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Andréia dos Santos

Instituto Federal do Pará –IFPA-andreia_83318@hotmail.com


Shirley Capela Tozi
Instituto Federal do Pará –IFPA -shirleytozi@yahoo.com.br

COMUNIDADES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA E A RELAÇÃO COM O


RIO A PARTIR DA VILA DISTRITAL DO JUABA-CAMETÁ/PA

INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado de uma pesquisa realizada no município de


Cametá, localizado no nordeste paraense. A área estudada abrange as comunidades
rurais quilombolas, localizadas desde as mediações do Distrito do Juaba até as
comunidades mais próximas ao Distrito. Este trabalho científico se propõe em analisar
os aspectos sócio-ambientais, tendo em vista o meio de produção da mandioca
produzida pelas comunidades tentando viabilizar uma compreensão de fatores que
determinam a sustentabilidade no meio produtivo e preservação dos recursos e meios
naturais. Neste contexto, o trabalho é desenvolvido em três seguimentos.
Primeiramente será abordada uma breve compreensão do município de
Cametá-Pará, focando, principalmente, nas sociedades quilombolas, onde será analisado
o processo de reconhecimento e organização do espaço. A Vila Distrital do Juaba
representa os demais povoados da região, que surgiram após os episódios realizados no
período da Cabanagem na Cidade de Cametá, os afro-descendentes foram suas
comunidades dentro das florestas próximas aos rios da região.
Em seguida, será feito uma breve análise sobre o modo de vida das
comunidades quilombolas que estão estabelecidas dentro das matas, sendo assim
analisam-se as práticas cotidianas da povoação de afro-descendentes com o uso do rio.
O Igarapé Itapocu nessa região possui a finalidade do uso dos recursos hídricos tanto
para as vias fluviais quanto para as atividades sustentáveis que são referencia na região.
Essa relação da sociedade negra com o rio no município vem desde o surgimento dos
quilombos na região.

Por último, serão analisados os procedimentos do meio produtivo


desenvolvidos nas próprias comunidades rurais da região. A produção da farinha passa
por vários procedimentos até chegar a seu processo de finalização que é a produção
bruta proveniente da raiz, essa fabricação desempenhada pelos moradores das
comunidades ribeirinhas, provenham a comercializar os seus produtos retirados de suas
roças na Vila Distrital do Juaba, entretanto nesse aspecto desenvolvem a economia
camponesa na localidade

UM BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

A Microrregião de Cametá é formada pelos municípios de Abaetetuba,


Igarapé-Mirim, Cametá, Mocajuba, Baião, Limoeiro de Ajuru e Oeiras do Pará. A
cidade de Cametá é considerada como uma das municipalidades mais antiga do Estado
do Pará. Sendo instituída em 1620, pelo Frade Capuchinho Cristóvão José, à margem
esquerda do rio Tocantins onde habitavam os índios Camutás, que moravam em casas
nos topos das árvores, a cidade Cametaense também recebe uma definição em Tupi
como "degrau do mato".
Em outra conjuntura, a cidade também foi palco de vários episódios históricos
da política do Pará, como exemplo o movimento cabano, além da designação de "Terra
dos Notáveis", título recebido em função do desempenho de alguns filhos ilustres,
homens que se destacaram na política.
As comunidades quilombolas da região do Tocantins, principalmente a do
Distrito do Juaba, povoado reconhecido pela Lei nº557 de 07 de Julho de 1898 e se
tornando Vila Distrital através da Lei nº 1530 de 05 de Outubro 1916, é composta por
um conjunto de comunidades. Destas destacam-se sociedades quilombolas do Mola,
Porto Alegre, Laguinho e Tomazia.
Estes povoados integram um conjunto de comunidades negras que se
refugiaram na região no período da revolução cabana, por serem fugitivos políticos
perseguidos pelos líderes da província do Grão- Pará no desenrolar da revolução:

[...] povoado da Tomásia, que se localiza nas cabeceiras de um


Igarapé – originário do igarapé Itapocú – afluente do rio Tocantins.
Em termos de jurisdição administrativa, a Tomásia pertence ao distrito
rural de Juaba, município de Cametá. (GOMES, 2006, p. 288)

De acordo com Gomes (2006), as comunidades camponesas da Tomásia e


Mola, dentre outras, fazem parte do Distrito administrativo do Juaba, sendo que esses
povoados estão localizados a beiras dos igarapés da região. O acesso as outras
comunidades se davam repetidamente pelas vias fluviais, atualmente esse percurso
também é feito pelos pequenos caminhos abertos pelos próprios moradores, assim
fazendo com que haja ligação por terra de uma comunidade para a outra. Esse método é
desenvolvido desde uma situação histórica em que os rios teriam sido rotas
representativas de refúgios dos quilombolas do mocambo Itapocú.
O Distrito do Juaba, assim como as outras comunidades, apresenta extrema
importância para a cidade local, pois assim como os outros é fonte de cultivo para o
comércio local. Esse desenvolvimento da produção de farinha e de outros derivados
oriundos do plantio da mandioca é realizado pelos próprios grupos ribeirinhos, que
agenciam o beneficiamento comercial da farinha para a cidade de Cametá. Essa
produção desenvolvida nos povoados é comercializada no próprio Distrito ou Vila do
Juaba, que nessa perspectiva recebem compradores das regiões próximas e do próprio
município Cametaense.
A área de estudo recebe influência direta do Rio Tocantins, que em virtude de
seus afluentes chega a adentrar a vegetação formando os Igarapés que a partir de seu
uso promovem a sustentabilidade de forma significativa para a fabricação de farinha, e
também na vida cotidiana através do viver nas margens dos igarapés Itapocu,
Acauãnzinho, etc. Pode-se observar também que o igarapé denominado de Itapocu é o
maior em relação aos demais localizados ao longo de abrangência que cercam as
comunidades rurais.
Em relação à questão ambiental, o povoado apresenta uma dualidade, pois no
espaço que esta localizada a Vila central do Juaba, aparentemente espaço mais
desenvolvido, passa por certo processo de migração de novos moradores para essa
localidade. Com isso, a inserção de novas pessoas a Vila Distrital tem gerado de forma
preocupante e significativa o lixos pelas ruas, sacolas, papéis, etc. Referente à questão
do lixo, este esta mais visível nas proximidades de um cemitério que fica na própria
comunidade Juabense.
Atualmente nos outros quilombos que estão localizados dentro das matas, a
realidade é outra, pois essas práticas são incomuns, sendo observadas áreas limpas e
contendo apenas detritos próprios da natureza, como folhagens, pequenos cubos de
madeira e entre outros encontrados no espaço.

ANALISE IN LOCU NA COMUNIDADE QUILOMBOLA: A IMPORTÂNCIA


DO RIO

A comunidade em estudo, designada como Vila Distrital do Juaba, encontra-se


localizada as proximidades da cidade de CAMETÁ-PA, fundada no início do século
XX, nas proximidades do Rio Tocantins. Assim, as comunidades Quilombolas surgiram
na região Tocantina após a forte opressão no período pós-emancipação. Ficando marcas
sobre a memória da escravidão aos atuais remanescentes que ainda são predominantes
nas localidades Quilombolas da região Tocantina.

Mais do que memória linear sobre a escravidão e quilombos, surgem,


na história oral das comunidades do Baixo Tocantins, fragmentos de
memórias que recuperam narrativas das experiências do pós-
emancipação. Ali comunidades foram feitas e refeitas juntando tanto
fugitivos da escravidão como remanescentes de cabanos, desertores
militares e aqueles que fugiam do recrutamento militar do “Corpo de
Trabalhadores” do Grão-Pará. (GOMES, 2006, p. 290)

De acordo com o trecho acima, os povoados surgiram devido o conjunto dos


fugitivos que adentram nas matas para escapar das fortes pressões escravistas e de
militares, assim formando os povoados passados de geração para geração, e se
concretizando suas comunidades em determinadas escalas da região.
A Vila do Juaba, é originária depois do abandono da comunidade Quilombola
do Mola, que aos pouco foram deixando sua unidades camponesas para se deslocando e
formando outra comunidade. Neste contexto Mola é considerada a comunidade mais
antiga da localidade, por certo período o quilombo foi perdendo sua população.

Nesta perspectiva aos poucos essa vila ribeirinha passou a ser o centro de
encontro dos moradores e das atividades culturais ainda vivas nas memórias
Quilombolas da região. Neste aspecto, trata-se de uma vila simples de extrema riqueza
cultural e aparentemente apresenta um melhor desenvolvimento em relação às outras
comunidades que estão inseridas na Vila Distrital do Juaba. A Vila possui posto médico,
escola, igreja, água encanada e pequenos comércios. Já os outros povoados, mas
afastados da vila não possuem esses elementos fundamentais a uma localidade. Dessa
forma, nota-se que a vila distrital tem a finalidade de receber e de recepcionar as
populações da própria vila distrital e de outras comunidades.
Historicamente essas unidades camponesas foram marcadas pelas resistências
de uma possível reescravidão, e conseguiram manter e reconstruir suas residências
simples dentro de povoados criados pelos próprios.

A Região do Tocantins foi marcada pela existência de vários


quilombos. Alguns deles foram destruídos; outros jamais foram
descobertos. Os quilombolas, diante das ameaças de reescravidão e
dos riscos de aniquilamento, adentraram pelas matas, rios e igarapés e,
no interior da floresta, organizaram novos mocambos, como ocorreu
nos municípios de Cametá, Mocajuba e Baião. (PINTO, 2010, p.30)

De acordo com a autora, a existência dos quilombos foi resultado remanescente


da escravidão, onde os povos interligados aos afrodescendentes fugiram para as matas e
pelos rios. Assim, os negros descendentes adentraram as florestas e estabeleceram seus
quilombos próximos aos rios e igarapés da região. Dessa forma, foi possível observar as
comunidades da localidade, os quilombos e residências simples rurais, que localizam
próximas a beira das águas da região.
Neste contexto, a comunidade é banhada pelo rio principal da região e de maior
importância, sendo enfatizado nesse aspecto o Rio Tocantins que apresenta um curso de
águas bastante longos e é pouco utilizado para a navegação. Existem, entretanto, rios
independentes e paralelos ao rio Tocantins, tais como: Mupi, Cupijó e Anauerá, este
determinando o limite natural, a Oeste, entre Cametá e Oeiras do Pará. Na porção
oriental do seu território, destacam-se o rio Cagi, limite Leste com Igarapé-Miri e, a
Sudeste, o rio Tambaí limitando este Município com Mocajuba.
A importância do Tocantins, no Município, é enfatizada pela ligação que
mantém com inúmeros paranás, igarapés, furos, braços de rios, que se interpenetram no
grande número de ilhas, onde se concentram povoados e aglomerações relativamente
habitados. Neste aspecto, a ligação do Rio Tocantins com furos, braços de rios,
igarapés. Destacam-se o Igarapé Itapocu, Acuãzinho e entre outros que se tornam vias
fluviais para as sociedades ribeirinhas que foram observadas na região.
As relações da comunidade com o igarapé Itapocu se originam desde o período
que houve a resistência negra dos mocambos de Itapocú, assim, com o passar do tempo
as práticas foram mudando de fase, hoje, tornando-se um palco de práticas de
sustentabilidade e de ações que beneficiam o meio de sobrevivência desses povoados.
As comunidades rurais próximas ao rio apresentam duas finalidades simbólicas
sendo de origem Quilombolas e apresentam características Ribeirinhas, é importante
especificar que as comunidades Quilombolas do município apresentam características
étnicas vivas. No entanto, suas práticas e ações não são dispersas do rio, e essa ligação é
denominada também pela identidade simbólica dos rios. As populações Amazônicas
apresentam Vilas ou residências nas áreas naturais próximas aos Rios, assim retiram sua
sobrevivência destes.
O Igarapé Itapocu nessa região, assim como os outros, apresenta a finalidade
da utilização dos recursos hídricos de suas fontes pelos ribeirinhos, que fazem uso de
suas águas para suas atividades sustentáveis sendo referencia na região. O Igarapé serve
de vias fluviais, que promovem a ligação entre o Rio Tocantins até as comunidades
Quilombolas que estão fixadas dentro das matas Tocantina.
É identificado no Igarapé Itapocu que tem desígnio importante para o
procedimento do uso das águas do Igarapé, essa especialidade é desenvolvida na
utilização da produção de farinha e também vem se em quadrar na lavagem de louças,
roupas, banhos diários, dentre outros. Segundo uma residente da localidade disse que os
Igarapés da região na época do período chuvoso (mês de março), apresentam-se em uma
nova concepção, consolidadas pelas enchentes, que provocam a elevação do nível do
rio, prejudicando consideravelmente, a produção da farinha. Neste sentido, o Igarapé
Itapocu, Acuãzinho, dentre outros, servem como fonte de uso de suas águas, atendendo
de forma expressiva as comunidades rurais.

Nesta concepção o ribeirinho que estabelece sua vida perante o rio, e utiliza-se
do mesmo como universo símbolo de atividades cotidianas.

A vida se tece pelas relações estabelecidas com e através do rio: “o


homem e o rio são dois mais ativos agentes da geografia humana na
Amazônia. O rio enche a vida do homem de motivações psicológicas,
o rio imprimindo a sociedade rumos tendências, criando tipos
característicos da vida regional”. (TOCANTINS, 1988, p. 233, apud
CRUZ, 2008, p. 49)

De acordo com Cruz, (ibdem) a relação do homem Amazônida e seu


“universo das águas” mostra-se como a necessidade sobre o uso do rio para sua
sobrevivência ribeirinha, onde as águas apresentam funções diversas para a população
nativa, ou seja, os ribeirinhos são rodeados pelas “águas que o sustentam e fazem parte
de sua serventia”.
A população Quilombola vive essa relação com igarapé, do qual faz uso das
águas para suas atividades, sendo que o Igarapé é um elemento importante não só para a
comunidade do Juaba, mas também para as comunidades camponesas, mas próximas à
localidade.

A RAÍZ QUE VIABILIZA A SUSTENTABILIDADE DA COMUNIDADE


QUILOMBOLA- CAMETÁ/PA

É importante enfatizar as práticas desenvolvidas por essas comunidades, onde a


população Quilombola vive uma relação com igarapé, do qual faz uso das águas para
suas atividades e para o processo de produção do alimento principal encontrados nas
mesas desses povoados, sendo que para a produção ser desenvolvida o Igarapé é um
elemento importante não só para a comunidade do Juaba, mas também para as
comunidades rurais próximas que fazem o uso. Essas práticas foram identificadas ao
longo das vegetações encontradas na região Tocantina, os povoados quilombolas se
localizam dentro das matas, percursos feitos através de curtos caminhos que adentram
as comunidades, já a Vila do Juabá fica de frente para o Rio Tocantins.
Em outro contexto, os procedimentos analisados na comunidade do Juaba
intensificam de forma mais desenvolvida as atividades comerciais, passando de uma
economia que estava voltada historicamente pela coleta para uma prática monocultora
de mandioca, milho e arroz.
No contexto atual, o processo produtivo da farinha, inserido nas comunidades
Quilombolas, dá-se da seguinte maneira: o procedimento é colher a mandioca na área de
roça onde as mulheres retiram e colocam em grandes cestos seguros, levando até a área
de produtividade de farinha onde as águas do rio são de fundamental importância no
amolecimento da casca da mandioca para o processo da produção da farinha, sendo
classificadas com duas modalidades, que são a “farinha d’água e a farinha seca’’. A
farinha d’água passa pelo processo de amolecimento da mandioca na beira do Igarapé,
já no processo da farinha seca ocorre à utilização da água do rio em menor quantidade.
A produção da farinha é desenvolvida em diversos procedimentos, que se
iniciam com a retirada da mandioca das áreas de plantação das pequenas árvores que
contem a matéria. Na maioria dos casos, as roças chegam a ficar 40 quilômetros
afastados das residências, nessa situação é comum improvisarem pequenas barracas
para se abrigarem durante os dias da semana que não retornam a Vila.
Nas comunidades, eram desenvolvidas práticas alimentícias para o consumo e
para a venda de sua produção. Foi possível identificar as raízes culturais daquelas
comunidades, tendo percepção e visualização das práticas que são realizadas
diariamente pelo povoado local.

Registros que não foram capazes de conter o estalar da brasa no velho


fogão a lenha; os cheiros das ervas, raízes e plantas, e da fumaça da
farinha de mandioca e da massa do beiju que são torrados no
cotidiano; o som produzido pelo terçado no ato de capinar as roças; o
burilar do carro de boi; o rugir das talas, com as quais são feitos os
paneiros de pernas, onde se carrega mandioca, ou então paneiro de
mariscar; nem as historias contadas e seu personagens. (PINTO,
2010, p.35e36)

De acordo com Pinto (2010), as práticas encontradas nas pequenas vilas e


povoadas apresentam características de comunidades do campo. A simplicidade do
modo de vida, a e forma de estabelecimento de suas atividades referente ao processo da
produtividade da raiz, passam por vários processos que determinam a produtividade dos
derivados da própria farinha. Identifica-se também a maneira de como é conduzido os
procedimentos da agricultura da comunidade local.
Nessa perspectiva, os moradores que cultivam a produção da farinha, usam
como instrumento os paneiros nas costas transportando a produção retirada das roças
localizadas na beira das estradas, nesse percurso os trabalhadores chegam a caminhar
por um tempo de três horas, ou então trazem em um carro de boi, pois esse transporte é
utilizados por aqueles agricultores que possuem esse tipo de condução, este veiculo é o
mais utilizado pelos roceiros da região. Depois desse processo a mandioca vai ser
amolecida dentro das águas dos Igarapés a qual ficam por três dias. Passando esse
período, o produto vai para os outros procedimentos básicos de sua produção até a etapa
final que é o cozimento da farinha, chegando ao embalamento do produto para ser
comercializado para a cidade de Cametá e na própria Vila Distrital.
Pode-se observar que a mandioca descascada que foi retirada do “poço”, local
onde as comunidades escavam um buraco as margens do Igarapé para desenvolver o
processo de amolecimento da mandioca. O produto fica durante três dias dentro d’água,
se a mandioca estiver “nova”, caso contrário, o processo do amolecimento é mais
demorado. Já a fase final da produção é o cozimento da farinha de mandioca.
Nessa perspectiva, os produtores comerciantes se reúnem aos domingos na vila
distrital para desenvolver a comercialização de sua produção que foi produzida durante
a semana em suas comunidades. A venda no centro distrital do Juaba serve tanto para a
comercialização local quanto para a cidade cametaense que compram o produto
principal para ser comercializado na feira na municipal da cidade.
Com a aproximação dessas povoações ou comunidades que utilizam o distrito
como ponto de suas atividades comerciais, buscando vender ou negociar o produto por
outras mercadorias. Esse tipo de atividade já vinha sendo desenvolvida desde o século
XX, sendo registradas pelos moradores, mais antigos das comunidades.

[...] os habitantes mais idosos destas comunidades não falam


necessariamente de quilombos, mas sim de pontos de trocas
mercantis. Exatamente como o roteiro de muitas narrativas, a
cronologia da origem, das memórias dos mais velhos e das
modificações das paisagens retrata vilas e pequenos povoados
formados a partir de feiras e pontos de trocas mercantis do início do
século XX. (GOMES, 2006, p. 290)

Nesta perspectiva, as localidades de Porto Grande e João Igarapé, mencionadas


pelos antigos habitantes das comunidades atuais, foram ponto de antigas feiras onde os
moradores das comunidades ribeirinhas comercializavam os produtos das suas roças e
assim desenvolviam a economia camponesa. Segundo Shanin (2005, pg. 03), economia
que se “caracteriza por formas extensivas de ocupação autônoma (ou seja, trabalho
familiar), pelo controle dos próprios meios de produção, economia de subsistência e
qualificação ocupacional multidimensional”. Nesse aspecto a agricultura no campo está
mais voltada para as atividades sobre o cultivo do que para outra forma de atividade
produtiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou viabilizar um entendimento sobre as comunidades


quilombolas do baixo Tocantins e o desenvolvimento de suas práticas produtivas da
região. Onde o Distrito do Juaba é referencia na comercialização de farinha no
município, fornecendo sua produção as comunidades próximas e a própria município de
Cametá/PA.
A fabricação dessa atividade é desenvolvida pelas comunidades quilombolas
inserida no meio da vegetação localizada na região do baixo Tocantins. Os afro-
descendentes, mestiços se refugiaram para as matas, áreas de difícil acesso, esse foi a
estratégia dos grupos para defender-se e buscar se fortalecer para desenvolver as suas
ações contra os militares na época em que o Governo do Estado estava inserido no
município de Cametá. A repressão desses processos políticos que viabilizaram a fuga de
várias pessoas rumo às florestas na beira das várzeas, com maior ênfase os descendentes
africanos que ao adentrarem as matas buscam montar suas habitações rústicas sendo
construídos sobre terrenos baldios no meio das matas.

O uso do rio está na comunidade é o meio, mas utilizado por suas povoações,
neste eixo o Igarapé Itapocu, assim como outros localizados na região viabilizam o
meio a sustentabilidade das comunidades ribeirinhas. Desta forma, é notório a
importância do rio para a comunidade em estudo, pois este se mostra como meio de
sobrevivência direto para os moradores, seja beneficiando a produção de farinha ou seja
no uso diário da água dos rios e igarapés da área.

REFERÊNCIAS

CRUZ. Valter. C. ( etall) O rio como espaço de referencia identitária: Reflexões


sobre a identidade ribeirinha na Amazônia. In: TRINDADE, Saint-Clair;
TAVARES, M.G.C. Cidades Ribeirinhas na Amazônia: Mudanças e Permanências.
Ed. Universitária UFPA, 2008.
GOMES, Flavio. “No labirinto dos rios, furos e igarapés”: camponeses negros,
memória e pós-emancipação na Amazônia, c. XIX-XX. Ed. by unisinos; 10 (3): 281-
292 Setembro/Dezembro 2006. Disponível em:
http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/pdfs_historia/vol10n3/art
04_gomes.pdf < Acessado in: 13 de setembro de 2011>.
LOPES, L. O. C (etall) Ribeirinhos do Mapuá. In: MOTA, G. (etal). Caminhos e
lugares da Amazônia: Ciência, natureza e território. 1ª Ed-Belém; GAPTA/UFPA,
2009.
PINTO, Benedita Celeste de Moraes. Filhas das Matas: Praticas e saberes de
mulheres quilombolas na Amazônia Tocantina. Ed. Açaí. Belém- Pará 2010.
SHANIN, Teodor. A definição de camponês: conceituações e desconceituações – o
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SILVA, Maria J. V. Dilemas do Planejamento e da Gestão Municipal na Amazônia
Ribeirinha: uma análise do caso de Cametá à luz do ideário da reforma urbana e
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http://www.ufpa.br/ppgeo/Maria%20Julia%20Veiga.pdf < Acessado in: 13 de setembro
de 2011>.

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