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HIBRIDISMO CULTURAL
Abstract: The present pre-project of research has as object of study the gypsies and
the cultural hybridism that would be a correlation of the gypsy culture with other
cultures and the way in which it has become tangible, to the point of that culture I have
been changing intermittently. From the divergences between surprising changes and
cultural aspects that still remain extremely ingrained, we will address cultural changes
such as the abandonment of nomadism, religious changes, the gypsy as a school pupil,
and also the singularities present in the culture that until today is extremely patriarchal,
aspects that we observe are extremely important in the approach to this project.
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- Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense.
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In this way, we will analyze the gypsy culture and its transitions in the North Fluminense
region, specifically in the cities of Carabepus and Quissamã.
Key-words: Gypsies, culture, hybridism and geography culture.
1 – Introdução
O presente projeto de pesquisa pretende analisar o hibridismo cultural que seria
como uma correlação da cultura cigana com outras culturas e a forma como esse
hibridismo vem se tornando tangível, ao ponto dessa cultura se transformar
constantemente.
O desenvolvimento deste projeto de pesquisa se ampara no estudo realizado
anteriormente durante a pesquisa desenvolvida e fomentada pelo Programa de bolsa
de desenvolvimento acadêmico, intitulada “Cultura cigana, um híbrido?” 2. Em seu
primeiro ano (2013) foi estudado o acampamento de Carapebus, a composição
espacial, as hierarquias e atividades praticadas pelos ciganos no dia a dia. A partir de
análises das dinâmicas internas foi possível delimitar os conceitos que seriam a base
da discussão teórica e através da observação perceber que seria possível obter um
aprofundamento na questão do hibridismo cultural, a princípio pela questão da religião
e no decorrer desse período também foi observado à mudança nas questões
relacionadas à tecnologia.
Acerca do conceito, optou-se pelo “lugar”, a princípio seria utilizada a definição
de Yi-Fu Tuan, porém priorizou-se uma definição menos romantizada da Doreen
Massey.
Trata-se, na verdade, de um lugar de encontro; Assim, em vez
de pensar os lugares como áreas com fronteiras ao redor, pode-
se imaginá-los como momentos articulados em redes de
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Essa pesquisa teve como produto o Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura em Geografia, da
Universidade Federal Fluminense, Instituto de ciências da sociedade e desenvolvimento regional, intitulado:
“Cultura cigana, um híbrido?”.
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relações e entendimentos sociais se constroem numa escala
muito maior do que costumávamos definir para esse momento
como o lugar em si, seja uma ria, uma região ou um continente.
Isso por sua vez, permite um sentido do lugar que é extrovertida,
que inclui uma consciência de suas ligações com o mundo mais
amplo, que integra de forma positiva e global. (MASSEN, D.
2000, p.184).
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Após dois anos de pesquisa no acampamento de Carapebus os ciganos se
deslocaram para diferentes partes do Brasil, fazendo com que a pesquisa tomasse
outro caminho, a partir desse pressuposto, foi necessária a transferência da pesquisa
para o acampamento situado na cidade de Quissamã, onde foi delimitado, de acordo
com as idiossincrasias do local, outros pontos a serem pesquisados: o
desenvolvimento de uma pesquisa fotoétnografica e a questão do cigano enquanto
aluno.
Partindo do pressuposto acima, essa pesquisa fotoetnográfica tem por
objetivo o aprofundamento no estudo sobre os ciganos, a fim de mostrar a realidade
que eles constroem e vive todos os dias, assim como, ilustrar a pesquisa escrita.
Primeiramente, a ideia seria tentar comprovar muitas das afirmações feitas nessa
pesquisa através das fotografias, porém, no decorrer da pesquisa fotoetnográfica
descobriu-se a grande dificuldade em fotografar os ciganos, pois em um local onde
todos os olhos estão voltados para você, capturar um momento sem que ninguém o
perceba se torna muito complexo.
Esta pesquisa nos possibilitou maior aproximação com a temática cultura
cigana na Geografia, analisando os diferentes conceitos através do acampamento.
Também foi possível através da pesquisa uma análise, que precisa ser mais
pesquisada, da escola e do ensino para os ciganos.
Desse modo, propõe-se desenvolver neste projeto um estudo sobre o
hibridismo cultural, apropriação do espaço, interação do mesmo através dos ciganos
e não-ciganos, o cigano enquanto um aluno, para que possamos compreender como
essas relações se desenvolvem, como estão desenvolvidas e como modificam a
cultura cigana.
2 – Desenvolvimento
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A história dos ciganos no Brasil
Pouco se sabe sobre as origens ciganas e sobre de onde vieram ou como chegaram
ao Brasil. Existe uma quantidade reduzida de documentos que falam sobre a sua
chegada no Brasil o que dificulta uma pesquisa aprofundada. Todavia, tomando as
palavras de Rezende (1998, p.23):
À parte a complexa definição da identidade cigana, a
documentação conhecida indica que sua história no Brasil
iniciou em 1574, quando o cigano João Torres, sua mulher e
filhos foram desagregados para o Brasil. Em Minas Gerais, a
presença cigana é nitidamente notada a partir de 1718, quando
chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido
deportados de Portugal.
Mas de onde vieram os Ciganos? Segundo Pohl (apud REZENDE, p.33): "No
Brasil os ciganos afirmam também que procedem do Egito; e contam a velha lenda de
que, por terem recusado hospedagem à Virgem Maria quando ela fugia, peregrinam
sobre a terra dispersos, sem pátria, por todos os tempos." No Brasil muitos declaram
que seus ancestrais são do Egito, em Carapebus não é diferente, todos os ciganos
declaram que seu tronco veio do Egito, ou seja, seus descendentes.
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Não foram para longe. Com o consentimento tácito ou formal da
Ordem do Carmo, instalaram–se na chácara que fora de Paula
Carvalho, junto às divisas das terras de Coelho da Silva. Aí
levantaram as suas casas, formando uma nova rua, em ângulo
reto com a de São Jorge e que deles tomou o nome,
conservando-o até à época da Independência. Desde então até
hoje a antiga rua dos Ciganos manteve a designação de rua da
Constituição, ligando o Largo do Rossio à atual Praça da
República. (COROACY apud REZENDE,1990, p.40)
“Não pratico a leitura de mãos, porque isso vai contra aquilo que
eu acredito”. Mulher cigana, 39 anos.
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ou que tentem afirmar-se como radicalmente opostas à sociedade
nacional ou à globalização (CANCLINI, 2008: XXIII).”
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“O cigano não possui uma identidade fixa e imutável, baseada em
um conjunto finito de traços, princípios ou emblemas como parece
ser sugerido pela literatura ciganologica. Por exemplo, muitos
ciganos não são nômades, não falar seu dialeto original e muitas
vezes possuem uma história genealógica “obscura” e, apesar disto,
consideram-se ciganos e continuam sendo considerados assim
pelos demais, vivendo e agindo como tais”.
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cobram a questão da presença em sala de aula, fazem uma ponte entre a escola e o
acampamento, por isso, observa-se um fenômeno diferenciado em detrimento das
bibliografias estudadas para a pesquisa. Segundo a Ana Barcelos, diretora da escola
municipal Maria de Loudes Ribeiro Castro, no qual a escola e os alunos ciganos têm
uma interação muito boa e a relação dos alunos ciganos com os outros alunos também
se mostra bastante agradável. A professora de um dos alunos esclareceu que só se
sabe que os alunos são ciganos porque tem um carro da prefeitura que faz a rota do
acampamento e os leva para a escola, porque, do contrário, passaria despercebido,
porém, serão abordadas algumas questões analisadas a partir das referências
bibliográficas a fim de compara-las com o caso de Quissamã.
A criança cigana vai percebendo ao longo da sua vida escolar, que muitos dos
ensinamentos que ela aprende não são valiosos em seu grupo de pertença e muitas
vezes nem são considerados adequados. O que acarreta para criança um meio que é
desconhecido e que lhe gera medo como Casa-nova (2006, p.162) mostra muito que
a escola é um território sócio-culturalmente territorializado, e as crianças ciganas
muitas vezes acabam por serem excluídas.
Casa-Nova (2006, p.164) relata a questão dos professores acreditarem que os
ciganos não gostavam da escola, porém ela relata que na verdade eles não têm
interesse na escola, os ciganos entendem que a escola é importante, mas ao mesmo
tempo não tem interesse de estudar. A incapacidade estrutural que os ciganos
acreditam não ter para permanecer na escola se dá porque ele vive em um sistema
cultural completamente diferenciado, onde o saber é passado oralmente e não através
de livros, a grande dificuldade se encontra no distanciamento da matéria ensinada
com a realidade vivida pelo aluno.
No caso de Quissamã foi analisado que os alunos ciganos possuem o mesmo
interesse do que os outros alunos. Não divergem em nada dos outros alunos, até
mesmo as roupas são iguais. Entendemos que a cultura cigana de ontem, não é a
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mesma de hoje, nem será a mesma de amanhã. Atualmente, as ciganas frequentam
a escola de calça para não chamarem atenção, em entrevista com a mãe de uma
adolescente ela disse: “Minha filha frequenta a escola como qualquer outra
adolescente e vai de calça jeans e uniforme, para que não seja o centro das atenções
e seja notada simplesmente pelo fato de ser cigana. Quero que ela seja uma pessoa
normal na escola.”
Outro fator observado é a questão da evasão escolar que acontece em
Quissamã e em tantas outras escolas que os ciganos frequentam, como já
mencionado, as ciganas e os ciganos após aprenderem as operações básicas e
aprenderem a ler, dificilmente vão dar continuidade aos seus estudos, visto que, se
casam muito jovens e as responsabilidades de auto-sustento logo é passada para
eles. No caso de Quissamã observamos um grande avanço em comparação com as
outras escolas estudadas por outros autores, porém, ainda vemos algumas lacunas,
como a questão da vestimenta “normal” para se encaixar e a evasão escolar.
Entende-se que a escola deveria ser um espaço de múltiplas culturas, porém,
geralmente não está preparada para receber esse grupo de minorias que é o dos
ciganos. Percebemos que a escola precisa melhorar muito para ser abrigo para esses
alunos ciganos ao invés de ser esse território fechado para os grupos minoritários de
culturas.
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exige um prévio conhecimento sobre este conceito e também um estudo sobre esse
tipo de fotografia que além de ser etnográfica pode ser considerada documental.
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Considerações finais
Em vista dos argumentos apresentados, observamos que os ciganos que
chegaram ao Brasil vindos de Portugal, mas com seu tronco no Egito, estão
espalhados por todos os Estados do nosso país. Com ênfase nos ciganos de
Quissamã e Carapebus, entendemos que muitos têm familiares no Estado do Rio de
Janeiro e em Minas Gerais.
Atualmente, os ciganos ainda sofrem muitos preconceitos, são caracterizados
por uma visão passada por não ciganos em livros, dicionários, filmes e novelas, que
afastam, cada vez mais, da realidade que eles se encontram. Entendemos que para
que esse estudo fosse realizado foi preciso que nossos olhares se destituíssem do
misticismo para que pudéssemos enxergar além das nossas próprias certezas que
foram baseadas naquilo que falamos acima, na visão de obras feitas por não ciganos
que abrangem uma visão não cigana sobre os ciganos. Nesse trabalho de Conclusão
de Curso, mostramos vários estudos sobre os ciganos, mas em todo o momento
respeitando o que os ciganos diziam deles mesmos, ainda que isso fosse o oposto
encontrado nas referências bibliográficas, nós assim relatamos.
Entendemos que a identidade étnica (Rezende, 2000) é o efeito de um processo
ramificado desenvolvido na situação entre culturas diferentes. O que se percebe ao
fenômeno étnico é o fato dos grupos terem uma identidade flexível e resistente, ou
seja, antes das identidades étnicas serem retificadoras de um processo de interação,
são influenciadas cotidianamente pelos sujeitos e grupos de acordo com o tipo de
organização de suas experiências. Em acordo Hall (2014, p.11): “O sujeito,
previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando
fragmentado; composto não só de uma única, mas de várias identidades, algumas
vezes contraditórias ou não resolvidas”.
Quando estudamos a questão do hibridismo cultural fomos surpreendidos pelo fato da
cultura cigana atualmente ser uma cultura muito híbrida e ao mesmo tempo manter
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suas peculiaridades tão enraizadas. A questão do casamento dentro do acampamento
e a maneira como isso é levado tão a sério, independe da religião, porque faz parte
da cultura cigana. Não importa se é católico, umbandista ou evangélico, os costumes
relacionados ao matrimônio são os mesmos, isso se aplica também a questão das
mulheres, que dentro do acampamento tem suas funções muito bem delimitadas, não
podendo usar roupas que mostrem as pernas por exemplo. A questão da tecnologia
também foi observada, visto que, os ciganos no começo dessa pesquisa não tinham
redes sociais ou WhatsApp, já no final tinham grupos de trocas nesse aplicativo e
faziam usos de celulares novos de dentro do acampamento para realizar trocas e
vendas. Esse fator, porém, não foi observado com as mulheres, que não vimos
utilizando celulares em momento nenhum. Por isso tudo, observamos como a cultura
cigana tem mudado muito em tão pouco tempo, mas como alguns aspectos ainda se
mostram fortemente consolidados no acampamento.
Em virtude dos fatos mencionados, observamos que no caso de Quissamã, a escola
Professora Maria de Lourdes de Castro Ribeiro, recebe alunos ciganos e de acordo
com as professoras e a diretora, eles não se diferem dos outros alunos em
aprendizagem, porém, tem dificuldade em frequentar a escola, ou seja, o número de
faltas é sempre grande com os alunos ciganos. Um fato muito interessante é que
mesmo faltando muito, eles conseguem aprender e ter as notas na média assim como
os outros alunos.
Entendemos que essa junção escola x acampamento no caso de Quissamã só é
possível porque existe uma coordenação de grupos minoritários na Secretaria de
Educação da cidade, que acompanha de perto esses alunos e as suas respectivas
famílias, fazendo essa ponte entre os ciganos e a escola. O grande problema que
observamos nos trabalhos estudados e tomados como referências bibliográficas a
respeito desse assunto, foi que essa “ponte” não existia e então a dificuldade não
vinha apenas por parte dos alunos em se integrar, mas, também por parte dos
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professores/coordenadores/diretores que não sabiam como construir essa relação.
Precisamos pensar não em uma escola para os ciganos, mas sim uma escola com os
ciganos, na qual eles não precisem mudar suas vestimentas ou se manter em silêncio
por conta do sotaque. No caso de Quissamã, muito já foi feito, mas ainda existe um
longo caminho a seguir para que essa integração seja completa.
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e feita sem nenhuma reclamação. Tendo em vista os aspectos que foram observados,
temos a questão do uso do tempo de acordo com cada cigano, sem regras ou
cumprimento de horários, em sua maioria, as coisas são realizadas sem pressa e
dentro do tempo de cada pessoa, sendo ela homem, mulher ou criança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da
Modernidade. São Paulo: Ed.USP, 2007.
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contributos para a compreensão sociológica de um problema complexo e
multidimensional. 2004.
CASTRO,Alexandra. Ciganos e a itinerância. Realidades concelhias e
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MASSEY, Doreen. 2000 (1991) Um sentido global do lugar. IN: Arantes, O. (org.) O
espaço da diferença. Campinas: Papirus.
RAMOS, Cristina. A integração de alunos de etnia cigana na escola: estudo de
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REZENDE, Dimitri Fazito de Almeida. Transnacionalismo e Etinicidade – A
construção Simbólica do Romanesthàn (Nação Cigana). 2000, 191f. Dissertação
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(Mestrado em Sociologia) - Faculdade de filosofia e ciências humanas UFMG, Belo
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