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COMPOSIÇÃO

PAISAGÍSTICA I

Paula Bem Olivo


Projetos para plantas
em espaços internos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os meios de apresentar um projeto paisagístico de


espaço interno.
 Analisar as possibilidades paisagísticas de espaços internos.
 Diferenciar as etapas do projeto.

Introdução
O projeto paisagístico para interiores envolve muitas variáveis, como am-
biente de implantação, vontades do cliente e necessidades das espécies.
Dessa forma, exige um processo bastante cuidadoso e detalhado, de
modo que nada fique desatendido. O processo de projeto é diferente
para cada arquiteto, mas existem algumas coisas em comum a respeito
dessa categoria que são interessantes de serem observadas.
Neste capítulo, você vai conhecer formas de representação do pro-
jeto paisagístico de interiores, vai aprender que informações devem ser
levantadas antes de iniciar o projeto e quais são as etapas do processo
até chegar ao resultado final.

Representação gráfica em projetos paisagísticos


O desenho é a ferramenta de apresentação do arquiteto: por meio dele,
comunicam-se ideias e se transmitem informações. O desenho é, também,
uma ferramenta de estudo e de projeto e ajuda a compreender o espaço e a
pensar nas soluções projetuais mais adequadas, assim como prever proble-
mas e chegar a uma resolução antes da execução. O desenho deve conter
o máximo de informações possível, mas deve sempre ser acompanhado
de legendas e textos explicativos, para que tudo fique muito claro. Além
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disso, o material fi nal de um projeto deve sempre ser acompanhado de um


memorial descritivo, no qual há a especificação de materiais e de técnicas
de execução. Além do desenho e do texto, outra ferramenta interessante
é a maquete, que, em projetos arquitetônicos, é muito utilizada inclusive
durante o processo de projeto.
Para projetos paisagísticos de exteriores, Abbud (2010, p. 45) recomenda
o uso na fase de estudo das configurações de massas vegetais. Para projetos
paisagísticos de interiores, o uso da maquete é incomum, já que, normalmente,
trabalha-se com espaços menores e detalhes em escala reduzida. Entretanto,
a maquete é um elemento que auxilia muito na compreensão do espaço e,
se necessário, deve ser utilizada também como ferramenta para projetos
paisagísticos no interior.
Normalmente, o projeto paisagístico de interiores finalizado é apresen-
tado com, pelo menos, um desenho de planta baixa e o memorial descritivo.
Entretanto, a vegetação normalmente está disposta em alturas diferentes,
com volumetrias diferenciadas, de forma que é interessante apresentar
juntamente algumas vistas e perspectivas, facilitando a compreensão de
como ficará o resultado final. A confecção dos desenhos pode acontecer de
diversas formas: podem ser desenhados à mão, no computador, a partir de
colagens e, também, é possível misturar técnicas analógicas e digitais para
representar um projeto final. A escolha da técnica de representação envolve
muitos fatores: habilidade de quem está produzindo, tempo disponível e
intenção daquele desenho.
Normalmente, nas fases iniciais, o desenho à mão é o maior aliado do
projetista, pois permite uma rápida representação, mesmo sem muita precisão,
e serve para demonstrar uma ideia básica — pode aparecer em forma de dia-
gramas, sem especificar exatamente a espécie. Esses desenhos normalmente
representam apenas a configuração geral do projeto e demonstram onde ficarão
os caminhos e por onde os fluxos irão passar, onde existe massa de vegeta-
ção e onde há espaço livre. São desenhos abstratos, normalmente formados
por manchas e setas, e têm a intenção de representar as relações funcionais
entre os elementos de projeto (Figura 1). Esses desenhos têm um propósito
de iniciar o processo de projeto, entretanto, muitas vezes, é importante que
eles sejam demonstrados ao cliente, para deixar claro qual foi a diretriz que
norteou todo o projeto. Nessa etapa, não existem muitas regras a respeito dos
desenhos, eles surgem de forma bem intuitiva e muito atrelados à habilidade
e ao processo do projetista.
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Os desenhos devem ser desenhos à mão honestos, abertos, primitivos, que


podem parecer ser apenas rabiscos criativos e diagramas confusos. Eles são
soltos e devem parecer com desenhos de tomada de decisão, desenvolvimento
de ideias e resolução de conflitos. Muita polidez nesta fase pode sufocar o
objetivo de encorajar a mudança. Estes são desenhos que devem sugerir mais
desenhos (REID, 2012, p. 8).

Figura 1. Diagrama demonstrando alguns elementos de projeto


paisagístico e suas relações.
Fonte: Reid (2012, p. 52).

Posteriormente, quando o projeto já estiver mais desenvolvido, os desenhos


vão ser essenciais para que o cliente consiga entender o projeto e para a sua
execução. Esses dois tipos de desenho — para o cliente e para a execução —
têm características bem diferentes.
Quando se apresenta o projeto ao cliente, a intenção é demonstrar como
ficará o resultado final e vender a ideia. Portanto, é sempre interessante que
se use cores e que se tente representar ao máximo como ficará o resultado
final. Em termos de planta baixa, é sempre interessante representar o espaço
completo do projeto e dar destaque para as plantas inseridas.
Esse desenho pode ser feito à mão, em forma de croqui (Figura 2), uti-
lizando cores e sombras para demonstrar o posicionamento das espécies,
ou pode ser feito no computador, com softwares de representação gráfica.
Também se pode desenhar a planta baixa no computador e colorir à mão,
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conferindo um caráter mais artesanal. Entretanto, as perspectivas sempre são


mais atraentes e de mais fácil compreensão para o cliente. Croquis feitos à
mão e coloridos podem dar uma ótima ideia de como ficará o projeto. Além
disso, podem ser utilizados também softwares para render (processo para
transformar uma maquete eletrônica em uma imagem com aparência de foto)
realístico (Figura 3), produzindo uma imagem quase fotográfica de como
será o projeto. Outra opção são as colagens (Figura 4), que podem ser feitas
de forma digital, em programas de edição de imagens, ou manualmente,
recortando imagens das espécies e colando nos posicionamentos desejados.

Figura 2. Croqui feito a mão e colorido à mão e o resultado final do projeto.


Essa é a técnica mais rápida e pode gerar resultados muito satisfatórios.
Fonte: Paul Marie Creation (2019, documento on-line).
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Figura 3. Render foto-realístico demonstrando o posicionamento de vegetação no


interior do pavilhão projetado pelo escritório Penda para a Expo 2019 em Beijing, China.
Fonte: Prechet (2019, documento on-line).

Figura 4. Colagem feita digitalmente pelo escritório John Mini para


projeto do Museu Metropolitano de Arte em Nova Iorque.
Fonte: John Mini Distinctive Landscapes (2019, documento on-line).
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Normalmente, o croqui à mão livre é mais rápido, mas exige habilidade do


projetista. A utilização de softwares de renderização foto-realística demandam
bastante tempo e conhecimento específico. Já as colagens, normalmente, têm
um tempo médio de execução e não exigem muita habilidade. A mistura de
técnicas pode ser uma boa estratégia. Pode-se desenhar a base de uma pers-
pectiva no computador e colori-la à mão ou complementá-la com colagens. A
avaliação da melhor técnica deve considerar o tempo e a habilidade, tentando
equilibrar os dois para atingir o melhor resultado.
Já quando se tem a intenção de que os desenhos sejam levados à obra para
execução, deve-se colocar nesses desenhos algumas informações importantes
para que a equipe consiga construir exatamente aquilo que se projetou. Esses
desenhos, normalmente, são mais técnicos, seguem as regras dos desenhos
arquitetônicos e possuem cotas de distâncias e informações importantes
para a correta execução. Todos os elementos devem estar cotados para serem
passíveis de localização por qualquer um; portanto, é sempre importante que
constem na planta as distâncias nas três dimensões. Também é importante
que sejam apresentadas informações como a forma de posicionamento das
plantas: pode ser em um vaso, plantadas em floreiras, penduradas na parede
por uma estrutura, penduradas no teto, etc. A planta de paisagismo também
pode conter recomendações básicas com as espécies, como cuidados que se
deve ter ao transportá-las e movimentá-las.
Além disso, o projeto paisagístico de interiores deve sempre vir acompa-
nhado de um memorial, no qual deve constar a lista de espécies, os cuidados
necessários com cada uma, os recipientes nos quais elas estarão inseridas e
a forma como elas estarão dispostas (no chão, em móveis, penduradas, etc.).
Portanto, o projeto paisagístico de interiores conta com, basicamente,
três conjuntos de informação: os desenhos para o cliente, os desenhos para a
execução e o memorial descritivo. Cada um desses tem uma função específica
e são imprescindíveis para a correta compreensão e execução do projeto.

Metodologia para projeto paisagístico


de interiores
Assim como nos outros projetos arquitetônicos, o projeto paisagístico de
interiores é realizado a partir de um processo que está bastante conectado
com o projetista. Muitos têm processos bastante diversos e bem atrelados à
personalidade. Não há uma receita de um método que garanta a qualidade do
resultado final — um método significa que conseguimos prever um resultado,
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o que não é o caso. O projeto exige a manipulação de inúmeros elementos,


funções, volume, espaço, textura, luz, materiais, componentes, técnicos, custos,
tecnologia. Existem muitas tentativas de mapear o processo de projeto e já foram
identificadas características muito comuns em todos os processos criativos.
Autores como Lawson (2011), por exemplo, identificam que o processo passa
pro basicamente três fases: análise, síntese e avaliação.
A análise é a fase de identificação do problema e dos principais elementos.
Nessa fase, são definidas as principais metas, os objetivos, critérios de de-
sempenho, restrições e impactos de possíveis soluções. Na análise, devem ser
consideradas variáveis como exigências do cliente, condicionantes culturais,
econômicos e ambientais. A síntese está associada à fase criativa, à concepção
de idéias e possíveis soluções; trata-se da organização de formas, materiais,
hierarquias visuais, possibilidades de iluminação, etc. A avaliação, por fim, visa
garantir que uma proposta seja o mais aceitável possível — esse é o momento de
detectar deficiências e cruzar informações com o que foi feito na fase de análise.
Cada uma dessas fases influencia na outra; quando se passa de fase, é
possível perceber lacunas na fase anterior. Nesse momento, é imprescindível
que se retorne à fase anterior para preencher as lacunas e seguir com todas as
informações para a fase seguinte. Este não é um processo linear: o projetista
fica entre avanços e retornos por algum tempo. No entanto, esse ciclo é muito
importante para que se chegue a uma solução afinada com as exigências do
cliente e com as condições do local.
Antes de iniciar o projeto de paisagismo de interiores, é importante ter uma
conversa detalhada com o cliente, prestando atenção aos seus desejos, vontades
e necessidades e perguntando a respeito das suas dúvidas e expectativas. Nor-
malmente, o cliente, seja ele residencial ou não, tem muitas dúvidas a respeito
de como será o resultado, qual será o envolvimento dele e, principalmente,
quanto irá custar. Nesse momento, é importante frisar que o processo de projeto
é composto por várias fases e que poderão ser feitos ajustes para que se chegue
a um produto final satisfatório e compatível com o orçamento disponível.
A conversa com o cliente pode conter vários níveis e é importante fazer
perguntas diretamente relacionadas ao projeto; entretanto, é também impres-
cindível que se entenda a rotina e a personalidade do cliente. A entrevista
pode conter assuntos como interesses gerais, hobbies, interesses estéticos, etc.
Essas são informações que poderão dar dicas a respeito do estilo de projeto
mais adequado para o cliente.
Além disso, é importante questionar coisas bastante direcionadas, como
saber qual é o objetivo do cliente ao contratar um arquiteto para projetar seu
paisagismo de interiores. O cliente pode desejar melhorar a qualidade física
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do ambiente, criar um espaço contemplativo, um espaço de leitura, pode


querer simplesmente manipular a vegetação como um hobbie ou mesmo ter
uma motivação estética. É importante ter isso claro, já que cada um desses
desejos pode criar projetos de caráter bem diferente.

Paisagismo para casas é como roupa sob medida, que deve se ajustar perfei-
tamente para quem foi feita. É importante, por exemplo, checar se o cliente é
muito sociável, se deseja receber em casa ou quer um refúgio exclusivamente
familiar; se tem filhos pequenos ou filhos adultos morando em outro local;
se o ponto de reunião dos netos é a casa dos avós (ABBUD, 2010, p. 180).

Também é importante perguntar sobre a rotina do cliente: alguém que fica


bastante tempo em casa tem possibilidade de manter uma vegetação que exija
mais cuidado; um cliente que fica bastante tempo fora de casa, provavelmente,
necessita de plantas que tenham uma manutenção mais facilitada.
Outra informação importante de recolher é a respeito do orçamento disponí-
vel: é preciso deixar claro quanto dinheiro pode ser investido para que se possa
fazer um projeto compatível. Também é importante frisar que, por se tratarem
de seres vivos, as plantas necessitarão de manutenção. É possível contratar
serviços de arquitetos paisagistas que acompanham o desenvolvimento das
plantas ou mesmo de empresas de jardinagem que fazem toda a manutenção. É
importante deixar claro os custos envolvidos nisso para que o cliente avalie se
terá disponibilidade de contratar esses serviços. Caso o cliente resolva manter o
jardim por sua conta, provavelmente, deve-se escolher espécies de manutenção
mais fácil, a não ser que o cliente já tenha algum conhecimento prévio.
Para clientes que não são pessoas físicas, o procedimento, normalmente, é
diferente. Quando se trata de um empreendimento imobiliário, por exemplo,
o primeiro contato poderá ser uma troca de ideias entre vários profissionais
para definir qual será o produto e o público-alvo (ABBUD, 2010). Nesse caso,
é possível que se tenha que cruzar informações de construtores, empreen-
dedores, publicitários, arquitetos, decoradores, etc. Nesse caso, também é
importante definir quais são as intenções do empreendimento, qual é o padrão
e o orçamento disponível. Da mesma forma que com o cliente pessoa física,
é importante conhecer o perfil do cliente do empreendimento e seus gostos
mais frequentes para fazer um projeto compatível.
Para projetos públicos, é preciso, principalmente, determinar as intenções
e os objetivos, conhecendo as motivações políticas e sociais da contratação de
um arquiteto paisagista, qual será o público usuário e como serão utilizardos
os elementos do projeto.
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Após esses levantamentos, é importante observar o local de implementação do


projeto. Especialmente em projetos paisagísticos para interiores, essa é uma etapa
de extrema importância, que irá determinar a escolha das espécies e sua carga de
manutenção. O ambiente deve ser observado em relação às suas características
geométricas, ou seja, dimensões de largura, comprimento e altura — isso irá de-
terminar o porte de espécie possível de ser utilizado. Além disso, deve-se observar
as condições ambientais de iluminação, temperatura e umidade para escolher
espécies que se adaptem facilmente. É também importante observar o caráter do
local para produzir um projeto paisagístico harmonioso com o estilo do espaço.
Come essas informações em mãos, é importante estabelecer uma es-
tratégia de ação e, com base nas vontades do cliente, pode-se pensar que
o paisagismo de interiores deve relacionar-se com o ambiente de forma
contrastante ou harmoniosa.
Quando se escolhe a estratégia compositiva do contraste, normalmente, esse
elemento se torna protagonista do projeto. No caso do paisagismo de interiores,
a vegetação se torna bastante evidente. Em uma casa com caráter minimalista,
por exemplo, escolhendo a estratégia de contraste, poderia ser projetada uma
vegetação bastante rústica, com crescimento orgânico e posicionada de maneira a
parecer aleatória, como se tivesse nascido naquele local. Dessa forma, as espécies
ganhariam bastante destaque em um ambiente que pareceria mais controlado.
Quando se escolhe a estratégia da harmonia, normalmente, os elementos
ficam como coadjuvantes. Na mesma casa minimalista, escolhendo a estratégia
da harmonia, poderiam ser propostas espécies com formas bem definidas e
simples. Dessa maneira, as espécies se mimetizariam com aquele ambiente,
sendo percebidas como mais um elemento da composição.
Portanto, para realizar um projeto paisagístico de interiores, é necessário
recolher informações a respeito do cliente, suas vontades e intenções, e sobre
o orçamento disponível para implantação e para manutenção. Deve-se, então,
avaliar o ambiente de implementação e tomar uma decisão a respeito da melhor
estratégia compositiva. Assim, o resultado final será um projeto compatível
com as condições do cliente, do local e da personalidade do projetista.

Etapas do projeto paisagístico de interiores


Com as informações do cliente e do local levantadas e com a estratégia de com-
posição decidida, é o momento de iniciar o projeto em si. Abbud (2010) estabelece
algumas etapas que todo projeto paisagístico deveria seguir, quais sejam: estudo
preliminar, anteprojeto, preexecutivo, executivo e executivo de plantio.
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Durante o estudo preliminar, as informações a respeito do ambiente vão fazer


bastante diferença. Esse estudo vai determinar os melhores locais de implantação
de vegetação, assim como seu porte, forma e volume. É essa etapa que determina
onde estarão as circulações e os espaços que serão definidos pela vegetação.
Para determinar o melhor posicionamento para a vegetação, deve-se ob-
servar a orientação solar do ambiente e a incidência de luz em cada horário do
dia e de acordo com as estações do ano. Dessa forma, é possível prever massas
de vegetação que necessitem de mais luz e posicioná-las onde existe essa
condição, ou massas de vegetação de sombra e posicioná-las onde há sombra.
É importante avaliar, também, quais são as visualizações desejadas, con-
siderando de onde a vegetação deve ser vista. Além do ambiente interno,
pode-se pensar que a vegetação pode ser visualizada de um ponto do exterior,
causando interesse. Por outro lado, a vegetação pode bloquear uma visual;
assim, pode-se decidir por esconder uma perspectiva ou mesmo por tapar
uma visual do exterior que se considera ruim. Essa decisão irá influenciar o
posicionamento e a decisão sobre o volume das espécies.
Deve-se, então, considerar o mobiliário já existente e imaginar o uso e os
fluxos de cada espaço. Muitas vezes, a vegetação escolhida pode estar em
cima de um móvel, como uma estante ou um aparador. Em outros casos, a
vegetação pode fazer as vezes de um móvel, definindo caminhos e até mesmo
delimitando espaços, como salas de jantas e estar ou espaços de leitura.
A partir de então, parte-se para o zoneamento espacial, com o qual se
estuda a distribuição dos elementos no espaço, seu tamanho e seu volume.
Recomenda-se começar pelos locais nos quais foi identificada a necessidade
de uma grande massa vegetal. Por exemplo, quando se decide usar vegetação
para separar uma sala de jantar de uma sala de estar, deve-se posicionar uma
grande massa vegetal entre as duas. Se o que se deseja é que a separação seja
visual, essa massa deve ser alta; se não, ela pode ser baixa.
Deve-se posicionar pontos de vegetação onde se decidiu que deveria haver
pontos focais ou pode-se posicionar planos de vegetação onde se decidiu que seria
preciso um bloqueio de visual. Essas definições de massas vegetativas são muito
importantes para determinar o caráter dos espaços e, posteriormente, as espécies.
Além disso, é importante considerar a análise ambiental e climática nesse
processo, ou seja, sempre procurar posicionar massas vegetativas mais ex-
pressivas em locais que recebam uma quantidade de luz razoável, já que essas
provavelmente serão espécies de maior porte e necessitarão de luz, mesmo
que indiretamente.
Definida a volumetria, pode-se especificar melhor as características pretendidas
para essas massas vegetais. “Nesta etapa, ainda não é preciso e nem interessante
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fechar completamente a especificação botânica” (ABBUD, 2010, p. 87), já que


ainda estão em aberto algumas questões que podem sofrer alterações. Deve-se
definir intenções de cor, textura de folhagem, tipo de caule, etc. As definições dessa
etapa normalmente têm um caráter, como, por exemplo: em tal ponto, deseja-se
uma planta de pequeno porte, com uma forma vertical de aproximadamente 30 cm
de altura e 10 cm de largura, com uma coloração escura e sem caule, posicionada
em um vaso de 20 cm de altura, que ficará em cima de um aparador. Dessa forma,
faz-se para todos os ambientes, sempre levando em consideração as condições de
insolação e o espaço disponível para a planta e para as raízes.
Com o estudo preliminar, já se pode conversar novamente com o cliente
para expor as ideias e verificar se elas estão de acordo com o esperado. Com
o estudo preliminar aprovado, pode-se iniciar o anteprojeto.
O anteprojeto tem a função de amadurecer as ideias do estudo preliminar —
nesse caso, já se parte para a definição das espécies e dos recipientes. Essa fase já
permite a realização de um orçamento preciso, tanto de implantação quanto de
manutenção. Além disso, com o anteprojeto, já se pode realizar projetos comple-
mentares, como de iluminação e decoração. Os desenhos dessa fase ainda devem
ser de fácil compreensão, como perspectivas e plantas e vistas humanizadas. Em
casos de empreendimentos maiores, esses serão os desenhos colocados em folders,
banners e outros materiais de marketing. A realização do orçamento pode acarretar
algumas mudanças e algumas espécies podem necessitar de substituição. Também
pode ser que se verifique a indisponibilidade de certa espécie nos produtores locais,
outra questão que pode levar à necessidade de substituição. Portanto, essa não é
uma fase definitiva, e ainda podem surgir algumas mudanças.
O preexecutivo vai ser necessário especialmente se houver a construção
de floreiras. Nessa fase, deve-se desenhar com detalhes esses recipientes para
garantir que haverá a impermeabilização e a drenagem necessárias. Esses são
detalhes de extrema importância, pois, se não forem bem executados, podem
acarretar a danificação de elementos importantes da edificação. Essa fase tem
uma série de desenhos técnicos que mostram a interface das floreiras com os
elementos de arquitetura, de estrutura, de instalações hidráulicas e elétricas.
Posteriormente, parte-se para o projeto executivo em si, que conta com
desenhos técnicos que possibilitem o posicionamento das espécies no seu local
de implantação. Portanto, ele deve conter as cotas necessárias para que qualquer
um possa posicionar a espécie em seu lugar. Além disso, deve apresentar infor-
mações a respeito da quantidade de espécies e as distâncias de plantio. Também
é necessário um memorial descritivo com o nome científico e popular de todas
as espécies, quantidades, porte, cor, orientação sobre como plantar, o tipo de
solo mais indicado, a rega que deve ser feita, a poda e a adubação (Quadro 1).
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Quadro 1. Exemplo de tabela de vegetação para o memorial descritivo

Dist. Plantio
Código Nome científico Nome popular Qtd. Unid. Porte cm Especificações Cor Caule Poda
cm

ARRE Arachix repens Grama-amendoim 22m2 10 10

BINO Bismarckia nobilis Palmeira-de-Birsmark 3 300 total 300 Tutorar muda bem formada ver det. 5

CALE Caesalpinia leyostachya Pau-ferro 3 600 ver projeto Tutorar muda bem formada
Projetos para plantas em espaços internos

HEBI Heliconia bihai Heliconia alta 17 200 80 Muda bem formada

LABO Latania borbonica Latania 8 50 100 Muda bem formada

MAYE Mascarena verschaffeltii Palmeira-parafuso 5 400 estipe 400 Tutorar muda bem formada ver det.

MOIR Morea iridioides Moreia baixa 3m2 30 20

MUPA Murraya paniculata Falsa-murta 19 200 60 Muda com folhas desde baixo
com poda ver det.

MYSP Myrciaria sp. Jabuticabeira 1 300 300 Muda bem formada

NEDE Neodypsis decaryi Neodysis 1 250 estipe ver projeto Tutorar muda bem formada ver det.

NEDE Neodypsis decaryi Neodysis 1 300 estipe ver projeto Tutorar muda bem formada ver det.

NEDE Neodypsis decaryi Neodysis 1 400 estipe ver projeto Tutorar muda bem formada ver det.

(Continua)
(Continuação)

Quadro 1. Exemplo de tabela de vegetação para o memorial descritivo

Dist. Plantio
Código Nome científico Nome popular Qtd. Unid. Porte cm Especificações Cor Caule Poda
cm

PHBI Philodendron Guaimbé 21 60 70 Muda com 4 folhas


bipinnatifidum

PHET Phyllostachys edulis Bambu mosso torto 7 350 150 Muda bem formada ver det.

PHRO Phoenix roebelenii Tamareira-anã 4 180 estipe 100 Muda bem formada ver det.

PHRO Phoenix roebelenii Tamareira-anã 4 120 estipe 100 Muda bem formada ver det.

PUGR Punica granatum Romã 4 300 150 Tutorar muda bem formada

RHIN Rhododendron indicum Azálea 33 80 40 Muda bem formada SU

WIZO Wild zoyzia Grama-esmeralda 115m2 em placas

Fonte: Adaptado de Abbud (2010).


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É importante que o arquiteto acompanhe a implantação do projeto para


garantir que ele está sendo seguido à risca. O acompanhamento deve acontecer
desde a construção de floreiras até a colocação da terra e o plantio. Como a
implementação do paisagismo acontece normalmente no fim da obra, existe
uma tendência à simplificação para que se cortem custos. Por isso, é impor-
tante que o arquiteto garanta a correta execução do seu projeto. Além disso, é
possível que o arquiteto ofereça o serviço de manutenção, ou seja, visitas para
garantir que o projeto está se desenvolvendo bem e para indicar a substituição
de espécies, se necessário. O importante é que o cliente esteja sempre ciente
das etapas de projeto que irão acontecer e que ele concorde com os custos e
exigências que podem ser gerados.

ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo:


SENAC, 2010.
JOHN MINI DISTINCTIVE LANDSCAPES. The Metropolitan Museum of Art: Passport to
Paris. New York, 2018. Disponível em: https://www.johnmini.com/projects/passport-
-to-paris. Acesso em: 23 maio 2019.
LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
PAUL MARIE CREATION. Kontinuität von Innen nach Außen: von Paul-Marie Creation.
2019. Disponível em: http://www.paulmarie-creation.com/projektdetail/kontinuitaet-
-von-innen-nach-aussen.html. Acesso em: 23 maio 2019.
REID, G. Landscape graphics: plan, section, and perspective drawing of landscape
spaces. New York: Watson-Guptill, 2012.
PRECHET. A Thousand Yards Pavilion. 2019. Disponível em: https://www.precht.at/athou-
sandyards/. Acesso em: 23 maio 2019.

Leitura recomendada
SILVA, J. M. P.; MACEDO, S. S. O papel da disciplina de paisagismo na formação do arquiteto.
São Paulo: USP, 2005. Disponível em: https://bdpi.usp.br/item/001480231. Acesso em:
23 maio 2019.

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