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PUC- Rio

DEPARTAMENTO DE LETRAS

Elaboração de Texto Escrito


LET 1800

Professora

HELENA FERES HAWAD

2022.2
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O texto e a situação

LPIn – Aula 1

Folha de São Paulo. 4/8/2022.

O crescimento dos antivacinas no Brasil

Natalia Pasternak

O movimento antivacinas nunca teve presença forte no Brasil. A população


brasileira sempre confiou nas vacinas, e levar os filhos ao posto de saúde para
receber as doses previstas no calendário anual sempre foi atitude tão corriqueira
quanto levá-los à escola. Um programa nacional de imunizações de excelência
garantiu, durante os últimos 50 anos, que o país não sofresse os impactos do
negacionismo de vacinas com a mesma intensidade dos Estados Unidos e Europa.
Recentemente, no entanto, o cenário começou a mudar. Em novembro de
2020, a primeira associação brasileira deliberadamente antivacinas fez sua
assembleia inaugural. A Associação Brasileira de Vítimas de Vacinas e
Medicamentos (Abravac) consolidou-se formalmente em fevereiro de 2021. Seu site
exibe a estratégia típica do negacionismo: depoimentos assustadores de supostos
efeitos adversos, especialistas que não são levados a sério pela comunidade
cientifica falando sobre os perigos da vacinação, discurso obscurantista disfarçado
de defesa das liberdades individuais e disseminação do medo.
Políticos farejaram um novo nicho, e na gestão do ministro Marcelo Queiroga
o negacionismo virou política pública de saúde. A desinformação sobre vacinas no
Brasil hoje vem de fonte oficial. O presidente da República e ministros disseminam o
medo e a desconfiança.
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Vacinas infantis são o alvo mais fácil. Os mercadores da dúvida sabem que
pais e mães com filhos pequenos são vítimas fáceis de incerteza e angústia. Afinal,
uma coisa é um adulto decidir se vacinar e assumir para si os possíveis riscos
associados. Outra coisa é decidir em nome de uma criança.
Calcular riscos envolvendo a saúde de nossos filhos traz um medo de errar
muito grande. A tentação de optar por não fazer nada é enorme: se a vacina trouxer
algum problema, quem mandou aplicar se sente culpado. Se a criança, não
vacinada, ficar doente, pode-se dizer que a culpa é do acaso, ou do destino.
Isso é o que chamamos, em comunicação de ciência, de viés de omissão. É
compreensível, mas errado: não vacinar não é deixar as coisas nas mãos da
Providência, é escolher expor a criança a um risco muito maior do que o trazido pela
vacina.
O resultado do apelo sinistro à insegurança dos pais já aparece. Diversos
municípios no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já reportam
números abaixo do esperado de crianças vacinadas.
Estabelecido o movimento antivacinas, agora com apoio do Estado, só
informar não basta. Pais e mães precisam ser acolhidos, suas incertezas
respeitadas ao mesmo tempo em que tentamos debelá-las, e o movimento
antivacinas, desconstruído. Isso envolve entender como está organizado no Brasil, e
não apenas ficar reverberando nas mídias sociais que vacinas são legais.
Campanhas precisam ser organizadas pelos estados e municípios, e os
propagadores do negacionismo devem ser expostos e punidos, inclusive os
infiltrados no governo federal, alinhado a uma ideologia de extrema direita que
disfarça ignorância, machismo e racismo como “liberdade individual”. Quanto tempo
até que a confiança em todas as vacinas infantis seja abalada?
O ano eleitoral de 2022 traz uma oportunidade para o exercício da cidadania
do brasileiro: a oportunidade de cobrar dos candidatos uma posição perante o
negacionismo científico. Não apenas cobrar investimento em ciência, mas cobrar o
respeito à ciência nas políticas públicas. É o momento de perguntar para o seu
candidato: qual o seu plano para restaurar as campanhas de vacinação? Para
restabelecer o PNI? Para fortalecer o SUS? Para conter o desmatamento e
promover agricultura sustentável? A ciência ocupou o debate público nos últimos
dois anos, em pé de igualdade com economia e política. Não vamos permitir que
seja novamente jogada para escanteio.

O Globo. 7/2/2022
Disponível em
https://blogs.oglobo.globo.com/a-hora-da-ciencia/post/o-crescimento-dos-antivacinas-no-brasil.html
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A farsa da imunidade natural

Reinaldo José Lopes

Pelo menos algumas coisas essenciais já deveriam ter ficado claras na cabeça das
pessoas depois de quase dois anos de pandemia, mas nossa incapacidade coletiva de
aprender o básico do básico nunca deixa de me surpreender. Um dos exemplos mais
estúpidos é o fato de que ainda tem gente sonhando com "imunidade natural" como
passaporte mágico para sair do limbo do coronavírus. Não é melhor todo mundo "pegar
logo" o diacho da doença? Não seria uma proteção igual à da vacina, ou até melhor?
Não, não seria. A cavalgadura que ora ocupa o Palácio do Planalto pode ficar
repetindo o quanto quiser essa falácia (o que, infelizmente, ele tem feito diversas vezes ao
longo dos últimos anos), mas isso não vai transformar a besteira em fato.
Já volto à comparação com as vacinas, tema que continua sendo importantíssimo,
mas peço ao leitor que dê um passo atrás comigo antes disso. Acontece que quem se fia na
imunidade natural está agindo com base numa premissa falsa sobre o tipo de inimigo
microscópico que causa a Covid-19.
As interações entre os causadores de doenças e o sistema de defesa do nosso
organismo são de uma complexidade barroca, e ainda falta muito para compreendê-las
totalmente, mas um aspecto indiscutível delas é que a duração da imunidade obtida por
quem se recupera do ataque de um vírus varia muito. Em geral, essa variabilidade tem a ver
com o tipo de invasor.
Sabemos que certos vírus podem gerar imunidade para o resto da vida em quem
sobrevive a eles. É o caso do causador do sarampo —um flagelo que, aliás, tem retornado
ao Brasil por causa do nosso descuido com a vacinação. Numa simplificação para fins
didáticos, vamos chamar os vírus desse feitio de "tipo 1".
Mas todo mundo já deveria ter se familiarizado com o multiforme vírus da gripe.
Ninguém pega gripe uma única vez na vida e fica imune pelas décadas seguintes. As
pessoas voltam a adoecer de gripe o tempo todo, talvez até dezenas de vezes da primeira
infância até a velhice. Em parte, isso se dá porque existe uma enorme variedade de cepas
(subgrupos) do chamado vírus influenza, as quais contam com grande potencial de
recombinar partes de seu material genético e, assim, chutar a bola por entre as pernas do
nosso sistema imune. Agora, chamemos os vírus como o da gripe de "tipo 2".
Bem, o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, não é um vírus do tipo 1. Está claríssimo
que ele é um vírus do tipo 2. Para sorte de todos nós, seus mecanismos de reconfiguração
genética estão longe de ser tão versáteis quanto os dos vírus influenza, mas ainda são
robustos o bastante para permitir múltiplas reinfecções ao longo da vida. Não há nada de
surpreendente nisso, porque é exatamente assim que operam seus parentes que são
nossos velhos conhecidos, os coronavírus que causam formas de resfriado comum.
Quantos resfriados o gentil leitor já pegou na vida?
Portanto, é conversa de lunático dizer que o "corona" versão ômicron é uma "cepa
vacinal". Quem pegou o Sars-CoV-2 "versão 1.0" pode muito bem ter se reinfectado com a
variante delta em 2021 e ainda ter ganhado outra reinfecção de lambuja com a ômicron em
2022.
E as vacinas? Elas foram projetadas para gerar uma resposta padronizada, robusta e
focada do sistema de defesa do organismo, sem os subterfúgios que o vírus usa numa
infecção natural. Já sabemos que não são perfeitas, e a necessidade de atualizá-las com
novas versões do vírus ou de seu material genético se avizinha —a exemplo do que se vê
com a vacina da gripe. Mas elas são muito, muito melhores que a alternativa. Vacine-se.
Vacine seus filhos.

Folha de São Paulo. 5/2/2022.


Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2022/02/a-farsa-da-imunidade-natural.shtml
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Adequação de registro

LPIn – Aula 2

Registro é a variação linguística que depende da situação em que o falante se encontra ao


usar a língua. Compreende várias dimensões, entre as quais é importante destacar

● A modalidade: diferença entre fala e escrita, e


● O grau de formalismo: diferença entre uso formal (tenso) e informal (distenso).

LÍNGUA ORAL E LÍNGUA ESCRITA


As modalidades oral e escrita da língua são produzidas em condições diversas, a saber:

Características da produção de fala na Características da produção de escrita no


conversa espontânea: discurso autônomo planejado:

1. É parte de um encontro frente a frente 1. Não há encontro com o interlocutor. O


com o interlocutor. leitor está distante.

2. O que se diz é uma criação conjunta. 2. O texto é geralmente criado por um autor.

3. As mensagens adaptam-se a um 3. A audiência é anônima. O texto deve ser


interlocutor conhecido. montado para ser entendido por qualquer
pessoa.

4. As mensagens são limitadas pelo tempo, 4. A composição e a leitura não sofrem


pelas restrições do encontro e pelas restrições de tempo. O escritor pode
limitações de memória. corrigir o que escreve. O leitor pode reler.

5. A comunicação utiliza canais múltiplos: 5. A comunicação vale-se primordialmente


gestos, entonação, expressões faciais etc.. de palavras. Gráficos e figuras também
podem contribuir para a compreensão.

6. O ambiente ao redor pode ser usado para 6. Tudo deve estar totalmente contido no
indicar o sentido do que é dito, bem texto, através da sintaxe, pois quem
como para interpretar os sinais. interpreta o sentido do que está escrito
está distante do escritor.

7. Os sinais da fala não servem apenas para 7. As escolhas vocabulares e sintáticas


informar, mas também para manipular o definem o grau de impessoalidade do
ouvinte. A fala é usada para manter uma texto. Os textos científicos são em geral
interação pessoal. informativos e apresentam marcas de
impessoalidade.

8. O discurso é dinâmico, possui vida 8. O texto é algo estático. Permanece como


curta. Transmite algo e desaparece. um monumento.

(Quadro elaborado a partir de material produzido pela profa. Alzira Tavares Macedo – UFRJ)
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Devido às diferenças de produção entre fala e escrita, observam-se diferenças estruturais:

Fala Escrita

1. Frases mais curtas, pausas entre 1. Frases mais longas. Orações mais
orações. Mais coordenação do que integradas. Mais subordinação. Uso variado
subordinação. Maior frequência dos de outros conectivos.
conectivos e, aí, então ou de conexão
assindética de orações.

2. Repetições, reparos (especialmente quando o 2. As repetições são evitadas. Os reparos não


falante inicia um período complexo e cai existem, pois o texto pode ser corrigido e
num “limbo sintático” por problemas de “limpo” em revisões sucessivas.
memória).

3. Emprego de rodeios e hesitações. 3. Uso pouco frequente dessas marcas.

4. Preferência por verbos. 4. Mais emprego de nominalizações.


p.ex.: O governo se comprometeu a combater a p.ex.: O combate à inflação é um compromisso do
inflação. governo.

5. Sujeitos preferencialmente animados ou 5. Uso de impessoalizações ou passivas, ou


principalmente humanos. ausência de sujeitos.
p.ex.: Eu acho que a concordância verbal no p.ex.: Parece que a concordância verbal no português
português do Brasil está mudando. do Brasil está mudando.

6. Impessoalização com emprego de você, o 6. Impessoalização com passivas, uso de se, as


cara, nego, tu etc. pessoas etc..

7. Uso de dêiticos 7. Explicitação do lugar, tempo e pessoa, de


modo que o texto possa ser autônomo.

8. Uso frequente do discurso direto, com 8. Uso frequente do discurso indireto, com
entonação, mudança de voz etc., indicando alterações que precisam ser feitas nos tempos
troca de personagens. e modos verbais.

9. Deslocamentos à esquerda, com repetição do 9. Menor frequência de deslocamentos à


item deslocado na sentença. esquerda.

10. Emprego de gírias e vocábulos de sentido 10. Seleção vocabular mais precisa.
“genérico” (como coisa, troço)

11. Elipses. Supressão de verbos. 11. Menor frequência dessa construção.

12. Preferência pela ordem direta 12. Maior uso de ordem inversa.
(sujeito-verbo-objetos-adjuntos).

13. A ordem das sentenças reflete a ordem de 13. Uso de conectivos que exprimem a ordem
ocorrência dos fatos. real de ocorrência.
p.ex.: Cheguei do trabalho, tomei banho, jantei e p.ex.: Antes de ver a novela, tomei banho e jantei
vi a novela. assim que cheguei do trabalho.
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TEXTO PARA EXEMPLIFICAÇÃO:

(...) uma vez uma... uma amiga falou pra mim... "engraçado aqui"... ela não é brasileira...
então ela falou assim... ela é equatoriana... ela disse assim... "engraçado no Rio...
principalmente Copacabana Ipanema Leblon... a gente anda cercado de gente à beça... mas
ninguém olha pra gente... ninguém..."... e sozi/... você parece ir sozinha... e você po/...
como... ela dizia... "pôxa eu não tenho muito poder aquisitivo agora... mas eu posso andar
de calça Lee durante um mês que ninguém vai olhar pra mim..."... vai per/... dizer se ela está
ruça... rasgada ou eu que ando muito bem alinhado... muito bem arrumado e ninguém
repara... no mesmo bar em que se senta uma... uma... não digo um ... restaurante de luxo
entende... mas um bar... um bar assim da moda em que senta um... um deputado... senta
muito bem arrumado e tal... do lado dele senta um rapaz hippie... uma moça muito tranquila
mesmo e não... não se sente choque...
http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/ Acesso em 8/4/2010.

CONVERSÃO PARA A MODALIDADE ESCRITA:

Uma vez, uma amiga, que é equatoriana, me disse que acha engraçado o fato de que,
no Rio, principalmente em Copacabana, Ipanema e Leblon, as pessoas andam cercadas de
muitas outras, mas parece que vão sozinhas, pois ninguém olha para ninguém. Ela disse
ainda que não tem muito poder aquisitivo, mas pode andar de calça Lee durante um mês
que ninguém vai reparar se a calça está desbotada e rasgada, assim como ninguém repara
se um outro anda muito bem vestido. Ela notou que, num mesmo bar da moda, pode se
sentar uma pessoa muito bem arrumada, como um deputado, e, ao lado dela, se sentar um
rapaz hippie, sem que isso provoque estranheza.

EXERCÍCIOS

1. O fragmento de fala a seguir foi extraído da mesma conversa a que pertence o


fragmento analisado e reescrito acima como exemplo. Reescreva o fragmento, de modo a
ajustá-lo à modalidade escrita, eliminando as marcas típicas da oralidade.

(...) eu acho que a nossa solidão vira neurose... Ipanema é muito bom... maravilhoso...
você pode andar como você quer... como você não quer... como você quer... mas ao mesmo
tempo a pessoa... eu sinto muita alienação... entende... os contatos são superficiais...
entende... não sei se decorrente de Ipanema em si... ou já Ipanema é decorrente do Rio de
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Janeiro ou não sei... problemas de pessoas... de épocas... mas você sente é uma alienação
incrível entende...

2. Substitua os vocábulos inadequados a um texto escrito formal, mantendo ao máximo o


mesmo sentido.

a. Peguemos como exemplo o ano letivo de uma criança que acaba de ingressar no
primeiro grau.
b. Se o incentivo ao estudo fosse maior, essas crianças iam dar um jeito de ir à escola.
c. O que vemos é um monte de gente na rua sem ter o que comer.
d. As pessoas corruptas têm de aprender na porrada, têm de sofrer.
e. Os políticos são capazes de sacanear a própria família.
f. Na PUC, o curso dá uma base legal, mas lá fora é que a gente vai ver o pega pra capar.

3. Reescreva as frases a seguir, eliminando o vocábulo coisa e empregando vocábulos de


significado mais preciso, adequados ao contexto.

a. A televisão é uma coisa muito presente na vida das pessoas.


b. Crianças não deveriam ser expostas às coisas que as novelas mostram.
c. Eu não tolero essa coisa de preconceito.
d. A internet tem mudado muita coisa no cotidiano.
e. As coisas já não são como antigamente.
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Tipos de texto / A argumentação

LPIn – Aula 11

Já não se fazem pais como antigamente


Lourenço Diaféria

A grande caixa foi descarregada do caminhão com cuidado. De um lado estava


escrito assim: "Frágil". Do outro lado estava escrito: "Este lado para cima". Parecia
embalagem de geladeira, e o garoto pensou que fosse mesmo uma geladeira. Foi colocada
na sala, onde permaneceu o dia inteiro.
À noitinha a mãe chegou, viu a caixa, mostrou-se satisfeita, dando a impressão de
que já esperava a entrega do volume.
O menino quis saber o que era, se podia abrir. A mãe pediu paciência. No dia
seguinte viriam os técnicos para instalar o aparelho. O equipamento, corrigiu ela, meio sem
graça.
Era um equipamento. Não fosse tão largo e alto, podia-se imaginar um conjunto de
som, talvez um sintetizador. A curiosidade aumentava. À noite o menino sonhou com a caixa
fechada.
Os técnicos chegaram cedo, de macacão. Eram dois. Desparafusaram as madeiras,
juntaram as peças brilhantes umas às outras, em meia hora instalaram o boneco, que não
era maior do que um homem de mediana estatura. O filho espiava pela fresta da porta,
tenso.
A mãe o chamou:
– Filhinho, vem ver o papai que a mamãe trouxe.
O filho entrou na sala, acanhado diante do artefato estranho: era um boneco,
perfeitamente igual a um homem adulto. Tinha cabelos encaracolados, encanecidos nas
têmporas, usava trim, desodorante, fazia a barba com gilete ou aparelho elétrico, sorria,
fumava cigarros king-size, bebia uísque, roncava, assobiava, tossia, piscava os olhos - às
vezes um de cada vez - assoava o nariz, abotoava o paletó, jogava tênis, dirigia carro,
lavava pratos, limpava a casa, tirava o pó dos móveis, fazia estrogonofe, acendia a
churrasqueira, lavava o quintal, estendia roupa, passava a ferro, engomava camisas, e
dentro do peito tinha um disco que repetia: "Já fez a lição?". "Como vai, meu bem? Ah,
estou tão cansado!". "Puxa, hoje tive um trabalhão dos diabos!". "Acho que vou ficar até
mais tarde no escritório". "Você precisava ver o bode que deu hoje lá na firma!". "Serviço de
dono-de-casa nunca é reconhecido!". "Meu bem, hoje não!...".
O menino estava boquiaberto. Fazia tempo que sentia falta do pai, o qual havia dado
no pé. Nunca se queixara, porém percebia que a mãe também necessitava de um
companheiro. E ali estava agora o boneco, com botões, painéis embutidos, registros,
totalmente transistorizado. O menino entendia agora por que a mãe trabalhara o tempo todo,
muitas vezes chegando bem tarde. Juntara economias, sabe lá com que sacrifícios, para
comprar aquele paizão.
– Ele conta histórias, mãe?
Os técnicos olharam o garoto com indiferença.
– Esse é o modelo ZYR-14, mais indicado para atividades domésticas. Não conta
histórias. Mas assiste televisão. E pode ser acoplado a um dispositivo opcional, que permite
longas caminhadas a campos de futebol. Sabendo manejá-lo, sem forçar, tem garantia para
suportar crianças até seis anos. Porém não conta histórias, e não convém insistir, pode
desgastar o circuito do monitor.
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O garoto se decepcionou um pouco, sem demonstrar isso à mãe, que parecia


encantada.
O equipamento paterno, ligado à tomada elétrica (funcionava também com bateria),
já havia colocado os chinelos e, sem dizer uma palavra, foi até à mesa e apanhou o jornal.
A mãe puxou o filho pelo braço:
– Agora vem, filhinho. Vamos lá para dentro, deixa teu pai descansar.
In: Para gostar de ler. v.7. São Paulo: Ática, 1991. p.26-28.
A passagem do pensamento mítico para o filosófico-científico

Danilo Marcondes

Os diferentes povos da Antiguidade – assírios e babilônios, chineses e


indianos, egípcios, persas e hebreus – todos tiveram visões próprias da natureza e
maneiras diversas de explicar os fenômenos e processos naturais. Só os gregos,
entretanto, fizeram ciência, e é na cultura grega que podemos identificar o princípio
deste tipo de pensamento que podemos denominar, nesta sua fase inicial, de
filosófico-científico.
Se afirmamos que o conhecimento científico, de cuja tradição somos
herdeiros, surge na Grécia por volta do século VI a.C., nosso primeiro passo deverá
ser procurar entender por que se considera que esse novo tipo de pensamento
aparece aí pela primeira vez e o que significa essa “ciência” cujo surgimento
coincide com a emergência do pensamento filosófico.
Quando dizemos que o pensamento filosófico-científico surge na Grécia no
século VI a.C., caracterizando-o como uma forma específica de o homem tentar
entender o mundo que o cerca, isto não quer dizer que anteriormente não houvesse
também outras formas de entender essa realidade. É precisamente a especificidade
do pensamento filosófico-científico que tentaremos explicitar aqui, contrastando-o
com o pensamento mítico que o antecede na cultura grega. Procuraremos destacar
as características básicas de uma e de outra forma de explicação do real.
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica
aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento
da natureza e dos processos naturais e as origens desse povo, bem como seus
valores básicos. O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como essas explicações
são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio termo grego
mythos significa um tipo especial de discurso, o discurso fictício ou imaginário,
sendo por vezes até sinônimo de “mentira”. As lendas e narrativas míticas não são
produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um
povo. Sua origem cronológica é indeterminada, e sua forma de transmissão é
basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e
não da elaboração de um determinado indivíduo.
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura assim a própria visão
de mundo dos indivíduos, a sua maneira de vivenciar a realidade. Nesse sentido, o
pensamento mítico pressupõe a adesão, a aceitação dos indivíduos, na medida em
que constitui as formas de sua experiência do real. O mito não se justifica, não se
fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção.
Não há discussão do mito porque ele constitui a própria visão de mundo dos
indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, tendo, portanto, um caráter
global que exclui outras perspectivas a partir das quais ele possa ser discutido. Ou o
indivíduo é parte dessa cultura e aceita o mito como visão de mundo, ou não
pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não lhe diz nada. A
possibilidade de discussão do mito, de distanciamento em relação à visão de mundo
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que apresenta, supõe já uma transformação da própria sociedade e, portanto, do


mito como forma reconhecida de se ver o mundo nessa sociedade.
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar
a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas
dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por
uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a
qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que
apenas parcialmente. São os deuses, os espíritos, o destino que governam a
natureza, o homem, a própria sociedade. Os sacerdotes, os rituais religiosos, os
oráculos servem como intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo
divino. Os cultos e sacrifícios religiosos são, assim, formas de se tentar alcançar os
favores divinos, de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos deuses.
É Aristóteles que afirma ser Tales de Mileto, no século VI a.C., o iniciador do
pensamento filosófico-científico. Podemos considerar que esse pensamento nasce
basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontramos
no pensamento mítico. De fato, desse ponto de vista, o pensamento mítico tem uma
característica até certo ponto paradoxal. Se, por um lado, pretende fornecer uma
explicação da realidade, por outro lado, recorre, nessa explicação, ao mistério e ao
sobrenatural, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode
compreender por estar fora do plano da compreensão humana. A explicação dada
pelo pensamento mítico esbarra assim no inexplicável, na impossibilidade do
conhecimento.
É nesse sentido que a tentativa dos primeiros filósofos será buscar uma
explicação do mundo natural (a physis, daí o nosso termo “física”) baseada
essencialmente em causas naturais. A chave da explicação do mundo de nossa
experiência estaria então, para esses pensadores, no próprio mundo, e não fora
dele, em alguma realidade misteriosa e inacessível. O mundo se abre assim ao
conhecimento, à possibilidade total de explicação – ao menos em princípio – à
ciência, portanto.
O pensamento filosófico-científico representa, desse modo, uma ruptura
bastante radical com o pensamento mítico, enquanto forma de explicar a realidade.
Entretanto, essa ruptura não se dá de forma completa e imediata. Ou seja, o
surgimento desse novo tipo de explicação não significa o desaparecimento completo
do mito, do qual aliás sobrevivem muitos elementos mesmo em nossa sociedade
contemporânea, em nossas crenças, superstições, fantasias etc., isto é, em nosso
imaginário. O mito sobrevive ainda que vá progressivamente mudando de função,
passando a ser antes parte da tradição cultural do povo grego do que a forma básica
de explicação da realidade.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. p.19-21. Fragmentos adaptados.
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Na internet, o senso comum ganhou o mesmo status da expertise técnica

Drauzio Varella

A ciência é uma ilha cercada de incompreensões por todos os lados. A um só


tempo, ela contradiz o senso comum, o misticismo e o pensamento mágico, formas
de interpretar o mundo adotadas pela maioria.
Nos países mais desenvolvidos, as crianças ouvem falar dos princípios que
regem a ciência já nos primeiros anos da vida escolar. Infelizmente, entre nós, os
estudantes entram e saem das universidades sem noção de como deve ser
articulado o pensamento científico.
Quando Galileu Galilei afirmou que a Terra era um dos planetas que giravam
ao redor do Sol, quase foi condenado à morte pela Inquisição. O senso comum era o
de que ficávamos parados no centro do Universo, enquanto o Sol, a Lua e os
demais astros orbitavam à nossa volta.
Muito mais fácil para os religiosos defender que a Terra era imóvel, como
afirmava a Bíblia, do que para Galileu explicar os movimentos de translação e
rotação, que ninguém conseguia enxergar nem sentir.
Quando Charles Darwin e Alfred Wallace demonstraram que a vida na Terra
—e em qualquer planeta em que venha a existir— é uma eterna competição por
recursos naturais limitados, na qual os menos aptos perdem a oportunidade de
deixar descendentes, a reação foi tão feroz que 150 anos mais tarde ainda existem
contestadores.
No mundo da internet, o senso comum ganhou status de expertise técnica.
Ativistas do movimento antivacina, terraplanistas, charlatães e os defensores de
teorias conspiratórias e de tratamentos de eficácia jamais comprovada divulgam
ideias estapafúrdias, como se tivessem o nível de conhecimento de cientistas
brilhantes.
A ciência é uma frágil conquista civilizatória da sociedade, baseada no
raciocínio lógico, na observação empírica, na significância estatística, no confronto
de dados e na reprodutibilidade dos experimentos, regra segundo a qual a repetição
de uma experiência deve levar aos mesmos resultados, independentemente do
observador.
Não é tarefa simples convencer sociedades inteiras de conceitos tão
abstratos. Veja o caso do uso da hidroxicloroquina no tratamento da infecção pelo
atual coronavírus, droga dotada de ação antiviral no tubo de ensaio, já testada sem
sucesso contra dengue, gripe, zika, chikungunya e outras viroses.
Para demonstrar atividade de um medicamento contra determinada
enfermidade, para a qual não há tratamento conhecido, o estudo deve pertencer à
categoria dos ensaios clínicos controlados, randomizados, prospectivos, em duplo
cego.
Isso quer dizer, que os participantes precisam ser alocados ao acaso para
dois grupos: um deles servirá de controle, outro receberá pela primeira vez a droga
em teste. No entanto, como o simples ato de tomar remédio altera a percepção dos
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sintomas que nos afligem, os pacientes não devem saber para que grupo foram
sorteados. Da mesma forma, é preciso evitar que o julgamento do médico seja
comprometido.
Para evitar esses vieses, há necessidade de administrar um placebo para o
grupo-controle, comprimido inerte (geralmente talco) com aparência idêntica à do
que contém a droga em teste, de modo que nem o participante nem o médico
possam identificar quem está em cada grupo (duplo cego).
Os participantes serão seguidos até que o número de desfechos clínicos nos
dois grupos (cura, piora, mortalidade, sobrevida ou outro) seja suficiente para que os
dados nos deem pelo menos 95% de certeza de que são significantes do ponto de
vista estatístico.
Como explicar a necessidade de estudos tão detalhados para quem não teve
formação científica? É muito mais fácil para os mistificadores contestá-los com base
em crenças pessoais, opiniões, dados falsos, interesses políticos ou financeiros.
Nem precisam se dar ao trabalho de contra-argumentar, basta pôr os resultados em
dúvida: “não é bem assim”, “eu não acredito nisso”.
Médicos criteriosos se baseiam em estudos conduzidos com tanto rigor,
porque foi graças a eles que a medicina contribuiu para duplicar a expectativa de
vida da população, no decorrer do século 20.
No caso da hidroxicloroquina, nenhum estudo prospectivo, randomizado,
controlado, em duplo cego, mostrou que pacientes tiveram qualquer benefício em
comparação com os que receberam placebo.
Então, por que há médicos que a receitam? A resposta, prezado leitor, deixo a
seu critério.

Folha de São Paulo. 29/8/2020.


Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2020/08/na-internet-o-senso-comum-ganhou-o-
mesmo-status-da-expertise-tecnica.shtml
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Pensamento científico

Antônio Gois

A pandemia vem mostrando, cotidianamente, o quanto é importante para o


debate público o desenvolvimento de uma competência prevista em nossa Base
Nacional Comum Curricular: o pensamento científico. Segundo o texto orientador de
currículos municipais e estaduais, é esperado que, ao longo de toda a educação
básica, o estudante desenvolva a capacidade de “exercitar a curiosidade intelectual
e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a
análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e
testar hipóteses, formular e resolver problemas e inventar soluções com base nos
conhecimentos das diferentes áreas.”
Ainda mais em tempos de polarização e redes sociais, a capacidade de
identificar argumentos frágeis ou sem comprovação torna-se ainda mais importante
para a democracia. E não faltam exemplos no Brasil de hoje de afirmações que —
por erro, ignorância ou má-fé — confundem ou ignoraram conceitos científicos.
Dos erros (propositais ou ingênuos) mais comuns disseminados está a
confusão entre causa e correlação. Na semana passada, por exemplo, ninguém
menos que o atual ocupante do cargo de ministro da Saúde afirmou que havia no
Brasil “cerca de 4 mil óbitos onde há uma comprovação de uma relação causal com
a aplicação da vacina”.
A comprovação de causalidade é das tarefas mais desafiadoras da ciência.
Não basta constatar que dois fenômenos aconteceram ao mesmo tempo —
portanto, estão correlacionados — para afirmar que um é causa do outro. Há meios
para identificar essa relação de causalidade, mas eles exigem investigação e
métodos rigorosos.
Como depois ficou claro pelas explicações do Ministério da Saúde, não havia
comprovação nenhuma de relação causal desses 4 mil óbitos (na verdade 3.935) e
as vacinas. Todos os dias, morrem milhares de pessoas no país por causas
diversas, sendo que algumas tomaram vacinas (hoje em dia, felizmente, a maioria) e
outras não. O número citado pelo ministro foi o de mortes que aconteceram após a
aplicação da vacina. Todas precisam ser investigadas, para identificar se foram
causadas (em vez de simplesmente correlacionadas) pelos imunizantes.
É isso que os técnicos da Saúde fazem. E eles chegaram à conclusão de que
apenas 13 casos tiveram relação causal direta, num universo de 325 milhões de
doses aplicadas no Brasil. A chance de morrer de Covid por não estar vacinado,
portanto, é muitíssimo maior do que a de falecer em decorrência de algum efeito
colateral da vacina.
A Ciência nunca trará respostas sobre tudo, mas ela tem sido nos últimos
séculos o melhor instrumento criado pela humanidade para melhoria das condições
de vida. Ao contrário da fé, o método científico prevê que nenhuma ideia possa ser
tratada como irrefutável. No entanto, para convencer a sociedade, é preciso
14

apresentar argumentos sólidos. Alegações extraordinárias exigem evidências


extraordinárias, como já disse o astrônomo Carl Sagan (1934-1996).
Aprender desde cedo a diferenciar bons argumentos que merecem crédito
daqueles que são pura retórica baseada em erro, ignorância ou movida por
interesses escusos é uma das missões mais fundamentais das escolas nos dias de
hoje.

O Globo. 24/1/2022.
Disponível em https://blogs.oglobo.globo.com/antonio-gois/post/pensamento-cientifico.html
Planejamento textual

LPIn – Aula 3

EXERCÍCIO

O texto a seguir foi escrito por um estudante a partir do tema O uso de animais para
satisfação de interesses humanos. Após ler o texto, responda:

É possível identificar a posição assumida pelo autor do texto diante do tema? Quer dizer: é
possível saber se ele é contrário ou favorável ao uso dos animais pelos seres humanos?
Justifique sua resposta, avaliando a organização das ideias no texto.

Animal servente

Na sociedade em que vivemos, é muito difícil distinguir o certo do errado, pois não
há muita definição do que devemos fazer ou não. O uso dos animais de acordo com
os nossos próprios interesses é um dos temas que causam, ainda, muita polêmica
na população diferenciada na qual vivemos. Existem casos e casos. Até mesmo
movimentos de grupos que defendem os direitos dos animais entram em questão.

Muitas pessoas ainda defendem seus direitos de maneiras mais radicais, como
formar grupos de defesa e fazer passeatas e movimentos para mostrar aos outros o
que querem. Gosto não é o tipo de discussão plausível, pois sempre haverá dois
tipos conflitantes. Nesse caso, se analisado bem, os animais também deveriam ter
direitos, e o mais procurado pela maioria deles é a sobrevivência. Maltratar os
animais para nossa alimentação é algo inadmissível para um vegetariano. Já para
os carnívoros, é algo de extrema necessidade e normal.
15

Não é só na alimentação que usamos os animais para os nossos interesses.


Também há vestimentas e até mesmo transporte e divertimento. Quando colocamos
um animal para nos servir, estamos usando-o para nosso interesse. As
necessidades de uma pessoa são algo pessoal e sempre discutido, porém o uso de
outras vidas para a sobrevivência das nossas é um ponto de vista discutível. Os
animais têm que sobreviver, mas nós também.

Níveis de planejamento (proposta de Mary Kato)

⇒ Nível interpessoal:

O leitor
- Definição do público-alvo do texto (uma pessoa, um grupo, diferentes grupos de pessoas).
- Avaliação do relacionamento que se deseja estabelecer com o leitor (próximo, distante).
- Verificação de conhecimento prévio que o leitor possui sobre o assunto.
- Levantamento das necessidades informacionais do leitor.

O produtor
- Definição da imagem que se deseja projetar.
- Avaliação do ponto-de-vista que se tem sobre o assunto (positivo, negativo, neutro).

Contexto situacional e objetivo comunicativo


- Verificação do local, momento e tipo de evento comunicativo.
- Definição do objetivo principal do texto (informar, influenciar, expressar sentimentos,
assumir compromissos, etc.).
- Definição do objetivo específico do texto.
- Definição do gênero do texto a ser escrito, do tom a ser empregado, do canal a ser
utilizado.

⇒ Nível ideacional

Geração de ideias
- Definição das informações que potencialmente poderiam ser incluídas no texto.
- Técnicas: tempestade de ideias; associação de ideias; perguntas e respostas – o porquê, o
para que, o como, as causas e as consequências.

Seleção de ideias
- Escolha das informações que de fato irão integrar o texto.

Organização de informações
- Verificação do vínculo entre as informações selecionadas e formação de grupos de ideias.
- Ordenação das informações considerando-se as decisões tomadas no nível interpessoal (o
mesmo grupo de ideias pode ser ordenado de forma diferente dependendo dos efeitos de
sentido que se deseja produzir com o texto).
16

⇒ Nível textual

- Definição da paragrafação do texto com base no que ficou estabelecido na etapa de


organização de informações.
- Definição da ideia básica dos parágrafos e das ideias secundárias.
- Avaliação dos articuladores textuais a serem empregados, considerando relações lógicas
entre as sentenças e a força argumentativa dos conectivos.
- Seleção do tipo de processo sintático a ser utilizado para relacionar sentenças e do
tamanho do período a ser produzido
- Definição das palavras a serem empregadas (termos técnicos, hiperônimos, expressões
socialmente marcadas, etc.)
EXERCÍCIOS

1) Leia abaixo um fragmento do texto O direito de buscar a felicidade, de Contardo


Calligaris, e, em seguida, uma versão modificada do fragmento. Compare as duas versões e
indique se a diferença entre elas se deve a escolhas do autor no nível ideacional ou no nível
interpessoal do planejamento. Justifique sua resposta.

FRAGMENTO DO TEXTO:

Para você, buscar a felicidade consiste em exercer uma rigorosa disciplina do corpo;
para outros, é comilança e ociosidade. Alguns procuram o agito da vida urbana, e outros, o
silêncio do deserto. Há os que querem simplicidade e os que preferem o luxo. Buscar a
felicidade, para alguns, significa servir a grandes ideais ou a um deus; para outros,
permitir-se os prazeres mais efêmeros.
Invento e procuro minha versão da felicidade, com apenas um limite: minha busca
não pode impedir os outros de procurar a felicidade que eles bem entendem. Por isso,
obviamente, por mais que eu pense que isto me faria muito feliz, não posso dirigir bêbado,
assaltar bancos ou escutar música alta depois da meia-noite. Por isso também não posso
exigir que, para eu ser feliz, todos busquem a mesma felicidade que eu busco.
Por exemplo, você procura ser feliz num casamento indissolúvel diante de Deus e
dos homens. A sociedade deve permitir que você se case, na sua igreja, e nunca se
divorcie. Mas, se, para ser feliz, você exigir que todos os casamentos sejam indissolúveis,
você não será fundamentalmente diferente de quem, para ser feliz, quer estuprar, assaltar
ou dirigir bêbado.
(...) você desprezará a busca da felicidade de seus concidadãos exatamente como o
bandido ou o estuprador a desprezam.

CALLIGARIS, Contardo. O direito de buscar a felicidade. 10/6/2010. Fragmentos. Disponível em:


http://contardocalligaris.blogspot.com/search?updated-min=2010-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&updated-
max=2011-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&max-results=25
Acesso em 22/7/2010.

VERSÃO MODIFICADA DO FRAGMENTO:

Para algumas pessoas, buscar a felicidade consiste em exercer uma rigorosa


disciplina do corpo; para outras, é comilança e ociosidade. Alguns procuram o agito da vida
urbana, e outros, o silêncio do deserto. Há os que querem simplicidade e os que preferem o
luxo. Buscar a felicidade, para alguns, significa servir a grandes ideais ou a um deus; para
outros, permitir-se os prazeres mais efêmeros.
17

Todos inventam e procuram sua versão da felicidade, com apenas um limite: a busca
de um não pode impedir os outros de procurar a felicidade que eles bem entendem. Por
isso, obviamente, por mais que alguém pense que isto o faria muito feliz, não pode dirigir
bêbado, assaltar bancos ou escutar música alta depois da meia-noite. Por isso também
nenhuma pessoa pode exigir que, para ela ser feliz, todos busquem a mesma felicidade que
ela busca.
Por exemplo, alguém procura ser feliz num casamento indissolúvel diante de Deus e
dos homens. A sociedade deve permitir que essa pessoa se case, na sua igreja, e nunca se
divorcie. Mas, se, para ser feliz, essa pessoa exigir que todos os casamentos sejam
indissolúveis, ela não será fundamentalmente diferente de quem, para ser feliz, quer
estuprar, assaltar ou dirigir bêbado.
(...) ela desprezará a busca da felicidade de seus concidadãos exatamente como o
bandido ou o estuprador a desprezam.

CALLIGARIS, Contardo. Adaptado para este exercício.


2) Os fragmentos de textos a seguir foram extraídos (com adaptações) da revista de
divulgação científica Ciência Hoje das Crianças (CHC), publicada pelo Instituto Ciência
Hoje, ligado à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Como se trata de um
veículo destinado a crianças, sua linguagem tende a ser muito pessoal, já que essa é uma
estratégia para obter maior envolvimento do leitor.

Reescreva cada fragmento, tornando-o impessoal. Quando apropriado, empregue o


clítico se ou a voz passiva. Antes, veja o exemplo:

A água encanada de nossas casas vem de rios e lagos. Para que possamos bebê-la,
porém, ela precisa ser purificada. Assim, evitamos ingerir uma série de impurezas e
micro-organismos nocivos à nossa saúde. (jan./fev. 2007. p.28.)

A água encanada da casa das pessoas vem de rios e lagos. Para que se possa bebê-la, porém, ela precisa ser
purificada. (OU: Para que possa ser bebida, porém, ela precisa ser purificada.) Assim, evita-se ingerir uma série de impurezas e
micro-organismos nocivos à saúde humana.

a. O desmatamento é a pior ameaça ao uacari-branco. Para impedir a extinção deste


animal, devemos preservar o ambiente em que ele vive. (out. 2006. p.16.)

b. Antes da urna eletrônica, o resultado das eleições demorava mais de uma semana
para ser divulgado. Hoje conhecemos os nossos próximos governantes entre cinco e sete horas
após o fim da votação. (out. 2006. p.28.)

c. Há muitas maneiras de abrir ou fechar a sua mochila, o seu casaco ou a sua blusa.
Você pode usar zíperes, botões, fivelas ou velcro. (nov. 2006. p.28.)

d. Quando tomamos banho, removemos os resíduos naturais acumulados (suor, sebo,


células mortas), e o equilíbrio da pele é mantido. (jan./fev. 2007. p.20.)

3) O fragmento de texto a seguir foi extraído (com adaptações) da revista Ciência Hoje das
Crianças.
18

Reescreva o fragmento, empregando o verbo haver onde for cabível, de modo a tornar
o texto mais impessoal.

Na pele, temos as células que formam a epiderme (a camada mais externa da pele,
essa que tocamos). Sobre as células da epiderme, temos uma camada de queratina, uma
proteína que não deixa passar água para o lado de dentro. Além disso, ainda temos os
poros – os pequeninos orifícios por onde sai o suor – e as glândulas sebáceas, que
acompanham os pelos que recobrem toda a superfície do corpo, exceto a palma das mãos e
a sola dos pés.

BONOMO, Adriana; CUNHA, José Marcos. Por que temos de tomar banho? CHC. jan./fev. 2007.
p.20. Fragmento adaptado.

4) O imperativo é o modo verbal usado para dar orientações e instruções. Um texto com uso
do imperativo tende a apresentar um tom pessoal. Se quisermos passar uma frase no
imperativo para um estilo menos pessoal, podemos fazer isso com o emprego do verbo
auxiliar dever, acompanhado do clítico se, assim:

Leia sempre para aumentar seu vocabulário. 🡪 Deve-se ler sempre para aumentar o vocabulário.
Não ultrapasse a faixa amarela. 🡪 Não se deve ultrapassar a faixa amarela.

A seguir, você encontra parte de um folheto distribuído pelo Corpo de Bombeiros do


Rio de Janeiro para orientar a população sobre como agir em caso de incêndio. Reescreva as
orientações, substituindo as frases no imperativo por outras de sentido equivalente com o
clítico se e o verbo dever, conforme os exemplos acima.
19

Recursos para construir impessoalidade no texto

Recurso Em vez de... Podemos dizer...

verbo haver Tive dificuldade para encontrar Houve dificuldade para encontrar
voluntários. voluntários.

clítico se Neste trabalho, faço uma análise da evasão Neste trabalho, faz-se uma análise da evasão
escolar. escolar.

voz passiva Obtive os dados por meio de um Os dados foram obtidos por meio de um
questionário. questionário.

escolha do Acho que os professores precisam ser Parece que os professores precisam ser
verbo da preparados. preparados.
oração Tudo indica que os professores precisam ser
principal preparados.

verbo ser + Não consegui confirmar essa hipótese. Não foi possível confirmar essa hipótese.
adjetivo +
infinitivo
verbal

5) O texto a seguir é parte da introdução de um artigo acadêmico intitulado “O sistema Braille


e o ensino da Matemática para pessoas cegas”. Identifique, no texto, pelo menos dois
exemplos de recursos diferentes para construir o efeito de impessoalidade. Em seguida,
apresente uma formulação alternativa que poderia ter sido usada, em cada caso, para obter o
efeito contrário, isto é, um tom pessoal, sem alteração do conteúdo ideacional.

Ao se conceber o homem como um ser histórico-cultural, cujo desenvolvimento intelectual


se dá, sobretudo, por meio de ações interativas, em um mecanismo de apropriação do
conhecimento, entende-se que o processo de aquisição da linguagem tem um papel
primordial entre os processos de ação e interação no ambiente social/produtivo. Entretanto,
as formas de busca por esse conhecimento, que se configuram no processo educacional,
calcado, sobretudo, nas premissas do sistema visual e oral, trazem, em seu contexto,
20

preocupações em relação às pessoas cegas, especialmente no que se refere ao processo


ensino e aprendizagem e, no caso dessa pesquisa, da Matemática.
(...)
Nesse sentido, pode-se questionar: existe um método que proporcione às pessoas cegas
possibilidades de obterem o conhecimento sistematizado além do já institucionalizado? Ou
ainda: de que forma um sistema/método pode contribuir para a elaboração de
conhecimentos matemáticos para as pessoas cegas? Existem limites nesse recurso? Como
as adaptações para alunos cegos podem ser realizadas, para atender às nuanças da
disciplina de Matemática? Esses questionamentos centram-se no fato de que, entre as
funções atribuídas ao sistema educacional, a principal refere-se à disseminação do
conhecimento formal.
(...)
O Ministério da Educação, ao propor as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica (BRASIL, 2001), determina que as ações educacionais devem voltar suas
atenções a uma educação para todos, respeitando a diversidade, estabelecendo os direitos
ao exercício da cidadania, em busca do desenvolvimento de um Estado também para todos
(...)
Entende-se, portanto, como educação inclusiva aquela que abrange todas as pessoas,
independente de suas origens, tanto sociais como culturais, bem como das condições
físicas, criando iguais oportunidades de acesso ao conhecimento, ao desenvolvimento, à
construção da identidade, enfim, ao exercício da cidadania.
(...)
É importante observar também que, ao se deparar com um aluno cego na sala de aula,
faz-se necessário saber que, com relação aos seus direitos e deveres, ele deve ser tratado
igualmente como qualquer outro aluno, respeitando-se, no entanto, as características
específicas da deficiência bem como seu direito de acesso ao conhecimento sistematizado.
Para se aproximar e se fazer uma incursão nesse universo vivenciado pela pessoa cega,
objetiva-se referenciar o sistema Braille como um dos métodos de aprendizagem de
Matemática para alunos com deficiência visual, especificamente a cegueira, inclusos no
ensino regular.
A partir de experiências vivenciadas em um Centro de Atendimento Especializado a
Pessoas com Deficiência Visual e de informações obtidas mediante levantamentos e
revisões bibliográficas, são analisados aspectos relacionados ao código Braille e ao ensino
da disciplina. Os limites encontrados foram as formas de realizar adaptações necessárias
em situações em que apenas a utilização do sistema Braille se torna um recurso limitado,
devido às várias formas de expressão dos conteúdos de Matemática.

VIGINHESKI, Lúcia Virginia Mamcasz e outros. O sistema Braille e o ensino da Matemática para
pessoas cegas. Ciência & Educação. v.20. n.4. out.-dez. 2014. Disponível em
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132014000400009&lng=en&nrm=is
o&tlng=pt. Acesso em 2/2/15. Fragmentos.

6) Elimine a redundância nos fragmentos abaixo.

a) A educação a distância vem proporcionando grandes benefícios à população residente


em áreas afastadas dos centros regionais do país, e a profissionais que precisam aprimorar
21

seus conhecimentos mas não têm tempo de frequentar aulas, cursos de faculdades
presenciais nos centros regionais por motivo de seu trabalho e da distância em que residem.

b) A procura pela educação a distância vem cada vez mais aumentando por pessoas que
quase não têm disponibilidade de tempo e condições financeiras, por isso optam por essa
modalidade de educação.

7) Um dos problemas gerados pela falta de planejamento ideacional é a repetição


desnecessária de informações. Identifique em quais passagens dos textos abaixo
apresentam-se ideias repetidas que prejudicam a progressão do texto.

a. "A verdade é que a cada dia aumenta o número de desempregados no mercado. Mas
esse grupo, que antigamente era formado, na sua maioria, por pessoas com pouco preparo,
tem hoje como participantes profissionais capazes, que estudaram em bons colégios e têm boa
educação.
Arrumar um emprego hoje parece uma questão de sorte, destino, impossível dizer. Só
se pode afirmar que muita gente com boa formação passa o dia batendo perna atrás de algo
para fazer e, no fim do mês, aperta mais um buraco no cinto. (...)" (tema: emprego e mercado
de trabalho)

b. "No mercado atual está cada vez mais difícil conseguir emprego. Até mesmo as
pessoas mais qualificadas, que estudaram anos e anos para conseguir um título profissional,
estão encontrando dificuldades para encontrar um lugar nesse mercado moderno.
Essa dificuldade não é uma coisa nova e sim um problema que vem se agravando
durante os últimos anos. O número de desempregados aumenta a cada ano e os números
conseguem assustar qualquer pessoa. O desemprego, antes um problema das classes mais
baixas, está atingindo também pessoas com uma educação boa e das classes mais altas. A
demanda por empregos no mundo moderno é muito grande e, se o país não tem uma
economia estável, o desemprego é apenas uma consequência. (...)"
(...) Finalmente, pode-se afirmar que o emprego no mundo moderno está cada vez
mais difícil e somente os mais bem qualificados conseguem achar seu lugar no mercado. Não
basta apenas ter uma boa educação, mas também ter a experiência e personalidade para buscar
um lugar em um mercado de trabalho que já está saturado. É claro que uma boa educação
ajuda muito, mas nem sempre é o suficiente. No mundo moderno, é preciso lutar com todas as
armas possíveis para achar um lugar para trabalhar." (tema: emprego e mercado de trabalho)
22

8) Ao fazer um pedido de revisão de prova, uma estudante redigiu a justificativa nos seguintes
termos:

“Não é possível que nada do que eu escrevi possa ser aproveitado. Sei que sou burra, mas
será que sou tanto assim para merecer um zero? Eu jamais faria isso com um aluno, pois
tira a motivação dele.”

Nesse texto, há deficiências de planejamento tanto no domínio ideacional quanto no


interpessoal. Identifique esses problemas.

9) Todas as informações a seguir, relacionadas ao tema vegetarianismo, servem como


argumentos para defender a ideia de que os seres humanos devem se abster de consumir
produtos de origem animal. Após ler a lista completa, agrupe as informações em três
conjuntos. Em cada conjunto, identifique a informação mais geral, que servirá de tópico para
o conjunto. As ideias mais específicas serão os subtópicos.

• A população de animais de corte nos EUA produz 130 vezes mais lixo que a
população humana daquele país.
• Animais de várias espécies sofrem ao serem tratados como mercadoria, apenas
mais um bem de consumo.
• As aves, animais territoriais, ficam estressadas por serem criadas à razão de oito
animais por metro quadrado.
• Alimentos de origem animal causam obesidade, doenças cardiovasculares,
diversos tipos de câncer, alergias.
• Bactérias se tornam mais resistentes devido ao uso em massa de antibióticos na
criação animal.
• Animais morrem covardemente, e seus cadáveres são vendidos aos pedaços.
• Testes de laboratório causam sofrimento aos animais.
• O consumo de produtos animais não é bom para a saúde humana.
• 30% da devastação da floresta amazônica se devem à formação de pastos para
o gado.
• Os alimentos de origem vegetal são isentos de colesterol, são ricos em fibras,
vitaminas e minerais.
• O consumo de produtos de origem animal acarreta problemas ambientais.
• Vacas são separadas de sua cria quando esta tem apenas alguns dias de vida.
• Quando consumimos vegetais, reduzimos o consumo dos recursos naturais em
até 90%.
• Os alimentos de origem vegetal são capazes de suprir todas as necessidades
nutricionais de qualquer pessoa.
23

Informações extraídas do artigo “Vegetarianismo radical”, de George Guimarães. Superinteressante. dez. 2000.

Vegetarianismo radical
George Guimarães*

O cheiro de sangue é forte e pode ser sentido de longe. No mercado a céu aberto, o
cliente escolhe o animal que lhe parece mais suculento. O golpe na virilha do cachorro é
rápido, mas a morte não vem depressa. O sofrimento dura alguns minutos. Os animais que
recebem o golpe na jugular têm mais sorte. Mas os abatedores de cães temem a mordida e
preferem atacar o animal por trás.
Essa cena se repete diariamente na China. “Que absurdo”, diriam os ocidentais, para
quem os cães são animais de estimação. O mesmo diria um indiano diante da forma como
tratamos bois e vacas. Não há diferença entre matar um boi e um cachorro para comer. O
raciocínio vale também para o esfolamento de galinhas, porcos e outros animais.
Tortura, dor, sofrimento, desolação. Animais de várias espécies são tratados como
mercadoria, apenas mais um bem de consumo. Morrem covardemente e seus cadáveres
são vendidos aos pedaços. Crescem em ambientes artificiais, agressivos à sua natureza.
Como pode um animal tão dócil quanto uma vaca ser privado do seu instinto materno só
porque a indústria requer que se separe da sua cria quando esta tem apenas alguns dias de
vida? Como as aves, animais territoriais, podem viver à razão de oito animais por metro
quadrado e não se tornarem neuróticas? Isso para não falar das torturas exercidas nos
testes dos laboratórios científicos, mesmo existindo alternativas para o desenvolvimento de
novos produtos.
Há quem ache um direito natural do homem submeter os animais a todo tipo de
crueldade, assim como já foi natural, no passado, que algumas pessoas se julgassem
superiores às outras pela diferença da cor da pele ou do credo religioso. Foi preciso que
24

grupos abolicionistas e humanistas surgissem, mesmo sendo ridicularizados e discriminados


no início, para que os homens enxergassem o absurdo na forma como tratavam outros
seres humanos. Haverá um momento em que o homem, auxiliado por um novo tipo de
abolicionistas – que falam por seres que não podem falar por si –, saberá que os outros
animais não são sua propriedade. São seres com direito à vida.
Enquanto esse dia não chega, pagamos um alto preço sofrendo de doenças ligadas
ao consumo de produtos animais. Obesidade, doenças cardiovasculares, diversos tipos de
câncer, alergias e outros problemas de saúde que afetam boa parte da população de países
desenvolvidos como os Estados Unidos. Bactérias se tornam mais resistentes graças ao uso
em massa de antibióticos nos sistemas intensivos de criação animal.
A sociedade ganha uma dose extra de violência com rodeios, farras do boi, rinhas de
cães e outras atrocidades em que as crianças aprendem desde cedo qual é a lei que impera
no reinado humano. Um império cuja herança é incerta, já que 30% da devastação da
floresta amazônica é destinada à formação de pastos para o gado. A população de animais
de corte nos EUA produz 130 vezes mais lixo que a população humana daquele país. É
sabido que quando consumimos na escala mais baixa da cadeia alimentar (vegetais),
reduzimos o consumo dos recursos naturais em até 90%.
Esses são alguns dos motivos pelos quais me abstenho do consumo de qualquer
produto animal, incluindo leite, ovos, mel, couro, lã, seda, cosméticos que tenham sido
testados em animais etc. O termo atribuído a esse estilo de vida é vegan, chamado por
alguns de vegetarianismo radical – apesar de não sermos tão radicais quanto aqueles que
estouram os miolos de um animal inocente apenas para sentir o sabor de sua carne por
alguns segundos.
Como nutricionista, e apoiado por vasta literatura científica, posso dizer que o único
produto animal essencial à nutrição humana é o leite – que deve ser o da própria espécie e
ingerido apenas durante o período de amamentação. Depois dessa fase, os alimentos de
origem vegetal são capazes de suprir todas as necessidades nutricionais de qualquer
pessoa. E com vantagens, por se tratar de uma dieta isenta de colesterol e rica em fibras,
vitaminas e minerais. Para aqueles que acreditam que os alimentos de origem animal são
necessários para suprir as necessidades de proteína, ferro e cálcio, recomendo um estudo
mais aprofundado. É muito fácil desenhar uma dieta vegan com 200% das recomendações
de ferro, 150% de proteína e 100% de cálcio. É preciso que o debate seja informado pela
literatura científica e não por campanhas publicitárias pagas pela indústria da carne e do
leite.

*Nutricionista, especialista em nutrição clínica e nutrição vegetariana. e-mail: nutriveg@iname.com


25

Os artigos publicados nesta seção não traduzem necessariamente a opinião da revista.

Disponível em: http://super.abril.com.br/alimentacao/vegetarianismo-radical-441847.shtml


Acesso em 15/2/2011
26

Ou você ou a cobaia
Isaías Raw*

Corre o mundo uma campanha em defesa do direito dos animais, pregando o fim do
seu uso em testes de laboratório. A imagem que se quer passar é a de que os cientistas são
indivíduos sádicos, que usam e matam cobaias inocentes. Há até quem descreva os centros
de pesquisa como campos de concentração repletos de instrumentos de tortura para
animais. Trata-se de uma visão caricatural que contribui para aumentar ainda mais a
ignorância e o preconceito das pessoas diante da ciência.
É provável que essa imagem tenha surgido já no tempo em que Pasteur inoculou a
saliva de um cão com o vírus da raiva no cérebro de outro cão, sadio, e verificou que ele
contraiu a doença. Para fazer essa experiência, Pasteur teve que abrir um orifício no crânio
do cão saudável – um procedimento de fato desagradável, tanto para o cão quanto para o
espectador. Ele também usou coelhos em seus experimentos e transmitiu a infecção,
sucessivamente de um coelho para outro, 25 vezes – até que o agente da raiva no cérebro
do último desses animais se tornasse incapaz de transmitir a doença. No dia 6 de julho de
1885, um garoto de 9 anos, chamado Joseph Meister, foi salvo da raiva depois que Pasteur
injetou o vírus atenuado da doença no pequeno paciente, tendo início ali a técnica de
produção de vacinas que salvaria, no futuro, a vida de milhões de pessoas.
Nenhuma das pesquisas que deram origem às vacinas seria possível sem o uso de
animais de laboratório. Até hoje, a vacina contra raiva é testada em ratos para verificar se
não restou nela nenhum vírus que possa induzir a doença ou provocar efeitos colaterais. Em
apenas uma das etapas da pesquisa com vacinas é possível dispensar o uso de animais,
injetando o agente da doença numa cultura de células em vez de aplicá-lo no organismo das
cobaias. Essa técnica é mais rápida, eficaz e econômica. Mas, infelizmente, não pode ser
usada em todas as etapas da pesquisa. O uso de animais ainda é indispensável para
garantir a saúde da população vacinada assim como para preservar a segurança de
substâncias que compõem os medicamentos. Diminuir ou mesmo banir irresponsavelmente
os testes em animais aumentaria ainda mais os riscos de quem precisa tomar remédios.
Sem essas pesquisas, quem se arriscaria a ir à farmácia?
Há 40 000 anos os homens viviam, em média, 28 anos. Hoje vivem mais de 70.
Devemos isso às pesquisas que utilizam animais. No momento em que você estiver lendo
este artigo, laboratórios acompanham a evolução de doenças hereditárias em ratos para
aliviar, no futuro, o sofrimento dos filhos dos pacientes dessas doenças. Apesar dos ataques
às pesquisas que usam animais geneticamente modificados, estamos mais próximos de um
tratamento para doenças incuráveis, como o Alzheimer, graças ao uso de ratos
27

transgênicos. Quem hesitaria em utilizar animais em pesquisas se pudesse, com isso, aliviar
a dor de um familiar portador de uma doença degenerativa e hoje ainda incurável?
Garanto que se os pesquisadores encontrassem outra forma de chegar à cura de
doenças eles dispensariam o uso de cobaias. Pesquisas com animais são caras e longas.
Em novembro deste ano, na Holanda, será realizada uma das poucas convenções sérias
que vão debater alternativas para o uso de animais. Com o imenso título “Avanço da Ciência
e Eliminação de Animais de Laboratório para o Desenvolvimento e Controle de Vacinas e
Hormônios: Objetivo Realista ou Missão Impossível?”, será analisada a eficácia da
tecnologia que poderá, aos poucos, substituir, em alguns casos, o uso de cobaias. Mas essa
substituição levará tempo e a ciência não pode ser refém da histeria de grupos fanáticos –
pessoas que colhem assinaturas em defesa dos animais usados em laboratório mas são
insensíveis aos seres de sua própria espécie que precisam de ajuda.
Enfim, não é inaceitável que usemos animais para o benefício humano. Inaceitável é
ver o homem matar e expor os seus semelhantes ao sofrimento por meio de guerras ou pela
ignorância que rejeita os benefícios dos avanços da ciência. É bem provável que os
defensores dos direitos dos animais acreditem que é uma arrogância do homem moderno
colocar-se no centro do universo – pessoas que, como Pasteur, priorizaram a vida humana
diante da vida de outros animais. Para mim, essa arrogância tem outro nome: humanismo.

*Presidente da Fundação Butantan e professor emérito da Faculdade de Medicina da USP

Superinteressante. maio/2001. p.114.

http://super.abril.com.br/ciencia/defesa-direito-animais-ou-voce-ou-cobaia-442168.shtml

Exercício

1. Avalie o título do texto em termos de seu efeito sobre o leitor.

2. Com frequência, artigos de opinião fornecem informações para contextualizar o tema.


Identifique a parte do texto em que isso é feito.

3. Destaque, do primeiro parágrafo, expressões que indicam que o autor do texto não
compartilha do ponto de vista que relata.

4. Identifique, no texto,
a. uma ilustração;
b. uma pergunta retórica;
c. um exemplo;
d. dados quantitativos.

5. Identifique, no último parágrafo, um contra-argumento e sua refutação.


28

Plano para elaboração de texto argumentativo


a. Tema: _______________________________________________________

b. Tese (frase completa):


________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

c. Argumentos

1.______________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

2. _______________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

3. _______________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

d. Contra-argumento:
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Refutação:
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
29

Modalização

LPIn Aula 5

A modalização é um conjunto de recursos da língua para a marcação de atitudes no


texto, incluindo os seguintes significados:

Intensificação e atenuação:

• Grau de substantivos e adjetivos – p.ex.: cansadíssimo, favorzinho

• Advérbios – p.ex.: muito cansado, ligeiramente cansado

Graus de certeza (possibilidade, probabilidade):

• Verbos modais – p.ex.:

Pode chover amanhã. / Deve chover amanhã.

• Advérbios e locuções adverbiais – p.ex.:

Talvez chova. / Certamente vai chover. / Sem dúvida vai chover.

• “é + adjetivo + que” (oração principal + subordinada) – p.ex.:

É possível que chova. / É provável que chova.

Permissão, obrigatoriedade, necessidade, capacidade:

• Verbos modais – p.ex.:

Você pode sair. / Você deve sair. / Você precisa sair.

• “é + adjetivo + que” (oração principal + subordinada) – p.ex.:

É necessário / É indispensável / É urgente que você saia.

É obrigatório / É permitido / É proibido que você permaneça na sala.


30

EXERCÍCIOS

1. Reformule as frases abaixo, empregando um recurso de modalização diferente e


conservando ao máximo o mesmo sentido. (Frases extraídas do texto Vegetarianismo radical –
p.23-24)

a. É sabido que, quando consumimos na escala mais baixa da cadeia alimentar


(vegetais), reduzimos o consumo dos recursos naturais em até 90%.

b. Depois dessa fase, os alimentos de origem vegetal são capazes de suprir todas as
necessidades nutricionais de qualquer pessoa.

c. É muito fácil desenhar uma dieta vegan com 200% das recomendações de ferro,
150% de proteína e 100% de cálcio.

d. É preciso que o debate seja informado pela literatura científica e não por campanhas
publicitárias pagas pela indústria da carne e do leite.

2. Reformule as frases abaixo, empregando um recurso de modalização que reduza o


grau de certeza expresso. (Frases extraídas do texto Vegetarianismo radical – p.23-24)

a. Não há diferença entre matar um boi e um cachorro para comer.

b. Bactérias se tornam mais resistentes graças ao uso em massa de antibióticos nos


sistemas intensivos de criação animal.

c. A sociedade ganha uma dose extra de violência com rodeios, farras do boi, rinhas de
cães e outras atrocidades.

3. Observe como as orações subordinadas substantivas podem ser empregadas para


expressar modalização – isto é: dúvida, certeza, probabilidade, possibilidade, necessidade.

Comprando grande quantidade, podemos conseguir um desconto.


(IDEIA DE POSSIBILIDADE EXPRESSA PELO VERBO AUXILIAR PODER)

Comprando grande quantidade, é possível que consigamos um desconto.


(IDEIA
DE POSSIBILIDADE EXPRESSA PELA ORAÇÃO PRINCIPAL É POSSÍVEL + A ORAÇÃO
SUBORDINADA QUE CONSIGAMOS UM DESCONTO)

Reescreva cada frase de modo que ela passe a conter uma oração subordinada
substantiva, conservando o mesmo sentido de modalização.

a. O povo brasileiro obviamente não confia nos políticos.


b. Você precisa procurar ajuda terapêutica.
c. Ele deve chegar atrasado.
d. Possivelmente não conseguirei avisar todos em tempo.
e. O Grêmio tem de marcar uma assembleia com urgência.
31

4. Modifique os fragmentos de texto a seguir, empregando recursos de modalização


para alterar os graus de certeza expressos. Altere, no mínimo, uma frase em cada fragmento,
empregando, em cada vez, um recurso diferente.

(Fragmentos adaptados de PERINI, Mário A. Etimologia popular (falsos parentes). A língua do Brasil
amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. p.73-81.)

a. Um dia desses, fiquei preso em um engarrafamento de trânsito, aventura


extremamente frequente para quem tem o privilégio de viver em Belo Horizonte. Os
congestionamentos, aliás, são uma espécie de pausa que nossa cidade concede a seus
habitantes para que ponham em ordem seus pensamentos e meditem um pouco sobre a
vida – ou, como alternativa, para que possam maldizer os outros motoristas, o Detran, a
Prefeitura, o Governo Federal, a vida etc. Conforme a inclinação de cada um, é possível
usar o tempo gasto nos engarrafamentos para pensar um pouco.

b. É pouco provável que a evolução de verolho para ferrolho tenha sido um processo
consciente; alguém simplesmente “ouviu mal”, e escutou um ferro onde não havia, passando
a pronunciar assim. A evolução das palavras é resultado de um complexo de fatores, a
maioria deles inconsciente – mesmo quando motivados, como é o caso da etimologia
popular.

c. O caso de floresta mostra uma motivação concreta. A palavra original era foresta –
e daí evoluíram a palavra francesa, forêt, e a italiana, foresta. Trata-se de palavra de origem
latina, e aliás pré-latina, que na origem denotava a parte externa (considerada do ponto de
vista das terras cultivadas), sendo aparentada, historicamente, com nossa palavra fora.
Nunca teve um l, mas em português se achou que, se era uma área densamente coberta de
vegetação, deveria haver ali também muitas flores – donde o aparecimento do l, resultando
em uma palavra mais expressiva. Os franceses e italianos, aparentemente, eram menos
poéticos e nem pensaram em flores, conservando a palavra em sua forma antiga. Processo
semelhante sofreu a palavra pneumonia, transformada na boca do povo em pulmonia, por
razões óbvias. E algumas pessoas ainda dizem barriguilha – a braguilha não fica
exatamente na barriga, fica um pouco mais abaixo, mas afinal a distância é pequena.
32

A coerência textual
LPIn Aulas 7 e 8

Texto: “unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é


tomada pelos usuários da língua (falante, escritor / ouvinte, leitor), em uma situação de
interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão.”
(KOCH e TRAVAGLIA 1991. p.10.)

Textos para exemplificação

TEXTO 1
Em código
Fernando Sabino
Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritório de meu irmão:
– Recebi, de Belo Horizonte, um recado dele para o senhor. É uma mensagem meio esquisita,
com vários itens, convém tomar nota. O senhor tem um lápis aí?
– Tenho. Pode começar.
– Então lá vai. Primeiro: minha mãe precisa de uma nora.
– Precisa de quê?
– De uma nora.
– Que história é essa?
– Eu estou dizendo ao senhor que é um recado meio esquisito. Posso continuar?
– Continue.
– Segundo: pobre vive de teimoso. Terceiro: não chora, morena, que eu volto.
– Isso é alguma brincadeira.
– Não é não. Estou repetindo o que ele escreveu. Tem mais. Quarto: sou amarelo, mas não
opilado. Tomou nota?
– Mas não opilado – repeti, tomando nota. – Que diabo ele pretende com isso?
– Não sei não senhor. Mandou transmitir o recado, estou transmitindo.
– Mas você há de concordar comigo que é um recado meio esquisito.
– Foi o que eu preveni ao senhor. E tem mais. Quinto: não sou colgate, mas ando na boca de
muita gente. Sexto: poeira é a minha penicilina. Sétimo: carona, só de saia. Oitavo…
– Chega! – protestei, estupefato. – Não vou ficar aqui tomando nota disso, feito idiota.
– Deve ser carta em código, ou coisa parecida – e ele vacilou: Estou dizendo ao senhor que
também não entendi, mas enfim… Posso continuar?
– Continua. Falta muito?
– Não, está acabando: são doze. Oitavo: vou, mas volto. Nono: chega à janela, morena.
Décimo: quem fala de mim tem mágoa. Décimo primeiro: não sou pipoca, mas também dou meus
pulinhos.
– Não tem dúvida, ficou maluco.
– Maluco, não digo, mas como o senhor mesmo disse, a gente até fica com ar meio idiota…
Está acabando, só falta um. Décimo segundo: Deus, eu e o Rocha.
– Que Rocha?
– Não sei. É capaz de ser a assinatura.
– Meu irmão não se chama Rocha, essa é boa!
– É, mas que foi ele que mandou, isso foi.
Desliguei, atônito, fui até refrescar o rosto com água, para poder pensar melhor. Só então me
lembrei. Haviam-me encomendado uma crônica sobre essas frases que os motoristas costumam pintar,
como lema, à frente dos caminhões. Meu irmão, que é engenheiro e viaja sempre pelo interior
fiscalizando obras, prometera ajudar-me, recolhendo em suas andanças farto e variado material. E ele
viajou, o tempo passou, acabei esquecendo complemente do trato, na suposição de que o mesmo lhe
acontecera.
33

Agora, o material ali estava. Era só fazer a crônica. Deus, eu e o Rocha! Tudo explicado!
Rocha era o motorista, Deus era Deus mesmo, e eu, o caminhão.
TEXTO 2

OBSERVANDO UMA MARCHA DE PROTESTO DO VIGÉSIMO ANDAR

O espetáculo era empolgante. Da janela se podia ver a multidão embaixo. Tudo


parecia extremamente pequeno, mas dava para ver as roupas coloridas. Todos pareciam estar
indo na mesma direção, com muita ordem, e parecia haver tanto crianças como adultos. A
aterrizagem foi suave e afortunadamente a atmosfera era tal que não havia necessidade de
usar trajes espaciais. No início, havia muita atividade. Mais tarde, quando os discursos
começaram, a multidão foi se aquietando. O homem com a câmera de televisão filmou muitas
cenas do lugar e da multidão. Todos estavam muito tranquilos e pareciam contentes quando a
música começou.

(Traduzido de Bransford e McCarrel 1977. In: KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura.)

TEXTO 3

A Vaguidão Específica

“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica.” (Richard Gehman)

– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.


– Junto com as outras?
– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer
coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
– Sim senhora. Olha, o homem está aí.
– Aquele de quando choveu?
– Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
– Que é que você disse a ele?
– Eu disse para ele continuar.
– Ele já começou?
– Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
– É bom?
– Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
– Você trouxe tudo pra cima?
– Não senhora. Só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou
para deixar até a véspera.
– Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor senão atravanca
a entrada e ele reclama como na outra noite.
– Está bem, vou ver como.

(Fernandes, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. Círculo do Livro. p.77)

(Extraído de KOCH, Ingedore e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto,
34

1991.)

TEXTO 4

Problema na Clamba

Naquele dia, depois de plomar, fui ver drão o Zé queria ou não ir comigo na clamba.
Pensei melhor grulhar-lhe. Mas na hora de grulhar, vi-o passando com a golipesta e me dei
conta de que ele já tinha outro programa.
Então resolvi ir no tode. Até chegar na clamba, tudo bem. Estacionei o zulpinho bem
nacinho, pus a chave no bolso e desci correndo para aproveitar ao chinta aquele sol gostoso e
o mar pli sulapente.
Não parecia haver em glapo na clamba. Tirei os grispes, pus a bangoula. Estava pli
quieto ali que até me saltipou. Mas esqueci no tode das saltipações no prazer de nadar,
inclusive tirei a bangoula para ficar mais à vontade. Não sei quanto tempo fiquei nadando,
siltando, corristando, até estopando no mar.
Foi no tode depois, na hora de voltar da clamba, que vi que nem os grispes nem a
bangoula estavam mais onde eu tinha deixado.

Mike Scott (Adaptado)

TEXTO 5

OS SEIS GANGSTERS DE CHICAGO


Léon Eliachar

O primeiro gangster chegou na janela, apontou a metralhadora para a rua: BANG —


BANG — BANG — BANG — BANG — BANG —BANG — BANG — BANG — BANG!
O segundo ________ escondeu-se atrás do prédio da esquina e reagiu imediatamente:
BENG — BENG — BENG — BENG — BENG— BENG — BENG — BENG -- BENG!
O ________ gangster surgiu no prédio em frente e começou a atirar: BING — BING
— BING — BING — BING — BING ---- BING ----BING — BING — BING — BING!
Foi quando se ouviu, lá no terraço, o quarto gangster em ação: BONG — BONG —
BONG — BONG — BONG — BONG — BONG —BONG — BONG — BONG -- BONG!
O quinto gangster saiu ________ banco empunhando a sua metralhadora de mão e
atirou nos policiais que cercavam o prédio: BUNG — BUNG— BUNG — BUNG — BUNG
— BUNG—BUNG — BUNG —BUNG — BUNG — BUNG!
O sexto gangster ficou completamente impassível porque não havia mais ________.

(Extraído de PEREIRA, Vera Wannmacher. Predição leitora e inferência. In: CAMPOS, Jorge (org.).
Inferências linguísticas nas interfaces. Porto Alegre. EDIPUCRS, 2009. p.10-22. Disponível em
35

https://books.google.com.br/books?id=LGNUfSpZubIC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs
_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false)

TEXTO 6

Era meia-noite. O Sol brilhava. Pássaros cantavam pulando de galho em galho. O


homem cego, sentado à mesa de roupão, esperava que lhe servissem o desjejum. Enquanto
esperava, passava a mão na faca sobre a mesa como se a acariciasse tendo ideias, enquanto
olhava fixamente a esposa sentada à sua frente. Esta, que lia o jornal, absorta em seus
pensamentos, de repente começou a chorar, pois o telegrama lhe trazia a notícia de que o
irmão se enforcara num pé de alface. O cego, pelado com a mão no bolso, buscava consolá-la
e calado dizia: a Terra é uma bola quadrada que gira parada em torno do Sol. Ela se queixa de
que ele ficou impassível porque não é o irmão dele que vai receber as honrarias. Ele se agasta,
olha-a com desdém, agarra a faca, passa manteiga na torrada e lhe oferece, num gesto de
amor.

(Esse texto reproduz aproximadamente versão ouvida junto a crianças de Araguari – MG)

(Extraído de KOCH, Ingedore e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto,
1991.)

TEXTO 7

LUZ, QUERO LUZ

Quando nasci veio um anjo safado / o chato de um querubim... e me disse: vai, Chico,
ser “gauche” na vida. E ainda sussurrou baixinho: acompanha o teu xará da música, que ele te
fará bem. Resulta que eu e alguns milhões de brasileiros da minha geração, marcada na
juventude pela ditadura militar, passamos a catar a poesia que Francisco Buarque de Holanda
entorna no chão. Ela diz de nossos sonhos, fala de nossas paixões, canta nossas generosas
intenções. “Santa melodia” que anuncia o “tempo da delicadeza”.

CHICO ALENCAR

O Globo. 22 de maio de 2004. Prosa & Verso. p. 3.


Matéria comemorativa dos 60 anos de idade de Chico Buarque.

TEXTO 8

3M UM D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NÇ45


8R1NC4ND0 N4 4R314.
3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M
70RR35, P4554R3L45, P4554G3N5 1N73RN45. QU4ND0 3574V4M QU453 4C484ND0,
V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DUZ1ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3
35PUM4.
4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RÇ0 3 CU1D4D0, 45 CR14NÇ45 C41R14M
N0 CH0R0. M45 C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45,
3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0.
C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40: G4574M05 MU170
73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3, M415 C3D0 0U M415 74RD3,
UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4
36

C0N57RU1R. QU4ND0 1550 4C0N73C3R, 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3


4LGU3M P4R4 53GUR4R 53R4 C4P4Z D3 50RR1R.
50 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M1Z4D3, 0 4M0R, 0 C4R1NH0. 0 R3570 É F3170
4R314.

(Texto veiculado por e-mail. Autor desconhecido.)

Exercícios

1. Explicite a informação prévia que o leitor precisa ter para compreender o humor presente
nessa tira e identifique o fator de coerência que essa informação representa.

2. Explique o efeito de humor que existe na tira abaixo, considerando o papel da


situacionalidade no estabelecimento da coerência textual.

3. A partir dos textos abaixo, explique o papel da intertextualidade como fator de coerência.
37

Fontes das imagens:


https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTaZPfBLzQqz8hb2va3mhvTxd5Gpxvt77_LagLzZYHWBxQxI4Dd
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQAw2gJFjJmjIk8uJRD_VnRlWUqVaAKwyvsz384avD6EK-TuzoU1g

A coesão textual
LPIn Aulas 9 e 10

Roteiro de aula baseado em KOCH, Ingedore. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1991.

Coesão Textual: Mecanismos formais da língua que permitem estabelecer relações de sentido
entre os elementos linguísticos do texto.

A coerência e a coesão nos textos – exemplos:

TEXTO 1
O Show

O cartaz
O desejo

O pai
O dinheiro
O ingresso

O dia
A preparação
A ida

O estádio
A multidão
A expectativa

A música
A vibração
A participação

O fim
A volta
O vazio

TEXTO 2
38

O Show

Sexta-feira Raul viu um cartaz anunciando um show de Milton Nascimento para a


próxima terça-feira, às 21h, no Ginásio do Uberlândia Tênis Clube na Getúlio Vargas. Por ser
fã do cantor, ficou com muita vontade de assistir à apresentação. Chegando em casa, falou
com o pai, que lhe deu dinheiro para comprar o ingresso. Na terça-feira, dia do show, Raul
preparou-se, escolhendo uma roupa com que ficasse mais à vontade durante o evento. Foi
para o UTC com um grupo de amigos. Lá havia uma multidão em grande expectativa
aguardando o início do espetáculo, que começou com meia hora de atraso. Mas valeu a pena:
a música era da melhor qualidade, fazendo todos vibrarem e participarem do show. Após o
final, Raul voltou para casa com um vazio no peito pela ausência de todo aquele som, de toda
aquela alegria contagiante.
TEXTO 3

Corte

Maria Amélia Mello

(O dia segue normal. Arruma-se a casa. Limpa-se em volta. Cumprimenta-se os vizinhos.


Almoça-se ao meio-dia. Ouve-se rádio à tarde. Lá pelas 5 horas, inicia-se o sempre).

(Miniconto publicado no Suplemento Literário do Minas Gerais. no. 686, ano XIV, 24/11/79. p.9)

TEXTO 4

João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os
mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da Relatividade,
o espaço é curvo. A geometria Rimaniana dá conta desse fenômeno.
(Marcuschi – 1983:31)

(Textos 1, 2, 3 e 4 extraídos de KOCH, Ingedore e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 1991.)

Tipos de mecanismos coesivos:

Coesão referencial: Mecanismos em que um componente da superfície do texto faz


remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual.

Coesão sequencial: Mecanismos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos
do texto, diversos tipos de relações semânticas.
Esses dois tipos de procedimentos coesivos são distintos, porém não estanques.

Coesão referencial

a. artigos definidos
b. artigos indefinidos
Num reino distante, existia uma jovem e linda princesa. A princesa vivia infeliz, pois
sentia-se muito solitária.
39

c. pronomes
Um dia, chegou àquele reino um grande mago. Ele trouxe consigo seu imenso baú
cheio de objetos estranhos e fascinantes.

d. numerais
Junto com o mago, vieram seus ajudantes, que eram três. O primeiro carregava o baú,
que, apesar do tamanho, não parecia pesado, dada a agilidade do rapaz; o segundo cuidava de
dois animais que viajavam com eles - uma cabra e um papagaio; e o terceiro tinha a função de
distrair o sábio homem com histórias e canções durante a viagem.

e. advérbios pronominais
Chegando lá, trataram logo de procurar a princesa no palácio.
f. expressões adverbiais
Como afirmei acima, a pobre jovem era muito solitária.

g. pro-formas verbais
Sabendo disso, o primeiro ajudante foi logo lhe propondo casamento antes que algum
outro o fizesse.

h. expressões ou grupos nominais definidos

i. nominalizações
A proposta surtiu logo efeito naquele coração infeliz.
Para oficializar o pedido, seu pai promoveu uma grande festa no reino.

j. expressões sinônimas ou quase sinônimas


Quando soube da chegada do mago a seu reino, a moça ordenou que o trouxessem a
sua presença.

l. nomes genéricos
A temperatura da Terra vem se elevando. O fenômeno tem despertado o interesse de
muitos cientistas.

m. hiperônimos ou indicadores de classe


Sobre a mesa havia um vaso com rosas. As flores davam um ar festivo à sala.

n. formas que representam uma “categorização” de partes anteriores ou seguintes do


texto
“Estou apaixonado por outra mulher!” Essa frase perseguiu Maria Lúcia por muitos
anos, até em sonhos.

EXEMPLIFICAÇÃO – TEXTO 1

A verdadeira história de Pio


Paulo Mendes Campos
No princípio do ano, para amenizar o reinício das aulas, as crianças compraram um
pinto na feira. Deram-lhe o nome de Pio. Todos que o antecederam tinham morrido, mas
dessa vez residia no edifício uma senhora que entendia da sobrevivência de pinto de feira
40

em apartamento perto do mar. Instruídas por ela, as crianças conseguiram manter acesa
dentro de Pio a faísca da vida. Já de pequenino, mostrou-se pinto esquisito, achegado aos
seres humanos e danado de andejo. Piava com monotonia os segundos todos do tempo,
como se o chateasse a passagem das horas.
Em mudança de casa, passou dois dias subindo e descendo a escada, piando,
piando, entre as pernas dos carregadores portugueses. Seu prestígio cresceu com o
episódio; era tratado como gente e se orgulhava disso, assumindo um ar à vontade e
presumido de bípede empenado.
Mas acabou me aborrecendo. Como as crianças tinham atingido a irremovível crise
do cachorrinho, acabei cedendo, mas exigindo a extradição de Pio para a casa que o Zanine
estava construindo na Barra da Tijuca.
Meses depois, ao visitar o amigo, Pio já era quase um galo, branco e bonito, mas
extravagante e presunçoso. Indiferente ao terreiro, preferia desfilar na sala e na varanda,
misturando-se às pessoas, peito estufado, chamando atenção para uma figura que ele
queria irresistível.
Mais algum tempo, virou galo mesmo, e aí não demorou a revelar os indícios
neuróticos que o agitavam. Pio nunca tinha visto na vida outro ser galináceo. Acreditava-se
o único ente de sua raça, superior e absoluto. Firmou-se na crença carismática, deu para
agredir os homens. Como estes se defendessem com a ponta do sapato, mudou de tática,
bicando-lhes à traição a barriga da perna. Só respeitava o próprio Zanine, a quem não tinha
afeição, mas considerava com gratuidade um aliado no combate contra o mundo. Seguia o
dono por todos os cantos, não como um cão humilde, mas com a imponência do chefe de
gabinete acompanhando o ministro.
Zanine, como aconteceu comigo, embora achasse graça na birutice de Pio, acabou
saturado, dando o boboca de presente ao poeta Rubem Braga, que sempre foi um infalível
receptador de aves desajustadas.
Já se sabe, o Braga é um fazendeiro do ar, morando entre hortaliças e cajueiros num
décimo terceiro andar de Ipanema.
Insolente diante da natureza, Pio fez estragos na horta, desenterrou sementeiras,
estraçalhou as couves, dando-se ainda à petulância de aborrecer, com relativo escândalo, a
filha da cozinheira. Também o Braga, achando graça, foi complacente, impedindo que a
cozinheira transformasse o doidinho em galo ao molho de cabidela. Mas acabou igualmente
cheio, dando Pio ao hortelão português, dono de farto galinheiro no subúrbio. Antes,
contudo, o galo foi colocado diante de um espelho, na esperança geral de que descobrisse o
outro, o próximo, o irmão galináceo que ele devia amar como a si mesmo.
41

Não quis saber de nada, persistindo na neurose: durante meio minuto encarou a
imagem com estupefação, deu-lhe as costas e se foi, único de sua espécie, dono da
pretensão que o inflava da crista sanguínea ao facho da cauda.
Enfim chegou a hora do galinheiro, quando Pio passaria a viver uma vida normal
dentro da comunidade, encontrando na força do amor a salvação.
Pois o bestalhão, mal ingressou no harém, matou a bicadas duas galinhas sinceras.
E o português o comeu.

Para gostar de ler. Vol. 1. Crônicas. São Paulo: Ática, 1989. p.34-35.

EXEMPLIFICAÇÃO – TEXTO 2 - Exercício

No texto a seguir, identifique os termos que estabelecem referência aos seguintes


elementos da narrativa:

a. o cego;
b. o acompanhante do cego;
c. os passageiros, e
d. o trem.

Apólogo brasileiro sem véu de alegoria


Alcântara Machado

O trenzinho recebeu em Maguari o pessoal do matadouro e tocou para Belém. Já era


noite. Só se sentia o cheiro doce do sangue. As manchas na roupa dos passageiros
ninguém via porque não havia luz. De vez em quando passava uma fagulha que a chaminé
da locomotiva botava. E os vagões no escuro.
Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe vinha recolher os bilhetes de cigarro
na boca. Chegava a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma chupada para fazer
mais luz. Via mal-e-mal a data e ia guardando no bolso. Havia sempre uns que gritavam:
– Vá pisar no inferno!
Ele pedia perdão (ou não pedia) e continuava seu caminho. Os vagões sacolejando.
O trenzinho seguia danado para Belém porque o maquinista não tinha jantado até
aquela hora. Os que não dormiam aproveitando a escuridão conversavam e até
gesticulavam por força do hábito brasileiro. Ou então cantavam, assobiavam. Só as
mulheres se encolhiam com medo de algum desrespeito.
Noite sem lua nem nada. Os fósforos é que alumiavam um instante as caras
cansadas e a pretidão feia caía de novo. Ninguém estranhava. Era assim mesmo todos os
dias. O pessoal do matadouro já estava acostumado. Parecia trem de carga o trem de
Maguari.

***

Porém aconteceu que no dia 6 de maio viajava no penúltimo banco do lado direito do
segundo vagão um cego de óculos azuis. Cego baiano das margens do Verde de Baixo.
Flautista de profissão, dera um concerto em Bragança. Parara em Maguari. Voltava para
42

Belém com setenta e quatrocentos no bolso. O taioca guia dele só dava uma folga no bocejo
para cuspir.
Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou
conversa. Puxou à toa porque não veio nada. Então principiou a assobiar. Assobiou uma
valsa (dessas que vão subindo, vão subindo e depois descendo, vêm descendo), uma polca,
um pedaço do Trovador. Ficou quieto uns tempos. De repente deu uma cousa nele.
Perguntou para o rapaz:
– O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial?
O rapaz respondeu:
– Não sei: nós estamos no escuro.
– No escuro?
– É.
Ficou matutando calado. Claríssimo que não compreendia bem. Perguntou de novo:
– Não tem luz?
Bocejo.
– Não tem.
Cuspada.
Matutou mais um pouco. Perguntou de novo:
– O vagão está no escuro?
– Está.
De tanta indignação bateu com o porrete no soalho. E principiou a grita dele assim:
– Não pode ser! Estrada relaxada! Que é que faz que não acende? Não se pode
viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz!
E a luz não foi feita. Continuou berrando:
– Luz! Luz! Luz!
Só a escuridão respondia.
Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes perguntaram dentro da noite:
– Que é que há?
Baiano velho trovejou:
– Não tem luz!
Vozes concordaram:
– Pois não tem mesmo.

***

Foi preciso explicar que era um desaforo. Homem não é bicho. Viver nas trevas é
cuspir no progresso da humanidade. Depois a gente tem a obrigação de reagir contra os
exploradores do povo. No preço da passagem está incluída a luz. O governo não toma
providências? Não torna?
A turba ignara fará valer seus direitos sem ele. Contra ele se necessário. Brasileiro é
bom, é amigo da paz, é tudo quanto quiserem: mas bobo não. Chega um dia e a cousa pega
fogo.
Todos gritavam discutindo com calor e palavrões. Um mulato propôs que se matasse
o chefe do trem. Mas João Virgulino lembrou:
– Ele é pobre como a gente.
Outro sugeriu uma grande passeata em Belém com banda de música e discursos.
– Foguetes também?
– Foguetes também.
– Be-le-za!
Mas João Virgulino observou:
– Isso custa dinheiro.
– Que é que se vai fazer então? Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino sabia.
Magarefe-chefe do matadouro de Maguari, tirou a faca da cinta e começou a esquartejar o
banco de palhinha. Com todas as regras do ofício. Cortou um pedaço, jogou pela janela e
disse:
43

– Dois quilos de lombo!


Cortou outro e disse:
– Quilo e meio de toicinho!
Todos os passageiros, magarefes e auxiliares, imitaram o chefe. Os instintos
carniceiros se satisfizeram plenamente. A indignação virou alegria. Era cortar e jogar pelas
janelas. Parecia um serviço organizado. Ordens partiam de todos os lados. Com piadas,
risadas, gargalhadas.
– Quantas reses, Zé Bento? – Eu estou na quarta, Zé Bento!
Baiano velho, quando percebeu a história, pulou de contente. O chefe do trem correu
quase que chorando.
– Que é isso? Que é isso? É por causa da luz?
Baiano velho respondeu:
– É por causa das trevas!
O chefe do trem suplicava:
– Calma! Calma! Eu arranjo umas velinhas.
João Virgulino percorria os vagões apalpando os bancos.
– Aqui ainda tem uns três quilos de coxão-mole!
O chefe do trem foi para o cubículo dele e se fechou por dentro rezando. Belém já
estava perto. Dos bancos só restava a armação de ferro. Os passageiros de pé contavam
façanhas. Baiano velho tocava a marcha de sua lavra chamada Às Armas Cidadãos! O
taioquinha embrulhava no jornal a faca surripiada na confusão.
Tocando a sineta, o trem de Maguari fundou na estação de Belém. Em dois tempos
os vagões se esvaziaram. O último a sair foi o chefe, muito pálido.
***

Belém vibrou com a história. Os jornais afixaram cartazes. Era assim o título de um:
Os Passageiros no Trem de Maguari Amotinaram-se Jogando os Assentos ao Leito da
Estrada. Mas foi substituído porque se prestava a interpretações que feriam de frente o
decoro das famílias. Diante do Teatro da Paz houve um conflito sangrento entre populares.
Dada a queixa à polícia, foi iniciado o inquérito para apurar as responsabilidades.
Perante grande número de advogados, representantes da imprensa, curiosos e pessoas
gradas, o delegado ouviu vários passageiros. Todos se mantiveram na negativa menos um,
que se declarou protestante e trazia um exemplar da Bíblia no bolso. O delegado perguntou:
– Qual a causa verdadeira do motim?
O homem respondeu:
– A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões.
O delegado olhou firme nos olhos do passageiro e continuou:
– Quem encabeçou o movimento?
Em meio da ansiosa expectativa dos presentes, o homem revelou:
– Quem encabeçou o movimento foi um cego!
Quis jurar sobre a Bíblia, mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com a
autoridade não se brinca.

Coesão referencial – Exercícios

1. Identifique a que se referem as expressões sublinhadas no fragmento de texto a


seguir.

O latim vulgar e o latim literário eram parcialmente diferentes tanto em sua estrutura
gramatical quanto em seu léxico; é por isso que certas características marcantes da frase
latina, como as declinações e a voz passiva sintética, não aparecem em todas as línguas
românicas. Pelo mesmo motivo, encontramos no português palavras como casa, boca ou
44

espada (originárias do latim vulgar) em vez das correspondentes domus, os ou gladius (do
latim literário). É por isso também que, embora o português derive do latim, não basta saber
português para entender os textos da literatura latina: na verdade, o latim da literatura foi
criado pelo esforço consciente de várias gerações de escritores e tinha fins estéticos. Mas
esse latim sempre foi uma forte referência cultural; foi objeto de importantes tentativas de
recuperação em diferentes momentos da história (por exemplo, na Renascença) e foi a
língua internacional da cultura até ser substituído, nessa função, pelo francês (no século
XVIII) e, posteriormente, pelo inglês (no século XX).

ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que
falamos. São Paulo: Contexto, 2007. p.18. Adaptado.

2. Após ler o fragmento de texto a seguir, faça o que se pede em a e b.

A literatura infantil brasileira inicia sob a égide de um dos nossos mais destacados
intelectuais: Monteiro Lobato. Se isso, por um lado, prestigiou o gênero no seu surgimento,
por outro fez com que, após Lobato, por muito tempo, a literatura infantil brasileira vivesse à
sombra de seu nome.
A obra do criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, ambiente rural que abriga suas
personagens, se dimensiona a partir de sua interação com o grupo social ou, mais
explicitamente, sua atuação como agente formador e modificador da percepção do público.
O sentido da obra de Lobato se torna mais evidente quando sua produção literária é
contraposta às características da vida cultural brasileira até determinado momento de nossa
história.

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 1987. p.43. Adaptado.

a. Sublinhe, no fragmento, todas as expressões que se referem a Monteiro Lobato.

b. Identifique os referentes de isso e o gênero (em itálico na segunda frase do


fragmento).

3. Identifique os referentes dos pronomes sublinhados no fragmento de texto abaixo.

Uma das consequências da prolongada convivência do Tupinambá com o Português


foi a incorporação a este último de considerável número de palavras daquele.

4. No fragmento abaixo, identifique o referente de estas (sublinhado). Em seguida,


explique por que esse pronome é preferível ao pronome elas no contexto em questão.

As línguas indígenas diferem entre si e se distinguem das línguas europeias e


demais línguas do mundo no conjunto de sons de que se servem (fonética) e nas regras
45

pelas quais combinam esses sons (fonologia), nas regras de formação e variação das
palavras (morfologia) e de associação destas na constituição das frases (sintaxe), assim
como refletem, em seu vocabulário e em suas categorias gramaticais, um recorte do mundo
real e imaginário (semântica).

Fragmentos (exercícios 3 e 4 ): RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das
línguas indígenas. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

5. Reescreva o fragmento abaixo (de um texto produzido por um estudante), de modo


a empregar apenas uma vez a palavra riscos, sem alteração do sentido original do fragmento.

Há quem diga que existem muitos riscos na internet, como conteúdos impróprios
para menores. De fato, há que se considerar esses riscos, entretanto é melhor ensinar sobre
esses riscos nas escolas do que privar as crianças dos benefícios da tecnologia.

6. Reescreva o texto abaixo, eliminando os termos repetidos. Use os recursos de


coesão referencial adequados e evite empregar o mesmo recurso mais de uma vez.

C.T., aluna do 6º ano do Ensino Fundamental, acusou uma professora de


constrangimento e de ter proibido C.T. de assistir à aula com um adereço feito de palha e
amarrado aos antebraços, conhecido no candomblé como contraegum. A mãe de C.T.
contou que se assustou ao ir buscar C.T. na escola, na quinta-feira passada. Disse que C.T.
estava acanhada e, ao ver a mãe, começou a chorar sem saber o que fazer. C.T. foi iniciada
no candomblé, religião dos pais e das irmãs mais novas de C.T., no fim do ano passado.

Fragmento adaptado de notícia disponível em


http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-02-11/intolerancia-religiosa-afasta-professora-de-escola-na-praca-seca-na-zo
na-oeste.html Acesso em 16/4/15.

7. Preencha as lacunas com uma palavra ou expressão que faça referência às palavras e
expressões sublinhadas.

Exemplo:

Os candidatos deverão apresentar carteira de identidade e carteira de trabalho no dia da prova.


Sem esses documentos não poderão participar do processo seletivo.

a) O novo presidente deverá investir mais recursos em duas : saúde e


educação.
46

b) Paulo e João irão fazer parte da equipe de natação que participará dos próximos jogos
olímpicos. Foram escolhidos porque são com ótimo desempenho.

c) A raiva e o ódio são que não engrandecem o homem.

d) A PUC e a UFRJ são de ensino superior reconhecidas


internacionalmente.

e) Carlos e João estão disputando a vaga de contador. Os dois


são competentes e honestos.

f) O doente não seguiu adequadamente as do médico: tomar muito


líquido e descansar.

g) O diretor entregou aos funcionários uma lista de : visitar o cliente,


verificar o material em estoque, atualizar cadastro de fornecedores.

Coesão Sequencial

1. Sequenciação com mecanismos de recorrência

a. recorrência de termos

“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não deveria...


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e não ter outra vista que não
as janelas ao redor. E porque não tem outra vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E
porque não olha pra fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre
as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece
o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.” (Marina Colasanti)

b. recorrência de estruturas (paralelismo sintático)

“Sou bravo, sou forte,


Sou filho do Norte,
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.” (G. Dias)

“Você é meu caminho


meu vinho
meu vício.” (Caetano Veloso)

c. recorrência de recursos fonológicos (segmentais e suprassegmentais)


(exemplos em itálico e negrito, acima)
47

d. recorrência de conteúdos semânticos

A educação deficiente do povo tem sido um obstáculo ao desenvolvimento do Brasil.


Isto é, se o país não resolver seus problemas educacionais, os problemas econômicos tendem
a se agravar.
Só poderão sair os alunos que tiverem terminado a tarefa. Ou seja: não saiam sem
entregar o trabalho.

e. recorrência de tempo e aspecto verbal

Era um dia calmo na universidade. Devido às férias, não havia ninguém circulando
nos corredores. Os portões estavam abertos, mas não se viam as habituais filas de carros
entrando e saindo do estacionamento, que se encontrava vazio.
O chefe da segurança fazia sua ronda de rotina quando foi surpreendido por uma moça
que saiu de um dos banheiros femininos, gritando em visível desespero. O vigilante interpelou
a moça, e ela, quando conseguiu se acalmar um pouco, explicou que tinha visto uma barata no
banheiro.
2. Sequenciação sem procedimentos de recorrência

a. relações lógico-semânticas

* condicionalidade
Se encontrar Teresa, darei a ela o recado.

* causalidade
Fiz uma sobremesa especial porque vou receber visitas para o jantar.

* temporalidade
Quando o pai entrou, todos se calaram.
Depois que se formou, Ângela foi morar no interior.

* disjunção
Você vai mandar um cartão ou telefonar para Alice no aniversário dela?

* modo
Sem levantar a cabeça, a criança ouviu as recriminações.

* mediação
Comprei creme de leite e chocolate para fazer uma sobremesa especial.

* conformidade
O réu agiu conforme o advogado havia determinado.

*proporção
À medida que as eleições se aproximam, o ambiente de polarização vai ficando mais tenso.
Quanto mais conhecimento adquirimos, mais complexa se torna nossa visão de mundo.
48

b. relações discursivas

* conjunção
Paulo é perfeitamente qualificado para essa tarefa. Além disso, sua integridade faz dele uma
pessoa confiável.

* disjunção
Você precisa estudar mais Matemática. Ou já se esqueceu do resultado desastroso de suas
últimas provas?

* contrajunção
Esse vestido é lindo, mas é caro.
Embora esse vestido seja lindo, é caro.

* explicação
Termine logo isso, que quero ir embora.
Márcio esteve aqui, pois há uma xícara usada na pia.

* conclusão
Você deseja ser alguém na vida; portanto, trate de se dedicar mais aos estudos.

* comparação
João é tão alto quanto Pedro.

* generalização
Maria está atrasada. Aliás, ela nunca chega na hora.

* contraste
Todos têm o direito de se exaltar. Mas usar linguagem vulgar em sala de aula já é demais.
Enquanto eu me esforço, meus colegas não se empenham o mínimo.

Coesão sequencial – Exercícios

1. Reescreva cada frase duas vezes, conforme o modelo.

Caso o voto se tornasse facultativo, muitos deixariam de votar.


Caso o voto se torne facultativo, muitos deixarão de votar.
Se o voto se tornar facultativo, muitos deixarão de votar.

a. Caso a infraestrutura do país melhorasse, a economia cresceria.


49

b. Caso houvesse mais apoio aos atletas, o Brasil conquistaria mais medalhas em
competições internacionais.

c. Caso a educação básica superasse suas deficiências, o analfabetismo funcional


diminuiria.

d. Caso a criminalidade fosse combatida com mais eficiência, o Rio receberia mais
turistas.

e. Caso o uso da maconha fosse liberado, o consumo aumentaria.

2. Junte as frases de cada par em um só período, conforme o modelo.

O sistema penitenciário brasileiro é muito precário. Muitos criminosos se tornam ainda mais
violentos depois de passar pela prisão.

O sistema penitenciário brasileiro é tão precário, que muitos criminosos se tornam ainda mais
violentos depois de passar pela prisão.

a. O déficit de vagas nas penitenciárias brasileiras é muito grande. Os presos são submetidos a
condições desumanas.

b. A violência cometida por menores de idade tem aumentado muito. A adequação do ECA
tem sido questionada.

c. Existe muita reincidência entre os jovens infratores. A aplicação das medidas


socioeducativas precisa ser reavaliada com urgência.
50

d. As oportunidades de educação, cultura e lazer são muito poucas para os jovens das classes
mais pobres. O mundo do crime se apresenta para eles como uma opção convidativa.

3. Reescreva as frases construídas no exercício 2, empregando porque ou outros


conectivos que expressem causa. Faça as alterações necessárias.

4. Neste exercício, partiremos do seguinte contexto:

Um jovem que cursa o fim do ensino médio e se prepara para ingressar na


universidade está em dúvida sobre qual profissão escolher. Parentes e amigos tentam ajudar,
dando conselhos e sugerindo carreiras.

Reúna as duas frases de cada par a seguir, empregando o conectivo mas ou um de seus
sinônimos, conforme o ponto de vista indicado.

I.
Ensinar é uma atividade nobre e digna.
O professor é pouco valorizado no Brasil.

Argumentação de alguém que sugere que o jovem se torne professor:

Argumentação de alguém que sugere que o jovem não se torne professor:

II.
O jornalismo é muito desafiador e interessante.
O mercado de trabalho para jornalistas é limitado.

Argumentação de alguém que sugere que o jovem se torne jornalista:


51

Argumentação de alguém que sugere que o jovem não se torne jornalista:

III.
A medicina impõe uma rotina muito sacrificante.
Bons médicos alcançam alta remuneração.

Argumentação de alguém que sugere que o jovem se torne médico:

Argumentação de alguém que sugere que o jovem não se torne médico:

5. Reúna as duas frases de cada par em apenas uma, empregando conectivos que
expressem oposição de ideias e observando a orientação argumentativa indicada, com as
adaptações necessárias. Observe antes o exemplo:

A legalização do comércio de drogas não resolveria o problema da criminalidade.


A proibição do comércio de drogas contribui para aumentar o poder dos traficantes.

Um argumento contrário à legalização: A proibição do comércio de drogas contribui para


aumentar o poder dos traficantes, mas sua legalização não resolveria o problema da criminalidade.
OU: Embora a proibição do comércio de drogas contribua para aumentar o poder dos traficantes,
sua legalização não resolveria o problema da criminalidade.

Um argumento favorável à legalização: A legalização do comércio de drogas não resolveria o


problema da criminalidade, mas sua proibição contribui para aumentar o poder dos traficantes.
OU: Embora a legalização do comércio de drogas não resolva o problema da criminalidade, sua
proibição contribui para aumentar o poder dos traficantes.

a. A proibição do fumo em locais públicos reduz a liberdade dos fumantes.


A proibição do fumo em locais públicos é benéfica para a saúde dos não fumantes.

Um argumento favorável à proibição do fumo em locais públicos:

Um argumento contrário à proibição do fumo em locais públicos:

b. Estudar uma grande variedade de assuntos no Ensino Médio oferece ao jovem uma
visão abrangente da realidade.
52

Estudar uma grande variedade de assuntos no Ensino Médio não possibilita


aprofundar nenhum deles.

Um argumento favorável à redução do currículo do Ensino Médio:

Um argumento contrário à redução do currículo do Ensino Médio:

c. Estatisticamente, motoristas jovens se envolvem com mais frequência em acidentes.


Um jovem de 16 anos, em certos casos, pode ser mais responsável que um de 18.

Um argumento favorável à redução da idade mínima para guiar automóveis:

Um argumento contrário à redução da idade mínima para guiar automóveis:

6. Em cada texto abaixo, falta uma frase, na linha em branco no início do terceiro
parágrafo. Leia os textos e, depois, faça o que se pede a seguir.

Texto 1

Na Mauritânia, um país do noroeste da África, uma das regiões mais pobres do mundo,
quanto mais gorda, maior a chance de uma moça conseguir um casamento. Por trás de uma
cultura ancestral, existe uma prática cruel que tortura gerações e gerações de meninas: desde
pequenas, elas são obrigadas, pelas famílias, a comer muito além do que seus corpos
poderiam suportar.
Por isso é muito difícil encontrar, nesse país, uma mulher com mais de 30 anos que
não sofra com as consequências da obesidade: diabetes, pressão alta, artrite nos joelhos, além
de problemas na vesícula e nos rins. Elas começam com dificuldades para andar e, aos 50
anos, já estão completamente incapacitadas.
___________________________________________________________ As mulheres
confessam que, mesmo com dificuldades para andar e dores nas articulações, fazem de tudo
para continuar ganhando peso. Quando falta comida, todas vão atrás de remédios que fazem
engordar. São medicamentos que, se usados de forma errada, podem causar várias doenças
graves e até a morte.

Texto 2

Na Mauritânia, um país do noroeste da África, uma das regiões mais pobres do mundo,
quanto mais gorda, maior a chance de uma moça conseguir um casamento. Por trás de uma
cultura ancestral, existe uma prática cruel que tortura gerações e gerações de meninas: desde
pequenas, elas são obrigadas, pelas famílias, a comer muito além do que seus corpos
poderiam suportar.
53

Por isso é muito difícil encontrar, nesse país, uma mulher com mais de 30 anos que
não sofra com as consequências da obesidade: diabetes, pressão alta, artrite nos joelhos, além
de problemas na vesícula e nos rins. Elas começam com dificuldades para andar e, aos 50
anos, já estão completamente incapacitadas.
_____________________________________________________ Antigamente, tribos
inteiras atravessavam o deserto atrás de pasto para os animais. Hoje, as crianças vão para a
escola, e as mães ficam nas tendas enquanto os maridos alimentam os rebanhos. Entidades de
direitos humanos vêm brigando para acabar com a tradição que tortura meninas em pleno
século 21. Campanhas alertam para os perigos da obesidade, e a prática de exercícios é
incentivada.

Meninas são obrigadas a engordar em país africano para conseguir se casar. Fragmentos adaptados.
Disponível em
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1680997-15605,00-MENINAS+SAO+OBRIGA
DAS+A+ENGORDAR+EM+PAIS+AFRICANO+PARA+CONSEGUIR+SE+CASAR.html Acesso
em 11/9/15.

A frase que falta em cada texto é constituída pelas seguintes orações:

● A cultura da obesidade persiste como uma obsessão.


● A vida desse povo mudou muito nas últimas décadas.

Unindo essas duas orações, construa frases para completar os textos.

Você deve construir duas alternativas para cada texto: uma com o conectivo mas, e outra
com o conectivo embora. Observe a adequação contextual das frases construídas, de acordo
com a orientação argumentativa dos textos.

Frases alternativas adequadas para completar o Texto 1

● com mas:

__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
● com embora:
54

__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________

Frases alternativas adequadas para completar o Texto 2

● com mas:

__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
● com embora:

__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
7. Reescreva as frases, empregando conectivos de modo a explicitar a relação de
sentido entre as duas orações. Quando houver mais de uma possibilidade, apresente-as todas.
Veja o exemplo:

Não tendo notícias do filho, Julieta se desesperava.


Quando não tinha notícias do filho, Julieta se desesperava.
Se não tivesse notícias do filho, Julieta se desesperava.
Porque não tinha notícias do filho, Julieta se desesperava.

a. Terminando o trabalho, você pode sair.

b. Encontrando Teresa, dê a ela o meu recado, por favor.

c. Trabalhando com disciplina e dedicação, qualquer estudante pode tirar boas notas.

d. Trabalhando com disciplina e dedicação, Paula conseguiu melhorar suas notas.

e. Trabalhando com disciplina e dedicação, Paula conseguiria melhorar suas notas.


55

8. As relações lógicas não foram expressas de forma adequada nas frases abaixo.
Reescreva as frases, empregando os mecanismos de coesão adequados para expressar essas
relações.

a. Todos confiaram nos dados do relatório da Anistia Internacional, sendo a mais


respeitada organização de defesa dos direitos humanos do mundo.

b. Criticando o corte de verbas para a educação, o ministro foi substituído.

c. A cada ano aumenta o número de homicídios nas grandes cidades, havendo pouco
investimento em segurança pública.

d. Os jovens têm buscado novas opções profissionais, sendo o mercado de trabalho


extremamente competitivo.

e. O analista político criticou o silêncio do presidente, tendo sido um de seus principais


defensores quando surgiram as primeiras denúncias de corrupção no governo.

9. Relacione todas as ideias das sentenças abaixo, de modo a compor um pequeno texto
com no máximo três períodos. Faça as alterações necessárias.

- A vivenda dos gorilas em Nova Iorque é um exemplo de como os jardins zoológicos


mudaram desde o século XVIII.
- Os primeiros parques que abrigavam animais foram construídos no século XVIII.
- Os parques atuais aposentaram as jaulas escuras e exíguas.
- Os animais vivem hoje em um ambiente mais natural.
- Os parques atuais dão um show de cenografia e tecnologia.
- Os ambientes selvagens são reproduzidos em detalhes para que o visitante possa sentir-se
como se estivesse, de fato, na Floresta Amazônica, na savana africana ou na selva de
Bornéu.
56

Gêneros textuais

LPIn Aula 12

Fragmentos de
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela
Paiva e outros (orgs.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p.19-36.

“Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para
referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica.” (p.22-23)

Exemplos:

● Reunião de condomínio
● Sermão
● Carta comercial
● Romance
● Bilhete
● Reportagem jornalística
● Aula expositiva
57

● Horóscopo
● Bula de remédio
● Cardápio de restaurante
● Piada
● Conversação espontânea

“Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos
situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos.” (p.25)

“(...) os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida


cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar
as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação
incontornáveis em qualquer situação comunicativa.” (p.19)

“A tecnologia favorece o surgimento de formas inovadoras, mas não inteiramente


novas.”
Por exemplo:
● telefonemas
● e-mails

“(...) os gêneros são modelos comunicativos. Servem, muitas vezes, para criar uma
expectativa no interlocutor e prepará-lo para uma determinada reação. Operam
prospectivamente, abrindo o caminho da compreensão (...).” (p.33)

“Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística, e sim
uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações particulares.”
(p.29)
Exemplos de gêneros acadêmicos

● Monografia
● Dissertação
● Tese
● Artigo
● Projeto
● Relatório
● Palestra
● Conferência
● Resenha
58

O resumo
LPIn Aula 16

Resumo é a apresentação sucinta, compacta, dos pontos mais importantes de um texto.


Seu objetivo é apresentar com fidelidade ideias ou fatos essenciais contidos num texto,
visando fornecer elementos que dispensem a consulta do texto original.
O resumo deve ser redigido em linguagem objetiva e impessoal, sem qualquer juízo ou
apreciação crítica sobre o mérito ou as falhas do trabalho (isto compete às resenhas críticas).
Repetições de frases ou de trechos do original devem ser evitadas tanto quanto possível.
Em relação à sua organização, de modo geral respeita-se a ordem em que as ideias ou
fatos são apresentados, dando destaque para a ideia central, sem se descuidar das ideias
secundárias. O resumo sempre é constituído por um só parágrafo, independentemente de sua
extensão.

ETAPAS DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS


1) Ler o texto pela primeira vez para familiarizar-se com o tópico tratado.
2) Ler os parágrafos do texto, buscando identificar a(s) ideia(s) principal(is) de cada um.
4) Eliminar informações não relevantes e elementos redundantes.
5) Generalizar as ideias do texto.
6) Agrupar as ideias conforme suas relações de sentido.
7) Adaptar a linguagem devido aos agrupamentos realizados.
59

Um recurso que pode auxiliar a produção do resumo é a construção de um esquema do texto


original. Para isso, deve-se sublinhar as expressões-chave de cada parágrafo e organizá-las
considerando a estrutura lógica do assunto e as relações de subordinação de ideias.

EXEMPLO

Inflação e crescimento econômico

A inflação tem efeitos nocivos na economia. Primeiro, reduz o poder de compra dos
indivíduos – quando os preços aumentam, eles não conseguem mais comprar a mesma
quantidade de bens. Em resultado, as pessoas despendem recursos para reduzir esse
efeito. Uma das formas mais utilizadas para tanto é recorrer a aplicações financeiras
oferecidas pelo sistema bancário, que protegem o dinheiro da corrosão inflacionária. Não
surpreende que o tamanho do sistema bancário numa economia com altas taxas de inflação
possa ser até duas vezes maior do que numa economia com estabilidade monetária.
Portanto, um dos custos da inflação é o desperdício de recursos para se defender dela, os
quais poderiam ser utilizados com objetivos mais produtivos.
Em segundo lugar, a inflação concentra a renda. As camadas mais pobres da
população, por não terem acesso ao sistema bancário, encontram mais dificuldade para se
defender dos efeitos da inflação no seu poder de compra.
Por fim, a inflação aumenta as incertezas na economia. Os preços dos diversos produtos
– sejam insumos comprados pelas empresas, sejam bens comprados pelos consumidores –
mudam o tempo todo, com constantes alterações nos preços relativos (o preço de um bem
em relação aos dos outros). Essa situação torna mais difícil para as empresas, por exemplo,
estimar os seus lucros, o que acaba por inibir os investimentos. (214 palavras)

(MOURA, M.; ANDRADE, E. Macroeconomia. São Paulo: Publifolha, 2003. Coleção Biblioteca
Valor. p.63.)
Esquema:

Inflação 🡪efeitos nocivos na economia:


- reduz poder de compra dos indivíduos 🡪 pessoas buscar proteger o dinheiro c/ aplicações
financeiras 🡪 recursos não empregados com objetivos produtivos.
- concentra a renda: camadas pobres sem acesso ao sistema bancário – recursos
desprotegidos 🡪 redução de poder de compra.
- aumenta as incertezas na economia: grande variação nos preços dos produtos 🡪
dificuldade de as empresas estimarem lucros 🡪 redução de investimentos.

Texto resumido: A inflação provoca efeitos nocivos na economia. Primeiro, reduz o poder de
compra dos indivíduos. Para minimizar as perdas provocadas pela inflação, as pessoas
concentram seu dinheiro em aplicações financeiras; desse modo, recursos financeiros deixam
de ser usados com objetivos produtivos. A concentração de renda é outro efeito da inflação,
pois os mais pobres, por não terem acesso ao sistema bancário, ficam com seus recursos
desprotegidos e perdem poder de compra. Um terceiro efeito é o aumento das incertezas na
economia; diante da inconstância dos preços, as empresas não conseguem estimar lucros e
reduzem seus investimentos. (96 palavras)

EXERCÍCIOS
60

1) Uma das estratégias para produzir um resumo é identificar a ideia-tópico dos parágrafos do
texto. Sublinhe, em cada parágrafo abaixo, a ideia central.

a) Para contar uma história, é preciso saber como se faz... Afinal, nela se descobrem palavras
novas, se depara com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... se capta o ritmo, a
cadência do conto, fluindo como uma canção... E para isso, quem conta tem que criar o clima
de envolvimento, de encanto... Saber dar as pausas, o tempo para o imaginário de cada criança
construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua
floresta, vestir a princesa com a roupa que está inventando, pensar na cara do rei... e tantas
coisas mais... (Fanny Abramovich. Por uma arte de contar histórias)

b) Brasília, 16/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - Os avisos estão espalhados pelos aeroportos e
postos de combustíveis: mantenha o celular desligado durante o voo ou enquanto o veículo
estiver sendo abastecido. A partir da dissertação de mestrado desenvolvida pela tecnóloga em
saúde Suzy Cristina Cabral, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(Feec) da Unicamp, é bem provável que o mesmo procedimento passe a ser adotado por
médicos e enfermeiros ou pelas pessoas que ingressam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
de um hospital para visitar um parente. De acordo com o estudo, pioneiro na área no país e
um dos poucos feitos na América Latina, as ondas eletromagnéticas emitidas pelos telefones
móveis podem interferir no funcionamento dos equipamentos médicos, o que pode representar
um risco aos pacientes. (Uso de celular em hospital representa risco para pacientes.
http://www.radiobras.gov.br/ct/)

c) Há várias maneiras de fazer uma classificação das línguas, mas os linguistas atuais
consideram como mais desejável a classificação do tipo genético, só recorrendo a outras
quando não há dados suficientes para realizá-la. A classificação do tipo genético consiste em
reunir, numa só classe, as línguas que tenham tido origem comum numa língua anterior. Essa
língua anterior é reconstruída de tal maneira pelos linguistas que de seus vocábulos se possam
fazer derivar, através de leis fonéticas, os vocábulos das línguas atuais que constituem a
referida classe. Desse modo, as línguas que têm uma origem comum são todas reunidas numa
família. As famílias que apresentam certas afinidades são agrupadas num bloco. Os blocos
que apresentam certas afinidades são, por sua vez, colocados num mesmo filo. Com base
nesse critério, os linguistas se esforçam para conseguir incluir as línguas ainda não
classificadas numa família, as famílias isoladas num bloco e assim por diante. Tal trabalho
exige que o conhecimento das línguas a serem classificadas vá além de uma mera lista de
palavras, devendo haver também um conhecimento profundo da gramática dessas línguas.
(MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo: HUCITEC; Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1986.)

2) Complete o esquema e elabore o resumo do texto abaixo (em no máximo 90 palavras).

À procura de água doce


Temos de procurar água doce nos locais onde ela se encontra. Para tanto, existem
dois processos possíveis, e apenas dois: o primeiro é a dessalinização da água dos mares;
o segundo, o aproveitamento das únicas reservas de água doce que existem, o gelo das
regiões polares, formado pela acumulação e compressão das neves caídas durante
milênios.
61

A dessalinização da água do mar é um processo muito caro. Já a produção de água


doce através do transporte de icebergs é economicamente competitiva e realizável.
Os icebergs são formados por água doce tão pura que suas características chegam
a assemelhar-se às da água destilada. Calcula-se que mais de 10 trilhões de metros
cúbicos de água em forma de icebergs perdem-se atualmente na Antártida.
Mas por que ir buscar icebergs no Pólo Sul, e não no Pólo Norte?
Em primeiro lugar, porque os icebergs árticos têm formas irregulares e são
perigosamente instáveis. E em segundo lugar,porque provêm de geleiras de montanha( da
Groenlândia, por exemplo) e por isto nunca têm o volume necessário. Os icebergs
antárticos, ao contrário, são “tabuladores”, têm geralmente forma regular e grande volume.
(184 palavras)
(Antologia de O Correio, 40º aniversário da Unesco,jul/ago 86,n. 78.p.19)

ESQUEMA:

Temos de procurar = custo:


água doce onde através de
ela se encontra 2 processos = custo:

Por que buscar


icebergs no Pólo Sul
e não no Pólo Norte

Fonte: http://www.humanas.unisinos.br/pastanet/arqs/0062/0480/tecnica_do_resumo+exercicios_2002-2.doc
3) Comente os problemas do resumo produzido para o texto abaixo.

Lasar Segall: um museu de portas abertas


É bem provável que grande parte dos frequentadores de museus no Brasil não procure
voluntariamente essa instituição cultural. Ao contrário, as visitas a museus, no Brasil, parecem estar
invariavelmente associadas a trabalhos e obrigações escolares, em excursões “protegidas” por uma
escolta de professores e funcionários em missão obrigatória.
É compreensível, então, que nessas circunstâncias reste pouca simpatia de parte do estudante
para com o acervo dos museus; o resto dessa disposição vai ser pulverizado por todo um aparato que
sugere quais devem ser as atitudes e comportamentos adequados ao ambiente. Ao visitante dos
museus é transmitida a noção de que nesse local carregado de respeitabilidade o melhor a ser feito é
observar “muito respeito”, “pouca conversa” e lembrar que “esse é um lugar de contemplação”.
Atitude semelhante à que se tem numa igreja, só que nesse caso esse conjunto de normas vai
contribuir decisivamente para estabelecer preconceitos em relação à obra de arte que dificilmente
serão eliminados.
Com a autoridade institucional de que foi investido, o museu de arte representou, pela sua
condição privilegiada, uma oportunidade única para sacralizar os objetos selecionados segundo os
sonhos e fantasias de uma classe dominante. O museu, em sua forma tradicional, serviu como
elemento mistificador da criação artística, além de local onde as pessoas vão à procura de obras
“consagradas” feitas por uma elite da qual a maioria da população se sente afastada.
Tornou-se, então, uma tarefa obrigatória dos museus de arte a luta para desmistificar certos
conceitos que distanciam o trabalho artístico do “homem comum”. É o que vem sendo feito, de várias
62

formas, por várias instituições brasileiras, entre as quais o Museu de Arte Moderna (do Rio de
Janeiro), o Museu de Arte Contemporânea da USP (SP) e o Museu Lasar Segall (SP). (291 palavras)

(“Lasar Segall: um museu de portas abertas” (fragmento). Movimento no 93, 11/4/77)

Resumo: As visitas a museus são atividades obrigatórias das escolas. Os alunos, que têm
preconceitos em relação à arte, recebem orientação sobre como devem se comportar e, assim,
os professores evitam problemas nesse espaço reservado à contemplação. O museu é um
espaço dos privilegiados e os objetos artísticos são sagrados. Alguns museus vêm procurando
abrir espaço para o povo, mas isso ainda é uma utopia.

Elementos presentes em resumos de textos acadêmicos (monografias, dissertações, teses,


comunicações em congressos, artigos etc.)
- o assunto do trabalho;
- o objetivo do texto;
- o aparato ou aparelhagem de que, se for o caso, se serviu o autor nas suas pesquisas e
experiências;
- o método adotado;
- os resultados e as conclusões.

Exercícios

1. Em cada resumo acadêmico a seguir, identifique os elementos listados acima

a. O objetivo deste trabalho é descrever quantitativamente a riqueza lexical de notícias


informativas, escritas por estudantes de jornalismo, através dos indicadores de diversidade e
densidade lexical. Foi realizada uma análise comparativa do corpus de notícias elaborado por
alunos em dois períodos (no primeiro e no quarto ano) e por um grupo de profissionais. As
métricas densidade lexical e diversidade lexical foram utilizadas para comparar o corpus e,
por meio de testes estatísticos, foram analisadas as diferenças entre os grupos. Embora os
resultados mostrem diferenças, é a densidade lexical o indicador no qual os dados
63

estatisticamente significativos são encontrados, evidenciando que, ainda que os alunos


manejem um léxico amplo e variado, o nível informativo e a capacidade comunicativa de seus
textos são insuficientes se comparados ao exigido a nível profissional.

Palavras-chave: riqueza lexical; diversidade lexical; densidade lexical; discurso.

RIFFO, Karina Fuentes; OSUNA, Sergio Hernández e LAGOS, Pedro Salcedo. Descrição da
diversidade e densidade léxicas em notícias escritas por estudantes de jornalismo. Rev. bras. linguist.
apl. [online]. 2019, vol.19, n.3, pp.499-528. Epub 19-Jun-2019. ISSN 1984-6398.
https://doi.org/10.1590/1984-6398201914113.

b. O objetivo deste artigo é discutir os modos de presença da subjetividade/intersubjetividade


no discurso sobre a produção textual em Língua Portuguesa em material didático brasileiro
direcionado ao Ensino Médio e aprovado no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de
2018, relacionando essa presença (ou ausência) com as práticas de escrita de gêneros.
Inicialmente, são discutidos estudos das ciências da linguagem, com enfoque nas pesquisas
realizadas no Brasil que colocam em evidência a subjetividade e/ou a intersubjetividade na
relação com a textualidade. Na sequência, aponta-se a incorporação feita em documentos
oficiais do discurso desenvolvido no contexto científico. Em seguida, analisa-se, a partir da
perspectiva dos estudos bakhtinianos, propostas de produção escrita da coleção didática
selecionada e do Manual do Professor que acompanha cada volume da coleção. Na análise,
são consideradas as noções de autoria, indícios de autoria, protagonismo e gênero.

Palavras-chave: produção de texto; subjetividade; gêneros.

MENDONCA, Marina Célia. Produção de textos em material didático para o ensino médio: questões
sobre subjetividade e gêneros. Trab. linguist. apl. [online]. 2019, vol.58, n.3, pp.1021-1050. Epub
09-Dez-2019. ISSN 2175-764X. https://doi.org/10.1590/010318135528615832019.

c. Neste trabalho, investiga-se a didatização do gênero artigo de opinião na coleção de livro


didático Português: contexto, interlocução e sentido, com vistas a identificar as estratégias de
ensino do gênero artigo de opinião e refletir sobre a proposta da obra para o seu processo de
ensino-aprendizagem. Ressalta-se a relevância do objeto de reflexão por ser o artigo de
opinião um gênero textual/discursivo que, ao ser didatizado, pode favorecer o
desenvolvimento da competência comunicativa para a tomada de decisões de interesse
coletivo, e por ter a coleção recebido destaque na avaliação do Programa Nacional do Livro
Didático (2015) como a única que tem a perspectiva discursiva de abordagem dos diversos
eixos do ensino de língua portuguesa, além de atualização dos princípios teóricos que
embasam o seu trabalho. Trata-se de uma pesquisa documental de base qualitativa e
interpretativa, cujos dados foram tratados a partir de elementos da técnica de análise de
conteúdo categorial definidas por Bardin (2009). Funda-se teoricamente no diálogo com os
pressupostos teóricos do Interacionismo Sociodiscursivo, de Bronckart (2006, 1999) e de
Schneuwly e Dolz (2004); no conceito de artigo de opinião, de Gonçalves e Higa (2012); e
nas perspectivas de produção de textos no contexto escolar, de Antunes (2009, 2003).
Evidencia-se que, embora existam estratégias que podem favorecer a elaboração do artigo de
opinião, alguns problemas são identificados no material analisado, dentre eles a ausência de
produção final articulada com o trabalho vivenciado no processo de reflexão sobre o gênero;
fragmentação de textos que apoiam a discussão; bem como falta de articulação entre
elementos que compõem o capítulo.
64

Palavras-chave: artigo de opinião; didatizações; livro didático.

SILVA JUNIOR, Lenilton Damião da e COSTA-MACIEL, Débora Amorim Gomes da. O que propõe
o livro didático de Língua Portuguesa quando didatiza o gênero Artigo de Opinião? Investigações da
obra “Português: contexto, interlocução e sentido”. Rev. bras. linguist. apl. [online]. 2019, vol.19, n.3,
pp.733-760. Epub 19-Jun-2019. ISSN 1984-6398. https://doi.org/10.1590/1984-6398201913090.

2. Produza um resumo de no máximo 300 palavras do texto abaixo. Antes faça um


esquema do texto.

O que é arte?
Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem-número de tratados de estética
debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo, procurando definir o conceito. Mas, se
buscarmos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes,
contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução
única. Desse ponto de vista, a empresa é desencorajadora: o esteta francês Étienne Gilson,
num livro notável, Introdução às artes do Belo, diz que “não se pode ler uma história das
filosofias da arte sem se sentir um desejo irresistível de ir fazer outra coisa”, tantas e tão
diferentes são as concepções sobre a natureza da arte.
Entretanto, se pedirmos a qualquer pessoa que possua um mínimo contato com a
cultura para nos citar alguns exemplos de obras de arte ou de artistas, ficaremos totalmente
satisfeitos. Todos sabemos que Mona Lisa, que a Nona Sinfonia de Beethoven, que a Divina
comédia, que Guernica, de Picasso, ou o Davi, de Michelângelo, são, indiscutivelmente,
obras de arte. Assim, mesmo sem possuirmos uma definição clara e lógica do conceito, somos
capazes de identificar algumas produções da cultura em que vivemos como sendo “arte” (a
palavra cultura é empregada não no sentido de um aprimoramento individual do espírito, mas
do “conjunto complexo dos padrões de comportamento, das crenças, instituições e outros
valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma
sociedade”). Além disso, a nossa atitude diante da ideia “arte” é de admiração: sabemos que
Leonardo ou Dante são gênios e, de antemão, diante deles, predispomo-nos a tirar o chapéu.
É possível dizer, então, que arte são certas manifestações da atividade humana diante
das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que
denomina solidamente algumas de suas atividades e as privilegia. Portanto, podemos ficar
tranquilos: se não conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas
correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas.
Infelizmente, essa tranquilidade não dura se quisermos escapar ao superficial e
escavar um pouco mais o problema. O Davi de Michelângelo é arte, e não se discute.
Entretanto, eu abro um livro consagrado a um artista célebre do nosso tempo, Marcel
Duchamp, e vejo entre suas obras, conservado em museu, um aparelho sanitário de louça,
absolutamente idêntico aos que existem em todos os mictórios masculinos do mundo inteiro.
Ora, esse objeto não corresponde exatamente à ideia que eu faço de arte.
Para me distrair um pouco, discretamente tomo emprestada do meu irmãozinho uma
revista em quadrinhos de terror. Mais tarde, visito um amigo intelectual que possui magnífica
biblioteca, e nela encontro uma suntuosa edição italiana consagrada a Stan Lee, reproduzindo
a mesma história em quadrinhos que eu havia lido há pouco num gibizinho barato. Meu
amigo me ensina que Stan Lee é um grande artista e, por sinal, a introdução, elaborada por um
professor da Universidade de Milão, confirma seus dizeres. Eu nem imaginava que uma
história em quadrinhos pudesse ter autor, quanto mais que esse autor pudesse ser chamado
artista e sua produção, obra de arte.
65

Coisa parecida acontece com um cartaz publicitário, cujo desenho original descubro
em exposição temporária de um museu. Em certa mostra de arte popular, deparo com uma
colherona de pau, tal e qual minha avó há muito tempo usava para fazer sabão de cinza numa
fazenda do interior. Um amigo meu, professor de literatura francesa, entusiasma-se pelas
memórias de Charlles de Gaulle, e me garante que o célebre estadista é também um grande
escritor. A arqueologia, que desenterrou tantas obras de arte extraordinárias, trouxe
igualmente à luz inúmeros objetos que são testemunhos históricos: dentre eles, quais são,
quais não são obras de arte?
Estas situações mostram-nos assim que, se a arte é noção sólida e privilegiada, ela
possui também limites imprecisos. E a questão que há pouco propusemos – como saber o que
é ou não obra de arte – de novo se impõe.
Já vimos que responder com uma definição que parta da “natureza” da arte é tarefa vã.
Mas, se não podemos encontrar critérios a partir do interior mesmo da noção de obra de arte,
talvez possamos descobri-los fora dela. Não existiriam em nossa cultura forças que
determinem a atribuição do qualificativo arte a um objeto? E aí, tudo se ilumina: como sei
que Stan Lee é um artista? Porque o professor da Universidade de Milão o afirma. Como sei
que a colher de pau de minha avó é um objeto de arte? Porque a encontrei num museu.
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui instrumentos específicos. Um
deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência e
autoridade. Esse discurso é o que proferem o crítico, o historiador da arte, o perito, o
conservador de museu. São eles que conferem o estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura
também prevê locais específicos onde a arte pode manifestar-se, quer dizer, locais que
também dão estatuto de arte a um objeto. Num museu, numa galeria, sei de antemão que
encontrei obras de arte; num cinema “de arte”, filmes que escapam à “banalidade” dos
circuitos normais; numa sala de concerto, música “erudita”, etc. Esses locais garantem-me
assim o rótulo “arte” às coisas que apresentam, enobrecendo-as. No caso da arquitetura, como
é evidentemente impossível transportar uma casa ou uma igreja para um museu, possuímos
instituições legais que protegem as construções “artísticas”. Quando deparamos com um
edifício tombado pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, podemos respirar
aliviados: não há sombra de dúvida, estamos diante de uma obra de arte.
COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 7-11. (919 palavras)
Pontuação: emprego da vírgula

LPIn Aula 13

“A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos da língua
falada. Para suprir esta carência, ou melhor, para reconstituir aproximadamente o movimento
vivo da elocução oral, serve-se da pontuação.” (CUNHA E CINTRA. p.625)

A VÍRGULA
A VÍRGULA PODE SER UMA PAUSA. OU NÃO.
NÃO, ESPERE.
NÃO ESPERE.
A VÍRGULA PODE CRIAR HERÓIS.
ISSO SÓ, ELE RESOLVE.
66

ISSO, SÓ ELE RESOLVE.


ELA PODE FORÇAR O QUE VOCÊ NÃO QUER.
ACEITO, OBRIGADO.
ACEITO OBRIGADO.
PODE ACUSAR A PESSOA ERRADA.
ESSE, JUIZ, É CORRUPTO.
ESSE JUIZ É CORRUPTO.
A VÍRGULA PODE MUDAR UMA OPINIÃO.
NÃO QUERO LER.
NÃO, QUERO LER.
UMA VÍRGULA MUDA TUDO.
ABI. 100 ANOS LUTANDO PARA QUE NINGUÉM MUDE NEM UMA VÍRGULA DA SUA INFORMAÇÃO.

Veja. 9/4/2008. p.99.

Emprego da vírgula:

a. Separar elementos de mesma função sintática em enumerações


P.ex. Estamos recolhendo roupas, remédios, produtos de higiene e alimentos não perecíveis
para doar aos desabrigados pela enchente.

Obs: Quando e, ou e nem vêm repetidas numa enumeração, costuma-se usar vírgula entre os
elementos coordenados
P.ex. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! (Olavo Bilac. A um poeta.)

b. Separar o aposto
P.ex. O Professor Junito Brandão, mestre inesquecível, foi homenageado com a construção de
uma arena teatral que recebeu seu nome.

Exercício

Empregue vírgulas para separar os apostos no fragmento de texto abaixo.

Casimiro de Abreu nasceu na localidade de Barra de São João, em 4 de janeiro de

1839, e faleceu em Indaiaçu (hoje município de Casimiro de Abreu), em 18 de outubro de

1860. Era filho natural de José Joaquim Marques Abreu abastado comerciante e fazendeiro

português e de Luísa Joaquina das Neves. O pai nunca residiu com a mãe de modo

permanente, o que acentuou o caráter ilegal de uma origem que pode ter causado bastante
67

humilhação ao poeta. Passou a infância sobretudo na Fazenda da Prata propriedade

materna. Recebeu apenas instrução primária, estudando dos 11 aos 13 anos em Nova

Friburgo. Em 1852 foi para o Rio de Janeiro praticar o comércio atividade que lhe

desagradava e a que se submeteu por vontade do pai, com o qual viajou para Portugal no

ano seguinte. Lá, em 1856, na revista Ilustração Luso-Brasileira, saíram os primeiros

capítulos de Camila recriação ficcional de uma visita ao Minho terra de seu pai.

In: O Prelo. Revista de Cultura da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro.


maio/junho/julho de 2010. Ano VIII. no 23. p.18. Fragmento adaptado.

c. Separar o vocativo
P.ex. Professora, posso entregar o trabalho na próxima aula?
Posso, professora, entregar o trabalho na próxima aula?
Posso entregar o trabalho na próxima aula, professora?

d. Separar elementos repetidos


P.ex. Explicou tudo, tudo.
Já disse que não, não e não.

e. Separar o adjunto adverbial antecipado (pode-se dispensá-la quando o adjunto


adverbial é de pequena extensão – p. ex. um advérbio)
P.ex. Formou-se uma grande fila diante das portas ainda fechadas da loja.
Diante das portas ainda fechadas da loja, formou-se uma grande fila.
Formou-se, diante das portas ainda fechadas da loja, uma grande fila.
Exercício

Reescreva as frases abaixo, colocando o adjunto adverbial destacado em uma posição


diferente e empregando a pontuação adequada.

a. Os livros devem ser deixados sobre a mesa após a leitura.

b. Poderemos ainda encontrá-lo no escritório com um pouco de sorte.

c. O expediente será encerrado mais cedo na próxima sexta-feira por causa da festa
de fim de ano.

d. Havia uma multidão de torcedores aguardando a abertura das bilheterias em frente


ao estádio.
68

e. O chefe não relevará seu atraso sem uma justificativa convincente.

f. Separar as orações subordinadas adverbiais antepostas à principal


P.ex. Explicarei tudo a vocês quando tivermos tempo de almoçar juntos.
Quando tivermos tempo de almoçar juntos, explicarei tudo a vocês.

g. Separar elementos de valor “discursivo” (de realce, de contraste)


P.ex. Esse trabalho, de fato, está atrasado.
Você deve convidar seus primos, sim.

Exercício

Reescreva as frases abaixo, acrescentando uma das expressões sugeridas no quadro e


empregando a pontuação adequada.

sim – de fato – ao que tudo indica – aparentemente – aliás – por falar nisso – sem
sombra de dúvida – felizmente – desse ponto de vista

a. Maria é uma excelente colega e uma funcionária muito competente.

b. Os participantes poderão obter muito proveito no curso que está para começar.

c. O relatório foi redigido de acordo com as especificações.

d. Para muitos homens brasileiros, a vitória ou a derrota de seu time é decisiva para o
humor que vão ter durante toda a semana seguinte.

e. A educação deveria ser tratada como um problema urgente no Brasil.

h. Indicar a supressão de uma palavra ou grupo de palavras (em geral, o verbo)


P. ex. Na mesa, um vaso com flores.
Eu gosto de futebol; meu irmão, de basquete.
69

i. Separar orações coordenadas (salvo as introduzidas por e com o mesmo sujeito; são
separadas as introduzidas por e quando a conjunção vem repetida)
P.ex. Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho.
Maria estuda de manhã e trabalha como vendedora à tarde.
Maria estuda, e seu irmão trabalha.

j. Isolar as conjunções adversativas (porém, contudo etc.) quando deslocadas do início da


oração.
P.ex. Vá aonde quiser; fique, porém, morando conosco.

l. Isolar a conjunção conclusiva pois


P.ex. Ele já mentiu para mim uma vez; perdeu, pois, minha confiança.

m. Separar as orações intercaladas


P.ex. Não se preocupe, garantiu ele, que resolverei tudo.

n. Separar as orações adjetivas não-restritivas (“explicativas”)


P.ex. O Brasil, onde a violência é um problema cada vez mais sério, precisa reformar seu
sistema penal.

Obs: a. Os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa;
não podem, assim, ser separados por vírgula.
b. Há casos em que o emprego da vírgula não corresponde a uma pausa real na fala
(P.ex. Sim, senhor. / Não, senhora.)

EXERCÍCIOS

1. Justifique o emprego das vírgulas no fragmento de texto abaixo, tendo em vista as


situações listadas acima.

Tutancâmon, o faraó-menino, subiu ao trono com apenas 10 anos e morreu aos 19. Seu
curto reinado, que se estendeu de 1333 a.C. a 1324 a.C., não se conta entre os mais
importantes do antigo Egito, mas nenhum outro faraó exerce tanto fascínio na imaginação
moderna. O mundo ficou deslumbrado quando, em 1922, arqueólogos ingleses encontraram
sua câmara mortuária intacta. Lá estavam a múmia de Tutancâmon e todos os objetos
depositados junto a ela para ajudar o faraó a atravessar a eternidade: joias, mobiliário,
armas, textos religiosos e outros itens de valor inestimável para entender melhor o Egito de
3.300 anos atrás. (Veja. 24/2/10. p.78. Fragmento adaptado.)
70

2. Ouça a leitura em voz alta do texto e acrescente as vírgulas onde necessário.

Era uma vez uma rotina em que criança bem-criada e educada era aquela
que tinha horário para tudo e não misturava as coisas: brincar era brincar estudar
era estudar. Hoje em dia cercadas de aparelhos eletrônicos que dominam desde
cedo as crianças da era dos estímulos constantes e simultâneos são capazes de
executar três quatro cinco atividades ao mesmo tempo – e prestar pelo menos
alguma atenção a todas elas. “Parece que tenho quatro olhos e quatro ouvidos”
descreve Beatriz 10 anos que costuma conversar on-line com os amigos ouvir
música checar mensagens e ainda deixar a televisão ligada à espera de seus
programas preferidos tudo isso enquanto faz a lição de casa. Pesquisa realizada em
maio confirmou que 73% dos meninos e meninas entre 7 e 15 anos têm o hábito de
combinar um número de tarefas simultâneas que varia de três para os menores a
até oito no começo da adolescência. (Veja. 6/8/2008. p.93. Fragmento adaptado.)

3. Acrescente as vírgulas necessárias ao texto abaixo. (Os demais sinais de pontuação


foram mantidos conforme o original.)

O termo grego logos significa literalmente discurso e é com tal acepção que o
encontramos por exemplo em Heráclito de Éfeso. O logos enquanto discurso
entretanto difere fundamentalmente do mythos a narrativa de caráter poético que
recorre aos deuses e ao mistério na descrição do real. O logos é fundamentalmente
uma explicação em que razões são dadas. É nesse sentido que o discurso dos
primeiros filósofos que explica o real por meio de causas naturais é um logos. Essas
razões são fruto não de uma inspiração ou de uma revelação mas simplesmente do
pensamento humano aplicado ao entendimento da natureza. O logos é portanto o
discurso racional argumentativo em que as explicações são justificadas e estão
sujeitas à crítica e à discussão. Daí deriva por exemplo o nosso termo “lógica”.
Porém o próprio Heráclito caracteriza a realidade como tendo um logos ou seja uma
71

racionalidade que seria captada pela razão humana. Portanto um dos pressupostos
básicos da visão dos primeiros filósofos é a correspondência entre a razão humana
e a racionalidade do real o que tornaria possível um discurso racional sobre o real.
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. p.26.)

Aspectos da norma padrão

PRONOMES RELATIVOS E ORAÇÕES ADJETIVAS LPIn Aula 22

Exercício

Reescreva cada trecho sublinhado no texto abaixo, unindo as duas frases por meio do
pronome que. Antes, veja o exemplo:

Pesquisadores tentam salvar as “superfrutas” encontradas na Mata Atlântica. As


“superfrutas” estão ameaçadas de extinção.

Pesquisadores tentam salvar as “superfrutas” encontradas na Mata Atlântica que estão ameaçadas de extinção.

Os novos animais-símbolo da ameaça de extinção, segundo cientistas


Helen Briggs – BBC News
72

Já ouviu falar da cabra gnu, do macaco de orelhas vermelhas ou do monstro de Gila?


Eles podem ser os futuros ícones da conservação ambiental, de acordo com um estudo. Os
cientistas acreditam que estes animais pouco conhecidos são fundamentais para arrecadar
dinheiro para proteger ecossistemas vulneráveis.
As imagens de tigres e elefantes, que têm grande apelo junto ao público, são
frequentemente selecionadas para campanhas de arrecadação de fundos. Mas essa
abordagem tem sido criticada por negligenciar muitas outras espécies. Essas espécies
precisam da nossa ajuda.
"É hora de colocarmos alguma ciência por trás das espécies que usamos para
comercializar e arrecadar fundos para conservação — em vez de limitar nossa abordagem
em torno do que é popular ou visto como 'fofo' pelo público", argumenta Hugh Possingham,
cientista chefe da ONG The Nature Conservancy.
Para testar se uma abordagem mais científica poderia trazer benefícios mais
abrangentes para ecossistemas vulneráveis, os pesquisadores compilaram dados sobre
áreas protegidas, impacto humano e variedade de espécies. Eles identificaram lugares
prioritários para conservação no mundo e "espécies emblemáticas". As “espécies
emblemáticas” seriam adequadas para angariar fundos para eles.
"Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar um único dólar em conservação", diz
Jennifer McGowan, da Universidade Macquarie, na Austrália. "Dada a situação da crise da
biodiversidade, precisamos ser estratégicos, eficazes e eficientes no trabalho de
conservação que fazemos." As "espécies emblemáticas" são uma boa maneira de "tocar
corações e mentes", acrescenta ela, citando imagens dos recentes incêndios na Austrália
que mostram coalas feridos. "Milhões de dólares foram arrecadados — porque ninguém é
capaz de olhar para essas fotos e não ficar com o coração partido".
O estudo, publicado na revista científica Nature Communications, compilou uma lista
de centenas de mamíferos, aves e répteis. Esses mamíferos, aves e répteis podem atuar
como novas "espécies emblemáticas". Eles são carismáticos por si sós, mas muitas vezes
são deixados de lado em prol de alternativas mais icônicas.

Diponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-51626718. Fragmento adaptado.


Pronomes relativos:
que 🡪 neutro em relação ao tipo de referente
o qual (a qual / os quais / as quais), 🡪 neutro em relação ao tipo de referente
(Após preposições de mais de duas sílabas ou após locuções prepositivas, usamos o qual;
após as demais preposições, usamos que ou o qual, indiferentemente. BECHARA 1999. p.200.)
quem🡪 só para pessoas e precedido de preposição
onde 🡪 só para lugar Ex. O hospital onde nasci, mas NÃO A família onde há diálogo.
cujo 🡪 indicação de “posse” (sentido semelhante ao dos pronomes possessivos). Ex. A moça
cujos olhos são verdes (os olhos da moça / seus olhos)

Regência:

Os pronomes relativos devem sujeitar-se à regência dos nomes e dos verbos a que estão
subordinados. Antes do pronome relativo deve ser empregada, portanto, a preposição que for
exigida pelo termo ao qual o pronome estiver associado. Observe:
Não conheço a moça que mora ao lado. [Não conheço a moça. – A moça mora ao
lado.]
A notícia de que eu falei saiu no jornal. [A notícia saiu no jornal. – Eu falei da
notícia.]
A estante em que você pôs os livros caiu. [A estante caiu – Você pôs os livros na
estante]
73

EXERCÍCIOS

1. Junte as duas frases, empregando o pronome cujo (e suas flexões), conforme o modelo.

O técnico criticou a jogadora. A atuação dela foi abaixo do normal.


O técnico criticou a jogadora cuja atuação foi abaixo do normal.

a) Drummond é um poeta. Seus versos a todos comovem.

b) A casa parecia ser nova. Seu muro caiu.

c) O artista tem sido muito elogiado pela crítica. Suas obras estão expostas este mês no centro
cultural.

2. Junte as duas frases, empregando o pronome onde, conforme o modelo.

O prédio é pequeno. O colégio está instalado nesse prédio.


O prédio onde o colégio está instalado é pequeno.

a) Ele bateu à porta do apartamento. A namorada o esperava no apartamento.

b) Chapeuzinho Vermelho devia se manter afastada da floresta. Na floresta vivia o lobo mau.

c) Essa história se passa no Nordeste brasileiro. A religiosidade popular é muito forte lá.

3. Nas frases a seguir, extraídas de textos produzidos por estudantes, o pronome onde não foi
empregado corretamente. Reescreva as frases de modo a ajustá-las à norma padrão.

a. A escolha da carreira se torna mais difícil quando há a interferência dos pais, onde estes
influenciam seus filhos.

b. A decisão sobre a carreira a seguir é bem complicada e difícil, onde é preciso um


determinado tempo para refletir sobre ela.

c. A sociedade brasileira é uma sociedade alienada onde muitas vezes a tevê a manipula.

d. Os meios de comunicação estão passando por um momento de crise, onde o mais


importante é a audiência.

4. Converta as duas frases em uma, por meio de um pronome relativo. A segunda oração dada
deve ser a oração subordinada. Observe a norma culta.
74

a) O rapaz é meu primo. Você conversou animadamente com o rapaz durante toda a festa.

b) Na biblioteca, os alunos encontraram o livro. O trabalho não poderia ser feito sem o livro.

c) O passeio será no próximo domingo. Meus filhos foram convidados para o passeio.

d) Os noivos receberão os cumprimentos no salão. Os convidados devem se dirigir para lá


após a cerimônia.

e) Nós gostamos muito do restaurante. Fomos a esse restaurante após o teatro.

f) Este é o colega. O grupo vai fazer o trabalho na casa deste colega.

g) As crianças prometeram mudar de atitude. Fizemos reclamações às mães delas no mês


passado.

5. Explique a diferença de sentido entre as duas frases de cada par.

a) Os alunos da turma 22 que saíram antes da hora serão suspensos.


Os alunos da turma 22, que saíram antes da hora, serão suspensos.

b) Os japoneses que são trabalhadores ficam ricos.


Os japoneses, que são trabalhadores, ficam ricos.

c) Minha namorada que mora em Pernambuco é professora.


Minha namorada, que mora em Pernambuco, é professora.

Diferença de sentido entre orações adjetivas restritivas e não restritivas (“explicativas”)

Quanto ao sentido, as orações adjetivas classificam-se em restritivas e não restritivas


(“explicativas”). As restritivas restringem, limitam, precisam a significação do substantivo
(ou pronome) antecedente e a ele se ligam sem vírgulas. As não restritivas não restringem o
sentido do antecedente e a ele se ligam por meio de vírgulas.

Compare: Fui ao médico com minha esposa, que estava grávida.


Ainda não conheço o médico que irá operar minha esposa.

6. Nos fragmentos abaixo, empregue vírgulas para separar a oração adjetiva da principal
quando necessário, levando em conta o valor restritivo ou explicativo das orações no
contexto. (Fragmentos extraídos, com adaptações, de Veja. 18/6/08.)

a. Na África que padece o flagelo da aids Uganda é um caso notável de sucesso no


combate à doença.
75

b. Animais que sofrem amputação de membros do corpo quase sempre são


sacrificados – é a forma encontrada para evitar que tenham uma sobrevida de dor e
sofrimento.

c. Em 1965, quando Mel Brooks criou a série Agente 86, a Guerra Fria estava no
auge. Na série que sobreviveu até 1970 e se tornou um clássico Don Adams era Maxwell
Smart que fazia de tudo para não justificar seu sobrenome, “esperto”.

d. “O problema com os cristãos moderados é que eles fazem uma leitura seletiva da
Bíblia. Mas como escolher os pontos da Bíblia que vale a pena sustentar e aqueles que
devem ser rejeitados? Essa escolha é feita com base em critérios seculares. Então,
pergunto: por que não ser completamente secular?” (John Allen Paulos, matemático norte-americano,
em entrevista)

7. Passe para a língua padrão escrita as seguintes ocorrências da linguagem oral. Observe que,
em alguns casos, diferentes preposições correspondem a diferentes sentidos para a frase.

a) O cantor que eu mais simpatizo é o Roberto Carlos.


b) Esse é o emprego que ele está aspirando faz muito tempo.
c) Esse é o pacote econômico que falam tanto.
d) O homem que falei ficou de vir aqui hoje.
e) O presidente assinou hoje o decreto, em ato solene, de que tanto esperávamos.
f) A pena de morte, que ele lutou tanto, não foi aprovada.
g) Os exercícios, que os alunos reclamam tanto, são de fato úteis.
h) É essa máquina que eu tenho me incomodado tanto que eu quero vender.

(Exercício reproduzido com adaptações de Faraco & Tezza, 1992, p. 184)

8. Os fragmentos abaixo foram extraídos de textos produzidos por estudantes. Reescreva-os,


eliminando as incorreções no emprego dos pronomes relativos.

a. Conhecendo a nós mesmos e ao mundo em que vivemos, podemos visualizar a área


que desejamos estar (...)

b. A escolha da carreira não pode se basear apenas numa escolha por uma profissão
que a pessoa se identifique (...)

c. Se você for competente e realmente se esforçar naquilo em que escolheu, com


certeza será um profissional de sucesso.
76

d. A vida do ser humano possui várias fases, na qual a mais importante é a


adolescência, pois é nesta que ocorre, entre outras coisas, a escolha do futuro, onde a
maturidade e a seriedade são necessárias.

e. A coisa a fazer é buscar mais informações sobre os ofícios em que se está em


dúvida.

f. Na adolescência, além de todos os problemas por quais os jovens passam, ainda têm
de tomar uma decisão muito importante: a escolha da profissão.

g. Existe ainda a necessidade de combinar algo que a pessoa goste ou tenha habilidade
e que ao mesmo tempo dê uma boa perspectiva quanto à remuneração.

h. (...) o mais importante é ter o conhecimento de si mesmo e do leque de profissões


nas quais se pensa cursar.

i. Existe também o teste vocacional, em que testa os seus conhecimentos e dita a sua
vocação na carreira profissional.

j. O ideal é optar pela carreira na qual se tem afinidade (...)

ACENTO DE CRASE LPIn Aula 14

EXERCÍCIOS

1. Em cada frase, substitua a palavra ou expressão em negrito pela que está entre parênteses,
fazendo o emprego adequado de a (s) ou à (s). Veja os exemplos:

A professora contou uma história aos alunos. (meninas)


A professora contou uma história às meninas.

Entreguei os documentos a um funcionário no balcão. (funcionária)


Entreguei os documentos a uma funcionária no balcão.

a. Pretendo ir ao cinema no domingo. (praia)

b. Não é prudente dar ouvidos a estranhos. (pessoas desconhecidas)


77

c. Os pais devem impor limites aos jovens. (crianças)

d. Expus aos colegas todos os meus problemas. (amigas)

e. O caderno encontrado na sala não pertencia a nenhum colega nosso. (nenhuma


colega nossa)

f. Se sairmos após o meio-dia, chegaremos ao sítio muito tarde. (fazenda)

g. Segundo o contrato assinado com os alunos, o curso deve fornecer a eles todo o
material didático. (alunas / elas)

h. O palestrante começou agradecendo a todos a presença. (todas)

2. Empregue corretamente o acento de crase nas frases abaixo quando necessário, e indique os
casos em que esse emprego é opcional.

a. Não devemos dizer palavras grosseiras a crianças.

b. O professor sempre mostra lindas figuras as crianças.

c. Pedro se esqueceu de dar o recado da escola a sua mãe.

d. Pedro se esqueceu de dar o recado da escola a seus pais.

e. Durante a reunião, Ana Maria fez muitas cobranças a suas funcionárias.

f. Durante a reunião, Ana Maria fez muitas cobranças as suas funcionárias.

g. Você pode emprestar um lápis a Beatriz?

3. Preencha as lacunas com a(s) ou à(s), conforme apropriado.

A explicação para a aversão de certos homens _____ vida _____ dois pode

estar em parte nos seus genes. Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia,

descobriram que os homens portadores de mutações no gene AVPR1A, quando

casados, tendem _____ se revelar péssimos maridos. Entre inúmeras funções, o

AVPR1A ajuda _____ regular os níveis cerebrais de vasopressina, uma substância

associada _____ agressividade e _____ capacidade masculina de estabelecer


78

vínculos afetivos. O trabalho foi liderado por Hasse Walum, de apenas 27 anos e

jeitão de roqueiro. O jovem pesquisador não sabe se é portador de alterações no

AVPR1A, mas se diz totalmente fiel _____ parceira – quando tem uma.

As bases genéticas da fobia de compromisso foram identificadas pela

primeira vez em arganazes. Um tipo de rato do campo, o arganaz é, de todo o reino

animal, uma das raras espécies em que predomina _____ monogamia. Quando um

arganaz macho escolhe uma fêmea, mantém-se fiel _____ ela até o fim, ajudando

na criação dos filhotes e na defesa do ninho. Nos anos 90, pesquisadores

americanos dos Institutos Nacionais de Saúde descobriram que os roedores que

carregavam variações no AVPR1A fugiam aos padrões de um arganaz típico.

Imediatamente após o acasalamento, eles abandonavam _____ fêmeas. Agora,

Walum e sua equipe relacionaram tais diferenças genéticas _____ forma como os

homens se comportam com suas parceiras.

Fobia de compromisso. Veja. 10/9/2008. p.128-129.

4. Reescreva a frase abaixo, fazendo as substituições pedidas. Faça apenas as alterações


necessárias, e respeite a norma padrão.

Crianças atletas muitas vezes trocam as brincadeiras pelo amor ao esporte.

a. Substitua esporte por prática esportiva.

b. Substitua esporte por competições esportivas.

5. Preencha as lacunas nas frases abaixo com a, as, à ou às (frases extraídas de textos
produzidos por estudantes).

a. Muitas opiniões divergem em vários aspectos em relação ______ esse assunto.


79

b. Mesmo tendo um potencial alucinógeno menor em relação ______ outras drogas, [a


maconha] foi e continuará sendo coadjuvante na destruição de muitos lares (...)
c. (...) o usuário se expõe ______ marginalidade e ______ violência vinculada ao
tráfico de drogas, que pode vir ______ atingir fatalmente qualquer um de nós.

6. As frases abaixo foram modificadas, e suas novas versões precisam ser completadas com a,
à, as ou às. Escreva, no espaço entre os colchetes, a alternativa adequada em cada caso.

a. Os princípios diretores para a inclusão na educação, estipulados pela Unesco em


2009, fazem referência ao conjunto dos educandos e não a um tipo específico de alunos.

Os princípios diretores para a inclusão na educação, estipulados pela Unesco em


2009, fazem referência ao conjunto dos educandos e não [ ] uma classe específica de
alunos.

b. A educação inclusiva promove escolas que praticam uma educação integradora,


que se aplica à diversidade dos alunos.

A educação inclusiva promove escolas que praticam uma educação integradora, que
se aplica [ ] todos os alunos.

c. O público-alvo escolar é caracterizado por sua diversidade, não se limitando aos


alunos que têm necessidades especiais.

O público-alvo escolar é caracterizado por sua diversidade, não se limitando [ ]


crianças que têm necessidades especiais.

d. Os guias práticos da UNESCO estipulam claramente que é preciso superar a


educação de necessidades especiais em direção ao paradigma mais amplo da Educação
Inclusiva, pois se trata de adotar uma visão holística da educação para todos os educandos.

Os guias práticos da UNESCO estipulam claramente que é preciso superar a


educação de necessidades especiais em direção [ ] concepção mais ampla da Educação
Inclusiva, pois se trata de adotar uma visão holística da educação para todos os educandos.

e. Os sistemas educacionais devem ser considerados como ambientes de vida, onde


os objetivos educativos não se limitam aos conteúdos escolares, mas visam a uma
educação total da criança.

Os sistemas educacionais devem ser considerados como ambientes de vida, onde os


objetivos educativos não se limitam [ ] aprendizagem escolar, mas visam [ ] educação total
da criança.
80

CONCORDÂNCIA VERBAL LPIn Aula 20

EXERCÍCIOS

1) Reescreva as frases, substituindo o termo em destaque pelo indicado entre


parênteses e flexionando o verbo em conformidade com a norma padrão. Se houver duas
possibilidades, indique-as. (Extraído, com adaptações, de AMARAL, Emília e outros. Novas palavras.
Português – Ensino Médio. Livro do professor. São Paulo: FTD, 2003.)

a. A lembrança daqueles tempos felizes acompanhou-o por toda a vida.


(lembranças)

b. Com a explosão, não restará nem sombra do velho hotel. (ruínas)


81

c. Os moradores da periferia das grandes cidades sofrem com a falta de transporte


adequado. (população)

d. Muitos alunos apoiaram a decisão da escola. (a maioria dos)

e. Os analistas políticos previram a dificuldade que levaria ao fracasso do plano de


paz. (obstáculos)

2) Reescreva as frases, passando o sujeito para o plural e observando a norma padrão,


conforme o exemplo. (Adaptado de Laboratório de redação. p.16.)

Ocorreu nos meses de agosto e setembro uma séria crise econômica.


Ocorreram nos meses de agosto e setembro sérias crises econômicas.

a. Nesta cidade acontece muita coisa esquisita.

b. Não creio que lhe interesse tal pormenor.

c. Vai aparecer método mais eficaz do que este.

d. Para que a medida se concretizasse, bastaria mais estímulo por parte do governo.

e. Não nos coube o benefício que a lei concedia.

3) As frases abaixo, extraídas de textos escritos por estudantes, contêm erros de


concordância. Corrija-as de modo a adequá-las à norma padrão.

a. A autora soube, de forma clara e objetiva, frisar pontos simples, mas que é
essencial para um bom desempenho.

b. A memória é um dos fatores que auxiliam o redator a coordenar seu trabalho e


produzir textos que chegue a objetivos claros.

c. A prática de fazer resumos, esquemas e paráfrases são formas de memorizar


aquilo que estamos lendo.
82

d. A discussão de aspectos variados nos trazem a possibilidade de concluir o nosso


texto.

e. Este livro tem como um dos objetivos desconstruírem ideias equivocadas em


relação à escrita.

f. Cabe à escola a preocupação com a formação profissional e intelectual daqueles


que a procura.

4) Preencha as lacunas do texto abaixo com uma das palavras ou expressões nos
parênteses, de acordo com norma padrão.

A extinção de animais faz parte da evolução da vida na Terra, mas, desde que o
bicho homem resolveu dar sua contribuição a esse processo, o desaparecimento de
espécies ____________ (tem / têm) se acelerado de forma preocupante. Na semana
passada, ____________________ (foi divulgado / foi divulgada) a mais completa pesquisa
sobre a situação dos mamíferos no planeta. O quadro é o mais sombrio já desenhado sobre
essa classe de animais. Um quarto das 5.487 espécies de mamífero classificadas pela
ciência ____________________ (se encontra / se encontram) em risco de desaparecer. Isso
significa 1.141 espécies, quinze vezes mais do que o número de mamíferos
_________________ (extinto / extintos) nos últimos cinco séculos.
Alguns dos animais relacionados nesse estudo, realizado pela União Internacional
para a Conservação da Natureza, ____________________ (está ameaçado / estão
ameaçados) de desaparecer por causas naturais. É o caso do diabo-da-tasmânia, um
marsupial carnívoro que lembra um urso pequeno, que desenvolveu um tipo de câncer fatal
que contagia os exemplares da espécie através do contato físico. Segundo os cientistas,
porém, a grande maioria dos animais ameaçados ____________________ (é vítima / são
vítimas) da ação humana. “O perigo de extinção das espécies, hoje, decorre quase
exclusivamente da caça e do desmatamento, que _______________ (destrói / destroem) os
habitats”, disse a Veja o biólogo sul-africano Mike Hoffmann.
As florestas são destruídas para dar lugar à expansão urbana e à agricultura, o que
explica os altos índices de animais sob risco no sul e no sudeste da Ásia, onde 80% da
população de primatas ____________________ (pode desaparecer / podem desaparecer).
A outra grande ameaça às espécies, a caça indiscriminada, frequentemente é praticada por
total desconhecimento da importância da preservação desses animais.
83

Os mamíferos aquáticos encontram-se em situação ainda mais grave que os


terrestres. Hoje _______________ (existe / existem) informações insuficientes sobre um
terço dos mamíferos aquáticos, por isso o declínio populacional de animais como golfinhos e
baleias passa despercebido em 70% dos casos. Uma das ameaças aos mamíferos
aquáticos __________ (é / são) os ruídos provocados por equipamentos de navegação, que
_______________ (afeta / afetam) seu sistema nervoso e _______________ (interfere /
interferem) em sua comunicação.

“A longa lista dos condenados”. Veja. 15/10/2008. p.89-90. Fragmento adaptado.

5) Reescreva as frases, substituindo os verbos em negrito pelo verbo haver, em


conformidade com a norma padrão. (Extraído, com adaptações, de AMARAL, Emília e outros. Novas
palavras. Português – Ensino Médio. Livro do professor. São Paulo: FTD, 2003.)

a. Até o fim do século passado, ainda existiam alguns casarões coloniais na cidade.

b. Durante as manifestações, ocorreram choques entre a polícia e os grevistas.

c. Jamais existirão pessoas tão idealistas quanto ele.

d. Teríamos graves prejuízos se acontecessem atrasos na execução da obra.

6) Reescreva as frases abaixo, substituindo o verbo sublinhado pelo que é dado entre
parênteses e respeitando a concordância conforme a norma padrão. Não faça nenhuma outra
alteração na frase.

a. Em todo casamento há dificuldades. (existir)

b. Ocorreram distúrbios no estádio no último fim de semana. (haver)

c. Organizamos a solenidade com bastante antecedência, mas mesmo assim


temíamos que acontecessem imprevistos. (haver)
84

d. Quando os professores foram convocados para nova reunião com os pais, ficaram
apreensivos, pois tinham ocorrido incidentes desagradáveis na última. (haver)

e. Planeje seu roteiro em detalhes para que não haja contratempos na viagem.
(ocorrer)

f. Sem fiscalização intensiva nas estradas, podem acontecer mais acidentes fatais no
feriadão. (haver)

7) Reescreva as frases, passando para o plural as expressões em negrito e ajustando as


formas verbais em conformidade com a norma padrão quando for o caso. Antes, observe os
exemplos. (Adaptado de Laboratório de redação. p.17.)

Deve existir solução melhor.


Devem existir soluções melhores.

Sempre vai haver guerra.


Sempre vai haver guerras.

a. Vai haver novo encontro.

b. Não creio que vá existir problema sério.

c. Pode ter havido erro no cálculo do imposto.

d. Deveria haver tal reunião?

e. Jamais poderá existir coisa igual.

Pontuação: emprego do ponto e vírgula

LPIn Aula 24

Exemplos em 1, 2 e 3 extraídos de
QUEIRÓS, Eça de. Singularidades de uma rapariga loura. In: ____. Contos. Ciberfil Literatura Digital, março de
2002, p. 30-49. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000002.pdf.

Situações de emprego do ponto e vírgula:

1. Para separar as partes de um período das quais uma, pelo menos, esteja subdividida
por vírgulas
85

Às portas dos lados os passageiros tinham posto o seu calçado para engraxar:
estavam umas grossas botas de montar, enlameadas, com esporas de correia; os sapatos
brancos de um caçador, botas de proprietário, de altos canos vermelhos; as botas de um
padre, altas, com a sua borla de retrós; os botins cambados de bezerro, de um estudante; e
a uma das portas, o nº15, havia umas botinas de mulher, de duraque, pequeninas e finas, e
ao lado as pequeninas botas de uma criança, todas coçadas e batidas, e os seus canos de
pelica-mor caíam-lhe para os lados com os atacadores desatados.

2. Para separar, num período, orações de mesma natureza (isto é, orações coordenadas)
que tenham certa extensão

Um largo sol aclarava o génio feliz: as seges passavam, rolando ao estalido do


chicote; figuras risonhas passavam, conversando; os pregões ganiam os seus gritos
alegres; um cavalheiro de calção de anta fazia ladear o seu cavalo, enfeitado de rosetas; e a
rua estava cheia, ruidosa, viva, feliz e coberta de sol.

3. Para separar, como alternativa à vírgula, as orações coordenadas introduzidas por


conjunções adversativas (mas, porém, contudo e seus equivalentes) ou conclusivas (logo,
portanto, por isso e seus equivalentes)

[...] não era natural que elas viessem comprar, para si, casimiras pretas. E não: elas
não usavam «amazonas», não queriam decerto estofar cadeiras com casimiras pretas, não
havia homens em casa delas; portanto aquela vinda ao armazém era um meio delicado de o
ver de perto, de lhe falar, e tinha o encanto penetrante de uma mentira sentimental.

4. Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos, especialmente em leis e


regulamentos

O cliente que tiver seu CRV/CRLV roubado poderá pedir isenção do pagamento do
DUDA de 2ª via comparecendo à sede do órgão (Av. Presidente Vargas, 817, sobreloja), a
fim de abrir um processo administrativo para obtenção do mesmo, munido dos seguintes
documentos:
a) Formulário próprio, devidamente preenchido;
b) Cópia do documento de identidade;
c) Cópia do CPF ou cópia do CNPJ (Pessoa Jurídica);
d) Cópia do comprovante de residência;
e) Original e cópia do registro de ocorrência policial. (Adaptado do site do Detran)

Exercícios

1. Os fragmentos a seguir foram extraídos do mesmo conto citado anteriormente


(“Singularidades de uma rapariga loura”, de Eça de Queirós). Em cada um deles, o autor
empregou um ponto e vírgula – o qual, na transcrição para este exercício, foi substituído por
uma vírgula. Identifique e circunde a vírgula que poderia, com vantagens, ser substituída por
ponto e vírgula em cada fragmento, restabelecendo a versão original do texto.

a. Lembrava-lhe o seu quarto, e a velha carteira com fecho de prata, e a miniatura de


sua mãe, que estava por cima da barra do leito, a sala de jantar e o seu velho aparador de
pau-preto, e a grande caneca de água, cuja asa era uma serpente irritada.
86

b. Não se atreveu a falar, explicar, pedir, desceu, pé ante pé.

2. As frases a seguir poderiam ser usadas para aconselhar ou orientar um estudante que
estivesse iniciando um curso a distância. Reescreva-as, deslocando a conjunção conclusiva
para outra posição diferente do início da segunda oração, e empregando o ponto e vírgula.
Antes, veja o exemplo:

Você quer se formar rápido, portanto mantenha a regularidade nos estudos.

Você quer se formar rápido; mantenha, portanto, a regularidade nos estudos.

OU

Você quer se formar rápido; mantenha a regularidade nos estudos, portanto.

a. As disciplinas têm muito conteúdo, portanto a observância do cronograma de


atividades é indispensável ao bom aproveitamento do curso.

b. A sensação de isolamento pode prejudicar sua motivação, por isso procure


interagir o máximo possível com os colegas e tutores.

c. Os prazos para entrega de trabalhos são improrrogáveis, por conseguinte é


necessário se organizar para cumpri-los.

3. Nos fragmentos de texto abaixo, algumas vírgulas poderiam ser substituídas por
ponto e vírgula com melhor resultado. Indique esses casos.
(Fragmentos adaptados de Casa de pensão, de Aluísio Azevedo)

a. Em casa do velho Vasconcelos havia, segundo o costume da província, grande


número de criadas, só no “quarto da goma”, como lá se diz, reuniam-se quatro ou cinco.
Umas costuravam, outras faziam rendas, assentadas no chão, defronte da almofada de bilros,
outras, vergadas sobre a “tábua de engomar”, passavam roupa a ferro.

b. Tirou distinção nos primeiros exames. A mãe quase morre de alegria. Lourenço quis
solenizar o acontecimento com um banquete correlativo, mas as suas condições de fortuna já
não eram as mesmas, o dinheiro ia minguando de um modo assustador.
87

c. Mme. Brizard parecia ter um filho em risco de vida, Coqueiro declarou, cheio de
dedicação, que não deixaria o “pobre amigo” ir assim desamparado para uma casa de saúde
ou um hotel, Amelinha choramingava ao lado da cama do enfermo, e, quando se achava a sós
com este, beijava-lhe as mãos, afagava-lhe os cabelos e soluçava palavras de ternura.

d. Amâncio tinha grande inapetência e torcia o nariz aos alimentos, mas a pequena
metia-o em brios, chamando-lhe piegas, fracalhão, dizendo que ele “parecia um neném e que
precisava levar uns petelecos para tomar juízo”.

e. Nini estava melhor que nunca, tranquila, havia comido regularmente e mostrava-se
até mais satisfeita e mais comunicativa, ao dar, porém, com Amâncio, que entrara no quarto
com o seu risinho de boa amizade, abriu de repente a estrebuchar na cama, bramindo
impropérios e atassalhando as roupas.

4. Pontue os fragmentos abaixo, empregando, pelo menos uma vez, cada um dos sinais
indicados.
(Fragmentos de
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2020/06/morte-de-miguel-parece-fe
ita-para-meditar-sobre-o-sistema-brasileiro-de-castas.shtml)

a. Empregue dois-pontos, ponto e vírgula e vírgula.

A história parece feita para meditar sobre o sistema brasileiro de castas a


necessidade de Mirtes levar o filho para o trabalho a pouca paciência (como disse a própria
Mirtes) de Sarí que deixou Miguel subir pelo elevador o estranho paralelo entre o cuidado
com a cachorra e o não cuidado com Miguel.

b. Empregue travessão e ponto e vírgula.

Imaginemos que minha mãe saísse e eu fizesse uma birra e me enfiasse no elevador
para correr atrás dela a empregada me puxaria pelo braço ou pela orelha para fora do
elevador e talvez acrescentasse um tapa na bunda final tudo sem medo de que eu a odiasse
por isso e sem medo que minha mãe discordasse dela.

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