CURSO DE GEOGRAFIA BACHARELADO DISCIPLINA: GEOGRAFIA DO NORDESTE
Texto: Cap. V – O latifúndio, a divisão da propriedade e as relações de trabalho no
sertão e no litoral setentrional. In: ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. 1º Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1963.
No capítulo trabalhado, o autor discorre acerca da ascensão do sertão nordestino
enquanto produtor de mercadorias. O capítulo é dividido em três tópicos: 1. A pecuária e o latifúndio na conquista do sertão e do litoral setentrional, 2. O desenvolvimento da agricultura sertaneja, e 3. Parceria e trabalho assalariado na economia sertaneja. Ao observar a organização dos pontos, entende-se que esses, indicam a abordagem dos assuntos em ordem cronológica, trazendo no primeiro ponto a origem das ocupações no sertão, no segundo ponto ressaltando as características que impulsionaram o desenvolvimento atividade agrícola, e no terceiro e último ponto destacando as relações de trabalho, de forma a caracterizar as jornadas de trabalho, as remunerações, e a vida dos trabalhadores. De início, na leitura do tópico 1. A pecuária e o latifúndio na conquista do sertão e do litoral setentrional, entende-se a participação dos sertões na conquista da terra pela colonização. Os estados de Pernambuco e Bahia, destacam-se pelas condições climáticas e qualidade do solo de massapê para o desenvolvimento de culturas de exportação, sobretudo, a cultura da cana-de-açucar, o principal produto de exportação na época. Com a finalidade de conquistar mais territórios, os colonizadores portugueses passam a explorar os vastos sertões, e introduzir naquele ambiente fazendas de gado, produtoras de carne e derivados do boi, e com o passar do tempo, as grandes propriedades expandiam-se cada vez mais sertão a dentro. No entanto, o ambiente da caatinga era habitado por população nativa, que nutria um sentimento de aversão ao homem branco e a sua penetração em seus territórios. Além disso, os nativos tinham o boi enquanto uma fonte segura de alimento, portanto, também era seu alvo de caça. O conflito de interesses entre estrangeiros e nativos provocaram diversos ataques e rebeliões, sendo a Guerra dos Bárbaros, o episódio que dizimou centenas de indígenas no sertão nordestino. Com extensão duração, ao chegar ao fim, o conflito por terra possibilitou a penetração dos sanguinários portugueses na caatinga, e consequentemente o desenvolvimento da atividade pecuária nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. E assim, surge a fase da pecuária enquanto atividade econômica, denominada por Capistrano de Abreu, de civilização do couro. No texto, o autor exemplifica as relações hierárquicas da fazenda, a vida dos trabalhadores e as atividades que desempenhavam, como também, trata da trajetória dos animais, desde as suas características físicas, as dificuldades do desempenho da atividade, até os caminhos percorridos pelas boiadas. O estado do Ceará, possuía destaque perante os demais na produção de carne seca, ou “carne do Ceará”. Por isso, entende-se que a civilização do couro faz reacender os sertões, sendo a atividade realizada na zona semiárida, uma complementação a economia açucareira. No tópico 2. O desenvolvimento da agricultura sertaneja, o autor destaca a importância da atividade pecuária no desenvolvimento de atividades então secundárias, como a agricultura. No entanto, quando se fala de agricultura, refere-se a singelas plantações, feitas em pequenas áreas e vinculadas à alimentação da população, limitando-se- ao cultivo de milho, mandioca, feijão, algodão e algumas frutas. A razão da produção limitar-se ao consumo próprio, era a dificuldade de escoamento dos produtos em razão da distância e das más condições das estradas. De início a agricultura servia enquanto subsidiária à pecuária, e a medida em que se disseminara, passa a criar relações de trabalho assalariado no sertão. Ao passo em que se realiza a leitura, entende-se que as condições climáticas influenciam diretamente nas plantações, e o autor trabalha essa questão indicando sempre o período em qual cada cultura deve ser desenvolvida, ou quando deveria ser “brocado o roçado”, e quais precauções o agricultor tomava para garantir a qualidade dos seus produtos. O autor ressalta ao longo do tópico alguns dos produtos que vão além da alimentação, como a carnaúba, que fornece diversos materiais, sendo o principal a cera que era extraída da mesma. Por fim, o tópico é encerrado com comparações entre a ocupação do agreste e do sertão nordestino, sendo ambas iniciadas pela pecuária extensiva. Por fim, no tópico 3. Parceria e trabalho assalariado na economia sertaneja, o autor retrata as relações de trabalho no sertão, vinculadas primeiramente vinculada à pecuária, principal atividade econômica realizada no sertão. O fazendeiro, era símbolo de riqueza e poder, viviam em cidades próximas às suas grandes propriedades, e dessa forma, a fazenda ficava sob a responsabilidade de uma pessoa de confiança do senhor, e esta pessoa era o vaqueiro. O vaqueiro realizava todas as atividades administrativas e organizava todo o trabalho na fazenda, sua remuneração era chamada de quartição, ou seja, o vaqueiro recebia como forma de pagamento alguns animais que poderiam ser criados juntos aos animais da fazenda, ou próximo, dependendo da relação que tivesse com seu patrão. Além dos vaqueiros, o autor ressalta a importância de outros funcionários nas fazendas, como os carreiros, que trabalhavam conduzindo carros movidos à tração animal, os carros de boi, e os tangerinos, especialistas em conduzir boiadas pelos caminhos do gado, mencionados anteriormente, e dessa forma, os tangerinos, viviam em vilas próximas as fazendas de gado, na esperança de conseguir um trabalho. Outra relação pertinente era a de meeiro, onde 50% da produção era de propriedade do agricultor, e a outra parte era destinada ao fazendeiro, que geralmente fornecia as sementes e os insumos necessários para o plantio. Outro ponto mencionado pelo autor, é a sujeição dos agricultores aos fazendeiros, prática em que o agricultor deve dar ao dono da terra um dia de trabalho gratuito, sendo esta uma prática extremamente desvantajosa aos agricultores, mas que por dependerem das terras dos latifundiários, viam-se obrigados a receber e aceitar trabalhar em tal condição. Em decorrência dessas relações de trabalho abusivas, muitos optavam pela migração de trabalho para a região Sul e Sudeste, na esperança de conseguirem trabalhos assalariados e com condições menos desumanas. Além das condições precárias de trabalho no sertão, os salários eram baixos e desiguais, chegando o salário de uma mulher ser dois terços do salário de um homem. Porquanto, a leitura do capítulo permite compreender desde os primórdios até a fixação da cultura dos latifúndios, que se estabelecem até os dias atuais no sertão nordestino e nas demais regiões do país. A preocupação com as questões climáticas prevalece no período, sendo as estações caracterizadas por dois períodos, a seca enquanto a estação da perda, e da dificuldade de criar animais e desenvolver culturas, e o inverno, ou estação da colheita, caracterizado por um período de chuvas, que representavam a fartura e a esperança de se ter produtos necessários para a subsistência. Entende-se que com a prática da concentração de terras, os impactos foram além da conquista dos territórios, acontecendo também de forma cultural. Resenha submetida à avaliação da disciplina de Geografia do Nordeste, ministrada pela professora Adriana de Sá Leite de Brito. Vitória Alves Lima, discente do [8] semestre do curso de Geografia Bacharelado, da Universidade Estadual do Ceará, campus Itaperi, Fortaleza – CE.
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