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Desenvolvimento

Neuropsicomotor e
Aprendizagem
Locomoção, Equilíbrio e Problemas
Neuropsicomotores na Criança
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ANA LUCIA GUIMARÃES
AUTORIA
Ana Lucia Guimarães
Olá. Sou Doutora em Ciências Humanas, com mais de vinte anos de
atuação como professora na Educação Superior. Tenho também doze anos
de militância como dirigente sindical na causa dos professores, o que me
permite conhecimentos e experiências para ser autora nesta disciplina.
Portanto, atuar e defender a causa da educação, laica, democrática e
de qualidade é mais que um princípio em minha formação e trajetória
profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela
Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Crescimento e Desenvolvimento Motor de Crianças.................... 10
Habilidades Motoras Fundamentais...................................................................................10

Locomoção..................................................................................................... 14
Equilibração e Manipulação.................................................................... 18
Problemas do Desenvolvimento Neuropsicomotor...................... 23
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 7

02
UNIDADE
8 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Nesta unidade de ensino da nossa disciplina, aprenderemos
sobre o crescimento e o desenvolvimento motor de crianças. Veremos
como é importante entender a articulação entre movimento, do ponto
de vista biológico, mas com a vinculação necessária com as condições
ambientais de aprendizagem. Neste caminho, exploraremos também
as habilidades motoras fundamentais, mecanismos de locomoção,
equilibração e manipulação. Finalmente, debateremos os problemas do
desenvolvimento motor. Você também está curioso para debater esses
temas? Vamos lá!
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é dar suporte
a você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem, até
o término desta etapa de estudos:

1. Explicar a relação entre crescimento e desenvolvimento motor de


crianças, relacionando aspectos biológicos e de aprendizagem
ambiental.

2. Reconhecer os movimentos de locomoção, compreendendo que


eles envolvem um processo de atividade complexa, abrangendo
muitos sistemas que interagem entre si.

3. Interpretar os movimentos de equilibração e manipulação.

4. Identificar os problemas do desenvolvimento motor.

Preparado para conhecer o crescimento e desenvolvimento motor


de crianças? Seguimos juntos na aprendizagem desses importantes temas!
10 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Crescimento e Desenvolvimento Motor


de Crianças

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você saberá como se dá o


processo de crescimento e desenvolvimento motor
de crianças. Ainda, deverá compreender que esse
processo acontece com a aquisição de movimentos e
seu desenvolvimento, relacionado com os estímulos de
aprendizagem e de motivação. Vamos lá!

Habilidades Motoras Fundamentais


Iniciamos este assunto chamando a atenção para o fato de que
seres humanos interagem com o meio ambiente por meio de movimentos.
A capacidade de interação vai sofrendo alterações ao longo da vida,
considerando-se características inerentes aos indivíduos, ao ambiente ou
à própria qualidade da tarefa, aos objetivos, aos recursos e às regras para
a interação.

Para Gallahue (2008), o movimento iniciado pelas crianças é o


foco de suas vidas. Portanto, ele deve também perpassar a construção
e o desenvolvimento de seus comportamentos em relação ao aspecto
cognitivo e afetivo. O autor destaca a importância de conhecer e se
apropriar dos conceitos de desenvolvimento motor, aprendizado de
habilidade motora e aspectos psicológicos do desenvolvimento humano.

Devemos considerar que, entre todas as fases de desenvolvimento


motor das crianças, existe uma que é a mais extensa, denominada fase
das habilidades motoras fundamentais. Você deve estar se perguntando,
como é essa fase e quais são as habilidades motoras fundamentais.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 11

Figura 1 - Habilidades motoras fundamentais ao desenvolvimento

Fonte: Freepik

DEFINIÇÃO:

Habilidades motoras fundamentais são as habilidades que


desenvolvemos em nosso ciclo de maturação, do primeiro
ano de vida até mais os seis ou sete anos, mais ou menos.
São elas: as locomotoras, que envolvem corridas e saltos;
as estabilizadoras, que revelam equilíbrio e rolamento; e as
manipuladoras, que se referem aos arremessos, chutes,
recepção, rebatimento e ao ato de quicar.

Clark (1994) afirma que as habilidades motoras fundamentais se


desenvolvem e podem ser percebidas, principalmente, na prática de es-
portes, jogos e atividades motoras as quais participamos. O autor cita o
basquete, que suscita corridas, arremessos, dribles, entre outros, como
exemplo para o seu raciocínio. Clark (1994) e Seefeldt (1980) concordam
que, se a criança não desenvolver de forma adequada as habilidades
motoras fundamentais, ela poderá apresentar certas dificuldades para
combinar e modificar movimentos, marcando nitidamente erros de exe-
cução. Para eles, o indivíduo deve passar por três estágios necessários
12 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

para o desenvolvimento saudável dessas habilidades motoras funda-


mentais: inicial, elementar e maduro.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo


Saberes mobilizados no desenvolvimento das habilidades
motoras básicas na Educação Física escolar clicando aqui.

Manoel (1994), preocupado com o desenvolvimento das habili­


dades motoras fundamentais, colabora com seus estudos dizendo que
os movimentos revelam uma progressão, que se inicia no rudimentar,
caracterizado pela ausência de componentes importantes na composição
da estrutura do movimento. Após esse estágio, identificamos a fase de
preparação, a ação fundamental e a conclusão do movimento.

Contudo, o autor destaca que existe uma lógica espaço-tempo


nesse caminho, que ainda pode não estar adequada, ficando pronta
somente no que ele denomina de terceiro estágio, no qual há uma
forma mais madura semelhante ao desempenho de um adulto. Todos os
movimentos, para ele, passam por esses estágios.
Figura 2 - Habilidades motoras

Fonte: Freepik
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 13

Ressalta-se, aqui, a importância das aulas de Educação Física


nesse processo. Manoel (1994) entende que o profissional de Educação
Física pode colaborar, de forma positiva, para a completa exploração
das habilidades motoras fundamentais das crianças, sobretudo no
ciclo de formação do Ensino Fundamental, seja adaptando tarefas ou
promovendo um ambiente desafiador e ajustado. Ainda, para o autor,
quando um indivíduo não atinge a fase do estágio, chamada por ele de
“padrão maduro”, ele pode apresentar dificuldades no desenvolvimento
de habilidades mais específicas em sua vida.

Em contextos atuais, destacamos que é essencial a associação


dinâmica entre ser humano e meio ambiente para o desenvolvimento das
habilidades motoras fundamentais. Essa abordagem é referenciada na
Teoria dos Sistemas Dinâmicos.

Papalia (2000) colabora com a ideia de que, na segunda infância,


ocorre um desenvolvimento motor mais rico e diverso, possibilitando à
criança um aprendizado amplo para as futuras habilidades e ações, que a
permitirá adaptar-se a diferentes rotinas e contextos.

RESUMINDO:

Vamos recapitular o que vimos até aqui? Neste capítulo,


aprendemos que o desenvolvimento regular das
habilidades motoras fundamentais é imprescindível para a
compreensão da aprendizagem completa.
14 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Locomoção

OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz de consolidar


conhecimentos sobre locomoção, além de o domínio dos
problemas do desenvolvimento motor. Vamos lá! .

Esse conceito deve ser compreendido na lógica das habilidades


motoras fundamentais, pois está no entendimento das habilidades de
movimento. Tal habilidade precisa ser relacionada de acordo com a tarefa
desenvolvida e com seu ambiente de aprendizagem, de estímulo.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo A


classificação das habilidades de movimento: um caso para
modelos multidimensionais clicando aqui.

A locomoção consiste na capacidade de deslocamento humano,


considerando o movimento dos órgãos responsáveis como músculos e
ossos. Homens e animais locomovem-se. Se observarmos as espécies,
em geral, identificamos que é por conta da locomoção que buscamos a
sobrevivência, alimento, fuga e proteção.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 15

Figura 3 - Locomoção

Fonte: Freepik

Compreender o movimento de locomoção humana implica em


conhecer sobre a marcha humana, definida como um processo que
inclui movimento de início, parada, velocidade, alterações e adaptações.
Podemos dizer que envolve movimento dos membros inferiores,
articulados com o tronco e os membros superiores.

A marcha ocorre com o corpo ereto, movimentando-se com o apoio


de cada uma das pernas por vez, trocando a perna de apoio conforme
o movimento do corpo. Sempre haverá um pé no chão. O padrão das
etapas da marcha bípede é o mesmo para qualquer pessoa, devendo-se
observar as limitações físicas de cada um.

O ato de andar exige dois requisitos fundamentais: forças contínuas


de reação do solo que apoiam o corpo; e movimento periódico de cada
um dos pés, com sentido de apoio e progressividade.
16 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Observe que cada pessoa tem um jeito de andar, muitas vezes, com
características de sua personalidade.
Figura 4 - Formas de locomoção

Fonte: Pixabay

Rose e Gamble (2007) explicam que a marcha humana, por ser


bípede, apresenta um tipo único de deambulação. A marcha bípede
humana é funcional e eficiente de forma exclusiva. Abreu (2003) colabora
destacando que a habilidade de andar ereto é o que marca de forma
única o ser humano. Segundo ele, andar é um ato sequencial que se
configura com a transferência do peso de um membro inferior para outro,
em sentido de alternância. Sizinho (1998) aponta que o ato de andar não é
unicamente a colocação de um pé após o outro; são movimentos rítmicos
e de alternância do tronco e das extremidades, com o intuito de fazer a
locomoção do corpo para frente.

Podemos dizer que o ciclo da marcha envolve dois momentos:


apoio e balanço.

Gobbi e Patla (1997) explicam que, ao andar em casa, a criança


leva os pais a retirarem qualquer objeto que possa causar colisões em
seu caminhar. Isso ocorre no início e durante as primeiras passadas. Em
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 17

seguida, em fase mais avançada, é necessário que a criança interaja com


obstáculos, podendo estes serem seus brinquedos espalhados pelo
chão. Isso se faz necessário porque a criança ainda está amadurecendo
seus sistemas perceptivos e sensoriais e, portanto, não absorve ainda as
informações relevantes sobre a ultrapassagem de obstáculos como faz
um adulto, pois esse possui a maturidade de seus sistemas sensoriais.

RESUMINDO:

Vamos recapitular o que vimos até aqui? Neste capítulo,


aprendemos que os movimentos de locomoção,
equilibração e manipulação definem-se a partir de estímulos
ambientais, realizados na faixa etária correspondente.
18 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Equilibração e Manipulação

OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz de compreender os


conceitos de equilibração e manipulação e sua importância
para o desenvolvimento motor da criança. Vamos lá!.

A equilibração e a manipulação são movimentos distintos e, por


isso, faz-se necessária a distinção entre eles. Assim, movimentos de
equilibração são também olhados como movimentos estabilizadores,
que requerem certo grau de equilíbrio, e estão relacionado às atividades
motoras rudimentares. Esses movimentos incluem atividades de girar,
virar, empurrar e puxar. Pensar a questão da estabilidade remete a
qualquer movimento que vise a manter o equilíbrio, considerando-se a
força da gravidade. Por exemplo: movimentos axiais, posturas invertidas,
posturas de rolamento corporal.

O movimento de manipulação envolve as habilidades motoras


rudimentares e a própria manipulação motora refinada. Como exemplo,
temos o arremessar e o apanhar. Quando as crianças alcançam essa fase,
verificamos que estão explorando, buscando conhecer seus limites e
possibilidades de moverem-se no mundo físico. Elas estão criando formas
de reação aos mais diferentes estímulos ambientais.

Fonseca (2004) diz que, sem alcançar o domínio postural, o cérebro


não desenvolve aprendizado, a motricidade estagna e a atividade simbólica
fica prejudicada. Há um imenso prejuízo em termos de orientação do
cérebro. Isso afeta tanto o equilíbrio estático quanto o equilíbrio dinâmico.

DEFINIÇÃO:

O equilíbrio estático refere-se à manutenção da postura


sob base de sustentação. Já o equilíbrio dinâmico refere-
se à orientação de controle do corpo no deslocamento
espacial com os olhos abertos.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 19

Gonçalves (2010) mostra que, para uma movimentação harmônica


e coordenada, é preciso que a criança desenvolva uma equilibração
adequada, que consiste na execução de atividades com menor esforço e
desgaste. Assim, aos poucos, vemos uma automatização da equilibração,
isto é, um desenvolvimento mais consistente do dinamismo bimanual e
bipedal, demonstrando o equilíbrio estático e dinâmico, o que, segundo o
autor, marca uma ação de maior rendimento e menor esforço. O esquema
corporal significa tomar conhecimento do próprio corpo, com capacidade
de reconhecê-lo e nomeá-lo, incluindo as funções básicas que cada
parte realiza no todo.
Figura 5 - Equilibração

Fonte: Pixabay

Não podemos deixar de abordar os estudos de Piaget (1987) sobre


a questão da equilibração como um processo e aquisição cognitiva.
Segundo ele, ao desenvolver a equilibração, o indivíduo elabora novos
recursos, sejam eles operatórios, práticos ou, ainda, conceituais, ao
20 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

longo de sua interação com o meio ambiente. O autor nos mostra que a
equilibração traz para o indivíduo o desenvolvimento de um equilíbrio novo,
reelaborado, para atender às perturbações novas, que se manifestam no
ambiente, com sentido ameaçador à sua estabilidade e sua construída
coerência em relação à compreensão do mundo que ele tem.

Assim, Piaget (1987) aponta três fases desse processo: a fase


INTRA, a fase INTER e a fase TRANS. A primeira resulta da interação
entre esquemas subjetivos e os objetos a serem assimilados. Significa a
assimilação de novos conceitos dados para sua própria compreensão da
nova situação para adaptar-se e reagir. A segunda fase revela-se a partir
da busca de equilíbrio entre os esquemas de assimilação, que compõem
o quadro conceitual do sujeito, considerando-se as assimilações e as
acomodações recíprocas. Finalmente, a terceira fase deve ser capaz de
integrar os subsistemas já coordenados de maneira que colabore para a
constituição de uma nova totalidade, subordinando as transformações da
fase anterior a grandes estruturas do todo. Em seu olhar, trata-se de criar
um equilíbrio entre assimilação e acomodação.

O autor ainda destaca que cada etapa é interdependente uma da


outra e que a equilibração, do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo,
revela formas mais ou menos estáveis de coordenação e transformação.
Porém, é preciso entender que essa visão construtivista de Piaget (1987)
traz, para a compreensão do desenvolvimento psicomotor, um olhar
que mostra que ao conhecer os obstáculos e as formas de superação
desses elementos, podemos ampliar as possibilidades de intervir para as
transformações conceituais.

Ao abordar as teorias de Piaget, não podemos deixar de conhecer


as áreas psicomotoras e suas contribuições para o atendimento do
processo de equilibração da criança, que se inicia da idade de 0 a 2 anos.
Veja quais são:

•• Coordenação motora global - controle e organização da


musculatura ampla voltada em sua totalidade para os movimentos
complexos.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 21

•• Coordenação motora fina - ligada ao domínio e à organização dos


pequenos músculos da mão.

•• Organização temporal - saber avaliar o tempo dentro da ação.


Organizar-se a partir do ritmo empregado em seu próprio ritmo.

•• Organização espacial - orientação e estruturação do mundo


exterior da criança.

•• Lateralidade - responsável pela conscientização simbólica dos


dois hemisférios do corpo (direito e esquerdo).

Sobre o movimento de manipulação, vemos que os estudos de


Gallahue (2008) definem como habilidades manipulativas movimentos
grossos e finos. Sendo assim, entendemos que a manipulação motora
grossa, que envolve os movimentos, está direcionada para dar força
a objetos ou receber força dos objetos. Esses movimentos, como já
mencionamos, podem ser identificados como arremessar, receber, chutar,
agarrar e rebater, todos no campo conceitual das habilidades motoras
fundamentais, manipulativas, grossas. Quando pensamos nos esportes,
vemos melhor a imagem dessas habilidades, por exemplo:

•• Arremessar e lançar - presentes em muitas brincadeiras, tais como


queimada, boliche, handball e basquete.

•• Chutar - é uma ação quase que exclusiva do futebol. Para chutar,


pode-se realizar o movimento de diferentes formas – com o peito
do pé, de bico, com o calcanhar e a chapa.

•• Rebate - refere-se a tocar ou bater uma bola ou jogar peteca, tênis


de campo, tênis de mesa, baseball, taco.

•• Receber - está presente em esportes coletivos – jogos e


treinamentos desses esportes.

•• Agarrar - segurar, prender, apanhar.

Sobre a manipulação motora fina, Gallahue (2008) define que esta


envolve as atividades de segurar objetos, que marcam o controle motor,
a precisão e a exatidão do movimento. Também, outras atividades podem
ser identificadas, como amarrar os sapatos, colorir, cortar com tesoura.
22 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo


Habilidades motoras fundamentais clicando aqui.

RESUMINDO:

Vamos recapitular o que vimos até aqui? Neste capítulo,


entendemos que o papel que a psicomotricidade tem no
desenvolvimento motor, como aliada para que não ocorram
problemas nesse processo, é de extrema relevância.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 23

Problemas do Desenvolvimento
Neuropsicomotor

OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz de compreender


quais são os problemas do desenvolvimento
neuropsicomotor da criança. Vamos lá!

É muito importante que o desenvolvimento neuropsicomotor da


criança ocorra de forma normal, caso contrário, ela pode apresentar
problemas na leitura, escrita, direção gráfica, diferenciação de letras,
organização silábica, atividades lúdicas, transtornos que vão desde a
ordem física até as dificuldades de aprendizagem. Rodrigues (1989) nos
mostra que o desenvolvimento infantil tem ligação direta com a maturação
do sistema nervoso. Nesse caso, tanto a família quanto a escola têm
papéis fundamentais no processo.
Figura 6 - Desenvolvimento motor da criança

Fonte: Freepik
24 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Assim, quando as crianças não desenvolvem competências


psicomotoras, consideradas regulares para a idade correta, pode ocorrer
um atraso no desenvolvimento psicomotor, conforme vimos ao longo de
nossos estudos. Esse atraso, embora diferente do conceito de dificuldades
de aprendizagem, impacta diretamente no processo. Problemas
do desenvolvimento psicomotor decorrem de muitas patologias ou
deficiências, ocasionadas desde a concepção, gestação, até o parto,
por fatores congênitos ou hereditários. Ainda, podem ser motivadas pelo
impacto de hábitos alcoólicos dos pais, desnutrição, acidentes, questões
do ambiente sociofamiliar, entre outros.

Para identificarmos esses problemas, fiquemos alertas para


algumas percepções:

•• Capacidade de cognição - ato de pensar, aprender e resolver


problemas.

•• Socialização - corresponde às competências emocionais e ao


desenvolvimento da sensibilidade ao outro.

•• Comunicação, linguagem e fala - estão vinculadas à compreensão


e ao uso da linguagem de forma sequencial e elaborada.

•• Motricidade global - movimentos de sentar, engatinhar, ficar em


pé, andar, saltar, subir e descer escada, além da coordenação
motora fina.

•• Atividades em meio natural de vida - referem-se às tarefas do dia a


dia, como vestir-se, comer, pentear-se, higienizar-se, entre outras.

Observando como a criança interage em cada uma das situações,


somos capazes de identificar se há ou não falhas ou deficiências em seu
desenvolvimento psicomotor. Caso haja a percepção da falha, deve-
se procurar logo um médico – o próprio pediatra da criança ou um
especialista em neurodesenvolvimento.

Com o intuito de estimular o desenvolvimento normal, devemos


focar em uma perspectiva educacional com jogos e brincadeiras para as
crianças. O desenvolvimento e o estímulo para o lúdico criam uma série
de benefícios, como a positividade dos relacionamentos interpessoais, a
criatividade, a facilidade para aprender dinamicamente.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 25

Em relação às alterações da coordenação motora, destacamos


que elas podem aparecer associadas a diversos distúrbios do SNC. Há
casos em que crianças com paralisia cerebral, síndromes genéticas e
deficiência intelectual podem apresentar essas alterações. Há, ainda, a
necessidade de avaliação especializada para a identificação de transtorno
do desenvolvimento de coordenação (TDC), que ocorre quando há um
baixo em relação à idade e ao estágio cognitivo da criança quando esta é
submetida a atividades que demandam coordenação motora.

Estudos revelam que entre 6% e 10% de crianças na idade escolar


podem apresentar TDC, que pode ser o responsável pelo baixo desempenho
escolar, incluindo a relação com os transtornos de aprendizagem.
Com esse olhar, chamamos a atenção para os estudos e para o campo
de abordagem da psicomotricidade, que tem como foco estimular os
movimentos infantis e desenvolver, principalmente:

•• Motivação para a capacidade sensitiva; a relação entre o corpo e


o meio ambiente.

•• Capacidade de percepção com o conhecer dos movimentos e das


respostas corporais fornecidas.

•• Organização e expressão com sinais, símbolos, objetos.

•• Estímulo à expressão pela ação criativa e das emoções.

•• Valorização da autoidentidade no mundo plural.

•• Fortalecimento da segurança ontológica, mostrando o que é ser


único e exclusivo no mundo.

•• Criação de consciência para o respeito aos limites seus e dos


outros.

Dessa forma, vemos que a psicomotricidade tem colaborado para o


desenvolvimento da formação e estruturação dos movimentos corporais
na idade correta, incentivando a prática do movimento, nas fases de
crescimento da criança.
26 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

DEFINIÇÃO:

Psicomotricidade: ciência que estuda o homem por meio


de sua relação com o mundo externo e interno, e divide-
se em reeducação psicomotora, que foca na correção de
alterações no desenvolvimento psicomotor, principalmente
no que se refere ao equilíbrio, à coordenação, à dispraxia;
terapia psicomotora, que envolve todos os casos que
tratam a dimensão afetiva ou reacional como dominante
na instalação inicial do transtorno; e educação psicomotora
propriamente dita, com foco no desenvolvimento da
capacidade de criar, resolver e adaptar tarefas a serem
executadas pela criança, em uma visão não impositiva.

Figura 7 - Psicomotricidade

Fonte: Freepik
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 27

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo


Problemas do desenvolvimento infantil e intervenção
precoce clicando aqui.

Podemos, ainda, identificar alguns transtornos psicomotores


quando a criança chega na escola, na sala de aula:

•• Torpor motriz - atitude e postura discordante – caminha de forma


grosseira e travada.

•• Dispraxia - desorganização do movimento e não adaptação de


gestos. Tem relação com problemas na escrita.

•• Transtornos de lateralização - dificuldades na velocidade e na


eficácia de movimentos. Crianças ambidestras, por exemplo.

•• Disgrafia - escrita defeituosa, sem atenção ao traço ou organização


espacial. Neste caso, é preciso ter certeza de que não é um
problema ligado a um déficit neurológico.

•• Instabilidade motora - crianças que se movimentam com


frequência, não relaxam fácil, revelam inquietação e instabilidade
do corpo.

•• Inibição psicomotora - as crianças apresentam-se como quietas,


tensas, cansadas, exaustas e seu movimento e expressão são
limitados.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo Há


relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade
de aprendizagem? clicando aqui.

Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção


e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem.
28 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Integrar o trabalho da psicomotricidade ao trabalho de Educação


Física colabora para o reconhecimento do ensino integral do sujeito,
incluindo suas emoções e ações autônomas. Essa integração permite
compreender que o ser humano age de forma relacional com o ambiente
e, por meio dessa relação, desenvolve movimentos conscientes,
experimentando crescimento e sentido cognitivo.

Vital (2016, apud MARTINEZ; PEÑALVER; SANCHEZ, 2003) defende


que a base do desenvolvimento global do ser humano encontra-se
no aspecto motor. Isso significa entender que o movimento leva ao
aprendizado e permite viver experiências vinculadas a objetivos, que
conduzem ao autoconhecimento e à evolução das competências.

Para Cunha (1990) e Fávero (2004), existe uma relação entre o


desenvolvimento motor e a aprendizagem escolar. No entanto, destacam
que essa relação se apresenta mais definida nos primeiros anos do ensino
fundamental, quando criança é alfabetizada, sendo esse o momento
em que costumam vir à tona os primeiros sinais das dificuldades de
aprendizagem. Para eles, existem crianças que atingem a idade escolar,
porém ainda não possuem domínio regular de suas habilidades motoras
básicas, e seu rendimento acaba sendo comprometido.
Figura 8 - Dificuldades de aprendizagem

Fonte: Pixabay
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 29

Sobre a escrita, Ajuriaguerra (1988) ressalta que deve-se observar,


além das habilidades cognitivas, as psicomotoras, pois, em seu olhar, o ato
de escrever envolve diretamente a ação motora de traçar corretamente as
letras e construir uma palavra. Para ele, ao considerarmos a questão do
desenvolvimento motor, precisamos também perceber a maturação do
sistema nervoso e a investida quanto à promoção do desenvolvimento
psicomotor no que se refere à coordenação dos movimentos para a
escrita.

Fonseca (2008), ao falar sobre a escrita, salienta que esta demanda


o desenvolvimento da motricidade fina, da estruturação temporal, da
lateralidade e da adequação de percepção visual e auditiva.

Fávero (2004) destaca, ainda, que o desenvolvimento psicomotor


não é o único fator responsável pelas dificuldades de aprendizagem,
mas pode desencadear ou agravar esse problema. As dificuldades
de aprendizagem relacionadas à escrita promovem distorções no
desempenho e no rendimento escolar das crianças. Crianças que
apresentam dificuldades de escrita podem também desenvolver
disfunção nas habilidades fundamentais para a aprendizagem escolar, em
outras áreas do conhecimento. O autor ainda explica que o ato de escrever
suscita o desenvolvimento de 84 habilidades psicomotoras específicas e
um esforço intelectual, muito acima de aprendizagens anteriores à fase
do letramento da criança.
30 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

Figura 9 - A escrita

Fonte: Freepik

RESUMINDO:

Vamos recapitular o que vimos até aqui? Neste capítulo,


conhecemos os problemas do desenvolvimento motor
e vimos o quanto é importante focar no alerta para o
combate a eles, desde o início de seu desenvolvimento,
pois como vimos, até a escrita e a aprendizagem podem
ficar comprometidas nesse caso.
Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem 31

REFERÊNCIAS
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institucionalizado. Fisioterapia Brasil. vol. 4, n. 2, março/abril, p. 92-95,
2003.

AJURIAGUERRA, J. A escrita infantil: evolução e dificuldades. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1988.

CLARK, J. E. Motor development. Encyclopedia of human behavior.


3(1):245-255, 1994.

CUNHA, M. F. C. Desenvolvimento psicomotor e cognitivo:


influência na alfabetização de criança de baixa renda. Orientador:
Nome do Orientador. 250 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Instituto de
Psicologia. USP. São Paulo. 1990. Versões impressa e eletrônica.

FÁVERO, M. T. M. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem


da escrita. Orientadora: Geiva Carolina Calsa. 162 f. Dissertação (Mestrado
em Aprendizagem e Ação Docente) – Departamento de Teoria e Prática
da Educação. Universidade Estadual de Maringá. Maringá. 2004. Versões
impressa e eletrônica.

FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem.


Porto Alegre: Artmed, 2008.

FONSECA, V. Psicomotricidade perspectivas multidisciplinares.


Porto Alegre: Artmed, 2004.

GOBBI, L. T. B.; PATLA, A. E. (1997). Desenvolvimento da locomoção


em terrenos irregulares: proposta de um modelo teórico. In: PELLEGRINI,
A. M. (org.). Coletânea de estudos: comportamento Motor 1. p. 29-44. São
Paulo: Movimento, 1997.

GONÇALVES, F. Psicomotricidade e Educação Física: quem quer


brincar põe o dedo aqui. São Paulo: Cultural RBL, 2010.

HEBERT, S. Ortopedia e traumatologia: princípios e práticas. 2. ed.


Porto Alegre: Artmed, 1998.
32 Desenvolvimento Neutopsicomotor e Aprendizagem

MANOEL, E. J. Desenvolvimento motor: implicações para a


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