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História da Arte Românica e Gótica em Portugal

Sofia Martins, nº 2020132536


2020/2021
Cálice de D. Dulce
Autor não identificado
1178 d.C. – 1188 d.C.
IN: NOMINE: DNI: NRI: IHV: HUNG: CALICE:
DEDIT: REGINA: DULCE: ALCUBACIE: IN:
HONORE: DEI: ET: GLOSE: VIRGINIS: MARIA:
AD: SVIENDU: ALTARE: 
Altura: 22 cm; Diâmetro (copa) 18 cm; Diâmetro
(base): 19 cm
Prata dourada e pedras preciosas
Doado por D. Dulce ao Mosteiro de Alcobaça
Museu Nacional de Arte Antiga
Nº de Inv.: 89 Our

O cálice de D. Dulce fora elaborado em território nacional, durante a Época Medieval,


mais precisamente no período Românico, sendo a sua autoria desconhecida.
Anteriormente doado por D. Dulce ao Mosteiro de Alcobaça, nos dias de hoje, encontra-
se no Museu Nacional de Arte Antiga. 
Esta peça de ourivesaria foi realizada através da técnica de prata dourada fundida,
incisa, batida e filigranada; os seus vidros são polidos e facetados. A obra apresenta uma
copa ampla em formato de meia calote. Possui também um pé cónico e um nó
prismático de aspeto achatado com ornamentos de filigrana e cabochões, bem como
vidros redondos de pequena dimensão, lustrados, aprimorados e inseridos em engastes
de gola. Uma cruz de pontas trevadas é avistada na área exterior da base, através do
emprego de filigrana. Por outro lado, na parte interior deparamo-nos com uma inscrição,
onde designava a doadora, D. Dulce de Aragão, esposa de D. Sancho I. Lá, estava
também explícito o desejo que esta tinha de que este cálice fosse utilizado como
elemento de culto e de reza, no altar maior do Cenóbio Cisterciense. 
Segundo Nogueira Gonçalves, esta obra teria sido produzida numa oficina em Lisboa,
devido ao facto da sua técnica ser díspar em relação às de Coimbra. Por outro lado,
Couto e Gonçalves sugerem de modo implícito uma produção local pelos monges de
Alcobaça. Sob outra perspetiva, Gabriel Pereira sugeriu uma ligação com as peças de
Limoges, o que é fortemente criticado por José Pestana. No entanto, no ano de 1994, foi
novamente concedida uma ligação das peças limosinas com os cálices do período
românico, por Nuno Vassalo. De qualquer modo, existe uma forte probabilidade dessa
relação devido às semelhanças entre o modo de confeção das mesmas e as indicações
presentes no tratado Das Diversas Artes, do Monge Teófilo. Nos documentos
representativos de uma época dos primórdios da nacionalidade é possível perceber a
apreciação da simplicidade característica do cálice, como é o caso dos escritos de
Gusmão ou os cânones dos monges brancos. 
Os cálices da época românica da região de Alcobaça são uma evidência de um período e
de uma vivência específica em termos teológicos e estéticos. Para além disso, são
também recursos essenciais para entender aquele tempo histórico bem como a sua
génese. Estes artefactos são dos conjuntos mais antigos pertencentes à coleção do
Museu Nacional de Arte Antiga de Ourivesaria. Algo que torna estes cálices de grande
importância, sendo até categorizados como Tesouros Nacionais, é o facto de serem
oriundos de uma das casas monásticas mais célebres e relevantes, criadas na mesma era
da instauração da nacionalidade portuguesa. Como tal, era um local extremamente
relacionado ao primeiro monarca português e onde se consumavam patrocínios da
realeza; para além disso, é um espaço destinado ao panteão de reis, assim como área de
preservação de diversas relíquias sagradas e históricas. Além do mais, o Mosteiro de
Santa Maria de Alcobaça foi desde sempre um dos mais solenes mosteiros da Ordem de
Cister da Península em termos artísticos, políticos e económicos. 
É possível verificar que existem vários cálices com semelhanças em termos estilísticos e
/ ou iconográficos. Tal é o caso do cálice românico, do século XII, mais precisamente de
1152, a que a autoria se atribui, presumivelmente, a Pedro Ourives, segundo A. J. Costa.
Conhecido também como cálice de Dom Gueda Mendes (desde sempre, um forte
apoiante das políticas de D. Afonso Henriques), foi oferecido por este nobre ao mosteiro
beneditino. Nos dias de hoje localizado no Museu Nacional de Castro, em Coimbra,
anteriormente pertencente ao Mosteiro de Basto, é considerada ‘a obra máxima da
ourivesaria portuguesa’. Identificamos também parecenças com outro cálice de D.
Dulce, que se pensa ter sido elaborado entre 1174 e 1198, apesar de alguma
controvérsia, nomeadamente propostas de Ferreira de Almeida que considera ter sido
outrora, na primeira metade do século XII. No interior da peça é possível constatar a
inscrição que indica a doação feita pela rainha ao Mosteiro de Alcobaça. Este tinha a
função de ser usado no altar-mor, durante as cerimónias. Nogueiro Gonçalves e Ferreira
de Almeida consideram a eventual hipótese de ter sido elaborado em Lisboa, todavia,
Gusmão declarou que devido à simplicidade apresentada era uma criação que se
adequava aos modelos de Alcobaça. Atualmente encontra-se no Museu Nacional de
Arte Antiga. Dentro desta tipologia encontramos também um cálice de 1187,
proveniente do Mosteiro de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, novamente uma
oferta de D. Dulce e D. Sanches I, seu marido. Nos dias de hoje, situa-se no Museu
Alberto Sampaio.  Os elementos idênticos entre as peças mencionadas acima e o Cálice
de D. Dulce são a utilização da prata dourada, o aprimoramento e refinação dos
materiais, assim como o recurso de uma copa hemisférica. Por outro lado, nos primeiros
dois casos identificamos também o pé cónico; e no segundo e terceiro a inscrição de
uma cruz na base. Por fim, no primeiro caso, averiguamos a aplicação de filigrana em
ambos.
Bibliografia
Alberto, C., Museu Nacional De Soares Dos Reis, & Centrum Voor Kunst En Cultuur
(Ghent, Belgium. (1993). Nos confins da Idade Média: arte portuguesa, séculos XII-
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