Você está na página 1de 60

SISTEMA DE SAÚDE

E ORGANIZAÇÃO DA
ATENÇÃO BÁSICA: SAÚDE DA
MULHER, DA CRIANÇA, E DO
ADOLESCENTE
Unidade 2
Planejamento
familiar e a saúde
da família
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

ANA CLÁUDIA BARREIRO NAGY


Ana Cláudia Barreiro Nagy
AUTORIA

Sou pedagoga, bacharel em Letras, psicopedagoga e


Mestre em Educação, com experiência na área de ensino de 30
anos. Passei por importantes instituições de ensino, como UNIP
e Senac. Sou Coordenadora da Pedagogia EaD na Universidade
São Francisco e conteudista em cursos de graduação e pós.
Apaixonada pela minha profissão, agradeço por poder transmitir
minha experiência àqueles que estão iniciando em suas profissões
ou se aperfeiçoando. Aprendo bastante com cada material
que produzo. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz
em ajudá-lo nesta fase de estudo e trabalho. Conte comigo!
Unidade 2

4 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 2
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 5


Programa Rede Cegonha........................................................... 9
SUMÁRIO

A Rede Cegonha.................................................................................................... 9

O parto humanizado, pressuposto da Rede Cegonha................................ 15

Planejamento familiar............................................................. 21
A importância da decisão de engravidar........................................................ 21

Métodos contraceptivos.................................................................................... 27

Cuidado com os principais agravos da saúde da mulher..... 33


PNAISM................................................................................................................. 33

Os principais agravos que acometem a população feminina em idade


reprodutiva.......................................................................................................... 38

Problemática da saúde da criança e do adolescente no


Unidade 2

Brasil.......................................................................................... 45

6 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Olá, aluno!

APRESENTAÇÃO
Daremos início a mais uma unidade! Nesta unidade, vamos
falar sobre o Programa Rede Cegonha, projeto tão importante para
a saúde da mulher durante a gestação e depois que se torna mãe.

Ainda faz parte desta unidade discutir e pensar em como


fazer o planejamento familiar, essencial para todas as famílias,
pois ter um filho é uma decisão muito séria e que deve ser tomada
com muita certeza, especialmente nos dias de hoje, pois a mulher
dispõe de muitas formas de prevenir uma gravidez indesejada ou
que possa ocorrer em um momento pouco propício para a família.

Diante disso, vamos conversar sobre a saúde da mulher, da


criança e do adolescente também, afinal, um tema acaba levando

Unidade 2
ao outro, concorda?

Bem, cada um desses temas é de grande importância


quando analisamos a realidade brasileira. Assim, leia este
material com bastante atenção e carinho, certo?

Bons estudos!

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 7


Olá! Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2.
OBJETIVOS

Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das


seguintes competências profissionais até o término desta etapa
de estudos:

1. Identificar as ações desenvolvidas no Programa Rede


Cegonha.

2. Explicar a importância da realização do planejamento


familiar.

3. Identificar as ações da clínica e do cuidado nos principais


agravos da saúde da mulher.

4. Reconhecer a problemática da saúde da criança e do


adolescente no Brasil.
Unidade 2

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento?

Ao trabalho!

8 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Programa Rede Cegonha
O tema que começa agora trata do Programa Rede
Cegonha. Vamos conhecê-lo para que possamos
perceber o quanto ele tem importância para as
OBJETIVO mulheres que descobrem uma gravidez, tornam-
se puérperas e têm um bebê para cuidar.

A Rede Cegonha
Você já ouviu falar do Programa Rede Cegonha?

No site do Ministério da Saúde, há toda a explicação sobre


o que é esse programa, assim como são apresentados dados de
desde quando a iniciativa começou e seus resultados atualizados.

Unidade 2
Vamos ver:
O Ministério da Saúde propõe assegurar à mulher
o direto ao planejamento reprodutivo e atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério
(pós-parto) e, às crianças, o direito ao nascimento
seguro e ao crescimento e desenvolvimento
saudáveis. O Programa, que o Governo Federal
lançou no ano de 2011, visa promover a saúde
com qualidade de vida e bem-estar às mulheres
durante a gravidez, na hora do parto e à criança
até os dois primeiros anos de vida. É importante
mencionar que esse programa está presente em
mais de 5 mil municípios brasileiros e já atendeu
mais de 2,6 milhões de gestantes em todo o país.
(SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA
ALBERT EINSTEIN, 2019, p. 14)

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 9


Figura 1 - Logotipo do programa Rede Cegonha

Fonte: Pastoral da Criança (2016).


Unidade 2

EXEMPLO

A recepcionista Marta Borges é uma delas. Marta teve o


terceiro filho recentemente em uma maternidade vinculada
à Rede Cegonha, em Fortaleza (CE). Ela elogia o tratamento
humanizado realizado pelas enfermeiras. “O primeiro foi
cesariana, aí já os outros dois, já me incentivaram a fazer parto
normal. Também achei melhor por me sentir melhor depois,
já sair andando da sala. Cheguei aqui às 6h, fiz a ficha, entrei,
6h30 já estava na sala de parto, já fazendo exercício, elas me
ajudaram a fazer exercício, elas ficaram comigo, elas mesmas me
ajudaram em tudo, fizeram o parto, foi bem melhor”, lembra a
recepcionista.

A Rede Cegonha foi criada com o intuito de reduzir a


mortalidade materna e infantil e garantir os direitos sexuais e
reprodutivos de mulheres, homens, jovens e adolescentes por
meio de ações oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

10 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Veja a figura a seguir:
Figura 2 - Rede Cegonha

Pré-Natal

Sistema
logístico, Puerpério e
transporte REDE CEGONHA atenção integral
sanitário e à saúde da
regulação criança

Unidade 2
Parto e
nascimentos

Fonte: Marques (2015, p. 8).

O programa pressupõe as seguintes ações: consultas e


atendimento pré-natal; no nascimento do bebê; no período que
o segue, ou seja, o puerpério; atenção integral à saúde do recém-
nascido e transporte sanitário para ambos.

A Rede Cegonha desenvolve, portanto, um modelo de


cuidado com o nascimento, questão que vinha sendo discutida
em nosso país desde os anos 1980.

Como podemos perceber, o programa é amplo (pelas áreas


de interesse que abrange) e responde a uma antiga necessidade

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 11


da sociedade. Vamos falar mais um pouquinho sobre a Rede
Cegonha.

Podemos compreender a Rede Cegonha como um conjunto


de ações básicas do governo para garantir um atendimento de
maior qualidade, segurança e humanização para as mulheres,
fornecendo assistência básica desde o começo de sua vida
familiar, por meio das ações de planejamento familiar, até o
momento da gravidez, abrangendo o pré-natal, parto, puerpério
e se estendendo até os primeiros 24 meses do bebê.
Uma das normativas essenciais sobre a Rede
Cegonha é a previsão de que esta seja organizada
e desenvolvida unicamente dentro do Sistema
VOCÊ SABIA? Único de Saúde (SUS), de forma que mulheres de
qualquer classe social possam ter acesso a esse
Unidade 2

programa e a seus principais benefícios durante


uma fase tão importante.

Sendo assim, conforme o próprio site do Ministério da


Saúde, as principais diretrizes do programa estão voltadas para:

• Acolhimento da mulher.

• Avaliação e classificação de cada uma das pacientes


de acordo com a probabilidade de riscos suas
vulnerabilidades.

• Aumento do acesso e promoção de uma maior


qualidade dos programas de pré-natal.

12 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Figura 3 - Exame pré-natal

Unidade 2
Fonte: Freepik .

• Vinculação da paciente a uma das unidades básicas de


referência mais adequadas para o parto e o transporte
seguro das gestantes.

• Promoção de boas práticas, bem como de segurança da


gestante, principalmente durante o parto e nascimento
da criança.

• Promoção de formas de acesso das mais diversas


gestantes ao planejamento familiar e reprodutivo.

Sendo assim, é possível afirmar que os objetivos centrais


do programa são:

• Implementação de novos modelos de atenção à saúde


feminina.

• Implementação de novos modelos de atenção à saúde


dos recém-nascidos e das crianças.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 13


• Organização da Rede de Atenção à Saúde Materna e
Infantil.

• Melhoria nos acessos de pacientes gestantes,


acolhimento e resolução de seus problemas nas
unidades de atenção básica de saúde.

• Busca na redução da mortalidade feminina e também


infantil, principalmente durante o período neonatal.

Apesar de termos evoluído bastante na preservação da


saúde materna e também neonatal, é preciso ressaltarmos que
ainda é possível observar números bastante tristes relativos à
mortalidade das gestantes e dos recém-nascidos.

Sendo assim, tem-se a noção de que esse precisa ser um


Unidade 2

dos pilares organizacionais da Rede Cegonha, visto que é um


problema recorrente, principalmente dentro das comunidades
mais pobres e com menos acesso à saúde.

No Brasil dos anos 1990, em torno de 140 mulheres


que davam à luz crianças nascidas vivas vinham a óbito. Se
considerarmos que esse número de mortes era na proporção de
140 em cada 100.000, a Taxa de Mortalidade Materna (TMM) era
muito alta.
Figura 4 - Bebê na maternidade

Fonte: Freepik .

14 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Em 2007, esse índice caiu para uma TMM de 75 óbitos por
100.000 nascidos vivos, uma redução de 52% em quase duas
décadas. É um grande avanço, mas o número de mulheres que
perdem a vida em decorrência do parto ainda é muito elevado
(BRASIL, 2010).

Diante disso, um modelo de atenção ao parto e às


parturientes passou a ser uma meta no país, pois os índices
precisavam cair ainda mais – no máximo, para 35 óbitos por
100.000 nascidos vivos até o ano de 2015, o quinto Objetivo do
Milênio (BRASIL, 2010).
De acordo com o Ministério da Saúde,
planejamento familiar é o direito que toda pessoa
tem à informação e ao acesso aos recursos que

Unidade 2
NOTA
permitam optar livre e conscientemente por ter
ou não ter filhos. O número, o intervalo temporal
entre eles e a escolha do método anticoncepcional
mais adequado são opções que toda mulher deve
ter em relação ao direito de escolher de forma
livre e por meio da informação, sem discriminação,
coerção ou violência (BRASIL, 2002).

O parto humanizado, pressuposto


da Rede Cegonha
Um ponto importante nessa discussão é a questão do parto
e do nascimento humanizados. Nos anos 2000, algo próximo ao
programa Rede Cegonha começava a dar os primeiros sinais
com a produção de manuais técnicos elaborados no âmbito do
Ministério da Saúde (MS) para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Nesse modelo, são centrais a garantia do acesso às práticas


de saúde baseadas em evidências científicas e o reconhecimento
da gestante e de seus familiares como “atores principais” nessa

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 15


cena, e não “espectadores” (DINIZ, 2005 apud CAVALCANTI et al.,
2013, p. 1298).
Vale ressaltar que, mesmo com os avanços
observados em todo o país, as regiões Nordeste
e Norte ainda concentram TMIs muito elevadas,
NOTA
contribuindo de maneira importante para a menor
velocidade de redução do indicador (BRASIL, 2010).

Um ponto importante a considerar é que ainda é preciso


fazer muito para que nosso país atinja os níveis adequados de
atendimento às gestantes, às mães e aos bebês. Há procedimentos
a serem instituídos para diagnosticar e adequar o atendimento
para atingir a todas as mulheres e seus filhos.

Há políticas públicas para isso. Entretanto, o Brasil precisa


Unidade 2

fortificar sua rede hospitalar, oferecer acesso aos especialistas


da área médica e de saúde como um todo e modernizar os
postos de atendimento e hospitais para atender a todos com
mais rapidez, presteza e melhor qualidade.
Figura 5 - Sala de parto

Fonte: Freepik .

16 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Especialmente para as mães das classes mais baixas,
principais usuárias do SUS, essas ações são prioritárias, pois são
a única opção dessas gestantes e puérperas.

De qualquer modo, não podemos deixar de assinalar que


A Rede Cegonha é, atualmente, o programa mais
completo já criado pelo governo federal. Suas ações
são voltadas para todas as etapas da vida da mulher
e abrangem estratégias que vão desde orientação em
relação ao cuidado com o corpo, com o uso de métodos
contraceptivos, atendimento da gestante, puérpera e
recém-nascido, até ações voltadas ao atendimento
da criança até 2 anos de idade. Avigora-se, aqui, a
assistência ao parto humanizado e a capacitação de
profissionais para executarem suas funções de forma

Unidade 2
humanizada e eficiente. (CASSIANO et al., 2014)

Assim sendo, implantar essa rede requer, como mencionado,


ações voltadas para o atendimento às mulheres, de forma que
elas sejam “articuladas entre os gestores, profissionais de saúde
e comunidade, pois assim as probabilidades de sucesso dessas
ações serão maiores” (MARQUES, 2015, p. 36).

O Ministério da Saúde determina também que a Rede


Cegonha pode ser adotada pelos mais diversos entes públicos,
de maneira que é possível realizar a adesão de duas formas
distintas, tanto de forma regional quanto de maneira facilitada.

• Adesão regional: no contexto da adesão regional para


a Rede Cegonha, fica determinado que ela está voltada
para atingir o conjunto dos principais municípios das
chamadas Regiões de Saúde Priorizadas, determinadas
pelo Grupo Condutor Estadual da Rede Cegonha
– conhecido como GCE/RC. Assim, é preciso que
tais municípios atendam alguns critérios básicos,

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 17


principalmente nas áreas epidemiológicas e na área
populacional. Assim, essa adesão proporciona a
organização de ações básicas da Rede Cegonha para as
gestantes locais.

• Adesão municipal facilitada: nesse caso de adesão,


é necessário que sejam organizados os passos de
assistência pré-natal e durante o período de puerpério
da gestante. Sendo assim, tais ações são voltadas
para atender municípios que se encontram fora
das regiões de atenção prioritária de saúde. Dessa
maneira, é preciso que o município interessado solicite
adesão ao programa, apresentando um plano de
ação e implementação ao Sistema de Plano de Ação
de Redes Temáticas do Ministério da Saúde. Para
Unidade 2

esse tipo de adesão, é necessária a ocorrência de um


cofinanciamento da rede por parte do município em
parceria com o Governo Federal, devendo a Secretaria
de Saúde do município ficar responsável pela gestão,
organização e monitoramento da Rede Cegonha.

O que desejamos como país? Atingir a meta de atender


com excelente qualidade todas as mulheres nas situações
mencionadas, e o Programa Rede Cegonha está caminhando
para que esse objetivo seja seguido.

18 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Figura 6 - Atenção e cuidado à saúde da gestante

Unidade 2
Fonte: Freepik .

Conheça o material criado para as futuras mães,


chamado de “Caderneta da Gestante”, 3ª edição, de
2016, que traz todas as informações que a mulher
SAIBA MAIS precisa saber para se cuidar melhor e receber um
atendimento de boa qualidade na rede pública de
saúde. A Caderneta está disponível aqui .

Outro tópico importante a ser discutido nesse contexto é a


questão do planejamento familiar, nosso próximo tema.

Sugerimos que você assista a um vídeo que explica


quais mudanças na organização da assistência
ao pré-natal e parto ocorrem quando há Rede
ACESSE Cegonha implantada. Disponível aqui .

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 19


E então gostou do nosso primeiro capítulo? Nele
pudemos conversar um pouco mais sobre um
importante programa do Ministério da Saúde
RESUMINDO brasileiro, conhecido como Rede Cegonha. Assim,
conhecemos seus objetivos principais, pilares,
bases do projeto e, principalmente, as formas
pelas quais os municípios podem aderir a ele.
Nesse sentido, compreendemos que a base da
Rede Cegonha está pautada na necessidade de
promoção de um maior acesso à saúde feminina,
desde o planejamento familiar, passando pelo pré-
natal, fornecimento de exames básicos e essenciais
para a gestante, passando pelo momento do parto,
atenção ao puerpério e se encerrando quando
a criança atinge os 24 meses de idade (2 anos).
Assim, tratamos sobre os fundamentos essenciais
Unidade 2

do parto humanizado, a imensa preocupação do


Ministério da Saúde com a redução da mortalidade
feminina, bem como da mortalidade infantil,
principalmente em locais onde as crianças e
mulheres possuem acesso restrito às redes de
acesso a saúde. Espero que tenham gostado do
nosso assunto e aprendido bastante durante
este capítulo. Vamos continuar nossa trilha de
aprendizagem

20 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Planejamento familiar
Durante a nossa unidade, trataremos sobre as
principais etapas que envolvem o planejamento
familiar, desde a decisão de se iniciar uma família,
OBJETIVO passando pelas políticas públicas voltadas para o
tema, bem como pelos métodos contraceptivos
atuais mais adequados para atender a demanda
e a situação de cada família. Está pronto para
começar? Vamos lá!

Para começar nossa conversa, penso que é importante


mencionar que o planejamento familiar deve envolver não
apenas as mulheres, mas os homens também, afinal, não é
planejamento de gravidez, simplesmente. Esse tema envolve

Unidade 2
muito mais que a mulher, envolve o futuro pai, concorda?

A importância da decisão de
engravidar
A mulher não engravida sozinha. Ela precisa de um homem
para isso. Assim, é possível afirmar que esta é uma questão da
família. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002, p. 7)
e a Constituição Federal do nosso país:
A atuação dos profissionais de saúde, no que se refere
ao Planejamento Familiar, deve estar pautada no
Artigo 226, Parágrafo 7, da Constituição da República
Federativa do Brasil, portanto, no princípio da
paternidade responsável e no direito de livre escolha
dos indivíduos e/ou casais (BRASIL, 1988, on-line).

Veja que o termo “paternidade” surge, englobando o


homem nesse contexto. Mais uma vez: é uma questão da família,
e essa palavra aparece no conceito: paternidade, pai, homens e
mulheres, família.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 21


Planejamento familiar: conjunto de ações que
auxiliam homens e mulheres a planejar a chegada
dos filhos e a prevenir a gravidez não desejada
DEFINIÇÃO (GINECO.com.br, s.d., on-line)

A assistência em planejamento familiar é, portanto,


essencial para que homens e mulheres tenham uma vida
sexual e reprodutiva saudável. As políticas públicas devem
ser desenvolvidas tendo como principal objetivo não apenas
evitar uma gravidez indesejada, mas orientar para que os
comportamentos de risco sejam evitados, assim como as
consequências negativas de práticas sexuais inseguras – em
âmbito biológico, psicológico ou social (MOURA; GOMES, 2014).
Unidade 2

Figura 7 - Início de uma família

Fonte: Freepik .

22 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Aos profissionais da saúde, é imprescindível conhecer
profundamente o assunto e orientar os pacientes para que ajam
de modo seguro e consciente.

Afinal, o risco de um aborto ilegal, por exemplo, é muito grave:


para a mulher, que pode perder a vida ou ficar impossibilitada de
ter uma nova gravidez por conta das consequências desse ato;
para a família, que pode perdê-la, além, claro, do trauma que
pode vir devido a essa situação.

O ideal é, então... prevenção.

O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher


(PAISM), criado nos anos 1980 pelo Ministério da Saúde (MS),
traz premissas que o fundamentam em relação ao planejamento

Unidade 2
familiar e que podem (e devem) ser aplicadas. É importante
ressaltar que sua principal intenção era o controle da natalidade,
tema necessário de ser posto em discussão para um país como o
nosso, permeado por desigualdade social, problemas estruturais
de oferta de saúde e cuidados essenciais básicos. Isso à época
(anos 1980) e ainda hoje.

De qualquer modo, foi um avanço. Os objetivos do


programa, classificados em gerais e de longo prazo, à época,
eram os seguintes:

• Gerais:

1. Cumprimento do preceito constitucional.

2. Diminuição da morbimortalidade da população-alvo.

• A longo prazo:

1. Alcançar melhores níveis de saúde da mulher, criança


e adolescente, por meio do aumento da cobertura e da
capacidade de resolução dos serviços de saúde, criando
condições que permitam a implementação do PAISM.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 23


2. Implantar as atividades do programa nas unidades
de saúde, com sistema de referência regionalizado e
hierarquizado.

3. Elevar a cobertura pré-natal. (BRASIL, 1983, n.p.)

O documento orienta que decidir quanto ao número e


espaçamento dos filhos é direito inalienável de cada casal,
cabendo ao Estado garantir, a todos os brasileiros, todas as
informações que se fizerem necessárias para que eles possam
planejar sua família da forma que mais lhes convier.
O programa foi formulado dentro do princípio
do direito universal à saúde, preconizado pelo
movimento sanitarista e que norteou a formulação
NOTA
do Sistema Único de Saúde/ SUS, referendado pela
Unidade 2

Constituição de 19881.
1

Em 2004, o MS fez uma atualização, começando a


elaboração de outro documento, denominado “Política Nacional
de Atenção Integral à Saúde da Mulher - Princípios e Diretrizes”, a
partir dos dados então coletados sobre a saúde da mulher. Para
tal, consultou diversos estudos promovidos pela Coordenação
Geral de Saúde da Mulher para avaliar como as premissas
estavam sendo direcionadas. No ano seguinte, essa política foi
implementada.

NORT, E. Planejamento familiar: solução básica.


Santa Catarina: Editora da UFSC, 2003.
SAIBA MAIS

O MS, em 2009, reforçou a política de planejamento


familiar, pautada na Lei n.º 9.263, sobre o planejamento familiar,

1 Fonte: http://www.cfemea.org.br/plataforma25anos/_anos/1983.php?iframe=lanc_
paism_1983. Acesso em: 30 jun. 2019.

24 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


de 12 de janeiro de 1996, a qual regula o parágrafo 7º do art. 226
da nossa Constituição Federal, ampliando o acesso aos métodos
contraceptivos.

Por meio dessa política pública, foram disponibilizados


mais de oito tipos de métodos nos postos de saúde e hospitais
públicos.

Veja os três primeiros artigos dessa lei:


Art. 1.º O planejamento familiar é direito de todo
cidadão, observado o disposto nesta Lei.

Art. 2.º Para fins desta Lei, entende-se planejamento


familiar como o conjunto de ações de regulação
da fecundidade que garanta direitos iguais de

Unidade 2
constituição, limitação ou aumento da prole pela
mulher, pelo homem ou pelo casal.

Parágrafo único – É proibida a utilização das ações a


que se refere o caput para qualquer tipo de controle
demográfico. (BRASIL, 2009, on-line)

Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do


conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou
ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e
integral à saúde. (BRASIL, 1996, on-line)

Chamamos sua atenção ao seguinte: planejar a gestação


é direito de qualquer cidadão; não são permitidos métodos
para controle demográfico; e a atenção que deve ser dada
aos cidadãos (mais uma vez incluindo os homens) visa a um
atendimento global e integral à saúde.

Perceba que insistimos bastante na importância do homem


nesse contexto!

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 25


Figura 8 - Imagem ilustrativa de casal conversando sobre ter filhos
Unidade 2

Fonte: Freepik .

Sendo assim, é preciso falar que, quando falamos em


planejamento familiar, é preciso compreender que algumas
barreiras estão atreladas a esse importante programa tão falado
dentro das unidades de saúde. Sendo assim, destacamos:

• Preconceito dos pacientes.

• Falta de conhecimento e habilidades de médicos,


enfermeiros e profissionais de saúde em dar
informações e apoio aos interessados no tema.

• Ausência de suprimentos e métodos contraceptivos


não suficientes para atender a demanda da população.

• Grande preocupação dos pacientes com relação aos


métodos de contracepção, bastante aliados com a falta
de conhecimento sobre o assunto.

26 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


• Falta de rastreio dos dados dos pacientes e dificuldade
no gerenciamento das famílias.

Em suma, é necessário que possamos compreender que


a principal função do planejamento e do acompanhamento
familiar está em auxiliar, conscientizar as famílias envolvidas e,
principalmente, respeitar as ideias e valores de cada uma das
famílias inseridas no processo de atendimento básico de saúde.

Além disso, é possível afirmar que o acompanhamento


adequado das famílias é necessário para que se estabeleça
uma rede de apoio, principalmente para a mulher, que também
necessita de aconselhamento, assistência pré e pós-parto, além
de serviços essenciais para a manutenção da saúde familiar.

Unidade 2
Diante desse panorama, vamos ver os métodos
contraceptivos mais utilizados e, em seguida, vamos falar sobre
alguns deles.

Métodos contraceptivos
Os métodos contraceptivos são uma importante ferramenta
para o planejamento familiar. Eles devem, entretanto, ser
decididos entre o casal, porém, o que se sabe é que a mulher é
quem mais utiliza métodos contraceptivos – em especial a pílula
(30,8%) –, e, em contrapartida, apenas 14,4% dos homens lançam
mão da camisinha masculina. Ainda, alguns casais fazem uso de
mais de um método.

Na tabela abaixo, temos dados de pesquisa realizada em


2015 no município de São Paulo sobre o uso de alguns métodos
de contracepção. Veja:

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 27


TABELA 1 - Distribuição percentual de mulheres que tiveram pelo menos uma relação sexual
nos últimos 12 meses e não grávidas
Unidade 2

Fonte: Adaptado de Olsen et al. (2015).

Isso pode significar que a responsabilidade da contracepção


pesa mais para a mulher do que para o homem. Essa realidade
pode estar relacionada ao fato de que vivemos em um país que
tem uma visão ainda bastante machista, concorda?

Não estamos aqui afirmando essa perspectiva, entretanto é


uma ideia que nos passa pela cabeça.

A escolha do método anticoncepcional deve ser


livre e informada, respeitando-se os critérios de
elegibilidade clínica.
NOTA

Estimular sempre o uso da camisinha masculina ou feminina


em todas as relações sexuais, por ser o único método que
protege contra as DST-IST/HIV/Aids. A camisinha pode ser usada
associada a outro método anticoncepcional – dupla proteção ou
isoladamente. Enfatizar a dupla proteção (BRASIL, 2010, p. 119).

28 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


A seguir, veremos um esquema que nos mostra os métodos
contraceptivos, suas vantagens e desvantagens.
Tabela 2 - Métodos contraceptivos mais utilizados – prós e contras

Unidade 2

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 29


Unidade 2

Fontes: Brasil (2008); Finotti, Aldrighi e Petta (2005); Brasil (2010, p. 119-122).

30 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Figura 9 - Camisinhas masculina e feminina

Unidade 2
Fonte: Freepik

Como podemos perceber, métodos não faltam para que


o casal escolha. O MS, inclusive, traz prós e contras de cada
um deles, o que é muito importante para ajudar na escolha do
método que será utilizado para o planejamento familiar.

Quais são as principais formas de fazer o


planejamento familiar tendo em vista a situação
socioeconômica do brasileiro?
REFLITA

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 31


E aí, curtiu o conteúdo desta unidade? Começamos a
percorrer o assunto do planejamento familiar e sua
fundamental importância dentro da nossa estrutura
RESUMINDO social, principalmente quando falamos de famílias
de baixo poder aquisitivo e que precisam ter mais
conhecimento e mais acesso às formas de melhor
organizar sua estrutura familiar, principalmente
quando o assunto é ter filhos. Sendo assim, é
importante que as unidades básicas de saúde acabem
voltando os seus serviços para a conscientização
quanto à importância do planejamento familiar
e do apoio à mulher, que deve ter total controle
sobre os seus desejos de aumentar ou não a família.
Nesse sentido, entramos no assunto dos métodos
contraceptivos, que são, atualmente, a forma mais
eficaz de se evitar uma gravidez não planejada.
Unidade 2

Assim, pudemos conhecer as mais diversas formas


de contracepção, bem como a porcentagem de
utilização delas dentro da sociedade. Espero que
tenha aprendido bastante com esta unidade. Está
pronto para a próxima? Vamos lá!

32 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Cuidado com os principais
agravos da saúde da mulher
Nesse tópico, vamos discutir as ações da clínica e
do cuidado com a saúde da mulher, especialmente
no que diz respeito aos agravos que não cuidar da
OBJETIVO saúde pode trazer.

PNAISM
Você conhece o PNAISM?

Para tratar da saúde da mulher, é necessário conhecer a


Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),

Unidade 2
que foi elaborada pela Área Técnica de Saúde da Mulher do
Ministério da Saúde (MS) em 2004. O programa foi elaborado
tendo em vista uma necessidade que surgiu no âmbito do MS
para promover maior atenção e cuidados com a saúde feminina
em nosso país.

Nós já começamos a falar sobre ele quando tratamos do


planejamento familiar. Agora vamos aprofundar mais o tema,
como foco na saúde da mulher.

A PNAISM foi concebida em parceria com outras áreas e


departamentos do Ministério da Saúde, a Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres e com segmentos do movimento
de mulheres, buscando assimilar as reivindicações dos diversos
movimentos sociais.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 33


Figura 10 - Mãe e filho
Unidade 2

Fonte: Freepik

Na ocasião, foi apresentada e debatida no Conselho


Nacional de Saúde, com o objetivo de ser reconhecida como
uma política de Estado e, assim, assimilada pelas instâncias de
decisão do Sistema Único de Saúde (SUS, 2004).

É certo que tratar a mulher deve ser uma parte importante


de toda agenda pública da área da saúde, pois, além de ser uma
cidadã, é ela que carrega em seu ventre novos cidadãos e, em
sua maioria, é a grande responsável pelos cuidados de que o
recém-nascido necessita.

Uma mulher sem saúde equilibrada não terá condições de


cuidar de uma criança, certo?

Vamos, então, voltar a falar sobre o PNAISM. São seus


objetivos:

34 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


• Promover a melhoria das condições de vida e saúde das
mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos
legalmente constituídos e ampliação do acesso aos
meios e serviços de promoção, prevenção, assistência
e recuperação da saúde em todo território brasileiro.

• Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade


feminina no Brasil, especialmente por causas evitáveis,
em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos
populacionais, sem discriminação de qualquer espécie.

• Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à


saúde da mulher no Sistema Único de Saúde. (BRASIL,
2004, n.p.)

Vejamos o que esses objetivos significam em termos de

Unidade 2
ganhos para as mulheres, pelo menos de acordo com o que está
proposto no documento:

1. Quando se diz que é necessário melhorar as condições


de algo, entendemos que há falhas, inconsistências
ou equívocos no que foi analisado. No caso da saúde
da mulher, é bom lembrar que há mais mulheres do
que homens no país – em 2018, a população feminina
era de 51,7%, e a masculina, de 48,3%, de acordo com
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), o que significa que é muito
provável que haja mais mulheres para serem atendidas
nos serviços de saúde do que homens. Aqui está uma
razão marcante para uma política especial para tratar
a mulher.

2. Quando se diz que é necessária uma contribuição para


a diminuição da morbidade (e mortalidade) feminina,
também nos vem ao pensamento que esse grupo
populacional deve ter um alto índice de mortes e que

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 35


essa taxa precisa ser revertida, especialmente quando
se verifica que as causas poderiam ser evitadas. Aqui
está uma segunda razão para elaboração de uma
política especial para tratar a mulher.
Figura 11 - Imagem ilustrativa de atendimento hospitalar humanizado
Unidade 2

Fonte: Freepik

3. Quando é citada a ampliação e a humanização da


atenção à saúde da mulher, é fácil entender que os
parâmetros precisam ser revistos e aperfeiçoados
para que as mulheres tenham atendimento e
acompanhamento satisfatório, visando à preservação
de sua saúde e bem-estar. Aqui está uma terceira razão
para uma política especial para tratar a mulher.

36 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD, 2015) obtém informações anuais sobre
características demográficas e socioeconômicas
NOTA
da população, como sexo, idade, educação,
trabalho e rendimento, e características dos
domicílios. Além disso, com periodicidade variável,
coleta informações sobre migração, fecundidade,
nupcialidade, entre outras, tendo como unidade
de coleta os domicílios. Temas específicos que
abrangem aspectos demográficos, sociais e
econômicos também são investigados.

Além de todos os objetivos já elencados, destacamos alguns


outros pontos específicos que também são foco do PNAISM, que são:

• Implementação de programas voltados para atender

Unidade 2
a saúde mental das mulheres, principalmente
relacionados a demandas de gênero.

• Implementar programas para atendimento específico


para mulheres em períodos de climatério.

• Atenção específica para grupos vulneráveis, como é o


caso das mulheres na terceira idade, mulheres negras,
trabalhadoras do campo e mulheres indígenas.

• Promoção de programas voltados para atender


mulheres pertencentes ao sistema carcerário,
principalmente no que tange à prevenção e ao controle
de doenças sexualmente transmissíveis.

• Fortalecimento da participação social na implementação


e atuação do governo em políticas voltadas para a
atenção integral à saúde feminina.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 37


Os principais agravos que
acometem a população feminina
em idade reprodutiva
Nesse sentido, cabe-nos entender o porquê da existência
desse programa na prática e, para isso, vamos ver quais são os
principais agravos à saúde das mulheres.

São as doenças cardiovasculares (infarto e acidente vascular


cerebral), cânceres de mama, pulmão e colo do útero, doenças
endócrinas, nutricionais e metabólicas (diabetes) e pneumonia.
Figura 12 - Imagem ilustrativa de mulher doente no hospital
Unidade 2

Fonte: Freepik

Associados a essas doenças, há dois outros tipos de agravos


de extrema gravidade, ou seja, aqueles associadas à violência,
visto que as mulheres são mais vitimadas que os homens nesse
caso, pois sofrem de violência doméstica e sexual e outras

38 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


relacionadas ao exercício da sexualidade, como complicações
devido à “transmissão vertical de doenças como a sífilis e o vírus
HIV” (BRASIL, 2004, p. 25).
Tabela 4 - Principais causas de óbito nas mulheres em idade fértil

AVC - Acidente
vascular
cerebral

Diabetes AIDS

Doenças Causas de óbito Câncer de

Unidade 2
cardíacas em mulheres mama

Hipertensão Feminicídio

Câncer em
Acidentes
órgãos do
em
sistema
transportes
digestivo

Fonte: Adaptado de Laurenti (2002).

Veja que o autor cita a aids no topo dos agravos à saúde


feminina. É importante ressaltar que essa doença, na maioria
dos casos, é transmitida pelo exercício da sexualidade, ou seja,
via sexual. Se a mulher tomar cuidados básicos para se proteger,
essa questão, gravíssima, pode ser minimizada, não é verdade?

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 39


Conheça os documentos produzidos pelo Ministério
da Saúde sobre HIV/AIDS. Acesse-os aqui .
ACESSE

Os “Boletins Epidemiológicos Aids DST”, de 2003 e 2008,


elaborados pelo MS, mostram que as mulheres são contaminadas
principalmente por contato sexual com o sexo oposto. Entretanto,
como mencionamos, cuidados simples, como o uso da camisinha
masculina nas relações sexuais, podem minimizar essa situação.

Há um trabalho consistente dos serviços de saúde pública


para incentivo desse preservativo, o qual, inclusive, é distribuído
gratuitamente em diversos locais, como postos de saúde,
Unidade 2

algumas repartições públicas, instituições de ensino superior,


entre outros.

Por que não se cuidar, então? Por que as mulheres ainda


sofrem com a contaminação nos dias de hoje?
Apesar das várias ações institucionais nessa direção,
pesquisas têm recorrentemente mostrado que
permanece baixo o uso do preservativo entre as
mulheres casadas ou em união, as mais velhas e as
de baixa escolaridade. (BERQUÓ, 2000; PAIVA et al.,
2003; BERQUÓ; BARBOSA; GRUPO DE ESTUDOS
EM POPULAÇÃO, SEXUALIDADE E AIDS, 2008 apud
GARCIA; KOYAMA, 2009, p. 108)

No caso da AIDS, ou HIV/AIDS, o primeiro caso de que se


teve notícia no Brasil foi em 1980 e o contaminado foi do sexo
masculino. Somente em 1983 a primeira mulher apresentou o
vírus.

40 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


À época, havia registro de 31 homens infectados (CASTILHO
et al., 1992) e, de lá para cá, houve um crescimento acelerado de
contaminação entre as mulheres, aumentando em proporção de
menos de cinco homens para cada mulher (AQUINO et al., 2000),
e muitas dessas mulheres estavam casadas e com um único
parceiro sexual.

O que precisamos considerar é que, de lá para cá, passaram-


se mais de 35 anos da “descoberta” da doença e da epidemia
causada por ela. As campanhas publicitárias ocorreram, e foram
muitas, assim como robustos foram os investimentos para
pesquisa da doença, e o que se constata é que, ainda assim, nem
todas as mulheres fazem uso da camisinha, que é mais comum
entre os indivíduos mais jovens e mais escolarizados do sexo

Unidade 2
masculino. Mas, e as mulheres? Elas continuam a usá-la menos
que os homens.

O risco da contaminação entre o sexo feminino é muito


alto e alarmante e continua em alta. “Houve redução da razão
de sexo desde o registro das notificações, passando de 15 casos
em homens para 1 caso em mulher em 1986, para 15 casos em
homens e 10 em mulheres em 2006” (GARCIA; KOYAMA, 2009, p.
108).

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 41


Analise os gráficos abaixo, que demonstram o
aumento de proporção de contaminação por aids
na proporção entre os anos de 1986 (gráfico 1) e
NOTA
2006 (gráfico 2):
Gráfico 1 - Homens e mulheres contaminados em 1986
Unidade 2

Homens Mulheres

Gráfico 2 - Homens e mulheres contaminados em 2006

Homens Mulheres

Fonte: Elaborado pela autora (2022).

42 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Há um agravante quanto às mulheres que entraram no
climatério:
[...] nas faixas etárias 50-59 e 60 anos ou mais, a taxa
de incidência de Aids por 100.000 habitantes triplicou
entre 1996 e 2006, com tendência de crescimento
dessa taxa a partir dos 40 anos. De acordo com a
análise da série histórica produzida pelo Ministério da
Saúde, a via de transmissão sexual entre as mulheres
sempre foi a mais importante, assumindo proporções
cada vez maiores, de 85% em 1996 para 96% em
2006. (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO AIDS DST, 2008
apud GARCIA; KOYAMA, 2006, p. 108)

Unidade 2
O que poderia ser feito nesse caso?

REFLITA

Outra causa que os pesquisadores apontam é referente


à mortalidade materna: “65% dos óbitos maternos ocorrem no
momento do parto” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 27). Esse
dado é assustador, mas pode ser explicado pelo fato de que
“aproximadamente 13% das mulheres que tiveram filhos nos
cinco anos que antecederam a pesquisa” não haviam realizado
nenhuma consulta de pré-natal.

Para encerrar este tópico, não podemos deixar de afirmar,


mais uma vez, que realizar as consultas do pré-natal minimiza os
casos de morbidade feminina.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 43


Gostou das descobertas deste capítulo?
Começamos os nossos estudos conhecendo um
pouco mais sobre a PNAISM, ou seja, a Política
RESUMINDO Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher,
elaborada no ano de 2004 para tentar reverter o
quadro geral de saúde da mulher brasileira, que
se encontrava em situação bastante crítica nesse
período. Com base nessa política, conseguimos
compreender que cuidar das mulheres se
tornou uma forte bandeira do estado brasileiro,
protegendo todos os grupos e dando uma
atenção especial àqueles considerados ainda
mais vulneráveis, como é o caso das mulheres
idosas, negras, indígenas, entre outras. Além disso,
pudemos conhecer também um pouco sobre as
principais causas de mortalidade feminina no
Unidade 2

Brasil, que englobam desde doenças graves, como


o câncer e o HIV, até às violências de gênero,
como é o caso do feminicídio. Ainda neste tópico,
pudemos compreender as políticas do Estado
para reduzir tais taxas e proteger cada vez mais a
mulher. Conseguiram compreender tais tópicos?
Prontos para aprender ainda mais? Avante

44 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Problemática da saúde da criança
e do adolescente no Brasil
O tema de que vamos tratar agora é relativo a uma
questão extremamente importante e sensível para
nosso país: a saúde da criança e do adolescente.
OBJETIVO

Você já ouviu falar no ECA?

Pois bem, o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma


lei que dispõe sobre a proteção da criança e do adolescente,
promulgada em 13 de julho de 1990.
Figura 13 - Imagem ilustrativa de crianças protegidas pelo ECA

Unidade 2

Fonte: Freepik .

Segundo essa lei, as crianças e os adolescentes têm direitos


de acompanhamento em sua integralidade e a políticas públicas
que preservam seus direitos físicos, sociais, familiares e morais.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 45


De acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente, salientamos que, perante o Estado
brasileiro, é considerada como criança toda
DEFINIÇÃO pessoa com até 12 anos de idade incompletos.
Após os 12 anos e até os 18, o Estado considera a
pessoa como adolescente. É importante salientar
que existem alguns casos previstos na lei em que o
ECA pode ser utilizado para pessoas que estiverem
na faixa dos 18 aos 21 anos, de forma que ainda
se compreendam essas pessoas como menores de
idade perante a lei.

A responsabilidade da construção da rede de proteção à


criança e ao adolescente é tarefa de todos e responsabilidade de
cada um. O fortalecimento da rede de proteção começa com o
Unidade 2

apoio às famílias, ao núcleo familiar e sua rede de apoio, aliado


às instituições de proteção.

O compromisso que se inicia no seio familiar deve também


ser abraçado por todos. Compromisso prioritário da sociedade e
do estado.

O ECA é uma leitura obrigatória, por isso favorecer a sua


ampla circulação é uma estratégia fundamental para suscitar o
permanente debate, inclusive com o saudável aperfeiçoamento
da lei nestes últimos 20 anos, que, na verdade, fortalece-se na
construção cotidiana e coletiva por dias melhores para nossas
crianças e adolescentes. Muito temos ainda o que avançar. Mas
será que é isso que acontece realmente?

Para conhecer um pouco mais sobre o Estatuto da


Criança e do Adolescente, suas normas, deveres e
obrigações, tanto das famílias como da sociedade e do
ACESSE Estado, acesse um vídeo que trata do assunto aqui .

46 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


É de conhecimento geral que, em nosso país, o número de
casos de abandono e negligência contra crianças e adolescentes
se expande diariamente. Colaboram com esse cenário a baixa
renda, o planejamento e a orientação familiar inadequada e a
falta de políticas públicas eficazes e de alta abrangência.

Considerado um pacto nacional em defesa dos


direitos da infância e da adolescência em nosso
país, o Estatuto da Criança e do Adolescente é um
NOTA
marco dos esforços de todos para tornar visível o
que por tanto tempo foi esquecido.

Os casos de negligência e abandono entre crianças e


adolescentes e a falta de atenção do Estado e de seus familiares

Unidade 2
têm contribuído para uma invisibilidade social desses menores.
As crianças e os adolescentes têm, na maioria das vezes, seus
direitos violados e perdem a oportunidade de viver sua infância
junto aos pais e à família.

O abandono familiar é um grande problema social, pois,


em inúmeras vezes, crianças e adolescentes são retirados do
ambiente familiar pelos órgãos de proteção à criança por motivos
como a negligência familiar, violência doméstica, destacando
os abusos físicos e sexuais que acometem essas crianças e
adolescentes, fazendo, assim, com que eles sejam levados para
abrigos que possam dar suporte às suas necessidades físicas e
emocionais.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 47


Figura 14 - Abandono familiar
Unidade 2

Fonte: Freepik .

A identidade manifesta-se no presente e encontramos


transtornos de identidade naquelas pessoas que na
infância foram rejeitadas, ou cuja autorrealização se
efetuou em função de valores externos, sem respeitar
sua individualidade, seus sentimentos, seus desejos
e seus valores. (SILVA; ALVES; ARAÚJO, 2012 apud
MARTÍN, 2008)

Diante disso, devemos dar ênfase às partes mais afetadas


da situação abordada, que é a emocional, psicológica e
comportamental.

A criança e o adolescente em situação de abandono ou


negligenciados, em sua grande maioria, desenvolvem graves
problemas psicológicos, emocionais e que afetam sua saúde
física.

48 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Muitos são aqueles que se tornam violentos ou mesmo,
se tiverem acesso, desenvolvem vícios e comportamentos
distorcidos, pois o corte com o convívio familiar causa perda de
identidade e distorção na formação de caráter (SILVA; ALVES;
ARAÚJO, 2012).

Bem, mas o assunto aqui é a problemática da saúde da


criança e do adolescente, não é? Então vamos lá! Uma questão
que deve ser debatida diz respeito ao mundo digital, pois vivemos
na era digital.

Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)


lançou um manual com orientações sobre a saúde das crianças e
dos adolescentes na era digital (2016), abordando os problemas
gerados pelo uso excessivo da internet pelos jovens.

Unidade 2
São relatados aumento da ansiedade, dificuldade de
relacionamento social, sexualização precoce, bullying cibernético,
agressividade e violência, transtornos de sono e de alimentação,
baixo rendimento escolar, lesões por esforço repetitivo, uso
precoce de drogas e muitos outros problemas que afetam a
saúde com reflexos na escola e na família.
Figura 15 - Criança vidrada no computador

Fonte: Freepik .

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 49


Da mesma forma que a internet é uma ferramenta
maravilhosa, ela traz também muitos prejuízos, pois, em geral,
não é usada na dose certa pelos adolescentes e pelas crianças.

Assim, os médicos têm uma posição importantíssima na


orientação de pais para mudança de hábito em seus filhos quando
estão excedendo os limites da normalidade no uso digital.

Das orientações inseridas nesse manual, algumas são


voltadas para crianças e adolescentes, outras, para pais e escolas.
Veja um exemplo do que é indicado como preocupação para os
pais ou responsáveis da criança ou do adolescente:

• Verificar constantemente a classificação indicativa não


só de filmes e programas televisivos, mas também de
Unidade 2

jogos, vídeos, músicas, livros e qualquer outro conteúdo


a que a criança tenha acesso, de forma que ela só faça
o consumo de conteúdos adequados e recomendados
para a sua idade e compreensão cognitiva.

• Buscar regras e impor limites claros sobre a duração


de suas atividades, como o consumo de jogos, de
filmes, programas de TV etc., determinando as horas
adequadas para cada atividade programada.

• Observar constantemente com quem a criança faz


contato em redes sociais, salas de bate-papo e até
mesmo em chats de jogos.

• Conferir o histórico de navegação em computador,


tablets e celulares para verificar as buscas e os sites
que a criança acessa.

• Permitir a utilização de computadores, tablets e


celulares apenas sob supervisão.

50 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


É importante acompanhar os filhos no uso dessas
tecnologias. Deixar as crianças na frente do computador sem
supervisão não deve ser uma opção da família. O mesmo
podemos afirmar sobre a escola, que tem que ser um espaço de
segurança e desenvolvimento de cidadania.

Embora o título do nosso tópico fale sobre saúde, você não


concorda que, com questões como a facilidade de acesso à rede
mundial de computadores, celulares etc., além dos cuidados
básicos como vacinação, atendimento médico de boa qualidade,
orientação para que as famílias façam o acompanhamento das
crianças e adolescentes, a questão da segurança no mundo
digital deve estar na pauta da saúde pública?
Figura 16 - Atendimento médico regular para crianças

Unidade 2

Fonte: Freepik .

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 51


Você acha que atualmente as famílias têm cuidado
de suas crianças e de seus adolescentes de modo a
salvaguardá-los dos malefícios que a rede mundial
REFLITA de computadores pode provocar?

Até aqui falamos de crianças e adolescentes que


futuramente serão adultos socialmente produtivos, pois são
considerados “normais” por nossa sociedade. Entretanto, há
outro grupo que merece entrar na nossa conversa: aquele
com necessidades especiais, os mesmos dos quais pouco se
fala, embora tenhamos a impressão de que eles têm tido um
pouquinho mais de visibilidade.

Esses pequenos cidadãos são vítimas de real exclusão e


Unidade 2

marginalização por sua condição física ou mental e principalmente


por serem considerados improdutivos financeiramente pela
sociedade.

Sobre eles, o ECA, em seu capítulo 1, afirma que:


Art. 11. É assegurado atendimento integral à
saúde da criança e do adolescente, por intermédio
do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso
universal e igualitário às ações e serviços para
promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência
receberão atendimento especializado. (BRASIL, 1990)

Sabemos que o sistema único de saúde, SUS, é precário no


atendimento ao cidadão normal. Imagine então para pessoas
com necessidades especiais.

Antigamente, essas crianças ficavam confinadas em


manicômios que os mantinham longe da sociedade e do convívio
familiar. Na década de 1970, iniciou-se a Reforma Psiquiátrica,

52 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


na qual os próprios psiquiatras começam a denunciar essas
instituições por violência contra as pessoas com transtornos
mentais de todas as idades.

Em 1990, o Brasil aderiu à Declaração de Caracas, que


reestruturou a assistência psiquiátrica, e, em 2001, a Lei Federal
nº 10.216 redirecionou todo o sistema de atendimento em saúde
mental, levando a maioria dos atendidos de volta às suas casas,
instituindo o programa “De Volta para Casa”.
Figura 17 - Crianças e adolescentes especiais

Unidade 2

Fonte: Freepik .

No Brasil, há cerca de 55 milhões de brasileiros que sofrem


de transtornos mentais graves ou leves, os quais necessitam de
atendimento continuado ou mesmo eventual, sem contar os
de deficiência física. Mas... será mesmo que existem políticas
públicas que investem nesse tipo de acompanhamento médico?

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 53


A área de serviço médico e social para crianças e adolescentes
com necessidades especiais sempre esteve em último plano em
nosso país. Na maioria das vezes, o atendimento é conseguido
por organizações mantidas pela iniciativa privada e de forma
voluntária, pois a política de assistência social do país sempre foi
distorcida por ações paternalistas e pela escassez de recursos.

Essas crianças e adolescentes sempre foram colocadas à


parte da sociedade por não serem “produtivas” e, somente a
partir da metade do século XX, com o surgimento da psicologia
e da análise comportamental, é que começou um movimento de
possibilidade de reintegração ao seio familiar. Infelizmente, tudo
isso acontece, ainda hoje, muito lentamente.

A aceitação do deficiente sempre esteve ligada ao seu grau


Unidade 2

de deficiência, principalmente quando esta fica visível, pois,


quanto mais aparente, mais ele é excluído. Hoje em dia, muito
se fala em inclusão social da criança e do adolescente especial,
mas isso ainda não acontece de forma satisfatória e integral, o
que acaba por gerar uma dualidade do que é proposto pela lei
de inclusão. Poucos deles conseguem ser aceitos em escolas ou
no mercado de trabalho.

Mesmo havendo leis que garantem igualdade de direitos,


na prática, isso não acontece, eles ainda são excluídos. O
preconceito social em relação a eles ainda é gritante em nosso
país, portanto essas crianças e esses adolescentes sofrem muito
com a exclusão e o olhar distorcido dos chamados “normais”. Isso
acontece em todos os âmbitos - social, familiar e escolar –, muitas
vezes agravando sua situação emocional, pois, ao contrário do
que a sociedade pensa, eles percebem essa exclusão.

54 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


Apesar do surgimento de diversas entidades
de apoio, não se conseguiu ainda superar a
discriminação e o preconceito direcionados a
NOTA
esse grupo. Portanto, provavelmente a grande
deficiência que temos é a social, por não
conseguirem conviver com pessoas diferentes.

Os problemas desses pequenos cidadãos são crônicos


e irreversíveis. Precisamos aprender a conviver com eles com
paciência, resignação e naturalidade, pois não sabemos se a
próxima criança especial nascerá em nosso seio familiar. Muito
se tem divulgado sobre o aumento de nascimento de pessoas
autistas, não é mesmo?

Hoje em dia os médicos estão com uma nova abordagem

Unidade 2
de tratamento e acompanhamento multidisciplinar para essa
gama de crianças e adolescentes, e a pedagogia, ainda que
precariamente, avança para o atendimento e desenvolvimento
intelectual desses alunos especiais nas instituições de ensino.
Figura 18 - Imagem ilustrativa sobre a inclusão de crianças especiais nas escolas e na sociedade

Fonte: Freepik .

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 55


Cabe a nós aprendermos a ter uma outra visão das crianças
e dos adolescentes com necessidades especiais, sejam elas quais
forem. Pensemos no seguinte: não estamos aqui para aprender?

Então, eles também estão e precisam muito de nossa ajuda


para se desenvolver física e emocionalmente. Afinal de contas,
nós também aprendemos com eles, e muito. Não é essa mais
uma problemática da saúde de crianças e adolescentes que deve
constar nas agendas governamentais?
Para finalizar a unidade, tratamos da saúde das
crianças e dos adolescentes, os quais devem ser
atendidos de forma qualitativamente satisfatória
RESUMINDO em toda a rede pública de saúde. Neste tópico,
voltamos nosso olhar para um problema social
que tem se tornado importante, que é a questão
Unidade 2

do uso excessivo e desregulado das tecnologias


informáticas, principalmente a internet, a qual
necessita de atenção específica. A rede mundial de
computadores, que é de fácil acesso aos pequenos
cidadãos, se utilizada sem a orientação devida e
adequada, pode trazer graves prejuízos para toda a
família e já se tornou um problema social e público.
Sugerimos, inclusive, que as famílias e as
instituições de ensino tenham em seu escopo
iniciativas que previnam esse uso intenso e
desmedido para o bem-estar das crianças e dos
adolescentes brasileiros. O último tópico tratou
de um grupo social que é numeroso, mas que
que sempre viveu à margem da nossa sociedade,
ou seja, os portadores de necessidades especiais
(ou deficientes físicos, mentais ou intelectuais),
que, por não serem considerados como cidadãos
produtivos, nem sempre tiveram o acesso que
precisam e merecem no atendimento de saúde

56 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


AQUINO, E. M. L. de; ARAÚJO, T. V. B. de; MARINHO, L. F. B. Padrões
e tendências em saúde reprodutiva no Brasil: bases para uma

REFERÊNCIAS
análise epidemiológica. In: GIFFIN, K.; COSTA, S. H. (orgs.). Questões
da saúde reprodutiva. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000.
BRASIL. Lei n.º 9.263, de 12 de janeiro de 1996. Regula o § 7º
do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento
familiar, estabelece penalidades e dá outras providências.
Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República,
[1996]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l9263.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%209.263%2C%20
DE%2012%20DE%20JANEIRO%20DE%201996.&text=Regula%20
o%20%C2%A7%207%C2%BA%20do,penalidades%20e%20
d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=DO%20
PLANEJAMENTO%20FAMILIAR-,Art.,observado%20o%20

Unidade 2
disposto%20nesta%20Lei. Acesso em: 19 jan 2022.
BRASIL. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e
do Adolescente. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Diário Oficial
da União. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso
em: 26 jun. 2019.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da
República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 26 jun. 2019.
BRASIL. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002.
BRASIL. Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher:
princípios e diretrizes. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.
BRASIL. Política nacional de atenção integral à saúde da
mulher: princípios e diretrizes. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2004.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 57


BRASIL. Saúde sexual e saúde reprodutiva. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2010. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/
publicacoes/cadernos_ab/abcad26.pdf. Acesso em: 24 jun. 2019.
CASSIANO, A. C. M. et al. Saúde materno-infantil no Brasil: evolução
e programas desenvolvidos pelo Ministério da Saúde. Revista do
Serviço Público. Brasília, v. 65, n. 2, p. 227-244, abr./jun. 2014.
CASTILHO, Ε. Α.; CHEQUER, Ρ. & STRUCHINER, C. I. AIDS no Brasil.
Informe Epidemiológico SUS, Brasília, DF, Ano 1, n. 3, p. 117-124,
1992.
CAVALCANTI, P. C. da S.; GURGEL JR., G. D.; VACONCELOS, A. L.
R. de; GUERRERO, A. V. P. Um modelo lógico da Rede Cegonha.
Physis Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p.
1297-1316, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/
Unidade 2

v23n4/14.pdf. Acesso em: 23 jun. 2019.


DINIZ, C. S. G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os
muitos sentidos de um movimento. Ciência e Saúde Coletiva. Rio
de Janeiro, v. 10, p. 627-637, 2005.
GINECO.Com.br. Planejamento familiar, [s.d.]. Disponível
em: https://www.gineco.com.br/saude-feminina/metodos-
contraceptivos/planejamento-familiar/ Acesso em: 23 jun. 2019.
LAURENTI, R. (org.). Mortalidade de mulheres de 10 a 49 anos,
com ênfase na mortalidade materna. Brasília: Ministério da
Saúde; OPAS; USP, 2002.
MARQUES, C. P. C (org.). Redes de atenção à saúde: a Rede
Cegonha. Universidade Federal do Maranhão. São Luís: UNA-SUS/
UFMA, 2015.
MARTÍN, Á. Manual prático de Psicoterapia Gestalt. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2008.
MOURA, L. N. B. de; GOMES, K. R. O. Planejamento familiar: uso
dos serviços de saúde por jovens com experiência de gravidez.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 3, p. 853-863, 2014.

58 SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA


NORT, E. Planejamento familiar: solução básica. Santa Catarina:
Editora da UFSC, 2003.
PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2015.
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/
populacao/9127-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios.
html?=&t=destaques Acesso em: 08 fev. 2023.
PASTORAL DA CRIANÇA. Rede Cegonha, 2016. Disponível em:
https://www.pastoraldacrianca.org.br/humanizacao/rede-
cegonha Acesso em: 08 fev. 2023.
SILVA, K. L. da; ALVES, C. V.; ARAÚJO, L. F. Abandono familiar
infantojuvenil: um olhar sobre uma instituição do agreste
pernambucano. In: V Simpósio Internacional sobre a Juventude
Brasileira, 2012, Recife. Anais [...] Recife: Universidade Federal de

Unidade 2
Pernambuco 2012. Disponível em: http://www.unicap.br/jubra/
wp-content/uploads/2012/10/TRABALHO-149.pdf. Acesso em: 21
jun. 2019.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Saúde das crianças e dos
adolescentes na era digital. Porto Alegre: SBP, 2016. Disponível em:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-
MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf. Acesso em: 26 jun. 2019.
SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT
EINSTEIN. Nota Técnica para Organização da Rede de Atenção
à Saúde com Foco na Atenção Primária à Saúde e na Atenção
Ambulatorial Especializada – Saúde da Mulher na Gestação,
Parto e Puerpério. Sociedade Beneficente Israelita Brasileira
Albert Einstein. São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein:
Ministério da Saúde, 2019.

SISTEMA DE SAÚDE E ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA 59

Você também pode gostar