Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO: LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

INARA EVANGELISTA DA SILVA


RAMIRO CAVALCANTE MELO
WÁLESSON CASTRO DE OLIVEIRA
WESLLEI ALVES COSTA

Trabalho escrito

Rio Branco/AC
2023
INARA EVANGELISTA DA SILVA
RAMIRO CAVALCANTE MELO
WÁLESSON CASTRO DE OLIVEIRA
WESLLEI ALVES COSTA

Trabalho escrito

Trabalho escrito para a disciplina de


Geografia Urbana do Curso de
Licenciatura em Geografia da
Universidade Federal do Acre, ministrada
pela profa Maria de Jesus.

Rio Branco/AC
2023
Para muitos povos indígenas não existe uma separação entre as gerações
dentro de seu lar. Eles acreditam que a criança é uma forma de estar que nunca é
deixada de lado. Deste modo, o contato com a criança é muito importante. Nem só
as crianças brincam, como também os adultos em seus momentos de lazer.
As crianças não aprendem somente com os mais velhos, elas constroem
conhecimentos junto com toda a comunidade, a partir de sua curiosidade e
exploração das coisas ao seu redor. Elas são acompanhadas, respeitadas e ouvidas
em todas as suas fases da vida.
Ao longo do texto veremos crianças indígenas de oito povos diferentes, os
Mbya Guarani, Kaiowá Guarani, Kaingang, Laklãnõ Xokleng, Karo Arara, Apurinã,
Jamamadi e Ikólóéhj Gavião. Iremos observar como se deu seu processo histórico,
quais são seus costumes, onde estão localizadas, suas características, entre outros.
Os Mbya somam cerca de 7 mil pessoas no Brasil, com cerca de 100 áreas
habitadas na região sul e sudeste, além de moradias temporárias. Também são
encontrados em outros países como Argentina, Paraguai e Uruguai.
A organização social e as atividades desempenhadas em cada comunidade
dependerá sobretudo da orientação religiosa que absorve os modos, representações
e experiências, de origens ou de subgrupos diversos, criando um perfil próprio. Em
aldeias onde há indivíduos de outro subgrupo, estes passam a respeitar as regras
(sociais, políticas) e a adotar costumes e rituais do grupo local dominante. Mesmo se
tratando de uma aldeia composta por famílias do mesmo subgrupo, nem sempre há
uma autodenominação geral e consensual. Perante as instituições da sociedade
nacional, identificam-se como Guarani (Ñandeva e Mbya) e Kaiowa.
Assim como o sistema de reciprocidade e as vivências comuns são aspectos
integradores dos Mbya, os fatores atuais de diferenciação destes com os outros
subgrupos guarani residem nas divisões espaciais, em expressões lingüísticas, em
elementos da cultura material (adornos, artefatos de uso ritual) e nos rituais nos
quais há músicas e cantos específicos.
Os Guarani Mbya mantém sua língua viva e plena, sendo a transmissão oral o
mais eficaz sistema na educação das crianças, na divulgação de conhecimentos e
na comunicação inter e entra aldeias, constituindo-se a língua no mais forte
elemento de sua identidade. Poucos Mbya, e em sua maioria representantes (ainda
jovens) de seus interesses junto à sociedade nacional, falam o português com certa
fluência. Crianças, mulheres e velhos são, em grande parte, monolíngues.
Os Guarani possuem uma história antiga (desde o século XVI) e conturbada
de contato, configurada pelo confisco de seu território. No Brasil, os Guarani, além
de carregarem o estigma de “índios aculturados" em virtude do uso de roupas e
outros bens e alimentos industrializados, são considerados como índios errantes ou
nômades, estrangeiros (do Paraguai ou Argentina) etc. Esse fato, aliado à aversão
desses índios em brigar por terra, via de regra era distorcido de seu significado
original e utilizado para reiterar a tese, difundida entre os brancos, de que os
Guarani não precisavam de terra pois nem "lutavam" por ela. Dessa forma,
favorecendo os interesses fundiários e econômicos especulativos, pretendeu-se
descaracterizar a ocupação territorial Guarani negando-lhes, sistematicamente, o
direito à terra (Ladeira, 1992).
As crianças Mbya, desde pequenas estão junto de seus familiares nas
tarefas. Há tarefas específicas para os meninos e para as meninas. Na qual as
meninas ficam com os a fazeres domésticos como fazer comida, lavar louça, limpar
a casa e lavar as roupas. Os meninos por sua também ajudam nos serviços
domésticos, também no cuidado com as crianças mais novas.
Na cultura Mbya, as crianças são ensinadas e aconselhadas por meio de
histórias contadas pelos mais velhos, essas histórias servem para que as crianças
cresçam seguindo regras. Estas histórias ensinam essa crianças obedecer pai e
mãe, e respeitar os mais velhos.
Essas crianças algumas delas fazem seus próprios brinquedos, como
carrinhos de madeira, arco e flecha, mas também têm acesso a produtos fabricados,
produtos comprados em lojas, carrinhos, bonecas. Antigamente as crianças
costumavam brincar mais com petecas, arco e flecha.
Habitando a região sul do Mato Grosso do Sul, os Kaiowa distribuem suas
aldeias por uma área que se estende até os rios Apa, Dourados e Ivinhema, ao
norte, indo, rumo sul, até a serra de Mbarakaju e os afluentes do rio Jejui, no
Paraguai, alcançando aproximadamente 100 Km em sua extensão leste-oeste, indo
também a cerca de 100 Km de ambos os lados da cordilheira do Amambaí (que
compõe a linha fronteiriça Paraguai-Brasil), inclusive todos os afluentes dos rios Apa,
Dourados, Ivinhema, Amambai e a margem esquerda do Rio Iguatemi, que limita o
sul do território Kaiowa e o norte do território Ñandeva, além dos rios Aquidabán
(Mberyvo), Ypane, Arroyo, Guasu, Aguaray e Itanarã do lado Paraguaio, alcançando
perto de 40 mil Km2. O território Kaiowa ao norte faz fronteira com os Terena, e ao
leste e sul com os Guarani Mbya e com os Guarani Ñandeva (v. Meliá, 1986: 218).
Algumas famílias kaiowa também vivem, atualmente, em aldeias próximas às Mbya
no litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os Kaiowá, junto com outros Guaranis,
contam 43,4 mil pessoas, sendo que 35 mil vivem em terras indígenas e 8 mil vivem
fora das aldeias e em acampamentos.
Investigações arqueológicas mostram que a cultura guarani tem origem nas
florestas tropicais das bacias do Alto Paraná, do Alto Uruguai e extremidades do
planalto meridional brasileiro (Schmitz: 1979,57). No século V (anos 400 d.C.) esta
cultura já teria se diferenciado da tupi e estaria estruturada com características
observáveis no século XVI, bem como nos dias de hoje. Os mesmos arqueólogos
sugerem que sua gestação seria de aproximadamente um milênio. As populações
"proto-guarani", que deram origem aos Guarani da época da conquista (1500) e de
hoje (Susnik: 1975), têm uma história marcada por intensos movimentos de
traslados dentro dos espaços por eles considerados apropriados como territórios de
ocupação.
Agora falando sobre suas crianças, cada aldeia Kaiowá tem sua escola, na
qual seus professores indígenas ensinam a ler e escrever. Também ensinam sua
língua, história, cantos e o modo de ser Kaiowá. As crianças gostam de correr e
nadar no lago ou no rio, construir a casa da comunidade na beira do rio,
amontoando areia sobre os pés, e de fazer figuras de argila, na qual representam
familiares e animais conhecidos.
Para eles, a educação tradicional é muito importante e acontece no dia a dia.
Uma aprendizagem importante é aquela que ensina a enfrentar os desafios da mata,
para que as crianças desenvolvam atenção e habilidade para perceber os perigos.
As crianças são sempre observadas e orientadas a seguir os costumes.
Já o povo Kaingang é um grupo indígena que reside principalmente nas
regiões sul e sudeste do Brasil. Sua língua é o Kaingang, eles têm uma cultura rica,
com tradições, rituais e crenças espirituais. Historicamente, eram caçadores e
coletores, mas agora muitos estão envolvidos na agricultura de subsistência. Os
Kaingang enfrentam desafios, como a perda de terras e o acesso limitado à
educação e aos cuidados de saúde. A preservação da cultura e a luta por direitos
indígenas são questões centrais para esse povo. Eles desempenham um papel
importante na diversidade cultural do Brasil e na promoção da conscientização sobre
questões indígenas.
Após o nascimento, o cordão umbilical da criança Kaingang é enterrado na
terra para indicar o lugar de sua origem. É na terra, no ar livre, que as crianças
preferem brincar. Seus brinquedos favoritos são feitos da própria natureza. ( Peteca
feita com palha de milho, boneca feita com sabugo de milho verde e o balanço feito
de um galho de árvore). Prezam, e são ensinados que a coletividade é um valor
importante para seu povo.
Sua educação tem como referência as pessoas idosas, sábias da
comunidade que transmitem valores fundamentais, como a solidariedade e o amor à
natureza. Para os Kaingang a natureza tem diversas linguagens: a dos animais, a
das plantas,a do vento, a das águas. Por isso é importante escutar e aprender com a
natureza. Desde pequenas as crianças acompanham as atividades dos seus pais e
seus avós, conhecendo os saberes de sua cultura, sendo isso essencial para a
afirmação da identidade Kaingang.
Já os os Laklãnõ Xokleng, também conhecidos simplesmente como Xokleng,
habitam a região sul do Brasil, principalmente nos estados de Santa Catarina e
Paraná. Eles fazem parte do tronco linguístico Jê, que é uma das principais famílias
linguísticas indígenas do país.
Os Xokleng têm uma história rica e uma cultura tradicional profundamente
enraizada. Sua subsistência tradicional envolve a caça, a coleta de alimentos na
floresta e a agricultura de subsistência. Além disso, eles têm uma relação espiritual
forte com a natureza e acreditam na importância de manter o equilíbrio ecológico.
Infelizmente, ao longo da história, os Xokleng, como muitos outros povos
indígenas no Brasil, enfrentaram desafios conturbadores, incluindo a perda de
terras, a pressão do desenvolvimento e a luta pela preservação de sua cultura e
identidade. Organizações e movimentos indígenas têm trabalhado para apoiar os
direitos dos Xokleng e de outros povos indígenas no Brasil.
Para o povo Laklãnõ/Xokleng, a infância começa no nascimento da criança e
vai até o momento em que ela se casa. Deste modo, o mais importante é que
mesmo após casado, o filho ou filha nunca deixa de ser criança para sua família.
Na comunidade, quando as crianças estão em um espaço aberto, às pessoas
adultas ajudam a cuidar delas. Neste povo, as crianças são muito valorizadas,
possuindo um lugar especial na comunidade e jamais ficam desamparadas. Para
eles, uma casa sem crianças é uma casa triste, haja vista que a criança traz alegria
e esperanças para a família.
As crianças observam o pai, a mãe e outras pessoas da comunidade na
forma de caçar, pescar e fazer artesanato. Na escola indígena, os alunos fazem
pesquisas relacionadas a sua cultura, falam com pessoas mais velhas da sua
comunidade para aprender um pouco mais sobre o seu povo, sendo uma cultura
passada entre gerações. As crianças e os jovens estão envolvidos no fortalecimento
da sua cultura
Já os Arara Karo vivem em duas aldeias, Iterap e Paygap, ambas localizadas
na parte sul da Terra Indígena Igarapé de Lourdes, em Rondônia. A área tem
aproximadamente 190.000 Km2 de extensão e cerca de 1/3 dela “pertence” aos
Arara, sendo o restante destinado aos Gavião. Dois terços dos Arara habitam a
primeira aldeia, e o restante habita a segunda. Na mesma Terra Indígena moram os
índios Gavião, seus tradicionais inimigos.
Os Arara foram contactados no final dos anos 1940, quando centenas deles
morreram de doenças contagiosas e os sobreviventes foram morar nos seringais da
região. Isso fez com que os Arara se engajassem totalmente no modo de vida não
indígena, mas seus pajés ainda são reconhecidos por todos os índios das regiões
vizinhas como muito poderosos.
Apesar de manterem algum tipo de contato com a população envolvente
desde os anos 1920, os Arara foram contatados pelo antigo Serviço de Proteção ao
Índio (SPI) somente no final da década de 40. O contato foi fulminante para as
comunidades Arara. Centenas de índios morreram por doenças levadas por não-
índios (principalmente pneumonia, gripe e sarampo), e os poucos que sobraram
foram trabalhar em seringais da região, junto à população não-índia.
Foi somente no final da década de 60 que um funcionário do SPI,
supostamente o chefe do Posto Indígena Lourdes, Sr. Brígido, conseguiu reagrupar
os Arara, que passaram então a viver junto aos Gavião. Após muitos
desentendimentos, em meados dos anos 80 os Arara resolveram fundar sua própria
aldeia, próxima ao Igarapé da Prainha, a cerca de 5 Km de sua desembocadura no
Rio Machado. Logo obtiveram da Funai o reconhecimento da aldeia, sendo então
criado o Posto Indígena Iterap.
As crianças Karo arara, estão sempre próximas dos pais ou mães. A criança
normalmente é amamentada por sua mãe até dois anos ou mais. Elas podem sair
com as amigas e os amigos para brincar pela aldeia e no igarapé. Porém desde de
cedo as mesmas aprendem suas obrigações, ajudando o pai e a mãe nas
atividades.
A filha acompanha a mãe ao cozinhar, lavar roupa, limpar a casa, fazer
artesanato, ir para o roçado e cuidar das crianças mais novas. Já o menino vai junto
com o pai na caça e na pesca e também auxilia no cuidado das crianças mais novas.
Com relação à educação, em cada aldeia existem escolas com professores e
professoras que ensinam a ler e escrever na língua materna, já o português é a
segunda língua falada e só é usada para se comunicar com pessoas de fora da
comunidade.
Já os Apurinã estão dispersos em locais próximos às margens do Rio Purus.
Sua história é fortemente marcada pela violência dos dois ciclos da borracha na
região amazônica. Hoje lutam pelos seus direitos, algumas de suas terras ainda não
foram reconhecidas e são recorrentemente invadidas por madeireiros.
Os Apurinã vivem em diversas Terras Indígenas, sendo duas com os Paumari
do Lago Paricá e Paumari do Lago Marahã, e uma com os índios Torá, na terra de
mesmo nome. O território habitado pelos Apurinã, no século XIX, era o médio rio
Purus – do rio Sepatini ou do rio Paciá ao Laco. Mas os Apurinã são um povo
tradicionalmente migrante e, hoje, seu território se estende ao baixo rio Purus, até
Rondônia.
Há áreas Apurinã nos municípios Boca do Acre, Pauini, Lábrea, Tapauá,
Manacapuru, Beruri, Manaquiri, Manicoré (este último na TI Torá), todas no estado
do Amazonas, além de índios Apurinã morando em várias cidades do país, e uma
aldeia na Terra Indígena Roosevelt, dos índios Cinta larga, com quem alguns são
casados.
Na região do município de Boca do Acre, há quatro comunidades Apurinã,
sendo três próximas à BR-317: a comunidade do Km 124 e a comunidade do KM
137, ambas na Terra Indígena BR-317, a comunidade do Km 45 na TI Boca do Acre,
e a comunidade Camicuã na TI de mesmo nome, localizada bem próxima do
município.
Segundo Leôncio, cacique da comunidade do Km 124, as três comunidades,
hoje localizadas na beira da estrada, originaram-se de três sobreviventes de um
surto de sarampo, que dizimou a maloca existente na região. A sua mãe, Kamapã,
foi uma das sobreviventes, e seu nome foi dado à atual aldeia do Km 124. Maen,
outra sobrevivente, dá o nome à aldeia dos seus descendentes, na comunidade do
km 137.
É difícil estimar o número de índios Apurinã, e mesmo tratar deles de maneira
genérica, porque estão muito espalhados. Segundo a Fundação Nacional da Saúde,
os Apurinã somavam, em novembro em 2003, 4.057 indivíduos. Em 1996, só na
região de Pauini havia nas Terras reconhecidas 1.114 habitantes (Relatório de
Saúde/UNI) e cerca de 280 pessoas em terras a reconhecer (Tis Garaperi/Santa
Vitória/Lago da Vitória/Capira, Baixo Seruini, Baixo Tumiã, Sãkoã/Santa Vitória e
Mamoriá).
Deve-se considerar, ainda, que muitos Apurinã moram fora das áreas
reconhecidas, em comunidades ribeirinhas ou em cidades – Pauini, Lábrea, Tapauá,
Rio Branco e Manaus são freqüentemente citadas –, e que muitos migraram para
locais distantes como Rondônia e até Rio de Janeiro ou Minas Gerais.
Os Apurinã tiveram contato sistemático com não-índios no contexto da
exploração da borracha. No século XVIII, o rio Purus começou a ser explorado por
comerciantes itinerantes, na busca das chamadas “drogas do sertão”: cacau,
copaíba, manteiga de tartaruga e borracha. Alguns destes itinerantes se
estabeleceram e começou a haver, então, benfeitorias para exploração, ainda no
baixo Purus. Nas décadas de 50 e 60 do século XIX houve várias expedições para
reconhecer e mapear o rio: nesta época, segundo os relatos, alguns Apurinã já
trabalhavam para os não-índios.
O rio Purus foi povoado por causa da borracha. A exploração começou na
década de 1870 e, em 1880, o Purus já estava todo povoado de não-índios. A
borracha decaiu na década de 1910, quando começou a produção asiática, com a
qual a brasileira não conseguiu competir. Sem o mercado, os seringais foram
abandonados pelos patrões. Os seringueiros e índios permaneceram, voltaram a
produzir para a subsistência (isso, muitas vezes, era proibido nos seringais) e a
vender outros produtos, como a castanha.
Os Apurinã tiveram inserções diferentes nos seringais: grupos inteiros foram
mortos, alguns vendiam seus produtos, outros trabalhavam como seringueiros;
alguns trabalhavam desde o princípio, outros tiveram contato com não-índios
somente na época dos “soldados da borracha”. As histórias Apurinã falam de
massacres, torturas, da experiência de terem sido escravos, das relações pessoais,
de compadrio, das batalhas e guerras pela terra. Após a queda da borracha,
nenhum produto a substituiu com a mesma importância e nenhuma outra estrutura
de produção se estabeleceu com igual força na região.
Ainda falando sobre a sua ocupação e resistência vale ressaltar que o povo
Apurinã passaram por um longo processo de resistência e lutas antes habitando no
médio rio Purus, mas devido o processo de migração, veio ocupar a parte baixa do
rio Purus, no sudoeste do estado do Amazonas e nos estados do Acre e Rondônia.
Entre 1870 e 1880 a povoação não indígena na área Apurinã trouxe junto um
forte prolongado processo de mudanças culturais, vindo a ser confundidos com
seringueiros. Já em 1970 com a exploração da madeira trouxe outros prejuízos aos
povos originários, devido à instalação de empresas madeireiras e agropastoris.
Desde então, os Apurinã reivindicam a demarcação de suas terras tradicionais.
As crianças Apurinã estão sempre perto de seus familiares, elas gostam de
brincar em igarapés, pescar, brincar de esconde-esconde na mata, de pega-pega,
passear na canoa. Meninos e meninas brincam juntos. Geralmente as crianças
possuem dois nomes, um na língua materna e outro em portugues, os nomes das
crianças são dados pelos avôs, avós. Os partos das crianças são feitos na aldeia.
Os meninos acompanham seus pais, tios irmãos mais velhos e avós nos
roçados, nas coletas de frutas, na pesca, na caça, nas casas de farinha e nas
colheitas como feijão, melancia e macaxeira.
Já as meninas, acompanham suas mães, tias, irmãs e avós nos afazeres
domésticos e também vão para os roçados, para a coleta de frutas, cuidam das
crianças mais novas e acompanham as mulheres mais velhas no preparo da
cerâmica.
As crianças frequentam escolas de Apurinã. Onde muitos são alfabetizados
na língua materna, pois já existem materiais para isso. Na comunidade há uma
grande preocupação com o futuro dessas crianças, pois existem muitas terras
Apurinã que não foram demarcadas. E também existem pessoas não indígenas
caçando, pescando e retirando madeira ilegal de suas terras.
Já os Jamamadi fazem parte dos povos indígenas da região dos rios Juruá e
Purus que sobreviveram aos dois ciclos da borracha, em meados do século XIX. Nos
anos 1960, foi previsto seu desaparecimento como grupo diferenciado, mas a partir
daquela época os Jamamadi conseguiram se recuperar, tanto em termos
demográficos quanto culturais. A língua Jamamadi pertence à família Arawá da
Amazônia, a maioria deles são monolíngues, falam pouco português.
O território atual dos Jamamadi inclui terras na região do Médio Purus, nos
estados do Amazonas e do Acre; nas regiões dos igarapés Curiá e Saburrun
(Sabuhã), afluentes do rio Piranhas; e nos igarapés Mamoriazinho, Capana, Santana
e Teruini, afluentes do Purus. Eles são conhecidos por habitarem floresta de terra
firme.
A primeira menção aos Jamamadi em uma fonte histórica foi feita, em 1845,
pelo militar João Henrique Matos, que faz referência a "muitas malocas". Naquela
época, alguns Jamamadi já trabalhavam como mão-de-obra para o comerciante
Manoel Urbano da Encarnação, que controlava a exploração das "drogas do sertão"
no Médio Purus.
Em 1866, os Jamamadi viviam exclusivamente na terra firme e nos igarapés,
em volta do Purus, porém eles não tinham canoas, o que dá a entender que eles
eram um povo da terra firme. Eles não eram agricultores e não faziam comércio com
outros povos, tinham um certo receio em relação aos não indígenas. Mas apesar do
receio e da tentativa de não ter relações com os não indígenas, eles foram atingidos,
sendo muitos deles transformados em seringueiros ou fornecedores.
No século XIX os Jamamadi foram acometidos pelo sarampo, causando mais
de 100 mortes de pessoas da aldeia. Entre 1904 e 1905, eles eram aprisionados e
levados para seringais sobre diversas formas de violência, muitos morrendo na
viagem, e outros ao chegarem ao local.
No início do século XX foi criado o posto de proteção aos indígenas, para
proteger os Jamamadi, que até este momento estavam quase extintos. Em 1963,
encontrava-se a população Jamamadi reduzida a cerca de 80 pessoas, contando
poucas crianças, num estado desolador. A partir de então, o quadro pode ser
revertido completamente, atualmente tendo cerca 800 a 900 pessoas da etnia
Jamamadi.
Os Jamamadi são principalmente agricultores e caçadores da terra firme. As
duas plantas mais cultivadas são a mandioca e a macaxeira, de que se conhecem
pelo menos 17 variedades. A pesca é apenas uma atividade complementar para os
Jamamadi, eles pescam com arco e flecha, linhas e anzóis ou arpões.
Nas aldeias há ainda uma regra tradicional segundo a qual o primeiro filho é
criado pela avó materna, enquanto os filhos nascidos posteriormente são criados
pela avó paterna.
As crianças Jamamadi são ligadas a natureza, a maioria das atividades são
desenvolvidas em meio a natureza: pescaria, banho de rio ou no igarapé, passeio de
canoa e coleta de frutas. Elas participam dos cantos, das danças, dos rituais e das
festas. As suas tradições Jamamadi devem ser ensinadas para que as crianças não
esqueçam.
Os Jamamadi se deslocam muito em seu próprio território. De três em três
meses, estão em diferentes espaços, coletando frutas, fazendo roçados ou
pescando. Por conta dessas mudanças, os partos acontecem de modo natural. A
maioria das crianças tem o nome somente na língua tradicional. Quem escolhe o
nome deles é a avó ou a mãe. A maioria fala somente sua língua nativa.
Já os Ikólóéhj Gavião falam a língua Tupi-Mondé, habitam a bacia do igarapé
Lourdes e outros afluentes do rio Machado (ou Ji-Paraná), no estado de Rondônia,
próximo à divisa com o Mato Grosso. Sua população distribui-se em seis aldeias,
todas elas localizadas no interior da Terra Indígena Igarapé Lourdes, que
compartilham com um outro grupo indígena: os Karo.
Até 1940 eles ocupavam alguns formadores do rio Branco, na bacia do rio
Aripuanã, mas ao sofrerem ataques e serem hostilizados tanto por indígenas como
fazendeiros, eles mudaram-se para a atual área ocupada. Eles são divididos em 16
aldeias e somam 761 pessoas.
Como diversos outros povos indígenas, eles também sofreram com a
expansão das ações econômicas em suas terras. No ano 1940 foram atingidos
pelo segundo ciclo da borracha, e a partir de 1970, pela a exploração madeireira, a
colonização e a atividade agropecuária.
Em 1950 houve grande mortalidade dos Ikólóéhj a partir da inserção do ciclo
da borracha na região, passando a trabalhar periodicamente como seringueiros em
troca de roupas e ferramentas. A presença dos não-indígenas criou uma rivalidade
entre os Gavião e os Karo, competindo por recursos e industrializados. No ano de
1965 temos a chegada do Programa de Proteção aos Índios (SPI) na região,
iniciando o trabalho de (re)aldeamento e aproximação dos Ikólóéhj e Karo que se
encontravam dispersos nos seringais da região.
Em 1970 foi construída a br 364 no município de Ji-Paraná que possibilitou a
instauração de fazendas e madeireiras nas terras Ikólóéhj. Desta forma eles lutam
ainda pela redefinição do limite leste de seu território, e buscam uma solução para o
problema da estrada que atravessa suas terras, no limite nordeste.
Os Ikólóéhj desempenham atividades produtivas bastante diversificadas,
como caça, pesca, agricultura de roçado, projetos de criação de animais e “sistemas
agroflorestais”, visando tanto o consumo próprio como a comercialização e geração
de renda. O trabalho de derrubada da roça cabe exclusivamente aos homens,
enquanto o plantio, a limpeza e a colheita são feitos por todos: homens, mulheres e
crianças.
As crianças Ikólóéhj Gavião vivem de forma livre na aldeia. As crianças
gostam de se balançar em um cipó, de um lado para o outro , sobre um igarapé.
Meninos e meninas passam muito tempo juntos brincando. Desde cedo, aprendem a
nadar e a pescar. Elas ajudam a plantar e colher alimentos, ajudam no preparo das
refeições.
Elas sempre escutam as histórias das pessoas mais idosas, a uma grande
valorização e respeito pelas pessoas mais velhas da aldeia. As crianças deste povo
também vão para a escola da aldeia, onde aprendem o português com tradução na
sua língua nativa.
Portanto, conclui-se, que a maneira como a criança indígena observa, vai ser
uma das principais formas dela adquirir saberes. Elas observam seu pai, sua mãe,
seu avô, sua avó fazendo suas atividades, ouvem as pessoas mais velhos contando
histórias, através desta observação elas constroem seus conhecimentos acerca de
sua cultura e seus deveres. Elas observam a natureza, aprendendo com os animais
e plantas, respeitando-a e conectando-se a ela. A criança indígena está em
constante construção de conhecimentos ao longo de suas etapas.
Referências
ALMEIDA, Rubem Ferreira Thomaz de; MURA, Fabio. Guarani Kaiowá. 2003.
Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_Kaiow%C3%A1>.
Acesso em: 3 set. 2023.

LADEIRA, Maria Inês. Guarani Mbya. 2003. Disponível em:


<https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_Mbya> Acesso em: 3 set.2023.

MARKUS, Cledes et al. In: Semana dos povos indígenas, 2017 COMIN, Cartilha,
Editora Oikos Ltda, 16 abril, p.28.

SCHRÖDER, Peter. Povo: Jamamadi. 2002. Disponível em: < Jamamadi - Povos
Indígenas no Brasil (socioambiental.org)>. Acesso em: 3 set. 2023.

KANINDÉ ASSOCIAÇÃO DE DEFESA ETNOAMBIENTAL. Povo Ikolen. 2008.


Disponível em: < Ikolen - Povos Indígenas no Brasil (socioambiental.org) >. Acesso
em: 3 set.2023.

TOMMASINO, Kimiye; FERNANDES, Ricardo Cid. Kaingang. 2001. Disponível em:


<Kaingang - Povos Indígenas no Brasil (socioambiental.org) >. Acesso em: 3 set.
2023.

WIIK, Flávio Braune. Xokleng. 1999. Disponível em:< Xokleng - Povos Indígenas no
Brasil (socioambiental.org)>. Acesso em: 3 set. 2023.

Você também pode gostar