Você está na página 1de 21

XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-

ALAS BRASIL. 04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI.

POLÍTICAS PÚBLICAS- GT 27

Associação e comunidade em terra quilombola: em questão participação e a


inclusão em redes pelo direito a políticas.

Adele Teixeira dos Santos, UFPA, adeleteixeira@yahoo.com.br

Maria José da Silva Aquino, UFPA, mjaq@uol.com.br

1
Associação e comunidade em terra quilombola: em questão participação
e a inclusão em redes pelo direito a políticas

Neste artigo abordaremos a constituição de prática associativa como


estratégia na organização, apresentação de demandas ao poder público local e
regional inscrita no quadro de um movimento por reconhecimento e conquista
de direitos por grupos que se identificam como remanescentes de quilombos.
Como referência empírica estamos considerando a criação e atuação da
Associação “África e Laranjituba”, que reúne residentes de duas comunidades
localizadas na região do Baixo Caeté, município de Moju (PA), estado do Pará.
Através de relatos colhidos entre os residentes busca-se compreender os
desafios em construir condições de acesso a políticas pela participação em, e
através de, uma associação em contexto de valorização da governança
colocada como facilitadora da conquista e consolidação de direitos sociais e
políticos.

1. Organização em comunidades, e daí em comunidades


quilombolas

No relato do Sr. Juvêncio de Moraes, presidente fundador da


associação, filho de pai professor não diplomado que havia passado pelas
Comunidades Eclesiais de Base (CEB), a associação foi fundada em 12 de
outubro de 1980, data facilmente lembrada, pois era domingo, dia do Círio de
Nazaré. E para os paraenses, de acordo com Sr. Juvêncio, acontecimentos em
dia de Círio são ainda mais facilmente lembrados. Na localidade, hoje
denominada África, havia apenas quatro casinhas cobertas de palha e mais
nada e, no intento de melhorar as condições de vida começou-se a falar em
fundar uma comunidade.

Em outro povoado, conhecido como vila do Caeté, próximo à África,


ocorreu a primeira reunião das famílias. Um grupo de cinco pessoas propõe
constituir o povoado enquanto uma comunidade. Mesmo sem se saber muito
bem o que vinha a ser uma comunidade. Acompanhando os passos do pai, Sr.
Juvêncio de Moraes passa atuar na mobilização e assim foi eleito
representante das famílias. Com a ajuda de uma professora, a Osmarina,
moradora antiga da localidade, que fazia a leitura dos documentos para seu

2
Juvêncio de Moraes, que na altura não sabia ler, foi procurando meios para
superar as dificuldades, principalmente as de acesso à terra para cultivo,
enfrentadas pelas famílias do lugar, ligadas majoritariamente ao trabalho na
agricultura em um território de difícil acesso cercado por igapós (áreas
alagáveis de floresta). Aliás, de acordo com a literatura especializada, as
dificuldades de acesso, o isolamento, dos territórios hoje reconhecidos como
remanescentes de quilombos, constituem características deste tipo de
territorialização. Para se proteger de perseguições as fugas realizadas pelos
escravos se davam normalmente na direção de lugares bem afastados onde se
pudesse organizar a vida a partir da agricultura, da pesca, do extrativismo.

Cinco anos depois de iniciada essa atuação pela organização dos


povoados em comunidade, a mobilização liderada pelo Sr. Juvêncio recebe
apoio de um padre e, nesse contato, precisando tomar notas, interpretar peças
jurídicas, relativas ao direito sobre a terra este líder vai adquirindo domínio na
leitura e na escrita. Neste lugar, rodeado de mata de igapó, onde moradores
dizem que seus antepassados chegaram há pelo menos trezentos anos, as
dificuldades fizeram com que o projeto de estabelecimento e desenvolvimento
da comunidade sofresse certo abandono. Demorou, assim, mais cinco anos,
para ser criada a comunidade de África. Ao mesmo tempo começou a ser
cogitada, em uma localidade próxima, chamada S. Sebastião, a criação da
comunidade Laranjituba.

O igapó que dificultava o acesso à comunidade e certas disputas entre


grupos que procuravam defender direitos pelo reconhecimento da identidade
quilombola, representados pela pessoa do Sr. Juvêncio, e outros, contribuíram
para a morosidade a organização das comunidades de acordo com premissas
eclesiais. Mas, a presença e o desejo de doze famílias no processo de
fundação da comunidade África é retomado com a constituição de
representantes e as assinaturas das famílias em um documento formulando as
suas necessidades. Este documento foi encaminhado para uma outra
localidade, a de Nossa Senhora Aparecida, que com ajuda de um padre, passa
a ser em 1991 reconhecida também comunidade.

3
É construído então um barracão para instalação da sede de uma
associação dessas comunidades, consolidando-se assim um reconhecimento
específico às pessoas e ao lugar. Dividindo o trabalho entre o roçado e as
responsabilidades como presidente da associação em 1998/99, lembra o Sr.
Juvêncio que estava no roçado quando, certo dia, o Sr. Benedito amigo da luta
pelo reconhecimento dos direitos das famílias chega para informar da
necessidade de participar de uma conferência da CPT (Comissão Pastoral da
Terra) que trataria de explicar o que era quilombo. Até então não se sabia por
ali do que se tratava, portanto, não se reconheciam como quilombo.

Então, passam a ter conhecimento do artigo 681, da possibilidade legal


de titulação coletiva da terra, da ação do ITERPA (Instituto de Terras do Pará)
que fez o levantamento técnico da área. É neste momento que passam a
entender e a se reconhecer como uma comunidade de quilombo. Os encontros
com outras comunidades engajadas no chamado “movimento negro” de outros
municípios, como de Baião, do Acará, em processo de luta por um
reconhecimento que já contava naquele momento com uma federação das
associações de comunidades de remanescentes de quilombos, a Malungo e
com o CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará), ambas
instituições comprometidas com a conquista e o reconhecimento dos direitos
sociais, a melhoria das condições de vida das comunidades quilombolas.

2. A Associação do Baixo Caeté, África e Laranjituba e seus


projetos

A associação do Baixo Caeté, África e Laranjituba é institucionalizada


em 2001, e em 2002 recebe Iterpa (Instituto de Terras do Pará) a titulação da
terra que, em um primeiro momento, é obtido como título individual. Pouco
tempo depois, para assegurar o direito ao território, foi alterado para a titulação
coletiva de território quilombola. É desse momento também a instalação pela
prefeitura de Moju de sistemas de abastecimento dágua para as comunidades,
África e Laranjituba. A abertura de um ramal de 9 quilômetros para acessar a
estrada asfaltada mais próxima, que leva ao centro de Moju e Abaetetuba, foi

1
Artigo 68 da Constituição Federal de 1988. Decreto 4887. Ordenamento jurídico específico
das Comunidades Quilombolas.

4
realizada em uma área antes ocupada por mata fechada melhorando as
condições de entrada e de saída para as comunidades. De 2001 a 2005, a
Associação tendo ainda então o Sr. Juvêncio como presidente, promove a
construção de duas casas de farinha.

Assegurada a titulação coletiva a Associação já não recebe diretamente


do governo federal os recursos. Agora os recursos são gerenciados pela
prefeitura municipal de Moju. Embora, no documento expedido pelo governo do
Estado do Pará, oficializando a titulação coletiva da terra, seja referido que o
território está nos limites municipais de Abaetetuba (V. anexo 1).

Antes do término da presidência da associação seu Juvêncio inaugura a


luta pela implantação de uma escola publica para as comunidades, mas
somente após oito anos de espera, o benefício retido em órgão federal, foi
desbloqueado para uso das comunidades.

Na atuação da Associação de África e Laranjituba destacam-se o projeto


sociocultural “Filhos do Quilombo”, iniciado em 2008, e o projeto “Casa de
Cerâmica”. No primeiro projeto, de acordo com a atual direção, o compromisso
é com a manutenção da identidade cultural das duas comunidades
quilombolas, África e Laranjituba, respectivamente representadas por
presidência e coordenadores diferenciados, atuando na administração e/ou
divulgação do lugar, de suas características ambientais, sociais e culturais, no
desenvolvimento de atividades econômicas, em benefício das famílias.

- Projeto Casa de Cerâmica

O “barracão”, feito de madeira, chão batido, cobertura de palha, é o centro


de atração onde as famílias se reúnem para a produção do artesanato,
oportunidade percebidas por elas como fortalecedoras de seus laços culturais e
sociais. Em dias de chuva as pessoas reunidas no “barracão” precisam
trabalhar também para evitar prejuízos na produção do artesanato. As peças
de barro precisam secar antes de ir ao forno. Garantir essa secagem pelo
vento, proteger da umidade, em uma estrutura vulnerável a passagem da água
da chuva é um desafio constante. Mas é também no “barracão que as pessoas
se reúnem para fazer refeições, e onde também os mestres da música dão

5
vazão a seus talentos no manuseio dos instrumentos, no canto, em meio a
conversas.

O ”barracão” é passagem obrigatória no roteiro dos visitantes das


comunidades. Lá se demonstra o processo de “fazedora” da bola de barro que
depois é transformada em utensílios de cozinha, principalmente panelas. É
também apresentado aos visitantes o lugar de retirada do barro, seu
afinamento e os instrumentos utilizados para os desenhos e os acabamentos
das peças. Nessa passagem pelo “barracão”, os visitantes interagem com os
habitantes locais e, através da compra de seus produtos, contribuem com o
projeto do artesanato de panelas de barro e a Associação.

Promovem-se novas práticas, reorganizam-se grupos em suas bases


sociais e culturais e isso em um movimento no qual, de acordo com Manuel
Castells (2001, p. 23) “em termos mais genéricos, pode-se dizer que
identidades organizam significados, enquanto papéis organizam funções”.

Contudo, verifica-se que a participação nos trabalhos das Associações, e o


interesse das famílias de comunidades quilombolas depende dos laços de
parentesco com coordenadores e outros participantes mais ativos nos
movimentos. Mesmo que, de acordo com o coordenador do projeto das
panelas de barro, “todos são convidados a integrar a casa de cerâmica, no
entanto nem todos querem participar”. O que é revelador também da
diversidade de atividades realizadas pelas famílias, como o trabalho do roçado,
o que garante certa renda com a venda do excedente para o auto-consumo.

- Filhos do Quilombo

O projeto social Filhos do Quilombo, criado em 2008, pelos coordenadores


Raimundo Magno e Claudia Santos também está inserido no papel social de
fortalecimento da luta social por ajustes das políticas públicas para as
comunidades que por muito tempo lutou sozinha, sem alcançar visibilidade
social, porem atualmente o espaço coletivo das comunidades de
remanescentes de quilombo projetou-se para as redes sociais que influenciam

6
não somente a interação familiar, mas todas as outras vertentes que incluem
também a economia de mercado.

Atualmente vem trabalhando na reformulação das atividades paras as


comunidades, como por exemplo, roda de conversa que discute de maneira
descontraída e próxima da realidade sobre a vida e história das comunidades,
oficina de informática, de tranças nos cabelos, danças, artesanato e a inserção
de jovens que interagem com as atividades de dança, música, capoeira além
de montar o sistema de som e cinema concedido através de parcerias com o
Ministério da Cultura com o programa Cineclube.

3. Comunidades em Rede e políticas públicas

África e Laranjituba está articulada a outras cinco comunidades quilombolas


da região do Baixo Caeté em Moju (v. situação na ilustração a seguir). São
estas, a Associação Quilombola da Vila Caeté (AQCAETÉ), a Associação
Quilombola de Moju-Miri (AQUIMOMI), a Associação Quilombola de Samaúma
(AQUISU), a Associação Quilombola de CACOAL e a Associação Quilombola
de Jambuaçu.

Fonte: Reprodução autorizada a partir de material de divulgação da Associação África e Laranjituba.

7
A construção dessa rede tem sido referida pelos dirigentes como estratégia
de fortalecimento da atuação do projeto do artesanato em cerâmica enquanto
alternativa econômica e, ao mesmo tempo, resgate de um traço cultural que
vinha se perdendo, importante na afirmação de uma identidade específica,
participando de um processo de territorialização de famílias que passam a se
nomear como quilombolas. De acordo com a Sra. Catarina (liderança feminina
do projeto social Filhos do Quilombo) “a gente sabia que nossos antepassados
faziam as panelas para utilizar no uso diário, mas não sabíamos como”.
Através de parceria estabelecida com agentes governamentais e não-
governamentais, foi organizada esta atividade que, ainda possibilita certa renda
às famílias participantes.

Referir a função social das redes sociais nas comunidades parece


pertinente uma vez que observa-se serem atualmente as atuações isoladas
das Associações pouco eficazes. As exigências colocadas a estes atores
quanto a participar da governança dos territórios leva a cooperações pela
aquisição de competências na elaboração e coordenação de projetos, na
captação de recursos, no acesso a políticas públicas. Para esses fins não tem
sido bastante a instituição de personalidades jurídicas às associações. Muitos
projetos sociais irradiam-se pela partilha de códigos, de mecanismos de
produção dos projetos sociais em dinâmicas pela inclusão no acesso a politicas
públicas.

O cenário sociopolítico das comunidades de África e Laranjituba vem-se


reconfigurando em termos de uma governança local que se traduz através do
maior engajamento dos atores sociais representantes das comunidades, como
é o caso das associações e dos projetos. O que traz para o debate as relações
entre esses atores locais, com ONGs, com os poderes públicos em um
contexto de ampliação e diversificação de demandas sociais, em um contexto
que se afirma uma reestruturação do Estado no sentido de menos regulação,
de abertura para a oferta e gestão de bens públicos por agentes da sociedade
civil organizada que, por um lado, reivindica, e por outro, operacionaliza
políticas públicas em resposta a pressões de grupos sociais minoritários em
suas lutas por direitos sociais e políticos, o que parece estar se fortalecendo
nos últimos vinte anos.

8
Porém a ausência de serviços públicos de saúde, educação e transporte
adequados para as comunidades continua sendo um gargalo. Bem como a não
promoção de oportunidades de trabalho, incentivos à agricultura familiar à
geração de renda também não se verificam na medida das necessidades
apresentadas. Grande parte das pessoas estão em empregos temporários ou
informais. O serviço de moto-taxi, tem se expandido, como alternativa de
transporte e de meio de vida, sobretudo para os jovens rapazes. Ainda que ali
sejam identificados pelo projeto sociocultural Filhos do Quilombo, potencial
para o desenvolvimento de atividades de ecoturismo e para o desenvolvimento
da agricultura, sobretudo das culturas de cacau, cupuaçu e mandioca.

As residências, pequenas casas situadas em bosques, pequenos sítios que


margeiam o ramal, compõem um cenário no qual se destaca uma escola de
ensino médio em meio a uma vida de laços de parentesco próximos, de uma
vizinhança atenta a um movimento nada intenso de chegada e de saída de
pessoas. Sabe-se bem quem chega e quem sai.

A maioria das casas não possui fossas sépticas e, para obter cuidados de
saúde as pessoas dirigem-se aos municípios de Moju, Abaetetuba ou Belém.
Afastamentos ocasionais por problemas de saúde se constituem em
interferências importantes na vida das famílias que pouco dispõem para esses
deslocamentos sempre caros em relação às suas condições econômicas
marcadas por rendimentos irregulares. Traços de uma ruralidade, em África e
Laranjituba, a guardar íntima correspondência com uma história de
desigualdades profundas, na apropriação, produção e distribuição da riqueza
no Brasil, na qual as populações chamadas de tradicionais, entre as quais as
de descendência africana, encontram-se integradas de modo desfavorável.

Sobretudo quando se trata das populações tradicionais habitantes de


mundos rurais na Amazônia que têm perdido suas terras para projetos
empresarias do sul e do sudeste do país, como os da agroindústria, da
madeira, da mineração, ramos de negócios identificados como
desenvolvimentistas, modernizadores. Resulta disso, como no caso da região
da qual faz parte o município de Moju, impactos sociais e ambientais de
elevada ordem. Para as populações rurais essa modernização tem significado

9
perda de suas terras, conflitos, violência; para os empresários, a expansão de
seus lucros (SACRAMENTO, 2009).

A partir de um contexto de redemocratização no Brasil, mas também de


contenção dos investimentos do Estado em infraestrutura, a crítica
ambientalista sobretudo às queimadas e ao desflorestamento na Amazônia,
com o fim dos governos militares, a aprovação de uma nova constituição,
conquista espaço na agenda pública políticas de promoção dos direitos sociais
e do chamado desenvolvimento sustentável. Para tal sendo valorizada, a partir
do final dos anos de 1980 sobretudo, a participação de uma sociedade civil
organizada propositiva, estimulada à colaborar, inclusive na gestão dos
territórios, na organização e no atendimento de demandas sociais e ambientais
locais.

É nesse quadro que se expande o número de atores coletivos suas ações e


as redes sociais. Aí se colocando tais atores, entre eles as associações,
enquanto proponentes e executores de ações locais pela via dos projetos
sociais submetidos a editais públicos, que privilegiam propostas que traduzem
mais amplamente a competência técnica, a especialização, a intimidade com
as exigências burocráticas. O que não depende somente da criação de uma
associação, em um primeiro momento sempre colocada como a fase mais
difícil da organização, a única condição para trazer os projetos para as
comunidades.

Em África e Laranjituba vê-se todo um esforço para a aquisição de


competências na busca de parcerias, de diálogo com o poder público. Adultos
entre 38 e 55 anos voltam a freqüentar a escola de ensino médio no período
noturno, as crianças são estimuladas a freqüentar as aulas de informática
ministradas pelos jovens do lugar que foram treinados por uma entidade sem
fins lucrativos que possui sede em Belém, a Fundação Curro Velho.

Do paradigma do quilombo afastado de todos os circuitos democráticos ou


como trata o autor Paulo Henrique Martins (2001, p.15) da democracia
participativa, que inclui “fóruns sociais, mobilizações locais, orçamentos
participativos, conselhos municipais”, procura-se parece se afastar. Em
articulações, pelos projetos junto a instituições e agências interessadas no

10
desenvolvimento dessas comunidades, atualmente o caso com o Instituto de
Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (IDEFLOR) e com o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

O SEBRAE, uma vez acionado pela Associação de África e Laranjituba,


tornou-se parceiro do projeto social “Filhos do Quilombo”, ao qual se vinculam
as iniciativas para a qualificação das famílias das comunidades para o trabalho
com oficinas de cerâmica, e para a inserção dos produtos no circuito comercial,
em feiras culturais em toda região norte.

Essa via de cooperação, preliminarmente, foi construída através da


inserção dos coordenadores e membros das comunidades quilombolas África e
Laranjituba em circuitos de discussão social entre grupos do terceiro setor e
agentes governamentais que flexibilizam o cenário das políticas públicas para a
micro sociedade.

As novas práticas sociais das comunidades quilombolas de África e


Laranjituba possibilitam dimensionar e fortalecer as redes sociais ou sócio
humanas para além do locacional que pouco muda o retrato social das
comunidades. Pois, a partir de 2008 com a efetivação e geração de parcerias,
as comunidades passam a sentir a necessidade de exteriorizar-se e
transformar seu espaço coletivo. Os laços de parentesco são fortalecidos e
também assim como o território a identidade do grupo étnico permanece, mas
o estabelecimento de outros laços com outras esferas políticas também
corrabora com a manutenção do grupo.

A importância do entendimento das políticas públicas voltadas para suprir


as necessidades de uma boa qualidade de vida é imprescindível para gerenciar
as comunidades. Nesse sentido a associação e o projeto são vias de
protaganismo das famílias que passaram a receber visitantes com a proposta
de ecoturismo comunitário além de participarem de eventos, encontros,
palestras, fóruns que relacionam as realidades dos quilombos com as políticas
públicas como forma de pressionar ações públicas mais eficazes para suas
realidades, ou melhor, sair da invisibilidade (CARDOSO, 2010).

De fato, o movimento negro recente trouxe para a cena brasileira uma


agenda que alia política de reconhecimento (de diferenças raciais e

11
culturais), política de identidade (racialismo e voto étnico), politica de
cidadania (combate à discriminação racial e afirmação dos direitos civis
dos negros) e política redistributiva (ações afirmativas ou
compensatórias).

Uma pequena lista das reivindicações do movimento negro, nos últimos


quinze anos, dá uma ideia de sua abrangência e radicalismo. Em
primeiro lugar, o MNU recusou a data oficial de celebração da
incorporação dos negros à nação brasileira, o 13 de maio, data da
abolição da escravidão, passando a festejar o 20 de novembro, dia da
morte de Zumbi, que chefiou a resistência do quilombo dos Palmares
em 1965; em segundo, passou a reivindicar uma mudança completa na
educação escolar, de modo a extirpar dos livros didáticos, dos
currículos e das práticas de ensino os estereótipos e os preconceitos
contra os negros, instilando, ao contrário, a autoestima e o orgulho
negros; em terceiro lugar, exigiu uma campanha especial do governo
brasileiro que esclarecesse a população negras (pretos e pardos) de
modo a se declarar “preta” nos censos demográficos de 1991 e 2000;
em quarto lugar, reclamou e obteve a modificação da Constituição para
transformar o racismo em crime inafiançável e imprescritível, tendo,
posteriormente, conseguido passar legislação ordinária regulamentado
o dispositivo constitucional; em quinto lugar, articulou uma campanha
nacional de denuncias contra a discriminação racial no país, pregando
e alcançando, em alguns lugares, a criação de delegacias especiais de
combate ao racismo; finalmente, concentra-se, hoje em dia, em
reclamar do governo federal a adoção de políticas de ação afirmativa
para o combate das desigualdades raciais. (GUIMARÃES, 2001, p.
135).

Dois aspectos que acrescentam na interação e fortalecimento das redes


socais verificados nas comunidades são: a) a herança política dos movimentos
sociais que trouxe a base para o fortalecimento das redes sociais que insere
“novas pautas reivindicatórias, com teor mais flexível, de conhecimento
histórico local e regional que formam novos agentes sociais” (RAMALHO, 2005,
p, 511), engajados em contribuir com as instituições públicas para desenvolver
práticas organizacionais, sem deixar de lado o ordenamento de suas ações ou
fiscalização da máquina pública, passando a atuar mais efetivamente na
realidade local; b) a integração dos mais velhos nos eventos das comunidades
que revela a importância da continuidade da representação da cultura
quilombola para as famílias, para as crianças e os jovens, que interagem no
tecido social das comunidades como o corpo do quilombo e auto identificam-
se.

Nesse sentido é importante frisar o papel social de resgate de identidade


para as populações tradicionais, pois a autoidentificação ou autodenominação

12
garante a terra, porém é necessário fazer parte da comunidade, do território
como essência e ser acionado como ator social com capacidade de promover e
provocar ações sociais que fortaleçam as comunidades.

A mudança de concepção de liderança é determinante para as


comunidades e adiciona para a base familiar das comunidades algo novo como
articulações realizadas pelo novo e prático, através dos colaboradores fora das
comunidades, ou melhor, os antigos não deixam de protagonizar a
comunidade, mas concebe aos coordenadores do projeto social Filhos do
Quilombo, ou seja, aos mais novos reafirmarem novos arranjos sociais.

A concordância em dirigir as comunidades entre os mais novos e mais


antigos rompe paradigmas e traz novas possibilidades de estar inserido no
mundo global, pois a concepção da Natureza político-doméstico da coesão em
povos tradicionais na qual indiscutivelmente não haveria outra possibilidade de
autoridade se não ao sistema de arranjo realizado por um “certo homem de
uma certa idade, de um certo clã, de uma certa classe, que toma assento no
Conselho, em determinado lugar” (MAUSS, 2001, p. 105) traz para nossa
realidade flexões sociais que inserem o coletivo na afirmação da vida cotidiana
e profissional que passa a ser um elemento forte para as famílias que
compõem o quilombo.

4. Disputas entre municípios: de quem é o território quilombola?

Contudo a problemática da conjuntura territorial atual é velada, pois ao


analisar as comunidades de África e Laranjituba elas autodeclaram-se
pertencer ao município de Moju/PA, no entanto ao verificar dados oficiais como
do ITERPA a associação está declarada em termos oficiais pertencendo ao
município de Abaetetuba/PA, são questões que remetem disputa pelo controle
de colégios eleitorais, mas pouco tratado nas comunidades.

A duplicidade de territorialidade também implica na dificuldade ao acesso às


politicas públicas municipais, pois ao longo dos 300 anos nunca houvera
questionamentos sobre o município ao qual pertenceria estaria as
comunidades, ou melhor, no plano de identidade territorial e cultural as famílias
reconheciam-se como mojuenses, porem a partir de 2000 ocorre o

13
levantamento do censo demográfico pelo IBGE2 das comunidades quilombolas
que conclui que as famílias estariam alocadas ao município de Abaetetuba
ocasionando um grande debate a que município pertencer, Abaetetuba ou
Moju? Sendo relevante frisar que, quando perguntadas, em muitas falas das
famílias dizem-se mojuense de raiz.

O recorte imaginário de território na ancestralidade nunca ocasionou


problemas, o marco era os igarapés Cabrestro e Mocajatuba que também
traçam o município de Moju, mas com a possibilidade de investimentos e
embates políticos a composição atual estaria ligada aos interesses de 3 (três)
municípios que apóiam cada comunidade corroborando com a seguinte
formatação: são 20 (vinte) comunidades, nas quais 3 (três) pertenceriam a
Barcarena, 16 (dezesseis) a Moju e 1 (uma) a Abaetetuba, todos com
interesses diferenciados para as comunidades. Segundo a proximidade das
linhas limítrofes entre Moju e Abaetetuba configura-se a disputa mais acirrada3.

2
Audiência Pública sobre os Limites de Moju e Abaetetuba, realizada em 13/12/2011 (Texto
retirado do site da ALEPA) As linhas limítrofes entre as cidades de Moju e de Abaetetuba foram
tema de uma audiência pública na Câmara Municipal mojuense, realizada no último dia
primeiro de dezembro. Uma comissão de moradores de nove comunidades participou da
audiência. Preocupados com a discussão, o prefeito Iran Lima e a deputada Nilma Lima
estiveram entre as autoridades participantes. A discussão de anos foi apresentada a Hélio
Silva, técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Moradores das
comunidades de Caeté, Aguapé, Santa Cruz, Cupuaçu, Urubuputaua, Pau-da-Isca,
Camurituba-Beira, Camurituba-Centro e Camurituba-Baixo reclamaram que pelo Censo de
2000, o IBGE descreveu que as áreas das comunidades pertenciam à Abaetetuba. Os limites
físicos entre os dois municípios eram feitos por meio de uma linha imaginária, pois o GPS não
era utilizado como recurso técnico.
Para Vanderson Silva, representante de uma das comunidades, o IBGE não considerou
aspectos importantes no momento de delimitar. Teria deixado de fora questões como a crença
e a cultura do município de Moju. ”Até mesmo a assistência básica de saúde e serviço de
educação são prestados até hoje pela prefeitura de Moju”, afirmou Vanderson. Perto de 200
pessoas participaram da audiência.
‘‘Durante esses 11 anos acompanhamos a situação das nove comunidades porque temos um
compromisso com nossa população. Mesmo sem orçamento para desenvolver a vida desses
seis mil habitantes, fazemos um esforço”, defendeu Iran Lima. Na luta por soluções, líderes
comunitários foram até a Assembléia Legislativa do Pará. A deputada Nilma Lima preparou
uma audiência com o presidente da Comissão de Divisão Administrativa do Estado e Assuntos
Municipais, deputado Pio X e representantes do IBGE.

3
Nota retirada do site oficial da Prefeitura de Abaetetuba “Esta semana, no dia 29 de fevereiro
a comunidade quilombola do Caeté recebeu com festa a prefeita Francineti Carvalho, desta vez
junto com o Sec. De Educação para assinar o “contrato de concessão de uso” de um ônibus
escolar para a Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo de Caeté, ao mesmo
tempo que anunciou a construção de uma nova Escola Polo na Localidade.

14
Mas, segundo o coordenador, o projeto ultrapassa essa disputa politica e
territorial e assume as atividades para as comunidades através da articulação
do projeto, e desta forma a visibilidade do projeto aproximou a associação das
comunidades, que estava desgasta por falta de operacionalidade social, ao
acionar novas parcerias ou ampliação da rede social, o projeto social Filhos do
Quilombo mescla a coordenação com geração de renda e resgate da cultura
local.

A atuação é percebida da seguinte forma, quem articula com informação e


outras redes sociais é o Projeto social Filhos do Quilombo, quem recebe
visibilidade das atividades sociais, é a associação África e Laranjituba, e dessa
forma são retomadas as atividades no barracão das comunidades com
projetos, oficinas, encontros, datas comemorativas e religiosas, enfim são
ações que movimentam as comunidades para atuarem na diversificação das
atividades e ampliação das redes sociais e geração de renda.

A divisão territorial trouxe problemas sociais para as comunidades como


perda de identidade cultural, desagregação das famílias por influências político-
partidárias, ausência de investimento publico em escolas, unidade de
referencia de saúde, conservação das estradas, que não deixam de ser
reinvindicações antigas e constantes, mas que desde 2000 vem acentuando-se
por conta da duplicidade municipal que está sem definição no plano legal e
pouco investiu-se esforços do poder público local para reverter a situação.
Contudo, na outra via, na tentativa de superação, a rede social construída
através da atuação do projeto “Filhos do Quilombo” as comunidades de África e
Laranjituba estão engajadas no fortalecimento do alicerce social entre o projeto
e a associação na tentativa de cooperar com as comunidades para o
desenvolvimento socioeconômico.

Nesta nova conjuntura social é verificado o novo papel social das


comunidades quilombolas que iniciam um movimento de luta social por
fomento e efetivação das politicas públicas que no espaço de ambientalização

A nova escola atenderá as comunidades do Caeté, Laranjituba, Cruzeiro, e África, e terá cinco
salas de aulas, laboratório de informática, quadra poliesportiva, sala de lazer, além de outras
dependências necessárias para um bom funcionamento. Cerca de 500 educandos passarão a
estudar na Escola Polo, resolvendo um problema antigo da comunidade, que era ter uma
escola de qualidade (...)”. Publicado no dia 01/03/2012 – última atualização 02/03/2012.

15
(TEISSERENC, 2010, p. 155) acabam protagonizando reflexões e rupturas da
exclusão, e iniciam a transformação através, não somente da reivindicação ao
poder público, mas com a constante introdução da racionalidade a partir da
realidade local que exige dos novos agentes mobilizarem as ações e
desenvolverem competências para assegurar direitos políticos e atuarem junto
aos gestores públicos “o que facilita as iniciativas do tecido associativo local e a
tendências à institucionalização dos debates ambientais (graças, em particular,
à criação de conselhos deliberativos locais)” (TEISSERENC, 2010, p. 175).

A consolidação tanto do projeto quanto da associação para as comunidades


quilombolas é redefinida a partir da afirmação identitária enquanto grupo étnico
que traz na história de reconhecimento social o poder público como mantedor
de projetos sociais pouco identificados com as aspirações locais, sendo
emergenciados por soluções que atomizavam os atores locais em grupos não
desenvolvidos e que atrasariam a economia local. Porém, os novos
movimentos sociais (GOHN, 1997) e o novo caráter de fazer parte das ações
do estado preconizou a mudança politica e social do modo de agir das
comunidades tradicionais que passam a manifestar suas reivindicações através
de ações coletivas que movimentam espaços públicos dantes não acessados.

5. Conclusões parciais...

A dinâmica das redes sociais que envolvem as comunidades de África e


Laranjituba são articulações que estão sendo construídas a partir dos avanços
e entraves tanto da associação como do projeto sociocultural que passam a
compreender e constituírem-se enquanto instrumentos de mobilização das
comunidades.

A participação das comunidades em novas práticas sociais, como parcerias


com agentes governamentais e não-governamentais têm contribuído com os
avanços sociais e geração de renda para as comunidades.

Contudo a questão territorial, que envolve os municípios de Moju e


Abaetetuba pode significar entraves sociopolítico e socioeconômico para as
comunidades, que atentam para um esforço coletivo para redirecionar fomento
dos governos municipais. A explicação de adensarem os esforços para

16
construírem e fortalecerem redes sociais passa a ser um caminho de inserção
social que, no primeiro momento, não compromete o plano politico da questão.

Isso implica em duas concepções, primeiro o entendimento dos


coordenadores do projeto que é a manutenção da cultura quilombola e a
captação de recursos para as comunidades, e a segunda é a inexpressividade
política do representantes politico das comunidades, que ao longo de 10 anos
não reverteram o título de reconhecimento de domínio coletivo das
comunidades de África e Laranjituba, para o município de Moju no qual
historicamente e territorialmente são constituídos.

O escopo do artigo é elucidar a inserção das comunidades quilombolas em


novas referencias de atuação social que através das redes sociais são
evidenciadas com as mudanças de atuação do coletivo. Passando a atuar
como agente mobilizador das políticas públicas. Redirecionando a gestão
pública para atuações que realmente contribua com o desenvolvimento
socioeconômico das comunidades quilombolas.

A flexibilização do espaço político do Brasil contemporâneo, com o


processo de redemocratização da política, passa a (re)construir realidades
sociais comprometidas com o povo brasileiro que apesar de anos de historias
politica e social descontruídas, através do domínio de classes que
indiscriminadamente assolam à politica nacional com déficits sociais como
concentração de renda, desníveis regionais de desenvolvimento, fraca politica
de direitos sociais, entre outros, são indicadores sociais que nas populações
pobres, rurais, tradicionais e periféricas dos centros urbanos são sentidas
inevitavelmente, porem da luta social da redemocratização do país as pautas
da sociedade civil, com suas pluralidades, passam a ser adicionadas as
politicas publicas.

Nesse sentido os atores sociais passam a protagonizar o espaço


sociopolítico com atuação das práticas democráticas que englobam o local, o
regional e o global. Nesse processo a ambientalização das comunidades
quilombolas de África e Laranjituba passa a ser engendrada nas necessidades
locacionais como o (re)aprendizado da técnica de fazer as panelas de barros,
no desenvolvimento das atividades de turismo de base local, o que implica no

17
melhor gerenciamento do potencial natural das comunidade; além de promover
o alicerce com redes sociais produtivas e pragmáticas para as comunidades.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Luís Fernando Cardoso. Sobre imagens e quilombos: notas a


respeito da construção da percepção acerca das comunidades
quilombolas. Instrumento: R. Est. Pesq. Educ. Juiz de Fora, v. 12, n. 1,
jan./jun.2010.

CASTELLS, Manuel, 1942 – O poder da identidade / Manuel Castells;


tradução Klauss Brandini Gerhardt. ____ ( A era da informação: economia,
sociedade e cultura; v 2). Editora PAZ E TERRA S.A, 2001.

GOHN, Maria da Glória. Teorias dos Movimentos Sociais: Paradigmas


Clássicos e Contemporâneos. Ed. LOYOLA, São Paulo, Brasil, 1997.

GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. A questão racial na politica brasileira


(os últimos quinze anos). Tempo Social; Revista de Sociologia. USP,
S.Paulo, 13 (2): 121-142, novembro, 2001.

MAUSS, Marcel. Ensaios de Sociologia, 1872-1950. Ed. Perspectiva S.A. 2ª


Ed., 2001.

MARTINS, P. H. Cidadania, Políticas Públicas e Redes Sociais. Org. Sílvia,


Portugal e Paulo Henrique Martins. Imprensa da Universidade de Coimbra,
março 2011.

RAMALHO, José Ricardo. Novas Conjunturas Industriais e Participação


Local em Estratégias de Desenvolvimento. DADOS - Revista de Ciências
Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 48, nº 3, 2005, pp. 491 a 524.

SACRAMENTO, Elias Diniz. A luta pela terra numa parte da Amazônia: o


trágico 07 de setembro de 1984 em Moju e seus desdobramentos / Elias
Diniz Sacramento. – Belém: Açaí, 2009.

TEISSERENC, Pierre. Ambientalização e Territorialização: situando o


debate no contexto da Amazônia Brasileira. ANTROPOLITICA; tradução
Maria José da Silva Aquino. Niterói, n 29, p 153-179, 2 sem, 2010.

18
Anexo 1

(Conteúdo digitado a partir do documento oficial expedido pelo ITERPA)

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

SECRETARIA ESPECIAL DE PRODUÇÃO

INSTITUTO DE TERRAS DO PARÁ

TÍTULO DE RECONHECIMENTO DE DOMÍNIO COLETIVO que o Governo do Estado do


Pará, através do Instituto de Terras do Pará – ITERPA, outorga ás COMUNIDADES
LARANJITUBA E ÁFRICA, através da ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DO BAIXO CAETÉ –
COMUNIDADES DE LARANJITUBA E ÁFRICA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o nº 04.778.081/0001- 06, área de terras localizadas no município de
ABAETETUBA – ESTADO DO PARÁ.

O GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, representado pela Excelentíssima Senhora


Governadora do Estado, ANA JULIA CAREPA e o INSTITUTO DE TERRAS DO PARÁ –
ITERPA, representado pelo seu Presidente, JOSÉ HEDER BENATTI, com base no
disposto dos artigos 215 e 216 e 66 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da Carta Federal; dos artigos 285, 286 2 322da Carta Estadual, Lei Estadual nº
6.165/1998, Decreto Estadual nº 3.572/1999 e Instrução Normativa nº 02/1999-
ITERPA, RECONHECE O DOMÍNIO de uma área de terras com ocupação e uso por
famílias remanescentes de quilombos das comunidades de LARANJITUBA e ÁFRICA, no
município de ABAETETUBA, expedindo TÍTULO DE RECONHECIMENTO DE DOMINIO
COLETIVO, gravado com CLÁUSULA DE INALIENALIBILIDADE, em nome da ASSOCIAÇÃO
QUILOMBOLA DO BAIXO CAETÉ- COMUNIDADES DE LARANJITUBA E ÁFRICA, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 04.778.081/0001-06, legalmente
representada pelo seu Presidente, senhor Albertino de Moraes, portador do RG nº
3750019 (2º via)- SSP/PA e CPF nº 671.594.002-91.

A área de terras objeto deste reconhecimento, foi apurada na demarcação


administrativa através do processo nº 2006/424.891, localizada em ambas as margens
do ramal e do igarapé Caeté, município de ABAETETUBA, com área total de
1.108,1837ha (mil, cento e oito hectares, dezoito ares e trinta e sete centiares),
perímetro de 16.581,040 m, na forma de um polígono IRREGULAR de 19(dezenove)
lados, tendo como limites e confrontações: Ao Norte: com terras das Comunidades
Quilombolas “Samaúma” e “Espírito Santo” e quem de direito; A Leste: com terras da
comunidade Quilombola “Espírito Santo”; Ao Sul: com terras da comunidade
Quilombola Moju-Miri: e, A Oeste: terras ocupadas por Benedito Gomes, “Vila Flor”.
Descrição topográfica (memorial descritivo): “Inicia-se a descrição deste perímetro no
vértice CA8M-2598, de coordenadas N 9.811.03,911 m. e E 768.569,984 m., situado no
limite com COMUNIDADE QUILOMBOLA ESPIRITO SANTO; deste, segue com azimute

19
de 105º15’46” e distancia de 783,57 m. confrontando neste trecho com a
COMUINDADE QUILOMBOLA ESPIRITO SANTO, até o vértice CA8M-2608, de
coordenadas N 9.810.824.638 m. e E 769.325,914m.; deste, segue com azimute de
173º 27’37” e distancia de 1.972,17 m, até o vértice CA8M-2607, de coordenadas N
9.808.865,305 m. e E 769.550,628m.; deste, segue com azimute de 171º 22’51” e
distancia de 879,75 m., confrontado nestes trechos com a COMUNIDADE
QUILOMBOLA ESPIRITO SANTO, até o vértice CA8M-2605, de coordenadas N
9.807.995,494 m. e E 769.682,374 m; deste, segue com azimute de 230º50’27”e
distancia de 2.262, 73 m, até o vértice VERT-VIRTU, de coordenadas N 9.806.566,630
m. e E 767.927,869 m.; deste, segue com azimute de 304º44’24” e distancia de 232,29
m, até CA8M-2599, de coordenadas N 9.806.699,003 m. e E 767.736,981 m.; deste,
segue com azimute de 300º59’43” e distancia de 49,53 m, até o vértice CA8M-2601, de
coordenadas N9.806.724.509 m. e E 767.694,525m; deste, segue com azimute de
306º26’54” e distancia de 23,25m, até o vértice CA8M-2602, de coordenadas N
9.806.738,324 m. e E 767.675,820 m.; deste segue com azimute de 306º29’56” e
distancia de 70,53 m, até o vértice CA8M-2610, de coordenadas N9.806.780,274 m. e E
767.619,126 m.; deste, segue com azimute de 256º 09’13” e distancia de 2.787,48 m.,
confrontando nestes trechos com a COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MOJÚ-MIRI, até o
vértice CA8M-2593, de coordenadas N 9.806.113,174 m. e E 764.912,644 m.; deste,
segue com azimute de 41º05’57” e distancia de 371, 10 m, até o vértice CA8M-2592,
de coordenadas, de N 9.806.392,822 m. e E 765.156,589 m.; deste, segue com azimute
de 313º33’30” e distancia de 155,17 m, até o vértice CA8M-2594, de coordenadas
N9.806.499,751 m. e E de 765.044,138 m.; deste, segue com azimute de 314º42’53”e
distancia 175,91 m, até o vértice CA8M-2590, de coordenadas N 9.806.623,507 m. e E
764.919,121 m.; deste, segue com azimute de 12º35’28” e distancia de 616,51 m., até
o vértice CA8M-2591, de coordenadas N 9.807.225,189 m. e E 765.053,516 m.; deste
segue com azimute de 48º21’20”e distancia de 79,75 m., confrontando neste trecho
com BENEDITO GOMES “VILLA FLOR” até o vértice CA8M-2577, de coordenadas N
9.807.278,186 m. e E 765.113,115 m.; deste, segue com azimute de 44º29’59” e
distancia de 2.565,31 m, até o vértice CA8M-2575, de coordenadas N 9.809.107,905 m.
e E 766.911,157 m.; deste, segue com azimute de 54º34’52”e distancia de 25,52 m, até
o vértice CA8M-2509, de coordenadas N 9.809.122,695 m. e E 766.931,954 m.; deste,
segue com azimute de 56º46’10” e distancia de 305,02 m., confrontando nestes
trechos com a COMUNIDADE QUILOMBOLA SAMAUMA, até o vértice CA8M-2578, de
coordenadas N 9.809.289,849 m. e E 767.187,096 m.; deste, segue com azimute de
125º32’46” e distancia de 873,52 m, até o vértice CA8M-2596, de coordenadas N
9.808.782,019 m. e E 767.897,837 m.; deste, segue com azimute de 13º04’49” e
distancia de 1.200,38 m, até o vértice CA8M-2595, de coordenadas N 9.809.951,249 m.
e E 768.169,500 m.; deste, segue com azimute de 20º21’06”de 1.151,55 m.;
confrontando nestes trechos com QUEM DE DIREITO, até o vértice CA8M-2598, de
coordenadas N 9.811.030,911 m. e E 768.569,984 m.; ponto inicial da descrição deste

20
perímetro. Todas as coordenadas aqui descritas estão geo-referenciadas ao Sistema
Geodésico Brasileiro, a partir da estação ativa da RBMC de MARABA-PA, de
coordenadas N 9.406.957,9340m e 708.070,5110m e encontram-se representadas no
Sistema UTM, referenciadas ao Meridiano Central – 51Wgr., tendo como Datun o
SIRGAS 2.000. Todos os azimutes e distancias, áreas e perímetros, foram calculados no
plano de projeção UTM. Pará, 22 de outubro de 2008. Resp. Técnico: JOSÉ CARVALHO
DE SOUSA. ENGº AGRIMENSOR. Crea: 2078-D/PI. Código de Credenciamento INCRA:
CA8”.

A boa forma vai arquivada no Livro de Títulos de Reconhecimento de Domínio de


Quilombos – ITERPA, ressaltando-se que o presente reconhecimento de domínio
constitui-se em regularização fundiária de interesse social, na forma do ( )15, do Art.
213 da Lei Federal nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.

Belém, Pará, 2 de dezembro de 2008.

Ana Julia Carepa JOSÉ HEDER BENATTI

Governadora do Estado Presidente do ITERPA

Albertino de Moraes

Representante da Comunidade

Cartório do Registro Imóveis/ Abaetetuba –PA

1º OFICIO A. MIRANDA

019942

21

Você também pode gostar