Você está na página 1de 2

A ARQUITETURA JESUÍTICA NO BRASIL

JOHN BURY

A ATIVIDADE DOS JESUÍTAS NO BRASIL


Os jesuítas foram os primeiros missionários enviados aos nativos através da Companhia de Jesus, a
atividade iniciou em 1549 e prosseguiu até 1759. Os missionários não poderiam iniciar a conversão das tribos
enquanto elas fossem dispersas e nômades. Assim, os jesuítas tentaram concentrar os índios em aldeias, que
concentravam comunidades menores e menos organizadas.
As plantações exigiam trabalho escravo, o aldeamento tornava os índios mais vulneráveis à captura,
gerava tensão psicológica e epidemias eram problemas a serem enfrentados. Após o assentamento dos índios,
eles começaram a educar, não apenas indígenas, mas filhos de colonos, e a formar candidatos ao sacerdócio. A
Companhia de Jesus no Brasil tornou-se o principal expoente da arte e da arquitetura brasileira durante os dois
primeiros séculos da colonização.
A expressão “estilo jesuítico” define o primeiro período colonial, que abrange obras também desconexas
com os jesuítas, não tem autonomia, mas fundo militar. Esse estilo se sintetiza por Lúcio Costa como o que temos
de mais “antigo”, as composições mais renascentistas, mais moderadas, regulares e frias, imbuídas no espírito da
Contrarreforma.

A ARQUITETURA DO MANEIRISMO
A arquitetura europeia da Contrarreforma é mais conhecida como “maneirista” e tem relação com o estilo
jesuítico no Brasil. Na Itália, em 1520, teve Michelangelo como pioneiro, a arquitetura maneirista superou o estilo
renascentista e ofuscou-se pelo barroco. O Renascimento visava estabelecer relações entre as proporções do
corpo humano, baseando-se em figuras geométricas simples, com resultados racionais e simétricos. Em
contraponto, o Barroco tinha objetivos emocionais, com resultados turbulentos, hipnóticos, buscando a ilusão da
integridade, com formas e proporções estranhas à geometria. Contudo, ambos os estilos não são ambíguos.
O maneirismo apresenta ambivalência e funções duplas. Os maneiristas estavam empenhados em violar
as normas clássicas (paganismo), transformando os princípios do humanismo em ambiguidades O arquiteto
maneirista estava sujeito a normas de organização de projeto. A planta em cruz latina foi estabelecida como
verdadeiro símbolo cristão e a riqueza na decoração cristã e a fachada com duas torres voltaram, fazendo uma
Igreja acessível à comunidade, veículo para a educação cristã e empreendimentos missionários.
Quando os benefícios do ouro brasileiro e dos tratados com a Inglaterra reavivaram a economia
portuguesa, a influência artística italiana retornou a seu papel anterior. Com a introdução do barroco italiano no
Brasil seguido do rococó francês, vítima da hostilidade de Pombal, a Companhia foi expulsa, em 1759.

A PRIMEIRA FASE DA ARQUITETURA JESUÍTICA NO BRASIL


Nesta data, além de numerosos estabelecimentos pequenos, tinham instituições de grande importância,
incluindo colégios, seminários e noviciados nos principais centros urbanos. Depois de 1759, grande parte desses
monumentos arruinou-se por negligência ou foi convertida para outros usos. As igrejas que sobreviveram a
derrocada de 1759 pertencem a duas categoriais. Em primeiro lugar, há uma série de monumentos de menor
importância, em geral mais antigos, de ES, RJ e SP (Capela de São Miguel). Em segundo lugar, há monumentos de
maiores dimensões e mais recentes no litoral norte e nordeste, com extrema simplicidade

OS PRIMEIROS EDIFÍCIOS JESUÍTAS EM PORTUGAL, ÍNDIA E CHINA


No início, o Brasil foi bastante negligenciado pelos portugueses, pois sua madeira e açúcar não se
equiparavam às especiarias do Oriente. Na Índia há monumentos de menor importância que constituem o pano
de fundo para as realizações arquitetônicas da Companhia no Brasil. A ausência de torres em algumas igrejas
orientais é o que diferencia as igrejas jesuíticas mais importantes de Portugal e do Brasil.
O precedente de maior importância é a Igreja da Companhia em Lisboa, São Roque (planta e fachada
retangulares, classicismo italiano). As fachadas de Coimbra e Porto apresentam o motivo veneziano de três
frontões com volutas e torres laterais.
O GESÚ DE VIGNOLA, E SÃO VICENTE DE FORA, DE TERZI
As primeiras igrejas dos jesuítas portugueses no Orientes e na Itália não tinha torres. O projeto de Vignola,
1568, para a igreja do Gesú, em Roma, é uma reinterpretação maneirista do modelo renascentista de Alberti, que
se firmou como o mais influente para fachadas de igrejas. A primeira fachada de duas torres bem-sucedida foi
construída por um italiano. Esse monumento pioneiro foi a igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, de Terzi. Mais
tare, Scamozzi com características em comum com a de São Vicente de Terzi, representando para a Europa Central
um precedente influente.
Os jesuítas estavam sujeitos a duas influências opostas. Como membros da Companhia tinham influência
no modelo de Roma, mas como portugueses, não ignoravam a moda nacional de São Vicente de Fora.
Predominava a primeira influência.

A FASE FINAL DA ARQUITETURA JESUÍTICA NO BRASIL


O rápido desenvolvimento do Brasil envolve os jesuítas, assim, aumentou suas obrigações educacionais,
exigindo a expansão das instituições. A catedral de Salvador, Bahia, possui planta simples com nave única
retangular, coberta por abóbada de berço e flanqueada por capelas de ambos os lados. Não há cúpula, naves
laterais ou transeptos. A igreja de Santo Alexandre, Belém do Pará, foi inaugurada após a catedral jesuítica, porém
possuiu um aspecto mais primitivo, apesar de mais robusta. Lúcio Costa observou que esse aspecto primitivo é,
muitas vezes, indicio do segundo período, devido a sua localização. As fachadas das igrejas jesuíticas no Brasil vão
do frontão sem torres, para os campanários encostados às fachadas e às soluções intermediárias – com duas
torres escamoteadas em segundo plano – chegando aos projetos de duas torres.

A INFLUÊNCIA DO “ESTILO JESUÍTICO”


A Companhia desprezou a linguagem elegante e rendilhada do estilo manuelino, substituindo-a por sua
fórmula artística desgraciosa e peculiar. A inflexão das formas clássicas era um estilo novo e revolucionário. A
Companhia não tinha o monopólio do maneirismo no império português, entretanto, a predominância do clero
jesuíta era indiscutível, que o uso do impróprio do termo “estilo jesuítico” para descrever o caráter da antiga
arquitetura mineira não deixa de ser significativo. Importantes igrejas do barroco tardio foram construídas no RJ
– São Pedro dos Clérigos – e em Mariana – São Pedro dos Clérigos. Seriam as influências do rococó e não as do
barroco que superariam as do maneirismo colonial.

DECORAÇÃO INTERIOR
Lúcio Costa ressaltou o caráter paradoxal da expressão “estilo jesuítico” como designação de todo um
estilo artístico e não apenas arquitetônico. Em primeiro lugar, há o estilo jesuítico mais típico, cujo caráter pertence
ao final do maneirismo acadêmico e formal, no tratamento do plano e retangular da composição, com
ornamentação restrita. Em segundo lugar, temos o estilo tipicamente mais franciscano, ornamentos com
esplendor, tratamento tridimensional, volumosas colunas, é protobarroco. E, terceiro lugar, temos o estilo de
caráter autenticamente barroco, com arquivoltas concêntricas transformadas em volutas em erupção, com
elevados e infinitos horizontais, ornamentação elegante e delicada. Em Portugal os interiores são mais bem
elaborados do que na colônia, pois a ornamentação aparece adaptada para conseguir ser construída.

CONCLUSÕES
Em “nenhum lugar” os jesuítas construíram um edifício que possa ser chamado de verdadeira expressão
do barroco, eles expressavam a sua própria maneira, uma indiferença portuguesa pelas influências barrocas, com
adesão conservadora aos preceitos do maneirismo. O papel educativo e missionário, o ideal da igreja acessível a
todos, a aplicação dos sentimentos aos objetivos cristãos, o respeito à disciplina, a determinação de expurgar da
igreja os elementos seculares e pagãos e a tolerância às formas exteriores são princípios característicos dos
jesuítas quinhentistas como dos arquitetos maneiristas.

Você também pode gostar