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DOI: 10.24065/2237-9460.2022v12n1ID1975
Valdir Vegini1
Rebecca Louize Vegini2
RESUMO
O objeto deste artigo são duas narrativas da tradição oral nordestina denominadas
Pai-do-Mato, que foram consagradas por escrito em livro de Cascudo. O objetivo
consiste em dissecar os narratemas de cada uma das duas histórias e deles extrair
traços culturais, tradicionais e narrativos verossimilhantes como estratégia
metodológica para compreender por que e para que esses dois entes surgem
naquela época e naquele ambiente, qual sua função social na sociedade daquele
tempo e por que, na atualidade, perdem as propriedades peculiares e são
transformadas tão somente em peças literárias de cunho folclórico escritas. A
análise realizada com base nas teorias da “Cultura, Hibridismo e Identidade
Cultural”, da “Tradição oral” e da “Construção Narrativa da Realidade” mostra que
a perda das propriedades peculiares, ativas até praticamente o final do século
passado, apontam como consequências do fenômeno cultural, midiático, da 1
hibridização intercultural, da desterritorialização, da mobilidade identitária e da
globalização do mundo pós-moderno. Os resultados não são conclusivos por se
tratar de um estudo eminentemente hermenêutico.
INTRODUÇÃO
O objeto de estudo deste artigo são duas narrativas da tradição oral
(VANSINA, 1982), uma alagoana e outra pernambucana, ambas
denominadas “PAI-do-MATO” e ambas descritas por Cascudo ([1954] 2000,
p. 466-7) na década de 50 do século passado. Nosso objetivo é analisar e
cotejar as especificidades contidas em cada um desses dois relatos bem
como descrever os narratemas 3 (VEGINI, V.& VEGINI, R. L., 2015) de cada uma
dessas duas personagens e delas identificar os traços culturais, tradicionais e
narrativos, que permitam compreender por que e para que esse ente da
floresta surgiu naquela época e naquele ambiente, qual sua função social
3
Mitema - Segundo o antropólogo Lévi-Strauss, mitema é a partícula essencial de um mito,
um elemento irredutível e imutável. (LÉVI-STRAUSS, C., 1985, p. 243); por analogia a esse
conceito e por entendermos que mito não faz parte de nossa base teórica, vamos substituí-
lo por "narratema", que nos parece mais adequado aos estudos narratológicos de cunho
verossimilhante. Narratemas são, pois, cada característica de uma personagem oral/escrita
cuja somatória vai resultar em uma narrativa da tradição oral/escrita verossimilhante.
(Bruner, (1991, p, 4)
4Bruner, (1991, p, 4)
5Verossimilhante: Ao contrário das construções geradas por procedimentos lógicos e
científicos que podem ser destruídas por causa de falsificações, construções narrativas só
podem alcançar “verossimilhança.” Assim, narrativas são uma versão de realidade cuja
aceitabilidade é governada apenas por convenção e por “necessidade narrativa”, e não
por verificação empírica e precisão lógica, e, ironicamente, nós não temos nenhuma
obrigação de chamar as histórias de verdadeiras ou falsas. (BRUNER, 1991, p. 4)
6 Bruner (1997, p. 39-64) dedica o capítulo 2 de seu extraordinário livro “Atos de Significação”
para falar da Psicologia Popular como um Instrumento da Cultura, muito próximo da Cultura
Popular de Hall ([1992 [ 2006)
TRADIÇÃO ORAL
CORPUS de ANÁLISE
Figura 03: Os ‘narratemas’ do ‘Pai do Mato’ nas versões alagoana (a) e pernambucana (b).
01. Bicho enorme. 01. Raramente aparece ao homem.
02. Mais alto que todos os paus da mata. 02. Animal de pés de cabrito 14
03. Cabelos grandes. 03. Semelhante ao deus Pã11 da mitologia
04. Unhas de 10 metros. 04. Corpo todo piloso
05. Orelhas de cavaco. 05. Mãos semelhante a dos quadrúmanos.
06. Sujeito feio. 06. Anda como ser humano.
07. Seu urro estronda em toda a mata. 07. Fisionomia semelhante á humana.
08. Á noite ouve-se a sua risada. 08. Traz no queixo uma barbinha
NARRATEMAS
REFERÊNCIAS
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