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CARTA ABERTA DE MÃES LACTANTES DO DISTRITO FEDERAL

Brasília, 14 de maio de 2021.

Ao Exmo Sr. Governador do Distrito Federal e ao Secretário de Saúde e demais


gestores interessados.

Nós, mães lactantes de Brasília e regiões administrativas do DF, utilizamos desta carta
para manifestar nossa solicitação de inclusão de lactantes, com e sem comorbidades,
no público prioritário da vacinação contra o vírus SARS-CoV-2 (Covid-19). Nossa
demanda é motivada por diversos fatores, os quais citados adiante. Apesar desses
fatores, entendemos que a vacinação se torna urgente, principalmente, pela
vulnerabilidade de bebês até 2 anos de idade diante do cenário grave desta pandemia
no país. Sendo assim, em 13 de maio de 2021 iniciamos um importante movimento em
prol da priorização deste grupo na vacinação com objetivo de proteger as vidas
maternas e, principalmente, dos bebês.

Mães lactantes são aquelas que produzem leite e, por sua vez, amamentam os bebês,
os lactentes. A Organização Mundial de Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria
recomendam que o aleitamento materno seja exclusivo até os 6 (seis) meses de vida
do bebê e continuado até os 2 (dois) anos de idade ou mais, juntamente com
alimentação complementar, por diversos benefícios, como: nutrição, proteção a
doenças, crescimento e desenvolvimento.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, que segue as recomendações da OMS, a


criança amamentada ao seio estará protegida contra alergias e infecções, fortalecendo-
se com os anticorpos da mãe e evitando problemas como diarreias, pneumonias, otites
e meningites. Além disso, a amamentação favorece o desenvolvimento dos ossos e
fortalece os músculos da face, facilitando o desenvolvimento da fala, regulando a
respiração e prevenindo problemas na dentição.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, conforme descrito no seu site,


“Estudos já comprovam a presença de anticorpos no leite de mães imunizadas
contra COVID-19. Essa informação traz esperanças em que as crianças que
recebem o leite humano já possam contar com algum grau de proteção
transmitido pelas vacinas contra o SARS-CoV-2 aplicadas nas mães que
amamentam. Mais pesquisas estão em andamento enquanto prossegue a
vacinação nas lactantes.” Além disso, a Rede Internacional em Defesa do Direito de
Amamentar no Brasil (IBFAN Brasil) publicou artigo que demonstra forte potencial de
proteção no leite materno contra o COVID-19. O artigo mostra os resultados de um
estudo publicado em setembro de 2020 no Journal of Perinatology, o qual detectou
altos níveis de IgA, IgG e IgM reativos ao SARS-CoV-2 na maioria de leites maternos
coletados durante a pandemia. A pesquisadora Demers-Mathieu ainda sugere que
os anticorpos secretados no leite materno fornecem ampla imunidade aos bebês
lactentes.

Nosso país está entre os países com mais mortes de bebês por Covid-19 no
mundo. Especialistas explicam que esse triste índice está associado ao número
elevado de casos, além da falta de testagem, diagnóstico tardio e não possibilidade do
uso de máscaras em menores de 2 (dois) anos. Ao contrário do que se divulga, bebês
e crianças são igualmente suscetíveis à contaminação e também podem ser vetores de
transmissão. Estima-se que só em 2020 cerca de 1.064 bebês tenham morrido por
Covid-19, mas esse número pode ser ainda muito maior, segundo epidemiologistas. No
mês de abril de 2021, o Brasil registrou, pela primeira vez, mais mortes do que
nascimentos.

Cabe lembrar que bebês menores de 2 anos não podem usar máscara em função do
risco de sufocamento, o que faz com que a contenção de contaminação e contágio seja
um obstáculo, bem como sua exposição muito arriscada, sugerindo que a imunização
das mães e a consequente proteção dos bebês pelo leite materno seja uma saída
eficiente e sem maiores custos para o poder público, o que, evidentemente,
configura uma estratégia de proteção conjunta extremamente inteligente. Segundo um
cálculo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), já se contam pelo menos
45 mil bebês, crianças e adolescentes que perderam pai e mãe na pandemia. As
consequências do número de mortes e desestruturação familiar ainda são
desconhecidas, mas temos condições de diminuir esses impactos a partir do momento
que também vislumbrarmos o horizonte de imunização das mães e proteção de bebês
como estratégia de segurança e sobrevivência familiar.

Os Departamentos Científicos de Aleitamento Materno, Imunizações e Infectologia


(2019-2021), e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam que “a decisão de
vacinar seja tomada juntamente com seu médico, considerando os benefícios e
os riscos”. É relevante ressaltar que o portal internacional e-lactancia.org, que reúne
informações científicas sobre amamentação, revisou em janeiro de 2021 o nível de
risco da vacina contra COVID-19 para "muito baixo" em mães que amamentam. E
ainda segundo entrevista com Daniel Becker, pediatra e sanitarista, para BBC Brasil,
em março de 2021, Israel divulgou resultados positivos, feito com lactantes
vacinadas: "o estudo mostrou produção de anticorpos no leite materno, sem
maiores prejuízos para as mulheres, que também foram imunizadas". Este estudo
foi publicado na revista científica americana The Journal of the American Medical
Association (JAMA). A pesquisa acompanhou um grupo de 84 mulheres de Israel que
foram vacinadas com a Pfizer/BioNTech. Após a aplicação da vacina, as mães
apresentaram altos níveis de anticorpos IgA e IgG contra o novo coronavírus no
leite materno.

Sabe-se que estudos muito promissores ainda estão sendo feitos para maior
entendimento do fator de proteção dos anticorpos do SARS-CoV-2 (COVID-19) no
leite materno, porém devido à gravidade da situação atual do país, o grande
número de mortes, inclusive de bebês, a impossibilidade do uso de máscara para
maior para proteção e ainda a grande necessidade de contato pele a pele com a
mãe, entendemos que as lactantes com filhos de até 2 (dois) anos de idade,
independente de ter comorbidade , devem ser entendidas como grupo prioritário
na vacinação. Consideramos que os ganhos são muito maiores que os riscos e que,
ainda assim, cada caso pode ser discutido com o pediatra como explicado acima.

Reconhecemos e valorizamos a decisão do Governo do Distrito Federal de incluir as


gestantes e as puérperas no grupo prioritário. Contudo, é importante ponderar que
uma política pública dessa natureza, a qual possui a finalidade de proteger a
maternidade, deve ser aplicada de maneira integral, incluindo lactantes e
protegendo bebês. Estamos conscientes da limitação no quantitativo de doses e da
necessidade de equalizar a distribuição das vacinas entre os diversos grupos
prioritários, mas ainda assim entendemos a importância desse pedido para o futuro
desta geração.

Nesse sentido, e esperançosas da sensibilidade dos gestores, principalmente neste


mês de maio -tão simbólico e especial para todas as mãe - apelamos para que se
considere as informações aqui citadas, bem como os indicadores científicos que temos
até o momento e o cenário emergencial que nos encontramos. Cabe ressaltar que a
vacinação de todas as mães lactantes, além de visar a proteção de seus bebês,
através do repasse de anticorpos pelo leite, será ferramenta de garantia da
sobrevivência dessas mulheres para criação de seus filhos.

Vacinar todas as lactantes é investir em saúde e bem-estar da população brasileira e


suas futuras gerações! Vacinar as lactantes é proteger o futuro representado na figura
de nossos bebês. Vacinar lactantes é reconhecer o direito humano à saúde e à
proteção constitucional da maternidade como objetivo prioritário dos gestores públicos
do Distrito Federal.

O Distrito Federal é uma das unidades federativas que mais se destaca positivamente
na gestão dessa triste pandemia. Estamos certas de que haverá vontade política,
compromisso e também desejo de ser a unidade responsável por proteger lactantes e
lactentes. As lactantes com filhos de até 2 (dois) anos de idade vacinadas
representam uma geração de bebês com grau de proteção ao COVID-19 e com a
presença materna durante seu desenvolvimento.

Agradecemos todas e todos envolvidos nesse processo e seguimos em luta até que
TODAS as lactantes, com e sem comorbidades, possam ter o direito de imunização e
proteção de seus bebês!

REFERÊNCIAS:

https://iris.paho.org/handle/10665.2/8469 https://bityli.com/yn3rr https://bityli.com/Bwd90


https://bityli.com/xhgge
http://www.ibfan.org.br/site/noticias/o-leite-materno-contem-anticorpos-para-sars-cov-
2.html
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/covid-leite-materno-e-
amamentacao/
https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-repercute-estudo-que-aponta-a-
presenca-de-anticorpos-contra-covid-19-no-leite-de-maes-vacinadas/
http://www.e-lactancia.org/breastfeeding/covid-19-vaccine/product/
https://www.bbc.com/portuguese/geral-56446041

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