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O Património Cultural e o Estado Português. Contributos para a História das
Instituições Oficiais do Estado Português em matéria de Património.
“Se elle vira hoje este sitio, como eu o vi, não achara tantos rastos da grandeza
Lusitana, porque nada permanece senão alguns alicerces, que escondidos na terra
escaparão à barbara voracidade dos circunvisinhos, que mais activa, que a do tempo,
desfez aquillo mesmo, a que elle em tantos séculos havia perdoado: não há Torres,
não há muros, não há ponte, nem aqueducto; só existe a fonte, porque
espontaneamente se manifesta; e por mais que della tirem, sempre corre, como para
fugir daquelles, a quem innocente se entrega.”
(Notícias da Conferência que a Academia Real da História Portugueza fez em 31 de
Julho de 1721)
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Esta questão revela alguma maturidade patrimonial para a época, onde não só os monumentais
e luxuosos elementos são considerados como bens patrimoniais, como o sentido de património é
alargado a “Edifícios, Estatuas, Marmores, Cippos, Laminas, Chapas, Medalhas, Moedas e outros
artefactos.” (Alvará Régio, 1721).
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O Património Cultural e o Estado Português. Contributos para a História das
Instituições Oficiais do Estado Português em matéria de Património.
“ (...) foi ao longo do século XIX, período que não suscita dúvidas quanto à criação de
uma consciência de património, que um novo conceito de património se afirma, e que,
principalmente durante o último quartel, se criam os alicerces para a política
patrimonial que se vem a consolidar ao longo do século XX. (...) o acolhimento de
novos valores assentes numa consciência liberal marcou as bases da evolução que
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“(...) se o que assim se achar, e descobrir novamente, forem Lâminas de metal, Chapas, ou
Medalhas, que tiverem figuras, ou caracteres, ou outro sim Moedas de ouro, prata, cobre, ou de
qualquer outro metal, as poderão mandar comprar o Director, e Censores do procedido da
consignação, que fui servido dar para as despesas da dita Academia.” (Alvará Régio, 1721: 2).
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“E as pessoas de qualidade, que contravierem a esta minha disposição, desfazendo os Edifícios
daqueles Séculos, Estátuas, Mármores, Cipos, ou fundindo as Lâminas, Chapas, Medalhas, e
Moedas sobreditas, ou também deteriorando-as em forma, que se não possam conhecer as
figuras, e caracteres, ou finalmente encobrindo-as, e ocultando-as, além de incorrerem no meu
desagrado, experimentarão também a demonstração que o caso pedir, e merecer a sua
desatenção, negligência, ou malícia; e as pessoas de inferior condição incorrerão nas penas
impostas pela Ord. do liv. 5. tit. 12. §. 5. aos que fundem moeda.” (Alvará Régio, 1721: 2).
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Helena Pedreirinho (2013) diz-nos que “A exaltação dos valores patrimoniais teve, naturalmente,
um papel importante neste ideário nacionalista.” (PEDREIRINHO, 2013: 37).
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“A contestação aos poderes monárquicos, culminando no fim das sociedades estaduais
assentes num modelo de poder absoluto, e a emergência da nação, enquanto entidade legitimada
pela vontade colectiva dos cidadãos, sustentada por uma memória que lhe advém de um passado
histórico de continuidade, ganhou um sentido e uma projecção que se vai reflectir, de forma
bastante incisiva, no plano do património cultural.” (PEDREIRINHO, 2013: 37-38).
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Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Ramalho Ortigão, Mendes Leal, são algumas destas
personalidades cultas inconformadas com a negligência estatal perante o património nacional.
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Instituições Oficiais do Estado Português em matéria de Património.
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“A Conferência está profundamente convicta de que a melhor garantia de conservação dos
monumentos e obras artísticas vem do respeito e do empenhamento dos próprios povos e,
considerando que estes sentimentos podem ser grandemente favorecidos por uma acção
apropriada dos poderes públicos, faz votos para que os educadores habituem a infância e a
juventude a abster-se de degradar os monumentos quaisquer que sejam, e lhes transmitam o
interesse, de uma maneira geral, pela protecção dos testemunhos de todas as civilizações.” (Carta
de Atenas, 1931).
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“Aprovou unanimemente a tendência geral que consagra nesta matéria um certo direito
da colectividade perante a propriedade privada.” (Carta de Atenas, 1931).
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“Para fins da presente Convenção serão considerados como património cultural:
Os monumentos. - Obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos ou
estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal
excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos. - Grupos de construções isolados ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura,
unidade ou integração na paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história,
da arte ou da ciência;
Os locais de interesse. - Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as
zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto
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O Património Cultural e o Estado Português. Contributos para a História das
Instituições Oficiais do Estado Português em matéria de Património.
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O Património Cultural e o Estado Português. Contributos para a História das
Instituições Oficiais do Estado Português em matéria de Património.
Enumeramos aqui alguns dos exemplos que nos permitem visualizar um real
impacto dos conceitos e ditames internacionais nas políticas patrimoniais
praticadas em Portugal, possibilitando-nos afirmar que Portugal procurou sempre
corresponder a sua política pública patrimonial ao que se praticaria noutras
regiões, admitindo a importância das cartas internacionais na definição das
políticas patrimoniais.