Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEd


CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Educação Indigena
Docente: Rebeca
Discentes: Caio Fernandes e Genilade
2015.1

Síntese de seminário - Povos Indígenas de Pernambuco

Kambiwá
Grupo Indígena: Kambiwá
População: 2576
Localização: Município de Ibimirim, Inajá, Floresta (PE). Sub-região do Vale do Moxotó.
Extensão: 31.495..3123 ha
Posto Indígena: PI Kambiwá ( na baixa de Alexandra); subordinado a ADR Garanhuns/PE.
Situação Jurídica:
IDENTlFICADA. Os Kambiwá - grupo indígena de filiação lingüística não determinada -
habitam a região das serras Negra e do Periquito (asquais constituem o mesmo alinhamento
orográfico, situado na região do Vale do Moxotó) desde, pelo menos, o inicio do século XIX,
época emque os "coronéis" do chamado "Alto Sertão pernambucano" os perseguiram e
dispersaram por força das armas" (FUNAI, 1988). Em seumovimento de perambulação pelo
sertão, várias foram às tentativas de retomar a Serra Negra, que consideram a "mãe" da qual
seus filhosforam afastados. Inúmeros relatos dão conta das sucessivas expulsões da serra,
induzindo o grupo a um movimento de permanente diáspora econseqüente ocultamento da
identidade étnica, sujeitos que estavam à repressão de suas práticas rituais ("Toré" e "Praiá"),
inclusive com oauxílio de forças policiais.A passagem do século XVIII para o XIX foi ocasião
das últimas "reduções de índios" (visando o estabelecimento dealdeamentos) que se tem
notícia, no sertão de Pernambuco­.
Em 1802, um missionário capuchinho italiano, Frei Vital de Frescarolo, afirma ter
aldeado, no lugar conhecido como Jacaré, entre aSerra do Periquito e a Serra Negra, 114
índios da nação Pipipão que, segundo seu relato; "andavam embrenhados no sertão da Serra
Negra" e envia exemplares das armas e vestes destes índios a Sua Alteza Real, em sinal de
sua obediência e fidelidade (frescarolo, 1802/83).
Poucos anos mais tarde (1823), "José Francisco da Silva e Cipriano Nunes da Silva
expeliram à mão armada os índios Pipipães quehabitavam a Serra Negra, situaram uma
fazenda pastoril, construíram casas e currais, fizeram grandes plantações, abriram estradas, e
para suagarantia mantinham gente armada, prevenindo qualquer investida dos índios
espoliados de suas terras" (Albuquerque, 1989/1889). Emboraformassem o contingente
majoritário ao que parece, não se pode dizer que eram os Pipipães os únicos habitantes da
Serra Negra. Relatosdiversos dão conta que outros etnônimos, igualmente noticiados, tais
como os "Vouê", "Umãs", "Aricobés" e "Avis" (Ibid.: 132-133), integravam oque Hohenthal Jr.
(1960) veio mais tarde chamar de "bandos nômades da Serra Negra", mencionando as
diversas tentativas frustradas empreendidas, já neste século no sentido de aldear estes índios
junto com os Pankararu de Brejo-dos-Padres, com quem sempre tiveramestreita relação. O
“território de perambulação" dos Kambiwá compreendia, segundo informações colhidas “Pedra
Furada, Serra da Cangalha,Serra das Areias , Serrote dos Bois (1,5 léguas antes do Moxotó),
Serrote Sonhém, Cabembe. margem esquerda do São Francisco, e daí até aPedra Furada"
(FUNAI, 1988).
Até o início de nosso século, a situação dos índios do sertão caracterizava-se pela flagrante
exploração a que estavam sujeitos pelos fazendeiroslocais, contra os quais se mobilizou um
grupo de interessados em sensibilizar a opinião publica da época sob o incentivo e orientação
doMonsenhor Alfredo Damaso.Este religioso mantinha em fins da década de 30 , contato
sistemático com Getúlio Vargas , a quem foi atribuída à autorização para que estes índios
ocupassem definitivamente a Serra Negra, enviada em telegrama entre 1939 e 1940 ao Padre
Dámaso emSão Serafim. Naquela ocasião, diversas famílias de descendentes dos anti­gos
moradores da Serra encontravam-se instalados nas imediaçõesda mesma, onde hoje está
localizado o PI Kambiwá. Liderados pelo índio João Fortunato, mais conhecido como João
Cabeça-de-Pena, ensejaram sua derradeira - e frustrada - tentativa de ocupação da Serra
Negra que resultou na prisão e tortura seguida de morte de Cabeça­-de-Pena pela Polícia de
Inajá (Ver Barbosa,1991).
Definitivamente alijados da Serra, os índios retornaram ao "Baixo do Araticum", hoje
co­nhecido como "Baixa da índia Alexandra", ondepermaneceram e se reorganizaram até que
em 1954, o então Ministro da Agricultu­ra, o Pernambucano João Cleofas "manda demarcar as
terras( grupo com os seguin­tes limites: Nazário Serrote das Cabaças, Riacho Americano,
faveleira, Serra Verde eISerra da Inveja" (FUNAI/88),quando foi construido o "Travessão" -
responsável até hoje pela divisão de uma extensa área em terra de pasto" e "terra de roça" –
como formade amenizar as tensões entre os índios, agricultores e o fazendeiro pecuarista. A
pnimeira demarcação física só viria a ocorrer, contudo, em1978, já sob a tutela da FUNAI, com
15.934 ha. Contestada desde o início da sua execução pelos representantes do grupo, a
proposta originalfoi modicada, ex­cluindo um dos trechos mais cultiváveis de toda a área, onde
está situada a "Lagoa de Dôca" - importante fonte de água e argilapara o grupo e em cujas
vazantes chegaram a cultivar arroz com sucesso em ocasiões diIversas -, além da "Serra do
Periquito" e a "Faveleira";dois dos cinco povoados por eles identificados.
O processo de regularização da terra Kambiwá fora desta forma interrompido
até 1992, quando foi constituído, através da Portaria/ Funai nº 1284/92, um grupo de trabalho,
responsável pela identificação, levantamento fundiário e delimitação da AI Kambiwá no
períodocompreendido entre 15 e 30 de outubro daquele ano. Nesta ocasião procedeu-se a
inclusão, no novo traçado da Serra do Periquito e da Faveleira, além de parte significativa da
chamada Fazenda Terra Rica, onde está localizada a Lagoa de Doca, sendo aproveitadas
todos osoutros marcos da demarcação de 1978. Isto se deu na altura dos povoados do
“Pereiro” e do “Tear”, onde os representantes indígenas optarampela preservação do antigo
traçado com o esforço das cercas e perfurações, em contrapartida , de um poço em cada uma
dessas aldeias.
Além disso os índios atualizaram uma antiga reivindicação, no sentido de terem
acesso à Reserva Biológica da Serra Negra,atualmente administrada pelo IBAMA, para a
pratica de rituais em determinadas ocasiões. Da mesma forma, recentemente solicitaram
umapequena alteração no traçado proposto pelo último GT, no sentido de estender a
delimitação (no limite superior) até o limite da cerca do IBAMA ,para que o acesso à Serra
Negra não venha a ser obstaculizado pelo avanço de fazendeiros locais. ( A este respeito ver
Barbosa, 1993).

Você também pode gostar