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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL SEBRAE

HEITOR ANDRADE LOPES DE BARROS


KÉREN-HAPPUCH ROSA TORREZ

COMUNIDADES TRADICIONAIS
Quebradeiras de coco babaçu e Geraizeiros
O acesso igualitário a terras para os povos tradicionais

São Paulo – SP
2023
CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA
ESCOLA TÉCNIA ESTADUAL SEBRAE

HEITOR ANDRADE LOPES DE BARROS


KÉREN-HAPPUCH ROSA TORREZ

COMUNIDADES TRADICIONAIS
Quebradeiras de coco babaçu e Geraizeiros
O acesso igualitário a terras para os povos tradicionais

Relatório final, apresentado a ETEC SEBRAE,


como parte das exigências do Componente
Laboratório de Mediação e Intervenção
Sociocultural.

Orientador: Prof. Ms. Maikol Nascimento Pinto

São Paulo – SP
2023
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaríamos de agradecer ao professor Maikol Nascimento Pinto, que


foi mais que nosso orientador, e sim um parceiro.

Nossos agradecimentos também vão as Comunidades Tradicionais dos Geraizeiros


e das Quebradeiras-de-coco-babaçu por nos inspirarem e emprestarem suas
histórias para a composição deste trabalho.

Gostaríamos de agradecer também aos nossos colegas de turma, Ana Carolina Zanin
Costa, Anna Beatriz Almeida e Mirelly Alencar Saravia por aguentar nossos surtos
diários em relação a esse trabalho.
RESUMO

O presente trabalho acadêmico sobre Comunidades Tradicionais Quebradeiras de


coco babaçu e Geraizeiros, traz uma análise crítica extraída pela coleta de dados que
foi realizada através de pesquisas. Através deste relatório final será possível
identificar informações sobre povos localizados no Maranhão e no Norte de Minas
Gerais. O principal foco é relatar sobre a cultura e modo de vivência dessas
comunidades e mostrar como práticas sustentáveis realizadas por elas, podem além
de ser agradável ao meio-ambiente, também ser de ajuda econômica para esses
grupos. Entretanto, o trabalho também tem como objetivo mostrar a invisibilidade
desses povos tradicionais diante da população brasileira.

Palavras-chaves: Trabalho acadêmico, Povos tradicionais, Análise de dados


SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS..............................................................................................................3
RESUMO ..................................................................................................................................4
SUMÁRIO .................................................................................................................................5
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................6
O QUE É UMA COMUNIDADE TRADIONAL? ...................................................................7
AS QUEBRADEIRAS-DE-COCO-BABAÇU .......................................................................8
GERAIZEIROS ..................................................................................................................... 10
POR QUE DAR ACESSO AS TERRAS AOS POVOS TRADICIONAIS? ................... 12
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO

Em 9 de agosto de 2007, foi aprovado por unanimidade pela comissão pela do Meio
Ambiente da Câmara dos Deputados Federais, a Lei do Babaçu-Livre, que impedia a
derrubada de árvores de coco babaçu sem justificativa. O que essa lei representou
para as Quebradeiras de Coco Babaçu, foi a maior vitória da comunidade em mais de
2 séculos de existência. Acontece que as palmeiras de babaçu ficam em sua maioria
dentro de terras privadas, onde os donos decidem seus destinos arbitrariamente.

A luta por acesso a terras por comunidades tradicionais brasileiras começou muito
antes do que o registrado, desde seus primórdios, a divisão das terras no Brasil é
desigual e vem impedindo o setor agropecuário de crescer de maneira sustentável e
realmente lucrativa. Dessa luta também são vítimas os Geraizeiros, uma comunidade
tradicional localizada no Cerrado de Minas Gerais. conhecidos pela criação do gado
na solta e o extrativismo que praticam sempre respeitando o ciclo e o limites da terra.
Entretanto, os Geraizeiros, assim como outras comunidades tradicionais, passam por
ameaças em relação à sua cultura e o seu território.

A história das Quebradeiras e dos Geraizeiros se encontra quando se trata da


reinvindicação de terras para subsistência e pela ameaça a extinção de suas culturas.
Embora geograficamente distantes, os Geraizeiros e as Quebradeiras têm muito em
comum, e além do mesmo problema, tem também a mesma solução para tal: “O
acesso a terras igualitário para povos tradicionais”
O QUE É UMA COMUNIDADE TRADICIONAL?

Uma Comunidade Tradicional, ou População Tradicional é um grupo de pessoas que


se consideram culturalmente diferentes e traçam uma relação intima com um território
e são dependentes dele para a sobrevivência e subsistência. As comunidades
tradicionais são determinadas pelo decreto de lei 6040/2017. Hoje existem 33
comunidades tradicionais reconhecidas pelo decreto citado.
AS QUEBRADEIRAS-DE-COCO-BABAÇU

As Quebradeira de coco babaçu são um povo tradicional brasileiro, presente no Piauí,


Maranhão e Pará. Nesse trabalho, nos debruçaremos sob a comunidade residente
do estado do Maranhão, segundo o Mapa de conflitos 2022 da Fio Cruz, há 135 mil
mulheres nesta atividade que se autodenominam “quebradeiras de coco” somente no
estado do Maranhão.

Sua existência está centrada na concentração de babaçu em uma região. O termo


Babaçu significa, em tupi, Coco Grande. As quebradeiras se caracterizam como uma
profissão majoritariamente feminina, que extraí e aproveita o coco de babaçu ao
máximo. Diferente do que é feito no Campo, onde somente a amêndoa é vendida. A
tradição de quebrar coco é passada de mãe para filha, iniciando na infância e indo
até a velhice.

A origem histórica do grupo é nebulosa, e a falta de documentos históricos grita sobre


um buraco que reside fortemente no meio da história das Quebradeiras. Algumas
fontes afirmam que a comunidade existe de maneira organizada a mais ou menos 2
séculos, sendo documentada somente a partir da década de 70, durante a ditadura
militar.

Durante os anos 80, a comunidade se organizou em pequenos assentamentos e em


cooperativas, que começaram a prosperar após uma reportagem da Rede de Rádio
e Televisão Globo. Hoje existem 36 cooperativas no país, e segundo o último relato
da Feira Nordestina de Agricultura Familiar e Solidaria do Rio Grande do Norte, 17
delas atuam no Maranhão.

Em 1996, as Quebradeiras ficaram nacionalmente conhecidas através da reportagem


produzida pelo Globo Rural, em que são mostradas as condições de trabalho
precárias e como essa comunidade tradicional sofre com a negligência social. Em
2019, Ano em que as Quebradeiras foram oficialmente reconhecidas como uma
comunidade tradicional brasileira, o Globo Rural retornou ao assentamento das
Quebradeiras e mostrou como a comunidade evoluiu e melhorou nesses 23 anos, de
maneira totalmente autônoma e com puro esforço das mulheres que fazem parte
dessa comunidade. Uma das suas maiores vitórias foi que desde 2007, o Babaçu é
uma árvore protegida pela Lei do Babaçu Livre, que proíbe a derrubada de palmeiras
babaçu e garante o livre acesso das comunidades extrativistas ao coco. Seu
pioneirismo surgiu no Maranhão, e agora as quebradeiras tentam promulgá-la em
vários estados

Embora a realidade daquele assentamento tenha mudado, através da organização


de diversos movimentos interestaduais, as condições ainda estão longe das ideais,
as quebradeiras são mulheres que trabalham na riqueza, mas vivem em extrema
necessidade. A maioria da comunidade das quebradeiras, no Maranhão, são também
Quilombolas, e vem sofrendo uma enorme repressão dos Grileiros e dos Fazendeiros
locais, que buscam privatizar a atividade

Quem vê esse trabalho duro e todo esse sacrifício desse povo tradicional, acredita
que as quebradeiras de coco babaçu não tem nada a oferecer para a sociedade além
de seus produtos, mas elas têm inspirado publicações e pesquisas em diversas áreas
e conhecimento e abordagens, como: lutas por reconhecimento de território, por
direitos à educação, saúde, livre acesso aos babaçuais entre outros. Todavia, é
comum os adolescentes que residem nesses povoados desistirem dos estudos
devido à falta de incentivos governamentais, em sua maioria ao concluir o Ensino
Fundamental (outros nem concluem esse nível de ensino) migram para os centros
urbanos de outros municípios ou/e outras regiões do país. Que por sua vez, são
submetidas as explorações de subserviços, bem como a vulnerabilidade a diversas
formas de violências e direitos básicos silenciados.
GERAIZEIROS

No Território Tradicional Geraizeiro de Vale das Cancelas, no norte de Minas Gerais,


encontra-se a comunidade tradicional, os geraizeiros, uma população nativa dos
Gerais, descendentes de negros, indígenas e europeus unindo-se assim saberes das
três partes que compõem a origem do povo.

Os Geraizeiros dividem uma propriedade em comum, chamada de quintal, é nesse


espaço que ocorrem as atividades pelas quais são conhecidos, como a criação de
gado na solta, extrativismo de plantas nativos, medicinais e lenha. Eles praticam tudo
isso de maneira sustentável, um intercâmbio saudável com a terra em que o
extrativismo é realizado respeitando os limites e ciclo da terra. O produto dessa
atividade, logo, serve de forma econômica aos geraizeiros, pois vendem essas
matérias primas em feiras de comunidades próximas.

O ecossistema cerratense, em que vivem os geraizeiros, é um ambiente conhecido


como “os Gerais”, o território vem lidando com a irregularidade das chuvas,
concentradas em apenas quatro meses do ano. (). Ao longo das últimas décadas, a
região foi tomada por extensos plantios de eucalipto, o que transformou o convívio da
população local. O plantio de maciços de eucalipto foi estimulado por uma política de
Estado na década de 1970 que envolveu o arrendamento de terras tidas como
desocupadas a empresas plantadoras de eucalipto. A implantação do monocultivo da
planta causou alterações ambientais severas, como a perda de biodiversidade e a
escassez de água.

Um dos valores que mais se ressalta nos geraizeiros é, a prática sustentável no


extrativismo e a pecuária realizada por eles, como já foi citado no documento, parte
dos alimentos extraídos por eles é comercializado nos núcleos urbanos da região,
isso evidencia que além de ser possível realizar um extrativismo saudável para o meio
ambiente e usar de benefícios econômicos e de consumo próprio também.

Nos quintais de algumas casas, chiqueiros e galinheiros se destinam à produção de


proteína animal. Vale ressaltar que a criação de gado na solta, por exemplo, não tem
papel importante apenas para a economia, mas também tem um papel fundamental
na formação de identidade geraizeira. Segundo o relatório do CAA (2015, p. 26):

1. “os mais velhos contam que, até por volta de 1975, quase todas as famílias da região criavam
gado, no tempo em que elas podiam utilizar as chapadas como área de solta coletiva”.

As principais fontes de renda das comunidades eram os benefícios da Previdência


Social e os Programas de transferência de renda, e principalmente Bolsa Família
(alguns vêm sendo cortados). Nesse sentido, os retrocessos nas políticas sociais e
as reformas trabalhista e previdenciária são grandes ameaças ao acesso econômico
aos alimentos e às condições de vida digna em geral. Com tudo isso o que resta aos
geraizeiros é tentar ganhar a vida através do que seu território os pode brindar.

Contudo, existem diferenças gritantes no extrativismo dos geraizeiros e da


monocultura do eucalipto, um movimento agrícola que veio em massa tomando parte
do território geraizeiro.
POR QUE DAR ACESSO AS TERRAS AOS POVOS TRADICIONAIS?

As Quebradeiras de coco babaçu e os Geraizeiros, são povos tradicionais brasileiros


que se encontram quando se trata de reinvindicação de terras. Mas diferentemente
dos grandes latifundiários brasileiros, esses povos não desejam lucrar com a
exportação de produto nacional, ou agredir o meio ambiente em nome de uma
produção desenfreada

Ambas as comunidades trabalham de forma sustentável visando cuidar sempre do


meio-ambiente em que estão inseridos, trata-se de um intercâmbio no qual é possível
extrair sem agredir a terra. O espaço em que estão inseridos esses povos é rural, a
área dos geraizeiros por exemplo, sofre de perda da biodiversidade e escassez de
água devido ao monocultivismo de eucalipto, o que acabou colocando em risco a
economia desse povo, pois tal prática se realiza após a toma das terras em que vivem,
sendo restringidos de poder continuar com suas práticas. A forma de criação de gado
livre, garante maior qualidade na carne e uma forma mais sustentável e menos cruel
de criar o animal.

A potência do babaçu é gigantesca, comparado ao açaí em valores de extração, esse


tipo de coco pode gerar um mercado sustentável, se considerado o uso total do coco,
não somente a venda da amêndoa, algo que superaria 100 milhões de reais no ano
de 2017. Se comparada a Soja, a comodity do coco babaçu pode chegar a valer o
dobro, sendo mais barata de se extrair e menos nociva ao meio ambiente. Hoje cada
kg de coco babaçu é vendido em média por 4 reais, e em média uma quebradeira
quebra 8 kg de amêndoas por dia, o que pode render até 960 reais mensais. A maioria
das comunidades de quebradeiras se organiza em cooperativas para aproveitar os
restos do coco, como a produção de carvão (esse vendido por 2 reais o quilo) e a
produção do óleo de coco (vendido a 20 reais o litro). Se incentivada em larga escala,
a indústria do coco babaçu pode render milhões ao mercado interno brasileiro, além
de valorizar o fluxo de dinheiro nacional.
REFERÊNCIAS

Nogueira, 2009, p.83;

Dayrell, 1991 apud CAA, 2015, p.5

Fiocruz, 2022, Mapa de Conflitos Disponível em:


<https://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/ma-quebradeiras-de-coco-de-
babacu-denunciam-situacao-de-violencia-e-exploracao-do-trabalho-na-regiao-do-rio-
mearim-no-maranhao/> Acesso em 01 de dez. de 2023

Governo do Piauí, 2022, Títulos de terra para Quebradeiras Disponível em


<https://www.pi.gov.br/noticias/quebradeiras-de-coco-de-esperantina-receberao-
titulo-de-terras/> Acesso em 06 de out. de 2023

Central do Cerrado, 2021, Cooperativas das mulheres quebradeiras de coco


Disponível em: <https://www.centraldocerrado.org.br/post/cooperativa-das-mulheres-
quebradeiras-de-coco-de-baba%C3%A7u-cimqcb> Acesso em 22 de set. de 2023
Governo do Maranhão, 2022, Quebradeiras de coco babaçu do Maranhão são
destaque na I Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária no RN
Disponível em:<https://www.ma.gov.br/noticias/quebradeiras-de-coco-babacu-do-
maranhao-sao-destaque-na-i-feira-nordestina-da-agricultura-familiar-e-economia-
solidaria-no-rn> Acesso em 04 de set. de 2023

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, 2022, Babaçu Livre


agora é Lei no Estado do Piauí, Disponível em
<https://www.miqcb.org/post/baba%C3%A7u-livre-agora-%C3%A9-lei-no-estado-do-
piau%C3%AD> Acesso em 23 de out. de 2023

Silva, Maria de Fátima Sousa, 2022, Os projetos de vida de adolescentes, filhos de


quebradeiras de coco babaçu no leste do Maranhão: escola, trabalho e perspectivas
entre continuidades e rupturas Disponível em
<https://repositorio.unesp.br/handle/11449/238292> Acesso em 25 de set. de 2023

Porro, Roberto, 2019, A economia invisível do babaçu e sua importância para meios
de vida em comunidades agroextrativistas, Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/pTzRmXNGf5FVsH8WZjwyc5S/?lang=pt> Acesso
em22 de set. de 2023

Pilar, Vitória, 2022, A última quebradeira de coco, Disponível em:


<https://piaui.folha.uol.com.br/ultima-quebradeira-de-coco/> Acesso em 16 de ago.
de 2023

Governo Federal, 2023, Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais


(CONPCT) Disponível em: <https://www.gov.br/participamaisbrasil/cnpct> Acesso
em23 de set. de 2023
Governo Federal, 2023, Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais
(CONPCT) Composição, Disponível em:
<https://www.gov.br/participamaisbrasil/composicao85> Acesso em 01 de dez. de
2023

Rede Globo, 1996, As Quebradeiras de Babaçu, Disponível em: <Globo Rural - As


Quebradeiras de Babaçu> Acesso em 04 de ago. de 2023

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, 1985, Sobre nós,


Disponível em: <https://www.miqcb.org/sobre-nos> Acesso em 08 de set. de 2023

Divulga ENSP, 2020, Conheça a pesquisa realizada com as quebradeiras de coco


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IBGE, 2012, Quebradeiras de coco babaçu preservam tradição no interior do


Maranhão, Disponível em <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
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preservam-tradicao-no-interior-do-maranhao> Acesso em 16 de nov. de 2023

ICMBio, 2002, B

Carta Capital, 2022, Medo, angústia e adoecimento: A batalha dos povos geraizeiros
contra a agricultura e a mineração, Disponível em:
<https://youtu.be/wWuoi2BRqhM?si=mpnXuQv6WU7y1gRSÇ> Acesso em 09 de out.
de 2023

Nogueira Monica, 2022,


TCC, Disponível em:
<https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/4614/1/2009_MonicaCeleidaRabelo
Nogueira.pdf> Acesso em 9 de out. de 2023

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