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Formação e

Desenvolvimento
de Coleções
Prof. ª Daniella Camara Pizarro
Prof. ª Miriam de Cássia do Carmo Mascarenhas Mattos

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. ª Daniella Camara Pizarro
Prof. ª Miriam de Cássia do Carmo Mascarenhas Mattos

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

P695f

Pizarro, Daniella Camara

Formação e desenvolvimento de coleções. / Daniella


Camara Pizarro; Miriam de Cássia do Carmo Mascarenhas Mattos. – Indaial:
UNIASSELVI, 2019.

161 p.; il.

ISBN 978-85-515-0383-6

1. Bibliotecas - Serviços de informação. - Brasil. I. Mattos, Miriam de


Cássia do Carmo Mascarenhas. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 025.2

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico, seja bem-vindo!

É uma satisfação estar aqui para refletirmos sobre esta importante temá-
tica curricular, a qual comumente chamamos de Formação e Desenvolvimento
de Coleções. Este livro didático pretende propiciar a você conhecimentos exi-
gidos na ementa desta referida disciplina. Vamos conhecê-la? Nesta direção, a
ementa de “Formação e Desenvolvimento de Coleções”, do Curso de Biblioteco-
nomia da UNIASSELVI, propõe que trabalhemos os “Fundamentos, processos
de formação e desenvolvimento de coleções em unidades de informação. Prin-
cípios, políticas e instrumentos para a formação e desenvolvimento de coleções
bibliográficas. Seleção, aquisição, avaliação e processo de formação e desenvol-
vimento de coleções”.

Para facilitar nossa caminhada, vamos trabalhar esses conteúdos


reagrupados e inter-relacionados de forma coerente em três unidades.

Na Unidade 1, vamos compreender o que significa o desenvolvimento


de coleções, bem como reflitir algumas questões: por que, para quem, onde
e como desenvolvemos coleções. E, por fim, compreender a finalidade da
Política de Formação e Desenvolvimento de Coleções.

Na Unidade 2, vamos entender como se dá o ciclo do desenvolvimento de


coleções e suas etapas, tais como: estudo da comunidade, o processo de seleção,
aquisição e desbastamento, e ainda: a dinâmica de avaliação da própria coleção.

Na Unidade 3, abordaremos o que chamamos de “tópicos especiais”,


ou seja, temas que, embora não falem diretamente sobre formação e
desenvolvimento de coleções, são necessários para a problematização dos
processos que permeiam o tema na sociedade contemporânea, entre eles
movimento de acesso aberto e direitos autorais.

Sugerimos que leia atentamente cada unidade deste livro didático, bem
como após cada leitura, concentrar-se na realização das autoatividades. Elas vão
ajudar você a reforçar e fixar seu aprendizado nesta disciplina. É importante
lembrar que devemos ter uma boa gestão do tempo de estudo na qual possamos
praticar uma leitura atenta, calma e que possamos nos concentrar nas reflexões
aqui propostas. Desejamos um ótimo estudo e que este material possa contribuir
na sua formação para sua prática futura como bibliotecário!

Tudo de bom!

Prof.ª Daniella Camara Pizarro


Prof.ª Miriam de Cássia do Carmo Mascarenhas Mattos
III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES:
CONCEITOS IMPORTANTES................................................................................... 1

TÓPICO 1 – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES:


POR QUE FAZER?............................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 O QUE É COLEÇÃO?............................................................................................................................ 4
3 FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES.............................................................. 6
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 15

TÓPICO 2 – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: COMO FAZER?.......... 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: COMO FAZER................................ 20
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 24
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 25

TÓPICO 3 – POLÍTICA DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES............. 29


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 29
2 POLÍTICA DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES ................................. 29
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 47
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 50
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 51

UNIDADE 2 – ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES.......................................... 53

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO.................................................................. 55


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 55
2 ESTUDO DE COMUNIDADE............................................................................................................ 55
3 SELEÇÃO................................................................................................................................................ 62
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 69
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO, DESBASTAMENTO


E AVALIAÇÃO................................................................................................................... 75
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75
2 AQUISIÇÃO........................................................................................................................................... 75
3 DESBASTAMENTO.............................................................................................................................. 83
3.1 CRITÉRIOS PARA DESCARTE...................................................................................................... 84
4 AVALIAÇÃO........................................................................................................................................... 85
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 89
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 97
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 99

VII
UNIDADE 3 – TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÕES.............................................................................................................. 101

TÓPICO 1 – MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS RELAÇÕES NAS


ATIVIDADES DE BIBLIOTECONOMIA.................................................................... 103
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 103
2 ACESSO ABERTO: LUTA ENTRE DAVI E GOLIAS..................................................................... 105
3 ENTENDA O QUE É O MOVIMENTO ACESSO ABERTO......................................................... 106
3.1 VOLTANDO UM POUCO A HISTÓRIA...................................................................................... 112
4 ACESSO ABERTO NA AMÉRICA LATINA ................................................................................... 117
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 123
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 124

TÓPICO 2 – DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?....................................... 125


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 125
2 UM POUCO SOBRE O “DOSSIÊ COPYSOUTH”.......................................................................... 125
3 DIGITAL RIGHTS MANAGEMENT (DRM) ..................................................................................... 132
4 LEI Nº 9.610: OS DIREITOS AUTORAIS ........................................................................................ 135
4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL: DIREITO DO AUTOR E O DIREITO DO CIDADÃO
AO ACESSO A INFORMAÇÃO..................................................................................................... 137
5 ACESSO ABERTO E DIREITOS AUTORAIS: IMPACTOS PARA
PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO............................................................................................. 138
5.1 SOFTWARES E SERVIÇOS DE BASES DE DADOS, UTILIZADOS PELAS
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS ............................................................................................... 138
5.2 REDES SOCIAIS E COMPARTILHAMENTO.............................................................................. 139
5.3 CÓPIAS PARA FINS EDUCATIVOS, DE PRESERVAÇÃO E ACESSO A DEFICIENTES............. 141
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 147
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 151
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 153

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 154

VIII
UNIDADE 1

FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÕES: CONCEITOS
IMPORTANTES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você será capaz de:

• conhecer os conceitos gerais sobre a temática Formação e Desenvolvimen-


to de Coleções;

• compreender a importância de sua reflexão e aplicação nas bibliotecas


unidades de informação;

• atentar-se às diferentes denominações existentes deste processo, por


exemplo: Gestão Estoques Informacionais;

• entender de forma global o porquê e como se faz a Formação e Desenvol-


vimento de Coleções;

• compreender a finalidade da Política de Formação e Desenvolvimento de


Coleções;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: POR


QUE FAZER?

TÓPICO 2 – FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: COMO


FAZER?

TÓPICO 3 – POLÍTICA DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE


COLEÇÕES

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE
COLEÇÕES: POR QUE FAZER?

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos começar a trabalhar os principais conceitos
relacionados à área de Formação e Desenvolvimento de Coleções, no intuito de
promover uma reflexão mais aprofundada acerca do papel de uma coleção e do
bibliotecário nas Unidades de Informações. Vamos voltar nossa atenção para este
processo que compõe várias atividades centrais para uma unidade de informação?

Ao pararmos para pensar sobre a coleção, podemos dizer que ela se


apresenta com um conjunto que informações e itens bibliográficos que atendem a
necessidades informacionais de diversas pessoas que procuram uma determinada
biblioteca. Você já pode visualizar a responsabilidade que tem o bibliotecário na
formação e desenvolvimento de uma coleção e quanto assertivo ele deve ser?

Nessa direção é de extrema importância que os profissionais bibliote-


cários reflitam sobre algumas questões antes de iniciar sua prática: por que,
para quem, onde e como desenvolvemos coleções? A importância destas re-
flexões acrescentam aos bibliotecários uma visão desta temática para além do
enfoque tecnicista.

Formar e desenvolver coleções envolvem questões sociais, éticas e políticas,


as quais constantemente vão direcionar suas decisões técnicas. Assim, lembramos
que precisamos conhecer profundamente as necessidades da comunidade a ser
atendida e pensar em políticas de seleção e de aquisição de itens bibliográficos,
avaliar periodicamente a pertinência da coleção e, ainda, incluir estratégias de
preservação para que cada coleção possa ser sempre desfrutada em sua plenitude.

3
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

E
IMPORTANT

Litton, em 1975, no prefácio de sua obra Como se forma um acervo bibliográfico já nos
alertava que a formação do acervo de livros em uma biblioteca é tarefa exclusiva do bibliotecário.
As coleções devem refletir fielmente o tipo de instituição que esse unidade está ligada,
seja uma biblioteca especializada, pública, escolar, universitária, comunitária, entre outras.
A formação de acervo bibliográfico proporciona ao bibliotecário a oportunidade de
concretizar um trabalho cativante. “É animador receber os pacotes contendo as publicações novas
há pouco solicitadas para atender às necessidades de determinados leitores, preencher lacunas
específicas da coleção e proporcionar um melhor serviço de informação” (LITTON, 1975, p. 2).

2 O QUE É COLEÇÃO?
Você observou que utilizamos aqui os termos acervo e coleção. Porém,
existem diferenças entre eles? O que você acha? A compreensão dos objetivos e a
missão de uma determinada biblioteca, suas especificidades e seu público, possibilita-
nos pensar sobre a composição de suas coleções.

Nesse sentido, não podemos nos esquecer de considerar o contexto


institucional a que a biblioteca está relacionada, as atividades desenvolvidas por essa
organização, seus documentos e políticas. Por exemplo, quando tratamos de uma
biblioteca universitária temos que levar em conta os projetos político-pedagógicos
dos cursos e seus currículos, entre outros fatores.

Se, por acaso, atuarmos em uma unidade especializada em assuntos jurídicos,


teremos que nos basear nos documentos legislativos que norteiam as ações e processos
da organização prestadora dos serviços, seja ela pública ou privada.

E
IMPORTANT

Uma coleção reflete o cenário e os objetivos de determinado tipo de biblioteca. De


forma geral, Barros e Kobayashi (2005) afirmam que seu acervo é composto por diversos tipos
coleções! Cada coleção é agrupada por tipos de publicação, tais como: obras de coleção geral,
de referência, de periódicos, de folhetos, de pastas e de apostilas, itens audiovisuais, artefatos
digitais/eletrônicos, entre outros).

4
TÓPICO 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE

E
IMPORTANT

O acervo de biblioteca é composto de diversas coleções que refletem tipos de fontes


de informação específicas. Essas fontes, frequentemente, são categorizadas como primárias,
secundárias e terciárias.
• Fontes primárias: são os conteúdos que vêm diretamente das fontes com originalidade.
Consiste na informação que não pode ser alterada ou disfarçada por opiniões e/ou seleções.
Compõem a literatura primária e são publicadas da mesma forma em que são produzidos
por seus autores, como por exemplo, podem formar as coleções de legislação, de normas
técnicas, de patentes, de periódicos, de projetos de pesquisa em andamento, de relatórios
técnicos, de teses e de dissertações, entre outras.
• Fontes secundárias: são aquelas que possuem informações baseadas nos documentos
primários e são arranjadas segundo um plano definitivo que acaba por guiar o leitor aos
documentos primários. Temos como exemplo, as coleções de manuais, as coleções
científicas, bases de dados e bancos de dados, as coleções de bibliografias e de biografias,
catálogos de bibliotecas, coleções de dicionários bilíngues e multilíngues e de enciclopédias,
sejam elas em formato físico ou eletrônico.
• Fontes terciárias: são as que subsidiam o leitor na pesquisa de fontes primárias e secundárias.
Servem como sinalizadores de localização ou indicadores sobre os documentos primários
ou secundários, tais como: coleções de bibliografia de bibliografia, de guias bibliográficos, de
revisões de literatura etc. (BAGGIO; COSTA; BLATTMAN, 2016; CUNHA, 2001).

Portanto, o acervo bibliográfico corresponde ao montante total dos livros de


uma biblioteca, podendo compreender diversas coleções diferentes. Segundo visão
das autoras Romani e Borszcz (2006), esse acervo comumente é dividido em: coleção
de referência, didática, informativa (de consulta e estudo), de lazer e institucional.

A Coleção de referência consiste naquela formada por fontes de informação


secundárias, em que as obras dão suporte à pesquisa documental, tais como: anuário,
estatísticas, atlas (geográfico, corpo humano etc.), bibliografias (gerais, específicas,
pessoais etc.), índices, resumos, biografias (coletivas, individuais etc.), cadastros,
catálogos, dicionários (de línguas, termos técnicos etc.), enciclopédias (gerais,
especializadas), guias e tabelas. Destaca-se que estes materiais podem se encontrar em
qualquer formato, desde que a biblioteca disponha de meios para acessá-los.

No caso da Coleção Informativa de Consulta e Estudo, também chamada de


Coleção Básica e/ou Corrente, as fontes de informação apoiam a pesquisa e o ensino,
uma vez que a coleção abrangerá títulos voltados à especialidade de cada área e conterá
o que há de mais atual e de real valor na literatura especializadas. Por exemplo: livros,
normas técnicas, material audiovisual, periódicos, multimeios, hemeroteca e outros.

Para as referidas autoras, a Coleção Lazer pode ser formada por obras
literárias, recreativas, com a finalidade de proporcionar lazer à comunidade
de usuários, geralmente livros, material audiovisual, periódicos, entre outros.
Diferentemente da Coleção Institucional. Esta é formada pelo conjunto de
materiais relacionados com a memória institucional, tais como documentos que

5
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

envolvem a instituição como: relatórios, material didático, fotografias, vídeos,


filmes, obras raras, catálogo de produtos, descritivos de patentes, diretórios,
manuais técnicos, guias, livros técnicos, periódicos especializados etc.

No tangente à Coleção Didática, Romani e Borszcz (2006) a caracterizam por


aquela que é formada por obras recomendadas pelos professores como literatura
obrigatória para o aprendizado do conteúdo dos currículos dos cursos oferecidos
pela instituição: livros-texto, manuais, apostilas e outros.

Portanto, podemos compreender que as coleções podem estar relacionadas


aos diferentes tipos de fontes de informação (primária, secundária e terciária) e/ou
à finalidade do material (didática, lazer, informativa, institucional etc.).

3 FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES


Agora que diferenciamos uma coleção de um acervo, podemos avançar e
pensar um pouco, em termos sócio-históricos, à área da Biblioteconomia. Como
surgiu o processo de formação e desenvolvimento de coleções enquanto prática
realizada pelos bibliotecários?

Carece lembrar que aproximadamente após os anos de 1950, o advento


das tecnologias de informação e comunicação proporcionaram um aumento
considerável na produção e disseminação de informações, e consequentemente,
dos registros bibliográficos em diversos suportes (físico e digital) e gêneros (textual,
audiovisuais, sonoros, pictográficos, entre outros).

Assim, este fenômeno de explosão bibliográfica ou informacional, como


podemos nos referir, exigiu um aprimoramento na postura dos profissionais.

Os bibliotecários ao redor do mundo sentiram a necessidade de um


comportamento mais proativo, de modo que os acervos e as coleções ficassem mais
disponíveis e prontos para serem acessados por seus usuários, uma vez que existia,
frequentemente e acumulativamente, grande quantidade de produção de informações.

Dentro desse cenário, as tecnologias de informação e comunicação


influenciaram ativamente na concepção da formação e desenvolvimento de coleções.
No Brasil, mais especificamente após a década de 1960, a comunidade bibliotecária
começa a voltar sua atenção e preocupação para este fato (VERGUEIRO, 1989).

Para Vergueiro (1989), um bom montante de bibliotecários de outros países


ao redor do mundo (convém destacar que nosso país demorou um pouco mais)
deposita seu olhar compenetrado sob as coleções das bibliotecas. De forma que
pudessem desenvolvê-las, selecioná- las, desbastá-las, enfim, dar um destino mais
coerente e útil, o qual atendesse integralmente as necessidades informacionais dos
usuários da informação.

6
TÓPICO 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE

Autoras como Dias e Pires (2003, p. 8), corroboram com a ideia explanada
acima e afirmam que: “até a década de 1960, havia grande preocupação por parte
dos administradores de serviços de informação documentária, em acumular material
bibliográfico, pois as coleções volumosas constituíam sinais de status e o foco estava
centrado na oferta de documentos”.

E mais, Vergueiro (1989, p. 13) já nos alertava: “chegou o tempo da biblioteca


abrir-se à todas as fontes de informação e o bibliotecário tornar-se a ponte entre
o acervo sobre o qual tem a responsabilidade e um usuário cuja exigência cresce
exponencialmente”.

Com o advento da informação eletrônica, expressivas mudanças aconteceram


nos acervos das bibliotecas. Nota-se que na década de 1990, passou-se a discutir:
“como administrar o acervo a partir dos ‘impactos’ das novas tecnologias de
comunicação e informação (NTCI), especialmente sob o ponto de vista da mudança
do paradigma ‘posse X acesso’ aos itens de informação nas bibliotecas” (CORRÊA;
SANTOS, 2015, p. 3).

Assim, Figueiredo (1993) aborda um pouco mais esta atividade que se apoia
na “seleção de livros”, enquanto uma das atividade centrais do bibliotecário. Nesse
sentido, a autora rememora as falas dos importantes: bibliotecário estadunidense
Jesse Shera e do bibliotecário francês Gabriel Naudé.

Segundo Shera (1976) apud Figueiredo (1993, p. 12), o bibliotecário tem “como
sua responsabilidade básica, a de colocar nas estantes da sua biblioteca, aqueles livros
que mais contribuem para o desenvolvimento intelectual da sua clientela”. E ainda
para o francês Naudé, segundo Clarke (1971) apud Figueiredo (1989, p. 11):

A arte de constituir e organizar uma biblioteca requer mais do que as


modestas práticas de um vendedor de livros; o bibliotecário na verdade,
tem que conhecer tanto os livros como pessoas, o bastante para fornecer
os livros apropriados para seus leitores, sem hesitação, assim como os
farmacêuticos têm que conhecer tanto as drogas como as pessoas para
prescreverem as drogas necessárias aos seus pacientes.

Dessa forma, esses profissionais vêm sentindo o chamado para apenas


deixarem de serem meros armazenadores de estoques de informações, como vinham
fazendo há muitos anos. E sim, começam a se preparar para uma prática da mediação
da informação em que o foco ficasse na apropriação da informação pelo usuário.

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UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

DICAS

Você conhece um do livros clássicos (e sempre atual, apesar de ter seu conteúdo
escrito em 1935) A Missão do Bibliotecário do autor espanhol Ortega Y Gasset? Sugiro que se
você ainda não o leu, faça-o com urgência, pois a obra apresenta reflexões estimulantes sobre o
que seu autor chamava de a “nova missão do bibliotecário”.
José Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo espanhol e pesquisador do conhecimento,
foi convidado, com honras, para palestrar no Congresso Internacional de Bibliotecários. Na
ocasião, Ortega y Gasset, já antevia o que referia-se como a “nova missão” do bibliotecário, uma
vez que para ele, o artefato livro não era apenas um objeto material organizado nas estantes, mas
algo vivo.
Ao fazer a leitura da obra, você poderá compreender que o autor se referia a uma
urgente e necessária mudança de perspectiva no olhar profissional bibliotecário. Uma mudança
na qual o foco central deslocara-se da organização do acervo e das coleções para a informação
neles contida. Assim sendo, o processo de formação e desenvolvimento de coleções deveria ser
proativo e protagonizar outro fenômeno correlacionado a ele: a mediação da informação e a
apropriação da mesma pelo seu leitor.
O livro ainda nos leva a questionar: será essa já é uma realidade constituída na ação
dos bibliotecários atualmente? Ou ainda, o enfoque da ação destes profissionais prevalece de
forma mecanicista, concentrado na organização da informação; ou o seu agir concentra-se na
necessidade daquele ser humano que recorre a biblioteca?
Não podemos nunca nos esquecer que a atuação do bibliotecário não é para a
organização da informação, e sim, para seus leitores: para pessoas. É a partir do conhecimento de
suas necessidades que o bibliotecário vai pensar nas melhores formas possíveis de organização
da informação.

FONTE: ORTEGAYGASSET, J. Missão do bibliotecário. Brasília: Briquet de Lemos, 2006.

Dias e Pires (2003, p. 8) sinalizam que no cenário da segunda metade do


século XX:

a função do profissional da informação passa a ser considerada elemento


de ligação entre o universo de fontes de informação documentária e
as necessidades dos usuários. Os acervos passaram a ser seletivos,
dinâmicos e integrados à comunidade, o que vem exigindo mudança
radical na forma de gerenciar a coleção/ acervo: a gestão científica e a
adoção de sistema de avaliação para subsidiar a tomada de decisão e o
planejamento desses cuidados.

Nesse sentido, as autoras afirmam ainda que a formação e desenvolvimento


de coleções, enquanto área do conhecimento, apresentava pouca produção na
literatura científica nacional. Já outros países como os Estados Unidos têm extensa
produção Bibliográfica nesta área.

Porém, apesar da pouca literatura brasileira na área, observou-se que


aproximadamente na década de 1970, os profissionais brasileiros já apresentavam
essa preocupação com as coleções. Como consequência disso, a educação dos
profissionais em nível de graduação passou a inserir a disciplina “Formação e
Desenvolvimento de Coleções”, que se tornou obrigatória no currículo mínimo
8
TÓPICO 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE

dos cursos de Biblioteconomia. E, enfatiza-se que ainda hoje, após a nova Lei de
Diretrizes e Bases para Educação, promulgada em 1996, continua sendo fortemente
contemplada nas matrizes curriculares.

E ainda no contexto brasileiro, nas décadas de 1980 e 1990, no Brasil,


encontramos entre os autores que mais estudaram a temática: Waldomiro Vergueiro
e Nice Figueiredo, cujas essenciais contribuições apresentaram a sistematização
do processo e atividades administrativas que orientam o trabalho do bibliotecário
voltado às coleções e aos acervos. Tais pesquisadores constituem-se como nosso
principal marco teórico desde então quando se trata das atividades voltadas ao
gerenciamento de coleções (CORREA; SANTOS, 2015).

NOTA

O renomado Professor Waldomiro de Castro Santos Vergueiro tornou-se uma


referência nacional, principalmente com a publicação de sua tese intitulada Bibliotecas Públicas
e a Mudança Social: a contribuição do Desenvolvimento de Coleções nos anos de 1990.

Foi por meio dessas leituras que a formação bibliotecária, principalmente em


nível de graduação, abordou de forma metódica a necessidade de planejar ações para
“transformar suas tarefas anteriormente realizadas de modo intuitivo ou a partir de
uma visão ‘artística’ da profissão, para um enfoque mais organizado e sistêmico”
(CORREA; SANTOS, 2015, p. 3).

A denominação “formação e desenvolvimento de coleções” vem sendo usada


para definir atividades referentes à composição do acervo bibliográfico. Enfatiza-se
que a professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC, Dra. Elisa Cristina Delfini Correa, propõe uma nova nomenclatura para a
“Formação e Desenvolvimento de Coleções”. O novo termo “Gestão de Estoques
Informacionais”, já está sendo utilizado em artigos da área, inclusive, por outros
autores, e também se desponta em alguns cursos de graduação para designar nome
de disciplina: “Gestão de Estoques Informacionais”.

9
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

DICAS

No nosso campo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, como em outras áreas do


conhecimento científico, algumas nomenclaturas são representadas de formas diferentes
para denominar alguns conceitos semelhantes, processos e pessoas que se relacionam com
estas áreas.

A multiplicidade de pensamentos é característica do fazer científico contemporâneo, ou


pós-moderno, como podemos chamar. Nessa direção, é possível que cada pesquisador
justifique por meio de pesquisas e fundamentações conceituais e teórica suas sugestões e
novos termos.

Ressalta-se que não se trata da questão de verdadeiro ou falso. A denominação escolhida


pelos profissionais e pesquisadores que a utilizam reflete seus posicionamentos e pontos de
vista. Observe os casos a seguir:

• Denominações para as ações que abrangem o planejamento das coleções escolhidas


para compor o acervo das bibliotecas / unidades de informação: Formação e
Desenvolvimento de Coleções e/ou Gestão de Estoques Informacionais.
• Termos usados para caracterizar os receptores das práticas e serviços oferecidos pelas
bibliotecas e unidades de informação: clientes, usuários, leitores e interagentes.
E aí, dentro destes termos qual lhe apetece mais? Qual você considera mais apropriado?

Saiba mais e fundamente sua opinião a partir dos dois conhecidos artigos a seguir:

• De Formação e Desenvolvimento de Coleções para Gestão de Estoques de Informação:


um panorama da mudança terminológica no Brasil, escrito por Elisa Cristina Delfini Correa
e Luana Carla de Moura dos Santos. Disponível no link: https://periodicos.sbu.unicamp.br/
ojs/index.php/rdbci/article/view/8634631.
• Usuário, não! Interagente. Proposta de um novo termo para um novo tempo, escrito
por Elisa Cristina Delfini Correa. Disponivel no link: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/
article/view/1518-2924.2014v19n41p23.

Para fins deste material didático, vamos adotar o termo “desenvolvimento


de coleções”, o qual foi utilizado para compor a ementa desta disciplina aqui na
UNIASSELVI.

Pois bem, o que é “desenvolvimento de coleções”? Podemos iniciar esta


resposta explicando que é um processo decisório e um conjunto de atividades que
carecem um planejamento. Dessa forma, determinam-se critérios, etapas e métodos
que objetivam a formação de um acervo ideal com diversas coleções (estoques
informacionais) que respondam às necessidades de um usuário, instituição ou
comunidade.

O desenvolvimento de coleções é um processo que, para Vergueiro (1989) e


Weitzel (2013), perpassa por algumas etapas definidas como: estudo de comunidade,
atividades de seleção e aquisição, avaliação e desbastamento e descarte.

10
TÓPICO 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE

Já as autoras Romani e Borszcz (2006, p. 27), consideram-no como um


conjunto de:
atividades referentes ao desenvolvimento de coleção: avaliação, seleção,
aquisição e descarte devem ser desenvolvidas por todas as unidades de
informação, ou seja: bibliotecas, salas de leitura e núcleos de informação
tecnológica. Estas unidades devem desenvolver uma coleção voltada
às áreas de interesse dos seus usuários, levando em consideração as
características da instituição a que está inserida (áreas de atuação).

O desenvolvimento de coleções é considerado, na visão de Pires e Dias (2003,


p. 9), um processo cíclico, ou seja: “ininterrupto, com atividades regulares e contínuas,
respeitando a especificidade de cada tipo de unidade de informação em função de
seus objetivos e seus usuários”.

Veja adiante, a conhecida figura, originalmente, concebida pelo bibliotecário


norte- americano G. Edward Evans. Porém, ela foi (e é ainda) amplamente utilizada
para representar este processo, bastante abordado no Brasil, pelo Professor Waldomiro
Vergueiro.

FIGURA 1 – PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

FONTE: Vergueiro (1989, p. 17)

Nessa perspectiva, desenvolver coleções requer sistematização, criação de


procedimentos para seleção, aquisição, avaliação e desbastamento do acervo. As
coleções devem evoluir harmoniosamente em todas as áreas, evitando, assim, o

11
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

crescimento desordenado que se faz sem metas ou objetivos definidos. Portanto, o


desenvolvimento de uma coleção é um processo intelectual de construção de uma
coleção da biblioteca que atende às prioridades institucionais e aos interesses da
comunidade usuária (MIRANDA, 2017).

Ao analisarmos a Figura 1, podemos refletir que o processo de


desenvolvimento de coleções está presente em todas as bibliotecas e deve ter na sua
centralidade sob a coordenação de um bibliotecário. Ademais, a gestão da formação e
do desenvolvimento do acervo, enquanto processo, sempre foi atividade presente nas
bibliotecas de todas as épocas, seja por meio dos suportes iniciais, como os tabletes de
argila da Antiguidade, ora até a modernidade, com o aparecimento das publicações
eletrônicas (MIRANDA, 2017).

Atualmente, observa-se a preocupação com as coleções digitais, especialmente


no que tange à aquisição de e-book. É certo que a informação digital propiciou tanto
oportunidades quanto desafios aos bibliotecários no gerenciamento do acervo
bibliográfico. Miranda (2017, p. 41) alerta que tais materiais têm algumas restrições
a serem observadas, diferentemente dos livros impressos: “em alguns contextos,
considerando a realidade brasileira, esse assunto está bastante avançado (bibliotecas
acadêmicas, especializadas); em outros, a situação ainda está indefinida (bibliotecas
públicas, escolares)”.

Portanto, a gestão de coleções englobará atividades como seleção, aquisição,


processamento, armazenamento, desbaste e promoção do uso dos materiais da
biblioteca. Ela também terá como objetivo principal disponibilizar as fontes de
informação para os seus usuários. Assim, os bibliotecários precisam estar preparados
e competentes para realizarem tais ações, de forma que satisfaçam as necessidades
informacionais da comunidade (OLIVEIRA, 2019).

Por fim, lembramos que embora esse processo seja rotineiro e aconteça nas
unidades de informação, ele não acontece sempre da mesma maneira. Cada unidade
contém suas peculiaridades, sejam elas bibliotecas especiais (em penitenciárias,
hospitais etc.), especializadas ou organizacionais, universitárias, escolares, públicas
e/ou comunitárias.

Para cada tipo de biblioteca existem públicos diferenciados nas suas necessidades
informacionais, além dos diferentes objetivos institucionais que vão influenciar no
desenvolvimento de cada uma das etapas da formação e desenvolvimento de coleções.

TUROS
ESTUDOS FU

Veremos detalhadamente, nas próximas unidades, as etapas da formação e


desenvolvimento de coleções, bem como suas finalidades, atividades e técnicas.

12
TÓPICO 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE

Agora que já compreendemos o porquê do desenvolvimento de coleções,


vamos dar continuidade a nossa reflexão. No próximo tópico, vamos explorar como
fazer este processo e ainda, para quem e onde o concretizamos.

13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O acervo bibliográfico corresponde ao montante total dos livros de uma biblioteca,


podendo compreender diversas coleções diferentes.

• A gestão da formação e do desenvolvimento do acervo, enquanto processo, sempre


foi atividade presente nas bibliotecas de todas as épocas.

• A gestão de coleções engloba diversas ações e têm como objetivo principal


disponibilizar as fontes de informação para os seus usuários.

• Desenvolver coleções requer sistematização, criação de procedimentos para


seleção, aquisição, avaliação e desbastamento do acervo.

• O desenvolvimento de coleções é um processo cíclico definido pelas seguintes


etapas: estudo de comunidade, atividades de seleção e aquisição, avaliação e
desbastamento e descarte.

14
AUTOATIVIDADE

1 As opções a seguir apresentam etapas ou fases do processo de desenvolvi-


mento de coleções, à exceção de uma. Assinale-a.

a) ( ) Avaliação.
b) ( ) Desbastamento.
c) ( ) Gestão de estoques informacionais.
d) ( ) Aquisição.
e) ( ) Seleção.

2 Analise as assertivas a seguir e indique com V para as sentenças verdadeiras


e com F as falsas.

a) ( ) O desenvolvimento de coleções consiste em um processo mecânico, definido


por duas etapas: aquisição e desbastamento.
b) ( ) Um acervo bibliográfico pode ser composto por diversas coleções.
c) ( ) Um acervo bibliográfico pode ser composto por diversificadas fontes de
informação.
d) ( ) O termo Gestão de Estoques informacionais pode ser utilizado para se
referir ao processo de desenvolvimento de coleções.
e) ( ) Uma coleção bibliográfica pode ser composta por diversos acervos.
f) ( ) Uma fonte de informação secundária como as obras de referência podem
compor uma determinada coleção de uma biblioteca.

3 Uma política para o desenvolvimento de coleções deve estar consubstanciada


na prática diária das atividades de seleção, aquisição, avaliação e:

a) ( ) Utilização.
b) ( ) Acesso.
c) ( ) Preservação.
d) ( ) Disseminação.
e) ( ) Desbastamento.

4 Assinale a alternativa mais alinhada sobre a responsabilidade do bibliotecário


na condução das atividades da formação e desenvolvimento de coleções:

a) ( ) A função do profissional da informação passa a ser considerada elemento


de ligação entre o universo de fontes de informação documentária e as
necessidades dos usuários uma vez que os acervos passaram a ser seletivos,
dinâmicos e integrados à comunidade.
b) ( ) O bibliotecário deve focar sua atenção na organização do acervo e das
coleções de modo que se possibilite uma eficaz recuperação da informação.
c) ( ) Esse profissional, durante o desenvolvimento da coleção, deve atentar-se
mais em atender os objetivos e planos da instituição em que está inserido do
que atender as necessidades informacionais da comunidade usuária.
15
d) ( ) Todas as etapas do desenvolvimento de coleções merecem atenção por parte do
bibliotecário entretanto, a etapa de aquisição é a de maior responsabilidade pois
mobiliza recursos financeiros da instituição em que a biblioteca está inserida.

5 No Brasil, a temática relativa à formação e desenvolvimento de coleções vem


sendo tratada de forma mais assertiva a partir da segunda metade do século
passado, tanto no campo prático como teórico da Biblioteconomia. Assinale
a alternativa que NÃO condiz com a realidade brasileira:

a) ( ) Já na década 1970, observou-se que os profissionais brasileiros já apresentavam


essa preocupação com as coleções e com o seu desenvolvimento.
b) ( ) A educação dos profissionais, em nível de graduação, passou a inserir a
disciplina “Formação e Desenvolvimento de Coleções”, a qual se tornou
obrigatória no currículo mínimo dos cursos de Biblioteconomia.
c) ( ) No contexto brasileiro, nas décadas de 1980 e 1990, no Brasil, encontramos
entre os autores que mais estudaram a temática: Waldomiro Vergueiro e Nice
Figueiredo, cujas essenciais contribuições apresentaram a sistematização do
processo e atividades administrativas que orientam o trabalho do bibliotecário
voltado às coleções e aos acervos.
d) ( ) O termo alternativo “Gestão de Estoques Informacionais”, já está vem sendo
utilizado em artigos da área, inclusive, por outros autores, e também, se
desponta em alguns cursos de graduação para designar nome de disciplina:
“Gestão de Estoques Informacionais”.
e) ( ) Há uma vasta e extensa produção científica e bibliográfica na área da
Biblioteconomia sobre formação e desenvolvimento de coleções no Brasil, que
ultrapassa inclusive os estudos estadunidenses.

6 Com relação às coleções bibliográficas, segundo as autoras Romani e Borszcz,


na obra Unidades de Informação: conceitos e competências, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) O acervo é um acervo comumente e é dividido em duas grandes coleções:


didática e institucional.
b) ( ) O acervo é comumente e é dividido em três grandes coleções: didática,
informativa e institucional.
c) ( ) A principal coleção que compõe o acervo de uma biblioteca é a de referência.
d) ( ) O acervo é comumente e é dividido em: coleção de referência, didática,
informativa (de consulta e estudo), de lazer e institucional.
e) ( ) O acervo não comporta divisões e é denominado, com frequência, como
Acervo Geral.

7 Ainda com relação às coleções bibliográficas, segundo as autoras Romani e


Borszcz, na obra Unidades de Informação: conceitos e competências, indique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

16
a) ( ) A Coleção de referência consiste naquela formada por fontes de informa-
ção secundárias, as quais as obras dão suporte à pesquisa documental, tais
como: anuário, estatísticas, atlas (geográfico, corpo humano etc.), bibliogra-
fias (gerais, específicas, pessoais etc.), índices, resumos, biografias (coletivas,
individuais etc.), cadastros, catálogos, dicionários (de línguas, termos técni-
cos etc.), enciclopédias (gerais, especializadas), guias e tabelas.
b) ( ) A coleção informativa de Consulta e Estudo também pode ser chamada de
Coleção Básica e/ou Corrente.
c) ( ) Um acervo bibliográfico pode ser composto por diversificadas fontes de
informação.
d) ( ) O acervo é dividido em diversas coleções: referência, didática, informativa, de
lazer e institucional.
e) ( ) A coleção lazer pode ser formada por obras literárias, recreativas, com a
finalidade de proporcionar lazer à comunidade de usuários, geralmente
livros, material audiovisual, periódicos, entre outros.
f) ( ) A coleção didática é formada por obras recomendadas pelos professores como
literatura obrigatória para o aprendizado do conteúdo dos currículos dos
cursos oferecidos pela instituição: livros-texto, manuais, apostilas e outros.
g) ( ) A coleção institucional consiste no conjunto de materiais relacionados com
a memória institucional, tais como documentos que envolvem a instituição
como: relatórios, material didático, fotografias, vídeos, filmes, obras raras,
catálogo de produtos, descritivos de patentes, diretórios, manuais técnicos,
guias, livros técnicos, periódicos especializados etc.

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÕES: COMO FAZER?

1 INTRODUÇÃO
Agora que já abordamos os conceitos de desenvolvimento de coleções e o
porquê de realizá-lo, pretendemos discutir como fazê-lo, uma vez que este é um
processo que requer planejamento e conhecimento da unidade de informação, bem
como do seu cenário interno e externo.

Tal conjunto de atividades merece ser devidamente planejado. Nessa esteira,


o bibliotecário é o principal orquestrador desse processo no qual deve estabelecer
normas de seleção, aquisição, conservação e disseminação do material bibliográfico
que compõe e/ou vai compor a coleção. Esta não é uma tarefa simples, e para tanto,
sempre é bem-vindo o acompanhamento de uma equipe ou comissão de apoio.

Segundo Romani e Borszcz (2006), tal comissão, liderada por um


bibliotecário, tem objetivo de apoiar o planejamento das atividades que envolvem a
formação e desenvolvimento da coleção e do acervo. Além do referido profissional,
recomenda-se que participem diversos representantes das principais áreas de
atuação da organização a qual a unidade de informação está subordinada, bem
como representantes do setor administrativo e financeiro. Dentre as principais
atribuições desta comissão, encontra-se:

a) analisar e avaliar a política de seleção e seus princípios e normas;


b) ajudar na realização de uma reavaliação periódica do processo;
c) coordenar programas de desenvolvimento de acervo;
d) procurar conhecer as características de seus usuários, seus interesses culturais
e suas principais atividades profissionais.

Nesse sentido, para que as propostas iniciais da comissão sejam


implementadas, é necessário que a formação e desenvolvimento de coleções seja
compreendida como um processo. Anteriormente, no Tópico 1, já adiantamos
que esse conjunto de atividades é cíclico, ininterrupto, com atividades regulares e
contínuas (DIAS; PIRES, 2003).

19
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

Vergueiro (1989) também concorda com a ideia de que a formação e


desenvolvimento de coleção consiste em um processo sistêmico já que é composto de
um conjunto de etapas inter-relacionadas e que se retroalimentam, tais como: estudo
de usuários, seleção aquisição e descarte e avaliação.

E ainda, esse processo tem por característica ser “[...] ininterrupto, sem começo
ou fim, tendo necessariamente que se tornar uma atividade rotineira das bibliotecas,
garantia única para sua total efetividade” (VERGUEIRO, 1989, p. 18)

Mais que um conjunto de atividades e etapas, o processo de formação e


desenvolvimento de coleções envolve a gestão das informações de interesse das
diversas áreas e, para isso, pode contar com metodologias específicas para planejar,
decidir, operacionalizar e avaliar a formação e o desenvolvimento de coleções, de
modo que se atenda a demandas específicas (DIAS; PIRES, 2003).

Ademais, a gestão de um acervo vai além da sua localização, agrupamento e


conservação de títulos. Isso inclui também traçar metas que levem em consideração
os objetivos da instituição, as demandas informacionais existentes e potenciais, o
contexto social, político e econômico (CORRÊA; SANTOS, 2015).

2FORMAÇÃOEDESENVOLVIMENTODECOLEÇÕES:COMO
FAZER
O desenvolvimento de coleções também pode ser entendido enquanto um
conjunto de serviços de informação que requer um planejamento e o conhecimento
da realidade onde a biblioteca está inserida, assim como seu ambiente interno e
externo, sua missão, seus objetivos, seus usuários e suas funções.

Para tal, realiza-se um diagnóstico com intuito de conhecer as forças externas à


unidade de informação e alguns fatores, como: direção da unidade, política, legislação,
mudanças sociais e demográficas, mercado, tecnologia, entre outros (DIAS; PIRES;
2003).

Nessa direção, atenta-se que para gerir um acervo, a tarefa de planejar está
intrinsecamente relacionada às especificidades, aos objetivos e ao público-alvo
de cada tipo de biblioteca. Para Oliveira (2019), o entendimento da finalidade da
biblioteca e dos atores que com ela se relacionam é essencial.

20
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

ATENCAO

As bibliotecas contam com diversos serviços, funções e públicos. Elas podem ser
divididas em biblioteca pública, biblioteca pública temática, biblioteca comunitária, biblioteca
nacional, biblioteca escolar, biblioteca universitária, biblioteca digital, biblioteca especializada
e biblioteca especial.

• Bibliotecas públicas:
centro local de informação, disponibilizando prontamente para os
usuários todo o tipo de conhecimento [...]. Portanto, as bibliotecas
públicas baseiam-se na igualdade de acesso para todos [...].
Serviços e materiais específicos devem ser fornecidos para
usuários inaptos, por alguma razão, a usar os serviços e materiais
regulares, por exemplo, minorias linguísticas, pessoas deficientes
ou pessoas em hospitais ou prisões (UNESCO, 1994, p. 1).

• Bibliotecas públicas temáticas: possuem as características de uma biblioteca pública e


apresentam um acervo temático para um público específico, exemplo: biblioteca pública
infantil (SISTEMA NACIONAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS, c2019).
• Bibliotecas comunitárias: possuem aspectos diferenciados das públicas, são unidades
dentro de bairros/comunidades que irão auxiliar na necessidade informacional de
um determinado público. São geridas com recursos financeiros oriundos da própria
comunidade (FERREIRA; SILVA, 2011).
• Biblioteca nacional: instituição considerada depósito legal já que em todos os países
é responsável pela execução de uma política governamental para a preservação e
disseminação da produção intelectual e identidade cultural de um país.
• Biblioteca escolar: oferece serviços de apoio à aprendizagem e livros da comunidade
escolar e possibilita a formação e educação de cidadãos.
• Bibliotecas universitárias: acompanham a dinâmica do seu macro ambiente universitário
e disponibilizam informações que possibilitem o desenvolvimento científico e tecnológico
da comunidade acadêmica.
• Biblioteca digital: oferece recursos informacionais em texto completo nos formatos
digitais, como: livros, periódicos, teses, imagens, vídeos, entre outros; os quais são
armazenados e disponíveis para acesso eletrônico.
• Bibliotecas especializadas: consiste em uma unidade dedicada à publicações sobre um
assunto específico e temáticas particulares. Exemplo: bibliotecas jurídicas, unidades de
informação organizacionais, entre outras (UNESCO, 1994, 2000, 2008).
• Bibliotecas especiais: diferentemente das bibliotecas especializadas, prestam suporte
por meio de seus serviços a um determinado público em especial que encontra-se
em alguma situação específica, como, por exemplo: bibliotecas prisionais, bibliotecas
hospitalares etc. (UNESCO, 1994, 2000, 2008).

Como vimos anteriormente, podemos deduzir, portanto, que pensar no


desenvolvimento de coleções em uma biblioteca prisional será feito de forma diferente
do que numa biblioteca universitária. Além da natureza das instituições serem
diferentes (Penitenciária versus Universidade), existem peculiaridades inerentes a
cada ambiência, as quais vão determinar o processo de seleção e aquisição dos itens
bibliográficos e o relacionamento com a comunidade usuária.

21
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

Por exemplo, em uma penitenciária, por ser um ambiente de segurança


máxima, dificilmente a chefia de segurança liberará a presença de um livro de
engenharia no acervo que trate da construção de túneis. Provavelmente, na
Universidade, caso haja um curso de engenharia e arquitetura, o mesmo livro será
muito bem-vindo.

De outra forma, no cárcere é importante que os bibliotecários contemplem


livros jurídicos como o código de execução penal. É importante que os leitores da
biblioteca tenham acesso à legislação para que possam requerer seus direitos, caso
tenham dificuldades no apoio jurídico que devem ter.

TUROS
ESTUDOS FU

Antes mencionamos duas etapas muito importantes do processo de desenvolvimento


de coleções: seleção e aquisição, as quais iremos abordar detalhadamente na Unidade 2 do
nosso livro didático. Vamos aguçar nossa curiosidade?
As coleções são formadas pela aquisição dos itens bibliográficos. Esta aquisição pode
acontecer por meio de doação, compra e/ou permuta.
Porém, antes da aquisição, é justamente no processo de seleção, enquanto atividade
intelectual, que nos baseamos nas necessidades informacionais de usuários reais e potenciais
para decidir a composição dos acervos, o número suficiente de obras mais demandadas, a
qualidade e utilidade das mesmas.
Você viu como alguns pontos centrais merecem toda atenção: o usuário, o assunto, o tipo
de documento, a conservação da coleção e o seu custo? (FIGUEIREDO, 1993; VERGUEIRO, 1989).

Nessa direção, o profissional da informação responsável por gerir uma coleção


deve possuir conhecimento da unidade de informação que atua, dos seus usuários,
dos recursos financeiros e humanos, da missão, objetivos, valores, prioridades e o
alinhamento com a organização mantenedora da biblioteca. Oliveira (2019) destaca
algumas responsabilidades inerentes ao referido profissional:

a) selecionar materiais em todos os formatos para aquisição e acesso;


b) revisar e negociar contratos para adquirir ou acessar recursos eletrônicos;
c) gerenciar a coleta através do desbaste informado, cancelamento, armazenamento
e preservação;
d) redigir e revisar políticas de desenvolvimento de coleções;
e) promover o marketing das coleções e recursos;
f) avaliar coleções e serviços relacionados, uso de coleções e experiências dos
usuários;
g) responder aos desafios dos materiais selecionados;
h) realizar atividades de contato e divulgação na comunidade;
i) preparar orçamentos, gerenciar alocações e demonstrar gestão responsável de
fundos;

22
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

j) trabalhar com outras bibliotecas para apoiar o compartilhamento de recursos e


desenvolvimento e gestão de coleções cooperativas;
k) solicitar fundos suplementares para o desenvolvimento e gerenciamento de
coleções por meio de concessões e doações monetárias.

Ademais, quando o bibliotecário assume de forma competente essa complexa


tarefa de formação e o desenvolvimento de coleções acaba por promover com
efetividade o uso da coleção.

Dessa forma, é possível:

avaliar a efetividade das decisões quanto ao reconhecimento das


necessidades informacionais. Também inclui a averiguação do nível de
satisfação dos usuários e do cumprimento dos objetivos institucionais.
Mas, para obter sucesso, a Gestão de Coleções precisa ser flexível, pois
reconhecer e absorver as mudanças do entorno podem definir o sucesso
ou fracasso de uma coleção (OLIVEIRA, 2019, p. 46).

Ao pensarmos sobre a citação de Oliveira, não podemos deixar de considerar


que o acervo deve ser desenvolvido com base em um plano preestabelecido que
garanta sua continuidade e que também, se necessário, adeque-se no decorrer do
percurso. Tudo isso deve estar contido em um instrumento que oriente e norteie as
ações planejadas e/ou readequadas. Tal instrumento deve contemplar políticas e
diretrizes para a seleção, aquisição e desbastamento de materiais informacionais e
denomina-se o que chamaremos de Política de Formação e Desenvolvimento de
Coleções.

Você verá que o desenvolvimento de coleções:

como atividade de planejamento, deve ter um plano detalhado


pré- estabelecido, a fim de garantir um mínimo de continuidade ao
processo e correções de rota, quando necessárias. É o que se costuma
chamar, genericamente, de estabelecimento de uma política para o
desenvolvimento da coleção, um documento onde se detalhará quem
será atendido pela coleção, quais os parâmetros gerais da mesma e
com que critérios esta se desenvolverá (VERGUEIRO, 1998, p. 23).

Mais adiante, no Tópico 3, abordaremos a finalidade e as diretrizes para a


construção de Política de Formação e Desenvolvimento de Coleções.

23
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A formação e desenvolvimento de coleções é um processo intelectual e operacional.

• Este processo conta com cinco etapas: estudo de comunidade, seleção, aquisição,
desbastamento e avaliação.

• O bibliotecário pode contar com uma comissão de apoio para desenvolver as


coleções.

• Quando o bibliotecário assume de forma competente essa complexa tarefa de


formação e o desenvolvimento de coleções acaba por promover com efetividade o
uso da coleção.

• A tarefa de planejar e gerir um acervo está intrinsecamente relacionada às


especificidades, aos objetivos e ao público-alvo de cada tipo de biblioteca.

24
AUTOATIVIDADE

1 A formação e desenvolvimento de coleções é melhor entendido enquanto:

a) ( ) Instrumento de gestão do acervo.


b) ( ) Processo intelectual.
c) ( ) Processo intelectual e de gestão do acervo.
d) ( ) Atividade corriqueira.
e) ( ) Estudo de cenários.

2 Analise as afirmações a seguir e indique V para as sentenças verdadeiras e


F para as falsas:

a) ( ) O desenvolvimento de coleções consiste em um processo mecânico,


definido por cinco etapas que não se retroalimentam.
b) ( ) um acervo bibliográfico pode ser selecionado e adquirido por um
bibliotecário com ajuda de outros profissionais.
c) ( ) O desenvolvimento de coleções consiste em um processo sistêmico,
definido por cinco etapas que se retroalimentam.
d) ( ) O bibliotecário é o único responsável por fazer a seleção das obras
bibliográficas que comporão o acervo de uma biblioteca.
e) ( ) É importante a existência de uma comissão de formação e desenvolvimento
de coleção; independente do protagonismo do bibliotecário da unidade.
f) ( ) A comissão de formação e desenvolvimento de coleção deve ser liderada
pelo bibliotecário da unidade de informação.

3 Quanto ao desenvolvimento de coleções, assinale a opção CORRETA:

a) ( ) É capaz de utilidade ou inutilidade de um livro como critério para a seleção.


b) ( ) Não permite o desenvolvimento de políticas e diretrizes para a seleção e
aquisição de livros.
c) ( ) Viabiliza o processo de seleção do acervo por meio de permuta.
e) ( ) Trata apenas da formação de coleções bibliográficas institucionais.
f) ( ) Para realizá-lo, basta apenas conhecer a instituição e o usuário da biblioteca.

4 Sobre a atuação do bibliotecário, marque a opção INCORRETA:

a) ( ) O bibliotecário deve selecionar materiais em todos os formatos para aquisição


e acesso.
b) ( ) O bibliotecário deve redigir e revisar políticas de desenvolvimento de
coleções.
c) ( ) Esse profissional, durante o desenvolvimento da coleção, deve atentar-se
em atender os objetivos e planos da instituição, bem como as necessidades
informacionais da comunidade usuária.
d) ( ) O profissional da informação deve preparar orçamentos, gerenciar alocações
e demonstrar gestão responsável de fundos.
25
e) ( ) O bibliotecário deve se abster ao limite de sua unidade apenas. Trabalhar
com outras bibliotecas, compartilhando cooperativamente recursos e
desenvolvimento e gestão de coleções pode ser complexo demais e exigir
muitos recursos financeiros que a biblioteca não disponha.

5 Analise as afirmações a seguir e indique V para as sentenças verdadeiras e


F para as falsas:

a) ( ) O tipo de unidade conhecido como Biblioteca Digital não comporta a gestão


das coleções.
b) ( ) O desenvolvimento de coleções também pode ser entendido enquanto
um conjunto de serviços de informação que requer um planejamento
e o conhecimento da realidade onde a biblioteca está inserida, assim
como seu ambiente interno e externo, sua missão, seus objetivos, seus
usuários e suas funções.
c) ( ) A gestão de um acervo está atrelada a sua localização, agrupamento e
conservação de títulos. Ela não deve considerar metas e os objetivos da
instituição, as demandas informacionais existentes e potenciais, o contexto
social, político e econômico.
d) ( ) Recomenda-se a criação de uma comissão de formação e desenvolvimento
de coleções no sentido de respaldar a atuação do bibliotecário neste processo.
e) ( ) Entre as atribuições de uma comissão de formação encontra-se analisar
e avaliar as política de seleção bibliográfica do acervo e seus princípios
e normas.
f) ( ) A Política de Desenvolvimento de Coleções contempla diretrizes para a seleção,
aquisição e desbastamento de materiais informacionais de uma biblioteca.

6 Entre as atribuições da comissão de formação e desenvolvimento de coleções,


uma das alternativas a seguir é falsa. Assinale-as e indique a INCORRETA:

a) ( ) Analisar e avaliar sobre a política de seleção e seus princípios e normas.


b) ( ) Coordenar programas de desenvolvimento de acervo.
c) ( ) Ajudar na realização de uma reavaliação periódica do processo.
d) ( ) Coordenar programas de ações culturais na biblioteca.
e) ( ) Procurar conhecer as características de seus usuários, seus interesses
culturais e suas principais atividades profissionais.

7 Assinale a alternativa mais adequada com relação à elaboração da política


de desenvolvimento de coleções, o bibliotecário deve ter ciência:

a) ( ) Do estado atual da coleção, das áreas do conhecimento mais solicitadas,


do perfil das necessidades informacionais da clientela, dos objetivos da
instituição à qual a biblioteca está agregada, ou seja: conhecer o cenário
interno e externo à biblioteca.
b) ( ) Do estado atual da coleção, das áreas do conhecimento mais solicitadas,
do perfil das necessidades informacionais da clientela, dos objetivos da
instituição à qual a biblioteca está agregada, e principalmente, do orçamento
para aquisição.
26
c) ( ) Do perfil das necessidades informacionais e objetivos da instituição à qual
a biblioteca está agregada.
d) ( ) Das áreas do conhecimento mais solicitadas e do perfil das necessidades
informacionais da clientela à qual a biblioteca está agregada.
e) ( ) Do estado atual da coleção e das áreas do conhecimento mais solicitadas.

27
28
UNIDADE 1
TÓPICO 3

POLÍTICA DE FORMAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Agora que você já compreendeu o que é o processo de gestão de um acervo e
de suas coleções, vamos abordar o último tópico desta unidade: as questões éticas e
políticas que direcionam a maneira como uma coleção irá se desenvolver.

Para isso, começaremos pela Política de Desenvolvimento de Seleções. Por


que, então, toda a biblioteca tem este instrumento?

No decorrer das cinco etapas que correspondem ao desenvolvimento de


seleção – estudo de comunidade, seleção, aquisição, desbastamento e avaliação –
é preciso recorrer ao planejamento prévio que foi estabelecido para a execução de
tais fases. Nessa direção, a política referida garante que as ações sejam realizadas de
acordo com o planejado e de forma padronizada.

Quando vamos fazer a seleção do material bibliográfico para compor o


acervo, por exemplo, atendemos à exigência de alguns critérios que estão elencados
na política. Da mesma forma, para adquiri-los, a aquisição precisa atender ao que
está orientado no documento de política de desenvolvimento de coleção. E assim por
diante, o desbastamento e avaliação também são regulamentados.

2 POLÍTICA DE FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE


COLEÇÕES
Dessa forma, podemos garantir a excelência das ações e a efetividade do uso
da coleção de nossa biblioteca. Vamos, agora, pensar em outra questão: Você sabe o
que é política?

29
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

NOTA

O surgimento da política remonta à Grécia Antiga, e um dos grandes articuladores


políticos desse período foi Aristóteles, que falava que a política era um mecanismo que tinha como
fim último a felicidade dos homens. Uma definição mais moderna de política trabalha com a ideia
de que a política é meramente o ato de buscar exercer o poder dentro de uma nação.
A política é o nome que se dá para a capacidade do ser humano de criar diretrizes com
o objetivo de organizar seu modo de vida. Essa palavra também faz menção a tudo que está
vinculado ao Estado, ao governo e à administração pública com o objetivo final de administrar
o patrimônio público e promover o bem público, isto é, o bem de todos.
Para o ato de governar, uma característica fundamental é a capacidade de mediar
conflitos entre as pessoas. Assim, o político deve conduzir sua gestão de forma a mediar os
conflitos existentes na sociedade de forma a encontrar uma saída que seja boa para todos.

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/politica/>. Acesso em: 9 ago. 2019.

No contexto da formação e desenvolvimento de coleções, a política


geralmente é refletida e materializada em um instrumento chamado Política de
formação e desenvolvimento de coleções ou Política de Gestão de Estoques Informacionais.
Assim, o intuito é estabelecer diretrizes para as ações e tomadas de decisões ligadas
às fases do processo de formação e desenvolvimento de coleções.

Tal política reflete a atividade de planejamento já que conta com um plano


detalhado pré- estabelecido visando à continuidade e sustentabilidade deste
processo, e ainda: pode apresentar correções de rota e outros encaminhamentos,
quando necessário. O estabelecimento de uma política para o desenvolvimento da
coleção é um documento em que se detalha quem será atendido pela coleção, sob
quais os parâmetros gerais e critérios a mesma se desenvolverá (VERGUEIRO, 1989).

Já na visão de Correa (2016), redigir um documento de política de gestão de


estoques de informação é um dos mais importantes exercício de reflexão e democracia
no fazer de um bibliotecário. A política de GEI não é somente um mero documento
a mais no cenário da biblioteca. Ele representa o resultado de uma série de decisões
negociadas entre diversos profissionais qualificados e a comunidade que interage com
um rico material informativo, o qual foi selecionado e adquirido, segundo critérios
específicos, para sejam disponibilizados da maneira mais organizada possível.

Esse conjunto de diretrizes e normas têm o objetivo de delinear ações e


estratégias gerais, bem como determinar instrumentos e critérios que facilitem a
tomada de decisão na composição e desenvolvimento de coleções. Tudo isso, claro,
de forma alinhada com as perspectivas institucionais, com os diferentes tipos de
serviço de informação e dos usuários do sistema (DIAS; PIRES, 2003).

30
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

DICAS

A política é delineada para nortear o planejamento global


da coleção e seu crescimento. No documento diretriz são
definidos os objetivos, a curto e a longo prazo, da unidade
de informação para suas coleções, levando em conta o meio
ambiente, a demando do usuário, as fontes disponíveis, a
disponibilidade orçamentária, dentre outros pontos. Esse
documento deve ser escrito, discutido, aprovado e conhecido
por todos, dando suporte para a tomada de decisão racional,
com base em objetivos e metas específicos, distribuindo os
recursos de modo equitativo e de acordo com as necessidades
dos usuários (DIAS; PIRES, 2003, p. 24).

É preciso ter em mente que a política não necessariamente é um documento


extenso, e sim completo e flexível. Nela, Vergueiro (1989) afirma que deve se
contemplar todas ou pelo menos boa parte das decisões para que se possa atender
ao máximo possível de imprevistos. “Deve ser explicitada por um documento
flexível que permita acréscimos e modificações, o qual deve conter a identificação
dos responsáveis, os critérios utilizados no processo, os instrumentos auxiliares, as
políticas específicas e os documentos correlatos” (DIAS; PIRES, 2003, p. 25).

Dias e Pires (2003) nos deixam ainda ótimas contribuições sobre os itens que
uma política deve contemplar:

• Quem será atendido pela coleção.


• Como e quanto será destinado para aquisição de itens.
• Quais os recursos orçamentários advindos da instituição.
• Quais mecanismos de captação de recursos extra orçamentários.
• Qual filosofia norteará o desenvolvimento da coleção.
• Quais os objetivos e as metas específicas da organização para consolidar e
garantir a oferta de uma coleção consistente, com crescimento harmonioso,
mediante a distribuição equitativa dos recursos financeiros disponíveis.
• Como tomar decisão com base em dados que possuam exatidão, atualidade
e confiabilidade quanto à tipologia de usuários/hábitos/gostos/necessidades –
mediante elaboração de estratégias de pesquisa de mercado.
• Como serão feitas as avaliações do material incorporado e a ser incorporado,
mediante compra, permuta e doação, apontando quando e sob quais condições
o material poderá ingressar no acervo.
• Quais as formas para diagnosticar as demandas e as necessidades de recursos a
serem disponibilizados para o seu atendimento.
• Quais as necessidades específicas dos diferentes segmentos da comunidade a
serem atendidos, especificando os métodos para obterem informações.

31
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

• Quais serão os critérios de avaliação e reflexão a serem utilizados para uma


analise sistemática e contínua dos pontos fortes e fracos do acervo.
• Quais os paramentos/critérios do material a ser incorporado e a ser descartado,
considerando o conteúdo, o formato, a abrangência etc.
• Definição de fluxos de responsabilidades e atribuições.
• Definição de políticas quanto ao uso da coleção (circulação/consultas/
empréstimos/multas/reservas/renovação).
• Desenvolver medidas para propiciar coleta e facilitar a elaboração dos relatórios.
• Entrada de material versus retirada de material obsoleto.
• Escopo, tamanho e tipos de material.
• Criar manuais de serviços e procedimentos no uso da biblioteca.
• Estabelecer procedimentos para atender os usuários de modo pró ativo (na
biblioteca, a distância e ambientes de trabalho).
• Estabelecer quais serviços devem ser oferecidos, tipos e níveis de prestação de
serviços (para quem, preço etc.).
• Definir regras para garantia de acesso remoto, on-line e empréstimos entre
bibliotecas.
• Respeitar o direito autoral, não permitindo a incorporação de obras reproduzidas
na coleção.
• Declaração de que o usuário jamais deve deixar a biblioteca sem a informação
desejada ou ao menos uma resposta.

Ademais, a política de formação e desenvolvimento de coleção tem objetivo


de nortear o bibliotecário na sua conduta com a coleção. Dessa forma, a política
é fundamental pois fornece-lhe, inclusive, subsídios para que este profissional
argumente com autoridades superiores, quando for o caso (VERGUEIRO, 1989).

Já Weitzel (2013), ao elaborar um primeiro esboço da política, propõe


alguns passos para o seu aprimoramento:

• Identificação da missão e objetivos institucionais em consonância com a


mantenedora da biblioteca.
• Perfil da comunidade – traçar perfil da comunidade suas características,
possíveis usuários e suas necessidades informacionais.
• Perfil das coleções – nesse quesito, levantam-se informações sobre o acervo, sua
distribuição percentual, sua idade e os idiomas cobertos pelas coleções.
• Descrição das áreas e formatos cobertos pela biblioteca – aqui identifica-se o
sistema de classificação utilizado, o nível da coleção segundo as diretrizes da
ALA e a categoria dos gêneros literários (referência, básica, didática, corrente).
• Descrever a política e o processo de seleção que contenha critérios os quais
nós devemos nos ater durante a seleção: critérios que abordam o conteúdo
dos documentos, os usuários e aspectos adicionais, segundo abordaremos na
Unidade 2.

32
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

• Descrever o processo e a política de aquisição contemplando as rotinas


administrativas e responsabilidade e tipo de aquisição, sobre o fluxo de
pagamento e prestação de contas dos itens adquiridos via compra, doação e
permuta, entre outras ações, conforme veremos na Unidade 2.
• Descrever o processo de desbastamento e descarte informando como os itens
bibliográficos serão retirados de uma coleção ativa e quando seguem
para serem remanejados ou em que situações são excluídos definitivamente da
coleção, como apresentaremos na Unidade 2.
• Descrever o processo de avaliação – conforme abordaremos na Unidade 3,
nesta etapa será definida as formas e critérios de avaliações da coleção.
• Detalhamento de outros aspectos importantes, tais como acordos cooperativos
de aquisição de materiais, licenciamento de usos de fontes digitais, direitos
autorais e de cópias, entre outras informações que não encontraram lugar
apropriado nos passos anteriores.
• Documentos correlatos e avaliação da política – neste passo, sugere-se
confeccionar o documento relativo à política, indicando as revisões periódicas
e as alterações quando necessário.

Outro ponto importante é que a definição da política deve contar com a


intensa participação do profissional da informação e da comunidade. O agir em
conjunto e colaborativo traz ótimos resultados. A ação do bibliotecário “integrando
a comunidade ao processo de seleção, possibilitando tornar disponíveis materiais,
impressos ou não, de interesse, a fim de que a biblioteca participe efetivamente
do desenvolvimento social dos indivíduos, integrando-os à comunidade” (DIAS;
PIRES, 2003, p. 24, grifo nosso).

Nessa direção, a política pode ser proposta por uma equipe ou comissão
composta por profissionais diversos e também por representantes da própria
comunidade, tudo isso, aprovada pelos órgão competentes (VERGUEIRO, 1989). Dias
e Pires (2003, p. 25) afirmam a importância da representatividade da comunidade
para a “expansão racional, equitativa e equilibrada do acervo”. E ainda, sugerem que
tal comissão de se responsabilizar por algumas ações, tais como:

• Analisar os objetivos gerais da organização à qual está inserida a biblioteca.


• Definir a extensão e a profundidade na cobertura temática da coleção, segundo os
diferentes níveis da comunidade a ser atendida.
• Conhecer a situação da coleção a fim de elaborar o orçamento necessário para
solucionar os problemas.
• Proceder à análise quantitativa da coleção.
• Cobrir áreas de maior demanda da comunidade, definindo as prioridades da
seleção.
• Determinar critérios para intercâmbio de material bibliográfico.
• Determinar critérios para recebimento de doações e descartes.
• Procurar atender a todas as sugestões, comunicando ao solicitador sobre a aquisição
ou não do item solicitado.
• Determinar critérios para preservação e conservação dos materiais (encadernação
e restauração etc.).

33
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

• Definir critérios para avaliação do valor da coleção.


• Definir critérios para duplicação de documentos.
• Coordenar a reavaliação periódica da coleção, a fim de definir quando e sob quais
condições o material será remanejado e descartado do acervo.

Ademais, Correa (2013), de forma inovadora, também deixa sua


colaboração e nos traz aspectos importantes, que, usualmente, não constam nas
políticas de desenvolvimento de coleções disponíveis na Internet, tais como:

• Estudo de Comunidade enquanto base para descrição da clientela/público-alvo


onde se mapeia a oferta de produtos e serviços de informação conforme a clientela
da unidade de informação e suas demandas.
• Participação e papel da biblioteca em programas cooperativos: a autora sugere que
essa atuação deve ser planejada também na política, descrevendo os critérios e as
formas de cooperação, a disponibilização (ou não) de recursos, indicando a relação
custo/benefício dessa participação.
• Biblioteca 2.0 e Repositórios Digitais: embora esses itens possam estar contemplados
no que tange ao acervo como formatos eletrônicos, acredita-se que eles merecem
destaque já que carecem de planejamentos específicos com desenvolvimento de
estratégias que exigem contratos com provedores, consórcios, licenças e acordos
diferenciados.
• Conservação e Restauração: ao incluir estes aspectos na política, significa que está
se pensando de forma estratégica e preventiva com vistas a estender ao máximo a
vida útil de cada documento pertencente ao estoque da instituição.
• Garantia de acesso livre e democrático – aqui sugere-se a presença do item
“Censura” em que se deve esclarecer sobre o compromisso da biblioteca em
garantir uma coleção que contemple pluralidade de pensamento e diversidade
cultural.

A mesma autora acrescenta que a política deve ser redigida de forma didática
visando facilitar o seu entendimento. Nesse sentindo, ela precisa abarcar elementos
pré-textuais, textuais e pós-textuais. Os elementos textuais correspondem aos
objetivos específicos e da missão de cada biblioteca, dentro de seu respectivo contexto
(CORREA, 2013).

Já nos elementos pós-textuais, pode-se adotar a inclusão de modelos de


correspondências utilizados para a comunicação entre os diversos atores envolvidos
nos processos e o termo de doação, por exemplo. Correa (2013) apresenta-nos,
em forma de tópicos enumerados e sumarizados, uma lista completa dos itens
necessários para uma política de Gestão de Estoques Informacionais. Veja a seguir: o
primeiro item relaciona-se aos elementos pré-textuais. Já os itens 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9
estao ligados à parte textual. E por fim, o item 10 refere-se ao elemento pós- textual:

1. Elementos pré-textuais (capa, folha de rosto, sumário).

34
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

2. Parte introdutória:
2.1 Informações Institucionais (identificação, missão, objetivos).
2.2 Informações da U.I. (identificação, missão, objetivos).
2.3 Definição, importância e objetivos da política.
2.4 Estudo de comunidade enquanto base para tomada de decisões - descrição da
clientela.
1.5 Participação e papel da biblioteca em programas cooperativos de GEI
(nacionais e internacionais).

3. Estoques de informação:
3.1 Materiais que o compõem (conteúdo e formato).
3.2 Recursos financeiros disponíveis para sua formação e desenvolvimento
(orçamentos institucionais centralizados/descentralizados, captação de recursos
externos).

4. Desenvolvimento dos estoques de informação:


4.1 Seleção:
• Responsabilidade da seleção (atores, princípios, atribuições e competências).
• Critérios por tipo de obra e de suporte físico.
• Instrumentos auxiliares (fontes para seleção).
• Seleção qualitativa (critérios de qualidade).
• Seleção quantitativa (número de títulos e exemplares por tipo de obra, segundo
parâmetros/recomendações oficiais ou demandas verificadas).

5. Aquisição:
5.1 Prioridades (definidas segundo orçamentos e objetivos estabelecidos).
5.2 Formas de aquisição (compra, doação, permuta, intercâmbio).
5.3 Reposição de materiais (situações e formas previstas para reposição).

6. Avaliação:
6.1 Metodologias.
6.1.1 Qualitativas (métodos e responsáveis).
6.1.2 Quantitativas (métodos estatísticos).
6.2 Periodicidade (previsão de prazos para elaboração).
6.3 Desbastamento (remanejamento, descarte).

7. Biblioteca 2.0 e Repositório Institucional (políticas, critérios, responsáveis).

8. Conservação/Restauração (políticas, responsáveis).

9. Revisão da política (previsão).

10. Elementos pós-textuais:


10.1 Modelos de correspondências (documentos administrativos).
10.2 Formulário de doação.
10.3 Referências bibliográfica.

35
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

Por fim, lembramos do significado do termo política exposto logo no início


deste tópico, e consideramos que o bibliotecário, ao traçar a política de formação
e desenvolvimento de coleções, estará concebendo a biblioteca como um espaço
coletivo. Dessa maneira, a coleção será desenvolvida para suprir as necessidades
informacionais de todos os interagentes que utilizam tal espaço, de modo que
o acesso à informação vise o bem de todos e seja um bem público. Percebemos,
portanto, que a tarefa de desenvolver este instrumento não está imbuída apenas de
conhecimentos técnicos sobre a área, mas também exige consciência política e ética
na atuação do bibliotecário.

Nesse sentido, é fundamental que tratemos alguns aspectos éticos que devem
ser absorvidos pela política de desenvolvimento de coleções. A ética é um ramo da
filosofia e pode ser considerada ciência. Tem como premissa avaliar a conduta humana
perante o ser e os seus semelhantes uma vez que confronta o desempenho humano de
determinado grupo em relação às normas e comportamentos estabelecidos num dado
contexto social.

ATENCAO

Compreender ética significa distingui-la de moral, embora estes sejam termos


intercambiáveis. A ética deve ter suas raízes no fato moral. Sánchez Vázquez (1990) afirma
que moral é um conjunto de normas e regras que visam regular as relações entre os
indivíduos numa determinada comunidade social. Seu significado, função e validade variam
historicamente nas diferentes sociedades. A moral pode ser encontrada em dois planos: o
das normas (normativo) e o do comportamento (fatual).
Resumidamente, pode-se entender a moral como um conjunto de normas que
orientam o comportamento de indivíduos entre si e destes com a comunidade.
A ética, como um campo filosófico, analisa e fundamenta a moral, tal como
a avaliação de um código de conduta profissional, por exemplo. Ao se considerar o
comportamento de determinado grupo profissional ao executar suas atividades, uma
comissão de ética avaliará se esses comportamentos, antes socialmente estabelecidos e
regulados num código de conduta, são válidos ainda e beneficiam tanto o grupo quanto a
sociedade em que ele está inserido. Estes códigos de conduta devem ser periodicamente
revisados pelo simples fato de que uma sociedade está constantemente se transformando e
se resignificando (PIZARRO, 2010).

Dessa forma, questiona-se: por que precisamos de ética ao pensar no


desenvolvimento de coleção? Quando refletirmos sobre o processo de desenvolvimento
de coleções temos a oportunidade de elencar os valores e comportamentos que
orientam esse conjunto de ações. Nesse sentido, os valores e comportamentos
previamente determinados pelo bibliotecário direcionaram as tomadas de decisões
e como consequência gerarão algumas ações que podem afetar positivamente ou
negativamente as pessoas envolvidas (categoria profissional, usuários, pessoas da
organização, o próprio bibliotecário e outros atores sociais).

36
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

Vamos, aqui, discutir esta questão, partindo de dois valores muito comentados
durante toda a história da humanidade: igualdade e respeito. Como eles podem
orientar a atuação do bibliotecário?

Se enquanto profissionais bibliotecários, acreditamos que todos têm os


mesmos direitos; devemos conduzir nosso trabalho de forma que as informações
mediadas por nós cheguem para todos, sem exceção e sem exclusão. Então, se por
acaso, aceitarmos uma determinada postura ideológica ou político-partidária de um
grupo ou manifestemos algum tipo de preconceito étnico-racial, de identidade de
gênero ou relativo à orientação sexual, e na nossa atuação deixarmos de contemplar
as necessidades de usuários que pensam diferente de nós, acabaremos por privar esses
usuários de serem contemplados com determinados itens bibliográficos. Nesse sentido,
estaremos ferindo o princípio da igualdade e consequentemente, do respeito. Certo?

Vejamos uma situação hipotética: atualmente, observamos no Brasil uma


grande polarização política entre esquerda e direita. Caso você seja um bibliotecário
simpatizante da filosofia político esquerdista, na hora de realizar o processo de
seleção de um periódico, você não pode apenas disponibilizar revistas com as
mesmas orientações que a sua, como, por exemplo, a revista “Carta Capital”. Você
terá de conhecer os usuários da biblioteca em que você atua e, se for o caso, também
disponibilizar a revista “Veja” (periódico que tende a uma visão política de direita).

Outra situação: se uma pessoa, enquanto bibliotecária de uma biblioteca em


uma penitenciária, na etapa de seleção, não permite que uma doação do Código Penal
Brasileiro atualizado faça parte da coleção daquela unidade de informação, acaba
por provocar uma censura informacional. Este código é amplamente solicitado pelas
pessoas que estão em privação de liberdade para poderem elaborar suas defesas.

ATENCAO

O acesso à informação é um dos direitos humanos fundamentais. Segundo a


Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são direitos inerentes a todos
os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião
ou qualquer outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à
liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros.
Todos merecem estes direitos, sem discriminação.

FONTE: <https://nacoesunidas.org/informacao-e-direito-fundamental-destaca-programa-da-
onu-em- forum-de-direitos-humanos/>. Acesso em: 12 ago. 2019.

Em 2019, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) completou 70


anos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento marco na
história dos direitos humanos. Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e

37
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

culturais de todas as regiões do mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217 A
(III) da Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e
nações. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos.

Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 500 idiomas – o
documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados e
democracias recentes.

FONTE: <https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/>. Acesso em: 12 ago. 2019.

Portanto, Vergueiro (1989) também discorre possíveis censuras que podem


ocorrer durante a etapa de seleção no processo de formação e desenvolvimento de
seleções. Ele se refere à questão ética contida no comportamento do bibliotecário:

E outra coisa ainda, muito mais difícil, é conseguir refrear a tendência,


inerente a todos os profissionais bibliotecários, de formar uma coleção de
acordo com sua própria visão de mundo, não permitindo que dela façam
parte obras que defendam pontos de vista que ele, pessoalmente, como
cidadão considera perniciosos (VERGUEIRO,1989, p. 55-56).

No que tange ao comportamento do bibliotecário, vale lembrar que


este profissional deve obedecer ao código de ética elaborado por sua categoria
profissional representada pelo Conselho Federal de Biblioteconomia.

DICAS

Você já leu e refletiu sobre o conteúdo do Código de Ética e Deontologia do


Bibliotecário? No fim de 2018, a quinta atualização do código foi publicada pelo Conselho
Federal de Biblioteconomia. Antes dela, a última datava de 2002. Confira o código na íntegra:
http://bit.ly/2Vu8GkC.

Este é o único documento oficial que regula o comportamento de sua futura


profissão, portanto, não deixe de fazer uma leitura atenta! Este código estabelece
normas de conduta tanto para pessoas físicas, quanto jurídicas, que exerçam atividades
biblioteconômicas. O mesmo trata dos objetivos, deveres e obrigações, direitos,
proibições, infrações disciplinares e penalidades, aplicação de sanções, honorários
profissionais e disposições gerais.

Ressaltamos aqui, em especial, o Art. 2º do código (CFB, 2019, s.p.): “A profissão


de Bibliotecário tem natureza sociocultural e suas principais características são a
prestação de serviços de informação à sociedade e a garantia de acesso indiscriminado
aos mesmos, livre de quaisquer embargos”. Veja ainda, este parágrafo único:

38
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

O bibliotecário repudia todas as formas de censura e ingerência política,


apoia a oferta de serviços público e gratuitos, promove e incentiva o uso
de coleções, produtos e serviços de bibliotecas e de outras unidades de
informação, segundo o conceito de acesso aberto e universal (CFB, 2019,
s.p., grifo nosso).

Portanto, o novo código explicita e reforça o caráter aberto, universal e sem


censura que o processo de desenvolvimento de seleção deve privilegiar. Urge uma
maior formação de consciência ética por parte do bibliotecário. Suas ações cotidianas
devem abranger uma postura mais crítica e reflexiva sobre a consequência que suas
decisões terão para si mesmos, para a instituição onde estão inseridos, para seus
usuários, para a sua classe profissional e para a sociedade de modo geral. Uma
vez que esta reflexão acontece, ele já estará incorporando o agir ético e terá postura
mais atenta perante os dilemas sociais. Ainda sobre a formação e desenvolvimento
de coleções, vamos analisar esta outra situação hipotética:

Imagine uma bibliotecária escolar atuando em um processo de seleção de


materiais bibliográficos para a coleção escolar. Esta profissional procurou se informar
sobre o projeto pedagógico da escola e também, sobre as legislações relativas à
educação que estão em vigor. Por isso, esta bibliotecária sabe da existência da Lei
brasileira nº 10.639/03. Tal Lei prevê a obrigatoriedade do ensino da história e cultura
afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental
e médio. Portanto, a bibliotecária vai incorporando em seu acervo diversas obras que
tratem da temática em questão.

Mesmo que não houvesse tal lei, em um país tão intercultural como o nosso,
em que grande parte da população tem descendência afro-brasileira e indígena,
seria bastante coerente a bibliotecária incorporar nas coleções da biblioteca obras
que contemplasse as temáticas étnico- racial. Dessa forma, a profissional exercita sua
atuação ético-profissional e age com responsabilidade e postura inclusiva nos que a
nosso memória e identidade cultural.

Por fim, outra questão, não menos importante, diz respeito à identidade
de gênero e orientação sexual. Essas temáticas podem e devem ser incluídas nas
bibliotecas escolares, públicas e comunitárias.

39
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

DICAS

A Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Gestão da Informação (PPGINFO) da UDESC foi defendida pelo Ms. Guilherme
Martins e orientada pela Profa. Dra. Daniella Pizarro, em 2018. A excelente e inédita pesquisa
apresenta um referencial teórico bem elaborado e didático explicando as diferenças entre
identidade de gênero e orientação sexual. Nela, se explica, com o devido rigor científico, que o
termo falacioso “ideologia de gênero” é inadequado e traz-se um panorama dos preconceitos,
direitos e conquistas homoafetivas nos últimos anos. De posse disso, o pesquisador investiga
os bibliotecários da Rede Municipal de Florianópolis e como os mesmos atuam na biblioteca
escolar quando tem que trabalhar as questões de identidade de gênero e orientação sexual, seja
no que se refere à formação e desenvolvimento de coleção, seja no apoio à pesquisa escolar.

FONTE: <http://www.faed.udesc.br/arquivos/id_submenu/3015/guilherme_martins.pdf>. Acesso


em: 12 ago. 2019.

NOTA

No Brasil, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou a


favor da criminalização da homofobia, no dia 23 de maio de 2019. Seis dos 11 ministros do STF
concordam que o preconceito contra homossexuais e transsexuais deve ser considerado um
crime equivalente a racismo. A aprovação ainda não é oficial. Outros cinco ministros apresentarão
seus votos só no dia 5 de junho. Mas, na prática, a decisão está tomada – mesmo que os cinco
restantes votem contra, não baterão os votos da maioria.
O processo tem como base duas ações – uma do Partido Popular Socialista (PPS) e outra da
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT) – que pedem que a discriminação
contra esses grupos seja enquadrada na Lei n° 7.716/89, a Lei Antirracismo. Ela proíbe qualquer
discriminação contra raça, cor, etnia, religião ou procedência social. A punição para quem
descumprir a norma é de um a três anos de prisão, e a pena é inafiançável.

FONTE: <https://super.abril.com.br/sociedade/5-paises-onde-a-homofobia-ja-e-crime/>. Acesso


em: 12 ago. 2019.

Muitas questões éticas permeiam a formação e o desenvolvimento de coleções.


Nós como profissionais e sujeitos temos o privilégio de sermos seres “inacabados”,
ou seja: podemos sempre nos permitir descontruir e reconstruir. Teremos sempre o
benefício do aprendizado. Por isso, esperamos que você possa buscar se capacitar
cada vez mais de modo que sua atuação profissional bibliotecária promova uma
sociedade mais equânime, justa e com afirmação da diversidade cultural.

40
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

Antes de terminar esse tópico, deixamos algumas dicas de livros infantis


que podem trabalhar questões importantes na formação e educação da futura
geração e para quem sabe, um futuro com mais PAZ. Por que não disponibilizá-los
na biblioteca pública, escolar e/ou comunitária?

• A História do Rei Galanga: texto de Geranilde Costa e ilustrações de Claudia


Sales. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2011. O livro trata da História do
Rei Galanga, conhecido como Chico Rei, um rei africano que teve seu reinado
invadido pelos portugueses e fora trazido com sua família e outras pessoas
de seu grupo para o Brasil na condição de escravos. Além de contar a história
do rei Galanga, o livro traz como objetivos o interesse de desmistificar a ideia
da África como um continente sem história anterior à invasão portuguesa
e a oportunidade de apresentar, por meio da existência dos Orixás junto ao
Candomblé e a Umbanda, alguns princípios da cosmovisão africana, sendo,
portanto, estes o grande diferencial do livro e seu caráter inédito com relação as
demais publicações sobre Chico Rei. Público: infanto-juvenil (de 6 a 10 anos ou
alunos do Ensino Fundamental I).

FONTE: <https://pretassimoa.wordpress.com/2014/11/25/12-livros-infantis-para-
trabalhar-relacoes- raciais-na-escola/>. Acesso em: 12 ago. 2019.

FIGURA 2 – A HISTÓRIA DO REI GALANGA

FONTE: <http://bit.ly/2M3ixe5>. Acesso em: 12 ago. 2019.

41
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

• Menina bonita do laço de fita: texto de Ana Maria Machado e Ilustraçõeso


de Claudius. 7. ed. São Paulo: Ática, 2005. Traz uma linda história de
valorização da beleza negra, onde um coelho branquinho queria casar-se
e ter uma filha “bem pretinha”. Durante a obra, o coelho tenta descobrir o
segredo para conquistar o seu tão sonhado desejo. Leia o livro e acompanhe
a busca do coelhinho!

FONTE: <https://pretassimoa.wordpress.com/2014/11/25/12-livros-infantis-para-
trabalhar-relacoes-raciais-na-escola/>. Acesso em: 12 ago. 2019.

FIGURA 3 – MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA

FONTE: <http://bit.ly/2LZwHgk>. Acesso em: 12 ago. 2019.

• Omo-Oba-Histórias de princesas: texto de Kiusam de Oliveira e ilustrações


de Josias Marinho. Mazza Edições, 2009. O livro reconta mitos africanos,
divulgados nas comunidades de tradição ketu, pouco conhecidos pelo
público em geral e que reforçam os diferentes modos de ser em relação ao
feminino, nos permitindo trabalhar o emponderamento das meninas dos
novos tempos. Dividido em seis mitos, relata as histórias de Oiá, Oxum,
Iemanjá, Olocum, Ajê Xalugá e Oduduá.

FONTE: <https://pretassimoa.wordpress.com/2014/11/25/12-livros-infantis-para-
trabalhar-relacoes-raciais-na-escola/>. Acesso em: 12 ago. 2019.

42
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

FIGURA 4 – OMO-OBA-HISTÓRIAS DE PRINCESAS

FONTE: <http://bit.ly/311IkHT>. Acesso em: 12 ago. 2019.

• Um dia na aldeia: texto do autor Daniel Munduruku. Ilustrações


Mauricio Negro. Editora: Melhoramentos. Melhor idade: A partir de
10 anos. Da tribo Munduruku, este livro conta com detalhes a história de
um menino que a ela pertence. Desde seu despertar com o raiar do sol,
passando pela caça por alimento, uma aventura com caçadores, até a hora
da história – sim, índios também têm a hora da história que geralmente
falam de lendas. O livro também conta com glossário nas últimas páginas,
o que dá abrangência ao vocabulário da obra.

FONTE: <https://leiturinha.com.br/blog/livros-infantis-sobre-cultura-indigena/>
Acesso em: 12 ago. 2019.

43
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

FIGURA 5 – UM DIA NA ALDEIA

FONTE: <http://bit.ly/2OxTgKy>. Acesso em: 12 ago. 2019.

• Olivia tem dois papais, de Márcia Leite: filha adotiva de Raul e Luís, Olívia
é uma menina curiosa e alegre, que adora usar palavras complicadas e
desfiar grandes raciocínios quando conversa com seus dois pais. A obra
mostra um dia da vida de Olívia, suas relações familiares e algumas de
suas inquietações. Ilustrações de Taline Schubach. Companhia das Letras.

FONTE: <https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.
php?codigo=40605>. Acesso em: 12 ago. 2019.

FIGURA 6 – OLÍVIA TEM DOIS PAPAIS

FONTE: <http://bit.ly/33kGRy0>. Acesso em: 12 ago. 2019.

44
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

• Olivia não quer ser princesa, de Ian Falconer: ser princesa é a fantasia
de todas as meninas. Todas? Não é bem assim. Que o diga a porquinha
Olivia! Inquieta como sempre, e desta vez mais inconformada do que
nunca, ela enfrenta uma crise de identidade infantil. Todas as suas amigas
só querem saber de ser princesa, com vestido cor-de-rosa e varinha de
condão. Olivia se pergunta: por que é que todo mundo tem de pensar
do mesmo jeito, vestir as mesmas roupas, sonhar os mesmos sonhos? Ela
queria ser diferente.
FONTE: <https://www.livrariascuritiba.com.br/olivia-nao-quer-ser-princesa-globinho-
lv340559/p>. Acesso em: 12 ago. 2019.

FIGURA 7 – OLÍVIA NÃO QUER SER PRINCESA

FONTE: <http://bit.ly/2OzU2XF>. Acesso em: 12 ago. 2019.

• Frida Kahlo – Para meninas e meninos – Coleção Antiprincesas, de


Nadia Fink: esta coleção apresenta ferramentas para debater feminismo,
gênero, luta de classes, arte e história com meninas e meninos. A coleção
já conta com dois livros publicados. O primeiro é Frida Kahlo, a primeira
antiprincesa (ou princesa asteca, talvez): uma mulher que mostrou o
corpo embora fosse manca, que pintou em uma tela os momentos mais
tristes e mais felizes de sua vida, que, apesar de todos os seus sofrimentos
físicos, procurou a arte, a alegria e lutou pelo bem do mundo não só para
ela, mas também para muitas outras pessoas.

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Frida-Kahlo-para-meninas-meninos/
dp/8556480004>. Acesso em: 12 ago. 2019.

45
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

FIGURA 8 – PARA MENINOS E MENINAS

FONTE: <https://amzn.to/2MyVHdc>. Acesso em: 12 ago. 2019.

46
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

LEITURA COMPLEMENTAR

SOBRE O MITO DA NEUTRALIDADE EM BIBLIOTECAS,


ARQUIVOS E MUSEUS

“As instituições de memória precisam colocar em discussão as percepções


internas e externas sobre sua neutralidade e nós precisamos chegar a uma conclusão
sobre o que isto significa” (Nathan “Mudyi” Sentance).

“Se você se comportar com neutralidade diante de situações de injustiça,


estará escolhendo o lado do opressor. Se um elefante pisar com a pata no rabo de
um camundongo e você disser que é neutro, o camundongo não vai gostar de jeito
nenhum de sua neutralidade” (Desmond Tutu).

Uma vez discuti com algumas pessoas se as instituições de memória, como


museus, bibliotecas e arquivos não deveriam modificar classificações e descrições
preexistentes que tratassem de material relativo a povos originários, sempre que
tivesse sido usada uma terminologia antiquada ou potencialmente ofensiva.

Elas me responderam que não, que não poderíamos, porque isto significaria
encobrir a história e, ao contrário, seria preciso manter objetividade e apresentar os
fatos, simplesmente.

Embora dividido, concordando parcialmente, minha primeira reação foi


a de lembrar que as instituições de memória apresentaram a história colonial,
predominantemente, como fato dado, excluindo as vozes dos povos marginali-
zados e, ao atuarem assim, demonstraram uma inclinação tendenciosa intrínseca
(RANDALL, 2009).

Esta dita inclinação tendenciosa manifesta-se na maneira com que o material


é coletado, descrito, preservado e exibido (ROBERT, 2008). Reafirmo que museus,
bibliotecas e arquivos não podem manter-se objetivos e neutros – simplesmente pelo
fato de nunca o haverem sido.

Muitos já contestaram a objetividade das instituições de memória, salientando


que suas coleções são dirigidas por pessoas e que elas mesmas têm suas próprias
perspectivas e intenções, donde se deduz sua impossibilidade de serem agentes
imparciais (JIMERSON, 2009; DURRANI e SMALLWOOD, 2008)

As perspectivas delas recebem influência de sua epistemologia


(KWAYMULLINA, 2016), que por sua vez afeta suas decisões, tais como que
informações deveriam ser preservadas para as futuras gerações. Uma vez que
conformam a memória do público, estas decisões tornam-se decisões políticas
(JIMERSON, 2009).

47
UNIDADE 1 | FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES: CONCEITOS IMPORTANTES

Há sistemas que são reconhecidamente criados para reduzir escolhas individuais


com relação às coleções das instituições de memória, para preservar a objetividade, tais
como políticas governamentais e critérios profissionais, guias e normas.

Entretanto, estes sistemas são influenciados pela cultura dominante, a qual,


em países colonizados, é a cultura ocidental eurocêntrica (WHITE, 2017; JIMERSON,
2009). Há uma razão pela qual o código de catalogação predominante nas bibliotecas
até recentemente chamava-se Código de Catalogação Anglo Americano (AACR2).

Além do mais, já que muitas instituições de memória fazem parte do governo,


ou são financiadas por estes, não só são influenciadas pela cultura dominante como,
além disso, são influenciadas também pelos governantes (LUKER, 2017; JIMERSON,
2009). Diferentes governos têm posições políticas diferentes, que podem mudar a
objetividade das instituições de memória.

No que diz respeito à herança cultural dos povos originários, tem-se


argumentado que as instituições de memória são instrumentos de colonização. Dentro
delas, as potências coloniais costumavam fazer proliferar narrativas para seus próprios
fins (LUKER, 2017; SENTANCE, 2017).

Por exemplo, as exposições em museus de história natural mostravam os


Povos Originários como selvagens primitivos, o que ajudou a justificar expropriação de
terras, uma vez que isto nos enquadrava como inferiores e necessitados da civilização
ocidental (GENOVESE, 2016; SMITH, 2012).

Além disso, as instituições ocidentais, aí incluídas as instituições de memória,


têm uma longa tradição de dar uma posição central aos povos ingleses não indígenas,
quando fazem relatos sobre a história e a cultura Povos Originários (SENTANCE,
2017a; MORETON-ROBINSON, 2004).

Ambelin Kwaymullina sugere que esta tradição reforça a colocação das pessoas
de origem inglesa como a norma, [de centralidade natural] o que desloca os povos
originários para o lugar do “outro”. Em consequência, os povos originários, ao invés
de serem considerados como pares humanos, são percebidos como objetos da história
ou da antropologia (KWAYMULLINA, 2016; SMITH, 2012).

Em vista disso, muitos não consideram as instituições de memória como fontes


isentas de informação, mas ao contrário, como instrumentos políticos. Aceitar sua
neutralidade implica em aceitar a distribuição de poder existente, que é reforçada por
elas e para a qual elas contribuem.

Esta ideia de neutralidade nas instituições é muito inspirada pelo Iluminismo


e pelo conceito de que o meio acadêmico eurocêntrico do ocidente produz um
conhecimento universal que por sua vez é universalmente relevante (KWAYMULLINA,
2016).

48
TÓPICO 3 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO E

Esta noção retrata os eruditos ocidentais como se eles tivessem um lugar


neutro de fala, o que significa que os que estão fora do meio acadêmico ocidental
são “tendenciosos”. Como resultado, esta noção deslegitimou a produção de
conhecimento dos povos originários e negou-lhe plurarismo histórico e cultural
(KWAYMULLINA, 2016).

PORQUE ISTO É UM PROBLEMA

Há questões que podem ocorrer se a noção de neutralidade nas instituições de


memória não for posta em discussão continuamente. Por exemplo, se uma instituição
de memória for considerada como neutra, certas ações como acrescentar histórias de
opressão dos povos originários à coleção com o objetivo de retificar desequilíbrios de
perspectiva do passado podem não ser considerados como uma ação afirmativa, mas
sim como um ato político.

Isto poderia levas as instituições de memória a evitar ações necessárias por


elas serem “de risco”, uma vez que elas não querem ser políticas (JENSEN, 2008).

Da mesma maneira, se as instituições de memória são neutras, então o


eurocentrismo que lhes é inerente também é neutro, o que leva os povos originários
a continuarem sendo enquadrados como os “outros”. Torna-se mais difícil, então,
contestar e mudar os privilégios dos brancos e o racismo institucional dentro das
instituições de memória e de forma mais ampla, da sociedade.

Além disso, se ser neutro significa evitar envolver-se em movimentos de


contestação às estruturas opressivas, então pode-se argumentar que as instituições
de memória, ao tentarem ser neutras, embora não sendo compostas de pessoas
ativamente opressoras, apoiaram o opressor (JENSEN, 2008).

Indo além, isto faz com que as instituições de memória sejam menos efetivas
em criar mudança social, o que, portanto, as torna menos relevantes socialmente
(GOOD, 2008).

Para concluir, as instituições de memória precisam colocar em discussão as


percepções internas e externas sobre sua neutralidade e nós precisamos chegar a uma
conclusão sobre o que isto significa.

FONTE: SENTANCE, N. Sobre o mito da neutralidade em bibliotecas, arquivos e museus.


2019. Disponível em: https://biblioo.cartacapital.com.br/sobre-o-mito-da-neutralidade-
em-bibliotecas-arquivos-e-museus/. Acesso em: 18 set. 2019.

49
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A política geralmente é refletida e materializado em um instrumento chamado


“Política de formação e desenvolvimento de coleções”, ou “Política de Gestão
de Estoques Informacionais”.

• Esse conjunto de diretrizes e normas têm o objetivo de delinear ações e


estratégias gerais, bem como determinar instrumentos e critérios que facilitem
a tomada de decisão na composição e desenvolvimento de coleções.

• A definição da política deve contar com a intensa participação do profissional


da informação e da comunidade.

• A política pode ser proposta por uma equipe ou comissão composta por
profissionais diversos e também por representantes da própria comunidade,
tudo isso aprovado pelos órgão competentes.

• A tarefa de planejar e gerir um acervo está intrinsecamente relacionada às


especificidades, aos objetivos e ao público-alvo de cada tipo de biblioteca.

• Política deve ser redigida de forma didática visando facilitar o seu entendimento.
Nesse sentindo, ela precisa abarcar elementos pré-textuais, textuais e pós-
textuais.

• Quando refletirmos sobre o processo de desenvolvimento de coleções temos


a oportunidade de elencar os valores e comportamentos que orientam esse
conjunto de ações.

• O bibliotecário deve pautar seu comportamento profissional no código de ética


elaborado por sua categoria profissional representada pelo Conselho Federal
de Biblioteconomia.

• Urge uma maior formação de consciência ética por parte do bibliotecário. Suas
ações cotidianas devem abranger uma postura mais crítica e reflexiva sobre a
consequência que suas decisões terão para si mesmos, para a instituição em
que estão inseridos, para seus usuários, para a sua classe profissional e para a
sociedade de modo geral.

• Muitas questões éticas permeiam a formação e o desenvolvimento de coleções.


O bibliotecário deverá buscar se capacitar cada vez mais de modo que sua
atuação profissional bibliotecária promova uma sociedade mais equânime,
justa e com afirmação da diversidade cultural.

50
AUTOATIVIDADE

1 A política de formação e desenvolvimento de coleções é melhor entendida


enquanto:

a) ( ) Instrumento de gestão do acervo que prioriza apoio político para a


biblioteca.
b) ( ) Um processo intelectual.
c) ( ) Plano detalhado pré-estabelecido visando a continuidade e sustentabili-
dade deste processo.
d) ( ) Atividade Institucional.
e) ( ) Estudo de caso.

2 Indique se V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às afirmações a seguir:

a) ( ) Redigir um documento de política de gestão de estoques de informação


é um dos mais importantes de exercício de reflexão e democracia no
fazer de um bibliotecário.
b) ( ) Esse conjunto de diretrizes e normas tem o objetivo de delinear
estratégias pontuais voltadas para a tomada de decisão na etapa de
seleção do processo de desenvolvimento de coleções.
c) ( ) Esse conjunto de diretrizes e normas têm o objetivo de delinear estratégias
pontuais voltadas para a tomada de decisão na etapa de aquisição do
processo de desenvolvimento de coleções.
d) ( ) Esse conjunto de diretrizes e normas têm o objetivo de delinear estratégias
voltadas para a tomada de decisão do processo de desenvolvimento de
coleções.
e) ( ) A política de formação e desenvolvimento de coleção tem objetivo de
nortear o bibliotecário na sua conduta com a coleção.

3 Quanto ao agir ético do bibliotecário nas questões relacionadas ao


desenvolvimento de coleções, assinale a opção INCORRETA:

a) ( ) A conduta do bibliotecário deve estar alinhada ao código de ética e de-


ontologia do bibliotecário brasileiro.
b) ( ) O bibliotecário deve ter postura ética e inclusiva contemplando na for-
mação e desenvolvimento de coleções os aspectos étnico-raciais, de
identidade de gênero, orientação sexual e inserindo coleções para as po-
pulações historicamente marginalizadas.
c) ( ) O novo código de ética e deontologia do bibliotecário brasileiro em sua
última atualização aprova todas as formas de censura e ingerência polí-
tica, apoia a oferta de serviços público e gratuitos.
d) ( ) O agir ético do bibliotecário resulta na promoção de valores como igual-
dade e respeito.
e) ( ) É importante que, cada vez mais, o profissional da informação busque
conhecer mais sobre a sociedade e ter uma postura crítica e atenta.
51
4 Pesquise uma biblioteca de sua preferência. Observe as coleções que compõem
seu acervo e faça uma pesquisa no sistema de busca ao acervo e veja se ele
contempla obras sobre as temáticas étnico-raciais, de identidade de gênero e
orientação sexual.

5 Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às afirmações a seguir:

a) ( ) É preciso refrear a tendência de bibliotecários e formar uma coleção de


acordo com sua própria visão de mundo.
b) ( ) A estrutura de uma política de desenvolvimento de coleções deve conter
somente elementos textuais.
c) ( ) A informação não é um direito humano, portanto, se a coleção estiver
incompleta não se está deixando de cumprir nenhum direito.
d) ( ) O compromisso da biblioteca é garantir uma coleção que contemple
pluralidade de pensamento e diversidade cultural.
e) ( ) A política pode ser proposta apenas por profissionais com graduação
em Biblioteconomia.

6 A Política de Formação e Desenvolvimento de Coleções, segundo Correa (2013)


deve ser redigida de forma didática visando facilitar o seu entendimento.
Nesse sentindo, ela precisa abarcar 3 elementos, são eles:

a) ( ) Pré-textuais, textuais e gráficos.


b) ( ) Textuais, gráficos e estatísticos.
c) ( ) Pós-textuais, informacionais e tabela.
d) ( ) Pré-textuais, textuais e pós-textuais.
e) ( ) Indicativos, dedutivos e indutivos.

52
UNIDADE 2

ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO
DE COLEÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os conceitos gerais dos processos de seleção, aquisição, desbas-


tamento, descarte e avaliação pertencentes à Formação e Desenvolvimen-
to de Coleções;

• compreender a importância do estudo de comunidade para a formação de


coleções;

• atentar-se para os diferentes tipos de formação e desenvolvimento de


coleções que utilizam dos processos de aquisição, seleção e avaliação,
como, por exemplo: a aromateca;

• entender os critérios para seleção, aquisição, desbastamento e avaliação;

• compreender a finalidade da avaliação de coleções dentro da Formação e


Desenvolvimento de Coleções.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE


AQUISIÇÃO, DESBASTAMENTO E AVALIAÇÃO

53
54
UNIDADE 2
TÓPICO 1

PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, o objetivo será a compreensão das etapas do processo de
formação e desenvolvimento de coleções, em especial da seleção, aquisição e descarte.
Essas três etapas se referem aos materiais bibliográficos que irão compor o acervo e
coleções de uma unidade de informação. Antes de abordá-los, será realizada uma
contextualização sobre o estudo de comunidade, visto que isso é o que definirá os
materiais a serem selecionados, adquiridos e descartados dentro de uma unidade.

A formação de coleções envolve vários atores, em especial o atendimento


aos objetivos e a missão de uma unidade de informação e a instituição à qual
se encontra vinculada. É necessário também, atenção especial ao público e suas
demandas de informação e, assim, compor coleções que atendam às necessidades
de informação demandadas.

O contexto da instituição a qual a biblioteca ou unidade de informação se


encontra subordinada também é outro ponto importante a ser percebido, a partir
da análise de suas atividades, documentos e políticas adotados. Dessa forma, uma
coleção deve refletir o cenário e objetivos de cada tipo de biblioteca, seja ela escolar,
universitária, comunitária, entre outras. Os acervos geralmente são compostos por
variados tipos de coleções agrupadas por tipo de publicação, entre as quais destacam-
se: obras de referência, periódicos, pastas e apostilas, folhetos, itens audiovisuais e
acessíveis, itens digitais, obras da coleção geral, entre outros materiais (BARROS;
KOBAYASCHI, 2005).

2 ESTUDO DE COMUNIDADE
Como estudado no tópico anterior, o estudo de comunidade é a base para
descrição da clientela/público-alvo em que se mapeia a oferta de produtos e serviços
de informação conforme a clientela da unidade de informação e suas demandas.

55
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

A comunidade é uma unidade social que possui características de ser viva,


mutável e variável. Comunidades são entendidas como agrupamento de pessoas
que vivem em uma área determinada e possuem em comum aspectos geográficos,
econômicos e culturais que lhes atribuem certo estilo de vida. Pode-se dizer que
uma cidade ou município são comunidades, no entanto, cada uma delas pode
ser dividida por grupos sociais – agrupados de maneira forçada ou espontânea
– que exibem entre si características diferentes. As cidades possuem bairros,
considerados unidades geográficas distintas que se configuram conforme o passar
do tempo, visto que as habitações se aproximam e se tornam um conjunto denso
com características semelhantes. Por este motivo, é possível encontrar bairros
residenciais que possuem edificações parecidas e mostram a influência resultante
da aproximação entre os indivíduos de um mesmo bairro (STUMPF, 1988). Estudos
de comunidade são conceituados como investigações realizadas visando conhecer
aspectos de uma população, seus hábitos e seus interesses (STUMPF, 1988).

FIGURA 1 – ESTUDO DE COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2VurSi9>. Acesso em: 18 jul. 2019.

Todavia, por que e como estudar a comunidade? Stumpf (1988) afirma que
todo o serviço pensado e criado para a comunidade deve ser baseado em seu estudo
prévio visando adquirir conhecimento para saber como agir e garantir a plena
utilização do que se aprendeu sobre a comunidade. Os estudos de comunidade
garantirão que se tenha o conhecimento objetivo sobre a realidade de um determinado
grupo social. Para obtenção desses estudos, os seguintes métodos precisam ser
seguidos (STUMPF, 1988):

a) Levantamento indireto: a partir de documentação existente como relatórios,


dados estatísticos, monografias, entre outros.
b) Levantamento direto da situação: por meio de questionários, entrevistas e
observações no local.
c) Combinação do levantamento indireto e o direto: utilizar documentos que
puderem ser consultados e obtidos, complementando-os e os atualizando por
intermédio da busca direta de novos dados (STUMPF, 1988).

56
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

Grupos de trabalho de caráter informal e transitório são formados para a


realização deste estudo tendo a figura de um coordenador das atividades para a
articulação dos trabalhos e busca do melhor direcionamento a ser seguido em cada
circunstância que se apresentar. A divisão de tarefas entre os membros do grupo de
trabalho pode ser realizada conforme a capacidade, interesse, possibilidade, habilidade
e decisão de cada membro. Pensando de forma ideal, espera-se que os membros do
grupo de trabalho pertençam à comunidade estudada, pois desta maneira é possível o
autoconhecimento, que reverte na motivação para resolução de problemas da vida em
comum. Quando não for possível a participação dos membros da própria comunidade,
o grupo a realizar o trabalho precisa ter um objetivo em comum que o interesse a
realizar o estudo e a obtenção dos propósitos determinados (STUMPF, 1988).

Sobre o estudo de comunidade para bibliotecas, a metodologia supra descrita


pode ser utilizada por outras bibliotecas desde que seja levada em consideração
a especificidade da instituição da qual a biblioteca está subordinada. Apesar das
dificuldades em ter-se a participação da comunidade nestes estudos, a biblioteca deve
ser vista como um “recurso de recreação, cultura e educação de agrupamentos sociais
de uma área geográfica específica [...] e necessita conhecer sua população usuária para
programar seus serviços e servir realmente como um recurso da comunidade” (STUMPF,
1988, p. 20).

Importante lembrar também que o trabalho de análise da comunidade não é


fácil de ser realizado, em especial, para bibliotecários de países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil. No entanto, os profissionais precisam realizar suas
atividades com o maior nível de profissionalismo visando atender o maior número
de necessidades possíveis (VERGUEIRO, 1989).

Quanto aos pontos a serem analisados de uma comunidade, podem ser


estudados:

a) Dados demográficos: se referem ao número de habitantes, idade, sexo,


nacionalidade, taxas de mortalidade e natalidade, caráter urbano ou rural da
comunidade, entre outros (STUMPF, 1988; VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 2 – DADOS DEMOGRÁFICOS DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2IEdcYK>. Acesso em: 18 jul. 2019.

57
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

b) Dados históricos: se referem a antecedentes históricos da comunidade, em


especial, sobre sua evolução e crescimento, que poderá lhe fornecer subsídios
para compreender as demandas a partir do ponto de vista da comunidade atual
(STUMPF, 1988; VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 3 – DADOS HISTÓRICOS DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/30WGS9G>. Acesso em: 18 jul. 2019.

c) Dados sobre educação: visam identificar o grau de analfabetismo dos habitantes,


nível de instrução da população, instituições educacionais e número de alunos
matriculados, cursos de férias oferecidos, iniciativas educacionais relacionadas
a grupos com interesses variados etc. (VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 4 – DADOS EDUCACIONAIS DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/322sT3j>. Acesso em: 18 jul. 2019.

d) Dados geográficos: visam analisar a direção de crescimento físico da comunidade


(levar em consideração a existência ou não de barreiras para a expansão da
comunidade) e a distribuição populacional na área que a biblioteca abrange.
(STUMPF, 1988; VERGUEIRO, 1989).

58
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

FIGURA 5 – DADOS GEOGRÁFICOS DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2nuStiq>. Acesso em: 18 jul. 2019.

e) Dados socioeconômicos: se refere às atividades econômicas mais importantes,


com o intuito de identificar se tais atividades ocorrem todo o momento ou se são
sujeitas a sofrerem variações; nível econômico da população e a taxa de desemprego;
serviços públicos existentes na área de saúde e assistência; nível de organização da
comunidade quanto à existência de organizações de comunidades ou vizinhos e à
identificação de líderes da comunidade (STUMPF, 1988; VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 6 – DADOS SOCIOECONÔMICOS DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2AW5cxU. Acesso em: 18 jul. 2019.

59
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

f) Dados sobre transporte: visam determinar os pontos de serviços mais


apropriados. Além de determinar a existência ou não de meios de transporte na
comunidade. (VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 7 – DADOS SOBRE MEIOS DE TRANSPORTE DA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/33lJ1gJ>. Acesso em: 18 jul. 2019.

g) Culturais e informacionais: referem-se a dados sobre as organizações e os


grupos culturais existentes, expressões culturais consideradas características
da comunidade, eventos culturais promovidos com maior frequência, sistemas
de comunicação disponíveis (canais de televisão, estações de rádio, principais
periódicos etc., instituições fornecedoras de informação à comunidade, entre
outros dados relacionados à cultura e à informação (VERGUEIRO, 1989).

FIGURA 8 – DADOS SOBRE CULTURA E INFORMAÇÃO NA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2VriL1M>. Acesso em: 18 jul. 2019.

h) Políticas e legais: se referem às questões de autorizada sob a qual a biblioteca está


vinculada, em especial, no que diz respeito ao desenvolvimento da coleção. Dados
político abrangem questões sobre a existência de partidos ou correntes políticas
dentro da comunidade como um todo (VERGUEIRO, 1989).

60
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

FIGURA 9 – DADOS SOBRE POLÍTICAS E LEGAIS NA COMUNIDADE

FONTE: <http://bit.ly/2Oz4f6E>. Acesso em: 18 jul. 2019.

A partir desses dados, será possível ao bibliotecário utilizar técnicas de pesquisa


em campo, como o questionário e a entrevista, para determinar as necessidades
de informação da comunidade a que ele irá atender, considerando não apenas os
dados quantitativos da população, mas também o direcionamento para aqueles cujo
atendimento significa maior benefício social para a comunidade. O bibliotecário
necessita estar atento para não confundir as necessidades ou demandas dos usuários
mais próximos com as necessidades reais da comunidade a que deve atender. Essas
análises irão guiar as etapas de desenvolvimento da coleção e o planejamento de
serviços oferecidos pelos bibliotecários, desde o serviço técnico de processamento do
material adquirido como os serviços de referência, marketing, balcão de informações
utilitárias e de ação cultural (VERGUEIRO, 1989).

A biblioteca precisa levar em conta os resultados destes estudos de


comunidade no seu planejamento, visando partir de um conhecimento prévio da
população-alvo que será utilizadora de seus produtos e serviços e que necessitam
do atendimento de suas necessidades básicas de informação e lazer com vistas
ao aperfeiçoamento pessoal e proporcionando maior participação em sociedade
(STUMPF, 1988). Importante lembrar que os usuários influenciam no processo de
seleção de materiais para a composição das coleções como também contribuem com
sugestões por intermédio dos estudos de usuários (MIRANDA, 2007).

61
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

NOTA

Para Vergueiro (1989), para cada tipo de biblioteca, a comunidade irá variar. Para
a biblioteca pública, a comunidade será composta por todas as pessoas que residem na
jurisdição política atendida por ela. No caso da biblioteca escolar, a comunidade será aquela
composta por alunos e processos de uma determinada instituição. Com relação à biblioteca
universitária, a comunidade são os corpos docentes e discentes dos cursos e funcionários
de uma instituição de ensino superior. Quanto à especializada, a comunidade é composta
pelos integrantes da empresa, fundação, companhia ou instituição comercial que a criou.

FONTE: VERGUEIRO, W. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Associação Paulista de


Bibliotecários; Editora Polis, 1989.

A comunidade é composta por usuários reais e potenciais, ou seja, aqueles


que vão frequentemente até a biblioteca e aqueles que poderão se tornar pessoas
que frequentarão a biblioteca. Por este motivo, a biblioteca precisa incluir também
informações utilitárias e recreacionais para atender outros tipos de necessidades
de informação. Precisa também definir as prioridades de atendimento quanto à
comunidade a que atende, levando em consideração o acesso de uma parcela daquela
comunidade a outras instituições que oferecem informação (outras bibliotecas, por
exemplo) mais aptas a atendê-la. A coleção deve possuir um plano pré-determinado
que precisa ser seguido e modificado à medida que as necessidades de informação
da comunidade se modificam. O trabalho de triagem dos materiais a serem inclusos
no acervo (seleção) deve ter o objetivo de atingir este plano, baseado na política para
o desenvolvimento de coleção (VERGUEIRO, 1989).

3 SELEÇÃO
A atividade de seleção é uma técnica especializada, que exige conhecimento
e experiência do profissional. Para Weizel (2012, p. 185), a seleção “se apresenta como
um recurso técnico para identificar os bons livros da ‘multidão’ e identificar essas
necessidades denominadas hoje de necessidades dos usuários”.

Com a expansão das produções de materiais bibliográficos e dos recursos


serem cada vez mais insuficientes para a aquisição de todos os materiais existentes,
passaram a ser criados critérios para direcionar a seleção de determinados materiais
em detrimento de outros (VERGUEIRO, 1989). Conforme Gurgel e Maia (2004, p. 10):

A seleção, desenvolvimento e manutenção da coleção deverá ser de


comum acordo entre os especialistas da área e da equipe de bibliotecários.
Os bibliotecários encarregados da seleção (responsável pela DDA e
bibliotecários de referência de cada setorial) deverão basear-se numa análise
quantitativa e qualitativa da mesma, por possuírem amplo conhecimento
da realidade do acervo e da comunidade a que servem.

62
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

Com relação aos conceitos, o processo de seleção está relacionado às etapas


da seleção, incluindo o trabalho da comissão de seleção – aquela que decide sobre
os itens que serão incorporados ao acervo e elabora a lista de itens aprovados para
serem inseridos conforme os critérios estabelecidos na política. A política de seleção
é o documento onde são apresentadas as responsabilidades de cada integrante do
processo de seleção (bibliotecários e comissão de seleção), os critérios estabelecidos, os
instrumentos auxiliares para a seleção dos materiais, entre outros itens relacionados,
por exemplo, as questões sobre censura na seleção, itens duplicados, coleção de obras
raras etc. (VERGUEIRO, 2010; WEITZEL, 2012).

As restrições econômicas e de orçamentos destinados às bibliotecas, a


necessidade de investimento em materiais acessíveis, a falta de redes de cooperação,
a escassez de recursos humanos adequados para a realização das atividades
demandadas em uma biblioteca, as dificuldades para investir em materiais
inovadores e de automação são algumas das realidades que fazem parte do dia a
dia de diversas bibliotecas e unidades de informação no Brasil. Assim, o paradoxo
da falta de recursos financeiros versus a explosão de recursos de informação tem se
tornado o desafio para uma unidade que visa atender as demandas informacionais
de seu público, manter-se em constante atualização (VERGUEIRO, 1989).

Uma vez que o processo de seleção tem a função de composição do acervo


junto à missão institucional, tendo como responsável o bibliotecário para essa
tomada de decisão, há a necessidade de se estabelecer diretrizes básicas para essa
tomada de decisão.

Gräsel (1914) citado por Weitzel (2012, p. 185):

[...] defende que o responsável pela seleção seja o próprio bibliotecário


que conhece as necessidades envolvidas, e suas ações não se baseiam em
“ideias preconcebidas” e sim no “interesse da biblioteca” – em outras
palavras, em um interesse maior: que tanto pode ser entendido como
missão da instituição quanto necessidades dos usuários.

O mesmo autor aconselha que o bibliotecário, apesar de ser considerado o


mais adequado para realizar o processo de seleção, esteja sempre atento para não
ser arbitrário ou possuir um “espírito exclusivista”, além de estar ciente de que o
bibliotecário é um ser passível de falhar (GRÄSEL, 1914 apud WEITZEL, 2012).

63
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

FIGURA 10 – SELEÇÃO DE MATERIAIS BIBLIOGRÁFICOS PARA COMPOR COLEÇÕES

FONTE: <http://bit.ly/2nuZmjM>. Acesso em: 18 jul. 2019.

Estabelecer critérios de seleção é uma tarefa individual e sugestiva que deve


ser realizada pelos profissionais sempre pensando na comunidade que será atendida,
nos recursos disponíveis para aquisição de obras e as próprias características do
assunto ou material selecionado, o que não significa dizer que o bibliotecário será
a pessoa que irá realizar a atividade de seleção pessoalmente (VERGUEIRO, 1989).

A decisão sobre quem dirá que determinado pode ou não ser selecionado, às
vezes tem influência de outras esferas que não aquela à qual pertence o bibliotecário.
A seleção deve ser realizada em grupo, por meio de comissões criadas especialmente
para isso e compostas por membros da comunidade usuária e pelo bibliotecário e
profissionais envolvidos. Essa comissão auxilia na divisão da responsabilidade pela
seleção de determinados materiais e também permite a participação mais ativa da própria
comunidade que usará os serviços e produtos da biblioteca (VERGUEIRO, 1989).

Vejamos alguns exemplos de membros da comissão de seleção e suas


atribuições. Neste caso, serão demonstrados os membros de uma comissão de seleção
para biblioteca universitária. No entanto, pode ser adaptado para outras comissões
de outros tipos de bibliotecas. No caso da biblioteca universitária, a comissão pode
ser composta por: Diretor ou Coordenador da Biblioteca, Conselheiros e estudantes.

64
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

QUADRO 1 – EXEMPLO DE INTEGRANTES DE COMISSÃO DE SELEÇÃO DE BIBLIOTECA


UNIVERSITÁRIA

• Com relação às atribuições do diretor ou coordenador da biblioteca:


a) Fazer a convocação e presidir reuniões periódicas da Comissão de
Desenvolvimento de Coleções.
b) Realizar orientações ao o conselheiro quanto à forma de seleção de material,
conforme descreve a política de desenvolvimento de coleção.
c) Fazer orientações aos demais integrantes da Comissão quanto às decisões
acertadas com a administração superior.
d) Realizar sugestões de atualização e avaliação da política (RIBEIRO et al., 2014).

• Quanto aos conselheiros da biblioteca:


a) Periodicamente, necessita informar à área do conhecimento sobre prazos e
decisões relacionadas à aquisição de materiais informacionais.
b) Atualizar a biblioteca atualizada com relação aos Planos Pedagógicos dos Cursos.
c) Realizar a análise dos títulos enviados ao setor de atendimento ao usuário para
desbastamento, assim como as sugestões de compras feitas pela comunidade
acadêmica.
d) Fazer a sugestão de novos títulos para serem inseridos na lista de material
informacional do ano vigente, segundo o interesse da comunidade.
e) Participar da avaliação do acervo (RIBEIRO et al., 2014).

• Quanto às atribuições do estudante, pode-se citar:


a) Informar ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) i sobre prazos e decisões
sobre a aquisição de materiais informacionais.
b) Prestar auxílio na avaliação da coleção (RIBEIRO et al., 2014).

• Quanto às atribuições do bibliotecário responsável pelo Serviço de


Atendimento ao Usuário de cada biblioteca:
a) Fazer a preparação dos materiais para desbastamento.
b) Realizar a convocação do conselheiro e os representantes estudantis para as
atividades de desbastamento e seleção.
c) Fazer a sugestão de materiais para aquisição, segundo demanda da comunidade,
e encaminhar ao setor competente para as providências de compra.
d) Realizar a avaliação do acervo.
e) Prestar sugestões para a atualização e avaliação da política (RIBEIRO et al., 2014).

• Com relação às atividades de bibliotecários responsáveis pelo


desenvolvimento de coleções de cada biblioteca:
a) Realizar a baixa dos itens selecionados para descarte.
b) Fazer a atualização do software gerenciador quanto a localização e a biblioteca
das obras remanejadas para outras bibliotecas do sistema.
c) Elaborar a lista de materiais informacionais a serem adquiridos por meio de
compra com base nas fontes de seleção.

65
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

d) Realizar a orientação dos integrantes do Conselho de Bibliotecas sobre o


modo de seleção de material segundo descrito na política.
e) Fazer a intermediação do processo de compra de materiais informacionais
da Instituição de Ensino Superior.
f) Realizar a administração dos recursos disponíveis.
g) Selecionar os materiais de acordo com os critérios da Política de
Desenvolvimento de Coleções.
h) Fazer a seleção de materiais recebidos via doação.
i) Realizar a avaliação e sugestão de fontes de seleção.
j) Elaborar e realizar a avaliação do acervo.
k) Realizar a avaliação do material para desbaste em conjunto com o setor de
atendimento ao usuário e os membros da Comissão.
l) Verificar a possibilidade de aquisição de materiais em novos formatos.
m) Propor plano de aquisição para materiais informacionais digitais.
o) Viabilizar a aquisição de materiais informacionais para pessoas com
deficiência (materiais acessíveis) de forma gradual e a partir de demanda.
p) Propor sugestões de atualização e avaliação da política (RIBEIRO et al., 2014).
FONTE: Adaptado de Ribeiro et al. (2014, p. 6-7)

A tomada de decisão quanto à seleção ou não de determinados materiais


deve ser guiada pela comunidade a que se pretende atender. Para isso, deve-
se estar atento a cada tipo de público de cada tipo de biblioteca, conforme será
demonstrado a seguir:

a) Bibliotecas públicas: a seleção de materiais deve ser realizada de acordo com a


diversidade do público atendido, com ampla abrangência de assuntos e materiais
a fim de atender as necessidades informacionais e recreacionais da comunidade.
b) Bibliotecas escolares: a seleção de materiais precisa ser realizada visando
atender aos objetivos dos cursos oferecidos e níveis dos estudantes. Neste tipo
de biblioteca, o que demarca a seleção de materiais é o aspecto pedagógico dos
materiais (manuais, materiais de apoio etc.).
c) Bibliotecas universitárias: a pesquisa, o ensino e a extensão terão pesos idênticos
no processo de seleção. O que são usados como critérios neste tipo de biblioteca é
o valor do item para as atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas nesta
instituição de ensino. O valor será atribuído de acordo com os interesses da coleção.
d) Bibliotecas especializadas ou de empresas: levam em consideração para a
seleção a relação entre o material e os objetivos da instituição que mantém a
biblioteca. É uma escolha exaustiva, visto que todo material que esteja dentro da
área de interesse da organização interessa à biblioteca, independentemente do
formato em que este material se encontra (VERGUEIRO, 1989).

Entretanto, independentemente do tipo de biblioteca, a seleção irá ser


realizada em duas etapas:

• Primeira etapa: a elaboração de uma lista de itens de interesse da coleção conforme


indicações de usuários e bibliotecários, esses últimos utilizando os instrumentos
auxiliares à seleção.

66
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE SELEÇÃO

• Segunda etapa: após a lista estar elaborada, os materiais serão avaliados em relação
aos recursos e prioridades previamente definidas.

Os instrumentos auxiliares à seleção servem para manter os profissionais


atualizados sobre os materiais lançados no mercado. Conforme cada tipo de
biblioteca, haverá tipos de instrumentos que serão úteis para a seleção de
materiais. Assim, são considerados instrumentos auxiliares à seleção:

a) Bibliografias de programas e planos de ensino.


b) Bibliografias especializadas e de cunho geral.
c) Diretórios de periódicos.
d) Catálogos, listas, sites de editoras e de livrarias.
e) Bases de dados bibliográficos.
f) Sugestões de usuários e de bibliotecários da biblioteca.
g) Indicação de docentes.
h) Estatísticas de uso de materiais do acervo.
i) E-books de acesso livre.
j) Listas de intercâmbio entre bibliotecas.

Existem critérios que visam proporcionar uma avaliação das obras a serem
incorporadas em um acervo, Weitzel (2012) chama a atenção para os critérios a serem
baseados no quanto determinada obra ou material poderá ser ou não útil para atender
às demandas informacionais dos usuários. Desta forma, poderá haver um equilíbrio
entre coleções, visto que o acervo seria elaborado conforme critérios objetivos e em
constante avaliação e atualização (GRÄSEL, 1914 apud WEITZEL, 2012). Quanto aos
critérios gerais de seleção de materiais bibliográficos, estes podem ser, conforme
Vergueiro (1989) e Abreu (2017):

a) Conforme o usuário: o tema e os tipos de documento devem visar atender às


necessidades informacionais dos usuários.
b) De acordo com o custo-benefício do material, que necessita compensar sua aquisição.
c) Conforme a autoridade: realizar análise da reputação do autor, editora e/ou
patrocinador do material a selecionar.
d) De acordo com a precisão: o material selecionado precisa primar pela exatidão,
correção, rigor e fidelidade da informação.
e) De acordo com a imparcialidade do documento: o assunto deve ser abordado
sem favoritismos ou preconceitos.
f) Conforme com a atualidade: a obra deve conter informações atuais, em especial
no que se refere à ortografia.
g) De acordo com a cobertura/tratamento: “o assunto e os aspectos importantes
contidos na obra devem ser tratados adequadamente, cobertos em detalhes e não
superficialmente, sempre respeitando o público-alvo da biblioteca. Em alguns
casos, será necessária a colaboração de especialistas” (ABREU, 2017, p. 23).
h) Conforme a conveniência: nível de vocabulário em conformidade com o tipo de
usuário.
i) De acordo com o idioma: material disponível no idioma falado e lido pelos
usuários, incluindo-se materiais e documentos em outros idiomas se o tipo de
biblioteca e seus objetivos permitirem.
67
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

j) Conforme a relevância/interesse: o material selecionado precisa ser relevante


para os usuários, para assim, despertar seu interesse e se conectar a partir de suas
experiências prévias.
k) De acordo com o estilo: o estilo de escrita ou abordagem do material precisa ser
adequado ao público-alvo.
l) Conforme as características físicas: apresentar caracteres tipográficos legíveis,
com tamanho de letra adequado para o seu público-alvo, encadernação resistente
e papel de qualidade adequada para manuseio e leitura.
m) De acordo com os aspectos especiais: analisar a existência de bibliografias,
apêndices, notas e índices adequados ao tipo de usuários.

DICAS

O Artigo Africanizando os acervos: política de gestão de acervos para bibliotecas


especializadas na temática afro-brasileira e africana de Graziela dos Santos Lima, Franciéle
Carneiro Garcês da Silva, Amabile Costa, Andreia Sousa da Silva e Gisele Karine Santos de
Souza, publicado em 2018, apresenta uma discussão sobre a implementação de uma Política
de Gestão de Acervos de bibliotecas especializadas em Núcleos de Estudos Afro-brasileiros
(NEAB). Sugere um roteiro de elementos, a partir de Corrêa (2013), para a adoção da referida
política e inserção de materiais sobre a temática em unidades de informação.
Confira em:
LIMA, G. S. dos. et al. Africanizando os acervos: política de gestão de acervos para
bibliotecas especializadas na temática afro-brasileira e africana. Revista Brasileira
de Biblioteconomia e Documentação, v. 14, n. 3, set./dez., 2018. Disponível em:
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1056/1068. Acesso em: 18 jul. 2019.

68
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O estudo de comunidade é a base para descrição da clientela/público-alvo em que


se mapeia a oferta de produtos e serviços de informação conforme a clientela da
unidade de informação e suas demandas.

• Comunidades são entendidas como agrupamento de pessoas que vivem em uma


área determinada e possuem em comum aspectos geográficos, econômicos e
culturais que lhes atribuem certo estilo de vida.

• A comunidade é composta por usuários reais e potenciais, ou seja, aqueles que vão
frequentemente até a biblioteca e se aqueles que poderão se tornar pessoas que
frequentarão a biblioteca.

• Os estudos de comunidade devem incluir o conhecimento sobre a parte


geográfica, os habitantes, a história do bairro e/ou cidade, condições educacionais
e socioeconômicas, o estilo de vida dos habitantes, os recursos que o bairro local
dispõe, os problemas que enfrentam e as necessidades que possuem.

• A biblioteca precisa levar em conta os resultados destes estudos de comunidade no


seu planejamento, visando partir de um conhecimento prévio da população-alvo
que será utilizadora de seus produtos e serviços e que necessitam do atendimento
de suas necessidades básicas de informação e lazer com vistas ao aperfeiçoamento
pessoal e proporcionando maior participação em sociedade.

• A biblioteca precisa incluir também informações utilitárias e recreacionais para


atender a outros tipos de necessidades de informação.

• A coleção deve possuir um plano pré-determinado que precisa ser seguido e


modificado à medida que as necessidades de informação da comunidade se
modificam.

• A atividade de seleção é uma técnica especializada, que exige conhecimento e


experiência do profissional.

• A seleção, desenvolvimento e manutenção da coleção deverá ser de comum acordo


entre os especialistas da área e da equipe de bibliotecários.

• As restrições econômicas e de orçamentos destinados às bibliotecas, a necessidade


de investimento em materiais acessíveis, a falta de redes de cooperação, a escassez
de recursos humanos adequados para a realização das atividades demandadas
em uma biblioteca, as dificuldades para investir em materiais inovadores e de
automação são algumas das realidades que fazem parte do dia a dia de diversas
bibliotecas e unidades de informação no Brasil.

69
• O processo de seleção tem a função de composição do acervo junto à missão
institucional, tendo como responsável o bibliotecário para essa tomada de decisão,
há a necessidade de se estabelecer diretrizes básicas para essa tomada de decisão.

• Estabelecer critérios de seleção é uma tarefa individual e sugestiva que deve ser
realizada pelos profissionais sempre pensando na comunidade que será atendida,
nos recursos disponíveis para aquisição de obras e as próprias características do
assunto ou material selecionado.

• A seleção deve ser realizada em grupo, por meio de comissões criadas especialmente
para isso e compostas por membros da comunidade usuária e pelo bibliotecário e
profissionais envolvidos.

• A seleção de materiais para compor as coleções deve ser guiada pela comunidade
e ser de acordo com cada tipo de biblioteca.

• Os instrumentos auxiliares à seleção servem para manter os profissionais atualizados


sobre os materiais lançados no mercado. São eles: diretórios de periódicos, bases
de dados, catálogos, listas, sites de editoras e livrarias, bibliografias de programas
e planos de ensino, bibliografias gerais e especializadas, sugestões de usuários e
bibliotecários, estatísticas de uso do acervo, entre outros.

• Os critérios para seleção de materiais englobam: o usuário, o custo-benefício


do material, a autoridade, a precisão, a imparcialidade, a atualidade, cobertura/
tratamento, a conveniência, o idioma, a relevância para o usuário, o estilo, as
caraterísticas físicas do material e os seus aspectos especiais.

70
AUTOATIVIDADE

1 Indique se V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às afirmações a seguir:

a) ( ) Alguns dos instrumentos de seleção são: bibliografias especializadas,


bibliografias gerais, catálogos, listas, sites de editores, bases de dados,
site de livrarias, dados estatísticos de uso de materiais do acervo.
b) ( ) Alguns dos instrumentos de seleção são: bibliografias de direito,
bibliografias especiais, catálogos, listas, sites de meios de comunicação
em massa, bases de dados, site de livrarias, dados estatísticos de uso de
materiais do acervo.
c) ( ) Alguns dos instrumentos de seleção são: indicação de obras pelos
próprios autores, bibliografias especiais, catálogos, listas, sites de meios
de comunicação em massa, bases de dados, site de livrarias, dados
estatísticos de uso de materiais do acervo.
d) ( ) Alguns dos instrumentos de seleção são: bibliografias especializadas
da área da educação, bibliografias especiais, catálogos de reportagens
e notícias, listas, sites de meios de comunicação em massa, bases de
dados, site de livrarias, dados estatísticos de uso de materiais do acervo.

2 A tomada de decisão quanto à seleção ou não de determinados materiais deve


ser guiada pela comunidade a que se pretende atender. Para isto, deve-se estar
atento a cada tipo de público de cada tipo de biblioteca. Identifique com V
(verdadeiro) e F (falso) aquelas questões que se referem corretamente à seleção
de materiais por tipo de biblioteca:

a) ( ) Bibliotecas especializadas ou empresas levam em conta a relação entre o ma-


terial e os objetivos da instituição que a mantém. Seu público-alvo são aque-
les pertencentes à instituição onde a biblioteca se encontra subordinada.
b) ( ) Bibliotecas públicas realizam a seleção pensando na diversidade do
público que deseja atender. Dessa forma, possui ampla abrangência de
assuntos e também materiais que atendam às demandas de informação
dos usuários e também recreacionais da comunidade.
c) ( ) Bibliotecas universitárias levam em consideração para a seleção de
materiais somente a opinião dos docentes dos cursos, visto que são eles
que definem as necessidades de informação dos alunos.
d) ( ) Bibliotecas escolares realizam suas atividades de seleção visando
atender aos propósitos de cada curso oferecido na instituição e aos
níveis dos estudantes.

3 Os critérios para seleção de materiais para a biblioteca deve ser de acordo com:

a) ( ) Usuário, objetivos institucionais, autoridade, precisão, imparcialidade,


atualidade, cobertura, conveniência, idioma estrangeiro, relevância, es-
tilo, caraterísticas físicas e aspectos especiais.

71
b) ( ) Usuário, custo-benefício, autoridade, precisão, parcialidade, cobertura,
atualidade, conveniência, idioma estrangeiro, relevância, estilo, carate-
rísticas físicas e aspectos especiais.
c) ( ) Usuário, custo-benefício, autoridade, ser material paradidático, impar-
cialidade, atualidade, cobertura, conveniência, idioma estrangeiro, rele-
vância, estilo, caraterísticas físicas e aspectos especiais.
d) ( ) Usuário, custo-benefício, autoridade, ser material paradidático, impar-
cialidade, atualidade, cobertura, conveniência, idioma estrangeiro, rele-
vância, estilo, caraterísticas físicas e aspectos especiais.
e) ( ) Usuário, custo-benefício, autoridade, precisão, imparcialidade, cober-
tura, atualidade, conveniência, idioma, relevância, estilo, caraterísticas
físicas e aspectos especiais.

4 Entre os pontos para o estudo de comunidade, encontram-se os dados


socioeconômicos da comunidade. Estes dados se referem:

a) ( ) À direção de crescimento físico da comunidade (levar em consideração


a existência ou não de barreiras para a expansão da comunidade) e a
distribuição populacional na área que a biblioteca abrange.
b) ( ) À identificação do grau de analfabetismo dos habitantes, nível de
instrução da população, instituições educacionais e número de alunos
matriculados, cursos de férias oferecidos, iniciativas educacionais
relacionadas a grupos com interesses variados etc.
c) ( ) Às atividades econômicas mais importantes, com o intuito de identificar
se tais atividades ocorrem todo o momento ou se são sujeitas a sofrerem
variações; nível econômico da população e a taxa de desemprego;
serviços públicos existentes na área de saúde e assistência; nível de
organização da comunidade quanto à existência de organizações de
comunidades ou vizinhos e à identificação de líderes da comunidade.
d) ( ) Aos antecedentes históricos da comunidade, em especial, sobre sua evolução
e crescimento, que poderá lhe fornecer subsídios para compreender as
demandas a partir do ponto de vista da comunidade atual.

5 Para Stumpf (1988) existem três métodos a serem seguidos nos estudos de
usuários. Identifique com V (verdadeiro) e F (falso) nas questões a seguir,
sobre os métodos informados pela autora:

a) ( ) Levantamento indireto: a partir de documentação existente como


relatórios, dados estatísticos, monografias, entre outros.
b) ( ) Levantamento direto da situação: por meio de questionários, entrevistas
e observações no local.
c) ( ) Levantamento específico de materiais históricos visando identificar a
composição de indivíduos da comunidade.
d) ( ) Levantamento arquivístico com o intuito de mapear documentos nos
arquivos da comunidade.
e) ( ) Levantamento jurídico visando conhecer as legislações realizadas pela
comunidade.

72
f) ( ) Combinação do levantamento indireto e o direto: utilizar documentos
que puderem ser consultados e obtidos, complementando-os e os
atualizando por intermédio da busca direta de novos dados.
g) ( ) Combinação do levantamento arquivísticos com o jurídico: utilizar
documentos que puderem ser consultados e obtidos, complementando-
os e os atualizando por intermédio da busca direta de novos dados.

73
74
UNIDADE 2 TÓPICO 2

PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,


DESBASTAMENTO E AVALIAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Geralmente, um acervo de biblioteca possui em sua composição livros,
periódicos, panfletos, relatórios, manuscritos, filmes, gravações de vídeo, gravações
de som, artefatos tridimensionais, arquivos de dados legíveis por máquina, materiais
cartográficos e iconográficos, música, entre outros. Por isso, é necessária a política
de desenvolvimento de coleções formada a fim de elaborar um acervo que atenda a
todos os públicos que usam e aqueles que poderão utilizar a biblioteca em questão. O
desenvolvimento de coleções necessita do processo de planejamento para a formação
do acervo, assim, a seleção, aquisição, desbastamento e avaliação da coleção são
passos fundamentais para o bom desenvolvimento de uma unidade de informação.

Agora que já compreendeu, no Tópico I desta unidade, o processo de seleção,


as etapas e os critérios, passaremos a estudar os processos de aquisição, avaliação e
desbastamento de materiais para a composição de coleções. Para isso, estudaremos
os conceitos de aquisição, desbastamento e avaliação, suas contribuições para o
processo de desenvolvimento de coleções e as atividades que os envolvem.

2 AQUISIÇÃO
A aquisição é uma das etapas que acontece após a seleção dentro do processo
de desenvolvimento de coleções e, neste sentido, compreende a compra, doação e
permuta/negociação de materiais informacionais (MIRANDA, 2007). Assim como
a seleção, a determinação das normas de aquisição de materiais informacionais visa
disciplinar o processo de desenvolvimento de coleções – tanto qualitativamente
quanto quantitativamente – conforme a realidade de cada biblioteca, direcionando
o uso de forma racional dos recursos financeiros disponíveis (MIRANDA, 2007).

Figueiredo (1998) afirma que a aquisição é um processo de implementação de


decisões da seleção por intermédio da compra, doação e permuta dos documentos,
inclusive, com a alocação de recursos e registro dos materiais para fins de patrimônio
(MACIEL; MENDONÇA, 2000). Para Evans (2000) o processo de aquisição engloba a
localização e a aquisição de materiais considerados como apropriados para a coleção.
75
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

Conforme Lima e Figueiredo (1984, p. 145), a aquisição é o “processo de


agregar itens a uma coleção por meio de compra, doação ou permuta” ou ainda é
compreendida como a “operação que resulta da seleção, ou seja, que implementa
as decisões da seleção ao incorporar à coleção os itens selecionados” (LIMA;
FIGUEIREDO, 1984, p. 145).

DICAS

Conforme Spudeit e Corrêa (2017), a política de aquisição precisa ser respaldada


pela política de seleção, visto que são processos relacionados. Por incluir as modalidades de
compra, permuta e doação, a política de aquisição deve estabelecer critérios para cada um
desses processos, visto que envolve controle de recursos financeiros, trâmites, orçamentos
e gerenciamento de permuta e doação, entre outras responsabilidades, como a seleção de
fornecedores e a duplicação de pedidos, que justificam a necessidade de se ter um processo
mapeado de aquisição de materiais para o acervo.

Para Miranda (2007) a aquisição ocorre por três modalidades: compra,


permuta e doação.

FIGURA 11 – MODALIDADE DE AQUISIÇÃO DE MATERIAIS: COMPRA

FONTE: <http://bit.ly/2Vx6Q2z>. Acesso em: 20 jul. 2019

76
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

FIGURA 12 – MODALIDADE DE AQUISIÇÃO DE MATERIAIS: DOAÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/30XTPjy>. Acesso em: 20 jul. 2019

FIGURA 13 – MODALIDADE DE AQUISIÇÃO DE MATERIAIS: PERMUTA

FONTE: <http://bit.ly/2VwzRuZ>. Acesso em: 20 jul. 2019.

A compra, na concepção de Prado (2003), se refere ao fundo documental


constituído que envolve os processos de avaliação e atualização do acervo. O processo
de compra requer criterioso trabalho por parte do bibliotecário encarregado para que
o processo se concretize e corresponda ao material selecionado. A decisão de compra
deve ser entendida como uma decisão que é tomada pela pessoa responsável ou pela
comissão formada para fins de decisão sobre a aquisição. Essa decisão necessita levar
em consideração o equilíbrio entre os interesses e propostas individuais e os objetivos da
instituição como um todo. Nessas etapas, é indispensável o diálogo e colaboração entre
usuários e bibliotecários (GUINCHAT; MENOU, 1994; SILVEIRA; FIORAVANTE;
VITORINO, 2009). As atividades relativas à aquisição por compra são complexas,
conforme enfatizam Andrade e Vergueiro (1996, p. 6) citado por Miranda (2007, p. 13):

À aquisição caberá o trabalho minucioso de identificação, localização


dos itens e sua posterior obtenção para o acervo, qualquer que seja a
maneira de tornar isto possível. E não é uma tarefa assim tão automática,
pois, infelizmente para os profissionais, os títulos selecionados não se
encontram acenando para eles ao dobrar da esquina, a gritar ‘olha eu

77
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

aqui, olha eu aqui’ quase implorando para serem adquiridos. Muitas


vezes, realizar um trabalho de aquisição assemelha-se a procurar uma
agulha em palheiro, tantas são as possibilidades e dificuldades existentes.
É uma atividade que exige perseverança e atenção a detalhes, de maneira
a evitar um descompasso entre o que foi escolhido primeiramente para
aquisição e aquilo que chega às mãos do usuário.

Neste ponto, Corrêa (2016) aborda os aspectos gerenciais que permeiam as


atividades de aquisição e sobre a necessidade de se elaborar cadastros e arquivos de
fornecedores que possuam o registro das negociações já realizadas visando servir de
base para futuras aquisições. Conforme a autora, com os serviços automatizados, esses
cadastros são fáceis de serem elaborados e mantidos por intermédio de ferramentas
tecnológicas, como por exemplo, os softwares de gerenciamento de bibliotecas, que
permitem o acompanhamento das atividades de aquisição dentro de seus módulos
de registro. Conforme Miranda (2007, p. 13):

A aquisição envolve dois itens básicos: orçamento e alocação de recursos.


Antes da compra devem ser previamente definidos os recursos financeiros,
para permitir uma visão concreta do que se pode contar. Andrade (1996)
salienta que, na prática, o orçamento previsto para aquisição de materiais
nem sempre corresponde aos recursos liberados, ocasionando que nem
todas as necessidades consideradas prioritárias serão atendidas.

Corrêa (2016) afirma que no Brasil, onde é muito comum formar e desenvolver
coleções, em especial de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias, a modalidade
de aquisição doação (espontânea e solicitada) é a modalidade mais utilizada. Ao
analisar o censo nacional de bibliotecas públicas do ano de 2009, a autora verificou
que a doação é a modalidade utilizada para aquisição de materiais informacionais
nestes tipos de bibliotecas e que a compra se encontra em último lugar na lista de
atividades (CORRÊA, 2016). Neste sentido, chama a atenção para o fato de que:

A participação através da doação de itens bibliográficos é uma das mais


importantes na relação entre biblioteca e comunidade. Entregar livros
que, anteriormente, pertenceram a um acervo pessoal pode significar que
há um apreço do doador pela biblioteca, uma certeza intuitiva de que
seus livros serão bem cuidados e utilizados por muitas outras pessoas, as
quais aprenderão coisas novas e crescer com eles (CORRÊA, 2016, p. 87).

Embora alguns doadores doem materiais que não serão de fato inclusos
no acervo ou coleções devido ao estado dos materiais – algo detectado a partir dos
critérios de análise e de seleção do material adotados pela biblioteca –, há casos em que
são recebidas bibliotecas pessoais completas de pessoas já falecidas em que a família
acaba por realizar a doação como forma de carinho e homenagem ao legado deixado
pela pessoa amada. Neste caso, é estabelecida uma relação afetiva na modalidade
doação, algo que não há em nenhum outro tipo de aquisição (CORRÊA, 2016).

A doação e permuta exigem que os materiais oriundos destas modalidades


sejam analisados antes de serem incorporados ao acervo, para que não seja criada
uma coleção grande, mas sem ser de interesse da comunidade usuária. Além disso,
parte da verba para aquisição de materiais precisa ser reservada para assinatura de
periódicos e bases de dados, compra de multimeios, assinaturas de bases de dados,
obras raras, entre outros (MIRANDA, 2007).
78
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

DICAS

Existem atividades de aquisição realizadas em outros tipos de bibliotecas.


A seguir, será apresentada a lista de atividades do setor de Aquisição de bibliotecas
especializadas de Alberta, Canadá para ser um exemplo do processo aquisição (LIMA;
FIGUEIREDO, 1984). A partir deste exemplo, podem ser analisados e adaptados os processos
de aquisição conforme as particularidades de cada biblioteca. No caso da biblioteca de
Alberta, explicitado por Lima e Figueiredo (1984), o processo de aquisição foi dividido em
três fases: a) seleção; b) verificação e empenho para aquisição e, c) processamento.
A seleção possui como função:
Estabelecer a política de seleção do material impresso e não impresso.
• Avaliar e selecionar o material por intermédio de revisão de literatura, catálogos de
publicações e itens pré-especificados.
• Avaliar a coleção existente.
• Aprovar solicitações de usuários e materiais para descarte.
• Utilizar de listas de permutas e doações para preencher lacunas na coleção.
• Incentivar a participação dos funcionários da instituição na seleção.
• Manter seleção de forma corrente e ir adicionando os materiais.
• Manter listas de materiais a serem analisados para descarte.
A verificação e empenho para aquisição possui a função de:
• Examinar as fichas do catálogo para verificação da existência de duplicatas.
• Verificar e localizar informações.
• Decidir por qual canal será realizada a aquisição, se de forma direta ou intermediária.
• Manter listas de fornecedores e editores.
• Expedição de empenhos.
• Correspondência relacionada à aquisição.
Por fim, o processamento possui a função de:
• Receber as aquisições, verificar erros ou defeitos no material e, se houver, devolver ao
fornecedor ou vendedor.
• Repor itens que estejam desaparecidos ou faltantes nas coleções.
• Manter registros sobre a aquisição (pedidos e recebidos).
• Aprovar solicitações de pagamento.
• Elaborar mapas de aquisição e pagamento.
• Requisitar, receber e expedir ordens de pagamento.
• Manter registos financeiros de aquisição (ordens de pagamento).
• Registrar o material recebido e o preparar para empréstimo.

FONTE: LIMA, R. C. M. de; FIGUEIREDO, N. M. Seleção e aquisição: da visão clássica


à moderna aplicação de técnicas bibliométricas. Ciência da Informação, v. 13, n.
2, 1984. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/202/202. Acesso em:
21 jul. 2019.

Outra modalidade de aquisição via doação possível para bibliotecas – em


especial, as comunitárias – é a captação de recursos financeiros por intermédio
de ferramentas do crowfunding (conhecido como “financiamento da multidão”,
“vaquinha virtual” ou “financiamento coletivo”). Neste sistema de arrecadação de
recursos que acontece por intermédio da internet é proposto pela instituição ou pessoa
interessada o valor que se pretende alcançar para atender a um objetivo específico,

79
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

como, por exemplo, compra de materiais informacionais para o acervo, oferecimento


de produtos e serviços, entre outros. A partir da informação sobre o valor e qual o
produto ou serviço a ser financiado, pessoas desconhecidas poderão auxiliar doando
quantias de dinheiro até alcançar a meta estabelecida (CORRÊA, 2016).

A partir do crowfunding, autores têm conseguido financiamento para publicar


seus livros (Figuras 14 e 15), clubes literários especializados em literatura voltada
para a promoção da igualdade racial e a superação do racismo através da formação
antirracista têm sido elaborados (Figura 15), assim bibliotecas, que têm conseguido
doação de recursos financeiros para oferecer seus produtos e serviços (Figura 17):

FIGURA 14 – LIVRO A SER PUBLICADO COM FINANCIAMENTO COLETIVO

FONTE: <http://bit.ly/2pbsFZ4>. Acesso em: 21 jul. 2019.

80
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

FIGURA 15 – CRIAÇÃO DE CLUBE LITERÁRIO ESPECIALIZADO EM LITERATURA VOLTADA


PARA A PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL E A SUPERAÇÃO DO RACISMO ATRAVÉS DA
FORMAÇÃO ANTIRRACISTA VIA FINANCIAMENTO COLETIVO

FONTE: <https://benfeitoria.com/ClubePretariaBlackBooks>. Acesso em: 21 jul. 2019.

FIGURA 16 – PUBLICAÇÃO DE LIVROS VIA CROWFUNDING

FONTE: <http://bit.ly/2q4U13T>. Acesso em: 21 jul. 2019.

81
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

FIGURA 17 – CROWFUNDING PARA BIBLIOTECAS: CAMPANHA DA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA


“BARCA DOS LIVROS” REALIZADA EM 2016

FONTE: <http://bit.ly/310NdAR>. Acesso em: 21 jul. 2019.

A partir destes exemplos, pode-se perceber que a iniciativa de participação


da população por intermédio da internet pode atingir bons resultados (CORRÊA,
2016). Entretanto, nem todas as bibliotecas ou unidades de informação conseguem
apoio financeiro da comunidade via doação para oferecer adquirir materiais e/ou
oferecer seus produtos ou serviços.

Outra forma de aquisição de materiais informacionais para as bibliotecas


que vem sendo implementada pela classe bibliotecária é a realização de projetos de
captação de recursos externos à instituição a qual a biblioteca encontra-se vinculada.

82
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

Destacam-se como projetos, editais públicos estaduais, municipais e federais, assim


como aqueles da iniciativa privada que oferecem além de valores para a compra
de materiais bibliográficos para bibliotecas, também financiamento para projetos
socioculturais (CORRÊA, 2016; NASCIMENTO, 2019).

DICAS

Quer saber mais sobre projetos e sua elaboração?


Conheça o Escritório de Projetos que traz conteúdo exclusivo e gratuito sobre gerenciamento
de projetos do Brasil. Disponível em: <https://escritoriodeprojetos.com.br/gerenciamento-
das-aquisicoes-do-projeto>. Acesso em: 22 jul. 2019.

3 DESBASTAMENTO
O desbastamento é definido por Miranda (2007, p. 16) como um:

processo pelo qual se exclui do acervo ativo, títulos e/ou exemplares,


partes de coleções, quer para remanejamento, descarte ou conservação
(restauração). É um processo contínuo e sistemático, para conservar a
qualidade da coleção, ocorrendo sempre devido à necessidade de um
processo constante de avaliação da coleção e deve ser feito de acordo
com as necessidades da Biblioteca e com o julgamento da Comissão da
Biblioteca num prazo que varia entre 3 (três) a 5 (cinco) anos.

FIGURA 18 – DESBASTAMENTO DE MATERIAIS DO ACERVO

FONTE: <http://bit.ly/2B211Ra>. Acesso em: 20 jul. 2019.

Descarte é a retirada de forma definitiva de materiais que não possuem


mais motivos para continuar no acervo. É definido como o processo onde o material
desatualizado ou inadequado – após ser criteriosamente avaliado – é retirado ou

83
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

não incluído na coleção ativa (MIRANDA, 2007). Miranda (2007) justifica que não
há fundamento em se guardar material que não supra mais os interesses das pessoas
usuárias dos produtos e serviços da biblioteca, além disso, o descarte possibilita a
economia de espaço, maior eficiência no atendimento ao usuário e maior facilidade
para acessar o acervo. As atividades relacionadas ao descarte necessitam de maior
cuidado e segurança por parte do profissional, visto que há uma grande dificuldade,
conforme enfatiza Vergueiro (1989, p. 75):

Afinal – pergunta-se o bibliotecário –, quando se descartar? E para


quê? São perguntas quê, deve-se reconhecer, constituem reais
dilemas para profissionais que tiveram toda uma educação (não
apenas a superior) para conservar os materiais informacionais,
sob sua responsabilidade, da melhor forma possível, a fim de que
os mesmos pudessem vir a ser utilizado pela coletividade – ou, ao
menos, conservados para uma geração futura.

FIGURA 19 – DESCARTE DE MATERIAIS DO ACERVO

FONTE: <http://bit.ly/313ZvZd>. Acesso em: 20 jul. 2019.

3.1 CRITÉRIOS PARA DESCARTE


O descarte é o processo em que os materiais bibliográficos selecionados para
tal fim são retirados do acervo. Entre os critérios a serem considerados para descarte,
estão:

• Espaço físico: quando o espaço físico é disputado por outros setores o desbastamento
se torna a solução para se manter dentro do espaço direcionado à biblioteca.
• Mudanças de campo de interesse: em alguns tipos de biblioteca, como a
especializada, por exemplo, algumas áreas perdem o interesse de forma rápida.
Tópicos antes importantes se tornam sem interesse para a unidade de informação
e não justificam o espaço que ocupam.
• Material obsoleto: necessidade de informação corrente pode levar a dispensar
materiais após um período de tempo. Materiais antigos podem ser descartados
sem medo de haver demanda posterior.
• Condições físicas: materiais deteriorados pelo uso deverão ser descartados ou
substituídos.
84
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

• Níveis de profundidade no tratamento do assunto: livros com informações sobre


“como fazer” geralmente se desatualizam quando o equipamento ou software
muda. No entanto, princípios básicos costumam permanecer.
• Assunto: analisar se os assuntos dos materiais correspondem ao interesse e aos
objetivos da instituição. Conforme ocorre a mudança de interesse de obras cujos
assuntos não são mais interessantes, as mesmas podem ser descartadas.
• Cobertura: verificar cada título, conservar os recentes.
• Recursos alternativos: compartilhar recursos com outras bibliotecas de mesmo
tipo ou de abordagem correlata.
• Autoridade do autor: quando o assunto perde a atualiza, no entanto é um clássico
deve ser encaminhado para o espaço em que possa ser útil, como por exemplo, o
setor de obras raras.
• Língua: materiais em idiomas pouco lidos são maiores candidatos ao descarte
(LIMA; FIGUEIREDO, 1984).

Embora haja princípios que orientam o processo de descarte, é preciso


especial atenção para itens valiosos, clássicos e/ou raros que não podem ser
simplesmente retirados do acervo. Para tanto, precisa-se ouvir a opinião dos
especialistas e dos usuários sobre seu descarte ou não (LIMA; FIGUEIREDO, 1984).

Com relação aos materiais internamente produzidos dentro da instituição,


é importante a verificação quanto ao sigilo ou se é a única cópia que existe. Em
caso de documentos sigilosos, há a possibilidade de ser incinerado e, no caso de
ser cópia única, de ser importante ser encaminhado ao arquivo da instituição para
a preservação da memória da instituição. Em caso de dúvida quanto ao valor e/ou
utilidade do material, não descarte e peça posterior reavaliação pela comissão (LIMA;
FIGUEIREDO, 1984).

4 AVALIAÇÃO
Segundo Vergueiro (1989, p. 83), “a avaliação permitirá ao bibliotecário verificar
se as etapas anteriores do processo, do estudo de comunidade ao desbastamento,
estão sendo realizadas de forma coerente”. Avaliar é coletar dados que possibilitem
verificar o estado da arte de uma biblioteca ou unidade de informação. Por intermédio
da análise desses dados é possível identificar se foi bem-sucedida a etapa de seleção,
se o material adquirido realmente traz valor à comunidade de usuários, se o estado
físico dos materiais informacionais se encontra em boas condições, se há equilíbrio
entre as áreas cobertas pela biblioteca e o número de itens oferecidos para atender à
demanda (CORRÊA, 2016).

A avaliação da coleção é um processo que está em constante realização e


envolve estudos qualiquantitativos de uso e os processos de desbastamento e descarte
(LANCASTER, 1996; CORRÊA, 2016). O objetivo da avaliação é retirar de circulação
obras do acervo que estão desatualizadas, em desuso, duplicadas, desgastadas e
títulos de periódicos descontinuados ou sem interesse para a biblioteca (ROMANI;
BORSZCZ, 2006).

85
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

Para avaliação de materiais impressos, Silberger (1990) e Spudeit e Corrêa (2017)


recomendam como critérios: a) propósito; b) perfil; c) público-alvo; c) suporte físico; d)
extensão; e) alcance; f) idiomas; g) limite geográfico; h) dados; i) arranjo; j) autoridade;
k) data; l) acesso; m) encadernação/papel/capa/diagramação; n) forma de atualização;
o) características especiais. Essas avaliações visam medir a qualidade e adequação
dos materiais informacionais oferecidos pela biblioteca, além de checar a validade da
política de desenvolvimento de coleções (LANCASTER, 1996; CORRÊA, 2016).

FIGURA 20 – AVALIAÇÃO DE MATERIAIS IMPRESSOS

FONTE: <http://bit.ly/33hXF8H>. Acesso em: 21 jul. 2019.

Quanto às obras em meio digital, os critérios sugeridos são: a) informações


de identificação do material; b) confiabilidade da informação; c) adequação da fonte;
d) links; e) facilidade de uso; f) layout da fonte; g) restrições percebidas; h) suporte ao
usuário; entre outras (TOMAEL et al., 2001 apud SPUDEIT; CORRÊA, 2017).

FIGURA 21 – AVALIAÇÃO DE MATERIAIS DIGITAIS

FONTE: <http://bit.ly/2MvcTQV>. Acesso em: 21 jul. 2019.

Para Corrêa (2016), a etapa de análise está conectada à natureza administrativa


da gestão de coleções devido às metodologias utilizadas para as análises qualitativas e
quantitativas. Conforme Lancaster (1996), existem finalidades na avaliação de serviços
oferecidos por uma biblioteca. A primeira finalidade da avaliação está em estabelecer
uma espécie de “escala” visando mostrar o nível de desempenho do serviço oferecido. A
segunda finalidade se refere à comparação entre o desempenho de diversas bibliotecas
e serviços. No entanto, esta última finalidade não costuma ser muito utilizada por não
haver uma padronização da avaliação, o que limita a sua análise, visto que deve haver
86
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

questões padronizadas para comparar o desempenho das bibliotecas em questão. A


terceira razão está em avaliar um serviço de informação para justificar sua existência.
Isso significa analisar os benefícios do produto, a relação custo-benefício, entre outros
aspectos. Outra razão para a avaliação está em identificar possíveis pontos fracos do
serviço ofertado, visando elevar o seu nível de desempenho futuro.

Sobre os métodos de avaliação de serviços de informação, Lancaster (1996)


afirma que a avaliação será mais útil se for feita de forma analítica e diagnóstica,
visando descobrir como o serviço poderia ser melhorado. Neste sentido, o autor
sugere que sejam utilizados critérios e procedimentos objetivos de avaliação que
tragam resultados quantificáveis. Os estudos de avaliação podem ter o envolvimento
de usuários reais dentro do ambiente da biblioteca ou instituição a ela vinculada.
Neste caso, o avaliador pode buscar fazer com que os usuários participem de forma
voluntária ou se utilizar de amostragem aleatória para ter um conjunto de usuários
representativos. Dependendo dos objetivos da avaliação, os dados coletados podem
ser anônimos. Exemplo: os livros consultados e deixados sobre as mesas da biblioteca
para indicar que houve consulta do acervo da biblioteca. No entanto, esse tipo de
dado não permite verificar quem utilizou e com qual objetivo. Para este último caso,
entrevistas ou formulários podem ser uma alternativa para se obter dados qualitativos
relacionados ao acervo, serviços e também à própria biblioteca (LANCASTER, 1996).

A necessidade de avaliar o acervo tem relação com as cinco leis de Ranganathan,


a saber: a) Os Livros são para usar; b) A cada leitor seu livro; c) A cada livro seu
leitor; d) Poupe o tempo do leitor; e) A biblioteca é um organismo em crescimento.
Dessa forma, o que deve se ter em mente quando se pensa as cinco leis e os objetivos
da avaliação é que a avaliação permite a administração correta da biblioteca. Como
a biblioteca se encontra em constante crescimento, é importante avaliar para que
este crescimento seja saudável, com condições de mudar conforme as demandas
informacionais da comunidade, fazendo a seleção e a aquisição de materiais que de
fato sejam essenciais aos leitores reais e potenciais e que a unidade esteja apta a se
adaptar conforme as decisões das instituições a qual está inserida, especialmente,
quando ocorrer de falta investimentos e de recursos (financeiros, humanos etc.).
Dessa forma, planejar e pensar de forma consciente, crítica e constante as coleções e o
acervo são pontos essenciais para qualquer bibliotecário (LANCASTER, 1996).

Lancaster aborda ainda que o acervo da biblioteca é o serviço bibliotecário que


mais tem sido avaliado ao longo dos anos. Isso se encontra vinculado à importância
do acervo para quaisquer atividades da biblioteca e também pelo fato de ser algo
concreto, o que torna mais fácil de ser avaliado. Lancaster (1996) chama a atenção
para que o acervo não seja avaliado de forma isolada, mas sim buscando determinar
o que a biblioteca deveria ou não possuir e aquilo que não é mais necessário que ela
retire do acervo, seja por conta dos fatores de qualidade, adequação da literatura,
da obsolescência, das mudanças de interesse que os usuários apresentam ou até
mesmo pela necessidade de serem otimizados os recursos financeiros disponíveis.
Neste sentido, a avaliação do acervo deve ser feita visando melhorar as políticas
de desenvolvimento de coleções, englobando aquelas relacionadas às taxas de
duplicação, aos períodos de empréstimo conforme usuário, entre outros.

87
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

DICAS

Para saber mais sobre os processos de seleção, aquisição, desbastamento e


descarte da Política de Gestão de Estoques de Informação, leia o livro: Gestão de estoques
de informação: novos termos e novas posturas para um novo contexto, escrito por Elisa
Cristina Delfini Corrêa e publicado pela Editora FEBAB (2016).
OBSERVAÇÃO: O livro encontra-se nos formatos epub e mobi para download.

Referência: CORRÊA, E. C. D. Gestão de Estoques de Informação: novos termos e


novas posturas para um novo contexto. São Paulo: Editora FEBAB, 2016. Disponível
em: <http://www.febab.org.br/livros/>. Acesso em: 21 jul. 2019.

DICAS

Você sabia que existem bibliotecas especializadas intituladas Aromateca?


Indica-se a leitura do capítulo intitulado Elementos constituintes para uma aromateca: uma
projeção possível de Jorge Moisés Kroll do Prado publicado no livro Gestão de Coleções
em unidades informacionais organizado por Josiane Mello e Josiana Florêncio Vieira Régis
de Almeida (2017). Este capítulo apresenta elementos para a criação e o desenvolvimento
de uma aromateca de especiarias, um novo produto ou serviço de informação que surgiu
como forma de ensinar e aprender, sendo um espaço de propor novas formas de disseminar
e criar informação. Sugere um roteiro de elementos, a partir de Corrêa (2013), para a adoção
da formação e desenvolvimento do acervo, assim como os processos de seleção, aquisição
e avaliação. Neste sentido, recomenda-se a leitura das páginas 146 a 156 do livro. A leitura o
ajudará na resolução da Questão 2 das autoatividades.

PRADO, J. M. K. do. Elementos constituintes para uma aromateca: uma projeção possível. In:
MELLO, J.; ALMEIRA, J. F. V. R. de. (Org.). Gestão de Coleções em Unidades Informacionais. Natal,
RN: Editora IFRN, 2017. Disponível em: https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/handle/1044/1509/
GESTA%CC%83O%20DE%20COLEC%CC%A7O%CC%83ES.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Acesso em: 20 jul. 2019.

TUROS
ESTUDOS FU

A leitura a seguir visa trazer possibilidades para se pensar a aquisição de obras,


elaboração de projetos em bibliotecas e outras formas de obtenção de recursos financeiros
para a unidade de informação. O artigo é intitulado Captação de recursos via Lei Rouanet
(8.333/1991) para projetos culturais no Brasil de Paola Thais Oliveira do Nascimento que traz
experiências de projetos produzidos via Lei Rouanet (8.313/1991).

88
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPTAÇÃO DE RECURSOS VIA LEI ROUANET (8.313/1991) PARA


PROJETOS CULTURAIS NO BRASIL

Paola Thais Oliveira do Nascimento

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, vivenciando grandes mudanças no âmbito social e político


no Brasil em que diversas áreas, entre elas a cultura e educação, foram afetadas
diretamente por cortes de recursos públicos. Nesse sentido, as ações de acesso e uso à
informação empreendidas por bibliotecários possuem grande importância, para que
as pessoas construam conhecimento, formem pensamento crítico para exercerem sua
cidadania e se mobilizem para ter acesso à educação de qualidade e aos diferentes
equipamentos culturais, como bibliotecas, teatros, centros de cultura, entre outros.

Diante disso, a Biblioteconomia traz uma nova percepção voltada para


a realidade do ambiente e o espaço onde está inserida, isto é, a necessidade que a
comunidade possui, trazendo à tona suas dificuldades e seu lado humano, que hoje
chamamos de Biblioteconomia Social (LINDEMANN, 2014).

Pensando nisso, diversas ações promovidas pelos bibliotecários podem ser


financiadas por inúmeros mecanismos, por exemplo, na área da cultura existem
mais de 300 leis de incentivo no país que podem beneficiar a comunidade. Kadletz
(2018) destaca que a Lei Rouanet (8.313/1991) é considerada a principal financiadora
de cultura no Brasil, sendo um importante mecanismo para prover recursos para
projetos culturais realizados na Biblioteconomia.

Dessa forma, este trabalho relata experiências de projetos viabilizados pela


Lei Rouanet (8.313/91) mostrando como eles contribuem para a formação de leitores
no Brasil. Para isso, retrata o importante papel do bibliotecário como um agente de
transformação social e também discute o uso da Lei Rouanet no Brasil em projetos
culturais.

2 PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO ATUAL

É evidente que o mercado de trabalho vem exigindo cada vez mais um perfil
diferenciado do bibliotecário, pois é na crise que surgem diversas oportunidades e
o profissional deve estar atento às mudanças e aproveitá-las. Para isso, é necessário
entender primeiramente o perfil profissional, que por sua vez, possuem características
que no dia a dia são essenciais para gestão dos ambientes de informação e atividades
a serem desenvolvidas pelos bibliotecários para fomento à cultura, leitura e criação
de conhecimento.

89
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

A função do bibliotecário compõe-se em “organizar, comandar, prever,


coordenar e controlar todas as atividades” (BARBALHO, SILVA, FREITAS, 2013, p. 8)
no seu ambiente de trabalho. Sendo assim, existem diversas características pessoais que
são primordiais para executar essas funções, dentre elas destaca-se o otimismo e a paixão
pelo que fazem, ou seja, ver o lado positivo da situação e realizar aquilo que motiva ir
trabalhar todos os dias, principalmente quando existem resultados que transformam a
vida de outros indivíduos conforme vamos ver no decorrer deste trabalho.

A partir dessa característica, as demais acabaram se tornando apenas


complementares, pois a determinação, dedicação, independência, liderança, dentre
outros, são aspectos que o profissional vai aprimorando.

Muitas atividades podem efetivadas nos ambientes de informação, gerando


impacto social e cultural na comunidade, porém é necessário planejamento e recursos
humanos/financeiros. No entanto, é possível perceber que grande parte da tentativa
de realização dessas ações não ocorre por falta de recursos para realização do mesmo
que será tratado a seguir.

3 CAPTAÇÃO DE RECURSOS VIA LEI ROUANET

Segundo Vergueiro (2016) diretor da Associação Brasileira de Captadores de


Recursos (ABCR), a captação de recursos nada mais é do que o processo desenvolvido
pelas organizações que ao identificar suas necessidades, visa buscar contribuições
voluntárias seja por meio financeiro ou por outros recursos, isso na teoria.

No entanto, na prática envolve um grupo seleto de pessoas engajadas com a


causa e que de forma criativa, ou seja, requer habilidades que possam além de trazer
doações promover a aproximação entre a organização e comunidade (VERGUEIRO,
2016).

Diante disso, os recursos oriundos de políticas públicas, como por exemplo


a Lei Rouanet, são de extrema importância para os espaços de informação quanto
para a própria localidade, uma vez que, para buscar este tipo de recurso é necessário
conhecer o ambiente de trabalho e seu interagente/leitor.

Contudo, ainda existem aqueles que divergem quanto a esse tipo de


instrumento de captação, devido ao “desvio” de recursos públicos para esses espaços
como também para outros projetos. Porém, esse modo de pensar é equivocado, pois
a Lei Rouanet é um mecanismo de fomento à cultura e promoção da leitura quando
se trata de educação. Sendo assim identificaremos como funciona esta ferramenta e
seu uso na prática.

Criada em 1991, a Lei 8.313/1991, mais conhecida como Lei Rouanet, tem
o objetivo de fomentar a cultura no país por meio da renúncia fiscal, ou seja, o
governo deixa de receber um valor para que ele seja aplicado no setor cultural onde
já movimentou cerca de 17 bilhões no Brasil (KADLETZ, 2018).

90
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

A partir dessa lei foi criado o Programa Nacional de Apoio à Cultura


(PRONAC), programa que visa captar e canalizar recursos para projetos incentivados
(BRASIL, 1991). Dentro deste programa, foi instituído três mecanismos de incentivo,
são eles:

a) Fundo Nacional de Cultura (FNC);


b) Fundos de Investimento Cultural e Artístico (FICART);
c) Incentivo a projetos Culturais.

O primeiro mecanismo trata dos editais que são abertos pelo Ministério da
Cultura no decorrer do ano letivo, podendo envolver diversas áreas do setor cultural,
inclusive as unidades de informação. Já o segundo mecanismo desde sua criação nunca
foi utilizado, ou melhor, não entrou em funcionamento. Por este motivo não sabemos
ao certo qual era realmente o objetivo do mesmo. Mas é do terceiro mecanismo que
estamos retratando neste artigo, pois o incentivo aos projetos culturais é por meio da
renúncia fiscal que atualmente vem sendo alvo de críticas pelo fato de desconhecer
o processo e consequentemente o resultado do uso dessa ferramenta de captação de
recursos.

Atualmente, a Lei Rouanet é regida pela Instrução Normativa 05/2017 que


estabelece procedimentos para apresentação, recebimento, análise, aprovação,
execução, acompanhamento e prestação de contas de propostas culturais (BRASIL,
2017), ou seja, é desse documento que é possível compreender o processo de
elaboração a prestação de contas do proponente.

Para facilitar melhor a compreensão, segue os requisitos necessários para


apresentação de uma proposta diante do Ministério da Cultura conforme a Instrução
Normativa 05/2017 (BRASIL, 2017). No anexo III da Instrução Normativa vigente,
destaca os documentos necessários tanto para pessoa física quanto para pessoa
jurídica como:

a) Cartão CNPJ contendo o CNAE de acordo com o produto principal da proposta,


ou seja, se no projeto constar que o produto principal será de apresentações de
teatro no Centro de Cultura, então essa entidade obrigatoriamente precisa ter em
seu cartão de CNPJ o CNAE que permita que essa ação possa ser realizada pela
entidade, neste caso o CNAE de produção teatral seria o mais adequado;
b) RG e CPF do proponente, no caso de pessoa jurídica, quem responderá pelos processos
legais será a pessoa de maior cargo (presidente, superintendente, diretor etc.);
c) Relatório de Atividades, ou seja, o currículo cultural da entidade ou da pessoa
física;
d) Certidões negativas;
e) Estatuto Social ou Contrato Social; e
f) Ata de eleição de posse da diretoria vigente.

Lembrando que, além desses documentos, existem outros específicos que


devemserapresentadosdeacordocomoprojetoproposto.Pararealizarocadastramento
da proposta, é necessário ter login e senha no Sistema de Apoio a Incentivo à Cultura

91
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

(SALIC), nele é possível realizar o cadastramento, acompanhamento e prestação de


contas do projeto, além de ser um portal de transparência para pesquisas de outros
projetos e também informações sobre os investidores.

Nesse sistema de cadastramento de propostas existem campos importantes


a serem preenchidos, como: nome do projeto, resumo do projeto, informações
complementares (período de execução e agência bancária), objetivo (Geral e
Específico), justificativa do projeto, medidas de acessibilidade, medidas de
democratização de acesso, etapas de trabalho (cronograma), ficha técnica, sinopse da
obra, especificações técnicas, orçamento do projeto.

Após a verificação dos documentos e cadastramento da proposta o projeto


está apto a ser enviado ao Ministério da Cultura passando para a próxima fase,
a avaliação do mesmo. Na fase inicial de avaliação a proposta poderá ter alguma
diligência (que no caso são as solicitações de documento ou informação que faltaram
na proposta), também é possível obter a aprovação preliminar ou o indeferimento
do mesmo. Em caso de diligência o prazo máximo para resposta é de 20 dias, para
indeferimento, é possível entrar com recurso, mas o prazo de retorno é de 10 dias.

Na aprovação preliminar, a proposta torna-se projeto e recebe um número


de identificação (PRONAC). Esta aprovação, terá sua publicação no Diário Oficial da
União (DOU), o proponente estará apto a captar recursos para o seu projeto, sendo
que ele deverá ter no mínimo 10% do valor total para dar continuidade no processo de
avaliação para aprovação final e mais 10% (ou seja, 20%) para executá-lo. Lembrando
que, como qualquer outra lei existe exceção.

Após captado esse valor, a proposta passa para uma avaliação de conteúdo
e de planilha orçamentária por meio de um parecerista e da Comissão Nacional
de Incentivo à Cultura (CNIC). Nesta etapa também poderá ocorrer diligências e o
indeferimento do mesmo. Por fim, caso não haja nenhum impedimento o projeto é
aprovado e está apto a iniciar suas atividades conforme o cronograma cadastrado e
verba captada. É importante destacar que Lei Rouanet não “dá o dinheiro”, mas sim
oportuniza que empresas ou pessoas físicas, que declaram seu imposto de renda no
modo completo, possam destinar parte do seu imposto nesses projetos culturais.

4 PROJETOS INCENTIVADOS EM UNIDADES DE INFORMAÇÃO

Ao pesquisar na Plataforma SALIC do Ministério da Cultura é possível


encontrar projetos apresentados e/ou executados em unidades de informação via
Lei Rouanet comprovando sua importância deles na comunidade. Neste sentido,
apresentaremos três projetos que tiveram financiamento por meio da Lei Rouanet.
Ressalta-se que todos os projetos citados, foram elaborados por instituições/empresas
que teve participação (em alguma etapa) do bibliotecário.

92
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

4.1 PROJETO: FINALIZAÇÃO DO CENTRO CULTURAL DE CONCÓRDIA (SC)

O projeto “Finalização do Centro Cultural Concórdia” sob número de PRONAC


145465, teve como finalidade realizar a aquisição de mobiliário e demais equipamentos
necessários no ano de 2015 no Centro Cultural Concórdia, gerenciada pela Fundação
Cultural de Concórdia. Neste espaço, está localizada a Biblioteca Pública Municipal
Júlio da Costa Neves, que por meio deste projeto também foi contemplada com todo
o mobiliário e equipamentos. O Centro de Cultura de Concórdia possui diversos
ambientes como museu, espaço para exposição, auditório com aproximadamente 120
lugares, sala de arquivo, sala da administração e o terraço aberto.

Este projeto teve sua planilha orçamentária aprovada no valor total de R$


637.702,57 reais, tendo captado o valor de R$ 632.540,52 reais, ou seja, com captação
de praticamente de 100%, sendo que apenas um incentivador investiu no projeto
por meio de três aportes financeiros durante dois anos. Além da estrutura física, a
biblioteca recebeu um novo e moderno espaço. Seu ambiente uma sala de audiovisual,
área de estudos coletiva e cabines individuais, cabines para consultas digitais, área de
leitura interna e externa e também a biblioteca infantil.

Com o projeto foi possível realizar a aquisição de acervo que atualmente conta
com aproximadamente 24 mil obras, dentre elas acervo em braile e áudio, aquisição
também do mobiliário que seriam as mesas, cadeiras, estantes, computadores dentre
outros materiais, sendo considerada a Biblioteca Municipal modelo no estado em
Santa Catarina. Sendo assim, teve seu projeto finalizado com envio da prestação de
contas em 2016, onde ainda aguarda a análise da mesma.

Atualmente, parte das atividades desenvolvidas pela biblioteca como oficinas


de produção literária, mediação de leitura, dentre outros são mantidos por meio de
um plano anual de atividades aprovado também pela Lei Rouanet. Vale destacar
que durante a execução até a prestação de contas houve efetivamente a participação
de bibliotecários no projeto. Contudo, o projeto permitiu à comunidade local acesso
a um equipamento cultural totalmente novo e gratuito, além de oferecer as pessoas
com mobilidade reduzida e pessoas com deficiência um ambiente confortável, pois
esse espaço cultural possui mapa tátil, escadas com corrimão, elevador, rampas, além
de ser composta com diversos acervos em braile/áudio.

4.2 PROJETO: CONSTRUÇÃO DO CENTRO DE CULTURA DE ENTRE RIOS


DO SUL/RS

Em 2009, foi aprovado o projeto intitulado “Centro de Cultura Entre Rios do


Sul” com o objetivo de criar um espaço público e gratuito para a comunidade local,
pois para os mais de 3 mil habitantes da região de Entre Rios do Sul, um equipamento
cultural desse porte mais próximo da comunidade ficava localizado a mais de 70km
de distância na cidade de Erechim/RS, o que dificultava o acesso à cultura.

93
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

Na época, Entre Rios do Sul era considerada a 2º cidade mais violenta do estado
do Rio Grande do Sul. O projeto da construção do Centro de Cultura foi aprovado
pelo Ministério da Cultura no valor de total de R$ 1.775.294,50 de reais tendo captado
R$ 1.601.000,00 reais de apenas um incentivador por meio de três aportes no ano de
2010. Com este valor, foi realizado a construção do primeiro Centro Cultural no Brasil,
totalmente viabilizado pela Lei Rouanet em municípios menos que 100 mil habitantes.

Conforme previsto no projeto arquitetônico, este equipamento cultural


conta com museu, biblioteca, espaço para exposições, espaço para inclusão digital e
auditório de cinema e teatro com capacidade para 150 pessoas. Pensando também na
sustentabilidade ambiental, o espaço possui placas solares instaladas com o intuito de
gerar energia limpa e economicidade para a instituição.

Sendo assim, após aproximadamente dois anos de obra, finalmente foi


inaugurado em 2011 o Centro Cultural de Entre Rios do Sul como também foi entregue
a prestação de contas do projeto. Atualmente, a instituição é administrada pela empresa
Bela Arte como proponente do projeto, que por sua vez é mantida com recursos
próprios como também por meio das leis de incentivo como a Lei Rouanet e o Fundo
da Infância e Adolescência (FIA).

Diante disso, após dois anos de funcionamento o município recebeu diversas


apresentações e oficinas de peças teatrais, musicais, de dança, além de workshop e
produções literárias. Com isso, o município saiu do ranking das cidades mais violentas
do estado. Por fim, é possível perceber a importância desse equipamento cultural
como um espaço de mudança, onde a cultura foi protagonista da transformação
social naquela região.

4.3 PROJETO: BOOK TRUCK – BIBLIOTECA ITINERANTE

Este projeto teve como proponente a empresa VR Serviços Culturais, do Rio


Grande do Sul, com o objetivo de “transformar um veículo (furgão) em uma biblioteca
itinerante que apresente de forma lúdica a importância da leitura e de manifestações
artísticas (VERSALIC, 2015). Obteve aprovação no ano de 2015 pelo Ministério da
Cultura com o orçamento total de R$ 636.922,00 mil reais, tendo captado o valor total
R$ 520.000,00 mil reais para execução do projeto que tem previsão de término em
meados de março de 2019.

Com esta verba, o veículo utilizado para o desenvolvimento do projeto,


consiste em disponibilizar cerca de 800 obras de literatura infanto-juvenil e adulta
gratuitamente em comunidades de difícil acesso, incluindo lar de idosos, abrigos,
escolas públicas até mesmo em espaços abertos nas regiões sul, sudeste e centro-oeste
do Brasil, onde aproximadamente 26 cidades serão contempladas pelo projeto. Como
medida de acessibilidade, o projeto conta com trinta obras em braille, prevendo
também a aquisição de cinquenta títulos de audiolivro para pessoas com deficiência
visual, como também uma rampa de acesso para pessoas com mobilidade reduzida.

94
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS E TÉCNICAS DE AQUISIÇÃO,

De acordo com o projeto passou por mais de vinte cidades atendendo um


público diversificado em regiões de comunidades em situação vulnerável de difícil
acesso à leitura e à cultura. Por fim, ressalta-se a importância do bibliotecário neste
projeto, pelo fato de que as atividades desenvolvidas (literária e cultural) estão sendo
realizadas por intermédio de bibliotecários.

5 BREVES CONSIDERAÇÕES

De acordo com o perfil atual do bibliotecário, é necessário que o profissional


entenda as novas demandas que estão surgindo e estejam aptos a exercer diversas
funções como agentes transformadores no ambiente em que vivem e atuam. Pensando
nisso, é importante entender melhor como funcionam os mecanismos de incentivo
para ter acesso à recursos financeiros para viabilizar os projetos sociais e culturais,
como é o caso da Lei Rouanet. Muitos desconhecem a Lei Rouanet e acreditam em
notícias falsas propagadas por tendenciosos meios de comunicação que objetivam
descaracterizar o real foco deste importante mecanismo de incentivo fiscal. Como
por exemplo, o fato de a Lei Rouanet “tirar dinheiro do governo”, porém a Lei não
realiza a distribuição deste valor, mas permite que uma pequena parte do imposto
de renda, tanto pessoa jurídica e pessoa física, seja destinada aos projetos aprovados
pelo Ministério da Cultura.

Dito isso, podemos então compreender que as unidades de informação e


ações realizadas por bibliotecários podem ser beneficiadas pela Lei Rouanet como
foi apresentado nos três projetos. A Biblioteca Pública Municipal Júlio da Costa
Neves que foi totalmente equipada com recursos da Lei Rouanet e que atualmente
parte das suas atividades é realizada com o mesmo recurso por meio de um plano
anual aprovado pelo Ministério da Cultura. Lembrando que no site da Lei Rouanet,
é possível identificar esses incentivadores por meio de filtros de acordo com a região,
ano, área cultural, tipo de projeto, entre outros.

Já no segundo projeto, a Construção de Centro de Cultura, numa região


com poucos habitantes (comparado as capitais), era inviável o deslocamento diário
para participar de atividades como oficinas culturais, cursos de capacitação, assistir
apresentações de música, teatro, dança, pois a cidade mais próxima para ter acesso
diretamente com a cultura era cerca de 70km, aproximadamente 2h de viagem. Com
a construção desse equipamento cultural, provou mais uma vez que a cultura pode
transformar uma comunidade, que neste caso, estatisticamente a cidade saiu do
ranking, como um dos municípios mais violentos do estado. Por último, o projeto
Book Truck - Biblioteca Itinerante que esteve presente em mais de vinte cidades em
diferentes regiões do país levando informação, cultura e leitura para comunidades
em situação vulnerável, seja na zona urbana ou rural, em praças, pátios de igrejas,
escolas ou mesmo nos rincões no interior das cidades.

Cátia Lindemann, bibliotecária ativista de Biblioteconomia Social e Presidente


da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais, uma das responsáveis pelas
atividades do projeto Book Truck cita em seu diário de bordo no seu perfil pessoal

95
UNIDADE 2 | ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

no Facebook algumas histórias incríveis de transformação por onde o projeto passou e


que só foi possível porque obteve recurso aprovado pela Lei Rouanet.

São histórias que fazem refletir como os bibliotecários, como agentes


transformadores, tem o poder de mediar a informação até o leitor e levar uma motivação,
esperança para aqueles que muitas vezes só querem ser ouvidos. Inspiremo-nos.
FONTE: NASCIMENTO, P. T. O. do. Captação de recursos via Lei Rouanet (8.333/1991) para projetos
culturais no Brasil. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 15, n. esp. FIEB, 2019.
Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1237/1115. Acesso em: 20 jul. 2019.

96
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A aquisição é uma das etapas que acontece após a seleção dentro do processo de
desenvolvimento de coleções e, neste sentido, compreende a compra, doação e
permuta/negociação de materiais informacionais.

• A determinação das normas de aquisição de materiais informacionais visa


disciplinar o processo de desenvolvimento de coleções – tanto qualitativamente
quanto quantitativamente – conforme a realidade de cada biblioteca, direcionando
o uso de forma racional dos recursos financeiros disponíveis.

• A aquisição ocorre por três modalidades: compra, permuta e doação.

• A decisão de compra deve ser entendida como uma decisão que é tomada pela
pessoa responsável ou pela comissão formada para fins de decisão sobre a
aquisição.

• Com os serviços automatizados, cadastros e arquivos de fornecedores com


dados das negociações realizadas são fáceis de serem elaborados e mantidos
por intermédio de ferramentas tecnológicas, como por exemplo, os softwares
de gerenciamento de bibliotecas, que permitem o acompanhamento das
atividades de aquisição dentro de seus módulos de registro.

• A aquisição envolve dois itens básicos: orçamento e alocação de recursos. Antes


da compra devem ser previamente definidos os recursos financeiros, para
permitir uma visão concreta do que se pode contar de recursos financeiros.

• A doação é a modalidade mais utilizada no Brasil para aquisição de materiais


informacionais em bibliotecas brasileiras e a modalidade compra se encontra
em último lugar na lista de atividades de aquisição.

• A participação através da doação de itens bibliográficos é uma das mais


importantes na relação entre biblioteca e comunidade.

• A doação e permuta exigem que os materiais oriundos destas modalidades


sejam analisados antes de serem incorporados ao acervo, para que não seja
criada uma coleção grande, mas sem ser de interesse da comunidade usuária.

• Parte da verba para aquisição de materiais precisa ser reservada para assinatura
de periódicos e bases de dados, compra de multimeios, assinaturas de bases de
dados, obras raras, entre outros.

97
• Outra modalidade aquisição via doação possível para bibliotecas – em especial, as
comunitárias – é a captação de recursos financeiros por intermédio de ferramentas
do crowfunding (financiamento coletivo) via internet que tem atingido bons
resultados.

• Outra forma de aquisição de materiais informacionais para as bibliotecas que


vem sendo implementada pela classe bibliotecária é a realização de projetos
de captação de recursos externos à instituição a qual a biblioteca encontra-se
vinculada, como por exemplo, a projetos via Lei Rouanet.

• Desbastamento é um processo pelo qual se exclui do acervo ativo, títulos e/


ou exemplares, partes de coleções, quer para remanejamento, descarte ou
conservação (restauração).

• Descarte é definido como o processo em que o material desatualizado ou


inadequado – após ser criteriosamente avaliado – é retirado ou não incluído na
coleção ativa.

• Entre os critérios para descarte estão: espaço físico, mudanças de campo


de interesse, material obsoleto, condições físicas dos materiais, níveis de
profundidade no tratamento do assunto, assunto, cobertura, recursos
alternativos, autoridade do autor e língua.

• É preciso ter atenção especial para itens clássicos, valiosos ou rasos quando se
está realizando o processo de descarte.

• A avaliação permitirá ao bibliotecário verificar se as etapas anteriores do


processo, do estudo de comunidade ao desbastamento, estão sendo realizadas
de forma coerente.

• Por intermédio da análise dos dados sobre o estado da arte da biblioteca é


possível identificar se foi bem-sucedida a etapa de seleção, se o material
adquirido realmente traz valor à comunidade de usuários, se o estado físico
dos materiais informacionais se encontra em boas condições, se há equilíbrio
entre as áreas cobertas pela biblioteca e o número de itens oferecidos para
atender à demanda.

• Para avaliação de materiais impressos deve-se atender aos seguintes critérios:


a) propósito; b) perfil; c) público-alvo; c) suporte físico; d) extensão; e) alcance;
f) idiomas; g) limite geográfico; h) dados; i) arranjo; j) autoridade; k) data; l)
acesso; m) encadernação/papel/capa/diagramação; n) forma de atualização; o)
características especiais.

• Para avaliação de obras em meio digital, os critérios sugeridos são: a)


informações de identificação do material; b) confiabilidade da informação;
c) adequação da fonte; d) links; e) facilidade de uso; f) layout da fonte; g)
restrições percebidas; h) suporte ao usuário; entre outras (TOMAEL et al., 2001
apud SPUDEIT; CORRÊA, 2017).

98
AUTOATIVIDADE

1 Conforme conteúdo estudado no Tópico 2, assinale a resposta que


corresponde às modalidades da aquisição:

a) ( ) Compra, permuta e doação.


b) ( ) Compra, empréstimo e doação.
c) ( ) Empréstimo, doação e licenciamento.
d) ( ) Compra, licenciamento e doação.
e) ( ) Licenciamento, compra e permuta.

2 Ao ler o Capítulo intitulado Elementos constituintes para uma aromateca: uma


projeção possível de Jorge Moisés Kroll do Prado, publicado no livro Gestão
de Coleções em unidades informacionais, foi possível estudar a formação e
o desenvolvimento da aromateca. Neste capítulo, são apresentados os itens
que serviram para a formação e desenvolvimento deste acervo de aromas,
baseados teoricamente em Corrêa (2013). Nesse sentido, identifique quais os
itens enfocados para a formação e desenvolvimento do referido acervo:

a) ( ) Foco na instituição, trabalho do bibliotecário responsável, seleção,


aquisição, avaliação.
b) ( ) Foco na comunidade, trabalho coletivo e cooperativo, seleção, aquisição
e avaliação.
c) ( ) Foco na biblioteca, trabalho colaborativo, seleção, aquisição e avaliação.
d) ( ) Foco na comunidade, trabalho coletivo, planejamento, seleção, aquisição
e avaliação.
e) ( ) Foco na biblioteca, trabalho do bibliotecário, planejamento, seleção,
aquisição e avaliação.

3 Conforme o tópico estudado, a aquisição engloba dois processos básicos.


Marque a resposta que se refere aos processos abordados no texto.

a) ( ) Orçamento institucional e orçamento da biblioteca.


b) ( ) Recursos humanos e financeiros.
c) ( ) Objetivo institucional e planejamento de coleções.
d) ( ) Recursos financeiros e expansão de espaço físico.
f) ( ) Orçamento e alocação de recursos.

4 A modalidade mais utilizada de aquisição de materiais em bibliotecas


públicas, conforme Corrêa (2016) é:

a) ( ) Compra.
b) ( ) Licenciamento.
c) ( ) Doação.
d) ( ) Empréstimo.
e) ( ) Permuta.

99
5 Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) com relação às afirmações a seguir:

a) ( ) Muitas doações realizadas para bibliotecas contêm materiais que não


são adequados ao acervo devido a estarem em más condições físicas ou
desatualizados.
b) ( ) Uma parte da verba destinada à aquisição de materiais deve ser reservada
para assinatura de periódicos e bases de dados, compra de multimeios,
assinaturas de bases de dados, obras raras, entre outros.
c) ( ) Desbaste é a mesma coisa que o descarte.
d) ( ) Descarte é um processo pelo qual se exclui do acervo ativo, títulos e/ou
exemplares, partes de coleções, quer para remanejamento, descarte ou
conservação (restauração).
e) ( ) Descarte é definido como o processo onde o material desatualizado
ou inadequado – após ser criteriosamente avaliado – é retirado ou não
incluído na coleção ativa.
f) ( ) A avaliação permitirá ao bibliotecário verificar se as etapas anteriores
do processo, do estudo de comunidade ao desbastamento, estão sendo
realizadas de forma coerente.
g) ( ) Existem critérios para avaliação de materiais impressos e materiais digitais.
h) ( ) Para avaliar materiais impressos, os critérios são: a) informações de
identificação do material; b) confiabilidade da informação; c) adequação
da fonte; d) links; e) facilidade de uso; f) layout da fonte; g) restrições
percebidas; h) suporte ao usuário.
i) ( ) Para avaliar materiais impressos, os critérios são: a) propósito; b) perfil;
c) público-alvo; c) suporte físico; d) extensão; e) alcance; f) idiomas; g)
limite geográfico; h) dados; i) arranjo; j) autoridade; k) data; l) acesso;
m) encadernação/papel/capa/diagramação; n) forma de atualização; o)
características especiais.

6 Realize a pesquisa junto a sua universidade ou uma instituição de ensino


superior de sua escolha e verifique como se encontra estabelecida a Política
de Desenvolvimento de Coleções da Biblioteca e descreva quais os itens são
apresentados de acordo com este tópico: seleção, desbastamento, descarte e
avaliação.

7 Conforme estudado no Tópico 2, justifique a importância da análise dos


dados de uma biblioteca.

100
UNIDADE 3

TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO


E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a importância do estudo sobre acesso aberto à informação


científica;

• conhecer o debate sobre os direitos autorais;

• relacionar os temas acesso aberto e direitos autorais na prática da profissão


de biblioteconomia;

• conhecer as especificidades nos processos de formação de coleções digitais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – MOVIMENTO ACESSO ABERTO E SUAS RELAÇÕES NAS


ATIVIDADES DE BIBLIOTECONOMIA

TÓPICO 2 – DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

101
102
UNIDADE 3
TÓPICO 1

MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS


RELAÇÕES NAS ATIVIDADES DE
BIBLIOTECONOMIA

1 INTRODUÇÃO

Nesta última unidade do livro didático, abordaremos o que conhecemos


como “Tópicos especiais”, ou seja, temas que, embora não falem diretamente sobre
formação e desenvolvimento de coleções, são necessários para a problematização
dos processos que permeiam o tema na sociedade contemporânea. Dois assuntos
principais serão apresentados e problematizados, são eles:

FIGURA 1 – COPYRIGHT

FONTE: <http://bit.ly/2MvRPd8>. Acesso em: 10 set. 2019.

FIGURA 2 – ACESSO ABERTO

FONTE: <http://bit.ly/2IDOyqY>. Acesso em: 10 set. 2019.

Tais temas podem ser encarados de formas diferentes no âmbito da ciência,


por isso, precisamos debatê-los criticamente, para entender todos os contextos que
influenciam esse processo, buscando reflexões sobre a posição dos profissionais de
biblioteconomia.

Observamos que o debate aqui proposto foi um dos nossos objetos de pesquisa
por mais de quatro anos, tendo seu início nos estudos de mestrado na pós-graduação

103
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

em Ciência da Informação da UNESP. Foi neste contexto que conheci o professor


do Reino Unido, Alan Story, que veio ao Brasil em 2009, ministrando, juntamente
com a professora Nanci Odone a disciplina “Tópicos Especiais – Infopolítica: Tópicos
Contemporâneos sobre Propriedade Intelectual & Direito Autoral e sua Aplicação no
Contexto das Tecnologias Eletrônicas de Informação e Comunicação”. Story também
participou da 3ª Conferência Internacional sobre Direito Autoral, realizada no Brasil
com o apoio do IBICT, em 2010.

TUROS
ESTUDOS FU

Na oportunidade nos foi apresentado o “Dossiê CopySouth (Sul global):


Problemas económicos, políticos e ideológicos del copyright”, que apresentaremos com
mais detalhes no Tópico 2.

Após o final do mestrado, já nos preparando em disciplina isolada na UFSC


para o doutorado, vimos que os assuntos que permeavam o tema direitos autorais,
se relacionavam com o debate sobre Acesso Aberto. Assim, em 2014, já em parceria
com a professora Márcia Kroeff da UDESC, aprofundamos o assunto elaborando
um artigo de revisão que relacionava os dois temas, e o apresentamos no Seminário
Nacional de Bibliotecas Universitárias – SNBU, intitulado “Acesso aberto e direitos
autorais: desafios para os profissionais da informação” (MATTOS; KROEFF, 2014).
Tal artigo foi premiado como melhor apresentação do evento o que nos instigou a
transformá-lo em projeto de pesquisa.

DICAS

Após quatro anos, em 2018, os resultados dessa pesquisa foram publicados na


Revista Biblos: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação, tal artigo é base
desta unidade e indicamos como leitura:

KROEFF, M. et al. Bibliotecários, direitos autorais e acesso aberto: estudo sobre as


influências na prática profissional em SC. Biblos: Revista do Instituto de Ciências
Humanas e da Informação, v. 32, n. 1, p. 71-150, jan./jun. 2018. Disponível em:
https://periodicos.furg.br/biblos/article/viewFile/7928/5454. Acesso em: 8 set. 2019.

Deste modo, ao retomarmos tais temas nesta disciplina, nossa perspectiva


é remeter você à existência de conflitos entre os direitos autorais e acesso aberto ao

104
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

conhecimento, à informação e à cultura, todos direitos fundamentais previstos na


Constituição Brasileira.

Nesta unidade, também se pretende pontuar e debater algumas questões que


afetam diretamente a vida profissional dos bibliotecários e cientistas da informação,
principalmente na formação e desenvolvimento de coleções digitais.

Buscaremos instigar a reflexão de alternativas para o cumprimento da missão


do profissional de biblioteconomia, ou seja, a mediação da informação através da
organização e disseminação desta para toda a sociedade.

Observamos que assuntos como Acesso Aberto e Direitos Autorais são


contemporâneos e ambos influenciam diretamente os profissionais da informação.
Neste sentido, é perceptível a necessidade de aprofundamento do assunto,
principalmente no que se refere aos impactos e consequências de leis e acordos
institucionalizados na atuação dos profissionais da informação, com ênfase nos
bibliotecários.

2 ACESSO ABERTO: LUTA ENTRE DAVI E GOLIAS


O conhecimento produzido pela humanidade tem sido o sonho de diversos
homens em diversas épocas. Sendo as organizações sociais aquelas que primeiro
se ocuparam com a inclusão pelo conhecimento (BARRETO, 2012 apud MATTOS;
KROEFF, 2014).

Não concebemos o acesso livre da produção intelectual e científica, meramente


como sonho idealista, mas, sim, como um objetivo concreto que procura harmonizar
as necessidades de um sistema de comunicação economicamente sustentável com as
necessidades intelectuais.

E
IMPORTANT

Para Guédon (2004), o Acesso Aberto é um modelo que representa um sistema


de distribuição de inteligências, ou seja, uma forma de dizer como é possível fazer o melhor
uso de todas as mentes do mundo.

Em tempos de internet e de grandes novidades tecnológicas, estamos vivendo


constantemente transformações nas relações sociais, com destaque para a comunicação
e produção de conhecimento. Esse conhecimento, socialmente produzido, tem uma
dinâmica científica que, por sua vez, alimenta todo um sistema. Todavia, ao mesmo
tempo, esse processo tem tornado a informação em mercadoria, gerando grandes
lucros para algumas empresas que muitas vezes monopolizam o acesso.
105
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

É neste sentido, que Mattos e Kroeff (2014) fazem referência à luta entre Davi
e Golias, tratando-se de uma analogia à luta daqueles que defendem o acesso aberto,
reforçando que é possível sim, construir alternativas que alterem o status quo do
conhecimento científico.

FIGURA 3 – DAVI E GOLIAS

FONTE: <http://bit.ly/2OG7BVs>. Acesso em: 10 set. 2019.

Você conhece o conto bíblico da luta entre Davi e Golias?

[...] Mas, todos os israelitas estavam com medo de Golias, porque era
muito grande. Tinha uns 3 metros de altura, e tinha outro soldado para
carregar-lhe o escudo. Alguns soldados foram contar ao Rei Saul que
Davi queria lutar contra Golias. Mas, Saul disse a Davi: ‘Não pode lutar
contra este filisteu. Você é apenas rapaz, e ele foi toda a vida soldado [...].
Então, Davi correu para Golias. Tirou uma pedra da bolsa, colocou-a na
funda e atirou-a com toda a força. A pedra atingiu Golias bem na cabeça,
e ele caiu morto! (A BÍBLIA, 2013, 1 SAMUEL 17:1-54).

3 ENTENDA O QUE É O MOVIMENTO ACESSO ABERTO

E
IMPORTANT

O acesso aberto representa a disponibilização livre e irrestrita das publicações


científicas, em texto completo, por meio da internet (COSTA; LEITE, 2016).

O movimento do Acesso Aberto (Open Access) surge com a iniciativa da


comunidade científica para defender o livre acesso às informações científicas por meio
da produção, publicação, divulgação e preservação através dos meios eletrônicos. Seu

106
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

objetivo principal é o favorecimento do leitor ao acesso dos conteúdos científicos sem


custo e sem restrições de uso, além de proporcionar maior visibilidade à pesquisa
científica (RIOS; LUCAS; SOARES, 2019).

Compreender as principais iniciativas para promoção do Acesso Aberto


dos periódicos é importante para a democratização do conhecimento e do acesso à
informação científica. No quadro a seguir, você pode analisar os principais teóricos
dos estudos sobre Acesso Aberto na ciência.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS AUTORES QUE DEBATEM O TEMA “ACESSO ABERTO”

PRINCIPAIS AUTORES INTERNACIONAIS


Professor na Universidade de Stanford e autor dos
Peter Suber
textos mais citados no tema.
Professor da Universidade de Montreal, que
Jean-Claude Guédon
analisa os aspectos sociológicos da iniciativa.
Stevan Harnad Universidade de Southampton.
Autor do Public Knowledge Project, que originou
John Willinsky
o Open Journal Systems (OJS).
PRINCIPAIS AUTORES INTERNACIONAIS
Hélio Kuramoto Universidade Federal de Minas Gerais.
Pesquisador da Comissão Nacional de Energia
Luis Fernando Sayão
Nuclear.
Fernando César Lima Professor da Universidade de Brasília.
Leite
FONTE: Adaptado de Rios, Lucas e Soares (2019)

O debate sobre Acesso Aberto tem como foco principal a comunicação científica,
que, para Meadows (1999) é o coração da ciência, sendo tão vital quanto à própria
investigação científica. Isso porque transforma uma pesquisa em novas pesquisas e
mais conhecimento social produzido. Seus conteúdos são divulgados por meio dos
artigos de revistas, também chamados de periódicos, e comunicações de eventos,
relatórios de pesquisa, anais de congressos, teses, dissertações, livros, entre outros.

Antes mesmo do movimento de Acesso Aberto se fortalecer, já era possível


ver iniciativas que já tinham como objetivo o acesso irrestrito. Como foi o caso do
projeto Gutenberg:

107
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

UNI

PROJETO GUTENBERG

Fundado em 1971, foi um esforço voluntário para digitalizar, arquivar e distribuir obras
culturais através da digitalização de livros, sendo a mais antiga biblioteca digital. A maioria
dos itens no seu acervo são textos completos de livros em domínio público.

O projeto tenta torná-los tão livres quanto possível, em formatos duradouros e abertos, que
possam ser usados em praticamente quaisquer computadores.

FONTE: <http://bit.ly/31kuOPB>. Acesso em: 10 set. 2019.

As revistas ou periódicos científicos estão entre os que possuem maior


visibilidade e são os maiores disseminadores dos avanços científicos. As revistas
científicas surgem com a finalidade de fazer intercâmbio de informações, relato de
experiências, e se tornam o principal canal de comunicação de informação entre os
cientistas (RIOS; LUCAS; SOARES, 2019).

A quase monopolização desses periódicos científicos foram principais


motivadores para a reação da comunidade acadêmica em prol do Acesso Aberto. E o
debate criou maiores proporções com os diferenciais proporcionados no contexto do
surgimento dos periódicos científicos eletrônicos.

Em 2005, uma análise de 123 bibliotecas filiadas à Association of Research


Libraries, dos Estados Unidos, mostrou que os gastos com aquisição de periódicos,
entre 1986 e 2004, subiram 273%. A crise forçou a busca por alternativas ao tradicional
processo de divulgação de resultados de pesquisas e engendrou a entrada da internet
no sistema de comunicação científica (ARAÚJO, 2012).

108
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

Essa crise foi propulsora para boicotes das gigantes como a Elsevier, maior
editora de periódicos científicos do mundo. Timothy Gower, citado por Araújo (2012),
foi um dos matemáticos mais conceituados e atualmente professor da universidade
de Cambridge, na Inglaterra, também foi um dos articuladores que ganhou destaque
enumerando duas principais razões:

FIGURA 4 – RAZÕES PARA A CRISE DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

FONTE: Adaptado de Araújo (2012)

Gower revela que a Elsevier apoiava projetos de leis americanas que


pretendiam eliminar a divulgação on-line e gratuita de pesquisas financiadas
pelo governo americano, ou seja, com dinheiro público. Kämpf (2012) afirma que
as considerações de Gower cruzaram o Atlântico em tempo real e resultou, no dia
seguinte, na criação do manifesto The cost of knowledge, elaborado pelo matemático
Tyler Neylon, e assinado por mais de 12 mil pesquisadores ao redor do mundo. Essa
ação fez com que, em 27 fevereiro, a Elsevier retirasse seu apoio publicamente, assim
como fizeram os próprios autores do projeto de lei.

Segundo Rios, Lucas e Soares (2019, p. 151): “enquanto na América do Norte


e Europa, a necessidade de Acesso Aberto surge por causa dos valores exorbitantes
cobrados no acesso aos artigos, na América Latina a questão é motivada pela falta de
publicação científica no idioma local”. Além da cobrança que inviabilizava o acesso de
países pobres e emergentes aos conteúdos essenciais à produção científica. Segundo
as autoras, no fim do século XX, o aumento abusivo dos preços de assinaturas de
periódicos científicos originou a chamada “Crise dos Periódicos”.

Entretanto, voltemos um pouco, e vejamos alguns documentos base que


podem melhor explicitar a história do surgimento do movimento de Acesso Aberto:

109
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Declaração de Santo Domingo (1999): ressaltava a perspectiva de que a


ciência deve estar disponível para todos e, que, para tanto, é necessário aumentar
a capacidade de infraestrutura de tecnologias de informação e comunicação da
ciência, de forma que estejam acessíveis para a sociedade

FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000112.pdf>. Acesso em:


10 set. 2019.

Declaração sobre a ciência e o uso do conhecimento científico (1999):


serve como diretriz e instrumento de ação para atingir as metas propostas na
declaração, entre elas, a necessidade de compartilhar a informação científica
e o conhecimento. Esse documento apresenta considerações feitas pelos
participantes, ressaltando como a revolução da informação e da comunicação
oferecem meios mais eficientes de intercâmbio do conhecimento científico.
Menciona a importância do amplo acesso à informação financiada com dinheiro
público para a pesquisa científica e a educação, e salienta a importância do
compromisso de todos os cientistas em manterem altos padrões éticos, de
integridade científica e de controle de qualidade, além de compartilharem os
seus conhecimentos com o público.

FONTE: <http://livros01.livrosgratis.com.br/ue000111.pdf>. Acesso em: 10 set.


2019.

O mais citado entre documentos que representam o movimento de Acesso


Aberto é o manifesto de Budapeste (2002), foi nele que a expressão open access foi
utilizada pela primeira vez, para o propósito atual. Budapest Open Access Initiative que
tem a sigla BOAI, foi o evento considerado um marco para a discussão do Acesso
Aberto. Segundo seu documento norteador, para obter acesso aberto à literatura de
periódicos acadêmicos, foram recomendadas duas estratégias complementares:

FIGURA 5 – ESTRATÉGIAS DE ACESSO ABERTO

Criação de revistas
de acesso aberto

Autoarquivamento

FONTE: A autora

110
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

DICAS

Leia, na íntegra, o documento da Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste:


https://www.budapestopenaccessinitiative.org/read.

Como podemos observar, o principal objetivo do movimento de Acesso


Aberto é o fomento ao acesso, a leitura e obtenção de conhecimento para todos. Para
isso, o diálogo entre cientistas de maneira mais rápida e eficaz e livre, se faz necessário.

O uso do Acesso Aberto em publicações científicas é de extrema importância


para tornar a ciência acessível a todos e estimular o debate entre cientistas. Quando
falamos de periódicos, que são os principais instrumentos de comunicação cientifica
hoje, precisamos compreender que, quanto mais empecilhos são colocados no seu
acesso, mais restrito é seu diálogo em torno da promoção da ciência.

E
IMPORTANT

Open Journal Systems (OJS) é uma plataforma de Acesso Aberto para periódicos
científicos criado pela Public Knowledge Project (PKP) da University of British Columbia.
Trata-se de um software criado para elaborar e administrar a publicação de periódicos
eletrônicos e automatizar a editoração. Sua versão traduzida e customizada foi desenvolvida
em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), e vem
sendo amplamente utilizada no Brasil.
FIGURA 6 – REVISTA NA PLATAFORMA SEER

FONTE: <http://www.seer.ufal.br/index.php/cir/index>. Acesso em: 10 set. 2019.

111
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

3.1 VOLTANDO UM POUCO A HISTÓRIA


Ao longo da história, é reafirmada a importância da troca de informações
entre os pesquisadores que, de forma oral ou através de correspondências, relatavam
suas pesquisas à sociedade e a outros pesquisadores. Dessa forma, essas podiam
ser testadas e aperfeiçoadas por outros interessados, realimentando o processo de
pesquisa e gerando novos conhecimentos. Com o desenvolvimento do que se chamou
de “método científico”, em meados do século XVII, esses processos acentuaram-se,
surgindo no fim do mesmo século os primeiros periódicos científicos: Le Journal des
Savants, em Paris, e o Philosophical Transactions of the Royal Society, em Londres.

Criada em 1603, a Academia de Lince (Accademia de Lincei) foi a pioneira. “A


meta das primeiras academias era o de possibilitar a qualquer pessoa do povo saber
o que era ciência e como eram feitas as descobertas científicas [...] em suas reuniões o
que se praticava geralmente eram as realizações de experimentos para que os leigos
as vissem” (BARRETO, 2012, p. 17).

Formava-se, assim, a consciência da importância da troca de informações entre


os pesquisadores que, de forma oral ou por meio de correspondências, relatavam
suas pesquisas a outros estudiosos e à sociedade. As experiências relatadas podiam
ser testadas e aperfeiçoadas por outros interessados, realimentando o processo de
pesquisa e gerando novos conhecimentos científicos.

FIGURA 7 – TROCA DE INFORMAÇÕES ENTRE OS PESQUISADORES

FONTE: <http://bit.ly/32nln39>. Acesso em: 10 set. 2019.

Com o passar dos séculos, por conta da evolução tecnológica, o fluxo


informacional sofreu modificações ao passar do meio impresso para o digital, se
ampliando com o acesso à internet. No âmbito científico, o aparecimento de revistas
eletrônicas impulsionou o acesso à informação, que antes passava por um longo
período até ser impresso e chegar às mãos dos pesquisadores. Meadows (1999)
112
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

afirma que, por conta disso, a quantidade de informação em circulação se amplia,


bem como sua forma de apresentação.

Hoje, as revistas científicas passam por um processo rígido de avaliação,


sendo pontuadas conforme os critérios adotados e suas especificidades. Quanto
melhor conceituada, maior prestígio tem quem consegue nela publicar.

FIGURA 8 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/2Bn87j7>. Acesso em: 10 set. 2019.

Para Guedon (2001) a propriedade intelectual surgiu com intuito de proteger


o comércio dos textos impressos contra a imitação e a pirataria, que se equiparava a
propriedade exclusiva e perpétua concedida para a terra. Segundo o autor, o direito
autoral surgiu inicialmente como uma recompensa e proteção temporária concedida
pela República ao cidadão, contrariando princípios norteadores do conhecimento
científico, como a democratização do saber. Ao relacionar a disseminação do
conhecimento científico com os conceitos iniciais de propriedade intelectual, esse
processo foi descaracterizado, comprometendo essa democratização. Com o avanço
das tecnologias digitais, novos debates surgiram e novas sanções do comércio de
revistas científicas passaram a restringir seu acesso.

Segundo o autor, nos últimos 50 anos, os editores conseguiram transformar


revistas acadêmicas tradicionais em um empreendimento editorial promissor,
“um grande negócio com altas taxas de lucros”. Neste sentido, Guedon (2001)
apresenta algumas questões que nos fazem refletir:

• Qual é a base real por trás dessa capacidade surpreendente?


• Para benefício de quem?
• Quais são as fases de transição que podemos esperar?
• Qual é a fonte de seu poder? Como pode ser subvertido?

113
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Para Sayão (2010) também há muitas perguntas que ainda devem ser
respondidas. Isso porque a definição de um modelo é ameaçada por incertezas que
tornam o desenvolvimento de estratégias de arquivamento extremamente difíceis.
Algumas questões que estão em pauta são sob a perspectiva da biblioteca, entre elas:

Quais são os direitos de acesso permanente ao material já pago,


principalmente quando a biblioteca suspende a assinatura do periódico?
O que acontece quando o editor retira um trabalho eletrônico do acesso
on-line, ou se afasta do negócio, ou torna, por outro motivo qualquer, o
acesso inviável?
Quem vai assegurar que os arquivos vão manter a sua usabilidade?
E quem vai pagar por isso? (SAYÃO, 2010, p. 9).

Questionamentos como os de Guedon e Sayão impulsionam o debate sobre


o movimento de Acesso Aberto (Open Access, em inglês). O encarecimento das
assinaturas dos periódicos e a dificuldade das bibliotecas em adquiri-las reforçam o
movimento (MATTOS; KROEFF, 2014).

Segundo Abadal et al. (2010) apud Rodrigues e Oliveira (2012), na América e em


alguns países do sul da Europa as motivações do apoio ao Acesso Aberto são similares
e diferindo em parte do Canadá e Estados Unidos, pois ganham especificidades
como: publicações em outras línguas que não o inglês, à falta de periódicos, por não
terem indústria editorial forte e tendem a investir menor porcentagem do PIB em
pesquisas.

Nesse contexto, passam a questionar o formato e o lucro das grandes


empresas, indicar e promover modelos alternativos para comunicação científica, como
repositórios digitais, fazendo frente às dificuldades mencionadas. Esses modelos
alternativos desencadearam a mudança do sistema tradicional de comunicação
científica. Esse debate ganhou força também por parte de certas iniciativas dos
governos para intervir em favor do acesso aberto e publicação paralela de artigos
publicados em periódicos baseados em assinatura (MATTOS; KROEFF, 2014).

Entre essas iniciativas está o portal de periódicos da Capes, um instrumento


de política pública brasileira para subsidiar o acesso ao conhecimento científico.
Este foi criado em 2000, no âmbito do Programa de Apoio à Aquisição de
Periódicos Eletrônicos (PAAP), e gerido pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes). O Portal se constitui hoje em um dos
maiores acervos mundiais nesse setor e é atualmente o principal mecanismo para
o apoio bibliográfico às atividades de pesquisa no Brasil (CAPES, 2010).

FIGURA 9 – CAPES

FONTE: <http://bit.ly/2VMnScZ>. Acesso em: 10 set. 2019.

114
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

Neste sentido, reforçamos a importância em disponibilizar a produção


científica abertamente e sem restrições, sendo que uma das tarefas atuais é o
convencimento aos autores e editores dos principais periódicos da área em usar
ferramentas de Acesso Aberto. Sendo a participação do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) de grande importância no apoio à
disseminação do uso de arquivos/repositórios de Acesso Aberto.

Segundo Rodrigues e Oliveira (2012), ao mesmo tempo em que tem


aumentado o número de títulos de periódicos, têm crescido também, principalmente
na última década, estudos sobre periódicos digitais. Gerando um debate sobre a via
verde (depósito de artigos já publicados em periódicos, em repositórios temáticos ou
institucionais) e a Via dourada (periódicos em Acesso Aberto), dando origem a novos
modelos de publicação. Veja na ilustração a seguir, os diferentes tipos de acesso a
artigos científicos.

FIGURA 10 – TIPOS DE ACESSO ABERTO

FONTE: <http://bit.ly/2VQYeE6>. Acesso em: 10 set. 2019.

Porém, Brown (2010 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2012) ressaltam que


esse debate que tem sido aquecido pela paixão, provém de contextos diferenciados,
demandando, assim, estudos que sejam baseados em evidências. Já para Bjork (2007),
são muitos os argumentos a favor e contra o Acesso Aberto:

115
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

• Alguns afirmam que é moralmente errado, grandes editoras terem o monopólio


do acesso, obtendo lucros excessivos, sendo que a produção foi – na sua maioria
– financiada pelos governos.
• Outros defendem que os lucros sejam utilizados para apoiar as sociedades
científicas e a utilização das receitas para apoiar outras revistas.
• Já os professores pesquisadores estão preocupados com o aumento de seus
custos no modelo de autor-pagador.

Segundo Bjork (2007), embora uma série de estudos empíricos sobre os


efeitos econômicos de Acesso Aberto tenham sido realizados, é difícil comparar os
resultados de tais estudos, uma vez que são muitas vezes medidos os diferentes
aspectos do processo global. Assim, o autor defende a necessidade de estruturar
modelos de processo de comunicação científica em geral, que pode ser usado como
uma base para comparação e integração dos resultados de diferentes estudos.

Considerando a Ciência da Informação como via estratégica para a


disseminação e aquisição coletiva e/ou individual de conhecimento, os profissionais
da informação devem decidir se prosseguirão defendendo a priorização às
necessidades informacionais de seus usuários ou se cederão à mercantilização da
informação e da cultura.

Corroborando-se com Rodrigues e Oliveira (2012, p. 6) que os “periódicos


científicos de Acesso Aberto beneficiam a sociedade como um todo, eliminando as
barreiras de preço dos periódicos aos leitores e tornando a comunicação entre os
pesquisadores mais rápida”.

Acreditamos que a primeira opção é a correta. E, neste sentido, cabe também


aos profissionais da informação buscarem ampliar a participação da sociedade civil
organizada, instituições de ensino e pesquisa, sociedades científicas, editores científicos
e das agências de fomento. Espaços que possam contribuir para aperfeiçoamento
do sistema de Acesso Aberto, bem como defender mecanismos de controle social e
transparência sobre as políticas públicas ligadas a tais temas (MATTOS; KROEFT, 2014).

DICAS

Acadêmico, leia sobre a Ciência aberta para todos (Open Access de 2020), na íntegra,
em: https://nossaciencia.com.br/colunas/a-ciencia-aberta-para-todos-open-access-2020/.

116
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

4 ACESSO ABERTO NA AMÉRICA LATINA


Para Costa e Leite (2016), na América Latina, discussões e sistemas já
haviam sido criados em torno da questão antes mesmo da BOAI, como exposto
anteriormente. No período pós-BOAI, a iniciativa que se mostra de maior peso
para as ações em prol do Acesso Aberto é o Manifesto Brasileiro de Apoio ao
Acesso Livre à Informação Científica.

FIGURA 11 – MANIFESTO BRASILEIRO DE APOIO AO ACESSO LIVRE À INFORMAÇÃO


CIENTÍFICA

FONTE: <http://livroaberto.ibict.br/Manifesto.pdf>. Acesso em: 11 set. 2019.

O manifesto foi lançado em 2005 pelo Instituto Brasileiro de Informação em


Ciência e Tecnologia (IBICT). No manifesto são utilizados os termos da Declaração
de Berlim, referentes às formas de publicação e às condições para o Acesso Aberto.
O manifesto destaca a necessidade da participação das instituições acadêmicas,
pesquisadores, agências de fomento, editoras comerciais e não comerciais. Após
citarem as ações que devem ser tomadas por cada um destes atores, o manifesto
finaliza apontando para a importância da criação de uma política nacional que
garanta o cumprimento dessas ações (COSTA; LEITE, 2016).

Também em 2005 foi publicada a Declaração de Salvador sobre o Acesso Aberto: a


perspectiva dos países em desenvolvimento, elaborada pelos participantes do International
Seminar on Open Access, tal documento ressaltava a expectativa sobre o aumento do
Acesso Aberto nos países em desenvolvimento e, decorrente disso, a capacidade por
parte dos pesquisadores de acesso à literatura e à ciência como um todo (COSTA;
LEITE, 2016).

117
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

FIGURA 12 – DECLARAÇÃO DE SALVADOR

FONTE: <http://bit.ly/2MozIqN>. Acesso em: 11 set. 2019.

Na Declaração de Salvador, sobre o Acesso Aberto, são apontadas várias


reivindicações dos signatários para as políticas científicas:

Consequentemente, NÓS, os participantes do International Seminar on


Open Access – evento paralelo do 9º Congresso Mundial de Informação em
Saúde e Bibliotecas e 7º Congresso Regional de Informação em Ciências da
Saúde, concordamos que:

1. A pesquisa científica e tecnológica é essencial para o desenvolvimento


social e econômico.
2. A comunicação científica é parte crucial e inerente das atividades de
pesquisa e desenvolvimento. A ciência se desenvolve de forma mais
eficaz quando há acesso irrestrito à informação científica.
3. Em uma perspectiva mais ampla, o Acesso Aberto favorece a educação e
o uso da informação científica pelo público.
4. Em um mundo crescentemente globalizado, no qual a ciência proclama ser
universal, a exclusão do acesso à informação é inaceitável. É importante
que o acesso seja considerado um direito universal, independentemente
de qualquer região geográfica.
5. O Acesso Aberto deve facilitar a participação ativa dos países em
desenvolvimento no intercâmbio mundial de informação científica,
incluindo o acesso gratuito ao patrimônio do conhecimento científico,
a participação efetiva no processo de geração e disseminação do
conhecimento, e a ampliação da cobertura de temas de relevância para os
países em desenvolvimento.
6. Os países em desenvolvimento são pioneiros em iniciativas de Acesso
Aberto e, portanto, desempenham função essencial na configuração do
cenário de Acesso Aberto em âmbito mundial.

118
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

Portanto, instamos que os governos deem alta prioridade ao Acesso


Aberto nas políticas científicas incluindo:

• A exigência de que a pesquisa financiada com recursos públicos seja


disponibilizada através de Acesso Aberto.
• A inclusão do custo da publicação como parte do custo de pesquisa.
• O fortalecimento dos periódicos nacionais de Acesso Aberto, de
repositórios e de outras iniciativas pertinentes.
• A promoção da integração da informação científica dos países em
desenvolvimento no escopo mundial do conhecimento.

Conclamamos a todos os parceiros da comunidade internacional


para conjuntamente assegurar que a informação científica seja de livre
acesso e disponível para todos e para sempre.

Salvador, Bahia, Brasil, 23 setembro 2005

FONTE: SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE (2015)

Também em 2005, foi publicada a Carta de São Paulo, que é uma manifestação
de apoio ao Manifesto de Acesso Aberto (MAA). A Carta apresenta argumentos que
sustentam a proposta do Acesso Aberto, dentre os quais a ideia de que o acesso à
literatura científica é essencial para o próprio avanço científico e social. Para que o
acesso seja de fato garantido, é apontado um conjunto de dezesseis recomendações
que devem ser consideradas, entre as quais constam as estratégias propostas pela
BOAI e seus desdobramentos.

Outro documento citado por Costa e Leite (2016) foi a Declaração de


Florianópolis, elaborada em 2006 por pesquisadores brasileiros da área de
Psicologia com o objetivo de manifestar apoio ao acesso aberto à literatura
científica revisada pelos pares. Neste documento, é feito referência ao conceito de
Acesso Aberto da Bethesda (2002) e são listadas várias recomendações para que
seus objetivos sejam atingidos. Outros documentos como esse foram divulgados
na América Latina com o mesmo propósito. Aqui, destacamos a Declaracion de
Cuba en favor del Acceso a Abierto, de 2007. No documento faz-se referência aos
termos das declarações BBB, de Salvador e de Florianópolis para justificá-la.

A declaração convida os pesquisadores a disponibilizarem seus trabalhos


em repositórios institucionais e bibliotecas virtuais de Acesso Aberto e destaca a
Biblioteca virtual de la ni n La noa erica de n dades de sosicologia (BVS ULAPSI).

Kuramoto (2011) cita também o Projeto de Lei nº 1.120, de 2007, que foi
apresentado para votação no congresso brasileiro.

119
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

O PL propõe a criação de uma lei nacional pela obrigatoriedade da


construção de RI por parte das instituições de ensino superior e unidades
de pesquisa de caráter público. Seu objetivo era a construção de RI e a
obrigatoriedade de depósito de uma cópia dos trabalhos produzidos por
pesquisadores que recebessem financiamento público. O PL teve todos
os pareceres favoráveis à sua aprovação, com algumas emendas, mas em
2011 foi arquivado porque tramitou por quatro anos no Congresso e não
teve sua aprovação até o final de uma legislatura (KURAMOTO, 2011
apud COSTA; LEITE, 2016, p. 9)

No mesmo ano, foi apresentado em substituição ao primeiro o Projeto de


Lei do Senado nº 387, de 2011.

FIGURA 13 –PROJETO DE LEI N° 387

FONTE: <http://bit.ly/2OSPlZ3>. Acesso em: 11 set. 2019.

O seu conteúdo principal é idêntico ao do PL de 2007, no entanto traz algumas


especificações a mais, como os tipos de documentos que devem ser depositados e o
tempo entre a publicação e o depósito. O PLS ainda não foi aprovado, mas segundo
consta no Portal Atividade Legislativa do Senado Federal, ele está em tramitação em
diversas pautas das comissões.

Como no Brasil, em outros países da América Latina, também foram aprovadas


leis que definiram a obrigatoriedade da criação de repositórios institucionais como:

120
TÓPICO 1 | MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO E SUAS

QUADRO 2 – LEGISLAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

Foi criado um Sistema Nacional de Repositórios Digitais


(SNRD) por meio de uma resolução ministerial. O seu
NA ARGENTINA
propósito foi criar uma rede Inter operável de repositórios
(2011)
digitais, por meio do estabelecimento de políticas, padrões
e protocolos comuns (ARGENTINA, 2011).
Foi criada a Rede Mexicana de Repositorios Institucionales
(ReMeRI), que dispunha de um sistema de busca
integrada entre os RI e oferecia oficinas de capacitação e
NO MÉXICO
aprimoramento das ferramentas. Assim como o sistema
(2011)
argentino, para aderir à rede mexicana era necessário estar de
acordo com alguns padrões, que são diagnosticados por meio
de um instrumento próprio de validação (JIMÉNEZ, 2013).
Foi aprovada a Lei de acesso aberto que passa a regular
o Repositorio Nacional Digital de Ciencia, Tecnología y
Innovación de Acceso Abierto. O repositório em questão
NO PERU (2013)
é definido como um “sítio centralizado” onde se mantém
informação digital resultante da produção de CTI no país.
FONTE: A autora

Costa e leite (2016) ainda citam a Red Federada Latinoamericana de


Repositorios Institucionales de Documentación Científica en América Latina (LA
Referencia), lançada em 2012, com o apoio da RedClara e o patrocínio do Fundo
Regional de Bens Públicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Seu
objetivo era a promoção da criação de uma estratégia regional para os RI. Para tanto,
foram discutas questões relacionadas a acordos e políticas regionais e definição de
padrões (BABINI, 2011). Em maio, também de 2012, a América Latina, por meio
da LA Referencia, passou a integrar a Confederation of Open Access Repositories
(COAR), conforme notícia divulgada no próprio site da Rede (INICIA, 2014).

FIGURA 14 – COAR

FONTE: <http://bit.ly/33ATrJp>. Acesso em: 11 set. 2019.

121
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

A Confederação é uma associação de instituições acadêmicas e de pesquisa


de países da Europa, Ásia, América do Norte e América Latina que tem por objetivo
o fortalecimento de redes globais de repositórios de acesso aberto.

Na ilustração a seguir, podemos visualizar a linha de tempo dos manifestos


e outros eventos importantes para o acesso aberto na América Latina, elaborada por
Amaro (2018).

FIGURA 15 – ACESSO ABERTO NA AMÉRICA LATINA

FONTE: <http://bit.ly/2nMURRM>. Acesso em: 11 set. 2019.

122
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O movimento do Acesso Aberto (Open Access) surge com a iniciativa da comunidade


científica para defender o livre acesso às informações científicas por meio da
produção, publicação, divulgação e preservação através dos meios eletrônicos. Seu
objetivo principal é o favorecimento do leitor ao acesso dos conteúdos científicos
sem custo e sem restrições de uso, além de proporcionar maior visibilidade à
pesquisa científica.

• As revistas ou periódicos científicos estão entre os que possuem maior visibilidade,


são os maiores disseminadores dos avanços científicos e surgem com a finalidade
de fazer intercâmbio de informações, relato de experiências, tornaram-se o
principal canal de comunicação de informação entre os cientistas.

• Nos últimos 50 anos, os editores conseguiram transformar revistas acadêmicas


tradicionais em um empreendimento editorial promissor, um grande negócio
com altas taxas de lucros e a quase monopolização desses periódicos científicos
foram principais motivadores para a reação da comunidade acadêmica em
prol do Acesso Aberto. E o debate cria maiores proporções com os diferenciais
proporcionados com o contexto isso do surgimento dos periódicos científicos
eletrônicos.

• Os principais documentos que deram base ao movimento de Acesso Aberto


foram: a declaração de Santo Domingo; a declaração sobre a ciência e o uso do
conhecimento científico; e o manifesto de Budapeste.

• No Budapest Open Access Initiative (BOAI) foram recomendadas duas estratégias


complementares: o autoarquivamento e a publicação em revistas de Acesso
Aberto.

• Existem diferentes tipos de acessos às revistas:


ᵒ Via dourada: de artigos publicados em revista de acesso aberto na qual
o acesso é gratuito para todos e atende à definição do diretório de Revistas
Científicas em Acesso Aberto (DOAJ).
ᵒ Via verde: artigos publicados em Acesso Aberto apenas quando depositado
no repositório (arquivo) da universidade ou instituição de pesquisa.
ᵒ Híbrido: artigos publicados em Acesso Aberto em uma revista científica
de acesso restrito a assinante. Geralmente, os autores pagam uma taxa de
publicação mais cara do que se o artigo de acesso restrito ou fechado.
ᵒ Via bronze: artigos que estão abertos para leitura no website de revistas
científicas, mas sem que haja uma licença explicita de Acesso Aberto.
ᵒ Restrito ou fechado: artigo cujo acesso é apenas para assinantes, publicado
em revistas de acesso restrito.
123
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com o que vimos no Tópico 1, no Budapest Open Access


Initiative (BOAI), foram recomendadas duas estratégias complementares
para impulsionamento do movimento de Acesso Aberto. Quais foram essas
estratégias? Em que consistiam?

2 Relacione os tipos de licença de Acesso Aberto:

I - Via dourada.
II - Via verde.
III - Híbrido.
IV - Via bronze.
V - Restrito ou fechado.

( ) Artigos publicados em Acesso Aberto apenas quando depositado no


repositório (arquivo) da universidade ou instituição de pesquisa.
( ) Artigos publicados em revista de Acesso Aberto na qual o acesso é gratuito
para todos e atende à definição do diretório de Revistas Científicas em Acesso
Aberto (DOAJ).
( ) Artigos no qual o acesso é apenas para assinantes, publicados em revistas
de acesso restrito.
( ) Artigos publicados em Acesso Aberto em revistas científicas de acesso
restrito ao assinante. Geralmente os autores pagam uma taxa de publicação
mais cara do que os artigos de acesso restrito ou fechado.
( ) Artigos que estão abertos para leitura no website de revistas científicas,
mas sem que haja uma licença explícita de Acesso Aberto.

124
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS


AUTORES?

1 INTRODUÇÃO
A partir de uma análise do Dossiê CopySouth (Sul global): Problemas
económicos, políticos e ideológicos del copyright, Mattos e Kroeff (2014) buscam refletir
sobre algumas das questões abordadas, principalmente aquelas referentes ao
capítulo intitulado: De cómo el copyright impide a los bibliotecarios proporcionar servicios
a sus usuarios (EL DOSSIER, 2007).

As autoras focam atenção à pergunta: “Como o cientista da informação


brasileira deveria responder aos problemas e conflitos apresentados pelas leis de
Direito Autoral?” (EL DOSSIER, 2007).

É nesta perspectiva, que, neste tópico, discutiremos alguns aspectos de


possíveis confrontos legais e morais associados às tecnologias e ao acesso social à
informação, bem como sua relação com a formação e desenvolvimento de coleções.

2 UM POUCO SOBRE O “DOSSIÊ COPYSOUTH”


Documento denso, crítico e reflexivo, o Dossiê CopySouth revela as
controvérsias que rodeiam as leis de direitos autorais em diversos países. O Dossiê
denuncia os benefícios dos países desenvolvidos do Norte em relação aos países em
desenvolvimento do Sul, visto que os primeiros, através das multinacionais, já possuem
uma porcentagem esmagadora da propriedade intelectual mundial. Neste sentido,
o dossiê destaca as crescentes imposições e pressões institucionais internacionais na
perspectiva de cerceamento do Copyright (MATTOS; KROEFF 2014).

125
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

DICAS

Acadêmico, acesse o site a seguir e baixe o dossiê Copysouth completo em


espanhol ou em inglês: http://eprints.rclis.org/11451/.

Ao fazer uma avaliação crítica ao Copyright e seu impacto nos países do Sul global,
o Dossiê apresenta exemplos sobre os resultados sociais negativos nestes países,
afirmando a necessidade da ampliação do livre acesso ao conhecimento, à proteção das
culturas locais e à diversidade cultural. Também aponta barreiras impostas à sociedade
escamoteadas nas ideologias que sustentam as políticas culturais hegemônicas, que
impedem o amplo acesso à cultura, à informação e ao conhecimento (MATTOS;
KROEFF, 2014).

Direitos de acesso ao conhecimento, à informação e à cultura são elementos


essenciais para o desenvolvimento da sociedade. Entretanto, esses direitos muitas
vezes entram em conflito com as leis de direitos autorais, devido às restrições
impostas por elas, que se justificam por um suposto direito do autor.

Vamos analisar a ilustração a seguir. Qual é a sua posição sobre isso? Troque
ideias com seus colegas através do fórum de debates da disciplina.

FIGURA 16 – DELINQUENTE BIBLIOTECÁRIA?

FONTE: <http://bit.ly/2VLKDha>. Acesso em: 11 set. 2019.

126
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

Os direitos autorais visam estimular uma determinada prática social que é


o incremento da atividade criativa do homem para o desenvolvimento econômico,
cultural e tecnológico da sociedade. Porém, segundo Carboni (2006), as transformações
sociais advindas, principalmente, das novas tecnologias, levaram a uma mudança de
função do direito de autor:

de mecanismo de estímulo à produção intelectual, ele passou a


representar uma poderosa ferramenta da indústria dos bens intelectuais
para a apropriação da informação enquanto mercadoria, ocasionando
uma redução da esfera da liberdade de expressão e se transformando em
um obstáculo a formas mais dinâmicas de criação e circulação de obras
intelectuais (CARBONI, 2006, p. 229).

Neste sentido, de acordo com Carboni, a função social do direito de autor, que
deveria promover o desenvolvimento econômico, cultural e tecnológico mediante a
concessão de um direito exclusivo para a utilização e exploração de determinadas
obras intelectuais por certo prazo, passa a ser centralizada e direcionada para fins
de beneficiar financeiramente um grupo muito seleto de pessoas que, sem nada
criar, se utiliza de estruturas proporcionadas pelo capital para vender e lucrar sobre
produções científicas e culturais. Muitas vezes, inclusive, sobre obras financiadas
com recursos públicos.

Hoje, o interesse da indústria dos bens intelectuais move todo um processo


de alargamento do objeto de proteção do direito de autor e de prolongamento do seu
prazo de proteção. É por essa razão que o direito de autor mascara o fato de funcionar
como uma poderosa ferramenta da indústria do entretenimento e da informação e não
do sujeito-autor, que se vê na condição de ter que abrir mão de seus direitos em prol
dessa indústria, para que esta possa auferir lucro com a comercialização da sua obra.

Lemos (2005) observa que, durante o século XX, a propriedade intelectual


propiciava razoavelmente o equilíbrio entre os Direitos Autorais e os interesses da
sociedade. A partir da década de 1990, no entanto, os direitos decorrentes da criação
passaram a ser encarados como “propriedade” absoluta. A Lei se tornou o principal
instrumento de mudança, ampliando substancialmente o poder dos detentores de
propriedade.

Existem diversos acordos internacionais quanto à proteção de Direitos


Autorais e Direitos Conexos, como:

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UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

FIGURA 17 – ACORDOS INTERNACIONAIS QUANTO À PROTEÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS E


CONEXOS

1886

1961

1961

1996

1996

FONTE: A autora

“O Acordo da Organização Mundial de Comércio (WTO) sobre Aspectos


dos Direitos de Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio (TRIPS), de 1994,
é o primeiro acordo multilateral de propriedade intelectual relativo ao comércio”
(ABARZA; KATZ, 2002 apud LIMA, 2006, p. 7).

Os referidos instrumentos internacionais e a legislação dos países indicam


uma preocupação crescente das nações em proteger os aspectos patrimoniais
decorrentes da exploração comercial de obras intelectuais. Principalmente os
grandes países exportadores desses bens passaram a desejar uma proteção mais
severa aos seus produtos. Esse movimento explicita, nas negociações internacionais,
uma tendência que visa atrelar os “direitos de propriedade intelectual” apenas com
o aspecto econômico.

Iniciativas recentes defendem novos instrumentos para excluir os bens


culturais e serviços das regras do comércio internacional. Discute-se a inclusão de
itens que promovam a expressão e a diversidade cultural. Entre essas iniciativas
podemos citar a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, da Unesco, de
2002, que afirma:

Frente às mudanças econômicas e tecnológicas atuais, que abrem vastas


perspectivas para a criação e a inovação, deve-se prestar uma particular
atenção à diversidade da oferta criativa, ao justo reconhecimento dos
direitos dos autores e artistas, assim como ao caráter específico dos bens
e serviços culturais que, na medida em que são portadores de identidade,
de valores e sentido, não devem ser considerados como mercadorias ou
bens de consumo como os demais. (UNESCO, 2002, s. p.).

São vários os eventos promovidos pelas mais diversas instituições com objetivo
de mostrar que a propriedade intelectual pode ser trabalhada de forma interdisciplinar
e intersetorial, num esforço de busca coletiva e solidária de enfrentamento dos

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TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

modelos que regulam a produção e a apropriação do conhecimento. Muitos eventos


contribuem no debate sobre as implicações dos direitos autorais para o acesso ao
conhecimento, à saúde, à segurança alimentar, especialmente por tais demandas
constituírem carências notadamente dos países tecnologicamente dependentes.

Entre eles podemos citar o seminário Propriedade intelectual, interfaces e desafios,


promovido em 2007, no Rio de Janeiro, pela Rede Brasileira pela Integração dos Povos
(REBRIP), formada por movimentos sociais, ONGs e entidades profissionais que se
preocupam com as negociações de comércio internacional e sua influência sobre os
direitos e as condições de vida da população brasileira e buscam alternativas que
assegurem esses direitos (REIS et al. 2007).

No âmbito internacional isso também ocorre. Exemplos são


práticas, como o Creative Commons, responsável por uma forma
de Direito Autoral que disponibiliza um conjunto de licenças
para áudio, imagem, vídeo, texto e educação permitindo a
autores e criadores de conteúdo intelectual como músicos,
cineastas, escritores, fotógrafos, blogueiros, jornalistas, cientistas,
educadores e outros, indicarem à sociedade, de maneira fácil e
padronizada, com textos claros e baseados na legislação vigente,
sem intermediários, sob que condições suas obras podem ser
usadas, reusadas (ARAYA; VIDOTTI, 2009, p. 47).

E
IMPORTANT

O que é Creative Commons?

Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos que permite o compartilhamento
e uso da criatividade e do conhecimento através de instrumentos jurídicos gratuitos.

O Creative Commons ajuda você a compartilhar legalmente seu conhecimento e criatividade


para construir um mundo mais justo, acessível e inovador. Nós desbloqueamos todo o
potencial da internet para impulsionar uma nova era de desenvolvimento, crescimento e
produtividade.

Com uma rede de funcionários, um conselho e uma rede global de colaboradores, o Creative
Commons oferece licenças de direitos autorais gratuitas e fáceis de usar para criar uma
maneira simples e padronizada de dar ao público a permissão de compartilhar e usar seu
trabalho criativo. As licenças CC permitem você alterar facilmente os seus termos de direitos
autorais do padrão de “todos os direitos reservados” para “alguns direitos reservados”.

O Creative Commons foi fundado em 2001, como uma organização sem fins lucrativos
baseada nos Estados Unidos, e vem passando por algumas transformações importantes
nos últimos anos. A principal diz respeito à rede global de voluntários e colaboradores. Se
antes cada país tinha uma única organização responsável pelo projeto, que estabelecia um
acordo de cooperação com a organização central, hoje existe uma rede descentralizada de
pessoas, organizada em torno de temas (que são discutidos em plataformas temáticas, que
são transnacionais).

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UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Todos os membros oficiais e voluntários de um país organizam-se em torno de um capítulo


nacional, que deve ser aberto a tod@s e se orientar por consenso, e organizar e otimizar os
trabalhos locais, como algumas diretrizes escritas nessa Carta de Princípios. Os membros
brasileiros reuniram-se em 29 de janeiro de 2019, e elegeram a coordenação até 29 de
janeiro de 2020.

FONTE: <https://br.creativecommons.org/>. Acesso em: 11 set. 2019.

Entretanto, você sabe diferenciar os signos do Creative Commos? Na ilustração


a seguir podemos ver as diferentes licenças:

FIGURA 18 – DIFERENTES LICENÇAS DE CREATIVE COMMOS

FONTE: <http://bit.ly/2oEnvoS>. Acesso em: 11 set. 2019.

1) Atribuição (by): possibilita que outras pessoas criem obras derivadas,


compartilhem o conteúdo e distribuam livremente apenas citando o autor.
2) Atribuição: compartilhamento pela mesma licença (by-sa), permite todos os
usos anteriores, mas exige que se cite o autor e a obra criada a partir dela
continua com a mesma licença.
3) Atribuição: não a obras derivadas (by-nd), permite a distribuição e o uso
comercial, mas define que seja distribuída igualmente como foi achada, que o
autor seja citado e que não sejam realizadas modificações.
4) Atribuição: uso não comercial (by-nc), permite que a obra seja remixada e
distribuída, mas apenas sem uso comercial.
5) Atribuição: uso não comercial — compartilhamento pela mesma licença (by-
nc-sa) — impede o uso comercial, mas permite a distribuição desde que se use
a mesma licença.
6) Atribuição: uso não comercial — não a obras derivadas (by-nc-nd) — permite
apenas a distribuição citando o autor e impede a criação de obras derivadas
em uso não comercial.

FONTE: <https://glo.bo/33FWP62>. Acesso em: 11 set. 2019.

130
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

Outro exemplo é o Copyleft, que defende modificações nos princípios


do direito autoral com a utilização de software livre; entre outros que têm
capitaneado a discussão sobre a necessidade de flexibilização dos instrumentos
da propriedade intelectual na nova ordem global. Argumenta-se que a proteção
excessiva da criação geraria muitos entraves ao surgimento de novas criações,
inclusive prejudicando a diversidade cultural.

E
IMPORTANT

O que é Copyleft?

Copyleft é um método geral para tornar um programa (ou outra obra) livre (free, em inglês,
no sentido de liberdade, e não de “preço zero”) e exigir que todas as versões modificadas e
extensões do programa também sejam livres.

O modo mais simples de tornar um programa livre é colocá-lo em domínio público, sem
copyright. Isto permite que as pessoas compartilhem o programa e suas melhorias, se elas
estiverem dispostas a tal. Mas isto também permite que pessoas não cooperativas transformem o
programa em software proprietário. Elas podem fazer modificações, poucas ou muitas, e distribuir
o resultado como um produto proprietário. As pessoas que receberem esta forma modificada
do programa não têm a liberdade que o autor original havia lhes dado; o intermediário eliminou
estas liberdades.

Copyleft também fornece um incentivo para que outros programadores contribuam com
o software livre. Além disso ajuda os programadores que desejam contribuir com melhorias
para o software livre a obterem permissão de fazer isto. Esses programadores frequentemente
trabalham para empresas ou universidades que fariam qualquer coisa para ganhar mais dinheiro.
Um programador pode desejar contribuir suas modificações para a comunidade, mas seu
empregador pode desejar transformar as mudanças em um produto de software proprietário.

FONTE: <https://www.gnu.org/licenses/copyleft.pt-br.html>. Acesso em: 11 set. 2019.

Atualmente, verifica-se um conflito constitucional no Brasil entre o


direito individual do autor de proteção a sua obra e o direito da sociedade ao
acesso à informação, cultura e educação, de fundamental importância para o
desenvolvimento econômico, cultural e tecnológico da nação.

Segundo Carboni (2005), a crescente ampliação das obras protegidas pelo


direito de autor, impulsionada pelos interesses da indústria de bens intelectuais,
e propiciada pelo rol meramente exemplificativo da Convenção de Berna e das
legislações internas dos países signatários, levou a certa banalização do objeto
da proteção autoral, já que o que importa hoje é proteger o chamado “conteúdo
comercializável”, seja ele obra ou não. Com isso, expande-se a proteção do direito

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UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

de autor para obras que, em princípio, não a justificariam, como é o caso do


software e das bases de dados, passando a proteger o investimento que, afinal,
acaba por beneficiar apenas a empresa, “sendo que a tutela foi estruturada com
finalidade diversa, distorcendo todo o regime legal” (CARBONI, 2005).

Frente ao atual debate sobre direitos autorais, e como visto pela breve
exposição anterior, cabe aos profissionais da informação participar ativamente
dessa discussão e buscarem um posicionamento político que melhor respalde sua
atuação profissional e seu papel de mediadores na sociedade da informação.

3 DIGITAL RIGHTS MANAGEMENT (DRM)


Para falamos em livros digitais na formação de desenvolvimento de
coleções é preciso que você conheça o que é Digital Rights Management (DRM),
que podemos traduzir como Administrador de Direitos Digitais.

Gogoni (2016) descreve DRM como um conjunto de tecnologias criadas


para proteger mídias digitais de qualquer espécie, que evita a cópia pelos usuários
impedindo sua distribuição sem autorização ou pagamento.

FIGURA 19 – DRM

FONTE: <https://tecnoblog.net/263718/o-que-e-drm/>. Acesso em: 11 set. 2019.

Serra (2017) explica que DRM é uma espécie de cadeado com um segredo
que, uma vez identificado e validado pelo DRM ao contratante, esse cadeado será
aberto, permitindo a utilização do conteúdo.

De acordo com Harte (2007) citado por Serra (2017), o DRM identifica e
descreve a mídia, com atribuição dos direitos associados a ela, conferindo que as
solicitações de uso do conteúdo sejam restritas aos usuários autorizados.

Isso amplia aos proprietários de direitos autorias seu controle e gestão sobre
os seus conteúdos. Sheehan (2013) faz um questionamento em relação a isso, pois
uma vez que exista uma restrição do livro digital para seu uso livre e simultâneo, este
132
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

acaba apresentando comportamento não compatível com a mobilidade inerente ao


meio digital, se caracterizando como forma de consumo analógica.

Outros aspectos apresentados por Serra (2017) são as formas de uso do


conteúdo DRM, pois são controlados, e muitas vezes, não é permitido copiar ou
compartilhar trechos, imprimir (total ou parcialmente) ou ainda “emprestar” o livro
a outra pessoa.

Vejamos a problemática:

Via de regra, o livro digital é licenciado com acesso monousuário (um


livro, um leitor), sem possibilidade de utilização simultânea. Alguns
fornecedores permitem a utilização concorrente, porém isto é definido no
modelo de negócios, influenciando no valor da contratação. A permissão
de acesso é regulada pelo DRM com o propósito de assegurar que o uso
será realizado de acordo com a contratação realizada, somente pelos
licenciantes e nas condições definidas pelo fornecedor. Neste texto não
entraremos no âmbito do licenciamento, modelos de negócios, teoria da
primeira venda ou a legalidade do empréstimo digital, concentrando-nos
somente nos aspectos do DRM (SERRA, 2017, s. p.).

Serra (2017) também observa que alguns fornecedores permitem que o


comprador “empreste” o livro para outra pessoa, porém durante este “empréstimo”
o livro não poderá ser acessado por ninguém, inclusive pelo comprador, simulando
um livro impresso. Assim, após expirar o prazo do “empréstimo”, o livro é removido
do dispositivo do leitor e retorna ao dispositivo do comprador e este pode utilizá-lo
novamente, ou ainda, emprestá-lo para outra pessoa.

Este comportamento permite a manutenção do hábito de empréstimo de


livros entre leitores, e também é estendido às bibliotecas. Convém pontuar
que os fornecedores de livros digitais para bibliotecas são distintos dos
para leitores. Enquanto bibliotecas licenciam livros digitais de editores,
distribuidores ou agregadores de conteúdo, os leitores recorrem às livrarias
virtuais, cuja oferta de títulos é superior que a presente para bibliotecas.
Embora não seja usual, é possível a inclusão de DRM em livros gratuitos.
Nesta situação, o interesse dos proprietários dos direitos do livro é impedir
a distribuição de cópias não autorizadas. A utilização desta ferramenta,
porém, demanda custos e não se torna viável investir em ferramenta de
DRM em um título que não será comercializado, visto que seria deficitário
(SERRA, 2017, s. p.).

Segundo Davis (2017), a ferramenta do DRM pode ser proprietária ou genérica.


O autor destaca que, entre as proprietárias, a Amazon e Apple, cada uma compatível
com os aplicativos (APP) ou equipamentos que comercializam. No caso desses, além
do controle do uso, deseja-se também garantir que a comercialização será realizada
somente pelas lojas virtuais da Amazon e da iBooks, respectivamente. A Adobe
possui a ferramenta para aplicação de DRM em livros digitais com a flexibilidade de
poder ser aplicado a diversos editores, sem a restrição de comercialização presentes
na Amazon e na Apple. Assim podemos observar que a complexidade do DRM da
Adobe está centrada nos custos de seu uso e manutenção.

133
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Vejamos como um atributo do livro digital, o DRM pode controlar:

FIGURA 20 – ATRIBUTOS DO DRM NOS LIVROS DIGITAIS

FONTE: Adaptado de Serra (2017)

Os materiais com DRM em bibliotecas ainda têm outros problemas a serem


previstos, uma vez que a instituição foi quem realizou o seu licenciamento, e, ao
emprestar, é passível de tentativa ou sucesso por parte de um usuário, na quebra do
DRM. Para resguardar a instituição desse problema, Serra (2017) sugere a aplicação do
Social DRM.

Nesta modalidade, o livro licenciado é comercializado sem uma ferramenta


de DRM que conote restrições. Entretanto, o nome do licenciante é colado
ao livro. Esta marca pode ser aparente ou invisível ao leitor. Embora
não seja uma característica do Social DRM atualmente, o que pode ser
feito é, a cada empréstimo de livro digital licenciado realizado pela
biblioteca, incluir o nome do usuário nesta marca d’água. Assim, o livro
foi licenciado pela biblioteca, porém o uso foi do usuário X e qualquer
tentativa de burlar os sistemas de controle serão de sua responsabilidade.
Em caso de utilização não autorizada, é possível realizar o rastreamento
do licenciante, identificar o usuário que tentou burlar o controle de acesso
e acioná-lo juridicamente para que responda pela infração, isentando a
biblioteca de questionamentos legais (SERRA, 2017, s. p.).

Para finalizar, seguem três orientações básicas:

• Os bibliotecários devem estar cientes da presença de ferramentas de DRM nos


livros digitais licenciados e as restrições que pode apresentar.
• Também devem orientar usuários sobre a utilização ética que pode ser feita destas
fontes de informações, coibindo usos não autorizados por parte dos usuários.
• É preciso observar as necessidades de substituição de formatos (atualização,
compatibilidade com dispositivos de leitura, preservação digital etc.) e isso deve
ser discutido com o fornecedor no ato da compra, na tentativa de obtenção de
termos que atendam aos envolvidos.

134
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

4 LEI Nº 9.610: OS DIREITOS AUTORAIS


A Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, em vigor no Brasil, foi sancionada pela
Presidência da República com o objetivo de alterar, atualizar e consolidar a legislação
sobre direitos autorais, ou seja, regular os direitos do autor e os que lhe são conexos,
ou seja Referem-se à proteção para artistas intérpretes ou executantes, produtores
fonográficos e empresas de radiodifusão, em decorrência de interpretação, execução,
gravação ou veiculação das suas interpretações e execuções (UNIVERSIDADE
TECNOLÓGIA FEDERAL DO PARANÁ, 2016).

O artigo 7º da referida Lei define as obras intelectuais protegidas, que


são aquelas advindas da criação, pensamento e expressão, em qualquer meio, já
conhecidas ou que venham a ser inventadas futuramente, que são:

I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;


II- as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;
III- as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV- as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por
escrito ou por outra qualquer forma;
V- as composições musicais, tenham ou não letra;
VI- as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;
VII- as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo
ao da fotografia;
VIII- as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX- as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X- os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI- as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais,
apresentadas como criação intelectual nova;
XII- os programas de computador;
XIII- as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários,
bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou
disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual (BRASIL,
1998).

Os direitos morais do autor, isto é, o direito a paternidade ou denominação


da obra, estão previstos nos artigos 24º a 27º, da LDA, assim dispostos:

Art. 24. São direitos morais do autor:


I- o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II- o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou
anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III- o de conservar a obra inédita;
IV- o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V- o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI- o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de
utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem
afronta à sua reputação e imagem;

135
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

VII- o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre


legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo
fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de
forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja
causado.
Art. 25. Cabe exclusivamente ao diretor o exercício dos direitos morais
sobre a obra audiovisual.
Art. 26. O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico
alterado sem o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão
da construção.
Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que
causar ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a
autoria do projeto repudiado.
Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis
(BRASIL, 1998).

No que consiste no direito de usar, usufruir, explorar - inclusive


economicamente - as produções literárias científicas ou artísticas, são definidos como
direitos patrimoniais e sua duração nos artigos 28º a 45º da referida LDA.

Os direitos conexos e sua duração são contemplados no Título V, artigos 89º a


100º da Lei. Gandelman (2007, p. 39-40) analisa e relaciona os fundamentos básicos da
Lei de Direitos Autorais, que também estão inseridas nas leis internacionais, quanto:

I- Ideias – as ideias em si não são protegidas, mas sim suas formas de


expressão, de qualquer modo ou maneira exteriorizadas num suporte
material.
II- Valor intrínseco – a qualidade intelectual de uma obra não constitui
critérios atributivos de titularidade, isto é, a proteção é dada a uma obra
ou criação, independentemente de seus méritos literários, artísticos,
científicos ou culturais.
III- Originalidade – a que se protege não é a novidade contida numa obra,
mas tão somente a originalidade de sua forma de expressão.
IV- Territorialidade – a proteção dos direitos autorais é territorial,
independentemente da nacionalidade original dos titulares, estendendo-
se através de tratados e convenções de reciprocidade internacional.
VI- Autorizações – sem a prévia e expressa autorização do titular, qualquer
utilização de sua obra é ilegal.
VII- Limitações – são dispensáveis as prévias autorizações dos titulares,
em determinadas circunstâncias.
VIII- Titularidade – a simples menção de autoria, independentemente de
registro, identifica sua titularidade.
IX- Independência – as diversas formas de utilização da obra intelectual
são independentes entre si (livro, adaptação audiovisual ou outra),
recomendando-se a expressa menção dos usos autorizados ou licenciados,
nos respectivos contratos.
X- Suporte físico – a simples aquisição do suporte físico ou exemplar
contendo uma obra intelectual protegida não transmite ao adquirente
nenhum dos direitos autorais dela.

É importante salientar que as sanções de ordem civil são estabelecidas na


LDA (do Art. 101 até o Art. 110), sendo que se aplicam sem prejuízo das penalidades
cabíveis. As violações dos direitos autorais e suas respectivas penalidades estão
previstas no artigo 184 do Código Penal Brasileiro.
136
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

A LDA teve alguns dispositivos alterados, revogados e acrescentados pela


Lei nº 12.853, de 14 de agosto de 2013, principalmente no Título VI – Das associações
de titulares de direitos de autor e dos que lhes são conexos.

Conforme afirmam Paranaguá e Branco (2009) citados por Souza et al. (2012,
p. 22), a LDA brasileira “é tida como uma das mais rígidas do mundo, impondo
sólidas barreiras ao acesso à diversos tipos de informações científico-culturais”.

4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL: DIREITO DO AUTOR E O


DIREITO DO CIDADÃO AO ACESSO A INFORMAÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5
de outubro de 1988 e trata em alguns artigos e incisos, do direito do autor, da
liberdade de expressão e ao acesso à informação.

O Direito do Autor e de Propriedade Intelectual estão inseridos no


TÍTULO II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, CAPÍTULO I – Dos Direitos
e Deveres Individuais e Coletivos, Art.5º, da Constituição Federal que estabelece:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que
a lei fixar;
XXVIII – são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução
da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras
que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas (BRASIL, 1988).

Carboni (2005) observa que os incisos anteriores tratam apenas dos direitos
patrimoniais do autor, pois referem-se ao Direito de Uso e aos herdeiros e que a
Constituição não contempla o direito moral do autor em nenhum dos seus artigos.

Ainda no artigo 5º da Constituição Federal, temos o inciso IX que define a


liberdade de expressão: “IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Conclui-se que as restrições quanto ao uso de produções intelectuais não


contemplam a liberdade de expressão. Segundo Carboni (2005, p. 23),

137
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

À medida que aumenta o grau de proteção do direito do autor (tanto


com relação ao seu escopo, quanto ao prazo de proteção), aumenta
o nível de interferência e de restrição à liberdade de expressão, [...]
a menos que haja uma expressa anuência do seu criador, ou em
circunstâncias expressamente admitidas por lei, em caráter de exceção.

O livre acesso à informação também é garantido pela Constituição Federal,


TÍTULO II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, CAPÍTULO I – Dos Direitos e
Deveres Individuais e Coletivos, Art. 5º. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: “XIV – é assegurado a todos o acesso à informação
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

De acordo com Carboni (2005), o direito de acesso à informação, em tempos


de internet, é o que mais conflita com os direitos autorais, em razão da facilidade de
obter livremente as informações e utilizá-las.

5 ACESSO ABERTO E DIREITOS AUTORAIS: IMPACTOS PARA


PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO
Para Mattos e Kroeff (2014) os profissionais da informação vêm acompanhando
e buscando alternativas para sua atuação profissional frente ao avanço das tecnologias
e a influência destas junto aos seus usuários. Na área social, esses mesmos profissionais
passam a adaptar seus serviços aos debates sobre multiculturalismo, biblioteca escolar,
diversidade cultural, inclusão digital, acessibilidade e usabilidade aos deficientes. Ou
seja, os profissionais preocupam-se, cada vez mais, com o acesso social à informação,
ao conhecimento e à cultura em todos os níveis de sua intervenção.

Nestes diversos âmbitos, o acesso à informação científica e as leis de


direitos autorais passam a influenciar diretamente, mesmo que, às vezes, de
forma escamoteada, e a dificultar – até mesmo impedir – serviços oferecidos pelos
profissionais da informação aos seus usuários. Vejamos alguns exemplos a seguir.

5.1 SOFTWARES E SERVIÇOS DE BASES DE DADOS,


UTILIZADOS PELAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Com o objetivo de atender aos seus pesquisadores e manterem-se com boa
conceituação junto à sociedade e aos órgãos que as avaliam institucionalmente, as
universidades compram softwares e pagam significativos recursos financeiros para
o acesso a produções científicas nacionais e internacionais das mais diversas áreas do
conhecimento contidas em Bases de Dados privadas.

138
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

E
IMPORTANT

Em sua maioria, as pesquisas que compõem tais bases são financiadas com
recursos públicos.

Diferentemente da aquisição de revistas científicas impressas, que ao serem


compradas são facilmente incorporadas ao acervo das instituições, as Bases de Dados
são apenas licenças, restringindo diversos serviços antes oferecidos com a versão
impressa, como a comutação – serviço de solicitação de fotocópias e/ou empréstimo
de documentos – entre bibliotecas, como também limitação de acessos e impressões.
Segundo Story, Halbert e Darch (2006, p. 104):

En las bibliotecas de aquellos países menos desarrollados con una


moderna infraestructura de ICT (Infraestructuras Comunes de
Telecomunicaciones), tales como Suráfrica, Brasil o la India, los problemas
surgen cada vez más a partir de las capas de protección de la propiedad
intelectual que se superponen al derecho de autor o copyright.
Estas incluyen los términos y condiciones de los contratos de acceso a
las bases de datos comerciales (denominados normalmente licencias), así
como los dispositivos tecnológicos tanto de software como de hardware
y las nuevas leyes que criminalizan cualquier clase de elusión de dichos
dispositivos (leyes antielusión). Este problema afecta todas las bibliotecas
del mundo, pero tiene un impacto desproporcionado sobre los países en
vías de desarrollo, ya que probablemente no dispongan de fondos para
pagar licencias suplementarias, y puede que no tengan capacidad para
negociar mejores condiciones de licencia o hacer lobby (es decir, cabildear,
N. del E.) para conseguir mejores leyes de propiedad intelectual.

5.2 REDES SOCIAIS E COMPARTILHAMENTO


Jovens no mundo todo trocam seus arquivos de música, filmes, vídeos,
pelo computador. Como criminalizar toda uma cultura nova, do compartilhamento
da duplicação, da difusão? Araya e Vidotti (2009, p. 47) “registram que, segundo a
Federação Internacional da Indústria Fonográfica, 95% dos downloads são ilegais”. Os
autores apresentam, também, dados do Ibope/NetRatings onde 46% dos internautas
brasileiros acessam sites e serviços de downloads ilegais. Registram, ainda, que,
segundo a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ),
apenas 5% dos brasileiros não recorrem à pirataria por medo de punição.

139
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

FIGURA 21 – COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO

FONTE: <http://bit.ly/35HR3T1>. Acesso em: 16 set. 2019.

NOTA

E, o que fazer quando a lei entra em conflito direto com a atuação do bibliotecário
e o seu papel de disseminador da informação?

Os profissionais da informação que veem nascer e crescer uma nova geração


de usuários virtuais e digitais, que ampliam as redes sociais da internet, que criam,
compartilham informações, músicas, filmes entre outros, de forma ágil e fácil,
também veem uma ampliação das leis de direitos de autor e são apontados com o
dever moral de vigiar o cumprimento destas leis em seus espaços de trabalho. Os
poucos debates na área sobre o assunto apontam apenas as consequências e cuidados
a serem tomados para não infringir as leis. Mas o que está ocorrendo em nível
nacional e internacional é o questionamento dessas leis e da forma como elas estão
sendo utilizadas.

NOTA

Quem está errado, os usuários ou a legislação? Qual é sua opinião?

140
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

5.3 CÓPIAS PARA FINS EDUCATIVOS, DE PRESERVAÇÃO E


ACESSO A DEFICIENTES
Diferentemente de outros países, a legislação brasileira sobre direitos autorais
permite, embora não quantifique, cópias de “pequenos trechos” de obras para fins
educativos. Também há brechas, no Brasil, para a tradução de obras inteiras para
o Braile. No entanto, a abertura para a aquisição de obras para fins educativos, de
preservação e acesso a deficientes para por aí. E isso prejudica principalmente as
instituições públicas de ensino, na perspectiva de assegurarem aos seus usuários
acesso à informação, à cultura e ao conhecimento, pois não possuem a mesma
capacidade financeira das instituições privadas de ensino para aquisição de obras
protegidas.

Tais situações perpassam o cotidiano de todo profissional da informação.


Resta saber se, diante das leis de direitos autorais e seus impactos sobre o exercício
de profissões e mesmo sobre as necessidades dos usuários, serão ou não agentes
passivos no cumprimento de tais leis. Se a opção for a de ter voz ativa sobre este
processo, o horizonte de debate e proposição de alternativas será promissor.

Vejamos alguns recortes de uma notícia veiculada no site Biblioo Cultura


Informacional intitulado Direitos autorais: O que os bibliotecários têm a ver com isso?,
reportagem de Rodolfo Targino (2016):

Digitalização em bibliotecas

Numa decisão inédita, o Tribunal de Justiça da União Europeia


resolveu em 2014 que o direito dos autores pode ser flexibilizado em prol
do compartilhamento do conhecimento, podendo uma biblioteca digitalizar
uma obra mesmo contra a vontade do detentor dos direitos autorais e
disponibilizar essa obra para o público. O imbróglio surgiu quando uma
biblioteca se negou a adquirir a versão digital de determinados livros
e decidiu escanear a obra para disponibilizar para os usuários em seus
terminais de leitura, o que não agradou a editora que reclamou à Justiça,
alegando ser a detentora dos direitos autorais.

Embora a decisão não tenha qualquer efeito no ordenamento jurídico


brasileiro, serve para mostrar que as bibliotecas não estão imunes aos
dilemas que colocam de um lado os detentores de direitos intelectuais e de
outro os usuários que buscam acesso amplo a informação e ao conhecimento.
As fotocópias, por exemplo, são uma realidade de muitas bibliotecas que
contam com uma copiadora, a famosa xerox, em seu interior o que, segundo
os editores, estimula os leitores a burlar os direitos de autor [...].

Atualmente tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL


3133/2012) visando alterar, atualizar e consolidar a legislação sobre direitos

141
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

autorais no Brasil. Pela proposta, não constituiria ofensa aos direitos autorais
a utilização de obras protegidas, dispensando-se, inclusive, a prévia e expressa
autorização do titular e a necessidade de remuneração por parte de quem
as utiliza, nos casos de reprodução necessária à conservação, preservação
e arquivamento de qualquer obra, sem finalidade comercial, realizada por
bibliotecas, arquivos, centros de documentação, museus, cinematecas e demais
instituições museológicas, na medida justificada para atender aos seus fins.

Ainda de acordo com a proposta, a reprodução necessária à conservação,


preservação e arquivamento de conteúdo on-line publicamente disponível em
websites, sem finalidade comercial, realizada por estas mesmas instituições, na
medida justificada para atender aos seus fins, também não constituiria ofensa
aos direitos autorais. Observe-se que a proposta faz referência a cópias com o
propósito de conservação, preservação e arquivamento, sem citar as situações
em que a finalidade é a pesquisa e o estudo, o que mais uma vez parece deixar
os usuários e os profissionais desassistidos do que é ou não possível fazer
quando aqueles solicitam cópias a estes [...].

No exterior

Diferente do que acontece no Brasil, a Espanha tem uma lei de


propriedade intelectual, que equivale a nossa lei de direitos autorais, muito
mais clara em relação à situação das bibliotecas e de outros espaços culturais.
Conforme a lei espanhola, os titulares dos direitos de autor não poderão
se opor às reproduções das obras, quando estas se realizem sem finalidade
lucrativa por museus, bibliotecas, fonotecas, cinematecas, hemerotecas,
arquivos de titularidade pública ou integradas em instituições de caráter
cultural ou científico e a reprodução se realize exclusivamente para fins de
investigação ou conservação.

Ainda de acordo com a lei espanhola, museus, arquivos, bibliotecas,


hemerotecas, fonotecas, cinematecas de propriedade pública ou pertencentes
a entidades de interesse geral e de caráter cultural, científica ou educacional
sem fins lucrativos, ou instituições de ensino integradas do sistema educativo
espanhol, não exigem autorização dos titulares dos direitos ou de pagar uma
remuneração para os empréstimos que realizarem.

Sobre a reprodução, o Código do Direito de Autor e dos Direitos


Conexos português considera lícitas, mesmo sem o consentimento do autor,
a cópia, no todo ou em parte, de uma obra que tenha sido previamente
tornada acessível ao público, desde que tal reprodução seja realizada
por uma biblioteca pública, um arquivo público, um museu público, um
centro de documentação não comercial ou uma instituição científica ou de
ensino, e que essa reprodução e o respectivo número de exemplares não

142
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

se destinem ao público, se limitem às necessidades das atividades próprias


dessas instituições e não tenham por objetivo a obtenção de uma vantagem
econômica ou comercial, direta ou indireta, incluindo os atos de reprodução
necessários à preservação e arquivo de quaisquer obras.

FONTE: <https://biblioo.cartacapital.com.br/direitos-autorais-2/>. Acesso em: 16


set. 2019.

O tema sobre direitos autorais e as atividades da biblioteconomia também


foi assunto para a Federação Brasileira de Associações Bibliotecárias (FEBAB).

FIGURA 22 – FEBAB

FONTE: <http://bit.ly/2OTiKCs>. Acesso em: 16 set. 2019.

Para a comissão Brasileira de Direitos Autorais e Acesso Aberto da FEBAB


(2018, s. p.),

somente uma reforma no atual sistema internacional e nacional de


direitos autorais poderá potencializar os benefícios que as bibliotecas
trazem para seus usuários no contexto da sociedade da informação
e, desta forma, evitar que haja um retrocesso em direção a um cenário
anterior ao analógico.

Segundo o documento, a partir da digitalização de obras e arquivos, é


importante que seja permitido às bibliotecas a realização de atividades como o
empréstimo digital, a cópia para preservação e a troca de documentos entre diferentes
bibliotecas em território nacional e internacional. Para isso, é necessário que haja uma
ampliação nas limitações e exceções aos direitos autorais que confiram segurança
institucional ao trabalho das bibliotecas e permitam principalmente:

143
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

FIGURA 23 – PERMISSÕES POSSÍVEIS AS BIBLIOTECAS


o compartilhamento de recursos entre bibliotecas, incluindo o acesso transfronteiras,
para fins educacionais e de pesquisa;

o empréstimo e disponibilização de materiais para a totalidade de seus usuários, dentro


dos fins especificados pelas limitações e exceções;

a produção e recebimento de cópias de obras pelas bibliotecas, para fins pessoais e


privados de seus usuários;

a proteção contra abusos nas licenças atualmente impostas pelos titulares de direitos
autorais, que muitas vezes inviabilizam o trabalho das bibliotecas;

a possibilidade de contornar travas tecnológicas que impedem a preservação e o uso de


obras adquiridas legalmente;

a preservação e a disponibilização de obras e documentos impressos que não foram


adaptados para o ambiente digital, principalmente para constituição de acervos digitais
e para o oferecimento de conteúdos para educação à distância;

FONTE: Adaptado de FEBAB (2018)

Podemos concluir que os direitos autorais surgiram há mais de um século


com o propósito de estimular economicamente os autores de obras intelectuais
a continuarem criando e expressando suas ideias. Acreditava-se que, ao adquirir
um direito exclusivo as suas criações, os autores e inventores poderiam explorar
comercialmente suas obras e conseguir a justa recompensa pelo seu esforço e talento,
promovendo-se, assim, o desenvolvimento econômico e cultural, e o bem comum de
toda a sociedade.

FIGURA 24 – PROTEÇÃO AOS DIREITOS

FONTE: <http://bit.ly/31kTW8P>. Acesso em: 16 set. 2019.

144
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

Todavia, esse mesmo bem comum e todas as inúmeras possibilidades


de avanço no campo da cultura e do saber podem estar ameaçados pela proteção
excessiva a essa propriedade das ideias. Um sistema que visava reconhecer o trabalho
do autor, hoje impõe diversas barreiras ao acesso ao conhecimento, incluindo ao
patrimônio cultural, criando entraves à inovação e à pesquisa e desestimulando os
processos criativos (FEBAB, 2018).

As bibliotecas cumprem, nesse sentido, um papel fundamental no acesso ao


conhecimento científico e a obras artísticas e literárias, bem como a outros materiais
educacionais. Sem prejudicar a exploração comercial de uma obra, nem desmerecer
o importante trabalho de um autor, dada a finalidade pública intrínseca dessas
instituições, as bibliotecas oferecem serviços básicos como preservação de conteúdos
de valor histórico, apoio à pesquisa e à inovação, suporte a pessoas com deficiência,
entre outras atividades fundamentais para países em desenvolvimento como o
Brasil, que possuem uma cultura rica, mas poucos recursos. Por isso, a FEBAB vem
se posicionando para que haja uma certa flexibilidade legal aos Direitos Autorais, as
chamadas limitações e exceções, para trazer um maior equilíbrio na relação entre os
usuários e os criadores de obras protegidas por direitos autorais, e que permita às
bibliotecas a realização plena de suas funções (FEBAB, 2018).

Dessa forma, acreditamos que a propriedade dos profissionais da informação


é satisfazer as necessidades informacionais de seus usuários. Estes viram na evolução
tecnológica, particularmente com o advento da internet, possibilidade de acesso e
disseminação de novas fontes de conhecimento, e assim, surgimento de uma nova
cultura de compartilhamento, na intenção de democratização da informação. E
viram, por outro lado, tais perspectivas serem cerceadas por legislações estabelecidas
antes do advento das novas tecnologias e agora revigoradas ou “atualizadas”.

Se por um lado a evolução tecnológica ampliou a possibilidade de acesso à


informação, por outro, leis como as de direitos autorais e as bases de acesso restrito
privatizam tal possibilidade. De quebra, colocam em xeque a própria função social
do profissional da informação, mas, fundamentalmente, reduzem a informação e a
cultura à condição de mercadoria.

Tal situação vem despertando um debate internacional sobre os direitos de


propriedade intelectual, o acesso aberto à informação e os processos decisórios sobre
acordos comerciais multilaterais e bilaterais e ajustes de legislações internas dos países.
Vem, também, propiciando a emergência de movimentos sociais contestatórios a esta
“nova ordem”.

Willinsky (2006) afirma que apenas 20% de todos os artigos de pesquisa estavam
em acesso aberto, e muitos deles disponíveis apenas como manuscritos autoarquivados
em sites pessoais dos autores, apesar de muitos jornais experimentarem modelos de maior
acesso, como a oferta de acesso aberto a uma pequena seleção de artigos disponíveis
gratuitamente. Enquanto isso, as taxas de inscrição revistas continuam a crescer, prendendo
os orçamentos das bibliotecas e restringindo a circulação.

145
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

Num passado recente, as editoras, assim como as gravadoras, tinham a


função de fazer o conhecimento chegar ao público. Essa mediação era necessária, pois
envolvia um complexo sistema de produção, distribuição, logística, planejamento
e também custos de estocagem, além das parcelas de participação dos varejistas e
distribuidores. Hoje, as tecnologias de informação e comunicação quebraram essa
cadeia que havia entre o produtor/autor e o leitor/consumidor.

No caso da literatura acadêmica, a difusão da obra e seu impacto são


fundamentais para o autor. Raros são os autores que realmente ganham algum
dinheiro das editoras. Em geral, pesquisas que custaram dezenas ou centenas
de milhares de dólares, financiados pelos contribuintes, podem ter seus direitos
entregues de forma praticamente gratuita para uma editora. A edição de tais obras
raramente passa dos mil exemplares, sendo que a do autor é muitas vezes cobrada
a parte ou o total dos custos para publicar. Alguns livros são impressos apenas uma
única vez. Além disso, uma editora pode fechar, vender os direitos ou simplesmente
perder o interesse na obra, mesmo assim, retendo os direitos.

Logo, cabe perguntar: como o cientista da informação brasileiro deveria


responder aos problemas e conflitos apresentados? Qual a sua opinião?

Poder-se-ia simplesmente cumprir a lei e esperar um posicionamento


institucional sobre o assunto. Ou ainda fechar os olhos para os debates que estão
ocorrendo.

Entendemos que tal postura equivaleria ao comportamento do avestruz


diante de uma situação de perigo. Ao contrário, o momento exige dos profissionais
da informação participação ativa de aprofundamento do debate e tomada de
posição política diante dos desafios que estão colocados. E, tais desafios, não se
resumem aos aspectos meramente corporativos que tal debate encerra. O centro dos
questionamentos é a garantia do direito social à informação.

146
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

LEITURA COMPLEMENTAR

A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E O MOVIMENTO DE ACESSO LIVRE


AO CONHECIMENTO

Suzana Pinheiro Machado Mueller

INTRODUÇÃO

O movimento para acesso livre ao conhecimento científico pode ser


considerado como o fato mais interessante e talvez importante de nossa época no
que se refere à comunicação científica. Ao mesmo tempo, este movimento representa
enorme desafio para a comunidade científica, à medida que, quanto mais amplo
o seu sucesso, mais radical será a mudança provocada no sistema tradicional
e profundamente arraigado de comunicação do conhecimento científico. A
comunidade científica concedeu às revistas indexadas e arbitradas (com peer review)
o status de canais preferenciais para a certificação do conhecimento científico e para
a comunicação autorizada da ciência e deu-lhe, ainda, a atribuição de confirmar a
autoria da descoberta científica. As revistas indexadas estão, dessa forma, no centro
do sistema tradicional de comunicação científica. Mas é consenso, também, entre
os membros da comunidade, que este sistema está longe de perfeito. Além dos
problemas ligados ao processo da publicação dos artigos, o custo extremamente
alto de manutenção de coleções atualizadas pelas bibliotecas provoca dificuldade de
acesso para o leitor.

Ao surgirem e ganharem formas inovadoras, a partir da década de 90, as


publicações científicas eletrônicas despertaram esperanças, em muitos pesquisadores,
de uma mudança radical no sistema tradicional de comunicação científica. Assim
como os utopistas da Renascença, alguns sonharam com um novo sistema de
comunicação, no qual o acesso a todo conhecimento científico se tornaria universal
e sem barreiras. Especialmente nos países mais afastados dos principais centros
produtores, surgiu a esperança não só de acesso ao que era produzido fora, mas
também que a produção local teria maior visibilidade e penetração internacional.
Porém, passados cerca de 15 anos desde o surgimento das primeiras publicações
eletrônicas, vemos que, assim como nas utopias, a realidade se mostra diferente do
sonho. As bibliotecas universitárias nem sempre conseguem renovar suas assinaturas
de revistas internacionais, eletrônicas ou não, e os pesquisadores dos países não
centrais ainda enfrentam algumas dificuldades para publicar nos títulos principais de
suas áreas ou ter sua produção reconhecida internacionalmente. Em retrospecto, as
expectativas que então surgiram com as possibilidades da tecnologia talvez pareçam
hoje um tanto ingênuas, um sonho utópico de socialização do conhecimento, sem
fronteiras e preconceitos [...].

147
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

OS CONCEITOS DE LEGITIMAÇÃO E LEGITIMIDADE

Os fenômenos legitimação e legitimidade perpassam todas as atividades


sociais. Como objeto de estudo tem sido de interesse de várias áreas, especialmente
direito, sociologia, psicologia e ciência política. Entre os diversos autores que se
preocuparam com o tema, ao longo do tempo, estão desde Platão e Aristóteles a
Weber, Parsons, Bobbio, Habermas, Lyotard, Foucault, Luhmann, Zelditch. Embora
cada autor trate o tema a partir de perspectivas diferentes, há um entendimento
comum a todos, que se percebe quando associam os conceitos legitimação e
legitimidade a poder, autoridade, consenso, crenças, normas e leis, conformidade,
estabilidade, controle social, desvio, repressão. Foram selecionados para este trabalho
e serão comentados, a seguir, cinco textos de autores que, ao definirem os conceitos
legitimação e legitimidade, ressaltaram pontos considerados relevantes para a
reflexão que se pretende. O critério da escolha foi dirigido pela intenção de construir
um pano de fundo contra o qual, mais adiante, será considerado o caso específico do
movimento pelo acesso aberto no sistema tradicional de comunicação científica. São
primeiramente expostas e comentadas definições que se referem às sociedades em
geral e a aspectos legais nessas sociedades. A essas, seguem definições propostas por
autores que tinham em mente o contexto específico da ciência.

O primeiro ponto que importa para a presente discussão diz respeito à


relação de dependência entre os conceitos de legitimidade e consenso. Esse assunto
foi tratado por Zelditch, que enfatiza o consenso como elemento essencial para haver
legitimidade. Segundo o autor, o pressuposto de que o consenso é condição necessária
à legitimação tem sido fundamental para todas as teorias de legitimidade. Zelditch
(2001, p. 9) define legitimação como um “processo que conforma o inaceitável às
normas, valores, práticas e procedimentos aceitáveis”. Portanto, por definição,
legitimidade depende de consenso.

Partindo do pressuposto de que o consenso confere legitimidade a um


poder e trabalhando sobre as definições dadas pelo Dictionnaire Encyclopédique
de Théorie et de Sociologie du Droit ARNAUD apud Bissot (2002) relaciona “a
medida de legitimidade de um poder ao reconhecimento que lhe conferem aqueles
que lhe são sujeitos”. Para este autor, um poder será considerado legítimo quando
houver equilíbrio entre a forma como o poder é exercido pela autoridade e a noção
que a sociedade tem de como esse poder deva ser exercido. Ainda de acordo com
Bissot, a noção de legitimidade é eminentemente subjetiva e própria de uma época
e sociedade, de uma cultura e um lugar. O sentimento de legitimidade em relação a
um poder, quando existe entre os sujeitos de uma sociedade, induz esses sujeitos à
conformidade àquele poder.

Lidando também com a conformidade e consenso, Tyler (2006) afirma que o


reconhecimento da legitimidade induz as pessoas a voluntariamente se comportarem de
acordo com as normas. Tyler (2006) argumenta que esse compromisso social voluntário
é decorrente da legitimação da autoridade e define legitimidade como a “crença
que autoridades, instituições e organizações sociais são corretas, adequadas e justas,
levando as pessoas a se sentirem obrigadas a obedecer àquelas autoridades, instituições

148
TÓPICO 2 | DIREITOS AUTORAIS OU DIREITOS DOS AUTORES?

e organizações sociais”. Segundo Tyler, só assim podemos explicar por que aceitamos
injustiças e diferenças sociais tão grandes ou a autoridade de uns sobre outros.

A legitimação de uma determinada situação se refere à característica


dessa situação ser considerada legítima porque é vista como sendo correta
ou apropriada. Assim, por exemplo, um conjunto de crenças que existe
em uma sociedade pode explicar por que tal sociedade julga corretas ou
aceitáveis diferenças na distribuição de autoridade, poder, status e riqueza.
A legitimação tem como consequência encorajar as pessoas a aceitarem
essas diferenças. Considerando a autoridade individual ou da instituição,
legitimidade é uma propriedade que, quando possuída, leva as pessoas a
voluntariamente aceitarem decisões, regras e arranjos sociais (TYLER, 2006).

A mesma noção expressa por esses autores, de que a crença na legitimidade


de um poder é baseada em consenso e provoca conformidade, obediência voluntária
e aceitação social de diferenças na distribuição de poder e autoridade, é percebida
e desenvolvida por Lyotard. Em seu texto sobre a pós-modernidade, Lyotard
amplia os conceitos legitimação e legitimidade para além das questões estritamente
legais, reconhecendo-as presentes também em outros níveis da sociedade, inclusive
nas comunidades científicas. No trecho citado abaixo, Lyotard (1984, p. 8) faz um
paralelo entre a autoridade legitimada do poder civil e o fenômeno da legitimação
do conhecimento científico:

Eu uso o termo [legitimação] em um sentido mais amplo do que tem sido


usado pelos teóricos alemães contemporâneos em sua discussão sobre
a questão da autoridade. Consideremos, como exemplo, qualquer lei
civil: ela estipula que uma dada categoria de cidadão deva desempenhar
determinado tipo de ação. Legitimação é o processo pelo qual um
legislador é autorizado a promulgar esta lei como uma norma. Agora
consideremos o exemplo de uma afirmação científica: ela está sujeita à
regra que estabelece que uma afirmação deva preencher um dado conjunto
de condições para ser aceita como científica. Neste caso, legitimação é o
processo pelo qual um “legislador” trabalhando com discurso científico
é autorizado a prescrever as condições (em geral, condições relacionadas
à consistência interna e verificação experimental) que determinam se
uma afirmação poderá ser incluída naquele discurso pela comunidade
científica (LYOTARD, 1984).

Shawver (1998), comentando esse texto de Lyotard, chama a atenção para o


fato de o autor colocar a palavra “legislador” entre aspas, entendendo com isso que
Lyotard está conferindo o status de legislador a qualquer pessoa a quem é conferida
a capacidade de decidir o que uma norma estabelece e em qualquer contexto. O
próprio Lyotard, referindo-se especificamente à questão da legitimidade da ciência,
ressalta sua ligação indissociável e histórica, “estabelecida desde o tempo de Platão”,
à questão da legitimação do legislador. Do seu ponto de vista, o direito de decidir
o que é verdade não é independente do direito de decidir o que é justo ou ético.
Conhecimento e poder são, para ele, dois lados de uma mesma questão: quem decide
o que é conhecimento, e quem sabe o que precisa ser decidido na era do computador,
seria, para Lyotard (que escreveu isso em 1979), “mais do que nunca uma questão de
governo” (LYOTARD, 1984).

149
UNIDADE 3 | TÓPICOS ESPECIAIS EM FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

As ideias de Lyotard parecem ter inspirado a última definição selecionada


para este texto, retirada da Encyclopedia of Marxism (ENCYCLOPEDIA... 1999),
um dicionário marxista on-line. Agora, o contexto é especificamente a comunidade
científica. A definição introduz também a questão de interesses sociais e comerciais
na produção do conhecimento científico, elaborando e ampliando a idéia de Lyotard:

Legitimação significa, literalmente, tornar legal, mas a teoria social


reconhece que os processos pelo qual uma ação passa a ser considerada
legítima são bem mais amplos que o sistema legal e são fundamentais
não apenas para as relações de poder em uma sociedade, mas também
para as suas relações de produção, ideologia e sistema de crenças. Por
exemplo, quais os meios que tornam uma teoria científica ‘legítima’?
Seria o autor um “cientista” legitimado por uma instituição que, por sua
vez, foi legitimada pelo Estado? A teoria foi publicada em um periódico
“científico” e foi “avaliada pelos pares”? Essa teoria se encaixa com
outras teorias que já foram carimbadas como legítimas, e assim por
diante? Além de tudo isso, essa teoria jamais veria a luz do dia se, em
primeiro lugar, não tivesse havido financiamento para a pesquisa, o que
envolve uma série de processos de legitimação e conhecidos interesses
sociais. O conhecimento, hoje, está sendo comercializado como jamais foi
(LEGITIMATION... 19939-5005).

Concluindo e consolidando a visão dos autores examinados, entendemos que


legitimação significa tornar legal e que, embora seja um termo originalmente usado no
contexto de sistemas legais, os processos que levam uma ação a ser considerada legítima
extrapolam os sistemas legais, e esse é o caso da comunicação científica. Legitimação
exige consenso. Legitimidade é a crença que autoridades, instituições e organizações
sociais são corretas, adequadas e justas, por isso devem ser respeitadas e aceitas. A crença
que autoridades e instituições são legítimas compele as pessoas a aceitar suas decisões e
a voluntariamente obedecê-las. Legitimidade é um conceito eminentemente subjetivo,
restrito a uma época e lugar e provoca a conformidade. No campo da ciência, legitimação
é o processo pelo qual o “legislador” encarregado de zelar pelo discurso científico é
autorizado, pela comunidade científica, a prescrever as condições que estabelecem
se determinado conhecimento pode ser considerado científico. Tendo como pano de
fundo esses conceitos de legitimação e legitimidade da ciência, será discutido, a seguir, o
contexto onde o movimento de acesso aberto ao conhecimento científico ocorre: o sistema
de comunicação científica e a comunidade científica.

FONTE: MUELLER, S. P. M. A comunicação científica e o movimento de acesso livre ao


conhecimento. Ciência da informação, Brasília, v. 35, n. 2, p. 27-38, 2006. Disponível em: http://
revista.ibict.br/ciinf/article/view/1138/1293. Acesso em: 25 set. 2019.

150
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Direitos de acesso ao conhecimento, à informação e à cultura são elementos


essenciais para o desenvolvimento da sociedade. Entretanto, esses direitos muitas
vezes entram em conflito com as leis de direitos autorais, devido às restrições
impostas, que se justificam por um suposto direito do autor.

• Durante o século XX, a propriedade intelectual propiciava razoavelmente o


equilíbrio entre os direitos autorais e os interesses da sociedade. A partir da década
de 1990, no entanto, os direitos decorrentes da criação passaram a ser encarados
como “propriedade” absoluta. A lei se tornou o principal instrumento de mudança,
ampliando substancialmente o poder dos detentores de propriedade.

• Existe um Dossiê CopySouth, que denuncia os benefícios dos países desenvolvidos


do Norte em relação aos países em desenvolvimento do Sul, visto que os
primeiros, através das multinacionais, já possuem uma porcentagem esmagadora
da propriedade intelectual mundial e ao mesmo tempo destaca as crescentes
imposições e pressões institucionais internacionais na perspectiva de cerceamento
do Copyright.

• O Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos, que permite o


compartilhamento e uso da criatividade e do conhecimento através de instrumentos
jurídicos gratuitos.

• O Copyleft é um método geral para tornar um programa (ou outra obra) livre (free,
em inglês, no sentido de liberdade, e não de “preço zero”) e exigir que todas as
versões modificadas e extensões do programa também sejam livres.

• O Digital Rights Management (DRM) é um conjunto de tecnologias criadas para


proteger mídias digitais de qualquer espécie, que evita a cópia pelos usuários
impedindo sua distribuição sem autorização ou pagamento.

• A Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, em vigor no Brasil, foi sancionada


pela Presidência da República com o objetivo de alterar, atualizar e consolidar a
legislação sobre direitos autorais, ou seja, regular os direitos do autor.

• O direito do autor e de propriedade intelectual estão inseridos no Título II da


Constituição Federal de 1988, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo
I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Art. 5º, da Constituição Federal.

151
• Diferentemente da aquisição de revistas científicas impressas, que ao serem
compradas são facilmente incorporadas ao acervo das instituições, as bases de
dados são apenas licenças, restringindo diversos serviços antes oferecidos com
a versão impressa, como a comutação – serviço de solicitação de fotocópias e/ou
empréstimo de documentos – entre bibliotecas, como também limitação de acessos
e impressões.

• Diferentemente de outros países, a legislação brasileira sobre direitos autorais


permite, embora não quantifique, cópias de “pequenos trechos” de obras para fins
educativos. Também há brechas, no Brasil, para a tradução de obras inteiras para
o Braile.

• Para a comissão Brasileira de Direitos Autorais e Acesso Aberto da FEBAB somente


uma reforma no atual sistema internacional e nacional de direitos autorais poderá
potencializar os benefícios que as bibliotecas trazem para seus usuários no contexto
da sociedade da informação e, desta forma, evitar que haja um retrocesso em
direção a um cenário anterior ao analógico.

152
AUTOATIVIDADE

1 Relacione as atribuições do Creative Commons:

a) ( ) Não a obras derivadas: permite a distribuição e o uso comercial, mas


define que seja distribuída igualmente como foi achada, que o autor seja
citado e que não sejam realizadas modificações.
b) ( ) Possibilita que outras pessoas criem obras derivadas, compartilhem o
conteúdo e distribuam livremente apenas citando o autor.
c) ( ) Uso não comercial – não a obras derivadas: permite apenas a distribuição
citando o autor e impede a criação de obras derivadas em uso não comercial.
d) ( ) Uso não comercial: permite que a obra seja remixada e distribuída, mas
apenas sem uso comercial.
e) ( ) Uso não comercial – compartilhamento pela mesma licença impede o uso
comercial, mas permite a distribuição desde que se use a mesma licença.
f) ( ) Os usos anteriores, mas exige que se cite o autor e a obra criada a partir
dela continua com a mesma licença.

2 Os direitos autorais visam estimular uma determinada prática social que


é o incremento da atividade criativa do homem para o desenvolvimento
econômico, cultural e tecnológico da sociedade. Porém, essas transformações
sociais advindas, principalmente, das novas tecnologias, levaram a uma
mudança de função do direito de autor. Que mudanças são essas?

153
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