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IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DO CARMO

Milton Vinícius Maia Carvalho de Souza

MISSÃO NOSSA SENHORA DO CARMO E A CRIAÇÃO DA IGREJA MATRIZ

As fontes primárias através das quais estudaremos a Igreja Matriz Nossa


Senhora do Carmo como um espaço constitutivo da memória e identidade local
são reportagens de jornais, artigos, imagens e entrevistas semiestruturadas.
Em Roraima, a construção da vida urbana está intimamente ligada à Igreja
Católica, com forte influência também entre as lideranças indígenas.
De acordo com o Inventário do Patrimônio Cultural de Boa Vista, em
1692 a Câmara de Belém fez uma petição ao Rei de Portugal para que
colocasse missionários no Rio Branco, e foi por meio dessa missão,
denominada Missão Nossa Senhora do Carmo, que um grupo de frades
Carmelitas chegou ao Vale do Rio Branco em um lugar denominado de Nossa
Senhora do Monte Carlo, em 1725.
Essa missão se destinava a converter os povos indígenas da região e
após sua chegada, os frades carmelitas construíram uma pequena capela de
madeira e terracota [um material constituído por argila cozida no forno, utilizada
em cerâmica e construção], em homenagem à Nossa Senhora do Carmo,
dando início aos seus trabalhos eclesiásticos e missionários. Anos depois, os
carmelitas deixam a região, que passa a contar com a presença dos padres
franciscanos, cuja missão é a catequese em algumas regiões da Amazônia.

Foto 01: Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo em sua primeira construção.
Em 1856, os franciscanos construíram uma capela maior para Nossa
Senhora do Carmo e, dois anos depois, essa pequena capela ganhou o status
de matriz e passou a ser reconhecida como Igreja Matriz Nossa Senhora do
Carmo.

CHEGADA DOS BENEDITINOS E ESTILO COLONIAL GERMÂNICO

As atividades religiosas em Boa Vista ficaram com os franciscanos até


1909, quando outra Congregação chega à Amazônia. Desta vez, a Ordem
Religiosa dos Monges Beneditos, vindos do Rio de Janeiro chegam para fundar
a missão no Rio Branco, assumindo a educação religiosa dos fiéis e a gestão
da Matriz Nossa Senhora do Carmo.
Após sua chegada, os beneditinos iniciaram os trabalhos em prol de
uma grande reforma na igreja Matriz. Entre 1914 e 1917, a igreja passou por
uma grande reforma devido ao estado de calamidade que se encontrava,
quando D. Gerado Van Caloen, primeiro bispo das missões na bacia do rio
Branco, foi morar em Boa Vista.
Em 1921, D. Pedro Eggerath foi eleito o segundo bispo do rio Branco e,
entre outras obras, conferiu à igreja matriz o estilo germânico. Datam dessa
época o átrio, a pintura, a torre para o campanário e a sacristia. Foi nesse
momento que a Matriz de Nossa Senhora do Carmo foi reconstruída, tendo
como arquitetos e pintores, os monges alemães beneditinos vindos diretamente
da Baviera, que deram à igreja as feições germânicas, como é localmente
chamada, rendendo forte apelo cultural junto ao povo roraimense. Vale
destacar que esta foi a única igreja com estilo germânico construída na região
amazônica.
Foto 02: Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo em 1920 com estilo germânico.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA E O ESTILO ITALIANO

Desde a sua criação, o espaço em torno da igreja não era somente


usado para eventos religiosos, mas também como um lugar de encontros,
festejos, comemorações, assim como servia para a recepção de políticos, ou
seja, era um espaço que permitia ampla socialização da população local. Em
maio de 1948, os monges beneditinos entregaram a Igreja aos Missionários da
Consolata de Turim.
Na década de 1960, com o aumento da população, a igreja já não
atendia mais à demanda religiosa, levando seus administradores, os
Missionários da Consolata – que tinham à frente o bispo-prelado Dom José
Nepote –, a realizar uma nova reforma. Com isso, as características
germânicas que os beneditinos trouxeram para a arquitetura da igreja na
década de 1920 desapareceram completamente, dando vez a uma arquitetura
italiana.
Na década de 1980, houve uma alteração na aparência da Igreja Matriz,
surgindo uma nova fachada, com uma possível “rosácea”, elemento
arquitetônico ornamental muito usado em catedrais durante o período gótico.
Também é possível notar a mudança em uma das janelas da parte da frente.

DÉCADA DE 1990 E O TOMBAMENTO

Visando sua conservação e preservação, na década de 1990 a


Prefeitura Municipal tombou a Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo como
patrimônio histórico e cultural do município de Boa Vista-RR. O tombamento
consistiu em ato administrativo realizado pelo poder público municipal, sendo
supervisionado pela Superintendência de Cultura do Município de Boa Vista
com o auxílio da Superintendência Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN).
O objetivo desta união foi a preservação do patrimônio histórico, tendo
em vista que o tombamento somente é aplicado aos bens materiais de
interesse para a preservação da memória coletiva.
DE VOLTA AS ORIGENS

Entre os anos de 2005 e 2007, iniciou-se mais uma restauração, dessa


vez com o objetivo de reavivar as características germânicas da década de
1920 em comemoração ao centenário da chegada dos beneditinos à boa vista.
Esta restauração da igreja é emblemática de uma memória que se quer
fortalecer e que remete ao nascimento da cidade associada ao papel moral e
intelectual dos clérigos católicos. A primeira fase do projeto de restauração foi
iniciada em novembro de 2005, com a retirada do forro, da mobília e de
algumas janelas.
A primeira meta da restauração foi a de devolver a parte frontal da igreja,
como o átrio, onde eram realizados os batizados, que foi destruído na reforma
feita na década de 1960, além do tamanho original das torres, a recuperação
da parte elétrica e hidráulica etc. Durante a restauração da arquitetura, foram
descobertas as pinturas originais das paredes, que contaram com o delicado
trabalho de restauradores da Secretaria de Cultura do Amazonas.
A igreja restaurada foi entregue no aniversário de 117 anos de Boa Vista,
depois de dois anos de trabalho, com a inauguração realizada pelo Prefeito
Iradilson Sampaio. A obra teve como coordenador o arquiteto Ariosto Andrade,
sendo que todo o levantamento histórico, fotográfico e documental foi feito pelo
Padre Vanthuy Neto e pelo administrador Frank Lima.

ARQUITETURA DA IGREJA MATRIZ

Na parte exterior da igreja, vemos que ela é constituída pelo estilo


arquitetônico alemão, surgido no início da era medieval e que foi bastante
utilizado em castelos, igrejas, mercados e residências por toda a Alemanha.
A Construção do esqueleto das construções germânicas, é formado
pelas vigas e toras de madeira, e o posicionamento das peças horizontais,
verticais e diagonais. Já o preenchimento dos espaços, é basicamente feito por
pedras, tijolos ou outros recursos disponíveis.
Outro detalhe presente parte externa da arquitetura alemã, são suas
cores vibrantes que compõem um visual sóbrio, mas, ao mesmo tempo,
marcante e definido, de certa forma. Vermelho, alaranjado, amarelo, azul,
verde… As variações são infinitas e preenchem as construções por completo.
Na parte interior da igreja, podemos notar a presença da Arquitetura e
arte Bizantina, que foi aquela desenvolvida pelo Império Bizantino durante a
Idade Média. Suas principais características são os mosaicos vitrificados,
ícones, pinturas sacras e cúpulas.
O período bizantino na arquitetura ficou marcado pela ascensão do
cristianismo e criação de novas técnicas construtivas. Diante desse contexto,
surgem as monumentais basílicas e expressões de arte que tinham como
objetivo mostrar o poder da religião cristã.
As 15 peças via sacra presentes na igreja matriz foram feitas pelo
famoso pintor macuxi, Augusto Cardoso, sendo esta mais uma característica
da arte e arquitetura bizantina presente na igreja.

Evolução da Igreja Nossa Sr.ª do Carmo – Igreja Matriz, durante o final do século XIX a XXI. A
primeira imagem à esquerda, registra a igreja no ano de 1892 (Foto: autoria desconhecida); A
segunda imagem à esquerda registra a igreja em meados da década de 1980 (Foto: autoria
desconhecida); e na terceira imagem à direita, a igreja após a última reforma, atualmente
(Foto: Confea).

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