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Anteprojeto de Pesquisa

Mestrado - EDITAL PPGEFHC UFBA/UEFS 01/2023


Proponente: Jessyca Assis de Oliveira Cardoso

Linha de pesquisa: Ensino de Ciências


Orientadores/as indicados/as:
1) Prof. Dr. Fábio Pessoa Vieira
2) Prof. Dr. Hélio da Silva Messeder Neto
3) Prof.ª Dra. Lynn Rosalina Gama Alves

Os Saberes Comunitários e a constituição do sustentável em Terreiros de Candomblé Ketu:


Um Diálogo Horizontal

Justifica-se a escolha da linha de pesquisa Ensino de Ciências, pois almeja-se abordar como
temática: Sustentabilidade ambiental em terreiros de candomblé Ketu, a qual investiga a
sustentabilidade ambiental que emerge no cotidiano dos povos de terreiro, tendo como alicerce
para a constituição do sustentável, as pedagogias destes povos e por interesse acadêmico e social
de dar continuidade a pesquisa de iniciação científica, desenvolvida com apoio do PIBIC-
UFBA, nos anos de 2019/2020, a qual tornou-se um Trabalho de Conclusão de Curso, do
Bacharelado em Gastronomia. Considerando que a epistemologia decolonial, no âmbito do
ensino das Ciências, questiona os padrões de poder, da subalternização, da racialização e
inferiorização, o estudo pretende compreender como as formas de relacionamento com a
natureza, refletidas por meio dos saberes comunitários, revelam a constituição do sustentável
nas práticas litúrgicas, através dos modos de vida no candomblé, de acordo com as
especificidades das práticas religiosas inerentes à Nação Ketu. É neste viés, que se acredita que
a educação científica, em todos os níveis do ensino, pode ser aprimorada com a continuidade
deste estudo, observando as dimensões históricas e filosóficas da ciência, em consonância com
pesquisadores da área da educação científica de que a aprendizagem da ciência precisa ser
acompanhada pela aprendizagem sobre a ciência e é esta a proposta para o ingresso no
Mestrado.
Os Saberes Comunitários e a constituição do sustentável em Terreiros de Candomblé Ketu:
Um Diálogo Horizontal

Resumo

Os terreiros de candomblé ketu, descendentes do Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Axé Opô Aganju,
serão lócus empírico da pesquisa, a qual se propõe estudar o saber que emerge a partir de um
relacionamento horizontal com a natureza, sob uma perspectiva de sustentabilidade que
considera a heterogeneidade e as singularidades dos povos de terreiro, contrapondo o modelo
antropocêntrico de desenvolvimento e de construção do conhecimento. A fenomenologia e
pesquisa-ação serão os métodos utilizados para compreensão das relações entre os saberes
tradicionais relacionados às práticas litúrgicas no candomblé ketu e o ambiente, além das
epistemologias pós-coloniais e decoloniais, que poderão auxiliar na percepção da complexidade
de como funcionam os modos de vida nas comunidades de terreiro.

Palavras-chave: Ensino. Sustentabilidade. Saberes. Decolonialidade. Fenomenologia

1. Problemática

Esta proposta de pesquisa almeja a realização de um estudo que visa evidenciar


alternativas às estratégias convencionais e cartesianas de construção de conhecimento,
promovendo um diálogo entre os saberes tradicionais e a ciência dita convencional, produzida
em espaços acadêmicos. De modo que o saber será abordado a partir de um relacionamento
horizontal com a natureza, discutindo acerca da sustentabilidade sob uma perspectiva que
considera a heterogeneidade e as singularidades dos terreiros de candomblé, contrapondo o
modelo antropocêntrico de desenvolvimento e de construção do conhecimento.
Assim, pretende-se promover um diálogo interseccional acerca dos temas que emergirão
a partir das narrativas dos sujeitos que irão compor o estudo, de forma que a ciência acadêmica
seja descentralizada e não uma ferramenta de comprovação dos saberes tradicionais, que serão
trabalhados dentro de uma perspectiva epistemológica e emancipatória de construção do
conhecimento, viabilizando a percepção de como esse saber se relaciona com a natureza e
constitui o sustentável nos terreiros de candomblé ketu.
A interpretação de desenvolvimento sustentável sob uma ótica colonizadora de visão de
mundo e de produção do conhecimento, contribui para o distanciamento das relações de
pertencimento de povos tradicionais com o lugar. O que dificulta a percepção das causas
estruturais da crise ambiental promovida pela modernidade a partir dos processos de

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colonização, pautados em um modelo de sociedade sustentado na subjugação, escravização de
povos e exploração da natureza.
Esta proposta de pesquisa pretende trazer sustentável dentro de uma perspectiva
epistêmica que emerge na relação ser humano natureza sem dissociabilidades, contrapondo a
ideia do desenvolvimento como um discurso hegemônico que funciona como estrutura de
dominação direcionando todo o mundo a se adequar a um modelo desenvolvimentista único e
linear para todos os lugares, como uma proposta global e padronizada que invisibiliza as
particularidades e os sonhos dos povos tradicionais (ACOSTA, 2016).
Em consonância com o escopo do estudo, o envolvimento ambiental será uma das
teorias trabalhadas como proposta antagônica à forma de desenvolvimento mencionada no
parágrafo anterior, tendo em vista que se trata de uma forma de relacionamento com a natureza,
construída a partir de uma ética ambiental e conduzida através de uma relação que tem o
cotidiano e o vivido como instituidores do relacionar-se a partir de outros cânones (VIEIRA;
SOUZA 2017). Deste modo, o envolvimento ambiental emerge da forma de se relacionar com
a natureza de forma horizontal e homogênea.
Os terreiros de candomblé ketu descendentes das casas Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Axé
Opô Aganju, ambos localizados em Salvador, Bahia, serão os locais empíricos de observação
dos saberes tradicionais e constituição do sustentável emergentes a partir dos modos de vida, e
principalmente das práticas religiosas inerentes aos terreiros candomblé ketu com tal
descendência. O envolvimento ambiental (enquanto conceito que busca contrapor a ideia
antropocêntrica de desenvolvimento sustentável), se evidencia em diversos aspectos da história,
desde a formação do candomblé no Brasil, aos dias atuais, nos modos de vida e principalmente
nas organizações comunitárias que objetivam promover o sustentável na prática religiosa.
Ao desenvolver a pesquisa, buscar-se-á compreender a constituição do sustentável por
meio das experiências vividas, alicerçadas pelos saberes tradicionais e ambientais como
precursores do diálogo de saberes que emerge da interação de identidades (LEFF, 2009).
O estudo será desenvolvido com a cautela em retratar a experiência vivida dentro de
uma abordagem fenomenológica de pesquisa qualitativa, preservando as especificidades dos
sujeitos dentro de seus contextos e suas particularidades.

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2. Questão(ões) de pesquisa

De que forma, as epistemologias pós-coloniais e decoloniais poderão auxiliar na


percepção dos saberes tradicionais que emergirão através do que será vivenciado durante o
desenvolvimento da pesquisa?
Qual a importância da desconstrução da perspectiva antropocêntrica de sustentabilidade
para a compreensão dos percursos do envolvimento ambiental?
Como conduzir a pesquisa de forma que os conhecimentos tradicionais e acadêmicos
ocupem o mesmo nível de importância?

3. Objetivos

3.1 Objetivo Geral

Promover um diálogo entre saberes comunitários e a ciência dita convencional,


produzida em espaços acadêmicos, evidenciando a importância do conhecimento tradicional,
de forma que os saberes trabalhados no decorrer da pesquisa, compartilhem o mesmo espaço
no processo de construção do conhecimento, sem qualquer tipo de hierarquização.

3.2 Objetivos Específicos

E como objetivos específicos almeja-se discorrer sobre as epistemologias pós-coloniais


e decoloniais poderão auxiliar na percepção dos saberes tradicionais que emergirão através do
que será vivenciado durante o desenvolvimento da pesquisa; enfatizar a importância da
desconstrução da perspectiva antropocêntrica de sustentabilidade para a compreensão dos
percursos do envolvimento ambiental; conduzir a pesquisa de forma que os conhecimentos
tradicionais e acadêmicos ocupem o mesmo nível de importância.

4. Revisão de literatura

Especulações pós-coloniais surgiram antes da corrente ou escola de pensamento pós-


colonial. O termo pós-colonialismo rende duas interpretações relevantes, sendo que a primeira
é a designação um processo histórico de descolonização do “terceiro mundo” no século XX,

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bem como à independência, libertação e emancipação das sociedades exploradas pelo
imperialismo e neocolonialismo, mais precisamente nos países que fazem parte dos continentes
Asiático e Africano (BALLESTRIN, 2013).
E a segunda interpretação é referente às diversas contribuições teóricas que nasceram
principalmente de estudos literários e culturais a partir dos anos 1980, com certa importância
em algumas universidades dos Estados Unidos e Inglaterra. Ainda segundo a autora, o pós-
colonialismo é fruto do diagnóstico de uma relação incompatível entre colonizador e
colonizado, relação essa, denominada por Mignolo (2005), como “diferença colonial”.
O pensamento pós-colonial propunha a dissolução das relações hierarquizadas
construídas a partir dos processos de colonização (BALLESTRIN, 2013), em favor do
colonizado. Um expoente do movimento epistêmico, social e político pós-colonial foi o Grupo
de Estudos Subalternos, formado na década de 1970 no sul asiático, questionou a
ocidentalização da historiografia colonial indiana, além de criticar o eurocentrismo da
historiografia nacionalista indiana (GROSFOGUEL, 2008).
Em 1992, um grupo de intelectuais latino-americanos e americanistas que viviam nos
Estados Unidos, formaram o Grupo Latino-Americano dos Estudos Subalternos e assim, a
América Latina se incluiu no debate pós-colonial. Apesar da defesa pela libertação das relações
de dominação, o pós-colonialismo aportou-se principalmente em epistemologias e autores
europeus, o que de certa forma, impedia o objetivo principal (rompimento com as tradições
eurocêntricas).
Assim, o Grupo Latino-americano de Estudos Subalternos percebeu a necessidade de
descolonizar a epistemologia e o cânone ocidentais (GROSFOGUEL, 2008). Nesse contexto,
se construiu a crítica decolonial, sugerindo a emancipação de toda e qualquer natureza de
dominação de forma interdisciplinar, permitindo o diálogo entre cultura, economia e política.
Compreender um pouco dos percursos dos pensamentos pós-coloniais e decoloniais é
importante para que se possa abordar o saber dentro de uma perspectiva epistemológica e
emancipatória de construção do conhecimento, o que auxilia na percepção de como o saber se
relaciona com a natureza e constitui o sustentável.
A invisibilização das identidades de povos tradicionais contribuiu com a desvalorização
de seus saberes, sob adoção de uma política de construção do conhecimento, em que o saber
contemplava apenas a visão desenvolvimentista, em detrimento da legitimidade do saber
tradicional.

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Desta forma, a colonialidade do saber, se aportou de epistemologias eurocêntricas e
norte-americanas, como únicas e legítimas, inferiorizando os povos tradicionais colonizados e
seus conhecimentos ancestrais (LANDER, 2000). Neste viés, pode se afirmar que a
colonialidade do poder é epistemologicamente compatível com a colonialidade do saber, tendo
em vista, suas estruturas hierarquizadas considerando apenas a filosofia e a ciência ocidentais
hegemônicas no processo de construção do conhecimento. (NUNES, GIRALDI, CASSIANE,
2021).
O diálogo de saberes científicos e tradicionais conduzem a reflexão acerca do
questionamento sobre a proposta capitalista de desenvolvimento, que se baseia na exploração
indiscriminada da natureza.
O desequilíbrio na utilização dos recursos traz como consequência, os efeitos
decorrentes das iniciativas que geram os problemas ambientais, destarte, o conceito de
desenvolvimento sustentável, conduz a sociedade a se enquadrar ao modo de reprodução
capitalista quando ignora a multiplicidade das desigualdades, fomentando assim, uma situação
de crise ecológica global (LOUREIRO, AZAZIEL, FRANCA, 2003).
Conforme leciona Leff (2009), o saber ambiental modifica o olhar que o pesquisador
tem sobre o conhecimento e a partir disso, muda as formas do saber no mundo. O saber
ambiental emerge na forma de se relacionar com a natureza, em coexistência com as outras
formas de vida, o que transcende a proposta cartesiana e antropocêntrica de construção do
conhecimento, fundamentando o diálogo de saberes como uma via horizontal para tal
construção.
Pensar em educação ambiental exige a compreensão de um cenário mais amplo, tendo
em vista que a educação ambiental está incorporada na própria ideia de educação, é importante
considerá-la dentro desse contexto, para que sejam gerados resultados consistentes. Educação
se inicia como um processo livre de sociabilidade entre pessoas e grupos em busca de formas
para recriação de situações consideradas comuns dentro de seus cotidianos, e esse processo
pode acontecer antes mesmo da formalidade de escolarização, assim, a educação pode ser uma
via estratégica de mudança de padrões (LOUREIRO, AZAZIEL, FRANCA, 2003).
De acordo com Loureiro (2000), a educação ambiental como práxis educativa e social,
almeja a compreensão da realidade de vida e a conscientização sobre as influências individuais
e coletivas no ambiente. Desta forma, entende-se que a educação ambiental é imprescindível

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para a reversão da situação de crise na qual a sociedade está inserida, visto que amplia a
consciência crítica acerca das interações entre sociedade e natureza.

5. Procedimentos metodológicos

O estudo será alicerçado e desenvolvido com base em teorias e epistemologias de


abordagens fenomenológicas, pós-coloniais e decoloniais. A fenomenologia será utilizada
como ferramenta para o desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa que propõe substituir as
quantificações por descrições individuais, e as justificativas por interpretações provenientes das
vivências, de acordo com Sadala (1995), que toma como base a descrição da experiência vivida
sob o auxílio da perspectiva de abordagem fenomenológica dos autores Edmund Husserl e
Merleau Ponty.
Como lócus empíricos do estudo serão destacados os terreiros de candomblé ketu,
descendentes especificamente dos terreiros Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Axé Opô Aganju, ambos
localizados na cidade do Salvador, na Bahia.
O candomblé é divido em nações, sendo, nagô (ketu), jeje, angola etc., sabe-se que tais
designações surgiram principalmente por consequência das classificações utilizadas por
escravocratas, nos séculos XVII e XVIII para identificação, administração e controle da
mercadoria humana.
Tal categorização, tinha como objetivo o rastreamento de portos de embarques dos
escravizados e não suas etnias, no entanto, chegando ao destino, os africanos, utilizavam-se de
tais identificações, como estratégia de pertencimento coletivo, agrupando-se em associações a
partir do reconhecimento de semelhança em seus modos de vida originários (PARÉS, 2006).
Especula-se que somente a partir do século XIX, o candomblé começou a se
institucionalizar e, coincidentemente, no mesmo momento em consequência do colapso no
reino de Oió (antigo Império da África Ocidental, atual Nigéria), ocorreu a chegada demasiada
dos povos nagô, falantes do iorubá na Bahia (REIS, 2003).
A partir de 1820, os iorubanos representavam a maior parcela populacional dos negros
na Bahia, afirmando, por meio da religião seu poder de reorganização e utilizando-a como
estratégia para reproduzir as organizações estatais iorubanas (SILVEIRA, 2006).
Após o fim do tráfico do atlântico, as “nações diaspóricas” foram se restringindo à
sociabilidade nos âmbitos: doméstico e religioso, principalmente nos candomblés (PARÉS,

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2006). Neste sentido, o conceito de nações no candomblé ficou mais teológico e passou a ser
interpretado como modelo ideológico e litúrgico nos terreiros de candomblé da Bahia (COSTA
LIMA, 1984, p. 20).
No estudo, a fenomenologia será um auxílio na compreensão e teorização das
experiências que serão vivenciadas nos terreiros de candomblé, para realizar tais descrições, a
abordagem fenomenológica conduzirá o comportamento de desvincular-se de concepções
preestabelecidas e quaisquer julgamentos acerca dos fenômenos aos quais teremos acesso
durante os diálogos que acontecerão em campo, com este posicionamento, de acordo com
Sadala (1995), o pesquisador está colocando o fenômeno em “epoché”. Ao descrever o
fenômeno, busca-se chegar a um ponto comum dentre todas as experiências vividas em campo,
o que a fenomenologia chama de “essência”, no entanto, não se objetiva chegar necessariamente
a uma conclusão sobre os fatos.
Conforme os estudos de Sadala (1995), um importante ponto da pesquisa com base
fenomenológica é a “intencionalidade da consciência”, para a fenomenologia, é através dela
que se entende o mundo e assim, qualquer ação humana, gestos ou hábitos têm um significado.
A partir dessas interpretações, serão planejadas as atividades de campo, que serão baseadas e
desenvolvidas de acordo com as características de uma pesquisa qualitativa de base
fenomenológica.
Desenvolver uma pesquisa qualitativa de abordagem fenomenológica, viabiliza a
descrição da percepção do vivido em sua completude, desde o imediatismo da experiência
vivida até expressão da experiência vivida e sua simbologia dentro de um contexto específico;
esta perspectiva do vivido é defendida por Van Manen, citado na obra de Bicudo (2011). A
“experiência vivida” no contexto desta proposta de estudo, possibilita a percepção de como o
sustentável é constituído através dos saberes tradicionais no candomblé e com o aporte dos
estudos pós-coloniais e decoloniais, será viável destacar a relação sujeito e natureza sem
dissociabilidades, assim, a fenomenologia virá corroborar o saber construído através do vivido,
dentro do contexto de cada sujeito.
Além da abordagem fenomenológica será utilizado também o método da pesquisa-ação
existencialista, sob a perspectiva proposta por Barbier (2002), buscando compreender as
expressões das percepções de realidade dos sujeitos que contribuirão com a construção do
estudo, através de suas narrativas. De acordo com o autor supracitado, a pesquisa-ação preza

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por uma linguagem acessível a todos, e nesta técnica, a interpretação e a análise são o produto
de discussões de grupo (BARBIER, 2002).
De acordo com Bezerra e Tanajura (2015), a pesquisa-ação é uma metodologia que
funciona através do envolvimento efetivo do pesquisador com os sujeitos que compõem o
objeto a ser investigado, com objetivo de conduzir a pesquisa de forma que sejam preservadas
as relações humanas relacionadas ao contexto da pesquisa.
Neste sentido, o estudo contará com registros feitos em campo, experiências dos povos
de terreiro, dentro de uma perspectiva de significação do lugar onde vivem, seus saberes e
modos de vida, apoiado na importância do diálogo de saberes para construção do conhecimento
e constituição do sustentável. Logo, compreende-se a pesquisa-ação como uma alternativa às
metodologias clássicas, que operam de forma a não contemplarem satisfatoriamente as
problemáticas que emergem em grupos específicos de sujeitos sob uma ótica microssocial.
Pretende-se desenvolver o estudo através de registros que serão feitos em campo, a partir
de experiências dos indivíduos em suas práticas religiosas, dentro de uma perspectiva de
significação do lugar onde vivem, seus saberes e modos de vida, apoiando se na importância do
diálogo de saberes para construção do conhecimento e constituição do sustentável. O diálogo
de saberes confronta as verdades absolutas propostas pela forma convencional de produção
científica comumente proposta na academia atualmente, que legitima apenas o que é produzido
nos espaços acadêmicos ou através deles.
De acordo com Leff (2009), para abrir espaço para o diálogo de seres e saberes, é preciso
considerar que nem tudo é lógico e racional e assim, aprender uma ética que possa interagir
com um mundo onde seja possível conviver em harmonia com a diversidade e as
especificidades sociais.
Assim, a pesquisa irá propor questionamentos a interpretações de um modelo
sustentável, antropocêntrico, que secundariza a natureza, explorando seus recursos sob a lógica
capitalista e se desenvolve dentro de uma perspectiva que considera as singularidades dos
territórios e de seus componentes.
Quanto ao público-alvo a pesquisa contará com indivíduos praticantes de candomblé
ketu, com idade maior de 18 anos, de ambos os sexos, após a assinatura no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, cujas narrativas serão gravadas durante encontros
previamente agendados, cada gravação, terá duração de aproximadamente 50 minutos.

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6. Aspectos éticos

A pesquisa será submetida ao Comitê de Ética, visto que envolverá indivíduos além dos
pesquisadores responsáveis. Após o consentimento serão observados os possíveis riscos
relativos aos participantes nesta pesquisa, que estarão mencionados no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, relacionados a: possíveis desconfortos em expor seus
modos de vida enquanto candomblecistas; invasão de privacidade nos casos em que os
encontros ocorrerão nas respectivas residências dos sujeitos; vulnerabilidade à criação de
estigmas ou estereótipos a partir de interpretações equivocadas sobre as contribuições dos
sujeitos que irão compor o estudo.
Em casos de situações desconfortáveis serão buscadas alternativas à exposição dos
indivíduos, tais como: supressão de trechos que comprometam a privacidade, ou que possam
provocar intepretações desacertadas; realização das gravações em ambientes diversos aos
familiares ou residenciais e suas identidades serão preservadas.

7. Cronograma

Quadro 1. Cronograma de execução das atividades

Semestre

Atividade I II III IV

Cursar disciplinas X X

Levantamento bibliográfico e
X
cartográfico

Revisão do anteprojeto de pesquisa


X X

Pesquisa de campo
X X

Realização e coleta das


X X
Narrativas

Análise e interpretação
X X
do material coletado

Redação de artigos científicos X X

Redação da dissertação de
X
mestrado

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Referências

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Bedra, T., São Paulo: Autonomia Literária/Elefante, 2016.

BARBIER, R. A pesquisa-ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Liber Livro, 2002.

BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência


Política. Brasília, 2013.

BEZERRA, A. A. C.; TANAJURA L. L. C. Pesquisa-ação sob a ótica de René Barbier e


Michel Thiollent: aproximações e especificidades metodológicas. Revista Eletrônica
Pesquiseduca. Santos, 2015.

BICUDO, M. A. V. A pesquisa qualitativa fenomenológica: interrogação, descrição e


modalidades de análise. In: Maria Aparecida Viggiani Bicudo. (Org.). Pesquisa qualitativa
segundo a visão fenomenológica. 1ªed.São Paulo: Editora Cortez, 2011.

GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos


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LOUREIRO, F; AZAZIEL, M; FRANCA, N. Educação ambiental e gestão participativa


em unidades de conservação / organização Carlos. Rio de Janeiro, 2003.

LOUREIRO, C.F.B.; LAYRARGUES, P.P. Educação ambiental nos anos noventa.


Mudou, mas nem tanto. Políticas Ambientais, ano 9, no 25, dez. 2000.

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sociobiodiversidade na reserva extrativista do extremo norte do Tocantins. Guaju,
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