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Como a disciplina pode colaborar na revisão da literatura da sua pesquisa de

mestrado?

Leitura dos processos de alteração da economia local como inovações efetivas que,
todavia, contribuíram para novas formas de exploração, e manutenção do
subdesenvolvimento local.

O tema da minha pesquisa versa sobre o assentamento popular de Sobradinho, na Bahia,


resultado do atrativo gerado pela construção da barragem, que leva o mesmo nome, e do
lago de regularização, que gerou o deslocamento de milhares de famílias, mas que
também veio a gerar um novo impulso na dinâmica econômica local. A princípio estou
voltada sobre os as desigualdades socioespaciais dentro do município, mas também das
interações deste com a região do submédio do vale do São Francisco. 
Nesse sentido, a disciplina contribuiu para visualizar outras camadas do processo
econômico local, em especial na interpretação da construção da barragem sob a forma
de uma inovação, que é apropriada de maneira a gerar dominação econômica por um
grupo reduzido, e mais recentemente uma perda da soberania nacional, com a chegada
de empresas multinacionais interessadas na exploração da agroeconomia exportadora
local. O tema da “Dominação de Territórios no Brasil” foi explorado na segunda sessão
do seminário pela apresentação “Para quê inovar no país da modernização sem
mudança” da professora Ana Cristina Fernandes, que me suscitou novas reflexões
acerca do meu tema.

Afetados pelas secas sazonais do nordeste, o sertanejo teve a miséria como marco da
realidade de comunidades, povoados e cidades do sertão do nordeste brasileiro. Nesse
contexto as obras hidrelétricas se apresentavam como inovação capaz de trazer
condições de desenvolvimento para esse povo. Todavia estão inclusos também nesse
processo jogos de poder e dominação que se evidenciam tanto nas disparidades
socioeconômicas, quanto nas atuais dinâmicas de interação com as políticas neoliberais
de dominação.
A minha pesquisa versa sobre a cidade de Sobradinho, no norte do estado da Bahia, que
integra a região político administrativa do submédio do vale do são francisco, tendo sua
criação diretamente ligada à construção da Barragem de Sobradinho. Esta faz parte de
uma política de planejamento regional que visava a autonomia energética do nordeste
através do aproveitamento hidrelétrico do rio São Francisco. 
Existem inúmeros fatores implicados nessa política, mas o que me limito aqui é sobre a
consequente exploração da economia com base na fruticultura no submédio do São
Francisco, a política de exportação destes produtos, e a crescente apropriação pelo
capital estrangeiro da economia regional através da inserção de multinacionais de
pesticidas na dinâmica produtiva. 
Assim como em Sobradinho, são muitos os eventos históricos que relatam
deslocamentos humanos em busca de melhores condições de vida. Seja na urbanização
do Ceará e dos campos de concentração dos flagelados da seca, seja no movimento de
resistência de Canudos, as condições de vulnerabilidade social e o anseio por melhores
condições de vida marcm a história do sertanejo. E em Sobradinho, isso não foi
diferente, no contexto de uma economia limitada a pecuária, normalmente sob as mão
das mesmas famílias, difícil acesso à terras produtivas, e frequentes e fortes períodos de
seca, busca por melhores condições de sobrevivência guiam a formação de uma cidade.
A notícia da construção da barragem atraiu inúmeras famílias em busca de
oportunidades de melhorar suas condições de vida,  ou simplesmente sobreviver diante
das terras inundadas para criação do lago. 
É nesse contexto que as perspectivas de dominação se reafirmam, com o poder
concentrado nas mãos das mesmas famílias locais seja sob a figura de representantes
políticos, ou pela contínua concentração de terras produtivas. As consequências atuais
desses eventos são a autonomia da agroeconomia local concentrada e destinada a
exportação, na qual se nota uma clara melhoria nas condições gerais de vida, mas ainda
assim, reafirma-se o subdesenvolvimento local. O mais preocupante agora, parecem ser
o interesse de empresas de capital externo na produção local, a exemplo da Bayer, que
tem base na cidade de Petrolina, e domina o uso de pesticidas das produções locais.

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