Você está na página 1de 30

CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGiA CLÍNICA


MOTRICIDADE ORAL

ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
COM BEBÊ PREMATURO:
ESTIMULAÇÃO SENSÓRIO MOTORA ORAL

Thatiana Bonifácio

São Paulo

1999

1
RESUMO

ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA COM BEBÊ PREMATURO: Estimulação

Sensório Motora Oral

Neste estudo teórico foi abordado o caráter transdisciplinar da atuação com

recém nascidos de alto risco, esclarecendo que a ação fonoaudiológica vai muito mais

além do que se esperava. Os problemas de incoordenação de sucção e deglutição

são beneficiados com a estimulação sensório motora oral pois propicia condições de

desenvolvimento ao recém nascido, não só a nível motor oral, mas também global.

O fonoaudiólogo que deseja trabalhar com recém nascidos de alto risco precisa

adquirir também conhecimentos de neonatologia que lhe permitirão assumir seu

trabalho com segurança e eficiência.

Deve-se ressaltar que essa atuação não se limita ao período de intervenção no

berçário, devendo se estender após a alta hospitalar, a fim de detectar, o mais

precocemente, quadros que venham a desencadear distúrbios da comunicação.

Desta forma, observou-se que outros profissionais como fisioterapeutas,

terapeutas ocupacionais e psicólogos passaram a integrar as equipes de assistência

neonatal em hospitais. Assim, espero estar contribuindo com este trabalho para

aqueles que estão ingressando neste campo de atuação.

2
SUMMARY

Speech Therapy Performance in the Nursery: Sensorial Motorial Oral

Stimulation in High Risk Neo- Natis

In this theoretical study, the transdiscipline aspect of the performance with high

risk neo-natis was raised, clarifying that the speech therapy performance goes beyond

the usual expectations. The problems of lack of coordination of suction and deglutition

are improved by the sensorial motorial oral stimulation, for itenables the conditions of

development to the neo-natis, not only concerning the motorial oral aspect, but also as a

global aspect.

The speech therapist that wishes to work with high risk neo- natis must also

acquire knowledge on neonathology, that will enable him to assume his work with safety

and effectiveness.

Thus it must be mentioned that this performance is not limited to the period of

intervention in the nursery, having to be extended after the discharge from hospital, in

order to detect, as soon as possible, features that may cause disturbs of

communication.

Thus, it is observed that other profssionals as physiotherapists, occupational

therapists and psychologists began to integrate the assistant neo- natis teams in

hospitals. So, I hope to be contributing with this work for those who are entering this

field of performance.

3
“ A lei natural não dividiu o ser humano em três partes: médica, dentária e psicológica.
Se a sociedade fez esta divisão para a possibilidade de prestar serviços de saúde,
então cada grupo profissional carrega a especial responsabilidade de estar
suficientemente informado sobre os outros, de tal forma que a integração dos cuidados
de saúde seja a meta almejada”.

(Charles Berman)

4
Dedico este trabalho aos meus queridos pais José Carlos e Silvia, por terem com seus
esforços, amor e dedicação, proporcionado a conclusão de mais uma etapa da minha
vida.
Gostaria de mostrar-lhes toda minha gratidão e amor e dizer-lhes o quanto são
importantes por fazerem a minha vida muito feliz.
Agradeço a Deus por ter sempre vocês ao meu lado.

5
Agradecimentos

Agradeço a Orientadora Miriam, pela dedicação e paciência, em nos ensinar a


orientar, contribuindo para a realização deste trabalho.
Agradeço as minhas amigas que compartilharam todos os momentos de
preocupações e alegrias dos quais sentirei saudades.
Agradeço toda a minha família por todo apoio e compreensão que tiveram por mim.

6
SUMÁRIO

Introdução......................................................................................... 8

Discussão Teórica............................................................................ 10

Considerações Finais....................................................................... 24

Referências Bibliográficas................................................................ 25

Anexos..............................................................................................

7
INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento tecnológico assegurado, a sobrevivência de recém-

nascidos cada vez menores e mais imaturos, passou a existir uma preocupação

crescente dos profissionais da área de desenvolvimento com a qualidade de vida

dessas crianças. No entanto, sabemos que o tempo de permanência nesta Unidade de

Terapia Intensiva pode trazer conseqüências graves para o seu desenvolvimento

neuropsicomotor. Por isso, atualmente há uma preocupação em atender esses recém-

nascidos, considerando sua adaptação ao meio e intervindo de forma global, atuando

diretamente ao neonato, estimulando todas as vias sensoriais e intervindo no

ambiente, tornando-o mais favorável possível.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1977) toda criança nascida

antes de completar 37 semanas é considerada pré-termo. O bebê pré-termo,

dependendo da sua idade gestacional e de seu estado clínico geral pode apresentar

uma instabilidade térmica, imaturidade pulmonar e gastrointestinal, sucção débil, além

de outras intercorrências.

Estes aspectos, aliados a pouca estabilidade da cabeça, ombros e pescoço

dificultam a coordenação entre as funções de sucção, deglutição e respiração destes

bebês, aumentando as chances de aspiração de líquido durante a alimentação.

Intervir precocemente em neonatos de alto risco ou em prematuros, nem sempre

significa estimulá-los. O bebê tem que estar responsivo para receber estímulos do

meio ambiente e também deve ter uma capacidade mínima para controlar e manter

seu sistema fisiológico.

8
O fonoaudiologo é um profissional capacitado para realização de estimulação

oral em recém-nascidos de alto risco, bem como amamentação, tipos de chupeta e

bicos ortodônticos adequados, proporcionando um melhor desenvolvimento ao bebê,

além de realizar avaliação audiológica, afim de evitar ou minimizar as conseqüências

futuras que os neonatos podem vir apresentar.

Assim, nesta pesquisa teórica iremos enfatizar o trabalho fonoaudiológico em

berçários e abordar os aspectos importantes e necessários para que este seja

realizado de maneira eficaz, sendo que esta caracterização reflita a necessidade de

conciliar os aspectos clínicos e científicos do desenvolvimento do recém-nascido pré-

termo.

9
DISCUSSÃO TEÓRICA

O recém nascido (RN) pode ser classificado de acordo com a idade

gestacional, o peso de nascimento e a combinação de ambos os fatores, o que

permite uma avaliação antecipada da morbidade neonatal e, consequentemente a

programação dos cuidados a serem prestados.

Em relação à idade gestacional Battaglia e Lubchenco, descritos por Ramos e

Leone (1986), consideram que o grupo de crianças nascidas entre 37 e 38 semanas

estão potencialmente sujeitas a problemas neonatais.

Quanto ao peso de nascimento, a Organização Mundial de Saúde classificou

como RN de baixo peso as crianças com peso inferior a 2500 gramas. Atualmente o

desenvolvimento de técnicas e equipamentos mais especializados e o melhor

conhecimento da fisiologia fetal e neonatal permitem a sobrevida de crianças cada vez

menores devido a esta nova demanda e, surge uma nova classificação pelo peso:

- RN de baixo peso - peso inferior a 2550 gramas;

- RN de muito baixo peso - peso inferior a 1500 gramas;

- RN de baixo peso extremo - peso inferior a 1000 gramas;

- RN micro prematuro - peso inferior a 800 gramas.

Uma outra proposta, baseada somente na idade gestacional foi apresentada

por Uscher, que por motivos didáticos agrupou o RN pré-termo em :

- grupo 1 ou pré termo limítrofe - RN com 37 semanas;

- grupo 2 ou pré termo moderadamente prematuro - RN entre 31 a 36 semanas.

- grupo 3 ou extremamente prematuro - RN entre 24 a 30 semanas.

10
Paixão, Mancini, Figueiredo, Ferreira, Gontijo (1994) relatam o peso e a idade

gestacional do nascimento como fatores que caracterizam o bebê de risco,

constituindo determinantes importantes no prognóstico destas crianças.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) , em 1970, estabelece o conceito

de prematuridade: “prematuro é todo RN vivo que nasce antes de 38 semanas de

gestação, incluindo a 37 semana completa”.

Os grandes avanços na área médica e hospitalar contribuíram para um

consistente declínio de mortalidade neonatal. Recém-nascidos (RN) com 26 semanas

de idade gestacional começaram a se tornar viáveis. Segundo Guerpelli (1989), alguns

bebes passaram a sobreviver em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por um período

de até 3 meses, durante os quais seu sistema nervoso tem de se desenvolver sob

condições não fisiológicas e freqüentemente adversas, exposto a grande risco e

agressões.

As primeiras UTIs neonatais se constituíram por volta de 1960 e o termo RN de alto

risco foi utilizado pela primeira vez em 1950.

Kopelman, descrito por Hernandez (1996) afirma que o termo RN de alto risco

serve para designar aqueles que por condições patológicas materna ou da própria

criança estão em risco de morte ou sobrevivência com seqüela, devendo permanecer

no berçário sob rigoroso controle de enfermagem e de médicos especializados, num

local com aparelhagem apropriada para os cuidados necessários.

A atuação fonoaudiológica em berçário neonatal se caracteriza pela presença,

detecção e minimização de alterações do desenvolvimento neuro-psico-motor e da

audição destes recém-nascidos (RNs).

11
Dentre as alterações que acometem os RNs de alto risco, as questões

nutricionais e de alimentação são freqüentes. Para Hernandez (1996), o

estabelecimento de uma alimentação oral, funcional e segura é um importante aspecto

nos cuidados com os bebês de risco, pois esta é uma das condições para a alta

hospitalar.

Conforme aponta Morris (1987), a intervenção terapêutica é constituída por um

tripé: o conhecimento do desenvolvimento normal, a avaliação e o tratamento

propriamente dito.

O conhecimento do desenvolvimento normal fornece subsídios tanto para a

avaliação como para o programa terapêutico. Avaliação e tratamento estão

imbricados, pois durante a avaliação levantamos hipóteses e estabelecemos

estratégias de tratamentos compatíveis. O tratamento inclui observações avaliativas

que nos permitem verificar a acertividade de nosso diagnóstico e corrigir o curso de

tratamento.

Desenvolvimento Oro-Motor Normal

O conhecimento do desenvolvimento oro-motor normal é vital para o

fonoaudiólogo que se propõe a trabalhar com a questão da alimentação.

Segundo Morris (1987), o desenvolvimento sensório-motor-oral não está

desligado do funcionamento sensório-motor global e obedece a alguns princípios que

são eles : planos do desenvolvimento da mobilidade, mobilidadeXestabilidade,

dissociação de movimentos, noção de linha média, ritimicidade e aspecto sensório da

movimentação.

12
O mesmo autor afirma que as estruturas oro-faríngeas do RN diferem das dos

adultos, garantindo o desempenho de funções necessárias à sua sobrevivência.

O RN é um pseudo retrognata, ou seja, sua mandíbula é pequena e retraída. A

língua preenche toda a cavidade oral, e em repouso, permanece protusa, com a ponta

sobre a gengiva e o lábio inferior, para garantir o espaço aéreo pela liberação da

região posterior da boca. O espaço restrito só permite a movimentação de extensão e

retração da língua, para frente e para trás. Não possui, ainda, a estabilidade de

mandíbula necessária à eficiente movimentação da região anterior da boca para a

sucção, mas conta com almofadas de gordura em suas bochechas que o auxiliam

nesta tarefa. A epiglote está mais próxima do palato mole, o que favorece a rota aérea

nasofaríngea, sua laringe está mais elevada, proporcionando-se quase abaixo da

língua, permitindo que o neonato degluta lateralmente ao vestíbulo laríngeo e, portanto,

concomitantemente à respiração.

Hernandez (1996), refere que a área portal da faringe, laringe, boca e nariz

possui múltiplas funções que podem ser classificadas em : posicional, alimentar e

respiratória. Embora representadas separadamente no Sistema Nervoso Central

(SCN), interagem intensivamente e utilizam mecanismos motores comuns provocados

e orientados por sensações separadas. Conhecer a anatomia das áreas envolvidas

principalmente no que diz respeito ao RN, auxilia na compreensão destas funções.

Podemos considerá-las como sendo constituída de um tubo (a faringe), que se

abre na região superior para formar as cavidades oral e nasal. Este tubo se divide em

duas rotas: a aérea constituída pela traquéia que se direciona aos pulmões e da

alimentação que se dá pelo esôfago até o estômago. O funcionamento eficiente de

estruturas e musculatura que se constritam e se abrem em movimentos peristálticos,

13
conduz o alimento pela via adequada, salvarguando a via aérea assim como impede a

entrada de ar no estômago.

A função posicional da rota aérea faríngea é uma função primária e está

presente mesmo no prematuro.

Segundo Bosma (1977), o principal mecanismo de estabilização posicional é a

ação dos músculos esqueletais, estabilizando a mandíbula e o hióide. A partir do

nascimento, a rota aérea faríngea é mantida apesar das variações na posição da

cabeça e dos pescoço. Sua função não é definida apenas apenas pela desobstrução

da faringe e do vestíbulo laríngeo, mas também pelo fechamento estável do segmento

faríngeo esofágico e na junção da laringe e da boca. O fechamento na função faríngea

oral ocorre pela aposição da porção faríngea da língua e a posição faríngea do palato.

Este fechamento resulta na respiração portal nasal.

O mesmo autor afirma que na função respiratória o sistema de câmaras

respiratórias superiores e dos orifícios funciona integralmente em cada ato

respiratório. A faringe exerce um papel mais importante na respiração do RN do que

na criança. Juntamente com a laringe, funciona como uma câmara superior alargando-

se na inspiração e diminuindo na expiração.

A respiração do RN é rápida, abdominal, superficial e nasal, iniciando o padrão

toráxico de respiração por volta de 3 a 4 meses. O ritmo respiratório é adaptado no

choro, soluço, bocejo , fonação e deglutição. O RN possui uma leve dilatação das

narinas durante a inspiração e constrição na expiração.

Outra função na área oro-faringea é da alimentação que inclui, em seqüência de

desenvolvimento a deglutição faríngea, a sucção e uma complexa gama de

14
desenvolvimento de aproximação do mamilo e sucção ativados por estimulação da

região das faces e dos lábios.

Nos momentos iniciais da vida do bebê sua laringe está mais elevada e a

epiglote em aproximação direta com o palato mole.

Casaer e Lagae (1991) constataram que o RN saudável está apto a sugar,

deglutir e respirar ao mesmo tempo e apresentar uma postura de flexão e adução dos

braços e extensão das pernas, apropriados para a interação social durante a

alimentação.

Proença (1990) ressalta que a exercitação da sucção contribui para o

crescimento ósseo mandibular, favorecendo o desenvolvimento de todas as estruturas

duras e moles do sistema sensório-motor-oral, o que influenciará na articulação dos

sons da fala.

O RN pré termo pode apresentar dificuldades nas funções sucção-deglutição

devido a acoplar-se a uma outra função, a respiração e, muitas vezes apresentar

intercorrências respiratórias acarretando deficiência no desempenho oral para

ingestão de alimento.

Reflexos Orais

Os reflexos orais são a base sobre a qual emergirão similares em um nível

voluntário. Segundo Gomes, Proença e Limongi (1991), devemos encontrar na

avaliação do RN os seguintes reflexos:

15
- Reflexo de Defesa:

Reflexo de Gag : é um reflexo de defesa, é similar ao reflexo de vômito,

diferenciando-se deste pela menor extensão da musculatura da faringe, laringe e

língua. Este reflexo permanece ativo até o fim da vida, embora elecitado em região

mais posterior do que nos primeiros 7 meses. Pode ser avaliada estando a criança em

decúbito supino, com a cabeça em linha média, pelo toque no segundo terço da língua,

apresentando com resposta: a abertura da boca, extensão da cabeça, elevação da

laringe e do diafragma e a careta.

Reflexo de mordida: está presente ao nascimento, enfraquecendo por volta do

3º ao 5º mês e desaparecendo entre o 7º e o 9º mês, quando é substituído pela

mastigação. Não é reflexo intenso. Testa-se com a criança em supino ou sentada com

a cabeça na linha média.

- Reflexo de Alimentação :

Reflexo de procura: está presente ao nascimento e persiste até os 3 meses de

vida. É obtido tocando-se os cantos laterais, superior dos lábios. A criança abre a

boca, vira a cabeça e move a língua na direção em que ocorreu o toque. A função

deste reflexo é encontrar o mamilo.

Reflexo de Sucção: é eliciado quando o bico do seio toca a ponta da língua e a

papila palatina. Sua função é de retirar o leite do seio materno. Surge a partir da

vigésima semana de gestação e é inibida por volta do 4º mês, passando ao controle

coletivo para futura automatização.

Reflexo de Deglutição: é obtido quando um certo volume de leite é armazenado

dentro da boca. Surge na 16º semana de gestação. A partir do 1º mês, o bebe

começa a deglutir melhor. A deglutição compreende três fases distintas : oral, faríngea

16
e esofágica. RNs todas as fases são reflexas e a primeira se tornas voluntária assim

que eles adquirem controle maior da sução e da região anterior da boca.

RN Pré-Termo

Dentre os RNs de risco os neonato pré-termo são os que comparecem em

maiores índices nas requisições de terapia para adequação da alimentação.

De acordo com Gonçalves e Brock (1995), o Recém-nascido pré-termo (RNPT)

apresenta um aspecto físico peculiar: geralmente nascem delgado, com pouca

musculatura, pele lisa e brilhante, cabelos escassos, fontanelas amplas, tórax frágil e

abdome pouco distendido, genitália pouco desenvolvida e planta dos pés lisa.

Para Hernandez (1996), o RNPT é neurologicamente desorganizado. Apresenta

ausência de alguns reflexos. Está mais sujeito à intercorrências clínicas e ao stress,

apresentando com freqüência outras condições de riscos associadas, o que somando

a todos aspectos citados dificulta a força, ritmo e a coordenação, sucção, deglutição.

Segundo Meyerhof (1990) os recém-nascidos pré-termo por serem pequenos e

por não terem sido suficientemente contidos no útero, apresentam um tono muscular

diminuído, além de menor flexão, necessitando de contenção dos movimentos de

extensão excessiva e de maior aproximação dos membros à linha média.

De acordo com Harris (1986), alimentação por via oral desse neonato é

postergada até que condições autonômicas atinjam estabilidade. Enquanto isto não

ocorre, a nutrição pode ser garantida pela alimentação intravenosa ou parenteral.

Assim que o RN apresentar condições clínicas e funcionais necessárias, inicia-se a

transição para alimentação por sonda.

17
As sondas podem ser classificadas em duas grandes categorias de acordo

com o local que elas são introduzidas: as que atravessam a área orofaríngea onde

temos as sondas naso e oro-gástrica e, as que não atravessam a área orofaríngea.

Neste grupo temos a sonda gástrica, cuja introdução se dá pelo estômago, liberando a

área orofaríngea.

O desmame de sonda segue os critérios estabelecidos conjuntamente pela

equipe médica e o fonoaudiólogo, isto porque existem critérios que dizem respeito às

condições clínicas de domínio e conhecimento médico e outros referentes às

condições de funcionamento sensório-motor-oral que dizem respeito ao conhecimento

do fonoaudiólogo especializado.

Sucção Nutritiva e Sucção Não-Nutritiva

Os neonatos possuem dois padrões distintos de sucção. Esses padrões foram

denominados de succção nutritiva e sucção não nutritiva. Estes termos foram

definidos por Glass e Wolf (1994) como:

- sucção não nutritiva : é um padrão organizado e repetitivo de sugadas curtas e

estáveis e pausas longas ou irregulares.

18
- sucção nutritiva : ocorre durante a alimentação em presença do fluxo líquido do

peito ou da mamadeira. Tem um padrão mais complexo do que a anterior. As sugadas

são fortes com poucas pausas.

Geralmente os recém-nascidos a termo tem condições de nutrição adequada e

de realizar a sucção nutritiva.

Woshington e Vermeersch (1998) relataram que o RN deveria ser exposto à

sucção nutritiva 20 a 30 minutos após o nascimento, caso contrário, o enérgico reflexo

de sucção presente neste período, diminui e só reaparece no fim do 2º dia de vida.

Guedes (1991) referiu-se que, no caso de RNTP, opta-se pela estimulação não

nutritiva anterior a alimentação, além de estimulação por meio de massagem nas

regiões extra e intra orais. Este processo favorece o surgimento de sucção para

alimentação de forma mais rítmica sem comprometimento respiratório.

Pesquisas realizadas por Mc Gain (1995) demonstram que dez minutos de

estimulação não nutritiva antes da alimentação faz com que o recém nascido alcance

um estado comportamental ideal e, com isso tenha uma sucção coordenada o que

reflete uma melhor organização neurológica.

Avaliação

Para Hernandez (1996), a avaliação da função motor-oral, consiste em um

processo de coleta de informações a partir de 3 momentos distintos: na situação de

repouso, movimentação de rotina da unidade e mediante manuseio específico de

testagem do sistema sensório-motor-oral.

A verificação dos dados de identificação, do histórico da gestação e da

evolução clínica do bebê deve anteceder o exame.

19
A mesma autora relata que devem ser anotados:

- ambiente maior do RN: UTI, berçário de cuidados especiais ou intermediário;

- ambiente menor: isolete, berço aquecido ou comum;

- aparatos utilizados: sonda, CPAP (ventilação mecânica), tubo endotraqueal (na

vigência deste dificilmente estaremos manuseando o neonato).

A avaliação por meio do manuseio deve ser realizada nos horários de

alimentação previstos pela rotina hospitalar, quando se espera que esteja faminto e em

estado de alerta.

O tônus posteral global e oral deve ser verificado pela observação em repouso,

mediante apalpação. Cabe salientar que ao manipular a região peri e intra-oral, o uso

de luva esterilizada é indicado.

É importante também a avaliação dos reflexos primitivos sendo que estes não

devem ser testados apenas em uma situação individual, mas, quando possível,

também numa situação real de alimentação.

Wolf (1968) relata que durante a avaliação da função de alimentação é

importante notar o vedamento labial, perda ou não de líquido, tempo de duração das

eclosões de sucção, o índice médio de sugadas, sinais de desconforto respiratório ou

qualquer outro sinal autonômico de stress. O tremor da língua é um indicativo

significativo de esgotamento do RN. Por fim, conclui-se, sobre a funcionalidade ou não

da habilidade de se alimentar por via oral ao comparar a quantidade de leite ingerido

por período de tempo. O tempo não deve exceder os 20 minutos.

20
Estimulação Sensório-Motora Oral

O RNTP, devido a imaturidade dos seus sistemas vitais, pode não estar em

condição de se alimentar exclusivamente por via oral, necessitando de outras

manobras para a manutenção de suas necessidades nutricionais.

Morselli, Silva e Basseto (1994), citados por Silva e Basseto (1995), mostraram

que os RNs de risco tem-se beneficiado com a estimulação sensório-motora-oral.

O treino da sucção não nutritiva contribui para a adequação da sucção nutritiva,

conseqüentemente, há um maior ganho de peso, resultando numa alta hospitalar

precoce, diminuindo os riscos de infecção.

De maneira geral, a estimulação oral visa proporcionar ao RN uma alimentação

segura, funcional e prazerosa.

A dificuldade de alimentação por via oral do RN , geralmente decorre dos

seguintes quadros:

- imaturidade do sistema sensório-motor-oral, que pode estar associada a

idade gestacional e ao peso do RN;

- mal formações anatômicas da cavidade oral.

Case-Smith (1988) criou uma estimulação individualizada para melhorar o

padrão de alimentação do RNTP.

Ele aplicou estimulação peri-oral e pressão rítmica na língua enquanto a criança

sugava, mantendo a mandíbula e a língua estáveis pela pressão constante. Tal atuação

permitiu que os bebês, cuja sucção apresentava-se arrítmica, com pouca

movimentação de mandíbula e língua inativa, passassem a apresentar padrão normal

de amamentação.

21
Os recém nascidos pré termo que recebem estimulação sensório-motora-oral

podem apresentar:

- incoordenação da sucção, deglutição e respiração;

- movimentos incoordenados da língua e da mandíbula;

- hipotonia muscular;

- fadiga excessiva durante as mamadas;

- história de regurgitações e /ou aspirações freqüentes.

Silva e Basseto (1995) acreditam que a estimulação deve ocorrer

aproximadamente de três em três horas, antecedendo as mamadas.

Para a sensibilidade tátil, podemos utilizar o dedo mínimo ou luva plástica

realizando uma estimulação extra-oral, que consiste em toque e massagens na região

facial e peri-oral. Em seguida, introduzir o dedo ou chupeta no interior da cavidade oral

afim de eliciar o reflexo de sucção, sendo importante observar se há ou não

canolamento de língua, vedamento labial e excursão rítmica da mandíbula além de

verificar a força e o rítimo empregados à sucção não nutritiva.

Frente a estimulação oral, o RN pode apresentar os seguintes comportamentos:

- reflexo de procura e de sucção;

- movimento de prensão;

- manutenção do tônus flexor.

Para Bastevanji e Xavier (1994), a estimulação deve ser interrompida quando o

RN apresentar:

- travamento de mandíbula, protrusão de língua com tensão e retração de língua;

- alteração do ritimo cardio-respiratório;

- sinais de stress;

22
- choro ou soluço, caretas.

Quando estes sinais desaparecerem a estimulação oral poderá ser retomada.

Também pode ser utilizada a estimulação térmica. Altman (1993) destaca que

para estimular a sensibilidade térmica recomenda o uso de estimuladores térmicos

para a realização de movimentos de deslizamento na face do sentido distal para

medial. Ela ressalta que o estímulo frio contribui para o enrijecimento do tônus

muscular.

De acordo com Proença (1987), a utilização da chupeta e bico de mamadeira

ortodônticos podem ser oferecidos ao RN. Estes são importantes pois permitem o

posicionamento correto na cavidade oral propiciando uma sucção semelhante à

realizada no seio materno.

Durante o processo de estimulação o RN deve estar em decúbito lateral, a

cabeça não deve ficar para trás e a região cervical não pode ser comprimida. A

posição deve ser confortável tanto para o bebê quanto para o estímulo. É importante

não estressar o bebê ao se realizar a estimulação oral logo após o mesmo ter sido

amamentando ou manipulado para a realização de exames.

O tempo de estimulação deve respeitar os limites de cada RN e suas condições

gerais.

Segundo Silva e Basseto (1995), a estimulação motora-oral requer o emprego

de técnicas simples, que usam o estabelecimento de um processo de alimentação

eficiente por via oral.

23
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta pesquisa teórica foi de relatar o trabalho fonoaudiológico em

recém-nascidos de alto risco no sentido de detectar alterações relacionadas ao

processo de alimentação e assim proporcionar uma melhor condição de

desenvolvimento.

Vale ressaltar que para que este trabalho seja efetivo devemos atuar com toda a

equipe ( médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos ) não esquecendo da

família.

Através dos estudos realizados, pode-se observar que os recém nascidos têm

se beneficiado com a estimulação sensório motora oral proporcionando, assim, uma

alimentação mais segura e mais prazerosa.

O trabalho fonoaudiológico em UTIs neonatais é novo e requer um conhecimento

amplo de anatomia, fisiologia e desenvolvimento de bebês.

A escolha deste tema partiu da experiência em hospitais e a necessidade de

aprimorar o conhecimento.

Percebi que há uma grande dificuldade em realizar este trabalho devido a

resistência de outros profissionais e da própria instituição em contratar este “serviço”.

Cabe a nós, fonoaudiólogos, aprimorar os conhecimentos e realizar este

trabalho da melhor maneira possível para que novos caminhos se abram para a

fonoaudiologia.

24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Altman, E.B.C. - Fissuras Labiopalatinas. Pró-fono. Carapicuiba, 1993.

Bastivanji, A. e Xavier, C. - Trabalho fonoaudiológico no leito com crianças

apresentando dificuldades de alimentação. Temas sobre desenvolvimento.

São Paulo, 1994. 420-25.

Bosma, J.F. - Structure and function of mechanisms. In : Wilson, J - Oral Motor

Function and Disfunction in Children. Chapel Hill, NC: University of North

Carolina Press, 1978. 33-65.

Case - Smith, J. - An Efficacy Study of Occupational Therapy with High-Risk

neonates. American Journal of Occupational Therapy, 1988.42.

Casaer, P.; Lagae, L. - Age specific approach to neurological assement in the first

year of life. Acta Peciatrica Japonica, 1991. 125-38.

Glass, R.P. e Wolf, L.S. - A Global Perspective on Feeding Assement in the

neonatal Intensive care Unit. American Journal of Occupational Therapy,

1994. 514-26.

Gomes, I.C.D.; Proença, M.G; Limonji, S.C.O - Avaliação e Terapia da motricidade

25
oral. In : Ferreira, L.P. - Temas de Fonoaudiologia. São Paulo, 1991. 61-119.

Gonçalves, A; Brock, R. - Prematuridade. In : Basseto, M.C.A. : Brock, R.;

Wajnsztejn, R. - Fonoaudiologia e berçário: um convite à atuação, 1995.

57-60.

Guedes, Z.C.F. - Os bebês e o fonoaudiólogo. Revista Insight, 9 ( vol1 ) : 26-8.

Guerpelli, J.L. - Avaliação neurológica do recém-nascido prematuro. Neurologia

Infantil. Rio de Janeiro, 1989. 33-47.

Harris, M.B. - Oral Motor management of the high-risk-neonate. Physical and

Occupational Therapy in Pediatrics, 1986. 251-53.

Hernandez, A.M. - Atuação fonoaudiológica em neonatologia. In : Andrade, C.R.F. -

Fonoaudiologia em berçário normal e de risco, 1996. 54-97.

Mc Gain, Gail, C. - Facilitating Inactive Awake States in Preterm Infants : A Study of

the Interventions. Nursin Research, 3 ( vol 41 ) : 157-60.

Meyrhof, P.G. - O neonato de risco - proposta de intervenção no ambiente e no

desenvolvimento. In : Kudo, A.M. e colaboradores - Fisioterapia,

Fonoaudiologoa e Terapia Ocupacional em Pediatria. São Paulo, 1990.

26
246-76.

Morris, S. - Pre feeding Skells: a comprehensive source for development. Therapy

Skell Brulders, 1987.

Paixão, M.L.; Mancini, M.C.; Figueiredo, E.M.; Ferreira, A.P.A.; Gontijo, A.P.B. - O

impacto da relação peso-idade gestacional no desenvolvimento do bebê pré-

termo. Temas sobre desenvolvimento, São Paulo, 1994.54-60.

Proença, M.G. - Sistema Sensório Motor Oral. In : Kudo, A.M. e colaboradores.

Fisioterapia, Fonoaudiologoa e Terapia Ocupacional em Pediatria. São

Paulo, 1994. 228-82.

Ramos, J.L.A.; Leone, C.R. - O recém-nascido de baixo peso. São Paulo, 1986.

79-89.

Silva, I.C.I.; Basseto, M.C.A. - Estimulação Sensório-Motora-Oral em Recém-

nascidos. In : Basseto, M.C.A.; Brock, R. ; Wajnsztejn, R. - Fonoaudiologia e

berçário: um convite à atuação, 1995.44-9.

Wolff, P.H. - The serial organization of sucking in the young infant. Pediatrics,

1968.943-56.

27
Woshington, R. e Vermeersch, W. - Nutrição na gravidez e na lactação, Rio de

Janeiro, 1988. 228-82.

28
Prontuário de Estimulação Sensório-Motora-Oral

Neomater Maternidade e Pediatria S/C Ltda.

Berçário: Acompanhamento Fonoaudiológico.

RN :___________________________ Berçário : ______________________

Data/Hora

Idade

Peso

Estado geral

do RN

Assistência ventilatória

e/ ou outros

Intercorrência do dia

Alimentação

(NPP,SOG/NG,VO md/sm)

Volume aceito x volume presc.

Ritimo de sucção não-nutritiva ( 10s)

ritmo de sucção nutritiva ( 10s)

Mis. sugados primeiros 5 min

Estimulação extra oral

Estimulação intra oral

Outros procedimentos

Observações

29
30

Você também pode gostar