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Universidade Federal do Rio Grande – FURG
1 INTRODUÇÃO
O meu interesse pelo tema surgiu durante a disciplina “História e Literatura”, (cuja
docente faz-se presente, neste trabalho, como orientadora), momento em que tomei
conhecimento sobre a obra “O Vaqueano”, do rio-grandino Apolinário José Gomes Porto
Alegre. Adentrei-me, assim, no estudo das representações literárias e musicais desta feição
histórica.
Em uma determinada pajada do álbum “Poesias Gaúchas: Êxitos 2”, questionou o
poeta missioneiro Jayme Caetano Braun: “Vaqueano!/ Onde estás, Vaqueano?/ Há um eco que
me interroga”; recebendo como resposta, na estrofe seguinte: “A evolução pôs a soga/ o meu
destino haragano” (BRAUN, 2017). Além das poesias e das canções nativistas e/ou
tradicionalistas, o termo figura em grande parte da literatura platina, sendo, inclusive, o
personagem que controla a narrativa de João Simões Lopes Neto, em Contos Gauchescos e
Lendas do Sul.
Em contrapartida, pouco ou nada se testemunha do termo em pesquisas científicas ou
bibliografias “clássicas” que abordem as classes mais baixas pela perspectiva do trabalho e da
cultura, apesar dos vaqueanos fazerem-se presentes em uma boa quantidade de fontes
históricas. Esta apresentação caminha nesse sentido: quem foram os vaqueanos? Como se
dava o seu saber-fazer? Como podemos definir esta prática? Perguntas mais elementares que,
apesar de não representarem a questão problema de minha pesquisa final, cumprem
excelentemente o seu objetivo neste trabalho, tendo em vista uma apresentação deste cunho,
curta e intencionalmente introdutória ao tema.
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Universidade Federal do Rio Grande - FURG
22ª Mostra da Produção Universitária – MPU
Rio Grande/RS, Brasil, 25 a 27 de outubro de 2023
ISSN: 2317-4420
Agora, trabalhando em hipóteses, podemos ter como apoio a frase de Eric Hobsbawm,
“quando o campo se esvazia, as cidades se enchem” (1994, p. 288), algo que podemos
inverter e reafirmar, dado a nossa perspectiva: quando as cidades se enchem, o campo se
esvazia. Teríamos aí, contudo, um dos primeiros pensamentos alcançados ao buscarmos as
possíveis razões pelo desaparecimento da vaqueania. Mas não iremos por esse caminho em
busca dessas respostas, e sim para introduzirmos mais calmamente o tema. Falamos, portanto,
de uma prática cultural que viu o seu fim, em certos lugares, com a chegada do
desenvolvimento tecnológico e científico estrangeiro, que revolucionou os meios de
transporte entre os povoados e as províncias; isto é, o fim do escravismo colonial enquanto
modo de produção (ao lado da economia de mercado/subsistência) e o princípio do
capitalismo enquanto tal, na virada para o século XX.
Antes, em meados do período oitocentista, comprovando que o relógio do tempo é
diferente em cada sociedade, temos, durante a primeira Revolução Industrial, as locomotivas
cortando a geografia da Europa de ponta a ponta, facilitando o transporte de cargas e pessoas,
entre cidades e países, ao passo que, no interior da Região Platina (Brasil, Argentina, e
Uruguai), ia o vaqueano à cavalo, guiando viajantes estrangeiros, contrabandistas,
ex-escravizados, milícias e militares governistas natureza adentro, com base em seu
conhecimento empírico, em sua memória. Uma figura representada ao extremo na literatura
da região, mas muito pouco, como dito anteriormente, na historiografia – principalmente na
brasileira.
Compreendendo a prática da vaqueania como um saber-fazer, passamos a lidar com as
dimensões subjetivas a respeito do tema, anexando-nos ao campo da História Cultural. Temos
por cultura, com base em Sandra Jatahy Pesavento, “um conjunto de significados
partilhados”; produções sociais e históricas a se expressar ao longo do tempo “em valores,
modos de ser, objetos, práticas” (PESAVENTO, 2006, p. 46). Logicamente, estudos sobre a
cultura são complexos e necessitam de um constante diálogo entre seus diferentes pensadores;
relação esta que manteremos com Carlo Ginzburg, Jacques Le Goff e Roger Chartier,
essencialmente. Ao empregarmos, eventualmente, conceitos do Materialismo Histórico,
certamente teremos como base as obras clássicas do marxismo, mas com apoio constante em
Edward Thompson, que muito focou em estudos culturais dentro da perspectiva materialista.
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Rio Grande/RS, Brasil, 25 a 27 de outubro de 2023
ISSN: 2317-4420
2 METODOLOGIA
Por lidarmos com uma temporalidade escoada, “com o não visto, o não vivido”, nós,
enquanto historiadores, utilizamos os “registros e sinais do passado” que chegam até nós, para
acessarmos este outro tempo (PESAVENTO, 2012, p. 42). Este acesso, no entanto, precisa
acontecer de alguma forma; e falar de um como, é falar de um método. Para tanto,
empregamos um diálogo entre o “paradigma indiciário” de Carlo Ginzburg e o “método da
montagem” de Walter Benjamin.
Com Ginzburg, o historiador enfrenta a fonte com atitude dedutiva e movida pela
suspeita: “presta atenção nas evidências, por certo, mas não entende o real como
transparente.” (PESAVENTO, 2012, p. 63). Assim, não nos atentamos ao primeiro olhar, à
primeira impressão, mas buscamos os detalhes e os contextos das fontes históricas. Já em
Benjamin, semelhantemente, o historiador realiza “um trabalho de construção, verdadeiro
quebra-cabeças ou puzzle de peças, capazes de produzir sentido” (PESAVENTO, 2012, p. 64).
O apoio em Ginzburg e Benjamin justifica-se, primeiramente, porque o paradigma indiciário
de um encontra correspondência na estratégia metodológica de outro, dado que Benjamin
propõe o cruzamento dos traços e registros do passado, a fim de revelarem relações, analogias
e contrastes. Com base em ambos, buscamos apresentar tanto uma pesquisa crítica, quanto
uma narrativa expositiva lógica, ao discorrermos sobre as fontes – dentre elas: anuários,
cartas, diários e bibliografias da época.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 REFERÊNCIAS
BRAUN, Jayme Caetano. Vaqueano. In: Poesias Gaúchas: Êxitos 2. Usa Records,
2017.
BRAVO, Soledad. Punto y raya. In: Cantos revolucionarios de America Latina. Last
Call Records, 1997.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 3ª Ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2012.