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Indígenas

Tribo Tuyuka

Quem são:
Os Tuyukas são gente da transformação, pois se originam da Cobra da
Transformação. Única no início da viagem ancestral, a cobra, depois de
alcançar o alto curso do rio de Leite (O Negro), se reproduz em várias
outras, que tomam rumos distintos, seguindo pelos afluentes dos rios
Negro e Uaupés. Os Tuyukas são os filhos da cobra de pedra. No
decorrer da viagem ancestral, esses povos e suas línguas de
diferenciaram, alguns permaneceram como parentes entre si, enquanto
outros se tornaram aliados.
Os Tuyukas são um dos povos da família linguística Tukano Oriental do
Noroeste Amazônico, habitando a fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
Nomes:
Os Tuyukas autodenominam-se Utapinopona ou “Filhos Da Cobra De
Pedra”. Este nome é usado em momentos cerimoniais.
Há um outro que é empregado coloquialmente: Dokapuara, cujo
significado literal é “aqueles que socam e tingüijam” [este último verbo faz
referência a utilização do timbó, veneno de pesca].
O tukanos os chamam de Diikana ou Diikara (“gente argila”), de onde
deriva a designação em Nheengatu (língua geral amazônica): Tuyuka.

Língua Tuyuka:
O Tuyuka é a língua dominante nas comunidades desse grupo
do alto do rio Tiquié e alto rio Papuri, usada nas reuniões
comunitárias pelos homens e jovens, língua padrão para
transmissão dos conhecimentos do grupo, o que restringe aos
homens o acesso a certos conhecimentos e as certas formas de
comunicação, próprias do seu grupo linguístico.
Mas o grupo local é também lugar de uma pluralidade de línguas
faladas pelas mulheres que se casam com os homens tuyuka.
No âmbito doméstico, a criança fala pelo menos duas línguas, a
do pai (tuyuka) e a da mãe (tukano, bará, dentre outras), tendo
mais intimidade, inicialmente, com a língua da mãe. Esse fato
garante a persistência do multilinguismo. Na socialização da
criança deve-se levá-la a compreender que a mais de uma
subcomunidade lingüística no seu tempo social. E a,
progressivamente, substituir a língua da mãe, pela do pai.

Localização:
Os Tuyuka consideram a região da cachoeira Yurupari
(localizada no alto rio Uaupés, na Colômbia) o seu território
tradicional, pois foi ali que se deu a sua transformação
primordial. Ainda hoje, em suas cerimônias, referem-se a essa
área como fonte de vida e poder, como sua casa, de onde
trazem os nomes para seus filhos.
A região ocupada hoje pelos Tuyuka compreende um trecho do
alto rio Tiquié, uma área de interflúvio dos rios Tiquié e Papuri,
que é drenada pelos igarapés Abiu (afluente do Tiquié) e
Inambu (afluente do Papuri), e uma outra área de interflúvio do
Tiquié com o igarapé Machado (Komeya em Tuyuka).
Os rios Tiquié e Papuri, por sua vez, são afluentes do Uaupés,
um dos grandes formadores do rio Negro. A foz do Uaupés fica
a montante da cidade de São Gabriel da Cachoeira, principal
centro urbano da bacia do rio Negro depois de Manaus.
Apesar de ocuparem um território geograficamente contínuo, os
Tuyuka dividem-se em dois subgrupos principais, separados por
razões histórico-sociais específicas, entre os quais se verifica
pouca proximidade social: o grupo do igarapé Inambu e o grupo
do Tiquié.

A Escola Indígena Tuyuka-Utapinopona:

Sob a atuação dos salesianos, que buscavam as crianças em


seus povoados e as levavam para as missões, os Tukano
incorporaram a educação escolar. A partir dos anos 1980, a
educação básica (da 1ª à 4ª série) passou a ser oferecida pela
rede municipal de escolas rurais, espalhadas por um bom
número de povoados.
As freiras Filhas de Maria Auxiliadora, no entanto, continuaram,
até os anos 1990, orientando os professores indígenas da
região, que tinham em geral o primeiro grau completo. Não
havia nenhuma especificidade no material didático e a ênfase
no ensino religioso se mantinha. Ao concluir a 4ª série, a
maioria das crianças, especialmente os meninos, era
encaminhada ao colégio mais próximo (correspondendo aos
antigos internatos dos missionários salesianos) para continuar
os estudos até a 8ª série.
Como consequência de tal rotina, sobrevinha certo
esvaziamento dos povoados durante o período letivo. Alguns
grupos domésticos deslocavam-se inteiros para o centro
missionário, onde mantinham uma casa. Nem todos, porém,
constituíam roças aí, continuando a voltar ao povoado de
origem para fazer farinha e buscar outros alimentos. Em alguns
casos, uma família cuidava de meninos de diferentes famílias.
A estada dos jovens nesses povoados/missões prolongava-se
além do período de estudo, já que preferiam ficar ali com os
companheiros da mesma faixa etária.
No Tiquié e no Pirá-paraná colombiano, o processo de
escolarização em poucos centros - também construídos por
padres católicos, mas de outras congregações - foi mais tardio,
com início na década de 1970. Também nessa região há o
esquema de afastar as crianças cada vez mais de seus
povoados, à medida que avançam no estudo, até chegar a
Mitú, capital do departamento de Vaupés. No país vizinho,
ainda hoje existem internatos, a maioria são laicos. No Brasil, o
fim do internato foi visto com insatisfação pelos índios, porque
não haveria mais uma instituição para cuidar da alimentação e
de outras necessidades dos jovens.
A partir de 1998, um projeto de escola indígena deflagrou
importantes mudanças nas comunidades tuyuka do alto Tiquié,
sobretudo no lado brasileiro. O contexto era o da crise entre os
missionários católicos gerada pelo impasse quanto ao seu
modelo de educação, à desestabilização socioeconômica
resultante da corrida ao ouro da serra do Traíra, ao rápido
esgotamento desse recurso e à emergência das organizações
indígenas (em paralelo, à recente demarcação das terras do
alto e médio rio Negro).
Em parceria com a FOIRN e com o ISA (Instituto
Socioambiental), apoiados pela Rainforest Foundation da
Noruega (RFN), quatro comunidades tuyuka do Brasil (São
Pedro, Cachoeira Comprida, Igarapé Onça e Fronteira), com
participação de comunidades colombianas vizinhas, juntaram-
se e assumiram a tarefa de criar uma escola indígena
autônoma e condizente com os projetos e decisões das
comunidades.
A Escola Utapinopona-Tuyuka adotou a própria língua na
alfabetização, e como língua de instrução nos diversos ciclos.
A partir de 2001, estenderam o ensino para além da 4ª série
(até então o ensino fundamental completo só estava disponível
em Pari-Cachoeira). Em consequência do intenso movimento
político liderado, a partir da comunidade de São Pedro, quase
todas as famílias que mantinham os filhos em Pari-Cachoeira
retornaram e aderiram à Escola Tuyuka.
Assim teve início um período de relações mais ativas e
constantes entre os povoados tuyuka, com frequentes
encontros, reuniões, oficinas temáticas e assembleias
relacionadas com a escola, contatos diários através de
radiofonias recém-instaladas, maior facilidade de transporte
com os motores e a gasolina do projeto. Participaram
ativamente os moradores do igarapé Onça, que até então
mantinham poucos contatos com os Tuyuka de Caruru acima.
Esse grupo passava por um processo de tukanização
lingüística (i. e. usam mais a língua Tukano que a própria
língua), já que, há três gerações, habitava uma área de
predomínio tukano próxima de Pari-Cachoeira e São
Domingos.
Em boa medida, a Escola Tuyuka inverteu os princípios da
escola missionária. Isso se deu a partir do momento em que
fez uma série de escolhas: adotou a língua indígena; para
incentivar a transmissão das tradições, aproximou crianças e
jovens dos mais velhos, em contraposição ao afastamento,
geográfico mesmo, entre as diferentes gerações; e passou a
tratar de assuntos e temas locais, de interesse das diversas
comunidades, em contraste com o currículo missionário
completamente exótico aos índios do Tiquié.
Oito anos após o seu início, o movimento político dos Tuyuka
vai além da escola. Um dos efeitos da Escola foi conferir
visibilidade aos Tuyuka no âmbito regional (alto rio Negro). São
Pedro, a principal comunidade tuyuka do lado brasileiro,
passou a sediar importantes encontros, com a participação de
pessoas de regiões como Içana, Pirá-paraná e São Gabriel.
Os Tuyuka também começaram a viajar mais e a participar de
reuniões e encontros em outras localidades. Enfim,
vivenciaram uma abertura maior para o exterior.
Atualmente a Escola passa por novas mudanças, a região é
agitada por outros movimentos, há maior mobilidade das
famílias, outras transformações...
Fontes: (Povos Indígenas no Brasil - https://pib.socioambiental.org/)

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