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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CCR: Geografia Histórica


PROFESSOR: Dr. Marlon Brandt
ACADÊMICA: Nataly Kauani Rezer Paz

ESBOÇO DO TRABALHO FINAL

TEMA: AGRICULTURA FAMILIAR NO OESTE CATARINENSE

1. INTRODUÇÃO

A agricultura familiar por muito tempo vem desenvolvendo um papel fundamental


no tecido social e na esfera econômica regional do oeste catarinense. Este processo
sócio-produtivo é um dos grandes responsáveis pela transformação do território no
meio rural, uma vez que emprega em seus mecanismos técnicas, ciência e informação,
a fim de alavancar o seu desenvolvimento no espaço onde está inserido.
Ao longo dos anos a agricultura familiar passou por muitos modelos econômicos,
desde a extração de madeira constituinte de florestas nativas até a extração das ervas-
mate, passando pela produção de uma agricultura básica, voltada para a subsistência, e
como alternativa para a produção monocultora. Logo após, a agricultura familiar passa
a desenvolver um novo ciclo econômico, agregado, principalmente pela produção
leiteira desenvolvida extensivamente pelo oeste catarinense. Atualmente a fase da
agricultura familiar está entrelaçada de forma muito concreta com a agroindústria
regional, que possibilita a estruturação de uma agricultura mais moderna e tecnificada.
2. DESENVOLVIMENTO

A agricultura familiar no oeste catarinense teve início com a chegada dos primeiros
colonos em meados de 1920. Eles adquiriram lotes comercializados por grandes empresas
colonizadoras, visando sobretudo uma melhoria na qualidade de vida e não somente levando
em consideração as condições necessárias para a produção agrícola. Em decorrência do
povoamento, iniciou-se os processos de desmatamento para a limpeza dos lotes que tinham a
floresta de mata atlântica predominante naquele território. A madeira oriunda dos processos
de limpeza dessas terras foram utilizadas, principalmente, para as construções básicas
necessárias para a sobrevivência das famílias, que a partir de agora ocupavam aquele espaço.
Além de abrirem caminhos para a construção de estradas que facilitaram o desenvolvimento
de pequenos vilarejos, por consequência também facilitaram a comercialização da madeira e
da erva-mate, que por muito tempo era feita com a ajuda das cheias do Rio Uruguai. Com o
passar dos anos, a utilização da madeira foi se tornando cada vez mais frequente, sendo
através deste fato que surgiram as primeiras serrarias que ofertaram vagas de emprego para os
moradores da região, dividindo o trabalho entre a agricultura e a extração da madeira, que se
desenvolveu rapidamente com o surgimento das primeiras casas comerciais.
A agricultura familiar por muito tempo foi relacionada a uma “agricultura de subsistência",
pois naquela época o cultivo dos alimentos eram voltados somente para garantir a
sobrevivência das famílias. A mercantilização surgiu sobretudo entre as décadas de 1920 e
1930, com a elevação do padrão de vida da época e foi a partir disso que os pequenos
negócios foram surgindo. A negociação era feita entre os comerciantes locais e os pequenos
agricultores. Enquanto os comerciantes compravam o que era produzido nas propriedades
agrícolas, os agricultores iam em busca de suprimentos que não conseguiam produzir. Com a
ajuda dos agentes de comercialização, que atuavam e ainda atuam nas cadeias produtivas, os
alimentos não perecíveis seriam vendidos a comerciantes maiores, promovendo as relações
comerciais que deram abertura para a produção do leite no oeste catarinense, além de
intensificar a produção da suinocultura dentro da agricultura familiar.

2.1. A CADEIA DA PRODUÇÃO LEITEIRA NO OESTE


CATARINENSE
A atividade leiteira faz-se numa atividade econômica de ampla relevância tanto para o
nosso país quanto para o nosso estado. A FETRAF estipula que atividade leiteira passou a ser
uma grande alternativa de renda para os pequenos agricultores a partir dos anos 90, essa
atividade se transformou em um setor com condições econômicas, geração de emprego, renda
e também desenvolvimento, tanto do comércio local, quanto do comércio regional.
Segundo a Epagri, Santa Catarina se encontra sendo a quinta maior produtora brasileira de
leite e passa a registrar um crescimento grande em sua produção, em 2014 Chapecó se
transformou na capital do leite durante a Mercoláctea. A agricultura familiar é responsável
por 57% de toda a produção de leite do país, somente a região Sul (PR, SC, RS), é
responsável pela produção de 12,3 bilhões de litros por ano, total de 35,2% .
A importância econômica da atividade leiteira já foi e ainda é apontada em diversos
estudos, destacando seus aspectos positivos, entre esses se encontram: Mão de obra, alta
capacidade de agregar valores nas pequenas e médias propriedades, possibilidade do ingresso
mensal de receitas, bem como, dinamização do comércio local.
Atualmente o setor leiteiro enfrenta grandes dificuldades para seu desenvolvimento, entre
essas: o preço do litro de leite, idade avançada dos agricultores, sucessão familiar e o
investimento em novas tecnologias. Entre as principais dificuldades encontra-se o valor que
recebem pelo litro de leite produzido e também a grande maioria dos pequenos produtores
acabam abandonando a pecuária leiteira devido a grande idade avançada, pois os mesmos
estão em processo de aposentadoria ou muitas vezes aposentados, também pela falta de mão
de obra para a continuidade dos trabalhos na propriedade. Também é visível uma redução no
número dos filhos e a migração do jovem para a cidade em busca de emprego. Os produtores
também recebem auxílio de programas e ações voltados à produção de leite, porém existem
inúmeros relatos de que isso é insuficiente para que consigam se manter em suas propriedades
e citam a necessidade de implementação de políticas públicas que visem favorecer e
fortalecer a atividade leiteira nas pequenas propriedades.

2.2. A AGRICULTURA FAMILIAR E A INTEGRAÇÃO COM A


AGROINDÚSTRIA
A relação da agricultura familiar com a agroindústria iniciou-se em meados das décadas de
1930 a 1940, quando o desenvolvimento e a expansão dos capitais comerciais locais
culminaram na oportunidade de instalação dos primeiros abatedouros no Oeste Catarinense.
Os primeiros frigoríficos tinham como base principal de produção a banha suína, produto de
alto valor no mercado da época, sendo a carne tida como um produto secundário devido a sua
condição perecível e de difícil armazenamento. No decorrer do tempo estes frigoríficos
aprimoraram as suas formas de produção, e desta forma, a carne passa a ser o produto
principal de produção e a banha o produto secundário, passando a alimentar mercados
nacionais. Contundente ao aumento de produção dos frigoríficos a associação de unidades de
agricultores rurais a agroindústria em recente ascensão também cresce.
No decorrer do tempo, as unidades frigoríficas empregaram novas tecnologias que
possibilitaram um aprimoramento melhorado em suas matérias-primas bem como nos seus
processos fabris. Este fator colaborou com os avanços dos estudos quanto à viabilidade da
estruturação da indústria avicultura na região oeste, com o objetivo de firmar-se como
principal fornecedor nacional de produtos derivados da agroindústria. Entretanto, apesar dos
avanços das relações comerciais entre a agroindústria e os produtores familiares, até meados
da década de 1950 prevalecia a produção independente nas unidades familiares. Somente a
partir da década de 1960 que a produção suinocultura alavanca para patamares maiores,
contando com maiores unidades produtoras vinculadas aos frigoríficos. Este fator
desencadeou uma maior produção de milho voltada para o consumo das unidades
suinocultoras, ocasionando em uma modificação mais profunda na paisagem rural. Nesta
década a produção de milho cresce 213% e a área cultivada passa para 207.171 ha plantados.
A partir do ano de 1980 a indústria suinocultura passa por uma forte crise em seus sistemas
de produção, o que fez com que os frigoríficos buscassem novas formas organizacionais e de
produção, sendo a partir daí adotadas através de contratos de integrações padrões técnicos
visando selecionar as unidades familiares mais eficientes na cadeia produtiva. Entretanto, este
processo de seleção de produtores mais eficientes traz um impacto na cadeia produtiva, umA
vez que no ano de 1970 a suinocultura era a principal atividade econômica de cerca de 60 mil
produtores; em 1990 esse número cai para 40 mil produtores associados.
Esta nova forma de organização foi o principal motivo para que novos ciclos econômicos
ganhem espaço e se desenvolvam no espaço rural. Os produtores que antes tinham sua forma
de renda na suinocultura, tiveram que achar outra forma/estratégia para se manter no campo, é
nesse contexto que emerge a cadeia produtiva do leite no oeste catarinense como um modelo
econômico que se tornaria um importante aspecto social-econômico da região.
5. CONCLUSÃO

Consideravelmente aos muitos ciclos econômicos que tiveram a sua gênese e a


oportunidade de se estruturar sobre a base de uma agricultura familiar , debatemos
sobre a sua importância ao longo do tempo, sobretudo nos dias atuais. A agricultura
familiar já passou por muitas faces perante a sociedade, entretanto, indiferentemente
das atividades desenvolvidas por ela em diferenciados círculos produtivos, a
agricultura familiar sempre teve em sua premissa principal o papel de suprir o
mercado alimentar, visando garantir, sobretudo, uma ideia utópica relacionada a
soberania alimentar. Hoje, mais do que nunca, no cenário mundial abalado pela
pandemia do novo coronavírus, a agricultura familiar e movimentos ligados a ela,
foram agentes decisivos frente à insegurança alimentar (ao que podemos chamar de
fome) que se tornou uma realidade de muitas pessoas. Mais do que nunca ela foi tão
importante levando em consideração as ações desenvolvidas e postas em práticas pelo
setor social, pautando sobretudo, o direito a uma alimentação de qualidade e digna a
muitos cidadãos.
REFERÊNCIAS

MATTEI, Lauro. O papel e a importância da agricultura familiar no desenvolvimento rural


brasileiro contemporâneo. Revista Econômica do Nordeste, v. 45, n. 5, p. 83-92, 2014.

KONRAD, Jóice; SILVA, CA da. Agricultura familiar no oeste catarinense: da colônia à


integração. XXI encontro nacional de geografia agrária “territórios em disputa: os
desafios da geografia agrária nas contradições do desenvolvimento brasileiro”.
Uberlândia-MG, v. 15, 2012.

JOCHIMS, Felipe; DORIGON, Clovis; PORTES, Vagner Miranda. O leite para o Oeste
Catarinense. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.29, n.3, set./dez. 2016.

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