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Cálculo Diferencial e

Integral IV
Prof.ª Daniela Rego Amazonas

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.ª Daniela Rego Amazonas

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

A489c

Amazonas, Daniela Rego

Cálculo diferencial e integral IV. / Daniela Rego Amazonas. –


Indaial: UNIASSELVI, 2020.

297 p.; il.

ISBN 978-65-5663-010-6

1. Cálculo diferencial. - Brasil. 2. Cálculo integral. – Brasil. Centro


Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 515.33

Impresso por:
Apresentação
Prezado estudante, bem-vindo a mais uma etapa do seu curso de
Cálculo Diferencial e Integral. Ao longo das disciplinas de Cálculo, você
veio criando as bases necessárias para o entendimento dos assuntos que
serão tratados aqui, desde os conceitos básicos de derivada até a resolução
de integrais usando as técnicas mais diversas. Quanto melhor for o seu
domínio dos assuntos tratados nas disciplinas anteriores, mais fáceis serão
sua compreensão e destreza ao tratar dos problemas apresentados nesta
disciplina.

Falaremos, aqui, de três assuntos importantes, a saber: Equações


Diferenciais, Transformada de Laplace e Séries de Fourier. Apesar de
parecerem assuntos desconexos, estão interligados, cujas aplicações, nas
mais diversas ciências, são infindáveis.

Procuramos, ao longo das unidades, fazer a apresentação dos assuntos


de maneira formal, prezando pelo bom uso da linguagem matemática, mas
sem exageros, facilitando sua leitura. Você também observará que existe um
número muito grande de exemplos, cujo objetivos são ilustrar situações-
problema e facilitar o entendimento dos conceitos e técnicas apresentadas.
Além disso, apresentaremos uma variedade de aplicações ao logo de todo
o livro. É preciso não somente incentivar a leitura, mas também mostrar o
quão importante e variado é o estudo dos assuntos desta disciplina.

Ao logo de toda a sua jornada estudando Matemática, você já deve


ter tido a conclusão de que dedicação, organização e concentração são
fundamentais. Nesta disciplina, além desses três fatores, acrescentamos a
prática. Refaça os exemplos e resolva as atividades propostas mais de uma
vez. Tenha certeza de que você domina as técnicas antes de ir para o próximo
exemplo ou exercício. Dessa forma, temos convicção de que seu desempenho
será excepcional.

Desejamos uma boa leitura e que esta disciplina seja mais um


incentivo para você continuar aprendendo.

Profª. Dra. Daniela Amazonas

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro


que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.

Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS........................................................................................1

TÓPICO 1 – PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS DE CONTORNO.................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS DE CONTORNO.....................................3
3 CLASSIFICAÇÃO DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS...................................................................4
3.1 SOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL........................................................................7
4 TIPOS DE SOLUÇÕES...........................................................................................................................8
5 PROBLEMA DE VALOR INICIAL (PVI)............................................................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................15
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................16

TÓPICO 2 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM............................................19


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................19
2 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE VARIÁVEIS SEPARÁVEIS....................................................19
3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES........................................................................................22
4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS EXATAS.............................................................................................28
5 SOLUÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO.....................................................................................................32
6 APLICAÇÃO...........................................................................................................................................39
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................44
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................45

TÓPICO 3 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM......................47


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................47
2 DEFINIÇÃO............................................................................................................................................47
3 PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO.....................................................................................................48
4 INDEPENDÊNCIA LINEAR...............................................................................................................49
5 CARACTERÍSTICAS DA SOLUÇÃO...............................................................................................50
6 ENCONTRANDO A SOLUÇÃO........................................................................................................56
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................78
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................79

TÓPICO 4 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM SUPERIOR......................81


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................81
2 RAÍZES REAIS DISTINTAS...............................................................................................................82
3 RAÍZES REAIS REPETIDAS...............................................................................................................83
4 RAÍZES COMPLEXAS DISTINTAS..................................................................................................84
5 RAÍZES COMPLEXAS REPETIDAS.................................................................................................85
6 EQUAÇÕES NÃO HOMOGÊNEAS..................................................................................................86
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................89
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................90

TÓPICO 5 – EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER..................................................................................91


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................91

VII
2 EQUAÇÃO HOMOGÊNEA.................................................................................................................92
3 EQUAÇÃO NÃO HOMOGÊNEA......................................................................................................96
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................98
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................99
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................100

UNIDADE 2 – TRANSFORMADA DE LAPLACE..........................................................................101

TÓPICO 1 – TRANSFORMADA DE LAPLACE..............................................................................103


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................103
2 REVISÃO DE INTEGRAIS IMPRÓPRIAS....................................................................................103
3 DEFINIÇÃO DA TRANSFORMADA DE LAPLACE..................................................................104
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................113
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................114

TÓPICO 2 – TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA.............115


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................115
2 TRANSFORMADA INVERSA DE LAPLACE...............................................................................115
3 TRANSFORMADA DE LAPLACE DA DERIVADA....................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................129

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS TEOREMAS DE TRANSLAÇÃO....131


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................131
2 TEOREMA DE TRANSLAÇÃO NO EIXO-S.................................................................................131
3 TEOREMA DE TRANSLAÇÃO NO EIXO-t..................................................................................133
4 TRANSFORMADA DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA................................................................136
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................139
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................140

TÓPICO 4 – DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA DA INTEGRAL.....141


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................141
2 DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA...........................................................................................141
3 TRANSFORMADA DA INTEGRAL...............................................................................................143
4 DELTA DE DIRAC...............................................................................................................................147
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................151
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................152

TÓPICO 5 – RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE


LAPLACE...........................................................................................................................153
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................153
2 METODOLOGIA.................................................................................................................................153
3 EXEMPLOS...........................................................................................................................................153
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................174
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................175

TÓPICO 6 – APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE.......................................177


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................177
2 OSCILADOR HARMÔNICO FORÇADO.....................................................................................177
3 FÓRMULA DE DUHAMEL .............................................................................................................180
4 CIRCUITOS RLC.................................................................................................................................182
5 FUNÇÃO IMPULSO...........................................................................................................................185

VIII
6 METABOLISMO DE UM MEDICAMENTO ................................................................................186
7 FUNÇÃO GAMA.................................................................................................................................189
8 TRANSFORMADAS DE LAPLACE................................................................................................192
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................198
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................199

UNIDADE 3 – SÉRIES DE FOURIER.................................................................................................201

TÓPICO 1 – SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA.......................203


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................203
2 SEQUÊNCIAS......................................................................................................................................203
3 SÉRIES NUMÉRICAS.........................................................................................................................206
4 SÉRIES DE POTÊNCIA......................................................................................................................211
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................220
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................221

TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES PERIÓDICAS..........................223


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................223
2 FUNÇÕES PERIÓDICAS...................................................................................................................223
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................230
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................231

TÓPICO 3 – SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER..........233


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................233
2 PRODUTO INTERNO........................................................................................................................233
3 SÉRIE DE FOURIER............................................................................................................................238
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................249
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................250
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................251

TÓPICO 4 – CONDIÇÃO DE CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER........................251


3 CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER............................................................................252
2 FUNÇÕES CONTÍNUAS POR PARTES.........................................................................................252
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................256
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................257

TÓPICO 5 – DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER..................................................259


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................259
2 DETERMINAÇÃO DOS COEFICIENTES DA SÉRIE DE FOURIER.......................................259
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................272
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................273

TÓPICO 6 – APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER................................................................275


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................275
2 RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS..............................................275
3 IDENTIDADE DE PARSEVAL.........................................................................................................281
4 TRANSFORMADA DE FOURIER...................................................................................................284
5 SÉRIES DE FOURIER GENERALIZADAS....................................................................................287
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................295
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................296
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................297

IX
X
UNIDADE 1

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• classificar as equações diferenciais;


• entender e resolver um problema de valor inicial;
• identificar e resolver equações diferenciais de primeira ordem;
• identificar e resolver equações diferenciais de segunda ordem;
• identificar e resolver equações diferenciais de ordem superior.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS DE


CONTORNO
TÓPICO 2 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
TÓPICO 3 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA
ORDEM
TÓPICO 4 – EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM
SUPERIOR
TÓPICO 5 – EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS


DE CONTORNO

1 INTRODUÇÃO
Devemos estudar as equações, pois elas aparecem em diferentes situações
e nas mais variadas ciências. Ao longo do texto, apresentaremos algumas
aplicações bem comuns, mas você deve ficar ciente de que, todos os dias, novas
equações diferenciais surgem, e que um grande desafio para o cientista é encontrar
soluções.

Iniciaremos nosso estudo definindo e classificando as equações


diferenciais. Em seguida, tentaremos resolvê-las através de diferentes técnicas
que devem ser aplicadas em conformidade com algumas características. Para
haver compreensão, apresentaremos, para cada nova técnica, diferentes exemplos
numéricos.

2 PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS DE


CONTORNO
Desde as primeiras séries do ensino fundamental, deparamo-nos com
estruturas matemáticas que chamamos de equações. O desafio é aprender
técnicas para encontrar suas soluções. É importante lembrar que a solução de
uma equação é todo valor que satisfaz a igualdade, ou seja, aquele valor que, ao
ser substituído no lugar das variáveis, torna a expressão verdadeira.

Ao longo de toda a vida acadêmica, aprendemos que existem diferentes


tipos de equações, em geral, classificadas de acordo com alguma característica
importante. Por exemplo, temos as equações polinomiais, sendo a mais famosa a
equação de segundo grau (ou quadrática), cuja principal característica é o fato de
poder ser escrita na forma de polinômio.

Neste tópico, introduziremos as equações diferenciais, em que a incógnita


é uma função e a equação envolve termos na função e suas derivadas. A solução
da equação sempre será uma função que, ao ser derivada, ela e suas derivadas
satisfazem a equação diferencial.

3
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Você deve lembrar que a derivada de uma função y = f(x) é uma outra
dy
= f ' ( x ) . Por exemplo, a função y = ex tem, por derivada, a função:
2
função
dx
dy 2
= 2 xe x
dx

Ainda:

dy
= 2 xy (1)
dx

Agora, imagine que você se depara somente com a equação (1), sem
saber como ela foi obtida. Como você faria para encontrar a função y = f(x)? Os
procedimentos para encontrar a função desconhecida y = f(x) serão apresentados
ao longo desta unidade.

Definição 1: chama-se equação diferencial toda equação que envolve uma


função incógnita e suas derivadas.

Exemplo 1:
dy
−y=0
dx

dy
representa a derivada e y = f(x) representa a função incógnita.
dx

3 CLASSIFICAÇÃO DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS


As equações diferenciais podem ser classificadas de acordo com o tipo,
ordem, grau ou linearidade.

1) Tipo: as equações diferenciais (ED) podem ser classificadas em ordinárias ou


parciais.

Equação diferencial ordinária (EDO) é aquela na qual há só uma variável


independente, de modo que todas as derivadas que ocorrem nela são denominadas
derivadas ordinárias.

Exemplo 2:

dx dy
+ = 2x + y .
dt dt

4
TÓPICO 1 | PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS

Equação diferencial parcial (EDP) é aquela em que há mais de uma


variável independente, de modo que as derivadas que ocorrem são denominadas
derivadas parciais.

Exemplo 3:
∂ 2u ∂ 2u
+ 0.
=
∂x 2 ∂y 2

Nesta unidade, nosso foco de estudo se remeterá às equações diferenciais


ordinárias, doravante chamadas de equações diferenciais.

2) Ordem: a ordem da equação diferencial (ED) é determinada pela derivada de


maior ordem presente.

Exemplo 4:

EDO de 1ª Ordem:

dy
= 2 xy ,
dx
EDO de 2ª Ordem:

d2 y
cos ω x ,
+ ky =
dx 2
3
d2 y  dy 
e x,
+ 5   − 4y =
dx 2
dx
 

EDO de 3ª Ordem:

d3 y
= x,
dx 3

EDO de 5ª Ordem:

d5 y 4
3 d y
3
2 d y d2 y
x4 + x + x + x +y=
0.
dx 5 dx 4 dx 3 dx 2

3) Grau: é a potência na qual se encontra elevada a derivada de ordem mais alta


de uma equação diferencial. Está relacionado ao “grau algébrico” da equação
diferencial.

5
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 5:

EDO de grau 1
dy
+x=0,
dx

EDO de grau 6:
4 3 6
 d 2 y   dy   dy 
 2  +  +  = 9x .
 dx   dx   dx 

NOTA

Nem sempre podemos classificar uma equação diferencial de acordo com o


grau, pois os coeficientes podem depender de y = f(x) Por exemplo:

3
yd2 y  dy 
e + 5  − 1 =0
 dx 
2
dx

A equação anterior não possui grau, pois não pode ser escrita em forma de um polinômio,
devido à presença do termo ey acompanhando a segunda derivada da função.

4) Linearidade: a equação diferencial (ED) pode ser classificada como linear ou


não linear.

Uma equação diferencial é classificada como linear quando ela pode ser
escrita da seguinte forma:

d( ) y d( ) y
n n −1
dy
an ( x ) + an −1 ( )
x +…+ a1 ( x ) + a0 ( x ) y = f ( x ) . (2)
dx n
dx n −1
dx

As equações diferenciais lineares são caracterizadas por duas propriedades:

• A variável dependente y e todas as suas derivadas são do primeiro grau, isto é,


a potência de cada termo envolvendo y é 1.
• Os coeficientes a0, a1, ..., an não dependem da variável dependente y. Dependem
de uma variável independente x.

Quando a equação diferencial não pode ser escrita como em (2), então,
dizemos que ela é não linear.
6
TÓPICO 1 | PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS

Exemplo 6:

Equação diferencial linear de 2ª ordem:

d2 y
+ 5y =
0.
dx 2

Equação diferencial não linear de 1ª ordem:

dy
− cos y =
0.
dx

3.1 SOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL


Uma vez entendido o que é uma equação diferencial e como classificá-
la, é necessário entender como resolver tal equação. Você já deve ter resolvido
equações diferenciais, em formas simples, desde os seus primeiros cursos de
cálculo quando resolveu integrais. Por exemplo, já sabemos que:
3
22 x3 x
∫∫ x dx =
x dx = + c. + c.
3
3
Ao analisar com mais detalhes o resultado anterior, você pode perceber
que, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, o resultado de uma integração é
uma função cuja derivada é o integrando, ou seja:

d  x3 
x2 .
 + c =
dx  3 

Portanto, quando resolvemos a integral de x2, estamos interessados em


encontrar uma função y = f(x), de forma que:

dy
= x2 ,
dx

procuramos a solução de uma equação diferencial.



Dizemos que f(x) é uma solução de uma equação diferencial quando
substituímos y = f(x) e suas respectivas derivadas na equação e a identidade se
mantém.

7
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 7: a função f(x) = ln x é solução da equação

d 2 y 1 dy −2
− = .
dx 2 x dx x 2

Com efeito, tomando y = f(x), obtemos:

dy 1
=
dx x

d 2 y −1
= .
dx 2 x 2

Portanto

d 2 y 1 dy −1 1 1 −2
− = − = . (3)
dx 2 x dx x 2 x x x 2

Note que a função f(x) = ln x + c também é solução da equação (3), pois a


derivada de uma constante é zero.

4 TIPOS DE SOLUÇÕES
Solução geral: é a solução da ED que contém tantas constantes arbitrárias
quantas forem as unidades da ordem da equação. Assim, se a ED é de ordem 1,
a solução geral terá uma constante arbitrária. Se for de ordem 2, deverão haver
duas constantes arbitrárias, e assim sucessivamente. Por exemplo, a solução geral
da equação:

d 2 y 1 dy −2
− =
dx 2 x dx x 2
é f(x) = ln x + c.

Solução particular: é a solução da ED deduzida da solução geral,


atribuindo-se valores particulares às constantes arbitrárias. Por exemplo, ainda
usando a equação diferencial:

d 2 y 1 dy −2
− = ,
dx 2 x dx x 2

8
TÓPICO 1 | PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS

uma solução particular seria f(x) = ln x, com c = 0.

Solução singular: existem casos em que a equação diferencial apresenta


uma solução que não pode ser obtida da solução geral. Por exemplo, a equação
diferencial

y '2 − xy′ + y =0
tem como solução geral y = cx – c2, para qualquer c constante. O fato pode ser
corroborado ao derivar essa solução geral e substituir o resultado obtido na
1 2
equação diferencial. Por outro lado, a função y = x é uma solução singular da
4
equação diferencial, pois satisfaz a equação, mas não pode ser obtida a partir da
solução geral.

No momento, você deve estar se perguntando: “será que toda equação


diferencial tem solução?” Para responder a essa pergunta, iniciaremos explicando
o que é um problema de valor inicial e, depois, apresentaremos um teorema
importante que garantirá a solução do problema.

5 PROBLEMA DE VALOR INICIAL (PVI)


Observa-se um fenômeno que ocorre com as equações diferenciais. As
soluções, na verdade, não são apenas uma função, mas uma família de soluções
indexadas por um ou mais parâmetros. Em geral, no caso de uma equação de
ordem n, há n constantes que indexam a família de soluções. Em muitos casos,
estamos interessados em encontrar uma dessas soluções que satisfaça uma
condição do tipo y(x0) = y0. Essa condição é chamada de condição inicial. Um
problema que envolve a solução de uma equação diferencial sujeita a uma condição
inicial é chamado de problema de valor inicial (PVI). Assim, a solução para um
problema de valor inicial é uma função que satisfaça a equação diferencial em
um determinado intervalo I ⊆ ℝR , cujo gráfico passa pelo ponto (x0, y0) com xx00∈
∈II.

Um PVI de uma equação diferencial de ordem n tem que apresentar n


condições iniciais no ponto x = x0. Por exemplo, o PVI de uma equação diferencial
de primeira ordem é:

 dy
a1 ( x ) + a0 ( x ) y = b ( x)
 dx .

 y ( x0 ) = y 0

No caso de uma equação diferencial de segunda ordem, temos o seguinte


PVI:

9
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

 d2 y dy
a2 ( x ) 2 + a1 ( x ) + a0 ( x ) y =
b ( x)
 dx dx .
 =
 y ( 0) 0 ( 0) 0
x y= , y ′ x y '
'

Seguindo o mesmo raciocínio, uma equação diferencial de grau n tem o


PVI:

. (4)

NOTA

O termo “condições iniciais” vem de sistemas físicos. Por exemplo, em


problemas envolvendo o deslocamento de um determinado objeto em que a variável
independente é o tempo, y(t0) = y0 e y´(t0) = y1 representam posição e velocidade,
respectivamente, de um objeto em um tempo inicial t0.

Exemplo 8: resolva a equação diferencial utilizada no Exemplo 6:

d 2 y 1 dy −2
− =
dx 2 x dx x 2

sujeita à condição inicial y(1) = 0.

A solução mais geral para o problema, sem considerar a condição inicial,


é:

f(x) = ln x + c.

Impondo a condição inicial, você poderá determinar a constante c e, assim,


ter uma solução única para o PVI. De fato, como a condição inicial é y(1) = 0, temos
que:
f ( x ) = ln x + c

y ( 1) = ln 1 + c =0

10
TÓPICO 1 | PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS

assim, concluímos que c = 0. Logo, a solução do PVI apresentado é f(x) = ln x.

A condição inicial do problema, não necessariamente, é definida no início


do intervalo de solução da equação diferencial. No Exemplo 7, o intervalo de
definição da solução da equação diferencial é ( 0, +∞ ) , e a condição inicial foi
definida em x = 1. Em geral, em problemas físicos ou, ainda, quando o PVI é
oriundo de algum modelo físico, a condição inicial é definida no começo do
intervalo de definição da solução para algum tempo inicial t0 (normalmente, a
variável independente da função em problemas físicos é o tempo).

Exemplo 9: a Segunda Lei de Newton afirma que a força resultante
atuando sobre um corpo é proporcional à massa vezes a aceleração, ou seja:

F = ma

m representa a massa do corpo e a sua aceleração. Suponha que um corpo é atirado


para cima do topo de um prédio. Qual é a posição s(t) do corpo em relação ao solo
no tempo t?

Para resolver o problema, você deve lembrar que a aceleração de um corpo


é matematicamente descrita como a segunda derivada da posição em relação ao
tempo, ou seja:

d2 s
a= .
dt 2

Quando o corpo é jogado para cima, com direção positiva, e nenhuma


outra força, além da gravidade, atua sobre o corpo, então a Segunda Lei de
Newton dá:

d2 s
F=
P⇒ m 2 = − mg
dt

ainda
d2 s
= −g.
dt 2

O sinal de negativo vem do fato de a direção ser positiva para cima. Além
disso, o peso do corpo é uma força que atua para baixo (direção oposta).

Se a altura do prédio é s0 e a velocidade inicial do corpo é v0, então, a


posição do corpo em relação ao solo é determinada pelo seguinte PVI:

11
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

 d2 s
 = −g
 dt 2 .
s ( 0 ) = s , s′ ( 0 ) = v
 0 0

Embora ainda não tenhamos apresentado as técnicas para resolver esse


tipo de PVI, você pode observar que podemos resolver a equação diferencial
simplesmente integrando a constante –g duas vezes em relação ao tempo, ou seja:

ds
=− gt + c1
dt
gt 2
s=
− + c1t + c2 .
2

Observe que, na primeira derivada da posição em relação ao tempo, é a


velocidade do corpo. Ainda, como as condições iniciais são para t = 0, elas dão as
duas constantes de integração e a solução é

gt 2
s=
− + v0t + s0
2

a famosa fórmula do deslocamento de uma partícula que você já deve ter estudado
em Física.

Logo, percebe-se que, na primeira derivada, encontramos a velocidade


em função do tempo e, na derivada segunda, encontramos a aceleração.

Ao tentar resolver um problema de valor inicial, você pode se perguntar:


existe uma solução, e se essa solução existe, será que ela é única? A resposta a essa
pergunta é dada pelo teorema que segue.

Teorema 1 (Existência e Unicidade): considere o seguinte PVI

onde an(x), an–1(x), an–2(x), ... , a2(x), a1(x), a0(x), b(x) são funções contínuas em um
intervalo aberto I ⊆ R ℝ com an ( x ) ≠ 0 para todo x ∈ I . Se x = x0 é algum ponto do
intervalo, então, existe uma única solução y = y(x) para o problema de valor inicial.

12
TÓPICO 1 | PROBLEMAS DE VALOR INICIAL E PROBLEMAS

Exemplo 10: seja o problema de valor inicial:

 d2 y
 − 4y =12 x
 dx 2 .
 y ( 0 ) = 4, y′ ( 0 ) = 1

A equação diferencial é linear, os coeficientes a2(x) = 1, a0(x) = –4 e b(x) = 12x


( )
são contínuos e a2 x = 1 ≠ 0 em qualquer intervalo I contendo x = 0. Assim, pelo
Teorema 1, a função tem solução única em I.

Existem outros tipos de condições nos quais podemos aplicar a solução


da condição inicial para determinar uma única solução para o problema. Por
exemplo: estamos interessados em resolver uma equação diferencial em um
intervalo (a, b) da reta. É necessário impor condições para a solução em a e
em b, ou seja, enquanto que no PVI as condições iniciais são dadas para um
mesmo ponto x = x0, aqui, estamos falando em condições em pontos distintos
x1 = a e x2 = b. Um exemplo é o estudo da dissipação de uma barra onde as
extremidades têm, por exemplo, temperatura zero.

Condições como a apresentada são chamadas de condições de contorno


ou condições de fronteira e, o problema associado, um problema de valor de
contorno (PVC). No caso de uma equação diferencial de segunda ordem, temos
o seguinte PVC:

 d2 y dy
a
 2 ( x ) dx 2
+ a1 ( x ) + a0 ( x ) y =
dx
b ( x)
 ,
 = y ( x1 ) y= , y ′ ( x2 ) y 0
''
 0

em que x1 ≠ x2 .

Exemplo 11: verifique que a função y = 4x3 – 3x + 3 satisfaz o seguinte PVC:

2 x y′′ + xy′=


2
− y 32 x 2 − 3
 .
 y ( 0 ) = 3, y ( 2 ) = 13

Como a função é y = 4x3 – 3x + 3, sua primeira derivada será y´ = 12x – 3 e,


a segunda, y´´ = 12. Assim, substituindo na equação diferencial do PVC:

2 x 2 ( 12 ) + x ( 12 x − 3 ) − =
y 32 x 2 − 3.

Logo, a função satisfaz a equação diferencial. Agora, devemos testar se


as condições de contorno também são satisfeitas. Assim, substituindo os valores
x = 0 e x = 2 na função dada, obtemos:
13
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

y ( x ) = 4 x2 − 3x + 3

y (= ( )
0 ) 4 0 2 − 3 ( 0 ) +=
3 3

2 ) 4 ( 2 ) − 3 ( 2 ) +=
y (= 2
3 13 .

As condições de contorno também são satisfeitas. Portanto, a equação


dada é solução do PVC.

O estudo de como resolver problemas de valor de contorno é um pouco


sofisticado e não será abordado neste material.

14
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma equação diferencial é toda equação que envolve uma função incógnita e
suas derivadas.

• É possível classificar uma equação diferencial de acordo com:


ᵒ Tipo: ordinária ou parcial.
ᵒ Ordem: determinada pela derivada e maior ordem.
ᵒ Grau: determinada pela potência em que se encontra elevada a derivada de
ordem mais alta.
ᵒ Linearidade: linear ou não linear.

• A solução de uma equação diferencial pode ser geral, particular ou singular.

• Um problema de valor inicial (PVI) é todo problema que envolve a solução de


uma equação diferencial sujeita a uma condição inicial.

15
AUTOATIVIDADE

1 Classifique as seguintes equações quanto ao tipo, ordem, grau e linearidade:

d2 y y
a) 3
− 3 = 1
dx d y
dx 3
dy
b) = −3 x
dx
dy 2
c) e−x
+ 2 xy =
dx
d2 y
d) 2 + 6 y =
0
dt
d2 y d2 y
e) x 2
dx 2
+ x
dx 2 ( )
− x2 − c 2 y =
o

2
dy  dy 
f) y + x x2  
=
dx  dx 
2 5
 d2 y  d2 y  d4 y 
g)  x − 2  − y 2 1+ 4 
=
 dx  dx  dx 

( )
h) ( xy ) dy − 1 + x 2 dx =
0

2 Quais das seguintes afirmações estão corretas?

I- Toda equação diferencial pode ser classificada de acordo com seu grau.
II- Toda equação diferencial de primeira ordem tem solução única.
II- Toda equação diferencial tem solução.
d2 y dy
IV- A equação diferencial cos −1 x 2 + ln x = 0 é linear.
dx dx
a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) IV e I.
e) ( ) II.

16
3 Verifique qual das funções a seguir é solução da equação diferencial:

y′ =
( ) ( ) (
2 x 2 cos ln ( x ) − 1 + x 2 sen ln ( x ) ).
x

( )
a)( ) y ( x ) = x 2 sen ln ( x ) .

)  1 + 23 x3  sen ln ( x ) .
b)( ) y ( x= ( )
 

( )
c)( ) y ( x ) = x 2 cos ln ( x ) .

d)( ) (1 + x ) cos ( ln ( x ) ) .
) y ( x= 2

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA
ORDEM

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos reter nossa atenção às equações diferenciais de
primeira ordem, e aprender alguns métodos analíticos de resolução. Para alcançar
esses objetivos, é preciso observar que as equações diferenciais ainda podem ser
classificadas em lineares, separáveis e exatas, e que a cada uma dessas subclasses
deve ser aplicado um método analítico diferente de resolução.

2 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE VARIÁVEIS SEPARÁVEIS



Iniciaremos nossos estudos para resolver equações diferenciais de
primeira ordem, analisando o que chamamos de equações separáveis.

Definição 2: uma equação diferencial separável ou que tem variáveis


separáveis é aquela que pode ser escrita na forma:

dy
= g ( x) h ( y ). (5)
dx

Em outras palavras, podemos dizer que uma equação diferencial separável


é aquela cuja forma normal é

dy
= f ( x, y ).
dx

A função f(x,y) pode ser fatorada como uma função de x multiplicada por
uma função de y.

Exemplo 12: a equação diferencial

dy
= y 2 xe 3 x + 4 y
dx

é separável, pois:

f ( x , y ) y=
= 2
xe 3 x + 4 y ( xe ) ( y e ) .
3x 2 4y

19
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Assim, temos
= g ( x ) xe
= 3x
e h ( y ) y2e4y .

Observe que se h ( y ) ≠ 0 , podemos reescrever a equação (5) como:

dy
p ( y) = g ( x)
dx

com p(y) = 1/h(y). Se a solução da equação (5) for y = ρ(x), então:

dy
= g ( x) h ( y)
dx
ρ′( x) = g ( x) h ( y).

Lembrando que se p(y) = 1/h(y), temos:

( )
p ρ ( x) ρ′( x) = g ( x)

Portanto:
3
x
∫ x( dx
( ) )=
∫ p 2ρ x ρ ′ ( x ) =+∫ c
g .( x ) dx (6)
3
sabendo que dy = ρ ′ ( x ) dx , assim, podemos reescrever (6) como:
3
x
∫ x( dx
2
) =( )+ c.
∫ p y dy =
∫ g x dx . (7)
3
Resolvendo as integrais:

P(y) = G(x) + c

com P(y) e G(x) são as primitivas de p(y) e g(x), respectivamente.



Em resumo, a equação (5) mostra como identificar uma equação separável
e, a equação (7), como organizá-la e resolvê-la.

20
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

NOTA

Você deve observar que, ao resolvermos as integrais na equação (7), optamos


por usar uma única constante c em vez de usar uma para cada integral. Lembre-se: a soma
de duas constantes é uma constante.

Exemplo 13: resolva a seguinte equação diferencial dy – (y – 1)2dx = 0.

Pelas características da equação, utilizaremos o método de separação de


variáveis, assim:

dy − ( y − 1) dx =
2
0

( y − 1)
2
dy
= dx

1
dy = dx
( y − 1)
2

3
21 x 2 x 3
∫∫ x( y −dx
1)
=
dy =
2 x+ dx
∫∫ dx c. = + c.
3 3
1
− x + c.
=
y −1

Isolando y temos

−1 + x + c
y= .
x+c

Exemplo 14: resolva o seguinte problema de valor inicial:

 dx
= dt
4 x2 + 1 ( )
 .
 π
 x  = 1
 4

21
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

No exemplo, você deve dar atenção ao fato de que há condições iniciais


que devem ser levadas em consideração ao resolver a equação diferencial. Dessa
forma, devemos iniciar o processo resolvendo a equação diferencial por separação
de variáveis:

1
2
dx = 4dt
x +1
1
∫ 2 2 dx =
x3
∫ x dx = + c.
x +1
4 ∫ dt

tan x= 4t + c. 3
−1

π
Aplicando as condições iniciais, temos que, quando t = , x = 1, e, portanto:
4
π 
tan −1 1 − 4   =c.
4

Concluímos que:
π
c= −π .
4

Substituindo o último resultado na solução geral da equação diferencial,


temos:

π
tan −1 x = 4t + −π .
4

Isolando x, chegamos ao seguinte resultado:

 π 
=x tan  4t + − π  .
 4 

3 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES


Continuaremos nossos estudos tratando de um outro caso particular: as
equações lineares. Você deve lembrar que já apresentamos o conceito de equação
linear. Agora, para continuarmos tratando de equações diferenciais de primeira
ordem, daremos foco ao caso em que n = 1 na equação (2).

22
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Definição 3: chamamos de equação diferencial linear de primeira ordem


uma equação que assume o seguinte formato:

dy
a1 ( x ) + a ( x) y =
f ( x) . (8)
dx 0

Quando f(x) = 0, dizemos que a equação é homogênea, caso contrário, ela


é dita não homogênea.

Feita a divisão da equação (8) pelo coeficiente a1(x), obtemos um formato


mais conveniente e que será o ponto de partida para encontrarmos a solução.
Assim, a equação (8) é reescrita da seguinte forma:

dy
+ p ( x) y =
g ( x). (9)
dx

Um fato importante sobre a equação (9) é que sua solução pode ser
representada como a soma de duas outras soluções particulares, ou seja:

y = y1 + y2

com y1 é a solução da equação homogênea:

dy1
+ p ( x ) y1 =
0
dx

e com y2 é a solução da equação não homogênea:

dy2
+ p ( x ) y2 =
g ( x) .
dx

Para mostrar que é verdade, observe que:

d  y1 + y2   dy   dy 
+ p ( x )  y1 + y2  =  1 + p ( x ) y1  +  2 + p ( x ) y2  = 0 + gf ( x ) = gf ( x )
dx  dx   dx 

Dessa forma, para encontrar a solução de (9), basta deduzir os valores


de y1 e y2. Você deve observar que a equação homogênea é separável e pode ser
resolvida como segue:

dy1
+ p ( x ) y1 =
0
dx
dy1
+ p ( x ) y1 =
0
dx 23
dy1
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
+ p ( x ) y1 =
0
dx
dy1
+ p ( x ) y1 =
0
dx
dy1
+ p ( x ) dx =
0
y1
3 3
1 x dx x
− ∫∫ px(2xdx
∫∫ x 2dy
y1
dx == +) c.= + c.
3 33
ln y1 = − ∫∫ px( xdx
2
) dx= x
+ c + c.
− ∫ p ( x ) dx
3
y1 = ce .

Veja que a solução da equação homogênea é composta pela multiplicação


de uma constante c por uma função µ ( x ) = e
− ∫ p ( x ) dx
, e essa função recebe o nome
de fator integrante.

Agora, assumiremos que a equação não homogênea tem uma solução similar
àquela que encontramos para a equação homogênea, ou seja, todas as suposições que
fizemos para y1 são válidas para y2, exceto pelo fato de que vamos trocar a constante
c por um parâmetro variável u(x), resultando em y2 = u ( x ) µ ( x ) . O procedimento é
chamado de variação de parâmetro e é importante que você o entenda, pois ele será
utilizado novamente no próximo tópico. Ao substituir o valor de y2 na equação (9), é
possível encontrar:

duµ
+ p ( x ) uµ =
g ( x).
dx

Usando a regra do produto na primeira parcela da soma, temos:

du dµ
µ +u + p ( x ) uµ =
g ( x)
dx dx
 dµ  du
u + p ( x) µ  + g ( x)
µ=
 dx  dx

Verifique que:


+ p ( x) µ =
0
dx

24
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

logo:

du
µ = g ( x).
dx

Resolvendo a última equação por separação de variáveis, temos:

g ( x)
du = dx
µ ( x)
3
u = ∫∫ x dx
x
g (2x )
µ ( x ) = + c.
dx .
3
Assim, a solução y2 que procuramos é da forma:

3
 g ( x) 
2 x
u( x) µ ( x) = ∫ x dx = + c.
 µ ( x)  ( )
e ( ) ∫ e ( ) g ( x ) dx .
− ∫ p x dx ∫ p x dx
y2 = ∫ dx  µ x =
 
3
Com esses resultados, se a equação linear (9) possui solução, ela será da
forma:

∫ e ( ) g ( x ) dx .
− ∫ p ( x ) dx − ∫ p ( x ) dx ∫ p x dx
y = y1 + y2 = ce +e

É claro que você não precisará memorizar a fórmula para obter a solução
da equação diferencial desejada, mas o exercício de deduzir é importante. Quando
você for usar um procedimento bem mais prático (que apresentaremos em
seguida), você entenderá de onde surgiram tais fatores. Agora, se multiplicarmos
e ( ) , teremos:
∫ p x dx
a equação por

e ( ) y= c + ∫ e ( ) g ( x ) dx .
∫ p x dx ∫ p x dx

Derivando ambos os membros:

d ∫ p( x )dx
y = e ( ) g ( x)
∫ p x dx
e
dx

25
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

ainda

∫ p x dx dy
e () + p ( x) e ( ) y = e ( ) g ( x) .
∫ p x dx ∫ p x dx

dx

e () ,
∫ p x dx
Dividindo por retornamos à equação (9). Logo, é preciso
∫ p ( x ) dx
identificar a função p(x), encontrar o fator integrante e , multiplicar a
equação diferencial pelo fator integrante, integrar ambos os membros da equação
e isolar y, obtendo, assim, a solução desejada.

dy
Exemplo 15: resolva a equação diferencial + 2y =
0 , calculando o fator
integrante. dx

Devemos, primeiramente, identificar a função p(x) que, para este exemplo,


é igual a 2. Assim, o fator integrante será:

e (=
∫ p x ) dx ∫ 2 dx
e= e2x .

Ao multiplicar o fator integrante encontrado pela equação diferencial


por temos

dy dy
e 2 x e 2 x + 2 e+2 x2ye=
2x
0y =
0
dx dx
d  e 2dxye2 x y 
= 0 = 0.
dx dx

Observe que as duas últimas equações são equivalentes ao aplicar a regra


do produto na última. Integrando, temos:

e2x y = c

y = ce 2 x .

dy
Exemplo 16: resolva x + 4 y = x3 − x .
dx
Observe que a equação é linear de primeira ordem, assim, vamos resolvê-
la calculando o fator integrante. Temos que escrever na forma da equação (9) para
o encontro de p(x):

dy 4
+ y =x 2 − 1
dx x
26
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

logo

4
p ( x) = .
x

O fator integrante é

4
∫ dx 4 ln x
e= e= x 4 .
x

Multiplicando em ambos os membros da equação diferencial por temos

dy
x4 + 4x3 y =x6 − x4
dx
d 4
 x y=
 x6 − x4 .
dx  

Integrando:

4 x7 x 5
x y= − +c
7 5
x3 x c
y= − + .
7 5 x4

Exemplo 17: resolva o seguinte problema de valor inicial:



 dy
x + y = ex
 dx .
 y ( 1) = 2

No caso de um problema de valor inicial, envolvendo uma equação


diferencial linear de primeira ordem, vamos, primeiramente, encontrar a solução
geral, fazendo uso do fator integrante. Uma vez concluída a etapa, utilizaremos a
condição dada para determinar o resultado. Assim, reescrevendo a equação para
a identificação de p(x), temos:

dy 1 ex
+ y =.
dx x x

27
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Dessa forma:

1
p ( x) =
x

1
∫ dx
e x
= x.

Multiplicando o fator integrante em ambos os membros da equação


diferencial:

dy
x +y=ex .
dx

Seguindo os procedimentos de resolução, é possível chegar ao resultado:

ex + c
y= .
x

A partir das condições iniciais dadas: x = 1 e y = 2. Substituindo esses


valores na última equação, o valor da constante se torna c = 2 – e. Assim, o
resultado do PVI é:

ex + 2 − e
y= .
x

4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS EXATAS


É preciso identificar e resolver equações diferenciais de primeira ordem
exatas. Dessa forma, iniciaremos com a seguinte definição:

Definição 4: uma expressão diferencial do tipo:

M ( x , y ) dx + N ( x , y ) dy

é chamada de derivada exata em uma região R do plano xy se ela corresponde


à derivada total de alguma função f(x,y) definida em R. Assim, a equação
diferencial de primeira ordem da seguinte forma é chamada de equação exata
se o lado esquerdo for uma derivada exata, portanto uma equação diferencial
exata é da forma

28
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

M ( x , y ) dx + N ( x , y ) dy =
0. (10)

É importante ressaltar que estamos tratando do caso especial em que


f(x,y) = c e c constante.

Exemplo 18: a expressão (2xy2 – 3)dx + (2x2y + 4)dy é uma derivada exata,
pois ela corresponde à derivada total da 2função f(x,y) = x2y2 – 3x + 4y. Para verificar,
( )
f x , y = x y 2 − 3x + 4 y
você pode usar o que aprendeu sobre derivadas parciais. Lembre-se: se f(z) = f(x,y)
então, z depende de x e y. Ao derivar f em relação à x e em relação à y, temos:
df
f ( x , y= )=x yx 2 y−23−x3+x4+y4 y
2 2

dx
df df 2 2 2 2
f ( x ,=
y= )=x yx2 xy
y− 3−x−3+3x4+y4 y
dx dx
df df 2 2 2
f ( x ,=
y= )=x yx y− 32−x3+x4+y4 y
dx dx 2 xy − 3
df df 2 22 2
f ( x ,=
y= )=x yx2 xy
y− 32−x−3+3x4+y4 y
dy dx
df df 2 2 2
f ( x ,=
y= )=x yx2 xy−2 y3−x+3+4x4+y4 y
dy dx y
df
=dfx 2 y 2 −2 3 x + 4 y
dy = 2x y + 4
dx
Uma vez que você já entende df o que é uma equação exata, o teorema, que
apresentaremos a seguir, dá uma= condição2 x 2 ynecessária
+4 e suficiente para identificar
dx
equações exatas.

Teorema 2: sejam M(x,y) e N(x,y) funções contínuas e que tenham


primeiras derivadas parciais contínuas em uma região retangular R definida por
a < x < b e c < y < d. Então, é necessário e suficiente que:

∂M ∂N
= (11)
∂y ∂x

M(x,y)dx + N(x,y)dy são uma derivada exata.

Exemplo 19: para a expressão (2xy2 – 3)dx + (2x2y + 4)dy apresentada no


Exemplo 17, temos que M(x,y) = (2xy2 – 3) e N(x,y) = (2x2y + 4) e, por conseguinte:

∂M ∂N
xy
= 4= .
∂y ∂x

29
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Agora, você deve estar se perguntando: como resolver uma equação


diferencial exata depois de identificá-la? O procedimento é relativamente simples,
e vamos ilustrá-lo através do próximo exemplo.

Exemplo 20: resolva a seguinte equação diferencial:

( 2 x − 1) dx + ( 3 y + 7 ) dy =
0.

No exemplo, temos M ( x , y ) =
2x − 1 e N ( x, y ) =
3 y + 7 . É uma equação
exata, uma vez que:

∂M ∂N
= 0= .
∂y ∂x

Assim, temos:

∂f
2 x − 1 = 2x-1
= M(x,y)
∂x

∂f
3 y + 7.= 3y+7.
= N(x,y)
∂y

Agora, tomamos a expressão que contém a derivada parcial de f em


relação a x, e integramos para encontrar a própria f(x,y), obtendo:
3
( ) ∫ (x dx =
∫ 22x − 1 dx
f x, y =
x
) + c.
3
f ( x, y ) = x − x + g ( y )
2
(12)

onde g(y) é a “constante” de integração. O próximo passo consiste em derivar (12)


∂f
em relação a y e igualar o resultado a N(x,y), uma vez que = N ( x , y ) . Logo:
∂y
∂f
= g′ ( y=
) 3y + 7 .
∂y

Agora, devemos integrar g´(y) em relação à y para substituir seu valor em


(12). Portanto:

3 2
( y)
g=
2
y + 7y

30
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

3 2
f ( x, y ) = x2 − x + y + 7y.
2

Por último, temos que f(x,y) = c, assim, isolando y, temos, como resposta:

y=
(
−7 + −6 x 2 − x − c + 49 )
3

y=
(
−7 − −6 x 2 − x − c + 49 ) .
3

No último exemplo, resolvemos a equação do segundo grau em y para
poder isolá-lo, mas isolar y não é um passo obrigatório, principalmente quando
a solução da equação produz potências de y. Por exemplo, poderíamos ter
representado o resultado do Exemplo 17 como:

3 2
x2 − x + y + 7y =c.
2

Exemplo 21: resolva o seguinte problema de valor inicial:

( ) (
 y 2 cos x − 3 x 2 y − 2 x dx + 2 y senx − x 3 + ln y dy =

0
.
)
 y (0) = e

No exemplo, omitiremos a prova de que a equação diferencial do PVI é


uma equação exata. Partindo do fato de que M ( x , y
= ) (y 2
)
cos x − 3 x 2 y − 2 x e
N (=
x, y ) ( )
2 y senx − x 3 + ln y , temos que:

∂f
= y 2 cos x − 3 x 2 y − 2 x .
∂x

Integrando em relação à x, temos:

f ( x ,=
y ) y 2 senx − yx 3 − x 2 + g ( y ) .

31
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Derivando o último em relação à y:

∂f
= 2 ysenx − x 3 + g ' ( yx ) .
∂y

Igualando o resultado obtido à N(x,y), chegamos à:

g´(y) = ln y.

Assim, g(y) = y ln y – y e f ( x ,=
y ) y 2 senx − yx 3 − x 2 + y ln y − y .

A partir das condições iniciais, sabemos que, quando x = 0, temos que


y = e e, portanto, c = 0. Logo, a solução do PVI é:

y 2 senx − yx 3 − x 2 + y ln y − y =0.

Depois de ter estudado e aprendido todas as técnicas de resolução de


EDO’s de primeira ordem, é possível que você tenha observado que algumas
delas podem ser resolvidas por mais de uma técnica diferente. Portanto, fique
ciente de que não existe uma técnica “mais correta” para resolver uma equação
diferencial. Qualquer que seja a técnica escolhida, a solução sempre será a mesma.
O que você deve sempre buscar é aplicar aquela técnica que facilmente resolverá
seu problema. Essa observação é válida para todos os casos que apresentaremos
nesta unidade.

5 SOLUÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO


Você deve ter observado que existem equações diferenciais de primeira
ordem que não se encaixam em nenhuma das características apresentadas para
identificar qual técnica deve ser usada. Assim, a partir de agora, focaremos nossa
atenção em uma técnica que chamamos de solução por substituição e que pode
ser muito útil para a resolução de outros tipos de equações diferenciais.

Em termos gerais, a solução por substituição consiste em transformar


a equação diferencial em outra equação através da substituição de y por uma
função g(x,u), em que u é considerada uma função de x. Para tratar do tema de
forma mais didática, vamos separá-lo em cinco casos.

• Equações Homogêneas: se a função f possui a propriedade.

f ( tx , ty ) = tα f ( x , y ) .

32
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Para algum α ∈ R ℝ , então, dizemos que f é uma função homogênea de


grau α . Por exemplo, a função a seguir é homogênea de grau 2:

f ( x , y=
) x2 + y 2
pois

f ( tx , ty ) = ( tx ) + ( ty )
2 2
( )
= t 2 x2 + y 2 = t 2 f ( x, y ) .

A equação de primeira ordem:

M ( x , y ) dx + N ( x , y ) dy =
0

é chamada de homogênea se ambas as funções M(x,y) e N(x,y) são homogêneas


de mesmo grau, ou seja:

=M ( tx , ty ) tα=
2
M ( x , y ) e N ( tx , ty ) tα2 N ( x , y )

ATENCAO

Não confunda essa definição de equação homogênea com a apresentada


anteriormente, quando falamos de equações lineares. Observe que, agora, estamos tratando
de outras características.

Além disso, se M(x,y) e N(x,y) são funções homogêneas de grau α,


podemos fazer a seguinte substituição:

y
M ( x , y ) xα M ( 1, u=
= ) e N ( x , y ) x=
α
N ( 1, u ) , u
x

ainda

x
M ( x , y ) yα M ( v ,1)=
= e N ( x , y ) y=
α
N ( v ,1) , v .
y

33
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Esses dois últimos conjuntos de equações são propriedades que mostram


que as substituições y = ux e x = vy podem ser usadas para transformar equações
homogêneas em equações diferenciais de primeira ordem separáveis.

Para ilustrar de uma forma mais clara e objetiva, é preciso analisar o


seguinte exemplo.

Exemplo 22: resolva (y2 + yx)dx – x2dy = 0.

O primeiro passo para resolver o problema consiste em identificar se os


coeficientes da equação diferencial, M(x,y) = y2 + yx e N(x,y) = x2, são funções
homogêneas. Então, fazemos:

M ( tx , ty ) = ( ty )
2
( )
+ tytx = t 2 y 2 + yx = t 2 M ( x , y )

N ( tx ,=
ty ) ( tx=
) x t 2 N ( x, y ) .
2 2 2
t=

Logo, ambas as funções são homogêneas de grau 2. Agora, aplicando a


técnica de substituição, fazemos y = ux, dando dy = udx + xdu. Substituindo na
equação diferencial:

(u x
2 2
( )
+ uxu2 2 xdx
2
x 22( udx
+−ux ) 2
dx −+xxdu( udx
)= 0 xdu ) =
+ 0

u2 x 2 dx − ux23 xdu
2
dx
= 0−.x 3 du =
0

A equação resultante pode ser resolvida usando a técnica de separação de


variáveis. Assim, temos:
1 1
dx = 2 du
x u
1
ln x =− + c.
u
y
Agora, devemos reestabelecer as variáveis originais fazendo u = , então:
x

y ln x =− x + cy .

• Equação de Bernoulli: equações diferenciais que têm a forma:

dy
+ p ( x) y =
f ( x ) yn
dx
34
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

n∈ R
ℝ é chamada de equação de Bernoulli.

Você deve observar que, quando n = 0 ou n = 1, a equação de Bernoulli é linear,


contudo, para outros valores de n, é necessário usar a substituição u = y1–n, reduzindo-a
à forma linear. Vejamos um exemplo de como é realizado o procedimento.

dy
Exemplo 23: resolva x − (1 + x ) y =
xy 2 .
dx
Primeiramente, dividiremos toda a equação por x para que ela fique no
formato de equação de Bernoulli.

dy ( 1 + x )
− y2 .
y=
dx x

Assim, temos n = 2 e u = y–1, portanto, y = u–1. Aplicando a regra da cadeia:

dy dy du du
= = −u−2 .
dx du dx dx

Agora, temos que fazer as substituições necessárias para transformar a


equação de Bernoulli numa equação linear. Logo:

du ( 1 + x ) −1
−u−2 − u = u−2 .
dx x

Ainda:

du ( 1 + x )
+ u=
−1.
dx x

Podemos resolver a equação linear usando o fator integrante. Portanto,


temos que:

p ( x) =
(1 + x )
.
x

O fator integrante será:

e ( ) = xe x .
∫ p x dx

35
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Logo, temos, como resultado da aplicação do fator integrante:

d
 xe xu = − xe x .
dx  

Integrando os membros, temos:

− xe x + e x + c
u= .
xe x

Trazendo de volta a variável y, temos, como resultado:

xe x
y= .
− xe x + e x + c

• Redução para variáveis separáveis: quando nos deparamos com equações


diferenciais da seguinte forma:

dy
= f ( Ax + By + C ) .
dx

Podemos substituir Ax + By + C por u, sempre que B ≠ 0 . Dessa forma,


transformamos a equação de tal forma que é possível resolvê-la através de
variáveis separáveis. Veja o seguinte exemplo.

dy
( x + y + 1)
2
Exemplo 24: encontre a solução de = .
dx
Uma maneira bem simples de resolver essa equação é fazer a substituição
u = x + y + 1. Temos sempre que lembrar de calcular a derivada de u para que a
dy
expressão fique correta. Logo, du = 1 + e:
dx dx

du
−1 =u2
dx
du
= u2 + 1 .
dx

36
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Agora, é possível resolver a equação por separação de variáveis, então:

du
2
= dx
u +1
tan −1 u= x + c

=u tan ( x + c ) .

Substituindo de volta as variáveis originais, temos:

+ 1 tan ( x + c )
x + y=

y tan ( x + c ) − x − 1 .
=

• Equação de Lagrange: equações que têm a seguinte forma:

=y xϕ ( y′ ) +ψ ( y′ ) ,

são chamadas Equações de Lagrange. Uma técnica de substituição consiste em


trocar y' por um parâmetro t e, em seguida, diferenciar a equação e substituir
dy = tdx. Dessa forma, reduzimos a equação original a uma linear, esta que é
considerada em x como uma função de t. O exemplo a seguir ilustra com detalhes
o procedimento.

Exemplo 25: resolva y = 2xy' – 2y' + 1.

O primeiro passo da solução consiste em substituir y' por t, obtendo:



y = 2xt – 2t + 1.

Em seguida, derivamos a equação resultante e substituímos dy por tdx,


assim:
tdx = 2tdx + 2 xdt − 2dt

dx
t = 2 − 2x
dt
dx 2 ( x − 1)
= − .
dt t

Observe que o resultado é uma equação linear de primeira ordem que


pode ser facilmente resolvida por separação de variáveis, ou seja:

1 2
dx = − dt .
( x − 1) t
37
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

A solução é:

ec
x 2 + 1.
=
t

Agora, devemos substituir o valor de x na equação parametrizada em t,


obtendo o sistema:

 ec
 =x +1
t2 .

 2e c
= y +1
 t

• Equação de Clairaut: são equações da seguinte forma:

y xy′ + ϕ ( y′ )
=

com ϕ ( y′ ) é uma função qualquer.

Observe que a diferença entre esse tipo de equação e a equação de


Lagrange está exclusivamente relacionada ao primeiro termo da adição. Temos
x multiplicado por y', e não por uma função, como na equação de Lagrange.
Assim, a forma de resolver essa equação é similar à apresentada para resolver as
equações de Lagrange, com uma pequena diferença na forma como se apresenta
a solução final.

Exemplo 26: resolva y – xy' = ln y'.

Observamos que tem a forma de uma equação de Clairaut. Assim,


iniciamos a resolução fazendo a seguinte substituição y' = t, obtendo:

y = xt + ln t.

Em seguida, derivamos a equação resultante e substituímos dy por tdx, ou


seja:

1 1
tdx
tdx = tdx=+tdx
xdt+ +xdtdt
+ dt
t t
 1  1 
dt  xdt+ x+= 0.
0 =
 t  t 

38
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Temos duas possibilidades:

1. Para dt = 0, temos que t = c, logo, uma das soluções é o feixe de retas y = cx + ln c.


1 1
2. Para x + =0 , temos x = − . Substituindo, y = ln t – 1. Com y' = t, chegamos a
t t
y' = ey+1. Ainda, resolvendo por separação de variáveis, y = – ln(– ex – c).

Assim, ambas as equações y = cx + ln c e y = – ln(– ex – c) são as soluções


que estávamos procurando.

6 APLICAÇÃO

Como você deve ter observado, o estudo de equações diferenciais de
primeira ordem é extenso e as técnicas para resolver são variadas. Contudo,
antes de finalizar este tópico, é preciso abordar, em um último exemplo, uma
aplicação do estudo de equações diferenciais de primeira ordem. Modelaremos e
estudaremos o fenômeno de crescimento populacional.

Exemplo 27: crescimento populacional.

O estudo do crescimento populacional ou dinâmica populacional é


importante em várias áreas do conhecimento, como biologia, ecologia, demografia
etc. Propõe-se um modelo matemático que descreva, de forma satisfatória, o
crescimento (decrescimento também) de uma certa população. No exemplo,
abordaremos dois modelos extremamente simples de crescimento populacional,
a saber, o modelo exponencial e o modelo logístico.

Comecemos com o modelo exponencial. Dada uma população de uma


certa espécie, denominaremos por p(t) o número de indivíduos dessa espécie no
instante t. De forma intuitiva, o número de indivíduos pode crescer sem limites
caso não haja nenhum tipo de restrição ao crescimento da população, como
predadores, escassez de recursos, fatores climáticos inóspitos etc.

No modelo em questão, a hipótese é que a taxa de crescimento da


população é proporcional à população atual. O fato é extremamente natural, pois
o aumento (ou diminuição) da população se dá a partir dos indivíduos presentes.
Por exemplo, se a taxa de natalidade é maior que a taxa de mortalidade, a
tendência é que a população aumente, no caso, a taxa é positiva. Se as taxas de
natalidade e mortalidade são iguais, então, a população se mantém constante. Por
fim, se a taxa de mortalidade é maior, a população diminui.

Vejamos, matematicamente, o modelo exponencial de crescimento


populacional. Como dito, a hipótese é que a taxa de variação da população, ou
seja, a derivada temporal de p(t), é proporcional à população atual, ou seja, p(t).
Portanto, esse modelo, em termos matemáticos, é:

39
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

dp
= βp
dt

com β é a taxa de crescimento da população. Observe que a equação anterior é


uma equação diferencial de primeira ordem separável, cuja solução é:

p ( t ) = ce β t .

Suponha que, no instante inicial, a população da espécie tenha 75


indivíduos, portanto, p(0) = 75 Aplicando a condição inicial, obtemos:

p ( t ) = 75e β t .

Considere cinco valores para a taxa β de crescimento da população, a


saber β = −0, 4; β =−0,1; =0, β =0,1 e β =0, 4. A seguir, podemos visualizar
os resultados para o crescimento populacional de uma determinada espécie.

GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO POPULACIONAL DE UMA DETERMINADA ESPÉCIE

FONTE: O autor

40
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Observe que, inicialmente, para β = 0 , o número de indivíduos se mantém


constante, pois, no caso, a taxa de crescimento da população é zero. Nos casos em
que β < 0 , o número de indivíduos decresce e será zero no tempo infinito. Por
outro lado, quando β > 0 , a população cresce indefinidamente.

Fixaremos nossas análises quando a taxa de crescimento β é positiva.


Em resumo, a taxa de crescimento, neste modelo, é constante, mesmo quando
o número de indivíduos da espécie é elevado. O modelo exponencial pode
descrever o crescimento de populações com um número pequeno de indivíduos
e para um período de tempo relativamente curto.

O modelo exponencial seria de grande valia se existissem recursos infinitos


disponíveis para a população. O modelo logístico surge para acomodar o fato.
Na verdade, no mundo real, quando uma população cresce demasiadamente,
os recursos começam a acabar ou a diminuir, portanto, espera-se que, com o
crescimento da população, a taxa de crescimento diminua.

No modelo logístico, a taxa de crescimento da população será variável


com a quantidade de indivíduos, assim, denominaremos a taxa de h(p), em que
p é a população. Contudo, deve haver um certo comportamento. A taxa de ser
β , quando p(t) é pequena, deve diminuir quando a população aumenta, e deve
ser negativa (população diminui) quando p(t) for muito grande. Uma função que
satisfaz a hipótese é h ( p )= β − a p , em que a é uma constante positiva.

O modelo logístico é representado pela seguinte equação:

dp
= h ( p )=
p ( β − ap ) p.
dt

O modelo é comumente escrito da seguinte forma:

dp  p
= β  1 −  p,
dt  S

sendo S = β . O fator β é a taxa intrínseca de crescimento, ou seja, é a taxa


a
de crescimento populacional de nenhum fator limitador. A constante S é o
fator suporte da população e, com os exemplos a seguir, fica clara a função que
desempenha S.

Analisemos com mais detalhes o modelo logístico. Primeiramente, é


uma equação de primeira ordem separável. A solução da equação está sujeita à
condição inicial p(0) = p0:

p0S
p (t ) = .
p0 + ( S − p0 ) e − β t
41
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Fixando a taxa de crescimento intrínseca da população em β = 50% e seu


fator suporte em 100, obtemos:

100 p0
p (t ) = (13)
p0 + ( 100 − p0 ) e −0 ,5t

A seguir, analisaremos o crescimento de uma população através do


modelo logístico. Para essa população, fixamos a taxa de crescimento intrínseca
em β = 50% e seu fator suporte em 100 indivíduos.

GRÁFICO 2 – CRESCIMENTO POPULACIONAL DE UMA DETERMINADA ESPÉCIE

FONTE: O autor

Note que, quando o número inicial de indivíduos é menor, a população


cresce até atingir o suporte. Essa curva, em geral, tem a forma de “S”, evidenciando
que, quando a população é pequena, a taxa de crescimento é alta, e depois
diminui, conforme a população cresce. Quando a população tem um número
inicial maior, o número de indivíduos diminui até o suporte. A razão é que já no
início a população enfrenta problemas com recursos e, portanto, sua população
diminuirá até a relação crescimento e recursos se estabilizar. Observe que:

p0S p0S
t →∞
( t ) lim
lim p=
t →∞ p0 + ( S − p0 ) e
=−βt
= S
p0

O número de indivíduos tende para o suporte em um intervalo de tempo


suficientemente grande.

42
TÓPICO 2 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA

Concluímos o estudo das equações diferenciais de primeira ordem.


No próximo tópico, estudaremos as equações diferenciais lineares de segunda
ordem. É importante você estar ciente de que existe a possibilidade de você
se deparar com equações mais complexas que não estamos abordando nesta
unidade. Assim, recomendamos, como leituras complementares, os livros
presentes na bibliografia.

43
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A técnica de solução por substituição consiste em transformar a equação


diferencial em outra equação através da substituição de y por uma função
g(x,u), em que u é considerada uma função de x, auxiliando a resolver outros
tipos de EDO’s que não se encaixam nas outras técnicas.

44
AUTOATIVIDADE

1 Quais das seguintes afirmações não são verdadeiras?

I- As equações de Clairaut são exemplos de equações diferenciais lineares.


II- A solução encontrada através do fator integrante é a solução geral de uma
equação diferencial de primeira ordem.
III- As equações diferenciais exatas são resolvidas através da separação de
variáveis.
IV- A equação de Lagrange é um exemplo da equação de Clairaut.

a) ( ) I e II.
b) ( ) III e IV.
c) ( ) I, II e IV.
d) ( ) I, II,III e IV.

2 No texto, usamos a palavra “homogênea” em duas definições distintas.


Explique a diferença entre as duas definições.

3 Durante nossos estudos sobre equações diferenciais ordinárias de primeira


ordem, vimos que, de acordo com o tipo, temos uma determinada
metodologia mais adequada a ser aplicada nas soluções. Dadas as equações
diferenciais de primeira ordem, classifique-as de acordo com o tipo e
encontre sua solução.

dy
a) = e 3 x+2 y
dx
b) y′ + 2 xy =
x3

( )
c) ( 6 x + 4 y ) dx + 4 x − 4 y 2 dy = 0

dy 2 y − 2 x
d) =
dx 2 y + 2 x

45
46
UNIDADE 1
TÓPICO 3

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE


SEGUNDA ORDEM

1 INTRODUÇÃO
Até agora, focamos nosso estudo nas equações diferenciais ordinárias
de 1ª ordem. Passemos agora às equações diferenciais lineares de 2ª ordem, que
surgem de forma natural no estudo de aplicações, por exemplo, em fenômenos
de condução de calor, dinâmica de fluidos, eletromagnetismo, mecânica clássica
etc.

Genericamente, uma equação diferencial de 2ª ordem tem a seguinte


forma:

d2 y  dy 
= f  , y, x  .
 dx
2
dx 

O estudo da resolução de equações diferenciais pode ser muito difícil ou
até mesmo impossível, por isso, neste tópico, focaremos em equações diferenciais
lineares de 2ª ordem.

2 DEFINIÇÃO
Equações diferenciais lineares de 2ª ordem têm a seguinte forma:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
g ( x) . (14)
dx 2
dx

Se g(x) é identicamente nula, dizemos que a equação anterior é homogênea.


Se g ( x ) ≠ 0 , dizemos que a equação é não homogênea. A solução geral da equação
(14) será indexada por dois parâmetros, como veremos mais adiante. Podemos
também definir condições iniciais, assim, teremos um PVI, que apresentará solução
única. Para que possamos ilustrar o que acabamos de discutir, acompanharemos
o seguinte exemplo:

Exemplo 28: considere a seguinte equação diferencial de 2ª ordem

y′′ = 0 . (15)

47
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

A equação é simples, e necessitamos apenas de integração para resolvê-


la. Note que serão necessários dois processos de integração para encontrarmos a
solução. Com efeito, a equação anterior significa que:

y' = c1
portanto

y c1 ∫ dx
= = c1 x + c2 .

A solução da equação (15) tem dois parâmetros que indexam a solução, a


saber, c1 e c2.

Para definir o problema de valor inicial corretamente, você precisará de


duas condições iniciais para determinar os dois parâmetros da solução geral de
(14). Essas condições são y(x0) = y0 e y'(x0) = y'0. Para haver unicidade do problema
de valor inicial, pede-se que as funções P, Q e g sejam contínuas no intervalo de
definição da solução.

3 PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO
Começaremos nosso estudo de como resolver equações diferenciais
lineares de 2ª ordem pela equação homogênea:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
0. (16)
dx 2
dx

Se y1(x) e y2(x) são soluções de (16), então, a combinação linear dessas


soluções, isto é, y(x) = ay1(x) + by2(x), sendo a e b dois números reais, será uma
solução de (16). De fato, se y1(x) e y2(x) são soluções de (16), então:

d 2 y1 dy
+ P ( x ) 1 + Q ( x ) y1 =
0
dx 2
dx
d 2 y2 dy
+ P ( x ) 2 + Q ( x ) y2 =
0
dx 2
dx

48
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

logo
d2 y dy d2 d
dx 2
+ P ( x ) dx
+ Q ( x )
= y
dx 2 (
ay1 + by2 ) + P ( x ) ( ay1 + by2 ) + Q ( x )( ay1 + by2 )
dx
 d2 y dy   d2 y dy 
=  21 + P ( x ) 1 + Q ( x ) y1  +  22 + P ( x ) 2 + Q ( x ) y2  = 0 + 0 = 0 .
 dx dx   dx dx 

O fato é conhecido como o princípio da superposição para equações


diferenciais lineares 2ª ordem.

NOTA

Apesar de termos demonstrado o princípio da superposição para equações


diferenciais lineares de 2ª ordem, a propriedade é válida para equações diferenciais de
qualquer ordem.

O princípio da superposição é fundamental para a construção de uma


solução geral. Contudo, há outro conceito para estudar as soluções das equações
lineares de 2ª ordem, a saber, o conceito de independência linear entre funções
em um intervalo da reta.

4 INDEPENDÊNCIA LINEAR

O conceito de independência linear é o mesmo que se estuda em álgebra
linear. As funções y1 ( x ) , , yn ( x ) são ditas linearmente independentes, em um
intervalo da reta l, se a única solução da equação homogênea formada pela
combinação linear das funções:

a1 y1 ( x ) + =
+ an yn ( x ) 0, para todo x ∈ I

é a=
1
= a=
 n
0, ou seja, a equação anterior admite apenas a solução trivial.

No caso de duas funções, y1(x) e y2(x), o fato de elas serem linearmente


independentes significa que uma não é múltipla da outra, ou seja, y1 ( x ) ≠ cy2 ( x ) ,
com c ≠ 0. Existe um critério prático para determinar se duas funções são
linearmente independentes. Para isso, é necessário definir o conceito de
wronskiano.

49
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Definição 5: Dadas f1(x) e f2(x) duas funções reais de uma variável real e derivável.
f1 ( x ) f2 ( x )
O determinante W ( f1 , f2 )( x ) = é chamado de Wronskiano das
funções f1(x) e f2(x). f '1 ( x ) f '2 ( x )

Vejamos um exemplo de como calcular o Wronskiano de duas funções.



Exemplo 29: considere as funções= f1 x e=
e f2 x e( ) 4x
( ) −x
definidas em
toda a reta. O wronskiano de f1(x) e f2(x) é:

e4x e−x
W ( f1 , f2 )( x ) = 4 x −x
−e 3 x − 4e 3 x =
= −5e − x ≠ 0
4e −e

para qualquer valor de x.

Agora, podemos definir um critério para classificar a independência


de soluções de equações diferenciais de 2ª ordem. Enunciamos o resultado no
teorema a seguir.

Teorema 3: Se y1(x) e y2(x) são soluções de uma equação diferencial


linear de 2ª ordem definidas em um intervalo da reta. As soluções y1(x) e y2(x)
são linearmente independentes se, e somente se, W ( f1 , f2 )( x ) ≠ 0 para todos os
valores de x no intervalo.

5 CARACTERÍSTICAS DA SOLUÇÃO
A partir do Teorema 3, podemos determinar as soluções gerais para
equações diferenciais lineares homogêneas de 2ª ordem. Com efeito, y1(x) e y2(x)
são soluções linearmente independentes da equação diferencial linear homogênea
de 2ª ordem.

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
0.
dx 2
dx

A solução geral da equação é:

y ( x ) c1 y1 ( x ) + c2 y2 ( x ) .
=

Exemplo 30: a equação diferencial linear de 2ª ordem homogênea é:

y′′ − y′ − 12 y = 0 .

50
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

−3 x
=
As funções y1 e= e y2 e 4 x formam a solução geral da equação, pois:

e4x e −3 x
W ( y1 , y2 )( x ) = 4 x −3 x
−3e x − 4 e x =
= −7 e x ≠ 0
4e −3e

=
são linearmente independentes e, ao substituirmos y c1e −3 x + c2 e 4 x na
equação diferencial, temos:

( 9c e
1
−3 x
) ( ) (
+ 16c2 e 4 x − −3c1e −3 x + 4c2 e 4 x − 12 c1e −3 x + c2 e 4 x =0 . )
Uma vez determinadas as características da solução da equação
diferencial linear homogênea de 2ª ordem, focaremos, por enquanto, no estudo
das características de uma solução geral para equação diferencial não homogênea
de 2ª ordem:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
g ( x) . (17)
dx 2
dx

Para isso, usaremos fortemente o fato de que as derivadas de funções


são operadores lineares. Contudo, primeiramente, vamos definir o conceito de
solução particular.

Definição 6: uma função yp(x) que satisfaz a equação (17) é dita ser uma
solução particular da equação diferencial.

Exemplo 31: a função yp(x) = x ln x é uma solução particular de:

d2 y dy 1
+ x −y =x+
dx 2
dx x
pois:

d2 yp dy p d2 d 1 1
2 (
+x − yp = x ln x ) + x ( x ln x ) − ( x ln x ) = + x ( ln x + 1) − x ln x = x +
dx 2 dx dx dx x x

Uma vez que a solução particular é obtida, então, a solução geral da


equação diferencial não homogênea é a soma da solução da equação diferencial
homogênea associada com a solução particular. Enunciaremos precisamente o
resultado no teorema a seguir.

51
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Teorema 4: considere a equação diferencial linear de 2ª ordem:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
g ( x)
dx 2
dx

A solução geral da equação não homogênea é obtida pela soma da solução geral
da equação homogênea associada:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
0
dx 2
dx

yh ( x ) c1 y1 ( x ) + c2 y2 ( x ) , com uma solução particular yp(x) da equação


dada por =
não homogênea. Isto é:

y ( x ) = yh ( x ) + y p ( x ) = c1 y1 ( x ) + c2 y2 ( x ) + y p ( x ) .

A demonstração segue a linearidade do operador de derivação. Com


efeito, yh(x) e yp(x) são, respectivamente, solução da equação homogênea associada
e solução particular da equação não homogênea. Portanto:

d2 y dy d2 d
+ P ( x ) + Q ( x )=
y 2  h( )
 y x + y p ( x )  + P ( x )  yh ( x ) + y p ( x )  + Q ( x )  yh ( x ) + y p ( x ) 
    
dx 2
dx dx dx
  d yp 
2
 d2 y dy dy p
=  2h + P ( x ) h + Q ( x ) yh  +  2 + P ( x ) + Q ( x ) yp 
 dx dx   dx dx 

0 + g ( x) =
= g ( x)

y ( x ) yh ( x ) + y p ( x ) é solução de (15).
demonstrando, assim, que =

Exemplo 32: considere a equação diferencial y′′ − 4 y′ − 12 y =


7e5x . A
solução geral da equação homogênea associada é:

( x ) c1e 6 x + c2 e −2 x .
yh=

Verifique, substituindo esse resultado na equação homogênea associada.


( ) 5x
Ademais, y p x = − e é uma solução particular da equação diferencial. Verifique,
fazendo a substituição na equação diferencial. Portanto, a solução geral é:

yh ( x ) =c1e 6 x + c2 e −2 x − e 5 x .

52
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Um método que será útil para a resolução chama-se redução de ordem.


Essa metodologia é descrita da seguinte maneira:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
0 (18)
dx 2
dx

é uma equação diferencial linear homogênea de 2ª ordem. Suponha que, de


antemão, se conheça uma solução, y1(x), da equação (18). A partir dessa solução,
é possível transformar a equação de 2ª ordem (18) em uma equação de 1ª ordem.

NOTA

A ideia de saber antecipadamente parece estranha. Contudo, em aplicações,


o fato é muito comum.

Procura-se uma segunda solução, y2(x), que seja linearmente independente


de y1(x). Contudo, a definição de independência linear de duas funções diz
y2 ( x )
que elas não podem ser múltiplas, ou seja, ≠ c , sendo c um número real.
y1 ( x )
Assim, é o mesmo que dizer que existe uma função real não constante u, tal que
y2 ( x )
= u ( x ) , ou seja, y2(x) = u(x)y1(x).
y1 ( x )

A partir de y2(x) em (16), e utilizando y1(x) como solução, obtém-se uma


equação diferencial linear de primeira ordem para u(x). Antes de analisarmos o
caso geral, vejamos um exemplo.

Exemplo 33: note que y1(x) = e2x é uma solução de y'' – 3y' + 2y = 0 no intervalo
( −∞ , +∞ ) . O método de redução de ordem menciona que uma segunda solução
=
para a equação diferencial em questão é dada por y ( x ) u=
( x) y ( x) u( x) e . 2 1
2x

Pela regra do produto, temos:

 = y2' u ' e 2 x + 2ue 2 x


 '' 2x 2x 2x
 y2 =u '' e + 24u ' e + 4ue
portanto

y2'' − 3 y2' y+''2'' − ( ( ) ( ) (


2 y32y'=2' +u2''ye22=x +u4''ue' e2 x + 4ue
2x 2x
u' e 2 x +−43ueu
2x 2x
' e− 3+ u ) ( ))(
' e 22xx +=
2ue 2x 2x
+22ue ue = )
2 x2 x
+ 2 ue
e= u2 x′ )( u′′0+ u′ ) 0
( u′′ +e=

53
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

2x
como e ≠ 0 , então, u'' + u' = 0. Com a mudança de variável w = u', obtemos:

w' + w = 0.

Utilizando fatores integrantes, a equação se torna:

d x
e w  = 0 .
dx  

A solução é w(x) = c1e–x. Contudo, w = u' e, portanto, após um passo de


integração:

u( x) =
−c1e − x + c2

assim

y2 ( x ) =
u ( x) e2x =
−c1e x + c2 e 2 x .

Devemos fazer algumas ponderações a partir do resultado anterior.
Procuramos uma solução fundamental para a equação diferencial, logo, não
estamos interessados em constantes, apenas na estrutura da solução. Ademais,
em y2(x), há um termo já contemplado na primeira solução. Portanto, para a
solução fundamental y2(x), podemos escolher c1 = –1 e c2 = 0. Assim, y2(x) = ex. Note
que y1(x) e y2(x) são linearmente independentes, pois W ( y1 , y2 ) ≠ 0. Portanto, a
solução geral é:

( x ) c1e 2 x + c2 e x .
y=

Passemos, agora, ao caso geral. Considere uma equação diferencial linear
homogênea de 2ª ordem geral:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
0. (19)
dx 2
dx

Suponha que conhecemos uma solução y1(x) da equação definida em um


intervalo l da reta. Assuma também que y1 ( x ) ≠ 0 para todo x ∈ I . O método de
redução de ordem afirma que uma segunda solução para o problema é dada por
y(x) = u(x)y1(x). Calculando y'(x) e y''(x) pela regra do produto e, posteriormente,
substituindo em (17), obtemos:

54
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

y′′ + Py′ + Qy= ( u '' y + 2u′y + uy ) + P ( u ' y + uy ) + Q ( uy )


1
'
1
''
1 1
'
1 1

= u ( y + Py + Qy ) + u '' y + ( 2 y + Py ) u′
''
1
'
1 1 1
'
1 1

= y u′′ + ( 2 y + Py ) u′.
1
'
1 1

Portanto, y'' + Py' + Qy = 0 implica em y1u′′ + 2 y1' + Py1 u′ =


0. Por sua ( )
vez, através da mudança de variável w(x) = u'(x):

(
y1w '+ 2 y1' + Py1 w =
0 )
a equação anterior é uma diferencial de primeira ordem separável, cuja
solução é:

− ∫ P ( x ) dx
c1e
w ( x) = .
y12

Como w(x) = u'(x), obtém-se u(x) através de uma integração na variável x.


Assim:

3
u( x) =
e2()
c1 ∫∫ x dx
x+ c − ∫ P x dx

y12
= +2 . c.
dx
3
Escolhendo c1 = 1 e c2 = 0, obtém-se:

e 2( ) x3
− ∫ P x dx

2( )
y= x y1 ( x ) ∫
y12
dx .∫ x dx = + c. (20)
3
As soluções y1(x) e y2(x) são linearmente independentes, pois W ( y1 , y2 ) ≠ 0
(calcule o wronskiano para verificar que é verdade) e, portanto, há a formação de
um conjunto fundamental de soluções.

55
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

E
IMPORTANT

Há a necessidade de decorar a equação (20)? A resposta é não! A dedução foi


feita para fins de desenvolvimento de teoria, pois, no estudo que vem a seguir, a ferramenta
de redução de ordem será utilizada. Note que deduzimos uma fórmula utilizando a redução
de ordem. Contudo, a metodologia é válida para equações diferenciais de ordem n e não
homogêneas. No caso, conhecendo uma solução da equação, consegue-se reduzir a
ordem em 1.

É necessário apresentar um exemplo apenas para aplicar a fórmula (20)


deduzida.

Exemplo 34: a função y1(x) = x–3 é uma solução da equação:

d 2 y 7 dy 9
+ + y=
0.
dx 2 x dx x

Agora aplicando a equação (20), obtemos:

x3
1
−7 ∫ dx

) x ∫ e x2−6 dx
x
y2 ( x= −3
∫ x dx = + c.
33
−7 ln x
e 2 x
= x −3
∫∫ xx dxdx= + c.
−6

−7
x33
x2
= x −3 ∫∫ xx dx
−6
dx = + c.

12
33
x
= x −3 ∫∫ xxdxdx = + c.
3
= x −3 ln x.

6 ENCONTRANDO A SOLUÇÃO
Até agora, desenvolvemos ferramentas teóricas para o estudo de equações
diferenciais lineares de 2ª ordem. Vamos, agora, iniciar o estudo de como obter
soluções para essas equações. Assim, considere a equação diferencial linear de 2ª
ordem a mais simples possível:

d2 y dy
a + b + cy =
0 (21)
dx 2 dx
56
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Ou seja, uma equação homogênea com coeficientes constantes. Para a


resolução da equação, procuramos por duas soluções que fossem linearmente
independentes. O conjunto dessas duas soluções será dito um conjunto
fundamental de soluções e a solução geral da equação homogênea com coeficientes
constantes será a combinação linear dos elementos do conjunto fundamental de
soluções.

Um pouco de reflexão indica que uma função exponencial pode ser a


função procurada. De fato, estamos procurando soluções do tipo:

y(x) = ekx

sendo k um parâmetro a ser determinado. Para determinar seu valor, é preciso


substituir y(x) em (21). Assim:

d2 y dy d 2 kx d
a
dx 2
+ b
dx
+ cy= a
dx 2
e + b e kx + ce kx =
dx
( ak 2
)
+ bk + c e kx = 0

kx
como e ≠ 0, então, devemos ter:

ak2 + bk + c =0.

A equação anterior é chamada de equação característica associada à


equação (21). Como se trata de uma equação de segundo grau, sua solução pode
ter:

a) Raízes reais distintas.


b) Raízes reais repetidas.
c) Raízes complexas (pares conjugados).

Vamos, agora, analisar com mais detalhes essas possibilidades de raízes e
ver que, de fato, estas gerarão um conjunto fundamental de soluções, propiciando
a construção de uma solução geral para a equação diferencial homogênea de 2ª
ordem com coeficientes constantes.

• Raízes reais distintas: suponha que a equação característica tenha duas soluções
kx k x
reais e distintas, a saber, k1 e k2. No caso, e 1 e e 2 formam um conjunto
fundamental de soluções:

e k1x e k2 x
(
W e ,e k1 x k2 x
) ( x) =
k1e k1 x
k2 e k2 x
( k2 − k1 ) e( k1 + k2 ) x ≠ 0
=

57
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

pois k1 ≠ k2 . Logo, a solução geral é:

( x ) c1e k1x + c2 e k2 x .
y=

Exemplo 35: procure uma solução para o seguinte PVI:

 d2 y dy
 2 − 3 − 4y = 0
 dx dx .
 y ( 0 ) 0=
e y′ ( 0 ) −5

=

O primeiro passo é encontrar a equação característica associada à equação


diferencial, além de encontrar suas raízes. Para a equação, a equação característica é:

k 2 − 3k − 4 =0

E as raízes são k1 = –1 e k2 = 4. Portanto, a solução geral é:

( x ) c1e − x + c2 e 4 x .
y=

Assim, devemos aplicar as condições iniciais para as constantes c1 e c2.


Com efeito:

y′ ( x ) =
−c1e − x + 4c2 e 4 x .

Então, devemos resolver o seguinte sistema linear:

 y ( 0 ) = c1 + c2 = 0
 .
 y ′ ( 0 ) =− c1
+ 4 c 2
=−5

A solução é c1 = 1 e c2 = 1. Portanto, a solução geral do problema de valor


inicial é:

y ( x=
) e−x + e4x .
• Raízes reais repetidas: suponha que a equação característica tenha duas
soluções reais e iguais, a saber, k1 = k2 = k = –b/2a. No caso, obtém-se apenas uma
solução para a equação diferencial: y1(x) = ekx. Para ser obtida uma segunda
solução linearmente independente, é utilizada a redução de ordem, portanto:

58
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

e 2( ) x3
− ∫ P x dx

2( ) 1( ) ∫ x dx = + c.
y= x y x ∫ dx
y12
3
3
x
b
− ∫ dx
e
a
= e kx ∫∫ xe 2 dxdx= + c.
2 kx

33
x
b
− x
e
a
= e kx
∫∫ ex 2 dx
2 kx
dx = + c.
3
= e kx ∫ dx

= xe kx.

Resumindo, se a equação característica tem apenas uma solução k com


multiplicidade 2, então, o conjunto fundamental de soluções é formado por ekx
e xekx. Pela construção da segunda solução a partir da primeira e pelo método de
redução de ordem, já está demonstrado que elas são linearmente independentes.
Portanto, a solução geral é:

( x ) c1e kx + c2 xe kx .
y=

Exemplo 36: encontre uma solução para a equação:

d2 y dy
− 4 + 4y =
0.
dx 2
dx

Para a equação diferencial, a equação característica é:

k 2 − 4k + 4 =0

e sua raiz é k = 2, que tem multiplicidade 2. Portanto, a solução geral é:

( x ) c1e 2 x + c2 xe 2 x .
y=

• Raízes complexas (pares conjugados): suponha que a equação característica


tenha duas soluções complexas e distintas, a saber, k1 = α + βi e k2 = α – βi,
sendo α e β > 0 números reais e i2 = –1. Observe que, apesar de serem números
complexos, k1 ≠ k2 . Portanto, a solução geral é:

y ( x ) d1e (
α + β i )x
+ d2 e (
α −β i )x
= .

59
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Em geral, prefere-se trabalhar com funções reais ao invés de funções


complexas. No caso, as soluções fundamentais da equação diferencial são
exponenciais complexas que, a partir da fórmula de Euler:

e − iθ cos θ + isenθ .
=

Assim, em nosso caso, temos:

e iβ x cos β x + isenβ x
=

e − iβ x = cos ( − β x ) + isen ( − β x ) .

Usando a paridade das funções seno e cosseno, ou seja:

cos β x e sen ( − β x ) =
cos( − β x) = −senβ x

obtemos:

e iβ x cos β x + isenβ x
=

e − iβ x cos β x − isenβ x .
=

Por sua vez, adicionando e subtraindo as exponenciais, temos:

e iβ x + e − iβ x =
2 cos β x

e iβ x − e − iβ x =
2isenβ x .

Como a solução geral= é y x ( )


d1e ( ) + d2 e ( ) , escolhemos d1 = d2 =
α +β i x α −β i x

1 e d1 = –d2 = 1. Portanto, obtemos duas soluções:

( )
y1 ( x )= eα x e β ix + e − β ix = 2 eα x cos β x

y2 ( x )= eα x (e β ix
− e − β ix )= 2ieα x senβ x .

Assim, a partir do princípio da superposição, eα x cos β x e eα x senβ x são


soluções da equação diferencial, soluções fundamentais. Assim, a solução geral é:

=y ( x ) c1eα x cos β x + c2 eα x senβ x

= eα x ( c1 cos β x + c2 senβ x ) .

60
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Exemplo 37: procurar uma solução para a equação:

d2 y dy
− 8 + 19 y =
0.
dx 2
dx

Para a equação diferencial anterior, a equação característica é:

k 2 − 8 k + 19 =
0

as raízes são k1 =
4 + i 3 e k2 =
4 − i 3. Portanto, a solução geral é:

= (
y ( x ) e 4 x c1 cos 3 x + c2 sen 3 x . )
Suponha que desejamos resolver uma equação diferencial com coeficientes
constantes de segunda ordem, e não homogênea.

d2 y dy
a + b g ( x).
+ cy =
dx 2 dx

A equação anterior é um caso particular de uma equação diferencial


linear, cuja solução geral é dada por:

y ( x ) yh ( x ) + y p ( x )
=

com yh(x) é a solução geral da equação diferencial homogênea associada e yp(x) é


uma solução particular da equação diferencial não homogênea.

Já estudamos como resolver as equações diferenciais de segunda ordem


com coeficientes constates. Assim, a partir de agora, focaremos no desenvolvimento
de duas técnicas para que possamos encontrar soluções particulares. O primeiro
método é o chamado método dos coeficientes indeterminados ou dos coeficientes
a determinar, que será estudado a seguir. O segundo método é chamado de
método de variação dos parâmetros, e logo será estudado.

O método dos coeficientes indeterminados é empírico, e é utilizado para


encontrar uma solução particular yp(x) a partir das características da função
g(x). Esse método é restrito devido a formas muito particulares da função g(x).
Contudo, é simples de ser aplicado e não envolve cálculos muito elaborados. Está
baseado em conjecturas, a saber:

• Função polinomial.
• Função exponencial.

61
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

• Funções seno e cosseno.


• Somas e produtos finitos das funções apresentadas.

Vejamos alguns exemplos de funções g(x) que são contempladas para o


estudo dos métodos dos coeficientes indeterminados.

Exemplo 38: a seguir, apresentamos algumas formas aceitas para a função


g(x).

• g ( x=
) x2 + x.
• g ( x ) = cos 7 x.

( x ) xe 4 x + sen2 x.
• g=

• g ( x ) = 4 x 5 + 16 x 2 + 12 + e −2 x .

Funções g(x) que não se enquadram na descrição não são aplicáveis


no método dos coeficientes indeterminados, mas podem, eventualmente, ser
utilizadas no método da variação dos parâmetros.

Espera-se que a solução particular tenha uma forma similar, pois a


combinação linear ay''p + by'p + cy p deve ser g(x). Como o método é basicamente
'' '

empírico, apresentamos alguns exemplos de como se obter soluções gerais


para equações diferenciais de segunda ordem com coeficientes constantes não
homogêneos.

Exemplo 39: resolva a equação y'' – 6y' + 8y = 8x2 – 12x – 6.

O primeiro passo é encontrar a solução da equação homogênea associada


y'' – 6y' + 8y = 0. Com efeito, a equação característica é k2 – 6k + 8 = 0, cujas raízes
( x ) c1e 4 x + c2 e 2 x .
são k1 = 4 e k2 = 2. Portanto, a solução geral é yh=

O segundo passo consiste em encontrar uma solução particular para a


equação. De fato, como g(x) é uma equação polinomial de grau 2, espera-se que a
solução particular também tenha esse formato, ou seja:

yp(x) = Ax2 + Bx + C.

A ideia é encontrar os coeficientes indeterminados A, B e C de forma que


yp(x) satisfaça a equação diferencial não homogênea. Isto é, devemos ter:

(
y''''p − 6 y''p + 8 y p = 2 A − 6 ( 2 Ax + B ) + 8 Ax 2 + Bx + C )
= 8 Ax 2 + ( 8 B − 12 A ) x + ( 2 A − 6 B + 8C ) .

62
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Como o resultado deve ser g(x) = 8x2 – 12x – 6, obtemos o seguinte sistema
linear:

 8A = 8

 −12 A + 8 B =−12
2 A − 6 B + 8C =−6

ou seja:

 8 0 0 A  8 
    
 −12 8 0   B  =
 −12 
 2 −6 8   C   −6 
    

a solução é A = 1, B = 0 e C = –1. Portanto:

yp(x) = x2 – 1.

Assim, a solução geral é:

y ( x )= yh ( x ) + y p ( x )= c1e 4 x + c2 e 2 x + x 2 − 1.

Exemplo 40: resolva a equação y′′ − 2 y′ + y =−25 cos 2 x.

A equação característica é associada à equação homogênea é k2 – 2k + 1 = 0,


cuja solução demonstra k = 1, com multiplicidade 2, portanto:

yh (=
x ) c1e x + c2 xe x .

A função g(x) é uma função cosseno, mas lembrando que a primeira


derivada é uma função seno, então, a melhor conjectura para a solução particular é:

y p ( x ) A cos 2 x + Bsen2 x .
=

Agora, devemos encontrar os coeficientes A e B de forma que yp(x) seja


solução da equação diferencial. Portanto:

( 4 A cos 2 x − 4 Bsen2 x ) − 2 ( −2 Asen2 x + 2 B cos 2 x ) + ( A cos 2 x + Bsen2 x )


y''''p − 2 y''p + y p =−

= ( −4 A − 4 B + A ) cos 2 x + ( −4 B + 4 A + B ) sen2 x

=( −3 A − 4 B ) cos 2 x + ( 4 A − 3B ) sen2 x
= cos 2 x.

63
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Assim, obtemos o seguinte sistema linear:

−3 A − 4 B = −25

 4 A − 3B = 0

a solução é A = 3 e B = 4. Portanto:

y p ( x ) 33cos
= 2 x++4sen
cos2x 2x.x
4sen2

A solução geral da equação não homogênea é:

y ( x ) =c1e x + c2 xe x + 33cos 2 x++4sen


cos2x 2x.x
4sen2

Exemplo 41: resolva a equação y′′ − y′ − 2 y =


x 2
−4 xe − 2 x − 2 x − 2 .

A equação característica associada é k2 – k – 2 = 0 cujas raízes são k1 = 2 e
k2 = –1. Portanto, a solução geral da equação homogênea é:

( x ) c1e 2 x + c2 e − x .
y h=

A solução particular tem a seguinte forma:

yp ( x ) = ( Ax + B ) e x
+ Cx 2 + Dx + E .

Substituindo na equação diferencial, temos:

y''''p − y''p − 2 y p= ( Axe + 2 Ae + Be + 2C ) − ( Axe


x x x x
+ Ae x + Be x + 2Cx + D )
− 2 ( Axe + Be + Cx + Dx + E )
x x 2

=−2 Axe x + ( A − 2 B ) e x − 2Cx 2 + ( −2C − 2 D ) x + ( 2C − D − 2 E )

−4 xe x − 2 x 2 − 2 x − 2.
=

Gerando o seguinte sistema linear:

 −2 A = −4

 A − 2 B = 0
 −2C = −2
 −2C − 2 D = −2

2C − D − 2 E = −2

64
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

a solução é A = 2, B = 1 e C = 1, D = 0 e E = 2. Logo, a solução geral da equação não


homogênea é:

y ( x )= c1e 2 x + c2 e − x + ((2x 1) e x + x 2 + 2 .
2 x ++ 1)

O método dos coeficientes a determinar, apesar de simples, pode


demonstrar “pegadinhas”. Os próximos três exemplos ilustram o fato.

Exemplo 42: resolva a equação y′′ − 9 y′ + 14 y =


10 e 2 x .

A equação característica associada é x2 – 9x + 14 = 0, cujas raízes são k1 = 7


e k2 = 2. Portanto, a solução da equação homogênea é:

( x ) c1e7 x + c2 e 2 x .
y h=

Para encontrar uma solução particular, é natural que a solução tenha a


seguinte forma:

y p ( x ) = Ae 2 x .

Para determinar o coeficiente A, substituímos yp(x) na equação diferencial,


obtendo:

y''p − 9 y'p + 14 y p= 4 Ae 2 x − 18 Ae 2 x + 14 Ae 2 x= 0 Ae 2 x= 0 (22)

assim, para determinar A, é preciso resolver a equação 0 = 10e2x, uma


contradição.

O aparente problema encontrado é causado pelo fato de que Ae2x já foi


contemplado na solução da equação homogênea. Portanto, quando substituído
na equação, deve fornecer um resultado zero, como observado em (22). Contudo,
ainda necessitamos de uma solução particular:

y p ( x ) = Axe 2 x .

Substituindo na equação diferencial, temos:

y''''p − 9 y''p + 14 y p = ( 4 Ax + 4 A ) e 2x
− 9 ( 2 Ax + A ) e 2 x + 14 Axe 2 x

= ( 4 A − 9 A ) e 2 x + ( 4 A − 18 A + 14 A ) xe 2 x

= −5 Ae 2 x .

65
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Para yp(x) ser uma solução particular, devemos ter −5 Ae 2 x =


10 e 2 x , ou
seja, A = –2. Logo, a solução geral da equação diferencial é:

y ( x ) = c1e 7 x + c2 e 2 x − 2 xe 2 x .

Exemplo 43: resolva a equação y′′ − 4 y′ + 4 y =


10 e 2 x .

A equação característica associada é x 2 − 4 x + 4 =0, cujas raízes são k1 = 2 e


k2 = 2. Portanto, há apenas uma raiz de multiplicidade 2. Assim, a solução da equação
homogênea é:

( x ) c1e 2 x + c2 xe 2 x .
y h=

Observe que g(x) = 10e2x e que o fator contendo a exponencial também está
presente na solução da equação homogênea. Portanto, a partir do que foi visto no
Exemplo 42, é natural que a solução particular tenha a seguinte forma:

y p ( x ) = Ax 2 e 2 x .

Para determinar o coeficiente A, substituímos yp(x) na equação diferencial,


obtendo:

y''''p − 4 y''p + 4 y p= ( 4 Ax 2
) ( )
+ 8 Ax + 2 A e 2 x − 4 2 Ax 2 + 2 Ax e 2 x + 4 Ax 2 e 2 x

= ( 4A − 8A + 4A) x e 2 2x
+ ( 8 A − 8 A ) xe 2 x + 2 Ae 2 x

= 2 Ae 2 x.

Para yp(x) ser uma solução particular, devemos ter 2Ae2x = 10e2x, ou seja,
A = 5. Logo, a solução geral da equação diferencial é:

y ( x ) =c1e 2 x + c2 xe 2 x + 5 x 2 e 2 x .

O mesmo fenômeno acontece quando as raízes da equação característica


são complexas e, portanto, a solução da equação homogênea é uma combinação
linear de uma função seno e uma função cosseno. No caso, a não homogeneidade
g(x) pode ser uma função que contém funções seno/cosseno com frequência igual
à presente na solução da equação homogênea.

Exemplo 44: resolva a equação y′′ + 9 y =


3 cos 3 x.

66
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

A equação característica associada é x2 + 9 = 0 cujas raízes são k1 = 3i e


k2 = –3i. Portanto, a solução da equação homogênea é:

yh ( x ) c1sen3 x + c2 cos 3 x .
=

Veja que a solução da equação homogênea tem um termo igual a cos 3x,
assim como a função g(x). Logo, podemos conjecturar que a solução particular
apresenta a seguinte forma:

y p ( x ) Axsen3 x + Bx cos 3 x .
=

Para determinar os coeficientes A e B, substituímos yp(x) na equação


diferencial, obtendo:

( −9 Axsen3x − 9 Bx cos 3x − 6 Bsen3x + 6 A cos 3x ) + 9 ( Axsen3x + Bx cos 3x )


y''''p + 9 y p =

( −9 A + 9 A ) xsen3x + ( −9 B + 9 B ) x cos 3x − 6 Bsen3x + 6 A cos 3x


=

−6 Bsen3 x + 6 A cos 3 x .
=

Para yp(x) ser uma solução particular, devemos ter 6A = 3 e – 6B = 0, ou


1
seja,=
A = e B 0. Logo, a solução geral da equação diferencial é:
2
1
y ( x ) =c1sen3 x + c2 cos 3 x + xsen3 x .
2

A seguir, apresentaremos um resumo de como escolher a forma da solução


particular a partir da forma da não homogeneidade:

1. Se g ( x ) = eα x P ( x ) , sendo P(x) um polinômio de grau n (função constante é


um polinômio de grau zero), então y p ( x ) = e Q ( x ) . Q(x) é um polinômio
αx

de grau n com todos os coeficientes a serem determinados. Por exemplo, se


= ( )
g ( x ) e 3 x x 3 + 1 , então y p= (
( x ) e 3 x Ax3 + Bx2 + Cx + D . )
2. Se g ( x ) = eα x P ( x ) senβ x ou g ( x ) = eα x P ( x ) cos β x , sendo P(x) um polinômio de
então y p ( x ) e Q ( x ) senβ x + e R ( x ) cos β x. Q(x) e R(x) são polinômios
αx αx
grau n,=
de grau n com todos os coeficientes a serem determinados. Por exemplo,
g ( x ) = e x xsen 5 x , então, y p ( x ) = e x ( Ax + B ) sen 5 x + e x ( Cx + D ) cos 5 x .
3. Determine yp(x) seguindo os passos anteriores. Se algum termo de yp(x) fizer
parte de yh(x) multiplique yp(x) por xn, sendo n o menor número inteiro positivo
que elimina a duplicação.

Até aqui, estudamos os métodos para resolver equações diferenciais de

67
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

segunda ordem com coeficientes constantes. Focamos no estudo das equações


homogêneas e de uma classe de equações não homogêneas. Apesar da
simplicidade dos métodos de resolução, precisamos definir uma metodologia
para o encontro de soluções particulares de equações diferenciais lineares de
2ª ordem, chamada de método da variação dos parâmetros. Conforme vamos
deduzindo a metodologia a ser seguida, as hipóteses vão surgindo. Considere
uma equação diferencial linear de 2ª ordem genérica:

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
g ( x ). (23)
dx 2
dx

A ideia a ser seguida é uma generalização do método de variação dos


parâmetros. Como já sabemos, uma solução geral para uma equação diferencial
linear de segunda ordem é composta pela combinação linear de duas funções
linearmente independentes y1(x) e y2(x), ou seja:

yh ( x ) c1 y1 ( x ) + c2 y2 ( x ).
=

No caso em que os coeficientes são constantes, temos um método de


resolução, contudo, tratando-se de coeficientes variáveis, encontrar a solução da
equação homogênea associada pode ser desafiador. Mais ao final, estudaremos
uma classe na qual os coeficientes são variáveis, a chamada equação de Cauchy-
Euler. Como o método de variação de parâmetros exige o conhecimento prévio do
conjunto fundamental de soluções da equação diferencial homogênea associada,
vamos desenvolver o método no caso geral.

A ideia é que a solução particular tenha uma estrutura parecida com a


estrutura da solução da equação homogênea associada, porém, os parâmetros
devem variar com a variável independente x. Portanto, assumimos que:

y p ( x ) u1 ( x ) y1 ( x ) + u2 ( x ) y2 ( x ) .
= (24)

A justificativa do nome variação dos parâmetros se encontra aqui, pois


transformamos os parâmetros solução em funções.

Como queremos que yp(x) seja solução da equação diferencial (23),


devemos substituir yp(x) na equação e determinar as funções u1(x) e u2(x). Para
isso, utilizando a regra do produto, obtemos:

y''p ( x ) = u'1' ( x ) y1 ( x ) + u'2' ( x ) y2 ( x ) + u1 ( x ) y'1' ( x ) + u2 ( x ) y'2' ( x ) .

68
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Faremos uma hipótese extra sobre as funções u1(x) e u2(x). Assumimos


que u1(x) e u2(x) satisfaçam a seguinte identidade:

u1'' ( x ) y1 ( x ) + u'2' ( x ) y2 ( x ) =
0. (25)

Portanto, a primeira derivada da solução particular toma a seguinte forma:

y''p ( x ) u1 ( x ) y1'' ( x ) + u2 ( x ) y'2' ( x ) .


= (26)

Assim, a segunda derivada pode ser calculada a partir da identidade


anterior, obtendo:

y''''p ( x ) = u'1' ( x ) y1'' ( x ) + u'2' ( x ) y'2' ( x ) + u1 ( x ) y1'''' ( x ) + u2 ( x ) y''2'' ( x ) . (27)

A substituição das equações (25), (26) e (27) em (23) fornece (omitiremos


as dependências em x):

( ) ( )
y''''p + Py''p + Qy p = u'1' y'1' + u'2' y'2' + u1 y1'''' + u2 y''2'' + P u1 y1'' + u2 y'2' + Q ( u1 y1 + u2 y2 )

= ( y'' + Py ' + y ) u + ( y '' + Py' + y ) u + ( u' y' + u' y ' ) .


''
1
'
1 1 1
''
2
'
2 2 2
' '
1 1
'
2
'
2

Contudo, y1(x) e y2(x) são soluções da equação diferencial homogênea


associada, portanto:

y''''p + P ( x ) y''p + Q ( x ) y p = u1'' ( x ) y'1' + u'2' ( x ) y'2' = g ( x ) . (28)

As equações (23) e (26) formam o seguinte sistema linear:

 u'1' ( x ) y1 ( x ) + u'2' ( x ) y2 ( x ) = 0
 '' .
u1 ( x ) y1' ( x ) + u'2 ( x ) y'2 ( x ) =g ( x)
' ' '

( ) ( )
As incógnitas são u'1' x e u'2' x . Aplicando a regra de Cramer, obtemos:

y ( x) g ( x) y1 ( x ) g ( x )
u'1' ( x ) =
− 2 e u'2' ( x ) =
W ( y1 , y2 )( x ) W ( y1 , y2 )( x )

69
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

com W(y1,y2)(x) é o Wronskiano de y1(x) e y2(x). As divisões estão bem definidas,


pois como y1(x) e y2(x) formam um conjunto fundamental de soluções da equação
diferencial, então, o Wronskiano não é anulado em nenhum ponto do intervalo
de definição das soluções. Integrando as identidades, obtemos:
3
x
y22 ( x ) g ( x )
3
x
y21 ( x ) g ( x )
u1 ( x ) =
−∫ ∫ x dx = + c.
W ( y1 , y2 )( x )
dx + c1 e u2 ( x ) =
∫ ∫ x dx = + c.
W ( y1 , y2 )( x )
dx + c2 .
3 3
Sem perda de generalidade, podemos assumir c1 = c2 = 0. Note que, apesar
de o método ter sido deduzido para uma equação diferencial linear arbitrária, a
obtenção de um resultado analítico depende de dois fatores. O primeiro é que
sejam conhecidas as soluções fundamentais da equação homogênea, que nem
sempre podem ser obtidas. Segundo as integrais, para determinar u1(x) e u2(x),
pode ser uma ação muito complicada ou, até mesmo, impossível. Portanto, o
método de variação dos parâmetros é uma metodologia, mas que sofre algumas
limitações advindas da natureza matemática das funções envolvidas. Para a
sumarização do método de variação dos parâmetros, enunciamos o seguinte
teorema:

Teorema 5: P, Q e g são funções contínuas em um intervalo aberto da reta.


y1 e y2 são funções que formam um conjunto fundamental de soluções da equação
homogênea associada à equação diferencial linear não homogênea.

d2 y dy
+ P ( x) + Q ( x) y =
g ( x) .
dx 2
dx

Então, uma solução particular para a equação é dada por:


3
x
y22 ( x ) g ( x )
3
x y21 ( x ) g ( x )
yp ( x ) =
− y1 ( x ) ∫ ∫ x dx = + c. ∫ x dx = + c.
W ( y1 , y2 )( x )
dx + y2 ( x ) ∫
W ( y1 , y2 )( x )
dx .
3 3
A solução geral é dada por:

y ( x ) = c1 y1 ( x ) + c2 y2 ( x ) + y p ( x ) .

Exemplo 45: resolva a equação y′′ + y′ − 6 y =


4x
6e .

É possível resolver essa equação diferencial pelo método de variação


dos parâmetros, apesar de poder ser resolvida pelo método dos coeficientes a
determinar. Primeiramente, precisamos encontrar uma solução para a equação
homogênea associada, que é:

( x ) c1e 2 x + c2 e −3 x .
y h=
70
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Pelo método da variação dos parâmetros, a solução particular da equação


diferencial é:

y p ( x ) u1 ( x ) e 2 x + u2 ( x ) e −3 x
=

sendo
3
x
e −3 x g ( x )
3
2 x
e2x g ( x)
2
∫ x (dx =) + c.
u1 ( x ) = − ∫
W e 2 x , e −3 x ( x )
dx e ∫ x (dx =) + c.
u2 ( x ) = ∫
W e 2 x , e −3 x ( x )
dx .
3 3
( ) 4x
com g x = 6 e . O Wronskiano das soluções fundamentais é:

e2x e −3 x
(
W e 2 x , e −3 x ) ( x) = 2e 2 x −3e −3 x
= −5e − x .

Portanto:
3
2 x
e −3 x g ( x ) x
e −32x g ( x )
3
x
6 2 x2 3 2x
3
∫ x (dx =) + c. ∫ x dx = +∫ xc.dx = + c.
u1 ( x ) = − ∫
W e 2 x , e −3 x ( x )
dx = − ∫
−5e − x
dx = ∫ e dx = e
5 5
3 3 3
3 3 3
e g ( x )x
2x
e 2g ( x ) x 6 2dx =− 6xe .
2x

∫∫ x 2 dx = + dxc=
. ∫ x−5dx
e = 5+∫ c x. dx = 35 + c.
u ( x) = ∫ dx =− ∫ e 7x 7x

W (e , e ) ( x)
2 2x −3 x −x

3 3 3
Logo:

3 2 x 2 x 6 7 x −3 x  3 6  4 x 3 4 x
yp ( x ) =
u1 ( x ) e 2 x + u2 ( x ) e −3 x = e e − e e =  5 − 35  e = e .
5 35   7

A solução geral é, portanto:

3
y ( x ) =c1e 2 x + c2 e −3 x + e 4 x .
7

Como mencionado, o método de variação dos parâmetros permite o


cálculo da solução particular de uma equação diferencial linear para uma classe
maior de não homogeneidades. Observe o exemplo a seguir. Note que os cálculos
podem ficar bem complicados.

Exemplo 46: resolva a equação y′′ + 2 y′ + 5 y =


−x
e tg2 x.

71
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Note que a equação diferencial não pode ter sua solução particular
calculada através do método dos coeficientes a determinar, pois a não
homogeneidade g ( x ) = e − x tg2 x não satisfaz as hipóteses do método. Vamos,
então, resolver a equação utilizando o método de variação dos parâmetros. A
equação característica associada tem raízes k1 =−1 + 2i e k2 =−1 − 2i. Portanto, a
solução é:

=yh e − x ( c1 cos 2 x + c2 sen2 x ) .

O próximo passo é o cálculo do Wronskiano das soluções fundamentais.


Com efeito:

e − x cos 2 x e − x sen2 x
( )
W e − x cos 2 x , e − x sen2 x ( x ) =
−e − x ( cos 2 x + 2sen2 x ) −e − x ( sen2 x − 2 cos 2 x )
2 e −2 x .

Portanto:
3
x 3
e − x sen2 x g ( x ) e 2sen2 xe
dx = − ∫∫ x dx = +dx
x
−x
tg2 x −x
u ( x ) = − ∫∫ x 2 dx = + c.
1
W ( e cos 2 x , e sen2 x ) ( x ) 2e
c.−2 x

3
−x −x

33
1 sen 2 x 2
x− 1 ln tan 2x + sec 2x − sen2x .
=− ∫∫ x 2 dx dx
2 cos 2 x = 4+ c.
= ( )
3
Por outro lado:
3 3
∫ 2 −x
e −x
xcos 2 x g ( x ) x e
∫ 2
−x
cos 2 xe −x
tg2 x
u2 ( x ) = ∫ x (dx = + c. ) ∫ x dx = + c.
W e cos 2 x , e sen2 x ( x )
−x
dx =
2e −2 x
dx
3 3 3
1 cos 2 x x
sen2 x
3
x
1 2 x dx = 1
=
2 ∫ x dx = + c.∫ x dx = + c.
∫ 2
cos 2 x
dx =
2
∫ sen2 − cos 2 x.
4
3 3
Assim:

( x ) e − x c1 cos 2 x + c2sen2 x − 41 ln tan 2 x + sec 2 x − sen2 x cos 2 x − 41 cos 2 xsen2 x 


y= ( )
 
1 −x 
=
8  ( )
e d1 cos 2 x + d2 sen2 x − 2 ln tan 2 x + sec 2 x − sen2 x cos 2 x − sen4 x  .

Agora, passaremos ao estudo de uma aplicação em física.

Exemplo 47: Oscilador Harmônico

72
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Oscilador harmônico é um sistema que aplica, sobre uma partícula, uma


força F = –kx. Talvez, o exemplo mais emblemático seja o sistema massa-mola. No
caso, uma massa acopla-se a uma mola presa a um anteparo. A força elástica é
dada por F = –kx, sendo k a constante elástica.

FIGURA 1 – SISTEMA MASSA MOLA

FONTE: O autor

Definimos a origem quando o sistema está em equilíbrio. Em (A), o


deslocamento x(t) é zero. Quando o sistema é comprimido x(t) < 0, uma força
F = –kx age na direção contrária, como em (B). De forma análoga (C), o sistema
é esticado x(t) > 0.

Para entender a dinâmica do sistema, é preciso recorrer à segunda lei de


Newton, que diz:

d2 x
F ma
= = m 2.
dt

Portanto, no caso do sistema massa-mola, obtemos:

d2 x
m = − kx .
dt 2

Definindo ω0 = k , a chamada frequência natural do sistema, obtém-se:


m
d2 x
+ ω02 x =
0.
dt 2
73
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

GRÁFICO 3 – OSCILADOR SIMPLES

FONTE: O autor

A equação obtida é chamada de equação do oscilador harmônico simples.


Apesar de estarmos focando em apenas um sistema massa mola, a equação
modela, por exemplo, o movimento de um pêndulo sem levar em conta forças
dissipativas. O termo da frequência natural é uma constante estritamente positiva.
Portanto, a solução é:

x ( t ) c1 cos ω0t + c2 senω0t .


=

As soluções são os imaginários puros ± iω0 . Note que são combinações


lineares de funções seno e cosseno, portanto, as soluções do problema são
periódicas. A dinâmica do sistema, a partir de um certo tempo, começa a se
repetir, isto é, a oscilar.

Para determinar as constantes, é aplicar condições iniciais. Vejamos um


exemplo quando x(0) = 1 e x´(0) = 0. Essas condições iniciais demonstram que a
mola está inicialmente sendo segurada a 1m da origem, então, a mola é solta e o
com ω02 2,
sistema começa a oscilar. A solução para o PVI, = = ()
é x t cos 2t . ( )
Observe a natureza oscilatória (periódica) do sistema, ou seja, a massa ficará
oscilando ad infinitum no intervalo [–1,1].

O problema proposto tem relevância no sentido de ser simples de modelar


(física) e resolver (matemática). Em física, sistemas assim são ditos conservativos,
isto é, a energia se conserva. Contudo, na realidade, sempre há dissipação de
energia.

74
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Faremos uma modificação na modelagem para que o problema do


oscilador seja um pouco mais preciso. Voltemos ao nosso sistema massa-
mola. Se fizermos o experimento, assim como descrito pelas condições iniciais,
veremos que a massa oscila cada vez com amplitude menor até parar na posição
de equilíbrio x = 0. Contudo, o que aconteceu? Simples, a energia se dissipou.
Como razões, podemos citar o atrito entre a massa e o solo, a resistência do ar etc.
Não pretendemos modelar o fenômeno em sua forma mais geral. Focaremos em
formas mais simples do fenômeno, porém, que apresentam resultados relevantes
(lembre-se: estamos estudando matemática, e não física!).

Introduziremos, ao nosso estudo de osciladores harmônicos, um tipo de


força externa que varia com a velocidade. No caso, a força limitará o movimento
do sistema e, quando isso acontece, dizemos que o oscilador harmônico (sistema
massa-mola) é amortecido. Como já dito, a força externa é proporcional à
velocidade, isto é, a força tem a seguinte forma –bv, em que b > 0 é chamada
de constante de amortecimento e v é a velocidade particular em um instante de
tempo t. Portanto, a força total agindo sobre a partícula é:

dx
F=−bv − kx =−b − kx .
dt

Aplicando a Segunda Lei de Newton, obtemos:

d2 x dx
m −b − kx .
=
dt 2
dt

Portanto:

d2 x dx
+γ + ω02 x =
0, (29)
dt 2
dt

ω02 é a frequência natural do sistema e γ = b é o coeficiente de amortecimento.


m

75
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

GRÁFICO 4 – OSCILADOR AMORTECIDO

FONTE: O autor

A equação (29) é uma equação diferencial homogênea de segunda ordem


com coeficientes constantes. Para a resolução da equação, precisamos determinar
a equação característica associada e encontrar suas raízes. Com efeito:

k 2 + γ k + ω02 =
0

tem raízes

−γ ± γ 2 − 4ω02
k= .
2

Note que existem três possibilidades para as raízes da equação característica


que, consequentemente, determinam a forma da solução da equação diferencial.
Assim:

γ
• Se γ 2 − 4ω02 > 0 , ou seja, ω0 < , o oscilador harmônico amortecido é dito
2
superamortecido. No caso, o sistema rapidamente tende ao equilíbrio sem
oscilar.
γ
• Se γ 2 − 4ω02 =0, ou seja, ω0 = , o oscilador harmônico amortecido é dito
2
criticamente amortecido. No caso, o sistema tão rapidamente quanto possível
tende ao equilíbrio sem oscilar.
γ
• Se γ − 4ω0 < 0, ou seja, ω0 > , o oscilador harmônico amortecido é dito
2 2

2
subamortecido. No caso, o sistema oscila, mas com amplitudes que decaem
com o tempo, forçando o sistema ao equilíbrio (tecnicamente, quando t → ∞ ).

76
TÓPICO 3 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE SEGUNDA ORDEM

Para podermos analisar o comportamento de um sistema massa-mola


amortecido, tomemos, como anteriormente (sistema massa-mola simples), ω0 = 2.
2

Necessitamos de três valores diferentes de γ para termos exemplos de cada


subcaso do oscilador harmônico amortecido. Para cada subcaso, resolveremos as
seguintes equações diferenciais.

• Superamortecido:

d2 x dx
+ 5 + 2x =
0.
dt 2
dt
Sujeita às condições iniciais x(0) = 1 e x´(0) = 0, cuja solução é:

 5 − 17  −5+2 17 t 5 − 17 −5−2 17 t
x (t ) =
 1 + e − e .
 2 17  2 17

• Criticamente amortecido:

d2 x dx
+2 2 + 2x =
0.
dt 2
dt

Sujeita às condições iniciais x(0) = 1 e x´(0) = 0, cuja solução é:

(t ) e−
x= 2t
+ 2 te − 2t .

• Sub-amortecido:

d 2 x 1 dx
+ + 2x =
0.
dt 2 3 dt

Sujeita às condições iniciais x(0) = 1 e x´(0) = 0, cuja solução é:

−   71 t   71 t  
t
1
=x ( t ) e 6  cos   + sen  .
  6  71  6  
    

Observe o comportamento dos sistemas massa-mola amortecidos. Tanto


o sistema superamortecido quanto o criticamente amortecido rapidamente
e sem oscilar tendem ao equilíbrio, isto é, quando x = 0. Contudo, o sistema
subamortecido oscila ao redor do ponto de equilíbrio e, lentamente, aproxima-se
do ponto de equilíbrio.

Com o exemplo, encerramos o estudo das equações diferenciais lineares


de segunda ordem. No próximo tópico, generalizaremos os conceitos descritos
para equações diferenciais ordinárias lineares de ordem n.
77
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Há o princípio da superposição.

• Há os conceitos de independência linear e wronskiano.

• Existem formas para usar o wronskiano na solução de EDO’s de 2ª ordem.

• Existem maneiras para encontrar a solução de EDO’s de 2ª ordem em diferentes


casos.

78
AUTOATIVIDADE

1 Quais das seguintes afirmações são falsas?

I- O princípio da superposição menciona que a combinação linear de soluções


de uma equação diferencial linear ainda é uma solução da equação
diferencial.
II- Duas soluções de uma equação diferencial linear de segunda ordem são
linearmente independentes somente se o wronskiano é não nulo.
III- No método de redução de ordem, utiliza-se o fator integrante, como
estudado no tópico anterior.

a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) I e III.

2 Verifique qual das funções a seguir é a solução da equação diferencial:

y′′ + y′ − y =3e x cos ( x ) .

a) ( ) y ( x ) = e x cos ( x ) sen ( x )
b) ( ) y ( x=
) e x + cos ( x )
c) ( ) y ( x ) = e x sen ( x )
d) ( ) y ( x ) = e x cos ( x )

3 Os problemas de valores iniciais são muito importantes no estudo de


equações diferenciais, pois são advindos de aplicações em outras ciências,
com a presença de condições iniciais. Assim, pratique, resolvendo o seguinte
PVI:

 4 y′′ − 4 y′ − 3 y = 0

= y ( 0 ) 1,= y′ ( 0 ) 5
.

79
80
UNIDADE 1
TÓPICO 4

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE


ORDEM SUPERIOR

1 INTRODUÇÃO
As equações diferenciais lineares de ordem n podem ser escritas da
seguinte forma:

d( ) y d( ) y
n n −1
dy
an ( x ) n + an−1 ( x ) n−1 +…+ a1 ( x ) + a0 ( x ) y = f ( x )
dx dx dx

para ai(x) com i = 1, ..., n e f(x) funções reais contínuas em um intervalo da reta,
e an(x) não se anula no intervalo. O desenvolvimento de uma teoria geral para a
resolução de equações diferenciais ordinárias de ordem n é inteiramente análogo
à teoria geral para a resolução de equações diferenciais ordinárias de segunda
ordem.

No caso das equações diferenciais de ordem n, são necessárias n condições


iniciais para a garantia da unicidade da solução. Essas condições são aplicadas
sobre a própria função solução e suas respectivas derivadas. Essas condições têm
a seguinte forma:

( )
y= ( x0 ) y0n−1 , y(
n −1 n− 2 )
(=
x )
0
, y′ ( x0 ) y=
y0n− 2 ,…= 1
0
, y ( x0 ) y00 .

O estudo da solução para equações diferenciais de ordem n inicia-se com


o estudo das equações diferenciais homogêneas com coeficientes constantes, ou
seja, equações da forma:

d( ) y d( ) y
n n −1
dy
an + an−1 +…+ a1 + a y =0 (30)
dx n
dx n −1
dx 0

para ai com i = 1, ..., n constantes reais e an ≠ 0. São procuradas soluções do tipo


y(x) = ekx que, substituída na equação anterior, gera a seguinte identidade:

( an k n + an−1 k n−1 +…+ a1 k + a0 )e kx = 0 .

81
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Tal identidade deve ser válida para todo x e, como e kx ≠ 0 , obtém-se a


equação caraterística para a equação diferencial ordinária:

an k n + an−1 k n−1 +…+ a1 k + a0 = 0 . (31)

Há um polinômio de grau n na variável k. Note que, para polinômios de


segunda, terceira e quarta ordens, é possível encontrar uma solução por radicais.
Para polinômios de graus maiores ou iguais a cinco, o teorema de Abel-Ruffini
garante a não existência de soluções por radicais. Por outro lado, o Teorema
Fundamental da Álgebra garante que o polinômio acima tem exatamente n raízes
complexas, portanto, é possível encontrar um conjunto fundamental de soluções
para a equação diferencial linear com coeficientes constantes.

Como as raízes da equação característica são números complexos, temos


as seguintes possibilidades:

a) Raízes reais distintas.


b) Raízes reais repetidas.
c) Raízes complexas distintas.
d) Raízes complexas repetidas.

Vejamos cada uma das possibilidades com mais detalhes. Faremos uma
análise semelhante à feita para as equações diferenciais de segunda ordem.

2 RAÍZES REAIS DISTINTAS


Suponha que a equação característica (31), associada à equação diferencial
(30), tenha apenas raízes reais e distintas: k1, k2, ..., kn. No caso, o conjunto
fundamental de soluções é:

{e k1 x
}
, e k2 x , , e kn x .

Portanto, a solução geral tem a forma:

y ( x=
) c1e k1x + c2 e k2 x + + cn e knx .
Exemplo 48: resolva a seguinte equação diferencial de 3ª ordem:

d3 y d 2 y dy
− 2 − + 2y =
0.
dx 3 dx 2 dx

82
TÓPICO 4 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM SUPERIOR

A equação característica associada é:

k 3 − 2k 2 − k + 2 =0

a solução é k1 =
1, k2 =
−1 e k3 =
2. Logo, a solução geral é:

y ( x ) =c1e x + c2 e − x + c3 e 2 x .

Se tivéssemos aplicado condições iniciais, poderíamos determinar os


coeficientes.

3 RAÍZES REAIS REPETIDAS


Suponha que a equação característica (31), associada à equação
diferencial (30), tenha apenas raízes reais, e que algumas dessas raízes, digamos
r, são repetidas. Sem perda de generalidade, diremos que as últimas r raízes são
repetidas e as denominaremos k. No caso, o conjunto fundamental de soluções
é:

{e k1 x
}
, e k2 x ,… , e kn−r x , e kx , xe kx , x 2 e kx ,… , x r −1e kx .

Portanto, a solução geral tem a forma:


( x ) c1e k1x + c2 e k2 x +…
y=
y= (cx2)e k2 xc+…+
( x ) c1e k1xy+= 1
e k1x +ccn2−es ke2kxn−+…+
rx k x
+ cn−crn+−1seekxn−+r c+n−crn+−2rxe
+1
ekxkx++ccnn−−r +r +32xxe
2 kx
cn−+
e kx ++… c xx2 re−kx1e+…
r +3n
kx
.
+cn x r −1e kx +cn x r −1e kx
Exemplo 49: resolva a seguinte equação diferencial de 3ª ordem:

d3 y d2 y
+ 3 − 4y =
0.
dx 3 dx 2

A equação característica associada é:

k 3 + 3k 2 − 4 =0

e a solução é k1 ==
1, k2 −2 e k3 =
−2, ou seja, a solução k = –2 tem multiplicidade
2. Logo, a solução geral é:

y ( x ) =c1e x + c2 e −2 x + c3 xe −2 x .

83
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Exemplo 50: suponha que aplicamos as seguintes condições iniciais:


y ( 0 ) = 1, y′ ( 0 ) = 2 e y′′ ( 0 ) = −3 . Assim, podemos calcular os coeficientes da sua
solução geral. Para tanto, precisamos calcular as derivadas (primeira e segunda)
da solução geral. De fato:

y′ ( x ) = c1e x − 2c2 e −2 x + c3 ( 1 − 2 x ) e −2 x
y′′ ( x=
) c1e x + 4c2 e −2 x + c3 ( −4 + 4 x ) e −2 x

Aplicando as condições iniciais, obtemos:

 y ( 0 ) = c1 + c2 = 1

 y′ ( 0 ) = c1 − 2c2 + c3 = 2 .

 y′′ ( 0 ) = c1 + 4c2 − 4c3 = −3

Devemos, portanto, resolver o sistema para encontrar os valores das


constantes:

 1 1 0   c1   1 
    
 1 −2 1   c2  =
 2
 1 4 −1   c   −3 
  3   

c1 1,=
a solução do sistema é= c2 0 e=
c3 1. Logo, a solução geral do problema
de valor inicial é:

y ( x=
) e x + xe −2 x .

4 RAÍZES COMPLEXAS DISTINTAS


Suponha que a equação característica (31), associada à equação diferencial
(30), tenha algumas raízes complexas e distintas. As raízes restantes são reais.
Com as raízes reais, já sabemos como proceder no caso de serem distintas ou
repetidas. Lembrando que raízes complexas aparecem em pares conjugados, ou
seja, se α + β i é solução de uma equação polinomial, então, α − β i é também
solução. No caso de raízes complexas distintas, procedemos da mesma forma
que procedemos no estudo de raízes complexas para equações diferenciais de 2ª
ordem.

84
TÓPICO 4 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM SUPERIOR

Exemplo 51: resolva a seguinte equação diferencial de 3ª ordem:

d3 y d2 y dy
+ 3 0.
+ 9 − 13 y =
dx 3
dx 2
dx

A equação característica associada é:

k 3 + 3 k 2 + 9 k − 13 =
0.

A solução é k1 =1, k2 =−2 + 3i e k3 =−2 − 3i. Logo, a solução geral é:

y ( x) =
c1e x + e −2 x ( c2 sen3 x + c3 cos 3 x ) .

5 RAÍZES COMPLEXAS REPETIDAS


Suponha que a equação característica (31), associada à equação diferencial
(30), tenha algumas raízes complexas repetidas. As demais raízes são reais ou
complexas distintas, ou mesmo reais repetidas. Com as raízes reais, já sabemos
como proceder no caso serem distintas ou repetidas. Com raízes complexas
repetidas, procedemos da mesma forma que procedemos no estudo de raízes
reais repetidas, ou seja, identificamos a multiplicidade das raízes repetidas e
multiplicamos as raízes por fatores de x até termos um conjunto fundamental de
soluções.

Exemplo 52: resolva a seguinte equação diferencial de 5ª ordem:

d5 y d4 y d2 y dy
+ 2 − 8 − 12 − 8 y =
0.
dx 5
dx 4
dx 2
dx

A equação característica associada é:

k 5 + 2 k 4 − 8 k 2 − 12 k − 8 =0.

A solução é k1 =2, k2 =−1 + i , k3 =−1 + i , k4 =−1 − i e k5 =−1 − i. Portanto,


as raízes –1 + i e –1 –i têm multiplicidade 2 cada uma. Logo, a solução geral é:

y ( x) =
c1e 2 x + e − x ( c2 senx + c3 cos x ) + xe − x ( c4 senx + c5 cos x ) .

85
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

6 EQUAÇÕES NÃO HOMOGÊNEAS


Uma vez determinado o procedimento para a resolução de equações
diferenciais lineares com coeficientes constantes homogêneos de ordem arbitrária,
devemos passar ao estudo das soluções das equações não homogêneas. Não há
diferença teórica com o que estudamos no caso de equações diferenciais lineares
com coeficientes constantes de 2ª ordem. Assim, inicialmente, você deve resolver
a equação homogênea associada e, posteriormente, deve encontrar a solução
particular utilizando o método dos coeficientes indeterminados ou o método de
variação dos parâmetros. Do ponto de vista prático, o trabalho para encontrar
uma solução particular é bem maior, devido à ordem da equação diferencial em
questão.

Exemplo 53: resolva o seguinte PVI:

 d3 y d2 y dy
 3 − 4 2 + 5 − 2y = 6e x
 dx dx dx
 y ( 0 ) 2,=
= y′ ( 0 ) 5 e y′′ ( 0 ) = 3 .


Primeiramente, resolveremos a equação homogênea associada, cuja
equação característica é:

k 3 − 4 k 2 + 5k − 2 =0.

Solução:= k1 1,= k2 1 e=k3 2. Note que a solução k = 1 tem multiplicidade


2. Logo, a solução geral da equação homogênea é:

y Hh ( x ) =c1e x + c2 xe x + c3 e 2 x .

Para encontrar uma solução particular, devido ao formato da não


homogeneidade, é preciso utilizar o método dos coeficientes indeterminados.
Nossa aposta inicial, para a forma da solução particular, seria yp(x) = Aex. Contudo,
observando a solução da equação homogênea, vemos que os termos ex e xex já
fazem parte da solução. Portanto, a solução particular deve ter a forma yp(x) =
Ax2ex. Calculando as derivadas de yp(x) e aplicando na equação diferencial que
queremos resolver, obtemos:

−2 Ae x =
6e x .

Portanto, A = –3 e, assim, a solução geral é:

y ( x ) =c1e x + c2 xe x + c3 e 2 x − 3 x 2 e x .

86
TÓPICO 4 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM SUPERIOR

Vamos, agora, utilizando as condições iniciais dadas, determinar os


coeficientes c1, c2 e c3. Primeiramente, devemos calcular a primeira e a segunda
derivadas da solução da equação diferencial. Com efeito:

y′ ( x ) = c1e x + c2 ( x + 1) e x + 2c3 e 2 x − 6 xe x − 3 x 2 e x
y′′ ( x ) =c1e x + c2 ( x + 2 ) e x + 4c3 e 2 x − 6 e x − 12 xe x − 3 x 2 e x .

As condições iniciais para o problema são= y ( 0 ) 2,=


y′ ( 0 ) 5 e=
y′′ ( 0 ) 3.
Aplicando essas condições, obtemos o seguinte sistema linear:

 y ( 0 ) = c1 + c3 = 2

 y′ ( 0 ) =c1 + c2 + 2c3 = 5

 y′′ ( 0 ) = c1 + 2c2 + 4c3 − 6 = 3

ou seja:

 1 0 1   c1   2 
    
 1 1 2   c2  =  5  .
1 2 4 c   9 
  3   

A solução é c1 = 1, c2 = 2 e c3 = 1. Portanto, a solução do problema de valor


inicial proposto é:

y ( x ) =e x + 2 xe x + e 2 x − 3 x 2 e x .

Vejamos outro exemplo de resolução de uma equação diferencial de


ordem superior não homogênea pelo método dos coeficientes indeterminados.

Exemplo 54: resolva a seguinte equação diferencial de 4ª ordem:

d4 y
4
− y 15 xe 2 x + 5 cos 2 x .
=
dx

A equação característica associada ao problema homogêneo é:

k4 – 1 = 0.

87
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

A solução é k1 =
1, k2 =
−1, k3 =
i e k4 =
−i. Portanto, a solução da equação
homogênea é:

yh ( x ) =c1e x + c2 e − x + c3 senx + c4 cos x .

Para determinar a solução geral da equação diferencial, é preciso encontrar


uma solução particular para a equação não homogênea. Para isso, utilizaremos o
método dos coeficientes indeterminados. Devido à forma da não homogeneidade,
nossa conjectura para a solução particular é:

y p ( x ) =( Ax + B ) e 2 x + Csen2 x + D cos 2 x .

O primeiro passo é calcular a quarta derivada de yp(x) e substituir na


equação que queremos resolver. Com efeito:

y (p ) ( x )= (16 Ax + 32 A + 16 B ) e
iv 2x
+ 16Csen2 x + 16 D cos 2 x

assim

y (p ) − y p= 16 ( Ax + 2 A + B ) e 2 x + 16(Csen2 x + D cos 2 x)  − ( Ax + B ) e 2 x − Csen2 x − D cos 2 x


iv

= 15 Axe 2 x + ( 32 A + 15 B ) e 2 x + 15Csen2 x + 15 D cos 2 x.

g ( x ) 15 xe 2 x + 5 cos 2 x , obtemos o seguinte sistema linear:


Como =

 15 A = 15

32 A + 15 B =0
 ,
 15C = 0
 15 D = 5

32 1
a solução é A =
1, B =
− , C ==
0eD . Portanto, a solução é:
15 3
 32  1
y ( x ) = c1e x + c2 e − x + c3 senx + c4 cos x +  x −  e 2 x + cos 2 x.
 15  3

88
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você aprendeu que:

• Para resolver equações homogêneas, a chave está em encontrar as raízes


do polinômio característico, enquanto que, para resolver equações não
homogêneas, inicialmente, você deve resolver a equação homogênea associada
e, depois, deve encontrar a solução particular utilizando o método dos
coeficientes indeterminados ou o método de variação dos parâmetros.

89
AUTOATIVIDADE

1 Quais das seguintes afirmações são verdadeiras?

I- O teorema de Abel-Ruffini garante a existência de soluções de polinômios


por radicais.
II- O conjunto fundamental de soluções para uma equação diferencial linear
com coeficientes constantes tem n + 1.
III- Se α + β i é solução de uma equação polinomial, então, α − β i é uma
solução também.

a) ( ) I e II.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) II e III.

2 Resolva o seguinte PVI:

 y′′′ + 2 y′′ − 5 y′ − 6 y = 0
 .
 y ( 0 ) = y ( 0 ) = 0, y ( 0 ) = 1
′ ′′

3 Considere uma equação diferencial da seguinte forma:

y′′′ + ay′′ + y ' = 0

O coeficiente a é igual a onze décimos dele mesmo adicionada a terça parte de


40% de 3. Qual a solução geral da equação diferencial?

a) ( ) y ( x ) = ( 3x ) + c cos ( 3x ) .
c1 + c2 sen 3

b) ( c + e ( c sen ( 3 x ) + c cos ( 3 x ) ) .
) y ( x) = 1
2x
2 3

c) ( c + e (c e + c e
) y ( x) = 1
2x
2
3x
). 3
− 3x

d) ( ) y ( x ) =
c1 + c2 e 3x
+ c3 e − 3x
.

90
UNIDADE 1
TÓPICO 5

EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER

1 INTRODUÇÃO
Em geral, equações diferenciais lineares de ordem superior com coeficientes
não constantes são questões difíceis de serem resolvidas, ou talvez impossíveis.
Contudo, há uma classe em que é possível obter solução. Iniciaremos a análise da
equação a partir de:

d( ) y ( )
n n −1
n −1 d y dy
an x n + an −1
x +…+ a1 x + a0 y = f ( x ) , (32)
dx n
dx n −1
dx

ai e i = 1, ..., n são constantes reais e an ≠ 0. Note que, em x = 0, os coeficientes


da equação (32) zeram. Portanto, procuramos por soluções no intervalo ( 0, +∞ )
ou em algum subintervalo. Soluções no intervalo ( −∞ ,0 ) podem ser obtidas com
a mudança de variável t = –x. Pede-se, adicionalmente, que f seja contínua no
intervalo de solução. Equações assim são chamadas de equações de Cauchy-
Euler. Se f for identicamente nula, dizemos que a equação (32) é uma equação de
Cauchy-Euler homogênea.

NOTA

Alguns autores definem a equação de Cauchy-Euler da seguinte forma:

d( ) y ( )
n n −1
n −1 d y dy
an (α x + β ) + an−1 (α x + β ) +…+ a1 (α x + β ) + a0 y = f ( x )
n
(33)
dx n
dx n −1
dx

z α x + β transforma a equação (32) em (33).


Contudo, uma mudança de variável =

Iniciaremos nosso estudo pela equação homogênea e, mais tarde,


procedemos com o estudo de equações diferenciais lineares com coeficientes
constantes. Uma vez desenvolvida a técnica para a solução da homogênea,
encontra-se uma solução particular via variação dos parâmetros.

91
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

2 EQUAÇÃO HOMOGÊNEA
Para encontrar uma solução para uma equação diferencial com coeficientes
constantes homogênea, constatou-se que eram do tipo y(x) = ekx. Para as equações
de Cauchy-Euler homogêneas, as soluções são do tipo y(x) = xk.

A metodologia para encontrar soluções para a equação de Cauchy-


Euler homogênea consiste em substituir a solução y(x) = xk na equação
diferencial, transformando a equação diferencial em uma equação polinomial
em k multiplicado por um termo xk. A equação polinomial obtida é denominada
equação característica associada à equação de Cauchy-Euler homogênea. Para
exemplificar a ideia, é preciso observar um exemplo com uma equação diferencial
de 2ª ordem.

Exemplo 55: considere a seguinte equação diferencial de Cauchy-Euler


homogênea de 2ª ordem:

d2 y dy
a2 x 2 + a1
x +a y =
0.
dx 2 dx 0

Para encontrar a equação característica associada, substitua y(x) = xk na


equação anterior, obtendo:

d2 y dy
a2 x 2 y a2 k ( k − 1) x 2 + a1 kx 2 + a0 x=
+ a1 x + a0= 2
 a2 k ( k − 1) + a1 k + a0  x=
2
0.
dx 2
dx

Portanto, a equação característica é a2 k ( k − 1) + a1 k + a0 =


0.

Com essa metodologia, obtém-se uma equação polinomial. Ainda, é


preciso encontrar as raízes. Temos as seguintes possibilidades para as raízes da
equação característica associada à equação de Cauchy-Euler homogênea:

a) Raízes reais distintas.


b) Raízes reais repetidas.
c) Raízes complexas distintas.
d) Raízes complexas repetidas.

92
TÓPICO 5 | EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER

E
IMPORTANT

As equações diferenciais com coeficientes constantes e as equações


de Cauchy-Euler têm metodologias de resolução semelhantes. Por serem equações
diferenciais lineares, primeiramente, encontra-se a solução geral da equação homogênea
associada e, depois, encontra-se uma solução particular para a equação não homogênea.
Assim, a solução geral é a soma da solução homogênea com a solução particular. Contudo,
note que as equações características são distintas.

Vejamos, agora, cada uma das possibilidades com mais detalhes.

• Raízes reais distintas: suponha que a equação característica associada à equação


diferencial de Cauchy-Euler homogênea tenha apenas raízes reais e distintas:
k1, k2, ..., kn No caso, o conjunto fundamental de soluções é:

{x k1
}
, x k2 , , x kn .

Portanto, a solução geral tem a forma:

y ( x=
) c1x k1 + c2 x k2 + + cn x kn .
Exemplo 56: resolva o seguinte problema de valor inicial de 2ª ordem:

 2 d2 y dy
x + 3x − 8 y = 0,
 dx 2
dx
 y ( 1) = 3 e y′ ( 1) = −6

a equação característica associada é:

k ( k − 1) + 3 k − 8 = k 2 + 2 k − 8 = 0 .

A solução é k1 = 2 e k2 = –4. Logo, a solução geral é:

c2
y ( x ) =c1 x 2 + c2 x −4 =c1 x 2 + .
x4

Uma vez determinada a solução geral, devemos impor as condições iniciais


para que possamos determinar os valores das constantes c1 e c2. Com efeito:

93
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

 y ( 1) = c1 + c2 = 3
 .
 y′ ( 1) =
2c1 − 4c2 = −6
A solução é c1 = 1 e c2 = 2. Portanto, a solução do problema de valor inicial é:

2
y ( x=
) x2 + .
x4

• Raízes reais repetidas: suponha que a equação característica associada à


equação diferencial de Cauchy-Euler homogênea tenha apenas raízes reais e,
algumas dessas raízes, digamos r, são repetidas. Sem perda de generalidade,
diremos que as últimas r raízes são repetidas e as denominaremos por k. No
caso, o conjunto fundamental de soluções é:

{x k1
, x k2 ,… , x kn−r , x k , (ln x)x k ,(ln x)2 x k ,… , (ln x)r −1 x k . }
Portanto, a solução geral tem a forma:
( x ) c2 x k1 +…+ cn−r x kn−r + cn−r +1
y=
) c2 x k1 +…+(cxn−)r x kcn−2r x+k1c+…+
y= n − r +1
x kcn+−rcxn−knr−+r 2+(ln
cnx−r)+x1 xk k++cnc−nr−+r3+(ln
2
(lnxx)2)x kk ++…
cn −+ (lnxx)2)rx−1k x+…
c (ln
r +3 n
k
.
(ln x)r −1 x k +cn (ln x)r −1 x k
Exemplo 57: resolva a seguinte equação diferencial de 3ª ordem:

d3 y
3
2
2 d y dy
x −x − 6 x + 18 y =
0.
dx 3
dx 2
dx

A equação característica associada é:

k ( k − 1)( k − 2 ) − k ( k − 1) − 6 k + 18 = k 3 − 4 k 2 − 3 k + 18 = 0.

A solução é k1 = 3e k 3 =
−2, k2 = 3, ou seja, a solução k = 3 tem multiplicidade
2. Logo, a solução geral é:

c
y ( x ) =c1 x −2 + c2 x 3 + c3 (ln x)x 3 = 12 + c2 x 3 + c3 (ln x)x 3.
x

• Raízes complexas distintas: suponha que a equação característica associada


à equação diferencial de Cauchy-Euler homogênea tenha algumas raízes
complexas e distintas. As raízes restantes são reais. No caso das raízes reais,
já sabemos como proceder no caso de serem distintas ou repetidas. As raízes
complexas aparecem em pares conjugados, ou seja, se α + β i é solução de

94
TÓPICO 5 | EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER

uma equação polinomial, então α − β i é também solução. No caso de raízes


complexas distintas e conjugadas da equação característica, digamos que
-
k= α + β i e k =
α − β i. As soluções independentes que contribuem para a
solução geral são xα cos ( β ln x )  e xα sen ( β ln x )  .

Exemplo 58: resolva a seguinte equação diferencial de 3ª ordem:

d3 y 2
2 d y dy
x3 − 3 x + 6x 0.
=
dx 3
dx 2
dx

A equação característica associada é:

k ( k − 1)( k − 2 ) − 3 k ( k − 1) + 6 k = k 3 − 6 k 2 + 11k = 0 .

A solução é k1 =
0, k2 =
3 + 2i e k3 =
3 − 2 i.

Logo, a solução geral é:


y ( x) = ( )
c1 x 0 + c2 x 3 cos 2 ln x  + c3 x 3 sen 2 ln x  = ( )
c1 + x 3 c2 cos 2 ln x + c3 se ( )
y ( x) =  0 3 
( 3
)
c1 x + c2 x cos 2 ln x  + c3 x sen 2 ln x  =
  3 
 
 1

(
3  
)
c + x c2 cos 2 ln x + c3 sen


(
2 ln x 
 ) ( )
3 
(

)
3 
c2 x cos 2 ln x  + c3 x sen 2 ln x  =
=
  

 ( 
) (
c1 + x c2 cos 2 ln x + c3 sen 2 ln x  .


 ) ( )
• Raízes complexas repetidas: suponha que a equação característica associada
à equação diferencial de Cauchy-Euler homogênea tenha algumas raízes
complexas repetidas. As demais raízes são reais ou complexas distintas, ou
mesmo reais repetidas. No caso das raízes reais, já sabemos como proceder no
caso serem distintas ou repetidas. Tratando-se de raízes complexas repetidas,
identificamos a multiplicidade e multiplicamos essas raízes por fatores ln x até
termos um conjunto fundamental de soluções.

Exemplo 59: resolva a seguinte equação diferencial de 4ª ordem:

d4 y
4
3
3 d y
2
2 d y dy
x + 2x + 3x − 3x + 4 y =
0
dx 4
dx 3
dx 2
dx.

A equação característica associada é:

kk( k( k−−11)()(kk−−22)()(kk−−k33()k)++
−212k)(
k( k(kk−−−121)()(kkk−−−232))+++323kkk((kkk−−−111))(
)−−k33k−k+2+)44+=
3 k ( k − 1) − 3 k + 4
=
+ 2 k ( k − 1)( k − 2 ) + 3kkk4(4−k−4−4k1k3)3+−+838kk2+2−4−8= k+44−4=
8kk+
3 2
0k0 + 8 k − 8 k + 4 =
4= 0.
4=0
A solução é k1 = 1 + i , k2 =
1 + i , k3 =
1 − i e k4 =
1 − i . Portanto, as raízes
1 + i e 1 – i têm multiplicidade 2 cada uma. Logo, a solução geral é:

y ( x ) = x c1 cos ( ln x ) + c2 sen ( ln x )  + x ( ln x ) c3 cos ( ln x ) + c4 sen ( ln x ) .

95
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

3 EQUAÇÃO NÃO HOMOGÊNEA


Uma vez determinado o procedimento para a resolução de equações
diferenciais de Cauchy-Euler homogêneas de ordem arbitrária, devemos passar
ao estudo das soluções das equações não homogêneas. Não há diferença teórica
com o que estudamos no caso de equações diferenciais lineares com coeficientes
constantes de ordem n. Assim, inicialmente, resolve-se a equação homogênea
associada e, depois, encontra-se a solução particular utilizando o método de
variação dos parâmetros. Note que, para as equações de Cauchy-Euler, o método
dos coeficientes a determinar já não é útil, pois os coeficientes da classe são
variáveis.

Com a mudança de variável x = et, transformamos a equação de Cauchy-


Euler em uma equação com coeficientes constantes. De fato, é a abordagem que
alguns autores utilizam para o estudo das equações de Cauchy-Euler. É preciso
mencionar que a abordagem apresentada neste material e a que envolve a
mudança de variável são equivalentes. Para exemplificar, é preciso apresentar a
solução de uma equação de Cauchy-Euler já resolvida a partir da metodologia de
variáveis.

Exemplo 60: no Exemplo 55, resolvemos a seguinte equação de Cauchy-


Euler de segunda ordem:

d2 y dy
x2 + 3x − 8 y =
0.
dx 2
dx

A solução é:

c2
y ( x ) =c1 x 2 + c2 x −4 =c1 x 2 + .
x4

Vejamos, agora, como resolver a equação diferencial por uma outra


metodologia. Considere a seguinte mudança de variável x = et ou t = ln x.
Primeiramente, é preciso escrever os operadores diferenciais da nova variável.
Ainda, utilizaremos a regra da cadeia e, posteriormente, a regra do produto. Com
efeito:

dy dy dt 1 dy
= =
dx dt dx x dt

logo

d 2 y d  dy  d  1 dy  1 dy 1 d  dy  1 dy 1  1 d 2 y  1  d 2 y dy 
=   =   =
− +   =
− +  =  − .
dx 2 dx  dx  dx  x dt  x 2 dt x dx  dt  x 2 dt x  x dt 2  x 2  dt 2 dx 

96
TÓPICO 5 | EQUAÇÃO DE CAUCHY-EULER

Portanto, a equação diferencial que tinha variável independente x se torna


uma equação com variável independente t após a substituição dos operadores
diferenciais descritos. De fato:

d2 y
2 dy 2 1
 d 2 y dy  1 dy d2 y dy
x + 3x − 8 y = x 2  2 −  + 3x − 8y = + 2 − 8 y.
dx 2
dx x  dt dx  x dt dt 2
dt

Assim, a equação de Cauchy-Euler inicial é transformada na seguinte


equação diferencial com coeficientes constantes:

d2 y dy
+ 2 − 8y =
0.
dt 2
dt

A solução da equação diferencial é:

( t ) c1e 2t + c2 e −4t .
y=

Logo, a solução da equação diferencial inicial no intervalo ( 0, +∞ ) é:

c2
y ( x ) =c1e 2 ln x + c2 e −4 ln x =c1 x 2 + c2 x −4 =c1 x 2 + .
x4

Está de acordo com a solução encontrada anteriormente utilizando outra


metodologia, porém equivalente.

97
UNIDADE 1 | EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS E ALGUMAS APLICAÇÕES

Danielle Dantas Nóbrega

Leonhard Euler foi o matemático mais produtivo, chegando a acumular


mais de 70 volumes grossos. Seus interesses incluíam todas as áreas da matemática
e muitos campos de aplicação. Ainda, mesmo após ter perdido a visão, continuou
seus trabalhos em ritmo acelerado.

Entre 1734 e 1735, Euler identificou a condição para que equações


diferenciais de primeira ordem fossem exatas. No ano de 1739, desenvolveu o
método de variação de parâmetros e, em 1743, demonstrou a teoria de fatores
integrantes. No mesmo artigo, encontrou a solução geral de equações lineares
homogêneas com coeficientes constantes. Estendeu o último resultado para
equações não homogêneas de 1750-1751.

Frequentemente, usou a série de potências para solucionar equações
diferenciais, incluiu o uso de aproximações numéricas e o desenvolvimento de
métodos numéricos, os quais geraram "soluções" aproximadas para equações.
Nas equações diferenciais parciais, equações que contêm mais de uma variável
independente, fez importantes contribuições. Foi ele quem deu o primeiro
tratamento sistemático do cálculo de variações.

Além disso, Euler era um matemático que estava muito à frente de seus
pares e desenvolveu ideias que só seriam completamente entendidas anos
depois. Trabalhou com séries de Fourier, nas quais foram encontradas as funções
de Bessel em seus estudos sobre vibrações de uma membrana circular esticada.
Antes do nascimento de Jean-Baptiste Joseph Fourier (1768 - 1830), Friedrich
Wilhelm Bessel (1784 - 1846) e Pierre-Simon Laplace (1749 - 1827), Euler já havia
aplicado transformadas de Laplace para resolver equações diferenciais.

FONTE: NÓBREGA, D. D. Equações diferenciais ordinárias e algumas aplicações. Rio Grande do


Norte: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016.

98
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• Há uma classe de equações diferenciais lineares com coeficientes não constantes


com possível solução. É chamada de Cauchy-Euler.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar tua compreensão. Acesse o QR Code, que te levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

99
AUTOATIVIDADE

1 Quais das seguintes afirmações estão corretas?

I- As equações de Cauchy-Euler são diferenciais não lineares.


II- As soluções fundamentais das equações de Cauchy-Euler têm forma
y(x) = ekx.
III- As equações de Cauchy-Euler e as equações diferenciais com coeficientes
constantes têm a mesma metodologia para a determinação do conjunto
fundamental de soluções.

a) ( ) I e II.
b) ( ) III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I.

2 Resolva a seguinte equação diferencial:

x 2 y′′ + 3 xy′ + 4 y =
0.

3 Considere uma equação diferencial da seguinte forma:

x 2 y′′ + 3 xy′ + 4 y =
0.

Os coeficientes a e b são constantes não nulas de forma que a é o quádruplo de


b e b é o quadrado de a. Qual é a solução geral da equação diferencial?

a) ( ) y (=
x ) c1 x 3 + c2 x −3 .
b) ( ) y (=
x ) c1 x 2 + c2 ln ( x ) x 2 .
  5 3   5 
c) ( ) y ( x ) x  c1 cos 
= ln ( x )  + c2 sen 
8
ln ( x )   .
  8   8 
    
3+ 5 3− 5
y ( x ) c1 x
d) ( )= 8
+ c2 x 8
.

100
UNIDADE 2

TRANSFORMADA DE LAPLACE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o que é a Transformada de Laplace;


• usar a Transformada de Laplace para resolver equações diferenciais ordi-
nárias.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – TRANSFORMADA DE LAPLACE


TÓPICO 2 – TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA
DERIVADA
TÓPICO 3 – PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS TEOREMAS DE
TRANSLAÇÃO
TÓPICO 4 – DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA
DA INTEGRAL
TÓPICO 5 – RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR
TRANSFORMADAS DE LAPLACE
TÓPICO 6 – APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

101
102
UNIDADE 2
TÓPICO 1

TRANSFORMADA DE LAPLACE

1 INTRODUÇÃO
Transformar significa alterar ou modificar algo. Dizemos que algo foi
transformado se passou por uma transformação. Na matemática, a palavra
“transformada” deixa de ser um adjetivo para se referir a algo que passou por
transformação, para ser um substantivo cujo significado não é diferente daquele
que estamos acostumados na Língua Portuguesa. Por exemplo, a operação de
integração é uma transformada, pois ela transforma uma função em outra.

As transformadas integrais formam uma ferramenta importante na


solução de problemas que envolvem equações diferenciais, tanto ordinárias
quanto parciais. Em geral, dada uma função real f : I → ℝ R , em que I é um
intervalo da reta, definimos a transformada integral de f por:

TI  f (=
x )  F=
( y) ∫k ( x , y ) f ( x ) dx
I

onde F(y) é chamada de transformada integral de f(x), e k(x,y) é o núcleo da


transformada integral. Existem várias transformadas integrais definidas, como a
de Fourier, de Fourier-Bessel, de Hankel, de Hilbert etc. Neste tópico, nosso foco
de estudo será a transformada de Laplace, além da sua relação com a resolução
de equações diferenciais ordinárias.

2 REVISÃO DE INTEGRAIS IMPRÓPRIAS


Antes de começarmos os estudos das transformadas de Laplace,
revisaremos o conceito de integral imprópria. Nos cálculos de integrais definidas,
sempre se assume que os intervalos de integração são finitos e que o integrando
não tem uma descontinuidade infinita, ou seja, quando escrevemos:

∫ f ( x ) dx
a

Assumimos que a e b são números reais e finitos e f tem, como imagem,


um conjunto limitado. Contudo, com muita frequência, há a necessidade de se
calcular integrais em que um dos limites de integração é infinito, ou os dois.

103
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Damos o nome de integrais impróprias do tipo 1. Há, ainda, certas integrais em


que o integrando tem uma descontinuidade infinita, a integral imprópria do tipo
2.

Focaremos nossa atenção nas integrais do tipo 1, que são os tipos de


integrais que encontraremos nas transformadas de Laplace. Mais especificamente,
integrais do tipo:

∫ f ( x ) dx.
0

Vejamos como calcular integrais do tipo 1. Com efeito, se as integrais:

∫ f ( x ) dx
0

existirem para todo 0 ≤ a , então:

∞ a

∫ f ( x ) dx = lim ∫ f ( x ) dx.
0
a →∞
0

Se o limite existir, dizemos que a integral imprópria é convergente, e que


a integral imprópria é divergente, caso contrário.

3 DEFINIÇÃO DA TRANSFORMADA DE LAPLACE


Para um melhor entendimento e para facilitar a leitura não só deste
material, mas também de outros livros que abordam o tema, é preciso denotar a
ℒ  f ( t )  ou por F(s).
transformada de Laplace de f(t) por L

Definição 1: seja f uma função definida para . Chamamos de


Transformada de Laplace de f a integral:


L  f =
ℒ ()
t  F=
s ( ) ∫e − st
f ( t ) dt. (1)
0

Note que o núcleo da transformada de Laplace é k(t,s) = e–st. Ademais, é


uma integral imprópria, portanto, na definição, pede-se que a integral imprópria
convirja.

104
TÓPICO 1 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

NOTA

É comum, quanto se estuda a transformada de Laplace, denotar a variável


independente da função f por t, pois, em geral, é utilizada para encontrar soluções de
equações diferenciais de evolução com condições iniciais (PVI). Assim, justifica-se o uso de
f(t), em que t é o tempo.

O principal uso é no cômputo da solução. A utilização segue a seguinte


metodologia:

1. Utilizando a equação (1), transforma-se um PVI com variável f(t) em um


problema transformado (equação algébrica) mais simples em F(s).
2. Resolve-se o problema algébrico para encontrar F(s).
3. Recupera-se f(t) a partir de F(s).

O problema de recuperar f(t) a partir de F(s) denomina-se problema


inverso.

Observe que, em geral, a transformada de uma função em t é uma função
de variável complexa em s. Para os problemas discutidos nesta unidade, é
suficiente considerar que s seja real.

A transformada de Laplace existe sempre que a integral imprópria em sua


definição convergir. Se a função f satisfizer certas condições, então, a convergência
da integral imprópria é garantida. O teorema a seguir determina tais condições.

Teorema 1 (Existência): seja f uma função real definida no intervalo 0, ∞ ) ,


satisfazendo as seguintes condições:

1. f é contínua por partes no intervalo 0, ∞ ) .


2. f é de ordem exponencial α , isto é, existem constantes positivas K e M tais que,
para todo t > M > 0, f ( t ) ≤ keα t .

Então, a transformada de Laplace, F(s), existe para s > α .

Demonstração: inicialmente, note que:

∞ M ∞
L  f ( t ) 
=
ℒ e f ( t ) dt ∫ e
∫=
− st − st
f ( t ) dt + ∫ e − st f ( t ) dt.
0 0 M

105
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

A existência da integral ∫e
− st
f ( t ) dt é garantida pela propriedade 1. Pela
propriedade 2: 0

e − st f ( t ) ≤ Ke (
α − s )t

Portanto, a integral:

∫e
− st
f ( t ) dt
M

converge sempre que:

convergir. O fato é verdadeiro sempre que s > α .

Funções que têm as propriedades 1 e 2 são ditas funções admissíveis.

Antes de continuarmos com mais propriedades, calcularemos as


transformadas de Laplace de algumas funções elementares.

Exemplo 1: calcule a transformada de Laplace da função f(t) = 1, t ≥ 0.

Da definição, obtemos:

∞ a a
e − st 1 − e − st 1
ℒL 1 = ∫e − st
( ) a→∞ ∫
1 dt = lim e dt − st
= − lim
a →∞ s
= lim
a →∞ s
= .
s
0 0 0


Como o cálculo envolve trabalhar com integrais impróprias,
convencionaremos a seguinte notação:

f ( x ) = lim f ( x ) .
∞ a

0 a →∞ 0

Exemplo 2: calcule a transformada de Laplace da função f(t) = t, t ≥ 0.

Da definição, obtemos:


ℒ ∫
L t  = e − st tdt .
0

106
TÓPICO 1 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

A integral é calculada utilizando integração por partes, ou seja:

∞ ∞ ∞
te − st 1 1 1
L t  = ∫e tdt = −
ℒ − st
+ ∫e − st dt = ℒL 1 = 2 .
0
s 0
s0 s s

Note que necessitamos incluir a hipótese s > 0 para garantir que


− st
lim te = 0.
t →∞

Utilizando o mesmo raciocínio análogo, ou seja, sucessivas integrações


por parte, demonstra-se que:

n!
L t n =
ℒ 
 , s > 0, n ∈ ℕ
N.
sn +1

Exemplo 3: calcule a transformada de Laplace da função f(t) = eat, t ≥ 0.

Da definição, obtemos:


e( )
∞ ∞ − s−a t
− ( s − a )t 1
∫0e e dt =
L  e  = ∫0e dt =
at − st at
ℒ − = .
s−a s−a
0

Novamente, para que lim e −( s− a )t = 0 é necessário que s – a > 0, ou seja, s > a.


t →∞
1
O parâmetro a pode assumir valores reais, por exemplo,
= ℒ
L  e −5t  , com s > −5.
s + 5
Exemplo 4: calcule a transformada de Laplace da função f(t) = sen(at),
t ≥ 0.

Assuma s > 0.

O cálculo será feito utilizando dois passos de integração por partes.

Assim:

sen ( at ) e − st

∞ ∞
a − st
ℒ  ( ) ∫ ( ) e cos ( at ) dt
s ∫0
L  sen at  = e sen at dt − st
=
− +
0
s
0

 
a  cos ( at ) e

∞ − st ∞
a − st a − st
s ∫0
= = e cos ( at ) dt
s s

s ∫0
e sen ( at ) dt 

 0 
2
a 1 a  a a
=  − ℒL sen ( at )   = − 2ℒ L sen ( at )  .
s s s 2
 s s
107
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L sen ( at )  em ambos os lados da equação.


Note que existem termos de ℒ
Isolando o termo:

a
L sen
ℒ = ( at ) s + a2
2
, s > 0.

Novamente, note que a hipótese s > 0 foi utilizada para garantir


lim sen ( at ) e − st 0=
= e lim cos ( at ) e − st 0 .
t →∞ t →∞

Utilizando argumentos análogos (duas integrações por parte), é possível


mostrar que f(t) = cos(at), t ≥ 0., tem a seguinte forma:

s
ℒL cos
= ( at ) s + a2
2
, s > 0.


Observe que o cálculo pode ser entediante. Por isso, forneceremos um
resumo das transformadas até agora calculadas.

TABELA 1 – TRANSFORMADA DE LAPLACE

f(t) F (s) = ℒ
L  f ( t ) 

1
1 ,s > 0
s

n!
tn
t^n , s > 0, n ∈ ℕ
N
sn +1

1
eat ,s > a
s−a

a
sen(at) ,s > 0
s + a2
2

s
cos(at) ,s > 0
s + a2
2

FONTE: O autor

108
TÓPICO 1 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Conforme formos calculando transformadas de outras funções


elementares ou estudando propriedades da transformada de Laplace, novas
tabelas serão criadas e, ao fim da unidade, apresentaremos uma tabela com todas
as informações relevantes sobre concatenadas.

Podemos, também, calcular as transformadas de Laplace de funções que


são definidas por partes. Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 5: calcule a transformada de Laplace da função


 0, 0 ≤ t < 4
f (t ) =  .
 3, t ≤ 4

Para o cálculo de f, utiliza-se a definição da função por partes para separar


a integral de definição da transformada em duas. De fato:

∞ 4 ∞ ∞
3e − st 3e −4 t
L  f ( t )  =
ℒ ∫e f ( t ) dt =
− st
∫e ( 0 ) dt + ∫e
− st − st
( 3 ) dt =
0− = , s > 0.
0 0 4
s 4
s

Exemplo 6: calcule a transformada de Laplace da função


−1, 0 ≤ t < 1
f (t ) =  .
 1, t ≥ 1

Assuma s > 0.

Da definição, e novamente separando em duas integrais, obtemos:

∞ 1 ∞

ℒ  f ( t )  =
L ∫e f ( t ) dt =
− st
− ∫e − st dt + ∫e − st dt
0 0 1
1 ∞
1 − st 1 1 1  1  2 −s 1
= e − e − st =  e − s −  −  0 − e − s = e − .
s 0
s 1  s s   s  s s

Exemplo 7: calcule a transformada de Laplace da função


t , 0 ≤ t < 1
f (t ) =  .
 1, t ≥ 1
Assuma s > 0.

109
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Da definição, obtemos:
∞ 1 ∞
f ( t ) 
L =
ℒ ∫e f=
− st
( t ) dt ∫te dt + ∫e dt
− st − st

0 0 1
1 ∞
 1 − st 1 − st  1 − st
 − s te − 2 e  − s e
=
 s 0 1

 1 1   1 1
= − e − s − 2 e − s  −  0 − 2  − 0 − e − s
 s s   s  s
( )
1
= 2 1 − e−s .
s
( )

Para o cálculo de funções mais complexas, utilizaremos a tabela anterior


como apoio. Contudo, também necessitamos estudar uma propriedade importante
das transformadas de Laplace, denominada linearidade, a qual é apresentada no
próximo teorema.

Teorema 2 (Linearidade): suponha que f e g sejam funções cujas


transformadas existem para s > a e s > b, respectivamente. Então, para
s > max {a , b} e c1 , c2 ∈ R
ℝ:

L c1 f ( t ) + c2 g ( t )=
ℒ L  f ( t )  + c2 L
 c1ℒ ℒ  g ( t )  .

Demonstração: sejam f e g funções cujas transformadas de Laplace


existem para s > a e s > b, respectivamente. Tome s > max{a,b}, que garante que,
para esses valores de s, ambas as transformadas existem. Utilizando a linearidade
das integrais, obtemos:
∞ ∞ ∞
L c1 f ( t ) + c2 g ( t=
ℒ ) ∫e c1 f ( t ) + c2 g ( t )=
− st
dt c1 ∫e − st f ( t ) dt + c2 ∫e − st g ( t ) dt
0 0 0

L  f ( t )  + c2 L
= c1ℒ ℒ  g ( t )  .

Exemplo 8: calcule a transformada de Laplace da função


f ( t ) =+
2 e −3t − 8 cos ( 4t ) para t ≥ 0.

Para calcular o resultado desejado, é preciso utilizar a linearidade. Com


efeito:

110
TÓPICO 1 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L  2 + e −3t − 8 cos ( 4t )=
ℒ  2L
 L cos ( 4t ) 
L e −3t  − 8ℒ
ℒ 1 + ℒ
1 1 s
=2 + −8 2
s s+3 s + 16

=
( ) (
2 ( s + 3 ) s + 16 + s s2 + 16 − 8 s2 ( s + 3 )
2
)
s ( s + 3 ) s2 + 16 ( )
−5s3 − 18 s2 + 48 s + 96
= .
s4 + 3s3 + 16 s2 + 48 s

Para s > max{0,–3,0} = 0.

Exemplo 9: calcule a transformada de Laplace da função


f ( t ) =t + e
3 −8t
+ sen ( t ) , t ≥ 0.

Para o calcular o resultado desejado, é preciso utilizar a linearidade. Com


efeito:

ℒ  t 3 + e −8t + sen ( t =
L ) 2Lℒ t 3  + ℒL e−8t  + ℒL sen ( t )
3! 1 s
=4 + + 2
s s+8 s +1

=
( ) ( )
6 ( s + 8 ) s2 + 1 + s4 s2 + 1 + s5 ( s + 8 )
(
s4 ( s + 8 ) s2 + 1 )
s6 + s5 + 9 s4 + 6 s3 + 48 s2 + 6 s + 48
= .
s7 + 8 s 6 + s 5 + 8 s 4

Para s > max{0,–8,0} = 0.

Para finalizar a sessão, é preciso enunciar e demonstrar uma propriedade


interessante. O resultado trata do comportamento da transformada de Laplace
F(s), de uma função f(t), quando s → ∞ ∞.

Teorema 3: sejam f uma função contínua de ordem exponencial α e


F ( s) = ℒ
L  f ( t )  , então:

lim F ( s ) = 0
s →∞

111
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Demonstração: por f ser uma função de ordem exponencial α , existem


constantes positivas K e M. Para todo t > M > 0, f ( t ) ≤ k1eα t . Por outro lado,
como f é uma função contínua, então, em qualquer intervalo compacto da reta,
f é limitada, em particular, [0,M]. Existe k2, tal que f ( t ) ≤ k2 =
k2 e 0 t . Definindo,
k max
= {k1 , k2 } e β max {0,α } , então:
∞ ∞ ∞
k
F ( s ) ≤ ∫e − st f ( t ) dt ≤ k ∫e − st e ct dt = k ∫e ( ) dt =
− s−c t

0 0 0
s−c

para s > c. Portanto, lim F ( s ) = 0.


s →∞

Exemplo 10: nos exemplos anteriores, calculamos algumas transformadas


de Laplace de certas funções admissíveis. Consideraremos duas e calcularemos
seus respectivos limites quando s → ∞ .

a) F ( s ) = ℒ
L sen ( at ) 
a 1
lim F ( s ) lim L
= sen ( at )  lim
ℒ = = 2 2
a lim
= 0.
s →∞ s →∞ s →∞ s + a s →∞ s + a 2
2

b) F ( s )= ℒ L  t 3 + e −8t + sen ( t ) 
lim F=
s →∞
( s ) lim ℒL t 3 + e−8t + sen ( t )
s →∞

s6 + s5 + 9 s4 + 6 s3 + 48 s2 + 6 s + 48
= lim
s →∞ s7 + 8 s 6 + s 5 + 8 s 4
1 + 1 2 + 9 3 + 6 4 + 48 5 + 6 6 + 48 7
lim
= s s s s s s s 0.
s →∞
1+ 8 + 1 2 + 8 3
s s s

112
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O principal uso da transformada de Laplace é no cômputo da solução de


equações diferenciais ordinárias. A utilização segue a seguinte metodologia:
ᵒ Utilizando a equação (1), transforma-se um PVI, com variável f(t), em um
problema transformado (equação algébrica) mais simples em F(s).
ᵒ Resolve-se o problema algébrico para encontrar F(s).
ᵒ Recupera-se f(t) a partir de F(s).

• O problema de recuperar f(t) a partir de F(s) denomina-se problema inverso.

113
AUTOATIVIDADE

1 Escreva um resumo com a definição da transformada de Laplace e suas


propriedades.

I- fI-( xf ()2x= Quais


)x=x .x . das seguintes funções admitem transformada de Laplace?
x

() x=)ef(x)
f ( xfI-
2 2
II-II- =x e.x= .xx.
x2
III-III- xf () x=)f(x)
f (II- =e.
= senhx.
senhx.
III- f(x) = senhx.
xf () x=)f(x)
f (IV-
x 2x 3x
IV-IV- e=x e+= ee+x2xe++e2xe+3x+ee+3x
+ +nxenx,nx
+ e+e ,nn, ∈
nNℕ..N.

a) ( ) I e III.
b) ( ) II e III.
c) ( ) III e IV.
c) ( ) I e IV.

3 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- Se uma integral tem, como resultado, ∞ , então, diz-se que a integral é


imprópria.
II- Integrais nas quais o integrando tem uma descontinuidade infinita são
chamadas de integrais impróprias do tipo 2.
III- Se uma função é contínua por partes em {0, ∞) e de ordem exponencial,
então, sua transformada de Laplace existe.
IV- ℒL  f ( t ) ⋅ g ( t )= L  f ( t )  ⋅ℒ
 ℒ L  g ( t )  .

a) ( ) I e III.
b) ( ) II e III.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) I e IV.

114
UNIDADE 2 TÓPICO 2
TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA
DA DERIVADA

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, estudamos como calcular a transformada de
Laplace de uma função admissível. Estamos, agora, interessados em resolver o
problema inverso, isto é, suponha que conheçamos a transformada de Laplace
de uma função e queremos encontrar a função que satisfaz a propriedade. É a
L −1  F ( s )  . Assim, se
conhecida transformada inversa de Laplace, cuja notação é ℒ
F ( s) = ℒ
L  f ( t )  , então:

f (t ) = ℒ
L −1  F ( s )  .

Além disso, pode ser usada como ferramenta para resolver equações
 dy   d2 y 
diferenciais. Logo, deparar-nos-emos com quantidades do tipo L   eL 2
 dt   dt 
para avaliação, isto é, devemos saber calcular derivadas de funções, o que também
trataremos neste tópico.

2 TRANSFORMADA INVERSA DE LAPLACE


As transformadas inversas gozam da propriedade da linearidade, isto é:

L −1 c1 F ( s ) + c2G ( s=
ℒ ) c1ℒL −1  F ( s ) + c2ℒL −1 G ( s )
=F ( s) ℒ
L= f ( t )  e G ( s ) ℒ
L  g ( t )  , com f e g funções admissíveis. De fato:

ℒL −1 c1 F ( s ) + c2G =
( s ) ℒL −1 c1ℒL  f ( t ) + c2ℒL  g ( t=
)  ℒL −1 ℒL c1 f ( t ) + c2 g ( t ) 
= c1 f ( t ) + c2 g ( t ) = c1ℒ
L −1  F ( s )  + c2ℒ
L −1 G ( s )  .

O cálculo é um problema que envolve integrais. Para serem resolvidas, são


utilizadas técnicas de variáveis complexas, como cálculo de resíduos, deformação
de contornos etc. As técnicas estão fora do escopo deste material.

115
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Felizmente, nem sempre o cálculo requer uso de técnicas como as


supracitadas. Assim, podemos utilizar uma tabela de transformadas de Laplace.
Com os resultados já apresentados, é possível calcular algumas transformadas
inversas de forma trivial: basta ler da direita para a esquerda. Por exemplo, ao ler
da esquerda para a direita, é possível concluir que:

1
ℒ 1 = .
L
s

Agora, ao ler da direita para a esquerda:

1
L −1   = 1.

s

Passaremos, agora, ao estudo de como obter transformadas inversas de


Laplace utilizando tabelas.

 1  −1  1 
Exemplo 11: calcule ℒ
L −1  4  e ℒ
L  2 .
s  s + 5
Notamos que:

 n! 
−1 n

L=  n+1  t , para n ∈ ℕ
N.
s 

Utilizando o fato exposto e a linearidade da transformada inversa,


obtemos:

1 −1 −1  1  3! −1  1  1 −1  3!  t 3
L  4=
=
ℒ L  3 +1  =
ℒ L  3 +1  =
ℒ L  3 +1 
ℒ .
s   s  3!  s  3! s  6

Por outro lado, temos:

 a 
L −1  2 2  = sen ( at )

s + a 

assim


 1 
L  2
= −1
= ℒ

1 −1 
L 
5

 sen 5 t
.
( )
 2 
s + 5 5

2
( )
s + 5 

5

116
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

A tabela que utilizamos anteriormente foi construída a partir de exemplos


e consequências. A seguir, apresentamos uma tabela mais completa com a
transformada de Laplace de certas funções elementares para utilizarmos no
decorrer dos nossos estudos.

TABELA 2 – TRANSFORMADA DE LAPLACE

f (t ) = L
ℒ−1  F ( s )  F ( s) = ℒ
L  f ( t ) 

1
1 ,s > 0
s
n!
tn , s > 0, n ∈ ℕ
N
sn +1
1
eat ,s > a
s−a
n!
eat tn , s > a, n ∈ ℕ
N
( s − a)
n +1

a
sen(at) ,s > 0
s + a2
2

s
cos(at) ,s > 0
s + a2
2

s
cosh(at) ,s > a
s − a2
2

b
eat sen(bt) ,s > a
( s − a)
2
+ b2

s−a
eat cos(bt) ,s > a
( s − a ) + b2
2

b
eat senh(bt) ,s > a
( s − a ) − b2
2

s−a
eat cosh(bt) ,s > a
( s − a ) − b2
2

2 as
t sen(at) ,s > 0
(s )
2
2
+ a2

117
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

s2 − a 2
t cos(at) ,s > 0
(s )
2
2
+ a2
2 as
t senh(at) ,s > a
( )
2
s2 − a 2

s2 + a 2
t cos(at) ,s > a
(s )
2
2
− a2

FONTE: O autor

O Exemplo 11 baseou-se, simplesmente, na utilização de transformadas de


Laplace. Porém, estas podem aparecer como funções racionais mais complicadas.
Primeiramente, vejamos um exemplo em que a divisão termo a termo é suficiente
para se encontrar a transformada inversa.

−1  s + 1
Exemplo 12: calcule L
ℒ  4 
.
 s 
Para o cálculo, utilizaremos, além da linearidade, a divisão termo a termo.
Com efeito:

−1  s + 1  −1  s 1
L
ℒ = 4 
L
ℒ  4 + 4
 s  s s 
1 1
= L ℒ −1  3  + L
ℒ −1  4 
s  s 
1 −1  2!  1 −1  3! 
= L
ℒ  3+ L ℒ  4
2!  s  3! s 
t 2 t 3 3t 2 + t 3
= + = .
2 6 6

Outra técnica importante é aliar a divisão termo a termo com a técnica de


completar quadrados. A técnica visa escrever um polinômio de segundo grau na
forma em que apareça um quadrado perfeito. Vejamos um exemplo.

−1  s−5 
Exemplo 13: calcule Lℒ  2 .
 s − 4 s + 13 
s−5
Precisamos transformar 2
em soma de termos presentes na
s − 4 s + 13
Tabela 1. Inicialmente, note que o denominador é um polinômio do segundo
grau. Observando, vemos que existem várias funções cujas transformadas de

118
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

Laplace apresentam, em seu denominador, um polinômio de segundo grau,


porém, apenas três podem apresentar um denominador do tipo s2 + as + b, com
a , b ≠ 0, a saber, tn eat, eat sen(bt) e eat cos(bt). Precisamos, agora, determinar se
s2 –4s + 13 é do tipo (s – a)2 ou (s – a)2 + b2.

Facilmente, vemos que s2 –4s + 13 não é um quadrado perfeito, assim,


certamente, tem uma forma do tipo (s – a)2 + b2. Para determinação de a e b,
utilizaremos a técnica de completar quadrados. Com efeito:

s2 − 4 s + 13 = s2 − 4 s + 4 + 9 = ( s − 2 ) + 9.
2

Assim:

 s−5   s−5 
L −1  2
ℒ  = L

−1
 
 s − 4 s + 13   ( s − 2 )2 + 9 
 
 s−2−3 
=Lℒ−1  
 ( s − 2 )2 + 9 
 
 s−2   −3 
= ℒL −1  +L
ℒ −1  
 ( s − 2 )2 + 9   ( s − 2 )2 + 9 
   
= e cos ( 3t ) + e sen
2t 2t
( −3t ) e cos ( 3t ) + sen ( −3t ) .
= 2t

As técnicas apresentadas são fáceis de serem implementadas, porém,


sua utilidade é limitada. Observando a tabela anterior, vemos que todas as
transformadas de Laplace apresentadas são funções racionais, portanto, espera-
se que se a transformada de uma função for uma função racional, então, sua
transformada inversa será uma combinação linear das funções elementares. A
ferramenta mais adequada para trabalhar com funções racionais para separá-las
em somas conhecidas é a técnica de decomposição em frações parciais. Vejamos
alguns exemplos.

NOTA

Você já deve estar familiarizado com a técnica de decomposição em frações


parciais para o cálculo de integrais. Aqui, estamos aplicando a mesma ideia, apenas o
objetivo final muda.

119
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

 3s − 4 
ℒ−1 
Exemplo 14: calcule L .
 ( s + 2 )( s − 3 ) 
Observe que a função que queremos calcular a transformada inversa não
tem a forma das funções apresentadas. Porém, se pudéssemos escrever:

3s − 4 A B
= + .
( s + 2 )( s − 3 ) s + 2 s − 3
Então, poderíamos utilizar a soma de frações à direita associada com
a propriedade de linearidade das transformadas inversas para o cálculo da
transformada inversa requisitada. Ora, a técnica para encontrar as constantes A e
B é chamada de decomposição em frações parciais.

Para encontrar A e B, primeiramente, é preciso escrever a soma das frações


à direita e comparar com a fração à esquerda. Com efeito:

3s − 4 A B A ( s − 3) + B ( s + 2 ) ( A + B) s + ( 2B − 3 A )
= + = = .
( s + 2 )( s − 3 ) s + 2 s − 3 ( s + 2 )( s − 3 ) ( s + 2 )( s − 3 )
Portanto, A e B devem satisfazer o seguinte sistema de equações lineares:

 A+B= 3

−3 A + 2 B = −4

cuja solução é A = 2 e B = 1. Logo:

3s − 4 2 1
= + .
( s + 2 )( s − 3 ) s + 2 s − 3

Portanto:

 3s − 4   2 1 
L −1 
ℒ = L −1 
 ℒ + 
 ( s + 2 )( s − 3 )  s + 2 s − 3
 1   1 
=ℒ −1 
2L  L −1 
+ℒ 2 e −2 t e 3t .
 =+
 s + 2   s − 3 

 9s − 6 
Exemplo 15: calcule Lℒ−1  2 .
 s − 3s − 4 
O exemplo difere do anterior, pois o denominador não está fatorado.
Inicialmente, fatoramos o denominador e, posteriormente, aplicamos técnica
semelhante à apresentada no Exemplo 14.
120
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

Para fatorar o denominador da função racional, encontraremos as raízes


dessa função quadrática e escreveremos como produto de monômios. Com efeito:

s 2 − 3s − 4 =0

tem soluções s1 = 4 e s2 = –1. Portanto:

s2 − 3s − 4 = ( s + 1)( s − 4 ) .

Assim, pela técnica de frações parciais:

9s − 6 9s − 6 A B
= = +
2
s − 3s − 4 ( s + 1)( s − 4 ) s + 1 s − 4
concluímos, então:

9s − 6 A B A ( s − 4 ) + B ( s + 1) ( A + B ) s + ( B − 4 A )
= + = =
s − 3s − 4 s + 1 s − 4
2
( s + 1)( s − 4 ) ( s + 1)( s − 4 )
Portanto, A e B devem satisfazer o seguinte sistema de equações lineares:

 A+B= 9

−4 A + B =−6

as soluções são A = 3 e B = 6. Logo:

9s − 6 3 6
= +
s − 3s − 4 s + 1 s − 4
2

assim

 9s − 6   3 6 
ℒ−1  2 =
L  ℒ−1 
L + 
 s − 3s − 4  s +1 s − 4
 1   1 
= 3ℒ L −1   ℒ −1 
+ 6L 
 s + 1 s − 4
= 3e − t + 6 e 4 t.

No próximo exemplo, apresentaremos um problema que requer uma


compreensão robusta da técnica de frações parciais.

121
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

 s3 + s + 8 
Exemplo 16: calcule Lℒ−1  4 3 2 .
 s − 2 s + 5s − 8 s + 4 
Primeiramente, é preciso fatorar s4 – 2s3 + 5s2 – 8s + 4 para iniciar o
cálculo das frações parciais. Note que, como os coeficientes do polinômio são
números inteiros, então, as raízes reais do polinômio, quando existirem, são
divisores do termo independente, no caso, 4. Não é difícil verificar que s = 1 é
solução de s4 – 2s3 + 5s2 – 8s + 4 = 0. Portanto, aplicando a divisão polinomial,
concluímos que:

(
s 4 − 2 s 3 + 5 s 2 − 8 s + 4 = ( s − 1) s 3 − s 2 + 4 s − 4 . )
Da mesma forma, s = 1 é solução de s3 – s2 + 4s – 4 = 0. Novamente, após a
divisão polinomial, constata-se que:

s 3 − s 2 + 4 s − 4 = ( s − 1) s 2 + 4 .( )
Como s 2 + 4 é um polinômio irredutível, então, a fatoração de
s4 – 2s3 + 5s2 – 8s + 4 é:

s 4 − 2 s 3 + 5 s 2 − 8 s + 4 = ( s − 1) s 2 + 4 .
2
( )
Portanto:

s3 + s + 8 s3 + s + 8 A B Cs + D
= = + + 2
s − 2 s + 5 s − 8 s + 4 ( s − 1) s + 4
4 3 2 2 2
(
s − 1 ( s − 1) 2
)s +4

assim

s3 + s + 8
=
( ) (
A ( s − 1) s2 + 4 + B s2 + 4 + ( Cs + D )( s − 1) ) 2

(
( s − 1) s 2 + 4
2
) ( s − 1) ( s + 4 )
2 2

=
( A + C ) s + ( − A + B − 2C + D ) s + ( 4 A + C − 2 D ) s + ( −4 A + 4 B + D ) .
3 2

( s − 1) ( s + 4 )
2 2

Para encontrar os coeficientes A, B, C e D, devemos resolver o seguinte


sistema linear:

 A+C = 1

− A + B − 2C + D = 0

 4 A + C − 2D = 1
 −4 A + 4 B + D =
8

122
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

as soluções são A = 0, B = 2, C = 1 e D = 0.

Portanto:

s3 + s + 8 2 s
= +
s 4 − 2 s 3 + 5s 2 − 8 s + 4 ( s − 1)
2 2
s +4

logo

 s3 + s + 8   2 s 
ℒ −1  4
L =  L
ℒ −1
 +
3 2
 s − 2 s + 5s − 8 s + 4   ( s − 1) 2 s 2 + 4 
 
 2   s 
= L ℒ −1  +ℒ
L −1  2 
 ( s − 1) 
2
  s + 4
= 2te t + cos ( 2t ) .

O cálculo de integrais impróprias pode ser muito cansativo e envolver


técnicas sofisticadas, além de, ao final, envolver o cálculo de um limite. As
transformadas de Laplace podem ajudar a resolver esses problemas com mais
facilidade.


cos ( tx )
Exemplo 17: calcule ∫
0 1 + x2
dx .

Para avaliar essa integral, é preciso contar com o apoio da transformada


de Laplace. Apenas como conhecimento geral, essa integral poderia ter sido
resolvida utilizando o teorema dos resíduos de análise complexa.

Para o cálculo da integral, denominaremos:


cos ( tx )
f (t ) = ∫ dx .
0 1 + x2

Observe que o fato está bem definido, pois a integração é na variável


x. Assumimos, a princípio, que t > 0. Para resolver a integral, é preciso fazer a
seguinte abordagem. Primeiramente, calcularemos a transformada de Laplace de
f(t), simplificaremos o resultado e finalizaremos com a aplicação da transformada
inversa para a recuperação f(t). Com efeito:

∞ ∞∞
cos ( tx )
L  f ( t ) 
= f ( t ) e − st dt
∫= ∫∫ e − st dxdt .
0 00 1 + x2

123
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

A ordem de integração pode ser invertida pelo teorema da convergência


dominada e, portanto:

∞ ∞∞
cos ( tx )
ℒ  f ( t ) 
L
= f ( t ) e − st dt
∫= ∫∫ 2
e − st dtdx.
0 00 1+ x

Contudo, essa inversão da ordem de integração é útil, pois 1/(1 + x2) não
depende da variável t.

1  
∞ ∞
ℒ  f ( t ) = ∫
L   2 ∫
 cos ( tx ) e − st
dt  dx
0 1+ x 0 

1
=∫ 2
ℒ  cos ( tx )  dx
L
0 1 + x

1 s
=∫ 2 2 2
dx.
0 1 + x s + x

Para o cálculo da última integral, aplicaremos, inicialmente, o método das


frações parciais para separar o integrando em uma soma de frações simples. De
fato:

1 s s  1 1 
= 2 2 2 2  2
− 
1+ x s + x 1 − s  s + x 1 + x2 
2

logo

s  
∞ ∞ ∞
s  1 1  1 1
ℒ  f (=
L t )  2 ∫ 2 2
− =
2 
dx 2 ∫ 2 2
dx − ∫ 2
dx  .
1− s 0  s + x 1+ x  1− s 0 s + x 0 1+ x 

Portanto, o problema de resolver uma integral imprópria difícil se tornou,


com a utilização da transformada de Laplace, duas integrais impróprias mais
simples. Como:


1 1 a π
∫0 s2 + x2 dx lim
= =
a →∞ s
tan −1  
 s  2s
.

1 π
∫0 1 + x2 dx lim
= = tg −1 ( a ) .
a →∞ 2

124
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

Assim:

s π π π 1
ℒ ( t )
L  f=  −= 
1 − s2  2s 2  2 s + 1
.

Entretanto, estamos interessados em encontrar f(t), portanto:

π −1  1  π − t
=f (t ) ℒ L  f ( t )   2=
ℒ
L −1=   L 
ℒ  e .
 s + 1 2

Havíamos assumido t > 0, porém, o resultado é o mesmo para t ≤ 0, pois


as funções em questão são pares. Portanto:

π
f (t ) =
−t
e .
2

3 TRANSFORMADA DE LAPLACE DA DERIVADA


Até o momento, vimos como calcular a transformada de Laplace de
funções admissíveis e transformadas de Laplace inversas. Também já falamos
anteriormente que podemos usar a transformada de Laplace para resolver
equações diferenciais. A pergunta, então, é: como calcular essas quantidades?
Partiremos do seguinte exemplo.

Exemplo 18: calcule Lℒ  f ' ( t )  .

Sabemos que, pela definição da transformada de Laplace:


ℒ  f ' ( t )  = ∫e − st f ' ( t ) dt.
L
0

A integral do lado direito da igualdade pode ser resolvida por integração


por partes, assim, temos:

∞ ∞
ℒ  f ' ( t )  f ′ ( t ) dt  e − st f ( t )  + s ∫e − st f ( t ) dt

∫e=
− st
L
=
0
0 0

− st
()
observando que e f t → 0 quando t →∞ , chegamos ao seguinte resultado:

ℒ  f ' ( t )  =
L − f ( 0 ) + sL
ℒ  f ( t )  . (2)

125
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Seguindo a metodologia e seu resultado, podemos facilmente chegar à


conclusão de que a transformada de Laplace da segunda derivada da função f(t)
é:

ℒ  f '' (=
L t )  s2 L
ℒ  f ( t )  − sf ( 0 ) − f ' ( 0 ) (3)

ainda, a transformada da terceira derivada é:

ℒ  f ''' ( t=
L ) s3Lℒ  f ( t ) − s2 f ( 0 ) − sf ′ ( 0 ) − f ′′ ( 0 ) . (4)

Assim, pela natureza recursiva, podemos conjecturar que a transformada


de Laplace de qualquer derivada da função f(t) terá forma similar àquela
apresentada em (2), (3) e (4). O próximo teorema formaliza a discussão realizada.
Sua demonstração é feita por indução no índice da derivada.

Teorema 3 (Transformada da Derivada): se f , f ′,… , f ( ) são contínuas em


n −1

0, ∞ ) , de ordem exponencial, e se f(n)(t) é contínua por partes em 0, ∞ ) , então:

L=
ℒ  f ( n ) ( t )  s nℒ
L  f ( t )  − sn−1 f ( 0 ) − sn− 2 f ′ ( 0 ) −…− f ( ) ( 0 ) .
n −1
 

Exemplo 19: seja f(t) = sen(t), calcule Lℒ  f ' ( t )  .

O exemplo, a princípio, pode não parecer justo, pois f´(t) = cos(t), e já


sabemos calcular ambas as transformadas. Contudo, o objetivo do exemplo é a
verificação da fórmula da transformada da derivada. Com efeito, o teorema da
derivada da transformada para n = 1 diz que:

L=
ℒ  f ′ ( t )  sL
ℒ  f ( t )  − f ( 0 )

portanto:

1 s
L  f ′ ( t )  = sL
ℒ ℒ sen ( t )  − sen ( 0 ) = s 2
= 2 .
s +1 s +1

De fato, é a transformada de Laplace de cos(t), como esperado.

Exemplo 20: seja f(t) = t cos(at), calcule Lℒ  f ( t )  .

Observe que f´(t) = cos(at) – at sen (at) e que f´´(t) = –2a sen(at) – a2t cos(at).
Portanto, usando a fórmula apresentada no teorema da derivada da transformada
para a segunda derivada de f, temos:

126
TÓPICO 2 | TRANSFORMADA INVERSA E TRANSFORMADA DA DERIVADA

ℒ  f ′′ ( t )  s2 L
L
= ℒ  f ( t )  − sf ( 0 ) − f ′ =
( 0 ) s2ℒL  f ( t ) − 1 .

Por outro lado, pela linearidade da transformada de Laplace:

a
L  f ′′ ( t )  =
ℒ L  −2 asen ( at ) − a 2t cos ( at )  =
ℒ L  f ( t )  .
−2 a 2 2 − a 2ℒ
s +a

Assim, obtivemos duas fórmulas para a transformada de Laplace da


segunda derivada de f. Portanto, devemos ter:

2a2
ℒ  f ( t )  − 1 =−
s2 L L  f ( t )  .
− a2ℒ
s2 + a 2

ℒ  f ( t )  , concluímos que:
Isolando L

2a2
(s 2
)L  f ( t )  =
+ a2 ℒ − 2 2 +1
s +a

ou seja:
s2 − a 2
ℒ  f ( t )  =
L .
(s )
2
2
+ a2

No próximo tópico, estudaremos propriedades operacionais das


transformadas de Laplace que, adicionalmente, com as ferramentas até agora
desenvolvidas, serão de grande valor na resolução de equações diferenciais
ordinárias.

127
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Pode ser bem complicado calcular transformadas inversas de Laplace, mas


podemos utilizar uma lista de transformadas para os cálculos.

• Para calcular a transformada de Laplace da derivada, basta usar a seguinte


fórmula:

L
ℒ= f ( n) ( t )  sn L
ℒ  f ( t )  − sn−1 f ( 0 ) − sn− 2 f ′ ( 0 ) −…− f
( n−1)
(0).
 

128
AUTOATIVIDADE

1 Escreva um resumo com a definição da transformada inversa de Laplace, da


transformada da derivada e suas propriedades.

s+1
2 Qual é a transformada inversa de Laplace de F ( s ) = 2
?
s − 4s + 4

1 3
) f (t )
a)( = sen2t + cos 2t.
4 4
3 −2 t 1 2 t
f (t )
b)( ) = e + e .
4 4
1 3
) f (t )
c)( = sen2t − cos 2t.
4 4
1 −2 t 3 2 t
d)( ) =f (t ) e + e .
4 4

3 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- A transformada inversa de Laplace não é linear.


II- Não há como calcular transformada inversa de Laplace de uma função
racional.
()
ℒ  f ( ) t=
III- L

4
 s 4ℒ
 () ( ) ( ) ( ) ( )
L  f t  − s3 f 0 − s2 f ′ 0 − s f ′′ 0 − f ′′′ 0 .

a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) III.

129
130
UNIDADE 2 TÓPICO 3

PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS
TEOREMAS DE TRANSLAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O cálculo da transformada de Laplace pode ser bem entediante por
envolver, às vezes, técnicas de integração que necessitam de muitos cálculos.
Contudo, conhecendo algumas propriedades, ditas operacionais, da transformada
de Laplace, podemos trabalhar com certas transformadas sabendo a transformada
de Laplace de outras funções. Neste tópico, estudaremos algumas propriedades
operacionais através de teoremas, entre eles, o teoremas de translação, e os
resultados serão compilados.

2 TEOREMA DE TRANSLAÇÃO NO EIXO-S


Teorema 4 (Translação eixo - s): sejam f uma função admissível,
=F ( s) ℒ
L  f ( t )  e a ∈ ℝ
R:

L  e at f ( t=
ℒ ) F ( s − a ) .

Demonstração: o fato segue a definição da transformada de Laplace. Com


efeito:

∞ ∞
L  e at f ( t=
) ∫e e f ( t )= f ( t )=
dt F ( s − a ) .
− ( s − a )t
∫e
− st at
ℒ dt
0 0


O resultado do teorema justifica o nome translação no eixo-s, pois, para
calcular ℒL  e at f ( t )  , é apenas necessário conhecer F ( s ) = ℒ
L  f ( t )  e transladar F
por s – a unidades. Vejamos um exemplo.

ℒ  e 4 t cosh ( 3t )  .
Exemplo 21: calcule L

Como a função cosh(3t) está multiplicada por uma função exponencial,


podemos aplicar a propriedade da translação no eixo-s. Para tanto, necessitamos
L cosh ( 3t )  e, posteriormente, transladar o resultado. Portanto, como:
calcular ℒ

131
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

s
=F ( s) ℒ
L=cosh ( 3t )  2
s −9

então

s−4
L  e 4 t cosh ( 3t )  = F ( s − 4 ) =
ℒ .
(s − 4)
2
−9

ℒ  e t sen ( t )  .
Exemplo 22: calcule L

Como temos que calcular a transformada de Laplace de uma função,


no caso, sen(t), multiplicada por uma função exponencial, no caso, et, podemos
aplicar a propriedade da translação no eixo-s. Portanto, como:

1
=F ( s) ℒ
L=sen ( t )  2
s +1

então

1
L  e t sen ( t )  = F ( s − 1) =
ℒ .
( s − 1)
2
+1

Note que podemos utilizar o teorema de translação no eixo-s para o


cálculo das transformadas inversas. De fato, como ℒL  e at f t= F s − a , então,
 () ( )
ℒ −1
( )
L  F s − a  = at
()
e f t . Assim, basta reconhecer a translação no eixo-s da função
F, desconsiderar essa translação, aplicar a operação de transformação inversa e,
ao final, multiplicar o resultado por uma função exponencial.

 1 
ℒ−1  2
Exemplo 23: calcule L .
 s − 6 s + 10 
Observe que s2 – 6s + 10 não forma um quadrado, porém, podemos
completar:

s2 − 6 s + 10 = s2 − 6 s + 9 − 9 + 10 = ( s − 3 ) + 1 .
2

Podemos pensar que (s – 3)2 + 1 é a função s2 + 1 transladada de –3 unidades


no eixo-s. Portanto:

 1   1   1 
L −1 =  e=  e sen ( t ) .
3 t −1 3t
L −1 =
ℒ  ℒ ℒ
L  2
 ( s − 3) + 1 
2 2
 s − 6 s + 10    s +1 

132
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS TEOREMAS DE TRANSLAÇÃO

 s+4 
L −1  2
Exemplo 24: calcule ℒ .
 s + 2s + 1 
Inicialmente, precisamos escrever a função racional como uma soma de
frações parciais. Não é difícil ver que s2 + 2s + 1 = (s + 1)2. Portanto:

s+4 s+4 A B
= = +
( s + 1) s + 1 ( s + 1)
2 2 2
s + 2s + 1

resultando em A = 1 e B = 3. Assim:

 s+4   1   3 
L −1  2=
ℒ  L −1 
ℒ  L −1 
+ℒ 
 s + 2s + 1   s + 1  ( s + 1) 2 
 

1 1
com F ( s )= ℒ
L 1= e G ( s )= ℒ
L t = 2 . Assim:
s s

 s+4   1   3 
L −1  2=
ℒ L −1 
 ℒ L −1 
 +ℒ 
 s + 2 s + 1   s + 1   ( s + 1) 2 
 
L  F ( s + 1)  + 3ℒ
= ℒ −1
L G ( s + 1) 
−1

= e − t + 3te − t .

ATENCAO

Observe que já apresentamos algumas transformadas de Laplace de funções


elementares multiplicadas por funções exponenciais, cujo resultado é a translação nos
eixos.

3 TEOREMA DE TRANSLAÇÃO NO EIXO-t


Veremos, agora, a segunda propriedade operacional, a translação no
eixo-t, mas, inicialmente, introduziremos o conceito de função degrau. Além da
importância teórica, a função degrau aparece em muitas aplicações em engenharia
e física. A função degrau unitário é o formalismo matemático para descrever
fenômenos que “ligam e desligam” e que apresentam “saltos”.

Definição 2: a função degrau unitário ou função de Heaviside, u0(t) é


definida por:

133
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

0, t < 0
u0 ( t ) =  .
1, t ≥ 0

Podemos, também, definir a função degrau unitário deslocada para a ∈ ℝ


R:

0, t < a
ua ( t )= u0 ( t − a )=  .
1, t ≥ a

Note que, para qualquer função f(t) definida em toda a reta, f(t) ua(t) é uma
função que, para t ≥ a , é f(t) e, para t < a, é nula. Essa observação significa que,
quando multiplicamos f(t) por ua(t), a função f(t) foi “desligada” para t < a. Por
isso, a função de Heaviside é tão utilizada em aplicações.

As funções degrau unitário são muito utilizadas para descrever funções


que são definidas por partes.

Exemplo 25: determine f(t) em função de funções degrau unitárias, em


que:

 1, t < 2

 2, 2 ≤ t < 3
f (t ) =  .
 −1, 3 ≤ t < 4
 5, 4 ≤ t

Considere a função f1(t) = 1. Ela coincide com f(t) no intervalo ( −∞ , 2 ) .


Precisamos, agora, descrever a função para t ≥ a . A partir de t = 2, a função f(t)
= 2. Portanto, devemos somar u2(t) com f1(t), obtendo f2(t) = 1 + u2(t). A partir de
t = 3, a função deu um salto de –3 unidades, portanto, para f2(t), devemos somar
–3u3(t). Assim, f3(t) = 1 + u2(t) – 3u3(t). A partir de t = 4, a função tem um salto de 6
unidades, portanto:

f (t ) =
1 + u2 ( t ) − 3u3 ( t ) + 6u4 ( t ) .

A transformada de Laplace da função de Heaviside é calculada de forma


simples, apresentada a seguir.

∞ ∞
e − as
a ( ) ∫e ua =( t ) dt ∫=
L u=
ℒ t  − st
e − st dt , s > 0.
0 a
s

Agora que estudamos a função de Heaviside, podemos enunciar e


demonstrar mais uma propriedade operacional, a chamada translação no eixo-t.

134
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS TEOREMAS DE TRANSLAÇÃO

Teorema 5 (Translação eixo - t): sejam f uma função admissível,


F ( s) = ℒ
L  f ( t )  e a > 0 um número real. Então:

L  f ( t − a ) ua ( t )  =
ℒ e − as F ( s ) .

Demonstração: o fato segue a definição da transformada de Laplace. Com


efeito:
∞ ∞
L  f ( t − a ) ua ( t )  =∫e − st f ( t − a ) ua ( t ) dt =∫e − st f ( t − a ) dt

0 a

fazendo a mudança de variável z = t – a, obtém-se:

∞ ∞
L  f ( t − a ) ua =
( t ) f ( z=
) dz e − as ∫e − sz f ( z=
) dz e − as F ( s ) .
− s( z + a )
ℒ ∫e
0 0

O segundo teorema de translação menciona que uma translação da função


f(t) de a unidades em um sentido positivo corresponde a uma multiplicação da
transformada de Laplace de f(t) por uma exponencial e–as.

Exemplo 26: calcule Lℒ tu2 ( t )  .

Para aplicar a propriedade de translação no eixo-t, a função deve ter a


forma f(t – a)ua(t). Ora:

tu2 ( t ) =
( t − 2 ) u2 ( t ) + 2u2 ( t )

pela linearidade da transformada de Laplace, obtemos:

e −2 s 2 e −2 s
ℒ tu2 ( t )  =
L L ( t − 2 ) u2 ( t )  + 2ℒ
ℒ L u2 ( t )  =+ .
s2 s

Vejamos, agora, dois exemplos de como utilizar o teorema para o cálculo


da transformada inversa.

 2 e −2 s 
ℒ−1 
Exemplo 27: calcule L 3 
.
 s 
Inicialmente, devemos identificar se podemos aplicar a propriedade de
2
translação no eixo-t. Note que pode ser vista como uma função, a saber F ( s ) = 3 ,
s
multiplicada por uma função exponencial com variável s, e–2s. A propriedade da
translação no eixo-s, em sua variação para a transformada inversa, menciona que:

135
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L −1  e − as F ( s=
ℒ ) f ( t − a ) ua ( t )
portanto
 2 e −2 s  2 
(t − 2) u2 ( t ) .
2
L −1  3 = ℒ
ℒ L −1  3 e −2 s =
 s  s 

−1  se 
−2 s
L
Exemplo 28: calcule ℒ  2 .
s + 4
Primeiramente, observe que:

se −2 s s
2
= e −2 s 2
s +4 s +4

essa função é o produto de uma função exponencial por uma função F(s).

s
Defina a = 2 e F ( s ) = 2
.
s +4
A transformada inversa de F(s) é:

−1  s 
L −1  F ( s )  ℒ

= L=  s2 + 4  cos ( 2t ) .
 

Portanto, pelo teorema da translação no eixo-t, obtemos:

 s 
L −1  e −2 s =
ℒ cos  2 ( t − 2 )  u2 ( t ) .
 s2 + 4 

4 TRANSFORMADA DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA


A terceira propriedade operacional que estudaremos será a transformada
de uma função periódica. Antes de vermos essa propriedade, comecemos com a
definição de função periódica.

Definição 3: uma função f é dita periódica, de período T, T > 0, se


f(t) = f(t + T) para todo t pertencente ao domínio de f.

Funções periódicas são facilmente identificáveis através de seu gráfico,


apresentando comportamento repetitivo, sempre com o mesmo período. Os
exemplos mais simples são as funções seno e cosseno que têm, ambas, período
2π . Vamos, agora, calcular a transformada de Laplace de uma função periódica.

136
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES OPERACIONAIS E OS TEOREMAS DE TRANSLAÇÃO

Teorema 6 (Função Periódica): seja f uma função admissível e periódica


de período T. Então:

T
1
L  f ( t )  =
ℒ − sT ∫
e − st f ( t ) dt.
1− e 0

Demonstração: a partir da definição da transformada de Laplace, façamos
a seguinte cisão da integral em duas, ou seja:

∞ T ∞

ℒ  f ( t ) 
L
= e f ( t ) dt ∫e
∫=
− st − st
f ( t ) dt + ∫e − st f ( t ) dt.
0 0 T

Fazendo a mudança de variável z = t – T na segunda integral e utilizando


a periodicidade de f, ou seja, f(t) = f(t + T), obtemos:

∞ ∞ ∞

∫e f ( t=
) dt f ( z + T=
) dz e − sT ∫e − sz f ( z=
) dz e − sT ℒL  f ( t )
− s ( z +T )
∫e
− st

T 0 0

voltando à cisão da transformada de Laplace inicial, temos:

T T
1
L  f ( t )  =
ℒ ∫e
− st
f ( t ) dt + e − sT
L  f ( t )  ⇒ ℒ
ℒ L  f ( t )  = − sT ∫
e − st f ( t ) dt.
0 1− e 0

Exemplo 29: considere a seguinte função f(t) = t2 para 0 ≤ t ≤ 2 e f(t) = f(t + 2)


L  f ( t )  .
fora desse intervalo. Calcule ℒ

É uma função periódica de período 2. Para calcular sua transformada de


Laplace, é preciso usar o teorema anterior. Com efeito, integrando por partes
duas vezes:
T
1
L  f ( t )  = e − st f ( t ) dt
1 − e − sT ∫0

2
1
1 − e −2 s ∫0
= e − st t 2 dt

=
1
− +
(
 4 e −2 s 2 1 − e −2 s − 2 se −2 s ) 
1 − e −2 s s s3 
 

=
1  4 e −2 s 4 e −2 s 2 1 − e
− − 2 +
−2 s
( ) 

1 − e −2 s  s s s3 
 
2 4 (1 + s ) e
−2 s

= 3− .
s s2
137
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Note que se f(t) não fosse periódica, ou seja, se fosse t2 em todo intervalo
2
0, ∞ ) , sua transformada de Laplace seria ℒ
L  f ( t )  = 3 . Observe que a
s
transformada que calculamos é a de t2, sem nenhuma restrição de periodicidade
mais uma correção por conta da periodicidade do problema.

Já sabemos que a função seno é periódica, de período 2π . É possível


utilizar o teorema para calcular a transformada de Laplace de f(t) = sen(at), com

a∈R
ℝ . De fato, note que, no caso, o período da função é .
a

1 a
L sen ( at )  =
ℒ 2π s ∫e
− st
sen ( at ) dt

1− e a 0

 −
2π s

=
1  a − ae a 
2π s  s2 + a 2 
1− e

a  
 
a
= .
s + a2
2

No próximo tópico, abordaremos as técnicas de derivação de uma


transformada e a transformada de uma integral e suas consequências.

138
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem três propriedades operacionais, a saber:

ᵒ translação no eixo-s:

L  e at f ( t=
ℒ ) F ( s − a ) .

ᵒ translação no eixo-t:

L  f ( t − a ) ua ( t )  =
ℒ e − as F ( s ) .

ᵒ transformada de uma função periódica:

T
1
L  f ( t )  =
ℒ − sT ∫
e − st f ( t ) dt.
1− e 0

139
AUTOATIVIDADE

1 Escreva um resumo das propriedades operacionais da transformada de


Laplace.

e 3s
2 Qual é a transformada inversa de Laplace de F ( s ) = ?
s+1

a) ( ) f ( t ) = e ( )u−3 ( t ) .
− t+3

b) ( ) f ( t ) = e ( )u3 ( t ) .
t+3

c) ( ) f ( t ) = 3e ( )u−1 ( t ) .
− t +1

d) ( ) f ( t ) = −3e ( )u1 ( t ) .
t +1

3 Quais das seguintes afirmações são falsas?


s−1
L  e t + 3 cos ( 3t )  =
I- ℒ .
( s − 1)
2
+9
se − s
L cos ( t − 1) u1 ( t )  =
II- ℒ .
s2 + 1
1 120 360 540 540 405 243
L  e t ( sent ) + ( t − 3 ) = 
5
III- ℒ  + − + − + − .
 ( s − 1) + 1 ( s − 1) ( s − 1) ( s − 1) ( s − 1) ( s − 1) − 1s
2 6 5 4 3 2

a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) II e III.

140
UNIDADE 2
TÓPICO 4
DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E
TRANSFORMADA DA INTEGRAL

1 INTRODUÇÃO
Iniciaremos este tópico tratando da derivação da transformada. Esse
assunto é particularmente importante, pois ajudará você a compreender qual é
a transformada de uma função tn f(x). Em seguida, trataremos do que chamamos
de transformada da integral, mas, para entender melhor esse conteúdo e seus
resultados, será necessário que você se familiarize com a definição de convolução,
que será apresentada de forma clara e objetiva.

2 DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA
Vamos, inicialmente, assumir que F ( s ) = ℒ
L  f ( t )  existe. Então:

d d
ds
F ( s) =
ds 
ℒ {
L  f ( t )  }

d
= ∫e − st f ( t ) dt
ds 0

∂ − st
=∫  e f ( t )  dt
0
∂s  

− ∫e − st tf ( t ) dt =
= L tf ( t )  .
−ℒ
0

Portanto, concluímos que:

d
ℒ tf ( t )  = −
L F ( s) . (5)
ds

A segunda derivada em relação à s pode ser calculada a partir da primeira


derivada de forma recursiva. Com efeito:

ℒ t f ( t=
) Lℒ t ⋅ tf ( t ) .
2
L

141
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Contudo, já sabemos calcular transformada de um produto de t por uma


função, equação (5). Assim:

d d  d  d2
ℒ t 2 f ( t )  =
L L t ⋅ tf ( t )  =
ℒ − ℒ L tf ( t )  =
− − L ℒ  f ( t )   =2 F ( s ) .
ds ds  ds  ds

Novamente, se calcularmos a terceira derivada da transformada utilizando


as fórmulas da primeira e da segunda, chegaremos a:

d3
3
F ( s ) = −ℒ
L t 3 f ( t )  .
ds

Assim, de modo geral, podemos calcular qualquer derivada em relação à


s de qualquer função transformada. Esse fato pode ser demonstrado utilizando
indução.

Teorema 7 (Derivada da transformada): sejam f(t) uma função admissível


e F ( s) = ℒ
L  f ( t )  . Então, para n∈ ℕ
N:

dn
F ( s) = ( −1) L t n f ( t )  .
n

dsn

Exemplo 30: calcule Lℒ t cos ( at )  .

s
No exemplo, temos f(t) = cos(at), logo, F ( s ) = e n = 1. Assim,
s + a2 2

substituindo na fórmula apresentada no Teorema (7), temos:

d
F ( s) = − ℒ
L t cos ( at ) 
dx

ou seja

d  s  s2 − a 2
L t cos ( at )  =
ℒ −  2 2 = .
dx  s + a 
(s )
2
2
+ a2

NOTA

Observe que o último resultado é o mesmo apresentado no exemplo (19).

142
TÓPICO 4 | DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA DA INTEGRAL

Podemos utilizar o teorema da transformada da derivada para o cálculo


de integrais impróprias.


Exemplo 31: calcule ∫t sen te − t dt.
0

Observe que, se chamamos f(t) = sen(t) e F ( s ) = ℒ


L  f ( t )  , então:

∫t sen te
− st
L  tf ( t )  .
dt = ℒ
0

Porém, pelo teorema da derivada da transformada:

d
ℒ  tf ( t )  = −
L F ( s)
ds

contudo

1
F ( s) = 2
s +1

assim


d 1  2s
∫t sen te
− st
dt =
−  2  =
0
ds  s + 1  s2 + 1 2
( )
Porém, quando s = 1, portanto:

∞ ∞
2s 1
∫t =
sen te − t dt ∫t sen=
− st
te dt = .
( )2
2
0 0 s =1 s2 + 1
s =1

Essa integral pode ser resolvida utilizando técnicas de integração padrão.


Primeiramente, transforma-se a integral imprópria em um limite, posteriormente,
calcula-se a integral definida utilizando substituição e integração por partes para,
ao final, calcular o limite.

3 TRANSFORMADA DA INTEGRAL
Assim como explicado na introdução deste tópico, é importante
entendermos, primeiramente, o que é convolução. Logo, apresentamos a seguinte
definição:
143
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Definição 4: se duas funções f e g são contínuas por partes num intervalo


0, ∞ ) , então, a operação de convolução é dada pela integral:
t

(=
f * g )( t ) ∫ f (τ ) g ( t − τ ) dτ .
0

Observe que a convolução é calculada como uma integral em τ e, portanto,


deve ser uma função de t, assim como as funções f e g.

Exemplo 32: calcule a convolução entre as funções f(t) = et e g(t) = cos t.

É dada por:

( f * g )( t ) =∫eτ cos ( t − τ ) dτ =21 e t 1 1


+ sen ( t ) − cos ( t ) .
2 2
0

Uma propriedade importante da operação de convolução é que ela


é comutativa, ou seja, f * g = g * f . Podemos mostrar que essa propriedade
procede, fazendo uma simples mudança de variável na integral que define a
convolução. Ou seja, sabemos que:

(=
f * g )( t ) ∫ f (τ ) g ( t − τ ) dτ .
0

Fazendo β = t −τ , temos que dτ = −dβ . Quando


τ → 0, β → t e τ → t , β → 0. Assim, a integral fica:
0 t
−∫ f (t − β ) g ( β =
) dβ ∫g ( β ) f ( t − β =
) dβ ( g * f )( t ) .
t 0

Uma vez entendida a operação de convolução, você está preparado para


entender o Teorema da Convolução, que apresentaremos a seguir.

Teorema 8 (Convolução): se f(t) e g(t) são contínuas por partes em 0, ∞ ) e


são de ordem exponencial, então:

L ( f * g )( t )  ℒ

= L= f ( t )  ℒ
L  g ( t )  F ( s ) G ( s ) .

Demonstração: Sabemos que



F ( s) ℒ
= L= f ( t )  ∫e
− sτ
f (τ ) dτ
0

G ( s) ℒ
= L= g ( t )  ∫e
− sβ
g ( β ) dβ
0

144
TÓPICO 4 | DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA DA INTEGRAL

então
∞  ∞ 
F ( s ) G ( s ) =  ∫e − sτ f (τ ) dτ   ∫e − sβ g ( β ) dβ 
  
0  0 
∞∞
= ∫∫e ( ) f (τ ) g ( β ) dτ dβ
−s τ +β

00
∞ ∞
= ∫ f (τ ) dτ ∫e ( ) g ( β ) dβ .
−s τ +β

0 0

τ + β e dt =
Fixando τ , fazemos t = dβ , então:

∞ ∞
F ( s) G ( s)
= ∫ f (τ ) dτ ∫e g ( t − τ ) dt
− st

0 τ

Onde f e g são contínuas por partes em 0, ∞ ) e de ordem exponencial,


então, é possível trocar a ordem de integração. Assim:
∞ t
F ( s) G ( s)
= ∫e dt ∫ f (τ ) g ( t − τ ) dτ
− st

0 0


− st 
t

=∫0e ∫0 f (τ ) g ( t − τ ) dτ  dt =ℒL  f * g  .
 

t 
Exemplo 33: calcule Lℒ  ∫e t cos ( t − τ ) dτ  .
0 
Segundo o teorema da convolução, a transformada de Laplace de duas
funções é a multiplicação:

t 
ℒ  ∫e t cos ( t − τ ) d=
L L  e t  .L
τ ℒ ℒ cos t 
0 
1 s s
= = . 2 .
s − 1 s + 1 ( s − 1) s 2 + 1 ( )
Podemos também usar o Teorema da Convolução para o encontro da
transformada de Laplace inversa do produto de duas transformadas de Laplace,
ou seja:

L −1  F ( s ) G ( s )  = f * g .

145
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

 1 
Exemplo 34: calcule ℒ
L −1  .
 ( s − a )2 
 
1
( s ) G=
Vamos dizer que F= ( s) s−a
( s ) g=
logo, f= ( s ) e at . Assim:

 1  t
L −1   = e aτ e a(t −τ ) dτ
 ( s − a )  ∫0
ℒ 2
 
t t

∫=
e dτ ∫dτ te .
at at at
= e=
0 0

O teorema da convolução pode ser utilizado para deduzirmos uma


fórmula para a transformada de uma integral. Suponha, agora, que g(t) = 1 e,
1
portanto, G ( s ) = . Seja f uma função admissível arbitrária, pelo teorema da
s
convolução, temos:

t  1
L ( f * g )( t )  =
ℒ F ( s) G ( s) ⇒ ℒ
L  ∫ f (τ ) dτ  =F ( s ) .
0  s

Resumiremos esse resultado em um teorema.

Teorema 9 (Transformada da Integral): sejam f uma função admissível


arbitrária e F ( s ) = ℒ
L  f ( t )  . Então, vale a seguinte identidade

t  1
L  ∫ f (τ ) dτ  = F ( s ) .
ℒ (6)
0  s

Podemos, ainda, ver esse resultado como uma forma de utilizar integração
para o cálculo de transformadas inversas de Laplace:

t
1 
∫ f (τ ) dτ = ℒL  s F ( s ) .
−1

0  

t 
Exemplo 35: calcule L
ℒ  ∫e −τ cosτ dτ  .
0 
Seguindo a equação (6) do teorema da transformada da integral, temos
que:

t  1
L  ∫e −τ cosτ dτ  = ℒ
ℒ L  e − t cos t  .
0 s 
146
TÓPICO 4 | DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA DA INTEGRAL

L  e − t cos t  , usamos a propriedade de translação no


Para o cálculo de ℒ
eixo-s, pois queremos encontrar a transformada de uma função que é o produto
de uma função exponencial por uma função admissível. Logo:

s+1
L  e − t cos t  =
ℒ .
( s + 1)
2
+1

Portanto, a transformada de Laplace procurada é:

 t −τ  1 s+1
L  ∫e cosτ dτ  =
ℒ .
 s ( s + 1) + 1
2
0

  1
Exemplo 36: calcule ℒ
L −1  .
2
(
s s +1 
 
2
)
Note que podemos reescrever a expressão:

1 1 1 
L −1 
ℒ .
 s s ( s 2 + 1) 
 

1 1
Definindo, F ( s ) = , temos:
(
s s2 + 1 )
1 1   1  −1  s 
f (t ) =
L −1 
ℒ = L  2
L −1   − ℒ
ℒ =1 − cos ( t ) .
 (
 s s2 + 1 ) 
  s  s +1
 ( ) 

Assim, pelo teorema da transformada da integral, obtemos:

  t
1
(1 − cosτ ) dτ =
 s2 s2 + 1  ∫0
L −1 
ℒ = t − sent.
 (  )

4 DELTA DE DIRAC
Em problemas aplicados, existe a necessidade de trabalharmos com
fenômenos de natureza impulsiva, ou seja, um fenômeno de alta magnitude que
ocorre por um curto período de tempo. Como exemplo, podemos citar um sistema
massa-mola que está em repouso e, após um peteleco (força externa impulsiva),
apresenta uma evolução temporal.

147
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Um modelo inicial para descrever o fenômeno é a função impulso unitário.


Essa função é por partes, e tem a seguinte forma:

 0, 0 ≤ t < t0 − a

1
δ a (t =
− t0 )  , t0 − a ≤ t < t0 + a .
 2a
 0, t ≥ t0 + a

A função descreve um impulso ao redor tempo t0. Observe que, com a → ∞, a


função pulso se torna mais localizada ao redor de t0 e com maior magnitude. Ademais,
a função impulso unitário apresenta outra propriedade, a saber:

∞ t0 + a
1
∫ δ ( t − t ) dt= ∫
−∞
a 0
t0 − a
2a
= 1.
dt

O fato justifica a nomenclatura unitário.

Contudo, estamos interessados em modelar uma fonte impulsiva. Assim,


um modelo razoável surge quando tomamos o limite a → ∞ para a função
impulso unitário. Logo, define-se o chamado delta de Dirac:

δ ( t −=
t0 ) lim δ a ( t − t0 ) .
a →0

A “função” delta de Dirac representa uma fonte impulsiva localizada


em t0 e de magnitude infinita. Cabe dizer aqui que o delta de Dirac não é uma
função, mas uma distribuição ou função generalizada. Para efeitos de utilização,
isso não representa um problema, já que suas propriedades estão bem definidas
e são de fácil utilização. Além disso, como a integral de δ a ( t − t0 ) em toda a reta
é sempre 1, para qualquer a, o delta goza de mesma propriedade (consequência
das propriedades de limites), ou seja:

∫ δ ( t − t ) dt =
−∞
0
1.


Note que a função delta de Dirac não satisfaz as condições para a
transformada de Laplace existir. Contudo, mesmo assim, sua transformada de
Laplace pode ser definida formalmente. Como a função é definida como um
limite de funções impulso unitário, é natural que sua transformada de Laplace
seja definida de forma semelhante. Com efeito:

148
TÓPICO 4 | DERIVAÇÃO DA TRANSFORMADA E TRANSFORMADA DA INTEGRAL

1 
L δ ( t −
ℒ = t0 )  lim ℒ
L δ a ( t − t0 )  lim
L u ( t ) − ut0 + a ( t ) 
ℒ=
a →0 2 a  t0 − a a →0

1 e ( 0 ) e ( 0 ) 
− s t −a −s t +a

= lim  − 
a →0 2 a
 s s 
e − st0  e as e − as   e as − e − as 
= lim  −=  lim e − st0  .
a →0 2a  s s  a → 0
 2 as 

0
O limite é do tipo , portanto, podemos aplicar a regra de L’Hôspital. De
0
fato:

st0  e − e  − st0  ae + ae  − st0


as − as as − as
L δ ( t − t0 )  lim e −=
=
ℒ   lim e =  e
a →0
 2 as  a→0  2a 

resumidamente, a transformada de Laplace da função delta de Dirac é para t0 > 0:

L δ ( t − t0 )  =
ℒ e 0 − st

o resultado pode ser estendido para t0 = 0 em um processo de limite, tomando


t0 → 0 pela direita, obtendo:

L=
ℒ δ ( t )  lim
= e − st0 1.
t0 → 0

A função delta de Dirac possui uma propriedade de extrema importância


para sua aplicação em problemas reais, chamada propriedade da filtragem.

Teorema (Propriedade da Filtragem): seja f uma função contínua


qualquer, então:

∫ f ( t ) δ ( t − t ) dt =
−∞
0
f (t ) . 0


Demonstração: de forma análoga a todas as definições que envolvem a
função delta, temos:

∞ ∞

∫ f ( t ) δ ( t=
−∞
− t0 ) dt lim
a →0
−∞
∫ f ( t ) δ ( t − t ) dt .
a 0

149
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Para o cálculo da integral, utiliza-se o teorema de valor médio para


integrais. Portanto:

∞ t0 + a
1 1
∫ f ( t ) δ a ( t − t0 ) dt = ∫ 2a
dt =
2a
( )
⋅ 2a ⋅ f t * = f t * ( )
−∞ t0 − a

t0 − a < t * < t0 + a. Pelo teorema do confronto, t * → t0 quando a → 0. Como f é


contínua:

∞ ∞

∫ f ( t ) δ ( t=
−∞
− t0 ) dt lim
a →0 ∫ f ( t ) δ ( t − t ) dt
−∞
a 0

= lim f t *
a →0
( )
lim t *
= f= f ( t0 ) . ( a →0
)
A principal aplicação da função delta de Dirac é em equações diferenciais,
tema do próximo tópico. Apresentaremos um exemplo de resolução de equação
diferencial ordinária com termo não homogêneo impulsivo. Contudo, veremos
com mais cuidado o efeito da função delta de Dirac na resolução de um problema
de oscilação.

150
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• A n-ésima derivada da transformada é dada por:

dn
F ( s) = ( −1) L t n f ( t )  .
n

dsn

• A convolução entre duas funções é dada por:

(=
f * g )( t ) ∫ f (τ ) g ( t − τ ) dτ .
0

• A transformada da integral é dada pela seguinte identidade:

t  1
ℒ  ∫ f (τ ) dτ  = F ( s ) .
L
0  s

• O delta de Dirac, muito usado em aplicações na Física, é dado por:

δ ( t −=
t0 ) lim δ a ( t − t0 ) .
a →0

Ele goza da seguinte propriedade:

∫ f ( t ) δ ( t − t ) dt =
−∞
0
f (t ) . 0

151
AUTOATIVIDADE

1 Escreva um resumo sobre a derivação da transformada de Laplace e da


transformada da integral de uma função.

2 Qual é a transformada de Laplace de f(t) = t3 et+1?


6
a) ( ) F ( s ) = .
( s − 1)
4

6
b) ( ) F ( s ) = .
( s + 1)
4

6e
c) ( ) F ( s ) = .
( s − 1)
4

6e
d) ( ) F ( s ) = .
( s − 1)
3

3 Quais das seguintes afirmações não são verdadeiras?

 t 3t  1
L  ∫te dτ  =
I- ℒ .
 s ( s − 3)
2
0

II- ∫ sen (π t ) δ ( t − 2 ) dt =
1.
−∞

s
L  e t *sen2t  =
III- ℒ .
(
2 ( s − 1) s 2 + 4 )
a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) II e III.

152
UNIDADE 2 TÓPICO 5
RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, utilizaremos o estudo até aqui desenvolvido para resolver
equações diferenciais ordinárias. Faremos uma série de exemplos, começando
com problemas mais simples até problemas mais sofisticados. O objetivo é
entender como resolver equações diferenciais ordinárias utilizando a metodologia
da transformada de Laplace.

2 METODOLOGIA

Antes de iniciarmos o estudo dos exemplos, faremos uma descrição
teórica da metodologia da transformada de Laplace para a resolução de equações
diferenciais. É descrita pelos seguintes passos:

1. Considere um problema de valor inicial.


2. Aplique a transformada de Laplace em ambos os lados da equação diferencial.
Utilize a linearidade da transformada e a transformada da derivada para gerar
uma equação algébrica no domínio de s.
3. Resolva o problema algébrico.
4. Aplique a transformada inversa de Laplace na solução do problema algébrico.

Essa metodologia pode parecer um pouco abstrata, porém, com os
exemplos a seguir, a ideia por ficará clara. Ademais, utilizaremos todas as
propriedades estudadas anteriormente. Para isso, forneceremos, ao final da
unidade, um resumo, para facilitar os cálculos de transformadas de Laplace,
transformadas inversas de Laplace e propriedades da transformada.

3 EXEMPLOS
Exemplo 37: resolva o seguinte PVI:

 y′′ − 4 y′ = 6 e 3t − e − t
 .
 y ( 0 ) = 1, y′ ( 0 ) = −1

153
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Seguiremos a metodologia da transformada de Laplace. O primeiro passo é


considerar um problema de valor inicial para ser resolvido. A seguir, aplicaremos
a transformada de Laplace em ambos os lados da equação diferencial. Utilize a
linearidade da transformada e a transformada da derivada. Portanto:

L 6 e 3t − e − t  .
L  y′′ − 4 y′ =ℒ

Pela linearidade da transformada de Laplace, obtemos:

L  y′′ − 4=
ℒ L  e 3t  − ℒ
ℒ  y′ 6ℒ
L L  e − t  . (7)

Para prosseguir, é preciso calcular as transformadas de Laplace. Para


as do lado esquerdo da equação, utilizaremos as fórmulas da transformada da
derivada. Definindo Y ( s ) = ℒ
L  y ( t )  , temos:

L
ℒ= y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s2Y ( s ) − s + 1.
L
ℒ=  y′ sY ( s ) − y=( 0 ) sY ( s ) − 1.
1
ℒ  e 3t  =
L .
s−3
1
ℒ  e  =
−t
L .
s+1

Substituindo em (7), obtemos uma equação algébrica em Y(s):

6 1
s2Y ( s ) − s + 1 − 4  sY ( s ) − 1=
 −
s−3 s+1
5s + 9
s2Y ( s ) − 4sY ( s ) − s + 5 =
( s − 3 )( s + 1)
5s + 9
(s 2
= )
− 4s Y ( s )
( s − 3 )( s + 1)
+s−5

s3 − 2s2 + 2s + 9
= − 5.
( s − 3 )( s + 1)
A solução para a equação algébrica é:

s3 − 2s2 + 2s + 9 5 s3 − 7 s2 + 12 s + 24
=Y ( s) =− .
( s − 3 )( s + 1) s ( s − 4 ) s ( s − 4 ) s ( s − 3 )( s + 1)( s − 4 )

154
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

Assim, terminamos o passo 3 da metodologia. O passo 4 consiste em


calcular a transformada inversa de Laplace de Y(s) para obter y(t). Para isso,
precisamos, inicialmente, aplicar a técnica de frações parciais para escrever Y(s)
como uma soma de frações mais simples. De fato:

s3 − 7 s2 + 12 s + 24 A B C D
= + + +
s ( s − 3 )( s + 1)( s − 4 ) s s − 3 s + 1 s − 4
A ( s − 3 )( s + 1)( s − 4 ) + Bs ( s + 1)( s − 4 ) + Cs ( s − 3 )( s − 4 ) + Ds ( s − 3 )( s + 1)
=
s ( s − 3 )( s + 1)( s − 4 )

=
( A + B + C + D ) s + ( −6 A − 3B − 7C − 2 D ) s + ( 5 A − 4 B + 12C − 3D ) s + 12 A
3 2

s ( s − 3 )( s + 1)( s − 4 )

portanto, para encontrar os valores das constantes A, B, C e D, é preciso resolver


o seguinte sistema de equações lineares:

 A+ B+C + D = 1

−6 A − 3 B − 7C − 2 D = −7
 ,
 5 A − 4 B + 12C − 3 D =12
 12 A = 24

as soluções são A = 2, B = –2, C = –1/5 e D = 6/5. Assim:

2 2 1 6
Y ( s) =− + − + .
s − 3 s 5 ( s + 1) 5 ( s − 4 )

Portanto, pela linearidade da transformada inversa:

 2 2 1 6 
y ( t )= ℒ
L −1 Y ( s ) = ℒ
L −1  − + − + 
 s − 3 s 5 ( s + 1) 5 ( s − 4 ) 
 2   2  −1  1   6 
=L −1 
−ℒ  L −1   − ℒ
+ℒ L  L −1 
 +ℒ 
s − 3 s  5 ( s + 1)   5 ( s − 4 ) 
1 6
=−2 e 3t + 2 − e − t + e 4 t.
5 5

Exemplo 38: resolva o seguinte problema de valor inicial:

 y′′ + y =2sen 2t


( )
.
 y ( 0 ) 10
= = y′ ( 0 ) 0

155
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Para resolver esse PVI utilizando a metodologia da transformada de


Laplace, é preciso aplicar a transformada em ambos os lados da equação, obtendo:

L  2sen
L  y′′ + y  =ℒ

 ( 2t ) .
Pela linearidade da transformada de Laplace:

L  y′′ + ℒ
ℒ L sen
L  y  = 2ℒ
 ( 2t ) .
Utilizando a fórmula da transformada de segunda derivada e a notação
Y ( s) = ℒ
L  y ( t )  , temos:

L=
ℒ  y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s2Y ( s ) − 10 s

concluímos que:

L sen

 ( 2t ) = s 2
2
+2
.

Portanto:

L  y′′ + ℒ
=
ℒ L  y  L sen
2ℒ
 ( 2t ) ⇒ s Y =
( s ) − 10s + Y ( s )
2
2
2
s +2
2
(
⇒ s2 + 1 Y ( s=
) s +2
)
+ 10 s 2

2 10 s
⇒ Y ( s) = 2 + .
s + 2 s2 + 1 s + 1
2
( )( )

Aplicando a técnica de frações parciais para a primeira fração à direita,


obtemos:

2 As + B Cs + D
= + 2
( )(
s2 + 2 s2 + 1 ) s2 + 2 s +1

( As + B ) ( s 2
)
+ 1 + ( Cs + D ) s2 + 2 ( )
=
(s 2
+ 2 s +1)( 2
)
=
( A + C ) s + ( B + D ) s + ( A + 2C ) s + ( B + 2 D )
3 2

(s 2
+ 2 s2 + 1 )( )

156
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

portanto, para encontrar os valores das constantes A, B, C e D, é preciso resolver


o seguinte sistema de equações lineares:

 A+C = 0

 B+D = 0
 ,
 A + 2C = 0
 B + 2 D =2

as soluções são A = 2, B = –2, C = –1/5 e D = 6/5. Assim:

2 2 10 s
Y ( s) = 2
− 2 + 2 .
s +1 s + 2 s +1

Portanto, pela linearidade da transformada inversa:

s 
y (=
t) ℒ ) ℒL −1  s2 2+ 1 − s2 2+ 2 + s10
L −1 Y ( s= 2
+ 1 

 1  −1  2   s 
L −1  2
= 2ℒ  −ℒL  2  L −1  2
+ 10ℒ 
 s + 1 s + 2  s + 1
2sen ( t ) − 2sen
= ( 2t ) + 10 cos (t ) .
Exemplo 39: resolva o PVI a seguir.

 2 y′′′ + 3 y′′ − 3 y′ − 2 y = e −t

 y ( 0 ) 0,=
= y′ ( 0 ) 0 e= y′′ ( 0 ) 1

Resolveremos esse PVI utilizando a transformada de Laplace. Para tanto,


apliquemos a transformada em ambos os lados da equação diferencial, obtendo:

ℒ  e − t  .
L  2 y′′′ + 3 y′′ − 3 y′ − 2 y  =L

Pela linearidade da transformada de Laplace, temos:

ℒ  y '''  + 3L
2L ℒ  y′ − 2L
ℒ  y ''  − 3L L  e − t  .
ℒ  y  =ℒ

Pela fórmula da transformada da derivada e definindo Y ( s ) = L


ℒ  y ( t )  ,
obtemos:

157
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L
ℒ= y′′′ s2Y ( s ) − s2 y ( 0 ) − sy′ ( 0 ) − y=
′′ ( 0 ) s3Y ( s ) − 1.
L
ℒ= y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s 2Y ( s ) .
L
ℒ=  y′ sY ( s ) − y=( 0 ) sY ( s ) .
1
ℒ  e − t  =
L .
s+1

Assim:

1
ℒ  y′′′ + 3ℒ
2L ℒ  y′ − 2ℒ
L  y′′ − 3L L  e − t  ⇒ 2  s3Y ( s ) − 1 + 3s2Y ( s ) − 3sY ( s ) − 2=
L  y  ℒ
= Y ( s)
s+1
1
⇒ 2 s Y ( s ) + 3s Y ( s ) − 3sY ( s ) − 2Y ( s ) =
3 2
+2
s+1
2s + 3
( )
⇒ 2 s 3 + 3s 2 − 3s − 2 Y ( s ) =
s+1
2s + 3
⇒ Y ( s) =
( )
2 s 3 + 3 s 2 − 3 s − 2 ( s + 1)
2s + 3
⇒ Y ( s) = .
( s + 1)( s − 1)( 2s + 1)( s + 2 )
Para finalizar, é preciso calcular a transformada inversa de Laplace de
Y(s). Porém, antes disso, aplicar o método das frações parciais para transformar
Y(s) em uma soma de frações. Com efeito:

2s + 3 A B C D
= + + +
( s + 1)( s − 1)( 2s + 1)( s + 2 ) s + 1 s − 1 2s + 1 s + 2
A ( s − 1)( 2 s + 1)( s + 2 ) + B ( s + 1)( 2 s + 1)( s + 2 ) + C ( s + 1)( s − 1)( s + 2 ) + D ( s + 1)( s − 1)( 2 s + 1)
=
( s + 1)( s − 1)( 2s + 1)( s + 2 )
=
( 2 A + 2 B + C + 2 D ) s + ( 3 A + 7 B + 2C + D ) s + ( −3 A + 7 B − C − 2 D ) s + ( −2 A + 2 B − 2C − D ) .
3 2

( s + 1)( s − 1)( 2s + 1)( s + 2 )

Portanto, para encontrar os valores das constantes A, B, C e D, é preciso


resolver o seguinte sistema de equações lineares:

 2 A + 2B + C + 2D = 0

 3 A + 7 B + 2C + D =0
 ,
−3 A + 7 B − C − 2 D =2
−2 A + 2 B − 2C − D =3

as soluções são A = 1/2, B = 5/18, C = –16/9 e D = 1/9. Assim:

158
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

1 1 5 1 8 1 1 1
Y ( s) = + − + .
2 s + 1 18 s − 1 9 1 9 s+2
s+
2

Logo, pela linearidade da transformada inversa:

 
1 1 5 1 8 1 1 1 
y ( t=
) ℒL Y ( s )= ℒL  2 s + 1 + 18 s − 1 − 9 1 + 9 s + 2 
−1 −1

 s+ 
 2 

 
1 −1  1  5 −1  1  8 −1  1  1 −1  1 
= ℒL  + ℒ L  − ℒL  + ℒL  
2  s + 1  18  s − 1 9 s + 1  9 s + 2
 2 

1 5 8 −t 1
= e − t + e t − e 2 + e −2 t
2 18 9 9

Exemplo 40: encontre a solução do problema de valor inicial dado.

 y′′ − 4 y′ + 4 y = t 3 e 2t
 .
= y ( 0 ) 0,= y′ ( 0 ) 0

Para resolver esse PVI utilizando a metodologia da transformada de


Laplace, é preciso, inicialmente, calcular em ambos os lados da equação. Com
efeito:

L t 3 e 2 t  .
L  y′′ − 4 y′ + 4 y  =ℒ

Pela linearidade da transformada de Laplace, obtemos:

ℒ  y′′ − 4L
L ℒ  y′ + 4L L t 3 e 2 t  .
ℒ  y  =ℒ

Pela fórmula da transformada da derivada e definindo Y ( s ) = ℒ


L  y ( t )  ,
obtemos:

L=
ℒ  y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s 2Y ( s ) .

L=
ℒ  y′ sY ( s ) − y=
( 0 ) sY ( s ) .

159
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

ℒ t 3 e 2 t  . Para esse fim, utilizaremos a propriedade da


Falta calcular L
translação no eixo-s:

ℒ  e f ( t=
) F ( s − a ) .
at
L

ℒ t e  . concluímos que f(t) = t3 e a = 2.


3 2t
Comparando a equação com L
Logo, como:

3! 6
L t 3=
ℒ 
 =
s4 s4
então:

6
L t 3 e 2 t  =

(s − 2)
4

portanto
6
L  y′′ − 4ℒ
ℒ L  y′ + = L t 3 e 2 t  ⇒ s2Y ( s ) − 4 sY ( s ) +=
ℒ  y  ℒ
4L 4Y ( s )
(s − 2)
4

6
(
⇒ s2 − 4s + 4 Y ( s ) = )
(s − 2)
4

6 6
⇒ Y ( s) = =
2
(
s − 4s + 4 ( s − 2 ))4
(s − 2) (s − 2)
2 4

6
⇒ Y ( s) = 6 .
(s − 2)

A solução do PVI procurada é y ( t ) = ℒ L −1 Y ( s )  . Para o cálculo da


transformada inversa, utilizamos, novamente, a propriedade translação no eixo-s,
assim:

 6  t 5 e 2t
=y (t ) L
ℒ=−1
Y ( s )  L
ℒ−1 = 
 ( s − 2 )6  20
 

pois

 1  t5
−1 t5
L
ℒ  6= = .
 s  5! 120

160
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

ℒ t 3 e 2t  utilizando a propriedade de


No exemplo anterior, calculamos L
translação no eixo-s. Contudo, poderíamos ter utilizado a propriedade derivada
da transformada:

dn
L t n f ( t )  = ( −1) L  f ( t ) 
n
ℒ ℒ
dsn 

portanto

3
3 d d3  1  6
 ( ) ds3 ℒ  
L
ℒ t 3 2t
e  =−1 L  e 2t
 =
− 3   = .
ds  s − 2  ( s − 2 )4

NOTA

Vale ressaltar que as propriedades de translação no eixo-s e derivada da


transformada não são equivalentes. A constatação é um caso particular, pois a função é da
forma tn eat, permitindo que ambas as propriedades sejam utilizadas.

Exemplo 41: resolva o PVI:

e t cos ( t )
 y′′ − y′ =
 .
 y ( 0 ) 0,=
= y′ ( 0 ) 0

Aplicando a transformada de Laplace em ambos os lados da equação


diferencial e, utilizando a linearidade, temos:

L  y ''  − ℒ
ℒ ℒ  e t cos ( t )  .
L  y′ = L (8)

Para o cálculo das transformadas de Laplace das derivadas, utilizaremos


a fórmula desenvolvida, além das condições iniciais. Com efeito:

L
ℒ= y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s 2Y ( s ) ,

L=
ℒ  y′ sY ( s ) − y=
( 0 ) sY ( s ) ,
Y ( s) = L
ℒ  y ( t ) .

161
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L  e t cos ( t )  , utilizaremos a propriedade de translação


Já para o cálculo de ℒ
no eixo-s para as transformadas de Laplace. A transformada que queremos
calcular é o produto de uma função admissível por uma função exponencial.
Portanto:

s−1
ℒ  e t cos ( t )  =
L .
( s − 1)
2
+1

Logo, a equação que envolve a transformada de Laplace (8) se torna:

s−1
s2Y ( s ) + sY ( s ) =2 .
( s − 1) + 1
Isolando Y(s), obtemos:

s −1 1
=Y ( s) = .
( )
s2 − s ( s − 1) + 1 s s − 2 s + 2

2


2
( )

Para calcularmos a transformada inversa de Y(s) e, assim, obtermos a


solução procurada do PVI, precisamos aplicar o método das frações parciais
para escrever Y(s) como uma soma de frações. Com efeito, como s2 + 2s + 2 é um
polinômio de segunda ordem irredutível:

1 A Bs + C
= + 2
( 2
s s − 2s + 2 ) s s − 2s + 2

=
( )
A s2 − 2 s + 2 + s ( Bs + C )
( 2
s s − 2s + 2 )
=
( A + B ) s + ( −2 A + C ) s + 2 A .
2

(
s s2 − 2s + 2 )
Portanto, para encontrar os coeficientes A, B e C, é preciso resolver os
seguintes sistemas de equações lineares:

 A+B= 0

−2 A + C = 0,
 2A = 1

as soluções são A = 1/2, B = –1/2 e C = –1. Assim:

162
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

1 1 2−s 11 1 s −1 1 1
Y ( s) = = + = − +
(2
s s − 2s + 2 )
2s 2 s − 2s + 2
2
( 2
)
2 s 2 ( s − 1) + 1 2 ( s − 1) 2 + 1

logo, utilizando a linearidade da transformada inversa de Laplace e a propriedade


de translação no eixo-s, obtemos:

1 −1  1  1 −1  s − 1  1 −1  1 
y (t ) =
ℒ−1 Y ( s )  =
L L  − ℒ
ℒ L + L
ℒ 
2 s 2  ( s − 1) 2 + 1  2  ( s − 1) 2 + 1 
   
1 1 t 1
=− e cos ( t ) + e t sin ( t ) .
2 2 2

Exemplo 42: resolva o PVI:

 y′′ − 5 y′ + 6 y = g (t )
 .
 y ( 0 ) 0,=
= y′ ( 0 ) 1.

0, 0 ≤ t < 1
Sabendo que g t =  () 1, 1 ≤ t
.

A função g(t) é descontínua e pode ser escrita como uma função degrau
unitário deslocada:

0, 0 ≤ t < 1
=g ( t ) = u1 ( t ) .
 1, 1 ≤ t

Aplicando a metodologia da transformada de Laplace, obtemos:

ℒ  y′ + 6L
L  y ''  − 5L
ℒ L  g ( t )  .
ℒ  y  =ℒ

Pela fórmula da transformada da derivada e definindo Y ( s ) = ℒ


L  y ( t )  ,
conclui-se que:

L=
ℒ  y′′ s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y=
′ ( 0 ) s 2Y ( s ) − 1

L
ℒ= y′ sY ( s ) − y=
( 0 ) sY ( s ).
Por outro lado, para o cálculo da transformada de Laplace de g(t),
utilizaremos a propriedade da translação no eixo-t. Com efeito, a citada
propriedade menciona que:

163
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

L  f ( t − a ) ua ( t )  =
ℒ e − as F ( s ) .

Tomando, por comparação, g(t), f(t) = 1 e a = 1, concluímos que:

e−s
L
=
ℒ  g ( t )  ℒ
L=u1 ( t ) 
s

portanto
e−s
ℒ  y′′ − 5ℒ
L L  y′ + = L  g ( t )  ⇒  s2Y ( s ) − 1 − 5  sY ( s )  + 6 =
ℒ  y  ℒ
6L Y ( s ) 
s
e−s
⇒  s2 − 5s + 6  Y ( s ) = +1
s
e−s
⇒ ( s − 2 )( s − 3 )  Y ( s ) =
  +1
s
e−s 1

= Y ( s) + .
s ( s − 2 )( s − 3 ) ( s − 2 )( s − 3 )

Aplicando o método das frações parciais para ambas as frações de Y(s),


temos:

1 1 1 1 1 1   1 1 
Y ( s) e−s 
= − +  + − + 
6 s 2 s − 2 3 s − 3  s − 2 s − 3
1 e−s 1 e−s 1 e−s 1 1
= − + − +
6 s 2 s−2 3 s−3 s−2 s−3

assim

 1 1 2 t −1 1 3 t −1 
y (t ) = ℒ
L −1 Y ( s )  =  − e ( ) + e ( )  u1 ( t ) − e 2 t + e 3t .
6 2 3 

Para o cálculo da transformada inversa de Y(s) das três primeiras frações,


utilizaremos, novamente, a propriedade da translação no eixo-t.

Exemplo 43: resolva o PVI:

 y′ + 2 y = g (t ) ,

 y (0) = 0

t , 0 ≤ t < 1
com g (t ) =  .
 0, 1 ≤ t

164
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

Primeiramente, é preciso escrever a função g(t) como uma função degrau.


De fato:

t , 0 ≤ t < 1
g (=
t)  = t 1 − u1 ( t )  .
 0, 1 ≤ t

Aplicando a metodologia da transformada de Laplace, obtemos:

L  y '  + 2ℒ
ℒ L  g ( t )  .
L  y  =ℒ

Denominando Y ( s ) = ℒ
L  y ( t )  e utilizando o teorema da transformada da
deriva junto com as condições iniciais, temos:

sY ( s ) + 2Y ( s ) =
L  g ( t )  .

L  g ( t )  , utilizamos a propriedade de translação no


Para o cálculo de ℒ
eixo-t, obtendo:

L  g ( t ) = ℒ
ℒ L t − tu1 ( t )  L
ℒ t − ( t − 1) u1 ( t ) − u1 ( t ) 

1 1 1
=2 − e − s 2 − e − s
s s s
1 s+1
= 2
− e−s 2 .
s s

Substituindo esse resultado na equação transformada, obtemos:

1 s+1
sY ( s ) + 2Y ( s ) = 2
− e−s 2
s s

a solução para Y(s) é:

1 s+1
Y ( s)
= − e−s 2 .
s (s + 2)
2
s (s + 2)

Observe que temos dois problemas envolvendo frações parciais para


resolver. Portanto, pelo método das frações parciais, temos:

1 1 1 1 1 1 
Y ( s) =
− + 2+ − e−s  + 2 − .
4s 2s 4 ( s + 2 )  4 s 2 s 4 ( s + 2 ) 

165
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Contudo, pela linearidade da transformada inversa de Laplace e pela


propriedade da translação no eixo-s:

 1 1 1  1 1 1
L −1  − + 2 +
ℒ =− + t + e −2 t .
 4 s 2 s 4 ( s + 2 )  4 2 4

Por outro lado, pelas mesmas razões e, também, utilizando a propriedade


de translação no eixo-t, temos:

 e−s e−s e−s  1 1 1 −2(t −1)


L −1 
ℒ + 2− =  u1 ( t ) + u1 ( t ) ( t − 1) − u1 ( t ) e
 4 s 2 s 4 ( s + 2 )  4 2 4

portanto

1 u (t )
y ( t )= ℒ
L −1  y ( t ) =  −1 + 2t + e −2 t  + 1
 
1 + 2 ( t − 1) − e −2(t −1)  .
4 4  

Exemplo 44: resolva:

 y′ − y = te t sen ( t )
 .
 y (0) = 0

Seguindo a metodologia da transformada de Laplace para a resolução


de equações diferenciais ordinárias, temos, como passo inicial, a aplicação da
transformada de Laplace em ambos os lados, obtendo:

ℒ  y ' − ℒ
L L te t sen ( t )  .
L  y  =ℒ

Denotando Y ( s ) = ℒ
L  y ( t )  . Assim, a transformada da derivada é:

L  y '=
ℒ L  y  − y ( 0=
 sℒ ) sY ( s ) .

Já para o cálculo da transformada de tet sen(t), utilizaremos a regra da


derivada da transformada (não confunda com a transformada da derivada, que
foi aplicada), pois temos que calcular uma transformada de Laplace de uma
função: f(t) = et sen(t) multiplicada por um monômio, no caso, t. A propriedade
menciona que:

dn
F ( s) = ( −1) L t n f ( t ) 
n

dsn

166
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

sendo F ( s ) = ℒ
L  f ( t )  . Para n = 1:

d
F ( s ) = −ℒ
L tf ( t )  .
ds

Por outro lado:

1
=F ( s) L
ℒ= e t sen ( t ) 
 
( s − 1)
2
+1

portanto

d d 1  2 ( s − 1)
L te t sen ( t )  =
ℒ − F ( s) =
−  =
ds ds  ( s − 1) + 1 
( )
2 2
 ( s − 1) + 1
2

logo

2 ( s − 1)
L
ℒ= y′ − ℒ L te t sen ( t )  ⇒ s=
L  y  ℒ Y ( s) − Y ( s)
( ( s − 1) )
2
2
+1

2
⇒ Y (s) = .
( )
2
( )
2
s − 1 + 1

Para encontrar a solução do PVI proposto, é preciso inverter Y(s). Assim:

 
 2 
=y (t ) ℒ
L=−1
Y ( s )  ℒ
L −1  2 
.

 (
 ( s − 1) 2 + 1 ) 

Usando a propriedade de translação no eixo-s, obtemos:

   
 2  t −1  2
y (t ) ℒ
= −1
L  = 2 
eℒ
L =  e t sen ( t ) − t cos ( t )  .
 
( )
 2 2 
 ( s − 1) + 1 

2


 s + 1 
 ( )
Exemplo 45: encontre a solução do seguinte problema de valor inicial:

167
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

 y′′ + 9 y =cos ( 3t )
 .
= y ( 0 ) 2,=
y′ ( 0 ) 5

Resolveremos esse PVI utilizando transformadas de Laplace.

Aplicando a transformada em ambos os lados da equação diferencial,


obtemos:

L  y ''  + 9ℒ
ℒ L cos ( 3t ) 
L  y  =ℒ

portanto

s
 s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y ' ( 0 )  + 9Y ( s ) =
  2
s +9

sendo Y ( s ) = ℒ
L  y ( t )  .

Aplicando as condições iniciais e isolando Y(s), temos:

s 2s + 5 2s 5 s
Y ( s) = + = 2 + 2 + .
(s ) ( )
2 2 2
2
+9 s + 9 s + 9 s + 9 s2 + 9

Para encontrar a solução do PVI, basta calcular a transformada inversa de


Laplace. Portanto:

 
 2s  −1  5  s
y ( t ) =ℒ
L −1 Y ( s )  =ℒ
L −1  2  + L
ℒ   + L
ℒ −1  .
 2 
( )
2
s + 9 s + 9 2
 s + 9 

A última transformada inversa pode ser calculada utilizando a propriedade


da convolução das transformadas de Laplace. Assim:

 
s −1  s 1   s  −1  1  1
L
=
ℒ  −1  ℒ
L= L −1  2 =
 s2 + 9 s2 + 9  ℒ  *ℒ
L  2  cos ( 3t ) * sen ( 3t )
 2 2 

 (
s +9 

 )  s + 9 s + 9 3

contudo

t
1 1 1
cos ( 3t )=
* sen ( 3t ) ∫ cos ( 3τ ) sen =
3 ( t − τ )  dτ tsen ( 3t ) .
3 30 6

168
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

Assim, concluímos que:

5 1
y ( t ) = 2 cos ( 3t ) + sen ( 3t ) + tsen ( 3t ) .
3 6

Exemplo 46: resolva o PVI:

 y′′ + 2 y′ + y= δ ( t − 1)
 .
=y ( 0 ) 0,= y′ ( 0 ) 0

Aplicando a transformada de Laplace em ambos os lados da equação


diferencial, obtemos:

ℒ  y ''  + 2ℒ
L L  y '  + ℒ
L= L δ ( t − 1) 
 y  ℒ

portanto

 s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y ' ( 0 )  + 2  sY ( s ) − y ( 0 )  + Y ( s ) =
e−s
   

sendo Y ( s ) = ℒ
L  y ( t )  .

Aplicando as condições iniciais e isolando Y(s), temos:

1
Y ( s) = e−s .
( s + 1)
2

Portanto, pela propriedade de translação no eixo-t:

 
) ℒL −1 Y ( s )= ℒL −1 e − s 1 2 =
y (t = ( t − 1) e (
− t − 1)
u1 ( t ) .
 ( s + 1) 

Até agora, resolvemos equações diferenciais ordinárias com coeficientes
constantes, porém, a metodologia da transformada de Laplace pode ser utilizada
para encontrar soluções de algumas equações diferenciais ordinárias com
coeficientes não constantes.

Para resolver esses tipos de equação diferencial, é preciso trabalhar com


a metodologia da transformada, mas os problemas transformados não serão
problemas algébricos, mas equações diferenciais ordinárias supostamente mais
simples de resolução.

169
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Exemplo 47: encontre a solução de:

 ty'' − ty '+ y =
''
1

 y ( 0 ) = 1, y′ ( 0 ) = 2

Aplicando a metodologia da transformada no problema de valor inicial,


obtemos:

L ty''  − ℒ
ℒ L ty '  + ℒ
L  y = ℒ
L  2  .

Para o cálculo dos dois primeiros termos do lado esquerdo da equação,


utilizaremos o teorema da derivada da transformada. Portanto, denominando
Y ( s) = ℒ
L  y ( t )  :

d d
ℒ ty''  = −
L ℒ  y´´ = −  s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y′ ( 0 ) 
L
ds ds
d 2
=− s Y ( s) − s − 2
ds  

−2 sY ( s ) − s2Y ′ ( s ) + 1.
=

Por outro lado:

d d
L ty'  = −
ℒ L  y´ = −  sY ( s ) − y ( 0 ) 

ds ds
d
−  sY ( s ) − 1
=
ds
−Y ( s ) − sY ′ ( s ).
=

Substituindo esses dois resultados na equação transformada, obtemos:

1
 −2 sY ( s ) − s2Y ′ ( s ) + 1 −  −Y ( s ) − sY ′ ( s )  + Y ( s ) = .
    s

Reordenando os elementos, temos:

1− s
( −s 2
)
+ s Y ′ ( s ) + ( −2 s + 2 ) Y ( s ) =
s

170
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

contudo

−s2 + s= s ( 1 − s )

−2 s + 2= 2 ( 1 − s )

portanto, de fato, temos:

1
sY ′ ( s ) + 2Y ( s ) = .
s

Assim, através da metodologia, transformamos uma equação de segunda


ordem com coeficientes não constantes que não sabemos resolver em uma
equação diferencial de primeira ordem, ainda com coeficiente não constante, mas
que sabemos resolver, por fator integrante.

Resolveremos, agora, a equação diferencial de primeira ordem. Para o


cálculo do fator integrante, iremos reescrevê-la da seguinte forma:

2 1
Y′ ( s) + Y ( s) = . (9)
s s2

Para essa equação, o fator integrante é:

( s ) e=
∫ ds
µ= s 2 ln s
e= s2.

Portanto, a equação (9) pode ser escrita como:

d
Y ( s ) ⋅ s2  =
ds   1.

A solução da equação pode ser encontrada por simples integração. Com


efeito:

d
Y ( s ) ⋅ s2  =1 ⇒ Y ( s ) ⋅ s2 =s + c
ds  

com c é a constante de integração. Assim:

171
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

1 c
Y ( s )= + .
s s2

Para encontrar a solução do problema de valor inicial, é preciso calcular a


transformada inversa de Laplace de Y(s). Logo:

1 c 
y (t ) =
ℒ −1 Y ( s )  =
L L −1  + 2  =
ℒ 1 + ct.
s s 

Contudo, a solução ainda não é a solução geral do PVI proposto. Note


que não utilizamos todas as condições iniciais do problema. Aparentemente,
utilizamos as duas condições iniciais, mas, voltando ao cálculo de ℒ L ty''''  ,
observe que informação de y´(0) foi descartada durante o processo de derivação.
Já a condição y(0) foi corretamente aplicada na solução do problema. Portanto, a
condição y´(0) fornecerá o valor da constante de integração c. De fato, y´(t) = c e,
portanto, c = 2. Assim, a solução geral do problema é:

y(t) = 1 + 2t.

A transformada de Laplace também pode ser utilizada para a resolução


de problemas de valor de contorno ao invés de problemas de valor inicial.

Exemplo 48: encontre a solução de:

cos ( 2t )
 y′′ + 4 y =

 π  .
 y ( 0 ) 1,=
= y  1
 4

Aplicando a transformada de Laplace em ambos os lados da equação


diferencial, e utilizando a propriedade de linearidade, obtemos:

L  y′′ + 4ℒ
ℒ L cos ( 2t )  .
L  y  =ℒ

Agora, pelo teorema da derivação da transformada, e também calculando


a transformada de Laplace de cos(2t), tem-se:

s
s2Y ( s ) − sy ( 0 ) − y′ ( 0 ) + 4Y ( s ) = .
2
s +4 ( )

172
TÓPICO 5 | RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS POR TRANSFORMADAS DE LAPLACE

Observe que necessitamos de duas informações, a saber, y(0) e y´(0). A


primeira é fornecida através das condições de contorno, mas a segunda não. Para
proceder, é preciso substituir a informação que está disponível e tratar a que não
está como uma constante. Com efeito, a equação pode ser reescrita como:

s
s2Y ( s ) − s − y′ ( 0 ) + 4Y ( s ) = 2 .
s +4 ( )
Portanto, isolando Y(s), obtemos:

s s y ' (0)
Y ( s=
) + + 2
(s )
2 2
2
+4 s +4 s +4

a solução y(t) é obtida através da transformada inversa de Laplace, portanto:

1 y′ ( 0 )
y ( t=
) t sin ( 2t ) + cos ( 2t ) + sin ( 2t ) .
4 4

Contudo, a função apresentada não é uma solução geral para o problema,


pois depende de uma constante arbitrária. É preciso utilizar a segunda condição
de contorno, assim como a função solução y(t). Ora, a segunda condição de
π 
contorno é y   = 1 e, como:
4
π  π π   π  y′ ( 0 )  π  π y′ ( 0 )
y  = sin   + cos   + sin   = +
 4  16 2 2 4  2  16 4

obtemos

y′ ( 0 ) π
= 1− .
4 16

Portanto, a solução geral para o problema de contorno proposto é:

1  π 
y (t )
= t sin ( 2t ) + cos ( 2t ) +  1 −  sin ( 2t ) .
4  16 

173
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os seguintes passos para resolver equações diferenciais usando a


transformada de Laplace são:
ᵒ Considere um problema de valor inicial.
ᵒ Aplique a transformada de Laplace em ambos os lados da equação e utilize
a linearidade da transformada e a transforma da derivada para gerar uma
equação algébrica no domínio de s.
ᵒ Resolva o problema algébrico.
ᵒ Aplique a transformada inversa de Laplace à solução do problema algébrico.

174
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a solução do problema de valor inicial y′ = (0) 0 ?


+ 6 y e 4 t , y=
1 4 t 19 −6 t
y (t )
a) ( ) = e + e .
10 10
4 4 t 15 −6 t
y (t )
b) ( ) = e + e .
10 10
1 −4 t 19 6 t
y (t )
c) ( )= e + e .
10 10
3 −4 t 19 −6 t
y (t )
d) ( )= e + e .
10 10

2 Qual é a solução do problema de valor inicial


y′′ − 6 y′ + 9 y =t , y ( 0 ) =0, y′ ( 0 ) =1?

2 1 28
a) ( ) y ( t ) = + t − e 3t
27 9 27
2 1 2
b) ( ) y ( t ) = + t − e 3t .
27 9 27
2 1 2 10
c) ( ) y ( t ) = + t − e −3t + te −3t .
27 9 27 9
2 1 2 10
d) ( ) y ( t ) = + t − e 3t + te 3t
27 9 27 9

3 Qual é a solução do problema de valor inicial


0, 0 ≤ t < 1
=y′ + y  = , y (0) 0 ?
 5, t ≥ 1

y ( t ) 5u1 ( t ) − 5e ( )u1 ( t ) .
− t −1
a) ( ) =

b) ( ) y ( t ) = 0.

c ) ( ) y ( t ) = 5u1 ( t ) .

y ( t ) 5u0 ( t ) − 5e ( )u0 ( t ) .
− t −1
d) ( ) =

4 Qual é a solução do problema de valor inicial


y′′ + y =sen ( t ) , y ( 0 ) = 1, y′ ( 0 ) =−1?

175
176
UNIDADE 2 TÓPICO 6
APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE
LAPLACE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos seis aplicações das transformadas de
Laplace. A primeira aplicação é relacionada ao estudo de um oscilador harmônico
com fonte externa descontínua. A segunda é a dedução da chamada fórmula de
Duhamel. A terceira é sobre a resolução de uma equação integro-diferencial para
circuitos RLC. A quarta é sobre um sistema massa-mole (oscilador harmônico)
sujeito a uma força externa impulsiva. A quinta se refere a um modelo de como
o metabolismo humano reage na presença de um medicamento, novamente uma
aplicação utilizando o delta de Dirac. Assim, a sexta é sobre a função especial
Gama, uma generalização do conceito fatorial, e que é importante no cálculo de
transformadas de Laplace de certas funções.

2 OSCILADOR HARMÔNICO FORÇADO


Na Unidade 1, estudamos o oscilador harmônico simples e o oscilador
harmônico com amortecimento. Um oscilador harmônico forçado é modelado
pela equação do oscilador amortecido, mas uma força externa é adicionada ao
sistema massa-mola, que empurra ou puxa a massa. Assim, a equação geral de
um oscilador harmônico forçado é:

d2 x dx
+γ f (t ).
+ ω02 x =
dt 2
dt

Nesta unidade, estudaremos os comportamentos matemático


e físico do problema envolvendo o oscilador harmônico forçado,
5<0,t ≤0 0≤ t, 0< 5
 
) 0 (2′y′′ +=
.0 = )y0′(+y2 ,y 0=
2<1,t 5≤ ≤5 t,1<= 20 ,yy2(=
+0 )′y +y′′(y=
02) 0.
0,02t ≤ 20t , 0 

Note que a não homogeneidade f(t) da equação diferencial é uma função
descontínua, que dá para escrever em termos de funções degrau unitário
deslocadas:

 0, 0 ≤ t < 5

f (=
t )  1, 5 ≤ t < 20
= u5 ( t ) − u20 ( t ) .
0, t ≤ 20

177
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Aplicando a metodologia da transformada de Laplace, obtemos:

ℒ  y′′ + ℒ
2L L  y′ + 2ℒ L  f ( t ) 
L  y  =ℒ

ou seja

e −5 s e −20 s e −5 s − e −20 s
2 s2Y ( s ) + sY ( s ) + 2Y ( s ) = − ⇒ Y ( s) =
s s s 2s2 + s + 2( )
Chamando = ()
G s 1 / s 2 s 2 + s + 2 ,=( ) ()
ℒ−1 G s  e utilizando o
g t L ()
teorema da translação no eixo-t, obtemos:

 e −5 s − e −20 s   e −5 s   e −20 s 
y (t ) ℒ
L=−1
  ℒ
L −1
 −ℒ
L −1  
 (
 s 2 s2 + s + 2 
 )  (
 s 2 s2 + s + 2 ) 
 (
 s 2 s2 + s + 2
 ) 

ℒ−1  e −5 sG ( s )  − L
= L ℒ−1  e −20 sG ( s ) 

= u5 ( t ) g ( t − 5 ) − u20 ( t ) g ( t − 20 ) .

Para o cálculo da transformada inversa de G(s), utilizaremos frações


parciais. Com efeito, como 2s2 + s + 2 é um polinômio irredutível, então:

1 A Bs + C
G ( s=
) = + 2
(
s 2s2 + s + 2 ) s 2s + s + 2

contudo

A
= +
Bs + C (
A 2 s2 + s + 2 + ( Bs + C ) s
=
) ( 2 A + B) s + ( A + C ) s + 2 A
2

s 2 s2 + s + 2 (
s 2 s2 + s + 2 ) (
s 2 s2 + s + 2 )
para encontrarmos os coeficientes, devemos resolver o sistema linear:

2A + B =0

A + C =0 .
2A = 1

1 1
Portanto, A ==
, B −1 e C =
− . Logo:
2 2

178
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

1  1 1
s+  s+ +
1 1 4 4
F ( s) = − 2 2 = − 
2s 2s + s + 2 2s  2
1  15
 s + 4  + 16
 

assim
  1   
 s+    1 
1 −1  1  1 −1   4   1 −1  4 
L G ( s )  =
ℒ−1
  L  − ℒ
ℒ L − ℒL
2 s 2  2  2  2 
  s + 1  + 15    s + 1  + 15 
  4  16    4  16 

  1   15 
 s+    
1 −1  1  1 −1   4   1 −1  16 
= L  − ℒ
ℒ L − L

2 s
  2  2  2 15  2 
  s + 1  + 15    s + 1  + 15 
  4  16    4  16 
t

1 e 4  15t  15  15t  
=− cos   + sen  
2 2   4  15  4  
   
y ( t ) u5 ( t ) g ( t − 5 ) − u20 ( t ) g ( t − 20 ) .
=

A seguir, há o gráfico da solução do problema de oscilação forçada.


Comparando com os osciladores harmônicos (simples e amortecidos)
apresentados na unidade anterior, vemos que o gráfico não é mais uma função
semelhante a uma senoide ou senoide amortecida. O sistema deve apresentar
uma força externa descontínua.

GRÁFICO 1 – SOLUÇÃO DO PROBLEMA DE OSCILAÇÃO FORÇADA

FONTE: O autor

179
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

Observando as funções de Heaviside da solução, vemos que a solução está


definida em três partes, a saber, 0 ≤ t < 5, 5 ≤ t < 20 e t ≥ 20. Portanto, poderíamos
ter resolvido o mesmo problema através da resolução de três problemas de valor
inicial. O primeiro, no intervalo 0 ≤ t < 5, seria 2y´´ + y´ + 2y = 0, y(0) = y´(0) = 0,
cuja solução é identicamente nula, pois o PVI representa um oscilador harmônico
sem forças externas que está na origem com velocidade nula, portanto, esse
sistema ficará em repouso.

Já no segundo intervalo, 5 ≤ t < 20 , devemos resolver o seguinte sistema


2y´´ + y´ + 2y = 1, y(5) = y´(5) = 0. As condições iniciais em t = 5 são calculadas a
partir do comportamento do sistema no intervalo anterior, ou seja, devem ser
nulas. A equação representa um oscilador amortecido sujeito a uma força externa
constante, cuja solução é dada por uma constante em resposta à força externa
constante, e um termo amortecido.

Para o terceiro intervalo, t ≥ 20 , o sistema tem equação 2y´´ + y´ + 2y = 0, que


é um oscilador harmônico amortecido de forças externas, portanto, esperamos
que a solução seja oscilante, mas que vá decrescendo com o tempo por causa
do amortecimento. Para resolver a equação, é preciso definir as condições
iniciais. Ora, são dadas pela solução do PVI anterior e sua derivada em t = 20:
aproximadamente, y ( 20 ) ≅ 0, 50162 e y ' ( 20 ) ≅ 0,01125.

Pela descrição, vimos que a resolução do problema pode ser feita de duas
formas: a primeira, utilizando a metodologia da transformada de Laplace ou, a
segunda, pela resolução de três problemas de valor inicial distintos. No caso, o
uso da transformada de Laplace produz uma solução para o sistema facilmente,
além de ser a forma mais elegante para essa tarefa, portanto, é a abordagem mais
conveniente para a resolução do problema proposto.

3 FÓRMULA DE DUHAMEL
A fórmula de Duhamel é conhecida por descrever a solução do problema
de valor inicial:

′ + cy f ( t ) , t > 0
ay′′ + by=

onde a , b , c ∈ R
ℝ e f é uma função integrável qualquer, sujeita às condições
iniciais y(0) = 0 e y´(0) = 0.

Para resolver, é preciso utilizar a metodologia da transformada. Portanto,


inicialmente, aplicamos a transformada de Laplace em ambos os lados da equação
diferencial, obtendo:

aL
ℒ  y ''  + bL
ℒ  y '  + cℒ L  f ( t ) 
L  y  =ℒ

180
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

portanto

F ( s) F ( s)
Y ( s)
= =
as + bs + c Z ( s )
2

por outro lado, considere o seguinte problema de valor inicial:

ay′′ + by′ + cy = u0 ( t )

sujeito às condições iniciais y(0) = 0 e y´(0) = 0 em que u0(t) é a função degrau


unitário. Defina U0(s), a transformada de Laplace da função degrau unitário.
Aplicando a metodologia anterior, denominando h(t) e H(s), respectivamente,
a solução do problema e sua transformada de Laplace, obtemos:

U0 ( s ) 1
H ( s)
= = .
Z ( s ) sZ ( s )

1
=
Utilizamos o fato que U0 s ℒ
L= ()
u0 t 
s
. Portanto: ()
F ( s) 1
Y ( s) = e H ( s) = ⇒ Y ( s ) = sH ( s ) F ( s )
Z ( s) sZ ( s )

Note que a transformada Y(s) é composta pelo produto de duas funções


(transformadas), a saber, sH(s) e F(s). Portanto, para encontrar y(t), é preciso
utilizar o teorema da convolução, obtendo:

=y (t ) ℒ
L=−1
Y ( s )  ℒ
L −1  sH ( s )  * ℒ
L −1  F ( s )  .

Claramente, ℒ L −1  sH ( s )  , utilizamos
L −1  F ( s )  = f ( t ) . Para o cálculo de ℒ
o teorema da transformada da derivada, assim:

' ( t )  sH ( s ) − h ( 0 ) .
ℒ  h=
L

Mas h(0) = 0, logo:

L −1  sH ( s )  = h′ ( t ) .

Portanto, podemos expressar a solução do problema de valor inicial por:

181
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

t
y ( t ) h′ (=
= t ) * f (t ) ∫ f (τ ) h′ ( t − τ ) dτ .
0

A fórmula de Duhamel permite encontrar a solução de qualquer PVI:

′ + cy f ( t ) , t > 0
ay′′ + by=

onde a , b , c ∈ R
ℝ e f é uma função integrável qualquer, sujeita às condições
iniciais y(0) = 0 e y´(0) = 0, desde que se conheça a solução do problema para
f(t) = u0(t). O conceito é de suma importância para problemas práticos que
envolvem soluções de equações diferenciais ordinárias.

4 CIRCUITOS RLC
Um circuito elétrico simples que encontramos nos estudos de engenharia
elétrica ou física é o chamado circuito RLC. Há quatro componentes ligados em
série, assim denominados:

1. Fonte de tensão, gerador ou bateria, chamado V, cuja unidade


é volts (V).
2. Uma resistência, chamada R, cuja unidade é ohms ( Ω ).
3. Um indutor, chamado L, cuja unidade é henrys (h).
4. Um capacitor, chamado C, cuja unidade é farads (f).

Quando o circuito está fechado, uma corrente I(t) ou i(t)


flui através do circuito. Gostaríamos de saber a corrente no sistema com o passar
do tempo. Para isso, utilizaremos a lei de tensão de Kirchhoff, que menciona que
a soma algébrica das diferenças de potencial ao redor de qualquer laço fechado é
igual a zero, em nosso caso, o circuito inteiro é fechado, ou seja:

vR + vL + vC = v

sendo vv = v para uma tensão variável v(t) e utilizando a lei de Ohm:

vR = Ri.

Por outro lado, a indutância se relaciona com a corrente elétrica por:

di
vl = L
dt

182
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

por fim, a capacitância se relaciona com a corrente elétrica por:

t
1
vC = ∫i (τ ) dτ .
C0

Portanto, a corrente i(t) em um circuito RLC é solução de:

t
di 1
Ri + L + ∫i (τ ) dτ =
v (t ) .
dt C 0

A equação envolve a variável i(t), sua derivada e sua integral. Damos


o nome de equação integro-diferencial. Podemos utilizar a metodologia da
transformada de Laplace para resolver. Para tanto, considere um circuito RLC
com resistência R= 16Ω , indutância L = 2 henrys e capacitância C = 0,02 farads.
Ainda, determine v(t) = 100 cos(3t). Portanto, a corrente elétrica é a solução de:

t
di
8i + + 25 ∫i (τ ) dτ =
50 cos ( 3t ) .
dt 0

Adicionalmente, determinamos que a corrente inicial é nula, ou seja,


i(0) = 0.

Para resolver essa equação integro-diferencial, é preciso utilizar a


metodologia da transformada de Laplace. Portanto, aplicando em ambos os lados
da equação, obtemos:

 di ( t )  t 
L i ( t )  + ℒ
8ℒ L L  ∫i (τ ) dτ  =
 + 25ℒ L cos ( 3t )  .
50ℒ
 dt  0 

Definindo I ( s ) = ℒ
L i ( t )  e utilizando as propriedades da transformada
da derivada, da transformada da integral, além da transformada da função seno,
temos:

I ( s)
50 s
8 I ( s ) + sI ( s ) + 25 =
s s2 + 9

assim

50 s2
I ( s) =
(s 2
)(
+ 9 s2 + 8 s + 25 )
183
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

pela técnica de frações parciais, obtemos:

1250 − 225s 1250 225s − 450 225s − 450


− 225s
=I (=
s) I ( s) + +
2
52 s + 8s + 25 (
52 s 52
2 2
+ 8ss ++25
9 )( (
52 s 2 + 9 ) ( )
225 ( s + 4 ) 225 ( s + 1075 4) 225s
1075 225s 225
=
− = − + + + −+ −
52 ( s + 4 ) + 52

2

 + 4()s ++ 49) + 26


9  ( s26

2


2


(
9  ( s52
2
2
) ((
+ 4s) ++ 99  26

))2
(
52 ss ++99 26 s 2 + 9
2
)
portanto

 225 1075  225 75


i (t ) =
e −4 t  − cos ( 3t ) + sen ( 3t )  + cos ( 3t ) − sen ( 3t ) .
 52 78  52 26

GRÁFICO 2 – CIRCUITO RLC

FONTE: O autor

Os termos que envolvem e–4t são chamados de transitórios, pois influenciam


na solução de termos pequenos, ou seja, para tempos grandes, são desprezíveis. Já
os outros termos são chamados de regime permanente, pois dominam a solução
para tempos grandes.

No gráfico anterior, podemos observar o exposto fato. Para valores
de tempo pequenos, os termos transitórios influenciam na solução, porém,
para t > 1,5 s, já podemos observar que a solução somente é influenciada pelo
regime permanente, no caso, por funções periódicas.

184
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

5 FUNÇÃO IMPULSO
Na primeira aplicação, trabalhamos com um oscilador harmônico
forçado, em que a força externa era descontínua. Agora, consideraremos o
mesmo sistema mecânico, porém, a força externa será uma fonte impulsiva
(delta de Dirac) em t = 5. O problema de valor inicial que o sistema está sujeito é:

2 y′′ + y′ + 2 y = δ ( t − 5 )
 .
 ( 0 ) y=
y= ′(0) 0

Utilizamos a metodologia da transformada de Laplace para a resolução


desse problema de valor inicial. Com efeito:

2 y′′ + y′ + 2 y = δ ( t − 5 ) ⇒ 2 s2Y ( s ) + sY ( s ) + 2Y ( s ) = e −5 s

e −5 s
⇒ Y ( s) = .
2s2 + s + 2

Da mesma forma que procedemos anteriormente, podemos completar


quadrados de 2s2 + s + 2, obtendo, assim:

e −5 s 1
Y ( s) = .
2  2
1  15
 s + 4  + 16
 

A transformada inversa da segunda fração à direita é:

 
 
 = 4 e − 4 sin  15t  .
t
−1  1
L
ℒ  2  15  4 
  s + 1  + 15   
  4  16 

Aplicando o teorema da translação no eixo-s, temos:

 
 −5 s 
−1  e 1  2u5 ( t ) − (t −45)  15 ( t − 5 ) 
=y (t ) L
ℒ= e sin  .
 2 2  15  4 
  1  15  
  s + 4  + 16 
  

Vejamos, através gráfico da solução, o comportamento do sistema.

185
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

GRÁFICO 3 – FUNÇÃO IMPULSO

FONTE: O autor

Observe que, no período 0 ≤ t < 5 , o sistema está em repouso, já que a força


externa é nula e, pelas condições iniciais, o sistema se encontra em repouso na
origem. Porém, exatamente em t = 5, o sistema é perturbado por uma força externa
pontual (força impulsiva). A partir desse momento, o sistema começa a oscilar, com
amplitude decaindo por causa do amortecimento presente na equação (coeficiente
da primeira derivada). Essa oscilação persiste indefinidamente, na verdade, a
solução tende a zero, quando o tempo tende ao infinito. Além disso, observe que,
apesar do termo homogêneo não ser contínuo em t = 5, a solução é contínua no
ponto. No entanto, a primeira derivada tem um salto e, consequentemente, a
segunda derivada tem uma descontinuidade infinita em t = 5.

6 METABOLISMO DE UM MEDICAMENTO
Nesta aplicação, gostaríamos de entender a reação do metabolismo
humano na presença de um medicamento. O modelo para o fenômeno é simples.

Um medicamento é lançado na corrente sanguínea e gostaríamos de


estudar a concentração com o passar do tempo. Para isso, assumimos que a
variação da concentração do medicamento na corrente sanguínea é proporcional
à concentração. Ademais, o organismo humano metaboliza esse fármaco a uma
taxa α . Para finalizar, assumimos que a aplicação do medicamento é periódica,
de período T.

Chamaremos de c(t) a concentração do medicamento no organismo no


tempo t, e x(t) a função que descreve a aplicação. Assim, o modelo é:

186
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

1
c′ ( t ) + c (t ) =
x (t ) .
α

Esse modelo é assumido para t > 0. A função x(t) deve descrever, de


acordo com as hipóteses do modelo, uma aplicação periódica do medicamento,
de período T. Ora, a aplicação é feita de T em T unidades de tempo, iniciando
em t = 0. Portanto, a cada T unidades de tempo, uma aplicação de medicamento
de concentração c0 fixa é efetuada. Logo, a n-ésima aplicação é modelada por um
fator c0δ ( t − nT ) . Assim, a função x(t) tem a seguinte forma:

x (=
t ) c0 δ ( t ) + δ ( t − T ) + δ ( t − 2T ) +  + δ ( t − nT ) +  .

Assumimos, também, que a concentração do medicamento em t = 0 é nula,


ou seja, c(0) = 0. Isto é, quando inicia-se a aplicação do medicamento, não há a
presença no organismo.

Para facilitar a notação, assumiremos que são realizadas cinco aplicações


do medicamento a cada 8 horas, e que em cada aplicação a concentração é de
c0 = 2. Ainda, que a taxa de absorção do medicamento pelo organismo é α = 3.
Portanto, o modelo é:

1
c′ ( t ) + c ( t=
) 2 δ ( t ) + δ ( t − 8 ) + δ ( t − 16 ) + δ ( t − 24 ) + δ ( t − 32 ) .
3

Com a condição inicial c(0) = 0. Utilizando a metodologia da transformada


de Laplace e denominando C ( s ) = ℒ
L c ( t )  , obtemos:

1
sC ( s ) + C ( s ) = 2 1 + e −8 s + e −16 s + e −24 s + e −32 s 
3

isolando C(s) na identidade, temos:

2 1 + e −8 s + e −16 s + e −24 s + e −32 s 


C ( s) = .
1
s+
3

Portanto, a concentração do medicamento na corrente sanguínea é, pela


propriedade da translação no eixo-s:

187
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

c (ct )( t=) L=−L (t()s=)(L) C ( s ) c ( t ) = ℒL −1 C ( s )


1 −1 C s −1
cC

  −8 s−8 s −16−s16 s −24−s24 s −32−s32s   


  1 e e 1 + e ee −8 s +
e −ee1 −16 s 1+
e ee −24 es −8 s e −32es−16
1 −1 1  s −24 s −32 s 
= 2−L + e e
= 2L =   2ℒ +1  +1 =
L − 1
+ + 2+ L + + +  + + + +
 s+s 1+ s + s 1+ 1 s 1+ 11 s 1+ 11 1s 1+ 11 1 1  1 1 1

 s + s +s + s + s + s +s + s + s + s + s +  s + s +
  3 3  3 33 3 33 3 33 3 3 33 3 3  3 3 3 
 −3t − 3  ( t− )−3t e3− 3 + u − t(−3t8)− e3− −33t + u − t −(316t )−−et3−38 3 + u − t −(324t −)− te−33−16 3  . − t −332−t −324
t t −8 t − 8 t
t −16 − 16 t
t − 24 − 24 t − 32 t − 32
t−
= 2= 2e  e + +
u
= 82( )e + u8 ( t16) (e )=
u t
8 e + u t
16 e 2+ eu16 (+t24
+ u )
u e8(( t)) e + u24 (ut16
t
24 e + u )
32 e( t ) e + u32+.(ut24) e( t ) e  . + u32 ( t ) e 3
32t e

      

GRÁFICO 4 – MODELO DE METABOLISMO DE MEDICAMENTO

FONTE: O autor

É possível visualizar o gráfico da solução. Primeiramente, note que a


função solução é descontínua em t = 8, t = 16, t = 24 e t = 32. O fenômeno é causado
pelas aplicações do medicamento, justamente nessas horas. Observe, também,
que:

lim+ c ( t ) = c0 .
t →0

E não zero, como a condição inicial diz. O motivo é que, em t = 0, há


um delta de Dirac indicando a aplicação do medicamento. A observação e a das
descontinuidades para t = 8, 16, 24 e 32 têm a mesma explicação matemática.

188
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

7 FUNÇÃO GAMA
Sabemos calcular transformadas de Laplace de funções do tipo tn,
com n ∈ ℕN . Porém, pode-se generalizar o cálculo para funções do tipo tv,
para ν ∈ ℝ
R ,ν > −1. A função especial gama surge no contexto. De fato, para
ν ∈ℝ
R ,ν > −1 :


ℒ tν  = ∫tν e − st dt.
L
0

Aplicando a mudança de variável x = st (s > 0), obtemos:

∞ ν
x 1
L t  = ∫e   dx
ℒ ν −x

0 s s

1
∫x e
ν −x
= ν +1
dx.
s 0

A última integral é chamada de função gama ou função gama de Euler,


com a representação:


Γ ( p)
= ∫x
p −1 − x
e dx ( p > 0) .
0

Embora seja uma integral imprópria, é uma função contínua para p > 0.
A demonstração requer técnicas de análise matemática e está fora do escopo
deste material. A função gama não pode ser representada em termos de funções
elementares.

Podemos calcular a transformada de Laplace para funções do tipo tv, com


a seguinte estrutura:

Γ (ν + 1)
L tν 
=
ℒ ,ν ∈ ℝ
R ,ν > −1 e s > 0 .
sν +1

Entendamos, agora, uma pouco mais sobre as propriedades da função


gama. A primeira propriedade é que:

Γ ( p + 1) =pΓ ( p )

189
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

para todo p > 0. O fato é demonstrado via integração por partes. De fato:

Γ ( p + 1) =
∫x e dx
p −x

∞ ∞
1
−x x
= p
+ p ∫x p −1e − x dx
e 0 0

= pΓ ( p ).

A segunda propriedade da função gama é deduzida da equação funcional


e do seguinte fato:


Γ ( 1=
) ∫e
−x
dx
= 1.
0

Note que, como sabemos Γ(1), podemos calcular Γ(2) através da equação
funcional, ou seja:

Γ(2) = 1Γ(1) = 1

assim

Γ(3) = 2Γ(2) = 2.

Indutivamente, conclui-se que:

Γ(n + 1) = n

quando n ∈ ℕ
N . A propriedade e a equação funcional mencionam que a função
gama é uma generalização do fatorial. Vejamos, agora, como calcular, por
 −
1

exemplo, ℒ
L t 2  . Com efeito:
 
 1  1
Γ  − + 1 Γ  
  −
1
 2  2
L t  =
=
ℒ 2
1
  − +1 s
s 2

portanto, falta calcular o valor da função gama em 1/2. Assim:

1 ∞
1 −
∫x e dx.
Γ  =
2 0
2 −x

190
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

Realizando a mudança de variável x = u2, obtemos:


1
2 ∫e − u du.
2
Γ  =
2 0

Se você está familiarizado com a teoria de probabilidade, você já dever ter


visto o resultado da integral, mas, de qualquer forma, iremos encontrar o valor.
Chamando:


I = ∫ e − u du
2

−∞

temos

 ∞ − x2   ∞ − y 2  ∞ ∞
(
− x2 + y 2 )dxdy
∫
=I 2 = e dx   ∫ e dy  ∫ ∫e .
 
 −∞   −∞  −∞−∞

Mudando o sistema de coordenadas para coordenadas polares, temos:


π ∞

∫ ∫e
−r2
2
I = rdrdθ
−∞−∞

2π ∞
 1 −r2 
= ∫
0
 − 2 e  dθ
 0

1
2 ∫0
= = dθ π .

logo
∞ ∞
1
2 ∫e − u du ∫e
2
− u2
Γ =
 = du
= π.
2 0 −∞

Portanto:

1
Γ 
 −
1
2 π
L=
ℒ t  = .
2

  s s

191
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

8 TRANSFORMADAS DE LAPLACE
A seguir, é possível observar a transformada de Laplace de uma série de
funções que podem aparecer em problemas práticos que envolvem o cálculo de
transformadas. Apresentamos, também, as propriedades operacionais demonstradas
ao longo do texto. A leitura da esquerda para a direita fornece a transformada de
Laplace e a leitura da direita para a esquerda indica a transformada inversa.

TABELA 3 – RESUMO DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE E SUAS PROPRIEDADES


Transformadas de Laplace
f (t ) = L
ℒ Ff ( s ) 

1
−-1
 ff ( t ) = Lℒ−-11 Ff ( s ) 
1 1
s
tn n!
,n ∈ ℕ N
sn +1
t1/2
π
s
t –1/2
π
2s3/2
t v
Γ (ν + 1)
,ν ∈ ℝ
R ,ν > −1
sν +1
eat 1
s−a
eat tn n!
,n ∈ ℕ
N
( s − a)
n +1

sen(at) a
s + a2
2

cos(at) s
s + a2
2

sen2(at) 2a2
(
s s2 + 4a 2 )
cos (at)
2
s2 + 2a 2
(
s s2 + 4a 2 )
senh(at) a
s − a2
2

cosh(at) s
s − a2
2

senh2(at) 2a2
(
s s2 − 4a2 )
192
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

cosh2(at) s2 − 2a2
(
s s2 − 4a 2 )
b
eat sen(bt)
( s − a)
2
+ b2
s−a
eat cos(bt)
( s − a)
2
+ b2
b
eat senh(bt)
( s − a)
2
− b2
s−a
eat cosh(bt)
( s − a)
2
− b2
2as
t sen(at)
(s )
2
2
+ a2
s2 − a 2
t cos(at)
(s )
2
2
+ a2
2as2
sen(at) + at cos(at)
(s )
2
2
+ a2
2as
t senh(at)
(s )
2
2
− a2
s2 + a 2
t cosh(at)
(s )
2
2
− a2

e at − e bt 1
,a ≠ b
a−b ( s − a )( s − b )
ae − be bt
at
s
,a ≠ b
a−b ( s − a )( s − b )
a2
1 – cos(at)
(
s s2 + a 2 )
a3
at – sen(at)
(
s2 s2 + a2 )
asen ( bt ) − bsen ( at ) 1
,a ≠ b
( 2
ab a − b 2
) (s 2
+a 2
)( s 2
+ b2 )
193
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

cos ( bt ) − cos ( at ) s
,a ≠ b
2
a −b 2
(s 2
+a 2
)( s 2
+ b2 )
2a2 s
sen(at) senh(at)
s4 + 4a 4

sen(at) cosh(at)
(
a s2 − 2a2 )
4 4
s + 4a

cos(at) senh(at)
(
a s2 − 2a2 )
s4 + 4a 4
s3
cos(at) cosh(at)
s4 + 4a 4
e bt − e at s−a
ln
t s−b

(
2 1 − cos ( at ) ) ln
s2 + a 2
t s2
(
2 1 − cosh ( at ) ) ln
s2 − a 2
t s2
sen ( at ) a
tan −1  
t s
1 s
e at ( 1 + 2 at )
πt ( s − a)
3

1
( )
a
cos 2 at 1 −
e s
πt s
a
1
1
πt
senh 2 at ( ) s3
es

k2
a −
e 4t
e−k s
2 π t3
Propriedades Operacionais
f (t ) = ℒ
L  F ( s ) 
−1
F ( s) = ℒ
L  f ( t ) 
n −1
L  f ( t )  − ∑sn− k −1 f ( ) ( 0 )
k
f (t)
(n) snℒ
k =0

dn
( −1) F ( s)
n
tn f(t)
dsn
eat f(t) F(s – a)
1 s
f(at) F ,a > 0
a  a 

194
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

e − as
ua(t)
s
f(t – a) ua(t) e–as F(s)
f(t) ua(t) ℒ  f ( t + a ) 
e − as L
f *g F(s) G(s)
F ( s)
t

∫ f (τ ) dτ
0 s
δ (t ) 1
δ (t − a) e–as

FONTE: O autor

195
UNIDADE 2 | TRANSFORMADA DE LAPLACE

LEITURA COMPLEMENTAR

UMA BREVE HISTÓRIA

Murray R. Spiegel

Pierre Simon Laplace nasceu em 23 de março de 1749, em Beaumont-


en-Auge, Normandia, filho de um pequeno trabalhador rural. Laplace deve sua
educação ao interesse incitado em alguns vizinhos abastados graças as suas
habilidades e presença atrativa. De pupilo, tornou-se professor-assistente na
escola em Beaumont, mas, tendo obtido uma carta de apresentação, foi a Paris
tentar sua sorte. Um artigo sobre os princípios da mecânica instigou o interesse
de d'Alembert e, sob recomendação, foi oferecido um lugar na escola militar a
Laplace.

Seguro das suas competências, Laplace dedicou-se, então, a pesquisas


originais e, nos 17 anos seguintes, 1771-1788, produziu boa parte de seus trabalhos
originais em astronomia. Tudo começou com uma tese, lida frente à Academia
Francesa, em 1773, em que mostrava que os movimentos planetários eram
estáveis, levando a prova até o ponto dos cubos das excentricidades e inclinações.
Isso foi seguido por vários artigos sobre tópicos em cálculo integral, diferenças
finitas, equações diferenciais e astronomia.

Laplace tinha um amplo conhecimento de todas as ciências e dominava


todas as discussões na Académie. De forma única para um prodígio de seu nível,
Laplace via os matemáticos apenas como uma ferramenta para ser utilizada na
investigação de uma averiguação prática ou científica.

Laplace passou a maior parte de sua vida trabalhando na astronomia


matemática, culminando em sua obra-prima sobre a prova da estabilidade
dinâmica do sistema solar. Ele formulou independentemente a hipótese nebular
e foi um dos primeiros cientistas a postular a existência de buracos negros e a
noção do colapso gravitacional.

É lembrado como um dos maiores cientistas de todos os tempos (às


vezes, chamado de Newton francês ou Newton da França), com uma fenomenal
capacidade matemática natural sem par entre seus contemporâneos. Parece que
Laplace não era modesto sobre suas habilidades e realizações e ele provavelmente
não conseguia reconhecer o efeito de sua atitude sobre seus colegas. Anders
Johan Lexell visitou a Académie des Sciences em Paris, em 1780-1781, e relatou
que Laplace deixava claro que se considerava o melhor matemático da França.
O efeito sobre seus colegas só seria relativamente abrandado pelo fato de que
Laplace provavelmente estava correto.

196
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE

A teoria da transformada de Laplace, ou transformação de Laplace,


também mencionada como cálculo operacional, tornou-se, em anos recentes,
parte essencial da bagagem matemática de físicos, engenheiros, matemáticos,
entre outros cientistas. Além de serem de grande interesse teórico, os métodos
proporcionam meios fáceis e efetivos para a solução de muitos problemas que
surgem em vários campos da ciência e da engenharia.

O assunto originou-se em tentativas para justificar rigorosamente certas


“regras operacionais” usadas por Heaviside no final do século XIX. Essas tentativas
finalmente demonstraram seu êxito no início do século XX, através dos esforços
de Bromwich, Carson, Van der Pol e outros matemáticos que empregaram a teoria
das variáveis complexas.

FONTE: SPIEGEL, M. R. Transformadas de Laplace. Rio de Janeiro: Editora McGraw-Hill do


Brasil, 1979.

197
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe uma série de aplicações clássicas envolvendo a transformada de


Laplace, a saber:
ᵒ Oscilador Harmônico.
ᵒ Fórmula de Duhamel.
ᵒ Circuitos RLC.
ᵒ Função Impulso.
ᵒ Metabolismo de um Medicamento.
ᵒ Função Gama.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar tua compreensão. Acesse o QR Code, que te levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

198
AUTOATIVIDADE

1 A equação geral que representa um oscilador harmônico forçado é:

d2 x dx
a) ( ) +γ f (t ) .
+ ω02 x =
dt 2
dt
d 2 x dx
b) ( ) f (t ) .
+ + ω02 x =
dt 2 dt
d2 x dx
c) ( ) +γ f (t ) .
+ ω0 x =
dt 2
dt
dx dx
d) ( ) +γ f (t ) .
+ ω02 x =
dt dt
d2 x dx
e) ( ) +γ f (ω ) .
+ ω02 x =
dt 2
dt

2 No exemplo sobre circuito RLC, mostramos que a corrente é a solução da


equação integro-diferencial:

t
di 1
Ri + L + ∫i (τ ) dτ =
v (t ) .
dt C 0

Que metodologia utilizamos para resolver o problema?

3 A definição da função gama ajudou a calcular a transformada de Laplace


para que tipo de função?

a) ( ) t n , com n ∈ N
ℕ.

b) ( ) tν , para ν ∈ R
ℝ ,ν > −1.

c) ( ) tν −1 , para ν ∈ R
ℝ ,ν > −1.

d) ( ) t n−1 , com n ∈ N
ℕ.

e) ( ) t , com n ∈ N
ℕ.

199
200
UNIDADE 3

SÉRIES DE FOURIER

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar uma sequência e classificá-la em convergente ou divergente;


• identificar uma série;
• identificar uma função periódica e seu período;
• entender a série de Fourier e seus coeficientes;
• conhecer algumas aplicações da série de Fourier.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE


POTÊNCIA
TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES PERIÓDICAS
TÓPICO 3 – SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE
FOURIER
TÓPICO 4 – CONDIÇÃO DE CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE
FOURIER
TÓPICO 5 – DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER
TÓPICO 6 – APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

201
202
UNIDADE 3
TÓPICO 1
SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE
POTÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Antes de iniciarmos o estudo específico sobre séries de Fourier, é necessário
que você entenda os conceitos de sequência e série, principalmente a diferença
entre eles, uma vez que podem, facilmente, ser confundidos. O entendimento
claro desses conceitos é fundamental para o estudo de toda unidade. Assim,
neste tópico, definiremos e estudaremos algumas propriedades para o estudo das
séries Fourier.

2 SEQUÊNCIAS
De forma intuitiva, uma sequência de números reais é uma lista:

a1, a2, a3,...

De números reais que satisfazem algum tipo de lei de formação.


Formalmente, uma sequência é definida da seguinte forma:

Definição 1: uma sequência de números reais é uma função a : ℕ N →ℝ R.


O valor a(n) para cada n∈ ℕ N será representado por an. Uma sequência pode ser
representada por (a1, a2,...), ( an ) ou, simplesmente, (an).
n∈N

NOTA

Você deve estar sempre atento à notação, não somente por uma questão de
organização, mas, principalmente, para que a leitura desse texto tenha a fluidez necessária
para uma compreensão plena do conteúdo. Por exemplo, observe que, a seguir, faremos
distinção entre termo da sequência e sequência e que a diferença na notação é apenas
com relação a parênteses.

203
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

O termo an da sequência (an) é chamado n-ésimo termo da sequência ou o


termo geral da sequência. Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: o termo geral da sequência (2,4,6,8,...) é an = 2n. Já o termo geral


( −1) .
n +1
1 1 1 1 
da sequência  , − , , − ,  é an =
 2 4 8 16  2n
Como veremos se seguir, nosso interesse é estudar sequências que
têm um limite, digamos a. Novamente, de forma intuitiva, dizemos que a é o
limite da sequência (an) quando, para valores grandes de n, os termos an estão
arbitrariamente próximos de a.

( −1)
n +1

Exemplo 2: considere a sequência (an), em que an =. Observe que,


2n
para grandes valores de n, os valores de an se aproximam de zero. Dizemos, então,
que o limite de (an) é zero. Por outro lado, a sequência (bn), em que bn = 2n não
tem limite. Para valores de n arbitrariamente grandes, os termos an se tornam
extremamente grandes e, portanto, a sequência (bn) não tem limite.

Definição 2: uma sequência (an) é dita convergente e tem um limite a se,


N , tal que an − a < ε . Caso contrário, a sequência (an)
para todo ε > 0 , existe n0 ∈ ℕ
é dita divergente.

NOTA

Na Língua Portuguesa, a palavra convergente é um adjetivo atribuído a tudo


o que segue ou se direciona para o mesmo lugar. A palavra vem do verbo convergir, que
significa encaminhar-se para um mesmo ponto comum, ou seja, os pontos concorrem,
afluem e convergem para um mesmo local. Observe que, na Definição 2, queremos dizer a
mesma coisa, mas com todo o formalismo matemático necessário. Dessa forma, a palavra
divergir é o antônimo de convergir, mesmo em matemática.

Quando uma sequência é convergente, com limite a, denotamos uma das


três seguintes formas:

lim an , lim an ou lim an .


n→∞ n

Exemplo 3: alguns limites de sequência, convergentes, são:

204
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

( −1)
n +1

lim = 0.
2n
 1 
lim  2 + n  =
2.
 π 

Por outro lado, não existe o limite lim(–1)n.

Algumas sequências mais comuns são as progressões aritméticas de termo


inicial a e razão r. O n-ésimo termo de uma progressão aritmética é an = a + nr. As
progressões geométricas também são exemplos de sequências. O termo geral de
uma progressão geométrica de termo inicial a e razão q é an = aqn.

Algumas propriedades de sequências que podemos elencar aqui é que o


limite de uma sequência, quando existe, é único. Toda sequência convergente é
limitada, ou seja, se lim an existe, então, existe M > 0, tal que |an| < M para todo
n∈ N
ℕ.

Existem outras propriedades operacionais de limites de sequência que


iremos enunciar em um teorema sem demonstração.

DICAS

Para demonstração dos fatos, sugerimos, ao leitor, o livro do ilustre professor


Elon Lages Lima, chamado Curso de Análise.

Teorema 1: sejam an e bn sequências de números reais. Assim:

a) Se lim an = 0 e a sequência (bn) é limitada, mesmo não sendo convergente, então:

lim an ⋅ bn =
0.

b) Se lim an = a e lim bn = b, então:

I- lim an + bn = a + b.
II- lim an ⋅ bn =a ⋅ b.
a  a
III- lim  n 
= , desde que b ≠ 0.
 bn  b

205
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Para sequências de números reais, uma condição necessária e suficiente


para que uma sequência (an) seja convergente é que, para todo ε > 0 , existe
n0 ∈ N
ℕ , tal que, para n,m > n0, an − am < ε .

As sequências com a propriedade anterior são chamadas de sequências


de Cauchy. Note que, numa sequência de Cauchy, para valores grandes de n,
os termos an e an + p, para qualquer p ∈ ℕ
N , estão arbitrariamente próximos. Essa
propriedade é necessária e suficiente para convergência de sequências de números
reais.

3 SÉRIES NUMÉRICAS
Uma classe importante de sequências de números reais são as séries de
números reais, que surgem quando queremos somar uma quantidade infinita de
números reais. Por exemplo, as seguintes somas infinitas de números têm, como
resultado, um número finito:

1 1 1
1.
+ + + n + =
2 4 2

ou

1 1 1 1 π2
1+ + + + + 2 + = .
4 9 16 n 6

Denotaremos uma série de números reais por:

∑a
n =1
n

ou, simplesmente, por:

∑ an .

A parcela an é chamada de n-ésimo termo da série ou o termo geral da


série.

Contudo, como definimos uma série de números reais formalmente? A


resposta é: através de sequências de números reais.

206
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

Seja (an) uma sequência de números reais. A partir dessa sequência,


formamos uma nova sequência (sn), chamada de somas reduzidas ou somas
parciais da série ∑ an , com a seguinte lei de formação: s1 = a1, s2 = a1 + a2, s3 = a1 + a2
+ a3, ..., sn = a1 + a2 + ... + an. Se existir:

sn lim ( a1 + a2 +  + an ) ,
s lim =
=
n→∞ n→∞

Diremos que a série ∑ an , é convergente e que s é o limite da série.


Utilizando a notação já introduzida:

∞ ∞
s=∑an s=
=∑∑
n =1
anan=
=a1∑+aan2 =
n =1
+ a
1
++aa2n .+  .+ an .

Quando o limite lim sn não existe, dizemos que a série ∑ an ,é divergente.

Vejamos um resultado importante sobre séries numéricas que nos ajudam


a decidir se uma série é divergente.

Teorema 2: se uma série ∑ an ,é convergente, então, lim an = 0.

O teorema apresenta uma condição necessária para garantir convergência,


ou seja, se o limite do termo geral da série converge para zero, isso não garante
que a série é convergente. Condições necessárias em matemática são úteis quando
tomamos a contrapositiva da proposição lógica. Há, portanto, uma propriedade
útil. A contrapositiva do teorema menciona: se lim an ≠ 0, então, a série ∑ an , é
divergente. Esse é um critério de extrema importância utilizado para verificar se
uma série é divergente. A recíproca desse teorema não é verdadeira.

Exemplo 4: a série harmônica ∑ 1 / n é divergente, apesar de lim 1/n = 0.


2
Por outro lado, a sequência ∑ 1 / n é convergente e, portanto, como se espera, lim
1/n2 = 0. Já a série:

n3

3n 3 + 2

é divergente, pois:

 n3   1  1
lim  3 = lim  =
3 
≠ 0.
 3n + 2   3+2/n  3

207
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Um exemplo emblemático de séries são as séries geométricas, que


surgem quando somamos infinitos termos de uma progressão geométrica. A
n
série geométrica tem a forma ∑ a e é divergente quando a ≥ 1 e convergente
quando |a| < 1:

1
∑ an = .
1− a

O termo a é a razão da progressão geométrica. Vejamos outro exemplo de


série convergente e, no caso, como calcular seu limite.

Exemplo 5: considere a série:

1
∑ .
n ( n + 1)
Afirmamos que essa série é convergente. Com efeito, note que o termo
geral da série pode ser separado em uma soma de frações mais simples, utilizando
a técnica de frações parciais, assim:

1 1 1
= − .
n ( n + 1) n n + 1

Portanto, a soma reduzida da série é:

snsn==a1a1+
sn+a=2a2+a1+a+3asn3+
a2+=
 san+a=
+ +a+aa+++aa23an++ 
a3 ++
an + an
1 3 n 1n2

11 111 1111 111+ 1111+ 11 +  +1 1


== +=+ +++= =+++ ++ ++ + +  +
11⋅ 2⋅ 2 212⋅⋅3⋅23 323⋅1⋅4⋅3⋅42 13⋅ 22⋅ 4⋅ 3nn2( n(⋅ 3n3+⋅+14n)13()⋅n4+ 1)n ( n n+(1n) + 1)

  11  111 11=1111−111111+ 111 −1 11+1 11 1−11+ 1 1+  1 1− 1 


== 1 1
− −= +
1+− =−− +1 −+ + − +− −+
 − +
 +−
  + + +
 −−+ + −
  2   2  3    3 24   2  3 n n3 + 14   − n n+ 1 
 +
  2  22  3 22 3324 33 4 3n 4 n + n 1n + 1n  n + 1  
11 1 1 1
= = 11−− = 1 − = 1 −= 1 −
nn++11 n + 1 n + 1n + 1

assim

1  1 
∑ = lim sn = lim  1 −  = 1.
n ( n + 1)  n+1

208
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

NOTA

Séries, como a apresentada no Exemplo 5, que têm a forma:

∑ an+1 − an

são chamadas de séries telescópicas. Caso lim an = a, então, a série telescópica é


convergente e:

∑ an+1 − an = lim ( a1 − an+1 ) = a1 − a.

Nem todas as séries convergentes, de fato, a maioria, não podem ser


calculadas utilizando técnicas como a do exemplo anterior. As técnicas mais
importantes para o cálculo são as séries de Taylor e as séries de Fourier. Essas
últimas, objeto de estudo desta unidade. Mais à frente, calcularemos algumas
séries numéricas utilizando conceitos de séries de Fourier.

Existem alguns critérios para atestar se uma série é convergente ou


divergente por comparação com outras séries que sabemos, de antemão, se
convergem ou não. O critério é chamado de teste da comparação.

Teorema 3 (Teste da Comparação 1): sejam ∑ an , e ∑ bn duas séries de


termos não negativos e an ≤ bn para todo n∈ ℕ
N . Então:

a) Se a série ∑ bn converge, então, a série ∑ an ,converge.


b) Se a série ∑ an ,diverge, então, a série ∑ bn diverge.

Um conceito que será importante no estudo de convergência das séries de
Fourier é a noção de convergência absoluta.

Definição 3: uma série numérica ∑ an ,é dita absolutamente convergente


se a série ∑ an for convergente.

Da definição, toda série convergente, cujos termos não mudam de sinal, é


absolutamente convergente. Em particular, quando 0 ≤ a ≤ 1, a série geométrica
é absolutamente convergente.

Teorema 4: toda série numérica ∑ an , absolutamente convergente é


convergente e vale:

209
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

∑ an ≤ ∑ an .

Exemplo 6:

A série

( −1)
n


n2

é absolutamente convergente, pois:

( −1)
n
1
2

n n2

2
e a série ∑ 1 / n é convergente.

ATENCAO

Você deve observar que a palavra “absolutamente”, usada na Definição 3, está


sendo empregada de acordo com o conceito matemático de valor absoluto, e não com
o sentido de completamente, como costumamos usar em linguagem coloquial da Língua
Portuguesa.

Veremos, agora, uma versão do teste da comparação para séries


absolutamente convergentes, que também será útil no estudo de nosso próximo
assunto: as séries de potência.

Teorema 5 (Teste da Comparação 2): sejam ∑ an ,e ∑ bn duas séries, tais


que an ≤ k ⋅ bn para todo n ∈ N
ℕ e k > 0. Então:

a) Se a série ∑ bn é absolutamente convergente, então, a série ∑ an ,é absolutamente


convergente.
b) Se a série ∑ an ,não é absolutamente convergente, então, a série ∑ bn não é
absolutamente convergente.

210
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

Exemplo 7:

A série:

cos n

n2

é absolutamente convergente, pois:

cos n 1
2
≤ 2
n n

2
e a série ∑ 1 / n é absolutamente convergente.

Quando uma série ∑ an ,é convergente, mas ∑ an é divergente, dizemos


que a série é condicionalmente convergente ou simplesmente convergente.

4 SÉRIES DE POTÊNCIA
Passemos, agora, ao estudo de séries que não são numéricas, mas séries
de funções. Não desenvolveremos toda a teoria das séries de funções, objeto de
estudo em cursos de análise matemática. Neste tópico, trabalharemos o caso mais
simples de séries de funções, as chamadas séries de potências.

Definição 4: uma série de potências é uma série infinita da forma:

∑a x
n
n
=∑ an x n =a0 + a1 x + a2 x 2 +  + an x n + 
n=0

em que an são constantes.

Note que, uma vez definido um valor para a variável x, a série de potências
se torna uma série numérica. As séries de potências podem ser vistas como uma
generalização do conceito de polinômios.

Para futuras aplicações, poderíamos ter definido séries de potência de


uma forma um pouco diferente, a saber:

∑an ( x − x0 )
n

n=0

211
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

em que x0 é uma constante fixa. A definição inicial se dá quando x0 = 0. O valor


x0 é chamado de centro da série, já que, em geral, os valores de x que utilizamos
nos estudos estão em torno de x0. Observe que há, na definição, um pequeno
problema. Se tomamos x = x0, então, o primeiro termo da série de potências não
está definido, para isso, convencionamos que (x – x0)0 = 1 para x = x0.

As séries de potências são muito estudadas em diversas áreas do


conhecimento, a saber, em análise matemática, no estudo de soluções para
equações diferenciais, no estudo de funções especiais que surgem no contexto da
física-matemática e nas engenharias.

A séries de potência não são, evidentemente, séries numéricas, assim,


podem convergir para certos valores de x e divergir para outros. Portanto, quando
falamos de séries de potências, gostaríamos de saber para quais valores de x a
série converge. Ao conjunto de valores de x para os quais a série de potência
converge, damos o nome de região de convergência ou domínio de convergência.

Exemplo 8: a série ∑ x n tem, como região de convergência, o intervalo


aberto (–1,1), pois para cada valor fixo de x, digamos a, a série de potências se
torna a série geométrica ∑ an , que já sabemos que converge para 0 ≤ a ≤ 1.
Assim, podemos afirmar que:

1
=∑ xn , para x ∈ ( −1,1) .
1− x

Observando o exemplo, podemos afirmar que, para todos x na região de


convergência de uma série de potência, há uma função. Assim, podemos escrever:


f ( x) ∑a ( x − x )
n
= n 0
n=0

para todo x pertencente à região de convergência da série. Um exemplo do fato


é a função:


xn x2 x3
ex = ∑ = 1 + x + + + (1)
n=0 n ! 2! 3!

que converge para qualquer x.

Na definição de uma série de potências, permitimos que os expoentes


das potências xn ou (x – x0)n sejam apenas números naturais. Pode-se considerar,
para potências, inteiros negativos (séries de Laurent) ou fracionários (séries de
Puiseux), mas não fazem parte do escopo do material.

212
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

Um fato importante das séries de potências é que a região de convergência,


como um subconjunto da reta, sempre é um intervalo. A partir de agora,
chamaremos a região de convergência de intervalo de convergência e estudaremos
formas para a determinação.

Definição 5: dada uma série de potências:

∑an ( x − x0 )
n

n=0

o intervalo de convergência é o intervalo no qual a série converge para cada um


de seus pontos.

O intervalo de convergência é sempre centrado em x0. Assim, para o


valor 0 ≤ r < ∞ , que define o intervalo de convergência, damos o nome de raio
de convergência. Os intervalos de convergência podem ser abertos, fechados ou
mistos, ou seja, (x0 – r, x0 + r), [x0 – r, x0 + r], (x0 – r, x0 + r] ou [x0 – r, x0 + r). Assim,
o raio de convergência é a metade do comprimento do intervalo de convergência.

Os casos patológicos são r = ∞ , que menciona que a série de potências é


incondicionalmente convergente, e r = 0, que a série de potências converge apenas
para x = x0.

Existem algumas metodologias para encontrar o raio de convergência de


uma série de potências. A seguir, elencamos a principal, para isso, considere a
série de potências:

∑an ( x − x0 ) .
n

n=0

Teste da razão: se an ≠ 0 para todo n e para um valor fixo de x, então:

an+1 ( x − x0 )
n +1
an+1
lim x − x0 lim
= x − x0 L .
=
an ( x − x0 ) an
n→∞ n n→∞

Se |x – x 0| L < 1, então, a série potência converge absolutamente.


Se |x – x0| L > 1, a série de potências diverge. Se |x – x0| L = 1, o teste é
inconclusivo.

Exemplo 9: determine o intervalo de convergência da série:


xn

n=0 n !
.

213
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Note que a série de potências é a série mostrada na equação (1) de ex.


Havíamos afirmado que essa série é convergente, assim, vamos demonstrar o fato
agora. Com efeito, para um x fixo:

an+1 n! 1
x − x0 lim x − x0 lim
= x − x0 lim
= 0.
=
n→∞ an ( )
n→∞ n + 1 ! n→∞ n + 1

Independentemente da escolha de x. Portanto, pelo teste da razão, o


intervalo de convergência da série é ( −∞ , ∞ ) . Mostraremos, mais à frente, porque
a série representa a função ex.

Vejamos, agora, outro exemplo em que necessitamos, de fato, encontrar


um raio de convergência que não será zero ou infinito.

Exemplo 10: determine o intervalo de convergência da série:

∑ ( −1) n 2 ( x − 1) .
n n

n=0

Pelo teste da razão:

( −1) ( n + 1) = ( n + 1) =
n +1 2 2
a
x − 1 lim n+1 =
x − 1 lim x − 1 lim x −1 .
n→∞ a
( )
n 2
n
n→∞
−1 n 2 n→∞ n

Portanto, a série de potências converge absolutamente para |x – 1| < 1 e


diverge para |x – 1| > 1. Nada pode ser dito para |x – 1| = 1, ou seja, para x = 0 e
x = 2. Contudo, substituindo os valores na série, obtemos duas séries de potências
que são divergentes, pois o termo geral não tende a zero quando n → ∞. Portanto,
o intervalo de convergência é (0,2) e o raio de convergência é r = 1.

Séries de potências podem ser vistas como funções:

∞ ∞∞ ∞ ∞∞

∑∑∑( ( ( ) ) ) bx −( x−
nb(n n( x
x−0x)x0 0) )
n nn n nn
f(x)= ananaxn −
xx−
x−0xx0 0 e ∑∑
e eg(x)=b∑
=
=
= n0=
n 0n= 0=n 0n n0 0

duas séries de potências que convergem para f(x) com raio de convergência r1 e
g(x) com raio de convergência r2. Então:


f ( x) ± g ( x) = ∑(a ± bn )( x − x0 ) ,
n
n
n=0

214
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

converge, pelo menos, para |x – x 0| < min{r1, r2}. E:

 n


( x) ⋅ g ( x)  ∑ak bn− k  ( x − x0 ) ,
n
f= ∑
= k 1
n 0= 

converge, pelo menos, para |x – x 0| < min{r1, r2}.

Ademais, a função f é contínua e tem todas as derivadas para |x – x0| < r1.
Além disso, as derivadas de f podem ser encontradas por derivação termo a termo
e cada uma dessas derivadas converge absolutamente para |x – x0| < r1. O mesmo
vale para a integral de f, ou seja, a série da integral de f pode ser encontrada por
integração termo a termo da série de f. Assim:


xdx3 = a x − x ∞

( ) ∑ ∫ x ( dx =
∫ f x dx = ∫ an 2 x − x0 ) +∑c.n + 1 ( )
n n +1
n
0
=n 0=n 0
3
para |x – x0| < r1.

Vejamos, agora, a derivação termo a termo com mais cuidado. Note que,
para |x – x0| < r1:


f ( x )= ∑a ( x − x ) ⇒ f ( x0 )= a0
n
n 0
n=0


f ' ( x )= ∑a n ( x − x ) ⇒ f ' ( x0 )= a1
n −1
n 0
n =1


f '' ( x=
) ∑a n ( n − 1)( x − x ) ⇒ f ' ( x=
0)
n− 2
n 0
2! a2
n= 2

continuando recursivamente:

( x)
( n)
∑a k ( k − 1) ( k − n + 1)( x − x ) ( x0 ) n ! an ,
⇒ f ( )=
n− k n
f = k 0
k =n

portanto, se f tem uma representação em séries de potências, para |x – x0| < r1,o
termo geral é:

215
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

f ( ) ( x0 )
n

an =
n!

assim

f ( ) ( x0 )
∞ n

f ( x) (x − x )
n
= ∑
n=0 n! 0 .

A série anterior é chamada de série de Taylor da função f centrada em x0.

Exemplo 11: calcule a série de Taylor da função ex centrada em x = 0.

Como f(n)(x) = ex, então, f(n)(0) = 1. Portanto:

f ( ) ( 0 ) n ∞ xn
∞ n

=e ∑= x
x ∑ .
= n 0= n! n 0 n!

Os métodos para resolução de equações diferenciais ordinárias, estudados


na Unidade 1, não contemplam toda a classe das equações lineares. As séries
de potências são uma ferramenta muito útil para ampliar a classe de equações
diferenciais ordinárias que podemos resolver analiticamente. A teoria de soluções
de equações diferenciais ordinárias por séries de potências é um tanto extensa e
não faz parte do escopo do material. Contudo, é de grande valia apresentar, de
forma introdutória, como as séries de potências podem ser utilizadas na resolução
de equações diferenciais.

A ideia de solução de uma equação diferencial por séries de potências é


assumir que a solução da equação diferencial pode ser escrita como uma série de
potências e ser absolutamente convergente ao redor de algum ponto.

Para exemplificar, resolveremos a equação:

y´´ + y = 0

ao redor do ponto x0 = 0. Obviamente que a equação é facilmente resolvida e a


solução é:

y(x) = c1 sen(x) + c2 cos(x).

Para resolver a equação, supomos que:


y ( x ) = ∑an x n
n=0

216
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

ou seja, uma série de potências ao redor de x0 = 0. Como assumimos que a série é


absolutamente convergente, podemos derivá-la termo a termo, assim:


y ' ( x ) = ∑nan x n−1
n =1


'' ( x )
y= ∑n ( n − 1) a x n
n− 2

n= 2

substituindo na equação, obtemos:

∞ ∞

∑n ( n − 1) a x + ∑a x n =
n− 2
n n
0.
=n 2= n 0

Note que não podemos combinar as duas séries de potências, pois ambas não
têm o mesmo termo geral. Para resolver esse problema, fazemos uma mudança de
variável na primeira série de potências, chamamos m = n – 2 e, portanto, n = m + 2. A
série que começava em n = 2, agora, começa em m = 0. Assim:

∞ ∞

∑n ( n − 1) an x = ∑ ( m + 2 )( m + 1) a
n− 2
m+ 2
xm .
=n 2=m 0

Como a variável é muda, então, podemos, ao final, trocar m por n. Portanto:

∞ ∞ ∞ ∞

∑n ( n − 1) an x + ∑an x = ∑ ( n + 2 )( n + 1) an+2 x + ∑an x =


n− 2 n n n
0 ⇒ 0.
=n 2 =n 0=n 0 =n 0

Agora, podemos combinar as séries, obtendo:

∑ {( n + 2 )( n + 1) a
n=0
n+ 2 }
+ an x n =
0.

Contudo, a equação anterior deve ser satisfeita para cada x no intervalo


de definição da série. Isso é verdade somente se cada coeficiente da série for nulo.
Assim:
( n + 2 )( n + 1) a n+ 2
+ a=
n
n 0,1, 2,…
0, =

217
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

A identidade é uma relação de recorrência. Ademais, a relação de


recorrência relaciona an com o termo an+2. Assim, a partir de a0, determinamos a2,
a4, a6,... e, a partir de a1, determinamos a3, a5, a7,... Portanto, assumiremos que a0 e
a1 sejam indeterminados e calculemos os outros termos da série de potências em
função de a0 e a1. De fato, o que estamos assumindo aqui é a existência de duas
constantes de integração que são determinadas com condições iniciais agregadas
ao problema.

Vejamos como obter os coeficientes de índice par. Se


( n + 2 )( n + 1) an+2 + an =
0, então:

an
an+ 2 = −
( n + 2 )( n + 1)
logo:

a a a a0 a a
a2 =
− 0 = − 0 , a4 =
− 2 = , a6 =
− 4 =− 0 ,…
2 ⋅1 2! 4 ⋅ 3 4! 6⋅5 6!

os termos sugerem que, para n = 2k:

( −1) a ,
k

an a=
= k 1, 2, 3,….
=
2k
( 2k ) ! 0

A identidade pode ser demonstrada por indução. Analogamente, os


termos com índice ímpar são definidos por:

( −1)
k

an a=
= a1 ,=k 1, 2, 3,….
2 k +1
( 2 k + 1) !
Portanto, a solução da equação diferencial y´´ + y = 0 é:

∞ ∞ ∞
y ( x)
= ∑=
an x n ∑a2 k x + ∑a2 k +1x
2k 2 k +1

=n 0=k 0 =k 0

( −1) x ( −1)
k k
∞ ∞
= a ∑ 2k
+a ∑ ( 2 k + 1) ! x
2 k +1

=
0
k 0=
1
k 0 ( 2k ) !

218
TÓPICO 1 | SEQUÊNCIAS, SÉRIES NUMÉRICAS E SÉRIES DE POTÊNCIA

Testando a convergência das séries pelo teste da razão, vemos que as duas
séries convergem para x ∈ ℝ
R. Portanto:

( −1) x ( −1)
k k
∞ ∞
=y ( x) a ∑ 2k
+a ∑ ( 2 k + 1) ! x
2 k +1

=
0
k 0=
1
( 2k ) !
k 0

É a solução por séries de potências da equação diferencial y´´ + y = 0. Note


que a primeira série é a série de Taylor da função cosseno, e a segunda série é a
série de Taylor da função seno.

219
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma sequência de números reais é uma função a : N


ℕ→R
ℝ.

• Uma sequência (an) é dita convergente e tem um limite a se, para todo ε > 0 , existir
N , tal que an − a < ε . Caso contrário, a sequência (an) é dita divergente.
n0 ∈ ℕ

• Série numérica é a soma de uma quantidade infinita de números reais.

• Uma série de potências é uma série infinita da forma


∑a x
n
n
=∑ an x n =a0 + a1 x + a2 x 2 +  + an x n +  , em que an são constantes.
n=0

220
AUTOATIVIDADE

1 Uma sequência numérica infinita (e1, e2, e3,…, en,…) é tal que a soma dos n
termos iniciais é igual a n² + 6n. O quarto termo dessa sequência é igual a:

a) ( ) 9.
b) ( ) 13.
c) ( ) 17.
d) ( ) 32.
e) ( ) 40.

2 Determine se as sequências a seguir são convergentes ou divergentes.

3n
a) an =
1 + 6n
n3
b) an =
n+1
3 Considere a série de potências:

∑ ( r + m − n − 1) x
4n

n =1

Qual das alternativas a seguir representa a mesma série de potências?


∑ ( r + m − n + 3) x
4 n+ 4
a) ( ) .
n=0

∑ ( r + m − n) x
3n
b) ( ) .
n=0


c) ( ) ∑ ( r + m − 2 − n ) x 4 n+ 3 .
n=0

∑ ( r + m − n) x
4 n+ 4
d) ( ) .
n=0

∑ ( r + m − n) x
4 n+ 3
e) ( ) .
n=0

221
222
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES


PERIÓDICAS

1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 2 (Transformadas de Laplace), já introduzimos o conceito de
funções periódicas. Contudo, como as funções periódicas são fundamentais no
estudo das séries de Fourier, iremos, neste tópico, estudar novamente as funções
periódicas, mas de uma forma mais aprofundada.

2 FUNÇÕES PERIÓDICAS
Definição 6: seja f uma função real com variável real, ou seja, f : R R.A
ℝ→ℝ
função f é dita periódica se existir um número real T, chamado período da função,
tal que f(x) = f(x + T).

Note que, na definição, assumimos que tanto x quanto x + T pertencem ao


domínio da função. O período T de uma função f não é unicamente definido, pois
se T é período de f, então, 2T também é período de f. Com feito:

f ( x + 2T ) = f ( x + T + T ) = f ( x + T ) = f ( x )

Procedendo indutivamente, concluímos que se T é período de uma função


f, então, kT, com k ∈ ℤ
Z , é perído de f. Portanto, para termos um entendimento mais
preciso do conceito período, introduziremos a ideia de período fundamental.

Definição 7: seja f uma função periódica real com variável real. O menor
número real positivo T, tal que f(x) = f(x + T), é dito período fundamental.

Apesar da definição, é comum denominar o período fundamental por


período. Portanto, apesar de parecer um pouco confuso, quando falarmos em
uma função periódica com período T, assumimos que é o período fundamental,
salvo indicação contrária.

A definição de função periódica menciona que a função tem um gráfico


que repete o formato a cada T unidades. Por exemplo, a seguir, há uma função
periódica com período T = 2.

223
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

GRÁFICO 1 – EXEMPLO DE FUNÇÃO PERIÓDICA COM PERÍODO T=2

FONTE: O autor

A função constante f(x) = c é um caso degenerado, pois todo T ∈ ℝ


R é um
período para essa função. Assim, dizemos que não há um período fundamental.

Vejamos, a seguir, alguns exemplos de função periódica. Apresentaremos


a função e seu gráfico.

Exemplo 12: as funções sen x e cos x são, talvez, as funções periódicas


mais fáceis de serem lembradas. Ambas, como veremos mais à frente, são a base
para o estudo das séries de Fourier. Essas funções são periódicas, de período 2π .

GRÁFICO 2 – FUNÇÕES sen x (TRAÇO CONTÍNUO) E cos x (LINHA TRACEJADA)

FONTE: O autor

224
TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES PERIÓDICAS

Exemplo 13: outra função periódica é f(x) = x – |x|, em que |x| é a função
chão, que representa o maior inteiro menor ou igual a x. A função f é uma função
periódica de período T = 1.

GRÁFICO 3 – FUNÇÃO PERIÓDICA COM PERÍODO T=1

FONTE: O autor

Para algumas funções, há a necessidade de fazer algumas manipulações


para encontrar o período fundamental da função. Por ser de extrema utilidade
para o desenvolvimento da teoria das séries de Fourier, voltemos nosso olhar,
novamente, à função seno.

 nπ x 
Exemplo 14: considere a função sen  N. Qual seu período
 , n∈ℕ
 L 
fundamental? n∈ ℕ N . Para encontrar o período fundamental da função, é preciso
analisar a seguinte identidade:
 nπ ( x + T )   nπ x 
sen 
 L
 = sen 
 .
   L 

E verificar se existe T que satisfaça para todo x ∈ ℝ


R. O termo à esquerda,
na identidade, é a soma de dois termos. Portanto, aplicando a identidade
trigonométrica do seno da soma, obtemos:

 nπ x   nπ T   nπ x   nπ T   nπ x 
sen   cos   + cos   sen   sen 
= . (2)
 L   L   L   L   L 

225
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

L
Como essa identidade, deve valer para qualquer x ∈ ℝ
R. Tomemos
T x= .
2n
Logo:

π   nπ T  π   nπ T  π 
sen   cos   + cos   sen   sen   .
=
2  L  2  L  2

Assim:

π   nπ T  π 
sen   cos   = sen   .
2  L  2

Consequentemente:

 nπ T 
cos   = 1. (3)
 L 

Por outro lado, tomando x = 0 em (2), obtemos:

 nπ T 
sen   = 0. (4)
 L 

Estamos interessados no menor valor de T que satisfaça (3) e (4)


simultaneamente. Isso acontece quando:

nπ T
= 2π .
L

 nπ x 
Portanto, o período fundamental de sen   é:
 L 
2L
T= .
n

Analogamente, podemos demonstrar que o período fundamental de


 nπ x 
cos  N é:
 , n∈ℕ
 L 
2L
T= .
n

As funções periódicas têm a propriedade que a combinação linear de


funções periódicas de período T ainda é uma função periódica de período T.

226
TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES PERIÓDICAS

Teorema 6: sejam f e g duas funções periódicas com o mesmo período T.


Então, af + bg é uma função periódica de período T para qualquer a , b ∈ ℝ
R.

Demonstração: sejam f e g duas funções periódicas com o mesmo período


T. Assim:

( af + bg )( x + T ) = af ( x + T ) + bg ( x + T ) = af ( x ) + bg ( x ) = ( af + bg )( x ) .
Portanto, af + bg é uma função periódica de período T.

Exemplo 15: qual o período da função


= f ( x ) sen ( 5 x ) + sen ( 3 x ) ?

O período fundamental da função seno é 2π . Portanto, se tivermos:

sen ( 5 x + 5T ) + sen ( 3 x + 3=
T ) sen ( 5 x ) + sen ( 3 x ) .

Devemos ter:

= nπ e 3T 2 mπ
5T 2=

com m , n∈ Z
ℤ . Assim:

5 5T 2nπ n
= = = .
3 3T 2 mπ m

Os menores n,m positivos que satisfazem essa identidade são n = 5 e m = 3.


Portanto, ambas as funções têm período 2π . Logo, f tem período 2π .

=
GRÁFICO 4 – FUNÇÃO PERIÓDICA f ( x ) sen ( 5 x ) + sen ( 3 x )

FONTE: O autor

227
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Modificando a função f, o resultado poderia ser bem diferente. Façamos


mais um exemplo, no qual tomaremos os recíprocos nas funções seno.

x x
Exemplo 16: qual o período da função= f ( x ) sen   + sen   ?
5 3
Pela mesma linha de raciocínio do exemplo anterior, teremos:

x T x T x x
sen  +  + sen  + = sen   + sen  
5 5 3 3 5 3

portanto:

T T
nπ e
= 2= 2 mπ
5 3

com m , n ∈ ℤ
Z . Assim:

3 T / 5 2nπ n
= = = .
5 T / 3 2 mπ m

Os menores n,m positivos que satisfazem essa identidade são n = 3 e m = 5.


Portanto, ambas as funções têm período 30π . Logo, f tem período 30π .

x x
=
GRÁFICO 5 – FUNÇÃO PERIÓDICA ( )
f x sen 
5  + sen  3 
   

FONTE: O autor

228
TÓPICO 2 | DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES DE FUNÇÕES PERIÓDICAS

Para finalizar, vale observar que, às vezes, queremos calcular não o


período T de uma função periódica, mas a quantidade 1/T, que chamaremos de
frequência fundamental da função. A frequência fundamental menciona quantas
vezes, em um intervalo unitário, o valor da função repete.

229
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• f é uma função real com variável real, ou seja, f : ℝ R . A função f é dita


R→ℝ
periódica se existir um número real T, chamado período da função, tal que
f(x) = f(x + T).

• f é uma função periódica real com variável real. O menor número real positivo
T, tal que f(x) = f(x + T), é dito período fundamental.

230
AUTOATIVIDADE

1 Qual o período da função f(x) = tg x?

a) ( ) π/2.
b) ( ) π.
c) ( ) 3π/2.
d) ( ) 2π.
e) ( ) 3π.

2 Qual o período da função f(x) = sen 2x?

a) ( ) π/2.
b) ( ) π.
c) ( ) 3π/2.
d) ( ) 2π.
e) ( ) 3π.

3 Cite dois exemplos práticos nos quais funções periódicas aparecem.

231
232
UNIDADE 3
TÓPICO 3

SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE


SÉRIE DE FOURIER

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos séries trigonométricas. No contexto, surgem as
séries de Fourier, o assunto principal desta unidade.

Jean-Baptiste Joseph Fourier foi um físico e matemático francês nascido


na segunda metade do século XVIII, cuja principal contribuição para a ciência foi
o estudo das séries que hoje levam seu nome. Tudo começou com a tentativa de
Fourier em formalizar uma solução para a equação de calor durante seus estudos
sobre propagação de calor em corpos sólidos. Apesar de estar trabalhando com
um fenômeno físico, o principal objetivo de Fourier era dar uma explicação
matemática para a forma como se comportava o calor, o que ele conseguiu através
da observação de que a propagação de calor deveria ter o mesmo comportamento
de ondas e que a forma mais simples de representar uma onda é através de uma
função periódica, a função seno.

Depois que Fourier publicou seus estudos, outros cientistas passaram a


encontrar soluções para outros problemas, aplicando as descobertas de Fourier.
Hoje, as séries de Fourier são utilizadas em diversas áreas, como processamento
de sinais, estatística e em diferentes ramos da engenharia, os quais, em sua
maioria, envolvem soluções de equações diferenciais.

Contudo, antes de chegarmos na definição de séries trigonométricas


e séries de Fourier, definiremos alguns conceitos auxiliares. Comecemos com
alguns conceitos de álgebra linear.

2 PRODUTO INTERNO
No estudo das séries de Fourier, trabalharemos com funções contínuas
por partes em algum intervalo [a,b] da reta. O conjunto das funções contínuas
por partes forma um subespaço vetorial do espaço das funções reais definidas no
intervalo [a,b]. No espaço das funções contínuas por partes podemos definir um
produto interno.

233
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Definição 8: sejam f e g duas funções reais e contínuas por partes no


intervalo [a,b] da reta. O produto interno entre f e g é definido como:

b
f , g = ∫ f ( x ) g ( x ) dx.
a

Note que a integral está bem definida, pois f e g são funções integráveis
por serem contínuas por partes.

Agora que temos um conceito de produto interno, podemos definir


ortogonalidade entre funções contínuas por partes.

Definição 9: dizemos que as funções reais e contínuas por partes, em um


intervalo [–L,L] da reta, são ortogonais se o produto interno entre as funções for
nulo, ou seja, se:

L
=f ,g f ( x ) g ( x ) dx
∫= 0.
−L

Podemos generalizar a definição dizendo que uma família de funções


{ f ( x )}

n é dita ortogonal se seus elementos são dois a dois ortogonais no
n =1
intervalo [–L,L], ou seja:
L
=fn , f m f ( x ) f ( x ) dx
∫= n m
0, para todo n ≠ m.
−L


As famílias de funções ortogonais mais importantes (e convenientes,
para nosso estudo) são as famílias de funções seno e cosseno. Considere o
intervalo da reta [–L,L] e as seguintes famílias de funções trigonométricas,
{ f ( x )} {
e g ( x)}
∞ ∞
n n
:
= n 0= n 1

 nπ x 
=fn ( x ) cos
=  L  , n 0,1, 2,
 

 nπ x 
=gn ( x ) sen
=  L  , n 1, 2,
 

234
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

por simples integração, temos:

L
 0, n≠m
 nπ x   mπ x  
fn , fm = ∫ cos   cos  L  dx= 2 L , n= m= 0
−L  L     L , n= m ≠ 0

L
 nπ x   mπ x   0, n ≠ m
=gn , g m ∫=
sen 
−L
 sen  L  dx
 L   

 L, n = m
.

Seja { fn ( x )} uma família de funções. Suponha que desejamos utilizar


n=0
essa família de funções para representar uma função f em um intervalo [a,b] da
reta:

f ( x ) = ∑an fn ( x ) .
n =1

Estamos assumindo, implicitamente, a convergência da série. Se a família


{ f ( x )}

n
for uma família de funções ortogonais no intervalo [a,b], então, podemos
n=0
calcular as constantes an de forma simples, através da seguinte observação:
b
∞  b ∞
b 
∫ f ( x ) fm ( x ) dx
= ∫=∑ n n
a
a  n 0=
f ( x ) f
 m

( x ) dx ∑ an ∫ n ( ) m ( )
f x f x dx  .
=
a n 0 a 

Interpretando a identidade como um produto interno e utilizando a


ortogonalidade da família de funções { fn ( x )}

, obtemos:
n=0


=f , fm ∑=
a f ,f
n=0
n n m
am f m , f m

portanto:

f , fn
an = . (5)
fn , fn

235
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

{ f ( x )}

Exemplo 17: a família n
, em que fn(x) = sen(nx), é ortogonal no
n =1
intervalo 0, π  . Tentemos expressar a função f(x) = 1 como uma soma de senos,
ou seja, queremos:

f ( x ) = ∑an sen ( nx ) .
n =1

Podemos utilizar a equação (5) para determinar os coeficientes an. Com


efeito:

∫ sen ( nx ) dx
π
f , fn
=an = 0

fn , fn
∫ sen ( nx ) sen ( nx ) dx
π

mas

π π 0, se n é par
1 
∫0 ( )
sen nx dx =

n
cos ( ) 2,
nx =
se n é ímpar
.
0 n

Por outro lado:


π π π
1 − cos ( 2nx )
∫sen ( nx=
) sen ( nx ) dx sin ( nx ) dx
∫= ∫
2
dx
0 0 0
2

1
π
cos ( 2nx )
π
= ∫ dx − ∫ dx
0
2 0
2

π 1 π
= − sen ( 2π n ) =
2 2n 2

pois sen ( 2π n ) = 0, para n = 1,2,...

Portanto:


4 ∞
4
=1 ∑
= sen ( nx ) ∑ ( 2 k + 1) π sen ( 2 k + 1) x  .
n =1 nπ k =1
n ímpar

O gráfico a seguir mostra a aproximação da função f(x) = 1 quando


fazemos o somatório até k = 10, k = 50 e k = 1000. Observe que, conforme k aumenta,
mais aproximado de f(x) = 1, o somatório fica, ou seja, a série é convergente.
Convergência será vista no próximo tópico.

236
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

GRÁFICO 6 – FUNÇÃO f(x) = 1 E DE SUA APROXIMAÇÃO PARA k = 10, k = 50 E k = 1000

FONTE: O autor

Agora que desenvolvemos a teoria inicial, podemos definir o conceito de


{ fn ( x )}n {
e gn ( x )}
∞ ∞
série de Fourier. Havíamos demonstrado que as famílias
= 0=n 1
,
dadas por:

 nπ x 
=fn ( x ) cos
=  L  , n 0,1, 2,
 

 nπ x 
=gn ( x ) sen
=  L  , n 1, 2,
 

São ortogonais no intervalo [–L,L]. Ademais, note que:

L
 nπ x   mπ x 
=fn , gm ∫=
cos 
−L
 sen  L  dx
 L   
0, para qualquer m e n.

237
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto, a família:

  nπ x   nπ x  
cos   ,sen   (6)
  L   L  n = 1

é, também, ortogonal no intervalo [–L,L]. Na seção anterior, mostramos que as


funções da família são periódicas, com período:

2L
T= .
n

Note que o maior período é T = 2L, quando n = 1. Como já demonstrado que


qualquer múltiplo de um período é um período para qualquer função periódica,
dizemos, então, que a família é uma família de funções ortogonais e de período
T = 2L.

3 SÉRIE DE FOURIER
Definição 10: dada uma função f definida no intervalo [–L,L], chamamos
de série de Fourier de f a seguinte série trigonométrica:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
f ( x) = + ∑  an cos   + bn sen   .
2 n =1   L   L 

Algumas observações acerca da definição devem ser feitas. A primeira é


que estamos assumindo que série é convergente. No próximo tópico, estudaremos
sob quais condições a série de Fourier converge. A segunda observação é que
usamos a0/2 ao invés de a0, e isso se deve ao seguinte fato: a representação promove
uma simplificação em alguns cálculos e algumas fórmulas.

Como a família (6) é ortogonal, podemos determinar os coeficientes da


série de Fourier de uma função f. Para encontrar a0, integramos f no intervalo de
definição, obtendo:

 a0  nπ x   
L L ∞
  nπ x 
∫− L f ( x ) dx ∫− L  2 ∑
= +  an cos   + bn sen     dx
 n =1   L   L   
L
a0 ∞
 L  nπ x   ∞ 
L
 nπ x  
=∫ 2
dx + ∑  n∫
a cos 
 L 

dx  ∑  n ∫ sen 
+ b
 L  dx 
 
=−L n 1  −L
=  n 1  −L
a0
=
2
= ( 2 L ) a0 L.

238
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

Portanto:
L
1
a0 = ∫ f ( x ) dx.
L −L

Outra observação deve ser feita. Nos cálculos do coeficiente a0, trocamos
a ordem do somatório com a integral, ou seja, assumimos que podemos integrar
uma série termo a termo. Esse fato nem sempre é válido, porém, no caso das
séries de Fourier, é sempre possível justificar o fato, que ficará claro na próxima
seção.

Gostaríamos, agora, de calcular o coeficiente an da série de Fourier de f.


Para isso, integraremos a função f multiplicada por um cosseno da família de
funções ortogonais (6).

 a0  nπ x   
L L
 mπ x  ∞
  nπ x   mπ x 
∫− L f ( x ) cos  L  dx ∫
=  + ∑  an cos   + bn sen     cos   dx
  −L  2 n=0   L   L     L 
L
a0  mπ x  ∞
 L  nπ x   mπ x   ∞ 
L
 nπ x   mπ x  

= cos   dx + ∑  an ∫ cos   cos   dx  + ∑ bn ∫ sen   cos   dx 
=
−L
2  L   −L
n 1=  L   L   n 1  −L  L   L  

 mπ x 
como a integral de cos  em um intervalo simétrico é nula, as funções
 L 
 mπ x   nπ x   mπ x 
cos   e sen 
L  são ortogonais para qualquer m e n, e cos  L  e
L    
 nπ x 
cos   são ortogonais para m ≠ n. Obtemos:
 L 
L
 mπ x  ∞
 L  nπ x   mπ x  
∫− L f ( x ) cos  L  dx
= ∑=  an ∫ cos 
n =1  −L  L 

cos 
 L  dx  Lam .
 

Portanto:

L
1  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx.
L −L  L 

A determinação do coeficiente bn pode ser feita apenas substituindo


a função cosseno por uma das funções seno da família ortogonal (6), obtendo,
assim:

L
1  nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx.
L −L  L 

239
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Os coeficientes da série de Fourier dependem de f no intervalo [–L,L].


Além disso, a definição da série de Fourier envolve uma série trigonométrica
de funções de período 2L. Logo, a série de Fourier converge para todo x sempre
que convergir no intervalo [–L,L]. Ademais, a série será periódica, de período
2L e, portanto, a própria f será periódica. Apesar de a função f estar definida,
possivelmente, na reta toda, sua série de Fourier será calculada no intervalo [–L,L]
e, fora desse intervalo f, será definida por f(x) = f(x + 2L).

Vejamos o fato em um simples experimento numérico. Considere a função


f(x) = x. Sua série de Fourier é dada, no intervalo [–L,L], por:

2 L ( −1)
n +1

 nπ x 
f ( x) = ∑ sen  .
n =1 nπ  L 

Nosso objetivo, agora, não é o cálculo de séries de Fourier, mas entender


sua definição e natureza. A seguir, dedicar-nos-emos ao desenvolvimento de
funções em séries de Fourier.

A seguir, em (a), apresentamos o gráfico da função f(x) = x, no intervalo


[–2,2]. Em (b), apresentamos o gráfico do desenvolvimento da função f(x) = x
em série de Fourier no intervalo [–2,2] (apenas a soma dos primeiros 25 termos
da série). Note que, de fato, a série de Fourier é uma boa aproximação. Em (c),
mostramos o gráfico do desenvolvimento da mesma f, mas no intervalo [–1,1].
Novamente, a aproximação (25 termos) é boa, mas apenas no intervalo [–1,1],
pois esse foi o intervalo utilizado para cálculo da série de Fourier. Agora, imagine
que queiramos aproximar f por uma série de Fourier no intervalo [–2,2], mas,
por um descuido, calculamos os coeficientes no intervalo [–1,1] e apresentamos o
gráfico no intervalo [–2,2]. O resultado seria (d).

GRÁFICO 7 – DIFERENTES APROXIMAÇÕES PARA A FUNÇÃO f(x) = x

FONTE: O autor
240
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

A pergunta natural a se fazer é: o gráfico (d) está correto? A resposta é


sim, pois como calculamos os coeficientes no intervalo [–1,1], garantimos a
representação de f no intervalo [–1,1]. Quando apresentamos o gráfico no intervalo
[–2,2], estamos, de fato, apresentando, como resultado, uma função periódica.

Note que, até agora, assumimos a existência de representações em série de


Fourier para certas funções f. Continuaremos com essa hipótese para vermos as
formas alternativas das séries de Fourier. A discussão sobre convergência, tema
mais delicado, será tratada na próxima seção.

O objetivo de encontrarmos formas alternativas para a série de Fourier


é devido a certas facilitações teóricas para estudos de aplicações. Para tanto,
considere a transformada de Fourier da função f:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
f ( x) = + ∑  an cos   + bn sen   , (7)
2 n =1   L   L 

em que

L
1  nπ x 
=an = ∫ f ( x ) cos   dx , para n 0,1, 2,
L −L  L 
L
1  nπ x 
=bn = ∫ f ( x ) sen   dx , para n 1, 2, 3
L −L  L 

Pela fórmula de Euler:

e − ix cos ( x ) + isen ( x ) ,
=

obtemos as seguintes representações para as funções seno e cosseno:

 nπ x  1  i nπLx −i
nπ x

cos =  e +e L 
 L  2 

 nπ x  1  i nπLx − i nπLx 
sen =
L  2 e −e .
   

241
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto, com a substituição dessas representações das funções seno e


cosseno na representação em série de Fourier (7), temos:

a0 ∞  an − ibn i nπLx an + ibn − i nπLx 


f ( x) =
2 ∑
+  e + e .
n =1  2 2 

Definindo:

a0 an − ibn an + ibn
=c0 = , cn e c− n
= para n 1, 2, 3
, =
2 2 2

Portanto, a série pode ser reescrita como:

∞ nπ x
f ( x) =
i
∑ cn e
n = −∞
L
,

desde que a série convirja. A forma da série de Fourier deduzida é chamada de


forma exponencial ou complexa da série de Fourier da função f. Os coeficientes cn
são calculados por:

L nπ x
1
f ( x ) e L dx.
−i

2 L −∫L
cn =

Se a função f for uma função real, então, cn e c–n são conjugados.

Vejamos outra forma alternativa da série de Fourier, com aplicação em


física e engenharia elétrica.

Sejam an e bn os coeficientes de Fourier de uma função f que já sabemos


calcular. Considere um triângulo retângulo com catetos an e bn. Denotemos por
θ n o ângulo entre os catetos an e bn. Portanto:

an bn
=senθ n = e cos θ n .
an + bn2
2
a + bn2
2
n

Denotemos An =an2 + bn2 e A0 =


a0 / 2 . Ademais:

an
=θ n tg −1 , bn ≠ 0
bn

π
=θn = , bn 0.
2
242
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

Por outro lado, através de manipulações trigonométricas:

 nπ x   nπ x    nπ x   nπ x  
an cos   + bn sen =  An senθ n cos   + cos θ n sen  
 L   L    L   L 
 nπ x 
= An sen  + θn 
 L 

portanto:

A0 ∞  nπ x 
f ( x) = + ∑An sen  + θn  ,
2 n =1  L 

em que

L L
1  nπ x  1  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx e bn ∫ f ( x ) sen   dx
L −L  L  L −L  L 

da mesma forma, demonstra-se que:

A0 ∞  nπ x 
f ( x) = + ∑An cos  − ϕn  ,
2 n =1  L 

com ϕn = tan bn / an . A fórmula pode ser vista como uma superposição de


−1

componentes harmônicos, com amplitude An, frequência ωn = nπ / L e fase ϕn .

Os cálculos dos coeficientes da série de Fourier podem ser complicados.


Para certas funções, não há a necessidade de calcular todos os coeficientes de
Fourier, pois alguns são nulos, devido a certas características da função f. Para
entender com mais detalhes, é preciso definir os conceitos de função par e função
ímpar.

Definição 11: seja f uma função definida no intervalo [–L,L]. A função f é


dita par se f(–x) = f(x) para todo x ∈ − L , L  . A função f é dita ímpar se f(–x) = –f(x)
para todo x ∈ − L , L  .

As funções pares são aquelas que são simétricas em relação ao eixo y, e as


funções ímpares são aquelas que são simétricas em relação à origem. Os gráficos
a seguir mostram, claramente, as simetrias das funções par (a) e ímpar (b).

243
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

GRÁFICO 8 – (A) FUNÇÃO PAR E (B) UMA FUNÇÃO ÍMPAR

FONTE: O autor

Exemplos de funções pares são x2n, com n inteiro e a função cosseno.


Exemplos de funções ímpares são x2n–1, com n inteiro e a função seno. Note que
existem funções que não são pares nem ímpares, por exemplo, f(x) = x3 + x6. Para
produzir uma função que não seja par nem ímpar, basta somar uma função par e
uma função ímpar. Por outro lado, o produto de funções pares é par, o produto
de funções ímpares é par e o produto de uma função par por uma ímpar gera
uma função ímpar.

Lembrando que a integral de uma função real de variável real mede a


área sob a curva no gráfico de f. Portanto, a integral, em um intervalo simétrico,
digamos [–L,L], de uma função par, é:

L 0 L 0 L

∫ f ( x ) dx =
−L
∫ f ( x ) dx + ∫ f ( x ) dx =
−L 0
− ∫ f ( − x ) dx + ∫ f ( x ) dx
L 0

L L L L
=∫ f ( − x ) dx + ∫ f ( x ) dx =∫ f ( x ) dx + ∫ f ( x ) dx
0 0 0 0

L
= 2 ∫ f ( x ) dx.
0

244
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

De forma análoga, demonstra-se que se f é uma função ímpar em um


intervalo simétrico [–L,L], então:

∫ f ( x ) dx = 0.
−L

A partir desse fato, temos que a série de Fourier de uma função par no
intervalo [–L,L] é dada por:

a0 ∞  nπ x 
f ( x=
) + ∑an cos  ,
2 n =1  L 

em que

L
2  nπ x 
=an = ∫ f ( x ) cos   dx , para
para n 0,1, 2,
L0  L 

Já a série de Fourier de uma função ímpar no intervalo [–L,L] é dada por:


 nπ x 
f ( x ) = ∑bn sen  ,
n =1  L 

em que

L
2  nπ x 
=bn = ∫ f ( x ) sen   dx , para
para n 1, 2, 3
L0  L 

Suponha, agora, que desejamos encontrar a representação em série


de Fourier de uma função f no intervalo (0,L], que não é simétrico. Pois bem,
temos duas possibilidades para estender a função f em um intervalo simétrico: a
primeira leva a uma série de Fourier em senos, já a segunda leva a uma série de
Fourier em cossenos.

De fato, considere uma função f definida no intervalo (0,L]. Considere a


função fI definida no intervalo [–L,L]:

 f ( x) , 0 < x ≤ L

f I ( x ) = − f ( − x ) , − L ≤ x < 0.
 0, x = 0

245
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

A função fI é dita a extensão ímpar de f no intervalo [–L,L]. Como fI é uma


função ímpar, então, sua série de Fourier é dada apenas por uma série em senos.
Como, no intervalo (0,L], as funções f e fI coincidem, então:


 nπ x 
f ( x ) = ∑bn sen  
n =1  L 

L
2  nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx , para
para n 0,1, 2,
L0  L 

no intervalo (0,L].

Por outro lado, considere a função fP definida no intervalo [–L,L]:

 f ( x) , 0 < x ≤ L

f P ( x )=  f ( − x ) , − L ≤ x < 0
 f 0+ , x =
 ( ) 0

em que f ( 0 + ) =lim+ f ( x ) . A função fP é dita a extensão par de f no intervalo


x →0
[–L,L]. Como fP é uma função par, então, sua série de Fourier é dada apenas por
uma série em cossenos. Como, no intervalo (0,L], as funções f e fP coincidem, então:

a0 ∞  nπ x 
f ( x=
) + ∑an cos  
2 n =1  L 

L
2  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx , para
para n 0,1, 2,
L0  L 

No intervalo (0,L].

Vejamos um exemplo de extensões pares e ímpares de uma função.

Exemplo 18: f(x) = x definida no intervalo (0,L]. Se f é estendida de forma


ímpar, então:

246
TÓPICO 3 | SÉRIES TRIGONOMÉTRICAS E DEFINIÇÃO DE SÉRIE DE FOURIER

2 L ( −1)
n +1

 nπ x 
=f ( x) ∑ sen  para x ∈ ( 0, L  .
 ,para
n =1 nπ  L 

Se f é estendida de forma par, então:

L ∞ 2 L 1 − ( −1) 
 n

 nπ x 
f ( x) = − ∑ cos  para x ∈ ( 0, L  .
 ,para
2 n =1 nπ  L 
2 2

Vejamos dois gráficos para entendermos a situação. Em 9(a), temos o


resultado da extensão ímpar (somas para n = 1, n = 5 e n = 8) de f(x) = x e, em
9(b), a extensão par (somas para n = 1, n = 5 e n = 8) da mesma função. Note que a
extensão ímpar aproxima a função f na origem. O fato é que f(0) = 0 e a extensão
ímpar gozam da mesma propriedade.

GRÁFICO 9 – (A) EXTENSÃO ÍMPAR E (B) EXTENSÃO PAR

FONTE: O autor

Porém, quando aproximamos os gráficos para o intervalo (0,L], vemos


que a extensão par produz uma melhor aproximação.

247
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

GRÁFICO 10 – ZOOM DOS GRÁFICOS PARA O INTERVALO (0,L]

FONTE: O autor

Chegamos ao fim do tópico de definição da série de Fourier e suas versões


alternativas. Porém, como afirmado várias vezes, assumimos a existência da série
de Fourier de certas funções. A seguir, veremos sob quais condições garantimos a
existência de uma representação em série de Fourier para uma função f.

248
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• As famílias de funções ortogonais mais importantes (e convenientes, para


nosso estudo) são as famílias de funções seno e cosseno.

• Dada uma função f definida no intervalo [–L,L], chamamos de série de Fourier


de f a seguinte série trigonométrica:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
f ( x) = + ∑  an cos   + bn sen   .
2 n =1   L   L 

• Os coeficientes de Fourier são:

L
1
a0 = ∫ f ( x ) dx.
L −L
L
1  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx.
L −L  L 
L
1  nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx.
L −L  L 

249
AUTOATIVIDADE

1 Escreva a definição da série de Fourier de uma função f, assim como


formulações alternativas.

2 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- Existem funções que são pares e ímpares ao mesmo tempo.


II- Toda função periódica é ímpar.
III- A série de Fourier de uma função par é escrita como uma série de senos.

a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I.
e) ( ) II.

3 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- Toda função contínua pode ser estendida de forma par.


II- As extensões par e ímpar de uma função contínua não nula são sempre
distintas.
III- A extensão ímpar de uma função par é uma função par.

a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I.
e) ( ) II.

250
UNIDADE 3
TÓPICO 4

CONDIÇÃO DE CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES


DE FOURIER

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, mostramos que se a série de Fourier:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
+ ∑  an cos   + bn sen   ,
2 n =1   L   L 

converge no intervalo [–L,L], ela define uma função f que é periódica, de período
2L. Os coeficientes da série de Fourier estão relacionados com f por:

L
1  nπ x 
=an = ∫ f ( x ) cos   dx , para
para n 0,1, 2, (8)
L −L  L 

L
1  nπ x 
=bn = ∫ f ( x ) sen   dx , para
para n 1, 2, 3 (9)
L −L  L 

Até agora, sempre falamos que:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
f ( x) = + ∑  an cos   + bn sen   .
2 n =1   L   L 

Contudo, a notação era puramente ilustrativa, já que nem todas as funções


admitem representação em séries de Fourier, e nem sempre a série de Fourier
associada a uma função converge para f em todos os pontos.

Antes de falarmos sobre as condições que ocasionam a convergência da


série de Fourier, precisamos introduzir um conceito, o conceito de função contínua
por partes.

251
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

2 FUNÇÕES CONTÍNUAS POR PARTES


Definição 12: seja f uma função real com variável real. Dizemos que a
função f é contínua por partes em um intervalo [a,b] qualquer da reta se o intervalo
pode ser separado em um número finito de subintervalos [xi, xi+1]:

a = x0 < x1 < x2 <  < xi < xi +1 <  < xn−1 < xn = b

f deve ser contínua em cada intervalo aberto (xi, xi+1). Nos limites de cada intervalo
aberto, a função f não deve ter limite infinito.

De forma ingênua, uma função contínua por partes é uma função que
está “quebrada” em um número finito de pedaços, e f não tende ao infinito em
nenhum ponto no intervalo total [a,b]. A seguir, há um exemplo de uma função
que é contínua por partes.

Todos os coeficientes an e bn são encontrados através de processos de


integração. Contudo, um resultado famoso em análise garante que funções
contínuas por partes são integráveis.

GRÁFICO 11 – FUNÇÃO CONTÍNUA POR PARTES

FONTE: O autor

3 CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER


Agora estamos prontos para enunciar o teorema da convergência das
séries de Fourier.

252
TÓPICO 4 | CONDIÇÃO DE CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER

Teorema 7: suponha que f : ℝ R→ℝ R seja contínua por partes e que f´


seja contínua por partes no intervalo [–L,L]. Além disso, f está definida fora do
intervalo de forma periódica, com período 2L. Então, a série de Fourier associada
a f:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
+ ∑  an cos   + bn sen  
2 n =1   L   L 

converge e seu limite é:

f ( x +) + f ( x −)
,
2
em que
= f ( x + ) lim f=
+
( t ) e f ( x − ) lim

f ( t ) . Os coeficientes an e bn são dados por
t→x t→x
(8) e (9).

A demonstração é bem complicada e não será feita neste material.


Ademais, pode-se mostrar que a convergência nos pontos de continuidade da
função é uniforme, já na vizinhança das descontinuidades esse fato não ocorre.

Note que, nos pontos x em que a função f é contínua, a série de Fourier


converge para f(x). Já nos pontos de descontinuidade, a série de Fourier converge
para metade do salto da descontinuidade. Vejamos, com mais detalhes, o fato da
convergência para a média. Considere a função degrau unitário:

0, x < 0
u( x) = 
1, x ≥ 0

no intervalo [–L,L]. Sua expansão em série de Fourier é:

1 ∞ 2  ( 2 k + 1) π x 
+∑ sen  .
2 k = 0 ( 2 k + 1) π  L 

Observe que a descontinuidade da função u está em x = 0, x = –L e x = L. A


série, neste ponto, é ½ , pois a função seno se anula. Portanto, cada soma parcial,
assim como o limite da soma, sempre passa pelo ponto:

u( x +) + u( x −) 1 + 0 1
= = .
2 2 2

Como dito, nas vizinhanças das descontinuidades, não há convergência


uniforme. Assim, ao redor das descontinuidades, as séries de Fourier oscilam de
forma não uniforme. O fenômeno é chamado de fenômeno de Gibbs. Vejamos o

253
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

fato. Considere novamente a função degrau u dada e sua representação em série


de Fourier. A seguir, mostraremos as somas parciais da série de Fourier para
k = 1, k = 6 e k = 50, além da própria função degrau. Observe que, ao redor da
descontinuidade, as somas parciais se distanciam do valor da função no ponto,
porém, fora desses pontos, observa-se, com clareza, a natureza da convergência
uniforme da série.

GRÁFICO 12 – FUNÇÃO DEGRAU UNITÁRIO E SUAS EXPANSÕES EM SÉRIE DE FOURIER

FONTE: O autor

Para melhor apreciarmos esse fato, além do já descrito anteriormente de


convergência para a média, apresentamos o gráfico a seguir. Colocamos todos os
gráficos sobrepostos. Note, primeiramente, que todas as somas parciais passam
por ½ . Ademais, pode-se observar, com mais clareza, o fenômeno de Gibbs.

254
TÓPICO 4 | CONDIÇÃO DE CONVERGÊNCIA DAS SÉRIES DE FOURIER

GRÁFICO 13 – GRÁFICOS SOBREPOSTOS

FONTE: O autor

Para finalizar, apresentamos a soma parcial até k = 5000, mostrando a


convergência uniforme em todos os pontos de continuidade de f.

GRÁFICO 14 – SOMA PARCIAL DA SÉRIE DE FOURIER DA FUNÇÃO DEGRAU UNITÁRIO PARA


k = 5000

FONTE: O autor

255
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma função contínua por partes é uma função que está “quebrada” em um
número finito de pedaços, e f não tende ao infinito em nenhum ponto no
intervalo total [a,b].

• É importante que as funções que queremos encontrar uma representação em


série de Fourier sejam integráveis.

• A série de Fourier associada a uma dada função f converge, e seu limite é:

f ( x +) + f ( x −)
2

256
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as condições para a convergência das séries de Fourier?


Qual o comportamento das séries de Fourier ao redor de eventuais
descontinuidades?

2 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- A série de Fourier converge para metade do salto da descontinuidade.


II- A série de Fourier converge uniformemente nas vizinhanças das
descontinuidades.
III- Todas as funções contínuas por partes são integráveis.

a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I.
e) ( ) II.

3 Quais das seguintes afirmações são corretas?

I- Funções contínuas, quando expandidas em série de Fourier, podem


apresentar o fenômeno de Gibbs.
II- A função f(x) = ln x satisfaz as hipóteses do Teorema 7.
III- A função f(x) = tg x é contínua por partes.

a) ( ) I e II.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I.
e) ( ) II.

257
258
UNIDADE 3
TÓPICO 5

DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

1 INTRODUÇÃO
Até agora, nossa abordagem foi puramente teórica, pois a definição da
série de Fourier, assim como sua natureza, requerem muita teoria. Nos tópicos
anteriores, apresentamos alguns desenvolvimentos em série de Fourier de
algumas funções, mas não mostramos os cálculos, pois o objetivo era entender
algumas das peças que formam a engrenagem chamada série de Fourier. Neste
tópico, dedicar-nos-emos a realizar uma série de exemplos de desenvolvimento
em séries de Fourier. O objetivo será mostrar os cálculos que envolvem a
determinação dos coeficientes da série de Fourier de uma função dada.

2 DETERMINAÇÃO DOS COEFICIENTES DA SÉRIE DE


FOURIER
Exemplo 19: utilizamos, como exemplo, o desenvolvimento, em série
de Fourier, da função f(x) = x no intervalo [–L,L]. Vamos, agora, realizar todos
os passos para a obtenção da série de Fourier de f(x) = x. Queremos calcular os
coeficientes a0, an e bn:

a0 ∞   nπ x   nπ x  
f ( x) = + ∑  an cos   + bn sen   .
2 n =1   L   L 

em que:

L L L
1 1  nπ x  1  nπ x 
=a0 = ∫ f ( x ) dx , an ∫ f ( x ) cos=
  dx e bn ∫ f ( x ) sen   dx.
L −L L −L  L  L −L  L 

Com efeito:

L L L
1 1 1 x2 1  L2 L2 
a0=
L −∫L
f ( )
x dx=
L −∫L
xdx=
L 2
=  − = 0.
L 2 2 
−L

Para o cálculo dos coeficientes an, utilizaremos integração por partes, pois
teremos que integrar uma função trigonométrica multiplicada por uma função
polinomial:
259
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

L L
1  nπ x  1  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx ∫ x cos   dx
L −L  L  L −L  L 
L L
1  nπ x  1  nπ x 
xsen   −∫ sen   dx
πn  L  −L −L π n  L 
L L
1  nπ x  L  nπ x 
xsen   + 2 2 cos  
πn  L  −L π n  L  −L
 1  1   L L 
=  Lsen ( nπ ) −  ( − L ) sen ( −nπ )   +  2 2 cos ( nπ ) − 2 2 cos ( −nπ ) 
π n πn   π n π n 
1 1  L L 
= Lsen ( nπ ) − Lsen ( nπ ) +  2 2 cos ( nπ ) − 2 2 cos ( nπ )  = 0.
πn πn π n π n 

Para o cálculo dos coeficientes bn, a mesma metodologia (integração por


partes) será seguida:
L L
1  nπ x  1  nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx ∫ xsen   dx
L −L  L  L −L  L 
L L
1  nπ x  1  nπ x 
=
− x cos   +∫ cos   dx
πn  L  −L −L π n  L 
L L
1  nπ x  L  nπ x 
=
− x cos   + 2 2 sen  
πn  L  −L π n  L  −L
 1  1   L L 
=
− L cos ( nπ ) −  ( − L ) cos ( −nπ )   +  2 2 sen ( nπ ) − 2 2 sen ( −nπ ) 
π n πn   π n π n 
 1 1   L L 
=
− L cos ( nπ ) + L cos ( nπ )  +  2 2 sen ( nπ ) + 2 2 sen ( nπ ) 
π n πn  π n π n 
2L 2L
cos ( nπ ) = ( −1) .
n +1
=

πn πn

Utilizamos dois fatos para concluir o cálculo da integral. O primeiro é:


sen(nπ) = 0 para todo n ∈ Z
ℤ . O segundo, cos(nπ) = (–1)n para todo n ∈ Z
ℤ . Portanto:

 nπ x   ∞ 2 L ( −1)
n +1
a0 ∞   nπ x   nπ x 
f ( x) =
2 ∑ ∑ nπ
+  an cos   + bnsen  L   = sen  .

n 1=  L    n 1  L 

260
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

Note que nem precisaríamos ter calculado todos os coeficientes da série


de Fourier. Basta notar que a função f(x) = x é uma função ímpar, por isso, seu
desenvolvimento em série de Fourier será apenas uma série de funções seno.

Exemplo 20: continuemos explorando a paridade de uma função.


Calcularemos o desenvolvimento em série de Fourier da função f(x) = x2 no
intervalo [–L,L].

Note que a função f(x) = x2 é uma função par, portanto, sua série de Fourier
é apenas desenvolvida em cossenos. Assim:

a0 ∞  nπ x 
f ( x=
) + ∑an cos  .
2 n =1  L 

Comecemos calculando o coeficiente a0. Com efeito:

L L L
1 1 2 1 x3 1  L3 L3  2 L2
a0=
L −∫L
f ( x ) dx=
L −∫L
x dx=
L 3
=  + =
L 3 3  3
.
−L

Assim como no exemplo anterior, para o cálculo de an, utilizaremos


integração por partes duas vezes.
L L
1  nπ x  1 2  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx ∫ x cos   dx
L −L  L  L −L  L 
L L
1 2  nπ x  2  nπ x 
x sen   −∫ xsen   dx
πn  L  −L −L π n  L 

2  L  nπ x  
L L L
1 2  nπ x   nπ x  L
=
πn
x sen   −  − x cos   +∫ cos   dx 
 L  − L π n  π n  L  −L −L π n  L  

2  L  nπ x  
L L L
1 2  nπ x   nπ x  L2
= x sen   − − x cos   + 2 2 sen  L  
πn  L  − L π n  π n  L  −L π n   − L 
L L L
1  nπ x  2L  nπ x  2 L2  nπ x 
= x 2 sen   + x cos   − sen  
πn  L  −L π n
2 2
 L  −L π n
3 3
 L  −L

2L 2L 4 L2
( ) ( ) ( ) 2 2 (
−1) .
n
= L cos nπ − − L cos − nπ =
π n
2 2
π n
2 2
π n

261
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto:

a0 ∞  nπ x  L2 ∞ 4 L2  nπ x 
f ( x) = + ∑ 2 2 ( −1) cos 
n
+ ∑an cos   = .
= 2 n 1=  L  3 n 1π n  L 

Exemplo 21: o desenvolvimento em série de Fourier permite calcular o


valor de certas séries numéricas. Vejamos, no exemplo a seguir, como demonstrar
que:


1 π2

n =1 n
2
=
6
.

Para isso, note que, no intervalo [–L,L]:

L2 ∞ 4 L2  nπ x 
+ ∑ 2 2 ( −1) cos 
n
x2 = .
3 n =1 π n  L 

Para x = L, obtemos:

L2 ∞ 4 L2 4 L2 ∞ 1 4 L2 ∞ 1
L = + ∑ 2 2 ( −1) cos ( nπ ) = 2 ∑ 2 ( −1) ( −1) = 2 ∑ 2 .
2 n n n

3 n 1π n = π n 1= n π n 1n

Portanto, isolando o somatório na identidade:


1 π 2  2 L2  π 2
∑ =
n =1 n
2 L − =
4 L2 

3 6
.

O resultado está garantido, pois f(L) = f(–L) e, assim, o teorema garante a


convergência uniforme em x = L, já que não há descontinuidade no ponto.

Exemplo 22: deduziremos o desenvolvimento em série de Fourier da


função degrau unitário:

0, x < 0
u( x) = 
1, x ≥ 0

no intervalo [–L,L]. Lembrando que essa foi a função que utilizamos para explicar
o fenômeno de Gibbs. Comecemos calculando o coeficiente a0. Com efeito:

262
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

L L L
1 1 1 1
a0= ∫ u ( x ) dx= ∫dx= x = ( L − 0 )= 1.
L −L L0 L 0 L

Por outro lado, os coeficientes an são calculados por:

L L L
1  nπ x  1  nπ x  1  nπ x 
=an ∫ u ( x=
) cos   dx ∫
= cos   dx = sen   0.
L −L  L  L0  L  nπ  L 0

Já os coeficientes bn são calculados da seguinte forma:

L L L
1  nπ x  1  nπ x  1  nπ x  1
bn = ∫ u ( x ) sen   dx = ∫sen   dx =− cos   = 1 − ( −1)n  .
 
L −L  L  L0  L  nπ  L  0 nπ

Podemos simplificar os coeficientes bn, notando que 1 – (–1)n = 0 para n par


e 1 – (–1)n = 2 para n ímpar. Podemos escrever a série de Fourier da função degrau
unitário como:

1 ∞ 2  ( 2 k + 1) π x 
u ( x )= +∑ sen  .
2 k = 0 ( 2 k + 1) π  L 

Exemplo 23: vamos, agora, determinar a série de Fourier de uma onda


triangular no intervalo [–2,2], com a seguinte forma:

− x , −2≤ x<0
f ( x) =  .
 x, 0≤x<2

Calcularemos a0, inicialmente:

L 0 2 0 2
1 1 1 1 x2 1 x2
2 −∫L
a0 = f ( x ) dx =

2 −∫2
xdx +
2 ∫0
xdx =

2 2
+
2 2
2.
=
−2 0

Note que f é uma função par. Portanto, os coeficientes bn, que acompanham
as funções seno, são nulos. Portanto, resta calcular os coeficientes an.Como
já calculamos a série de Fourier da função f(x) = x, aproveitaremos algumas
passagens (trocando L por 2):

2 0 2
1  nπ x  1  nπ x  1  nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   − ∫ x cos 
dx =  dx + ∫x cos   dx
2 −2  2  2 −2  2  20  2 

263
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Observe que ambas as integrais que devemos calcular são as mesmas,


exceto pelos limites de integração. Assim, calculemos a seguinte integral
indefinida:
3
x
2  nπ x  2  nπ x  4  nπ x 
∫ x dx = + c.
∫ x cos 
 2 
 dx =
πn
xsen  
 2  π n
+ 2 2 cos 
 2 
.
3
Assim:
0 0 2 2
1  nπ x  2  nπ x  1  nπ x  2  nπ x 
an =
− xsen   − 2 2 cos   + xsen   + 2 2 cos  
πn  2  −2 π n  2  −2 π n  2 0 π n  2 0
2 1 − ( −1)n  + 2 ( −1)n − 1 =4 ( −1)n − 1 .
=
−   π 2 n2   π 2 n2  
π n2
2

Contudo, assim como no exemplo 22, vemos que (–1)n = –1 somente para n
ímpar. Portanto, a representação em série de Fourier da função dada é:

A seguir, mostraremos o gráfico para as aproximações de f, utilizando a


série de Fourier. Apresentamos k = 1, k = 5 e k = 100.

GRÁFICO 15 – FUNÇÃO DO EXEMPLO 23 E SUAS EXPANSÕES EM SÉRIE DE FOURIER

FONTE: O autor

264
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

Exemplo 24: qual a representação em série de Fourier da função f(x) = ex


no intervalo [–π,π]?

a0 ∞
+  an cos ( nx ) + bn sen ( nx )  .
2 ∑
ex =
n =1

Os coeficientes são calculados da seguinte forma:

π π
1 1 x e π − e −π
∫ e dx =
x
=a0 = e .
π −π
π −π
π

Por outro lado, para o cálculo dos coeficientes an, utilizaremos integração
por partes duas vezes. Com efeito:
π
1
an = ∫πe
x
cos ( nx ) dx
π −

π π
ex 1
= sen ( nx ) − ∫πe sen ( nx ) dx
x

nπ −π
nπ −

1  ex 
π π π
ex 1
= sen ( nx ) −  − cos ( nx ) + ∫ e x cos ( nx ) dx 
nπ nπ  n n −π 
−π  −π 
π π π
ex ex 1
= sen ( nx ) + 2 cos ( nx ) − 2 ∫πe
x
cos ( nx ) dx
nπ −π
nπ −π
nπ −

π π
ex ex 1
= sen ( nx ) + 2 cos ( nx ) − 2 an .
nπ −π
nπ −π
n

Note que a integração por partes, no caso, forneceu an em ambos os lados


da identidade. Para encontrar o valor de an, basta isolá-lo. De fato:

π π
n2 + 1 1 ex ex
n2
an
a
=+
n
n2
an
=

sen ( ) n2π cos ( nx )
nx +
−π −π

ou seja

265
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

π π
ne x ex
=an sen ( nx ) + cos ( nx )
(n 2
+1 π ) −π
(n 2
+1 π ) −π

eπ e −π
= cos ( nπ ) − cos ( −nπ )
( n + 1) π
2
(n 2
+1 π )
=
( e − e ) ( −1) .
π −π
n

( n + 1) π
2

De maneira análoga, calculamos os coeficientes bn:

1
π
sen ( nx ) dx
(
n e π − e −π ) ( −1) n +1
∫e =
x
=bn
π −π (n 2
+1 π )
portanto

a0 ∞
+  an cos ( nx ) + bn sen ( nx ) 
2 ∑
ex =
n =1

e π − e −π ∞  e − e
= +∑ 
π −π
( n )
n e π − e −π
( −1) cos ( nx ) + 2
( ) ( −1) n +1

sen ( nx ) 
2π n =1  n + 1 π

2
( )
n +1 π ( ) 

2senhπ  1 ∞ ( −1) 
n

=  +∑ 2 cos ( nx ) − nsen ( nx )  .
π  2 n=1 n + 1 ( )

Com isso, finalizamos o cálculo da série de Fourier da função ex. Porém,


para x = 0, obtemos:

2senhπ  1 ∞ ( −1) 
n

e =  +∑ 2
0
cos ( 0 ) − nsen ( 0 )  
π  2 n=1 n + 1 (  )
2senhπ  1 ∞ ( −1) 
n

=  +∑ 2 .
π  2 n=1 n + 1 ( ) 

266
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

Isolando a série, temos:

( −1)
n


∑ (n
n =1
=2
+1 )
− .
2senhπ 2

O resultado está garantido pelo teorema da convergência das séries de


Fourier, já que x = 0 não é um ponto de descontinuidade.

Exemplo 25: calcule a série de Fourier da função:

 π
 −1, −π ≤ x ≤ −
2

 π
f ( x ) 0,
= − < x≤π /2
 2
 π
 1, < x≤π
 2

definida no intervalo [–π,π].

Note que a função é ímpar, portanto, os coeficientes an são nulos. Assim,


devemos apenas calcular os coeficientes bn. Com efeito:
π

π π
1 1 2 1
bn = ∫ ( ) ( )
f
π
x sen
−π
nx dx =
− ∫ sen ( nx ) dx + ∫sen ( nx ) dx
π −π
π π
2

 −
π
π 
1 1 2 1
= cos ( nx ) − cos ( nx ) 
π n n π 
 
−π
2 

1   nπ   nπ  
=

cos  −  − cos ( −nπ ) − cos ( nπ ) + cos  2  
  2   

1   nπ   nπ 
= cos   − cos ( nπ ) − cos ( nπ ) + cos  
nπ   2   2 

2   nπ  
= cos   − cos ( nπ )  .
nπ   2  

267
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto, a série de Fourier de f é:

2 ∞
1  nπ  
f ( x) − cos ( nπ )  sen ( nx ) .
π ∑ n  
= cos 
n =1 2  

Vejamos como se comporta a aproximação da função f por séries de Fourier


quando tomamos algumas somas parciais. A seguir, apresentaremos o gráfico da
função, assim como as aproximações por série de Fourier para n = 2, n = 5 e n = 50.

GRÁFICO 16 – FUNÇÃO DO EXEMPLO 25 E SUAS RESPECTIVAS EXPANSÕES EM SÉRIE DE


FOURIER

FONTE: O autor

Exemplo 26: determine a série de Fourier, em sua forma exponencial, da


função:

 0, −π < x ≤ 0
f ( x) = 
1, 0< x≤π

no intervalo [–π,π].

Calculemos, inicialmente, os coeficientes cn. Com efeito:

268
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

π π
1 1 1
=c0

( x ) dx
∫ f= = ∫
2π 0
dx
2
−π

ademais
π
1
∫π f ( x ) e
− inx
cn = dx
2π −

π
1 − inx
2π ∫0
= e dx

π
1 e − inx 1 − e − inπ
=
− = .
2π in 0
2inπ

Contudo, note que e–inπ = 0 para n par e e–inπ = 2 para n ímpar. Portanto:

1
c 2 n −1 =
i ( 2 n − 1) π

logo

e( )
i 2 n −1 x
1 1 ∞
f ( x )= + ∑ .
2 iπ n = −∞ 2 n − 1

Exemplo 27: determine a série de Fourier da função f(x) = sen2(x), no


intervalo [–π,π].

A função f(x) = sen2(x) é par, portanto, sua representação em série de


Fourier é dada apenas por uma série de cossenos. Assim, temos que calcular a0 e
an Tal integração seria enfadonha. Contudo, por regras simples de manipulação
de funções trigonométricas, obtemos:

1 cos ( 2 x )
f ( x )= sen 2 ( x=) + .
2 2

Certamente, mais fácil!

Exemplo 28: demonstre que:

π2 ∞
1
=∑ .
8 ( 2 n − 1)
2
n =1

269
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Para essa tarefa, expandiremos:

0, −π ≤ x < 0
f ( x) = 
 x, 0≤ x≤π

em série de Fourier. Com efeito:

π
1 π
=a0 = ∫
π 0
xdx
2
.

Por outro lado, utilizando integração por partes:

π 1 − ( −1)n 
1   .
an = ∫x cos nxdx = − 
π 0 πn 2

( −1)
n +1
π
1
=bn = ∫xsennxdx π 0
n
.

Portanto:

( −1)
n +1
π 2 ∞
1 ∞
f ( x) = − ∑ cos ( 2n − 1) x  + ∑ sen ( nx ) .
4 π ( 2 n − 1) n
2
=n 1= n 1

Note que f é continua em x = 0. Assim:

( −1)
n +1
π 2 ∞
1 ∞
0=f (0) = − ∑ cos ( 2n − 1) 0  + ∑ sen ( n0 ) .
4 π ( 2 n − 1) n
2
=n 1= n 1

Logo:

2 ∞
1 π
π∑
= .
( 2 n − 1) 4
2
n =1

Portanto:


1 π2
∑ = .
( 2 n − 1) 8
2
n =1

270
TÓPICO 5 | DESENVOLVIMENTO EM SÉRIES DE FOURIER

Exemplo 29: utilize a série de Fourier da função f(x) = ex, desenvolvida no


exemplo 24, e encontre a série de Fourier de ex na forma de cossenos com fase.

Como já demonstrado, temos:

2senhπ  1 ∞ ( −1) 
n

e =  +∑ 2
x
 cos ( nx ) − nsen ( nx )   .

π  2 n=1 n + 1

( ) 

Assim:

2senhπ
A0 =
π

além disso

2senhπ 2senhπ
An = an2 + bn2 = 1 + n2 =
π ( n + 1)
2
π n2 + 1

2senhπ ( −1)
n +1

n
tgϕn =
bn
=
π n2 + 1 ( ) = −n
an ( −1)
n
2senhπ
π (n 2
+1 )
logo

A0 ∞  nπ x  2senhπ  1 ∞ 1  nπ x 
f ( x) = + ∑An cos  − ϕn  =  +∑ 2 cos  + tg −1n   .
2 n 1=  L  π 2 n 1 n +1  L 

271
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível encontrar a série de Fourier de diferentes funções usando outras já


conhecidas.

272
AUTOATIVIDADE

1 Qual das alternativas a seguir é a série de Fourier de:

1, −L≤x<0
f ( x) = 
 L, 0≤x≤L

L ∞ 1  ( 2 k − 1) π x 
a) ( ) f ( x=
) +∑ sen  .
2 k =1 2 k − 1  L 

2L ∞
1  ( 2 k − 1) π x 
b) ( ) f ( x ) =
π ∑
sen  .
k =1 2 k − 1  L 

2L L ∞ 1  ( 2 k − 1) π x 
c) ( ) f ( =
x)
2∑
+ sen  .
π k =1 2 k − 1  L 

L ∞ 1  ( 2 k − 1) π x 
d) ( ) f ( x=
) +∑ cos  .
2 k =1 2 k − 1  L 

L 2L ∞ 1  ( 2 k − 1) π x 
e) ( ) f ( x=
) + ∑ sen  .
2 π k =1 2 k − 1  L 

2 Qual das alternativas a seguir é a série de Fourier de:

 1, −L ≤ x < 0

f ( x) =  x
1 + L , 0≤x≤L

  ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n
2 ∞
 1
a) ( ) f ( x )
π2 ∑
 cos   + sen  L  .
k = 1  ( 2 k − 1) L 2n − 1
2
 
 
   

5 ∞   ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n
1
b) ( ) f ( x ) =−∑ cos   + sen  L  .
7 k =1  ( 2 k − 3 ) 2 
 L 
 2 n − 1   

  ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n
5 2 ∞
 1
c) ( ) f ( x )= − ∑  cos   + sen  L  .
4 π2 k =1  ( 2 k − 1) L 2 n
2
 
 
   

5 2 ∞   ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n

d) ( ) f ( x ) =− 2 ∑ cos  + sen  .
4 π k =1  
 L 
 n  L  
 
  ( 2 k273
− 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n

 1
e) ( ) f ( x )  cos  + sen   .
5 2 ∞   ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n

d) ( ) f ( x ) =− 2 ∑ cos  + sen  .
4 π k =1  
 L 
 n  L  
 
  ( 2 k − 1) π x  ( −1) π  nπ x  
n

 1
e) ( ) f ( x ) ∑  cos   + sen  L  .
k =1  ( 2 k − 1) L 2 n 1
2

 
 −   

3 Determine a série de Fourier de:

0, −π ≤ x < 0
f ( x) = 
1, 0≤ x≤π

E prove que:

( −1)
n +1
π ∞
=∑
4 n =1 2n − 1

274
UNIDADE 3
TÓPICO 6

APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos quatro aplicações das séries de Fourier. O
primeiro exemplo que veremos é como utilizar a série de Fourier para encontrar
a solução de uma equação diferencial ordinária. O segundo se refere à chamada
identidade de Parseval, uma ferramenta de extrema importância no estudo de
séries. O terceiro exemplo é como utilizamos as séries de Fourier para definir a
transformada de Fourier, uma técnica no estudo de equações diferenciais parciais
e em processamento de sinais. A quarta aplicação é, na verdade, um estudo sobre
como generalizar o conceito de séries de Fourier.

2 RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS


Encontre a solução da equação diferencial ordinária:

y´´ – y = x

sujeita à condição de contorno y(0) = y(1) = 0.

Esse problema é simples de ser resolvido, utilizando as técnicas


desenvolvidas na Unidade 1. Contudo, como queremos demonstrar uma nova
metodologia para a resolução de equações diferenciais ordinárias, preferimos
trabalhar com um problema que sabemos a solução.

Para resolver o problema, considere a equação característica associada:

k2 – 1 = 0.

As soluções são k1 = 1 e k2 = –1. Logo, a solução homogênea é:

yh(x) = c1ex + c2e–x.

Aplicando o método dos coeficientes a determinar, obtermos:

yp(x) = x.

275
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto, a solução geral é:

y ( x ) =yh ( x ) + y p ( x ) =c1e x + c2 e − x − x .

Para encontrar a solução geral, precisamos, ainda, aplicar as condições de


contorno para determinar os coeficientes c1 e c2. Com efeito:

0= y ( 0=
) c1 + c2
0 =y ( 1) =ec1 + e −1c2 − 1

resolvendo o sistema linear, obtemos:

e
c1 = −
1 − e2
e
c2 =
1 − e2

assim, a solução é:

e x +1 e 1− x
y ( x) =
− + − x.
1 − e2 1 − e2

Passemos, agora, para a resolução desse problema de valor de contorno


utilizando séries de Fourier. Primeiramente, precisamos observar o intervalo
que vamos resolver o PVC, no caso, é [0,1]. Lembrando que séries de Fourier
são calculadas em intervalos simétricos, portanto, precisamos aplicar alguma
metodologia de extensão em funções pares ou ímpares.

Queremos encontrar uma solução y(x) no intervalo [0,1] e que satisfaça a


condição de contorno y(0) = y(1) = 0. Note que, se assumirmos que:


y ( x ) = ∑bn sen ( nπ x )
n =1

então, a condição de contorno será atendida, pois sen(nπ) = 0, para todo n∈ Z


ℤ.
Assim, naturalmente, precisamos assumir que a solução é uma série de Fourier
em senos. Portanto:

( )
y′′ ( x ) = ∑ −n2π 2 bn sen ( nπ x ) .
n =1

276
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

Comecemos expandindo, em série de Fourier, a função f(x) = x (extensão


ímpar, exemplo 19), obtendo:

2 ( −1)
n +1

x=∑ sen ( nπ x ) .
n =1 nπ

A extensão ímpar da função f(x) = x é natural, pois y, e y´´ são séries de


Fourier em senos.

Para resolver o problema de valor de contorno proposto utilizando séries


de Fourier, substituiremos cada função da equação diferencial ordinária por sua
representação em séries de Fourier. Com efeito:

y´´ – y = x
torna-se

2 ( −1)
n +1
∞ ∞ ∞

∑( )
−n π bn sen ( nπ x ) − ∑bn sen ( nπ x ) =
∑ sen ( nπ x )
2 2

=n 1 = n 1= n 1 nπ

assim

 2 ( −1) 
n +1

∑ (
 −n π bn − bn −
2 2
) nπ 
 sen ( nπ x ) =
0.
n =1 
 

Portanto, para cada n, o coeficiente deve ser nulo. Logo:

2 ( −1)
n +1

( −n π ) b
2 2
n
− bn −

0
=

assim

2 ( −1)
n +1

( −n2π 2 − 1 bn =

)
ou seja

2 ( −1)
n

bn =
(n π
2 2
)
+ 1 nπ

277
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Portanto, a solução geral em séries de Fourier para o PVC proposto é:

2 ( −1)
n

y ( x) = ∑ sen ( nπ x ) .
n =1 (n π
2 2
)
+ 1 nπ

Vejamos um comparativo das “duas” soluções para o problema obtidas


através de duas técnicas distintas.

GRÁFICO 17 – SOLUÇÃO DO PVC OBTIDA ATRAVÉS DE (A) METODOLOGIA APRESENTADA NA


UNIDADE 1 E (B) SÉRIE DE FOURIER

FONTE: O autor

O primeiro gráfico é a solução utilizada para a metodologia desenvolvida


na Unidade 1. Já o segundo gráfico é a solução obtida utilizando séries de
Fourier. No caso, a soma foi realizada de n = 1 até n = 1000. De fato, o resultado
era esperado, já que a solução desse PVC é única. Apenas encontramos a mesma
solução utilizando caminhos diferentes.

Contudo, há alguns fatos que devem ser lembrados quando se aplica a


metodologia da série de Fourier na resolução de equações diferenciais ordinárias.
Vejamos com mais detalhes. O intervalo de solução é [0,1], portanto, a solução em
série de Fourier é válida somente nesse intervalo, enquanto a solução encontrada
utilizando a metodologia da Unidade 1 é válida para ( −∞ , ∞ ) . Por isso, vemos
que as soluções encontradas pelas metodologias diferentes produzem o mesmo
resultado.

278
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

Como a solução encontrada através de séries de Fourier é uma série


em senos, então, a solução é estendida de forma ímpar e com período 2 para
intervalos que contenham [0,1]. Vejamos o que ocorre quando apresentamos as
soluções no intervalo [0,2].

GRÁFICO 18 – SOLUÇÃO DO PVC OBTIDA ATRAVÉS DE (A) METODOLOGIA APRESENTADA NA


UNIDADE 1 E (B) SÉRIE DE FOURIER NO INTERVALO [0,2]

FONTE: O autor

A solução em a) é a obtida pela metodologia desenvolvida na Unidade


1. Em b), é a solução obtida utilizando séries de Fourier. Note que, apesar de
problemas de escala, as soluções coincidem no intervalo [0,1]. Porém, fora desse
intervalo, as soluções divergem, pois a solução obtida pela série de Fourier é
estendida de forma ímpar fora do intervalo em questão. Portanto, sempre devemos
lembrar que as soluções obtidas por séries de Fourier são válidas somente para o
intervalo de definição das séries de Fourier e que, fora desse intervalo, a função
será estendida periodicamente, não tendo valor como solução de uma equação
diferencial.

Vamos, agora, resolver uma equação diferencial ordinária de segunda


ordem geral utilizando séries de Fourier. Considere a seguinte equação diferencial:

y´´ + ay´ + by = f(x), (10)

em que f é uma função periódica de período 2π.

Para essa tarefa, utilizaremos a versão complexa da série de Fourier.


Assim:

279
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER


f ( x) = ∑fe n
inx
.
n = −∞

Utilizamos fn como coeficiente ao invés de cn, para facilitar a notação da


demonstração. Por outro lado, a transformada de Fourier da solução da equação
diferencial é:


y ( x) = ∑y e n
inx

n = −∞

portanto

∞ ∞
y′ ( x ) ( in) yn e e y '' ( x ) ∑ ( in)
2

inx
= = yn e inx .
n = −∞ n = −∞

Substituindo na equação diferencial (10), obtemos:

∞ ∞ ∞ ∞

∑ −n y e ∑ ( ian) y e ∑ by e ∑ fn e
2 inx inx inx inx
n
+ n
+ n
=
n = −∞ n = −∞ n = −∞ n = −∞

ou seja

∞ ∞

∑( −n2 + ian + b yn e inx = )


∑ fn e .
inx

n = −∞ n = −∞

Como os coeficientes de Fourier coincidem para todo n∈ ℕ


N , então:

( −n 2
+ ian + b yn =fn )
logo

fn
yn = .
( −n 2
+ ian + b )
Portanto, a solução da equação diferencial (10) é:


fn
y ( x) = ∑ ( −n e inx .
n = −∞
2
+ ian + b )
280
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

A mesma discussão feita para a solução da primeira equação diferencial


apresentada, sobre alcance da região de definição da solução do problema, é
válida aqui.

3 IDENTIDADE DE PARSEVAL
A identidade de Parseval menciona que se f é uma função periódica de
período 2L no intervalo [–L,L] e quadrado integrável, então:

L
a02 ∞ 2 2 1
( )
+ ∑ an + bn =∫ f 2 ( x ) dx
2 n =1 L −L

com an e bn são os coeficientes de Fourier de f. Demonstraremos o fato. Com feito,


dos já conhecidos coeficientes de Fourier, obtemos:

L L
1
f ( x ) dx ⇒ ∫ f ( x ) dx = La .
L −∫L
a0 = 0
(11)
−L

L L
1  nπ x   nπ x 
an = ∫ f ( x ) cos   dx ⇒ ∫ f ( x ) cos  dx = Lan . (12)
L −L  L  −L
L 
L L
1  nπ x   nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx ⇒ ∫ f ( x ) sen  dx = Lbn . (13)
L −L  L  −L
L 

Agora, multiplique a série de Fourier de f pela própria função f, portanto:

a0 ∞
  nπ x   nπ x  
f 2 ( x) = f ( x ) + ∑  an f ( x ) cos   + bn f ( x ) sen   .
2 n =1   L   L 

Integrando a identidade de –L com L, obtemos:

L
a0 L ∞
 L  nπ x 
L
 nπ x  
∫− L ( ) ∫ ( ) ∑  n∫ ( ) n ∫ ( )
2
f x dx = f x dx + a f x cos   dx + b f x sen   dx  .
2 −L n =1  −L  L  −L  L  

Logo, pelas identidades (11) até (13):

L
a0 ∞

∫ f ( x ) dx La0 + ∑  an Lan + bn Lbn  .


2
=
−L
2 n =1

281
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

De onde, conclui-se que:

L
a02 ∞ 2 2 1
(
+ ∑ an + bn =∫ f 2 ( x ) dx.
2 n =1 L −L
)

Vejamos algumas aplicações da identidade de Parseval. A primeira


aplicação é o cálculo do valor de certas séries que convergem. Vejamos como
calcular:


1
∑n
n =1
4
.

Sabemos que a expansão da função x2 em série de Fourier, no intervalo


[–L,L], é:

L2 ∞ 4 L2  nπ x 
f ( x) = + ∑ 2 2 ( −1) cos 
n
,
3 n =1 π n  L 

em que

2 L2 4 L2
2 2 (
−1) .
n
=a0 e=an
3 π n

Note que bn = 0, pois a função é par. Contudo:

2 2
a02 ∞ 2 2 1  2 L2  ∞
 4 L2 n 2 L4 16 L4 ∞ 1
2 ∑
+ ( )
2 3  ∑
an + bn =   +  2 2 ( −1)  =
9
+ 4 ∑ 4.
n 1= n 1 π n =  π n 1n
L L L
1 1 4 x5 2 L4
L −∫L
f 2
( ) L∫
x
= dx x=dx =
5 L 5
.
−L −L

Pela identidade de Parseval:

2 L4 16 L4 ∞
1 2 L4
9
+ 4
π ∑
n =1 n
4
=
5

portanto


1 π4
∑n
n =1
4
=
90
.

282
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

A segunda aplicação da identidade de Parseval é a convergência de certas


séries que são dadas por coeficientes de Fourier. Considere a função f : 0, L  → ℝ
R
continuamente derivável e f(0) = f(L) = 0.

L
2  nπ x 
bn = ∫ f ( x ) sen   dx
L0  L 

Note que bn é o coeficiente de Fourier da extensão ímpar de f. Mostraremos


que:

∑b
n =1
n
< ∞.

Utilizando integração por partes na identidade de bn obtemos:

2 L  nπ x  
L L
 nπ x  L
f ( x ) cos  ( )
L  0 nπ ∫0
bn = − + f ' x cos  L  dx  .
L  nπ    

Como f(0) = f(L) = 0, então:

L
2  nπ x 
bn = ∫ f ' ( x ) cos   dx.
nπ 0  L 

Portanto, pensando f como uma função ímpar (por causa das condições
dadas) e f´ como uma função par, obtemos:

L ''
bn = a
nπ n

a'n' são os coeficientes de Fourier de f´. Utilizando a desigualdade das médias:

1 2 1 2
ab ≤ a + b
2 2

obtemos

L2 1 1 '' 2
bn ≤ + an .
2π 2 n2 2

283
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Assim:


L2 ∞ 1 1 ∞ '' 2
=

n 1
bn ≤
= 2π 2 ∑ n2 2 ∑
n 1=
+
n 1
an .

Portanto, a série à esquerda converge, pois as duas séries à direita


convergem, devido à identidade de Parseval. Note que a primeira série à direita
é convergente e sabemos seu limite por outras vias.

Por fim, uma terceira aplicação da identidade de Parseval:

L L
 nπ x   nπ x 
f ( x ) sen  f ( x ) cos 
n→∞ ∫ ∫
lim
=  lim
=  0.
−L  L  n →∞
−L  L 

Pela identidade de Parseval:

L 2

1 a
∑(
n =1
)
an2 + bn2
= ∫
L −L
f 2 ( x ) dx − 0 .
2

Como, por hipótese, a função f é quadrado integrável, então, a série à


esquerda é convergente. Portanto, an2 + bn2 → 0 quando n → ∞ . Ainda, an → 0 e
bn → 0 quando n → ∞ .

4 TRANSFORMADA DE FOURIER
A transformada de Fourier pode ser deduzida a partir da série de Fourier
de uma função. Cabe ressaltar que essa apresentação da transformada de Fourier
como um “limite” da série de Fourier é uma motivação para a definição. f : ℝ
R→ℝR
é uma função absolutamente integrável no intervalo [–L,L] e periódica de período
2L. Para facilitar, introduziremos a seguinte notação:

π nπ
=h = e ωn .
L L

Com essa notação, a série de Fourier complexa de f é:


f ( x) ∼ ∑c e n
iωn x

n = −∞

284
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

L
1
f ( x ) e − iωn x dx.
2 L −∫L
cn =

Introduzindo uma nova notação:

L
1
c ( ωn ) = ∫ f ( x) e
− iωn x
dx.
2π −L

Portanto:

1 ∞
f ( x) ∼ ∑ hc (ω ) e
ω
n
i nx
.
2π n = −∞

Agora, fazendo a passagem ao limite L → ∞ e, consequentemente, h → 0 .


Observe que o somatório parece uma soma de Riemann para a integral de c (ω ) e iω x .
Devemos ter algum cuidado na passagem do limite, que se justifica utilizando
técnicas de análise real. Assim, obtemos o seguinte par de expressões:


1
c (ω ) = ∫ f ( x) e
− iω x
dx ,
2π −∞


1
f ( x) ∼ ∫ c (ω ) e
iω x
dω .
2π −∞

A primeira integral é dita transformada de Fourier de f e, a segunda,


transformada inversa de Fourier de c(ω). Note que, para a transformada inversa
de Fourier, estamos utilizando o símbolo ~, e não =. Isso se deve ao seguinte: não
demonstramos nenhuma propriedade da transformada inversa mas, sob certas
hipóteses, podemos trocar os símbolos.

Definiremos, formalmente, a transformada de Fourier de uma função real


com variável real e sua transformada inversa.

Definição 13: f : R
ℝ→R
ℝ é uma função absolutamente integrável, isto é:

∫ f ( x ) dx < ∞
−∞

285
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

então


1
F (ω ) ℱ
= F= f ( x )  ∫ f ( x) e
− iω x
dx
2π −∞

é chamada de transformada de Fourier de f. A transformada inversa de Fourier é


definida como:


1
ℱ ( )
F −1  F ω  = ∫ F (ω ) e
− iω x
dω .
2π −∞

Apenas justificando a utilização do símbolo ~ assim como nas séries de


Fourier, pode-se mostrar que a transformada inversa converge com a média dos
limites laterais de f no ponto x:

1

f ( x +) + f ( x −)
F −1  F (ω ) 

= = ∫ F (ω ) e − iω x dx .
2π −∞ 2

Se f for uma função contínua, então, podemos afirmar que:


1
=f ( x) ℱ
F= F (ω )  −1
∫ F (ω ) e
− iω x
dx.
2π −∞

A transformada de Fourier, assim como a transformada de Laplace,


satisfazem a condição de linearidade.

Teorema 8 (Linearidade): a transformada de Fourier e a transformada


inversa de Fourier são transformações lineares (no sentido de álgebra linear), ou
seja, dados α , β ∈ R
ℝ e duas funções reais de variável real f e g. Então:

F α f ( x ) + β g ( x )=
ℱ F  f ( x )  + β ℱ
 α ℱ F  g ( x ) 

F −1 α F (ω ) + β G (ω=
ℱ ) α ℱF −1  F (ω ) + β Fℱ −1 G (ω ) .

Ademais, as transformadas de Fourier satisfazem algumas outras
propriedades similares às transformadas de Laplace, a saber:

286
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

• Translação: F(ω) é a transformada de Fourier de f(x). Portanto:

F  f ( x −=
ℱ c )  e iω x F =
(ω ) e iωx ℱF  f ( x ) .

• Derivada: f é uma função diferenciável em toda a reta. f e f´ satisfazem as


condições de existência da transformada de Fourier. Assim:

' ( x )  ikF
F  f=
ℱ = (ω ) ikFℱ  f ( x ) .

Contudo, geralmente, se f tem n derivadas e todas satisfazem as condições


de existência da transformada de Fourier, então:


F= f ( n) ( x )  (=
ik ) F (ω )
n
( ik )
n
F  f ( x )  .

 

• Convolução: F(ω) e G(ω) são as transformadas de Fourier de f e g,


respectivamente. Então:

F (=
ℱ f * g )( x )  F=
(ω ) G (ω ) Fℱ  f ( x ) Fℱ  g ( x ) .

Note que, diferentemente da transformada de Laplace, nas transformadas


de Fourier estamos todo tempo trabalhando com funções complexas, já que a
transformada de Fourier envolve o núcleo eiωx.

A identidade de Parseval, para as transformadas de Fourier, toma a


seguinte forma:

∞ ∞
1
f ( x ) dx = ∫ F (ω )
2 2

−∞
2π −∞

5 SÉRIES DE FOURIER GENERALIZADAS


Para entender de onde surgem as séries de Fourier generalizadas,
precisamos de um pouco de álgebra linear no espaço vetorial real das funções de
uma variável definidas em um intervalo [a,b] da reta.

No espaço, definiremos um produto interno da seguinte forma: f(x) e


g(x) são funções reais definidas em [a,b] e σ ( x ) > 0 é uma função real positiva
definida no mesmo intervalo (essa função é chamada de função peso). Definimos,
no espaço, um produto interno da seguinte maneira:

287
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

b
f , g = ∫ f ( x ) g ( x ) σ ( x ) dx.
a

Precisamos que, no espaço, as integrais divirjam, para isso, é necessário


que f , f < ∞. O espaço vetorial com o produto interno definido e f , f < ∞
são chamados de espaço das funções quadrado integráveis. Por simplicidade,
assumiremos que σ ( x ) = 1, sempre possível através de uma mudança de
variáveis.

Note que o espaço vetorial que estamos trabalhando é de dimensão


infinita, ou seja, não existe um conjunto finito que seja linearmente independente
e que seja gerador. A discussão sobre bases de espaços vetoriais de dimensão
infinita é um pouco delicada. Portanto, que o espaço tenha uma base (infinita)
{
de funções φn ( x ) }
. Assim, dada uma função f, ela pode ser escrita como uma
n∈N
combinação linear dos elementos da base, ou seja:

f ( x ) = ∑anφn ( x )
n=0

para todo x ∈  a , b  .

Para determinar os valores de an, assumimos que a base φn ( x ) { }


n∈N
seja
ortogonal, ou seja:

φn , φm = N mδ mn

2
=
com Nm φ =m
, φm φm . Se tivéssemos assumido que a base fosse ortonormal,
então, Nm = 1 para todo m. Utilizando as propriedades do produto interno:


φm , f = φm , ∑anφn
n=0


= ∑an φm , φn
n=0


= ∑an φm , φm δ mn
n=0

2
= am φm .

288
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

Assim, é possível determinar, com facilidade, os coeficientes da


combinação linear de f quando a base é ortogonal. Os coeficientes têm a forma:

φm , f
an = 2
φm
logo


φn , f
f ( x) = ∑ 2
φn ( x ) .
n=0 φn

Já conhecemos exemplos baseados na construção, basta considerar o


intervalo [–L,L] e as funções da base como sendo senos e cossenos, ou seja, é a
mesma ideia da construção das séries de Fourier. Contudo, agora, o conceito é
geral, pois não iniciamos com funções específicas, como no caso das séries de
Fourier. A construção é chamada de série de Fourier generalizada.

O sinal de igual utilizado é um abuso de notação. Assim como nas séries


de Fourier, as séries de Fourier generalizadas gozam da mesma propriedade:
se a função for contínua no ponto x, a série de Fourier generalizada converge
uniformemente com f(x). No caso da função ser descontínua em x, então, a série
de Fourier generalizada converge com a média da descontinuidade:

f ( x +) + f ( x −)
.
2

A ideia proposta é um tanto geral. Para exemplificar, trabalharemos com


uma classe de funções ortogonais que aparece com muita frequência no estudo
da física-matemática, os chamados polinômios ortogonais. Mas especificamente,
estudaremos os polinômios de Legendre, que darão a base para a conhecida série
de Fourier-Legendre.

Os polinômios de Legendre são denotados por Pn(x), para n = 1,2,3,... e


surgem do estudo da equação de Laplace em coordenadas esféricas, como uma
solução da seguinte equação diferencial ordinária de segunda ordem:

d  d 

dx 
(1 − x2 )
dx
Pn ( x )  + n ( n + 1) Pn ( x ) = 0, n = 1, 2, 3,…

A equação não pode ser resolvida utilizando as técnicas estudadas na


Unidade 1. Essa equação (ou, na verdade, equações) pode ser resolvida utilizando
o método das séries de potências. A solução é uma série de potências que converge
no intervalo (–1,1). Os polinômios de Legendre são ortogonais no intervalo (–1,1),
ou seja:

289
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

1
2
=Pn , Pm P ( x ) P ( x ) dx
∫= n m
δ .
−1
2n + 1 nm

A integral é resolvida com força de vontade e utilizando a fórmula de


Rodrigues para os polinômios de Legendre:

1 dn  2
Pn ( x ) x −1  . ( )
n
= n 
n
2 n ! dx  

NOTA

Em geral, os polinômios ortogonais clássicos, como os de Legendre, são


soluções de certas equações diferenciais ordinárias e expressos como uma série de
potências. A fórmula de Rodrigues permite expressar os polinômios ortogonais clássicos
em termos de derivadas ao invés de uma série de potências. Cada representação dos
polinômios ortogonais tem suas vantagens e desvantagens.

Utilizando a fórmula de Rodrigues, vejamos os três primeiros polinômios


de Legendre. Para n = 0, temos P0(x) = 1. Para n = 1, obtemos:

1 d1  2 1 d  2  1 ( 2 x=
P1 ( x=
) ( ) = ( )
) x.
1
x −1 x −1=
211! dx1  2 dx   2

Para n = 2:

1 d2  2
P2 ( x ) x −1  ( )
2
= 2 
2
2 2! dx  
1 d 
=
8 dx  (
2 x2 − 1 2x 
 )
1 2
=  x − 1 + x ( 2 x )
2 

1
=
2
(
3x2 − 1 )

290
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

f é uma função quadrado integrável e definida no intervalo [–1,1]. A série de


Fourier-Legendre de f tem a seguinte forma:


f ( x ) = ∑an Pn ( x )
n=0

em que

1
2n + 1 2n + 1
f ( x ) Pn ( x ) dx.
2 −∫1
=an = Pn , f
2

Para dar um exemplo de séries de Fourier-Legendre, encontraremos a


representação de:

 0, −1< x ≤ 0
f ( x) = 
1, 0< x<1

em série de Fourier-Legendre.

Comecemos calculando o coeficiente a0:

1 1
1 1 1
a0
= ∫ f ( x ) P0 ( x=
) dx = ∫dx .
2 −1 20 2

Para o cálculo dos coeficientes an, utilizaremos a fórmula de Rodrigues


para os polinômios de Legendre. Portanto:

1
2n + 1
f ( x ) Pn ( x ) dx
2 −∫1
an =

1
2n + 1
P ( x ) dx
2 ∫0 n
=

1
2n + 1 1 d n  2  dx
( )
n

2 ∫0 2 n n ! dx n 
= x − 1

1

( )
n
n −1
2n + 1 d x2 − 1
= n +1 n −1
.
2 n! dx
0

291
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

A fórmula encontrada para o cálculo de an é simples, porém, não é prática


para encontrar uma representação em série de Fourier-Legendre. Para encontrar
uma fórmula fechada para o coeficiente an, utilizaremos a fórmula do binômio de
Newton para (x2 – 1)n e, depois, calcularemos a derivada. Assim:

( )
n
d n −1 x 2 − 1 d n −1  ∞ n m 2 n− 2 m 
=  ∑   ( −1) x 
dx n−1 dx n−1  m=0  m  
n +1
2 n
∑  m  ( −1) ( 2n − 2m ) ⋅ ( 2n − 2m − 1) ( n − 2m + 2 ) x
m n − 2 m +1
= .
m=0  

Para o cálculo de an, é necessário avaliar a derivada em x = 1 e x = 0. Para


não carregar ainda mais a discussão, an = 0 para n par. Já para n ímpar:

( −1) ( 4 k + 3 )( 2 k ) !
k

a2 k + 1 =
2 ( k + 1) ! k !
2 k+2

logo, a representação de f em séries de Fourier-Legendre é:

1 ∞ ( −1) ( 4 k + 3 )( 2 k ) !
k

f ( x )= P2 k +1 ( x ) .
2 ∑
+
k =0 2 2 k + 2 ( k + 1) ! k !

292
TÓPICO 6 | APLICAÇÕES DAS SÉRIES DE FOURIER

LEITURA COMPLEMENTAR

UM POUCO MAIS SOBRE O FENÔMENO DE GIBBS

O Fenômeno de Gibbs foi notado e analisado pela primeira vez por Henry
Wilbraham em um artigo de 1848. O artigo não chamou muita atenção até 1914,
quando foi mencionado em um estudo de Heinrich Burkhardt sobre análise
matemática na enciclopédia de Klein. Em 1898, Albert A. Michelson desenvolveu
um dispositivo que computava e ressintetizava a série de Fourier. Há um mito
que diz que quando eram colocados os coeficientes da Fourier para uma onda
quadrada na máquina, o gráfico oscilava nas descontinuidades e isso ocorria
por ser um dispositivo físico sujeito a erros de confecção. De fato, os gráficos
produzidos pela máquina não eram bons o suficiente para exibir o Fenômeno
de Gibbs claramente, e Michelson pode não ter percebido, uma vez que ele não
mencionou sobre esse efeito em seu artigo. Em 1898, J. Willard Gibbs publicou
uma pequena nota na qual ele considerou o que hoje se chama onda dente
de serra e apontou a importante distinção entre o limite do gráfico das somas
parciais da série de Fourier e o gráfico da função, que é o limite dessas somas
parciais. Na sua primeira carta, Gibbs não percebeu o Fenômeno de Gibbs, e o
limite que ele descreveu para os gráficos das somas parciais era impreciso. Em
1899, publicou uma correção na qual ele descreveu a ultrapassagem do ponto
de descontinuidade. Em 1906, Maxime Bôcher forneceu uma análise matemática
detalhada sobre essa ultrapassagem, criando o termo "Fenômeno de Gibbs" e
tornando ele popular.

Depois que a existência do artigo de Henry Wilbraham se tornou conhecida,


em 1925, Horatio Scott Carslaw comentou "Nós podemos ainda chamar essa
propriedade da série de Fourier (e de certas outras séries) de Fenômeno de Gibbs,
porém, nós não podemos mais declarar que essa propriedade foi, primeiramente,
descoberta por Gibbs".

Informalmente, o fenômeno de Gibbs reflete a dificuldade inerente da


aproximação de uma função descontínua por uma série finita de senos e cossenos
contínuos. É importante dar ênfase à palavra “finito” pois, apesar de toda soma
parcial da série de Fourier ultrapassar a função, o limite da soma parcial não
ultrapassa. O valor de x para o qual a maior ultrapassagem é alcançada move-se
cada vez mais perto da descontinuidade conforme aumenta o número de termos
somados, portanto, mais uma vez informalmente, uma vez que a ultrapassagem
foi passada por um valor de x particular.

Para uma função por partes, a série de Fourier converge para a função em
todos os pontos, exceto em um salto de descontinuidade. Nos próprios saltos de
descontinuidades, para a função por partes, irá convergir para a média aritmética
dos limites laterais da função original. Isto é uma consequência do teorema de
Dirichlet.

293
UNIDADE 3 | SÉRIES DE FOURIER

Na prática, as dificuldades associadas com o fenômeno de Gibbs podem


ser melhoradas pelo uso do método de suavização da série de Fourier, assim como
soma de Fejér ou a soma de Riesz, ou pelo uso de aproximações sigma. Usando
a transformada continua de wavelet, o fenômeno wavelet Gibbs nunca excede o
fenômeno de Gibbs. Também, usando a transformada discreta de wavelet com
funções bases de Haar, realmente, o fenômeno de Gibbs não ocorre no caso de
dados contínuos em um salto de descontinuidade.

FONTE: WIKIPÉDIA. Fenômeno de Gibbs. 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/


Fen%C3%B4meno_de_Gibbs. Acesso em: 6 abr. 2020.

294
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, você aprendeu que:

• Podemos utilizar a série de Fourier para encontrar a solução de uma equação


diferencial ordinária.

• A identidade de Parseval é uma aplicação de séries de Fourier.

• A transformada de Fourier também é uma aplicação de séries de Fourier.

• Podemos generalizar o conceito de séries de Fourier, gerando o conceito de


séries de Fourier generalizadas.

CHAMADA

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295
AUTOATIVIDADE

1 Analise as seguintes afirmações sobre a aplicação da metodologia de série


de Fourier na solução de EDOs:

I- Não há necessidade de preocupar-se com o intervalo de solução.


II- As soluções obtidas por séries de Fourier são válidas somente para o
intervalo de definição das séries de Fourier. Fora do intervalo, a função será
estendida periodicamente, não tendo valor como solução de uma equação
diferencial.

Qual opção está CORRETA?


a) ( ) Somente a afirmação I está correta.
b) ( ) Somente a afirmação II está correta.
c) ( ) As afirmações I e II são equivalentes.
d) ( ) Ambas afirmações estão corretas.
e) ( ) Ambas afirmações estão erradas.

2 Qual das seguintes expressões representa a transformada inversa de


Fourier?

1
a) ( ) f ( x ) ∼ ∫ c (ω ) e
iω x
dω .
2π −∞


b) ( ) f ( x ) ∼ ∫ c (ω ) e iω x dω .
−∞


1
c) ( ) f ( x ) ∼ ∫ c (ω ) e
ix
dω .
2π −∞


1
d) ( ) f ( x ) ∼ ∫ c (ω ) e
ωx
dω .
2π −∞


1
e) ( ) f ( x ) ∼ ∫ c (ω ) iω x dω.
2π −∞

3 Apresente duas aplicações da Identidade de Parseval.

296
REFERÊNCIAS
BOYCE, W. E.; DIPRIMA, R. C. Equações diferenciais elementares e problemas
de valores de contorno. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

CHICONE, C. Ordinary differencial equations with applications. New York:


Springer, 1999.

FIGUEIREDO, D. G. Análise de Fourier e equações diferenciais parciais. Rio


de Janeiro: IMPA, 1977.

LIMA, E. L. Curso de análise. Rio de Janeiro: IMPA, 2002.

OLIVEIRA, E. C.; TYGEL, M. Métodos matemáticos para a engenharia.


Campinas: SBMAC, 2001.

PINEDO, C. Q. Séries e equações diferenciais. Palmas: Universidade Federal


do Tocantins, 2016.

ROBINSON, J. C. An introduction to ordinary differencial equations. New


York: Cambridge University Press, 2004.

SCHIFF, J. L. The Laplace transform: theory and applications. New York:


Springer-Verlag, 1999.

SPIEGEL, M. R. Transformadas de Laplace. São Paulo: Editora McGraw-Hill do


Brasil, 1979.

STEWART, J. Cálculo. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

ZILL, D. G. A first course in differencial equations with modeling


applications: 9. Brooks/Cole: Cengage Learning, 2009.

297

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