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Análise Temática da Arquitetura da Igreja Nossa

Senhora das Graças


Thematic Analysis of the Architecture of Nossa Senhora
das Graças Church

Título do trabalho em português


Resumo
Situado no centro da cidade histórica de São Francisco do Sul, Santa Catarina, a Igreja Nossa Senhora
das Graças demonstra seus belíssimos traços oriundos do barroco brasileiro. Sua localização litorânea,
fez com que essa edificação necessitasse o uso do óleo de baleia em sua construção, para garantir sua
resistividade, devido ao alto poder de aglutinação encontrado nos óleos de peixe, além das pedras,
areia e cal. A edificação expõe adornos como cornijas, gabletes, volutas, frontões, pináculos, cimalhas
dentre outras técnicas decorativas. Esta pesquisa tem como objetivo levantar dados históricos
referentes ao Santuário, da mesma maneira que busca analisar as contribuições que a obra trouxe
para o desenvolvimento do município e região. Por fim, procura salientar quais atributos a tornam
singular, tendo em vista suas particularidades arquitetônicas, as quais são provindas de um estilo que
surgiu tardiamente, com influências estrangeiras. Como pontapé inicial, o barroco europeu surgiu com
a Contrarreforma Católica, que buscou conter a Reforma Protestante. No Brasil, o estilo diferencia-se
do europeu através dos seus jogos de contrastes e cores. O estudo baseou-se inicialmente na visita da
obra e na coleta de informações fornecidas através de entrevistas ao coordenador do Museu
Diocesano de Artes Sacra e da Igreja. A partir das metodologias utilizadas pode ser verificado na igreja
Nossa Senhora das Graças em Santa Catarina a presença de uma linguagem arquitetônica e
racionalista, unindo o profano à religião, tendo como base um modelo de estética extravagante a qual
apresenta requinte por ilustrar imagens divinas e conter um grande número de ornamentos,
especificidades decorrentes do barroco da época.

Palavras-chave: Arquitetura Histórica. Barroco Brasileiro. Ornamentação. Edificação Religiosa.

Abstract
Located in the center of the historic city of São Francisco do Sul, Santa Catarina, the Nossa Senhora
das Graças Church shows its beautiful traces from the Brazilian Baroque. Its coastal location meant
that this building required the use of whale oil in its construction, to guarantee its resistivity, due to
the high agglutination power found in fish oils, in addition to stones, sand and lime. The building
exhibits adornments such as cornices, gabletes, volutes, pediments, pinnacles, cycles, among other
decorative techniques. This research aims to raise historical data referring to the Sanctuary, in the
same way that it seeks to analyze the contributions that the work brought to the development of the
municipality and region. Finally, it seeks to highlight which attributes make it unique, in view of its
architectural particularities, which come from a style that arose late, with foreign influences. As a kick-
start, European Baroque came up with the Catholic Counter-Reformation, which sought to contain the
Protestant Reformation. In Brazil, the style differs from the European through its games of contrasts
and colors. The study was initially based on the visit of the work and the collection of information
provided through interviews with the coordinator of the Diocesan Museum of Sacred Arts and the
Church. Based on the methodologies used, the presence of an architectural and rationalist language
can be verified at the Nossa Senhora das Graças church in Santa Catarina, uniting the profane with
religion, based on a model of extravagant aesthetics which presents refinement for illustrating divine
images and a large number of ornaments, specifics arising from the Baroque era.

Keywords: Historical Architecture. Brazilian Baroque. Ornamentation. Religious Building.

Título do trabalho em português


Análise Temática da Arquitetura da Igreja Nossa Senhora das Graças

Introdução
Durante uma tentativa de chegar ao Rio da Prata, localizado em São Francisco do Sul (SC), no
ano de 1553, um navio espanhol se deparou com uma tempestade. Tendo em mente todos os
naufrágios que aconteciam por este motivo, o comandante prometeu a Virgem Maria que se
sobrevivessem a este episódio, construíram uma capela em sua honra. Após o cessar da
tempestade, os tripulantes navegaram por dias até chegar ao seu destino, podendo então
cumprir a promessa e estabelecer na região uma capela em homenagem à Nossa Senhora da
Graça, permanecendo ali por aproximadamente dois anos. (Coordenador da Paróquia Nossa
Senhora Das Graças. [fev. 2020]. Entrevistador: As Autoras. São Francisco do Sul, 2020)
Adiante, em 1558, Manuel Lourenço de Andrade, conhecido por ser um desbravador,
juntamente com sua família, agregados e escravos, instalaram-se nesta capela, sendo necessária
a ampliação da edificação para abrigar todos os indivíduos. Seguidamente, em 1665, instituiu-
se uma paróquia, dando à igreja o status de Matriz, a qual foi reconstruída inteiramente em
meados do século XVIII, pelo Padre Manoel de Nazareth, com o auxílio de mão-de-obra escrava,
miliciana e do povo. (Coordenador da Paróquia Nossa Senhora Das Graças. [fev. 2020].
Entrevistador: As Autoras. São Francisco do Sul, 2020)
A primeira reforma do Santuário Nossa Senhora das Graças aconteceu no ano de 1926, quando
a fachada sofreu uma restauração a partir da abertura de janelas bem como a disposição de
afrescos e cimalhas. Posteriormente, em uma das últimas modificações, foi acrescentada uma
segunda torre, já que inicialmente a igreja apresentava apenas uma. Com base nestas
mudanças, pretende-se analisar de forma descritiva o estilo arquitetônico da Igreja através do
levantamento de dados históricos, visto que muitos traços presentes na obra remetem ao estilo
barroco europeu. Para que assim seja demonstrada a importância da história arquitetônica e o
desenvolvimento da ramificação barroca no Brasil, principalmente em Santa Catarina. A
pesquisa fundamentou-se na visita à edificação religiosa e por meio de entrevistas ao
responsável da coordenação do Santuário e do museu histórico.
Nós acreditamos que o Barroco é uma cultura que consiste na resposta dada,
aproximadamente durante o século XVII, pelos grupos ativos em uma sociedade que entrou
em dura e difícil crise, relacionada com flutuações críticas na economia do mesmo período.
[...] Durante aquela fase, seus transtornos econômicos foram mais estudados e são mais
bem conhecidos. Agora, faz alguns anos, já se começa a estudar as alterações sociais que
surgem por todos os lados. Porém, não se trata simplesmente de fenômenos isolados ou
intermitentes, de mal-estar dos povos, nem das aparentes explosões, de raio maior ou
menor, em que se manifestam, e sim o fato de que a centúria do Barroco foi um longo
período de profunda crise social, cuja própria existência nos permite compreender as
específicas características daquele século (MARAVALL, 2007, p. 56)
A crise social iniciada pela Reforma Protestante gerou determinado medo da diminuição do
poder exercido pela Igreja Católica na época. Sendo assim, foi iniciado o processo de
contrarreforma trazendo obras com maior requinte, representações divinas e o grande número
de ornamentos, buscando a volta dos seus fiéis. Em contrapartida, no Brasil o barroco ganhou
forças em um formato diferenciado, no século XVIII, utilizando de uma linguagem dramática e
ao mesmo tempo superando a escassez de materiais, além de se relacionar ao racionalismo,
unindo o profano à religião.

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Fundamentação Teórica

Histórico do barroco Brasileiro


A ramificação do barroco no Brasil sofreu diversas variações em comparação ao europeu. Visto
a diferença de materiais utilizados e artistas/arquitetos que desenvolveram cada obra, pode-se
verificar que há distinções entre o barroco presente no sul e no centro-oeste brasileiro, como
por exemplo no uso das cores, sendo azul e vermelho as mais utilizadas em Igrejas de Aleijadinho
já em Santa Catarina preferiu-se utilizar do amarelo. Porém, nota-se que alguns detalhes
construtivos tiveram a mesma base.
E é assim que a gente compreende que ele (o Aleijadinho) tinha espírito de decorador, não
de arquiteto. O arquiteto vê o conjunto, subordina o detalhe ao todo, ele só via o detalhe,
perdia-se no detalhe, que às vezes o obrigava a soluções imprevistas, forçadas,
desagradáveis. Os seus maravilhosos portais podem ser transportados de uma igreja para
outra sem que isso lhes prejudique, pela simples razão de que eles nada têm que ver com
o resto da igreja a que dão entrada. São coisas à parte. Estão ali como que alheios ao resto.
Ele pouco se preocupava com o fundo, o volume das torres, a massa dos frontões.Ia
fazendo. (COSTA, 1962, p. 14)
Com o processo de colonização no Brasil a arquitetura brasileira foi influenciada por uma
corrente estilística europeia a qual sofreu adequações socioeconômicas e precisou ser adaptada
aos materiais disponíveis na região.
[...] A simplicidade flagrante da tipologia arquitetônica religiosa brasileira não seria fruto da
imposição do meio hostil, da precariedade dos recursos econômicos, materiais,
tecnológicos e artísticos que povoavam o cenário do Brasil colônia. Pelo contrário, seria
resultado de um rico processo evolutivo que dirigiu a transformação dos organismos
religiosos, de gênese européia, em direção à forma essencialmente simples e funcional da
tipologia eclesiástica nacional (BAETA, 2003. p.17)

Técnicas construtivas utilizadas no Santuário Nossa Senhora das Graças


Analisando as condições do solo arenoso e o clima característico da região, percebe-se a
necessidade de um extremo cuidado com a estrutura dos edifícios, já que há uma grande
possibilidade de deterioração. Em áreas litorâneas é comum o processo de corrosão da
infraestrutura de edificações, alterando seus componentes físico-químicos, tirando sua
resistividade e tornando-a suscetível a modificações provindas de ações naturais. Destarte, para
a composição do corpo da igreja foram empregados diferentes artifícios de construção a fim de
garantir a durabilidade por um longo tempo.

Sistema Estrutural
Ao observar a Figura 01, nota-se que a técnica identificada para a elaboração estrutural do
Santuário Nossa Senhora da Graça consiste na utilização de pedras, areia e cal, adquirido através
de conchas e feito na região da Gamboa, além de óleo de baleia, que dava a consistência de
cimento, quando unida aos elementos citados anteriormente.
Esse estilo de construção, feito através de óleos de peixe, tornava a edificação mais resistente,
devido à sua capacidade de aglutinação, petrificando a argamassa e tornando o santuário imune
à degradação proporcionada pela umidade da região, já que se trata de uma área litorânea.

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A fundação é constituída por alicerces, os quais se assentam as paredes externas do Santuário
(ambos possuindo uma espessura de quarenta centímetros) que, juntamente com os pilares,
formam o sistema estrutural, assegurando a sustentação.

FIGURA 01 - Estrutura Interna da Parede


Fonte: As autoras, 2020.

Cobertura de Telhado
O telhado é composto por quatro águas e a estrutura é feita em madeira, sustentando as telhas
romanas em cerâmica (Figura 02).

FIGURA 02 - Vista do telhado


Fonte: As autoras, 2020.

Abaixo da cobertura, nota-se a estrutura ripada para sustentação das telhas, como mostra a
Figura 03.

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FIGURA 03 - Vista interna da manta térmica
Fonte: As autoras, 2020.

Quanto ao forro, a nave central constitui-se por tábuas de madeira (Figura 04). Já na entrada, abaixo
do Adro, o forro é linear, adquirido por constituição de fiadas (Figura 05).

FIGURA 04 - Vista do forro da nave central


Fonte: As autoras, 2020.

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FIGURA 05- Vista do forro do ádro
Fonte: As autoras, 2020.

Tipos de Aberturas
Com relação às aberturas, observa-se que há três variedades de janelas: fixa, guilhotina e rampa.
A mais utilizada nesta construção seria a fixa, caracterizada por ser mais simples e não
apresentar folhas móveis, porém cada uma se difere quanto aos panos de vidro.
Na Figura 06 a janela é envolvida por enquadramento na cor amarela, e encimado por capuz
semicircular, diferentemente da Figura 07, a qual o enquadramento é blocado. Todas as janelas
são compostas por vidro, como também por esquadrias em madeira. Contudo, as janelas das
Figuras 06 e 08, se diferenciam pelos mainéis.

FIGURA 06 - Janela fixa da Nave Central


Fonte: As autoras, 2020.

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FIGURA 07 - Janela fixa presente na torre lateral


Fonte: As autoras, 2020.

FIGURA 08 - Janela fixa do Clerestório


Fonte: As autoras, 2020.

Com base na Figura 09, é possível observar o interior da janela frontal da igreja, como também
a espessura da parede edificada.

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FIGURA 09 - Vista do interior da janela Fixa
Fonte: As autoras, 2020

Outra abertura identificada apresenta duas folhas, sendo que uma delas desliza verticalmente
sobre a outra, em forma de guilhotina. Na Figura 10 constata-se que os principais materiais são
vidro ártico em diferentes tons e a esquadria em madeira, envolvidos por enquadramento feito
de pedra em sua cor original.

FIGURA 10 - Janela Guilhotina


Fonte: As autoras, 2020

Outro modelo de abertura identificada é a janela de rampa, a qual apresenta peitoril, verga e
jambas inclinados para a parte interna da edificação, permitindo a entrada de uma iluminação

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focada. Os vidros da lateral esquerda juntamente com o do clerestório são fixos, não auxiliando
na ventilação. Nas Figuras 11 e 12 é possível visualizar que se utiliza apenas o vidro em sua
composição, diferente da Figura 13 em que a esquadria é feita de madeira.

FIGURA 11 - Janela de rampa presente na Nave Central


Fonte: As autoras, 2020

FIGURA 12 - Janela de rampa presente no Clerestório


Fonte: As autoras, 2020

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FIGURA 13 - Janela de rampa presente no Clerestório
Fonte: As autoras, 2020

No que se refere às portas, todas apresentam aberturas francesas, compostas por duas folhas
em madeira que são abertas para o interior da edificação, como mostram as Figuras 14, 15 e 16.

FIGURA 14 - Vista da folha da entrada principal


Fonte: As autoras, 2020

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FIGURA 15 - Vista interna da porta lateral
Fonte: As autoras, 2020

FIGURA 16 - Vista externa da porta lateral


Fonte: As autoras, 2020

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Na Figura 17, vê-se a aplicação do elemento portada encimada por capuz, a qual se trata de uma
grande porta de madeira com mainéis fixos em formato radial além de vidro, envolvida por uma
moldura canelada, com a presença de base.

FIGURA 17 - Portada da entrada principal


Fonte: As autoras, 2020

Técnicas de ornamentação

Com a finalidade de atribuir beleza, na ornamentação são incluídos elementos decorativos e


adornos. Sendo uma das principais escolhas nas obras de arquitetos e designers visto que torna
cada edificação única e com seu próprio significado. Cada aparato ou técnica ornamentada faz
com que elementos históricos que já não são mais tão lembrados ganhem forças novamente. A
obra analisada, Nossa Senhora das Graças, se baseia no barroco europeu, mas assim como
diversos outros estilos sofreu modificações ao chegar no solo Brasileiro, evidenciando outro
ponto de comparação para cada adereço empregado.

Decoração externa

Ao analisar a fachada do Santuário (Figura 18), notam-se elementos decorativos que se


assemelham aos da arquitetura Barroca. Inicialmente, pela cobertura da edificação pode-se
identificar ornamentos como cornija (a;c), pequena cúpula (b), a presença de dois gabletes
formados por volutas (d) que constituem o frontão (e), o qual é encimado por uma cruz latina
(f). Ademais, apresenta óculo cego (g), pináculo (h), um relógio (i) e por fim cimalhas (j).
Posteriormente, analisa-se que as partes constituintes da região inferior da construção, são
formadas por portada encimada por capuz (k), escadas (l), base decorativa (m), além de pintura
fingida blocada (n).

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FIGURA 18 - Elevação Frontal do Santuário
Fonte: As autoras, 2020

Na torre lateral esquerda (Figura 19), construída posteriormente à finalização da construção da


igreja, verificam-se detalhes como cornija (a), a qual apresenta-se como uma faixa horizontal
decorativa, e também uma pequena cúpula (b).

FIGURA 19 - Ampliação da Figura 18 para detalhamento da torre lateral


Fonte: As autoras, 2020

Na Figura 20, observa-se de forma mais detalhada a presença de duas volutas (d), nas laterais
do frontão desconstruído (e), o qual exibe um óculo cego (g) e também é encimado por uma
cruz latina (f).

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FIGURA 20 - Ampliação da Figura 18 para detalhamento
Fonte: As autoras, 2020

Ainda, na torre da nave lateral direita (Figura 21), identifica-se a presença do pináculo (h), o qual
é a parte mais elevada da construção. Além disso, há o relógio (i) situado acima da cimalha (j) e
também outra cornija (c).

FIGURA 21 - Ampliação da Figura 18 para detalhamento da torre lateral


Fonte: As autoras, 2020

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Na fachada principal (Figura 22), encontra-se a portada (k) encimada por capuz e, logo abaixo,
nesta mesma entrada, há escadas (l) que levam para dentro da edificação. Ademais, nota-se a
utilização de base decorativa (m), além da pintura fingida blocada (n).

FIGURA 22 - Ampliação da Figura 24 para detalhamento da torre lateral


Fonte: As autoras, 2020

Decoração interna
Ao se adentrar no Santuário o que mais chama atenção do visitante logo de primeira vista, é o
altar-mor (Figura 23). O altar (a) ainda é original, construído com estrutura de pau a pique¹. Por
trás do altar – mor há o retábulo (b) decorado de forma a destacar a padroeira do edifício, Nossa
Senhora da Graça, com sua imagem (c) esculpida em madeira (cedro do Líbano) com detalhes
em pedras, trazida de Honfleur (Espanha) através de uma caravela chamada de “La Concepcion”
(expedição com muitas famílias vindas para povoar a região do Rio da Prata, há 500 anos) e
apresenta vestes de mulheres espanholas.

Logo acima, observa-se a presença de um arco triunfal (d), que acrescenta o formato do altar-
mor, o qual apresenta detalhes como arabescos talhados em pedras (e), colunatas baseadas na
ordem jônica clássica (f) e imagens cristãs (h) coroadas, uma em cada lado da escultura de Nossa
Senhora da Graça. O acesso principal ocorre através das escadas (g).

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FIGURA 23 - Altar-mor com detalhamento de duas técnicas construtivas
Fonte: As autoras, 2020

As duas sacadas cegas (i) na lateral esquerda (Figura 24) representam a característica do estilo
barroco no Brasil. Outro elemento utilizado é o púlpito elevado (j), utilizado como local para
oradores e sermões. Nota-se no teto (k) que o forro apresenta formato abobadado e que como
finalização do altar-mor utilizou-se um arco triunfal (l) com base decorativa, dividindo o espaço
do pregador e do ouvinte. Na parede exterior (m) a pintura de histórias bíblicas com
representações de imagens cristãs.

__________________________
¹Ripas de madeira natural da mata com preenchimento com cipó e barro.

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FIGURA 24 - Altar-mor vista
Fonte: As autoras, 2020

Na lateral da construção (Figura 25), notam-se características como quadros encimados por
gabletes assim como o Santuário, com pinturas representando a Via Sacra Católica (b), ademais
na letra “a” observa-se figuras santificadas como São Lucas e São João. Ao lado dos bancos
destinados para os fiéis há uma pequena abertura com o confessionário (c).

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FIGURA 25 - Parede lateral com pinturas
Fonte: As autoras, 2020

Nas Figuras 26 e 27 notam-se detalhes presentes em diversas Igrejas Católicas, como o


confessionário (Figura 26), apresentado nesta imagem com maior precisão os detalhes e
desenhos esculpidos na própria madeira. Além da capela oratória (Figura 27) apresentando um
coroamento por volutas (a), adornos decorativos e duas imagens bíblicas nas laterais.

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FIGURA 26 - Confessionário
Fonte: As autoras, 2020

FIGURA 27 - Capela Oratória


Fonte: As autoras, 2020

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Outro detalhe decorativo do Santuário que chama atenção é a Pia Batismal (Figura 28), a qual
foi encomendada, juntamente com mais duas pias para água benta em 1802, pelo município ao
José da Encarnação (mestre de obra conhecido na época).

FIGURA 28 - Pia Batismal


Fonte: As autoras, 2020

Logo acima da entrada do Santuário há o ádro (Figura 29) que apresenta como composição uma
fileira de balaustradas (a), colunas de sustentação (b), um piso de madeira reto (c) e um teto em
formato abobadado seguindo a mesma altura de todo o edifício. Como iluminação principal,
percebe-se um candelabro central e luminárias espalhadas pela edificação, porém toda a luz
remete ao altar-mor e à Nossa Senhora da Graça.

FIGURA 29 - Adro
Fonte: As autoras, 2020

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Os assentos utilizados são bancos de madeira (a) inseridos de forma simples e de maneira que
a nave central apresenta circulação suficiente para a passagem dos fiéis, representado na Figura
30. Na parede lateral esquerda da edificação há outra abertura com o segundo confessionário
embutido (b). É possível perceber que o piso demonstra diferentes formatos de ladrilhos (c),
sendo estes colocados após a restauração do Santuário, em 1926, anteriormente o piso era
assoalhado.

FIGURA 30 - Detalhamento dos assentos, confessionário e piso


Fonte: As autoras, 2020

Nota-se na Figura 31 que antes do visitante ter acesso direto à nave central optou-se por incluir
um átrio (a), podendo ser considerado como vestíbulo. Nas colunas laterais (b) que além de
auxiliarem na sustentação do adro, incluíram-se as pias batismais para a distribuição de água
benta. Também se percebe na imagem que o piso ladrilhado (c) toma diferentes formas e
disposições.

FIGURA 31 - Átrio na entrada principal


Fonte: As autoras, 2020

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Considerações Finais

A Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças é assimilada à arquitetura barroca brasileira devido a
utilização de uma ornamentação dramática composta por cúpulas, cornijas, frontões, afrescos,
dentre outros, concretizando a ideia de dualismo, contraste e valorização de detalhes originados
da combinação de traços de exagero e rebuscamento.
Assim como na Europa, o este estilo arquitetônico foi uma forma de ampliar o número de fiéis
e desenvolver o Catolicismo no Brasil. Visto que a população presente no país naquele período
era indígena e seus conhecimentos quanto a religião Católica eram nulos, sendo submetidos a
catequeses e obrigados a omitir suas crenças.
O Santuário está localizado no lado histórico de São Francisco do Sul (SC) e também perto da
praia local, por isso pode-se verificar que naquela região ocorreu o início do desenvolvimento
da cidade e também da cultura. Considerando o fato de que a Igreja inicialmente se tratava da
moradia de uma família de refugiados espanhóis, seus escravos e agregados, pode-se concluir
que ela apresenta uma importância muito grande à cidade já que auxiliou em sua colonização.
Além disso, colaborou para a criação de uma lenda religiosa, por se apoiar na ideia de que os
tripulantes da embarcação apenas sobreviveram devido à promessa feita à Virgem Maria,
deixando um marco na história do município e também tornando a capela única.

Referências

BAETA, Rodrigo Espinha. A Crítica de Cunho Modernista à Arquitetura Colonial e ao Barroco no Brasil: Lúcio
Costa e Paulo Santos. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, [S. l.], p. 1-22, 1 dez. 2003.

BANDEIRA, D.R.; BORBA, F.M.; ALVES, M.C. Patrimônio Cultural de São Francisco do Sul com base na pesquisa
em Arqueologia Histórica. ed. Joinville: Editora UNIVILLE, 2017

BAUMGARTEN, Jens; TAVARES, André. O Barroco Colonizador: a produção historiográficoartística no Brasil e


suas principais orientações teóricas. Perspective, [S. l.], p. 1-23, 8 fev. 2013.

COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: sobre arquitetura. Porto Alegre: Centro de Estudantes Universitários de Arquitetura,
1962.

MARAVALL, José Antonio. La cultura del Barroco. Barcelona: Ariel, 2007.

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