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Mário Cordeiro: pais que não vacinam filhos são negligentes e deviam ser responsabilizados

O pediatra Mário Cordeiro lamenta a negligência dos pais que não vacinam os seus filhos,
considerando que deviam ser responsabilizados pelas consequências dos seus atos, apesar de
reconhecer que é difícil instituir a obrigação de vacinar.

"Se morrer alguma criança não vacinada porque os pais não quiseram, não será isso passível
de acusação de 'morte por negligência, como seria se morresse por andar de carro sem
cadeirinha ou cinto de segurança?", questiona Mário Cordeiro em declarações à agência Lusa.

Atualmente, o Programa Nacional de Vacinação constitui uma recomendação das autoridades


de saúde, mas as vacinas não são obrigatórias. O surto de sarampo que atinge neste momento
a Europa tem sido relacionado com casos de pessoas que não querem vacinar os filhos.

Mário Cordeiro chegou a fazer parte de um grupo de trabalho que na Direção-Geral da Saúde
estudou a possibilidade de tornar obrigatórias as vacinas.

"Não é possível porque qualquer obrigatoriedade exige apuramento de responsabilidades, que


é muito complexo numa situação destas, e também coimas ou equivalentes, que iriam
penalizar os mais desfavorecidos ou menos abrangidos pela informação", afirmou o médico.

Para Mário Cordeiro, a solução não passa por tornar obrigatório, mas antes por ser mais
incisivo em "desmontar as enormidades e falsidade que se dizem e propagam pelas redes
sociais contra as vacinas".

"Dizer mal das vacinas é um luxo de um país que já não tem, como há bem pouco tempo tinha,
casos diários de meningite ou mortes por sarampo, como [aconteceu] em 1994. A memória é
demasiado curta e a arrogância demasiado grande", declarou.

Segundo o pediatra, o fenómeno de pais que não querem vacinar os seus filhos deve-se a uma
mistura de mal-entendidos e teorias da conspiração associados a uma ignorância história e
fraca memória.

"Acho que é altura de se mostrar que estas teorias e estas pessoas são, também, responsáveis
por estes surtos [como o do sarampo]. Chegou a altura de a sociedade não ter medo de
denunciar esta 'ciência do Facebook'", sugere Mário Cordeiro, para quem a Direção-geral da
Saúde (DGS) tem feito um bom trabalho nesta área da vacinação e dos alertas à população.
Alguns pais usam o argumento de que as vacinas 'mexem' com a imunidade das crianças,
usando-o como justificação para não as vacinarem.

Perante isto, Mário Cordeiro explica que é isso mesmo que se pretende, mas indicando que se
trata de uma coisa positiva, porque a criança fica com a imunidade para a doença sem sofrer
os malefícios dela.

"Aliás, todos os dias, a criança contacta com 'N' agentes microbianos na escola, em casa, na
sociedade, que 'mexem' com a sua imunidade e a fortalecem", recorda o especialista.

Mário Cordeiro lamenta ainda que Portugal, que sempre teve elevadas taxas de vacinação,
volte a ter casos de sarampo: "É pena que um país que foi declarado 'livre de sarampo' há
cerca de seis meses e que foi apontado como um exemplo na Europa e no mundo, volte a ter
um surto de sarampo autóctone. Mais cedo ou mais tarde ter-se-ia de pagar o preço da
ignorância e do 'não-te-rales'".

Desde janeiro foram notificados 23 casos de sarampo em Portugal e mais de 500 casos de
sarampo foram reportados só este ano na Europa, afetando pelo menos sete países, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS).

PORQUÊ VACINAR OS SEUS FILHOS?


Início / Promoção de Saúde

Porque falamos sobre a vacinação?


A vacinação é uma história de sucesso para a saúde da população: reduziu a mortalidade
infantil, erradicou a varíola, eliminou a poliomielite, a difteria, a rubéola e o tétano neonatal
e permitiu controlar tantas outras doenças, como o sarampo.

O nosso programa de vacinação é um motivo de orgulho nacional, e ainda que não sendo
obrigatório, atinge taxas de cobertura vacinal muito elevadas, superiores a 90%, garantido a
saúde de todos.

O que é uma vacina?


Uma vacina é uma preparação de antigénios (partículas estranhas ao organismo, tais como
parte ou o próprio microrganismo morto ou inativado) que, ao ser administrada a um
indivíduo estimula o seu sistema imunitário a produzir anticorpos (células de defesa), dando
origem a uma resposta protetora e específica para um ou mais agentes infeciosos.

As vacinas são seguras?


Sim. Todas as vacinas autorizadas no mercado europeu são seguras, eficazes e têm elevada
qualidade, tendo sido testadas em milhares de pessoas antes de serem comercializadas.
As reações mais frequentes às vacinas são ligeiras, como a febre e o inchaço, dor e
vermelhidão no local da injeção. No entanto, qualquer vacina, como todos os
medicamentos, muito excecionalmente, podem provocar reações graves. Porém, este tipo de
reações é raro e muito inferior às complicações que podem surgir das doenças contra as
quais elas protegem. Por este motivo, e como prevenção, é aconselhada a permanência no
local de vacinação por 30 minutos após a administração de qualquer vacina.

As vacinas têm mercúrio e outras substâncias tóxicas na sua composição?


A presença de um composto derivado do mercúrio nas vacinas preocupa os cuidadores. Nos
constituintes das vacinas pode encontrar-se o timerosal. É um conservante universal
presente em algumas vacinas, que permite a sua preservação e é à base de mercúrio. Nas
vacinas existe em quantidades ínfimas, não nocivas para a saúde, é facilmente eliminado e
não se acumula no organismo.
Existem pelo menos outros dois constituintes presentes nas vacinas que têm levantado
preocupações: o formaldeído e o alumínio. Também para estes, a quantidade presente foi
considerada segura.

A vacinação aumenta o risco do meu filho ter autismo?


Há o mito que as vacinas causam autismo. Sim, é um mito, as vacinas não causam autismo.
O medo generalizado de que as vacinas aumentem o risco de autismo surgiu em 1998, após
a publicação numa revista conceituada de um manuscrito fraudulento, já retirado dos seus
arquivos. Vários estudos vieram provar que esta associação entre o autismo e as vacinas não
existe.

Porque devo vacinar o meu filho?


As vacinas protegem as crianças contra doenças potencialmente graves. Essas doenças
podem ter complicações ou sequelas dramáticas, podendo mesmo ser fatais. Atualmente
algumas dessas doenças são muito raras e muitas pessoas desconhecem a sua gravidade,
porém, isso advém exatamente da vacinação.
Assim, há dois motivos principais para vacinar: 1) a proteção individual (só está protegido
quem tem a vacina em dia, como a vacina contra o tétano) e 2) a proteção da comunidade
ou também chamada imunidade de grupo (quanto maior a proporção de pessoas vacinadas,
menor a circulação do microrganismo causador da doença, protegendo indiretamente as
pessoas não vacinadas).
A Organização Mundial da Saúde apresenta sete razões que justificam a importância da
vacinação:

1. As vacinas salvam vidas;


2. A vacinação é um direito básico de todos os cidadãos;
3. Os surtos de doenças evitáveis pelas vacinas são ainda uma séria ameaça para todos;
4. As doenças podem ser eliminadas e controladas;
5. A vacinação é custo-efetiva;
6. As crianças dependem do sistema de saúde dos respetivos países para terem acesso
à vacinação gratuita e segura;
7. Todas as crianças devem ser vacinadas para se conseguir controlar uma doença.

Tenho lido na internet que as vacinas são mais prejudiciais do que benéficas para os
meus filhos, é verdade?
Não. As vacinas salvam vidas. Os efeitos secundários graves das vacinas, que são raros e
estão identificados, são muito inferiores aos danos causados pelas doenças contra as quais
essas vacinas protegem.
Temos assistido nos últimos anos, a doenças já controladas e eliminadas pela vacinação a
reaparecerem em surtos (p. ex. o sarampo), refletindo falhas em vários países em conseguir
uma percentagem elevada de pessoas vacinadas.

É obrigatório ter as vacinas atualizadas?


O nosso programa é universal, gratuito e acessível a todas as pessoas presentes em Portugal.
O seu cumprimento legal não é obrigatório, à exceção da vacina contra o tétano e difteria.
No entanto, é um direito do cidadão e as crianças devem cumprir a vacinação recomendada.

Bibliografia:
1. Leça A, Calé E, Freitas G, Castelão I, Valente P, Fernandes T. (2015) Perguntas
frequentes sobre vacinação. Acedido em: 20.09.2020, em: https://www.dgs.pt/ficheiros-de-
upload-2013/vacinacao-perguntas-e-respostas-pdf.aspx
2. Vaccines: The Basics. Centre for Disease Control and Prevention. Acedido em:
20.09.2020, em: https://www.cdc.gov/vaccines/vpd/vpd-vac-basics.html
3. Vaccines and imunization. World Health Organization. Acedido em: 20.09.2020, em:
https://www.who.int/health-topics/vaccines-and-immunization#tab=tab_1
4. Respuestas a Preguntas frecuentes sobre vacunas. Comité Asesor de Vacunas de la AEP.
Acedido em: 20.09.2020, em: https://vacunasaep.org/familias/preguntas-y-respuestas

Texto elaborado para o Portal C&F, SPP 2020.10.24

Ana Sofia Simões, Interna da Formação Especializada de Pediatria


Hospital Pediátrico, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra

Orientado por
Mónica Braz, Pediatra
Hospital CUF Descobertas

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