuárias de Drogas do Programa
ATITUDE” aprovado pelo edital Programa de Fortalecimento Acadêmico
(PFA) Extensão - 01/2019 da UPE. O ATITUDE revela sua importância ao
passo que potencializa a qualidade de vida de usuários de crack e outras
drogas, proporcionando garantia de seus direitos e proteção social aos
seus familiares, em diversas instâncias. Ao pensar, então, na
problemática relacionada ao corpo da pessoa usuária de drogas ser
sexualmente usado enquanto moeda de troca para o crack, foi
construída uma oficina com a temática corpo-casa, em que um
mergulho neste corpo que é moradia de si seria gradativamente
estimulado, dentro da perspectiva do cuidado. Nesse sentido,
fundamentada em jogos de improvisação em dança-teatro e dança
autêntica, visou-se estimular a percepção corporal dos participantes, de

406
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

modo individual e coletivo, como uma forma de emergir emoções e


sentimentos referentes às suas experiências de vida. Diante da
resistência à adesão ao que fora proposto, desenvolveu-se um momento
de relaxamento, com foco na respiração e no estímulo musical,
pensando na dança, no movimento e na elaboração de possíveis
questões pela via da voz. Nessa linha, músicas de variados universos
selecionadas pelos participantes tomaram conta dos corpos, das vozes e
das narrativas, o que proporcionou um compartilhamento de
experiências e identificações mútuas entre as pessoas presentes.
Sentimentos de traição, recordações de amizades, assim como de
lembranças diversos momentos felizes emergiram naquele momento,
fenômeno que retratou-se não só a partir do relato de suas vivências,
mas também pela melodia e pela letra das músicas. Em entreolhares,
cantorias coletivas cada vez mais altas e engajadas moveram o que
naquele dia era para surgir. Esta oficina, então, foi de grande
importância para nós estudantes, uma vez que, ao aceitar o que, de
fato, foi possível no momento, de acordo com as vontades e
disponibilidades das pessoas usuárias da rede, colocando-as enquanto
autônomas inclusive em relação às atividades da instituição, foi possível
perceber abrirem-se outros tantos caminhos terapêuticos, não
previamente pensados. Como marco, ficou o sorriso e brincadeira como
um caminho de resistência em si desviante dos tão esmiuçados pela
clínica tradicional de psicologia para adultos. Nesse sentido, destacou-se
a importância do uso da música como elemento, além de vinculador
entre estudantes e pessoas usuárias da rede, um meio potente pelo qual
pessoas falam, o tempo inteiro, sobre suas personalidades, seus
pertencimentos e reconhecimentos, suas lembranças e seus anseios. Por
fim, chamou atenção, ainda, o fato de tamanha resistência ao dançar
livre, nos fazendo refletir sobre o reconhecimento ou não de liberdade
dos próprios corpos, tendo em vista os tantos marcadores sociais que
incidem sobre estas subjetividades.

407
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

COVID-19: breve reflexão acerca da experiência na saúde mental em


Guarujá

Fellipe Miranda Leal


Luciana Gonzaga
Prefeitura Municipal de Guarujá

INTRODUÇÃO: Em 2020, em decorrência da pandemia protagonizada


pelo novo coronavírus, os diversos setores de assistência à saúde
necessitaram propor ajustes em como oferecer atendimento em todos
os diferentes níveis. Em Guarujá (SP), a rede de saúde mental possui
quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e, como consequência
das recomendações estaduais, em março de 2020, houve a proposta de
centralizar a assistência em apenas um CAPS. De modo que, nesta
unidade, diferente de antes, haveria todos os dias (incluindo sábados,
domingos e feriados) a presença de médico e, além disso, o número de
leitos para acolhimento integral passaria de 5 para 10.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Diante de tal proposta, durante um
período de quase 3 meses manteve-se essa configuração. Após esse
período, optou-se por cessar essa centralização, porém manteve-se o
número ampliado de leitos para acolhimento integral. Como forma de
ampliar as possibilidades de reflexão desta experiência, mesmo que se
trate de um curto período, foi realizado um levantamento de dados
gerais referentes ao acolhimento realizado neste contexto
extraordinário (março a junho de 2020) e, para algum efeito de
comparação, do mesmo período em 2019 (março a junho) e dos três
meses subsequentes em 2020 (julho a setembro), ou seja, ainda sob
efeito da pandemia e com mais leitos, porém não mais com a
centralização da assistência.
REPERCUSSÕES: Entre os dados colhidos destaca-se triplicar a média de
ocupação dos leitos do acolhimento integral em 2020 (março a junho)
comparando com os mesmos meses de 2019. Entretanto, nos meses
subsequentes (ainda no contexto da pandemia e com o dobro de leitos,

408
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mas sem a presença integral dos médicos), a taxa de ocupação retomou


a média de 2019. Nos três momentos analisados não houve diferença
significativa na média da duração do acolhimento (entre 8 a 10 dias).
Outro dado significativo, quando comparado os dois períodos da
pandemia, foi o número extremamente maior de pacientes acolhidos
em mania psicótica (condição aguda de manejo extremamente difícil) no
período em que os médicos estavam mais próximos da supervisão do
acolhimento (sete acolhimentos com médicos presentes e nenhum na
ausência destes).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Nesta breve experiência, mesmo que a partir
de uma análise com muitas limitações, pode-se evidenciar alguns
aspectos provocativos para uma reflexão envolvendo acolhimento
integral. Ser observado mais que triplicar o volume de acolhimentos
neste período em que houve maior oferta de leitos e presença intensiva
de médicos revela uma possível relação entre esses fatores. Ou seja,
essa experiência indica que o papel da presença dos médicos é
propulsor no aumento dos acolhimentos, mais que o aumento da oferta
de leitos. Ainda considerando a presença dos médicos, o número maior
de casos de mania psicótica quando estes presentes revela uma
provável dificuldade no manejo destes casos na ausência do médico. Por
fim, cabe apontar que - diante do contexto de maior vulnerabilidade das
políticas públicas voltadas para sustentação do cuidado em liberdade - é
urgente ampliar reflexões e discussões acerca do formato do
acolhimento integral nos CAPS.

409
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

CUIDA! Práticas de cuidado em saúde com trabalhadoras sexuais

Carolina Pedroza Barros da Silva


Ana Beatriz Bezerra Figueiredo Lima
Dejany Natália Sousa Barros
Inez Kaula Machado Santos
Tárcila Silva de Lima
Ricardo Pimentel Méllo
Universidade Federal do Ceará)

O projeto Cuida! é uma iniciativa de extensão universitária promovida


pelo Núcleo de Estudos sobre Drogas (NUCED) da Universidade Federal
do Ceará (UFC) em parceria com o Centro Urbano de Cultura e Arte
(CUCA) e o Posto de Saúde Lineu Jucá. Tem como objetivo principal
promover cuidado em saúde e acesso a direitos básicos a prostitutas da
Barra do Ceará, bairro periférico de Fortaleza. A fim de concretizar as
políticas públicas que não chegam a essas mulheres, procuramos
articulação com os dispositivos de cultura, arte, assistência e saúde
situados no território. As ações são realizadas semanalmente ao longo
da Avenida José Lima Verde, território movimentado, porém carente de
políticas públicas efetivas e marcado por conflitos territoriais. Durante
as ações, são utilizados alguns instrumentos lúdicos: por meio da
brincadeira “Mete a colher” e do origami “Abre e Fecha”, criados pelos
membros do núcleo, é possível discutir, em aliança com a Redução de
Danos, questões relacionadas à violência, sexualidade, prazer,
dispositivos no território (serviços ofertados e formas de acesso), uso de
drogas, dentre outras temáticas delicadas de serem abordadas
diretamente sem qualquer recurso que facilite a mediação. “Mete a
colher” é uma brincadeira realizada com uma colher de pau e uma
panela dentro da qual são colocados pequenos papéis com situações
relativas aos temas abordados. O participante que quer brincar retira
um dos papéis, lê a situação e nos diz se ele mete ou não mete a colher.
Já o “Abre e Fecha” é um origami que contém, na parte de fora, quatro

410
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

imagens e, na parte de dentro, números relativos a perguntas. O


participante escolhe uma das figuras e um número de 1 a 8, que
representa quantas vezes o mediador vai abrir e fechar o origami.
Verificamos em que posição o origami para e qual o número que está na
posição da imagem escolhida previamente, número esse que define qual
pergunta a ser feita. Sempre é enfatizado que não há resposta certa ou
errada e, a partir da resposta do participante, é possível discutir sobre o
tema da pergunta com ele. Tais ferramentas auxiliam no
estabelecimento de vínculo com os indivíduos do território,
possibilitando a criação e o fortalecimento de uma rede de apoio, além
de permitir a construção de um espaço onde os sujeitos possam ser
escutados e construam juntos alternativas de enfrentamento às
violências que estão submetidos. Dessa forma, o cuidado que buscamos
promover não pode anteceder a escuta das pessoas: estas que vão nos
orientar em direção a um cuidado que faça sentido para elas, garantindo
sempre a ampliação de possibilidades e nunca restringindo-as a um ideal
imposto. Tal prática gerou e continua gerando muitos impactos, os quais
nos atingem de forma difícil de quantificar, mas que se afirmam de
muitas maneiras. Cria-se um espaço potente de cuidado territorializado,
de diálogo, de existência, seja como ela for, em uma busca contínua de
conexão com as demandas e desejos das pessoas do território.

411
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado a usuários de um Centro de Atenção Psicossocial/álcool e


outras drogas e seus familiares no cenário da pandemia da COVID-19

Larissa De Oliveira Vieira


CAPSAD

Thainan Alves Silva


Pamella Bispo Botelho
Geisa Araújo Galvão
Larissa Campos Meira
UESB

Introdução: O cenário mundial e brasileiro atual reflete o enfrentamento


a uma pandemia, causada pela propagação do vírus SARS-CoV-2,
também chamado de novo coronavírus ou COVID-19. A disseminação da
COVID-19 provocou milhares de mortes no Brasil e no mundo, além de
centenas de milhares de pessoas adoecidas pelo vírus. De acordo este
cenário, foi necessário que as autoridades sanitárias, municipais,
estaduais, federais tomassem medidas a fim de controlar a propagação
do vírus, além de estabelecer ações para o cuidado, prevenção dos
agravos e recuperação da saúde das pessoas adoecidas. Neste sentido,
os serviços da Rede de Atenção Psicossocial, incluindo os Centro de
Atenção Psicossocial/álcool e outras drogas, para atender às demandas
sanitárias necessitaram adequar as ações de cuidado ofertado aos
usuários e seus familiares. Descrição da experiência: A experiência teve
como objetivo relatar a vivência de 1 psicóloga do CAPSad e de 4
enfermeiras, pesquisadoras, da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia no período de março a outubro a 2020 em um CAPSad em um
município da Bahia. Destaca-se que houve uma readequação das ações
ofertadas pelos profissionais da unidade aos usuários a fim de promover
maior segurança e proteção aos trabalhadores e aos usuários e suas
famílias. Houve a paralisação das atividades em grupos e oficinas
terapêuticas presenciais (mas foram realizados alguns grupos com os

412
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

usuários por meio de chamada de vídeo através do WhatsApp),


necessidade de maior cuidado dos profissionais ao realizarem as visitas
domiciliares, uso de equipamento de proteção individual pelos
profissionais da unidade além da utilização de meios tecnológicos e de
telefonia para intensificar o acompanhamento/assistência aos usuários
e suas famílias. Repercussões: Destaca-se que a pandemia do COVID-19
transformou o cenário socioeconômico do Brasil e do mundo, com
repercussões intensas nos aspectos biopsicossociais das pessoas. Tais
repercussões foram percebidas nos usuários do Centro de Atenção
Psicossocial/álcool e outras drogas, uma vez que muitos se encontravam
em situação de vulnerabilidade, pela condição de hipossuficiência, ou
pelas relações fragilizadas com os familiares, ainda pelo consumo
abusivo da substância psicoativa, ou por estarem no grupo de risco para
o COVID-19, destacando-se também a dificuldade para a manutenção do
autocuidado. Desta maneira, os profissionais intensificaram as ações de
cuidado, por meio de visitas domiciliares, realização de atendimento por
meio telefônico e presencial, além da oferta de grupos online, ainda por
encaminhamentos para os serviços da Rede de Atenção Psicossocial e
Rede Inter setorial, a fim de garantir que o usuário recebesse atenção de
acordo a integralidade em saúde. Considerações finais: Afirma-se que a
intensificação do acompanhamento/assistência aos usuários do CAPSad
e seus familiares no período relatado acima proporcionou a diminuição
dos riscos/agravos, a promoção da saúde e a capacidades deles
estabelecerem práticas de autocuidado e de maior responsabilidade
sobre as suas condições biopsicossociais.

413
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado de saúde mental a estudantes universitários durante a


pandemia por COVID-19

Anna Luiza Castro Gomes


Érika Simone Guedes de Andrade
Andréa Castro Gomes (UFPB), Sandra Aparecida de Almeida
Jaime Franklin Ribeiro Soares
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Ana Carolina Amorim da Paz


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Trata-se de um relato de experiência sobre as atividades


realizadas pelo projeto de extensão intitulado "Atenção
multiprofissional à saúde mental de estudantes universitários" até
setembro de 2020. O projeto está vinculado ao Núcleo Universitário de
Bem estar do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da
Paraíba e sofreu adequações para manter suas atividades durante a
pandemia por COVID-19. Também estabeleceu parcerias com outros
projetos de extensão e protagonizou iniciativas online a exemplo do
teleatendimento individual multiprofissional; realização de plantões de
acolhimento aos ingressantes do período suplementar 2019.4 dos
cursos de Enfermagem e de Biomedicina; Rodas de conversa em
parceria com o projeto "Terapia Comunitária na Universidade: Tecendo
Espaços de Cuidado" da UFPB; realização de encontros terapêuticos
semanais online; criação do blog do projeto; produção de vídeo
animado e entrevistas e meditações curtas no formato podcasts;
elaboração e divulgação de conteúdos sobre saúde mental e indicações
semanais de filmes e livros através das redes sociais do projeto;
realização de lives sobre a temática do projeto. Resultados e discussão:
Foram atendidos individualmente 20 estudantes com sessões semanais;
verificou-se o aumento do sofrimento psíquico decorrente do risco de
morte, infecção, isolamento social e perdas econômicas. As atividades

414
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desenvolvidas possibilitaram identificar fatores predisponentes para o


adoecimento mental entre os estudantes; acolher demandas de
sofrimento mental; promover bem-estar e prevenir problemas mentais
e também articular o cuidado com a rede extra institucional. Além disso,
propiciou o início de um levantamento diagnóstico sobre a condição de
saúde mental dessa população e o planejamento e articulação de
estratégias para diminuir altos níveis de estresse, ansiedade, crises de
pânico e ideação suicida, situações que impactam o bem-estar e o
desempenho acadêmico dos estudantes. Conclusão: A pandemia do
COVID-19 afetou significativamente a saúde mental de estudantes
universitários. As atividades remotas e o teleatendimento individual são
fundamentais para acolher o sofrimento dessa população e para
articular o cuidado na rede atenção à saúde durante a pandemia.
Sugere-se que a saúde mental dos universitários seja monitorada pela
instituição com o intuito de desenvolver estratégias para enfrentamento
da problemática.

415
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado em Meio a Pandemia: o projeto "Conte Conosco"

Janete Valois Ferreira Serra


Departamento de Atenção à Saúde Mental

Francisca Maria Vilar dos Reis


EAP IMPERATRIZ - MA

INTRODUÇÃO: Experiências de cuidado ao louco infrator como o PAI PJ e


PAILI representaram as primeiras iniciativas de que é possível cuidar de
pessoas. Seguindo essa trilha existe no Maranhão o Programa de
Atenção Integral as Pessoas com Transtornos Mentais em conflito com a
Lei no Maranhão (PAIMA), fruto do trabalho articulado que se deu a
partir da implantação das 03 Equipes EAP que testemunham várias
experiências que comprovam a possibilidade de cuidado no território
através de uma rede articulada. EXPERIÊNCIA: Processo de
Desinstitucionalização de Sr. José (nome fictício), 57 anos, sem
profissão, analfabeto, recebe auxílio financeiro, casa própria. Pais
falecidos, apoio familiar da irmã. José teve crises convulsivas durante a
infância até os 12 anos. Sempre demonstrou comportamento inquieto,
dificuldade de concentração. Sempre trabalhou com os pais na
agricultura. Vivia em união estável com Joana, com quem teve 01 filha.
José não acessava dispositivos da saúde. Aos 20 anos apresentou
comportamentos estranhos e começou a desconfiar da companheira,
mesmo sem razões. Em decorrência disso assassinou enquanto
amamentava a filha do casal. Foi preso em flagrante, com discurso
desconexo. Foi na unidade prisional que percebeu- se sua
desorganização mental. Na UPR não manifestou ato de
heteroagressividade; ingeria sabão, fezes e água do vaso sanitário;
mastigava as sandálias dos companheiros de cela. Recebeu o primeiro
olhar dos agentes penitenciários, iniciando o processo para receber
Medida de Segurança (MS). A EAP elaborou o Plano Terapêutico para
cumprimento da MS em meio comunitário. Plano foi acatado pelo

416
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sistema de justiça. Foi acolhido por sua irmã em novo endereço, onde
ninguém conhecia sua história criminal. Recebia visitas regulares da
agente de saúde, somente fez os vínculos necessários para seu
tratamento. Vive em uma casa simples, sozinho, dedicando-se a cuidar
da sua horta, cultivar alimentos para o seu consumo e passeia de
bicicleta pelo bairro. O NASF foi o seu vínculo principal no
fortalecimento de laços na comunidade e entre os outros dispositivos do
território. Ele manifesta uma atenção calorosa por eles durante suas
visitas e orientações. O CRAS se empenhou em construir uma nova casa
para ele, através de um mutirão. Hoje vive confortável em sua casa
construída de tijolos e telhas. Foi acompanhado CAPS III, durante 01
ano. Continua recebendo as visitas periódicas da ESF (médico,
enfermeiro e ACS) o que potencializa o cuidado. O CAPS é acionado
como suporte em caso de crise. Nesses 06 anos no território apresentou
um episódio de surto psicótico e ficou acolhido por 03 dias.
REPERCUSSOES: Um homem que após anos de sofrimento mental e
invisibilidade para a sua comunidade, recuperou sua dignidade e
autonomia, sendo visto e cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A
importância da EAP é justamente em seu papel articulador e
sensibilizador da rede de saúde e de assistência social para o
acolhimento da pessoa em seu território para viver com dignidade. Além
de conseguir junto ao sistema de justiça a cessação da ideia de
periculosidade e a necessidade de garantir-se o cuidado efetivo para não
haver o conflito com a lei.

417
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado em saúde mental de mulheres na atenção básica: Leituras


clínicas e institucionais

Cláudia Regina Campos Rodrigues


Rosana Teresa Onocko Campos
Bruno Ferrari Emerich
Giovana Pellatti D´Lopes
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

A atuação de profissionais da psicologia na atenção básica, seguindo o


modelo de apoio matricial, abrange as dimensões de suporte
assistencial e técnico-pedagógico às equipes de saúde da família. Nesse
ponto da Rede de Atenção Psicossocial, o cuidado oferecido a mulheres
se destaca pela maior presença feminina nos serviços e maior taxa de
transtornos mentais comuns nessa população. O tema da saúde mental
de mulheres é abordado por diversas perspectivas na literatura,
incluindo o impacto da violência e da opressão de gênero na saúde e
subjetividade, críticas à medicalização desse sofrimento e outros
recursos terapêuticos possíveis. Entretanto, ainda parece incipiente a
discussão de como a dinâmica institucional dos serviços de saúde
podem (ou não) contribuir para uma atenção psicossocial que acolha as
diferentes formas de ser mulher. Diante desse cenário, o presente
trabalho objetiva analisar o cuidado em saúde mental a mulheres na
atenção básica, por meio do referencial teórico da psicanálise e
psicologia institucional. Nesse sentido, a questão central se traduz em:
de que modo a forma em que se dá tal cuidado reflete a visão sobre as
mulheres em nossa sociedade? Toma-se como material de análise as
ações realizadas enquanto residente psicóloga em um Centro de Saúde/
Unidade Básica de Saúde, incluindo o contato com usuárias e o trabalho
em equipe na unidade. Com base em cenas do cotidiano do serviço, são
discutidos os seguintes pontos: 1) o encaminhamento de casos opressão
ou violência de gênero para atendimento individual com psicóloga, sem
discussão na reunião equipe ou proposta de Projeto Terapêutico

418
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Singular compartilhado; 2) nas discussões de caso, a alta frequência da


menção a mães e cuidadoras como aquelas que buscam cuidado de
saúde para outros, sendo enfatizado pelas profissionais o sofrimento
gerado pela função materna ou as falhas no cuidado; e 3) possibilidades
de apoio e parceria com as profissionais da equipe. É levantada como
hipótese uma identificação das profissionais com o sofrimento das
mulheres atendidas, bem como com o papel de cuidadora, levando a
uma sobrevalorização de tal papel social feminino. Tomando as ações de
cuidado enquanto um posicionamento paradoxal entre "presença
implicada-reserva" (perspectiva de L. C. Figueiredo), tal identificação
poderia gerar maior tendência a uma sobreimplicação ou, pelo
contrário, ao afastamento dos casos, condicionada a uma maior ou
menor adaptação das usuárias a este papel. Decorrente disso, seriam os
frequentes encaminhamentos para atendimentos individuais com
profissionais da psicologia, em lógica ambulatorial. É proposta como
forma de apoio técnico-pedagógico à equipe a construção de um
"espaço de reserva pessoal", no sentido da ampliação do leque de
ferramentas teórico-práticas, aliada a um "fazer junto" que inclui uma
escuta atenta às profissionais. Almeja-se, assim, contribuir para
ultrapassar uma simples identificação ao papel social atribuído às
mulheres e trabalhadoras de saúde, de modo a qualificar o acolhimento
às usuárias e o trabalho em equipe. Conclui-se que a aposta na escuta e
no vínculo, tanto às usuárias, quanto no apoio às profissionais, favorece
a oferta de cuidado integral e mais abrangente à saúde mental dessa
população.

419
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado em Saúde Mental e Espiritual: Fomentando Estratégia de


Combate ao Sofrimento Psíquico na Pandemia provocada pelo novo
Coronavírus SARS-CoV-2

Willamis Tenório Ramos


Rafael Aquino dos Santos
Universidade Federal de Sergipe - UFS

Genivan Fonseca Gois Junior


Colégio Estadual Professor Antônio Fontes Freitas

Evellyn Heloá Moraes Oliveira


Colégio Edial

Letícia Reis Vasconcelos


Colégio de Aplicação da UFS

Marilya de Moura Bomfim


Escola Professora Neuzice Barreto De Lima

Gabrielly Gonçalves
Colégio Didático

Maria Aparecida Guilherme Reis


Tony Santos da Silva
Universidade Tiradentes

Introdução: A pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2)


é uma problemática de saúde pública nacional e internacional. Sabe-se
que este período de quarentena e recomendações de vigilância em
saúde promove medos, anseios e novas adaptações na rotina diária das
pessoas, favorecendo a perda da sensação de controle subjetiva de vida,
podendo interferir na saúde mental e espiritual dos sujeitos. Neste

420
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sentido, fomentar estratégias que estejam voltadas para manutenção da


saúde mental e espiritual das pessoas é uma importante estratégia e
deve ser promovida com diferentes grupos e contextos. Descrição da
experiência: Trata-se de um relato de experiência de membros de um
grupo de Coroinhas, Senhoritinhas e Cerimoniários de uma Paróquia,
localizada no município de Nossa Senhora do Socorro em Sergipe que
desenvolveram uma ação de extensão com o objetivo de promoção de
saúde mental e espiritual com o público de crianças, adolescentes,
adultos e idosos. Foram realizados 10 encontros semanais, em um
período de 01 mês, com duração de no máximo 60 min, por uma
plataforma digital na modalidade online, ao qual eram promovidas
discussões sobre autoconhecimento, busca de si, prevenção à ideação
suicida, comunicação não violenta, bem-estar espiritual, organização da
rotina ocupacional, autocuidado, como dar suporte ao meu filho(a) e
sobre a (falta) de produtividade. Os responsáveis por promover a
discussão eram: 01 estagiário do curso de Fisioterapia, 01 discente do
curso de Terapia Ocupacional, 01 discente do curso de psicologia, 01
padre e 01 psicóloga. Além de uma equipe de apoio composta por 06
membros do grupo de coroinhas, senhoritinhas e cerimoniários da
paróquia que auxiliavam no apoio técnico e suporte. Como resultados
parciais, participaram destes encontros cerca de 30 inscritos, divididos
em dois grupos: (1) crianças e adolescentes e (2) adultos e idosos. Ao
final da ação de extensão foi perguntando quem dos inscritos queria
receber atendimento psicológico de maneira remota e individual, destes
cerca de 14 inscritos solicitaram e foi marcado agendamento com uma
psicóloga. Repercussões e considerações finais: Após finalização desta
atividade de extensão está sendo elaborado um relatório para ser
entregue na Paróquia e Arquidiocese do estado como forma de
sensibilizar os superiores para que coloquem esta estratégia em prática
em outras localidades do município e estado. Por meio de
retroalimentação via mensagens de textos e áudios alguns dos inscritos
estão solicitando continuação dos encontros, isto mostra que de

421
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

maneira subjetiva a ação promoveu algum tipo de cuidado em saúde


mental e espiritual nestes participantes.

422
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidado em Saúde Mental na Atenção Básica a partir da Residência


Multiprofissional em Saúde

Joao Agostinho Neto


Maria do Socorro Sousa
Universidade Federal do Ceará

INTRODUÇÃO - O presente relato tem como objetivo apresentar uma


intervenção de cuidado em saúde mental na atenção básica a partir da
Residência Multiprofissional em Saúde. Trata-se de um relato de
experiência que descreve uma intervenção em um caso de individuo
com transtorno mental que vive em semi-cárcere, a partir do percurso
formativo como residente da ênfase Saúde Mental na Escola de Saúde
Pública do Ceará turma 3, no território de saúde da 19ª Coordenadoria
Regional de Saúde de Brejo Santo no ano de 2017.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA - A experiência aconteceu a partir da
inserção da equipe da residência multiprofissional em Saúde Mental e
da apresentação do caso através do processo de territorialização com o
acompanhamento de uma Agente Comunitária de Saúde. Na experiência
foram observados os seguintes aspectos pela equipe de residentes:
Reconhecimento do caso; Aproximação com o caso durante o
matriciamento; Construção de um Projeto Terapêutico Singular;
Intervenção Multiprofissional. REPERCUSSÕES - Com base na percepção
da equipe multiprofissional, evidencia-se a presença de uma situação de
semi cárcere por parte do indivíduo, além de diagnósticos como baixo
peso, encurtamento das fibras musculares, dificuldades na fala, no
equilíbrio e na coordenação motora, dificuldades de relacionamento
com a família e com a comunidade, além de outros fatores. As principais
atividades intervenção foram a realização de sessões de exercício físico,
alongamentos, caminhadas terapêuticas, e outras atividades comuns a
equipe multiprofissional, como a articulação para encaminhamentos aos
serviços especializados, consultas e exames de rotina, rodas de conversa
e escuta qualificada com a família. CONSIDERAÇÕES FINAIS - Com isso,

423
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

percebe-se a necessidade e importância de equipes multiprofissionais


com olhar para o cuidado em saúde mental na atenção básica. A partir
das reuniões de equipe e dos relatórios, evidenciam-se que ocorreram
melhoras significativas, com relevante papel de intervenção e auxiliar
terapêutico no campo da saúde mental, contribuindo para a inclusão de
pessoas com transtorno mental, e melhoria de suas capacidades física,
psíquica e social. No aspecto social, estabeleceu-se novas interações
com a comunidade e com os profissionais da UBS, diminuindo os
estigmas da saúde mental e do indivíduo com transtorno mental.

424
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidado em saúde mental na rua e em liberdade: um relato de


experiência do consultório na rua Recife

Gisléa Kândida Ferreira da Silva


Ana Alice de Queiroz Ribeiro Barbosa
Emerson Diniz
Ednalva Maria de Moura
Secretaria de Saúde do Recife

A existência de pessoas em situação de rua constitui fenômeno antigo,


complexo e com manifestação a nível mundial. O crescimento dessa
população está atrelado a contextos políticos, sociais e econômicos
situados no início da vida urbana, já nas sociedades pré-industriais. Os
dados oficiais sobre a população em situação de rua no Brasil são
esparsos e nem sempre abordam os aspectos psicossociais desta
população, mas sabe-se que transtornos mentais são relativamente
frequentes. O cuidado a pessoas em situação de rua com transtorno
mental impõe-se como desafio, dada a não busca por serviços de
assistência e saúde por essas pessoas.
Este relato de experiência visa compartilhar as múltiplas estratégias de
cuidado empreendidas a uma usuária em situação de rua, em
sofrimento psíquico, que aqui denominaremos de Barreiros, numa
referência à sua cidade de origem. Pretende-se refletir sobre a
importância da atuação do Consultório na Rua (CnaR) como mediador
de inscrições sociais e psíquicas no cuidado a essa população. Barreiros
tem aproximadamente 60 anos, sexo feminino, acompanhada pelo CnaR
há alguns anos, com histórico de aproximadamente 12 anos de vivência
na rua. Possui uma rede de suporte no território que possibilita acesso à
água, alimentação, roupas.
Barreiros é proveniente do interior, tendo migrado para Recife em busca
de melhores oportunidades de trabalho. Com pouca escolaridade, se
deslocou para Recife, onde relata que trabalhou durante muitos anos
em casas de família, de maneira informal, até parar nas ruas, em função

425
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de desemprego. Quando perguntada sobre acesso a serviços de saúde,


relata as mediadas pela equipe do CnaR, o que corrobora a invisibilidade
dessa população no acesso ao SUS. A equipe realizou visita conjunta
com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para aproximações com o
serviço e possível inserção.
O cuidado em saúde mental de pessoas em situação de rua exige aposta
no vínculo, investimento contínuo e consideração ao tempo dos
sujeitos. As sucessivas aproximações permitiram engendrar articulações
em torno da garantia da documentação, acesso a especialistas para
avaliação oftalmológica, além dos cuidados prestados no território. As
investidas permanecem no sentido de construir uma linha de cuidado
em saúde mental, com visitas sistemáticas em conjunto com equipe do
CAPS e outros serviços assistenciais.
A reconstrução da história desses sujeitos se faz essencial para a
compreensão de suas trajetórias e demarcação de desejos e
necessidades. A mediação de equipamentos como o Consultório na Rua
são fundamentais para a garantia do acesso à saúde para essa
população, historicamente invisibilizada pela dupla exclusão da vivência
na rua e do transtorno mental.
Torna-se importante o trabalho articulado com a rede para conseguir
atender à demanda tão complexa em que estes casos se apresentam.
Com base na longitudinalidade e integralidade do cuidado, o
acompanhamento acontece respeitando as singularidades, em liberdade
e compreendendo a importância que o território como referência de
vida representa para pessoa e que compõem elementos de extremo
valor para formação de sua subjetividade.

426
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidado Foto-Afetivo: Tecnologia para inserção do acadêmico de


enfermagem no cenário da psiquiatria

Matheus Marques
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Cláudia Mara de Melo Tavares


Thainá Oliveira Lima
Marcela Pimenta Guimarães Muniz
Universidade Federal Fluminense - UFF

Emoções são estados psíquicos transitórios que tem múltiplas facetas


(Morelato SG, et al, 2006), incluindo sentimentos, mudanças fisiológicas,
expressões corporais e tendências para agir de uma maneira específica,
positiva ou negativamente (Frijda NH, 2000). Nesse tocante, a inserção
do acadêmico no universo psiquiátrico propicia, por vezes,
atravessamentos emocionais negativos, potencializando crises, desafios
e medos socio estruturais (Damásio, 1995), que podem afetar a
adaptação dos estudantes a aprendizagem tornando o período mais
estressante e menos proveitoso academicamente. Ao percorrer os
ambientes psiquiátricos é observada a necessidade da apropriação, por
parte da equipe, de condutas menos duras no cuidado em saúde ao
paciente em sofrimento psíquico, uma vez que, através da observação
ativa, percebe-se que intervenções duras no cuidado acarretam
desestabilização psíquica do paciente, aumentando seu tempo de
internação. Como medida de cuidado em saúde com a utilização de
tecnologias leves, surge a oficina de foto-afetividade que se apropria da
possibilidade de tornar o que não é verbalizado dentro dos consultórios
em potências manifestas por meio de fotos, que alargam o campo de
percepção, causando mudanças na capacidade de conhecer o mundo
real e imaginário e que também tornam-se interessantes na medida em
que mostram algo concreto, material, dotado de consistência física real
e, ao mesmo tempo, assina a ausência do que um dia esteve presente e

427
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

desapareceu. Assim, a foto pode também ser percebida como


testemunha: a fotografia testemunha necessariamente. A foto certifica,
ratifica, autêntica e ainda, serve como prova de continuidade e, ao
mesmo tempo, como memória da própria identidade e subjetividade do
indivíduo. Objetivo: analisar a relevância da intervenção foto-afetiva no
processo de cuidar. Metodologia: relato de experiência com inspiração
sociopoética. Discussão e Resultados: O relato está baseado nas
experiências, encontros, inquietações e intervenção proposta através da
fotografia no manejo de crises, como também das emoções vivenciadas
ao longo do período de estágio frente a assistência ao paciente em
sofrimento psíquico como possibilidade de reflexões acerca da
assistência prestada nestes espaços de cuidado intensivo. Para isso, ao
longo do relato são tratados os seguintes temas: emoções negativas
experienciadas – principalmente o medo da imersão no universo
psiquiátrico; a construção do vínculo durante o cuidado, após a ruptura
com o medo inicial; tecnologias do cuidado assertivas que se distinguem
das tecnologias duras e engessadas, características da lógica
manicomial; e assistência criativa no cotidiano com foco nas fotografias
e expressões poéticas vivenciadas dentro do hospital psiquiátrico.
Conclusão: Foi demonstrado neste trabalho que a sensibilidade, o estar,
o ouvir e o permitir são válidos no tocante ao cuidado terapêutico de
pacientes psiquiátricos. Por meio da fotografia, foi possível uma
inversão de posições. Aqueles que sempre foram visto, observados e
ouviam opiniões sobre si, a partir da fotografia puderam ver, observar,
refletir, questionar e opinar sobre si, o que auxiliou no retorno da
estima, do autoconhecimento e, principalmente, da sua autonomia
enquanto ser, além de trazer a luz do conhecimento, peculiaridades
sobre seus históricos de vida que não apareciam nas entrevistas ou
reuniões intra-consultoriais.

428
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidado, sociopolítica e COVID-19: a experiência em um serviço


substitutivo de saúde mental durante a pandemia de 2020

Giuliana Mazota
Universidade de São Paulo

Lucas Alan Aveiro


Universidade Estadual de Campinas

Diversos retrocessos vêm ocorrendo no cuidado com populações em


sofrimento psíquico no Brasil desde o golpe jurídico-político de 2016. O
Estado, através da ampliação no financiamento ao setor privado
(Comunidades Terapêuticas) e da promulgação de leis (Lei
13.8490/2019, altera a Política Nacional sobre Drogas), faz ressurgir
formas de institucionalização e segregação, operando uma verdadeira
contrarreforma psiquiátrica. Tais diretrizes esvaziam o poder de
entidades representativas da sociedade civil, propõem o fim de
estratégias cientificamente comprovadas (Redução de Danos) e
acrescentam dimensão religiosa e coercitiva no cuidado. A esse delicado
quadro sociopolítico soma-se a pandemia de COVID-19, evidenciando o
caráter necropolítico das ações de governo.
Nesse contexto, a experiência de cuidado a populações vulnerabilizadas
torna-se um desafio. O fechamento das "portas abertas" nos serviços
substitutivos (CAPS) e a interrupção de atividades criam barreiras de
acesso à saúde, aumentando o sofrimento em usuários e trabalhadores.
A falta de diretrizes, organização e diálogo, explicitam a forma de
exercício do poder, autoritário negligente e mortificador, do Estado
brasileiro.
Este trabalho apresenta a experiência de atuação em um CAPS AD III do
município de Campinas no ano de 2020. Neste contexto, o fechamento
dos Núcleos de Oficinas Terapêuticas (Serviço de Saúde Dr. Cândido
Ferreira) e a interrupção das atividades grupais (CAPS) modificou a
rotina dos usuários. Perdeu-se um espaço de convívio, socialização e

429
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cuidado. Os atendimentos, somente na modalidade individual, ficam


restritos a usuários que apresentam quadros mais graves. A entrada no
serviço é feita após checagem de sintomas e aferição dos sinais vitais,
barrando a por livre demanda. Além disso, mostramos que, nesse
cenário difícil, os usuários e os profissionais passam a identificar a
internação como uma forma de cuidado. Com isso, retoma-se a antiga
direção ambulatorial e medicalocêntrica, pois os trabalhadores,
desamparados pela falta de planos de ação, tem dificuldade em
promover outras formas de atenção e acolhimento. Tais práticas
repercutem negativamente na saúde dos usuários, aumentando a
exclusão e prejudicando a cidadania. Além disso, afetam a saúde do
trabalhador que, em uma situação extrema, como é o caso da
pandemia, apresenta quadros de burnout, ansiedade, angústia, medo,
irritabilidade e frustração (FIOCRUZ, 2020). O afastamento e o
adoecimento dos profissionais é um problema para o sistema de saúde,
pois a formação leva tempo e os custos são elevados, e sua ausência
reduz a oferta e o acesso. Essa orientação prejudica o vínculo, afasta a
população da construção do SUS e produz mortes que são evitáveis. Por
isso, defendemos que os desafios da pandemia mostram ser preciso
fortalecer a democracia e o SUS. Para que isso aconteça é fundamental
retomar e ampliar o controle social e a cogestão do sistema, para criar
formas de facilitar o acesso e melhorar a oferta de saúde.

430
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidando de quem cuida: o cuidado à saúde mental dos profissionais


de saúde diante da pandemia da Covid-19

Nathalia da Rosa Kauer


Bruna Maria Stoski
Ida Vaz Machado
Mylena Goelzer da Silva
Rodolfo Eggers Portella
Daniella Cristina Aguiar
Andréia Reich
ESPP/SESA-PR

A pandemia do Coronavírus provocou uma situação repentina para a


população, que teve a necessidade de se adaptar à uma nova realidade.
Além das consequências clínicas, a Covid-19 causa uma enorme pressão
psicológica na população. As medidas de prevenção da doença, como
isolamento social e o grande risco de contaminação podem agravar ou
gerar sofrimentos mentais, decorrente do estresse (OMS, 2020). Além
do medo da infecção, a pandemia tem provocado sensações de
insegurança, sob a perspectiva coletiva e individual, modificando as
relações interpessoais. Os profissionais da saúde estão entre os grupos
mais vulneráveis devido à maior exposição ao vírus e ao estresse de
trabalho e desgaste emocional.
Este projeto teve como objetivo oferecer apoio emocional aos
servidores municipais diante da situação da pandemia do novo
coronavírus. Foram realizados pequenos grupos que proporcionam
espaços de escuta qualificada e acolhimento, visando auxiliar os
profissionais a desenvolverem suas próprias estratégias de cuidado. A
intervenção foi realizada com 244 trabalhadores dos equipamentos de
saúde e da assistência social do município de Pinhais-PR. Os grupos
foram coordenados pela equipe multiprofissional de residentes em
saúde mental e sua realização cumpriu as recomendações sanitárias de
distanciamento e utilização de EPIs. A intervenção iniciava com uma

431
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

breve apresentação e descontração, em seguida era realizada a


atividade em que os participantes deveriam escrever em papéis o que
estavam sentindo naquele momento da pandemia, sem sua
identificação. Os papéis foram colocados em uma caixa e lidos para o
grupo para discussão sobre os sentimentos que estavam descritos,
buscando estratégias de enfrentamento.
As discussões foram proveitosas e as equipes de saúde em geral
relataram ansiedade e preocupação decorrente do medo constante de
contaminação e principalmente de contaminação dos familiares levando
a distanciamento familiar, estresse e cansaço pelo trabalho e a
reorganização da rotina familiar. Diversos trabalhadores relataram
hostilização da população em alguns momentos, apontando os
profissionais de saúde como agentes transmissores e a preocupação
com a população que não segue as recomendações sanitárias. Também
destacaram sentimentos positivos tais como aproximação da equipe,
mais tempo com a família e o apego à fé e espiritualidade, bem como a
percepção de solidariedade em grupos específicos da comunidade.
Na assistência social os trabalhadores relataram aumento da demanda
de trabalho devido o auxílio emergencial e da distribuição de cestas
básicas e auxílio funeral. Relataram ainda estar sobrecarregados
emocionalmente, e a distribuição de EPIs não é garantida como é para
os trabalhadores da saúde, sendo que esta categoria segue trabalhando
presencialmente e muitas vezes com os usuários e familiares
contaminados por coronavírus, o que gera um grande medo de
contaminação e angústia com relação às incertezas do fim da pandemia.
Destaca-se a adesão dos participantes, o fortalecimento das equipes e o
desenvolvimento da empatia entre os colegas. O sofrimento causado
pelo distanciamento dos familiares e pelo medo de contaminação foi
destacado por profissionais de ambos os serviços. O projeto alcançou o
objetivo esperado, pois proporcionou um espaço de escuta e
acolhimento aos trabalhadores.

432
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidando de quem cuida: Uma experiência de matriciamento com


grupo terapêutico para familiares cuidadores/as da Saúde Mental na
Atenção Básica

Anna de Cássia Pessôa de Lima


Roberta Soares Nascimento
Carla Pinheiro Maciel
Prefeitura do Recife

INTRODUÇÃO: O cuidado domiciliar com pessoas acometidas por


transtornos mentais costuma ser laborioso e desafiador, muitas vezes
gerando sofrimento ou adoecimento à pessoa que cuida, e assim acaba
comprometendo o processo de cuidado. Dessa forma, se faz
imprescindível o cuidado à família na saúde mental, que costuma
acontecer dentro dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) com o
grupo família. Todavia, muitas famílias apresentam obstáculos na
adesão a esses grupos, seja pela distância ou dificuldade de conciliar
com seus afazeres diários. Buscando solucionar essa questão, dentro do
espaço de matriciamento foi construída a proposta de realização de um
grupo terapêutico para cuidadores que aconteceria numa Unidade de
Saúde da Família (USF) da cidade do Recife, com o objetivo de
potencializar o processo de cuidado em território e melhorar a
qualidade de vida das/os cuidadoras/es e também de usuários da Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS). As intervenções do grupo foram guiadas
pelo Manual de Cuidadores Domiciliares e o Guia Prático de Cuidadores,
do Ministério da Saúde.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O grupo terapêutico foi facilitado pela
psicóloga residente de saúde mental com o auxílio do médico residente
de psiquiatria, acadêmicos de medicina, dos/as Agentes Comunitários
de Saúde (ACS) e da médica de família da USF onde o grupo foi
realizado. As/os participantes do grupo foram cuidadoras/es indicados
pelos ACS como casos mais complexos e/ou que apresentam conflitos
relacionais e nível de sofrimento por parte de quem cuida. O grupo

433
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

possuiu nove participantes fixos além dos profissionais de saúde e


estudantes, sendo a quantidade limitada pelo espaço físico. Foram
quatro encontros ao total, de periodicidade semanal, e acompanharam
a seguinte organização metodológica: 1) apresentações; 2) elaboração
da proposta temática pelas/os participantes; 3) momento de fala livre e
intervenção das/os facilitadoras/es; 4) encerramento com uma prática
integrativa e/ou de autocuidado; 5) lanche e confraternização. Em um
dos encontros foi aplicado o Questionário de Avaliação da Sobrecarga
do Cuidador Informal (QASCI), que ajudou as/os cuidadoras/es a melhor
identificar e refletir sobre as situações da rotina de cuidado que mais
lhes geravam adoecimento.
REPERCURSSÕES: O grupo alcançou boa aderência das/os participantes,
que encontraram nele um espaço de cuidado para si, e ao longo dos
encontros foram relatando melhoras significativas em sua saúde mental
e na relação com as pessoas cuidadas, diminuindo os conflitos
interpessoais, compreendendo e lidando melhor com os momentos de
crise e buscando formas mais saudáveis e eficientes de enfrentar
comportamentos opositores. Ao fim do grupo foi estimulado que as/os
participantes dessem continuidade ao vínculo criado, buscando um
maior suporte comunitário em situações de crise e, caso sintam
necessidade, organizando-se para dar continuidade ao grupo de forma
independente, ou com o auxílio da ESF.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: É possível considerar que a experiência foi
satisfatória, tanto para a comunidade e o impacto em suas realidades
quanto para a ESF, sendo avaliada a importância de iniciativas
semelhantes no futuro com outros recortes populacionais que também
apresentam altas demandas de saúde mental no território, como
adolescentes que praticam automutilação e sujeitos em uso contínuo e
prolongado de benzodiazepínicos.

434
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidar da mente para cuidar da vida: atenção psicossocial junto aos


trabalhadores da saúde no enfrentamento da pandemia da COVID-19
em Juiz de Fora-MG

Maryene Conceição de Paula


Conrado Pável de Oliveira
Francisca Emanuelle Rocha Silveira
Leonice Barbara de Rezende
Prefeitura de Juiz de Fora

Laura Fernandes Martins


UniAcademia

Samantha Lemes Carvalho


Universidade Federal de Juiz de Fora

O Projeto “Cuidar da Mente Para Cuidar da Vida”, foi desenvolvido a


partir de março de 2020 pelo Departamento de Saúde Mental da
Prefeitura de Juiz de Fora, fundamentado no parecer técnico n°
128/2020 do Conselho Nacional de Saúde, com o intuito de ofertar
ações de suporte psicossocial durante a primeira fase da pandemia da
Covid-19 junto aos trabalhadores da saúde em atuação na linha de
frente dos cuidados. Foram realizadas duas frentes de atuação: uma de
caráter grupal e presencial nas unidades de saúde, e outra por meio de
atendimentos individuais remotos, realizadas por profissionais de
psicologia da prefeitura e voluntários. Mereceu destaque, no entanto, as
práticas de pequenos grupos presenciais nas unidades de saúde que
mobilizaram maior participação dos profissionais no projeto,
possibilitando um espaço de cuidado e atenção para a potencialização
da vida, das afetações e ações (PEREIRA; SAWAIA, 2020). A equipe de
coordenação dos grupos foi composta por dois psicólogos, uma
enfermeira, uma psicóloga residente em saúde mental do HU/UFJF e
uma estagiária de psicologia. Foram propostos quatro encontros

435
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

semanais para cada equipe de trabalhadores em três unidades de saúde


pública de urgência e emergência. Para cada encontro foram utilizados
diversos elementos mediadores e disparadores das discussões:
ilustrações do artista iraniano Alireza Pakdel que retratam a realidade
vivida pelos profissionais de saúde na pandemia; músicas populares e,
por fim, técnicas de autocuidado como massagens, respiração
diafragmática e relaxamento muscular progressivo. A partir da escuta,
no primeiro encontro, das experiências e desafios cotidianos vividos no
contexto de trabalho em meio à pandemia, foram levantadas as
principais questões que atravessaram todos os grupos. De maneira
geral, os principais temas abordados foram: as questões sobre o medo,
a ansiedade, estresse e alterações abruptas nos processos de trabalho;
as condições de trabalho e suas repercussões na vida pessoal e
profissional, principalmente seus impactos nos vínculos afetivos,
comunitários e familiares; a questão da contradição entre os
estereótipos de heroísmo e, ao mesmo tempo, a vivência do estigma
atribuído aos profissionais como potenciais transmissores do novo
coronavírus na família e comunidade. Ao longo das reflexões, diversos
temas também emergiram, tais como o congelamento dos gastos
públicos e seu impacto no acesso à saúde e a segurança no trabalho;
interferência das relações interpessoais e da organização institucional
nos processos de trabalho e na saúde do trabalhador etc. No total
participaram 231 trabalhadores de diversas categorias profissionais em
99 encontros. Pode-se perceber que diante da escuta dos profissionais e
das ações realizadas, a pandemia serviu como um pano de fundo para a
emergência de temas que já apresentavam relevância anteriormente e
que acabaram ganhando maior destaque no atual contexto. Os grupos
serviram como um movimento de reflexão no trabalho e um espaço de
promoção da saúde do trabalhador, visto que um dos retornos que
obtivemos foi a necessidade de se ter esse espaço de fala e de escuta
em outros momentos independentemente da pandemia

436
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Cuidar das plantas, dos outros, de si: a experiência do Programa de


Extensão Vida no Campus, 23 anos

Marcella Sales Moreira


Ana Paula Lopes dos Santos
Liorno Antunes Werneck
Dalva Moraes Pinheiro
Bárbara Buarque De Macedo Lira
Luana Rodrigues Valente
Paulo Herdy Filho
Elizabeth Bezerra da Silva
Universidade Federal Fluminense

O Programa Vida no Campus, nasceu como um projeto de extensão há


23 anos, na UFF/Campus Gragoatá (Niterói/RJ), com o objetivo de
desenvolver atividades socioambientais, no campus. Algumas visavam à
promoção da saúde e à qualidade de vida, com articulação entre os
estudos da vegetação, horticultura, paisagismo, e Psicologia Ambiental.
Em 2005, o Vida no Campus expande as atividades de cuidado humano-
ambiental, que passam a ter usuários, encaminhados da Associação
Pestalozzi (Niterói). Essa instituição, já utilizava jardinagem e
horticultura para desenvolver a autonomia e reabilitação humana,
iniciou parceria de seleção e encaminhamentos, para o Vida no Campus.
O contato de estagiários de Psicologia da UFF, no acompanhamento
terapêutico de usuários, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPs,
Niterói/RJ), permitiu a execução do projeto intitulado “Treinamento de
Habilidades com Portadores de Necessidades Especiais e Transtornos
Mentais em Espaços Públicos", vencedor do prêmio Josué de Castro
(Semext, 2010). Nele, usuários do CAPs, interessados em jardinagem,
ingressam num processo de ensino-aprendizagem, no campus. As ações
do Programa, em parceria com o CAPs, envolvem a construção de um
espaço acolhedor, para a execução de técnicas de jardinagem. O
objetivo principal é fomentar a autonomia, na execução das tarefas

437
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

diárias (cuidado das plantas, higiene das mãos, reconhecimento das


linhas de ônibus, dos números etc.). Com isso, possibilitar a reinserção
social, pela atividade e pela convivência com as pessoas, equipe, jardins
e plantas.
Questões relacionadas a história de vida dos usuários também são
acolhidas. Relatos de sofrimentos, aparecem durante as atividades.
Alguns deles contaram à equipe dificuldades vividas em frases como:
“você nunca vai conseguir um emprego”, “nunca vai concluir a escola”.
Entretanto, muitos estavam dispostos a esforços para melhorarem suas
condições. Estudavam a noite, frequentavam aulas preparadas para eles
na UFF e buscavam por si mesmos informações e orientações para uma
vida melhor.
No convívio com o ambiente universitário ou com as pessoas da equipe,
nas atividades de jardinagem, nos lanches coletivos e no
desenvolvimento das ações pedagógicas, muitas transformações e
aprendizado. Aprendizado mútuo, da equipe do programa (duas
professoras de Psicologia, três técnico-administrativos, dois
extensionistas e estudantes de Psicologia) e das pessoas encaminhadas
pelo CAPs. A partir de 2019, encaminhadas pelo Serviço de Psicologia
Aplicada (SPA/ IPSI/UFF) e, recentemente, pelo Centro de Valorização da
Vida (CVV).
Essas atividades estimulam o convívio e a sensibilidade, assim como a
destreza dos movimentos, a percepção do tempo, das estações, cores,
formas e texturas. Além de melhorar a orientação nos espaços ao ar
livre, a circulação na cidade e ampliar perspectivas de vida.
Do mesmo modo, entendemos que as atividades de cuidado com as
plantas, jardins e áreas verdes, potencializam a relação do cuidado com
os outros e, principalmente, do cuidado consigo mesmo. O ambiente
com área verde se configura como instrumento valioso para
transformações que ocorrem no campo da saúde, apresentando-se
como um espaço de interação e vivências. Consideramos que a
convivência fortalece as ações e as relações humanas, permitindo a

438
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

articulação dos saberes e afetos com o cotidiano dos atores, por ele
envolvidos.

439
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dá vida à morte: trabalhando suicídio com a leveza de um girassol

Millena Raianny Xavier da Silva


Ana Lúcia da Silva Lira
IMIP

Este escrito debruça-se sobre a experiência vivida por residentes da


RAPS numa intervenção desenvolvida na semana do Setembro Amarelo
em alusão a Prevenção do Suicídio, dentro de um CAPS tipo II na cidade
do Recife. Em um contexto onde era crescente o número de casos
atendidos no CAPS em virtude de tentativas de suicídio, pensamos em
estratégias para trabalhar com essa temática de modo que mobilizasse
positivamente os usuários e diminuíssem os riscos de iatrogenia diante a
discussão, pois reconhecíamos a real importância de abordar esse tema,
porém também sabíamos que ações mal planejados poderiam
potencializar o desejo de morte. Foi a partir dessas reflexões que
começamos a montar nosso projeto, focando em levar conhecimentos
relevantes para lidar com situações de crise e despertar afeto coletivo
para o cuidado. Iniciamos com a reprodução de uma animação
retratando a experiência existencial de uma pessoa com um quadro
depressivo, expondo os medos, os anseios e desafios no caminho do
cuidado, em seguida ouvimos deles os sentimentos despertados diante
o vídeo e as curiosidades que sabiam sobre o tema Suicídio. Algumas
pessoas trouxeram vivências pessoais diante o sofrimento e outras
exemplificaram histórias de familiares ou amigos, ressaltando o papel de
todos no cuidado a vida e prevenção ao suicídio. Continuamos com o
aprofundamento do assunto a partir de um jogo de Verdade ou Mito,
onde liamos um enunciado sobre a temática e os participantes deviam
julgar a assertiva como correta ou errada e justificarem suas respostas,
frases como por exemplo: “As pessoas que tentam suicídio querem
apenas chamar atenção”, “As pessoas que pensam em suicídio
apresentam um grau de sofrimento intenso”, “Suicídio é um ato de
covardia ou falta de fé”, “As pessoas com risco de suicídio apresentam

440
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

ambivalência entre querer viver e querer morrer”. Nesse sentindo


fomos problematizando e desconstruindo alguns preconceitos que se
tem em torno do assunto e refletindo sobre a postura de cada um
diante a vida. Depois disso pedimos para que pensassem em estratégias
de cuidado que ajudasse na prevenção ao suicídio, pois o usuário mais
que o profissional sabe de sua dor e o que pode ser feito para amenizá-
la. Nesse momento a família foi eixo central das falas, pois muitas das
sugestões se voltavam para o apoio familiar como fundamental.
Finalizamos o momento com a pintura grupal de um Girassol que estava
traçado em preto e branco numa grande cartolina, a proposta era dá
vida a flor, e assim fizemos, todos juntos pintamos a figura em amarelo,
deixando colorido o símbolo de valorização da vida. Acreditamos que a
intervenção tenha repercutido de forma satisfatória, provocando
mudanças de postura e atitude diante o cuidado de um para com o
outro. O que vale considerar é que toda intervenção precisa ser
contextualizada com a realidade onde será executada, por isso o
planejamento tem que levar em consideração o ambiente, o público-
alvo e a real necessidade de fazer a ação.

441
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dança Circular para a Promoção da Saúde em um Grupo de Idosos

Gláucia Maria Cavalcante Maia


Escola de Saúde Pública do Ceará
Carolina Maria de Lima Carvalho
UNILAB

O envelhecimento da população é uma realidade mundial. É papel do


enfermeiro auxiliar a pessoa para um envelhecimento ativo e uma
melhor qualidade de vida ao envelhecer. As práticas integrativas e
complementares da saúde se apresentam como possibilidades de
cuidado e promoção do bem-estar em idosos, vindo a somar, com os
métodos convencionais. A dança circular, prática milenar presente em
diversas culturas, cujos benefícios advêm de vivências de sinergia e
harmonização intencional de movimentos, simboliza união,
pertencimento e integração. Entre abril e novembro de 2018, no Centro
de Referência em Assistência Social de Redenção, Ceará, foi
implementado um projeto de extensão com grupo operativo de cerca de
50 idosos, para a promoção do bem-estar por meio das práticas
integrativas e complementares. Foram inseridas quatro práticas, das
quais, escolhemos a dança circular, presente em quatro dos sete
encontros realizados, para uma análise mais cuidadosa. No primeiro
encontro, o encerramento ocorreu com uma música de domínio público,
cantando e dançando em círculo. No segundo encontro o grupo
conversou sobre a história da dança circular, a simbologia do círculo e
praticamos a dança circular. Nos terceiro e quarto encontros abrimos
com a dança circular. A dança circular, como processo grupal, envolveu
uma dimensão individual – dançar para si – e uma coletiva – um
movimento feito pelo todo e para o todo. Cada idoso buscou se incluir e
harmonizar seus movimentos com os do grupo, nutrindo um sentimento
de pertencimento, união, cooperação e horizontalidade. Dançar
provocou sorrisos e uma evidente entrega nos participantes. As práticas
de dança circular vivenciadas ao longo do projeto estão em consonância

442
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

com a Portaria nº 849 de 27 de março de 2017, no tocante à ampliação


do bem-estar, da consciência corporal e da harmonização das emoções,
além de oportunizarem o exercício da concentração, da coordenação
motora, do ritmo e da memória.

443
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dança, corpo e movimento: da disciplina a uma clínica da


(re)existência

Marcella de Moura Vianna


UFF - Universidade Federal Fluminense

Cássia Charrison
CAPS Rubens Corrêa

O presente relato se deu a partir da experiência durante o estágio


integrado em Saúde Mental no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II
Rubens Corrêa, situado em Irajá, no município do Rio de Janeiro, entre
os meses de maio e outubro de 2018. As atividades em grupo são
consideradas como ferramentas importantes em tais serviços, uma vez
que possibilita o convívio entre os usuários e a troca de experiências,
objetivando o fortalecimento da autonomia. Dentre muitas
possibilidades, destaca-se a aula de dança, que a partir do método de
Conscientização do Movimento, se configura como uma estratégia de
resistência ao lugar atribuído historicamente ao corpo na experiência da
loucura, pensando nas relações de poder que o colocam como alvo de
investimentos coercitivos, de disciplina e docilização, uma vez que
corrobora com a construção de novos estados corporais. As aulas são
semanais, com duração aproximada de 60 minutos. A organização do
grupo sempre se dá em roda, para que possamos ter contatos visuais
com todos a todo o momento e darmos as mãos. A seguir, há um
momento de relaxamento. Todos nós, de pé, fechamos os olhos,
descontraímos os braços e pescoço, enquanto a professora toca nossos
ombros com o objetivo de distensionar a carga com que chega esse
corpo. Os olhos fechados nos possibilitam um momento de consciência
corporal, onde ficamos atentos para qualquer movimento que façamos.
Após abrirmos os olhos, o pedido é que olhemos para todos e para os
objetos que nos cercam, isso faz com que reconheçamos o espaço
habitado e as pessoas pertencentes ao grupo. Em um segundo

444
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

momento, nós nos sentamos no chão ou nas cadeiras e começamos a


nos esticar, na medida em que colocamos as mãos nos pés, mãos no
alto, etc. A professora sempre diz: “se a professora pode, todo mundo
também pode fazer”. Essas palavras nos dão um contorno e nos ajudam
a tentar, funcionando como estímulo para que nosso corpo se sinta
pertencente e fazedor neste grupo, havendo o acolhimento pelo grupo
cada movimento individual. Nesse sentido, o coletivo promove certa
identificação, no sentido de reconhecer que o outro também é uma
pessoa, assim como todos nós. A técnica de improvisação também se faz
presente durante as aulas, ficando claro que as aulas de dança em um
serviço como o CAPS, assim como qualquer outra prática de cuidado, se
constituem como uma clínica que tem como base o encontro, o fazer
cotidiano, pois surgem situações diversas e inesperadas. No fim da aula,
cada participante descreve em uma única palavra o que achou da
experiência. Normalmente, aparecem palavras como: relaxante,
conexão, equipe, revigorante, produtiva, demonstrando o benefício do
trabalho corporal ali atingido no sentido de reestruturação no que ele
tem de possibilidades e potências. Entendemos, portanto, que através
da dança, corpo e movimento, um modo de cuidar de si é inaugurado,
resultando em indivíduos mais saudáveis, autônomos, criativos, que
possam usufruir de suas potencialidades e saúde integral, fortalecendo
os princípios previstos no SUS.

445
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dando Cores ao Céu Cinza: Grupo colorir na saúde mental da


população LGBTQIA+

Aline Andressa Coelho de Souto


Priscilla KarlaARLA
Roseno Martins
Ana Thalita Felicio Ferreira da Silva
Escola de Saúde Pública do Ceará

Um segmento populacional que se apresenta cotidianamente como


demandante de serviços psicossociais com relação ao suicídio são as
pessoas com identidade LGBTQIA+ que, algumas vezes, apresentam
adoecimento psíquico, assim são acometidas por distúrbios do humor,
abuso e/ou dependência de substâncias, rejeição familiar e vitimização,
porém, mesmo após o controlo imediato destes fatores de risco de
forma emergencial os indicies de suicídio e/ou tentativas deste ato
prevalecem elevando-se e, desse modo, há necessidade de se promover
a prevenção e promoção de combate ao suicídio em âmbito nacional,
pois, conforme a Organização Mundial da Saúde (2003) essa é uma
questão de saúde pública. Além disso, ressalta-se que a população
jovem é a principal demandante dos serviços acima descritos, verifica-se
que, muitas vezes, a questão da descoberta da sexualidade diferente da
heteronormatividade também inaugura-se um conflito interno dos
usuários LGBTQIA+ consigo mesmo e/ou conflitos familiares,
compreende-se então que é essencial o trabalho de saúde mental
voltado para empoderamento e autoconhecimento dos jovens para que
a juventude não venha acompanhada de um processo depressivo e ou
de adoecimento psíquico. Pautando-se no cenário supracitado foram
organizadas rodas de conversa e grupo de apoio com usuários do CAPS II
e CAPS AD no município de Aracati-CE que se reconheciam como
população LGBTQIA+ e que já tinham tentando o suicídio, neste são
promovidas ações de saúde voltadas para essa população, por exemplo,
para pessoas transexuais é orientado sobre mudança da documentação

446
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

caso desejem, aborda-se ainda a inclusão no mercado de trabalho assim


promovendo a autonomia pessoal e permitindo seu empoderamento no
atual contexto capitalista, aborda-se a questão da redução de danos
com os que fazem uso abusivo de drogas. Além disso, percebeu-se uma
redução significativa no absenteísmo desses pacientes ao CAPS e uma
maior adesão aos tratamentos lá ofertados, por fim, houve o
fortalecimento de vínculos com a equipe multiprofissional. O trabalho
realizado tem despertado nos jovens LGBTQIA+ da cidade de Aracati/CE
um olhar diferenciado para seus conflitos pessoais e tem permitido que
exista em âmbito local um espaço para que o sofrimento mental seja
trabalhado e reduzido, além disso, a equipe multiprofissional envolvida
promove a promoção e a prevenção de situações que poderiam se
tornar urgências psiquiátricas, acredita-se que o trabalho precoce e de
reflexão junto aos jovens LGBTQIA+ e articulação de rede pode salvar
vidas e amenizar sofrimentos que causam transtornos mentais leves
e/ou graves.

447
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Das Trevas à Luz

Eduardo Augusto Urban


Iabas

Trata-se de um trabalho realizado num serviço de saúde mental, CAPS


AD, no município de São Paulo, partindo da descoberta da
potencialidade do sujeito como protagonista do seu acompanhamento,
tendo como Projeto Terapêutico Singular o eixo da arte, onde o próprio
usuário, através do vínculo construído com sua referência técnica,
reencontrou-se através da arte, o desejo pela vida e da busca pela
autonomia e reinserção social.
Este trabalho justifica-se pela importância e relevância, podendo servir
de modelo para outros profissionais de saúde, a partir da constatação
que o usuário do serviço através do seu próprio potencial, e do olhar de
reconhecimento da referência técnica, conseguiu o resgate de sua
autoestima, autonomia, reinserção social, passando a ser sujeito do seu
próprio desejo.
Através da teoria psicanalítica, reflexões foram geradas no âmbito da
produção do desejo, do olhar do outro como transformador de
autoestima, e da pulsão de morte em pulsão de vida, alcançando com
êxito a reabilitação psicossocial a que se proponha um serviço de saúde
mental, mais especificamente CAPS AD ( centro de atenção psicossocial
de álcool e drogas.
Fazendo parte do projeto terapêutico singular, foram realizados
atendimentos individuais e coletivos, que propiciaram o
Holding/amparo dando sustentação e motivação para P. se enxergar
como potência. Partindo do próprio desejo e talento do usuário, foi
proposto a realização de telas de pintura em papel Canson A3 e tintas
acrílicas, cor preta, que eram confeccionadas no próprio local do CAPS
AD (ambiência), como também, na própria moradia do usuário (centro
de acolhidas), culminando na obra intitulada pelo próprio autor: Das
Trevas à Luz. A partir disso, o trabalho desdobrou-se em três exposições

448
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de arte em centros culturais do Estado de São Paulo, culminando na


venda de todas as suas obras, gerando renda para si e sua família.
O desenvolvimento do presente trabalho propiciou uma importância
reflexão sobre a importância da figura da referência técnica nos
equipamentos de saúde mental, quando no acompanhamento do seu
referenciado, foi construído vínculo indispensável para o surgimento da
potência do sujeito, e da transformação da pulsão de morte em pulsão
de vida, possibilitando "desejo" como força propulsora da " busca pela
cura", e da produção de autonomia e reinserção social. Ao final, P.
conseguiu trabalho remunerado, casou-se, teve 1(um) filho e alugou
uma casa por sua própria condição financeira, alcançando com êxito os
objetivos propostos. Recebeu alta do serviço, pela equipe técnica.
Considerações Finais: Demonstrou de extrema importância a construção
do vínculo, entre Referência Técnica e usuário do serviço, propiciando
um olhar de potência e estas redescobertas repercutiram no o
aparecimento de desejo de cura, e da simbolização da vida como
recurso transformador e outras significações. Diante disso, o sujeito
pode através da arte, reconstruir pontes simbólicas, passando o uso
problemático das drogas ocupar um outro lugar em sua vida, vindo daí a
não mais necessidade de ser acompanhado pelo serviço especializado,
CAPS AD. A sublimação, e a valorização do olhar do Outro foi de extrema
importância para o resultado alcançado.

449
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

De Endoidecer Mente Sã: reflexões acerca dos determinantes sociais


da saúde e sua relação com o processo do adoecimento mental e seus
agravos.

Emilly Bezerra Fernandes do Nascimento


Maria Márcia de Oliveira Freire
Beatriz Holanda Macena
João de Deus de Araújo Filho
Brenda Rayana da Silva
Maria Clara Guimarães de Azevedo
Rute Peixoto do Nascimento Montenegro
Maria Yohana Matias Silveira
Daniel Morais Azevedo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Geilson Xavier de Azevedo Júnior


UFCG - Universidade Federal de Campina Grande

Introdução: Os transtornos mentais se configuram como agravos de


saúde com altos índices na sociedade atual. É possível conciliar a atual
conjuntura com a realidade dos usuários que passam pelo processo de
adoecimento psíquico. Essa afirmação pode ser comprovada a partir da
inserção na enfermaria de saúde mental, a qual ocorreu através da
residência em Atenção Psicossocial em um Hospital Geral do Sistema
Único de Saúde (SUS) e da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) em
Natal/RN; onde observa-se que elementos como o recorte de gênero e
do trabalho são fatores que provocam o sofrimento psicológico.
Descrição: A percepção desses elementos como carga psíquica ocorreu a
partir dos diálogos estabelecidos em entrevistas sociais, visitas ao leito e
conversas com os/as cuidadores/as dos usuários internados. É comum
identificar nas falas a preocupação com o trabalho (ou a ausência dele),
principalmente, dos usuários do sexo masculino; haja vista que existe
uma construção social de que o homem necessita ser o provedor do lar,

450
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

devendo arcar com as responsabilidades financeiras da família. É notória


a aflição dos sujeitos durante as falas, posto que eles apontam o
trabalho ou sua ausência como um dos fatores que lhes adoece. O
estresse causado pelo trabalho é recorrente durante a conversa, no
entanto, os usuários que não possuem vínculo empregatício formal
demonstram fragilidades ainda maiores, visto que não têm garantias
legais, como o auxílio-doença ou até mesmo a possibilidade de
aposentadoria. Essa inquietação gera ansiedade e, por vezes, condiciona
pensamentos suicidas, prejudicando o tratamento e levando, muitas
vezes, os usuários a buscarem medidas extremas. Repercussões: Nesse
sentido, entra a compreensão de que o trabalho é constituidor do
gênero humano, visto que possui caráter ontológico, sendo ele
elemento transformador do ser social e um desenvolvedor de
potencialidades, além de ser um modo de inserção na sociedade. No
entanto, vale salientar que o modo de produção capitalista e os
processos estruturais se relacionam com as classes sociais e influem no
processo de adoecimento, revelando assim, que há grupos com
necessidades particulares e que tais necessidades (dando ênfase as de
saúde) não podem ser desvinculadas do contexto social em que estão
inseridas. Além disso, é importante destacar que o modo de acumulação
flexível exige que o trabalhador exerça muito mais tarefas, as quais
invadem a esfera doméstica e não permitem descanso, causando
sofrimento. Considerações finais: Diante do atual cenário é impossível
negar o elo existente entre o trabalho, a estrutura de produção e o
adoecimento mental. Os altos índices de desemprego e a permanência
de usuários no chamado exército industrial de reserva coloca os
trabalhadores em uma posição desfavorável, fazendo com se submetam
a condições precárias de trabalho e existência. Dessarte, compreender
que o processo saúde-doença reflete a contradição existente na relação
capital-trabalho é fundamental, ao passo que há o avanço e
aprimoramento do que se entende por saúde mental e seus agravos e
pensando em alternativas para a redução dos danos e efeitos colaterais
resultantes da inserção nesse meio.

451
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Debatendo Raça/Etnia e Saúde

Railane do Carmo da Silva


Secretaria Municipal de Camaragibe

Introdução: O presente resumo apresenta um relato de experiência da


Educação Permanente-EP proposta pela Equipe do Núcleo Ampliado de
Saúde da Família e Atenção Básica-NASF-AB sendo facilitada pela
Assistente Social que a compõe, ocorrida na Unidade Básica de Saúde -
UBS Jardim Teresópolis no município de Camaragibe-PE, com o objetivo
de discutir aspectos das facetas do racismo na saúde e a importância do
termo raça/cor nos registros.
Descrição da experiência: A EP se pauta em uma aprendizagem no
trabalho, buscando a transformação das práticas profissionais, levando
em consideração os conhecimentos e experiências que permeiam o
espaço, propondo aos trabalhadores uma reflexão da prática cotidiana,
de acordo com as necessidades da população. A EP contou com a
presença das categorias profissionais: 4 Agentes Comunitários de Saúde-
ACS, Médico e Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família-ESF;
Fisioterapeuta, Psiquiatra, Nutricionista, Assistente Social que compõem
o NASF-AB. Iniciou-se levantando questionamentos de como os
profissionais compreendiam o que é preconceito e racismo. Pautaram-
se aspectos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e
as implicações do racismo religioso vivenciado pelos usuários
pertencentes as religiões de matrizes africanas.
Todos os trabalhadores que atuam na Seguridade Social,
especificamente a Saúde, lida em sua maioria cotidianamente com as
mais extremas opressões e violações de direitos, que se expressam em
sua maioria atingindo a população negra. Diante disso ressaltou-se a
construção sócio histórica do país, as marcas deixadas pela escravidão e
os mecanismos de dominação/exploração presente no pós-abolição,
como: embranquecimento, miscigenação e mito da democracia racial;
elencando dados atuais do IBGE e PNAD sobre a população negra.

452
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Repercussões: Diante do exposto na EP, o Médico trouxe o exemplo do


racismo institucional vivenciado pela Assistente Social durante seu
primeiro dia de trabalho na presente UBS e uma ACS refletiu sobre os
exemplos de racismo religioso vivenciado por alguns usuários de religião
de matrizes africanas, que em alguns casos não relatam sobre as marcas
em suas peles, que podem ser causadas pelos rituais religiosos, não
necessariamente sendo uma patologia, mas por receio de sofrer alguma
discriminação preferem se silenciar diante do assunto. Acerca dos
exemplos apresentados pautou-se a importância do termo raça/cor nos
registros. Segundo Roseli Rocha (2014) o quesito gera expressões do
racismo no Brasil, pois é silenciado nos registros e muitas vezes
subnotificados. O registro do termo pode apontar elementos para os
usuários na construção da sua identidade, e muitas vezes a
subnotificação desse termo gera escassez de dados que poderiam
contribuir em políticas/programas para a promoção da equidade e
diminuição de práticas discriminatórias.
Conclusão: A estratégia utilizada gerou desdobramentos positivos para a
equipe, passando a refletir o racismo e suas práticas cotidianas diante
dos exemplos que foram relatados. Ressalto a importância de estarmos
munidos com nossa dimensão investigativa aliada a teoria crítica,
compreendendo que os desafios são diversos, mas a leitura da realidade
é o primeiro passo. O conhecimento adquirido reitera para os
profissionais que não é possível a garantia de uma saúde pública aliada
ao princípio da equidade enquanto o racismo vigorar.

453
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Demandas de atendimento psicossocial: relato a partir da experiência


do Serviço Social em uma Estratégia de Saúde da Família na Região
Metropolitana de Belém-PA

Suellen Souza de Moraes


Camila Leite Medeiros Muniz
Cristina Maria Arêda Oshai
Universidade Federal do Pará

Introdução: A Integralidade é um dos princípios doutrinários do Sistema


Único de Saúde (SUS) cuja operacionalização implica, dentre outros, a
compreensão, consideração, planejamento e organização de ações e
serviços que contemplem os aspectos biopsicossociais inerentes aos
humanos. Experiência vivenciada em uma Estratégia Saúde da Família
(ESF) instigou reflexão sobre a importância da atenção em saúde mental
que na Atenção Básica, nem sempre se mostra acessível. Este relato
compartilha a experiência de uma estagiária em Serviço Social na ESF,
enfatizando a percepção sobre demandas de atenção em saúde mental
apresentadas por usuárias do SUS. Descrição da Experiência: A
experiência ocorreu na ESF Terra Firme em Belém do Pará, em região
onde a violência é determinante social importante. A inserção da
estagiária ocorreu em novembro de 2019 através do Programa
Multicampi Saúde que objetiva qualificar a formação de discentes de
Graduação de 10 cursos da área da saúde. Na ESF a estagiária esteve sob
preceptoria de uma enfermeira e supervisão de uma assistente social da
Universidade Federal do Pará. Observou-se grande demanda para
atendimentos psicossociais e a necessidade da presença de profissionais
de Psicologia e Serviço Social na Unidade. Porém tais profissionais são
vinculados ao Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), estando
disponíveis para a ESF dois dias na semana. Devido ao espaço
insuficiente da Unidade, os atendimentos eram feitos nas dependências
de uma igreja católica do bairro. Diariamente eram realizadas consultas
da Enfermagem nas quais estagiários do curso de Serviço Social e

454
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

outros, exercitavam a observação e escuta, mas interferiam quando


necessário. Notou-se que muitas mulheres apresentavam insônia,
cansaço físico, hipertensão arterial, cefaleia e quando indagadas a
respeito choravam e narravam que filhos/as estavam envolvidos com
tráfico de drogas; outras sofriam pela perda recente de filhos/as, vítimas
de diversas doenças. Observou-se também o sofrimento das chefas de
família, que precisavam trabalhar para manter a família e deixar seus
filhos sozinhos em casa; e o sofrimento das crianças devido à ausência
das mães, uma delas reiterava a vontade de morrer. Repercussões: A
partir da experiência houve percepção dos malefícios causados não
somente a vida dos usuários, mas da família e comunidade, tendo em
vista o quadro de sofrimento emocional, sendo realizado assim, os
encaminhamentos para atendimento psicossocial com a equipe do
NASF. A experiência possibilitou a percepção da realidade dos usuários,
importância da atuação multiprofissional na prevenção de agravos e da
efetivação da integralidade, considerando a atenção em saúde mental.
Considerações finais: Diante do exposto, constata-se a necessidade da
atenção psicossocial na ESF com regularidade em complemento à
atenção biológica, considerando que a integralidade compreende os
aspectos biopsicossociais. As orientações sobre direitos sociais e ações
para a melhoria da qualidade de vida dos usuários contribuem para a
saúde mental, pois podem promover a inclusão social e minimizar
efeitos dos determinantes sociais. Por fim, é imprescindível a atuação
conjunta da equipe multiprofissional visando à atenção biopsicossocial.

455
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Des(fazendo) nós na rede social: uma experiência de promoção à


saúde mental de adolescentes na pandemia

Maria Fernanda Barboza Cid


Beatriz Bertasi Vitola
Danieli Amanda Gasparini
Luiza Cesar Riani Costa
Marina Speranza
Mayara Soler Ramos Mazak
Maria Julia Felix Huber
Sara Malvez Bienzobás
Thais Thaler Souza
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Introdução: A pandemia da COVID-19 e as medidas necessárias para sua


contenção têm apresentado inúmeros desafios para as ações de
promoção e cuidado estratégico à saúde mental de adolescentes,
agregando à já complexa dinâmica pela qual se produz o sofrimento
psíquico dessa população, considerando, inclusive, os índices crescentes
relacionados à experiência do sofrimento psíquico intenso por
adolescentes nos últimos anos, situação que, de acordo com alguns
estudos está se agravando ainda mais com a situação de pandemia.
Neste contexto, as redes sociais têm sido uma ferramenta em
exploração nas estratégias de promoção e cuidado em saúde mental
direcionadas às adolescências. Descrição da Experiência: Trata-se de
uma ação de extensão universitária, ainda em curso, desenvolvida na
Universidade Federal de São Carlos, que, por meio da criação de um
perfil na rede social Instagram (@des.fazer.nós), objetiva produzir e
divulgar conteúdos sobre saúde mental para adolescentes, fomentando
um espaço virtual de interação e acolhimento. Formado por 16 pessoas,
dentre elas docentes, estudantes de graduação e pós-graduação e
profissionais de terapia ocupacional e psicologia, o projeto tem se
desenvolvido a partir de pesquisas e elaborações de conteúdos

456
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

audiovisuais. Abordam-se temáticas como ansiedade, estresse, racismo,


conflitos familiares, uso de substâncias psicoativas, organização da
rotina e estudos, o uso das redes sociais, autoestima, autocuidado, arte,
educação sexual, redes de apoio, entre outras. As escolhas dos temas se
dão pelas demandas dos próprios seguidores da página, por meio de
interações disponibilizadas pelo aplicativo (enquetes, caixas de
perguntas e votações). Atualmente, a página conta com 1.115 pessoas
que acompanham o conteúdo. Repercussões: Observa-se que os
conteúdos abordados pela página têm gerado engajamento por parte
dos adolescentes, o que é observado pela participação nas interações
sugeridas, mas principalmente pela troca de mensagens privadas, que
alguns têm usado para pedir ajuda relacionada ao próprio sofrimento
psíquico. Nestes casos, foram realizados acolhimentos, intervenções
informacionais pontuais e direcionamentos para a rede de assistência.
As interações ocorrem tanto com o público adolescente quanto adulto
através das publicações, sendo que profissionais da rede de saúde,
assistência social e educação têm utilizado os conteúdos da página como
apoio no trabalho com essa população. Apontam-se alguns desafios,
como o ritmo rápido e dinâmico de funcionalidade da rede social,
contrabalanceado com as possibilidades de produção da equipe.
Também há o desafio de traduzir os conteúdos provenientes de
produção acadêmica, em uma linguagem acessível e atrativa, que
representem as diferentes realidades que permeiam as adolescências,
além da busca por estratégias que permitam a acessibilidade de pessoas
surdas e com deficiência visual. Considerações finais: Produzir conteúdo
visando a promoção à saúde mental de adolescentes através das redes
sociais virtuais é desafiador, contudo, tem mostrado caminhos
interessantes para a costura de outros nós na rede do cuidado em saúde
mental em tempos de pandemia. Sinaliza-se, assim, que a real
disponibilidade de todos os envolvidos com as adolescências, faz com
que outros territórios sejam explorados, potencializando a criação de
ações que reconheçam as dificuldades, mas que busquem, de fato,
considerar as demandas e potencialidades de adolescentes.

457
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desenvolvimento de álbum seriado para acolhimento de pacientes


pré-cirúrgicos: Relato de experiência

Mabel Cunha Lopes


Rebecca Holanda Arrais
Unichristus

A Psicologia Hospitalar precisa pensar uma atuação ampla, para além da


escuta à beira do leito. Para isso, pode-se articular materiais e métodos
criativos que estejam em sintonia com as diretrizes do Sistema Único de
Saúde, como integralidade, protagonismo e humanização. Um recurso
possível é o álbum seriado (AS), material que visa acolher o paciente, a
partir do pressuposto de que o entendimento é parte importante do
processo de hospitalização. O desenvolvimento desse recurso em um
Hospital Geral durou 4 meses, feito com equipe de 6 alunas e uma
professora orientadora, com foco em pacientes pré-cirúrgicos.
Inicialmente, houve um reconhecimento do setting e investigação do
perfil de pacientes, com o intuito de direcionar o conteúdo. Depois,
seguimos para entrevistas com a equipe, para entender o que os
pacientes comentavam sobre a hospitalização, também levantamos
exemplos de outros trabalhos relacionados. Logo, entrevistamos os
pacientes. Baseado nisso, esquematizamos que conteúdos iriam compor
o AS e a equipe validou. Com esses conteúdos, fizemos novas
entrevistas com os pacientes para avaliar se estava coerente com a
demanda deles. Em seguida, elaboramos a primeira versão do AS e
imprimimos. Com essa versão temporária, houve nova validação com a
equipe, com os pacientes e com a direção do hospital e realizamos as
adequações finais. Por fim, começamos a utilizar o AS nos acolhimentos,
com os conteúdos finais abordando o jejum, anestesia, percurso até o
centro cirúrgico, equipe na sala cirúrgica, centro cirúrgico, salas pré e
pós operatórias e orientações gerais para alta. O uso desse recurso
proporcionou, baseado em comentários da equipe e relatos dos
pacientes, maior entendimento do processo cirúrgico, redução de

458
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

dúvidas, superação de medos e redução de ansiedade, mitigando


impactos psicossociais relativos. Além disso, possibilitou a ampliação do
alcance do Serviço de Psicologia, com uma intervenção voltada a
pacientes com demandas pontuais de baixa complexidade. Também
permitiu, a partir da fala dos pacientes, que fizéssemos
encaminhamentos para atendimento psicológico, no caso de pessoas
que demonstraram outras questões relacionadas à hospitalização.
Ademais, compreendemos que o AS era só o instrumento de nosso
acolhimento, sendo a nossa postura e empatia, o principal. Por fim,
ficou evidente como o AS ampliou o Serviço de Psicologia e contribuiu
para realização do acolhimento. Indicamos, desta forma, que novos
projetos do tipo ocorram, para ampliar o leque de intervenções da
Psicologia Hospitalar, bem como, que pesquisas investigando o impacto
do uso desse material sejam realizadas.

459
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desinstitucionalizar: o retorno à vida - Relato de Experiência de um


processo de

Cíntia C Monteiro Mota Ferraz de Araujo


Flavia Roberta e Silva
Eliane Barbosa de Farias
Prefeitura de Olinda

Introdução: Esse relato de experiência visa descrever a vivência das


autoras implicadas na execução de um processo de
desinstitucionalização de 35 pacientes de longa permanência de um
Hospital psiquiátrico conveniado ao SUS no município de Olinda.
Descrição da Experiência: A proposta atual de desinstitucionalização da
Comunidade Terapêutica de Olinda – CTO, teve início em setembro de
2019, através de discussões com a Gerência de Apoio a Saúde Mental -
GASAM/SES-PE e reuniões com representantes do CTO. A partir dessas
reuniões foi elaborado o Plano de desinstitucionalização com proposta
inicial de execução de 6 meses, se iniciando em dezembro de 2019. Foi
realizada a identificação de 55 pacientes no CTO em leitos conveniados
ao SUS, sendo 35 crônicos, 21 identificados como munícipes de Olinda,
14 identificados como de outros municípios e 20 agudos.
Repercussões: Em março de 2020 foi implantada a 5ª Residência
Terapêutica do município e 10 pacientes foram desinstitucionalizados.
Em maio do corrente ano foram desinstitucionalizados 8 pacientes que
foram transferidos para a Residência Terapêutica do município de
Carpina. O processo de desinstitucionalização caracteriza-se por implicar
novos contextos de vida para as pessoas com transtorno mental, bem
como para seus familiares e “pretende mobilizar como atores os sujeitos
sociais envolvidos, modificar as relações de poder entre os usuários e as
instituições e produzir diversas ações de saúde mental substitutivas à
internação no hospital psiquiátrico” (OLIVEIRA; MARTINHAGO; MORAES,
2009, p. 33). O paradigma da atenção psicossocial é o balizador das
mudanças em curso, compreendido como sinônimo de cidadania

460
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(SARACENO, 1996), tendo três eixos estruturantes: a) o morar, ou seja,


habitar conquistando territórios novos na cidade; b) o trocar identidade,
multiplicando-a, combatendo e desconstruindo estigmas e mitos; e c) o
produzir valores de trocas sociais, o que implica em ampliação de laços
sociais, aumentando a contratualidade, a partir dos valores destacados
pela sociedade, assegurando processos de geração de emprego e renda,
potencializando as capacidades das pessoas com transtorno mental.
Considerações Finais: O processo ainda se encontra em curso, sofreu
reajuste de cronograma devido a pandemia, mas está em fase final.
Prevê ainda a implantação de mais uma RT e readequação de outras
duas. Dessa forma, o processo se encerra com o descredenciamento do
Hospital Psiquiátrico e fortalecimento da RAPS do município de Olinda.

461
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desorganizando “masculinidades”, nos organizamos para cuidar:


homens que cuidam de criança.

José Marcos da Silva


Universidade Federal de Pernambuco

Na infância, as demandas por atendimento em saúde, surgem através


de mensageiros que vão além do grupo familiar. São instituições que se
tornam interlocutores e performam uma arena de disputas políticas, de
abordagens de diagnose e terapia. No Brasil, as crianças foram,
historicamente, consideradas como carentes, abandonadas, pervertidas,
anormais, excepcionais, em situação de risco pessoal e social. Nessa
perspectiva, confinaram e excluíam crianças do convívio familiar e
predominaram enfoques corretivo-repressivo e assistencialista que se
aproximam da cultura manicomial ou do grande enclausuramento que
refletiu a violação de direitos exclusão, vigilância, punição e
medicalização dos corpos. Em resistência, surge a proposta
antimanicomial, que se orienta pela desconstrução dos muros, da
cultura e do arcabouço conceitual. O Movimento Nacional de Luta
Antimanicomial, favoreceu a construção da atenção à criança e ao
adolescente no campo da saúde mental, por meio de uma política
nacional. O presente resumo apresentar uma experiência de [des]
construção de masculinidade por meio de uma intervenção denominada
“Homens que cuidam de crianças no CAPSi Zaldo Rocha em Recife no
período de 2013 a 2017. Adotou-se a como método a narrativa
etnográfica - observação participante – por causa da inserção do autor
como técnico na Rede de Atenção em Saúde Mental. A ideia surgiu nas
discussões clínicas dos casos com conotações negativas relacionadas ao
papel da masculinidade na vida das crianças. Todos os casos ditos
“fracassados” mantinham forte relação com a “ausência” do pai ou
conflitos relacionados. Culturalmente o cuidado às crianças fora
atribuído às mulheres e isso resultou no esvaziamento da participação
dos homens nesse processo. Admitir um papel próprio para o homem

462
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

nas relações de cuidado, exige a desorganização dos modelos de


cuidado, de masculinidades, das relações sociais, de poder que reforçam
a desqualificação da figura paterna, sobrevalorizam as ações de
masculidades alternativas favoráveis ao cuidado. Um grupo de homens
que cuidam de crianças foi proposto e passou compor o quadro de
atividades e aconteceu mensalmente, no terceiro turno. Utilizou-se a
terapia de base comunitária que proporcionou diálogos sobre
participação, promovendo e incentivando o compartilhamento de
experiências cotidianas inerentes as relações com crianças. O grupo
tornou-se uma oportunidade para os homens refletirem sobre si
mesmos, sobre suas habilidades no cuidado, aumentando a motivação
para dedicar mais tempo. Os temas eram definidos por eles e trataram,
desde situações envolvendo as crianças, até sentimentos, emoções e
sexualidade dos participantes. Emergiram discussões referentes à
educação das crianças, aos preconceitos enfrentados, dúvidas sobre as
medicações, desejo de que a criança se desenvolva, diagnóstico médico,
garantia dos direitos sociais, lazer para as crianças, culpa, religião e
conflitos. Há desejo de cuidar pela busca e maior participação. A equipe
técnica reconhece a relevância do trabalho e os resultados favoráveis
para o projeto terapêutico singular. As mulheres confirmam melhora
nas relações com os homens que participaram dos encontros.
Considera-se que esse modelo de intervenção potente para os CAPS
porque envolve os homens no cuidado como forma de prevenção da
violência, por promover equidade de gênero e fortalecer vínculos.

463
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Despatologização do sofrimento social como principal desafio à


desinstitucionalização na prática atual dos CAPS

Giovana Telles Jafelice


Camila Ávila de Lima
Adriana Carvalho Pinto
Prefeitura do Município de Jundiaí

Introdução: Inserido nas Políticas Públicas do país e na rede de serviços


intersetorial, o CAPS está, de forma inexorável, em diálogo com o
“sofrimento social”, solicitado atualmente na urgência de atender, para
muito além da psicose, a diversos tipos de vulnerabilidades, muitas
vezes encarnadas em transtornos mentais; Descrição da experiência:
Pretende-se pensar, de forma crítica, pela experiência de duas
trabalhadoras e uma gestora de um CAPS III Adulto, a demanda
crescente do CAPS como lugar de acolhida para o “sofrimento social”, a
partir da referência antropológica trabalhada por Pussetti e Brazzabeni
(2011), e a patologização produzida por estes discursos, que se
aproximam da lógica manicomial e institucionalizadora; Repercussões: A
partir da patologização do social, os CAPS, muitas vezes, acabam por
manter a lógica que pretendem combater, se aproximando de discursos
manicomiais e dando respostas sanitárias e normatizadoras a
fenômenos do campo social. Tal situação mantém os interesses
dominantes e o sofrimento localizado no sujeito, que segue sem poder
negociar sua condição de existência/ resistência e em lugar de objeto e
não sujeito das Políticas Públicas, o que pode causar iatrogenia sob a
égide do cuidado em Saúde Mental. Não nos faltam relatos de casos,
seja a mãe em situação de rua que não tem “estrutura emocional” para
cuidar dos filhos, o jovem transgressor que viveu entre abrigos e
adoções malsucedidas sob o paradigma do que “não se adapta” ou a
busca de moradia para aqueles que “ninguém quer”, dentre outras
situações, que, ao fim, evidenciam que, para os “desajustados
socialmente” – ou, ainda, para o sofrimento social - o que cabe,

464
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

comodamente, são intervenções em saúde mental. Atentos, e na defesa


da Reforma Psiquiátrica, observamos que, no lugar em que “tudo cabe”,
reproduz-se nos corpos dos sujeitos e em suas experiências certo lugar
social, isentando-se de reflexões da ausência das políticas de assistência
social, educação, habitação, cultura, trabalho e renda. Neste
movimento, colocam-se nos sujeitos as falhas e faltas, a partir das
violências diagnóstica, medicamentosa e institucional, muitas vezes
ratificadas também pelo sistema judiciário; Considerações finais: A
verdadeira desinstitucionalização hoje, no cotidiano dos CAPS, se dá
contra os muros invisíveis da patologização do social, fazendo-se
fundamental diferenciar o cuidado intensivo em Saúde Mental
necessário nos CAPS do sofrimento social. Os “saberes psi” não podem
ser os principais instrumentos de intervenção e cura nas situações de
pobreza e violência, uma vez que, usados de tal forma, apenas colocam
o sujeito em posição de assujeitamento, dificultando possibilidades
efetivas de reposicionamento e mudanças sociais. Enquanto os CAPS
continuarem dando respostas sanitárias às expressões da questão social
não terão conseguido se afastar da lógica manicomial.

465
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dialogando Saúde do Trabalhador Junto a Sindicatos: Teoria e Prática

Maria Beatriz Franco de Medeiros


Thaís Augusta Cunha de Oliveira Máximo
Águida Dantas Fernandes de Sousa
Daniely Jéssica Tenório Santana
Maria Beatriz Franco de Medeiros
Vanda Benigna de Oliveira Patrício
Wesley Jordan Pereira da Silva
Universidade Federal da Paraíba

Este trabalho trata de um relato acerca de um projeto de extensão


vinculado à Universidade Federal da Paraíba que objetiva a promoção
de cursos interdisciplinares em saúde do trabalhador e saúde mental e
trabalho, voltados para sindicalistas. Busca-se com ele levar a esses
profissionais conhecimentos que visam desmistificar o que as diversas
áreas compreendem como atuação da psicologia do trabalho dentro da
saúde do trabalhador, favorecendo o reconhecimento e
estabelecimento do nexo entre saúde, trabalho e doença, e
incentivando o desenvolvimento de um papel ativo e auto reflexivo
desses profissionais em seu espaço de atuação, atentando-se ao cuidado
com a saúde mental em seu cotidiano de trabalho. Ancorado nas
proposições da Ergologia, este projeto produz conhecimento a partir da
relação entre os saberes acadêmico-científicos e os saberes complexos
decorrentes da atividade realizada. Organizado a acontecer síncrona e
remotamente em seis módulos mensais com o suporte da plataforma
Google Meet, cada encontro tem sua especificidade de tema (mundo do
trabalho e a situação dos sindicatos na atualidade; processo de
construção em saúde do trabalhador; saúde do trabalhador no SUS;
saúde mental e trabalho; acolhimento, escuta e intervenção; e
construção de um plano de ação). Assim, um ou mais especialistas
foram convidados para a mediação em conjunto com a professora-
coordenadora, promovendo um espaço privilegiado de debate e escuta.

466
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Ademais, com o suporte de outra plataforma, o Google Forms, pôde-se


identificar as diferentes filiações sindicais e ocupações profissionais dos
participantes, bem como o interesse por participar de profissionais de
saúde, gestão de pessoas e universitários não-sindicalistas. Como
reflexo do formato remoto adaptado à pandemia pela covid-19, a
abrangência do projeto expandiu-se para diversas áreas da Paraíba,
atraindo trabalhadores de cidades interioranas, contribuindo para a
formação de, em média, trinta participantes. Como proposta para o
encerramento do curso, os participantes serão incentivados a construir
um plano de ação para um contexto a escolher. Dessa forma, trata-se de
um projeto com característica intervencionista que oportuniza aos
extensionistas a prática de transformação da realidade através da
psicologia, contribuindo para a sua formação. Aos participantes,
possibilita a capacitação para atuar na prevenção, promoção e
intervenção em saúde do trabalhador e saúde mental e trabalho dentro
dos sindicatos e demais espaços de atuação. Para ilustrar os principais
resultados, falas dos formandos e especialistas denotam a relevância de
promover um espaço de formação pautado em diálogos e vivências, a
seguir: “O campo da saúde do trabalhador não é mais de submissão do
trabalhador ao capital, mas sim um campo de resistência, de se
constituir, de se fazer história”, em relação ao campo de saúde do
trabalhador como ferramenta de intervenção; “Quero aproveitar a
oportunidade para enfatizar sobre a importância e necessidade do
CEREST para os trabalhadores, mesmo com todos os limites impostos”,
reforçando a importância do encaminhamento de trabalhadores para os
setores especializados em saúde do trabalhador da rede SUS. O projeto
tem alcançado seus objetivos, promovendo um olhar crítico para as
questões de saúde e trabalho, bem como os valores de uma formação
empática, proativa e cidadã.

467
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dialogando Sobre Controle Social E Participação Popular Para O


Protagonismo Dos Usuários Do Caps Ad De Caicó/RN

Raquel Sales de Medeiros


CAPS AD

Dulcian Medeiros de Azevedo


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Maria do Rosário Santos


Vanessa Amâncio da Silva
Faculdade Católica Santa Teresinha

INTRODUÇÃO: A Lei nº 8.142/90 estabelece o direito à participação


social no Sistema Único de Saúde, através dos Conselhos e Conferências
de Saúde. Desta forma, independente da instância governamental, aos
usuários do SUS e toda sociedade é garantida a participação na gestão e
nas decisões relacionadas à política de saúde. No sentido da ampliação
dos direitos, a Reforma Psiquiátrica propôs mudanças nos valores que
norteiam o cuidado em saúde mental, atentando para os direitos dos
usuários, humanização, cidadania, inserção social, entre outros. Apesar
desses avanços, constitui-se um desafio o implemento do cuidado
integral em saúde, que viabilize não apenas o tratamento, mas que
oriente e reforce a autonomia e protagonismo dos usuários da saúde
mental no que se refere aos seus direitos e à participação social no SUS.
Neste sentido, percebeu-se a necessidade de desenvolver ações que
viabilizassem a discussão sobre direitos e deveres dos usuários do SUS,
na perspectiva da participação e do controle social, em um Centro de
Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) em Caicó/RN,
município que ainda carrega as marcas de um sistema político
assistencialista, onde por vezes a saúde constitui-se moeda de troca
para as eleições. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Entre os meses de janeiro
e fevereiro de 2020, com o objetivo de iniciar e incentivar a discussão

468
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sobre esta temática no CAPS AD, em articulação com profissionais da


Residência Multiprofissional em Atenção Básica e alunas estagiárias de
Serviço Social, inicialmente foi exposto numa atividade cotidiana do
serviço chamada “Bom dia, CAPS!”, o significado de controle e
participação social, a fim de discutir e perceber o interesse dos usuários
na discussão. Observado o interesse, com o surgimento de dúvidas e
relatos sobre o assunto, decidiu-se utilizar o momento da atividade que
consistiu em rodas de conversa sobre assuntos diversos, para
concretização das discussões. Foram realizadas cinco rodas de conversa
com a média de 10 a 15 participantes, nas quais se discutiu sobre
“Saúde como direito”; “Sistema Único de Saúde: direitos e deveres
dos/as usuários/as”; “Participação e Controle Social”; “Ferramentas de
participação e controle social”; “Conselhos de Saúde”; todos com auxílio
de vídeos, imagens, produção de cartazes e respostas de palavras
cruzadas. REPERCUSSÕES: Observou-se o interesse dos usuários nas
discussões, uma vez que expressaram a importância de (re)conhecerem
seus direitos e que a saúde não pode ser negociado por estratégias
políticas, bem como o incentivo à participação nas reuniões do Conselho
Municipal de Saúde, expressando a noção de pertencimento e
responsabilidade para com o serviço, as ações e o cuidado em saúde de
uma forma mais ampla. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ainda que a formação
política seja ausente para alguns usuários, é imprescindível desenvolver
estratégias que, no cotidiano dos serviços de saúde mental, permitam a
desconstrução da ideia do “irracional”, da “passividade”, da
“incompreensão” entre os usuários. Dialogar sobre saúde na perspectiva
do direito é permitir o protagonismo dos usuários não só diante do seu
tratamento e cuidado em saúde, mas da sua participação política e
social.

469
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Diferentes perspectivas de atuação em saúde mental

Jamille Kássia da Silva Cardoso


UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco

Luísa Marianna Vieira da Cruz


Autarquia Educacional de Serra Talhada - AESET

Constantino Duarte Passos Neto


Escola de Saúde Pública do Ceará – ESP/CE

Milene Magalhães de Lima


Colégio Único

José Victor Lima Braga


Faculdade São Francisco da Paraíba - FASP

Daniele Veloso de Menezes


Daiana da Silva Carvalho
Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Introdução: A Reforma Psiquiátrica prega a desinstitucionalização. Esta


envolve a desconstrução do modelo hospitalocêntrico não calando as
vozes que sofrem e atuando com o intuito da promoção de autonomia e
protagonismo dos envolvidos. Ademais, pontua a necessidade de um
cuidado humanizado, que não “coisifique” o usuário acreditando que
seu corpo é uma “máquina” que necessita de reparos- remédio.
Descrição da experiência: No dia a dia do serviço, as demandas se
voltam aos profissionais da equipe técnica, que é composta por
profissionais de várias áreas. Todos realizam acolhimento em saúde
mental fazendo os encaminhamentos necessários. Essa prática requer
conhecimento da Reforma Psiquiátrica e de seus fundamentos, para que
seja realizada uma prática humanizada que não e repita o modelo

470
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

hospitalocêntrico, perpetuado, ainda, por alguns profissionais de saúde.


O objetivo deste relato é repensar as práticas em Saúde Mental para
considerar a saúde como complexidade, envolvendo aspectos sociais,
econômicos, históricos, culturais evitando reduzi-la ao viés organicista,
onde só o médico pode fazer algo pelo usuário. Repercussões: Os
resultados revelam que ainda existe uma ambiguidade nas práxis, que
oscila entre uma prática de cuidados humanizados, envolvendo o
resgate da condição de cidadania, e o ideal da abstinência. Essa postura
reflete-se no funcionamento do sujeito, que ora mostra-se empoderado
frente a sua vida e ora busca uma posição de dependência, seja da
equipe, da família ou de um outro disponível a essa dinâmica. Por fim,
concluímos que o sujeito deve ser analisado a partir de um viés
multifatorial para que a ação resulte em promoção de saúde e
cidadania. Considerações finais: Ao considerarmos que os princípios da
Reforma Psiquiátrica solicitam uma reavaliação quanto aos princípios e
práticas, novas alternativas ainda podem se transformar em velhas
ações quando não são vividas, mas somente conhecidas. Ao vivenciar a
prática da Saúde Mental, se faz necessário considerar a importância do
usuário ser tratado em liberdade, a reinserção social, uma prática de
cuidados humanizados e o resgate da condição de cidadania.

471
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Direitos Humanos e Imigração Venezuelana: um trabalho voluntário


junto aos venezuelanos em Roraima, Brasil

Talitha Lúcia Macêdo da Silva


Universidade Federal de Roraima - UFRR

Halaine Cristina Pessoa Bento


Universidade Federal do Ceará - UFC

Desde 2015, Roraima - Brasil, por estabelecer fronteira com a


Venezuela, vem, de modo crescente, sendo via de ingresso de
venezuelanos em terras brasileiras. A crise política, econômica e social
que afeta o país bolivariano impulsiona a imigração por sobrevivência.
Sendo assim, o Brasil tem sido um país procurado por imigrantes que
deixam a sua terra natal em busca de melhores condições de vida.
Porém, este não oferece, ainda, estrutura satisfatória e políticas públicas
para receber um alto contingente imigratório de modo adequado. Esta
situação, cria dificuldades que vulnerabilizam, ainda mais, famílias,
crianças, gestantes e idosos. Tais necessidades consistem no acesso à
moradia, alimentação, trabalho, educação e serviços de saúde. Outra
adversidade imposta é a vivência de situações xenofóbicas advindas de
uma parte da população roraimense que não estava preparada para as
mudanças provocadas pela imigração no estado. Diante deste contexto,
construiu-se um projeto intitulado: Voluntariação, com o objetivo
primeiro de possibilitar melhores condições de vida à população
venezuelana residente em Roraima e garantir, assim, o acesso a direitos
que são inerentes a todo ser humano. O desenvolvimento de tal
trabalho, promoveu responsabilidade social junto à comunidade
acadêmica envolvida, formando profissionais que possam atuar no
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária, que
proporcionasse condições de acesso a direitos como de educação,
trabalho, liberdade de opinião e expressão, acesso à saúde, cultura,
lazer, dentre outros. Assim, o projeto desenvolvido pela Universidade

472
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Federal de Roraima (UFRR) com estudantes do curso de Psicologia,


Medicina e parcerias, em um primeiro momento, fez um levantamento
das necessidades apresentadas. Em outro, realizou avaliação da
situação, planejamento das intervenções e, por fim, mobilização de
instituições para realização das ações. Os trabalhos apresentaram como
foco: promoção de saúde, espaço para expressão artística e cultural.
Criou estratégias socioeducativas/lúdico-pedagógicas para a intervenção
com crianças e jovens, oportunizou o acesso ao trabalho e proporcionou
condições que atuaram na preservação da vida em sua potencialidade e
plenitude. Desse modo, com base na realidade vivida pelos imigrantes
venezuelanos em Roraima, as ações voluntárias auxiliaram na redução
dos agravos sociais, de saúde e psicológicos. Nesse sentido, ao formar
vínculo com os cidadãos venezuelanos, os acadêmicos compreenderam
melhor esta realidade, a partir do contato com as suas experiências nas
ruas, praças e abrigos instalados na capital do estado de Roraima.
Entendendo, assim, as problemáticas sociais, culturais e políticas pelas
quais o imigrante venezuelano passa no Brasil. Por fim, o projeto
proporcionou um contato humanizado com as histórias e singularidades
dos sujeitos, entender suas lutas diárias de sobrevivência ao imigrar da
Venezuela para o Brasil e auxiliar nos mecanismos de adaptação e
resistência nos trabalhos voluntários.

473
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Direitos Humanos, Redução de danos e Cuidado Territorial através do


Consultório na Rua para Juventude Índigena Warao refugiada em
Belém-Pa

Samuel Freire Furtado


HCGV

Dandara Rodrigues Martins


Fundação Papa João XXIII

Ana Cláudia Pithan Faleiro


Rayara Pamela Nunes da Trindade
Universidade Estadual do Pará

Vitor Nina de Lima


Rita do Socorro Sousa Rodrigues
Consultório na Rua

O Consultório na Rua (CnaR) é um dispositivo instituído pela Política


Nacional da Atenção Básica desde 2011. Este serviço visa ampliar o
acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde. Através
de atendimentos individuais e em grupo, percebeu-se a potencialidade
de estabelecer ações intra e intersetoriais na perspectiva de promover a
proteção da juventude refugiada no território de abrangência do abrigo.
Diante disso, está em execução o Projeto “A bicicleta é o meu Refúgio”,
a qual tece estratégias na lógica do cuidado territorial por meio de ações
voltadas à inclusão e educação em saúde frente a situação da exclusão
socioespacial em situação de refúgio. Resultado de crises econômicas,
sociais e políticas em países vizinhos, impeliram muitas pessoas a
procurarem novo lar no Brasil, segundo dados da ACNUR, há mais de 4,5
mil refugiados indígenas em território brasileiro. Belém acolheu cerca de
10% deste contingente. Neste contexto, a vulnerabilidade social, o
estigma e o preconceito étnico intensificam problemas relacionados à

474
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

saúde mental, tal como o uso e abuso de substâncias, a violência


doméstica e demais fatores de risco que conferem a complexidade das
demandas que exigem respostas intersetoriais e integradas no âmbito
do Sistema Único de Saúde. No abrigo e redondezas, a juventude utiliza
as bicicletas para atividades diárias que, para as crianças, faz parte do
brincar; e para os jovens e adultos, locomoção e fazeres cotidianos,
além das idas aos serviços públicos, aos locais de compras e passeios.
Como protagonistas dessas ações, reivindicam qualidade de vida no
contexto de refúgio, ao qual incluem as bicicletas na promoção de
cuidado.
Objetivo: Descrever estratégias de cuidados territoriais para jovens
refugiados da etnia Warao na perspectiva da Redução de Danos e dos
Direitos Humanos através do Consultório na Rua no Município de Belém.
Descrição da Experiência: Trata-se de um estudo descritivo do tipo
relato de experiência, vivenciado por equipe multiprofissional de
residentes do programa de atenção à saúde mental durante o período
de Novembro e Dezembro de 2019, em um serviço de saúde, o
Consultório na Rua (Cnar). Tal equipe foi composta por enfermeira,
professor de Educação Física, terapeuta ocupacional, psicóloga,
nutricionista e assistente social. E, dentre as diversas atividades
desenvolvidas pelos profissionais, tem-se a sistematização e assessoria
do projeto, a efetivação de reuniões, as articulações intra e inter
setoriais, com o alcance do Coletivo Pará Ciclo e do Programa
Universidade Popular em Direitos Humanos na UFPA. Ademais, a
realização dos passeios ciclísticos matriciais e de educação em saúde,
com ênfase na Redução de Danos e no Direito à Cidade. Repercussões e
considerações finais: Dessa maneira, a convivência gerada pela bicicleta
articulada a estratégias de Redução de Danos fortalece a possibilidade
de acesso às políticas públicas com base no território, visando à
conquista de inclusão e construção do local de cidadania desta
população. Portanto, ratifica-se a importância da promoção e do
fortalecimento de vínculos e protagonismo frente à exclusão

475
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

socioespacial das vivências e conquistas da juventude indígena Warao


que incorpora o direito à ampliação de cuidados em saúde.

476
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Discussões acerca das desigualdades raciais e de gênero com


usuários/as do CAPS AD Prof.º José Lucena em Recife/PE

Catharina Cavalcanti de Melo


UFPE

Wanessa da Silva Pontes


CAPS AD Prof.º José Lucena

Objetiva-se nesse trabalho compartilhar a experiência do Plano de


Intervenção, aplicado através do estágio curricular obrigatório em
Serviço Social, no CAPS AD Professor José Lucena, pensado e facilitado
pela graduanda em conjunto com a Supervisora de Campo. Trata-se de
um estudo descritivo que relata a experiência de oficinas em grupo
terapêutico. A estratégia de construção das oficinas foi pensada
considerando a iminente necessidade de abordar temáticas
enquadradas nas questões de gênero/raça, relacionadas ao uso de
álcool e outras drogas, visando promover orientação, interação e debate
entre os/as usuários/as. As oficinas contaram com a participação dos/as
usuários/as que compõem o grupo Cidadania e Formação Política,
facilitado pela supervisora de campo, estagiária e convidados/as,
estudiosos/as e militantes de diversos coletivos e movimentos, o que
possibilitou articulações entre o serviço substitutivo e movimentos
sociais. Foram realizadas quatro oficinas diferentes em que foram
abordadas as temáticas: “Gênero e questão étnico-racial”,
“Masculinidades” e “Identidades de gênero”. Cada oficina foi constituída
em três momentos, primeiro, um momento de apresentação das
pessoas presentes e introdução das temáticas a serem abordadas,
através de roda de diálogo, dinâmicas e/ou cine-debate; segundo, a
exposição dialogada e mais aprofundada acerca do tema a ser
trabalhada pelos/as facilitadores/as e usuários/as, elucidando questões
necessárias no debate e sensibilizando os/as participantes a fazerem
reflexões que, dentro do tema proposto, atravessam as suas vidas das

477
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mais variadas formas. Considerando também as especificidades da


vivência de cada usuário/a e o contexto em que se encontram
inseridos/as, sendo estes resultantes de processos excludentes de
desigualdade social, de raça e gênero adequadas ao modelo capitalista;
e, por último, um momento mais propositivo onde pensava-se
propostas e estímulos para transformação, visando a promoção do
protagonismo, reinserção e construção de autonomia dos/as
usuários/as, contribuindo para o processo de conhecimento sobre si e
sobre o outro no cerne das estruturas de opressão. As temáticas das
oficinas eram planejadas a partir de manifestações de inquietudes das
oficinas anteriores. A priori a intuito era construir e fortalecer a
interação entre as mulheres inseridas no serviço, trazendo
problemáticas que contornam a vida das mulheres usuárias de álcool e
outras drogas, contudo essa intenção mostrou-se inviável diante do
tempo e percalços que envolviam a construção de um grupo apenas de
mulheres no tempo proposto para o Plano de Intervenção do estágio.
Ainda assim, a experiência de um grupo misto trouxe resultados e
reverberações interessantes para os usuários/as que participaram, bem
como, para a ação profissional no serviço. Observou-se que o espaço foi
provocador, tocando em questões subjetivas dos participantes que
problematizaram vivências e experiências próprias circundadas às
problemáticas discutidas como machismo, racismo, violência contra
mulher, paternidade, orientação sexual e preconceitos. Sendo assim, a
experiência foi enriquecedora para todos/as os/as envolvidos/as no
processo.

478
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Discutindo o Uso de Substâncias Psicoativas (SPA’s) na Escola de


Negócios da Universidade Salvador/BA: Práticas Realizas na Disciplina
de Estágio Básico II

Amanda Dos Santos Lima


Diele Santos
Universidade Salvador - UNIFACS

A Redução de Danos (RD) é uma política pública regulamentada na lei


11.343/06, que busca minimizar consequências adversas do consumo de
drogas do ponto de vista da saúde e seus aspectos socioeconômicos,
sem necessariamente diminuir esse consumo. Partindo dessa premissa,
no ano de 2017 foi realizado o estágio básico II, na escola de negócios da
Universidade Salvador (UNIFACS) que teve como base teórica a RD e
objetivou-se em compreender o sujeito biopsicossocial inserido nas
práticas em saúde mental, discutir questões contemporâneas
relacionadas ao consumo e aos consumidores de substâncias psicoativas
(SPA’s) - álcool, tabaco, medicamentos, cannabis, substâncias sintéticas,
disseminar estratégias de prevenção e cuidados na perspectiva da RD.
As atividades práticas do estágio foram ministradas por alunos do curso
de psicologia, com propósito de associar teoria e pratica da redução de
danos, a escolha da escola de negócios como campo de pratica foi
baseada na necessidade de fazer com que a discussão sobre RD
ultrapassasse as fronteiras do campo da saúde, uma vez que, um dos os
ideais da Redução de Danos é promover ações de prevenção e
promoção em saúde para o maior número de pessoas. Buscando o
melhor desenvolvimento do estágio ele foi dividido em duas etapas,
primeiro a capacitação teórica dos alunos que conduziram as atividades
a respeito das temáticas: tecnologias leves, metodologias ativas, saúde
mental, redução de danos e substâncias psicoativas, em seguida a
construção de material físico, dentre eles estavam jogos, oficinas
temáticas e dinâmicas que abordavam, cuidados a saúde mental, a
utilização indiscriminada de medicamentos, uso medicinal da cannabis,

479
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mitos e verdades a respeito do uso de álcool e outras drogas, entre


outros, esse modelo de condução do estágio viabilizou o diálogo entre
os alunos das distintas áreas que compõem as escolas de negócios e
saúde da UNIFACS. O feedback a respeito das práticas de cuidado que
eram desenvolvidas nas atividades foram quase que imediatos e em sua
maioria positivos, além do evidente entusiasmo, interesse e curiosidade
dos estudantes da escola de negócios pelo modelo lúdico com que eram
conduzidas as práticas, o que consequentemente proporcionou maior
divulgação do projeto e aumento continuo no número de participantes,
evidenciando a formação de vinculo, importância e eficiência da
utilização das metodologias ativas nas práticas de cuidado em saúde. A
experiência proporcionou aos estudantes dos diversos cursos, o
intercâmbio de conhecimentos, demonstrando que nenhum trabalho
realizado sozinho será tão eficiente quanto o trabalhado feito em
conjunto e como estes contribuem para uma formação ampliada,
indicando que, independente da área de atuação, é possível prestar um
serviço de atenção integral e humanizada no que tange a saúde
biológica e mental, evidenciando também a necessidade do diálogo cada
vez mais frequente entre os cursos universitários e profissionalizantes
com intuito de efetivar a multidisciplinaridade da atenção em saúde.

480
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Dispositivo Clínico do Espaço de Expressão: Trilhas Afetivas

Jackson Pereira Cardoso


Uilames Lazaro da Silva
Fernando Rodrigues
Rita de Cássia Maciazeki-Gomes
Universidade Federal do Rio Grande

Este trabalho tem como intenção apresentar as cartografias realizadas


nos dois anos do dispositivo clínico do Espaço de Expressão (EE). O
relato se justifica de modo a produzir novas pistas teórico-práticas sobre
as clínicas coletivas. O EE está vinculado ao curso de Psicologia e ao
Grupo de Estudos em Saúde Coletiva dos Ecossistemas Costeiros e
Marítimos (GESCEM), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Emerge em 2018, a partir do primeiro encontro do evento Saúde Mental
e Direitos Humanos: Produzindo Estratégias de Cuidado em Rede, que
teve como objetivo discutir e fortalecer as políticas públicas de Saúde
Mental, defendendo e demarcando um posicionamento ético-estético-
político do cuidado em liberdade. O EE foi desencadeado por uma
sugestão de um sujeito da vida, neste caso usuário dos serviços de
Saúde Mental do município de Rio Grande/RS, que relatou e convocou a
necessidade da criação de espaços comuns, de circulação e movimento,
para a troca de experiências mediadas pela arte, privilegiando a
multiplicidade dos encontros e dos acontecimentos inusitados.
Agenciados por tal provocação e apostando nos desvios, nas linhas de
fuga e na arte como possibilidade libertadora, estamos fazendo e
criando o EE, que se conduz através do lúdico, da criatividade e das
diversas formas de expressão. Os primeiros encontros aconteceram no
Centro de Convivência da Universidade, um local de circulação e
integração de diferentes pessoas de diferentes cursos, expandindo-se
para o prédio do curso de Psicologia e logo em seguida chegamos aos
locais de manifestações sociais, como o Setembro Amarelo, Novembro
Negro, primeira mateada LGBTQI+ da cidade, passeatas antifascistas e,

481
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mais adiante, em uma Unidade Básica de Saúde da Família. Embora


ensejemos algumas ideias norteadoras para as ações, nós nunca
sabemos quais pessoas vamos encontrar, quais coisas vão acontecer ou
que linha o dispositivo tomará, entramos em agenciamento com os
fluxos afetivos na imanência do momento. As ações deste dispositivo
produzem o imperativo de se colocar à disposição e se abrir ao encontro
com o outro, com o inusitado na produção de bons encontros. Neste
sentido, o EE se constitui como uma ação de extensão em construção,
aberta e flexível às demandas que emanam de cada encontro, sempre
fecundo, inusitado e rizomático. Agora, nesses tempos em que pululam
as pandemias, o EE tem sido instigado a pensar e produzir
experimentações e estratégias de cuidado coletivos/comunitários nos
meios virtuais, colocando novos problemas e demonstrando outras
possibilidades e potências afetivas. Entre os impactos deste dispositivo
podemos pontuar o efeito na formação de estudantes de Psicologia ao
proporcionar experiências clínicas mais horizontais que extrapolam o
setting tradicional, além de aliar discussões inter relacionadas com
outras áreas do conhecimento, compondo práticas interdisciplinares
com as Artes, Letras, Enfermagem, Educação Física e outras linhas e
traçados. São experiências que permitem repensar, a todo instante, qual
o lugar da Psicologia nos processos de cuidado coletivo, a partir de uma
perspectiva dialógica e agregadora, abrindo mão de protagonismos e
saberes hierarquizantes, auxiliando movimentos profícuos que
perpassam e subvertem os engessados muros acadêmicos em direção às
trilhas viscerais de afeto.

482
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Do direito ao CAPS ao direito a ficar em casa: reflexões a partir da


reorganização de um CAPS III na pandemia

Camila Ávila de Lima


Giovana Teles Jafelice
Adriana Carvalho Pinto
Prefeitura do Município de Jundiaí

Introdução: Diante da pandemia de COVID-19 desde março de 2020 no


Brasil, foram necessárias reorganizações na rotina de atendimento nos
CAPS. Os usuários, antes estimulados a frequentar o serviço a partir de
PTS para cuidado intensivo, foram bruscamente orientados a ficar em
casa, como medida principal de prevenção a COVID-19, o que colocou
diferentes questões sobre novas formas de cuidar em Saúde Mental;
Descrição da experiência: Assim como em diversos equipamentos do
país, foram feitas, dentre outras, mudanças no atendimento no CAPS III,
com a suspensão das oficinas, grupos terapêuticos e ambiência do
serviço, monitoramento telefônico dos atendimentos de referência
técnica quando possível, priorização de atendimentos individuais e
visitas domiciliares. Nesta apresentação, enfoca-se o cuidado dos
usuários que frequentavam o serviço em PTS intensivo, vinculados de
forma cotidiana à ambiência e oficinas e grupos terapêuticos, e a
reorganização possível no período da pandemia, no viés do direito a
ficar em casa. Muitos destes, pessoas cujas famílias também tinham
demandas de que frequentassem o serviço diariamente há anos, por
dificuldades de organização na rotina, além de quadros crônicos e
necessidade de socialização; Repercussões: Diferente do esperado
inicialmente pela equipe, a maioria destes usuários não entrou em crise
durante o período, não demandando suporte de hospitalidade noturna
no CAPS e/ou acompanhamento presencial intensivo. Ao contrário,
passaram por nova experiência de reorganização de sua forma de
existência, de ser e pertencer, não só ao espaço doméstico, mas
também às relações familiares. As famílias, por sua vez, também não

483
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

fizeram movimentos, habituais anteriormente, de solicitação das


atividades e do espaço do CAPS. De forma inédita, se organizaram
diante das limitações, o que nos convidou a pensar na importância do
CAPS como suporte simbólico do cuidado, para além de lugar físico, bem
como na figura da referência técnica como empréstimo do eu e eu
internalizado também à distância. A emergência dos CAPS no Brasil
significou concretamente o cuidado intensivo em saúde mental a quem
viveu anos de suas vidas dentro de instituições totais. Cumprindo sua
primeira função social, os CAPS intermediaram cuidado diário em
conjunto com as famílias. Muito usuários conquistaram o direito de “ir e
vir”, no entanto, em algumas situações, o cotidiano se limitava à
inserção diária prolongada no CAPS e a noite em casa, “para dormir”. A
emergência do COVID e a prescrição “fique em casa!”, permitiu, ainda
que em cenário adverso, que estes sujeitos pudessem habitar suas
moradias e conviver com suas famílias, o que trouxe novas experiências
e configurações, com conflitos, repercussões e vivências possíveis;
Considerações finais: A pandemia ainda não acabou, mas “o direito a
ficar em casa”, já produziu mudanças em muitos usuários e famílias
atendidos no CAPS. Espera-se poder repensar a retomada gradual das
atividades coletivas e a clínica do serviço a partir destes
reposicionamentos inéditos.

484
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Do Isolamento à Cogestão: a Gestão Autônoma da Medicação (GAM)


com Familiares

Letícia Maria Renault de Barros


Universidade de Coimbra

Introdução: Este trabalho trata da experiência do grupo GAM com


familiares de usuários de medicamentos psiquiátricos. A GAM (Gestão
Autônoma da Medicação) é uma abordagem canadense que discute de
forma crítica o uso da medicação psiquiátrica nos tratamentos em saúde
mental, de modo a fomentar a autonomia dos usuários desses
medicamentos. No Brasil, entendemos que, apesar de todos os avanços
da Reforma Psiquiátrica, o uso de medicamentos ainda é pouco
debatido. Frequentemente, os medicamentos ocupam o lugar central no
tratamento ou são até mesmo entendidos como a única forma de
tratamento disponível. Nesse cenário, os usuários têm baixa
participação e poucas possibilidades de escolha quanto ao uso (ou não)
desses medicamentos. Esse contexto configura um “ponto cego” da
Reforma Psiquiátrica. A GAM foi trazida ao Brasil para enfrentar esse
cenário e ser uma ferramenta de cogestão, promovendo a ampliação da
autonomia na relação com os medicamentos psiquiátricos. O “projeto
GAM-BR” realizou a tradução, adaptação e validação do instrumento
utilizado nessa abordagem (o Guia GAM) através de uma pesquisa-
intervenção participativa, realizada por universidades brasileiras em
parceria com Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Inicialmente no
projeto, realizamos grupos de intervenção (grupos GAM) com usuários
dos serviços, trabalhadores e universitários, sendo que todos os
participantes do grupo tinham o estatuto de pesquisadores.
Posteriormente, na fase de validação do Guia na Universidade Federal
Fluminense, passamos a realizar também grupos GAM com
trabalhadores, universitários e familiares de usuários – é essa
experiência, do grupo GAM com familiares, que gostaríamos de discutir
aqui.

485
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Descrição da experiência: Durante as primeiras etapas da pesquisa-


intervenção participativa, percebemos que os familiares desempenham
um papel chave na gestão dos medicamentos. Na maioria dos casos com
que lidamos, eles tinham uma participação fundamental nas decisões
ligadas aos medicamentos, cuidando dos horários das medicações,
buscando as prescrições nos serviços de saúde, medicando seus
parentes em momentos de crise… Além disso, os familiares tendiam a
experimentar muita angústia diante da proposta da GAM, por sentirem
que os medicamentos minimizavam a sensação de isolamento e temor
que sofriam diante de possíveis crises e das dificuldades no cuidado de
seus parentes (na maioria das vezes, seus filhos). Portanto, não nos foi
possível pensar (e transformar) a relação entre “autonomia” e “uso de
medicamentos” sem os familiares. Apesar do Guia GAM ser dirigido aos
usuários, decidimos em nossa pesquisa-intervenção trabalhá-lo também
com os familiares, criando um Grupo de Intervenção com os Familiares
(o GIF). No GIF, discutíamos o Guia adotando diferentes pontos de vista,
compartilhando vivências concretas.
Repercussões e considerações finais: Pretendemos discutir nesse
trabalho a experiência com o GIF e as compreensões que ele nos
proporcionou a respeito da ideia de autonomia e da participação dos
familiares na produção de saúde mental. O GIF permitiu que
entendêssemos a autonomia não como independência ou isolamento,
mas como autonomia coletiva e como ampliação das redes de cuidado
mútuo. O fomento à participação e à autonomia envolve também os
familiares, em uma dinâmica de expansão e de contágio criadora de
uma rede onde cuidar e ser cuidado são experiências inseparáveis.

486
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Do trabalho uniprofissional para o trabalho colaborativo:


desorganizado a psiquiatria para (re)organizar a saúde mental

Luciana Silvério Alleluia Higino da Silva


Cintia Moreira de Souza
Fernanda Fortini Macharet
Universidade Federal do Rio de Janeiro

O trabalho colaborativo em saúde surge como proposta para a


construção de um cuidado ampliado, singular e integral. O princípio da
integralidade no âmbito do SUS, presente na Lei 8.080/1990, constitui-
se como um norteador importante para a ampliação do olhar sobre o
complexo binômio saúde-doença. Compreende-se que qualquer
processo de adoecimento é marcado por inúmeras mediações,
individuais e coletivas, que exigem intervenções igualmente múltiplas,
pautadas em diferentes saberes e perspectivas profissionais. No campo
da saúde mental, em particular, tal exigência é ainda mais sensível, uma
vez que, historicamente, o saber psiquiátrico tradicional imprimiu - e, a
despeito das conquistas do Movimento de Reforma Psiquiátrica no
Brasil, segue imprimindo - uma visão hegemônica pautada
exclusivamente na doença, que desconsidera a complexidade dos
processos sociais que levam ao intenso sofrimento psíquico (BASAGLIA,
2008).
Objetivo: Relatar as vivências do trabalho em equipe como um
dispositivo para construção de um cuidado interprofissional e
multifacetado orientado pela centralidade nas diferentes formas de
existir que chegam aos serviços de saúde mental.
Metodologia: Estudo qualitativo estruturado como relato de
experiência, realizado no período de julho de 2019 a março de 2020.
Teve como fonte as discussões semanais entre profissionais (psicóloga,
assistente social, enfermeira e psiquiatra), residentes médicos e
residentes multiprofissionais da equipe de referência. Foram descritos
dois casos que tiveram acompanhamento por essa equipe em um

487
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

hospital psiquiátrico, mas que apresentaram condutas e reflexões bem


diferentes. Para análise utilizamos as fontes temáticas: trabalho
colaborativo e formação interprofissional.
Discussão: O primeiro relato de experiência diz respeito à Joana, usuária
de longo tempo de internação. Nele, é marcante a ausência de um
trabalho pautado na clínica do sujeito e da lógica do cuidado
compartilhado. São muitas as dificuldades para viabilizar sua saída da
instituição, dentre as quais destaca-se a da própria equipe, que, se por
vezes foi capaz de encaminhar um trabalho multiprofissional que obteve
algumas conquistas junto à usuária, noutros traz à tona a força da
psiquiatria tradicional ainda presente mesmo num contexto pós-
Reforma Psiquiátrica. É exemplo disso o início de sessões de
Eletroconvulsoterapia (ECT) na usuária, mesmo com a sua verbalização
de que "aquilo iria matá-la", sem nenhuma discussão coletiva, enquanto
decisão puramente médica.
Já o segundo relato de experiência se refere à Maria, de 61 anos, cuja
internação se deu por via judicial compulsória. Nesse caso, a equipe
compartilhou saberes e atuou numa direção única, o que possibilitou
negociações com a justiça e a articulação com serviço de saúde mental
de referência no território de moradia da usuária. O diálogo horizontal
entre a equipe, a escuta atenta aos anseios e temores de Maria e o
trabalho colaborativo em saúde possibilitaram um bom andamento do
caso, com ganhos efetivos para a usuária.
Considerações finais: Um trabalho de natureza colaborativa precisa ser
pensado e construído por diversas mãos. Deve incluir o usuário na
tomada de decisão,
articular com familiares, com a rede intersetorial e com a comunidade.
Sendo assim, é importante que haja debates e trocas de experiências
acerca deste modo de construir uma equipe interprofissional e
integrada.

488
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

DPE Itinerante - As Subjetividades na Gestação

Beatriz Andrade de Araújo


Mayra Ramos Barbosa da Silva
Cristina Valença Azevedo Mota
Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco

INTRODUÇÃO: O Projeto DPE Itinerante emergiu da necessidade de


fortalecimento das Políticas Estratégicas pelo desenvolvimento de ações
articuladas destinadas ao cuidado e acolhimento das populações em
estado de vulnerabilidade no atual contexto de contrarreforma da
saúde.
Nesse contexto, compreendemos que alguns segmentos da sociedade,
que encontram-se em estado de vulnerabilidade, são mais suscetíveis às
iniquidades em saúde do que outros grupos, como: a população Negra,
Quilombola, Indígena, LGBT, Criança e Adolescente, Idoso, Mulher,
Pessoas com Deficiência, População de Rua, Pessoas que fazem uso
danoso e dependência de álcool e outras drogas e com transtornos
mentais.
Por consequência, concebemos que práticas relacionadas a todas as
formas de preconceitos, ao racismo, às discriminações e invisibilidades
sociais se configuram como determinantes no processo saúde-doença. E
para tanto, é necessário repensar as diversas formas de cuidado e
acolhimento destinadas a essa população, de maneira a fomentar
impactos efetivos na situação de saúde.
Portanto, buscamos estimular a reflexão/transformação do processo de
trabalho por meio da mudança da abordagem individual e incorporação
da visão coletiva. Para atingir tal objetivo, elaboramos coletivamente, o
curso “DPE Itinerante – Caminhos de Formação”, destinado à
profissionais de saúde e gestores que atuem na Atenção Primária à
Saúde.
O curso versa sobre seis Linhas de Cuidado Transversais, a serem
trabalhadas de maneira processual e continuada junto às Gerências

489
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Regionais de Saúde: I Saúde da Criança e do Adolescente; II Saúde da


Mulher; III Saúde do Homem; IV Saúde do Idoso; V Saúde Mental; e VI
Saúde da População Privada de Liberdade.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A região piloto foi a II Região de Saúde,
com módulos descentralizados em três polos: Limoeiro, Surubim e
Carpina. O primeiro Módulo intitulado: As subjetividades na gestação,
reuniu 271 profissionais e gestores de saúde, durante o mês de outubro
de 2019.
A metodologia adotada foi a Metodologia Ativa de Ensino, que “(...) tem
uma concepção de educação crítico-reflexiva com base em estímulo no
processo ensino-aprendizagem, resultando em envolvimento por parte
do educando na busca pelo conhecimento” (MACEDO et al 2018, 9p.). A
matriz pedagógica do curso versa sobre os seguintes eixos
fundamentais: I. Determinantes Sociais de Saúde; II. Singularidades e
subjetividades das populações no território; III. Cenários do Pré-natal;
IV. Atenção Primária à Saúde enquanto Coordenadora do cuidado e
Ordenadora da Rede; V. Realidade do Pré-natal na APS; VI.
Planejamento do cuidado no pré-natal; VII. Avaliação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O As subjetividades na gestação, foi avaliada
em colegiada da equipe da Diretoria de Políticas Estratégicas SES-PE,
como atividade política, tendo em vista seu viés coletivo, crítico-refletivo
e emancipatório. Pôde-se perceber o impacto benéfico entre a
articulação dos profissionais da atenção e gestão, de diferentes esferas
de governo, na construção de um novo fazer em saúde, voltado à
qualificação e humanização do cuidado em rede. Em relação à
devolutiva dos profissionais ao final da avaliação, foi percebido de forma
massiva o reconhecimento da ação enquanto necessária e relevante no
cotidiano de atuação dos profissionais, também como iniciativa
propulsora na mudança do processo de trabalho em saúde.

490
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Drogas e trabalho: uma experiência de prevenção e cuidado na USP

Filipe Rebelo Buchmann


Julio Henrique Leite Fondora
Greice Cristina de Oliveira
Universidade de São Paulo - USP

Segundo o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela


População Brasileira, cuja coleta de dados ocorreu em 2015, 2,3 milhões
de brasileiros entre 12 e 65 anos apresentaram dependência de álcool
nos 12 meses anteriores à pesquisa, enquanto 1,2 milhão apresentaram
dependência de alguma substância, excetuando-se álcool ou tabaco. A
Organização Internacional do Trabalho relaciona o uso problemático de
álcool e outras drogas a problemas na vida laboral: faltas, atrasos, baixa
produtividade e aproximadamente 40% dos acidentes de trabalho. A
ONU reconhece a saúde e segurança no trabalho como um direito
humano fundamental. A Política Nacional de Drogas brasileira orienta
governos, empresas e instituições a realizarem ações de caráter
preventivo e educativo visando evitar problemas decorrentes do uso de
substâncias psicoativas e promover qualidade de vida e segurança no
trabalho.
O Programa de Acolhimento Relacionado ao Uso de Álcool e Outras
Drogas da Universidade de São Paulo (Acolhe USP), que oferece
assistência à comunidade universitária, notou em seus atendimentos a
heterogeneidade de modos das chefias manejarem situações-problema
relacionadas ao uso de substâncias. A ausência de diretrizes da
universidade que orientassem o encaminhamento de tais situações
produzia soluções personalistas ou guiadas pelo estigma em torno do
uso de drogas, que iam da condescendência à indicação para demissão.
Diante da demanda silenciada e dos limites da prática assistencial, o
Acolhe USP desenvolveu ações de prevenção, com destaque à
publicação da “Cartilha para chefias: falando sobre drogas e trabalho”,
que apresenta o tema ancorada em um paradigma antiproibicionista e

491
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

antimanicomial. Assim, aloca a discussão no campo da saúde,


desconstrói estereótipos e preconceitos sem que isso implique em
desresponsabilização, colabora na detecção precoce de problemas, e
recomenda a adoção prioritária de tratamentos ambulatoriais,
centrados na autonomia, necessidades e contexto de quem procura
ajuda. Após a distribuição do material a todas as chefias e a funcionários
de recursos humanos, foram realizadas 29 oficinas e treinamentos em
diversas unidades da USP, totalizando 680 participantes.
Considerando-se as características populacionais e geográficas da
universidade, essas ações permitiram maior alcance ao serviço, expresso
pelo aumento na busca por orientações, no número de
encaminhamentos recebidos e convites para outras atividades de
prevenção, consolidando essa frente de trabalho. Ademais, a interação
com diferentes unidades da USP permitiu à equipe apreender suas
particularidades, subsidiando o desenvolvimento mais qualificado das
ações e fortalecendo o trabalho em rede. Ainda assim, é preciso ampliar
a capilaridade dessas ações e sistematizá-las, com adequada elaboração,
implementação, monitoramento e avaliação.
A Cartilha e seus desdobramentos apontam principalmente que a
escolha individual do trabalhador pelo uso de substâncias não deve ser
motivo para a universidade se furtar a cumprir seu papel nos cuidados à
saúde. Assim, contribuem na construção de um paradigma
antiproibicionista e antimanicomial na lida da universidade com a
temática álcool e outras drogas, cuja efetivação demanda a criação de
uma política institucional que favoreça ações intersetoriais mais
abrangentes, coordenadas e perenes, extirpando o assunto da
clandestinidade e gerando maior clareza e uniformidade de condutas,
produzindo saúde em consonância com os direitos humanos.

492
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Drogas x Encarceramento: Um Debate a partir dos Diretos Humanos

Roberta Rodrigues
Faculdade D

O relato de experiência se baseia no Projeto de Ressocialização


desenvolvido na
Penitenciária Doutor Ênio Pessoa Guerra, no Agreste Pernambucano, no
período entre 2010 e 2016, após várias inquietações da prática como
assistente social. Inicialmente, foi encontrado um número elevado de
reeducandos usuários de drogas licitas e ilícitas e um discurso
proibicionista e estigmatizante, que reforça, o papel do Estado, por meio
de suas leis próprias, proibir determinadas substâncias e reprimir seu
consumo comercialização (objeto de controle social) que seriam
combatidos pela força. Os pontos principais abordados no projeto foram
a questão social das drogas e como alcançar uma proposta de
ressocialização a partir da perspectiva da humanização. Para tanto, foi
realizado um mapeamento da população carcerária, dos quais se
destacavam dentre as outras demandas, os usuários de drogas, homens
jovens, em sua maioria, negros, pobres, baixa escolaridade e sem
oportunidade de acesso, dos quais a criminalização do consumo, dentre
outros fatores, levou ao encarceramento. O projeto foi se
desenvolvendo na busca de consolidar os objetivos propostos, de
redução de danos pelo uso de drogas e a preparação para a liberdade
após cumprimento de pena; oportunizando condições de acolhimento e
socialização, escuta das necessidades, acompanhamento individual,
atendimento a família, dentre outros. Além disso, foi potencializado
articulações com a rede de serviços existentes na unidade prisional e
com outras instituições extra muros, para acesso às políticas públicas, à
assistência médica e dentária, assistência social, educação, jurídico e
laborterapia. Ressaltamos, que tais reeducandos por serem duplamente
“marginalizados” (pelo crime e por ser usuários de drogas) o acesso aos
direitos eram restritos. Fundamentado no Plano Nacional de

493
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Enfrentamento aos Crack e outras Drogas, Decreto N 7.79 de 20 de maio


de 2010, na Política Nacional de Drogas e na Lei de Execuções Penais
(LEP - n.º 7.210 de 11/07/84), levantamos uma crítica a esta lógica para
o desmascaramento do discurso proibicionista, a partir da
desconstrução desta lógica é que se poderá pensar em uma
aproximação entre a política de drogas e os direitos humanos.
Transformar o grupo em vivência coletiva, na medida em que busca
compreender um “problema” comum, o uso de drogas, a redução de
danos é o que favorece e fortalece a prática. Ressaltamos, que não é
fácil, implementar práticas humanizadas, democráticas, até então pouco
visualizadas, em um local ideologicamente “repressor e punitivo”, com
tendência a verticalização das relações de poder. Sabemos que no
campo da dependência química/saúde mental, como as desigualdades,
o racismo, estigmas perpassam nesse âmbito e são reforçadas quando
falamos em Sistema Penitenciário. Desta forma, a efetivação do projeto
e sua ampliação sempre foi um desafio para o Serviço Social, os
enfrentamentos foram e continuam sendo grandes, mas continuaremos
acreditando nas transformações dos sujeitos, no resgate das
identidades, na autonomia e na garantia dos Direitos Humanos.

494
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Educação Permanente Durante o Processo de Trabalho e


Interdisciplinaridade nas Reuniões Clínicas

Eloina Angela Torres Nunes


Andressa Mendes Salles de Gusmão
Crisian Rafaelle Morais de Souza
Caroline Lima de Assis
Flávio Romero de Almeida Junior
Theresa Priscilla Calado de Barros Gonçalves
Secretaria de Saúde do Paulista

Introdução: A proposta atual do Movimento da Reforma Psiquiátrica, no


Brasil, caminha rumo à reinserção social dos usuários dos serviços de
saúde mental. Esse movimento busca tanto superar as condições dos
internos cronificados como transformar os modelos de assistência, nos
diferentes espaços da sociedade. Um desses serviços é o CAPS. Este é
configurado como um serviço comunitário, ambulatorial e regionalizado,
que pretende trabalhar como um articulador de rede. Isto é, permite a
intersetorialidade, aproximando a saúde mental da coletiva, se
constituindo como um campo interdisciplinar de saberes e práticas, em
que se constrói uma rede de cuidados e de atenção na saúde mental,
permitindo a inclusão social dos pacientes. A presença de múltiplos
profissionais é realidade cada vez mais concreta no cotidiano dos
serviços de saúde e, no fundo, remete ao processo de parcelamento do
trabalho em múltiplos compartimentos, funções e profissões. Com a
educação permanente acrescenta de forma a refletir sobre os subsídios
que sustentam o exercício profissional no campo da saúde mental.
Descrição da Experiência: No dia a dia dos serviços de Saúde, a demanda
pela interdisciplinaridade confronta-se continuamente com tais
questões, gerando implicações importantes para a organização do
trabalho, como na difícil demarcação de fronteiras. Em meio a esse
cenário, a proposta da nossa equipe interdisciplinar foi criar educação
permanente semanais, de temas e áreas diversas, que a Saúde Mental

495
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

esteja inserida. Todo início de reunião clínica e inserido o tema


escolhido na reunião anterior, bem como o profissional queira conduzir,
gerando roda de conversa e debates.
Repercussões: Os cuidados com a saúde mental são fundamentais para
a qualidade de vida e para a prevenção de doenças. Com a metodologia
inserida, conseguimos unir a equipe, tirar dúvidas, gerar debates, bem
como criar projetos e ideias para se tornar necessário para uma
existência saudável, ativa e potente da equipe. Tanto em relação às
emoções, quanto ao nosso cognitivo.
Considerações Finais: A trajetória aqui apresentada, de percurso de uma
ação profissional, motiva para a busca por conhecimentos de um jeito
diferente de praticar o cuidado em saúde mental. Nesta perspectiva, a
educação permanente, contribuí para assegurar a assistência e resgatar
o trabalho em equipe. De acordo com os relatos, os conteúdos
abordados, traz grande importância para a manutenção da assistência
prestada, bem como conhecimento em diversas áreas.

496
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Educação permanente em saúde mental:


um diálogo com a atenção básica

Kísia Cristina de Oliveira e Melo


Luana Nagly Cordeiro
Tatiana Enoy Batista de Lima
CAPS

Rodrigo Jácob Moreira de Freitas


UERN

Sâmara Fontes Fernandes


FACEP

Caio Molina Manfredi

Introdução: O trabalho em saúde requer constante reflexão e


aprimoramento das práticas, o que pode ser alcançado através da
participação dos trabalhadores da área da saúde em estratégias
educativas que promovam a capacitação profissional. O Ministério da
Saúde aprovou em 2003 a Política Nacional de Educação Permanente
em Saúde que visa proporcionar a educação dos trabalhadores da saúde
a partir problematização do processo de trabalho. Descrição da
experiência: A experiência aconteceu no município de Assú/Rio Grande
do Norte, entre os meses de maio de 2017 a setembro de 2018. Os
encontros foram semanais e aconteceram em 18 Unidades Básicas de
Saúde (UBS), com pelo menos 03 momentos em cada. O público era
composto por enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos,
dentistas, agentes comunitários de saúde. Os norteadores da Educação
Permanente foram os profissionais do Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), enfermeiro, psicólogo, assistente social e psiquiatra. O espaço
de diálogo era a própria UBS onde aconteciam as rodas de conversas
entre as equipes CAPS e UBS. Os temas discutidos foram: Entendendo a

497
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

rede de atenção psicossocial; Estudo de caso dos principais transtornos


mentais; Estratégias de cuidado em saúde mental; manejo terapêutico
do paciente em sofrimento psíquico. Repercussões: Com essa
experiência foi possível: conhecer a realidade dos territórios;
estabelecer parceria-vínculo entre as equipes; identificação de casos de
transtorno mental graves para intervenção mais rápida;
compartilhamento dos casos de transtorno mental leve na Atenção
Básica; maior participação, apoio e responsabilização da UBS na
assistência em saúde mental; elaboração e prática de construção do
projeto terapêutico singular; visita domiciliar conjunta; interconsulta e
contato a distância. Considerações finais: A partir das discussões foi
possível que os profissionais resinificassem suas práticas em saúde
mental, através de respostas construídas a partir da reflexão em cada
espaço de trabalho. Percebe-se a necessidade de continuar o processo
de Educação Permanente para maior qualificação dos profissionais
sobre saúde mental, contribuindo assim com mudanças e melhorias do
processo de trabalho.

498
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Educação Permanente em Saúde nas Redes de Atenção Psicossocial de


Minas Gerais: uma experiência comprometida com a sustentação do
cuidado em liberdade

Ana Regina Machado


Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais

Ana Carolina Macedo de Araújo Rocha


Superintendência Regional de Saúde de Barbacena/MG
Juliana Ávila Teixeira
Lírica Salluz Mattos Pereira
Viviane de Souza Maciel Almeida
Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais

Rodrigo Chaves Nogueira


Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais

Introdução: A compreensão de que a educação permanente em saúde


pode contribuir para a afirmação da lógica de atenção psicossocial e
para a qualificação do cuidado em saúde mental, por meio da criação de
espaços coletivos de reflexões sobre as práticas, permitiu que a
Diretoria de Saúde Mental, Álcool e Drogas (DSMAD) da Secretaria de
Estado de Saúde de Minas Gerais (SES MG) e a Escola de Saúde Pública
do Estado de Minas Gerais (ESP MG) realizassem a Oficina sobre a
Integralidade do Cuidado em Saúde Mental para trabalhadores dos 51
municípios da Macrorregião de Saúde Centro Sul de Minas Gerais.
Descrição da Experiência: A Oficina foi construída a partir de um
encontro com trabalhadores de diferentes municípios da região,
realizado em Barbacena/ MG, em agosto de 2019, mediado por
trabalhadores da SES MG e da ESP MG, quando foram levantadas as
necessidades de formação e os temas que deveriam ser abordados na
Oficina, dentre eles: cuidado e gestão na Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS), atenção às situações de crise, cuidado na atenção primária à

499
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde, cuidado às pessoas com problemas decorrentes do uso de


drogas, cuidado à criança e adolescente, participação de usuários e
familiares na produção do cuidado, medicalização da vida e
judicialização da atenção. A Oficina foi realizada entre outubro e
dezembro de 2019, em três encontros presenciais mensais (16 horas
cada) com aulas expositivas dialogadas, compartilhamento de
experiências das RAPS da região, discussões sobre o cotidiano dos
serviços e a condução de casos. A Oficina contou com a participação de
51 alunos e 20 expositores/mediadores (trabalhadores da SES MG, ESP
MG, de municípios da região e também de Betim, Ribeirão das Neves e
Belo Horizonte, além de usuários da RAPS).
Repercussões: A realização da oficina no território dos participantes e a
construção coletiva dos temas a serem abordados permitiram a
consideração de dificuldades até então pouco consideradas no campo
da gestão e da formação. A oficina propiciou diálogos sobre as práticas
na RAPS, a partir da problematização do recurso à internação
psiquiátrica e da afirmação da possibilidade do cuidado em liberdade.
Privilegiou o compartilhamento de práticas e a construção de saídas
para os desafios do cuidado no território, sobretudo em municípios de
pequeno porte onde, muitas vezes, os trabalhadores atuam de maneira
solitária. Favoreceu a construção de redes solidárias entre os
participantes e a produção de modos de continuidade de práticas de
educação permanente em saúde na região.
Considerações finais: A Oficina, construída a partir da parceria entre
instituições de gestão e formação, foi atravessada por princípios da
Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e pela concepção político-
pedagógica da educação permanente em saúde. Deu visibilidade a
diferentes desafios das RAPS de Minas. Proporcionou diálogos,
aprendizados, trocas solidárias e construção de redes. A ação formativa
favoreceu a sustentação do cuidado em liberdade de pessoas com
sofrimento mental grave e/ou com problemas decorrentes do uso de
drogas e a produção cotidiana, nas práticas da RAPS, de modos de
resistência aos retrocessos das políticas de saúde mental.

500
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Educomunicação como prática em Instituições de Saúde Mental

Samuel Rodrigues Rabay


Independente

Este relato parte de uma vivência de cerca de dois anos atuando com
práticas educomunicativas em um hospital psiquiátrico do interior do
estado de São Paulo. Uma instituição pública, com cerca de 100 leitos
para internações e 40 “moradores” (alguns se encontram
institucionalizados há mais de 20 anos). De acordo com Ismar Soares de
Oliveira (2011), projetos educomunicativos que se aproximam de
práticas arte-educação fomentam ecossistemas comunicativos mais
potentes, a partir de um aumento na expressividade e no protagonismo
dos participantes. O projeto em questão, envolvia musicalização,
performance, improviso e mídias digitais para promover a autoestima, o
bem-estar e o protagonismo dos clientes. Serão abordados no relato,
além do cotidiano na instituição e uma retrospectiva breve de sua
história, práticas educomunicativas artemidiáticas, desenvolvidas com
os clientes e a experiência do único programa de rádio gravado dentro
um Hospital Psiquiátrico no Brasil e transmitido via FM, durante o ano
de 2019. Além de abordar as práticas e os registros artemidiáticos
produzidos com os usuários, a ideia é propor uma breve reflexão sobre a
situação atual da Reforma Psiquiátrica, atentando para o grande
número de leitos ainda existentes em instituições. Os registros e as
vivências que serão abordados durante o relato, são documentos de
uma situação crítica, retrógrada e real. A conversa propõe um
questionamento sobre a necessidade de um olhar mais atento e afetivo
com relação às pessoas que ainda se encontram nesse tipo de espaço e
sobre como a degradação e precarização do espaço institucional em vias
fechamento pode acabar prejudicando aqueles que deveriam ser o foco
da luta antimanicomial: seus frequentadores. Não se trata de uma
proposta de manutenção do modelo, porém de reforçar a importância

501
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

do amparo aos que infelizmente ainda se encontram nessa situação e de


pensar a Educomunicação como aliada nesse processo.

502
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Em defesa dos CAPS: Reflexões e resistências entrelaçados na arte

Marcos Paulo Costa Lima


Ana Cláudia Pithan Faleiro
Samuel Freire Furtado
Universidade do Estado do Pará – UEPA

Ana Cristina da Silva Bezerra


Fabrício Eduardo Rodrigues Duarte
Ingrid Bergma da Silva Oliveira
Terezinha de Jesus Moraes Cordeiro
SESPA

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um dos pontos


da linha de cuidado de base comunitária na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS), e também é um dos cenários de vivência e
aprendizagem do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção
à Saúde Mental. O tratar na psiquiatria já fora, em sua grande parte,
intolerante perante os acometidos por sofrimento psíquico
(RODRIGUES, 2001), a supressão da liberdade é um grande exemplo
disto. Entretanto, a luta e resistência relacionada ao âmbito da saúde
mental no Brasil através de seus diversos atores constrói e defende as
potencialidades que o CAPS pode exercer no território, incluindo o
intermédio da arte para a construção de respostas eficazes na política
de atenção em saúde integral reivindicadas pelas lutas contra posturas
manicomiais, e que está de acordo com Cooper (1989), ao considerar a
complexidade das relações familiares e sociais, as quais podem levar ao
adoecimento psíquico, aponta a importância de criar e investir cada vez
mais em intervenções inseridas na comunidade. Descrição da
experiência: O programa de residência em saúde mental, possibilitou
que pudéssemos vivenciar profissionalmente locais não
hospitalocêntricos, permitindo uma vivência mais humanizada, em
defesa da garantia da dignidade dos usuários e da arte, inserindo-se nas

503
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

propostas de intervenção demandadas pela centralidade no sujeito. As


intervenções psicossociais no campo da Arte demarcaram a resistência
na RAPS e um cuidado com aporte cultural e comunitário. No CAPS
Renascer em Belém - PA, existem diversos grupos terapêuticos, oficinas,
Grupos de Referência Técnica (GRT) entre outros, em que a resistência
se apresenta como um levante constante da luta antimanicomial, da luta
por direitos e contra o preconceito vivenciado pelos usuários/as. Em
grande parte, são relatos não verbais, os usuários se identificam com as
expressões e vivem a arte como um amuleto dentro e fora do CAPS.
Relatos por eles expressados através da poesia, da música, do pintar, do
brincar, do produzir, dos atos multiculturais, do lambe-lambe, do
escutar o amigo. Vivenciamos alguns debates acerca das lutas,
reivindicações em prol da cogestão dos serviços, visando melhorias no
atendimento e para demais condições de inclusão nas políticas públicas.
Repercussões: O cuidado e o zelo para com os usuários do serviço
oferecido em saúde mental são notórios na equipe. E esta percepção é
tomada como uma iniciativa para autocríticas, quanto ao cuidar para
com o usuário, quanto aos processos de trabalho, ao trabalho em
equipe, possibilitando mudanças positivas no cuidar dos usuários, um
olhar mais horizontalizado, humanizado, sugerindo o lugar de destaque
ao usuário no tratamento, ao invés de tratar a doença. E a arte é uma
ferramenta simples e mágica, que utiliza da criatividade como
catalisador, que abraça tudo e todos, que pode estar sendo inserida no
projeto terapêutico singular dos usuários como estratégia na
organização do cuidado nos serviços de saúde mental. Considerações
finais: O serviço em saúde mental é desafiante, pois como profissionais,
é preciso moldar-se diariamente às demandas, estando em constante
mudança ouvindo o usuário, aprimorando o cuidado, incorporando
técnicas e assim tecendo uma RAPS melhor.

504
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

eNASF Maceió na perspectiva de melhoria de vida para jovens e idosos


usando ferramentas tecnológicas.

José Oseas de Oliveira Filho


SMS

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência da efetivação


do Projeto de Inclusão Digital para jovem e Idosos que envolvem o uso
de tecnologias digitais, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde
de Maceió (SMS) junto com as equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da
Família (eNASF), em parceria com a Estratégia Saúde da Família (ESF) e
Instituição do Ensino Superior (IES), em que foi realizado no período de
abril a outubro de 2018. O objetivo do projeto foi promover a inclusão
digital de jovens e idosos, contribuindo para a sua inserção social,
desenvolvendo um modelo de capacitação em tecnologia digital para
apoiar seu aprendizado, interação e autonomia. Além das aulas de
informáticas, a equipe do NASF foi acompanhou os idosos,
semanalmente, identificando as necessidades, riscos de saúde e
vulnerabilidade social, viabilizando articulações, matriciamento e
mensalmente desenvolvidos ações de educação em saúde, articulando a
prática interativa com a tecnologia. A equipe realizou várias atividades
como: oficinas de memórias, avaliações de saúde e nutricionais,
avaliações socioeconômicas, direitos dos idosos e adolescentes,
prevenções de quedas, palestras de empreendedorismo, robótica com
material reciclado, ferramentas do Google Education, desenvolvimento
e uso de Aplicativos, curso de reciclagem, como se comportar em
entrevista de emprego e etc...O projeto contribuiu na capacitação de
idoso para utilização de recursos informatizados, além de sua
sociabilidade, fortalecimento de vinculo, interação com a família, na
atualização da linguagem e na comunicação moderna com o mundo. Os
resultados evidenciaram que o acesso à internet possibilita aos jovens o
desenvolvimento de habilidades adquiridas, com maior liberdade e
menos imposição. Já os idosos dependem da ajuda para se comunicar

505
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

utilizando as novas linguagens e tecnologias digitais. Os jovens


afirmaram que se sentem incluídos digitais, utilizam as redes sociais e
interagem com diferentes pessoas. Os idosos acreditam que, apesar de
se sentirem excluídos digitais, desenvolvem habilidades necessárias à
sua inclusão.

506
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Enfermeira Residente Frente ao Procedimento de Acolhimento de


Usuários na Pós Covid-19 em um Centro De Atenção Psicossocial:
relato de experiência

Carla Emanuela Xavier Silva


Adriana Brandão Ribeiro
Maria Silvia da Costa Silva
Raissa dos Santos Flexa
José Luis da Cunha Pena
Verônica Batista Cambraia Favacho
Universidade Federal do Amapá

Orlando Garcia Nascimento


Universidade Federal do Mato Grosso

Introdução: os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS) são


responsáveis por oferecer atendimento às pessoas com transtornos
mentais graves e/ou persistentes e às pessoas com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Dentre os
dispositivos pertinentes a esse serviço, encontra-se o Acolhimento, que
pode ser definido como uma ferramenta de intervenção relativa à
qualificação da escuta e da construção de vínculo, apresentando como
uma de suas finalidades a de garantir o acesso ao usuário com
responsabilização e resolutividade. Descrição da experiência: o presente
estudo relata a experiência de uma enfermeira residente do Programa
de Residência Multiprofissional da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP), da área de concentração de Enfermagem em Saúde Mental
durante estágio obrigatório no CAPS III da cidade de Macapá-AP diante
dos acolhimentos que ocorreram no período de 01 de julho a 28 de
setembro do ano de 2020 e que apresentaram como característica
principal usuários em fase pós COVID-19, que desenvolveram apenas a
forma leve da doença e que não apresentavam, até então, história
psiquiatra pregressa. Observou-se nesses usuários a manifestação de

507
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

alguns sinais e sintomas em comum, como a dificuldade para iniciar e


manter o sono, ideação suicida, sintomas ansiosos (palpitação e
dispneia), intenso medo de morrer, irritabilidade, agressividade e
dificuldade para retornar às atividades de rotina. Repercussões: após o
diálogo de orientação realizado pela enfermeira residente, os casos
mencionados foram encaminhados para avaliação da equipe
interdisciplinar e multiprofissional do serviço, para posteriormente
consulta com especialista psiquiatra, acompanhamento psicológico e
participação nas oficinas terapêuticas. Considerações finais: nota-se que
os referidos usuários, os quais desenvolveram a forma leve da COVID-19
apresentaram modificações de comportamento por este isolamento
social e até pelo não funcionamento pleno do CAPS, suporte profissional
dispensado pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), local onde os
mesmos realizam a canalização de suas angústias e ansiedades.

508
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Enfrentamento ao racismo: A escola como promotora de saúde mental

Yasmim Nascimento de Oliveira


Khalil da Costa Silva
Dalila Xavier de França
UFS

O objetivo do trabalho foi intervir numa escola pública de Aracaju-Se,


apresentando estratégias de enfrentamento ao racismo. Uma vez que o
racismo representa um grave problema estrutural da sociedade
brasileira e que a escola representa um espaço institucional capaz de
promover a saúde psíquica, tanto a nível da autoestima como a nível da
integração social, esta intervenção procurou conscientizar os alunos
acerca do valor individual e grupal com base na diversidade étnica e
racial, estimular a autoestima e auto aceitação e promover o respeito e
a solidariedade entre os diferentes grupos que constituem a sociedade.
Trabalhamos com alunos do ensino fundamental, com idades entre 5 e
15 anos. As atividades envolveram três temáticas: 1) Auto aceitação:
valorização positiva da identidade social; 2) Tolerância racial e religiosa:
Reconhecimento das diferenças e respeito à diversidade; 3)
Solidariedade: Desenvolver atitudes positivas pelos diferentes grupos. A
primeira atividade explorou a categorização dos grupos raciais. Para
tanto, avaliamos se as crianças identificavam- se e autodeclaravam-se
com relação à sua cor/raça. Na segunda atividade, foi trabalhada a
valorização da beleza e da cor negra, por meio de atividades lúdicas, nas
quais foram exibidas imagens de celebridades, intelectuais e crianças (as
mesmas da atividade anterior) negros e negras, exaltamos suas
qualidades e sua beleza, e depois, foi pedido que as crianças se
desenhassem e falassem sobre suas próprias qualidades. Na terceira
atividade, trabalhamos a cultura africana. Foi conversado e discutido,
juntamente com os alunos, a nossa herança africana, dada a
colonização, e quantas riquezas culturais os africanos trouxeram para o
Brasil. Na primeira atividade, a maioria das crianças identificaram-se de

509
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

acordo com sua cor, autodeclarando-se pardas. Muitos negros (pretos e


pardos) não se autodeclaram “negros”. A maioria dos pretos declarou-se
“moreno” e a maioria dos pardos declarou-se “pardo” ou “moreno”. Os
resultados da segunda e terceira atividades foram coletados através do
depoimento das próprias crianças. As falas circundavam em torno de
“Aprendi a respeitar os negros”, “Aprendi que não pode ter racismo com
os outros”, “Sendo branca, sendo negra, eu sou bonita”, “To me
sentindo bem comigo mesma agora, eu me sinto mais bonita”. Diante
dessa experiência, verificamos o papel da psicologia na promoção da
saúde mental de crianças e adolescentes negros. Sendo o racismo
danoso e polêmico, na Extensão foi possível discutir e elucidar aspectos
individuais e das interações coletivas importantes para a saúde mental
dos alunos, assim como assistir às crianças no enfrentamento das
dificuldades nessa esfera. Em contrapartida, mencionamos como
desafios nessa prática a grande quantidade de turmas e o tempo
necessário para firmar vínculos afetivos necessários ao estabelecimento
de confiança. Considerando os prejuízos emocionais e cognitivos do
racismo na vida das crianças - como baixa autoestima e autoeficácia-,
percebe-se a instituição escolar como potencial promotora da saúde
mental, a partir de diversas estratégias, tais como as atividades
apresentadas aqui. Concluiu-se que a intervenção da escola na
promoção da saúde mental de seus alunos negros é fundamental por
fortalecer crianças que sofrem por serem vítimas de uma sociedade
construída sob a égide do racismo.

510
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Enlaçando Descobertas

Ana Paula Rabello Soares


Bianca Giacomel Viero

O relato de experiência que discorreremos é referente ao trabalho em


uma oficina terapêutica de uma clínica de estudos e prática em
psicanálise. A clínica chama-se TOPOS e organiza-se via associação de
psicanalistas que atendem individualmente e em grupo sujeitos de
contexto de vulnerabilidade social, fundada em 1989. A oficina que
trabalhamos foi nomeada como Enlaçando Descobertas, iniciou suas
atividades em 2012 e é ministrada por duas psicólogas em formação
continuada em psicanálise, que trocam as horas de trabalho pelos
estudos da formação. Nesse grupo há ainda uma paciente de outra
oficina que auxilia na organização do espaço da oficina.
Enlaçando Descobertas é uma oficina heterogênea em relação às
necessidades dos sujeitos que a frequenta, contudo, estas pessoas têm
em comum o fato de serem todos adultos com prejuízo cognitivo e em
expressar-se nas relações com o mundo externo, dependentes de
cuidadores nas atividades de vida diária e a maioria deles não anda
sozinho pela cidade. Do grupo com dez pessoas, duas são surdas e uma
é deficiente auditiva moderada, algumas pessoas têm síndromes
congênitas. Os sujeitos da oficina a frequentam assiduamente e estão
ligados afetivamente, reconhecendo-se como pares. Todos têm apreço
pelo café da tarde que está instituído e é compartilhado entre todos. A
mãe de uma participante traz o pão caseiro semanalmente, essa mãe
fica presente na sala de oficina junto à filha.
A partir desta breve contextualização é possível discorrer a respeito de
uma intervenção e seus efeitos. Diante da necessidade que sentimos de
fazer os sujeitos da oficina falar sobre seus interesses e se colocar na
relação com o outro como sujeito falante e desejante, iniciamos com a
pergunta a respeito do que gostariam de comer no café da tarde. A
partir desse questionamento, buscamos realizar diferentes receitas:

511
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

bolos, pizzas, pastéis, chás, sucos, entre outros, conforme os


participantes iam se autorizando a falar de suas comidas preferidas. E
para tanto, juntos, procurávamos as receitas na internet, criávamos
listas de compras e frequentávamos mercados e lojas da cidade.
Extravasamos as paredes institucionais da clínica. A mãe da jovem
adulta que faz o pão da tarde, sempre pedia que andássemos de mãos
dadas com a sua filha, com o medo que ela pudesse se perder.
Progressivamente Manuela parou de pedir a mão para andar nas ruas e
nós não percebemos a necessidade de andar de mãos dadas.
Provavelmente, fora do espaço de oficina, lugar onde fica a sua mãe, ela
pode deixar de ser a filha que corre risco de se perder, ao perder o olhar
da mãe.
Certa vez, fomos ao shopping fazer o lanche da tarde, todos fizeram
seus pedidos e pagaram com seu dinheiro. Helena, que no início das
saídas, no momento de pagar a conta no mercado negava-se e
entregava a uma das psicólogas para fazer a ponte da relação com o
caixa, na vez do shopping, já havia gasto quase todo seu dinheiro, e com
menos de R$2,00 negociou sozinha uma casquinha de sorvete com uma
operadora de caixa, distante do nosso olhar.

512
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

ENLOUCRESCENDO: Cuidados psicossociais em territórios virtuais

Raimundo Cirilo de Sousa Neto


Caio Lucas do Carmo Prado
Sarah Rabelo Cavalcante
Adriana Jales Lacerda Feitosa
Mariana Tavares Cavalcanti Liberato
Universidade Federal do Ceará – UFC

Magda Ferreira Mendes


Centro de Atenção Psicossocial Geral CORES IV

Devido ao estado de pandemia global de COVID-19, decretada pela


Organização Mundial da Saúde (OMS), governos estaduais e municipais
brasileiros aderiram ao regime de isolamento/distanciamento social.
Frente a isso, as atividades presenciais de extensões universitárias em
instituições de saúde planejadas para o anos de 2020, foram suspensas
em respeito e atenção a tais posturas. Urge, então, a necessidade de
reinvenção para sustentar práticas de cuidado não restritas ao
paradigma biomédico, portanto, aliadas com as artes e desenhadas em
novos territórios, haja vista a inviabilidade de circulação e aglomerações
nas instituições. Também foi necessária uma adaptação e reelaboração
das movimentações e lutas políticas em torno dos movimentos
antimanicomiais nesse contexto. Dadas essa conjuntura sanitária e para
dar conta dessas demandas, foi desenvolvida mais uma ação de
extensão pela parceria entre o Programa de Extensão PASÁRGADA:
Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos e o Programa de
Educação Tutorial (PET) Psicologia, vinculados ao Departamento de
Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus Fortaleza,
com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral gerido pela
Coordenadoria Regional de Saúde IV (CORES IV) de Fortaleza. Após
encontros de planejamento para avaliação das possibilidades e a
viabilidade de manutenção e adequação de atividades por meio de

513
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

plataformas virtuais, surge o projeto “Enloucrescendo: cuidados em


outros territórios” - nomeado e idealizado principalmente por um dos
usuários, que é presidente do Conselho Local de Saúde deste CAPS -,
uma adaptação de outra ação já existente nessa parceria, o Palco
Aberto, onde usuários, familiares, profissionais e toda a comunidade
podiam realizar, no pátio da instituição, apresentações artísticas nas
mais diversas linguagens. Após negociações com a coordenação e a
equipe do serviço, usuários, profissionais e familiares do CAPS foram
convidados a expor, desta vez virtualmente, suas produções artísticas,
sejam elas cênicas, literárias e/ou plásticas, por meio de fotos, vídeos e
áudios. As produções eram enviadas via WhatsApp, junto com um termo
que autorizava a veiculação destas em redes sociais e nas plataformas
utilizadas para as publicações, o Instagram e o YouTube. As postagens
diárias foram iniciadas no dia 18 de maio, Dia Nacional da Luta
Antimanicomial - movimento que também animou o projeto desde o
início - e aconteceram até o término do mês de maio de 2020. Para a
concretude da exposição virtual, as obras de arte recebidas passaram
por curadoria coletiva dos proponentes da ação, utilizando, tanto a
comunicação constante com os artistas, quanto os objetivos e a função
social do projeto como norteadores para a construção do cronograma
de publicações. Como o próprio nome do projeto indica, buscou-se
experimentar a construção de um novo território para a produção de
cuidado em saúde mental entre os usuários, familiares, profissionais,
extensionistas e público geral, fazendo circular as intensidades e
sensações evocadas pelas obras de arte produzidas, amenizando a
distância que o distanciamento social nos impôs, produzindo novos
modos de territorializar o cuidado psicossocial e dando vazão aos fluxos
desejantes que atravessam e constituem as subjetividades.

514
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Ensinando e aprendendo na RAPS: Relato de experiência de um estágio


em Saúde Mental realizado em serviços residenciais terapêuticos

Gelberton Vieira Rodrigues


Universidade de Sorocaba - UNISO

Este relato de experiências trata-se do ponto de vista de um supervisor


de estágios atuando no campo da saúde mental com alunas e alunos
durante dois semestres do 4º ano do curso de Psicologia da
Universidade Paulista de Sorocaba/SP, no ano de 2019. Professor e
estagiárias(os) atuaram em nove serviços residenciais terapêuticos
buscando sobretudo promover autonomia aos egressos de hospitais
psiquiátricos que moram nessas casas, sendo estas, portanto, pontos
cruciais dentro da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e do grande
processo de desinstitucionalização ocorrido na região de Sorocaba/SP. O
estágio em si tem como objetivos principais ensinar o funcionamento da
RAPS no Brasil e inserir alunos e alunas, através de uma perspectiva
psicanalítica e crítica, no campo da saúde mental. É desafiador ensinar
uma perspectiva crítica e antimanicomial frente aos transtornos
mentais, mas, buscar subsídios em uma educação horizontal, cujo motor
são os afetos, se mostrou uma estratégia profícua para o processo de
ensino e aprendizagem em questão. As intervenções nas casas eram
realizadas a partir de oficinas terapêuticas, que são espaços de liberdade
criativa e da palavra em que a produção artística se apresenta como um
meio para que sejam discutidas questões relativas ao morar e ao viver,
tais como o cuidado com o outro e consigo mesmo, a organização e o
compartilhamento dos espaços e dos conflitos que inevitavelmente se
fazem presentes, etc. Ao finalizar o ano de estágios, pode-se afirmar
que, quando as normativas categorias “nós” e “eles” são confrontadas e
questionadas através dos vínculos e da experiência, estas podem borrar-
se e, quem sabe, até mesmo desfazer-se. Na visão do autor deste
resumo, tal experiência se vincula ao pensamento psicanalítico na
medida em que se pauta em uma ética que considera a realidade da

515
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

existência dos moradores (que, são também cidadãos), em detrimento


dos diversos ideais e preconcepções que o imaginário social produz em
relação às pessoas que foram anteriormente institucionalizadas em
manicômios. É ainda digno de nota a importância de uma relação de
trabalho que seja articulada e ética entre Instituição de Ensino Superior
e as organizações mantenedoras dos serviços da Rede de Atenção
Psicossocial.

516
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Entre a rede e a rua: O Consultório na Rua como articulador

Marla Marcelino Gomes


SESAU PETROLINA

O presente relato visa desenvolver reflexões sobre como buscamos a


famosa "articulação de rede" e o protagonismo das equipes de
Consultório na Rua (CnaR) nesse processo. As questões evidenciadas
nesse relato tiveram como mote propulsor as experiências da equipe
CnaR do município de Petrolina-PE. Entende-se aqui, que a dinâmica de
trabalho da equipe (itinerante) e a complexidade das demandas
atendidas convocam a necessidade de um trabalho articulado com
outros serviços, tornando o bordão mais famoso da saúde “trabalhar em
rede”, um ato político diário. Nesse fazer cotidiano, a equipe identifica
imensa dificuldade na corresponsabilização do cuidado pelos demais
atores da rede, iniciando-se na atenção básica e se estendendo até os
pontos de urgência e emergência que geralmente resumem o trabalho
da equipe ao transporte ou o confunde com a assistência social. Tal fato
destaca a necessidade de sermos eternos matriciadores, o que tendia a
ser visto por nós na perspectiva de uma ordem explicativa e até mesmo
didática. Apesar de considerar que tais aspectos tem seu lugar, cada vez
mais, temos percebido a potência do trabalho para além das oficinas e
outros momentos ditos formais. As experiências cotidianas nos
sinalizaram outros caminhos possíveis, os quais tem, com frequência, se
mostrado efetivos. Tais caminhos implicam na inclusão do
matriciamento nas incursões diárias de modo que o façamos a cada
contato com outros profissionais, entendendo que o cuidado em saúde
das pessoas em situação de rua dificilmente ocorre nas formações
acadêmicas. Nesse sentido, tornou-se necessário também compreender
que a construção de vínculo sobre a qual tanto se fala não é
fundamental somente na relação entre profissionais de saúde e
usuários, mas também entre profissionais da rede. Nesse sentido, nos
corresponsabilizar por esse processo de cuidado e formação na e com a

517
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

rede tem se mostrado tarefa indispensável na construção das


intervenções para população em situação de rua, uma vez que devemos
considerar que o trabalho em saúde se faz não somente em termos
burocráticos, documentos e portarias, mas também, nos afetos que
circulam e enlaçam o "tecer da rede".

518
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Entre a Saúde Mental, a Educação e a Rua: Construções de um cuidado


em Saúde Mental Coletiva

Luna Cassel Trott


Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz

Sharyel Barbosa Toebe


UFRGS

Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência da atuação como


residentes em saúde mental em uma escola de ensino fundamental, na
modalidade de Ensino de Jovens e Adultos voltadas para pessoas em
situação de Rua e pessoas em vulnerabilidade social. A residência
Multiprofissional é um processo formativo para profissionais da Saúde,
que experienciam diferentes vivências no campo profissional para sua
qualificação. Ainda que a maioria dos cenários de práticas estejam
voltados para o campo da Saúde, a prática no campo da Saúde Mental
se dá de forma ampliada e em diferentes cenários. Na Escola Porto
Alegre (EPA), o trabalho realizado demonstra as possibilidades de
construção de um cuidado em Saúde Mental amplo, territorial e em
liberdade em um contexto de precarização das políticas públicas,
inacessibilidade e perda de direitos sociais e retrocessos no modelo do
cuidado (como é o caso com a política de Álcool e outras drogas). A
inserção das residentes se deu no Serviço de Acolhimento, Integração e
Acompanhamento de alunos da EPA e no Núcleo de Trabalho Educativo
(NTE) da escola, pelo período de um ano, onde se participava de ações
de acolhimento de estudantes, acompanhamento na rede
socioassistencial (saúde, assistência social, questões judicias),
acompanhamento terapêutico e atividades de integração com a rede
socioassistencial. Esta experiência, forma narrativas sobre a
potencialidade e os desafios vividos no trabalho em educação com
pessoas em situação de rua, como a garantia do acesso à educação por
parte das pessoas em situação de rua, as adversidades da produção do

519
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cuidado em saúde mental, a presença da violência, do racismo e sexismo


atravessados na vida cotidiana, mas também as potências de vida
surgidas no encontro com a educação, a Redução de Danos e a
construção de redes de cuidado. Potencias estas que se mostraram
desde formas artísticas (como fotografia, produção de papel artesanal,
de cerâmica, música, dança), afetivas, de cuidados em saúde, rodas de
cuidado compartilhado em saúde mental, assembleias para uma
construção coletiva de um cotidiano escolar que acolha
democraticamente as questões dos estudantes, até a efetivação de
direitos como moradia, medida protetiva, encaminhamentos para
trabalho formal. Desta forma, a produção do cuidado em saúde mental,
nesta via, é de antemão, a própria garantia de direitos: a educação, a
moradia e o respeito à vida.

520
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Entre dores e encontros: sobre a produção de narrativas das mulheres


do ambulatório de oncologia clínica da Unicamp

Maycon Leandro da Conceição


Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

A partir do estudo etnográfico (2018) realizado no ambulatório de


oncologia, a pesquisa analisa os discursos do cuidado em saúde.
Partirmos da pergunta: quais discursos acionados pelas mulheres em
tratamento oncológico e que se relacionam com os saberes objetivos e
subjetivos das configurações de gênero e cidadania presentes no
cuidado à saúde mental? Para tal, a metodologia de entrevistas
semiestruturadas com profissionais, familiares e observação
participante de caráter etnográfico com as mulheres no Hospital de
Clínicas-UNICAMP. Após o mapeamento dos discursos, a categorização
dos discursos encontrados ocorreu com a abordagem de Análise de
Conteúdo. Os dados obtidos da pesquisa indicam três categorias de
análise: 1. Subjetividades de estar com câncer e (re)construções das
identidades e concepções de saúde mental; 2. Impasses das mulheres
para a garantia de direitos à saúde e estigmatização do câncer no
cotidiano; 3. Preocupações atuais orçamentárias do SUS, especial com o
congelamento de gastos e dificuldades de garantir os direitos
previdenciários, como auxílio de doença e até mesmo aposentadorias
decorrido ao agravamento da doença. Através dos discursos das
mulheres, mostrou-se que a percepção do adoecimento não é singular,
cada indivíduo vivência de uma forma distinta. A própria concepção de
câncer, ao longo do tempo, não é única ou linear, produzem múltiplas
formas de enfrentamento e significados. Ela muda, flutua, apresenta
novos desafios no cotidiano. Uma doença é uma transformação na vida,
mas também há transformações na doença. Ou seja, a saúde pode ser
pensada como possibilidade de ficar doente e poder se recuperar. Esta
pesquisa mostrou-se a importância de um estudo onde precisa valorizar
o encontro com o outro, sendo esses sujeitos e sobretudo mulheres

521
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

produtoras legítimos de sabedorias práticas. Almejamos com a pesquisa


utilizar a escuta como instrumento de produção de cuidado das
mulheres em tratamento oncológico. Logo, procuramos valorizar a
autonomia das usuárias, através das experiências vividas, a sua dinâmica
de vida, que são importantes para compreender o processo de expansão
da cidadania. Interessa-nos, portanto, que todo sujeito precisa ter o
suporte humanizado ao ambulatório. Suporte sensível, atento,
respeitoso, presente, coadjuvante, acessível, conectado. Uma
observação participante fisicamente próxima quando necessário,
respeitosamente distante quando desejado. E tendo como ponto de
vista o estranhamento de um cientista político fazendo pesquisa numa
cartografia exclusivamente dominada pelos saberes da biomedicina. Por
fim, essas mulheres precariamente a partir de suas experiências e
(des)subjetivação do adoecimento criam estratégias micropolíticas das
complexas relações da dimensão de gênero, por desafios cotidianos. Por
fim, a pesquisa das biografias, mas sobre as relações identitárias que
marcam individualidades, trazem em si identificações, seja para
potencializar a autonomia ou enunciações reflexivas das normatividades
biomédicas que reduzem a subjetividade em corpos doentes.

522
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Entrelaces do cuidado interdisciplinar em saúde mental diante da


perspectiva antimanicomial.

Maria Beatriz Álvares dos Santos


Maria Itacyara Mendes
Maria Eduarda Oliveira de Souza
Pamela Alexandrina Feitosa
Arthur Souza Morais
Renata Barreto Fernandes de Almeida
UniFBV; Wyden

O Loucação é um projeto de extensão da UniFBV, que oportuniza


alunos/as a estarem em contato com a realidade social, de maneira
interdisciplinar, tornando-se uma importante ferramenta para a vivência
do processo de humanização em serviços de saúde e assistência social.
Tem como objetivo discutir os referenciais teóricos do campo da Saúde
Mental e a Reforma Psiquiátrica, além de realizar intervenções voltadas
para a prevenção e cuidado a saúde mental e corporal junto a pessoas
com algum sofrimento psíquico ou que fazem uso abusivo do álcool
e/ou outras drogas. O projeto possibilitou construir uma relação
horizontal entre a academia e os espaços de cuidado havendo, assim,
troca de conhecimentos. A partir de uma investigação participativa, três
encontros foram desenvolvidos no Programa Atitude, núcleo Intensivo
de Jaboatão, entre outubro e novembro de 2019, semanalmente. O
Atitude tem como princípio a redução de riscos e danos, baseado no
respeito aos direitos dos usuários/as. O grupo foi composto por três
estudantes de psicologia, um de enfermagem e uma de fisioterapia. O
primeiro encontro teve como objetivo conhecer os/as usuários/as do
serviço e entender sobre suas demandas, além de estabelecer vínculos e
promover um ambiente agradável para que pudessem se expressar e
construir as próximas intervenções. Assim, foi proposto uma atividade
que falasse sobre sonhos, expressando seus desejos através de
desenhos, recortes de revistas e da oralidade. Foi possível conhecer um

523
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pouco das histórias de vida. No encontro seguinte foi solicitado que


trabalhássemos algo relacionado a timidez e, assim, através do Teatro
do Oprimido, foi possível trabalhar expressões corporais diversas,
desenvolvendo um trabalho em grupo, sendo protagonistas de suas
próprias histórias. Em novembro, mês de prevenção do câncer de
próstata, foi solicitado atividades que trabalhassem o corpo de forma
preventiva, com exercícios físicos, aproveitando a oportunidade para
dialogar sobre masculinidades e como socialmente essa temática está
relacionada a saúde do homem. O momento foi de pensar e praticar o
autocuidado. No último encontro foi demandada a discussão sobre
HIV/AIDS e, posteriormente, um momento de confraternização com
violão. Finalmente, foi entregue sementes que foram plantadas em
vasos com a reflexão do que eles gostariam de colher a partir daquele
dia. Foi possível, a partir das atividades propostas refletir sobre a
importância do cuidado com o outro, com algo ou com si mesmo como
fonte de crescimento, através do cultivo de sementes como simbologia,
trazer a materialização dessa temática que foi construída durante os
encontros. Foi possível também observar o quanto os/as usuários/as
gostaram de plantar as sementes e ficaram ansiosos com a possibilidade
de colheita. Ouvi-los cantar foi um momento especial de agradecimento
pelas trocas de conhecimento e de afeto vividas. Para os participantes,
os encontros possibilitaram a melhora nos relacionamentos e na
comunicação entre eles, bem como conhecer melhor o outro que estava
convivendo. Cada usuário/a tem sua individualidade e seu modo de ser
em coletividade, nesse sentido foi possível ofertar momentos de escuta,
reflexão, descoberta de prazeres e contribuir de maneira empática e
cuidadosa com suas realidades.

524
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Equilíbrio emocional em tempos desafiadores

Jéssica Heloise Camargo de Lima


Nilza Teresinha Faoro
Isabelle Faoro Glaser
Júlia Maria Rodrigues da Rocha
Mariana Vidigal Guidini
Vitoria Yuri Miazaki Villanova
João Gabriel Vicentini Karvat
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR

Introdução: Diante da atual situação de distanciamento social devido ao


COVID-19, a população se deparou com a necessidade de adaptar-se a
novos hábitos e de lidar com emoções que a insegurança e o medo do
futuro trazem. Segundo a Organização Mundial da Saúde “O impacto da
pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente
preocupante”, e, dessa forma, é imprescindível buscar alternativas e
discutir a importância do cuidado com a saúde mental, uma vez que o
desequilíbrio emocional tem grande impacto na saúde e na qualidade de
vida. Nesse cenário, nota-se a importância de ferramentas capazes de
auxiliar o manejo das emoções, sobretudo da ansiedade, bem como de
promoverem um acréscimo na qualidade de vida e no autocuidado. A
meditação Mindfulness, ou atenção plena, é uma prática espiritual
budista que pode ser alternativa para cuidar da saúde mental, assim
vem ganhando espaço pelos benefícios aos praticantes.
Descrição da experiência: O evento foi realizado no dia 21 de setembro
de 2020 na plataforma remota GoToMeeting, com 28 estudantes de
diversos cursos de graduação, majoritariamente cursos da área da
saúde. O evento promoveu, por meio de uma contextualização e prática
guiada realizada pelo palestrante, maior conhecimento a respeito da
prática Mindfulness, ferramenta de manejo de emoções, atitudes e
pensamentos. Possibilitou ao participante mecanismos para ter atenção
plena no momento presente, reforçando vantagens da realização da

525
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

técnica frente a situações adversas, como estresse, pressões externas e


ansiedade, todas condições exacerbadas pela pandemia do COVID-19.
Ao final da palestra, notou-se o engajamento dos participantes, que
realizaram muitas perguntas a respeito do tema abordado.
Repercussões: O evento demonstrou relevância e importância de
conhecimento do assunto, especialmente no momento atual de
pandemia e distanciamento social. Assim, identifica-se que contribuiu
para aprendizado mais aprofundado do tema, e conclui-se que serviu
como momento de reflexão para os participantes, instigando-os a
aprender mais sobre a técnica e a praticá-la no dia-a-dia.
Considerações finais: O evento contribuiu para a divulgação da prática
Mindfulness como um meio de cultivar hábitos benéficos a saúde, além
de proporcionar resiliência psicológica e emocional a fim de enfrentar
melhor os obstáculos da vida, acentuados no contexto atual marcado
por receio e incertezas constantes. Sendo assim, uma alternativa para
encontrar o equilíbrio emocional e aprimorar a saúde mental.

526
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Escutas e conexões: práticas em psicologia em contextos inusitados

Marcelo Vinicius Costa Amorim


Tania Maia Barcelos
Rafaela Gonçalves Silva
Ana Paula Dias Pires
Arthur Victor Gomes da Silva Barros
Luzas Horácio Zacura
UFCat

Este relato de experiência aborda aspectos de ações extensionistas


realizadas no Curso de Psicologia da Universidade Federal de
Catalão/UFCAT (situada no sudeste goiano), no contexto da pandemia
mundial do novo coronavírus. A pandemia intensifica modos de
expressão do sofrimento humano e produz novos desamparos e
adoecimentos. Nesse contexto, a solidão, o abandono, o distanciamento
dos corpos, o medo do outro, da morte e a precarização da vida
cotidiana afetam, significativamente, os estudantes, provenientes de
diferentes cidades do país e dos cursos de graduação da UFCAT. Visando
atender a uma demanda específica da Pró-Reitoria de Políticas
Estudantis, o Curso de Psicologia construiu parcerias com alunos
egressos, professores e graduandos. Por meio de conexões digitais e
encontros semanais (para estudos, supervisões e atendimentos on line),
procuramos acompanhar alguns estudantes nessa travessia inusitada,
não somente para eles, mas também, para nós da equipe executora do
projeto. Partilhamos, aqui, desconfortos e desafios enfrentados por um
grupo que deseja construir redes de apoio, de vida e solidariedade. Não
tem sido fácil, por exemplo, fazer uso exclusivo de tecnologias digitais
ou garantir outras formas de presença, de estar com o outro e de escuta
em espaços pouco usuais, como dentro de um carro, no quintal de casa
ou na sala com outras pessoas circulando. Tem sido um desafio
constante criar linguagens para acolher estudantes indígenas com visões
de mundo que nos deslocam a cada encontro. Temos perguntado: como

527
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ajudar a sustentar a vida em um contexto brutal que produz desejos de


morte em uma juventude assustada com os acontecimentos, inclusive,
quando perde o link de uma aula na universidade? Essa juventude
experimenta violências domésticas e agora se vê obrigada a conviver
com suas famílias, sem poder circular pelos espaços públicos da cidade.
Nossos questionamentos implicam lutar para não promovermos mais
desamparos, nesse momento, em que nós, profissionais e estudantes de
psicologia, também, experimentamos fragilidades em nossos corpos. Os
efeitos decorrentes dos encontros com os estudantes, no contexto
pandêmico, movimentam modos de pensar, sentir e existir. Fazemos
deslocamentos teórico-práticos e aprendemos a criar novas
problematizações, buscando agir na perspectiva de “gestar novas
formas de dignidade” (FERRAZ, 2000) e de afetar uns aos outros para
proteger a vida (KRENAK, 2020). Esse tem sido um dos nossos maiores
desafios no projeto: criar redes de sustentação da vida em um momento
de novas exclusões e segregações. Para isso, precisamos estar vivos,
atentos às fragilidades das nossas certezas e abertos a uma escuta
clínica e silenciosa de um vírus com tamanha força de contaminação e
letalidade. Lutemos para promover outras práticas, palavras e outros
afetos e experiências do mundo (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2020).

528
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Espaço do Cuidado: Meditação como Prática Integrativa e


Complementar em Saúde Mental no Campus de uma Universidade
Pública de Ensino

Luciana Oliveira dos Santos


Universidade Federal de Goiás

Segundo Bezerra e col. (2018), o período acadêmico vem sendo


marcado por descobertas e desafios que podem servir como gatilho
para o desenvolvimento de sofrimento psíquico nos alunos, devido à
sucessão de possíveis estressores. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde (2017), podem ser fatores de risco à saúde mental:
estilo de vida pouco saudável, mudanças sociais bruscas, estresse nas
condições de vida laboral, exclusão social, estilo de vida pouco saudável,
violações dos direitos humanos, entre outros. Alguns desses riscos,
destacam os autores, podem estar presentes no ambiente universitário.
De acordo com Menezes e Dell'aglio (2009), nos contextos educacionais,
o treinamento da meditação sentada e silenciosa tem sido cada vez mais
utilizado enquanto processo de autoconhecimento e busca de quietude,
em que novos significados e registros sobre filosofia da mente tem
auxiliado bastante em propiciar bem-estar e transformações positivas
na qualidade de vida dos alunos. Tendo origem nas filosofias
contemplativas orientais, a meditação foi introduzida no Brasil a partir
da década de 60, e após isso tem havido um interesse crescente pela
busca de experiências meditativas enquanto prática pessoal, bem como
a ciência tem investido em pesquisas nessa área (MENEZES, 2009). T
sido associada a um maior bem-estar físico, mental e emocional
(WALLACE, 2012; HIGUCHI, e col., 2011); sendo incluída, em 2017, como
prática integrante na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2017). A
meditação pode ser classificada em diferentes formas; entre elas: a)
concentrativa - quando há um treino da atenção em um único foco,
como a respiração; e b) mindfulness, caracterizada pela consciência do

529
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

momento presente, com uma atitude de acolhimento dos estímulos que


surgirem, sem julgamentos nem reflexões sobre os mesmos (MENEZES e
DELL'AGLIO, 2009), e c) cultivo da compaixão e bondade amorosa
(WALLACE, 2012). Nesse trabalho, descreveremos a experiências de
vivências de meditação com alunos de uma universidade pública de
ensino durante um semestre letivo. O objetivo consiste em descrever a
experiência do projeto de extensão, que visou realizar ações de
promoção do bem-estar e qualidade de vida dos acadêmicos por meio
da compreensão e prática da meditação. Foram realizados dezesseis
encontros presenciais com alunos de Psicologia, Enfermagem,
Fisioterapia, com duas horas de duração, em que foram vivenciadas
diferentes práticas de meditação conduzidas e ministrados
ensinamentos sobre as diferentes técnicas, possíveis de serem aplicadas
no dia a dia dos estudantes. Além das práticas, realizou-se estudos
teóricos sobre a temática, e organizou-se um evento para o púbico
discente e docente da universidade, com um palestrante convidado.
Como resultados alcançados com o projeto, podemos destacar:
sensibilização para o tema por meio de técnicas de relaxamento do
corpo; ensino de técnicas de meditação e relaxamento como prevenção
do estresse e promoção do bem estar. Como desafios encontrados
destacamos o enfrentamento do preconceito, bem como a necessidade
de incentivos para que sejam realizadas mais pesquisas sobre o tema,
em especial no Brasil.

530
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Espaço para desaguar: encontro grupal com pessoas em situação de


imigração e refúgio

Tamires da Silva Sousa


ESP

Dominique Costa Martins Pereira


UNICSUL

Roberto Mac Fadden


USP

A presente pesquisa propõe-se a discorrer acerca de dois trabalhos


desenvolvidos no curso de Psicologia, da Universidade Cruzeiro do Sul,
sob orientação do Ms. Roberto McFadden. Em que se utilizou o
dispositivo de grupos, almejando propiciar um espaço de escuta e
acolhimento para a população em situação de imigração e refúgio. A
primeira experiência deu-se com a formação de um grupo para
mulheres, ao longo de quatro meses, no ano de 2016, em um Instituto
para imigrantes e refugiados. O segundo trabalho foi um grupo aberto,
desenvolvido em um Centro de Acolhida, durante dois semestres, tendo
seu início em 2017 e o seu encerramento em 2018, sendo que ambas as
Instituições estão localizadas na cidade de São Paulo. Os encontros
aconteciam através de rodas de conversas, utilizando-se da concepção
dos Grupos Operativos de PichonRivière (1998), para pensar a
compreensão e manejo dos fenômenos que emergem no campo grupal.
O objetivo do trabalho foi pensar a contribuição do dispositivo grupal
como uma possível ferramenta para a promoção de saúde mental para
população em situação de migração e refúgio. Em decorrência dos
crescentes fluxos migratórios no mundo e também no Brasil, existe uma
necessidade de olhar para as problemáticas ocasionadas pelo
deslocamento, bem como, a escassez de políticas públicas efetivas, que
se proponham a atender suas demandas. Nesse novo território, o

531
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sujeito em situação de deslocamento enfrenta a dificuldade em


conquistar um trabalho, que, consequentemente, influencia em sua
habitação, colocando em dúvida sua permanência nesse país, também
emergiram questões relacionadas à dificuldade com a comunicação e o
racismo. O trabalho com a população em situação de imigração e
refúgio possibilitou compreender as dimensões sociais e políticas que
atravessam o sujeito em situação de deslocamento, bem como
problematizar o processo de adaptação na nova cultura. O dispositivo
grupal surgiu como um campo possível para o processo de reconstrução
do laço social e da reorganização do sujeito e de demandas concretas e
subjetivas.
Palavras-chave: laço social; imigração; Grupo Operativo.

532
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Esquizofrenia na Adolescência

Gabriel Marques Lima de Andrade


Angela Maria Areias Florencio
Cristhian Luis Moraes Sandim
Laura Marcia Rosa dos Santos
CAPS Infanto Juvenil

INTRODUÇÃO: O presente relato tem por objetivo apresentar a


efetividade da intervenção individual, familiar e medicamentosa, nas
habilidades comunicativas, linguísticas e cognitivas de uma adolescente
com diagnóstico de esquizofrenia. O Centro de Atenção Psicossocial
Infanto Juvenil (CAPS IJ) é um dispositivo para a construção de um lugar
social para pessoas com transtornos mentais severos e persistentes. O
CAPS IJ atende com permanência em regime de acolhimento 24 horas,
sendo composto por equipe multiprofissional. Segundo o Ministério da
Saúde o CAPS III tem grande importância na rede substitutiva,
representando mais um recurso terapêutico, evitando internações
psiquiátricas, sendo o dispositivo para atendimento em crise. As
ferramentas terapêuticas do CAPS são: Acolhimento: consiste na escuta
qualificada e humanizada ao usuário, garantindo o acesso de todos ao
serviço; Projeto Terapêutico Singular: valoriza o saber e a opinião dos
sujeitos atendidos e de seus familiares em sua elaboração,
personalizando o atendimento tanto no CAPS quanto no território;
Matriciamento: é um recurso de construção de novas práticas em saúde
mental junto às comunidades, no território onde as pessoas vivem e
circulam, pela sua proposta de encontros produtivos, sistemáticos e
interativos entre equipes da Atenção Básica e equipes da saúde mental.
Desta forma foi escolhido um caso para relato de experiência, uma
adolescente de 16 anos com diagnóstico médico CID 10 F20 e F32
(esquizofrenia e depressão), iniciou o atendimento em maio de 2020,
apresentando alucinação auditiva, discurso depreciativo, alteração no
apetite, sonolência, ideação suicida, alteração da sensopercepção,

533
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

tristeza, desorientada no tempo e no espaço, delírio religioso, pouco


comunicativa, isolamento com prejuízos sociais. O diagnóstico de
esquizofrenia foi fechado porque os sintomas iniciaram há 2 anos.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Os sujeitos envolvidos na experiência uma
adolescente e seu pai. Os atendimentos foram realizados no CAPS IJ, no
período de 03 de agosto a 07 de outubro de 2020. A adolescente foi
avaliada com relação aos aspectos comunicativos: discurso, narrativa e
pragmática. Foi aplicada a escala BPRS – Escala Breve de Esquizofrenia
no dia 03 de agosto de 2020 e repetida após 60 dias. A pontuação pré-
intervenção foi 85 pontos e pós-intervenção foi de 38 pontos. Uma
redução de 44,70%, o que se pode considerar como sucesso
terapêutico.
REPERCUSSÕES: Foi realizado atendimento individual, psicoeducação
familiar e consulta médica durante este período. Observou-se melhora
dos sintomas psicóticos, boa adesão ao tratamento, melhora das
habilidades comunicativas, iniciando a conversação, mantendo contato
visual, melhora da interação com outros profissionais e usuários do
serviço. Com a família foi realizado orientação, visando desenvolver
estratégias de manejo para cuidar de um familiar com Transtorno
Mental grave.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Em relação ao atendimento familiar, pode-se
perceber que o genitor iniciou o papel de cuidador como rede de apoio
e suporte, proporcionando melhor adesão ao tratamento e melhora do
prognóstico da doença. É necessário frisar que a funcionalidade do
indivíduo com esquizofrenia, poderá ter consequências negativas devido
ao discurso desorganizado e cisão com a realidade. Em uma fase inicial
diagnóstica, a compreensão da doença colabora para o processo de
reabilitação psicossocial.

534
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Estágio Supervisionado em CAPS por meio digital durante pandemia de


COVID-19. Curso de Educação Física da Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública em Parceria com a Secretaria Municipal de Salvador.

João Franco Lima


Robson Santos Santana
Pedro Vieira Lima Freire De Carvalho
Ícaro Afonso Gomes Dos Santos Borges
Jéssica Araújo Santos
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

Darlene Moreira Mota


Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

Introdução: Segundo a Lei nº 11.788 de 2008 estágio supervisionado é


um ato educativo que deve ocorrer no ambiente de trabalho com
objetivo de aprendizado, desenvolvimento de competências
profissionais, contextualização de conteúdos estudados, deve ser
acompanhado por professor orientador da instituição de ensino e por
supervisor da concedente. De acordo com Projeto Político Pedagógico
do curso de educação física da Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública - EBMSP o estágio supervisionado III deve ocorrer em campos de
atuação relacionados à programas de atenção à saúde da família e à
saúde mental. O estágio III no período letivo de 2020.1 ocorreu em um
Distrito Sanitário de Salvador com experiência/vivência em
equipamento de lazer, Unidade Básica de Saúde e um CAPS II. Descrição
da experiência: O estágio foi iniciado na modalidade presencial por meio
de promoção de atividades corporais no equipamento de lazer e na
Unidade Básica de Saúde. No CAPS II os estagiários participaram em
visitas domiciliares, acolhimentos e grupos terapêuticos. Devido a
pandemia de COVID-19 as atividades presenciais foram suspensas. No
mês de abril os planejamentos foram adaptados para aulas remotas,
mas os estágios continuaram suspensos. Após reuniões entre supervisão

535
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de estágio, técnicas de referência e coordenação do CAPS II foi


elaborado planejamento para atendimento por meio digital, tomando
como referência o teleCaps elaborado pelo PET-Interprofissional da
EBMSP em parceria com a SMS de Salvador. Após aprovação, foram
realizadas reuniões entre supervisão de estágio, técnicas de referência e
estudantes para alinhamento das ações. Os atendimentos ocorreram
por meio digital (celulares e telepresencial), inicialmente referenciado
por um roteiro. Foram realizados atendimentos para identificar
demandas e dificuldades nesse momento de pandemia, orientações
relacionadas à COVID-19, avaliação do nível de prática de atividades
físicas por meio do IPAQ e promoção de atividades corporais e lúdicas,
tanto para os usuários como para a sua família. Repercussões: Foram
atendidos onze usuários, que foram bem acolhidos pela equipe e
também receberam bem o atendimento por meio digital, a maioria
telepresencial após o primeiro contato por telefone/celular. As
orientações e atendimento foram de acordo com as necessidades
particulares de cada usuário, um deles, devido ao desejo de correr, foi
orientado por meio de prescrição de treinamento para corrida, outro
recebeu orientações relacionadas ao futebol, uma usuária e sua mãe
retomaram treino em uma academia de bairro juntamente com o
acompanhamento telepresencial. Além de demandas relacionadas a
seus tratamentos específicos de saúde mental. Mas, o direcionamento
dos atendimentos foi no sentido de cuidado com a saúde integral dos
usuários e educação para o autocuidado. O ciclo de estágio culminou em
um seminário com a participação do supervisor de estágio, das técnicas
de referência, dos usuários e familiares e de convidados. Considerações
finais: A experiência do estágio em uma equipe multiprofissional com
atuação interdisciplinar foi uma oportunidade para desenvolver
competências para atuar em equipe, aprofundar e explorar
conhecimentos relacionados a saúde ampliada, pôr em prática
conhecimentos, habilidades e atitudes desejáveis aos profissionais de
saúde e promover saúde e melhoria de qualidade de vida dos usuários
do CAPS.

536
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Estandarte de autocuidado entre mulheres lésbicas

Barbara dos Santos Gomes


FESFSUS

Transitando entre territórios geográficos, campos de trabalho,


residências, áreas de atuação, o corpo mulher cis lésbica também ocupa
o espaço enfermeira residente, trabalhadora. Mulheres que vivenciam o
sexismo, machismo, patriarcado; lésbicas que vivenciam a lesbofobia;
negras, indígenas que vivenciam o racismo. Dar conta de receber e
cuidar das demandas dessas mulheres que recebo nos serviços de
saúde, orientar caminhos. E em meio a tudo isso, me enxergar nas várias
palavras, vivências contadas. As cidades, universidades e os serviços de
saúde não estão preparados para acolher e respeitar corpos desviantes
do conceito-estrutura cisheteropatriarcal racista. Este relato de vivência-
experiência responde às necessidades de reflexão e ação no mundo, no
sentido de criar e partilhar estratégias de autocuidado entre mulheres
lésbicas nas ruas, nos serviços de saúde e educação. Falar sobre
intimidades corriqueiramente invisibilizadas, sexualidades e a potência
do encontro, autoconhecimento e autocuidado. E de que maneira a
imagem espelhada se torna potência e estímulo ao vínculo com usuárias
lésbicas? E como garantir acesso aos serviços de saúde e fortalecer
espaços de autocuidado e autoconhecimento a essas mulheres? A partir
da confecção de um estandarte, expresso aprendizados,
questionamentos, destruições, projetos de vida e futuro e
responsabilidades nutridas ao longo da jornada profissional e pessoal. A
confecção do estandarte inclui a produção de revista fanzine com
informações sobre cuidados em saúde mental e de prevenção a
infecções sexualmente transmissíveis, questões identificadas como
pertinentes e frequentemente negligenciadas. O levantamento de
informações e referências se dá a partir da busca em referências
bibliográficas e outras fanzines elaboradas por coletivos de lésbicas
organizadas politicamente, bem como a partir de relatos de práticas de

537
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

autoconhecimento e autocuidado partilhadas em encontros, conversas,


acompanhamentos e atendimentos. A escolha de um estandarte, um
símbolo marcante da cultura popular nordestina, para exposição da
vivência faz parte da apresentação enquanto elemento e instrumento,
entendendo a arte como modo de expressão, registro de saberes e
como meio de comunicação.

538
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Estratégia Trevo de Quatro Folhas: um relato de experiência sobre o


cuidado à gestação e ao puerpério de mulheres usuárias de
substâncias psicoativas

Janaína Chagas de Sousa


Paulo Henrique Dias Quinderé
Universidade Federal do Ceará

INTRODUÇÃO: A construção histórica da maternidade está associada


diretamente ao lugar que a mulher ocupa na sociedade, pensada a partir
de aspectos instintivos, que torna o ser mãe como um processo natural
e inerente ao ser feminino, exigindo da mulher cuidados e atenção
integral, principalmente no período gestacional e puerpério. Pensando
por esse prisma, como intervir, por exemplo, no caso de uma mulher
gestante que faz uso de crack? Habitualmente entende-se que o
consumo de substâncias psicoativas durante a gestação pode produzir
agravos, prejudicando a formação do feto e comprometendo a saúde da
mãe. Assim, as mulheres que fazem esse tipo de uso não estão
cumprindo com o seu papel de genitora, à medida que não exercem a
função materna de cuidado e proteção. Por meio dessas primeiras
colocações o atual relato se desenvolve, buscando descrever e discutir
questões referentes à promoção da saúde e qualidade de vida de
gestantes e puérperas usuárias de substâncias psicoativas. DESCRIÇÃO
DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência construído a
partir do estágio em psicologia, realizado no período de agosto a
dezembro de 2019, na Estratégia Trevo de Quatro Folhas, uma política
pública de saúde da cidade de Sobral-CE que surge em 2001, em
resposta aos números elevados de óbitos materno-infantis. O serviço
atua como suporte a rede de atenção materno-infantil do município,
atendendo a gestantes, puérperas e crianças de até dois anos em
situação de risco clínico e/ou vulnerabilidade social. O público atendido
é marcadamente advindo da periferia, são mulheres em grande parte
negras e que carregam filhos de genitores ausentes. Concernentes às

539
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

metodologias de intervenção utilizadas pelo projeto no cuidado às


gestantes e puérperas, destaca-se as visitas domiciliares que objetivam a
constituição de vínculos, a obtenção de informações pertinentes ao
caso, orientação sobre os cuidados com a gestação e o seu
monitoramento. REPERCUSSÕES: Concebendo o serviço como espaço de
cuidado a uma parcela da população que, por vezes, tem essa atenção
negligenciada, pode-se inferir questões que se configuram enquanto
desafiadoras. Pontua-se uma tendência a reproduzir uma prática
discursiva que reforça a ideologia proibicionista, pensamento dominante
no que se refere ao fenômeno do uso de drogas, focado nos efeitos
prejudiciais destas substâncias ao organismo humano e
consequentemente à gestação, com intervenções ancoradas no saber
biomédico hegemônico que prioriza a abstinência do uso de drogas
como objetivo final. Essa perspectiva desconsidera as relações
estabelecidas entre o consumo dessas substâncias e os diferentes
contextos sociais e políticos em que emergem, excluindo do campo de
análise as experiências subjetivas dos sujeitos envolvidos. Diante disso,
se propõem uma discussão sobre o conceito de interseccionalidade e
sua relação com os determinantes sociais em saúde, compreendendo o
primeiro enquanto a inseparabilidade estrutural entre raça, gênero e
classe social. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pensar em práticas de cuidado
coerentes com as realidades atendidas é pensar em práticas que
considerem a relevância desses marcadores sociais, bem como partem
do entendimento que eles são produtores de sofrimento. Logo, propor
ações que produzem resistências a essa ideologia dominante é uma
forma de promover saúde.

540
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Estratégias de cuidado e resistência em um CAPS Infantojuvenil

Caroline Sasso de Oliveira


Dayene Patrícia Gatto Altoé
Autarquia Municipal de Saúde de Apucarana

A perspectiva proibicionista, predominante no cuidado às pessoas que


fazem uso de álcool e outras drogas, tem sido notada em nossa atuação
como profissionais ligadas a um Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Mental (SM), tendo como cenário de
prática¬ um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) em
uma cidade de médio porte no interior do Paraná. Vimos, o quanto as
drogas estão, no ideário social e mesmo no de vários trabalhadores da
saúde, associadas ao crime, aos desvios de conduta e à segregação, com
a defesa das internações psiquiátricas de adolescentes, tidos como
incapazes de fazerem escolhas saudáveis e responsáveis sobre sua
própria vida. Nessa realidade, enquanto psicólogas atuantes na
perspectiva crítica em SM e em prol do cuidado centrado nas pessoas
que, por múltiplas determinações recorrem ao uso AD pensamos ser
preciso intervir, política, ética e ideologicamente, ao lume da reforma
psiquiátrica, na lógica da atenção psicossocial, que inclui a redução de
danos (RD). Se recorrêssemos às defesas das alterações nas políticas de
SM e para álcool e outras drogas nos moldes da Resolução nº 32 e da
Portaria nº 3.588, ambas de 2017; e mesmo da Resolução nº 3, de 2020,
as formas de cuidado passariam pela internação psiquiátrica sob a ótica
proibicionista e criminalizante do uso Ad. Uma vez que essa “nova
política” parece legitimar muito do que temos encontrado como
“cuidado” em muitos serviços de SM temos nos inquietado e procurado
atuar sob outras referências. No contexto do trabalho no CAPS IJ em que
uma das autoras atuou, diante da demanda de adolescentes que faziam
uso AD e que colhiam prejuízos significativos em suas vidas
aparentemente em decorrência dele, visando proporcionar um espaço
de escuta desses jovens, foi deixada sua contribuição na implementação

541
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de um grupo terapêutico que abordou questões relacionadas à RD além


de outros temas envolvendo a SM IJ e o uso AD. Esse grupo, realizado
semanalmente, teve duração de cerca de cinco meses e os adolescentes
eram convidados a participarem de todos os encontros. À maioria dos
encontros, contávamos com a participação de dois a três deles. No
formato de roda de conversas, foram elaborados encontros com
orientações na perspectiva da RD, principalmente com relação ao uso da
maconha (substância mais consumida pela maioria dos participantes),
recorrendo-se ao uso de dinâmicas e de recursos áudios-visuais. Esta foi
uma abordagem peculiar do que já era tradicionalmente oferecido aos
adolescentes, criando um espaço em que puderam falar abertamente
sobre sua relação com as substâncias para além dos olhares da
repreensão que reproduzem a realidade proibicionista do mundo.
Diante disso, vemos como é possível, diante das singularidades da
adolescência, promover o cuidado em liberdade. Como legado desse
grupo às nossas formações fica a convicção de que é preciso resistirmos
às formas de violência, de estigmatização, de exclusão e de dominação
enclausuradora e punitiva. Entendemos, sobretudo, que é preciso que
nos envolvamos com as pessoas, nas relações de cuidado, olhando para
quem são e mesmo serão para além dos limites das desfocadas das
lentes proibicionistas.

542
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Estratégias para construção de Rede de Ouvidores de Vozes em


Curitiba: A experiência do 1º Encontro de Ouvidores de Vozes

Loraine Oltmann de Oliveira


CAPS

Sabrina Stefanello
Deivisson Vianna Dantas dos Santos
Nathan Rodrigues Vallim
Beatriz Zaia Bertoldi
Giselle Caroline Nunes de Morais
Lorena van der Vinne
Giovana Ferreira De Freitas Miranda
Chayanne Federhen
Brunna Andrade Gondo
UFPR

O Movimento de Ouvidores de Vozes surgiu na década de 80,


orientando e estabelecendo valores, partindo do pressuposto de que o
fenômeno de ouvir vozes faz parte da experiência humana e não é um
problema em si, mas pode se tornar dependendo da maneira como o
indivíduo estabelece o relacionamento com essas vozes. Por meio de
grupos de ajuda mútua é possível compartilhar experiências de ouvir
vozes e outras consideradas “extrassensoriais”, auxiliando na
compreensão desses fenômenos e na criação de estratégias para tornar
a convivência com as vozes mais positiva.
Em Curitiba, os grupos de ouvidores se iniciaram a partir do Workshop
com Paul Baker promovido pela UFPR em 2017. Até o início de 2020
existiam 5 grupos, todos dentro de Centros de Atenção Psicossocial.
Com o objetivo de fortalecer essa rede, reuniões eram realizadas
semestralmente com a participação de profissionais da área, docentes e
acadêmicos participantes do projeto de extensão vinculado.

543
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A partir desses encontros e das vivências grupais percebeu-se a


necessidade de realizar um encontro presencial com a participação de
todos os grupos. O objetivo era fortalecer o movimento, ocupar espaços
da cidade e exercer a inclusão. No dia 24/10/2019 ocorreu o 1º
encontro dos ouvidores de Vozes de Curitiba no Jardim Botânico, local
que nunca havia sido visitado por um número significativo dos
participantes dos grupos. Esse espaço é público e gratuito, logo,
considerado de fácil acesso para a população em geral. O fato de vários
participantes do encontro nunca terem visitado o parque é um exemplo
dos empecilhos enfrentados pelos ouvidores de vozes, consequência do
estigma social e da exclusão, semelhantemente descritos na literatura
em outros grupos minoritários.
Essa experiência fomentou o estreitamento dos laços entre os
participantes, sejam usuários, profissionais ou acadêmicos, e também
reafirmou o direito de todos em ocupar os espaços da cidade através da
ação prática de ir até esses locais de lazer, assim naturalizando-os na
rotina de todos e todas. O encontro sucedeu-se com a movimentação
pelo ambiente seguida de um momento de “piquenique” onde formou-
se uma roda de conversa e os participantes fizeram um lanche enquanto
conversavam sobre as motivações de estarem ali, a experiência de ouvir
vozes e o Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes.
O 1º encontro de ouvidores de vozes de Curitiba promoveu a troca de
experiência entre três grupos de diferentes regiões da cidade, visando a
integração dos participantes e a inclusão na noção maior de coletivo. O
impacto que o lazer desempenha na vida de cada indivíduo pode ser
somado formando um “todo coletivo”, isso unifica as pessoas e permite
a luta por uma democratização do acesso e por conseguinte, uma
organicidade dessa ocupação. Mais eventos como esse podem e devem
ser realizados, envolvendo cada vez uma rede maior, contextualizada no
movimento dos ouvidores de vozes, todavia é importante enfatizar que
o objetivo fim deste e demais eventos inclusivos é que a ida a espaços
públicos seja espontânea, pois o acesso ao lazer é um direito
constitucional e questão de saúde pública.

544
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Experiência de estudantes negras(o) nas atividades de iniciação ao


ensino (monitoria) e extensão em Serviço Social

Milena Kelly Silva Lima


Magali da Silva Almeida
Luliane Silva dos Santos
Tiago Pereira Coutinho
Universidade Federal da Bahia

INTRODUÇÃO: Este trabalho apresenta a experiência em monitoria e


extensão no curso de serviço social realizada pela docente e cinco
discentes negras(os) ingressantes, através da política de reserva de
vagas, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A experiência de
iniciação à docência é vinculada ao Programa Permanecer e a de
extensão ao Programa SANKOFA, ambos ligados à Pró- Reitoria de
Assistência Estudantil (PROAE) como iniciativas promotoras de
oportunidades acadêmicas para estudantes em situação de
vulnerabilidade socioeconômica. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A
experiência de monitoria é desenvolvida no Componente Curricular
Obrigatório “IPSC09 - Diversidade de Gênero, Raça-Etnia no Contexto
dos Direitos Humanos” do curso de Serviço Social. A experiência de
extensão, articula o ensino e a pesquisa, através de ações de formação
em relações étnico-raciais em atenção aos parâmetros da LDB
alicerçados nas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Em 2019/2020 o
projeto de extensão é direcionado às questões direito de mulheres em
situação em situação de rua com enfoque na saúde reprodutiva, saúde
mental e drogas. REPERCUSSÕES: Compreender o caráter estrutural das
relações de gênero/sexo, raça/etnia, idade/geração, e suas complexas
interconexões com as desigualdades de classe, é fundamental para a
promoção de uma criticidade sobre a interferência de setores
conservadores da sociedade e do Estado na nossa formação de
autoconceito e apontamento da depreciação e adoecimento causado
por essa estrutura no corpo negro. Ao estimular um debate com

545
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

discussões relacionadas à tais questões, de um lado, a disciplina produz


um espaço de promoção à saúde mental, criando em sua relação com a
turma um ambiente de criticidade sobre a estruturação social racista e
patriarcal, que por sua vez age como potente fator de adoecimento
mental para população negra, mulheres, população LGBTQI+, classe
trabalhadora e todas e todos que não fazem parte do grupo
hegemônico. De outro, apresenta conceitos, teorias que são contra
hegemônicas no âmbito do antirracismo e do feminismo. Nas atividades
de extensão, tem-se empenhado em discutir sobre a mulher negra em
situação de rua, que faz uso abusivo de drogas. Tem sido desafiador,
mas fundamental para compreender as raízes da desigualdade social
brasileira. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Será evidenciada a metodologia,
com atividades que priorizam dinâmicas coletivas, como a construção do
Programa do Componente Curricular “IPSC09 - Diversidade de Gênero,
Raça-Etnia no Contexto dos Direitos Humanos” e os cursos, seminários
entre outros, desenvolvidos na edição de 2019/2020 do Projeto de
Extensão “Quilolo Bahia-Rio”. As ações de monitoria e extensão, de
forma indissociável, têm permitido formar estudantes com criticidade,
com vista a compreender o racismo/sexismo como estruturante das
relações sociais e condições de vida, articular a rede de atenção
psicossocial voltada às pessoas em situação de rua, fortalecendo a luta
em defesa dos direitos das mulheres negras e, em específico, das
mulheres negras em situação de rua.

546
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Experiências advindas do estágio em Psicologia e Processos


Educacionais na Comunidade em escolas na cidade de Osório e Santo
Antônio da Patrulha-Rio Grande do Sul

Lani Gnocato, Nathalie Ligabue da Silva


Clarissa Brum de Jesus
Zuleika Leonora Schmidt Costa
UNICNEC

O presente trabalho consistiu em descrever relatos breves de três


acadêmicas de Psicologia, durante o período de estágio
profissionalizante em Psicologia Escolar, em duas escolas na cidade de
Osório-Rio Grande do Sul e uma escola estadual na cidade de Santo
Antônio da Patrulha- Rio Grande do Sul, durante o ano de 2019. O relato
apresentado partiu da experiência advinda das escutas realizadas com
adolescentes durante o estágio escolar, dinâmicas feitas para
desenvolver as habilidades de comunicação, empatia, assertividade e
promoção de espaço para discussões sobre assuntos de curiosidade dos
adolescentes, sendo esta uma forma de proporcionar cuidado a saúde
mental dos adolescentes no âmbito escolar. A descrição de experiência
foi a proposta do estágio em Psicologia Escolar cujo a primeira fase
compreendeu em entender melhor o ambiente escolar, fazer
observações, dinâmicas, conversas e escutas com professores, alunos e
funcionários na instituição de ensino, desenvolver um projeto de
intervenção para atender as demandas da escola. A segunda fase do
estágio consistiu em permanecer com as escutas a alunos, professores,
aplicar o projeto de intervenção (Projeto Viver) que objetivava a
prevenção ao suicídio, promoção da vida por meio de dinâmicas (ofertar
espaço para discussões sobre assuntos do interesse dos adolescentes
como sexualidade, relações familiares, sonhos para o futuro, dentre
outros) e exercitar as habilidades sociais como empatia, civilidade,
assertivas, sentimento positivo e comunicativo. Os relatados dos
estudantes (com idades entre 15 e 17) anos com mais frequência foram

547
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

referentes a ideações suicidas, depressão, uso de substâncias químicas


como a maconha, habilidades sociais não bem desenvolvidas, quadros
de ansiedade, problemas familiares e amorosos como por exemplo
relacionamentos abusivos. Os casos citados são apenas alguns dos
muitos acolhimentos feitos durante o estágio, que se apresentaram
como ocorrências de maior complexidade. As Repercussões destas
atividades e das práticas aplicadas proporcionaram um grande
conhecimento as estagiárias e revelaram-se diversas possibilidades que
psicologia escolar oferece ao acadêmico de promover saúde mental
dentro de instituições que não sejam no âmbito clínico ou em
instituições psiquiátricas. Através das escutas com os estudantes,
professores, as dinâmicas e o Projeto Viver obtiveram resultados
significativamente positivos, ressaltando e reforçando a importância de
um (a) profissional de psicologia nas escolas. O quão necessário se faz
gerar espaços de escuta, atividades que visam a valorização da vida,
tornando o espaço da escola também em um contexto que busca bem-
estar mental de todos os seus integrantes. Ao finalizar este estudo
considera-se, por meio destes breves relatos de experiência, apenas
uma pequena parte de três trajetórias distintas como acadêmicas do
curso de Psicologia, com a finalidade de socializar essas vivências e
conhecimentos inesquecíveis, importantíssimos e de grande
aprendizado profissional e pessoal. Durante o ano de 2019 as estagiárias
de Psicologia foram parte integrante da escola, possibilitando
riquíssimos compartilhamentos com professores, estudantes e
funcionários que, em nossa percepção, demonstraram como a
psicologia dentro do âmbito escolar, é necessária e o trabalho da
psicóloga e do psicólogo é integrar-se de forma continuada ao ambiente
escolar, em suas múltiplas demandas.

548
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Experiências de atendimento online a adolescentes de um CAPSi –


limites e possibilidades da sustentação de uma clínica na RAPS em
tempos de COVID-19

Leila Mignac
Suely Aires
Universidade Federal da Bahia - UFBA

Este trabalho objetiva apresentar as questões que advieram a partir da


experiência de estágio em um Centro de Atenção Psicossocial
Infantojuvenil (CAPSi) da cidade de Salvador e da consequente
necessidade de reinvenção da prática após a irrupção da pandemia.
Devido à impossibilidade de dar seguimento às ações presenciais nos
estágios, fez-se a aposta na continuidade dos atendimentos individuais
na modalidade online para que os sujeitos não ficassem desassistidos.
As reflexões aqui apresentadas se apoiam nas anotações dos
atendimentos, supervisão e discussão com a equipe de trabalho do
CAPSi. Sem os recursos usuais que um CAPS pode oferecer, como grupos
e ações territoriais, como sustentar o cuidado? Quais as possibilidades e
os limites de um atendimento online aos usuários de um CAPS
infantojuvenil? Caso a caso, foram sendo construídas apostas na
continuidade dos atendimentos: mediados por telefone fixo ou celular,
limitados ao uso da voz ou vídeo, atravessados por intercorrências
técnicas da internet e de terceiros (moradores da mesma residência).
Ainda que na modalidade remota, os atendimentos mantiveram-se,
sustentados pela transferência – noção cara para uma prática de
inspiração psicanalítica. Cada enquadre foi constituído a partir das
particularidades do caso e o dispositivo analítico reinstaurado a partir de
um reenlace: “estou aqui para escutar o que lhe preocupa”. Para alguns,
foi possível relançar o trabalho e produzir deslocamentos subjetivos;
para outros, ligar com regularidade para afirmar a disponibilidade de
escuta foi o gesto que se mostrou mais importante, em função da
impossibilidade de um trabalho mais consistente. Frente ao

549
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

compromisso ético-político do ato clínico de estar ao lado dos sujeitos


nesta dura travessia, evidenciou-se a necessidade de considerar a
singularidade de cada caso para a construção de um modelo de cuidado
possível – considerando que há aqueles que suportam a modalidade
online e outros que não; e estes últimos não devem ser, simplesmente,
ignorados nas novas condições de cuidado no campo da saúde mental. A
prática de estágio, limitada ao recurso do atendimento individual online,
levanta uma questão que diz respeito à atuação de um CAPS e que foi
esquecida, momentaneamente, devido ao risco de contágio do covid-19:
o primeiro referencial deve ser a clínica e sua dimensão ética, ou seja, o
ato de singularizar e construir estratégias diferentes a cada caso. Quais
serão aqueles que precisarão de atendimento domiciliar? Atendimento
presencial? Teleatendimento? Além disso, é possível realizar grupos e
oficinas em ambientes abertos ou ainda virtualmente? O que fazer com
o acolhimento a novos usuários? E quanto aos casos em crise, como
manejar? Concluímos, a partir do vivenciado e discutido, que trata-se de
uma necessária aposta na clínica no que diz respeito ao que um CAPS
pode ofertar enquanto cuidado – isto é, sustentar a modalidade
presencial sob diferentes modalidades para aqueles que necessitam e
lançar mão de recursos inventados a partir de um modelo online para
que não se instaure uma suspensão da assistência em saúde mental
durante a pandemia.

550
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Expressão corporal em dança: alternativa terapêutica diante de


sofrimentos psíquicos graves

Georgiano Joaquim Pereira Antonio dos Santos


Universidade de São Paulo

Camila Nogueira de Sá Boaventura


Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Introdução: Nas últimas décadas, o Sistema de Saúde Mental brasileiro


passou por mudanças estruturais e de paradigmas. Até 2001, este
sistema pautava-se na lógica da institucionalização e centralização da
oferta de serviços em hospitais, denominada de modelo
hospitalocêntrico. Com a Política Nacional de Saúde Mental,
referenciada na Lei Federal número 10.216/02, inicia-se a consolidação
do modelo de atenção à saúde mental pautado na
desinstitucionalização, isto é, a autonomia e reintegração da pessoa aos
contextos extramuros (família, comunidade, sociedade) tornam-se
norteadores dos serviços oferecido. Descrição da experiência: Trata-se
de uma experiência de estágio, desenvolvido por estudantes concluintes
do curso de Formação em Psicologia, em 2018, com usuários de um
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS-II). Utilizou-se como dispositivo
terapêutico oficinas de expressão corporal em dança. A oficina foi
nomeada pelos usuários de “Sonhadora”. Ao final de cada encontro
realizava-se uma roda de conversa na qual os participantes eram
convidados a falarem de suas dificuldades e angústias. Participaram
dessa intervenção 15 usuários, de ambos os sexos, com idades entre 20
e 60 anos, totalizando 14 encontros (1 hora e 10 minutos cada). Esta
proposta surgiu através de conversas com usuárias que expressaram o
desejo de oficinas nestes moldes, mais dinâmicas e menos repetitivas –
queixa generalizada entre os usuários do CAPS. Repercussões:
Pretendeu-se com a oficina possibilitar a vivência de um espaço
potencializador de criatividade e de ressignificação do adoecimento

551
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mental, o que não se mostrou algo simples. O trabalho via corpo


mostrou-se eficaz para esses objetivos, criando-se as condições para que
a comunicação, o fazer criativo, o brincar acontecessem. Cada usuário
agia de modo particular frente a proposta, com certa relutância
inicialmente. Contatava-se, frequentemente, estereotipia de
movimentos e dificuldade em realizar determinadas atividades por
conta da medicação psiquiátrica. Aos poucos, este espaço foi sendo
incorporado como um modo-grupo que comportaria, sem julgamentos,
as expressividades e afetos trazidos pela música e dança.
Incentivávamos diversas possibilidades de interação ente os usuários
neste momento. Nas rodas de conversa, evocavam lembranças sobre:
autonomia antes do adoecimento, amores, família, momentos felizes e
tristes. A transferência também se fazia presente, lembranças de filhos,
netos, sobrinhos eram depositadas sobre os estagiários. Constata-se que
o estabelecimento de vínculo entre usuários e estagiários foi
imprescindível para a efetivação da proposta. Mostravam-se
preocupados com as faltas e interessados em estar ali. Por exemplo,
uma usuária fazia sempre questão de dizer que não gostava de
participar de outras atividades, chegando à oficina ‘Sonhadora’ para
outros usuários. Ocorreram pedidos dos usuários de que esse tipo de
oficina pudesse ser ofertada mais vezes. Considerações Finais: Em linhas
gerais, consideramos que a oficina ‘Sonhadora’ pode ser experienciada
por alguns usuários como ambiente de sustentação no qual o gesto não
era imposto, acontecia de maneira a ir de encontro ao gesto espontâneo
destes indivíduos. A escolha dos usuários em preparar uma
confraternização na qual apresentariam uma coreografia a todos do
equipamento pode ser visto como uma expressão desse gesto
espontâneo, uma forma de se apropriar do próprio corpo, de senti-lo
como real, como seu (Winnicott, 1975).

552
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Expressividade e Prática Terapêutica: A Arte Como Um Caminho


Possível

Chayanne Silva Faustino


Conrado Pavel de Oliveira
Cyndi Lauper Silva de Freitas
Centro de Convivência e Cultura Recriar

O presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência da


organização de uma Oficina de Mosaico enquanto prática de expressão
artística, promoção de autonomia e laços sociais, a partir da vivência
com usuários do Centro de Convivência e Cultura Recriar, em Juiz de
Fora (MG), espaço articulado na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
pela Portaria n º 3.088 de 23 de dezembro de 2011. A oficina consistiu
na confecção de quadros com a junção de minúsculas partes de casca do
ovo pintadas, a partir da cooperação e criatividade dos usuários. A
oficina favorece o desenvolvimento da identidade (Lane, 2006) coletiva
e individual e geração de renda a partir da economia solidária. Elegeu-se
como métodos a observação participante no serviço desenvolvido e nas
assembleias ordinárias, ocorridas semanalmente, que em diálogo com a
equipe multidisciplinar, possibilitava aos usuários a construção de ações
coletivas de intervenções, melhorias e novas propostas para o serviço
em construção. A utilização do diário de campo permitiu sistematizar as
experiências compreendidas entre novembro de 2019 a março de 2020.
Através do mosaico, foram possíveis as seguintes abordagens: o
estímulo à criatividade psíquica de cada artista através da
expressividade na obra, a autonomia desde a preparação do material à
realização minuciosa do trabalho e o protagonismo na obtenção de
renda como um resultado do planejamento coletivo e maior apropriação
de si e da realidade enquanto sujeitos ativos, criativos e
transformadores na sociedade, marcada por contradições de classe
(Lane, 2006). Assim, a oficina aliou a arte ao fortalecimento de vínculos,
autoestima e protagonismo, consoantes à luta antimanicomial. A partir

553
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

do aprendizado compartilhado e por meio da arte como recurso


terapêutico na promoção do autoconhecimento e saúde mental, foram
produzidos materiais marcados pela representatividade do sujeito e pela
significação do seu conhecimento, criando um ambiente de descobertas
e desconstrução de estigmas. Pode-se concluir que o exercício da
criatividade a partir da oportunidade dos usuários experimentarem
inúmeras novas formas de mostrarem suas iniciativas está relacionado a
um tratamento baseado na concepção ampliada de saúde, que respeita
a capacidade de usuários da saúde mental se organizarem,
compartilharem, refletirem e viverem da forma mais digna possível.

554
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Extensão universitária como possibilidade de construção de cuidado ao


sofrimento psíquico na saúde da família

Silier Andrade Cardoso Borges


Milena Dórea de Almeida
Etiene de Santana Pires
João Paulo Almeida Souza
José Antonio Souza Vital
Vanessa de Lima França
Nelma Dias Ribeiro
Anna Carla Ribeiro Moreira Barbosa
Universidade Federal do Sul da Bahia

Este trabalho trata da experiência de docentes e discentes de Psicologia


no desenvolvimento de práticas de Intensificação de Cuidados e
Atenção Domiciliar à saúde mental vinculadas a uma Unidade de Saúde
da Família (USF) e propostas por um projeto de extensão e de estágio
básico de uma Universidade pública no extremo sul da Bahia no período
de abril de 2019 a março de 2020. As atividades de extensão é uma das
funções da universidade pública como forma de aproximação e vínculo
com a sociedade e tem o objetivo de aperfeiçoar o ensino e a assistência
a partir do encontro de saberes teóricos e práticos. Compreendendo as
características do território onde a Universidade está localizada, que
representa o contexto brasileiro, em que a insuficiência e precarização
dos recursos extra-hospitalares coaduna com um discurso e um projeto
político de desmonte de direitos defendidos pela reforma psiquiátrica e
garantidos pela constituição, a Intensificação de Cuidados se destaca
como um importante contraponto, já que defende como princípio
inalienável o cuidado em liberdade. Com esse princípio norteador,
fundamos o Projeto de Extensão em Intensificação de Cuidados na
Atenção Primária à Saúde Marcus Vinicius & Antonio Lancetti (ProIC-
APS) com o interesse de formar psicólogas no extremo sul da Bahia
preparadas para a atenção à saúde mental desde a ‘porta de entrada’ do

555
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Sistema Único de Saúde, empreendendo práticas de cuidado implicadas


no fortalecimento das relações vinculares no território. Em 2019, o
ProIC-APS participou de dois editais de projetos de extensão que
garantiu, por um ano, a subvenção de bolsas para a participação de
extensionistas em situação de vulnerabilidade econômica. No ProIC-APS,
as práticas desenvolvidas foram organizadas em quatro módulos: 1.
aproximação com a rotina da USF, seu processo de trabalho, suas
relações de poder e sua micropolítica, através da observação
participante das práticas multiprofissionais desenvolvidas pela equipe;
2. identificação dos recursos e potencialidades do território,
considerando os diferentes sistemas de cuidado; 3. realização de
práticas supervisionadas de Atenção Domiciliar aos usuários e seus
familiares, em dupla de extensionistas, articuladas à rede de serviços
socioassistenciais e de saúde; e 4. elaboração de diários de campo e
relatórios de estágio/extensão e publicização coletiva das experiências
em eventos. O ProIC-APS assume como referencial teórico e ético-
político a Intensificação de Cuidados, concebida pelo psicólogo e
professor Marcus Matraga, articulado ao conceito da Clínica
Peripatética, formulado pelo esquizoanalista e militante Antônio
Lancetti. Os acompanhamentos realizados não visavam prover
atendimento psicoterapêutico, mas acolher o sofrimento sem produzir
rupturas, diminuindo seu agravamento e interferindo sobre a dinâmica
da cronicidade. Dos diários de campo e dos relatórios do estágio,
extraímos os relatos que vão ilustrar a apresentação oral deste trabalho
e que pretendem evidenciar as angústias, as surpresas e os afetos que
atravessaram o desenvolvimento da escuta qualificada, da militância
antimanicomial e da sensibilidade clínica durante o processo formativo.
Tais práticas apostam na potência da corresponsabilização entre
estudantes, docentes, profissionais da Saúde da Família e usuários,
desinstitucionalizando a Atenção Primária e a formação em saúde a
partir da aproximação entre universidade e sociedade.

556
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Familiarmente: quem preserva os vínculos fortalece a rede

Gislany Camilla B. Cordeiro Silva


CAPS

INTRODUÇÃO: O grupo família denominado Familiarmente começou a


compor o serviço de saúde mental há três anos, inicialmente ofertado
como atendimento mensal aos familiares/cuidadores dos usuários
do/no CAPS e após uma satisfatória adesão e resultado positivo no
processo de melhoria e diminuição do número de crises, surtos e
internação dos usuários, o grupo família foi levado ao território, sendo
realizado nas UBS pela equipe do CAPS. Neste grupo família são
realizado palestras, dinâmicas e rodas de conversas frente as demandas
dos usuários e da própria família. Ofertando assim orientações para que
haja qualidade de vida e a consolidação dos vínculos família/usuário e
da rede de saúde. Promovendo o fortalecimento dos laços afetivos e
consequentemente prevenindo o aumento do fluxo de internações,
além de cuidar de quem cuida (família).
OBJETIVO: Fortalecer a rede de saúde mental com porta de entrada na
atenção básica para que haja a diminuição das internações em hospitais
psiquiátricos, assim como proporcionar a comunidade o papel de sujeito
ativo no processo de construção da sua saúde.
METODOLOGIA: Para realização do grupo família a UBS na pessoa da
enfermeira é informada e mediante os ACS os familiares e comunidade
são informados sobre o dia que ocorrerá o grupo. Esse convite é feito à
domicílio. No momento do grupo são realizados dinâmicas, palestras,
rodas de conversa, abordando temáticas como: sexualidade; transtorno
de humor, de ansiedade; a importância das medicações; auto
responsabilidade, higiene mental e física; entre outros.
RESULTADO: Foi observado que após a implantação do grupo família, a
comunidade e familiares estão mais comprometidos com a saúde
mental, assim como no cuidado dos seus membros que apresentam

557
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

algum tipo de transtorno. Além de diminuir o número de crises, surtos e


automaticamente a baixa no fluxo ao Hospital Ulysses Pernambucano.
CONCLUSÃO: Diante no cenário atual de retrocesso aos cuidados em
saúde mental, torna-se relevante a busca e implementação de
abordagens que vá de encontro ao retorno de formas desumanas de
tratamento. Não existe comunidade, território sem pessoas, sem seus
agentes. A saúde é um processo de construção coletiva, onde o usuário
precisa ser empoderado e para que isto venha acontecer, precisamos
trabalhar suas raízes, seu primeiro vínculo afetivo, seu primeiro
ambiente social: a família. Porque quem preserva os vínculos fortalece a
rede instituição.

558
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Fatores biopsicossociais relacionados à vulnerabilidade para


dependência química: Uma revisão integrativa.

Kerollayne Morais Araújo


CRAS

Kerollayne Morais Araújo


Faculdade Santa Maria - FSM

Jardel Araruna Pereira


Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - UNILEÃO

O fenômeno da dependência química (DQ) é considerado um problema


de saúde pública devido a sua expansão em todos os seguimentos
sociais. O tema do uso abusivo de substâncias psicoativas leva ao
panorama dos processos de saúde e doença que fazem parte da
constituição da história da humanidade. Assim, esse trabalho teve o
objetivo de identificar os resultados da produção científica acerca dos
fatores biopsicossociais relacionados ao desenvolvimento da
dependência química. Com isso, este trabalho pretendeu identificar
estudos sobre os fatores biopsicossociais relacionados ao
desenvolvimento de vulnerabilidade à dependência química,
aprofundando o conhecimento acerca dos processos envolvidos e de
como estes fatores podem servir de entraves para a recuperação.
Tratou-se, portanto de uma revisão integrativa de literatura, com
abordagem qualitativa. O propósito inicial foi o de agrupar as produções
realizadas entre os anos de 2013 e 2018 a fim de identificar as temáticas
mais frequentes no campo da dependência química e incorporá-las ao
estudo completo. A análise integrativa possibilita uma investigação
vasta e elaborada sobre o tema mediante a utilização de demais
pesquisas autônomas. Os resultados e as discussões obtidas a partir dos
estudos levantados coadunam ao estabelecer relações entre o contexto
social dos indivíduos e a construção cultural deste como fator

559
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

desencadeador para o comportamento aditivo. Do mesmo modo,


desenvolvem críticas diante da atuação do Estado no enfretamento
desse problema de saúde pública, ressaltando a importância da criação
de novas políticas assim como da ampliação das já existentes no Brasil. A
importância dessas contribuições se define pela necessidade de se
compreender e ainda de estimular a discussão sobre a dependência
química como problema de saúde pública, visto que é um tema que
delibera a desconstrução de estereótipos para que seja possível tratá-lo
com a devida atenção. Destarte, entende-se a dependência química
como um fenômeno complexo que envolve questões diversas onde se
entrelaçam aspectos como a vulnerabilidade social, criminalidade, a
deficiência do acesso aos direitos constitucionais por grande parte da
população e a ineficiência do Estado no que se refere ao cumprimento e
estabelecimento de medidas de prevenção da adição a drogas e
promoção da saúde daqueles que já se encontram no uso abusivo.
Assim, a literatura demonstrou a necessidade de reformulação da forma
como vem se trabalhando a dependência química, principalmente no
que se refere à criação de atitudes que visem fortalecer os vínculos
familiares e sociais dessas pessoas, tratando o problema de forma
coletiva e não apenas individual.

560
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Feira Preta de Troca de Tempo do Caps Infanto Juvenil Freguesia do


Ó/Brasilândia (São Paulo/Zona Norte): Uma Experiência de
Aquilombamento.

Estefânia Ventura
Pedro Henrique Guerra
Associação saúde da Família

São Paulo é o maior município do Brasil, com aproximadamente 11


milhões de habitantes, e é caracterizado por altos índices de
desigualdade social e racial. A Freguesia do Ó e a Brasilândia são bairros
dessa cidade e, respectivamente, apresentam 29,95% e 50,60% da sua
população autodeclarada como negra. Além disso, há uma importante
diferença entre esses dois subdistritos em relação aos processos de
vulnerabilidade social, muito mais acentuados na região da Brasilândia.
O Caps IJ Freguesia do Ó/Brasilândia realiza desde 2017 uma feira de
troca de tempo. Trata-se de uma proposta horizontal, na qual variadas
pessoas trocam tempo por tempo e todas as horas negociadas têm o
mesmo valor. O principal propósito dessa experiência é subverter a
lógica de monetarização dos objetos e ações. Na feira, os escambos e as
permutas seguem os caminhos dos afetos, dos bons encontros e da
produção de vida. Nesse contexto, ao final da nossa feira de 2018,
pensamos em articular essa proposta com as discussões que já
realizávamos no serviço sobre a dimensão étnico-racial do cuidado,
sobre a criação de práticas antirracistas e sobre a desconstrução dos
privilégios da branquitude.
Surgiu, desse modo, a primeira Feira Preta de Troca de Tempo do CAPS
Infanto-juvenil Freguesia do Ó/Brasilândia. Mais que um evento para o
mês de novembro (Consciência Negra), essa Feira foi um potente
momento de trocas e de significativa afirmação e ampliação do
protagonismo da população negra dos territórios da Freguesia do Ó e da
Brasilândia. Na nossa visão, efetivou-se uma maneira inovadora e

561
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

antirracista de realizar o cuidado territorial em saúde mental no Sistema


Único de Saúde (SUS).
A Feira foi organizada entre espaços de debates e discussões e
expressões culturais afro-brasileiras, com atores do território e outros. A
ideia era q preferencialmente as produções de oficinas e rodas de
conversas fossem protagonizadas por moradores e trabalhadores negros
da rede de saúde e educação do território e valorizando também a
importância das trocas com outros parceiros, de fazer uma composição
mais abrangente. Dentre as propostas tivemos oficinas de quadrinho e
auto retrato, rap ,poesia, diversos estilos de dança, manutenção de
bicicleta, coral, percepção corporal, turbante, culinária, tranças nagô e
duas rodas de conversas : Uma com o tema Saúde da População Negra e
outra Politicas de Direitos da População Negra com participação de
profissionais de diversos serviços usuários do serviço e população em
geral. Repercussões dos resultados: Aumento da motivação dos
profissionais do serviço para práticas antirracistas e produção de
Aquilombamento. Aprofundamento da atuação pautada
transversalmente pelo reconhecimento do racismo como fator
determinante de adoecimento psíquico.
Destaque de evidências dos privilégios da branquitude como ponto de
partida para sua desconstrução nos processos de trabalho. Destinação
de emenda parlamentar para o território em virtude do reconhecimento
do trabalho no CAPS infanto-juvenil pela organização da Feira Preta. A
partir desses eventos proporcionamos mais cuidados em saúde mental
em liberdade através dos valores culturais fortalecendo cada criança e
adolescente preta periférica da Brasilândia e assim guiar a sociedade
para um lugar no qual pode haver justiça social.

562
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Feito à mão: relato de experiência da oficina de geração de renda do


CAPS AD III como dispositivo de inclusão social pelo trabalho
colaborativo

Thiago Borges Ribeiro

Daniela Sousa de Oliveira


Universidade de Brasília

Angélica Bezerra Gomes


Escola Superior de Ciências da Saúde

Os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas - CAPSad III


são equipamentos especializados da Rede de Atenção Psicossocial –
RAPS, pautados na Reforma Psiquiátrica, substitutivos ao modelo
hospitalocêntrico. Tendo como objetivos a reabilitação psicossocial, a
estimulação de protagonismo dos usuários, e a melhora da qualidade de
vida deles a partir de atividades terapêuticas realizadas por equipe
multiprofissional e interdisciplinar, com proposta de atuar na lógica da
redução de danos. O usuário do CAPS AD é acompanhado por meio de
atendimentos individuais, em grupos, oficinas, visitas domiciliares,
assembleias, espaços de convivência, entre outros. Neste trabalho, será
abordado um relato de experiência da oficina de geração de renda como
uma proposta terapêutica e interventiva de gerar protagonismo e
reabilitação psicossocial dos usuários por meio do trabalho. A inserção
no mercado de trabalho dos usuários com necessidades decorrentes do
uso de álcool e outras drogas se torna um desafio, uma vez que estes
vivenciam a todo instante dificuldades de acesso à vida produtiva por
conta de preconceitos e estigmas sociais. Percebe-se então a
necessidade de serem desenvolvidas e trabalhadas questões de
cidadania e saúde mental, com a intenção de valorização do
desempenho de atividades ocupacionais que legitimem e tragam
reconhecimento social para os sujeitos. Nesse sentido, a oficina foi

563
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

criada há mais de cinco anos no CAPSad com o objetivo de favorecer o


protagonismo dos usuários e a reabilitação psicossocial por meio do
trabalho e geração de renda. Atualmente acontece diariamente das
8h00 às 18h00, supervisionada por profissionais das seguintes
categorias profissionais: Terapia Ocupacional, Psicologia e Técnico em
Enfermagem, com a finalidade de facilitar os processos de criação,
desenvolvimento e divulgação dos produtos, que são em sua maioria
fabricados a partir do corte e costura, tais como: bolsas de vários
modelos, pochetes, lancheiras térmicas, kits higiene, camas para
cachorros, além de colares, pulseiras, cordões personalizados para
crachá, dentre outros produtos. Em relação às vendas, os profissionais
auxiliam os usuários na busca de eventos para a exposição dos produtos
e o valor arrecadado é dividido em duas partes, ficando metade para o
participante e a outra metade para a compra de novos materiais para a
oficina. Há dias específicos para novos participantes, com um
acompanhamento mais próximo, e os outros dias são utilizados pelos
usuários que já conhecem as técnicas e conseguem desenvolvê-las de
forma mais autônoma. Vale ressaltar que os profissionais envolvidos na
oficina buscam sempre estimular durante o processo criativo, a reflexão
do papel do trabalho, de geração de renda e de atividades de cidadania
e reabilitação psicossocial para a saúde mental dos usuários. A oficina
“Feito à mão” é um espaço de acolhimento, escuta qualificada,
formação de vínculos, espaço criativo e de convivência, com
possibilidades de estimulação de habilidades sociais e cognitivas; um
lugar de treinamento, aprendizado e qualificação para o mercado de
trabalho formal e informal. Além disso, se apresenta como um espaço
de exercício da cidadania ao proporcionar a reabilitação psicossocial por
meio de geração de renda, valorizando experiências e a capacidade de
criação dos sujeitos.

564
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Florescer na escola: relato de intervenção em psicologia positiva e


cognitivo-comportamental com estudantes

Iara da Silva Nogueira


João Gustavo Chaves Maia
Gabriel de Alencar Sousa
Mateus Ribeiro de Moraes
Estefânea Élida Gusmão
Universidade Federal do Ceará

O presente estudo tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa


e intervenção “Florescer na Escola: Avaliação e Intervenção em
Psicologia Positiva e Cognitivo-Comportamental realizado com
estudantes de Fortaleza-CE”. A Psicologia positiva atua na busca pela
potencialização das qualidades humanas, possibilitando ir além de
“reparar o que há de errado” no indivíduo, buscando espaço para o
reconhecimento das virtudes humanas, como a esperança, a
criatividade, a coragem, a sabedoria, a espiritualidade e a felicidade, e
através delas prevenir patologias e danos. Aliado a esse corpo teórico a
Psicologia cognitivo- comportamental fundamenta técnicas e métodos
que auxiliam nos processos de psicoeducação e contribuem para a
intervenção focada no público adolescente dentro do sistema
educacional de ensino. Sabe-se que a ansiedade, a depressão e o
estresse têm sido grandes questões à saúde pública, principalmente, no
campo da educação. Nesse sentido, as intervenções que utilizam o
aporte teórico da psicologia positiva, bem como técnicas cognitivo-
comportamentais podem ajudar na promoção e prevenção de saúde dos
jovens estudantes e da equipe de docentes e funcionários da escola com
o objetivo de promover uma atmosfera psicológica favorável ao
florescimento saudável. Pretendeu-se, por meio de intervenções
advindas da Psicologia Positiva e da Psicologia Cognitivo-
comportamental, fomentar forças e virtudes pessoais como prevenção a
problemas psicológicos, bem como desenvolver habilidades de

565
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

resolução de problemas e técnicas que visem promover saúde mental


em estudantes de Ensino Médio dentro do sistema público de ensino.
Buscou-se também uma formação em Psicologia que abranja os
problemas específicos do público adolescente em contexto escolar,
tendo em vista a demanda crescente de atenção psicológica pelo
público estudantil e a relevância social da temática educacional. Durante
a fase inicial foi realizada uma aplicação de escalas de avaliação
psicológica com o intuito de conhecer as demandas a receberem
intervenções ou encaminhamentos. Com os resultados das escalas
foram realizadas intervenções temáticas, de forma breve, focal e em
grupo, utilizando como recursos rodas de conversa temática, técnicas de
colagem, música, literatura de psicoeducação, técnicas de dinâmica de
grupo, técnicas de mindfulness, abordagem de cognições, emoções e
comportamentos disfuncionais. Os resultados encontrados são
discutidos à luz da literatura e permitem abordar a saúde de
adolescentes de forma preventiva. São discutidas ademais das
contribuições das intervenções realizadas, os desafios encontrados no
percurso deste processo.

566
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Fonoaudiologia e Saúde Mental: a potência dos encontros para a


formação continuada e perspectivas compartilhadas

Laís Vignati Ferreira


CAPSij Osasco - SP

Carla Santiago de Resende Abranches


CAPSij Mariana- MG

Roberta Cristina Rodrigues Vieira


Juliana Bonatto Longo de Freitas
CAPSij Marília-SP

Fernanda Fudissaku
DERDIC São Paulo- SP

O fonoaudiólogo é um dos profissionais que compõem a equipe


interdisciplinar dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS). A profissão ganhou mais espaço e
visibilidade para a atuação na saúde mental a partir da publicação da
Portaria 336, de 19 de fevereiro de 2002, que cita a Fonoaudiologia
como uma das profissões que podem compor a equipe mínima dos
CAPSij. Entretanto, os registros da atuação fonoaudiológica nos cuidados
em Saúde Mental ocorrem desde o início da reforma psiquiátrica, com
intervenções em diferentes locais de atuação. Desde então, o número
de fonoaudiólogos que compõem e constroem a RAPS em conjunto com
os demais profissionais vêm crescendo e ganhando amplas
possibilidades de atuação.
Apesar de importantes contribuições de vários fonoaudiólogos, que têm
desenhado as perspectivas de trabalho no campo da atenção
psicossocial, ainda nos defrontamos com certos estranhamentos. Em
relação aos usuários dos serviços de saúde, é observado o imaginário de
busca pelo psi (psiquiatra ou psicólogo) ao adentrarem um serviço de

567
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde mental. Quanto à equipe, há questionamentos sobre o


lugar/papel/relevância do profissional fonoaudiólogo neste cenário. Por
que esse estranhamento ainda persiste, mesmo após anos de atuação
fonoaudiológica nos CAPS? Qual o lugar, então, destinado ou ocupado
pela Fonoaudiologia neste serviço? Procurando pensar tais
questionamentos, um grupo de fonoaudiólogas, com histórico de
trabalho em Centros de Atenção Psicossocial da região Sudeste do
Brasil, se reuniu em um grupo de estudos quinzenal. Após alguns
encontros, foi possível conceber que, fonoaudiólogas se encontram
exercendo suas funções nos CAPS e compondo a RAPS em diferentes
pontos, com a atuação fundamentada à partir de formações distintas
em diferentes escolas. O grupo de estudos permitiu compreender que
todas as participantes encontraram possibilidades de atuação nos
serviços dos quais fazem parte, cada qual a partir da sua história e com
seu olhar. Mesmo sob diferentes perspectivas, busca-se conhecimento e
formação em temas que se demonstraram presentes no cotidiano,
como Atenção Psicossocial e as clínicas possíveis para a Fonoaudiologia.
Nota-se que a linguagem, sob as mais variadas perspectivas teóricas, é o
eixo de encontro de tais profissionais e que é ela (a linguagem),
fenômeno sócio-histórico-cultural e psíquico, que leva o fonoaudiólogo
aos CAPS. Observa-se que, após a permanência nos serviços da RAPS, as
fonoaudiólogas constroem uma escuta privilegiada e aprofundada.
Nota-se que a atuação profissional não precisa, necessariamente, estar
demarcada ou territorializada, pois é a partir da inserção de cada
profissional, da trajetória pessoal e profissional que o vínculo instituição
- profissional foi validado. O grupo de estudos tem fortalecido essa rede
de profissionais quanto aos questionamentos supracitados e, também,
quanto à construção compartilhada e artesanal da atuação nos CAPS e
possibilidades de articulação na RAPS. Há também a perspectiva
produção científica coletiva para que haja impacto na formação
acadêmica de fonoaudiólogos e na compreensão da equipe quanto a
inserção dos mesmos. Os encontros ampliam o fazer, o olhar, a escuta e
acrescentam às práticas, tornando as vivências institucionais cada vez

568
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mais diversificadas e inclusivas, fortalecendo os profissionais em seu


campo de atuação.

569
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Fonoaudiologia e Saúde Mental: experiência do Grupo Comunicar no


CAPS III do município de Abreu e Lima

Ariana Elite dos Santos


Prefeitura Municipal de Abreu e Lima

Elma de Carvalho Malta Diniz


Eroneide Maria de Moraes
Secretaria Municipal de Saúde de Abreu e Lima – PE

INTRODUÇÃO: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) fazem parte


da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e são constituídos por equipe
multidisciplinar que presta serviços de saúde de caráter aberto e
comunitário às pessoas com sofrimento ou transtorno mental. A
fonoaudiologia tem, como objeto de estudo, a comunicação humana e
os processos que a tornam possível, como a linguagem, a cognição, a
fala, a audição e também suas variações e desordens. Pensando na
comunicação como instrumento de socialização, o fonoaudiólogo pode
contribuir ativamente para a reabilitação psicossocial nestes serviços.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Este relato de experiência foi desenvolvido
através de observação e análise das atividades realizadas no Grupo
Comunicar e das evoluções em Livro de Registro num período de 01 ano
(2019), com o objetivo de analisar a contribuição deste Grupo no
processo de reabilitação psicossocial. Foi realizado no CAPS III do
município de Abreu e Lima - PE, que atende um público específico de
usuários de ambos os sexos, a partir dos 14 anos, que apresentam
sofrimento ou mental. O serviço funciona na modalidade 24h e atende
por demanda espontânea ou encaminhada de outros serviços. No CAPS
III são oferecidas atividades individuais e grupos terapêuticos, um destes
é o Grupo Comunicar, resultado da Tese de Doutorado da fonoaudióloga
mediadora. A proposta do Grupo é desenvolver ou aperfeiçoar as
habilidades comunicativas importantes para o relacionamento

570
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

interpessoal, além de propor mais um espaço para acolhimento e


escuta. Este grupo foi realizado pela fonoaudióloga 2 vezes por semana,
com duração de 60 minutos cada encontro, tendo como público os
usuários do serviço que aceitassem participar. No Comunicar, foram
estimulados os processamentos linguísticos/comunicativos como:
discurso, léxico-semântico, prosódia e pragmática por meio de
estratégias específicas e diretivas para as determinadas finalidades. O
programa terapêutico do Grupo constou de atividades de narração de
histórias (discurso), jogos de relação semântica e evocação lexical
(léxico-semântica), canto e dramatização de cenas (prosódia) e jogos de
metáfora e fala indireta (pragmática). Ao final das atividades, a música
era utilizada como instrumento facilitador da interação social e do
desempenho comunicativo. REPERCUSSÕES: Observou-se melhora nas
habilidades comunicativas dos que participaram frequentemente,
principalmente nos aspectos pragmáticos (uso da linguagem nos
contextos sociais, como percepção de metáforas e ironias) e prosódico
(entonação linguística e emocional). A participação nos grupos
promoveu um aumento de vínculo com a mediadora e com os demais
colegas, o que, por si só, já facilitava a interação interpessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar da heterogeneidade do Grupo em
relação a faixa etária, escolaridade e transtornos, foi possível adaptar as
atividades e adquirir resultados satisfatórios, principalmente dos que
frequentavam assiduamente. A atuação fonoaudiológica no CAPS, além
de contribuir para reinserção social do indivíduo em sofrimento mental,
alertou a equipe quanto as diversas possibilidades que a comunicação
pode trazer para o usuário e contribuir para a sua qualidade de vida.

571
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formação em Psicologia em tempos de pandemia: um diálogo entre


saúde mental e marcadores sociais de diferença.

Thuane Rosa do Carmo


Hiôrran da silva Freitas Dalcin
Camila Athayde de Oliveira
Bruna Sales da Silva
Isabella Almeida de Oliveira
Ednalva de Araujo Santos
Patricia Castro de Oliveira e Silva
UNIGRANRIO

O conceito de saúde mental pensado no contexto da pandemia explicita


a necessidade de se pensar um processo de saúde mais amplo, que
contemple o debate acerca dos marcadores sociais de diferença e
desigualdades. Por isso, debater marcadores de gênero, raça, classe e
território nos parece de grande importância para pensar tanto a
contemporaneidade quanto a conclusão do curso em Psicologia. Essa
intervenção foi pensada para o estágio específico de modo que
consigamos compreender, identificar e propor estratégias para lidarmos
com os diversos desafios que envolvem a saúde mental e o cenário
pandêmico que nos atravessa.
Este trabalho é um relato de experiência que emerge da prática
realizada através do projeto desenvolvido no Estágio Supervisionado em
Psicologia e Práticas Institucionais em uma universidade privada do
estado do Rio de Janeiro. O objetivo é compreender como o COVID-19
tem atravessado o cotidiano do curso de Psicologia. As entrevistas
conduzidas têm como metodologia a cartografia, cuja proposta é
encontrar-se com experiências vivenciadas por alunos e professores de
Psicologia que estão participando das aulas remotas.
No contexto do isolamento provocado pela pandemia, as dinâmicas
sociais sofreram várias modificações e foi preciso nos adaptar às
limitações do cotidiano. A formação superior também se viu atravessada

572
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

pelo contexto. Dessa forma alunos/as e professores se viram desafiados


a repensar os processos educacionais no do modelo remoto. Através das
entrevistas cartográficas foi possível perceber nos relatos dos alunos a
dificuldade de alguns em acessar as aulas remotas devido às restrições
com o uso da internet na periferia, fator característico da Baixada
Fluminense. Pela dificuldade de acesso à internet e a complexidade das
plataformas escolhidas para a execução das aulas, os alunos relatam
impactos com o ensino e aprendizagem, fatores que causam desânimo e
sofrimento. É preciso também considerar que a área do campus em
questão é localizado e atravessado por imensa desigualdade social e
dificuldades em acesso à internet. Muitos usuários de internet, inclusive,
estão à mercê de conexões clandestinas mantidas por grupos de poder
local.
A consequência é sobrecarga e instabilidade das conexões, assim como
a descrença que os alunos mostram em relação a continuidade da
formação, bem como da realização das atividades práticas. Por outro
lado, docentes relatam sentir os impactos da ausência de participação
dos alunos nas aulas remotas, o que nos leva a reflexão sobre o quanto
esses atravessamentos sociais impactam no ensino e aprendizagem.
Também encontramos atravessamentos de gênero o relato de discentes
e professoras a sobrecarga com as multitarefas domésticas atravessadas
por papéis sociais, vivenciando em tempo integral a maternidade
somada com os empregos formais em home office as tarefas do lar e, no
caso das professoras, a preparação e realização das aulas remotas.
Todos esses fatores apontam grande impacto na saúde das mulheres.
Efetivamente tem sido possível usar o ambiente remoto de maneira
potente para propiciar encontros e diálogo aberto sobre a temática,
apesar das circunstâncias. Pelas intervenções realizadas tem sido
possível, além de ampliarmos nosso campo prático, pensar as
interseccionalidades nas (im)possibilidades cotidianas de alunos/as e
professores atravessados pela pandemia.

573
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formação em psicologia: construindo um ensino antimanicomial

Maria Isabel Quiñonez de Oliveira


Isabel Passos Delforge
Maria Stella Brandão Goulart
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Rinaldo Conde Bueno


Professor de Psicologia da Faculdade Doctum- João Monlevade

Este trabalho tem por objetivo compartilhar a vivência de duas discentes


da graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), no contexto da experiência de (trans)formação do ensino da
disciplina de Psicopatologia Geral II, através da perspectiva
antimanicomial. Até o segundo semestre de 2018, período em que
ocorreu a mudança, a disciplina era realizada no hospital psiquiátrico
Instituto Raul Soares, com a prática da apresentação de pacientes em
que são realizadas entrevistas com os internos, com o intuito de estudar
a semiologia e a nosologia dos transtornos mentais. Considerando o
posicionamento crítico do Conselho Regional de Psicologia de Minas
Gerais e dos movimentos antimanicomiais contrários a essa prática, a
reformulação da disciplina se deu com o objetivo de entrelaçar a
formação profissional com a realidade do cuidado em liberdade na Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS). Em sua construção, participaram cinco
professores do departamento em conjunto com membros da Associação
de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais. A disciplina
foi pensada a partir da indissociabilidade entre teoria e prática. Sendo
assim, foram ministradas aulas teóricas sobre a lógica e o
funcionamento da RAPS de Belo Horizonte, proporcionando o
conhecimento dos princípios do cuidado em liberdade realizado nos
serviços substitutivos do Sistema Único de Saúde. Em seguida,
ocorreram rodas de conversa com usuários dos serviços, possibilitando a
aproximação dos alunos com as vivências das pessoas com sofrimento

574
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mental. Além disso, os estudantes se dividiram em grupos e formularam


oficinas que aconteceram nos Centros de Referência em Saúde Mental -
Álcool e Outras Drogas (CERSAM - AD) Pampulha, CERSAM AD Nordeste
e no Centro de Convivência Pampulha. Essas atividades ocorreram com
a intenção dos discentes entrarem em contato com os usuários e com os
serviços em funcionamento. Ao longo da disciplina, os alunos foram
incentivados a irem nas reuniões do Fórum Mineiro de Saúde Mental, a
fim de discutir a importância da participação dos usuários na formulação
das políticas públicas que os envolvem. A mudança na lógica da
disciplina de Psicopatologia Geral II apresentou potencialidades e
limitações. Os estudantes avaliaram positivamente as vivências teórico-
práticas do cuidado ofertado pela RAPS, nas realidades dos serviços e
em contato com os usuários. Apesar disso, houve resistência dos
estudantes em abandonar as noções tradicionais do ensino de
psicopatologia, ancorado na classificação dos transtornos mentais.
Evidencia-se, então, que o fortalecimento de práticas antimanicomiais
requer que a formação em psicologia seja pautada pelos princípios da
reforma psiquiátrica, já que esta demanda, para além da substituição
dos serviços, uma mudança na lógica assistencial. Para que isso ocorra, é
importante que a perspectiva da atenção psicossocial esteja presente no
ensino sobre o sofrimento mental. Neste sentido, a experiência de
transformação relatada provocou um grande avanço ao ter inaugurado
no curso de Psicologia da UFMG formas de ensino antimanicomiais,
promovendo a construção de um conhecimento implicado com a
cidadania dos usuários e rompendo com os olhares estigmatizantes
acerca da loucura.
Palavras Chave: formação, psicologia, serviços substitutivos.

575
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formación de una Clínica Comunitaria, en el ámbito de una


Universidad pública: aportes a la construcción de una clínica de la
singularidad.

Débora Gribov Novogrebelsky


Andres Techera
Universidad de la República Uruguay

En este trabajo aspiramos a compartir algunas ideas y preocupaciones


en torno a la formación de estudiantes de grado y posgrado en clínica
comunitaria con perspectiva interdisciplinaria.
Como docentes de la Universidad de la República, institución de larga
trayectoria democrática y referente de una concepción de Universidad
popular y latinoamericana. Preocupada por el desarrollo de
conocimiento con calidad académica y pertinencia social, frente al
avance de la mercantilización de la salud en general, nos proponemos
contribuir con la construcción de una clínica contrahegemónica, basada
en fundamentos éticos, ideológicos, técnicos y profesionales.
Como premisa general, entendemos que el desarrollo de una praxis no
se despliega por fuera de la concepción y modo de entender el mundo
en general y de su realidad concreta en particular. Desde esa convicción
y para ser coherentes con la misma, entendemos en consecuencia que la
formación de trabajadores en el campo de la salud e indudablemente su
práctica, implica atender varios factores que hacen a esa complejidad.
Problematizar la clínica, priorizando los elementos coyunturales e
históricos nos conduce a pensar y construir una clínica que
denominamos, contextualizada y subjetivante.
Desde el lugar que nos posicionamos, la singularidad se impone, lo que
conlleva a tomar en cuenta las diferentes variables que la componen
que al ser tomadas en cuenta, nos posibilita construir un concepto de
salud basada en el respeto de los Derechos Humanos.
Tomar esta posición y actuar en consonancia ha generado y genera
escenarios de confrontación, donde queda claramente en evidencia, una

576
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

disputa por el poder tanto a nivel ideológico, como político y


económico. En el ámbito universitario se ve reflejada en los organismos
de cogobierno universitario, en los perfiles individuales de las
autoridades en general y en la correlación de fuerzas en pugna. La
tendencia hegemónica se orienta a pensar en términos de producción
con parámetros de eficiencia y eficacia en términos mercantilistas. En
este sentido, la distribución presupuestal, hacia la interna universitaria,
refleja crudamente esta realidad, asignando el ya insuficiente
presupuesto universitario a las áreas llamadas de las ciencias duras,
postergando sistemáticamente las necesidades de las áreas de la salud y
lo social.
Agregamos otro tipo de variable que incide en la construcción de la
cultura en general y que impone un tipo de clínica funcional al sistema.
Nos referimos al manejo y percepción de la temporalidad, donde la
inmediatez reina, ligada a la economía, en términos de eficiencia, gastos
e inversiones. Esto resulta, en prácticas deshumanizantes en tanto el
factor tiempo, elemento constitutivo de la subjetividad, se ve capturado
en la exigencia de lo inmediato, obturando el espacio-tiempo
imprescindible para captar o asir la singularidad.
Esta complejidad queda de rehén de marcos de funcionamiento
mercantilista de las instituciones de salud y de una clínica sujeta a un
tiempo de producción, donde se reduce la capacidad del encuentro,
irremplazable en la construcción del vínculo terapéutico sanador.

577
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formando médicas(os) humanizadas(os) em Saúde Mental: quebra de


paradigma, pandemia e o cotidiano de sofrimento
em um CAPS do interior de SP

Ramiz Candeloro Pedroso de Moraes


Estácio - Ribeirão Preto/SP

Este trabalho tem o objetivo de trazer um relato de experiência de um


psicólogo, professor e supervisor de alunos do internato de Medicina
em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) do interior de São Paulo,
em tempos de pandemia – COVID 19. Neste ano de 2020 diversas
formas metodológicas de trabalho no CAPS aconteceram – psicoterapias
em grupo, psicoterapias individuais, diagnóstico e tratamento
psiquiátrico com outros supervisores médicos. Normalmente estudamos
os casos antes do atendimento, os alunos atendem e posteriormente
discutimos o caso. Quando há questões críticas de sofrimento intenso
e/ou ideações suicidas, os internos me chamam para atender com eles.
Eles atendem individualmente ou em duplas e cada grupo de internos,
“roda” duas semanas comigo no CAPS, porque durante os meses de
internato em Saúde Mental, frequentam Urgência/Emergência, hospital
psiquiátrico, associação de familiares e pessoas com transtornos
mentais e outros CAPS. Nos meses mais críticos, nós professores
continuamos atendendo sem os alunos – um compromisso da
universidade com os serviços e sujeitos. Como supervisor psicólogo em
um curso de Medicina, procuro produzir com os alunos, profissionais e
usuários do serviço, reflexões e práticas que entrelaçam clínica
ampliada, gestão, rede de atenção psicossocial e participação política,
todos em uma perspectiva histórica e crítica, situando-os que temos a
possibilidade de atuar em um modelo psicossocial. Tenho observado a
ampliação massiva de ideações e tentativas de suicídio, com sintomas
depressivos entre os casos atendidos, a partir de uma experiência de 10
anos trabalhando/estudando a Saúde Mental. Como fazemos a
psicoterapia individual, os alunos do internato de Medicina têm rompido

578
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

paradigmas importantes em relação ao modelo biomédico e percebido o


real sofrimento subjetivo destas pessoas, em detrimento dos seus
sintomas. Peço que coloquem a “doença entre parênteses”, não olhado
para o estigma, mas sim para a experiência-sofrimento como
preconizava Franco Baságlia, médico ícone da Reforma Psiquiátrica
Italiana. As discussões são ricas em aspectos éticos, não punitivos e
subjetivos, próprios de um processo de humanização na formação de
futuras(os) médicas(os). Como contradição a isto, percebo que com a
pandemia, o paradigma psiquiátrico clássico intensificou seu assombro
ao CAPS, exemplificados por: a) constantes visitas de consultores
farmacêuticos aos psiquiatras; b) equipe do serviço composta por mais
do triplo de psiquiatras em relação à profissionais de Psicologia; c) sem
os grupos, o atendimento ambulatorial é quase que único, prejudicando
a lógica psicossocial conquistada pelas reformas psiquiátricas europeia
pelo mundo. É nestas contradições, pautados por processos
macropolíticos excludentes e com interesses econômicos, que a Saúde
Mental encontra, em seus mecanismos micropolíticos, ou seja, no
cotidiano do trabalho, o sentido e o cuidado humanizado. Quando vivi e
trabalhei na Saúde Mental em Santos-SP, berço da reforma psiquiátrica
brasileira, sempre fiz alusão ao livro “Contra a maré à beira-mar” dos
meus professores, hoje, no interior, como poderia ser esta frase?

579
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Fortalecimento e visibilidade da mulher universitária e "dona de casa"

Débora da Gama Matos


Ladislau Ribeiro do Nascimento
UFT - Fundação Universidade Federal do Tocantins

A despeito de conquistas importantes, sobretudo entre os séculos XX e


início do século XXI, incluindo direito ao voto e inserção no mundo do
trabalho, mulheres defrontam-se cotidianamente com inúmeros
desafios nesta sociedade influenciada pelo ideal burguês de família.
Mais especificamente nas universidades, deparamo-nos com uma
diversidade considerável de mulheres, muitas encontram força em
coletivos diversos. Há grupos potentes e atuantes nas intersecções
envolvendo classe, raça e gênero. Todavia, a reboque das políticas de
democratização do ensino superior, abrangendo a interiorização das
universidades federais, temos percebido a presença de mulheres
outrora distantes dos bancos universitários. Estamos falando sobre
mulheres que tiveram suas trajetórias de vida balizadas pelas
imposições e pelos limites vinculados aos papéis de “donas de casa” ou
“do lar”. Em meio ao conflituoso e desigual contexto universitário,
vivendo na condição de mulheres, a alcunha de “dona de casa” ou “do
lar” intensifica as experiências de exclusão e de invisibilidade daquele
grupo na universidade. Sendo assim, tendo em vista a vulnerabilidade
deste grupo, propusemos uma intervenção psicossocial no âmbito de
um projeto de apoio ao discente ingressante na universidade. A ideia
pela realização do trabalho surgiu a partir de uma experiência em um
projeto denominado Programa de Apoio ao Discente Ingressante (PADI),
vinculado à Universidade Federal do Tocantins (UFT), no qual a autora
deste trabalho desempenhou atividades de tutoria com os alunos
ingressantes dos cursos de graduação do campus de Miracema do
Tocantins. O trabalho aqui relatado ocorreu no ano de 2019. No
primeiro semestre, oferecemos monitorias sobre formatação e
estruturação de trabalhos acadêmicos. A partir daquela experiência,

580
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

surgiram dados que permitiram elaborar uma nova proposta de trabalho


para o segundo semestre. Havíamos observado o fato de as monitorias
do primeiro semestre terem sido frequentadas por inúmeros
estudantes. Contudo, notamos a ausência de um público
expressivamente minoritário, silenciado, composto por mulheres,
negras, casadas e/ou mães. Invariavelmente excluídas de atividades
coletivas no contexto acadêmico, aquelas mulheres que se definem e
são definidas como “donas de casa” estariam no centro de nossas
atividades a partir daquele momento. Projetamos para o segundo
semestre daquele ano a realização de uma intervenção psicossocial
voltada para “mulheres universitárias e ‘donas de casa’”. Tivemos como
objetivos criar espaços de fala e de escuta, promover pertencimento,
fortalecer a autoestima, desconstruir preconceitos, e promover saúde
mental em um grupo de mulheres. As atividades incluíram rodas de
conversa e oficinas voltadas para a elaboração de “escritas sobre si”. Um
tema-chave era escolhido para cada encontro. Em geral, as participantes
falavam sobre as dificuldades enfrentadas para o exercício dos papéis de
universitárias, esposas e /ou mães. A monitora criava condições para as
participantes partilharem experiências e estratégias para lidarem os
desafios cotidianos. No trabalho envolvendo “escritas sobre si”, criamos
condições para cada participante resgatar a própria história por meio da
elaboração de memoriais. O trabalho despontou como dispositivo
potente para a promoção de saúde mental. As rodas de conversa e as
produções escritas viabilizaram ressignificação de experiências, criação
de laços, circulação de afetos, formação de vínculos e pertencimento.

581
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Fórum Intersetorial de saúde mental e integralidade do cuidado:


tecendo redes no território

Roseane da Silva Farias


Izolda de Araújo Dias
Hozana França
Silma de Oliveira
Eduardo Augusto
Luíse Tszesnioski
Secretaria Municipal de Saúde de Maceió

Introdução: O Fórum intersetorial de saúde mental e integralidade do


cuidado que têm por objetivo promover um espaço de debates e trocas
de experiências entre pessoas e organizações que vêm construindo as
práticas em saúde mental, visando o desenvolvimento da qualidade dos
serviços em articulação com a comunidade. A idealização desse Fórum
advém de articulações entre profissionais que estiveram participando do
I Encontro Da Raps De Maceió, Saúde Mental e Redução de Danos:
Radicalizando o Cuidado no Território que ocorreu nos dias 03 e 04 de
setembro de 2019. Objetivo: Potencializar as parcerias entre
trabalhadores, usuários dos serviços, suas famílias e comunidades; Criar
oportunidades para troca de ideia e discussão de outras opções para o
avanço no cuidado em saúde mental, incluindo examinar o uso de
medicamento como condição do tratamento em saúde mental;
Possibilitar a reflexão dos profissionais e trabalhadores da saúde sobre a
importância de construir novas estratégias de abordagem em saúde
mental, juntamente com os usuários dos serviços e suas famílias;
Discutir e divulgar experiências inovadoras que vem produzindo
mudanças significativas no campo da saúde mental no território.
Metodologia: Roda de conversa com os trabalhadores e estudantes da
área da saúde, saúde mental e da rede intersetorial; usuários dos
serviços de saúde mental e seus familiares Resultados: O I Fórum foi
realizado com a rede do I Distrito Sanitário e teve a participação de

582
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diversos serviços do território. Assistência Social, Saúde, Educação


Realizamos a discussão ampliada sobre o histórico do cuidado em saúde
mental, a legislação, houve a escuta das experiências desenvolvidas
pelos serviços e apresentação de algumas práticas integrativas.
Considerações finais: O espaço constitui-se um potente para contribuir
com a reflexão sobre as ações terapêuticas, dialogando sobre a
construção de um projeto coletivo de cuidados ampliados voltado para a
prevenção, a promoção e a proteção da saúde mental no Território.

583
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Gestão Autônoma da Medicação: experiência em um serviço


substitutivo de Saúde Mental da cidade de Belo Horizonte

Nívia Teodoro Vasconcelos


Prefeitura de Belo Horizonte

Em tempos de consumo, foi-se construindo uma mitologia em torno do


objeto “medicamento”, que culminou na sua eleição, em vários
momentos, como principal tecnologia de tratamento no campo da
Saúde Mental. À despeito dos avanços da Reforma Psiquiátrica
Brasileira, “a medicalização se mantém como prática não reformada”
(CAMPOS, 2011). O uso indiscriminado faz com que os sujeitos se
separem de seu tratamento e tenham tratamentos fragmentados.
A decisão compartilhada é uma prática surgida na saúde mental e
tomada como exemplo por outras áreas da medicina e da saúde. Prática
de cuidado que necessita ser preservada constantemente. (DEEGAN;
DRAKE, p. 1638, 2006). Tendo em vista o contexto pouco crítico de
utilização de medicamentos psiquiátricos e o valor simbólico que esta
medicação carrega em nossas sociedades atuais (TESSER, 2008), foi
desenvolvida em Québec, no Canadá, uma nova abordagem interventiva
intitulada Gestão Autônoma da Medicação (GAM). É uma ferramenta
que visa autonomia e cogestão do tratamento e é também uma
ferramenta de análise. Discutir o tratamento, qualidade de vida e rede
de apoio, são as propostas principais da GAM. Com o auxílio de um guia
impresso, que foi adaptado para a realidade brasileira, os usuários são
convidados a falar sobre suas vidas, compartilhar conhecimentos,
adquirir informações sobre medicamentos e sobre os direitos dos
usuários de saúde mental, dentre outros. O arranjo operacional utilizado
foi o Grupo de Intervenção. Todos os nove Centros de Atenção
Psicossocial da cidade de Belo Horizonte sediaram grupos GAM. Neste
trabalho, serão apresentados os resultados do grupo realizado em um
destes CAPS, no período de maio de 2018 a setembro do mesmo ano.
Foram realizados 15 encontros, com média de uma hora e meia de

584
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

duração cada. Participaram destes encontros uma psicóloga residente,


uma médica residente, uma terapeuta ocupacional e uma farmacêutica
do serviço. Participaram 10 usuários (grupo fechado). Contou com alta
taxa de adesão dos usuários, com ótima frequência de participação nos
encontros. Dentre alguns breves apontamentos: todos os usuários
relataram grandes períodos de tristeza/solidão após o início do
tratamento, relacionados às incertezas quanto à sua condição de saúde
e de vida, temores quanto ao uso da medicação e não esclarecimento de
seus efeitos. Apontaram diálogo deficiente com os profissionais e falta
de informação quanto aos medicamentos, variáveis ainda muito
presentes nos tratamentos. Os resultados apontaram também que o
acesso dos usuários a informações sobre seus direitos ainda é
excessivamente restrito, o que dificulta a organização política e Controle
Social. A GAM se mostrou uma poderosa ferramenta que possibilita a
apropriação dos usuários quanto ao uso da medicação e uma reflexão
dos efeitos em sua vida, estimula o diálogo aberto e propicia um
ambiente protegido para as trocas. Se mostrou também eficiente
enquanto ferramenta de cuidado diário.
O uso de medicamentos se constituiu aqui como dispositivo de análise
das práticas atuais em Saúde Mental.

585
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Graduação e o adoecimento psíquico: uma experiência interventiva no


interior do Estado do Ceará

Sara Cavalcante Brasileiro


Antônia Vaneska Timbó de Lima Meyer
Fernanda da Fonseca Giasson
Francisco Jocelino Oliveira de Sousa
Marina Machado Alves Dias
Larissa Gomes Pereira
Kamille Silva Linhares
Vera Lúcia Leal Batista
Bruno Calixto da Silva
Universidade Estadual do Ceará

A vida acadêmica que, muitas vezes, inicia-se na adolescência e segue


em direção a vida adulta, é uma fase marcada por ocorrer inúmeras
mudanças sociais, biológicas e psicológicas com o indivíduo. Durante
essa fase de transição, é comum o aluno sentir o impacto de sua
autonomização da família, além de lidar com uma nova rotina, com o
excesso de horas de estudos, insegurança no mercado de trabalho,
estresse de conflitos nos vínculos acadêmicos e dificuldade de se manter
financeiramente na universidade. Desse modo, a qualidade dessa
transição pode provocar respostas negativas e níveis elevados de
adoecimento psíquico, causado pelas situações do contexto. Diante
deste cenário, o Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPSI) da Universidade
Estadual do Ceará, em 2017, promoveu intervenções com estudantes
universitários de três cidades do interior do estado do Ceará: Quixadá,
Itapipoca e Limoeiro do Norte. Essas ações tiveram como objetivo
discutir as relações de ansiedade, eventos estressores e as principais
dificuldades que afetam esses jovens, assim proporcionando um suporte
aos alunos de graduação em sofrimento psíquico. Em cada município
trabalharam-se as temáticas “Meu papel na universidade”,
“Motivações”, “Estresse e Ansiedade” e “Exigências do mundo

586
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

contemporâneo”. As atividades foram desenvolvidas com base no


referencial teórico do Psicodrama. Os alunos apresentaram suas
reflexões acerca do momento experienciado, destacando suas
impressões pessoais. A análise do material obtido foi discutida de modo
a reconhecer fatores que poderiam prejudicar o rendimento acadêmico,
pessoal e outras variáveis psicossociais. Com os resultados desse estudo
observou-se que o distanciamento físico familiar e, consequentemente,
a saudade desses vínculos afetivos se apresentam como um recorrente
dilema estressor, presente no processo de formação superior desses
estudantes. Além disso, destaca-se a relação desproporcional de divisão
de tempo entre estudo e trabalho. O tempo investido em ofícios
remunerados, como uma forma de sobrevivência, muitas vezes, impõe
limitações acadêmicas a esses indivíduos, tais como a participação em
atividades importantes para o processo de formação profissional. Em
vista disso, a influência desses fatores no cotidiano dos universitários
pode, em diferentes graus, impactar na permanência destes no
ambiente acadêmico. Por fim, ao analisar as ações e reflexões realizadas
conclui-se que, embora a entrada na universidade seja uma conquista
muito almejada, a permanência nesse ambiente requer desses jovens
muitas renúncias e responsabilidades estressantes e ansiogênicas.
Torna-se necessária a ampliação de estudos sobre os fatores envolvidos
nessa dinâmica entre graduando e instituição de ensino superior, a fim
de evidenciar possíveis estratégias de enfrentamento e maior reflexão
acerca de tais dilemas.

587
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo Comunitário de Saúde Mental: possibilidade de produção do


cuidado em saúde mental durante a pandemia

Edirlei Machado dos Santos


Camila Vitória Leite Fleury dos Reis
Anna Carla Bento Sabeh Cappi
Mariana Alvina dos Santos
Anneliese Domingues Wysocki
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Helca Franciolli Teixeira Reis


Universidade Federal da Bahia

Teresa Cristina da Silva Kurimoto


Universidade Federal de Minas Gerais

As ações de saúde mental de base comunitária e pautadas na lógica do


território adquiriram maio relevância a partir dos apontamentos da
Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde do Brasil a
partir da década de 1990. Sob tal aspecto, os serviços de Atenção
Primária à Saúde emergem como potentes cenários para a produção do
cuidado em saúde mental, principalmente para as ações de promoção
da saúde mental dos usuários dos serviços de saúde. Objetivou
descrever a experiência acerca dos encontros desenvolvidos com um
grupo comunitário de saúde mental em parceria com a Secretaria
Municipal de Saúde de Três Lagoas-MS. O grupo foi criado a partir da
oferta da disciplina de Enfermagem em Saúde Mental da Universidade
Federal de de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Três Lagoas. Após
a saída dos alunos da referida disciplina o grupo foi mantido como
espaço de escuta coletiva e de promoção de saúde mental. Os
participantes compõem um grupo heterogêneo e os encontros foram
realizados mensalmente. Os encontros foram realizados na academia de
saúde do município de Três Lagoas e contou com a participação de

588
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

usuários do SUS, alunos de graduação, Agentes Comunitários de Saúde e


enfermeiros. A dinâmica empregada nos encontros se pauta na
valorização das experiências de vida da população atendida no processo
de formação da pessoa humana. O grupo comunitário de saúde mental
teve como propósito inicial a promoção de uma atividade continuada de
atenção e reflexão em relação às experiências cotidianas dos
participantes, o que em certa proporção possibilita a maturação pessoal
e a construção compartilhada de uma rede de pessoas implicadas ao
cuidado consigo mesmo e com o outro. O grupo tem sido compreendido
como uma atividade de promoção da saúde mental nos serviços de
Atenção Primária à Saúde. Ademais, tem contribuído para o
reconhecimento das competências e possibilidades que os serviços de
Atenção Primária têm enquanto componente da Rede de Atenção
Psicossocial.

589
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo de ajuda mútua como mediador da construção de laços


familiares e comunitários

Patricia Anjos Lima de Carvalho


Laís Emily Souza Trindade
Waleska Cardoso Lima de Souza
Raissa Brito Teixeira
Angelle Matias Melo
Vanessa Thamyris Carvalho dos Santos
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

José Japhet dos Santos Veloso


UNOPAR

O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) caracteriza-se como um ponto


de atenção da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que contempla
dimensões e demandas da vida que extrapolam a prescrição de
medicamentos e do isolamento como únicas formas de tratamento para
pessoas com sofrimento mental, reconhece, prioriza e promove
atividades de lazer, trabalho, espiritualidade, cultura, entre outro. Nesse
contexto, docentes do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (UESB) mobilizaram a criação de um Grupo de
Ajuda Mútua (GAMs) no CAPS do tipo II, que tem sido essencial para a
concretização de práticas integrativas e consolidação da relação ensino-
serviço. O trabalho objetiva relatar a experiência do Projeto de Extensão
Universitário “Grupo de Ajuda Mútua e Intersubjetividade do Cuidar no
CAPS II do município de Jequié-BA”, na construção do processo de
reabilitação psicossocial de usuários do CAPS II. O GAM foi criado no ano
de 2010, suas reuniões acontecem semanalmente, por meio de
vivências corporais, musicais, dialógicas, entre outras, que favorecem o
compartilhamento de sentimentos, medos, crenças e valores que
mobilizam o senso de justiça e cidadania, mobilizando sentimentos de
coexistência em seus membros. Participam do GAM docentes e

590
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

discentes de enfermagem da UESB, discente do curso de Educação Física


da UNOPAR, usuários do CAPS II e seus familiares, além da enfermeira
do CAPS II. Alguns docentes dos cursos de odontologia, pedagogia e
teatro também tem contribuído com o projeto. Além dos encontros
grupais, realizamos passeios, bazares, telecine, teatro do oprimido,
festas comemorativas de aniversários e datas que fazem parte do
folclore e da cultura local. O sentimento de generalidade compartilhado
por meio da fala, muitas vezes, torna impossível a identificação de quem
começou o discurso, muito menos estabelecer previamente aonde ele
conduzirá o grupo. A intersubjetividade favorece o fluir da sensibilidade
na construção de um itinerário para o grupo que parte dos desejos e
interesses singulares e coletivos, o que corrobora a intenção da equipe
do CAPS de propor ações voltadas à reabilitação psicossocial que tenha
como foco o território familiar e existencial, desde que planejadas e
implementadas com os usuários e nunca para eles. O GAM tem se
destacado nos últimos dez anos pela capacidade de dar suporte
emocional aos usuários do CAPS e seus familiares, além de constituir um
cenário propício à construção de processos de reabilitação psicossocial e
fortalecimento da integração ensino-serviço, universidade-equipe do
CAPS. Por fim, o GAM tem se constituído como ferramenta eficaz para a
redução do isolamento, elevação da autoestima e da autoconfiança,
bem como para a construção de estratégias de (re)inserção social e de
laços afetivos nos contextos familiar e comunitário.

Palavras Chaves: Enfermagem. Ajuda Mútua. Atenção Psicossocial.


Família. Comunidade.

591
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo de Estudos Saúde Mental, álcool e outras drogas:


potencializando a formação em Serviço Social e possibilitando olhares
sobre a política de saúde mental na UFF- Campos.

Juliana Desiderio Lobo Prudencio


UFF - Campos

O debate sobre a política de saúde mental, álcool e outras drogas vem


sendo pouco realizado as alunas e alunos do curso de Serviço Social em
diversas instituições de ensino superior. Tal fato pode representar a
existência de poucos docentes pesquisando sobre tal política no Serviço
Social, e ainda, raros sujeitos no âmbitos das ciências socias aplicadas
que se debruçam sobre a compreensão crítica do campo do álcool e
outras drogas.
Diante disso, como estudiosa da política de saúde mental, álcool e
outras drogas na atenção aos usuários de drogas e docente da UFF –
Campos, entendo a necessidade de inserir o debate da temática e
olhares nos cursos de Serviço Social, como campo importante do
conhecimento. Sobretudo, por entender que tais alunas e alunos
ocuparão os serviços de saúde mental quando profissionais.
Sendo assim, a ideia do Grupo de Estudos parti das análises, leituras e
olhares sobre a realidade para a criação de um grupo de pesquisa que
envolva as alunas e alunos da UFF - Campos sobre a temática da atenção
aos usuários de drogas. Mas como criar um grupo de pesquisa com as
(os) alunas (os) sem eles terem experimentados ou vivenciado
referenciais relevantes para a pesquisa? A partir desta indagação inicie o
convite aos alunos da UFF – Campos e profissionais da rede para a
participação do grupo de estudo que tem como eixo do debate: o
proibicionismo as drogas, a atenção aos usuários de álcool e outras
drogas, a rede de atenção psicossocial e a interseccionalidade no campo
da droga.
A metodologia pensada e construída com os envolvidos se deu através
de encontros online que duram cerca de 2h, com textos pré

592
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

disponibilizados pela docente. Cada encontro contará com a


participação dos envolvidos chaves que estarão à frente das análises e
apresentarão questões. Nos encontros utilizamos o texto como base de
análise e criticidade para a construção dos olhares acerca da política de
saúde mental, álcool e outras drogas, assim como trazemos
reportagens, vídeos e charges atuais e/ou que tenha sido divulgado ao
longo dos nossos dias.
A experiência do Grupo de Estudos vem possibilitando a construção de
reflexões antiproibicionista e antimanicomial, bem como inserindo na
UFF Campos o debate sobre a questão das drogas no Curso de Serviço
Social atravessando as disciplinas obrigatórias e optativas do curso. E
temos como primeiro grande feito a oferta do Curso de Extensão: A
atenção psicossocial aos usuários de álcool e outras drogas em tempos
de Covid- 19, de forma online e que em sua 1ª aula sobre “o
proibicionismo das drogas” proporcionou reflexões de âmbito nacional
com 345 participantes ao vivo e até o presente momento 2 mil
visualizações na aula disponível no Facebook. Pontua-se que o curso
encontra- se em andamento. Logo, a experiência mostra a importância
do debate nos cursos de graduação e no fomento a formação
continuada aos profissionais da rede de atenção psicossocial.

593
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo de Família Online em Tempos de Pandemia

Glacy Daiane Barbosa Calassa


Melissa Pina
Waleska Batista Fernandes
SES-DF

INTRODUÇÃO: Com pandemia por COVID19 o CAPS AD III de


Samambaia, em Brasília DF aderiu ao atendimento online como forma
de remover barreiras ao acesso a cuidados de qualidade. Dentre as
novas formas de atendimento destacamos para apresentar neste relato
de experiência os resultados do grupo de família online que teve início
em Agosto de 2020, a luz do referencial da teoria sistêmica. O grupo de
família existe, na modalidade presencial, desde 2013. Essa intervenção é
vista como estratégica posto que o uso de álcool e outras drogas, na
perspectiva da abordagem sistêmica, pressupõe a compreensão do
sujeito como um ser “em relação” com seu contexto familiar, social e
comunitário.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A experiência aqui relatada refere-se a
nove encontros online, que aconteceram por meio da plataforma
Google Meet, sendo percebida como alternativa as perdas do contato
presencial. Conseguiu-se trabalhar temas delicados e que eram
fundamentais para o grupo, tais como, vivências de violências, assédios
e perdas de familiares, devido ao Covid-19. As participantes afirmaram
que o grupo era um espaço importante de fortalecimento e
empoderamento e que estavam felizes por terem essa opção.
No primeiro encontro foi trabalhado a importância do vínculo
profissional-usuário, corresponsabilidade com o sigilo e as regras do
grupo. Iniciou-se com boas-vindas e apresentação de todos. Logo após,
foi aberto para escuta qualificada sobre o processo de autocuidado e
demandas espontâneas. Em cada encontro é proposto a atividade
principal e a reflexão em relação ao tema da semana. Ao final, cada
participante diz o que está levando do grupo de aprendizado, é feito os

594
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

agradecimentos e o convite para o próximo encontro. O período do


grupo é de 1h30min. Após a realização dos grupos, as profissionais
responsáveis se reuniam para refletir sobre o encontro e planejar o
próximo.
REPERCUSSÕES: Percebeu-se, por meio da fala das participantes, a
diminuição da sensação de isolamento, sintomas depressivos e
ansiedade, ocorreram também muitas reflexões e retornos positivos das
usuárias, com solicitação que o grupo online continuasse no pós
pandemia. Os motivos trazidos para esse pedido são financeiros e a
possibilidade de participar do grupo durante o trabalho. Apesar de ter
grande público da terceira idade no grupo, não foi percebido resistência
em utilizar as ferramentas tecnológicas. Não houve perda de vínculo e
mantido as relações profissional-paciente. Foi possível continuar o
trabalho que já era realizado por meio das adaptações para o ambiente
online.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O Grupo de família não poderia simplesmente
continuar fechado e deixar de atender os familiares durante a
pandemia. Por esse motivo assistiu-se, nos serviços de saúde mental do
SUS, surgir novas estratégias de oferta de cuidado. Percebemos que
estas novas práticas de grupos não vêm substituir o presencial, mas são
importantes ferramentas de suporte, apoio e complemento. O grupo de
família do CAPS AD III de Samambaia continuou atendendo a população
e tendo resultados positivos. O ideal, é que o serviço permaneça de
forma híbrida, mesclando momentos presenciais e virtuais. Propõe-se,
para um futuro breve, a realização de mais grupos online em diversas
modalidades.

595
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo de idosos: uma estratégia de cuidado em Saúde Mental


no Serviço de Psicologia Aplicada da
Universidade Federal de Pernambuco.

Dayse Carla Rodrigues de Macedo Mattos


Edélvio Leonardo Leandro
Kédma Midiam Silvestre de Lima Silva
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

A fim de garantir ao idoso o cuidado em Saúde Mental, favorecendo sua


cidadania e envelhecimento ativo, conforme preconiza a Organização
Mundial de Saúde, enquanto Política de Saúde, o Serviço de Psicologia
Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco proporciona
semestralmente um grupo operativo com idosos. Essa tem sido uma
estratégia de cuidado em saúde mental para esta parcela da população,
já que até 2018 não vinha sendo possível abarcar o contingente pela via
de acompanhamentos individuais ofertados na unidade. A partir do
conceito ampliado de saúde, considera-se que ser idoso ativo, para além
das questões físicas, compreende a participação efetiva no contexto
social, econômico, político, cultural e civil. Além disso, o envelhecimento
ativo baseia-se em direitos, necessidades, preferências e habilidades das
pessoas. Inclui ainda uma perspectiva de curso de vida que atenta para
as experiências que influenciam no processo de envelhecimento dos
sujeitos. Estes aspectos contribuem para uma mudança de paradigma
quanto à velhice. O grupo é conduzido por três psicólogos, que se
alternam como facilitadores de dez encontros, que ocorrem
semanalmente. Este dispositivo é divulgado ao público intra e extra
acadêmico, cuja participação é voluntária, e advinda tanto de demanda
espontânea como por indicação da equipe técnica do serviço. Conta
com a média de 12 pessoas a partir de 60 anos; sem recorte
socioeconômico e de gênero. A cada encontro propõe-se um tema a ser
trabalhado de forma lúdica e dinâmica, através de técnicas de
abordagem em grupo. A programação prévia baseia-se em temas

596
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

propostos tanto pelos facilitadores quanto pelos participantes. Os temas


são relacionados à fase do desenvolvimento em questão, dentre eles:
estatuto do idoso; envelhecimento; saúde; solidão na velhice;
comunicação: falar e ser ouvido; resiliência; violência contra o idoso;
sexualidade. Observa-se que este grupo tem promovido tanto
aprendizagem quanto efeitos terapêuticos para os participantes, tais
como: mudanças de posturas subjetivas, ressignificações do curso de
vida, melhora de quadros sintomáticos e empoderamento. Além disso,
contribui para a celeridade no atendimento às demandas desse público
por parte do serviço.

597
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo de Mulheres Usuárias de Álcool e Outras Drogas: Uma


experiência multiprofissional pela práxis da Educação Popular

Raquel de Freitas Sena


CAPS IJ

Francisca Emanuelle Rocha Vieira


Isadora Coutinho Rodrigues
UFJF

A disposição e o funcionamento das políticas públicas no Brasil, estão


imersas a tendências conjunturais de ordem econômica, política,
ecológicas e sociais do mundo capitalista. Tal contexto neoliberal,
desfavorável às políticas sociais, materializa-se no Brasil afetando a
política de Saúde Mental e retrocedendo as conquistas da Reforma
Psiquiátrica com decretos como o 7.179 de 2010 ; a Portaria nº 131, de
26 de Janeiro de 2012 ; a sintetização da portaria 3.588/2017 ; a Nota
Técnica nº 11/2019, entre outras. Tais, são processuais a implementação
de uma “Nova Política de Saúde Mental” - que na verdade trazem à tona
“velhas” práticas tutelares, institucionalizantes, segregacionistas,
manicomiais, cronificadoras.
Esse “novo”, permeia a perda de direito dos usuários dessa política,
simultaneamente à perda de autonomia e de sua produção e
reprodução dentro da sociedade. A expropriação dessa autonomia afeta
diretamente a vida das mulheres uma vez que elas já são historicamente
marginalizadas nessa sociedade capitalista-patriarcal.
Nesse contexto, o grupo aparece como uma das estratégias de cuidado
com possibilidades a potencializar a autonomia destas usuárias em
relação à direção de seus tratamentos e à própria existência enquanto
sujeitos.
Optou-se pela metodologia da Educação Popular para o manejo do
grupo de mulheres uma vez que sua práxis pode proporcionar o
potencial ganho de gestão autônoma da vida. Segundo Freire (1996),

598
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

educar é construir, é libertar o ser humano, criando possibilidades para


que eles se tornem agentes capazes de observar, comparar, avaliar,
escolher, romper, intervir e decidir na sua realidade. Entendemos
também que a práxis da Educação Popular não é exclusiva de uma
determinada categoria profissional. Toda profissão que pressupõe esse
agir possui uma dimensão na sua constituição que é pedagógica.
A mediação do grupo se deu através de equipe multiprofissional
composta de três profissionais (psicóloga, enfermeira e assistente
social). Pretendeu-se o exercício do trabalho de forma interprofissional.
O nosso lugar no grupo não era daqueles que detém o saber, mas como
meras mediadoras da construção deste, o que sugere uma escuta tenta,
verdadeira, uma disponibilidade em relação ao outro.
Uma característica marcante observada deste grupo de mulheres, qual o
uso da droga de forma abusiva (seja ela qual for), perpassava algum
abuso ou violência sofrido por àquelas mulheres, e que geralmente
estavam relacionados a uma figura masculina.
No decorrer do trabalho observamos o fortalecimento do grupo que, ao
fim, ganhou um nome, “Doidas e Santas”, com base em uma crônica de
Martha Medeiros lida em um de nossos encontros, ao discutirmos o que
é ser mulher, em todas as suas nuances e como circulamos em meio a
inúmeros estereótipos. A fala no grupo circulava livremente, com nossa
mediação, e o tema do uso abusivo de drogas, marcante na vida dessas
mulheres e no próprio nome da instituição em que nos encontrávamos,
foi cedendo cada vez mais espaço para outros elementos de suas rotinas
e existências. As usuárias puderam, através da fala e do vínculo, trocar,
entre si, entre os lugares sociais que ocupam e, a partir disso,
fortaleceram suas autonomias, individualmente e enquanto grupo.

599
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupo Expressão Cotidiana no espaço virtual de saúde mental em


tempos de COVID 19

Amanda de Carvalho Ibiapina


Iago Cristian Souza Peres
Hillary Pereira Marinho de Sousa
Huryel Tarcio de Oliveira
Maria de Nazareth Rodrigues Malcher de Oliveira Silva
Universidade de Brasília -UNB

Raquel Alves de Sousa


Instituto Prominas

Introdução: Para a Terapia Ocupacional o conceito de cotidiano como


um conjunto de ocupações só passou a ser relevante na literatura
brasileira a partir de 1988, quando Berenice Rosa Francisco questionou a
forma mecanizada do mesmo em uma tentativa de torna-lo significativo
e evidenciar sua importância para o desenvolvimento do usuário
(GALHEIGO, 2020). Com a situação que o mundo vive de isolamento
social por conta da pandemia de COVID 19, este tema tornou-se
relevante, influenciado pelas consequências ocasionadas pela
pandemia, de ruptura do cotidiano.
Descrição da Experiência: O projeto de extensão FOCO - Fenomenologia
e Cotidiano, aprovado pela Câmara de Extensão da Universidade de
Brasília em março de 2020, desenvolve atividades formativas e de
intervenção no campo do cotidiano e mundo da vida, a partir do
enfoque fenomenológico existencial, com participação de discentes e
docentes; usuários, familiares e profissionais do serviço; e comunidade
em geral, na Associação Amigos da Saúde Mental, articulando e
integrando as ações de Extensão, Pesquisa e Ensino. Devido ao cenário
da COVID 19 e as orientações sanitárias vigentes o grupo foi transferido
para uma versão online e em cada reunião se faz relatórios sobre os
relatos de cada participante.

600
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O grupo ocorre quinzenalmente, por um período de 1hr30min. Durante


as reuniões o grupo realiza quatro momentos: (1) apresentação e
narrativa sobre expressões significativas ocorridas no cotidiano; (2)
participação da dinâmica orientada a cada encontro; (3) trocas entre os
participantes sobre a produção expressadas; e (4) fechamento com a
repercussão do grupo sobre os sentimentos e emoções e palavras de
apoio coletivo.
Exemplos de algumas dinâmicas são: autorrelato sobre o cotidiano e as
emoções advindas deste; descrever atividades do cotidiano prazerosas e
suas repercussões/expressões para bem-estar; utilização de recursos de
música, atividade lúdica; realização de eventos culturais artísticos com a
produção que membros realizam; entre outros.
Repercussões: O Projeto Fenomenologia e Cotidiano - FOCO, junto com
o CAPS do Distrito Federal e a ASSIM, entende o cenário e demandas
atuais, principalmente para pessoas em sofrimento psíquico e que
realizam acompanhamento em saúde mental. Assim, o grupo
terapêutico de expressão cotidiana é um espaço para ressignificar as
vivências cotidianas e como estratégia em saúde mental durante a
pandemia. Deste modo, visamos que os resultados dos conteúdos do
grupo também seja um trabalho em prol da compreensão das angustias
e temores, do cotidiano e contextos relacionado ao novo normal,
apresentando-se como um cenário subjetivo.
Considerações Finais: No atual momento a maior parte da população
mundial está impossibilitada de exercer suas ocupações. Dessa forma
consideramos o profissional da Terapia Ocupacional de extrema
importância não somente para o momento pandêmico, mas
principalmente para os meses que se seguirão após o mundo ser capaz
de superar a pandemia de COVID 19, que deixará diversas sequelas
psicossociais.
O trabalho desenvolvido pelo projeto de extensão promove
atendimento em saúde mental, de abordagem fenomenológica
existencial, dos processos do cotidiano e os modos de vida, de
qualidade, humanizado e com estratégias inovadoras de Recovery,

601
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

permitindo perspectivas relevantes sobre a dinâmica dos processos em


saúde mental.

602
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupo Terapêutico Como Proposta De Acolhimento E Redução Do


Sofrimento Psíquico Nas Universidades

Karen Silva de Castro


Universidade do Estado do Pará - UEPA

Lauany Silva de Medeiros


Amanda Ouriques de Gouveia
Carmen Lúcia de Araújo Paes
Valeria Regina Cavalcante dos Santos
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará

Introdução: O sofrimento psíquico representa um tema recorrente nas


pautas relacionadas ao Ensino Superior, principalmente em
consequência dos crescentes índices de consumo prejudicial de álcool e
outras drogas, transtornos mentais e de suicídio entre estudantes
universitários. Desse modo, adentrar o ambiente universitário é uma
experiência marcada por mudanças na forma como o indivíduo se
percebe e é percebido, nas exigências sociais e na transição da
adolescência para o mundo adulto. Portanto, torna-se um evento
estressor na vida dos acadêmicos, que precisam assumir novas posturas
e responsabilidades, somado ao distanciamento do ambiente familiar e
uma frágil rede de apoio. Descrição da Experiência: O projeto
“Acolhidamente” criado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), no
município de Tucuruí-PA, pretendeu abordar o sofrimento psíquico
junto aos acadêmicos dos cursos de enfermagem, educação física,
fisioterapia e ciências biológicas, por meio de roda de conversa como
dispositivo psicoterapêutico na prevenção do sofrimento psíquico e
promoção do bem-estar psicológico. Assim, a ação ocorreu no início do
ano letivo de 2020, obtendo apoio de docentes, enfermeiros
especialistas em saúde mental e discentes de séries anteriores, sendo
iniciada com uma música de boas-vindas ao som de um violão em
uníssono, na quadra esportiva da instituição, como espaço amplo. Em

603
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

seguida, deu-se abertura para troca de conhecimentos, onde os calouros


abordaram suas expectativas na área escolhida, bem como se foi a
primeira opção de curso, os anseios, perspectiva do campus e principais
dúvidas nessa nova etapa. Ademais, os veteranos relataram as
experiencias vividas desde a aprovação no vestibular até o atual
semestre, pautando as apreensões no contexto universitário que afetam
a vida pessoal e profissional, nesse momento os mediadores adaptaram
a atividade para um formato aberto, utilizando diversas técnicas de
dinâmicas em grupo, acompanhadas de reflexões entre os participantes
acerca de suas dificuldades, percepções e sentimentos, sendo ao final
oferecido um abraço coletivo. Repercussões: Nesse cenário, o grupo
terapêutico funcionou não só como método de acolhimento, mas
também como um facilitador na mediação com a instituição das
demandas observadas. A partir disso, propôs-se uma avaliação do
público-alvo, escuta segura, apoio emocional, orientação terapêutica e
atenção para alivio de sintomas, visto que oferecer esse cuidado
precoce assume importância na cura da falta de alguém para conversar,
da solidão, da falta de companhia, pois o sofrimento mental requer mais
que uma assistência técnica-medicamentosa considerando que a doença
afeta a dimensão sensível do indivíduo que necessita de um olhar
holístico. Considerações Finais: Em suma, foi notado que o grupo
permitiu uma troca de experiências e realidades, ajudando na
diminuição da ansiedade e ampliação do mundo que os cerca, além
disso houve a criação de um cenário receptivo que muitas vezes é
inexistente no contexto acadêmico, sendo levado em conta as
singularidades de cada jovem e valorizada a sua saúde mental.

604
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupo Terapêutico Para Pacientes com Transtorno de Personalidade


Borderline e Dependência de Álcool e outras Drogas

Anibal Okamoto Junior


Glacy Daiane Barbosa Calassa
SESDF

INTRODUÇÃO: O transtorno da personalidade borderline apresenta


padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, autoimagem,
afetos e impulsividade. Geralmente tem histórias de vida com traumas
(violência, abuso, negligência) na infância e adolescência. Por isso
costumam desenvolver medo de abandono, reações emocionais
desproporcionais, sentimento de vazio crônico, comportamentos
impulsivos, com automutilação e múltiplas tentativas de
autoextermínio. Esses pacientes são rotineiramente vistos como
desafiadores, refratários e de difícil manejo.
Em pacientes usuários de álcool e outras drogas é grande a prevalência
de transtorno de personalidade, especialmente o borderline. No CAPS
AD de Santa Maria são acompanhados vários pacientes com esse
transtorno associado à dependência de álcool e outras drogas. Esse
grupo de pacientes não respondia bem aos tratamentos disponíveis no
serviço.
Então, um médico e uma psicóloga do serviço concluíram que seriam
necessárias intervenções específicas para atender essa população.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Esse relato apresenta os resultados das
intervenções em grupo realizadas com pacientes com transtorno
borderline da personalidade, que fazem uso abusivo de álcool e outras
drogas.
A fundamentação teórica baseou-se na terapia cognitivo
comportamental e na terapia dos esquemas. Focou em três eixos
principais: psicoterapia individual; intervenção em grupo; e
farmacoterapia. Nesse relato descreveremos a intervenção em grupo.

605
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Para se inserir no grupo o paciente precisava estar em


acompanhamento na unidade e ter sido avaliado pela psiquiatria e
psicologia. O grupo tem cinco participantes, com encontros semanais. Já
foram realizadas cerca de cinquenta e duas sessões.
A intervenção interdisciplinar ampliou o olhar sobre esses indivíduos,
focando as crenças, esquemas, estratégias cognitivas, comportamentais
e vivenciais de cada indivíduo, buscando a reparação parental e
aquisição de novas habilidades.
REPERCUSSÕES: Houve estabilização dos sintomas psiquiátricos,
principalmente das tentativas de suicídio e da automutilação.
O grupo pequeno e o acompanhamento semanal possibilitaram a
sensação de acolhimento e vínculo. Aumentando também a adesão e
eficácia do tratamento.
Houve melhora significativa na qualidade de vida, habilidades sociais,
relacionamentos (principalmente os familiares) e diminuição das
recaídas no uso de substâncias.
Citando brevemente alguns casos, uma paciente (sexo feminino, 45
anos, irritada) relatou uma convivência mais agradável com os filhos,
que eles também confirmam. Outro paciente (sexo masculino, 32 anos,
impulsivo) afirmou que agora se coloca no lugar da esposa e pensa
como ela deve estar vendo a situação, agindo com empatia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Essa experiência mostra que alguns perfis de
pacientes não conseguirão ser inseridos nas atividades propostas pelos
CAPS AD. Esse insucesso se deve principalmente à inadequação dos
métodos. Os planos terapêuticos devem ser individualizados,
considerando o diagnóstico e também as evidências científicas mais
recentes e específicas. Para continuar com essa visão ampliada e
humanizada sobre o transtorno de personalidade montou-se no CAPS
AD um grupo de estudos específicos sobre transtorno de personalidade
e intervenções baseadas em evidências. Nosso desafio para os próximos
dois anos é capacitar a equipe para lidar com essa problemática.

606
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupos de Escuta e Plantão de Acolhimento Psicológico com


trabalhadores do Hospital São Julião em tempos de pandemia: um
relato de experiência

Jean Paulo Bom Ferreira


Emanuelle Lima Javeta
Clesmânya Silva Pereira
Carolina de Sousa Rotta
UFMS

Anna Flávia Alves Garcia


Wanderley Gomes de Figueiredo
Hospital São Julião

Silvana Fontoura Dorneles


Irma Macário Escola de Saúde Pública-MS

Introdução: O contexto pandêmico pelo surgimento e proliferação de


COVID-19 convocou a Psicologia, os profissionais psicólogos e
residentes, para pensar e contribuir com o trabalho em Saúde Mental
junto aos trabalhadores do Hospital São Julião (HSJ). O HSJ configura-se
como um hospital de retaguarda da Rede de Urgência e Emergência do
SUS, de nível secundário, localizado no município de Campo Grande/MS
e instituição executora do Programa de Residência Multiprofissional em
Cuidados Continuados Integrados – Área de Concentração em Atenção à
Saúde do Idoso (PREMUS-CCI/UFMS/ESP-MS/HSJ). Os Grupos de Escuta
(GE) têm como objetivo ofertar um espaço de escuta, expressão e
reflexão aos trabalhadores do HSJ, por meio de rodas de conversa, para
a Promoção em Saúde, segurança do trabalhador e prevenção de
agravos em Saúde Mental devido a pandemia. O Plantão de
Acolhimento Psicológico (PAP) tem como objetivo ofertar um espaço
individual de acolhimento e orientação psicológica, por demanda
espontânea, para a prevenção de situações agudas de sofrimento

607
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

psicológico, as chamadas crises, o manejo de tais crises, assim como a


prevenção da cronificação das mesmas nos chamados transtornos
psicológicos que mais acometem os profissionais da saúde, entre eles:
depressão, transtornos de ansiedade e síndrome de Burnout. Descrição
da experiência: O público-alvo dos GE foi composto por trabalhadores
dos setores da Rouparia, Manutenção e Nutrição e Dietética, em média
80 funcionários e o PAP foi aberto aos trabalhadores de todos os setores
do HSJ. Os GE foram realizados por meio de 2 (dois) encontros com os
trabalhadores de cada setor, com média de 15 (quinze) participantes por
encontro, para tratar sobre: o COVID-19, as medidas de segurança
necessárias no contexto hospitalar, os medos e angústias que os
trabalhadores vivenciam durante a pandemia e divulgação do PAP. O
PAP foi realizado individualmente, atendendo até o momento em média
35 trabalhadores, em decorrência dos GE e também aos trabalhadores
que não puderam participar dos GE, mas que buscaram o PAP por meio
de demanda espontânea, servindo como espaço de: escuta qualificada,
acolhimento, acompanhamento psicológico, orientação psicológica e
psicoterapia breve. Repercussões: Foi observado uma considerável
procura do PAP pelos trabalhadores do HSJ, desde os trabalhadores que
participaram dos GE até outros que não puderam participar, mas que
souberam do PAP. As demandas apresentadas pelos trabalhadores nos
GE e PAP vão além do contexto pandêmico, abrangendo questões de
ordem familiar e de relacionamentos íntimos, anteriores à pandemia,
mas intensificadas pela mesma, assim como demandas de estresse,
ansiedade e sobrecarga relacionadas ao contexto de trabalho.
Considerações finais: Os GE e o PAP podem auxiliar como dispositivos
potencializadores do cuidado em Saúde Mental dos trabalhadores,
principalmente no contexto pandêmico, de isolamento social e de
intensificação do sofrimento psíquico. Por fim, considera-se importante
a continuidade dos GE e do PAP para além da pandemia, tornando-se
um dispositivo permanente de cuidado em Saúde Mental dos
trabalhadores.

608
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupos de Recepção: “novas” práticas em Saúde Mental

Olívia Barbosa Miranda


Mariana Portugal de Andrade
Etienne Menezes Santana Dutra
Prefeitura Municipal de Mendes - RJ

Waldir Périco
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Em 2016, teve início a reorganização do Núcleo de Intervenção em


Álcool e Outras Drogas (NIAD), no município de Mendes – RJ, quando
criamos o Ambulatório Ampliado de Saúde Mental. Tal serviço passou a
abarcar, também, outras demandas de tratamento no território. Até
2011, ano de credenciamento do NIAD, todas as demandas referentes
ao Programa de Saúde Mental do município eram atendidas nas
dependências do CAPS I. Desse modo, propusemos uma reorganização
dos dispositivos de recepção (comumente nomeada “triagem”) e
tratamento em nível Ambulatorial, haja vista o constante aumento da
demanda de tratamento em Saúde Mental, bem como a eficácia de
experiências relatadas em vasta bibliografia. Foram revistos a estrutura
institucional e todo o fluxo da recepção, dos encaminhamentos e dos
tratamentos das demandas. Em relação à clínica da recepção, no
modelo tradicional temos uma prática clínica individual e burocrática,
enquanto, no modelo emergente, damos ênfase às práticas coletivas de
escutas iniciais e tratamentos. Trata-se de mudanças de paradigmas de
atendimento: do paradigma Tradicional (Medicalizador-Psicologizante)
ao modelo emergente (Psicossocial), derivado e em sintonia com os
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). A despeito dos
desafios enfrentados para consolidação dessa reorganização, esses
dispositivos grupais tornam-se tão potentes quanto necessários. Os
Grupos de Recepção têm, entre outras, três funções/vantagens em
relação à triagem individual: 1) se mostram fortes em termos de

609
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

soluções iniciais dos problemas trazidos pelos “sujeitos do sofrimento”,


em vista das trocas experimentadas nas sessões; 2) facilitam a adesão
ao tratamento nos Grupos Psicoterapêuticos quando são encaminhados;
3) extinção ou redução das listas de espera por atendimento, devido à
concepção de que o melhor momento para iniciar um tratamento é o
momento em que o sofrimento eclode – também evitando agravos. Faz-
se necessário apontar uma mudança imprescindível em relação ao
paradigma de tratamento Tradicional, que diz respeito à forma de
conceber os processos clínicos: no paradigma de tratamento emergente
não há separação entre “diagnóstico” e “tratamento”. Diferentemente
do paradigma de tratamento Tradicional, onde primeiro “se diagnostica”
e depois “se faz o tratamento”, constatamos que receber/acolher já é
tratar. Reafirmando as vantagens dessa proposta de reordenamento da
porta de entrada do Serviço, destacamos que: otimiza o tempo,
“humaniza” o atendimento e evita agravos, pois o sujeito é acolhido no
momento (ou pouco tempo depois) em que procura o atendimento, já
iniciando o seu simultâneo processo de diagnóstico e tratamento. Por
fim, o funcionamento integrado entre os dispositivos do Programa de
Saúde Mental municipais e o modo como tem viabilizado a integralidade
do cuidado e a busca por alternativas, tanto às demandas de novos
sujeitos quanto à cronificação dos usuários e serviços, são inovadores.

610
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupos de Referência para acompanhamento interdisciplinar dos


usuários do CAPS III de Samambaia – DF

Allice Rejany Nogueira Carvalho


Camila Alvares
Danielle Lourenço Ataide
Lucas E. Ramos da Silva
Escola Superior de Ciências da Saúde

Introdução: No Brasil, o Centro de atenção psicossocial (CAPS) visa à


substituição dos hospitais psiquiátricos. O CAPS é formado por equipe
multiprofissional que preconiza uma atuação de forma interdisciplinar e
realiza atendimento às pessoas em sofrimento grave e persistente
(BRASIL, 2011). As três tecnologias estruturantes desses serviços
substitutivos são: Acolhimento, Escuta Ativa e Projeto Terapêutico
Singular (PTS). Grupos de referência consistem em um espaço de
acompanhamento do PTS junto com os usuários, proporcionando
espaço para reflexões das experiências, trocas e modificações
necessárias. Grupo de referência viabiliza estratégias para diminuir o
fluxo de atendimentos individuais, proporcionando troca de
experiências territorial entre os sujeitos e uma ampliação do cuidado
por ser coordenado por uma equipe multidisciplinar.
Descrição da experiência: O grupo de referência teve duração de
3h30min. A condução do grupo foi realizada pelos profissionais
residentes sendo referência de cada miniequipe (Norte, Sul e Recanto
das Emas). O grupo iniciava com apresentação (usuários, familiares e
profissionais) abordando os objetivos do grupo a partir de uma roda de
conversa. As demandas trazidas pelos pacientes foram anotadas
concomitantemente ao desenvolvimento do grupo. Além dos aspectos
intrínsecos, aspectos gerais também foram discutidos como, ausência de
grupos terapêuticos e oficinas; dificuldades em aderir às terapêuticas;
participação da família no cuidado e cronificação do sofrimento com a
ausência/desassistência no cuidado. Foi realizada avaliação dos PTS’s de

611
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cada usuário a partir das experiências destes sujeitos no acesso aos


serviços da rede de saúde, cultura, esporte e assistência social,
cidadania e do sistema judiciário. Essa avaliação foi feita coletivamente
nessa etapa do grupo de referência. As alterações de PTS foram
anotadas e entregues aos usuários no fim de cada encontro.
Repercussões e Considerações Finais: A presença do Grupo de
Referência possibilita ao serviço um acompanhamento sistemático do
usuário como recurso nos processos de trabalhos. O grupo tornou
possível esse acompanhamento de forma ampliada, tendo em vista as
trocas entre os usuários e, principalmente o fator territorial. Encontrou-
se algumas dificuldades, principalmente em relação a ausência de
instrumentos. O serviço possui superlotação dos grupos. Não se
limitando o PTS à inserção de grupos, mas ressaltando a importância
desse instrumento no processo de acompanhamento. Outro aspecto a
ser destacado é não estruturação das miniequipes, o que dificulta o
acompanhamento dos usuários de forma territorializada. A não
discussão dos casos se apresenta como fator dificultador para a
promoção de uma Clínica Ampliada pautada no paradigma psicossocial,
uma vez que a troca entre os profissionais de diferentes áreas de saber
se encontra limitada pela falta de encontros estruturados, como a não
ocorrência de reuniões de equipe. Em relação à medicamentalização e
medicalização da vida, destaca-se uma taxa significativa de demanda
pelo atendimento psiquiátrico e uso de medicações. Esse número
demonstra como a saúde ainda é compreendida à representação da
medicina no modelo médico-curativista. A possibilidade do grupo de
referência ajudou a repensar essa demanda da medicalização e
medicamentalização, os diferentes discursos trazidos pelos usuários
presentes no grupo e o compartilhamento de território abriu espaço
para produções de saúde.

612
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Grupos terapêuticos para promoção das práticas de autocuidado como


ferramenta de estímulo, melhoria da autonomia, independência e
estima em pacientes psiquiátricos: Relato de experiência

Matheus Ribeiro de Medeiros


Lucas Carreira Ramos
Camile Carvalho de Castro
Universidade da Amazônia - UNAMA

Rayssa da Silva Sousa


Universidade do Estado do Pará - UEPA

INTRODUÇÃO: O autocuidado refere-se ao conjunto de ações que cada


indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida
para ele mesmo, abrangendo todas as vertentes do cuidado físico,
espiritual, social e emocional (INSTITUDO DE PSIQUIATRIA PAULISTA,
2020).
A enfermeira, autora da Teoria do Autocuidado - que diz respeito à
prática de atividades que os usuários realizam em benefício próprio para
manterem a vida, a saúde e o bem-estar - Dorotéia Orem, engloba este
princípio à três construtos teóricos inter-relacionais: a Teoria do Déficit
do Autocuidado, que trata da necessidade de autocuidado e quando a
enfermagem é necessária; e, a Teoria dos Sistemas de Enfermagem, que
considera as necessidades de autocuidado e a capacidade do usuário de
realizá-lo (SILVA, 2018).
Na vertente de pessoa em sofrimento psíquico, em que predomina o
déficit do autocuidado com a fragmentação do “eu”/ tédio existencial,
estas estratégias de cuidado buscam sua reabilitação psicossocial
(OLIVEIRA, 2014). Com enfoque terapêutico de grupo, a reabilitação do
indivíduo no contexto do autocuidado se dá através de dispositivos
como: o acolhimento pelas equipes, o vínculo entre o grupo, a
autonomia e a corresponsabilidade, na qual o paciente se torna
protagonista da geração de mudanças. (HBERLE; OLIVEIRA, 2016)

613
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A abordagem foi realizada por acadêmicos


e residentes de terapia ocupacional e enfermagem, em um hospital
geral no setor de psiquiatria, às quartas-feiras com o público feminino e
às quintas-feiras com público masculino, ambos no período matutino.
Eram selecionados em média cinco a sete pacientes por dia, com o
objetivo de promover o autocuidado por intermédio da auto percepção,
utilizando espelhos para buscar o “eu”/“minhas necessidades”, a
autonomia e a independência durante a realização dos comandos, bem
como a higiene intima, o banho por aspersão, a onicotomia, a
hidratação dos cabelos, do corpo e a higiene oral. Na finalização,
buscou-se o fortalecimento da autoestima por meio de expressão sobre
os benefícios que a atividade proporcionou.
REPERCUSSÕES: Durante o desenvolvimento da atividade foi observado,
em sua maioria, o contato interpessoal do grupo, respeitando cada
etapa do exercício (dinâmica, ação e retorno da ação). Observou-se
maior independência dos homens em relação às mulheres. Alguns
pacientes mais deprimidos se expressaram de forma não verbal,
utilizando o desenho para expor o que gostaria de realizar em “si”,
como: utilizar batom, cortar os cabelos, vestir roupas de sua
preferência, entre outras práticas que foram estimulados a manter fora
do ambiente hospitalar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Consideramos que a promoção do
autocuidado, propiciou significativas e positivas mudanças no estado de
humor e auto estima destes pacientes psiquiátricos, os quais muitas
vezes enfrentam quadros depressivos, embotamento afetivo e
disfunções socioemocional; que, por sua vez, contribuem
expressivamente com o déficit do autocuidado.

614
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Habilidades Emocionais: intervenção em grupo terapêutico com


crianças

Mylena Goelzer da Silva


Escola de Saúde Pública do Paraná

Lygia Maria Portugal de Oliveira


Prefeitura de Pinhais - Paraná

Introdução: A partir dos atendimento de psicologia realizados em um


Centro de Especialidades, notou-se a importância de pensar, a partir da
clínica ampliada, uma dimensão coletiva de cuidados com crianças, no
sentido de identificar aspectos geradores de sofrimento, ofertando um
espaço para ressignificá-los. Nesse sentido propomos uma clínica
política e multiprofissional, pensando a produção do cuidado a partir do
encontro com o outro e promovendo o acesso de intervenção no
processo de produção subjetiva. Nesse sentido foi proposto o cuidado
em grupo, pois por meio de práticas de cuidado entre os sujeitos é
possível pensar uma clínica promotora de uma ética e de uma estética
da existência. Os sujeitos foram selecionados a partir de triagens
realizadas pela equipe de psicologia, e alguns temas foram emergentes
nesses encontros, com o assunto reconhecimento das emoções e temas
relacionados a habilidades socioemocionais.
Descrição da Experiência: Este estudo consiste no relato de experiência
de uma intervenção em grupo de habilidades emocionais de crianças,
com o objetivo de aumentar as habilidades intrapessoais e
interpessoais, reduzir a prevalência de problemas de saúde mental e
dificuldades comportamentais das crianças por meio do reconhecimento
das emoções. Participaram da intervenção sete crianças, com idades de
oito a dez anos, encaminhadas pelas unidades básicas de saúde para o
serviço de psicologia do centro de especialidades de um município da
região metropolitana de Curitiba. Foram realizadas oito sessões com
duração de uma hora cada, em grupo, conduzidos por uma psicóloga e

615
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

uma enfermeira. Além do grupo de habilidades emocionais, foram


ofertados três encontros de orientação parental para mães responsáveis
pelas crianças atendidas no grupo do serviço de saúde Mental, sob
responsabilidade da psicóloga. Foi utilizada a metodologia dos grupos
operativos de Pichon Riviere.
Repercussões: Os encontros dos grupos foram adaptados às
necessidades e características das crianças e da instituição, conforme
demandas apresentadas e foram utilizadas técnicas do brinquedo
terapêutico, com jogos, brincadeiras, teatro e contação de histórias a
partir de esculturas e desenhos. Em cada encontro foram trabalhados
assuntos referentes ao reconhecimento das emoções negativas e
positivas, desenvolvimento de habilidades interpessoais, trabalho em
grupo, expressão de sentimentos, concentração, empatia e
comportamentos desejados.
Considerações finais: A intervenção em grupo promoveu a saúde mental
e o aprimoramento do desenvolvimento de habilidades
socioemocionais. O brinquedo terapêutico como aliado proporcionou às
crianças um espaço para expressão de sentimentos e interação
interpessoal. As mães foram orientadas, no grupo de pais, em relação a
condutas que facilitem o apoio emocional e promovam relação de
afetividade e confiança com às mesmas.

616
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Habitar a cidade: um olhar a partir do Serviço Residencial Terapêutico

Isabel Passos Delforge


Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Maíra Carolina Alves Santos


Prefeitura de Belo Horizonte - MG

A Reforma Psiquiátrica reestruturou os serviços de atenção à pessoa em


sofrimento mental, com a criação de serviços substitutivos ao hospital
psiquiátrico e de uma nova lógica assistencial. A desospitalização deu
origem ao Serviço Residencial Terapêutico, alinhado às novas políticas
de saúde mental, visando a reabilitação psicossocial a partir do exercício
pleno da cidadania, tendo a moradia como ponto central da reinserção
social, para aqueles que sofreram longas internações e perdas
irrecuperáveis de laços sociais. Neste sentido, em Belo Horizonte, estão
estruturadas 33 Residências Terapêuticas (RT’s). Este relato se refere ao
estágio extracurricular em uma das casas, no qual o Acompanhamento
Terapêutico (AT) se insere como prática de promoção da autonomia e
circulação dos moradores na cidade. O estágio permitiu criar vínculos
importantes com os moradores, com o território e com a equipe,
constituída por supervisora, referências técnicas e cuidadoras. Dessa
forma, os Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) construídos abarcaram
demandas individuais dos moradores, as construções com a rede
substitutiva e a relação destes com o território, a fim de proporcionar
uma assistência integral à saúde. O estímulo da independência é central
nesse projeto, possibilitando aos moradores a participação na
organização e no cotidiano da casa, em atividades de lazer e
proporcionando a apropriação da rede de saúde e da Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS). Busca-se favorecer a autonomia em relação à
própria vida, enfraquecida com o longo período de hospitalização, a
partir da integração nas dinâmicas do cotidiano. A circulação com os
moradores na cidade produziu redes de apoio, constituídas de espaços

617
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

que se tornam receptivos à presença da loucura. Possibilitou-se a


criação de vínculos no território, incluindo parques, praças,
supermercados, feiras, padarias, lojas e o Centro de Convivência,
dispositivo da RAPS mais frequentado por eles. Nestes lugares,
dinâmicas de acolhimento foram instauradas, facilitando a inserção no
convívio social e ampliando a autonomia dos moradores. O estágio na
RT exigiu criatividade e flexibilidade, levando em conta a subjetividade e
as demandas de cada morador. O caráter público/privado do SRT
possibilita uma realocação da atenção em saúde e do papel da
psicologia nesta. O convívio diário com os moradores convidou à criação
de novas possibilidades de ocupação dos espaços urbanos. Os
moradores se transformam ao ocupar a cidade, e a cidade se transforma
ao acomodá-los. O AT funciona como estimulador desse processo,
suscitando redes de afetos e vínculos. O estágio proporciona
(re)construir, de forma coletivizada, possibilidades de autonomia e de
cidadania a pessoas que foram privadas por muito tempo desses
direitos. O SRT, enquanto dispositivo de saúde e de moradia, fortalece a
concepção de cuidado em liberdade e territorializado, o que possibilita a
formação de um conhecimento crítico acerca do sofrimento mental e de
suas questões teórico/práticas e políticas.

618
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Heranças Manicomiais em Tempos de “Pós-Reforma”:


Relato de Experiência

Thayane Ingrid David de Lima


Paula Renata da Cunha
Letícia Euxélia Fernandes
Dulcian Medeiros de Azevedo
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN

INTRODUÇÃO: Os hospitais psiquiátricos foram criados com o objetivo


de excluir do convívio social as pessoas que possuíam sofrimento mental
ou que não faziam parte do padrão imposto pela sociedade ao longo dos
tempos (prostitutas, pessoas com hanseníase, doenças sexualmente
transmissíveis, entre outros). Tal exclusão tinha a justificativa do
tratamento moral, que deveria corrigir a “mente desviante”. Em Natal,
capital do estado do Rio Grande do Norte (RN), existe e funciona até os
dias atuais o Complexo Psiquiátrico Dr. João Machado, como o maior
hospital psiquiátrico do estado, referência para as urgências
psiquiátricas de todo o RN. O então hospital colônia João Machado foi
construído e inaugurado em 1957, idealizado com o objetivo de prestar
uma assistência diferente dos outros locais, como o hospital dos
alienados existente nesta época em Natal. O RN foi um dos pioneiros na
implantação do processo de reforma psiquiátrica (RP), com novas
perspectivas assistenciais para pessoa com transtorno mental,
implantando um conjunto de serviços substitutivos importante para as
necessidades do processo de RP local. Objetivou-se descrever um relato
de experiência de uma visita realizada neste hospital. DESCRIÇÃO DA
EXPERIÊNCIA: Vivência de discentes do Curso de Graduação em
Enfermagem, Campus Caicó, da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, materializada na visita ao Complexo Psiquiátrico Dr. João
Machado localizado em Natal-RN, realizada em 03 de dezembro de
2019. Foi possível conhecer toda a estrutura do Complexo Psiquiátrico,
especialmente hospital (enfermarias) e pronto socorro. Os pacientes

619
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ficam divididos pela ala masculina (61 leitos) e feminina (56 leitos),
ambas com ocupação total. Ainda existe uma enfermaria para pacientes
moradores do hospital, entendida pela administração como um espaço
de maior cuidado e necessidade de se aproximar ao máximo de um lar.
Nesse sentido, percebeu-se que neste local existem melhorias
substanciais se comparadas as outras enfermarias, sobretudo pela
infraestrutura e ambiência. A insuficiência de profissionais de saúde no
pronto socorro e hospital chamou a atenção dos visitantes, além da
infraestrutura, em muitos locais com necessidade de manutenção,
presença de grades, corredores extensos e escuros. Existiam leitos sem
colchão ou lençol, algumas enfermarias sem ventilação necessária.
REPERCUSSÕES: Apesar de o hospital fazer parte do conjunto de
serviços de assistência psiquiátrica, é notório o “peso” do modo
manicomial na estrutura e na ausência de práticas psicossociais. Apesar
da RP, o hospital psiquiátrico nunca conseguirá responder às demandas
psicossociais de (re)inserção social em plenitude, pois sua herança
cultural, carregada de estigmas e preconceitos são inconcebíveis na
assistência psicossocial. Por outro lado, é extremamente difícil observar
a realidade dos pacientes no hospital, sabendo da existência de formas
de tratamentos comunitários, seja no Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), ou, preferencialmente, no território adstrito da atenção básica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Atividade de grande valia para a formação
acadêmica, pois permitiu o contato direto com o serviço e sua realidade.
Embora existam inúmeros meios de tratamento à pessoa com
transtorno nessa era “pós reforma”, é preciso lutar contra o “assombro”
que ronda nossos dias de “contrarreforma”, sobretudo quando esta é
tutelada pela política de saúde nacional vigente.

620
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Horta Comunitária como Espaço de Cuidado em Saúde


e Formação de Laços

Yanna Embiruçu Souza Cangussu

Viviana Barboni
USP

Verônica Sena
Lisane Oliveira
FESF

Introdução: O cuidado em Saúde Mental tem ganhado seu espaço em


todos os níveis de complexidade em saúde, sendo que na Atenção
Básica toma uma perspectiva mais ampliada, coordenada e com foco na
promoção de saúde. Nesse sentido, o contexto comunitário é de vital
importância, abrindo possibilidades de formações de novos laços
afetivos, espaços de acolhimento e construção de práticas terapêuticas.
Diante disso e do interesse de usuários e profissionais residentes da
Unidade de Saúde da Família (USF) Phoc CAIC (Camaçari - BA), foi criado
um projeto de Horta Comunitária estruturada com a ressignificação de
um espaço no terreno da própria USF e tendo membros da comunidade
como corresponsáveis pelo cuidado. Descrição da Experiência: A horta
teve uma importante parceria com a creche do território adscrito para
mobilizar a comunidade, além da própria divulgação feita pelos
profissionais de saúde. No panorama inicial, os profissionais ficaram à
frente do projeto e aos poucos, o cenário foi alterado para organização
e responsabilização dos usuários pelo cuidado da horta: faziam escalas
de rega, traziam mudas novas, compartilhavam conhecimentos sobre
plantas, como o uso medicinal (fitoterapia) e formas de cultivo. Assim,
começamos a abrir também espaços para discussões de temas diversos
como o processo saúde-doença, funcionamento da USF, o novo
financiamento da Atenção Básica, a política de extinção do NASF e

621
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

controle social. As reuniões da unidade e da comunidade começaram a


pautar sobre a horta e gradualmente, o grupo foi crescendo, incluindo
mais agentes comunitários de saúde (ACS), usuários, parcerias e
profissionais. Repercussões: Alcançou-se um espaço de partilhas,
fortalecimento de laços e controle social. Os usuários formavam uma
rede de apoio, se denominavam “família horta”, desenvolveram suas
próprias hortas domésticas e o trabalho terapêutico foi mais amplo do
que o cuidado com as plantas. Houve o resgate de saberes populares e
trocas de experiências como, por exemplo, um dos participantes do
grupo, babalorixá e usuário de saúde mental do Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), trouxe seus conhecimentos sobre o uso de folhas
nas práticas de medicina africana, enriquecendo o espaço.
Considerações Finais: A horta tornou-se uma importante estratégia para
o estímulo do protagonismo dos usuários, criação de vínculos e
promoção à saúde mental, por proporcionar trocas e o fortalecimento
de laços afetivos. O próprio ato de cuidar coletivamente de plantas
oportunizou um cuidar uns dos outros, com práticas direcionadas para
as potências de vida e não para o adoecimento e curativismo.

622
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Horticultura: benefícios para a saúde mental e nutricional de pacientes


do CAPS AD

Lucianne Campelo Pinho


SEMUS

Rosianete Araújo Martins


Instituto Florense

Introdução: Os transtornos mentais representam um sério problema de


saúde pública, visto que estão associados a consideráveis índices de
morbidade e mortalidade, bem como ao consequente aumento nos
gastos públicos. Diante do exposto, o Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental têm valor
estratégico para a Reforma da Atenção da Assistência Psiquiátrica
Brasileira, pois são serviços de atenção diária, inseridos na comunidade,
visando a promoção de acesso ao trabalho, lazer, direitos civis e o
fortalecimento dos laços foliares e sociais. São serviços substitutivos às
internações em hospitais psiquiátricos. Entre as várias ações realizadas
nesse centro de atenção, tem se destacado a utilização do cultivo de
hortaliças, frutas, legumes e outros tipos de plantas, pelos seus
pacientes, passando a ser uma terapia alternativa, denominada de
Horticultura.
Objetivo: Este estudo objetivou demonstrar os benefícios da produção
da horticultura para os pacientes do CAPS AD para a saúde mental e
nutricional.
Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, ocorrido no CAPS AD
localizado no bairro do Filipinho na cidade de São Luís - MA, no período
de janeiro a abril de 2019. Participaram da ação os pacientes do turno
matutino, totalizando 40, sendo na maioria pacientes do sexo masculino
com idade entre 20 a 50 anos.
Resultado: Com o decorrer da ação, também foi realizado outra oficina
demonstrando os benefícios de cada planta cultivada pelos pacientes e

623
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

também para tirar dúvidas dos mesmos. Os resultados dessa terapia, foi
que a prática da horticultura possibilitou o desenvolvimento de novas
habilidade cognitiva para os pacientes, além de possibilitar maior
interação entre a equipe de saúde e os mesmos, ou seja o trabalho em
equipe, e principalmente, o resgate da autoestima, visto que ao
praticarem uma ação, que pode servir de atividade laborativa, o
paciente passa a acreditar que pode planejar, executar e vir a ter
sucesso em sua reabilitação e consequentemente voltar a ter cidadania
e se inserir na sociedade.

624
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Humanização como Possibilidade de Ressignificação - Reflexões a


partir da Experiência de Estágio em Hospital Geral

Aline Maria Dengo


CEULP - Centro Universitário Luterano de Palmas

Russélia Vanila Godoy


UNIDEP

A Psicologia inicialmente, atua no atendimento clínico de cunho


elitizado. O primeiro local onde a profissão aproxima-se da população
mais vulnerável socialmente é no hospital, a princípio, nos manicômios
higienistas e posteriormente, expandindo-se na área da saúde. O
contato com os fenômenos subumanos dos manicômios asilares é
fundamental para a Reforma Psiquiátrica no Brasil e o início do processo
de humanização. Fruto disso, hoje tem-se uma Política Nacional de
Humanização, que auxilia profissionalmente na compreensão das
implicações psíquicas do processo de adoecimento, da
despersonalização proveniente desta, dos sentimentos envolvidos, a
partida do lar, ausência familiar, receio diagnostico, ausência do
trabalho e as implicações financeiras. Dado a importância de discutir a
ressignificação do adoecimento e hospitalização para contribuição da
saúde mental, propõem-se reflexões sobre acolhimento, humanização e
escuta especializada a partir da experiencia de estágio em hospital geral.
O estágio curricular obrigatório ocorreu no segundo semestre de 2018
em um Hospital Geral paranaense, sendo os atendimentos semanais
pautados no acolhimento, aconselhamento psicológico e apoio social,
registrados nos prontuários hospitalares. Realizava-se orientações
semanais e também o acompanhamento da psicóloga supervisora da
instituição. O aconselhamento psicológico é pontual e breve, auxiliando
na reorganização da vida, promovendo a autoconfiança e
enfrentamento das adversidades. O acolhimento humanizado visa
aceitar o sujeito integralmente e, o apoio social objetiva fornecer

625
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

suporte, fazer o sujeito sentir-se pertencente ao meio. Utilizou-se a


plataforma PEPSIC e livros da área da psicologia, de saúde e de filosofia
como estratégia de busca. Compreender o fenômeno hospitalar do
adoecimento, como um processo hostil e invasivo, que pode evocar
sentimentos de agressividade e medo, que acabam sendo direcionados
para a equipe. No estágio, percebeu-se que, após a acolhida e escuta os
pacientes tendiam a externalizar seus sentimentos e diminuíam a
agressividade com a equipe, posto que, podiam ressignificar suas
vivências. Porém, raramente realiza-se a escuta especializada, e ocorre
um retraimento das emoções por meio de psicotrópicos, alienando o
sujeito sobre aquilo que está sentindo/vivendo. Embora considerados
sentimentos “ruins, infortúnios” são sentimentos condizentes com a
vivência individual e aplacá-los contribui para que emerja outra
sintomatologia, “quando a boca cala, o corpo fala” primórdio da
psicossomática. A psicossomática é um processo importante nos
atendimentos hospitalares, dado sua prevalência. Questiona-se, acerca
da exacerbada medicalização da existência, pois, quantos sujeitos
alienados por medicação poderiam ser acolhidos a partir da escuta
especializada, evitando diversos efeitos colaterais medicamentosos e
sociais, considerando os interesses da indústria médico-farmacêutica
nesse processo. É preciso quebrar o estigma do sofrimento e aceitá-lo
como integrante da vida - não dominante - mas participativo, com um
sentido. É fundamental que o psicólogo propicie o empoderamento,
humanização e a ressignificação existencial, colocando o sujeito como
protagonista ativo no processo de convalescença. Percebe-se a carência
de material produzido acerca da medicalização da vida e considera-se a
importância da inserção do psicólogo no ambiente hospitalar, no
acolhimento e escuta humanizados e também capacitando e
sensibilizando a equipe para esse movimento.

626
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Humanizar e reorganizar, benefícios alcançados através do


acolhimento: relato de experiência

Dhiego Henrique Bezerra de Miranda (SESAU),


Maísa Estevam Vasconcelos Feitosa
Secretaria Municipal de Saúde do Jaboatão dos Guararapes

Introdução: A Atenção Primária a Saúde (APS) enquanto modelo-chave


de um sistema de saúde eficaz, se apresenta de forma equivalente no
Brasil como Atenção Básica (AB), mostrando-se protagonista na
resolutividade e na gestão do cuidado da população, devido
principalmente à acessibilidade, à integralidade e à própria organização
e otimização dos recursos pessoais e materiais disponíveis nas unidades,
onde encontramos associado ao sucesso deste cuidado práticas de
vinculação e corresponsabilização. Neste contexto, temos no
acolhimento a partir da escuta qualitativa, um recurso que objetiva
reorganizar a assistência, qualificando a oferta e os serviços da AB no
Sistema Único de Saúde (SUS), pois possibilita ao usuário o acesso a um
cuidado equitativo e integral. Relato da Experiência: Buscando a
ampliação do cuidado através de uma articulação entre profissionais de
uma estratégia Saúde da Família (eSF) e os usuários deste serviço, foi
implantado na referente unidade o acolhimento, realizado por uma
equipe de Residentes do primeiro ano do Programa de Residência
Multiprofissional em Atenção Básica e Saúde da Família (PRMABSF) do
Município do Jaboatão dos Guararapes – PE. Percebendo
desorganização do fluxo e a alta demanda frequente na unidade,
mesmo diante das dificuldades ao acesso que alguns usuários
evidenciaram durante o processo de territorialização, os residentes
propuseram aos preceptores do Núcleo Ampliado de Saúde da Família
(NASF-AB) e Equipe Básica de Saúde (EAB) a inserção do Acolhimento na
rotina da unidade. A proposta orientou-se a partir das premissas da
Política de Humanização do Ministério da Saúde (HumanizaSUS) que
foram discutidas em quatro reuniões prévias. O acolhimento geralmente

627
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

acontece em período integral, manhã e tarde, sendo realizado na sala de


reunião, por demanda espontânea, respeitando a ordem de chegada e
as prioridades. Os residentes pertencem a dez categorias profissionais
diferentes e acolhem os usuários de forma individual, ou compartilhada
com outros residentes, dependendo da disponibilidade dos profissionais
presentes, sem centralidade na competência de cada núcleo.
Repercussões: A implantação do acolhimento reorientou de forma
orgânica o processo de trabalho inicial, desafogando o serviço e
oportunizando espaço para realização das reuniões semanais e
educação continuada dos profissionais, assim como evidenciou na
prática a importância de focar na integralidade do sujeito e em suas
subjetividades, devendo o profissional manter-se atento ao que é
trazido, pois a escuta qualificada é um elemento fundamental para a
compreensão das demandas levantadas, bem como de alguns pontos
suprimidos pelo usuário por não perceber a relevância de diversos
aspectos como o social e o emocional, e a sua relação com as queixas
evidenciadas na busca pelo atendimento. Conclusão: O acolhimento
possui um grande potencial terapêutico e remodelador do processo de
trabalho, interferindo positivamente tanto no cuidado centrado na
pessoa, de forma holística, quanto para a reorganização administrativa
do serviço. É fundamental ressaltar a relevância do acolhimento como
um dispositivo que fortalece não apenas a ampliação do cuidado e do
acesso, outrossim favorece a descentralização do médico como
protagonista do cuidado, visibilizando tanto a importância do sujeito
quanto a participação de uma equipe multiprofissional neste processo.

628
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Implantação da rede de atenção e prevenção do suicídio


de Anastácio-MS

Éverton Villazante Constantino


Aline da Silva Cauneto
Flávio Arce Silva
Gisele Paquer Camargo
Jessica Casanova Garcia
Paulo Cesar Rodrigues dos Reis Filho
Debora Carmo dos Santos
Kaique Ferreira de Souza
Lucas Silva Florentino
Alexandra Sousa e Silva
Vanderson Avalhaes Marçal
Prefeitura Municipal de Anastácio

A Rede de Atenção e Prevenção ao Suicídio de Anastácio-MS (REDE) foi


desenvolvida com objetivo de oferecer atendimento à população com
tentativas de suicídio; ideação suicida e/ou autolesão e aos seus
familiares, além dos sobreviventes. Visamos, ainda, estruturar a rede de
atenção à saúde para identificação desta demanda; ampliar o serviço de
saúde mental; capacitar profissionais rede intersetoriais e comunidade
para prevenção e cuidado; instituir um sistema de comunicação eficaz
para notificações em caso de suicídio; realizar ações contínuas de
prevenção, minimizando o tabu que ainda envolve o tema suicídio. O
serviço funciona em duas vertentes, na atenção e na prevenção ao
suicídio. Há uma equipe exclusiva de psicólogos que desenvolvem as
ações, oferecendo atendimentos domiciliar, individual e em grupo
(pacientes e familiares), além da prevenção desenvolvida nas escolas. Os
pacientes também são acompanhados pelo serviço de psiquiatria e pelo
serviço social. A nível de prevenção desenvolvemos periodicamente
ações nas escolas e, a partir de 2020, temos um psicólogo exclusivo para
essa atividade. Já desenvolvemos intervenções nas escolas do município,

629
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

que apresentaram maiores demandas, com os discentes do 9º ano do


ensino fundamental e 3º ano do ensino médio; nas unidades de saúde e
na comunidade em geral. Organizamos o encontro de saúde mental, que
realizamos 04 edições, convidando especialistas na área de saúde
mental para falar acerca do suicídio. Realizamos 01 (um) simpósio de
saúde trabalhador, com foco na saúde mental; 01 (um) seminário sul-
mato-grossense de prevenção do suicídio e 01 (uma) roda de conversa:
falando sobre saúde mental. Atuamos com ações no janeiro branco;
agosto verde e setembro amarelo. Percebemos o aumento da demanda
de atendimentos e os dados demonstram que a grande parte são
procura espontânea ou a detecção por parte dos serviços de saúde e
posterior encaminhamento para o serviço. Em 2017, atendemos 29
pacientes com tentativas de suicídio (atuais e/ou antigas), 69 casos de
ideação e 22 de autolesão, já em 2018 foram 36 casos com tentativas,
98 com ideação e 36 com autolesão. Totalizamos em 2018 a realização
de 528 consultas individuais e 181 atendimentos domiciliares. No ano de
2019, foram atendidos 199 pacientes (61 casos com tentativas, 108 com
ideação e 30 com autolesão) e executamos 1247 atendimentos
individuais e 170 domiciliares. Um resultado importante das ações da
REDE é que a atual gestão municipal promulgou no dia 13 de setembro
de 2018 a Lei n.º 1105 que institui o mês “setembro amarelo”, como
mês de conscientização e prevenção ao suicídio. A REDE foi instituída
como política pública através da Lei nº 1172 de 15 de outubro de 2019,
definindo a forma de organização e disponibilização do serviço para a
comunidade anastaciana. Com a rede, desenvolvemos a consciência na
população para falar sobre o assunto, levando a prevenção e
desmistificando o tema. A saúde mental é tratada com prioridade na
atenção básica, com ações de prevenção e tratamento precoce de
transtornos mentais, aumentando a procura espontânea da população
pelo serviço e do apoio da rede intersetorial com o acolhimento e
encaminhamento dos casos.

630
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Implantação da Residência Terapêutica em Ipojuca/PE: uma estratégia


antimanicomial do cuidado

Cynthia dos Santos Monteiro


CAPS Espaço Livremente

Cintia Catarina Monteiro Mota


Prefeitura de Olinda - Coordenação SM

Renata Nascimento
CAPS Davi Capistrano

Introdução: Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) integram a rede


de cuidado em Saúde Mental, conforme a Portaria GM/MS nº 106, de 11
de fevereiro de 2000. Estão destinados a cuidar de egressos de
internações psiquiátricas de longa permanência, os quais não possuam
suporte social e laços familiares. Através desse relato de experiência
propomos um diálogo a partir da experiência da implantação de SRT no
município de Ipojuca/PE sobre as mais popularmente chamadas
Residências Terapêuticas (RT) como alternativa de moradia para pessoas
que estão internadas há anos em hospitais psiquiátricos por não
contarem com suporte adequado na comunidade. (BRASIL,2004).
Descrição da experiência: Implantada em julho de 2015, vinculada ao
CAPS, apresenta capacidade para seis pessoas devido à estrutura física.
O processo de inserção dos moradores se iniciou bem antes da mudança
para a casa. Inicialmente, eram cinco pessoas, três homens e duas
mulheres, provenientes de internações em hospitais psiquiátricos, de
longa data, com vínculos familiares fragilizados em sem a possibilidade
de retorno a casa desses familiares. O CAPS iniciou processo de
discussão dos casos, ambientação dos indivíduos que iriam morar
juntos, possibilitando assim uma familiarização entre essas pessoas e a
construção de um lugar de moradia acolhedor. Posteriormente com o
falecimento de um morador e a desospitalização do Hospital de

631
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Barreiros, chegaram mais dois moradores. Repercussões: Considerando


que havia ipojucanos sem vínculo familiar preservados foi imprescindível
a construção de um lar para eles. Devido à implicação do CAPS no
diálogo com a gestão, atualmente na Residência encontram-se com seis
moradores, todos egressos de longa internação de hospitais
psiquiátricos. Ressaltamos que a partir da implantação da única
Residência Terapêutica do município vivenciamos uma dificuldade na
composição do público acolhido, pois as vagas foram disputadas por
diferentes gestores que tentavam suprir outras necessidades,
desvirtuando o objetivo principal de uma Residência Terapêutica, por
isso ao longo do processo também foram produzidas discussões com
outros dispositivos da RAPS e da rede intersetorial. Ademais, vimos o
fortalecimento de vínculos familiares daqueles que ainda tem referência
familiar. Considerações finais: As discussões sobre RT como necessária
estratégia de reabilitação psicossocial precisam de constantes a fim de
concretizar seu mais árduo trabalho que é de construir na comunidade
um lugar para os novos moradores.

632
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Implementação do Acolhimento integral no CAPS III-Castanheira em


Marabá/PA, desafios e descobertas

Allan Raniere Santos da Silva


Prefeitura de Marabá

Maria Regina Ceo Andrade


Antonieta Souza Ramos
Júlio César de Souza
UNIFESSPA

O serviço especializado em Saúde mental é ofertado à população


marabaense há mais de 20 anos, no decorrer do tempo houveram várias
transformações socioculturais no município que impuseram adequações
na prestação desses cuidados, seguindo tanto a legislação quanto a
realidade regional. Atualmente o CAPS III- Castanheira funciona
conforme determina a Portaria No 336/02, 24h por dia, 7 dias por
semana, oferecendo assim serviço de “internação de curta duração”
para os usuários em situação de crise, inclusive aqueles com demanda
relacionada ao uso e abuso de álcool e outras drogas, oferecendo
também retaguarda para outros pontos de atenção da RAPS. Este
processo de implantação foi estabelecido em etapas, a priori havia a
necessidade de adaptar as instalações e equipe do CAPS II em CAPS III,
uma vez que a população estimada de Marabá é de 279.349 segundo
dados de 2019 do IBGE, após a mudança de prédio e recomposição da
equipe o serviço começou a funcionar aos finais de semana, a partir do
dia vinte e dois de outubro de dois mil e dezenove o CAPS iniciou seu
funcionamento 24h. Esta nova etapa de funcionamento vinha sendo
trabalhada com os usuários durante as assembleias gerais desde o início
do ano de 2019, sendo esta a principal estratégia de educação da
população para que o novo serviço não fosse desvirtuado. Dessa forma
o primeiro desafio de não institucionalizar ou mesmo de propagar a
ideia de uma assistência manicomial tem sido vencido através do

633
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

esclarecimento dos usuários e seus familiares, o segundo desafio está no


matriciamento de outras unidades de saúde, que por vezes não
entendem a dinâmica de um serviço de caráter comunitário, não
ambulatorial e de portas abertas, realizando encaminhamentos que não
condizem com a proposta da Reforma Psiquiátrica, o terceiro desafio
está na prestação de cuidados assistenciais aos usuários que estão em
Acolhimento Integral, onde toda a equipe tem se capacitado para
atender a demanda multidimensional destes indivíduos sem que os
mesmos sejam tratados como “pacientes em internação hospitalar”,
dessa forma a autonomia, participação ativa na dinâmica da unidade,
inclusão nas diversas terapias propostas e fortalecimento de vínculo
com a família e com a comunidade tem sido estimulados a todo
momento para que a “porta giratória” do serviço mantenha-se em
constante movimento. Desde sua implementação o serviço tem estado
em evidência na mídia, repercutindo positivamente na comunidade
como mais uma ferramenta na atenção à população portadora de
transtorno mental, dando continuidade ao trabalho terapêutico
multidisciplinar já reconhecido e fortemente estabelecido, além de
agregar uma maior complexidade ao incluir a nova modalidade de
acolhimento, atendendo a demanda de casos que necessitam desta
assistência constante. Sendo assim os resultados esperados já têm sido
observados na melhora de usuários que vinham de quadros de intenso
sofrimento relacionado a cronicidade da doença, exclusão social,
interrupções na terapêutica proposta e não adesão ao tratamento,
usuários estes que hoje retornam ao serviço tendo atingido a finalidade
que a ele foi proposta de resgate da dignidade e da autonomia do
sujeito.

634
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Importância da ambiência no acolhimento em um CAPSIJ

Rafael Leite Mendonça


Luziane
Luana Carvalho Trindade
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo

Introdução: Um dos aspectos da Política de Humanização do Sistema


Único de Saúde é o conceito de Ambiência; refere-se aos elementos que
constituem os serviços de saúde, em seus aspectos físicos e também,
das interações sociais e afetivas que ali são produzidas. A ambiência
pode ser um importante dispositivo para se pensar a saúde mental,
refere-se ao modo particular de se entender o espaço físico como
espaço coletivo, profissional e de relações interpessoais. Operando em
atenção acolhedora, resolutiva e humana. Ou seja, o espaço coletivo do
serviço e as relações surgidas nele, possibilitam produções subjetivas. A
partir dessa perspectiva, o espaço é utilizado como ferramenta
facilitadora do processo de trabalho, favorecendo o atendimento
humanizado, acolhedor e diretivo. Os momentos compartilhados no
espaço não devem ser entendidos como momentos de lazer apenas,
mas sim, como possibilidade de encontros potentes para se pensar a
produção de saúde. Descrição da experiência: Neste trabalho, destaca-
se a utilização do espaço coletivo de em um CAPSIJ em uma cidade do
sudeste do Brasil, como elemento facilitador do acolhimento de um
jovem no serviço. A experiência de estágio em psicologia ocorreu em
setembro de 2019, dentre as atividades realizadas, destaca-se o
acolhimento de um adolescente de 12 anos, encaminhado por uma
Unidade Básica de Saúde. O motivo do encaminhamento foi seu
comportamento de usar sempre a mesma roupa e não aceitar outras
opções; catava latinhas para vender e comprar coisas - “Eu cato coisas,
vendo e compro coisas”. O acolhimento foi realizado por um profissional
do serviço com formação em educação física e um estagiário de
psicologia. Foram realizados seis encontros, todos às sextas feiras pela

635
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

manhã, cinco ocorreram na piscina, por escolha do usuário; o que foi


respeitada e utilizada como “ferramenta” de trabalho.
Repercussões: A escolha da piscina aconteceu assim que o jovem
demonstrou interesse, a profissional perguntou se ele gostaria de voltar
e entrar na água, o adolescente respondeu imediatamente com um
sorriso. A partir disso, as conversas aconteceram durante brincadeiras e
braçadas. A interação na piscina construiu uma relação pela qual foi
possível escutar suas queixas e interesses, motivando a permanência no
serviço, o que possibilitou a construção do vínculo para a continuidade
do acompanhamento do caso. A piscina permitiu um contato mais
próximo, mais dinâmico, mediado pelos movimentos na água. O
contexto diferente do tradicional possibilitou a aproximação do
adolescente com o serviço, o acolhimento de sua demanda,
possibilitando uma escuta em um ambiente acolhedor e adequado às
suas necessidades, visto que foi respeitada sua escolha de permanecer
na água. Considerações Finais: O estágio possibilitou enorme
aprendizado, permitiu entender a importância do espaço coletivo a
partir do conceito de Ambiência; entrar em contato com diferentes
maneiras de se pensar o cuidado nos serviços destinados a crianças e
adolescentes, diferente daquele preconizado por um modelo médico
tradicional e pensar a clínica em novos e diferentes contextos.

636
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Importância de um Grupo de apoio às famílias dos usuários dos


Serviços de Saúde Mental e sua participação no Plano Terapêutico:
relato de experiência.

Orlando Garcia Nascimento


José Luiz da Cunha Pena
Verônica Batista Cambraia Favacho
Adriana Brandão Ribeiro
Maria Silvia da Costa Silva
Raissa dos Santos Flexa
Carla Emanuela Xavier Silva
Ailson Soares de Almeida
Universidade Federal do Amapá

Introdução: A família, aqui entendida enquanto estrutura subjetivada,


simbólica, integrante da vida da pessoa e, nessa medida, circunscrita nas
possíveis intervenções. A família também não se restringe a laços de
sangue, mas relações de afeto que identificam as pessoas desde os
tempos mais remotos de sua vida. Descrição da Experiência: uma
experiência quanto à relevância em inserir a família no tratamento das
pessoas com transtorno mental e como é extremamente prejudicial a
não inserção na participação do tratamento dos seus entes queridos,
este relato de experiência de um enfermeiro residente em Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva com ênfase em saúde mental na
cidade de Macapá- AP enfatiza no ano de 2019, nos meses de Abril a
Outubro, o primeiro campo da residência multiprofissional foi a Clínica
de Saúde Mental do Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima que funciona
no modelo de internação e consultas ambulatoriais. Recebe pacientes
de todo o Estado e das ilhas vizinhas do Pará, atendidos pelo SUS. Os
pacientes atendidos pelo ambulatório são diagnosticados com
Transtornos Afetivos e de Ansiedade e este serviço não oferece aos
familiares dos usuários um grupo de apoio. Este fato é observado como
uma deficiência no tratamento. Dos meses de Outubro a Março, o

637
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

segundo campo da residência foi o CAPS III Gentileza, para tratamento


de pacientes com transtornos mentais graves e persistentes, devido a
um acordo interno, o CAPS III Gentileza atende somente pacientes com
transtornos mentais graves e persistentes que apresentam psicose no
seu quadro sindrômico. O CAPS III Gentileza oferta no plano terapêutico
singular (PTS) um grupo específico para os familiares dos pacientes e
tem se estabelecido como uma experiência exitosa e bastante
acolhedora, proporcionando relatos de lutas, superação e educação
permanente em saúde mental. É fundamental que a família participe do
tratamento de seus familiares, é nestes grupos de apoio onde se é
compartilhado vivências no dia-a-dia do tratamento, que cria-se o
vínculo com a instituição e com os profissionais, promove-se o
empoderamento para o cuidar e também desenvolve-se um ambiente
terapêutico e preventivo ao não adoecimento da família durante esse
processo de apreender habilidades para lidar com seu ente com
transtornos mental. Repercussões: Vivenciar a interdisciplinaridade dos
diversos saberes/fazeres presentes nos diversos campos da residência
proporciona ao residente uma visão panorâmica da RAPS com seus
desafios e potencialidades. Ainda é necessário mudar o modelo
hospitalocêntrico, manicomial e a medicalização da vida encontradas
em alguns pontos da rede de saúde mental. Atualmente sabe-se que a
família é peça chave nas práticas de cuidado em saúde mental,
auxiliando ao tratamento de pessoas com transtornos mentais, onde os
vínculos afetivos precisam ser protegidos e incentivados. A falta da
família no tratamento é extremamente prejudicial e preocupante.

638
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Inclusão social pelo trabalho na perspectiva de


profissionais de um CAPS

Maria Fernanda de Barros Lima


Lívia Figueiredo Bandarrinha
Prefeitura Municipal de Paraíba do Sul

A inserção social de usuários da Saúde Mental (SM) através do trabalho


representa um dos desafios da Reforma Psiquiátrica. Deste modo, a
abordagem desta temática é de extrema relevância para construção de
práticas em SM na contribuição para o fortalecimento da autonomia,
cidadania e respeito aos direitos destes usuários. O presente estudo
teve como objetivo identificar os impactos no tratamento de portador
de transtorno mental a partir da inclusão no mercado de trabalho, sob
perspectiva de profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) e compreender o papel destes serviços neste processo. Foi
utilizada uma metodologia qualitativa e descritiva através de relato de
experiência de inserção de uma usuária de CAPS em vaga de emprego.
A.B., sexo feminino, 19 anos, iniciou acompanhamento em 2018 em um
CAPS no estado do Rio de Janeiro a partir do encaminhamento da
atenção básica devido a sintomas relativos a um quadro depressivo
grave associado à comportamento suicida. A.B. oriunda do nordeste,
mudou-se para interior do estado do Rio de Janeiro motivada pelo
desamparo e difícil convivência com a família biológica devido à traumas
na infância. AB foi acolhida por uma amiga que conheceu pela internet,
residindo com a mesma e sua família há cerca de um ano quando iniciou
o tratamento no CAPS em questão. Porém, houve dificuldade na
adaptação à nova família, desencadeando sintomas e comportamento
como a auto mutilação, ideação e tentativas de auto extermínio,
isolamento, choro intensificado, insônia, alucinações auditivas e
desmaios frequentes. Após avaliação no CAPS, foi proposto Projeto
Terapêutico Singular em regime intensivo no dispositivo. No início A.B.
apresentava inúmeras crises e a equipe encontrou algumas dificuldades

639
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

para condução do caso devido à falta de apoio e suporte da família que


a acolheu. Diante desta situação foi identificada a necessidade de
ampliação da rede de apoio da usuária e o fortalecimento de sua
autonomia e protagonismo no tratamento. Nesta trajetória, A.B.
estabeleceu vínculos afetivos e relação de amizade com outras usuárias
da unidade, sentindo-se mais segura para lidar com seu sofrimento, mas
ainda oscilava muito entre momentos de estabilização e de
intensificação dos sintomas. Em 2019, a partir da articulação do CAPS
com empresa comercial local, A.B. manifestou interesse na
oportunidade de inserção no mercado de trabalho, tendo como
impactos: evolução favorável do quadro depressivo; melhora na
qualidade de vida e convivência com a família que a acolheu; resgate da
autoestima e autonomia; garantia da independência financeira; e
expansão dos contatos sociais, gerando o sentimento de aceitação e
pertencimento pela comunidade local. A partir do relato apresentado
fica evidente que a inclusão social pelo trabalho trouxe resultados
positivos para o tratamento e sentido de vida da usuária, garantindo
oportunidades de caráter socioeconômico e também constituindo-se
como importante ferramenta para o cuidado em Saúde Mental através
do fortalecimento do protagonismo do sujeito. Neste contexto o CAPS
desempenha papel fundamental na ampliação de acesso destes usuários
no mercado de trabalho, não se limitando apenas à clínica e à
assistência em saúde, mas também exercendo função de articulador
para inclusão na comunidade.

640
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Inserção da assistência às urgências psiquiátricas no hospital geral em


um município mineiro

Tatiana Marques dos Santos


(Instituto Municipal Philipe Pinel)

Gisele Fernandes Tarma Cordeiro


Maria Angélica de Almeida Peres
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Introdução: as circunstâncias de implantação do Serviço de Urgência


Psiquiátrica na década de 1980 se deram pela necessidade de
reformulação da assistência em saúde mental na cidade de Juiz de Fora,
que atravessava o “Corredor da Loucura” juntamente com Barbacena e
Belo Horizonte. A partir de denúncias dos trabalhadores de saúde
mental ao Ministério da Saúde referente a assistência manicomial, teve
início a desospitalização. Objetivo: descrever as circunstâncias de
implantação de um Serviço de Urgência Psiquiátrica no espaço do
Hospital Geral em Juiz de Fora. Método: estudo histórico-social,
qualitativo. As fontes serão constituídas por documentos escritos e
entrevistas com gestores e profissionais de equipe de saúde do cenário
que participaram da implantação do serviço supracitado, utilizando-se a
técnica da história oral temática. A análise seguirá a ordenação temática
com triangulação dos dados. Resultados: o Serviço de Urgência
Psiquiátrica foi planejado para acolher, realizar o tratamento e
acompanhar as pessoas com transtorno mental e seus familiares no
território, em uma época marcada pelo forte movimento de
desospitalização. O dispositivo foi recomendado como serviço de
referência pelos diferentes níveis de atenção em saúde, e atendimento
as pessoas que espontaneamente buscavam por assistência,
constituindo-se como a porta de entrada ao componente hospitalar
psiquiátrico, com o objetivo de anular a forte lógica de internação
mercantilista do município. Conclusão: a inserção da assistência em

641
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde mental no hospital geral, a partir do Serviço de Urgência


Psiquiátrica, antecedeu a legislações importantes que vieram a ser
sancionadas nos anos 2000, como a Portaria do Ministério da Saúde n.º
3.088/11, que instituiu a Rede de Atenção Psicossocial. As mudanças
ocorridas nos meandros do movimento de Reforma Psiquiátrica em Juiz
de Fora, marcam a história do atendimento em saúde mental no Brasil,
por meio dessa proposta que agrega exemplos de pioneirismo na
assistência em saúde mental no hospital geral.

642
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Inserção de usuários do Centro de Atenção Psicossocial em atividades


no território: relato de experiência

Vanessa Thamyris Carvalho dos Santos


Patrícia Anjos Lima de Carvalho
Caren Santos Limeira
Edite Lago da Silva Sena
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Rozemere Cardoso de Souza


Universidade Estadual de Santa Cruz

Introdução: O Movimento pela Reforma Psiquiátrica propôs um novo


modelo de atenção à saúde mental, e instituiu novas perspectivas de
cuidado às pessoas com sofrimento mental, que envolvem a inserção
social no contexto territorial, como em ações de lazer e de cultura como
formas legítimas e eficazes de produção de vida e de saúde aos usuários.
Objetivo: relatar a experiência de inserção de usuários do Centro de
Atenção Psicossocial do tipo II (CAPS II) em curso de bateria e no judô,
como estratégia de promoção de reinserção social. Descrição da
experiência: As atividades foram desenvolvidas durante o período de
junho a dezembro de 2019, com usuários do Centro de Atenção
Psicossocial do tipo II (CAPS II), em um município no interior da Bahia, e,
constituíram-se em: inserção de seis usuários no curso de bateria, na
Casa da Cultura, e de dois usuários no judô, no clube Rotary. As
atividades foram acompanhadas por uma enfermeira, doutoranda, que
estava desenvolvendo um processo de intervenção, que consistia em
uma fase do seu projeto de tese, que teve como proposta desenvolver
uma Sistematização da Assistência de Enfermagem para pessoas com
sofrimento mental, tendo um enfoque no território. Repercussões: A
inserção no curso de bateria se deu por meio de uma visita à Casa da
Cultura. Nesse primeiro momento, os usuários visitaram o local, tiveram
a oportunidade de conhecer o palco onde são realizadas as

643
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

apresentações de teatro e, também, a sala de música, onde


encontraram instrumentos de bateria e percussão. Alguns deles se
dirigiram aos instrumentos, evidenciaram talentos musicais, e
despertaram o desejo de se matricularem no curso, de modo que
utilizamos nosso poder contratual para ajudá-los na concretização desse
projeto. Nas primeiras aulas, a doutoranda acompanhou os usuários e
depois eles passaram a ir sozinhos, o que contribui para autonomia e
empoderamento dessas pessoas, que visualizaram novas possibilidades
de inserção em espaços fora do serviço. Os usuários sentiram-se felizes
e úteis participando dessa atividade e chegaram a desfilar no dia 07 de
setembro, na cidade, momento em que se sentiram mais cidadãos, além
de participarem de um festival de música promovido pela Casa da
Cultura, em que tocaram e discursaram. Dois usuários também
passaram a frequentar aulas de judô, nas terças-feiras, em um clube na
cidade. O primeiro contato deles com o ambiente foi incrível, pois foi
uma oportunidade de conhecer melhor sobre a história de vida desses
usuários, já que ficamos conversando enquanto aguardávamos o
começo das aulas. O esporte foi uma oportunidade para que os usuários
interagissem com outras pessoas e percebessem seu potencial de estar
em sociedade. Considerações finais: As estratégias desenvolvidas
durante o período de inserção da doutoranda no CAPS contribuíram
para que os usuários visualizassem perspectivas de cuidado que vão
além das desenvolvidas no serviço, que encontram em espaços do
território em que habitam, de modo a contribuir com a construção de
projetos de vida e felicidade e para autonomia e empoderamento dos
usuários.

644
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Intensificação de cuidados: uma proposta de clínica antimanicomial no


internato médico de saúde mental.

Diego Espinheira da Costa Bomfim


Joyce Brito Araújo
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

A Intensificação de Cuidados, criada na Bahia pelos professores Marcus


Vinicius de Oliveira e Eduarda Mota é uma proposta de clínica
antimanicomial. Por “intensificação de cuidados”, compreende-se, nas
palavras de seus criadores: “um conjunto de procedimentos
terapêuticos e sociais direcionados ao indivíduo e/ou ao seu grupo social
mais próximo, visando o fortalecimento dos vínculos e a potencialização
das redes sociais de sua relação, bem como o estabelecimento destas
nos casos de desfiliação ou forte precarização dos vínculos que lhes dão
sustentação na sociedade”. A primeira aplicação prática dessa
abordagem clínica se deu com o Programa de Intensificação de Cuidados
à Pacientes Psicóticos, formulado para participação de estudantes de
psicologia e terapia ocupacional, mas que recebeu ainda 3 estudantes
de medicina ao longo dos anos de seu funcionamento. Este relato de
experiência tem como objetivo compartilhar um trabalho de adaptação
da intensificação de cuidados ao Internato de Saúde Mental em Redes,
do curso de medicina, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Esta atividade funciona de forma transversal a outras do internato e
consiste na atuação dos estudantes em duplas, em que ficam
responsáveis por dois pacientes selecionados de forma conjunta entre
professores e estudantes. A intenção é que dupla mantenha um contato
ativo com os pacientes a ela designados, buscando conviver com esses
sujeitos de forma mais intensa, abrangendo tanto os corredores e
oficinas do CAPS, quanto atividades territoriais - visitas domiciliares,
acompanhamento terapêutico pelas ruas da cidade, construção de rede
com serviços da atenção básica etc. Sob supervisão interdisciplinar de
dois professores - um médico de família e comunidade e uma psicóloga,

645
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ambos com experiência no campo da saúde mental e atravessados pela


teoria psicanalítica – são realizados: leituras e discussão de textos base
para atuação e compreensão do campo; discussão atenta e permanente
dos casos – com enfoque nos sentimentos / afetações que atravessam
de forma singular e pessoal a condução das duplas; e construção
coletiva dos possíveis encaminhamentos psicossociais. Esta proposta de
adaptação da intensificação de cuidados a este cenário, com suas
particularidades e atravessamentos, está em andamento desde o ano de
2018, tendo treinado aproximadamente 80 internos de medicina, sendo
este, em geral, o primeiro contato que possuem com o campo da saúde
mental. O campo de atuação circunscreve o Centro de Atenção
Psicossocial do município de Santo Antônio de Jesus, localidade em que
se encontra o Centro de Ciências da Saúde da UFRB. Avaliamos que os
desafios e potencialidades encontradas nesta experiência são válidos de
compartilhamento e debates, pela sua característica fortemente contra
hegemônica no cenário dos internatos médicos na área de saúde mental
(em geral limitados ao saber psiquiátrico) de forma que esta experiência
possa se atualizar, complexificar e também comunicar novas e potentes
formas de alternativas diagnósticas e terapêuticas à patologização e
medicalização da vida, principalmente diante da realidade imposta ao
campo da saúde mental, cada dia mais atravessado por um discurso
medicalizante e farmacológico.

646
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Interfaces da clínica no enfrentamento à violência contra a mulher:


uma experiência de plantão psicológico na Delegacia Especializada em
Atendimento à Mulher em Natal-RN

Lissia Maria Silva de Lima


Gabriela Pessoa Soares
Universidade Federal do Rio Grande do Norte

A violência contra a mulher apresenta-se como um fenômeno social que


cada vez mais está ganhando espaço em ambientes discursivos. Com
maior discussão do feminismo, tal problemática vem sendo abordada
com crescente frequência, convocando à reflexão sobre as raízes
patriarcais que sustentam as diversas formas de violações que o gênero
feminino enfrenta ao delinear a sua existência diante do machismo
estrutural. Ao obtermos contato com a experiência de plantão
psicológico à mulheres em situação de violência, a partir da proposta de
estágio obrigatório do curso de Psicologia, situado na Delegacia
Especializada em Atendimento à Mulher da Zona Sul de Natal/RN,
vivenciamos a estrutura e o sistema de acolhimento ofertado, nos
aproximando de realidades que expressam a desigualdade de gênero e
as marcas do patriarcado atravessados por diferentes etnias e
contextos. Logo, percebemos que embora a DEAM seja comumente
vista como porta de entrada para a rede de acolhimento, proteção e
combate à violência contra a mulher, o apoio e o cuidado não entram
em prática de forma adequada neste meio. Analisamos que o
despreparo da equipe, assim como a estrutura física encontrada - com
arquitetura antiga e ampla, onde não é possível haver relativa
privacidade, promovem uma falta de acolhimento, o qual seria previsto
pela rede. Deste modo, observamos um reforço do silenciamento
imposto às mulheres vítimas de violência, as quais chegam à DEAM
expressando sofrimentos profundos e histórias de silenciamento que
estão prestes a serem rompidos através da denúncia, provocando
abalos significativos em suas subjetividades. É interessante avaliar,

647
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

portanto, que há neste contexto uma necessidade de ressignificação e


de mudança de percepções especialmente em referência à equipe da
DEAM, promovendo a demanda de uma formação especializada e
abrangente que consiga preparar os funcionários a receber as vítimas de
modo a acolhê-las. Além disso, defendemos a ausência de policiais do
sexo masculino nos atendimentos dos Boletins de Ocorrência, com a
justificativa de evitar que as mulheres cujos corpos e subjetividades
foram feridas por um homem, entrem em contato com uma figura
representativa de seu sofrimento, possibilitando relatos menos
desconfortáveis e restrita. Por fim, pensamos que não somente os
profissionais, como a própria estrutura poderiam atuar na maior
propagação de informações para as mulheres, referentes ao
funcionamento da rede e da Lei Maria da Penha, de modo que a
população se conscientize sobre estas questões, desconstruindo a ideia
da DEAM como porta de entrada e promovendo o deslocamento das
vítimas para órgãos de acolhimento previstos pela rede.

648
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Internação Psiquiátrica e Tentativa de Suicídio: Relato de Experiência.

Maria Silvia da Costa Silva


José Luis da Cunha Pena
Veronica Batista Cambraia Favacho
Raissa dos Santos Flexa
Adriana Brandão Ribeiro
Carla Emanuela Xavier Silva
Ailson Soares de Almeida
Orlando Garcia Nascimento
Cássio Diogo Monteiro Almeida
Adria Sthela Paladino
Luciana Portugal Freitas
Universidade Federal do Amapá

Introdução: Para a Organização Mundial de Saúde (2012), suicídio é um


problema complexo, resultante de uma complexa interação de fatores
biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais.
Descrição da experiência: Durante o período de julho a setembro de
2020 foi realizada a assistência de enfermagem para uma paciente
internada na enfermaria psiquiátrica do Hospital de Clínicas Dr. Alberto
Lima (HCAL) por dois enfermeiros residentes, os quais
operacionalizaram a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
aplicada à teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem de
Hildegard Elizabeth Peplau e identificaram diagnósticos de enfermagem
tendo como base o Nursing Diagnosis: Definitions and Classifications
(NANDA). Com história de primeira internação psiquiátrica, feminina, 23
anos, solteira, evangélica, um filho, ensino fundamental incompleto,
dificuldades no aprendizado, comportamento incomum para a idade,
aos 9 anos de idade já acompanhada no Centro de Atenção Psicossocial
– CAPS i, por abuso sexual durante a adolescência, sem caso de
transtorno mental na família e nega uso de álcool e outras drogas. Na
avaliação das funções psíquicas: desorientada auto e alopsiquicamente;

649
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

hipomnésia; bradipsiquia; pensamento pobre e prolixo; delírio místico;


hipoatividade; hipotimia; hipercinesia; ecopraxia; hipersonia;
alucinações (auditivas, visuais e olfatórias); sexuada; comportamento
infantilizado; pensamento e tentativa de suicídio; ideia fixa que sua
família está morta; auxílio para realizar a higiene pessoal e alimentar-se,
dificuldade em assimilar as orientações da equipe e em contenção física
total (no leito), devido ao risco de suicídio. Em uso de Haldol, Diazepam
e Valproato de Sódio. Repercussões: Os diagnósticos de enfermagem
foram: 1. Risco de suicídio. Domínio 11: Segurança/proteção (00150).
Classe 3: Violência. Definição: Suscetibilidade a lesão auto infligida que
ameaça a vida. Fatores de risco: Situacionais: perda de independência;
verbais: ameaça matar-se; relata desejo de morrer. Populações em
risco: História de tentativa de suicídio. Condições associadas: Transtorno
psiquiátrico. 2. Déficit no autocuidado para alimentação (00102).
Domínio 4: Atividade e repouso. Classe 5: autocuidado. Definição:
Incapacidade de alimentar-se de forma independente. Características
definidoras: Capacidade prejudicada de alimentar-se de uma refeição
inteira, capacidade prejudicada de engolir alimentos em quantidade
suficiente. Fatores relacionados: ansiedade; astenia. Condições
associadas: alteração na função cognitiva; alterações senso perceptivas.
3. Diagnóstico de Enfermagem: Déficit no autocuidado para banho
(00108). Domínio 4: Atividade/repouso. Classe 5: Autocuidado.
Definição: Incapacidade de completar as atividades de limpeza do corpo
de forma independente. Características definidoras: Capacidade
prejudicada de lavar o corpo; Capacidade prejudicada de pegar os
artigos para o banho; Capacidade prejudicada de secar o corpo. Fatores
relacionados: ansiedade; astenia. Condições associadas: alteração na
função cognitiva; capacidade prejudicada de perceber relações
espaciais; transtornos perceptivos. Intervenções: foi informado ao
Serviço de Nutrição Dietética (SND) sobre a dificuldade em aceitar
alimentação, a dieta foi alterada para liquida e com suplementação.
Feito escuta, diálogo de orientação e cuidados de enfermagem.

650
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Considerações finais: Destaca-se resposta positiva na evolução de


Enfermagem, com alta hospitalar no período.

651
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Intersecções e Saúde mental: Um olhar para as questões de gênero,


sexualidade e étnico-raciais no CRAS

Maria Karuline de Sousa Lima

O estudo proposto trata-se de um relato de experiência obtido por meio


de um estágio curricular no curso de Psicologia, em um Centro de
Referência de Assistência Social – CRAS- na região do município de
Timon-MA. Mediante a vivência dentro do espaço de estágio fora
possível analisar e formular problematizações desencadeadas das
necessidades do local, em virtude deste fato, foi possível analisar as
intersecções existentes, bem como sua relação de saúde mental com os
marcadores de gênero, sexualidade e étnico-raciais, assim destacando o
número significativo de mulheres com acesso aos serviços. Para
Rappaport (1977), à Saúde Mental Comunitária é como uma abordagem
dos problemas comunitários que rejeita a noção de défice, e defende o
princípio do ajustamento do indivíduo ao seu meio, da relatividade
cultural e da diversidade, que transforma o objetivo da intervenção
social no fornecimento de recursos materiais, educacionais e
psicológicos de suporte, aos indivíduos e grupos de uma comunidade
que assim, podem viver segundo formas diferenciadas da sociedade em
geral (pag. 61). Com tal contexto, verifica-se que o CRAS proporciona a
entrada para os serviços de assistência social, estando localizado
prioritariamente em áreas de maior vulnerabilidade social, com o intuito
de fortalecer a conivência com a família e com a comunidade, de
maneira a abraçar o maior número de pessoas para que estas tenham
acesso aos seus direitos. Rappaport (1977) relata que estamos com a
Psicologia Comunitária perante uma mudança de paradigma, sendo
verificadas alterações na forma como as demandas são levantadas e nos
métodos usados para se obter respostas para às mesmas. A Psicologia
Comunitária vem trazendo um modelo de saúde mental mais preventiva
e voltada para a comunidade. Tendo a população, nesse movimento que
exerce um papel social ativo em um processo de prevenção. Dessa

652
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

forma, a intervenção social poderá então ser operacionalizada a partir


de influências, orientações ou ações concretas no sentido de modificar
sistemas sociais e políticos, com incidência em áreas como a saúde, a
educação, o bem-estar físico e emocional, domínios religiosos ou
judiciais (Kelly, 1966; Bloom, 1973; Caplan, 1964). Isto inclui, a
percepção de todo essas questões ,em uma conclusão do impacto
dessas intersecções com a saúde mental , transformando-se em
mecanismos de extrema importância, bem como a compreensão da
influência destes marcadores como fonte para o entendimento do
sofrimento psíquico desses sujeitos, uma vez que a interseccionalidade
consiste com a “atenção às várias formas pelas quais o gênero
intersecta-se com uma gama de outras identidades e ao modo pelo qual
essas intersecções contribuem para a vulnerabilidade particular de
diferentes grupos de mulheres”, Crenshaw (2002, p. 174).

653
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Intersetorialidade e Promoção da Saúde Mental: um relato de


experiência do Projeto #VocêNãoEstáSozinho

Jamile Fernanda Conceição de Oliveira


Prefeitura Municipal de Itaparica

A intersetorialidade passa a fazer parte da agenda pública brasileira a


partir da Constituição Federal de 1988, com destaque ao seu art. 14, que
aponta que as políticas que compõem o sistema de seguridade social
devem ser entendidas como um conjunto integrado de ações destinadas
a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social.
Essa integração pressupõe a necessidade de articulação intersetorial
entre essas políticas que compõem a seguridade, de forma a consolidar
um sistema de proteção social amplo, centrado na ideia de cidadania.
No campo da saúde, o debate sobre a intersetorialidade remonta à
trajetória em torno da promoção de saúde, que apreende a
determinação social do processo saúde/doença - e implica no
reconhecimento da complexificação dos processos sociais, como
fenômenos multicausais e multidimensionais. Objetivamos neste relato
descrever a relevância do Projeto #VocêNãoEstáSozinho, enquanto uma
ação intersetorial de Promoção da Saúde Mental para adolescentes de
duas escolas do ensino médio, do município de Itaparica - BA. O Projeto
#VocêNãoEstáSozinho, integrou a campanha Setembro Amarelo, no ano
de 2019, e, surgiu a partir dos diálogos entre profissionais do Centro de
Atenção Psicossocial - CAPS, do Centro de Referência de Assistência
Social - CRAS e das escolas públicas municipais. A educação popular, foi
a ferramenta metodológica utilizada para a produção de conhecimento
e diálogo relacionados ao campo da Saúde Mental, com o objetivo de
alcançar a aprendizagem significativa. Nesse percurso educativo
estiveram envolvidos adolescentes das turmas de 1º, 2º e 3º ano do
ensino médio de duas escolas públicas, professores, assistentes sociais e
psicólogos. No curso das atividades, apresentamos orientações sobre a
oferta de serviços da Rede de Atenção Psicossocial - RAPS e a Rede

654
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Socioassistencial Municipal, e dialogamos sobre depressão, bullying,


automutilação e prevenção ao suicídio. Durante a vivência foi percebido
que as ações surtiram um efeito significativo para a vida desses
adolescentes, além do fortalecimento da identidade dos serviços que
compõem a RAPS e a Rede Socioassistencial. Percebeu-se que a
ampliação dos espaços de diálogo e a ruptura de práticas fragmentadas,
possibilitou a incorporação da intersetorialidade como uma estratégia
essencial para o avanço da Reforma Psiquiátrica. Tornou-se urgente
superar formas de intervenção fragmentadas e experimentar novas
estratégias a partir da realidade sobre a qual as políticas atuam. Por isso,
a realização de articulações intersetoriais é imprescindível para suprir as
necessidades sociais que afetam, direta ou indiretamente, a saúde
mental da população, dentro e fora do sistema de saúde. Podemos
concluir, a partir de tais inferências, que a promoção, institucional, de
articulação entre os serviços das diferentes políticas públicas, fortalece
uma rede interdisciplinar e intersetorial, que visa à proteção social e à
garantia de direitos. Apesar da intersetorialidade ainda se constituir
como desafio, em termos de efetivação na prática cotidiana, ele é uma
valiosa ferramenta de interação e complementaridade das ações entre
as políticas públicas.

655
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Intervenção musical como estratégia de cuidado de enfermagem a


pacientes hemodialíticos com sintomas de depressão e ansiedade

Thainan Alves Silva


Stela Almeida Aragão
Bárbara Santos Ribeiro
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Introdução: A doença renal crônica se apresenta como significativa fonte


de estresse podendo desencadear sintomas de depressão e ansiedade, o
que propicia o declínio da qualidade de vida dos pacientes submetidos
às terapias substitutivas, como a hemodiálise. Nesse contexto, a
intervenção musical surge como umas das práticas da enfermagem para
complementar a terapia desse tipo de paciente, uma vez que, a música
pode atuar minimizando sinais e sintomas decorrentes do tratamento
hemodialítico. Assim, o objetivo desse estudo é relatar os efeitos da
intervenção musical aplicada em pacientes renais crônicos com
sintomas de depressão e ansiedade submetidos ao tratamento
hemodialítico. Descrição da Experiência: As intervenções musicais
baseadas em autobiografia musical foram desenvolvidas em um centro
de doenças renais localizado no interior da Bahia nos meses de maio a
outubro do ano de 2019. Antes de iniciar essa terapêutica foi realizada
entrevista semiestruturada com 8 usuários do serviço a fim de conhecer
a suas realidades e suas preferências musicais para construção do
repertório autobiográfico com músicas significativas. Além disso,
aplicou-se a escala hospitalar de ansiedade e depressão para avaliar a
existência de dessas condições psicológicas. Após elaboração de
repertório musical individualizado, foi oportunizado aos participantes
em três sessões seguidas (3 dias), escuta da autobiografia musical, que
se deu de modo natural, sem imposições de horários de escuta, visto
que o intuito era perceber os efeitos a partir das interações entre os
participantes/autobiografia musical/condição de saúde. As sessões
tiveram média de duração de 1h e 45 minutos cada, e foram utilizados

656
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

como materiais aparelhos de MP3 player e fones de ouvido. Esse estudo


foi aprovado segundo parecer de nº 3.424.717/2019 e obedeceu aos
aspectos éticos da resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde. Repercussões: A partir das intervenções realizadas com a música
percebeu-se que tal instrumento se configura como dispositivo eficaz de
cuidado de enfermagem e aceitação do processo hemodialítico. Além
disso, a utilização desse tipo de terapêutica desvelou as reações
intrínsecas entre a música e os participantes na melhora do humor e das
sensações provocadas no tratamento de modo mais leve e
descontraído. A realidade de se tornar um portador da doença renal
crônica, vivenciar a exposição prolongada ao ambiente hospitalar e ser
submetido a longas horas de tratamento constituem fatores
desencadeantes de sofrimento mental, sendo a Depressão e a
Ansiedade as principais manifestações patológicas associadas. Desse
modo, a intervenção musical executada pela equipe de enfermagem
contribuiu para a valorização do sentido de cuidado, proporcionou a
aceitação do tratamento de forma mais branda, alegre e resiliente, e
colaborou para o reforço dos aspectos positivos relacionados à
possibilidade de ter uma vida menos limitada. Considerações Finais: A
intervenção musical é uma estratégia terapêutica eficaz que pode ser
utilizada no cuidado de enfermagem para auxiliar na redução de
sintomas de depressão e ansiedade e melhorias da qualidade de vida de
pacientes hemodialíticos, e consequentemente, influenciar de maneira
positiva no tratamento e na adesão do paciente a ele.

657
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Intervenções psicológicas com usuários de álcool e outras drogas em


tempos de Pandemia por Covid-19.

Marcos Vinícius Bezerra do Amaral


Ana Thalita Felicio Ferreira da Silva
ESP-CE

Os sujeitos em sofrimento psíquico causado ou agravado pelo uso de


álcool e outras drogas, recebem atenção especializada de acordo com
suas necessidades. Com o avanço da pandemia provocada pelo novo
Coronavírus (Covid-19) foi possível notar em todo o país aumento nos
quadros de transtornos mentais, tanto na RAPS como nos equipamentos
auxiliares. O risco de contaminação, a incerteza, o isolamento social e o
crescente desemprego, foram alguns dos fatores que contribuíram de
forma negativa no quadro geral desses sujeitos, provocando ou
exacerbando transtornos como a ansiedade e a depressão. A OMS
manifestou preocupação com o aumento considerável do uso nocivo de
álcool e afirma que “o acesso deve ser restrito durante o confinamento”
reiterando que o momento tem sido mais difícil quanto ao acesso ao
tratamento de dependentes químicos. Na Rede de Atenção Psicossocial
de Aracati, município do Ceará houve aumento considerável de procura
pelos serviços, dando enfoque ao caráter de urgência e emergência. Em
Natal, capital do Rio Grande do Norte algumas Comunidades
Terapêuticas tiveram superlotação de acolhidos e os Hospitais
Psiquiátricos tiveram seus leitos preenchidos. Uma doença grave e até
então pouco conhecida, exigiu dos profissionais atuantes nessa área
readequação de suas práticas, além de capacitação específica as suas
particularidades. Os profissionais da Residência Multiprofissional da ESP-
CE no município de Aracati receberam capacitações da Secretaria de
Saúde do Estado e do programa "O Brasil conta comigo, profissionais da
saúde" do Ministério Público para compreender os protocolos de
manejo clínicos, e estratégias psicológicas específicas para o contexto.
As ações possíveis em âmbito psicossocial foram atendimentos

658
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

individuais aos sujeitos com demandas emergenciais, uma rede de


teleatendimento via Skype e telefone, desenvolvimento de cartilhas
norteadoras sobre: autocuidado e saúde mental; uso de epi´s, etiqueta
respiratória; distanciamento social, isolamento e quarentena; auxílio
emergencial construídos em conjunto com a equipe interdisciplinar do
CAPS sempre visando o cuidado integral, além de alimentar as redes
sociais e o programa de rádio com conteúdo de educação em saúde e
buscar ativação do suporte social dos usuários, ainda que de forma
remota. Embora ainda haja sujeitos em processo terapêutico uma vez
que a pandemia trouxe consigo crises de duração não mensuráveis e em
diversas áreas, foi possível notar que o acolhimento precoce,
disponibilidade e constante aperfeiçoamento dos profissionais
trabalhando de forma interdisciplinar tem surtido efeitos amenizadores
do sofrimento mental.

659
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Intervisões e clínica psicossocial: Implicações socioculturais nos


processos de subjetivações e os impactos à saúde mental dos
brasileiros

Vivianni de Matos Gama


Giulia Natália Santos Medonça
Movimento Pró Saúde Mental

Introdução: Trata-se de um relato de experiência das reflexões


emergidas em uma intervisão clínica que buscou ampliar as
considerações acerca das dimensões socioculturais do processo de
saúde e doença. As construções analíticas partem dos atendimentos
realizados na perspectiva psicossocial à demandas de saúde mental. As
observações suscitadas apontam a um entendimento não
contextualizado da psique brasileira e, consequentemente, na
elucidação de conceitos referentes à saúde mental.
Descrição da experiência: Nota-se, a nível contextualização, alguns
pontos importantes:
1. A formação histórica-colonial contribuiu para a discriminação e
inferiorização de algumas culturas e regiões (como por exemplo, a
supremacia das regiões Sul e Sudeste e as representações associadas a
negatividade dos povos do Norte e Nordeste) o que reforça o
pensamento de dominação e controle sob formas de vida, nesse recorte
específico pensa-se questões relacionadas a raça, gênero e convenções
sociais que impactam em relações e subjetivações.
2. As questões relacionadas ao sincretismo religioso, e as condições de
existência encontradas pelas religiões de matrizes africanas que
possuem suas bases questionadas no que tange a prevalência de
concepções patriarcais, monoteístas e cristãs e como estas se
relacionam na formação de possibilidades para os sujeitos.
3. O adoecimento do feminino no distanciamento da relação com o
desejo a partir das contradições aos ideais concebidos historicamente.

660
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tópicos como: maternidade, o uso de substâncias, o acesso ao cuidado


bem como as dimensões estruturais do machismo.
4. As masculinidades tóxicas e a dimensão do sofrimento masculino
associado a concepções de lugares e papéis simbólicos e a
determinismos reproduzidos social e culturalmente. Repercussões: As
intervisões proporcionaram um debate e leitura sobre saúde mental, a
partir da inclusão dos materiais, histórias e produções realizadas para
além do eixo Europa-Estados Unidos. Incluindo a história e a cultura
brasileira, ameríndia e africana, o que aponta para uma necessidade de
valorização e aproximação com as nossas próprias produções (que
podem contar com influências, mas que não a determinam), a nível
acadêmico. Considerações finais: Existe, portanto, a necessidade de
integrar à constituição subjetiva brasileira aspectos de sua identidade
enquanto povo latino formado a partir da miscigenação de diferentes
povos e culturas, como a indígena e africana. Tais elementos costumam
aparecer de forma segmentada ou desapropriada na psique dos
brasileiros que tendem a supervalorização da cultura eurocêntrica e
norte-americana, incorporando padrões e espelhamentos que estão
associados ao processo de adoecimento e causam impactos na saúde
mental a nível singular e também social.

661
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Isoporzinho da Prevenção: experiências de Cuidado


na rua em São Gonçalo - RJ

Kassia Fonseca Rapella


RPA

Phillipe Rocha Silva


Universidade Federal Fluminense - UFF

Criado no Rio de Janeiro, o Isoporzinho é um hábito da população


jovem, hoje se mantendo ainda forte principalmente na população
LGBT+, de gerir seu próprio consumo de bebidas em festas, evitando os
altos preços. Consiste em um grupo marcar em determinado local e
levar sua própria bebida e negociar formas de manter gelada, etc. Este
projeto, fundado em São Gonçalo, município periférico da região
metropolitana do RJ, apresenta um cooler com água potável e um
isoporzinho com insumos (métodos biomédicos de barreira a ISTs e
informativos), promovendo o cuidado ao uso de álcool e outras drogas e
à saúde sexual e reprodutiva dos jovens e também utilizando o valor
simbólico do isoporzinho como um improviso ou algo não pronto, por
ser um movimento de cultura de rua, para construir práticas
relacionadas à prevenção do HIV e outras ISTs e redução de danos pelo
uso de drogas. O projeto atua com estratégias de Redução de Danos,
inspirado na Prevenção Combinada, uma estratégia do Ministério da
Saúde que visa responder a necessidades específicas de determinados
segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do
HIV e outras ISTs. O projeto se configura com intervenções não somente
biomédicas, mas que possibilitem ofertar práticas de cuidado em
contextos culturais de rua, levando em consideração o cenário de
desmonte de políticas públicas e de retrocesso nos direitos adquiridos, o
que desafia a sobrevivência dos grupos alvo da Prevenção Combinada:
homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, pessoas que usam
álcool e outras drogas, pessoas privadas de liberdade, trabalhadoras do

662
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sexo e com prioridade de intervenção nos segmentos: adolescentes e


jovens, população negra, população indígena, população em situação de
rua. As intervenções se dão na forma de ações locais, formações e
intervenções em contextos culturais, hoje nos municípios de Niterói e
São Gonçalo - RJ.

663
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Iyás do gueto: Por uma perspectiva materno-afrocêntrica


de mulheres periféricas

Gislenny Alves
Nayane Keilla Messias
UFAL

Introdução: A maternidade é uma experiência naturalizada à figura


feminina e descrita de forma romântica e generalista à partir de um
padrão de vivência hegemônico e branco, que se distancia da
maternidade vivida pela maioria das mulheres periféricas brasileiras,
pois suas vivências afirmam a maternidade diversificada e relacionada à
precarização da vida e insuficiência de políticas públicas. A partir disso,
esse relato de experiência propõe apresentar “maternidades outras” e
para isso foram realizadas produções de memórias sobre atendimentos
psicossociais de usuárias de CRAS do agreste Alagoano, a partir de uma
perspectiva decolonial, afrocêntrica e de gênero, situada na realidade
periférica como contra-saber à ideia de maternidade vigente.
Descrição da experiência: Grupo de mães no CRAS. Cena 1: “Meus filhos
são tudo! Minha vida, minha força de todo dia e uma mãe deixa até de
comer pra dar comida a eles.” afirma a mãe, na sala de atendimentos do
CRAS, chorando emocionada ao expressar seu amor pelos filhos, após
relatar experiência de violência doméstica e abandono pelo pai das
crianças. Cena 2: “Não ligo, nem me dou com preservativos ou injeções.
Ele nasceu assim com o pezinho torto e não tive culpa, mas minha mãe e
os tios dele dizem que foi porque eu bebi muito. Agora querem tirar ele
de mim. Mais esse! Já não basta terem me tirado os outros dois, agora
não tenho o direito de ser mãe desse”, afirma a mãe sentada na calçada
de casa, durante visita domiciliar. Cena 3: “Tudo que eu faço é por elas,
o pessoal do CAPS reclama porque não tomo os remédios certinho, mas
eu preciso ficar acordada, quando ele chega bêbado (pai dos filhos) só
falta matar a gente. Eu não tomo o remédio para não dormir e proteger
minhas filhas”. Refletindo sobre nossa responsabilidade nesta escrita,

664
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

propomos uma apresentação da experiência que foge dos padrões


coloniais e hegemônicos. Trata-se da utilização de grupo de convivência
em um CRAS como dispositivo ético-político de escuta e fortalecimento
de mães pretas, que vivenciam cotidianamente as precariedades da
vivência do racismo e da exclusão social.
Dessa forma, produzimos uma escuta-bordado que no emaranhado de
linhas e tecidos vai tomando forma à medida que as mãos se unem e as
memórias se projetam em frases e parágrafos. A escuta de mulheres
pretas, mães culpabilizadas por precisarem trabalhar em horário integral
para alimentar seus filhos. Que vivenciam cotidianamente todos os tipos
de violência e violação de direitos.
Repercussões e considerações finais: Uma sociedade altamente desigual
se ancora na produção de privilégios, principalmente em suas narrativas,
aqueles que dominam o sistema têm suas narrativas colocada no centro,
os demais ficam relegados ao que produzem sobre elas/eles. Neste
trabalho nos propomos visibilizar subjetividades, a dar vazão à polifonia
de vozes que existe em nós. Refletir sobre as diversidades de
maternidades forjadas na precariedade das periferias do mundo é
condição necessária para seguirmos resistindo diante dos ataques
patriarcais, racistas e classistas que insistem em negar subjetividades e
destituir narrativas. A vida começa nas mães.

665
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Janela Aberta: Entrelaçamentos entre a clínica e política em iniciativas


de Arte, Cultura e Geração de Renda no campo da Atenção
Psicossocial.

José Cleiton Teixeira Santos


Centro de Atenção Psicossocial

Marília Moura de Castro


CAPS AD III David Capistrano

Anselmo Clemente
Ester Batista de Araújo
Fátima Rafaella Silva Amaral
Henrique Jorge Pontes Sampaio
Zaeth Aguiar do Nascimento
Maria de Fatima Leite Gomes
Viviane Pereira Amorim
Rodolfo de Oliveira Marques
Universidade Federal da Paraíba

Introdução: O processo da Reforma Psiquiátrica inaugura um novo


paradigma no campo da saúde mental, isto é, propõe a substituição do
modelo manicomial por uma nova rede assistencial de base comunitária
e territorial, avessa, portanto, a lógica segregativa asilar. Surgem novas
formas de intervenção e acolhimento ao sujeito em sofrimento psíquico,
pautadas sobretudo na indissociabilidade entre clínica e política. As
iniciativas de arte, cultura e geração de renda exemplificam esta
perspectiva. Assim, oficinas de arte deslocam-se de meros lugares de
entretenimento e obrigatoriedade para tornarem-se dispositivos
estratégicos de oferta e cuidado, de produção subjetiva e de laço social
dos sujeitos a partir de suas singularidades. Contextualmente, no campo
da atenção psicossocial, também os oficineiros foram incluídos nas
equipes multiprofissionais.

666
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Descrição da experiência: Trata-se de relato de experiência do projeto


de extensão intitulado Saúde Mental e Oficinas de Geração de Renda:
construindo a inclusão social pelo trabalho, vinculado ao Departamento
de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Especificamente aqui, apresenta-se o apoio do projeto junto as
iniciativas de Arte, Cultura e Geração de Renda produzidas por usuários
do CAPSad III David Capistrano, pertencente a RAPS de João Pessoa/PB.
A equipe é composta por docentes dos cursos de psicologia e serviço
social, graduandos, residente multiprofissional em saúde mental,
colaborador da Incubadora de Economia Solidária e de mídias digitais e
oficineiro e psicóloga deste serviço.
Partimos de algumas questões norteadoras: Qual o lugar da arte para o
sujeito em sofrimento psíquico? Como a arte pode favorecer o
tratamento e as estratégias de organização subjetiva destes sujeitos?
Quais iniciativas de arte e cultura e geração de renda são produzidas
nestes serviços? Visando identificar e recuperar os materiais resultantes
das oficinas de arte do CAPSad III, foram realizadas entrevistas com
oficineiros e usuários inseridos neste processo. A atividade foi filmada e
devidamente consentida entre os mesmos. Dentre os registros, houve
relatos acerca das vivencias e produções ocorridas nas oficinas, como
também da sua importância para o cuidado em saúde mental.
Notadamente, as oficinas de arte “Conversando com o papel” e o
“Avesso do Papel” deram origem a uma exposição realizada na cidade. E
inclusive as obras produzidas por meio delas foram digitalizadas e
catalogadas com a participação de alguns usuários e intermediação do
oficineiro e da psicóloga do serviço envolvidos no projeto. Assim, foi
construída uma Galeria Virtual intitulada “Janela Aberta” para a inclusão
das produções resgatadas e realizada uma exposição virtual com as
mesmas.
Repercussões e considerações finais: A importância do projeto é
múltipla, ou seja, busca formar discentes em parceria com equipes
multiprofissionais; localiza e reflete sobre a inclusão e inserção social
dos usuários através de práticas inventivas relacionadas a arte, cultura,

667
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

trabalho e economia solidária; aproxima a universidade da comunidade


local e por fim, configura-se como uma janela aberta ao dar visibilidade
às produções no campo da arte, cultura e geração de renda resultantes
de soluções subjetivas tecidas pelos sujeitos, de uma estabilização
possível de seu sofrimento psíquico e demarcação de seu lugar no laço
social.

668
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Jogo da Vida Acadêmica: Uma Estratégia de Avaliação e Prevenção do


Suicídio em Acadêmicos

Raissa Lara Barros Cordeiro


João Vitor Moreira Maia
Nailan Nascimento da Silva
Luiza Michel Coty Tabajara Leite de Barros Cartaxo de Arruda
Rebeca Albuquerque Santiago
Centro Universitário Christus - Unichristus

O suicídio é considerado uma das maiores causas de morte no Brasil,


que consiste no ato de retirar a própria vida. Discute-se o adoecimento
mental no âmbito universitário como centro para a discussão sobre o
suicídio em discentes e docentes dos cursos superiores, sobretudo dos
cursos de saúde. Com o objetivo inicial de discutir sobre a prevenção do
suicídio e a saúde mental na vida acadêmica, proposta durante a
Semana de Conscientização e Prevenção do Suicídio em um Centro
Universitário no Ceará foi mediada por um psicólogo uma oficina
experiencial chamada de “Jogo da Vida Acadêmica”, onde se buscou
conscientizar e compartilhar como a vivência da vida acadêmica afeta a
saúde mental. O trabalho de caráter qualitativo se desenvolveu a partir
dos relatos dos participantes acerca de sua identificação com as
afirmativas propostas pelo “Jogo da Vida Acadêmica”, que poderiam ser
sugerindo suportivas e se amparo e outras que indicam vulnerabilidade
e desamparo, passadas em forma de slides, que discute aspectos
relacionados à vida acadêmica e seus impactos dos diversos aspectos da
vida do sujeito. A partir da identificação com as afirmativas do jogo e
dependendo da intensidade do impacto delas em sua vida, o
participante pegava de um a dois balões, que ficariam sob seu cuidado.
Caso a afirmação não fizesse sentido em sua experiência, ele devolveria
também de um a dois balões. Durante o desenvolvimento do grupo e os
relatos que surgiam era possível que os participantes retirassem um
balão um dos outros, dando “em troca” uma palavra de apoio ou uma

669
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

possível estratégia de enfrentamento para aquele sentimento. Ao fim


das afirmativas, foi discutido sobre os temas que surgiram a partir das
discussões e a percepção dos participantes sobre o número de balões
que estavam segurando no final, ilustrando o “peso” que pode ser a vida
universitária. A oficina foi mediada com 20 participantes, entre alunos e
professores, durante aproximadamente duas horas. Durante a oficina
surgiram demandas de ansiedade, cobranças, inseguranças sobre a
trajetória e também de autoimagem, a sobrecarga que a vida acadêmica
exerce sobre o sujeito. Os participantes identificaram como a vida
acadêmica os impacta de diversas formas, além de também possibilitar
algumas estratégias de enfrentamento sugeridas por outros
participantes. No trabalho com grupos, intervenções e técnicas
mediadas por um facilitador podem gerar um processo de mudança
tanto individual como grupal. No jogo, desenvolveu e aperfeiçoou as
relações interpessoais e a comunicação através do processo experiencial
de cada um dos participantes. Conclui-se que a oficina “O Jogo da Vida
Acadêmica” proporcionou aos participantes um espaço de escuta e
apoio sobre os desafios da vida universitária, evidenciando as relações
sociais como parte do suporte e da identificação das demandas que
surgiram. Notou-se, a partir da oficina, que é necessário que as
instituições invistam em maiores momentos de interação entre os
alunos com temas relevantes para sua vivência universitária como uma
estratégia de prevenção e avaliação da saúde mental dos discentes e
docentes.

670
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Judicialização dos conflitos familiares e saúde mental

Natalie Aguiar Cavalcante


Luanna Karollyne Freitas Queiroga
Ana Carolina Rios Simoni
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

O presente estudo foi desenvolvido em uma disciplina do curso de


Psicologia da UFRN, na qual foi possível correlacionar as experiências de
estágio na área de Psicologia Jurídica e as referências teóricas da
Psicanálise. Para tanto, buscou-se refletir sobre as demandas implícitas
nos conflitos familiares e que não são objetificadas nos processos
judiciais, como também discutir a relação de tais conflitos com a saúde
mental, e validar o encontro da Psicologia com o campo do Direito que
se dá por meio da escuta e circulação da palavra nos métodos de
conciliação e mediação. Na construção desse estudo, os pedidos
direcionados à justiça, que serviram de base para a análise, são
processos judiciais das varas de família, encaminhados para o Centro
Judiciário de Solução de Conflitos (CEJUSC), espaços esses que realizam
audiências de conciliação e mediação. Por meio de supervisões com a
equipe psicossocial do CEJUSC, as experiências de trabalho da semana
eram debatidas à luz de teorias da psicologia, e a partir disso foram
produzidas escritas-ensaio que narram algumas cenas vivenciadas pelas
conciliadoras/estagiárias de psicologia, enquanto observavam ou
presidiam as audiências. Posteriormente, esses ensaios foram
analisados à luz da psicanálise, gerando três eixos temáticos de
discussão: Conflito intrafamiliar e sintoma psíquico; Mal-estar, apelo ao
pai e judicialização da vida; Conciliação e mediação e a função da
palavra. Em tais cenas registradas, foi possível perceber que a angústia
derivada da ruptura dessas relações desliza para sintomas diversos –
inclusive corpóreos – em quaisquer dos membros da família, seja nos
filhos ou nos pais. Como o sofrimento é inerente ao humano também se
faz presente nos processos judiciais de família, pois há o rompimento de

671
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

laços afetivos e o envolvimento das subjetividades das partes,


acarretando assim demandas emocionais durante as audiências.
Refletindo ainda acerca dos conflitos familiares, de suas reverberações
na sintomática e a transferência das questões para o ente jurídico, ficou
notório a judicialização da vida e a percepção de que as famílias por
muitas vezes não se dispuseram ao diálogo para que os conflitos fossem
nomeados. Diante do exposto, foi possível apreender que os métodos
da conciliação e mediação são um outro e novo caminho entre a
Psicologia e o Direito, no qual oportuniza-se um momento de escuta das
demandas que subjazem aos pedidos objetivados nos processos,
estando essas demandas vinculadas à saúde mental. Além disso,
possibilitam por meio da circulação da palavra que os sujeitos, de modo
singular, responsabilizem-se por suas posições e produzam de forma
autônoma estratégias de solução dos conflitos que emergem no laço ao
outro. Nesse sentido, a angústia que atravessa as partes envolvidas no
conflito pode ser emancipada também pela via da autonomia, assim,
com o protagonismo de cada sujeito, o espaço de fala e decisão viabiliza
a remissão do sofrimento. Por fim, surgem as possibilidades de
nomeação do mal-estar ou do sintoma por vezes velado, do diálogo, ser
ouvido ou falar, compreender o outro em seu sofrimento e também ser
compreendido.

672
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

La Vida no Cabe en un Diagnostico: Um Relato de Experiência da Luta


Anti-Manicomial Latino-Americana

Jéssica Lopes da Silva


Alda Julia Elesbão
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI

Cristian Chiabotto
Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul

Este trabalho é um relato de experiências que ocorreram a partir do III


Encuentro de La Red Latinoamericana y Del Caribe de Derechos
Humanos y Salud Mental na cidade de Rosario, Argentina no ano de
2019. O encontro acontece desde 2017, com a proposta de poder reunir
estudantes, coletivos, profissionais e usuários de saúde mental para
fomentar discussões e reflexões acerca da luta antimanicomial e dos
direitos humanos nos territórios da América Latina. Diante disto, a
experiência que se pode obter enquanto estudantes e profissionais da
Psicologia e do compromisso do fazer deste campo do conhecimento na
contribuição das políticas de saúde mental e direitos humanos, é
justamente poder estar inseridos nestes espaços de promoção de
cuidado em liberdade e
dignidade da pessoa humana, fortalecendo o papel da luta por uma
sociedade sem manicômios que possa ultrapassar as fronteiras dos
países latino-americanos e construir redes de trocas de saberes e
experiências que contribuam nos diversos fazeres, acolhendo a loucura
como um modo de existência que não deve ser silenciado, preso e posto
a margem. Durante os três dias de encontro, podemos experimentar
diversos espaços de apresentação de trabalhos, discussões, exposições e
performances artísticas e também conhecer a atuação de coletivos de
luta antimanicomial, que contribuíram para a formação e construção de
práticas de cuidado transdisciplinares, problematizando a perspectiva de
uma clínica ampliada e que possibilite a criação de ferramentas de

673
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

resistência aos aparatos manicomiais a partir das coletividades que se


engendram a partir deste encontro. Nesse caminho, ao pensarmos
sobre a singularidade da loucura no campo político das relações
humanas, podemos compreender a mesma a partir da proposição de
forma-de-vida tecida por Giorgio Agamben (2014). Para o filósofo uma
forma-de-vida acontece de modo processual em si mesma, em sua
norma singular de viver, sua diretriz. Esse deslocamento de perspectiva
em muito se afasta da vida que se vincula somente ao obedecer e
repetir regras dadas pela positividade das leis e pelo utilitarismo
econômico, imperativos de uma sociedade produtivista, cujo horizonte
último e desejado é aquele de viés utilitário e efeitualista. Essa prática
ética de criar uma forma-de-vida constitui um estilo de existência que
oferece possibilidade de resistência aos dispositivos de dominação e
enuncia novas formas e perspectivas para a política, em última
instância. Ademais, se assumirmos que a vida se delineia e se alinhava
por processos inventados pelas formas-de-vida, estaremos de algum
modo nos distanciando do aparelhamento e dos dispositivos de
controle.

674
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Lei N° 13.819 e o Projeto Tecendo Redes:


Ação Em Saúde Mental Para Um Adolescer Saudável

Igor Sastro Nunes


Cristian Chiabotto
Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul

Maryana Zubiaurre
Faculdade de Direito de Santa Maria

O presente trabalho visa apresentar o projeto criado a partir da


constatação do alto índice de adolescentes encaminhados pelas escolas
ao Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil O Equilibrista (CAPSi)
com demandas de automutilação e ideação suicida e visto também a Lei
n° 13.819 de 26 de abril de 2019, na qual, instituí a Política Nacional de
Prevenção da Automutilação e do Suicido. A lei prevê prevenção,
tratamento e promoção de saúde mental para a população. O mesmo
teve como objetivo trabalhar a prevenção em saúde mental tendo como
público adolescentes das escolas de Santa Maria, do 9º ano do até o 3º
ano do ensino médio. Com objetivo de conscientizar e prevenir a
automutilação e o suicídio, a metodologia do projeto foi pautada em
dois encontros: No primeiro, uma palestra expositiva trabalhando os
conceitos de automutilação e suicídio, baseado na carta da OMS que
versa sobre como dialogar com a temática do suicídio e o Manual
dirigido a profissionais das equipes de saúde mental organizado pelo
Ministério da Saúde. Nesse encontro, a proposta foi de trabalhar os
conceitos e os serviços de saúde mental e a forma de acesso, e também
a forma como se constrói o apoio mútuo em um grupo. Foram previstas
indicações aos adolescentes e professores sobre as maneiras pelas quais
poderiam identificar o sofrimento psíquico em suas variadas formas,
seguido da aplicação de um questionário para ser disponibilizado ao
final do encontro, contendo perguntas com a finalidade de conhecer o
perfil da população usuária. O questionário constava de uma frase a ser

675
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

completada pelos adolescentes “o meu problema é”, os quais poderiam


colocar problemas pessoais de forma anônima. No segundo encontro, a
proposta foi de realizar rodas de conversa apenas com os estudantes.
Nessas rodas, cada um pegava um balão contendo as respostas que os
mesmos responderam no primeiro momento. Ao estourar os balões,
cada um lia o que estava no papel e respondia o que achava sobre o que
estava escrito. Após a resposta do adolescente o assunto era abordado
de forma coletiva, a fim de superar as demandas apresentadas. O
projeto foi aplicado em duas escolas, com oito turmas num total de 194
adolescentes de 15 a 18 anos, no primeiro semestre de 2019. As
demandas apresentadas nos questionários foram, em sua grande
maioria, expressões da questão social. Foi unânime entre os alunos
abordados, a resposta de que acharam importante falar desses assuntos
na escola, e como sugestão recebemos a ideia de ter um maior número
de encontros e a expansão do projeto no município. Foi possível concluir
que os adolescentes carecem de espaços como o proposto nessa
intervenção, para falar sobre as questões de saúde mental. A falta desse
tipo de diálogo está levando vários adolescentes ao sofrimento psíquico
o qual muitas vezes tem suas causas associadas a expressões da questão
social e não a algo necessariamente patológico. O projeto de
intervenção foi proposto como prevenção ao adoecimento psíquico e
como conclusão percebemos a sua efetividade.

676
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

LESSIE – Liga Escolar de Sabedoria Emocional

Yana Camila Brasil Marques


Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Ceará

A adolescência é conhecida como uma fase de turbulências, devido a


busca de uma identidade, mudanças no corpo, vivências de emoções
intensas e principalmente, pela dificuldade em demonstrar/viver
sentimentos e emoções, como tristeza, raiva, medo, desesperança, etc.
o quê ocasionalmente faz com que alguns jovens guardem "tudo" para si
até não suportarem mais a dor psíquica, desencadeando concepções
negativas, automutilação, pensamentos e tentativas de suicídio. A
LESSIE foi inspirada no trabalho de três médicos: Nise da Silveira, Patch
Adams e Franco Basaglia e visava a Promoção, Prevenção e Cuidado à
Saúde Emocional de Jovens e Adolescentes através de Atividades
Lúdicas (Desenhoterapia, Cinecuca, Desfile dos Ridículos, The Voice da
EP, Dançaterapia, etc.) e Palestras Educativas de Prevenção ao Suicídio,
Combate ao Bullying e Desenvolvimento de Cultura de Paz nas Escolas.
O Projeto foi desenvolvido pelos alunos do 2º Ano do Curso Técnico em
Enfermagem da EEEP Francisca de Albuquerque Moura em Cedro -
Ceará em 2019, conhecidos respectivamente como Amazonas e
Cavaleiros da LESSIE, eles foram capacitados sobre o processo histórico
do estigma e do cuidado dos "loucos", aprenderam acerca das
patologias mentais, e outros temas afins de cuidado e resiliência
emocional, desenvolveram atividades lúdicas e palestras educativas com
os discentes e docentes da Instituição Escolar e outras escolas do
município, também identificaram casos (alunos) de automutilação e
risco de suicídio e encaminharam à Enfermeira de Saúde Mental da
Escola para uma consulta/triagem, os casos graves eram encaminhados
diretamente para o CAPS I e para o CREAS de Cedro-CE devido a uma
parceria técnica firmada com o município nº 1208.001/2019, os alunos
eram atendidos prontamente pelos profissionais de saúde: Psiquiatra,
Psicólogo, Enfermeiro e Assistente Social. A repercussão foi de

677
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sensibilização (emergiu) dos alunos acerca da relevância do projeto e


Promoção à Saúde Mental dos jovens, à identificação de autolesão e
tentativas de suicídio. Nesse caso, houve o encaminhamento de
011/335 alunos para os órgãos especializados do município,
consequentemente o cuidado imediato para com eles em sofrimento
psíquico e comunicação à família dos mesmos; Redução da incidência de
casos de bullying e promoção a uma cultura de paz na escola;
Desenvolvimento contínuo do hábito de expressar sentimentos e
emoções de uma forma saudável; Redução das tentativas e casos de
suicídio, devido às atividades, consultas e encaminhamentos para os
órgãos especializados. Através desse projeto, foi desenvolvido nos
alunos senso crítico e responsabilidade de lidar com a Saúde Mental,
tema ainda estigmatizado pela sociedade; Foram encaminhados alunos
para atendimentos psicológico, psiquiátrico e de assistência social,
todavia, infelizmente não houve um feedback positivo da maioria das
famílias, pois estas, demonstraram impaciência e preconceito acerca do
acompanhamento/tratamento, apenas duas genitoras/ onze
responsáveis tornaram-se complacentes com a ajuda ofertada, o que
revelou a necessidade da família também ser assistida. Além, de o
intuito da LESSIE ser modelo para outras instituições escolares, tendo
em vista, que há muitos jovens em sofrimento psíquico que necessitam
de auxílio e precisam ser socorridos. Ressaltando, que as atividades
lúdicas ofertadas POR adolescentes PARA adolescentes, mostraram-se
bastantes atrativas e exitosas.

678
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Lia de Itamaracá e sua ciranda sem fim…:


relato de experiência no Programa Atitude/SUAS

Elida Barros da Costa


Maria Cecília Fagundes de Melo
Patrícia Allgayer Ferreira
Barbara de Oliveira Galvão
Lilian Queiroz Cunha
Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE

Marilyn Dione de Sena Leal


Universidade de Pernambuco - UPE

Aline Neiva Ribeiro


Instituto Aggeu Magalhães - FIOCRUZ

Este relato de experiência tem como objetivo descrever a vivência de


estudantes da Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE) e da
Universidade de Pernambuco (UPE) em uma das casas de acolhimento
do Programa ATITUDE - Programa de Atenção Integral aos Usuários de
Drogas e seus Familiares no estado de Pernambuco. A intervenção em
formato de oficina, denominada “Lia de Itamaracá e sua ciranda sem
fim...” foi em homenagem a ilustre cantora Lia de Itamaracá: preta
cirandeira que é reconhecida como patrimônio da cultura popular
pernambucana, uma talentosa nordestina que é símbolo de resistência
popular e empoderamento feminino. O presente relato de experiência
se baseou em dados extraídos dos Diários de Campo das autoras, que
foram participantes do “Projeto de Reintegração Social para Usuárias de
Drogas do Programa ATITUDE” aprovado pelo Edital Programa de
Fortalecimento Acadêmico (PFA) Extensão - 01/2019 da UPE. Durante o
período das oficinas em 2019, ocorreram atividades com temáticas pré-
definidas de acordo com três módulos do projeto: Arte e Criatividade,
Contação de Histórias e Expressão Corporal. A oficina foi realizada

679
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

através do módulo “Contação de Histórias” que objetivou mobilizar


os/as usuários/as do Programa ATITUDE à refletirem sobre a tradição e
importância da música e dança popular de ciranda, em interface com
suas “raízes identitárias”, isto é, questões de gênero, raça, cor e etnia.
Tudo começou quando as estudantes ao elaborarem a oficina tiveram o
cuidado de caracterizar a intérprete de Lia de Itamaracá com vestes
tradicionais de cirandeira, o que foi fundamental para atrair a atenção
dos/as usuários/as na casa do ATITUDE. As facilitadoras chegaram ao
embalo da ciranda, tocada através do som portátil que a equipe levou
como estratégia para despertar a curiosidade das pessoas que, ao
escutarem a música pelo jardim e pelos cômodos da casa e verem a
intérprete convidando fervorosamente, se animaram para assistir à
encenação. Após organizar a concentração de quem estava presente, a
protagonista entoou uma ciranda, narrando a biografia da cantora em
primeira pessoa. A dinâmica manteve o alto astral do início ao fim,
principalmente, porque o grupo permaneceu participativo, expressando
um grau de tolerância e concentração inéditos considerando outras
atividades realizadas. Pode-se pensar que tal adesão foi efetiva devido a
integração dos recursos utilizados (teatro, música e figurino) com a
dialética vincular ‘facilitadoras-usuários/as’ que, posteriormente ao
momento da dança de ciranda, estabeleceram uma roda de diálogos. O
compartilhamento dos relatos viscerais sobre casos de vulnerabilidade e
situações de resiliência, ao final do encontro, foi o indício de que houve
uma identificação do grupo com a história de Lia de Itamaracá. Em
síntese, essa oficina foi exitosa tanto para os/as usuários/as, pois,
fortaleceu as relações existentes no grupo, possibilitando reflexões
sobre (des)organização identitária, quanto para as estudantes, que
alcançaram o objetivo e se implicaram na prática de cuidado em saúde
mental ao utilizarem expressões artísticas potentes. A intérprete
destaca que as trocas afetivas da oficina deixaram marcas mnêmicas de
seu protagonismo preto, ratificando, assim, o sentimento de
pertencimento étnico e o orgulho da cultura de seu território.

680
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Liga Acadêmica de Psiquiatria: espaço de resistência na luta


antimanicomial

Daniele Feliciani Taschetto


Laura Denardin Negrini
Jean Pedro Jacoby
Giovanna Mariotti
Rodrigo Fossari
Mariana Paris Ronchi
Universidade Franciscana

Introdução: A Liga Acadêmica de Psiquiatria da Universidade Franciscana


(LAPSIQUE) é composta por estudantes a partir do 4º semestre do curso
de Medicina. Teve seu início há 1 ano devido ao interesse dos
estudantes em construir debates acerca da Psiquiatria para além
daqueles propiciados em sala de aula. Dessa maneira, os temas são
propostos pelos próprios ligantes e as aulas são intercaladas entre aulas
expositivas com professores e discussões ministradas pelos estudantes.
Descrição da experiência: Trata-se de relato de experiência sobre as
atividades da LAPSIQUE no período de agosto de 2019 a agosto de 2020.
A Psiquiatria se distribui no curso de Medicina nos semestres iniciais
através da cadeira de Humanização e Prática Médica e no sétimo
semestre com a matéria Psiquiatria. Entretanto, os estudantes
observaram que infelizmente os assuntos estudados ficam restritos às
doenças mentais, compreendidas enquanto patologização e
medicalização das pessoas. Observou-se que pouco se fala em saúde
mental num contexto mais amplo. Devido a isso, a LAPSIQUE visa
construir um espaço de resistência dentro do curso de Medicina, ao
incluir temas importantes como a reforma psiquiátrica brasileira e a luta
antimanicomial.
Repercussões: Durante esse primeiro ano de atuação da LAPSIQUE no
curso de Medicina, percebe-se que o debate sobre a Psiquiatria está se
modificando entre os estudantes ligantes. Felizmente, cada vez mais

681
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

aulas são sugeridas pelos membros que enfatizem a importância de


reorientar o estudo da saúde mental à luz da reforma psiquiátrica. Além
disso, o discurso e atuação dos estudantes em seus cenários de
atendimento prático já demonstram a reorganização na compreensão
do processo saúde-doença, com abordagem integral da pessoa que
busca o serviço de saúde.
Considerações finais: Considera-se de extrema importância espaços
criados pelos próprios estudantes para discutir sobre saúde mental e
Psiquiatria de maneira a visar despatologizar a saúde mental. Assim, os
estudantes se tornam mais aptos a compreender a pessoa em sua
integralidade e promover cuidado que priorize a autonomia da pessoa.
Espera-se que essas ações possam atingir outros estudantes, para além
do ambiente da Liga Acadêmica, e que acabe por modificar como a
Psiquiatria é abordada dentro do curso de Medicina. Dessa maneira,
acredita-se que os futuros profissionais saberão abordar a saúde mental
enquanto cuidado e qualidade de vida.

682
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Ligações Afetivas: Acolhimento e Promoção à Saúde Mental de Idosos


em Condições de Isolamento Social na Pandemia da COVID-19

João Batista de Brito Braga Alves


Daniele Monteiro de Oliveira Silva
Daiana Ferreira Menezes
Fernanda de Jesus Almeida
Juliane Odette de Borba Almeida
Bruna Santos de Oliveira
Rocío Andrea Cornejo Quintana
Marcus Vinicius Borges Oliveira
Silvana Lima Guimarães França
Universidade do Estado da Bahia

Introdução: A pandemia da COVID-19 vem afetando de forma desigual


grupos distintos da população. Neste contexto, as ações em saúde que
visam a proteção da vida e a sobrevivência são o foco. Não deve- se,
todavia, desconsiderar as muitas dimensões que integram a totalidade
da saúde humana, dentre elas a subjetiva. Os idosos, por constituírem
um dos grupos de risco, encontram-se particularmente vulnerabilizados,
dada a necessidade de isolamento social. Assim, é fundamental pensar e
articular ações direcionadas para saúde mental deste grupo. A
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) através do projeto de extensão
UNEB Contra o Coronavírus, entre os meses de maio e outubro de 2020,
buscou auxiliar no combate ao vírus, prestando suporte a duas Unidades
de Saúde da Família (USF) de um Distrito Sanitário do município de
Salvador-BA. O objetivo deste trabalho, portanto, é relatar as
experiências do Subeixo deste projeto que teve como centro a
promoção da saúde mental da população idosa em condições de
isolamento, sendo as “Ligações Afetivas” uma das frentes de ação.
Descrição da experiência: O trabalho contou com a participação de
estudantes da graduação e mestrado da área da saúde, residentes de
Saúde Mental e Saúde da Família, professores da UNEB e da UFBA. A

683
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

partir do diálogo com as equipes das USF’s, realizou-se um


levantamento dos usuários idosos mais vulneráveis à condição de
isolamento. As “Ligações Afetivas” consistiam em contatos telefônicos
para estes, com foco no acolhimento e na promoção da saúde.
Elaborou-se um roteiro orientador para condução das conversas,
garantindo-se uma escuta atenta à diversas dimensões dos sujeitos.
Utilizou-se de músicas e poesias para compor o momento do diálogo,
bem como buscou-se identificar possíveis necessidades de saúde (saúde
mental ou não), fazendo-se os encaminhamentos necessários com as
equipes de referência. Semanalmente, ocorriam as reuniões gerais do
Subeixo onde se discutiam as linhas de ação do projeto, além de
momentos de supervisão individual com cada monitor ou residente, a
fim de se avaliar, caso a caso, possíveis necessidades a serem
encaminhadas. Repercussões: Realizaram-se ligações para 39 pessoas
(29 mulheres e 10 homens), com no mínimo uma ligação para cada.
Destas, 23% receberam duas ou três ligações e 11 pessoas não
atenderam. A oferta de escutas telefônicas contribuiu para criação de
estratégias para lidar melhor com os sentimentos de estresse, ansiedade
e sensação de isolamento. A articulação com as USF’s garantiu
continuidade das ações de cuidado e articulação de rede para
encaminhamento das necessidades de saúde identificadas. Percebeu-se,
ainda, fortalecimento da relação entre Universidade - Serviços -
Comunidade. Considerações: O acolhimento é um dispositivo de grande
potência, uma vez que busca a produção de vida e saúde, não se
restringindo à cura de doenças. A pandemia exigiu mudanças de
comportamento e reorganização do trabalho, o uso das tecnologias
tornou possível a oferta do cuidado, ainda que a produção de vínculo e a
intensificação das ações sejam limitadas pelo formato virtual. Diante do
distanciamento social, as ligações serviram para aproximar os serviços
de saúde dos idosos, sem colocá-los em risco de exposição ao vírus.

684
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Livreto de cuidados emocionais: Promovendo atenção e cuidado aos


adolescentes de Fortaleza

Dennis Bergkamp Gomes Nascimento,


Erik Willyam Nogueira Freitas
João Lucas Alves de Matos
UECE

A adolescência é um período atravessado por uma multiplicidade de


questões, sejam estas sociais, culturais, econômicas, políticas, podendo
ser considerada como uma etapa carregada de especificidades e
caracterizada como um dos períodos determinantes no
desenvolvimento humano. Segundo a OMS, nos últimos anos, houve um
aumento da incidência de casos de suicídio na faixa etária de 15 a 24
anos, o que revela uma grande problemática relacionada à saúde mental
dos adolescentes. Em vista disso, o Núcleo Interdisciplinar de
Intervenções e Pesquisas sobre a Saúde da Criança e do Adolescentes
(NUSCA), grupo de extensão do curso de Psicologia da Universidade
Estadual do Ceará (UECE), juntamente à Secretaria de Educação do
Estado do Ceará (SEDUC), por meio do projeto Guardiões da Vida,
iniciaram um projeto piloto que agiu, durante 7 meses, em 15 escolas da
rede pública de Fortaleza-CE, buscando promover a elaboração de
recursos psíquicos e emocionais para auxiliar no manejo das questões
relacionadas ao suicídio e a saúde mental dos adolescentes. Além disso,
procurou-se provocar reflexões, sobre como eles podem se implicar nas
relações com seus pares, sendo agentes multiplicadores de cuidados e
estando mais atentos ao que pode causar sofrimento no outro. Tudo
isso foi articulado a partir de uma relação dialógica entre os membros
do NUSCA e os estudantes. O projeto NUSCA, articulado com os
Guardiões da Vida, também trabalhou com a formação continuada dos
profissionais de referência das escolas, em parceria com os psicólogos
de 5 regionais de Fortaleza, para que fosse construído um projeto
pedagógico que entendesse as escolas relacionadas enquanto um

685
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

espaço de saúde mental. Tendo em vista o êxito em alcançar os


objetivos do projeto, pensou-se numa maneira de dar continuidade ao
processo de atenção e cuidado desencadeado na intervenção. Para isso,
foi elaborado um livreto de cuidados emocionais na qual foram
elucidados aspectos referentes ao que é adolescência; aos direitos
desses jovens e como acioná-los; às diversas formas de violência e como
denunciá-las; ao reconhecimento de emoções; e à discussões acerca dos
aparelhos públicos, ONGs e políticas públicas voltadas para manutenção
e assistência dos direitos básicos da população. O livreto também foi
elaborado como uma espécie de diário, onde o usuário é levado a
refletir sobre vínculos, gostos, opiniões, etc., que podem ser consultadas
como medida emergencial e de cuidado. Por fim, o instrumento foi
construído a partir da vivência e das demandas que emergiram nos
momentos de acolhimento com os jovens e pretende agir enquanto um
recurso de prevenção e promoção de saúde mental dos adolescentes.
Palavras chaves: Adolescência, Saúde Mental, Prevenção do Suicídio

686
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Loucomotiva chegou! Dona Ivone Lara e a luta antimanicomial na


passarela do samba em Juiz de Fora-MG

Conrado Pável de Oliveira


Taísa de Araújo Serpa
Maryene de Paula Barbosa
Vanessa Schafer Kirchmair
Francisca Emanuelle Rocha Vieira
Rosane Jacques Rodrigues
Ana Cláudia Santos de Albuquerque
Prefeitura de Juiz de Fora

O presente trabalho é um relato de experiência sobre o bloco


Loucomotiva, que compôs a programação oficial do carnaval 2020 em
Juiz de Fora-MG e levou para o coração da cidade as pautas da Luta
Antimanicomial por meio das manifestações artístico-culturais. O Bloco
Loucomotiva é mais um elemento da diversidade de um campo de
projetos artístico-culturais que surge a partir da atenção psicossocial,
com a proposta de expandir o alcance dos objetivos da reforma
psiquiátrica e da luta antimanicomial. Foi organizado pelo coletivo
Loucomotiva, grupo formado em 2019 por usuários, familiares e
profissionais da Rede de Atenção Psicossocial de Juiz de Fora, que
nasceu do desejo de ampliar o alcance da proposta constituída na
Oficina de Protagonismo realizada desde 2017 no Centro de Convivência
Recriar do Departamento de Saúde Mental de Juiz de Fora. O Coletivo
Loucomotiva surgiu da necessidade de promover espaços de
participação dos usuários dos serviços, pois, apesar dos avanços
conquistados no processo de desinstitucionalização dos usuários da
saúde mental em Juiz de Fora – cidade conhecida por integrar junto com
Barbacena e Belo Horizonte o popularmente chamado “corredor da
loucura” – faltavam ainda experiências relevantes que promovessem o
protagonismo dos usuários para o avanço da reforma psiquiátrica na
cidade. O enredo do Bloco Loucomotiva em 2020 prestou uma

687
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

homenagem à Dona Ivone Lara: rainha do samba e da saúde mental,


mulher que representa a luta antimanicomial e a diversidade das lutas
do povo brasileiro. Uma comissão do coletivo Loucomotiva foi formada
com a tarefa de composição do samba enredo do bloco e, assim, com
referências às clássicas canções "Alguém me avisou" e "Sonho meu", foi
construído coletivamente o samba-enredo "Loucomotiva chegou!":
"Foram me chamar / Loucomotiva chegou!/ Disseram que o manicômio
quer voltar/ Eu estou aqui, o que é que há!?/ O samba é ruim de
segurar./ Perdoe minha mania de sonhar / Igualdade, justiça e liberdade
/ Sonho meu, a luta seguirá. / Eu estou aqui/ Aqui, aqui o que é que
há!?/ Eu vim de lá de onde impera a exclusão / Mas meu destino ainda
está em minhas mãos." O bloco Loucomotiva ganhou as ruas da cidade
pelo terceiro ano consecutivo, levando no dia 20 de fevereiro de 2020
cerca de 300 pessoas, entre usuários, familiares e profissionais da Rede
de Atenção Psicossocial, além dos transeuntes que prestigiaram o bloco,
que desceu a Rua Halfeld, coração da cidade. Permitiu, portanto, a
expressão das pessoas com transtorno mental, ampliando o direito de
circulação, uma vez que ao habitar a cidade, novos laços e vínculos se
estabelecem e através das relações sociais, este sujeito é chamado a
exercer sua cidadania. Neste sentido, o bloco tem cumprido importante
papel na transformação do imaginário social da loucura com vistas à
superação de preconceitos e como uma condição de possibilidade de
produção de novas identidades decorrentes da arte e cultura.

688
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

689
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Luta antimanicomial: Desafios e possibilidades em tempos de


pandemia de Covid-19 no Município de Iguatu/Ce.

Mayara de Oliveira Ferreira


Daniele Carvalho Martins
Thamires Alves da Silva
Ilana Pereira Bandeira
Maria Heloiza Alexandre Marques
Pedro Victor Domingos Pereira
ESP-CE

Vanessa de Morais Braga


UECE

A pandemia de Covid-19, causada pelo SARS CoV-2, é considerada a


maior manifestação da saúde pública mundial enfrentada nas últimas
décadas. O atual surto traz alertas à população tanto quanto aos danos
físicos, quanto a danos psicológicos. Nesse contexto, enquanto
profissionais de saúde mental, propusemo-nos a lançar mão de novas
ferramentas de comunicação e mobilização social através de estratégias
que respeitassem as medidas de prevenção recomendadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS,2020).
Norteando-nos pelo Dia à Luta Antimanicomial (18 de Maio) e
considerando a exigência dos órgãos de saúde do isolamento social e a
não aglomeração de pessoas nos espaços, a equipe multiprofissional de
residentes da ênfase de Saúde Mental Coletiva de Iguatu-Ce, com o
desafio de atingir o mesmo objetivo de anos anteriores de expor a
Reforma Psiquiátrica e implicar cada vez mais a sociedade na promoção
de cuidados em liberdade aos usuários de saúde mental, desenvolveu
algumas atividades.
Na semana em alusão a Luta, realizamos live no Instagram, podcast
veiculado em emissora de rádio local, exposição de faixas nos três
Centros de Atenção Psicossociais da cidade e construção de varal

690
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

criativo com usuários que estavam frequentando o serviço. Tais


atividades possibilitaram reflexões acerca da história da saúde mental,
bem como que profissionais e usuários utilizassem a arte para expressar
suas experiências e anseios e reforçassem a importância desse
movimento por parte de todos envolvidos no processo de cuidado e
reinserção dos usuários na sociedade como parte mutável dela com um
todo.
Dessa forma, a partir dessa realidade, percebemos que a repercussão do
debate mostrou-se exitosa quando o próprio usuário do serviço
demonstra através de pinturas e diálogos com os profissionais seu
próprio sofrimento, trazendo reflexões sobre verdades estabelecidas na
construção da loucura, como seu conhecimento popular ou científico.
A experiência de levantar o debate da Luta Antimanicomial, a partir de
caminhos possíveis em um contexto pandêmico, vem da necessidade de
cumprir o papel ético-político enquanto profissionais da saúde
comprometidos com a transformação social e repercute no
fortalecimento de uma luta histórica pela garantia de direitos e
cidadania de usuários da Rede de Saúde Mental. Neste 18 de Maio, em
tempos de pandemia, demarcar a Luta Antimanicomial é reforçar que a
defesa do cuidado em liberdade é uma constante, que se põe em um
determinado contexto e é atravessada por questões de espaço-tempo,
que se reinventa, mas não para. A pandemia e seus vários
desdobramentos no campo da saúde mental, bem como no âmbito
micro dos processos de trabalho, ressaltou ainda mais questões
inerentes à integralidade do cuidado no território, convocando-nos a
uma reinvenção enquanto facilitadores de uma assistência desprendida
dos muros dos CAPS.
Visto isso, foi possível realizar experiências ricas e inovadoras,
fomentando um diálogo multiprofissional e uma interação conjunta com
os profissionais e a comunidade. As ações possibilitaram um enfoque
sobre a desconstrução de estigmas e preconceitos, assim como sobre os
cuidados em saúde mental, reafirmando a defesa a favor de uma

691
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sociedade livre e sem manicômios, em um contexto de ameaças aos


avanços já conquistados.

692
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Manipular alimentos: ainda práticas de trabalho


reservadas às mulheres

Ana Cláudia dos Santos


Brunna de Oliveira Freitas
Ana Maria de Oliveira Camacho
Caroline Marques Brito
Gustavo Scarcelli Lucianelli
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

Talita Amâncio Siqueira


Prefeitura Municipal de Paranaíba - MS

Trata-se de uma experiência de estágio obrigatório da disciplina de


Psicologia e Processos Organizacionais do curso de Psicologia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campus de
Paranaíba. Foram realizadas atividades na área de Saúde do Trabalhador
com manipuladoras de alimentos. O objetivo foi conhecer suas práticas
de trabalho, orientar sobre Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA’s)
e riscos de acidentes no desenvolvimento das atividades e com isto,
promover saúde identificando possíveis riscos à saúde física e saúde
mental relacionada ao trabalho (SMRT). A escolha por esta categoria
aconteceu por diagnóstico situacional realizado pela Coordenadoria
municipal da área de Saúde do Trabalhador de Paranaíba-MS
identificando grande quantidade de trabalhadores na área. Como
método foram desenvolvidas atividades em grupo a partir de
metodologias participativas com trabalhadoras dos restaurantes
comerciais e aquelas que trabalham em domicílio. Os temas foram
trabalho e condição de trabalho e, cuidados sanitários na manipulação
dos alimentos. Quatro acadêmicos mediaram às atividades. No início
foram realizadas visitas a nove restaurantes para conhecer o ambiente e
três aceitaram o convite, totalizando dez trabalhadoras. As que atuavam
em domicílio foram indicadas pelos agentes comunitários. Os

693
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

acadêmicos entraram em contato com 20 e quatro aceitaram. Todos os


trabalhadores eram mulheres. Como resultado as trabalhadoras
discutiram autoconhecimento, história profissional e exercício das
atividades, identificação e reflexão sobre as práticas de trabalho atuais,
riscos à saúde física que ocorrem como acidente de trabalho por
queimaduras e exposição ao calor intenso e, riscos à saúde mental como
o estresse que se mostra presente no ambiente de trabalho. Finalizaram
com propostas de mudanças na organização do trabalho que foi levado
aos gestores e, as que atuam no domicílio foram orientadas sobre os
cuidados sanitários e regularização do trabalho a partir da prefeitura
local. O grupo formado por mulheres em sua maioria negras, com
formação escolar no ensino fundamental e idade entre 25 a 40 anos.
Relataram uma relação com as práticas de trabalho marcadas pela
afetividade e quando se trata de suas dimensões sociais, o trabalho faz
parte de suas vidas e perseguem outros objetivos e valores como
convivência, solidariedade e responsabilidade. As mulheres empregadas
iniciaram suas carreiras nos restaurantes e aquelas que atuam em casa,
o faziam por estarem impedidas de sair devido aos cuidados com os
familiares, mas, desejam um emprego com carteira assinada. Como
considerações finais as atividades foram propostas para fortalecer as
mulheres por meio da discussão para produção de novas relações
sociais, novos movimentos, encontros e desencontros, debates e
embates, materializando nesse processo o vir-a-ser, o que foi alcançado.
As mulheres encontram dificuldades de conseguir um trabalho regulado
e por isso empregam-se na área de alimentação ou podem exercer a
atividade em casa, mostrando que o espaço da cozinha ainda é um local
conhecido para a mulher, naturalizado culturalmente. O estágio
apresentou a realidade de vida e de trabalho destas mulheres que
atuam na alimentação em uma cidade da região do centro-oeste e
possibilitou a vivência prática dos conhecimentos da psicologia na área
de Saúde do Trabalhador.

694
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Mapeamento de equipamentos do Território: Sensibilização e Cuidado


em Saúde Mental

Selma Viana Lessa


Ludmila Vieira Amaral Sousa
Marcela Mota Ramos
Juliana Nascimento Pereira Bernardo
Lorena de Almeida Oliveira
SMS-PMS

Janine Cardoso Soub


SESAB

Introdução: O presente trabalho relata a experiência do mapeamento da


Rede de Atenção Psicossocial de um dos distritos sanitários em
Salvador/BA através de visitas institucionais e coleta de dados. Descrição
da Experiência: Os técnicos do CAPS apontavam em reuniões técnicas e,
durante o cotidiano, a demanda por informações sobre os serviços da
rede para referenciar os usuários em relação as questões de saúde e
outros. Foram realizadas 16 visitas aos equipamentos de saúde,
assistência social e educação para coletar dados, estimulando a reflexão
dos profissionais sobre a promoção do cuidado à saúde e a necessidade
de estabelecer rede. De acordo com as demandas do território, se
constrói a comunicação entre os dispositivos, com a oferta de um
cuidado mais efetivo, diminuindo assim, o afastamento entre os
profissionais e facilitando o acesso dos usuários e familiares aos
serviços. A apoiadora institucional de saúde mental visitou todos os
serviços de saúde do Distrito, em companhia dos técnicos do CAPS com
vistas à integração e conhecimento dos equipamentos que estabeleciam
relações com o serviço de saúde mental. O apoio institucional é um
importante dispositivo para os serviços de saúde mental, pois
potencializa a execução das ações estratégicas de gestão (CAMPOS,
2003), tanto no campo técnico-político, quanto administrativo, por meio

695
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

da cogestão de modo descentralizado da Rede de Atenção Psicossocial


(RAPS).No decorrer do processo de conhecimento da RAPS desse
distrito, foram definidas como prioritárias as ações de sensibilização
relacionadas ao cuidado em saúde mental junto à Atenção Básica
através das visitas institucionais com o objetivo de sensibilizar os
profissionais em relação ao cuidado dos casos leves e moderados, como
também garantir o acesso aos usuários do CAPS com demandas clínicas.
Após as visitas, foi feito o levantamento das informações
complementares nos sites dos órgãos oficiais somados aos registros
feitos durante as visitas reunindo, assim, o maior número de dados
sobre as instituições. Depois da coleta, foi realizado o registro de todas
as informações, em formato de tabela, com setorização dos dados,
serviços oferecidos e informações adicionais. Repercussões: As visitas
foram ações importantes para coletar informações, gerando o
mapeamento da RAPS do distrito, além de auxiliar no compartilhamento
das mesmas e o estabelecimento de vínculos entre profissionais da
saúde e de outras áreas, fomentando a articulação de ações, a educação
permanente entre eles e as ações coletivas territoriais. Considerações
Finais: A realização das visitas institucionais além de sensibilizar os
profissionais sobre a necessidade do cuidado de saúde integral dos
usuários e seus familiares, também reforçou a importância da garantia
de direitos, além de espaço de educação permanente para os
profissionais e para o estabelecimento de vínculos, fortalecimento dos
princípios do Sistema Único de Saúde e da Atenção Psicossocial. Houve a
facilitação do acesso dos usuários e familiares ao cuidado nos serviços
de saúde e da assistência social, estímulo ao protagonismo e a
autonomia dos mesmos no território. As dificuldades encontradas foram
o atraso na realização das visitas e na coleta das informações por falta
constante de veículos para a realização das visitas, o que postergou a
concretização do mapeamento.

696
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Maria, Maria - Os resultados das ações de reabilitação psicossocial no


cotidiano de uma mulher em situação de vulnerabilidade social na
região central de São Paulo

Cibele Nunes da Trindade


Audrey Santiago da Silva
Joyce Gabriele Florencio Borba
Instituto de Atenção Básica e Avançada em Saúde - IABAS

Apresentação do relato de uma experiência exitosa por profissionais das


equipes multidisciplinar do CAPS AD III Centro e Unidade de
Acolhimento Cambuci 2 sobre a potencialidade do trabalho profissional
fundamentado no cuidado integral e ações de reabilitação psicossocial
no atendimento de uma usuária em situação de vulnerabilidade social
na região central de São Paulo. O caso merece destaque devido às
complexidades não só clínicas, mas também relacionadas ao contexto
social da usuária, bem como os resultados obtidos durante processo de
cuidado. Pretendemos refletir sobre dificuldades vivenciadas por
mulheres em situação de rua e ressaltar que através de ações realizadas
pelos equipamentos da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) torna-se
possível provocar mudanças significativas no cotidiano destas.
Objetivamos também problematizar sobre dificuldades e desafios
enfrentados pela equipe para a sustentação do projeto terapêutico.
Dado o contexto de vulnerabilidade e sofrimento, Maria, 61 anos,
iniciou o uso de álcool aos 15, posteriormente associando ao crack,
aumentando o consumo nos períodos que ficava em situação de rua.
Teve 4 casamentos, permeados por violência e abusos, físicos,
psicológicos e sexuais. Um dos companheiros, usuário abusivo de álcool,
cometeu suicídio em 1994. Em 1995, Maria colocou fogo no próprio
corpo, em uma tentativa de interromper sua vida devido à
desorganização psíquica causada pela morte da mãe, por infarto, neste
mesmo ano. Maria carrega até hoje marcas deste episódio, tendo sido
necessários vários procedimentos cirúrgicos, incluindo colocação de

697
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

enxertos, para tratar dos ferimentos e perda de pele devido às graves


queimaduras. Chegou a engravidar uma vez, porém, após ter sido vítima
de violência doméstica e ter apanhado muito na barriga, teve a gestação
interrompida, não conseguindo mais engravidar. Em 2013, descobriu
durante uma internação o diagnóstico de HIV/AIDS. Entender a
complexidade de ser mulher e idosa nesta condição é fundamental para
desenvolver estratégias de cuidado singular, digno e efetivo. Em agosto
de 2019, Maria chega ao CAPS, com a saúde clínica bastante debilitada,
problemas respiratórios crônicos agravados pelo uso abusivo de
substâncias psicoativas. Foi acolhida em Hospitalidade Noturna em
28/08/2019, sendo realizados cuidados em saúde mental relacionado a
dependência de substancias psicoativas e articulação para retomo ao
cuidado no SAE e na UBS, encaminhamento para atendimento
odontológico para colocação de prótese e acompanhamento junto a
Defensoria Pública referente a um processo em aberto de acusação de
tráfico de drogas. Após inúmeras discussões do caso, Maria foi
encaminhada para a Unidade de Acolhimento Cambuci 2, que, mesmo
sendo um equipamento transitório, se propôs a compor seu cuidado,
garantindo um ambiente protetivo possibilitando a continuidade do
trabalho desenvolvido pelo CAPS. Consideramos que temos apresentado
efetividade no tratamento de Maria, que finalizou seu processo judicial
e pode retirar a segunda via de seus documentos, colocou a prótese
dentária, segue implicada no tratamento. Sente-se mais segura,
autônoma e confiante. O viés da composição do cuidado da Unidade de
Acolhimento vai além de uma simples moradia, já que a
desinstitucionalização é uma das metas preconizadas pelos CAPS e
consequentemente pelas Unidades de Acolhimento. Assim como Maria
aprende conosco, aprendemos diariamente com Maria.

698
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Matriciamento em Saúde Mental: Projeto de intervenção entre CAPS e


Atenção Básica, em Ubaitaba- Bahia.

Flavia Suzanne Goiabeira Nery


Daniel Carneiro Vasconcelos
Prefeitura Municipal de Ubaitaba

Madria Stella Duarte de Lima


EBSERH - RN

O apoio matricial garante a retaguarda especializada a equipes e


profissionais da atenção em saúde mental, favorecendo a
corresponsabilização entre as equipes e a diversidade de ofertas
terapêuticas por meio de um profissional de saúde mental que
acompanhe de perto as unidades da atenção básica, propondo que os
casos sejam de responsabilidade mutua. O projeto visa mudar o
contexto de saúde mental em Ubaitaba, aproximando a equipe saúde da
família com a equipe de saúde mental do Centro de Atenção
Psicossocial- CAPS com discussões, visitas conjuntas ou contato
telefônico, organização de arquivo e educação continuada. Além disso,
reduzir as filas de espera para consultar com o psiquiatra, evitando
encaminhamentos desnecessários ao especialista e melhor índice de
resolutividade. O método de execução do trabalho foi dividido em 4
passos importantes: 1) Realização prévia dentro da unidade, um
levantamento em prontuários, com todos os usuários do serviço e deles
foram selecionados pacientes que não frequentam a unidade desde
2015, a partir daí houve uma separação por bairros e suas respectivas
equipes de Saúde da família; 2) Realização de palestras sobre o CAPS
com todos os membros que constituem as unidades de saúde da família
no Município; 3) Preenchimento de um pequeno questionário, por conta
dos agentes comunitários de saúde sob supervisão do enfermeiro e
coordenador de cada unidade. O questionário foi elaborado pela equipe
CAPS contendo informações pessoais, data da última consulta do

699
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

paciente no CAPS e a busca pelo motivo do afastamento. 4) Devolução


para equipe CAPS atualizar o cadastro do assistido e elaborar de um
plano terapêutico singular, a cada assistido. 5) Organização de
discussões sobre a temática saúde mental nas unidades. O projeto
proporcionou uma aproximação entre as equipes da atenção básica e da
saúde mental, bem como conhecimento acerca dos instrumentais para
auxílio no diagnóstico e intervenção dos assistidos portadores de
transtornos mentais, além de ter proporcionado a ampliação do
conhecimento e com isso melhorar a prática destes profissionais no seu
cotidiano.

700
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Me vendo além do sofrimento mental - Vamos conversar sobre


sexualidade?

Joyce Pinheiro Colares


Erisllândya da Silva Lima
Jéssica Lima Benevides
Liene Ribeiro de Lima
Unicatólica

INTRODUÇÃO: Mulheres portadoras de transtornos mentais apresentam


maior risco para o desenvolvimento de diversas outras doenças,
inclusive as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), dentre elas: HIV,
HPV, sífilis, herpes, dentre outras. Tendo em vista que a saúde de
mulheres com transtornos mentais não se mostra uma temática de
grande investimento dos profissionais de saúde no Brasil, mulheres com
esses acometimentos muitas vezes são vistas como “assexuadas” ou
como se não possuíssem controle sobre sua vida sexual, estando menos
protegidas contra as ISTs e até mesmo contra gravidez não planejada. A
pobreza, a exclusão social, a vulnerabilidade dessa população e os
preconceitos persistentes na sociedade para com "os loucos", além de
acarretar diversos agravos relacionados ao sofrimento mental, dentre os
quais as doenças infeciosas, impõem que sejam criadas estratégias
centralizadas em ações preventivas nesta população. No entanto não
basta apenas geração de novos conhecimentos e tecnologias, mas é
necessário que o sistema de saúde se reestruture para efetivamente
incorporá-los. Assim, faz-se prioritário estabelecer uma visão mais
ampla do referido contexto, compreendendo as singularidades e
subjetividades dos indivíduos, favorecendo a consolidação da reforma
psiquiátrica na perspectiva de reforma sanitária brasileira. DESCRIÇÃO
DE EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência de uma ação
realizada por meio de oficinas de roda de conversa sobre educação
sexual, tendo em vista taxas elevadas de IST detectadas nessa população
no Brasil. Realizou-se uma roda de conversa com 12 mulheres no CAPS

701
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

do Município de Quixadá/CE, na qual discutiu-se sobre o conceito de IST,


bem como suas manifestações clinicas, diagnóstico e tratamentos.
REPERCUSSÕES: A atividade ocorreu em três etapas. Na primeira etapa,
realizou-se uma apresentação em áudio visual, onde foi abordado o
tema sobre IST falando sobre a fisiopatologia da doença, como ocorre a
transmissão, seus tratamentos, sinais e sintomas e diagnósticos. Na
segunda parte, realizou-se uma roda de conversa onde conhecemos um
pouco dos conhecimentos deles. Em último momento, foram tiradas as
dúvidas e reafirmado o processo educativo. É visto que a vivência da
sexualidade se mostrou fortemente influenciada pelo cenário cultural,
tendo sido observado situações de vulnerabilidade e falta de informação
dessa população no que concerne a sexualidade. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: Nota-se que ainda existem tabus em falar de sexualidade
traduzidos em preconceitos e até mesmo em atitudes incorretas que
prejudicam o cuidado à pessoa com transtorno mental. Fato que levanta
a questão da necessidade de promoção da saúde sexual e prevenção das
IST para essa população, corroborando para o direito de todos a uma
assistência qualificada pelo o Sistema Único de Saúde do Brasil. Sugere-
se, assim, o desenvolvimento de rodas de conversas entre profissionais
e usuárias, para que haja troca e explicitação de dúvidas que propiciem
rupturas de estereótipos, permitindo assim ver esses pacientes de forma
integral.

702
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Memórias, experiências e sentimentos: as vivências e os fatores


desencadeantes do adoecimento mental infantil

Vanessa Amancio da Silva


Aldení Gomes De Araújo Júnior
Faculdade Católica Santa Teresinha - FCST

Maria Natália Meira Da Silva


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Introdução: Este trabalho traz o relato de experiência realizada com o


objetivo de abordar alguns aspectos referentes à saúde mental com
crianças e adolescentes, uma vez que esta fase se configura como uma
transição entre a infância e a vida adulta e muitas experiências vividas
nessa etapa podem ser ainda mais intensas e deixar marcas por toda a
vida do indivíduo. Descrição da experiência: O projeto Memórias,
experiências e sentimentos: as vivências e os fatores desencadeantes do
adoecimento mental infantil, surge com o objetivo de, a partir da análise
bibliográfica de dados e textos referentes à saúde mental, em conjunto
com a apreensão da realidade dos alunos do projeto Sesc Cidadão em
Caicó/RN, ampliar o debate referente a saúde mental infantil. Para tal
foram realizados alguns momentos temáticos com o público-alvo, todo o
processo desenvolvido teve como foco o uso de metodologias que
buscaram instigar a participação daqueles, como rodas de conversa e
dinâmicas correspondentes ao tema trabalhado em cada abordagem.
Inicialmente, foi realizado um momento que teve como objetivo
estabelecer o primeiro contato das crianças e adolescentes com o
debate referente à saúde mental, o resultado da dinâmica dessa etapa
possibilitou então identificar quais temas que abrangem esse universo
mais se destacaram na fala de cada participante. Identificados os três
principais como sendo especificamente bullying/sentimento de
inferioridade, ansiedade e depressão, situações que também podem
acometer esse público e que devem ser levadas em consideração. Foram

703
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

planejados um momento para cada assunto, os quais contaram com a


participação de estudantes e profissionais das áreas de pedagogia,
psicologia, psicopedagogia e serviço social. Os momentos temáticos
eram divididos em três fases, a inicial consistia em apresentar
informações sobre o tema, à segunda era a formação de uma roda de
conversa para discutir o assunto e a terceira encerrava com uma
dinâmica que pudesse despertar a reflexão do público. Repercussões:
Foi possível perceber que mesmo abordando assuntos aparentemente
complexos para essa faixa-etária, os encontros conseguiram chamar a
atenção das crianças e adolescentes, visto que a participação deles nos
debates após a apresentação dos eixos disparadores foi assídua. Dúvidas
sobre o que realmente era a depressão e ansiedade e como o processo
que abarca essas situações se dava, foram constantes, eles também
relataram experiências que vivem e viveram em casa e na escola com
parentes e amigos, o que fez com que muitos se emocionassem em
alguns momentos. Considerações finais: Assim sendo, é possível verificar
que as discussões referentes à saúde mental infantil são de suma
importância para que as crianças e adolescentes possam compreender
melhor suas emoções e sentimentos, e saber como lidar com estes em
meio a essa nova fase da vida. Incentivar o diálogo é essencial para que
situações como bullying/sentimento de inferioridade, ansiedade e
depressão não venham a acometê-los.

704
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Meu Mundo, Seu Mundo, Nosso Mundo - Transição Entre A Vida


Aldeada e a Vida Urbana Universitária

Fernanda De Sousa Reis (UFT - Fundação Universidade Federal do


Tocantins),
Débora da Gama Matos
Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha
Jéssica Milena Lopes Pereira
Tales Sumekwa Rodrigues Xerente
Ticiano Pedro Marcolan
Universidade Federal do Tocantins

Uma realidade a ser enfrentada é a dificuldade de adaptação dos


acadêmicos indígenas nos espaços universitários, decorrente da grande
diferença entre a cultura aldeada e a urbana. A partir disto, este
trabalho consiste na sistematização de uma experiência de extensão
realizada em uma escola indígena Xerente, cujo objetivo foi permitir
uma troca cultural entre os alunos indígenas e a comunidade acadêmica
universitária, contando com um público de 16 alunos oriundo das
turmas de quarto ano referentes a dois cursos técnicos: Informática e
Enfermagem. O perfil dos participantes da escola indígena é: 12 alunos
do sexo masculino e 4 do sexo feminino; idade média de 21 anos; 10
solteiros e 6 casados e cerca de 1,3 alunos por aldeia Xerente. Além
destes alunos, o projeto contou com a participação de um grupo de 9
estudantes do curso de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins
e a professora coordenadora do projeto. O grupo de alunos de
psicologia era composto por não indígenas (5) e por indígenas das etnias
Atikum (1), Karajá (2) e Xerente (1), com idade média de 22 anos. Neste
relato de experiência estão sistematizados seis encontros, os quais
ocorreram entre abril e setembro de 2019, sendo que apenas o último
destes aconteceu no campus Warã da Universidade Federal do
Tocantins, localizada no município de Miracema do Tocantins. Os
procedimentos utilizados nos encontros consistiam em rodas de

705
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

conversa, produções de materiais gráficos coletiva e individualmente,


fundamentados na Teoria da Adaptação de Ryad Simon (1983; 1997;
2005). A partir dos primeiros encontros, foi possível estabelecer uma
aproximação e a construção de um vínculo afetivo, onde a comunicação
cresceu gradualmente entre o grupo. A partir disso, constatou-se que os
jovens indígenas, ao saírem de sua cultura para adentrarem à cultura
não indígena, seja para estudar ou trabalhar, enfrentam dificuldades
relacionais e estruturais decorrentes das diferentes normas e leis que
regem cada cultura. Todavia, a troca de conhecimento entre os
estudantes indígenas e os não indígenas ocasionada nessa extensão,
possui relevância direta para com a promoção de saúde mental, visto
que ao estabelecer o vínculo afetivo, constrói-se confiança, respeito e
valorização dos saberes multiculturais. A execução do projeto foi
atravessada por muitos desafios que precisam ser superados para a sua
continuidade, como dificuldades de locomoção para a reserva Xerente,
dos estudantes Xerente para outros espaços e o horário de execução,
que demandam aparato institucional e maior articulação com o corpo
discente da escola. Como perspectivas futuras, espera-se desenvolver
mais encontros e atividades que possibilitem a troca cultural entre os
dois mundos, contando com maior apoio institucional e a participação
de mais estudantes indígenas e não indígenas. Portanto, reiteramos que
a troca de conhecimentos culturais proporciona vínculos, que podem ser
apreciados nos atos de escuta e acolhimento, no diálogo próximo de
cada singularidade e ainda na confiança constituída de cada sentimento
e compromisso para com o outro.

706
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Monitoramento telefônico como estratégia de cuidado durante a


pandemia por COVID-19 nos CAPS AD III da AESC
no município de Porto Alegre/RS, 2020.

Catia Favreto
Arlete Fante
Clariana Casagrande da Silva
Raissa Ribeiro Saraiva de Carvalho Schier
Associação Educadora São Carlos AESC

Introdução: Frente à pandemia do coronavírus-19, o mundo vem


passando por mudanças, e a realidade não é diferente com os serviços
de saúde. Os CAPS AD III geridos pela Associação Educadora São Carlos
também tiveram que adequar-se a esse novo cenário e repensar
processos de trabalho, adotando estratégias que viabilizassem a
continuidade da atenção ao usuário.
Diante do contexto da eminência do distanciamento social imposto
como medida de precaução ao enfrentamento da covid-19, e a partir
das determinações do Ministério da Saúde e do Decreto Municipal nº
20.504 de 17/03/2020, que estabeleceu de imediato as orientações
necessárias para a continuidade dos serviços, a gestão dos CAPS AD III
passou pela adequação assistencial com a elaboração de um Plano de
Contingência. Com o objetivo de garantir o cuidado centrado na pessoa,
o acompanhamento e o fortalecimento de vínculo de forma longitudinal
a usuários, familiares e à sua rede social, iniciamos, no dia 23 de março,
a experiência de “busca ativa” por meio de ligações telefônicas. Nascia,
aí, um novo modelo de cuidado. Em abril, com a nova experiência,
implantamos um novo indicador: o monitoramento telefônico, que se
tornou uma nova modalidade terapêutica para os CAPS AD III.
Descrição da experiência: Em maio, após avançarmos na experiência
com o novo indicador e considerando-o uma experiência exitosa pelos
resultados até então avaliados, foi criado um código específico dentro
do sistema de registros. O resultado dos contatos estabelecidos pelo

707
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

indicador foi apresentado mensalmente à coordenação municipal de


atenção à saúde mental para fins de avaliação e discussão da sua
continuidade como uma nova ferramenta da assistência frente aos
desafios que o período da covid-19 nos colocava.
Em julho, esse indicador foi reconhecido como um procedimento na
modalidade “garantia de acesso” ao cuidado terapêutico dos usuários
dos CAPS AD III, por meio da publicação da Instrução Normativa Nº
25/2020 da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. A nova
tecnologia foi incorporada às atividades clínicas da saúde mental e os
primeiros legados da pandemia da covid-19 incorporam as boas práticas
da saúde mental.
Em setembro, o monitoramento telefônico alcançou com sucesso um
total de 12.198 usuários contatados entre os três serviços,
possibilitando-lhes um acompanhamento terapêutico com qualidade e
respeitando o distanciamento social necessário. Repercussões:
Considerando que a pandemia pode potencializar a depressão e, com
isso, o uso de substâncias psicoativas, o acompanhamento e os cuidados
com a saúde mental tornam-se imprescindíveis. Com isso, o
monitoramento telefônico se intensificou e o seu registro de
atendimento foi incorporado em prontuário.
Considerações finais: No comparativo dos três serviços, observa-se que
o número de monitoramentos telefônicos realizados com sucesso vem
se mantendo semelhante. É necessário salientar que usuários de CAPS
AD III são em maior número de domiciliados e/ou com acesso ao
telefone celular, fatores que contribuíram para o sucesso das ligações.
Através do monitoramento, o usuário mantém o protagonismo de seu
tratamento e reforça o pertencimento ao CAPS, tendo seu espaço de
saúde consolidado e prevenindo as rupturas assistenciais.

708
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Movimentos diversos: me organizando posso desorganizar. Hip Hop,


Breaking e Redução de danos com adolescentes usuários de
substâncias psicoativas.

Ramon Andrade Ferreira


Unidade Propulsão

A Unidade Propulsão é parte do Marista Escolas Sociais, atende


adolescentes em situação de uso abusivo de substâncias psicoativas de
acordo com tempos institucionais: T1; tempo de vinculação, T2; tempo
de encaminhamentos apoiados no plano singular de atendimento e T3;
autonomia. São ofertadas diversas oficinas como a Oficina de Breaking.
O breaking tem origem nas periferias de Nova Iorque, mas atingiu
diversas periferias, ocupando espaços, valorizando a rua como espaço
artístico, sendo uma dança que permite a autonomia, pois cada um
desenvolve sua forma de dançar de acordo com as possibilidades do seu
corpo e os limites de sua criatividade. Assim, a dança adquire
características híbridas: no Brasil, são perceptíveis influências do samba,
capoeira e frevo. O objetivo de utilizar o breaking como ferramenta com
esse público é possibilitar a auto-observação e autopercepção, além da
expressão corporal para o desenvolvimento de habilidades sociais. As
atividades eram divididas em três momentos: reflexões sobre a dança e
temas relacionados com a cultura Hip Hop através de jogos, vídeos e
fotos; um segundo momento para alongamentos e um terceiro de
prática. Eram utilizados vídeos de batalhas, sobre personalidades e/ou
movimentos sociais que influenciaram seu desenvolvimento, utilizados
para trazer compreensão sobre diversos pontos de vista, possibilidades
criativas do corpo e para informar sobre como o movimento por direitos
passou a influenciar um movimento cultural. O alongamento reforçava o
cuidado com o corpo como necessário em qualquer atividade,
afirmando a lógica da redução de danos que pauta os atendimentos da
unidade. A prática priorizava a noção do aprendizado enquanto
processo: compreensão, preparação e prática. A oficina foi criada

709
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pressupondo que a discussão sobre temas relacionados com periferias,


vulnerabilidades e sentimentos expostos na prática da dança, pudessem
promover a noção da relação entre corpo, sociedade e alteridade. Cada
atividade tinha um objetivo específico atendendo ao objetivo geral:
desenvolver autoconhecimento e habilidades sociais pela expressão de
sentimentos, que ocorre ao longo da vida, portanto não chegamos a um
fim, as oficinas auxiliaram os adolescentes a perceber a utilidade da arte
nesse processo. Produzimos vídeos e apresentações, demonstrando a
participação na oficina com resultados visíveis. Algumas dificuldades
foram encontradas: preparo físico, limiares de frustração baixos. Mas
isso era potencialidade para percebermos dificuldades a serem
enfrentadas. Durante esse processo estava aberto às questões que
pudessem se tornar dificuldades pois tudo dependia do estado de
humor dos participantes. Para dançar é necessário brincar, entender o
corpo, disciplina, paciência e dedicação. A oficina pode desenvolver
essas habilidades, mas em contextos de vulnerabilidade é sensível
observar questões a serem superadas. Porém, houve participantes que
desenvolveram a dança e outros aspectos. Houve críticas: tempo para
alongamento, repetição. Quanto ao alongamento, o jogo Just Dance e
futebol antes da oficina foram estratégias utilizadas. Sobre a repetição,
todo processo pedagógico demanda disciplina e só acontece por meio
da ação. Houve uma boa adesão, portanto a oficina foi fundamental na
criação de vínculos com os adolescentes, para observar possibilidades
levadas para discussão de casos.

710
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Mulheres, libertando subjetividades com Poesia: A Experiência do


Grupo de Mulheres Conversas de Comadres de Recife

Simone Brito
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Introdução: A arteterapia é uma prática integrativa que teve como um


dos estruturadores o psicanalista Carl Jung e a psiquiatra Nise da
Silveira, sendo organizada através da utilização de expressões criativas
como recurso para trabalhar emoções e sentimentos.
“A criação e recriação de imagens registradas no inconsciente individual
e coletivo, Integram assim no self(centro da psique – alma), os aspectos
positivos e negativos.” Jung
A arteterapia utiliza diversas expressões criativas, entre elas as
contações de estórias, com esse intuito foi criado o grupo de mulheres
com o viés da literatura e arteterapia, o Conversa de Comadres.
Descrição de Experiência: Em 2008, após ler O segundo Sexo de Simone
de Beauvoir e Imagens do Inconsciente de Nise da Silveira, comecei a
refletir sobre organizar um grupo de mulheres, já que no SIS, Unidade
de Práticas Integrativas do Recife, onde trabalho, a maioria das usuárias
são mulheres, e por meu local de trabalho ser na biblioteca(acho que
somos a única unidade de saúde que tem uma).
O grupo Conversas de Comadres surgiu em abril de 2008,após uma
atividade realizada sobre o dia 08 de março – Dia Internacional da
Mulher, com o intuito de refletir sobre o que é ser mulher nos dias
atuais e como um espaço de fortalecimento e empoderamento das
mulheres, por meio da literatura e da arteterapia. O nome do grupo
surgiu do livro Ciranda das Mulheres Sábias, no qual Clarissa Pinkola
define Comadres como “uma palavra usada para descrever a relação
intima entre mulheres que cuidam uma das outras”
O grupo se encontrava inicialmente mensalmente, passou a ser
quinzenalmente e estávamos combinando a ser semanalmente, antes da
pandemia.

711
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Repercussões: Quando surgiu a pandemia, uma usuária questionou, e


agora como vamos ficar? Eu prontamente lhe respondi que todos os
dias até terminar a pandemia iria postar um áudio com uma poesia, ou
conto, ou estória, ou crônica, ou cordel, ou texto, enfim diversos
gêneros literários. Desde março todos os dias eu gravo e envio o áudio á
noite e recebo os relatos das usuárias de lembrar de coisas da infância,
de ter acordado a sua criança interior, de reflexões sobre a vida e nestes
tempos de covid19, que essas palavras poesias são um acalanto a alma.
Tem um relato que muito me emocionou, que foi uma usuária que no
dia que recebeu o diagnóstico de covid19, recebeu o conto de Clarice
Lispector, Uma Esperança.
Considerações Finais: Após 7 meses de pandemia, o grupo Conversas de
Comadres, participou de 02 lives falando sobre esta experiência e vem
aumentando o número de participantes. Durante a quarentena conheci
algumas Comadres e Compadres que venho enviando no whatsApp
individual também todos os dias, hoje 60 pessoas participam deste
circuito de áudio poesia.
Quando contamos uma estória, ela faz morada na nossa psique, assim
para quem as escuta, é um acalanto para a alma e o coração.

712
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O acolhimento de trabalhadores como prática de cuidado em saúde


mental: um relato de experiência de extensionistas
em um serviço de atenção integral à população LGBT+

Leonardo Ribeiro da Cruz de Oliveira


Portal D&T

Rosana dos Santos Silvas


Vanessa Oliveira Cordeiro Silva
Universidade Federal da Bahia - UFBA

Anna Luísa Vieira Santos Matos


Anita Gomes Teixeira
Claudia Valverde Alonso
Raíssa Santos Monteiro da Silva
Sarah Almeida da Silva
Faculdade Ruy Barbosa

O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização


(PNH) e tem como eixos fundamentais a escuta qualificada e a
resolutividade. No campo da saúde mental reconhece-se a potência
dessa tecnologia na mudança dos modos de gerir e de pensar o cuidado.
Este relato de experiência que se integra aos estudos sobre práticas de
cuidado em saúde mental, tem como objetivo produzir um exercício
reflexivo sobre a experiência de acolhimento de trabalhadores de um
serviço de atenção a população LGBT+ em Salvador-BA. Durante o ano
de 2019, extensionistas do Núcleo de Estudos e Formação em Saúde
(NEFES), através da observação participante, realizaram uma imersão
em um serviço de referência estadual para o cuidado da população
LGBT+, situado em um território da cidade marcado pela desigualdade
social. O convívio semanal dos extensionistas com os trabalhadores que
compunha a equipe multiprofissional deste serviço, em sua maioria
pessoas LGBT+ com trajetórias de militância na defesa dos direitos desta

713
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

população, lhes permitiu identificar em suas narrativas o sofrimento de


construir o cuidado em um cenário atravessado pelas vulnerabilidades
sociais, pela violência, em tempos de desmonte das políticas públicas e
de intensificação da necropolítica. Sofrimento este que repercutiu na
saúde mental dos trabalhadores e nos seus processos de trabalho,
produzindo questionamentos sobre o sentido de suas práticas e sobre
como seguiriam desenvolvendo práticas de afirmação da vida. O
reconhecimento desta dimensão subjetiva dos trabalhadores, que
aponta para um mal estar da sociedade brasileira lgbtfóbica e racista,
funcionou como um gatilho para a construção de uma proposta de
intervenção, que teve o acolhimento como principal tecnologia de
cuidado. O acolhimento à equipe multiprofissional foi organizado em
turnos diurnos, a partir da demanda espontânea. Os trabalhadores eram
acolhidos individualmente em uma sala disponibilizada pelo próprio
serviço. Foram feitos 38 acolhimentos. Como resultados, identificamos
que o acolhimento funcionou como um modo de sustentar (re) existir,
uma vez que a partir da escuta as trajetórias de militância eram
validadas e ressignificadas. O sofrimento que, por vezes, desencadeava
processos de adoecimentos nos trabalhadores, podia ser compartilhado,
saía do campo do inaudível, para o possível de dizer, uma via importante
para a elaboração. O encontro com a realidade dos usuários lhes
aproximava de suas próprias histórias, dando-se a identificação do
trabalhador com os usuários, uma espécie de espelhamento entre as
subjetividades. Por vezes, trabalhadores estavam inadvertidos dessas
nuances, embora perceptivelmente impactados e afetados. Pensar as
práticas de cuidado em saúde mental dirigidas aos trabalhadores é
reconhecer que estes são afetados pelo desenho da realidade, que
ganha corpo no encontro trabalhador-usuário. Cuidar do trabalhador
também inclui validar suas utopias, sua trajetória, seus modos de resistir
e de sustentar o lugar de agente de mudança. Desse modo, o
acolhimento dos trabalhadores no serviço supracitado mostrou-se uma
importante via de articulação entre cuidado e transformação da
realidade.

714
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O afeto como tecnologia de cuidado em tempos de pandemia:


possibilidades e desafios da Redução de Danos
no Programa Corra pro Abraço

Katarina de Lima Fernandes


Edicarla Macêdo da Rocha
Myllena Curvelo Santos
Luciana Cafezeiro
Felipe Oliveira
Ramon Santos
Programa Corra pro Abraço

Este resumo tem como objetivo relatar a experiência de redutoras de


danos durante a pandemia no Programa Corra pro Abraço. O “Corra”,
como é afetivamente conhecido, é um programa da Secretaria de
Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social fazendo parte das
ações da Superintendência de Políticas sobre Drogas e Acolhimento a
Grupos Vulneráveis (SUPRAD) do Estado da Bahia. O Programa nasce em
2013, enquanto projeto, atuando em territórios de Salvador onde a
concentração de pessoas em situação de rua era expressiva; tornou-se
programa em 2016. Nestes anos de atuação, compreendemos a RD
como tecnologia de cuidado fundamental para a construção de vínculo
com pessoas que historicamente estão à margem da sociedade e
consideradas invisíveis. A rua, este território vivo, nos orienta a
compreender como nos aproximar e permanecer, aproveitando as
tecnologias disponíveis que, em nosso caso, se dá através da escuta
sensível e qualificada. Vemos em nosso cotidiano a necessidade do
nosso corpo estar presente e disponível para o público que atendemos.
Ainda que a sociedade negue a sua existência e seus direitos,
defendemos uma postura ético-política antirracista, antiproibicionista
que enfoca nas questões de gênero e classe social, respeitando a
história e integralidade dos sujeitos. O Corra atua enquanto articulador
da rede de serviços a fim de que os sujeitos acessem seus direitos, por

715
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

vezes ainda desconhecidos por essas pessoas, construindo junto com e


não para elas os caminhos possíveis, fortalecendo a sua autonomia. A
pandemia nos trouxe desafios que outrora já eram presentes, como o
contexto da fome e miséria social, dificuldade de acesso a serviços e
itens básicos, aumento do trabalho informal e uma crescente demanda
da população em situação de rua em todos os territórios que realizamos
campo desde março. Nos vimos com diversas dúvidas acerca dos EPI’s e
reflexões sobre o distanciamento social, onde o contato com o sujeito e
a troca de afetos sempre foram uma marca para nossas relações
vinculares em território. Portanto, compreender a necessidade dos
protocolos de segurança, adaptando a partir dos cuidados de prevenção
e da RD tornou-se fundamental nessa conjuntura onde “cuidar do outro
é cuidar de mim”, ao mesmo tempo que novas formas de nos relacionar
e estarmos junto vêm sendo construídas. Além disso, estratégias da RD
são cruciais para esse contexto, como distribuição dos insumos básicos
em nossos kits, as orientações sobre como higienizar as mãos, o uso
correto das máscaras reutilizáveis, assim como o reforço da importância
de evitar o compartilhamento de objetos pessoais. Enfatizamos ainda
que a nossa atuação tem a sua potencialidade por ser articulada com
uma equipe multiprofissional, além do constante diálogo e articulação
de rede com os serviços. Dessa forma, enfatizamos as estratégias de RD
como norteadoras para o nosso fazer e expressão do cuidado individual
e coletivo a fim de minimizar os efeitos que possam ser prejudiciais para
a saúde e autonomia dos sujeitos. A RD expressa mais do que o seu
sentido e propósito histórico de forma a permanecer viva e presente no
cuidado às pessoas que estão em vulnerabilidade social.

716
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O contexto familiar e comunitário na promoção da saúde mental de


adolescentes em processo de ideação suicida e automutilação.

Aline Maria Barbosa Domício Sousa


Ana Beatriz Lima Verde Furtado Leite
Universidade de Fortaleza - UNIFOR

Aurélia Oliveira de Lima


Tanara Barbosa de Oliveira Pereira
Faculdade Vale do Jaguaribe - FVJ

O trabalho constitui-se um relato de experiências de uma das psicólogas


lotadas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Geral) de Aquiraz,
Ceará, que coordena em parceria com estagiários de duas instituições
universitárias o Projeto Chega Mais+ que por sua vez tem como público-
alvo: jovens de ambos os sexos, com faixa etária de 12 a 17 anos, e
vivências em ideação suicida, cutting, transtornos depressivos e
ansiosos. O suicídio na adolescência é considerado problema de saúde
pública na medida que nesta fase aparecem sentimentos de baixa
estima, angústia, além de quadros psiquiátricos como transtornos
ansiosos e/ou depressivos. Em Aquiraz, tal cenário era visto somente
através de consultas e diagnósticos psiquiátricos, tendo alguns casos
atendimentos individuais em psicologia. A partir de outubro de 2018
foram realizados estudos através dos registros em prontuários a fim de
propor ações em parceria com as famílias no cuidado dos adolescentes
alternando-os com as duas primeiras ações mencionadas. Disto
decorreu que a partir de janeiro de 2019 iniciamos grupos de apoio
psicológico com familiares e grupos socioeducativos com os jovens
cadastrados com periodicidade quinzenal e média de 50 minutos/cada.
O trabalho grupal realizou-se através de técnicas de dinâmica de grupos,
experimentos em Gestalt-terapia e arteterapia. Tais estratégias tiveram
como resultados quantitativos o aumento no número de jovens
cadastrados no ano de 2019 que passou de 11 para 28 (aumento de

717
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

60,72%). A média de participação por encontro foi de 02 para 06


participantes (aumento de 3,24%). Sobre a frequência mensal dos
adolescentes nas atividades do CAPS no início do ano era de 01 vez ao
mês e ao final passou para 04 vezes, ou seja, um aumento médio de 75%
na frequência mensal. Dos 28 participantes em dezembro de 2019
somente 02 não possuem familiares que integram o grupo de apoio
psicológico. Em relação aos resultados qualitativos tivemos uma maior
integração dos adolescentes entre si e deles com seus familiares e a
equipe de psicologia; bem como o fortalecimento de processos
identitários e de vinculação com as tradições presentes no eixo
comunitário municipal, já que houve um momento de caminhada
comunitária dos adolescentes em áreas indígenas existentes em Aquiraz
(Ceará) contando com a participação da equipe de psicologia
comunitária. A principal repercussão destas ações ocorreu na própria
rede de saúde mental do município que passou a ter o Projeto Chega
Mais+ como uma estratégia de referência no combate e prevenção do
suicídio, assim como o estabelecimento de parcerias com os
equipamentos da assistência social e escolas municipais, inclusive estes
receberam a equipe do CAPS para momentos de
planejamento/formulação das políticas públicas locais. Contudo, muito
possivelmente marcas foram deixadas nas concepções que os familiares
possuem face aos jovens, haja vista termos estabelecido parcerias
importantes com as famílias cadastradas no projeto que não somente
garantem a frequência maior nos acompanhamentos feitos pela equipe
do CAPS, como são produtoras de elementos para o cuidado da saúde
mental dos jovens comprovando que os afetos familiares e comunitários
são fontes de resistência aos modelos tradicionais de intervenção em
saúde mental no Brasil.

718
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O cuidado à saúde mental de crianças e adolescentes na atenção


básica durante a pandemia da COVID-19: um relato de experiência

Thaís Thaler Souza


Eliana Maria de Moraes
Gialile de Sá Lúcio
Patrícia de Fátima Coelho
Prefeitura de Belo Horizonte

Amanda Dourado Souza Akahosi Fernandes


Maria Fernanda Barboza Cid
Universidade Federal de São Carlos

Com a pandemia da COVID-19, e todas as implicações presentes, tem


sido necessárias diversas reestruturações das práticas de saúde, no
âmbito do SUS. Nesse contexto, o campo da saúde mental
infantojuvenil, sob reflexões recentes e construções teórico/práticas
que possibilitam contemplar as especificidades da faixa-etária a partir da
Atenção Psicossocial (AP), tem sido convocado com a pandemia a criar
novas estratégias para que o caráter humanizado, acessível e territorial
se mantivesse. O objetivo deste relato de experiência é apresentar as
estratégias de cuidado ofertadas as crianças e adolescentes em
sofrimento psíquico intenso e suas famílias, desenvolvidas pela Equipe
Complementar (um serviço da Atenção Básica da Rede de Saúde Mental
de Belo Horizonte), de março a julho de 2020, em região de alta
vulnerabilidade social. As estratégias utilizadas pela equipe foram
articuladas a partir dos conceitos-ferramentas da AP a saber,
responsabilização, território, acolhimento, projeto de cuidado e rede
intersetorial. Dentre as possibilidades estratégicas destacam-se o uso da
tecnologia tais como:1) grupos de mensagens on-line por meio do
aplicativo Whatsapp®, que permitiu a criação de novas possibilidade de
acesso aos usuários, responsáveis e familiares ao serviço; 2) vídeo-
chamadas e teleatendimentos, mantendo o cuidado continuado e

719
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

promovendo outras formas de obtenção de informações tais como,


fotos e vídeos; 3) articulação da manifestação artístico/política, 18 de
maio, que representa o dia da Luta Antimanicomial, de maneira on-line,
produzindo atos de cuidado e contribuindo com a quebra da lógica da
racionalidade do local social para a loucura e seu sofrimento; 4) as
visitas domiciliares, com a entrega de kits de recursos de estimulação,
promovendo uma clínica inventiva, para além do isolamento
terapêutico, constituindo-se em um território vivo com fronteiras
dinâmicas e produzindo cidadanias; 5) e as articulações com a rede de
saúde mental de maneira virtual, promovendo desta maneira
acolhimento dos profissionais, fornecendo suporte e supervisão. As
ações desenvolvidas pela equipe reforçaram a importância da busca
pelos usuários e familiares por diferentes meios de acesso e da
necessidade de articulações territoriais. Como limitação, foram
identificadas dificuldades de articulações intersetoriais com a educação
e assistência social, e o desenvolvimento de ações voltadas
especificamente para o público adolescente. Os serviços permanecem
neste período de adaptação que já direcionam também para novas
formas de trabalho pós período de pandemia.

720
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O cuidado da saúde mental entre discentes: Relato de experiência

José Gabriel Soares Gomes


Maria Emanuele Alves Oliveira
Adilma Rodrigues de Freitas
Tuanny Loriato Demuner
Priscilla Maria de Castro Silva
UFCG

Introdução: A saúde mental de graduandos é um tema que exige


atenção especial da sociedade acadêmica, haja vista o contemporâneo
aparecimento de demandas de sofrimento psíquico no contexto
universitário. No Brasil, pesquisas já apontam a elevação de transtornos
mentais comuns maiores entre universitários quando comparados à
população geral. Esse contexto se apresenta, geralmente, devido a
rotina acadêmica exaustiva, fatores relacionais e de saúde como risco
para o desenvolvimento desse panorama, além da cobrança e a pressão
sentida pelos alunos. Dessa forma, se faz necessário pensar em ações de
cuidado e de reflexão acerca dos danos subjetivos oriundos desse
cenário e em saídas possíveis para preveni-los e/ou amenizá-los, sendo
assim o presente trabalho relata uma experiência de conscientização,
integração e cuidado em saúde mental obtida por meio de um evento
alusivo ao setembro amarelo. Descrição da experiência: O Setembro
Amarelo do CCBS teve como intuito a promoção de um espaço de
diálogo, cuidado e partilha de experiências que promoveram um amplo
debate gerador de questionamentos e problematizações acerca dos
fatores desencadeadores de sofrimento psíquico na academia. Foram
realizadas oficinas com temáticas variadas (como integração social,
artes, cultura, yoga e outros eixos) em grupos, com a participação de
alunos dos cursos de psicologia, enfermagem e medicina da
Universidade Federal de Campina Grande. Além disso, foi realizada uma
roda de conversa composta por convidados ligados à academia a fim de
debater a saúde mental e o sofrimento psíquico no meio acadêmico e,

721
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

assim, atrair atenção e conscientização com relação ao tema, o qual


afeta diversos graduandos, se apresentando de diversas formas e
intensidades. Repercussões e considerações finais: A roda de conversa,
como também as atividades em grupo contribuíram para alinhar a teoria
com a prática, por meio de discussões e dinâmicas integrativas e
estimuladoras, as quais promoveram uma experiência de solidariedade
e empatia entre os alunos. Nesse sentido, a principal ideia do projeto foi
despertar a atenção para a necessidade de mais ações de cuidado no
âmbito universitário, tanto no intuito de integrar diferentes cursos,
como para se gerar debate acerca da qualidade de vida dos discentes,
sendo eles os protagonistas ativos desse processo. Dessa forma, ao se
problematizar os possíveis sofrimentos vivenciados no contexto
universitário, há a possibilidade de construção de alternativas que
promovam a saúde mental e melhor qualidade de vida no meio
acadêmico.

722
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Cuidado em Doses Homeopáticas - Alessandro Barbosa da Silva -


Coordenador de Saúde Mental –
Prefeitura Municipal de Rio das Ostras - RJ

Alessandro Barbosa da Silva


Prefeitura de Rio das Ostras

Este objeto quer partilhar a experiência do trabalho realizado pelo


Programa de Saúde Mental na cidade de Rio das Ostras, RJ. Trata-se da
introdução da homeopatia na prática do cuidado dos usuários do Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS) e do Ambulatório de Saúde Mental do
nosso município. Considerando o cuidado em Saúde Mental segundo o
preconizado na Reforma Psiquiátrica do nosso país, que veio facilitar a
diminuição das reinternações, maior adesão ao tratamento e projeto
terapêutico oferecido, militantes da desconstrução da hegemonia
manicomial, priorizando o ser humano na sua integralidade, com foco
total na história de vida do usuário e não – apenas – num possível
diagnóstico, ofertamos aos nossos usuários, além de multiplicidade
interdisciplinar que já compunha as equipes do CAPS e Ambulatório de
Saúde Mental, a homeopatia, como mais uma possibilidade de cuidado.
O serviço de homeopatia oferecido em nossos equipamentos de Saúde
Mental há aproximadamente 14 meses veio de encontro,
prioritariamente, aos usuários que estavam com adesão total aos seus
respectivos projetos terapêuticos. Passados 180 dias do início das
consultas com a Médica Homeopata, foram realizadas pesquisas de
evolução do quadro dos usuários do Programa de Saúde Mental
beneficiados e toda a equipe pôde concluir que quase a totalidade
evoluiu bem mais do que os que não foram submetidos ao referido
tratamento. A homeopatia, como é sabido pelos profissionais da área de
saúde, apesar dos mitos e preconceitos, é uma excelente especialidade
de cuidado, pois favorece uma escuta qualificada focada na pessoa
como um todo, preocupando-se com o todo do ser humano utilizando-
se de um modelo bio-psico-social da enfermidade de cada paciente.

723
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Nesse contexto, a Homeopatia, na busca do reequilíbrio do indivíduo,


aborda vários aspectos da vida do indivíduo no que concerne ao
processo interativo de sua vida com o meio, de forma natural e integral,
até casos extremos do processo de adoecimento.
A falta de efeitos colaterais desagradáveis favorece a adesão da
medicação por parte dos pacientes, surgindo como excelente opção
para o tratamento de distúrbios psíquicos, em especial aos transtornos
de personalidade. Tal modalidade vem repercutindo bastante
positivamente na nossa cidade, fomentando inclusive a gestão da Saúde
Municipal, que já se movimenta em projetos para oferecer medicação
homeopática gratuita aos usuários do Programa de Saúde Mental.
O fato de ser uma medicina baseada em evidência, com abordagem
holística, e que demonstra sua eficácia em uma ampla variedade de
quadros clínicos, mesmo que seus mecanismos de ação ainda não sejam
plenamente compreendidos, fornece uma comprovação inequívoca de
como ela responde à premência de um novo paradigma médico. O
objetivo do tratamento homeopático é levar o paciente ao equilíbrio.
Para isso é preciso conhecer o indivíduo, buscando atender ao que
especifica a racionalidade médica homeopática. O conhecimento
personalizado do indivíduo a partir de aspectos específicos e sua
interação com o meio permite identificar detalhes importantes, como
experiências vivenciadas e fatores comportamentais, para levá-lo ao
restabelecimento da saúde.

724
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O cuidado em saúde mental através das expressões artísticas e


culturais: uma apresentação do Festival CultivAR-TE

Fernanda de Cássia Ribeiro


Universidade de Araraquara

Raquel Martins Loureiro


Larissa Campagna Martini
Carla Regina Silva Leticia Gomes Fonseca
Helena Zoneti Rodrigues
Alice Fernandes de Andrade
Universidade Federal de São Carlos

Introdução: A pandemia da COVID-19 provocou mudanças na vida


cotidiana, devido a implementação de medidas de prevenção e controle
biológico da doença, como o distanciamento social. No entanto, é
importante destacar que medidas de controle sanitário, como o
distanciamento social e a restrição de mobilidade, têm gerado impactos
no estado de saúde mental das pessoas. A partir do movimento de
Reforma Psiquiátrica no Brasil, e da implementação Rede de Atenção
Psicossocial, instituiu-se um novo paradigma para a promoção do
cuidado em saúde mental. Os aspectos estritamente biológicos do
sofrimento psíquico deixam de ter centralidade no cuidado, e outros
aspectos, como os socioculturais passaram a ser campo de intervenção.
Com base na cultura, reconhecida como um direito humano, e a
terminação dos aspectos socioculturais do sofrimento psíquico, a arte e
cultura mostra-se potente para a construção de estratégias criativas de
cuidado em saúde mental, e que também viabilize a cultura como um
direito humano. Descrição da experiência: O “Festival CultivAR-TE”, um
festival de cultura virtual, foi criado com o objetivo de apresentar
diferentes vivências cotidianas durante a pandemia, valorizando a
multiplicidade de formas de expressão e cuidados, e possibilitar um
diálogo reflexivo, um sentimento de compartilhamento e

725
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

aprofundamento das questões que permearam o período pandêmico.


Trata-se de um projeto de extensão universitária, coordenado por duas
docentes e duas estudantes de uma universidade pública, composto por
uma equipe de curadoria das obras artísticas, contando com 21
curadores, e por uma equipe organizadora, com 16 integrantes. As
equipes foram compostas por estudantes de graduação, terapeutas
ocupacionais, psicóloga, professora de música, dançarinas, atores,
fotógrafas, advogada, dentre outras formações e linguagens artísticas.
Valorizando a multiplicidade de saberes e a construção coletiva
dialógica, o trabalho das equipes aconteceu de forma transversal desde
a etapa de criação do festival. Participantes interessadas(os) em enviar
suas obras poderiam inscrever até 5 obras (obra única ou coleção) em
um dos quatro eixos temáticos propostos no edital: I) Retratos do
isolamento e distanciamento social (120 obras); II) Resiliência em
tempos de pandemia (67 obras); III) O cuidado de si e do outro (51
obras) e IV) Permanências e transformações da cultura (38 obras). As
obras poderiam ser inscritas em diferentes categorias artísticas: artes
visuais, fotografia, dança, literatura, performance, audiovisual, música e
artes cênicas, procurando caracterizar deste modo, a realidade
pandêmica por meio de expressões artísticas, vivências e afetos em suas
formas múltiplas que representam em sua singularidade, maneiras de
elaborar e resistir à COVID-19. Considerações finais: Ao caracterizar e
ressignificar por meio da arte a realidade pandêmica e, por
consequência, o próprio quadro político-social brasileiro, o Festival
CultivAR-TE promoveu um espaço virtual de produção e cuidado em
saúde mental, expressando as angústias, temores, esperanças e
adaptações dos participantes à vida. As produções inscritas teceram os
acontecimentos, imprimiram sentidos, conexões e expansões que,
sutilmente, se completam no outro, recusando uma significação única,
que podem se tornar sussurro ou grito, quando compartilhadas.
Mostrando-se assim, como uma forma de enfrentamento através da
criação de estratégias sensíveis e plurais.

726
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O desafio do cuidado ao usuário de drogas: grupo AD e oficinas no


CAPS I de Esmeraldas/MG.

Viviane Andrade Pinheiro

Elizabete Cristina Costa


Prefeitura Municipal de Esmeraldas-MG

Bruna Andrade Pinheiro de Lima


PUC-Minas

Trata-se da experiência do Grupo Álcool e outras Drogas (grupo AD) e


oficinas de geração de renda que acontecem no Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS I) de Esmeraldas, cidade da região metropolitana de
Belo Horizonte/MG. O CAPS I é o único dispositivo de cuidado
especializado na cidade, por se tratar de cidade com aproximadamente
63 mil habitantes, segundo o CENSO de 2010. O Grupo AD, teve seu
início em 2009, com o intuito de oferecer escuta aos usuários em foco,
uma vez que não existe CAPS Álcool e Drogas no município. O Grupo AD
se mostra como importante dispositivo para o cuidado às pessoas
usuárias de drogas, visto que a experiência nos aponta o caráter
terapêutico deste tipo de intervenção. As práticas em grupo propiciam a
construção de novas saídas subjetivas frente ao sofrimento individual e
coletivo e possibilitam aos usuários a vivência de sentimentos, de
solidariedade e partilha, modificando a forma de ser e estar consigo e
com o outro, em grupo e em sociedade, incidindo na relação com as
drogas. As oficinas de geração de renda também propiciam o citado
acima, além de colaborar com a renda mensal do usuário. Enfatiza-se
que o Grupo AD e as oficinas têm como objetivo oferecer um maior
suporte aos usuários, propiciando lugar à palavra, configurando-se como
um espaço de criação, expressão e socialização. Os encontros propiciam
a construção de saídas ao sofrimento e visam o resgaste da cidadania
com o retorno às atividades diárias. O Grupo AD resiste bravamente

727
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

desde 2009, apesar dos diversos obstáculos existentes e também em


frente à dificuldade de aderência dos usuários de drogas, por motivos
diversos. Por considerar que a abstinência não pode ser a única forma
de tratamento, as intervenções realizadas estabelecem a estratégia de
Redução de Danos como direcionamento para o acolhimento deste
público, enfatiza o cuidado em liberdade, os princípios da Reforma
Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial.

728
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Encanto das Máscaras Africanas: um relato de experiência do


Programa Atitude/SUAS

Maria Cecília Fagundes de Melo


Élida Barros da Costa
Patrícia Allgayer Ferreira
Rayssa Aguiar Silvestre França
Victor Nazareno Bezerra Fontes Salvador
Faculdade Fassinetti do Recife - FAFIRE

Marilyn Dione de Sena Leal


Universidade de Pernambuco - UPE

Aline Neiva Ribeiro


Instituto Aggeu Magalhães-FIOCRUZ

O objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivenciada durante a


intervenção, no formato de oficina, denominada “O Encanto das
Máscaras Africanas”, iniciativa pensada para o mês da Consciência
Negra, em uma das casas de acolhimento do Programa ATITUDE -
Programa de Atenção Integral aos Usuários de Drogas e seus Familiares
no Estado de Pernambuco. A metodologia, relato de experiência,
ancorado nos diários de campo das autoras que são estudantes
envolvidas no “Projeto de Reintegração Social para Usuárias de Drogas
do Programa ATITUDE”, aprovado através do Edital Programa de
Fortalecimento Acadêmico (PFA) Extensão - 01/2019 da Universidade de
Pernambuco (UPE) em 2019. O referido projeto de extensão
fundamentou-se na elaboração de atividades com temáticas definidas
por uma construção coletiva entre os(as) autores(as) do relato, a partir
de três módulos: Arte e Criatividade, Contação de Histórias e Expressão
Corporal. O módulo “Contação de Histórias” possibilitou a realização
deste relato sobre a citada oficina, inspirando os/as usuários/as do
Programa ATITUDE a refletirem, em alguma medida, sobre o significado

729
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

e importância das máscaras na cultura africana e as identificações


surgidas do contato com esse elemento cultural. No acontecer da oficina
utilizamos como objeto mobilizador uma máscara original da República
de Angola que foi posta no centro da sala, esta atitude despertou a
curiosidade dos(as) usuários(as) que aderiram a proposta e, então, a
roda humana formou-se. Uma das facilitadoras introduziu uma curta
história sobre as Geledés (máscaras africanas que falam de temas sociais
diversos, comuns, do relacionamento com o outro e da humanidade
nessa relação). O gestual, a voz, a meia luz e toda a ambientação
pensada para aquele momento, foi fundamental para o engajamento
dos(as) presentes. Após a contação, distribuímos algumas máscaras
impressas em papel A4, para quem desejasse, utilizar deste recurso
expressivo em diálogo com a pergunta norteadora: “O que é ser negra
ou negro para você?” Então, incentivamos o compartilhar das histórias
sentidas a partir desse encontro, estabelecendo conexões de afeto que
pudessem, de alguma maneira, incentivar a escuta, o empoderamento e
autocuidado dos(as) usuários(as) nesses ‘rios tortuosos’ das
adversidades cotidianas. A oficina teve um desfecho frutífero, com uma
boa adesão do grupo que trocou vivências em meio a combinação do
objeto mobilizador enredado pela narrativa. A pintura e a roda de
conversa refletiram o quanto algumas máscaras são necessárias para
sobreviver, ressignificar e resistir, podendo ser retirada para o viver de
forma autêntica. A potência da contação de história, enquanto recurso
terapêutico, mesmo que, brevemente, desejou possibilitar reflexões
pela via da identificação com a beleza e significado deste importante
elemento cultural e despertar desconstruções estigmatizantes e
intolerantes que envolvem esse universo da religiosidade e costumes da
cultura negra.

730
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O exercício da autonomia dos usuários em um Centro de Atenção


Psicossocial de Salvador: relato de experiência

Alexandra Bahia M. Barreto


Renata Carvalho do Nascimento
Rafaelli Santos Pereira
Gustavo Emanuel Cerqueira Menezes Junior
Universidade Federal da Bahia

Introdução: A centralidade da ciência médica e sua tradição de pensar o


corpo enquanto fragmentos de uma máquina a ser consertada impõe ao
usuário um lugar de passividade. A Reforma Psiquiátrica no Brasil propôs
a criação de uma rede de serviços substitutivos às instituições
manicomiais de tratamento psiquiátrico, mas além disso traz consigo a
construção de uma nova concepção da Saúde Mental, ancorada nos
Direitos Humanos, numa clínica que se forja na defesa da liberdade, em
métodos modernos de tratamento e numa base territorial da
organização dos serviços com necessário protagonismo dos usuários.
Com a Reforma, a autonomia passa a ser reconhecida como uma
necessidade e aspecto relevante na constituição do sujeito. O louco,
antigamente visto como autômato e institucionalizado, passa a ser
reconhecido como ser social, político e histórico e garantir seu direito de
liberdade e autonomia. Tais direitos visam uma maior horizontalização
das relações de poder no tratamento, um dos objetivos do processo de
Reabilitação Psicossocial. Dessa forma, surge a necessidade de forjar
espaços que possibilitem a construção da autonomia nos Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS), um ambiente de operacionalização
conjunta das diretrizes administrativas do espaço que utilizam como
estratégia de desenvolvimento do sentimento de pertencimento ao
serviço, além de configurar-se enquanto espaço de Controle Social,
diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS) e Participação Popular.
Descrição da experiência: A experiência foi vivenciada durante as
assembleias de um CAPS, localizado no Distrito Sanitário Centro

731
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Histórico, em Salvador-BA. As assembleias são reuniões que acontecem


quinzenalmente com a participação de profissionais e usuários do CAPS,
a fim de mediar processos de decisão no serviço. Esse espaço, além de
propulsionar rupturas institucionais necessárias a uma clínica que se
aproxime da dinâmica do território, potencializa a Participação Popular
e o exercício do Controle Social, impulsiona também o empoderamento
do usuário sob a defesa dos seus direitos. Vale ressaltar que o referido
serviço conta com um elevado número de pessoas em situação de
intensa vulnerabilidade social, algumas delas em situação de rua, o que
reforça a necessidade da luta para garantia dos direitos e construção de
estratégias de pertencimento ao serviço e território. Repercussões:
Observou-se um Controle Social ativo, estimulado pelas assembleias.
Alguns elementos demonstraram a efetividade desse, como: reclamação
de direitos; falas coerentes abordando insatisfações com o serviço e
propostas de soluções. Os usuários detinham o poder de decisão
conjunta com os profissionais, compreendiam bem os seus direitos e a
importância da Participação Popular. Neste cenário, observaram-se
conflitos entre usuários e profissionais e se revelavam reflexos das
vivências dos usuários em situação de rua. Considerações Finais: A
vivência proporcionou às discentes a experiência prática de como se dá
o processo de Participação Popular e Controle Social articulados à Clínica
Psicossocial, além da promoção da autonomia de usuários de Saúde
Mental em um CAPS, possibilitando um novo olhar sobre a temática e,
consequentemente, vislumbrando novos caminhos e cenários de
atuação na prática do cuidado em saúde mental, sendo necessária a
construção de práticas institucionais que não reproduzam as observadas
nas instituições manicomiais.

732
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Internato de Saúde Mental da PUC Minas Betim:


uma experiência de micropolítica

Karla Gomes Nunes


Cláudia Maria Generoso
Renato Diniz Silveira
Karla Gomes Nunes
Carlos Alberto Pereira Pinto
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC

Este relato de experiência apresenta o Internato de Saúde Mental (ISM)


do Curso de Medicina da PUC Minas Betim, que se orienta pelas
diretrizes curriculares do Ministério da Educação, em consonância com o
SUS, o campo da saúde mental e os deslocamentos produzidos pelo
movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
O ISM é uma experiência de formação em saúde mental na qual os
estudantes do nono período fazem uma imersão em nove semanas, de
modo acompanhado, alternadamente, por dois professores: um
psiquiatra e um psicólogo, em serviços de saúde mental previstos na
Política Nacional de Saúde Mental: CAPS, UBS, leitos psiquiátricos. O
trabalho nos cenários de prática é orientado pelas singulares
experiências de vida dos pacientes, convocando o aluno a se implicar em
seu mundo, transmitindo um saber-fazer sobre a clínica. Nesse
contexto, problematiza-se diferentes maneiras de formação na
contemporaneidade regida pela sociedade de controle (Hardt & Negri,
2010), marcando-se que a experiência do ISM busca deslocar-se de um
modo burocratizado, mercantilizado e dessubjetivado de ensino ao
colocar o aluno frente à realidade dos usuários, estimulando-os a
construir - com os mesmos - saídas singulares. Busca-se um contraponto
à lógica de ensino como mercadoria, reduzida às competências exigidas
pelo mercado, conforme critica Boaventura Sousa Santos. Assim,
aposta-se em uma formação microrevolucionária, potente no ato de
transformação no qual docentes, acadêmicos, trabalhadores e usuários

733
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

implicam-se horizontalmente, subentendendo que o processo de ensino


é válido quando construído em conjunto, “...ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua
construção...” (FREIRE, 1996).
O princípio ético/metodológico do ISM pressupõe que a posição do
professor deve ser de despertar o desejo de saber do aluno,
possibilitando o questionamento, a reflexão viva, tecendo uma
construção de conhecimento sempre inacabada, pois comporta
equívocos, como é a essência humana em sua incompletude.
O ISM é uma aposta que visa alcançar a essência de uma ação de
micropolítica ao promover constantes momentos de reflexão crítica e de
resistência ao saber hegemônico do mundo contemporâneo, mediante
uma formação em que a palavra circula e outros saberes são construídos
em ato através da singularidade de cada sujeito, das demandas
existentes no cotidiano dos serviços, das redes intersetoriais, das
realidades e vulnerabilidades socioculturais dos usuários. Destacamos
algumas ferramentas na construção de conhecimento a partir de:
grupos de discussão, reuniões equipe/rede, conversas sobre os impasses
dos casos, do contexto sociocultural das pessoas, da questão dos
direitos humanos, do estigma envolvendo as pessoas em sofrimento
psíquico, tendo como aposta irredutível a vida e a construção do
cuidado em liberdade. Como resultados, percebemos alunos implicados
nos processos de cuidado no campo da atenção psicossocial, sendo
afetados pela singularidade dos usuários, apresentando novo olhar
sobre a realidade dessas pessoas e novos modos de pensar a vida e a
profissão médica. Ademais, notamos que o percurso pelo internato
proporciona a redução de percepções negativas presentes nos
estudantes, resquícios da lógica excludente alocada na loucura que
perdura na sociedade.

734
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O itinerário entre o território e o cuidado em saúde mental: a


experiência com adolescentes em situação de rua na cidade do Recife.

Israel Braz Nunes dos Santos


Galba Taciana Sarmento Vieira
Anna Pessoa
Ana Lúcia da Silva Lira
Luigi Deivson dos Santos
Mateus Souto Maior Barros
Rodrigo César Abreu de Aquino
Vinícius Batista Vieira
Adilma Pimentel dos Santos Costa
Rosana Almeida de Moraes
Prefeitura do Recife

Este relato de experiência versa sobre o itinerário de cuidado


estabelecido com adolescentes em situação de rua na cidade do Recife
em um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS ADi III de álcool e outras
drogas infanto-juvenil, desvelando as conquistas e desafios.
Compreendemos no processo de cuidado do CAPS os adolescentes que
estão em situação de rua em virtude de múltiplas determinações. Em de
Maio de 2020, inúmeros(as) adolescentes em situação de rua na cidade
do Recife começaram a frequentar diariamente o CAPS ADi. Como
características deste público, percebemos diversas violações de direitos
e violência a que estão submetidos como: a fragilização e/ou
rompimento dos vínculos familiares; a incidência no uso de inalantes; a
situação de pauperização de seus responsáveis; o desejo pulsante em
buscar momentos de lazer, de alimentação; evasão escolar; grande
parte pertencente à população negra; algumas das suas falas sinalizam
exploração sexual e aliciamento para venda e uso de Substâncias
psicoativas, mas eles se negam a dizer quem são as pessoas que fazem
isso com eles. Utilizamos de tecnologias leves para facilitar o acesso ao
CAPS como serviço de baixa exigência, incluindo, inicialmente, o não

735
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

estabelecimento de dias/horas/turnos, construindo vínculos de


confiança. Neste contexto, avançamos na construção do Projeto
Terapêutico Singular – PTS, e conseguimos, minimamente, pactuar a
contratualidade da participação em grupos e em turnos manhã e tarde.
Realizamos trabalho pedagógico em relação à pandemia do COVID-19,
estimulando o uso de máscaras, álcool em gel, além da aferição
temperatura. Em alguns casos, os/as adolescentes optaram pelo
cuidado no CAPS em regime de 24h e/ou encaminhamento para Casa de
Acolhida. A experiência de cuidado com adolescentes em situação de
rua exigiu da equipe ainda mais articulação de rede e território, como a
realização de reuniões com equipamentos de abordagem de rua da
Política de Assistência Social, Conselhos Tutelares, etc. Proporcionou
adequação dos processos de trabalho para oferta de ações à essa
população que atenda suas demandas. Promoveu uma intensificação
das discussões clínicas de caso, e da importância da continuidade da
Supervisão Clínica institucional. Possibilitou uma maior discussão clínica
acerca da pactuação de limites como ação estruturante para o sujeito ao
mesmo tempo que põe em risco a construção do vínculo. Impulsionou a
participação em Fóruns políticos sobre a população em situação de rua.
Evidenciou a ausência do Estado na vida dos adolescentes e suas
famílias durante boa parte da existência. Desvelou valores
conservadores da equipe na assistência com a população em situação de
rua, que precisaram de ressignificação. Avaliamos que a grande
experiência no contato com adolescentes em situação de rua na cidade
do Recife nos trouxe uma melhor compreensão acerca da intersecção
entre a adolescência e o contexto de violação de direitos. A linguagem, a
cultura, os hábitos, os gestos, a maneira como interagem, as
brincadeiras entre eles, representam as vivências em território. A droga
aparece para aliviar o cotidiano exaustivo pela sustentabilidade e
frustração, e o CAPS surge como uma instituição ora excessivamente
normativa, ora flexível, mas que vem tentando reinventar-se e aprender
com os adolescentes.

736
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Núcleo de Ação Intersetorial de Prevenção ao Suicídio – NAIPS

Aristides Parente da Ponte Filho


Jisiane Sales da Silva Araujo
Centro de Atenção Psicossocial

Gizelle Noronha Almeida


UFC

Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas


UVA

Introdução: O suicídio e os desafios relacionados as formas de preveni-lo


tem sido pauta de discussões no meio acadêmico, político, nos mais
diversos setores da assistência à saúde, dentre outros cenários,
ganhando inclusive mais propagação a partir da campanha do ‘Setembro
Amarelo’.
Descrição da experiência: O processamento das informações do NAIPS é
realizado por uma profissional do CAPS, em que distribui as mesmas
para que sejam realizadas articulações que se fizerem necessárias.
Assim, há um cronograma voltado para a atualização de informações,
articulações com os profissionais do CAPS e planejamento das ações. Os
nomes dos usuários, o endereço e o Centro de Saúde da Família (CSF)
ficam registrados e a cópia da ficha é repassada para o matriciador do
território, para que seja identificado algum tipo de cuidado em saúde
mental, ou se para este deverá ser pensado e desenvolvido. Dentre
algumas mais comuns consiste em realizar avaliação em saúde mental.
Em casos em que há dificuldade da realização destas, também pode ser
feita em visitas domiciliares e assim planejar o cuidado.
Objetivo: Descrever a criação do Núcleo de Articulação Intersetorial de
Prevenção ao Suicídio – NAIPS e suas atribuições que foram se
constituindo a partir da necessidade de desenvolver ações no campo
preventivo principalmente para os usuários que, em algum tempo, e de

737
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

alguma maneira estão ou estiveram em risco alto para realização de


uma tentativa de suicídio.
Repercussões: Através das informações extraídas das fichas tornou-se
possível realizar ações de cuidados preventivos ao suicídio a partir da
avaliação do estado do usuário ou visando inseri-lo em algum
tratamento. O NAIPS também adquiriu um papel educativo, na medida
em que articula a participação dos profissionais em ações voltadas para
a promoção da vida, prevenção ao suicídio, discussão de casos no
âmbito intersetorial. Possibilita a discussão dos casos que envolvem
tentativas de suicídio no matriciamento. Outra característica é que os
profissionais que estão inseridos no NAIPS também articulam visitas
institucionais e algumas ocasiões realizam até mesmo visitas
domiciliares quando os profissionais da equipe de saúde mental
necessitam de um maior apoio.
Considerações finais: Desde o início de suas atividades, a equipe de
profissionais do CAPS logo notou a relevância da criação de um núcleo
para auxiliá-los junto às equipes dos CSF. A utilização das informações
obtidas nas fichas de notificação, organizadas pelo NAIPS, contribuem
para um melhor aproveitamento do trabalho voltado para a prevenção
ao suicídio, principalmente de casos que já apresentaram algum risco e
que, se não forem devidamente avaliados e até mesmo acompanhados
pelo CSF ou por serviço especializado (CAPS, CAPS AD, ambulatório
psiquiatria etc.). Assim, o NAIPS vem se mantendo como relevante na
coleta de dados, processamento e disparador de articulações que
possam ser úteis a garantia do acesso a tratamentos em saúde mental e
principalmente, visando a prevenção ao suicídio.

738
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Plantão Psicológico do PsiU: uma experiência de acolhimento das


urgências subjetivas contemporâneas

Daniele Monteiro de Oliveira Silva

A universidade e a experiência universitária constituem-se a partir de


expectativas, vivências e significações diversas. Se, por um lado, a
universidade é uma representação e o meio para a realização de sonhos,
por outro, pode significar a queda de ideais e o engendramento de
processos de sofrimento e adoecimento. Em 2017, a Universidade
Federal da Bahia, frente ao crescente número de relatos, por parte de
seus estudantes, quanto ao estado de precarização da saúde mental e
sofrimento enfrentados por estes, idealizou e lançou o PsiU – Programa
de Saúde Mental e Bem-Estar na Universidade. O programa surgiu com a
oferta de um plantão psicológico, visando um espaço de acolhimento
desburocratizado e acessível às urgências subjetivas que despontam no
ambiente universitário.
Em seus plantões de acolhimento, o programa conta com duplas de
“acolhedores”, psicólogos formados que ficam à disposição da
comunidade universitária, composta por estudantes, professores e
servidores. Os atendimentos não exigem hora marcada ou
documentação, apenas o número de matrícula, ocorrendo
primariamente por demanda espontânea, ainda que haja
encaminhamentos, seja do serviço médico universitário – com uma
histórica demanda de psicoterapia superior a sua capacidade de
atendimento - ou mesmo de outras instâncias da universidade em
contato com estudantes em estado de sofrimento perceptível.
A universidade, enquanto instituição, pode acolher e dar vazão ao
sofrimento da comunidade pela qual é responsável, diminuindo,
inclusive, a fila de espera por atendimento psicológico e
encaminhamentos para a rede. Todavia, julgo que o maior trunfo da
experiência do plantão está na forma como este se estrutura e nos
resultados singulares para cada sujeito que por ali passou. Diferente de

739
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

um processo de psicoterapia, ou mesmo de acompanhamento


psicossocial nos dispositivos da RAPS, o plantão não prevê um
acompanhamento de longa duração, ou mesmo a construção de um
Projeto Terapêutico Singular. Sua potência advém do encontro
momentâneo, disponível e orientado para o acolhimento de um
sofrimento subjetivo que irrompe, que se mostra na urgência e que
pode ser cuidado em sua emergência.
As questões que surgem são diversas: solidão, ansiedade, tristezas,
dificuldades familiares, financeiras, impasses relativos ao cotidiano
acadêmico, ideações suicidas, escarificações, abusos de substância,
violências de diversas ordens, inclusive de gênero, raça e sexual. O
período em que fiz parte do programa compreendeu todo o período
eleitoral, e o impacto da conjuntura política se fez presente a todo
momento. Essas experiências de acolhimento permitiram contato com o
que há de mais vivo nas formas de sofrimento contemporâneo, na
angústia engendrada por uma conjuntura sócio-política de incertezas,
discursos de ódio e violência, que perpassam, sem falta, a realidade da
vida universitária.
Naquele período, o plantão psicológico ainda não era um dispositivo
amplamente difundido enquanto opção de oferta de cuidado. A
experiência possuiu um caráter formativo, inclusive, convocando nós
profissionais a repensar as formas de ofertar o cuidado e a escuta em
saúde mental. Penso que o plantão, enquanto oferta que causa um furo
no tempo-espaço da urgência através da acolhida, desponta enquanto
um dispositivo potente e criativo para o cuidado frente à realidade
contemporânea.

740
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O processo de construção coletiva da ClínicAberta de Psicanálise de


Santos - SP

Caroline Teixeira Zanchi


Amanda Giron Galindo
Tahamy Louise Duarte Pereira
Sidnei José Casetto
Davi Cruz Miranda
Luiz Gustavo Amadei
Eduardo de Carvalho Martins
Marcela Garrido Reghin
Lizandra Costa Mendes
Gabriela Andrade Ferreira de Sá
Patrícia Carvalho Silva
ClínicAberta de Santos

Somos o coletivo de analistas da ClínicAberta de Psicanálise de Santos,


cidade litorânea do estado de São Paulo, e buscamos contar sobre essa
iniciativa como um processo de construção permanente. Ela se insere
num contexto de efervescência de ideias, desejos e perspectiva ética-
política de uma clínica aberta pública não estatal e gratuita. O grupo foi
se constituindo a partir deste desejo comum entre psicólogos e
psicanalistas vinculados a diferentes práticas e instituições, mas de
forma independente delas.
Muitas perguntas surgiam, mas entendíamos que as dúvidas eram
constituintes de um dispositivo que abrigava diversidades. Como
sustentar um trabalho coletivo feito a muitas mãos e ouvidos? Fomos ao
longo do tempo pensando nos formatos, enquadres, desejos,
potencializando um saber em aberto, que se faz na presença, no
reconhecimento do não-saber e na disposição ao fazer-saber.
Ouvimos que nossos desejos apontavam lugares na cidade de maior
vulnerabilidade social, afastados da orla turística. Fomos então afinando

741
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

nossas intenções e escolhemos atuar na região central da cidade aos


sábados, levando nossas cadeiras de praia para as praças.
Como realizaríamos nosso trabalho coletivo? Quantos analistas iriam
por sábado? Teríamos inscrições? E se alguém retornasse, conversaria
com o mesmo analista? E se chovesse? Como poderíamos compartilhar
os atendimentos e registrar? Como ficaria a questão da transferência
diante da ideia de analista-grupo? A cadeira vazia ao lado do analista era
suficiente como convite para todos que circulam?
Havia mais perguntas do que respostas e sustentamos juntos as dúvidas
que pairavam. Após dois meses de “experimentações”, em que levamos
nossas cadeiras para duas regiões distintas do centro de Santos,
definimos que nosso trabalho seria realizado na Praça dos Andradas.
A partir desse contorno do local de atuação clínica desenhamos outros,
sempre com a preocupação de não rabiscar traços grossos demais que
não pudessem ser modificados, mas que nos foram importantes e que
deram condições para delinear nosso fazer. Frequência dos encontros
na praça, número de analistas por sábado, questões logísticas,
estratégias de divulgação, periodicidade das reuniões de equipe, início
de um grupo de estudos, encontros de supervisão clínica, abertura de
arquivo para compartilharmos estudos, relatos, agenda e registros do
grupo, criação de grupos virtuais para comunicação e trocas, todos esses
contornos foram necessários para fortalecermos a produção do nosso
dispositivo. Vale ressaltar que estes delineamentos estão em constante
processo de reinvenção baseados nas experiências que produzimos.
Nos primeiros três meses do ano realizamos quatro encontros na praça.
Com a pandemia, em abril decidimos iniciar no formato online. Essa
mudança trouxe outras questões e deslocamentos. As cadeiras de praia
viraram salas virtuais e as inscrições passaram a ser feitas por uma rede
social. Assim, pudemos garantir atendimentos todos os sábados.
Atualmente nos deparamos com questões sobre os contrastes das
experiências presenciais e digitais. Hoje somos um grupo com 14
analistas e 1 supervisor, mantemos espaços de reunião, grupos de
estudos e supervisão e continuamos repensando nosso dispositivo.

742
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O processo de territorialização em quixadá-ce diante o cenário de


Pandemia de covid-19: um relato de experiência

Lidia Sousa Pinheiro


Governo do Estado

Dária Maria Barbosa Dedê


Faculdade Única de Ipatinga - MG

Gláucia Maria Cavalcante Maia


Unilab

A territorialização pode ser entendida como o processo de habitar e


vivenciar um território, a partir da obtenção de informações,
experiências e análises sobre a condição de vida e saúde de tal
população. Quando se trata do contexto de saúde, conhecer o território,
é de suma importância para identificar as principais necessidades da
população, observar os aspectos ambientais, sociais, e econômicos a fim
de organizar os serviços de saúde de acordo. A territorialização é a parte
inicial da imersão dos profissionais residentes da Residência Integrada
em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará. No município de
Quixadá, a mesma iniciou-se no dia 9 de março de 2020. A princípio as
visitas aconteceram de acordo com o cronograma estruturado onde foi
possível visitar e conhecer a história de dez instituições: Centro de
Atenção Psicossocial II, Secretaria Municipal de Agricultura, Secretária
Municipal de Saúde, Serviço de Atenção Especializada , Centro de
Referência em Assistência Social, Campo Novo, Central de Regulação e
Marcação de Consultas, Unidade de Pronto Atendimento, Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Casa Norte, e Policlínica Francisco
Carlos Cavalcante Roque. Diante da pandemia de COVID-19 e os
números de infectados crescentes no município, logo tiveram início os
desafios. Algumas instituições cancelaram as visitas, dificultando a
continuação do percurso. O processo de territorialização inicialmente

743
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

estruturou-se em uma área da cidade que abrangia o bairro Putiú, o


qual seria o cenário de atuação da equipe de residentes da Saúde da
Família e Comunidade e faria parte do percurso de rede dos demais
residentes do município. Entretanto, em decorrência da pandemia, esse
processo foi interrompido e uma reorganização dos serviços de saúde e
instituições em caráter emergencial, para lidar com a pandemia do novo
corona vírus, fez com que a equipe fosse alocada em outra região, bairro
Renascer, descaracterizando assim, a territorialização já iniciada. Em
sequência, o momento destinado ao encontro com os agentes
comunitários de saúde, do território foi igualmente suspenso. Destaca-
se tal conexão é crucial no conhecer da população já que estes têm uma
participação ativa na produção de saúde da população. Deste modo,
tudo o que envolvia o reconhecimento do território, mapeamento e
inserção comunitária comuns aos residentes atuantes no município foi
comprometido, principalmente a aproximação com as lideranças
comunitárias e a mobilização social. Diante o exposto, é possível afirmar
que o processo de territorialização é parte fundamental no aprendizado
sobre a determinação social da saúde, e entendimento dos aspectos
individuais de cada população. Sendo assim, a não conclusão do
processo de territorialização dificultou a estruturação de ações e a
promoção da saúde conforme as necessidades e interesses da
população.
Palavras-chave: Atenção básica à saúde; Comunidade; Pandemia.

744
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O processo migratório de haitianos residentes em Itajaí: Práticas e


políticas de reconhecimento.

Gustavo da Silva Machado


Bernardo Torres Portela
Nayane Sales Lisboa
Universidade do Vale do Itajaí - Univali

No Brasil, presenciou-se, a partir de 2010, um aumento no fluxo


migratório de haitianos, os quais após o terremoto, receberam a
concessão do visto humanitário, que permite a regulamentação no país
e a garantia de direitos. Estima-se que mais de 106 mil haitianos deram
a entrada no país até o ano de 2018, concentrando-se especialmente
nas regiões sul e sudeste do Brasil. Contudo, aqueles que migram
podem encontrar desafios, vivenciando práticas discriminatórias em
relação a questões étnico-raciais, de gênero, dificuldades de acesso a
políticas públicas e outras questões ligadas à dignidade humana e a
cidadania. Tais práticas e políticas podem atuar de modo a inviabilizar a
vida do imigrante, dificultando assim o reconhecimento e inclusão deste
como parte integrante da sociedade. Assim, este trabalho visa
compreender os efeitos do processo migratório nos modos de
reconhecimento dos haitianos residentes na cidade de Itajaí. Para isso,
está em curso uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa e
enfoque etnográfico multissituado. Terá como técnica para coleta de
dados a observação participante, entrevistas em profundidade e o
registro sistemático das informações em diário de campo. No que se
refere ao processo migratório dos haitianos, percebe-se que este é
perpassado por várias relações que violam os direitos humanos, desde o
momento de saída de seu país de origem, em que há relações de
desrespeito, violências, extorsões, abusos físicos e sexuais, até o país de
chegada, em que há a permanência em abrigos em condições
insalubres, a situação de rua, a exploração no trabalho, os altos valores
cobrados por moradias, muitas vezes em condições deploráveis e a

745
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

prostituição dos corpos. Tais experiências, portanto, podem contribuir


para a modificação da forma como esses sujeitos se enxergam,
reconhecem ou são reconhecidos. Na realidade de Itajaí, segundo
informações da Pastoral Migrante, mesmo com uma Associação de
Imigrantes Haitianos ativa, percebe-se precarização em três principais
esferas: o desemprego, o acesso a políticas públicas e práticas racistas e
xenofóbicas. Com isso, este trabalho busca viabilizar uma escuta que
contribua para a produção de reconhecimento do imigrante como
pertencente da população da cidade, como também no subsídio de
informações que podem ser utilizadas na elaboração, fomento e
validação de políticas públicas como estratégias de integração.

746
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Programa ‘Ouvidores de Vozes’ nas ondas de uma rádio implicada


com a saúde mental

Roberta Antunes Machado


IFRS - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Sul

Liamara Denise Ubessi


Ivon Fernandes Lopes
Luciane Prado Kantorski
Tamires Pereira Dias
UFPEL

Andrea Regina Molina Jaekel Bender,


AUSSMPE

Introdução: Vivemos em um contexto que a verdade sobre fatos e


acontecimentos concorrem com conhecimentos obsoletos e notícias
falsas, usualmente chamadas de Fake News. Partilhar os conhecimentos
adquiridos nos meios acadêmicos e populares com a comunidade sobre
o Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes (MIOV), conduziu
pesquisadoras e experts por experiência construírem um espaço de
diálogo de grande alcance através de um programa de rádio. Descrição
da Experiência: Desde novembro de 2018, o Programa de Ouvidores de
Vozes tem sido acompanhado semanalmente por diversas pessoas
através das ondas da RádioCom Pelotas 104.5FM, pelo Faceboock
RádioCom Pelotas e pelo site www.radiocom.org.br. O Programa tem a
finalidade de levar informações para a comunidade a respeito de outras
abordagens em saúde mental, a partir do enfoque do MIOV. Esse é uma
iniciativa e produzido por algumas pessoas que integram o Grupo de
Pesquisa em Enfermagem em Saúde Mental e Coletiva (UFPel), da
Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Pelotas e da
Coletiva de Mulheres que Ouvem Vozes. O Programa dispõe uma hora e

747
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

meia de duração, sendo reprisado aos domingos às 19 horas. A


transmissão contínua de mídia pela página do Facebook possibilita uma
comunicação interativa com a comunidade que envia perguntas sobre as
temáticas abordadas pelo programa. As pessoas envolvidas na criação e
condução do Programa possuem na sua história de vida a experiência da
audição de vozes, no entanto, a maneira como essa experiência
repercute na vida desses sujeitos são distintas. Enquanto algumas
pessoas convivem bem com essa experiência, outras já passaram por
internações em hospitais psiquiátricos e/ou são acompanhadas nos
Centros de Atenção Psicossocial. O Programa busca articular temas
atuais com a pauta do MIOV, e desta forma, já se discutem temas que
afetam a vida, por se entender que as pessoas ouvidoras não se
reduzem a essa experiência: reforma da previdência e trabalhista,
eleições de 2018, violência de gênero, raça/cor, sexualidades, entre
outras violências, saúde mental e espiritualidade, desmonte dos direitos
(saúde, educação, etc), redes e mídias sociais, etc. A cada programa
procura-se trazer convidadas/os para debaterem conosco a pauta do
dia. Ressalta-se que esse programa é campo de observação de uma tese
do Programa de Pós – Graduação em Enfermagem (UFPel). Repercussão:
O Programa tinha duração de uma hora, devido a repercussão, houve
demanda por mais meia hora. Além disso, recebe-se convites para
participar de outros Programas de rádio, de rodas de conversas nos
serviços de saúde mental, em cursos de graduação e de nível técnico da
área da saúde e afins. Este ano, as temáticas do Programa serão
disponibilizadas em Podcast e no Youtube, com vistas a disseminar esse
paradigma na relação com as vozes e chegar a quem pode se beneficiar
do mesmo. Considerações Finais: Espera-se que com esse relato o
acesso ao Programa possa ser ampliado a outros sujeitos que desejem
pensar a vida a partir de outras abordagens em saúde mental.

748
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O protagonismo na criação permanente da associação de usuários dos


serviços de saúde mental de Pelotas

Ivon Fernandes lopes


Aussmpe

O protagonismo na criação permanente da associação de usuários dos


serviços de saúde mental de Pelotas. Introdução: o protagonismo
usuário de serviços de saúde mental, muito embora muito tenha se
avançado, ainda é um desafio. Entretanto, é um dos principais
elementos que contribuem a pessoa assumir a vida em suas mãos e
desenvolver o seu potencial de existir. Objetivo: relatar o protagonismo
de usuários/as dos serviços de saúde mental de Pelotas na constituição
e manutenção de uma Associação de Usuários/as dos Serviços de Saúde
Mental de Pelotas. Metodologia: relato de experiência sobre o vivido na
constituição de uma Associação de Saúde Mental e sua manutenção
desde 2001 até a atualidade, por usuários/as dos serviços de saúde
mental no município de Pelotas/RS. Resultados: devido a situações de
descontentamentos, da necessidade de se avançar no cuidado em saúde
mental e principalmente ao preconceito, se constituiu em 2001 uma
Associação de Saúde Mental, protagonizada por usuários, ainda que
houvesse trabalhadores/as da saúde e pessoas da comunidade nesta
composição. Seguiu envolvida nas lutas sociais por direitos na saúde
mental, 18 anos de existência e resistência. Dentre os direitos,
ampliação e qualificação do acesso com a implantação de Centros de
Atenção Psicossocial, o fechamento dos manicômios, serviço residencial
terapêutico, a defesa de que a atenção em saúde mental não ocorra
somente dentro dos CAPS, mas também se utilizando de outros
dispositivos, como a Redução de Danos, Consultório na Rua,
Acompanhamento Terapêutico, e principalmente, o protagonizado por
usuários/as, como por exemplo o é o Programa Gente como a Gente em
Rádio Comunitária, bem como a participação em espaços de gestão da
política de saúde mental municipal e regional e de controle social em

749
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde mental. Atualmente segue-se com essas pautas, enfrentando o


desmantelamento da política pública nacional de Saúde Mental que
precariza os serviços da rede de atenção psicossocial.

750
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O silenciamento das mulheres na enfermaria de um manicômio

Vanessa Crumial Herdy de Andrade


Thais Lima Soares Noro
Universidade Federal do Rio de Janeiro

O presente trabalho tem como objetivo fazer um breve relato de


experiência a respeito do período de um ano em que tivemos a
enfermaria de um hospital psiquiátrico como cenário de prática da
residência multiprofissional em saúde mental. Atuamos a partir do eixo
territorial da Baixada Fluminense, na articulação com a rede de atenção
psicossocial visando construir possibilidades de cuidado no território.
Durante este tempo de atuação fomos atravessadas por histórias de
diferentes mulheres que traziam a tona o sofrimento de viver na pele o
machismo, racismo, LGBT+fobia e a desigualdade social.
Mencionaremos duas usuárias, que poderiam representar tantas outras
que em sua trajetória de vida passaram por instituições totais. R. e T.
são mulheres cis, jovens, negras, pobres que falavam sobre o sofrimento
de se viver em um território atravessado pela violência e descaso do
Estado, que afeta diretamente a vida da população negra e pobre. Era
pauta de muitas conversas a falta de comida na mesa, as condições
muito precárias de moradia, a dificuldade de acesso à saúde e outros
serviços da rede intersetorial e a frágil rede de suporte que dispunham,
na qual as relações interpessoais eram marcadas por violações, abuso e
preconceito. Condição que se expressava muitas vezes com o corpo, no
modo como circulavam pelos espaços da enfermaria, como interagiam
com outros usuários ou com a equipe. Estar com as duas demandava
muita disponibilidade de escuta, presença e afeto. Algo que não era
possível para os profissionais que atuavam de forma descolada dos
desejos dessas usuárias e não conseguiam acessar suas vivências e
sofrimento como algo que demanda cuidado. Consequentemente,
respondiam à expressão do sofrimento destas mulheres através do
silenciamento, uso excessivo de medicação, contenção mecânica e

751
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

eletroconvulsoterapia. Nesse sentido, a proposta deste trabalho é fazer


uma reflexão a respeito da forma como as práticas manicomiais
intervém nos corpos destas mulheres como mais um instrumento de
reprodução da violência estrutural e a partir disso concluir que não é
possível produzir cuidado quando as condutas são pensadas no sentido
de reprimir o que se considera inadequado e não se há disponibilidade
para acolher o sofrimento em suas múltiplas formas.

752
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O trabalho do Assistente Social na Educação: relato de experiencia da


intervenção no cuidado com a saúde mental dos servidores.

Viviani Cavalcanti Pinto


SEDUC

Resumo: O presente trabalho é fruto de uma discussão da inserção dos


Assistentes Sociais na Política de Educação do Estado de Pernambuco na
proposta de valorização dos servidores, através dos NAS – Núcleo de
Atenção ao Servidor, campo de atuação que estão inseridas as
Assistentes Sociais, Psicólogos e Fonoaudiólogos. O serviço visa garantir
que o trabalho, base da organização social e direito humano
fundamental, seja realizado em condições que contribuam para a
melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos
trabalhadores sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental
ratificando a garantia dos direitos básicos de cidadania. A proposta
desse trabalho é fazer uma reflexão sobre o trabalho do Nas no que
concerne as demandas de adoecimento psíquico, dos servidores da
educação, em especial aos professores que são atendidos pelo serviço,
no intuito de minimizar e acolhê-los no suporte em relação ao cuidado
de sua saúde. Traremos dessa forma algumas questões referentes aos
aspectos situacionais que incidem na saúde mental do profissional da
educação, visto que o número de servidores que são acompanhados
pelo serviço são na grande maioria servidores que apresentam algum
adoecimento psíquico (depressão, síndrome do pânico, síndrome de
burnout, entre outros) que estão relacionados aos processos de
trabalho, seguido das questões relativas à saúde vocal que também têm
aparecido constantemente nos atendimentos realizados pelo serviço.
Um dado relevante que nos despertou interesse sobre essa temática do
adoecimento psíquico dos servidores é que no ano de 2019, entre
outras demandas de trabalho realizadas pelo Nas, os atendimentos
individuais 86 (100%), 49 (57%), foram casos relacionados ao
adoecimento psíquico. O profissional da educação, na perspectiva

753
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

destes tempos de inovações, acessibilidade a diversos códigos e


tecnologias variadas, tem se esforçado para corresponder aos
determinantes do mundo do trabalho, levando em consideração um
fator levantado como parte da realidade de adoecimento é a
intensificação do trabalho docente. Percebe-se que as atribuições dos
professores não se restringem à sala de aula, esse profissional também
deve estar em constante relação com a comunidade (escolar e
extramuros), participar da gestão da escola, do planejamento do projeto
pedagógico, de conselhos, dentre outras tarefas. A adequação a este
modelo exige, a rigor, adaptabilidade de instrumentos e equipamentos
que não correspondem à necessidade física e, tampouco, psicológica.
Essa possibilidade de intervenção tem propiciado aos servidores serem
atendidos em suas demandas no que concerne ao tratamento e
acompanhamento de um adoecimento que possa está relacionado ao
ambiente de trabalho. O fato do servidor saber que pode ser acolhido
dentro do próprio ambiente de trabalho já o possibilita um maior
entendimento da importância que vem a ser esse espaço qualificado de
suporte inicial que acaba possibilitando novas estratégias no cuidado
com a sua saúde mental.

754
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O uso da arte como recurso terapêutico na prática grupal

Alessandra da Silva Figueiredo


Isabel Bernardes Ferreira
Diana Ramos de Oliveira Santos
Gabriela Agnello Martinez
Universidade de São Paulo

A Política Nacional de Humanização (PNH), criada em 2003 com o


objetivo de consolidar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no
cotidiano dos serviços de saúde, traz como uma de suas propostas a
produção de autonomia e protagonismo dos sujeitos, bem como o
incentivo da comunicação transversal como uma forma de
enfrentamento das relações de poder. A construção da autonomia dos
sujeitos nos processos de produção de saúde, reconhece no outro a
capacidade de se autogovernar, o que representa uma aposta nas
potencialidades, no protagonismo e na corresponsabilização do cuidado.
Para tanto, é de fundamental importância que os projetos de
intervenção direcionados para pessoas que estão fazendo uso
prejudicial de substâncias psicoativas, à exemplos das atividades
grupais, atuem como nutriente para a expressão da subjetividade dos
sujeitos. O uso da arte como recurso terapêutico pode contribuir no
processo de construção da autonomia e corresponsabilização do
cuidado, a partir do ato de fazer, refletir e elaborar insights, podendo
proporcionar a ressignificação de padrões de pensamentos, o
autoconhecimento e a reflexão sobre os múltiplos fatores que podem
estar envolvidos no uso de substâncias. O presente trabalho trata de um
relato de experiência, portanto, um estudo descritivo e de natureza
qualitativa. A experiência aqui retratada, aconteceu em uma enfermaria
psiquiátrica para pessoas com uso problemático de álcool e outras
drogas, que compõe um dos campos de prática do programa Residência
Multiprofissional Saúde Mental com Ênfase em Dependência Química. A
arte foi escolhida como instrumento de cuidado para o trabalho com

755
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

experiências grupais, utilizando, prioritariamente, recursos manuais e


expressivos como o desenho, pintura e colagem. A partir da observação,
as residentes identificaram que as atividades propostas, até o momento,
tinham como objetivo a suspensão do uso de substâncias psicoativas ,
sendo pouco explorado outros âmbitos da vida dessas pessoas, como a
criatividade, reflexão acerca dos processos nos quais estes estavam
imersos e aspectos que poderiam ser relevantes no processo do uso de
substâncias. Diante deste quadro, percebeu-se a necessidade de se
utilizar outra abordagem, entendendo que a função adaptativa e
normatizadora do comportamento pode não corroborar com o princípio
de autonomia e protagonismo do sujeito. A partir das experiências
vividas, as residentes identificaram que o trabalho com grupos,
utilizando a arte como mediadora, poderia oferecer espaço para que os
participantes pudessem explorar o processo criativo, reconhecendo-se
como sujeitos construtores de si próprios e a possibilidade do diálogo
entre os atores envolvidos numa dinâmica relacional, proporcionando
diferentes formas de contato com o mundo, interno e externo,
integrando o pensar e o sentir. Desse modo, a vivência experienciada foi
enriquecedora, pois na construção e execução do projeto, partilhamos
conhecimentos específicos de cada área, possibilitando atuar de
maneira interprofissional, ampliando o espectro de conhecimento e
construindo possibilidades de cuidado que pudessem ofertar espaço de
produção de corresponsabilização e autonomia pelos sujeitos, tornando
o processo de cuidado emancipado.

756
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O uso das redes sociais como estratégia terapêutica para o cuidado de


moradores de Serviços Residenciais Terapêuticos no contexto da
pandemia da COVID-19

Vitor Nieri
Livia Prado Muniz
Prefeitura Salto de Pirapora

Introdução: A pandemia da COVID-19 impôs vários desafios para a


Saúde Pública, seja na criação de estratégias de enfrentamento ao vírus,
seja no manejo das implicações sociais, econômicas e psíquicas
relacionadas à necessidade de isolamento social. Ao seguir
recomendações das autoridades sanitárias, visando evitar
aglomerações, os atendimentos grupais deste Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) foram suspensos. Nesta reorganização dos fluxos de
trabalho, optou-se por manter o acolhimento de novos casos,
atendimento à crise, reunião de equipe, atendimento individual de
pacientes graves e acompanhamento de moradores de Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRT). Descrição da experiência: A equipe do
CAPS foi convocada por diversas demandas novas, dentre elas a
reinvenção das práticas de cuidado dos moradores de SRTs. Como fazem
parte do grupo de risco para agravamento da COVID-19, o isolamento
social de todos foi necessário. Tais moradores que, após a saída de
hospitais psiquiátricos, frequentavam o CAPS semanalmente e
circulavam pelo território, se viram novamente cercados e limitados por
muros. Com a suspensão dos encontros presenciais regulares, os
profissionais questionaram-se sobre como manter o vínculo e o cuidado
destes pacientes. A estratégia escolhida considerou que dentre os
grupos de maior adesão de moradores de SRTs destacava-se o grupo de
música e expressão corporal. Assim, em Maio/2020, este grupo foi
retomado em formato on-line, no qual os profissionais (profissional de
educação física, psicóloga e terapeuta ocupacional) fazem transmissões
ao vivo através de uma rede social. Com a ajuda de trabalhadores dos 4

757
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

SRTs do município, a transmissão do grupo é projetada na TV das casas.


A interação entre os coordenadores do grupo e os moradores se dá a
partir de comentários no próprio vídeo e através de aplicativos de
mensagens instantâneas. Desta forma é possível que peçam músicas,
tenham seus pedidos reconhecidos e, com isso, mantenham-se
vinculados aos profissionais. Outra experiência de uso de redes sociais
como estratégia terapêutica foi a criação de um grupo on-line de
exercício físico, cujo objetivo era combater o sedentarismo
potencializado pelo isolamento social. As atividades propostas
continham movimentos corporais simples, com foco na manutenção da
força e da mobilidade, executados com auxílio de cadeira e cabo de
vassoura. Este grupo não obteve o mesmo engajamento do grupo de
música e expressão corporal, sendo encerrado após três meses de
atividade. Na avaliação dos profissionais, a pouca adesão pode estar
relacionada à dificuldade de sensibilizar seu público-alvo da importância
das atividades propostas e de mantê-los motivados. Repercussões: As
experiências do uso de redes sociais contribuíram para a sustentação do
vínculo profissionais-pacientes, tão importantes no processo de
desinstitucionalização. Além disso, alguns moradores de SRTs se
inseriram no mundo on-line pela primeira vez, criando perfis nas redes
sociais e entendendo um pouco melhor o que a internet oferece.
Considerações finais: As ações on-line se mostraram potentes para a
promoção de saúde mental, o que esteve alinhado ao entendimento da
equipe deste CAPS de que suas ações precisavam continuar sendo
pautadas pelo paradigma psicossocial, não podendo se tornar, ainda que
momentaneamente, restritas à medicação.

758
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Obá, a guerreira mulher

Ligia Ribeiro Ferreira


Universidade Federal de Pernambuco

As reflexões aqui presentes ocorreram como fruto do Estágio


obrigatório em Psicologia na UFPE, realizado num hospital-dia, serviço
de saúde mental de caráter semiaberto, concluído em 2019. A
instituição, fortalecida pelo aporte teórico de Jung e da Arteterapia,
estimula o trabalho com recursos terapêuticos diversos, além da fala.
Jung compreendia a expressão artística como potencial organizador e
recurso para acessar conteúdos inconscientes (COQUEIRO, VIEIRA e
FREITAS, 2010). Como coterapeuta do grupo de atenção às
dependências, realizei uma intervenção junto à psicóloga, utilizando o
barro como material expressivo. Os usuários eram recebidos na sala e a
eles eram ofertados pequenos pedaços de barro. Assim como propõe
Cirani (2010), convidamos os participantes do grupo a mexer no barro,
amassando-o, alisando-o, batendo, modelando, mas sem
necessariamente ter o propósito de construir alguma forma.
Neste relato, será enfocada a experiência de uma das usuárias, aqui
chamada de Obá (nome fictício), que participou de 4 encontros. Obá é
uma mulher negra, que então tinha 56 anos, cuja religião é o
candomblé, aposentada – ex técnica de enfermagem. É casada há mais
de 30 anos e mãe de 3 filhos. Faz uso abusivo de álcool desde que
descobriu um caso extraconjugal do marido, há cerca de 15 anos.
A partir das imagens produzidas por Obá no barro, foi possível traçar
relações acerca de elementos de sua vida e de seu adoecimento, tais
como a centralidade do marido em sua vida, evidenciada e deslocada de
forma concreta através do barro; o sentimento de cronicidade
presentificada em sua fala e seu corpo, na qual o barro atuou como
convite ao movimento; e também o sentimento de dualidade, e até
polaridade, compreendido como uma dificuldade de integração, em que
o barro se mostrou como possibilidade de liga e aterramento.

759
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Percebe-se que os materiais expressivos atuam como recursos além das


palavras, o que traz um novo meio de comunicar-se e mostrar-se. As
imagens surgem, e por vezes não parecem fazer sentido, mas seu
potencial de comunicação está presente. Através da elaboração
intelectual e afetiva dessas, elas podem ser, aos poucos, integradas ao
consciente (JUNG, 2011). Desenrola-se um processo de dupla
transformação: o eu e o material, através da promoção de encontros,
desencontros e reencontros necessários, para que haja a reintegração
do indivíduo no âmbito da saúde mental (BUCHO, 2016). E o barro, em
toda sua potência primitiva, convida ao toque sensível e criativo,
“tocando a alma daquele que o toca com as mãos” (CIRANI, 2010, p. 33).

760
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Obstáculos no Tratamento e Acompanhamento em Saúde da


População Socialmente Vulnerável

Arthur dos Santos Sena


Carina Gleice Tabosa Quixabeira
Universidade Federal de Pernambuco

Maria Eduarda Valadares Santos Lins


Universidade Católica de Pernambuco

Introdução: A vulnerabilidade social atinge uma boa parte da população


do Brasil. Ela é composta por diversos fatores, como a precariedade no
acesso à renda, fragilidade dos vínculos e desigualdades de acesso a
bens e serviços públicos. A população em situação de rua enquadra-se
nessa realidade e estão sujeitos a uma variedade de problemas
socioeconômicos e relacionados a saúde, como a violência.
Descrição da Experiência: A instituição sem fins lucrativos, chamada
Samaritanos, na cidade do Recife em Pernambuco, tem ações de oferta
de alimentos, atendimento médico e jurídico com a população de rua.
Nas atividades semanais, o Samaritanos atende cerca de 300 pessoas
em situação de rua. Desses indivíduos, muitos apresentam problemas de
saúde seja orgânico ou mental, geralmente causado por violência. Um
paciente, do sexo masculino, adulto jovem, sofreu uma queimadura
extensa diante do contexto de violência presente na população de rua. A
lesão atingiu principalmente a região do tórax e os membros superiores.
O paciente se recusava em procurar pronto atendimento pelo medo do
agressor encontrá-lo e cometer homicídio contra ele. Nos atendimentos
semanais pela comissão de saúde do Samaritanos, era realizado
orientações, curativo e entregue material e medicamentos para manejo
da lesão diária. Evoluiu para infecção de pele e o paciente sempre
referia bastante dor, além da angústia com a possibilidade de sofrer
uma nova violência. A equipe, portanto, abordou o controle de danos,
diante da impossibilidade de ele aceitar internamento, o que seria ideal

761
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

na sua condição para tratamento adequado. Inicialmente, seu


prognóstico não era favorável, existia uma preocupação muito séria em
relação à desidratação e infecção, mas com as medidas tomadas de
antibioticoterapia e cuidados possíveis com a lesão, foi possível em três
semanas, observar a melhora do quadro. Através de consultas com
psicologia semanais nas ações, foi possível também abordar a saúde
mental do paciente, para que ele pudesse conviver melhor com suas
aflições.
Repercussões e Considerações Finais: O risco de óbito por complicações
de queimaduras é uma realidade, principalmente sem cuidados
adequados para tal condição, as quais são situações frequentes
observadas em pessoas moradoras de rua. Por isso, a rede de apoio e
suporte para eles fazem a diferença, assim como consultórios de rua e
outras entidades junto com as políticas públicas, mesmo que não
consigam buscar atendimento nas unidades de saúde.

762
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina de Beleza- no protagonismo e autonomia pessoal

Viviane Pinto de Carvalho


Rosinea Rodrigues de Oliveira
Regina Lúcia Ruiz Del Pino
Jessica Estefania Leonel de Souza Pinto
Prefeitura Municipal de Resende - RJ

Considerando que as oficinas terapêuticas são reconhecidas como uma


pratica da clínica contemporânea, conforme Dalmaso et al (2011). Que
consideram importante esclarecer os objetivos das oficinas, pois estão
intimamente ligadas a outro paradigma que também ampara a Reforma
Psiquiátrica no Brasil: a reabilitação psicossocial. Sob esse olhar a oficina
terapêutica seria um dispositivo privilegiado para atingir o objetivo de
um projeto terapêutico singular produtor de cidadania. O presente
trabalho trata de um relato de experiência com origem nas vivências e
observações, realizadas dentro de uma oficina terapêutica direcionada
ao auto cuidado do usuário, em um centro de atenção psicossocial
(CAPS casa aberta), localizado na Vila Julieta no município de Resende. A
construção desse relato teve origem interdisciplinar, que possibilitou a
troca de percepções com as participações de 2 psicólogas, uma
terapeuta ocupacional e uma oficineira da equipe técnica, durante o
período de 7 meses, foram realizadas oficinas quinzenais ,com uma
participação média de 12 usuários de ambos os sexos e diferentes faixas
etárias. Inicialmente foi realizado um evento voltado para a estética
despertando assim nos participantes, a volição que conforme Pinto
(2011) e um dos pontos chaves para o desenvolvimento de habilidades e
faz com que se alcance o desejo de sentirem-se melhor, mais
valorizados, com liberdade de fazer escolhas e também foi disparador
para o tema: "O QUE É A BELEZA?". A posteriori introduzimos temas
norteadores, dentro do eixo beleza, esses temas abordaram o auto
cuidado a higiene oral, cuidados com a pele, cabelos, unhas e a
estimulação da percepção da beleza de uma forma mais abrangente

763
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

para além do caráter estético e sim no sentido do olhar a si mesmo com


sentimentos de orgulho, êxtase, admiração e prazer despertos. E assim
observamos em alguns dos participantes uma mudança
comportamental significativa, geradora de auto cuidado e
potencializadora. Concluímos que essa experiência, trouxe não apenas
aos usuários, bem como aos técnicos envolvidos a importância de
práticas promotoras de autocuidado e integração equipe e usuários.

764
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina de geração de renda em um CAPS Ad: um relato de experiência

Maíra dos Santos Rodrigues


IMIP

Daniella França Martins Falcão


Centro de Atenção Psicossocial AD Estação Vicente Araújo

Anna de Cássia Pessôa de Lima


Nataly Regina da Silva
SESAU

O trabalho ocupa um papel central na nossa sociedade atual, se


tornando parte da identidade individual, e assim interferindo nas
interações e representações sociais de determinados indivíduos.
Atualmente, o acesso de usuários a vida produtiva se caracteriza como
um dos desafios da intervenção em saúde mental. Se tratando da
reabilitação psicossocial e considerando seu processo facilitador da
restauração da autonomia de indivíduos e sua função social em seu
território e comunidade, o trabalho se caracteriza como um espaço de
potencial de intervenção, objetivando a inclusão e pertencimento social,
assim como a melhora na qualidade de vida de acesso à cidadania e
renda. Uma oficina de geração de renda foi realizada em um Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS Ad) na cidade do
Recife. A oficina foi coordenada por uma terapeuta ocupacional
residente da Rede de Atenção Psicossocial da cidade do Recife, e teve
como colaboradores demais residentes e uma terapeuta ocupacional do
serviço. Foram realizados cinco encontros, durante duas semanas, tendo
como produto final cachepôs feitos a partir de palitos de picolé, com o
objetivo se serem vendidos na festa de 15 anos do CAPS Ad. Seis
usuários demonstraram o interesse de participar da oficina, entretanto,
obteve-se uma média de três usuários por encontro, ocorrendo faltas e
desistências, consequentes de dificuldades no processo do tratamento.

765
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Foram produzidos 12 cachepôs ao final dos encontros. Os usuários


participaram ativamente da montagem do espaço de venda, assim como
na promoção e venda dos produtos. Todos os produtos realizados foram
vendidos no espaço da festa. Parte do lucro foi separado para a compra
de novos materiais e outra parte foi dividida entre os participantes
assíduos dos encontros. Após a festa, a oficina recebeu encomendas
vindas tanto de profissionais do serviço quanto de pessoas da
comunidade. Entretanto, apenas um usuário demonstrou interesse em
dar continuidade as encomendas. Este usuário finalizou as encomendas
e utilizou o dinheiro arrecado para dar início a produção fora da oficina
no CAPS, e continuou realizando o produto, inovando na decoração, e
vendendo em sua comunidade. A oficina teve um período curto de
duração e contou com uma pequena parcela de usuários, entretanto
teve sua proposta sucedida. As dificuldades encontradas na realização e
engajamento dos encontros serviu para a reflexão do projeto
terapêutico singular dos usuários participantes, assim como para a
intervenção dos profissionais do serviço. Os usuários assíduos
demonstraram envolvimento e satisfação com o produto e as vendas
finais. Além disso, a oficina possibilitou a inserção significativa de
trabalho e renda para um usuário em seu território.

766
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina de Mosaico: Potentes Encontros entre Arte e Geração de Renda


em Centro de Convivência e Cultura

Elaine Aparecida Borges Santana Eugênio


Rosimár Alves Querino
Universidade Federal de Uberlândia

Juliana Martins Watanabe


Lígia Pedrosa dos Santos
Centro de Convivência e Cultura - SM

O atual modelo de atenção psicossocial brasileiro envolve um conjunto


de saberes e práticas que devem ser coordenados de maneira contínua
e consistente, sustentado pelos direitos das pessoas em sofrimento
psíquico e superação de estigmas. Neste contexto, o Centro de
Convivência e Cultura (CECO) é um dos pontos estratégicos da Rede de
Atenção Psicossocial, capaz de contribuir na inserção comunitária, na
elaboração de parcerias intersetoriais e na construção de um novo lugar
para a loucura. A arte, a cultura, o lazer, o esporte e a geração de renda
são dispositivos de cuidado presentes no CECO. A Oficina de Mosaico
“(Re) juntando Cacos, Criando Laços” perpassa a histórica do CECO de
Uberlândia-MG e é o foco deste relato de experiência. O mosaico é
considerado uma arte antiga atualizada enquanto possibilidade
sustentável e, também, como iniciativa de geração de renda. A oficina
foi criada, em maio de 2006, como estratégia de inserção dos usuários
em espaços da comunidade, voltada para a facilitação dos vínculos e
cuidado nos territórios. Desenvolveu-se após visita guiada em um
parque municipal com os usuários quando entramos em contato com a
atividade de mosaico que acontecia no local. O mosaico compunha um
projeto que incluía reciclagem, sustentabilidade e educação ambiental
com reutilização de materiais da construção civil doados pela população.
A existência de um ponto de ônibus na entrada do parque foi um
facilitador de acesso, pois cada usuário se deslocava de modo autônomo

767
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de seu domicílio até o local. A postura acolhedora dos funcionários e o


ambiente agradável contribuíram para a inserção de usuários na oficina.
Após algum tempo, essa atividade se ampliou para além do ambiente do
parque como um caminho para o fortalecimento da Associação dos
Usuários da Saúde Mental de Uberlândia (ADUSMU). Um braço da
atividade se deslocou para a sede da ADUSMU com o propósito de se
firmar como geração de renda, continuando o caráter instrutivo inicial
no parque. Atualmente, a Oficina de Mosaico acontece no CECO com
uma frequência semanal. Os instrutores são os próprios participantes
que desenvolveram habilidades técnicas ao longo das oficinas. O
material produzido é comercializado por encomenda ou em feiras e
exposições. O valor obtido é revertido ao artesão e parte para a
manutenção da oficina. Essa atividade propiciou a aproximação com
elementos da economia solidária e participação em editais como o
Projeto de Arte, Cultura e Renda na Saúde Mental. Ao longo dos anos, a
oficina tem viabilizado ações intersetoriais e expansão dos espaços de
convivência dos usuários por meio de sua produção artística. O CECO
tem se consolidado como articulador dos diversos sujeitos sociais
favorecendo a reabilitação psicossocial na continuidade do projeto de
vida dos usuários da Saúde Mental.

768
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina do Discurso: a experiência de uma oficina terapêutica

Renata Patricia Forain de Valentim


Rejane Ribeiro
Vivian Nunes
UERJ

As oficinas terapêuticas são um dos principais dispositivos de atenção e


cuidado oferecidos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Preconizadas pelo Ministério da Saúde como parte das estratégias de
desinstitucionalização, as oficinas terapêuticas buscam promover
atividades de interação e socialização como formas de organização do
cotidiano. Entretanto, apesar de bastante diversificada, a formação
acadêmica em Psicologia poucas vezes oferece a oportunidade de
realizar projetos de extensão tendo como objeto as oficinas e as práticas
alternativas de cuidado e promoção de saúde mental. Neste trabalho
busca-se relatar a experiência da oficina terapêutica realizada por
discentes do curso de Psicologia da UERJ no projeto de extensão
“Oficina do Discurso”, realizado no Centro de Convivência Travessia com
internos das enfermarias masculinas e femininas do Instituto Municipal
Nise da Silveira. As oficinas eram elaboradas pelo grupo em reuniões
semanais prévias e executadas semanalmente em encontros com
duração de duas horas cada e tinham como objetivo estimular, através
de meios textuais ou não, discussões acerca dos lugares institucionais e
subjetivos trazidos pelos participantes. Contavam com a média de 9
participantes por sessão, 6 femininos e 3 masculinos. Alguns usuários
não internados participavam regularmente. Os aprendizados advindos
da práticas são inúmeros, mas a capacidade de sustentação que se
desenvolve ao longo da execução das oficinas e trocas de experiências,
tanto com os usuários quanto com os outros alunos e profissionais, é
algo que extrapola a possibilidade de aprendizado dos saberes teóricos,
contribuindo para um olhar mais aprimorado na relação do cuidado com
o outro, despertando-se uma visão dos detalhes que são expostos pelos

769
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

clientes do Caps, como suas expressões corporais, e a própria


desenvoltura na realização das oficinas. Espera-se que este trabalho
contribua para o estímulo e incentivo à práticas de extensão a outros
alunos da graduação, bem como ao encorajamento dos profissionais da
saúde mental para acolher estas atividades, mantendo, através de seu
exercício uma valorização dos princípios da reforma psiquiátrica e dos
usuários dos serviços.

770
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina dos Sonhos: o manejo da experiência onírica em grupo com


usuários de álcool e outras drogas

Thayna Teixeira Farias


Universidade Estácio de Sá

Maycon Rodrigo da Silveira Torres


UFF

Karina Bermudez
FIOCRUZ

Introdução: A interpretação dos sonhos é uma prática diretamente


associada à psicanálise e psicoterapia. A proposta de investigar o desejo
que anima a produção onírica tem grande importância nas práticas
psicoterapêuticas. A ampliação dos estudos indica como função
fundamental dos sonhos preparar o indivíduo no processo de resolução
de problemas e desafios da vida desperta. O uso de drogas pode evocar
experiências do campo onírico ou influenciarem na qualidade do sono e
dos sonhos.
Objetivo: O objetivo deste trabalho é discutir os elementos que surgem
no processo de compartilhamento das experiências oníricas de usuários
de droga em internação psiquiátrica. O contexto da abstinência da droga
de escolha e a restrição de liberdade individual podem influenciar no
conteúdo. A experiência de ansiedade e angústia se manifestam através
de pesadelos com situações que envolvem o uso de drogas, servindo
como analisador para a experiência singular do sujeito e da inserção
institucional.
Relato da Experiência: A Oficina é coordenada pelos autores do trabalho
e acontecem semanalmente no espaço de convivência do setor. É uma
atividade coletiva facultativa e aberta. O foco principal é promover a
circulação da palavra entre os usuários, com intuito de produção
coletiva para a experiência onírica e seu potencial de abertura de

771
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sentidos tanto da experiência individual quanto coletiva. Entende-se o


sonho como índice do desejo e o desejo é atravessado pelas relações
interpessoais, sociais, familiares, institucionais. Como atividade
complementar, são oferecidos aos usuários insumos para a produção
artística de escrita e desenho a partir da discussão sobre a produção
onírica. Após o grupo, é feito o relato com a anuência dos usuários para
registro institucional e em prontuário. As artes são guardadas de acordo
com a vontade do usuário. Estes registros são as fontes primárias para
elaboração deste trabalho.
Consequências: As primeiras impressões do grupo indicam que
espontaneamente os usuários sem histórico de tratamento
psicoterapêutico tendem a desvalorizar o registro dos sonhos e
priorizam os pesadelos como índice de ansiedade a ser relatada aos
médicos. Alguns destes pesadelos referem ao uso de drogas: ou
encontram-se nas situações de uso ou estão presentes a usar e acordam
sobressaltados. Isto costuma ser interpretado como grau de
comprometimento com o tratamento, não necessariamente como ideal
de abstinência. O elemento de espiritualidade surge como forma de
interpretar o sofrimento e a construção de planos de vida. Outro fator
digno de nota é o surgimento da experiência de aprisionamento, que
pode ser interpretado como uma crítica à estrutura de restrição de
liberdade da internação psiquiátrica, ou seja, iatrogenia.
Considerações finais: O caráter aleatório ou enigmático envolvido na
experiência onírica demonstra ter importante potencial terapêutico no
contexto da atenção psicossocial. O estímulo da atenção voltada para a
singularidade é uma ferramenta de autocuidado tanto no contexto do
tratamento temporário durante maior fragilidade que leva à internação,
quanto no acompanhamento a longo prazo nos dispositivos territoriais.
Este cuidado de si se articula com o cuidado do outro, uma vez que o
grupo incentiva a coletividade pela circulação da palavra e a significação
entre vários.

772
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina expressiva no CAPS EAT Severino dos Santos: dispositivo para a


desinstitucionalização

Angelina Costa Baron


Renata Patricia Forain de Valentim
Mariah da Silva Martins
Tamiris Rejane Moreira Freitas
Gabriela Meireles Macedo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Este trabalho tem por finalidade discorrer sobre a Oficina do Discurso,


oficina terapêutica desenvolvida desde 2017 com clientes do CAPS EAT
Severino dos Santos, e atualmente interrompida devido à pandemia da
Covid-19. Tem como referenciais teóricos e práticos os princípios da
Reforma Psiquiátrica, que pressupõe as oficinas terapêuticas como um
dos elementos organizadores do cotidiano nos CAPS; e a intervenção
cartográfica, que pensa a realidade como uma composição de planos
heterogêneos, processos de produção e redes de agenciamentos que se
constroem ininterruptamente, nas situações cotidianas vividas e na
diversidade das atuações micropolíticas. A oficina estabelece uma forma
de intervenção com atividades variadas, que têm como objetivo
possibilitar a emergência de experiências singulares e coletivas de
significação do real. Os encontros aconteciam semanalmente, reuniam
cerca de quatorze participantes, entre alunas e frequentadores, e
dividiam-se em três momentos básicos: primeiramente realizava-se uma
atividade de aquecimento, onde era trabalhado o corpo e sua relação
com o entorno. Depois, vinha a atividade central, relacionada a temas
mais abrangentes e posteriormente trabalhados ao longo de outros
encontros. Para tanto, diversas ferramentas foram utilizadas: produção
de teatro e esquetes, música, pintura, máscaras, jornais. Era ainda
aberta uma roda de conversa para discutir sobre a compreensão que
cada um construiu acerca destes temas, que situações vividas foram
suscitadas e como gostaria de exercitá-lo ao longo dos encontros. Por

773
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

fim, realizava-se uma atividade de integração e relaxamento. Durante o


primeiro ano de oficinas foi trabalhado o tema "Instituição Psiquiátrica",
representada através de diversas técnicas que buscaram alcançar o
trajeto das internações dos frequentadores; a diversidade de
tratamentos a que foram submetidos; a forma como as internações
afetaram suas vidas e a relação que eles estabeleciam atualmente com o
EAT. Neste período foram produzidos desenhos, músicas, máscaras, que
serviram como base para a produção de uma peça teatral. A partir de
2018, em função das eleições presidenciais e dos debates deflagrados
desde então, as discussões no grupo circularam em torno das políticas
do governo para a saúde mental e das ameaças à luta antimanicomial. O
debate ampliou-se também para demais temáticas que atravessam o
corpo social, como o racismo, gênero e sexualidade, assuntos esses
trabalhados por meio de esquetes, peças teatrais e rodas de conversa. O
trabalho trouxe resultados positivos a todos os participantes implicados,
colocando em processo e desestabilizando as formas estratificadas de
relação com a loucura, promovendo, assim, novos campos de
enunciação. Os frequentadores encontram um lugar de encenação de
suas dificuldades cotidianas e espaço de construção de sentido para
suas experiências, enquanto as alunas vislumbram uma oportunidade de
conhecer as formas de atendimento oferecidas no campo da saúde
mental.

774
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina histórias brincantes: tecendo processos de cuidado na saúde


mental infantil

Rosana Ferreira Rodriguez


HCPA

O CAPSi Supimpa faz parte da Rede de Atenção Psicossocial do


município de Porto Alegre, tendo como população alvo crianças e
adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes, com até 18
anos de idade. Os atendimentos são realizados por equipe
multiprofissional, com intervenções em grupos, oficinas e atendimentos
individuais. Partindo da concepção de que o direito de brincar está
assegurado na Constituição Federal de 1988 e adquire grande
importância para a formação social e pessoal das crianças. Assim como,
no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº8.069 de 1990, em
seu artigo 16, estabelece o direito a “brincar, praticar esportes e
divertir-se”, foi construída a oficina Histórias Brincantes, enquanto
ferramenta de intervenção em saúde mental através do
desenvolvimento de atividades lúdicas, com a contação e criação de
histórias. Dessa forma, a oficina tem como objetivos: proporcionar um
espaço de acolhimento para as crianças; estimular a criatividade e
expressividade através do lúdico; contribuir com o desenvolvimento de
práticas pedagógicas e inclusivas; reconhecer e intervir nas expressões
da questão social das crianças participantes do grupo estimular laços de
cooperação e afetividade entre os participantes. A oficina é estruturada
por três etapas, iniciando-se com a contação de história de forma lúdica,
seja através da leitura do livro, audiovisual, teatro, ou processos
coletivos de criação de histórias. Na etapa seguinte construímos
personagens da história com materiais recicláveis e/ou com fantasias
disponíveis no serviço, posteriormente são realizadas brincadeiras
vinculadas a temática da história apresentada. A oficina é ministrada
pela assistente social da instituição, em conjunto com o estagiário de
Serviço Social e a técnica de enfermagem, a partir do planejamento

775
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

prévio das atividades a serem desenvolvidas. No espaço físico da


atividade e houve a necessidade de reformulação do local, para
propiciar as crianças um ambiente acolhedor, confortável e de
promoção da criatividade por meio da ludicidade, com a utilização de
colchonetes, almofadas, bonecas (os) de pano e caixas com livros para o
estímulo da aprendizagem e leitura. A partir da análise e discussões das
oficinas realizadas, observou-se que as intervenções propiciaram as
crianças participantes o desejo da leitura, ampliação do aprendizado,
criatividade, expressões, ampliação da autoestima das crianças e o
desenvolvimento de vínculo entre as crianças e com a equipe
multiprofissional que faz a atividade. Portanto, as intervenções
realizadas através da oficina histórias brincantes, se constitui como um
importante espaço de cuidado, através do acolhimento, vínculo,
reconhecimento da realidade vivenciada pelas crianças, emergindo
demandas e necessidades que possibilitam qualificar as intervenções
executadas pela equipe multiprofissional do CAPSi em conjunto com
rede psicossocial, tendo em vista a promoção da saúde e garantia de
direitos na infância.

776
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficina “Quem não se comunica se ‘estrumbica’”: a vez e a voz do


sujeito

Elaine Herrero
Ruth Ramalho Ruivo Palladino
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Marcel de Lima Marigo


Cecília Pelegrino de Oliveira Faxina
Centro de Convivência e Cooperativa - CECCO Trote - PMSP

Introdução: O ser humano é um ser essencialmente da linguagem. Ela é


ponto de origem e sustento da subjetividade, opera a mediação
estrutural das relações intersubjetivas, está na base da cultura, modula
o conhecimento. É por meio da linguagem que afetamos e somos
afetado pelo outro, no sentido que somos sempre convocados em nossa
posição subjetiva, convocados a nos apresentar via posições discursivas.
Desse modo, oferecer espaços mobilizadores de linguagem dentro do
CECCO (Centro de Convivência e Cooperativa), como as Oficinas de
Linguagem, é uma estratégia que concorre para o não adoecimento
mental e promoção de saúde. Contribui na construção de novas
possibilidades e condições de vida para usuários do serviço e seus
familiares, pois se constitui um espaço de ampliação do repertório
comunicativo e expressivo, de convívio e sustentação das diferenças na
comunidade, de ampliação e construção de laços, de empoderamento e
inclusão social.

Descrição da Experiência: A oficina foi criada em 2017 em um CECCO da


Cidade de São Paulo e estruturada de uma maneira que propusesse aos
frequentadores a possibilidade de lidar com a palavra de uma maneira
criativa. Seu título: “Quem não se comunica se ‘estrumbica’” é um
neologismo que faz alusão ao bordão do comunicador Chacrinha que
sintetizava sua presença irreverente e criativa nos meios de

777
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

comunicação de massa. Cada atração de seu programa era um convite


ao improviso, à irreverência. Era um espaço para a descontração, o
inusitado, a alegria. A “frase título” convoca os frequentadores, os atrai
e os instiga a descobrir um “que fazer” na oficina. Abre-se espaço para a
criação. Ela é destinada ao público em geral, de todas as idades, com ou
sem transtornos mentais, pessoas com deficiência ou em situação de
vulnerabilidade sem restrições de participação para que se garanta o
encontro na heterogeneidade. A oficina é conduzida por três
profissionais, um fonoaudiólogo e dois psicólogos, que fazem
intervenções e proposições de atividades cujo produto final é a
elaboração de uma narrativa, um texto ou uma mensagem. A cada
semana é trabalhada uma forma de linguagem (jogos de improviso,
Corpo em Movimento, jogos teatrais, contação de Histórias, elaboração
de histórias, desenho, escrita), porém, cada encontro tem uma dinâmica
comum e as tarefas seguem uma ritualidade para que se garanta a
constância e o cuidado, propiciando um ambiente que suscite conforto,
aconchego e previsibilidade, num jogo entre o familiar e o imprevisível.
Esses fatores favorecem o desenvolvimento da saúde mental do
indivíduo. São utilizados diversos recursos materiais artísticos e
audiovisuais.
Repercussões: Os participantes relatam mudanças em seu modo de
interagir com os outros, sobretudo com seus familiares. Relatam uma
atenção maior para com o outro, expansão em suas relações
interpessoais, mudanças em suas atitudes, afeto e bem estar.
Considerações Finais: A construção coletiva da palavra permite que os
sujeitos se descubram potentes falantes e escritores, tendo vez e voz
por meio da valorização de suas produções. O jogo das interações
permite que os afetos e a palavra circulem e promovam a assunção de
diferentes posições discursivas, subjetivas e protagonismo social.

778
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficinas culinárias como instrumento promotor de autonomia


no CAPS UERJ

Jéssica Maria Pimentel da Silva


Eriane da Silva Bahia
Jéssica Pereira Sampaio
Mayara Silva de Oliveira
Thainá Santana da Silva
Renata da Conceição Silva Chaves
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial atua no tratamento e


melhora da qualidade de vida de indivíduos com transtornos
psiquiátricos através de uma equipe multidisciplinar. Como proposta
terapêutica são realizados atendimentos com dinâmicas em grupo,
tendo atividades integrativas diversificadas, dentre elas, oficinas
terapêuticas. O CAPS UERJ conta com profissionais e estudantes de
nutrição para o desenvolvimento de oficinas culinárias, promovendo
progresso no que diz respeito à autonomia, autoconfiança, criatividade,
reinserção social e expressão da subjetividade. Descrição da experiência:
As oficinas culinárias oferecidas no CAPS UERJ ocorrem semanalmente
sob supervisão da nutricionista e participam em média de 15 usuários
por semana. Tem como objetivo auxiliar no tratamento e favorecer o
desenvolvimento de habilidades culinárias dos usuários participantes,
por meio da elaboração de preparações culinárias doces e salgadas.
Além disso, a oficina culinária faz parte do projeto de geração de renda,
possibilitando que essas preparações sejam vendidas pelos próprios
usuários no interior da Policlínica Piquet Carneiro e a renda obtida seja
dividida entre os participantes. Os eventos de confraternização, como
páscoa, festa junina e aniversários, reúnem os usuários. Uma
comemoração muito aguardada por todos é o natal, onde os usuários
preparam uma ceia natalina, com diversas opções de preparações,
visando compartilhar essa experiência com funcionários e outros

779
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

participantes. Repercussões: São diversos os relatos dos usuários em


relação aos benefícios em participar das oficinas culinárias, contudo,
através de um olhar profissional, a equipe observou o desenvolvimento
de autonomia como principal efeito. No decorrer do tempo, foi possível
presenciar a evolução desses indivíduos, demonstrando cada vez mais
confiança na realização das atividades propostas. Com a implementação
das oficinas culinárias a equipe testemunhou usuários em situação de
rua sendo capazes de preparar receitas básicas dentro de suas
condições. Diferentes usuários relataram se sentir mais confiantes para
cozinhar dentro de casa e para diversificar as preparações do dia a dia,
além do mais, as famílias se mostraram mais seguras em relação a
atuação dos usuários no desenvolvimento de receitas. No que diz
respeito à ceia de natal, os usuários demonstraram independência e
autonomia ao produzir receitas capazes de servir 100 indivíduos. O
mesmo foi observado em situações em que os participantes da oficina
culinária foram solicitados para a produção e venda de seus produtos
em eventos internos e externos. Além disso, as práticas culinárias
possibilitam que os participantes aprimorem seus conhecimentos, de
forma a aplicá-los com o intuito de empreender e fornecer uma renda
extra para a família. Considerações finais: Sendo assim, as oficinas
culinárias são de grande importância para o constante desenvolvimento
da autonomia dos usuários, além de exercitar o senso de
responsabilidade e o trabalho em equipe.

780
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficinas de arte e expressão para a comunidade: aprender o estilo de


vida ser e fazer

Geovanna Fernandes Silva


Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG

Fernanda Nogueira Campos Rizzi


UFU

Introdução: O presente relato de experiência e fruto de um projeto de


extensão universitária vigente em 2019. O projeto entende que a
psicologia quando compreendida como ciência da intersubjetividade
parece restrita à questões individuais, sendo porém, uma visão limitada
deste campo de saber. Seguindo essa lógica, o trabalho se propôs a duas
ações simultâneas: grupos de estudos e oficinas. Mantendo a ideia de
comprometimento profissional com o público que ele visa atender, ou
seja, a lógica de uma formação permanente e responsável, buscando a
coerência e o sentido em suas intervenções.
Em consonância, o projeto propôs a discussão sobre a série de
equívocos e medicalizações errôneas, frente a multiplicidade das
personalidades que se constroem no ambiente social. O que resulta na
psicopatologização de algumas expressões humanas e na classificação
dessas formas de existência, sendo algumas expressões consideradas
normais e outras anormais.
Descrição da experiência: O desenvolvimento do projeto contou com a
construção de espaços democráticos que viabilizassem um lugar de fala
aos participantes, juntamente com o compromisso de assegurar um
ambiente onde os problemas cotidianos, sofrimentos, desejos e
angústias fossem sublimados e expressados através da arte. Para tanto,
foram desenvolvidos grupos de estudos que contaram com
embasamento teórico de clássicos da psicologia relacionados à
personalidade, Jung, Freud, Reich, Rogers, Winnicott e o

781
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

construcionismo, e todos autores foram lidos a partir de seus


atravessamentos históricos e de uma visão crítica e materialista.
Como proposto pela metodologia do trabalho, as atividades
extensionistas (oficinas) foram realizadas posteriormente ao
desenvolvimento dos grupos. As atividades contribuíram para os
objetivos centrais de promoção à saúde mental para a comunidade
acadêmica e não acadêmica, por meio de oficinas de arte. Afinal, a arte
e o manejo de oficinas, visam sobretudo propiciar um espaço de
acolhimento, escuta e envolvimento entre as diversas formas de
cuidado.
Repercussões: A extensionista também se apropriou de formas
dialógicas de atuar e manejar grupos, sempre tendo em vista a
codependência entre a universidade e a comunidade, prática e teoria,
entre a universidade e os conhecimentos não acadêmicos, diminuindo o
vão entre as duas instâncias. Bem como, compartilhar os resultados com
o universo acadêmico posteriormente.
Considerações finais: A intervenção junto à comunidade, justificou-se
através de seu caráter preventivo e embasado criticamente em
conhecimentos prévios de formas de expressão humana. Seguindo essa
lógica intervencionista, o projeto se propôs a acolher essas demandas
com viés interventivo pautado na prevenção de agravos. Ainda que
existisse pouco alcance extensionista em demandas territoriais, e pouco
investimentos financeiros para o funcionamento do projeto, o trabalho
alcançou sua expectativa de formar um grupo capaz de pensar a
diversidade, e promover ações coerentes com a promoção de saúde
mental da forma mais democrática possível.

782
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficinas de arte em ambiente virtual: superando o isolamento social e


construindo pontes para o cuidado - Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM).

Marina Capucci Manffré


Rosimar Alves Querino
Marcella Gonçalves de Laia
Salomão Mendonça de Oliveira
Mariana Costa Roldão Garcia
Marianna de Freitas Rocha Nogueira
Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Camila Bahia Leite


Fundação Gregorio F. Baremblitt

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Maria Boneca de


Uberaba-MG mantém, como um de seus dispositivos de cuidado, as
oficinas de artes. Desde 2019, graças à parceria da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro (UFTM) com o serviço comunitário é realizado o
projeto de extensão (Con) Viver com Arte: espaços de Co-construção de
sujeitos na Saúde Mental. Tal projeto envolve alunos de diferentes
cursos de graduação. Em decorrência da pandemia de COVID-19 e
visando garantir as condições de segurança para usuários e
extensionistas, as oficinas passaram a ser realizadas em ambiente
virtual. O presente trabalho é um relato de experiência que pretende
descrever as oficinas de artes em ambiente virtual e refletir sobre suas
contribuições para o cuidado psicossocial. Descrição: As oficinas de artes
acontecem semanalmente, em ambiente virtual, às terças-feiras a tarde
e possuem duração média de uma hora. Os participantes são:
graduandos de Medicina, de Psicologia e Terapia Ocupacional, a
psicóloga do CAPS como coordenadora e cerca de dez usuários que
frequentam o serviço. Todos os participantes são incentivados a

783
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

produzir com materiais que possuem em casa, criando assim bordados,


pinturas, desenhos, esculturas e poemas como algumas das obras desse
fazer artístico. As obras são desenvolvidas de modo individual,
permeadas por trocas virtuais sobre as mesmas, tanto por fotos, como
por falas nos encontros semanais. Repercussões: É possível afirmar que
a retomada das oficinas em plataforma digital tornou-se uma
ferramenta de suma importância, no que se diz respeito à manutenção
da rede de apoio, tanto para os usuários do serviço como para os
extensionistas. A retomada das atividades após um breve período de
suspensão, nasceu do reconhecimento da importância do vínculo
iniciado presencialmente, além da compreensão da necessidade da
criação de espaços que permitam a expressão e diálogo visando a
melhora da saúde dos sujeitos. A arte se torna um mecanismo de
cuidado permitindo a expressão para além da fala, gerando troca grupal,
algo tão valioso em tempos de distanciamento social. O convite para
realizar exposição em museu mantido pela universidade no período pós-
pandemia tem motivado os participantes na produção artística e no
planejamento do evento. Exposições realizadas em 2019 evidenciaram a
importância destes momentos para a troca dos integrantes da oficina
com a comunidade e para a valorização de suas habilidades. Em tempos
de isolamento e retrocessos na desinstitucionalização, manter as
oficinas é contribuir para o cuidado em liberdade e com ampla inserção
comunitária. Considerações finais: A prática abriu um novo caminho
para o cuidado. O ambiente virtual tornou-se uma ferramenta
necessária para diversos fazeres da vida cotidiana. A experiência tem
demonstrado sua potência no contexto do cuidado em saúde mental.
Estar junto, ainda que não fisicamente, é condição para a manutenção
de vínculos com o serviço, com os extensionistas e profissionais.
Destaca-se as potências das diversas formas de expressão artística para
a valorização dos sujeitos, o reconhecimento da diversidade e a
experiência da alteridade.

784
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Orientação Parental Enquanto Estratégia de Cuidado à


Saúde Mental na Infância

Carolina dos Santos Correia


Mylena Goelzer da Silva
Escola de Saúde Pública do Paraná

Lygia Maria Portugal de Oliveira


Priscila Al Farah
Fabíola Ferreira de Souza
Prefeitura Municipal de Pinhais

Os encaminhamentos mais comuns realizados para crianças e


adolescentes aos serviços de psicologia englobam queixas relacionadas
a problemas de comportamento: agressividade, birras e desobediência
excessiva, além da dificuldade com o manejo de emoções como
irritação, ansiedade e apatia. Indagações a respeito da melhor maneira
de educar os filhos e dúvidas sobre como agir em situações que
envolvem o desenvolvimento infantil foram comumente percebidas em
programa de saúde mental local. Considerando a importância de intervir
em queixas relativas a estes problemas de comportamento e
dificuldades emocionais apresentados por crianças, a equipe de saúde
mental de um município da grande Curitiba optou por desenvolver
intervenções com pais; estas intervenções visam habilitá-los e
instrumentalizá-los a serem mais adequados, afetivos e efetivos na
educação de seus filhos, diminuindo a demanda de atendimento clínico
e aumentando a possibilidade das mudanças adquiridas se
generalizarem e persistirem ao longo do tempo na história de vida
destas famílias.
Este estudo consiste no relato de experiência de uma intervenção em
grupo de orientação parental com objetivos de aumentar o
conhecimento, as habilidades e a confiança dos pais e reduzir a
prevalência de problemas de saúde mental, emocional e

785
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

comportamental nas crianças. Participaram do estudo dezoito


cuidadores de crianças com idade entre quatro e nove anos, atendidas
no centro municipal de especialidades de um município da região
metropolitana de Curitiba. Foram realizadas seis sessões com duração
de uma hora cada, em grupo de orientação parental, conduzidos por
uma psicóloga e uma enfermeira. Além do grupo de orientação parental,
foram ofertadas oficinas de desenvolvimento de habilidades emocionais
com as crianças encaminhadas para o Serviço de Saúde Mental, sob
responsabilidade de outra psicóloga. Enquanto técnica, fez-se uso da
metodologia dos grupos operativos de Pichon Riviere e da perspectiva
da Educação-Não-Formal de Gohn. Os grupos foram temáticos e
adaptados às necessidades e características dos usuários e da
instituição, conforme demandas apresentadas, e teve os seguintes eixos
centrais: educação sexual, direitos humanos básicos e direitos da criança
e do adolescente (ECA), práticas educativas parentais, qualidade na
interação familiar, comunicação não violenta e disciplina positiva.
Intervenções com a abordagem voltada para a família resultam em
mudanças mais efetivas, pois questões abordadas no contexto clínico
poderão ser apoiadas pelos pais para nova aplicação fora de contexto
clínico. Ao trazer os genitores para o processo, deixa-se de
responsabilizar unicamente a criança pelos comportamentos-problema,
e os pais passam a se engajar no processo de mudança e trabalham em
conjunto com a equipe de saúde. Percebeu-se, neste processo, a
necessidade de considerar as especificidades de cada indivíduo e/ou de
cada grupo, não limitando a intervenção a um protocolo, mas buscando
atender as demandas particulares de forma adequada para
efetivamente produzir mudança. Percebeu-se que o atendimento em
grupo trouxe ganhos pessoais e interpessoais aos participantes,
promoveram uma visão mais ampliada sobre a educação de filhos, bem
como melhora na percepção dos genitores sobre a própria
parentalidade.

786
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Os (indígenas) Warao no Brasil: reflexões teóricas sobres as teodiceias


e a legitimação do Sofrimento Social como pedagogia a partir das
considerações de Veena Das

Marcelo Pimentel Abdala-Costa


União Latino-americana de Entidades de Psicologia - ULAPSI

INTRODUÇÃO: O presente trabalho parte de uma reflexão teórica a


partir da perspectiva do autor sobre sua vivência durante um ano em
um abrigo indígena, maioritariamente Warao, no estado de Roraima.
Contextualiza-se, pois, a partir de sua experiência profissional com
povos indígenas, problematizações que criticam as pressuposições sobre
os indígenas Warao a partir do sintagma “indígena-migrante-refugiado”
na condição de abrigamento pelo contexto da migração venezuelana
para o Brasil. Situa-se, pois, a gestão de vidas por organizações
humanitárias religiosas, organizações de governo e exército brasileiro,
que legitimam um determinado tipo de sofrimento como pedagogia, por
meio de uma teodiceia pedagógica (Majewski, 2018).
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O contexto de abrigamento de “indígenas-
migrantes” no Brasil, constitui um desafio para o país. O trabalho
desenvolvido no abrigo indígena no norte do Brasil, traz como reflexão
teórica o despreparo do Estado na atenção à povos culturalmente
diferentes, mesmo os já existentes no País. A atenção aos indígenas
venezuelanos Warao, pelo Estado, reflete, pois, a atenção aos povos
indígenas “brasileiros” de maneira geral e a ausência de políticas
próprias de reconhecimento e de atenção aos distintos povos indígenas
de fronteiras.
Considerando o trabalho desenvolvido pelo autor, deseja-se
problematizar o conceito de “teodiceia”, sistematizado por Leibniz e
atualizado por Das (Das, 1997), como crítica a ideia de naturalização do
sofrimento, por meio de uma lógica teológica de que o sofrimento pode
ensinar os Warao a viver melhor e/ou a desenvolver a compaixão,
através de uma tentativa de conciliar seu modo de vida ao modo de vida

787
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

gerido pelas organizações. A justificativa de porque se é imigrante e/ou


estrangeiro, devendo aceitar o sofrimento que vivem reproduz uma
lógica de destruição de corpos, pessoas e cosmologias (Vieira, 2009),
travestida de ajuda humanitária, crescimento e desenvolvimento com
fins a um alcance maior.
REPERCUSSÕES: O controle por meio da “segurança” exercido pelas
forças do Estado, justificado por uma intervenção humanitária, em um
espaço delimitado geograficamente, visa, pois, controlar os sujeitos,
mudando seus hábitos. De acordo com Veena Das “una orientación
disciplinaria que privilegia lo cotidiano demuestra cómo las instituciones
sociales están profundamente implicadas en dos modos opuestos: por
un lado, el de la producción de sufrimiento y, por otro, el de la creación
de una comunidad moral capaz de lidiar con él” (Das, 1997).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para Das, a teodiceia, como sofrimento
necessário, é deslocada do religioso para o Estado, usando a dor e o
sofrer como base para uma pedagogia em relação á pessoas vitimadas
pela violência. A tentativa de explicar e dar sentido ao sofrimento
humano por um viés religioso, atualizado para o Estado, tendem por
justificar o sofrimento social vivido pelos Warao na condição de
“indígenas-migrantes-refugiados”, em nome da manutenção de uma
coesão social realizada através de práticas disciplinares. As diferentes
apropriações do sofrimento, no âmbito da sociedade capitalista
contemporânea trazem para o cenário atual, a importância do
testemunho “(...) mediado pela experiência do cotidiano, [que] permite
novas formas de expressar a dor do outro, gerando interpretações com
perspectivas radicalmente diferentes” (Coelho, 2017).

788
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Os Cuidados em Saúde Mental na APS: Um Relato de Experiência

Gabriela Aparecida de Oliveira


Alisson Costa de Araújo
Manuel Antônio de Souza Junior
Vinicios Lopes Martins Cassimiro
Raquel Litterio de Bastos
UFRN

As Redes de Atenção à Saúde (RAS) surgiram como um modelo para


atender as necessidades da população com uma oferta contínua dos
serviços e tendo a Atenção Primária à Saúde (APS) como coordenadora
do cuidado (BRASIL, 2010). Nesse sentido, a Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) é responsável pela dinâmica dos cuidados em saúde
mental no sistema, buscando mudanças significativas nos saberes e
práticas assistenciais, para uma integração necessária dos serviços
partindo da APS (COSTA, 2012). Todavia, é necessária uma Análise
Situacional de Saúde (ASIS) desde a implantação, ampliação e
consolidação dos pontos da RAS, objetivando levantar as reais
necessidades de uma rede de atenção, envolvendo os diversos atores
sociais no processo (BRASIL, 2015; BRASIL, 2016). Nesse sentido, o
propósito desse trabalho é relatar a experiência de estudantes na
realização do diagnóstico situacional da RAPS, no contexto da APS, em
um bairro da cidade de Caicó-RN.
O processo ocorreu no semestre de 2019.2, numa disciplina de imersão
prática no contexto da APS e o conteúdo programático sendo as RAS, foi
feito uma ASIS, inicialmente, das redes como um todo para posterior
aprofundamento na RAPS. Para isso, foram realizadas conversas com as
equipes de Saúde da Família (eSF), residentes, usuários e estudantes
sobre o funcionamento das RAS e um levantamento da demanda
espontânea na unidade. Mediante os resultados desses fatores, foi
escolhida a RAPs para um diagnóstico local mais aprofundado, com a

789
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pesquisa de indicadores em saúde a partir de relatórios de produções


mensais das eSFs e pela dinâmica dos processos de trabalho.
Uma percepção obtida na experiência foi um desconhecimento sobre o
conceito das redes e dificuldade na identificação dessas nos processos
de trabalho, o que resultava em um planejamento de ações
fragmentadas nas RAS. Ao focar na RAPS, percebemos que os maiores
números na demanda espontânea foram as queixas de ansiedade e
busca por renovação de receitas para psicotrópicos. Ao retornar para
conversar com profissionais e usuários, a RAPs passa a ter destaque
também pela busca de acompanhamento psiquiátrico e psicológico,
pelo grande número de receitas azuis direcionados à unidade, por casos
de suicídio na comunidade e pela sobrecarga dos serviços e profissionais
de outros pontos da rede. Como reflexo a essa situação, os indicadores
mostram um problema de comunicação entre os equipamentos da RAPS
e um uso indevido de psicotrópicos. Como reflexões dessa experiência
temos a importância de um diagnóstico em saúde eficaz dos dispositivos
e atores locais, assim como a interdependência dos sistemas de saúde a
partir das redes e a necessidade de uma educação permanente sobre o
fluxo do cuidado em saúde. Além disso, quando analisamos a RAPS,
ainda em processo de consolidação, percebemos a importância de
fortalecermos a luta antimanicomial e um cuidado eficaz e
correspondente às reais necessidades de saúde, com uma terapêutica
além de medicamentosa e acreditando na inclusão do paciente
psiquiátrico dentro do sistema de saúde.
Conclui-se, a importância de um diagnóstico para o funcionamento das
redes de saúde, em especial a RAPS e a coordenação pela APS nos
cuidados em saúde mental.

790
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Os Impactos da Gestão por "OS" no Cuidado em Saúde Mental

Daiane Pereira Magalhães Moraes


CIEDS

Introdução: O presente trabalho é resultado das minhas inquietações


surgidas primeiramente a partir da minha experiência na Residência
Multiprofissional em Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde do
Município do Rio de Janeiro, no período de março de 2016 a janeiro de
2018. E, posteriormente, a partir da minha inserção como Assistente
Social do quadro efetivo de um Hospital Psiquiátrico, no período de
julho de 2018 a dezembro de 2019. Objetiva problematizar os impactos
que a gestão por “OS” tem trazido para o cuidado em saúde mental,
comprometendo assim, os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Aborda a situação atual de privatização da saúde mental no município
do Rio de Janeiro, dando destaque para as repercussões no processo de
trabalho. Descrição da Experiência: O presente trabalho tem por
objetivo analisar criticamente a atual situação de privatização da saúde
no município do Rio de Janeiro por meio da transferência da gestão para
as Organizações Sociais, assim como os impactos dessa gestão por meio
de “OS” para o processo de trabalho e, consequentemente, para o
cuidado em saúde mental. Repercussões: No município do Rio de
Janeiro, podemos observar nitidamente a expressão do neoliberalismo
via a administração dos serviços de saúde e a forma de gestão dos
recursos humanos no SUS, que vem sendo terceirizada por meio das
Organizações Sociais (OS’s). As repercussões desse tipo de gestão para a
política de saúde mental são imensas, e inclui baixos salários,
rotatividade de profissionais, instabilidade no emprego, desemprego,
privatização, precarização e intensificação do trabalho. Também
destacamos os prejuízos causados à garantia de continuidade e
qualidade das ações de saúde mental. Em minha experiência como
Assistente Social de um Hospital Psiquiátrico, situado na zona norte da
cidade do Rio de Janeiro, pude perceber os reflexos do desinvestimento

791
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

público nos CAPS através das recorrentes internações psiquiátricas. É


visível que muitos CAPS não estão tendo condições de acompanhar os
seus usuários que necessitam de um cuidado intensivo, o que faz com
que muitas vezes o usuário fique desassistido, e vulnerável ao quadro de
crise psíquica. Ouvimos diversas vezes de profissionais dos CAPS que
eles estão tendo que privilegiar determinadas frentes de trabalho para
conseguir minimamente dar conta do trabalho de um CAPS, tendo em
vista o número reduzido de profissionais integrando a equipe.
Considerações Finais: Para alcançarmos a plena efetivação da Reforma
Psiquiátrica, ainda temos muito que avançar no campo da saúde mental,
principalmente, no que se refere à superação do modelo de gestão por
“OS”. As ameaças de retrocessos ao campo têm sido propiciadas
também pelos novos modelos de gestão que estão alinhados às
contrarreformas do Estado brasileiro em curso, no contexto de
financeirização do capital e de crescente apropriação privada do fundo
público. Desse modo, vale destacar que os interesses das Organizações
Sociais são incompatíveis com os princípios da Reforma Psiquiátrica em
curso.

792
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Os sinais que vem da rua e a produção do cuidado em liberdade

Bruna Fávero
Danara Rodrigues Dall Agnol
Arlete Fante
Daiane Salete Dal Prá
Felipe Wagner da Silva
AESC

Considerando a rua como lugar de pertencimento e construções afetivas


e vivas na produção do cuidado em saúde, a “céu aberto” nasce o CAPS
AD IV o primeiro CAPS na modalidade tipo IV do Brasil e já atende 2.600
pessoas, em sua maioria a população em situação de rua. Este serviço
está instituído pela portaria nº 3.588/17, é operacionalizado por meio
do termo de colaboração com a PMPA e a AESC como mantenedora,
instalado junto às cenas abertas de uso de drogas na região central do
município de Porto Alegre.
A sensibilidade, a rede viva e os sinais que vem da rua permearam o
início desse serviço 90 dias antes da sua abertura, a equipe cartografou
o peregrinar em território nas cenas de rua que as pessoas tecem seus
cuidados e estratégias de sobre-VIVER as vicissitudes da vida. Com os
afetos da rua e o cuidado em liberdade, em 29 de março de 2019
inaugura-se o CAPS AD IV CENTRO CÉU ABERTO, um serviço que está
24h de portas abertas para o acolhimento do usuário em crise, sem
agendamento e/ou encaminhamento. O atendimento volta-se às
pessoas com quadros graves e intenso sofrimento decorrentes do uso
de álcool e outras drogas. Para isso mantém equipe para o cuidado de
baixa exigência e para o manejo imediato da crise.
O serviço possui psiquiatra nas 24 horas que compõe a equipe
multidisciplinar e aposta no cuidado humanizado centrado nas pessoas e
nas suas singularidades. Segue orientações quanto ao modelo híbrido na
gestão do cuidado em saúde mental AD – linha de cuidado na

793
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

retaguarda crise (11 leitos), e linha de cuidado no Acolhimento de longa


permanência (20 leitos).
Dentre as ações destaca-se o cuidado em cena pela busca ativa, por
meio do trabalho intersetorial e do cuidado compartilhado com equipes
de abordagem social e da Atenção Primária (ESF e CnR), o Juntos na Rua,
fortalecendo as ações e garantia da assistência especializada em saúde
mental, diretamente no cenário Rua aos usuários que ainda não chegam
ao serviço, mas que o CAPS tem apostado nesse encontro. O incentivo e
apoio na inserção à programas de habitação aos usuários que
estabeleceram como meta no PTS a superação da situação de rua, a
busca pela qualificação profissional e reinserção no mercado de
trabalho, o programa de Tratamento Diretamente Observado como
forma de cuidado ao usuário com questões psiquiátricas e/ou clínicas
que necessitam de um cuidado mais sensível.
Desde a abertura, o CAPS AD IV vem consolidando um modelo de
cuidado em crise, tornando-se a principal porta de entrada e referência
de cuidado em saúde mental AD para população em situação de rua. As
demandas dos usuários que acessam o serviço – onde, por muitas vezes,
chegam apenas com o “corpo” – provocam a construção de estratégias e
articulação de cuidado de forma inovadora e criativa por parte da
equipe. Nesse contexto, a condução da gestão do cuidado e suas
interfaces com as demais políticas públicas possibilitam a superação das
situações vivenciadas.

794
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Pandemia e Direitos Humanos: a atuação do LouCid na Luta


Antimanicomial da Paraíba no período de distanciamento social

Victor de Oliveira Martins


Daniel Adolpho Daltin Assis
Fábio Fernandes Pires Filho
Heitor Santos Silva
Lanna Carolyna Vieira da Costa
Larissa Rodrigues Moreira
Leandro Oziel Pereira da Silva
Nayna Lohany Medeiros de Almeida
Rafaela Porcari Molena Acuio
Ludmila Cerqueira Correia
Universidade Federal da Paraíba

O Grupo de Pesquisa e Extensão Loucura e Cidadania (LouCid) da


Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é composto por discentes,
docentes, residentes e profissionais dos cursos de Direito, Psicologia e
Terapia Ocupacional, e atua interdisciplinarmente desde 2012, com
objetivo de contribuir com a ampliação da cidadania, reivindicação de
políticas públicas e com o acesso aos direitos das pessoas em sofrimento
mental no estado da Paraíba, numa perspectiva crítica dos direitos
humanos e da Luta antimanicomial. Neste trabalho, pretendemos
apresentar e discutir as principais ações realizadas pelo LouCid no
município de João Pessoa (PB) no período de março a setembro de
2020. A atuação foi baseada na metodologia da educação popular de
Paulo Freire, e realizada em cinco frentes de trabalho: mobilização
jurídico-política e participação popular, educação jurídica popular; uso
jurídico-político da comunicação; assessoria judicial e articulação
sociocultural. Devido ao contexto de pandemia de COVID-19, o grupo
realizou suas ações online, valendo-se dos recursos virtuais como meio
de mobilização dos sujeitos na luta pela efetivação e garantia de seus
direitos. No eixo da mobilização Jurídica-Política e Participação Popular,

795
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

destacamos a integração ao Grupo Interinstitucional de Trabalho


Interdisciplinar em Saúde Mental (GITIS), para discutir questões
relacionadas à execução da medida de segurança no estado e elaborar o
Plano Estadual de Atenção Integral às Pessoa em Sofrimento Mental e
em Conflito com a Lei da Paraíba, sendo o LouCid responsável por
escrever as diretrizes e os princípios deste Plano Estadual, além de
sistematizar um mapeamento dos dispositivos da RAPS, do SUAS e das
Comarcas em atividade no estado, e participar ativamente do “I
Webinário Paraibano – Cuidado em Rede: Política para as pessoas com
transtorno mental em conflito com a Lei”. Na frente de Articulação
Sociocultural e do uso Jurídico Político da Comunicação, foi aprimorado
o uso das ferramentas das mídias sociais, com a criação de conteúdos de
divulgação das ações do LouCid, bem como de assuntos relevantes a
temática do grupo, mapeamento e divulgação de cuidados à saúde
mental oferecidos gratuitamente e online, e um trabalho de
aproximação online com os usuários, familiares e trabalhadores dos
serviços da rede de atenção psicossocial durante a pandemia. No eixo da
Educação Jurídica Popular, foram realizadas atividades de formação
abertas ao público, a fim de construir espaços pedagógicos
horizontalizados de integração entre sociedade e academia científica.
Foram abordados temas de natureza interdisciplinar, como: relações
étnico-raciais, saúde mental em tempos de pandemia,
institucionalização de meninas no sistema socioeducativo,
interseccionalidade, políticas de justiça, autonomia psicossocial e
paradigmas/reformas legislativas. E, por fim, ressaltamos a realização de
uma pesquisa via formulário online de coleta de dados, que reuniu 48
relatos de experiências exitosas de cuidado à saúde mental no contexto
de pandemia, que encontra- se em fase de conclusão. Assim, e mediante
o desenvolvimento de novas metodologias e articulações, o LouCid
adaptou sua atuação à modalidade online e pode contribuir com a
consolidação da Reforma Psiquiátrica na Paraíba, frente à conjuntura
sócio-política-sanitária de pandemia de COVID-19.

796
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Participação e Controle Social Na Saúde Mental: Um Relato de


Experiência de Extensão Universitária

Giovana Maria Fernandes de Oliveira


Ana Maria Cunha Iêdon
Sofia Laurentino Barbosa Pereira
Universidade Federal do Piauí - UFPI

Este artigo visa realizar um relato de experiência sobre o Projeto de


Extensão “Participação e Controle Social na Saúde”, que objetiva
colaborar com a organização e formação política em saúde mental,
através do desenvolvimento de ações de mobilização, participação e
controle social com usuários da Homo Lobus (Associação Piauiense de
usuários de álcool e outras drogas), da Âncora (Associação de Usuários,
Familiares e Pessoas interessadas na causa da saúde mental do Piauí) e
seus familiares, como também profissionais da saúde e de políticas
sobre álcool e outras drogas e estudantes do Curso de Serviço
Social/UFPI, assim como estudantes de mestrado no programa de pós
graduação em políticas públicas, fomentando o protagonismo e
empoderamento de pessoas com transtornos mentais e seus familiares
que, historicamente, foram sujeitos vítimas de preconceito, estigma,
violação de direitos humanos e exclusão social na sociedade. O referido
projeto, coordenado por docente do curso de Serviço Social da
Universidade Federal do Piauí, teve início em março de 2020 e tem
previsão de ações a serem desenvolvidas por 12 meses. A primeira
atividade a realização de uma Oficina de formação em política de saúde
mental, que visa instrumentalizar esses sujeitos (usuários, estudantes,
profissionais e familiares) a desenvolverem ações de mobilização,
participação e controle social, abordando temas voltados a democracia,
luta antimanicomial, panorama atual de políticas de saúde mental e etc.
Além dessas ações, os discentes do curso de serviço social, em
articulação com Associações de usuários e familiares, iniciaram o
planejamento da organização do VII Encontro de Formação Política de

797
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Usuários e Familiares de saúde mental do Piauí, a ser realizado no


segundo semestre de 2020. Encontro esse que, desde de 2011 vem
sendo organizado por militantes da saúde mental do Piauí com a
intenção de ser feito novamente em um espaço que contemple a
hospedagem e logística para a realização de palestras e oficinas, de
maneira a favorecer a troca de experiências e gerar vínculos afetivos,
além da formação de sujeitos ativos e protagonistas da história,
empoderando-se de direitos e reafirmando a luta por melhorias na
assistência à saúde mental no Piauí. O projeto pretende ainda
desenvolver ações socioeducativas nos CAPS de Teresina, sensibilizando
os usuários e familiares para os temas em torno da participação social.
Dessa forma, o intuito é trazer protagonismo a um segmento histórico
que por muito tempo tem sido estigmatizado, fortalecendo assim, a
identidade dessa parcela diante da sociedade de modo geral,
desenvolvimento de ações voltadas para potencializar a “voz” desses
sujeitos, para que eles próprios tenham possibilidade de lutar por suas
bandeiras e possam exercitar o protagonismo e autonomia. Ademais, o
Projeto em tela reafirma o papel de transformação social da
Universidade, que deve ser voltada para os interesses e necessidades da
população e propiciadora do desenvolvimento social e regional, assim
como para o aprimoramento das políticas públicas, sobretudo no diz
respeito ao fortalecimento do controle social na Política de Saúde
Mental em Teresina, elemento essencial para o avanço de uma gestão
pública democrática e que atenda os interesses públicos e sociais.

798
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Pela Brecha da Porta

Julia Fernandes Cavalcanti Prestes,


Letícia Fernandez Gonzaga
Suely Aires
Universidade Federal da Bahia

Os sujeitos que se encontram em situação de urgência social estão não


apenas submetidos à ausência de condições materiais, mas também ao
discurso social que visa, a todo tempo, objetifica-los, apontando para o
efeito de um silenciamento e uma perda do lugar de fala. A fim de
discutir modos de atuação da clínica psicológica e a produção de
subjetividade nesse contexto, o presente trabalho relatará a experiência
do acompanhamento de João (nome fictício), feito sob supervisão de
docente, durante a experiência de estágio de duas estudantes de
psicologia da Universidade Federal da Bahia no Programa Corra pro
Abraço. O Programa tem como objetivo viabilizar às pessoas em
situação de rua e/ou em situação de vulnerabilidade socioeconômica o
acesso a direitos fundamentais, como saúde, assistência social, justiça e
educação na cidade de Salvador. Para tanto lança mão de práticas de
cuidado em território articuladas por uma equipe multidisciplinar que,
se deslocando para os espaços da cidade onde os sujeitos se encontram,
constrói tecnologias de acompanhamento singulares. Foi nesse
contexto, então, que as estagiárias passaram a visitar João
semanalmente e pela brecha da porta de sua pequena casa em um
bairro periférico da cidade as escutas tiveram início. Brecha essa que
retroativamente pôde ser entendida como uma representação
metafórica do processo transferencial: ora aberta, escancarada; ora
entreaberta, mas sempre suficientemente possível de fazer a palavra
passar. Nos primeiros encontros, João presentificava e atualizava a todo
momento as violências que viveu e segue vivenciando, seja na fome, no
esquecimento, na desassistência. Os encontros suscitam na equipe o
questionamento de como se dá a constituição subjetiva de sujeitos que

799
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

são inseridos de modo específico e violento com o campo social, mas


também a partir de qual clínica é possível operar o cuidado, tendo em
vista que o pulsante contexto de urgência social incide de forma violenta
sob esses. Tais contextos levam a uma supressão da palavra, produzindo
subjetividades desamparadas discursivamente: o sujeito encontra-se
emudecido por não ter um endereçamento que o permita elaborar e
nomear aquilo que o atravessa, restando a ele o lugar da repetição em
torno da ausência de comida, de palavra, de possibilidade. Diante de tal
contexto, não foi possível pensar em um fazer clínico afastado da
implicação sociopolítica, adjetivar a clínica passou a ser um imperativo a
fim de apontar para um possível giro de João dentro do laço social que o
objetifica. Nessa clínica implicada sociopoliticamente, a articulação e
tensionamento das redes de assistência e saúde existentes no território
se fez pungente. E foi através do processo transferencial que o conteúdo
da fala de João foi se transformando e lançando luz a sua existência
singular para além das ausências. Pela brecha da porta João pôde se
apresentar enquanto autodidata e leitor apaixonado de histórias em
quadrinho, essas serviram de recurso para que ele apresentasse sua
realidade cotidiana e íntima, comparando Salvador a caótica Gotham
City e o seu fazer itinerante desbravando as ruas da cidade no ofício da
reciclagem, a atuação heroica do Batman.

800
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Pela vida de mulheres de povos e comunidades tradicionais

Rô Aragão Matias
Sandra Raquel Santos de Oliveira
Michele de Freitas Faria de Vasconcelos
Vitória Góis Da Cunha
Mayra Santos Figueirôa
Yasmim Nascimento de Oliveira
Yasmin Adriane Mendonça da Rocha
Núbia Neves Bernardes
Luiza Silva Cabral
Joemilly Nunes do Nascimento
Universidade Federal de Sergipe

O presente trabalho diz respeito ao processo de construção do


observatório popular de violências, pela vida de mulheres de povos e
comunidades tradicionais de Sergipe. Este busca articular uma rede
descentralizada de mulheres de povos e comunidades tradicionais de
Sergipe, movimentos sociais, universidades e políticas públicas em
saúde, assistência, socioambientais e de segurança pública. Com o
observatório, o objetivo é construir alianças, articulando comunitárias,
acadêmicas e mulheres integrantes da sociedade civil, produzindo
informações acerca de temas como saúde, meio ambiente, situações de
trabalho, múltiplas violências. Para tanto, inspiramo-nos na experiência
do Observatório de Equidade em Saúde, segundo Gênero e Povo
Mapuche, que reúne a Universidade da Frontera (Chile) com as
organizações de mulheres Mapuche da região da Araucanía no Chile. A
aposta é configurar um espaço de produção de conhecimentos, troca de
saberes e experiências coletivas e ancestrais da luta em defesa da vida e
pela sobrevivência de mulheres de povos e comunidades tradicionais de
Sergipe, incidindo nas políticas públicas. Almeja-se que o observatório
constitua- se como um espaço de formação-intervenção em que a
academia se encontre com políticas territoriais e com a vida que pulsa

801
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

nas comunidades, transversalizando saberes e disciplinas e arejando a


formação de alunas de graduação e mestrado da UFS. A metodologia
utilizada fundamenta-se na ideia da pequisa-intervenção, tendo-se
como procedimentos metodológicos: i) rodas preparatórias de
articulação com movimentos sociais e trabalhadores de políticas
públicas; ii) levantamento de temáticas relevantes a serem observadas,
tendo em consideração dados produzidos anteriormente pelo PEAC
(Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras) junto
ao Movimento de Mulheres Marisqueiras de Sergipe; e iii) encontro
como marco da implantação do observatório. Com o observatório, tem
sido possível promover partilha e troca de fazeres e saberes sobre
modos de existência, estratégias de luta e resistência de diversos
movimentos e das mulheres que os compõem.

802
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Perfil das necessidades da População em situação de rua


em Teresina-PI

Lucia Cristina dos Santos Rosa


Universidade Federal do Piauí

Mayron Emanoel de Sousa Garcia


Luiz de Sousa Carvalho Filho
HOMO LOBUS Associação Piauiense dos Familiares e Usuários

Marta Evelin Carvalho


Fundação Municipal de Saúde de Teresina

Thaís de Andrade Alves Guimarães


Universidade Federal do Oeste da Bahia

Introdução: A Associação Piauiense dos Familiares e Usuários de Álcool e


outras Drogas – HOMO LOBUS, visa o protagonismo, luta por direitos e a
inclusão social dessa população. Seus integrantes ao identificarem suas
dificuldades de inserção no mercado de trabalho, iniciou atividades com
pessoas em situação de rua, como forma de desenvolverem uma ação
social e se irmanarem. Em rodas de conversas, ao constatarem as
normas rígidas das instituições voltadas para o grupo e a inexistência de
pesquisas que levantem suas reais necessidades, acompanhadas de seu
parco envolvimento na construção de respostas, deliberou pela
realização de uma escuta com os objetivos: traçar um perfil da
população em situação de rua em Teresina; levantar informações
relacionadas ao acesso a direitos; relação com a família; necessidades
postas pela situação de rua; fontes de geração de trabalho e renda;
relação com consumo de substâncias psicoativas e com a justiça; fontes
de lazer e percepção do estar em situação de rua. Descrição da
experiência: A escuta da população em situação de rua em Teresina foi
realizada por 06 entrevistadores no período de 12/05 a 31/07/2020.

803
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Foram entrevistadas 50 pessoas, representando em torno de 25% desse


segmento, estimado em 200 pessoas. Os locais das entrevistas foram
diversificados: casas de acolhimento, praças e em diferentes ruas da
capital. Foi realizado um questionário, distribuídos em bloco assim
especificado: bloco 1 - dados de identificação, bloco 2 - direitos e
cidadania, bloco 3 - relação com a família, bloco 4 - vida nas ruas, bloco
5 – trabalho e renda, bloco 6 – drogadição e justiça, bloco 7 – lazer e por
último uma pergunta subjetiva sobre a percepção do significado do
estar em situação de rua na visão dessa população. Repercussões: O
fato de 05 usuários da Homo Lobus terem se configurado como
aplicadores dos questionários e apresentadores dos resultados final da
“escuta à população em situação de rua” para o Sistema de Garantia de
Direitos em uma live, deslocou esse segmento do seu lugar tradicional,
agora alçado à pesquisador e real protagonista, o que produziu efeitos
subjetivos positivos, levando a repensar lugares, sentidos e perspectivas
de vida. O perfil geral da população em situação de rua em Teresina
trouxe por principais traços: dificuldade de acesso a direitos, inclusive a
documentos; intensa desassistência nos finais de semana e em
atividades de higiene pessoal e lazer e intensos impactos subjetivos, pois
a situação de rua é vista como muito degradante. Além do
fortalecimento do protagonismo, foi possível constatar que todas as
respostas das políticas públicas para o segmento estão concentradas na
política de assistência social e saúde, o que obsta a integralidade das
ações. Considerações finais: A implementação da pesquisa e a difusão
de seus resultados deslocou o lugar estigmatizado do usuário de
substância psicoativas, agora visibilizado também como pesquisador e
vocalizador das necessidades do segmento que representa. Produziu
efeitos subjetivos e objetivos, ao permitir o desenvolvimento de
competências como arguidor dos colegas, apresentador e interlocutor
dos resultados, com os representantes do sistema de garantia de
direitos e gestores.

804
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Pet-Saúde/Interprofissionalidade - Saúde Mental:


a construção coletiva de práticas colaborativas e interprofissionais

Lucas Silva Dias


Patrícia Cristiane Gibbert
Larissa de Almeida Rezio
Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT

O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) é um


projeto de governo que tem o objetivo de promover a integração
ensino-serviço-comunidade através de ações, pesquisas e intervenções.
Buscando implementar a educação interprofissional em âmbito
nacional, o PET-Saúde/Interprofissionalidade propõe que os alunos
implementem metodologias que possibilitem a articulação entre os
saberes das diversas profissões da área da saúde em seus currículos.
Dessa forma, o projeto é um meio de difundir o trabalho
interprofissional, articulando trabalhadores em serviço e graduandos. O
termo Interprofissionalidade corresponde à adoção de práticas
colaborativas entre os saberes, permitindo troca de informações,
reduzindo os erros, qualificando as práticas e proporcionando
atendimento holístico e integral ao usuário do serviço. Portanto,
enquanto membros deste PET, temos o desafio de desenvolver o
trabalho colaborativo entre os profissionais e serviços pertencentes à
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Cuiabá, em Mato Grosso. O PET-
Interprofissionalidade Saúde Mental da UFMT foi instituído em janeiro
de 2019 e reúne graduandos dos cursos de medicina, enfermagem,
psicologia, nutrição e serviço social. Os alunos se reúnem semanalmente
para discutir pautas do projeto e para participar das preceptorias nas
Unidades de Saúde da Família Dr. Fábio I e Dr. Fábio II. As preceptorias
são de caráter prático e observacional e objetivam despertar o
pensamento crítico a respeito das principais dificuldades de estabelecer
diálogo, colaboração e interação horizontal entre os profissionais. Além
disso, os estudantes são convidados a visualizar o cenário da RAPS ao

805
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

participarem de preceptorias na Secretaria Municipal de Saúde de


Cuiabá, elencando pontos importantes inerentes à gestão da rede.
Nesse sentido, o grupo utiliza a metodologia da problematização a fim
de sistematizar suas atividades. Assim, inicialmente fez-se um
levantamento de demandas e deficiências do serviço e das grades
curriculares, tanto em relação à interprofissionalidade, quanto em
relação à abordagem da saúde mental nos diferentes cursos. Após a
análise sistemática do Plano-Político-Pedagógico de todos os cursos, os
alunos perceberam o quão pouco a prática interprofissional em saúde
mental é abordada no decorrer da formação. Posteriormente, os
problemas encontrados foram sintetizados em pontos-chaves,
discutidos, elencados em prioridade e teorizados por meio das
descrições da literatura análogas. Destacam-se como impasses a
desarticulação entre os componentes da RAPS e a falta de
interprofissionalidade no serviço e no ensino, o que permitiu a
construção de uma pesquisa-intervenção voltada para formação em
serviço baseadas na Educação Permanente em Saúde (EPS).Apesar do
projeto ainda em andamento, a difusão dos preceitos de trabalho
interprofissional e o desenvolvimento de métodos e meios para a
comunicação horizontal e troca de saberes de modo articulado estão
resultando em práticas mais integradas e na aproximação entre os
serviços da RAPS. Os alunos têm demonstrado muito interesse em novas
metodologias de ensino-aprendizagem e o trabalho coletivo vem
oferecendo maior segurança aos profissionais. Nesse sentido, quando há
conscientização sobre a necessidade de comunicação, interação e
realização de práticas colaborativas RAPS, o serviço passa a funcionar de
forma mais harmoniosa, com melhor atendimento ao público. Portanto,
as modificações no processo de trabalho repercutem tanto na qualidade
do que é oferecido ao usuário quanto na motivação dos profissionais.

806
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Plano de Alta para usuárias(os) no CAPSII


João Bebe Água em São Cristóvão, Sergipe: uma discussão
no PET-Saúde/Interprofissionalidade

Marciel Rosa de Sales


Anne Beatriz Aragão Sousa
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes
Audrielly Mayara Silva Oliveira
Evelyn Natanny de Souza Farias Dias
Geniere Rocha dos Santos João
Yann Gabriel Neres Alves
Vera Núbia Santos
Rosângela Félix Lima
Stefanie Silva Vieira
Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão/SE

Para garantir o acesso a um tratamento qualificado a usuárias(os) nos


Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é necessária uma ação conjunta
de vários processos de trabalho, da avaliação de critérios de admissão
até aliberação após o atendimento. Com a evolução terapêutica, os
processos de alta de usuárias(os)tornam-se necessários, pois vinculam-
se à reabilitação psicossocial e à articulação com os dispositivos
presentes na rede para proporcionar a atenção continuada no território.
Há fragilidades nesses procedimentos, o que leva a problemas como:
superlotação nos CAPS, sobrecarga no trabalho de profissionais,
restrições na admissão de novas(os) usuárias(os) e dificuldades na
ressocialização dos já existentes nessas unidades. Observou-se no
diagnóstico situacional realizado junto ao CAPS II João Bebe Água, em
São Cristóvão, Sergipe, a existência de usuárias(os) que apresentam
quadro clínico com aparente condição de passagem para o processo de
transferência de cuidados. Com a experiência vivenciada pelo Grupo
Tutorial 5 do Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde da
Universidade Federal de Sergipe (PET-Saúde/Interprofissionalidade),

807
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

avaliou-se a necessidade da inserção destas pessoas em outros serviços


que atendam a essas novas demandas. A criação, em razão da não
existência desse instrumento, de um Plano de Alta documentado em
conjunto por profissionais da unidade, foi vista como um importante
procedimento na busca pela superação dessa fragilidade. A sua
implantação depende, contudo, de aspectos que independem
diretamente do CAPS, como, entre outros aspectos, a fragilidade das
redes de atenção à saúde e sociofamiliares, que devem dar todo o
suporte para usuárias(os). Para a superação dessas dificuldades e
implementação do Plano de Alta, o grupo discutiu algumas estratégias:
realização de oficinas de discussão e de educação permanente sobre o
tema, direcionadas a familiares e profissionais da unidade,
respectivamente; revisão do projeto terapêutico singular (PTS), que
trata da realidade do sujeito no contexto sociofamiliar; potencialização
do incentivo para o empoderamento de usuárias(os) quanto aos seus
direitos de cidadania; busca pelo fortalecimento do matriciamento, para
promover a aceitação e recepção do usuário na rede de atendimento,
na saúde e em políticas públicas sociais, às quais têm direito,
fortalecendo seus vínculos comunitários para serem protagonistas de
suas próprias vidas. A proposta de criação de um Plano de Alta foi
apresentada e debatida no I Seminário de Integração Ensino-Serviço-
Comunidade do PET-Saúde/Interprofissionalidade, demonstrando sua
originalidade para os CAPS em Sergipe. O planejamento do processo de
alta de forma estruturada constitui um importante instrumento de
trabalho nos CAPS, tendo em vista a ressocialização, de modo que
ocorra efetivamente a desinstitucionalização do cuidado da saúde
mental por meio da autonomia e reinserção social. Assim, será possível
garantir a concretização dos objetivos e princípios que guiam a atuação
do serviço ofertado pelo CAPS, equipamento de saúde mental que tem
como objetivo principal promover a reabilitação psicossocial de pessoas
com transtornos mentais no território em que estão inseridas. A
articulação na rede é a tessitura que garantirá a usuárias(os) e

808
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profissionais o fornecimento de serviços de maneira mais eficiente e


qualificada.

809
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantando paciência e tolerânciano mundo infanto-juvenil

Daniélle Bernardi Silveira


Ernani Bohrer da Rosa
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA

Ana Cláudia Müller


Daiane Schellin Berwaldt
Prefeitura Municipal de Guaíba-RS

Vanessa Kraskin Saraiva


Universidade do Vale do Rio dos Sinos–Unisinos

Viviane Boeira Jardim


Mercedes Strider
Universidade Luterana do Brasil Guaíba

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPS IJ) é


um serviço de atenção diária destinado ao atendimento de crianças e
adolescentes gravemente comprometidos psiquicamente. Os
profissionais são desafiados, constantemente, a prestarem cuidados a
esse público. É preciso criar, observar, escutar, estar atento à
complexidade da vida dessas pessoas, que é maior que a doença ou o
transtorno. Para isso, é necessário que, ao definir atividades como
estratégias terapêuticas, ressignifiquemos nossas práticas. Os
profissionais são desafiados a ampliar conceitos e relações. O objetivo
desse trabalho é descrever um grupo terapêutico chamado Grupo da
Horta. Método: Estudo descritivo e relato de práticas profissionais.
Descrição da experiência: O Grupo da Horta do CAPS IJ Crescendo Juntos
é conduzido por uma equipe multidisciplinar (enfermagem, serviço
social e psicologia). Há três horários em diferentes dias e turnos e em
paralelo a estes grupos ocorre a participação de familiares. As atividades
envolvendo a natureza estimulam a compreensão de conceitos

810
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

complexos: 1) através da seleção das sementes, impulsionamos as


escolhas de refletir sobre o que vamos plantar, qual época é mais
apropriada e quais as necessidades de cada semente; 2) no momento de
plantar é fundamental o trabalho cooperativo e os cuidados com o
terreno; 3) durante o processo de germinação estimula-se o cuidado
com a irrigação e com o Sol, ponderando, essencialmente, sobre os
excessos e as carências; 4) na colheita há oportunidade de trabalharmos
a paciência para aguardar o tempo certo, além do trabalho em conjunto;
5) por fim, estimulamoso consumo de frutas e de verduras.
Repercussões e considerações finais: A imaginação dos nossos usuários
durante esse ciclo apresentado é extraordinária e provoca, nos
profissionais, mudanças em suas práticas. Portanto, é necessário o
envolvimento deles na elaboração de estratégias, questionamento e
reavaliação das práticas. Embora seja um trabalho com surgimento de
oportunidades, é preciso ter cuidado na poda dos ramos. O contínuo
envolvimento das famílias em práticas agronômicas alternativas e
naturais, como cultivo orgânico, é de extrema importância, visando
aumentar o conhecimento destes usuários sobre estas práticas, a fim de
se quebrar o estigma de que não é possível cultivar em espaços urbanos.

811
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantão de PICS: uma possibilidade de promoção


de Saúde Mental na universidade

Naiara Santos da Silva


Michelle Steiner dos Santos
Universidade Federal do Ceará – UFCE

Na atualidade é possível verificar que a medicina ocidental tradicional e


a psicologia clássica manifestam sua limitação frente ao sofrimento
psíquico, cujas intervenções se balizam em técnicas e conhecimentos
comprovados cientificamente. As Práticas Integrativas e
Complementares (PICS) propõem uma visão sistêmica do ser e das
intervenções em saúde, complementares ao modelo biomédico e
tecnicista, como possibilidade de intervenção, sobretudo, na atenção
primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, o Programa de
Ações Integradas Pela Vida (PÃIM), que possui em sua composição o
Núcleo de Práticas Integrativas (NUPI), tem como proposta os estudos
em PICS e as formas de intervenção a partir da visão holística e sistêmica
de sujeito. Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados
obtidos através do plantão de PICs realizado durante o período de
agosto a novembro de 2019, através do relato de experiência dos
bolsistas e dos depoimentos dos usuários atendidos. O plantão em PICS
é uma prática clínica da contemporaneidade ancorada na escuta
sensível, no acolhimento à dor física e emocional dos usuários e com o
princípio do encaminhamento sustentável. O programa oferece um
momento de cuidado e atenção através da auriculoterapia, Reiki,
hipnose e acolhimento psicológico, em que há escuta do sujeito por uma
equipe preparada, entre bolsistas, estagiários e psicólogos supervisores,
a oportunizar espaços de ressignificação do ser e estar no mundo,
seguido por um encaminhamento adequado à demanda do paciente. Ao
longo do ano foram realizados, em média, 400 atendimentos, entre
alunos do curso de psicologia, servidores técnicos administrativos e
professores do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará,

812
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

campus Fortaleza, cujas queixas mais comuns foram: ansiedade,


depressão, estresse e dores na coluna e articulações. O retorno com
frequência dos usuários e seus depoimentos comprovam uma redução
dos sintomas e uma sensação maior de bem-estar, contribuindo para a
diminuição na evasão escolar e absenteísmo.

813
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantão psicológico como proposta de cuidadoem Saúde Mental para


trabalhadores durante a pandemia de Covid-19

Thamires Cardoso Braga de Oliveira


Camila Leal Barreto
Talita Andrade Leite
Vanessa Vieira Nunes
Walter Lisboa Oliveira
Universidade Federal de Sergipe - UFSE

Introdução: Em decorrência da pandemia de Covid-19, muitos processos


de trabalho dos programas de residência precisaram ser reorganizados
pelas novas demandas do contexto de atuação. O plano de
contingenciamento para as psicólogas do segundo ano do Programa de
Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso incluiu
atendimentos na modalidade Plantão Psicológico aos profissionais do
Hospital Universitário e do Hospital de Campanha, ambos em
Aracaju/SE, de forma presencial e on-line, nos meses de abril a
setembro. Possui a finalidade de promoção à saúde e prevenção do
adoecimento psíquico através da escuta qualificada, psicoeducação,
suporte psicológico e orientação profissional sobre atuação no suporte
psicossocial. Descrição da experiência: O Plantão Psicológico ocorreu
presencialmente no ambulatório do Hospital Universitário e
virtualmente através de plataforma digital, com criptografia ponta a
ponta, atendendo o critério de sigilo e confidencialidade para os
atendimentos. A atividade teve duas etapas: divulgação do novo serviço
e realização do plantão. A divulgação ocorreu através de cartazes
impressos e cartilhas educativas, informativos no site da instituição e
difusão via e-mail dos colaboradores, mídias sociais e telejornal local.
Um link do formulário da plataforma Google foi disponibilizado para a
solicitação do atendimento, e após isso, as psicólogas plantonistas
realizaram os contatos com o(a) profissional por e-mail para o
agendamento. Repercussões: 12 pessoas foram atendidas

814
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

presencialmente, totalizando 20 atendimentos. Nove pessoas foram


atendidas digitalmente, contabilizando 13 sessões. Não houve
solicitações de atendimento de colaboradores do Hospital de
Campanha. Do público atendido nas duas modalidades do serviço, a
faixa etária foi de 22 a 60 anos, em uma média de 35,7 anos, em sua
maioria composta por mulheres (90%), sendo profissionais das áreas da
saúde, serviços gerais, assistente administrativo e segurança. Os
principais motivos para a busca pelos atendimentos foram relacionados
aos impactos emocionais decorrentes da pandemia: ansiedade, estresse,
alterações no sono, distanciamento físico e dificuldades de adaptação às
mudanças nos contextos laborais e familiares. Outros motivos
identificados foram: conflitos com parceiro íntimo, violência de gênero e
luto. A partir dos atendimentos realizados, foram feitos
encaminhamentos para acompanhamento psiquiátrico e/ou psicológico
na rede. Considerações finais: O Plantão Psicológico surgiu como medida
de prevenção de agravos e promoção em saúde mental. Constitui uma
oferta de escuta qualificada e acolhimento ao sofrimento, por vezes
velado, desses profissionais. A partir das avaliações mensais do serviço,
constatou-se que na primeira fase da pandemia, em relação às outras
fases, houve uma menor procura do Plantão Psicológico pelos
colaboradores. Uma hipótese para isso seria o grande investimento
inicial de cada pessoa na preparação de processos e recursos protetivos
próprios para o contexto. Os profissionais que foram atendidos,
entretanto, reconheceram a importância do espaço, por se sentirem
amparados pela instituição. Diante disso, pode-se desenvolver o
sentimento de segurança no profissional, auxiliando uma atuação mais
confiante em meio ao cenário de adversidades e com menor sofrimento
psicológico.

815
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantão Psicológico em uma clínica escola de psicologia:


um relato de experiência

Rita Wharlla Lopes da Silva


Cace - Centro de Atendimento Clínico e Educacional Maria de Nazaré
Domingos

Karine Lima Verde Pessoa


Estácio do Ceará

O presente trabalho tem por objetivo maior retratar a minha


experiência durante o período de plantonista na Clínica Escola de
Psicologia do Centro Universitário Estácio do Ceará. Apresento uma
narrativa sobre minhas atividades enquanto plantonista, práticas,
desafios e aprendizados, mediante a grande procura por atendimentos
emergenciais, e a necessidade de ajustamento das clínicas escolas para
atender tais demandas. Para tal, será feita uma intersecção entre
aspectos bibliográficos e minha experiência com o caso. Tendo em vista
as diretrizes curriculares do Projeto Pedagógico do Curso de Psicologia
do Centro Universitário Estácio do Ceará, a Clínica de Psicologia destina-
se à formação profissional dos alunos do referido curso. Esses serviços
são ofertados na cidade de Fortaleza, Ceará, voltados à comunidade em
geral. Inicialmente, a coordenadora de estágios da clínica escola pensou
na necessidade de haver atendimento na modalidade de plantão, tendo
em vista a grande quantidade de pessoas que necessitavam de um
atendimento emergencial, evitando, assim, que elas recorressem à lista
de espera. O projeto ocorre através de um grupo de estudos sobre o
assunto, coordenado pela professora e coordenadora de estágios,
facilitado por alunos indicados pela mesma, e que já atuam no plantão
psicológico. Ingressei no Plantão Psicológico no primeiro semestre do
ano de 2017, cursando o 8º semestre do curso de Psicologia, quando
iniciava os estágios clínicos. O grupo foi inicialmente facilitado por duas
alunas recém-formadas e que tiveram experiência no plantão

816
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

psicológico logo no início da inserção desse projeto na clínica escola da


Estácio do Ceará. Os encontros eram realizados através de debates
acerca de artigos científicos. Dessa maneira, dentro do próprio grupo de
estudos, foi realizada uma seleção, onde eu e mais dois colegas fomos
selecionados para atuar como plantonistas na Clínica Escola de
Psicologia.
Inicialmente dispomos de alguns dias na semana para atendimento,
passamos por muitas dificuldades quanto à dinâmica da clínica escola e
a nossa insegurança enquanto iniciantes. Logo no 10º e último
semestre, continuei assumindo o posto de facilitadora do grupo de
estudos, carregando a mesma proposta de trabalhos mais práticos, com
intuito de colocar os participantes em contato com a realidade do
serviço. O Plantão Psicológico proporcionou-me, de fato, vários desafios,
tais como o contato com o desconhecido, a falta do conhecimento
prévio, e o acolhimento de alguém que está em crise. Tornou-se parte
importante da minha formação profissional. Além de me estimular
através das diversas demandas encontradas nos atendimentos clínicos,
trouxe oportunidades únicas e proporcionou encontros cada vez mais
genuínos com a psicologia. Por fim, espera-se que esse artigo possa
suscitar reflexões e melhorias no que diz respeito ao funcionamento da
modalidade na própria instituição e quanto à necessidade de inclusão do
plantão em serviços escola de psicologia em outras unidades de ensino.
Disseminando a ideia de deparar-se cada vez mais com a realidade
contemporânea, ao entendimento da essência humana em seu modo de
vida, constrói-se uma psicologia clínica mais flexível e cada vez mais
próxima da realidade.

817
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantão psicológico para profissionais no contexto da pandemia:


um relato de experiência do HU-UFJF

Karine Soriana Silva de Souza


Jéssica Gomes Braz
Júlia Dandara Fernandes da Silveira
Zilda Carla Faria de Mattos
Andressa Aparecida da Silva Reis
Priscilla Aparecida de Aquino Batista Noé
Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora

Introdução: A pandemia da Covid-19 apresentou-se como uma crise


sanitária desafiadora. No Brasil, o cenário pandêmico trouxe
importantes mudanças nos serviços de saúde. Para a maioria dos
trabalhadores dessa área é uma situação altamente estressante e nova,
o que pode gerar impactos importantes na saúde mental dos mesmos.
Diante disso, a psicologia da saúde ganha então novas preocupações e
demandas, sendo necessário pensar em estratégias de promoção da
saúde mental para esses profissionais tão importantes no combate ao
coronavírus. Sendo assim, no Hospital Universitário da Universidade
Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), foi criado o Plantão Psicológico para
os colaboradores atuantes neste contexto. Descrição da experiência: O
Plantão Psicológico se iniciou no mês de abril de 2020, sendo executado
por psicólogos efetivos e residentes do HU-UFJF. O serviço consiste na
oferta de um suporte psicológico pontual e é destinado a todos os
colaboradores do hospital através de demanda espontânea. Os
interessados foram orientados a entrar em contato através do e-mail
criado pela equipe responsável ou por um contato telefônico de
referência. Cada encontro acontece nas modalidades on-line ou
presencial, com duração em torno de cinquenta minutos e uma média
de dois a quatro atendimentos. O colaborador é informado sobre o
objetivo do Plantão Psicológico e o número de encontros. Quando

818
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

alguns dos colaboradores sentem necessidade de cuidar de questões de


ordem psicológica despertadas durante o atendimento, são
encaminhados para psicólogos externos ao hospital a partir de uma lista
de profissionais elaborada pelos residentes. Repercussões: Já foi
atendido um total de 49 colaboradores de 13 diferentes ocupações.
Dentre os que mais solicitaram atendimento estão os técnicos de
enfermagem, os enfermeiros e os assistentes administrativos. A partir
de uma breve análise dos registros feitos pelos psicólogos, pode-se
verificar maior frequência das seguintes demandas: sintomas ansiosos;
alterações no sono; rituais obsessivos; preocupação em estar
contaminado, contaminar-se ou contaminar os familiares; sentimentos
de insegurança, medo e angústia; conflitos interpessoais no ambiente de
trabalho; sobrecarga de tarefas no trabalho e em casa; sintomas
depressivos; conflitos familiares e conjugais; crises de pânico;
desmotivação com o trabalho; e sentimentos de culpa e vergonha pelas
emoções vivenciadas. A partir dos feedbacks recebidos e da observação
dos psicólogos pode-se notar uma boa receptividade e satisfação dos
profissionais pelos atendimentos, relatos de alívio dos sintomas,
aumento na capacidade reflexiva, maior motivação para o uso de
estratégias de enfrentamento adaptativas, sensibilização e maior
motivação para a continuidade do acompanhamento psicoterápico,
resgate da esperança e mudança de perspectivas. Considerações finais:
É necessário considerar algumas limitações da presente intervenção,
como a baixa procura. Este fato já era previsto pela literatura, que
aponta que apenas o fato de os colaboradores saberem que existe esse
espaço disponível já repercute positivamente na saúde destes. Por fim, é
indispensável que os serviços de saúde disponibilizem diferentes
modalidades de práticas de cuidado para o trabalhador diante desse
contexto, sendo o plantão psicológico uma prática promissora.

819
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Plantão Social na Escola: uma estratégia de cuidado


em Saúde Mental no ambiente escolar

Dirlene Rozária Pereira


Faculdade Divinópolis – Faced

O presente trabalho objetiva relatar a experiência de um projeto de


intervenção em Saúde Mental, idealizado pela profissional de Serviço
Social do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do
Adolescente (REMSA) da Universidade Federal de São João del-Rei,
campus Centro-Oeste (UFSJ-CCO). O Plantão Social na Escola foi
pensado como espaço de acolhimento, escuta e fortalecimento de
vínculos entre adolescentes/familiares/professores e promoção da
saúde mental destes. As demandas de atendimento ao Serviço Social
sãoencaminhadas da própria escola da rede socioassistencial, da saúde
e por demanda espontânea dos adolescentes e familiares. Os
atendimentos são realizados semanalmente no espaço escolar para
alunos do ensino fundamental e médio nos turnos matutinos e
vespertinos. Os atendimentos aos familiares são realizados de acordo
com a disponibilidade dos mesmos. O papel do Serviço Social é levar em
consideração o desejo dos alunos de serem atendidos na escola, por ser
um ambiente familiar para estes. Esses atendimentos são realizados em
ambiente seguro e acolhedor, resguardando o sigilo profissional. A
maioria dos atendimentos se refere a: sexualidade, namoro, drogas,
medicalização, baixo rendimento e evasão escolar, conflitos familiares e
interpessoais, bullying, automutilação e tentativa de suicídio. Observa-
se que os atendimentos no ambiente escolar têm possibilitado a
reflexão sobre o bem-estar e a saúde mental dos envolvidos,
proporcionando uma melhor qualidade de vida destes. Percebe-se ainda
que a família está mais presente na vida escolar dos filhos, uma vez que
ela também é acompanhada pelo Serviço Social, que trabalha sobre a
questão das habilidades sociais, práticas parentais, proporcionando e
possibilitando maior conhecimento da própria adolescência. A partir

820
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

dessa experiência, considera-se que os atendimentos no espaço escolar


vêm fortalecendo os laços entre escola, alunos e familiares, agregam um
avanço na saúde mental destes e apontam intervenções pertinentes
para cada caso, na promoção da saúde como fator primordial.

821
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Pobreza, violência e violação de direitos enquanto catalisadores do


adoecimento: o atendimento de pessoas com transtornos mentais
no CRAS Sudeste III de Teresina

Dannylo Cavalcante Alves


Centro de Referência de Assistência Social-CRAS Sudeste III

A Reforma Psiquiátrica tem como diretriz o não encarceramento e/ou


aprisionamento das Pessoas Com Transtorno Mentais (PCTM), seja em
instituições totais, seja mediante a exclusão, isolamento ou segregação.
Nesse sentido tem como premissa a RAPS, Rede de Atenção Psicossocial,
formada por uma gama de serviços integrados a outras políticas
públicas. Assim a Política de Saúde Mental deve articular-se a outras
políticas sociais, entre as quais a Política de Assistência Social. O Sistema
Único de Assistência Social de Teresina possui 19 Centros de Referência
de Assistência Social (CRAS), responsáveis pela Proteção Social Básica.
Dessa forma articulam ações que visam o fortalecimento dos laços
familiares e/ou comunitários, bem como previnem a ocorrência de
violações e/ou violências através da oferta de serviços, programas,
projetos e benefícios. O CRAS Sudeste III- Casa da Cidadania é um dos
quatro Centros de Referência de Assistência Social do Território Sudeste.
Território esse que é composto por um Centro de Atenção Psicossocial-
CAPS II Sudeste. Os demais serviços substitutivos que atendem a
população da Zona Sudeste (CAPS Infantil, CAPS III, entre outros)
localizam-se nos Territórios Norte, Sul ou Leste. A integralidadedo SUS,
enquanto princípio, vai ao encontro da universalização dos direitos
sociais, princípio do Sistema Único de Assistência Social. Considerando
os atendimentos realizados no CRAS Sudeste III, de junho de 2013 a
fevereiro de 2020, observa-se a incidência crescente do público de
PCTM e/ou de seus familiares e/ou cuidadores na inscrição no Cadastro
Único para Programas Sociais, com vistas ao Programa Bolsa Família
(PBF), ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), ao Programa Minha

822
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Casa Minha Vida, a Identidade Jovem, ao Passe Livre Federal da Pessoa


Idosa, a Tarifa Social de Energia Elétrica ou a Isenção em Taxa de
Concurso Público. Também é crescente a participação de PCTM nos
Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) destinados
a adultos e pessoas idosas. O SCFV tem como um dos públicos
prioritários as pessoas com deficiência ou PCTM, com a oferta de
oficinas socioeducativas e danças. O acesso ao passe livre da pessoa
com deficiência também tem incidência crescente e/ou constante de
PCTM, com destaque para o público infanto-juvenil nos últimos dois
anos. A observação empírica tem revelado que a pobreza e/ou a
extrema pobreza, assim como o acesso precário ou inexistente às
políticas públicas também têm gerado adoecimento. A demanda por
benefícios eventuais (cesta básica, auxílio financeiro, entre outros)
cresceu vertiginosamente, em especial nos últimos dois anos, com
destaque para 2019. Associados a essa demanda também estão os
encaminhamentos para serviços de saúde mental, seja a nível
ambulatorial, seja de transtornos severos e persistentes, bem como
situações de automutilação e/ou ideação suicida. Outro indicador é a
associação em situações de violência e/ou violações de direitos, com
destaque para a violência contra mulheres e a violência contra crianças
e adolescentes, esta última interligada ao acolhimento institucional e/ou
perda do poder familiar. Assim, o cotidiano profissional permitiu
observar, através de indicadores objetivos e subjetivos, a associação
entre pobreza, violência, violações de direitos e adoecimento.

823
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

População negra e Saúde Mental: um relato de experiência de grupos


sobre o racismo sob o olhar gestáltico no CAPS Nise da Silveira,
em Olinda

Edjelma Arantes dos Santos


CAPS Nise da Silveira

Wanessa da Silva Gomes


PRISMAL - UPE Garanhuns

Vladya Tatyane Pereira de Lira


Universidade Tiradentes

Marcone Firmino da Silva


Faculdade Estácio

Introdução: Em grupo, as pessoas podem reconhecer papéis e


identidades, questioná-las, (re)significá-las e, portanto, reconstruí-las na
medida em que sejam excludentes e adoecedoras.Com base nesses
fundamentos se estruturam os Centros de Apoio Psicossociais (CAPS),
mediadores na dialética indivíduo-sociedade. É preciso criar, observar,
escutar, estar atento à complexidade do campo vivencial das pessoas,
que é maior que a doença ou o transtorno em um município da Região
Metropolitana do Recife de maioria negra. Partindo do ponto da Gestalt-
terapia (GT), traz-se uma proposta teórico-metodológica que se adequa
à demanda de um CAPS. A GT objetiva o desenvolver do potencial
humano: estar saudável é possuir habilidades para lidar eficazmente
com qualquer situação que se apresente no “aqui e agora”, alcançando
uma resolução satisfatória de acordo com a dialética formação e
fechamento de gestalten (LATNER, 1996). Diante disso, temos um
contexto sociocultural e estrutural onde o racismo - presente na história
da formação da sociedade brasileira, além das dimensões institucional e

824
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

interpessoal (ou intersubjetivo), também atinge a dimensão subjetiva


causando adoecimento. Descrição da experiência: Na Semana da
Consciência Negra de 2019 foi criado um grupo para discutir sobre a
temática do racismo junto aos usuários do CAPS. Devido à sua
repercussão, foi instituído junto à equipe multiprofissional outro
grupo,este para tratar dos impactos do racismo na saúde mental. O
primeiro tinha uma preocupação com as limitações de alguns usuários,
por isso foi utilizado como disparador de discussão o audiovisual e
música. Foi incluído no repertório uma composição dos usuários do
CAPS Esperança (Recife) José Almir, Yasmim Fernandina e Fabiana
Oliveira, musicada por Marcone Silva e Altemir Nascimento. Já no
segundo grupo foi utilizada como dinâmica de grupo o jogo do privilégio
branco e slides com dados epidemiológicos referentes à saúde da
população negra e a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra (PNSIPN) como disparadores. Repercussões: Após os grupos
houve conversas sobre conscientizações - produto de reflexões junto à
equipe e usuários; Atitudes referentes às mudanças estéticas – roupa e
cabelos; Além disso, está em curso projeto de mestrado onde a primeira
autora se propõe contribuir para uma mudança positiva com os atores
sociais do dispositivo acerca da saúde mental da população negra em
seu contexto social. Considerações finais: Compreende-se que as
gestalten são configurações ou formas particulares das coisas que
aparecem no grupo como necessidades individuais e grupais dentro de
um campo (fundo)(MARTÍN, 2008). Asgestalten se sobressaem na
percepção do grupo (como uma figura). Não buscamos, contudo, ajustar
as pessoas em certo sistema, mas a construção do indivíduo como
sujeito, o desenvolvimento da awareness –ou conscientização - de si
enquanto responsável por sua existência, e o seu impacto no coletivo.

825
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Por que não agora? Impressões acerca da diminuição de leitos


no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano

Thalita Trajano da Fonsêca Santos


Rafael Luiz Nogueira Guimarães
Universidade de Pernambuco – UPE

Introdução:Diante do contexto de pandemia de Covid-19, foi necessário


o fechamento de alguns dos leitos do Hospital Ulysses Pernambucano. A
unidade é a principal referência em atendimento à emergência
psiquiátrica do estado de Pernambuco e o último hospital psiquiátrico
em atividade na cidade do Recife. Com uma RAPS composta por 141
CAPS, consonante à Reforma Psiquiátrica, Lei 10216/01, o estado e os
municípios ainda têm dificuldades em promover o cuidado em saúde
mental em situações de atenção à crise. O contexto da pandemia que
impeliu ao fechamento, em situação contingencial, de alguns dos leitos
para internamento, reacende a discussão acerca do processo de
efetivação dos serviços substitutivos em Saúde Mental e a urgência do
fechamento do hospital. Descrição da experiência:A residência
uniprofissional, enquanto elemento de formação de profissionais em
serviço, nos permitiu vivenciar os ajustes realizados no Hospital
Psiquiátrico e em outros dispositivos da RAPS do Recife diante do
estabelecimento dos protocolos de biossegurança na pandemia, em que
se exigiam menores agrupamentos de pessoas e distanciamento mínimo
entre elas. Dentre as medidas adotadas pela gestão do hospital
estiveram avaliações de risco mais criteriosas na porta de entrada da
emergência, promovendo redirecionamento dos usuários para o
cuidado no território e a redução do número de leitos disponíveis aos
internamentos de urgência e emergência, além de ter sido percebida a
redução no tempo das internações. Nos CAPS foram necessários ajustes
no manejo nessa contingência que impelia a uma reformulação da rede
e do cuidado.

826
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Repercussões:O novo arranjo mobilizou as equipes, os serviços


substitutivos, a atuarem de modo a cuidar da crise no território, tomar
medidas de prevenção à crise e de promoção de saúde na aproximação
com os usuários, com ações de contratualidade e maior cuidado junto
aos familiares, em especial, remotamente. Tornou-se possível o manejo
de crises sem o recurso ao internamento psiquiátrico, considerada sua
oferta mais restrita. Considerações finais:As diretrizes da RAPS priorizam
um tratamento psicossocial no território, sob um projeto terapêutico
singular que inclua as redes socioafetivas dos usuários. É importante que
o internamento, enquanto recurso de urgência, seja prestado, portanto,
no território onde vive o sujeito. Um hospital e emergência psiquiátrica
sob gestão estadual e centralizado na capital do estado aponta
incongruência com as políticas públicas de saúde mental instituídas.
Além disso, o Relatório de Inspeção Nacional dos Hospitais Psiquiátricos
prevê o fechamento das portas de entrada como forma de responder às
condições de tratamento ofertadas pelas instituições inspecionadas. O
cenário atípico de pandemia sinaliza a possibilidade de prescindir desse
modelo de cuidado. Recém-inseridos na RAPS, em caráter formativo,
cientes da dimensão política de tensionamentos e mobilização que
incluem uma residência, o SUS, e a garantia de direitos humanos, nos
vemos às voltas com tal cenário. Mais do que propor respostas e diante
da evidência que outras propostas de cuidado puderam ser construídas
com a diminuição dos leitos, perguntamos por que não agora o
fechamento do Ulysses Pernambucano? O que falta para isso? Ou quais
as forças envolvidas na manutenção de Hospital Psiquiátrico?

827
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Por um cuidado antimanicomial, feminista e antirracista: a experiência


da ação Mulheres, Marés e Territórios no cenário de pandemia

Gabriela Nascimento Celestino


Centro de Atenção Psicossocial

Rachel Gouveia Passos


Escola de Serviço Social – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Melissa de Oliveira Pereira


Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca

Jiulia Caliman Muylaerte de Menezes


Maria Carolina A P Paes
Mariane Xavier da Silva Vieira
Instituto de Psiquiatria da UFRJ

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) trouxe diversas


consequências, dentre elas mortes, sofrimento e luto. No Brasil,
passados seis meses de isolamento social com fechamento de atividades
comerciais não essenciais, assistimos ao crescimento do desemprego e
da miséria de um lado e ao aumento de pelo menos 30% do patrimônio
dos mais ricos do país, escancarando e aprofundando uma desigualdade
já existente. Na cidade do Rio de Janeiro, o cenário não tem sido
diferente, principalmente no que diz respeito às favelas, já que o Estado
só tem afirmado a violência e a pobreza como estratégia. Considerado o
maior conjunto de favelas do Brasil, o complexo da Maré, no município
do Rio de Janeiro, foi um dos territórios que teve que se reinventar
durante a pandemia. De acordo com o último censo populacional da
Maré, mulheres têm uma participação expressiva como únicas
provedoras de suas famílias e são maioria na comunidade. Além de
provedoras e chefes de família, são as mulheres aquelas que acabam

828
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

promovendo o cuidado dos mais dependentes como idosos, crianças,


pessoas em sofrimento psíquico grave, deficientes etc., levando a um
processo de sobrecarga física e mental. Compreendemos que o cenário
de pandemia agravou a situação econômica, política, social e cultural da
realidade brasileira, atingindo diretamente a população mais
empobrecida. Nesse sentido, são as mulheres negras, pobres e faveladas
as mais atingidas e, quando chegam aos equipamentos de saúde e saúde
mental, são altamente medicalizadas. Articulando uma proposta que
visa à viabilização de um cuidado que seja antimanicomial, antirracista e
feminista, temos realizado atendimentos para mulheres que estão em
sofrimento e demandam um determinado suporte para lidarem com a
pandemia e as mazelas sociais. Diante do cenário de pandemia, o
Projeto de Pesquisa e Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos,
vinculado à Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (ESS/UFRJ), coordenado pelas professoras Melissa de Oliveira e
Rachel Gouveia, construiu uma parceria com a Residência
Multiprofissional em Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), a Casa das
Mulheres da Redes da Maré e o Centro de Atenção Psicossocial Ad III -
Miriam Makeba. O objetivo deste trabalho é apresentar a proposta e os
primeiros resultados desta intervenção voltada a viabilizar um cuidado
em saúde mental direcionado para as mulheres negras, pobres e
moradoras da favela da Maré, a partir de atendimentos com base na
Casa das Mulheres por meio de uma equipe multidisciplinar composta
por três residentes e um profissional do CAPS. Até o momento a equipe
se deparou com as dificuldades de acesso à rede assistencial
intersetorial, o não direito ao isolamento social por parte das mulheres
acompanhadas e à construção de uma atenção psicossocial que não seja
reduzida à lógica biomédica, mas se propõe a acompanhar o
fortalecimento de redes e parcerias locais, assim como a construção de
outras estratégias junto às equipes dos diversos dispositivos
assistenciais e usuárias.

829
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Possibilidade de novos olhares:


oficina de fotografia para além do CAPS

Josiene Oliveira da Silva


Prefeitura de Resende-RJ/ UFFRJ

Italo Teles
Prefeitura de Resende-RJ

Introdução: O CAPS configura-se como serviço aberto e de atenção


diária, constituído de uma equipe multiprofissional e que atua em uma
lógica de cuidado no território e na comunidade. Dessa forma, são
serviços que visam à construção de ações que possibilitem a reabilitação
psicossocial através da inserção pela cultura, lazer, arte, trabalho etc.
Assim, surgiu a oficina de fotografia no CAPS II do município de
Resende- Rio de Janeiro, chamado CAPS Casa Aberta. Inicialmente o
trabalho foi feito com 10 usuários para que conseguíssemos uma
atividade extramuros. Objetivo: possibilitar aos usuários do CAPS a
fotografia como dispositivo ou recurso terapêutico, visto que o ato
fotográfico seria uma forma de experimentar a vida, de investigar, de
torná-la mais veemente e mesmo de transformá-la. Método: Realizou-se
um estudo teórico para que na prática fosse possível buscar uma
atuação para além dos muros do CAPS, potencializando o senso de
autonomia; promovendo e/ou potencializando o exercício de escolha,
espera e decisão; possibilitando assim semanalmente um enlace com o
social; tendo a fotografia como forma simbólica de “ter um lugar no
mundo”, de “ser reconhecido” e de tomar decisões quanto ao que
fotografar. Resultado: Usuários passaram a decidir locais que gostariam
de fotografar, proporcionando uma autonomia e liberdade para
reconstrução dos sujeitos como atores sociais, de forma a evitar a
colagem da imagem estereotipada do louco na identidade dos usuários
dos serviços de saúde metal; resultando ao fim de um ano de oficina em
uma nova perspectiva de olhares, com exposição de fotografias

830
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

realizadas pelos próprios usuários, onde conseguiam se


reconhecer.Conclusão: A fotografia como recurso terapêutico é um
potente dispositivo de cuidado e de assistência em saúde mental para
além do CAPS, possibilitando a reinserção social e a quebra de
paradigmas, uma vez que possibilita a escuta do singular e a constituição
de um sujeito autônomo e inserido no social.

831
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Possibilidades de produção de cuidado no NASF: experiências na


trajetória de psicólogas em uma Residência Multiprofissional em
Saúde da Família

Carolina de Souza Sampaio


Kézia de Oliveira Nascimento Souza
Residência Multiprofissional em Saúde da Família – Fesf/Fiocruz Bahia

Este relato de experiência tem por base a inserção das psicólogas na


composição do NASF do programa de Residência Multiprofissional em
Saúde da Família Fesf/Fiocruz no município de Camaçari, Bahia. O NASF
em questão tem por composição os núcleos de psicologia, nutrição,
fisioterapia e educação física. Há cobertura de duas unidades
constituídas por oito equipes no total, sendo todas estas compostas
também por residentes. Este trabalho ocorre num contexto de
desmonte na perspectiva do financiamento e de modelos de cuidado do
SUS (Emenda Constitucional 95/ PEC 241), o que põe em fragilidade a
existência da equipe. O NASF possui uma dinâmica de trabalho diversa,
com modos de atuação que se diferenciam por território e
características das Equipes Saúde da Família (ESF). Neste contexto,
durante o primeiro ano de atuação, foram desenvolvidas pelas
psicólogas as seguintes ações: educação permanente, discussão de
casos, visita domiciliar, consulta compartilhada e individual, grupos na
perspectiva de assistência e de promoção em saúde mental, salas de
espera e articulação com pontos da rede de atenção psicossocial. A
partir destes espaços, a psicologia buscou atuar na ampliação do olhar
para a saúde mental no território e potencializar as ações das equipes
através do compartilhamento do cuidado, compreendendo que a
dimensão subjetiva é historicamente negligenciada na condução do
cuidado em saúde. Assim, o trabalho transdisciplinar permitiu
transformar modos com que as equipes conduziam não só os casos que
envolviam sofrimento psíquico grave, mas um olhar integral para

832
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

usuários e suas famílias nas situações cotidianas da Saúde da Família,


demandas psicossociais envolvidas nos casos de hipertensão, diabetes,
acompanhamento gestacional etc. Nas atividades coletivas, buscou-se
alterar a lógica de condução para considerar singularidade, autonomia e
modos de relação mais horizontalizados. Ampliando os olhares frente às
demandas de saúde, aumentou-se a resolutividade e casos que outrora
seriam referenciados tiveram encaminhamento na própria USF.
Consideramos também que o fazer transdisciplinar possibilitou também
ampliação da formação em saúde mental aos outros profissionais,
estando mais qualificados a lidar com a saúde em sua perspectiva
multidimensional.

833
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Prática de acolhimento no CAPS AD de um município


do interior da Bahia: um relato de experiência

Dailey Oliveira Carvalho


Sidney Sheldon Oliveira Bessa
Ohana Cunha do Nascimento
Dalva Monalysa da Silva Santos
Carina Pimentel Souza Batista
João Danilo Batista de Oliveira
Universidade Estadual de Feira de Santana

Luiza Maria de Carvalho Pacheco


Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana

Introdução: O acolhimento constitui uma das diretrizes da Política


Nacional de Humanização, considerado como um processo de práticas
de produção e promoção de saúde desde a chegada do usuário até sua
saída do serviço. A estigmatização e o preconceito são fatores que
promovem a vulnerabilidade dos usuários de álcool e outras drogas,
sendo os serviços da rede de atenção psicossocial responsáveis por
detectar, informar e tratar dessas questões, estimulando a reinserção
social do indivíduo com dependência química. Diante do exposto, pode-
se inferir a necessidade do acolhimento na atenção aos portadores de
transtornos mentais devido ao uso de álcool e outras drogas. Objetivo:
Relatar a experiência vivenciada no Centro de Atenção Psicossocial
Álcool e Drogas (CAPS AD) em um município no interior da Bahia.
Metodologia: Estudo descritivo, a partir de um relato de experiência, em
que foram realizados dois dias de acompanhamento de consultas com
um psiquiatra da unidade, um momento em sala de espera e duas
oficinas com um grupo terapêutico, enquanto discente do curso de
Medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), durante
a realização de atividades da Iniciação Científica no ano de 2020.

834
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Resultados e discussão: As consultas eram dinâmicas e permeadas por


diferentes histórias de como a substância psicoativa pode afetar o
indivíduo em vários aspectos de sua vida. O objetivo da sala de espera
era tratar sobre o Covid-19, ao desmistificar os equívocos e esclarecer
como deveria ser feita a prevenção. As oficinas realizadas com o grupo
terapêutico eram discussões acerca de um tema e os usuários as
associavam aos fatos ocorridos em suas vidas, compartilhando suas
experiências com o grupo. Nas consultas com o médico psiquiatra, foi
possível observar suas posturas e atitudes frente às situações dos
usuários, as quais se mostraram humanas e voltadas ao cuidado integral
e holístico dos indivíduos. Na conversa individual com uma usuária em
sala de espera pudemos presenciar e aplicar a prática do acolhimento,
ao dialogar sobre as inquietudes da mesma, escutá-la e orientá-la
dentro do serviço. Já a orientação em sala de espera mostrou-se positiva
em relação à construção de um diálogo grupal sobre um tema de saúde
no tocante individual e coletivo. Nos grupos terapêuticos, os
participantes destacaram a força de vontade e a perseverança da família
em ajudá-los como fatores importantes em seu processo de superação e
tratamento de sua condição. Também evidenciaram a recaída como
fator frequente na recuperação, reconhecendo essa situação como
parte do processo, e evidenciaram o CAPS AD como dispositivo
auxiliador no processo de aceitação da condição do usuário e realização
do tratamento. Considerações finais: Dessa forma, é possível notar
diferentes momentos onde o acolhimento é realizado no CAPS AD,
necessário para a manutenção do indivíduo no serviço de saúde e
auxiliando o processo de adesão terapêutica dos usuários. As questões
relacionadas ao estigma e preconceito permeiam as histórias de vida e
mostram-se como cicatrizes, ainda não totalmente curadas, dando à
unidade a responsabilidade de lidar com essas questões e superá-las
como parte do processo de recuperação do usuário.

835
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Prática de uma enfermeira residente em um Centro de Atenção


Psicossocial Álcool e outras Drogas: relato de experiência

Adriana Brandão Ribeiro


José Luiz da Cunha Pena
Veronica Batista Cambraia Favacho
Francineide Pereira da Silva Pena
Carla Emanuela Xavier Silva
Cláudia Sena Ferreira Orlando Garcia Nascimento
Maria Silvia da Costa Silva
Raissa dos Santos Flexa
Ailson Soares de Almeida
Universidade Federal do Amapá – Unifap

Jucirema Rodrigues Farias


Santa Casa da Misericórdia-Pará

Introdução: Diante do cenário atual, em que há uma discussão sobre a


Política Nacional de Saúde Mental e da Política de Álcool e outras
Drogas, tornou-se importante compreender e conhecer a dinâmica do
serviço em um Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras
Drogas (CAPS AD), o qual se institui o modelo de atenção psicossocial
através de uma rede de serviços. Descrição da experiência: estudo com
desenho descritivo de relato de experiência por uma enfermeira
residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde
Coletiva, área de concentração Saúde Mental, pela Universidade Federal
do Amapá (Unifap), no período de abril a outubro de 2019 em um CAPS
AD. As atividades ocorrem nos horários matutino e vespertino,
semanalmente e são supervisionadas por trabalhadores específicos do
serviço, denominados preceptores. Repercussões: Durante a prática
acompanhamos a rotina do local, incluindo oficinas terapêuticas,
realizando consultas de enfermagem, grupo de familiares, entre outras

836
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

atividades do serviço. A partir das necessidades detectadas pelos


profissionais nos usuários são elaborados os Planos Terapêuticos
Singulares e estratégias de apoio à equipe. A experiência no CAPS AD
nos permite conhecer o funcionamento do Componente Especializado
da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e compreender como é
fundamental em saúde mental para o cuidado qualificado,
interdisciplinar e multiprofissional para evolução melhor do usuário.
Além disso, nos proporciona colocar em prática o que aprendemos na
academia, contribuir com a equipe e aprender diariamente com a
mesma, construindo vínculo com os usuários e familiares, bem como
articular estratégias de assistência que melhorem a qualidade de vida de
todos os envolvidos neste processo. Considerações finais: Destaca-se o
alcance do objetivo com o relato de uma experiência construtiva e
positiva para a caminhada profissional no segmento da Saúde Mental de
uma enfermeira residente, o que vislumbra a necessidade de mais
estudos sobre os componentes da RAPS no estado do Amapá.

837
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas corporais, socialização e saúde: experiências na


Rede de Atenção Psicossocial de Pernambuco

Ameliane da Conceição Reubens Leonidio


Universidade de Pernambuco - UPE

Angelita Danielle Gouveia da Silva


Faculdade de Ciências da Saúde de Serra Talhada

Camila Serrano de Andrade Mulatinho


Danielle de Arruda Costa Beltrão
Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva – UFPE- Hospital das
Clínicas de Pernambuco

No modelo de Atenção Psicossocial, no qual a doença é colocada entre


parêntese para que o cuidado singular seja exercido, distintas categorias
profissionais, com o intuito de ampliar o olhar terapêutico, devem
auxiliar a superação do establishment psiquiátrico. Desta forma, este
trabalho consiste em apresentar três experiências, de caráter
interprofissional, nas quais as práticas corporais foram incluídas
objetivando a produção da saúde de indivíduos com transtornos
mentais, considerando, sobretudo, os aspectos sociais. Serão relatadas
vivências no Grupo Movimento Cultural, ocorridas no Centro de
Desinstitucionalização em Saúde Mental, no município de Camaragibe,
Pernambuco. Posteriormente, será apresentado o projeto intitulado
“Conhecendo Minha Comunidade”, que visava o reconhecimento de
agências socializadoras em bairros periféricos, desenvolvido num Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS) do município de Recife. Por fim, serão
expostas as vivências na atenção básica, a partir da consolidação do
Grupo Bem-Estar, criado numa Unidade de Saúde da Família do
município de Recife com o objetivo de proporcionar um cuidado integral
para os indivíduos que faziam uso de psicofármacos, sustentando-se na
clínica ampliada. Os dados foram obtidos com base nos registros dos

838
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diários de campo de uma equipe multiprofissional de residentes em


Saúde Mental e discutidos à luz das experiências com as práticas
corporais e do indivíduo, com foco no conceito de Socialização. Neste
sentido, traçou-se uma linha de raciocínio baseada na pluralidade do
processo de socialização da contemporaneidade, a partir da integração,
das estratégias de regulação dos intercâmbios sociais e da subjetivação.
De tal modo, possibilitar a vivência e o resgate de práticas corporais por
usuários dos dispositivos da Atenção Psicossocial pode se constituir
como uma estratégia para integração e, consequentemente, construção
de identidades, criação de vínculo, práticas de cuidado de si e
empoderamento, que produzirão saúde, permitindo a socialização e o
distanciamento das práticas manicomiais do passado. Vale ressaltar que
experiências diversas com as práticas corporais nos dispositivos e ações
de saúde estavam em consonância com a Lei 10.206 de 2001.

839
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas de autonomia e exclusão de um Centro de


Atenção Psicossocial: um relato de experiência

Julia do Couto Bueno


Lara Perussi Zanetoni
Julia Luciula Silva
Clara De Simoni
Tiago Humberto Rodrigues Rocha
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

Com a Reforma Psiquiátrica ocorrida nos anos 1970 no Brasil, é


perceptível a permanência de traços de instituições totais nas biografias
dos sujeitos. Para superar essas marcas é necessário subjugar o modelo
biomédico, pois esse faz com que um discurso institucional permeie
esses espaços refletindo no cotidiano dos indivíduos que ocupam esse
local. Considerando a relação institucionalização e autonomia, este
relato tem como objetivo refletir sobre o quanto o cotidiano de um
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é influenciado por marcas
institucionais e como é manejada tal realidade. O relato tem caráter
qualitativo-descritivo e foi feito a partir de visitas feitas por quatro
estudantes em um Centro de Atenção Psicossocial em uma cidade do
interior de Minas Gerais. Foram estabelecidos dois eixos temáticos: (1)
herança manicomial: a falta de autonomia nas práticas diárias; (2)
práticas cotidianas e o desenvolvimento de autonomia. No primeiro,
pode-se observar que os usuários compreendiam a importância da
medicação, porém o mesmo não acontecia com as oficinas ocorridas.
Ficou evidente um apego aos locais próximos e ao grupo, em muitas
situações quando questionados era comum procurarem ajuda dos
profissionais ou estagiários. A procura constante de autorização e uso de
metáforas que faziam alusão pejorativa aos transtornos mentais
também pode ser percebida. No segundo eixo, percebemos um esforço
do CAPS em integrar esses indivíduos na comunidade através da prática

840
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de Acompanhamento Terapêutico (AT), além de práticas que mobilizam


tanto usuários quanto a comunidade externa. A realização de
assembleias deliberativas também é uma forma desses usuários
exercerem a sua autonomia. As práticas manicomiais podem ser
analisadas através do discurso ideológico e suas funções, além do mais
se deve considerar que a alienação desses sujeitos também é
responsável pela permanência dessas práticas em dispositivos abertos.
Ainda, a desqualificação do discurso atrelada à infantilização do sujeito
faz com que comportamentos, tais como recorrer ao outro, precisar de
autorização etc., tornem-se recorrentes. O fato da loucura nunca ter
tido um local definido possibilita que os sujeitos se identifiquem com o
diagnóstico e internalizem esse discurso, reforçando a condição de
alienação do sujeito. Já a autonomia é construída através da articulação
dos sujeitos com coletivos. Ao aumentar o poder de agir sobre si e sobre
o contexto onde vive, é possível ampliar as redes de apoio, o que
permite maiores graus de autonomia. A utilização de diferentes recursos
terapêuticos, visando outros segmentos da sociedade e o
reconhecimento do sujeito como usuário-ator, permite que a autonomia
possa ser retomada. Além do mais, as práticas fora da instituição geram
uma alteração do fluxo de poder existente, dando mais poder e espaço
para esses sujeitos. O direito à renda também é uma forma de garantir
autonomia, pois isso permite que os sujeitos se insiram no mercado de
consumo e em outros locais da sociedade. Conclui-se que os sujeitos
carregam práticas manicomiais internalizadas pela posição que a
sociedade os colocou, porém a instituição tem propostas que visam à
retomada da independência, colocando o sujeito como protagonista de
suas ações, deslocando-o do lugar de excluído.

841
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas de valorização da vida de pacientes em grupos


terapêuticos no hospital-dia: relato de experiência

Andressa Lima de Lucena


Equilibrium Day Hospital

Introdução: A história da Reforma Psiquiátrica Brasileira teve início no


final da década de 1970, em função da crítica ao modelo asilar de saúde
mental, como também pela escassez de tratamento efetivo e benéfico
aos sujeitos com transtornos mentais, aliada aos esforços do MTSM em
reivindicar os direitos dos pacientes institucionalizados. Inspirada pelo
modelo italiano de desinstitucionalização, promoveu uma mudança
radical nos paradigmas em cuidados de saúde mental da época, criando
o lema: "Por uma sociedade sem manicômios". Os hospitais-dia em
saúde mental são serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos,
avaliados como uma estratégia potente para tratamento em reabilitação
psicossocial e dependência química, tendo como principais atividades os
grupos terapêuticos. Estes são considerados práticas eficazes em
cuidado da saúde mental, por permitir um espaço de fala, escuta, troca
de experiências entre os integrantes e facilitadores, gerando assim
confiança e esperança a todos. Este trabalho tem como objetivo
explorar e descrever as atividades de psicoterapia em grupo, como
também compreender as concepções de adoecimento psíquico dos
integrantes, possibilitando práticas de valorização da vida. Descrição da
experiência: Utilizou-se como método a observação exploratória da
realidade de pacientes em um hospital-dia da cidade de Feira de
Santana, Bahia, no grupo terapêutico específico intitulado: “Cultivando
o Enfrentamento”. As reuniões ocorriam semanalmente em um período
determinado. O grupo era composto por oito integrantes, todos com
mais de três meses de tratamento na unidade. As atividades
desenvolvidas consistiram em apresentação da sua trajetória até o
momento atual, em paralelo a atividades vivenciais com a arte,
realizando reflexões sobre cada diagnóstico e práticas de valorização da

842
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vida. Repercussões: Diante da observação como facilitadora da oficina,


foi visto o lugar de incômodo de cada integrante ao relatar estigmas
sofridos socialmente e suas compreensões sobre o diagnóstico. O
movimento de contar a própria história contribui como forma de avaliar
sua evolução, sendo a fala um recurso bastante terapêutico. As
atividades com a arte são ferramentas de expressões potentes, capazes
de expressar questões não verbalizadas e não acessadas
conscientemente pelo o sujeito. Considerações finais: Em virtude dos
fatos mencionados, os grupos terapêuticos promovem um espaço de
ajuda mútua entre os integrantes. Percebe-se que os discursos são
pronunciados livremente, trazendo questões íntimas, criando um elo de
confiança entre os participantes, coesão e formação de vínculos entre
todos. A adesão ao tratamento e as estratégias de enfrentamento são
maximizadas quando os pacientes percebem que não são os únicos a
vivenciarem esta experiência. As atividades em grupo são instrumentos
ricos em reabilitação psicossocial, promovendo lugar de fala e
empoderamento do sujeito. Por fim, compreendemos o quanto é
significativamente necessário o tratamento do sujeito em sofrimento
psíquico ocorrer dentro do seu território permitindo autonomia,
inclusão e acolhimento aos usuários sem excluí-los de seus laços e
identidade social.

843
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas expressivas no atendimento a jovens


e adolescentes com sofrimento psíquico

Maria Regina Ceo Andrade


Allan Raniere Santos da Silva
Antonieta Souza Ramos
CAPS III - Castanheira – Marabá

O Centro de Atenção Psicossocial Castanheira (CAPS III) tem sido um dos


dispositivos de cuidado à saúde mental de adolescentes e jovens com
sofrimento psíquico na cidade de Marabá, Pará. O CAPS é um espaço de
cuidado e convivência de pessoas com transtorno mental que recebe
diariamente jovens e adolescentes – na ausência do serviço
especializado de atenção psicossocial a população infanto-juvenil – que
denunciam, através de conflitos familiares, escolares, comunitários etc.,
as contradições do modo de vida de uma sociedade não menos
conflituosa e violenta. Dessa forma, a sociedade enfrenta a realidade e a
necessidade de compreender a problemática desses jovens e
adolescentes, recorrendo muitas vezes, primariamente, a um olhar
patologizante dos casos, requerendo da gestão o tratamento
ambulatorial psiquiátrico, via pela qual a medicalização tem atravessado
algo do ser jovem e ser adolescente na cultura contemporânea. Além
das questões que envolvem a realidade multifacetada dos jovens e
adolescentes, são encaminhados ao CAPS casos referentes ao uso
problemático de álcool e outras drogas, transtornos de humor,
automutilação, comportamento suicida, dentre outros. Para atuar com a
diversidade que envolve tal problemática, optando pela busca da
despatologização da vida e pela busca de alternativas terapêuticas
frente ao fenômeno do sofrimento psíquico na atualidade, é realizado o
atendimento psicoterapêutico de grupo, utilizando a pintura, a música e
outras práticas expressivas como uma linguagem de acesso e encontro
das subjetividades de nossos usuários, traçando caminhos de cuidado

844
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

que optam pela escuta do sofrimento e convivência coletiva como uma


intervenção primordial do cuidado. Para o CAPS III da cidade de Marabá
este trabalho trouxe resultados inovadores quanto ao clássico
atendimento psicoterapêutico individual demandado aos profissionais
de psicologia, visto que a construção e a desconstrução do sofrimento
psíquico dos sujeitos passam também pelo enlace social e
comunitário.Além disso, a metodologia revelou ser uma alternativa de
acesso à comunicação terapêutica nos casos em que a linguagem falada
não é eleita ou privilegiada pelo usuário.

845
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Práticas integrativas e complementares no cuidado


à pessoa que vivencia o alcoolismo

Demeia Campos Meira


Larissa de Oliveira Vieira
Larissa Campos Meira
Laiza Carvalho Costa
Samara Santos Souza
Pamella Bispo Botelho
Ellen Silvestre Lima de Araújo
Yanka dos Santos do Nascimento
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Introdução: O alcoolismo constitui-se um grave problema de saúde


pública, caracterizado como síndrome de dependência multifatorial com
repercussões de comprometimento biopsicossocial. Diante da
complexidade para a compreensão dos usuários de álcool é necessário o
desenvolvimento de práticas de cuidado que atendam a integralidade
do ser humano por meio de estratégias não medicamentosas no
controle de danos, com ênfase para os sintomas de ansiedade, sintomas
depressivos, supressão e recaída no consumo habitual de álcool. Entre
os recursos utilizados para as ações de promoção da saúde para os
usuários de álcool estão as Práticas Integrativas e Complementares
(PICS), que foram regulamentadas pela Portaria Ministerial nº 971 de
maio de 2006, sendo ampliadas em 2017 e 2018. O objetivo desse
trabalho é relatar a experiência durante o desenvolvimento de ações de
cuidado integrativo e complementar junto a consumidores habituais de
álcool. Descrição da experiência: A pesquisa foi realizada com usuários
de álcool em um Centro de Atenção Psicossocial/ Álcool e outras drogas,
no período de abril a dezembro de 2019, em um município do interior
da Bahia. Como critérios de inclusão, foram selecionados onze
participantes, que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa,
sendo a maioria do sexo masculino (90%), de raça branca (60%), com

846
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

idade entre 26 a 71 anos e histórico de consumo de 25 anos em média


do álcool, solteiros ou divorciados (90%), com baixo nível de
escolaridade (60%), baixa renda (50%) ou sem renda (40%). As ações
foram desenvolvidas com os usuários uma vez por semana, com duração
individual de 10 a 15 minutos, perfazendo o total de 30 sessões de
acupuntura/auriculoterapia acompanhado de aromaterapia, sendo
desenvolvidas por enfermeiras com formação técnica. Para a execução
das práticas foi realizada com os usuários uma avaliação diagnóstica
para a dependência química, seguindo os protocolos recomendados
pela Associação Nacional de Acupuntura para Desintoxicação – NADA.
Foram incluídos na pesquisa os participantes que aceitaram
olfativamente o aroma do óleo essencial de lavanda (Lavandula
angustifolia), laranja (Citrus sinensis), alecrim (Rosmarinus officinalis),
hortelã-pimenta (Mentha piperita) e não estar gestante. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP/ UESB – CAAE. nº
07378818.2.0000.0055. Foram garantidos o sigilo e o respeito ao
anonimato das participantes. Repercussões: O desenvolvimento da
intervenção das PICS com usuários permitiu os seguintes destaques:
houve a adesão efetiva deles na utilização das práticas integrativas
propostas, sendo registrada a assiduidade às sessões de atendimento; o
compromisso dos usuários para a execução das orientações diárias
recomendadas pelas práticas de acupuntura/auricoloterapia e
aromaterapia; os relatos dos usuários quanto à melhoria nas condições
de sono/ repouso e controle dos sintomas de abstinência do álcool,
controlando possíveis recaídas. Considerações finais: A utilização de
PICS, a exemplo da acupuntura/ auricoloterapia e aromaterapia, no
cuidado a usuários de álcool reforça a importância de inserir novas
ferramentas para a atenção em saúde, que contemplem ações tanto na
prevenção dos agravos quanto no processo terapêutico e na promoção
da saúde mental e da qualidade de vida de usuários.

847
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Prazer e sofrimento no trabalho: um relato de experiência


de estágio em um Hospital Regional do Tocantins

Sarah de Oliveira Sousa


Emilly Kelem Sousa Silva
Fernanda de Sousa Reis
Eduardo Breno Nascimento Bezerra
Nadja Lopes Reis
Universidade Federal do Tocantins

Este trabalho tem como objetivo apresentar um relato de experiência de


um estágio básico desenvolvido na perspectiva da psicologia do trabalho
por estudantes do curso de Psicologia da Universidade Federal do
Tocantins. O estágio teve como principal atividade oferecer escuta
acerca das situações de prazer e sofrimento vivenciadas por
profissionais de um Hospital Regional no interior do Tocantins. A
Psicodinâmica do Trabalho foi a abordagem adotada para subsidiar as
práticas desenvolvidas no estágio. Nesse sentido, foram realizados
quatro encontros na modalidade de roda de conversa com os
profissionais do hospital. A participação nos grupos foi voluntária e os
profissionais foram convidados previamente para a atividade. Desse
modo, o número de participantes variou entre sete a onze profissionais
por encontro. Em cada encontro os participantes podiam falar
livremente sobre quaisquer situações vivenciadas no trabalho,
entretanto também foram utilizadas algumas dinâmicas de grupo como
proposta de disparo para os diálogos. A construção desse espaço de
escuta possibilitou a mobilização subjetiva dos profissionais que
participaram dos encontros, permitindo que os mesmos falassem de
suas vivências no trabalho e do modo como esses processos influenciam
na saúde mental. Os participantes destacaram situações de sobrecarga
laboral, relação conflituosa com a gestão da instituição e ainda foram
relatadas situações de assédio moral, fatores que incidem de forma
danosa sobre a saúde mental desses trabalhadores. Além disso, os

848
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mesmos destacaram a necessidade e importância de ter um espaço


contínuo como este, no qual é possível falar, dialogar e elaborar
estratégias para as dificuldades enfrentadas no ambiente institucional
do hospital. Esses encontros foram ainda mencionados pelos
participantes como um momento valioso, pois propiciaram a percepção
das situações também vivenciadas pelos seus pares, e que também
serviu como um espaço de cuidado para eles. Dessa forma, foi possível
verificar a importância da construção de espaços que dê voz aos
trabalhadores para exporem suas angústias e inquietações decorrentes
do trabalho e de como atividades dessa natureza podem ajudar a
ressignificar e (re)construir as vivências no trabalho. Essa experiência
permitiu ainda observar que a atuação do psicólogo no contexto da
Psicologia do Trabalho deve se ater à vida psíquica, entendendo as
relações entre organização de trabalho e o sujeito, sendo capaz de
interpretar a fala, o silenciamento, e a subjetividade dos indivíduos,
compreendendo aspectos do sofrer, bem como as estratégias e os
mecanismos utilizados como instrumentos de defesa, como forma
também de lidar com as circunstâncias da vida laborativa.

849
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ProcedimentosSUS: a materialização da resistência


ao retrocesso na política de saúde mental

Cleide Maria Batista Rodrigues


CAPS AD CPTRA

Maria das Graças Diniz


Prefeitura da Cidade do Recife– Universidade Católica de Pernambuco

Cristiane Carvalho de Holanda


Luciana Ferreira Gomes Espindola
Sandra Nascimento Guedes
Prefeitura da Cidade do Recife

Introdução: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são dispositivos


em saúde mental que têm a premissa de garantir o atendimento
humanizado às pessoas em sofrimento psíquico por transtorno mental
ou decorrente do uso de substância psicoativas. São importantes para a
garantia do cuidado em liberdade e, sobretudo, como modelo de
assistência integral, intersetorial e interdisciplinar preconizado pelo
Sistema Único de Saúde em atenção à crise e ações psicossociais.
Objetivo: mostrar a importância dos registros dos procedimentos SUS
(RAAS-BPAI E BPAC) pelos profissionais, para visibilidade das ações e
defesa da política de saúde mental. Descrição da experiência: O CAPS AD
CPTRA é um CAPS tipo 3 com funcionamento 24h. Em 2017, percebemos
que este, apesar das inúmeras ações que realizava pertinentes ao
cuidado na assistência 24h (acolhimento, atenção à crise, ações de
redução de danos, grupos, atendimento familiar, assembleia, conselho
gestor e outras atividades de reabilitação psicossocial), apresentava a
subnotificação do registro dessas atividades, haja vista que as tabelas
referentes à produção SUS do município apontavam para essa
discrepância. A partir desse diagnóstico foram criadas estratégias de

850
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

intensificação das ações de orientação e esclarecimento sobre o tipo e


objetivo dos procedimentos realizados, a necessidade de investimentos
no matriciamento, bem como potencializar a importância do registro na
valorização da política de saúde mental, sobretudo em cenários de
retrocesso e ameaça ao modelo do cuidado em liberdade. Desse modo
passamos a realizar o monitoramento periódico e contar com a
assessoria técnica da coordenação de saúde mental deste município,
que criou um sistema de monitoramento sistemático e avaliativo para
valorização da notificação dos procedimentos SUS entre as equipes dos
CAPS. Repercussão: A educação e monitoramento permanente junto às
equipes de trabalho tem melhorado o padrão de registros, assim como a
compreensão sobre a importância desses ao retratarem a realidade
daquele serviço. Paralelamente também proporciona uma leitura crítica
de que os procedimentos SUS não se limitam apenas à produção
numérica de dados, mas tornam-se ferramentas importantes para a
avaliação do processo de trabalho dos e a assistência qualificada aos
usuários. Revela com transparência a materialização da política de saúde
mental dando visibilidade ao Ministério da Saúde, a esses processos
garantindo novos recursos. Considerações finais: Concluímos que os
procedimentos SUS revelam indicadores da clínica ampliada, sobretudo
do Projeto Terapêutico dos usuários que se materializam nos
procedimentos de atenção a crise, protagonismo, contratualidade,
articulação de rede, matriciamento de equipes dos pontos de urgência e
emergência dentre outros. É preciso conhecer os fatores intervenientes
no processo que dificultam o registro adequado e as subnotificações,
desmitificando os procedimentos como algo burocrático, pois estes
podem revelar os potenciais que fortalecem a assistência prestada nos
CAPS e o controle social.

851
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Processo de desinstitucionalização numa clínicapsiquiátrica


no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro

Danielle Alves da Silva Oliveira


Secretaria de Saúde – São Gonçalo/RJ

O processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil vem sendo construído há


alguns anos tendo como principal pilar a desinstitucionalização, que será
caracterizada como a desconstrução de conhecimentos e práticas
psiquiátricas pensando a Política de Saúde Mental. O Movimento da
Reforma Psiquiátrica se iniciou no final da década de 1970 e resultou na
aprovação da Lei 10.216/2001, que trata da proteção dos direitos das
pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência.
Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no
desenvolvimento da política de saúde mental no Brasil, através do
fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de novos serviços
comunitários e participação social no acompanhamento de sua
implementação. O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza
pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Este
trabalho tem como objetivo mostrar as ações desenvolvidas pela equipe
de desinstitucionalização numa clínica psiquiátrica no município de São
Gonçalo, Rio de Janeiro. Trata-se de um estudo quantitativo e
qualitativo, elaborado a partir de um recorte do projeto institucional e
RAPS (Rede de Atenção Psicossocial). Para a pesquisa, foram realizados
observação de campo de modo participante e levantamento de
prontuários ativos e inativos junto aos profissionais da clínica. A coleta
de dados foi feita durante o período de 2017 a 2019. De acordo com os
dados analisados, observou-se que foram realizadas 33 altas
hospitalares, sendo 21 usuários para Retornos Familiares e 12 usuários
para Residências Terapêuticas. Portanto, concluímos serem de suma
importância ações intersetoriais na promoção de saúde e no trabalho
integrado com a rede de saúde mental pensando o fluxo e o diálogo

852
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

com a intersetorialidade. Dessa forma, avançaremos no cuidado


qualificado por meio do acolhimento, acompanhamento e atenção às
urgências, bem como mobilizando e promovendo as políticas a fim de
garantir a livre circulação das pessoas com problemas mentais pelos
serviços, pela comunidade e sociedade, ou seja, por todos os espaços e
território.

853
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Processo de ensino-aprendizagem e efetividade da Pranic


Healing na prevenção ao suicídio: relato de experiência

Bruna Jesus Santos (Discente)


Ionara da Rocha Virgens
Cátia Maria Costa Romano
Universidade Federal da Bahia - UFBA

Introdução: A Pranic Healing é uma Prática Integrativa e Complementar


em Saúde (PICS) desenvolvida pelo mestre filipino Choa Kok Sui.
Também conhecida como a arte de curar por meio da energia, a cura
prânica é um sistema altamente desenvolvido de técnicas envolvendo a
utilização da energia vital. Assim, é classificada enquanto método
científico, terapêutico e multidisciplinar com fins na prevenção e cura do
sofrimento físico e psíquico. A implementação desta modalidade
enquanto PICS no Sistema Único de Saúde (SUS) cumpre o papel de
ampliar o acolhimento e cuidado aos pacientes acometidos pelos mais
diversos tipos de doenças crônicas, degenerativas e até mesmo
psíquicas, com risco para autolesão e suicídio. Descrição da experiência:
Durante o semestre 2019.1, uma estudante do curso de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) desenvolveu e participou de
atividades no componente curricular ACCS ENFC 69, gerando como
produto final um diário de vivência e este relato de experiência. A
referida descrição refere-se a um relato de experiência articulado à
imersão em atividades que ocorreram durante 17 terças-feiras à tarde,
no período de março a junho de 2019, envolvendo aulas teóricas e
práticas desenvolvidas na escola de enfermagem da UFBA, bem como
intervenções externas no Núcleo de Estudos e Prevenção ao Suicídio
(NEPS) ao longo de quatro terças-feiras sucessivas. O NEPS é um núcleo
localizado em Salvador, Bahia, que possui serviço ambulatorial
especializado na prevenção e no tratamento de pessoas em risco
iminente de suicídio no Sistema Único de Saúde (SUS). Repercussões: A

854
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

experiência nessa ACCS foi satisfatória e extremamente importante, à


medida que o método de ensino-aprendizagem promoveu a obtenção
do embasamento teórico e prático necessário para desenvolver as
técnicas da Pranic Healing. Possibilitou, também, a compreensão do
panorama geral acerca do sofrimento psíquico e suicídio na Bahia. Além
disso, viabilizou-se o entendimento da saúde de maneira holística,
contribuindo, assim, para a formação de profissionais que
compreendam a saúde do indivíduo de uma forma integral,
ultrapassando o modelo biomédico de avaliação. Constatou-se que os
usuários acolhidos no NEPS relataram melhoras significativas de seus
quadros psicológicos e emocionais após as quatro sessões de cura
prânica. Eles declararam sensação de paz, serenidade, alívio de dores e
do sofrimento mental, demonstrando a efetividade da Pranic Healing.
Considerações finais: Durante essa experiência foi possível perceber a
Pranic Healing como estratégia contemporânea, complementar e
integrativa ao modelo biologicista com possibilidades de melhoras
significativas ao sofrimento psíquico; como método funcional e eficaz no
tratamento e cuidado às pessoas vulneráveis ao suicídio; como ciência
eficiente na formação pessoal e profissional em saúde dos estudantes,
instrumentalizando-os para a prática com segurança e responsabilidade.
O compartilhamento dessa experiência tem o propósito de instigar
estudantes a participarem da ACCS ENFC 69, a se envolverem e
conhecerem as PICS, assim como investir em produções acerca da Pranic
Healing na literatura científica brasileira.

855
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Processos de construção do cuidado à Saúde Mental no CAPSi


em tempos de pandemia: experiência a partir de um projeto
de extensão na cidade de Maceió, Alagoas

Vívian Karina Alves Leite


Universidade Federal de Alagoas- UFAL

Introdução: O atendimento à Saúde Mental pelo Sistema Único de


Saúde (SUS) é fornecido por meio da articulação da Rede de Assistência
Psicossocial (RAPS), constituindo importante dispositivo de cuidado
apoiado numa perspectiva antimanicomial. Nesse contexto, os Centros
de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi) integram a RAPS como
uma modalidade de cuidado integral, de forma comprometida social e
politicamente com o território e com os/as usuários/as do serviço. No
que diz respeito à configuração da rede na cidade de Maceió, Alagoas, o
CAPSi Luis da Rocha Cerqueira foi inaugurado em 1998 e atualmente é o
único dispositivo de saúde mental voltado ao público infanto-juvenil.
Diante do atual contexto de pandemia, foi desenvolvido um projeto de
extensão a partir da parceria entre equipe do CAPSi e estudantes de
Psicologia, com intuito de articular políticas e gestões de cuidado como
mecanismos essenciais para operacionalizar estratégias, ações e linhas
de atendimento direcionadas à demanda local. Descrição da
experiência: O atual contexto pandêmico solicita constantemente a
construção cotidiana de novas possibilidades, que vão sendo alteradas,
atravessadas e modificadas com o tempo, de forma que a
operacionalização do projeto de extensão ocorre por meio de uma
construção coletiva. Para tanto, são realizadas reuniões remotas
semanais com a equipe, nas quais é possível analisar as dificuldades
vinculadas ao trabalho do CAPSi, bem como construir possibilidades de
ações conjuntas viáveis de serem desenvolvidas com usuários/as do
serviço. Repercussões: A contribuição com novas formas de cuidado a
partir do contexto de urgência em saúde diante da pandemia é,
sobretudo, uma convocação para reinventar nossas práticas e articular

856
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

intervenções comprometidas com a minimização dos efeitos


adoecedores e limitações contingenciais da assistência no atual cenário.
Uma das principais contribuições das vivências na extensão tem sido
demarcar o protagonismo do CAPSi como um dispositivo de cuidado que
não se limita apenas ao atendimento a crianças e/ou adolescentes, mas
também não se desarticula de pensar a saúde mental dos/das
cuidadores/as. É importante tecer redes e estratégias de cuidado que
atravessem a territorialidade, principalmente considerando a
insuficiência dos CAPSi na cidade. Ressalta-se que por mais que o
desenvolvimento de atividades remotas possa sinalizar problemáticas
quanto a condições de acessibilidade dos/as usuários/as, as propostas
permitem transpassar territórios, e abrem portas para novas
possibilidades de atuação/integração entre usuários/as e serviço diante
das circunstâncias. Considerações finais: Apesar dos desafios
emergentes diante do contexto da pandemia, desenvolver um projeto
de extensão no CAPSi é um recurso potente de fortalecimento do
serviço e, sobretudo, de resistência contra práticas manicomiais. Sendo
assim, a abertura do serviço em receber e demandar da extensão um
certo ponto de apoio nas práticas nos coloca diante da necessidade
constante de revisão e construção cotidiana das possibilidades dos
processos de trabalho, principalmente no que se refere ao cuidado
integral à saúde mental infanto-juvenil.

857
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Produção discursiva e subjetivação: um relato de


experiência com crianças e adolescentes na periferia

Leonel Rodrigues Lopes


Jade Vogliotti Luciana Martins Quixadá
Universidade Estadual do Ceará – UECE

Introdução: O projeto de extensão Ciranda de Palavras realizou


intervenções com crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos de idade,
moradoras dos bairros Jangurussu e Bom Jardim, ambos localizados na
periferia de Fortaleza. Os encontros aconteciam semanalmente e,
através da contação de histórias e de atividades lúdicas, pautadas em
temas que eles escolhiam, buscamos promover a ressignificação de suas
experiências pessoais e sociais, bem como a ampliação de suas
potências criativas, subjetivas e coletivas. Descrição da experiência: A
equipe do projeto dividia-se em dois grupos, realizando encontros nos
bairros Jangurussu e Bom Jardim, através de atividades semanais com as
crianças, a partir das demandas que elas traziam para o grupo. Ao final
de cada encontro, perguntávamos o que queriam falar na próxima
semana, sempre obtendo temáticas férteis e próximas das suas
realidades. Os temas mais suscitados eram medo, morte, violência,
saudade, família e amor. A partir disso, propúnhamos atividades lúdicas
como pinturas, desenhos, contação de histórias, pois percebemos que
isso despertava maior atenção e participação. Além disso, foram
produzidos diários pessoais, possibilitando um espaço onde poderiam se
expressar e registrar o que quisessem no período em que não
estivessem com a equipe do projeto. Posteriormente, eles decidiam se
compartilhavam ou não o conteúdo dos seus diários entre os demais.
Costumávamos fazer uma roda de conversa, em que as crianças e os
adolescentes eram convidados a falarem a respeito de suas produções.
Oportunizamos suas falas no intuito de perceber como eles foram

858
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mobilizados pela discussão da temática e quais os sentidos que eles


atribuíam ao tema daquele dia.
No final do ano, com autorização dos responsáveis, a equipe do projeto
promoveu um passeio no parque ecológico do Cocó, localizado na parte
mais central de Fortaleza. Esse momento teve como objetivo a
usufruição de um equipamento público de lazer, o qual eles não
conheciam, bem como apresentar as produções artísticas que
realizaram no decorrer do ano. Repercussões: Ao longo do período que
o projeto esteve junto a essas crianças e adolescentes, houve a
construção de novos sentidos sobre a realidade que os atravessava e os
constituía. Resultante dos vínculos que se estabeleceram entre eles e a
equipe do Ciranda, havia uma confiança de que eles podiam se
posicionar, dizer se não estavam de acordo com algo ou mesmo propor
alguma atividade. Entendendo saúde mental enquanto um processo que
se dá dentro de um contexto social, o projeto buscou construir junto às
crianças novas formas de atuar e agir sobre esse contexto, bem como
um espaço de escuta e de promoção de saúde. Considerações finais:
Entendemos que o projeto de extensão Ciranda de Palavras promoveu
situações em que a produção de narrativas de crianças e de
adolescentes, em contextos de vulnerabilização, favoreceu a
ressignificação de suas vivências, potencializando seus sonhos e
criatividade, como forma de fomentar novas possibilidades de
existência. Buscamos construir um espaço para que eles pudessem se
expressar livremente, assumindo uma postura ativa, de criação e
discussão, que pudesse se estender para seus contextos familiares e
comunitários.

859
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Programa de meditação mindfulness para profissionais de um Centro


de Atenção Psicossocial II na cidade de Salvador: relato de experiência

Patrícia Souza Fortuna


Daiana Ferreira Menezes
Marjory Ellen Lima Costa
Patricia Sodré Araújo
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Milena Renata Augusta Miranda


Secretaria Municipal de Saúde – Salvador/BA

Introdução: Estudos sobre o impacto da pandemia Covid-19 na Saúde


Mental ainda estão em pequena quantidade e ou em desenvolvimento.
Apesar disso, há uma preocupação legítima com os efeitos a curto,
médio e longo prazo para toda a sociedade. Os profissionais de saúde,
especificamente, costumam ter estressores em contexto de crise como
esta, como risco aumentado de infecção, sobrecarga, exposição a
mortes em larga escala, entre outros. Nesse contexto, a meditação pode
ser uma potente aliada no enfrentamento a tais fatores durante a
pandemia no novo coronavírus. Dentre tantas modalidades, a meditação
mindfulness, ou atenção plena, torna-se uma peça importante
sobretudo no enfrentamento das questões de saúde mental
relacionadas à pandemia. Assim, o presente relato descreve a
experiência de profissionais residentes do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Universidade do Estado da Bahia na
realização de um programa de meditação mindfulness. Descrição da
experiência: Em um CAPS II da cidade de Salvador, Bahia, foi realizado
um programa de meditação com duração de oito semanas, baseado no
livro Atenção Plena – Mindfulness (Williams, Penman, 2015). O
programa aconteceu entre os meses de junho e agosto de 2020. Todas
as práticas de meditação foram orientadas pelos residentes que

860
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estavam em campo durante este período. Sua realização era semanal,


em horário e datas previamente estabelecidas, com duração média de
30 minutos e aberta a todos os profissionais que estivessem trabalhando
no serviço no turno da meditação. Participaram, semanalmente, em
média oito profissionais de categorias variadas, como psicologia,
enfermagem, educação física, serviço social e terapia ocupacional.
Alguns dos temas trabalhados envolvem a percepção do piloto
automático, escaneamento corporal, exploração das dificuldades, entre
outros. O incenso, elemento da aromaterapia, foi adicionado em
algumas práticas de meditação. Repercussões: A meditação mindfulness,
nesse contexto, tornou-se uma ferramenta importante e acessível para
complementar atitudes voltadas para o autocuidado. A adesão do
público alvo ao programa foi bastante satisfatória. Houve, no geral,
sensações de conforto, calma e maior concentração após cada
meditação. Foi possível perceber a participação ativa de todos que se
dispuseram a participar do programa, bem como um espaço para
conversar sobre os efeitos da meditação no corpo e a repercussão da
pandemia tanto na vida pessoal quanto no serviço, abrindo um espaço
para diálogo e troca de experiências. Ocorreu, também, o
compartilhamento de outros métodos de cuidado que poderiam ajudar
uns aos outros neste período. A equipe cogitou manter esse momento
semanal para manutenção do autocuidado através de outras práticas
integrativas. Somado a isso, os residentes puderam experienciar os
efeitos da meditação e aprofundar o conhecimento desta prática
integrativa, expandindo o leque de atividades que podem ser utilizadas
em contexto de saúde mental e sua contribuição para a formação.
Considerações finais: A prática de meditação gerou produtos positivos
tanto para os residentes quanto para os demais profissionais do serviço,
aumentando o vínculo interprofissional e abrindo espaço para
compartilhamento de experiências e sensações vividas durante o
período de crise pandêmica.

861
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Programa Mente Saudável: um relato de experiência do


Projeto de Extensão Interdisciplinar em Saúde Mental

Lillian Elizama de Abreu Oliveira


Luís Fernando Pires dos Santos
Mylânia Thays dos Santos Silva
Universidade Potiguar - UnP

Nathan Miller Pinheiro


Estácio - Fatern

O Programa Mente Saudável é embasado em uma concepção da Saúde


Mental, que diz respeito ao equilíbrio emocional entre o patrimônio
interno e as exigências ou vivências externas, bem como a capacidade
de administrar a própria vida e emoções de maneira a estar de bem
consigo e com os outros. Neste sentido, o Programa de Extensão propõe
a realização de atividades práticas e conjuntas que possam permitir o
desenvolvimento, por parte dos alunos e docentes dos cursos de
Enfermagem, Psicologia, Serviço Social, um pensamento crítico-reflexivo
sobre o campo da Saúde Mental, através de uma atuação
interdisciplinar. Objetiva-se relatar as experiências vivenciadas no
programa no que tange a importância de oferecer um serviço de
orientação terapêutica de resolutividade desenvolvendo atividades de
acolhimento com demandas individuais e coletivas, bem como, com
ênfase na melhora da qualidade de vida das pessoas com sofrimento
psíquico, diminuir o estigma e o uso das medicações psicotrópicas.
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa do tipo
relato de experiência, que foi elaborado a partir da vivência das
graduandas do 7º e 8º períodos do curso Bacharelado em Enfermagem
na Universidade Potiguar (UnP), situada em Natal/RN, durante o ano
letivo de 2019. As práticas no grupo terapêutico com os usuários do
Centro Integrado de Saúde (CIS) foram realizadas por encontro semanal

862
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

nas segundas-feiras com duração de uma hora e meia a duas horas


dependendo do processo de condução, com o quantitativo de 45
usuários registrados em fichas ativos no grupo. Vale salientar que o
grupo recebeu presença em dois encontros de alunos Enadistas, como
também de outros visitantes, não sendo contabilizados em fichas por
não serem vínculos ativos. Foram utilizadas nas reuniões metodologias
diferenciadas para abordar os transtornos psíquicos e temáticos
relacionados à Saúde Mental dentre eles: depressão, transtorno de
ansiedade, esquizofrenia, síndrome do pânico, síndrome de Burnout e
transtornos alimentares. Houve também espaço para temáticas voltadas
para o autocuidado, autoestima, autoconhecimento, aceitação e
negação. Com isto, foram praticadas dinâmicas e atividades intituladas
“Teia”, “Dado das Emoções”, “Minha Bandeira”, “Cenário Realista”,
“Projeto de Vida”. Musicoterapia, Terapia Comunitária, Práticas Manuais
Artesanais, fichas mentais, Fluxogramas, Cenário de Simulação Realista e
Práticas Externas de Lazer foram Práticas Integrativas Complementares,
de maneira a compreender melhor a inclusão das dinâmicas e atividades
propostas pela equipe mediadora às temáticas relacionadas ao
adoecimento psíquico. Observou-se a importância do programa no
intuito de enfatizar a importância da atuação multiprofissional,
fortalecendo a interdisciplinaridade no atendimento integral aos
usuários em sofrimento psíquico, com plenitude na melhor qualidade da
produção científica e focando a atenção dos discentes na construção
acadêmica. Conclui-se que a importância da equipe interdisciplinar no
desenvolvimento de atividades se perfaz a partir de realização de
investigações, diagnósticos situacionais, ações de sistematização de
enfermagem no que tange ao profissional enfermeiro, na elaboração de
plano de cuidados baseado nas vulnerabilidades e potencialidades, e no
desenvolvimento de ações educativas a fim de estimular ao profissional
enfermeiro/equipe e indivíduo, a prática da educação permanente,
voltado ao indivíduo de forma integral e holística.

863
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Programa “Por Amor à Vida”: rodas de conversa acerca do uso/abuso


de substâncias psicoativas com trabalhadores da UFRN

Rodrigo de Souza Medeiros


Adriana Raquel Negrão Duarte
Andréa Lúcia Gondim de Melo Costa
Ana Luisa Medeiros da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

O programa “Por Amor à Vida: Substâncias Psicoativas e Saúde do


Trabalhador” está vinculado à Diretoria de Qualidade de Vida, Saúde e
Segurança do Trabalho, pertencente à Pró-Reitoria de Gestão de
Pessoas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
também, desde 2019, configura-se como projeto de extensão na
referida instituição. Atualmente, o programa é formado por equipe
multiprofissional e tem como objetivo discutir e refletir questões
relativas ao uso abusivo de substâncias psicoativas. Desta maneira a
equipe propôs a promoção da saúde com relação ao uso e abuso de
psicoativos como possibilidade da instrumentalização do indivíduo com
informações sobre a temática. Partindo deste pressuposto, pensamos na
elaboração da realização de rodas de conversa, tendo como indicativo a
sua execução em setores estratégicos da UFRN, ou seja, aqueles que
apresentavam maior risco de trabalhadores em situação de uso abusivo
de substâncias psicoativas. Para tanto, recorremos aos resultados da
avaliação de Microdiagnóstico Ergonômico, realizado por equipe
profissional da Divisão de Qualidade de Vida no Trabalho, cujos
resultados elencavam quatro unidades de trabalho que apresentavam
possíveis situações de uso abusivo de substâncias psicoativas,
principalmente questões relacionadas ao alcoolismo. Com base nessas
informações, nossa primeira ação esteve direcionada ao diálogo com os
gestores dos setores selecionados para a sensibilização da realização da
atividade e mobilização dos trabalhadores. A equipe do programa

864
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

buscou uma metodologia participativa na execução da atividade com a


elaboração de placas com perguntas disparadoras e de “mito ou
verdade”, cujo o intuito era de esclarecer e informar sobre: o que são
substâncias psicoativas; diferença entre uso e abuso; possibilidades de
tratamento; tabagismo e rebatimentos do uso abusivo para a família. Na
avaliação, os participantes das rodas, que alcançaram o total 93
trabalhadores, sendo 19 servidores e 74 terceirizados, colocaram a
importância de debater a temática e a dificuldade de acesso à rede de
atenção psicossocial, principalmente os trabalhadores terceirizados,
visto a situação de precarização do vínculo empregatício, com
dificuldades de se deslocarem no horário de trabalho aos serviços de
atenção psicossocial. A referida atividade possibilitou uma satisfatória
interação com os trabalhadores na quebra de estigmas, dúvidas sobre
tratamentos, informação acerca da rede de atenção psicossocial,
esclarecimentos dos serviços oferecidos no âmbito da universidade,
assim como estreitou os laços entre a equipe do programa e servidores
e terceirizados da instituição. Por meio das rodas de conversa foi
possível abordar a temática de maneira abrangente e socioeducativa.
No entanto, também se denotaram as dificuldades dos trabalhadores
não somente em buscar os serviços da rede psicossocial ou os
disponíveis na universidade, como também o desconhecimento destes e
entraves para a realização do tratamento do trabalhador diante da
situação de adoecimento. Sendo assim, a equipe planeja a continuidade
das rodas de conversa, no sentido de massificar a informação, como
também pensar em estratégias complementares de assistência aos
trabalhadores em situação de vulnerabilidade com relação ao uso de
substâncias psicoativas.

865
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Projeto Vivências em Saúde Mental:


relato de um caminhar peripatético

Andressa de Oliveira Valente Machado


Josué Barbosa Sousa
Universidade Federal de Pelotas - UFPEL

Roberta Antunes Machado


IFRS/UFPEL/CMOV/POVARÉU SUL

Taís Alves Farias


Marcos Aurélio Matos Lemões
Universidade Federal de Pelotas/ POVARÉU SUL

Thylia Teixeira Souza


Universidade Federal de Pelotas/CMOV/POVARÉU SUL

Liamara Denise Ubessi


Universidade Federal de Pelotas/AUSSMPE/CMOV/POVARÉU SUL

Ivon Fernandes Lopes


UCPEL/ AUSSMPE/POVARÉU SUL

Marcela Wanglon Richter


Pontifícia Universidade Católica/Unipampa

Priscila Borges Silveira


Prefeitura Municipal de Pelotas/ Povaréu Sul

Introdução: Este trabalho tem o objetivo de relatar a experiência do


Projeto Vivências – Produções de Saúde Mental, Resistências e
Sobrevivências: Caminhos e Expressões em Tempos de Crise, promovido

866
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas


(UFPel), o qual se destinava a oferecer aos alunos de graduação
vivênciaspromotoras de saúde mental em espaços variados da cidade
gaúcha. Descrição da experiência: Participaram deste projeto
graduandos de enfermagem e terapia ocupacional (UFPel), discentes de
pós-graduação em enfermagem (UFPel), um graduando de serviço social
(UCPel), uma professora da Unipampa, expertises por experiência
vinculados à Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de
Pelotas (AUSSMPE), ao Grupo de Ouvidores Voz as Nossas Vozes, e a
Coletiva de Mulheres que Ouvem Vozes e educadores/as populares. As
atividades ocorreram no período de 23 a 31 de julho de 2019. Os
espaços vivenciados durante este período foram a Radiocom Pelotas,
AUSSMPE e o Grupo de Ouvidores Voz as Nossas Vozes. O
desenvolvimento do projeto foi conduzido na perspectiva da clínica
peripatética, que possibilitou que cada vivente passasse pelas
experiências como uma prática de resistência aos retrocessos nas
políticas e programas de saúde, em especial na saúde mental. As
vivências potencializaram a produção de narrativas dos sujeitos que até
o momento não se consideravam como sujeitos narrativos. O
acolhimento dos discentes foi conduzido com afeto, diálogo e
amorosidade pela professora da Unipampa, que realizou uma oficina de
escrita de narrativa biográfica. Esta oficina despertou a veia poética dos
sujeitos, tornando-os sensíveis às questões de saúde mental presentes
em suas histórias de vida, pulsando empatia em relação às histórias dos
outros/as. Como disparadores para o debate de temas transversais que
se relacionavam à saúde mental foram utilizados dança, poesia,
documentários, música, pintura e artigos científicos. Por cada lugar
trilhado, memórias quentes, vivas e afetivas foram surgindo nas
narrativas dos viventes, as quais foram potencializadas pelas trocas de
saberes e experiências de cada sujeito. Repercussões: A clínica
peripatética possibilitou outro fazer em saúde mental, aquele que é
transversal aos saberes e sensível às práticas. O projeto teve como
inspiração outras vivências de formação e militância, tais como, o

867
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS).


Deste modo, buscou incentivar a formação de profissionais engajados
na defesa da saúde pública e de qualidade, com um olhar sensível às
questões de saúde mental que ultrapassam as barreiras arquitetônicas
dos serviços de saúdes e dos manicômios internos dos sujeitos.
Considerações finais: Evidenciou-se que o caminhar peripatético teceu
práticas de resistência às condutas manicomiais e proibicionistas que
estão sendo impostas por governos que visam ao lucro com o
sofrimento mental dos sujeitos, bem como ampliar os conhecimentos e
reflexões aos discentes acerca do cuidado de si e do outro no âmbito da
saúde mental.

868
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto "Mente Cidadã" - Executado por esta proponente em


Teresina/PI- junto aos CAPS - e outros dispositivos
de atenção à saúde mental

Patricia Ferreira Monte Feitosa


Defensoria Pública Estadual do Piauí

Introdução: A Defensoria Pública do Piauí propôs articular ações


interinstitucionais para efetivar trabalho multidisciplinar de assistência à
população vulnerável. Para promover transformação social e tutela dos
direitos humanos, pretende desenvolver o Projeto “Mente Cidadã:
família, vulnerabilidade e saúde mental”. A ideia do projeto é levar
cidadania a esta porção da sociedade que é vítima do estigma e má
condução do seu problema de saúde, levando-a à exclusão social. A
proposta seria o esforço conjunto de vários órgãos, no sentido de
possibilitar a interação de ações entre os mesmos para possibilitar uma
discussão e aprofundamento das políticas públicas e humanização dos
serviços públicos. Este projeto tem como objetivo concentrar as
instituições públicas num conjunto para que possam conhecer a missão
de cada uma e a forma de intervenção. A vulnerabilidade social nunca
pode ser tratada eficazmente sobre um só aspecto, principalmente no
caso de pessoas com transtorno mental, no intuito de futuramente se
construir ações mais planejadas. Ressalte-se que a importância do
trabalho para a proteção dos direitos humanos é imperativa da previsão
constante no artigo 5º da Constituição Federal. As pessoas com
transtorno mental sofrem, constantemente, a violação dos seus direitos
quando são submetidas a internamento involuntário, ou quando são
submetidas a tratamentos degradantes e despersonalizados. Objetivo
geral: Possibilitar e articular o debate e a sensibilização sobre a
necessidade de fortalecer o compromisso da Defensoria Pública em
propor ações de transformação social, para garantir e preservar a
dignidade e os direitos das pessoas com deficiência intelectual.

869
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Portanto, com as ações do presente projeto, objetiva-se discutir os


princípios constitucionais que orientam o atendimento à pessoa com
transtorno mental; abordando conceitos básicos das políticas públicas
para a pessoa com deficiência intelectual; orientação sobre a
abordagem/atendimento destas pessoas no serviço público; orientação
quanto aos cuidados com as pessoas com transtorno familiar;
orientação jurídica quanto aos direitos das pessoas com transtorno
mental. Objetivos específicos: 1) Promover a capacitação dos
profissionais de saúde quanto aos direitos das pessoas com transtorno
mental; 2) Promover a orientação dos profissionais do Direito quanto ao
encaminhamento das pessoas com transtorno; 3) Promover
atendimento para orientação judicial e extrajudicial aos doentes e
familiares; 4) Articular ações para promover o acesso à documentação
civil; 5) Promover um cenário de visibilidade dos direitos e demandas
das pessoas com transtorno mental; 6) Incentivar outros órgãos do
poder público e sociedade civil a discutir saúde mental; 7) Incentivar a
pesquisa sobre o contexto social das pessoas com transtorno mental.
Repercussões positivas: Os atendimentos em ações no Hospital
Psiquiátrico, quatro CAPS, já renderam quase 500 demandas
administrativas ou judiciais. Percebe-se que a população carente ainda
necessita de acesso a serviços e direitos básicos. Considerações finais:
Desenvolvendo o trabalho, percebi que os órgãos de saúde estão
bastante satisfeitos e cooperativos para desenvolver tais ações. Durante
a execução e visitação aos dispositivos de saúde mental, observa-se
falhas de fluxo, pouco entrosamento entre órgãos, às vezes até da
mesma esfera federativa.A política atual,a meu ver, tem sido ineficiente
ou ainda precária.

870
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto de Atendimento On-line em Saúde Mental:


intervenção multiprofissional em Palmas/TO

Paulianny Mirelly Gonçalves de Sousa


Fundação Escola de Saúde Pública de Palmas

Anna Sara Salazar da Silva


Andréia Andrade Alves
Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde
Pública de Palmas

Introdução: Este relato de experiência tem como objetivo apresentar a


atuação das profissionais residentes do programa de saúde mental no
Projeto Pandemia do Covid-19: Oferta de Atendimento On-line em
Saúde Mental, no município de Palmas, Tocantins, entre março e
setembro de 2020. O projeto fora criado para oferecer suporte aos
profissionais de saúde que estão atuando como linha de frente na
pandemia mundial causada pelo novo coronavírus, e para a população,
independentemente do diagnóstico positivo para Covid-19. Qualquer
pessoa que apresentasse sofrimento psíquico decorrente das restrições
diárias causadas pelo isolamento social, pelas demandas sociais que
ficaram emergentes, ou aquelas que já tinham algum quadro de
transtorno mental intensificado neste cenário, poderiam ser atendidas
por esse canal. Descrição da experiência: foi necessário (re)conhecer e
ampliar o acesso a Rede de Atenção Psicossocial do município junto a
outros dispositivos de proteção socioassistencial, além da construção do
fluxo de atendimento considerando as necessidades, limitações e
desafios da efetivação de uma abordagem de atendimento
completamente nova, tanto para os profissionais quanto para os
usuários, devido às barreiras tecnológicas ocasionadas pelo uso de
tecnologias de informação e comunicação (TICs) como ferramenta de
trabalho. Os profissionais da equipe multiprofissional atuavam como

871
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

técnicos-referência em saúde mental prioritariamente no acolhimento


inicial, onde por meio da escuta qualificada buscava-se identificar as
necessidades de saúde demandadas pelo paciente, para posteriormente
encaminhá-lo ao atendimento ou dispositivo apropriado. Repercussões:
o projeto oferta, desde sua implantação, atendimento psicoterapêutico
breve, e de acordo com observações feitas durante os atendimentos, foi
ampliado posteriormente, ofertando atendimento individual em outras
áreas de atuação, com profissionais de educação física e profissional da
terapia ocupacional, também de forma on-line. Ou seja, atuar na
perspectiva ampliada de saúde foi fundamental para qualificar a oferta
de atendimento e propor novas formas de intervir na atual realidade de
forma multidisciplinar e intersetorial, tendo em vista que era possível se
comunicar com outros profissionais e dispositivos da rede, efetivar
encaminhamentos e oferecer acompanhamento longitudinal ao
paciente, fortalecendo também a corresponsabilização do cuidado,
reconhecendo e se apropriando desses espaços de direito, sendo este,
talvez, um dos maiores desafios desta experiência. Considerações finais:
Realizar intervenções em saúde mental na modalidade on-line foi um
grande desafio, principalmente pela necessidade de se reinventar nos
atendimentos através das plataformas digitais, desde a limitação no
acesso às TICs, instabilidade no sinal de internet, acessibilidade a
pessoas com deficiência, readequação da escuta qualificada, do contato
e do vínculo como essenciais para a efetivação de um atendimento
humanizado incapaz de acolher a totalidade do sofrimento expressado
pelos pacientes, que ultrapassavam demandas clínicas, evidenciando as
expressões da questão social, até a sobrecarga dos profissionais
envolvidos no atendimento, que em alguns momentos excedia a função
pactuada, seja pela alta demanda, pelos processos de trabalho
minuciosos, pela exposição continuada a telas, os movimentos
repetitivos, a utilização dos próprios aparelhos celulares para contato
com os pacientes, o registro dos atendimentos no prontuário on-line
e,por fim, a equipe, que de certa forma, permaneceu desassistida
durante o período de intervenção, minimizando a saúde do trabalhador.

872
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto de Extensão Interdisciplinar em Saúde Mental Loucação

Deyse Cibele de Oliveira Bezerra


Renata Barreto Fernandes
Centro Universitário Vale do Ipojuca – Unifavip-Wyden

Introdução: Saúde Mental é a capacidade que o indivíduo tem de


manter o equilíbrio emocional com o patrimônio interno e suas
adversidades externas ou vivências. É administrar a própria vida e as
suas emoções dentro de um nível de qualidade de vida cognitiva sem
perder o valor do real e do precioso. É associar a autoria de suas
próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. O projeto de
extensão Loucação tem como objetivo proporcionar intervenções
terapêuticas, baseando-se nos princípios da reforma psiquiátrica, luta
antimanicomial e fechamento dos hospitais psiquiátricos na Rede
Municipal de Atenção Básica de Saúde em Caruaru, Pernambuco,
abrangendo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) como: Centros de
Atenção Psicossocial III (CAPS III), Serviços Residenciais Terapêuticos
(SRT), Ambulatório Adulto e Infantil, Unidade de Acolhimento (UAS) e
CAPS ADIII. Descrição da experiência: As intervenções foram
desenvolvidas junto aos usuários do ambulatório adulto, com parte dos
integrantes desta extensão. As atividades desenvolvidas tiveram como
objetivo uma ação interdisciplinar, com estudantes de psicologia,
enfermagem, educação física e fisioterapia, para uma prática mais rica
que envolva corpo e mente, de forma a facilitar todas as necessidades
que vão sendo demandadas no grupo do ambulatório e assim trabalhar
os diversos aspectos para alcançar esse equilíbrio. O comprometimento
do grupo e o olhar biopsicossocial para os indivíduos fizeram a diferença
nas intervenções para facilitar uma perspectiva de liberdade no agir,
pensar e relacionar, não somente como usuários do serviço, mas como
sujeitos de sua própria história. Repercussões: Foi observado no
desenvolvimento das intervenções, enquanto como proposta

873
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

interdisciplinar, que as narrativas dos usuários atendidos apresentavam


uma tensão entre a construção e a reprodução de uma identidade
doente. Essa identidade-doente faz com que se vejam presos a
acontecimentos passados. Os estímulos ofertados nas oficinas
terapêuticas tiveram respostas positivas quando essas pessoas não só
compreenderam, mas também colocaram em prática a compreensão
dos processos físicos e psicológicos como aspectos que se
complementam e que em equilíbrio promovem uma melhor qualidade
de vida. Considerações finais: Nossas intervenções estão em
andamento, mas até o prezado momento foi possível observar que os
usuários diagnosticados, medicados ou na triagem apresentam
comportamentos que se faz necessário o resgate das particularidades do
ser como: autoestima, autoaceitação e autoconfiança. Características
que determinam os padrões pessoais de cada usuário devem ser
trabalhadas de forma gradual por ser um processo complexo, individual
e único. Trabalhando essas questões, o seu trato interpessoal se torna
menos danoso para consigo mesmo e livre das prisões a acontecimentos
passados.

874
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto de Extensão Reeducando

Denyse Bontempo Vieira


Centro Universitário do Vale do Araguaia – Univar

Trata-se de um projeto de extensão realizado pelo Centro Universitário


do Vale do Araguaia em parceria com a primeira vara criminal do
município de Barra do Garças, Mato Grosso. Consiste em reuniões
semanais entre detentos em processo de ressocialização que se
encontram em regime aberto e semiaberto da cadeia pública do
município com as instituições parceiras e seus diversos colaboradores
internos e externos. O projeto tem como objetivo programar atividades
socioculturais e educativas destinadas à minimização dos efeitos
perniciosos da privação da liberdade, tomando-se por base o preceito
legal da integração social harmônica ao condenado e a humanização da
pena de prisão. Proporciona a criação de oficinas de atividades
educadoras e de valorização da vida, à saúde integral (mente e corpo),
aos direitos humanos, mediante a implantação de ideais e metodologias
participativas. Considera a criação de vínculos, o acolhimento, o respeito
pela diversidade humana e a crença de que o indivíduo é produto e
produtor do meio, que este se encontra em constante movimento,
portanto, capaz de transformar as suas condições de vida, sem
desmerecer as influências das condições sociais. Os encontros ocorrem
aos sábados, das 13hàs 17h. A cada 12 horas de participação há
remissão de um dia de pena. Também há a oferta de bolsas integrais em
diversos cursos para os participantes. Existente desde 2014, vários
foram aqueles que se beneficiaram com essa política de
responsabilidade social destas instituições.Estabelece, de um modo
geral, a seguinte metodologia: pesquisa de campo, mediante
entrevistas, diálogo e observação. Os dados coletados apontam para
adesão dos participantes com o grupo, desenvolvimento de novas
habilidades sociais e psicológicas, de sentimento de pertencimento,

875
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

autonomia e empoderamento. Críticas também são relevantes, dentre


elas a necessidade de alterar o nome pejorativo do projeto, porém
algumas dificuldades são encontradas pelo caminho. Por estes e outros
benefícios faz-se pertinente a manutenção e aprimoramento das
atividades realizadas, assim como a constante observação crítica aos
ajustes necessários para o aprimoramento das atividades e a
permanência do distanciamento de qualquer forma de preconceito ou
discriminação que possam permear as atividades.

876
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto de Vida Concreto: um projeto de vida em forma


de oficina terapêutica e geração de renda

Katharina Pereira Kammer


Débora Martins de Campos
Cristiane Knijnik
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos

Vinicius Tonollier Pereira


CAPS AD São Leopoldo/UFRGS

Cacildo Rafael Silva da Silva


José Henrique Barbosa
CAPS AD São Leopoldo

Os avanços da reforma psiquiátrica, a mudança de paradigma e a


construção de práticas fundadas na inclusão social são enormes
potências e, ao mesmo tempo, imensos desafios no que se refere à
geração de trabalho/renda e ao acesso de usuários ao mundo do
trabalho na perspectiva da autonomia, cidadania e inclusão social do
usuário. O Projeto de Vida Concreto é uma oficina terapêutica e de
geração de renda que se propõe a pensar as necessidades do cotidiano
dos espaços de convivência do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e
outras Drogas de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Entendemos que o
que sustenta a geração de renda no âmbito da saúde mental é inventar
um trabalho que produza saúde e que valoriza o sujeito. Nossa maior
preocupação é com alegria, socialização, integração, acolhimento,
cidadania e, principalmente, uns com os outros. Isto faz com que
tenhamos mais que um produto. Nossa aposta é que a saúde mental se
constrói nessa relação entre as pessoas. O reconhecimento da relação
para além as drogas nos legitima com muitas histórias compartilhadas e
nos permite afirmar que nenhum de nós é apenas a história do uso

877
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

abusivo de substâncias. Podemos perceber a potência na construção de


um Plano Terapêutico Singular (PTS) a partir das narrativas de projetos
de vida dos usuários, incluindo-os através da produção de sentido, onde
seus desejos, suas habilidades, suas famílias, seus territórios, a
interdisciplinaridade de saberes possa ser uma experiência concreta,
efetivando o que vem sendo pautado em diretrizes e orientações
técnicas sobre esse instrumento. Através desta construção, buscamos
resgatar a capacidade de desejar dos sujeitos e construir novas
possibilidades de narrativas para suas vidas, permitindo a produção de
trocas sociais, a criação de vínculos, a emancipação, o respeito à
diversidade e a produção de sentido para si e para o outro, indo além da
geração de renda. A partir da compreensão dos dispositivos traçados no
dia adia dos serviços de saúde mental é possível entender o real, o
experenciado no espaço micropolítico de cada encontro. Nossa tarefa
consiste em ir além. Ultrapassar o imaginário e construir uma nova
prática, com base nas tecnologias de cuidado que nos oferecem
possibilidades de efetivação de ações que nos aproximam das
subjetividades e cotidiano dos sujeitos. A nossa aposta de cuidado em
saúde mental entrelaça-se com a perspectiva da redução de danos, do
cuidado em liberdade, afirmação de cidadania, do resgate e
fortalecimento de laços, de redes, de sonhos e de sentidos, a partir de
tecnologias de cuidado que não são concretas: vínculo, acolhimento,
corresponsabilização e autonomia.

878
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto Educação em Saúde na Escola Família Agrícola de Jaboticaba -


Quixabeira-BA: experiência de uma oficina de saúde mental

Sdnei Gomes dos Santos


Lara Nathávia Santos de Oliveira
Olímpia Franco de Oliveira
Tâmara Trindade de Carvalho Santos
Jonny Wood de Sales
Paulo Filipe Nogueira de Queiroga
Vítor Gabriel Mascarenhas Franca
Faculdade AGES de Medicina

Patrícia Gomes dos Santos


Centro de Referência Especializado em Assistência Social

Introdução: Este projeto foi idealizado com diversas finalidades. Além de


aproximar a Instituição de Ensino Superior (Faculdade AGES de
Medicina) da comunidade (Quixabeira) com viés de responsabilidade
social, levou a este território saúde através da educação. Foram
pensadas, a partir do projeto geral, oficinas com temáticas significativas
para realidade de aplicação: primeiros socorros, métodos
contraceptivos, saúde mental, saúde sexual e reprodutiva, plantas
medicinais, álcool e outras drogas. A realização de práticas de educação
em saúde, enquanto ferramenta para geração de modos de vida
saudáveis, atua em diversas instituições da sociedade. Sob tal
perspectiva, visando potencializar o conhecimento e autonomia dos
alunos sobre alguns temas relacionados à saúde, foi realizada uma
oficina com foco em saúde mental, na Escola Família Agrícola de
Jaboticaba (Quixabeira-Bahia), através de explanações de conceitos,
debates e dinâmicas, objetivando a promoção da reflexão sobre a
importância dos cuidados com a saúde mental, a construção de um
projeto de vida e o desenvolvimento do autoconhecimento. Descrição

879
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

da experiência e repercussões: Foi possível perceber que a dinâmica


inicial antes da oficina promoveu a integração dos participantes, visto
que poucos se recusaram ou tiveram dificuldade na realização da tarefa.
Ao término da atividade, os estudantes reconheceram que todo ser
humano possui qualidades e defeitos, porém, existe a dificuldade de
reconhecermos nossos defeitos, bem como as qualidades do outro,
sendo mais fácil exaltarmos os defeitos do próximo no processo de
interação social.Houve repercussões positivas geradas pela realização da
oficina sobre saúde mental, uma vez que foi possível observar a
participação e o engajamento dos alunos no debate e nas atividades
propostas. As ações do projeto, mesmo que pontuais, contribuíram para
a troca de conhecimento e de experiências entre os participantes e os
estudantes de Medicina, pela proximidade entre as faixas etárias e pelo
intermédio do método utilizado (dinâmicas), sendo esse diálogo
preponderante para instigar reflexões sobre saúde mental e
autocuidado, importância de buscar um projeto de vida no contexto
pessoal e coletivo, de modo que esse planejamento também
contribuísse para a análise dos conflitos nos ambientes escolar, familiar
e social. Verificou-se predominância do público feminino (58,8%) e
interesse dos estudantes acerca do tema, visto que a oficina de saúde
mental apresentou maior quantidade de participantes (17 pessoas).
Considerações finais: Desse modo, cabe-se inferir que o assunto foi
significativo aos estudantes e que ações pontuais e contínuas são
extremamente essenciais para o desenvolvimento das capacidades dos
estudantes realizarem autorreflexão sobre sua saúde mental, pontos
que comprometem a mesma e, consequentemente, discutirem este
tema abertamente, auxiliando a quebra de estigmas e barreiras
referentes ao sofrimento/adoecimento mental. Contudo, essa
intervenção constituiu ferramenta substantiva na promoção de reflexão
sobre várias temáticas que interferem na saúde mental, bem como o
autoconhecimento, além do autocuidado. Além disso, inspiram os
mesmos a levarem este debate à comunidade, sendo multiplicadores do
conhecimento adquirido. Sendo assim, faz-se necessário que a área de

880
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

educação propicie realização de atividades ligadas à prevenção e


promoção em Saúde Mental de forma permanente.

881
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Projeto Escutadores: a escuta como prevenção

Thais Conceição Monteiro


Danieli Salcides da Fonseca
Tassia Guimaraes Giovanelli
Marisa Cabirit
Centro Universitário IBMR

Introdução:Uma instituição de ensino superior possui um grande grupo


de pessoas circulantes. Alunos, professores, funcionários e terceirizados
formam a comunidade acadêmica. Desempenho, dúvidas profissionais,
pressão para produção são algumas questões que permeiam o dia a dia
desta instituição. Outros pontos atravessam demandas específicas deste
lugar: situação econômico-financeira, questões familiares, sociais e
individuais. As relações no dia a dia institucional são permeadas por um
tensionamento que gera demanda de encaminhamento para
profissionais de saúde mental (externos ou internos, pois o Centro
Universitário tem clínica escola), crises socorridas dentro do horário
letivo e busca de apoio com professores que não conseguem dar
suporte devido. Desta situação de tensão e crise nasce o projeto
Escutadores. O projeto tem como finalidade promover acolhimento e
escuta livre e empática, oferecida a toda a comunidade de um centro
universitário no Rio de Janeiro (alunos, professores, funcionários e
colaboradores). Participam deste projeto alunos estagiários e egressos
do curso de Psicologia do Centro Universitário IBMR, supervisionados
pela professora Thais Monteiro. Descrição da experiência: O grupo de
alunos e egressos foi dividido por horários de plantão nos três campi do
Centro Universitário, disponíveis para uma escuta presencial, desde o
primeiro semestre de 2019. As pessoas que pretendem ser atendidas
procuram, nos lugares divulgados, os Escutadores de plantão. Estes
realizam a escuta em qualquer ambiente da faculdade, resguardando a
privacidade do escutado. Em tempos de pandemia houve a necessidade

882
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de continuar o projeto e, desde 18 de março, está sendo realizado de


forma remota via perfil de Instagram(@EscutadoresIBMR). Os
interessados entram em contato via Direct e os Escutadores se revezam
para realizar a escuta via telefônica. Caso haja necessidade,
encaminham para atendimentos on-line para psicólogos devidamente
cadastrados. Repercussões: A partir da experiência do início do ano de
2019, o projeto ganhou grande repercussão dentro da instituição. No
primeiro semestre era um projeto da disciplina de Estágio Básico do
campus Barra, no segundo semestre deste mesmo ano foi considerado
projeto institucional, sendo expandido para os três campi. Os
Escutadores fizeram inúmeras escutas, todas com avaliações positivas
registradas sobre a atividade. Expandiram sua atuação para eventos
especiais da instituição, como o projeto de acompanhamento de alunos
para a prova Enade e a ação social de grupo multidisciplinar de alunos
em Asilo Municipal, próximo a um dos campi. Atualmente, a atuação
continua de forma remota, dando suporte à comunidade acadêmica e
seus familiares, através do perfil na rede social. Considerações finais: As
inúmeras escutas feitas, presenciais e remotas, permitiram construir
uma rede de apoio e escuta empática na comunidade, representada
pelo número de pessoas atendidas, o número crescente de alunos
voluntários para serem Escutadores e a avaliação positiva dos que foram
escutados. A ação dos Escutadores vai para além da rede de apoio,
constituindo prevenção de saúde mental em Instituição de Ensino
Superior, em tempos onde as restrições, os lutos e o distanciamento são
importantes potencializadores de dor e sofrimento mental.

883
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Projeto Perambula e a importância do fortalecimento de


vínculos entre a juventude da periferia de Fortaleza

Bianca Rodrigues Primo


Matheus Leite Brito
Susana Kramer de Mesquita Oliveira
Universidade Federal do Ceará

O Projeto Perambula, formado por professores e estudantes


extensionistas e estagiários do curso de Psicologia da Universidade
Federal do Ceará (UFC), atende ao público jovem que se encontra em
situação de vulnerabilidade social, visando à promoção de saúde
mental, através de intervenções semanais no formato de grupos
terapêuticos. As atividades ocorrem no Centro Urbano de Cultura, Arte,
Ciência e Esporte (CUCA) da Barra do Ceará, bairro de Fortaleza (CE),
recebendo sua demanda principalmente de atendentes do ambulatório
multiprofissional do local, que identificaram demandas de saúde mental
entre os usuários crianças e adolescentes. Visando à superação de uma
terapêutica médico-centrada, o Perambula objetiva proporcionar um
espaço de escuta, reflexão e cuidado, uma vez que o contexto
ambulatorial termina por ressaltar o atendimento médico. Além disso,
espera-se fortalecer relações de cuidado, alcançando, indiretamente,
familiares e outras pessoas próximas aos participantes do grupo, e
promover transformações nas dinâmicas da própria comunidade. Em
2019, foram realizados psicodramas abertos mensais voltados a tais
usuários no teatro do CUCA, dirigidos por uma professora do
Departamento de Psicologia da UFC. Nas outras semanas do mês, os
estudantes deram continuidade à intervenção, promovendo dinâmicas
que envolviam discussão de temas, como estratégias de comunicação e
de enfrentamento de desafios e promoção de cuidados, sendo
supervisionados pela referida docente. Foram utilizados jogos de carta e
de tabuleiro e materiais artísticos, embasando-se na orientação

884
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

fenomenológica e na Teoria Socionômica de Moreno e registrando as


experiências em diários de campo. Após os primeiros encontros, foram
se consolidando os participantes do grupo, iniciando-se a formação de
vínculos entre os usuários e destes com os estudantes da UFC. Durante a
realização das dinâmicas, evidenciaram-se as relações entre os jovens e
com os seus familiares, sendo apresentados relatos de dificuldades em
alguns de seus relacionamentos cotidianos. Uma das participantes, Ne.,
evidenciou seu sofrimento advindo de diversas ocorrências de ruptura
em suas relações, inclusive com a mãe, além de uma dinâmica
ambivalente na convivência com a irmã, sendo trabalhados, de forma
direta e indiretamente, alguns aspectos correlacionados às dificuldades
e conflitos interpessoais dessa participante, ao longo das atividades
terapêuticas do grupo. No último encontro do ano, Ne., no meio da
sessão, saiu em busca de sua mãe e de sua irmã, trazendo-as para a
cena psicodramática que estava sendo trabalhada, consolidando a
representação de seu desejo de pertença à família. Tal ação
surpreendeu trabalhadores ali presentes, que acompanhavam a usuária.
Ademais, no encontro avaliativo de 2019, os participantes evidenciaram
a importância desse espaço de reflexão e de expressão espontânea de
emoções e vivências, sem medo de julgamentos. Outro feedback
positivo veio da mãe de Ne., através de mensagem à professora
supervisora da ação, solicitando que a filha pudesse continuar
participando das atividades em 2020. Os resultados ressaltaram a
importância de trabalhos que promovam o compartilhamento e a
reflexão das experiências cotidianas dos jovens em contextos de
vulnerabilidade, apontando tanto para importância de demandas na
esfera pessoal, como na comunitária, evidenciando ainda a força da
metodologia de jogos, de dramatização e de outros recursos de
expressão criativa.

885
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Projeto Sala de Espera - Promoção da Saúde Mental


das Cuidadoras do CAPS-IJ de Ouro Preto/MG

Christine Vianna Algarves Magalhaes


Prefeitura Municipal de Ouro Preto/Saúde Mental

Eloísa Helena de Lima


Gabriela Mayumi Kolling Higaki
Luíza Araújo Diniz
Marina Eduarda Santos
Rayane Elen Fernandes Silva
Yuri Barbosa de Menezes
Universidade Federal de Ouro Preto

Introdução: O projeto é a continuação de uma ação já existente no


Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPS-IJ) de Ouro Preto
em parceira com a UFOP, chamada “Sala de Espera”, que vem sendo
realizada com as cuidadoras dos usuários que frequentam a instituição.
Esta edição foi realizada pelos alunos do 6º período do curso de
Medicina da UFOP, voltada para a saúde mental das cuidadoras, por
meio de oficinas e rodas de conversa. O objetivo do projeto foi
promover melhoria na qualidade de vida dessas cuidadoras: valorizando
a autoestima e o autocuidado mediante a promoção de espaços
dialógicos e reflexivos; identificando riscos psicossociais e contribuindo
na construção do bem-estar de todos os envolvidos no processo saúde-
doença das crianças e adolescentes; e promovendo o cuidado integral
das cuidadoras para que elas possam aprender estratégias simples que
auxiliem no autocuidado a fim de que consigam lidar melhor com seus
desafios, influenciando, assim, de maneira positiva no desenvolvimento
dos que necessitam de seus cuidados. Descrição da experiência:Para
realizar o diagnóstico situacional, foi utilizado o método de estimativa
rápida participativa. O grupo procurou conhecer a estrutura física e
profissional do CAPS-IJ, tendo um primeiro contato com as cuidadoras

886
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

para entender sua demanda e reunindo-se com a equipe


multiprofissional para discutir sobre a viabilidade de se trabalhar temas
relacionados à saúde mental das cuidadoras. Sendo assim, foram
realizadas seis oficinas com duração de uma hora cada, sobre os temas:
autoestima, família, autismo, TDAH e autocuidado. Cada oficina contava
com uma estratégia específica, como dinâmicas de grupo, exposição de
poemas, vídeos e músicas. O projeto foi monitorado de maneira
qualitativa comparativa, por meio das respostas dos questionários
aplicados ao início e ao término da atividade. Repercussões:Pode-se
perceber a relevância do projeto primeiramente em relação ao público-
alvo, com o favorecimento do empoderamento, elevação de autoestima
e conscientização da importância do autocuidado, percebido quando
comparamos expectativas iniciais dos participantes, como em “Conhecer
melhor a mim mesma e aos outros enquanto ser humano”, com os
feedbacks ao final: “Sim. Foram foi bem atendidas. Conheci mais minhas
amigas de guerra e vocês que me ensinaram muito a levantar a minha
autoestima que achei que não tinha. Obrigada”.Em segundo, ao melhor
desenvolvimento dos infanto-juvenis usuários do CAPS-IJ, uma vez que
isso está diretamente relacionado às boas condições biopsicossocial e de
bem-estar do cuidador, segundo a literatura. E em terceiro, aos
acadêmicos de medicina, pois a formação do médico vai além do que se
vê em sala de aula e dos sinais e sintomas percebidos em consultas: é
preciso também perceber as linguagens verbais e não-verbais que
permitem conhecer e entender melhor o ser humano.Considerações
finais: Tendo em vista as contribuições para as instituições, percebe-se a
necessidade da continuação desse projeto, para que cuidemos daqueles
que cuidam. Além disso, o espaço de fala em formato de roda de
conversa e o uso de recursos audiovisuais foram fundamentais para a
realização do trabalho, possibilitando estabelecer vínculo com as
cuidadoras e o enriquecimento do trabalho por parte dos estudantes.

887
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Promoção da saúde mental em instituições de ensino superior:


relato de experiência do projeto "Vai Dar Bom: Juventudes
nas Trilhas do Bem Viver"

Myrla Alves de Oliveira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE

Cynthia Studart Albuquerque


Sandy Andreza de Lavor Araújo
Eliza Marta Gonçalves Ferreira Maria Keile Pinheiro
IFCE - Campus Iguatu

A saúde mental dos jovens e adolescentes tem sido uma preocupação


mundial, uma vez que pesquisas revelam o crescimento da incidência de
transtornos mentais nesse segmento populacional. Os transtornos
mentais já representam 16% da carga global de doenças em pessoas de
10 a 19 anos (OPAS, 2018). As instituições de ensino não podem perder
de vista o seu papel na promoção da saúde mental, uma vez que
representam espaços onde o sofrimento psíquico se expressa e é
produzido. No contexto dos cursos superiores, especialmente após o seu
período de expansão, algumas demandas para permanência do
estudante começam a aparecer, a exemplo das condições de saúde, que
precisam ser compreendidas a partir da interação entre as demandas
inerentes ao Ensino Superior e os aspectos sociais, econômicos e
pessoais, isto é, a partir das condições de vida. Compreendendo que as
instituições educacionais fazem parte do cotidiano social dos jovens e
podem atuar no cuidado em saúde mental, foi desenvolvido o projeto
“Vai Dar Bom: Juventudes nas Trilhas do Bem Viver” com o objetivo de
promover a saúde mental dos estudantes por meio de ações para
minimizar o sofrimento psíquico advindo de situações diversas, entre
elas, a vivência acadêmica. O projeto estruturou-se a partir de ações de
formação e de intervenção no campo da saúde mental e foi

888
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desenvolvido com estudantes de duas instituições de ensino superior


localizadas na cidade de Iguatu, Ceará: Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e Universidade Regional do Cariri –
unidade descentralizada de Iguatu. Estiveram envolvidos no projeto
estudantes, professores e profissionais do IFCE – campus Iguatu, tendo o
apoio institucional da Escola de Saúde Pública de Iguatu (ESPi), por meio
da Residência Multiprofissional do município, e dos equipamentos
especializados da Rede de Atenção Psicossocial, particularmente, os
Centros de Atenção Psicossociais (CAPSs). Dentre as ações, foram
realizados encontros formativos sobre saúde mental e uso de drogas;
espaços coletivos de acolhida, compartilhamento e promoção do bem-
estar físico e mental; orientações sobre rotina de estudos e vivência
acadêmica saudável; oficinas de autoconhecimento e práticas
integrativas tais como momentos de meditação. Com a realização do
projeto foi possível contribuir para a promoção do bem-estar dos
estudantes e para a construção de estratégias coletivas para o
enfrentamento ao sofrimento psíquico. Também foi possível disseminar
informações junto à comunidade escolar/acadêmica acerca dos
sintomas do sofrimento psíquico, das práticas de redução de danos ao
abuso de álcool e outras drogas, bem como sobre a rede de cuidados
disponível no município. A realização de projetos semelhantes pode
implicar em resultados positivos nos processos de autocuidado e
cuidado coletivo que incidam positivamente no processo ensino-
aprendizagem, na permanência e no contexto de vida dos estudantes.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Folha Informativa – Saúde


mental dos adolescentes. Setembro, 2018. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=articl
e&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-
adolescentes&Itemid=839.

889
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Promoção da Saúde Mental por meio das Práticas Integrativas e


Complementares: um relato de experiências exitosas vivenciadas por
acadêmicos de enfermagem da Universidade do Contestado

Gabriel Lachowicz
Adriana Moro
Sandrieli Gugel
Universidade do Contestado - Campus Mafra

Introdução: Aos acadêmicos de enfermagem da Universidade do


Contestado - Campus Mafra é ofertada a disciplina optativa de Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde. O objetivo principal da
implantação dessa disciplina é instrumentalizar os alunos da
enfermagem com práticas em saúde diferenciadas e ampliar o
conhecimento dos mesmos a fim de fomentar uma assistência mais
humanizada e que respeite os princípios do SUS. Esse relato de
experiência tratará sobre o oferecimento de auriculoterapia e
musicoterapia pelos acadêmicos de enfermagem em campo de aulas
práticas obrigatórias e extracurriculares a usuários do sistema e
profissionais de saúde. Descrição da experiência: Os acadêmicos de
enfermagem sob supervisão de professora especialista na área
complementaram a sua assistência de enfermagem com sessões de
auriculoterapia no CAPS-I, Policlínica Municipal e Maternidade. As
patologias tratadas foram: doenças crônicas, algias (dores sem lesão) e
da ordem mental. Também, um dos acadêmicos, através da música
tocada em violino, tornou os ambientes de saúde citados mais
acolhedores, amenizando os sentimentos ruins gerados pela espera do
atendimento. Repercussões: Durante a execução das músicas, todos que
estavam presentes nos ambientes de saúde paravam por um momento
e apreciavam as melodias. Além disso, a grande maioria aplaudia,
agradecia e se emocionava. Notavelmente a música teve um efeito
terapêutico e fez surtir, principalmente nos pacientes, uma sensação de

890
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

alívio, tranquilidade e acolhimento. Aqueles que receberam a


auriculoterapia relataram melhora na saúde mental de forma geral e no
alívio de dores localizadas. Além disso, todos pediram para continuar a
realizar as sessões. Considerações finais: É importante que nas
universidades os acadêmicos da área da saúde sejam estimulados a
aprender e praticar outros métodos para o cuidado durante a sua
formação. Desse modo, as diferentes formas de cuidado em saúde
podem ser compostas por profissionais aptos e sensibilizados a
prestarem uma assistência mais humanizada, ampliada, resolutiva e
holística de forma que valorize os usuários na sua individualidade e
integralidade.

891
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Promoção de autonomia aos imigrantes


venezuelanos em situação de vulnerabilidade

Ellie Cristina Silva Ribeiro


Regina Célia Martins Costa
Universidade Federal de Roraima - UFRR

Introdução: Viver em Boa Vista possibilita ver de perto e viver, desde


2015, o fluxo migratório dos venezuelanos para além dos seus limites,
inclusive para o Brasil entrando por Roraima. Este relato de experiência
é sobre atividade prática da disciplina Psicologia Social Comunitária,
ministrada pela professora Tainara Brito, da UFRR. O projeto propôs
facilitar o processo de adaptação e autonomia de um grupo destes
venezuelanos, visando dar-lhes uma melhor qualidade de vida e
promoção de saúde mental. Desenvolveu-se em três encontros, com um
grupo de oito pessoas, sendo quatro homens e quatro mulheres. A
intenção era promover autonomia, mas eles demonstraram isso ao
apresentaram suas próprias necessidades. Teve-se, então, que renunciar
ao planejado para dar sustentação àquilo que emergia no contato com
eles. Intervenção: De início, o interesse e disponibilidade foi conhecer
aquelas histórias de vidas. Diante do objetivo, levar informações, o
grupo já era bem orientado. Surge, então, outra demanda. Importante
seria lazer e recreação, porém, não podiam tê-los devido às condições
financeiras. Em meio aos relatos de sofrimento e saudade, percebemos
a sua maior necessidade, de escuta. Um povo caloroso, divertido,
animado, positivo, que sentia dor em viver essa situação e falta de estar
entre os seus. No segundo encontro, foram estimulados a falar sobre
suas experiências. A xenofobia, a hostilidade dos brasileiros que os
faziam sentir vontade de retornar, emocionou e comoveu a todos.
Prefeririam estar em suas casas mesmo sem energia, sem comida, sem
emprego, sem água. Um participante disse que às vezes tem crises de
choro, uma saudade, uma tristeza que sente em todo o corpo e afeta a

892
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sua saúde. Todos concordaram. Ao final, solicitou-se que falassem


aonde, em suas práticas cotidianas, sentem que repetem a Venezuela
aqui no Brasil. Afirmaram se sentir bem em lugares e momentos que
podiam falar em espanhol, compartilhar seus interesses, sofrimentos,
sentirem-se acolhidos. De diferentes partes da Venezuela, ali se sentiam
como um único país, como um grupo, percebendo o quanto aquela
experiência os uniu e permitiu vínculos importantes. Considerações
finais: Os relatos mostraram o sofrimento causado por essa abrupta
mudança de vida. Houve mobilizações emocionais, manifestadas nas
expressões, posturas, na voz que falhava, que foram compartilhadas e
acolhidas por todo o grupo. Às vezes nós queremos promover a todo
custo a saúde mental e nos vemos enredados por inevitáveis
sentimentos de perda e destruição provocados nos deslocamentos e
violências a que essas pessoas foram submetidas. Sentimentos que,
como vimos, exigem espaços de escuta e (re)construção, além da devida
sensibilidade para perceber. A migração forçada continua perpetrando
estragos nos corpos e nos espíritos, mesmo depois da atualidade do
trauma, de forma que não pode ser tolerada. É preciso ouvir e passar
adiante para que essas coisas sejam intoleráveis, para que nós, como
psicólogos, possamos incluir, em nossas obrigações éticas e políticas,
oposição a esses eventos de violência e destruição. Que este relato
possa servir como sustentação para atuações mais atentas às exigências
e demandas das pessoas reais com seus problemas reais, de forma
localizada.

893
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Promoção de saúde mental no berçário de uma escola:


relato de experiência sobre o trabalho do psicólogo

Andreza Sobreira Fonseca Aretakis


Colégio Boa Viagem – CBV

Andreza Aretakis
Clarissa Dubeux Lopes Barros
Deborah Foinquinos Krause
Faculdade Pernambucana de Saúde – FPS

O presente relato de experiência descreve o trabalho desenvolvido por


uma psicóloga escolar numa creche escola de grande porte e particular
na região Nordeste. A creche foi implantada em 2009 e buscava atender
bebês e crianças na faixa etária de 4 meses a 4 anos de vida. Porém,
esse relato irá se deter ao berçário dessa instituição e ao trabalho
desenvolvido pela psicóloga escolar. Esse espaço era destinado a bebês
a partir dos 4 meses até 1 ano, observando-se o desenvolvimento
integral e existindo flexibilidade para permanência ou matrícula fora da
faixa no berçário, a depender das necessidades dos bebês. A
preocupação central durante todo trabalho era minimizar os impactos
de um ambiente coletivo de cuidado no desenvolvimento deles, visando
proporcionar, aos bebês atendidos, uma vivência escolar que
favorecesse uma continuidade dos cuidados ofertados por seus pais e
ainda, que objetivasse o fortalecimento dos vínculos entre eles e seu
filho. Além disso, era necessário pensar no acolhimento a essas famílias
de forma a incentivar sua presença no espaço da escola, quebrando com
o paradigma de que a escola, por possuir conhecimentos técnicos
pedagógicos e experiência com crianças, detivesse o saber soberano
sobre seus filhos. Pensando em tudo isso, foi desenvolvido um manual
de procedimentos, um curso de capacitação permanente para equipe de
berçário e, ainda, um espaço semanal para reflexão junto à equipe

894
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

técnica, buscando ampliar nas berçaristas uma função maternante, um


olhar permanente para o desenvolvimento integral, a escuta, a empatia
para com a família, a construção de um espaço de trocas e
aprendizagem contínua, bem comoum espaço para olhar e cuidar do
cuidador. Para as famílias foi necessário criar um canal de comunicação
e de presença. Para isso utilizou-se a tecnologia como aliada e também,
espaços de reflexão, escuta e atenção. O trabalho, embora tenha sido
desenvolvido pela psicóloga, contou com a equipe técnica do berçário
composta por coordenação pedagógica, fonoaudióloga, nutricionista,
berçaristas e auxiliares de berçário.

895
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Protagonismo e Direitos Humanos: produto e produção de um curta-


metragem por adolescentes do CAPS Infanto-juvenil de Jundiaí

Luciana Januária Barbosa


Janaína Carvalho Sant’anna
Alexandre Moreno Sandri
Prefeitura do Município de Jundiaí-SP

Introdução: Desde 2015, o CAPS IJ de Jundiaí vem construindo uma


trajetória que prioriza o controle social e a voz das crianças e
adolescentes como protagonistas e sujeitos de direitos. Dentre as ações
que ajudaram a semear os projetos de protagonismo, destacam-se o
Fórum de Saúde Mental Infanto-juvenil, os Encontros de CAPS IJ,
ocorridos entre 2015 e 2016, e os chamados “acampa-dentro”. Neste
mesmo período, observa-se o fortalecimento das assembleias de
adolescentes e do Conselho Gestor. Neste contexto, os adolescentes do
CAPS IJ passaram a referir queixas relacionadas ao estigma e
preconceito sofridos nos diferentes espaços sociais, por serem usuários
de um serviço de saúde mental. Neste cenário, como forma de construir
respostas a estas questões, e contando com o apoio de um edital de
financiamento de projetos do Ministério da Saúde, nasce esta
experiência. Descrição da experiência: Já com o projeto de
protagonismo em andamento, uma das primeiras ações foi a
participação de dois adolescentes e da psicóloga idealizadora do projeto
na “X Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”,
em Brasília-DF. Voltando fortalecidos, um dos adolescentes começou a
destacar-se como porta-voz dos direitos das crianças e adolescentes no
município e foi incentivada sua inclusão como delegado no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Jundiaí. No
decorrer da experiência, destacam-se também: a participação de uma
adolescente do CAPS IJ na realização de um evento de defesa dos
direitos da mulher; a participação de um adolescente na mesa do 3°

896
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Fórum de Saúde Mental de Jundiaí; a realização de uma série de


palestras, por parte dos adolescentes, para professores e coordenadores
da rede municipal de ensino, para falar sobre o estigma em relação às
crianças e adolescentes com transtornos mentais; e, finalmente, a
participação de quatro adolescentes e profissionais da RAPS de Jundiaí,
no III Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, em
Florianópolis. Em paralelo a estas ações, realizou-se a formação em
Saúde Mental e Direitos Humanos, através da realização de 12 oficinas,
das quais participaram 15 adolescentes acompanhados pelo CAPS IJ.
Durante a formação, os adolescentes participantes receberam uma
bolsa-auxílio, no valor de R$240 por mês, como estratégia de ampliação
da contratualidade e diminuição dos fatores de vulnerabilidade
associados. O produto final desta formação foi a produção de um curta-
metragem, com a temática da Saúde Mental e Direitos Humanos,
disponível através do
linkhttps://www.youtube.com/watch?v=pAnp2uuC-w8. Repercussões: A
circulação por lugares diferentes (seja de forma concreta, nas viagens
para outras cidades, seja de forma simbólica, nas diferentes posições
que vieram a ocupar) teve papel fundamental na ampliação da
autonomia e na construção de seus projetos de vida. Considerações
finais: A experiência vem reafirmar a necessidade de abordarmos a
saúde mental de crianças e adolescentes a partir de uma perspectiva de
garantia dos direitos e da cidadania. Para além da questão diagnóstica e
medicalizante, apostou-se na potência destes adolescentes construírem
novos caminhos e ampliarem seus lugares sociais, para além da
identidade de doentes.

897
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Protagonismo, autonomia e participação social:


estratégias colaborativas
no fortalecimento dos conselhos locais de saúde mental

Alexsandro Batista de Alencar


CAPS/Fortaleza; Fórum Cearense da Luta Antimanicomial

Ronaldo Rodrigues Pires


PPSAC-UECE; Fórum Cearense da Luta Antimanicomial

Gicelia Almeida da Silva


MASS-UECE; Fórum Cearense da Luta Antimanicomial

José William Crispim Alves


Neusa Freire Coqueiro
Fórum Cearense da Luta Antimanicomial

Cláudia Freitas de Oliveira


Núbia Dias Costa Caetano
Francisca Márcia Araújo Lustosa Cabral
ESP-CE; Fórum Cearense da Luta Antimanicomial

Introdução: O Controle Social legitimado pela Constituição Federal de


1988, mesmo amadurecido ao longo dos anos, ainda encontra-se
vulnerável. Nesse sentido, o Fórum Cearense da Luta Antimanicomial
(FCLA), enquanto movimento social, viu a importância de qualificar
ações de participação social nos debates da Saúde Mental, por meio de
incentivos ao protagonismo dos sujeitos componentes dos Conselhos
Locais de Saúde Mental de Fortaleza, buscando instrumentalizar e
fortalecer elos entre os atores, para tomada de decisões baseadas na
sua fala sobre a realidade social e sanitária no campo da Atenção
Psicossocial. Descrição da experiência: O FCLA, apoiando a iniciativa dos

898
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

conselheiros de três CAPS, promoveu dois encontros denominados de


“Reunião Ampliada dos Conselhos Locais de Saúde Mental da RAPS
Fortaleza”. Conforme preconiza o Controle Social no SUS, os encontros
tiveram a participação de conselheiros representantes dos usuários e
dos profissionais de saúde e de outros atores que fazem o elo entre os
serviços, a comunidade e o território. O método adotado para estimular
o compartilhamento das experiências foi a divisão de grupos de
discussão sobre a organização dos CLSM, problemáticas vivenciadas e
estratégias de fortalecimento da participação social. Repercussões: O
encontro possibilitou a aproximação dos conselheiros da RAPS Fortaleza
e a constatação de fragilidades do Controle Social local, como a pouca
representatividade paritária. O debate permitiu que o grupo traçasse
estratégias como: fiscalização nos serviços, luta pela garantia de acesso
ao vale-transporte, capacitação de conselheiros e a consolidação das
assembleias nos CAPS. Sentiu-se também a necessidade de estímulo ao
engajamento nos espaços de discussão da política de saúde mental, a
presença dos profissionais nas reuniões e assembleias e a mobilização
dos CLSM mais atuantes e fortalecidos para colaborar com outros mais
fragilizados, por meio de visitas in loco. Por fim, o grupo deliberou pela
criação do Colegiado dos Conselheiros Locais de Saúde Mental da RAPS
Fortaleza como um modo de organizar esse processo político disparado
com o encontro. Considerações finais: O evento pandêmico ainda
presente e que assolou o mundo impactou negativamente na
continuidade dos encontros. O impedimento de reuniões presenciais e
as dificuldades de acesso e manejo dos usuários sobre recursos
tecnológicos foram decisivos na suspensão temporária dos debates
construídos que fomentavam o coletivo, propiciando a participação
social mais ativa e protagonizada pelos usuários nas tomadas de
decisões na saúde mental. Isso prejudicou o espaço plural que se
configurou como lugar de afetos e fortalecimento de elos entre todos os
agentes. No entanto, ficou evidente que qualificar demandas no âmbito
da Atenção Psicossocial somente será possível se houver a escuta dos
sujeitos que, com sua vivência e sabedoria, posicionam-se com

899
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

protagonismo e autonomia exercitando a cidadania, sendo os atores


mais capacitados na leitura de sua realidade social e sanitária. Cabem,
assim, aos demais sujeitos do Controle Social, o reconhecimento desse
papel na construção das políticas públicas em Saúde Mental que,
embora afastados pelos efeitos da pandemia, o desejo de lutar pela
dignidade na atenção psicossocial não foi reprimido, tendo no encontro
de novas formas de mobilização, o horizonte de futuras ações.

900
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Protagonismo: estratégia de resistência

Sílvia Lúcia Gomes Cavalcanti


Secretaria de Saúde do Recife

Os avanços da luta antimanicomial no Brasil tiveram significativa


participação dos usuários(as), trabalhadores e familiares, através da
organização política. Os retrocessos atuais da política nacional de saúde
mentaltrazem a necessidade de fortalecer a participação e formação
política desses segmentos, para o enfrentamento e resistência. Muitos
desafios estão postos para que a Rede de Atenção Psicossocial seja
ampliada e fortalecida. Acreditamos que o trabalho realizado no Grupo
Protagonismo dos(as) usuários(as) se configura como uma estratégia
potente na formação política destes, promovendo a participação ativa
em espaços estratégicos de discussão da política de Saúde Mental e
controle social na RAPS. O Grupo Protagonismo do/a usuário/a acontece
desde 2016, semanalmente(sextas-feiras à tarde), no CAPS III David
Capistrano, situado no bairro do Ipsep, no Distrito VI, no município do
Recife, Pernambuco. Participam entre 15 a 20 usuários/as que estão em
acompanhamento no serviço e egressos, com duração de uma hora. O
objetivo do grupo é realizar discussões e ações de promoção do
protagonismo dos(as) usuários(as), fortalecendo o controle social, a
participação ativa na luta por uma sociedade sem manicômios (luta
antimanicomial), por uma Rede de Atenção Psicossocial(RAPS)
antimanicomial e antiproibicionista, articulada e resolutiva, e pela
defesa e cumprimento da Lei 10.216(Lei de Reforma psiquiátrica
brasileira). Os temas abordados são escolhidos pelos usuários(as)
participantes. Em cada encontro, debatemos temas diversos, sempre
direcionados à formação política para a defesa dos direitos das pessoas
com transtornos mentais, fortalecimento da Rede de atenção
psicossocial antimanicomial e antiproibicionista, promoção e defesa dos
direitos humanos. São utilizados vídeos, jornais, revistas, textos,

901
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cartilhas, folhetos, informativos. Os usuários(as) são estimulados a


compartilhar suas vivências e experiências no grupo. Alguns temas
possibilitam a confecção de cartazes, faixas, desenhos e textos. Em
outubro de 2019, o grupo iniciou a confecção de um jornal, o Vozes do
CAPS, que terá edições trimestrais, organizado com a participação dos
usuários(as). O jornal será distribuído pelo serviço e demais serviços da
Rede de Atenção Psicossocial da cidade do Recife. Inicialmente os
participantes do grupo eram os que estavam mais estáveis do ponto de
vista psiquiátrico. À medida em que foram acontecendo, percebemos
interesse de outros usuários(as).Aos poucos, avaliamos que todos que
desejassem participar teriam oportunidade de colaborar, pois os temas
trabalhados remetem a importância da participação cidadã dos
usuários(as), na perspectiva do protagonismo, inclusive enquanto
usuários do serviço, no fortalecimento da autonomia para a vida
cotidiana, e enquanto cidadãos, sujeitos históricos e protagonistas de
suas vidas. Com essa proposta investimos no empoderamento d@s
usuári@s, fortalecendo e possibilitando ocupar espaços de participação
nos conselhos gestores, fóruns, conferências, audiências públicas, rodas
de conversas, assembleias, reuniões etc. A participação social possibilita
ampliação da cidadania, da autonomia, do protagonismo do usuário
para o avanço da reforma psiquiátrica. Espaços como esses promovem a
participação ativa e a democracia participativa, tão importante no
contexto da formulação de políticas públicas.

902
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Psicologia e Direitos Humanos: Uma experiência de


estágio para diálogo, reflexão e ação

Palloma Danielly Cirino Gonçalves


Sarah Stéfani Santos Souza
Andreia Cristina Barreto
Centro Universitário UMA

Este trabalho apresenta a experiência no estágio de Psicologia e Direitos


Humanos, que compõe o currículo do curso de Psicologia do Centro
Universitário UNA e tem como propósito refletir sobre o compromisso
social da Psicologia e sua intervenção para uma prática efetiva dos
Direitos Humanos a partir da compreensão da dimensão subjetiva, ética,
política e cultural em diálogo para a reflexão e ação. O referencial
teórico deste trabalho foi realizado a partir da orientação e de pesquisas
bibliográficas com o intuito de obter discussões críticas do contexto de
Direitos Humanos. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa foi
compreender as relações da Psicologia com os Direitos Humanos e a
importância dessa discussão na formação dos estudantes. Portanto, o
trabalho foi desenvolvido a partir de estudos bibliográficos, visitas
técnicas aos alunos do curso técnico de enfermagem da UTRAMIG de
Belo Horizonte, com a realização de intervenções por meio da
metodologia de representações lúdicas, dinâmicas, músicas e roda de
conversa com o objetivo de trabalhar com as(os) alunas(os) sobre
Direitos Humanos, com a temática do preconceito contra mulher e
sororidade. A partir das atividades desenvolvidas, foi possível evidenciar
nos relatos dos alunos os desafios encontrados na instituição, as
particularidades e a necessidade de um processo contínuo de luta pela
construção e efetivação de Direitos Humanos no aspecto de dimensão
ética, política e prática em um movimento de igualdade entre os
gêneros no âmbito da sororidade. Nesse sentido, é relevante mencionar
a importância da atuação do psicólogo no campo dos Direitos Humanos

903
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

em ênfase no âmbito da igualdade de direitos civis, gêneros, sociais,


políticos e culturais, marco que fundamentou-se no compromisso da
psicologia e a interdisciplinaridade com as outras áreas. A partir disso, é
necessário um olhar para subjetividade, a efetividade de um cuidado
humanizado, liberdade, autonomia, e promoção dos Direitos Humanos.

904
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Publicizar para conhecer: publicização do CAPS através do


Projeto de Intervenção do Estágio Supervisionado em Serviço
Social na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte

Ana Raquel Dantas de Azevedo


Centro de Atenção Psicosocial - CAPS

Hiorrana Larissa da Silva


Luan Alexandre da Silva Dantas
Faculdade Católica Santa Terezinha

O presente trabalho tem o intuito de discorrer sobre o Projeto de


Intervenção de estágio no CAPS III de Caicó, Rio Grande do Norte, na
Região do Seridó potiguar. Este serviço é referência na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS), pois atende não só a cidade em que o serviço está
alocado como os demais municípios da região. Tal projeto tem como
objetivo publicizar a instituição na rede de Atenção Básica (AB) de Caicó,
onde o serviço é alocado, uma vez que muitas das Unidades Básicas de
Saúde (UBS) do município não possuem uma relação direta e sólida com
o CAPS. Dessa forma, o projeto objetiva propagar informações sobre o
que é o CAPS, seus objetivos e, ainda, criação de fluxo em rede com os
profissionais das unidades para melhorar o entendimento do objetivo
do serviço na RAPS, falando sobre cuidados em saúde mental e a
importância do cuidado compartilhado entre atenção especializada e
AB. O estágio supervisionado em Serviço Social é essencial para
formação do/a assistente social, uma vez que complementa o processo
de ensino e aprendizagem, subsidia um estudo reflexivo do fazer
profissional, alicerçado em um pensamento crítico e articulado com a
teoria, haja vista que não há uma dissociação entre a teoria e a prática,
pois uma complementa a outra, buscando sempre ter esta articulação
no exercício profissional, possibilitando que o estagiário vivencie, na
prática, as situações reais do cotidiano do profissional. Este espaço deve

905
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ser também um momento de escuta, de compartilhamento de


experiências e reflexões entre supervisor e aluno. A metodologia
consistiu na observação participante dos discentes durante o estágio
realizado no CAPS, discussão dos pontos que necessitavam melhorias no
serviço, além de visitas nas UBS, com a assistente social supervisora, que
pouco mantinha contato com o serviço, para assim realizar reuniões e
estreitar vínculo entre equipes. Desse modo, durante o estágio foi
possível perceber que a articulação entre AB e Atenção Especializada
dentro da RAPS deve ser sólida. E que para que isso aconteça se faz
necessário que a AB seja a porta de entrada do indivíduo na política de
saúde, pois sua localização é estrategicamente pensada para acontecer
na perspectiva de promover uma garantia de acesso à população a uma
atenção de saúde de qualidade. Com isso, com a proposta de
intervenção foi possível promover uma melhor articulação entre AB e
CAPS, visando à corresponsabilização do cuidado dentro dos diferentes
serviços que compõem a RAPS.

906
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Purpurinas: grupo de mulheres no CAPS AD

Hanna Luara Costa Martins


Zaeth Aguiar do Nascimento
Lina Ferrari de Carvalho
Matheus Osório da Silva
Universidade Federal da Paraíba -UFPB

O campo da saúde mental nas últimas quatro décadas passou por


constantes transformações. A partir de um processo histórico de Luta
Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica, começou-se a pensar novas
formas de acolhida e acompanhamento visando articular a clínica com a
política. As oficinas terapêuticas ressurgem nesse processo como
importante recurso no tratamento clínico e reabilitação psicossocial,
sendo reguladas em legislação no Brasil e fazendo parte do cotidiano
institucional da assistência em saúde mental (GUERRA, 2008). De acordo
com Guerra (2008), as oficinas terapêuticas podem ser utilizadas como
um recurso muito relevante tanto na possibilidade de subjetivação ou
simbolização de histórias dos sujeitos, isto é, um enlaçamento social, em
específico, na psicose, bem como a reinscrição das pessoas em
sofrimento psíquico na vida política, cultural e social da cidade,
remetendo àcidadania. Logo, objetiva-se a articulação entre expressão
subjetiva, reintegração social e produção de autonomia e cidadania. É
nesse contexto que o CAPS AD III David Capistrano, localizado na cidade
de João Pessoa, se organizou para oferecer um grupo direcionado a
mulheres, onde realizam-se oficinas terapêuticas que tratam de temas
pertinentes à identidade feminina como sororidade, sexualidade,
perdas, maternidade, entre outros. O grupo reúne-se semanalmente.
Suas oficinas são propostas pela equipe de profissionais CAPS composta
por psicóloga, nutricionista, oficineiras, residentes em saúde mental e
estagiários de psicologia. Propõe-se uma atividade com recursos
dinâmicos e, após esse momento, uma roda de conversa acerca da

907
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

temática trabalhada. A realização de tais oficinas justifica-se por ser uma


tentativa de promover espaços de expressão, (des)construção e
transformação subjetiva, a partir da fala, dos afetos, sentimentos e
reflexão levando em conta esse recorte de gênero e tendo em vista a
articulação entre os processos de subjetivação e os elementos sociais e
culturais. Logo, os temas irão variar desde percepções de si às opressões
vivenciadas cotidianamente, considerando a articulação entre
sofrimento psíquico e ético-político, bem como a clínica ampliada, a
cidadania e redução de danos. É possível articular as três lógicas que
permeiam a política de saúde no espaço do CAPS AD: reforma
psiquiátrica, redução de danos e clínica (MACHADO & FARIA, 2012).
Portanto, as oficinas, além de contribuir no processo das usuárias
participantes, serão fundamentais na formação e preparação dos
estagiários de Psicologia para futuras atuações como profissionais em
serviços de saúde mental, principalmente, em CAPS AD. Ademais, será
imprescindível na integração entre equipe multiprofissional, estagiários
e usuários.

908
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Quando o luto não é verbo: atravessamentos do sentir


frente ao luto para mulheres negras

Carolina Cristal Ferreira


Mariana Cancro de Matos
Autônomas

Um grupo de luto aberto em quatro encontros para mulheres negras foi


realizado entre março e abril de 2018 como parte da programação da
Casa 1 (Centro de Acolhimento e Cultura LGBTQIA+ em São Paulo) em
homenagem a Marielle Franco. Em cada encontro foi trabalhado um
tema específico: (1) O sentido do luto e da luta das mulheres negras; (2)
Do que as mulheres negras precisam para poder elaborar seus lutos?;
(3) Quais riscos corremos quando rompemos com o silêncio?; (4) O viver
e o morrer da mulher preta: as narrativas que temos e as que queremos.
As atividades propostas contaram com trocas de experiências, técnicas
corporais, desenhos, leituras coletivas e contato com vídeos naquilo que
nomeados como rodas de conversa vivenciais. Os encontros tiveram a
mediação participativa de duas psicólogas negras. Houve uma ampla
divulgação do projeto nas redes sociais. Além disso, tivemos como
estratégia fazer convites presenciais na residência das mulheres que
moravam perto da ONG e também informamos mulheres que foram
apontadas como grandes articuladoras na região sobre o grupo. O perfil
das participantes foi predominantemente de mulheres com maior nível
de escolaridade e ativistas. Elas ficaram sabendo sobre o grupo
majoritariamente pelas redes sociais ou através da indicação de amigos.
Mulheres negras são frequentemente retratadas como pessoas fortes
que podem passar por cima de suas próprias emoções e necessidades
para dar conta de demandas externas. Apesar da luta que seguiu à
morte de Marielle ser bastante ressaltada, o que é essencial para
manter a visibilidade do caso e a busca pela justiça que até hoje não
veio, o crime também despertou luto e medo em muitas mulheres

909
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

negras. O grupo buscou o reconhecimento e acolhimento desses


sentimentos. Também foi possível fazer trocas de experiências de vida,
de relacionamentos, de perda, de autocuidado e do que significa ser
uma mulher negra no mundo. Ficou claro que todas se sentiam ao
mesmo tempo sobrecarregadas e invisibilizadas ao longo de suas vidas.
Falamos sobre a solidão de circular em espaços muito embranquecidos
e que é raro estarmos em espaços cujo foco está na troca afetiva de
mulheres negras. Concluímos que o bem viver não é apenas uma meta
para o futuro, mas deve ser pensado também nas possibilidades do
agora. O encontro de cuidado entre mulheres negras pode ser parte
desse processo para não deixarmos que a luta por humanidade seja
deturpada em mais um fator que nos desumaniza.

910
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Que os mundos não desapareçam: contação de histórias de


trabalhadoras de um serviço de saúde mental em tempos de Covid-19

Conrado Alencastro Bueno


Josiane da Silva Silveira
Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul

Introdução: O presente relato tem como intenção o compartilhamento


das experiências de vidas relacionadas ao cotidiano de trabalho de duas
trabalhadoras de um CAPS AD III localizado no município de Porto Alegre
em tempos de Covid-19. Descrição da experiência: Esse é o início de um
diálogo que envolve um outro ser que se insurgiu repentinamente, mas
com aviso prévio. O respeito para com o vírus da Covid-19 trouxe a
mudança radical de reorganização e rearranjo das ações de cuidado
num CAPS AD III em concomitância com as redes de atenção de cuidado.
A ambiência, antes movimentada, estava vazia. O ar pairava pesado.
Caminhadas, grupos e futebol na praça haviam sido cancelados.
Andarilhar no território e entrar nas casas para visitas domiciliares já
não era mais seguro. Isolamento e distanciamento social explodiram
sobre nós como um meteoro gigante que nos deixaria aturdidos por um
longo tempo. O CAPS seguia de portas abertas, mas a cidade estava
sitiada. A construção de trajetos e pontes tão cotidiana para nós teve
paralisação forçada. Ainda assim, as pessoas compareciam e
comparecem com suas demandas e desejos que são atualizados de
acordo com os tempos que estavam inicialmente por nos atravessar e
que ainda nos atravessam. As determinantes sociais em saúde urgem e
emergem escancaradamente no espaço do serviço. Repercussões:
Compartilhamento das experiências através da contação de histórias
que perpassaram e perpassam o espaço do serviço de saúde em questão
junto ao acompanhamento das demandas e desejos dos usuários do
sistema de saúde público que acessaram e acessam o respectivo espaço.
A constelação múltipla de situações pelas quais as trabalhadoras narram

911
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

insurge a ampliação e amplificação de demandas e desejos que se


apresentaram e se apresentam nos mais diversos momentos em tempos
de Covid-19. Considerações finais: À guisa de conclusão, o
compartilhamento das experiências através da contação de histórias
que envolvem as trabalhadoras que atuam num CAPS AD III em tempos
de Covid-19 se faz em sua importância e pertinência já que, de acordo
com a autoria indígena Ailton Krenak: “Enquanto a gente conta uma
história, a gente adia os conflitos e de alguma maneira adia o fim de
algum mundo”. Isto posto, quem conta um conto em tempos atuais não
aumenta um ponto e sim acentua mundos. Acentuá-los é mantê-los
existentes, que os mesmos não desapareçam. Criá-los e gestá-los para
com as palavras. Tais palavras, úteros de mundos.

912
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Quem “liga” para Saúde Mental durante a Covid-19? Experiência da


Liga Nacional de Atendimento Psicológico Social On-line

Socorro Taynara Araújo Carvalho


Ana Mara Farias de Melo
Leidiane Carvalho de Aguiar
Centro Universitário INTA-UNINTA

Introdução: A pandemia de Covid-19 tem causado enormes prejuízos a


todos os indivíduos em diversos aspectos, sobretudo sob o ponto de
vista da saúde mental. Algumas possíveis questões que prejudicam a
saúde mental no cenário de pandemia estão relacionadas ao medo de
ficar doente e morrer ou de transmitir a Covid-19 para familiares;
sentimentos de desesperança; além de questões financeiras que
também desencadeia sofrimento nesse momento de crise (OMS, 2020).
Medidas estão sendo adotadas para minimizar este impacto, como a
“Liga Nacional de Atendimento Psicológico Social On-line”, a qual é um
projeto formado por um grupo de psicólogos e de estudantes de
Psicologia de todo o Brasil, que fornecem atendimento social
psicoterápico on-line e em libras para sujeitos que estejam com
demandas de sofrimento psicológico desencadeado pelas consequências
da pandemia. O presente estudo tem como objetivo apresentar
vivências e percepções que encontramos, especificamente, na atividade
de acolhida e triagem dos atendimentos. Descrição da experiência: A
Liga teve início a partir no mês de março de 2020 e permanecerá em
vigência até dezembro de 2020. O primeiro contato dos sujeitos com a
Liga ocorre através de mensagem pelo WhatsApp ou ligação para as
acadêmicas voluntárias, em que somos responsáveis em fazer a
mediação entre os sujeitos que procuram atendimento e os psicólogos.
Fundamental ressaltar que a Liga faz um atendimento nacional,
entretanto, retrataremos especificamente sobre o Nordeste. Durante
março a setembro de 2020 fizemos em média 280 encaminhamentos de

913
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

atendimentos psicológicos na região. No início da Liga, contávamos com


48 profissionais Psi à disposição para atender as demandas de
sofrimento psicológico de forma gratuita e a partir do mês de julho
começamos a passar por algumas dificuldades, pois muitos profissionais
voluntários tiveram que sair do projeto, ocorrendo uma diminuição das
vagas para novos atendimentos. Diante disso, quando ficamos sem
vagas, encaminhamos para os sujeitos contatos de programas
semelhantes a esse. Repercussões: Durante esses meses de projeto, a
Liga ganhou grande repercussão no âmbito das redes sociais e espaços
da área de saúde, em que os números de telefone das ligantes eram
divulgados para que as pessoas pudessem procurar ajuda durante a
pandemia. Em muitos momentos notamos uma ansiedade das pessoas
pelo atendimento e a necessidade de escuta. Tanto que, em algumas
situações pela demora de novas vagas, alguns sujeitos que procuraram a
Liga tentavam um atendimento com as estudantes voluntárias, fator que
era interrompido imediatamente por questões éticas e legais.
Considerações finais: Percebemos que a Liga está sendo importante
nesse momento de crise que a pandemia ocasionou um projeto
inovador na área da saúde mental. Acreditamos que seja uma
experiência enriquecedora para a vivência de um primeiro contato,
desenvolvendo sensibilidade e empatia no trato com os sujeitos que são
fundamentais para aqueles que procuraram a Liga como uma válvula de
escape. Além disso, acreditamos ser importante refletir sobre a
necessidade de políticas públicas que ofereçam esse tipo de serviço,
uma vez que existem pessoas em sofrimento que não tem condições
financeiras de ter acesso a processos de psicoterapia.

914
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rádio e saúde mental em sintonia com a cidade

Regina Céli Fonseca Ribeiro


Samara Muniz Toledo
Luana Bispo da Silva
Victória Stephanie dos Santos
Alessandro Rodrigo Pedroso Tomasi
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Introdução: O projeto “Rádio e saúde mental em sintonia com a cidade”


nasceu de um trabalho feito pelos alunos de uma disciplina curricular do
curso de Terapia Ocupacional da UFMG, em que o programa Louca
sintonia é produzido semestralmente e da tese de doutorado da
docente da disciplina e coordenadora do projeto. É norteado pelos
princípios das políticas nacionais de saúde mental, que priorizam o
protagonismo dos cidadãos em sofrimento mental, por meio de
estratégias de combate ao estigma em saúde mental, como as da
dimensão sociocultural. A experiência radiofônica é uma das criativas
estratégias desta dimensão e permite ampliar e fortalecer o acesso à
cidade pelos usuários. Descrição da experiência: O projeto acontece, em
grande parte, no Centro de Convivência São Paulo, em Belo Horizonte,
Minas Gerais, mas de acordo com a demanda dos usuários pode
acontecer onde nos cabe na cidade, como em praças, na universidade e
estúdios da Rádio UFMG Educativa. No núcleo da equipe que coordena
o projeto participavam dois usuários do CCSP, mas infelizmente um
faleceu e o outro se desligou do serviço. Atualmente a equipe é
composta por dois docentes, uma aluna bolsista do Programa de Bolsas
de Extensão (PBEXT/UFMG) e duas alunas voluntárias, todos da Terapia
Ocupacional. Ações anteriores à pandemia da Covid-19: organização do
acervo das onze edições do Louca sintonia para produção, pela Rádio
UFMG, de uma homenagem ao usuário Paulo Tolentino, falecido em
janeiro de 2020; levantamento e organização do acervo individual de

915
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cerca de 40 depoimentos e músicas de um dos usuários do CCSP que


demandou rever e guardar todas as suas produções; acompanhamento
individual de um usuário para gravação de CD com suas produções
musicais, ou "instrumencânticas", como ele prefere denominá-las;
produção do programa Entrevistando personagens da rede para o canal
do projeto no YouTube; oficina de mídias sociais, semanais; concurso
para criação da logo para as redes sociais do projeto. Durante a
pandemia os acompanhamentos individuais foram continuados por
meio do WhatsApp Business, o que permitiu melhor articulação com o
serviço e acesso aos usuários. Foi produzido um programa especial para
o 18 de maio, o levantamento da disponibilidade de acesso a recursos
tecnológicos pelos usuários envolvidos no projeto, visando a retomada
da produção do programa Louca sintonia em formato remoto, a criação
de canal no YouTube e de página no Facebook. Repercussões: Apesar
das limitações associadas ao uso das tecnologias de comunicação e ao
acesso à internet, à posse e uso do aparelho telefônico, e às
inseguranças relacionadas à falta de conhecimento quanto ao uso delas,
foi possível perceber o interesse dos usuários em participar das ações de
maneira remota. Além disso, ao realizar o levantamento foi possível
alcançar algumas pessoas que antes não participavam das ações do
projeto. Considerações finais: Novas estratégias da dimensão
sociocultural no combate ao estigma em saúde mental estão sendo
pesquisadas, por meio do levantamento de grupos artísticos e culturais
brasileiros protagonizados por usuários da saúde mental. Esta iniciativa
será transformada em projeto de pesquisa e alimentará as redes sociais
do projeto.

916
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rastreio e intervenção breve para mulheres que fazem uso de risco e


nocivo de álcool atendidas em serviço de atenção primária à saúde

Talita Dutra Ponce


Divane de Vargas
Erika Gisseth Leon Ramirez
Universidade de São Paulo -USP

Introdução: Parcela significativa de mulheres atendidas em serviços de


Atenção Primária à Saúde (APS) faz uso de risco e nocivo de álcool. A
prevalência desse padrão de consumo vem aumentando nessa
população nos últimos anos, gerando incontáveis prejuízos sociais e de
saúde. Estratégias de enfrentamento e prevenção no contexto da APS
vêm sendo sugeridas, dentre elas destaca-se se a Intervenção Breve (IB),
que tem demonstrado resultados satisfatórios quando realizada com
mulheres. Objetivo: Verificar a efetividade da IB no padrão de consumo
de álcool e na motivação para mudança de comportamento em
mulheres que fazem uso de risco ou nocivo de álcool atendidas em um
serviço de APS. Método: Ensaio clínico randomizado em que 20
mulheres atendidas em um serviço de APS que faziam um consumo de
risco ou nocivo de álcool foram rastreadas utilizando-se o instrumento
Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT), e divididas
aleatoriamente entre dois grupos; o Grupo Intervenção (GI) que
participou da IB (sessão individual de 20 a 30 minutos, utilizando-se de
técnicas motivacionais) e o Grupo Controle (GC) que recebeu o
Aconselhamento Breve (AB) (feedback sobre o padrão de consumo de
álcool). Os desfechos foram avaliados na linha de base, no primeiro e no
terceiro mês de seguimento, sendo eles: padrão de consumo de álcool,
prontidão para mudança de comportamento, frequência e quantidade
de álcool consumido no último mês. Para a análise intragrupo e
intergrupo foi utilizado o modelo linear generalizado e para todos os
testes foi considerado como significativo um valor de p ≤ 0,05.

917
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Resultados: Houve diminuição no escore AUDIT em ambos os grupos nos


dois seguimentos, na linha de base (GI 12,89; GC 10,64), no 1º mês (GI
12,78 p=0,9; GC 7,9 p=0,01) e no 3º mês (GI 10,11 p=0,13; GC 7,09
p<0,00). Embora o GI tenha mantido o padrão de uso de risco de álcool
após a IB, houve redução do número de doses ingeridas em relação a
avaliação inicial (p<0,00) e menor quando comparado ao número de
doses ingeridas pelo GC no mesmo período (p=0,07). Os resultados
também sugerem a efetividade da IB nos estágios de prontidão para
mudança do padrão do uso de álcool em mulheres que fazem uso de
risco e nocivo de álcool, (antes da IB 4,89; após 1ºmês de IB 6,67,
p=0,12). Conclusão: A Intervenção Breve aplicada no contexto da APS é
efetiva na diminuição do consumo de álcool em mulheres que fazem uso
de risco ou nocivo desta substância, e têm potencial para influenciar
positivamente nos estágios de prontidão para mudança do hábito de
beber.

918
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rearranjos organizacionais na Saúde Mental para


o enfrentamento da pandemia de Covid-19

Aline Fernandes de Rossi


Fabiana Céli Rocha Garcia
Amanda Menon Pelissoni
Ana Carolina Ferreira Rosa
IRSS Hospital Israelita Albert Einstein

A pandemia de Covid-19 tem infectado pessoas em todo mundo e exigiu


que os serviços de saúde se reorganizassem para garantir a assistência
daqueles que foram contaminados e das outras demandas de saúde. O
maior impacto tem sido nos hospitais que receberam muitos casos do
vírus, atingindo o limite da capacidade instalada de forma rápida. Assim,
foi necessário o remanejamento dos seus leitos para atender a esta
demanda, incluindo os leitos psiquiátricos. Diante deste contexto, a
Secretaria de Saúde do município de São Paulo indicou o CAPS Adulto III
Paraisópolis como local para acolher os usuários das enfermarias de
psiquiatria de dois Hospitais Gerais da região da Zona Sul. O CAPS
passou por uma adequação em sua infraestrutura para comportar 22
leitos de internação psiquiátrica, sendo 7 de isolamento para casos
suspeitos e/ou confirmados do novo coronavírus. Para o
desenvolvimento do projeto CAPS/Enfermaria foram realocados 54
profissionais de diferentes pontos da rede, sendo a maioria da Atenção
Primária. Para efetividade da integração da rede com foco no cuidado
dos usuários foram elaboradas novas tecnologias de cuidado, como o
sistema de regulação de vagas, um projeto terapêutico singular (PTS)
para internação na modalidade on-line e aplicabilidade de ferramentas
digitais, como telematriciamento, teleatendimento e televisita familiar.
Percebemos que os rearranjos organizacionais potencializaram a
integração dos profissionais que compõem a rede de cuidado,
fortalecendo as relações e os papéis. Notou-se a maior visibilidade dos

919
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

CAPS dentro da instituição parceira e das instâncias públicas. Foi


possível o cuidado humanizado de usuários internados com propostas
de práticas integrativas e multiprofissionais, muitas das quais eram
advindas do modelo CAPS. Por outro lado, houve uma sobrecarga de
trabalho e de sofrimento psíquico dos profissionais, pois juntamente às
adaptações de uma proposta de enfermaria também sustentaram o
acompanhamento e funcionamento do CAPS. Entendemos que este
projeto foi uma proposta pioneira dentro da Rede de Atenção à Saúde,
repercutindo de forma positiva no cuidado dos usuários e no
fortalecimento do trabalho com/no território. Esperamos que iniciativas
como esta possam também servir para reflexões sobre a complexidade
do cuidado no CAPS III, destacando ainda a necessidade de
investimentos no campo da saúde mental a partir da demanda
crescente em decorrência da pandemia e seus efeitos.

920
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reconhecimento da singularidade na produção existencial:


a redução de danos na construção compartilhada de projetos
terapêuticos de cuidado

Nemorio Rodrigues Alves


Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas– UNICISAL

Ana Alice Queiroz Ribeiro Barbosa


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

Introdução: O cuidado junto à população em situação de rua requer dos


profissionais um processo de trabalho diferenciado que esteja alinhado
com os princípios da Redução de Danos (RD). As estratégias de RD são
dialógicas na medida em que promove à pessoa que faz o uso de
substâncias o exercício pleno de sua autonomia. É no campo das
tecnologias leves que a RD coproduz projetos terapêuticos de vida
reconhecendo a singularidade de cada um no campo das subjetividades
da produção existencial. Dito isso, temos como objetivo relatar a
experiência de acompanhamento longitudinal de uma pessoa em
situação de rua, que aqui chamaremos de Flor. Descrição da
experiência: Flor é uma pessoa em situação de rua que vem sendo
acompanhada pela equipe do Consultório na Rua Recife há quatro anos.
No começo, apresentava-se resistente ao acompanhamento da equipe.
Todavia, no decorrer do processo de construção de vínculo, os diálogos
pautados na RD foram se ampliando e transversalizando com discussões
sobre projetos de vida. Tivemos momentos intensos de escuta e Flor foi
traçando e pactuando estratégias de cuidado, permeado por avanços,
retrocessos e, principalmente, aprendizados. Ao longo do percurso, Flor
teve seis passagens por abrigos/unidades de acolhimento e esteve por
duas vezes no leito integral do Hospital Imip através do Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD). Os vínculos
familiares encontram-se extremamente fragilizados devido ao uso

921
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

abusivo do álcool (e outras substâncias) e suas consequências. Deste


modo, as redes vivas que integram seu cuidado foram de fundamental
importância para seu caminhar terapêutico e produção existencial.
Repercussões: Cabe aos profissionais de saúde refletir sempre sobre a
prática de cuidado tutelar tensionando o saber-fazer que agencia modos
de dominação sobre a vida do outro e a prescrição de modos de viver.
Trabalhar na lógica da RD tem se mostrado importante no cuidado junto
a Flor. Observamos que a construção do cuidado deve ser sempre
compartilhada e dialogada com o sujeito. O cuidado não-institucional
produzido nas redes vivas tem sido primordial na vida de Flor gerando
um impacto positivo perceptível na sua capacidade de gerir sua vida e
pensar como melhor vivê-la apesar de todas as vulnerabilidades.
Considerações finais: Praticar a RD no contexto da população em
situação de rua é viver a Reforma Psiquiátrica na ponta e reforçar a luta
antimanicomial e antiproibicionista. Construir o cuidado pela ação
dialógica pautado nas práticas da RD tem se mostrado efetivo e reforça
o compromisso ético-estético-político dos profissionais que
desenvolvem suas atividades junto à população em situação de rua.
Reconhecer a singularidade de cada indivíduo e compreender sua
subjetividade são ações fundamentais para que a pessoa possa se abrir
ao cuidado e a partir daí (re)começar novos planos de vida.

922
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reconstruindo a Saúde Mental Comunitária


através de musicoterapia social on-line

Beatriz Bezerra Eufrasio de Oliveira


Sandra Rocha de Nascimento
Jháred Emanuelle Ribeiro Cerqueira
Matheus Fernandes Arantes de Ávila
Laíny Andriely Ribeiro de Pinho
Andria Janne Portela de Almeida
Débora Marques Soares de Lima
Universidade Federal de Goiás - UFG

Introdução: O Grupo Vida Ativa é um projeto de extensão universitária


de musicoterapia social, intergeracional, com atividades desenvolvidas
semanalmente dentro de uma UBS na Região Metropolitana de Goiânia,
Goiás, desde 2018. Com a pandemia de Covid-19, em 2020, a suspensão
das atividades presenciais e o distanciamento social levaram ao
aparecimento de atitudes de autoisolamento dos idosos, aumentando
quadros de vulnerabilidade psicoemocional. Intentamos relatar os
movimentos intersubjetivos gerados através das intervenções
musicoterapêuticas on-line. Descrição da experiência: Executadas por
docente e discentes do curso de Musicoterapia (UFG), realizamos
diversas ações musicoterapêuticas síncronas e assíncronas on-line. As
atividades, após planejamento da equipe, foram executadas
sequencialmente. Como indicadores de resultados observamos as
reações pessoais (mensagens feitas pelas pessoas) ou apessoais
(mensagens "prontas" encaminhadas), bem como reações de excessiva
postagem ou ausência de adesão/reações. Repercussões:Várias ações
de promoção da saúde e consequentes reações foram identificadas: a
vinculação individual (cada monitor acessando uma participante de cada
vez) aos poucos ampliou a adesão destas; estruturamos diferentes
atividades, iniciando com ações assíncronas (postadas no WhatsApp do

923
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

grupo Vida Ativa) ampliando para ações síncronas (no Zoom); a


dedicatória musical (minivídeos com músicas tocadas/cantadas pelo
monitor e dedicadas a cada idosa) levou à boa receptividade, com
respostas saudosas através de postagens apessoais; no monitoramento
telefônico (escuta ativa através de telefonema e conversa sobre
autocuidados frente à pandemia), elas ficavam felizes trazendo diálogos
pessoais, por áudios, positivos, bem como algumas não atenderam as
ligações ou atitudes de não postagem no "zap"; as improvisações
musicais (falar atitudes de fortalecimento da saúde mental através de
canto improvisado) incorreram numa resistência inicial, mas ao
sentirem-se mais relaxadas e confiantes favoreceu a ampliação dos
diálogos pessoais, mostrando postagens pessoais de alegria, fotos de
ações caseiras, relatando saudade; os encontros em grupo on-line
(grupos musicoterapêuticos on-line semanais) agregaram
principalmente novos participantes e seus familiares, mas as idosas
antigas manifestaram não adesão às atividades síncronas em grupo.
Acolhendo as pessoas em suas expressões, estas demonstraram diversas
reações, desde a não adesão ao novo formato de vínculo grupal até a
ampliação das postagens pessoais. Quando se posicionavam abertas ao
novo, geraram atitudes de conexão grupal e compartilhavam o que
recebiam, com manifestações de apoio e carinho com as amigas e até
com os monitores. Considerações finais: Consideramos toda e qualquer
expressão como uma maneira do sujeito dizer de si (Pellizzari, 2011). É
importante frisar que “se permitir viver o novo” é um desafio para todos
nós neste tempo atual. Essa modalidade de intervenção
musicoterapêutica social on-line foi muito importante para todos os
envolvidos nas ações - desde a equipe até as participantes e seus
familiares-, contribuindo positivamente para nossa saúde emocional-
mental e minimizando as "distâncias" entre todos, ressignificando
vínculos e formas expressivas salutogênicas e intersubjetivas.

924
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rede de Atenção Psicossocial: o matriciamento como processo de


trabalho na assistência do usuário pós-internação em hospital geral

Evelym Cristina da Silva Coelho


Lílian Vaughan Lima de Oliveira
Rayara Pamela Nunes da Trindade
Universidade do Estado do Pará – UEPA

Maria Selma Carvalho Frota Duarte


Mário Antônio Moraes Vieira
Marly Lobato Maciel
Lígia Gizely dos Santos Chaves Melo
João Bosco Monteiro
Dalva Bastos e Silva Coutinho
Elizabeth das Dores Silva
Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna

Introdução: Após o fim da instituição manicomial, a Reforma Psiquiátrica


brasileira é um processo histórico de reformulação dos saberes e
práticas em saúde mental. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
propõe desde 2011, um novo modelo de assistência em saúde mental,
partindo do acesso e a promoção de direitos das pessoas, baseado na
convivência dentro da sociedade. Desta forma, a RAPS está presente em
todos os níveis de atenção à saúde do SUS, de forma a garantir a
atenção integral que todos os indivíduos necessitam. E assim o
matriciamento constitui-se numa ferramenta de transformação, não só
do processo de saúde e doença, mas de toda a realidade dessas equipes
e comunidades, devendo proporcionar uma retaguarda especializada na
assistência oferecida aos usuários. Descrição da experiência: O presente
trabalho trata-se de um relato de experiência, utilizou-se a Metodologia
da Problematização do Arco de Maguerez, o qual possui cinco etapas:
observação da realidade, levantamento de pontos chave, teorização,

925
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

hipóteses de solução e aplicação à realidade. A primeira etapa se deu a


partir da vivência diária em uma clínica psiquiátrica dentro de um
hospital geral, com ênfase à internação de uma usuária gestante no
referido setor. Seguiu-se a segunda etapa, a partir de um recorte da
realidade observada, o levantamento das questões mais importantes ou
urgentes na busca por mudanças a serem fundamentadas, como “Qual a
rede de suporte desta usuária gestante após sua alta hospitalar? Como
auxiliar na organização do cuidado desta usuária nos diversos serviços
da RAPS?”. Na etapa de teorização buscou-se aprofundar questões
relacionadas à problemática, com base em evidências científicas, e
assim partindo para a hipótese de solução e aplicação à realidade, onde
foram realizadas intervenções no processo de cuidado desta usuária a
fim de atender aos pontos-chave identificados inicialmente. Para tanto
realizou-se de forma transdisciplinar a busca ativa da rede de suporte
socioafetivo da usuária. Além disso, com o objetivo da horizontalização
do cuidado e para sua integralização com a atenção primária, realizou-se
a articulação com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em que a
usuária pertencia, e posterior contato com a Equipe Saúde da Família
(ESF) responsável por seu núcleo familiar. O objetivo era incitar o
processo de matriciamento na RAPS e garantir uma retaguarda
especializada na assistência desta usuária após sua alta hospitalar.
Repercussões: Refletiu-se quanto à valoração da longitudinalidade do
cuidado na saúde mental, reconhecendo sua importância para a
recuperação de usuários portadores de transtorno mental pós-
internação em clínica psiquiátrica. Considerações finais: Percebeu-se a
necessidade de integração entre a rede de saúde mental, com o
envolvimento do ambiente hospitalar como parte do matriciamento. O
que gera excelentes resultados na assistência prestada aos usuários.

926
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Redução de danos e o cuidado da população


em situação de rua em tempos de pandemia

Isabelle de Araújo Brandão


João Batista de Brito Braga Alves
Paula Sousa Caldas
Sandra Assis Brasil
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Iago Lobo Siqueira Rodrigues


Edicarla Macedo da Rocha
Katarina de Lima Fernandes
Frank da Silva Ribeiro
Programa Corra Pro Abraço

Este relato objetiva descrever a experiência de dois residentes do


Núcleo de Saúde Mental do Programa de Residência Multiprofissional
da UNEB no encontro com a Redução de Danos (RD) e com o trabalho
direcionado à População em Situação de Rua (PSR) através da prática no
Programa Corra Pro Abraço. O Corra é um Programa de Redução de
Riscos e Danos, uma iniciativa da Secretaria de Justiça, Direitos
Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia, com foco na garantia dos
direitos sociais, cidadania, minimização dos efeitos da criminalização das
drogas e das condições de vulnerabilidade. O programa busca também
assegurar acesso a serviços públicos de saúde, educação e justiça para
esta população. A experiência se deu em agosto de 2020, com a
inserção das residentes nas duas equipes em funcionamento: Unidade
de Apoio na Rua (UAR) e Equipe de Extensão. A UAR é um equipamento
(contêiner) onde são ofertados água potável, kits de higiene,
preservativos, banho e uso do sanitário e conta com equipe
multiprofissional que realiza escuta qualificada e encaminhamentos
diversos. Já a Extensão trabalha em sete territórios da cidade,

927
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

promovendo atividades de arte-educação e cultura, ofertando insumos


e oferecendo suporte às questões sociais (benefícios, documentação,
abrigamento e articulação com outros pontos da Rede). Com a
pandemia de Covid-19, inúmeras adaptações no processo de trabalho
precisaram ser realizadas, considerando que o contexto requer cuidados
específicos, a fim de minimizar a exposição à contaminação do vírus, e
que as medidas sanitárias veiculadas oficialmente não se aplicam à
realidade da PSR. As residentes puderam vivenciar e colaborar com as
ações do Programa, acompanhar casos e desenvolver oficinas de
educação em saúde. Os temas principais foram: lavagem correta das
mãos, com estímulo ao uso das pias comunitárias, e sexualidade em
tempos de pandemia, discutindo sobre os atravessamentos dessas
dimensões. Ademais, as residentes participaram das reuniões de equipe,
de supervisão clínica e institucional, trocando conhecimentos adquiridos
no decorrer da vivência. Aspecto significativo se destaca no perfil dos
profissionais que atuam no Programa: são pessoas negras, em sua
maioria, que produzem cuidado para outras pessoas negras. Foi possível
refletir sobre a relação entre a luta antiproibicionista e a criminalização
das drogas, bem como sobre a defesa das condições de cidadania e
dignidade humana. Enxergar que, apesar do desmonte e sucateamento
dos aparatos públicos e das contradições do processo de trabalho, é
possível obter experiências exitosas de cuidado. A clínica peripatética da
RD aponta para a superação da assistência nos moldes biomédicos, e
nos permite acessar os sujeitos, construindo com eles e para eles um
cuidado que em algum momento transborda para o entorno e alcança
os coletivos que os cercam. Além disso, ofertar cuidado entre pares (de
pessoas negras para pessoas negras) amplia as possibilidades de
produção de vínculo e afeto. Ter a oportunidade de experienciar
tamanha complexidade da rede de atenção e intersetorialidade dos
serviços para o cuidado integral foi de suma importância para o
crescimento e desenvolvimento enquanto profissionais da saúde
mental, que necessitam de um olhar holístico e empático para com a
PSR.

928
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Redução de danos, os desafios do cuidado de crianças e


adolescentes em cena de uso de álcool e outras drogas

Cledson Oliveira de Sousa


APS Santa Marcelina

O uso abusivo de álcool e outras drogas vem aumentando a cada dia,


tornando-se um grave problema de saúde pública. Seu uso frequente
traz prejuízos sócios, biológicos e psíquicos. A adolescência é a faixa
etária de maior vulnerabilidade para experimentação e uso de
substâncias psicoativas. Os motivos que levam ao uso abusivo de álcool
e outras drogas são diversos e complexos. A dependência de álcool e
outras drogas resulta na fragilidade dos laços familiares e a
consequência é uma população que lida com condições precárias de
vida e acaba recorrendo às ruas como única opção de sobrevivência e de
moradia. A redução de danos (RD) foi adotada como estratégia de saúde
pública pela primeira vez no Brasil no município de Santos, estado de
São Paulo, no ano de 1989, quando altos índices de transmissão de HIV
estavam relacionados ao uso indevido de drogas injetáveis. A
abordagem de redução de danos contribui com um novo olhar sobre a
prática de saúde, atentando para a consideração e valorização da
independência dos sujeitos, sua cultura e suas práticas sem perder a
proposta embasada no comportamento ético e político dos princípios da
reforma psiquiátrica e no acolhimento proposto pela redução de danos
em defesa da liberdade e vida do usuário. Os desafios na construção de
estratégicas são diversos, capazes de conciliar a singularidade dos
usuários e o impacto coletivo das intervenções. Nesta perspectiva, os
CAPStêmum papel estratégico desta população, e um serviço de porta
aberta, preparado para receber este usuário, sempre respeitando os
princípios da reforma psiquiátrica e do SUS.O objetivo é relatar
experiência da equipe do CAPS II de Itaquera em oficina de redução de
danos para crianças e adolescentes em cena de uso abusivo de drogas.

929
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Para este trabalho optou-se pela metodologia do relato de experiência e


na construção de estratégias composta pelo CAPS II Itaquera, CAPSAD
de Itaquera eCAPS II Cidade Líder, a partir de uma denúncia anônima
dos moradores do entorno do bairro de Itaquera, na capital do estado
de são Paulo. Foram realizadas reuniões entre CAPS a fim de discutir
estratégias de redução de danos para crianças e adolescentes em uso
abusivo de álcool e outras drogas.A princípio foram estabelecidas as
sextas-feiras para realização das ações de redução de danos. A proposta
inicial foi de reconhecimento do entorno da região de Itaquera e das
crianças e adolescentes que circulavam por ele. Após o reconhecimento
do território, iniciamos a abordagem de crianças e adolescentes em
situação de rua em uso de drogas, havendo outras problemáticas, entre
elas situação de pobreza, dificuldades de acesso formal a saúde,
educação, exploração e abuso sexual, desemprego, prostituição, vendas
de objetos furtados, rompimentos de laços afetivos e sociais. O
abandono dos pais é um dos motivos mais citados que conduzem essas
crianças e adolescentes à situação de rua. As oficinas de redução de
danos de maneira recreativa permitiram construir vínculos e elaborar
estratégia de cuidados em saúde, sempre respeitando a singularidade
de cada usuário dentro do contexto em que vive.

930
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reduzindo danos e ampliando vidas: da teoria à prática


da redução de danos na cena de uso de drogas

Fernanda Cristina Nascimento de Lorena


IPUB

Fernanda Cristina Nascimento de Lorena


IPUB/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ana Maria Quintela Maia


Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ

A Redução de Danos (RD) surgiu através da distribuição de estéreis entre


usuários de drogas injetáveis com o objetivo de conter a disseminação
do HIV/Aids, e adquiriu uma importância significativa no contexto da
saúde mental. A Portaria 1028/2005, que dispõe sobre ações destinadas
à redução de danos sociais e à saúde decorrentes do uso de álcool e
outras drogas, é a primeira que institucionaliza a prática da redução de
danos no âmbito da saúde pública. Os Centros de Atenção Psicossocial
Álcool e outras Drogas (CAPS AD), dispositivos abertos e comunitários
do Sistema Único de Saúde (SUS) que têm como finalidade acolher
pessoas que sofrem de transtornos mentais severos e persistentes
decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas de um território
específico. São espaços privilegiados para a implementação da RD e
precisam ser qualificados para garantir ação efetiva e resolutiva sobre o
fenômeno do consumo problemático de substâncias psicoativas (BRASIL,
2004). Tal relato de experiência conta a prática da RD no território a
partir de um projeto de intervenção urbana em uma cena de uso de
drogas. Através da vivência no CAPS AD, a equipe pôde perceber a
importância de um trabalho no território. Através do relato dos usuários
de suas idas às diversas cenas de uso e seu cotidiano nesses espaços, a
equipe enxergou a necessidade de estar presente também nesses

931
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

lugares, promovendo cuidado para além dos muros do serviço de saúde


mental. Através desse desejo, a equipe reuniu importantes objetivos
para permear o projeto: ofertar cuidado e escuta, acolher as demandas
a partir dos encontros, conhecer o local onde muitos usuários
frequentam, implicar a equipe no trabalho no território e aproximar
vínculos com os parceiros do território. Além disso, a falta de
conhecimento ou acesso aos serviços de saúde do território dificultava a
chegada dos usuários no CAPS e em outros serviços. Por se tratar de um
território de extrema violência, por vezes tais questões aparecem como
fatores que impossibilitavam a ida aos serviços de saúde. Desse modo, a
equipe acreditava ser importante a construção desse trabalho. Foram
identificadas como práticas nas ações do projeto a promoção da
qualidade de vida a partir de uma reflexão sobre o uso, acolhimento,
interação/reinserção social e o reestabelecimento de vínculos para além
da droga. Criava-se uma possibilidade dos usuários se relacionarem com
outros mundos. Naqueles encontros, acolhia-se as demandas dos
usuários e ofertava-se escuta e cuidado, levando a equipe a habitar
esses espaços do território. Esses encontros também permitiam
aproximar vínculos com os parceiros do território, fazendo um trabalho
em conjunto. A violência urbana naquele território dificultava a
aproximação da equipe. Além disso, tem-se a necessidade de um
preparo para estar, de fato, na cena de uso. Algumas cenas eram
bastante chocantes e assustadoras, além de histórias que nos
atravessavam de diversas maneiras. O projeto tinha sua importância
com o território por permitir essa aproximação, além de ser um potente
recurso para a criação dos vínculos.

932
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reflexões sobre a saúde da pessoa em situação de rua: uma interface


entre preservação de direitos e produção do cuidado

Clesmânya Silva Pereira


Giovana Ayumi Aoyagi
Leticia Nakamura
Carolina de Sousa Rotta
Emanuelle Lima Javeta
Eli Fernanda Brandão Lopes
Leticia Ribeiro Moreira
Joelson Henrique Martins de Oliveira
Juliana Galete
Silvana Fontoura Dorneles
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul -UFMS

Introdução: A produção do cuidado à saúde aos indivíduos perpassa a


preservação dos seus direitos e a dignidade humana durante a
hospitalização, sendo essenciais e básicos. São garantidos pela
Constituição Federal e reforçados nas legislações vigentes, bem como no
Sistema Único de Saúde (SUS), no qual a configuração destes cuidados
tende a repercutir na saúde como um todo, na perspectiva
biopsicossocial, nos aspectos socioeconômicos, nas representações
sociais e políticas públicas. Este trabalho tem por objetivo refletir sobre
a produção de cuidados em rede às pessoas em situações de rua
hospitalizadas. Descrição da experiência: No período de 2019 a 2020
foram acompanhadas pessoas em situação de rua em um hospital de
retaguarda, predominantemente do sexo masculino, com
comorbidades, dependentes de substâncias químicas, vínculos
familiares fragilizados e com pouca/ou escassa rede de suporte social.
Em decorrência do quadro clínico, requisitavam atenções e continuidade
dos serviços prestados, exigindo uma visão crítica dos profissionais da
saúde e articulação em rede, a fim de proporcionar o melhor tratamento

933
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

e a continuidade efetiva da assistência. Os desafios consistiram na


preservação dos direitos humanos, autonomia e independência, bem
como na sensibilização dos profissionais de saúde de que a pessoa em
situação de rua é protagonista da sua história e da sua saúde. Além
disso, a articulação com os níveis de proteção, como família,
comunidade, sociedade e Estado, revelou-se um dos grandes impasses
ao sujeito em situação de rua, que não possui condições de prover os
seus cuidados básicos, garantir sua subsistência, e em alguns casos,
assegurar a utilização de dispositivos para promoção de conforto e
cuidados necessários. Diante do exposto, é inconcebível o desrespeito à
voz destes sujeitos, o que demanda avaliações críticas na produção do
cuidado, sendo realizados as seguintes discussões: Para onde
encaminhar estes sujeitos na ausência do suporte familiar? Como prover
o cuidado em seu território após a alta hospitalar? Como trabalhar os
vínculos familiares, nestas situações durante a hospitalização, em que,
geralmente, estes laços são permeados de abusos, violências e maus-
tratos? As políticas públicas vigentes são eficazes como fator de
proteção e suporte? As redes de saúde estão se articulando entre si,
nesta perspectiva? O acompanhamento destes indivíduos e as
discussões produzidas se tornaram essenciais no trabalho cotidiano
dentro da equipe multiprofissional, com estreitos diálogos entre a
psicologia e o serviço social, pois foi possível observar que os pacientes
em situação de rua com nível de dependência funcional moderada a
grave tendiam a permanecer maior tempo internados. Repercussões e
considerações finais: Refletir sobre estas questões pontuadas faz parte
da construção social na perspectiva cidadã e crítica, com repercussões
diretas na saúde de forma biopsicossocial. Sensibilizar os profissionais
de saúde e as redes de proteção na importância da produção de cuidado
viabiliza não somente o respeito aos direitos humanos e dignidade da
pessoa humana, mas também a construção de uma sociedade e dos
serviços de saúde mais empoderada e humanizada, consequentemente
ecoando na redução dos ônus econômicos ao Estado.

934
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reinserção ao trabalho a partir da vinculação


em Oficinas de Geração de Renda

Dayane Degner Ribeiro


Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos

Introdução: Dentre os meios pelos quais a (re)inserção social ao


trabalho é possível, destacamos as oficinas de geração de renda,
evidenciadas pelo serviço Geração POA. Os princípios da economia
solidária, através da autogestão, trabalho em equipe e horizontalidade
das relações, podem ser estimuladores de maior autonomia, exercício
da cidadania e novas relações interpessoais, realizadas através da
produção de produtos artesanais com o intuito de gerar renda aos
usuários vinculados. Descrição da experiência: Relato de experiência
realizado no serviço de saúde mental, o Geração POA, localizado no
município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no segundo semestre de
2018. Visa analisar os processos de trabalho do Geração POA,
entendendo, assim, o processo de (re)inserção do usuário ao trabalho e
compreendendo as potencialidades e dificuldades do serviço para a
qualidade de vida do usuário e para o encaminhamento ao trabalho.
Para a composição, foram utilizados princípios da observação
participante e relatos em diários de campo para descrição correta e
fidedigna da experiência. Atendendo aos objetivos do relato, foram
observados pela pesquisadora o processo de acolhimento de usuários
no serviço, oficinas de geração de renda, articulações e/ou
encaminhamentos ao trabalho, reuniões em equipe – com usuários e
profissionais do serviço e, sendo assim, registradas questões
evidenciadas nesta prática. A partir dessa vivência, os resultados
advindos foram analisados em torno de três temáticas: Geração POA:
um serviço substitutivo em saúde mental como oficina de geração de
renda; Processo de trabalho do Geração POA: possibilitadores de
(re)inserção pelo trabalho; Geração POA e trabalho. Repercussões:

935
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Conforme o estudo, as oficinas de geração de renda, especificamente do


Geração POA, através dos princípios da economia solidária, promovem a
reabilitação, a (re)inserção social, gerando o resgate da autonomia,
maior independência e empoderamento pessoal e a inclusão ao
trabalho por meio destas oficinas, ou pela inserção e acompanhamento
no mercado formal. Considerações finais: Conclui-se que as oficinas da
Geração POA se apresentam como um potente dispositivo da RAPS,
promovendo estímulo ao exercício da cidadania e construção de
projetos de vida dos usuários, de acordo com os preceitos da economia
solidária e clínica ampliada.

936
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reinserção social: a liberdade terapêutica

Vera Verney Leal dos Santos


(SÓCIA ABRASME EM 2012)

Alessandra Auxiliadora Oliveira Costa


Ana Lúcia Leandro Goveia Taveira
Ana Paula Teixeira Borges
Aracy Assunção e Silva
Denise Maria Mussa Fukase
Elieth Rodrigues
Maria Aparecida Lima de Souza
Michely Aparecida da Costa Silva
Weslâine Vilela Silva

Este relato visa socializar nossa experiência, baseada na história de uma


paciente internada por um período de oito anos no Centro Integrado de
Assistência Psicossocial (CIAPS)Adauto Botelho, em Cuiabá, e que, sem
referências familiares, apesar de longas buscas e investigações em Mato
Grosso e outros estados pelos quais a paciente passou, a Equipe
Interdisciplinar optou pela desinternação e reinserção social. O resgate
da identidade civil da paciente se deu por vias judiciais, considerando-se
que a mesma não portava documentos e pouco lembrava sobre a sua
vida pregressa. Somente a partir da autorização judicial foi possível a
elaboração de novos documentos para protocolar o processo de
solicitação de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). A
equipe se viu dividida entre o compromisso e a responsabilidade em
liberar em alta hospitalar uma paciente estabilizada, fora do surto
psicótico, que estava ocupando uma vaga de internação psiquiátrica,
que é limitada, ou manter uma pessoa sem referências familiares que,
ao sair da internação poderia agudizar, com a possibilidade de surtar e
ficar perambulando pelas ruas em situação de vulnerabilidade, além de

937
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

oferecer risco para si, principalmente. Os desafios se fazem presentes


em cada passo decidido pela equipe para cumprir a meta de
desospitalização da paciente, bem como sua reinserção social sem
aporte familiar. Refletir e debater cuidadosamente sobre os
encaminhamentos do caso, pontuando cada ação, foi uma escolha feita
por unanimidade. A tomada de decisão em equipe requer um
amadurecimento dos componentes para que respostas técnicas e de
relevância possam impactar positivamente junto à gestão. A
humanização foi a bandeira de condução do Projeto Terapêutico
Singular elaborado e conduzido pela equipe, assim como o desafio de
realizar uma ação extramuro, ressignificando a vida da pessoa
acometida de transtorno mental. Os resultados ainda geram debate em
reuniões de equipe porque o movimento de planejamento, ação e
avaliação continua sendo realizado, considerando-se que a referência
com os serviços substitutivos oferecidos no município ainda deverá
absorver essa demanda de acompanhamento contínuo da paciente.

938
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reinventando o cuidado: experiências do Centro Acadêmico de


Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos
durante a pandemia de Covid-19

Carla Regina Silva


Sara Castro
Alice Fernandes de Andrade
Gabriela Farias Martins
Gabrielle Cristine Trevizan
Letícia Vitória Domingues da Silva
Marcela Fabiana Rodgher Mazzoni
Mariana Nogueira
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Introdução: A pandemia de Covid-19 impactou diretamente setores da


saúde pública, economia, política e educação. Dentre diversos
segmentos, ocasionados pela crise mundial, está a saúde mental,
sobretudo em relação ao distanciamento e isolamento social, angústias
e medos decorrentes da pandemia e insegurança em relação ao futuro.
Neste contexto, os/as/es estudantes universitários/as/es foram
abruptamente afastados/as/es de suas rotinas, rompendo com o
cotidiano acadêmico em diversos projetos, além dos direcionamentos
políticos do país. Descrição da experiência: Nesse sentido, relatamos
ações realizadas pelo Centro Acadêmico de Terapia Ocupacional (CATO)
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na manutenção de
espaços de cuidado que vinham sendo desenvolvidos. Em reuniões
abertas, foram realizadas dinâmicas para aproximar os sentimentos dos
integrantes da gestão através do compartilhamento de experiências e
emoções relacionadas ao cotidiano pandêmico e seus efeitos. A partir
disso, as ações se estenderam para demais estudantes do curso, como
os projetos “TO Caipirando”, “Amadrinhamento” e “Dialoga TO”. O “TO
Caipirando” foi uma festa junina virtual, com apresentações musicais e

939
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

dinâmicas para integração e formação de vínculos entre os


participantes. Com uma dinâmica de perguntas e respostas, foi possível
formular o “Amadrinhamento”, no qual os/as/es alunos/as/es
ingressantes escolhem veteranos/as/es como seus “padrinhos e
madrinhas”, por meio da identificação com seus interesses pessoais e
vivências. Também foram promovidas lives com temas elencados
pelos/as/es estudantes, como a Luta Antimanicomial no Brasil e as
relações étnico-raciais na TO. Repercussões: Dada a importância da
comunicação, ressaltamos que o ambiente virtual promove
acessibilidade, mas gera uma série de demandas, novos processos de
exclusão, dificuldades, ruídos e fadiga. Por isso, o CATO propôs o
“Dialoga TO” como uma iniciativa em referência ao “Setembro
Amarelo”, a fim de promover a conscientização sobre a comunicação
saudável, democrática e de qualidade, compreendendo-a como um
aspecto essencial para a promoção de cuidado em Saúde Mental. Assim,
estudantes têm dialogado sobre sentimentos, dúvidas e atividades que
atravessam o cotidiano universitário. A partilha de experiências ocorreu
através do mecanismo de “spotted”, no qual é possível enviar
mensagens anonimamente, proporcionando um ambiente seguro e
acolhedor, cuja moderação reforça respeito, responsabilidade e
solidariedade entre os envolvidos, buscando a elaboração do comum,
além de viabilizar o acolhimento entre pares. Considerações finais: As
ações realizadas pelo CATO resultaram em novos participantes, no
acolhimento afetivo durante as reuniões, mobilizou de forma
significativa a gestão, tornando maior o sentimento de pertença e
responsabilidade ao/do coletivo, como espaço de cuidado em saúde
mental. É nesse sentido que, exercendo seu papel no protagonismo
estudantil e carregando em sua essência a chave de transformação,
gerando um ambiente seguro e de pertinência, para visibilidade e voz,
respeitando processos democráticos, garantindo representatividade e
promovendo deslocamentos sensíveis a partir da realidade de cada
um/a, que afeta o todo.

940
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Relações humanizadas no contexto da hemodiálise:


relato de experiência em um hospital de ensino

Leidiane Carvalho de Aguiar


Socorro Taynara Araújo Carvalho
Maria Naiara de Sousa
Centro Universitário Inta-Uninta
Maria Gabriela Miranda Fontenele
Santa Casa de Misericórdia de Sobral

Introdução: Segundo Marques (2014) a humanização nas práticas de


saúde permite aos sujeitos a experimentação de outras perspectivas na
construção da sua existência, mas em lateralidade, em relação interativa
com os outros, forjando a emergência de subjetividades mais
multireferenciadas e de novas atitudes que favoreçam a construção de
novas realidades sociais, políticas, institucionais e clínicas, ou seja, da
produção de novos sujeitos e novos sentidos. Nessa perspectiva, este
relato tem como objetivo expor a experiência de uma bolsista de
psicologia em uma atividade de Educação Permanente no serviço de
hemodiálise de um Hospital de Ensino. Descrição da experiência: As
atividades promovidas consistiram em encontros mensais com os
colaboradores do serviço de hemodiálise, a fim de fomentar construções
representativas para o desempenho do trabalho em equipe,
crescimento mútuo e intersubjetivo no fortalecimento coletivo e na
promoção do cuidado a saúde mental. A metodologia utilizada foi o
grupo focal, que ocorreu nos meses de agosto a dezembro de 2019. Ao
final do grupo foi feito um momento de confraternização, na qual foi
possível perceber aproximações com o cuidado e empatia consigo
mesmo e com o outro, a partir de uma lógica de reflexão, acolhimento e
responsabilização. Repercussões: O Grupo Focal trouxe avanços
significativos na percepção sobre a necessidade de uma escuta
compreensiva acerca de angústias e limitações desdobradas dentro do

941
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ambiente de trabalho, na qual muitas vezes por conta da rotina de


cuidado ao paciente, os profissionais acabam ficando sobrecarregados
no que diz respeito a sua saúde mental. Outro aspecto relevante foi o
trabalho em equipe. O mesmo deve ser mais articulado, pois em muitos
momentos trazia sofrimento pessoal impactando nas relações de
trabalho. Ao final da atividade percebeu-se, através de suas falas, o
fortalecimento do vínculo entre os profissionais. Considerações finais: O
desfecho desta experiência conduziu o relato para uma questão de
extrema relevância entre os envolvidos, a saber, a oportunidade de
aproximação no processo da experiência humana, crescimento pessoal,
relações saudáveis, que visa agregar valor ao colaborador, como
oportunidade de motivação, sentido e de significado, tendo em vista
que esta abertura de cuidado aos profissionais mostrou-se como uma
prática de sensibilização no que diz respeito à saúde do trabalhador.

942
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Relato de experiência

Maria Valdilene Ferreira da Costa


Cênia Gabrielle Oliveira de Barros
Maria Valdilene Ferreira da Costa
Centro de Atenção Psicossocial

Introdução: O relato de experiência apresentado a seguir trata-se de um


caso de uma usuária de saúde mental acompanhada há
aproximadamente seis anos pelo Centro de Atenção Psicossocial. No
estudo de caso foi escolhida a flor de lótus para representar a paciente,
devido a esta espécievegetal ser resiliente e resistente, podendosua
semente aguentar até 30 séculos antes de florescer.
Descrição da experiência: Lótus tem 34 anos de idade, reside com o pai,
a mãe e suas irmãs. No que se refere ao contexto familiar, tem uma
dinâmica bem desorganizada, A relação com o seu pai se configura de
forma razoável, paradoxalmente com sua mãe e irmã, as quais a
paciente já tentou matar. O pai, alcóolatra, passou a vida inteira
internando Lótus. A mãe, com medo da filha, e a irmã e sobrinhas, sem
querer nenhum contato por medo de se aproximar, apresentavam um
convívio muito conflituoso. Lótus tem mais de 50 internações
psiquiátricas entre Garanhuns e Recife, cujo motivo desencadeado por
alucinações, delírios, comportamentos extremamente agressivos e
alterações de humor. Ela foi diagnosticada com F.71 (Retardo Mental
Moderado); F.60 (Transtorno de Personalidade Paranoide) e G.40
(Epilepsia e Síndromes Epilépticas com crises de início focal). Durante
suas internações, Lótus chegou a agredir com uma faca duas técnicas de
enfermagem, pacientes, e é suspeita de ter matado uma paciente por
sufocamento, no entanto, esse segundo fato nunca chegou a ser
confirmado pela instituição. Com o passar do tempo ela apresentava
uma “melhora” momentânea e retornava para casa. Entretanto, após
intervalos de dias, as crises retornavam ainda mais fortes,

943
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

desencadeando, assim, seu regresso ao hospital psiquiátrico. Após anos


de internação ela foi encaminhada para o Centro de Atenção
Psicossocial(CAPS) do município de Pesqueira, porque a família não
queria aceitar de maneira alguma o seu retorno, dizendo que ela não
tinha condições nenhuma de retornar à sociedade. No entanto, os
profissionais do CAPS sempre ressaltavam que o suporte familiar é
imprescindível na condução do tratamento do paciente. Cabe salientar
que, por vezes, ela chegava ao serviço ora dopada, ora agitada, e isso
fazia com que houvesse uma desconfiança por parte da equipe de que
havia alguma coisa estranha com a medicação, a família tentava
manipular uma crise através da medicação, para provar que ela não
tinha condições de viver com a família. E hoje, após seis anos, ela
começou a viver, porque antes disso ficava internada, Lótus vive como
qualquer outra pessoa em sociedade, hoje a família entende que é
possível cuidar da paciente, juntamente com o apoio do CAPS.
Repercussões: O mais difícil no cuidado com Lótus foi a família, que
sempre acreditou que sua internação seria melhor para todos, seria
mais seguro para eles e para sociedade. Considerações finais:Lótus nos
mostra que pode, sim, ser cuidada em liberdade, e o mais importante,
próximo da família, que tem um papel fundamental nesse cuidado. A
vida para ela começou agora há seis anos, onde ela floresce feito a flor
de Lótus que pode aguentar até 30 séculos antes de germinar.

944
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Relato de experiência - Promoção de Saúde Mental


no contexto universitário

Layza Castelo Branco Mendes


Marina Machado Alves Dias
Bárbara Morais Gomes
Júlia Maria Martins da Silva
Larissa Gomes Pereira
Maria Victoria de Oliveira Barbosa
Marília Freitas da Silva
Sara Cavalcante Brasileiro
Antônia Vaneska Timbó de Lima Meyer
Fernanda da Fonseca Giasson
Universidade Estadual do Ceará - UECE

A universidade desafia todos os indivíduos que frequentam seu espaço,


influenciando a produção e disseminando um vasto conhecimento
científico a fim de estimular, em sua grande parte, o desenvolvimento
cognitivo, físico, emocional e social. Desse modo, destaca-se que as
experiências emocionais, muitas vezes provenientes de conquistas e de
frustrações, sejam pessoais ou acadêmicas, são perpetuadas ao decorrer
da graduação, podendo acarretar angústias sobre a perspectiva futura
de ser um profissional exemplar. A partir disso o Núcleo de Atendimento
Psicossocial (NAPSI) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) realizou
rodas de conversa com o corpo discente no ano de 2019, com o objetivo
de viabilizar um ambiente de prevenção e promoção da saúde mental.
As experiências relatadas nesse resumo ocorreram em turmas do
segundo e terceiro semestre do curso de Medicina, nas quais os
facilitadores utilizaram-se de slides e perguntas mediadoras para
relacionar aspectos acadêmicos com temas diversos, como redes sociais,
ansiedade, saúde mental LGBTQI+, transtornos alimentares e depressão.
Após a realização de tais debates, foi possível perceber que o sistema

945
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

educacional universitário pode adoecer e afetar diretamente os


estudantes, além de estimular a competitividade e a exacerbação da
produtividade. Buscou-se compreender as causas do excesso de
pressões acadêmicas e as possíveis repercussões na vida do corpo
discente tendo em vista que, ao se tornar instrumento da mobilidade
social, a educação parece se tornar também uma grande promotora de
competitividade, dando ao sujeito a condição de empregabilidade e traz
para a sociedade a modernidade associada ao desenvolvimento. Diante
do exposto, nota-se a importância de momentos de cuidado, debate e
informação no cotidiano de todos que se encontram nesse espaço
acadêmico. Salienta-se que as informações compartilhadas geraram
interesse do público-alvo sobre as temáticas abordadas, discorrendo-se
também sobre acompanhamento psicológico nesse contexto. Considera-
se também que essas vivências ampliam a compreensão dos mediadores
em assuntos essenciais para sua formação acadêmica.

946
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Relato de experiência da oficina de colagem desenvolvida


dentro de um espaço de redução de danos: organização de
fragmentos e o movimento de dar unidade

Anís de Souza Morais


Marilyn Dione de Sena Leal
Universidade de Pernambuco – UPE

Aline Neiva Ribeiro


Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz

Rayssa Aguiar Silvestre França


Bárbara de Oliveira Galvão
Lilian Queiroz Cunha
Victor Nazareno Bezerra Fontes
Faculdade Fassinetti do Recife - Fafire

O relato de experiência se deu a partir de um Projeto de Reintegração


Social para Usuárias de Drogas do Programa ATITUDE, pautado na
Política de Redução de Danos, que promove acolhimento direcionado a
pessoas em situação de vulnerabilidade devido ao uso abusivo de
drogas. O projeto ocorreu após aprovação pelo Edital Programa de
Fortalecimento Acadêmico (PFA) Extensão - 01/2019 da Universidade de
Pernambuco (UPE). A escolha das oficinas de criatividade, enquanto
instrumento de intervenção, justifica-se pelo diálogo com uma ótica
integrativa do sujeito, entendendo a potencialidade do dispositivo
grupal na busca de autonomia e promoção de saúde. Dessa forma, o
processo criativo funcionou como ferramenta de expressão,
investigação e elaboração, direcionada ao movimento de integrar
fragmentos de narrativas dos sujeitos. A partir dessa ideia foi proposto
que cada um dos integrantes da oficina se apresentasse para o grupo
através de um trabalho de colagem utilizando materiais como revistas,

947
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

cartões-postais, fotos, plantas, galhos, purpurinas, tintas, caixas de


remédio, entre outros. Assim, esse relato é resultado de dados
coletados em Diários de Campo acerca de proposições em oficinas do
módulo de Arte e Criatividade desse projeto de extensão. A atividade se
deu em um primeiro momento de construção, de forma mais reflexiva e
investigativa, observando e escolhendo os fragmentos que foram
utilizados na composição da tarefa, envolvendo processos de
identificação e afeto, nesse fluxo de relação com esses objetos com o
intuito de integrá-los. As participantes, de forma singular, utilizaram
desses materiais para falar de si. O exercício envolveu o trânsito e
compartilhamento dos objetos, principalmente das revistas, pincéis e
recipientes de cola. No segundo momento, formou-se uma roda de
diálogo, em que cada trabalho foi exposto e descrito através do
processo criativo e da relação entre os fragmentos em conjunto,
relatando também a motivação das escolhas de materiais, nesse lugar
onde a obra comunica partindo do mundo externo de símbolos,
atravessando a subjetividade. A roda de conversa proporcionou relatos
pessoais e questões emergiram para debate coletivo, como o racismo
estrutural, aborto, uso de psicoativos, machismo, parentalidade, desejo
e projeções de futuro. O terceiro momento da proposição consistiu na
integração das colagens individuais formando um grande painel coletivo.
Todos sentaram-se em volta desse painel realizando intervenções sobre
sua superfície, os cartazes individuais foram agrupados na base, nas
lacunas foram feitos alguns desenhos, novas intervenções de colagem e
escritos. Nessa dinâmica alguns participantes foram identificando os
autores dos cartazes. Finalizando a atividade, cada um falou sobre a
experiência interventiva no painel e os relatos geraram novos debates
sobre prostituição, questões de gênero e relações de dependência. Na
conclusão do processo, os integrantes agradeceram o momento
vivenciado e a possibilidade de acolhimento coletivo na prática de
cuidado. Com o uso da linguagem visual construíram-se possibilidades
de emergir conteúdos subjetivos e criar novos sentidos coletivos, além
do empoderamento desses corpos em um movimento de apropriação e

948
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

integração de suas próprias narrativas. Dentro dessa experiência foi


possível percebermos a construção de vínculos e a possibilidade de
trocas horizontalizadas, em um movimento mútuo de afetar e ser
afetado.

949
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência de estágio em um Centro de Atenção


Psicossocial álcool e outras drogas da cidade do Rio de Janeiro

Richard Harrison Oliveira Couto


Viviane de Fatima Gomes Bordelo
Universidade Estácio de Sá

O trabalho proposto para este congresso versa sobre a experiência de


estágio de uma aluna do curso de Psicologia em um Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e outras Drogas. A principal atividade foi o
acompanhamento de um caso atendido pelo CAPS AD, experiência que
gostaríamos de compartilhar com nossos colegas. “X”, casado, pai,
trabalha como jardineiro. Fazia uso de maconha e cocaína há quase 30
anos, e tem muita vergonha quando tem uma recaída. No CAPS AD
participava do grupo terapêutico conduzido por uma das psicólogas da
equipe há aproximadamente um ano. Comparecia toda terça-feira à
tarde para o atendimento em grupo. Em uma das sessões, estava
inquieto, calado, balançando as pernas sem parar e pediu para sair da
sala três vezes para ir ao banheiro. Não falou nada além de um
cumprimento de boa tarde a todos. A estagiária percebeu essa
inquietação e aguardou-o no corredor, ao lado da porta da sala em que
o grupo se reunia, perguntando se ele estava bem. Ele sentou-se ao seu
lado e respondeu que estava sentindo-se mal, que queria ir embora dali.
A psicóloga que conduzia o grupo foi informada e pediu que a estagiária
ficasse com ele e desse notícias depois. “X” falou que achava que tudo
que um dos integrantes do grupo falava era para implicar com ele e que
não suportava mais essa situação que, para ele, começou há algumas
semanas. Disse também que não voltaria para o grupo por causa disso e
que abandonaria o tratamento. A estagiária questionou se era essa
situação que o angustiava e ele respondeu que em casa as coisas
também não iam bem. Ele estava muito irritado e agressivo, no modo de
falar com sua família e que não queria estar assim, brigando por

950
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

qualquer coisa que não seria um motivo para tal. Como ele não estava
bem, a estagiária pediu que ele aguardasse o remédio fazer efeito e que
conversasse com a psicóloga sobre tudo isso após a sessão do grupo. Ele
concordou e isso foi combinado com a psicóloga também, que pediu
que a estagiária participasse também da conversa, afinal ela havia
sugerido uma mudança no Projeto Terapêutico Singular (PTS) dele que
fosse possível sustentar naquele momento em que o grupo não era mais
uma opção para “X”. A psicóloga encaminhou-o ao psiquiatra em
atendimento junto com a estagiária no dia seguinte (que foi agendado
de acordo com o horário de ambos) e atendimento individual com a
psicóloga e a estagiária. “X” saiu com seu rotineiro sorriso no rosto,
agradecendo a estagiária por tê-lo visto de verdade, por notar que ele
não estava bem, pois ele havia ido ao CAPS AD para se despedir e,
quando saísse de lá, estava decidido a gastar todo seu pagamento, que
estava no bolso, com drogas. Ele não pretendia voltar ao CAPS AD, bem
como para sua casa, e que ela, sem saber, salvou sua vida.

951
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência de estágio não obrigatório em Psicologia


na Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas
Alternativas em Salvador, Bahia

Diele Santos da Paixão


Universidade Salvador – UNIFACS

A Política Nacional de Alternativas Penais foi instituída em 28 de abril de


2016 pela portaria N°495 e descreve-se como ações, projetos e
estratégias voltadas ao enfrentamento do encarceramento em massa e
à ampliação da aplicação de alternativas penais à prisão, com enfoque
restaurativo, em substituição à privação de liberdade. Em confluência
com essa política, a Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e
Medidas Alternativas(Ceapa) vem atuando na concretização da
aplicação das alternativas penais, uma vez que seu papel principal é
atender, acompanhar e monitorar o cumprimento das penas e medidas
alternativas aplicadas pelo Poder Judiciário da Bahia. A realização das
atividades referentes às penas e medidas são constituídas através das
parcerias estabelecidas com instituições que viabilizam o cumprimento
das determinações judiciais. A Ceapa estrutura sua atuação através da
multidisciplinaridade, visto que seu corpo profissional é constituído de
assistência social, psicologia e direito. O estágio se desenvolveu pelo
período de 11 meses, onde as práticas incluíam entrevistas técnicas e
psicológicas responsáveis pela construção de pareceres nas modalidades
respectivas, instrumentos utilizados como mecanismos de aproximação
e elaboração de perfil do futuro cumpridor; condução do grupo de
encaminhamento, momento de orientação a respeito de como se daria
o desenvolvimento das atividades nas instituições, contato e
acompanhamento do período de cumprimento; atendimento,
apresentando-se como sendo de grande importância, contando que é
neste momento que verifica-se a adaptação, assiduidade, vinculação e
desenvolvimento laboral do cumpridor em relação à instituição; além do

952
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

monitoramento das pastas de acompanhamento interno do cumpridor.


A Ceapa mostra-se como espaço de ressignificação tanto para o
profissional quanto para o cumpridor, visto que viabiliza melhor
compreensão sobre a política de alternativas penais, visão crítica acerca
dos fenômenos sociais como crime, violência e desigualdade
comumente associadas a questões de raça, gênero e classe social. No
que tange o campo profissional, colaborou inquestionavelmente no
entendimento sobre a importância da prática psi pautada nos direitos
humanos, realização do trabalho em equipe e desempenho da escuta
ativa sensível às demandas dos cumpridores que estão atreladas ao fato
de, por muitas vezes, estes serem vistos não mais como membros da
sociedade, perdendo a identidade, autonomia e direito de fala. Deste
modo,a prática na central resume-se àrestituição de direitos. A Ceapa
afirma sua efetividade através de dados que demonstram diminuição na
superlotação dos presídios, refletindo positivamente também nos gastos
financeiros do Estado, posto que o gasto mensal de uma pessoa em
privação de liberdade gira em torno de R$ 2 mil, enquanto uma em
cumprimento de alternativa penal é de R$ 60. Vale ressaltar que, em sua
maioria, o encarceramento atinge a população preta, pobre e em
situação de vulnerabilidade. Deste modo, a Central trabalha para o
desencarceramento e responsabilização de ações contra a lei, porém,
com garantia de direitos e autonomia do sujeito. A Ceapa traz em sua
bagagem casos exitosos em que cumpridores foram contratados pelas
instituições parceiras após finalizarem o período de prestação de
serviço, posto que estas receberem um indivíduo e não o crime
cometido. Evidencia-se assim a necessidade da mudança sociocultural
de quem é a pessoa egressa do sistema prisional.

953
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência do estágio supervisionado em


Psicologia no Projeto Redução de Danos do município de Aracaju,
Sergipe: Eu, sujeito da minha própria história

Terezinha Mariana Santos Oliveira

O presente relato de experiência se dá a partir da disciplina de estágio


específico supervisionado em Psicologia I realizado no período de
agosto/2019 a novembro/2019 no Projeto Redução de Danos (PRD) que
está ligado à Rede de Atenção Psicossocial (REAPS) no município de
Aracaju, compondo a linha de cuidado e atenção em saúde das pessoas
que fazem uso e abuso de álcool e outras drogas, mas também com
pessoas em situação de rua e profissionais do sexo. De modo que busco
apresentar as compreensões e reflexões sobre o papel ético-político do
redutor de danos e a importância de defender as políticas públicas que
asseguram o direito à saúde e autonomia do público acompanhado,
alinhando o discurso antimanicomial e antiproibionista à prática. As
atividades no campo abrangeram participações nas cenas de
prostituição e uso de substâncias psicoativas, realizando a distribuição
de insumos com a proposta de promoção e prevenção em saúde,
acompanhadas por redutores de danos que conheciam o território e
possuíam vinculação com algum ator. Assim foi possível realizar busca
ativa e visita domiciliar a pessoas que estavam em situação de
vulnerabilidade social e com demandas ligadas a saúde mental e abuso
de substâncias lícitas ou ilícitas, participar das reuniões de equipe do
PRD, da REAPS e de algumas aulas da Capacitação em Redução de Danos
que foi ofertada para profissionais que compõem a rede psicossocial do
município, agregando na experiência de estágio e no olhar de usuária do
Sistema Único de Saúde. Os estagiários em Psicologia do PRD puderam
realizar intervenções com alguns grupos de alcoolistas dos territórios e
com usuários de CAPS, sendo essas ações propostas que relembrassem
o sujeito da sua capacidade de se transformar e aprender sobre si e que

954
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

tivessem relação com o uso de drogas e redução de danos. As


experiências vividas no PRD de Aracaju proporcionaram o conhecimento
sobre alguns territórios da cidade e os sujeitos que ocupam esses
espaços, assim como diferenciá-los. Estudar sobre drogadição, seus
efeitos e as práticas de redução de danos, chama a atenção para as
complexidades da vida dos sujeitos, pois fatores como estar em situação
de rua, possuir doença mental, raça e gênero influenciarão diretamente
nas questões de saúde dessas pessoas. Além disso, foram provocadas
reflexões sobre as condições e relações de trabalho dos profissionais da
atenção primária de saúde e da rede de atenção psicossocial,
vulnerabilidades, sofrimento mental e a efetividade dos direitos básicos.
Nas intervenções realizadas ficou evidenciada a importância de enxergar
os sujeitos como singulares e plurais, pois foram acessados diversos
âmbitos da vida que estão além da relação com uso de substâncias. Por
fim, a experiência de estágio no PRD de Aracaju proporcionou uma visão
ampliada sobre o funcionamento das clínicas do território, os processos
de trabalho das equipes, suas limitações, conquistas, assim como
desejos de tornar o serviço da RAPS eficiente, sendo o que mais se
destacou ao meu olhar foi a relação dos redutores de danos com os
atores na cena, a afetividade como ferramenta de cuidado.

955
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência do trabalho em um Núcleo de Prevenção à


Violências e Promoção da Saúde: enlaces à luz da epidemiologia crítica

Vitória de Oliveira de Souza


Dipaula Minotto da Silva
Universidade do Extremo Sul Catarinense

O presente relato de experiência visa apresentar o trabalho


desenvolvido por uma psicóloga residente pelo programa de Saúde
Mental a Atenção Psicossocial em um Núcleo de Prevenção às Violências
e Promoção da Saúde (NUPREVIPS) em Criciúma, Santa Catarina. Tal
serviço situa-se na Rede de Saúde Mental, mas, por ser um serviço que
recebe dados epidemiológicos das violências, está interligado ao setor
epidemiológico do município. Diante da sua polissemia e complexidade,
as violências são um lócus que circula por diferentes territórios dentro
do campo da saúde. O relato busca dar luz à experiência de trabalho
com a promoção da saúde no âmbito da violência, bem como as suas
intervenções psicossociais e pensar uma análise a partir da
epidemiologia crítica, situando a violência neste debate. O NUPREVIPS
realiza um trabalho importante a partir da ficha de notificação de
violência do Sinan em que são notificáveis as violências contra as
mulheres, criança e adolescente, idosos, LGBTQI+, racismo, homofobia,
xenofobia. O serviço dá início a uma investigação intersetorial acerca do
cuidado às pessoas que sofreram violências interpessoais ou
autoprovocadas, funcionando como um articulador da rede nesse
âmbito interventivo. Para além disso, promove capacitações nas
temáticas das violências, tanto para profissionais de saúde como para
população em geral, tratando-se assim de um serviço fundamental no
trabalho de promoção e prevenção das violências. Assim, propõe-se
uma análise a partir da epidemiologia crítica, que visa propiciar uma
epistemologia que consiga mirar a complexidade das violências, suas
afetações e implicações na vida dos sujeitos e das coletividades.

956
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Conforme James Breilh (2015), percursor da teoria, a consideração dos


agravos em saúde dá-se a partir de processos históricos e sociais que
esses problemas. Tal definição justapõe perfeitamente a temática da
violência. Uma das violências mais comumente notificadas nos serviços
de saúde são as praticadas contra as mulheres. É sabido que, mesmo
com as atuais discussões de enfrentamento e a conscientização acerca
da temática, os números não param de aumentar, fomentando o
questionamento: quais fatores podem explicar tal aumento? Os corpos
subalternizados passíveis de sofrer tais violências e agravos, são
negligenciados. Sabe-se que a violência contra a mulher, contabilizada, é
infinitamente menor ao que de fato ocorre. O presente serviço está
situado estrategicamente na rede, uma vez que dele são gerados
relatórios semanais acerca das violências, suas tipificações, dados
sociodemográficos e incidência. Estes dados são enviados à Diretoria de
Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina. Contudo, apesar de não
haver uma resposta definitiva para o fim da violência, do âmbito da
saúde é preciso descolonizar as métricas, avançar nos debates
epidemiológicos e pensar sistematicamente nos agravos provocados por
tais problemas sociais para propor políticas públicas eficientes e que
visem a redução da violência e o enfrentamento desta epidemia social.

957
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência em pesquisa “Questões em torno


do psicodiagnóstico e dos efeitos de patologização”

Ana Clara Oliveira da Cunha Soares


Angelo Márcio Valle da Costa
Carlos Alberto Ribeiro Costa
Cláudia Soares Sant Anna
Daniel Henrique Serra dos Santos
Júlia Sardinha Leonardo Lopes Martins
Renata Magaldi Granato Moraes
Universidade Federal Fluminense – UFF

Introdução: O trabalho visa apresentar um relato de experiência na


pesquisa “Questões em torno do psicodiagnóstico e dos efeitos de
patologização” do Instituto de Psicologia na Universidade Federal
Fluminense, campus de Niterói. O projeto conta com bolsa de iniciação
científica pela CNPQ-PIBIC, é composto por 9 estudantes, e coordenado
pelo professor Carlos Alberto Ribeiro Costa. A pesquisa interroga, na
interface entre psicanálise, filosofia e psicologia, o diagnóstico de
fenômenos psíquicos. Entendemos a atual “epidemia” de
psicodiagnósticos como sintoma do processo de patologização da vida,
que implica efeitos de segregação, controle e exclusão social.
Investigamos a tradição hegemônica das avaliações psiquiátricas e
psicológicas e identificamos alternativas ético-politicamente engajadas
de usos destes instrumentos. Descrição da experiência: A pesquisa teve
início em agosto/2018. Inicialmente, levantou bibliograficamente dados
sobre os efeitos contemporâneos de patologização ligados aos
“desusos” dos psicodiagnósticos, a emergência da tradição
psicodiagnóstica e alternativas críticas, em psicopatologia e psicanálise,
a práticas diagnósticas que produzem efeitos de segregação. Depois,
construímos um questionário, visando gerar questionamentos e
provocações em torno dos usos de diagnósticos nas equipes de estágio

958
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) na UFF/Niterói. Para a aplicação,


pedimos para que algumas das equipes de estágio preenchessem os
questionários com perguntas sobre a concepção desses alunos sobre o
conceito e o uso do psicodiagnóstico nos seus atendimentos. O segundo
momento empírico da pesquisa, a entrevista com os coordenadores das
equipes de estágio, encontra-se suspenso devido à pandemia, ainda não
foi possível realizá-la. Realizamos apresentações na “Agenda Acadêmica
2019” da UFF/Niterói, no seminário “Memórias da Loucura 2” no
Instituto Municipal Nise da Silveira em 2019 e no “X Congresso Psi
UNIRV” em 2020. Repercussões: Nossa pesquisa, que está em
andamento, explorou a tradição psicométrica e psicodiagnóstica, em
seus usos e desusos. Pretende realizar as entrevistas com os professores
coordenadores das equipes de estágio e analisá-las juntamente com os
questionários preenchidos. O contexto atual da pandemia levou a
equipe a explorar outra faceta da medicalização, o que nos levou a
escrever e submeter o artigo Racismo e a gestão bio e necropolítica da
vida no Brasil: breve debate entre teoria social e psicanálise para a
publicação ainda esse ano. A escrita deste artigo levou-nos a explorar na
interface entre teoria social e psicanálise, conceitos como os de racismo,
necropolítica, biopodere segregação, além de oportunizar o resgate
histórico eugenista e higienista brasileiro. Atualmente, nosso foco
concentra-se na escrita de artigos e apresentação de trabalhos em
diferentes mostras, congressos e seminários. Considerações finais: O
estudo desse tema é extremamente importante para uma formação
crítica e ética em psicologia. Buscamos entender o surgimento do
diagnóstico e o psicodiagnóstico e como eles podem produzir efeitos
segregatórios. Tomando a psicanálise como base, entendemos que essas
subjetividades não hegemônicas não são doença, mas sim uma forma de
organização subjetiva. É impossível fazer esse estudo sem considerar a
história brasileira, seu passado colonial, escravista e ditatorial, assim
como os recortes de classe, gênero e raça.

959
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de experiência no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e


Drogas (CAPS AD II) na cidade de Guanambi, Bahia

Flávia Souza Rodrigues


Centro Universitário FG – UNIFG

Introdução: Os casos de suicídio no país têm aumentado de forma cada


vez mais rápida, atingindo pessoas de classes, gêneros e etnias
diferentes e que se encontram em estado de vulnerabilidade. Logo, as
ações voltadas para a prevenção do suicídio têm ganhado maior espaço,
colaborando com orientações sobre os cuidados com a saúde mental e
identificando as redes de apoio mais adequadas para cada caso. O
presente relato de experiência tem como finalidade relatar a
experiência com ações voltadas para o tema do “Setembro Amarelo” no
período letivo 2019.2, o qual ocorreu no CAPS AD II juntamente com os
usuários da unidade, localizada em Guanambi – BA. Descrição da
experiência: Trata-se da intervenção realizada por acadêmicos de
Psicologia no mês de setembro de 2019 na unidade CAPS AD II,
orientada pela professora Miriã Lima; o público-alvo foram os usuários
do CAPS AD II. No primeiro momento foi explicado para eles o contexto
do “Setembro Amarelo” e a importância da valorização da vida e
prevenção ao suicídio; e em sequência foram dadas informações sobre
como procurar ajuda, como por exemplo, o número do Centro de
Valorização da Vida. Foi desenvolvida uma dinâmica com os usuários do
CAPS AD II, a construção da “Árvore da Vida” em uma árvore da própria
instituição, constituída por placas com mensagem motivacionais sobre a
prevenção ao suicídio e redes de apoio, como a família e Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS). Durante a ação, os participantes puderam
relatar suas experiências e sanar dúvidas sobre o tema. Repercussões:
Durante as ações voltadas para a temática do “Setembro Amarelo” foi
possível observar uma resposta positiva entre os participantes, pois
houve interesse em entender sobre o tema abordado e de ter a

960
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

participação ativa na construção da dinâmica, com falas sobre as redes


de apoio e a importância da família como modo de prevenção ao
suicídio. Portanto, é possível entender que a questão da dependência de
álcool e outras drogas vai além do olhar voltado para a saúde pública.
Envolve não apenas o dependente, mas sim sua rede de
relacionamentos, em especial o seu grupo familiar, o qual acarreta
importantes implicações nessa estrutura. Logo, a família deve ser
considerada como eixo primário das relações que possibilitam tornar o
tratamento efetivo e acompanhamento do dependente. Considerações
finais: Pode-se perceber a importância de abordar a temática sobre a
prevenção ao suicídio em redes de atenção básica, pois esta é uma
estrutura que visa a prevenção e promoção de saúde e qualidade de
vida mais satisfatória para os usuários dos serviços. Através das
observações foi possível identificar fatores favoráveis que contribuíram
para uma compreensão maior dos participantes sobre os assuntos
relacionados à valorização da vida. Foi de suma importância ter o
contato com a instituição e perceber a importância da atuação do
psicólogo dentro do CAPS AD II para debater temas como este, e
também a realização do acolhimento e construir o plano terapêutico
adequado para cada paciente.

961
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Residência Multiprofissional e a vivência do


cuidado na RAPS em Belém, Pará

Lílian Vaughan Lima de Oliveira


Lílian Vaughan Lima de Oliveira
Marcos Paulo Costa Lima
Samuel Freire Furtado
Ingrid Bergma da Silva Oliveira
Universidade do Estado do Pará - UEPA

Lívia Mello Pontes


Roseane Angelim da Silva
Hospital de Clínicas Gaspar Vianna

Introdução: Os programas de Residência Multiprofissional têm por


objetivo qualificar a atuação de profissionais em suas respectivas áreas
de especialização, respaldado pelo Ministério da Saúde desde 2002
(CNRM, 2012). No caso da Residência em Saúde Mental, o cenário de
aprendizagem se encontra na Rede de Atenção à Saúde Mental (RAPS),
constituída por dispositivos assistenciais diversos de modo articulado
(SARMENTO et al, 2017). Configurados no itinerário de linhas de cuidado
na RAPS, os residentes caminham pela emergência e internação
psiquiátrica, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Tipo III, CAPS álcool
e drogas, Consultório na Rua e Núcleo de Atenção à Saúde da Família.
Dessa forma, a experiência do residente na RAPS possibilita o
reconhecimento dos campos de competência necessários para atuar,
observando a complexidade dos serviços, compreendendo a gestão de
processos de trabalho e cuidado no território. Descrição da experiência:
A vivência como residente confere um privilégio de se compor um olhar
crítico construtivo, com a oportunidade de, por meio dessa experiência,
ressignificar os locais de atuação que compõem o itinerário, além de
imprimir marcas nos territórios percorridos. O arranjo organizativo da

962
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

RAPS nos propôs, enquanto residentes, construir relações horizontais


entre os usuários, atores e os setores clínicos, contrapondo ao cuidado
biomédico - onde este tem raízes na compreensão da “doença” -
observado nos dispositivos, mas sim baseado na sociologia do cuidado,
onde se propõe participação de vários profissionais no
compartilhamento de responsabilidades e provendo tecnologias de
saúde, de forma singular, em diferentes momentos da vida, visando ao
bem-estar, segurança e autonomia para o sujeito. A partir dessa
compreensão, o engajamento dos residentes, seja na atenção básica,
atenção psicossocial, emergência e atenção hospitalar, encontra-se
baseada no território e suas necessidades, colaborando com práticas
exercidas extramuro, longitudinalidade do cuidado, assistência por meio
da corresponsabilização, confiança, formação de vínculos e empatia.
Para exemplificar momentos, temos na área hospitalar a vivência em
área terapêutica de desporto e lazer, na atenção psicossocial,
assembleias e protagonismo no tratamento e, na atenção básica,
educação em saúde e acesso à saúde no território. Repercussões: O
desvelo no processo de cuidado em saúde mental é percebido, pelo
profissional residente, como uma oportunidade de experienciar as
necessidades da RAPS e os processos de trabalho, de forma a avaliar sua
própria atuação. Isso possibilita que o residente proponha possibilidades
e atitudes de desconstrução do modelo manicomial e fragmentado,
sendo um profissional em processo de especialização que vivencia os
variados trajetos, de forma não só a prestar serviços, mas apender e
compreender os processos que permeiam as redes de cuidado.
Considerações finais: Este trabalho e todo o percurso da Residência em
Saúde Mental é um desafio para os profissionais, que ao mesmo tempo
que são graduados se propõem a estar em constante formação,
diariamente em seus processos de trabalho e cuidado, vivenciando e
construindo a RAPS.

963
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Residência Multiprofissional em Saúde Mental e conexões


entre países latino-americanos: relato de experiência na
política sobre drogas do Uruguai

Maria José da Silva


Prefeitura da Cidade do Recife

Introdução: As residências em saúde são modalidades de especialização


lato sensu que têm como espaço formativo o Sistema Único de Saúde,
ofertando assim a oportunidade de educação permanente e exercício
profissional. As residências multiprofissionais em saúde mental (RMSM)
permitem a inserção nos dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial e
a realização de estágios em dispositivos que não estão na proposta do
programa de origem, mas que dialogam com a formação. O objetivo é
relatar a experiência de estágio opcional, no âmbito da RMSM da
Universidade de Pernambuco, realizado na política sobre drogas do
Uruguai, na particularidade da Red Nacional de Atención en Drogas
(Renadro) de Montevidéu, em agosto/2019. Baseou-se na observação
participante e diário de campo da residente. Descrição da experiência: A
escolha do Uruguai para a realização do estágio foi a partir do
protagonismo que o país vem apresentando na América Latina (AL) em
relação à sua política sobre drogas, principalmente a partir da Lei n°
19.172, de 20/12/2013, que regula o consumo de cannabis, bem como
trocar experiências sobre as particularidades da temática na AL. A
estrutura desta política se dá a partir da Secretaria Nacional de Drogas,
que integra a Junta Nacional de Drogas (JND), e é composta por áreas
estratégicas (Administración; Atención y Tratamiento; Comunicación;
Control y Regulación de la Oferta; Descentralización; Equidad Social;
Evaluación y Monitoreo; Fondo de Bienes Decomisados; Formación;
Observatorio Uruguayo de Drogas; Prevención y Relaciones
Internacionales y Cooperación), que são responsáveis por implementar
os programas delineados pela JND através da Estrategia Nacional para el

964
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Abordaje del Problema Drogas. Esta tem como princípios orientadores:


“Derechos humanos; Equidad; Democracia; Cooperación,
Responsabilidad Común Equitativamente Compartida; Integralidad,
Equilibrio y Transversalidad; Participación y Evidencia Científica y Buenas
Prácticas. Durante o estágio conhecemos dispositivos que compõem a
Renadro, a exemplo do Ciudadela y Ciudadela Móvil, Centro Chanaes, El
Achique Casavalle, El Jaguel, Casabierta, Unidade Móvil de Atención
(UMA) e Aleros. Além destes dispositivos, existem outros pontos de
atenção inseridos na rede a partir de convênios com outros ministérios,
a exemplo do Centro Nacional de Información y Referencia de la Red de
Drogas Portal Amarillo, que é o maior centro de tratamento uruguaio e é
gerido pela Administración de Servicios de Salud del Estado.
Repercussões e considerações finais: A experiência de estágio
possibilitou conhecer a política sobre drogas uruguaia, os pressupostos
que a orienta e sua implementação nos serviços. Em nossa experiência,
merecem destaque o empenho da JND em consolidar o paradigma da
Redução de Danos como orientador da política sobre drogas e da
Renadro, a realização de debates acerca do consumo de drogas com
base em princípios éticos e científicos, a exemplo da regulamentação do
consumo da cannabis. Por fim, destacamos a importância das
articulações entre os países latino-americanos no fortalecimento da
formação, visto que hegemonicamente estes ocupam posições
semelhantes na geopolítica internacional e isto pode contribuir com a
formulação de projetos mais amplos e de saúde para o continente,
conectados com a realidade da população e não apenas importar modos
de ser e viver do norte global.

965
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Resistência e insistência na atenção psicossocial: a experiência de um


grupo de arte e terapia promovendo cuidado e autonomia

Caio Lucas do Carmo Prado


Ially Maria Lima de Assis
Mariana Tavares Cavalcanti Liberato
Universidade Federal do Ceará - UFC

Magda Ferreira Mendes


CAPS Geral CORES IV -Fortaleza/CE

Afirmar o cuidado baseado no paradigma da atenção psicossocial nunca


deixou de ser urgente no processo de construção de uma sociedade sem
manicômios, mas é evidente que há momentos históricos nos quais isto
se revela ainda mais necessário, tal como na atual conjuntura
sociopolítica brasileira, onde tantos ataques de ordem macropolítica
voltam a sustentar uma concepção de saúde e cuidado estritamente
biomédica. Isto pode reverberar nas práticas cotidianas em instituições
de saúde, de modo a exigir uma ampliação no foco em consultas
individualizadas e fortemente direcionadas à prescrição de
medicamentos como fundamento da produção de um bem-estar.
Entretanto, há resistência no tecido micropolítico que se costura em
muitas das instituições do país, sendo a arte uma grande aliada nesse
processo. Para desenvolver ações neste sentido, o Programa de
Extensão PASÁRGADA: Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos
vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do
Ceará (UFC), campus Fortaleza, realiza, desde 2019, parceria com o
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Geral gerido pela Coordenadoria
Regional de Saúde IV (Cores IV) de Fortaleza. Uma das frentes de ações
desenvolvidas é a colaboração na produção do Grupo Arte e Terapia,
criado há seis anos, que ocorre semanalmente. Conta com um público
de cerca de 30 participantes usuários do serviço que se encontram

966
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

semanalmente buscando: estabelecer relações entre arte e vida;


propiciar espaços de cuidado em saúde, aliado ao desenvolvimento de
processos de corresponsabilização e promoção de autonomia e
cidadania; e viabilizar o envolvimento dos participantes como
protagonistas inclusos no processo de produção de saúde integral e do
bem viver. Para isso, o grupo conta com uma metodologia baseada em
três pilares principais: experimentação de múltiplas linguagens artísticas
plásticas e cênicas, em que há ativação dos sentidos e movimentação
dos corpos; participação implicada valorizando os processos de
conhecimento, cuidado e criação de si, aliançando-se, em paralelo, com
os outros; e processual, a partir de propostas iniciais desencadeadas por
temas sugeridos pelos participantes no decorrer do processo de
cuidado, compreendendo o inacabamento e a imprevisibilidade dos
caminhos traçados como processos sem a necessidade da produção de
algo que se aplique à noção hegemônica do “belo”. Além disso, o grupo
e suas atividades são avaliados processualmente, a cada encontro, por
meio de rodas de conversa, onde a voz de todas/os participantes é
convocada, o que gera, muitas vezes, desdobramentos e ideias para
encontros seguintes. É a partir de sua proposta, metodologia e manejo
que é possível situar esse grupo como uma importante ferramenta para
produção de saúde, autonomia, subjetividades mais livres. Desse modo,
o Grupo Arte e Terapia vem, ao longo de seis anos de existência, das
formas mais criativas e elaboradas, construindo, contribuindo e
diversificando as possibilidades do cuidado psicossocial, além de
enriquecendo a rede de cuidados. É no campo da resistência aos mais
variados avanços das práticas manicomiais que é situado e é de
exemplos como estes que a atenção psicossocial precisa para seguir se
reconstruindo.

967
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Respeito é bom e não enlouquece:


ações de prevenção ao bullying na escola

Nayane Keilla Messias


Profissional liberal

As relações no ambiente escolar têm sido objeto de estudo em diversas


áreas do conhecimento. Isto se dá, dentre outras razões, pelo fato de a
educação gozar de importância ímpar na formação social dos indivíduos
e por representar um dos os primeiros espaços onde se aprende a
exercer a cidadania. (NETO, LOBO E CARVALHO, 2012). Porém, existem
muitos desafios durante esse processo, seja por falhas no sistema
educacional, na formação de profissionais, por condições de
vulnerabilidade social das famílias ou mesmo por falta de apoio da rede
de serviços públicos que possam oferecer suporte e solucionar
problemas emergentes. Entre esses problemas, é possível citar a
violência escolar como um dos mais graves nos dias atuais,
especificamente o bullying, que é o fenômeno abordado nesse projeto
de intervenção. Foi a partir desses dados e do contato com a realidade
de uma escola de ensino fundamental da rede pública situada no
Agreste alagoano, onde os estudantes apresentavam relações
conflituosas e alterações de comportamento relacionadas às práticas de
violências, entre elas o bullying, que surgiu a necessidade de se refletir
sobre “quais as ações de prevenção podem ser realizadas para reduzir as
práticas de bullying na escola?”, com vistas a preparar uma intervenção
no local, inclusive motivada pela solicitação de docentes do referido
espaço escolar, já que atuo como psicóloga em um serviço público
sediado nas proximidades da unidade de ensino. A partir dessa
preocupante realidade pretendeu-se realizar uma intervenção com
ações de prevenção em saúde mental, visando a introdução de novos
olhares e novas estratégias educacionais considerando as relações
raciais, de classe, gênero e garantia de Direitos Humanos. A intervenção

968
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

teve como objetivo principal conscientizar estudantes e seus familiares a


respeito das consequências psicológicas e sociais do bullying, com
intuito de prevenir e reduzir essa prática, visando o fortalecimento de
vínculos e promoção de saúde mental, através da realização de
reflexões em três oficinas semanais com estudantes e professores, onde
foram abordadas várias temáticas que permeiam o tema “bullying e
violência na escola” e um encontro final com participação de
profissionais da rede sócio-assistencial da comunidade, apresentações
dos estudantes e a presença de seus familiares. Foi possível perceber a
compreensão do tema por parte dos estudantes através de suas
abordagens com o uso de exposições e apresentações artísticas como
teatro, poesias, músicas e painel de desenhos e uma consequente
mudança em suas percepções ao entenderem o problema e suas
consequências, bem como o conhecimento de uma rede sócio-
assistencial e diversas formas de pedir apoio em situações de risco e
violações de direitos. Desse modo, entende-se que as práticas
educacionais articuladas a uma rede de apoio e o vínculo comunitário
são capazes de realizar transformações não apenas institucionais, mas
também nas práticas profissionais e transformações nas relações sociais,
onde podem ser construídos laços de solidariedade e empatia.

969
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Ressonâncias fortalecedoras na pandemia: Grupo de


Estudo Saúde Mental e Interseccionalidades

Roberta Teixeira de Oliveira


Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Melissa de Oliveira Pereira


Escola Nacional de Saúde Pública Sergio de Auroca - ENSP

Helena Barboza Reis Queiroz


Ana Beatriz da Costa Leite Thees Rodrigues
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ

Fábio Uria Malveis


Cristiane Ponciano do Nascimento
Tássia Guimarães Giovanelli
Thaynnar Christina Rangel de Oliveira
Giovanna Araujo Vicentini Paula Regina Braga Pinto
Centro Universitário IBMR

Este trabalho pretende apresentar a experiência do Grupo de Estudos


Saúde Mental e Interseccionalidades (Gesmi), coordenado pela
professora doutora Melissa de Oliveira Pereira e construído,
conjuntamente, com estudantes de cursos de Psicologia de diferentes
universidades da cidade do Rio de Janeiro. O grupo partiu de uma
necessidade do diálogo interseccional dentro do campo da saúde
mental. Tomando a interseccionalidade e a perspectiva antimanicomial
como base teórica e política, o Gesmi tem por intuito refletir, construir e
apresentar possibilidades de atuação que considerem as relações sociais
de gênero, raça, classe, orientação sexual, identidade de gênero,
território, idade, entre outras, para a elaboração de estratégias de saúde
mental não apenas no plano individual, mas principalmente, no coletivo.

970
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O chamamento inicial foi respondido com o interesse de mais de cinco


vezes o número de vagas, o que exigiu uma ampliação das(os)
participantes que, atualmente, reúnem-se quinzenalmente, desde julho
de 2020, através de plataformas virtuais. Nossas leituras têm se voltado
ao estudo e aprofundamento teórico de clássicos tanto no âmbito da
Reforma Psiquiátrica quanto dos estudos feministas, a exemplo de
Franco Basaglia, Franca Ongaro, Frantz Fanon, Audre Lorde, Patricia Hill
Collins, entre outros, e tomando ainda como base reflexiva
documentários, vídeos e reportagens. Considerando o contexto de
pandemia de Covid-19 e a urgência do isolamento social, o grupo se
deparou com as dificuldades dos encontros presenciais, mas encontrou
nas redes sociais um vasto campo de aproximação com outras pessoas
interessadas no tema. Dessa maneira, o Gesmi sentiu a necessidade de
difundir seus estudos e, para tanto, criou um canal do YouTube e perfil
do Instagram, como plataformas de divulgação de debates, eventos e
proposições. Entre as atividades, destacamos um evento virtual aberto
em setembro de 2020, com transmissão no YouTube, com o título
Recordando Basaglias: lutas antimanicomial e antiproibicionista no
Brasil, que contou com a presença de convidadas que pesquisam na
área. Surpreendentemente, após um mês, o vídeo já conta com 500
visualizações. Esse dado, quando analisado conjuntamente a toda
estruturação e a procura de participação no grupo desde seu
surgimento, demonstra que: 1) há um aumento de interesse por esse
campo de estudo e 2) que as mídias sociais podem ser acessadas para
ampliação de um espaço de construção crítica, de fortalecimento e
criação de redes para estudantes e profissionais do campo da Psicologia,
e para uma saúde mental interdisciplinar. Trazer para a cena a temática
da “Saúde mental e Interseccionalidades” é refletir como os diferentes
tipos de opressões ocorrem, pensar a localidade e temporalidade,
aprender a respeitar o lugar social, e o ponto de partida de cada um.
Dessa maneira, a interseccionalidade apresenta-se como uma
ferramenta teórico-metodológica-prática possível para se compreender

971
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

as múltiplas exclusões, permitir a construção de estratégias de


enfrentamento e emancipação.

972
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Retrato falado: uma experiência em um dispositivo grupal composto


por mulheres no CAPS AD - Laranjeiras, Espírito Santo

Ananda Lugon Bourguignon


Ana Clara Daher Carneiro Ferraz
Natalia Soares Dalfior
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Este resumo tem como objetivo explanar sobre a experiência na


participação do grupo de mulheres em um Centro de Atenção
Psicossocial - Álcool e outras Drogas, localizado no município de Serra,
Espírito Santo. Um dos fios de trabalho que teceram nossa experiência
foi acompanhar o dispositivo grupal com mulheres que fazem o uso e
abuso de álcool e outras drogas e profissionais do serviço, ao longo do
primeiro semestre do ano de 2019, permitindo o compartilhamento de
experiências de vida e afetos. O grupo era mediado por uma assistente
social e uma técnica em enfermagem, e tinha como objetivo promover
discussões e debates acerca de assuntos que permeavam a discussão
que envolvem a performatividade feminina dentro do universo das
drogas. A partir disso, nosso olhar se voltou para esta questão complexa
e pouco compartilhada no meio acadêmico. A saúde mental no campo
da psicologia tem como enfoque o campo da loucura. Sendo assim,
muitas vezes negligencia outras formas de experienciar os processos de
produção de saúde. Nossa primeira experiência com o grupo foi após o
Dia das Mães e foi possível perceber como esta data possui importância
e impacto no funcionamento do serviço e do grupo em si, visto que
muitas participantes do grupo são mães, e entendem o apoio das(os)
filhas(os) como fundamentais no processo de tratamento, o que muitas
vezes não ocorre. Durante o período em que nos fizemos presentes, foi
realizada uma oficina de bordados, chamada “Retrato Falado”, na qual
as mulheres tiraram fotos com flores de enfeite que, posteriormente,
foram impressas, passadas para o tecido e bordadas por cada uma. Tal

973
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

oficina pretendia trabalhar algumas questões como a promoção e


manutenção de autoestima dessas mulheres, de forma que pudessem
construir seus autorretratos, visando se reconectar com seus corpos,
experiências e belezas sutis que habitam no meandro de suas vidas.
Ainda em conjunto à oficina, pensamos, junto às servidoras, ser
relevante assistir ao filme Frida, que conta a história de Frida Kahlo,
artista mexicana, que durante a sua vida vivenciou um relacionamento
abusivo, e passou a fazer o uso abusivo do álcool, realizando um debate
ao final. O filme possibilitou uma discussão acerca de conhecer e
respeitar quais seriam nossos limites, entendendo que cada pessoa é
afetada pelas experiências de forma única, e por isso acima de tudo é
necessário produzir e manter amor por si própria, antes de pensar em
estabelecer o vínculo com o outro. Nossa trajetória nos trouxe muitos
atravessamentos e afetações importantes, haja vista a possibilidade de
conhecer um campo de atuação dentro da saúde mental que até então
não tínhamos contato, e romper com certos preconceitos enraizados
sobre o uso de álcool e outras drogas, sobre a população de rua, sobre a
internação compulsória, dentre outros. A possibilidade de acompanhar
diferentes profissionais auxiliou esse processo de ressignificar a saúde e
o cuidado com o outro, sendo um ponto essencial no tratamento
integral dos sujeitos, além do entrelaçamento com políticas públicas que
dizem respeito aos mesmos.

974
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rodas de conversa como potência para o autocuidado


entre estudantes

Klécio Barbosa da Silva Assis


Pedro Henrique Reis Divino
Universidade Federal de Sergipe - UFS

Paula Helen Santiago Soares


Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP

A sociedade vê a universidade como um lugar almejado e positivo. No


entanto, experiências vividas por estudantes universitárias(os)
demonstram que, ao contrário do que se espera, este espaço pode gerar
sofrimento e adoecimento, principalmente para alguns grupos sociais
que o compõem. Essa realidade foi notada, questionada e debatida por
discentes do curso de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe
(UFS) em diferentes espaços, ao se deparar com os diversos relatos de
adoecimento psíquico, físico e emocional do corpo estudantil. Diante
desta situação, decidiu-se construir e realizar algumas rodas de conversa
com o objetivo de proporcionar partilhas de experiências universitárias
assim como a construção de um espaço que gerasse a promoção de
autocuidado entre as(os) estudantes. Estas ações permitiram constatar
que o adoecimento do corpo estudantil, como se imaginava, não é
apenas ocasionado pelo excesso de atividades, responsabilidades e
demandas da academia, mas que juntamente a elas, que por si só já
trazem uma sobrecarga na saúde dos sujeitos, muitas(os) alunas(os) são
também atravessadas(dos) por questões ligadas ao racismo, classismo,
sexismo, machismo, LGBTQIA+fobia, idadismo, dentro da instituição –
seja pelas relações entre colegas de turma por parte do corpo docente
ou até pelos próprios serviços da universidade. Para além disso,
percebeu-se que oportunizar estes espaços, em alguma medida, foi
terapêutico para todo mundo, pois o direito a expressar seu sofrimento,

975
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

poder botar para fora suas angústias, ter o direito a ser ouvida(o), e
encontrar pessoas em situações semelhantes contribuiu para aliviar o
adoecimento e gerar o mínimo de bem-estar possível. Inclusive, o
próprio espaço se mostrou potente para a produção de outros sentidos
dentro da lógica institucional, bem como de promoção de práticas que
contrariam o ambiente e as relações adoecedoras. Diante disso,
entende-se que ainda que o universo acadêmico esteja adoecendo a
classe estudantil, as coisas não podem e não precisam ser assim, e este
grupo tem forte potencial para transformar esta realidade vigente.

976
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rodas de conversa no cotidiano do CAPS II de Santo


Antônio do Potengi, Rio Grande do Norte

Maria Tereza de Oliveira


PMSG

Trata-se do relato de uma experiência vivenciado no Centro de Atenção


Psicossocial – CAPS II, dispositivo estratégico da rede de cuidados em
saúde mental, localizado à Rua Hidelbrando Ribeiro, s/n°, em Santo
Antônio do Potengi, município de São Gonçalo do Amarante, Rio Grande
do Norte (RN). O objetivo é refletir sobre o processo de trabalho no
CAPS II no contexto da Rede de Atenção à Saúde(RAS). Atualmente a
equipe multiprofissional está composta por duas assistentes sociais,
uma farmacêutica, uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional, um
psiquiatra, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, uma
cozinheira e um auxiliar de serviços gerais. A equipe está estruturada
segundo o modelo médico biológico tradicional, reproduzindo o formato
e a organização dos serviços das equipes da estratégia saúde da família
coordenados pela Secretaria Municipal de Saúde, inexistindo de forma
efetiva a articulação com os demais serviços da RAS. Destaca-se aqui
alguns desafios enfrentados pela equipe para atender os 210 usuários e
seus familiares: a formação dos trabalhadores de saúde e a
funcionalidade adequada da equipe; reformular e refletir sobre a prática
profissional e como lidar com os usuários no contexto institucional;
identificar e criar estratégias na perspectiva de rediscutir o atendimento
das pessoas com transtornos mentais comuns e usuários vítimas de
violência social. Cotidianamente, durante a execução das ações, são
utilizadas técnicas e estratégias na perspectiva
participativa/problematizadora voltada para o processo reflexivo,
através do diálogo, rodas de conversa e dinâmicas de grupo que
estimulem a participação e a criatividade dos agentes envolvidos, quais
sejam os usuários, familiares e ainda os profissionais, assim como

977
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

possibilitar reflexões durante as atividades com foco na


interdisciplinaridade, baseado em princípios teóricos, políticos e
metodológicos da Educação Popular em Paulo Freire. As atividades
socioculturais realizadas com os usuários têm a participação dos
familiares. É uma das estratégias utilizadas pelos profissionais durante o
processo de trabalho cuja intencionalidade é aproximar cada vez mais a
família e a sociedade. Ressalta-se que a perspectiva da assistência aos
usuários não está focada na cura da doença em si, objetivo exclusivo do
tratamento, tal como prega a psiquiatria tradicional, pois a ideia é
romper com esse paradigma. O tratamento está focado na produção de
saúde baseada no cuidado psicossocial, acolhimento, escuta qualificada,
produção de sentidos, através de serviços substitutivos, levando em
consideração as especificidades de cada usuário, seus projetos
individuais assim como sua história de vida, permitindo o
aprimoramento das práticas socioeducativas e suscitando reflexões
acerca da práxis profissional como um instrumento potencializador da
emancipação, da autonomia e da consolidação do sujeito de direitos em
pleno exercício da cidadania. Foi possível detectar ao longo do processo
de trabalho que os familiares, devido à convivência com as pessoas com
sofrimento psíquico também necessitam de cuidados. É preciso que haja
formação continuada e capacitação em serviço para os profissionais,
espaços de discussão e de diálogo como fóruns, debates e
compartilhamento de saberes a fim de discutir e implantar a Clínica
Ampliada e a elaboração do Projeto Terapêutico Singular, como está
previsto na Política Nacional de Humanização - PNH.

978
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rodas de conversa sobre práticas integrativas e complementares em


um Centro de Atenção Psicossocial II em Salvador, Bahia

Jeferson Pereira da Silva


Marjory Ellen Lima Costa
Patrícia Souza Fortuna
Patricia Sodré Araújo
Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Milena Renata Augusta Miranda


Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

Introdução: As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS)


foram reconhecidas pelo Ministério da Saúde em 2006, através da
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PNPIC). Considerando a importância das PICS para os serviços de
atenção psicossocial e sua relação como uma política de reabilitação e
inclusão, assim como a relevância das PICS como instrumento de
cuidado em período de crises (como a da pandemia de Covid-19), o
presente relato de experiência expõe as discussões realizadas em rodas
de conversa sobre esta temática em um Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS II). As discussões foram mediadas pelos profissionais residentes
do Núcleo de Saúde Mental da Residência Multiprofissional em Saúde
da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), na cidade de Salvador,
Bahia. Tendo como público-alvo os profissionais do serviço, a roda de
conversa foi utilizada como ferramenta de promoção de autocuidado
diante do contexto da atual pandemia. Descrição da experiência: As
rodas de conversa sobre as Práticas Integrativas e Complementares
foram realizadas às terças-feiras, quinzenalmente, com duração média
de 30 minutos, no período de junho a agosto de 2020, totalizando
quatro encontros. Os residentes abordaram temas relacionados a
diferentes PICS, expondo tanto aspectos históricos relacionados à PNPIC

979
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

e sua inserção no Sistema Único de Saúde (SUS), quanto práticas mais


específicas como meditação, fitoterapia, aromaterapia, automassagem,
medicina ayurvédica e auriculoterapia, enfatizando os benefícios, meios
de utilização e demonstração dessas práticas como forma de promoção
de autocuidado. A participação dos profissionais ocorreu de forma ativa
através de comentários sobre essas práticas, suas utilizações, vivências e
experiências pessoais. Repercussões: As discussões sobre as PICS,
execução das rodas de conversa e todo o processo de educação em
saúde geraram importante reflexão sobre como essas práticas podem
promover o autocuidado para os profissionais de saúde. Dessa forma,
esse momento tornou-se uma ferramenta potente para enfrentamento
do estresse e ansiedade ocasionado pela pandemia Covid-19 e os
impactos da mesma no processo de trabalho do serviço de saúde. Essa
categorias profissionais, que realizam o cuidado com o outro, também
precisam cuidar de si, principalmente diante do cenário de crise, como
uma pandemia. Considerações finais: O conhecimento sobre PICS trouxe
um mecanismo capaz de promover a redução de sintomas estressores,
ansiosos, angustiantes e melhora do processo laboral, assim como o
bem-estar físico, mental e emocional. As rodas de conversa também
ajudaram o grupo de profissionais do CAPS a retomar seu lugar de
produção de cuidado, ou seja, cuidando de si, tendo espaços de
acolhimento e fortalecimento para a retomada do cuidado no CAPS, no
contexto de crise provocada pela pandemia de Covid-19.

980
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rodas de conversa sobre saúde mental e a pandemia de Covid-19:


produzindo cuidado aos profissionais da saúde de um Centro de
Atenção Psicossocial II de Salvador

Fernanda de Jesus Almeida


CAPS

Daniele Monteiro de Oliveira da Silva


Patrícia Souza Fortuna
Sandra Assis Brasil
Universidade do Estado da Bahia - UEB

Juliana Passos de Oliveira Vieira


Secretaria Municipal de Saúde de Salvador

Introdução: Em março de 2020, a Covid-19 passou a ser considerada


uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse novo
cenário representou mudanças significativas na rotina e no
funcionamento de diversos serviços de saúde, dentre eles os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS). O presente relato faz um recorte das
experiências vivenciadas em um CAPS II na cidade de Salvador por
profissionais residentes do Programa de Residência Multiprofissional em
Saúde do Núcleo de Saúde Mental, da Universidade do Estado da Bahia.
O período de atuação no serviço ocorreu entre os meses de março a
agosto, abrangendo o início da pandemia e sua escalada. No CAPS, os
grupos e oficinas foram suspensos e os atendimentos aos usuários
ficaram restritos a momentos de crises, atendimentos individuais
pontuais e acolhimento, além da realização de teleatendimento, sendo
que nesse serviço continuou aberta a matrícula para novos usuários.
Essa alteração foi proposta pela Secretaria Municipal de Saúde de
Salvador a todos os serviços da Rede de Atenção Psicossocial do
munícipio, com o intuito de diminuir a propagação do vírus. Devido às

981
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

incertezas e ao alto grau de contaminação do novo coronavírus, os


profissionais da saúde começaram a sofrer um impacto importante na
sua saúde física e mental. Descrição da experiência: Pensando em
formas de minimizar os impactos da pandemia na saúde mental dos
trabalhadores, os residentes propuseram a realização de rodas de
conversa sobre a temática Covid-19, destacando assuntos que mais
afetavam os profissionais, trazendo propostas de autocuidado, escuta,
acolhimento e novas formas de pensar e lidar com este novo contexto
que se impunha. As rodas de conversa foram realizadas quinzenalmente
durante as reuniões técnicas, com duração média de 30 minutos,
inicialmente de forma presencial. Todavia, em virtude de evitar
aglomerações na unidade, as reuniões passaram para a modalidade
virtual, pela plataforma Google Meet. Repercussões: As rodas de
conversa se configuram como um espaço horizontal de troca de saberes.
Através de sua realização, foi possível ofertar cuidado à equipe que
estava passando por momentos de estresse, ansiedade, medo e
insegurança. Um outro efeito produzido com esse espaço de discussão
foi acerca dos efeitos secundários da pandemia na população atendida
pelo serviço, o que isso vinha representando para o campo da atenção à
saúde mental naquele momento, e projeções do que poderia ocorrer
nos próximos meses. A proposição de conversas com essas temáticas
suscitou reflexões acerca das práticas de cuidado possíveis a fim de
garantir a assistência aos usuários do serviço. Considerações finais: A
assistência aos profissionais ofertada pelos residentes promoveu a troca
de experiências, o fortalecimento da equipe e dos laços entre os
profissionais que a compunham, o estímulo a pensar os processos de
trabalho e as práticas de cuidado em saúde mental, durante momentos
de crise como esse.

982
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Rompendo com o distanciamento afetivo nas Rodas de


Conversacom pessoas idosas em uma ILPI

Daisy Seabra de Queiroz


Isis de Andrade Araújo
Fabiana Brasil Francisco
Lorrayne Leite da Fonseca
Universidade Estácio de Sá (UNESA) – Petrópolis

As Rodas de Conversas constituem uma das atividades do projeto de


extensão voltado à promoção da saúde da pessoa idosa, na perspectiva
da atenção psicossocial. Diante da pandemia de Covid-19 surgiram
novas demandas em relação a essa população, por constituir um dos
grupos de risco. Considerando esse agravante, propusemo-nos a refletir
sobre a situação dos residentes em Instituições de Longa Permanência
para Idosos (ILPI). Como medida necessária de prevenção à doença,
seguindo as orientações de distanciamento social, as visitas foram
reduzidas e, em alguns casos, proibidas, trazendo a ameaça do
distanciamento também afetivo. É importante enfatizar que
distanciamentos físico e afetivo se distinguem, e não codependem um
do outro. Tais questões motivaram-nos a criar Rodas de Conversas
Virtuais em uma dessas instituições. Elas ocorrem quinzenalmente, com
duração de uma hora, e envolvem em média oito participantes, na sua
maioria mulheres; as idades variam de 80 a 102 anos. A psicóloga da
instituição convidou aquelas(es) que teriam condições de usufruir dos
encontros e nos forneceu informações sobre as(os) mesmas(os). Ela está
sempre presente, possibilitando o acesso ao Skype e mediando a
comunicação, a fim de lidarmos com limitações da tecnologia e/ou
auditivas de alguns. Visamos abrir oportunidades para as(os)
participantes expressarem e compartilharem afetos; serem
escutadas(os) e dialogarem; assim como desfrutarem de momentos de
prazer. Pretendemos ainda potencializar diversos processos cognitivos,

983
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

ao estimularmos a participação ao longo dos encontros. A valorização de


cada um(a) por meio do acolhimento às suas experiências, desejos e
capacidades, parece-nos também fundamental, tendo em vista a
perspectiva da promoção da saúde integral. A fim de viabilizarmos tais
objetivos, apresentamos leituras de poemas e crônicas; promovemos
“passeios virtuais”; as(os) participantes compartilham histórias de vida,
habilidades e conhecimentos, e a música costuma finalizar as Rodas. As
atividades são organizadas a partir de propostas sugeridas direta ou
indiretamente pelas(os) integrantes, o que permite aproximá-las dos
seus interesses e fortalecer o protagonismo no contexto dos encontros e
quiçá fora deles. Somos recebidas sempre com alegria e curiosidade, e
cada um(a), à sua maneira, participa ativamente. Retomam lembranças
significativas, afetos vividos e resgatam fazeres aos quais se dedicaram.
Antigos e novos interesses são fortalecidos, o piano, as receitas dos
quitutes, a poesia. Aos poucos, a palavra vai circulando, geram-se trocas
e pequenos movimentos, que os motivam e ultrapassam os momentos
dos encontros. Estes parecem possibilitar algo fundamental, o
envolvimento no presente, deleitar-se com a vida, afastar-se da ameaça
de estagnação na nostalgia do passado e/ou em um tempo de “espera”
muitas vezes vivido como triste e vazio. As Rodas de Conversa têm
repercutido de maneira positiva, outras instituições manifestaram a
vontade de participar do projeto. Trata-se de um pequeno gesto no
enfrentamento das várias modalidades de violências, muitas vezes
invisíveis, sofridas por essa população, intensificadas entre idosos(as) de
várias etnias e regiões do Brasil, no atual cenário. A experiência permite
responder de algum modo à necessidade de acolhermos a pessoa idosa
em um momento marcado pelo distanciamento social, evitando assim
que este se transforme em isolamento afetivo e repercuta em
sofrimento psíquico.

984
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde mental de profissionais da Atenção Básica: considerações


a partir de uma experiência de estágio

Johnatan Antoniolli Pralon


Mariana Ribeiro de Souza
Alexandra Iglesias
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

O trabalho constitui uma importante esfera da vida social, podendo


interferir de modo positivo ou negativo na realidade de uma pessoa.
Nesse sentido, considera-se importante a produção de discussões acerca
da saúde do trabalhador, evidenciando aspectos relevantes e úteis aos
gestores e funcionários para que possam repensar suas práticas, a fim
de produzir mudanças nos quadros de adoecimento no mundo do
trabalho. O relato de experiência aborda a trajetória de dois estudantes
do curso de Psicologia na realização de suas práticas de estágio no
contexto da Saúde Pública, efetuadas em uma Unidade de Saúde da
Família (USF) localizada no estado do Espírito Santo. Dessa forma, tem-
se por objetivo compartilhar a experiência de estágio e sua produção de
conhecimentos, destacando o debate relativo à saúde dos trabalhadores
na área da saúde. O estágio ocorreu no primeiro semestre do ano de
2019, com carga horária semanal de 8 horas, incluindo orientação
coletiva e participação em grupo de saúde mental. Fez parte do estágio,
ainda, a produção de diários de campo e de relatório ao final da
experiência. Por vezes, a referência profissional dos estagiários dentro
do campo foi mudada, em razão de questões relativas à saúde dos
trabalhadores, o que significou uma mudança de referência também
para o grupo: implicando em um enfraquecimento do vínculo usuário e
serviço. Para reduzir esses efeitos prejudiciais ao cuidado em saúde,
destaca-se o papel de processos formativos, como da Educação
Permanente, uma importante ferramenta de apoio à prática
profissional. Por meio desses processos é possível promover uma

985
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

aproximação entre a teoria e prática, possibilitando ao trabalhador


repensar sua relação com o trabalho, bem como, coletivamente a outros
atores do setor saúde, adotar medidas que assegurem sua saúde e
condições para realização de suas atividades. Assim, incentiva-se a
criação de espaços em que os profissionais possam falar sobre suas
questões com o trabalho, permitindo transformar suas relações e
impressões acerca da atuação do outro, buscando estreitar vínculos
entre os mesmos, assim como efetivar uma rede de apoio entre os
trabalhadores dentro do ambiente de trabalho.

986
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde mental do trabalhador em um ambulatório


de psiquiatria: relato de experiência

José Luis da Cunha Pena


Veronica Batista Cambraia Favacho
Maria Silvia da Costa
Cassio Diogo Monteiro Almeida
Ailson Soares de Almeida
Carla Emanuela Xavier Silva
Raissa Dos Santos Flexa
Adriana Brandão Ribeiro
Orlando Garcia Nascimento
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP

Introdução: Os trabalhadores do transporte coletivo urbano são


frequentemente vítimas de condições precárias de trabalho e ademais
vivenciam o medo de serem assaltados, de sofrerem acidente, de
morrer, de ficarem doentes e de serem demitidos. Descrição da
experiência: Relato de experiências durante a entrevista inicial com uma
usuária no Ambulatório de Psiquiatria do Hospital de Clínicas Dr. Alberto
Lima em Macapá, Amapá, com história de quatro assaltos em transporte
coletivo, no qual trabalha como cobradora, com ameaças de morte por
arma branca e de fogo, já diagnosticada “Surto Psicótico” no Hospital de
Emergências por alto potencial de agressividade, agitação psicomotora,
confusão mental e baixo limiar de tolerância. Fez uso de Haldol,
Carbamazepina; Prometazina e Diazepan. Sua tia já fez internação
psiquiátrica. Refere flashback dos assaltos, muita tristeza e prefere se
isolar. A justificativa da procura de ajuda com psiquiatra foi de agitação
psicomotora, agressividade, pensamento, ansiedade. Repercussões:
Destacam-se os diagnósticos de enfermagem: Domínio 5:
Percepção/cognição. Confusão aguda, com distúrbios reversíveis de
consciência, atenção, cognição e percepção que surgem em um período

987
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de tempo breve, com duração inferior a três meses. Características


definidoras: agitação; alteração na função cognitiva e no nível de
consciência; alucinações; percepções incorretas. Fator relacionado:
alteração no ciclo sono e vigília. Domínio 9: Enfrentamento/tolerância
ao estresse. Respostas pós-trauma. Resposta mal adaptada e sustentada
a evento traumático e opressivo. Características definidoras: alteração
na concentração e no humor; ansiedade; ataques de pânico; medo;
história de afastamento; lembranças repetidas dos fatos (flashbacks);
palpitações cardíacas, fatores relacionados: papel de sobrevivente e
percepção de evento como traumático; com persistência do trauma.
Enfrentamento/tolerância ao estresse. Respostas de enfrentamento:
ansiedade, sentimento vago e incômodo de desconforto ou temor,
acompanhado por resposta autonômica (a fonte é frequentemente não
específica ou desconhecida para o indivíduo); sentimento de apreensão
causado pela antecipação de perigo. É um sinal de alerta que chama a
atenção para um perigo iminente e permite ao indivíduo tomar medidas
para lidar com a ameaça. Características definidoras: Comportamentais -
Contato visual insuficiente; insônia; preocupações em razão de mudança
em eventos da vida; Produtividade diminuída. Afetivas - Apreensão;
medo; sofrimento. Fisiológicas - Tensão facial; voz trêmula. Simpáticas -
Anorexia; astenia. Parassimpáticas - Alteração no padrão do sono.
Cognitivas - Confusão; preocupação. Fator relacionado: estressores.
Crise situacional. As informações contidas sobre agitação psicomotora e
confusão mental referidos pós-trauma. Com uma boa relação com os
familiares e vizinhos colegas e também possuía um vínculo muito forte
com algumas pessoas que também estavam em tratamento. Participou
ativamente da entrevista inicial, mesmo que com dificuldade de contato
visual. Conclusão: Feito diálogo de orientação quanto ao tratamento
medicamentoso e psicoterápico e encaminhamento para a consulta.
Observou-se melhora pelo fato de a referida canalizar suas angústias e
ansiedades no primeiro momento oportunizado no serviço realizado
pelo enfermeiro em Psiquiatria. Ao final da entrevista apresentou-se

988
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

com insight positivo e com motivação para melhor qualidade de vida no


futuro.

989
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental docente na pandemia: relato


sobre o cotidiano de trabalho remoto

Nilza Alessandra Cardoso Pereira


Victória Maria de Freitas Nunes
Cristina Miyuki Hashizume
Universidade Estadual da Paraíba –UEPB

Introdução: As condições laborais dos docentes de forma remota,


decorrente da pandemia do novo coronavírus, têm se apresentado
como um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI em
virtude do impacto significativo e crescente causado aos docentes,
notadamente no que tange aos aspectos cognitivos, psíquicos, físicos e
sociais. Descrição da experiência: A presente pesquisa objetiva
cartografar a saúde mental dos professores, articulando a incidência de
sofrimento psíquico com as mudanças gradativas precarizantes na
organização do trabalho no ensino público (municipal e estadual), assim
como as estratégias utilizadas por esses trabalhadores na luta pela
garantia de sua saúde e no cumprimento de sua missão enquanto
docentes. Trata-se de um relato de pesquisa que apresentará
depoimentos de educadores das redes municipais de Campina Grande,
de Recife e das redes estaduais da Paraíba, de Pernambuco e do Rio
Grande do Norte. Para a realização dessa experiência, foram utilizados
aplicativos de reuniões virtuais. A partir dessas ferramentas, realizou-se
roda de conversa com roteiro de entrevista semiestruturada à luz de
políticas públicas implementadas no período da pandemia, além das
existentes no que se refere à carreira docente. Os professores, em seus
relatos, foram contextualizados em um enredamento de forças e
sistemas político, econômico, financeiro, que inserem o meio escolar à
produtividade do mercado, tendo em vista a cobrança referente a
aprovação, notas, índices e redução de evasão. Repercussões: Nesse
sentido, embasada numa escuta coletiva, essa pesquisa tem como tema

990
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

central os efeitos das políticas públicas, do ensino básico de diferentes


redes (municipais e estaduais) do Nordeste, na saúde mental docente,
principalmente no atual contexto da pandemia. Considerações finais:
Tornou-se evidente, portanto, que os docentes têm construído
estratégias de enfrentamento individuais e informais, adentrando sua
rotina privada em casa, com o intuito de atingir os objetivos propostos
pelo ensino remoto no período da pandemia.

991
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental e Assistência Estudantil: interfaces


no cotidiano dos Institutos Federais de Ensino

Lorena Silva Costa


Instituto Federal de Brasília – IFB

R.C.R.A.
Instituto Federal de Pernambuco – IFPE

G. B. N.
Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG

P. F. P.
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Com o advento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que


tem a finalidade de ampliar as condições de permanência dos jovens em
vulnerabilidade social na educação pública federal (Decreto nº 7.234, de
19 de julho de 2010), compreendendo ações de acompanhamento
pedagógico, recursos financeiros para alimentação, moradia, transporte,
apoio creche e atenção à saúde, profissionais de saúde começaram a
atuar nesta interface. No momento que foi incluído o item “atenção à
saúde” como uma possibilidade de acompanhamento e financiamento
institucional, coube interpretar que aspectos de saúde impactavam na
permanência dos estudantes nas instituições de ensino. A área da Saúde
Mental se destacou como uma das demandas observadas pela
comunidade estudantil, conforme destaca a V Pesquisa Nacional de
Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES (2018)
apresentada pela Andifes. É objetivo deste trabalho apresentar e
discutir as experiências de IFs do Brasil desenvolvidas no âmbito da
assistência estudantil e em sua interface com a saúde coletiva. Serão
abordadas quatro experiências que versaram sobre a necessidade de

992
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

construir um diálogo entre educação e saúde pautado nas contribuições


da análise de políticas públicas, saúde coletiva, intersetorialidade e
clínica psicossocial. O IFB analisa a percepção dos gestores dos campi do
Instituto Federal de Brasília quanto à implementação da atenção à
saúde prevista no PNAES para os alunos do ensino médio. Foram
utilizados estudo documental e entrevistas semiestruturadas compiladas
através da análise de discurso que permitiu a elaboração de uma
proposta de intervenção que considerasse o monitoramento
psicossocial como fator de gestão escolar e diagnóstico institucional. O
IFMG campus Ouro Preto vem com proposta de apresentar o caso de
um aluno que foi acompanhado por três anos consecutivos: 2017, 2018
e 2019. O aluno G., que se automutilava e praticava diversas tentativas
de suicídio, mobilizou a instituição. Foi formada uma comissão
denominada “Comissão de Atenção à Saúde Integral” que estudou o
caso e elaborou um plano de ação, envolvendo a rede de atenção
psicossocial de Ouro Preto e familiares, demonstrando que a
intersetorialidade é uma necessidade para garantia de direitos. O estudo
no IFPE seguiu as seguintes etapas: 2017 - apresentação e negociação
para autorização do estudo com elaboração do termo de cooperação
entre o IFPE e a UFPE; 2018 - Formalização no colegiado de diretores do
IFPE para coleta de todas as cartas de anuência, Formação de 25
profissionais entre coordenações de apoio, os analistas e a equipe de
assistência estudantil do IFPE - Campi Recife; validação do instrumento
de coleta de dados ocorreu com 30 profissionais; estudo piloto com 18
estudantes para aparência do questionário autoaplicável com várias
rodadas de leitura e revisão do conteúdo; 2019.1 - Planejamento da
coleta de dados com equipe do IFPE e UFPE nas aproximadamente 60
turmas sorteadas na amostra do estudo. A apresentação e debate das
distintas experiências dos IFs pode fortalecer a troca de saberes, unindo
teorias e práticas que irão confluir na melhoria do trabalho intersetorial
e propostas de cuidado em saúde mental no âmbito da educação.

993
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental e atenção integral ao adolescente em cumprimento de


medida socioeducativa em meio fechado: um relato de experiência

Luane Macedo Souza Pereira


Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB

Introdução: Este resumo é parte da experiência de estágio específico em


Psicologia realizado em um centro socioeducativo de internação
masculina da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), em São
Luís, Maranhão. De acordo com o Sistema Nacional de Socioeducação
(Sinase), as ações socioeducativas são orientadas por eixos estratégicos,
a saber: suporte institucional e pedagógico; diversidade étnico-racial, de
gênero e de orientação sexual; cultura, esporte e lazer; saúde; escola;
profissionalização/trabalho/previdência; família e comunidade;
segurança. O cuidado em saúde mental é especificado no eixo saúde. No
entanto, entende-se que ele é também resultado da integração de todos
os eixos, considerando o aspecto intersetorial e transversal das políticas
públicas de saúde em geral e, em especial, àquelas destinadas a crianças
e adolescentes. Descrição da experiência: O estágio aconteceu entre
setembro a novembro de 2019, sob supervisão técnica e docente. Foi
possível participar da Rotina Sociopedagógica da instituição, realizar o
acompanhamento psicológico institucional de dois socioeducandos,
fazer consultas e evolução de dossiês, implementar um Programa de
Orientação Profissional, auxiliar na elaboração do Relatório
Multiprofissional e do Plano Individual de Atendimento (PIA), e
presenciar Audiências Processuais no Centro de Justiça Juvenil.
Repercussões: O acompanhamento psicológico que se faz nesse
contexto visa atender a reinserção social do adolescente desvinculada
do ato infracional, tendo como primazia os processos de subjetivação e
singularidade do adolescente, levando em conta determinantes sócio-
histórico-políticos. De acordo com o Regimento Interno da Funac, em
casos que o adolescente apresenta indícios de transtornos mentais, de

994
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

deficiências mentais ou associados, deverá ser avaliado pela equipe


técnica multidisciplinar da unidade e encaminhado ao Centro de
Atenção Psicossocial (CAPSi) para avaliação neuropsiquiátrica e
acompanhamento, no entanto, dada a falta de recursos institucionais,
quase sempre a única assistência que esses adolescentes tinham do
CAPSi era o fornecimento de medicamentos, as demais necessidades
eram manejadas pela enfermeira e psicólogas da unidade. Percebeu-se
também que grande parte dos socioeducandos possui alguma
dependência química ou psicológica de psicoativos, que igualmente
deveriam ser avaliados e obter o acompanhamento psicossocial
específico, todavia esse acompanhamento é bastante instável e ainda
abunda o paradigma proibicionista na unidade, em vez da abordagem
de redução de danos prevista na atenção psicossocial a crianças e
adolescentes no SUS. Considerações finais: Embora o direito à saúde
seja um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente (ECA,
1990), observou-se, durante o estágio, entraves estruturais para a
realização do cuidado integral à saúde de adolescentes em
cumprimento de medidas socioeducativas de internação, sobretudo se
tratando de adolescentes em sofrimento psíquico que fazem uso de
psicoativos ou tratamento com psicofármacos. Há também a falta de
implementação de programas sociais e sociofamiliares, destinados aos
egressos do sistema socioeducativo, em articulação com a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS). Por fim, percebe-se que a situação de
cárcere, que restringe e priva o adolescente do convívio familiar e
comunitário, configura condições de agravo à saúde mental dos
socioeducandos, do mesmo modo que a via do fortalecimento desses
vínculos, alicerçada à garantia de todos os outros direitos, é também
geradora de saúde mental.

995
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental e Interprofissionalidade: Um relato de experiência


sobre a clareza de papéis dos profissionais de um CAPS
do interior do Rio Grande do Norte

Mariana Souza Batista


Elissa Stephanie de Oliveira Torres
Jocellem Alves de Medeiros
Cirilo Dantas Rangel
Mayara Gabriela Cândido de Oliveira
Odaíres Dayana Ferreira Campelo
Luciana Fernandes de Medeiros
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

O trabalho em saúde mental se baseia no processo de


desinstitucionalização das pessoas em sofrimento psíquico. Nesse
cenário, é prezada a construção de um cuidado comunitário,
integralizado e centrado no usuário. Entretanto, a fragmentação, o
assistencialismo e a formação uniprofissional em saúde ainda aparecem
como os principais entraves para que a Política Nacional de Saúde
Mental seja consumada. A partir desse desafio, o Programa de Educação
pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), ao inserir discentes, docentes e
profissionais atinentes a esta área comum no cotidiano dos serviços
públicos, emerge como um movimento de reorientação da formação
destes profissionais, uma vez que é responsável por criar nas
universidades um ambiente propício para que os estudantes conheçam
e vivenciem a Educação Interprofissional (EIP). A EIP é um movimento
de aprendizagem embasado na coletividade e interatividade,
envolvendo um ou mais profissionais, com o propósito de que os
trabalhadores atuem, aprendam com e sobre as outras profissões.
Considerando a relevância dessa temática, o presente estudo busca
relatar as experiências do grupo de Saúde Mental do PET-Saúde-
Interprofissionalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

996
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(UFRN) sobre as competências colaborativas, especificamente, a clareza


de papéis dos profissionais em um Centro de Atenção Psicossocial II
(CAPS) no interior do RN. A vivência apoiou-se na realização de
observações da dinâmica de trabalho e entrevistas com os
trabalhadores lotados neste serviço. Durante as observações,
presenciamos a efetivação de algumas intervenções recreativas, como,
por exemplo, um bingo e uma oficina de elaboração de flores. Em
referência às entrevistas, focamos na clareza de papéis, competência
interprofissional essencial para a concretização da prática colaborativa.
Por este prisma, indagamos a respeito tanto do papel do próprio
trabalhador quanto o dos seus colegas, o que fez com que
analisássemos a existência de atividades comuns a todos, tais como: a
ação inicial do expediente, nomeada como “Bom dia CAPS”, o
acolhimento e a escuta. Constatamos que alguns profissionais
demonstram certa dificuldade, pois ainda estavam centrados em suas
próprias funções e acabavam descrevendo as outras profissões
recorrendo a estereótipos da área. Barreiras em relação a falar acerca
do próprio papel dentro do CAPS também foram transparecidas, já que,
por possuírem vínculo empregatício temporário, haviam chegado à
atenção psicossocial sem ter nenhuma formação na área da saúde
mental. Outro aspecto observado é a atuação ambulatorial do médico,
visto que o profissional atende apenas um dia da semana no CAPS e, em
consequência, não participa das reuniões para a discussão de casos,
aspecto que implica, diretamente, na efetividade da comunicação, como
também na qualidade da atenção disponibilizada ao usuário. Em
contraposição, percebemos que os profissionais que mais apresentavam
comprometimento com as práticas colaborativas mais conseguiam
descrever e identificar as diferentes funções em sua volta, ou seja,
evidenciaram maior clareza de papéis, pois estavam mais envolvidos
com o trabalho em equipe. Diante dessa experiência, compreendemos
que as mobilizações para a implantação da EIP precisam ganhar maior
visibilidade, uma vez que sua realização pode garantir diversas

997
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

melhorias no contexto da saúde mental, sobretudo em relação à


integralização do cuidado.

998
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental e Justiça: a experiência da EAP na luta pelo cuidado


ao louco infrator na Rede de Atenção Psicossocial

Alan Reis
Secretaria de Saúde do Estado do Pará – SESPA

O Serviço de Avaliação e Acompanhamento de Medidas Terapêuticas


Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei (EAP),
instituído pela Portaria nº 94 de 01/2014 do Ministério da Saúde (MS),
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), vinculado à Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade
no Sistema Prisional (PNAISP), é uma estratégia para redirecionamento
dos modelos de atenção à pessoa com transtorno mental em conflito
com a lei. O estado do Pará aderiu à PNAISP e no dia 06/10/2014 a EAP
foi implementada, constituída por: assistente social, enfermeira,
psicólogo, psiquiatra, terapeuta ocupacional e administrativo.
Destacamos as ações de: diálogo permanente com o Tribunal de Justiça
(TJPA) para identificarmos pacientes submetidos a medida de
segurança; mapeamento da rede de serviços de saúde, assistência social
e justiça; acompanhamento de pacientes desinternados do Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico do Estado do Pará (HCTP);
divulgação da EAP nos serviços de saúde; visitas institucionais para
firmar parcerias; capacitação de profissionais da rede de atenção
psicossocial (RAPS); reuniões técnicas junto ao grupo condutor da
PNAISP; mapeamento dos usuários com transtorno mental que
cumprem medida de segurança; criação de banco de dados para
acompanhar os usuários atendidos pela EAP. Almejamos a expansão das
ações da EAP junto às diversas comarcas do Pará para melhor
desenvolver as ações, maior integração da rede de serviços no
atendimento integral à pessoa com transtorno mental em conflito com a
lei, desinstitucionalização progressiva dos pacientes com transtorno
mental e extinção do HCTP do estado do Pará. Considerando a

999
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

necessidade de identificarmos os pacientes com transtorno mental que


cumprem medida de segurança em meio aberto, realizamos visita à
equipe do Setor de Fiscalização de Benefício e Desenvolvimento Social
do Tribunal de Justiça do Pará e tivemos acesso à relação dos usuários. A
partir da relação, passamos a verificar se os usuários estão sendo
acompanhados nos serviços através de visitas periódicas aos CAPS.
Mantivemos diálogo constante com a equipe do HCTP e discussão para
construção de PTS – Projeto Terapêutico Singular dos desinternados
para que os mesmos, ao saírem, já o levem para a RAPS e Rede Básica
de Saúde. Desde o início dos trabalhos, a EAP já atuou diretamente no
processo de desinternação de 54 pacientes. Destes, dois estão em
abrigos que tiveram suas vagas conseguidas através de diálogos
intersetoriais e devido também às suas condições clínicas específicas
que mereciam uma atenção mais especializada. Quarenta e dois
encontram-se morando em outros espaços ou residindo com familiares
e 10 estão na República Terapêutica de Passagem aguardando o recurso
do Benefício de Prestação Continuada para assim dar prosseguimento
em suas vidas em outros locais.

1000
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental e Psicologia Comunitária na colônia de


pescadores: um relato de experiência

Yanna Biatriz de Oliveira Góis


Fernanda de Sousa Reis
Kellen Cristiny Araújo Menezes
Maria de Fátima Pereira de Carvalho
Kenia Soares Maia
Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT

Este relato de experiência do Estágio Básico em Saúde Mental e Clínica


Ampliada do curso de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins
na Colônia de Pescadores Profissionais Artesanais de Miracema do
Tocantins e Tocantínia apresenta o processo de intervenção de
estagiárias e supervisora realizado em 2019. A partir das propostas da
Análise Institucional, da Psicologia Comunitária e Clínica Ampliada, a
disciplina realizou o levantamento de demanda sobre as questões
psicossociais da comunidade; planejou ações e promoveu intervenções
em grupos de pescadores e nos encontros de supervisão. Nesse sentido,
a partir da interface entre a atenção em Saúde Mental e o espaço de
escuta e acolhimento da comunidade, foi possível perceber que a
demanda construída coletivamente ultrapassou as questões
relacionadas à atividade da pesca. Foram realizados sete encontros com
um grupo de quinze pescadores, com duração média de uma hora e
trinta minutos. O tema que norteou os encontros foi atravessado pelas
questões transgeracionais, sobretudo a juventude e a impotência que os
participantes sentiam no cuidado, possibilidades e perspectivas desses
jovens, além do desejo de que eles também experienciassem a colônia
de pescadores como lugar de pertencimento. Baseado no pensamento
de René Lourau, Georges Lapassade, Gilles Deleuze, Felix Guattari e
Martín Baró foi utilizado o método da autoanálise e autogestão. Os
encontros produziram, junto com o grupo de pescadores, novas formas

1001
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de organização e modos de relação familiar e comunitária, rompendo,


assim, uma lógica hegemônica construída historicamente de uma
psicologia centrada na clínica individual. Esta prática de estágio
proporcionou, ainda, uma aproximação com a colônia de pescadores,
com as expressões das singularidades do fazer pesqueiro e como o
profissional em psicologia pode contribuir para a construção e visão de
mundo que esses sujeitos têm, uma vez que são forjados na
comunidade e pela comunidade. Se expressou nessa experiência a
potência de práticas em psicologia comprometidas com a transformação
social, que produzam saberes e práticas compromissados com a
realidade social brasileira.

1002
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental e Redução de Danos na perspectiva


da Interprofissionalidade: um relato de experiência

Etiene de Santana Pires


Lorena de Oliveira Rossoni
Roberta Scaramussa da Silva
Universidade Federal do Sul da Bahia – UFESBA

Introdução: O cuidado em saúde mental amparado na Redução de


Danos (RD) consiste em um importante dispositivo de atenção para as
pessoas que fazem uso abusivo de drogas. Do mesmo modo, as práticas
de atenção psicossocial podem ser potencializadas pela Educação
Interprofissional, constituindo-se como principal ferramenta para o
trabalho em saúde. Assim, objetiva-se discutir as potencialidades do
cuidado ampliado em saúde mental amparado na perspectiva da
interprofissionalidade. Descrição da experiência: Trata-se de relato de
experiência sobre uma roda de conversa de RD aberto à comunidade
externa realizado em novembro de 2019. A atividade ocorreu durante o
evento intitulado ”Feira de Saúde PET-Saúde/Interprofissionalidade nas
Ações de Promoção de Saúde”, desenvolvida na Universidade Federal do
Sul da Bahia. A construção da roda de conversa contou com a
participação de três preceptoras do PET-Saúde/Interprofissionalidade,
sendo duas psicólogas e uma enfermeira. Foi conduzida por duas
discentes de Psicologia bolsistas do PET-Saúde/Interprofissionalidade e
contou com usuários do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras
Drogas (CAPS AD) e com usuários do Centro de Referência Especializado
para População em Situação de Rua (Centro POP). Repercussões:
Através da oferta da escuta qualificada e da mediação do debate, notou-
se que os usuários dos serviços socioassistenciais e de saúde mental
puderam compartilhar suas trajetórias de vida e experiências com o uso
abusivo de substâncias psicoativas. Assim, a roda de conversa
possibilitou um espaço de aprendizado mútuo em que puderam

1003
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

aprender e ensinar estratégias para realizar usos menos problemáticos.


Entendemos a importância da roda para a formação das discentes
envolvidas, na medida em que possibilitou a ampliação do repertório em
práticas de cuidado em RD. Sabe-se que os usuários de drogas são
historicamente marginalizados pelas insuficientes políticas do Estado.
Assim, faz-se necessário a ampliação de contextos pelos quais os
usuários de substâncias psicoativas tenham suas vivências reconhecidas
e seus saberes visibilizados. Construir um espaço dialético de
compartilhamento de saberes entre profissionais e usuários foi
desafiador, pois os usuários também dispõem de conhecimentos a
ensinar. O diálogo entre estudantes, profissionais da rede e usuários dos
serviços viabilizou a reconstrução de significados atribuídos aos
consumidores de drogas e ao adoecimento psíquico, rompendo com a
lógica do “duplo da doença mental”, conjunto de preconceitos
relacionados à doença mental. Considerações finais: A Educação
Interprofissional em Saúde, baseada numa transformação da lógica
tradicional da formação, possibilita o aperfeiçoamento das práticas de
atenção às pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas
ao reconhecer a multiplicidade das suas necessidades, demandando das
equipes a escuta qualificada para o cuidado integral.

1004
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental em escola pública do Sudoeste da Bahia: relato


de experiência sobre a Psicologia inserida na educação

Flávia dos Santos S. de Oliveira


MARACAS

Angel Alcântara Santos Pires


Saúde

Monique Brito de Medeiros


Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Resumo: Diversos estudos têm apontado a escola como um lugar


privilegiado para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e
promoção da saúde mental para as crianças e adolescentes. Sabe-se que
a escola desempenha um papel educacional e norteador na formação
dos indivíduos, de promover a educação tanto cognitiva quanto
emocional, de desenvolver a cidadania e responsabilidade social e de
incentivar hábitos saudáveis de vida. Metodologia: Trata de uma
pesquisa qualitativa do tipo relato de experiência, voltada ao cuidado
em saúde mental na escola, diante da vivência de psicólogas inseridas
em uma escola pública no interior da Bahia. Assim, as intervenções
foram desenvolvidas no ambiente de sala de aula, com turmas do 6° ao
9° ano do ensino fundamental II, agregando adolescentes com faixa
etária entre 10 e 16 anos de idade, bem como, nos reuniões com o
corpo docente da escola e familiares, para discussão e
aprimoramentodo que foi realizado com os alunos. Iniciaram-se as
atividades através de psicoeducação, com o intuito de promover um
melhor entendimento sobre algumas temáticas dentro do campo saúde
mental, incluindo rodas de conversas, dinâmicas e outros recursos
possíveis como forma de ter acesso ao público mencionado acima.
Objetivo: Diante disso, esse artigo objetiva discutir e vivenciar temas em

1005
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde mental de adolescentes e jovens escolares, como também realizar


rodas de conversas e dinâmicas como potencializadoras da discussão
sobre o tema e colaborar com a escola para ampliar os vínculos entre
docentes e familiares acerca da importância do diálogo e relações de
cuidado. Resultados e discussões: Como resultado foi percebida a
importância de se discutir temas de saúde mental na escola, apesar de
ter uma forte percepção dos docentes associando à função da/o
psicóloga/o escolar a prática clínica individualizada. Neste contexto, o
profissional de Psicologia assume um papel de agente de mudanças das
impossibilidades, dentro da instituição, e torna-se importante a
aplicação dos conhecimentos provenientes da Psicologia no âmbito
educacional, que contribuam com a melhoria do processo ensino-
aprendizagem. Foram trabalhadas intervenções breves e pontuais sobre
diversos temas, como automutilação, bullying, ansiedade, depressão
etc, problematizando algumas discussões considerando a demanda da
instituição e levando em consideração cada caso de modo específico.
Também se incentivou a construção de estratégias de enfrentamento de
modo a promover a reflexão e a conscientização de funções, papéis e
responsabilidades dos sujeitos. Considerações finais: Por fim, acolhemos
a demanda através da escuta psicológica, a fim de ressignificar as
relações interpessoais na escola, e auxiliá-los a criar estratégias para o
desenvolvimento da comunicação, para a construção de um ambiente
de confiança e respeito mútuo e conflitos existentes nas relações.
Contudo, observa-se fundamental relevância de mais estudos acerca da
importância da atuação da/o psicólogo neste cenário, que possam
aproximar-se gradativamente do fenômeno. Além disso, atribui-se
relevo ao fato de que estudos como o do presente trabalho auxiliam na
reflexão da produção do cuidado orientadas para a promoção da
qualidade de vida dessas pessoas. Ademais, tem o potencial de sugerir
ideias fecundas em Psicologia para novos estudos e delineamentos
metodológicos.

1006
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental na atenção básica: estudo


de caso sobre o uso de psicotrópicos

Geiciely Cavanha Tomim


Servidora pública

Introdução: A assistência na Saúde Mental na perspectiva da atenção


primária à saúde ainda necessita de um amadurecimento em relação à
prescrição devido ao uso indiscriminado de medicações psicotrópicas.
Estas têm sido muito utilizadas no tratamento de doenças na área de
Saúde Mental como ansiedade, estresse e outras. Como consequência
dessa realidade constata-se o crescimento de diagnósticos de
transtornos na área psiquiátrica na população, a introdução de novos
medicamentos no mercado farmacêutico e novas indicações
terapêuticas incorporadas às já existentes. Desta maneira, os pacientes
que usam psicotrópicos criam práticas de repetição de receitas, devido à
ausência de acompanhamento clinico adequado pela falta de avaliações
periódicas, desconhecimento da duração e o porquê do tratamento. A
desinformação sobre o próprio tratamento constitui uma das principais
barreiras à atenção em saúde mental de qualidade. Objetivo: Avaliar
como os usuários de tratamento com psicotrópicos, em uma unidade
básica de saúde de Foz do Iguaçu, Paraná, relacionam-se com o mesmo
e como associam com outras formas de tratamento. Materiais e
métodos: O delineamento da pesquisa será com o método de pesquisa
qualitativa, de caráter exploratório, utilizando-se de estudo de caso.
Será realizado em uma equipe de Saúde da Família em Foz do Iguaçu. O
método de coleta de dados será por meio da entrevista em
profundidade, posteriormente serão analisados e compreendidos
através da Análise do Discurso e fundamentado teoricamente na
abordagem psicanalítica. Considerações finais: O que se constata é um
aumento na utilização de psicotrópicos nas últimas décadas. Este
crescimento pode ser atribuído pelo aumento de diagnósticos de

1007
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

transtornos mentais na população, a introdução de novos


medicamentos no mercado farmacêutico e as novas indicações
terapêuticas dos fármacos existentes. Também pode estar relacionado
com a desinformação do sujeito com o seu próprio tratamento,
retratando uma das principais barreiras à atenção em saúde mental de
qualidade. As razões para essas barreiras referem-se ao fator
comunicação entre profissionais de saúde e usuários. Em muitos casos
aparece a dificuldade nas equipes em estabelecer um diálogo que seja
compreensível pelo seu público, o que seria um esclarecimento do
conhecimento especializado para uma forma mais acessível de
explicação.

1008
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental na Atenção Básica: relato de


experiência com grupos operativos

Lidiane da Fontoura Ferreira


Mariane Bittencourt
Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI

As Unidades de Saúde possuem papel fundamental na garantia da


prática dos princípios de universalidade, integralidade e equidade,
acolhendo e sendo a porta de entrada de toda Rede de Atenção à
Saúde. A presente experiência foi decorrente da disciplina Estágio Básico
II do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário Dante.
Diante da demanda identificada e o uso expressivo de medicação
psicotrópica pelos usuários da Estratégia de Saúde da Família (ESF)
realizou-se a proposta de criação de um grupo voltado à Saúde Mental,
promovendo a esta comunidade um espaço de acolhimento e escuta. Os
usuários, em sua maioria, estavam há muitos anos em uso de
medicações psicotrópicas e sem nenhum outro tipo de
acompanhamento para manutenção das doses ou de escuta para os
sofrimentos psíquicos. Os convites para a participação dos grupos foram
realizados através do contato telefônico e entrega em domicílio. A
proposta de grupos foi pautada no conceito de Grupos Operativos de
Enrique Pichon-Rivière. Ocorreram cinco encontros no período de abril a
junho, com duração de uma hora e 30 minutos aproximadamente.
Foram realizadas dinâmicas afim de alcançar a tarefa de promover
reflexãoe debate dialético acerca da saúde mental dos usuários. Para
isso, alguns temas foram abordados: fortalecimento de vínculos,
percepção dos sintomas físicos e psicológicos, relação usuários x
medicação, projeto de ser e relação passado, presente e futuro.
Percebeu-se que a participação nos gruposfacilitou o acesso dos
usuários às possibilidades de suporte para além da medicação e
fomentou a participação ativa dentro do serviço, fortalecendo o vínculo

1009
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

com os profissionais, gerando sentimento de pertencimento grupal e


autonomia para as escolhas. O grupo também fez ponte à compreensão
do autocuidado. Um grupo voltado à saúde mental na atenção básica é
mais que uma garantia de direito, é olhar para o sujeito e suas
singularidades, é transcender as possibilidades de cuidados e
desconstrução do modelo de assistência voltada à doença, que deixa o
sujeito em segundo plano. É um fazer ético, que contribui para a
qualidade das ações em saúde mental.

1010
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde mental na atenção primária à saúde: quando a terapia


comunitária integrativa substituiu os grupos de psicotrópicos de Caldas
Novas, Goiás

Daniela Sousa de Oliveira


Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS

Elizete de Sousa Carvalho de Paulo


Universidade de Brasília – UnB

Introdução: A Estratégia Saúde da Família (ESF) é tida como o plano


prioritário de expansão, qualificação e consolidação da APS, por meio da
reorganização da atenção e reorientação do processo de trabalho,
favorecendo a ampliação da resolutividade e do impacto na situação de
saúde, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade.
Fortalecido pelo apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF-
AB), permite aumento do escopo de atenção à saúde, visando ações de
cunho multiprofissional e interdisciplinar. O NASF-AB é um dispositivo
para estruturação e sensibilização da APS quanto às vulnerabilidades e
necessidades do território, o qual se responsabiliza, dentro do contexto
da saúde mental, pelos casos leves que não são cobertos pelo Centro de
Atenção Psicossocial. A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é uma das
Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS), que oferece
espaço aberto para troca de experiências, partindo do princípio de que
todos têm algo para compartilhar e aprender, utilizando questões de
fragilidade para encorajar reflexões, fortalecer vínculos, envolvimento e
afeição aos enfrentamentos de outros. Estabelece conexão entre a ação
e a reflexão afim de intervir no sofrimento e modificá-lo. Descrição da
experiência: A APS do município de Caldas Novas, Goiás, se organizava
em 22 Unidades Básicas de Saúde, cada com uma ESF. A equipe NAS-AB
estava vinculada a 9 equipes. Todas as equipes ofereciam grupos
voltados para atenção de problemáticas da diabéticos e hipertensos e

1011
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pessoas que faziam uso de medicamentos psicotrópicos (saúde mental).


Diante deste contexto, a equipe NASF-AB decide sugerir, nas reuniões
de matriciamento, outras abordagens que estivessem alinhadas às
diretrizes da ESF. A primeira mudança ocorreu na atividade coletiva
chamada “grupo de psicotrópicos”. Acontecia uma vez por semana sem
dinâmica de conversa, basicamente os usuários ficam sentados em roda
esperando o enfermeiro e médico fazer a renovação da receita. Em
outras, o enfermeiro ou técnico de enfermagem traziam temas diversos
para discussão. Tendo em vista a formação de uma das integrantes do
NASF-AB em TCI, foi sugerida a incorporação da técnica. A proposta foi
iniciada apenas em uma unidade como forma de observar a reação dos
profissionais e usuários. Com a aceitação, foi ampliada para as outras
unidades que manifestaram interesse. O grupo de TCI acontecia uma vez
por semana, em UBS diferentes com duração de 1h30. Frequentam
pessoas em sofrimento mental leve, comunidade e profissionais.
Repercussões e considerações finais: A mudança nos grupos de saúde
mental e até o nome dele oportunizaram autonomia e produção
corresponsável. O usuário passivo passa a ter voz e refletir sobre as
coisas do seu pertencimento que lhe traziam significado, emoção e
direitos. Denota-se que tanto as mudanças que fazem a diferença como
o fortalecimento e construção de rede abrem caminho para
autoconfiança e desejo de movimentar-se, ressignificando o cotidiano.
Para além do um espaço seguro de fala, a TCI oportuniza construção de
identidade cultural e cidadã, uma vez que, em seu próprio formato,
operacionaliza vivências representativas da sociedade. Observa-se
interesse em organizar sua vida, por meio do trabalho, família e
amizades.

1012
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental na gestação: orientação de gestantes, alunos


e profissionais da atenção primária por meio de podcast

Luis Henrique Rodrigues dos Santos


Prefeitura Municipal de Bragança Paulista

Beatriz Gomes Valença


Universidade São Francisco – USF

Apesar da Organização Mundial de Saúde reconhecer e associar, desde a


sua constituição na década de 1940, o estado de bem-estar mental e
social ao bem-estar físico, ainda nos dias atuais a inclusão da saúde
mental nas consultas de pré-natal realizadas pela atenção primária
parece ser um desafiono conceito de saúde. Esse fato já pode ser
constatado pela necessidade de abrir um parêntese para discussão
desse tema, considerado uma lacuna, em meio às tantas reuniões,
grupos ou rodas de conversa que são feitas nas unidades de saúde
visando reduzir as complicações durante a gestação, parto e puerpério,
e consequentemente contribuir para redução da morbi/mortalidade
materno infantil. Com objetivo de fomentar a orientação das futuras
mães, alunos universitários, profissionais da rede de atenção primária, e
ainda estimular o debate da saúde mental no meio acadêmico, pensou-
se em construir um podcast cujo conteúdo viesse a incluir a temática
Saúde Mental nas ações de prevenção, promoção e recuperação da
saúde das mulheres em fase gestacional. Essa demanda surgiu de uma
entre as regulares reuniões do Programa de Educação pelo Trabalho
para a Saúde (PET), Interprofissionalidade 2019-2021 – Prática
Colaborativa na Atenção Integral nos Ciclos de Vida. O PET-Saúde é uma
estratégia que busca ações para a transformação da formação
profissional em saúde, com maior integração entre ensino, serviço e
comunidade. Para a gravação do podcast, um profissional graduado em
farmácia especializado em saúde mentale atuante no Centro de Atenção

1013
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Psicossocial Álcool e Drogas do município de Bragança Paulista elaborou


e respondeu 10 questões, a partir da pesquisa de revisão bibliográfica
que resultou na seleção de 12 entre 44 artigos científicos publicados no
Brasil nos últimos 10 anos utilizando as palavras-chave gestação x saúde
mental. De tal pesquisa foi possível destacar os principais transtornos
que incidem no período gestacional e puerpério, bem como o seu
respectivo tratamento, a importância da farmacoterapia segura e o uso
de substâncias psicoativas, sempre visando o enfrentamento do estigma
social inerente à doença mental. O material foi divulgado e debatido no
meio acadêmico de onde surgiu a proposta de incluir não só o podcast,
mas toda a temática saúde mental na gestação em meio às consultas de
pré-natal da rede de atenção primária à saúde e na caderneta da
gestante. Acredita-se que a ferramenta que já gerou repercussão no
meio acadêmico possa ainda produzir um legado para o serviço que será
traduzido em benefício para a comunidade.

1014
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental na Policlínica Regional Dr. José Correia Sales: estratégia


de regionalização da Atenção Psicossocial em uma área
descentralizada de saúde no estado do Ceará

Francisco Anderson Carvalho de Lima


Universidade Federal do Ceará - UFC

Camila Mascarenhas Moreira


Malbia Oliveira Rolim Barbosa
Francisca Veronica Moraes de Oliveira
Adriano Rodrigues de Souza
Secretaria da Saúde do Estado do Ceará

Sergiana de Sousa Bezerra


Secretaria Municipal de Saúde de Apuiarés

Tauanaiara Nogueira de Morais


Secretaria Municipal de Saúde de Quixeramobim

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) constitui elemento estratégico


das Redes de Atenção à Saúde (RAS) na implementação da Política
Nacional de Saúde Mental e estabelece os pontos de atenção para o
atendimento de pessoas com transtornos mentais e com necessidades
de saúde decorrentes do uso de álcool e outras drogas no Sistema Único
de Saúde (SUS). Um dos desafios para a gestão e produção do cuidado
em saúde mental é a organização e regionalização dos serviços,
educação permanente e integração das redes de cuidado.
Neste sentido, a Coordenadoria de Políticas de Saúde Mental, Álcool e
Outras Drogas (Copom), da Secretaria Executiva de Políticas de Saúde
(Sepos) da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), vem
articulando parcerias político-institucionais e desenvolvendo ações na
Área Descentralizada de Saúde (ADS) de Caucaia, da Região de Saúde

1015
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Fortaleza. Verificou-se que nesta Região de Saúde, com relação à saúde


mental e atenção psicossocial, havia uma grande lacuna assistencial,
insegurança no manejo clínico e falta de integralidade entre as redes e
os níveis de atenção. Apresenta-se, assim, a experiência do projeto de
implantação de uma equipe regionalizada de Atenção Psicossocial na
Policlínica Regional Dr. José Correia Sales como estratégia de gestão
para ampliar o acesso e fortalecer a organização dos serviços de atenção
em saúde mental de maneira regionalizada em quatro municípios de
pequeno porte que não dispõem de serviços de atenção psicossocial
especializada. Através da experiência de implantação do projeto se
obteve como resultado a ampliação do acesso aos cuidados em saúde
mental, através da assistência multiprofissional especializada em
interface com a Atenção Primária à Saúde (APS) através do atendimento
integral a 94% de toda a demanda reprimida; educação permanente em
saúde mental, atenção psicossocial, intersetorialidade e cuidado em
rede de todos os profissionais da APS dos territórios envolvidos;
constituiu-se referência regional para assistência especializada em saúde
mental; desenvolveram-se processos de regulação municipais,
referentes ao gerenciamento dos cuidados em saúde mental, no âmbito
da municipalização da saúde; e se fortaleceu a gestão municipal em
saúde mental através da constituição de profissionais de referência para
gestão da clínica nos territórios em interface com a equipe
regionalizada. Pequenos municípios que não dispõem de serviços do
componente de atenção psicossocial especializado da RAPS apresentam
verdadeiros nós críticos para a garantia do acesso e resolubilidade em
saúde mental, exigindo maiores esforços e planejamento das gestões
em saúde no SUS. A implantação de estratégias de regionalização da
atenção psicossocial se fazem relevantes e mostram-se com grande
potencial, tendo em vista a necessidade de articulação político-
institucional entre atores e entes federados diversos. Considerando a
relevância e potencialidade da APS, a articulação entre os níveis de
atenção diversos com foco no modelo de atenção territorial e
comunitário com primaziada APS se faz necessária. Considera-se que o

1016
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

projeto apresentado realizou satisfatoriamente a operacionalização do


cuidado em saúde mental no âmbito da APS e, por conseguinte,
configurou um avanço em termos de modelo de atenção, pois alçou
desdobramentossignificativos acompanhado por mudanças
consideráveis nos processos de trabalho em saúde.

1017
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental nas Unidades de Saúde da Família (USFs)

Sayonara Neves Barbosa Gomes


Yasmin Maciane da Silva
Universidade Federal de Alagoas – UFAL

A conquista do SUS, das políticas decorrentes dele e a inserção de


políticas de saúde mental deram-se a partir de lutas e disputas
ontológicas, epistemológicas, éticas, políticas e econômicas, por meio da
organização coletiva em torno da pauta da saúde. O objetivo do
presente resumo é analisar como se dá o cuidado à saúde mental nas
unidades de saúde de Atenção Básica em dois municípios do estado de
Alagoas. Dessa forma, por meio da observação do espaço físico, de
conversas com as/os profissionais das unidades de saúde, bem como
com usuárias/os da mesma, busca-se analisar as disputas
ontoepistemológicas e ético-políticas que se dão nestes
espaços/cenários. A discussão do respectivo trabalho gira em torno da
indagação: “Como essas instituições produzem simbólica e
materialmente saúde mental em seus territórios?". Assim, pretende-se
refletir a partir de componentes teóricos e daqueles observados no
campo, o cuidado à saúde mental na Atenção Básica nos municípios de
Satuba e Boca da Mata. As Unidades de Saúde da Família (USF) visitadas
atendem cerca de 800 famílias cada. Utilizando-se de estratégias de
organização distintas, as unidades de Satuba e Boca da Mata atendem,
respectivamente, por demanda espontânea e demanda programada.
Por meio dos relatos de funcionárias/os, gestoras/es e usuárias/os das
respectivas USFs, nota-se a reprodução do modelo tradicional de
atendimento. Além disso, as ações são voltadas ao atendimento
individual, com o foco no tratamento medicamentoso e ausência da
interprofissionalidade, visto que as consultas, vacinas, curativos e as
visitas domiciliares são próprias de determinadas/os profissionais, assim
como o cuidado em saúde mental, visto como função apenas da/o

1018
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profissional da Psicologia e/ou Psiquiatria. Assim, o CAPS é colocado


como o único espaço de cuidado à saúde mental, de modo a reproduzir
uma lógica manicomial, em que a/o usuária/o é passiva/o no processo
saúde-doença, e que precisa se adequar à norma do que é considerado
saúde. Observa-se que os serviços acabam funcionando isoladamente,
pois não há uma relação de trabalho em rede. Isso se reflete na ausência
de discussões acerca da saúde mental, além da escassa participação no
Conselho Gestor de Saúde. Aponta-se, então, para a necessidade da
criação de espaços que fomentem o empoderamento das/os
usuárias/os, assegurando a emancipação política dos corpos e
participação social nas atividades das unidades, de modo a trabalhar
para o fortalecimento do Conselho Gestor das instituições,
possibilitando, assim, a descentralização e a cogestão dos espaços de
produção de saúde. Sendo assim, para além de uma
desinstitucionalização referente aos aparelhos do Estado, propõe-se
uma mudança epistemológica na nossa práxis, bem como a construção
de uma contra-hegemonia aos interesses político-econômicos que
controla os corpos, especialmente os femininos. Conversar com
profissionais da saúde e usuárias/os colocou estas pessoas como autoras
na construção deste trabalho. Além disso, viu-se o quão é necessária a
participação popular nos serviços de saúde e, portanto, práticas
profissionais que fomentem o empoderamento das/os usuárias/os.

1019
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental no IF Sertão-PE: expressões, escuta e transformação

Érika Vanessa Soares Freire


Nathan Oliveira Medrado
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão
Pernambucano - IF Sertão-PE

Setembro chegou e com ele tantos outros fenômenos... Uma nova


estação, um novo ciclo, alguns movimentos, muitos afetos, tantas
mudanças e outras histórias. É na cadência repetida do cotidiano que,
mesmo sem que se perceba, os encontros ocorrem, como numa dança,
no ritmo dos prazos, no compasso do trabalho, na clave da vida. Mas
tempo da vida não se repete. Cada dia, cada mês é único. Então, o que
há de singular neste mês? Como nos demais, há passos que só o toque
dos dias define, assim como com quem se dança e onde se dança.
Assim, em 2019, o IF Sertão-PE Campus Santa Maria da Boa Vista
promoveu o seu Setembro amarELO. Impulsionada pela importância de
se abordar a saúde mental na escola, uma comissão responsável -
composta por docentes, técnicos (psicóloga e enfermeira) e estudantes -
articulou parcerias (com cinco projetos em saúde mental do Campus,
Grupo Expressart coordenado pela docente de artes e demais
profissionais da escola) que promoveram rodas de acolhimento em 15
turmas, incluindo as modalidades do Ensino Médio Integrado (6), Proeja
(1), Subsequente (7) e Superior (1). Essas ações foram impulsionadas
pelo encontro com os servidores, convidados por cada turma a
desenvolver ações que abrangessem uma discussão ampliada quanto à
saúde mental, de modo coletivo, afetuoso e acolhedor, buscando o
exercício do cuidado mútuo, do elo, do vínculo e da escuta enquanto
possibilidade de transformar vidas. No “Espaço de criação coletiva: no
ELO há escuta”, os participantes refletiram e planejaram suas ações a
serem desenvolvidas ao longo do mês naquelas turmas a partir de que o
vínculo fora acionado pelos convites encaminhados por cartas

1020
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

produzidas pelos próprios estudantes da comissão. Após as rodas, e


para finalizar o mês de referência, o encontro “Saúde Mental:
expressões, relatos e transformação” compartilhou com a comunidade
escolar a dramatização Quero viver do Grupo Expresart, além das
vivências obtidas e relatadas por seus mediadores. Foi perceptível a
participação ativa da comunidade escolar, excepcionalmente dos
estudantes que compreendiam a relevância da saúde mental na escola e
desejavam instigar e expandir a necessidade de abordá-la nesse
contexto social. Neste Setembro amarELO, a escuta e a parceria
formaram outras cores compostas pelo conjunto, servidorxs e
estudantes, uma nova melodia para o encontro diário na escola – pois
como canta Mestrinho “não existe uma vida sem dor, sem ilusão, sem
transitar pelo sofrer”. O IF Sertão-PE, enquanto campo da existência,
mostrou que não se trata apenas do lugar de produção de saber e,
quiçá, do sofrimento, mas também do cuidado, que, seguramente,
precisa se expandir para além dos setembros.

1021
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental no Sistema Penitenciário: uma revisão integrativa

Lidianne Maria Dantas


Ministério da Justiça

A Organização Mundial de Saúde compreende que a saúde mental é um


estado de bem-estar social onde o indivíduo exprime as suas
capacidades, enfrenta os estressores normais da vida, trabalha
produtivamente e de modo frutífero, além de contribuir para a sua
comunidade (WHO 2001). Neste aspecto conceitua-se a saúde mental
de forma ampliada e para além da limitação do tema aos transtornos
mentais e patologias. Este estudo tem como objetivo conhecer as
temáticas apresentadas pelas pesquisas com o tema “Saúde Mental no
sistema penitenciário”, publicadas no portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
nos últimos cinco anos. O procedimento metodológico adotado foi a
revisão integrativa que consiste em uma análise de pesquisas relevantes
por meio do acesso à síntese do conhecimento produzido sobre um
determinado assunto. Isso também permitiu apontamentos das lacunas
existentes que podem ser preenchidas com os novos estudos como
apontam os autores Souza, Silva e Carvalho (2010). A busca inicial
encontrou 42 artigos científicos publicados com o descritor “Saúde
Mental no Sistema Penitenciário” que foram avaliadas por pares, nos
últimos cinco anos. A partir da leitura dos resumos constatou-se que
apenas seis produções científicas se debruçaram acerca da saúde mental
no sistema penitenciário - as 36 produções restantes abordaram outras
temáticas. A partir do conteúdo selecionado, os seis artigos foram lidos
e analisados e criou-se um banco de dados com as informações mais
relevantes para a pesquisa. A amostra foi examinada a partir da
categorização de temas inerentes à saúde mental. Constatamos que os
estudos abordaram os temas à luz da luta antimanicomial e trouxeram a
discussão da desinstitucionalização dos hospitais de custódia na ótica

1022
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

dos direitos humanos. Outro artigo objetivou o estudo da prevalência e


os fatores associados ao transtorno mental das pessoas privadas de
liberdade, além da concepção discursiva/subjetiva da demanda em
saúde mental, bem como a análise das atividades de promoção da saúde
mental desenvolvidas na prisão. De modo geral, a problematização dos
estudos assume o papel da pesquisa em visibilizar a questão da saúde
mental no sistema penitenciário, sendo este um dos objetos de estudos
mais complexos da atualidade. Salientamos que o Brasil possui 773 mil
pessoas em situação de privação de liberdade. Em contrapartida, ainda
não se efetivou a política em saúde mental de promoção e prevenção
dos agravos psíquicos oriundos dos efeitos da privação de liberdade. Por
fim, constatamos que existem poucas pesquisas que tratam da Saúde
Mental no Sistema Penitenciário, por este motivo existem inúmeras
lacunas a serem preenchidas por novos estudos e pesquisas,
especialmente para subsidiar as políticas setoriais direcionadas às
pessoas privadas de liberdade.

1023
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental, determinação social da saúde e perspectiva


interseccional: práticas comunitárias e formação profissional em
extensão universitária

Rita de Cássia Andrade Martins


Universidade Federal de Jataí – UFJ

O projeto de extensão “InterAções: Psicologia tecendo redes e saberes”


está vinculado ao Serviço de Psicologia Aplicada/SPA da UFJ e tem como
referência teórico-prática a Psicologia Comunitária e suas interfaces com
a saúde coletiva, em especial a área de promoção da saúde, a partir de
uma perspectiva interseccional. O projeto tem por objetivo
problematizar a cada ciclo um determinante social da saúde e seus
efeitos e relações com a saúde mental das pessoas. Ele se desenvolve
em ciclos semestrais que iniciam com mobilização comunitária e seguem
junto com a comunidade nas etapas de planejamento/organização,
execução e sistematização. O projeto tem duas frentes: formação
profissional e intervenções comunitárias, ambas a partir da metodologia
participativa de viés feminista. A equipe base do projeto é
interdisciplinar, o que permite a estudantes de Psicologia uma vivência
coletiva e dinâmica, que incentiva o compromisso ético e político com a
comunidade. Além das supervisões semanais, o grupo se reúne
quinzenalmente para discussão de textos e fundamentação teórica.
Inspirada na pesquisa-ação, a equipe é incentivada a utilizar caderno de
campo para registro e reflexão sobre sua prática cotidiana junto ao
projeto. Além da equipe base, a cada ciclo somam-se organizações da
sociedade civil, voluntárias/os, entre outras parcerias locais. Os ciclos
culminam em atividades culturais públicas, que mesclam os saberes
popular e acadêmico, incentivando a mobilização comunitária. Após o
encerramento do ciclo, todo material sistematizado ao longo do
semestre é reunido e a experiência analisada em suas dimensões
vivenciais, metodológicas, de produção de conhecimento e possíveis

1024
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desdobramentos resultantes da produção coletiva. O ciclo inaugural


aconteceu em 2016 e teve como temática “Envelhecimento e qualidade
de vida”. Contou com a parceria do projeto Vila Vida, da Orquestra de
Violeiros de Jataí e da coordenação da área de saúde da pessoa idosa do
Ministério da Saúde. O segundo ciclo teve início no final de 2016 e se
estendeu até maio de 2017. Trazendo como tema a luta antimanicomial,
contou com a parceria da Associação Conviver e da rede de saúde
mental local. O terceiro ciclo teve como tema racismo e saúde mental.
Aconteceu no segundo semestre de 2017 e teve seu encerramento em
novembro, com atividades em homenagem ao dia da Consciência Negra.
O quarto ciclo teve como tema saúde mental e gênero e se desenvolveu
a partir três encontros formativos. Contou com a presença de pessoas
ligadas à militância feminista e aos estudos de gênero. O quinto ciclo
teve como tema “A saúde que temos e o SUS que queremos”, reuniu
quatro encontros formativos preparatórios para a etapa municipal da
conferência nacional de saúde. O ciclo aconteceu no segundo semestre
de 2018 e se estendeu até o início de 2019. Neste ciclo houve parceria
com o Conselho Municipal de Saúde e com a Associação Conviver. Além
de produções científicas, o projeto, que encerra suas atividades em
2020, deixa como desdobramentos: o Obsam/UFJ e as ações de
extensão AfroAfetos, reExistências; ComPsi; e Letras Livres, todos em
formato on-line, por conta da quarentena.

1025
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde Mental, Direitos Humanos e Atenção Psicossocial

Amanda Gonçalves da Silva


ICSA (UFOP)

Ane Karoline Rodrigues Frois


EFAR (UFOP)

Maria Luísa de Lima César


EDTM (UFOP)

Christine Vianna Magalhães


CAPS IJ (Ouro Preto)

Elisa Maria Pedrosa da Fonseca Rios


CAPS II (Ouro Preto)

Marinalva Maria de Brito


EEF (UFOP)

Letícia Rodrigues de Lima


CAPS AD (Ouro Preto)

Taciana de Oliveira
Atenção Secundária (Ouro Preto)

Paula Oliveira Alves de Brito


RAPS (Ouro Preto)

Aisllan Diego de Assis


EMED (UFOP)

1026
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O curso de extensão “Saúde Mental, Direitos Humanos e Atenção


Psicossocial” integra o programa de extensão “A grande roda da saúde
coletiva: cuidado, acolhimento e saúde mental” da Escola de Medicina
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em parceria com a Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS) do município. O objetivo do curso é
proporcionar formação básica em saúde mental e atenção psicossocial
dos trabalhadores e estudantes da rede pública de saúde, educação,
assistência social e outras, possibilitando reflexão crítica dos saberes no
campo da saúde coletiva e saúde mental; preparo para práticas junto às
pessoas em sofrimento mental e formas de articulação dos serviços de
saúde mental com os territórios da cidade. O curso foi construído tendo
como fundamento os princípios do cuidado integral em saúde, do
acolhimento como estratégia de transformação e humanização das
práticas de saúde no SUS, da Reforma Psiquiátrica Brasileira e da luta
antimanicomial no Brasil e América latina. A 1ª edição do curso foi
realizada em 2019 de forma presencial, adotando as práticas grupais na
experiência educativa na forma das rodas formativas, tendo formado 45
pessoas. Em 2020, com a deflagração da pandemia de Covid-19, o curso
foi reformulado na modalidade da Educação a Distância (EaD). Essa
reformulação possibilitou a realização da sua 2ª edição do curso por
meio de videoconferências com especialistas convidados transmitidas
ao vivo por canal de vídeo aberto e público; leituras de textos e outros
materiais disponibilizados em plataforma educativa virtual e visualização
de vídeos e filmes em aplicativos dos aparelhos telefônicos celulares e
canais de exibição da internet. O curso tem carga horária de 60 horas,
divididas em 5 atividades mensais interligadas de cunho teórico e
prático chamadas rodas formativas virtuais. Para acompanhamento e
apoio dos cursistas ao longo de todo curso foi construído o processo de
tutoria realizado por seis mulheres trabalhadoras e gestoras da RAPS de
Ouro Preto. A avaliação e aplicação dos conteúdos do curso se dão pela
elaboração das atividades de expressão pelos cursistas, que são
atividades de vários formatos (artigo, imagem, música, poesia, vídeos
entre outros) elaboradas pelos cursistas e tutoras, conjuntamente. São

1027
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

no total 120 pessoas renovando e se capacitando para o cuidado de si e


do outro, replicando o conhecimento obtido nas cinco rodas formativas
virtuais, com os temas: Saúde Mental na pandemia: saberes e práticas
do cuidado; Saúde Mental das mulheres; Abordagens do suicídio:
cuidado, acolhimento e prevenção; Saúde Mental das crianças e
adolescentes: cuidado e acolhimento e Racismo e Saúde Mental.
Pretende-se que os participantes apoderem-se de saberes e práticas que
possibilitem identificar necessidades territoriais, planejar, organizar e
executar ações e projetos de saúde mental, a partir dos paradigmas
propostos pela Reforma Psiquiátrica Brasileira. O curso de extensão
nasceu do diálogo e alianças na luta e defesa dos direitos humanos. Por
isso, propõe-se como estratégia educativa e formadora para
fortalecimento dos compromissos e responsabilidades de todos na
construção da política de saúde mental em Ouro Preto, Minas Gerais.

1028
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental: o papel da arte para o uso sensível dos sentidos

Gabriela Garcia de Carvalho Laguna


Ricardo Evangelista Fraga
Universidade Federal da Bahia - UFBA

Introdução: A subjetividade humana é componente no processo saúde-


doença e a arte é uma ferramenta potente para acessá-la na promoção
de autocuidado e de uma assistência integral. Alinhada a isso, a
Universidade Federal da Bahia dispõe da disciplina Cultura, Arte e
Natureza, promotora de experiências artísticas e de eutonia - método de
educação somática - para a formação atitudinal do estudante de
Medicina no caminho para a profissão. Esse trabalho objetiva relatar a
experiência da discente em uma dessas aulas, enfatizando sua
relevância para a saúde mental. Descrição da experiência: O docente
orientador iniciou a atividade relatando uma memória de infância que
foi significativa para se tornar quem é hoje, enquanto caminhou em
direção a um estudante, mantendo contato visual, e assumiu seu lugar
na roda. Depois, o sujeito para quem o olhar foi direcionado andou em
direção a outro, relatou sua experiência e assim seguiu-se até que todos
participassem. A segunda dinâmica levou a atenção para o corpo através
do toque: cada integrante do grupo envolveu a si próprio com as mãos,
a fim de conhecer sua dimensão física e a partir disso reconhecer o
espaço do outro. No terceiro momento, os discentes foram instruídos a
caminharem e encontrarem um parceiro apenas com o olhar. As duplas
trocaram olhares antes que uma pessoa fosse vendada e a outra a
conduzisse pelo espaço, depois os papéis se inverteram para que todos
experimentassem o guiar e ser guiado. Por fim, realizou-se uma roda de
conversa, com o direcionamento da leitura, para consolidar o
conhecimento através de interações entre a experiência vivida e os
princípios disponíveis na literatura para sistematização. Repercussões: A
escuta sensível dos relatos permitiu conhecer particularidades dos

1029
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sujeitos e percebê-lo em suas perspectivas próprias e únicas. Já manter


o contato visual foi desafiador, desviá-lo é uma forma de tentar evitar
ser visto e revelar inseguranças. Apesar disso, a confiança e o vínculo
cresceram durante as dinâmicas e as interações tornaram-se
progressivamente mais fluidas. Considerações finais: O uso sensível dos
sentidos construiu confiança e empatia enquanto atentava para o valor
do autocuidado e do vínculo. Essa experiência foi, portanto, significativa
porque a prática médica comumente envolve o treino de um olhar
objetivo e impessoal e, em contrapartida, ela estimulou uma visão
biopsicossocial do sujeito, que não pode ser desvinculado de sua
subjetividade no contexto de atendimento.

1030
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

“Se ame e seja amor”

Janaina Vasconcelos Rocha


Coren

Considerando a importância de aproximar profissionais da saúde e


pessoas que apresentem comportamento com risco de suicídio, surgiu o
Projeto Setembro Amarelo – Se Ame e Seja Amor, realizado nos setores
da saúde e educação em parceria com a Escola Técnica em Enfermagem
Oseas Andrade (ETEOA) no município de Iguaí, Bahia, tendo como
perspectiva estimular ações intersetoriais de promoção da saúde,
compreendendo que desde a formação os profissionais devem aprender
a lidar com os problemas da sociedade e criar estratégias de
fortalecimento para enfrentar esse desafio. É sabido que o incentivo
institucional é fundamental, mas não suficiente para garantir a
autoconfiança dos profissionais, já o envolvimento em estratégias como
essa oferece resultados recíprocos a todos. O projeto foi executado
através da parceria entre a ETEOA e a Rede de Atenção Psicossocial do
município de Iguaí, sendo desenvolvido nos meses de setembro dos
anosde 2018 e de 2019, onde psicólogos da rede, docentes e discentes
da ETEOA realizaram palestras em escolas públicas municipais sobre
como identificar possíveis riscos e como buscar ajuda e abordam o tema
em Salas de Espera das Unidades Básicas de Saúde e Hospital do
território, oferecendo suporte emocional na modalidade de Plantão
Psicológico aos pacientes. A culminância do projeto aconteceu na ETEOA
através de salas temáticas sobre álcool e outras drogas; depressão e
prevenção ao suicídio; automedicação; autovalorização e autocuidado,
aberta a população em geral. Com o desenvolvimento do projeto
observou-se o envolvimento da comunidade nos espaços, sendo
possível ampliar o debate sobre a saúde mental e prevenção do suicídio.
Docentes das escolas beneficiadas relatam melhoria da autoestima e
autocuidado dos alunos e nos plantões psicológicos realizados nas

1031
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Unidades Básicas de Saúde e Hospital, bem como nas atividades


desenvolvidas na ETEOA, pacientes e alunos compartilharam vivências
de depressão e tentativas de suicídio deixando relatos de fortalecimento
após o projeto. Desde então não houve registros de tentativa de suicídio
no município. Em decorrência dos resultados positivos alcançados, o
projeto tem previsão de execução anual, não sendo executado esse ano
devido à pandemia do coronavírus. O desenvolvimento de experiências
como essa evidencia que as ações educativas possibilitam à população
ter contato com os temas desconhecidos, ampliando o entendimento e
reflexão dos mesmos, além de criar estratégias individuais de
fortalecimento, permitindo também que profissionais de saúde
entendam o suicídio não apenas como uma questão individual, mas
enquanto um problema social que requer soluções de enfrentamento
coletivas, contemplando diversos atores sociais.

1032
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Setembro Amarelo em Cuiabá: Unindo projetos


em prol da valorização da vida

Patrícia Cristiane Gibbert


Luanne Marcelle Vaz Figueiredo
Lucas Silva Dias
Camille Francine Modena
Vanessa Ferraz Leite
Larissa de Almeida
Samira Reschetti Marcon
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

Introdução: O comportamento suicida é conceituado como um


continuum que perpassa desde ideias de se matar até tentativas
autolesivas que podem ou não culminar no desfecho do suicídio. Este é
considerado um ato intencional praticado pela própria pessoa, de modo
proposital e consciente, utilizando um método que considera ser fatal.
Anualmente este fenômeno mundial contabiliza em torno de 800.000
óbitos, um caso a cada 40 segundos. Nesse contexto, a campanha
“Setembro Amarelo” foi criada em 2014, com objetivo de reduzir tais
estatísticas, pois a identificação precoce desse comportamento contribui
substancialmente para a sua prevenção. Em consonância com a
campanha, atividades de valorização da vida, orientação e acolhimento
se constituem estratégias eficazes para a redução dos índices
supracitados. O presente estudo objetiva relatar a experiência de
acadêmicos e profissionais de saúde na realização uma ação social de
prevenção do suicídio na comunidade. Experiência: Projeto realizado por
integrantes do Programa de Educação pelo Trabalho (PET-Saúde) -
Interprofissionalidade Saúde Mental, conjuntamente com o Núcleo de
Estudos em Saúde Mental (NESM) da Universidade Federal de Mato
Grosso e Centro de Valorização da Vida (CVV), no dia 31 de agosto de
2019, no Parque Mãe Bonifácia, Cuiabá, Mato Grosso. As ações visaram

1033
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

promover momentos de reflexão sobre a vida, divulgar informações


sobre os meios de prevenção do suicídio, orientar sobre serviços e
pontos de ajuda, bem como abordar e acolher a comunidade.
Inicialmente foi realizada uma prática de ioga, visando o relaxamento e
interação entre os participantes. Posteriormente, o CVV disponibilizou
escuta e apoio emocional às pessoas que desejavam expressar e
compartilhar seus sofrimentos. Paralelamente, pessoas no parque eram
abordadas para a difusão de informações por meio da fala, cartazes e
folders. Os cartazes traziam frases de alerta e motivacionais, além de
orientações e meios de encontrar ajuda de forma gratuita e acessível. A
dinâmica do espelho foi uma proposta que convidou os participantes a
pensar sobre si, com a finalidade de promover autoamor, autocuidado e
autoconscientização. A ação ainda ressaltou a importância de estar
atento aos sinais que indicam ideação suicida, como isolamento social,
lesão autoprovocada e frases como “quero sumir/morrer”. Alguns
participantes ofereceram abraços, buscando promover alegria e reflexão
sobre o autocuidado. Repercussões e resultados finais: A ação foi
concluída com êxito, visto a participação e a interação das pessoas. As
atividades foram bem avaliadas pelos seus integrantes e fez-se notória a
troca de conhecimentos e a educação em prol do bem-estar mental.
Outrossim, a participação dos voluntários do CVV disponibilizou escuta
qualificada e acolhimento às pessoas que necessitavam de um espaço
de fala. Diversos participantes procuraram informações e participaram
efetivamente das propostas do grupo, compartilhando a alegria de
receber gestos simples como abraços e reflexões sobre sua autoestima.
Portanto, foi perceptível a relevância social dessas ações, visto que as
pessoas tornaram-se mais sensíveis/atentas ao próximo, mais
esclarecidas sobre os serviços oferecidos gratuitamente para casos de
sofrimento mental, além de esclarecer dúvidas pertinentes sobre a Rede
de Atenção Psicossocial.

1034
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sistematização de intervenções da Liga Acadêmica IntensaMente no


enfrentamento e prevenção do adoecimento mental universitário

George Luiz Néris Caetano


Daniela Oliveira Borges
Lucas Oliveira Torres
Vitória Reis Soares
Shaylla Christina de Freitas Nóbrega
Roberto Rogelio Ferreira de Menezes Filho
Ana Claudia Afonso Valladares Torres
Universidade de Brasília - UnB

Introdução: Este resumo sistematiza três ações realizadas pela Liga


Acadêmica IntensaMente, centradas na qualidade de vida e bem-estar
da comunidade acadêmica Universidade de Brasília. Tais ações surgem
como respostas às demandas por cuidados em Saúde Mental que a
comunidade acadêmica apresenta ante os desafios do Ensino Superior.
Descrição da experiência: O cotidiano acadêmico impacta na Saúde
Mental e física, dessa forma, a Liga Acadêmica IntensaMente desenha
coletivamente estratégias e práticas mitigadoras de adoecimento
mental, focada na promoção de bem-estar e qualidade de vida a partir
de ações conscientizadoras e autocríticas. Dentre as ações, o
“CineLoucura”, o “CaféComLoucura” e o “Boletim IntensaMente” fazem
parte do escopo de atividades realizadas em grupo e mediadas por
especialistas. Utilizando-se de obras cinematográficas, o CineLoucura é
um momento de resgate autobiográfico que compreende a partilha das
experiências pessoais de vida, correlacionando-as às do filme exibido. O
fundo teórico desta atividade revela que é possível, a partir das
representações sociais e culturais expostas na obra, apontar
entendimentos e reflexões multifatoriais da saúde mental, permitindo
ao participante, por meio da obra cinematográfica, a percepção das
várias facetas dos transtornos mentais, auxiliando em abordagens

1035
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

breves, além de recurso didático para exposição temática. O


CaféComLoucura é um momento de reflexão teórico-científico que
abraça demandas espontâneas do grupo, cuja estratégia está na escuta
ativa e acolhedora mediada, além da discussão de textos com
apontamentos antiestressores. O Boletim IntensaMente é uma ação de
informação coletiva, alicerçada no tripé: autocuidado, atualização e
diversão. Democratizado nas redes sociais da Liga, o Boletim é
caracterizado pela oferta de conteúdo gratuito e livre sobre práticas e
ações complementares, como a automassagem, meditação, dicas
culturais e teóricas, contando também com videoconferências e rodas
de conversa on-line sobre temáticas da Saúde Mental. Conclusão:
Estratégias coletivas de cuidados em saúde mental são demandas
pontuais da comunidade universitária e corroboram para mitigar
transtornos mentais e o suicídio no ambiente acadêmico, além de
contribuir também na promoção do autocuidado na comunidade extra
acadêmica, como no caso dos seguidores das redes sociais.

1036
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sofrimento biopsicossocial de idosos institucionalizados: relato de


experiência da ILPI em Jequié, Bahia

Nislayne Damaceno Barbosa


Carla Sales Gonçalves Silva
Elienai Passos Coelho
Joyce Ranny Miranda Sales
Anna Angélica Nascimento de Oliveira
Elzeni Damasceno de Souza
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Jequié

É relevante abordar a respeito da vivência dos idosos em Instituições de


Longa Permanência (ILPI), com ênfase nas ações sociopolíticas e suas
consequências na saúde mental, pois os idosos institucionalizados
sofrem impacto biopsicossocial, tornando-se dependentes de auxílios
externos. Diante disso, o presente trabalho tem o intuito de apresentar
um relato de experiência realizado a partir do Estágio Básico III
(disciplina da grade curricular do curso de Psicologia da UNIFTC) na
Fundação Leur Britto, localizada no município de Jequié, Bahia, com a
carga horária de 20 horas, que foi distribuída no período de três
semanas, tendo como objetivo a prática de observação não estruturada
e não intervencionista. Notou-se que a instituição abrigava mais de 60
idosos, com a faixa etária compreendida entre 56 a 96 anos, e possuindo
divisões de alas feminina e masculina e periodicidade para cumprimento
de tarefas como refeições e atividades de lazer. Na instituição existem
cuidadores que prestam serviço em tempo integral e se dedicam
atendendo as necessidades particulares de cada idoso, como por
exemplo, enfermeiras, cuidadores voluntários, a saber, as irmãs da
instituição (as freiras) e funcionários da instituição. Através das visitas
realizadas, foi possível analisar a rotina destes idosos, sua perda de
identidade, o estigma dado a eles e as relações interpessoais
constituídas no local. Quando o idoso é colocado dentro de um abrigo, a

1037
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sua história é deixada para trás diante de uma nova realidade ao qual
ele precisa se adaptar. Os institucionalizados agora se tornam uma
família, e foi possível observar o cuidado de alguns idosos mais lúcidos
em relação aos mais debilitados. Entretanto, eles revelaram níveis de
insatisfação e tristeza no que diz respeito ao contexto familiar, à falta de
autonomia, à existência de doenças e outras limitações físicas. Tais
fatores são contribuintes para a construção do sofrimento psíquico e
seu impacto na rotina social da terceira idade.

1038
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sofrimento psíquico do trabalhador de Saúde:


uma possibilidade de escuta

Karla Corrêa Lima Miranda


Flaubênia Maria Girão de Queiroz
Hospital São José - HSJ

Em um dos textos de Freud escrito em 1930, o autor pontua que o


sofrimento ameaça o ser humano a partir da decadência do próprio
corpo e à sua dissolução, das forças esmagadoras da própria natureza e
da relação do ser humano com outros. O sujeito do nosso estudo é o
profissional de saúde que trabalha em hospital com outros sujeitos:
colegas, pacientes e familiares. Dizendo de outro jeito, com colegas,
pacientes e seus acompanhantes, que muitas vezes provocam uma
gama de afetos de várias ordens como também lidam diariamente com
o adoecimento e o sofrimento de sujeitos que padecem. O objetivo da
proposta e da aposta é promover saúde mental e criar um espaço de
fala e escuta ao trabalhador de saúde. Como metodologia partimos do
conceito de itinerância como uma estratégia de operacionalizar o
cuidado no território e algumas implicações éticas, teóricas e políticas. O
conceito de itinerância passa pela ida ao local de trabalho dos
profissionais proporcionando uma a escuta qualificada nos diferentes
espaços, reinventando a cada escuta sustentada no dispositivo da
palavra, a recriação e leitura dos impasses simbólicos que cada sujeito
transforma em sintoma quando é chamado a sustentar uma posição
subjetiva, que pode ser traduzida na maneira como ele se relaciona com
seu sofrimento. O local da intervenção é um hospital de doenças
infecciosas na cidade de Fortaleza, Ceará. A itinerância pensada aqui,
como a ida até os locais de trabalho dos profissionais de saúde no
território hospitalar com ênfase em doenças infecciosas, como forma de
produzir um cuidado implicado. Elegemos um dia na semana para irmos
até as unidades onde o trabalhador atua. Em cada turno vamos a uma

1039
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

unidade, a roda de conversa dura em média 30 minutos, depois


transcrevemos o encontro para analisarmos os ditos e o dizer de cada
encontro. O fato que mais aparece no discurso dos profissionais de
saúde é o mal-estar gerado pelos colegas de outras unidades que não
conhecem suas atividades e as desvalorizam causando uma ferida
narcísica que reverbera em conflitos e dificuldade na realização de ações
solidárias. Acreditamos que o movimento de ida até os setores de
trabalho dos profissionais, que intitulamos de itinerância, foi uma forma
de cuidado implicado ao profissional que cuida e muitas vezes não é
cuidado. Propomos um outro momento que chamaremos: “Minha casa,
sua casa” onde visitas intersetoriais serão promovidas, no sentido de
trabalhar a idealização que os sujeitos têm que sempre o “jardim” do
outro é melhor.

1040
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sofrimento psíquico puerperal e ausência de cuidado no SUS

Natália Augusto Nunes Gil


Fabíola Zioni
Aline Conegundes Riba
Universidade de São Paulo - USP

Ao observar o cuidado à mulher na gestação e pós-parto, é possível


perceber as melhorias e os desafios trazidos pelo SUS. Através da
garantia de acesso ao pré-natal, o Brasil reduziu sua taxa de mortes
maternas em 43% desde a década de 1990 até 2013. Este dado é valioso
quando traduzido em número de vidas salvas, no entanto, as diretrizes
do Estado nos manuais técnicos são demasiadamente protocolares e em
nada visam se aproximar das pessoas e ajudá-las a produzir saúde. Na
prática, as consultas de pré-natal são oferecidas somente em horário
comercial, bem como os grupos de gestante ou outras estratégias de
cuidado, as relações entre equipes e gestantes tendem a ser autoritárias
e não é incomum a culpabilização da mulher quando da impossibilidade
de comparecer em seus atendimentos agendados. Não está
contemplado nenhum cuidado com a saúde mental destas mulheres,
quando muito, está citado que alterações psíquicas podem ocorrer. Na
experiência enquanto profissional de CAPS, de NASF e matriciadora de
saúde mental, deparei-me com muitas mulheres mães (puérperas) em
sofrimento psíquico. Em todos os serviços que trabalhei e nas redes que
eram compostas e compunham os mesmos, não há espaço para o
cuidado destas mulheres. A ausência de “um lugar” se dá pois o CAPS
atende transtornos mentais graves e persistentes, a atenção básica não
tem recursos suficientes e os ambulatórios de saúde mental oferecem
consultas espaçadas e com fila de espera. Assim, os casos de depressão
pós-parto, por exemplo, ficam no limbo, à medida que não são graves o
suficiente (a maioria) para estar no CAPS, mas demandam uma
intensidade de tratamento que não é oferecida nos demais dispositivos

1041
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

da rede de saúde. As mulheres não encontram acolhimento de suas


queixas, não são diagnosticadas, não conseguem acessar o cuidado que
necessitam e convivem com o sofrimento, tendo sua vida prejudicada e
o desenvolver de sua maternidade também. Desta forma, são
necessários projetos singulares de gestão, ou seja, a partir de um
conjunto de diretrizes formulado de maneira central, é preciso traçar
um plano para cada região de saúde. Considerando que saúde é política
e que, portanto, estarão em cena diversas forças e poderes, deve-se
considerar que atravessarão o planejamento das ações de saúde os
processos de (sub)financiamento federal, estatal e municipal, os
poderes instituídos em pessoas, instituições e movimentos sociais, os
interesses do capital e todo o contexto vivo daquela região. Não é
possível então, considerar que planejar as ações de saúde de uma
determinada região seja somente organizar normativamente e
burocraticamente como irão funcionar os protocolos estabelecidos nas
diretrizes nacionais. Não é possível considerar que regionalização da
saúde seja somente dividir em partes administrativas, pois para além
disso, é preciso estabelecer qual será o melhor modo de cuidar da vida
das pessoas; quais são as necessidades marcantes; quais são os
dispositivos que podem se aliar e quais precisam ser regulados de
maneira mais burocrática; como se constitui a rede e quais os caminhos
criados para acessá-la nos seus diversos pontos.

1042
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Sozinha ando bem, mas com vocês ando melhor: a experiência


de estágio supervisionado em Serviço Social I e II no CAPS II
Janser Carlos em Sergipe

Erimar Amara de Carvalho Pereira

O presente relato surge a partir das experiências vivenciadas nos


estágios supervisionados em Serviço Social I e II no Centro de Atenção
Psicossocial Usuário Janser Carlos de Oliveira Castro - CAPS II, no
munícipio de Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, no decorrer dos
anos de 2017 e 2018. O encontro com múltiplos usuários e suas
trajetórias, a práxis multiprofissional voltada a restabelecer a estas
pessoas as rédeas de suas vidas, o conhecimento de que é necessário a
matricialidade para o bom funcionamento dos serviços, as assembleias
dos usuários, a presença de familiares no cotidiano de trabalho, o
fortalecimento da economia solidária no espaço, o entrelaçamento com
o Conselho de Saúde, estabeleceram um divisor de águas na nossa
formação, elaboraram em nós uma necessidade de compartilhar e
construir junto com outros sujeitos a Luta Antimanicomial. Analisando
os registros produzidos no campo de estágio, como os relatórios,
anotações pessoais, a participação em seminários estudantis e a
produção acadêmica publicizada a partir desta experiência, decidimos
compartilhar com outros estudantes e profissionais da necessidade de
apreensão e valorização do papel do assistente social enquanto sujeito
ativo da luta antimanicomial, da construção de saberes dissidentes da
lógica medicamentosa e hospitalocêntrica presentes há anos nas
práticas psicossociais, nos espaços públicos e privados. Discussão esta
avivada no seio da categoria profissional e que amplifica-se na medida
que presenciamos as atrocidades cometidas pelo atual desgoverno nas
políticas públicas de saúde mental, visando o aprisionamento dos
sujeitos, encarceramento em massa de corpos, principalmente corpos
negros, a destruição total de subjetividades, semeando a desesperança

1043
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

em dias melhores. Compreendemos que as raízes do projeto neoliberal


brasileiro alastram-se, adensando os ataques e desmontes das políticas
públicas visando a precarização, terceirização e privatização de diversos
serviços e espaços institucionais, prezando a implantação de serviços
privados e o desmonte completo do Sistema Único de Saúde (SUS),
fortalecimento de ações de benesse em detrimento do investimento
esperado na Seguridade Social, a verdadeira mercantilização da vida,
construindo um exército de descartáveis num país de economia
periférica. O Serviço Social compromete-se com os valores encontrados
no Código de Ética de 1993, que norteiam uma ação profissional
vinculada à valorização dos sujeitos, da sua emancipação e a construção
de uma nova forma societária onde a equidade seja o horizonte. Desta
forma concebemos a ideia urgente de que a única maneira de
combatermos estas atrocidades é através do resgate das organizações
estudantis, profissionais e de movimentos de usuários e familiares,
reconstruindo a história da luta antimanicomial, prezando uma prática
multiprofissional, reavivendo saberes e analisando criticamente as novas
formas manicomiais introjetadas pelo neoliberalismo nas nossas práticas
e discursos.

1044
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Suporte mútuo e práticas de resistência: a


experiência de um coletivo de saúde mental potiguar

Carlos Eduardo Silva Feitosa


Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social – Natal

Hávilla Monalisa Silva de Oliveira


Marcélia Yasmin Damaceno Vidal
Maria Cecilia Pedrozo Nomizo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Nos últimos anos, acompanhamos ações sistemáticas de desmonte da


política de Saúde Mental e Direitos Humanos, decorrente da assunção
de forças conservadoras no cenário político-institucional brasileiro. Na
esfera das políticas públicas destaca-se, como corolário desse desmonte,
a Nota Técnica nº 11/2019, denominada “Nova Política de Saúde
Mental”, que rompe com os preceitos da reforma, deixando de lado
qualquer restrição absoluta ao internamento de crianças e adolescentes;
financia a compra de equipamentos de eletrochoque; institui as
comunidades terapêuticas na RAPS; reajusta valores das internações; e
defende a abstinência como principal método de redução de danos.
Frente a esse desmonte, encontramos a persistência de movimentos
sociais no campo da reforma psiquiátrica, produzindo resistência à
lógica manicomial. Desses, destacamos as ações de um coletivo potiguar
de usuários, familiares e apoiadores, fundado a partir da iniciativa
independente de usuários e profissionais de Natal, Rio Grande do Norte.
O relato de experiência trazida no presente trabalho pelos seus autores
traz a vivência de acompanhamento e participação nesse coletivo de
saúde mental, em decorrência da pesquisa de mestrado do primeiro
autor, que procurou mapear (a partir da história e memória) a produção
de resistência por meio da criação de redes de afeto e suporte,
referenciado nos estudos de Vasconcelos, sobre dispositivos associativos

1045
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

no campo da saúde mental, e autores da Esquizoanálise e da Análise


Institucional. Durante o acompanhamento dos encontros do coletivo
vimos operar a produção de um grupo de suporte mútuo, caracterizado
pela troca de experiências, pela ajuda emocional e a discussão de
estratégias diferentes e possíveis para problemas dos participantes. Os
integrantes desse coletivo partilhavam e acolhiam histórias e
experiências dolorosas de internações, do estigma da loucura, das
relações familiares conturbadas, produzindo espaços de acolhimento,
reflexão e ação coletiva. Os encontros propiciaram a criação de redes
diretas de afeto e de suporte coletivo, não mais baseadas no benefício
próprio, compartilhadas por todos, produzindo processos de cuidado.
Os efeitos desses encontros, do acolhimento entre participantes, não
ficaram circunscritos ao tempo e espaço das reuniões, assumindo uma
ação concreta no campo da saúde mental, como visto a partir do convite
feito pelo setor de Psicologia da Vara da Infância e Juventude que,
havendo identificado situações críticas em relação aos jovens internos,
requisitou uma mediação do coletivo entre a Fundase e a RAPS. Esse
convite permitiu a estruturação de um espaço formativo entre as
instituições, através de palestras do coletivo sobre os perigos da
manicomialização, e da apresentação de fluxos de rede de cuidados
possíveis, a partir do olhar dos usuários. A cartografia dessas ações de
suporte, acolhimento e cuidado entre os usuários do coletivo de saúde
mental, e das quais participamos como apoiadores, apontou para a
potência das ações micropolíticas de cuidado, que abarcam as
diferentes experiências cotidianas, ampliando a possibilidade de
subjetivação, em comparação ao modelo macropolítico (molar) rígido e
institucionalizado. Por meio da operação molecular de afetos, que
transversalizam os planos molares, fazendo fissura em determinados
saberes instituídos, encontramos ferramentas importantes de
enfrentamento ao processo institucional de contrarreforma
macropolítica que continua seu curso atual.

1046
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Surrealistas - Um relato de experiência sobre arte e saúde mental

Maria Edileuza Ribeiro Soares


SES-DF

Maria Edileuza Ribeiro Soares


Cibele Moutinho Santos
Laura Giovanini Lopes
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde

Introdução: A expressão artística, dentro do paradigma da inclusão


social, é um importante recurso produtor de vida, à medida que
contribui para a desconstrução de preconceitos e produção de sentidos.
As experiências com iniciativas de arte-cultura destacam-se como molas
mestras para os avanços no processo de desinstitucionalização,
provocando transformações nos modos tradicionais de inclusão e de
defesa dos direitos humanos dos indivíduos em sofrimento mental.
Objetivo: Relatar a experiência durante criação e implementação de
oficina terapêutica voltada para expressão artística e cultural no âmbito
da saúde mental. Método: As oficinas são realizadas por metodologia
participativa, a qual prevê o protagonismo dos usuários na elaboração
de estratégias de enfrentamento dos processos de saúde e doença por
eles vividos, bem como no reconhecimento de suas potencialidades.
Aplicado plano de ação, o qual compreende três etapas – oficina de arte
urbana, implicações psicossociais e atividades de teatro e flash mob.
Resultados e discussão: O grupo tem encontros semanais com duração
média de uma hora e meia no Centro de Atenção Psicossocial de
Taguatinga, tendo como facilitadoras uma assistente social, uma
psicóloga e duas enfermeiras, todas profissionais residentes. A partir da
apresentação do projeto, os integrantes colocaram suas opiniões em
relação a quais atividades gostariam de desenvolver, tempo de duração
e quais temas poderiam ser abordados. A adesão observada pelos

1047
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

participantes, sobretudo em relação às atividades com maior apelo


coletivo, denota fortalecimento do senso de pertencimento e promoção
do papel social. No entanto, persiste o desafio que permeia o campo
dialógico entre o que é da construção histórica e o que é próprio da
condição situacional - aquele que perpassa o que é vivido e sentido no
contraponto entre ambulatório e território na perspectiva da clínica
ampliada - considerando a subjetividade e a singularidade presentes nas
relações. Considerações finais: Evidencia-se, portanto, que Grupo
Surrealistas pode ser percebido como espaço de encontro e de potência,
experimentação do fazer e de expressão artística de seus participantes,
tendo como objetivo fundamental minimizar o sofrimento mental e se
projetar para além da vivência interna do CAPS, considerando assim a
construção, reconstrução, ampliação da integração, socialização da
liberdade dos sujeitos e de seus coletivos. Contribuições para Saúde
Mental ou Política Pública: Considera-se que que experiências exitosas
em saúde mental podem servir como inspiração para novas iniciativas e
ampliação da atuação de profissionais de saúde na perspectiva da
reforma psiquiátrica.

1048
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tá tendo redução de danos:


ações-afeto de enfrentamento ao Covid-19

Mara Isa de Vasconcelos Coracini


Kamila Siqueira de Almeida
Heloísa Nami Pontes Yzumida
Laísa Silva Maia Oliva
CAPS IJ III Santana

Estes escritos propõem relatar a experiência de enfrentamento à


pandemia de Covid-19 junto à população em situação de rua, vivenciada
pela Rede de Atenção Psicossocial e pela rede intersetorial dos
territórios de Santana/Tucuruvi, Jaçanã/Tremembé e Vila Maria/Vila
Guilherme, localizados na zona norte no município de São Paulo. Fazem
parte deste coletivo o CAPS Álcool e outras Drogas III Santana, CAPS
Infanto-juvenil III Santana, CAPS Infanto-juvenil II Vila Maria, CAPS II
Jaçanã, os Consultórios na Rua de Santana e da Vila Maria, Serviço
Especializado de Abordagem Social (SEAS) Vila Maria e Biblioteca São
Paulo. Iniciaram em março de 2020, junto ao plano de contingência
municipal, no qual grande parte dos equipamentos foi fechada e a
população, principalmente em situação de rua e habitante da periferia
da cidade, passou a viver uma realidade de maior exclusão, em virtude
da ausência das redes de apoio. Foi a partir deste olhar que atentamos à
necessidade de inverter a indicação da restrição de acesso aos serviços e
passamos a ampliar e fortalecer as nossas estratégias de cuidado nas
ruas, respeitando os protocolos de segurança ao contágio. Os objetivos
das ações-afeto consistem em realizar práticas de redução de danos e
riscos, visando a prevenção da Covid-19 nos territórios vulnerabilizados
e nas cenas de uso de substâncias psicoativas. Esta experiência tem um
caráter cartográfico, em que a metodologia aplicada é orgânica a estas
ações-afetos, de maneira que os encontros produzidos criam a si
mesmos. Ou seja, trata-se de um trabalho vivo em ato, no qual, a partir

1049
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

do instante da vivência, são construídas intervenções que transbordam


as fronteiras do cuidado em saúde. As ações acontecem duas vezes por
semana em territórios distintos nos períodos matutino, vespertino e
noturno, possibilitando um encontro com a população que habita e
transita por estes espaços e se depara com as barreiras de acesso às
políticas públicas. Os encontros apostam na aproximação respeitosa,
fundamental para construção de vínculo de confiança com pessoas e
lugares; na apreensão dos fluxos e dinâmicas singulares; em estabelecer
relações com estes indivíduos através dos diferentes movimentos que se
distribuem pelos territórios, sem narrativas preestabelecidas,
acompanhando a trajetória que acontece no ato dos encontros. Desta
forma, o encontro que acontece a partir das orientações e precauções
sobre a Covid-19, torna-se um ponto de partida para construção de
novos vínculos, sejam com pessoas, serviços ou espaços, desdobrando-
se em novas ações de cuidado em saúde e promoção de direitos. Nas
ações distribuímos água, sabão, kits de higiene e insumos de redução de
danos confeccionados pelos serviços e atendendo a singularidade da
população (crianças, adolescentes, homens, mulheres, trans, travestis).
A cada ação-afeto a realidade se escancara diante de nós, o que fez uma
intervenção nos serviços, enquanto os serviços também intervinham no
território. Logo, entendemos que as ações-afeto operam dilatando o
escopo de atuação dos serviços, multiplicando-se em tantas outras
questões e visibilizando iniquidades em saúde e recursos comunitários.
Assim, a importância dessa iniciativa ultrapassa o contexto de pandemia
e pretende tornar-se uma constante estratégia transversal aos serviços
envolvidos no território.

1050
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tai Chi e Saúde Mental:


uma prática para a integração da atenção básica

Rita de Cássia Ferreira Lourenço


Ana Claudia Gotelip Francklin Rocha
Prefeitura de Osasco

Introdução: De março de 2012 até março de 2020, nós, profissionais da


equipe de saúde mental da Atenção Básica, a saber uma terapeuta
ocupacional e uma fonoaudióloga, temos realizado as Oficinas
Terapêuticas Tai Chi para usuários do SUS do município de Osasco, São
Paulo. Os objetivos são oferecer prática do Tai Chi como ferramenta de
promoção e cuidado à saúde integral e autonomia das pessoas
assistidas. Descrição da experiência: São realizados encontros semanais
com duração de 40 a 50 minutos de exercícios selecionados da prática
do Tai Chi Chuan. Parte dos usuários chega ao grupo após acolhimento
em saúde mental, com alguma demanda de sofrimento e/ou
desconforto. No entanto, os grupos são abertos, ou seja, quem tiver
interesse pode participar, sendo muito comum a presença de parentes,
vizinhos e amigos daqueles que procuraram a saúde mental. Não há
exigência de frequência obrigatória. Os encontros acontecem num
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Zona Sul de Osasco.
Existem dois grupos com uma frequência média de 20 pessoas em cada
um. O registro da frequência é feito pelo CRAS e também por nós em
lista informal de presença. Após o término do encontro, na Unidade
Básica de Saúde (UBS), a frequência é registrada no prontuário
eletrônico de cada participante. Ao final da prática do Tai Chi,
permanecemos no local e possibilitamos uma breve conversa com
aqueles que desejam tirar dúvidas, fazer queixas ou dar relatos de
melhora. Repercussões: Ao longo destes oito anos, há pessoas que
frequentam regularmente por três ou quatro anos seguidos, outras
participam por alguns meses e depois retornam mais de um ano depois.

1051
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Há também aqueles que participam de um só encontro. Em geral, os


participantes relatam sentir-se bem, com alívio ou redução de dores
musculares, tensões, melhora no sono e diminuição de ansiedade. Há
também aqueles que não gostam, sentem-se incomodados com a
lentidão dos movimentos, e/ou com o fato de o grupo ser grande. Isso
nos faz refletir sobre a autonomia dos sujeitos, que podem decidir
quando praticar ou não, ir ou vir, sem nenhuma exigência ou punição.
Considerações finais: Observamos a importância desta atividade como
uma oferta de cuidado não prescritiva, que funciona como uma forma
de participação e protagonismo no seu cuidado, na promoção de saúde
e na autonomia dos usuários no território. Por isso, defendemos e
solicitamos em diferentes instâncias da administração municipal a
necessidade de continuidade e ampliação desta prática, bem como de
outras práticas integrativas.

1052
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tecendo convivências: ações de promoção de saúde


antes e durante o isolamento

Juliana de Moura Veras


Leonardo Bastos Velasco
Thiago B. L. Melicio
Aline da Silva Correia
Carla Cecilia de Oliveira Pinto Leite
Gabriela Pizzochero de Abreu
Universidade Federal do Rio de Janeiro– UFRJ

O Coletivo Convivências se refere a um projeto de estágio, pesquisa e


extensão vinculado ao Instituto de Psicologia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, composto por psicólogos e estudantes de psicologia e
comunicação visual e design. Nosso objetivo principal é articular redes
de afeto e de convivência, assim como promover vínculos entre aqueles
envolvidos na rede de saúde mental, em conjunto com Centros de
Convivência (CECOs) do estado do Rio de Janeiro. A partir das
referências do campo da saúde coletiva e da saúde mental, valendo-se
da cartografia psicossocial e da pesquisa-intervenção, apresentamos
experiências do nosso processo de trabalho em dois momentos: pré-
pandemia, no campus da Praia Vermelha, e durante a pandemia, no
meio virtual. No primeiro momento, o Coletivo, em conjunto com outros
projetos e serviços de saúde do território, realizou em 2019 um evento
durante a 10ª Semana de Integração Acadêmica da UFRJ,
proporcionando um espaço de integração entre as pessoas no campus.
Este contou com a realização de vivências e oficinas de macramê,
"slackline", dança, brincadeiras, confecção de estandarte, rodas de
conversa e visitas guiadas às bibliotecas e à horta comunitária do
campus. Realizou-se também uma feira solidária, com o projeto de
extensão Laços e Nós, a Feira da Roça, o Papel Pinel, o Shoppinel e a
Cooperativa da Praia Vermelha. No segundo momento, em contexto de

1053
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

crise sanitária pela disseminação da Covid-19, desenvolveu-se uma


parceria com outras instituições e CECOs do Rio de Janeiro, que resultou
na inauguração do primeiro Centro de Convivência Virtual do Brasil. Este
tornou-se possível a partir da contemplação pelo Edital Inova Fiocruz,
que subsidiou práticas de promoção de saúde inovadoras no contexto
da pandemia. O Coletivo ingressou na agenda chamada “ConViver”,
promovendo a oficina “Tarde de Histórias”, a “Rádio ComVersar”, e
articulando oficinas de redução de danos. Quanto às repercussões de
ambos momentos, no período pré-pandemia, ressonâncias dos
participantes foram trazidas no sentido de propiciar um espaço em que
os projetos, serviços e demais presentes pudessem conhecer o trabalho
e potencialidades de seus pares e de realização de ações conjuntas,
situando também os limites e desafios destes. Em relação ao CECO
Virtual, o êxito em promover um espaço de convivência e acolhimento
no território foi acompanhado e possibilitado pelo engajamento dos
participantes em sua produção. Cabe ressaltar que faz parte de uma
pesquisa qualitativa em andamento que trará mais resultados
avaliativos no futuro. Repercussões a respeito das atividades ainda
trazem diferentes situações que, mesmo que majoritariamente
positivas, seguem sendo elaboradas. Enfim, ao adotar a cartografia
enquanto método de pesquisa-intervenção, o Coletivo propõe-se a
colaborar com a construção de um plano comum e heterogêneo ao
promover as ações de convivência no território (físico e virtual,
atualmente). Compreende-se que a articulação e a troca de experiências
entre os participantes se tornou possível e real durante o trabalho
anterior à pandemia e até o que se seguiu, de produção de vínculos,
enquanto fenômeno facilitador para a produção de autonomia e saúde.

1054
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tecendo Redes de cuidado em Saúde Mental: um relato de


experiência do Fórum em Saúde Mental Infanto-juvenil
no município de Vila Velha, Espírito Santo

Maurênia Lopes Ferreira de Almeida


Prefeitura Municipal de Vila Velha

Daniel Delvano Silva Cunha


Secretaria Municipal de Saúde/Capsi

Ivana Carneiro Botelho


Naara Knupp de Oliveira
Secretaria Municipal de Saúde/Área Técnica em Saúde Mental

Lucas Silva Felz


Secretaria Municipal de Educação/Programa de Saúde na Escola

Marcelo de Souza Gorza


Secretaria Municipal de Saúde/ USF Jardim Colorado

Patricia Santos Martins


Secretaria Municipal de Saúde/UBS Coqueiral Itaparica

Tatiana Rodrigues Thom


Secretaria Municipal de Saúde/CAPS AD

A temática da saúde mental infanto-juvenil tem sido amplamente


discutida e difundida nos últimos anos, a fim de garantir uma rede de
cuidados a qual possa acolher, cuidar, escutar e acompanhar esse
público de forma integral e intersetorial. Assim sendo, considerando
essa temática, alinhado com experiências locais e nacionais e orientado
por diretrizes ministeriais, o Fórum Municipal em Saúde Mental Infanto-

1055
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

juvenil de Vila Velha (Fórumij) foi fundado em junho do ano de 2016.


Sua composição inicial eram profissionais da Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Desde aquele momento, o Fórum vem se reunindo todo mês nas últimas
quintas-feiras, conforme definição em regime interno. Cabe frisar que
este é o único Fórum permanente nesta temática no estado.
Atualmente, contabiliza-se um total de 32 encontros realizados, com
variadas temáticas: Atendimento a Crianças e Adolescentes em situação
de Violência; Autolesão; Tentativas de Suicídio e Mídia; Primeira Infância
e Medicalização da Vida; Vulnerabilidade Social à Vulnerabilidade
Psíquica; Abordagens Grupais com Crianças/Adolescentes e Familiares;
Desenvolvimento Infantil; Educação Especial; Acolhimento Institucional
de Crianças e Adolescentes, dentre outros. O Fórumij segue a direção de
efetivar o princípio norteador da intersetorialidade, preconizado pela
Política de Saúde Mental para Crianças e Adolescentes (Brasil, 2005).
Segundo Couto, Duarte e Delgado (2008), as direções da Política de
Saúde Mental Infanto-juvenil brasileira são no sentido da implantação
de serviços de saúde mental para crianças e adolescentes com vistas à
integralidade do cuidado. Nesse sentido, os debates e a militância do
Fórumij contribuíram para a implantação do primeiro CAPSi deste
município, ocorrido no ano de 2018, bem como tem proporcionado um
campo de politização dos sujeitos envolvidos fortalecendo as lutas e
conquistas na Política de Saúde Mental Infanto-juvenil. Em outubro do
ano de 2019, o coletivo deliberou que o Fórum tornar-se-ia itinerante,
ou seja, as reuniões que sempre aconteciam na Secretaria Municipal de
Saúde passam a ser realizadas nos territórios, percorrendo todas as
Regiões de Saúde, o que traz proximidade ao usuário e viabilidade no
seu acesso ampliando a participação popular. Neste percurso se fizeram
presentes, além da sociedade civil, representantes diversos: Saúde,
Assistência Social, Educação, Conselho Tutelar, Judiciário, ONGs,
universidades, profissionais e outros, sendo este um espaço aberto de
encontro para reflexões e debates democrático de ideias. Atualmente, o
Fórum encontra-se em fase de elaboração da Carta de Princípios, cujo o

1056
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

objetivo era recolher de 10 a 15 propostas nas Regiões de Saúde. A


previsão de promulgação da Carta era para o dia 26 de maio de 2020 no
auditório do Ministério Público de Vila Velha - ES. Nesta ocasião, as
propostas seriamlevadas à plenária a qual votaria nas mais expressivas,
consolidando neste momento a Carta. Enfatiza-se que ela orientará a
continuidade do Fórumij independente de sua composição, sendo estes
princípios inegociáveis os quais serão respeitados por todos que
queiram participar deste movimento social. Conclui-se que o Fórumij
tem sido um espaço privilegiado para articulação das lutas em prol de
garantia de direitos, bem como na consolidação da Atenção Psicossocial
a Crianças e Adolescentes.

1057
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Tecendo redes intersetoriais de apoio à saúde mental para crianças e


adolescentes no município de Navegantes, Santa Catarina

Jaqueline Coelho Rodrigues da Silva de Paula


Prefeitura Municipal de Navegantes

Luciane Boza Delgado


Luana Faresin
Tálita Rodrigues Heusi
Universidade do Vale do Itajaí

Marlova Cescon Haeffner


Universidade de São Paulo

Ruth Rodrigues Guetten


Patricia Oliveira da Luz
UNIASSELVI

Este trabalho considera a reforma psiquiátrica um processo amplo e


complexo, que tem se construído graças ao trabalho de muitos
protagonistas ao longo da história, como esta que ousa escrever. Falar
em processo é algo que continua com o tempo, que nos transcende,
assim como este trabalho, uma construção entre pessoas em
movimento, que se deslocam em busca de algo. E como caminhantes
desta trajetória, gostaria de apresentar neste relato de experiência a
Rede Intersetorial de Atenção à Criança e ao Adolesente (RICAN), uma
proposta de uma nova práxis, uma nova organização entre os serviços. A
RICAN é um projeto que vem sendo construído entre trabalhadores,
principalmente dos setores de saúde, assistência social e educação, que
teve início em julho de 2018, em um contexto após o suicídio de um
adolescente, estudante de uma escola estadual. Tudo começou após a
repercussão e sofrimento entre os alunos e os trabalhadores que

1058
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

conviviam cotidianamente com o adolescente. As profissionais da escola


procuraram apoio de gestores na Secretaria de Saúde, que logo solicitou
um encontro com a participação de profissionais do Núcleo Ampliado de
Saúde da Família (NASF-AB) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Surgiram assim as primeiras tessituras do que chamamos de RICAN, um
encontro entre profissionais da educação e da saúde para discutir as
necessidades de saúde em torno da infância e da adolescência do
município. Após este encontro, novas estratégias começaram a ser
traçadas, como a organização de novos encontros entre profissionais,
incluindo os de outros serviços da rede, que lidam com as demandas
cotidianas da infância e da adolescência, dentre eles a assistência social,
educação municipal, conselho tutelar e fórum, entre outros. Os
profissionais passaram a se encontrar mensalmente com o objetivo de
fortalecer os vínculos, bem como discutir as necessidades a serem
trabalhadas no cuidado da criança e do adolescente. Foi criado um
núcleo com representantes dos setores de saúde, educação e assistência
social, para organização e planejamento das ações. Foram realizadas
visitas para conhecer projetos de apoio à criança e ao adolescente no
município. Foram organizados eventos e um fórum de saúde mental
para discutir novas políticas públicas para a infância e a adolescência.
Foram realizados encontros durante a formação continuada para
professores. Aconteceram encontros mensais em diferentes escolas
estaduais e municipais com crianças e adolescentes nas modalidades de
roda de conversa para o diálogo a partir de temas de interesse dos
mesmos. Gostaria de encerrar referindo que esta experiência aproxima
os profissionais de diferentes setores como forma de enfrentamento ao
sofrimento humano. Desse modo, os profissionais têm fortalecido as
práticas de saúde mental na rede intersetorial do município de
Navegantes, quebrando a lógica de trabalho fragmentado. Os setores
envolvidos passam a compartilhar o cuidado e expressam ampla
necessidade de interface, tendo como base as necessidades das crianças
e dos adolescentes em seus territórios existenciais. Nossa utopia, nossa

1059
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

esperança, aposta neste infinito campo aberto de possibilidades que é o


existir.

1060
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Tecnologias da Comunicação e da Informação e Saúde Mental:


a experiência da Unidade Básica São Francisco do município de Santa
Maria, Rio Grande do Sul, em meio à pandemia de Covid-19

Patrícia de Oliveira Berger


Fernanda Nunes da Rosa Mangini
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Uma Unidade Básica de Saúde (UBS) possui uma rotina estabelecida,


com atendimentos individuais e grupais, pensados e planejados para
atender as demandas territoriais e comunitárias. Com a chegada da
pandemia de Covid-19 no Brasil, estas rotinas começaram a se modificar
em função da necessidade do isolamento/afastamento social. Novos
protocolos de atendimento suspenderam as atividades grupais e os
atendimentos individuais de rotina, sendo mantidas apenas as
emergências e alguns procedimentos inadiáveis. Os grupos eram um dos
principais espaços propícios para discussões, reflexões, além da grande
importância para o estabelecimento de contatos sociais e de afeto. O
território onde se localiza a UBS São Francisco é composto por três
residenciais populares, de difícil acesso e em condições precárias. Esse
território não possui farmácias, supermercados ou espaços de lazer. É
possível observar, também, que não há um caráter de pertencimento
por parte dos moradores, especialmente daqueles são provenientes de
outras regiões do município e estão distantes de familiares e amigos. As
questões de Saúde Mental estão presentes entre usuários que
frequentam serviços especializados, além de possuírem vínculo com a
UBS, que é considerada uma UBS escola, por receber inúmeros
estagiários e residentes. Essa UBS está em processo de transformação
para Estratégia de Saúde da Família (ESF). Além da equipe mínima, conta
com agentes comunitários de saúde (ACS), residentes da saúde da
família e residentes de atenção à Saúde Mental. Com a suspensão dos
grupos devido à Covid-19, foram eliminadas umas das principais formas

1061
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de contato e de criação de vínculo com os usuários, exigindo da equipe a


capacidade de se reinventar e de pensar alternativas para não desfazer
esses contatos e poder dar continuidade ao cuidado, principalmente em
Saúde Mental. Assim, criou-se um grupo de apoio à Saúde Mental, um
grupo privado, fechado na página do Facebook da UBS. Um espaço
seguro, em que as profissionais, assistente social, psicóloga e terapeuta
ocupacional, estariam à disposição para informações, escutas e também
fazendo postagem sobre cuidados de higiene e de saúde mental durante
a pandemia. Além deste espaço, os usuários que chegavam para
acolhimento e que necessitavam de contínuo acompanhamento eram
acompanhados por telefone semanalmente, nos casos de não possuírem
acesso à internet. As Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICS) nestes momentos precisam ser trabalhadas e vistas como
instrumental necessário para dar continuidade e facilitar o contato entre
serviços, usuários e profissionais, para que os vínculos não sejam
rompidos e para conseguir, mesmo à distância, oferecer suporte e
cuidado. Essas tecnologias, além de possibilidades, também possuem
limites e fragilidades por decorrência da falta de acesso, das formas de
uso e das dificuldades de apropriação. Em meio a pandemia de Covid-
19, o digital está sendo demandado todos os dias como principal forma
de contato, mas as classes subalternas possuem acesso limitado e
desigual dessas TICS, enfrentando a crise de maneira diferente, visto
que além de estarem suscetíveis às desigualdades sociais também
experimentam a desigualdade digital, como expressão da questão social.

1062
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Teleatendimento como ferramenta de cuidado longitudinal


em Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde

Elaine Nunes Pacheco


FESFSUS

Andrezza Lima Muricy


Helena Moraes Cortes
Paula Hayasi Pinho
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

Introdução: Em março de 2020, a doença causada pelo novo coronavírus


(Covid-19) foi caracterizada como pandemia pela Organização Mundial
de Saúde. Com a adoção das medidas restritivas e de isolamento social,
os serviços de saúde também precisaram se adequar. Descrição da
experiência: Trata-se de um relato de experiência realizada em duas
Unidades de Saúde da Família (USF) da Região Metropolitana de
Salvador, sobre o teleatendimento como ferramenta de cuidado
longitudinal em Saúde Mental na APS. Nessas USFs, as consultas
programadas para usuários com condições crônicas ou de
acompanhamento longitudinal, como o sofrimento psíquico ou
transtorno mental, foram suspensas por um período de
aproximadamente seis meses, para evitar a exposição das pessoas, já
que as USFs também atendiam pessoas com suspeita de Covid-19.
Diante desse cenário de mudanças do processo de trabalho da atenção
básica, o teleatendimento despontou como uma ferramenta opcional
para garantir o acompanhamento dos usuários pelas suas equipes na
modalidade à distância, além de proporcionar alguns canais de acesso e
comunicação entre usuários e profissionais, evitando a circulação de
pessoas e respeitando o isolamento social. Assim, as equipes
organizaram listas dos usuários de Saúde Mental do território, com a
ajuda dos agentes comunitários de saúde (ACS). Durante as reuniões de

1063
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

equipe eram identificados quais os pacientes com maior gravidade ou


situação de vulnerabilidade mais importante, que deveriam ser
contatados por via telefônica e distribuídos entre os profissionais
(médico, enfermeiro, dentista e servidores do NASF), que semanalmente
reservavam um turno para realizar o teleatendimento. Foi criado um
formulário on-line com perguntas semiestruturadas para o
preenchimento durante o contato telefônico e também uma planilha
para controle e acompanhamento dos casos. Na entrevista virtual eram
abordadas as seguintes informações: data, horário e profissional do
atendimento; questionamento sobre as dificuldades no cuidado com a
saúde; orientação sobre distanciamento social e informar sobre o
funcionamento da USF; questionamento sobre sintomas para Covid-19
(tosse, dor de garganta, falta de ar, dores no corpo, dor de cabeça, febre
- do usuário e dos contatos domiciliares); questionamento sobre outras
queixas. Quando se identificava alguma descompensação da doença de
base, agendava-se para atendimento o mais breve possível e eram
pactuadas demandas que poderiam ser resolvidas por um portador
como renovação de receitas, relatórios médicos ou busca de
medicamentos. Repercussões e considerações: Cada equipe de Saúde da
Família listou em média de 70 a 100 usuários com sofrimento psíquico,
sendo a maioria com sintomas depressivos, seguidos por usuários com
transtornos de ansiedade. Houve dificuldades de acesso aos usuários,
pois nem todos possuíam aparelho de telefone ou não atendiam
números desconhecidos. Algumas vezes, o número de contato não era
dele próprio, mas de alguém da rede de apoio. O grande potencial dessa
atividade foi a manutenção do vínculo entre equipe e usuário durante o
distanciamento social exigido pela pandemia, onde muitos
apresentaram instabilidade devido às mudanças ocorridas na sociedade,
como maior convívio familiar e restrição de serviços de apoio social
(associações, igrejas, espaços de esporte e lazer).

1064
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

TeleCAPS: um olhar para a Saúde Mental na pandemia

Shara Catherine
Marcos Atayde
Rodrigo
Tatiana
Márcio
Pedro
Ingrid
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP

Introdução: O receio da pandemia e a necessidade de permanecer em


casa, mantendo o distanciamento social, em cumprimento às medidas
restritivas contra o avanço da Covid-19, têm causado impactos
emocionais a inúmeras pessoas. No caso de pessoas que já convivem
com transtornos psicossociais graves e persistentes, estas modificações
têm potencial de risco acrescido pois estes sujeitos são muito afetados
quando precisam modificar suas rotinas, sendo fundamental a
permanência do tratamento. Considerando a importância das ações
multiprofissionais frente ao cuidado em saúde mental, a equipe do
Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde -
Interprofissionalidade (PET -Interprofissionalidade), pertencente à
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em conjunto com a
Secretaria Municipal de Saúde de Salvador e o CAPS III Jardim Armação,
propõe realizar um teleacolhimento para usuários acompanhados,
durante o período de afastamento social, ocasionado pela pandemia da
Covid-19. O Teleacolhimento é uma proposta de promover uma escuta
atenta e acolhedora pelo telefone aos usuários do CAPS, selecionados
pelas preceptoras, no período de isolamento, realizando as orientações
necessárias. Objetivo: Descrever a experiência de teleacolhimento
realizada com usuários acompanhados e selecionados pela equipe de

1065
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde do CAPS III durante o período de restrição social devido à


pandemia de Covid-19, a partir de uma perspectiva interprofissional.
Relato de experiência: Nesse sentido, o programa consiste em ligações
feitas pelos integrantes do PET-Interprofissionalidade, onde os contatos
são disponibilizados por preceptores do CAPS 3 Jardim Armação a cada
15 dias. Para a escolha dos usuários contatados, os critérios utilizados
eram: acompanhamento pelo CAPS III antes da pandemia e estabilidade
psíquica. Após o contato, é feita uma ficha registrando o
teleacolhimento e uma apresentação dos casos para discussão em
equipe interprofissional, formada por estudantes e/ou profissionais da
Psicologia, Enfermagem, Odontologia, Medicina, Educação Física e
Assistência Social. Por meio do teleacolhimento foi possível o rastreio do
uso de medicações e consultas agendadas com o CAPS, bem como
apontamento para preceptoria acerca das intercorrências ocorridas com
os usuários no período de distanciamento social e construção
interprofissional de Planos Terapêuticos Singulares (PTS) para os
usuários acolhidos. Observou-se que estabelecer o contato via telefone
era um desafio, devido à quantidade de números inválidos,
desatualizados ou não funcionais. Além disso, a falta de vínculo dos
estudantes com os usuários se configurou como outra dificuldade a ser
ultrapassada durante a realização do TeleCAPS. O projeto permitiu o
desenvolvimento e aprimoramento de diversas habilidades de
comunicação para acolhimento, escuta e orientação via telefone. Além
disso, foram desenvolvidas habilidades na construção interprofissional
de PTS, envolvendo sinais e sintomas psicopatológicos, propriedades e
uso de medicamentos em Saúde Mental, práticas terapêuticas
ocupacionais, estímulo à cognição, funcionalidade, autonomia e
sociabilização, discussões psicoterápicas, situações sobre suporte e rede
de apoio, vulnerabilidade social e indicação de benefícios sociais.
Perspectivas e conclusão: O TeleCAPS, portanto, é uma experiência de
sucesso em teleacolhimento e se revela uma ferramenta útil no
processo de trabalho em saúde durante o distanciamento social e uma
ferramenta inovadora no processo de ensino-aprendizagem do trabalho

1066
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

interprofissional em Saúde Mental, gerando e multiplicando cuidado


mesmo à distância.

1067
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Tenha uma boa viagem: experimentações do Núcleo de


Estudos sobre Drogas nas práticas de cuidado em saúde

Raquel de Souza Xavier


Lívia Soares de Sousa
Bruna Gabriela Filgueiras do Amaral
Carolina Pedroza Barros da Silva
Carolina Castro e Veras
Ricardo Pimentel Méllo
Universidade Federal do Ceará – UFC

A oficina sobre cuidado em saúde é ministrada pelo Núcleo de Estudos


sobre Drogas (NUCED) a calouros do curso de Psicologia da Universidade
Federal do Ceará (UFC). Tem como objetivo principal despertar os/as/es
participantes para situações cotidianas de risco relacionadas a
transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), bem como
alertar para certos prejuízos à saúde advindos do uso indevido de drogas
(Redução de Danos no uso de drogas e Sexo Seguro). Também objetiva:
a) favorecer a troca de experiências sobre situações de risco nos usos
indevidos de drogas e em relações sexuais sem o uso de preservativos;
b) suscitar ações que possam reduzir tais riscos e evitar tais situações; c)
conversar sobre sexo e Infecções Sexualmente Transmissíveis; d)
desmistificar o uso da camisinha; e) informar sobre as perspectivas da
Redução de Danos; f) promover estratégias para evitar as "bad trips"; g)
atentar para o risco do uso simultâneo de diferentes drogas; h)
despertar em participantes o interesse em ampliar seus conhecimentos
sobre a temática das drogas; i) colocar em discussão a política de guerra
às drogas. O nome “Boa Viagem” diz sobre a prática que buscamos
nessas relações. A oficina tem como público-alvo jovens universitários.
Nela, fomentam-se práticas de cuidado de si e cuidado com o outro, na
medida em que são problematizados hábitos comuns que as colocam
em situações de risco. Temos como facilitadores/as os membros do

1068
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

núcleo, contando com participações especiais em algumas mediações:


membros anteriores, drags, membros de outros núcleos, para propiciar
uma experiência nova em cada viagem e potencializar as discussões
sobre drogas e ISTs, com humor e certa leveza no combate aos
preconceitos. Sugerimos a participação máxima de 30 estudantes
universitários. Tem duração de duas horas e utiliza os seguintes
materiais: próteses genitais feminina e masculina, camisinhas interna e
externa, fanzines que versam sobre Redução de Danos, esquetes
teatrais, notebook, projetor de imagens e caixa de som. Nas oficinas
encontramos potências e uma adesão de quem participa do encontro,
seja na troca de experiências e ideias, seja no diálogo das diferenças,
produzindo movimento entre quem participa. Pensando cuidado de si e
de outros, produzindo juntas/os/es uma Boa Viagem.

1069
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Teoria humanística de enfermagem aplicada em oficina


terapêutica de salão de beleza de um Centro de Atenção
Psicossocial da Zona da Mata Mineira: um relato de experiência

Darla Tormen
Giulia Tácila Araújo da Silva Gondim
Marcelo da Silva Alves
Amanda Tamires Drumond Vilas Boas Tavares
Anna Maria de Oliveira Salimena
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Introdução: A enfermagem tem como característica histórica de sua


profissão a arte e a ciência de cuidar e, para isso, utiliza-se de saberes de
ampla abrangência que a tornam articuladora na assistência e na
gerência em qualquer ponto da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),
sendo um destes o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). O cuidado em
saúde mental no CAPS engloba aspectos objetivos e subjetivos do ser
que devem ser abordados pela enfermagem. A teoria humanística nos
permite essa aproximação quando em presença somos capazes de ouvir
ativamente o outro e contribuir com o seu bem-estar e seu melhor
estar. O diálogo vivido pode se fazer frequente também nas oficinas
terapêuticas, a exemplo de uma oficina de salão de beleza, que além de
cuidar do corpo, tem uma funcionalidade de encontro existencial e
vivencial. Descrição da experiência: Trata-se de um relato de experiência
de vivenciar o ser terapêutico em uma oficina de salão de beleza à luz da
teoria humanística da enfermagem de Paterson e Zderad. A oficina de
salão de beleza é uma prática terapêutica realizada pela equipe de
enfermagem no CAPS com os usuários. Ocorre uma vez por semana, no
período da manhã, tendo em média uma hora e trinta minutos de
duração. Sua elaboração engloba recursos materiais, adaptação
espacial, higienização local e disponibilidade profissional para ouvir,
motivar e para cuidar. A oficina passou por vários momentos, mas

1070
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sempre com a característica de ser um cuidado prestado pela


enfermagem, já que cuida do corpo. Repercussões: Percebemos que o
encontro existencial se demonstra em terapêutica, pois transcende o
olhar objetivo e focal do corpo enquanto cuidado das unhas, cabelos,
pele e o integraliza à subjetividade do ser por também fornecer espaço
de fala e escuta, em que o ser cuidado traz vivências cotidianas que
expõem pontos importantes de intervenções e que geralmente não
expressariam em outro espaço. Esta abordagem então, à luz da teoria
humanística, abarca o fenômeno do agora em oficina terapêutica de
salão de beleza, traz no encontro abrangências de cuidados corporais
que higienizam, tratam e elevam a autoestima e deixa transparecer no
diálogo vivido do instante a presença existencial do ser terapêutico e do
ser que se subjetiviza naquele espaço, resultando em bem-estar e em
melhor estar. Considerações finais: Nesse sentido, a oficina terapêutica
de salão de beleza baseada na teoria humanística permitiu a valorização
das participantes, contribuindo para um cuidado de enfermagem
humanizado e integral, ademais um fazer científico e sistematizado.

1071
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Terapia comunitária como estratégia de promoção à


Saúde Mental: o caminho para o empoderamento

Mayara Sabrina Oliveira Cavalcante


Maria Valéria Gorayeb de Carvalho
José Everton Alves de Melo
Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES/UNITA

Introdução: A Saúde Mental no âmbito da Atenção Básica de Saúde deve


proporcionar meios de acolhimento ao usuário e família com medidas
inovadoras que proporcionem o cuidado ao paciente de forma eficaz e
efetiva através de ações que superem a supremacia prescritiva
hegemônica nas redes, mas que de fato ajudem as pessoas a se
reintegrarem socialmente. Assim, a realização da terapia comunitária é
uma maneira de proporcionar aos usuários um espaço de diálogo e
acolhimento das suas experiências de vida, angústias, sofrimentos e
superações. Descrição da experiência: A experiência da terapia
comunitária com os usuários de Saúde Mental da Unidade de Saúde
Escola tem se mostrado fundamental na condução terapêutica, assim
sendo exitosa nos momentos de encontros do grupo de Saúde Mental
onde participam entre 30 a 40 pessoas, que vão em busca não apenas
das terapêuticas convencionais, mas sim de um espaço de acolhimento
mútuo. As trocas de experiências entre as pessoas permitem uma busca
de soluções para os conflitos tanto individuais como familiares. O
profissional de saúde atua apenas como facilitador do processo, que
ocorre de forma horizontal. Assim, é possível que todos tenham a
oportunidade de se expressarem e a troca se torna mais rica.
Repercussões: A terapia comunitária é uma forma inovadora de
conduzir o processo de cuidado, uma vez que ela permite a valorização
do indivíduo e de suas experiências dentro de um contexto comunitário
de assistência. Dessa forma, contribui para a inserção social e
acolhimento de usuários e familiares dentro da comunidade.

1072
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Considerações finais: Algumas das principais demandas das unidades de


saúde atualmente são de origem do sofrimento humano, os
profissionais de saúde necessitam cada vez mais buscar formas fraternas
de acolher e cuidar destes usuários. A técnica da terapia comunitária é
uma forma inovadora de conduzir o processo de cuidado, uma vez que
ela permite a valorização do indivíduo e de suas experiências dentro de
um contexto comunitário e coletivo de assistência à saúde que vise o
cuidado em sua essência: ser com o outro.

1073
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Terapia comunitária como recurso terapêutico no cuidado


da Saúde Mental em um CAPS: relato de experiência

Diana Lúcia Paiva Oliveira


CAPS Estação Cidadania– Cabo de Santo Agostinho

Tayse Lopes Alves


Yanna Cristina Moraes Lira Nascimento
Marcos André dos Santos
Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)é um dispositivo de


saúde de base territorial incorporada política nacional de Saúde Mental,
fundamental para reabilitação e reinserção social da pessoa com
transtornos mentais. Sendo um local de referência para a Saúde Mental,
o uso de tecnologias relacionais é indispensável. A Terapia Comunitária
Integrativa (TCI) pode ser ofertada nos CAPS, já que se trata de uma
tecnologia leve com metodologia estruturada em uma roda de conversa,
permitindo a comunicação do grupo com escuta ativa, acolhimento de
sentimentos e emoções; um espaço de partilha de experiências de vida
de forma horizontal e circular; cada um acolhe a si mesmo a partir da
escuta. Ela possui características básicas como: ênfase no trabalho em
grupo e criação da consciência social. Descrição da experiência: Diante
do exposto, o objetivo desse trabalho foi relatar a experiência da prática
de roda de TCI em um grupo de família de um CAPS Infantil na Cidade de
Maceió, trazendo através da fala, anseios e angústias do cotidiano, bem
como estratégias de enfrentamento, diante do processo saúde-doença
mental. O método utilizado pela TCI é composto de fases
sistematizadas: acolhimento, escolha do tema, contextualização,
problematização, práticas de agregação, conotação positiva e avaliação.
As atividades aconteceram no período de maio a agosto de 2019,
durante a monitoria da disciplina de Saúde Mental do curso de

1074
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas, com o grupo dos


familiares/acompanhantes das crianças e adolescentes atendidas pelo
serviço. Repercussões: A fala foi utilizada como requisito fundamental
para dinamizar as relações no grupo. Durante a fase da contextualização
emergiu a reflexão sobre conflito familiar, e o diálogo permitiu a
conscientização do problema, estimulando a tomada de iniciativas e
promovendo a percepção da participante sobre si enquanto agente de
sua transformação. As avaliações das atitudes tomadas pelo grupo
foram positivas, mostrou-se através da construção de uma rede
interpessoal de apoio, dada pela confiança entre os participantes; o
respeito à fala do outro; e a resiliência através da capacidade de
ressignificar suas experiências. Considerações finais: As atividades
práticas viabilizam o processo de ensino-aprendizagem, com o diálogo
entre docentes, discentes e profissionais preceptores contribuindo para
partilha de saberes em equipe, onde a monitoria colabora e fortalece o
papel educador do estudante ainda em sua formação. Assim,
profissionais, discentes e docentes aprendem mutuamente, visando
uma assistência integral e qualificada.

1075
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Terapia comunitária integrativa na rede de Saúde Mental


no município de Novo Itacolomi

Ana Paula dos Santos


CAPS Regional Nova Mente

Introdução: O município de Novo Itacolomi, no Paraná, possui 2.844


habitantes. A população, por algum tempo, sofreu com altos índices de
problemas depressivos. Com o tratamento dos casos já existentes,
pretendia-se a prevenção futura, ou seja, os moradores precisavam de
uma maior conscientização em relação à Saúde Mental. Por este motivo
entendia-se a necessidade imediata de intervenção para a prevenção,
para que não ocorresse um aumento de problemas psicológicos.Relato
da experiência: A partir da inclusão da terapia comunitária no ano de
2009, podemos considerar que foram obtidos resultados espetaculares
que vêm somando a cada dia em nosso município ainda mais para a
saúde mental e a inclusão social de nossos pacientes. O trabalho
originou-se concomitantemente a um curso de formação em terapia
comunitária, que foi realizado na 16ª Regional de Saúde de Apucarana
(PR), ministrado pela professora coordenadora Maria da Graça Pedrazzi
Martini do Polo Formador de Terapeutas Comunitários da Autarquia
Municipal de Saúde de Londrina (PR) no período de maio de 2009 a
março de 2010. O objetivo era adquirir novas estratégias, técnicas, para
subsidiar a estruturação da implantação do atendimento em saúde
mental na atenção básica. Foi no município de Novo Itacolomi que,
através dessa roda, criou-se o Grupo Musical Interação. Desde então, os
diversos trabalhos resultaram em convites para apresentação em outras
cidades, levando assim o testemunhodo quanto o trabalho é importante
para as pessoas em sofrimento. Possuímos uma grande demanda de
usuários e precisamos realizar um atendimento mais humano, aliviando
o sofrimento das pessoas que ali procuram ajuda, sem se prender ao
modelo centrado na patologia e sim ao modelo da promoção da vida.

1076
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Procura-se partilhar e valorizar experiências e encontrar a sua


identidade, a restauração da autoestima, da confiança em si, ampliando
a percepção dos problemas e possibilidades de resolução, para ser
terapeuta de si mesmo a partir da escuta das histórias de vida que ali
são relatadas. Como resultados, percebeu-se que através da
participação das rodas todos se tornam responsáveis na busca de
soluções e superação dos desafios do cotidiano, em um ambiente
acolhedor e caloroso. Pode-se também reforçar a valorização da família,
da rede de apoio solidário, consolidando redes, vínculos e a
corresponsabilidade dos usuários, trabalhadores e gestores, na
promoção da vida, além de estimular que as pessoas cuidem mais de si,
dos outros, valorizando e utilizando todos os recursos que os municípios
possuem.Considerações finais: A terapia comunitária é utilizada como
técnica de resgate da autoestima na comunidade para dar suporte às
equipes de Saúde da Família e NASF que enfrentavam problemas para
trabalhar com a prevenção.

1077
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Territórios de vida: potências da extensão universitária


no cuidado e na formação em Saúde Mental

Rosimár Alves Querino


Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Ailton de Souza Aragão


Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) - Departamento de
Saúde Coletiva

Maria de Fátima Oliveira


Camila Bahia Leite
Raquel Bessa Martins de Andrade
CAPS Maria Boneca - Fundação Gregório Baremblitt

Ana Júlia Fernandes Ribeiro


Roberta Cristian Reis
Camila dos Reis Juvenil Limírio
Marina Capucci Manffré
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) - Curso de Psicologia

A presente comunicação consiste em relato de experiência das ações e


aprendizados construídos no contexto do programa de extensão
Territórios de Vida: Inserção Comunitária e Saúde Mental. O programa
abrange três projetos e é desenvolvido em parceria com o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) Maria Boneca, de Uberaba, Minas Gerais,
desde fevereiro de 2019. O projeto “(Re)Inserção Comunitária nos
territórios: acompanhamento terapêutico e cuidado psicossocial”
enfatiza a circulação dos usuários no tecido urbano. Prima pela
ressignificação dos “lugares da loucura”, com o entendimento de que a
inserção comunitária transforma lógicas de segregação e exclusão social
ao permitir que pessoas com transtornos mentais exerçam seus direitos

1078
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e construam (novos) territórios existenciais. A produção artística é o


foco do projeto “(Con)Viver com Arte” e, por meio da arte, objetiva-se a
construção de vínculos e encontros potencializadores da vida. Por sua
vez, o projeto “(Outros) Olhares sobre a Cidade” valoriza a perspectiva
das pessoas com transtornos mentais sobre seus modos de vida e
espaços de inserção por meio da fotografia. As oficinas e o
acompanhamento terapêutico (AT) ocorrem semanalmente. A equipe
envolve docentes e alunos (vinte) dos cursos de Medicina, Psicologia e
Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Dedicamos especial atenção aos diários de campo e produção de
documentação iconográfica, fundamentais à apropriação de novas
linguagens e à análise do modo como são estabelecidos vínculos entre
os sujeitos. Dentre os resultados alcançados destacam-se:
fortalecimento de vínculos com a rede; participação no Bloco de
Carnaval e na Semana da Luta Antimanicomial como estratégia de
defesa dos direitos humanos e envolvimento comunitário; valorização
dos saberes e práticas; ampliação dos processos formativos; vivências
do trabalho em equipe e realização de atividades em espaços públicos e
de uso coletivo; exposição de arte Harmonia à flor da pele e exposição
fotográfica [Outros] Olhares. A extensão desdobrou-se em dois projetos
de pesquisa desenvolvidos como iniciação científica e três trabalhos de
conclusão de curso. A experiência tem demonstrado contribuições da
extensão na formação de profissionais para a saúde mental. O contato
cotidiano com trabalhadores, docentes e graduandos de outras áreas
permite a ampliação do olhar sobre a realidade social e estimula a
reflexão quanto à importância das equipes intersetoriais e
interdisciplinares. Neste sentido, a extensão colabora para o
desenvolvimento de atitudes, habilidades e competências necessárias
ao campo psicossocial. As práticas mobilizam diferentes recursos e
saberes, ampliam os diálogos entre arte e saúde e acenam para a
pluralidade de sujeitos e conhecimentos. Engendram, assim,
rompimentos com a lógica cartesiana e com os “desejos de manicômio”.
A sinergia com a rede nutre nosso compromisso ético e político de

1079
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

defesa dos direitos humanos e enfrentamento das expressões da


questão social. A sedimentação do cuidado psicossocial demanda cada
vez mais envolvimento de diversos setores, mobilização comunitária,
empoderamento dos usuários e familiares e construção de novas
relações entre cidadania e loucura. Parcerias entre instituições de
ensino e de saúde são estratégicas para melhorar a atenção à saúde,
formação de profissionais e oferta de oportunidades de educação
permanente.

1080
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Territórios do Cuidado: relato de experiência de um projeto de


extensão universitária de promoção da Saúde Mental a partir de rodas
de conversa a refugiados e migrantes acolhidos na Casa do Migrante
do Conde, Paraíba

Clarisse Junqueira da Silva


Anselmo Clemente
Cassio Felipe Bandeira de Brito
Moas Cardoso da Silva
Rafaella Ellen de Andrade Marinho
Universidade Federal da Paraíba – UFPB

O presente relato de experiência refere-se a um projeto de extensão


universitária intitulado “Territórios do Cuidado: Promoção à Saúde
Mental a partir de Rodas de Conversa com Refugiados e Migrantes
acolhidos na Casa do Migrante do Conde”, vinculado ao Departamento
de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A Casa do
Migrante do Conde acolhe refugiados e migrantes venezuelanos
oriundos do maior êxodo moderno na região da América Latina e Caribe,
e, apesar de encontrar suporte para inserção nas diversas políticas
sociais do entorno, inclusive nos equipamentos de saúde, é frágil em
particular a oferta de ações de promoção a saúde mental para esta
população. Destaca-se que a promoção da saúde mental está
relacionada a uma noção ampliada de saúde, prevista inclusive como
direito constitucional e elemento basilar do Sistema Único de Saúde
(SUS). Notadamente, quando se discute ações de saúde mental
destinadas a refugiados/migrantes, a documentação academial e dos
organismos internacionais indica especial atenção para que a
abordagem do cuidado não fortaleça a chamada patologização da vida e
a consequente psiquiatrização de fenômenos sociais e políticos
experienciados pelas pessoas, caso das migrações forçadas. Assim, é
lícito abordar a promoção da saúde mental tanto no nível individual

1081
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

quanto comunitário, reconhecendo-se que envolve ações que


estimulam aspectos como autocuidado, autonomia, qualificação dos
vínculos, inserção social, qualidade de vida, protagonismo. Nesse
sentido, rodas de conversa são espaços privilegiados de escuta sensível,
de acolhimento, de produção de subjetividade e, portanto, atividade
promotora de saúde mental, dos direitos humanos e da dignidade
humana. Inicialmente, planejamos a realização de uma a duas rodas de
conversa por semana, no período do dia em que a maioria dos acolhidos
retornam de suas atividades cotidianas externas. Contudo, com a
emergência da pandemia de Covid-19 e, por conseguinte, o
cancelamento das atividades presenciais da UFPB, foi necessário
reprogramar as ações do projeto para sua execução integral através das
TICs (Tecnologias de Informação e da Comunicação). Inclusive as
atividades de planejamento, grupo de estudos e reuniões com os
integrantes da Casa do Migrante. Gradualmente, com o
amadurecimento do projeto por meio do uso de ferramentas síncronas
e assíncronas, foi possível desenvolver as seguintes atividades: a) rodas
de conversa on-line com os migrantes e refugiados acolhidos; b)
parceria com outros projetos de extensão da UFPB vinculados a
temática da migração, e, atualmente; c) escuta dos profissionais que
atuam na instituição e estão realizando rodas de conversa
presencialmente com o público acolhido na Casa. Foram muitos os
desafios enfrentados pelo projeto e pela Casa do Migrante a fim de
readequar as ações, mas ambos demonstraram interesse na
manutenção desta parceria. O contexto pandêmico impediu a realização
das rodas de conversa presenciais facilitadas diretamente pelos
extensionistas. Mesmo assim, por meio das TICs, tem sido possível
investir nesse dispositivo como estratégia de promoção da saúde
mental, em consonância inclusive com o objetivo inicial do projeto.

1082
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

A importância do controle social no combate ao abuso e


exploração sexual infanto-juvenil: conhecer para proteger

Erika Gonçalves dos Santos


Comunidade Terapêutica Casa de Abigail

Jussara Rafaela dos Santos


Fateci

Kathuly Thianá Mota Santos


Estácio de Sá

Fairlan Anderson Gonçalves Matias


Facesf

Francisca Paula da Silva Guimarães


UPE

Gilvania Calixta Nascimento


Candido Mendes

Introdução: A violência contra crianças e adolescentes é,


indiscutivelmente, um problema de saúde pública. Embora
 repudiada por toda a sociedade, ainda ocupa nos dias atuais muito
espaço, visto que, cotidianamente, jovens são alvos de uma ordem de
crimes sexuais, independentemente da classe econômica. Esse tipo de
violência pode ocorrer em várias situações e, comprovadamente, está
presente nas famílias de alto e de baixo poder aquisitivo; repartições
públicas e privadas; organizações religiosas ou seculares e outros
setores do segmento social. É visto com repúdio pela sociedade e
autoridades competentes, posto que gera nas vítimas agravos
biopsicossociais gravíssimos e os danos subjetivos que ficam como

1083
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sequelas se objetivam na saúde física e mental dos indivíduos. Esse é um


tema de fundamental importância para a sociedade e é discutido
constantemente por vários órgãos, governamentais e não
governamentais, em momentos estratégicos, sempre com a finalidade
de buscar medidas para combater e prevenir esse mal. Repercussões:A
crescente demanda de ocorrências atendidas pela rede de Serviços
Socioassistencial e Segurança - de crimes de natureza sexual cometidos
contra menores de dezoito anos - exigiu das equipes intersetoriais larga
mobilização. O Centro Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS), através da Secretaria de Assistência Social do município
de Cabrobó, Pernambuco, realizou uma audiência pública que teve
como tema“A importância do controle social no combate ao abuso e
exploração sexual infanto-juvenil: conhecer para proteger”. A audiência
teve como ênfase: 1) comunicar à sociedade civil, à rede
socioassistenciais e à rede de proteção ampliada intersetorial os dados
computados em número dos supracitados crimes: 2) a sensibilização por
parte da sociedade civil quanto à importância no papel que desempenha
no Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes. A
audiência ocorreu no dia 16 de maio de 2017, às 16h, no município de
Cabrobó. Para quantificação dos dados foram analisados os prontuários
do CREAS, os boletins de ocorrência fornecidos pela Delegacia de Polícia
Civil e os registros de atendimentos do Conselho Tutelar dos anos que
compreendiam 2013 a 2016, obedecendo os respectivos critérios: 1.
Gênero, 2. Idade, 3. Intra ou extrafamiliar. Considerações finais: Foram
colhidos os respectivos resultados: 2013,3% dos casos foram masculinos
e 97% femininos; 28% de crianças e 72% de adolescentes e 50% intra e
50% extrafamiliar. Em 2014, 100% femininos, 36% crianças e 64%
adolescentes, 36% intra e 64% extrafamiliar. 2015,47% feminino e 53%
masculino, 23% criança e 77% adolescentes, 62% extra e 38%
intrafamiliar. 2016,92% femininos e 8% masculino, 23% crianças e 77%
adolescente, 62% intra e 38% extrafamiliar. Frente aos dados foi
realizada extensa explanação quanto à importância da participação da

1084
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sociedade civil, sobretudo, no que compete a vigilância da efetivação


das políticas de proteção da criança e do adolescente.

1085
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O valor do desenvolvimento individual


do terapeuta na clínica pela ótica de C. Jung

Jussara Rafaela dos Santos


CREAS

Kathuly Thianá Mota Santos


Estácio de Sá

Erika Gonçalves dos Santos


UNOPAR

Maria Jackeline Gomes dos Santos


Universidade de Pernambuco – UPE

Introdução: A psicoterapia como prática realizada por médicos


psiquiatras e psicólogos tem se popularizado a cada dia que passa. Na
atualidade, a busca pela prática tem se intensificado notoriamente.
Contudo, para ocupar o espaço social observado nos dias atuais, a
psicoterapia médica precisou passar por grandes transformações. Os
surgimentos da prática modernizada vêm de aproximadamente dois
séculos. Antes, o que se tinha eram métodos sugestivos realizados
através de práticas específicas. Na modernidade, a psicoterapia é
entendida e praticada de forma muito diferente. Jung (2011)
compreende que a psicoterapia é um procedimento dialético, um
diálogo entre duas pessoas. A pessoa é um sistema psíquico que,
atuando sobre a outra, entra em interação com outro sistema psíquico,
ou seja, um inconsciente interagindo com outro inconsciente. Descrição
de experiência: A partir da minha experiência no período de estágio
obrigatório da faculdade, que foi realizado no ambulatório do Hospital
de Saúde Mental de Fortaleza, Ceará, deparei-me com algumas
dificuldades de ordem pessoal as quais caminharam em torno,

1086
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

principalmente, do autoconhecimento. Notei imediatamente que as


maiores dificuldades que enfrentaria na prática não seriam de ordem
intelectual, digo, de aquisição do conhecimento epistemológico, o que
não significa falar que essa forma de conhecimento não tenha exigido, e
continua a exigir de mim grandes esforços. Mas a dificuldade maior foi
na ordem do meu desenvolvimento interior. Jung chama atenção para a
importância do trabalho que o analista deve realizar para exercer a
função de psicoterapeuta - autoconhecimento - quando aponta as
inevitáveis limitações que a falta desse recurso gera no processo de
desenvolvimento do analisando, ou seja, o paciente pode esbarrar nas
limitação do analista, o fato pode acarretar danos no processo de
individuação – termo cunhado por Jung. Repercussões: As limitações do
analista a que Jung se refere pode aparecer na consciência do mesmo
como aspectos sombrios, desse modo é custoso o reconhecimento de
tal material, já que a gênese da formação da personalidade do indivíduo
ocorre evidentemente a partir da infância e continua ao longo de sua
vida. E durante o processo vai angariando em si, naturalmente, o
aspecto sombrio seja de natureza individual ou coletiva os quais, uma
vez formados, farão parte da sua psique por toda a vida. Considerações
finais: As modificações ocorridas na psicoterapia não foram meros
acasos, mas uma exigência da própria ciência. Profissionais com
pensamentos distintos se lançaram no estudo da psicoterapia que se
transformou aos poucos em práticas cada vez mais substanciais. Jung,
após dedicar-se aos estudos da prática com muito afinco, compreendeu
a relação psicoterapeuta como uma relação dialética, assim, tanto o
cliente quanto o terapeuta passariam a ter parte significativa no
processo. Dois organismos em constante interação numa relação. Fato
que nos obriga a nós, terapeutas, estarmos atentos à importância do
nosso próprio processo. É, portanto, ético da parte do analista que ele,
antes de se lançar numa relação psicoterápica, busque o
autoconhecimento ficando vez mais sensível às suas próprias questões
e, portanto, à sua sombra.

1087
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Trabalho em saúde mental em oficinas com idosos institucionalizados


da Casa Abrigo de Longa Permanência Jesus Maria José

Mayara Maria Martins Batista


PMI

É sabido que, com o envelhecimento, o organismo passa por


modificações estruturais que reduzem a vitalidade e desempenho,
favorecendo o aparecimento de doenças crônicas. Com isso, torna-se
necessário um maior cuidado nessa fase da vida, para que o idoso tenha
um envelhecimento saudável. Sabemos também que é alto o número de
idosos institucionalizados, prática que limita a vida ativa dos idosos,
gerando o sentimento de inutilidade e tornado-os suscetíveis ao
adoecimento psíquico. Tendo como base as considerações
apresentadas, este trabalho expõe uma experiência de atividade
voluntária realizada por meio da ação de uma psicóloga em uma
Instituição de Longa Permanência para Idosos (Casa Abrigo de Longa
Permanência Jesus Maria José - CALPJMJ), que funciona há 62 anos na
cidade de Irará, interior da Bahia. Os residentes da CALPJMJ estavam na
faixa etária de 60 a 90 anos, sendo que 2 moradores encontravam-se em
condições especiais, que não eram idosos, com 44 e 50 anos. Os grupos
eram abertos e realizados com a participação de 9 a 12 pessoas, as quais
apresentavam comorbidades diversas, como deficiência visual,
deficiência física, deficiência auditiva, amputação de membros. As
atividades precisavam ser adequadas de acordo com a singularidade de
cada integrante. Foram realizadas oficinas no período de maio a
dezembro do ano de 2019 e seriam retomadas em março de 2020, mas
precisaram ser interrompidas devido a pandemia e o isolamento social,
tendo em vista que se tratavam de pessoas do grupo de risco. As
oficinas tinham por objetivo a expressão dos sentimentos e emoções,
expressão corporal, identificação da auto imagem, fortalecimento de
vínculos, expressão da criatividade e trabalho de memória afetiva.

1088
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Dentre as atividades realizadas, estavam presentes oficina de expressão


dos medos, bexigas sentimentais, contação de histórias, dinâmica do
espelho, oficinas de memória, atividades de pintura, entre outras
atividades que auxiliaram a alcançar os objetivos almejados. Foi
percebido, ao longo do desenvolvimento das atividades, um progresso
no estabelecimento de vínculos dos participantes, na expressão dos
sentimentos e melhora na comunicação entre eles e com os
funcionários da instituição. Dessa forma, foi possível identificar que a
atividade grupal é um importante recurso na busca de compensar o
vazio social criado após o acolhimento na casa abrigo, tornando-se um
espaço de apoio emocional e de promoção da qualidade de vida.

1089
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Trajetórias: caminhos na construção compartilhada de saberes em


saúde mental, reorganizações, conexões e
redes apoio em tempos de pandemia

Beatriz Venancia Dias


Prefeitura de Embu-Guaçu

Maria Inês Badaró Moreira


Ana Clara de Castro Ralize Augusto
Bruna Almeida Silva
Gabrielle Siqueira Martimiano
Isabela Cristina Padovez Ribeiro
Thais Mancini Martins
Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

O projeto de extensão universitária “Trajetórias: protagonismo de


usuários de serviços de saúde mental nas ações de ensino-aprendizagem
em saúde” busca trazer a dimensão dos encontros, afetos e potências
que emergem na relação horizontal entre os participantes, entendendo
a experiência como aquilo que nos toca, nos passa e nos acontece. O
projeto constitui as ações de extensão do Campus Baixada Santista da
Universidade Federal de São Paulo e é composto por diferentes atores
do cenário da saúde mental, como estudantes, profissionais, usuários e
familiares da Rede de Atenção Psicossocial da Baixada Santista. Possui
também a premissa de reclame da participação social, do exercício da
cidadania e do resgate do direito subtraído de pessoas portadoras de
sofrimento psíquico, tensionando a reflexão do papel da universidade
pública frente aos grupos vulneráveis e excluídos na construção e
reprodução de saberes, reafirmando seu compromisso ético-político
com os participantes. O conceito de protagonismo no projeto
compreende o planejamento e execução das oficinas psicossociais a
partir da concretização de estratégias que incluam todos os envolvidos,

1090
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

reconhecendo a dimensão do sofrimento psíquico como agenciador do


compartilhamento de saber. As experiências relatadas congregam as
produções coletivas facilitadas pelas múltiplas linguagens artísticas nas
oficinas, a participação social e a construção do conhecimento a partir
do fazer com e não sobre, aproximando a educação popular em saúde a
partir da relação horizontal estabelecida, compreendendo este
alinhamento das ações do projeto com a necessidade da aproximação
do reconhecimento do valor do saber advindo da experiência no
estabelecimento de uma relação real rompendo com hierarquias, papéis
cristalizados e estigmatizantes. As oficinas constituem encontros
singulares em que os afetos se transformam, havendo espaço para
acolhimento, escuta, exposição de ideias e circulação livre da palavra
entre todos. Entende-se neste contexto a importância dos ambientes
grupais como forma de suporte mútuo e a construção um espaço de
convívio e de relações sociais sustentado pelo vínculo, diálogo,
confiança, apoio e troca de experiências. As elaborações construídas nas
oficinas psicossociais compõem parte do processo criativo e livre dos
participantes, reafirmando a importância de suas concepções sobre a
Luta Antimanicomial, Direitos Humanos, Reforma Psiquiátrica e cuidado
em Saúde Mental, propiciando mudanças nos campos afetivos e
relacionais dos participantes. No contexto da pandemia, a reorganização
do projeto se fez necessária pensando na sustentação deste espaço de
cuidado e apoio, refletindo na adaptação das estratégias adotadas pelos
extensionistas na elaboração das oficinas e no alcance das ações visando
à manutenção do vínculo estabelecido em um formato virtual do projeto
apostando no acolhimento incondicional, no manejo, no monitoramento
das condições de cada um e no compartilhamento de informações
acerca da pandemia, transferindo a segurança, o cuidado, o conforto e o
acolhimento para um espaço virtual que sustente o território afetivo
construído pelo projeto em um contexto tão inóspito como este,
mostrando que em momentos tão adversos e distanciados da presença
do encontro físico, o cuidado em saúde permanece se fazendo no

1091
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

encontro, na atenção e no acolhimento como exercício cotidiano de


resistência e superação de adversidades e impasses.

1092
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Um respiro em meio ao caos: diálogos entre política e Saúde Mental

Gleice Barros da Silva


Larissa Pereira de Santana
Universidade do Vale do Itajaí - Univali

Muitos foram os desdobramentos das eleições de 2018, o


fundamentalismo religioso unido ao ultraliberalismo trouxe à tona
discursos que negam a igualdade e desrespeitam a diversidade. Nesse
contexto político, a direita brasileira colocou-se como a única verdade,
censurando qualquer possibilidade de debate. Através das “fake news” e
dos cortes de direitos provenientes da renovação do discurso
meritocrático e excludente, evidenciou-se o sofrimento e a solidão
daqueles que se opõem a estes governos, em especial no Sul do país.
Diante dessa realidade, o setorial de mulheres Antonieta de Barros
promoveu na cidade de Itajaí, Santa Catarina, cafés-debates que
incentivaram a troca de experiência e a construção coletiva de
conhecimentos com a comunidade em geral. Posto isso, o presente
relato objetiva fomentar a reflexão acerca dos impactos dos cafés-
debates na saúde mental dos participantes. As supracitadas ações foram
realizadas mensalmente em diferentes locais da cidade com intuito de
que pessoas provenientes de todos os bairros tivessem a oportunidade
de participar dos cafés-debates. Atualmente, devido à pandemia de
Covid-19, os encontros são realizados em uma plataforma on-line. Entre
os anos de 2019 e 2020 foram realizados 10 cafés-debates. As temáticas
abordadas ao longo desse período foram: Sistema Único de Saúde (SUS)
e a saúde pública no Brasil; autocuidado é um ato político (desafios da
pandemia); as políticas públicas nos alcançam na pandemia?; saúde da
mulher; mulheres com deficiência em cada luta; documentário
Antonieta; negritudes brasileiras; sexualidade, gênero e diversidade; o
conto da aia e o que é lugar de fala? Os participantes dos cafés
promovidos pelo setorial relataram que os encontros proporcionaram

1093
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

um espaço de diálogo e aprendizado. Alguns dos relatos evidenciaram


também o cuidado, o acolhimento, a empatia e o estreitamento de laços
promovidos por este espaço de reconhecimento e organização coletiva.
Por tratar-se de uma ação organizada e protagonizada por mulheres, os
participantes homens pontuaram a escuta como mobilizadora de
reflexão. Em vista disso, conclui-se que os cafés-debates foram
promotores de saúde, uma vez que os mesmos proporcionaram aos
participantes o compartilhamento das angústias e preocupações que a
atual conjuntura política despertou, contribuindo para que esses
sujeitos se sentissem menos solitários em um contexto tão hostil a
pautas progressistas quanto é Santa Catarina. Tal identificação resultou
em potentes encontros nos quais foi possível reconhecer a importância
da coletividade no que concerne aos aspectos psicossociais do ser. Vale
ressaltar que este corpo social é, por si só, um ato de resistência numa
época que supervaloriza o individualismo. Em síntese, a esperança de
dias melhores desenvolvida no decorrer dos encontros articulados pelo
setorial foi um importante promotor de saúde, considerando que de
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde mental
consiste na capacidade que o indivíduo tem de apreciar a vida e
administrar suas próprias emoções, sejam elas positivas ou negativas, ao
mesmo tempo em que este contribui para o meio no qual está inserido.

1094
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Um tempo para olhar para quem cuida

Isabelle Faoro Glaser


Camila Ament Giuliani dos Santos Franco
Nilza Teresinha Faoro
Alice Titon de Lima
Giulia Werner Piper
Jéssica Heloise Camargo de Lima
Maria Augusta Kormann
Marina Guimarães Gunther
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR

Introdução: Cerca de 24% da população brasileira apresenta algum tipo


de deficiência - visual, auditiva, motora ou intelectual. Além disso,
observa-se que o cuidador de pessoas com disabilidades mentais cuida
muito, mas é pouco cuidado - ser cuidador é, comprovadamente, um
preditor para o desenvolvimento de transtornos mentais. Com isso,
percebe-se a importância dos profissionais de saúde de darem suporte
aos responsáveis e cuidadores de crianças com disabilidades
intelectuais, fornecendo mais informações a respeito das deficiências e
abordando sua própria saúde mental, de forma a reforçar o laço
cuidador-cuidado. Descrição da experiência: A ação ocorreu em quatro
dias nos meses de junho e agosto de 2019, e participaram 12 estudantes
de Medicina de uma universidade de Curitiba-PR. Nos três primeiros
dias, foram realizados workshops com os alunos da escola para a
produção de cartões, feitos para serem entregues aos cuidadores das
crianças, de forma a demonstrar afeto e carinho. Muitas crianças
manifestaram interesse em demonstrar o seu afeto, mas não sabiam ao
certo como fazê-lo. Assim, os acadêmicos ajudaram no desenvolvimento
de desenhos e, por vezes, de escrita para aqueles que solicitaram
auxílio. Participaram 160 crianças de faixa etária entre 4 a 16 anos com
diversas disabilidades, majoritariamente síndrome de Down. No último

1095
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

dia do evento foram ministradas duas palestras e uma roda de conversa


com 36 cuidadores. A primeira palestra abordou a saúde mental dos
cuidadores, destacando sinais de alerta para depressão e ansiedade, e a
segunda a saúde da pessoa com disabilidades mentais. Dessa forma, os
cuidadores foram colocados no lugar de receptores de cuidado. Após as
palestras, foi realizada uma roda de conversa na qual a participação dos
cuidadores foi enriquecedora, pois expuseram as dificuldades e também
as alegrias de cuidar de uma criança com disabilidade mental.
Posteriormente, os cartões confeccionados foram entregues. A gratidão
e a felicidade demonstrada foram reflexos da importância da atenção e
da retribuição do cuidado, carinho e esforço que eles demonstram
diariamente. Repercussões: Como futuros profissionais de saúde,
observou-se que a técnica de escuta é fundamental para lidar com os
cuidadores, visto que a roda de conversa foi o momento mais
impactante durante o evento. Várias dúvidas surgiram e foram sanadas,
sendo promovida a percepção de que o cuidado também deve ser
direcionado aos responsáveis e pessoas próximas, reforçando
especialmente a importância do cuidado com a saúde mental. Além
disso, com a entrega dos cartões, a reciprocidade da relação cuidador-
cuidado foi enaltecida. Considerações finais: Assim, considera-se
fundamental que o profissional de saúde desenvolva competências para
dar atenção integral a essas famílias, com foco tanto na criança com
disabilidades como no cuidador, direcionando estratégias nas ações de
educação em saúde para a promoção do bem-estar desses indivíduos e
indiretamente dos próprios familiares. Acredita-se que maior
entendimento e atenção direcionada à saúde mental e bem-estar se
mostram muito benéficos para os cuidadores, ajudando na aceitação e
no desenvolvimento de mecanismos positivos de enfrentamento.

1096
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Uma experiência de grupo de encontro na abordagem humanista


fenomenológica: sentidos, vivências e crescimento pessoal de uma
usuária de um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II

Cleiton Cavalcanti do Nascimento


Prefeitura

O presente trabalho discute uma experiência em grupo terapêutico de


um Centro de Atenção Psicossocial(CAPS II – transtorno). Estes espaços
consistem em centro de atenção à saúde mental da comunidade e
surgiram após a reforma psiquiátrica no Brasil buscando a
desinstitucionalização nos tratamentos em transtornos mentais,
oferecendo atendimentos clínicos à população, assim como a reinserção
social pelo acesso ao trabalho, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. A abordagem é
humanista-fenomenológica, mais precisamente com enfoque no grupo
de encontro desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Carl Roger
(1902-1987). Esta abordagem ajuda ampliar as condições de
crescimento pessoal, visto que o grupo no qual está inserido busca
oferecer um empoderamento a partir do qual o terapeuta passa a ser
membro, não se diferenciando dos outros integrantes. À medida que os
participantes se sentem mais seguros, o diálogo e reflexão crítica acerca
de suas vivências se emanam, facilitando o potencial de crescimento. A
proposta seguiu uma perspectiva compreensiva de tratamento ao
usuário com sofrimento psíquico, diagnosticados com transtornos
mentais graves tendo como objetivo ajudar a contribuir para diminuição
do sofrimento psíquico e melhor compreensão da vida, a partir das
experiências pessoais profundas, significativas, vivenciadas por um
processo de espontaneidade. O delineamento metodológico foi do tipo
qualitativo, exploratório, discursivo. Foram descritas vivências a partir
do recorte de cunho fenomenológico de uma usuária do serviço CAPS II,
utilizando-se relatos de vinte encontros. O crescimento pessoal

1097
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

apresentado se desenvolveu através das discussões e reflexões acerca


de sua comunicação nas relações interpessoais apresentadas no grupo
de encontro. Diante da experiência terapêutica se vivenciou diálogos de
pensamentos e tentativas suicidas a potencialidades de gerar renda e
cuidar da família. Em um espaço com quinze participantes,
relativamente não estruturados, ou seja, cada usuário escolhe suas
direções, o facilitador do grupo inferiu expressões e sentimentos
incluindo algumas informações responsáveis visando o crescimento
pessoal de parte ou de todos os membros envolvidos naquele espaço
terapêutico.

1098
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Uso da arte como ferramenta terapêutica em um grupo


de adolescentes no CAPS I no interior da Paraíba

Guaíra Moreira Camilo de Melo Dutra


CAPS

Thiago Silva Fernandes


CAPS I – Alvorecer

Diante da perspectiva da Clínica Ampliada aplicada a um Centro de


Atenção Psicossocial e tendo como eixo norteador a compreensão de
que a arte se coloca enquanto uma ferramenta de inúmeras
possibilidades, que, para além de um instrumento de expressão do
artista, se configura, sobretudo, enquanto um dos destinos possíveis às
forças pulsionais do sujeito, esta - a arte - foi tomada como recurso
fundamental na condução do grupo terapêutico Flor de Devir. Nos
atendimentos psicoterapêuticos individuais e também grupais realizados
com adolescentes usuárias de um CAPS I no interior da Paraíba, foi
identificado que seus discursos circulavam continuadamente sobre a
questão do diagnóstico e a queixa que se apoiava neste. Assim, a
proposta do grupo foi reformulada e este passou a ter como foco
trabalhar as potencialidades das adolescentes, possibilitando que elas
pudessem se (re)significar a partir de um outro lugar que não fosse os
caracteres do CID10. Voltado para adolescentes com idades entre 12 e
16 anos, o grupo conduzido por dois psicólogos alternava-se entre a
atividade grupal e atendimentos individuais para elaborações acerca das
demandas suscitadas a partir das produções artísticas. A nomeação do
grupo foi atravessada pela aposta de se fazer olhar para outro lugar, o
devir, e, a partir deste lugar de mudança e de vir a ser, fazer florescer
em potencialidades para além do diagnóstico. Potencializando o
protagonismo das usuárias que já utilizavam os desenhos autorais como
forma de expressão, incentivou-se a produção escrita de poemas,

1099
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

diários, histórias e também colagens, com o objetivo de permitir que as


questões subjetivas pudessem não apenas ser manifestas nas produções
artísticas, como também percebidas e, de alguma forma, elaboradas. A
partir daquilo que era produzido, as adolescentes percebiam que o fazer
artístico atuava como uma suplência às formas sintomáticas que, muitas
vezes, utilizavam para tentar dar conta de seus sintomas. Desta forma,
as expressões artísticas atuaram também como ferramenta de
sublimação das pulsões de autodestruição das adolescentes com
ideações suicidas que, em momentos críticos, encontravam
apaziguamento em seus desenhos e, posteriormente, em seus escritos.
As vivências do grupo produziram efeitos transformadores tanto nas
usuárias quanto nos profissionais que o conduziram. Observou-se, como
produto do uso das expressões artísticas como prática complementar no
serviço de saúde mental, que a construção de histórias, escritas e
ilustradas, possibilitaram a elaboração de vivências traumáticas, o
aumento do protagonismo e lugar de fala das usuárias, além da
construção do laço social que levaram à consequente diminuição de
resistências nas relações terapêuticas. Quanto aos profissionais, foi
possível perceber que a aposta que a psiquiatra Nise da Silveira fez na
arte e no valor terapêutico das atividades expressivas ainda continua
sendo uma das mais promissoras nos cuidados em saúde mental.
Ademais, a experiência evoca o necessário desprendimento do modelo
ambulatorial na práxis da psicologia e da psicanálise nos serviços de
atenção psicossocial, e o consequente encontro com diferentes saberes
na clínica ampliada.

1100
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Uso de branco, abuso de preto: análise sobre o racismo


entrelaçado a políticas sobre drogas e sua interface de gênero

Tatiana Figueiredo Ferreira Conceição


Prefeitura Municipal de Resende

Magda Costa Barreto


Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro

Dione Rodrigues Pires


Universidade Federal do Rio de Janeiro

O presente trabalho é fruto de reflexões e questionamentos de três


assistentes sociais, negras, integrantes do Programa de Pós-graduação
da Escola de Serviço Social da UFRJ, duas delas atuando em Centros de
Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPS AD II)
em municípios distintos, mas que apresentam similaridade no que
concerne as demandas que nos atravessam, interligadas a mulheres
negras. Interligadas à sua forma de acesso, território e seu processo de
pertencimento no espaço, além da moralidade social que fora
construída.Iniciamos este debate trazendo o conceito que estaremos
trabalhando sobre o que consiste racismo no Brasil como uma
construção histórica e social, que traz preconceito, discriminação social
e prejuízos para a população negra, independente da camada social e
região de moradia. (EURICO, 2013 apud Lopes e Quintiliano, 2007). A
formação social brasileira nos direciona para reflexões acerca dos
desafios impostos sobre a realidade da população negra, vide o histórico
colonial, onde a população negra sofreu as cruéis facetas da escravidão,
Trazendo um recorte de gênero e raça, os estudos apontam que as
mulheres negras são as que mais se encontram em situação de
vulnerabilidade social e pauperização. Porém, o seu acesso aos serviços
ainda ocorre de forma escassa. Para elas, o dispositivo de saúde mental

1101
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

voltado para acompanhamento a situações decorrentes ao uso


prejudicial de álcool e drogas está atrelado ao sistema de justiça ou pela
rede socioassistencial e de forma bem reduzida enquanto demanda
espontânea. Percebemos o quanto o racismo impõe particularidades à
realidade da população negra, pois, “considerando que as relações
sociais estão marcadas por assimetrias, podemos afirmar que o fator
raça/cor é determinante para a exclusão ou inclusão dos indivíduos.”
(Almeida, 2015, p.313). Ao pensar em dispositivo de saúde mental,
voltado para álcool e outras drogas, ressalta-se neste debate a Lei sobre
Drogas no Brasil, pois diante de tal legislação percebemos um aumento
considerável de indivíduos nos dispositivos de saúde mental, onde
muitos têm seu acompanhamento atrelado ao Sistema de Justiça, o que
marca um aumento significativo da população negra encarcerada.
Diante de tal situação, apontamos a situação da mulher negra que se
encontra em suposto uso de substâncias psicoativas (SPA) e o quanto o
seu processo de cuidado está atrelado ao "outro", encaminhada pelo
Sistema de Justiça, onde a cor de sua pele e o território estão
condicionados na decisão social se esta realiza uso ou "abuso"de SPA.
Salientamos como suposto uso evidencia-se, portanto, que o racismo
institucional é a continuidade do racismo estruturado e perpetuado pela
sociedade. Conclui-se que o racismo estrutural e a lógica manicomial
convergem, uma vez que ambos possuem relação com a manutenção de
uma “ordem social”. Sendo assim, concluímos que: como lidar com as
desigualdades raciais que se apresentam através das demandas dos
usuários atendidos no dispositivo? Ao realizar tal questionamento, nos
cabe analisar o processo de formação social brasileira, pois em nosso
processo de formação societária há a marca da eugenia, opressão e
desigualdade, mascarada pelo mito da democracia racial.

1102
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Uso do grupo de trabalho como forma de Ações


Coletivas de Saúde: um relato de experiência

Rachel de Carvalho de Rezende


Natânia Candeira
Universidade Federal Fluminense– UFF

Introdução: Trata-se de um relato de experiência, o qual aborda a


criação de um Grupo de Trabalho (GT) voltado para a elaboração de um
ambiente coletivo de discussões, levantamento de ideias, propostas de
ações e o fortalecimento de um programa de saúde mental/integral na
UFF. Seu lançamento foi durante o II Simpósio do Setembro Amarelo em
2019, realizado pela Divisão de Promoção e Vigilância em Saúde. A
crescente manifestação do sofrimento/adoecimento mental se mostra
nos membros da comunidade universitária–como estresse, ansiedade,
depressão e, em especial, a ocorrência preocupante de suicídios –
levando a necessidade de buscarmos coletivamente ações e medidas
que se integrem à Rede. Um cenário reafirmado pela Organização
Mundial de Saúde, que mostra que os danos da saúde mental no
trabalho afetam 30% dos trabalhadores no mundo. Esse fenômeno diz
respeito aos modos atuais do cuidado de si, relação com o outro e
resposta às demandas sociais, gerando efeitos também no contexto
acadêmico e laboral da universidade. Descrição da experiência: Os
encontros do GT começaram após o Simpósio com regularidade
quinzenal, e presença de estudantes, técnicos administrativos e
docentes, totalizando em média 30 pessoas e crescendo. As reuniões
têm uma dinâmica de diálogo coletivo, com criação dos eixos
norteadores: 1) Captação e mapeamento das ações coletivas existentes
em saúde mental/integral; 2) Organização e planejamento do Fórum; 3)
Agrupar e estabelecer uma comunicação dos projetos existentes; 4)
Lidar com condições de trabalho x gestão; 5) Ações de promoção e
prevenção no núcleo de saúde mental; 6) Reduzir índices de

1103
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

adoecimento. O rumo do GT definiu como ação ampliada, o convite de


profissionais que desenvolvessem projetos e ações da temática, para
focar especificamente na captação e mapeamento dessas ações na
comunidade, outro foi a criação do Fórum. Repercussões: A criação de
um ambiente eletrônico de comunicação, para agendamento dos
encontros, debates, pendências e deliberações de atividades como uma
forma de facilitar a articulação dos participantes. O GT gerou um
formulário de “Cadastro de Projetos em Saúde Mental e Integral”, que
será implementado em futuras ações do grupo. A construção do FACES
(Fórum de Ações Coletivas em Saúde) que é de cunho científico e aberto
à sociedade local; e, por fim, a construção oficial do GT perante a
gestão. Considerações finais: O GT trouxe questões no pensar não
apenas no atendimento individual, mas em um coletivo de corpo, mente
e território, reconsiderando o processo de acolher e reorganizar o
serviço de saúde mental na instituição, com a vivência de estudantes e
trabalhadores. É importante frisar que a comunicação e a educação
continuada são fatores que auxiliam na redução de dúvidas sobre a
temática nos diversos campos da universidade, principalmente no
entrelace de diálogos entre pró-reitorias, estudantes, trabalhadores e
gestão. A experiência tem sido significativa, sinalizando que o cenário
em questão é imprescindível. Espera-se que este estudo contribua na
realização de novas pesquisas, grupos e ações em saúde mental, no
ambiente de trabalho como fora dele.

1104
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Valorização da vida no cortejo: o desafio de se abordar


a prevenção do suicídio no carnaval em Belo Horizonte

Cristiane Santos de Souza Nogueira


Conselho Regional de Psicologia – MG

Descrição da experiência: Em novembro de 2019, uma das


organizadoras de um bloco de carnaval de Belo Horizonte fez contato
com o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais solicitando
orientações sobre como abordar a questão da prevenção do suicídio,
visto ser o tema escolhido pela agremiação para o cortejo de 2020. Em
sua 9ª edição, o bloco que desde 2012 carnavaliza BH levantando as
bandeiras do amor, da diversidade, da alegria, do respeito e
demarcando o posicionamento contra qualquer tipo de preconceito e
manifestação de ódio, definiu ter como tema o Setembro Amarelo “para
lembrar as pessoas que a vida de cada um é muito importante.”
Queremos dobrar nosso recado de afeto e trazer um tema que é por
muitos ignorado. Avalia-se como uma atitude responsável do bloco
buscar suporte profissional para levar esse tema para as ruas,
demonstrando ter consciência sobre a necessidade se falar de maneira
correta sobre um tema tão delicado. Nas chamadas para as atividades
que foram realizadas conjuntamente entre CRP e bloco de carnaval,
marca-se o convite para falar sobre o tema e para a responsabilidade de
cada um na prevenção do suicídio e valorização da vida. “É um tema
tranquilo para ser tratado? NÃO! Qualquer um pode falar sobre?
TAMBÉM NÃO! Para dar a devida seriedade e respeito ao assunto,
contamos com o apoio do Conselho Regional de Psicologia... que já faz
ações de prevenção ao suicídio e irá colaborar com a gente”.
Repercussões: Essa experiência buscou efetivar a encomenda
inicialmente formulada ao CRP, conjugando a essência do bloco com
suas chitas, com o amarelo do girassol na perspectiva da Valorização da
Vida e da Prevenção do Suicídio, de forma lúdica, propiciando a

1105
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

sensibilização sem mobilizar resistências e defesas frente a um tema que


toca a todos de forma tão profunda. Um cortejo de carnaval como
resistência e subversão aos processos de medicalização e patologização,
para uma aposta de vivências afetivas, de fortalecimento de vínculos, do
estreitamento dos laços de convivência. Uma aposta nas tecnologias
leves, na melhoria da qualidade de vida das pessoas, que só é possível
pelas relações, afinal o ser humano é ser gregário, que se abastece da
luz, do calor e da energia de outros seres humanos. Considerações
finais: Restou comprovado que é possível abordar a temática com
seriedade e responsabilidade, através de orientações técnicas e com
embasamento científico, em contextos diversos, com leveza e
transmitindo mensagem de esperança. Pensando que as saídas devem
ser locais, que as micro políticas podem operar transformações...
Chamando as pessoas para sua dimensão de participação e
responsabilidade. Promover saúde mental nos moldes da saúde coletiva.

1106
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Vamos ao museu: a articulação entre o cuidado


em Saúde Mental e o acesso à arte

Valquíria Soares Proence


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

O Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) é um serviço de cuidado


em saúde mental que compõe a Rede de Atenção Psicossocial do
município de São Paulo. Implantado a partir de 1989, na gestão da Luiza
Erundina, é uma importante política pública de saúde, inseridos dentro
da rede substitutiva aos manicômios, pautando formas de cuidado em
ressonância com a proposta da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Os
Ceccos se propõem trabalhar as questões de convivência e reinserção
social dos sujeitos com algum sofrimento psíquico, ou em situação de
vulnerabilidade, por meio de oficinas de diferentes linguagens, como
corporal, musical, artesanal e cultural, criando um espaço de estar, de
pertença, onde é estimulado o conhecimento sobre si mesmo e o outro,
em relação com o mundo, que não pauta a patologia, mas o sujeito
como sujeito de direitos. Este trabalho tem como objetivo compartilhar
algumas das experiências do estágio extracurricular vivenciadas na
Oficina de Artes do Centro de Convivência e Cooperativa de Santo
Amaro, e as estratégias desenvolvidas em relação ao cuidado em saúde
mental e promoção de saúde, articuladas com um projeto de inserção
cultural por meio do acesso à arte. O estágio foi desenvolvido ao longo
dos anos de 2018 e 2020 no Cecco Santo Amaro, localizado na Zona Sul
da cidade de São Paulo, com usuários de diferentes faixas etárias, sexo e
raça/etnia. O trabalho foi organizado em parceria com o Museu de Arte
Contemporânea da USP, no projeto de extensão “Viva Arte! - Bem-estar
social e saúde no Museu”. Foram desenvolvidos com os usuários da
oficina: visitas educacionais, cursos sobre fotografia, pintura e outros
temas relacionados à arte contemporânea, assim como a visita a outros
espaços culturais da cidade e rodas de conversa sobre o que era

1107
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

vivenciado pelos usuários. Buscou-se viabilizar e mediar os acessos às


instituições de arte, pois os usuários traziam a demanda de que não se
sentiam autorizados a ocupar esses espaços. Da mesma maneira que o
conhecimento de artistas, cuja vida e obra permitia fazer paralelos com
o cotidiano dos usuários e as suas histórias de vida. Entre as
repercussões do trabalho desenvolvido tiveram: o fortalecimento da
participação social dos usuários, a possibilidade de experimentação
artística, ampliação de repertório cultural, produção de cidadania e
autonomia, ocupação de espaços públicos e a promoção de saúde por
meio da arte. O trabalho desenvolvido revela a potência e importância
dos serviços de saúde estarem articulados com outros espaços e
projetos do território, levando o cuidado em saúde mental para além
dos muros do serviço. O Cecco Santo Amaro revela-se como uma
resistência antimanicomial no território, que dentro da rede de atenção
psicossocial pauta outras formas de cuidado em saúde mental.

1108
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Varal da Redução: construindo e compartilhando


práticas de cuidado em saúde

Karla Rúbia Gomes Vieira


Carolina Pedroza Barros da Silva
Dejany Natalia Sousa Barros
Inez Kaúla Machado Santos
Raquel de Souza Xavier
Ricardo Pimentel Méllo
Tárcila Silva de Lima
Universidade Federal do Ceará– UFC

A oficina intitulada “Varal da Redução: mãos construindo e


compartilhando práticas de cuidado em saúde”, realizada pelo Núcleo
de Estudos sobre Drogas (Nuced) do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), foi desenvolvida sob a perspectiva
da Redução de Danos (RD), por ser uma prática direcionada a quem faz
uso abusivo ou compulsivo de substância psicoativas, que não consegue
ou não deseja interromper o uso. Desse modo, é uma prática de cuidado
que tem como princípio o respeito à autonomia e liberdade dos sujeitos,
que precisam participar ativamente de seus tratamentos. A oficina
abordada tem objetivo de criar um artefato-arte informativo sobre a
temática do uso de drogas. Após a decisão do grupo sobre o tema a ser
exposto, parte-se para pesquisa do mesmo e depois para a criação de
como as informações farão parte do “Varal da Redução”. Este é feito de
barbante, onde são dependurados objetos, cartazes com frases e/ou
imagens, colagens diversas, e o que mais a criatividade dos participantes
da oficina favorecer. Por exemplo, em relação ao uso de bebida alcoólica
pode-se preparar material que sugiram: intercalar o uso de álcool com a
ingestão de água; alimentar-se antes de beber; evitar certos tipos de
bebidas extremamente prejudiciais à saúde ainda que vendidas
livremente etc. A oficina tem como consequência oferecer informação

1109
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

aos participantes e a todos que se depararem com o “Varal da


Redução”, indicando atos simples que podem ser feitos diariamente, às
vezes despercebidos. Sobretudo, resulta no despertar ou reforçar as
pessoas para o cuidado de si. Juntam-se à exposição do Varal da
Redução outras atividade de Redução de Danos desenvolvidas por
integrantes do Nuced, como a distribuição de kits com preservativos,
lubrificantes, seda, piteira, canudo e fanzines informativos sobre
diversas estratégias de Redução de Danos no uso das mais diversas
substâncias psicoativas. O momento de exposição e distribuição de kits
também é uma oportunidade para conversas com transeuntes sobre uso
de drogas, tratamentos, equipamentos públicos de saúde e sobre ações
de Redução de Danos.

1110
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Vida (In) Comum: observações no processo de desinstitucionalização


de um morador do SRT de Criciúma, Santa Catarina

Jainy Colares dos Santos


Dipaula Minotto da Silva
Ana Regina da Silva Losso
Andresa Machado
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

Em 1968 inaugura-se em Criciúma/SC a “Casa de Saúde Rio Maina”,


tema de estudos que anunciaram seu papel de instituição total, com
discurso do saber científico como justificativa para práticas violentas e
da instituição psiquiátrica como lugar de manutenção de ordem social. É
a partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, junto à criação do SUS, que a
Política Nacional de Saúde Mental substitutiva ao modelo manicomial
passa a promover transformações locais importantes. Neste sentido,
sujeitos sem vínculos com suas famílias, ou com vínculos extremamente
fragilizados pelos anos de internação psiquiátrica, têm o direito ao
cuidado em liberdade junto aos CAPS e moradia assistida, nomeadas nas
normativas por Serviço Residencial Terapêutico (SRT). Nesta perspectiva,
criou-se o projeto de extensão “Retornando a Vida (nada) comum: apoio
ao processo de desinstitucionalização nos SRTs do município de
Criciúma/SC”, que nasce junto ao processo de chegada dos moradores
às duas casas, inauguradas em setembro de 2019. O projeto é vinculado
ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial da UNESC, cursos de Psicologia e de Enfermagem.
Os principais objetivos do projeto são: estudar do papel do SRT como
dispositivo de desinstitucionalização; observar e identificar dificuldades
e potencialidades individuais dos moradores; junto a eles buscar a
qualidade no ambiente de moradia; e auxiliar no processo de adaptação
a nova casa. Neste resumo, o recorte se dá na reflexão acerca da
convivência com um dos moradores, A.T.. A abordagem

1111
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

metodológica/pedagógica adotada é crítica e reflexiva. A prática parte


de uma observação crítica sobre a realidade do espaço, interseccionada
ao estudo teórico do processo de desinstitucionalização e mortificação
do eu. O período de convivência com A.T. possibilitou a construção do
vínculo de afeto. A.T. falava sobre a sua história, sobre seus medos na
nova residência e sobre suas perspectivas neste novo local, buscando
uma identidade degradada durante os anos de internação. Contou sobre
suas dores, cicatrizes que marcam o corpo, juventude, paixão na música
e desejos. Demonstrava bastante entusiasmo para a mudança de lar. Em
2020 surgiram reflexões sobre as barreiras que ainda enfrentaria para
uma vida “normal”, apresentando-se mais ausente na casa,
permanecendo na cama, sem entusiasmo para conversar, e até mesmo
para se relacionar. Nossa comunicação então se deu através da música.
Entre som e silêncio, A.T. falava sobre uma grande culpa, o desejo de
voltar para a casa do pai, e da necessidade de maior acessibilidade por
suas condições físicas. O amparo afetivo foi muito importante para que
ele conseguisse entrar em contato com estas emoções, olhando para
sua identidade. O acompanhamento foi pausado por conta da pandemia
de Covid-19, que proibiu a atuação presencial do projeto. O processo de
desinstitucionalização, do reencontro com uma subjetividade limitada e
violentada pelas instituições psiquiátricas totais e de inclusão
social/cidadã, é lento, complexo e mexe com estruturas culturais ainda
enrijecidas. O SRT tem uma relevância ímpar, por ser um Dispositivo da
Reforma Psiquiátrica junto a estes/as cidadãos/ãs.

1112
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Visita domiciliar a usuários de álcool e


outras drogas: um relato de experiência

Crisian Rafaelle Morais de Souza


CAPS

Eloina Angela Torres Nunes


CAPS AD/Paulista

Introdução: A Política Nacional de Saúde Mental do SUS, que tem na Lei


10.216/01 seu marco legal, apresenta como principal diretriz a redução
de leitos em hospitais psiquiátricos, privilegiando a atenção em saúde
mental no Sistema Único de Saúde através de diversos dispositivos
articulados em rede, dentre eles os Centros de Atenção
Psicossocial(CAPS). O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à
população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento
clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer,
exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e
comunitários. O relato em questão trata-se da visita domiciliar realizada
a uma usuária do CAPS álcool e outras drogas do município de Paulista,
Pernambuco. A visita domiciliar como instrumento de intervenção
profissional pretende compreender de forma aprofundada o modo de
vida da população usuária diretamente no espaço de residência dos
sujeitos, contribuindo com o diálogo e o estabelecimento de vínculo
entre os profissionais envolvidos e a população usuária. Descrição da
experiência: A visita domiciliar em questão teve como objetivo realizar
busca ativa de R.M.O., 59 anos, usuária de diversas substâncias
psicoativas. De acordo com as informações colhidas, a usuária esteve
internada por questões clínicas e após alta o cuidado é dividido entre
membros da família, mas a maior parte do tempo ela está na companhia
do irmão que apresenta deficiência física. R.M.O. é pensionista e utiliza
seu cartão para pagar dívidas do consumo de drogas, comprometendo

1113
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mais de 50% da renda. Repercussões e considerações finais: Familiares


relataram desejo por internamento em clínica de reabilitação, como
resposta ao padrão de uso atual de drogas. Diante disto, a equipe
presente sensibilizou a família para o tratamento em meio aberto, tanto
familiar como social, conforme propõe a política de saúde mental.
Realizamos articulação para o retorno ao CAPS em que R.M.O.
compareceu e foi acolhida pela equipe multiprofissional e passou por
atendimento médico (clínico e psiquiátrico) no qual foram prescrita
medicação e solicitados exames. Salientamos a importância de adesão
ao tratamento, conforme acordado com os familiares. Ademais, para
que o cuidado seja realizado de forma integral e intersetorial foram
realizadas articulações com a unidade de saúde, com o Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) para acompanhamento da
usuária em seu território.

1114
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Vivência de morte e luto em tempos de pandemia: uma experiência de


humanização na formação em bioética do curso de Medicina

Rosimeire Aparecida Manoel Seixas


Giovanna Mallmann Silva
Gabriel Melo Borges
João Pedro Nakamura Amaral
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul– UFMS

No final do ano passado, o mundo foi acometido pela pandemia do novo


coronavírus (SARS-CoV-2), a qual impôs um grande desafio para a área
da saúde pública global. Recentemente, o Brasil ultrapassou o número
de cinco milhões de infectados e de 150 mil mortes vítimas de Covid-19.
Dentre os inúmeros efeitos decorrentes desse contexto, cabe salientar
os impactos no âmbito da saúde mental, em especial das famílias
enlutadas e suas dificuldades em vivenciar o processo de luto frente a
perda de um ente querido. Tendo em vista ressignificar os rituais de
despedidas, suspensos nesse período, e resgatar a dignidade humana de
todas as vítimas, o Projeto Inumeráveis – memorial dedicado à história
de cada uma das vítimas do coronavírus no Brasil, foi idealizado como
um “protesto poético” diante da forma de reduzir as vidas perdidas a
números. Assim, durante uma atividade da disciplina de bioética no
quarto ano do curso de Medicina da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, foi solicitado aos alunos que escolhessem uma história-
tributo no site do Inumeráveis e escrevessem uma carta à família
enlutada. Com o objetivo de promover a articulação entre a teoria e a
prática (realidade social) dentro das limitações do ensino remoto, a
proposta da atividade buscou abordar aspectos do processo de luto e o
exercício da comunicação profissional no contexto da morte. Todavia, a
repercussão desse trabalho superou os objetivos inicialmente previstos.
Observou-se o processo de identificação dos alunos desde momento da
escolha do tributo, a forma acolhedora que conseguiram expressar nas

1115
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

palavras seus sentimentos, demonstrando como, realmente,


conectaram-se àquelas histórias de vida, conforme verificado no relato
de alguns acadêmicos: “Pra mim, a experiência de escrever as cartas foi
além do objetivo inicial da disciplina. Mais do que trabalhar a linguagem
em situações de luto e morte, ao me ver diante de uma homenagem
feita com tanto zelo, palavras escritas com tanto amor e saudade, tive
que lidar com os meus próprios sentimentos primeiro. E entrei em
conflito. Senti vontade de chorar, de abraçar bem forte, de fornecer
alento de alguma maneira. Me senti profundamente humana – e
pequena”; “Ela [atividade] me mudou. Me fez mais humano e me
mostrou a realidade dolorosa que estamos enfrentando e o quanto
estamos apáticos. Isso precisa mudar. Salvem suas Elianes. Esse trabalho
me fez entender que precisamos pensar e sentir o outro. Não quero que
a história de Eliane se perca em meio a outros números brutos e vazios.
Queria que todos pudessem entender a gravidade do momento
histórico que estamos vivendo e se emocionassem. Que se
protegessem.” Assim, salienta-se alguns referenciais em bioética
estudados e apreendidos nessa vivência como a identificação da
vulnerabilidade e espiritualidade, a necessidade da prudência e da
solidariedade para proteção do coletivo e, por fim, a alteridade, ou seja,
a capacidade de olhar, enxergar e sentir com o outro. Embora a
experiência relatada não tenha sido presencial, essa atividade reafirma o
papel da educação da sensibilidade no desenvolvimento humano, ou
seja, de habilidades cognitivas e afetivas, contribuindo para a
humanização.

1116
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Vivências em um hospital psiquiátrico do interior da Bahia: a


experiência de um estágio curricular do curso de Enfermagem

Ohana Cunha do Nascimento


Natália Bárbara Silva Santana Costa
Dailey Oliveira de Carvalho
Dalva Monalysa da Silva Santos
Maricarla da Cruz Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana– UEFS

Introdução: A realização de estágio no contexto do Hospital Psiquiátrico


permite o reconhecimento dos estigmas construídos ao logo da vida nos
espaços sociais. Sentimentos como medo, insegurança, em virtude da
construção histórica, são comuns entre os estudantes frente à realização
das atividades. No entanto, a partir da vivência teórico-prática, observa-
se a formação das percepções diversas dos discentes sobre a
manutenção dos espaços asilares, onde subjetividades se atravessam na
visualização do espaço físico, o cuidado destinado aos sujeitos ali
internados, o processo de trabalho da equipe,
aproximação/distanciamento dos familiares, entre outros aspectos
transversais a este contexto. Descrição da experiência: Na condição de
discentes, ao ingressar na disciplina Enfermagem no Contexto da Saúde
Mental e Adoecer Psíquico em uma universidade estadual do interior da
Bahia, notou-se que os sentimentos pautados no estigma social, como o
medo e insegurança, permeiam a expectativa da prática no contexto do
Hospital Psiquiátrico. No entanto, ao adentrar o serviço e conviver com
os sujeitos em situação de internamento pôde-se perceber que o espaço
asilar permanece como ambiente iatrogênico pelo modo de
operacionalizar a sua atenção à saúde, com processos de trabalho que
precisam ser reestruturados até que haja a progressiva realocação
desses sujeitos em Residências Terapêuticas. Neste ínterim, foi proposta
a realização de Oficina de Beleza com as mulheres internadas,

1117
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

circunstância em que foi possível perceber a capacidade comunicativa,


subjetividades relacionadas ao resgate da autoestima, criação de espaço
de confiança para a manifestação dos sentimentos e emoções, através
da dança, desenhos e diálogos. Repercussões: A realização de Oficinas
Terapêuticas nestes espaços não reformula processo de trabalho, mas
permite que haja a livre expressão dos desejos e anseios dos sujeitos
que ali se encontram, demonstrando que é possível resgatar a
concepção de autocuidado, entendimento das relações familiares e
estabelecimento de vínculo com os profissionais. Considerações finais: A
sociedade se mostra na extensão dos espaços de cuidados
especializados em saúde mental, e infelizmente ainda se observa a
vulnerabilidade, marginalização e descrédito dos sujeitos que estão em
momento de crise psiquiátrica. É preciso reformular algumas práticas,
pensando para além dos processos de trabalho, a fim de que o
atendimento seja individualizado com propostas terapêuticas exclusivas
para cada cliente de acordo ao seu diagnóstico e comportamento, indo
além dos diagnósticos estabelecidos de forma precoce e aproximando-
se do que se concebe na Sistematização da Assistência de Enfermagem.
Só assim, o cuidado tornar-se-á cada vez mais humanizado, a partir da
desconstrução de olhares preconceituosos e enxergando as pessoas
para além do sofrimento que em si carregam.

1118
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Vivências na educação inclusiva: um olhar sobre


o outro - relato de experiência

Maria Naiara de Sousa


PRE

Leidiane Carvalho de Aguiar


Centro Universitário Inta-Unita

Introdução: O presente trabalho mostra uma experiência vivida por uma


estagiária de Enfermagem no período de janeiro de 2018 a julho de
2019 no acompanhamento de crianças com transtorno mental na
educação especializada (AEE) em uma escola regional em Sobral, no
Ceará. Descrição da experiência: Nesse sentido, venho descrever a
importância do acompanhamento de uma estagiária de Enfermagem a
crianças com transtornos mentais no ambiente escolar. Durante o
período que transcorreu a vivência como estagiária de Enfermagem com
crianças que possuem transtornos mentais de TDAH, autismo, síndrome
de Down, microcefalia, hidrocefalia e paralisia cerebral. A partir desses
transtornos, pude realizar, através de atividades educacionais, a
promoção de reabilitação, autonomia e socialização dos mesmos,
juntamente com a psicopedagoga e outra estagiária do curso de
Psicologia. Foi possível elaborarmos um cronograma de atividades
mensais onde a cada mês eram desenvolvidas práticas referentes a
temáticas, assim como higienização e alimentação saudável, jogos
lúdicos, brincadeiras em coletivo e atividade física inclusiva na quadra
esportiva. Bem como os momentos de aprendizagem, também eram
desenvolvidos os de lazer nas datas comemorativas, uma delas na
Páscoa. Para mostrar nosso trabalho, em cada final de semestre era
reunida a equipe de trabalho da instituição, como também os pais e
alunos no pátio da escola para a exposição de nossas atividades e
confraternização. Repercussões e considerações finais: A prática vivida

1119
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

pela estagiária dentro do contexto educacional trouxe grandes desafios.


Um deles foi o estigma por outros alunos de sala regular nesse processo
de inclusão e aprendizagem. Mediante isso, tivemos dificuldades no que
diz respeito ao ensino dos alunos com transtornos mentais, tendo em
vista que estes apresentavam timidez em frequentar a sala do AEE para
realizar as atividades. Percebendo essa problemática, a estagiária
juntamente com as professoras da sala regular e da sala de atividades
multifuncionais, adotaram medidas para amenizar essas atitudes
constrangedoras. Uma delas foi a prática de ações em coletivo. Vimos
também como é necessário incluir a família no processo de
aprendizagem e inclusão, pois é a mesma que irá incentivar e ser
coparticipante nesse processo educacional e social, proporcionando
assim suporte emocional, confiança e ajuda no desenvolvimento das
tarefas repassadas no ambiente escolar. Vimos também que é possível,
sim, a inclusão e aprendizagem dos mesmos, desde que haja um
acompanhamento adequado e uma equipe preparada para essa
demanda. Mediante isso, a experiência foi bastante proveitosa, uma vez
que pude repassar meus conhecimentos, principalmente os adquiridos
nas formações do AEE voltadas para transtornos mentais, trazendo
assim benéficios para ajudar na reabilitação e colaborar no processo de
inclusão social. Tornei-me, assim, um profissional de qualidade,
aprendendo mais sobre diversas patologias na saúde mental e
aprimorando meus conhecimentos, com crescimento profissional.

1120
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

“Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”: reflexões


acerca do sofrimento mental no âmbito das residências
multiprofissionais em saúde a partir da experiência como residente

Clara Barbosa de Oliveira Santos


Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz

O seguinte trabalho discute o sofrimento mental no contexto dos


programas de Residências Multiprofissionais em Saúde no cenário
brasileiro, partindo de reflexões da autora, fazendo uso do seu portfólio,
instrumento utilizado para articulação dos conceitos teóricos com a
intervenção profissional em campo. Tendo em vista isso, foi realizado
um levantamento bibliográfico sobre a Política de Saúde no Brasil,
tomando como marcos o Movimento pela Reforma Sanitária, a criação
do Sistema Único de Saúde (SUS) e a sua materialização em um contexto
de ofensiva neoliberal; o papel das Residências Multiprofissionais no
contexto de concretização de uma política pública de saúde; um estudo
das legislações que regulamentam as residências multiprofissionais no
contexto brasileiro, bem como suas atuais configurações, trazendo, por
fim, a experiência como residente no Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Mental do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF). O período contemplado
no relato será de março de 2018 a agosto de 2019, que envolve a
passagem por dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do município
de Juiz de Fora. Na busca nas bases de dados, foram encontrados 69
trabalhos a respeito do sofrimento mental na residência, sendo
selecionados 6 trabalhos, dentre eles, monografia e artigos, pelos
critérios de inclusão delimitados para a pesquisa, tais como língua
portuguesa, a temática de sofrimento mental nas residências e a
publicação dos trabalhos entre os anos de 2014 e 2019. Foi possível
concluir com esta pesquisa que o fenômeno do sofrimento mental nas
Residências Multiprofissionais não é um fato isolado em si, mas

1121
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

acompanha toda a conjuntura de crise estrutural do capital e suas


diversas consequências, analisadas no trabalho especificamente o
rebatimento desta crise em um país de capitalismo periférico. O
sofrimento mental, porém, é algo que vem se aprofundando nos últimos
anos e requer medidas de enfrentamento, sejam institucionais e
extrainstitucionais (via movimentos sociais, luta coletiva e organização
política), de acordo com os fatores de adoecimento e de proteção que
surgirem em cada contexto onde a Residência Multiprofissional se
encontra.

1122
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

CAPS “Extramuros” como alternativa terapêutica no CAPS II


João Bebe Água de São Cristóvão/SE: experiências do
PET-Saúde Interprofissionalidade

Geniere Rocha dos Santos João


Anne Beatriz Aragão Sousa
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes
Audrielly Mayara Silva Oliveira
Evelyn Natanny de Souza Farias Dias
Marciel Rosa de Sales
Yann Gabriel Neres Alves
Randeantony da Conceição do Nascimento
Universidade Federal de Sergipe - UFS

Rosângela Félix Lima


Stefanie Silva Veira
Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão/SE

O resumo apresenta um relato de experiência desenvolvida junto ao


Grupo Tutorial 5 do Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde da
Universidade Federal de Sergipe (PET-Saúde/Interprofissionalidade) no
Centro de Atenção Psicossocial II João Bebe Água, em São Cristóvão,
Sergipe, por meio de alternativas terapêuticas. Entendem-se como
alternativas terapêuticas as práticas inovadoras e complementares aos
tratamentos de saúde convencionais conforme define o Glossário
Temático de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde do
Ministério da Saúde de 2018. As atividades foram desenvolvidas em
conjunto com profissionais da unidade, assegurando novas práticas no
processo de cuidado da saúde mental de usuárias(os) e
interprofissionalidade. A denominação “extramuros” resulta de
atividades para além do ambiente de saúde físico do CAPS, com ações
terapêuticas que viabilizaram métodos alternativos de assistência à

1123
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

saúde, desfocados da patologização e medicalização da vida e utilizando


outros espaços abertos à sociedade como ambiente de saúde. Entre
agosto de 2019 e o início de 2020, as experiências abrangeram
diferentes locais dos munícipios de São Cristóvão e de Aracaju e
envolveram visitas a museus históricos, como o Museu da Gente
Sergipana; às praias de Aracaju; às praças de convivência próximas ao
CAPS II; aos eventos históricos que acontecem no município, como 36º
Festival de Artes de São Cristóvão; aos shopping centers da capital,
entre outros. Além da participação de usuárias(os), estudantes e
profissionais em ações que instigaram a saúde física como o
Campeonato interCAPS, envolvendo o outro CAPS do município de São
Cristóvão. Percebeu-se que essas atividades promovem o
empoderamento dos indivíduos, por meio do fortalecimento da
autonomia, mediante a compreensão da sua singularidade e
importância em um ambiente cooperativo, além de proporcionar a
reintegração dessas pessoas na sociedade, com o exercício pleno da
cidadania e da participação social; de propiciar o enfrentamento dos
medos e desafios, como no caso das praias, e de instigar a prática de
exercícios físicos, como dança, zumba e jogos a usuárias(os). À vista do
compromisso com a demanda, as ações tornaram-se gratificantes e
produziram a sensação de realização profissional por permitir o
cumprimento do objetivo do CAPS proposto pela luta antimanicomial de
reabilitação psicossocial, além do prazer, felicidade e sentimento mútuo
de acolhimento. Vale destacar que a interação entre usuárias(os),
estudantes e profissionais foi fortalecida com os momentos de
convivência e compartilhamento de experiências. Ademais, notou-se o
aumento dos vínculos familiar e comunitário, com a inserção desses
grupos nas atividades, e como resultado uma possível intervenção
positiva no processo de alta, algo a ser observado continuamente.
Conclui-se que os espaços e as atividades configuraram-se como
instrumentos de alternativas terapêuticas para o processo de assistência
à saúde de pessoas com transtornos mentais, em virtude da articulação
dos saberes em saúde ao seu cotidiano. Por conseguinte, essa

1124
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

experiência permitiu o aprimoramento do conhecimento de estudantes


no tocante às diversas formas de assistência à saúde, contribuindo na
sua formação profissional e atenuando a ideia da medicalização como
rótulo para o tratamento na saúde mental.

1125
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Como está a sua nuvem hoje?”: vivências em


um grupo de expressão corporal no CAPS

Wanessa Santos da Silva


Lais Rafaely da Silva Soares
Mayara Vieira Damasceno
Marina Araújo Rosas
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Ada Salvetti Cavalcanti Caldas


Sarah Gomes Pereira
Prefeitura da Cidade do Recife

Introdução: Ao nascer, adquirimos um conjunto de sensações que


modulam o nosso comportamento com o ambiente. Estas, nomeadas de
emoções, são respostas à interpretação dos estímulos externos e da
interação com o meio. A saúde mental está vinculada à capacidade de
regulá-las, de modo que, a desregulação emocional pode ser um fator
para o desenvolvimento de psicopatologias (SILVA; FREIRE, 2014). No
contexto de grupos, espaço de troca e compartilhamento de
subjetividades individuais, a utilização de práticas corporais, como
recurso terapêutico ocupacional na reabilitação psicossocial, possibilita
que as emoções sejam expressadas, permitindo ao sujeito um
autoconhecimento e novas maneiras de comunicar-se com o mundo
(LIBERMAN, 2002). Assim, tem-se no Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), serviço estratégico para a formação de profissionais da saúde,
uma aproximação com experiências práticas, alinhado ao cuidado no
território e a promoção de autonomia inerentes à prática da Terapia
Ocupacional. O presente relato tem como objetivo descrever os efeitos
terapêuticos de práticas grupais não medicamentosas da prática clínica
psicossocial em um CAPS. Descrição da experiência: Esta experiência foi
realizada no contexto de prática curricular do curso de Terapia

1126
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Ocupacional de uma universidade pública de Pernambuco. Após teoria,


os estudantes são encaminhados para os serviços da rede de saúde para
conhecerem e vivenciarem sua dinâmica. As intervenções ocorreram em
7 turnos no grupo de expressão corporal, no CAPS. Estes, facilitados pela
terapeuta ocupacional do serviço, juntamente com trio de estudantes
em rodízio de papéis de terapeuta, coterapeuta e observador externo. O
grupo, fechado, oscilava entre 10 a 5 participantes/dia. Com enfoque na
expressão, as propostas semanais se alternavam entre mais
dinamicidade através do lúdico, uso de alongamento e relaxamento com
utilização de colchonetes, bolas suíças e a exploração dos sentidos
corporais. Todas as intervenções encerravam-se com discussão
interligada com cenas do cotidiano, pois devido ao sofrimento psíquico
o desempenho ocupacional na funcionalidade de suas rotinas é
alterado. Repercussões: A partir das intervenções terapêuticas
ocupacionais percebeu-se alteração nas respostas dos participantes no
grupo de expressão corporal. “Como está sua nuvem hoje?”, pergunta
feita pelas facilitadoras como forma comparativa de resposta no começo
e encerramento de cada grupo, facilitou o entendimento das mudanças
no grupo. As respostas alternavam entre as cores cinza, azul e branco.
Respectivamente, não estar bem, se sentindo bem e excelente. Ao final
da prática grupal, geralmente as respostas modificavam para o estar
bem, indicando que a partir do grupo houve uma melhora e
transformação. Considerações finais: O olhar refinado para as emoções
durante as práticas terapêuticas possibilitou, enquanto futuras
profissionais de Terapia Ocupacional, compreender a íntima relação do
sentir-se com o engajamento do sujeito em suas ocupações. De modo
que, quando o corpo fala é revelada a subjetividade do indivíduo, o que
possibilita a construção de um processo terapêutico voltado às suas
necessidades individuais. A abordagem corporal em grupo na clínica
psicossocial se apresenta como uma alternativa de cuidado com vistas à
construção de pontes que possibilitam ao sujeito exercer seus papéis
ocupacionais resgatando ou mesmo revelando potencialidades.

1127
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Cultivando saúde mental”: uma experiência de cuidado realizada


através de plataformas virtuais em meio à pandemia de Covid-19

Ueslei Solaterrar da Silva Carneiro


Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Este trabalho traz um relato de experiência do “Cultivando Saúde


Mental”, uma proposta de encontros virtuais para a comunidade da
UFRJ/Macaé, organizados por professore(a)s de Saúde Mental do curso
de Medicina da referida instituição. Após decretada a suspensão das
aulas presenciais nos campi da UFRJ, esse(a)s docentes passaram a
entrar em contato com estudantes do curso de Medicina, com o
objetivo de saber como este(a)s estavam em meio à
tensão e à ansiedade, geradas pelas notícias mundiais e locais acerca da
pandemia. Posteriormente, aos encontros iniciais com esse(a)s
estudantes, uma nova proposta de atividade em grupo foi pensada, a
qual seria constituída também por professores e técnicos
administrativos de outros cursos desta instituição, como também por
artistas (escritores, cantores, dentre outros) de Macaé-RJ. A partir de
então, foi construído o folder para os encontros e a divulgação deste
espaço, sendo criada uma pasta no drive de um e-mail compartilhado
por este grupo, que continha sugestões de materiais para leitura,
músicas, filmes, desenhos, dentre outros, para serem partilhados pelas
pessoas. A sala virtual dos encontros e seu link de acesso foram
compartilhados, através de grupos pelo aplicativo WhatsApp, bem como
por meio de páginas oficiais da UFRJ/Macaé. Os encontros passaram a
ser realizados quinzenalmente, às 10h da manhã, na quarta-feira. Foram
realizados três encontros: no primeiro, foi discutido o texto “O espelho”
de Machado de Assis e osestudantes produziram um vídeo, em que
cantavam a música “Paciência” (Lenine). No segundo encontro,
contamos com a presença do professor e poeta macaense Gerson

1128
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Dudus, que indicou o poema "Ainda assim eu me levanto" (Still I rise) da


autora Maya Angelou, que foi declamado e discutido pelo grupo, além
disso, um estudante de Medicina indicou, tocou e cantou a música "O
mundo"; composição de Pedro Sergio Passarell com interpretação da
banda Capital Inicial. No terceiro encontro, após discussão coletiva,
chegamos na indicação da música "Primavera nos Dentes”, composta
por João Ricardo e João Apolinário, interpretada pelo grupo Secos e
Molhados, que foi ouvida pelo grupo, bem como contamos com a
presença do poeta Marcelo Atahualpa, que indicou o poema de sua
autoria para leitura e debate, chamado “Sobre o Vivente”. A partir
desses encontros, foi possível construir um espaço coletivo, dialógico,
em que as pessoas puderam cuidar de si falando, ouvindo, cantando,
recitando, lendo poemas e narrativas que lhes davam prazer, as quais
produziram sentido em um momento em que muitos de nós se sentiam
isolados, assustados, tristes, ansiosos, temerosos em virtude do medo
da morte, da perda de parentes, do futuro, com receio de que
permanecêssemos por um longo tempo presos às telas de
computadores, celulares e tablets, escondidos atrás de máscaras e
paredes que nos separavam uns dos outros. Esse espaço potente foi
construído no momento em que a distância física permanecia, mas o
cuidado consigo e com o outro, bem como o laço afetivo, se fortaleciam,
mesmo que virtualmente.

1129
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Desejo, necessidade, vontade, necessidade (é)”

Elis Cavalcanti de Almeida Monteiro


Marcio Roberto Pinto Soares
Adroaldo Rocha Leitão
Marcos Antônio Moura Vieira
Michelle Lourenço Fontenele
Wanessa da Silva Pontes
Tânia Maria Delfino Silva Vieira
Michelle Aparecida Pereira Lins
Raíza Martins Simas
Secretaria de Saúde do Recife/ CAPS AD Professor José Lucena

Ana Maria Aquino de Melo Cavalcanti


Unidade de Acolhimento Antônio Nery Filho

Introdução: A oferta de cuidado na perspectiva da clínica ampliada está


alinhada com as demais políticas públicas e fundamenta-se na garantia
de direitos e geração de oportunidades, tendo como princípios a
liberdade, a autonomia, o respeito e a história de vida das pessoas.
Logo, a construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS) necessita de
diálogo com a rede ampla de cuidado e, principalmente, de
contratualidade com o usuário que respeite sua singularidade. Este
relato objetiva mostrar a importância da autonomia do usuário na
construção do PTS, promovida pela escuta acolhedora. Descrição da
experiência:Binho, 48 anos, chega ao CAPS AD em 05/2015 para
tratamento de uso abusivo de álcool e crack. Vem encaminhado de CAPS
III após alta terapêutica com diagnóstico de F20.9+ F19.2. Sem vínculos
familiares e com a comunidade. Mora sozinho em casa conquistada em
disputa jurídica. Demandava reformar a casa, cuidar da aparência,
administrar o dinheiro visando fazer uso mensal do crack. Em 06/2016
recebe alta com organização do consumo mensal. Readmitido em

1130
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

10/2016, em uso intenso, com brigas na comunidade, endividado.


Precisou de passagens em Leitos Integrais, CAPS 24h e UA. Em 05/2019,
passamos a ocupar o território, auxiliar na reforma da casa, mediar
conflitos, trabalhar juntos com PSF e NASF e envolver o usuário no
Controle Social. Em 10/2019 a casa é inaugurada. Em 12/2019 retoma o
uso intenso de álcool necessitando de leitos integrais e CAPS 24h.
Atualmente está na UA. Nesta experiência aprendemos que cuidar é
acompanhar alguém em sua vida com cuidado. Percebemos a
importância do vínculo, onde a principal ferramenta é a escuta que
permita a emancipação do sujeito. Na primeira passagem no serviço,
Binho já pontuava a necessidade de cuidar de seu lar, mas focamos
apenas no padrão de consumo de droga e conseguimos organizar o
consumo mensal. Binho retornou ao serviço e por algum tempo
insistimos em acolher as crises decorrentes do uso abusivo. Quando
conseguimos escutar que ele necessitava garantir o seu direito a
moradia, Binho se sentiu mais acolhido. Devemos atuar na valorização
da subjetividade e da cidadania das pessoas usuárias de drogas. Desta
forma, passamos a trabalhar para que seu desejo de moradia fosse
atendido. Ocupamos o território, onde se dá a tensa relação do usuário
com a comunidade, apoiamos na reforma do seu lar. Trabalhar com a
Clínica Ampliada é atuar na vida do usuário, sujeito de desejo, que
deseja ser reconhecido no desejo do outro, e que em sua grande
maioria chega aos serviços ocupando o lugar de excluídos da sociedade
(indesejáveis). Binho continua desejando, quer ser reconhecido em sua
comunidade como sujeito de direitos, acessar o Programa de Saúde
Bucal, se matricular no Programa de Educação de Jovens e Adultos.
Considerações finais: O CAPS AD segue cumprindo sua função de
favorecer atenção integral e acesso a direitos, também acolhendo o
usuário em suas crises de modo que tenha autonomia com
responsabilidade. Concluímos que a clínica deve valorizar o sujeito, o
CAPS AD extrapola a função de mediar padrões de consumo, atua na
vida, no resgate de cidadania e de direitos.

1131
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Estar junto agora é se fazer presente”: encontros cartográficos como


estratégia de promoção de saúde mental na formação em Psicologia

Bruna Sales da Silva


Hiôrran da Silva Freitas Dalcin
Thuane Rosa do Carmo
Camila Athayde de Oliveira
Isabella Almeida de Oliveira
Ednalva de Araújo Santos
Patricia Castro de Oliveira e Silva
Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy – U

No dia 13 de março de 2020, considerando as orientações da


Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação ao novo coronavírus,
foi promulgado no estado do Rio de Janeiro o decreto Nº 46.970, que
suspendeu as aulas presenciais. Com isso, teve início o chamado Ensino
Emergencial Remoto, que se colocou como uma estratégia temporária
para possibilitar a continuidade das aulas. Tal modelo tem desafiado a
formação superior demandando (re)adequação e (re)significação de
processos educacionais e da própria prática. Em cursos como a
formação superior em Psicologia, onde “estar junto” é essencial, esse
formato se apresenta como um desafio ainda maior. O presente
trabalho traz algumas das experiências vividas no projeto de estágio
específico em Psicologia e Práticas Institucionais em desenvolvimento
em uma universidade particular do estado do Rio de Janeiro, cujo
objetivo é compreender como a pandemia do novo coronavírus (Covid-
19) tem atravessado o cotidiano de discentes, docentes e gestores/as
vinculados ao curso de Psicologia. Desde o primeiro momento do
isolamento social colocamos em análise os desafios da produção de uma
intervenção inventiva, comprometida e ética a ser realizada de maneira
remota como campo de estágio. Desse movimento nasceu, como uma
produção coletiva, o presente projeto. A partir da perspectiva da Análise

1132
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Institucional, do Feminismo Negro e do Pensamento Decolonial, têm


sido conduzidas entrevistas cartográficas coletivas e individuais com
professores/as e alunos/as de diferentes fases da formação, tendo
envolvido 160 discentes e 7 docentes. O trabalho tem sido desenvolvido
a partir das plataformas Blackboard, GoogleMeet e WhatsApp.
Identificamos que nossos encontros têm servido como um espaço de
cuidado, acolhimento e troca importantes para equipe e participantes.
Alunos/as e docentes têm se sentido ouvidos/as em seu sofrimento,
ansiedade, em suas queixas quanto às exigências e dificuldades do
ensino remoto; mas também em sua vivência de, por vezes, tranquila
adaptação ao modelo remoto e/ou ao isolamento social. As trocas têm
se revelado potentes para a (re)significação do cotidiano e da formação
em transversalidade com a pandemia. Ademais, têm contribuído para a
construção de redes de solidariedade. Alunos/as que estão juntos/as há
anos não se conheciam, nunca puderam imaginar as dificuldades vividas
pelo outro e através dos encontros do projeto têm se aproximado e se
articulado. Alunos/as das fases iniciais, e mesmo finais, referem o
quanto participar da prática conduzida por estagiários/as que estão se
formando tem sido um incentivo e um alento, pois a veem em sua
potência. Um tema recorrente tem sido a “falta de estar junto”, o que
nos levou a pensar coletivamente sobre o que é “estar junto”. Uma
aluna nos ajudou nesse sentido ao afirmar que “estar junto agora e se
fazer presente”. Concluímos que temos estado juntos/as nesse trabalho.
Indo muito além de nossas expectativas, nossos encontros cartográficos
em meio a conexões instáveis, microfones e câmeras que são ou não
ligadas, conversas pelo chat e silêncios, têm indicado potencialidades
alternativas através do remoto para a produção de novas práticas e
atenção a saúde mental, num contexto emergencial, pandêmico e de
isolamento social.

1133
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Por uma extensão universitária antimanicomial, antirracista e


feminista”: um breve relato de experiência

Jéssica Taiane da Silva


Rachel Gouveia Passos
Amanda Regina Fontes do Lago
Nathalia Gonçalves de Sá Duque Estrada Meyer
Priscila Marques Niza de Oliveira
Priscila Fernandes da Silva
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Melissa de Oliveira Pereira


IBMR

Este trabalho pretende apresentar os desdobramentos do Projeto de


Pesquisa e Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos, coordenado
pelas professoras doutoras Melissa de Oliveira Pereira e Rachel Gouveia
Passos e vinculado à Escola de Serviço Social da UFRJ. No seu braço de
Extensão, o projeto conta com uma profissional e três acadêmicas de
Serviço Social e uma acadêmica da Psicologia envolvidas com as
seguintes frentes: (1) assessoria ao Núcleo Estadual da Luta
Antimanicomial do Rio de Janeiro (NEMLA/RJ); (2) elaboração, produção
e divulgação de conteúdos formativos sobre saúde mental, feminismos e
interseccionalidade por meio do formato mídias sociais (YouTube,
WhatsApp e Instagram) e (3) monitoria e apoio pedagógico ao curso de
Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos: discussão de gênero, raça
e classe para a Reforma Psiquiátrica Brasileira, edição Juliana Pacheco,
realizado em parceria com o Conselho Regional de Psicologia do Distrito
Federal (CRP 01) e o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH). No
braço da pesquisa, há os três livros da coleção Luta Antimanicomial e
Feminismos, fruto de inquietações, trocas e experiências que
aconteceram entre as autoras e extensionistas, pensando a saúde

1134
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mental para além de um modelo que materializa a violência, o


extermínio, a privação de liberdade, a medicalização dos corpos e seus
comportamentos. Frente ao cenário de pandemia de Covid-19, o projeto
necessitou se readaptar para que as suas estratégias de educação
popular não se diluíssem, utilizando, então, o uso das tecnologias
virtuais para tal, o que acabou por representar, por um lado, desafios
frente ao impacto junto aos recursos afetivos, materiais e políticos dos
encontros, atividades e cursos presenciais, mas por outro a ampliação
dos diálogos e construções acadêmicas com outros coletivos e pessoas
interessadas no tema, em âmbito nacional. Nesse sentido, objetivamos
apresentar os principais ganhos e desafios colocados pelo atual cenário
para a realização da extensão universitária em uma perspectiva
antimanicomial, antirracista e feminista.

1135
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Quem canta seus males espanta”: Relato de experiência sobre o uso


terapêutico da música em Saúde Mental

Vanancy Nascimento da Silva


Prefeitura da Cidade do Recife

Introdução: O relato de experiência a seguir é fruto de uma intervenção


em forma de oficina realizada por estudantes de Psicologia com usuários
de um CAPS (transtorno) em uma cidade do litoral sul pernambucano. A
oficina trouxe como objetivo a vivência de um espaço terapêutico
através da música. Vivenciando esta linguagem artística como expressão
de sentimentos, houve resgate de memórias afetivas e história do
sujeito, bem como foi proporcionado um espaço terapêutico de fala,
criatividade e de interação social. Descrição da experiência: A
intervenção se deu em três encontros semanais. O primeiro foi dedicado
à formalização do grupo, incluindo momentos de apresentação
individual em uma roda de conversa e da proposta da oficina. No
segundo encontro, em princípio os usuários realizaram a produção de
um instrumento musical (chocalho) utilizando materiais recicláveis
(garrafinhas pet e latinhas de refrigerante), onde usaram a criatividade
para personalizar suas criações com pintura e colagens decorativas. Para
produção de som foi colocado arroz nas garrafas e latas. No segundo
momento cada participante cantou o trecho de uma música que lhe
representasse. No terceiro e último encontro houve no primeiro
momento uma vivência musical em uma roda de cantoria. Cada usuário
propunha uma ou duas canções e relatava sobre as memórias afetivas
ligadas àquelas canções. Foi um momento rico de resgate de suas
histórias, alguns nascidos em outras cidades, falavam de suas memórias
de infância; outros trouxeram canções que resgatavam a história da
cidade, fazendo um resgate cultural, das origens e da cultura da cidade e
do estado. Outros cantaram músicas que lembravam relacionamentos
amorosos e outros, canções de cunho religioso e de fé. Em todo o

1136
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

tempo o grupo foi bastante participativo, cantando e acompanhando o


ritmo com o chocalho. No segundo e último momento aconteceu a
avaliação da oficina e cada participante com uma frase ou palavra
expressou seus sentimentos em relação à experiência vivida. A oficina
foi encerrada com uma música cantada e tocada por todos, inclusive
alguns se levantaram de seus lugares e dançaram ao som da canção.
Repercussões:O momento de avaliação da oficina demonstrou grande
satisfação dos participantes, além do desejo expresso por mais ocasiões
como as que foram proporcionadas na intervenção, inclusive na
perspectiva de que a mesma se tornasse permanente no serviço, já que
naquele momento não havia nenhuma atividade com música oferecida
na unidade. Algumas falas expressaram o sentimento dos usuários:
“Achei o melhor grupo em dois anos! Meu esposo perguntou se eu ia
morar no CAPS! Chamou a atenção do mototáxi minha produção” –
referindo-se ao chocalho”. “Todos que participaram fizeram elogios. Eu
nem ia participar do grupo, mas vim por causa da fala dos colegas”.
Considerações finais:É perceptível o quanto as oficinas terapêuticas são
exitosas na promoção de saúde mental e a música como recurso
terapêutico apresenta bons resultados em funções psíquicas como a
memória, afetividade, linguagem, entre outras. Vivências que favoreçam
ao paciente um senso de pertencimento, sem desconsiderar suas
subjetividades e um lugar de fala, podem e devem ser mais exploradas e
vinculadas ao tratamento convencional.

1137
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A formação de psicólogos no Planalto Central: contribuições


antropológicas e decoloniais para atuação junto
a povos indígenas no Brasil

Nathália da Silva Soares Alves


João Paulo Siqueira de Araújo
Mariana Bernardes de Araújo
Maria Luiza Macêdo
Lorrana Nunes Sousa
Universidade de Brasília – UnB

Este trabalho é oriundo do questionamento acerca das bases


epistêmicas que a psicologia tem utilizado na produção de práticas e
saberes hegemônicos, e se a formação deste profissional tem incluído
em suas disciplinas e ementas, reflexões e saberes contracoloniais,
especialmente quando se trata do estudo sobre os povos indígenas.
Para tanto, esse trabalho consistiu em duas etapas: a primeira tratou-se
de um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciELO, BVS-Psi,
Portal Capes e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) a fim de
mapear o que tem sido produzido na área da psicologia sobre formação
para atuação em contextos étnicos-raciais. Foram encontrados apenas
cinco trabalhos a esse respeito. Na segunda etapa foi realizado um
levantamento dos currículos acadêmicos e análise do corpo docente das
13 universidades e faculdades que ofertam o curso de Psicologia no
Distrito Federal (DF - Brasil). Com isso, buscou-se identificar se questões
sobre raça/etnia são abordadas criticamente na construção das ementas
das respectivas instituições. Ademais, foi verificada a existência de
qualificação entre os professores para ministrar os conteúdos
supracitados. Entre as 23 disciplinas encontradas, uma minoria propõe
algum tipo de discussão sobre diversidade étnico-racial e somente duas
disciplinas tratam diretamente da temática povos indígenas. Em geral
são disciplinas introdutórias e optativas, sendo escassamente abordada

1138
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

a atuação do psicólogo junto às populações indígenas. Houve ainda


diferença frente à quantidade das disciplinas ofertadas, já que a única
instituição pública apresentou um maior número de disciplinas (12) que
as outras 12 instituições privadas juntas. Em contrapartida, todas as
disciplinas ofertadas pela instituição pública são optativas, enquanto nas
faculdades privadas a maioria se encontra na modalidade obrigatória.
No que tange ao corpo docente, dos 81 nomes verificados, alguns não
possuíam currículo na Plataforma Lattes e apenas 14% possuíam
formação prévia nas áreas investigadas. Diante dos resultados, é
possível falar de uma dissonância entre referenciais teóricos e a
realidade brasileira. A insuficiência de discussões acerca das temáticas
foi observada em todos os currículos levantados. Revela-se assim a
necessidade de construção de uma formação que se proponha
decolonial, enfrentando assim atuações etnocentradas e possibilitando
a este profissional a tentativa de um diálogo transcultural junto a estas
populações.

1139
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A nova política de drogas e a população carcerária


brasileira: implicações éticas e políticas

Gabriel Diego Medeiros


Autônomo

Heloísa Petry
Estácio

João Fillipe Horr


Univali

Rodrigo Diaz de Vivar y Soler


FURB

O sistema carcerário brasileiro ultrapassa a marca de 700 mil pessoas


privadas de liberdade, chegando a mais de 300 presos para cada 100 mil
habitantes, de acordo com dados atualizados pelo Departamento
Penitenciário Nacional referentes ao ano de 2019. A violação dos
direitos humanos dos detentos e os profundos prejuízos psicológicos e
sociais são contornados por um cenário reiteradamente denunciado:
superlotação; déficit em recursos humanos; infraestrutura precária;
negligência quanto à aplicação das leis penais de proteção ao detento e
da execução penal e de ações que possam atribuir aos indivíduos
apenados o status de sujeitos de direitos. Na atual conjuntura, as drogas
têm sido tema central de discussões políticas que muito interferem no
cotidiano de milhões de brasileiros. Nessa perspectiva, o presente
trabalho busca analisar a nova política nacional sobre drogas, a partir de
uma leitura crítica da Lei 13.840, de 5 de junho de 2019, debruçando-se
acerca das implicações éticas e políticas dos processos de criminalização
presentes na referida política. Destaca-se que os autores têm
experiência de práticas no contexto prisional e trata-se aqui de uma

1140
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

revisão narrativa e uma pesquisa documental baseada na lei citada. Para


tanto, buscou-se identificar as proposições de recrudescimento punitivo
expressas no documento; compreender o conjunto geral dos
dispositivos que versam sobre alterações nos modelos de atenção em
saúde, bem como analisar os modos de subjetivação e constituição de
sujeitos perante o enrijecimento de um modelo proibicionista e
punitivista na tratativa sobre as drogas. Conclui-se que refletir acerca
desta problemática como uma questão de saúde e não como questão
criminal é fundamental se olharmos para a permanente crise do sistema
carcerário, o crescente número de pessoas privadas de liberdade, bem
como o retorno ao modelo manicomial a partir do incentivo às
internações compulsórias estabelecidas pela nova política nacional
sobre drogas. Analisar as implicações ético-políticas na problematização
de políticas de subjetivação atuantes nesses cenários distópicos aparece
como tema fundamental à Psicologia no caminho para novos possíveis.

1141
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A situação de rua, dependência química


e o acesso a serviços de saúde

Carolina Pereira Ataides


CAPS AD

Emanuelle Souza Alves


Universidade de Rio Verde – UniRV

Introdução: Quando o indivíduo é exposto a situações muito difíceis e


que lhes trazem sofrimento excessivo, seria a hora de encontrar nos
outros a empatia de não discriminar ou mesmo deslegitimar seu o
sofrimento. Dependentes químicos que já se encontram sem apoio
tendem a se sentirem menosprezados, com baixa autoestima, e como
seres humanos invisíveis (Bock, Furtado e Teixeira, 1999). O sofrimento
psíquico em dependentes químicos tende a ter maiores proporções do
que em pessoas com suporte, exatamente por isso, pois os adictos não
possuem essa rede de apoio emocional para lidar com as suas situações
cotidianas, não possuem vínculos com familiares, não têm qualidade de
vida e também, e em grande maioria, não recebem apoio
governamental. Objetivo: Os principais objetivos do presente trabalho
foram para identificar as possíveis dificuldades no acesso à saúde,
analisar o tratamento e os vínculos estabelecidos entre os profissionais
de saúde e os usuários de álcool e/ou outras drogas no serviço de
atenção à saúde, identificar os aspectos positivos e negativos da rede de
saúde e a sua atenção ao usuário dependente químico. Resultados:
Trata-se de uma pesquisa exploratória de base qualitativa. Foram
coletados dados de três participantes do sexo masculino, com idades
entre 56 e 58 anos de idade, alcoolistas, que vivem em situação de
vulnerabilidade social em uma cidade localizada no interior de Goiás.
Pôde-se perceber que os indivíduos entrevistados não possuem acesso à
saúde básica e muito menos a uma saúde especializada para lidar com

1142
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

as suas dependências. Todos os entrevistados relataram solidão, falta de


empatia, ausência de lugar para repousar, má alimentação, zero apoio
governamental e disponibilidade para participar de um programa, caso
houvesse, de apoio como o CAPS AD, pois assim teriam atividades para
realizar e pessoas que os enxergassem verdadeiramente, além de
convivência social, pois os mesmos vivem solitários. Inclusive um deles
relatou que bebe pois se sente só, não tem convivência com outras
pessoas, não tem ajuda e que se sente completamente isolado, com as
palavras dele: “se sente invisível” perante as pessoas que passam por
ele. Considerações finais: A rede de saúde tem passado por inúmeras
mudanças para que seja possível que todos os brasileiros possam ter
acesso ao mínimo, de acordo com a Constituição, mas há inúmeras
falhas nesse sistema, nessa rede de apoio psicossocial, que por mais que
tente não consegue chegar aos indivíduos que mais precisam de seu
serviço, que são os dependentes químicos e moradores de rua. Algo
também que não se vê na população atual é a empatia por aqueles que
vivem nesta situação, pois o tratam com indiferença ou como monstros,
que não deveriam estar ali. Propostas precisam ser revistas no sentido
de reconstrução de uma nova visão a pessoas que se encontram nessa
situação e quebra de paradigmas e preconceitos.

1143
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A vida atrás das grades: uma revisão sistemática da


literatura acerca da realidade imposta pelo cárcere

Daniele Oliveira do Amaral


Andressa Melina Becker da Silva
Universidade de Sorocaba– UNISO

O aumento da população carcerária tem sido crescente. Segundo o


Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, o número de
presos no Brasil no ano de 2019 chegou a 773.151 pessoas privadas de
liberdade em todos os regimes. Com a superlotação nos presídios e a
falta de estrutura adequada, o Estado não consegue garantir
minimamente os direitos humanos dessa população. O objetivo desse
trabalho é descrever a realidade biopsicossocial do cárcere brasileiro e
avaliar quais são os instrumentos de avaliação psicológica utilizados na
realização de pesquisas empíricas referentes. O método utilizado foi
revisão sistemática da literatura, sendo a busca realizada em cinco bases
de dados nacionais e internacionais: SciELO, Pepsic, Lilacs, Biblioteca
Virtual de Saúde e Periódicos Capes. Os descritores utilizados foram
“avaliação psicológica” AND “prisão” OR “cárcere”. A busca resultou em
640 artigos, sendo 69 deles incluídos de acordo com os critérios: terem
sido publicados entre 2008 e 2019, escritos em português, serem
pesquisas empíricas com coletas de dados pertinente à temática. Foram
excluídos artigos encontrados em mais de uma base de dados, artigos
sem uma boa estrutura metodológica e que não se enquadrem nos
objetivos do estudo. Os resultados foram descritos em quatro categorias
temáticas, sendo elas: mulheres no sistema prisional, saúde da
população carcerária, homens no sistema prisional e vivências dos
agentes penitenciários. Nos 21 artigos selecionados, foram encontrados
diversos instrumentos, sendo que entrevistas e questionários
sociodemográficos são os que se sobressaem, porém o uso de testes
validados pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) são

1144
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

poucos comparados com outros instrumentos. Através da pesquisa foi


possível compreender que a população carcerária não possui seus
direitos garantidos; justifica-se, assim, a necessidade de um olhar
sensibilizado para a realidade atual e principalmente para que seja feita
uma ressocialização e a reinserção desses indivíduos na sociedade. A
prisão se mostra uma pequena amostra da realidade social: violência,
sofrimento psíquico, precariedade nos serviços de saúde, ambiente de
trabalho insalubre, uso de álcool e drogas, e machismo. Na perspectiva
da maternidade foi possível identificar por meio dos estudos
apresentados as dificuldades enfrentadas pelas mães que vivem no
ambiente carcerário. A falta de recursos e assistência à saúde dessas
mães durante a gestação, parto, pós-parto e aos seus filhos, faz com que
muitas mães queiram que seus filhos fiquem longe da prisão, mesmo
que seja difícil a convivência entre ambos. Dentre os artigos
encontrados tem-se o foco voltado para expor a realidade do sistema
prisional, revelando as ausências de assistências em diversos aspectos,
sendo eles físicos, escassez de materiais, falta de atendimento à saúde
da população, falta de espaço físico para as crianças que são filhos das
apenadas, dentre outros fatores. É necessário que os gestores e
coordenadores dos presídios venham pensar em estratégias a fim de
aumentar a condição oferecida pelo ambiente, para que haja a garantia
mínima dos Direitos Humanos para essa população.

1145
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A voz dos excluídos: narrativas de história de vida com


um ex-paciente judiciário dos hospitais de custódia
e tratamento psiquiátrico do estado de São Paulo

Thais Lasevicius
Universidade Federal de São Paulo– Unifesp

Introdução: O presente trabalho é fruto das discussões teóricas e


metodológicas da dissertação de mestrado em andamento intitulada
“Improdutivos para o capital e indesejáveis para a lógica dominante:
(re)construção do processo de criminalização da loucura”, sendo
realizada através do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e
Políticas Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e
aprovada pelo Comitê de Ética da mesma. A pesquisa busca realizar uma
análise sobre como se desenvolveu a experiência da medida de
segurança para um sujeito em sofrimento psíquico e com conflito com a
lei, tendo como base teórica aportes críticos no sentido de desmistificar
o lugar personificado historicamente do “louco infrator” e conseguindo,
assim, expandir outros olhares e tecer novos cuidados com relação a
essa demanda. Objetivos: Compreender como se deu o processo de
“criminalização da loucura” na vida de um sujeito em sofrimento
psíquico e com conflito com a lei, oriundo dos Hospitais de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico (HCTP) do estado de São Paulo. Metodologia: A
metodologia utilizada concentra-se primeiramente em uma revisão
bibliográfica e documental sobre o tema, a partir de uma análise crítica
do seu conteúdo e fundamentada em visões também críticas no que
concerne a especificidade do debate sobre “crime e loucura”, rompendo
com ideais positivistas, de estigma e patologização. Como trabalho de
campo, fundamentamo-nos nas Narrativas de História de Vida como
método investigativo de valorização do sujeito da pesquisa ocupando
verdadeiro lugar de destaque, retirando-o da posição de objeto e
entendendo esse processo enquanto essencial no qual o sujeito é

1146
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

protagonista e autor da própria história. Dessa forma, o trabalho foi


dividido em três eixos: 1) História de vida, hábitos, costumes; 2) O
processo de “criminalização da loucura”, a experiência no HCTP e com a
medida de segurança e 3) Direitos sociais, cuidado em liberdade e
perspectivas antimanicomiais, eixos nos quais serviram como norte de
elaboração do processo de narrativa com o sujeito em sofrimento
psíquico e com conflito com a lei. Resultados/Discussões: Como
resultados preliminares têm-se a experiência vivenciada do Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) advinda do próprio sujeito
que passou pela medida de segurança, relatando suas mudanças
perante os HCTP da região, bem como as violências sofridas no lugar,
trazendo em sua fala desde episódios de violência física até questões de
saúde, reiterando que “eu desejo que as pessoas tenham cuidado que
sejam livres e não presas lá” (sic), reiterando assim a importância das
perspectivas antimanicomais, em rede e território e abraçadas pelo
ideal libertário e de um cuidado que seja crítico, humano e genuíno.
Considerações finais:Como a pesquisa ainda está em andamento, agora
em sua fase de transcrição dos relatos das narrativas de história de vida
apoiados no suporte teórico-crítico, ressalva-se o já exposto
anteriormente, perante a necessidade de repensar as lógicas
manicomiais que ainda persistem, especialmente quando se trata dos
sujeitos em sofrimento psíquico e em conflito com a lei, pautando
sempre o cuidado em liberdade dos mesmos.

1147
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Análise das práticas de suicídio em grupos indígenas brasileiros

Jamilly Muniz Evangelista


Leticia Lopes Souza
Universidade Estadual do Ceará– UECE

Abordada por teóricos como Freud e Durkheim, a problemática do


suicídio é bastante analisada pelos recortes em que a prática está
inserida. Nesse contexto, fatores como as relações interpessoais e a
cultura que os indivíduos estão imersos são estudados para a
compreensão de níveis de sofrimentos extremos que resultam em
tentativas de suicídio. No presente estudo, será analisado como esse
sofrimento se articula e se manifesta em um grupo que possui cultura e
dinâmica próprias: os indígenas, considerando o contexto nacional de
subjugação desses povos. O objetivo deste estudo foi analisar o suicídio
enfatizando a população indígena brasileira, bem como buscar
compreender as causalidades que engendram tamanho sofrimento
psíquico, ocasionando esse feito em detrimento a esta minoria étnica e,
sob o viés da psicanálise freudiana, evidenciar como a atual vivência
desse grupo vem sendo prejudicada desde a abolição do sistema
escravagista. Essa investigação foi elaborada a partir de uma pesquisa
qualitativa de natureza bibliográfica fundamentada em artigos coletados
em bases eletrônicas de dados, utilizando como principais referenciais
teóricos artigos de notoriedade a respeito da temática anteposta, como
Anastácio Morgado, Luciane Ouriques e Maximiliano Loiola. Este estudo
dispõe de um caráter qualitativo e explicativo no qual se propõe a
analisar a vivência da população indígena brasileira após o processo de
assinatura da Lei Áurea até a atualidade, buscando apontar as sequelas
desse passado enquanto fortes originadoras do suicídio nessa
comunidade. Almejando comprovar o que foi apresentado
anteriormente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, onde sucedeu o
manuseamento das bases eletrônicas de dados como Google

1148
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Acadêmico, Pepsic e SciELO, empregando as seguintes palavras-chave:


Povos originários e suicídio, epidemiologia do suicídio e saúde mental
dos indígenas no Brasil. Com base nessa investigação, foram escolhidos
12 artigos que apresentam estatísticas e fomentam debates sobre a
temática tratada. Desse modo, buscamos discutir como se estrutura
esse espaço de deslegitimação desse grupo, em aspectos básicos que
promovem a consolidação de seus direitos e cultura - como a
demarcação e conservação de terras indígenas e o genocídio de povos,
relacionando esses fatores com os direcionamentos da política nacional-
, e a relação destes com a promoção da Saúde Mental. Dessa forma,
torna-se viável atestar que a ausência de demarcação de terras
indígenas, que deveria ser realizada pelo Estado, resulta em isolamento
nas reservas ou aldeias superlotadas, tal como em acampamentos nas
margens de rodovias. Desse modo, pela ausência de garantia de direitos
básicos que lhe são negados, tornam-se condicionados também à
pobreza e seus danos. Com o passar do tempo, as tradições e as
organizações presentes nas diversas aldeias vêm sendo exterminadas.
Além disso, é perceptível o racismo que existe relativo a essa minoria,
onde os mesmos são corriqueiramente atacados a partir de violência
física, verbal e psicológica. À vista disso, somado a todos esses fatores
excludentes, é concebível depreender que tais antecedentes culminam
no extremo sofrimento psíquico dessa população, despertando a
idealização de que o suicídio seja uma forma de estancar essas
violências no campo individual.

1149
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As necessidades em Saúde Mental da população


de pescadores de sururu da Lagoa Mundaú

Ailla Gabrielli Costa Silva


Danilo Damião Soares de Miranda
Gian Carlos Rodrigues do Nascimento
Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Introdução: Um dos marcos culturais do estado de Alagoas é a


gastronomia do sururu, um molusco bivalve rico em nutrientes e
pescado comumente na Lagoa Mundaú, que banha a cidade de Maceió,
dentre outras cidades. Por ser um importante alimento para a
gastronomia local, o sururu se torna uma importante -senão única -
fonte de renda de diversas famílias. Essa população vive às margens da
lagoa, em habitações improvisadas e com condições mínimas de higiene.
O quadro contribui para a perpetuação da poluição ambiental e para
agravos biopsicossociais proporcionados pelo meio onde vivem.
Objetivo: Identificar as necessidades em saúde mental ofertados para a
população tradicional da Lagoa Mundaú. Metodologia: Reflexão crítica
de cunho teórico tendo como base artigos encontrados nas seguintes
bases de dados: Biblioteca Virtual em saúde - Enfermagem (BVS-Enf),
SciELO e Scholar Google. Artigos encontrados: 344, tendo como critério
de inclusão os que responderam às perguntas “Qual o acesso a saúde e
a saúde mental os trabalhadores possuem?” e “Quais as principais
necessidades e saúde mental encontradas nessa população?”, além dos
critérios de exclusão: recorte histórico de 10 anos, idioma em português
e duplicidades, resultando em seis artigos. Pesquisa realizada entre os
meses de janeiro e fevereiro de 2020, e são resultantes da busca em
português por: “saúde”, “mental”, “pescador”, “sururu” e “Lagoa
Mundaú”. Resultados/Discussões: A jornada de trabalho é exaustiva,
com riscos biológicos, químicos e mecânicos. Aliada a ela, estão
condições precárias de moradia, sem água encanada e saneamento na

1150
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

maioria das residências. Todos esses fatores impactam diretamente na


saúde do pescador de sururu e demandam uma atenção maior do
Estado para com essa população em situação de vulnerabilidade. O que
não ocorre na prática, prejudicando o acesso à saúde pela população e
afetando o processo saúde-doença daquele território, por implicar na
escolha entre o financeiro e a saúde daquelas famílias. Populações de
trabalho braçal e que são marginalizadas pela sociedade, tais como:
pescadores artesanais, assentados rurais, pequenos agricultores etc. É
um público dificilmente levado em consideração nas pesquisas das áreas
de saúde mental, mesmo estando mais propensos a desenvolverem
Transtornos Mentais Comuns (TMC). O modelo biomédico, aliado ao
descaso de políticas públicas, marginaliza ainda mais essa população ao
não considerar o aspectos psicológicos como integrantes do seu
processo saúde-doença. Considerações finais: As atuais ações de
cuidado em saúde para os pescadores de sururu da Lagoa Mundaú se
constituem basicamente de uma atenção biomédica e de pouca oferta.
Há somente um estudo que leva em perspectiva a saúde do trabalhador,
precisando serem realizados estudos que busquem compreender suas
necessidades em saúde no aspecto mental.

1151
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Assistência às pessoas com transtornos mentais em conflito com a lei


no Brasil: perspectiva de gestores e profissionais de saúde

Lannuzya Veríssimo e Oliveira


Severina Alice da Costa Uchoa
Pétala Tuani Cândido de Oliveira Salvador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Gabriela Maria Cavalcanti Costa


Cláudia Helena Soares de Morais Freitas
Universidade Federal da Paraíba – UFPB

Introdução: No Brasil, a partir de 1980, à luz da conjuntura internacional


e em consonância com os pressupostos da Reforma Psiquiátrica
Brasileira, acerca da transferência do cuidado de pessoas com
transtornos mentais, de espaços segregatórios para dispositivos de base
territorial, passou-se a questionar a aplicação da medida de segurança e,
consequentemente, a existência dos Hospitais de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico. Nesse contexto, em 2014, foi implantado o serviço de
avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas aplicáveis à
pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei, vinculado à
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de
Liberdade no Sistema Prisional, visando redirecionar o modelo de
atenção, com foco na desinstitucionalização. Destarte, faz-se necessário
que os gestores e profissionais de saúde atuem em consonância com a
legislação vigente. Objetivo: compreender a assistência às pessoas com
transtornos mentais em conflito com a lei sob a perspectiva de gestores
e profissionais de saúde. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso
de abordagem qualitativa, realizado em janeiro de 2020, com 10
profissionais que atuavam no âmbito da gestão e da assistência do
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico referência do Rio Grande
do Norte. Para coleta de dados utilizou-se um questionário

1152
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sociodemográfico e entrevista semiestruturada. O conteúdo textual


decorrente das entrevistas foi submetido à análise textual lexicográfica,
com auxílio do software Interface de R pour Analyses
Multidimensionnelles de Textes et de Questionneires e a análise dos
dados foi realizada a partir de literatura pertinente. Resultados: O perfil
sociodemográfico dos sujeitos da pesquisa mostrou distribuição
paritária entre os sexos, com média de idade de 48,3 anos ± 9,1 (mínimo
de 35 e máximo de 59 anos), eram predominantemente casados (7;
70%), psicólogos (3; 30%), com média de trabalho de 6,8 anos ± 7
(mínimo de 1 e máximo de 22 anos) na instituição. Emergiram três
categorias: 1) Assistência intramuros - debate sobre a assistência
ofertada, que é, prioritariamente, medicamentosa. Além disso, as
carências estruturais e as características da instituição (celas, horários
rígidos e a própria privação de liberdade) inviabilizam o
desenvolvimento do Projeto Terapêutico Singular e fomentam a quebra
de vínculo familiar, com impactos para o processo de
desinstitucionalização dos internos; 2) Articulação com a Rede de
Cuidado - discussão sobre a articulação entre o hospital e a rede de
cuidado territorial, o que tem agilizado o processo de desinternação e
de inserção das pessoas com transtornos mentais em conflito com a lei
em dispositivos de cuidado da Rede de Atenção Psicossocial e da
Assistência Social; e 3) Reflexos do processo de trabalho na assistência –
abordagem das mudanças na gestão institucional, com direcionamento
para “humanização” nas relações interpessoais, o que têm
proporcionado melhorias no processo e nas relações de trabalho entre
os policiais penais e os profissionais de saúde, bem como entre toda
equipe, os internos e seus familiares.Considerações finais: A assistência
no cenário estudado é permeada por deficiências estruturais, mas
mudanças no âmbito da gestão institucional têm permitido avanços no
processo de desinstitucionalização dos internos.

1153
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Comunidades Terapêuticas: assistência política


em Saúde Mental e Direitos Humanos

Talissa Rodrigues Barreto


Leda Lessa Andrade Filha
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP

Comunidades Terapêuticas (CTs) são espaços formalizados e financiados


que ofertam reclusão social e comportamento religioso para o interno.
O interno é o cidadão decidido em abstinência que deseja se isolar da
macrossociedade, pois considera estabelecer dificuldades em seguir a
vida com saúde e dignidade enquanto consumidor de substâncias
psicoativas. Este trabalho se inteira sobre legislações asilares e
mudanças na Rede de Atenção Psicossocial (entre os anos de 2011 e
2019). Analisa o Relatório da Inspeção Nacional em 28 Comunidades
Terapêuticas (2018), produzido por meio do Conselho Federal de
Psicologia, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, a
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e o Ministério Público
Federal, que executam delineamento prático e ético no cuidado em
Saúde Mental. Tal pesquisa de revisão bibliográfica descreve o
bordeamento necessário e possível para lidar com os fenômenos das
instituições que contém difícil acesso, muros, portões, trancas e
restrições à liberdade. Partindo do princípio da segurança sanitária, a
Resolução da diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Ministério da Saúde) regulamentou, em 30 de junho de 2011,
o funcionamento em regime de residência para instituições que prestem
serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso,
abuso ou dependência de substâncias psicoativas. O principal
instrumento terapêutico a ser utilizado nessas instituições de regime de
residência deverá ser a convivência entre os pares. As supostas
reformulações subjetivas dos pacientes devem ocorrer com o corpo em
abstinência, conhecimentos cultuados pelos Alcoólicos/Narcóticos

1154
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Anônimos que permeiam as vivências grupais nas CTs pelo Brasil e


mundo afora. Diálogos entre esses espaços e a Psicologia Comunitária
são emergentes tão quanto os desastres naturais por irresponsabilidade
de gestão. A Lei 10.216 não é o bastante para romper com as demandas
manicomiais e higienistas de reestruturação social. É de suma
importância informar sobre como tais cuidados estão sendo geridos
publicamente.

1155
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidados com a população em situação de rua com comorbidade


mental e a reforma psiquiátrica: que caminho seguir?

Margareth Arrebola Tredice


Universidade Federal de São Paulo– Unisfesp

Introdução: Um dos desafios relacionados à atenção em saúde mental


se refere ao atendimento da população de rua, cujo acesso aos serviços
de saúde mental possui fortes barreiras. Nesta população, encontramos
a pessoa em situação de rua que une a pobreza extrema, a rua e o
transtorno mental, e vive de forma pública seu sofrimento. Uma disputa
ideológica presente nas políticas públicas que circulam entre a liberdade
e a segregação, a violência dos hospitais psiquiátrico, e a necessidade e
falta de autonomia podem ampliar o vazio na promoção do cuidado às
pessoas com extrema vulnerabilidade que estão em situação de rua e
possuem comorbidade de uso de substâncias e transtorno mental.
Objetivo: O presente estudo busca compreender a diversidade de
crenças e atitudes relativas aos cuidados com pessoas em situação de
rua que fazem uso de álcool e outras drogas e apresentam outros
transtornos mentais. Método: Através de abordagem qualitativa
exploratória e com amostra intencional, foram realizadas 26 entrevistas
semiestruturadas com pessoas em situação de rua; profissionais ligados
a serviços de saúde e assistência social; especialistas em saúde mental
e/ou álcool e outras drogas; líderes comunitários. Os dados foram
analisados sob a ótica da Análise de Conteúdo. Resultados: Os
participantes consideraram que é preciso direcionar cuidados que
supram as necessidades básicas, como moradia, água, comida e a partir
disso integrar cuidados para a saúde básica e mental, e o vínculo pode
ser o primeiro passo. Ainda observou-se que não há diferenças, na
percepção de profissionais de diferentes correntes de pensamento,
sobre como cuidar. Considerações finais: Os resultados apontam para
um caminho do meio entre as diferentes correntes ideológicas dentro

1156
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

da Reforma Psiquiátrica, para atender as múltiplas necessidades, e


moradias que possibilitem individualidade, um lugar de onde se possa
sair e principalmente para onde se possa retornar, que possibilite a
liberdade, como foco central das políticas públicas.

1157
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dores, agravos e lutos: sentidos construídos por mulheres sobre o


desaparecimento forçado de entes queridos na Colômbia

Rafael Patiño
Gabriela Lamego
Universidade Federal da Bahia – UFESBA

O conflito armado colombiano deixou mais de 8 milhões de vítimas,


dentro das quais mais de 83.000 desaparecidos forçados. Sequestros,
assassinatos, tortura, violência sexual, deslocamento e desaparecimento
forçado são algumas das ações sofridas pela população afetada. Os
distintos estudos sobre o tema apontam as consequências devastadoras
sobre a saúde mental de sujeitos e coletividades afetados pela guerra na
Colômbia. Isso porque a violência tem efeitos traumáticos para os
sujeitos e também rompe os laços sociais nas comunidades afetadas.
Alguns sujeitos submetidos a tortura, violação, perda de um ente
querido ou deslocamento forçado experimentam diversos distúrbios,
entre eles episódios de ansiedade, transtornos do sono, manifestações
psicossomáticas, depressão etc. No caso de familiares de vítimas de
desaparecimento forçado, a ausência do corpo e a incerteza sobre
morte do ente querido produzem duas dificuldades adicionais para a
elaboração da perda, já que não é possível realizar os rituais de
passagem (rituais funerários) necessários no processo de luto. Neste
trabalho, apresentam-se os resultados de uma pesquisa que objetivou
analisar a experiência traumática de familiares de vítimas de
desaparecimento forçado no contexto do conflito armado colombiano,
pertencentes a uma ONG da cidade de Medellín que luta pela restituição
dos direitos das vítimas do conflito armado. Especificamente,
analisamos a produção de sentido sobre o desaparecimento do ente
querido e as formas em que a experiência violenta relaciona-se com a
percepção da própria saúde, do corpo e dos processos de
saúde/doença. A pesquisa se fundamentou na perspectiva histórico-

1158
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

cultural da Psicologia Social. Participaram do estudo de caso 16


mulheres. Com elas foram realizadas entrevistas em profundidade e
grupos de discussão. O material discursivo produzido foi analisado com
base em categorias orientadoras em uma unidade hermenêutica no
programa Atlas.ti 6.2 para análise de dados qualitativos. Entre os
resultados do estudo, destaca-se que a dificuldade para elaborar a
perda nessas circunstâncias reaparece como sintoma: na ausência de
sentido o corpo fala, o corpo expressa o acontecimento traumático na
forma de dores, doenças, aflições, agravos. A tragédia do
desaparecimento do ente querido torna-se a explicação dos mais
variados agravamentos de saúde. Em outras palavras, as doenças
tomam um sentido, elas se explicam em função da experiência violenta.
Aquilo que não se resolve pela via simbólica, retorna no corpo. Por
outro lado, o adoecimento é também uma tentativa de explicar a
experiência violenta e uma manifestação da lembrança carregada de
angústia do ente querido. Apesar das barreiras para a construção de
sentido sob essas condições de incerteza, os familiares de desaparecidos
realizam tentativas para significar a experiência violenta e elaborar o
luto, assim é possível reconhecer tentativas bem-sucedidas de
superação da experiência traumática a partir de ações nos níveis
individual, como a psicoterapia e os grupos de apoio; social, como a
formação de associações de defesa das vítimas de violência; e
institucional, entre as quais se destacam os processos de justiça e paz
que procuram recuperar os depoimentos dos perpetradores dos crimes,
realizar rituais coletivos de despedidas dos entes queridos e o
julgamento dos responsáveis pelas desaparições.

1159
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Impacto do isolamento social da Saúde Mental


dos filhos dos pais na prisão

Janeth Roxana Guerrero Vargas


Pâmela Bezerra da Silva
Cinthia Mendonça Cavalcante
Universidade Estadual do Ceará – UECE

Introdução: No Brasil, 74% da população carcerária feminina tem filhos


e carrega uma grande preocupação no desapego mãe-filho, pelas
repercussões na saúde mental destes, visto a elevada prevalência de
transtornos mentais de 30%, em território nacional, e 90% dos suicídios
entre os adolescentes ocorrerem em países de baixa e média renda.
Objetivo: Analisar evidências científicas acerca do impacto do
isolamento social na saúde mental dos filhos de pais na prisão. Método:
Foi feita uma revisão integrativa utilizando as etapas: identificação do
problema, pesquisa bibliográfica, avaliação dos dados, análise dos dados
e relatório. Prisma foi usado para organizar o fluxo de pesquisa. O
resultado da pesquisa bibliográfica eletrônica nas bases de dados
identificados foi: 1,475 - Scopus (689), Web of Science (31), SCIENCE
DIRECT (683), LILACS (2), Medline/PUBMED (69), SciELO (3). A busca foi
realizada no mês de setembro de 2020. Os critérios de inclusão foram:
acesso livre, disponibilidade na íntegra, publicados em inglês, português
ou espanhol, e que abordasse o tema de pesquisa. Os critérios de
exclusão foram: artigos não duplicados. Todas as etapas foram validadas
por duas revisoras. Finalmente, três estudos foram incluídos na análise.
Resultados: Mostra-se que o impacto na saúde mental dos filhos de pais
na prisão ocorre a nível comportamental, econômico e
social/comunitário; produto do isolamento social, imposto pela situação
de privação de liberdade de seus pais. Os níveis de impacto identificados
foram segundo grupos etários dos filhos de pais na prisão: aqueles que
correspondem ao estágio infantil são as idades de 2 a 17 anos e aqueles

1160
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

que correspondem a jovens adultos estão entre os 19 a 30 anos de


idade. A nível de impacto comportamental na etapa infantil observa-se
dificuldade no relacionamento e desempenho no âmbito escolar,
conflitos interno no relacionamento com o cuidador, todo tipo de
transtornos mentais, exceto ansiedade e uso de substâncias, abuso
sexuais e emocionais. No caso de jovens adultos, se observou aumento
da probabilidade de ter ansiedade, transtorno por consumo de drogas
lícitas e ilícitas, envolvimento em condutas de risco, isolamento social. A
nível de impacto social/comunitário na etapa infantil, observa-se
comportamento infrator, exposição a adversidades, como disfunção
familiar e maus-tratos; e nos jovens adultos; não ter completado ensino
médio, paternidade precoce, delitos graves e encarceramento. A nível
de impacto econômico: observa-se nível socioeconômico baixo para
todas as idades. Também observa-se que ter um ou dois pais presos é
um fator de risco relacionado com a mortalidade infantil, consequências
evitáveis, que causam impacto social e econômico. Considerações
finais:Devido ao escasso quantitativo encontrado, mostra-se necessária
ampliação de estudos com o tema aqui destacado para avaliação
significativa de impactos para execução de políticas públicas adequadas
à problemática.

1161
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Narrativas sobre o processo de separação de mulheres mães


e seus bebês em situação de cárcere

Luiza Ferreira
Adriana Marcondes Machado
Universidade de São Paulo – USP

A presente pesquisa explora o processo de separação de mulheres mães


e seus bebês em situação de cárcere, desvelando as forças constituintes
que estão em jogo nessa situação imposta pelo Estado e vivida de forma
singular por cada uma que passa por essa violência a partir do método
da cartografia e na perspectiva da clínica ampliada. A experiência
enquanto psicóloga clínica-institucional voluntária de uma organização
não governamental que atua dentro do cárcere possibilitou a
composição junto à rede institucional do sistema de garantia de direitos
que visa atender as pessoas envolvidas nessa trama, são elas: as
mulheres mães, seus bebês e familiares, que são sobretudo outras
mulheres encarnadas na figura de tias, avós e irmãs. Ao acompanhar
esses processos deparamo-nos com aquilo que emperra a efetivação
dos direitos das mulheres mães e bebês outrora instituídos. As ações
desenvolvidas visaram problematizar a culpabilização e individualização
dos processos que geram naturalização da separação mãe-bebê,
práticas que reduzem esse momento de ruptura a apenas uma ação
penal. A escrita do trabalho utiliza como material o registro de cenas
vividas no encontro com os serviços da rede e com duas duplas de
mulheres mães e suas respectivas bebês enlaçadas nesse emaranhado
institucional para a elaboração de narrativas escritas que têm a direção
ética de construir percursos que respeitem a singularidade dessas
situações atravessadas por uma separação imposta. Os processos de
subjetivação produzidos nessa rede institucional operam a partir da
branquitude como estrutura oculta do racismo. As mulheres mães e
suas famílias são culpabilizadas e penalizadas por não corresponderem

1162
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

ao ideal “explicitamente implícito” nos padrões impostos pelos serviços


da rede, esses subordinados ao judiciário que tem nas mãos do juiz a
decisão final sobre os destinos de tantas mulheres mães e seus bebês.

1163
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Os agentes de saúde no povo indígena Wai Wai:


limites e perspectivas

Isabela Vanessa Sampaio dos Reis


Universidade Federal de Roraima – UFRR

Petrônio Lauro Teixeira Potiguar Júnior


Davi Viana de Sousa
Universidade Estadual do Pará – UEPA

De acordo com a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos


Indígenas, a atenção diferenciada é definida como uma distinção na
qualidade dos serviços, através de princípios de respeito à diversidade
cultural dos povos indígenas, buscando ainda a incorporação de práticas
terapêuticas tradicionais nos serviços de saúde destinados a atender
estas populações. Os agentes indígenas de saúde são considerados
centrais na realização do princípio de atenção diferenciada, sendo o elo
entre os membros da comunidade, seus saberes tradicionais e a equipe
de saúde. No entanto, essa posição de mediador é envolta de
dificuldades e conflitos que interferem na prestação de serviço à
comunidade indígena. Diante da problemática, o objetivo desta
pesquisa foi identificar os limites e as perspectivas dos Agentes
Indígenas de Saúde (AIS) no contexto da atenção diferenciada,
executada na aldeia Mapuera sobre o povo da etnia Wai Wai. A
metodologia utilizada neste trabalho tratou-se de um “ensaio
etnográfico” no local de atuação dos AIS, com observação participante e
aplicação de um roteiro de entrevista entre os AIS e posterior análise de
dados, assumindo assim o caráter de pesquisa qualitativa descritiva. A
realização da pesquisa não ofereceu riscos físicos aos seus participantes
e teve como direcionamento a autorização dos pesquisados para todas
as etapas que nele se desenvolveu. O benefício da pesquisa se
materializa em desvendar as dificuldades vividas pelos AIS no exercício

1164
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de sua profissão, proporcionando sugestões para a melhoria do


atendimento diferenciado em saúde indígena na referida aldeia/etnia. A
pesquisa apontou, entre outras questões, a importância do AIS no
momento das consultas e das ações em saúde prestadas pela equipe
multidisciplinar, onde eles veem não só como parte de seu compromisso
profissional, mas como uma maneira de “ajudar o povo” da sua
comunidade. Inúmeros desafios foram relatados pelos AIS, tanto do que
se refere ao desenvolvimento de seu trabalho quanto na assistência
como um todo. Os mesmos que pudemos conferir no convívio com a
equipe e com a comunidade durante nossa pesquisa, a estrutura física
do posto, a falta de recursos e insumos, como medicamentos, a
distância da aldeia associada às dificuldades de transportes que
interfere no processo assistencial. Dessa forma, ficou evidente que o AIS
enfrenta importantes desafios na consolidação da assistência
diferenciada dentro da aldeia, como a falta de materiais básicos, a
distância geográfica e a comunicação linguística. Este estudo pode
também ser bastante útil na busca de melhorias na atenção em saúde
dessas populações, além de proporcionar benefícios ao meio científico,
no que tange às contribuições em pesquisas acerca da saúde indígena.

1165
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Pessoas em situação de rua em Palmas, Tocantins:


implicações psicossociais da invisibilidade

Ítila Cristina Ferreira Da Silva


Ana Carolina Ribeiro
Maiara Regina Matos da Rocha
Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT

O presente trabalho, produzido no contexto da disciplina de pesquisa do


curso de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins, pretende
analisar as implicações psicossociais de pessoas em situação de rua
(PSR) que estão inseridas no Consultório na Rua em Palmas, Tocantins. A
pesquisa busca compreender como ocorre a transição para a vida na rua
e até onde as políticas públicas, como o Consultório na Rua, podem
auxiliar e ajudar a manter a cidadania dessas pessoas. Devido à
homogeneização social há uma exclusão do sujeito que vive em situação
de pobreza extrema, vulnerabilidade e a precarização das condições de
saúde. Assim, essas pessoas são mais inseridas nos contextos sociais que
não são cabíveis e acabam perdendo a sua identidade de cidadão e
vivendo às margens da sociedade. O objetivo da pesquisa foi entender
como é o vínculo familiar dessas PSR, como funcionam os processos de
sobrevivência e higiene autocuidado dessas pessoas, refletindo sobre a
saúde das mulheres e a compreensão de como são os processos de
inserção do consultório na rua. Nossa pesquisa foi feita utilizando uma
conversação do grupo com cada um dos quatro participantes
individualmente que tinham de 20 a 45 anos, sendo eles homens e
mulheres em situação de rua. Através do levantamento teórico e das
informações levantadas com os participantes, constatamos que, dentre
a diversidade de motivos da transição para a rua, o maior está
relacionado a conflitos com os vínculos familiares, seguido pelo uso de
drogas. Notamos que a homogeneização social está relacionada à
exclusão do sujeito que vive em situação de rua, tornando essa

1166
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

população invisível e consequentemente vulnerável. Com isso,


percebemos como as PSR são vítimas frequentes de preconceito nas
ruas e no serviço de saúde pública, além de sofrerem com ações
higienistas que ocorrem nos espaços públicos e privados. O cenário
atual é de aumento da população em situação de rua e com isso surge
também uma dualidade: visíveis e invisíveis. No entanto, o que
determina essa duplicidade é o local que estão inseridos. No centro da
cidade de Palmas ocorre essa maquiagem, para que as PSR não sejam
notadas, causando assim menos “incômodo” para a sociedade. Sendo
assim, é de fundamental importância a observação dessa dinâmica da
transição para a vida na rua. Com esse retrato e vivência da realidade
em que estão impostas as pessoas em situação de rua, é possível iniciar
um processo de humanização acerca desse tema, trazendo a essa
população a noção de cidadania como um direito.

1167
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Psicofobia: tema da educação em Direitos Humanos?

Carlos Eduardo Oliva de Carvalho Rêgo


Colégio Pedro II

Fátima Ivone de Oliveira Ferreira


LAEDH/CPII & UFF

Ana Clara Fernandes de Sá


LAEDH/CPII & UERJ

Introdução: Pesquisa realizada no âmbito de projeto de extensão do


LAEDH (Laboratório de Educação em Direitos Humanos do Colégio Pedro
II), que conta com colaboradoras voluntárias, graduandas em Direito
pela UERJ, além de professores(as) de diversas disciplinas e campi do
Colégio Pedro II, equiparado a Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia, localizado no Rio de Janeiro, que oferece da educação básica
à pós-graduação lato e stricto sensu. Objetivos: No referido projeto,
nosso objetivo principal é criar curso de extensão em Educação em
Direitos Humanos (EDH). Como objetivos específicos, para discutirmos a
psicofobia como possível tema do curso, (i) partimos da discussão sobre
o termo “Psicofobia”, rótulo criado para classificar as reações
predominantemente negativas e preconceituosas contra pessoas
diagnosticadas com deficiências ou transtornos mentais, sabendo que
cotidianamente as pessoas se avaliam de acordo com estruturas de
poder que estabelecem o considerado aceitável, modelando uma ordem
opressiva e excludente; e sabendo que o processo de estigmatização e
exclusão dos portadores de transtornos mentais datam da Antiguidade
até os dias de hoje. Em um segundo momento, (ii) discutimos de que
forma a busca pelo suposto “normal” nas relações sociais levou à
elaboração de projetos de leis que proíbem e punem a discriminação a
algumas patologias identificadas, com o PLS 74/14, que criminaliza a

1168
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

psicofobia, o PL 4592/16 e o PLS 263/14, que instituem o Dia de


Enfrentamento à Psicofobia e o PL 2071/19, que cria o Programa
Nacional de Combate à Psicofobia, nenhum deles ainda tendo se
tornado lei. Por fim, (iii) cientes dos projetos de lei referidos e de
campanha protagonizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, que
destacou a importância do acolhimento de pessoas com diferentes
transtornos mentais, apresentamos nossa proposta de considerar os
processos, condições e sofrimento psíquico nas metodologias para EDH.
Metodologias: A presente reflexão corresponde à agenda de leituras
empreendida por três colaboradores do LAEDH/CPII a respeito da
chamada "Psicofobia", que se pretende contributiva ao campo da Saúde
Mental e da EDH, defendendo que a psicofobia seja tratada na EDH,
devido à importância do Movimento Antimanicomial e da invisibilidade
dada à psicofobia nas ações de EDH, constatação da pesquisa, bem
como a necessária sensibilização para o tema, partindo do aporte
teórico das contribuições de Goffman, Foucault e outros. Resultados: A
constatação da própria invisibilidade dada à psicofobia nas ações de
EDH foi resultado obtido na pesquisa, além das leituras realizadas
caracterizarem a psicofobia e a EDH, especialmente em relação ao
instituto da Autonomia da Vontade e do Direito ao próprio corpo.
Considerações finais: Nesta pesquisa, apuramos nosso entendimento
sobre psicofobia e EDH, com aporte teórico e jurídico. Refletimos sobre
a relevância do tema na EDH, limites e possibilidades, e atuação da EDH
contra a psicofobia, assim como contra violências de gênero e racismo,
em diversas atividades com variados recursos, como exibição de filmes,
especialmente com o novo PNEE.

1169
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Recenseamento da população adulta em situação de rua


de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul

Raquel Meyer Fagundes Backes


Ammep

Carmem Regina Giongo


Eduardo Souza Passini
Marina Fritz
Suane Silva Pinheiro
Scarleth Nardes
Universidade Feevale

Nos últimos anos, as discussões acerca da população em situação de rua


no Brasil têm timidamente recebido espaço na agenda política nacional.
As pesquisas neste campo ainda são incipientes, demandando um olhar
sensível para essa população. O presente estudo visa expor os principais
dados de um recenseamento da população adulta em situação de rua da
cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. A metodologia possui
caráter exploratório-descritivo e método misto. Foram contabilizados
215 indivíduos maiores de 18 anos que estavam em situação de rua no
município de Novo Hamburgo. Destes, 170 aceitaram participar da
entrevista, que teve como instrumentos um questionário
semiestruturado, entrevista narrativa e observação-participante. A
pesquisa foi realizada de abril a dezembro de 2019. Os dados foram
analisados através de análise temática. Os resultados foram organizados
em seis eixos temáticos: a) Caracterização; b) Histórico; c) Educação; d)
Trabalho e renda; e) Saúde e f) Assistência Social. No que diz respeito à
caracterização, identificou-se que 86,5% eram homens e 13,5%
mulheres, 50% brancos e 45,3%, pardos ou negros, com idade média de
39 anos. Além disso, 57,4% possuíam filhos e 83,4% não possuíam
companheiro(a). Os relatos observados no contexto histórico dos

1170
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

participantes evidenciaram que a maioria (60,6%) já deixou de estar em


situação de rua e retornou. Os motivos que os levaram à situação de rua
mostraram-se heterogêneos e relacionados, principalmente, a
problemas familiares (70,6%), álcool e drogas (45,3%) e desemprego
(19,4%). Dentre as dificuldades encontradas no ambiente da rua,
destacaram-se o preconceito (38,8%), a violência (35,9%), a fome
(31,8%) e o desemprego (31,2%). Em relação à educação, 60,6% não
concluíram o ensino fundamental, sendo que apenas 14,7% concluíram
o ensino médio. Ainda, 60,6% relataram seu desejo de aprender algo
novo e 20,6%, de aprimorar algo que já sabem. Diante dos dados
relacionados à renda e ao trabalho, a maioria (98,2%) não possuía
vínculo de trabalho formal e 33,5% não possuíam nenhuma atividade
como fonte de renda. No que tange à saúde, 28,8% dos entrevistados
afirmaram sofrer de depressão, 18,9% tinham dores crônicas e 13,5%
eram portadores de HIV. Ao questionar a respeito do uso de psicoativos,
81,7% relataram fazê-lo. A partir dos dados referentes à assistência
social, percebeu-se que os locais mais frequentados são o Centro POP
(91,1%), o Albergue Municipal (67,5%) e as OSCs (66,3%). Diante das
melhorias que poderiam ser ofertadas nesses serviços, 24,3% revelaram
existir uma necessidade de melhoria no âmbito da assistência social,
apontando para a necessidade de ampliar as políticas públicas voltadas a
essa população. A partir dos resultados obtidos no presente estudo,
percebeu-se que as trajetórias de vida das pessoas em situação de rua
de Novo Hamburgo foram marcadas por violações de direitos e falta de
acesso às políticas públicas. É notória a necessidade de dar visibilidade a
essa população, enxergando-a como detentora de direitos, possuindo
papel de protagonismo na construção de políticas públicas
emancipatórias.

1171
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Reflexão acerca da Saúde Mental na comunidade Quilombola


Lagoa Grande, Feira de Santana, Bahia

Naione Oliveira Aguiar


FAT

Naione Oliveira Aguiar


Rafaela da Cruz Sousa
Esther Ferreira Moreira
Ingrid Santos Nunes
Júlia Graziele Abreu
Herbson Silva Sousa
Estudantes

O projeto de pesquisa teve como objetivo principal compreender a


práxis tangente à saúde mental de comunidades tradicionais,
especialmente, em quilombolas e remanescentes de quilombos, ou seja,
populações que se autodefinem como descendentes de escravizados e
que mantêm os costumes e tradições dos mesmos, sob o artigo 68 da
Constituição Federal e o decreto Nº 4.887, de 20 de novembro de 2003
sob a ótica sócio-histórica da Carta Magna. Quando se trata de saúde
mental, ainda hoje a psicologia adentra um campo arcaico,
patologizador, de cunho científico e enquadrado em padrões pré-
estabelecidos, negando outros contextos que venham interferir no
estado de bem-estar desses povos e/ou comunidades. O conceito de
saúde mental se expressa de modo polissêmico e multifacetado,
devendo ser abordado transdisciplinarmente nas suas diferentes faces,
na vivência dessas pessoas e na maneira como se expressam
cotidianamente, abarcando contextos sociais, históricos, culturais,
econômicos, políticos, religiosos, emocionais e individuais que
interferem e perfazem o caminho que leva ao estado de bem-estar
(saúde mental) que um indivíduo possa se encontrar. Desta forma,

1172
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

apresenta-se como a interação do sujeito com meio onde está inserido e


não pode ser considerada apenas como a ausência de doença. A partir
da experiência em campo com a comunidade quilombola constatou-se
que a saúde mental para eles se trata da convivência em família, da
troca de conhecimento entre gerações, das práticas religiosas, cultura
de subsistência, das festas tradicionais, entre outros aspectos. Tudo isso
mostra a reafirmação da sua identidade étnico-cultural, gerando assim o
bem-estar para a mesma, o que corrobora com a ideia de que a saúde
mental não pode ser avaliada apenas como quadro clínico e patológico,
mas sim das vastas características que o indivíduo se encontra no
espaço em que se relaciona.

1173
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Representações sociais da maternidade elaboradas por


mulheres gestantes, lactantes e que vivenciaram a
gestação em privação de liberdade no sistema prisional

Sara Eloise Argimiro Ribeiro


Anderson Brrito de Medeiros
Francisco Arnoldo Nunes de Miranda
Glauber Weder dos Santos Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Introdução: O período gestacional e a lactação durante a privação de


liberdade no sistema prisional são processos delicados, complexos e
marginalizados, oferecendo uma experiência de maternidade
desagradável e aumentando os riscos. Viver a gestação em ambiente
carcerário permite interações que modificam os sentidos e o mundo
simbólico dessas mulheres. Objetivo: Analisar as representações sociais
da maternidade, de mulheres gestantes, lactantes e que vivenciaram a
gestação em privação de liberdade, no sistema prisional. Método: Trata-
se de estudo qualitativo, ancorado nos pressupostos do Paradigma
Teórico das Representações Socais, na vertente estrutural, realizado
com 42 mulheres gestantes, lactantes e que vivenciaram a gestação em
privação de liberdade no sistema prisional do estado do Rio Grande do
Norte, entre maio e setembro de 2019. Para coleta de dados, utilizou-se
de instrumento de pesquisa composto por questionário
sociodemográfico, de entrevista semidirigida com a utilização da técnica
de evocação livre de palavras, associada ao modelo de substituição e
descontextualização (zona muda), com o termo indutor “ser mãe na
prisão” e desenho-estória com tema. Os dados foram analisados através
de processamento prototípico (quadro de quatro casas) para cada
matriz, para as quais foram calculadas, automaticamente, frequências
intermediárias (±8,37 matriz 1 e ±8,10 matriz 2) e ordens médias de
evocações (matriz 1: ±3,08; matriz 2: ±3,01), de acordo com os

1174
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

requisitos. Compuseram, assim, os núcleos centrais, as periferias e as


zonas de contrastes. Realizou-se, ainda, o teste de composição e co-
ocorrência das palavras (análise de similitude). O processamento
analítico se deu no software Interface de R pour les Analyses
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ),
versão 7 alpha 2. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte:
08005219.7.0000.5537. Considerações finais: Evidenciou-se que as
mulheres que viveram o período gestacional encarceradas
apresentaram sentimentos e significados generalizados do "ser mãe na
prisão", responsáveis por provocar o sofrimento vivenciado pela díade
materna mãe-filho com a separação. Há, assim, a fragilização e a
potencialização do aprisionamento, significando para as mulheres o
sofrimento pela separação de suas crianças.

1175
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental de travestis e transexuais


em situação carcerária: revisão da literatura

Alessandro Carneiro da Silva


Alessandro Thuany Santos dos Passos
Anderson da Silva Gama
Felipe Mendes da Silva
João Lucas Silva da Costa
Eric Campos Alvarenga
Universidade Federal do Pará – UFPA

Introdução: Encontram-se, sem dificuldades, situações em que os


direitos humanos são violados dentro de unidades prisionais, sobretudo
para a população LGBTQI+, que é discriminada e marginalizada
historicamente, além de lutar para se firmar como pessoas portadoras
de direitos. Diante disso, a violência sofrida por travestis e transexuais
no cárcere pode produzir danos à saúde mental dessas pessoas. Esta
violência é reflexo de uma desigualdade sócio-histórica, bem como de
aspectos particulares relacionados ao modo de vida, à negação de
direitos e ao estigma diante da identidade de gênero. Objetivo: Analisar
sistematicamente artigos que tratem da relação entre cárcere,
transexualidade/travestilidade e saúde mental, verificando qual o
envolvimento do Estado nesta problemática.Metodologia: Foi feita uma
busca ativa no Portal de Periódicos da Capes entre os anos de 1976 a
2019 por artigos utilizando os seguintes descritores: Saúde mental,
Travestis, Transexual e Cárcere. Os critérios de exclusão utilizados foram
estudos que não estivessem em conformidade com o tema proposto e
temas aproximados que fugiam de nosso objetivo. Ao todo, foram
encontrados apenas cinco artigos sobre a temática.
Resultados/Discussões: A sociedade brasileira se organizou em um
padrão de cultura patriarcal europeu que tornou comum a invisibilidade
da população LGBTQI+. Sendo assim, as características e

1176
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

comportamentos desses indivíduos devem seguir os parâmetros


biológicos e, por fugir desses padrões, sofrem com a negação de
direitos. Associado a isso, há violências físicas e psicológicas que levam
esses grupos a um intenso sofrimento psíquico. Observa-se que o que
fortalece esses métodos são as relações de poder estabelecidas
socialmente e que estão pautadas na produção econômica e
deterioração de corpos e mente. Por estarem sempre às margens da
sociedade, transexuais e travestis se veem sem oportunidades de
emprego somadas à falta de apoio familiar e acabam encontrando,
como alternativa, o ingresso na prostituição, no tráfico e roubo, que são
seus principais motivos de entrada no cárcere. Considerações finais:
Podemos concluir que são poucas as publicações que analisam a
situação de travestis e transexuais no cárcere, principalmente
analisando a saúde mental dessas pessoas. Este estudo restringiu seu
campo à análise de publicações. Futuras pesquisas devem explorar
outros campos que abarquem o contato mais direto com esta população
por um olhar da Psicologia e da Saúde Mental. Outrossim, apesar de
haver alguns avanços, no que se refere às leis e políticas públicas, para
maior igualdade e respeito com a população LGBTQI+, ela ainda sofre
com violações de direitos mais básicos ao ser humano.Por conta disso, a
saúde mental desses indivíduos é extremamente prejudicada. Dessa
forma, ressaltamos o papel fundamental do Estado na garantia de
direitos de quem se encontram privados de liberdade.

1177
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental e povos ameríndios: alteridade


indígena enquanto êthos clínico

Caroline Gaspar Chagnon


Renata Camila Rubín de Celis Saavedra
Universidade Federal Fluminense – UFF

A lógica civilizatória catequiza povos nativos objetivando “salvar” suas


almas. Em uma analogia nada surpreendente, no século XVIII a medicina
atribuiu a loucura à desrazão: interna-se os loucos para salvá-los. Esta
herança cristã-europeia ainda permeia nossos modos de atuar na saúde
mental, abrindo espaço para a localização da espiritualidade próximo ao
termo “loucura”? Faz-se necessário uma análise da normalização do
cristianismo compulsório ocidental, ao passo que qualquer outro credo
que não seja contemplado pelo primeiro se torna passível de uma certa
folclorização e deslegitimação, alastrando-se até uma aniquilação.
Convocamos a entoar um êthos desvio, que deve afastar-se de
processos avaliativos dos outros que não somos ou o “o não-ocidental, o
não-moderno” (VIVEIROS). Pressupostos colonizadores tendem a
colocar os povos indígenas como passivos perante a troca relacional
com a ocidentalidade, perpetuando um quadro comparativo de
elementos que não são passíveis de comparação, dualizando-os
enquanto o oposto de uma sociedade moderna, civilizada e racional.
Nesse sentido, pontos referenciais conceituais a nós aqui, são de cunho
colonial. A diferença torna-se primeira na medida que a alteridade
relacional nessa troca é colocar em xeque princípios dualísticos e do
próprio conceito de humanidade, para que possamos nos relacionar de
forma minimamente honesta e verdadeira com a subjetividade ancestral
ameríndia. Alteridade enquanto uma afirmação de uma multiplicidade
perspectiva intrínseca do real (VIVEIROS), traz a nós importante pista na
qualidade de ponto de virada relacional. Compreendendo nossa postura
inquietante aqui presente, uma certa conceituação de real e realidade é

1178
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

abarcada a uma racionalidade material lógica e moderna, tornando-se


uma barreira a essa abertura relacional. Para os povos ameríndios, o
real se configura por uma perspectiva que ultrapassa o campo da
matéria propriamente dita, expandindo sua forma perceptiva e
consequentemente sua própria subjetividade. Atender populações
ameríndias nos coloca em um perigoso lugar de potencial colonizador
subjetivo, se nossas atenções não estiverem em sintonia com a
alteridade envolvida em toda percepção de mundo deste outro. A
cosmovisão ameríndia abarcada por David Kopenawa em A queda do
céu: Palavras de um xamã yanomami e Ideias para adiar o fim do
mundo, de Ailton Krenak, situa narrativas, culturas e povos que abarcam
uma subjetividade ancestral, essas que nunca foram levadas a cabo
como um modo válido de estar e entender o mundo. Enquanto nossas
concepções excluírem outras aberturas subjetivas de estar em relação,
perpetuaremos um modo colonizador, aniquilador e genocida do
Ocidente que produzirá mortes físicas e subjetivas desses povos.
Partimos de uma subjetividade dualista ocidental, em enxergar lados em
oposição quando situamos o próprio conceito de natureza humana.
Pactos civilizatórios sempre compreendendo uma concepção de
humanidade universal e intrínseca, convocando-nos questionamentos
de onde, a quem e em que vias esse pensamento abarca outros modos
de vida. Relacionar-se com modos de vidas ameríndias nos intima um
corpo perante a alteridade, a diferença que expande princípios
cristalizados de humanidade e civilização; propomos então, o
questionamento: como a saúde mental pode conversar com modos
outros de perceber o mundo sem que, em uma ação colonial, aniquile-
os, não somente física mas principalmente subjetivamente?

1179
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Serviços parceirizados para a População em Situação de Rua:


onde fica a participação social?

Maria Gabriela Curubeto Godoy


Daniella de Oliveira Paiva
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Monika Dowbor
Veridiana Farias Machado
Ana Lídia Rost
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos

Estudos sobre a parceirização de serviços para a População em Situação


de Rua (PSR) no Brasil são escassos e devem ser considerados,
sobretudo, com o avanço de tendências neoliberais de desmonte das
políticas públicas de saúde e assistência social. Este estudo analisa os
repasses financeiros, a participação/controle social e o cuidado
ofertados por duas Organizações da Sociedade Civil (OSC) em parceria
com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Fundação de Assistência
Social e Cidadania (FASC) em Porto Alegre, que prestam serviços de
albergagem, abrigagem e Serviços Residenciais Terapêuticos para a PSR.
O material analisado incluiu termos de colaboração e aditivos;
mensagens em redes sociais das OSCs; e informações de representantes
dos conselhos de saúde, assistência social e o Movimento Nacional da
População de Rua (MNPR/POA). Os resultados apontam para os altos
valores de repasse mensal para todas as instituições, equivalentes a R$
1.753,00-2.525,00/per capita/mês para albergues e abrigos, e R$
5.679,10 para os SRTs. O termo de colaboração da SMS é mais completo
e detalhado, em relação ao objeto, equipe mínima dos serviços, metas,
indicadores e plano de trabalho. Os termos da FASC são vagos nesses
quesitos. Observa-se a ausência da participação/controle social nos
termos da FASC; e, embora o termo da SMS tenha incluído na Comissão

1180
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de Avaliação e Monitoramento a representação do CMS, tal indicação


deu-se à revelia dessa instância, que é contra as parceirizações. Além
disso, a participação do MNPR seria no Comitê Interinstitucional de
Políticas da PSR (CIAMP-Rua Municipal), que foi desativado há cerca de
dois anos pela atual gestão. Em relação ao cuidado, observam-se
concepções assistencialistas em ambas as OSC, e religiosas em uma
delas, que também parece ter apresentado riscos à biossegurança da
PSR durante a pandemia. Todas essas questões, somadas ao fato de que
no em outubro/2020 o governo federal lançou 1.400 vagas em 287
Comunidades Terapêuticas para a PSR no país, demonstram tendências
preocupantes na oferta de cuidado, com risco de retrocessos movidos
por uma lógica higienista, tutelar e manicomial incidindo intensivamente
na PSR.

1181
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Territorialização e desterritorialização em Saúde Mental: uma revisão


sistemática sobre o acolhimento a migrantes e refugiados

Amanda de Lima Souza

Sujeitos que saem de seus países de origem podem ser considerados


migrantes e refugiados, por várias razões: crises econômicas,
ambientais, questões religiosas, perseguições políticas, instabilidade
social, dentre outras. Tais percursos não representam apenas uma
mudança geográfica, mas também implicam numa série de mudanças
sociopsicológicas, culturais e econômicas do indivíduo migrante,
constituindo assim um processo de desterritorialização de seus modos
de subjetivação. Segundo dados do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR), estima-se que atualmente existam
cerca de 1.890.742 migrantes e refugiados em território brasileiro.
Neste sentido, o seguinte artigo tem como objetivo compreender de
que forma as demandas de Saúde Mental dessa população tem sido
acolhidas por profissionais da Psicologia Brasileira. Inicialmente, foi
realizada uma revisão sistemática integrativa de literatura, tendo como
banco de dados o portal de Periódicos da Capes, e o Portal de Periódicos
Eletrônicos de Psicologia (PEPCSIC). Os aspectos de seleção adotados
foram: artigos redigidos por autores brasileiros; escritos em português,
contemplando, dessa forma, a produção referente a esse tema na área
da Psicologia no Brasil; terem passado por revisão de pares e, por fim,
terem sido produzidos no período de 2015 a 2020, para efeitos de
análise do contexto atual. Na revisão, foram analisados cinco artigos,
produzidos em universidades do Sudeste do Brasil. Nestes, os autores
apresentaram em forma de revisão de políticas públicas para esta
população e artigos que versam sobre possibilidades de intervenção, em
contextos clínicos e em dispositivos do SUS e SUAS. Os estudos
analisados compartilham de sensos em comum: a necessidade de
ampliação das políticas públicas que atendam os aspectos sociais dos

1182
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

grupos migrantes e refugiados e a urgência por investimentos na


formação e capacitação de profissionais para a compreensão das
singularidades e experiências dessas populações. Por fim, reflete-se que
o desafio frente a essa temática não reside apenas nos dispositivos de
aplicação técnica do trabalho, mas em pensar as próprias bases da
Psicologia e os efeitos de suas ações. Para que esta não opere através de
uma lógica de patologização da diferença e permita assim que os
conceitos de saúde e da doença nos contextos de origem e as
especificidades atuais de vida desses indivíduos sejam agenciadas e
possam ser territorializadas em felicidade.

1183
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Trajetória da Venezuela para o Brasil: a experiência de ser jovem e


imigrante em contexto de vulnerabilidade em Boa Vista, Roraima

Halaine Cristina Pessoa Bento


Talitha Lúcia Macêdo da Silva
Universidade Federal de Roraima – UFRR

O Brasil, desde 2015, com a intensificação da crise sociopolítica,


econômica e humanitária na Venezuela, tem sido um dos países
procurados por jovens imigrantes venezuelanos que deixam a sua terra
natal em busca de melhores condições de vida nos países vizinhos.
Assim, diante de um intenso fluxo imigratório, surgiu a demanda de
desenvolver estudos que possibilitassem a compreensão acerca da
experiência de ser jovem e imigrante venezuelano em situação de
vulnerabilidade em Roraima. A imigração, para além das questões físicas
de ultrapassar fronteiras geográficas, também mobiliza aspectos
singulares e psicossociais ao ser imigrante durante o período de
mudanças, adaptações e desafios no novo lugar a ser habitado. Desse
modo, este trabalho buscou entender, à luz da Analítica do Sentido de
Dulce Critelli (1996), a vivência de ser jovem e imigrante venezuelano
em contexto de vulnerabilidade em Boa Vista. Nesse sentido, foram
realizadas entrevistas subsidiadas no modelo de investigação das
narrativas, exposta por Walter Benjamin (1985), com jovens e
imigrantes venezuelanos em circunstâncias de vulnerabilidade, entre 19
e 29 anos de idade, de ambos os sexos. Por conseguinte, os resultados
possibilitaram melhor entender as dificuldades de ser jovem e imigrante
venezuelano em situação de vulnerabilidade na capital de Roraima, bem
como os movimentos de resistência e sobrevivência durante o processo
imigratório. Estas dificuldades e resistência estão relacionadas à busca
em conseguir um trabalho, alimentação, moradia, serviços de saúde,
além das vivências de situações de xenofobia. Este estudo proporcionou
um maior aprofundamento sobre a temática pesquisada, uma vez que

1184
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

tal assunto ainda apresenta escassos trabalhos acadêmicos e literatura.


O desenvolvimento desta investigação, acerca da realidade local dos
jovens e imigrantes venezuelanos, trouxe reflexões sobre o fenômeno
em Roraima e, desta forma, possibilitou suporte para a criação de ações
que ofereceram qualidade de vida a este público em situação de
vulnerabilidade. Por fim, diante da situação de dificuldade e
vulnerabilidade nos quais se encontram os venezuelanos, instaurou-se
uma outra realidade socioeconômica provocada pela imigração
venezuelana em Roraima. Dito isto, faz-se interessante salientar que
enquanto novas estratégias de planejamento sociopolítico não são
realizadas junto aos imigrantes venezuelanos no estado de Roraima, as
ações e acolhimento realizados pela sociedade civil, instituições
públicas, ONGs e universidades são de grande importância, uma vez que
oferecem suporte a estas pessoas em circunstâncias de precariedade. A
prática humanizada como o apoio e acolhimento para com o outro pode
minimizar repercussões psicossociais negativas durante a imigração e,
consequentemente, fortalecer a resiliência do ser jovem e imigrante
venezuelano a seguir em frente por dias melhores.

1185
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Uma análise social, em Goffman, do Experimento de Stanford: as


Instituições Totais e seus impactos

Sarah Caroline Albuquerque Ferraz Santos

Introdução: Abordar-se-á o Experimento de Stanford, que ocorreu no


subsolo do Departamento de Psicologia da Universidade de Stanford, na
Inglaterra, com Philip Zimbardo à frente. O processo envolvia uma
prisão simulada em que os voluntários foram recrutados por meio de
anúncios em jornais e receberiam uma quantia em dinheiro pela
participação. O experimento, desde o início, tinha como alvo a
reprodução de uma Institucionalização Total para gerar nos
participantes desorientação, despersonalização e desindividualização. O
sistema carcerário tem caráter totalitário e esse modelo caracteriza-se
pelo domínio total de uma esfera e a submissão da outra. Objetivos:
Relacionar o experimento de aprisionamento de Stanford com a
definição de Instituição Total, em Goffman (1961). Metodologia: A
metodologia utilizada neste trabalho foi uma pesquisa bibliográfica por
meio de livros, artigos acadêmicos, reportagens, com o objetivo de
fornecer informações de variadas fontes. Resultados e discussões: Ao
iniciar o experimento, os subordinados foram reconhecidos por
números, perdendo sua identidade. Os guardas usavam uniformes,
bastões de madeira e óculos de sol espelhado (evitando o contato
visual) para que favorecesse a emissão de comportamento de controle e
coerção; trabalhavam em turnos e podiam ir para casa nas horas livres.
Já os prisioneiros não utilizavam roupas íntimas, usavam meias-calças na
cabeça para simular os cabelos raspados e correntes amarradas nos
tornozelos, sofriam de tratamentos humilhantes, castigos físicos,
atacados por extintores, esforços pesados, local insalubre, não tinham o
livre acesso ao banheiro, humilhação sexual, os “grupos ruins” não
tinham direito ao colchonete para dormir e, ainda por cima, nus. Então,
logo se instalou um clima de hostilidade. Os detentos se submetiam a

1186
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

isso por intermédio da reificação dos papéis, acreditando não poderem


descumprir com os papéis sociais. Em conclusão, os prisioneiros
estavam desenvolvendo problemas emocionais de cunho
psicossomático por conta do modelo de tratamento a que eles estavam
submetidos, visto que inibiam a expressão de sua individualidade e
subjetividade. Um modelo de Instituição Total não é um ambiente
saudável pelo fato de que o indivíduo é um mero objeto de um regime
institucional sem levar em conta o desenvolvimento do sujeito naquela
esfera. A melhor saída seria trocar o modelo de Institucionalização Total
para um modelo em rede com equipe de multiprofissionais.
Considerações finais: Ao final do experimento, que durou apenas seis
dias, concluiu-se que os guardas possuíam tendências sádicas
“genuínas” e eles ficaram muito desapontados com o término antes do
previsto. Um dos fatores de encerramento precoce foi a utilização de
comportamentos coercitivos e aversivos sem justa causa. Outrossim, o
autor chamou uma pesquisadora que nada sabia do que havia
acontecido e por meio dos relatos dos encarcerados, ela notou a falta de
ética do procedimento. Em conclusão, os prisioneiros estavam
desenvolvendo problemas emocionais de cunho psicossomático por
conta do modelo de tratamento que eles estavam submetidos, visto que
inibiam a expressão de sua individualidade e subjetividade.

1187
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Uma pesquisa que se faz aliança em defesa


da vida de mulheres do mundo do mangue

Rô Aragão Matias
Sandra Raquel Santos de Oliveira
Michele de Freitas Faria de Vasconcelos
Yasmim Nascimento de Oliveira
Universidade Federal de Sergipe – UFS

O estudo germina-se por dentro do subprojeto de extensão de


Fortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras de Sergipe no Programa
de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC-SE), tendo
como objetivo acompanhar processos de invenção da vida cotidiana de
mulheres marisqueiras sergipanas, mapeando táticas e estratégias de
resistência ao capital, ao machismo e ao racismo que incidem nas
relações cotidianas, domiciliares, com seus companheiros, nas colônias
de pescadores, nas cercas e barragens dos grandes empreendimentos,
na carcinicultura, em si mesmas. A pesquisa é qualitativa, de inspiração
etnográfica e cartográfica, utilizando-se de procedimentos
metodológicos de construção de diários de campo e gravação em áudio
de rodas de conversa e momentos de formação política com as
marisqueiras, com posterior transcrição. Por meio do acompanhamento
do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), na tentativa de
mapear juntamente a essas mulheres suas estratégias de resistência
frente aos processos de degradação sociopolítica, subjetiva e ambiental,
foi possível a construção de espaços que articulem a luta dos povos e
comunidades tradicionais com a luta das mulheres, em eixos que
abrangem discussões sobre produção de saúde e subjetividade, trabalho
feminino e fortalecimento político e coletivo, por exemplo. As
articulações entre as marisqueiras do MMS e pesquisadoras e
extensionistas, entre o MMS e outros movimentos sociais brasileiros e
latino-americanos como as representantes das comunidades mapuche

1188
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

que integram o Observatorio Regional de Equidad em Salud según


Género y Pueblo Mapuche constituíram uma rede de luta e resistência
contra o abuso capitalista e contra os mandos e desmandos presentes
no contexto social machista, classista e racista em que se vive. Como
encontrar formas de insubordinação, “estratégias de reativação vital, de
constituição de si, individual e coletiva” (Guattari; Rolnik, 1996, p. 16)
numa sociedade da aniquilação em larga escala de sujeitos
invisibilizados e dispensáveis? Apostando numa aliança entre mulheres
da academia e de povos e comunidades tradicionais, tentamos inventar
e criar estratégias e linhas de fuga, visando construir todas e cada uma
caminhos para um fortalecimento sociopolítico multiplicando a
categoria mulher, signo do patriarcado, por meio da qual fomos
constituídas.

1189
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Uso abusivo e cuidado não abusivo: assistência


a usuários de crack em cidade histórica

Cristina Maria Douat Loyola


Marcos Antônio Barbosa Pacheco
Marilaine Pereira Santiago
Flor de Maria Araújo Mendonça Silva
Universidade Ceuma – Uniceuma

Arlete Penha Curtrim


Laboro

A magnitude do problema do abuso de drogas nos grandes centros


urbanos tem impactado diretamente na curva crescente de violência. O
surgimento em espaços públicos, ruas e praças, de aglomerados
humanos para fazer uso de drogas lícitas e ilícitas tem mostrado alta
prevalência de morbidade nestes coletivos. O objetivo desta pesquisa foi
o de analisar uma intervenção institucional no processo de assistência a
um grupo de pessoas usuárias de drogas e vivendo em situação de rua,
no centro histórico de São Luís do Maranhão, Brasil. Utilizou-se do
método da pesquisa ação, utilizando observação sistemática, como
estratégia e método de investigação, e foram analisados, através da
hermenêutica dialética, aspectos institucionais e assistenciais das
medidas. Evidenciou-se a necessidade de reconceituações sobre o uso, o
abuso (uso abusivo) e o cuidado não abusivo. A análise da experiência
mostrou a necessidade de relativização do conceito de “normal” e
“patológico” (CANGUILHEM, 2009), de senso comum e “senso comum
douto” (BOURDIEU, 2006), como também deu alternativas e modos de
abordagem destes usuários. Isso significa ter uma política pública
definida para controlar o problema, mas tendo em vista,
necessariamente, que não se trata de um problema exclusivamente de
segurança, ou da saúde, ou da assistência isoladamente, mas, sim um

1190
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

problema que transversaliza todas essas políticas sociais. Aos poucos


houve consenso sobre o cuidado não abusivo, apoiado numa clínica
ampliada, de convergência social, uma clínica sobre o sujeito (indivíduo)
e não sobre o objeto (a droga). Optou-se pela estratégia da “tenda
estendida”. Isto é, montou-se uma equipe multidisciplinar e armou-se
uma tenda próxima dos espaços onde estavam as pessoas que se queria
assistir. Uma tenda com lanches e oportunidade de serem atendidos por
uma clínica ampliada, por uma assistência social, por um agente público
emitindo um documento, todos à paisana, sem instituições, sem
perspectiva de cura. O protocolo a serviço das pessoas e não as pessoas
enquadradas no protocolo. A van plotada do Programa Consultório na
Rua não foi uma opção utilizada. A experiência mostrou que se precisa
insistir nessa forma de pensar e executar: a) cada caso é um caso,
portanto investir muito mais em projetos terapêuticos singulares – nada
de tratamentos homogeneizados; b) as intervenções individuais ou
coletivas devem ser intersetoriais, não excessivamente
institucionalizadas, sem protocolos fixos ou diretrizes excessivamente
rígidas. Nenhuma instituição isolada dá conta do problema pela extrema
complexidade e carregado de muitos significados simbólicos e
existenciais. A clínica existe para servir ao sujeito e não para sujeitá-lo,
sabendo todos que a clínica, em geral, propõe o cuidado e não a cura.
Outra dimensão essencial é o cenário sociocultural: considerar
remanescências identitárias e a origem regional ou étnica das pessoas;
instituir programas de enfrentamento da pobreza extrema no entorno
desses espaços, oferecendo trabalho e moradia que não se assemelhem
a punição e confinamento. Até porque uma boa clínica é também uma
crítica social que produz, por outros meios, uma clínica social. Enfim,
produzir uma técnica de cuidado focada e centrada na pessoa, objetiva e
efetiva como técnica, mas subjetiva e afetiva como arte de cuidar.

1191
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Visitas dos pais e familiares às crianças acolhidas: uma pesquisa


documental e descritiva sobre os processos de destituição do poder
familiar da Vara da Infância e Juventude de Florianópolis – 2015 e 2016

Mariana da Costa Schorn


Ministério da Saúde

Ações de destituição do poder familiar vêm sendo investigadas por


diversos pesquisadores e grupos de pesquisa pelo Brasil. Este estudo
tem por objetivo identificar a ocorrência de critérios utilizados para a
tomada de decisão sobre a proibição de visita dos pais e família extensa
à criança acolhida no âmbito do processo de destituição do poder
familiar. Os dados utilizados são da totalidade de ações ajuizadas pelo
Ministério Público de Santa Catarina, entre os anos de 2016 e 2017, que
tramitam exclusivamente na Vara da Infância e Juventude da Comarca
de Florianópolis, e que contaram com suporte técnico da Defensoria
Pública do Estado. Foi realizada pesquisa documental e descritiva, de
abordagem quantitativa, que visou identificar relação entre a proibição
de visitas e (a) o motivo que ensejou o acolhimento da criança, (b) o
envolvimento da família à rede de cuidados em saúde e
socioassistencial, e (c) o desfecho da ação; com posterior estudo
bibliográfico e análise. Como resultado, tem-se que não há relação
estabelecida, sendo prevalente a decisão pelo acolhimento da criança
associada à proibição de visita dos pais e familiares. Debate-se acerca da
importância da relação entre a criança e os pais, sobretudo a mãe, e a
violação que representa a proibição de contato. A normalização da
proibição de visita pelos pais e familiares à criança acolhida no âmbito
do processo de destituição do poder familiar figura como uma violência
cometida contra uma população que já está destituída de uma série de
direitos. A antecipação da decisão judicial não privilegia a manutenção
do poder familiar. Pelo contrário, opera sob a lógica de que primeiro se
separam filhos dos pais, proíbe-se o contato, depois se verifica se a

1192
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

destituição do poder familiar deve ser efetivada. E, neste ínterim,


sujeitos que dependem de condições adequadas para se desenvolverem
não só não estão sendo protegidos, como estão sendo prejudicados por
decisões tomadas sob a justificativa de se atender "ao interesse da
criança".

1193
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Vulnerabilidade e violência das famílias das comunidades


afetadas pelos desastres naturais em Moçambique

Correia Hermenegildo Correia


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO

Introdução: Este artigo procura discutir a vulnerabilidade e violência das


famílias das comunidades afetadas pelos desastres naturais em
Moçambique. Faz um recorte de duas regiões, centro (Beira) e sul (Xai-
Xai), com famílias de comunidades com características socioculturais e
econômicas distintas. Assume-se que as mudanças climáticas são
consideradas como o maior e mais complexo desafio da
contemporaneidade, sendo as mesmas traduzidas em projeções
científicas que delineiam cenários de grande impacto para todas as
formas de vida na Terra (IPCC, 2018). Portanto, as catástrofes enquanto
acontecimentos têm sido objeto de estudo das ciências sociais há várias
décadas. Já no século XVIII, com a “laicização dos desastres”, o estudo
dos terremotos, erupções vulcânicas e enchentes passa pela
compreensão dos especialistas em ciências naturais que visavam seu
controle através do progresso técnico e científico, calculando a
probabilidade de ocorrência dos fenômenos naturais, como modo de
proteger a sociedade (Pinheiro, 2017 p.45). Enfrentar essa conjuntura
crítica, no sentido de conter os seus efeitos mais severos e promover a
adaptação das sociedades aos riscos envolvidos, constitui um desafio
que envolve as dimensões científica, tecnológica, socioeconômica,
política, entre outras, em nível global. Embora ainda haja dissonâncias
sobre os reais efeitos antropogênicos no processo, devido aos
questionamentos dos denominados negacionistas (Benestad et al.,
2016), inúmeros eventos climáticos extremos registrados globalmente
têm potencializado o entendimento de que o clima planetário está
mudando, aceleradamente, com impactos que já podem ser observados
nos desastres naturais que já castigam grupos vulneráveis ao redor do

1194
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

globo (Santos, 2013). Procura-se trazer a narrativa dos desastres


naturais para explicar a vulnerabilidade das famílias das comunidades
afetadas pelos desastres naturais em Moçambique. A palavra
vulnerabilidade insere-se no cotidiano atual, reflexo de uma sociedade
que se sente insegura e exposta ao perigo. Simultaneamente o termo
vem sendo usado das mais diversas formas e nos mais distintos
contextos (vulneráveis no contexto da Aids, crianças e jovens sem
proteção da família, violência, exclusão social ou racial, ausência de
privacidade, vulneráveis no contexto de desastres naturais e ou riscos
socioambientais) (Kuhnen, 2009 p.39). Objetivo: Analisar a violência
dentro do contexto de vulnerabilidade das famílias afetadas pelos
desastres naturais. Metodologia: A metodologia é qualitativa assente na
consulta bibliográfica de vários autores. Discussão: A discussão deste
artigo assenta na perspectiva da violência assumindo as ideias de
Dahlberg e Krug. O estudo parte da abordagem bioecológica de
Bronfenbrenner para analisar a vulnerabilidade e violência das famílias
das comunidades dentro do parâmetro do contexto e tempo. Portanto,
observam-se cenários em que famílias que atravessam momentos de
desastres naturais e são levadas para os centros de acomodação
“transição ecológica” de certa forma não têm privacidade e são
obrigadas a viver em condições precárias. Considerações finais: Pode-se
assumir que as famílias das comunidades afetadas pelos desastres
naturais por serem vulneráveis são suscetíveis à violência.

1195
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Vulnerabilidades das pessoas em processo migratório


durante a pandemia do novo coronavírus: revisão de
literatura dos trabalhos produzidos entre 2019 e 2020

Gustavo da Silva Machado


Chayene Tassior Marques Gabriel
Universidade do Vale do Itajaí - Univali

Lucienne Martins Borges


Universidade de Laval

O presente trabalho trata-se da apresentação de uma revisão de


literatura em curso, a qual possui como objeto de estudo as publicações
de 2019 e 2020 acerca da situação de imigrantes e refugiados durante a
pandemia causada pelo SARS-CoV-2. Desde o início do surto da doença,
o cenário internacional tem destacado sua gravidade e reforçado os
cuidados necessários à prevenção, assim como os serviços destinados ao
diagnóstico e tratamento. Contudo, questiona-se se esta mesma
preocupação estende-se a populações fragilizadas, mais
especificamente, sujeitos e comunidades inseridos em condições
migratórias. Buscou-se identificar publicações acerca da temática em
cinco bases de dados distintas e, a partir dos artigos elencados,
reconhecer os modos de enfrentamento e cuidado a imigrantes e
refugiados neste período de pandemia, bem como refletir acerca do
conceito de vulnerabilidade diante da experiência específica de
imigrantes e refugiados durante este contexto. Cinco bases de dados
foram definidas para a busca de publicações: APA PsycInfo, Portal BVS,
SciELO, Scopus e World of Science. Como critérios de inclusão, foram
selecionadas publicações na categoria de artigo, publicadas no período
de 2019 a 2020, de acesso aberto e nos idiomas português, inglês e
espanhol. Para realização da busca, estruturou-se uma fórmula
composta por quinze termos relacionados ao objeto de estudo, todos

1196
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

inseridos em três idiomas diferentes. As publicações selecionadas foram


fichadas e, verificadas a partir de seus conteúdos, resultaram em
categorias de análise. A partir do processo de filtragem, um total de 73
publicações foi mantido para análise final. Nessas, oito categorias de
análise foram identificadas, sendo que estas envolveram as
vulnerabilidades decorrentes da vivência no campo de refúgio, o
sofrimento ético-político associado à condição de refúgio, a imigração
não-documentada e suas especificidades, as alterações nas condições
migratórias e de fronteiras, as vulnerabilidades decorrentes da vivência
em centros de detenção, migração interna, migração externa e riscos
para Covid-19 específicos à condição migratória. Entre tais categorias,
são abordadas diferentes vulnerabilidades para as quais a pessoa em
deslocamento forçado está sujeita, incluindo vulnerabilidades
econômicas, sanitárias, documentais, geográficas, psicossociais e de
gênero. Algumas das publicações abordam ainda aspectos acerca da
saúde mental, o desenvolvimento ou adaptação de práticas voltadas ao
cuidado e à precarização deste. A partir da revisão de literatura
realizada, pode-se concluir que a condição migratória, a qual
inerentemente ocupa um lugar de múltiplas vulnerabilidades, está
sujeita a riscos ainda mais intensificados em meio à pandemia
ocasionada pelo SARS-CoV-2, que por si só já é considerada uma
preocupante ameaça, mesmo para pessoas que vivem em seu país de
origem e, portanto, conhecem o sistema de saúde que podem, ou não,
acessar. Ademais, a literatura aponta para uma urgente necessidade de
se promover e adotar medidas voltadas à mencionada condição, dada a
gravidade dos impactos com os quais a população migrante tem lidado
em decorrência do cenário pandêmico global, os quais implicam em
uma maior precarização destes modos de vida.

1197
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“Lama grossa, lentamente brotando”, a remexer


modos de conhecer e existir

Yasmim Nascimento de Oliveira


Rô Matias Aragão
Michele de Freitas Faria de Vasconcelos
Sandra Raquel Santos de Oliveira
Universidade Federal de Sergipe – UFS

A pesquisa gesta-se por dentro do subprojeto de extensão de


Fortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras de Sergipe no Programa
de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC-SE).
Compondo com as assertivas do transformar para conhecer (Escóssia;
Kastrup; Passos, 2010) e do aprender por inscrição corporal (Pozanna,
2013), por entre extensão e pesquisa, este estudo se faz processo de
habitação de um território coletivo (Alvarez; Passos, 2010) em defesa de
territórios de vida tradicionais e em defesa da vida de mulheres, em
particular da vida das marisqueiras que veem seus territórios
existenciais cotidianamente ameaçados por empreendimentos
capitalistas, machistas, classistas, racistas. A pesquisa é qualitativa, de
inspiração etnográfica e cartográfica, mirando nos processos de
invenção da vida cotidiana de mulheres marisqueiras sergipanas,
conhecendo seus modos de vida por meio do assessoramento ao
Movimento de Marisqueiras de Sergipe e de nossas inserções
comunitárias como extensionistas e pesquisadoras, com ênfase nas
táticas e estratégias de resistência por elas protagonizadas. Utilizou-se
dos procedimentos metodológicos de construção de diários de campo e
gravação em áudio de rodas de conversa e momentos de formação
política com as marisqueiras, com posterior transcrição. Ao acompanhar
caminhos de mulheres, caminhos no mundo marcados pelo signo de
trabalhadoras artesanais num contexto de desvalorização da artesania
da vida, percebemos: muitas horas de trabalho diário entre tarefas

1198
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

domésticas, catar sururu, ostra, aratu, preparar os mariscos para a


venda; trabalho artesanal e trabalho de mulher: trabalho desvalorizado.
Caminhos no mundo marcados pela invisibilidade. A profissão da
mariscagem, profissão de mulher, não é reconhecida como trabalho
formal. Ou seja, marisqueiras como marisqueiras não têm acesso a
direitos previdenciários, por exemplo. A intenção de acompanhar essas
andanças de mulheres no mundo do mangue tem uma inspiração
foucaultiana, no sentido de talvez fazer, na aliança entre mulheres da
academia e da pesca artesanal, com que certas coisas já não possam ser
ditas e certos gestos feitos sem alguma hesitação, num mundo
naturalizado sob signos do capital, do machismo e do racismo. Mulheres
em situação de risco, vulnerabilidade e extrema pobreza, sofrimento
social, violências e violações de direitos que, em aliança entre si e com
mulheres da academia, insurgem pela experimentação de processos de
resistência a formas instituídas de conhecer e existir. Possivelmente, a
força dessa pesquisa resida na sua aliança com essas “vidas precárias”
(Butler, 2018) em sua imanência à produção de conhecimentos como
forma necessária de enfrentamento aos desafios postos ao viver, nos
contextos de um mundo capitalístico globalizado onde a vida mesma é
tomada como mercadoria.

02. Entrelaçamento da clínica, da gestão, da formação e da política na


organização do cuidado psicossocial

1199
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

(In)visibilidades da RAPS Infanto-juvenil do Recife-PE:


"Como é que se constrói nada sem mostrar buraco?"

Lívia Botelho Félix


Universidade Federal da Bahia – UFBA

Maria de Fátima de Souza Santos


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

No âmbito da saúde mental infanto-juvenil, considera-se que o cuidado


em rede pode favorecer o desenvolvimento da criança, assim como
contribuir para a promoção de bem-estar e qualidade de vida da família.
As ações de saúde mental devem ser regidas pelo modelo de redes de
cuidado, sendo a atuação transversal com outras políticas específicas.
Aspectos relacionados à saúde mental desde o ponto de vista da
atenção primária ainda emergem como um ponto a ser explorado no
âmbito da RAPS. O objetivo deste estudo é analisar, desde o ponto de
vista de atores-chave, a RAPS infanto-juvenil do Recife, Pernambuco,
desvelando pontos de (in)visibilidade emergentes das práticas
profissionais. Realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo
exploratória e transversal. Participaram uma gestora da rede de saúde
mental do estado e 8 psicólogas/os inseridos em Núcleos de Atenção à
Saúde da Família (NASF) do município. Realizaram-se entrevistas
orientadas por roteiro semiestruturado, as quais foram audiogravadas,
transcritas e submetidas à análise de conteúdo. Como resultados,
verificaram-se desafios no tocante à atenção de crianças e adolescentes,
a saber: insuficiência de serviços substitutivos para absorver a demanda
em saúde mental; reprodução de práticas manicomiais; polêmicas em
torno dos ambulatórios especializados na RAPS; descontinuidade da
atenção, desarticulação da rede de serviços e fragilidade na formação
dos vínculos. Ademais, a restrição de ações de saúde mental dirigidas a
este público no âmbito da atenção básica foi justificada pela ausência de

1200
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

recursos físicos e teórico-técnicos. As colaborações entre equipes NASF,


ESF e CAPSi são favorecidas por vínculos de amizade e afinidade entre
profissionais. Observou-se que a diversidade e complexidade
subjacentes à atuação no NASF demandam um processo constante de
negociação entre saberes-fazeres tradicionais e inovadores, que põe em
evidência conflitos de paradigmas e requisitam o enfrentamento de
lacunas da formação em Psicologia. Reitera-se a potência da AB e do
NASF no cuidado à população infanto-juvenil por meio do uso de
tecnologias leves em saúde, assim como seu papel articulador de redes
intra e intersetoriais. No tocante à atenção em saúde mental e à
garantia do direito à saúde integral para a população infanto-juvenil, é
fundamental a construção permanente de redes intra e intersetoriais e
o cuidado no território, compreendendo este não apenas no sentido
geográfico, mas como o lugar psicossocial onde a vida do sujeito
acontece, o que inclui atenção às redes de relações sociais e afetos
daquele que é cuidado.

1201
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

(Re)inserção social dos moradores de residências


terapêuticas no município de Barbacena, Minas Gerais

Érica de Fátima Soares


Michaela Katia Santos Gomes
Priscylla Lilliam Knopp Riani
Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) – Barbacena

Introdução: As residências terapêuticas destinam-se a prover moradia e


facilitar o processo de reinserção social de pessoas com transtorno
mental. No entanto, ainda que a implantação dessas casas seja uma
realidade do processo de Reforma Psiquiátrica brasileira, observam-se
obstáculos em relação à eficácia da ressocialização de seus moradores.
Objetivo: Assim, o objetivo deste estudo é analisar o processo de
reinserção de pessoas com transtorno mental, identificando seus
limites. Metodologia: Os métodos empregados foram a observação
participante da rotina de três residências terapêuticas da cidade de
Barbacena, Minas Gerais, e entrevista com roteiro semiestruturado com
seus respectivos residentes, profissionais responsáveis e vizinhos do
local. A análise dos dados é qualitativa, executada por meio da
Hermenêutica-Dialética, a qual inclui os procedimentos de: (1)
Caracterização socioeconômica e cultural dos participantes; (2)
Organização sistemática do material: entrevistas e observações (3)
Leitura horizontal do material organizado e formulação das categorias
teóricas empíricas (ou operacionais), segundo objetivos do estudo; (4)
Leitura transversal do material a partir das categorias empíricas
formadas e (5) Análise final: discussão entre as categorias teóricas
empíricas e as categorias teóricas analíticas oriundas do referencial
teórico do estudo. Resultados e discussão: As categorias de análise são:
“Como os residentes se inserem”; “Percepção da comunidade sobre os
residentes” e “Fatores que interferem na inserção”. A reinserção é
limitada a passeios e missas conforme demanda individual, com apenas

1202
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

um caso de integração em ensino superior. Observa-se a coexistência


contraditória entre o reconhecimento da legitimidade do movimento
antimanicomial (“melhor que o pavilhão”) e a representação de doente
mental como sujeito sem recursos de autogestão ou perturbador da
ordem social estabelecida pelos moradores locais. A ideia de um
residente como pessoa destoante e mesmo perigosa a terceiros implica
na apropriação de algum nível de preconceito social em relação ao
doente mental, elemento reconhecido pela própria comunidade.O
despreparo profissional está presente nestas residências, ainda que em
menor intensidade se comparado ao fator preconceito comunitário,
mediante relato de desconhecimento técnico para criar e fortalecer
meios de participação social entre os residentes. Conclusão: A sociedade
segrega o residente da convivência social, pressupondo que ele não está
apto a construir interações produtivas com outros membros da
comunidade. Apesar dos residentes deste estudo terem encontrado
artifícios particulares de reinserção social, este processo poderia ser
melhor conduzido se a equipe profissional amparasse melhor este
percurso, incluindo estratégias de redução do preconceito. Neste
sentido, sugere-se que a formação dos futuros profissionais da saúde
mental contribua para o entendimento de que a liberdade é terapêutica
e um fato coletivo. Ademais, urge a necessidade da criação de medidas
de gerenciamento mais efetivas pelo município, as quais viabilizem
ações que favoreçam a qualificação dos trabalhadores da rede de
atenção psicossocial para a desconstrução da representação de loucura
enquanto perigo. Da mesma forma, estratégias de gestão em saúde que
sensibilize a comunidade que convive com essas pessoas a participar da
efetiva reinserção delas na sociedade.

1203
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A educação permanente nos Centros Regionais de Referência para


Formação em Políticas sobre Drogas (CRRs): o que dizem seus
precursores? Resultados preliminares

Marcelo Dalla Vecchia


Isadora de Oliveira Pinto
Samuel Augusto Diniz
Laura Fernandes Antunes
Sarah Eko Eni
Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ

A pesquisa, em desenvolvimento desde dezembro/2018, pretende


identificar e descrever atores, contextos e instituições presentes na
origem dos Centros Regionais de Referência para Formação em Políticas
sobre Drogas (CRRs), analisar a influência das agências nacionais e
transnacionais e compreender o impacto da educação permanente
realizada pelos CRRs nas políticas sobre drogas brasileiras. Espera-se
levantar indicadores para as políticas de formação e contribuir com
subsídios para a implantação de uma rede brasileira de formação no
campo de álcool e outras drogas. Adota-se uma variante de estudo de
caso denominada Estudo de Caso Comparado (ECC), cuja postura teórica
enfatiza categorias de análise que evidenciam as consequências da
desigualdade social e das disparidades de poder. Foram realizadas
entrevistas componentes do Estudo 1, que é o primeiro de três estudos
a serem realizados até o ano de 2022. Este estudo, referente ao eixo
transversal do ECC, buscará sistematizar a história e o desenvolvimento
da proposta dos CRRs com base em entrevistas narrativas realizadas
com atores envolvidos na formulação da proposta. Como resultados
preliminares, tem-se observado que (a) a conjuntura política de
deslocamento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad)
na arquitetura institucional dos Ministérios de Estado produziu
instabilidade na condução e acompanhamento dos CRRs implantados;

1204
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(b) a capilaridade das instituições públicas de ensino superior na


realidade brasileira, bem como a ampliação dessa capilaridade nos
primeiros anos do século XXI, foi uma opção de gestão que favoreceu a
disseminação de cursos de atualização promovidos pelo CRR em nível
nacional, e (c) as pressões políticas decorrentes da suposta “epidemia
do crack” em uma conjuntura de ascensão conservadora nas políticas
sobre drogas nacionais produziu disputas na agenda da Senad que
minimizou a visibilidade do impacto dos CRRs nas políticas sobre drogas
locorregionais. A pesquisa tem oportunizado evidenciar o contexto
político-institucional que permeou a implantação e desenvolvimento da
proposta dos CRRs em nível nacional na perspectiva dos atores
envolvidos em sua formulação. (Apoio: CNPq e FAPEMIG).

1205
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A experimentação estética e sua possibilidade para o desenvolvimento


das competências socioemocionais na formação do enfermeiro

Thainá Oliveira Lima


Faculdade Ubaense Ozanam Coelho – FAGOC

Cláudia Mara de Melo Tavares


Universidade Federal Fluminense – UFF

Introdução: A investigação sobre as emoções no cuidar, na enfermagem,


revela que o trabalho com as emoções é essencial na relação com o
paciente. É uma dimensão da atividade prática dos enfermeiros, para
que consigam mostrar sensibilidade afetiva e compreensão pelo outro e
lidar, simultaneamente, com a influência das emoções em si mesmos.
Ressalta-se que o desempenho do desenvolvimento das competências
socioemocionais em enfermagem incorpora ações inscritas no processo
de cuidado com perspectivas afetivo-emocionais, que visam transformar
positivamente as vivências dos sujeitos envolvidos nos cuidados, na
intenção da promoção do bem-estar global. Objetivos do estudo:
Analisar como a abordagem sociopoética através das experimentações
estéticas pode auxiliar no desenvolvimento das competências
socioemocionais na formação do enfermeiro. Discutir junto aos
graduandos de enfermagem suas vivências socioemocionais durante o
curso de graduação em enfermagem, considerando o ensino teórico-
prático e o estágio curricular, com enfoque nas competências
socioemocionais. Refletir acerca do potencial de inovação da
sociopoética no campo das emoções e propor medidas para valorização
da abordagem socioemocional na formação do enfermeiro, com ênfase
em estratégias advindas da sociopoética. Metodologia: Trata-se de um
estudo de abordagem qualitativa, na perspectiva sociopoética. O
cenário é a Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da
Universidade Federal Fluminense e os participantes são os estudantes

1206
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

dos cursos de graduação A produção dos dados será realizada por meio
do dispositivo do grupo-pesquisador. O tratamento dos dados se valerá
da contra-análise, própria da sociopoética e análise temática de
conteúdo. Resultados: Espera-se com esta pesquisa traçar e programar
estratégias de desenvolvimento da dimensão socioemocional no curso
de graduação de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense.
Resultados e discussões: Espera-se que este estudo possa trazer
melhorias a nível das emoções internas dos estudantes de enfermagem
afim de se obter um cuidado mais seguro e sensível. Isto poderá ser
verificado através das produções artísticas dos alunos e suas falas.
Considerações finais: Considera-se que estudos como este contribuem
para uma análise ampliada das questões que envolvem a formação do
enfermeiro. Acredita-se ser possível, com esta pesquisa, contribuir com
parâmetros que norteiem o processo ensino-aprendizagem das
emoções em saúde.

1207
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A implantação da Rede de Atenção Psicossocial


no estado de Minas Gerais

Carlos Alberto Pegolo da Gama


Denise Alves Guimarães
Vivian Andrade Araújo Coelho
Mariana Arantes e Silva
Leonardo Isolani e Andrade
Marco Túlio Resende Clementino
Universidade Federal de São João Del Rei – UFSJ

A oferta de uma política de Saúde Mental para a população brasileira é


uma tarefa difícil, tendo em vista o tamanho do país, as diversidades
regionais e a complexidade inerente à área. Com objetivo de melhorar a
oferta de serviços e reduzir a fragmentação do sistema, o Ministério da
Saúde (MS) propõe em 2011 a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). O
objetivo da pesquisa foi identificar como está o processo de implantação
dos serviços da RAPS nos municípios e nas macrorregiões do estado de
Minas Gerais. Foi realizado um estudo transversal, descritivo, baseado
em dados disponibilizados pelo MS. Os dados são relativos a: Atenção
Primária à Saúde (APS), Atenção Psicossocial Especializada, Atenção
Residencial de Caráter transitório, Atenção Hospitalar e Estratégias de
Desinstitucionalização. A APS está implantada em todo o estado, tendo
boa abrangência e capilaridade, sendo a cobertura de ESF média de
80%. As regiões Norte (98,49%), Nordeste (99.73%) e Jequitinhonha
(99,31%) têm as maiores coberturas e áreas. As regiões com menor
desenvolvimento socioeconômico têm maiores coberturas. Percebe-se
que mais da metade dos serviços (NASF e ESF) e dos ACS estão em
municípios de pequeno porte. No caso do NASF, que é considerado
fundamental para o desenvolvimento de ações de saúde mental na APS,
70% das equipes estão nos municípios de pequeno porte. Por outro

1208
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

lado, 70% dos consultórios de rua estão em municípios de médio e


grande porte.
Com relação à Atenção Especializada constata-se que também ocorreu
um vigoroso processo de implantação de serviços. No estado, foram
implantados no total 369 CAPS, sendo que 176 CAPS I estão em
municípios de pequeno porte, o que mostra a capilarização da rede. O
índice de CAPS por 100.000 habitantes em MG é 1,38. A região com
melhor índice é a Nordeste (2,16). A região do Jequitinhonha tem índice
1,72. Já a Região Centro tem o maior número absoluto de CAPS
implantados, no entanto o índice CAPS é o menor do estado (1,16).
Chama atenção o baixo nível de implantação de CAPS III que são 20 em
todo o estado, sendo que 14 estão na região centro (10 na capital),
enquanto que 8 macrorregiões não possuem CAPS III. O mesmo ocorre
com relação ao CAPS AD III que possui 14 unidades instaladas no estado,
sendo que 6 estão na região centro (5 na capital), enquanto que em 7
macrorregiões não há CAPS AD III. Com relação ao CAPS i, constatou-se
que existem duas macrorregiões sem cobertura.O presente trabalho
mostra um panorama geral da implantação da RAPS em MG e foi
centrado principalmente na dimensão estrutural da rede. Desta
maneira, ele não se propõe a fazer uma avaliação dos serviços
oferecidos e nem do funcionamento da RAPS. Entretanto, o diagnóstico
realizado permite uma visualização das potencialidades e entraves
presentes na oferta de serviços de saúde mental no estado municiando
os gestores para melhorias do sistema e possibilitando que pesquisas
futuras possam aprofundar as análises realizadas.

1209
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Reforma Psiquiátrica em Barra do Piraí, Rio de Janeiro: relato sobre a


experiência de implantação de CAPS no município

Lílian Magalhães Costa Lima


CAPS Nossa Casa Barra do Piraí-RJ

Trata-se de uma pesquisa de dissertação, em que foi construída uma


narrativa histórica sobre a implantação de CAPS em Barra do Piraí,
ocorrida no final da década de 1990. Vale destacar que muitos foram os
desafios encontrados para a sustentação de um trabalho interdisciplinar
e comunitário em um município com uma lógica de cuidado
extremamente hospitalocêntrica e médico-curativa. Mas que o
momento de implantação de CAPS foi plenamente inovador na região,
logo após o fechamento de um grande hospital psiquiátrico do Rio de
Janeiro – mas sem relação direta entre esses dois momentos. Tem como
objetivo realizar uma narrativa descritiva e histórica sobre a Reforma
Psiquiátrica no município de Barra do Piraí, levantando dados sobre a
assistência psiquiátrica local, tendo como campo principal o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) Nossa Casa. A pesquisa se justifica pela
realização de um registro sobre a assistência psiquiátrica e a política
pública de saúde mental em Barra do Piraí, que por sua vez foi uma
experiência rica de construção, capaz de inspirar o momento atual das
políticas públicas de saúde mental. Para a construção da narrativa
histórica foram utilizados os métodos de pesquisa documental, com
todo o material institucional e jornalístico escrito que foi utilizado na
pesquisa, e análise de conteúdo de cunho temático, a partir da
categorização das entrevistas. Para a pesquisa documental foram
seguidos os seguintes passos: levantamento de documentos úteis à
pesquisa; levantamento de questões a serem consideradas ao ler e
examinar os documentos, que foram elencadas a partir do referencial
teórico; levantamento de questões a serem abordadas na construção da
narrativa histórica. Para as entrevistas semiestruturadas foram

1210
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

construídas categorias temáticas que pudessem facilitar a manipulação


do material oral colhido, destacando dados e evidências relevantes,
construindo uma narrativa histórica que pudesse se articular com a
pesquisa documental e o referencial teórico. A equipe de saúde mental,
inicialmente, foi formada por profissionais advindos do hospital
psiquiátrico local que havia fechado, o que possibilitou o olhar crítico
sobre a instituição manicomial e a construção de um projeto
institucional que pudesse barrar as internações psiquiátricas no
município. Apesar de diversos impasses, foi possível a construção de um
Programa de Saúde Mental em 1993 e CAPS I em 2000, com suporte do
Instituto Franco Basaglia e IPUB. O CAPS I de Barra do Piraí mudou o
paradigma de cuidado em saúde mental a partir de uma nova lógica e
estrutura de funcionamento, atuando com oficinas, grupos, assembleia,
visitas domiciliares, atendimento a crianças e adolescentes, reunião de
equipe, intervenção nas emergências e chegou a ter leito de saúde
mental.Concluindo, antes da implantação do CAPS a assistência
psiquiátrica de Barra do Piraí se restringiu, ao longo de muitos anos, à
internação psiquiátrica. Mas o movimento de Reforma Psiquiátrica
ocorrido no Brasil produziu importantes efeitos na construção de uma
política de saúde mental local, propiciando a implantação do CAPS.

1211
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A relação entre depressão resistente e qualidade de vida

Josiene Oliveira da Silva


Prefeitura de Resende/Universidade Federal Fluminense – UFF

Introdução: A depressão é uma doença altamente incapacitante, de


curso crônico e frequente, caracterizada pela presença de humor
deprimido ou a perda de interesse por um período maior do que duas
semanas, com critérios adicionais que podem incluir alterações de peso,
sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de falta de energia,
sentimento de inutilidade ou culpa, indecisão ou falta de concentração e
pensamentos relacionados à morte. Aproximadamente 30% dos
pacientes que iniciam o tratamento para depressão não respondem
adequadamente às duas primeiras medicações antidepressivas, ou até
mesmo apresentam ausência de resposta terapêutica, caracterizando
assim a depressão resistente ao tratamento. Devido a manifestações
clínicas da doença, a percepção do indivíduo em relação à sua qualidade
de vida é alterada, de modo que este apresenta acentuado impacto
psicossocial, físico e mental. O conceito de qualidade de vida passou a
ser estudado em diversas áreas do conhecimento, sobretudo em
medicina para valorizar as percepções do paciente a respeito de vários
aspectos de sua vida ao invés de somente uma avaliação de sintomas ou
de seu estado de saúde. Para Noronha et al. (2016), a QV se refere à
percepção do indivíduo sobre sua inserção na vida no contexto da
sociedade, cultura e sistemas de valores nos quais o mesmo vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações,
estando associada à noção de bem-estar individual. Objetivo: Analisar as
relações entre a qualidade de vida (QV) e características clínicas de uma
amostra de pacientes com depressão resistente ao tratamento (DRT).
Métodos: Estudo transversal utilizando dados do Registro de Depressão
Resistente ao Tratamento (DERETRAT), cinquenta e seis pacientes do
Instituto de Psiquiatria da UFRJ com transtorno depressivo (DSM-5)

1212
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diagnosticados pelo Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI


5.0.0.) e com resistência ao tratamento avaliada pela Massachusetts
General Hospital Antidepressant Treatment Response Questionnaire
foram selecionados. Foram utilizadas informações sociodemográficas,
assim como as escalas de Hamilton Depression Rating Scale (Ham-D) e
Clínica Global Impression (CGI) para avaliação da depressão e a Medical
Outcomes Study 36 – Item – Short – Form Health Survey (SF 36) para
avaliação da qualidade de vida. Resultados: O grupo foi constituído em
sua maior parte por sexo feminino (43), com nível de escolaridade
predominante com 11 anos de escolaridade. Os pacientes possuíam
nível de gravidade da doença com média de 5,0 pontos de acordo com a
escala CGI, e média de 20 pontos de acordo com a escala HAM-D. De
acordo com a escala SF- 36, a média do domínio de saúde geral dos
participantes foi de 4. Os dados demonstraram que os prejuízos
ocasionados pela DRT afetam de modo significativo diversos aspectos da
QV do paciente, sobretudo o aspecto físico (9,09%), vitalidade (18,92%),
saúde mental (19,67%), aspecto social (20,45%) e aspecto emocional
(24,83%). Conclusão: Vários aspectos da qualidade de vida se mostraram
comprometidos, sobretudo os emocionais e sociais em pacientes com
depressão resistente ao tratamento. Assim, o alto nível de gravidade da
doença encontra-se estreitamente relacionado com a baixa qualidade
de vida dos sujeitos.

1213
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A trajetória do cuidado no CAPS AD III Raul Seixas,


município do Rio de Janeiro

Juliana de Faria Caramore


Tatiana Yazeji
CAPS AD III Raul Seixas

Este trabalho propõe problematizar a lógica de cuidado a partir da


trajetória do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas Raul
Seixas, primeiro CAPS AD do município do Rio de Janeiro, inaugurado em
2004. Inicialmente esse CAPS AD era responsável por moradores de
todo município, de todas as faixas etárias. Apenas em 2008 foi
delimitada a área de abrangência/responsabilidade, consolidando-se
como serviço de base territorial. Por conseguinte, o serviço ficou mais
disponível para realizar busca ativa das necessidades da área e para se
dedicar aos trabalhos em parcerias com os dispositivos locais, inclusive
podendo desenvolver atividades voltadas para a prevenção na
comunidade. Tornou possível a dedicação a projetos de Redução de
Danos, voltados aos usuários de drogas, que vivem em situação de
grande vulnerabilidade social, principalmente nos territórios com cenas
de uso de drogas. O trabalho de RD segue sendo realizado até o
momento. Em outubro de 2014, após reforma e incremento de recursos
humanos, a unidade passou a funcionar 24 horas, oferecendo leitos de
acolhimento noturno. Essa transformação em CAPS AD III possibilitou a
ampliação da nossa capacidade de responder à situações de crise.
Houve um aumento da intensividade do cuidado, tanto dentro do CAPS
como no território (articulação com a rede e acompanhamento
terapêutico). Percebemos a mudança do perfil da clientela, começaram
a chegar casos mais graves, mais complexos e com muitas questões
clínicas, possibilitando sustentar a noção de que o CAPS é o lugar
prioritário de atenção à crise, consolidando esse como nosso Projeto de
Cuidado. No ano de 2018, nova mudança ocorreu. Por questões

1214
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

administrativas, tivemos uma redução significativa do número de


refeições oferecidas aos usuários e consequentemente foi preciso rever
os Projetos Terapêuticos de todos que utilizavam este recurso. De forma
geral, avaliamos que a maior parte dos projetos estava desatualizada,
com tratamentos centralizados nas refeições, com indicações
ultrapassadas, mas só foram revistos a partir da indisponibilidade do
recurso. O público que frequenta o CAPS é muito vulnerável, sofre de
carências diversas, fruto da omissão de políticas públicas, e o CAPS
acaba abrindo possibilidade de acesso a direitos antes negligenciados.
No entanto, em detrimento da vulnerabilidade social, o tratamento, às
vezes, pode perder sua função terapêutica, e passa a ter como objetivo
principal a resolução de questões sociais. Assim, a promoção de
autonomia enquanto um dos objetivos do tratamento é deixado de lado,
e em seu lugar acaba sendo produzida uma relação de dependência com
o serviço. Atualmente temos as refeições como um dos pontos de apoio
atrelado à condição atual daquele sujeito circunscrito a um momento de
crise pontual. Trata-se aqui deste recurso como um ponto de apoio para
vinculação do sujeito ao seu tratamento, para situações de crise diárias
e para períodos em que o sujeito se encontra em maior vulnerabilidade
subjetiva e em decorrência a ela, maior vulnerabilidade social. Como
encontrar um equilíbrio entre o acesso a direitos e a construção de
autonomia, de forma que o tratamento possa atuar na questão social, e
ao mesmo tempo possa promover um reposicionamento do sujeito
diante de suas questões?

1215
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Agentes Comunitárias de Saúde:


vulneráveis redutoras de vulnerabilidade

Tassiana Gonçalves Constantino dos Santos


Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Marcelo Dalla Vecchia


Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ

Os ACS são profissionais da equipe base da Estratégia de Saúde da


Família (ESF) cujas atribuições envolvem a comunicação com os
moradores do território e estímulo a práticas de educação em saúde e
prevenção. Têm como especificidade o fato de residirem no mesmo
bairro em que atuam, obtendo por isso um diferente acesso aos
moradores do bairro e o vínculo como potencialidade para realização de
intervenções e acessos aos territórios. O presente resumo destaca um
foco de uma pesquisa de mestrado em Psicologia que teve como
objetivo analisar as práticas de cuidado de Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) com usuários de álcool e outras drogas em uma cidade de
médio porte do interior de Minas Gerais. O estudo caracterizou-se como
um estudo de caso de um pequeno grupo, em que a pesquisadora
realizou quatro meses de imersão para acompanhamento de doze ACS
em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) com duas equipes de ESF,
finalizando-se a coleta de dados com dois grupos focais também com as
ACS da Unidade. Foram organizadas categorias que articulam os dados
construídos, analisadas tomando-se por base conceitos da Saúde
Coletiva e da Bioética Latino-americana. As categorias organizadas
envolveram a dificuldade das ACS em compreender suas funções,
vivendo assim cobranças e sobrecarga dentro da Unidade e no
território; os estigmas e estereótipos que afastam alguns indivíduos dos
serviços de saúde enquanto as ACS conseguem acesso e conhecimento
privilegiado sobre essas pessoas utilizando-se do vínculo como

1216
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mobilizador de informação e cuidado, e a vulnerabilidade das próprias


agentes, que vivenciam o território também como moradoras. No
presente resumo, pretende-se destacar o último tópico. As ACS,
somente mulheres na UBS observada, relatam a vivência do território de
duas maneiras: pessoal e profissionalmente. Portanto, vivenciam
também como moradoras os problemas recorrentes no bairro: falta de
acesso a serviços básicos, situações de violência e insegurança,
precariedade de serviços, entre outros. Isso coloca essas profissionais
como vulneráveis que cuidam de situações de vulnerabilidades. Outro
tópico de destaque foi o vínculo construído entre as agentes e os
moradores do bairro, que pode ser visto como potencialidade do
trabalho e também como sobrecarga e frustração pelas cobranças que
vão para além do papel de profissional e invade suas vidas pessoais.
Quando o profissional perpassa os limites do pessoal, as agentes se
sentem desprotegidas e desamparadas, o que gera também sobrecarga
e desgaste. Assim, encontram-se vulneradas enquanto manejam o
cuidado de pessoas vulneradas. Concluiu-se que é preciso mobilizar
formas de cuidado para as ACS, tanto no âmbito pessoal como no
profissional. É importante elaborar ações de acolhimento e saúde
mental, priorizando espaços de trocas de experiências e casos foram
destacados pelas agentes como formas de cuidado pessoal que nem
sempre são oportunizados. No âmbito profissional, demandam ações de
Educação Permanente em Saúde que lhes ofereçam instrumentos para
cuidados no território, ajudando na condução dos casos, evitando-se
cobranças desnecessárias e sobrecarga de trabalho. Portanto, as ações
possíveis estão no sentido de oferecer a essas profissionais alternativas
no cuidado também de suas próprias vulnerabilidades.

1217
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As práticas de Redução de Danos como instrumento do acesso


universal à saúde: uma revisão da literatura

Maria Fernanda Monteiro Favacho


Paula Marília Nascimento Moura
Camila Chaves Capela
Universidade Federal do Pará – UFPA

Introdução: A Redução de Danos (RD) foi incorporada como diretriz da


saúde pública brasileira no ano de 2003, fruto da sua potencialidade
para diversificar as formas de cuidado. Pautada nos princípios do
pragmatismo, da tolerância e da diversidade, e da não imposição da
abstinência, a RD enfrenta grandes desafios frente a uma lógica
moralista que restringe a compreensão sobre o fenômeno do uso de
drogas, cujos efeitos impedem um trabalho em saúde que seja
universal. Nesse sentido, muito há de ser aprofundado no campo dessa
experiência, o que requer um diálogo promissor entre prática e teoria.
Objetivo: Pretendeu-se compreender como a Redução de Danos está
inserida no campo da saúde dos usuários de drogas, resgatando as
percepções e os relatos dos sujeitos envolvidos com tais serviços, para
levantar os principais desafios e resistências enfrentados para
estabelecê-la como diretriz e método. Metodologia: Uma pesquisa ativa
foi feita no banco de dados da SciELO para buscar as publicações dos
anos de 2010 a 2020. Para tal, foram utilizados os seguintes descritores:
Drogas, Redução de Danos, Saúde Mental. Os critérios de inclusão foram
somente as publicações em português, e priorizados os relatos de
experiência. Ao todo, foram encontrados 13 artigos na plataforma.
Resultados/Discussão: As políticas sobre drogas no Brasil foram
estabelecidas em meio a um campo de contradições existentes entre a
tentativa de construir uma sociedade sem drogas e também por
iniciativas que buscaram respeitar a subjetividade dos usuários,
reconhecendo seu lugar na sociedade. Dentre elas está a RD, que desde

1218
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

meados dos anos 1980, tenta encontrar seu lugar nos espaços de
decisão que versam sobre o uso de drogas no país. Ratificou-se com esse
estudo que a mentalidade demasiadamente moralista ainda é
dominante mesmo em contextos onde o acolhimento e a liberdade são
diretrizes fundamentais para o trabalho com os usuários. Dessa forma,
fatores como a construção de políticas públicas, a necessidade da
educação permanente em saúde, as dificuldades na articulação do
trabalho intra e intersetorial, até mesmo a falta de insumos básicos nos
serviços, apresentam-se como grandes limitações para a consolidação
dessa estratégia como eixo para as ações de cuidado com usuários de
drogas. Considerações finais: Diante desse panorama, foi possível
reconhecer a amplitude que o trabalho em saúde com usuários de
drogas requer, fenômeno que necessita investimentos e maior
conhecimento sobre as diversas facetas do uso. Desse modo, a RD
retoma a proposta do acesso universal para atingir maior número de
sujeitos dentro de suas peculiaridades, por meio da construção de ações
em conjunto com os usuários, visando reduzir riscos e prejuízos
decorrentes do uso. Conclui-se que em tal aspecto de responsabilização
e de ampliação do acolhimento está implicado o fortalecimento da
promoção da saúde pública. Por esse motivo é fundamental que futuras
pesquisas busquem compreender como a RD pode ser um instrumento
potente de emancipação e cuidado.

1219
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Avaliação de serviços de atenção psicossocial no Brasil:


uma revisão integrativa de literatura

Ian Jacques de Souza


Larissa Weber
Sued Macedo Lopes
Claudia Flemming Colussi
Daniela Alba Nickel
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Introdução: A Reforma Sanitária e Psiquiátrica provocou transformações


no arcabouço jurídico e no universo técnico, assistencial e social da
atenção e cuidado em saúde mental. Contudo, a avaliação no campo da
saúde mental/atenção psicossocial tem se mostrado menos comum que
em outras áreas do SUS, possivelmente por se tratar de campo
caracterizado pela subjetividade. Objetivo: O objetivo deste estudo foi
revisar as produções científicas brasileiras de avaliação dos serviços de
saúde que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), publicadas
de 2011 a 2019. Metodologia: Para alcançar o objetivo, foi realizado um
levantamento nas principais bibliotecas virtuais de saúde. A revisão
contou com a seleção de 46 artigos que foram analisados de acordo com
os seguintes itens: autores, ano, local, serviços avaliados, o tipo da
avaliação, abordagem metodológica, natureza e forma de coleta dos
dados, participantes envolvidos na avaliação, referenciais teórico-
metodológicos da saúde mental e principais achados. Resultados: Foi
possível identificar que os serviços mais avaliados foram os CAPS, em
especial o CAPSAD e o de menor destaque o CAPSADIII. A abordagem
mais utilizada foi a qualitativa com natureza de dados primários. A
coleta de dados contou especialmente com entrevistas, observação e
escalas de satisfação. Os trabalhadores foram os sujeitos mais
procurados nas avaliações, seguidos dos usuários e familiares. A maior
parte dos estudos com usuários e familiares utilizou escalas de

1220
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

satisfação e manifestou resultados positivos, com provável viés de


gratidão. Foram reconhecidos aspectos negativos quanto à estrutura e à
organização dos serviços avaliados, demonstrando a necessidade de
maiores investimentos nos serviços de saúde mental. Esperava-se
encontrar maior diversidade de objetos de estudos, bem como
avaliações que abordassem a relação entre múltiplos pontos de atenção.
Conclusão: Os estudos avaliativos cumprem um importante papel na
implementação dos serviços que compõem a RAPS para garantir a
proteção de direitos celebrados pela política de saúde mental.
Especialmente propostas metodológicas que ampliem o envolvimento
dos sujeitos nos processos avaliativos, a fim de garantir a participação,
demonstrar os resultados gerados e contribuir para o melhoramento
desses serviços.

1221
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

CAPSI é lugar de criança, ou não?

Jairo Pinheiro da Silva


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ

Richard H. O. Couto
Universidade Estácio de Sá - Unesa/ Universidade Veiga de Almeida –
UVA

O presente estudo foi estruturado a partir de um artigo cujo título trazia


a pergunta Onde está a criança?, no qual as autoras tratam da pouca
visibilidade da população infantil no âmbito da Estratégia de Saúde da
Família (ESF). Contudo, quando tratamos da ESF, o acesso das crianças
aos diversos dispositivos da saúde mental dilui o estigma que o tema
traz, uma vez que outros dispositivos, como as Unidades Básicas de
Saúde (UBS), deixam de trazer a “marca da loucura” associada por
muitos à saúde mental. No presente estudo, analisamos o percentual de
atendimentos realizados por dispositivos de saúde mental a crianças nas
faixas de 0 a 11 anos e de 0 a 3 anos, faixa de intervenção precoce, de
2012 a 2109. Foram realizadas também entrevistas com profissionais de
dois Centros de Atenção Psicossociais Infanto-Juvenis (CAPSIs)
localizados no município do Rio de Janeiro. Foram analisados dados
fornecidos pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras
Drogas – DAPES/SAS, Ministério da Saúde. No período de 2012 a 2018,
na Rede CAPS do Rio de Janeiro (RJ), somente 5,9% dos atendimentos
prestados destinavam-se a usuários de 0 a 11 anos. Quando
restringimos a análise aos seis CAPSIs homologados neste município, o
percentual de atendimentos às crianças eleva-se para 39%. Porém, o
atendimento a crianças sequer alcança 50% dos atendimentos
realizados no período analisado. O período da infância de 0 a 3 anos é
fundamental, como tempo de intenso desenvolvimento neurológico,
assim como de importantes processos para a estruturação subjetiva do

1222
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sujeito em formação. Assim, este tempo de 0 a 3 anos vem sendo


apontado como o período ideal para as atividades de intervenção e
estimulação precoce de crianças em risco para seu desenvolvimento
psíquico. Apesar de haver diferentes documentos do governo federal
indicando ações e a importância das ações direcionadas às crianças de 0
a 3 anos, somente 8,9% de atendimento realizados pelos seis CAPSIs
analisados foram dirigidos a esta faixa etária e representando 3,5% do
total de atendimentos realizados nestes dispositivos no período de 2012
a 2019. No presente estudo, as análises realizadas deixam clara a
incipiência das políticas públicas de SMCA no Brasil, tendo recém-
completado 18 anos de existência. Porém, observamos nestes
dispositivos os mesmos elementos-problema citados por diversos
autores em outros dispositivos de saúde pública, como insuficiência de
recursos necessários à implantação, ampliação e manutenção de
unidades no território nacional, poucos investimentos na formação de
pessoal especializado para a atuação na Atenção Psicossocial e Saúde
Mental/Atenção Básica, apropriação deficiente do território e perda de
visibilidade junto à população alvo, levando ao acesso tardio das
crianças e manutenção de uma prática medicamentosa, dificuldade para
acesso e permanência no serviço, atendimentos deficientes, pelo
quantitativo insuficiente e pela formação inadequada do pessoal que
atua nos CAPSIs. Porém, diferente de antes de 2001, hoje os governos
sabem de todas as mazelas e gargalos que se constituem como entraves
para a atuação dos profissionais da SMCA de forma plena e de acordo
com o que foi idealizado pela III CNSM de 2001.

1223
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Coletivo Convivências:
articulando Rede de Convivências e Saúde Mental

Amanda Rego de Faria


Pamella Rothstein
Victor Gabriel Martins da Silva
Thiago B. L. Melicio
Leonardo B. Velasco
Universidade Federal do Rio de Janeiro– UFRJ

A partir do marco institucional da Reforma Psiquiátrica e da criação da


Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), compreendem-se novos campos
de atuação profissional em saúde. Dessa forma, as instituições de ensino
são convocadas a refletir sobre possibilidades de formação e de
integração ensino-serviço-comunidade em saúde. É nesse contexto que
o Coletivo Convivências, proponente deste trabalho, é criado. Inspirado
nos Centros de Convivências (CECOs) presentes na RAPS, o projeto visa a
consolidação de uma rede de práticas e convivências no campus da
Praia Vermelha da UFRJ. O intuito é investigar, acompanhar e criar
estratégias de articulação entre ações de arte, cultura e de cuidado em
saúde mental, integrando serviços públicos e espaços de convivência.
Isto posto, o objetivo da presente pesquisa é discutir sobre as
potencialidades das tecnologias leves e da construção de relações
intercessoras como ferramentas promotoras de saúde que contribuam
para a aproximação, inserção e articulação dos CECOs com demais
dispositivos da RAPS. O Coletivo busca alinhar-se à prática polifônica,
sem hierarquização de saberes, pautada na perspectiva territorial e na
atuação interprofissional. Sua estratégia refere-se à revisão bibliográfica
e à produção de oficinas e rodas de conversas com profissionais,
usuários e estudantes acerca de temas como: História do SUS, Luta
Antimanicomial, Rede de Saúde Mental, Políticas de Saúde e Resistência,
Cartografia, produção de subjetividade e autonomia. Uma vez que nossa

1224
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

proposta perpassa pensar o direito à cidade e o acesso à cidadania a


partir da arte, cultura e encontro entre as diferenças, hoje somos
levados a ampliar o entendimento de território para a realidade virtual
frente ao cenário de crise sanitária e política marcado pela pandemia.
Assim, a Agenda ConViver foi criada e fomentada pelo Fundo
Emergencial de Combate à Covid-19/Inova Fiocruz, possibilitando a
continuidade das atividades oferecidas pelos Centros de Convivência do
estado do Rio de Janeiro de forma remota. Nesse contexto, um dos
intuitos foi o de estreitar as relações dos CECOs com a Estratégia de
Saúde da Família e com os Centros de Atenção Psicossocial. Buscou-se,
por meio de reuniões com a coordenação da atenção psicossocial da
Secretaria do Estado de Saúde, com o projeto UFRJ Pet-Saúde
Interprofissional e com o fórum de CAPS da Frente Estamira, apresentar
as atividades da agenda ConViver e estimular o acesso dos usuários
atendidos por esses equipamentos às mesmas. Para além de reinventar
a convivência e reduzir os danos decorrentes do isolamento, a Agenda
permitiu a construção, mesmo que incipiente, de novas ações em rede.
Contudo, considerando também as dificuldades, tem-se que o território
virtual dificulta a garantia de princípios fundamentais do SUS. A
universalidade implica também a acessibilidade. Pensar saúde atravessa,
então, a dimensão de uma política pública de inclusão digital
intersetorial, articulada às ações remotas em saúde. A afirmação do
Centro de Convivência enquanto espaço de promoção de vínculo e
cidadania é reiterada nesse contexto, que apesar de colocar questões
sobre as condições de produção de autonomia e convivência no campo
virtual, também revela a importância do convívio e das relações sociais
na saúde de forma ampla.

1225
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Considerações para o campo da Saúde Mental no Brasil: recortes


de uma avaliação da política nacional de saúde mental
nos reordenamentos do Estado brasileiro

Francisco Anderson Carvalho de Lima


Carmem Emmanuely Leitão Araújo
Ricardo José Soares Pontes
Universidade Federal do Ceará – UFC

O campo da Saúde Mental se constitui um dos principais espaços de


atuação profissional, construção teórica e desdobramento político do
Sistema Único de Saúde (SUS). Esse campo se desdobra em políticas e
serviços que se gestam na redemocratização brasileira em alianças de
movimentos sociais diversos entre segmentos de usuários,
trabalhadores e acadêmicos. Neste contexto, o movimento de reforma
psiquiátrica brasileiro orientou o desenho e a implementação da Política
Nacional de Saúde Mental, a qual vinha gestando-se sob a égide de um
modelo de cuidado de caráter territorial e comunitário através da
incorporação de dispositivos político-assistenciais diversos à guisa da
produção do cuidado integral em saúde no âmbito do SUS. Entende-se
que a conformação dessa política se gesta na disputa de poderes no seio
do Estado brasileiro contemporâneo. A partir do reordenamento político
atual, as diretrizes da ação estatal com relação ao cuidado e assistência
em saúde mental vêm passando por ataques e retrocessos. Assim, a
Política Nacional de Saúde Mental e suas interfaces foram redesenhadas
em um movimento de remanicomialização do cuidado, sobretudo a
partir de 2017 e 2019, incorporando novos dispositivos na Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) e abandonando estratégias de
desinstitucionalização até então vigentes como a implementação de
serviços substitutivos para a superação do modelo asilar, em atos
institucionais que passaram a chamá-la de Nova Política de Saúde
Mental. Esse processo materializa as disputas, uma vez que falar de

1226
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

política pública é falar de Estado, de pacto social, de interesses e de


poder. Vê-se, assim, a ascensão ao lugar privilegiado de formulação da
política, os interesses corporativistas e de determinado espectro político
situado no campo da direita e extrema-direita. Ressalta-se o processo de
formulação da atual política, a qual seus delineamentos foram
aprovados através de articulação que minou a participação de entidades
legítimas do controle social, tais como o Conselho Nacional de Saúde e o
Conselho Nacional de Direitos Humanos. Esse reordenamento se
encontra inserido, portanto, nos delineamentos do Estado brasileiro
contemporâneo, em processos políticos que apontam desafios para o
campo da saúde mental no país e estão em pleno curso marcados por
fenômenos que culminam na inauguração de uma nova face do
autoritarismo brasileiro, dessa vez referendado pelas urnas com a
eleição de 2018, que democraticamente levou ao poder executivo um
projeto de governo que agrava o aspecto autoritário do regime de
sociabilidade brasileiro. Anuncia, portanto, um novo estatuto no
ordenamento político do país em sua inserção dependente nos
percursos do capitalismo mundializado, aprofundando os aspectos do
rentismo no seio do Estado brasileiro contemporâneo. Essa inserção
dependente impõe restrições ao orçamento estatal e demarca aspectos
do colonialismo e neocolonialismo no regime de sociabilidade brasileiro,
reverberando nas políticas públicas em termos de formulação e
implementação, sobretudo se considerando os agenciamentos políticos
no seio do Estado e sua política fiscal. Aponta-se, assim, a necessidade
de constituição de um campo de forças progressista a fim de reordenar
a política e serviços sob a égide dos direitos humanos, da luta
antimanicomial e do cuidado em liberdade.

1227
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Contribuições da esquizoanálise aos saberes e fazeres da psicologia


clínica no contexto da RAPS: o que dizem as produções científicas
brasileiras?

Lanna Carolyna Vieira da Costa


Anselmo Clemente
Clarisse Junqueira da Silva
Jade Cristine Bezerra Machado
Lanna Carolyna Vieira da Costa
Rafaella Ellen de Andrade Marinho
Universidade Federal da Paraíba– UFPB

O presente relato de pesquisa se constitui como um dos três planos de


trabalho inseridos no projeto de iniciação científica “Devires da Clínica:
contribuições da esquizoanálise para a Psicologia Clínica no contexto da
Reforma Psiquiátrica Brasileira”, vinculado ao departamento de
Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Tem-se como
objetivo realizar revisão narrativa de literatura acerca das contribuições
do pensamento esquizoanalítico para a psicologia clínica no contexto da
Reforma Psiquiátrica no país, a partir de artigos científicos, teses e
dissertações. A realização do estudo está ocorrendo por meio da busca
de produções científicas nacionais em portais e plataformas digitais
específicos da área, tais como a BDTD, Indexpsi, BVS, Psicologia Brasil,
Pepsic, SciELO, Lilacs e Portal de Periódico Capes. Também serão
utilizadas perguntas mobilizadoras para a classificação dos estudos.
Compreende-se que a psicologia clínica brasileira está enfrentando
desafios no que tange suas epistemologias, metodologias e práticas.
Sobretudo ao se deparar com contextos distintos do cuidado no âmbito
das políticas públicas de saúde, caso do trabalho do psicólogo na Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS). Diante disso, é necessário constante
reinvenção desse profissional, a fim de fazer modular suas práticas com
base em demandas emergentes e concretas da realidade da população.

1228
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Nesse cenário, procura-se explorar as possibilidades que a


esquizoanálise oferece, inclusive em interface com discussões
contemporâneas acerca dos marcadores raça, gênero e classe nas
práticas de cuidado. Portanto, compreende-se que a saúde mental,
enquanto campo de saberes e práticas, está implicada com os modos de
subjetivação, a transversalidade e transdiciplinaridade do cuidado, a
indissociabilidade entre clínica e política, dentre outros aspectos
esquizoanalíticos e da análise institucional guattarriana. Avaliamos esses
temas relevantes para políticas públicas em geral, e mais
especificamente para a saúde mental. Através do pensamento
esquizoanalítico contextualmente presente na psicologia clínica
brasileira, visamos explorar suas cruciais contribuições no âmbito da
clínica da diferença e da produção da subjetividade, assim como a
qualificação da lógica de cuidado às pessoas em sofrimento mental e a
transformação da compreensão da loucura na sociedade brasileira.

1229
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Criar e resistir: do sofrimento à inventividade


cotidiana do cuidar em saúde mental

Allan de Aguiar Almeida


Maria Goretti Andrade Rodrigues
Universidade Federal Fluminense– UFF

Introdução: O campo da saúde mental tem como possibilidade a


pluralidade de olhares e o enfoque transdisciplinar, porém o ideário
neoliberal e a conjuntura que vivenciamos na atualidade faz reforçar
políticas excludentes, assim como traz à tona o descaso nos processos
de humanização, rupturas nos processos de integralidade em saúde e no
cuidar de modo compartilhado. A lógica da pura medicalização, dos
silenciamentos dos sujeitos e de seus lugares categoriais e diagnósticos
se faz como prática para um conjunto de profissionais que sustentam,
por vezes sem saber, práticas iatrogênicas, assim como resgatam de um
passado recente a institucionalização precária e segregadora. Objetivo:
Este trabalho de pesquisa tem como proposta cartografar a Rede de
Atenção Psicossocial de Santo Antônio de Pádua, município do noroeste
do estado do Rio de Janeiro, a fim de trazer novos olhares e
possibilidade de intervenção naquilo que apostamos enquanto uma
saúde coletiva, plural e humanizada. Metodologia: Em nossa proposta
metodológica temos a realização de um estudo no qual se trabalha com
uma pesquisa com participação intencional do pesquisador e dos
sujeitos como figuras dinâmicas e vivas que causam e estão em
movimentos durante o percurso da investigação. Deste modo os
pesquisadores se fazem como figuras atuantes no processo, causando e
sofrendo impactos em sua análise, dado que, na cartografia, não há um
princípio de identidade entre o sujeito e o objeto, nem no sujeito nem
no objeto. Resultados/discussões: As políticas de humanização em
saúde e de educação permanente têm sido importantes vias de
trabalho, principalmente quando nos vimos atravessados pela pandemia

1230
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

da Covid-19 em nosso campo de pesquisa. A necessidade de invenções e


de diálogos intersetoriais frente ao distanciamento e isolamento social
faz com que tenhamos de repensar a gestão e a função de apoio
transdisciplinar. Intensificamos as esparsas reuniões, em encontros
semanais e rodas de conversas, via aplicativos de mensagens pela
internet, que propiciam intensas e efetivas trocas e um possível cuidado
compartilhado. O matriciar, a oferta dessas escutas, o receber as
diversas falas fizeram aparecer outros rumos e olhares na construção de
uma clínica mais humanizada. Acolhemos a população de rua,
repensamos a necessária intersetorialidade da gestão em saúde, o fazer
transdisciplinar e conjunto dos profissionais da atenção primária com os
da saúde mental. Apostamos no desafio da clínica da atenção
psicossocial oferecendo espaços de estudo e práticas para estudantes e
estagiários. Destaca-se aqui também a fundamental importância e
suporte de docentes da Universidade Federal Fluminense em todo o
processo, em reuniões semanais de supervisão e orientação junto à
elaboração das pesquisas. Considerações finais: Todo este rico percurso
revela que a transmissão de um ensino e a troca de saberes frente aos
impasses atuais se mostram inseparáveis e são fundamentais. O
conhecer, o fazer, o pesquisar e o intervir revelam estes tempos vivos e
fortes, onde criar e resistir estão na mesma direção.

1231
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado ao usuário em crise: desafios nos serviços de Saúde Mental

Laís Chagas de Carvalho


Marta Braga Vieira Batista
Universidade Federal da Bahia – UFBA

Introdução: A atenção à Saúde Mental (SM) é um desafio na Bahia. A


Rede de Atenção Psicossocial se mostra fragilizada e hipossuficiente,
com um número reduzido de serviços de SM, principalmente no que se
refere ao acolhimento noturno. Essa condição tende a sobrecarregar as
unidades e impactar na reabilitação psicossocial dos usuários. Diante
desta realidade, a clínica psicossocial é prejudicada, pois existem casos
que a rede não consegue garantir o atendimento aos usuários em crise,
que em um escalonamento de demandas psíquicas, podem necessitar
de atendimento hospitalar. Objetivo: Descrever as dificuldades no
manejo da crise em SM pela equipe de enfermagem. Metodologia:
Trata-se de um estudo de caráter exploratório-descritivo com
abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada em uma enfermaria de
um hospital de caráter público na cidade de Salvador, Bahia, com oito
profissionais de Enfermagem após a assinatura do TCLE através de um
roteiro de entrevista semiestruturada. As entrevistas ocorreram no mês
de dezembro de 2018. Os dados encontrados foram trabalhados através
da técnica Análise de Conteúdo de Bardin. Foram considerados aspectos
éticos constantes na Resolução 466/2012 do CNS. Resultados e
discussão: Dentro do cuidado aos usuários de saúde mental foram
apontados diversos desafios que são encontrados no cotidiano das
trabalhadoras entrevistadas. Neste contexto, uma das dificuldades
citadas por profissionais é a carência de recursos humanos, que pode
interferir na qualidade da prestação do cuidado aos usuários internados
na unidade. A insuficiência de recursos humanos pode estar relacionada
a condições de trabalho inadequado, e assim submetendo as
profissionais a uma sobrecarga, colocando em risco a assistência. Um

1232
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

importante fator citado pelas participantes da pesquisa está na falta de


preparação da equipe para atuar na crise. Outro aspecto importante
evidenciado também no relato das entrevistadas é a falta de estrutura
para suportar o sofrimento psíquico dos usuários, uma vez que no
manejo dessas crises podem ser mobilizados seus sentimentos, medos e
dificuldades pessoais. Os profissionais que atuam na área de SM são
submetidos a uma alta carga de estresse emocional constantemente,
pois lidam com a subjetividade dos usuários, tentativas de suicídio,
mutilação do corpo, auto e heteroagressividade, dentre outras situações
difíceis que são comuns no plantão diário. Com essa vivência complexa
no trabalho, é de extrema importância o autocuidado. Nesse sentido
torna-se significativa a necessidade do desenvolvimento da inteligência
emocional, uma habilidade que não é aprendida nos cursos tradicionais
e sim na vivência diária, que ensina as pessoas a monitorarem seus
próprios sentimentos/emoções e de outras pessoas. Considerações
finais: São muitos desafios enfrentados pelas trabalhadoras de
enfermagem na efetivação do cuidado no campo da saúde mental,
entretanto essa vivência possibilita um exercício reflexivo para o
fomento de atividades de educação permanente para melhor preparo
da equipe. Faz-se necessário também, promover estratégias que
favoreçam o desenvolvimento da inteligência emocional dessas
trabalhadoras, habilidade de extrema importância para a promoção do
autocuidado e do cuidado com o outro.

1233
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidar e ser cuidado: um relato de experiência do Centro


de Convivência e Cultura Arte de Ser em Rio Branco, Acre

Fabiano Guimarães de Carvalho


Amanda Schoenmaker
Sandra Ortiz Rodrigues
Diana Goulart
Secretaria Estadual de Saúde e Centro de Convivência e Cultura Arte de
Ser

Rafael Auler de Almeida Prado


Universidade Federal do Acre - UFAC

O presente trabalho pretende apresentar o Centro de Convivência e


Cultura Arte de Ser de Rio Branco, Acre, a partir de seus
entrelaçamentos entre clínica, gestão, política e formação na
organização do cuidado que promove em Saúde Mental, considerando
que estes entrelaçamentos caracterizam fundamentalmente o
surgimento, o percurso e a orientação do Arte de Ser. O intuito é trocar
experiências e reflexões, contribuindo para o debate de propostas e
práticas de Centros de Convivência no Brasil. O CECO Arte de Ser surgiu
como uma oficina semanal baseada na metodologia de Nise da Silveira,
onde a expressão artística livre e o convívio entre pessoas com e sem
transtorno mental sempre se fez presente. Os encontros, que encorajam
diversas formas de expressão, tornaram-se momentos em que as
pessoas vão percebendo os seus limites, o modo como os outros sentem
e se posicionam com suas atitudes, negociando formas de conviver e,
muito frequentemente, exercendo a solidariedade entre si. Destaca-se
em sua trajetória o desenvolvimento desta metodologia simples que
acolhe as diferenças e faz com que os participantes das oficinas se
sintam parte do Arte de Ser. Durante oito dos seus dez anos de
existência, o Arte de Ser não foi institucionalizado, por essa razão
buscou apoio e recursos tanto da esfera privada (através de doações)

1234
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

quanto pública (cessão de espaço para a sede, funcionários, reforma do


espaço etc.), criando vínculos consistentes com uma rede diversa de
pessoas e instituições ligadas ao Arte de Ser pela identidade. Neste
período realizaram-se inúmeras exposições artísticas, palestras,
capacitações, sendo sua atuação reconhecida pelo Ministério Público do
Acre com o Prêmio “MP Atitude” na categoria Inovação, culminando, em
2018, em sua formalização em Centro de Convivência e Cultura através
da Secretaria Estadual de Saúde do Acre, adequando-se à política de
saúde mental vigente. O CECO Arte de Ser exerce, ainda, grande papel
na formação profissional em diferentes áreas como Saúde Coletiva,
Fonoaudiologia, Medicina, Artes Cênicas, Jornalismo, Enfermagem,
Auxiliar de Enfermagem, Engenharia Florestal, além da Psicologia, cujo
curso da Universidade Federal do Acre possui forte vínculo. A presença
de estagiários em sua rotina possibilitou, através de ações e reflexões,
transformações fundamentais no serviço, como, por exemplo, a
realização do evento Domingo no Parque - atividade de maior
aproximação com a comunidade do entorno -, bem como o
desenvolvimento de instrumentos de cadastro e registro de cuidados,
ampliando o olhar clínico para cada participante. Possibilitou também a
criação de Assembleias incluindo a todos, que permitiu uma
participação democrática na gestão do Centro de Convivência e é outra
consequência do entrelaçamento da formação, política e gestão, unidos
a um olhar clínico. Enfim, a formação dos alunos se dá de modo
integrado à formação dos próprios profissionais, e de participantes, num
processo em que todos, a seu modo, criam e se formam,
experimentando e discutindo formas de cuidar e ser cuidado. Os
profissionais, participantes e estagiários destacam o processo de
construção em conjunto como desafiador e enriquecedor.

1235
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Da gestão ao Gesto: gestão, cuidado, a escrita de si e criação de mundo

Mauro Andrade Silva


Autônomo

A partir da pesquisa de mestrado no Programa de Pós-graduação em


Psicologia da UFF, na linha subjetividade e exclusão social, o intuito é:
partilhar as afetações provocadas pelo percurso da pesquisa-formação.
Partindo da abordagem esquizoanalítica na perspectiva transdisciplinar
da clínica e pensando a gestão como método da roda com Gastão
Wagner, e também com a Análise Institucional de Lourau e La Passade,
inicio querendo fazer uma discussão na gestão local dos serviços de
saúde mental no eixo Rio-Niterói, região Metropolitana do Rio. Da
gestão ao Gesto foi o título inicial. Tentando pensar quais eram as
possibilidades de insurreição tanto macro quanto micropolítica, junto
com Suely Rolnik em "Esferas da insurreição"(2018). Procura-se dar
visibilidade à importância ético-estético-política das práticas de si
(Foucault), na organização, mas também, na invenção e manutenção do
cuidado psicossocial. Performatizando uma "Escrita de si", aposta-se na
junção da literatura e academia, forjando uma dissertação-narrativa,
baseada no estilo literário da autoficção. Contando histórias, narrando
inventividades e vivências nos percursos como trabalhador e como
gestor nos dispositivos de saúde mental pública. Utilizando Walter
Benjamin, Nei Lopes e Danichi Hausen Mizoguchi para pensar o ato de
contar histórias enquanto produtor de si e do mundo. Logo, também, de
práticas de cuidado. Com isso, algumas ideias surgem no meio do
caminho: articular a inseparabilidade, a “des-cisão” entre trabalho e
vida. Pensar a importância do elo pesquisa-formação no campo das
ciências humanas, uma vez em que sujeito e objeto se “distinguem mas
não se separam”. Que se misturam. Quando é o homem estudando o
próprio homem, há implicações importantes a serem incluídas no jogo. E
o cuidado de si e a ética em Michael Foucault nos dá pistas importantes

1236
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

para seguirmos por um caminho do cuidado antimanicomial, menos


eugenista,machista e fascista. Sem o pressuposto da política, da ciência
neutra. Como se os manicômios não tivessem cor ou classe
social.Iniciado em agosto de 2018 e atravessado pela pandemia, o
trabalho se encontra ainda em aberto. Com previsão de se findar em
fevereiro de 2021. A ideia principal é partilhar dos percursos e das
pedrinhas miudinhas que esbarrei pelos caminhos da pesquisa.

1237
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desafios para pensar a inovação em tempos de crise:


uma cartografia no CAPS

Cynthia dos Santos Monteiro


CAPS Espaço Livremente

Patricia Oliveira Lira


Universidade de Pernambuco – UPE

Introdução: Este trabalho surgiu a partir de uma pesquisa-intervenção


no CAPS do município de Ipojuca, Pernambuco, realizada durante o
exercício profissional na condição de psicóloga, trabalhadora de Saúde
Mental e gerente clínica ao longo do processo de precarização do
aparelho de atenção em saúde dos últimos anos. Tal conjuntura tem
desafiado os diferentes atores no campo da Saúde Mental na criação de
novas linhas de ação frente a uma crise que põe em questão a própria
efetividade do CAPS enquanto dispositivo de cuidado. Assim, dialogando
com Deleuze e Guattari (1997), buscamos cartografar o cotidiano
clínico-institucional no CAPS como uma linha possível de resistência
micropolítica no exercício ético-estético e político do cuidado em
liberdade. Para tanto, propomos a tessitura de uma rede de alianças em
torno do cuidado, como uma das dimensões essenciais do trabalho,
além da produção de possibilidades de ampliá-lo no território a partir da
experimentação de novos encontros. Objetivo: Cartografar a experiência
do CAPS enquanto disparador do cuidado em liberdade junto à RAPS.
Metodologia: Inspiradas pela cartografia, como proposta por Deleuze e
Guattari (1995), ao longo da processualidade da pesquisa que se
construía na composição do próprio cotidiano institucional, delineamos
estratégias que fomentassem o fortalecimento do sentido de rede,
buscando maior consistência das ações junto à RAPS.
Resultados/Discussões: Disparamos a fabricação de redes “para dentro”,
onde tentamos intensificar fluxos ativos entre os integrantes da equipe

1238
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do CAPS entre si e no seu encontro com os usuários. Além disso, nos


esforçamos no sentido de tecer “para fora” linhas de ação do CAPS junto
aos demais serviços, mais especificamente, à Atenção Básica,
considerando sua potência de abertura comunitária e seu lugar
estratégico junto aos dispositivos de gestão municipal. Foram
produzidas oficinas de discussão sobre Matriciamento e dois Fóruns
Municipais de Saúde Mental, experiências inéditas no município.
Considerações finais: Nesse percurso retomamos os princípios da
Reforma Psiquiátrica como inspiração enquanto revolução molecular
para produção de um cuidado em liberdade, percebendo que o
movimento antimanicomial nesse território acontecia em ritmo e
velocidade próprios comparados à grande narrativa nacional do
movimento, fazendo-nos perceber que tecer redes “para fora” leva
necessariamente a pensarmos na singularidade do “dentro” sempre em
estado de devir, quando a própria implantação desses dispositivos
tornados políticas instituídas pode capturar os processos ativos de
composição dos territórios de cuidado, tornando-os meros operadores
institucionais de políticas governamentais.

1239
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Direitos humanos e humanização na tessitura do cuidado psicossocial:


o que pensam coordenadores de instituições
especializadas em Saúde Mental?

Mariana Costa Roldão Garcia


Carolina Moraes Menezes
Rosimar Alves Querino
Ailton de Souza Aragão
Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM

Introdução: A concretização do cuidado integrado, contínuo e em


âmbito comunitário, conforme preconizado pela Organização Mundial
de Saúde e pela política de saúde mental brasileira, requer a
mobilização da comunidade, a construção de novas relações entre
cidadania e loucura, o envolvimento de diversos setores e o
empoderamento das pessoas com transtornos mentais e seus familiares.
Nesse intento, os Direitos Humanos (DH) se constituíram como eixo
estruturante do modelo de atenção psicossocial. Objetivos: O estudo
buscou compreender as percepções de coordenadores das instituições
especializadas em Saúde Mental de um município do interior de Minas
Gerais sobre direitos humanos e suas relações com a atenção
humanizada às pessoas com transtornos mentais. Metodologia: Trata-se
de estudo descritivo e exploratório com delineamento qualitativo no
qual participaram doze gestores de pontos da rede de atenção
psicossocial de município mineiro. Na construção de dados empregou-se
questionário autoaplicável para caracterização sociodemográfica dos
participantes e entrevistas com roteiro semiestruturado. A análise de
conteúdo temática resultou na construção de duas categorias temáticas:
DH e Humanização. Resultados/discussões: Em um primeiro momento,
percebe-se uma concepção mais genérica e integral sobre os DH, sendo
estes entendidos como direitos que devem ser usufruídos por qualquer
pessoa, independentemente da sua condição singular. No

1240
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

aprofundamento das entrevistas, os participantes pontuaram sobre a


importância de ressignificar os DH à luz da psicose, afim de reconhecer e
fortalecer o direito de existir no diferente, como uma vida que pode se
singularizar. Outra dimensão abordada pelos entrevistados diz respeito
aos DH enquanto direito de acesso a bens e serviços, o que os inscreve
na seara dos direitos sociais. Além disso, os DH foram apresentados
enquanto um movimento de rompimento de estigmas e de busca pela
não exclusão do sujeito em sofrimento mental pela sociedade.
Destacou-se, também, a necessidade da atuação dos profissionais na
defesa de DH das pessoas com transtornos mentais. Essa atuação está
umbilicalmente relacionada à construção de um cuidado humanizado,
delineado como um acolhimento e escuta sem preconceitos
acompanhado de um reconhecimento do outro como sujeito com
necessidades iguais a qualquer ser humano. Outro ponto sob o qual os
entrevistados discorreram é a falta de afetividade sentida pelos
usuários. A humanização também foi entendida como um movimento
de empoderamento dos usuários e, por fim, como um movimento de
construção de novas formas de cuidar, um olhar e fazer clínico
antimanicomiais. Considerações finais: O estudo evidenciou que as
perspectivas dos participantes estão em consonância com a produção
do Movimento de Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica
segundo a qual o cuidado humanizado na saúde mental é indissociável
dos DH. A ampliação do debate sobre DH com usuários, trabalhadores e
comunidade pode contribuir para fortalecer o modelo de atenção,
superar estigmas e efetivar direitos das pessoas com transtornos
mentais.

1241
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Em frente ao desmonte, enfrente! Efeitos do sucateamento


e os modos de enfrentamento de uma rede assistencial de
Saúde Mental atravessados pelo olhar da psicanálise

Joyce Brito Araújo


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

Em um cenário de contundentes e distintos movimentos compreendidos


e nomeados nesta pesquisa como “sucateamento e desmonte da rede
de assistência à saúde mental”, foram analisadas as práticas de cuidado
em um serviço público de saúde mental com perfil assistencial distinto
do estabelecido pela regulamentação da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS). Esta pesquisa teve como base a construção e a narrativa de três
casos clínicos que possuem demandas, organização de equipe e
atuações na rede distintas. Tendo a subjetividade como estruturante
deste objeto de pesquisa, realizou-se uma aposta metodológica que
teceu diálogos entre aportes teóricos da psicanálise aplicada e da
psicossociologia de base psicanalítica. Os principais resultados são cinco
elementos emergentes de análise: processos grupais e intersubjetivos;
vínculo e reconhecimento; crise e sofrimentos nas instituições;
criatividade; e integralidade. Constatou-se que o cenário político, a
grande precarização da rede e a ausência de espaços no serviço para o
diálogo intraequipe interferiram diretamente na possibilidade de
construção de zonas de confiança, produzindo posições mais fechadas
ao diálogo e à mudança, tornando-se um obstáculo à construção de um
trabalho coletivo, apesar das tentativas da equipe. O vínculo e o
reconhecimento, mesmo atravessados pela fragilidade grupal, surgiram
como uma forte aposta destas práticas. A possibilidade de diálogo com
os usuários fortaleceu uma maior união dos profissionais para um
trabalho mais engajado às proposições do Fórum de Trabalhadores da
Saúde Mental existente à época, espaço este que, constatou-se, ocupou
um lugar de cuidado para profissionais e usuários, garantiu-lhes uma

1242
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

maior sensação de pertencimento à rede, produziu ações significativas


no combate à precarização e trouxe possibilidade de ações criativas. O
vínculo apareceu não restrito às relações de cuidado/terapêuticas de
uma equipe/profissional com o usuário e como fruto destas outras
interferências existentes naquele território e momento. A criatividade e
a integralidade, pelo prisma do serviço, sofreram grande impacto deste
cenário, não encontrando respaldo suficiente nos espaços de supervisão
clínico-institucional para a dissolução dos conflitos internos. A
possibilidade de coexistência deste serviço com a rede esteve ameaçada
por sua ausência na portaria nº 3088/2011, fator que, apesar de
polêmico e importante, não conseguiu ser trabalhado em profundidade
pela equipe, somando-se aos aspectos produtores de instabilidade.
Forças destrutivas se manifestaram de forma contundente através da
violência da substituição em massa dos trabalhadores, da asfixia da rede
pela falta de insumos/recursos gerais e pela dificuldade de parte dos
trabalhadores criar um lugar novo para si mesmo. Apesar do cenário, a
singularidade do serviço permitiu a produção de práticas cuidadoras
cuja pertinência de manutenção na rede deve ser melhor avaliada.
Importante frisar que neste trabalho ampliaremos a discussão para além
da RAPS, compreendendo também todo e qualquer contexto de
restrição, seja ele político normativo, estrutural etc. em que esteja
ameaçada a possibilidade de criatividade e invenção, pautadas na ética
de um cuidado democrático e antimanicomial.

1243
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Estudos comportamentais brasileiros sobre o transtorno


da personalidade borderline: um relato de pesquisa

Iara da Silva Nogueira


Estefânea Élida Gusmão
Rubens Porto Guilhon Filho
Maria Edilene Oliveira Magalhães
Jefferson Pessôa Ramos
Universidade Federal do Ceará – UFC

O presente estudo tem como objetivo apresentar uma revisão


integrativa sobre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB),
acerca dos aspectos mais estudados na literatura brasileira bem como
os aspectos menos abordados em relação à literatura internacional, a
partir da ótica da Análise do Comportamento, da Terapia Cognitivo
Comportamental e da Terapia Comportamental Contextual. O TPB se
configura como um padrão de comportamento relacionado à
instabilidade nas relações interpessoais, da autoimagem, da
impulsividade, do afeto e da regulação emocional. Como método de
pesquisa foi realizada uma revisão integrativa, um método de revisão
bibliográfica que proporciona a síntese de conhecimento em uma área,
por meio da identificação, avaliação e sintetização de evidências
encontradas em pesquisas individuais. As buscas foram realizadas nas
bases LILACS, Index Psi e MEDLINE, através do Portal Regional da BVS,
por meio de descritor único borderline e com filtros de busca para
refinar os resultados. A seleção de artigos resultou em 32 trabalhos.
Depois da primeira triagem restaram 5 artigos e, após a segunda triagem
realizada, sobraram apenas 3 trabalhos, que foram categorizados em
função de autoria, ano de publicação, título, periódico de publicação e
base de dados indexada e tipo de delineamento escolhido. Neste estudo
foram avaliados: critérios do diagnóstico, etiologia, incidência sobre
gênero, evolução nas fases do desenvolvimento e possibilidades

1244
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

terapêuticas de tratamento. Dentre as estratégias terapêuticas que


apareceram em ambos os estudos de caso selecionados, encontram-se:
análise funcional, aceitação e validação dos sentimentos das clientes e
análise da relação terapêutica. Os resultados demonstraram que os
pesquisadores brasileiros que publicam sobre o assunto se aproximam
muito mais de uma perspectiva do behaviorismo contextual, o que pode
ser observado pela preocupação encontrada com a análise do
relacionamento terapêutica dentro do setting. Entretanto, devido à
escassez de estudos, é possível concluir que é necessário fomentar mais
pesquisas sobre o assunto a fim de impulsionar cada vez mais o
desenvolvimento de tecnologias e estratégias cientificamente
fundamentadas para a população que sofre de TPB. O aprofundamento
desse conhecimento é relevante, uma vez que transtornos de
personalidade muitas vezes são tidos como sinônimos de problemas
difíceis de tratar, e que indivíduos com TPB são tão numerosos a ponto
de considerar que um psicoterapeuta se deparará com pelo menos um
em sua prática clínica, torna-se importante a adesão de pesquisadores
brasileiros sobre esse assunto.

1245
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Experiência de alunos de Medicina em


intervenções conjuntas na Saúde Mental

Nathan Rodrigues Vallim


Loraine Oltmann de Oliveira
Brunna Andrade Gondo
Beatriz Zaia Bertoldi
Sabrina Stefanello
Universidade Federal do Paraná – UFPR

Introdução: O ensino médico ainda tem como base principal o modelo


biomédico curativo, que se limita a problemas de maior complexidade e
tem o ensino fragmentado em especialidades, impedindo os alunos de
terem uma visão geral do paciente. Esse ensino destoa do plano de ação
abrangente em saúde mental da Organização Mundial de Saúde (OMS) e
das atuais diretrizes nacionais para os cursos de Medicina, que
preconizam a integralidade do cuidado. Diante disso, foi desenvolvido o
projeto de extensão “Psiquiatria em Curitiba: intervenções”. Nele,
alunos de Medicina da UFPR tiveram contato regular em atividades
terapêuticas grupais voltadas para promoção de cidadania, redução do
estigma e reinserção social, com pessoas com problemas mentais em
tratamento nos CAPS em conjunto com trabalhadores. Objetivo: O
objetivo deste trabalho é explorar a percepção dos alunos da UFPR em
relação a estas experiências. Metodologia: Esta foi uma pesquisa-
intervenção, participativa, qualitativa, aprovada pelo comitê de ética.
Foram realizadas entrevistas individuais com 11 alunos que
frequentaram o projeto de extensão por pelo menos 3 meses
consecutivos e aceitaram participar. As entrevistas tiveram roteiro
semiestruturado e foram áudio-gravadas, codificadas e transcritas
integralmente. Posteriormente a percepção dos alunos foi avaliada por
meio da hermenêutica gadameriana em três aspectos abrangentes,
abertos para discursos tanto positivos quanto negativos, tomando como

1246
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

base a análise do conteúdo. No momento, mais entrevistas estão sendo


conduzidas para ampliar o estudo. Resultado/discussão: Avaliando-se o
material coletado nas onze primeiras entrevistas, os argumentos foram
agrupados em três grandes grupos temáticos: aprendizado humano x
técnico; ampliação do olhar e horizontalidade. A análise mostrou que as
intervenções desenvolvidas nos CAPS contribuíram para: (1) redução do
preconceito dos alunos para com os usuários da rede de saúde; (2)
estabelecimento de relacionamentos com maior naturalidade e
vinculação entre alunos e usuários; (3) reflexões sobre os mecanismos
de exclusão das pessoas com problemas mentais e sobre o papel
benéfico da terapêutica em grupo nesse aspecto; (4) desenvolvimento
de habilidades clínicas pouco abordadas no currículo médico, mas
relevantes no contexto clínico e (5) o entendimento das perspectivas de
outros profissionais da saúde. Considerações finais: Inicialmente, pode-
se concluir que a proposta analisada teve efeito benéfico na percepção
dos alunos em relação às pessoas com problemas mentais, com ênfase
na redução do estigma. Além disso, os relatos analisados direcionaram-
se à percepção do aprendizado voltado para o desenvolvimento de
relacionamento respeitoso, olhar mais abrangente, observação do que
se estuda na prática e sensação de atuação clínica, aspectos que se
enquadram no que se espera da formação médica. Espera-se que mais
estudos sejam desenvolvidos nesta área, especialmente para elucidar se
intervenções como esta suscitam mudanças na prática e sua
durabilidade.

1247
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Experiência de vida de mulheres usuárias de crack na


contemporaneidade: uma dissertação de mestrado

Luisa de Marilak Terto


Universidade Católica de Pernambuco – Unicap

Em função de sua natureza multifatorial, a dependência química requer


abordagens de cuidados amplos, integrados e diferenciados e, pensando
nisso, o presente estudo objetivou compreender a experiência de vida
de mulheres usuárias de crack na contemporaneidade. É de
fundamental relevância aprofundar o entendimento de diversos modos
de subjetivação feminino para se pensar práticas de acolhimento que
levem em consideração o contexto e as demandas das mulheres que
usam crack. Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza
qualitativa em que foram entrevistadas, individualmente, sete mulheres,
na faixa etária dos 28 aos 37 anos de idade, todas do estado de
Pernambuco, Brasil. Utilizou-se como método de construção dos dados
a História de Vida (HV). Optou-se por fazer uso de uma entrevista
narrativa e também o uso de um Diário de Campo, em que foram
registradas diversas vivências, observações e reflexões construídas ao
longo do processo de produção dos dados. Como estratégia de análise,
lançou-se mão da analítica discursiva de inspiração foucaultiana. As
narrativas das mulheres entrevistadas apontam que é impossível
compreender o fenômeno do crack sem ter um olhar sobre o contexto
sociocultural e histórico dos sujeitos. O uso da categoria analítica do
gênero é de extrema relevância para a compreensão não só dos
processos orgânicos e fisiológicos, como também dos discursos e
saberes que entrelaçam a vivência dessas mulheres enquanto usuárias
de crack. Observou-se que nos processos de reconhecimento de
identidades são inscritas, ao mesmo tempo, as atribuições de
diferenças, que implicam instituições de desigualdades, de hierarquias
estabelecidas imbricadas nas redes de poder que circulam em uma

1248
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sociedade. A sociedade, ao classificar os sujeitos, os divide atribuindo


rótulos com a pretensão de fixar as identidades, definindo, separando e
de diversas formas distinguindo e discriminando. Isso é o que ocorre em
nossa sociedade, principalmente com as mulheres usuárias de crack, Em
um contexto social amplo, certos comportamentos e práticas são
estimulados para homens e inibidos para mulheres e as normas de
gênero a serem transmitidas, a partir da socialização, reproduzem
discursos hegemônicos sobre o que é ser uma mulher em uma
sociedade que inviabiliza o olhar para as mulheres usuárias de crack e
traz uma problemática imensurável a essa parte da população que fica
às margens da exclusão social. Elas são desassistidas pelas políticas
públicas em geral, são consideradas pelo poder como desimportantes e
como vidas que deveriam ser corrigidas ou que não mereciam ser
vividas, “corpos abjetos”.
Conclui-se que, o discurso sobre “o ser mulher” atua sobre elas
produzindo modos de se relacionar, de ser num processo de
subjetivação agenciado por estratégias políticas, normativas e culturais.
No entanto, a experiência de vida de mulheres usuárias de crack na
contemporaneidade se caracteriza como um fenômeno complexo e não
passível de explicações causais e simplórias. O sujeito que aqui se
apresenta é ativo no seu processo de subjetivação, produzindo modos
de resistência e de subversão que tencionam o poder disciplinador do
discurso sobre a mulher que usa drogas.

1249
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formação em movimento: ativação de sensibilidades em diferentes


formatos e experiências no ensino-aprendizagem em Saúde Mental

Maria Inês Badaró Moreira


Universidade Federal de São Paulo - Unifesp (Baixada Santista)

Bárbara Eleodora Bezerra Cabral


Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf

Suely Emilia de Barros Santos


Universidade de Pernambuco – UPE

Beatriz Venancia Dias Gonçalves Silva


Universidade Federal de São Paulo – Unifesp

A incorporação das práticas psicológicas nas políticas do SUS foi


intensificada no início da década de 1990 e, desde sua inserção,
evidenciou-se um descompasso quanto aos desafios do contexto da
saúde pública, em função de grande distância entre a formação,
eminentemente teórica, privatista e voltada para um sujeito abstrato e
a-histórico, em modelo clínico dual, e os modos de vida dos/as
usuários/as dos serviços de saúde. A inserção da Psicologia no campo da
saúde demandou esforço de redimensionamento teórico e prático, a
partir da aproximação com outras realidades, em cenários concretos da
vida. Tornou-se patente a necessidade de uma produção de
conhecimento psicológico mais sintonizado com o território existencial
dos sujeitos, entrelaçando-se a um protagonismo na luta pelos direitos
de cuidado em liberdade, consoante com a Reforma Psiquiátrica
brasileira. No cenário contemporâneo, os evidentes retrocessos no
campo da Saúde Mental no Brasil apresentam outros desafios e impõem
novas reflexões sobre a formação em Psicologia para o trabalho em
defesa do cuidado em sistema aberto, comunitário e público. Tendo em

1250
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vista as experiências de formação para o SUS em Instituições Públicas de


Ensino, o objetivo desta mesa é apresentar as experiências de ensino de
Saúde Mental em parceria ensino-serviço nos cursos de Psicologia,
articulando docentes de três diferentes Universidades Públicas do país.
As experiências se conectam por realçarem o compromisso social da
profissão, por valorizarem a ativação de outras sensibilidades nos
processo formativos, por assumirem a indissociabilidade clínica e
política, por considerarem o trabalho em equipe – colaborativo e
necessariamente transdisciplinar – como indispensável, por defenderem
os diversos modos de estar na vida e fazerem-na seguir adiante, por
enfatizarem a relação formação/saúde mental/políticas
públicas/direitos humanos, além de outras aproximações, por
compreenderem a formação como via fundamental de fortalecimento
do sentido de bem-comum e, portanto, das políticas públicas, dentre
outras aproximações. Ainda assim, reconhecem-se as singularidades nos
processos formativos em cada realidade, apostando que esse
compartilhamento poderá ampliar compreensões e estimular a invenção
de outros caminhos para uma formação profissional em saúde/saúde
mental e atenção psicossocial com sentido ético-político. Sendo assim,
pode-se concluir que a formação em Psicologia em curso nestas
diferentes instituições públicas é sustentada por projetos políticos
pedagógicos implicados em processo formativo sustentado pela
experiência teórico-prática favorecendo a criação e a sustentação de
uma postura ético-política comprometida com o cuidado em liberdade.
As proponentes relatam trajetórias de formação no campo da Saúde
Mental utilizando as experiências de docência, estágios, iniciação
científica, monitoria e extensão universitária. Serão exploradas as
possibilidades e compreensões singulares que emergem a partir das
trocas e aprendizados que se constituem como espaços potentes de
construção de saberes e fazeres que promovem a formação de
profissionais implicados que sustentem práticas antimanicomiais ainda
mais fundamentais, nestes momentos de retrocessos. As discussões
sobre experiências realizadas em colaboração com trabalhadores e

1251
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

usuários são potentes intervenções territoriais inseridas no conjunto de


práticas que permitem a descoberta de novos caminhos, conexões e
significações no processo de formação dos estudantes que mobilizam e
possibilitam novas sensibilidades fundamentais no processo de ensino-
aprendizagem em Saúde Mental.

1252
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Gestão com subjetividade: a dicotomia nos modos operacionalizantes


do Serviço Residencial Terapêutico (SRT)

Dordania de Souza Resende


Optum Health & Technology Serviços do Brasil Ltda

Introdução: Este resumo advém da pesquisa de mestrado oportunizada


pelo interesse nos modos operacionalizantes do Serviço Residencial
Terapêutico e no manejo da gestão neste dispositivo. O Serviço
Residencial Terapêutico (SRT) é um dispositivo de Saúde Mental no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), que se estrutura como casas
ou moradias inseridas na comunidade para o atendimento ao portador
de transtornos mentais. Essas casas são administradas por organizações
parceiras, destinadas a garantir moradia e cuidados aos moradores,
sujeitos egressos de instituições de longa permanência que nela
habitam. A casa se organiza através do Projeto Terapêutico, que
fundamenta e sustenta o gerenciamento do SRT e se embasa em
princípios, diretrizes e elementos da reabilitação psicossocial; constitui-
se de uma equipe técnica na assistência e na supervisão de atividades. A
criação destas casas cumpre a designação da Portaria 106/2000 do
Ministério da Saúde, decorrente dos avanços nas Políticas Públicas de
Saúde Mental, dos movimentos da Reforma Psiquiátrica em oposição às
práticas manicomiais postas como forma de tratamento, e da
promulgação da Lei 10.216/2001 que redesenhou o modelo de atenção
à saúde mental. Objetivo: Caracterizar o processo de gestão do SRT e
classificar as estratégias de operacionalização como dispositivo na rede
de atenção psicossocial. Metodologia: Estudo de caso, grupo de
encontro com supervisores apoiados nos princípios da psicodinâmica do
trabalho. Resultados/Discussões: O princípio do cuidado no SRT é
voltado para a inserção social dos moradores em território, aos
supervisores cabe desenhar esse projeto, a gestão e a administração da
casa, que constitui toda a operação e dinâmica do serviço. Tais

1253
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

supervisores desenvolvem e traçam ações para o projeto terapêutico


singular de cada morador, se ocupam da responsabilização pela gestão
de pessoas e a administração das tarefas, dos recursos financeiros,
prestação de contas e dos serviços inerentes de uma casa. Pôde-se
perceber um excesso de tarefas a serem desempenhadas e
incongruência efetiva na construção de estratégias de gestão. Os
desafios colocados demandam dos supervisores demasiado manejo na
distribuição das atividades, aspectos considerados como pontos de
vulnerabilidades. Além disso, identificou-se considerável defasagem no
processo de administração e de entrega dos serviços, haja vista que
dentre as atribuições de gerenciamento dos recursos há também que
planejá-los e acompanhá-los. Quanto ao grupo de encontro com
supervisores, o ato de falar possibilitou liberdade de expressão. A “fala
livre” oportuniza o reconhecimento de desejo do sujeito na construção
da identidade de trabalhador. Aspectos de subjetivação na dinâmica do
trabalho, puderam ser percebidos como estratégias de enfrentamento
nas questões cotidianas no trabalho, sendo a palavra, expressão de
autonomia. Considerações finais: A partir dos avanços da pesquisa
percebeu-se uma necessidade de discutir o Projeto Terapêutico que
estrutura a operacionalização do SRT no tocante as atribuições dos
supervisores; é preciso considerar os aspectos subjetivos que possam
interferir no manejo da gestão e da assistência, apregoados no modelo
de atenção psicossocial e da desinstitucionalização, esses aspectos
podem ser percebidos como fatores de risco psicossocial no trabalho.

1254
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Histórias e trajetórias na constituição da rede de Saúde Mental em um


município de médio porte do estado do Rio de Janeiro

Beatriz da Silva
Prefeitura de Itaguaí

O presente trabalho tem por objetivo investigar a história da


constituição dos serviços de saúde mental no município de Itaguaí,
cidade de médio porte do estado do Rio de Janeiro, no contexto da
Reforma Psiquiátrica brasileira. São escassos os estudos sobre a história
recente da assistência em saúde mental em municípios do interior do
Rio, em especial de Itaguaí, que discuta as especificidades locais. Como
início do recorte temporal elegemos o ano 2000, quando a
implementação da rede de atenção psicossocial teve início em Itaguaí.
Como recorte final de análise selecionamos o ano de 2006, quando foi
inaugurada a residência terapêutica no município. O município de
Itaguaí se encontra localizado na região do estado do Rio de Janeiro
compreendido entre a Baixada Fluminense e a região da Costa Verde, e
está incluído na área de Saúde Metropolitana I do Estado. No município
de Itaguaí, o movimento da Reforma Psiquiátrica ganhou corpo no ano
de 2000, impulsionado pela intervenção na casa de saúde Dr. Eiras em
Paracambi (CSDE-P) e pelas estratégias que foram traçadas junto aos
municípios vizinhos, da Baixada Fluminense, para que o desmonte desse
complexo psiquiátrico pudesse acontecer. Inserido em uma perspectiva
historiográfica do tempo presente, foi realizado um levantamento de
fontes primárias constituído por documentos da Prefeitura de Itaguaí.
Para as fontes secundárias foi realizada uma revisão de literatura com
dados históricos e sociais sobre o território de Itaguaí. Os dados obtidos
foram problematizados a partir dos conceitos de apropriação de Roger
Chartier e repertório proposto por Ângela Alonso. A reconstrução nos
indicou estratégias políticas utilizadas à implementação da assistência
em saúde mental, que variava no entendimento de cada gestão, e em

1255
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

momentos distintos de apropriação da atenção psicossocial no


município. Tais apropriações nos dão pistas de uma importante questão,
o município não conseguiu desenvolver uma assistência em atenção
psicossocial que afete o território em que se insere.

1256
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Inscrições psíquicas de poder e uso de violência


relacionadas ao tráfico de drogas na infância

Clara Barbosa da Silva


Faculdade de Ciências Humanas de Olinda – FACHO

Essa pesquisa apresenta um estudo sobre as inscrições psíquicas de


violência relacionadas ao tráfico de drogas na infância. Devido à
natureza do tema proposto foi utilizado o método qualitativo porque
esse método se debruça no estudo das questões sociais buscando
entender o universo de valores e significados humanos. O tipo de
pesquisa adotado foi o bibliográfico, porque se trata de uma pesquisa de
cunho exploratório. Para a realização dessa pesquisa foi estabelecido o
seguinte objetivo geral: compreender as inscrições psíquicas de
violência e poder na infância, relacionadas ao tráfico de drogas. E, por
conseguinte, os objetivos específicos que foram: a) descrever as
inscrições psíquicas na infância na perspectiva psicanalítica; b) investigar
a relação entre violência, poder e tráfico de drogas; e c) analisar a
influência do tráfico de drogas sob as crianças na busca pelo poder e no
uso da violência. Para o alcance da temática proposta foi discorrido
sobre a constituição psíquica do sujeito a partir das perspectivas de
Freud e Lacan, enfocando as formações do inconsciente, a transmissão
psíquica e as inscrições psíquicas. Também foi realizada uma breve
construção histórica sobre o tráfico de drogas no Brasil, a dinâmica atua
do mesmo e sobre a atuação das crianças nessa organização criminosa.
Além disso, buscou-se a construção de uma análise baseada na
perspectiva psicanalítica sobre a inserção e inscrição de crianças no
tráfico de drogas. Também foi discorrido sobre as possíveis válvulas de
escape dessas crianças. Conclui-se que a violência do tráfico de drogas é
um fator que incide sob a constituição do sujeito e que o discurso social
contemporâneo faz com que o tráfico de drogas seja ainda mais atrativo
para essas crianças, pois ele possibilita a realização do gozo e legitima a

1257
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

passagem ao ato presentes nessas crianças devido à precariedade da


simbolização na estruturação das mesmas. Percebe-se também uma
falta de incentivo à elaboração de políticas públicas voltadas para a
promoção de atividades que ajudem no processo de simbolização das
crianças como esporte, cultura e lazer. Há também a desapropriação
dessa população a iniciativas já existentes que proporcionam essas
atividades devido àfalta do sentimento de pertencimento que não se faz
presente porque muitas dessas iniciativas não refletem a realidade
dessas pessoas. Outro fator importante a ser destacado é a falta de
preparo dos agentes cumpridores da lei nas favelas. É preciso que a
polícia seja melhor preparada para a atuação nesse ambiente de forma a
respeitar a vida dessas pessoas e reconhecer os moradores de favelas
como cidadãos.

1258
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Internações de crianças e adolescentes em instituições


de acolhimento para pessoas com deficiência

Flávia Blikstein
Alberto Olavo Advincula Reis
Patricia Santos de Souza Delfini
Universidade Presbiteriana Mackenzie

Introdução: No contexto brasileiro, a atenção em Saúde Mental para


crianças e adolescentes foi, durante décadas, exercida pelo campo da
filantropia em instituições asilares especializadas. A Política Nacional de
Saúde Mental, entretanto, redireciona as diretrizes de assistência e
preconiza a substituição do modelo asilar pelo modelo psicossocial de
atenção. Diante disso, o estudo investiga as práticas de cuidado que
operam, na atualidade, no campo da saúde mental infanto-juvenil.
Especificamente, a pesquisa examina a internação de longa
permanência de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento
para pessoas com deficiência, a fim de avaliar a situação presente e
subsidiar ações de desinstitucionalização e inclusão social. Objetivo:
Identificar e descrever o perfil das instituições que prestam atendimento
em regime de acolhimento institucional a pessoas com deficiência no
estado de São Paulo e aquilatar a amplitude e a importância atuais
dessas entidades no campo da saúde mental infanto-juvenil.
Metodologia: O estudo - de abordagem qualitativa, caráter descritivo e
corte transversal - foi executado em três etapas distintas.
Primeiramente, realizamos um mapeamento e caracterização das
instituições de acolhimento para pessoas com deficiência no estado de
São Paulo. A segunda etapa constituiu-se de um levantamento de perfil
de usuários em uma instituição específica. Na última etapa, os dados
foram categorizados e analisados, a fim de dimensionar as internações
de crianças e adolescentes e avaliar o papel exercidos pelas instituições
de acolhimento para pessoas com deficiência no campo da saúde

1259
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

mental. Resultados e discussão: A partir da realização da pesquisa, foi


possível constatar que a internação de longa permanência de crianças e
adolescentes é uma prática recorrente nestas instituições. Além disso, o
estudo revela a ausência de tipificação e regulamentação específica
destes serviços que atuam desarticuladamente com a rede intersetorial
e territorial e não promovem práticas de desinstitucionalização. Assim,
as instituições e o Estado, numa relação de distanciamento e, ao mesmo
tempo, complementariedade, promovem continuamente
institucionalização de crianças e adolescentes. Considerações finais: O
estudo conclui ser urgente e fundamental que a internação em
instituições de acolhimento para pessoas com deficiência seja foco de
novos estudos e ações em saúde pública. O levantamento de
informações que possibilitem reconhecer demandas específicas é
fundamental para garantir a efetividade e consolidação da Rede de
Atenção Psicossocial, bem como para assegurar, para este grupo
populacional, os direitos determinados pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente.

1260
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Invenções de cuidado: perspectivas clínicas e processo de


trabalho em Saúde Mental e redução de danos

Gerfson Moreira Oliveira


Gerfson M. Oliveira
Mônica Daltro
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP

A partir do movimento da reforma psiquiátrica no Brasil, o campo da


Saúde Mental tem sido marcado pela importância do debate teórico-
prático e político sobre os processos de trabalho e pelo cuidado devido à
complexidade da atenção psicossocial. Objetivo: este estudo teve como
objetivo analisar as perspectivas clínicas de cuidado em Saúde Mental e
redução de danos e o processo de trabalho da equipe de um Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CASP AD). Método: trata-se
de uma pesquisa descritiva, exploratória e de abordagem qualitativa
retrospectiva, realizada com trabalhadores de um CAPS AD, localizado
na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Como estratégia investigativa,
utilizou-se a triangulação metodológica. Resultados/Discussão: a
atenção em Saúde Mental e a diversidade de práticas envolvidas na
investigação demandou a elaboração de cinco artigos distintos. O
primeiro foi construído em formato de ensaio teórico e discute como
estão engendrados os tensionamentos críticos entre a justiça, a saúde e
a religião. Destaca o enfrentamento democrático do (des)cuidado ao
usuário de substâncias psicoativas em um Brasil cujas políticas públicas
conservadoras de extrema direita espalham discursos de privilégios,
xenofobia, racismo, estratificação de pessoas, ampliando assim as
desigualdades sociais. O segundo abordou a reunião de equipe do CAPS
AD como território de disputas, colaboração e desenvolvimento. Quatro
categorias analíticas sobre a função da reunião foram identificadas:
territórios de comunicação; expressão da diversidade nos modos de
trabalhar e cuidar; de apoio ao desconforto na produção de cuidado e

1261
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de educação permanente em saúde de mental e redução de danos. Nas


reuniões, a integração entre a presença social, os campos e núcleos de
saberes e práticas e as estruturas e dinâmicas institucionais, configurou-
se como um território-ponte entre cuidados e descuidos no trabalho
assistencial. O terceiro discute e analisa o trabalho em equipe. Foram
identificados três núcleos de sentido que circunscreveram a identidade
coletiva dos trabalhadores: os embaraços da coesão grupal, os corpos-
coringas do cuidado e as insuficiências da equipe para o cuidado
integral. Embora a práxis nesse contexto esteja marcada pela lógica da
interprofissionalidade, o modo interprofissional não está pronto e
acabado, ele se constrói como um exercício no cotidiano assistencial. O
quarto artigo reflete sobre as concepções de clínica entre os
trabalhadores na construção do cuidado psicossocial. As informações
produzidas foram agrupadas em um núcleo de sentido: a clínica bascular
desenvolvida nos entrecruzamentos do chão do CAPS AD. No encontro
entre usuários e trabalhadores, a força dos fluxos que se interseccionam
no território assistencial produz uma dinâmica bascular que favorece os
deslocamentos que movimentam permanentemente as práticas de
cuidado adotadas. O quinto e último artigo analisa as experiências dos
autores a respeito dos impasses e das descobertas presentes no
trabalho e na pesquisa em saúde mental e redução de danos.
Conclusões: a pesquisa destaca os desafios das políticas públicas de
cuidado voltado aos usuários de substâncias psicoativas no Brasil
contemporâneo e evidencia a construção coletiva do trabalho no CAPS
AD, identificando as funções da reunião de equipe, o exercício da
interprofissionalidade e as concepções clínicas como dispositivos de
produção social na atenção psicossocial.

1262
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Moradas para a escuta: aprendizagens das experiências


de cuidado em Saúde Mental Coletiva

Josiane da Silva Silveira


Vera Lúcia Pasini
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Introdução: Trata-se de uma pesquisa de mestrado em Psicanálise:


Clínica e Cultura, que através de narrativas busca vivificar experiências
do cuidado em Saúde Mental em liberdade, a partir de práticas
territoriais desenvolvidas no âmbito da Residência Multiprofissional em
Saúde Mental Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no
ano de 2016, em dois cenários de práticas: NASF - Núcleo de Apoio a
Saúde da Família e ATnaRede Pública -projeto de extensão da mesma
universidade, que oferta Acompanhamento Terapêutico à comunidade.
Objetivo: Utilizamos a seguinte pergunta como norteadora do estudo:
Quais aberturas da escuta aos sujeitos que vivenciam experiências de
graves sofrimentos psíquicos vêm se produzindo a partir do encontro
entre a Psicanálise e a Saúde Mental Coletiva neste meu processo
singular de formação? Metodologia: Narrativas de histórias, desde
fragmentos da história da autora, seguindo para histórias do período da
Residência, trazendo acompanhamentos realizados aos usuários e
usuárias, bem como atividade de cuidado com o cuidador e narrativa de
um sonho da autora, compondo um conjunto de narrativas que ao ser
recordado, escutado, escrito e elaborado junto à pesquisa teórica,
vertem aprendizagens sobre o cuidado em Saúde Mental. Resultados:
Construção de Moradas para a escuta a partir de uma montagem com
os seguintes elementos: Alicerces - Prática entre vários: se refere aos
compartilhamentos e parcerias de trabalho nos diversos âmbitos da
rede de atenção psicossocial; Paredes e telhados - Acolhimento/postura
acolhedora: uma das principais Diretrizes da Política de Humanização do
SUS; Vigas e Pilares - Práticas itinerantes: deslocamento de um setting

1263
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

em alguma medida pré-estabelecido, estável e controlado para a


presença e intervenção nos territórios, nas casas, na rua, na
comunidade; Aberturas - Escuta: construção artesanal composta por
elementos da singularidade, as diversidades presente nos territórios,
valorização dos saberes dos usuários e usuárias, ética da Psicanálise,
inconsciente, sonhos; Chão das Moradas: o cuidado com usuários e
usuárias e com o cuidador. Para lidar com as dores e elaborá-las,
transformá-las em potência de vida, os enlaces com muitos outros e o
cuidado se mostra fundamental. Considerações finais: Moradas que se
construíram internamente e carregam o desejo que possa se fazer
Poética, dando lugar para a arte no trabalho cotidiano e micropolítico no
campo da saúde mental. Arte que está presente aqui no entre tempos
em que moram as poesias, que resistem e ajudam a elaborar e reparar
os absurdos do desumano. Arte criadora de vida. É pela aposta na vida e
no valor da palavra criadora de mundos, na aposta em uma escuta
porosa aos sonhos e a diversidade das experiências humanas, que nos
arriscamos em partilhar essas construções provisórias, inacabadas,
próprias dos fins nos quais moram os (re)começos.

1264
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

No caminho pra casa... o medo das mães de filhos negros:


“Porque no Brasil a cor do meu filho é a cor que faz com que as
pessoas mudem de calçada”

Maria Conceição Costa


Universidade Católica de Pernambuco - Unicap/Articulação Nacional de
Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) de Relações Raciais e
Subjetividades – Anpsinep

Simone Dalla Barba Walckoff


Universidade Católica de Pernambuco – Unicap

“Eu sou mãe de um menino de seis anos chamado... e de uma menina


de 2 anos e sete meses... Porque quando eu engravidei do meu filho eu
fiquei aliviada por saber que no meu ventre tinha um homem.
Teoricamente ele está livre... Errado. Liberdade não é um direito que ele
vai poder usufruir. Ele corre o risco de ser apontado de ser um infrator,
mesmo com seis anos de idade. Porque no Brasil a cor do meu filho é
cor que faz com que as pessoas mudem de calçada... A vida dele só não
vai ser mais difícil que da minha filha... por ela ser mulher, então temos
uma questão gênero e... de raça”. (Discurso de Taís Araújo, atriz
brasileira, palestra no TEDxSaoPaulo no dia 17/11/2017). Introdução:O
presente estudo configura-se como pesquisa em andamento sobre a
narrativa de mulheres negras e a expectativa que gera uma crescente
tensão sobre si mesmas e de como seus filhxs serão tratados pela
sociedade por serem negrxs. Estas cartografaram a trajetórias de suas
experiências de serem mães daquelxs filhxs que sofreriam racismo e
medo de não consegui protegê-lxs. Objetivo: analisar aspectos do
racismo a partir do discurso presentes nas Mães Negras, ao relatarem
suas experiências. Metodologia:análise da narrativa de cinco mulheres
cartografaram suas trajetórias de mães negras, suas
expectativas/perspectivas frente as situações de racismo para a

1265
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

compreensão dessas trajetórias de medo. Buscou-se analisar a


experiência dessas mães a partir das narrativas como recurso utilizado
para a compreensão dessas trajetórias de maternidades cartografadas a
partir de seus relatos e do medo da violência racial. O percurso
cartográfico será o “caminhar, onde estudo proposto compreenderá o
processo do medo do racismo de mães, numa perspectiva da psicologia
clínica e dos estudos da interseccionalidade. Resultados: a importância
da construção de uma clínica psicológica antirracista de apoio às mães
para a compreensão, o enfrentamento ao problema e de estímulo a
construção de políticas públicas também antirracistas. Conclusão: a
importância de colocar a discussão sobre do tema do racismo e a
ansiedade e medo de mães de filhos e filhas negros.

1266
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O Centro de Atenção Psicossocial Infantil e a articulação


com a escola na perspectiva da Educação Inclusiva

Ana Flávia Gabardo


Escola Trilhas

Essa pesquisa trata-se do trabalho de conclusão de curso e se insere nos


campos da educação e saúde e objetiva compreender de que forma a
escola, na perspectiva da educação inclusiva, se articula com o serviço
de atenção à Saúde Mental, em específico o Centro de Atenção
Psicossocial Infantil. A metodologia utilizada foi a revisão integrativa - ou
a Pesquisa Baseada em Evidências, a partir da análise de 21 artigos, que
foram encontrados em plataformas eletrônicas (SciELO -
https://scielo.org/pt/); Periódicos Capes
(http://www.periodicos.capes.gov.br/); Plataforma Educ@ - publicações
on-line de educação; BVS: Portal de Revistas Científicas em Ciências da
Saúde (http://portal.revistas.bvs.br/?lang=pt) e LILACS – Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(https://lilacs.bvsalud.org/) utilizando os descritores de busca
combinados pelo operador lógico booleano “and”: CAPSI and escola e
Centro de Atenção Psicossocial Infantil and escola. Os principais
resultados foram elaborados em cinco categorias de análise, definidas
pela relevância do tema e pela quantidade de repetições encontradas
no artigo: 1) a relevância do tema para a agenda política; 2) a
intersetorialidade e suas fragilidades; 3) o papel da família na vida da
criança ou adolescente usuária(o) do serviço de atenção à saúde mental;
4) o papel da medicalização infantil; e 5) o desconhecimento sobre o
sofrimento psíquico de crianças e adolescentes. O baixo número de
artigos encontrados, que relacionam as áreas de educação e saúde,
como textos orientadores, relatos de experiências e de pesquisas ou
práticas bem-sucedidas, apontam a incipiência de estudos que articulem
ambas as áreas, apontando para a necessidade de mais pesquisas que

1267
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

abordem o tema e de políticas públicas mais consistentes, indicando


certa fragilidade e também o desconhecimento da importância da saúde
mental infanto-juvenil e do atendimento à crianças e adolescentes em
sofrimento psíquico, que neste momento atual, não se encontram em
totalidade como público alvo da Educação Inclusiva.

1268
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

O desmonte do NASF e os impactos no cuidado à Saúde Mental


preconizada pelo princípio da Integralidade do SUS

Silvana Viana Andrade


Faculdade de Tecnologia e Ciências –FTC

O NASF (Núcleo Ampliado de Saúde da Família), atualmente


regulamentado pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, foi
criado pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 154, de 24 de
janeiro de 2008, republicada em 4 de março de 2008, com o objetivo de
apoiar a consolidação da Atenção Primária no Brasil, ampliando as
ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a resolutividade,
abrangência e o alvo das ações. Os núcleos são compostos por equipes
multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de
Estratégia de Saúde da Família (ESF). Entre esses profissionais, destaca-
se o profissional de Saúde Mental, principalmente da Psicologia, quase
unanimidade na formação das equipes do NASF. Com a implantação do
NASF, houve uma ampliação do cuidado integral à saúde nos territórios,
uma vez que demandas, principalmente de saúde mental, trazidas às
ESFs, puderam ser acolhidas e muitas delas cuidadas no âmbito da
Atenção Primária, evitando encaminhamentos desnecessários. Em
março de 2020, a publicação da Nota Técnica nº 3 do Departamento de
Saúde da Família, acaba com a obrigatoriedade dessas equipes
multidisciplinares estarem vinculadas ao modelo do NASF-AB. Na
prática, significa que os gestores municipais ficam livres para compor
essas equipes da forma como quiserem, e não mais seguindo os
parâmetros dessa iniciativa criada para ampliar o trabalho conjunto e
integrado de profissionais de diferentes áreas do conhecimento na
Saúde da Família. Entre outras informações, o texto da nota traz que, a
partir de 2020, o Ministério não realizará mais o credenciamento de
NASF-AB. A publicação dessa nota já era esperada, uma vez que a
Portaria 2.979 publicada em 2019, que trata de alterações no modelo de

1269
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

financiamento da atenção primária, com o fim do Piso de Atenção


Básica Variável e do custeio do NASF, já indicava uma desarticulação
dessa política. Observa-se, a partir dessas publicações o desmonte de
uma política já consolidada, reduzindo a oferta de um modelo que
prioriza a integralidade da saúde, um princípio garantido pelo SUS, além
de diminuir a expressividade do cuidado da Atenção Primária como
referência no cuidado à saúde no SUS. Com esse desmonte teme-se,
ainda, o retorno a um modelo de cuidado centrado na figura do médico,
acarretando assim um modelo curativo e não preventivo de saúde, tão
caro à construção da política de saúde no Brasil. A interdisciplinaridade
que sempre teve ênfase no NASF, apoiando a equipe da ESF por
intermédio de ações conjuntas e integradas que envolvem diálogo,
criatividade e flexibilidade nas formas de pensar e agir nos serviços de
saúde, fica agora comprometida e em risco de extinção, como já se
observa em alguns municípios, principalmente de pequeno porte.
Espera-se que gestores de saúde possam se sensibilizar no intuito de
manter as equipes de NASF, pois a partir de diversas pesquisas da
atuação dessas equipes, é possível ver o impacto positivo no cuidado
aos cidadãos gerando prevenção ao adoecimento e impactando em
melhores índices de boa saúde mental na população brasileira.

1270
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Oficinas de Articulação da Rede de Atenção Psicossocial:


Um movimento de afeto, horizontalidade e paradigmas

Priscilla Regina Cordeiro


Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde – IABAS

Flávia Liberman
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (Baixada Santista)

Introdução: O processo de articulação da Rede de Atenção Psicossocial


(RAPS) é um desafio diário vinculado à assistência integral à saúde e às
diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental, sendo necessário
repensar estratégias que intensifiquem a articulação de maneira
inclusiva, garantindo acesso a toda a população. Aproximar as ações de
saúde mental junto à Atenção Básica em Saúde (ABS), tendo o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) como um serviço que integra e auxilia na
articulação da RAPS, é um dos propósitos que podem auxiliar os
profissionais de saúde nesse cuidado, desmistificando os receios e
estigmas sobre o sofrimento psíquico. O presente estudo apresenta
parte dos resultados da pesquisa “Oficinas de Articulação da Rede de
Atenção Psicossocial com a Atenção Básica: Dispositivos para a
Educação Permanente de Agentes Comunitários de Saúde”, através de
um programa de pós-graduação em uma universidade pública, tendo
também como intuito inspirar ações de transformação do cuidado em
saúde mental, de acordo com os princípios da Reabilitação Psicossocial e
diretrizes da Reforma Psiquiátrica. Objetivo: Tendo como público-alvo
agentes comunitários de saúde (ACS), objetiva qualificar as ações
desses, estimulando-os a serem multiplicadores do cuidado integral à
saúde do usuário em sofrimento psíquico e a formar parceiras na Luta
Antimanicomial no território. Buscou promover espaços de trocas de
experiências e de criação coletiva, entre os ACS e usuários em
sofrimento psíquico convidados, de modo a criar propostas que

1271
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

contribuam para a qualificação e intensificação da articulação da RAPS.


Metodologia: Este estudo foi desenvolvido pela pesquisadora e
terapeuta ocupacional pertencente a uma equipe de um CAPS III,
localizado em São Bernardo do Campo, São Paulo. Foram propostas
onze oficinas e uma Roda de Conversa baseadas em metodologias que
possibilitassem a participação ativa de todos os integrantes do grupo
utilizando-se de atividades reflexivas e aprendizagem inventiva que
permitiram a construção coletiva e trocas de experiências, partindo de
problemas identificados no cotidiano e construindo juntos a solução
comum. Ainda foram também realizadas visitas aos serviços da RAPS
com a pretensão de garantir o conhecimento do fluxo e das relações
entre as equipes e os usuários no território. Resultados/discussões: No
decorrer das oficinas, foram propostas atividades disparadoras de
reflexões sobre as práticas em saúde, favorecendo espaços de escuta,
acolhimento e de voz para as potências e reflexões quanto ao lugar
social da loucura na sociedade, assim como para as práticas das ACS,
demonstrando o quanto é preciso ter encontros que possibilitem a
reinvenção da clínica, como de intervenções criativas e afetivas que
acolhem e respeitam cada indivíduo, para que o cuidado compartilhado
em saúde mental realmente aconteça. Considerações finais: Vivenciar as
oficinas, com a participação dos usuários frequentadores do CAPS, das
ACS e da pesquisadora, de maneira horizontal, possibilitou repensar, em
grupo, os lugares enfraquecidos que ainda segregam e institucionalizam
o cuidado e que precisam ser repensados na articulação da RAPS. A
construção coletiva favoreceu o discurso protagonista, participação
social e superação de estigmas, incentivando os profissionais a serem
uma extensão do CAPS no território.

1272
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

PesquisarCom: a construção coletiva de um espaço


de cuidado em Saúde Mental dentro e fora do espectro

Ana Claudia Lima Monteiro


Renata Amorim de Cima
Livia Machado Brasil
Rafaela Vieira Vitória Olaio Brito
Ana Carolina Lima Haubrichs dos Santos
Universidade Federal Fluminense – UFF

A pesquisa “Corpo e afeto: o trabalho com crianças e adolescentes do


espectro autista” visa, em parceria com o Serviço de Psicologia Aplicada
da Universidade Federal Fluminense, produzir oficinas de corpo com
crianças e adolescentes autistas que são atendidos neste serviço ou
advindos da comunidade. Tendo como apoio a ideia da
neurodiversidade (ORTEGA, 2009), pensamos ser importante buscar
maneiras alternativas de interação que considerem as potências dos
participantes das oficinas. Apostamos na construção coletiva de um
espaço de cuidado em saúde mental, uma vez que os movimentos e
interações ali emergentes pautam-se nas potências, limites e afetos de
cada pessoa ali presente. Ancorado na proposta metodológica do
PesquisarCom (MORAES, 2010), acreditamos que os participantes são
ativos na produção do que acontece no espaço das oficinas. Nossa
prática atrela-se também aos ensaios de Temple Grandin (2013) sobre
as diferentes formas de ser autista e as especificidades sensoriais dos
mesmos. Além disso, visamos a ampliação da autonomia, entendendo-a
não como ausência de conexões eu-outro, mas enquanto possibilidades
práticas e articuladoras da vida de cada um (MOL, 2006). As oficinas são
coordenadas por uma equipe de estudantes de Psicologia e
supervisionadas por uma professora do mesmo departamento.
Acontecem semanalmente, uma organizada para crianças e outra para
adolescentes. Nelas são oferecidos materiais diversos, como tecidos,

1273
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

bolas, música, jogos, cheiros e toques, que possam interessar a estas


pessoas. Simultaneamente, as cuidadoras e cuidadores responsáveis
reúnem-se em um grupo para compartilhar suas experiências e práticas
cotidianas de cuidado. Paralelamente, enquanto estudantes,
vivenciamos a elaboração das relações entre teoria e prática,
experimentando e investigando conhecimentos acerca da conexão entre
corpo e subjetividade de crianças e adolescentes autistas. Soma-se a
isso o fomento de uma atuação que valoriza a produção de potência que
há nos espaços da vida cotidiana, por vezes invisibilizados em
abordagens individualizantes. Assim, desloca-se o olhar que comumente
se tem do psicólogo como aquele normatizador que “conserta pessoas”
para a construção de uma práxis potencializadora das relações e vidas
dos sujeitos. Como efeito, a partir das oficinas, observamos a
emergência de novos afetos, como a produção de vínculo dentro (e fora)
do espectro, por vezes perdido em práticas de cuidado individuais. A
disposição de materiais e subjetividades na sala convida todos os
sujeitos a participarem das atividades, mesmo que estas não sejam
conjuntas. Há, portanto, um ambiente onde diferentes modos de existir
cruzam-se o tempo todo. Da mesma forma, observamos efeitos do
projeto em nós, como a fuga da rotina acadêmica hegemônica,
provocando uma nova corporeidade. No que concerne a efeitos de
longo prazo, observamos reorganizações de acordos sociais, negociando
e testando outras formas de coabitar os espaços, não passando somente
pela linguagem falada ou códigos corporais pré-determinados, mas
também pelas interações produzidas pelos corpos e atores presentes
nas oficinas. Em suma, acreditamos que o trabalho realizado nesse
dispositivo não deve esgotar-se nele, afetos que emergem ali também
reverberam nos espaços de vida destas pessoas e possibilitam novos
laços afetivos para construir, junto destes, novas formas de
expressividade.

1274
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Plantão Psicológico na Escola Albatroz: um relato de experiência

Henrique Borba Bittencourt


Simone Chandler Frichembruder
Centro Universitário Cenecista de Osório – UNICNEC

No primeiro semestre de 2019, com o objetivo de ampliar o acesso ao


atendimento a saúde mental no litoral norte gaúcho, foi idealizado pelo
Serviço Escola de Psicologia do Litoral Norte (Seplin), pertencente ao
Centro Universitário Cenecista de Osório (UNICNEC), um projeto piloto
de plantões psicológicos. Tal projeto era voltado para o acolhimento de
pessoas em situações de crise e com dificuldades financeiras. Em julho
do mesmo ano, os plantões tornaram-se oficialmente parte dos serviços
ofertados pelo Seplin, tendo sido realizados pelos estagiários do curso
de Psicologia mais de 140 atendimentos até o final do ano. Ao longo
deste período foi utilizado de intervenção clínica breve focal, com um
atendimento direcionado à escuta da demanda do sujeito.
Observadas as necessidades regionais de Saúde Mental e pensando em
políticas preventivas, no mês de novembro de 2019 iniciamos novo
projeto piloto, desta vez voltado para plantões psicológicos nas escolas,
o qual foi realizado na Escola Estadual de Ensino Médio Albatroz,
localizada num bairro da periferia de Osório, Rio Grande do Sul. O
projeto contou com o apoio da direção da escola, do Comitê Municipal
de Saúde e Educação, do posto de saúde do bairro Albatroz e do CAPS-
Osório.O objetivo era promover a vida e a sensibilização ao outro, em
resposta ao grande número de episódios de suicídio ocorridos na
cidade, dentre os quais alguns envolviam membros da comunidade
escolar, além da forte manifestação do comportamento autolesivo
apresentado por parte de seus alunos. O piloto foi realizado por meio de
oito encontros com adolescentes de quatro turmas do ensino
fundamental. Cada encontro foi dividido em dois momentos, iniciando
por meio de uma breve apresentação dos estagiários, seguido de rodas

1275
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

de conversas e dinâmicas adaptadas para cada turma, trabalhando


temáticas como perspectivas de futuro, desmistificação da Saúde
Mental, o espaço e direitos pessoais e coletivos, dentre outros temas
iniciados pelos próprios alunos, tais como fé, sexualidade e o que fazer
sobre comportamento parassuicida? Em um segundo momento, quem
sentisse vontade de ter uma conversa particular com os estagiários de
Psicologia, poderia se dirigir a uma sala à parte, onde eram realizados os
acolhimentos. Posteriormente, se houvesse interesse por parte do aluno
e/ou urgência,era feito o encaminhamento junto à escola para a rede de
apoio, mobilizando e acolhendo não apenas o jovem mas também sua
família que por vezes desconhecia a situação ou estava alienada por
antigos tabus sobre a Saúde Mental,como “psicólogo é pra louco”. Ao
todo foram realizados doze atendimentos na escola, com sete jovens
dentre os quais apenas um não apresentou histórico de tentativa
pessoal ou familiar além de ideação suicida, explicitando a necessidade
de continuidade e ampliação do projeto, nesta escola e nas demais da
rede pública de educação. Nesta perspectiva, os plantões vêm ao
encontro do atendimento das demandas de urgência bem como da
manutenção da Saúde Mental de seu público, oferecendo acolhimento
clínico humanizado frente às situações, muitas vezes de emergência,
com o intuito de realizar uma intervenção psicoterápica breve.

1276
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Projeto Vida: integração da Vigilância Epidemiológica


e setor da Saúde Mental frente às tentativas de suicídio
em Fraiburgo, Santa Catarina, 2014-2019

Bethania Santos Vieira Rohling


Secretaria Municipal de Fraiburgo/Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC

Geovana Liebl
PUC

Daiana Ciesca
Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC

Introdução: A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu relatório de


prevenção ao suicídio de 2014, reconhece o problema como uma
prioridade na agenda global de saúde e incentiva os países a
desenvolverem e reforçarem suas estratégias de prevenção com uma
abordagem multissetorial. Quanto às tentativas de suicídio, não existem
dados exatos no mundo: a maioria dos países não conta com sistemas
de monitoramento e, ademais, é reconhecido o estigma social do qual
são alvo esses eventos. Tentativas de suicídio podem trazer inúmeras
sequelas, seja para o próprio autor, seja para seus familiares. Neste
contexto o Projeto Vida por meio da integração entre os serviços de
Vigilância Epidemiológica e do Centro de Atenção Psicossocial I (CAPS I),
visa garantir o atendimento aos indivíduos que tentaram suicídio e seus
familiares, organizando o fluxo de trabalho e monitoramento dos casos
de tentativa. O projeto foi desenvolvido no período 2014-2019 em
Fraiburgo, Santa Catarina, Brasil. Métodos: A implantação do projeto se
deu de forma integrada entre os serviços de Vigilância Epidemiológica e
o Centro de Atenção Psicossocial I, para abordagem dos casos de
tentativa de suicídio; por meio de reuniões com os serviços da Saúde,

1277
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Educação e Assistência Social, foram elaborados o fluxo e o contrafluxo


das tentativas de suicídio, e definidas competências; houve capacitação
para preenchimento da ficha de investigação; foram utilizados dados do
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Resultados:
Foi possível realizar o levantamento do perfil epidemiológico dos 365
casos e identificar possíveis motivações, principalmente conflitos
conjugais e familiares (85%) e dificuldades financeiras (7%); as
intervenções propostas incluíram grupos de Saúde Mental,
matriciamento, espaços de convivência e campanhas. Conclusão: O
Projeto Vida proporcionou o aprimoramento da vigilância e atenção a
indivíduos com comportamento de risco para suicídio.A Saúde Pública
deve investir em ações de articulação entre vigilância e assistência à
saúde. As estatísticas não bastam por si; recomenda-se uma análise
cuidadosa para a conversão dos dados em práticas de transformação e
resultados efetivos na promoção, prevenção e tratamento de saúde, a
exemplo da experiência do Projeto Vida.

1278
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reforma Psiquiátrica e formação em Enfermagem:


a residência em Saúde Mental

Olívia de Andrade Guerra


Elias Barbosa de Oliveira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Introdução: A residência em Enfermagem é uma importante estratégia


de aprimoramento teórico e prático dos egressos dos cursos de
Enfermagem, proporcionando aprofundamento de seus conhecimentos
em uma área de saber específica, além de contribuir para inserção no
mercado de trabalho. Objetivos: analisar de que modo os egressos da
residência de Enfermagem em Saúde Mental vêm sendo absorvidos pelo
setor saúde; discutir as contribuições da residência de Enfermagem em
Saúde Mental para a formação de especialistas na visão de egressos da
residência; descrever como os conhecimentos adquiridos pelos egressos
da residência de Enfermagem em Saúde Mental vêm sendo aplicados
nas áreas de atuação. Metodologia: Estudo qualitativo do tipo descritivo
e exploratório, que teve como campo um Serviço de Treinamento e
Avaliação de Enfermagem de um hospital universitário situado no
município do Rio de Janeiro. Participaram do estudo nove egressos da
residência em Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria. Foram
respeitados os aspectos éticos referentes à pesquisa com seres
humanos, sendo os dados coletados através de entrevista
semiestruturada, com gravação do material em aparelho do tipo MP3.
Após transcrição, os depoimentos foram categorizados mediante a
técnica de análise de conteúdo temática e discutidos à luz do referencial
teórico. Resultados: A residência é uma metodologia de ensino-
aprendizagem que contribui para a aquisição de conhecimentos teóricos
e práticos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de
habilidades como a escuta, a observação e o acolhimento do usuário
através do relacionamento terapêutico, a empatia, sendo tais

1279
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

conhecimentos e/ou competências aplicadas em vários contextos de


cuidado consonantes com a Reforma Psiquiátrica. Acrescentam-se
outras habilidades como a realização de grupos, consulta de
Enfermagem em Saúde Mental, liderança de equipe e outros.
Considerações finais: A residência em Saúde Mental, consonante aos
princípios da Reforma Psiquiátrica, é uma excelente metodologia de
ensino-aprendizagem na produção do conhecimento e nas trocas de
experiências intra e intersetorial e com profissionais de várias áreas,
usuários e familiares. A Saúde Mental, por suas características, é uma
modalidade de cuidado que, ao ser apreendida, pode ser aplicada em
vários contextos de cuidado, extrapolando o próprio espaço
institucional.

1280
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental em tempos de Covid-19 no âmbito


das universidades federais

Andrea Brito Theorga


Fernanda Maria Duarte Severo
Fiocruz Brasília

Introdução: A pandemia de Covid-19 impactou a vida e os planos da


comunidade acadêmica como um todo, exigindo dos gestores e
profissionais da saúde e da educação desde a readequação de
calendários educacionais e administrativos, incorporação de novas
tecnologias e rotinas de ensino (em caráter de emergência), até a
discussão aberta e qualificada dos efeitos na saúde física e mental da
pandemia na vida das pessoas. A pesquisa se justifica tanto pela
emergência sanitária e de saúde pública inédita trazida pela Covid-19,
necessidade de formação e fortalecimento de redes de promoção da
saúde, compartilhamento de informações, fomento à produção
científica e qualificação da gestão, quanto pela colaboração que emana
das universidades no desenvolvimento de práticas e saberes cujos
efeitos multiplicadores ligados à promoção da Saúde Mental no cuidado
das pessoas fora das fronteiras dos campi.Objetivo: Acompanhamento e
monitoramento das discussões sobre Saúde Mental, identificando as
prioridades de pautas/abordagens relacionadas em encontros virtuais, a
produção de materiais informativos sobre a Covid-19 e as iniciativas de
atendimento psicossocial promovidas por 27 universidades federais
brasileiras, entre março e outubro de 2020. Metodologia: Identificação
das 27 universidades federais localizadas nas capitais do país, seus
canais oficiais de comunicação (site e redes sociais - Facebook,
Instagram, YouTube e Twitter), os hotsites dedicados à Covid-19, os
Comitês de Enfrentamento da doença e os materiais informativos
disponibilizados, os serviços de atendimento psicossocial e as pautas das
discussões sobre os impactos da pandemia. Resultados de pesquisa:

1281
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Observou-se que a prioridade das discussões realizadas no âmbito


universitário versavam sobre: 1) “como lidar com o isolamento social,
com quem se pode contar, para onde se deve ir em caso de agravo das
doenças mentais e acessibilidade dos canais de acolhimento; 2) “como
agir ativamente às exigências/pressão por respostas rápidas frente às
incertezas sobre a vida acadêmica, a cura da doença e o futuro
profissional em geral; 3) nas discussões entre gestores, especialistas e
profissionais ligados a conselhos de classe e gestores públicos: o trato
das dificuldades do cotidiano de uma pandemia na rede SUS - apesar do
seu desmantelamento e das ofensivas aos movimentos ligados à luta
antimanicomial -; e 4) a formação, qualificação e cuidados com a força
de trabalho. Considerações finais: Pode-se afirmar que a comunicação
para a saúde dentro das universidades envolveu esforços
multidisciplinares para o acolhimento e integração da comunidade
acadêmica, de maneira a manter contato aproximado com os públicos e
as atividades à distância adaptando-se às recomendações dos órgãos de
saúde sobre a necessidade de isolamento social e biossegurança, além
de discutir temas emergentes relacionados à saúde mental e atenção
psicossocial – ansiedade, depressão, suicídio, luto, inteligência
emocional, cuidado com crianças, idosos e profissionais de saúde e
psicologia positiva. Sugere-se a complementariedade das pesquisas
com, por exemplo, um levantamento sobre o alcance das temáticas
entre os diferentes públicos da comunidade acadêmica e a facilidade e
dificuldade do uso das tecnologias implementadas nos serviços de
acolhimentos das universidades.

1282
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde Mental para a Atenção Básica: a construção de um portfólio de


práticas e de um roteiro de apoio para processos formativos

Elaine Teixeira Rabello


Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
- IMS/UERJ

Nina Isabel Soalheiro


Augusto Cesar Rosito Ferreira
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio - EPSJV/Fiocruz

Amanda Linhares Leal


Bolsista Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV

Karina Caetano
Raquel Tavares
Fiocruz

Heloisa Passos e Martins


Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP)/Lisboa

Renata Ruiz Calicchio


Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz

Flavio Sagnori Motta


Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Eduardo Caron
Universidade Federal Fluminense – UFF

O nosso trabalho discute os resultados e apresenta os produtos da


pesquisa “Desafios para a saúde mental na atenção básica: construindo

1283
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

estratégias colaborativas, redes de cuidado e abordagens psicossociais


na Estratégia de Saúde da Família", a qual integra a Rede PMA/
VPPCB/Fiocruz. Uma pesquisa de natureza participativa e colaborativa
que desenvolveu dois produtos pedagógicos interconectados: o
Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial e o Roteiro de
Apoio e Facilitação de Processos Formativos em Saúde Mental para a
Atenção Básica. Construímos um site que reúne os dois produtos,
fazendo sua interface, conectando saberes e práticas para uma
perspectiva interdisciplinar e desinstitucionalizante de saúde mental
para a atenção básica. O objetivo da pesquisa foi gerar instrumentos
educativos e de difusão científica voltados para profissionais da Atenção
Básica, em especial no campo das práticas e dos processos formativos
em Saúde Mental e Atenção Psicossocial. A metodologia incluiu busca
sistematizada e análise de conteúdo dos resumos das Anais dos
Congressos da Abrasme e Abrasco do anos de 2018 e no banco de
práticas do Ideia/SUS uma plataforma criada através da parceria entre
Conasems e Fiocruz. Como dados complementares foi feito um
levantamento de indicações de grupos de pesquisa que trabalham essa
temática e de experiências nacionais de reconhecida importância
pública, as quais foram sistematizadas como “práticas convidadas”.
Foram definidos como critérios de inclusão: práticas interdisciplinares,
territoriais, realizadas no âmbito da atenção básica e espaços
comunitários. Foram selecionadas cerca de 200 experiências nacionais,
que foram categorizadas por campos de saber, modalidades de práticas
e público-alvo. Cada um desses campos (processos formativos; saberes
tradicionais; práticas integrativas, corporais; grupais; rodas
comunitárias; atividades artístico/culturais, e outros) é introduzido por
uma videoaula gravada por especialistas convidados, que apresentam
sua constituição histórica e conceitos fundamentais. Para o Roteiro de
Apoio a processos formativos foi feita uma busca de caráter exploratório
dos currículos de cursos virtuais ou presenciais em Saúde Mental para a
Atenção Básica em instituições de ensino de âmbito nacional para
diferentes graus de escolarização. Foi constatada uma tendência para

1284
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

currículos fortemente biomédicos e uma insuficiência de conteúdos de


natureza psicossocial, o que motivou o nosso esforço de construção de
um piloto de processo formativo compatível com uma visão mais
interdisciplinar de saúde mental. O processo de construção do produto
incluiu reuniões ampliadas de pesquisa com trabalhadores, gestores e
pesquisadores convidados, seguidas por oficinas nas quais foi utilizada a
metodologia Sprint de produção de conteúdos para chegar ao seu
formato final. A pesquisa evidencia um cenário de grande vitalidade e
criatividade presentes nas experiências na Atenção Básica, apesar da
conjuntura adversa em termos políticos e de acesso à formação. Apesar
da sua formação hegemonicamente biomédica, reiterada pela demanda
insistente por processos formativos específicos de saúde mental, os
profissionais da equipe básica constroem práticas e ações muito
potentes usando o seu próprio repertório de habilidades e
competências. Sensíveis a essas falas, construímos os dois produtos da
pesquisa, com os quais queremos contribuir para uma saúde mental na
atenção básica acolhedora, integral e essencialmente territorial.

1285
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Um estudo exploratório da rede de atenção psicossocial


do município de Quixadá e a resolutividade das demandas
do Serviço de Psicologia Aplicada da Unicatólica

Joellington Vinicius de Lima Eloi


Vanessa Maia Girão
Milena de Holanda Oliveira Bezerra
Centro Universitário Católica de Quixadá

Como forma de garantir a assistência à Saúde Mental, o sistema de


saúde brasileiro conta com a Política Nacional de Saúde Mental, uma
estratégia que, através das Redes de Atenção Psicossocial (RAPS), tem o
intuito de fornecer assistência àqueles que necessitam de maiores
cuidados em Saúde Mental. Logo, as RAPS objetivam-se a mapear e
garantir equipamentos de saúde para a sociedade, fornecendo serviços
de prevenção, promoção e tratamentos diante as questões de Saúde
Mental. Dentre os equipamentos de saúde que compõem a RAPS estão:
o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Hospitais DIA, Samu, UPA,
Serviços Residenciais Terapêuticos, Unidades de Acolhimento,
Comunidades Terapêuticas e enfermarias especializadas em Hospitais
Gerais. Apesar da considerável quantidade de equipamentos de saúde, é
notório que ainda há insuficiência diante do grande número de
demandas existentes. No município de Quixadá, Ceará, local onde está
acontecendo e sendo desenvolvida esta pesquisa, a rede de atenção em
Saúde Mental conta com os seguintes serviços: CAPS, Samu, UPA, leitos
em hospitais gerais e o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) do Centro
Universitário Católica de Quixadá, que, apesar de não estar credenciado
ao SUS, participa informalmente dessa rede, destacando-se como
referência no tratamento de crianças e adolescentes. O presente projeto
visa compreender a importância do Serviço de Psicologia Aplicada do
Centro Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica) para a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) do município e região, visando assim

1286
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

realizar o mapeamento das demandas encaminhadas para o serviço e a


resolutividade dos casos, além de construir um fluxograma dessa rede
no município. O trabalho encontra-se em fase inicial, ou seja, na coleta
de dados para tabulação. Desta forma, buscam-se informações acerca
das principais demandas atendidas e dos encaminhamentos realizados.
A meta para conclusão desta fase é estimada para a última semana de
abril e, posteriormente, serão desenvolvidas as interpretações dos
dados coletados.

1287
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

03. Resistências antimanicomiais e


antiproibicionistas tecendo o
cuidado

"Museu de Grandes Novidades": a nova-velha políticas antidrogas

Pedro Henrique Antunes da Costa


Universidade de Brasília – UnB

No presente trabalho, objetivo analisar as recentes mudanças no


aparato legal-normativo e orientador das ações no campo de álcool e
outras drogas no Brasil. Trata-se de um estudo documental,
exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa, abordando o Decreto
9.761, que aprova a nova Política Nacional sobre Drogas (PNAD), e a
nova Lei de Drogas (LD - nº 13.840). Foi feita uma Análise de Conteúdo
Temática, com os resultados organizados em três eixos que sintetizam
as categorias analíticas extraídas durante o processo: (1) As drogas
como um “mal” e uma política antidrogas: combate e abstinência; (2)
Mercantilização, privatização e psiquiatrização da “saúde”: a
centralidade das Comunidades Terapêuticas e o retorno dos hospitais
psiquiátricos; (3) Algumas incoerências entre a PNAD, LD e demais
instrumentos orientadores e/ou normativos na área. A partir da
narrativa das drogas como um mal, consolidam-se os principais
objetivos das “novas” políticas sobre drogas: (a) a intensificação ou o
retorno institucional, no âmbito das políticas públicas, da

1288
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mercantilização da loucura e “doenças” relacionadas ao uso de drogas


(com ênfase na dependência, compreendida como patologia de base
estrita ou essencialmente orgânica-fisiológica; uma doença “cerebral”);
(b) a tentativa de retorno do absolutismo ou totalitarismo dos saberes,
discursos e práticas médicas-psiquiátricas, visto que com a RP e, mesmo,
a Reforma Sanitária e Sistema Único de Saúde, ganha fôlego a
perspectiva de trabalho inter ou transdisciplinar (o que não,
necessariamente, rompe com o status, centralidade e hierarquia de
poder do saber médico-psiquiatra); (c) a abstinência como horizonte do
processo de cuidado (prevenção, promoção e tratamento); (d) o
fomento às CTs, que rememoram aos manicômios tradicionais e seus
modelos asilar segregatório, satisfazendo também discursos moralistas
de representantes e instituições religiosas e o imperativo por lucro de
variados atores e setores da sociedade; e (e) perpetuação e
intensificação da repressão e criminalização, voltando-se para parcelas
mais subalternizadas da população, como os(as) jovens, pobres,
negros(as) e periféricos(as). Dessa forma, é necessário compreender a
“nova” PNAD de maneira contextualizada, circunscrita a uma conjuntura
de ascensão conservadora e retrocessos no âmbito das políticas sociais,
expressando elementos que conformam tal momento, mas, ao mesmo
tempo, enquanto constituinte de um processo histórico de
tensionamentos e disputas no campo. De maneira mais específica,
evidencia, no campo das drogas, a indissociabilidade entre a ofensiva do
capital neoliberal e a ascensão conservadora no presente estágio de
desenvolvimento capitalista, na particularidade brasileira. Não se trata,
portanto, de uma “nova” política sobre drogas, no sentido em que
resgata e reinstitucionaliza princípios e modos de compreensão e
atuação históricos sobre o fenômeno das drogas e a relação sujeito-
drogas até então contraditórios às políticas e pressupostos resultantes
do processo das Reformas Sanitária e Psiquiátrica brasileiras e, mais
especificamente, do campo de álcool e outras drogas, como a Redução
de Danos. Portanto, é uma “nova” política que já nasce velha; uma
nova-velha política antidrogas; um "museu de grandes novidades".

1289
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

"SP Fascinante": a produção de multipliCidades nos


territórios de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial

Nathália Ferreira de Souza e Silva


Prefeitura Municipal de Suzano

Introdução: A experiência da loucura, tal como outros desvios do que se


construiu como normalidade, foi historicamente relacionada a um
grande isolamento espacial, social e simbólico. A partir da Reforma
Psiquiátrica, com a noção de cuidado em liberdade e territorializado,
novas questões se colocam para os processos de desinstitucionalização
da loucura no campo da Saúde Mental. Este trabalho se debruça sobre
os processos de produção de subjetividades no território, buscando as
estratégias que usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
de São Paulo empreendem no cotidiano para escapar das formas
identitárias aprisionantes oferecidas pela lógica manicomial. Objetivos:
Delimitou-se como objetivo geral investigar como se processa a
construção de territórios existenciais dos usuários de um CAPS, em sua
relação com o território da cidade de São Paulo. Como objetivos
específicos, pretendeu-se: analisar e registrar os itinerários de usuários
do CAPS na cidade de São Paulo; investigar os territórios existenciais que
usuários do CAPS tecem na cidade de São Paulo; e analisar de que
maneiras as experiências singulares dos usuários de CAPS com e na
cidade podem contribuir para a compreensão e construção dos
processos de desinstitucionalização da loucura. Método: Guiada pelas
pistas do método cartográfico, foi realizada colheita de dados com 3
participantes/copesquisadores, usuários de um CAPS da cidade de São
Paulo, convidados a partir de critérios pré-estabelecidos. Foi realizada
construção individual de mapas afetivos da cidade por cada participante,
com apoio de material gráfico, a partir de entrevista individual
semidirigida, investigando e registrando lugares de memórias,
pertencimento, frequentação, relações e afetos importantes na cidade,

1290
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e os itinerários realizados no cotidiano. Na etapa seguinte, um trajeto de


cada participante, escolhido pelo mesmo, é realizado acompanhado pela
autora e registrado em diários de campo, possibilitando, nesta
itinerância compartilhada, um mergulho nos territórios investigados.
Conclusão: Foi possível acompanhar como, na micropolítica de seu
cotidiano, ao longo de seus itinerários de cidade e dos encontros e
relações que neles se estabelecem, os participantes constroem ricos e
diversos territórios existenciais. Estes são tecidos a partir de campos de
forças complexos e múltiplos, onde comparecem suas histórias de vida;
os processos de subjetivação e relações de poder em jogo; condições
históricas, sociais e materiais; e os afetos que os atravessam. Neste
tecer, resgata-se a multiplicidade que movimenta a vida enquanto
potência instituinte. Estes sujeitos emergem, portanto, como
protagonistas da produção cotidiana da própria desinstitucionalização
da loucura, sublinhando-se como a riqueza destes itinerários pode
compor a construção de projetos de cuidado nos CAPS, ajudando a
concretizar o princípio do cuidado no território protagonizado pelo
usuário. A cidade emerge também, enquanto território de multipli(-
)cidades, compondo este processo. Superar a lógica manicomial passa,
conclui-se, por (re)inventar singularizações e descontinuidades no
espaço urbano onde este se apresenta em formas pré-fabricadas e
enrijecidas, que produzem homogeinização, violência e exclusão. A
loucura, por sua vez, enquanto potência criativa e disruptiva, nos aponta
caminhos para cidades mais democráticas, que sejam mais permeáveis
às forças instituintes que a diferença nos apresenta, construindo
espaços e maneiras de existir mais mutantes, plurais e inventivas.

1291
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A influência da Unidade de Acolhimento (UA) no tratamento de


usuários do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e outras Drogas

Marina Veloso Evangelista


Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS

Introdução: As Unidades de Acolhimento (UA) integram a Rede de


Atenção Psicossocial (RAPS), sendo destinadas às pessoas com
vulnerabilidades sociais relacionadas ao uso problemático de álcool e
outras drogas. A instituição apresenta como proposta o modelo de não
internação, promovendo a atenção contínua sem isolar a pessoa de seu
território. A UA considera ações que visem à autonomia do sujeito, sua
inserção no território e estimulação do protagonismo, reforçando a
necessidade da implantação de recursos que não o segregue da
sociedade. A UA da cidade de Samambaia (Distrito Federal) está ligada
ao CAPS AD III de Samambaia. Este projeto se propôs a avaliar,por meio
de análise documental, os prontuários de pacientes que já residiram na
unidade e as implicações da implantação da Unidade de Acolhimento
Transitório (UA) de Samambaia-DF no tratamento dos sujeitos no ano de
2017, e de que forma esta instituição se fez ferramenta no processo
terapêutico. Objetivo: Este trabalho teve como objetivo investigar e
avaliar como a Unidade de Acolhimento (UA) de Samambaia-DF se fez
ferramenta no processo terapêutico dos sujeitos acolhidos.
Metodologia:Pesquisa quantitativa de corte retrospectivo, de natureza
observacional com procedimento técnico e análise documental. A coleta
de dados ocorreu entre março de 2017 e agosto de 2017. Os resultados
foram descritos e analisados por meio de cálculos relativos, a partir do
total válido de informações. Os resultados foram expostos por
frequências e percentuais. Resultados/discussões: Os dados registrados
nos prontuários apontaram que 75% da amostra obtiveram algum tipo
de conquista no sentido de ressocialização (previstos ou não no PTS e
não necessariamente relacionadas a abstinência). 64,29% cumpriram

1292
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

integralmente o que estava previsto no seu PTS inicial, ou seja,


conseguiram a conquista de todos os objetivos que eram motivadores
para sua entrada na UA. 42,85% obtiveram conquistas que não eram
previstas no seu PTS inicial. E 25% não possuem conquistas mensuráveis
registradas. Dentre as conquistas mensuradas, foram encontradas:
conquistaram moradia, trabalho, restauração de vínculos familiares,
direitos sociais e redução do uso problemático da droga. Considerações
finais: Percebe-se que 75% da amostra obtiveram ganhos concernentes
aos objetivos de inserção na UA (moradia, trabalho, restauração de
vínculos familiares, direitos sociais e redução do uso problemático das
drogas). Nota-se que dentre os motivadores não está a abstinência
como meta da UA. Ao contrário, as categorias apresentadas centram-se
na (re)inserção social e construção de vínculos. Essa perspectiva
relaciona-se com estudos anteriores que enxergam a dependência como
consequência de vulnerabilidades sociais, e não como sua causa. Nesse
sentido, o alcance de 75% dos usuários que atingiram os objetivos que
visam à inserção social são extremamente relevantes nos impactos
sobre recuperação social e as diversas esferas que rodeiam o uso
problemático das drogas. O presente estudo revelou que a Unidade de
Acolhimento (UA) se faz importante ferramenta. A função preconizada
pela unidade de promover acolhimento e articular intersetorialmente a
garantia dos direitos de moradia, educação, convivência familiar e social
tem sido obtida, o que pode ser apontada pela porcentagem de pessoas
que tiveram conquistas sociais neste período.

1293
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A luta antimanicomial na cidade de Cuiabá, Mato Grosso:


uma análise a partir da rede de serviços substitutivos

Vitória Cravo Costa


Betina Ahlert
Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT

No contexto atual, refletir sobre a Luta Antimanicomial e o Movimento


de Reforma Psiquiátrica, que emergiram no Brasil a partir dos anos
1970, faz perceber a necessidade de políticas, leis, reformas, mas
também o constante monitoramento de como as mudanças estão sendo
executadas e se apresentam de acordo com a nova Política Nacional de
Saúde Mental e com os princípios da Luta Antimanicomial. O
Movimento de Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial advêm de
manifestações e ações que buscavam uma melhora no atendimento dos
usuários, na qualidade dos hospitais que eram extremamente precários
e, principalmente, na quebra do modelo de administração
hospitalocêntrica, que colocava como forma de cuidado e
desenvolvimento do usuário a internação em manicômios, baseados no
afastamento da família e do convívio social. Esse estudo nasce da
vivência do estágio obrigatório em Serviço Social da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) realizado no Albergue Municipal
Manuel Miraglia, pertencente à Secretaria Municipal de Assistência
Social e Direitos Humanos (SMASDH) na cidade de Cuiabá, Mato Grosso.
Nessa instituição residem pessoas com transtornos mentais há anos, o
que apontou para uma discussão sobre a efetivação da Política de Saúde
Mental e a Luta Antimanicomial na cidade de Cuiabá entre os anos de
2001 a 2018, em decorrência da data da promulgação a Lei nº 10.216 de
6 de abril de 2001, criada com o intuito de modificar e intensificar alguns
serviços e programas para os pessoas com transtorno mental e como
uma forma de combate aos manicômios que ainda existem. Resulta de
uma pesquisa em andamento que apresenta como objetivo geral

1294
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

identificar como se expressa a perspectiva antimanicomial no


desenvolvimento de estratégias na área da política de saúde mental em
Cuiabá/MT, e como objetivos específicos identificar as ações adotadas e
instituições existentes no município para o enfrentamento da situação
manicomial; apontar a concepção de saúde nos programas estaduais e
municipais da política de Saúde Mental executados na cidade de Cuiabá
a partir de 2001 e analisar a concepção de Saúde Mental nos relatórios
finais das Conferências Municipais e Estadual. Para efetivar os objetivos,
estão sendo executadas entrevistas com os/as assistentes sociais e a
coordenação dos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no município
(CAPS I, CAPS II). Soma-se às entrevistas a análise dos documentos
formados a partir da 13ª Conferência Municipal de Saúde de Cuiabá, II
Conferência Municipal de Saúde Mental de Cuiabá, 9ª Conferência
Estadual de Saúde de Mato Grosso e a III Conferência Estadual de Saúde
Mental – Intersetorial Mato Grosso. Apesar da pesquisa encontrar-se
em andamento, já apresenta algumas considerações importantes a
serem destacadas. Dentre elas, a necessidade de construção do CAPS III
na cidade de Cuiabá, visto o número de habitantes e as demandas que
se apresentam aos serviços existentes; melhorar diálogo entre as redes
de atenção e outras políticas, mas também na própria política de saúde,
em especial com a atenção primária e as policlínicas; e proporcionar
uma equipe especializada, garantindo a Educação Permanente dos
profissionais numa perspectiva antimanicomial.

1295
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A performatividade do cuidado antimanicomial


e a marca do manicômio-colônia

Daniela de Melo Gomes


Contrato direto com a PBH

A atuação como terapeuta ocupacional na rede de atenção psicossocial


nos últimos dez anos, atravessada por vivências pessoais, brincantes, na
cultura popular, levou-me a investigar as relações entre dança popular
brasileira e cuidado antimanicomial. Partindo da pesquisa de mestrado
em Dança em andamento, proponho aqui um recorte específico sobre
performatividade, que, de acordo com Judith Butler (2011) é a
reiteração de um conjunto de normas, sendo uma repetição, uma
simulação das convenções que refaz. Sabendo que os manicômios não
se restringem aos seus limites concretos, mas a toda uma ideologia, as
performances de trabalhadores dos serviços substitutivos nos informam
sobre uma tensão entre duas forças presentes na assistência: a
afirmação do cuidado antimanicomial e a persistência do manicômio.
Buscando elucidar questões sobre a presença da lógica do
encarceramento e seu desdobramento nos serviços substitutivos é
tecida aqui uma reflexão a partir dos Estudos da Performance e da
literatura decolonial. Assim, é possível aproximar as cenas icônicas dos
hospícios brasileiros às descrições de Frantz Fanon (2005) sobre a cidade
do colonizado, com pessoas amontoadas, famintas, acuadas. Ao
trazermos conceitos sobre colonialismo para a realidade manicomial
percebemos haver uma infeliz correspondência entre suas práticas e
lógicas, tornando muito apropriada a denominação de “Colônias” para
vários espaços de tratamento, como as instituições manicomiais e os
antigos leprosários. A estrutura colonial se baseia em mecanismos de
exclusão e segregação da sociedade que inviabilizam, aniquilam a
existência do colonizado num exercício de soberania pelo colonizador,
como mostra Achille Mbembe (2018). Da mesma forma, a estrutura

1296
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

manicomial minimiza ou impede a existência dos loucos e demais


desviantes das regras sociais vigentes, em nome de uma harmoniosa
ordem social onde cabem apenas grupos específicos, que determinam
essas regras. Para combater e desconstruir tais estruturas - que
compreendemos serem equivalentes - é necessário reconhecer que as
condutas de profissionais da saúde vêm sendo forjadas sob a égide de
um pensamento biologicista, eurocêntrico, que reproduz uma série de
explorações e preconceitos sobre grupos oprimidos politicamente. De
acordo com a hegemonia dos pensamentos social e acadêmico
constituídos sob tais referências, a formação direciona profissionais a
compreenderem a saúde e a doença a partir de uma ótica racista,
classista, machista, misógina, homofóbica, gerando um cuidado
inadequado e/ou inacessível. É preciso não aceitar o estereótipo da
loucura enquanto desvio de uma pretensa normalidade e, assim, fazer
recusas diárias sobre performar ações de cuidado de acordo com apelos
de normatização do senso comum, ao qual podemos responder
enquanto indivíduos. Numa perspectiva antimanicomial, não é possível
dar as mesmas respostas violentas e punitivas que a sociedade muitas
vezes deseja e oferece, diante de atos julgados como inadequados. Por
fim, não é possível que continuemos reproduzindo em nossos serviços,
sem nos implicarmos nisso, a estrutura social excludente que faz com
que usuárias/os dos serviços públicos sejam punidas/os com a
desassistência por sua condição singular de existir, agravada por
questões de gênero, classe, raça e profissão de fé religiosa.

1297
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A prática de Redução de Danos no tratamento em


Saúde Mental do CAPS AD de Ouro Preto, Minas Gerais

Marcela Ferreira Ramos


CAPS AD

Introdução: Essa investigação é fruto de uma reflexão da prática de


trabalho no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas –
CAPS AD - de Ouro Preto, Minas Gerais, e se insere no campo de estudo
da Redução de Danos em Saúde Mental. Possui uma visão dialógica ao
processo de Reforma Psiquiátrica e, como consequência, uma nova
proposta de gestão pautada na construção de espaços de produção de
saúde fortalecidos por uma diversidade cultural de atividades durante a
permanência-dia dos usuários no serviço e consequente reabilitação
psicossocial. Além disso, em tempos de crise política nacional e
tentativas de retrocesso das políticas sociais de saúde já conquistadas,
salientar a produção e promoção de saúde oferecida no CAPS, por meio
da Redução de Danos é um comprometimento com a luta
antimanicomial e antiproibicionista. Objetivo: Pretende-se investigar a
construção da estratégia de Redução de Danos integrada com uma
promoção de saúde ampliada. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa
qualitativa. Em um primeiro momento teórico, se realizará leituras e
análises da bibliografia específica, buscando assim uma maior
profundidade com o conteúdo a ser investigado. Posteriormente foca-se
na parte prática dessa pesquisa com o trabalho de campo, utilizando
como coleta de dados entrevistas semiestruturadas com oito
profissionais e quatro usuários do CAPS AD de Ouro Preto, transcrição
das mesmas e análise das falas. Visto que a pesquisadora é também
trabalhadora do serviço, contou-se o tempo todo com observação
participante do cotidiano. Resultados/Discussões: Uma das atividades
muito utilizadas no CAPS AD são as oficinas terapêuticas, que precisam
ser diversas para permitirem abarcar todos os usuários e

1298
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desenvolverem, de acordo com as entrevistas de usuários e profissionais


um melhor convívio entre eles e linhas de fuga para a produção e
criação em detrimento do uso compulsivo de drogas, além de fomentar
novas possibilidades de comportamentos mais saudáveis. Refutou-se a
hipótese de que a abstinência de drogas é a única possibilidade de
tratamento ao usuário de álcool e outras drogas. Pelo contrário, com
essa pesquisa podemos verificar que o tratamento precisa cada vez mais
ser ampliado para as inúmeras manifestações de vida possíveis,
abarcando toda a complexidade e singularidade dos usuários. A
abstinência impede os usuários que não possuem esse objetivo de
procurarem tratamento e lutarem para uma melhor condição e
qualidade de vida, sendo que a saúde é um direito de todos e dever do
Estado. Considerações finais: A partir desta pesquisa foi possível refletir
sobre a estratégia de Redução de Danos na prática do CAPS AD de Ouro
Preto, por meio da relação entre saúde e cultura que é muito mais
ampla do que se possa imaginar, perpassando por inúmeras ações
potencializadoras de qualidade de vida. Visto que a busca por qualidade
de saúde é um processo muito singular de cada usuário, as saídas
precisam ser múltiplas e precisam contemplar cada história de vida e
suas particularidades, não se focando na abstinência como única forma
de tratamento.

1299
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Redução de Danos como estratégia para o (auto)cuidado


entre jovens: a percepção dos redutores

Luisa Cavalcante de Almeida Galdino


MEDIARE

Luisa Cavalcante de Almeida Galdino


Lucas Guimarães Bloc
Universidade de Fortaleza – Unifor

O uso de drogas entre os jovens no Brasil é uma realidade e os riscos


associados a seu uso são motivo de preocupação social e se configura
como um problema de saúde pública. Levando em conta o índice de
consumo de drogas entre essa população no país, bem como a
ineficiência da política proibicionista vigente no que se trata da
diminuição de riscos e danos associadas ao uso, foi pensada a Redução
de Danos (RD) como possível estratégia para o (auto)cuidado entre os
jovens. Trata-se de uma estratégia de prevenção ao uso de substâncias,
que aborda os problemas relacionados ao seu consumo, bem como de
promoção da saúde, que busca respeitar a autonomia e a
individualidade de cada um, abordando, também, o caráter social e
emocional do sujeito. Além disso, conquistas não associadas ao uso
também são valorizadas na prática da RD, como a melhora nas relações
familiares e o retorno ao mercado de trabalho. A perspectiva de
redutores de danos acerca da estratégia e da sua possível eficiência,
bem como as dificuldades encontradas, permite compreender como a
redução de danos acontece na prática. Desse modo, este trabalho teve
como objetivo principal investigar a percepção dos redutores de danos
acerca da RD como estratégia para o (auto)cuidado entre os jovens,
assim sobre como esta acontece na prática e a sua eficiência. Para isso,
foram realizadas 6 entrevistas semiestruturadas e uma posterior divisão
temática para a análise dos resultados. Foi possível observar que a

1300
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

redução de danos ainda enfrenta muitas dificuldades, principalmente o


preconceito, mas que, apesar disso, sua eficiência pode ser percebida
por redutores de danos, que notam que os usuários, após contato direto
ou indireto com a RD, passam a se cuidar, a fracionar doses e buscar
mais ajuda tanto de profissionais da saúde, quanto de amigos e outros
redutores, além de cuidar do próximo. Além disso, também foi relatada
uma queda no número de atendimentos nos ambientes em que a
redução de danos possui uma atuação constante, sendo isto associado
ao maior cuidado dos usuários ao fazer o consumo de substâncias.
Desse modo, foi possível reconhecer a eficiência da redução de danos
em contextos específicos, o que leva ao questionamento do porquê a
prática ainda sofre tanto preconceito, até mesmo entre profissionais de
saúde.

1301
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As formas de resistência à Contrarreforma Psiquiátrica

Yasmin de Sousa Pereira

O presente trabalho tem como objetivo evidenciar e analisar as formas


de resistência, que trabalhadores em cena de um CAPS AD produzem
em seu cotidiano frente ao cenário de contrarreforma psiquiátrica. E
como objetivos específicos buscou-se caracterizar o fenômeno que aqui
denominamos como contrarreforma psiquiátrica de 2016 a 2020;
caracterizar a rede de Saúde Mental do município (ao que tange
território, gênero, raça, classe da população atendida e demais
atravessadores para o campo do exercício da prática dos trabalhadores);
compreender, caracterizar e evidenciar os dispositivos coletivos e
individuais de resistência presentes nesse contexto; aprofundar de que
maneira o eixo Redução de Danos versus Abstinência se apresenta no
cotidiano e quais implicações e por fim, localizar a história de Santo
André no cenário da Saúde Mental. Pensando também quais os sentidos
e significados atribuídos a esse panorama de retrocessos no campo da
Política de Drogas, destaca-se a alta complexidade do produzir cuidado
em Saúde Mental nessa interface. Delimitou-se como recorte temporal
para análise (documental e de dimensão subjetiva) de 2016 a 2020,
período marcadamente destacado como avanço das contrarreformas.
Assim, a pesquisa realizou-se no município Santo André, município de
São Paulo, tendo em destaque a experiência andreense no
desenvolvimento do campo da Saúde Mental e demais ramificações ao
decorrer do tempo histórico de crescimento da cidade. No que tange à
metodologia, a pesquisa é qualitativa, com delineamento de experiência
etnográfica, contando com entrevistas semiestruturadas realizadas com
trabalhadoras/es, valendo-se do arcabouço teórico da Psicologia Socio-
histórica e Antropologia Urbana. Por fim, a partir desse compartilhar de
horizontes, no ato da experiência etnográfica, buscou-se a produção de
uma pesquisa ancorada no compromisso ético-político (LANE, 1996), no

1302
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

qual dá destaque ao trabalhador enquanto protagonista da


transformação social e também enquanto agente-receptor das
tecnologias leves, leve-duras e duras (Merhy, 2005). As tecnologias se
mostram de maneiras abrangentes, nos auxiliando na análise de todo o
processo de uma prática humanizada em saúde, pensando no exercício
em diferentes frentes como acesso, vínculo e também acolhimento;
sendo as leves relativas às relações; as leve-duras as dos saberes
estruturados, como as teorias, e as duras são as dos recursos materiais.
Assim, aprofundando tais diversos pontos durante a pesquisa, pautando
os direitos humanos e a defesa por uma sociedade antimanicomial,
como um farol, a discussão dos resultados da pesquisa se norteia em
temas como: importância da organização coletiva, compreensão acerca
das políticas vigentes, o antiproibicionismo como âncora da resistência e
o sofrimento ético-político daqueles que trabalham na maré da
contrarreforma.

1303
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Contando histórias, tecendo redes vivas: resgate de narrativas


antimanicomiais e práticas de resistência
de um coletivo de Saúde Mental

Carlos Eduardo Silva Feitosa


Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social – Natal

Ana Karenina de Melo Arraes Amorim


Indianara Maria Fernandes Ferreira
Vinícius Azevedo e Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

As mudanças observadas nos últimos anos na política de Saúde Mental,


caracterizadas por um processo de recrudescimento da
manicomialização, vêm suscitando reflexões críticas sobre ameaças às
conquistas no campo dos direitos humanos e da saúde mental. Diante
do refreamento das políticas da democracia participativa, do
negacionismo e silenciamento dos campos sociais, científicos e políticos,
contribuir para afirmar o testemunho e a memória de grupos sujeitados
historicamente mostra-se como ferramenta imprescindível para
sustentar a prática de resistência, cuidado e a ética como ampliação da
vida dentro do campo dos Direitos Humanos. Buscamos em autores da
Esquizoanálise, da análise institucional e nas conexões com Foucault e
Walter Benjamin, pensar como os conceitos de memória, história,
saberes sujeitados e produção de subjetividade poderiam compor um
resgate das narrativas de vida e resistência de pessoas com vivências em
internações manicomiais, reafirmando a importância destas ações de
práticas micropolíticas e a potencialização de novos agenciamentos
coletivos. O presente trabalho figura como um pequeno excerto da
dissertação do primeiro autor, em colaboração com os demais autores,
partindo das narrativas produzidas durante pesquisa realizada com um
coletivo de Saúde Mental potiguar, através de uma cartografia da

1304
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

história e das produções de resistência desse coletivo. Por meio do


acompanhamento desse coletivo, através de uma perspectiva
genealógica foucaultiana da junção dos saberes cultos e dos não
científicos, de forma a tornar possível a composição de um outro saber
histórico, assim como a possibilidade de utilização tática desse saber,
produziu-se a escrita da história da formação e das ações políticas e
artísticas de mais de uma década desse grupo no campo da Saúde
Mental potiguar. No percurso cartográfico, a experiência manicomial,
como marca do corpo e da memória, foi constantemente trazida na
qualidade de testemunho de sobrevivência por usuários jovens e idosos
do coletivo, sendo produzidas narrativas desses testemunhos. Longe de
se encerrarem no espaço institucional do coletivo, como reificação de
um sofrimento trazido como repetição, a memória e o testemunho
transformaram-se em ferramentas de intervenção, tal qual o Grupo-
Sujeito proposto por Guattari, que se encarrega de lidar com seu próprio
objeto, encontrando formas, construindo ferramentas de elucidá-lo. Das
ações decorrentes dessas transformações destacaram-se: intervenções
no manicômio, publicação de livros, ação na assembleia municipal,
parceria com instituições de ensino e atividades desportivas. À maneira
de um dispositivo, como traz Deleuze, em sua composição por linhas de
visibilidade, enunciação, força, de subjetivação e ruptura, o coletivo
pesquisado operou a criação de espaços, de saberes, assim como
práticas políticas e de resistência dentro do campo da saúde mental
natalense. As narrativas dos testemunhos de sobrevivência ao
internamento, assim como da história singular de si produzidas pelos
participantes, mostraram-se próximas à transformação do presente,
como apontado por Walter Benjamin em seus ensaios, a partir de outra
ordem de linearidade e tempo. Por fim, memória e testemunho
mostraram-se ferramentas de práticas afirmadoras dos direitos
humanos no campo da saúde mental, assim como arma política
importante de afirmação da vida e resistência ante do negacionismo
antidemocrático e do investimento, cada vez maior, de práticas
manicomializantes.

1305
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cuidado e Atenção Psicossocial às Juventudes em São Gonçalo, Rio de


Janeiro: itinerários em Redução de Danos pelo CAPS AD

Kassia Fonseca Rapella


RPA

Aluisio Gomes da Silva Junior


Universidade Federal Fluminense – UFF

A presente pesquisa traz uma reflexão sobre o cuidado a partir da


escuta de jovens vinculados a um Centro de Atenção Psicossocial para
Álcool e outras drogas (CAPS AD), localizado no município de São
Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A inclinação para esta
pesquisa parte da experiência da autora que, enquanto também jovem,
cuidou por algum tempo deste grupo específico no CAPS AD, nos
territórios e cenas de uso do município, além de ser ativista cultural com
juventudes. Como metodologia da pesquisa, do tipo qualitativa, foram
utilizadas entrevistas semiestruturadas, observação participante e
anotações do diário de campo. Como estratégia para desenho das redes
de cuidadores dos atendidos, foi utilizado o Itinerário Terapêutico. O
cuidado a adolescentes e jovens tem se apresentado um desafio para se
pensar a integralidade. Mesmo respaldados na Lei como sujeitos sociais,
não são raras as intervenções em saúde a-históricas e que não
consideram o papel do adolescente ou jovem na construção dos atos de
cuidado, de forma individual ou coletiva. Esta pesquisa traz alguns
recortes das narrativas produzidas a partir das entrevistas, para que se
pense os modos de cuidado e atenção psicossocial dirigidos aos jovens
em uso de drogas, que, imersos em uma política de drogas que proíbe
algumas drogas e estimula outras, os coloca em situação de risco letal
por arma de fogo mais do que o uso de drogas a depender de seus
marcadores sociais, que também impactam o acesso a serviços de
saúde. A proposta com esta pesquisa não é dar voz aos jovens

1306
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

vulnerabilizados, pois eles sempre tiveram, mas mostrar um pouco do


que foi escutado a partir dos limites do recorte da pesquisa e pensar
caminhos possíveis (e intersetoriais) no cuidado pautado na autonomia
e no vínculo, trazendo algumas reflexões a partir do lugar de
pesquisadora e também como usuária do SUS, moradora do município e
ativista, defendendo um modo de escuta dos jovens de outro lugar que
não o de "imaturos" ou de "transição para vida adulta", mas como
sujeitos que às vezes precisam de mãos para caminhar em seus
processos, como qualquer pessoa.

1307
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Da abstemia à Redução de Danos: tensões assistenciais e políticas

Sarah Salvador Pereira


Sonia Regina Zerbetto
Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR

Introdução: O cenário político no campo de álcool e outras drogas


enfrentou recentes modificações. A nova Política Nacional sobre Drogas
no Brasil exclui a Redução de Danos (RD), prioriza a promoção da
abstinência e incentivo às comunidades terapêuticas. No entanto,
acredita-se que as práticas de RD ainda configuram-se em estratégias
que se materializam na prática, guiando o cuidado às pessoas que
consomem substâncias psicoativas (SPAs) na Atenção Primária à Saúde
(APS). A RD visa reduzir os prejuízos biológicos, psicológicos, sociais e
entre outros, associados ao consumo dessas substâncias. No contexto
da APS, os profissionais de enfermagem desempenham um papel
fundamental no cuidado ofertado ao usuário e seus familiares, os quais
vivenciam situações que envolvem o consumo de SPAs. Objetivo:
Analisar as produções discursivas sobre as intervenções destinadas a
usuários de SPAs, realizadas por profissionais de enfermagem que
atuam na APS, refletindo sobre a importância da (re)inserção da RD
enquanto política pública de saúde. Método: Estudo qualitativo
embasado no referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso
de matriz francesa sob os preceitos de Michel Pêcheux. Foram
conduzidas entrevistas semiestruturadas com 14 profissionais de
enfermagem atuantes na APS em município do interior paulista, de
janeiro a outubro de 2019. Utilizou-se do dispositivo de análise de
discurso para análise dos dados. Projeto aprovado pelo CEP (3.077.819).
Resultados e discussão: Os resultados evidenciaram os efeitos de
sentido que perpassam as práticas dos profissionais de enfermagem,
sendo selecionados dois blocos discursivos: 1) Intervenções ancoradas
no modelo de doença e 2) Intervenções ancoradas no modelo de RD. As

1308
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

ações realizadas no modelo de doença se baseiam predominantemente


na abstemia e/ou internações e estão presentes nos discursos de
algumas das participantes. Esses discursos são interpelados
ideologicamente por um interdiscurso do modelo de doença, o qual
baseia-se na premissa de “doença-cura”. Considerando a dependência
de SPA como doença, a “cura” seria por meio da abstemia, a qual pode
ser alcançada por intermédio de internações. As intervenções
reconhecidas como de RD, e que corroboram os seus preceitos, focaram
na redução de riscos e danos físicos, como Infecções Sexualmente
Transmissíveis, complicações hepáticas e neurológicas. Destacam-se
outras ações mencionadas, tais como: o diálogo; pactuação com o
usuário no planejamento terapêutico; orientações singulares e
geradoras de vínculo; orientações sobre implicações familiares e
orientações sobre terapia de substituição, sendo que algumas não foram
identificadas pelos profissionais como ações de RD. Ressalta-se a
importância de que gestores de serviços de saúde e trabalhadores da
Saúde Mental se engajem no debate sobre a reinserção da RD,
enquanto política pública e postura ética que oriente o cuidado. Aponta-
se a necessidade em se discutir o conteúdo de RD no âmbito da
formação e qualificação profissional. Considerações finais: É necessário
considerar os modelos explicativos para o uso de SPAs que circundam as
práticas de enfermagem para compreender como estes paradigmas
refletem diretamente no cuidado. Salienta-se a necessidade de
identificar as lacunas assistenciais e propor novas estratégias de cuidado
que priorizem a construção de uma prática horizontal, que assegure o
direito e governabilidade do usuário sobre sua própria vida.

1309
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desinstitucionalização e cuidado em
Saúde Mental - A experiência de Trieste

Joana Schenatz Trautwein


Vitor Marcel Schühli
Universidade Federal do Paraná – UFPR

Introdução: O período posterior à Segunda Guerra trouxe novas


demandas econômicas e sociais que produziram alterações nas
instituições manicomiais. Países como Inglaterra, França e Estados
Unidos se destacaram por reformas psiquiátricas que realizaram, desde
as alterações no funcionamento dos hospitais e nos modos de relação
entre técnicos e sujeitos em sofrimento, até construções de serviços no
território visando a uma gradual superação dos manicômios.
Entendendo limitações nesses processos, a experiência na cidade de
Trieste, ao norte da Itália, buscou uma negação total do manicômio e
sua lógica. Por meio da perspectiva da desinstitucionalização superou os
muros institucionais, colocando a cidade no movimento de reinvenção
das relações com a loucura e assim abrindo caminho para novas formas
de cuidado em liberdade em saúde mental. Iniciada na década de 1970,
esta experiência é até hoje uma importante referência para diferentes
processos de reformas psiquiátricas ao redor do mundo. Objetivo: A
presente pesquisa em andamento busca investigar aspectos da
perspectiva da desinstitucionalização nas obras de autores italianos
vinculados à experiência de Trieste, em destaque Franco Basaglia,
Franca Basaglia e Franco Rotelli. Metodologia: Utilizou-se a pesquisa
bibliográfica exploratório-descritiva como metodologia. Discussão: Até o
momento, as discussões levantadas pela pesquisa apontam a
desinstitucionalização como um movimento aberto com contradições,
tensões e potências que se constroem em ato. Partindo da
compreensão dos manicômios como instituições de violência, essa
perspectiva percebe meras reformas internas ao hospital ou mudanças

1310
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

que continuam com estas instituições no horizonte - tal como realizadas


nos Estados Unidos e em países europeus - como insuficientes pois não
desmontam as lógicas manicomiais. À medida que essas lógicas estão
espalhadas no social, a via da desinstitucionalização mostra-se como
práxis ativa de reinvenção dos aparatos científicos, legislativos e
administrativos que justificam a existência e necessidade dessas
instituições e suas práticas. Para desmontar essa realidade, portanto,
uma reorientação de objeto se faz necessária: não mais a doença, mas o
sujeito em sofrimento; não a cura ou solução, mas o cuidado e a
reprodução social dos pacientes; não a saída individualizada, mas a
coletiva. Assim recupera-se as complexidades e as distintas
determinações sociais que compõem os manicômios e os tratamentos
em Saúde Mental. Em Trieste, a desinstitucionalização como via foi
construída concreta e cotidianamente de modo a produzir em poucos
anos o desmonte completo do manicômio possibilitando serviços
territoriais inteiramente substitutivos. Considerações finais: A
inexistência de hospitais psiquiátricos não garante que os serviços de
saúde mental não possuam uma lógica manicomial. Logo, ressalta-se
que a desinstitucionalização é gesto provisório, sempre em movimento,
e deve estar aberta às novas contradições, tensões e potencialidades na
medida em que aparecem. Por fim, destaca-se a historicidade de tal
experiência que se mostrou possível pelo momento social, político e
econômico favorável de Welfare State europeu. Aposta-se no resgate
deste processo entendendo que o estudo da desinstitucionalização no
contexto de Trieste, embora com suas particularidades, pode trazer
pistas importantes para o cuidado em liberdade em saúde mental na
atualidade.

1311
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desmontes e retrocessos: proposta de uma


"nova" política nacional de Saúde Mental

Isabelle Teixeira dos Santos


Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS

O presente trabalho tem por objetivo compreender em que medida as


propostas referentes à Nova Política Nacional de Saúde Mental
assemelham-se a práticas que retomam ideologias endereçadas ao
bloqueio da produção de subjetividades. A partir de 2001, com a Lei nº
10.216, mudanças expressivas foram implementadas, redirecionando o
modelo assistencial em Saúde Mental para alinhar-se com os pilares da
Reforma Psiquiátrica. Contudo, em 2019, o Ministério da Saúde publica
a Nota Técnica nº 11/2019, nomeada “Esclarecimentos sobre as
mudanças na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes na
Política Nacional sobre Drogas”, apresentando a proposta de uma
“Nova” Política Nacional de Saúde Mental que apesar de ser anunciada
como “nova”, tal política não deixa de retomar práticas que, ao fim e ao
cabo, impõem a degradação da dignidade humana. A nota em questão
entra em vigor em fevereiro de 2019 e pouco tempo depois é suspensa
pelo próprio Ministério da Saúde, sem esclarecimentos quanto aos
motivos de suspensão. As proposições da Nova Política de Saúde Mental
integram um projeto que visa administrar manifestações de loucura que
desajustem a ordem social, por meio do controle e correção, e
escancaram o abandono do poder público. A presente pesquisa justifica-
se pela sua relevância social. É imperioso investigar e denunciar até que
ponto as medidas pretendidas pela Nota Técnica nº 11/2019
caracterizam um processo de controle, segregação e morte de uma
parcela da população. Para tal, foi utilizado o approach foucaultiano.
Consideramos de maneira inicial que este é um projeto permeado por
práticas que legitimam a morte do corpo do louco, sendo o mesmo
classificado sob o saber patologizador, moralizador e racista. Nesse viés,

1312
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

problematiza-se uma terapêutica que se volta para o corpo ausente do


louco, não como terapêutica de restituição ou cuidado, mas como
processo terapêutico disciplinador. Compreendemos que as práticas
retomadas pela Nota Técnica 11/2019 fazem parte de um regime
intitulado por Foucault como biopoder, a partir dele é possível entender
as manifestações disciplinares e a biopolítica.

1313
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Determinantes sociais da saúde de pessoas em medida de segurança

Paola Margarita Onate Daza


Companhia dos Idosos

Ivonete Heidenman
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, de abordagem


qualitativa, com o objetivo de compreender os determinantes sociais de
pessoas em medidas de segurança sob a concepção de trabalhadores e
profissionais da saúde de um hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico de Florianópolis, Santa Catarina. A coleta de dados da
pesquisa ocorreu por médio de entrevistas semiestruturadas no
primeiro semestre de 2019, no hospital de custódia de Florianópolis,
com 15 participantes distribuídos em dois grupos: oito agentes
penitenciários, quatro enfermeiros, dois técnicos e um auxiliar de
enfermagem, atuantes diretos no cuidado das pessoas em medidas de
segurança. Teve início a partir da entrada de campo no hospital, com
data e hora marcadas pela direção, especificamente na hora de almoço
dos participantes. Consideraram-se realidades de países como
Argentina, Colômbia e Portugal. Para a análise dos dados, valeu-se da
análise temática, proposta por Minayo. Os resultados do estudo foram
debatidos à luz da fundamentação teórica dos determinantes sociais da
saúde, sendo discutidos em dois manuscritos: percepção dos
trabalhadores sobre os determinantes sociais da saúde das pessoas em
medida de segurança em um hospital de custódia; acolhimento na rede
pública de saúde das pessoas em medida de segurança: doente ou
criminoso? Como principais dificuldades foram apontados: os desafios
para interagir com as famílias das pessoas internadas, as condições de
contratação dos trabalhadores que interferem na continuidade do
trabalho, a percepção do hospital de custódia como lugar de cuidado

1314
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

das pessoas em medidas de segurança e a falta de apoio da rede


psicossocial no auxílio das demandas destas pessoas em liberdade.
Todas estas dificuldades atreladas, ainda há a falta de compreensão dos
determinantes sociais da saúde como estratégia para atingir melhor
qualidade de vida para esses indivíduos. Destaca-se como ponto positivo
o trabalho multiprofissional para o cuidado destas pessoas, incluindo os
agentes penitenciários. Registra-se que os agentes penitenciários e a
equipe de enfermagem possuem formação. Percebeu-se que o
programa de acompanhamento ao egresso, cumpre a lei, mantendo
comunicação permanente com os centros de atenção psicossocial e as
residências terapêuticas. As práticas para endereçar os determinantes
sociais da saúde devem incluir as famílias com o intuito de fortalecer as
relações com estas pessoas. Ressaltam-se os trabalhos realizados pela
equipe multiprofissional, para evitar a institucionalização das pessoas
em medida de segurança.

1315
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Drogas, racismo e violência: um ensaio teórico

Cosme Rezende Laurindo


Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Entender os motivos pelos quais negros possuem maior probabilidade


de prisão é tema de grande debate, sendo que ao se problematizar o
uso de drogas e a atual postura adotada pelo Estado, pode-se
compreender que este quadro vem enquanto consequência da política
proibicionista com base em cunho moral e racista, com impacto na vida
da população negra do país que deriva de uma construção história
marcada pela exclusão às minorias. Neste contexto, é impossível não
trazer para a discussão as relações sociais brasileiras que foram
conformadas pela expropriação, desigualdade social, racismo e luta de
classes. Este estudo trata-se de um Trabalho de Conclusão de
Residência, cujo objetivo foi discutir o proibicionismo de drogas no
Brasil, enquanto política pública voltada à criminalização social, a partir
de viés racial. Metodologicamente propôs-se um ensaio teórico,
justificado por sua natureza reflexiva e interpretativa frente à realidade,
distinta da forma classificatória da ciência formal de base positivista, a
partir de análise textual discursiva, perpassando as etapas de:
desmontagem dos textos, também denominada unitarização, com
examinação dos materiais em seus detalhes, fragmentando-os em
unidades constituintes e enunciados referentes à temática estudada;
categorização, etapa na qual estabeleceu-se relação entre as unidades
previamente fragmentadas, com combinação e classificação,
constituindo conjuntos de conhecimento; e captação do novo
emergente, etapa na qual impregnou-se com os materiais analisados
nas duas etapas prévias e construiu-se compreensão renovada e
originalidade a leitura da realidade, alcançando o objetivo com o
método escolhido. Os referenciais foram levantados a partir de
legislações e publicações institucionais relacionadas ao tema deste

1316
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estudo, autores antiproibicionistas, autores de debate a partir de análise


social e autores com debate a partir do viés racial. O uso de drogas
classificadas como ilícitas, como previsto, no Brasil, na atual Lei de
Drogas, 11.343/06, assim como nas legislações anteriores, encontra-se
construído sobre a lógica proibicionista e medicalizante, com viés racista
e simplista, desconsiderando a realidade concreta da manifestação de
um problema estrutural. Práticas de poder acionam táticas
estigmatizantes, discriminatórias e segmentaristas, fomentando não só
o aumento do encarceramento e do recrudescimento penal dos
comerciantes de drogas consideradas ilegais, como também os índices
de violência, impactando na variável da desigualdade social. O
proibicionismo corresponde a um paradigma político que, embora
responda aos anseios morais de uma sociedade conservadora em
relação às drogas, confronta valores e direitos desta mesma sociedade,
assumindo contornos discriminatórios e seletivos, sendo uma política
repressiva que consome recursos financeiros e que não reduz a oferta
nem a demanda por drogas. Desta forma, torna-se um compromisso
ético-político ser antiproibicionista, antirracista e antipunitivista,
defendendo a descriminalização e despolicização.

1317
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Estudo acerca dos programas ou ações em IES públicas na Bahia,


sobre uso de substâncias psicoativas na comunidade estudantil

Heleni Duarte Dantas de Ávila


Jucileide Ferreira do Nascimento
Talita Wedja Felipe da Silva
Marcos Oliveira de Jesus
Celina dos Santos Almeida
Michell de Jesus Santos
Wagner Souza da Encarnação
Maria Luiza Batista Adorno
Marcus Vinícius de Jesus Fróes
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

O presente trabalho é fruto do projeto de pesquisa vinculado ao Centro


De Artes Humanidades e Letras da UFRB e composto por sete discentes
e dois docentes, em andamento no CAHL – UFRB. Tem como objetivo
principal realizar levantamento das Instituições de Ensino Superior
Públicas (Universidades Federais – 6 e Estaduais – 4) presentes no
estado da Bahia e identificar quais instituições possuem programas ou
ações voltadas para o debate do uso abusivo de drogas no contexto
universitário. O estudo está voltado para iniciativas com o corpo
discente e as entrevistas estão sendo realizadas com os setores
responsáveis pela assistência estudantil em cada universidade. As
entrevistas estão sendo feitas através de contatos por e-mail e telefone,
enviando-se formulário específico para que as pessoas entrevistadas
possam responder. O uso de substâncias psicoativas (SPA) lícitas
(bebidas alcoólicas, tabaco, medicamentos com potencial de abuso) e
ilícitas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, entre outras) é um dos temas
que figuram entre as principais preocupações da sociedade atualmente.
O consumo destas substâncias no âmbito das universidades tem sido
estudado tanto no Brasil como em outros países, desafiando a

1318
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

necessidade de um aprofundamento acerca da temática, bem como a


necessidade de implementação de políticas que não venham reproduzir
os erros da maioria das iniciativas vigentes em esferas públicas e que
busquem um diálogo aberto e mais abrangente. Assim, através desta
pesquisa pretende-se contribuir para a reflexão acerca de políticas
institucionais que possam trabalhar na prevenção e na redução de
danos causados pelo uso abusivo de substancias psicoativas. As
abordagens do trabalho seguem a perspectiva antiproibicionista. Como
principais resultados espera-se contribuir com a difusão de
conhecimentos acerca da Política sobre Drogas e colaborar com a
construção de uma proposta de trabalho no âmbito da UFRB.
Preliminarmente, a equipe da pesquisa pôde identificar que, dentre as
instituições que já responderam ao questionário (3 federais e 2
estaduais), nenhuma realiza atividade, por menor que seja, ligada à
temática drogas com o corpo discente, apesar de reconhecerem a
importância de trabalhar com esta temática, especialmente com os
estudantes.

1319
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Impasses e desafios dos serviços comunitários


e a persistência do manicômio

Luisa Motta Corrêa


CAPSi Mauricio de Sousa

Quando falamos sobre reforma psiquiátrica, o conceito de


desinstitucionalização se revela como potente analisador dos avanços e
impasses do movimento. Segundo os líderes da reforma italiana, este
conceito não se restringe à desospitalização, mas abarca todo o
processo de desconstrução dos saberes, dizeres e normas que tornam a
doença mental um objeto e desconsideram a subjetividade. O
funcionamento dos serviços substitutivos e o posicionamento dos
operadores do cuidado – familiares e técnicos - dão a medida de como
este processo vem se delineando e quais desafios precisam ser
superados. Um dos principais impasses do cenário atual é a emergência
de instituições particulares/religiosas, como comunidades terapêuticas e
asilos, que reatualizam o manicômio. O objetivo deste trabalho é
investigar os desafios vividos pela rede territorial que contribuem para
isso através da revisão bibliográfica de artigos científicos e livros sobre o
tema, como parte de um projeto mais amplo que envolve pesquisa de
campo com usuários em situação de neo-institucionalização. Com base
em Rotelli (2001), parte-se do pressuposto que a nova cronicidade não é
fruto puramente da psicopatologia individual, mas sobretudo do modo
como os novos serviços se organizam. Neste sentido, dois pontos podem
ser destacados sobre os CAPS no Brasil: a capacidade de acolhimento à
crise e o imaginário sobre a loucura. Pitta (2011) e Elia (2013) indicam
que a viabilidade real de atender situações de crise, com toda a sua
imprevisibilidade, depende da presença de serviços 24h ainda escassos
na rede, os CAPS III. Além disso, é preciso que eles se articulem no
território, mobilizando recursos comunitários, pois é neste contexto que
as crises podem ser entendidas e manejadas. A confiança por parte da

1320
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

comunidade e familiares de que o CAPS será capaz de contornar estas


situações é fundamental para que a internação não seja acionada. Para
isso, os trabalhadores precisam estar afinados ao paradigma da
desinstitucionalização, o que frequentemente não acontece. Inúmeros
autores (OLIVEIRA e ALESSI, 2005; ALVERGA e DIMENSTEIN, 2006; LEÃO
e BARROS, 2008; MELLO e FUREGATO, 2008; MACHADO, 2012) indicam
que é comum os técnicos entenderem as questões dos usuários pelo
prisma da sintomatologia psiquiátrica e buscarem soluções médico-
hospitalares para situações mais graves, contribuindo para que os CAPS
atuem de forma complementar às instituições de internação e não
substitutiva. O saber psiquiátrico tornado senso comum é o que os
serviços comunitários precisam desconstruir para evitar que as famílias
e os próprios usuários busquem soluções asilares para o mal-estar que a
loucura pode trazer. Os momentos de crise são aqueles em que as
mentalidades manicomiais se tornam mais propensas a se enrijecer e
dar lugar às comunidades terapêuticas e asilos particulares. Através de
uma formação continuada que permita a desconstrução do paradigma
psiquiátrico pelos próprios técnicos, associada à expansão de CAPS III, o
trabalho territorial pode se afirmar como capaz de dar novos
significados e destinos à crise. Além do vínculo do usuário, é
fundamental incentivar a vinculação da comunidade ao serviço, para
construir a confiança necessária de que os descontroles podem ser
contornados sem a necessidade da institucionalização.

1321
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Importância da militância feminina na luta antiproibicionista no Brasil

Rita de Kassia Alves Batista


Alana Maria Ferreira da Paixão
Daniele Cristine Cavalcanti Rabello
Centro Universitário Maurício de Nassau – Uninassau

Introdução: As políticas de combate às drogas no Brasil têm se mostrado


muitas vezes insuficientes e acumulado inúmeras injustiças sociais que
recaem majoritariamente sobre as minorias populacionais, negras,
pobres e periféricas. Nesse contexto estão inseridas as mulheres, cuja
taxa de marginalização e encarceramento teve um aumento de 656%
nos últimos anos e é fruto sobremaneira de um sistema político
neoliberal carregado de interesses nas políticas públicas, que acabam
por empobrecer ainda mais essa parcela da população, favorecendo o
envolvimento com a prostituição por falta de opção e o tráfico de
drogas como fonte de renda. Em contrapartida, contamos com redes
feministas de apoio antiproibicionista no Brasil, como a Rede Nacional
de Feministas Antiproibicionistas(RENFA), que desde 2014 propõe uma
revisão na atual política de combate às drogas, e trabalham sob a
perspectiva da redução de danos, lutando contra o encarceramento
feminino, em favor dos direitos das mulheres e visando ações que
possibilitem uma melhor qualidade de vida às dependentes químicas.
Estas redes trabalham em conjunto com o sistema público de saúde,
buscando minimizar os danos causados pelo uso dessas substâncias em
sua saúde física, mental e no meio social. Objetivo: Este trabalho busca
ressaltar a relevância da luta de mulheres no contexto antiproibicionista
frente ao alarmante índice de encarceramento feminino. Metodologia:
Nesse estudo, utilizamos metodologia qualitativa para compreender
fenômenos sociais, por meio de revisão de literatura. Os artigos
buscados podem ser encontrados, com livre acesso, em português, nas
plataformas acadêmicas SciELO, Google Acadêmico e Pepsic. Para a

1322
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

construção deste trabalho, foram utilizados descritores como


feminismo, antiproibicionismo, saúde mental e drogas. Foram inclusos
artigos publicados entre 2012 e 2019, que relatam experiências
profissionais por meio das políticas públicas no âmbito nacional. Foram
excluídos artigos escritos em língua estrangeira. Foram encontrados
uma média de 150 artigos no Google Acadêmico; 3 no SciELO; 1 no
Pepsic. Resultados e discussão: Apesar de ser uma discussão de grande
relevância, há lacunas na produção científica de artigos relacionando o
crescente encarceramento da população feminina devido ao
envolvimento com drogas e a discussão acerca da atuação dos grupos
feministas antiproibicionistas nesse contexto, invisibilizando o papel
destes movimentos. Considerações finais: a luta dos movimentos
feministas antiproibicionistas tem crescido amplamente nos últimos
anos, em consequência dos impactos causados pela insipiência das
políticas, em torno dos usos abusivos de drogas, no que tange à redução
de danos, sem conseguir proporcionar cuidados de forma mais eficaz na
vida das mulheres. Apesar destes movimentos terem surgido em meio a
reformas nas políticas públicas, a atual conjuntura político-social do
Brasil retoma projetos baseados em proibicionismos radicais e
internamentos compulsórios.

1323
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Interlocuções entre Nise da Silveira e a teoria psicanalítica quanto


ao uso de recursos expressivos para estabilização das crises psicóticas

Mariana Rodrigues Festucci Grecco


Ivan Ramos Estevão
Universidade de São Paulo – USP

Este trabalho, oriundo de resultados preliminares de projeto de


pesquisa na modalidade de doutorado desenvolvido no IP-USP, expõe
uma leitura instrumentalizada pelas considerações teóricas de Sigmund
Freud e Jacques Lacan das contribuições da práxis de Nise da Silveira
(1905-1999) para a clínica das psicoses através da metodologia que a
psiquiatra desenvolveu com o uso dos recursos expressivos como
alternativa aos tratamentos desubjetivantes empregados pela
psiquiatria clássica (tais como eletrochoque, coma insulínico e camisa de
força química). A apropriação de tal metodologia foi realizada através da
revisão da literatura científica produzida pela psiquiatra e da visita às
instituições Museu de Imagens do Inconsciente e Casa das Palmeiras,
ambas no Rio de Janeiro, que foram fundadas por Nise da Silveira e
funcionam segundo as suas diretrizes em regime de externato. Objetiva-
se, com tal pesquisa, demonstrar que os recursos expressivos (pintura,
escultura etc.) só cumprem seu potencial terapêutico de estabilizadores
das crises psíquicas quando utilizados sem qualquer coação, já que a
liberdade dada ao sujeito permite que ele dê expressão a conteúdos de
uma forma mais ampla àquela que a linguagem verbal formal
proporciona, podendo descortinar fatores que desencadearam a crise
psíquica e/ou a reapropriação da própria história. A metodologia
desenvolvida por Nise da Silveira se distingue das práticas ora adotadas
na atualidade em oficinas terapêuticas dos CAPS da região Sudeste
(onde conteúdos são impostos ao sujeito visando um objeto utilitário),
uma vez que enfatiza a liberdade de expressão e o acolhimento da
subjetividade psicótica para além de rótulos normatizadores. Tal

1324
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

metodologia foi estabelecida em 1946, antes dos movimentos da


Reforma Psiquiátrica, demonstrando um caráter inovador, e mesmo na
contemporaneidade pode servir de interlocutora para o aprimoramento
dos serviços oferecidos pelo SUS. Através da breve exposição da
metodologia desenvolvida por Nise à luz das considerações teóricas
psicanalíticas, visamos ratificar o seu valor clinico e social.

1325
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Judicialização do tratamento em CAPS AD:


a criminalização do sujeito que usa drogas

Thays Maria do Nascimento


Wedna Cristina Marinho Galindo
Elaine Camêlo Carneiro
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

O uso de drogas em uma sociedade é uma prática que tem status


específico a depender do contexto social, histórico e cultural. No Brasil,
posturas conservadoras e proibicionistas criminalizam o uso de drogas e
marginalizam o sujeito que usa, além de impor a abstinência como
regra. Em contrapartida, perspectivas pautadas na Redução de Danos
propõem que, para além da abstinência, é possível usar drogas com
menos danos. A presente pesquisa teve o objetivo de compreender
como sujeitos que usam drogas se relacionam com o seu uso e o
processo terapêutico em Centros de Atenção Psicossocial Álcool e
outras Drogas (CAPS AD). Para tal, foram realizadas cinco entrevistas
com sujeitos que usam drogas que estavam em acompanhamento em
CAPS AD da cidade do Recife, Pernambuco. Mediante análise do
material, foi identificado um discurso de marginalização que atravessa a
vida dos sujeitos que usam drogas e, a partir da análise institucional do
discurso, compreendemos que esses sujeitos estão ocupando lugares
institucionais de “viciadão/noiadão”, lugares marcados por
preconceitos. Tais lugares institucionais são sustentados pela sociedade
na qual estão inseridos e têm sua origem nas relações de poder
derivadas das ações e práticas sociais que se repetem e, por se
repetirem, se legitimam. Os achados da pesquisa mostraram que a
sociedade e as instituições negligenciam as relações que os sujeitos
estabelecem com a droga e os motivos que os levam a usá-las. Cabe
destacar que o cuidado em Saúde Mental tem sido atravessado pela
obrigatoriedade de abstinência, retirando do sujeito a possibilidade de

1326
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

uso com menos danos à sua vida. Tal perspectiva vai de encontro com
os preceitos da Reforma Psiquiátrica e a perspectiva da Atenção
Psicossocial que preconizam a autonomia e a participação ativa do
sujeito no cuidado em Saúde Mental. A judicialização do “tratamento”,
cabe ressaltar, é seletiva e bem direcionada, ou seja, pessoas em
situação de vulnerabilidade social são as mais afetadas com as ações da
polícia e do Estado na repressão às drogas. Concluímos que o lugar
institucional imposto aos sujeitos que usam drogas gera sofrimentos
sociais invisibilizados diante do contexto conservador e antidrogas. A
postura autoritária e policialesca do atual governo tem influenciado na
fragilidade da perspectiva de Redução de Danos como resposta política,
negligenciando a possibilidade de usos não problemáticos e impondo
“tratamentos” como condições para o não encarceramento de pessoas
mais vulneráveis.

1327
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Loucura e literatura: a escrita de si como prática de cuidado

Ana Carolina Lima Haubrichs dos Santos


Universidade Federal Fluminense – UFF

Lima Barreto, Maura Lopes, Stela do Patrocínio: o que esses nomes têm
em comum? Adianto serem brasileiros e em suma já denuncio que essa
qualificação carrega em si um paradoxo: ser brasileiro é ser um pouco
de tudo e um pouco de nada. Variadas são as maneiras de o ser: mulher,
homem; preto, branco, amarelo; rico, pobre; vive-morre de frio ou de
calor. Acrescento serem do Sudeste e talvez isso limite entre biscoito ou
bolacha; pão de queijo ou mate; praia ou cachoeira. Pode-se também
abranger a discussão e pautar o E enquanto conjunção aditiva: pão de
queijo e mate e praia e cachoeira. A pluralidade de ser brasileiro e
homem e preto e pobre encontra aqui a pluralidade de ser brasileira e
mulher e branca e rica, além da pluralidade de ser brasileira e mulher e
preta em uma única instituição: o hospício. O que há de comum nesses
três nomes é que ambos viveram no hospício no Rio de Janeiro - na
Praia Vermelha, no Engenho de Dentro, em Jacarepaguá- e usaram da
linguagem enquanto recurso de vida, de denúncia e de resistência.
Através da revisão das obras Cemitério dos Vivos e Diário do Hospício
(BARRETO, 1956); Hospício é Deus (CANÇADO, 1965) e Reino dos Bichos
e Animais é Meu Nome (PATROCÍNIO, 2001), o presente trabalho busca
investigar os efeitos da escrita de si (FOUCAULT, 2006) no cuidado em
Saúde Mental. Entende-se aqui o escrever enquanto tecnologia de
comunicação e de memória própria do humano, havendo nela um poder
e uma possibilidade de poder que é o de eternizar o que é efêmero.
Nesse sentido, a escrita de diários gera condição de memória do dia a
dia. Lima Barreto e Maura Cançado escreveram seus diários de hospício
em que retratam as violências, o cotidiano, os encontros, a vida dentro
de uma instituição psiquiátrica. Stela do Patrocínio, por outro lado, não
escreveu um diário, mas proferiu poesia e bradava suas memórias, sua

1328
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

história, seu cotidiano. Juntos, os três tecem sobre a loucura do lado do


que foi diagnosticado e não mais do que o diagnostica. Ao contarem
suas próprias histórias resgatam o que o filósofo Platão caracteriza
como escrita Phármakon: veneno e remédio ao mesmo tempo para
resultar no que Foucault denomina escrita de si: exercício etopoiético
que promove transformações no ethos (2006). Não caracterizo aqui
enquanto escrita-confissão de um exercício ascético, mas a escrita
enquanto concretização de poder falar, dar voz no contexto de seres
humanos que são trancados e esquecidos no que Lima Barreto
posteriormente vai chamar seu diário: cemitério dos vivos. A elaboração
que a escrita e a poesia demandam, fomenta a hipótese de ambas
operarem enquanto clínica de nós mesmos, numa prática de insurgência
antimanicomial. Para além da autoficcção (KLINGER, 2017), ao se
tornarem obras publicadas de literatura, as denúncias das violências
manicomiais (que começam muito antes da internação) atravessam os
muros das instituições para nos encontrar em nossas casas e nos
questionar: ainda sabemos contar histórias? O que fazemos com as
histórias que encontramos?

1329
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Modos sujeitos-drogados: implicações nas práticas de cuidado

Patrícia Carvalho Silva


Clínica Affectio

Tal trabalho é baseado na dissertação final de mestrado da proponente


em Saúde Coletiva: Políticas e Gestão em Saúde pela Unicamp, no qual
pretendeu analisar o cuidado ofertado aos usuários de álcool e outras
drogas (AD) problematizando as relações de poder-saber-verdade
existentes e que se apresentam como campos de tensões. Objetivamos
aqui, analisar a produção de determinados modos-sujeitos drogados e
sua relação com as práticas de cuidado, assinalando de antemão que a
ideia moderna da noção do EU, sob a noção de vida interior, apoiou e
apoia a construção de conhecimentos que produzem procedimentos
científicos que tentam tornar o mundo e suas realidades rebeldes,
disciplinadas a uma determinada análise do pensamento. A construção
de paradigmas que se sustentam sob a discursividade da ilicitude do uso
de drogas, do mundo livre das drogas, da ideia moral do consumo
enquanto perda de controle e defeito de caráter e da ideia de doença,
acabam formatando o que aqui chamamos de modos sujeitos-drogados.
Ou seja, identidades atravessadas pela noção da existência de sujeitos
fora da norma e desta maneira vistos como um problema a ser
corrigido, governado e/ou passível de se deixar morrer. Elencamos três
figuras simbólicas hegemônicas: o traficante – sujeito perigoso e assim
seu caminho é a segregação social a fim de torná-lo um homem bom; o
doente – sujeito sem controle frente a seu uso e assim pode-se construir
intervenções baseados na ideia de pode ser sequestrado para uma
reprogramação de sua vida; e pecador ou moralmente corrompido –
sujeito afastado de Deus e dos bons modos e assim intervêm-se sob a
ótica da reconexão com a espiritualidade e de sua libertação através do
divino. Assim, tais verdades sobre os usuários de álcool e outras drogas,
no entrecruzamento de distintos discursos – saúde, segurança, controle,

1330
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

cura, salvação – implicam diretamente nas práticas de cuidado, além de


criarem uma rede discursiva que empurra os sujeitos ao status de “lugar
de não-humano”. Essa objetivação e focalização do olhar e da
intervenção exclui a multiplicidade de fatores que constituem a vida,
centrando o cuidado em procedimentos esvaziados de interesse pelo
outro, produzindo uma escuta empobrecida num direcionamento de
sintomas/comportamentos, além de justificarem ações de cunho
estritamente violentos e punitivistas. Contrapor-se a práticas que
servem a estes fins é afirmar as subjetividades enquanto um diagrama
múltiplo, composto por uma diversidade de vetores para além das
instâncias apontadas. Sendo assim, fazer emergir tal discussão,
principalmente num momento de retrocesso das políticas de Saúde
Mental, transforma-se numa maquinaria de guerra contra as formas
estabelecidas e também, no mapeamento de forças criativas existentes
no cotidiano que se instrumentalizem na diferença, no encontro, na
multiplicidade.

1331
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Na contramão dos retrocessos na política de Saúde Mental:


a experiência da Escola Livre de Redução de Danos

Janaína do Nascimento Botelho da Silva


Galba Taciana Sarmento Vieira
Faculdade Frassinetti do Recife – Fafire

Introdução: Este trabalho apresenta uma breve retrospectiva desde os


marcos da Reforma Psiquiátrica até os dias atuais, apontando os
retrocessos na legislação referente à Política Nacional de Saúde Mental,
para contextualizar a retirada da estratégia de Redução de Danos e
chegar no objeto de estudo que é o surgimento da Escola Livre de
Redução de Danos, no Recife, que, na contramão do atual contexto
político e social, vem realizando experiências inovadoras que reafirmam,
potencializam e ressignificam a Redução de Danos como estratégia de
cuidado construída por e para usuários de drogas. Objetivo: Este estudo
pretende contribuir para uma melhor compreensão sobre os impactos
éticos políticos da Nova Política de Saúde Mental e a direção estratégica
das mudanças, que implicam retrocesso nas diretrizes da Reforma
Psiquiátrica, e apontar experiências libertárias antiproibicionistas e
antimanicomiais que, na contramão dos retrocessos, tecem estratégias
de cuidado e ampliam o debate sobre as estratégias de resistência ao
desmonte da Política Nacional de Saúde Mental. Metodologia: Com base
em estudo das portarias e decretos pelo governo federal, foram
avaliados os principais documentos normativos que compõem um
conjunto de “reorientações” da política, incluindo alguns
posicionamentos contrários emitidos pela sociedade civil. Foram feitas
analises das experiências da Escola Livre de Redução de Danos e seu
posicionamento ético politico através de analises das divulgações em
páginas e redes sociais, dois momentos de observação participativa e
uma entrevista. Resultado: A análise das informações mostra alguns
efeitos das mudanças na Rede de Atenção Psicossocial, como o

1332
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

incentivo à internação psiquiátrica e ao financiamento de comunidades


terapêuticas, ações fundamentadas em uma abordagem proibicionista
das questões relacionadas ao uso de álcool e outras drogas e a retirada
da Redução de Danos na oferta de cuidados nos dispositivos das RAPS. A
análise dos dados permite afirmar que na cidade do Recife a Redução de
Danos está sendo reafirmada, potencializada e fortalecido seus
princípios por experiências como a Escola Livre de Redução de Danos em
diversas parcerias com profissionais, militantes e outros coletivos de
Redução de Danos, inclusive de outros países da América Latina.
Considerações finais: Podemos avaliar que a Nova Política de Saúde
Mental representa uma reação contrária ao referencial ético, político e
técnico da Reforma Psiquiátrica brasileira, configurando uma
contrarreforma. Os princípios ético-políticos da Estratégia de Redução
de Danos alinham-se aos princípios da Reforma Psiquiátrica, e sua
retirada como estratégia de política pública representa grande
retrocessos no cuidado a usuários de drogas e às conquistas de mais de
35 anos luta pela Reforma. Porém, experiências antimanicomiais e
antiproibicionistas confrontam a imposição ao retorno do paradigma
manicomial, resistindo e potencializando suas práticas.

1333
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Nise da Silveira: entre a experiência e a criação - o que


pode a arte em sua relação com a loucura?

Alex Fabiano Correia Jardim


Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Problematizaremos a obra de Nise da Silveira e sua crítica às instituições


manicomiais. Não obstante, tal crítica nos levará a pensar a noção de
insanidade. O trabalho de Nise da Silveira privilegia não só uma mera
denúncia das condições sociais existentes nos campos de visibilidade da
doença mental: os internamentos e a constituição de um saber médico
que passa a decidir sobre o conceito de anormalidade. Pretendemos
discutir também, os procedimentos de intervenção realizados por Nise
da Silveira e as experiências no campo de arte. Para Nise, a expressão
artística, o afeto, a liberdade, enfim, a criação, caminharão na tênue
linha entre experiência e invenção. Através da arte, da criação artística,
os internos do hospital psiquiátrico encontram no exercício do
pensamento criativo uma maneira de experimentarem uma outra forma
de vida. Uma outra expressão de sua potência. Provocando esse
processo, Nise faz com que cada interno/artista produza um embate
particular com a realidade. E a criação estética se transformará
enquanto condição de possibilidade; movimento possível de construção
de linhas de fuga diante de um universo perturbador e inquietante. O
jogo entre aquilo que é real e o fictício aparece nas obras de arte –
imagens do inconsciente - talvez não como uma estratégia de evasão do
próprio real mas, contrariamente, a ideia seja repetir aquilo que se vive,
buscando na verdade, muito mais semelhanças do que necessariamente
diferenças entre o binômio vida e obra. Essas semelhanças apontam
para uma singular fragilidade de cada interno. Para Nise, cada criação,
de certa maneira, se torna uma maneira de escrever sobre si mesmo.
Um artifício estético para uma outra escrita de si, diferente daquela
dada ou imposta pelos saberes psiquiátricos. Nesse caso, a arte como

1334
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

escrita de si funcionaria como um tipo de “clínica”. A utilização do


recurso artístico como forma de expressão das imagens do inconsciente
não se fechava à mera necessidade de falar de si. Cada pintura, cada
escultura, é uma artimanha, uma estratégia para dar vazão ao fluxo da
experiência-limite. Nise, ao fazer uma genealogia de cada interno – e do
quadro em que a vida de cada interno se encontrava, pensa a loucura e
o que leva alguém a tal condição, ou seja, genealogicamente, não é mais
importante saber o que “eu sou”, mas como eu me constituí enquanto
insano ou doente mental. Para Nise, a criação artística descreve a
loucura como um tipo de linguagem secreta do delírio e a loucura tem o
poder de enunciar esse segredo insensato do homem, suas formas
adormecidas, talvez daí derive o seu perigo. Para a ciência médica, fica o
retrato notório que o louco é apenas uma “coisa” médica. Um rosto
estranho da humanidade. A utilização da dimensão artística e da
capacidade de criação dos loucos não significa, para Nise, que se trata
de uma interiorização ou fuga no mundo. A prática de Nise da Silveira é
profundamente política. Com a arte teremos um mergulho no
inconsciente. É desse mergulho, que cada “louco” fará surgir a
materialidade de todo processo criativo.

1335
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Novas conduções da Reforma Psiquiátrica: dilemas para a superação


do modelo manicomial nos governos Temer e Bolsonaro

Heline Caroline Eloi Moura


Centro Universitário Mário Pontes Jucá - UMJ

Rosa Lúcia Prédes Trindade


Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Introdução: Este trabalho apresenta uma reflexão acerca das


implicações das últimas alterações realizadas na política de Saúde
Mental, especialmente nos governos Temer e Bolsonaro, que trouxeram
o incentivo financeiro no arcaico modelo manicomial. O conjunto de
normatizações lançadas em 2017, no governo Temer, e em 2019, no
governo Bolsonaro (Resolução nº 32, Portaria n° 3.588 e a Lei nº
13.840), redefine a política de Saúde Mental brasileira prevendo leitos
em hospitais psiquiátricos e o incentivo a Comunidades Terapêuticas.
Soma-se a esse cenário a fragilização da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). As mudanças atuais
levam-nos a refletir sobre os dilemas da Reforma Psiquiátrica para
superar o modelo manicomial. Objetivos: Propiciar uma reflexão crítica
acerca das novas conduções da Reforma Psiquiátrica, com ênfase nos
governos Temer e Bolsonaro, e suas implicações para atenção em saúde
mental. Metodologia: A revisão bibliográfica e a análise documental
fundamentaram as reflexões realizadas durante o processo de pesquisa
e subsidiaram na sistematização dos resultados desse estudo.
Resultados/Discussões: O debate acerca do modelo manicomial e suas
implicações para a vida de pessoas com transtorno mental não é recente
na trajetória da saúde mental brasileira. Desde o final dos anos 1970,
trabalhadores, usuários e familiares denunciaram as atrocidades dos
asilos e manicômios, dando início ao longo processo de Reforma
Psiquiátrica a partir de 1980, que põe em questão o modelo manicomial

1336
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e preconiza a desintitucionalização. Constata-se que o fim do modelo


asilar não foi alcançado mesmo com o advento da Reforma Psiquiátrica
impulsionado pelo movimento social que propunha “uma sociedade
sem manicômios”, contudo, desde a aprovação da Lei 10.216 em 2001,
os hospitais psiquiátricos haviam saído do centro dessa política.
Consideráveis avanços são registrados a partir da criação da lei e com a
implantação da RAPS. Ainda assim, as dificuldades de financiamento e
estruturação dos pontos de atenção da RAPS e seu adequado
funcionamento são um desafio para os trabalhadores, usuários e
militantes da Saúde Mental. Isto porque os governos tendem a diminuir
os recursos destinados à rede pública, favorecendo, por sua vez, o setor
privado e o terceiro setor filantrópico. Em 2017 ocorre um
redirecionamento da política por meio da Resolução nº 32 e da Portaria
n° 3.588 promulgadas em 2017, que incluíram na política de Saúde
Mental os hospitais psiquiátricos especializados. Em 2019, o presidente
Bolsonaro sanciona a Lei nº 13.840, que retira a Estratégia de Redução
de Danos e incentiva a ampliação de Comunidades Terapêuticas. As
alterações retrocedem drasticamente nos avanços anteriormente
conquistados, trazendo implicações que ameaçam os direitos da pessoa
com transtorno mental, especialmente no que concerne ao respeito, a
liberdade e a dignidade. Considerações finais: Diante dos ataques que a
política de Saúde Mental tem sofrido com o retorno do modelo
manicomial, consideramos a necessidade de organização e
fortalecimento dos movimentos sociais para atuar de forma estratégica
no enfrentamento aos retrocessos que estão sendo impostos pelos
legisladores.

1337
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O cemitério dos vivos: a reforma e contrarreforma psiquiátrica


e uma análise da luta antimanicomial no Brasil

Fernanda Soares Pereira de Carvalho Silva

O presente trabalho objetivou abordar os movimentos de reforma e


contrarreforma psiquiátrica no Brasil, analisando a organização da luta
antimanicomial desde o seu nascimento e finalizando com as atuais
conjunturas políticas que afetam o seu desenvolvimento. Com a revisão
bibliográfica baseada em anais da Associação Brasileira de Saúde Mental
(Abrasme), utilização do método explicativo, a pesquisa visa expor as
nuances encontradas na histórica construção de manicômios na
sociedade, que possuíam a função de apartar e excluir sujeitos
considerados nocivos ou desvirtuados. No panorama histórico brasileiro,
é possível encontrar a massiva segregação social através de práticas
adotadas por antigos hospitais psiquiátricos, bem como as
determinações políticas apoiadas pelos governos ditos democráticos e
pela própria Ditadura Militar. Através da organização de uma luta em
prol da reforma psiquiátrica, um grupo de profissionais da Saúde Mental
desenvolveu, na década de 1980, o Movimento de Trabalhadores da
Saúde Mental. Assim, nasceu um novo momento em relação ao Estado
brasileiro e a Saúde Mental, oficializado através do Manifesto de Bauru,
documento que legitimou o início da luta antimanicomial. Com o passar
dos anos, o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental foi
ganhando força entre a população brasileira, o que fez com que seus
integrantes mudassem os direcionamentos de seus propósitos: o MTSM
deixou de focar somente na Saúde Mental e iniciou um processo de
aproximação e contestação do cenário governamental, iniciando um
novo momento teórico, político e crítico em relação ao Estado brasileiro
e solícito aos familiares e usuários que gozavam dos serviços. Como
resultados, houve grandes transformações no campo da Saúde Mental,
como os avanços da Lei 10.216/2001, que promoveu legalmente a

1338
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Reforma Psiquiátrica Brasileira. Por outro lado, houve as negativas


implicações da nota técnica 11/2019, emitida pelo Ministério da Saúde,
admitindo desmontes na luta antimanicomial. Portanto, esta pesquisa
teve como objetivo geral discorrer acerca do movimento de reforma e
contrarreforma psiquiátrica, analisando as principais pautas e
necessidades brasileiras. Pretendeu-se também investigar a história da
loucura, o panorama da luta antimanicomial no Brasil e o papel do
psicólogo diante do fazer político.

1339
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O louco como digno de direitos políticos e civis: uma revisão


bibliográfica

Maria de Nazaré Eufrasio Alves


Alyne Alvarez Silva
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG

Marinara Nobre Paiva


Centro de Referência da Assistência Social

Introdução: Diante de um contexto brasileiro, em que o louco era visto


como imoral e indigno de direitos políticos e civis, sendo então negada-
lhe a liberdade de escolha e de ir e vir, houve movimentações de muitas
frentes sociais, especialmente dos trabalhadores, usuários e familiares
da Saúde Mental. Para a consolidação da Reforma Psiquiátrica brasileira,
foi necessário debater questões a fim de tencionar os modelos
normativos de cidadão naquele momento, dando origem a leis e
convenções para proteção de direitos da pessoa com transtorno mental.
Nesse sentido, a Lei da Reforma Psiquiátrica, de 2001, a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), de 2015, e a Convenção Sobre
os Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD), de 2008, surgiram como
norteadoras para os trabalhadores da Saúde Mental. Objetivo:
Entender, por meio da literatura contemporânea, como intelectuais do
campo da Saúde Mental compreendem os direitos civis do sujeito louco
e os modos de garanti-los, bem como problematizar o papel social
desses. Metodologia: Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo
descritiva, em que artigos científicos foram pesquisados a partir da
plataforma de dados SciELO utilizando os descritores “Direitos and
Reforma psiquiátrica”. Os critérios de inclusão foram artigos dos últimos
cinco anos e escritos em língua portuguesa. Resultados/discussões: Os
estudos trazem um cenário produtor de muitas discussões, no qual o
louco não dispunha de expectativa para o gozo da liberdade de escolha

1340
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e, portanto, não era considerado um cidadão livre. Além de que as


realidades a qual os loucos estavam submetidos eram pautadas na
impossibilidade de usufruto à autonomia e ao direito à cidade. A
reforma psiquiátrica diz de um novo olhar para as formas de cuidado,
considerando a produção de saúde um ato político e emancipatório das
pessoas em sofrimento mental. Ademais, tal reforma foi uma proposta
inovadora, política, ética e humanitária à luz da noção da
desinstitucionalização e do reconhecimento social das pessoas em
sofrimento psíquico como cidadãs e sujeitos livre e teve a liberdade e
emancipação política e social como pressupostos para a garantia de
direitos fundamentais. No entanto, concepções pejorativas e deturpadas
em relação ao sujeito louco ainda são recorrentes na sociedade atual,
gerando percalços para o cuidado em rede das pessoas em sofrimento
psíquico, uma vez que a relação social afetiva é imprescindível para o
restabelecimento dos laços comunitários e familiares. Considerações
finais: Muitas tensões têm surgido desde a reforma psiquiátrica, afinal a
garantia dos direitos políticos e civis transcende a esfera biológica e,
portanto, os olhares para o direito ao lazer, à educação e ao trabalho
precisam cada vez mais ser discutidos. Portanto, a figura do louco no
âmbito institucional tem se transformado, pois agora são sujeitos livres
de confinamentos manicomiais, capazes de desenvolver sua autonomia
em conjunto com a rede psicossocial.

1341
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O modelo manicomial e a necessidade de um novo sistema:


desafios para a reforma psiquiátrica no século XXI

Patrícia Martins Mattos


Thalita Calegari
Eduardo Castrillon
Layane Buosi
Centro Universitário de Várzea Grande – Univag

Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre o modelo manicomial,


abordando seu percurso histórico, bem como descrevendo as
conquistas e a importância da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Buscamos
aqui analisar as práticas atuais direcionadas aos portadores de doença
mental, e as contribuições da Psicologia nesse contexto. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica qualitativa, de caráter descritivo e
exploratório. Como resultado dessa pesquisa, pode-se notar que apesar
das lutas, avanços e práticas de um novo modelo manicomial, há ainda
grande semelhança entre as práticas atuais com as antigas, ainda
existindo práticas que reproduzem a exclusão, tratamentos desumanos,
reflexo do isolamento da sociedade que ainda carrega o estigma de
isolar e segregar os que perturbam a ordem e que não se “encaixam”
nas normas sociais impostas. Considerações finais: No que se diz
respeito à segregação de pessoas portadoras de transtornos mentais e
dependentes químicos, entendemos haver uma relação entre as normas
impostas socialmente, de como um cidadão deve se portar diante dessa
imposição, e para aqueles que a essas não se enquadram restam a
segregação e o isolamento. Ou seja, excluímos aqueles que
consideramos desajustados para viver em sociedade. Essa forma de
exclusão e isolamentos se dá principalmente através de internações, da
marginalização que servem apenas para “camuflar” uma realidade onde
os problemas sociais não só existem, mas também precisam de
assistência cada vez mais especializada e humanizada. Pessoas que se

1342
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

encontram em situação de dependência ou de algum transtorno mental


têm direitos de liberdade e socialização, entre outros. A estratégia de
isolamento, em sua maioria, não se refere a uma preocupação com a
saúde física e mental desses indivíduos, mas sim a uma necessidade de
separação destes da sociedade para que não perturbem a ordem, além
do fato que a maioria dessas instituições (comunidades terapêuticas)
não tem uma estrutura adequada para o tratamento dos mesmos. Hoje
a cidade de Cuiabá, Mato Grosso, conta com alguns programas
voluntários voltados a prestar assistência aos sujeitos marginalizados,
mas estes parecem ser totalmente invisíveis tanto para o governo
quanto para uma boa parte da população. Sendo assim, ao mesmo
tempo em que essa população foi destituída de suas “propriedades”,
tendo seus direitos humanos desrespeitados, foram ou visibilizadas
através de um higienização da cidade ou internados para tratamentos
compulsórios em comunidades terapêuticas que que se mantêm, em
boa medida, por verbas governamentais que estariam sendo muito
melhor utilizadas se investidas em Residências Terapêuticas e
qualificação aos profissionais que já prestam serviços aos diversos
serviços de assistência multiprofissional já existentes. Por fim,
ressaltamos que para uma efetiva reabilitação dos sujeitos é necessário
investir em sua integração social, em sua humanização, e não em seu
afastamento e exclusão. Caso contrário, apenas estaremos afastando
para longe dos olhos os problemas que estão abaixo de nossos narizes e
em nada estaremos contribuindo para criação de condições mínimas de
existência e de melhora no bem-estar da população como um todo.

1343
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O que é normal e o que é patológico na experiência? A experiência de


saúde/doença sob o viver de pessoas em situação de rua

Tainara Mafezolli
Carla Cecília Rocha
Carlos Eduardo Máximo
Universidade do Vale do Itajaí– Univali

Introdução: A existência da população em situação de rua não é


estranha a nós, visto que se faz presente no cotidiano das cidades
brasileiras. Esse fenômeno ocorre no Brasil desde que este era uma
colônia, tendo seu início no período em que houve a abolição da
escravidão, levando muitas pessoas que foram escravizadas a viver em
situação de rua já naquele período histórico. Ao viver nas ruas, essas
pessoas vivenciam experiências singulares, sendo estas consideradas
fruto do movimento dialético da própria existência. Objetivo: Este
resumo busca relatar um recorte de uma pesquisa de iniciação
científica, apresentando o que os participantes consideram normal ou
não em suas experiências na vida nas ruas, e as implicações da
patologização social frente aos seus modos de viver. Metodologia: Esta
pesquisa é de natureza qualitativa, exploratória e empírica. Para a coleta
de dados utilizamos a entrevista coletiva, em cinco encontros no Centro
de Referência Especializado para População em Situação de Rua - Centro
POP, de Itajaí/SC, e contamos com a participação de 19 pessoas em
situação de rua, maiores de 18 anos, que acessam o Centro POP. A
análise de dados utilizada foi a análise temática de Minayo.
Resultados/discussões: Os resultados foram organizados a partir dos
discursos e as práticas que explicitam as experiências de saúde/doença
dos participantes frente aos significados de saúde, levando em
consideração o que é considerado por eles normal e o modo como isto
atravessa seus viveres. Eles demonstraram diferentes experiências do
que consideram ter saúde, entre eles realizar exames de laboratório e

1344
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

não confirmar a presença de patologia; não estar acamados; ser


independente; ter um trabalho que possibilite uma rotina; não usar
álcool e outras drogas, enquanto outros trouxeram que fazer o uso
torna eles saudáveis. No entanto, grande parte se identifica como não
sendo uma pessoa saudável, pois apresentam que não reconhecem a
maneira que vivem como dentro do normal. Nas facetas apresentadas,
dizem que eles não têm acesso a alimentação variada, não mantêm
relacionamentos amorosos, ir ao trabalho e ter um local para voltar à
noite, ter uma “vida normal”. Este modo de viver desqualificado pelos
participantes é produto dos discursos da sociedade, que comunica para
eles que viver daquele modo não é normal e que ser saudável é
consequência de uma vida a partir daquilo que está posto pelas normas.
Canguilhem reflete que a saúde perfeita não passa de um conceito
normativo, que apenas desempenha um papel de desvalorizar a
existência para permitir a correção desta. Considerações finais: Os
resultados expõem as características heterogêneas que marcam estas
pessoas, e assim a diversidade de formas de vida que neles existem. Os
participantes evidenciaram diversos sentidos de saúde e doença, em
que maior parte deles não se considera com saúde, visto que a forma
que conduzem a vida está na contramão do que lhes é posto pela
sociedade como normalização da vida. Como tentativa de se aproximar
desta normalização, eles apontam como ter o acesso a alguns bens
materiais, resulta em uma certa inclusão pela sociedade.

1345
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Políticas públicas de saúde em álcool e outras drogas:


revisão integrativa da literatura nacional

Marcelo Henrique Quaglio Marques


Gislaine Pereira de Lima
João Pedro da Silveira Verzola
Vanessa Cristina Machado
Centro Universitário Barão de Mauá

Considerando que o uso de álcool e outras drogas é um comportamento


de início antigo na história da humanidade, e sem indicativos do seu fim
e que o limiar entre ilícito e licito é vago e socialmente construído sem
evidência científica, contribuindo para um problema que compromete
diversos estratos sociais, é mandatória a mudança de perspectiva ao ver
o abuso de álcool e drogas como um problema de saúde pública, com o
envolvimento de diversas esferas políticas e sociais. Portanto, o objetivo
deste estudo foi realizar uma revisão integrativa da produção científica
brasileira publicada em base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS) acerca das políticas públicas relacionadas ao álcool e outras
drogas, selecionando trabalhos que abordassem o uso das referidas
políticas. A intenção foi sintetizar as principais informações contidas nos
trabalhos selecionados e avaliar os resultados obtidos através do
paradigma da atenção psicossocial e das políticas públicas de saúde e
saúde mental. A coleta da amostra foi realizada usando a combinação
dos descritores: políticas públicas de saúde, álcool e outras drogas e
atenção psicossocial. Foram pré-selecionados os textos integrais em
língua portuguesa publicados entre 2010 e 2020. Por meio desse
levantamento chegou-se a um total de 32 trabalhos, distribuídos em
diferentes bases de dados. No entanto, obedecendo os critérios de
exclusão, além de cinco textos repetidos, excluiu-se um texto não
indexado, quatro outras revisões da literatura e 17 que não
correspondiam à temática aqui tratada, totalizando 27 exclusões. Sendo

1346
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

assim, finalizou-se a busca em cinco textos. A partir dos resultados


obtidos nos estudos da amostra revisada foram constituídas três
categorias temáticas. Na primeira categoria, que aponta uma lógica
(jurídica) proibicionista e controle dos corpos através do controle
massivo de substâncias ilícitas e permissividade das lícitas, internação,
abstinência, medicalização e fomento de comunidades terapêuticas. Na
segunda categoria encontrou-se resultados potencializando o Paradigma
de Atenção Psicossocial e as estratégias de redução de danos e
problematizando as diretrizes da Atenção Básica de Saúde e vias de
entrada aos serviços disponibilizados pela RAPS. Em contrapartida, na
terceira categoria encontrou-se dados referentes às políticas públicas e
os desafios como o sucateamento dos serviços, impasses nos programas
e intervenções e qualificação das equipes de atendimento. Assim sendo,
a ausência de critérios na classificação da (i)licitude das substâncias
também colabora para que os indivíduos sejam absorvidos por
instituições desvinculadas da RAPS e há o alerta sobre a centralidade
dos CAPS, quando atuam isolados dos demais recursos da rede,
promovendo atendimento ambulatorial e similar ao do modelo asilar.
Constatou-se um paradoxo onde novas lógicas de cuidado em saúde são
propostas enquanto outras forças atuam para regredir ou manter a
lógica atual, fundamentada na repressão legal e moral, assim como a
necessidade de uma conscientização de todos os profissionais nesta
área quanto às suas ações em favor de uma abordagem psicossocial.
Sem esquecer as estratégias de redução de danos, que se mostram
ativas em movimento de luta por seu reconhecimento de efetividade e
superação dos impasses de ordem política ou como cientificamente
eficazes e ideologicamente necessárias.

1347
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Por que o acolhimento de crianças e adolescentes


em comunidades terapêuticas é ilegal?

Marcelo Dayrell Vivas


Defensoria Pública do Estado de São Paulo

A presente pesquisa buscou analisar o cabimento jurídico do


atendimento de crianças e adolescentes em comunidades terapêuticas.
Essas entidades têm se expandido no Brasil, em especial com incentivo
financeiro do governo federal e a partir de decisões judiciais que
determinam a internação compulsória de crianças e adolescentes. Em
muitas localidades, a internação ou acolhimento é apresentada como
única possibilidade de atendimento, envolvendo, até mesmo, crianças e
adolescentes acolhidos institucionalmente ou em cumprimento de
medida socioeducativa. A Lei nº 13.840/2019 alterou a Lei de Drogas e
estabeleceu a natureza jurídica das comunidades terapêuticas,
definindo-as como entidades de acolhimento e não como
estabelecimentos assistenciais de saúde (VIVAS, 2020). Com base nesta
alteração legislativa, apresenta-se uma reflexão jurídico-normativa
sobre a possibilidade de acolhimento de crianças e adolescentes em
comunidades terapêuticas, utilizando-se dos fundamentos do direito
sanitário (AITH, 2007, 2017; DALLARI, 1988, 2009) e dos conceitos do
direito da criança e do adolescente (ROSSATO et al., 2013; ZAPATA et al.,
2016). Apresenta-se, ainda, a discussão em torno da Resolução do
Conselho Nacional de Política sobre Drogas (Conad) nº 01/2015,
suspensa judicialmente até 2020, assim como a Resolução Conad
03/2020, a qual, assim como a normativa relacionada a adultos, não
pode exceder as limitações legais e resta sujeita ao controle judicial –
em especial quanto a crianças e adolescentes, em que a própria
competência do Conad é questionável. Ao final, conclui-se pela
impossibilidade de acolhimento de crianças e adolescentes em
comunidades terapêuticas – sendo, atualmente, flagrantemente ilegal.

1348
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

São, ainda, apresentadas possibilidades de articulação de políticas


públicas para atendimento das demandas relativas ao abuso de álcool e
outras drogas por crianças e adolescentes (FRASSETO, JIMENEZ, 2015). A
presente pesquisa foi elaborada nos Núcleos Especializados da
Defensoria Pública do Estado de São Paulo e aprovada como tese
institucional no V Congresso Nacional de Defensores Públicos da
Infância e da Juventude, a orientar a atuação de Defensores e
Defensoras Públicas em todo o país.

1349
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Resistências antimanicomiais: Fórum Cearense da Luta Antimanicomial


após a nova política nacional de saúde mental

Cláudia Freitas de Oliveira


Universidade Federal do Ceará– UFC

Introdução: A partir de 2016, o Brasil vivenciou uma série de episódios


de caráter político, midiático e jurídico em que se alicerçava uma nova
ordem no modelo político-econômico. As efervescências dos debates
políticos daquele ano em torno da deposição da presidenta Dilma
Rousseff ancoravam-se sob o questionamento acerca da efetiva
democracia e do estado de direito existentes no país. Naquele
momento, o Brasil enfrentava não apenas conturbadas conjunturas
políticas como inaugurava mudanças estruturais de teor gradativo após
a emergência do governo de Michel Temer ao se evidenciarem novas
relações de força e disputas de poder promovidas por vários segmentos
e setores da sociedade entre os quais na área da saúde e, em particular,
da Saúde Mental.
Objetivos: O presente trabalho, “Resistências antimanicomiais: Fórum
Cearense da Luta Antimanicomial após a nova política nacional de saúde
mental”, visa problematizar como se deram as percepções e resistências
dos movimentos antimanicomiais no Brasil, tendo como ênfase o caso
do Ceará, em relação à implementação da nova política nacional de
Saúde Mental e refletir sobre quais caminhos podem ser trilhados para
se contrapor às dificuldades e aos desafios postos no cotidiano da saúde
mental. Metodologia: Como forma de analisar o processo, o trabalho
propõe, como metodologia, investigar o material documental
(manifestos, matérias de jornal, notas etc.) em torno dos debates e das
ações produzidos e realizados pelo Fórum Cearense da Luta
Antimanicomial, movimento organizado desde 2000, observando suas
estratégias de luta e ação no período de 2016 a 2019.

1350
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Resultados/discussões: As mudanças ocorridas após a deposição da


presidenta Dilma Rousseff na área da Saúde Mental notabilizaram-se,
sobretudo, a partir de dezembro de 2017, quando a Coordenadoria
Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas anunciava a revisão
progressiva e drástica acerca da Política Nacional de Saúde Mental,
Álcool e outras Drogas. De lá para cá, foi publicado um conjunto de
medidas pelo governo federal que, na prática, revoga a Lei 10.216/2001
e ataca, frontalmente, os princípios instituídos pela Reforma
Psiquiátrica. Considerações finais: Tanto a nível nacional como estadual,
a resistência à nova política de Saúde Mental continua a despeito das
dificuldades enfrentadas pelos movimentos sociais. O Fórum Cearense
da Luta Antimanicomial permanece atuante e mantém suas ações
políticas, culturais e sociais em defesa de uma sociedade sem
manicômios.

1351
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Vulnerabilidade, sinônimo da Saúde Mental no Acre

Erika Mesquita
Universidade Federal do Acre – UFAC

As relações entre saúde/doença mental e vulnerabilidade social são


muito complexas e exigem uma série de reflexões e contextualizações
para serem compreendidas de forma que não reproduzam uma lógica
simplista que associa "loucura" e "pobreza" reforçando a estigmatização
e o preconceito com relação à população menos favorecida. O conceito
de vulnerabilidade social surge na relação indivíduo-sociedade
construída com base em relações de poder. De acordo com Ayres
(2006), na saúde o conceito de vulnerabilidade supera o preconceito
fundamentado na identificação de grupos de risco e culpabilização
individual e vincula-se à garantia da cidadania de populações
politicamente fragilizadas na perspectiva dos direitos humanos. Nesse
contexto, a vulnerabilidade pode relacionar-se diretamente à
deterioração de direitos sociais e civis, resultando na fragilização da
cidadania dos indivíduos. A Reforma Psiquiátrica no mundo buscou
justamente trazer essa cidadania que foi usurpada pelos manicômios. A
Reforma Psiquiátrica brasileira também trouxe essa reformulação dos
dispositivos em Saúde Mental com base nos direitos dos cidadãos em
adoecimento mental. Mas, infelizmente, a Reforma Psiquiátrica não
aconteceu em todo o território brasileiro. A implementação de serviços
substitutivos ao modelo manicomial e novas práticas de cuidado aos
usuários de saúde mental estão se constituindo de forma lenta no
estado do Acre. O presente trabalho perpassa os desafios da Reforma
Psiquiátrica no Acre, o qual não se tem implantado residências
terapêuticas, e que muitos profissionais de saúde ainda trabalham sob a
lógica manicomial. Observa-se perante esse panorama e frente a esses
impasses que a vulnerabilidade tanto social como dos serviços em Saúde
Mental perpassa a vida dos sujeitos adoecidos. Este estudo etnográfico-

1352
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

qualitativo foi realizado com abordagem de história oral temática, tendo


como colaboradores portadores de sofrimento mental com internações
no Hospital de Saúde Mental do Acre – Hosmac (aos moldes
manicomiais). Dentre os resultados identificou-se que não há uma rede
de atenção psicossocial bem delineada, além de um matriciamento
inexistente ou pouco efetivo, e como consequência os serviços de saúde
atuam muitas das vezes de forma isolada, comprometendo a qualidade
do serviço oferecido a esta população e aumentando ainda mais a
vulnerabilidade desses sujeitos. Conclui-se que é urgente e necessário
repensar a própria rede de atenção à saúde mental no estado como um
todo.

1353
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

04. Saúde Mental e


interseccionalidade: classe, gênero,
raça e etnia

Saúde e trabalho: repercussões numa catadora de materiais recicláveis

Julia Tocalino Morabito


Desempregada

Introdução: A saúde do trabalhador compreende que o trabalho


representa uma importante instância na patogenia de adoecimentos
que acometem os indivíduos. A psicanálise, neste campo, pode oferecer
muitas contribuições ao olhar para o sujeito do inconsciente na sua
relação com o trabalho. Objetivo: Visando fundamentar melhor o
entendimento e as práticas profissionais do campo da saúde do
trabalhador, este estudo reúne algumas contribuições teóricas, sob o
olhar da psicanálise, a partir do caso de uma catadora de lixo residente
em Curitiba. Os discursos psicanalíticos ainda se ocupam pouco dessa
temática, e, assim, é também na busca de ocupar esse espaço e
demonstrar como o sujeito do inconsciente não pode ser compreendido
sem tratarmos do trabalho que este estudo se edifica. Metodologia:
Como método de investigação adotado neste trabalho tem-se a
pesquisa qualitativa, sendo o eixo de análise o psicanalítico, conforme
anteriormente mencionado. Dessa maneira, além de uma revisão de
bibliografia, fez-se uma entrevista. A trabalhadora entrevistada é uma
senhora residente de uma ocupação em Curitiba que trabalha com

1354
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

reciclagem como catadora há mais de trinta anos. A fim de mobilizar a


organização social de onde vive, a entrevistada é uma das lideranças de
sua comunidade há sete anos, fazendo parte da associação de
moradores. Consequentemente, a catadora é bastante conhecida e ativa
na ocupação, fazendo-se sempre presente nas reuniões, nas atividades
coletivas e de luta por direitos, como regularização fundiária do espaço
que, em parte, está ameaçado por uma ação de reintegração de posse
que no momento tramita na justiça. Dessa maneira, a entrevista
abordou a saúde, o trabalho e o envolvimento militante da catadora.
Discussão: A resistência da trabalhadora, isto é, sua dificuldade em
permitir o acesso ao seu inconsciente, em tratar dos assuntos referentes
à sua saúde, debilitada em consequência do trabalho, foi notória. No
entanto, ao mesmo tempo, a catadora reconhece que através dessa
atividade pôde e ainda continua a ter condições para manter a sua
família. A partir do que emergiu na entrevista com a trabalhadora e por
meio da revisão bibliográfica, pôde-se discutir como do encontro entre o
sujeito e o trabalho desprendem os processos saúde-doença e como o
trabalho também permite um espaço de resistência e de constituição.
Verificou-se que, consoante à revisão de literatura, assim como o
trabalho adoece, ele também pode ser a via que organiza e estrutura a
vida do sujeito, e, por isso, é necessário considerá-lo para compreender
as vivências subjetivas das e dos trabalhadores. Considerações
finais:Não há como pensar em doença e psicopatologia sem levar em
conta o contexto do indivíduo e, portanto, considerando a realidade de
nossa sociedade, o trabalho, uma vez que ele é atribuidor de sentido na
vida. É preciso que a psicanálise se dedique mais ao encontro entre o
sujeito do inconsciente e o trabalho.

1355
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A combinação do confinamento social em


meio à pandemia e o aumento da violência doméstica

Maria Karuline de Sousa Lima


Jordeane Alves de Sousa
Myrlla Marcelly de Barros
Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA

Em consequência da pandemia de Covid-19, o isolamento social foi


firmado como medida preventiva contra o novo vírus que se expandiu
pelo mundo. Devido a isso, as pessoas passaram a permanecer mais
tempo em suas residências. Com essas novas adaptações, os dados
apontam para o aumento da violência de gênero durante a quarentena
vigente, implicando diante disso a necessidade de se articular sobre sua
ocorrência e sobre os fatores que influenciam na sua ocorrência.
Atualmente essa violência contra a mulher é uma situação complicada e
delicada, em suma uma relação em que o sujeito se encontra
arrevesado. Essa violência implica em um acontecimento que se
perpetua no nosso cotidiano, mostrando-se cada vez mais como uma
situação corriqueira. Tal situação configura-se em um problema social
antigo e atual na nossa sociedade patriarcal, podendo ser caracterizada
como uma pandemia que atinge o mundo desencadeando várias vítimas
em todo o mundo. Em virtude da realidade, o referido trabalho tem
objetivado analisar a situação de risco da qual as mulheres estão
vivendo em meio à pandemia mundial ao terem que dividir o mesmo
ambiente com seu agressor. Empregando uma metodologia baseada na
revisão de literatura com embasamento teórico em artigos científicos,
como também em dados apresentados pelos veículos de notícia, tendo
uma seleção dos materiais para melhor estar fomentando e
proporcionando relevância para uma análise focal para tal projeto.
Revelando e ressaltando alguns contornos sociais como o preconceito,
racismo e machismo que vão se correlacionando diante da situação

1356
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diametralmente em oposição ao da mulher branca, que em regra possui


maior poder econômico acompanhado de características construídas ao
longo dos anos como fragilidade, castidade e da imagem de cuidado,
potencializando a desumanização da mulher negra. Essa situação se faz
como uma amostra escancarada de um machismo estrutural que ainda
se predomina na sociedade. Com tal realidade, é necessário evidenciar a
importância de medidas de proteção como leis e mecanismos que
facilitem as denúncias, atuando com eficácia durante esse momento
com o qual a mulher vem tendo que enfrentar em confinamento com a
figura que toma o papel de agressor, lembrando a relevância de se ter
um olhar humanizado sem julgamento perante a vítima.

1357
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A estruturação racista do serviço doméstico e a relação deste com a


subjetividade de trabalhadoras domésticas brasileiras

Leticia Lopes Souza


Jamilly Muniz Evangelista
Yanna Linhares Russo
Universidade Estadual do Ceará - UECE

Ao analisarmos a história do serviço doméstico, constatamos que é


possível fazer um paralelo à organização da profissão em países que
foram colonizados, como os Estados Unidos, Argentina e outros. Nesses
países, a consolidação de um sistema escravocrata assegurou a
sustentação de relações de submissão e subserviência envolvendo
mulheres negras nos diversos contextos que estavam inseridas. Esta
estrutura foi mantida em conjunturas pós-abolicionistas, manifestando-
se principalmente em ambientes domésticos, tipicamente ocupadas por
mulheres - restringidas ao lar e ao cuidado - como observado com as
mucamas no contexto brasileiro, e originando o surgimento do serviço
doméstico de maneira remunerada. Desse modo, o objetivo deste
estudo foi investigar a profissão de doméstica e suas implicações dentro
de uma análise étnica, depreendendo os meios pelos quais o racismo se
estabiliza na criação e manutenção desse ofício e, sob o viés da
Psicologia Histórico-cultural, direcionar como esse sistema
marginalizador prejudica a subjetividade das mulheres negras. Essa
análise foi desenvolvida a partir de uma pesquisa qualitativa de natureza
bibliográfica fundamentada em artigos coletados em bases eletrônicas
de dados, utilizando como principais referenciais teóricos obras de
destaque acerca da temática escolhida, como Grada Kilomba, Hildete
Pereira e Silvio Almeida. Esta pesquisa detém um caráter qualitativo e
explicativo no qual tece uma investigação voltada a identificar quais são
os impactos que se fazem presentes na subjetividade de mulheres
negras que ocupam o ofício de doméstica, sendo esses ocasionados pelo

1358
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

racismo estrutural, a divisão sexual do sistema capitalista e a


precarização notória da profissão. Visando designar o que foi exposto
anteriormente, uma pesquisa bibliográfica foi realizada, utilizando-se
das bases de dados como Google Acadêmico, Pepsic e Scielo,
empregando as seguintes palavras-chave: Empregada doméstica, serviço
doméstico, racismo e subjetividade. Com base nessa investigação, foram
selecionados 10 artigos e 3 livros que promovem discussões e relatos
sobre a temática abordada. Para analisar tais fatores, é necessário
evidenciar seus principais fundamentos, dessa forma abordamos a
estrutura racista na qual as trabalhadoras domésticas estão imersas e
que está intrinsecamente relacionada com a profissão, visto que em
maior número é exercida por mulheres racializadas que ocuparam o
fazer doméstico, agora remunerado, num período pós-abolicionista de
maneira semelhante às criadas em período escravocrata. Além disso,
buscamos analisar as condições de surgimento da profissão e analisar
quais aspectos, legislativos e estruturais, caracterizam, na atualidade, o
serviço doméstico e a posição deste em lugar de subalternidade. Dessa
maneira, é possível reafirmamos que as análises de raça e de relação
trabalhista atuam conjuntamente, e de maneira ostensiva, na
construção de uma subjetividade particular - área que abriga os afetos, a
comunicação e a identidade - a esse grupo de trabalhadoras, que
ocuparam seus atuais espaços pela ausência de oportunidades como
acesso à educação básica de qualidade que melhor as contemplassem,
promovendo a consolidação, de um serviço muitas vezes precarizado e
legislativamente enfraquecido, que perpetua a violação de direitos
através de práticas racistas.

1359
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A relação entre tentativa de suicídio,


sexo e faixa etária em usuários de um CAPS

Francisca Elaine de Souza França


Ângela Maria Alves e Souza
Natasha Bruna Soares Barros
Meireanne Menezes Uchôa
Ingrid Ramanna Félix dos Santos
Universidade Federal do Ceará – UFC

Introdução: O suicídio é realmente o limite do sofrimento psíquico.


Quem nele chega carrega consigo atrozes questionamentos. Além disso,
sua ocorrência incide não somente em todo o círculo de
familiares/amigos, mas em toda a sociedade. Configura-se, sem dúvidas,
um dos maiores desafios enfrentados pela Saúde Pública. Objetivo:
Analisar a relação entre idade, sexo e tentativa de suicídio em usuários
de um CAPS. Métodos: Trata-se de um estudo transversal com
abordagem quantitativa de cunho descritivo, que aplica avaliação
diagnóstica-epidemiológica e histórica de pacientes atendidos no Centro
de Atenção Psicossocial - SR III do município de Fortaleza entre os anos
de 1998 e 2018. O presente estudo analisou 413 prontuários
procedentes deste serviço, tais dados são parcela da pesquisa intitulada
“Percursos históricos e epidemiológicos da assistência à Saúde Mental
em 20 anos de existência do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS Geral
da SR III / Ceará/Brasil - 1998-2018”, que possui um universo estimado
em 2.329 prontuários. As informações a serem abordadas neste
trabalho foram coletadas e analisadas no período de setembro a
outubro de 2020. Para armazenamento e análise das mesmas foi
utilizado o programa Epiinfo versão 7.4. Resultados: Constatou-se por
meio dos 413 prontuários que 243(58,84%) usuários eram do sexo
feminino e 170 (41,16%) do sexo masculino, com idades entre 14 e 89
anos e 2 não possuíam a data de nascimento. Dentre eles, apenas

1360
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

261(63,19%) continham informação sobre tentativa de suicídio. Sendo


assim, 175(36,81%) informavam a não tentativa de suicídio, enquanto se
verificou que em 45(10,89%) documentos havia o registro de uma
tentativa, em 41(9,92%) deles >1 tentativa era descrita. No que se refere
às mulheres, 107(25,90%) nunca tentaram suicídio, 25 (6,05%) tentaram
uma vez, 25(6,05%) tentaram >1 vez e em 86(20,82%) prontuários não
havia informação. Em relação aos homens, 68(16,46%) nunca tentaram
suicídio, 20(4,84%) tentaram uma vez, 16(3,87%) tentaram >1 vez e em
66(15,98%) prontuários não havia informação. Por fim, entre os
adolescentes (14 a 17 anos), nenhum tentou suicídio, entre os adultos
(18-59 anos), 41 (9,92%) tentaram uma vez e 39(9,44%) >1 vez, e entre
os idosos (>59 anos) 5 (1,21%) tentaram suicídio uma vez e 1(0,24%) > 1
vez. Conclusões: Diante da análise dos dados podemos perceber que há
relação entre suicídio, sexo e faixa etária. A maior demanda do Centro
de Assistência Psicossocial é do sexo feminino. Constatou-se também
que é de suma importância o registro de tentativa ou não de suicídio,
tendo como ausente a informação em 36% dos prontuários, o que
dificulta a busca dos dados. Dentre os que contém o registro de
tentativa de suicídio uma vez ou mais, em sua maioria eram adultos do
sexo feminino. Diante desses dados, é preciso se atentar para o cuidado
com mulheres adultas que buscam atendimento no CAPS, visto que o
número de tentativas de suicídio é maior nesse grupo, porém, sem
negligenciar os demais. Registrar sempre as informações acerca deste
aspecto do paciente é essencial, para que a equipe possa fazer um plano
terapêutico individual e eficaz.

1361
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Saúde Mental de pessoas quilombolas no Sul do Brasil:


preconceito e indiferença

Taís Alves Farias


Michele Mandagará de Oliveira
Liamara Denise Ubessi
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL

Introdução: As comunidades quilombolas possuem grande


vulnerabilidade social, principalmente em relação aos cuidados à saúde.
Esse processo atinge suas vidas significativamente, já que são
acometidos por diversas situações no processo saúde-adoecimento e
não recebem ações de prevenção, promoção e atenção à saúde
conforme suas necessidades. Além disso, tendem a ser afetados na
saúde mental por preconceitos devido à sua etnia, ruralidade e até
mesmo escolaridade, que de certa forma acaba interferindo na
subjetividade com a produção de sofrimento. Objetivo: Relatar a
interferência do preconceito na saúde mental de uma comunidade
quilombola. Metodologia: Trata-se do recorte de monografia realizada
por acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Pelotas, intitulada “Condições de saúde de uma comunidade quilombola
do interior do Rio Grande do Sul”, junto a 24 moradores em uma
comunidade quilombola localizada no interior do município de
Piratini/RS, no ano de 2018, através de entrevista semiestruturada. A
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
de Enfermagem UFPel sob parecer número 2.619.569.
Resultado/Discussão: Conforme os relatos dos participantes
quilombolas, observa-se como sofrem com a diferenciação imposta por
pessoas de fora de sua comunidade, causando tristeza, indignação e
sofrimento. É nítida a falta de apoio ao acesso facilitado a serviços de
saúde que possibilitem a recuperação e entendimento das mais diversas
formas de preconceitos sofridos. Torna-se mais difícil enfrentar suas

1362
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

realidades e lutar por sua recuperação. Fala-se muito em preconceito


racial, porém essa comunidade também é impactada pela baixa
escolaridade que os priva de informações importantes e pela suas
especificidades, por se concentrarem em localidade rural, vivendo de
forma simples e cultural. Muitas vezes são desrespeitados por pessoas
que não convivem com suas realidades, causando alguns problemas
psicológicos como episódios depressivos, ansiedade e tristeza. O
preconceito impregnado na sociedade atinge diversificadas populações,
o racismo, a desigualdade social e a falta de acesso a informações
adoecem a sociedade diretamente, pois acaba ferindo seus
protagonistas, causando prejuízos na saúde dos atingidos por essas
agressões relacionais e sociais. Considerações finais: Os resultados
demonstraram que deve ocorrer um resgaste desse grupo populacional
e fornecer acesso a serviços de saúde facilitado para permitir que
traumas causados por algum tipo de preconceito não prejudiquem a
saúde mental destas pessoas. A população quilombola possui
fragilidades em seus aspectos de cuidados à saúde, que não são
questionados por outras comunidades justamente pela falta de
conhecimento dos fatos. É inaceitável a invisibilidade de pessoas
quilombolas que são a história viva do Brasil com seus saberes
populares e culturais.

1363
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A(s) sexualidade(s) de usuários(as) de serviços de saúde mental:


concepções presentes nas produções científicas

Lina Ferrari de Carvalho


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Jeane Félix da Silva


Universidade Federal da Paraíba – UFPB

A Saúde Mental é um campo complexo e plural, composto por uma rede


de saberes que envolvem diversas áreas do conhecimento, contribuindo
para pensar os fenômenos de adoecimento psíquico a partir de
perspectivas plurais e diversas, rompendo com o paradigma de verdade
universal. Entretanto, apesar dos avanços históricos nesse campo e
transformações do lugar da loucura na sociedade, questões como a
sexualidade das pessoas em sofrimento psíquico e usuárias de serviços
públicos de atenção psicossocial foram invisibilizadas, tendendo a um
silenciamento e consequente negligência acerca dos direitos
reprodutivos e sexuais dessas pessoas. Percebe-se que há uma escassez
de trabalhos científicos e questões que levem em conta tal problemática
dentro desse campo, bem como lacunas nos próprios documentos
oficiais que norteiam as políticas públicas de atenção psicossocial.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo analisar as concepções
acerca da(s) sexualidade(s) dos(as) usuários(as) de serviços de saúde
mental existentes nas produções científicas nos últimos dez anos, no
campo da Psicologia. A pesquisa em questão é do tipo qualitativa,
caracterizando-se como uma pesquisa documental, realizada através de
uma revisão sistemática. Como resultados foram selecionados 11
trabalhos, sendo 6 artigos, 4 dissertações e 1 tese. Esses trabalhos foram
analisados a partir três eixos, a saber: Eixo 1: Rastros higienistas e
tentativas de rompimento: a(s) sexualidade(s) como dispositivo
histórico; Eixo 2: Gênero e sexualidade: articulações possíveis entre luta

1364
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

antimanicomial e feminismo(s); Eixo 3: Psicologia(s): (Re)afirmando


posicionamentos e compromissos ético-políticos. Os trabalhos
encontrados apontam para a compreensão da sexualidade como uma
construção social, sendo considerada como um direito, para um lugar
invisibilizado da sexualidade das mulheres usuárias dos serviços de
saúde mental e para os compromissos ético-políticos, de
pesquisadores(as) do campo da Psicologia, com o tema em questão.
Assim, embora o número de produções encontradas sobre essa
temática na área da Psicologia tenha sido pequeno, os trabalhos trazem
grandes contribuições em nível de relevância científica e social,
demonstrando reflexos de um processo histórico de tentativas de
rompimento com tradições higienistas, evidenciando um cenário de
muitos desafios a serem enfrentados no campo da Saúde Mental,
principalmente quando se trata da sexualidade e gênero nesse contexto.
Logo, apesar desses desafios, houve a presença de análises críticas
nessas produções científicas que se propuseram a refletir novas
articulações teóricas e práticas com intuito de transformar tal realidade,
tendo em vista a diversidade humana e a garantia dos direitos humanos,
em específico, os direitos reprodutivos e sexuais. Foi percebidatambém
a necessidade da utilização dos pressupostos feministas no campo da
Saúde Mental, bem como a potência do encontro entre a luta
antimanicomial e o movimento feminista no processo histórico de
reforma psiquiátrica brasileira e transformação social para provocar
algumas mudanças no modo como o tema tem sido abordado.

1365
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Adolescência e saúde mental: demandas e desafios

Raquel Cristina Braun da Silva


Fabiane Ferreira da Silva
Universidade Federal do Pampa – Unipampa

A adolescência pode ser entendida enquanto uma construção discursiva,


social e histórica, produzida na e pela cultura, através das relações entre
os indivíduos e a sociedade em que estão inseridos. Não é, portanto,
uma fase natural, universal e biológica. Na adolescência são
intensificados os discursos e intervenções com foco na promoção de
saúde e prevenção de doenças, sendo mais prevalente a discussão da
saúde sexual e reprodutiva, com a prevenção das infecções sexualmente
transmissíveis e da Aids. Quando o foco é na saúde mental de
adolescentes, as abordagens tendem a ser voltadas à prevenção do
suicídio e também do uso de substâncias psicoativas. Nesse sentido,
objetivamos conhecer e problematizar as percepções de adolescentes
sobre a vivência da adolescência e as relações com a sua saúde mental.
Essa pesquisa situa-se teórica e metodologicamente no campo dos
Estudos Culturais e de Gênero, em interface com a Saúde Coletiva, em
uma perspectiva pós-estruturalista. É parte de uma dissertação de
mestrado cujo projeto, em sua totalidade, investigou as percepções de
adolescentes sobre adolescência, saúde e direitos sexuais e reprodutivos
e utilizou para a produção dos dados a técnica de grupo focal com
adolescentes, de idades entre 15 e 18 anos, que estivessem cursando o
ensino médio em duas Escolas Públicas de Ensino Médio do município
de Uruguaiana, Rio Grande do Sul. O grupo focal foi sistematizado em
quatro encontros, que tiveram registro de áudio e vídeo, e foram
transcritos e analisados de acordo com o referencial teórico e
metodológico. Apresentaremos os resultados produzidos em uma das
escolas, através dos encontros um e dois, que objetivaram discutir a
adolescência e a saúde, respectivamente. Participaram do grupo focal

1366
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sete adolescentes, todas do gênero feminino, oriundas de classes


populares, e em sua maioria autoidentificadas como negras e pardas. A
adolescência foi apontada como uma fase complicada de suas vidas,
associada à baixa autoestima, desconfiança, redução do círculo de
amigos e ao desenvolvimento de transtorno de ansiedade e depressão,
que podem ser relacionados com a socialização de gênero e a vivência
de violências. Elas relataram não buscar ajuda profissional ou
tratamento para suas demandas de saúde mental, sendo o medo do
estereótipo de “loucas” e o preconceito os fatores dificultadores do
cuidado em saúde mental. Aquelas que buscaram ajuda relataram ter
dificuldades de serem ouvidas e terem suas demandas creditadas por
parte da(o) adulta(o) de referência. Evidencia-se a necessidade da
ampliação do entendimento da adolescência para além do discurso
biológico, considerando as demais questões que a constitui. É preciso,
ainda, ampliar a abordagem em educação em saúde com adolescentes,
com vistas a abranger as questões de gênero e de saúde mental de uma
maneira menos prescritiva e medicalizada, através da realização de
atividades e da discussão de temáticas que estejam atentas às
demandas dos indivíduos e sejam redutoras das desigualdades e
preconceitos.

1367
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Arte musical feminista: perspectivas de gênero e


seus atravessamentos na saúde mental

Flávia Marina da Silva Lopes


Flávia Fernandes de Carvalhaes
Universidade Estadual de Londrina - UEL

Noções hegemônicas e subalternas de gênero se produzem em meio a


um conjunto de dispositivos tecnológicos e midiáticos, que interferem
na (re)produção de noções de masculinidade e feminilidade. Tendo a
cartografia como proposta metodológica, esta pesquisa de iniciação
científica em andamento busca analisar enunciados que circulam nas
entrelinhas de músicas escritas e interpretadas por mulheres que se
autodenominam feministas. Em diálogo com o campo dos estudos de
gênero pós-identitários, engendrado pela teoria queer, a música é
localizada na presente pesquisa a partir da análise de Teresa De Lauretis,
ou seja, como tecnologia de gênero que opera na edificação e na
desestabilização da ordem dos gêneros, bem como em diálogo com a
perspectiva de mídia radical proposta por Jown Downing. De Lauretis
discorre sobre as noções de feminilidade e masculinidade que são
(re)produzidas nas várias tecnologias (como linguagem, imagem, mídia
etc.) e atravessam, incessantemente, os corpos com inscrições de
gêneros. Já a definição de mídia, trazida por Downing, convoca a pensar
que se refere a tudo o que comunica, sendo que o autor localiza a mídia
radical como comunicação entre pessoas ativas, que se expressam à
revelia do ideal hegemônico. Assim, a mídia radical também se articula
como tentativa de garantia de direito à comunicação, que perpassa,
necessariamente, pelo direito à dignidade e à cidadania. Dentre os
modos de comunicar, a música, nesta potência de desestabilização e
criação, produz fissuras na estrutura branca cisheteropatriarcal. Nesse
sentido, a noção de interseccionalidade, tal como discutida por Carla
Akotirene, configura-se como ferramenta analítica para entender como

1368
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

os corpos vivenciam diferentes perspectivas de gênero, que estão


interseccionadas a outros marcadores sociais de diferença (raça, classe,
faixa etária, etnia), produzindo modos plurais de subjetivação. Assim,
reflete-se como tanto a música, quanto o gênero, são campos
discursivos constituídos por múltiplas forças que coexistem em disputa.
Conclui-se, provisoriamente, que a arte musical, apesar de, por vezes,
ser capturada pela indústria cultural, promove também encontros que
possibilitam experimentações diversas e que colocam em circulação
novas possibilidades de vida. Tais expressões engendram práticas de
cuidado de si e do outro e sensibiliza-nos para as potências de afetação
da arte. Perceber as perspectivas de gênero que se produzem nos
corpos também nos convoca a pensar como estas afetam e atravessam
noções de saúde, bem como as maneiras de cuidado que estão em
circulação. Nesse sentido, esta pesquisa expõe o desafio do cuidado em
saúde mental em seu caráter político e instiga os profissionais a olharem
e se implicarem em práticas que possibilitem encontros e produzam
fissuras na estrutura branca cisheteropatriarcal que atravessa, também,
os serviços e o trabalho em saúde.

1369
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As cores da loucura no Rio de Janeiro Imperial (1844–1888)

Michelly Vieira da Silva


Maria Renilda Nery Barreto
Centro Federal de Educação Tecnológica - Cefet/RJ

Esta pesquisa se situa no campo da história da assistência à saúde


mental do negro no Brasil Imperial e tem como propósito investigar o
perfil da população negra atendida no Hospício Pedro II na segunda
metade do século XIX, entre os anos de 1844 e 1888. O objetivo desta
investigação é mergulhar nos estudos de casos desse segmento
populacional, percorrer suas histórias de adoecimento e, a partir delas,
traçar um perfil dessa população: quem era, como era atendida, qual
era a sua condição jurídica, qual a idade e o sexo dos doentes, a sua
origem, o seu ofício, como chegavam ao hospício, qual era o índice de
alta e de mortalidade dentro do espaço de internamento. As principais
fontes utilizadas são os arquivos médicos de pacientes negros
internados na instituição nesse período, os quais são, geralmente,
compostos pelas fichas de entrada dos pacientes e documentos anexos,
tais como atestados médicos, pedidos de internação provenientes de
órgãos como a polícia e as forças armadas, cartas de alforria, entre
outros. Esses arquivos fazem parte do acervo custodiado pelo Instituto
Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (IMASNS). Como
resultado parcial podemos afirmar que a maioria dos negros internados
no hospício era do sexo masculino, de nacionalidade brasileira, solteira,
com profissão definida e idades entre 16 e 90 anos. 43% deles eram
negros cuja condição jurídica era definida como livre, enquanto os
libertos apareciam em menor número e representavam 26% das
internações. Ambas as condições jurídicas citadas eram identificadas,
em sua maioria, como internos na classe de indigentes. Os negros com
condição jurídica apontada como cativa representavam em torno de
31% dos dados colhidos e estavam, em maior parte, internados na 3ª

1370
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

classe do hospício. Esse estudo traz contribuições para o conhecimento


da história da assistência à saúde dessa parcela da população. Podemos
considerar que tanto a historiografia da saúde da população negra,
quanto a historiografia da escravidão, no Brasil, reúnem pouco material
acerca dos estudos sobre a alienação do negro. Dessa forma, ao se
debruçar sobre a construção do perfil da população escrava, liberta e
livre atendida no Hospício Pedro II, intencionamos contribuir para uma
historiografia recente que atribui visibilidade social e histórica à
assistência prestada à saúde do negro.

1371
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Atenção Básica e saúde mental da mulher negra

Maísis Santos do Rosário

Este resumo apresenta o relato de pesquisa bibliográfica que tem como


objeto compreender o racismo e sexismo institucionais como
determinação do acesso das mulheres negras com transtornos mentais
aos serviços de Atenção Básica à saúde em Salvador. O resultado desta
investigação será apresentado no Trabalho de Conclusão de Curso em
Serviço Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A
questão/problema da pesquisa indaga se o racismo institucional dificulta
o acesso das mulheres negras portadoras de transtorno mental na
Atenção Básica. Como hipótese norteadora afirma-se que condicionados
pelo racismo estrutural e as relações de gênero, os serviços de Atenção
Básica à saúde não garantem equidade no atendimento às mulheres
negras portadoras de transtornos mentais. O racismo estrutural afeta
mulheres e homens negros de forma distinta dos grupos não
racializados. Adoecer, ter acesso aos equipamentos de saúde e garantir
um cuidado integral à saúde está diretamente ligado à condição racial,
social e de gênero. Para tanto, tem-se como objetivo geral realizar uma
revisão sistemática da bibliografia nos principais periódicos, livros e
coletâneas na área do Serviço Social, que abordem a Atenção Básica em
diálogo com outras produções bibliográficas no campo da saúde mental
e da saúde da população negra no período de 2010 a 2020, que
corresponde ao ano de implementação da Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra (PNSIPN) até o momento atual. O método
que orienta a investigação é o materialismo histórico e dialético. A
escolha teórico-metodológica se ancora na historicidade do objeto, da
implicação da pesquisadora com o tema e das sucessivas aproximações
com a realidade. Esta opção metodológica pressupõe a adoção da
revisão bibliográfica que aborde a Atenção Básica e o campo da saúde
mental com recorte de gênero, raça e classe. No momento, a

1372
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

investigação encontra-se na fase exploratória privilegiando o


levantamento e leitura de seis periódicos de Serviço Social, classificados
como Qualis A1 e A2 para aprofundamento do tema proposto. A revisão
sistemática da bibliografia se dará em cinco fases: a primeira fase
consiste no acesso on-line dos periódicos de grande circulação na área
do Serviço Social para levantamento de artigos que abordam a política
saúde mental e as questões de gênero, raça e classe. Posteriormente,
livros e coletâneas. A segunda fase corresponde à leitura exploratória
para verificação dos dados selecionados do estudo. A fase seguinte
identifica se os marcadores de raça, gênero e classe são determinação
da saúde das mulheres negras com transtornos mentais nos trabalhos
que contemplem os objetivos da pesquisa. A quarta fase enseja estudo
crítico do material orientado por critérios determinados a partir do
ponto de vista do (a) autor (a) da obra, tendo como finalidade ordenar e
sumarizar as informações ali contidas e destacar a relação da saúde
mental com a Atenção Básica. A quinta e última fase se voltará para a
análise bibliográfica entre os estudos sobre saúde mental, Atenção
Básica e racismo e sexismo institucionais que afetam as mulheres negras
com transtorno mental na garantia de seus direitos à saúde. Os
resultados e conclusões encontram-se em andamento.

1373
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Atenção em saúde ao HIV/Aids: discussões sobre gênero e sexualidade


e desafios para a integralidade do cuidado

Erika Carla de Sousa Ramos


Guilherme Augusto Souza Prado
Universidade Federal do Piauí – UFPI

No momento em que a Aids aparece como doença inicia-se uma


problematização acerca de como deve se pautar a abordagem da saúde
na promoção, prevenção e tratamento, entendendo serem as medidas
focadas na ideia de risco, em que são trabalhados conceitos ligados à
centralidade na doença, insuficientes e causadoras de medo e estigma
na população. Sendo assim, com o intuito de superar esta concepção, a
assistência em saúde deve se atentar para os diferentes determinantes
sociais, entendendo questões de gênero como condicionantes do bem-
estar e adoecimento. Nesta pesquisa, se objetiva compreender e extrair
a concepção de identidade sexual inerente aos documentos normativos
da assistência e prevenção em HIV e Aids na saúde pública no Brasil
colocando-a em perspectiva crítica com as teorias pós-feministas de
performatividade de gênero, a fim de problematizar a noção de
sexualidade como construção política e social. Como metodologia nos
pautamos na perspectiva genealógica, que visa percorrer e colocar em
questão as práticas a partir das diferentes linhas de força que as
compõem. Com ela, almejamos uma análise ético-política das práticas
prescritas nos documentos normativos dos serviços de assistência em
HIV/Aids que institucionalizam uma política identitária de subjetivação a
partir de características da sexualidade e reproduzem as dinâmicas de
gênero de nossa sociedade que estruturam em termos políticos e
econômicos a disseminação do HIV. O caminho percorrido através da
pesquisa atravessou a sexualidade enquanto narrativa necessária para a
compreensão da problemática HIV/Aids. Sendo assim, a análise dos
documentos seguiu eixos de problematização conforme o seguimento

1374
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

das leituras e discussões. As diretrizes demonstram obedecer a


pressupostos heterossexuais e masculinos de dominação, na qual as
interações que transgridem a norma imposta aparecem pouco
trabalhadas nos documentos. Esta lógica, presente nas primeiras
normativas, começa a ser problematizada, atestando a multiplicidade
das interações sexuais, dando visibilidade a segmentos antes
marginalizados. Este movimento é marca de conquistas de movimentos
de luta através dos direitos das pessoas que vivem com HIV/Aids, além
das lutas LGBTQ+ e feministas, que contribuem para a modificação das
estruturas dominantes ao tratar do direito à cidadania, e conforme
análise desta pesquisa, o direito à saúde. Destarte, a assistência em
HIV/Aids deve entender a sexualidade de forma múltipla, contemplando
as diversas interações sexuais e buscando a superação de modelos
heteronormativos. Isto envolve a abertura para se pensar identidades
postas historicamente às margens como possuidoras do direito integral
do acesso à saúde, ou seja, pensar as demandas da população atendida
em interface com questões de gênero, raça e classe.

1375
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Avanços e limites nas práticas de cuidado às mulheres em sofrimento


psíquico na RAPS: uma análise crítica de literatura

Bruna Bones
Melissa Rodrigues de Almeida
Universidade Federal do Paraná – UFPR

Introdução: As mulheres em sofrimento psíquico destinadas aos


dispositivos de saúde mental, notadamente os hospitais psiquiátricos,
no último século, sofreram toda forma de violência. As internações
psiquiátricas, avalizadas pela medicina e psiquiatria, serviram à tutela e
punição aos comportamentos indesejáveis à ordem capitalista,
patriarcal e racista. Assim, mulheres pobres, negras, lésbicas, bissexuais,
que perdiam a virgindade e/ou engravidavam antes do casamento, as
renunciadas pelo marido, as que queriam se apropriar da própria vida
ou da vida pública, as tristes demais, as felizes demais, entre outras,
enchiam os pátios e celas dos manicômios. Desde as teorias eugenistas
até as biomédicas, evidencia-se a opressão às mulheres com teses como
a da mulher como portadora natural da degeneração ou da fisiologia
feminina predispondo a problemas de saúde mental. As teorias e
práticas manicomiais, portanto, serviram e servem à repŕodução das
relações de poder e opressão às mulheres, com a naturalização de seu
sofrimento, que tem origem nas relações sociais de exploração e
opressão. Junto a movimentos sociais como o feminismo e movimento
negro, a luta antimanicomial ganha fôlego nos anos 1970 e culmina com
o marco jurídico da Reforma Psiquiátrica Brasileira, a Lei 10.246 de
2001. Ela redireciona o modelo assistencial privilegiando o cuidado em
liberdade em serviços territoriais. Objetivo: Essa pesquisa tem como
objetivo investigar os avanços e limites nas práticas de cuidado às
mulheres em sofrimento psíquico atendidas na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS). Metodologia: Trata-se de uma pesquisa em
andamento, de análise crítica da literatura publicada sobre o tema,

1376
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desde a aprovação da lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira em 2001. Foi


utilizado o Portal de Periódicos Capes para levantamento das
publicações, com estratégia de busca que combinava os termos
“mulheres” (e correlatos) e “serviços de saúde mental” e correlatos.
Utilizou-se como filtros artigos revisados por pares, com acesso ao texto
completo, em português e referentes ao Brasil. Obedecendo os critérios
de inclusão e exclusão, com base na leitura dos resumos e textos
parciais das publicações resultantes da busca, obteve-se 54 artigos que
compõem a base para análise deste trabalho. Os artigos estão sendo
lidos e categorizados a partir de alguns eixos temáticos, buscando
confluências e discrepâncias entre autores, elucidando lacunas e
entraves teóricos. Resultados/Discussões: De forma preliminar, foi
possível agrupar alguns eixos temáticos, como violência de gênero;
corpo e sexualidade; direitos da mulher; grupos específicos (gestantes,
presas, quilombolas); redes comunitárias e participação social;
prevalência e tratamento de transtornos mentais e uso de substâncias.
Ainda que avanços sejam notáveis, a lógica manicomial parece
permanecer, coexistindo com novas e antigas formas de violência de
gênero, raça e classe. Considerações finais: Tendo como referencial a
matriz de processos críticos de Breilh e a teoria feminista marxista, a
análise crítica buscará identificar os processos críticos protetores e os
processos críticos destrutivos relacionados às práticas de cuidado às
mulheres nos diversos dispositivos da RAPS, assim como relacioná-los
com a atual conjuntura política, econômica e social brasileira e suas
repercussões sobre a saúde mental.

1377
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Branquitude e racismo estrutural: os atravessamentos


da colonialidade na atuação da Psicologia brasileira

Martha Carvalho
Cristiane Moreira
UCP

O racismo e a luta antirracista vêm ganhando mais destaque nos últimos


tempos devido às lutas dos Movimentos Negros frente às constantes
opressões, abusos e silenciamentos sofridos pela população negra no
Brasil desde a colonização. A presente pesquisa teve como objetivo
geral o delineamento sócio-histórico dos privilégios materiais e
simbólicos das pessoas brancas oriundos da manutenção do racismo e
seus impactos nas subjetividades brasileiras, de modo a compreender os
dispositivos mentais e sociais responsáveis pela perpetuação de
comportamentos opressores e segregatórios. Para tanto foi realizada
uma revisão narrativa bibliográfica, a partir da leitura de inúmeros
artigos e livros de diversos autores dos Movimentos Negros, da
sociologia e da Psicologia Crítica, tais como: Lélia Gonzales, Carlos
Hasenbalg, Sueli Carneiro, Claudia Pons, Maria Aparecida da Silva Bento,
Lia Vainer Schucman, Ana Bock, Martin Baró, Lourenço Cardoso, Aníbal
Quijano, Nelson Maldonado-Torres, Ramón Grosfogel, Joaze Bernardino-
Costa, Nilma Lino Gomes, entre outros. Os resultados da pesquisa
apontaram que, embora constitucionalmente pessoas negras e brancas
sejam descritas como iguais, a lógica colonialista, que segrega,
estereotipa e subjuga os povos nativos, os negros e as mulheres, ainda
permeia a sociedade brasileira, perpetuando o privilégio branco por
meio do silenciamento dos povos negros, tanto pelo apagamento de sua
memória, quanto pela opressão sistemática de pessoas negras no país.
Conclui-se então ser necessário que a Psicologia, enquanto ciência
responsável pelo estudo do comportamento e dos processos mentais
humanos, identificando tais dispositivos de controle e opressão,

1378
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

potencialize a luta antirracista estando comprometida com a construção


de uma sociedade decolonial. Buscando empoderar e instrumentalizar
pessoas em suas lutas. Uma Psicologia que cumpra o seu papel e não
permita que preconceitos, discriminações e estereótipos sejam
naturalizados, que não compactue nunca mais em sua história com a
exclusão e o silenciamento daqueles que se recusam a aniquilar sua
existência em prol dos desejos da elite.

1379
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Caracterização de crianças e adolescentes negros usuários


de um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil

Lara Simone Messias Floriano


Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG

Anaísa Cristina Pinto


Sônia Barros
Universidade de São Paulo – USP

Luís Eduardo Batista


Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Este estudo utiliza o quesito raça/cor dos usuários como categoria de


identificação das crianças e adolescentes atendidas em um Centro de
Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSij) da Brasilândia, na região
norte do município de São Paulo. A partir da descrição e análise do perfil
dessa população e do pressuposto de que os efeitos psicossociais do
racismo, da exclusão e da segregação social causam impactos
significativos na saúde das pessoas, objetivou-se identificar e analisar,
numa perspectiva racial, o perfil das crianças e adolescentes atendidas
em um CAPSij. Como métodos, adotou-se uma abordagem quantitativa,
descritiva. A coleta de dados foi realizada entre 1º de abril e 31 de maio
de 2019. Utilizou-se um roteiro padronizado dividido em: (1)
identificação da criança/adolescente; (2) dados clínicos do usuário; e (3)
identificação da família do usuário. As variáveis analisadas foram:
raça/cor; sexo; inserção na escola; escolaridade; trabalho infantil;
hipótese diagnóstica; medicamentos psiquiátricos em uso; menção a
técnicos de referência; parceria com a unidade básica de saúde (UBS);
internações psiquiátricas prévias ao tratamento no CAPSij; internações
psiquiátricas durante o tratamento no CAPSij; e Projeto Terapêutico
Singular (PTS). Analisaram-se 387 prontuários de crianças e adolescentes

1380
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

usuários ativos do CAPSij. Todas as variáveis foram analisadas segundo


raça/cor com auxílio do software R3.5.1 (R Core Team, 2018). As
variáveis contínuas foram descritas por médias e desvios-padrão e o
teste de hipótese utilizado foi o T-Student. Os aspectos éticos foram
respeitados. Os resultados apontaram 186 (48,1%) crianças identificadas
como brancas, 157 (40,6%) pardas, 40 (10,3%) pretas, quatro (1%)
amarelas e nenhuma se autodeclarou indígena. O destaque é a não
declaração do dado de raça/cor, ou a falta de preenchimento, por
qualquer motivo, pelos profissionais do serviço, que cria um
distanciamento da realidade dos usuários e de suas subjetividades,
vulnerabilidades e desigualdades de ordem estrutural e de sujeito com
transtorno mental. Concluiu que apesar de a sociedade civil demandar
que a política de saúde mental inclua o racismo como determinante do
sofrimento mental, as informações descritas nos prontuários dificultam
a estruturação de propostas para aprimorar a política de saúde mental e
a realização de estudos sobre os efeitos psicossociais do racismo.

1381
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Configuração das redes de atenção em saúde mental dos professores


da educação infantil no extremo oeste de Santa Catarina

Lisandra Antunes de Oliveira


Psicóloga

Kauana Radaeli Ortigara


Kelin Moschen
Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc

As inovações no campo da saúde e da saúde mental, com a implantação


do Sistema Único de Saúde e a Reforma Psiquiátrica, trazem novas
exigências aos profissionais destas áreas, tanto no que se refere ao
cuidado do usuário, como à organização e gestão dos serviços. Neste
contexto, a construção do conhecimento aliado à pesquisa tem um
papel fundamental para a busca de aperfeiçoamento na gestão e
qualificação dos serviços oferecidos. Estes conhecimentos poderão
facilitar processos de mudança e inovação nas redes de atenção em
saúde e saúde mental, proporcionando uma melhor compreensão e
sensibilidade para os profissionais da educação e gestores na área da
educação, consequentemente, contribuindo para o desenvolvimento
regional tanto do ponto de vista humano, quanto do ponto de vista
econômico e social e pensando em políticas públicas nesta área.
Método: No campo da pesquisa documental, encontramos o
posicionamento de Minayo (2008) que, ao discutir o conceito e o papel
da metodologia nas pesquisas em ciências sociais, imprime um enfoque
plural para a questão: “A metodologia inclui as concepções teóricas de
abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da
realidade e também o potencial criativo do pesquisador” (MINAYO,
2008: 22). Esse fundamento se aplica às pesquisas de um modo geral e
no campo da utilização de documentos não é diferente. Portanto, a
pesquisa documental é um procedimento que se utiliza de métodos e

1382
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos


mais variados tipos. Participarão deste estudo todos os gestores da área
da educação e gestores dos serviços de atenção em saúde dos
municípios que fazem parte da AMEOSC (Associação dos Municípios do
Extremo Oeste Catarinense),no período de outubro de 2019 a abril de
2020. Este conjunto de participantes, dessa forma selecionado,
constitui-se em uma amostra de conveniência. Também será realizada
uma pesquisa documental na SDR (Secretaria de Desenvolvimento
Regional do Estado de Santa Catarina) que abrange os municípios da
AMEOSC.

1383
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desmedicalização do feminino: uma perspectiva integral de cuidado e


promoção da saúde da mulher no SUS

Rebecca Ledo Moreira


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Para Simone de Beauvoir (1980), a condição da mulher apareceria como


o negativo do homem. Em outras palavras, a mulher é, antes de tudo,
aquilo que não é homem. Nessa direção, a medicalização do feminino
surge de uma necessidade de se esquadrinhar os corpos femininos e
promover um controle social, legitimado por uma compreensão de que
a mulher estaria destinada à reprodução e que sua anatomia seria uma
deformidade quando comparada à do homem. A naturalização, nesse
sentido, de uma deformidade e loucura feminina nas práticas de saúde
tem seus efeitos ainda no dia de hoje, apesar das diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS) e da implementação do Programa Nacional de
Atenção à Saúde da Mulher (PNAISM). O presente artigo, nesse sentido,
parte da inquietação frente à forte prevalência de mulheres no dia a dia
do serviço do Ambulatório Central de Adultos (ACA) do Instituto
Municipal Nise da Silveira (IMNS), localizado na Zona Norte da cidade do
Rio de Janeiro e onde essa pesquisa fora ambientada como fruto do
Trabalho de Conclusão de Estágio do Acadêmico Bolsista da Prefeitura
Municipal do Rio de Janeiro (2019). Objetiva-se discutir a promoção da
saúde da mulher no SUS a partir da problemática da medicalização do
que é feminino, com a finalidade de se propor uma lógica
desmedicalizante no cuidado com a mulher e, assim, potencializar as
ações de promoção da saúde da mulher no SUS. Busca-se investigar os
impasses ainda presentes nos dias de hoje, quinze anos após a
implementação da PNAISM, no que diz respeito a tal movimento de se
pensar a saúde da mulher a partir do contexto em que se encontra,
compreendendo as relações entre saúde e gênero ali colocadas, para
além de um viés biomédico. Para alcançar tal objetivo, pesquisou-se

1384
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

documentos na base de dados do endereço eletrônico do Ministério da


Saúde do Brasil, artigos científicos encontrados na base Scielo e livros
acerca da temática de gênero, saúde da mulher, SUS, Reforma
Psiquiátrica Brasileira e feminismo. Por fim, analisou-se
quantitativamente dados estatísticos acerca dos atendimentos em
saúde mental do ACA do IMNS. Nota-se, como resultado, que, ainda que
sob a ótica da integralidade e da clínica ampliada, o problema da
medicalização do feminino não só não fora superado como também
pode, em alguns momentos, invisibilizar questões estruturais e
singulares de mulheres que chegam ao serviço. Discute-se, portanto,
acerca da necessidade de um maior entrelaçamento entre gênero e
saúde nas práticas dos profissionais da rede, de modo a garantir a
promoção e o cuidado integral no que tange à saúde da mulher.

1385
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Diálogos entre políticas públicas, racismo


e saúde mental: caminhos possíveis

Alice Oliveira Silva dos Santos


Marilda Castelar
Felipe Barbosa dos Santos
Lucas Novais Barros
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP

Introdução: O presente trabalho propõe fazer inicialmente um pequeno


apanhado histórico da população negra e população usuária de saúde
mental até os dias atuais, levantando questões acerca do racismo e dos
preconceitos sofridos por estas populações em meios institucionais,
sendo essas públicas e/ou privadas, embasado na Lei 7.716/1989 que
define como crime preconceitos de raça e/ou cor e na Lei 10.216/2001
que dispõe sobre a proteção de direitos de pessoas usuárias de saúde
mental e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, as quais
devem proteger e facilitar o acesso aos direitos dessas populações. O
estudo traz também a voz de seus respectivos movimentos sociais, os
quais dão visibilidade para as causas e proporcionam juntamente com a
população a fiscalização das leis e a efetivação das políticas públicas
voltadas para a população negra e população usuária de saúde mental.
Populações estas que transversalizam entre si conteúdos para que esses
indivíduos possam ser vistos como parte da sociedade e não como
população marginalizada e excluída, objetivando identificar
interlocuções entre as políticas públicas de enfrentamento ao racismo e
as políticas de saúde mental. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa
qualitativa de caráter exploratório que traz com ponto chave da revisão
bibliográfica o diálogo de estudos feitos sobre a população negra e a
população usuária de saúde mental. A partir disso foram feitas
entrevistas com membros dos movimentos sociais Negro e da Luta
Antimanicomial, escolhidas através da técnica de saturação e feita

1386
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

análise de conteúdos a partir de Gonzáles Rey. Resultados e discussões:


O estudo traz uma seção única dividida em duas subseções, que traz as
demandas atuais das políticas de enfrentamento e o sofrimento causado
por esse racismo e preconceitos vivenciados. Nas subseções é possível
ver trechos das entrevistas com os membros dos movimentos sociais,
ilustrando como é na realidade vivenciada dia após dia e é a partir disso
que se enxerga a necessidade da continuidade das cobranças acerca das
efetivações e fiscalizações de políticas públicas e de leis voltadas para as
populações aqui mencionadas. Considerações finais: É importante
salientar que é obrigação do Estado como um todo garantir as leis e a
efetivação das leis para toda a população, porém quando esse dever não
é cumprido é necessário que a população cobre e exija seus direitos,
pois se existe uma lei e políticas públicas voltadas para populações é
pelo fato de haver necessidade de cumprimento dessas.

1387
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Diário de bordo: relatos de uma oficina expressiva e


intersecções de gênero, raça e luta antimanicomial

Angelina Costa Baron


Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Este trabalho tem por finalidade discorrer sobre os debates


interseccionais oriundos da pesquisa cartográfica realizada na Oficina do
Discurso, oficina expressiva desenvolvida desde 2017 com usuários de
um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III localizado no subúrbio do
Rio de Janeiro. A pesquisa apresenta como referenciais teóricos e
práticos a intervenção cartográfica, que pensa a realidade como uma
composição de planos heterogêneos, processos de produção e redes de
agenciamentos que se constroem ininterruptamente; os princípios da
Reforma Psiquiátrica, que pressupõe as oficinas terapêuticas como um
dos elementos organizadores do cotidiano nos CAPS; a Luta
Antimanicomial, que compreende a desinstitucionalização como um
processo interminável; além do feminismo interseccional. Os encontros
aconteceram semanalmente e foram utilizadas diversas ferramentas
para intervenção: esquetes, teatro, pinturas, colagens, entre outros.
Devido ao caráter processual da pesquisa, cada encontro foi registrado
em um diário de bordo, utilizado nesta apresentação para ilustrar as
discussões que reverberaram no espaço criativo das oficinas. Assim, no
diário foram realizados relatos regulares após o encontro com o campo -
visitas, atividades, reuniões -, e reúne tanto informações objetivas e
descritivas como também impressões, que permitem mergulhar na
experiência da pesquisa e conhecer inseparabilidade entre conhecer e
fazer, entre pesquisar e intervir. A narrativa detalhada com falas,
diálogos, expressões, sensações e impressões permitiu, no momento de
análise, compreender os marcadores sociais, memórias, afetos e
possibilidades que os corpos dos participantes evocavam. Dessa forma,
as temáticas que emergiram durante as oficinas, como objetificação,

1388
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

racismo e sexismo, tomaram inicialmente a forma de histórias pessoais,


mas, através de rodas de conversa, assumiram uma dimensão coletiva
de diálogo e trocas de experiências e inquietações. Nesse espaço de
criação, os participantes evocaram críticas e dispararam discussões que
frequentemente passam despercebidas no movimento em prol da
Reforma Psiquiátrica, como os debates sobre racismo e patriarcado
interseccionados ao sofrimento mental. Como resultado desse trabalho
de pesquisa e registro contínuo, primeiramente destaca-se a potência
criativa e política das oficinas expressivas enquanto dispositivos da luta
antimanicomial e da desinstitucionalização, capazes de estremecer
verdades e construir novos mundos. Além disso, a pouca aproximação
entre a reforma psiquiátrica e os assuntos citados revelam a
necessidade de avançarmos com questionamentos sobre as atualizações
do manicômio na atualidade. Por fim, não se espera que o trabalho se
encerre em si mesmo, pelo contrário: o trabalho de pesquisa abre linhas
de continuidade, que convocam a todos que estejam implicados a traçar
novas rotas e desvios pelos mares incertos, mas repletos de
possibilidades, da luta por uma sociedade sem manicômios.

1389
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Encontros antimanicoloniais nas trilhas desformativas

Barbara dos Santos Gomes


Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS)

Marlete Andrize de Oliveira


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Este trabalho é uma escrita das vivências e encontros da corpa em luta


antimanicolonial durante o período da residência multiprofissional em
saúde mental coletiva. Não é um diário, mas uma quase tentativa de
cadernos de poesias. Os cenários de prática da rismc me aproximaram
de pessoas e lugares antes desconhecidos e abriram portais para
encontros que me guiaram na caminhada: o residencial terapêutico e
uma mulher que pedia que eu cantasse, o CRRD e a necessária leitura de
intelectuais negras que apontavam coordenadas para reencontro com
ancestralidade, o CAPS Santo Afonso e a vida adulta, o projeto tipo
assim e o cuidado e planejamento de futuro seguro para a juventude.
Em todos os contatos urgia racializar as relações, vivências e
contextualizar nos tempos os sofrimentos e as delícias vividas e por vir.
Como é que os cuidados em saúde mental mareados pela
espiritualidade foram aparecendo em minha corpa, nas ações, reflexões,
encontros e cheganças de histórias e memórias? Nas reuniões de
equipe, nas ambiências, nas andanças pela rua, no acompanhar as
consultas, cinemas, parques, cidades, nos ônibus e vans viajando a
passeio, nos atendimentos individuais, nos grupos de convivência,
fortalecimento, nas orientações, nos afetos, nos agenciamentos,
agrupamentos, coris, seminários, nas assembleias, nos
autogestionados?Entendendo que o cuidado em saúde mental coletiva
urge identificar detalhar quem são as pessoas no Brasil que são alvo das
políticas de encarceramento nos CIDS, prisões, manicômios, gênero,
escolas, orientações sexuais, religiosidades, espiritualidades, profissões

1390
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e futuros. Entendendo que se ocupamos espaços de poder nos serviços


de saúde, é preciso abrir e entender os sentidos: o que enxergamos, o
que escutamos e o que falamos e como comunicamos esses sentidos. É
um convite ao diálogo em vários sentidos sobre os encontros, as
ancestralidades, as colônias, as amoras, o respeito, os territórios. São
escritas de uma mulher lésbica, nordestina, racializada, que formou
enfermeira, especializou em saúde mental coletiva, que ocupou lugares
de poder e privilégio (como é esse espaço da rismc) e que quis gingar,
trocar poesias e fazer seu trabalho.

1391
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Foi tanto sim que agora eu digo não: profissões


aliadas ao combate da violência contra a mulher

Jéssica Thayane Fernandes de Oliveira


Consultório de Psicologia

Mariana Leitão Mesquita


Universidade de Fortaleza – Unifor

Acolher demandas e assistir mulheres que sofrem violência requer


estrutura física e disposição emocional, além da intercomunicação de
diversos profissionais de áreas distintas. Neste sentido, o artigo visa
expor como diferentes profissões estão aliadas ao combate da violência
à mulher na organização Casa da Mulher Brasileira. Utilizando a
observação participante como principal ferramenta para embasar o
trabalho e priorizando, portanto, a metodologia de caráter exploratório
realizada por meio de prontuários, realização de entrevistas e debates
com os profissionais da Casa, o artigo discute a respeito do
empoderamento feminino, eficácia da organização e atribuições
profissionais, além de descrever os setores da organização. No que
concerne a fundamentação teórica, foram citados, dentre outros,
autores como Perrot e Beauvoir. O presente estudo foi requisito para a
disciplina de Práticas Integrativas IV, e, a pesquisa se mostrou uma
experiência enriquecedora que revela e desperta a questões sociais em
que a mulher brasileira está inserida. Introdução:O presente artigo teve
como objetivo compreender o contexto de surgimento e funcionamento
da Casa da Mulher Brasileira (CMB), investigando quais profissões
interdisciplinares estão envolvidas na assistência da mulher em
sofrimento, bem como suas respectivas responsabilidades, além de
evidenciar os aspectos sociais, econômicos e culturais vigentes nesse
cenário. Assim, será apresentado como o ambiente de trabalho se
caracteriza, com o objetivo de explorar a importância de cada profissão

1392
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

intercomunicada, suas possíveis atuações, as ferramentas utilizadas em


todo processo e a importância de levantamentos de dados e perfis,
buscando a otimização do serviço. Para isso, foram explorados todos os
setores da organização: Recepção, Administrativo, Psicossocial,
Ministério Público, Juizado, Defensoria Pública, Delegacia e Autonomia
Econômica, sendo estes representados pelos mais diversos profissionais.
Ademais, vale salientar a importância do preparo que toda a equipe
recebe, tendo em vista que se trata de um local que retrata um recorte
social bastante específico e sensível. Para os objetivos deste estudo,
urge ser levada em consideração a importância do movimento feminista
na colaboração da formulação e implantação das políticas públicas que
resultaram na Casa da Mulher Brasileira, colaborando no planejamento
à prevenção da violência. Reafirmando seu caráter prático, conforme
salienta ALVES e PITANGUY (1985), o sufrágio feminino, por exemplo, foi
uma luta específica e longa que englobou mulheres de todas as classes,
caracterizando-se como um movimento feminista por denunciar a
exclusão da mulher na implementação de políticas públicas.A partir
dessas observações, a temática deste artigo reside em entender a
condição social em que a mulher, em situação de violência, está
envolvida, evidenciar os papéis sociais sujeitos a tolerância dessa
realidade, colocar como posição de importância o empoderamento
feminino, desmistificar preconceitos através de dados e, por fim, revelar
a qualidade da saúde mental dos envolvidos na assistência da mulher
em todo o processo de promoção do bem-estar social, tendo em vista
seu contato direto, influência ao fazer atendimentos e sua posição como
agente determinante à aspectos importantes no futuro de muitas
mulheres e famílias.

1393
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Formação acadêmica de psicólogas(os)


para a luta social antirracista no Brasil

Ticiane Lúcia dos Santos


Samara Silva dos Santos
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

O presente relato de pesquisa explana a realização de um projeto de


mestrado que considera necessário o estudo dos efeitos psicossociais do
racismo nas populações branca e negra do Brasil, abordando
especificamente a formação acadêmica na área de psicologia como
espaço de conhecimento que pode contribuir no enfrentamento do
racismo e na instituição de práticas antirracistas. Por muitos anos,
estudar o racismo na área científica constituiu um enfoque no problema
do negro. As teorias racialistas acompanharam a instituição da disciplina
psicológica no país, influenciando a visão social e histórica do negro
como objeto de estudo e muitas vezes destituído de subjetividades. A
passagem para um enfoque do negro para as relações étnico-raciais na
compreensão de como o racismo se mostra no Brasil ocorre a partir da
década de 1980 com os crescentes movimentos populares, dentre eles,
o Movimento Negro, que além de lutar pela redemocratização do país,
objetiva denunciar a falsa democracia racial e as ideias racistas acerca
da população negra brasileira. Então, é importante pesquisar sobre a
formação acadêmica de psicólogas(os), a fim de analisar como as
matrizes curriculares e os demais espaços formativos abordam o
racismo. Alguns questionamentos que podem surgir são: o racismo é
abordado nos diferentes espaços formativos? Se é abordado, como se
trabalha esse conteúdo na compreensão da subjetividade humana?
As(os) profissionais psicólogas(os) têm levado às suas práticas
conteúdos formativos que contextualizam as experiências de pessoas
negras em relação ao racismo estrutural que vivemos? A fim de
aprofundar essas questões, essa pesquisa consiste na compreensão de

1394
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

como o estudo sobre o racismo ocorre na formação acadêmica de


psicólogas(os) em uma cidade do estado do Rio Grande do Sul,
analisando se/como esse conteúdo auxilia nas práticas psicológicas e
atendimento da população negra. Para isso, serão realizados dois
estudos, o primeiro consistindo na aplicação de um questionário on-line
com psicólogas(os) de uma cidade do Rio Grande do Sul, investigando de
maneira amplificada como a temática do racismo aparece nas diferentes
áreas de intervenção psicológica. O segundo estudo consistirá na
realização de entrevista semiestruturada, com psicólogas(os)
autodeclaradas(os) negras(os) na área psicológica clínica, considerando
a relevância dessa área de atuação da(o) psicóloga(o) no
estabelecimento de vínculos com os
usuários/pacientes/clientes/sujeitos também autodeclaradas(os)
negras(os). Além disso, na elaboração desse estudo também foi
considerada a racialidade da pesquisadora, que é autodeclarada negra e
a conceitualização da paridade racial na pesquisa como fatores
relevantes para a coleta e análise das informações. Assim, se espera a
partir da realização da pesquisa fomentar uma prática psicológica
antirracista, a partir da formação acadêmica de psicólogas(os),
expressando o compromisso social da psicologia no combate ao racismo
e suas múltiplas formas de articulação e impactos na saúde mental da
população negra.

1395
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Grupos de fortalecimento emocional como alternativa


para a medicalização dos corpos das mulheres

Nathalia da Rosa Kauer


oS

Anelise Montañes Alcântara


Escola de Saúde Pública do Paraná - ESPP/SESA

A medicalização dos corpos das mulheres tem sido uma prática


recorrente no âmbito da saúde mental. Os psicofármacos têm sido
centrais no tratamento do sofrimento psíquico, sobretudo no tocante a
depressão e a ansiedade. Em torno de 50% dos psicofármacos da
REMUME prescritos em 11 Unidades de Saúde da Família do município
de Pinhais, Paraná, se referem a fluoxetina e a amitriptilina. Os objetivos
desta pesquisa são: analisar o impacto dos grupos de fortalecimento
emocional no uso de psicofármacos e na saúde mental das mulheres nos
serviços de saúde mental do município de Pinhais; compreender as
temáticas que mais emergem nas rodas terapêuticas dos grupos de
mulheres a respeito do autocuidado e das condições de vida e saúde
mental das mulheres participantes da pesquisa e discutir a possibilidade
do fortalecimento feminino por meio de grupos de mulheres nos
serviços de saúde mental do município em questão. Trata-se de uma
pesquisa comprometida com a teoria e com a prática feminista de
natureza quali e quantitativa. A primeira etapa da pesquisa se refere a
uma parte documental realizada no sistema WinSaúde referente aos
cinco primeiros meses do ano de 2019, a segunda etapa ao uso de diário
de campo e entrevistas semiestruturadas. Os resultados apontam que
79,53% da fluoxetina 20mg e 77,22% da amitriptilina 25mg foram
dispensados para os corpos de mulheres. Essas medicações perfizeram
um total de gastos de R$ 357.342 e R$ 238.584, respectivamente. Os
grupos de fortalecimento emocional aconteceram semanalmente

1396
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

durante 4 meses de 2020 e buscavam abordar o autoamor, a


autoaceitação e a reconciliação com a própria história de vida. Os temas
recorrentes abordados pelas participantes envolviam questões
afetivas/amorosas e familiares. Considerações finais: acredita-se que os
grupos de fortalecimento emocional sejam um impulso para a melhora
do sofrimento psíquico e pela busca do autoconhecimento. Os grupos
num contexto feminista podem aumentar a percepção do que é ser e
viver como mulheres numa sociedade patriarcalista, e que a dor e o
sofrimento podem ser de ordem coletiva.

1397
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Hospício ingerível: gênero, sexualidade


e transtorno mental na era do farmacopoder

Arthur Daibert Machado Tavares


Alexandra Cleopatre Tsallis
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Ao longo do século XX, uma transformação nas tecnologias de produção


e controle do corpo marcou a passagem de um regime de biopoder
disciplinar, que inventou os hospícios no século XIX, para o que o
filósofo espanhol Paul B. Preciado (2018) chamou de “era
farmacopornográfica”. Através de uma genealogia da pílula
anticoncepcional (cujos primeiros testes humanos foram realizados em
pacientes de hospícios estadunidenses), Preciado investiga como a
bioquímica e a informática emergiram como os novos suportes
industriais do capitalismo, levando a uma reformulação das nossas
concepções de gênero, sexualidade e doença mental. O hospício se
torna ingerível. O objetivo deste trabalho é pensar essa mutação nas
formas de produção e controle do corpo, tomando como eixo o gênero
e a sexualidade em relação à modificação da definição de “doença
mental” para “transtorno mental”. A metodologia utilizada é a queer-
análise, proposta por Preciado como uma “despsicologização do
gênero”, ou seja, como uma “prática que, em vez de conceitualizar a
dissidência sexual e de gênero através das lentes da patologia
psicológica e da disforia de identidade, concebe a normatização e seus
efeitos como aparelhos biopolíticos e formas de violência política”
(Preciado, 2018, p. 396). Trata-se, neste trabalho, de realizar uma
análise da cumplicidade entre o regime farmacopornográfico e as
técnicas de produção de subjetividade, como os manuais diagnósticos e
as práticas psicoterápicas, além de explorar as críticas ao modelo de
“sujeito” e à retórica de gênero, sexo e anormalidade que operam nesse
regime. Discutimos como a mudança da nomenclatura de “doença

1398
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

mental” para “transtorno mental”, com o DSM III em 1980, marca a


passagem de uma perspectiva psicodinâmica para uma visão organicista
(Siqueira, 2011), engajando pesquisas financiadas pelas indústrias
farmacêuticas que visam a uma cerebralização (generificada) dos
transtornos mentais (Vidal; Ortega, 2019). Quanto mais diagnósticos,
mais consumidores. A colonialidade do projeto farmacopsiquiátrico é
discutida através de sua mirada universalizante (Lakoff, 2003), que é
também problematizada pelas diferenças de gênero e a medicalização
da sexualidade presentes na criação do psicodiagnóstico das disfunções
sexuais (Rohden, 2009). Estamos em um momento, no Brasil, em que as
conquistas da Reforma Psiquiátrica encontram-se estremecidas. A Nota
Técnica 11/2019, publicada no começo do atual governo, reformula a
Política Nacional de Saúde Mental abrindo brechas para a atualização de
um modelo manicomial. É importante que nos mantenhamos atentxs à
retomada de antigos modelos que acontece nos campos tanto da saúde
mental quanto do gênero e da sexualidade. Ainda assim, tão importante
quanto a crítica às forças reacionárias que permeiam essa política é a
fabricação de novos mundos e modos de existência. É preciso que nos
atentemos às formas de produção e controle da normalidade e da
anormalidade para não recairmos em alternativas que nos capturem por
outros meios. Mas isso é também um convite a imaginarmos uma
relação entre o movimento antimanicomial e as dissidências sexuais e
de gênero no contemporâneo como modo de “reapropriação coletiva de
biocódigos ‘comuns’ (discursivos, endocrinológicos, químicos, visuais
etc.) para a produção da subjetividade” (Preciado, 2018, p. 397) que
façam a realidade delirar.

1399
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Impactos psicossociais do atendimento à mulher


vítima de violência sexual

Thalyta Amália Feitosa Fernandes


Maiana Parente Gomes Carneiro
Isabela Bezerra Ribeiro
Centro Universitário Vale do Salgado

Introdução: O presente texto trata do relato de pesquisa sobre


vitimização da mulher em casos de violência sexual, a qual se caracteriza
por qualquer tentativa de ato sexual ou investidas não consentidas
contra uma mulher. Histórico e culturalmente as mulheres são
responsabilizadas por eliciar desejos masculinos, assumindo assim a
culpa por alguns comportamentos sexuais dirigidos a elas. Também são
parte do julgamento que reforçam essa responsabilização a crença de
que comportamentos e tipos de vestimentas são motivos para que haja
uma violência sexual, assim como a naturalização do homem como
animal instintivo, que não pode ser provocado. A vitimização secundária
dessas mulheres que sofreram algum tipo de violência ocorre quando a
culpabilização, além de vir por parte da vítima, vem também de
profissionais e serviços que deveriam acolher a mulher, receber a
denúncia e responsabilizar o agressor. Objetivo: A pesquisa teve como
objetivo compreender como a vitimização secundária afeta mulheres
vítimas de violência sexual baseado nas publicações científicas mais
recentes. Metodologia:Para isto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica
de caráter qualitativo descritivo, com a análise de periódicos científicos
publicados nos últimos cinco anos com os descritores violência sexual e
vitimização secundária. Segundo os critérios de inclusão, somente os
artigos que tratavam de violência sexual foram analisados. Ao todo, seis
trabalhos foram categorizados por temática e aproximações. Discussões:
Diante do estudo da bibliografia apontam-se duas categorias definidas
como obstáculos e caminhos, nas quais se apresentam os obstáculos

1400
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

que as mulheres, vítimas, enfrentam ao tentar denunciar o abuso e


sobre o atendimento que recebem; a categoria de caminhos aponta
possíveis estratégias para melhorar o atendimento às vítimas e uma
discussão sobre conscientização da culpabilização que a vítima de
violência sexual sofre. Alguns dos obstáculos observados na bibliografia
são relacionados a problemas organizacionais. São listados por exemplo
a falta de profissionais nos dispositivos de atendimento à mulher vítima
de violência sexual, a desqualificação desses profissionais, problemas na
estrutura física dos equipamentos e a falta de comunicação entre os
dispositivos. Também foi possível analisar obstáculos referentes à
violência institucional como empecilho à assistência, como o
desrespeito para com as políticas públicas de humanização da
assistência, o medo que as vítimas possuem de não terem suas
requisições atendidas e também o medo de passarem por uma
reprodução da discriminação no momento do atendimento. Na
categoria de caminhos foram mencionadas melhorias na capacitação
dos profissionais para oferecer um atendimento qualificado às vítimas,
melhorias também no acolhimento das vítimas que procuram os
dispositivos de assistência. Também vê-se a necessidade de uma
retomada contínua das discussões de gênero e ampliações nas
estruturas físicas dos equipamentos para proporcionar um lugar seguro
e agradável para as vítimas. Considerações finais: Portanto, considera-se
importante neste estudo, ao que se refere ao enfrentamento à violência
sexual, um recorte de gênero, e a discussão da vitimização secundária
como fator agravante no atendimento às vítimas, uma vez que a
sexualidade da mulher ainda sofre julgamentos sociais.

1401
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Indígenas na universidade: estudo de caso


a partir da EDAO-R e IRAMUTEQ

Jonas Gomes da Silva


Gláucia Mitsuko Ataka da Rocha
Maria de Fátima Pereira de Carvalho
Matheus Barreira Silva
Universidade Federal do Tocantins – UFT

O processo de inclusão de alunos indígenas na universidade foi iniciado


a partir da implementação do sistema de reserva de vagas, que
combateu a histórica inviabilização dessa parcela de brasileiros no
acesso ao ensino superior. Entretanto, o ingresso do aluno indígena na
universidade pode ser vivenciado como um momento de crise,
caracterizado pela experiência de uma situação nova, para a qual o
indivíduo ainda não tem respostas. Segundo essa perspectiva, a solução
da crise e a manutenção da saúde mental é um processo adaptativo em
que são considerados os problemas a serem enfrentados e os recursos
internos e externos de que dispõe a pessoa. O presente trabalho
apresenta um estudo de caso que teve por objetivo levantar os
problemas e as soluções encontradas por um aluno indígena no
contexto universitário, a partir da aplicação da entrevista que coleta
dados para a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida
e da análise por meio do software IRAMUTEQ. Foi entrevistado um
aluno indígena da etnia Xerente, de 29 anos de idade, de uma
universidade federal, cursando o penúltimo ano do curso. Foi utilizada a
entrevista semiestruturada, baseada na Teoria da Adaptação proposta
por Ryad Simon, a partir da qual é possível realizar a avaliação da
qualidade ou eficácia da adaptação da pessoa em quatro setores:
Afetivo-Relacional (AR), Produtivo (Pr), Orgânico (Or) e Sócio-Cultural
(SC). Posteriormente, a fala do participante foi analisada por meio do
software de análise de dados IRAMUTEQ com o objetivo de levantar os

1402
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

problemas enfrentados e os recursos adaptativos utilizados. Com a


análise da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) emergiram cinco
classes: Classe 5 - Cultura indígena: cultura, conhecer, tradição; Classe 1
- Dificuldades devido ao deslocamento à universidade: horário,
problema, família; Classe 4- Separação da família em função da
distância: morar, mulher, filho; Classe 3 - Dificuldades acadêmicas:
professor, prova, português; Classe 2 - Adaptação ao ambiente
universitário: colega, conversar, adaptar. A partir da CHD foi possível
identificar três classes de problemas enfrentados e os respectivos
setores da adaptação: a) o deslocamento da aldeia à universidade (Pr);
b) a separação da família em função da distância (A-R); c) as dificuldades
relativas às atividades acadêmicas (Pr) e relacionais, especialmente com
professores (A-R). Quanto aos recursos adotados para o enfrentamento
dos problemas, foram identificadas a importância da manutenção da
cultura indígena e a adaptação à cultura não indígena (S-C),
especialmente a universitária e envolvendo os relacionamentos
interpessoais (A-R), apareceram como necessárias à permanência na
universidade. Foi possível verificar que o software IRAMUTEQ é uma
ferramenta possível para análise das entrevistas para conhecer a
realidade do universitário indígena. Ademais, possibilitou a articulação
das classes à análise dos setores da adaptação.

1403
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Interfaces entre questões de gênero, sexualidade e saúde mental


através do discurso de profissionais da atenção psicossocial

Lucas Caires Santos


Milena Maria Sarti
Universidade Federal da Bahia– UFBA

Considerando que podem haver especificidades na experiência de


sofrimento psíquico em função das orientações sexuais e das
identidades de gênero, bem como do atravessamento destas por
determinantes sociais que produzem efeitos subjetivos na saúde mental
da população LGBT, pretende-se, nesta pesquisa, investigar a relação
entre as questões de gênero, sexualidade e sofrimento psíquico e
analisar suas incidências na saúde mental desta população através do
discurso dos profissionais de saúde mental do Centro de Atenção
Psicossocial do município de Vitória da Conquista, Bahia. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa e de cunho exploratório, na qual serão
realizadas entrevistas semiestruturadas, contando com um roteiro
prévio, mas atentando-se a questões imprevistas que podem surgir no
decorrer da coleta. A opção foi por realizar a pesquisa com oito
profissionais de um serviço de saúde mental, de quaisquer
especialidades, uma vez que, a partir da atribuição da equipe técnica do
Ministério da Saúde, compreende-se que tais profissionais tenham
contato direto com os usuários e familiares atendidos pelo serviço. A
seleção do profissional de cada área será realizada de forma aleatória a
partir do sorteio dos nomes e da disponibilidade de participação na
pesquisa, como forma de evitar um enviesamento deste estudo. Em
função da situação sanitária causada pela pandemia da Covid-19, esses
encontros ocorrerão virtualmente através da plataforma Google Meet,
em uma sala na qual apenas o pesquisador e o participante terão
acesso. A técnica de análise de dados escolhida trata-se da Análise do
Discurso de orientação pêcheutiana, uma vez que essa perspectiva de

1404
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

análise é capaz de investigar o processo de produção de sentidos e de


sujeitos, considerando elementos subjetivos e históricos materializados
discursivamente, não individualizando as questões abordadas na
pesquisa. Por se tratar de uma pesquisa na modalidade de Mestrado
Profissional, propõe-se uma segunda etapa interventiva, na qual
ocorrerá uma capacitação profissional em quatro encontros com
duração de uma hora nos quais, através de uma intervenção dialógica,
serão abordados conteúdos relativos aos sentidos e às especificidades
de saúde mental da comunidade LGBT identificadas durante a análise
dos dados. Esses encontros poderão ocorrer também através da
plataforma Google Meet, a depender da situação sanitária oficial em
face da pandemia. Os resultados esperados para essa pesquisa referem-
se à contribuição para a promoção e reabilitação da saúde da população
LGBT assim como para a garantia de direitos, visando a diminuição da
ocorrência de preconceitos e discriminações contra esse grupo dentro
dos serviços de saúde mental, além de estimular entre os profissionais
um olhar acerca das especificidades da saúde desse segmento
populacional. Pretende-se também estreitar os laços entre a
universidade e a comunidade local, bem como com as políticas públicas
do município, visando o aprimoramento dos atendimentos realizados
com a população em questão.

1405
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Luta Antimanicomial e Feminismos: uma pesquisa exploratória sobre a


psiquiatrização do corpo feminino na atualidade brasileira

Desirée Marata Gesualdi


Daniele de Andrade Ferrazza
Universidade Estadual de Maringá – UEM

Dentre os atuais desafios no âmbito da Reforma Psiquiátrica (RP)


brasileira, os processos de psiquiatrização da mulher necessitam ser
colocados em pauta por denunciarem a persistente normatização do
corpo feminino. Contudo, estudos apontam que a temática da saúde
mental feminina ainda é pouco debatida tanto no campo técnico-
assistencial antimanicomial quanto no contexto acadêmico. Tal aspecto
precisa ser transformado devido a recentes pesquisas científicas que
escancaram como as mulheres brasileiras recebem mais determinações
de diagnósticos psiquiátricos e prescrições de psicofármacos quando
comparado aos homens. Nesta perspectiva, ao relacionar os princípios
do Movimento da Luta Antimanicomial e dos Movimentos Feministas, a
presente pesquisa teve como objetivo compreender o processo de
psiquiatrização do corpo feminino, com especial atenção aos discursos e
práticas de mulheres que são atendidas por profissionais de uma equipe
de saúde de um CAPS III de uma cidade do norte do Paraná. Mais
especificamente, a pesquisa teve como objetivo apontar os avanços e
retrocessos do movimento da RP na garantia de cuidado e atenção às
mulheres em intenso sofrimento psíquico. Para tanto, o estudo pautou-
se em uma pesquisa exploratória qualitativa, a qual fora dividida em três
momentos: 1) realização de observações participantes em grupos e
oficinas terapêuticas do CAPS III para o estabelecimento de vínculo com
as mulheres que são usuárias daquele dispositivo de saúde mental; 2)
realização de entrevistas semiestruturadas com duas usuárias mulheres;
3) realização de três entrevistas semiestruturadas com profissionais da
equipe de saúde do CAPS III. Após a transcrição integral das entrevistas,

1406
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

foram selecionadas como procedimentos de análise as narrativas, para


relatar a história de vida das mulheres entrevistadas, e categorias
temáticas, a fim de abarcar a análise das entrevistas com os profissionais
daquela equipe interdisciplinar. Nesta perspectiva, narrar as vivências
de duas mulheres, cisgênero negras de idades distintas, usuárias do
dispositivo de saúde mental e que foram atravessadas por situações de
violências domésticas, sexismo, vulnerabilidades socioeconômicas,
dentre outras singularidades, permitiu contextualizar seus intensos
sofrimentos psíquicos, os quais acarretaram na vinculação daquelas
mulheres à equipe do serviço territorial. Já a análise das entrevistas com
os profissionais possibilitou a constituição de duas categorias temáticas:
1) produção de subjetividade das mulheres e o sofrimento psíquico
feminino; e 2) apontamentos sobre o fenômeno de medicalização do
corpo feminino. Estas categorias propiciaram compreender os avanços e
retrocessos na RP a partir do atravessamento do marcador de gênero,
além de entender os processos envolvidos na superação ou manutenção
de atuações que reproduzem a psiquiatrização do corpo feminino nos
serviços de atenção psicossocial. Assim, pode-se concluir que a
superação da psiquiatrização do corpo feminino e o respeito aos direitos
humanos e a uma digna atenção à saúde mental feminina podem ser
adquiridos pelo rompimento do manicomialismo e pela substituição de
uma atuação fragmentada e patriarcal por um cuidado psicossocial e
feminista.

1407
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Me ver pobre, preso, louco, ou morto já é cultural: a supressão da


questão étnico-racial na saúde mental e a perpetuação do racismo
institucional

Júlio César Paiva e Silva

Ao parafrasear o grupo Racionais MCs na música Negro Drama deseja-se


apontar para a banalização da violência exercida pelo Estado Brasileiro
contra a população negra, entendendo que, enquanto fenômeno
estrutural e estruturante da sociedade brasileira, o racismo surge como
determinante para as diversas situações de vulnerabilidade e violação
de direitos vivenciadas por sujeitos negros. Os dados sobre a violência já
mostram a influência da questão étnico-racial nas vítimas de
assassinato, violência doméstica, violência policial, suicídio, feminicídio e
nos índices de mortalidade infantil. É comprovado que o racismo
também configura-se como determinante social para a produção de
iniquidades em saúde, ao ponto do Estado Brasileiro reconhecer a
necessidade de uma Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra – instituída em 2009 pela portaria nº 992 – que combata a
discriminação e o racismo existentes no sistema de saúde, propondo um
enfrentamento ao racismo institucional com a articulação entre saberes
científicos e tradicionais de matriz africana. Desse modo, o presente
trabalho objetiva discutir como o silenciamento sobre a questão étnico-
racial no campo da saúde mental contribui para a perpetuação do
racismo institucional na atenção psicossocial. Utiliza-se como
metodologia a pesquisa bibliográfica, através de análise de referenciais
teóricos e documentos publicados que possibilitam compreender as
contribuições culturais e científicas do passado sobre determinados
fenômenos. Portanto, destaca-se que apesar da relação entre a
população negra e o sofrimento psíquico configurar-se como duradoura
e sofisticada, tornando esses sujeitos os principais alvos do modelo
manicomial e de teorias deterministas e eugenistas, desde que o

1408
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira foi iniciado houve uma


secundarização e/ou apagamento da relação entre saúde mental e
questão étnico-racial nas discussões, produções e referenciais do
movimento. Essa supressão da questão étnico-racial no campo da saúde
mental estende-se para a formação profissional das categorias que
compõem as equipes multiprofissionais dos serviços de atenção
psicossocial, o que produz um contingente de profissionais da saúde
mental que reproduzem visões falseadas da realidade social e dão
continuidade às diversas formas de opressão contra a população negra
por não compreenderem a realidade brasileira em sua totalidade. É
importante discutir as diversas maneiras que o racismo institucional se
apresenta nos serviços, sendo a invisibilização uma delas, que ocorre
tanto na não adesão do quesito raça/cor/etnia nos prontuários, como
na não discussão sobre a questão étnico-racial nos espaços de conversas
entre profissionais e usuários – debates fundamentais nos serviços
públicos. Essas manifestações também são evidenciadas na conversa
depreciativa com e sobre o usuário; destrato e humilhação nas relações
cotidianas; desconsideração das queixas dos usuários; atendimentos
sem olhar para o sujeito; resistência em adotar mecanismos e
estratégias de não discriminação e combate ao racismo; entre outros.
Nesse sentido, defende-se a necessidade dos profissionais da Saúde
Mental compreenderem as iniquidades causadas pelo racismo como
algo real, concreto e contínuo, entendendo que a luta antimanicomial
necessita estar interligada de maneira indissociável à luta antirracista
para garantir uma verdadeira ruptura com o modelo manicomial e suas
expressões na atualidade, evitando que haja controle de corpos onde
deveria haver cuidado.

1409
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Memórias encarnadas: as vozes de mulheres que tiveram suas vidas


atravessadas pelos manicômios de Sorocaba pela via do trabalho

Tamiris Cristina Gomes Mazetto


Autônoma

A região composta por Sorocaba, Salto de Pirapora, Piedade e Pilar do


Sul, no final do século XX e início do XXI, foi reconhecida como o maior
polo manicomial da América Latina (GARCIA, 2012). Esse polo foi
completamente fechado no ano de 2018 após denúncias sobre violações
de direitos humanos e elevado número de mortes. Dentre as muitas
histórias de horrores e marcas traumáticas produzidas pelos
manicômios, interessou-nos, em especial, considerar os impactos
subjetivos desencadeados em mulheres que trabalharam em tais
instituições. Consideramos a particularidade das experiências das
mulheres, através de suas memórias encarnadas, porque foram vividas
através de seus corpos-fronteira: às mulheres, marcadas por diferenças
intragênero indissociáveis dos condicionantes de raça e classe (COLLINS,
2017; DAVIS, 2016; GONZALEZ, 2019; hooks, 2017), historicamente
convocadas ao cuidado, remunerado e não remunerado; porém, na
estrutura manicomial, houve também a convocação ao papel de
operadoras das violências (BASAGLIA, 2010), seja a partir de ações
diretas ou do silenciamento frente ao testemunho de situações de
violência extrema. Corpos-fronteira marcados pelas lógicas da violência
e também produtores das resistências possíveis dentro do contexto
manicomial.
A História Oral foi nossa escolha para a construção do percurso
metodológico, numa aposta que se voltou para a multiplicidade de
vozes e olhares, presentes no encontro intersubjetivo (PORTELLI, 2010,
2016; PATAI, 2010) e no processo de elaboração de uma memória
coletiva sobre os manicômios. Aprofundamos os estudos sobre a
influência da herança capitalista-colonial-patriarcal, pensando o

1410
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

contexto de formação da sociedade brasileira, nos processos de


construção de memórias e de elaboração dos traumas sociais (KILOMBA,
2019; FANON, 2008; GONZALEZ, 2019). Nossos achados de campo
revelaram: o racismo estrutural; o controle sistemático dos processos de
trabalho; a essencialização do cuidado como inerente à condição
feminina; o testemunho de situações de medicalização excessiva,
violência, repressão da sexualidade, estupros e tortura das pessoas
privadas de liberdade; a sensação de que narrar a experiência faz os
acontecimentos parecerem mais graves do que no momento em que
foram vividos; mulheres em cargos subalternizados e, dentre essas, uma
significativa parcela era de mulheres negras; o adoecimento das/os
trabalhadoras/es; o suicídio de uma trabalhadora, que era uma jovem
mulher negra; a existência de profissionais contratadas como auxiliares
de serviços gerais que foram direcionadas para o trabalho de auxiliar a
enfermagem nos cuidados das pessoas internadas; e estratégias de
solidariedade e parcerias construídas pelas trabalhadoras para
sobreviver aos horrores institucionais. Consideramos que os processos
de elaboração das memórias sobre os manicômios se mantiveram
inconclusos entre as mulheres ouvidas pela pesquisa, o que nos
confirmou a importância da historicização e da politização das memórias
relacionadas aos processos vividos (STERN, 2012). Compreendemos que
ainda é tempo de colocar o "dedo na ferida" e fazer "sangrar"
(EVARISTO, 2017) as memórias da desumanização produzida no
contexto da psiquiatria moderna. Por fim, apontamos que um dos
desdobramentos da lógica manicomial teve relação com a exploração do
trabalho de mulheres (PASSOS, 2018), que denunciaram em suas falas
como o racismo e o sexismo forjaram as relações de trabalho nos
manicômios da região de Sorocaba.

1411
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Mulher negra, saúde mental e colonialidade:


uma revisão da literatura do Serviço Social

Milena Kelly Silva Lima


Magali da Silva Almeida
Maísis Santos do Rosário
Danielle Evelyn Brasil de Jesus
Universidade Federal da Bahia– UFBA

O presente trabalho é um recorte de pesquisa em andamento no


Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFBA, intitulada
“Revisão sistemática de literatura do serviço social sobre mulher, raça e
classe na política de saúde Brasileira por uma perspectiva feminista
decolonial”, que envolve estudantes da pós-graduação e graduação em
Serviço Social. A pesquisa baseia-se em dois eixos teórico-
metodológicos: a epidemiologia crítica de Jaime Breilh (2006) e os
estudos feministas decoloniais (CURIEL, 2019). Ambas contribuições
abrem horizonte para formulação de conhecimentos críticos sobre a
realidade das mulheres negras em Salvador(nosso campo de
investigação) a partir da crítica dos paradigmas hegemônicos no campo
da saúde e do feminismo. Essa abordagem aponta para novas
perspectivas da práxis em saúde e emancipação das mulheres negras
enquanto sujeitas individuais e coletivas. Parte-se da assertiva que a
saúde é um processo dialético entre a dimensão “individual-subjetiva-
contingente” e “coletiva-objetiva-determinada”. A saúde é “sempre, o
movimento de gênese e reprodução possibilitado pelo concurso de
processos individuais e coletivos, que se articulam e determinam
mutuamente”(BREILH, 2006,p.45). Nestes termos, a saúde da mulher
negra apresenta como determinação o racismo e o sexismo. Analisada à
luz da divisão sócio-técnica-racial e sexual do trabalho no capitalismo, a
saúde nos permite compreender a totalidade da vida social das
mulheres considerando-se a formação sócio-histórica brasileira através

1412
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

da qual serão estruturadas as relações sociais, as hierarquias e


assimetrias de gênero e raça, e a exploração do trabalho das mulheres
negras na escravidão e manutenção de estruturas coloniais na cena
contemporânea. Aqui afirma-se que as desigualdades sociais devem
levar em conta processos de racialização e gendramento envoltos em
sua produção/reprodução. Destarte, a saúde mental das mulheres
negras está condicionada às condições de vida e trabalho individual,
familiar, da coletividade e condição de classe, bem do racismo e sexismo
estruturais e institucionais na saúde e em outras políticas públicas.
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo realizar revisão
sistemática da literatura do Serviço Social publicada em periódicos
Qualis A1 e A2, coletâneas sobre mulher negra na política e saúde, em
uma perspectiva feminista materialista/dialética e decolonial. A
metodologia adotada é a revisão integrativa de literatura, cujo universo
pesquisado corresponde a todos artigos publicados em sete periódicos
A1 e A2 da área de Serviço Social que tratam da política de saúde, na
perspectiva de gênero e raça, seguido de análise de conteúdo. A
pesquisa iniciou em maio do corrente ano e encontra-se em fase inicial.

1413
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Mulheres em situação de violência doméstica atendidas


pelo CAPS II em uma cidade do interior do Nordeste

Luiza Celeste Palhares Bezerra


Rafaela Gomes da Silva
Kyra Kadma Silva Fernandes de Medeiros
Ana Kalliny de Sousa Severo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (Campus Santa
Cruz)

A violência contra a mulher se compreende enquanto a mais tolerada


forma de violação dos direitos humanos em todo o mundo. Nesse
contexto, ressalta-se no presente trabalho que a violência doméstica é
influenciada pelas construções de gênero, uma vez que ainda se observa
a atribuição de papéis, atravessadas por fatores de raça e classe que
repercutem no adoecimento das mulheres. Desta forma, objetiva-se
entender quem são as mulheres atendidas pelo CAPS II de uma cidade
do interior do Nordeste que tiveram o histórico de violência doméstica.
Durante o estudo foram utilizadas rodas de conversa com os
profissionais, conhecimento da rotina do serviço, consulta aos
prontuários e produção de diários de pesquisa, elementos que dão
aporte ao conhecimento elaborado a partir das vivências no CAPS II.
Diante do que foi desenvolvido, foram identificados 90 prontuários
abertos, dos quais 51 eram de pessoas do sexo feminino e em 8 deles se
constatou a violência doméstica. Através disso, percebemos a ausência
de registros relevantes para a formulação do perfil, referentes à
“Cor/Raça/Etnia”, “Religião”, “Escolaridade”, “Renda”, “Tipo de
demanda”, “Tempo que frequenta o serviço” e “Episódios de violência”.
Notou-se ainda o uso de abreviações, letras ilegíveis e de termos
inadequados aos prontuários. A faixa etária das mulheres era, em
média, de 34 anos. Em sua maioria os agentes da violência foram
homens, com mais de um episódio de violência. A maior parte delas é

1414
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

separada e tem em média dois filhos. Há ausência de dados sobre


Religião e sobre Raça/Cor/Etnia; metade das mulheres não chegou a
terminar o Ensino Fundamental; o Emprego/ Ocupação não envolve
emprego formal, com predominância do trabalho doméstico não
remunerado; o rendimento médio familiar não foi registrado em 50%
dos prontuários e na outra parte é menor ou igual a um salário-mínimo;
a maioria delas recebe algum tipo de benefício. O diagnóstico
predominante foi o F31 (transtornos de humor). A falta de notificação
da violência e de informações fundamentais para prestar a devida
assistência indica desafios nestas práticas em saúde. Mediante isso,
aponta-se para a necessidade de reconhecer a relevância da discussão
em torno da temática de gênero, violência e saúde mental voltada à
interseccionalidade como forma de dar visibilidade às mulheres e suas
singularidades no processo de cuidado em saúde mental e
enfrentamento a violência doméstica, utilizando-se como meio as
estratégias de Educação Permanente em Saúde (EPS) a favor de sua
reconstrução e ampliação dentro destas equipes multiprofissionais.

1415
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O cuidado de crianças e adolescentes negros de um Centro


de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil: o olhar racial

Bruna de Paula Candido


Jussara Carvalho dos Santos
Sônia Barros
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP

Introdução: Pouco se sabe sobre a assistência prestada às crianças e


adolescentes negros em Centros de Atenção Psicossocial Infanto-
juvenil(CAPSij) e isso impede conhecer como se dá o acesso, o processo
de cuidado e seus resultados. Objetivo: Conhecer o processo de cuidado
destes jovens com transtorno mental, identificando ações relacionadas
ao quesito raça/cor. Método: Abordagem qualitativa, descritiva e
exploratória. Utilizou a análise de conteúdo para interpretação dos
dados e como categoria analítica raça/cor. Participaram do estudo 18
trabalhadores de um CAPSij do município de São Paulo. A escolha dos
profissionais deu-se em amostra por conveniência e os critérios de
inclusão foram todos os técnicos de referência responsáveis por uma
criança/adolescente negro com, no mínimo, um mês de tratamento no
serviço, além de aceitar participar da pesquisa. Para a coleta de dados
foram realizadas entrevistas guiadas por um questionário
semiestruturado. Resultados: A maioria dos participantes do estudo foi
mulheres (83,3%), brancas (50%), com idade média de 38,5 anos,
possuidoras de título de ensino superior (77,8%) e atendiam uma média
de 19,5 crianças/adolescentes. Obteve-se duas categorias empíricas:
1.Descrevendo o racismo e a discriminação sofrida pelas crianças e
adolescentes usuárias do CAPSij; 2.O Processo de cuidado no CAPSij
frente ao racismo. O estudo desvelou que as violências mais sofridas
pelas crianças/adolescentes eram física e psicológica. Os profissionais
relataram dificuldade por parte dos usuários para expressarem
verbalmente sofrimentos relacionados ao racismo, sendo os locais

1416
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

comuns onde ocorrem: a escola, a rua, instituições de saúde e de


segurança pública e, algumas vezes, em sua própria casa. Os agentes do
ato discriminatório e/ou racista: colegas, policiais e familiares. Os
métodos utilizados para discriminar são por questões fenotípicas e por
apelidos jocosos aonde os jovens negam essas características a ponto de
se autorretratarem com outro fenótipo, indagando como se tornam
brancos e, até mesmo, se negando a serem atendidos por profissionais
negros. Quanto ao cuidado para os usuários do serviço são utilizados
confecção de bonecas abayomi, participação e promoção de eventos
relacionados à cultura afro e a beleza da pessoa negra, passeios a
museus, brincadeiras no espaço de convivência que dê destaque a
celebridades negras, fóruns, palestras, rodas de conversa, grupo de
leitura e grupos de socialização que abordam a cultura africana. Além
disso, trabalham a desconstrução do racismo e o reconhecimento da
identidade negra em novembro (mês da consciência negra). Nem todas
essas ações estão descritas no Projeto Terapêutico Singular (PTS) no
prontuário das crianças e adolescentes. Considerações finais: ações
desenvolvidas para superar o racismo são de diversos tipos e estilos,
tendo como ponto de partida atividades de cunho cultural. O PTS tem
procurado desenvolver trabalho intersetorial de modo pontual e
incipiente, fazendo parcerias com a comunidade a fim de inserir essas
crianças e adolescentes, desenvolvendo o embrião da participação social
dentro desses cidadãos. Também busca aumentar a autoestima e
autoconceito de cada criança e adolescente que esteja sofrendo com a
mazela do racismo.

1417
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O desmonte da universidade pública brasileira e os efeitos na saúde


mental de jovens universitários sob a lente da interseccionalidade

Igor Holanda Vaz Arcoverde


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

A partir da redemocratização do estado brasileiro e a estabilidade


política e econômica decorrente, ocorreu o processo de ascensão
econômica da classe C, principal beneficiada pelo conjunto de medidas
adotadas para a popularização e expansão do projeto das universidades
federais de todo país (Ristoff, 2014). Foi nesse contexto que as classes
populares puderam pela primeira vez promover uma educação superior
para seus filhos, tornando cada vez mais presentes nas universidades
federais estudantes oriundos de um habitus de classe distinto daquele
elitista presente nas instituições de ensino superior. Considerando o
atual panorama político-econômico de desconstrução desse projeto de
universidade popular (Lusa, 2019), proponho neste trabalho apresentar
os resultados de minha pesquisa sobre transtornos depressivos e
ansioso entre estudantes de graduação do curso de Ciências Sociais da
UFPE, reconhecendo a importância da interseccionalidade na
compreensão desses processos de adoecimento mental entre jovens das
classes populares. Estudantes universitários como um todo possuem
maior propensão a desenvolver transtornos depressivos e ansiosos se
comparado com a população geral (Nogueira, 2014), e ao longo dos
anos, pouco tem sido feito para a ampliar a rede de seguridade
psicológica e financeira para esses estudantes em condições de
insegurança social. Pretendo nesse trabalho apresentar resultados da
pesquisa a partir da constituição indentária que esses estudantes
estabelecem na interseccionalidade de suas narrativas biográficas, onde
a família e a transição da juventude para a vida adulta têm grande
impacto no desenvolvimento de perturbações e transtornos
relacionados à saúde mental (Simeia R. C.; Tommy A. G. 2017).

1418
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Considerando o atual panorama de desmonte das universidades


federais e a precarização da vida laboral presente nas universidades,
apresento como a falta de garantias no mercado de trabalho possui um
impacto na vida esses jovens, que se sustentam com dificuldade em
meio a relações familiares fragmentadas e trajetórias de adoecimento
marcadas por experiências com drogas ou a falta de perspectivas,
contribuindo para o desenvolvimento de transtornos graves, e como a
medicação está presente de forma vital no processo de sociabilização
desses estudantes.

1419
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O impacto do racismo na saúde mental


da população preta no Brasil

Caroline Moraes Soares Motta de Carvalho


Debora Guedes Basto
Universidade Estácio de Sá – Unesa

Eduardo Motta de Souza


Carolina de Souza Silva
Andreza Andrade de Azevedo
Univeritas

Introdução: O modo de vestir, as escolhas profissionais e até de


relacionamentos, são questões que afetam a população preta brasileira.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
mesmo representando 55,8% da população brasileira, os pretos ainda
são discriminados na grande maioria dos setores da sociedade. Objetivo:
Refletir sobre o impacto do racismo na saúde mental da população preta
no Brasil. Metodologia: Revisão de literatura, onde a busca por material
aconteceu em outubro de 2020, na Biblioteca Virtual em Saúde,
utilizando as seguintes palavras-chave: Racismo, Saúde Mental e
População preta. Resultados: Estudos internacionais e os poucos
produzidos nacionalmente indicam que a saúde mental da população
negra é diretamente afetada pelo racismo estrutural que orienta as
relações políticas, econômicas, jurídicas e familiares. Isto porque o
racismo media a distribuição desigual de recursos e pior acesso à
educação, saúde, habitação, justiça e trabalho entre negros e brancos.
Além disso, a discriminação percebida nas relações cotidianas, o número
assustador de mortes na juventude e o encarceramento em massa
promovem experiências de exposição contínua a situações perigosas,
violentas, humilhantes e constrangedoras desde a mais tenra infância se
associam ao adoecimento físico e psíquico entre negros. Na pesquisa foi

1420
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

possível perceber que a discriminação e o preconceito percebido


isoladamente geram disparidades na saúde mental, ou seja, mesmo a
pessoa negra com boas condições financeiras e alta escolaridade
apresenta sofrimento psíquico por sofrer racismo. Além disso, também
foi possível perceber que os transtornos mentais são mais frequentes na
população negra que na branca, com destaque para psicose e
transtorno mental comum, o racismo internalizado, que é o
desenvolvimento de uma identidade étnico-racial desvalorizada ou
negativa, tem associação com o desenvolvimento de depressão maior e
pretos apresentam maiores níveis de estresse crônico que a população
branca em todos os contextos pesquisados, sendo que mulheres negras
referem mais estresse que homens negros. Conclusão: Existem
diferentes formas de sofrimento psíquico nas diversas populações
negras e estas guardam similaridades e se distanciam em vários
aspectos, mas no geral, os sofrimentos psíquicos que podem acometer a
população preta brasileira são deslegitimados, o que dificulta o
enfrentamento do problema e a construção de políticas públicas para a
promoção da saúde. Sendo assim, a experiência de ser preta(o) numa
sociedade racista compromete de forma significativa a saúde mental.

1421
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O processo histórico-cultural de saúde mental


e construção de identidade de mulheres negras

Sheryda Januário Lisboa


Sara Guerra Carvalho de Almeida
Centro Universitário Fametro – Unifametro

O racismo define-se como um sistema de discriminação fundamentado


sob a raça, manifestado consciente e inconscientemente, tendo como
resultado benefícios ou malefícios para os indivíduos, a depender do
grupo racial que pertencem. O presente relato de pesquisa objetiva
analisar o processo de escravização de povos negros no Brasil, em
especial na saúde mental e construção de identidade de mulheres
negras. Foram selecionados referenciais teóricos como Frantz Fanon,
Grada Kilomba, Neusa Santos, dentre outros, possibilitando ampla
reflexão crítica acerca dos processos de sofrimento psíquico que
acometem mulheres negras vítimas do racismo dentro de diversos
contextos. Percorrendo diferentes momentos históricos, é possível
constatar que as relações raciais implicam na visão que os sujeitos têm
de si e do outro, sendo a visão que mulher negra possui a respeito de si
mesma, constrói-se a partir de um Outro, que é branco. Sob o olhar da
Psicanálise, percebe-se que a mulher negra é acometida pela linguagem
cultural sob a qual está exposta, tornando-se uma vítima constante dos
racismos estrutural, institucional e cotidiano, sendo alocadas na base da
pirâmide social, abaixo de homens e mulheres brancos e de homens
negros. Como consequência, as afro-brasileiras não simbolizam
psiquicamente tais violências que sofrem, não atingindo seu Ideal de Eu,
sentindo a dor do indizível e entrando em processo de sofrimento
psíquico. A partir desta pesquisa, consideramos de suma importância
que os psicólogos, assumindo postura ativa frente à resolução n°
018/2002 do Conselho Federal de Psicologia e frente ao seu Código de
Ética Profissional, busquem exercer, em sua atuação, o combate ao

1422
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

racismo e o fomento da importância da interseccionalidade enquanto


ferramenta decolonial e de possibilidade de escuta psicológica de
mulheres negras. É necessária uma postura ética e de compromisso dos
profissionais de Psicologia para exercer o cuidado e a redução dos danos
causados às mulheres vítimas dos amplos espectros do racismo ainda
tão presentes na sociedade brasileira.

1423
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O racismo e os transtornos mentais: a produção do discurso


eugênico da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM)
e as práticas hospitalocêntricas desenvolvidas no século XX

Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Neste estudo, objetivamos analisar a construção estigmatizada dos


transtornos mentais no Brasil a partir do marcador da raça, edificado
pelo discurso eugênico da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM).
Para tanto, utilizamos autores como Maria Aparecida Bento (2002),
Maria Clementina Pereira Cunha (1988), Franz Fanon (1980), André Luis
Masiero (2002) e Jurandir Freire Costa (2007), que nos auxiliaram a
discutir como o medo e a projeção de grupos privilegiados estão na
gênese de processos de estigmatização que visam legitimar a
perpetuação das desigualdades, a elaboração de políticas institucionais
de exclusão e o genocídio de pessoas negras, utilizando para isso o
discurso psiquiátrico. Desde o início do século XX, a psiquiatria brasileira
associou a incidência e a prevalência dos diversos tipos de transtornos
mentais a sua distribuição étnico/racial. Nesse ínterim, nasce a Liga
Brasileira de Higiene Mental (LBHM), sendo fundada no Rio de Janeiro,
em 1923, pelo psiquiatra Gustavo Riedel. Os médicos que compunham a
liga foram influenciados pelo recrudescimento dos problemas sociais no
país e tomaram por referência os estudos eugênicos apresentados na
Europa e nos Estados Unidos, que utilizavam, essencialmente,
estatísticas psiquiátricas para fundamentar o preconceito racial. Nessa
perspectiva, as pessoas não-brancas eram diagnosticadas como
portadoras hereditárias de predisposição sifilítica e de transtornos
mentais, que representavam um perigo para a constituição eugênica do
Brasil. O mesmo fenômeno se refletia com relação ao alcoolismo, a
maioria dos psiquiatras brasileiros afirmava à época que o alcoolismo
era mais frequente em pessoas negras, em função de sua herança racial.

1424
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Assim sendo, o alcoolismo, a sífilis e os transtornos mentais eram


tomados como sinônimos de decadência moral e sexual, sendo esses os
focos dos programas de higiene mental da LBHM. Os psiquiatras que a
compunham serviram-se do organismo (tomando por base a psiquiatria
organicista alemã) para reforçar suas ideias eugênicas com finalidades
político-ideológicas, que sustentavam suas práticas higienistas. Em
trabalhos publicados em revistas brasileiras especializadas, ou nos anais
de congressos nas décadas de 1920 e 1930 do século passado, as
estatísticas indicavam o mesmo fenômeno: o maior número de negros e
negras internados em colônias psiquiátricas. Ao passo em que a
miscigenação e a ideologia de branqueamento racial cresciam no país,
por meio do incentivo a entrada de imigrantes europeus nas regiões Sul
e Sudeste do Brasil. Consideramos que os métodos classificatórios
utilizados pelos profissionais que compunham a LBHM, assentados
nesses discursos, fundamentaram práticas hospitalocêntricas realizadas
no século passado e que, ainda, reverberam em serviços de saúde
mental neste país. Nesse sentido, é importante olharmos para o
passado, para enfrentarmos os desafios que o presente nos interpela
por meio da “Nova Política Nacional de Saúde Mental”, que reitera uma
abordagem proibicionista/punitivista às pessoas em sofrimento mental,
trazendo à tona discursos e práticas racistas e eugenistas já vivenciados
no cenário nacional.

1425
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O segundo armário: saúde mental e a inclusão


social da população idosa LGBTQI+ no Brasil

Matheus Silva de Souza


Daniel Castro Silva
Eric Campos de Alvarenga
Universidade Federal do Pará– UFPA

Em 1980, o Brasil possuía uma distribuição populacional em formato de


pirâmide, na qual verificava-se que a população era composta por uma
maioria de jovens. Tendo em vista os avanços da tecnologia e da
medicina, este esquema sofreu uma inversão.O grupo idoso adquiriu um
aumento na longevidade e constitui atualmente maior parte da
população, e dentro deste estão inseridas pessoas LGBTQI+.Com este
cenário e a necessidade de se pensar acerca das demandas desse grupo
na sociedade, este trabalho investiga, por meio de revisão sistemática
de literatura dos últimos 15 anos,da base de dados do Portal Capes,
como o tema saúde mental da população idosa LGBTQI+ vem sendo
abordada na produção científica brasileira.A busca foi realizada entre os
meses de setembro a novembro de 2019, e foram considerados
parâmetros os artigos que tivesse nas determinadas condições: que se
trata acerca do Envelhecimento LGBTQI+, Sexualidade, Saúde Mental e
que fossem de disponibilidade gratuita. Após a aplicação dos critérios de
inclusão para essa pesquisa apenas 10 artigos contemplaram as
demandas dos autores. Os estudos de gerontologia ainda são baseados
na estrutura social cisgênera/heterossexual, a ideia de querer englobar
e homogeneizar o grupo social "idosos" leva a invisibilidade das
especificidades e da diversidade que a comunidade LGBTQI+ apresenta
(SOLISE & MEDEIROS, 2016), assim excluí as subjetividades das pessoas
que se identificam em algum aspecto das letras, como também suas
necessidades e anseios. Dos artigos selecionados, apenas 3 artigos
contemplaram com total satisfação por conter mais informações

1426
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

profundas, os outros 7 apenas apresentavam o LGBTQI+ como um


componente estatístico. O primeiro é umartigo acerca do
envelhecimento das travestis e transexuais (ANTUNES& MERCADANTE,
2011). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o idoso é toda
pessoa com 60 anos ou mais. A expectativa de vida de uma transexual
ou travesti é de 35 anos, bem menos da metade da média nacional que
é de 75 anos(ANTRA, 2018).Em dois artigos (JESUS, L. A. et al, 2019)
(CRENITTI, 2016) foram apresentadas dificuldades e invisibilidade que os
idosos LGBTQI+ enfrentavam no atendimento as Unidades Básicas de
Saúde (UBS) e questões psicosocioculturais. É debatida a relevância em
informar a orientação ou identidade de gênero do idoso aos
profissionais de saúde. Isso recai à questão de neutralidade ao
atendimento, pois ao querer tratar todos iguais é novamente voltada a
características hetero/cisgêneras, assim excluindo as especificidades da
sigla. Diante dos estudos apresentados, depreende-se que os idosos
LGBTQI+ precisam de uma maior atenção no campo da saúde, visto que
os estereótipos negativos interferem na procura pelos serviços de saúde
e algumas questões são silenciadas (COOK-DANIELS, 2015). No âmbito
nacional são necessárias pesquisas que discutam acerca do abandono
socioafetivo de idosos LGBTQI+, sem filhos/familiares para ajudar em
emergências, em comparação a idosos heterossexuais (CRENITTE, 2016).
Pois isso está ligado aos impactos de risco na saúde mental dessa
comunidade, como, por exemplo, os idosos transgêneros que
apresentam maior nível em abuso de álcool e tabaco do que a
população LGBTQI+ em geral (VRIES, 2015).

1427
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O sofrimento psíquico como constituinte do itinerário terapêutico de


homens transgêneros em uma cidade do Nordeste brasileiro

Lara Peixoto Santiago


Paula Hayasi Pinho

Introdução: São evidentes os impactos da transfobia na saúde mental e


na privação de direitos de pessoas transgêneras. Grande parte do
sofrimento psíquico vivenciado por essa população, inclusive, advém da
discriminação sofrida nos equipamentos de saúde ao percorrerem o seu
itinerário terapêutico. Objetivo: Conhecer e analisar as repercussões do
processo transexualizador na saúde mental de homens transgêneros
atendidos em um espaço de cuidado e acolhimento de pessoas
transgêneras. Metodologia: Estudo exploratório de abordagem
qualitativa, recorte de um estudo maior realizado em um espaço de
cuidado e acolhimento de pessoas transgêneras em uma cidade do
Nordeste. A população alvo foram homens transgêneros, maiores de 18
anos, que estavam vivenciando o processo transexualizador pelo SUS.
Para a coleta dos dados utilizou-se entrevistas semiestruturadas que
foram gravadas, transcritas e analisadas por meio da análise temática.
Resultados/Discussão: O sofrimento psíquico foi relatado pelos
entrevistados tanto antes quanto durante o processo transexualizador.
O não-entendimento de si, a vergonha do corpo; a vergonha da voz
antes do autorreconhecimento, a autorrepressão e processo de
autoaceitação foram alguns dos motivos associados ao sofrimento
psíquico antes de iniciar o processo transexualizador, podendo
desencadear inclusive comportamentos suicidas e autolesivos, além dos
transtornos mentais comuns, como a depressão e a ansiedade. Durante
o processo transexualizador foram relatados alterações no humor e
agravamento de sintomas de depressão e ansiedade a partir do início da
hormonização. Considerações finais: O sofrimento psíquico foi
identificado antes do início do itinerário terapêutico em busca do

1428
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

processo transexualizador e se mantém durante o processo, sobretudo


após o início da hormonização. É imprescindível que se tenha
conhecimento do sofrimento psíquico que cerca os homens
transgêneros durante seu itinerário terapêutico para que se elaborem
estratégias e políticas que possibilitem melhorar o acesso à saúde e à
qualidade de vida desses indivíduos, bem como diminuir o sofrimento
psíquico dessa população.

1429
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O stalking e os perfis das vítimas: uma revisão


narrativa da literatura científica no contexto nacional

Ivana Capistrano Pinto


Sara Guerra Carvalho de Almeida
Universidade de Fortaleza– Unifor

O stalking é uma forma de violência interpessoal, que se caracteriza pela


adoção de comportamentos de assédio persistente, através dos quais o
perpetrador estabelece diversas formas de vigilância, comunicação,
monitorização e contatos não desejados com a vítima, percepcionados
por esta de uma forma ameaçadora, podendo comprometer a sua
qualidade de vida. O conjunto destes comportamentos tende a escalar
em frequência e agressividade, podendo associar-se a outras formas de
violência (por exemplo, ameaças, agressões físicas ou psicológicas). De
forma não consensual, esse esforço abusivo de comunicação costuma
iniciar de forma virtual, podendo estender-se para contato
pessoalmente. O conjunto destes fatores rotineiros, caracterizados pela
falta de reciprocidade e similar à perseguição, afeta diretamente no
bem-estar e segurança da vítima. Diante dessa discussão, este trabalho
objetiva apresentar uma revisão narrativa da literatura científica
nacional acerta do stalking e os perfis das vítimas. Foi consultada a base
SciELO, de 2012 a 2020 com os descritores: stalking AND vítima. A
literatura brasileira mostra que padrões culturais interferem na
discussão da temática, justificando as ações como tentativas inocentes
de flerte ou sedução, mesmo que cheguem a se caracterizar como
assédio. Porém, essas experiências podem gerar consequências
negativas no âmbito da saúde psicológica da vítima e mudanças
indesejadas em seu estilo de vida. As pesquisas apontam que a maior
incidência dos casos atinge vítimas do gênero feminino, adolescentes e
jovens universitárias. No Brasil, 22,2% de mulheres entre 14 e 19 anos já
sofreram stalking. Ocorre como uma forma de controle nos

1430
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

relacionamentos entre namorados e cônjuges, mas também persiste no


término de relacionamentos, contra colegas, amigos e com pessoas
desconhecidas. Outro foco deste estudo é o pós-stalking para a vítima.
Pesquisas apontam que a maioria apresenta impactos e danos a curto e
longo prazo, tais como estresse pós-traumático, perturbações
emocionais, comportamentos sexuais de risco, medos e fobias
excessivas, principalmente em relacionamentos e demonstrações de
afeto. No Brasil, o stalking não é considerado crime e sim contravenção
penal, nos termos do artigo 65 da Lei de Contravenções Penais:
Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por
motivo reprovável: Pena prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou
multa (...). Fato é que a maioria das vítimas alvo de stalkers são
mulheres. Sendo assim, importante verificar também a abordagem dada
pela Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha: Art. 5º e
Art. 7º. A Lei Maria da Penha não abrange todas as condutas que podem
ser consideradas como stalking, mas assegura maior proteção às
mulheres. Por isso conclui-se que é importante estudos que apresentem
possíveis ferramentas de combate ao fenômeno do stalking e outros
que mapeiem as consequências para as vítimas. Ainda há poucos artigos
na área, reforçando a importância deste, que também objetiva dar
visibilidade a esses acontecimentos tão corriqueiros, mas que ainda não
possuem a representatividade que deveriam.

1431
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Os impactos de uma sociedade patriarcal


sobre o psíquico de pessoas trans

Leticia Lopes Pereira Coutinho

A pesquisa em questão realizada em 2020 teve como objetivo


compreender os impactos de uma sociedade machista ao psicossocial de
transexuais. Foram feitas entrevistas presenciais antes do surto de
Covid-19, no entanto, por este mesmo motivo não se teve condições
para continuá-las presencialmente, portanto obtive o WhatsApp como
ferramenta para continuar realizando-as. As discriminações à população
T se dão em razão da identidade de gênero ao qual se asseguram
pertencentes, se manifestam por muitas vezes desde a infância, nas
mais diversas formas de violência, estas podem gerar sofrimentos por
muitos anos, já que é na infância onde muitas vezes as situações
vivenciadas nos moldam desde a forma de ser, agir ou pensar. Notei nos
resultados da pesquisa realizada um grande adoecimento psíquico
enfrentado por esses sujeitos, tanto pela discriminação, como também
pelo fato da grave violação de direitos na qual esses indivíduos passam.
Quando questionados quanto a essa violação de direitos, 83,3%
afirmaram que sim, sofrem constantemente e 16,7% já sofreram. Há
muitos anos, homens e mulheres foram tratados e tiveram funções
diferentes impostas pelos padrões, segundo Almeida (Assistente social
no combate a preconceito: Transfobia-2018). As definições biológicas
dos sujeitos não existem em absoluto, mas sim são diversas construções
sociais que dão sentido aos nossos corpos e o que eles fazem. No
entanto, a sociedade insiste em separar homens e mulheres por corpos
e funções, e quem mais sofre são os indivíduos trans, pois são estes que
transgridem a normatividade imposta pela sociedade. A transexualidade
durante anos esteve na Classificação Internacional de Doenças (CID 10-
F64) feita pela Organização Mundial de Saúde e era tida como
transtorno de identidade sexual. Esse estigma de ser uma doença só

1432
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

fortaleceu a transfobia. Toda essa violência pode acabar desencadeando


nesses indivíduos um grande adoecimento mental, que abrange desde
depressão asíndromes do pânico, como foi relatado na pesquisa.
Quando perguntado aos entrevistados se possuem ou conhecem alguém
transgênero que tem algum transtorno psíquico causado pelo
machismo, 100% dos indivíduos alegaram que sim. Na pesquisa, era
quase que unânime o número de indivíduos relatarem que pensaram ou
pensam por muitas vezes em amputar alguns membros do corpo, como
por exemplo mulheres trans, o pênis, por representar algo masculino
que não é coerente com o seu psíquico feminino, ou quanto aos homens
trans, os seios, por representarem algo feminino em seus corpos. O ato
de sentir ter um membro que não pertence a si pode ser denominado
como disforia de gênero e está muito presente na vida desses indivíduos
como algo comum segundo a pesquisa. Esses relatos podem apontar
graves sofrimentos psíquicos, e podem desencadear sérios problemas
na vida desses seres humanos levando-os até ao possível suicídio. A
padronização do que é feminino/masculino pode agir de forma muito
negativa na mente desses sujeitos, que entram em sofrimento quando
não conseguem atingir os padrões ditos femininos/masculinos
almejados. Esses padrões impostos, quando transgredidos, tendem a ter
respostas agressivas pela sociedade que não aceita essa transgressão.
Destas respostas a violência psíquica é mais comum cometida sobre
esses sujeitos.

1433
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Pânicos de uma futuridade macabra: o discurso do risco


na produção do diagnóstico infantil de disforia de gênero

André Filipe dos Santos Leite


Secretaria de Saúde de São Cristóvão

Genilson Ribeiro Santos


Universidade Estácio de Sá

No contexto da ordem psiquiátrica contemporânea, a infância parece


funcionar como um espaço privilegiado de controle. Investigações,
orientações, prescrições e condutas todas direcionadas a essa fase
específica da vida parecem albergar uma certa ambição pela detecção
precoce de indivíduos em risco de desenvolver uma patologia
psiquiátrica grave porvir, que poderia, no momento presente, ser
prevenida antes que se desenvolvesse no futuro. Assim, o objetivo desse
texto é apontar como esse processo tem levado a um movimento de
captura e adstrição das experiências de vida trans como sinônimo de
patologia, sob a insígnia de “disforia de gênero”. Utilizando elementos
metodológicos da analítica de discurso foucaultiana tomamos como
material de análise a quinta e última edição do “Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais”, pretendendo questionar como
alguns comportamentos infantis são tomados pelo DSM-5 como
indicadores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais
“mais graves” na fase adulta e que, portanto, desde então, se tornam
alvos potenciais de intervenções de viés preventivo. Em um capítulo
inteiro dedicado à identificação da disforia de gênero na infância, o
DSM-5 cria marcadores diagnósticos extremamente frágeis, que se
ancoram em comportamentos sociais pautados num binarismo de
gênero. O manual cita, por exemplo, que “meninas pré-puberais”,
apresentam o transtorno quando “preferem usar roupas e cortes de
cabelo de meninos”, ou quando os meninos “desempenham papeis

1434
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

femininos em brincadeiras”. Segundo o manual, os meninos com disforia


de gênero com frequência preferem “brincar de casinha, desenhar
quadros femininos, assistir a programas de televisão ou vídeos com
personagens femininos”. “Bonecas estereotípicas femininas (p. ex.,
Barbie) geralmente são seus brinquedos favoritos, e as meninas são as
companheiras de brincadeira preferidas”. Ainda conforme o manual, as
meninas com disforia de gênero preferem “esportes de contato,
brincadeiras agressivas e competitivas e jogos tradicionalmente
masculinos”. O que observamos, nesses trechos, é que quando o DSM-5
descreve uma possível “disforia de gênero” na infância, em nada o
manual está se referindo a constantes sintomatológicas clinicamente
observáveis, mas está no fundo endereçando suas atenções às
normativas de gênero que exigem que os sujeitos nascidos com uma
determinada genitália representem uma performance de gênero
específica que foi historicamente construída e culturalmente assimilada
àquela genitália em questão. A existência de sujeitos que rompem e
transitam essas fronteiras de gênero, tão cuidadosamente formatadas
por uma sociedade que exige uma linearidade incorruptível entre sexo
biológico e expressão de gênero, constrange um suposto projeto de
sociedade estável. E por isso mesmo, nessa lógica, é que esses sujeitos
“disfóricos do gênero” devem ser regulados, gerenciados e
normatizados.

1435
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Perfil dos cuidadores de crianças e adolescentes


acompanhados por um CAPSij no município de São Paulo

Luciane Régio Martins


Sônia Barros
Caroline Ballan
Carla Aguiar
Luis Eduardo Batista
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP

Introdução: A atenção à saúde da população negra pode enfrentar o


racismo como barreira de acesso a direitos e, ainda, o estigma
relacionado a problemas de saúde mental. No processo de adoecimento
de crianças e adolescentes, por vezes é necessário uma organização
familiar para o cuidado, que influencia diretamente no processo
saúde/doença, e por isso torna-se fundamental conhecer o perfil do
cuidador principal. Objetivo: Caracterizar o perfil sócio-familiar das
crianças/adolescentes negros com problemas de saúde mental,
inseridos em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSij).
Método: Estudo de abordagem quantitativa, realizado em um CAPSij na
região norte do município de São Paulo. O “n” da pesquisa foi de 264
usuários pretos e pardos, com prontuários ativos entre os meses de
maio a julho de 2019, cujos familiares foram convidados para as
entrevistas. No entanto, foram entrevistados 55 familiares das
crianças/adolescentes negros do CAPSij, e com exclusões posteriores
foram realizadas 47 entrevistas com cuidadores de 49 crianças e
adolescentes usuárias do serviço. Resultados/Discussão: Os resultados
seguiram as características históricas e sociais hegemônicas da tradição
patriarcal do Brasil. Os responsáveis pelas crianças/adolescentes negros
foram 90% mulheres, dentre essas, 85,7% negras, responsáveis pela
sustentabilidade da vida, pelo cuidado e muitas vezes pela renda
familiar. Uma parcela das mulheres entrevistadas era responsável

1436
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

sozinha pelo cuidado e, prioritariamente, as pretas e indígenas possuíam


acesso desigual à educação formal e fragilidades substanciais na rede
social. Os dados mostraram importante desigualdade de gênero no
acesso ao mercado de trabalho formal, onde as mulheres com salários e
acesso a poder menores, muitas com sobrecarga de trabalho
considerando que possuem “dupla”, no cuidado dos filhos e da casa.
Segundo pesquisas, a qualidade de vida em saúde mental deve ser
compreendida pelo acesso aos direitos humanos, condições sociais,
econômicas, políticas, culturais e étnico-raciais. Nas interseccionalidades
é possível compreender as desigualdades entre mulheres brancas e
negras e homens segundo raça/cor, sendo os privilégios da branquitude
assim estruturados para manter desigualdades. Considerações finais: As
desigualdades relativas ao gênero e à cor da pele não foram amenizadas
e continuam incidindo sobre as mulheres. Estas agravam-se quando as
mulheres são negras são as cuidadoras, mães de crianças e adolescentes
negros com problemas de saúde mental, que além de conviverem com o
estigma produzido pela sociedade, enfrentam barreiras no cuidado de si
e dos filhos, relacionadas ao racismo.

1437
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Promoção da saúde mental entre estudantes secundaristas


em uma abordagem centrada nos direitos humanos

Marcos Roberto Viera Garcia


Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR

Esta apresentação refere-se a resultados do projeto temático


"Vulnerabilidades de jovens às IST/HIV e à violência entre parceiros:
avaliação de intervenções psicossociais baseadas nos direitos humanos"
(Fapesp # 2017_25950-2), do qual o autor é pesquisador-associado. O
projeto temático em questão tem a participação de pesquisadores de
diversas instituições do estado de São Paulo, além de colaboradores de
outros estados e internacionais, e tem o período de seu
desenvolvimento previsto para o prazo de 60 meses, entre abril de 2019
e março de 2024. Tem, como um de seus objetivos centrais, avaliar o
alcance e os processos pelos quais uma intervenção baseada em uma
abordagem psicossocial e multicultural de direitos humanos modifica a
comunidade escolar (de estudantes, professores e pais participantes),
por meio da incorporação de princípios de direitos humanos e da
construção social de diferentes experiências de juventude relacionadas
à sexualidade, violência e prevenção. Desde o início do trabalho de
campo do projeto temático, que envolveu alunos, professores e
gestores do ensino médio de nove escolas públicas (cinco na região Sul
de São Paulo, duas em Sorocaba e duas em Santos), houve, em todas
elas, a manifestação dos gestores acerca da preocupação com o alto
número de alunos/as com problemas no campo da saúde mental. A
sequência da pesquisa evidenciou a mesma preocupação entre
professores/as e alunos/as. Em um questionário estruturado,
desenvolvido como parte da pesquisa e aplicado entre os meses de
outubro e dezembro de 2019, com 717 alunos concluintes do ensino
médio das nove escolas, 43,7% dos jovens relataram já ter tido ideação
suicida na vida, 28,4% já ter planejado suicídio alguma vez na vida e

1438
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

32,4% relataram algum episódio de autolesão, resultados


significativamente maiores que os obtidos por pesquisa semelhantes
realizadas em outros países, reforçando a necessidade da inclusão do
tema da saúde mental nos processos de intervenção planejados
posteriormente dentro do projeto temático, o que passou a ser
consensual para a equipe que dele participa. Em março de 2020, com a
retomada do trabalho de campo junto às escolas para a construção do
projeto de promoção dos direitos humanos a ser realizado, o início da
epidemia de Covid-19 e seu impacto sobre a comunidade escolar
intensificou a preocupação de estudantes, professores e gestores acerca
do agravamento do sofrimento mental decorrente das medidas de
distanciamento social. As etnografias virtuais realizadas desde então,
com o seguimento de algumas atividades da pesquisa de forma remota,
mostraram de forma bastante incisiva esse processo, apontado também
na bibliografia recente sobre Covid-10 e saúde mental, Frente a esse
desafio, surgido na pesquisa a partir da relação construída com as
escolas, foi decidida pela equipe de pesquisa a incorporação da
dimensão da saúde mental de forma mais incisiva nas atividades a
serem desenvolvidas no projeto temático, seguindo-se a perspectiva
centrada nos direitos humanos. O objetivo da presente apresentação é
discutir o impacto das diversas formas de opressão – em especial de
classe, raça/etnia, gênero e orientação sexual – no sofrimento mental
desses jovens e as estratégias possíveis para sua mitigação.

1439
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Psicogerontologia e psicoterapia de orientação


psicanalítica com idosas sobreviventes de si mesmas

Emanuel Miranda de Santana


Faculdade de Ciências Humanas de Olinda – FACHO

Essa pesquisa apresenta um estudo sobre a psicogerontologia e


psicoterapia de orientação psicanalítica com idosas sobreviventes de si
mesmas. Como forma de compreender este fenômeno, fez-se uso da
perspectiva teórica da psicogerontologia, por favorecer a compreensão
holística do sujeito idoso tendo como pressuposto os processos
psíquicos do envelhecimento como construção histórica e permanente
da subjetividade, e da psicoterapia de inspiração psicanalítica, por
favorecer não somente direcionamentos à prática clínica em psicologia
como também referenciais teóricos que contribuem para a
compreensão do suicídio como um acting out, como possível forma de
comunicação das angústias concernentes a esta fase da vida. Desta
forma, tendo como pressuposto a perspectiva de uma pesquisa
qualitativa, e utilizando-se do método bibliográfico, foi possível verificar,
tomando como referência as contribuições da antropologia e história,
que a velhice é uma construção social que corrobora para a ampliação
das angústias vivenciadas nesta fase da vida, justamente por criar
expectativas concernentes a cada fase. Foi necessário explicar como se
dá a formação da identidade da mulher idosa, considerando esta
construção a luz do conceito do Estádio do Espelho, proposto por
Jacques Lacan, e ademais, assinalar quais os cenários e desafios
decorrente deste processo de formação identitária, explicando o que
Alfredo Jerusalinsky conceitua como Neurose de Envelhecimento,
referindo-se a uma série traumática comum à velhice. Foi preciso
apontar dados do recenseamento no que diz respeito a população idosa,
como forma de evidenciar o crescimento e as projeções de contínuo
crescimento desta população, além de articular estes dados com outros

1440
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estatísticos referentes ao suicídio no mundo e no Brasil, destacando que


a população idosa é maioria relativa em termos de suicídio no Brasil,
sendo as mulheres idosas as que configuram 80% do grupo das
chamadas sobreviventes de si mesma. Conclui-se que a prática
psicoterápica de orientação psicanalítica com mulheres idosas mostra-se
como uma possibilidade de oferta de um lugar onde seja possível a
construção de um saber sobre o sofrimento psíquico, decorrentes não
só dos traumas vivenciados nesta fase da vida, mas de toda construção
da cadeia significante destas mulheres sendo, neste sentido, um
importante coadjuvante no processo de elaboração dos traumas
vivenciados. Propomos a ampliação de oferta na formação acadêmica
em Psicologia, que favoreça a compreensão holística do sujeito idoso,
bem como deste sujeito na perspectiva da psicogerontologia, o que nos
parece impactar na redução das consequências que a periodização da
vida causa, por exemplo, ao sugerir que o sujeito tenha que seguir e/ou
se adequar a determinados imperativos sociais que ditam
comportamentos e ocupação de lugares e espaços, o que determina
antagonicamente, a criação e ampliação de áreas de silenciamento, que
causam angústias e traumas como apontado, que necessita e urge por
escuta e intervenções capacitadas, sobretudo num pais que envelhece a
passos largos.

1441
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Psicologia clínica e racismo: possibilidades


e atuações de psicólogas de Salvador, Bahia

Felipe Barbosa dos Santos


Marilda Castelar
Veridiana Silva Machado
Lucas Novais Barros
Alice Oliveira Silva dos Santos
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP

Introdução: A Psicologia no Brasil, segundo seu código de ética, deve


promover a saúde e ajudar na contribuição de quaisquer formas de
negligência, discriminação, exploração e opressão. Logo, em situações
aos quais hajam determinadas populações com especificidades a serem
atendidas, a Psicologia é convocada a agir de acordo. Assim é necessária
a discussão pelas psicólogas a saúde mental associada às relações
raciais, visto que o racismo cria e mantém formas de existir que geram
grande sofrimento. No entanto, considerando a saúde de forma integral,
a partir da interseccionalidade de aspectos socioeconômicos, políticas
públicas e crenças culturais, a fim de se conseguir uma visão ampla dos
sujeitos. Ressalta-se a importância dessa pesquisa considerando o fato
de ela acontecer em uma cidade com um perfil em que seus
profissionais precisam estar atentos às necessidades dessa população
para o exercício de sua profissão em relação a essas demandas.
Objetivo(s): Possui como objetivo geral analisar a atuação de psicólogas
clínicas de Salvador frente ao racismo e frente à demanda de
atendimento fruto do racismo. Como objetivo especifico: identificar
formas de atuação de psicólogas no enfrentamento ao sofrimento
psíquico fruto do racismo. Método: O trabalho consistiu em uma
pesquisa qualitativa de tipo descritiva e exploratória. Foram analisadas
seis entrevistas com psicólogas de Salvador a partir da análise de
conteúdo, segundo Minayo. Os critérios de inclusão das psicólogas

1442
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

foram a autoidentificação como negras e possuírem alguma divulgação


do seu trabalho com relações raciais e tempo de atuação na clínica de
no mínimo dois anos. O roteiro para entrevista consistiu em perguntas
sobre a concepção de preconceito e racismo, o reconhecimento por
parte dos entrevistados de alguma demanda específica da população
negra, como se dá atuação no manejo do sofrimento específico do
racismo. Sobre o próprio autocuidado enquanto profissional da saúde e
a percepção e oua preocupação de seus colegas de profissão sobre essas
demandas. Resultados: Pode-se concluir que para essas psicólogas o
trabalho do racismo na clínica é algo frequentemente trazido por seus
pacientes, seja como uma demanda primária ou associado a um outro
estado de sofrimento. A partir da identificação do racismo no setting
terapêutico, elas potencializam as formas de elaboração do sofrimento.
Considerações finais: Conclui-se que esse estudo contribui para o
exercício em psicologia frente ao sofrimento psíquico originado pelo
racismo, constatando formas específicas de atuação com essa
população. As psicólogas que trabalham com a população negra
inevitavelmente entram em contato com o sofrimento oriundo do
racismo, já que a raça se mostrou como um significador de outras
experiências.

1443
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Racismo: processo de subjetivação e danos


à saúde mental da população negra brasileira

Monique de Jesus Souza


Izaura Maria Carvalho da Graça Furtado
Centro Universitário do Instituto Social da Bahia - Unisba

A colonização e a escravização dos povos indígenas e africanos deixaram


marcas estruturais no funcionamento da sociedade brasileira,
influenciando o entendimento de noções básicas como a concepção do
que é ser humano. Dentre os diversos modos de manifestação do
racismo, os efeitos no âmbito psíquico tornam-se relevantes para
discutir a formação das singularidades brasileiras. O presente artigo
buscou compreender como as estruturas sociais se articulam com o
racismo no Brasil interferindo na construção subjetiva, e como
impactam na saúde mental da população negra brasileira. Por meio de
pesquisa bibliográfica de revisão de literatura, recorremos a produções
científicas através de livros, artigos, cartilhas e outros documentos
referência na temática. Para a busca dos artigos científicos nas
plataformas digitais SciELO (Scientific Eletronic Library) e LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) foram
utilizadas as palavras-chave: “Racismo”, “Brasil” e “Psicologia”, e
filtradas publicações dos últimos cinco anos. Por critério de exclusão, a
partir da leitura atenciosa dos resumos, foram selecionados 13 artigos
para a amostra final. Com a intercorrência da pandemia do Covid-19, foi
importante verificar como essa crise sanitária vem afetando as
condições de vida da população negra, já que as desigualdades
preexistentes passam a se aprofundar nas populações mal assistidas. O
artigo foi dividido em três subtítulos: Racismo e violências; Âmbito
psíquico: estereótipos, identidade e saúde mental; e Medidas de
enfrentamento: contribuições da psicologia. Os resultados mostram que
o racismo atrela a figura do negro a estereótipos negativos e influencia

1444
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

na construção da subjetividade, produzindo identidades colonizadas,


tendo o branco como ideal, e distorcidas, onde a autopercepção e a
percepção social sobre ser negro o situa numa posição de subserviência
e inferioridade. Também constatou-se danos psíquicos causados pelo
racismo, a partir do surgimento de transtornos como depressão,
ansiedade, baixa autoestima, distorção do autoconceito, auto-ódio e
ideação suicida, além de sintomas físicos como taquicardia, hipertensão
arterial, ataques de pânico e úlcera gástrica. Foi observado que o
racismo patriarcal se sobressai com a crise sanitária fazendo emergir o
aprofundamento da desigualdade em saúde sobre a população negra,
mais exposta ao vírus por conta do trabalho informal, mas
principalmente sobre a mulher negra, impactando nos direitos
reprodutivos, na suscetibilidade à violência doméstica por conta do
isolamento social, na sobrecarga de tarefas, além da privação da
liberdade, nos casos de empregadas domésticas que ficam impedidas de
sair da casa dos patrões para não contagiá-los. Evidencia-se o quanto a
qualidade da saúde mental está implicada diretamente nas condições de
vida. Questiona-se nesse trabalho a supremacia das produções
epistêmicas eurocentradas no campo de saber da psicologia; e sobre os
reflexos de não voltar-se para a questão das relações étnico-raciais.
Contudo, é imprescindível considerar que o tratamento psicossocial é
tão importante quanto o tratamento psicológico individual, pois o
adoecimento psíquico é sintoma de uma doença social, e esse cuidado
precisa estar alinhado a um pensamento antirracista, cuja capacidade se
dá a partir do letramento, conscientização e comprometimento social.

1445
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Recorte de gênero no enfrentamento ao Covid-19:


uma revisão integrativa de literatura

Júlia Bernardes Costa


Universidade Federal de São João Del Rei – UFSJ

Natanna Késsia Nunes Gomes


Universidade Anhembi Morumbi – UAM

A Covid-19 surgiu na China e se expandiu por todo o mundo, sendo


nomeada como pandemia em 11 de março de 2020, pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Esse cenário evidenciou desigualdades de
classe, de raça e de gênero, destacadas nessa revisão. Acerca do
entendimento sobre gênero, existem diversas conceituações, contudo a
que será adotada nesse estudo compreende gênero como uma
construção social a partir da cultura, impondo definição de papéis
sociais hierárquicos distintos entre homens e mulheres. Dessa forma, os
impactos da Covid-19 tendem a ser diferentes entre os gêneros e as
intersecções das demais vulnerabilidades sociais. Trata-se de uma
revisão integrativa de literatura, que foi capaz de sintetizar os resultados
obtidos pelo levantamento bibliográfico, direcionando-os à
aplicabilidade prática. As bases de dados pesquisadas foram: LILACS,
SciELO e PePSIC, em que se aplicou as seguintes palavras-chaves: gênero
and covid; mulher and covid; saúde mental and gênero and covid.
Encontrou-se um total de 115 artigos, onde 11 foram selecionados. A
seleção levou em consideração o critério da definição de gênero
adotada por esse estudo, uma vez que a maioria dos artigos abordava a
temática de gestação e Covid, evidenciando uma ligação direta entre
mulher, maternidade e gênero. Como consequência do isolamento, a
violência doméstica contra mulheres aumentou substancialmente. Além
disso, mulheres têm vivenciado mais intensamente o acúmulo de
funções durante a pandemia, especialmente com a interrupção das

1446
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

aulas e o cuidado com os filhos, aliado às jornadas de trabalho em casa.


Os estudos encontrados corroboram para marcadores de gênero, classe
e raça, fazendo-se importante implantação de estratégias
interseccionais no enfrentamento durante e pós-pandemia. Foi possível
identificar nos estudos que o impacto acarretado na saúde mental com
a vivência da pandemia ocorre em níveis diferentes, em diferentes
sujeitos. Portanto, é importante ressaltar que o vírus da Covid-19 não
afeta da mesma forma as diferentes pessoas, repartidas em um
contexto social desigual. Dessa forma, estratégias de enfrentamento
que não levem em consideração os recortes sociais, como a violência de
gênero, farão com que a sociedade mergulhe em discrepâncias sociais
muito mais evidentes do que aqueles sentidas e vividas antes da
pandemia. Além disso, durante a pesquisa foi possível evidenciar que
predomina na literatura a concepção biologista de gênero, aliando o
constructo a um viés sexual. Tal concepção precisa ser superada para o
respeito a diversidade de gênero dos atores sociais.

1447
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Rede de cuidado formal acessada por usuárias que vivenciaram


violência doméstica e em sofrimento psíquico atendidas pelo CAPS e
CREAS em um município do interior do Rio Grande do Norte

Kyra Kadma Silva Fernandes de Medeiros


Ana Kalliny de Souza Severo
Luiza Celeste Palhares Bezerra
Rafaela Gomes da Silva
Débora Fernanda Costa de Andrade
Universidade Federal do Rio Grande do Norte– UFRN

A violência doméstica constitui um fenômeno que atinge parte


significativa de mulheres, fomentada a partir da naturalização das
relações de poder, gerando a expressão de sofrimentos psíquico. Assim,
a patologização das demandas tem sido comum nos serviços de saúde e
na assistência social. No âmbito dos municípios do interior esse quadro
se agrava em virtude das dificuldades na implementação de políticas
públicas, sobretudo que prestem suporte a mulheres que vivenciam
violência doméstica e perpassam questões psíquicas. Sendo assim, o
CAPS é responsável por receber demandas de cunho psicossocial e o
CREAS atua como um serviço que recebe casos relativos a direitos
violados, inclusive de violência doméstica. Desse modo, surgiu o
interesse em pesquisar a rede de apoio formal que concede proteção a
essas mulheres que tiveram seus direitos violados e que vivenciaram
sofrimento psíquico. A pesquisa tem como objetivo conhecer a rede de
cuidado formal que as usuárias desses serviços acessaram para o
fortalecimento do apoio institucional. O estudo está orientado pela
Análise Institucional e na perspectiva qualitativa. As participantes da
pesquisa foram mulheres atendidas pelo CAPS e CREAS do município de
Santa Cruz, Rio Grande do Norte, que sofreram algum tipo de violência
doméstica. Sendo assim, utilizou-se a ferramenta de usuárias-guias. Ao
todo foram entrevistadas cinco mulheres, sendo uma delas a mãe de

1448
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

uma usuária. Também ocorreram diálogos com os profissionais a fim de


mobilizar o debate sobre os casos. Assim, foram utilizados como
instrumentos: 6 rodas de conversas com os profissionais, entrevistas
semiestruturadas, diários de pesquisa, ecomapas, os prontuários e
registros dos serviços. A partir da análise dessas ferramentas, foi
possível perceber. nesse processo, um analisador que se mantém
instituído, referente à rede de apoio formal oferecida a essas mulheres.
Por mais que as relações das usuárias com os serviços formais tenham
se modificado ao longo de suas vidas, a rede parece operar de maneira
fragmentada, influenciando no acesso, apontado por todas as usuárias
entrevistadas. Sendo assim, os que foram mencionados como serviços
de vínculos fortes são o próprio CAPS e o CREAS, pois elas relatam que
além de sentirem mais confiança, conseguem dialogar horizontalmente
com os profissionais, evidenciando que não procuram outros serviços. Já
os serviços mencionados como vínculos frágeis foram o CRAS, Hospital,
Unidade Básica de Saúde (UBS), sendo relatado por duas usuárias que os
procuram de forma esporádica. Uma das entrevistadas aponta que
somente procura para seus familiares por não se sentir confortável. Tais
resultados podem corroborar com a literatura na perspectiva de que
muitos serviços ainda têm dificuldade em acolher demandas de
violência doméstica e de reconhecer que esse fenômeno carrega
consigo um sofrimento psíquico. Percebe-se, também, a ausência de
articulação entre os serviços especializados e o território onde habitam
essas mulheres. Da mesma forma, foi identificado que é necessário
buscar o fortalecimento com a rede informal de apoio e um diálogo
intersetorial para responder as demandas existentes. Dito isso, emerge
a necessidade de promover mudanças no modo como os serviços se
articulam, especialmente com a base territorial comunitária.

1449
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Relato de vivências de pessoas trans


no litoral do Rio Grande do Sul

Gabriel Licoski dos Santos


Zuleika Leonora Schmidt Costa
Centro Universitário Cenecista de Osório – UNICNEC

Na atualidade, questões relacionadas a gênero e sexualidade se


encontram em destaque visto a intensificação das lutas pelos direitos
das minorias que estão relacionadas a tais categorias. Tal cenário se
justifica pelo intenso processo de violência física e psicológica sofrido
por estes durante toda a sua história. Nesse cenário, uma das
populações mais marginalizadas e violentadas é o das pessoas trans,
cabendo destacar que o Brasil é ainda o país que mais mata travestis e
transexuais no mundo. Assim, fica evidente a necessidade de pesquisas
que visem conhecer a realidade enfrentada por essas, compreendendo
os processos discriminatórios enfrentados para que se possa reverter tal
conjectura. Partiu-se do entendimento que sexo é algo que se define
pela natureza, fundamentado no corpo orgânico, biológico e genético, e
de que gênero é algo que se adquire por meio da cultura. Isso se baseia
na percepção de que o sexo - homem ou mulher - é um dado natural, a-
histórico, e que o gênero é uma construção histórica e social(ARÁN,
2006). Ademais, segundo Butler(2003), ser sexuado é estar submetido a
uma série de regulações sociais, que ao mesmo tempo norteiam uma
inteligibilidade e uma coerência entre sexo, gênero, prazeres e desejos,
funcionando como um princípio hermenêutico de autointerpretação.
Neste raciocínio, os efeitos dessa construção agem na produção de
subjetividades que reiteram a matriz heterossexual constituída ao
mesmo tempo pela dominação masculina e pela exclusão de formas
diversas de sexualidade. Nesse sentido, formas de ser que fogem a esta
matriz sofrem diferentes formas de violência simbólica na tentativa de
encaixá-los na matriz hetero-cis-normativa. Visto isso, objetivou-se por

1450
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

meio da presente pesquisa conhecer as vivências de pessoas transexuais


da região litorânea do Rio Grande do Sul. Para tal, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com três pessoas transexuais utilizando de
perguntas abertas como: “Quando você começou a perceber que era de
um gênero diferente ao que lhe foi atribuído no nascimento? Que fatos
lhe fizeram sentir isso?” entre outras. O material coletado aponta para a
presença de processos de discriminação semelhantes em todos os casos
que causaram ao longo da vida destes sujeitos intenso sofrimento
psíquico. Ainda, os relatos divergiram quando relacionados ao desejo de
transformações cirúrgicas do corpo, processo de socialização nos
ambientes escolar e familiar, ao surgimento do sentimento de
inadequação com o corpo e a experiência com o atendimento por parte
dos profissionais de saúde. Com base nas entrevistas realizadas
percebemos as especificidades de cada caso, o que revela a diversidade
presente na experiência de ser transexual. Ademais foi possível perceber
a importância das redes de apoio e de capacitação dos profissionais de
saúde visto que esses aparecem como fatores de proteção que foram
fundamentais na vida dos entrevistados. Além disso, destaca-se a
importância de novos estudos sobre a temática e posterior divulgação
destes visto a grande quantidade de informações em senso comum
sobre o tema que contribuem para a manutenção dos processos
discriminatórios.

1451
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental das estudantes negras na Universidade Federal da Bahia:


um olhar da vivência acadêmica
sob a perspectiva do racismo estrutural

Danielle Evelyn de Jesus


Universidade Federal da Bahia – UFBA

O presente trabalho apresenta um relato de pesquisa oriundo do


Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA) intitulado “Saúde mental das estudantes negras
na Universidade Federal da Bahia: um olhar da vivência acadêmica sob a
perspectiva do racismo estrutural”. Compreende-se que o campo da
saúde mental não é neutro, é um cenário de constantes disputas de
narrativas e projetos ético-políticos nas sociedades de classe, sobretudo
naquelas fundadas em processos de dominação colonial, como a
brasileira. A ideia central da investigação reside da impossibilidade de
uma saúde mental plena no contexto da sociedade capitalista, que se
sustenta substancialmente a partir da opressão racial e patriarcal, que
desemboca nas relações de gênero e sexualidade. Nesse sentido,
analisar as relações sociais de dominação e opressão como
determinação da saúde mental na universidade pode desvelar processos
ocultos do sofrimento das mulheres negras, com vistas ao racismo
estrutural e a condição de mulher na sociedade patriarcal. Dessarte, o
que foi dito anteriormente expressa uma escolha metodológica e de
posicionamento ético-político nesse campo complexo e multifacetado
supracitado. Dito isto, definiu-se por objetivo da pesquisa analisar de
que forma o racismo estrutural materializado na instituição pode
influenciar na saúde mental das estudantes negras no contexto da
Universidade Federal da Bahia. A metodologia abordada foi pesquisa
descritiva com estudo de caso a partir do instrumento de questionário
destinado às estudantes negras da UFBA. Inicialmente está sendo
realizada uma revisão bibliográfica analisando os conceitos de racismo

1452
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estrutural, interseccionalidade entre raça, gênero classe e as expressões


dessas opressões na sociedade e, por conseguinte na universidade e do
próprio modelo de produção capitalista. A posteriori será aplicado
questionário virtual junto às sujeitas da pesquisa. O projeto será
submetido ao Cômite de Ética em atenção à Resolução 510/2016 da
Consep. As informações coletadas serão analisada através da análise do
conteúdo temática. Resultado e discussão encontram-se em
andamento.

1453
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Saúde mental das mulheres negras


vítimas de violência doméstica

Lissandra Bruna Rodrigues dos Santos


Mariana Carvalho Pessoa
Centro Universitário Brasileiro–UNIBRA

Alexandre Batista dos Santos


Universidade de Pernambuco–UPE

O presente trabalho busca discutir a saúde mental das mulheres vítimas


de violência doméstica e suas múltiplas expressões, assim como sua
relação com o adoecimento psíquico. Aborda a vulnerabilidade social
destas, tendo como enfoque suas manifestações na vida das mulheres
negras. O estudo tem como perspectiva realizar uma análise psicológica
acerca da loucura, suas formas de tratamento e abordagens em
diferentes contextos históricos. Destaca ainda os papéis de gênero
construídos socialmente e seus reflexos para o sofrimento psíquico
vivenciado pelas mulheres vítimas dessa violência, tendo como
referência o olhar da psicanálise para sua compreensão. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, elaborada por meio da análise
dos artigos publicados no banco de dados da Scielo entre os anos de
2016 a 2020, dos documentos publicados do Ministério da Saúde,
Organização Mundial da Saúde (OMS) e IPEA. O estudo compreendeu a
relevância do cuidado com a saúde mental enquanto uma estratégia de
acolhimento e defesa no enfrentamento da violência e a incidência de
transtornos mentais que acometem inúmeras mulheres, em sua maioria
negras, em decorrência de práticas e relacionamentos abusivos por
estas vivenciados. Nesse sentido, os abusos apresentam algumas
consequências, tais como o surgimento de patologiascomo depressão,
ansiedade e estresse pós-traumático. Em sua maioria, o principal agente
agressor são homens com os quais as vítimas tiveram ou mantêm

1454
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

relações afetivas. O estudo elucidou ainda a importância de políticas


públicas direcionadas para o enfrentamento da violência doméstica e
sua interrelação com a saúde mental das mulheres. Buscou
proporcionar uma reflexão acerca da necessidade de se pensar o
feminino nesse contexto e suas especificidades, em situações que
envolvam violências, assim como ações no combate ao machismo
estrutural e demais desigualdades e opressões de gênero. Por fim,
buscou-se pensar as contribuições da psicologia, no atendimento ao
adoecimento psíquico das mulheres, suas atribuições e possibilidades de
intervenções profissionais frente a complexidade da demanda
apresentada, considerando os aspectos legais, presentes nos
documentos formulados pela categoria diante das competências
técnicas e éticos que permeiam o universo da discussão.

1455
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Sexualidade, religião e a vivência de pessoas LGBTQ+

Mirelli Aparecida Neves Zimbrão


Cristiane Moreira da Silva
Universidade Católica de Petrópolis

O debate acerca da sexualidade e as diversas religiões vem ganhando


maior visibilidade acadêmica e para o público em geral na
contemporaneidade. O referente fenômeno parece ser consequência de
movimentos sociais e instituições que trabalham em prol de garantias
de direitos para pessoas pertencentes à comunidade LGBTQ+, ou seja,
pessoas não heterossexuais. Como consequência, vivenciamos
mudanças significativas em legislações e normativas brasileiras como a
retirada de relações não heterossexuais da classificação internacional de
doenças, a autorização para doação de sangue, o uso de nomes sociais
em documentos, entre outras modificações e projetos de lei em
andamento. Diante de tal quadro, o problema que orientou a presente
pesquisa foi investigar como se dá a experiência religiosa em pessoas
LGBTQ+. O objetivo principal foi avaliar como pessoas LGBTQ+
vivenciam a experiência religiosa, e os objetivos específicos foram
realizar estudos teóricos sobre religiosidade e orientação sexual e
investigar se a afirmação de orientação sexual LGBTQ+ pode motivar a
mudança de instituição religiosa ou interferir na prática de religiões. O
método consistiu em pesquisa exploratória qualitativa, por meio de 20
entrevistas baseadas em roteiro semiestruturado com adultos não
heterossexuais. Para discussão dos resultados foi utilizada a análise do
discurso foucaultiana. Dentre os principais resultados observou-se que
algumas pessoas se afastaram da sua religião de origem por sofrerem
preconceito em razão da orientação sexual e que algumas destas se
encontraram espiritualmente em religiões de matriz africana, como a
umbanda. Foi observado ainda um impasse entre o medo de assumir a
orientação sexual e a liberdade de se falar abertamente sobre isso, bem

1456
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

como a importância da postura dos líderes religiosos, a ressignificação


da ideia do divino e da vivência espiritual e a importância do suporte
familiar e social para que haja um processo de autoaceitação da
orientação sexual de modo satisfatório. Por fim, destacou-se que a
restrição da prática não heterossexual é específica de algumas
correntes/instituições religiosas, de modo que considerar que todas são
repressoras é invisibilizar as demais. Nesse sentido, é importante
ressaltar a representatividade nesses espaços, considerando que em
religiões de matriz africana pessoas LGBTQ+ podem ocupar cargos de
liderança. Com base nos resultados, pode-se perceber que ainda que
existam impasses entre pessoas LGBTQ+ e a experiência religiosa, esta
constitui uma vivência importante para algumas pessoas, de modo que
faz-se necessário romper com os preconceitos e modelos rígidos que
não dão conta da diversidade humana, para que todos tenham o direito
de expressar livremente sua sexualidade e fé.

1457
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Suicídio e expressões da questão social:


sofrimento psíquico no capitalismo

Igor Sastro Nunes


Escola de Saúde Pública

Alexandre Batista dos Santos


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Nos últimos anos o Brasil vem passando por diversas mudanças nos
campos políticos, sociais e econômicos, assim sofrendo com um
contexto de profundo desmonte em suas políticas de proteção social e
um avanço alarmante do capital sobre o trabalho, causando profundas
sequelas sociais que recaem sobre a classe trabalhadora que tem seus
direitos retirados a todos os momentos. O avanço do neoliberalismo e
do ideário de Estado mínimo no mundo, mas principalmente no Brasil,
ataca diretamente os direitos da classe trabalhadora, a redução das
políticas de assistência social, o desmonte da previdência e a
fragmentação dos vínculos de solidariedade entre os trabalhadores.
Fizeram do mundo do trabalho um campo fértil para o adoecimento
psíquico. Assim, o objetivo desta pesquisa busca compreender as
expressões da questão social que influenciam no desejo de morte na
sociedade capitalista, entendendo que o movimento do capital
corrompe os processos de trabalho e captura a subjetividade do
trabalhador, levando o mesmo em muitos momentos desenvolver o
desejo de morte, sendo que muito dos gatilhos motivadores dos
pensamentos suicidas provêm de um sentimento ligado à situação do
capital. O trabalho se constrói como um estudo bibliográfico sobre a
influência do capitalismo sobre o desejo de morte utilizando o método
de Marx. Entendendo por fim que o ato de tirar a própria vida acaba se
tornando uma resposta individualizada do sujeito frente a problemas
que não são individuais, como a precarização do trabalho e o

1458
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

desemprego, podendo ser em algumas situações um ato de rebeldia


isolado contra as opressões e as anulações da subjetividade que a
sociedade capitalista produz, assim sendo uma expressão individual de
um fenômeno coletivo. O ato de tirar a própria vida também se
configura como uma resposta imediatista ao pensarmos que na visão de
quem deseja a morte o suicídio se torna a única saída para o sofrimento
vivido, visto que a sociedade capitalista não proporciona tempo, nem
espaço em meio à necessidade de produção para a classe trabalhadora
conseguir ter acesso as outras possibilidades e alternativas. É necessário
pensarmos a importância dos vínculos de solidariedade da classe
trabalhadora corrompidos pelo capital que auxiliou e auxilia na
fragmentação da organização dos trabalhadores, assim corroborando
com o processo de adoecimento desses sujeitos, fazendo com que esses
indivíduos não consigam se enxergar por meio de um coletivo, mas sim
apenas de forma individual, desarticulando e enfraquecendo o
movimento dos trabalhadores como classe de direitos, fazendo com que
ao se verem sozinhos, com seus direitos retirados e enfraquecidos, o
suicídio pareça a única alternativa de enfrentamento.

1459
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Tentativas de suicídio em Sergipe

Laíssa Eduarda da Silva Oliveira


Luís Gabriel Rodrigues Santos
Vânia Carvalho Santos
Universidade Federal de Sergipe - UFS

A lesão autoprovocada é a violência que a pessoa inflige a si mesmo,


podendo ser subdividida em comportamento suicida e em autoagressão
(engloba atos de automutilação, incluindo desde as formas mais leves,
como arranhaduras, cortes, e mordidas até a amputação de membros).
A literatura confirma a existência da associação entre o número de
tentativas de suicídio e o aumento dos casos de suicídio. A pesquisa teve
como objetivo principal analisar o perfil sociodemográfico dos casos de
tentativas de suicídios registrados no banco de dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan) no ano de 2018 no estado
de Sergipe. Utilizou-se a abordagem qualitativa-quantitativo dada a
especificidade do objeto de estudo. A análise dos resultados permitiu
identificar que nesse período foram notificados 241 casos de tentativas
de suicídio no estado, sendo 66,3 % do sexo feminino, na faixa etária de
15 a 19 anos (27,3%), seguida de 20 a 24 anos (25,7%), da raça/cor
parda (58%) seguido pela branca (15,7%), o índice de escolaridade
predominante foi da 5ª a 8ª série incompleta do Ensino Fundamental
(12,8%), o local de ocorrência das tentativas de suicídio mais frequente
foi a residência (79,2%). As formas mais utilizadas foram
envenenamento (68,8%) e uso de objeto perfurocortante (9,1%). O
percentual de casos de reincidência abrangeu 39%, os casos ignorados
totalizados 34,8%. Em relação à evolução dos casos notificados, todos os
formulários estavam sem preenchimento. Conclui-se que esse perfil
corresponde ao descritos por estudos anteriores e as tentativas de
suicídio representam importante tema devido à sua magnitude e
ocorrência cada vez mais em idades precoces. Reforça-se a necessidade

1460
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

de pesquisas com vista a compreender sobre os fatores de risco e


proteção, grupos de pessoas vulneráveis, profissões mais suscetíveis ao
desenvolvimento de comportamentos suicidas, estudos sobre as
práticas de prevenção utilizadas pelos diferentes países além do
planejamento e execução dos programas preventivos nas diferentes
esferas de atuação dos profissionais de saúde. Ressalta-se a importância
do preenchimento dos dados, os quais possibilitam a visibilidade da
situação além de fornecer subsídios para a elaboração de atividades
preventivas.

1461
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Uso de álcool e outras drogas no itinerário terapêutico de homens


transgêneros em uma capital do Nordeste brasileiro

Luanna Carolyne Silva de Lacerda


Paula Hayasi Pinho
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

Resumo: O uso de substâncias psicoativas é um marcador significativo


de enfrentamento entre indivíduos em situações de vulnerabilidades.
Violações e violências físicas, psicológicas, sexuais e institucionais, além
de índices de desemprego, vínculos familiares e sociais frágeis, e
preconceito internalizado vivenciados pela população transgênera
podem ser propulsoras ao uso de álcool e outras drogas. Objetivos:
Compreender como o uso de álcool e outras drogas permeia o itinerário
terapêutico de homens transgêneros atendidos em um espaço de
cuidado e acolhimento a pessoas trans em uma capital do Nordeste
brasileiro. Método: Estudo de abordagem qualitativa realizado com
homens transgêneros, maiores de 18 anos, que realizam o processo
transexualizador pelo SUS e assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. Os dados foram coletados por meio de entrevistas
semiestruturadas e analisados por meio da técnica de análise temática.
Trata-se de um recorte de uma pesquisa maior aprovada pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, sob o
Nº 3.126.843. Resultados/Discussão: emergiram como categorias
empíricas o perfil do uso de substâncias psicoativas e os fatores
motivadores do uso de substâncias psicoativas. Foram percebidos
padrões de uso e abuso de diferentes substâncias psicoativas. As
dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, entraves no processo
transexualizador, e a solidão foram relatados como motivadores ao uso
recorrente de substâncias psicoativas; abuso na infância/adolescência e
sentimentos de desesperança e descontrole também estiveram
atrelados a esse uso. Considerações finais: O consumo de álcool e outras

1462
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

drogas permeia diversos momentos do itinerário terapêutico de homens


transgêneros que realizam o processo transexualizador pelo SUS, sendo
utilizado muitas vezes como uma forma de diminuir o sofrimento
psíquico. Conhecer fatores motivadores, protetivos, e o perfil de uso de
SPA dessa população, bem como identificar se aspectos do Processo
Transexualizador estão associados a esse uso, faz-se importante para a
possível construção de projetos e políticas públicas específicas voltadas
às necessidades dessas pessoas.

1463
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Utilização do Apoio Matricial em território tradicional:


traçando caminhos para o cuidado intercultural

Mayara Ines Feitoza dos Santos


Pedro Camilo Calado da Silva
Valquíria Farias Bezerra Barbosa
Alessandra Quitéria Barbosa de Oliveira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco –
IFPE (Campus Pesqueira)

Introdução: O Matriciamento utiliza um processo de construção


compartilhada em que duas ou mais equipes criam uma proposta de
intervenção pedagógico-terapêutica para integração da saúde mental à
atenção primária na realidade brasileira. Umas das formas que é
utilizada para construção compartilhada e articulações entre equipes se
dá por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o Sistema de
Atenção à Saúde Indígena (SASI). Objetivo: Caracterizar as ações
afirmativas de apoio matricial entre a equipe do Centro de Apoio
Psicossocial (CAPS) II e a Equipe Multiprofissional de Saúde Indígena
(EMSI) do Polo Base Xukuru do Ororubá, Pesqueira, Pernambuco.
Metodologia: Estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa
desenvolvido através de entrevista em profundidade com profissional
do CAPS II responsável pelo apoio matricial junto à EMSI do Polo Base
situado no território tradicional Xukuru, Pesqueira, Pernambuco. A
análise se deu pelo método da narrativa. O protocolo de pesquisa foi
aprovado por comitê de ática através do parecer nº1803905. Resultado:
Matriciamento ou Apoio Matricial constitui-se como prática de
cooperação entre uma equipe de atenção básica e uma equipe
especializada. Suas referências de apoio setoriais e intersetoriais
potencializam a oferta dos cuidados primários em sua complexidade.
Conforme a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas
(2002), no contexto estudado, os serviços do Sistema Único de Saúde

1464
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

(SUS) atendem às demandas não solucionadas no polo base, a exemplo


do atendimento especializado aos indígenas com transtorno mental, em
complementariedade ao SASI. A principal estratégia de apoio matricial
se dá por meio de articulação entre a psicóloga do CAPS II e a EMSI do
polo base de saúde. O atendimento aos usuários indígenas inicia-se com
a visita da psicóloga ao território, para conhecer a sua realidade e
interagir com os profissionais enfermeiros, médicos, psicólogos, técnicos
de enfermagem e assistente social. Para dar continuidade, a EMSI visita
o CAPS para uma visão integral do processo saúde-adoecimento e
terapêutico. As práticas de apoio matricial identificadas foram:
interconsulta, consulta conjunta de saúde mental e visitas domiciliares.
Essa articulação proporciona atendimento individualizado e respeito à
pluralidade étnica e cultural. As dificuldades evidenciadas foram: a
escassez de profissionais do CAPS envolvidos no apoio matricial, lacunas
de conhecimentos sobre o apoio matricial e falta de oportunidades de
capacitação. Conclusão: O apoio matricial é de imprescindível
importância na abordagem do sofrimento psíquico dos indígenas, de
acordo com os pressupostos da clínica ampliada, assim como na oferta
do cuidado intercultural, na construção da equidade étnica e na
efetivação da saúde diferenciada. Faz-se necessário inserção da
temática da interculturalidade nas ações de educação permanente
municipais e ampliação da articulação intersetorial para eficácia do
matriciamento em saúde mental.

1465
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Violência contra a mulher: contribuições do atendimento público em


Mato Grosso para a ressignificação da subjetividade feminina

Ariane Marques Lemes


Bárbara dos Santos Maroni
Renata Vilela Rodrigues
Centro Universitário de Várzea Grande - Univag

Cor, raça, etnia, classe social e inúmeras outras variáveis sempre foram
pontos a serem levados em consideração quando o assunto é violência
contra a mulher. Nessa direção, o presente trabalho pensa em
violências, no plural; isso por se tratar de um processo que não acaba
mesmo quando a mulher violentada recorre à rede pública de saúde,
Saúde Mental, e/ou assistência social, mas se dá em vários âmbitos de
inserção social, inclusive nos equipamentos públicos que deveriam
acolher, oferecer espaços terapêuticos e prevenir tais violências. Os
dados aqui colocados são frutos de uma pesquisa a qual teve sua coleta
feita no segundo semestre de 2019, em um munícipio de médio porte
do estado do Mato Grosso e encontra-se inserida no CEP-CAAE
correspondente a 09542919.5.0000.5692. Na referida pesquisa foram
realizadas 16 entrevistas com profissionais da rede de saúde, Saúde
Mental e assistência social. No que se refere à análise dos dados
obtidos, foi utilizada a metodologia foucaultiana da análise de discurso,
a qual se propõe a investigar e problematizar as relações de sabe/poder
estabelecidas no meio social, Além disso, fez-se também uso de
literaturas feministas inseridas no campo da ciência psicológica, dando
foco principalmente na interseccionalidade que, por sua vez, permite
um olhar mais crítico e focado no que concerne o modelo do
atendimento a classes específicas do ser e estar feminino - visto que
experiências e vivências sociais se diversificam de acordo com seus
traços físicos, econômicos e culturais. A partir da análise parcial dos
dados, percebe-se que existem inúmeras dificuldades que atravessam os

1466
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

serviços públicos que acolhem e atendem a mulher em situação de


violência, sendo uma delas o sucateamento da rede unida ao
adoecimento e compartimentalização das equipes, acabando por gerar
outro tipo de violência durante o percurso, que aparece na falta de
atendimento e suporte na rede de saúde e Saúde Mental; descrédito do
discurso da mulher e preconceitos diversos. A psicologia, mostrando-se
enquanto uma ciência que se dá não apenas num nível psicológico, mas
também social, intenta levantar um debate reflexivo aos profissionais
em saúde, assistência social, Saúde Mental e a população num geral,
levando-os às desconstruções que desnaturalizarem práticas culturais
machistas, opressoras e que performam relações de poder/saber sobre
a mulher, seu corpo e seu desejo, manifestadas nos ditos e não-ditos no
dia a dia do trabalhador em Saúde Mental.

1467
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Violência sexual contra crianças e adolescentes a partir da Rede de


Proteção e defesa no Tocantins: uma perspectiva em Saúde Mental

Kellen Cristiny Araújo Menezes


Ana Cristina Serafim da Silva
Universidade Federal do Tocantins - UFT

A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma realidade


histórica, mas que na contemporaneidade apresenta maior visibilidade.
Assim, uma vez que os impactos desse tipo de violação repercutem
sobre a saúde mental das vítimas não só no período em que acontece o
abuso, mas ao longo da vida, este fenômeno torna-se um dos mais
graves problemas de saúde pública, privando crianças e adolescentes de
seus direitos e dignidade. As denúncias de Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes só no estado do Tocantins são efetuadas por 57
municípios. Dentre estes, os que concentram o maior número de
denúncias localizam-se as margens da BR-153. Neste sentido, a presente
pesquisa objetiva investigar a violência sexual contra crianças e
adolescentes em alguns municípios cortados pela BR-153 no estado do
Tocantins e identificar as características desse fenômeno, identificar os
casos de violência sexual, em especial os impactos dessas violações
sobre a saúde mental; caracterizar os encaminhamentos e a atuação das
instituições no contexto da violência sexual contra crianças e
adolescentes e, ainda, caracterizar o suporte organizacional das
instituições para viabilizar a saúde mental, prevenção e promoção dos
direitos da criança e do adolescente com relação violência sexual.
Utiliza-se uma abordagem qualitativa e questionários para coleta de
dados, para análise, utilizou-se o Iramuteq e Análise Descritiva. A partir
da análise dos resultados, pode-se observar que o fenômeno da
Exploração Sexual Comercial no Tocantins é frequente. Sobre o perfil
das vítimas e as características da violência, identifica-se a violência
intrafamiliar, extrafamiliar e exploração sexual comercial com mais

1468
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

frequência. A idade média das vítimas varia de 10 a 14 anos e tem, em


sua grande maioria, vítimas do sexo feminino. A respeito do suporte
organizacional e encaminhamentos, as articulações da Rede são, ainda,
precárias, os próprios atores sociais não têm conhecimento acerca da
espécie da demanda, quais órgãos fazem parte deste trabalho e que tipo
de atuação ele exige.

1469
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Vivências acadêmicas e maternidade: os impactos


dessa relação na saúde mental e na qualidade de vida

Luanna Karollyne Freitas Queiroga


Fernanda Beatriz Caldas Fontes
Luan Victor Anselmo de Oliveira
Paulo Cesar de Lima
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

A recente expansão do ensino superior no Brasil possibilitou que


diversos grupos conseguissem se inserir no espaço universitário. Assim,
cada vez mais mulheres têm ocupado o ambiente acadêmico, que por
muito tempo lhes foi negado. Contudo, apesar dos avanços, não é
incomum encontrar instituições que não estejam adequadas para
atender a algumas especificidades do público feminino, dentre as quais
encontra-se a maternidade. A fim de propor alternativas para a
permanência e promoção do bem-estar biopsicossocial desse grupo, o
objetivo desta pesquisa foi investigar se existe algum impacto negativo
provocado pelo contexto acadêmico na qualidade de vida e na saúde
mental das mães universitárias. A amostra foi composta por 30 mães
universitárias da UFRN, na faixa etária dos 21 aos 45 anos, que tinham
ao menos um filho, matriculadas tanto na graduação como na pós-
graduação. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, feita a partir de uma
amostragem não probabilística por conveniência, tendo sido realizadas
análises descritivas e bivariadas do tipo correlacional. Para a coleta dos
dados foi utilizado um questionário de qualidade de vida elaborado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi administrado ainda um
questionário sociodemográfico e 4 questões específicas que tratavam
sobre: quantidade de horas disponíveis para estudo; receptividade da
universidade com as demandas da maternidade; o que precisavam abrir
mão para conciliar estudos com maternidade; qual rede de apoio
utilizavam quando precisavam realizar atividades acadêmicas. Dentre os

1470
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

resultados encontrados, 46,7% das respondentes afirmaram estar


“insatisfeitas” com sua saúde. No questionamento “O quanto você
aproveita a vida” registrou-se uma percentagem de 40% de respostas na
opção “mais ou menos”. No que se refere à saúde mental, 36,7% das
respondentes marcaram a opção “algumas vezes” e de 30% a opção
“frequentemente” quando perguntadas sobre a frequência que sentiam
sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade e
depressão. Pode-se ainda observar o quanto a saúde desse grupo é
afetada quando analisamos a pergunta sobre o que fazer para conciliar
os estudos com a maternidade, no qual 76,7% responderam que
optaram por diminuir a quantidade de horas de sono, 70% diminuir os
cuidados com a saúde e 66,7% abrir mão de lazer/hobbies. Além disso,
constatou-se ainda o fenômeno da dupla jornada (trabalho+estudo) em
56,7% das respondentes, resultado esse que nos alerta sobre a
dificuldade de conciliar as múltiplas demandas inerentes a tal grupo. Por
fim, os resultados apontaram ainda que o grau de satisfação com a
instituição de ensino, no quesito de receptividade às demandas da
maternidade, ainda é muito pequeno, fato esse demonstrado nas
respostas de 18 participantes. Dado o exposto, ressalta-se a importância
de aprimoramento e efetivação da assistência institucional direcionada
para esse grupo, visto que a relação entre a maternidade e vida
acadêmica gera fatores de risco à saúde tanto física quanto mental,
como também consequências sobre o rendimento acadêmico advindas
da grande quantidade de atividades que essas mães precisam realizar
cotidianamente.

1471
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

“A mulher é um mar revolto”: saúde mental e hormônios

Juliana Vieira Sampaio


Universidade Estadual do Ceará - UECE

A produção científica sobre o corpo da mulher tem servido como base


para a manutenção da hierarquia entre os sexos, na medida em que os
discursos do saber biomédico buscam explicar não só o funcionamento
deste corpo a partir dos estudos sobre a gravidez ou a amamentação,
mas também amplia o seu campo ao descrever e analisar os modos de
agir e pensar das mulheres a partir de uma suposta natureza feminina.
Desse modo, o objetivo deste estudo é analisar como os hormônios,
ditos sexuais, afetam a produção da mulher como sujeito naturalmente
desequilibrado. Essa pesquisa é de natureza qualitativa, o foco de
análise foram 34 vídeos produzido pela indústria farmacêutica Bayer,
que estão disponibilizados na plataforma do YouTube. Tendo como
referência os estudos de Peter Spink, compreendemos esses vídeos
como documentos de domínio público que produzem diferentes modos
de subjetivação. Para o desenvolvimento de nossas análises, realizamos
um exercício inspirado na cartografia de controvérsias, proposto por
Bruno Latour, destacando como discursos sobre os hormônios agenciam
diferentes práticas sobre a saúde mental das mulheres. Os vídeos
apresentam médicos discutindo sobre a administração de hormônios e
os seus diferentes benefícios ao longo de todo ciclo vital da mulher. As
mudanças das taxas de hormônios ao longo do mês e da vida
explicariam a instabilidade da mulher, que teriam corpo e afetos em
constante transformação, sendo um "mar revolto". A tensão pré-
menstrual (TPM) e a menopausa são exemplos de como os hormônios
funcionam como explicação para as mudanças na afetividade das
mulheres e que também são centrais para a venda destes fármacos
como forma de tratamento de tais oscilações. O funcionamento
"normal" e "anormal" da mulher poderia ser explicado pelos hormônios.

1472
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Concluímos que os hormônios ao serem administrados pelas mulheres


se transformam em um dispositivo que permite não só o controle do
ciclo hormonal, como também o domínio sobre uma tentativa de
docilização comportamental e (re)feminilização sintética dos corpos que
o administram.

1473
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

05. Expressões do sofrimento


humano na atual realidade sócio-
política brasileira

A experiência de familiares de usuários abusivos de drogas na


perspectiva da família e de operadores da assistência

Vera Lúcia Silva Santos


Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC Salvador

Pensar a família é refletir a complexidade inerente a esse sistema


relacional. Compreender a família do usuário abusivo de drogas implica
ponderações sobre situações sociais que transcendem as relações
familiares e que afetam diretamente esse mesmo contexto. Identificou-
se que há leis, resoluções e normativas que indicam preocupação do
Estado em ajudar as famílias que experimentam sofrimento devido ao
uso das drogas por algum parente, seja este irmão, esposo, pai, mãe etc.
Diante de indagações subjetivas sobre os papéis do Estado e da família o
objetivo deste trabalho foi o de analisar como são consideradas as
experiências da família com um membro usuário abusivo de drogas pela
própria família e por profissionais assistentes sociais e psicólogos,
operadores diretos dos dispositivos do Sistema Único de Saúde e do
Sistema único de Assistência Social. Foi identificado no período da
pesquisa uma instituição sem fins lucrativos, o CAFVIDA, criado com o
intuito de atender exclusivamente famílias de usuários de álcool e
drogas abusivos e dependentes químicos. O presente estudo é de

1474
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

natureza qualitativa, caráter descritivo e exploratório. Todo o trabalho


se deu na cidade de Salvador, Bahia, e buscou o ambiente natural
(campo de trabalho e residências) dos participantes trabalhadores e
residentes desta capital. A coleta de dados se deu por meio de
entrevista semiestruturada, a qual foi gravada e posteriormente
transcrita. Os resultados validaram a percepção de políticas que buscam
contemplar as famílias que vivenciam a problemática e que as mesmas
contrastam com as representações dos operadores dos serviços diretos.
Revelou-se ainda a percepção contraditória da própria família acerca do
contexto que experimenta ao conviver com o parente usuário abusivo
de drogas. As famílias têm em suas falas signos que revelam sofrimento
psíquico, bem como manifestam comportamentos que ratificam que
expressam tal sofrimento São estes: raiva, ressentimento, descrédito,
dor, impotência, medo do futuro, falência, desintegração, solidão diante
do resto da sociedade, sensação de vulnerabilidade, sentir-se culpado
pelo sofrimento do outro e da sua situação familiar.

1475
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A medicalização da existência e suas repercussões


durante a pandemia de Covid-19 no Brasil

Cristiane Moreira da Silva


Universidade Católica de Petrópolis

Rafael Coelho Rodrigues


Universidade Federal do Recôncavo Baiano

Vivemos uma grave crise sanitária que acarretou medidas drásticas de


distanciamento social. Os países afetados seguiram recomendações
técnicas de funcionamento limitado de serviços, restrições de circulação
em espaços públicos e uso de máscaras. Tais medidas foram cruciais
para a diminuição do contágio e do platô de contaminados e,
consequentemente, de óbitos. No Brasil, o governo da crise procurou
minimizar seus efeitos na saúde, demonstrando preocupação com os
efeitos negativos na economia. Discordâncias internas ficaram evidentes
nos discursos dos governantes em coletivas de imprensa e nas
demissões no Ministério da Saúde. A desorganização na oferta do
benefício social; o grande aporte financeiro aos bancos que não foi
repassado, em sua grande parte, para as micro e pequenas empresas;
falta de transparência na divulgação dos dados oficiais de contaminados
e de óbitos; falta de insumos nos serviços de saúde; denúncias de
corrupção; ampla disseminação de notícias falsas que promoveram
descrédito nas orientações de especialistas em saúde; foram
determinantes para o agravamento da situação. As determinantes
sociais da saúde foram cruciais para o índice de pessoas pobres, negras
e indígenas mortas neste período. Características como a falta de água
potável e saneamento básico, percentual de pessoas empobrecidas que
possuem doenças pré-existentes, subfinanciamento do SUS e mudanças
na atenção básica precarizaram ainda mais o atendimento. A
transformação no estilo de vida, as dificuldades econômicas, as

1476
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

incertezas com o futuro, a possibilidade de morte, a impossibilidade de


ritualizar a morte dos entes que se foram são impactantes na saúde
mental. Entidades de saúde previram aumento significativo dos
transtornos psiquiátricos e sugerem que os especialistas devem
responder com um aumento igualmente acentuado dos serviços
especializados em saúde mental. A medicamentalização do sofrimento
foi naturalizada e possibilitada através de uma gramática social que
transforma o sofrimento oriundo do viver em processo patológico que
necessita de intervenção especializada. O sofrimento mental de longo
prazo não é simplesmente causado pela Covid-19, mas é, ao contrário,
um produto de como os determinantes sociais da saúde mental
interagem com a pandemia, considerando que aqueles que já estão
privados de direitos são mais adversamente afetados. Discutimos o
processo de medicalização da vida no contemporâneo e como a
pandemia de Covid-19 contribuiu para a sua ampliação por meio de
pesquisa documental analisando conteúdos midiáticos e documentos
técnicos produzidos pela Organização Mundial de Saúde, Organização
das Nações Unidas, Fundação Oswaldo Cruz e Associação Brasileira de
Psiquiatria. O objetivo foi observar como mencionavam o sofrimento
psíquico durante a pandemia, o uso, venda e prescrição de
psicofármacos. Há, no contemporâneo, todo um movimento que busca
produzir uma vida invulnerável, enquanto, paradoxalmente, busca-se
invisibilizar as vulnerabilidades sociais provocadas pela desigualdade de
renda e oportunidades. Tratar o sofrimento psíquico oriundo do período
de pandemia como uma questão individual de saúde mental é
manifestação do processo de medicalização da vida que negligencia
questões sociais e as trata como questões médicas.

1477
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A necessidade do negÓCIO para população pré-Covid:


uma revisão integrativa da literatura

Priscilla Lorraine Santos Gomes


Call center

Cívero José Barbosa da Fonseca


Faculdade Regional da Bahia - UNIRB

Introdução: Desde a Idade Média, a vida ociosa é vista como pecado,


valorizando a produção e colocando o trabalho como única forma de
salvação. Agora, a ideia desenvolvida nessa realidade está se
intensificando, sendo esquecido que o processo de conhecer algo
necessita de um gasto de energia, provocado como condição humana
para se estabelecer o relacionamento. Porém, estamos negando o
cansaço, logo estamos negando esse relacionar com o outro, ficando
fatigados de nós mesmos e cada vez mais cansados. Objetivos: Reunir
estudos que citam o modelo atual da sociedade, que nos coloca na
posição de realizadores do “negócio” - palavra que, em sua etimologia,
resulta da combinação de “NEC”, advérbio de negação, mais “OTIUM”,
“folga, ócio” - desconsiderando o ócio como necessidade do sujeito e
que enfatiza o vínculo do processo do cansaço com as exigências
econômicas neoliberais, colocando o ato de ser multifuncional como
referencial de sucesso. Métodos: Pesquisa qualitativa, de caráter
exploratório, resultando em revisão integrativa da literatura mediante
nas bases de dados Google Scholar e SciELO, com descritores em
português: sociedade do cansaço, ócio e produtividade. Os critérios de
inclusão foram artigos publicados em português, com disponibilidade de
texto completo em suporte eletrônico, com recorte temporal dos
últimos 5 anos. Foram excluídos teses, capítulos de teses e estudos que
não atenderam ao assunto referenciado nos objetivos. Foram coletados
16 artigos, onde 10 contemplaram os critérios estabelecidos.

1478
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Resultados: A população contemporânea sofre com o cansaço constante


devido à exigência de desempenho performática, foi alcançado o
paradoxal de liberdade e coação se coincidirem, e o poder mais sem
limites, se coloca em mais necessidade do que o próprio corpo e psique.
Conclusão: Vivemos em uma crise temporal de dispersão, onde só será
ultrapassado quando a vida ativa entrar em crise e acolher o ócio como
condição humana básica, quando o tempo individual ser o do outro
também, criando uma comunidade de contemplação e valorização da
vida, priorizando a própria felicidade e bem-estar.

1479
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A Redução de Danos no Brasil: uma análise das


políticas públicas e dos modelos de cuidado

Luiza Ferreira dos Santos Flores


Manoel de Lima Acioli Neto
UniFTC

A Redução de Danos (RD) pode ser definida como um dispositivo que


constrói condições para que o indivíduo possa ser atendido de forma
ética, acolhendo suas diferenças e modo de vida. O objetivo desse
estudo foi analisar as representações sociais da droga e seus usuários na
legislação brasileira sobre drogas. Os usuários de substâncias psicoativas
são fortemente marcados pela ausência de cuidados e fazem parte, em
sua maioria, de uma parcela da sociedade excluída socialmente, uma vez
que os modelos assistenciais não comtemplam suas reais necessidades.
A tendência mundial é que o consumo de substâncias psicoativas
aconteça cada vez de forma mais precoce e as consequências são altas
taxas de abandono escolar, rompimento de vínculos afetivos, além do
preconceito pela sociedade que criminaliza o sujeito. Diante dessa
realidade, buscou-se analisar de que forma as políticas sobre drogas se
posicionam acerca do assunto, realizando uma análise temática de
conteúdo dos documentos que compõem a legislação, investigando o
modo como as drogas e seus usuários vem sendo representados. Foram
analisados 13 documentos que compõem a legislação em vigência sobre
drogas no Brasil. Os resultados apontam que, apesar das mudanças que
a legislação sobre drogas vem sofrendo ao longo da história, continuam
sendo perpetuados modelos focados na repressão, segregação e
criminalização, no que diz respeito ao fenômeno das drogas. O usuário
continua sendo caracterizado como um ser criminoso, responsável pelo
tráfico, o que acaba por potencializar e perpetuar a exclusão dessa
minoria, distanciando-os de qualquer laço social que possa ser feito
através de um tratamento que respeite seus direitos e escolhas. Ao fazer

1480
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

uma análise das propostas, podemos considerar que o modelo proposto


pela Redução de Danos pauta suas ações na autonomia do sujeito e a
oferta da cidadania, diferente do modelo que infelizmente predomina
na nossa sociedade, que associa o usuário de substancias psicoativas a
criminalidade e patologia, colocando de lado sua subjetividade e a
responsabilidade social. A RD propõe intervenções que pensam o sujeito
na sua integridade e é peça fundamental para a superação de barreiras
que impedem a realização de modelos em potencial, tendo sua
implementação e exercício no cotidiano com objetivo produzir novas
possibilidades de vida.

1481
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

A relação entre endividamento e Saúde Mental:


uma revisão sistemática

Isadora Morais Duarte de Vasconcelos


Verónica Lidia Peñaloza Fuentes
Cleide Carneiro
Universidade Estadual do Ceará - UECE

Introdução: Considerando o endividamento como um fenômeno


crescente na sociedade, possuir dívidas parece estar diretamente
relacionado a problemas de saúde devido ao fardo que essas
representam para o indivíduo endividado. O presente estudo buscou
compreender com a literatura como o endividamento pode
comprometer a saúde mental dos indivíduos. Objetivo: Conhecer
através de revisão de literatura a relação entre endividamento e saúde
mental?Metodologia: As bases de dados utilizadas para a revisão
integrativa da literatura foram Pubmed, Lilacs, SciELO. Utilizou-se o
operador booleano (AND) na associação dos descritores: endividamento
(AND) saúde mental; debt (AND) mental health; indebtness (and) mental
health. Os critérios de inclusão adotados foram artigos completos,
publicados nos últimos 20 anos (2000 a 2020). Já os de exclusão foram
todos não compatíveis com os critérios de inclusão. No total, foram
identificados 258 artigos. Após retirada dos artigos duplicados nas bases
de dados e leitura dos títulos e resumos, restaram 48 estudos para a
análise do estudo.Resultados/Discussões: Os estudos mostraram que o
endividamento é um fenômeno crescente em diversos países e que
existe uma relação entre as dívidas e o processo saúde-doença dos
indivíduos, principalmente com relação aos impactos na saúde mental. A
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011) considera as dívidas com
um dos fatores de risco socioeconômico para problemas de saúde
mental da população. Os estudos nos mostraram que o endividamento
foi fator decisivo em situações de sofrimento, estresse, ansiedade, baixa

1482
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

autoestima, culpa, vergonha vivenciadas pelos sujeitos. Também


emergiu nas pesquisas a relação do endividamento com os transtornos
mentais comuns (TCM), como depressão, transtorno de pânico,
ansiedade, fobias; problemas clínicos como hipertensão, doenças
cardíacas, obesidade; relatos de piora na saúde física, aumento de dores
de cabeça, dormir mal; além da associação com a dependência de
álcool, drogas e com o suicídio. Considerações finais: Em um diálogo
interdisciplinar, podemos ver o endividamento com um fenômeno cada
vez mais comum e relacionado ao contexto de vivências dos sujeitos
inseridos na vida social. Em termos das relações com o endividamento,
os elementos psicológicos parecem ser bastante relevantes, pois a
aquisição de dívidas pode comprometer tanto a saúde física, como a
saúde mental das pessoas.

1483
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Adoecimento emocional entre estudantes


universitários à luz da neurociência

Viviane dos Santos Louro


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Introdução: Segundo Mondardo e Pendon (2005), a ansiedade, o


estresse, a depressão e as doenças psicossomáticas têm influenciado
diretamente no desempenho escolar de estudantes. Vasconcelos (2004)
diz que “estima-se que de 15% a 25% dos estudantes universitários
apresentam algum tipo de transtorno psiquiátrico durante sua formação
acadêmica” (p. 136). À luz das neurociências, o estresse está relacionado
ao nível de cortisol, hormônio corticosteroide, presente no
cérebro.Objetivo: Dadas as colocações acima, a proposta desse trabalho
é discutir o adoecimento mental entre os estudantes universitários
tendo como ponto de partida os resultados de uma pesquisa realizada
por um projeto de extensão no departamento de música da UFPE.
Metodologia:Foi arquitetado com uma equipe interdisciplinar
(psicólogos, neurocientistas, docentes e discentes) um questionário com
20 questões sobre estresse, sono e saúde/adoecimento mental e
aplicado a 170 alunos do curso de Música da Universidade Federal de
Pernambuco de maio a agosto de 2018 (número de aprovação da
plataforma Brasil: CAAE10120318.80000.5208).
Resultados/Discussão:Os resultados apontaram para o adoecimento de
29% (49 alunos dos 170), sendo 22 pessoas (das 49 adoecidas) do sexo
feminino entre 18 e 25 anos. Os sintomas mais comuns de adoecimento
são: tristeza profunda e pensamentos muito negativos ao pensar na
universidade (25 de 49); mal-estar físico ou pânico ao pensar na
universidade (8 de 49); insônia grave após entrar na universidade (17 de
49) e ideação suicida (7 de 49). Observação importante: 10 alunos
relataram tentativas de suicídio no decorrer do curso. Os maiores
causadores de estresse e adoecimento na visão dos alunos

1484
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

entrevistados são: restaurante universitário, seguido de Trabalho de


Conclusão de Curso, segurança do campus, quantidade de disciplina por
semestre e autocobrança. Noventa e seis alunos de 170 relataram que
dormiam mais de oito horas por noite antes de entrar na universidade e,
após o ingresso, esse número caiu para 45 alunos, sendo que, antes,
somente 23 alunos dormiam menos de seis horas por noite e após
entrar para a universidade, esse número aumentou para 82 alunos
dormindo de 4 a 6 horas/noite. Com uma rotina repleta de momentos
de pico emocional, o indivíduo passa a ter o nível de estresse muito
elevado por ocasião de estímulos estressores, o que, com o tempo, leva
ao adoecimento psíquico, ou até mesmo, transtornos psiquiátricos, caso
a pessoa já possua alguma carga genética para tal (Vaz, 2013;
Vasconcelos, 2014). Como coloca Joca et al (2003), a persistência e a
intensidade exagerada do estresse (cortisol) no organismo pode causar
alterações no hipocampo, imprescindível para a memória e
gerenciamento da vida (Lent, 2010). O estresse é dos principais fatores
ambientais que levam pessoas à depressão. Em cerca de 60% dos casos,
os episódios depressivos são precedidos pela ocorrência de fatores
estressantes (Joca et al, 2003). Almeida et al (2017), a depressão gerada
pelo estresse da rotina universitária é o principal fator desencadeante
de suicídio. A OMS reforça que a depressão é um agente
frequentemente encontrado na sociedade em geral. O suicídio é a
segunda maior causa de mortes entre os universitários (Teruel;
Mertúínez; León, 2014).

1485
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

As mediações sociais, culturais e políticas


na construção de sentidos sobre o suicídio

Carolina Resende Gonçalves


Profissional autônoma

Desde 2006 o suicídio é considerado pela Portaria Nº 1.876 como um


“grave problema de saúde pública que afeta toda a sociedade e que
pode ser prevenido”. A Saúde Pública no Brasil é um campo de disputas
e de tensionamentos sobre acesso à saúde, incluindo o próprio conceito
de saúde, que se dão nos processos sociais e políticos, as compreensões
a esse respeito têm no SUS “uma das respostas sociais aos problemas e
necessidades de saúde da população brasileira. Ao lado dele, políticas
econômicas, sociais e ambientais são fundamentais para a promoção da
saúde e para a redução de riscos e agravos” (PAIM, 2009. p.75).
Reconhecendo a atribuição de vínculos entre o suicídio e a saúde (ou a
doença) mental, há de se considerar que esse também é um campo de
sentidos em disputa. Por isso, as quatro dimensões propostas por Paulo
Amarante (2007) para se pensar a Saúde Mental e Atenção Psicossocial
(dimensões teórico-conceitual, técnico-assistencial, jurídico-política e
sociocultural) são um pano de fundo importante nesta discussão. A
partir do campo da Comunicação e Saúde pretendo olhar também para
os princípios do SUS na prática comunicativa das campanhas de
prevenção do suicídio (ARAÚJO e CARDOSO, 2007). Na construção do
quadro teórico de referência estão os conceitos de: patologização e
medicalização da vida, discutidos no campo da Saúde Mental e Atenção
Psicossocial; mediações e comunicação dialógica, no campo da
Comunicação e Saúde; e o próprio conceito de suicídio enquanto
questão de saúde pública que pode ser prevenido. Partindo da premissa
de que o suicídio é uma forma de morrer, há aqui o pressuposto de que
as campanhas de prevenção a essa forma de morrer também carregam
sentidos sobre o morrer e o viver. Sentidos esses que se constituem e

1486
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

são constituídos por um emaranhado de mediações sociais, culturais e


políticas. Por ser considerada uma morte evitável (passível de
prevenção), o suicídio é, em si, uma problemática que levanta uma série
de questões culturais, sociais e políticas contemporâneas sobre as
noções de morte, vida, saúde e doença (mental). O objetivo geral deste
projeto é mapear qualitativamente as mediações culturais, sociais e
políticas que são atribuídas e atribuem sentidos ao suicídio,
identificando agentes, atores e discursos. Além disso, pretende-se:
observar/analisar os sentidos sobre a saúde e a doença mental sob a
ótica da Reforma Psiquiátrica; observar/identificar o processo
comunicacional nas estratégias de prevenção do suicídio a partir dos
princípios do SUS; refletir sobre a implicação do campo da Comunicação
e Saúde com a temática do suicídio; observar as campanhas de
prevenção do suicídio a partir de uma análise crítica em relação ao
modelo e de comunicação. Por fim, para o mapeamento de mediações,
a observação e análise dos dados, o conceito de mediações de Martín-
Barbero (2018) é um importante norteador do esforço de perceber,
observar e analisar as complexas mediações sociais, culturais e políticas
implicadas nos conteúdos que integram as campanhas de prevenção do
suicídio no âmbito do Ministério da Saúde.

1487
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Como anda a saúde mental dos idosos em extrema longevidade?

Rosimeire Aparecida Manoel Seixas


Nadine Motta Figueiredo
Nathália de Oliveira Andrade
Marcelo Kwiatkovski
Bruna Moretti Luchesi
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

Vivemos um processo de envelhecimento da população mundial. Esse


fenômeno é fruto da transformação demográfica, a qual se baseia no
decréscimo das taxas de fecundidade e mortalidade e, também, no
consequente aumento da expectativa de vida e avanços na área da
saúde. Estima-se que em 2025 o Brasil venha a se tornar o país com o
sexto maior quantitativo de idosos do mundo, sendo que a faixa etária
que terá maior crescimento será a dos idosos muito velhos (SANTOS et
al., 2018). Assim, devemos compreender o envelhecimento como um
fenômeno do processo da vida, marcado por mudanças
biospsicossociais específicas, associadas à passagem do tempo. Desse
modo, o objetivo desse trabalho foi avaliar a saúde mental de idosos em
extrema longevidade usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), na
cidade de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Trata-se de um estudo
transversal e quantitativo, em que foram avaliados idosos (≥90 anos) no
domicílio, entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Foi feita uma
caracterização sociodemográfica e aplicados os instrumentos Patient
Health Questionnaire-9 (PHQ-9) e Inventário de Ansiedade Geriátrica
(GAI). A amostra contemplou 81 idosos, sendo a maior parte do sexo
feminino (55,2%), sem companheiro (76,4%), com média de 93,3±2,9
anos de idade, 1,4±1,9 anos de escolaridade e renda familiar de
R$2729,4±1675,4. No que se refere à saúde mental dos idosos longevos
verificou-se uma prevalência de 25,9% de sintomas depressivos e 24,7%
de sintomas de ansiedade, sendo possível observar a correlação

1488
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

diretamente proporcional entre a pontuação do PHQ-9 e do GAI,


ratificando a discussão de que sintomas depressivos são,
frequentemente, acompanhados por ansiedade em pessoas idosas
(BENDIXEN et al., 2018). Um dos fatores que pode contribuir para um
maior desenvolvimento de sintomas depressivos é a idade mais
avançada. Além disso, podemos citar o estado civil, cuja ausência de
cônjuge pode aumentar a prevalência desses sintomas, contribuindo
para a associação com a variável isolamento social. Todavia, apenas 11%
dos participantes relataram se sentir socialmente isolados.
Considerando a carência de estudos com a população em extrema
longevidade, esses achados auxiliam tanto para a formação profissional
como para a formulação e implementação de políticas públicas,
planejamento de intervenções psicossociais e gestão da clínica
ampliada, especialmente, dos diversos setores da atenção primária,
visando a melhoria da qualidade de vida dos idosos longevos.

1489
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Contrarreforma Psiquiátrica: os retrocessos jurídicos-políticos


na Saúde Mental no período de avanço do neoliberalismo

Fernanda Lopes Coimbra Cardoso


Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Introdução: A Nova Política de Saúde Mental, que vem sendo


implantada nos dias atuais, acarretou modificações substanciais no
paradigma de cuidado que preconiza a Reforma Psiquiátrica e produziu
uma significante reconfiguração na Rede de Atenção Psicossocial. As
conquistas sociais oriundas dos movimentos da Reforma Sanitária e
Psiquiátrica, que se entrelaçam e construíram um território
imprescindível para o desenvolvimento do cuidado em Saúde Mental,
passaram, nos últimos anos, por um processo de retrocessos que
coadunam com a contrarreforma neoliberal implementada, no país, nos
anos 1990, particularmente a partir do governo FHC e que avançaram
aceleradamente. Por conseguinte, isto possibilitou um conjunto de
medidas que incidiram sobre o financiamento das políticas públicas e na
perda de orçamentos imprescindíveis para a implementação das
políticas progressistas no campo da saúde mental, dando lugar ao
retorno de incentivos públicos às políticas manicomiais e privatizantes
privilegiando a mercantilização da saúde pública.Objetivo: Esta pesquisa
visa analisar as mudanças na dimensão jurídico-política da Saúde
Mental, oriundas da contrarreforma psiquiátrica em um período de
avanço do neoliberalismo. Metodologia: Este trabalho foi baseado em
uma pesquisa bibliográfica e documental, de caráter qualitativo que tem
por objetivo identificar, através de artigos, livros, legislações,
reportagens, notas técnicas e relatórios técnicos, as alterações no
processo jurídico-político da Reforma Psiquiátrica. Os documentos
selecionados possuem uma heterogeneidade de informações que
contribuíram para a investigação de como na dimensão jurídico-política
se tem efetivado a contrarreforma da saúde mental. Traçou-se uma

1490
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

trajetória histórico-política da Reforma Psiquiátrica entre 1978 e 2016.


Posteriormente, fez-se análise dos principais documentos, tendo por
foco as legislações, em âmbito federal, que regulamentaram as
transformações na política de Saúde Mental entre 2016 e 2020.
Resultados: Verificou-se que os retrocessos da contrarreforma
psiquiátrica intensificaram-se e materializaram-se nos dois últimos
governos dos presidentes Temer e Bolsonaro, após impeachment da
presidenta Dilma Rousseff. Posteriormente, houve o recrudescimento
da mercantilização das políticas de saúde, acelerações das privatizações,
redução do Estado Social e retorno ao velho conservadorismo
psiquiátrico. Atualmente, estas mudanças decorreram em uma nova
composição estrutural da Rede de Atenção Psicossocial, inserindo o
hospital psiquiátrico, hospital dia e ambulatórios como dispositivos
componentes da RAPS e não mais se baseando sob um cuidado em
caráter substitutivo aos dispositivos manicomiais e medicalizadores. Em
contrapartida, privilegiam-se investimentos a dispositivos asilares como
Comunidades Terapêuticas em detrimento da política de Redução de
Danos. Conforme analisado, em uma sociedade capitalista que prioriza a
financeirização e acúmulo de capital, segundo Basaglia (1985), o
manicômio tem função social: econômica e subjetiva. A primeira visa a
tornar o excedente não lucrativo, dentro desse modelo mercadológico,
em consumidores e a segunda visa ocultar do meio social a loucura que
tão indesejavelmente evidencia as contradições deste sistema.
Considerações finais: Pelo exposto, percebeu-se a necessidade de se
efetuar os devidos enfrentamentos aos retrocessos da Reforma
Psiquiátrica, defesa à manutenção de seus preceitos, investimento na
Rede de Atenção Psicossocial e ratificar o lema por uma sociedade sem
manicômios.

1491
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Contribuições da Psicologia Ambiental para a


definição de território e para a atuação em Saúde Mental

Nikolas Olekszenchen
Universidade de São Paulo – USP

Camila Klein
Universidade de Federal de Santa Catarina - UFSC

No Brasil, a pandemia de Covid-19 foi disparadora de uma convocatória


maciça de profissionais da psicologia para dar respostas à relação entre
saúde mental e confinamento. Seja pelo excesso da permanência no
ambiente doméstico ou pela falta de acesso a espaços públicos, muitas
análises têm privilegiado o fator individual em detrimento do
socioespacial, como se saúde mental fosse um fenômeno puramente
subjetivo ou intraindividual. O objetivo deste trabalho de natureza
conceitual é aproximar as formulações teóricas e empíricas da psicologia
ambiental ao campo da saúde mental, articulação pouco explorada pela
literatura nacional. A psicologia ambiental ocupa-se das relações entre
pessoa e ambiente, levando em consideração, sobretudo, os atributos
físicos deste último, sejam eles naturais ou construídos. Parte-se da
premissa que a relação pessoa-ambiente é reciproca na medida em que
um afeta o outro, ou seja, o sujeito constrói-se a partir de sua
experiência com uma realidade sócio-física ao passo que também é
produtor desta realidade. Logo, tal compreensão considera a
bidirecionalidade da interação, de forma que os aspectos psicológicos
são analisados face à sua implicação com o ambiente. A partir de
conceitos como identidade de lugar, apego ao lugar e apropriação do
espaço, por exemplo, enfatiza que o espaço não se limita a seus
componentes já dados, tampouco é mero pano de fundo para o
comportamento das pessoas. Antes, é vetor de produção de
subjetividade, pois é na relação com o espaço que se atribuem sentidos

1492
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

e significados à vida vivida. Propomo-nos a analisar duas possíveis


intersecções entre psicologia ambiental e o campo da saúde mental. 1)
contribuição teórica ao conceito de território, em direção à construção
de territorialidades, estas marcadas pelas determinações históricas e
sociais que ao mesmo tempo agregam elementos da exclusão
socioespacial e das lutas locais por reconhecimento individual e coletivo.
Nesses termos, produzir território é produzir condições de possibilidade
para a saúde mental. 2) proposição do acompanhamento terapêutico
como prática clinico-política necessariamente territorializada, que
articula a invenção de si e do mundo. Entendemos que essas
articulações trazem contribuições importantes para o entendimento da
realidade brasileira, uma vez que vivemos em um país fortemente
marcado pela desigualdade de condições de acesso e permanência nos
espaços públicos. Assim, colocamos como forças concorrentes na
produção da saúde mental as desigualdades socioespaciais que
atravessam o cotidiano brasileiro. Dessa forma, os aportes da psicologia
ambiental podem auxiliar no desvelamento da produção desse espaço
compartilhado e subsidiar práticas situadas, que levem em consideração
a bidirecionalidade das relações entre subjetividade e espaço. Por fim,
apostamos na construção de uma agenda de pesquisa que considere a
dimensão socioespacial na produção da saúde mental, reforçando os
elos possíveis entre a psicologia ambiental e o campo da saúde mental.

1493
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Cotidiano e a saúde mental de idosos durante


a pandemia da Covid-19: uma revisão integrativa

Jullyane França Mundim


Maria de Nazareth Rodrigues Malcher de Oliveira Silva
Universidade de Brasília - UnB

A pandemia de Covid-19 gerou processos de adoecimentos no âmbito


da saúde física, saúde mental, emocional, mas também ocasionou uma
ruptura no contexto social quanto ao cumprimento dos direitos
humanos e garantias de cada pessoa, visto que algumas atitudes
ressaltadas durante esse momento pandêmico ferem direitos
fundamentais como a liberdade, dignidade e de locomoção, de maneira
ainda mais intensificada nos indivíduos com idade igual ou superior a 60
anos, que é a população idosa. O presente estudo apresentará a
literatura sobre vivência das pessoas da terceira idade durante a
pandemia de Covid-19 refletindo sobre o cotidiano e os processos da
saúde mental dessa população. Como método, será feito um estudo
teórico descritivo sobre a temática para identificação de produções no
período entre janeiro até novembro de 2020, nas seguintes base de
dados: Pubmed, BVS, Capes, MEDLINE e SciELO, utilizando descritores
idoso AND “saúde mental” AND “Covid-19” AND cotidiano, com
organização dos achados em planilha temática e análise hermenêutica
do conteúdo, para compreender os significados do fenômeno. Os
resultados se caracterizarão nos sentimentos vivenciados pelos idosos
durante a pandemia com o desamparo enfrentado por eles devido a
negação dos seus direitos e com lacunas nas ofertas de alternativas que
assegurem sua dignidade, participação em atividades da comunidade,
promoção da autonomia de maneira que também os assegure do risco
de se contrair o coronavírus. Além disso, a literatura discorre na
valorização de uma escuta qualificada, atribuindo o direito de
comunicação, de se expressarem e de serem ouvidos. Portanto, diante

1494
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

do momento histórico de vivência de uma pandemia, dos processos


sanitários, ruptura do cotidiano e consequências em saúde mental nas
populações tidas como vulneráveis, como é a dos idosos, é de suma
importância que hajam estudos pensados nesse período de forma a
realocar o lugar do idoso na sociedade e o cuidado em saúde mental.

1495
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Crianças e adolescentes: expressões


do sofrimento em tempos de pandemia

Alana Bahia Souza Santana


Roberto Luis Barreto Gois
Davi Augusto dos Santos Soares
Tayanne de Araújo Lobão
Universidade Tiradentes - UNIT

O presente relato de pesquisa tem o objetivo de discorrer sobre os


impactos e consequências (expressões do sofrimento) causadas pela
atual situação sócio-política brasileira, na vida de crianças e
adolescentes. No fim de 2019, foram registrados na China os primeiros
casos de contágio pelo Sars-CoV-2, causador da Covid-19. Desde então
os casos foram se espalhando e a doença se tornou algo global, o que
levou a Organização Mundial de Saúde a considerar essa situação como
pandêmica. No cenário brasileiro, essa situação chegou de forma mais
tardia, com o isolamento social estabelecido somente a partir de março.
Assim como ocorreu em todo o mundo, o vírus causou repercussões de
nível biomédico, epidemiológico, social, econômico, cultural, histórico e
emocional. A situação brasileira já possui um fator bastante alarmante:
a desigualdade social. Esse aspecto ocorre em diversos âmbitos da
economia, educação, saúde, habitação e saneamento, além de um
acesso restrito à água. A educação, um dos segmentos afetados por
conta da pandemia, tem gerado bastante discussão, na qual o ensino
remoto foi adotado, no entanto metade dos alunos de ensino
fundamental de escolas públicas se encontra em situação de pobreza, o
que torna inviável o acesso à tecnologia de qualidade. Sabe-se que o
isolamento produz impactos e consequências para os indivíduos,
salientando que a infância e a adolescência são consideradas fases
fundamentais para o desenvolvimento da socialização, que nessa
realidade imposta pelo vírus precisam se afastar de seus grupos sociais e

1496
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

permanecer, fundamentalmente, em casa. Dessa forma, por ser um


momento de incerteza, podem ser gerados nas crianças e nos
adolescentes sentimentos de raiva, irritabilidade, ansiedade e
aborrecimento. Diante das implicações psicológicas que o contexto da
pandemia acarretou, o trabalho do psicólogo vem chamando cada vez
mais atenção. Sintomas pré-existentes se agravam, novos aparecem,
existe o sofrimento do paciente infectado, da equipe e da família. Sendo
assim, a área da saúde mental apresenta uma grande necessidade de
atenção, na qual psicólogos e psiquiatras estão atuando nas linhas de
frente nos hospitais, em conjunto com as equipes de saúde. Os
profissionais da psicologia também realizam seus atendimentos virtuais
para auxiliar a população com suas demandas. Utilizando palavras
chaves como “psicologia”, “pandemia”, “Covid-19”, “criança” e
“adolescente” em bases de dados como SciELO, Pepsic, Pubmed e
Google Scholar, foram feitas procuras e posteriormente uma escolha de
materiais para formular a presente revisão bibliográfica. Devido à
necessidade de abordar alguns assuntos necessários, foram utilizados
artigos de 1978 até 2020 (sendo maioria), as publicações escolhidas
estavam em suas versões completas/gratuitas e os idiomas variaram
entre o português e o inglês. Também foram pesquisados sites de
organizações ligadas à área da saúde e da psicologia como a World
Health Organization (WHO), para que pudesse complementar o
desenvolvimento do estudo com informações recentes ligadas à Covid-
19. Os dados encontrados foram revisados de acordo com o método da
revisão bibliográfica que consiste em utilizar materiais já elaborados,
revisando-os de forma exploratória para que haja o aprimoramento das
ideias, descobertas de novas perspectivas e familiarização com o tema
abordado.

1497
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Crise em saúde mental: experiência e


cuidado numa perspectiva antropológica

Rafaela Porcari Molena Acujo


Márcia Reis Longhi
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

O termo “crise em saúde mental” é comumente utilizado na academia,


nas políticas públicas e nos serviços de saúde mental para se referir a
uma determinada experiência social de adoecimento no campo da
saúde mental, geralmente atrelada a um roteiro mais ou menos
conhecido de ruptura social, internação psiquiátrica e/ou ao início de
tratamentos medicamentosos. Este trabalho pretende contribuir para o
entendimento desta experiência social nomeada como “crise em saúde
mental” a partir das narrativas dos próprios sujeitos que a vivenciam,
tendo como objetivo discutir as estratégias e relações de cuidado
desenvolvidas pelos sujeitos para lidar com os momentos de crise, por
meio de resultados preliminares de uma pesquisa de mestrado em
andamento pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia da
Universidade Federal da Paraíba. Trata-se de uma pesquisa qualitativa
etnográfica, realizada de julho de 2019 a março de 2020 no município de
João Pessoa. Foram realizados acompanhamento de reuniões e eventos
de usuários de serviços de saúde mental, bem como entrevistas em
profundidade numa perspectiva de narrativas de vida, com três sujeitos.
Os resultados apontam para o desenvolvimento de estratégias pelos
sujeitos para lidar com o sofrimento, restabelecer condições
satisfatórias de vida e prevenir novas crises, que, por um lado, dialogam
com o cuidado biomédico e psicossocial oferecido pelos equipamentos
de saúde mental, mas, por outro, produzem novas formas autorais de
cuidar de si. Estas estratégias autorais foram criadas pela mobilização e
interconexão de diferentes dimensões da vida cotidiana - relações,
locais e ações desenvolvidas no campo religioso/espiritual, familiar,

1498
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

laboral, de vizinhança, de amizade e no campo doméstico. Os resultados


indicam também a relevância das categorias “experiência” e
“temporalidade” para compreender o desenvolvimento destas
estratégias, pois a vivência de inúmeras situações denominadas “crise”
em certo período de tempo permitiram aos interlocutores que
participaram da pesquisa o desenvolvimento e aprimoramento de
mecanismos de controle e cuidado ancorados na própria experiência,
que, ainda que corporificada e singular, mostra-se resultado também de
lógicas sociais mais amplas, sendo possível um diálogo com contextos
sociais de maior escala. Neste trabalho foi possível apreender trajetórias
que são marcadas, por um lado, pelo sofrimento e por violências de
diversas naturezas, mas, por outro, pela riqueza afetiva e criativa, em
forma de estratégias e relações de cuidado, que proporcionaram a
reinvenção dos modos de ser e estar cotidianos. Os resultados indicaram
também uma forte agência dos sujeitos que vivenciam a crise, numa
construção ativa e constante de formas e relações de cuidado não só ao
momento de crise, mas também para manutenção e vigília da saúde
mental e para a prevenção de novos episódios críticos. Tendo isso em
vista, consideramos necessário a ampliação de estudos neste sentido, a
fim de produzir conhecimento sobre como é a experiência daqueles que
vivenciam a crise em saúde mental para além do circuito psiquiátrico,
como uma forma de compreender os processos sociais e as
subjetividades que influenciam as experiências e de contribuir para o
refinamento da abordagem atual à crise no campo da Saúde Mental.

1499
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

De 3 em 30: a volta do que ainda


não foi - memória, narrativa e escrita

Waldenilson Teixeira Ramos


GDN

Débora Inêz da Costa Brandão


Gabriely Kruger Dutra
Ana Carolina Lima Haubrichs dos Santos
Danichi Hausen Mizoguchi
Universidade Federal Fluminense - UFF

No dia 28 de setembro de 2020, o mundo completou um milhão de


mortes decorrentes da pandemia de Covid-19. A prevenção da doença
se dá através de imperativos de distanciamento e assepsia: fique em
casa, use máscara quando sair e higienize as mãos com sabão ou álcool
em gel. Embora o grupo de risco seja composto por pessoas com
deficiências imunológicas e idosos, a superlotação do SUS, a falta de
respiradores, e o pouco acesso à saúde explicitam a necropolítica no
Brasil: morrem pobres, pretos e periféricos. Diante disso, questionamos:
qual é o humano da atual realidade sócio-política brasileira? O
Manifesto de Bauru, marco importante para a luta antimanicomial em
nosso país, faz notar, já no ano de 1987, que a ruptura com a tradição
das políticas de saúde mental não se faz sem a articulação com os
movimentos feministas, negro, LGBTQI+, da população de rua, com os
territórios indígenas e com as pessoas com deficiência. Após trinta anos
desse marco, em 2017, reafirmamos nossas implicações transversais e
interseccionais com a Carta de Bauru. Três anos depois, estamos diante
de um dos maiores retrocessos que o Brasil pôde viver - com as direções
legais que visam a extinção da flora e fauna brasileira, com as novas
políticas de segregação em escolas especiais, com número de
assassinatos de pessoas LGBTQI+ documentados. As mortes diretas

1500
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

como as vivenciadas nas periferias e as indiretas evidenciadas na


escassez de políticas públicas que fomentem direitos básicos garantidos
pela Constituição são exemplos da necropolítica como governo que
vivemos - e não é de hoje.
Tomando esta análise como diretriz fundamental de luta e pautados em
nossa pesquisa no âmbito da iniciação científica na Universidade Federal
Fluminense, “Da subjetividade à coragem: modulações da verdade nos
últimos quatro cursos de Foucault”, entendemos que a teoria e prática
implicam-se mutuamente. A noção de cuidado de si, trazida por
Foucault, nos direciona para as heterotopias aqui e agora. Assim, a
expressão do sofrimento humano na atual realidade diz respeito aos
efeitos de processos de aniquilamentos nos quais a escrita atua como
gesto - corte do real para ser prática de força inventiva de resistência
em um mundo que jaz outro. Diante da volta daquilo que ainda não foi,
a memória, a narrativa e a escrita são artefatos políticos de luta para
uma sociedade sem manicômios. Escritas têm construído a memória dos
modos de resistência em que o que está em jogo é a condição de
engrenagem de outras enunciações subjetivas - distantes de tudo que
historicamente se impôs como norma maior. A estrutura vigente é
contrária a todo e qualquer modo operativo da diferença. Assim,
lembrar, contar e escrever pode ser a maneira de entrar nos
emaranhados transversais urgentes de uma luta antimanicomial a se
inventar - enquanto podemos ficar em casa, enquanto não podemos
estar em casa, enquanto uns/umas são mortos(as) dentro de casa.

1501
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Dependência afetiva, traumas e apego


inseguro em mulheres nas relações amorosas

Thalita Cantalice Galvão Fonseca


CRP

Resumo: Ao longo das civilizações, o amor norteia grandes obras com


histórias felizes, ao mesmo tempo com histórias sofridas e infelizes. Na
era da modernidade líquida, o mundo é carregado de sinais confusos,
com estímulos a mudanças velozes de maneira imprevisível. O indivíduo
é incitado a valorizar o individualismo e o consumismo, o amor se torna
líquido, com relações mais flexíveis, onde há a necessidade do ser de
relacionar-se, mas sem o desejo de comprometer-se, já que o que mais
vale é a liberdade. Com laços afetivos frágeis e líquidos, os vazios
existenciais são preenchidos pelos vazios da era do consumismo. Diante
deste cenário existem pessoas em que o sofrimento amoroso ocupa
grande parte do tempo, podendo trazer prejuízos em diversas facetas da
vida, como também podendo promover estado de dependência afetiva.
Relações traumáticas de apego podem vir a desenvolver o
comportamento de dependência emocional nos adultos. Objetivo:
Analisar a dependência emocional e o apego inseguro e mulheres nas
suas relações amorosas. Método: Será realizada uma pesquisa
qualitativa, na qual participarão mulheres graduandas de cursos de
saúde de uma faculdade particular de referência na cidade do Recife. A
coleta de dados terá duas fases, a primeira através de um questionário
de apego e a segunda através de uma entrevista semiestruturada. O
total de participantes será determinado através do método de saturação
do conteúdo e as falas serão analisadas de acordo com a técnica de
análise temática baseada em Minayo. Ao decorrer de toda a pesquisa
serão respeitados todos os aspectos éticos recomendados para as
pesquisas envolvendo seres humanos. Considerações éticas: A pesquisa
seguirá as orientações da resolução 510/2016 do Conselho Nacional de

1502
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

Saúde (CNS). Toda participação na pesquisa será voluntária, sendo


esclarecidos ao participante os objetivos e procedimentos do estudo, e
garantidos o sigilo e a confidencialidade. Resultados esperados: Espera-
se, de posse dos resultados dos estudos, poder contribuir para a
ampliação do conhecimento sobre a dependência emocional, relações
traumáticas de apego e do apego inseguro em adultas, a fim de
possibilitar a amplificação de estratégias para minimização de
sofrimentos emocionais por meio de oficinas sobre a temática oferecida
ao universo acadêmico onde será realizado a pesquisa.

1503
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desafios encontrados em pesquisa de campo sobre padrão de


consumo de álcool e outras drogas e avaliação
de saúde mental entre estudantes

Petra Melissa Evaristo Fernandes


Gabriel Vinicius Souza de Vasconcelos
Jaqueline Galdino Albuquerque Perrelli
Pollyanna Fausta Pimentel de Medeiros
Roberta Salazar Uchôa
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Rossana Carla Rameh de Albuquerque


Faculdade Pernambucana de Saúde

Introdução: Este resumo trata das experiências e dificuldades


enfrentadas por pesquisadores durante a coleta de dados da pesquisa
“Padrão de consumo de drogas e avaliação da saúde mental entre
estudantes dos campi do Instituto Federal de Pernambuco - IFPE” no
período de abril (2019) a dezembro (2019). O estudo busca conhecer a
realidade desses estudantes e identificar padrões de consumo de drogas
e aspectos de saúde mental através de questionário autoaplicativo,
composto por variáveis sociodemográficas, uso de drogas e avaliação de
saúde mental. O relato foi embasado na análise das experiências dos
aplicadores indicados nos diários de campo. O objetivo é apresentar os
desafios, soluções e as observações realizadas. Descrição da experiência:
A etapa da pesquisa de campo aconteceu no período de abril (2019) a
dezembro (2019) no IFPE campi Recife. Foi realizado sorteio entre as
turmas dos 17 cursos subsequentes do instituto, respeitando a faixa
etária do estudo (estudantes maiores de 18 anos), e o anonimato dos
estudantes. A pesquisa contou com a participação de 1.019 (mil e
dezenove) estudantes. Por se tratar de um estudo sobre consumo de
drogas e saúde mental, entende-se que as instituições de ensino ainda

1504
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

precisam discutir essas temáticas desmistificando tabus, portanto,


considerando que a participação dos estudantes é voluntária, o
treinamento dos aplicadores do instrumento de pesquisa enfatizou a
importância do discurso de apresentação da pesquisa nas turmas
sorteadas, de modo a apresentar segurança e ética sobre o anonimato
dos participantes. Repercussões: Devido ao contato prévio da equipe da
pesquisa com coordenadores e professores dos cursos das turmas
sorteadas, houve facilidade na abordagem junto aos estudantes. Os
professores que estavam cientes colaboraram na organização das
turmas e na explicação da relevância da pesquisa. Foi possível perceber
também que a presença dos docentes em sala ajudou a dar mais
segurança aos estudantes, fazendo, assim, com que permanecessem
mais concentrados. No entanto, alguns fatores dificultaram a aplicação
do questionário, como os atrasos dos estudantes (levando em
consideração o trânsito, estudantes que trabalham etc.), as épocas de
provas e atividades que fazem com que os estudantes se dediquem a
outras ocupações e fiquem dispersos ou recusem responder o
questionário, além da resistência de alguns professores em ceder as
aulas, prolongando, dessa maneira, o tempo da pesquisa. Considerações
finais: A partir das aplicações, foi perceptível que há uma grande taxa de
evasão à medida que o semestre avança, nos primeiros meses de coleta
nos inícios de semestre, o número de estudantes em sala é considerável,
porém a partir da metade do semestre em diante, o número decresce
consideravelmente, principalmente nas turmas dos cursos da área de
exatas.

1505
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Desenvolvimento de uma escala de bem-estar acadêmico em


universitários no Brasil: revisão sistemática para construção do
instrumento

Thayanne Branches Pereira


Instituto Esperança de Ensino Superior– IESPES

João Carlos Alchieri


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Introdução: Trata-se de um estudo de desenvolvimento tecnológico


para a psicologia, que consiste em construir e desenvolver uma escala
de administração via softwares e estratégias tecnológicas que possam
ser implementadas em um ambiente social, com o objetivo de avaliar o
bem-estar durante a vida Universitária. Objetivos: Como objetivo geral
pretende-se construir evidências de validade de um instrumento via
aplicativo móvel para avaliação do construto de bem-estar acadêmico
para estudantes universitários. Sendo os objetivos específicos:
contextualizar o bem-estar subjetivo segundo revisão da literatura com
base na Psicologia Positiva; investigar definições e aporte teórico para
embasamento do termo bem-estar acadêmico; construir um
instrumento via aplicativo móvel para avaliar características do bem-
estar acadêmico de estudantes universitários; identificar evidencias de
validade para avaliação do construto de bem-estar acadêmico para
universitários. Metodologia: Investigação de campo, revisão sistemática
dos dados teóricos, descritiva e exploratória, com abordagem
quantitativa, a ser administrada junto a acadêmicos voluntários de
universidades no Brasil, via aplicativo móvel, seguindo todas as
orientações e parâmetros éticos conforme resoluções vigentes
510/2016 e 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Com base deste
contexto, espera-se avaliar apercepção do bem-estar acadêmico, assim
como suas características conceituais podem ser ferramentas para

1506
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

minimização das emoções e sentimentos negativos que podem gerar


sofrimento advindos desta fase. Resultado/Discussão: Até o presente
momento ocorreu a primeira etapa do estudo, por meio de uma revisão
sistemática realizou-se a contextualização do objetivo teórico sobre o
bem-estar subjetivo, ao qual evidenciou-se na coleta de dados das bases
de dados: BVS Psi, SciELO e Google Acadêmico, sendo os descritores de
pesquisa: avaliação bem-estar subjetivo; bem-estar subjetivo escala e
validação bem-estar subjetivo, ao qual identificou-se 13 estudos, que
abrangeram o objetivo da pesquisa. A literatura científica nos estudos
visualizados evidencia a existência de poucos estudos de construção
e/ou validação de instrumentos que avaliam o bem-estar subjetivo, ou
mesmo os itens que compõem: satisfação da vida, afeto positivo e afeto
negativo. Ou mesmo, outros instrumentos que utilizaram a base teórica
do bem-estar subjetivo, como: bem-estar afetivo, bem-estar no
trabalho, bem-estar pessoal e felicidade subjetiva. Considerações finais:
Deste modo, a construção e validação de um instrumento via aplicativo
móvel para avaliar o construto do bem-estar acadêmico torna-se
relevante no contexto atual de possíveis adoecimentos que o processo
do meio universitário possa desenvolver, principalmente em tempos de
pandemia, que o ensino remoto trouxe muitas necessidades de
adaptações que intensificaram o sofrimento psíquico do universitário no
Brasil. Avaliar o bem-estar acadêmico auxiliará em processos de cuidado
a saúde mental deste público.

1507
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Juventude, saúde mental e educação superior


na realidade brasileira em tempos de crise

Cynthia Studart Albuquerque


Lara Moreira Giló
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE

O debate em torno da saúde mental ganha cada vez mais espaço na


sociedade e na educação, já que os índices de sofrimento psíquico
aumentam gradativamente. O ensino superior no país, na última
década, modificou consideravelmente seu perfil por meio das políticas
de expansão e de interiorização, tais como REUNI, PROUNI, criação da
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT)
e a política de cotas que possibilitou a democratização do acesso dos
jovens das classes populares às instituições públicas. Entretanto,
surgiram, também, demandas para permanência e o êxito dos
estudantes, a exemplo das condições de moradia, alimentação e saúde.
Compreendendo que as instituições educacionais fazem parte da
reprodução social dos jovens, a questão da saúde mental deve ser uma
preocupação central para os processos ensino-aprendizagem e,
portanto, para sua permanência e êxito acadêmico. Nesse sentido, a
pesquisa desenvolvida teve como objetivo geral: analisar as relações
entre o sofrimento psíquico e a educação superior, ou seja, as
determinações e particularidades que conformam a saúde mental dos
jovens estudantes da educação superior no IFCE. E como objetivos
específicos, identificar as tendências contemporâneas materiais e
subjetivas que incidem sobre a condição de saúde mental das
juventudes contemporâneas; compreender as condições de vida e
trabalho das juventudes do IFCE, visando identificar os determinantes
sociais da saúde mental dos estudantes; e assinalar os dos fatores de
risco e proteção na instituição e as determinações universais e
particulares que conformam o processo de sofrimento mental dos

1508
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

estudantes. Desse modo, a investigação teve caráter qualitativo e usou


as técnicas de pesquisa: revisão bibliográfica, da pesquisa documental,
da aplicação de um questionário on-line junto aos estudantes do ensino
superior do IFCE, precisamente nos cursos de Licenciatura em Química,
Licenciatura em Geografia e Bacharelado em Serviço Social do IFCE -
campus Iguatu, envolvendo 86 estudantes de graduação. Quando
perguntados sobre as principais dificuldades na vida acadêmica
referiram: dificuldades financeiras (52,32%), relacionamento familiar
(44,18%), carga excessiva de trabalhos estudantis (43,02%),
relacionamentos amorosos e conjugais (30,23%), tempo de
deslocamento para a instituição (29,06%), carga horária excessiva de
trabalho (24, 41%), discriminações e preconceitos (15,11%), relação
professor-estudante (13,95%), dificuldades a materiais e meios de
estudos (12,76%), situações de violência (11,62%), maternidade ou
paternidade (5,86%). Apontaram, também, as dificuldades emocionais
que interferiram na vida acadêmica nos últimos 12 meses: 76,7%
citaram a ansiedade, 70,9% desânimo e falta de vontade de fazer as
coisas, 53,3% sensação de desatenção/desorientação, 48,8%, sensação
de desamparo/desespero, 39,5% tristeza persistente, 34,9%
medo/pânico, 34,9% sentimento de solidão, 18,6% timidez excessiva,
17,4% ideia de morte, 12,8% pensamento suicida. Diante disso, nos
surgiu o questionamento se a crise econômica e política, iniciada em
2016, influenciou na produção do mal-estar contemporâneo (DUNKER,
2018)? Ao realizamos essa pergunta, 72,1% dos estudantes
responderam sim e 27,9% disseram que não. Em síntese,
compreendemos que há uma produção social do sofrimento psíquico
vinculada aos fatores estruturais do modo de produção capitalista e às
determinações conjunturais da sociedade brasileira e que as instituições
de ensino poder ser fator de risco ou proteção.

1509
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

Narrativas de idosos sobre os sentidos do “não saber”

Lázaro Pinto da Silva Júnior


Victória Maria Antunes Carvalho
Ladislau Ribeiro do Nascimento
Universidade Federal do Tocantins - UFT

Os significados e sentidos associados com as concepções de saber e de


não saber são construções históricas mediadas pela cultura. Em uma
sociedade caracterizada pela divisão social de classes, em que o acesso à
formação educacional não tem sido tratado como direito, milhares de
pessoas se constituem enquanto sujeitos sem terem passado pelas
experiências viabilizadas pelas instituições escolares. Assim, em meio a
relações estruturadas pelo saber e pelo poder, muitas histórias de vida
são permeadas pela humilhação social e pelo sofrimento ético-político.
Este estudo analisou narrativas de idosos com o objetivo de identificar
significados, sentidos, emoções e sentimentos construídos ao longo de
suas respectivas trajetórias de vida. Os participantes estavam inseridos
em um projeto de extensão vinculado à Universidade Federal do
Tocantins, destinado para a promoção de saúde e bem-estar em um
grupo de idosos. Realizamos entrevistas semiestruturadas com três
idosos, com idades entre sessenta e oitenta anos, sendo dois homens e
uma mulher. As entrevistas foram norteadas pelas seguintes questões:
(1) Você teve acesso à escola?; (2) Caso tenha tido experiência escolar,
estudou até que série?; (3) Por que interrompeu os estudos?; (4) Já teve
vontade de voltar a estudar?; (5) O que fez com que tivesse ou não
vontade de voltar a estudar?; (6) Como você se sente por não ter
estudado (ou continuado os estudos)?; (7) Sempre se sentiu assim, ou
houve alguma mudança com o passar do tempo? Os resultados
apontam para histórias de pessoas que não tiveram acesso aos bancos
escolares, embora tenham sido alfabetizadas em ambientes familiares,
por meio da interação com parentes e conhecidos. Os relatos

1510
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

expressaram lembranças de tempos em que necessidades básicas


impuseram a realização de trabalhos braçais como atividades centrais
àqueles sujeitos. Deste modo, aquelas biografias foram sendo
construídas em meio aos jogos de poder-saber desta sociedade onde
conhecimentos legitimados pela ciência e pelo estatuto do saber
pedagógico colocam-se acima de outros saberes. Portanto, a despeito
da relevância e do valor dos saberes acumulados ao longo do percurso
de vida de cada participante, as narrativas produzidas indicam
sentimento de desvalia, humilhação e desamparo que podem ser
associadas ao sofrimento psicossocial experimentado pelos sujeitos
desta pesquisa. Este estudo reitera a importância de articularmos
pesquisa e intervenção em um compromisso ético e político com a
transformação da realidade social. Pretendemos produzir outros
trabalhos nesta perspectiva, com a finalidade de ampliar as análises
sobre as relações entre saber, poder e subjetividade.

1511
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

O mundo universitário e a experiência ambígua


de estudantes de graduação em Enfermagem

Luma Costa Pereira Peixoto


Universidade Estadual de Feira de Santana– UEFS

Patrícia Anjos Lima de Carvalho


Luana Machado Andrade
Edite Lago da Silva Sena
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Introdução: Ao ingressar na universidade, o estudante passa por uma


série de mudanças em sua rotina de vida, suas relações sociais, vivencia
ganhos e perdas, experimenta sentimentos variados e vai se
descobrindo e se reinventando enquanto ser no mundo. Tudo isso
acontece de forma muito particular, pois a maneira de lidar com o novo,
com o desconhecido, depende das singularidades de cada um. A
literatura tem apontado o contexto universitário como gerador de
ansiedade, estresse, predispondo o surgimento de transtornos mentais
comuns nos seus estudantes. Estudantes dos cursos de saúde, como a
Enfermagem, passam a lidar com situações dicotômicas como saúde-
doença e vida-morte. Tais situações precisam ser bem trabalhadas e
elaboradas tendo em vista a possibilidade de repercutirem
negativamente na saúde mental e, consequentemente, no desempenho
acadêmico e nas relações sociais. Enquanto docentes de cursos de
graduação em enfermagem, experimentamos sentimentos de
coexistência que nos mobilizaram abrir espaço de diálogo e encontros
com os estudantes que lhes permitissem refletir questões relacionadas à
sua saúde mental no decorrer do curso. Objetivo: Compreender como
os estudantes de graduação em Enfermagem significam o contexto
universitário. Metodologia: estudo fenomenológico, fundamentado na
ontologia de Maurice Merleau-Ponty; realizado com 41 estudantes de

1512
Ana Paula Freitas Guljor, João Mendes de Lima Júnior... (Organizadores)

graduação em Enfermagem, de ambos os sexos, de uma universidade


pública do interior da Bahia, Brasil, no período de fevereiro a abril de
2019. Para a construção das descrições vivenciais, realizamos quatro
rodas de Terapia Comunitária do tipo temáticas, que foram gravadas
através de aparelhos digitais. Posteriormente, as descrições foram
transcritas e submetidas à técnica Analítica da Ambiguidade. A pesquisa
foi iniciada somente após parecer favorável do Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob o nº
3.092.573, e CAAE 94544618.3.0000.0055. Resultados/Discussões: Da
análise emergiram duas categorias: a universidade que gera sofrimento;
e a universidade que proporciona crescimento. As descrições mostram a
percepção de universidade como um “em si”, uma visão objetivista que
a coloca como responsável por todo o estresse, angústia e sofrimento
vivenciado pelos estudantes. Além disso, desvelam generalidade e
repetição desse discurso pelos estudantes, ao escutarem o relato dos
seus pares sobre como sofrem na universidade. Na medida em que um
expressa sentimentos de ansiedade e de impotência, o semelhante é
afetado e, aos poucos, os mais próximos tendem a vivenciar sensações
similares. As descrições revelam, ainda, que todo o tempo dos
estudantes fica comprometido com a realização das demandas
acadêmicas, o que compromete o lazer, a dedicação à família e às
relações afetivas. Assim, compreendemos a ambiguidade da percepção
humana no que tange às vivências de estudantes no contexto
universitário, pois ao mesmo tempo em que o estudante sofre, ele
também cresce, evolui, transcende e vivencia a experiência do “eu
posso”, uma vez que com todas as experiências vividas, a universidade
lhe abre portas para a construção de um outro eu mesmo.
Considerações finais: apontamos para a necessidade de estratégias de
promoção da saúde mental na universidade, a fim de proporcionar
melhorias para o bem-estar e para a qualidade de vida dos estudantes.

1513
Anais do 7º Congresso da ABRASME... [Esta é uma versão preliminar]

1514

Você também pode gostar