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CÓLEGIO COC PALMAS

Trabalho de Arte - 2023

A LUTA DAS QUEBRADEIRAS DE COCO BABAÇU NA REGIÃO


DO BICO DO PAPAGAIO - EXTREMO NORTE DO TOCANTINS.

Emanuella Araújo
Iulla de Paula
Yasmin Carvalho

PALMAS – TO

2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO: A OCUPAÇÃO DO BICO DO PAPAGAIO

2. DESENVOLVIMENTO: A LUTA DAS QUEBRADEIRAS DE COCO

3.
1. INTRODUÇÃO: A OCUPAÇÃO DO BICO DO PAPAGAIO

A região do Bico do Papagaio está na porção norte do Estado do


Tocantins. Quanto ao nome Bico do Papagaio, este se deve aos contornos
dos rios Tocantins e Araguaia, que desenham o formato do bico do pássaro.
É uma região de terras ocupadas por indígenas, quilombolas, fazendeiros e
sem-terra, e está repleta de conflitos fundiários. Sua vegetação é
constituída por áreas de Cerrado, Floresta Amazônica e áreas de transição
entre os dois biomas com concentração de babaçuais. Em geral, as
palmeiras estão localizadas dentro das terras de demarcação indígena -
Apinajé e Xambioá - ou nas fazendas, às margens do rio Tocantins.

No que diz respeito ao processo de formação territorial, esse nos


remete a um movimento histórico ocupado por múltiplos sujeitos. Em
primeira instância, essas são terras ocupadas pelos povos Apinajé e
Xambioá; em segunda instância, os territórios são atingidos pelos
sertanejos, principalmente fazendeiros e lavradores das margens dos rios
Tocantins e Araguaia.

Nesse sentido, a interiorização pecuária do Brasil é um fator


determinante, de modo que as fazendas de gado seguiram uma marcha de
ocupação do interior, no sentido oeste, ultrapassando, assim, o rio Parnaíba
para ocupar a região de Pastos Bons, no Maranhão, alcançando, por fim, as
margens do rio Tocantins. Com a ocupação pioneira, no início do século
XX, das margens dos grandes rios, populações se deslocaram para as terras
férteis com o fim de praticar a agricultura.

A partir do anúncio da construção da rodovia Belém-Brasília na


década de 1950, a grilagem aumentou e a população foi desapropriada e
deslocada para novas áreas, intensificando a ocupação da microrregião do
Bico do Papagaio. As ocupações de terras criaram assentamentos e
pequenos posseiros. Muitos desses proprietários eram mulheres que
participaram da luta pela reforma agrária e depois conquistaram um pedaço
de terra, ou foram trabalhar nas fazendas.

Com efeito, algumas dessas mulheres são as tradicionais


quebradeiras de coco babaçu que dependem da produtividade medida pelo
volume de coco quebrado no dia. Assim, cotidianamente, elas se
aventuram entre os babaçuais em busca do coco, fonte de sobrevivência
familiar.
2- DESENVOLVIMENTO: A LUTA DAS QUEBRADEIRAS DE COCO

Em 1970, com a inauguração da Via Expressa Transamazônica e


incentivos do governo federal para ocupação de terras da Amazônia Legal,
os sulistas chegaram à área em busca de terras. E, ao contrário da ocupação
anterior em que as famílias ocuparam o terreno, sendo que a maioria delas
não tinham recursos para fazer o registro de propriedade, esse nova
ocupação é capitalizada por recursos para delinear os territórios. De posse
destes, os proprietários titularizados obrigavam os antigos donos a
desocuparem suas terras ou, ainda, davam-lhe a opção de se tornarem mão
de obra nas fazendas. Esse processo fez com que diversos trabalhadores
rurais se organizassem na luta pela posse da terra, tornando a região um
palco das lutas agrárias no Brasil.

Em meio a esse conflito latifundiário, foi criada a Lei do Babaçu


Livre (Lei nº1.959, de 14 de agosto de 2008), em que as quebradeiras têm
trânsito livre para circular pelo espaço e exercer sua atividade, haja vista
que “ser proprietário da terra não significa ser proprietário dos babaçuais”
(TOCANTINS, 2008). No entanto, tal lei gerou conflitos, violência e
resistência, pois, de um lado, os fazendeiros derrubam palmeiras e
intensificam esforços para proteger as fazendas, impedindo assim a entrada
dessas mulheres. Por outro lado, elas ganham confiança e persistem pelos
seus direitos para, eventualmente, poder acessar os territórios e coletar
cocos sem pagar uma taxa sobre o coletado aos proprietários.

Ademais, o rendimento oriundo da coleta e quebra do coco lhes


garante uma maior autonomia, pois, com o recurso, podem definir melhor a
maneira como gastá-lo, ficando menos sujeitas a seus próprios
companheiros. O árduo dia de trabalho é recompensado com os
rendimentos, os quais permitem às mulheres comprarem produtos básicos
que possam suprir as necessidades mais imediatas. Dessa maneira, a
aquisição do coco babaçu para a quebra torna-se não apenas um
instrumento para a renda familiar, mas também um símbolo de autonomia
feminina.

Além do papel femino, as crianças adquirem uma importância na


coleta do coco babaçu, sendo os principais acompanhantes das mães ao
embrenharem-se nas matas em busca de tal suprimento financeiro. Com
isso, os filhos são ensinados desde cedo a importância do babaçu, o que
contribui para que esses compreendam o significado da luta de suas mães
por tal elemento, fonte de subsistência que tornou-se um símbolo cultural e
geracional. Vale ressaltar que mães e filhos estão sujeitos aos perigos
existentes no ambiente, uma vez que não são assistidos pelo governo do
Tocantins com o apoio à luta das quebradeiras, ficando expostas à violência
fundiária, que não possui uma visibilidade social.

Na organização das quebradeiras, existe um sentimento de


solidariedade compartilhado entre as mulheres, uma vez que há o respeito
de não cortar o cacho inteiro do coco, tendo em vista que apenas uma única
família se beneficiaria. Quando caem no chão, os cocos podem ser
amontoados e, assim, não são tomados por outras mulheres. Dessa maneira,
o coco é igual e solidariamente distribuído entre as quebradeiras e suas
famílias.

Somado a isso, há ainda a luta pelo impedimento da derrubada dos


palmeirais no Bico do Papagaio, sendo essa uma devastação histórica e
cultural. Nesse sentido, observa-se por toda a região, o forte apoio de
órgãos não governamentais - como a Igreja Católica - mostrando a falta de
assistência e visibilidade política e estadual à luta. Desse modo, a aliança
entre as quebradeiras e outros grupos de mulheres que também vivem
situações semelhantes àquelas enfrentadas nos babaçuais torna-se
imprescindível para o fortalecimento do movimento.

No entanto, as leis conquistadas, através da união entre os grupos


femininos, são objetos de contestação, haja vista a ignorância de
proprietários de terras e dos governos federal e estaduais que persistem em
criar medidas para o protecionismo das fazendas, dando o passe-livre para
a derrubada dos palmeirais. Dessa forma, o esclarecimento das
quebradeiras de coco em relação aos seus direitos é indubitável para o
combate às práticas predatórias cometidas por tais sujeitos, sendo um
grande exemplo de protagonismo da luta babaçual, a quebradeira de coco
Dona Raimunda, que entendeu que a plena eficácia da lei depende de ações
práticas.
3 CONCLUSÃO

4 BIBLIOGRAFIA

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