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25.10.

2021

Aula 3 e 4

Historia da Diplomacia

UNIDADE I – INTRODUÇÃO
História da Diplomacia.
1.1. Introdução. O que é a Diplomacia. Objecto e disciplinas afins.
1.2. Conceitos de diplomacia.
1.3. A Diplomacia Na Antiguidade clássica (Mundo Greco-Romano)
1.3.1. Idade Média (Séculos XII-XV).
1.3.2. O Sistema Italiano (séc. XV e XVI)
1.3.3. Sistema Francês (séculos XVII e XIII), Francisco I (rei de
França), Richelieu (1626) potência da Diplomacia Pessoal.
1.3.4. O Sistema Inglês/Espanhol, o Cardeal Thomas (ministro de
Henrique VIII).
1.4. A importância do Tratado de Westfalia (1648) para diplomacia
moderna.
1.4.1. Os princípios mais importantes da Paz de Westfália.
1.4.2. O Tratado de Ultreque.
1.4.3. O Congresso de Viena (1 de Outubro de 1814 e 9 de Junho de
1815) conferência entre embaixadores das grandes potências
europeias.
1.4.4. Directrizes do Congresso e consequências do Congresso.
1.4.5. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e
consulares e seus efeitos.

Antiguidade Oriental é um conceito utilizado para identificar as


civilizações que se desenvolveram durante a Idade Antiga no Oriente, em
especial no norte da África e no Oriente Médio, como a egípcia e
mesopotâmica. Essa denominação é dada em oposição ao conceito de
Antiguidade Clássica - ou Ocidental - que se dedica principalmente ao
estudo de Grécia e Roma. As civilizações da Antiguidade Oriental, apesar
de possuírem diversas peculiaridades entre si, atendem a algumas
características em comum. Essas sociedades se caracterizaram pela
formação dos primeiros Estados centralizados, com governos teocráticos
baseados em crenças politeístas, ou seja, que acreditavam em mais de
uma divindade. No caso da Mesopotâmia e do Egito, eram economias
baseadas na produção de excedentes agrícolas, que dependiam muito
dos recursos hídricos disponíveis: os rios Tigre e Eufrates, para os
mesopotâmicos, e o Rio Nilo, para os egípcios. Em virtude disto, a região
onde essas civilizações floresceram ficou conhecida como “crescente
fértil”. Nesse sentido, os Estados que se estabeleceram nessa região
tinham a propriedade das terras cultiváveis, e a produção se dava através
de regimes de servidão coletiva. A disputa pelo domínio daquele
território fez com que a região da crescente fértil fosse alvo de intensos
conflitos e passasse pelo controle de diferentes povos durante a
Antiguidade.

Egito

A civilização egípcia se construiu no norte da África a partir de diversos


agrupamentos, chamados nomos, que se instalaram às margens do Rio
Nilo. Com o crescimento desses povoamentos e a necessidade de mão de
obra para expandir as áreas cultiváveis, os nomos se organizaram em dois
reinos, Alto e Baixo Egito. Esse é a primeira fase da história do Egito,
denominada “pré-dinástica”. Por volta de 3100 a.C., Menés, rei do Baixo
Egito, lidera a conquista do Alto Egito e unifica as duas regiões, dando
origem à segunda fase da história do Egito, o período “dinástico”. A fase
entre a unificação do Egito e a criação do Império ficou conhecida como
Período Arcaico (3100-2700 a.C.). Foi seguida do Antigo (2700-2200 a.C.),
Médio (2050-1750 a.C.) e Novo Império (1550-1070 a.C.), quando o Egito
entrou em sua fase de decadência e sofreu fortes agitações internas,
levando novamente à divisão em dois reinos por volta de 1100 a.C., e,
posteriormente, a invasões estrangeiras. Durante o período de auge do
Império, a sociedade era dominada pelo Faraó, maior autoridade do Egito
e considerado uma figura divina. Abaixo do Faraó estavam os nobres e
sacerdotes. Estes eram responsáveis pelos assuntos religiosos. Um degrau
abaixo na hierarquia estavam os burocratas e escribas, funcionários do
Faraó responsáveis pela administração do Império. E, no estrato inferior,
estavam localizados camponeses, servos e escravos, responsáveis pela
produção e pelas grandes obras do Império, como as Pirâmides e as
obras hídricas. Durante quase todo o Império Egípcio a religião era
politeísta, de características antropozoomórficas (ou seja, os deuses
possuíam formas humanas e animais), mas com um breve período
monoteísta, sob comando do faraó Akhnaton.
Mesopotâmia

A Mesopotâmia é uma região localizada no Oriente Médio, entre os rios


Tigres e Eufrates, e seu nome significa “entre rios”. A exemplo do que
ocorrera no Egito, a região da Mesopotâmia possuía extensas áreas
férteis, o que favoreceu a ocupação humana. Os diferentes povos que
povoaram a região se organizaram em cidades-estados, ou seja, cidades
independentes que possuíam governo próprio e autônomo. Dentre os
povos que se sucederam na Mesopotâmia desde cerca de 4000 a.C., estão
sumérios, acádios, amoritas, assírios e caldeus. A organização desses
povos, em geral, se dava a partir de um Estado centralizado, de crença
politeísta, da existência de um estrato de sacerdotes, e do regime de
servidão coletiva para produção e construção de obras. Podemos
destacar, entre as especificidades de cada um desses povos, a criação da
escrita cuneiforme pelos sumérios; e a elaboração do “Código de
Hamurabi” pelos amoritas (ou babilônios). O Código de Hamurabi é o
mais antigo código de leis conhecido, baseado na “lei do Talião”, cujo
princípio mais conhecido era o do “olho por olho, dente por dente”. O
último desses povos a dominar a região mesopotâmica antes da
dominação helenística (330 a.C.) foram os caldeus, também chamados de
neobabilônicos, cujo rei mais importante foi Nabucodonosor, responsável
pela construção dos Jardins Suspensos da Babilônia e pela escravidão do
povo hebreu no chamado “cativeiro da Babilônia”.

Outros povos e civilizações

Fenícios

Povo que vivia na costa oriental do Mediterrâneo, na Ásia, e se organizava


em cidades-estados. Exerceram grande influência na região através
do comércio marítimo, e foram os criadores do primeiro alfabeto.

Persas

Estavam localizados, a princípio, ao norte do Golfo Pérsico, mas o Império


Persa foi responsável por uma das maiores expansões territoriais da
Antiguidade, ocupando a Ásia Menor e a Mesopotâmia, atingindo
também o norte da África e as margens do rio Danúbio, na Europa. Em
razão disso, o império foi dividido em “satrapias”, espécies de províncias
que possuíam relativa autonomia. Os persas também são responsáveis
pela difusão do dualismo (a crença na existência de duas forças, uma
representando o bem, e outra o mal).

Hebreus

Eram um povo monoteísta, ou seja, que acreditava em um único deus.


Durante a Antiguidade, viveram na região da Palestina, mas também
foram escravizados pelos egípcios e, posteriormente, pelos
neobabilônicos.

Idade Média (Séculos XII-XV).

O Sistema Italiano (séc. XV e XVI)

No longo período compreendido entre 1450 e ο final do século XVIII a


diplomacia sofreu uma profunda transformação. Em meados de
Quatrocentos a interacção diplomática surge ainda como uma actividade
pouco desenvolvida e pouco frequente; em pleno século XVIII, pelo
contrário, os laços diplomáticos apresentam já contornos bastante
complexos, afirmando-se como um ramo cada vez mais importante da
acção da Coroa. Foram três séculos de mudanças, três séculos que
alteraram por completo a natureza das missões diplomáticas, bem
como ο seu lugar na política europeia. Estas mudanças não passaram
despercebidas à recente historiografia, e a verdade é que, nos últimos
quinze anos, a diplomacia se converteu num dos temas mais
frequentados pelos historiadores que se ocupam da Europa da época
moderna. A este investimento historiográfico não é certamente
alheio ο facto de, entre 1996 e 1998, se terem realizado vários encontros
científicos para assinalar a passagem de trezentos e cinquenta anos sobre
a assinatura dos tratados de Vestefália (1648-1998).

A matriz itálica

Apesar de ser um fenómeno geral e registado à escala europeia, não


restam hoje dúvidas de que ο desenvolvimento da diplomacia ocorreu, de
um modo especialmente precoce, no espaço italiano. A Itália do século
XV era composta por várias cidades-estado, cada uma delas com um grau
de organização e de desenvolvimento bastante acentuado, contando com
cinco principais entidades - ο ducado de Milão, a República de Veneza, a
República de Florença, ο Estado da Igreja, ο Reino de Sicília e Nápoles -, e
com um número significativo de cidades-estado com um menor poderio
político. Entre os estados que compunham a Peninsula Itálica chegou
mesmo a existir uma certa ideia de «Lega Italica», de confederação, a qual
foi concebida, pela primeira vez, pelo papa Martinho V, com ο objectivo
confesso de criar, em torno da Santa Sé, uma cintura de protecção contra
os projectos de hegemonia europeia que estavam então a surgir,
sobretudo por parte das Coroas ibéricas, de França e do Sacro-Império. A
aristocracia logrou controlar os principais postos de governo, civil e
militar, e os cargos diplomáticos não foram excepção, pois também nessa
área se fez sentir ο predomínio aristocrático. Para esta prioridade italiana
no desenvolvimento da diplomacia terá também contribuído a
influência (...)

Por último, a circunstância de os italianos se encontrarem


geograficamente situados entre a Europa Ocidental e ο Mediterrâneo
Oriental também foi determinante, pois fez com que entre eles surgisse
uma especial aptidão para desempenhar ο papel de interlocutores
entre ο Ocidente e Bizâncio. A República de Veneza, em particular,
especializou-se nesta prática, e após a queda de Constantinopla muitos
venezianos continuaram a monopolizar os contactos entre a Sublime
Porta e os príncipes ocidentais. Na Europa de finais do século
XV ο cenário diplomático era bem diferente daquele que acabou de ser
apresentado de forma muito esquemática, pois boa parte dos traços mais
típicos da actual diplomacia estão pura e simplesmente ausentes. Desde
logo porque em vez do Estado, eram as casas reais quem protagonizava a
pouca interacção diplomática que então existia, e até ao século de
Quinhentos as relações entre entidades políticas resumiram-se,
praticamente, aos laços de parentesco estabelecidos entre membros de
diversas casas reais. Em vez de contactos pacíficos numa base
permanente, predominavam as situações de guerra, e as poucas
iniciativas diplomáticas que tiveram lugar nesses anos visaram
precisamente sanar conflitos militares. Outra importante novidade da
actividade diplomática desenvolvida nestes anos foi ο aparecimento de
representantes com um carácter permanente. As primeiras embaixadas
permanentes de que temos notícia são, uma vez mais, italianas, tendo
surgido ainda no século XV. Porém, aos poucos as demais entidades
políticas europeias foram adoptando ο sistema de embaixador residente,
ou seja, passaram a contar com representantes com um carácter
permanente junto de cortes estrangeiras. Tanto a Santa Sé como os
Habsburgo austríacos – sobretudo sob Maximiliano I –, implementaram
muito rapidamente esse sistema de embaixadores permanentes. Na
Península Ibérica ο dispositivo diplomático desenvolveu-se no mesmo
sentido, tanto em Aragão como em Castela, se bem que mais lentamente.
Sintomaticamente, foi também em Itália que viu a luz um dos primeiros
tratados especificamente dedicados à arte diplomatica: ο De officio
legati, escrito em 1436 pelo diplomata veneziano Ermolao Barbaro e
impresso em Roma nos finais de Quatrocentos. Durante ο século XVI as
relações diplomáticas entre os diferentes príncipes (eclesiásticos e
seculares) foram fortemente condicionadas por um ideal que, apesar das
suas ancestrais origens, continuava a contar com muitos adeptos: a ideia
de «Império Universal». Como é bem sabido, em pleno século de
Quinhentos continuavam a ser numerosos aqueles que acreditavam que a
humanidade deveria organizar-se segundo um domínio único, alegando
que essa situação política era a mais conforme aos desígnios da
divindade. Este ideal, que tinha também muito de crença religiosa, estava
estreitamente associado aquele que era ο entendimento coetâneo do
conjunto formado pelas várias entidades políticas cristãs. De facto, em
pleno século XVI todas as entidades políticas continuavam a reconhecer-
se na ideia de que faziam parte de um cosmos harmoniosamente
ordenado pela divindade, estruturado de forma orgânica numa estrita
hierarquia de graus, distinções e dignidades. Neste contexto, as
repúblicas, os marquesados, os ducados, os principados e os reinos eram
tidos como membros de um todo orgânico, membros qualitativamente
muito diversos, escalonados numa linha ascendente convergente para
Deus. Acreditava-se que esse todo orgânico, criado por Deus, era, por
isso, mesmo fixo, imutável e indisponível para os homens. Todos os
propósitos de organização deveriam levar em conta essa estrutura
orgânica e respeitar essas diferenças, e para aqueles que não
respeitassem tais princípios ou que atacassem essa organização, a guerra
era não só «justa» mas também um dever de todos os cristãos. Foi em
Italia que estes ideais encontraram mais adeptos. Nessa região chegaram
mesmo a escutar-se apelos à formação de uma «Lega Italica», a qual, para
muitos, seria ο primeiro passo para a unificação da Península Itálica, um
processo que tinha subjacente a ideia de que tal união iria ser ο prelúdio
de uma paz universal, uma reedição, uma renovatio do imperium, da paz
e da justiça. Esta ideia de renovatio imperial inspirou muitos humanistas
italianos, para quem ο Latim iria ser como que a língua franca dessa
ordem universal. Este excurso sobre a temática imperial poderá parecer,
talvez, demasiado longo, mas a verdade é que ele é importante
para ο tema que estamos a analisar, pois permite compreender
melhor ο modo como ο imaginário do «domínio universal» condicionou
toda a evolução da diplomacia no século XVI. Na verdade, enquanto teve
adeptos, este ideário favoreceu uma moral muito mais voltada para os
interesses do conjunto da Cristandade, concedendo pouco espaço para a
afirmação do individualismo político. Além disso, ele serviu também para
justificar a subordinação dos vários principes cristãos à autoridade que se
apresentava como investida da dignidade Imperial. Ο Papado, os
Habsburgo austríacos e a Monarquia Hispânica, cada um à sua maneira,
apropriaram-se deste imaginário, utilizando-o para legitimar projectos
políticos hegemónicos, ο mesmo sucedendo, um pouco mais tarde, com a
Monarquia Francesa. Como consequência, a estratégia diplomática destes
vários potentados foi modelada por uma visão imperial da política
europeia, facto que concorreu para converter os embaixadores dos
Habsburgo e os legados do Papado em representantes activos de
projectos universalizantes. Os Núncios estavam investidos de vastos
poderes fiscais e jurisdicionais, representando, no fundo, um poder supra-
nacional que, em nome do Papa, interferia no espaço jurisdicional das
diversas coroas europeias. Em teoria, a fînalidade do Papado era
promover a paz entre as autoridades cristãs, mas a verdade é que acabou
por provocar toda uma série de conflitos. Até 1559 a diplomacia pontifícia
teve uma actuação relativamente moderada, pois estava condicionada
pelo equilíbrio de poderes na Península Itálica. Porém, nesse ano foi
assinado ο pacto entre Roma e a Monarquia Hispânica, ο qual viria a
tornar-se na base do sistema da Contra-Refoma, conferindo à diplomacia
pontifîcia – e também à dos Habsburgo – uma feição muito mais
autoritária e interventora. Como se sabe, apesar da oposição que gerou,
esse tratado ditou ο alargamento da jurisdição da Igreja nos diversos
reinos católicos, autorizando a intervenção pontifîcia em sectores muito
vastos da política interna desses territórios. Ainda assim, a interferência
pontifícia nos assuntos internos franceses continuou a ser fortíssima,
e ο Papado, juntamente com a Monarquia Hispânica, estiveram por detrás
das guerras civis e religiosas que dividiram os franceses a partir de
meados de Quinhentos. Em Inglaterra, por seu turno, a posição de cisma
assumida por Henrique VIII e a decisão de fundar a Igreja Anglicana,
tornaram a intervenção romana bem mais reduzida. No que concerne à
época em que se realizou ο Concílio de Trento, cumpre referir que, na
segunda metade de Quinhentos e ao longo do século XVII, ο Papado, a
fim de vincar ο seu protagonismo politico, tirou partido dos dois grandes
conflitos em que os católicos se viram envolvidos: a luta contra os
Protestantes, e, sobretudo, ο combate contra ο avanço dos Turcos na
Europa Oriental. Há que não esquecer que, a pretexto da guerra contra os
Otomanos, ο ideal de cruzada voltou a ser reavivado, e ο Papado liderou
esses apelos, deles retirando dividendos políticos muito amplos. No
fundo, através desses gestos ο Sumo Pontífice procurava afirmar-se
como ο principal líder da Cristandade. No seu magistral estudo
sobre ο ideário imperial, Frances Yates analisou detalhadamente a figura
de Carlos de Habsburgo, ο qual, como é bem sabido, foi sagrado
imperador em 1519. Após a morte de Maximiliano I, Carlos conseguiu
levar a melhor sobre os demais candidatos ao título imperial. Uma vez no
poder, e graças a uma estratégia que conjugou as alianças dinásticas e a
conquista militar, Carlos V alcançou uma autoridade efectiva sobre uma
parte substancial da Europa, submetendo, também, vastos territórios nos
outros continentes. Este domínio tão alargado conferiu ainda mais força
ao projecto imperial que, desde ha séculos, andava associado à família
dos Habsburgo, e sob Carlos V ο desígnio de poder universal foi mais do
que nunca entendido como uma renovação, operada através da
instauração de um domínio único em todo ο mundo. É bem sabido que,
após Carlos V, ο título imperial não passou para ο seu filho Filipe, e que
este, logo no início do seu reinado, deu mostras de não ter esperança de
algum dia poder governar todo ο mundo. No entanto, importa frisar que,
apesar de tudo, a noção de Monarquia Universal continuou associada à
casa real dos Habsburgo espanhóis, reflectindo não só a extensão do
domínio, mas também ο carácter heterogéneo dos reinos e dos territórios
sobre os quais essa casa dinástica era soberana. Foi justamente nesse
contexto que ο monarca hispânico passou a ostentar ο título de Rex
Catholicus, assumindo ο papel de Defensor Fidei, de defensor da
«Cristandade aflita» contra os ataques dos Protestantes. Como dissemos,
Filipe de Habsburgo parece já não acalentar a esperança de se converter
em senhor de todo ο mundo. Contudo, a despeito desta tomada de
consciência de uma relativa impotência, a noção de Monarquia
Universal permaneceu associada à casa real castelhana, condicionando
fortemente ο estilo das relações externas que foram mantidas por Filipe II
e pelos seus sucessores. Os enviados dos Habsburgo espanhóis
desenvolveram, fundamentalmente, uma diplomacia “confessional”,
marcada por uma estreita articulação entre as finalidades religiosas e os
objectivos políticos da Monarquia Hispânica. Em termos de idioma
diplomático, é de registar ο gradual abandono do Latim como língua
franca das negociações, notando-se, paralelamente, a afirmação dos
idiomas vernaculares, em especial do Francês, como língua de
negociação. No que toca aos actores da interacção internacional, ja no
século XVIII teve lugar a afirmação da Prússia e da Rússia, ο que implicou
uma alteração substancial dos termos em que assentava ο equilíbrio no
espaço europeu. Por fim, outro atributo marcante da diplomacia destes
anos é ο empenho dos pequenos estados em se afirmarem
internacionalmente através do desempenho de um papel de mediação de
conflitos entre grandes potências.

Sistema Francês (séculos XVII e XIII), Francisco I (rei de França),


Richelieu (1626) potência da Diplomacia Pessoal.

O Sistema Inglês/Espanhol, o Cardeal Thomas (ministro de Henrique


VIII).

A importância do Tratado de Westfalia (1648) para diplomacia


moderna.

Os princípios mais importantes da Paz de Westfália.

O Tratado de Ultreque.

O Tratado de Utrecht (1713) foi firmado entre França, Espanha e os países


da “Grande Aliança” para dar fim à Guerra de Sucessão da Espanha. Ao
longo do século XVIII, a Europa passou por uma série de tensões políticas
que mudou muitos dos seus aspectos econômicos e geopolíticos. A maior
de todas as reviravoltas foi a Revolução Francesa de 1789. Contudo, ainda
no início do século, houve uma guerra de onze anos cujas consequências
mudaram o mapa da Europa e as relações das coroas europeias com suas
respectivas colônias, sobretudo as americanas. Referimo-nos à Guerra de
Sucessão da Espanha (1702-1714). Ao fim dessa guerra, um tratado veio
colocar os termos e condições aos países perdedores, no caso Espanha e
França. Era o Tratado de Utrecht. As resoluções desse tratado, entre
outras coisas, quebraram o chamado “pacto colonial”, que estabelecia a
hegemonia das metrópoles da Europa sobre suas respectivas colônias. A
Guerra de Sucessão da Espanha aconteceu por causa da vacuidade do
trono espanhol após a morte de Carlos II em 1700. O Duque de Anjour foi
aclamado imperador da Espanha, como Felipe V, sendo ele, também, o
potencial herdeiro do trono francês, já que era neto do então rei da
França, Luís XIV. A possibilidade de haver uma união franco-hispânica via
dinastia de Bourbon (à qual Felipe V pertencia) preocupou as outras
dinastias, ou casas aristocráticas, da Europa, sobretudo a dos Habsburgos.
Para se salvaguardarem contra essa possibilidade de união dos tronos,
Áustria, Inglaterra, Holanda e outros países formaram
uma “Grande Aliança” contra França e Espanha. A guerra estourou em
1702 e só terminou em 1714, acabando por mobilizar praticamente todas
as coroas europeias. No ano de 1713, a guerra chegou a seu ponto de
saturação. Espanha e França, derrotadas pela “Grande Aliança”, aceitaram
as condições estabelecidas pelo Tratado de Utrecht, que foi elaborado
durante um congresso realizado na cidade que lhe deu o nome. Com o
referido tratado, Felipe V, que havia abdicado do trono espanhol,
retornou como rei, porém se comprometendo a não pretender ocupar o
trono da França. Além disso, o tratado ainda obrigou a França a ceder os
territórios da Nova Escócia e da Terra Nova à Inglaterra. A esse mesmo
país, a Espanha teve que ceder a região de Gibraltar. A Áustria ficou com
as províncias de Nápoles e Milão, antes pertencentes à França, e Portugal,
que apoiou os ingleses, teve sua posse sobre as margens do rio
Amazonas reconhecida pelos países vencedores, ampliando assim as
fronteiras do Brasil Colônia com relação às colônias da Espanha, como
bem assinala a pesquisadora Júnia Ferreira Furtado:

Pouco depois de terminadas as negociações entre ingleses e franceses, no


início de 1713, chegou a vez dos últimos iniciarem suas negociações com
os portugueses. A posição de Portugal sobre as terras em disputa entre as
duas Coroas no norte do Brasil era de que a ele pertencia por direito
todas as terras do Cabo do Norte, situadas entre o Amazonas e o rio de
Vicente Pinzón, ou Oiapoque, e que a possessão dessas terras dava-lhe o
direito exclusivo à navegação do rio Amazonas. Como dito no parágrafo
de abertura, o Tratado de Utrecht também contribuiu para a ruptura do
Pacto Colonial. Essa ruptura favoreceu enormemente a Inglaterra, já que,
com a submissão da Espanha às condições do tratado, os ingleses tiveram
livre trânsito para vender e comprar mercadorias diretamente com os
colonos da América Espanhola.

O Congresso de Viena (1 de Outubro de 1814 e 9 de Junho de 1815)


conferência entre embaixadores das grandes potências europeias.

Directrizes do Congresso e consequências do Congresso.

A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e consulares e


seus efeitos.

Tratados assinados em meados do século XVII após a Guerra dos Trinta


Anos são vistos como o início de uma nova ordem internacional. Entre
1618 e 1648, a Europa conheceu uma das guerras mais devastadoras de
sua História: a “Guerra dos Trinta Anos”. No início, o conflito era
fundamentalmente religioso (disputas envolvendo católicos e
protestantes) e concentrou-se nas diversas unidades políticas germânicas.
Com o tempo, no entanto, os combates disseminaram-se pelo continente
e logo passaram a levar em conta outros interesses e causas, como a
expansão de territórios e a busca por hegemonia política na região.
Tropas treinadas, uso da metalurgia, academias militares, amplo uso de
exércitos mercenários e novas armas, tais como canhões móveis e
mosquetões. A Guerra dos Trinta Anos foi, por conta disso tudo, uma
guerra com um custo humano e material altíssimo. Os cálculos mais
ponderados, sublinha o historiador Henrique Carneiro, apontam para
quatro milhões de mortos no conflito. O número que pode parecer
discreto se comparado com os mais de 45 milhões de mortos na Segunda
Guerra Mundial, mas tendo a Europa do século XVII uma população de
cerca de 20 milhões de pessoas, a Guerra dos Trinta anos foi
proporcionalmente a guerra mais mortal do continente – 1/5 dos
europeus teriam perecido nela. Em janeiro de 1648, depois de três
fatigantes anos de conversas a fim de viabilizar uma conferência de paz e
após um longo lastro de morte, destruição e esgotamento econômico,
centenas de negociadores das mais de 100 unidades políticas envolvidas
na Guerra dos Trinta Anos se reuniram nas cidades vestfalianas de
Osnabrück e Münster (atual Alemanha) para selar um acordo de paz. Os
acordos ali firmados (11 no total) consumiram voluptuosos recursos
financeiros, levaram dez meses para serem todos costurados, mas a
guerra foi, enfim, foi encerrada. Os chamados “Tratados de Vestfália”
(também conhecidos como “Tratados de Münster e Osnabrück” ou “Paz
de Vestfália”), no entanto, foram importantes não só porque colocaram
um ponto final na guerra, mas porque a partir deles também se forjou um
novo sistema internacional para a Europa. O objetivo deste artigo é
discutir que sistema foi este e por que ele é geralmente tomado como um
marco no campo de estudo das Relações Internacionais.

Um sistema internacional baseado no “equilíbrio de poder”

De acordo com Raymond Aron, um sistema internacional é “conjunto


constituído pelas unidades políticas que mantêm relações regulares entre
si e que são suscetíveis de entrar em uma guerra geral”. Com isso, o
historiador se refere a uma espécie de ordenação racional que busca ditar
as dinâmicas no pano internacional, gerenciar conflitos, negociar termos
de paz e discutir questões que interessam aos seus membros além de
constituir um ecossistema político que, embora diverso, compartilha de
determinados valores e cultura. É justamente um sistema internacional
nos temos descritos por Aron que vai se forjar no âmbito das
conferências realizadas em Münster e Osnabrück. Este sistema substitui o
anterior – o medieval ou da cristandade – no qual a moral religiosa era
tomada como norte para o comportamento dos Estados e no qual o
Império dos Habsburgos e o Papa – os principais centros de poder na
Europa na época – representavam a fonte de toda (ou quase toda)
autoridade. Mas qual era o propósito e as características deste novo
sistema internacional?

Para fins didáticos, podemos identificar três grandes características


norteadoras. Em primeiro lugar, ele é um sistema fundado em preceitos
fundamentalmente seculares. A religião continuaria sendo importante na
vida social e política, no que pese a força que teriam nas décadas
seguintes as monarquias absolutistas com base no “direito divino”, porém
não seria mais a confissão religiosa de um Estado aquilo que ordenaria os
seus movimentos e as suas decisões. Estes seriam guiados pelos
interesses do Estado, principalmente os geopolíticos. É neste momento
que se emerge vitoriosa a “razão de Estado” ou “interesse nacional” (do
francês, Raison d’état), conceito desenvolvido por Nicolau Maquiavel
(1469-1527) e consagrado pelo Cardeal Richelieu (1585-1642), que
justifica o uso de qualquer meio, até mesmo a violência, para assegurar o
bem-estar e a sobrevivência do Estado, cujos interesses estariam acima de
qualquer ideologia, linha de pensamento ou religião. Em segundo lugar,
os Tratados de Vestfália, nascidos de uma guerra extremamente
extenuante, tinham em seu horizonte evitar novos conflitos daquela
magnitude. Para isso, aquele novo sistema internacional, ainda que não
houvesse tornado a guerra ilegal, estabeleceu um conjunto de
procedimentos que visava evitá-la a todo custo. Entre outras coisas, ficou
acordado o recurso da diplomacia ao invés da guerra como solução para
conflitos e a aclamação das noções de soberania do Estado (em negócios
internos e externos) no lugar do princípio de intervenção. E como as
nações representadas nas conferências de Münster e Osnabrück
preocupavam-se com a emergência futura de uma potência hegemônica,
isto é, uma potência que tivesse muito mais força que os demais entes
políticos da região (que iam desde repúblicas até monarquias, passando
por ducados e principados), consagrou-se a igualdade dos Estados
soberanos, mesmo que estes não fossem semelhantes em termos
militares ou de sistemas políticos. Todos teriam que, dali em diante,
respeitar os territórios uns dos outros, assim como seus anseios, desde
que, claro, não se colocasse outro território em risco iminente. Os
Tratados de Vestfália, deste modo, consagraram a ideia de “múltiplas
independências” no continente europeu, além de refletir a necessidade de
um sistema de “balança de poder”. Todas essas mudanças são
consideradas por boa parte da literatura especializada como um divisor
de águas na constituição do mundo moderno. Não fortuitamente, os
Tratados de Vestfália são considerados o primeiro grande fórum
internacional moderno das nações. Segundo resume o historiador Amado
Luiz Cervo, “a filosofia política de Vestfália fez avançar a sociedade
internacional europeia em termos conceituais: a nova ordem era fruto da
negociação, legitimava uma sociedade de Estados soberanos, enaltecia a
associação e a aliança, mas não era ingênua a ponto de ignorar a
existência de hierarquia e hegemonia entre Estados e a mobilidade da
balança de poder”. Em terceiro lugar, finalmente, os Tratados de Vestfália
transformaram o Direito Internacional Público (DIP), reflexo de Estados
que se empenhavam em seguir a partir de agora pressupostos seculares e
não mais religiosos – parte do arcabouço desta doutrina fora
desenvolvida ainda durante a guerra por nomes como o do acadêmico
Hugo de Groot (1583-1645), famoso jurista dos Países Baixos, precursor
de trabalhos que em breve, por exemplo, ajudariam a codificar as leis
internacionais, tanto em tempos de guerra quanto em tempos de paz.
Como explica Valerio de Oliveira Mazzuoli, muitos autores consideram
que antes da Paz de Vestfália não existia um Direito Internacional
propriamente dito, que codificasse, por exemplo, leis pertinentes à
navegação, à formação de forças militares permanentes ou ainda à
instalação de embaixadas. Também não existia uma sociedade
internacional com poder político para sujeitar os Estados ao cumprimento
de suas regras de conduta. Neste sentido, Henrique Carneiro resume a
importância dos 11 tratados firmados em 1648 afirmando que: “toda a
política moderna e contemporânea, baseada no reconhecimento da
legitimidade dos Estados e na constituição de um conjunto político de
nações que se reconhecem como parte de um sistema em que rege um
direito internacional, deriva do modelo criado e formalizado a partir da
Paz de Vestfália”. No século XVII, o modelo vestfaliano funcionou
relativamente bem. Mas, na primeira metade do século XVIII, encontrou
problemas para conter França e Prússia: a primeira porque sua força
cresceu demais e perigava tornar-se uma força hegemônica; a segunda
porque cresceu de tamanho e queria agora conquistar o seu lugar entre
as grandes potências. Já no final da segunda metade do século XVIII, a
Revolução Francesa e o Império Napoleônico o questionavam
efetivamente, sendo necessário, ao fim das Guerras Napoleônicas (1803-
1815), uma nova conferência europeia para a reajustar a “balança de
poder” no continente, conferência esta que ficou conhecida como
Congresso de Viena.

Considerações finais

Ao consagrar as noções de “soberania”, de “Estado-nação”, de “razão de


estado”, de “diplomacia” e de “equilíbrio de poder”, entre outras tantas,
os Tratados de Vestfália se tornaram um objeto de estudos bastante
importante no campo das Relações Internacionais e do Direito
Internacional Público, embora esses tratados não constituam um
documento diplomático formal único e haja debates relevantes sobre sua
originalidade. Há estudos recentes, como o do internacionalista (nome
dado aos pesquisadores de Relações Internacionais) Diego Santos Vieira
de Jesus, que questionam a profundidade das inovações da “Paz de
Vestfália” e que problematizam a existência de brechas nos princípios de
autonomia e de territorialidade do modelo vestfaliano de relações
internacionais, destacando suas dificuldades em se chegar à paz e à
estabilidade. De acordo com Jesus, “o que Vestfália fez, em certa medida,
foi consagrar uma ordem cooperativa legal de entidades autônomas não-
soberanas, o que indica que a soberania não é o único conceito ou forma
possível de interpretar a interação entre atores autônomos”. O
pesquisador fala em um “mito da Paz de Vestfália na história das relações
internacionais modernas”. Ainda assim, as conferências realizadas nas
cidades vestfalianas tornaram-se objetos de reflexão consagrados nos
campos da História, da Ciência Política, das Relações Internacionais e do
Direito, além de ponto de referência para os estudos sobre os Estados,
consagrando conceitos e vocabulários. Conforme explica Henry Kissinger,
“a principal característica desse sistema, e o motivo de ele ter se
espalhado pelo mundo, residia no fato de que suas disposições tinham a
ver mais com procedimentos do que com substância”. E Kissinger
complementa seu pensamento chamando a nossa atenção para o que os
Tratados de Vestfália representavam em sua própria época: “caso um
estado aceitasse esses requisitos básicos, poderia ser reconhecido como
um cidadão internacional capaz de manter sua própria cultura, política,
religião e práticas internas, protegido pelo sistema internacional contra
intervenções externas”.
Notas

1 Vestfália é uma região alemão. Vale destacar na nota que os limites


políticos e geográficos da Europa na época não eram semelhantes aos de
hoje e nem mesmo seguiam a mesma lógica e padrão.

2 As potências católicas se reuniram na cidade católica de Münster,


enquanto a 50 quilômetros dali, na cidade de Osnabrück, reuniram-se as
potências protestantes. Segundo Henry Kissinger, nenhuma das duas
cidades estava preparada para um encontro com aquela dimensão. “O
enviado suíço ficou alojado no andar de cima da oficina de um tecelão,
num quarto que fedia a salsicha e óleo de peixe, enquanto a delegação
da Baviera obteve 18 camas para seus 29 integrantes.” Ver referência ao
final do artigo..

3 Além disso, ficou acordado que as minorias religiosas poderiam praticar


a sua fé sem temer repressões ou conversões forçadas – um marco, ainda
que a tolerância religiosa muitas vezes tenha seguido no sentido oposto
em diversos tempos e lugares na Europa e fora dela, desde então e até
hoje.

4 O desfecho da Guerra dos Trinta Anos impediu por si só a formação de


um grande bloco de poder na Europa, representado pela Casa
Habsburgos e também pelo Sacro Império Romano Germânico,
constituído em 962, e completamente enfraquecido após 1648. A Espanha
– grande potência nos séculos XV e XVI também iniciou uma rápida
decadência após a derrota na Guerra dos Trinta Anos.

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