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Discussões sobre o texto: “O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou

pós-desenvolvimento?” de Arturo Escobar.

Arturo Escobar nasceu na Colômbia em 1951. Ele fez engenharia química na


Universidade de Valle em Cali, bioquímica na mesma universidade e mestrado em
ciência alimentar e nutrição internacional na Universidade de Cornell em 1978.
Trabalha nos EUA desde 1976. Deu aula em universidades nos EUA, na
Colômbia, Finlândia, Espanha e Inglaterra. Atualmente é professor de Antropologia na
Universidade da Carolina do Norte, dando aulas de teoria do desenvolvimento e
mudança social. Sua abordagem antropológica é formada nas tradições pós-
estruturalista e pós-colonialista, e focada em estudos subalternos com pesquisas
relacionadas à ecologia política, antropologia do desenvolvimento, movimentos sociais,
desenvolvimento e política latinoamericana.

Escrevendo no ano 2000, Escobar pensa “O lugar da natureza e a natureza do


lugar: globaização ou pós-desenolvimento?” que é o título do seu texto introduzindo
uma discussão sobre lugar e cultura. Coloca que o conceito de lugar, entendimento de
ser e conhecer até seu destino sob a globalização econômica, segue ajudando ou
impedindo de se pensar a cultura.

A ausência de lugar parece ter se convertido no fator essencial da condição


moderna, particularmente pesada para determinados grupos sociais. E as teorias sobre a
globalização tem marginalizado o “lugar”. Debates na antropologia têm questionado o
lugar e a criação do lugar. Entretanto a experiência de uma localidade específica com
enraizamento, fronteira e identidade sempre em processo de construção continua sendo
importante para as pessoas. Um sentimento de pertencimento faz com que se considere
a ideia de voltar ao lugar, ou a defesa do lugar como projeto.

A crítica ao lugar feita pela antropologia, pela geografia, pelas comunicações e


pelos estudos culturais são importantes. Novas metáforas em termos de mobilidade,
desterritorialização, deslocamento, diáspora, migração, nos tem feito mais conscientes
de que a dinâmica entre a cultura e a economia tem sido alteradas por processos globais.

Nos discursos sobre globalização o global é igualado ao espaço, ao capital, à


história e sua agência, e o local ao lugar, ao trabalho e às tradições. Num contexto em
que a globalização têm feito desaparecer o lugar, Arturo defende que se pense na
importância do lugar e da criação do lugar para a cultura, a natureza e a economia.

Escobar coloca que ativistas pesquisadores e movimentos sociais reforçam que


qualquer saída alternativa deve levar em conta os modelos de natureza baseados no
lugar, e suas práticas e racionalidades culturais, ecológicas e econômicas. E que o
argumento principal dele nesse texto é que as teorias do pós-desenvolvimento e a
ecologia política são espaços para articular uma defesa do lugar.
Uma afirmação do lugar, do não-capitalismo e da cultura local opostos ao
domínio do espaço, do capital e da modernidade, centrais no discurso da globalização.
Reconceber e reconstruir o mundo a partir de práticas baseadas no lugar.

Apresenta uma forte crítica às noções convencionais da cultura como algo


discreto, limitado e integrado, Toma como ponto de partida o caráter problemático da
relação entre lugar e cultura. E aponta a importância dos vínculos entre identidade, lugar
e poder onde suas questões são: Como reconceber a etnografia para além dos lugares e
culturas limitadas espacialmente? Como explicar a produção de diferenças num mundo
de espaços profundamente interconectados? É possível fazer uma defesa do lugar sem
naturalizá-lo ou essencializá-lo? Pode-se reinterpretar os lugares como constituindo uma
rede? Lugares que permitem as viagens, o cruzar de fronteiras, e as identidades parciais
sem descartar completamente as noções de enraizamento, fronteira e pertencimento.

No âmbito ecológico a desaparição do lugar está vinculada à invisibilidade dos


modelos culturalmente específicos da natureza e a construção dos ecosistemas.

II O lugar da natureza: conhecimento local e modelos do natural

Escobar cita Descola e Palsson para afirmar que a pesquisa sobre o


conhecimento local e os modelos culturais da natureza ressurgiu de tendências da
etnobotânica, etnociência e da antropologia ecológica, oferecendo uma possibilidade de
desfazermos a relação binária entre natureza e cultura, predominante e prejudicial à
antropologia ecológica e campos relacionados. Natureza e cultura devem ser analisadas
como constructos culturais.

A separação entre o mundo biofísico, o humano e o sobrenatural, em contextos


não-ocidentais, são concebidos sobre vínculos de continuidade entre as três esferas. Tal
continuidade está culturalmente arraigada através de símbolos, rituais e práticas, e está
incorporada em relações sociais que se diferenciam do tipo moderno, capitalista.

Modelos locais de relação com a natureza revelam uma imagem da vida social
que não é oposta à natureza e que pode ser pensada em termos de uma lógica social e
cultural. Evidenciam um apego ao território com tipos de práticas e relações. E um outro
aspecto é que tais modelos locais estabelecem vínculos entre os sistemas
simbólicos/culturais e as relações produtivas.

Recentemente o tema do conhecimento local, a partir da antropologia, assume


que o conhecimento local funciona mais através de um conjunto de práticas que
dependendo de um sistema formal de conhecimentos compartilhados, sem contexto. Os
modelos locais são experimentos de vida, se desenvolvem através do uso na imbricação
das práticas locais, com processos e diálogos mais amplos. Conhecimento corporeizado,
prático, constituindo um modelo compreensivo do mundo.
Escobar passa por discussões da biologia fenomenológica de Maturana e Varela
onde a cognição é experiência arraigada vivida num fundo histórico e que se deve
teorizar a coincidência de nossa existência, nosso fazer e nosso saber.

Escobar propõe recusar a separação do conhecer e do saber, numa linguagem


que pode questionar as relações binárias e assimetrias da natureza e da cultura.

Apresenta outros enfoques do tema do conhecimento local, a performatividade,


o treinamento, a prática e os modelos baseados na prática, como uma base da
antropologia do conhecimento no domínio ecológico de aplicação. E chega à questão de
como considerar o lugar e sua relação com o conhecimento local e os modelos culturais
já descritos.

III A natureza do lugar: repensar o local e o global

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