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PROPOSTA DE CURSO DE EXTENSÃO  

NOME  
PENSAR OUTROS – uma imersão nas cosmogonias Nagô e Guarani  

JUSTIFICATIVA  

O curso se insere em um projeto de mesmo nome, submetido e aprovado pelo Edital


PROINPE nº 01/2021, em uma proposta que articula a pesquisa o ensino e a extensão. Em sua
primeira fase, trabalhou-se a pesquisa e o ensino e, para tanto, contando com a colaboração de dois
alunos de licenciatura do curso de História, buscou-se investigar e analisar, teórica e
conceitualmente, as principais fontes bibliográficas que embasam o curso, a saber: Pensar Nagô,
de Muniz Sodré (2017) e Tupã Tenondé – a criação do Universo, da Terra e do Homem, segundo a
tradição oral Guarani, de Kaká Werá Jecupé (2002), além de pesquisa bibliográfica complementar
ao tema. Além disso, considerando o futuro caminho da docência, a partir de uma pesquisa-
formação, os licenciandos participaram ativamente na elaboração do curso, na assimilação e
estruturação do conteúdo, executando as tarefas elencadas em seus respectivos planos de trabalho,
selecionando e preparando material complementar de inspiração sociopoiética, condizentes às
cosmogonias Nagô e Mbyá Guarani, respectivamente.
A proposta extensionista de um curso atualiza a democratização do conhecimento para além
dos muros da comunidade acadêmica. Neste sentido, a abertura à compreensão de aspectos das
cosmogonias Nagô e Guarani, assim como o diálogo com a filosofia de tradição ocidental, vem
agregar no processo de conscientização da sociedade brasileira, de seu caráter multiétnico, ao
destacar, principalmente, as características que remetem ao seu nascimento enquanto povo, as quais,
segundo Darcy Ribeiro (1995) se assentam no encontro - distante de ser pacífico e voluntário – de
três matrizes: a lusitana, a africana e a tupi-guarani.
A escolha de obras específicas para embasar os estudos investigativos e as aulas ministradas,
 
obedecem a critérios pertinentes à perspectiva teórica da virada ontológica1 em Antropologia,
alguns dos quais merecem destaque. Em primeiro lugar, a constatação de que existem outras formas
de ser e estar no mundo, outras ontologias, e isto se configura como uma crítica ao esquematismo
kantiano. Em segundo lugar, tanto Sodré quando Jecupé falam ‘de dentro’ das respectivas tradições,
o que nos aproxima da proposta perspectivista de Viveiros de Castro (2015), que pergunta “qual o
ponto de vista nativo sobre o conceito antropológico de ponto de vista?” (VIVEIROS DE
CASTRO,2015, p.50). Certamente um “deslocamento reflexivo”, uma “contra-antropologia”, cujo
desafio é compreender quais mundos se formam a partir destes pontos de vista: eis a virada
ontológica. Pela escolha dos autores, não há diferença entre o etnógrafo e seu objeto de estudo,
sendo eles sujeitos da própria narrativa, embasada em suas histórias de vida.
Assim, em Pensar Nagô, Sodré (2017) discorre sobre a filosofia vivenciada a toques de
atabaques, desvelando os significados existenciais do pensamento Nagô, percebendo-o como
continuidade da Arkhé africana (PASTI, 2017). Uma vez que a memória coletiva encontra-se
enraizada no território religioso, o ser se forma também coletivamente, diferentemente da tradição
ocidental, mais individualizada. Filosofia do terreiro, ritualizada, mítica e ao mesmo tempo prática,
locus de memória, ancestralidade e também presentificação, corporificada, tal como aponta o autor,
“no interior da configuração simbólica dos nagôs o corpo humano é permeável a mundo histórico e
cosmo mítico, exibindo ritualisticamente esta sua singularidade” (SODRÉ, 2017, p. 121). Um outro
aspecto da filosofia Nagô que marca uma singularidade e diferença em relação à filosofia de
tradição ocidental é a observação da temporalidade, a qual, longe de ser linear, apresenta uma
configuração de circularidade, a exemplo do aforismo nagô citado como epígrafe de um dos
capítulos do livro, “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje” (SODRÉ, 2017, p.
171).
Por sua vez, em Tupã Tenondé - a criação do Universo, da Terra e do Homem segundo a
tradição oral Guarani, temos, através de Jecupé (2002), acesso direto à voz indígena. Em sua
iniciativa de traduzir (o livro apresenta uma tradução bilíngue em português e tupi-guarani) os
cantos sagrados Mbyá Guarani2, este trabalho se enriquece, não somente com os textos explicativos
do autor, mas também com traços que lembram pinturas e grafismos. Desta forma, tanto as
singularidades culturais e religiosas dos Guarani, apresentadas pelo autor, auxiliam na compreensão
dos cantos sagrados, quanto, através dos grafismos, outra forma de linguagem, a pictórica, nos é
                                                                                                               
1Movimento teórico da Antropologia contemporânea, que propõe a primazia das discussões ontológicas em detrimento da
epistemologia.  
2Segundo Quaresma e Leal (2018), há várias traduções dos cantos sagrados Mbyá Guarani, tais como a do etnólogo
paraguaio León Cadogan (1959) , a do etnógrafo francês Pierre Clastres (2011) e a da poeta brasileira Josely Vianna
Baptista (2001).  
 
apresentada. Somos então, convidados a ouvir, ao pé da fogueira, estes cantos sagrados:
Agora, de acordo com a tradição, faço a fogueira, ponho aromáticos preparados de ervas,
galhos secos; e lhe convido a ouvir ao pé dela. Sente-se. Devo alertar-lhe para que fique à
vontade, esse ritual é para melhor ouvir ne’eporãs, as belas falas, as falas sagradas, de
alguns anciões que por essa história hão de passar, e são cheias de lições antigas do povo
guarani. (JECUPÉ, 2002, p.37)

A partir das breves pontuações supramencionadas, pode-se concluir que a relevância social
do curso proposto é esta possibilidade dada à comunidade brasileira, de abertura à escuta de novas
narrativas, de forma a compreendermos que, de um modo mais profundo, “por meio da linguagem
habitamos o mundo” (Quaresma; Leal, 2018, p. 536). Por conseguinte, é uma abertura ao
conhecimento e quiçá, compreensão, de outras ontologias. E se esta abertura e disponibilidade às
alteridades nos remete a um movimento de “mão dupla”, na medida em que, conhecendo o outro,
descobrimos também aspectos de nós mesmos, no curso “Pensar outros – uma imersão nas
cosmogonias Nagô e Guarani”, estaremos, literalmente conhecendo os outros de nós, brasileiros
mestiços de alma e de cor.

OBJETIVOS

Ofertar um curso de extensão à comunidade acadêmica e externa, na modalidade EAD,


sobre cosmogonias de tradições africana e ameríndia.

Objetivos específicos

(i) apresentar as categorias conceituais e ontológicas das cosmogonias Nagô e Guarani em


duasobras específicas e destacar possíveis dialogias com a tradição filosófica ocidental;  
(ii) auxiliar no desenvolvimento de potencialidades cognitivas além da intelectiva, através de
recursos da sociopoética;  
(iii) promover um espaço (virtual) de encontros e discussões sobre formas outras de ser e
estar nomundo, aberto à comunidade.  

INSTITUIÇÃO PROPOSITORA

UEMG – Unidade Divinópolis


Coord. Tatiana Maciel Gontijo de Carvalho (docente na Unidade Divinópolis)  
 
Equipe: Alunos do 6ºp. do Curso de História (especificados no anexo 1)  e colaboradores: Prof.rª Ana
Paula Sena Gomide (docente na Unidade Divinópolis) e da comunidade externa, respectivamente, da
cultura de terreiro (Candomblé) e da tradção Mbyá Guarani (a confirmar)  

METODOLOGIA  

As aulas serão expositivas e dialógicas, na apresentação e discussão do aspecto mais


filosófico e conceitual das cosmogonias Nagô e Mbyá Guarani, perpassadas por material de
inspiração sociopoética, método de pesquisa instituinte e decolonial, criado por Jacques Gauthier
(2019) em meados da década de 90. Segundo Santos e Monteiro (2018), dentre as várias influências
teóricas do criador do método, destaca-se uma provável combinação da Pedagogia do Oprimido
(Freire), da Análise Institucional (Lourau e Lapassade) e da Esquizoanálise (Deleuze e Guattari).
Em linhas gerais, esta metodologia procura seguir cinco orientações, as quais lhe dão o
embasamento teórico e epistemológico. São elas: a instituição do grupo-pesquisador, que são
também co-autores; a valorização das culturas de resistência, como as afrodescendentes, indígenas;
o ato de pesquisar com o corpo inteiro, abrindo-se para outras potencialidades cognitivas, o afeto, a
imaginação, etc; a utilização de técnicas artísticas de produção de dados e, como não pode faltar em
uma proposta decolonial, o respeito à propriedade intelectual da comunidade acolhedora da
pesquisa. (GAUTHIER, 2019).
Dois princípios da sociopoética - o uso do corpo na produção dos dados e a transculturalidade
espiritual, a exemplo do transe no processo investigativo – não serão utilizados, devido a duas
respectivas limitações: isolamento social e ensino remoto por causa da pandemia da COVID-19 e o
fato de não sermos iniciados nestas tradições que iremos abordar. No entanto, serão utilizados os
princípios da co- participação do grupo-pesquisador na produção do curso, o uso de técnicas e
material didático complementar de cunho artístico e a abertura à escuta e aprendizado de outras
tradições, as quais terão seus porta vozes respeitados, a partir da escolha de autores que falam
‘de dentro’: Muniz Sodré, iniciado no candomblé da Bahia e Kaká Werá Jecupé, índio brasileiro,
de tradição TxuKarramãe, abraçado pelatradição Mbyá Guarani.

PERÍODO DE REALIZAÇÃO  

De 09/10/2021 a 11/12/2021
Aos sábados, de 9:00-11:30
 

PÚBLICO-ALVO

Graduandos em geral, licenciandos ou não, vinculados à qualquer Instituição de Ensino Superior


e comunidade externa, visto que o curso será aberto a quem tiver interesse pelo tema.
CARGA HORÁRIA  

- 30 h/a (10 encontros de 3 h/a cada)  

CRONOGRAMA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO  

09/10/21
- Apresentação do curso
- Cosmogonia Nagô:
-Por uma dialogia entre a filosofia grega e o pensar Nagô
-A diáspora do povo Iorubá no Brasil colônia
-O Egbé como lugar da Arkhé
16/10/21
- Cosmogonia Nagô:
-Corpo e potência – parte 1
- Orikis e Orixás
23/10/21
- Cosmogonia Nagô:
- Corpo e potência – parte 2
- contornos litúrgicos  
30/10/21
- Cosmogonia Nagô:
- Sobre Exu e a temporalidade
- Etnia, saber e cultura
06/11/21
- Cosmogonia Guarani
- Quem são os Guaranis?
- Filosofia, religião e arte
13/11/21  
 
- Cosmogonia Guarani
- Os cantos sagrados – parte 1  
- Os primeiros costumes do colibri e os fundamentos do ser  
- Mitos e cantos sagrados: Ñamandu e a criação dos deuses  
20/11/21
- Cosmogonia Guarani
- Os cantos sagrados – parte 2  
- A primeira Terra e o ‘dar assento a um ser’  
27/11/21
- Cosmogonia Guarani
- A estética dos grafismos
04/12/21
- Atividade avaliativa  
11/12/21  
- Desafios da diversidade étnica no Brasil  

FORMA E LOCAL DE OFERECIMENTO  

O Curso será ofertado na modalidade EAD, de forma online, através da plataforma


StreamYard , com transmissão pelo youtube, em link compartilhado com os inscritos..

NÚMERO DE VAGAS  
- 50 (cinquenta)

AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO

Seguindo as diretrizes da resolução do COEPE nº 161/2015, Art. 9º, serão emitidos


certificados na modalidade de curso de extensão àqueles que obtiverem 75% de participação, além de
realizarem a atividade avaliativa e obtiverem o mínimo de 60 pontos. O curso será gratuito  

PLANO DE TRABALHO DOS ALUNOS (em anexo)


 
REFERÊNCIAS

GAUTHIER, Jacques. A sociopoética como método de pesquisa instituinte e decolonial. Capoeira –


Revista de Humanidades e Letras. Vol. 5, nº 2, p. 235-256, Ano 2019.
__________________O oco do vento - Metodologia da pesquisa sociopoética e estudos
transculturais. Curitiba: CRV, 2012.
JECUPÉ, Kaká Werá.Tupã Tenondé: A criação do Universo, da Terra e do Homem segundo a
tradição oral Guarani. São Paulo: Pierópolis, 2001.
PASTI, Renato. Pensar-vivendo: Filosofia a toque de atabaques em Pensar nagô. Revista Espaço
Acadêmico, nº 207, p. 135-138, Agosto/2018, mensal.
QUARESMA, Carline Cunha Ramos; LEAL, Izabela Guimarães Guerra. Kaká Werá Jecupé e a
tradução dos Cantos Sagrados Mbyá Guarani. Letras Escreve. Macapá, v. 8, nº 1, 1º sem., p. 533-
554, 2018
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
SANTOS, Monaliza Holanda dos; MONTEIRO, Ana Márcia Luna. Sociopoética: um método de
pesquisa a favor da não-violência, dignidade e integralidade do ser humano no âmbito educacional.
Revista Semana Pedagógica. PE: Centro de Educação da UFPE, v.1, n. 1, p. 160-162, 2018. Disponí
vel em < https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistasemanapedagogica/article/view/236786/29294 >.
Acessado em 28/04/2021.
SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Rio de Janeiro: Editora Vozes.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. Elementos para uma antropologia
pósestruturais.
São Paulo: Ubu, 2015.
 
ANEXO 1  

– PLANO DE TRABALHO DOS ALUNO(A)S  

1. Vítor Olegário Oliveira (Curso História, 6º período)  

• Reuniões semanais com a equipe (professor(a) orientador(a) e colega de iniciação científica


voluntária: estas reuniões permitirão o alinhamento metodológico, o diálogo para sanar
dúvidas e a organização e planejamento das aulas.  
• Organização e/ou criação de material didático complementar que versem sobre a
cosmogonia Nagô: seguindo a metodologia sociopoética, o material selecionado e/ou criado
deverá ser de cunho artístico, de modo a estimular o desenvolvimento de processos
cognitivos outros, mais lúdicos, que agreguem à reflexão racional.  
• Co-participação no curso: colaboração e participação ativa das aulas com apresentação de
material sociopoético de matriz Nagô.  
• Monitoria: monitoramento das demandas pedagógicas e da logística do Curso, que
corresponde à divulgação do curso, inscrições, controle da frequência, gerenciamento das
questões levantadas pelos cursistas, de modo a garantir uma livre comunicação e envio de
certificados.  
• Relatório final: participação na elaboração conjunta do relatório final, conforme instrução do
Art. 7º da Res.COEPE nº 161/2015.  
 
2. Ana Carolina Moreira Barcelos (Curso História, 6º período)

• Reuniões semanais com a equipe (professor(a) orientador(a) e colega de iniciação científica


voluntária: estas reuniões permitirão o alinhamento metodológico, o diálogo para sanar
dúvidas e a organização e planejamento das aulas.  
• Organização e/ou criação de material didático complementar que versem sobre a
cosmogonia Guarani: seguindo a metodologia sociopoética, o material selecionado e/ou
criado deverá ser de cunho artístico, de modo a estimular o desenvolvimento de processos
cognitivos outros, mais lúdicos, que agreguem à reflexão racional.  
• Co-participação no curso: colaboração e participação ativa das aulas com apresentação de
material sociopoético de matriz Guarani.  
 
• Monitoria: monitoramento das demandas pedagógicas e da logística do Curso, que
corresponde à divulgação do curso, inscrições, controle da frequência, gerenciamento das
questões levantadas pelos cursistas, de modo a garantir uma livre comunicação e envio de
certificados.  
• Relatório final: participação na elaboração conjunta do relatório final, conforme instrução do
Art. 7º da Res.COEPE nº 161/2015.  

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