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Nome e língua

Os Taulipang são um povo indígena a qual vivem em uma região de


fronteira entre Brasil (estado de Roraima), Venezuela e Guiana e se auto-
designam Pemon, termo que significa “povo” ou “gente”. Sendo essa etnia
pouco conhecida no Brasil, esse termo é empregado com uma frequência
muito maior na Venezuela, onde designa uma grande população indígena
de língua Karib. Alguns pesquisadores afirmam existir na região fronteiriça
entre os 3 países duas grandes unidades étnicas: os Pemon e os Kapon,
sendo a primeira auto-designação dos povos Arekuna, Kamarakoto,
Taurepang e Macuxi, e a segunda dos Ingariko e Patamona.

Muitas vezes estes termos são empregados simultaneamente, marcando


diferentes níveis de contraste, de modo que, sob pontos de vista diferentes,
um mesmo grupo poderá ser designado como Taurepang ou Arekuna. Este
último parece ter uma amplitude maior, sendo freqüentemente aplicado a
todos os grupos que habitam a savana venezuelana.

E também segundo alguns autores, os próprios indígenas desconhecem o


termo “Taurepang”, porém segundo um missionário que trabalha com esse
povo, esse termo viria de duas palavras em sua língua: Taure (“falar”) e
Pung (“errado”), o que significa que esse termo viria de uma atribuição de
outro povo por “Aqueles que falam o Pemon errado”.

Localização e população
Em território brasileiro, os Taurepang localizam-se na porção norte da
região de campos e serras do estado de Roraima, área fronteiriça entre
Brasil, Venezuela e Guiana, tendo como vizinhos os povos Makuxi e
Akawaio (no Brasil mais conhecidos como Ingarikó), de filiação linguística
Karíb, e os Wapixana, de filiação linguística Aruák.

Na Venezuela, o grupo (sendo designados como Pemon) ocupa uma região


chamada de Gran Sabana. O território pemon compreende a parte superior
da bacia do rio Caroni e seus afluentes (nesta altura conhecido por
Kukenã), as aldeias pemon distribuem-se ao longo dos rios Uairen,
Arabopo e Yuruani.

No Brasil, além da existência de uma aldeia na Terra Indígena (TI) Raposa


Serra do Sol, há aldeias taulipang estão no interior da TI São Marcos.
Representando uma faixa de terras com uma extensão limitada à oeste pelo
rio Parimé e à leste pelos rios Surumu e Miang;

Nas aldeias situadas nos limites da TI São Marcos habitam três dos quatro
atuais grupos indígenas que vivem na região do lavrado de Roraima: à
exceção dos Ingarikó (localizados na fronteira com a República da Guiana),
a população indígena na TI é formada pelas etnias Taurepang, Makuxi e
Wapixana.

Na distribuição das aldeias, a população wapixana está concentrada


majoritariamente na porção sul e central da Terra Indígena, e a população
Taurepang exclusivamente na porção norte.

História

Os Taulipang em seus primeiros registros (século XIX) possuíam as


etnônimos de Arekuna ou Jarekuna, e ocuparam regiões de diferentes
nações (Brasil, Venezuela e Guiana). Devido a sua localização, houve
diversas ocupações em suas terras autorizadas pelo governo português (Na
época da colonização) e também o brasileiro, a primeira ocorreu no século
XVIII, a qual fora implantada a pecuária pois a região tinha características
naturais favoráveis para essa atividade. Desta forma, foram criadas três
fazendas no local, tendo destaque a Fazenda do Rei.

Com isso, os Taulipang foram muito afetados pela pecuária e assim como
os Macuxi e Wapixana, forneceram mão de obra necessária para essa
prática. O que explica o primeiro movimento de migração desses povos em
direção aos países vizinhos.

Nessa questão, o serviço de proteção ao índio (SPI), órgão indigenista


oficial de 1910 a 1967, resolveu transformar umas das fazendas, a de São
Marcos, em uma terra indígena (TI) e com isso buscou transformar os
indígenas em mão de obra qualificada que guardassem a longa fronteira
entre Brasil, Guiana e Venezuela.

Já com a criação da Funai, em 1969, transforma uma das fazendas em


“Colônia Indígena Agropecuária de São Marcos”. Além da fazenda de São
Marcos outra invasão começou a ocorrer: a construção de estradas na
Amazônia e a BR-174, que interligava Manaus a Boa Vista até a fronteira
com a Venezuela, de maneira que se abria 66 Km de estrada dentro da área,
atravessando justamente a porção norte, onde terminam os campos e
começa a mata, onde as terras são muito mais férteis e onde se concentram
os Taulipang. No final dos anos 1980, havia forte ingerência do Conselho
de Segurança Nacional, sobre a política indigenista oficial. Insinuava-se
transformar em colônias as terras habitadas por populações indígenas
supostamente aculturadas e assim promover o povoamento das fronteiras
do norte do país. Assim São Marcos era a mais forte candidata, já que no
ponto extremo da BR-174 fazia, na fronteira com a Venezuela via crescer a
Vila da Pacaraima e a chegada de novos posseiros que iam se instalando às
margens dessa rodovia. E na segunda metade da década de 90, o governo
de Roraima transformou Pacaraima em um município e aumentou sua
infra-estrutura, atraindo novas famílias com distribuição de lotes urbanos.

É nesse contexto que se iniciaram as conversas com a Eletronorte


(Centrais Elétricas do Norte do Brasil) para a passagem de uma
linha de transmissão de energia de Guri. Em abril de 1997, a
Eletronorte foi autorizada pelo governo federal a implantar uma
linha de transmissão de energia ligando Boa Vista ao complexo
hidrelétrico de Guri, na Venezuela.

Dessa forma, iniciou-se os estudos para a elaboração do projeto


básico da linha de transmissão, a Eletronorte constatou a incidência
da obra sobre as Terras Indígenas São Marcos e Ponta da Serra.
Paralelamente aos encaminhamentos relacionados ao licenciamento
ambiental da obra, a Eletronorte, através de sua assessoria
indigenista, iniciou procedimentos de consulta e negociação com as
aldeias indígenas.

As negociações para a passagem do linhão iniciaram-se em no ano


de 1997, e não demorou para que a proposta de indenização das
fazendas e desintrusão da TI em troca da autorização para a
implantação do empreendimento passassem a ocupar um lugar
preponderante na pauta de negociações.

Mesmo apreensivos quanto às consequências da construção de uma


linha de energia tão próxima de suas aldeias, a aceitação dos
indígenas ao acordo deve-se à situação em que se encontrava a
Terra Indígena São Marcos: o crescimento demográfico nas aldeias e
a permanente chegada de famílias de outras áreas indígenas do
lavrado foram apontados como fatores que poderiam acarretar
problemas sérios de espaço, com agravante de que a principal
perspectiva de desenvolvimento das aldeias era a pecuária
estabelecida na região.

A partir disso, fios de alta tensão e torres metálicas de transmissão


de energia foram instalados nessas terras, não ocorrendo grandes
conflitos e negociações entre os indígenas atingidos por essas
construções e também entre os poderes locais da Venezuela e do
Brasil.

A Eletronorte responsabilizou-se pelo financiamento das indenizações e os


indígenas ainda conseguiram garantir a recuperação das áreas degradadas
pela construção das torres de energia e também aquelas que não poderiam
ser recuperadas devido sua proximidade com a linha. Além disso, alguns
dos moradores foram indenizados individualmente por danos a bens
particulares.

No território venezuelano, surgiram conflitos em torno da


construção da linha e isso atrasou o término da obra em um ano. As
torres de transmissão percorrem 80 Km do Parque Nacional de Gran
Sabana e da selva de Imataca ao sul da Venezuela, onde moram mais
de 50 comunidades indígenas. E isso fez com que diveros indígenas
das etnias Pemon, Akawayo, Arawako e Kariña protestarem contra a
construção das linhas, paralizando em diversas ocasiões as obras
derrubarando torres, interditando rodovias e também fazendo
manifestações na embaixada do Brasil em Caracas. Devido muitas
negociações, em 2001 foi firmado um acordo entre a Fibe
(Federação Indígena do Estado de Bolívar) e o presidente Hugo
Chavez (Presidente venezuelano na época), sendo a partir dessas
negociações instituída uma comissão composta por representantes
indígenas e do governo para demarcar as áreas indígenas e fazer um
levantamento das comunidades prejudicadas pela exploração
mineral, florestal e turística na região. O governo venezuelano
também se comprometeu a não deixar que projetos industriais
públicos e privados fossem instalados nas comunidades sem
consultar as lideranças do povo local. Alguns meses depois, em
agosto de 2001, o linhão de Guri foi finalmente inaugurado, com a
presença dos presidentes do Brasil e da Venezuela.

Mapa da Região onde são encontrados os Taulipang

Migrações e consolidação do Adventismo

Nas primeiras décadas do século XX os Taulipang migraram em grande


número em direção à fronteira venezuelana. Embora os funcionários
do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) atribuíssem a evasão dos índios
do rio Branco à invasão de suas terras pela pecuária a partir de 1914.
Sendo assim, nota-se por meio dos relatos de naturalistas ingleses que
esse movimento foi iniciado já no final do século XIX, quando se tem
notícia do aparecimento de movimentos proféticos entre os povos
Karib da área, influenciando a formação de grandes aldeias no lado
venezuelano do monte Roraima.
Assim, por volta de 1880, algumas aldeias Arekuna, Akawaio, Macuxi e
Patamona começavam a se encher com a chegada de novos grupos que
viam para estes lugares em função das pregações realizadas por
homens cujo conhecimento adquirido nas missões inglesas alcançou as
aldeias taulipang do rio Branco. A multiplicação desses cultos marca o
expansão de um movimento religioso que passaria a ser conhecido
como Aleluia, ou Hallelujah, que nasceu em fins do século XIX entre os
Macuxi do rio Rupununi, na Guiana Inglesa, rapidamente se alcança
os povos indígenas Akawaio, Patamona e Taulipang.

Por isso acredita-se que os Taulipang teriam recebido a nova doutrina


diretamente dos Macuxi, pela rota que liga os campos do alto rio
Branco ao monte Roraima. Ocorre que, neste processo, os caminhos de
expansão do Aleluia entre os Taulipang encontram-se com as
trajetórias dos primeiros missionários adventistas que atingem as
aldeias taulipang do monte Roraima, em território venezuelano, no
início do século XX.

Com isso, os adventistas realizaram diversas incursões pela savana


venezuelana a fim de evangelizar os Taulipang desde 1911. A partir
desse ano, eles levantaram igrejas e começaram a ensinar o idioma
inglês aos indígenas.

Apesar de algumas aldeias terem aceitado primeiramente as pregações


do movimento Aleluia realizadas pelo pastor Davis, como a aldeia
Kauarianá. Outras não acolheram muito bem essas pregações, como a
aldeia vizinha Teuonok, aldeia vizinha a Kauarianá, sendo esta bem
mais receptiva à missão católica empreendida pelo padre Cary Elwes.
Desta forma rivalidade entre Teuonok e Kauarianá (tendo entre essas
aldeias uma “inimizade” segundo o etnologista e explorador alemão,
Koch-Grünberg) pode ser traduzida por meio das diferentes opções de
seus líderes: se em Kauarianá os adventistas esforçavam-se por manter
vivos os ensinamentos do pastor adventista Davis, enquanto os
moradores de Teuonok , davam boas-vindas ao padre católico.

Ambas aldeias eram adeptas da doutrina do Aleluia antes da chegada


dos missionários, mas apenas os habitantes de Kauarianá continuaram
a praticá-lo depois. Dessa forma, o Aleluia e os ensinamentos do pastor
Davis incorporadas a partir de um ideário milenarista presente na
região desde as últimas décadas do século XIX, que veio a conformar o
Aleluia.
E isso fez com que as mensagens transmitidas pelos missionários
fossem cada vez mais conquistando a atenção dos Taulipang e sob a
liderança do tuxaua (ou líder) André, a aldeia de Akurimã chegou a
atrair 900 indivíduos. Lá, os índios recusavam-se a trabalhar para as
expedições que chegavam para explorar a região, dedicando-se quase
que exclusivamente a seguir André nos inúmeros cultos.

Nesse período, no ano de 1927, a Comissão de Inspeção de Fronteiras,


comandada pelo General Rondon, chega ao rio Branco. Para realizar o
reconhecimento da região, essa comissão foi dividida em cinco turmas,
encarregadas de percorrer diferentes rios e fronteiras até então pouco
conhecidos. Além da comissão chefiada por Rondon – que buscou
atrair os Taulipang do monte Roraima para as terras brasileiras mas
não obteve sucesso - , uma comissão, chefiada pelo Tenente Tales Facó,
ao atingir a região desejada e chegar na aldeia Taulipang de Arabopo,
localizada à base do lado venezuelano do monte Roraima, se deparou
com uma grande concentração de grupos taulipang provenientes do
lado brasileiro. Contudo, foi encontrado estabelecido nesta aldeia o
missionário A. W. Cott, a qual segundo Facó comenta que mais de 200
indígenas preparavam então a abertura de uma grande terreno, a qual
tinha finalidade de prepararem-se para a chegada de Cristo, ou seja,
esperavam os indígenas serem guiados a um paraíso celeste preparado
por este salvador.

No ano de 1931, Cott foi expulso pelo governo da Venezuela e a


catequese dos indígenas da savana venezuelana ficou a cargo da ordem
franciscana, que viria a fundar missões católicas em vários pontos
desse território.

Porém haviam alguns Taulipang que estiveram ao lado de Cott e


apresentaram forte resistência em aceitar a catequese dos franciscanos,
de maneira que a aldeia de Akurimã, foi destruida após a chegada
desses missionários. Apesar disso, a prática de cultos adventistas foi
mantida por vários grupos que haviam tido contato com Cott, na
tradição oral lembrado como Papacá.

Dessa forma é possível concluir que as migrações do povo Taulipang para


a Venezuela foram realizadas principalmente devido à expansão da
pecuária na região do Rio Branco e também devido o surgimento de
movimentos proféticos que atraíram diversos povos Karib da região.

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